A Histria do tomo:

de Demcrito ao Primeiro Reator

[1,2]

Jader Benuzzi Martins

O Laboratrio de Rutherford
Prefcio
O Atomismo Grego
O Sculo XIX
O Incio da Radioatividade
As Origens da Mecnica Quntica
A Nova Mecnica Quntica
O Nutron
A Fisso
O Primeiro Reator
Referncias Bibliogrficas
Prefcio
Recebi com grande satisfao o convite da Academia de Cincias de So
Paulo para me associar s homenagens prestadas ao Professor Marcello
Damy de Souza Santos.

 importante salientar a atuao cientfica do Professor Marcello Damy

nos campos da Cincia Fundamental e Aplicada. No exerccio de
relevantes cargos, seu esprito de liderana sempre contribuiu para o
desenvolvimento da Fsica em nosso pas.
Este modesto trabalho constitui uma pequena homenagem do autor ao
professor Damy.
O Atomismo Grego
A teoria atomstica comeou a ser edificada por volta do quinto sculo
antes de Cristo pelos filsofos gregos Leucipo e Demcrito. [3]
Demcrito afirma na sua teoria Atomstica que o universo tem uma
constituio elementar nica que o tomo, partcula invisvel,
indivisvel, impenetrvel e animada de movimento prprio. As vibraes
dos tomos provocam todas as nossas sensaes. Lito Lucrcio, clebre
poeta romano (95-52 A.C.), reproduziu em poemas as idias de
Demcrito expostas no livro
O Sculo XIX
Estas idias, por serem muito avanadas para a poca, somente foram
retomadas no incio do sculo XIX pelos pesquisadores no campo da
Qumica. Para explicar as leis ponderais da Qumica, Dalton props em
1803 uma hiptese atmica apresentada no livro "A new system of
chemical philosophy".[4a]
Com a finalidade de interpretar as leis volumtricas de Gay-Lussac
(1805-1908), Amadeu Avogadro, Conde de Quaregna e Cerreto, [4b]
professor de Fsica em Turim, exps em 1811 a hiptese da existncia de
molculas que constituem um agrupamento de tomos.
Aps o ano de 1834, a interpretao das leis da eletrlise de Michael
Faraday permitiu que se conclusse que os tomos transportavam carga
eltrica. Esta carga eltrica foi denominada por Stoney electron, nome
grego dado ao mbar amarelo; pois este, quando friccionado, tem a
propriedade de atrair corpos leves, o que conduziu descoberta de
efeitos eletrostticos.
Aps os trabalhos de Faraday e Stoney foi grande a procura da carga
elementar, isto , da menor carga que poderia ser transportada na
eletrlise. Em 1887 Joseph John Thomson no Cavendish Laboratory, em
Cambridge, confirmou a existncia do eltron utilizando um tubo de
raios catdicos (tubo de Crookes) e determinou a relao entre a carga e
a massa desta partcula.

J.J. Thomson dividiu com Lorentz a honra de haver iniciado o estudo do

eltron, tendo recebido o Prmio Nobel em 1906. Assim descreve ele sua
descoberta:
J.J. Thomson

[5]

"Could anything at first sight seem more impractical than a body

which could only exist in vessels from which all but a minute fraction of
the air had been extracted, which is so small that its mass is an
insignificant fraction of the mass of an atom of hydrogen, which itself is
so small that a crowd of these atoms equal in number to the population
of the whole world would be too small to have been detected by any
means then known to science."
Posteriormente Robert A. Millikan, fsico americano da Universidade de
Chicago, trabalhou durante nove anos (1909-1917) na determinao da
carga do eltron na sua clebre experincia da gota de leo.
Devemos destacar tambm no desenvolvimento da Fsica Atmica as
descobertas do Raio X e da Radioatividade. Wilhelm Roentgen (18451923), cientista alemo, fazendo experincias com raios catdicos
descobriu acidentalmente em 1895 um tipo de radiao que atravessa
corpos opacos, apesar de ser em parte por eles absorvida. Como era de
natureza desconhecida, foi denominada de radiao X, ou Raios X. Henri
Poincar apresentou, em 189
O Incio da Radioatividade
Henri Becquerel (1852-1908), entusiasmado com a apresentao de
Poincar, intensificou seus estudos sobre materiais fosforescentes e
fluorescentes. No mesmo ano de 1896 Becquerel estabeleceu a partir de
seus trabalhos que os sais de urnio emitiam radiao anloga s do
raio X e que impressionavam chapas fotogrficas. As radiaes de
Becquerel foram estudadas tambm por Kelvin, Beatle, Smoluchwski,
Elster, Geitel, Schm
Foi tambm marcante a atuao do fsico Ernest Rutherford no estudo da
radioatividade natural. Rutherford nasceu em Nelson, Nova Zelndia, em
1871 e morreu na Inglaterra em 1937, tendo realizado seus estudos na
Austrlia e na Inglaterra. Foi um dos fsicos mais importantes do sculo.

