Casamento Histerica e Obsessivo
Casamento Histerica e Obsessivo
Casamento Histerica e Obsessivo
As estruturas clnicas
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Roteiro de palestra
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OPERAES ESTRUTURANTES
GRANDE
OUTRO
Neurose
Recalque (Verdrngung)
A ou A/?
Perverso
Desmentido (Verleugnung)
A e A/
Psicose
Forcluso (Verwerfung)
A histrica e o obsessivo
As trs estruturas clnicas apresentam diferentes tipos clnicos. Para o que
do nosso interesse, hoje, ficarei restrito aos dois principais tipos clnicos de
neurose: a histeria e a obsesso.
Darei, logo de incio, duas minidefinies, com base no que foi colocado.
Como foi dito, a neurose pode ser definida como vacilao entre A e A/
(Soler, 1993, p. 29), entre Outro castrado e no castrado, ou incompleto e
completo, ou inconsistente e consistente. A histeria como tipo clnico, por
sua vez, pode ser definida como fuga da vacilao pela exacerbao da falta,
enquanto que a obsesso seria a fuga da vacilao pela obliterao da falta.
um comeo de abordagem da nossa questo.
Com base nesses termos, o casamento da histrica com o obsessivo evoca
o casamento da chave com a fechadura, que faz acreditar na existncia da
proporo entre os sexos, na complementao de um pelo outro. Eis a o
apelo imaginrio que sustenta a unio. Mas eis a, tambm, o logro ou o
engano que faz a tormenta do casal. Pois a nsia de obturar do obsessivo s
tem paralelo na nsia de esburacar da histrica.
Como que cada Sujeito trata o Outro? O sujeito da histeria atrado pelo
amor figura do Mestre, pelo amor ao seu saber, tal como mariposa atrada
pela lmpada. Sua inteno, num primeiro momento, a de reconhec-lo,
mas, num segundo momento, a de destitu-lo, ou destru-lo, ao apontar-lhe
a falta. a paciente que prova que o grande mdico no consegue cur-la,
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Roteiro de palestra
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OBSESSO
Fragmento clnico
Sou procurado para anlise por um senhor de 55 anos. O que trarei
em seguida uma montagem, uma reunio de diferentes momentos dessa
experincia, maneira de um pot-pourri.
Sou de famlia pauprrima. Meu pai era carpinteiro e alcolatra,
minha me, lavadeira. Morvamos numa favela. A duras penas,
consegui me formar num curso superior. Sou bem-sucedido na
profisso, sou casado, tenho trs filhos. J fiz cinco anos de anlise,
que no resolveram nada. Decidi ento mudar de analista. Tenho
um nico problema na vida: sou totalmente frustrado na minha vida
sexual, e isso perturba a minha vida como um todo.
Como assim?
Sou apaixonado por minha mulher, que, alm do mais, desperta
em mim uma grande atrao sexual. Sou correspondido no meu amor;
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Roteiro de palestra
afinal somos casados h longos anos, no posso dizer que ela no gosta
de mim. Mas, do ponto de vista estritamente sexual, minha vida
uma desgraa. Eu penso nela o dia inteiro, sonho com ela, masturbome com ela, e ela est do meu lado na cama, dorme comigo...
Ela dorme com voc?
Literalmente. No que a gente no transe. A gente transa,
sim. Mas muito pouco. Quando a gente transa, uma verdadeira
maravilha. Eu durmo feliz, fico uma semana alegre, de to bom que .
Ento, voc no totalmente frustrado.
Acontece que, de to bom que , eu fico querendo mais. E sabe o
que acontece? Passa uma semana, nada. Passam duas semanas, nada.
s vezes, chega a passar um ms! Demora tanto que algumas vezes,
quando ela cedeu, eu brochei. E no adianta eu insistir, porque seno
d briga e at ameaa de separao. Eu tenho de ficar quieto no meu
canto, aguardando o sinal.
Sinal?
... a gente percebe quando ela quer... depois de tanto tempo
juntos... so pequenos sinais de receptividade...
um casamento e tanto.
De maneira alguma. O senhor diz isso porque no avalia
corretamente o meu sofrimento. Sou muito aceso, sexualmente. to
difcil suportar a longa abstinncia que uma colega de trabalho, a
quem confessei meu drama, sugeriu-me pular a cerca. Durante muito
tempo, pensei nisso, bolei mil planos, mas nada foi pra frente.
No a mesma coisa.
No, no . E tem mais: suspeitei que a minha colega de trabalho
disse isso porque gostaria que eu pulasse a cerca... com ela. Ela
casada, mas no castrada... Eu que me sinto assim: casado e
castrado.
Mas... O que voc faz, para namorar a sua mulher?
O que eu fao? Como assim? Afinal, j somos casados! E o que
pior: h tantos e tantos anos, que nem sei se ainda d tempo de
recomear.
Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 17, n. 3, p. 522-528, dez. 2011
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Tempo de reconquist-la.
No, no h mais tempo.
Nunca tarde.
Referncias
LACAN, J. (1985). O Seminrio: livro 3: as psicoses. (1955-1956). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar.
Soler, C. (1993). Fines del analisis. Historia y teoria. In: Finales de Analisis. (p.
29). Buenos Aires: Manantial.
Teixeira, A. M. R. (2010, janeiro/julho). As bodas sintomticas do obsessivo com
a histrica. In: Agora: estudos em Teoria Psicanaltica, 13 (1), 51-61.
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