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INTRODUO
A formao intelectual do homem , sem dvida, essencial para o seu
ntegro desenvolvimento pessoal e social. Ela exige igualmente a formao
moral. Sem esta, aquela no perfeita e completa. Educar formar a
inteligncia para a verdade e a vontade para o bem e permitir liberdade a
escolha da verdade e do bem2. Verdade e bem so os fins, os ideais da
Dedico este estudo a Norma Faitanin quem concilia ensino e amor no exerccio da
pedagogia.
1
Agradeo professora Clea Fernandes Ramos Valle pela verso inglesa do resumo.
2
A obra que cito a seguir oferece uma muito adequada anlise da educao moral no s
como suporte para a formao intelectual, mas tambm sob o ponto-de-vista de sua
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Um verbete muito til para uma viso geral sobre este tema ver: LOYN, H.R. Dicionrio da
Idade Mdia. Traduo lavro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, educao,
pp. 127-129. Impressiona-nos que Le Goff e Schmitt no dedicaram um verbete questo
da educao em seu Dicionrio Temtico do Ocidente Medieval. O que h acerca deste tema
tratado no verbete universidade: VERGER, J. Universidade, in: Le Goff, J. & Schmitt, J.C. Dicionrio Temtico do Ocidente Medieval. Traduo Hilrio Franco Jnior. II. So Paulo:
Edusc, 2002, pp. 573-587.
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CONSTITUIO FEDERAL, Art. 205: A educao, direito de todos e dever do Estado e da
famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao
para o trabalho. direito reivindicar, caso no haja seu cumprimento.
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O seguinte artigo oferece uma boa considerao acerca da relao dos alunos com os
professores nas universidades medievais: ULLMANN, R. Os alunos e os professores nas
Universidades Medievais, Veritas, 39 (1994), pp. 397-412.
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De um modo geral, os pais que procuram o ensino religioso para os seus filhos alegam
que o procuram porque crem ser o melhor para os filhos e isso, inclusive, por aqueles que
manifestam, em foro ntimo, alguma desaprovao. Mas por que alguns julgam deste
modo? Fazem isso porque no julgam o que melhor para eles, mas o que seja o melhor
para os seus filhos. Mesmo uma m pessoa reconhece o que seja melhor para o seu filho,
embora no aceite ou esteja disposto a aceitar que isso tambm seja o melhor para ele.
bem conhecido: faa o que aconselho, mas no faa o que eu fao.
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Seria oportuna a leitura da seguinte obra que coloca lado a lado a experincia religiosa e
aquisio de virtudes na cultura grega clssica: JAEGER, W. Paidia. A formao do homem grego.
So Paulo: Martins Fontes, 1995. Conivente com o que aludimos acima acerca da intrnseca
relao na cultura grega entre o carter divino e o moral, so as seguintes palavras: O
homem pode converter-se no mais divino dos animais, sempre que se o eduque
corretamente; converte-se na criatura mais selvagem de todas as criaturas que habitam a
terra, em caso de ser mal-educado [PLATO, As Leis, 766]. Recomendamos ter em conta
o seguinte texto que narra, de modo brilhante, o ideal da educao do homem em Plato:
TEIXEIRA, E.F.B. A educao do homem segundo Plato. So Paulo: Paulus, 1999.
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Estes e outros sentidos da palavra em seu uso medieval ver: SARAIVA, F.R.S. Dicionrio
Latino-Portugus. 11. edio. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 2000, p. 405.
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A palavra educatio deriva do particpio educatum, do verbo educo, -as, -avi, que tem o sentido
de elevar, instruir, formar, em seu uso primitivo. Ver: ERNOUT, A. et MEILLET, A. Dictionnaire
tymologique de la Langue Latine. Histoire des mots. 4me dition. Paris: ditions Klincksieck,
1994, p. 192.
22
SANTO TOMS DE AQUINO, STh. I-II, q.94, a.2, c.
23
SANTO TOMS DE AQUINO, CG. III, c.122, n.4.
24
SANTO TOMS DE AQUINO, In IV Sent., d. 31, q. 1, a. 2, ad. 1.
25
ARISTTELES, tica a Nicmacos, I, c.4, 1096 10-20; SANTO TOMS DE AQUINO, In I Eth.
lect. 6, n. 76: parece melhor, mais honesto, de acordo com os bons costumes... que o
homem no tema, em questo de verdade, opor-se aos seus mais prximos...J que, se o
homem no preferisse a verdade a seus amigos, se seguiria que para defender os amigos,
proferiria falso juzo e testemunho. O que contrrio virtude... [assim] devemos amar
mais a verdade do que ao amigo, porque a este devemos amar principalmente por causa da
verdade e da virtude... A verdade este amigo supra-excelente ao que se deve a reverncia
da honra e , tambm, algo divino, pois em Deus se encontra primeiro e principalmente.
Por isso, [Aristteles] conclui que santo honrar antes a verdade que aos amigos
humanos.
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potncia cognitiva do homem, por meio da qual se conhece algo de si, algo do
que lhe rodeia e algo do que lhe transcende. a sua mais nobre capacidade26,
cujo objeto a verdade27. Obviamente, o intelecto conhece a verdade quando
considera os entes que existem, pois so eles o que primeiro considera e
conhece o intelecto28, na medida em que deles apreende a verdade. Em poucas
palavras, o intelecto considera o ente para apreender sua verdade, sendo isso
que ele concebe, adequado ao que existe no real.
