Custo Mineroduto

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8 e 9 de junho de 2012

ISSN 1984-9354

COMPARAO DE MODAIS DE
TRANSPORTE PARA ESCOAMENTO DE
MINRIO: INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE
CRISTIANO FARIAS COELHO
(UENF)
GUDELIA MORALES
(UENF)

Resumo
Este trabalho analisa os modais mais usuais empregados no
planejamento do transporte de minrio de ferro, no Brasil e no mundo,
e buscou os motivos que levaram construo de um mineroduto do
Sistema Minas-Rio, da Anglo Ferrous Brazil. Parra a transferncia do
minrio de ferro entre as minas, em Minas Gerais, e o Porto de
Minrio do Au (de onde ser exportado), no norte do Rio de Janeiro,
so analisadas as alternativas tcnicas de transporte por rodovia,
ferrovia e dutovia. Depois de validado o transporte dutovirio, como a
opo mais vivel, este trabalho apresenta as vantagens da escolha e
suas implicaes favorveis sustentabilidade.
Palavras-chaves: Modais de Transporte, Gerenciamento da Cadeia de
Suprimentos, Sustentabilidade.

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1. Introduo
Um assunto que aborda a logstica est relacionado administrao dos fluxos de bens,
servios e da informao associada que os pem em movimento, ou seja, tem como objeto
central de sua anlise as variveis: tempo, lugar, qualidade, informao e custo.
Assim, Ballou (2001) sugere que a funo da Logstica colocar o servio ou produto certo,
no lugar certo, no tempo certo, e na condio desejada, criando a maior contribuio possvel
para a firma.
Para Bowersox & Closs (1996), o termo logstico aplicvel a qualquer atividade que utilize
seus conceitos bsicos e que lide com informaes, transporte, estoques, armazns,
equipamentos de movimentao de carga e embalagem.
Portanto superar tempo na movimentao de bens ou na entrega de servios de forma eficaz e
eficiente, com a otimizao de distncias, a tarefa da logstica.
O transporte, uma das atividades primrias no estudo da Logstica, considerado pela maioria
das empresas como o mais importante, uma vez que, em mdia, corresponde a 60% dos custos
logsticos. Assim, qualquer reduo nos custos logsticos impacta profundamente no lucro da
organizao. (FLEURY et al., 2000).
Alm do que, os custos de transporte so associados s caractersticas do produto
transportado, quanto menor o valor agregado da mercadoria e maior o volume, maior ser a
participao do custo pela distribuio na formao do custo total.
As exportaes tm sido a grande alavanca da produo interna de minrio de ferro no Brasil.
A principal justificativa disso so as importaes chinesas que assumiram o papel de grande
importador do minrio de ferro brasileiro a partir de 2002. A China que em 2001, comprava
20,3 Mt (mega toneladas) passou a comprar em 2007 um total de 89,0 Mt, um crescimento
surpreendente de 338% nesses 6 anos. (BRASIL, 2009).
Devido grande e crescente demanda de ferro provocada pela ascenso econmica da China,
novos investidores interessados, os chamados players, vo surgindo para suprir a necessidade
de expanso do mercado de exportao de minrios.

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Por conta disso, hoje h no Brasil dois grandes projetos em andamento, um no municpio
Presidente Kennedy, no Estado do Esprito Santo, e outro em So Joo da Barra, no norte do
Estado do Rio de Janeiro, este em etapa final de construo.
Tais empreendimentos esto em consonncia com os mais modernos conceitos desenvolvidos
pelo Supply Chain Management SCM, ou Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, com o
projeto de logstica integrada, ao englobar a construo de mineroduto e terminal porturio
prprios (FERROUS, 2012). Isso implica diretamente na minimizao de custos, alm de
identificar oportunidades de ganho.
O Sistema Minas-Rio, da Anglo Ferrous Brazil (unidade de negcio da Anglo American),
formado pela reserva mineral e as plantas de beneficiamento de minrio, em conjunto com o
sistema de transporte de mineroduto e o terminal LLX Minas-Rio. (VERAX, 2010).
Para a transferncia do minrio de ferro entre as minas e o porto so analisadas as alternativas
tcnicas de transporte por rodovia, ferrovia e o modal dutovirio. Depois de definida como
mais vivel a opo de transporte dutovirio, este trabalho apresentar as vantagens da
escolha e suas implicaes favorveis sustentabilidade.

