Analise Da Escrita Egipcia Nos Livros
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ISSN 2238-8788
O estudo aqui apresentado foi desenvolvido como parte do programa de Iniciao Cientfica,
relacionado ao Projeto de Pesquisa Egiptomania no Brasil: sculos XIX e XX Paran, entre os meses
de maio e novembro de 2005. Foi apresentado primeiramente na forma de um painel no III Seminrio
de Pesquisa e III Seminrio de Iniciao Cientfica da UNIANDRADE, em novembro de 2005.
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Mestre e doutoranda em Histria Antiga pelo PPGH-UFF, sob orientao do Prof. Dr. Ciro Flamarion
Santana Cardoso. Membro do Grupo de Estudos Egiptolgicos Maat e do Centro de Estudos
Interdisciplinares da Antiguidade da UFF. Professora do Curso de Especializao em Histria Antiga e
Medieval das Faculdades Itecne, Curitiba PR e Professora do Curso de Graduao em Histria da
Uniandrade - Curitiba - PR. E-mail: lilianemeryt@hotmail.com
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onze dix-sept ans, travers ces oeuvres. Pour atteindre ce but, vingt deux livres ont
t analyss: six nationales et seize trangers qui ont t traduits au portugais. Parmis
eux, il y a une publication nationale qui peut tre considere litrature pour la
jeunesse. Les rsultats obtenus ont t mis dans un tableau et spars en catgories
selon le sujet analys.
Mots-Cles: gypte Ancienne; criture des hiroglyphes; livres dappui didactique.
Introduo
A escrita egpcia antiga fascina a humanidade desde a Antiguidade, seja pela
sua beleza ou pela dificuldade em decifr-la. A expresso ta hieroglyphica tem origem
grega, significando as (letras) sagradas esculpidas, de onde vm hieroglfica e
hierglifos (MCDERMOTT, 2001: 12). Para os egpcios, a escrita era uma inveno de
Toth, deus da sabedoria, que decidiu ensin-la aos homens contrariando uma ordem
do deus Ra. O nome dado por eles sua escrita era medju netjer, ou literalmente,
palavras dos deuses (GARDINER, 1988: 1).
O desenvolvimento da escrita egpcia pode ser separado em cinco estgios, de
acordo com a anlise de documentos datados, produzidos ao longo dos 3.000 anos da
Histria dessa sociedade (GARDINER, 1988: 5).
Egpcio Antigo (c. 3000-2140 a.C.), corresponde forma escrita desde o seu
surgimento, no final do IV milnio a.C., na fase anterior unificao, at a VI dinastia.
Os textos desta poca aparecem na forma de legendas, escritas sobre artefatos
variados. Documentos com textos mais longos surgiram na V Dinastia, destacando-se
nessa fase os Textos das Pirmides (GARDINER, 1988: 5).
O prximo estgio, o Mdio Egpcio (c. 2140 - 1360 a.C.), corresponde forma
escrita utilizada do Primeiro Perodo Intermedirio at meados da XVIII Dinastia. Esta
fase tambm conhecida como Egpcio Clssico, e foi empregada at o final da
histria egpcia na antiguidade. Os documentos produzidos em Mdio Egpcio so
variados, incluindo os de natureza religiosa, legal e textos literrios (GARDINER, 1988:
5). Por ter sido a forma mais utilizada para a escrita, e cuja gramtica mais bem
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publicou uma obra (Prcis du systme hiroglyphique), onde o sistema da lngua foi
exposto (LENDO o passado, 1996: 163).
A descoberta de Champollion possibilitou a criao de uma nova cincia: a
Egiptologia (ALLEN, 2001: 9). Depois dele, muitos outros fillogos e egiptlogos
debruaram-se sobre as inscries egpcias, e assim foi possvel escrever a histria
dessa sociedade a partir de fontes produzidas por ela mesma. O fascnio pela lngua
egpcia continuou, e atualmente existem vrias obras que discorrem sobre esse tema.
Entre elas, algumas de cunho didtico, e que so utilizadas por professores de ensino
mdio e fundamental, nas aulas de histria.
Assim, ao verificar que vrios livros paradidticos relacionados ao antigo Egito
mostram captulos ou partes dedicadas a explicaes sobre os hierglifos, criou-se um
projeto de investigao que teve como objetivo principal o reconhecimento e a
avaliao de como as informaes relacionadas escrita egpcia antiga so
transmitidas aos estudantes de ensino mdio e fundamental.
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consertar com a prpria lngua, com um pequeno pedao de pedra calcria, ou com
um pano mido (LUCAS & HARRIS, 1999: 365).
As informaes aqui expostas foram utilizadas como base para a posterior
anlise dos livros paradidticos e de literatura infanto-juvenil. Consideramos
importante o seu conhecimento, por parte do leitor, para que os dados expostos a
seguir e as crticas feitas em relao s publicaes sejam melhor compreendidas.
