1 - Periodização Do Treinamento de Força-2008 PDF
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MINOZZO, F. C.; LIRA, C. A. B. DE; VANCINI, R. L.; SILVA, A. A. B.; FACHINA, R. J. DE F. G.;
GUEDES JR, D. P.; GOMES, A. C.; SILVA, A. C. DA. Periodizao do treinamento de fora: uma
reviso crtica. R. bras. Ci e Mov. 2008; 16(1): 89-97.
RESUMO: Originria da Alemanha e da antiga Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS),
a teoria da periodizao do treinamento se desenvolveu em meados do sculo XX, no chamado
perodo cientfico, baseada na teoria da Sndrome Geral da Adaptao (SGA). A literatura
cientfica pertinente ao treinamento de fora entende a periodizao como a variao sistemtica
da intensidade e do volume com a finalidade de se desenvolver de forma eficiente uma ou mais
capacidades fsicas. O presente trabalho teve por objetivo analisar o efeito da periodizao sobre
o treinamento de fora com relao s suas adaptaes especficas e comparar os modelos mais
recorrentes (fixo, linear e ondulado). Para tanto, foi feito um levantamento bibliogrfico sobre as
variveis utilizadas para a prescrio do treinamento resistido, assim como uma reviso sistemtica
de artigos encontrados nas seguintes bases de dados: Pubmed e Scielo. A constatao principal da
presente reviso foi que o modelo ondulado o mais eficiente para o aumento de fora mxima
e potncia, seguido pelo linear e por ltimo o fixo, embora sejam necessrias mais investigaes
enfocando resistncia de fora e hipertrofia muscular.
Palavras chaves: fora muscular, treinamento resistido, volume, intensidade.
MINOZZO, F. C.; LIRA, C. A. B. DE; VANCINI, R. L.; SILVA, A. A. B.; FACHINA, R. J. DE F. G.;
GUEDES JR, D. P.; GOMES, A. C.; SILVA, A. C. DA. Periodized strength training: a critical review.
R. bras. Ci e Mov. 2008; 16(1): 89-97.
ABSTRACT: Originating from Germany and former Union of Soviet Socialist Republics (USSR),
the training periodization theory was developed in the middle of the 20th Century, the so-called
scientific period, based on the General Adaptation Syndrome theory (GAS). The scientific literature
on strength training understands periodization as the systematic variation of intensity and volume
aiming at more efficiently developing one or more physical abilities. This paper aimed at analyzing
the effect of periodization on strength training as related to its specific adaptations and comparing
the most recurrent models (fixed, linear, and undulating). For that, a bibliographic survey on
the training variables used to prescript resistance training was carried out, as well as a systematic
review of the articles found in the following databases: Pubmed and Scielo. The main finding of
this review was that the undulated model is the most effective one for increasing maximum strength
and power, followed by the linear one, and lastly by the fixed one, although more investigation
focusing on strength resistance and muscle hypertrophy is required.
Key words: muscle strength, resistance training, volume, intensity.
Recebimento: 08/05/2007
Aceite: 23/03/2008
Correspondncia: Prof. Dr. Antnio Carlos da Silva - e-mail: carlos.antonio@unifesp.br - Centro de Estudos de Fisiologia do Exerccio (CEFE), Departamento
de Fisiologia da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP) - Rua Botucatu, 862, 5 andar, Vila Clementino, CEP: 04023-901, So Paulo (SP), Brasil
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1. Introduo
Ao se fazer meno Teoria da
Periodizao, acaba-se por se fazer alguma
aluso ao desenvolvimento da Cincia
do Treinamento Desportivo. Para isso,
imprescindvel recorrer a algumas obras
clssicas que fundamentaram teoricamente
tal cincia, criando-se as condies ideais
para o entendimento da origem das
propostas publicadas mais recentemente. O
desenvolvimento da Cincia do Treinamento
Desportivo acompanhou a humanidade
desde as civilizaes primitivas, abrangendo
o chamado perodo emprico, passando pelo
renascimento e a idade moderna (perodo
de improvisao). Contudo, foi somente
no final do sculo XIX e incio do XX que
surgiu na Alemanha e na antiga Unio das
Repblicas Socialistas Soviticas (URSS) o
conceito sobre o planejamento do treino
desportivo (perodo da sistematizao).
Porm, foi a partir da dcada de 50 (perodo
cientfico) que nos pases do Leste Europeu
surgiram os primeiros compilados tericos
sobre a periodizao32.
De forma global, a periodizao do
treinamento pode ser definida como a
aproximao sistemtica, seqencial e
progressiva ao planejamento e organizao
do treinamento de todas as qualidades
motoras dentro de uma estrutura cclica
para a obteno do rendimento timo de
um desportista ou uma equipe. Sua eficcia
mxima depende de saber inter-relacionar
ao longo do perodo de treinamento todas
as habilidades motoras para se atingir o
rendimento especfico mximo12-14;32.
A partir da dcada de 60, o cientista
russo Lev Pavlovitch Matveev publicou seus
primeiros trabalhos sobre a periodizao do
treinamento, baseado na teoria da Sndrome
Geral da Adaptao (SGA), proposta em 1936
por Hans Selye31. Selye31 acreditava que o
organismo reagia de forma muito similar em
resposta a diferentes tipos de estresse, ou seja,
que invariavelmente ajustar-se-ia no sentido
de recuperar o equilbrio homeosttico de
acordo com as seguintes fases: reao de
alarme, resistncia e exausto. geralmente
na fase de resistncia, aps uma recuperao
adequada, que ocorre o processo de
supercompensao e, possivelmente, na
fase de exausto crnica, sem recuperao
adequada, que pode ocorrer o overtraining6.