2. Aspectos metodolgicos
O objeto de estudo deste trabalho foi o modal logstico escolhido para escoamento da
produo de minrio de ferro em Conceio do Mato Dentro-MG at o Porto de Minrio do
Au, em So Joo da Barra-RJ, em fase final de construo, e os procedimentos
metodolgicos utilizados foram baseados nos condicionantes da pesquisa de natureza
exploratria, conforme Gil (1999) define a sua presena, quando desenvolvida no sentido de
proporcionar uma viso geral acerca de determinado fato.
Nesse caso, normalmente o tema escolhido pouco explorado e torna-se difcil formular
hipteses precisas e operacionveis. Uma caracterstica diferenciada da pesquisa exploratria
consiste no aprofundamento de conceitos preliminares sobre determinada temtica no
contemplada anteriormente.

Assim, contribui para o esclarecimento de questes

superficialmente abordadas sobre o assunto.


Por se tratar de uma pesquisa exploratria, a funo do seu objetivo gerar conhecimento
para aplicao prtica e dirigida soluo de problemas especficos (CERVO & BERVIAN,
2002). Andrade (2002) ressalta ainda algumas finalidades primordiais da pesquisa
exploratria, tais como: proporcionar maiores informaes sobre o assunto que vai investigar,
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facilitar a delimitao do tema de pesquisa, orientar a fixao dos objetivos e a formulao de


hipteses, ou descobrir um novo tipo de enfoque sobre o assunto.
Por fim, foram realizadas comparaes do tipo de modal de transporte em implantao do
Sistema Minas Rio, com casos de sucesso no Brasil, a exemplo da operao do mineroduto
da Samarco Minerao S. A., atravs de pesquisa bibliogrfica que, de acordo com Lakatos &
Marconi (1991), procura explicar um problema a partir de referncias tericas publicadas em
documentos. A pesquisa bibliogrfica busca conhecer e analisar as contribuies culturais ou
cientficas existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. Abrange toda a
bibliografia j tornada pblica em relao ao tema de estudo, desde publicaes avulsas,
boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartogrfico e meios
de comunicao como rdio, gravaes em fita magntica e audiovisuais (filmes e televiso).

3. Modais logsticos indicados para o transporte de minrio


Existem, basicamente, trs alternativas de modais logsticos para transporte de concentrado de
minrio de ferro entre duas reas - mina e porto - distantes entre si: (1) transporte rodovirio
com caminhes graneleiros, (2) transporte ferrovirio em vages e (3) transporte atravs de
duto, sob a forma de polpa aquosa. Analisemos cada um delas.

3.1. Transporte rodovirio


De acordo com Castro (2003), a formao de preo do transporte de carga por rodovia, est
alinhada com a regra de bolso dos caminhoneiros de cobrar o equivalente ao preo de um
litro de leo diesel por quilmetro percorrido, aplicando-se, eventualmente, um desconto para
distncias maiores, ou um acrscimo (ou at a duplicao da distncia) para movimentos sem
possibilidade de carga de retorno.
Assim, para atravessar os 642 km de distncia entre Conceio do Mato Dentro (onde ocorre
o beneficiamento do minrio) e So Joo da Barra (no Porto do Au, de onde o minrio
exportado), um caminho semipesado com capacidade para 15 toneladas teis, cobraria uma
parte fixa de R$ 143 e um adicional de R$ 0,55 por quilmetro percorrido, totalizando R$ 353
+ 143 = R$ 469 pela viagem, alm do que, um caminho totalmente carregado se locomoveria
a uma velocidade mdia de 50 km/h, levando 12 horas e 50 minutos.
Supondo que, grosso modo, o mesmo caminho realize a viagem de ida (carregado) e de volta
(vazio) no mesmo dia e considerando a escala inicial de produo de minrio de ferro em 24,5
mega toneladas por ano (Mtpa), prevista pelo projeto, seria necessria uma frota de 4.475