Outrossim, para que os professores que adotarem as obras possam utiliz-las da
maneira correta, apontando, inclusive, os desacertos existentes aos seus alunos.
O Estudo
Em nosso estudo localizamos trinta e sete livros paradidticos e de literatura
infanto-juvenil, disponveis em lngua portuguesa, com assuntos relacionados ao
antigo Egito. Desses, vinte e dois foram selecionados, por conterem captulos ou
pequenas informaes sobre a escrita egpcia antiga. Respectivamente: seis
publicaes nacionais, entre elas uma de literatura infanto-juvenil; e dezesseis
estrangeiras, traduzidas para o portugus.
Como metodologia foi empreendida uma anlise dos contedos referentes
escrita nesses livros, por meio de conhecimentos prvios sobre a lngua egpcia antiga
e sua decifrao. A base para a anlise do pseudo-alfabeto apresentado nessa
bibliografia foi a tabela de sinais do pseudo-alfabeto de Alan Gardiner, apresentada em
sua gramtica de Mdio Egpcio (GARDINER, 1988, 27).
Verificou-se que, entre os erros mais frequentes, est a colocao incorreta dos
sinais uniconsonantais mais simples da lngua, o pseudo-alfabeto, seja por seu valor
fontico ou pelo que representam. Tais desacertos foram encontrados em nove
exemplares analisados, e o fato desses erros serem recorrentes mostra uma situao
que requer certa ateno. Na figura 1 so mostrados alguns exemplos, com os
respectivos sinais corretos:
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(2)
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(3)
Figura 1 Erros comuns e recorrentes relacionados ao pseudo-alfabeto egpcio. Referncias:
(1) STEEDMAN, S. Antigo Egipto. Lisboa: Texto Editora, 1998. p. 148. (2) COLE, J.; DEGEN, B. As
Aventuras da Dona Friz: Antigo Egito. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. Pgina de apresentao. (3)
MILLARD, A. Os Egpcios. So Paulo: Melhoramentos, s/d. p. 36.
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Grande parte dos livros apresenta informaes sobre as trs formas da escrita
egpcia a hieroglfica, a hiertica e a demtica e dados sobre as direes de leitura
e escrita. Apenas um deles, Os Antigos Egpcios, de Anita Ganeri, contudo, mostra
um esquema de leitura semelhante ao apresentado por Alan Gardiner, conforme
mostrado na figura 2.
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Figura 3 Palavras em lngua egpcia. Referncia: NICHOLSON, R.; WATTS, C. O Egito Antigo.
So Paulo: Loyola, 1996. p. 17.
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hierglifos. Champollion, alm do grego, conhecia outras lnguas antigas, sendo que
seu conhecimento de copta que foi essencial para a decifrao. Outro livro que exclui
os outros estudiosos a Larousse Jovem do Egito, que atribui a descoberta do
francs J. J. Barthlemy, de que os cartuchos continham nomes de reis, a Champollion.
Tal suposio j fora levantada por Barthlemy em 1762, antes da descoberta da Pedra
de Roseta.
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o erro que mais chamou a ateno foi o cometido pelos autores do livro Espantosos
Egpcios e O Mais Belo Livro das Pirmides, que apresentam apenas as escritas
grega e hieroglfica como constantes na pedra. A figura 5, mostrada anteriormente,
apresenta uma das formas como a Pedra de Roseta apresentada aos estudantes.
O texto contido na pedra citado em duas publicaes, sendo uma delas a obra
j mencionada de Anita Ganeri. Tal livro informa que a inscrio sobre a pedra trata-se
de um relato sobre a coroao de Ptolomeu V, mas, na verdade, o texto um decreto
dos sacerdotes de Mnfis em honra ao fara Ptolomeu V Epifnio. A outra publicao
afirma apenas tratar-se de um decreto de Ptolomeu V.
Consideraes Finais
Com esse breve estudo pde-se verificar que os livros paradidticos atualmente
disponveis sobre o antigo Egito, no que diz respeito escrita, devem ser submetidos a
uma anlise detalhada antes de serem utilizados como apoio didtico em escolas e por
professores dos ensinos mdio e fundamental.
A anlise que realizamos em vinte e dois livros nos chamou a ateno para uma
constatao: a repetio dos erros encontrados. Entre eles, o mais frequente a
colocao incorreta dos sinais do pseudo-alfabeto, seja pela sua traduo ou pelo que
representam. Neste ponto, o engano mais comum se colocar o sinal representativo
da letra S significando ao mesmo tempo S e Z. J quando se trata do que
representam as figuras, espanta-nos a quantidade de tradues incorretas para o sinal
que associado a abrigo de junco. Entre os encontrados, temos cabana vermelha
e ptio. Outro equvoco a utilizao de regionalismos para a significao dos
smbolos, como usar a palavra pintainho no lugar de codorniz. Tal forma de
utilizao pode levar a problemas de interpretao por parte de estudantes que no
esto habituados a tais regionalismos.