Em 1903 Rutherford e Frederick Soddy descreveram a

radioatividade como a conseqncia da transmutao
natural dos elementos. Estas as palavras de Rutherford
a respeito:
Ernest Rutherford

[5a]

"A great change in our ideas resulted from the

discovery of the electron and of the spontaneous radioactivity observed in the heavy
elements, uranium and thorium. Soddy and I were able to show in 1903 that
radioactivity was a sign and measure of the instability of atoms, and that the atoms
of uranium and thorium were undergoing a series of spontaneous transformation."

Rutherford recebeu o Prmio Nobel em 1908, em 1918 se

tornou diretor do laboratrio Cavendish e em 1931 recebeu
do rei da Inglaterra o ttulo de nobre. Sua experincia para
verificar se o modelo de tomo de J.J. Thomson era correto
constituiu um dos trabalhos mais interessantes da Fsica
Nuclear. Foi realizado em 1911 utilizando o espalhamento de
partculas alfa em ncleos pesados. Desta experincia
resultou para o tomo um modelo an&
Enquanto eram realizadas as pesquisas sobre a radioatividade natural
nesta primeira dcada do sculo, Albert Einstein [1879-1955]
apresentava em 1905-1906 uma teoria que seria de grande importncia
no estudo da Fsica: a Teoria da Relatividade. Nesta teoria, matria e
energia passam a ser relacionadas de modo mais estreito, podendo
energia se transformar em matria e matria se transformar em energia.
Einstein assim apresenta s! ua idia:
Albert Einstein

[5b]

"It followed from the special theory of relativity that mass and energy are
both but different manifestations of the same thing - a somewhat unfamiliar
conception to the average man. Furthermore, the equation E is equal to MC 2 in
which energy is but equal to mass multiplied with the square of the velocity of light,
showed that very small amount of mass may be converted into a very large amount
of energy and vice versa - that mass is

As Origens da Mecnica Quntica

Entre 1913 e 1915 Niels Bohr (1885-1962), em Copenhague,
estudando o problema da estabilidade do tomo de
Rutherford, estabeleceu uma teoria na qual havia a
aplicao da hiptese quntica de Planck ao estudo do
movimento dos eltrons em rbita. O tomo de Bohr se
mostrou perfeito no estudo do espectro do hidrognio, sendo possvel
uma interpretao terica da frmula emprica de Balmer para o espectr
De 1910 a 1920 os fsicos voltaram suas atenes para a dualidade
onda-corpsculo. William Braggs chegava a dizer que na segunda,
quarta e sexta a luz era onda; tera, quinta e sbado a luz era
corpsculo; no domingo, dia do Senhor, a luz poderia ser onda e
corpsculo.
Maurice de Broglie, levando este problema para seu irmo, Louis de
Broglie (*1892), entusiasmou-o. J em 1924 este apresentava seu
clebre postulado, resolvendo a dualidade onda-corpsculo: a toda onda
est associado um corpsculo e a todo corpsculo est associada uma
onda. Com isso estava criada a Mecnica Quntica.
A Nova Mecnica Quntica
A Mecnica Quntica ou Mecnica Ondulatria deve seu
desenvolvimento a Erwin Schrdinger (1887-1961), com a equao de
onda da Mecnica Quntica (1926), e a Werner Heisenberg, fsico
alemo nascido em 1901, com a Mecnica das Matrizes (1925). A
Mecnica Quntica Relativista foi desenvolvida a partir da equao de
Klein-Gordon. Esta apresentava a possibilidade da existncia de uma
densidade de pr
O Nutron
Voltemos um pouco no tempo para focalizar o problema da constituio
do ncleo, um dos captulos mais importantes da Fsica Nuclear.
Inicialmente foi apresentada a hiptese para a constituio do ncleo
por prtons e eltrons. Posteriormente, em 1920, D. Orme Masson, fsico
australiano, e Rutherford sugeriram a existncia de uma partcula neutra

no ncleo. Esta partcula, o nutron, devingls (*1891), no ano de 1932.