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caminhes, de 15 t, de capacidade trafegando entre a mina (MG) e o ptio de estocagem no


Porto do Au (RJ), por dia, durante todos os 365 dias do ano.
Quando o valor calculado anteriormente para cada viagem, no valor de R$ 469 multiplicado
pelo nmero da frota de caminhes necessrio para abastecer o porto de minrio de ferro por
dia, ficaria: R$ 469 x 4.475 = R$ 2.098.775,00. O valor calculado ao final de um ano seria de
R$ 2.141.454,00 x 365 = R$ 766.052.875,00.
A utilizao deste modal mostra-se completamente invivel tendo em vista o nmero de
caminhes semi-pesados trafegando nas vias, por dia, alm do fato que, esses mesmos
caminhes fariam a viagem de retorno mina, descarregados, implicando em custos
adicionais devido acrscimo previsto para o caso de movimentos sem possibilidade de carga
de retorno, que, por simplificao, no foram includos nos clculos acima.
Haveria de se pensar, tambm, no aumento dos investimentos do poder pblico em obras de
melhorias nas atuais rodovias, mal dimensionadas na regio para esse tipo de operao, a
exemplo da rodovia BR101 e BR360, entre outras.
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), somente no
Estado do Rio de Janeiro, a rodovia BR360 possui dois dos quatro trechos da rodovia sob
condio de ateno no nvel de alerta (entre as cidades de Laje de Muria e Itaperuna, e
localidade Fazenda do Luna) e um sob condio de cuidado no nvel de alerta (entre
Cardoso Moreira e Campos dos Goytacazes). (BRASIL, 2012).
O enorme fluxo de veculos pesados atravs delas, levaria a uma enorme sobrecarga aos j
deficientes sistemas rodovirios atuais, alm de uma maior emisso de poluentes na atmosfera
devido queima de combustvel.

3.2 Transporte ferrovirio


O transporte ferrovirio largamente utilizado para o transporte de grandes volumes de bens
minerais, tanto no Brasil como em diversos outros pases, mas essa alternativa implica,
necessariamente, na existncia de linha frrea prpria ou de terceiros, ou na sua construo, e
na disponibilidade de equipamentos de carga e descarga e de locomotivas e vages para o
transporte.
A Anglo American no possui ferrovia prpria e, no caso de utilizao desta alternativa de
transporte, dependeria de disponibilidade de uso em ferrovias j existentes, como o caso da
Linha Mineira, o trecho da malha sudeste pertencente Ferrovia Centro-Atlntica (FCA),
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entre Miguel Burnier (MG) e Campos dos Goytacazes (RJ), com 650 quilmetros de
extenso.
Em 1996, a FCA (2010) obteve a concesso para a explorao e desenvolvimento do servio
pblico de transporte ferrovirio de carga na Malha Centro-Leste, conforme processo de
privatizao da Rede Ferroviria Federal S.A. (RFFSA). A Linha Mineira atualmente possui
trecho desativado que requer recapacitao. um trecho longo, antigo e sinuoso, que recebeu
poucos investimentos nas ltimas dcadas.
Alm de investimentos na reativao, essa linha somente atenderia as necessidades do projeto
at o municpio de Campos dos Goytacazes, sendo necessria a construo do trecho partindo
de Campos at o Porto do Au, um ramal de 40 km de extenso. Atualmente esses
investimentos encontram-se sob estudo tcnico de engenharia e avaliao econmicofinanceira para determinar a viabilidade do empreendimento. (VERAX, 2010).
Baseado na tabela tarifria praticada pela FCA para transporte de granis minerais, para faixas
quilomtricas entre 401 e 800 km, cobrada a parcela fixa de R$11,39 e R$ 0,07611 por
tonelada a cada quilmetro percorrido. (BRASIL, 1999).
A projeo para a escala inicial de produo de minrio de ferro, daria o oramento de R$
0,07611 x 24,5 Mtpa = R$ 1.864.965,00 por tonelada do minrio transportada ao ano, alm da
cobrana do valor de R$ 11,39 por cada viagem, que depende da quantidade de vages e
capacidade dos mesmos.
Assim, duas locomotivas e 168 vages, propostos no estudo de viabilidade econmicofinanceira, cada vago com capacidade (cap) de 80 t, transportariam o minrio de ferro
previsto para produo anual inicial (24,5 Mtpa), da mina ao porto, em 2,5 viagens, invivel
se de executar em apenas um dia, supondo uma velocidade constante de 60 Km/h de ambas
locomotivas.
Devido distncia e velocidade, cada locomotiva seria capaz de realizar, em um mesmo dia,
uma nica viagem de ida e uma de volta. Portanto o nmero de locomotivas e vages no
estudo supracitado deveria ser redimensionado, para aumentar a capacidade de entrega do
minrio.
Seriam necessrias 10 locomotivas (loc), com 168 vages (vag) cada, tornando possvel
assim, a descarga de material em um mesmo dia, pois: 10 (loc) x 84 (vag) x 80 (cap) x 365
(dias) = 24,528 Mtpa, valor aproximado da produo de minrio de ferro por ano.

