8 Alexandre Cancela Abreu

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PATRIMNIO DO TEJO

ARH TEJO
SOC. GEOGRAFIA DE LISBOA
Ministrio do Ambiente e do Ordenamento do Territrio
Vila Velha de Rdo 1 de Julho 2010

PATRIMNIO PAISAGSTICO
Alexandre Cancela dAbreu
(Universidade de vora)

Fotografias Rui Cunha

TEJO PATRIMNIO PAISAGSTICO

A Paisagem o reflexo fsico e mental das interaces entre sociedades


e culturas e o seu ambiente natural (Fry, sd). Assim, as paisagens
humanizadas, em constante alterao, so a expresso de complexas
interaces Homem Natureza, mas tambm obras colectivas, na
medida em que resultam de uma aco continuada de mltiplas geraes
e, em cada momento, de muitos e variados actores que actuam em
simultneo sobre os mesmos espaos, ou sobre espaos diferenciados
mas interdependentes quanto a processos biofsicos, culturais e socioeconmicos.
De facto, pode afirmar-se que as paisagens intensamente transformadas que
cobrem neste incio do sculo XXI toda a Europa e uma boa parte do
planeta, so a expresso cultural dos seus construtores (passados e
presentes) e, portanto, so uma marca identitria de enorme relevncia.
Isso mesmo tem vindo a ser amplamente reconhecido por todo o mundo,
nomeadamente atravs de documentos emanados de diversas entidades
internacionais, com destaque para a UNESCO e Conselho da Europa.

Com origem no Conselho da Europa, e desde logo assinado por


Portugal (Outubro de 2000), a Conveno Europeia da
Paisagem (Decreto n 4/2005, de 14 de Fevereiro) considera no
seu prembulo que a paisagem:

(...) desempenha importantes funes de interesse


pblico, nos campos cultural, ecolgico, ambiental e social, e
constitui um recurso favorvel actividade econmica, cuja
proteco, gesto e ordenamento adequados podem contribuir
para a criao de emprego;
(...) contribui para a formao de culturas locais e representa uma
componente fundamental do patrimnio cultural e natural
europeu, contribuindo para o bem-estar humano e para a
consolidao da identidade europeia;
(...) em toda a parte um elemento importante da qualidade de
vida das populaes: nas reas urbanas e rurais, nas reas
degradadas bem como nas de grande qualidade, em reas
consideradas notveis, assim como nas reas da vida quotidiana;
(...) constitui um elemento-chave do bem-estar individual e social
e que a sua proteco, gesto e ordenamento implicam direitos e
responsabilidades para cada cidado; (...)

A componente patrimonial da paisagem implicitamente reconhecida na


legislao portuguesa relativa ao ambiente e ordenamento do territrio,
bem como na Lei de Bases do Patrimnio. Cingindo-nos a esta
ltima, h que reconhecer que no considera explicitamente a
paisagem como um bem cultural, embora admita indirectamente
que tal possa acontecer.
Assim, no Art. 2 - Conceito e mbito do patrimnio cultural aplica-se
claramente a algumas paisagens o contedo dos seguintes pontos:

1 Para os efeitos da presente lei integram o patrimnio cultural todos os bens


que, sendo testemunhos com valor de civilizao ou de cultura portadores de
interesse cultural relevante, devam ser objecto de especial proteco e
valorizao. (...)
3 O interesse cultural relevante, designadamente histrico, paleontolgico,
arqueolgico, arquitectnico, lingustico, documental, artstico, etnogrfico,
cientfico, social, industrial ou tcnico, dos bens que integram o patrimnio
cultural reflectir valores de memria, antiguidade, autenticidade,
originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade. (...)
5 Constituem, ainda, patrimnio cultural quaisquer outros bens que como tal
sejam considerados por fora de convenes internacionais que vinculem o
Estado Portugus, pelo menos para os efeitos nelas previstos.
6 Integram o patrimnio cultural no s o conjunto de bens materiais e
imateriais de interesse cultural relevante, mas tambm, quando for caso disso, os
respectivos contextos que, pelo seu valor de testemunho, possuam com
aqueles uma relao interpretativa e informativa.