A educao intelectual da pessoa humana se d na posse da verdade pelo
intelecto. Ela no homem a expresso inteligvel da realidade. A criana,
desde muito cedo, deve ser motivada, pelo mestre, a valer-se de sua
inteligncia para o exerccio do conhecimento da realidade29. Nela, a aquisio
da verdade dar-se- essencialmente por composio, um dos modos de
conhecimento da verdade30, a saber, indo das coisas mais simples s mais
complexas. evidente que a criana no poder apreend-la sem certa
dificuldade, seja por parte dela mesma ou por causa da complexidade do
objeto considerado31. Mesmo quando saudvel e apta naturalmente para o
conhecimento da verdade, a criana depender da ajuda dos pais e do
professor, pois o conhecimento um novo olhar sobre a realidade que
provoca certas mudanas no sujeito que conhece. Da a necessidade de que a
criana seja auxiliada, direta ou indiretamente (linguagem, exemplos, modelos,
brinquedos etc.) em seu conhecimento32. Refora-se que, a pesar de toda
dificuldade, conveniente busc-la33.
A linguagem a fala e a escrita o instrumento fundamental da
educao. O conhecimento intelectual do homem traduz-se, exteriormente,
num conjunto de sinais sensveis, falados ou escritos, que compem a linguagem
humana. O que um sinal? Sinal aquilo que serve para o conhecimento de
outro34, ou seja, o que se institui para significar outra coisa. A linguagem
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partir das sensaes dos sentidos48 com o mundo sensvel exterior, como a cor
da rosa, seu cheiro, sua figura etc. Cada um dos sentidos colabora para a
formao de uma imagem do objeto sensvel conhecido.
A imaginao tem valor educativo, mas nunca substitui a abstrao.
Conhecer no imaginar formas, mas formar conceitos49 verdadeiros das
realidades existentes, a partir da aplicao do princpio inato, universal, que o
princpio da no contradio, inato a toda mente humana. O valor ldico da
imaginao garante e enriquece a fixao de um conceito. A imagem pode ser
a ponte para a recordao de um conceito, assim como o conceito a ponte
para o reconhecimento da realidade. De fato, as crianas quando comeam a
conhecer, imaginam mais que abstraem. Pouco a pouco, com o hbito dos
princpios, a criana aperfeioa a abstrao at o ponto de no precisar mais
de ter de imaginar a figura ou mesmo a relao das letras que compem o
nome da realidade imaginada para pens-la ou identific-la.
O uso da imaginao na justa medida saudvel. Sabe-se, no entanto, do
risco de confundir ensino por abstrao e por imaginao. Pode que o uso
exagerado do recurso da imaginao, atravs de atividades ldicas e mesmo de
leituras de contos, muito comum na literatura infantil, distoram a realidade
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SANTO TOMS DE AQUINO, CG. IV, c. 7;STh. I-II, q. 55, a. 1, c;STh. II-II, q. 144, a.
1,c;CG. I, c. 92; In III Sent.d. 23, qq.1, a.2, qc1, c.
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importncia da virtude est em que ela torna bom aquele que a possui e boa a obra
que ele faz69. A intensa aplicao ao estudo, que um bom hbito moral, longe
de ser uma vil submisso tal como alguns dicionrios a definem a virtude
da docilidade, ou seja, a mais plena realizao da prpria faculdade que a
possui.
Docilidade diz respeito a docere, portanto, aptido ao conhecer e no
diversa da prudncia70. No obstante, por causa da queda do homem,
instaurou-se a desordem dos desejos e como todo desejo, mesmo o
intelectual, necessita de elementos naturais e sobrenaturais que o redirecione e
reordene quilo que por natureza chamado (conhecer a verdade), exigem-se,
portanto, virtudes reparadoras, sejam naturais morais ou sobrenaturais teologais.
Dentro do contexto das virtudes naturais morais, a moderao deste
desejo de saber lograda pela virtude da estudiosidade, virtude anexa
temperana, que se ope ao vcio da curiosidade, e que modera e ordena o
mpeto ou a desordem de qualquer natureza que possa haver neste desejo. A
estudiosidade , pois, a virtude, cuja matria o conhecimento71, no que diz
respeito ao modo como desej-lo, orden-lo e adquiri-lo. O caminho de
pedras que leva sabedoria difcil e rduo.
Em particular, o vcio da preguia , por excelncia, opositor virtude da
docilidade. A preguia a tristeza e a falta de empenho para conseguir um
bem espiritual. Trata-se de um vcio capital, porque causa de muitos
outros72. Outro elemento que dificulta a disposio do esprito para a
aprendizagem a ignorncia. A ignorncia a privao de um conhecimento73.
A ignorncia difere da nescincia, pois esta significa a simples negao ou
privao da cincia naquele a quem falta a cincia de alguma coisa, que no a
conhece74. A falta de saber implica uma privao de cincia de certas coisas,
naquele que naturalmente deveria saber75.
A ausncia de conhecimento, com relao ao sujeito, pode ser direta,
indiretamente voluntria ou inteiramente involuntria. A ignorncia
diretamente voluntria a que assentida por um ato da vontade. A
ignorncia indiretamente voluntria aquela que se segue de uma negligncia,
porque no se quer saber aquilo que deveria saber76. A ausncia de
conhecimento inteiramente involuntria no assentida pela vontade, nem
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