Chadwick recebeu o Prmio Nobel de Fsica em 1935. Tambm neste ano
Hideki Yukawa, fsico japons nascido em Tquio [1907-1981] apresentou
a sua teoria do campo mesnico para explicar o sistema das foras
nucleares. Em 1948 Yukawa ganhava o Prmio Nobel, enquanto neste
mesmo ano, em laboratrio dos Estados Unidos, e na Inglaterra, no ano
anterior, no estudo de raio! s csmicos, era desc<
" Caro Fermi,
Agradeo a gentileza de me enviar uma resenha de suas
recentes experincias nas quais tem provocado uma
radioatividade em muitos elementos utilizando nutrons
como partculas incidentes. Os seus resultados so de
grande interesse, e no duvido que obteremos
rapidamente maiores informaes sobre o verdadeiro
mecanismo dessas transformaes. No est claro que
em todos os processos as explicaes sejam t
Congratulaes e muitas felicidades.
Rutherford "

No vero de 1934 Fermi esteve no Brasil e, em So Paulo, encontrou o

fsico de Turim Gleb Wataghin e um velho companheiro da Escola Normal
de Pisa, o matemtico Luigi Fantappi. Wataghin e Occhialini criaram
uma florescente Escola de Fsica que muito contribuiu para o
desenvolvimento da Cincia Brasileira.
Marcelo Damy muito se beneficiou com as vindas de Wataghin e Luigi
Fantappi para So Paulo. Numa entrevista concedida "Cincia Hoje" [7]
o prof. Damy se refere de modo elogioso a estes professores.
"Eu estava no segundo ano, em 1934, quando Wataghin comeou a dar aulas de
fsica na Faculdade de Filosofia. Naquela poca as sesses de fsica e qumica da
Faculdade de Filosofia funcionavam na Escola Politcnica, de modo que tive a
oportunidade de ser aluno dele. Seu curso era dado simultaneamente aos alunos da
Filosofia e da Politcnica, como se fosse um verdadeiro Instituto de Fsica. At
ento, o ensino de fsica
O ano letivo de 1934-1935 foi um dos mais produtivos para o grupo de
Fermi. Os trabalhos sobre nutrons foram reunidos por Rutherford e
publicados nos "Proceedings of the London Royal Society". No trabalho
apresentado "Royal Society", a atividade produzida nos vrios

elementos classificada em: fraca, mdia e forte. Com a finalidade de

otimizar essa classificao, um tanto gro
" Desejo contar como fiz a descoberta mais importante da minha vida. Um dia,
indo ao laboratrio, estava pensando em estudar a absoro de nutrons por um
bloco de chumbo mas quando, finalmente, estava para comear a experincia,
pensei: no quero um bloco de chumbo mas um de parafina. Foi verdadeiramente
uma inspirao improvisada, sem uma razo premeditada. "
Assim, no dia 22 de outubro de 1934, foi utilizada pela primeira vez
parafina na moderao de nutrons. Numa outra parte do Instituto,
enquanto Fermi trabalhava, estava sendo realizado um exame do qual
participavam, como Membros da Banca Examinadora, quase todos os
componentes do grupo de Fermi. Prsico, em visita a Roma, e Bruno
Rossi, assistiram s experincias. Ao meio dia, Fermi convocou todos os
membros do Instituto para verificar um estranho fenmeno
I - os nutrons lentos eram mais eficazes que os rpidos na produo de
reaes nucleares em certos elementos;
II - a parafina agia como moderador, isto , no choque dos nutrons com
os ncleos de hidrognio (elementos leves) da parafina, eles perdiam
grande parte da energia cintica.
noite, na casa de Amaldi, foi preparada uma "lettera" para comunicar
a descoberta, que seria publicada na "Ricerca Scientifica" . Como a
esposa de Amaldi era redatora da revista, enviou para a redao, na
manh seguinte, o artigo que tinha como ttulo "Azione di Sostanze
Idrogenate sulla Radioativit Provocata da Neutroni - I". So autores: E.
Fermi, E. Amaldi, B. Pontecorvo, F. Rasetti, E. Segr.
Corbino considerou muito importante esta descoberta, que foi
patenteada no dia 26 de outubro de 1935, tendo recebido o nmero de
patente italiana N.324458. Os inventores registrados, Fermi, Amaldi,
Pontecorvo, Rasetti e Segr decidiram que, caso houvesse qualquer
lucro em dinheiro, dividiriam em partes iguais a quantia tambm com os
qumicos Trabachi e D'Agostino.
Os anos de 1936 e 1937 trouxeram uma atmosfera pesada Itlia. A
retrica de Mussolini, mesmo para apolticos como Fermi, ressoava
desagradvel. A conquista da msera Etipia era para o fascismo a
restaurao das glrias do Imprio Romano. Veio, posteriormente, a
aliana com a Alemanha, que desgostou os intelectuais italianos. A gota
d'gua para Fermi foi o "Manifesto della razza" que apresentava a bande
A Fisso