Tambm no Art. 14 - Bens culturais se subentende que aos bens


paisagsticos, embora no considerados como bens culturais, so
extensveis os princpios e disposies fundamentais da presente lei.
Atravs dos nmeros 7 e 8 do Art. 15 - Categorias dos bens reconhecese indirectamente como de interesse nacional a categoria de Paisagem
Cultural (Sintra, Douro Vinhateiro e Vinhas do Pico j includas na lista
do patrimnio mundial).

A paisagem ainda referida com relativa importncia em outros


artigos desta Lei do Patrimnio Cultural, mas como exterior aos
bens culturais:

artigo 12 - defesa da qualidade ambiental e paisagstica como uma das


finalidades da proteco e valorizao do patrimnio cultural;
artigo 17 - concepo paisagstica como um dos critrios genricos de
apreciao do patrimnio;
artigo 44 - patrimnio cultural imvel como potenciador da qualidade
ambiental e paisagstica;
artigo 52 - objecto de tutela reforada o enquadramento paisagstico dos
monumentos;
artigo 53 - linhas estratgicas de requalificao paisagstica que devem
constar nos planos de pormenor de salvaguarda;
artigo 70 - a proteco e valorizao da paisagem como componente do
regime de valorizao dos bens culturais.

Em sntese, no que diz respeito dimenso patrimonial de paisagens, a


lei portuguesa reconhece-a indirectamente, embora s tenha tomado a
iniciativa de proceder classificao de paisagens culturais ao propor e
ver aceite a incluso de trs delas na lista do patrimnio mundial.
H que reconhecer que tal classificao constitui apenas o incio de um
processo que, para ser consequente, ter de passar por medidas de
gesto que protejam e valorizem o patrimnio natural e cultural
presente. Esta continuidade em termos de gesto positiva e equilibrada
ser o mais difcil de assegurar, tal como se comprova nos casos das
paisagens culturais de Sintra, do Alto Douro Vinhateiro e da Cultura da
Vinha da Ilha do Pico.
Para a maioria dos casos no se defende para as paisagens culturais uma
proteco restritiva de qualquer tipo de evoluo. Pelo contrrio, a sua
identificao e caracterizao permitir compreender a complexidade do
sistema natura cultura presente e da sua evoluo ao longo dos
tempos, donde devero resultar propostas de ordenamento e gesto que
preservem os seus valores, ao mesmo tempo que asseguram a sua
sustentabilidade socioeconmica, ecolgica e cultural.

O ordenamento e gesto das nossas paisagens culturais devero ter


em ateno as normas legais nacionais (que incluem as convenes
internacionais que vinculam o Estado Portugus) mas, tambm, outros
documentos internacionais que enquadram e orientam as actuaes neste
mbito. Quanto a estes ltimos so de destacar:

Conveno sobre a Proteco do Patrimnio Mundial, Cultural e Natural


(UNESCO 1972), bem como as Orientations devant guider la mise en
oeuvre de la Convention du Patrimoine Mondial (Comit
Intergovernamental para a Proteco do Patrimnio Mundial, Paris, 1998,
com realce para os pargrafos 24, 35 a 42 e 57);
Recomendao do Comit dos Ministros aos Estados membros relativa
Conservao dos Stios Culturais integrados nas Polticas de Paisagem
(Conselho da Europa, 1995);
Recomendao 94/7 relativa a uma Poltica Geral de Desenvolvimento de
um Turismo Sustentvel e tendo em considerao o Ambiente (Conselho
da Europa, 1994);
Carta do Patrimnio Vernculo Construdo (ICOMOS, 1998).

Em sntese, o PATRIMNIO PAISAGSTICO referido a um


qualquer espao territorial ser mais do que o simples somatrio dos
valores patrimoniais presentes, tanto naturais como culturais.
Tais valores no surgem isolados, mas sim num contexto
paisagstico que lhes d sentido e nos permite compreend-los na sua
dinmica temporal e espacial origem, evoluo, estado actual e
tendncias futuras.
Tal como est previsto na Lei de Bases do Patrimnio, poder
ento considerar-se que a paisagem ter interesse patrimonial na
medida em que reflectir valores de:
Memria
Antiguidade
Autenticidade
Originalidade
Raridade
Singularidade
Exemplaridade

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