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Levando em conta esse redimensionamento, o valor da viagem de cada locomotiva necessria


para o transporte, ficaria R$ 11,39 x 10 = R$ 113,90 por dia, ou R$ 113,90 x 365 = R$
41.573,50 por ano.
O custo global, calculado por ano, ficaria em R$ 1.864.965,00 + 41.573,50 = R$
1.906.538,50. Vale ressaltar que para o clculo desses valores, no foi levado em
considerao o acrscimo do Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Prestao de
Servios, o ICMS.
Apesar de ser menor o custo global, por ano, indicado para este modal, haveria a necessidade
de revitalizao da linha frrea j existente e a construo do trecho Campos So Joo da
Barra. H de se levar em considerao tambm a previso de construo e operao de ptios
de transbordo e de um ramal ferrovirio para acesso ao porto, alm da compra de
equipamentos de carga e descarga, locomotivas e vages.

A Verax (2010) estima um

investimento de R$ 3,5 bilhes, incluindo infraestrutura, superestrutura e material rodante.

3.3. Transporte dutovirio


A malha mundial de dutos se destina, em sua maioria, a transportar petrleo e gs. O
transporte de polpas minerais (ferro, caulim, bauxita, fosfato e outros), classificadas como
inertes e no perigosas pelos critrios da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT),
so colocadas no duto na rea da mina / planta de beneficiamento do minrio e bombeadas,
por longas distncias, at estaes de processamento prximas aos portos, com elevada
margem de segurana operacional e ambiental, sendo raros os registros de acidentes nesse
modal de transporte. (BRANDT, 2010).
Do ponto de vista econmico o mineroduto apresenta um baixo custo operacional, quando
comparado a outras alternativas de transporte, para grandes volumes transportados e para
longas distncias, como o caso de estudo neste trabalho.
O funcionamento do mineroduto independe de variaes climticas e a ocorrncia de chuvas
no interfere na disponibilidade e condies de transporte da polpa de minrio de ferro, o que,
certamente, afetaria os outros meios de transporte.
Outra caracterstica importante da utilizao do mineroduto a locao fixa do sistema de
transporte, que provocar impactos ambientais negativos pouco significativos na etapa de
implantao e irrelevantes na fase de operao, o que no ocorreria com as alternativas de
transporte rodovirio ou ferrovirio. Alm disso, o mineroduto apresenta mnimos riscos de
acidentes ambientais e humanos.
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Considerando a utilizao da capacidade total da tubulao, de 24,5 milhes de toneladas de


minrio por ano e a previso de 26,5 milhes de metros cbicos de polpa de minrio, que
sero escoados por ano pelo mineroduto e (a uma velocidade mdia de 7 km/h), a polpa
contendo o minrio de ferro dever percorrer todo o trajeto do mineroduto, cerca de 525 Km
de extenso, em 85 horas e 14 minutos. (BRANDT, 2006).
Para fins de comparao, considera-se o transporte dutovirio neste trabalho com o custo fixo
a implantao do mineroduto, orado em R$ 1,61 bilhes de acordo com estudos de Brandt et
al. (2006), com fator de eficincia operacional estimado no projeto de 95%. No foram
considerados subsdios ou benefcios fiscais, ou custos com a manutenco, quando este estiver
em operao. Calcula-se, portanto, que sero gastos R$ 80,5 milhes por ano, ao longo dos
vinte anos de vida til para o qual a tubulao foi projetada, operando 365 dias por ano, 24
horas por dia.