Enquanto se desenrolavam em Estocolmo as cerimnias da entrega do

Prmio Nobel, na Alemanha, Otto Hahn e Fritz Strassman faziam a
descoberta mais importante da Fsica Nuclear: a fisso do ncleo. Em
comunicao apresentada Revista "Naturwissenschaften" no dia 22 de
dezembro de 1938, eles descrevem como concluram, sem qualquer
sombra de dvida, a presen&cced
Estas as palavras de Otto Hahn descrevendo a descoberta da Fisso:
Otto Hahn

[5c]

" In particular, Fermi concluded that by irradiating uranium with neutrons he

had formed transuranic elements; that is, elements of a higher atomic number than
uranium. Miss Lise Meitner, Fritz Strassman and I decided to repeat and extend this
very interesting experiment. We felt well qualified to do so. The physicists Lise
Meitner and I had worked together on problems of radioactivity for over thirty
years. Fritz Strassman, my friend
During the four years of the
joint work, from 1934 to 1938, we published a number of papers,
Meitner, Hahn, Strassman, believing that we had isolated isotopes of
elements 93 to 96, and our results were generally accepted. But
toward the end of 1938, when Lise Meitner had been compelled to
leave Germany and had imigrated to Sweden, Dr. Strassman and I
came to the startling conclusions that the impact of a neutron on ! a
uranium nucleus caused it<
Lise Meitner calculou que a energia liberada na fisso era de
aproximadamente 200 Me V.
Da Sucia, Fermi dirigiu-se a Copenhague, tendo sido recebido
cordialmente na casa da familia de Niels Bohr. Partiu da Europa no
navio Franconia e desembarcou, no dia 2 de Janeiro de 1939, em
New York. Disse, ao desembarcar, para Laura: "Fundamos o ramo
americano da famlia Fermi". Foi recebido, no desembarque, pelo
Professor G.B. Pegram, Chefe do Departamento de Fsica da
Universidade de Columbia.
No dia 16 de janeiro de 1939, chegava a Princeton o professor
Niels Bohr. Conversando com Einstein e Wheeler, apresentou os
trabalhos de Frisch, Meitner, Otto Hahn e Strassman. Einstein,
entusiasmado, pensou na possibilidade da utilizao da energia
liberada na fisso. Numa conferncia na Universidade George
Washington, Fermi e Bohr tm oportunidade de trocar informaes
sobre o problema da fisso. Fermi me

Sobre o trabalho apresentado em "Physics Reviews" importante

lembrar as palavras de Anderson:
Herbert L. Anderson

[5d]

"Fermi told me at the time that the quickest way to the chain reaction and
all its consequences was to make a chain reaction that could probably be done first
and most easily by the techniques most familiar to him, using natural uranium. And
so, we launched on a career of trying first of all to see whether neutrons were
emitted and in what number. And a great deal of emphasis was placed on the
quantitative aspects of the subject. The paper, "The prod

O Primeiro Reator

O Primeiro Reator Nuclear, Universidade de Chicago,

2 dezembro de 1942
Com a finalidade de influenciar o Presidente F.D.
Roosevelt, Szilard conseguiu um intermedirio,
Alexandre Sachs, empresrio e amigo do presidente, para levar
uma carta de Albert Einstein.
Segue a ntegra da carta de 2 de agosto de 1939:
Albert Einstein
Old Grover
Road Nassau Point
Peconic, Long Island

