Técnicas de Roteiro para Cinema e Televisao
Técnicas de Roteiro para Cinema e Televisao
Técnicas de Roteiro para Cinema e Televisao
encaix-x-x-xar esta fr-fr-fr-frase." Antes de falar mal do Mario de Andrade, tente arrumar
uma conversa para encaixar uma frase do Rui Barbosa.
E os 500 anos? Bem, resolvi escrever sobre roteiros e contos populares ao ler um estudo de
Cmara Cascudo sobre os contos tradicionais brasileiros. Ele faz referncia a um elemento
narrativo presente em muitos contos, o que ele chama de "andou-andou-andou". aquele
momento de transio, quando o heri (pode ser o Prncipe, o Gato de Botas ou Branca de
Neve) parte para sua aventura, deixando o "mundo comum em direo ao mundo especial"
(Campbell). "O heri deixou sua aldeia. Andou, andou, andou e foi dar numa praia
paradisaca." No cinema este momento "andou-andou-andou" quase sempre representado
por uma seqncia sem falas, uma sucesso de planos geralmente ligados por fuses e
cobertos por uma trilha, que leva Indiana Jones da Amrica ao Oriente ou transforma o
Capito Blood de renegado da corte em terror das Carabas. Para montar a seqncia so
necessrios pelo menos trs planos. Por que trs?, pergunto eu. Trs, eu mesmo me
respondo, para que o plano intermedirio separe o primeiro do ltimo, criando a sensao
de distncia percorrida: o plano 3 no faz fronteira com o plano 1, a volta vai ser difcil.
Pois a cena "andou-andou-andou", nos informa Cmara Cascudo, est presente em vrias
narrativas do ndio amaznico: "uat-uat-uat".
A partir de hoje, quando vir num filme uma daquelas seqncias de passagem com trs
planos (entra no carro/sai de carro/chega de carro) lembre-se do "uat-uat-uat" e
desconfie da tal "originalidade" cantada em prosa, verso e contra-capas de fitas de vdeo.
Jorge Furtado
jfurtado@portoweb.com.br