4. Histrico dos minerodutos


A utilizao de dutos no formato atual, com tubos fechados de metal e mecanismos de
bombeamento para impulsionar produtos como petrleo, gs e polpa de minrios, apareceram,
em 1865, nos Estados Unidos. Hoje representam um sistema de transporte seguro, largamente
disseminado pelos cinco continentes e indispensvel economia mundial. (FOGLIATTI,
2004).
Os dutos so tubos, subterrneos ou aparentes, cuja infraestrutura construda serve como
veculo para transportar produtos em seu interior, impulsionados por bombeamento ou por um
jato de gua contnuo, submetido forte presso. Assim, este modal de transporte permite a
remessa de produtos a longas distncias.
Segundo Ballou (2001), este modal apresenta uma relao muito limitada de servios e
capacidades, sendo esta sua principal desvantagem.
Lambert et al (1998) afirmam que as dutovias transportam apenas um nmero limitado de
produtos, incluindo-se a o gs natural, petrleo cru, produtos de petrleo, gua, produtos
qumicos e pasta fluidas geralmente considerada como um produto slido suspenso em
lquido, normalmente gua, que pode assim ser transportado com mais facilidade.
A utilizao de dutos para o transporte exclusivo de minrio recebe o nome de mineroduto.
O transporte comercial de polpas minerais em tubulaes subterrneas de grande extenso
tem sido bem sucedido (tcnica e economicamente) desde 1967. O primeiro mineroduto foi
instalado na Tasmnia, em 1967, e ainda continua em operao. Desde ento, construram-se
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inmeros dutos de grande extenso para polpas e rejeitos que, em sua maioria, ainda se
encontram em operao (SANTANNA, 1998). Ainda segundo este autor, no Brasil, a
primeira linha que se tem registro foi construda na Bahia, com dimetro de duas polegadas e
1 km de extenso, ligando a "Refinaria Experimental de Aratu" ao Porto de Santa Luzia e que
recebia o petrleo dos "Saveiros-Tanques" vindos dos campos de Itaparica e Joanes, com
incio de operao em maio de 1942.
No Brasil, a rede de minerodutos j implantada e em operao ainda relativamente pequena,
destacando-se dois dutos para transporte de caulim e um para bauxita no Par, e dois dutos
para minrio de ferro e um para fosfato em Minas Gerais. Mas, a partir de 2005, o interesse
por esse modal de transporte de bens minerais - especialmente para minrio de ferro - tem
crescido acentuadamente e atrado investimentos privados para suprir, em parte, as
deficincias operacionais e de segurana, e a restrita capacidade de uso das ferrovias e
rodovias brasileiras. (BRANDT, 2010)
Nas fases de licenciamento ambiental ou inicial de construo podem ser encontrados, hoje,
pelo menos mais quatro minerodutos para transporte de polpa de minrio de ferro a longa
distncia, em Minas Gerais e na Bahia. H alguns exemplos de minerodutos bem sucedidos
no Brasil, a exemplo da Samarco Minerao S.A.