August, 2nd, 1939

Senhor Presidente,
Algumas pesquisas desenvolvidas recentemente por E.
Fermi e L. Szilard, cujas comunicaes me foram
entregues em manuscritos, induziram-me a considerar
que o elemento urnio possa ser transformado, num
futuro prximo, em uma nova e importante fonte de
energia. Alguns aspectos da situao justificam uma
certa vigilncia e uma rpida interveno por parte da
administrao estatal. Considero, portanto, que seja meu
dever solic
Nos ltimos quatro meses foi confirmada a possibilidade (graas aos
trabalhos de Joliot Curie, na Frana e os deFermi e Szilard, na
Amrica) de produzir, em uma grande massa de urnio, uma "reao
nuclear em cadeia" capaz de gerar quantidade de energia e numerosos
elementos com caractersticas semelhantes ao rdio. Atualmente temos
quase certeza de podermos chegar a estes resultados num futuro
imediato.
Este novo fenmeno poder permitir a construo de bombas
extremamente potentes. Uma nica bomba deste novo tipo, transportada
por uma embarcao e explodindo num porto, poder destruir
inteiramente o porto e grande parte do territrio adjacente. Todavia,
elas devem ser relativamente pesadas para serem transportadas por
avio.
Os Estados Unidos dispem de uma quantidade pequena de minrio com
baixo teor de urnio. Encontramos bons minrios de urnio no Canad
e na Tchecoslovquia, sendo que o pas que possui as melhores minas de
urnio o Congo Belga.
Em funo de toda esta situao, seria interessante e oportuno um
contato permanente entre a alta administrao do governo e o grupo de
fsicos que esto estudando a "reao em cadeia" na Amrica. Uma das
maneiras de realizar tal ligao seria a escolha de uma pessoa que
gozasse de sua confiana e que poderia agir de maneira no oficial. As
suas atribuies seriam as seguintes:

manter o governo informado dos desenvolvimentos recentes

neste campo e formular recomendaes atravs de intervenes
do Estado, para assegurar aos Estados Unidos o suprimento
necessrio de material uranfero.

acelerar o trabalho no campo experimental que se desenvolve

atualmente nos laboratrios das Universidades de maneira

limitada, fornecendo mais financiamento, ou caso seja

necessrio, mantendo contato com empresas privadas dispostas
a colaborar com esta causa, e procurando a participao de
laboratrios industriais que disponham de aparelhagem
necessria.
Sou conhecedor do fato de que a Alemanha efetivamente bloqueou a
venda de urnio das minas da Tchecoslovquia, das quais tomou posse.
A deciso de agir rapidamente desta forma pode ser explicada pelo fato
de que o filho do sub-secretrio de Estado, Von Weizscker, trabalha no
Kaiser-Wilhelm-Institut de Berlim, onde esto sendo realizadas, em
parte, as mesmas pesquisas sobre o urnio que se desenvolvem nos
Estados Unidos.
Cordialmente
Albert Einstein

A audincia s foi obtida por Sachs no dia 11 de outubro. Aps a

leitura da carta, no fim da audincia, o Presidente Roosevelt
dirigiu-se ao seu Adido Militar, General E.M. Watson, e declarou:
"Devemos agir imediatamente". O Presidente Roosevelt nomeou o
Dr. Lyman J. Briggs, que era Diretor do "Bureau of Standards" para
presidente de uma "Comisso do Urnio". Faziam parte da
Comisso o Almirante Hoover e o Coronel Adamson. Foram
convidados os cientistas Sz
Fermi se interessava muito pouco pelos problemas de
administrao e planificao, pois estava totalmente absorvido
pela idia da soluo da Reao em Cadeia. Ficava na sua mesa
concentrado nos problemas tcnicos e cientficos e deixava o
ativismo poltico para Szilard, Teller e Wigner.
Durante a primavera de 1941, comearam a aparecer sinais
importantes da participao de fsicos americanos de primeira
linha no Projeto Nuclear. Passaram a participar ativamente dos
trabalhos A. H. Compton e E. O. Lawrence, pois achavam que
havia uma certa lentido nas pesquisas desenvolvidas. Nos
primeiros dias de dezembro de 1941, um pouco antes da entrada
dos Estados Unidos na Guerra e do Ataque a Pearl Harbor, a
situao era esta:

No havia sido realizada uma reao em cadeia.