A maioria das publicaes omite a existncia de outros suportes para a escrita,
que no o papiro e as paredes dos monumentos. Em relao ao papiro, alguns livros
trazem inclusive seu processo de fabricao e a forma de utilizao de tintas e pincis
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com o fim especfico de se escrever sobre este material. Nesse caso, os professores
devem levar em considerao os outros suportes utilizados para a escrita pelos
egpcios, e mesmo as outras formas de uso dos materiais de apoio para a escrita.
Quanto decifrao dos hierglifos, parte da bibliografia analisada apresenta
Champollion, mas no faz referncia aos seus passos para a decifrao da escrita.
Raras so as publicaes que citam outros estudiosos, anteriores ou posteriores a
Champollion, que participaram desse processo. E tambm no se encontram, entre os
livros analisados, citaes sobre outras lnguas antigas conhecidas por Champollion
que o ajudaram no processo de decifrao, que no o grego.
O contedo do texto presente na pedra de Roseta tambm merece anlise
detalhada por parte dos professores. Um primeiro erro verificado foi em relao s
trs formas de escrita encontradas sobre a pedra, que aparecem em duas obras como
hieroglfica, hiertica e grega, sendo o correto hieroglfica, demtica e grega. Um
segundo equvoco foi sobre o contedo do texto gravado sobre o monumento. O
nome de Ptolomeu V corretamente citado, mas o assunto do texto apresenta alguns
equvocos: trata-se de um decreto sacerdotal em honra ao fara, e no de um decreto
do prprio fara.
Para que os professores possam transmitir tais conhecimentos de maneira mais
abrangente e segura, existe no Brasil bibliografia especializada, e disponvel em lngua
portuguesa 3. Tal avaliao, pelo que demonstrado na anlise aqui apresentada,
indispensvel para uma transmisso dos contedos sobre a escrita egpcia antiga, que
cercada pelo misticismo relacionado ao Pas dos Faras.
Se no existir a preocupao da avaliao de contedo, h uma grande
possibilidade de que o uso recorrente de obras que trazem informaes incorretas
transforme os desacertos em acertos e, assim, possam prejudicar a qualidade daquilo
que transmitido aos discentes. Igualmente, importante que o professor procure,
Ver, por exemplo: LENDO o Passado: a histria da escrita antiga do cuneiforme ao alfabeto. So Paulo:
Editora da Universidade de So Paulo: Companhia Melhoramentos, 1996; BAKOS, M. O que so
Hierglifos. So Paulo: Brasiliense, 1996.
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sempre que possvel, bibliografia especializada sobre o assunto que ser tratado em
sala de aula, pois isso poderia evitar que determinados erros, como os que mostramos
ao longo desse trabalho, passassem despercebidos e, consequentemente, fossem
tomados como uma verdade irrestrita.
Referncias
Obras de referncia:
ALLEN, J. P. Middle Egyptian: an introduction to the language and culture of
hieroglyphs. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
ARAJO, E. Escrito para a Eternidade: a literatura no Egito faranico. Braslia: Editora
Universidade de Braslia: So Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
BAKOS, M. O que so Hierglifos. So Paulo: Brasiliense, 1996.
DODSON, A. The hieroglyphs of ancient Egypt. London: New Holland, 2003.
ENGLUND, G. Middle Egyptian: an introduction. Uppsala: University Press, 1995.
FAULKNER, R. O. A Concise Dictionary of Middle Egyptian. Oxford: Griffith Institute,
2002.
GARDINER, A. Egyptian Grammar: being an introduction to the study of hieroglyphs.
Oxford: Griffith Institute, 1988.
LENDO o Passado: a histria da escrita antiga do cuneiforme ao alfabeto. So Paulo:
Editora da Universidade de So Paulo: Companhia Melhoramentos, 1996.
LUCAS, A. & HARRIS, J. R. Ancient Egyptian Materials and Industries. New York: Dover
Publications, 1999.
MCDERMOTT, B. Decoding Egyptian Hieroglyphs: how to read the secret language of
the pharaohs. San Francisco: Chronicle Books, 2001.
MENU, B. Petite Grammaire de lgyptien Hieroglyphique a lUsage des Dbutants.
Paris: Libraire Orientaliste Paul Geuthner S.A., 1989.
PARKINSON, R. O Guia dos Hierglifos Egpcios: como ler e escrever em egpcio antigo.
So Paulo: Madras, 2006.
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WILSON, P. Hieroglyphs: a very short introduction. New York: Oxford University Press,
2003.
ZAUZICH, K.-T. Discovering Egyptian Hieroglyphs: a practical guide. London: Thames &
Hudson, 2004.
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