5. O caso de sucesso em minerodutos da Samarco Minerao S.A.


A Samarco opera desde 1977, um mineroduto denominado Linha 01, que possui uma
extenso total de 396 km e passa por 24 municpios dos estados de Minas Gerais e Esprito
Santo. O mineroduto da Samarco transporta o produto da concentrao do minrio de ferro
lavrado nas minas do Complexo Alegria, situadas nos municpios de Mariana e Ouro Preto,
em Minas Gerais, para a usina de pelotizao localizada em Ponta de Ubu, Anchieta, no
Esprito Santo.
O bombeamento da polpa de concentrado realizado com uma porcentagem de slidos na
faixa de 70% e so transportados hoje, 16,5 Mtpa.
Na Usina de Concentrao, em Mariana - MG h uma estao de bombeamento, (dotada de
sete bombas principais de deslocamento positivo) que impulsiona a polpa no mineroduto.
Entre Mariana e Anchieta, no municpio de Matip (MG) existe outra estao de bombas
(mais sete bombas de deslocamento positivo) para vencer o ponto mais alto do trajeto, que
correspondente Serra do Capara (1.180 m). Vencido o ponto de cota mais alta do trajeto o
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mineroduto ainda conta com duas estaes de vlvulas (uma em Guau e outra em Alegre, no
Esprito Santo) que minimizam os esforos (bruscos ou permanentes) de presso dinmica e
esttica, aos quais a tubulao submetida durante variaes de fluxo. (OLIVEIRA, 2010)
Para atender ao aumento da capacidade produtiva das unidades industriais da Samarco foi
construdo um segundo mineroduto, cuja operao se iniciou em Abril de 2008. O incio do
duto na rea industrial de Germano, situada no municpio de Ouro Preto - MG, o seu final
no terminal de Ponta de Ubu no municpio de Anchieta - ES. Esse duto tem a extenso
aproximada de 401 km com capacidade de transporte de 7,5 Mtpa. (BRANDT, 2010).

6. Resultados
No que se trata do transporte rodovirio por caminhes graneleiros, h de se levar em conta o
enorme fluxo de veculos pesados, pela enorme sobrecarga que acarretaria aos j deficientes
sistemas rodovirios dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, e pelo elevado risco de
acidentes a ele associado. Adicionalmente, alm do elevadssimo custo operacional e de
manuteno dessa frota de caminhes, tambm seria exigida uma complexa e onerosa
estrutura logstica para carga e descarga nas duas pontas do sistema, o que elevaria ainda mais
os investimentos e custos operacionais, agravando a inviabilidade desta opo de transporte.
Em comparao com o modal rodovirio, predominante no pas, o modal ferrovirio
representa um menor custo logstico ao cliente, mais seguro e menos poluente.
Porm, o vulto do investimento com o transporte ferrovirio, em implantao da via, em
oficinas de manuteno, e com a aquisio de equipamentos de carga nas minas e de descarga
no porto, de locomotivas e vages, e com sistemas de controle, comunicao e segurana
operacional, associados ao longo prazo de implantao e s dificuldades tcnicas e ambientais
para a construo dessa ferrovia, tornam esta alternativa tcnica e economicamente invivel.
A alternativa de transporte dutovirio exige investimentos unitrios inferiores ao de uma
ferrovia, alm de permitir uma retificao do traado com significativa reduo da extenso
total percorrida por este sistema de transporte, que ser da ordem de 525 km para a estrutura
em iminncia de operao. Alm disso, o custo operacional do sistema de transporte de polpa
por duto, por tonelada transportada, aproximadamente 10 vezes inferior ao custo de
transporte por ferrovia. (BRANDT, 2010).
A alternativa de mineroduto apresenta como vantagens o controle operacional mais eficaz e
seguro, o baixo impacto e a facilidade de gesto ambiental nas suas fases de implantao,
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operao e manuteno, a alta disponibilidade e confiabilidade do sistema, a possibilidade de