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para uma dada carga de trabalho at a Este modelo era utilizado para o treinamento
falha mecnica na ao motora concntrica de diferentes grupamentos musculares e
08;11;15;19;20
.
era composto por sries entre 5 ou 6RM.
24
J o volume , geralmente, dado pelo Contudo, OBryant et al. propuseram um
nmero de repeties totais em uma sesso modelo baseado nos princpios clssicos
de treino, ou seja, o nmero de sries, de periodizao (reduo de volume e
multiplicado pelo de repeties, multiplicado concomitante aumento de intensidade).
pelo nmero de exerccios15;19;20. Isso porque Estes autores compararam o modelo fixo
o nmero total de repeties est relacionado ao periodizado linear e encontraram que o
ao tempo de durao do estmulo no qual modelo periodizado proporcionou maiores
o indivduo est sendo submetido a uma ganhos de fora. Seguindo esta mesma linha,
38;39
tambm apresentaram
carga, no contabilizando o intervalo de outros estudos
1
resultados onde o treinamento periodizado
recuperao .
se mostrou significativamente superior
Quanto ao intervalo de recuperao entre
quando comparado a outros modelos noos estmulos (treinos), este dependente
periodizados com relao aos ganhos de
da intensidade, do volume e dos objetivos
fora mxima. A possvel crtica para os
do treinamento20. De maneira geral,
achados de OBryant et al.24 e Willoughby38;39,
para obterem-se as respostas adaptativas
foi que a manipulao do volume seria o
desejadas, os exerccios que visam o ganho
principal responsvel pelo ocorrido e que
de fora mxima ou potncia (cargas altas)
provavelmente o modelo periodizado teria
necessitam de intervalos maiores para o
propiciado uma fase hipertrfica inicial, o
restabelecimento do sistema fosfagnico
que conduziu a um aumento de fora na
(ATP-CP). J os que objetivam hipertrofia
fase final.
muscular (cargas mdias), precisam de
Outra comparao importante com
intervalos intermedirios e, finalmente,
os que visam a resistncia de fora (baixa relao aos diferentes tipos de modelos de
intensidade) que se caracterizam por treinamento fixo em relao aos modelos
intervalos menores com maior participao periodizados. Por exemplo, McGee et
al.23, comparando o modelo fixo de sries
do metabolismo oxidativo19.
nicas (uma srie por exerccio) ao de sries
Dependendo da magnitude do estmulo
mltiplas (mais de uma srie por exerccio)
e da manipulao das variveis, o sistema
e ao periodizado linear (tambm de sries
neuromuscular geralmente sofre ajustes agudos,
mltiplas), com relao ao desenvolvimento
que, de acordo com o tipo de programa de
da resistncia de fora, constataram que,
treinamento, podem potencializar adaptaes
apesar de no haver encontrado diferena no
neurais, metablicas, endcrinas, histolgicas,
ganho de fora dos grupos periodizado e fixo
morfolgicas, imunolgicas e cardiovasculares.
de sries mltiplas, estes foram superiores
Essas adaptaes, por sua vez, esto
aos obtidos pelo grupo de sries simples,
intimamente ligadas e podem ser manipuladas
o que os levou a concluir que o modelo
conforme o objetivo do treinamento fora,
de treinamento para o desenvolvimento da
potncia ou resistncia de fora9.
resistncia de fora volume-dependente,
ou seja, sries mltiplas seriam superiores
2.1. Periodizao no treinamento de fora
s simples. Alm disso, parece que a
De maneira geral, os estudos sobre simples manipulao de volume tambm
a periodizao no treinamento de fora exerceu grande influncia sobre a melhora
comparam o modelo fixo (no-periodizado) observada, visto que, apesar de o grupo
a um ou mais modelos periodizados (linear periodizado ter realizado um menor volume
e/ou ondulado), sendo o objetivo principal, de sries mltiplas que o fixo, ambos
verificar se os modelos periodizados so obtiveram resultados similares. Observousuperiores ao fixo em termos de resultados se que, de alguma maneira, a fase inicial
alcanados2;3;8;10;15,16;18;19;21;23;24;26-30;38;39.
(duas primeiras semanas) de treinamento do
Na dcada de 60, o modelo fixo era grupo periodizado teria gerado adaptaes
o mais popular entre os praticantes4 na suficientes na resistncia de fora e que talvez
tentativa de obter aumento na fora mxima. estas tenham sido mantidas pelo aumento
da intensidade nas semanas seguintes.
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3. Concluso
A maior parte dos estudos demonstrou
que o modelo fixo apresentou-se inferior
aos modelos periodizados em que um
maior volume era empregado. Entretanto,
quando se equalizou os volumes, resultados
contraditrios foram obtidos ao se comparar
o modelo periodizado com o fixo. Neste
sentido, no h consenso sobre quais seriam
os melhores protocolos de avaliao de fora
para comparar os diferentes modelos, j que
4. Referncias
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