Era mnima a produo de Urnio-235 necessrio preparao de um

artefato nuclear ( grande a seo de choque desse istopo do urnio para
nutrons trmicos). Era ponto pacfico entre os cientistas que o urnio
natural no poderia ser utilizado como explosivo. Foi um triunfo da
Tecnologia e da Cincia americanas a separao do Urnio-235 em larga
escala.

S haviam sido preparados alguns microgramas de Plutnio-239 com o

Cclotron de Berkeley. Os fsicos e qumicos vendo a produo insuficiente
de Plutnio-239, sugeriram a construo de um sistema que gerasse maior
quantidade de plutnio. Os resultados foram comunicados por Seaborg a
Briggs, em carta secreta, por questes de segurana. Briggs comunicou
essas concluses a Fermi.

Em novembro de 1941, foi tomada uma deciso para acelerar o

projeto nuclear e incentivar a atuao do NDRC (National Defense
Research Committee). Compton, apesar de no gostar de fsicos
estrangeiros recm-chegados, foi at a Universidade de Columbia
para visitar Fermi e recolher informaes precisas que
possibilitassem a construo de um artefato atmico. Compton,
encarregado de ativar o projeto, transferiu os trabalhos da
Universidade de Columbia para a Universidade de Chicago, onde
era professor. F
So entusiasmadas as palavras de Compton, uma das
testemunhas deste acontecimento, que marcou o incio da era
nuclear:
Arthur Compton

[5e]

"We entered the balcony at one end of the room. On the balcony a dozen
scientists were watching the instruments and handling the controls. Across the room
was a large cubical pile of graphite and uranium blocks in which we hoped the
atomic chain reaction would develop. Inserted into openings in this pile of blocks
were control and safety rods. After a few preliminary tests, Fermi gave the order to
withdraw the control rod another foot, we knew that was g

Para Fermi, as pesquisas tericas e experimentais antecipavam,

garantiam, de modo absoluto, o xito da reao em cadeia no
primeiro reator nuclear construdo:
Enrico Fermi

[5f]

"The experiment in which the first self-sustaining chain

reaction was obtained had been preceeded by a great number of
other experiments and calculations which had made virtually
certain that once the so-called critical dimensions were achieved,
the reaction would become a reality."

Referncias Bibliogrficas
[1]

J. B. Martins, "Histria da Energia Nuclear", Comisso Nacional

de Energia Nuclear (1984).
[2]

J.B. Martins, "Einstein, Fermi, Drummond e a Bomba", Matraga UERJ,1 (1987).

As referncias (1) e (2) serviram de base para o presente trabalho.
[3]

L. Boutier, "El Atomismo Griego", Editorial Nova, Buenos Aires

(1936).
[4]

P. F. Schurmann, "Histria de la Fsica", Editorial Nova, Buenos

Aires, Vol. I e Vol. II .
[4a]

ibidem

[4b]

ibidem

[5]

G. Seaborg, "Century of the Atom", International Atomic Energy

Agency -IAEA (1980).
[5a]

ibidem

[5b]

ibidem

[5c]

ibidem

[5d]

ibidem

[5e]

ibidem

[5f]

ibidem

[6]

E. Segr, "Enrico Fermi, Fsico", Zanichelli Editore, Bologna

(1976).
[6a]

[7]

ibidem

M. Damy, "Perfil", entrevista publicada na Revista "Cincia Hoje"

Vol.14, No 79, pg.46 (1992).

[8]

L. Szilard and W.H.Zinn, "Instantaneous

Emission of Fast Neutrons in the Interaction of
Slow Neutrons with Uranium", Phys. Rev. 55, 797
(1939).
[9]

H. L. Anderson, E. Fermi and H.B. Hanstein,

"Production of Neutrons in Uranium Bombarded",
Phys. Rev. 55, 797 (1939).
[10]

C. Allardice and E. R. Trapnell, "The First

Reactor", U.S. Atomic Energy Comission, Division
of Technical Information (1946).

Jader Benuzzi Martins

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Fsica
Rua So Francisco Xavier, 524 - 3o, Rio de Janeiro, RJ
E-mail: Jader@UERJ.BR