trabalho em tempo integral, a locao fixa e, particularmente, o baixo custo operacional e de
manuteno.
A escolha do modal ideal para o transporte do produto que se deseja entregar leva em
considerao as caractersticas operacionais relativas por modal de transporte. De acordo com
Fleury et al. (2000), em relao aos modais, h cinco pontos importantes para se classificar o
melhor transporte: velocidade, disponibilidade, confiabilidade, capacidade e freqncia.
A ttulo de adequao especificao do produto transportado neste estudo, minrio de ferro,
o parmetro disponibilidade foi substitudo por poluente, ou seja, a capacidade que o modal
possui de causar impactos negativos ao meio ambiente, quando em operao.
No Quadro 1, pode-se observar estas caractersticas, com pontos atribudos de 1 a 5, sendo
que a pontuao menor, significa que o modal possui excelncia naquela caracterstica.
Caractersticas
Ferroviria
Rodoviria
Dutovirio
Velocidade
3
2
5
Poluente
3
5
1
Confiabilidade
3
2
1
Capacidade
2
3
5
Frequncia
4
2
1
Resultado
15
14
13
Quadro 1: Caractersticas Operacionais. Adaptado de Fleury et al. (2000, p. 130).
A velocidade o tempo decorrido em dada rota, sendo o modal rodovirio o mais rpido dos
trs em anlise. A confiabilidade reflete a habilidade de entregar consistentemente no tempo
declarado em uma condio satisfatria. Nesta caracterstica, os dutos ocupam lugar de
destaque, alm de se mostrarem os menos poluentes.
A capacidade a possibilidade do modal de transporte lidar com qualquer requisito de
transporte, como tamanho e tipo de carga. Neste requisito, o transporte ferrovirio o mais
indicado. Finalmente, a frequncia caracterizada pela quantidade de movimentaes
programadas, liderada pelos dutos, devido ao seu contnuo servio liderado entre dois
pontos.
Na pontuao total percebe-se que a preferncia geral, para o caso estudado, dada ao
transporte dutovirio. Porm a utilizao de dutos para o transporte de minrio ainda carente

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de pesquisas no que concerne ao controle da corroso e da eroso, problemas que afetam os


dutos de minrio em maior intensidade que os de leo e gs.

7. Concluses
Dentre os modais mais usuais empregados na logstica de transporte de minrio de ferro,
foram analisadas as alternativas tcnicas de transporte por rodovia, ferrovia e dutovia, para
transferncia do minrio de ferro entre as minas, em Minas Gerais, e o Porto de Minrio do
Au (de onde ser exportado), no norte do Rio de Janeiro.
Depois de definida como mais adequada a opo de transporte dutovirio, conforme validada
em experincias anteriores em transporte de minrios adotados por empresas do setor, e com
a deciso de construo de um mineroduto, por parte da Anglo Ferrous Brazil, este trabalho
apresentou as vantagens da escolha e suas implicaes favorveis sustentabilidade.
Os minerodutos j implantados e planejados pelo setor mineral privado brasileiro apresentam,
ainda, como vantagem econmico-financeira, o fato de no necessitarem de participao de
capital estatal, desonerando o poder pblico. O financiamento de tais projetos viabilizado,
de modo geral, com recursos prprios das empresas de minerao ou levantados em bolsa de
valores atravs de abertura de capital.
Conclui-se, assim, que a escolha do modal dutovirio no transporte de produtos, com pouco
valor agregado, economicamente vivel comparado ao transporte rodovirio e/ou
ferrovirio, alm de se apresentar como melhor opo sustentvel do ponto de vista ambiental.
Para garantir a perpetuidade dos negcios e atingir a plenitude da sustentabilidade
organizacional, um empreendimento deve tambm se mostrar sensvel aos anseios da
comunidade do entorno, em usufruir dos benefcios trazidos pelo crescimento econmico
provocado por ele, numa prtica clara de responsabilidade social.

Referncias Bibliogrficas
ANDRADE, M. M. Como preparar trabalhos para cursos de ps-graduao: noes
prticas. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2002.
BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organizao e
logstica empresarial. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

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BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logstica Empresarial: o processo de integrao da


cadeia de suprimento. So Paulo: Atlas, 2001.
BRANDT, W. Mineroduto Minas - Rio. RIMA - Relatrio de Impacto Ambiental. MMX
Minas - Rio Minerao e Logstica LTDA. Nova Lima: Brandt Meio Ambiente; Nova Lima:
VOGBR Recursos Hdricos e Geotecnia Ltda; Nova Lima: Integratio Comunicao e Insero
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BRANDT, W. Mineroduto Ferrous Minas Gerais, Rio de Janeiro e Esprito Santo. Meio
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