OEA - CIDH - Relatório Violência Contra Pessoas LGBTI - 2015
OEA - CIDH - Relatório Violência Contra Pessoas LGBTI - 2015
OEA - CIDH - Relatório Violência Contra Pessoas LGBTI - 2015
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OAS/Ser.L/V/II.
12 novembro 2015
Original: Ingls
2015
www.cidh.org
Secretrio Executivo
Emilio lvarez-Icaza L.
NDICE
RESUMO EXECUTIVO
11
CAPTULO 1 | INTRODUO
23
A.
Antecedentes
23
B.
Metodologia do relatrio
26
C.
Terminologia
27
1.
2.
3.
27
30
31
37
A.
37
B.
40
C.
42
D.
46
E.
50
B.
4.
55
56
59
65
66
67
72
81
A.
Introduo
81
B.
81
1.
2.
3.
4.
81
83
84
5.
6.
C.
D.
Execues extrajudiciais
Homicdios
1.
2.
3.
85
86
89
90
90
93
99
99
109
121
126
E.
F.
136
G.
137
H.
144
1.
2.
3.
145
148
4.
5.
129
149
156
159
Povos indgenas
169
B.
Mulheres
172
C.
180
D.
Crianas e adolescentes
188
E.
201
F.
215
G.
221
233
1.
2.
234
243
Coleta de dados
Medidas legislativas para prevenir a violncia
a.
b.
c.
3.
4.
B.
231
243
248
250
252
257
257
259
263
a.
b.
c.
d.
265
267
270
270
271
2.
C.
a.
b.
c.
Impunidade da violncia
Deficincias nas investigaes e na denncia penal
O padro de devida diligncia
274
274
276
284
290
297
RESUMO EXECUTIVO
Resumo executivo | 11
RESUMO EXECUTIVO
1.
2.
3.
Neste relatrio, a Comisso ressalta a violncia contra as pessoas LGBT como uma
violncia social contextualizada, na qual a motivao do perpetrador deve ser
entendida como um fenmeno complexo e multifacetado, e no apenas como um
ato individual. Nesse sentido, a CIDH observa que os atos de violncia contra as
pessoas LGBT, comumente conhecidos como crimes de dio, atos homofbicos
ou transfbicos, esto melhor categorizados sob o conceito de violncia por
preconceito contra as orientaes sexuais e as identidades de gnero no
normativas (doravante violncia por preconceito). A violncia por preconceito
um fenmeno social, que se dirige contra grupos especficos, tais como as pessoas
LGBT, tem um impacto simblico, e envia uma mensagem de terror generalizado
comunidade LGBT. De maneira similar, a Comisso considera que a violncia
A CIDH utiliza a sigla LGBTI quando se refere s pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo. Quando
faz referncia apenas violncia experimentada por pessoas lsbicas, gays, bissexuais e trans, a CIDH utiliza
a sigla LGBT.
12 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
Captulo 3
4.
5.
6.
A CIDH recomenda aos Estados da regio que possuem disposies legais vigentes
que criminalizam as relaes sexuais consensuais entre adultos do mesmo sexo,
leis que sancionam atos de indecncia grave ou indecncia sria destinadas a
criminalizar a intimidade sexual entre pessoas do mesmo sexo e leis que
criminalizam o uso de vestimentas tradicionalmente associadas a outro gnero
(cross-dressing), a derrogar estas leis e, enquanto isso, a declarar uma moratria
explcita e formal sobre a aplicao dessas leis. Estas medidas enviariam uma
mensagem clara sociedade em geral, e aos agentes de segurana do Estado, em
particular, de que tais disposies legais no podem ser utilizadas para ameaar,
extorquir ou cometer atos de violncia contra as pessoas LGBT ou aquelas
percebidas como tal.
Resumo executivo | 13
7.
pblicas de afeto entre casais do mesmo sexo. Estas leis facilitam o abuso policial,
a extorso e as detenes arbitrrias, especialmente de trabalhadoras sexuais
trans, em geral sem controle judicial, atravs de interpretaes altamente
subjetivas e preconceituosas sobre concepes ambguas da moral pblica e bens
jurdicos afins.
Captulo 4
8.
9.
10.
14 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
11.
12.
13.
14.
incluindo, dentre outros, dor crnica, trauma para o resto da vida, falta de
sensibilidade genital, esterilizao, e capacidade reduzida ou nula de sentir prazer
sexual. Muitas vezes estas cirurgias resultam em esterilizao forada ou
coercitiva. Segundo as informaes recebidas, estas intervenes constituem uma
prtica normal nos pases das Amricas. A CIDH tambm observa que o acesso
justia para as pessoas intersexo e suas famlias limitado.
A CIDH recomenda que os Estados Membros da OEA realizem as modificaes
necessrias em sua legislao e polticas, a fim de proibir os procedimentos
mdicos desnecessrios em crianas e adultos intersexo, quando sejam realizados
sem seu consentimento prvio, livre e informado, exceto em casos de risco mdico
ou necessidade. As cirurgias e outras intervenes mdicas que no so
necessrias de acordo com critrios mdicos, devem ser adiadas at que as pessoas
intersexo possam decidir por si mesmas.
Por outro lado, a CIDH e sua Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso
reafirmam que o direito liberdade de expresso importante para garantir o
direito igualdade para grupos que sofreram discriminao histrica. Alm disso,
a Comisso e sua Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso enfatizam que,
conforme os princpios de pluralismo e diversidade, a liberdade de expresso deve
ser assegurada no somente no concernente disseminao de ideias e informao
considerada inofensiva, mas tambm em caso de discursos que chocam,
incomodam, ofendem ou perturbam o Estado ou qualquer segmento da populao.
A Conveno Americana sobre Direitos Humanos (Conveno Americana ou
Conveno) estabelece que a liberdade de expresso pode ser limitada at onde
seja necessrio para garantir certos interesses pblicos ou os direitos de outras
pessoas. Estes limites devem ter natureza excepcional, e devem cumprir com os
requisitos estabelecidos no artigo 13.2 da Conveno Americana. Especificamente,
o artigo 13.5 da Conveno Americana probe a apologia ao dio que constitua
uma incitao violncia ou qualquer outra ao ilegal similar contra qualquer
pessoa ou grupo de pessoas. A CIDH e sua Relatoria para a Liberdade de Expresso
afirmam que o artigo 13.5 inclui a apologia ao dio que incite a violncia ilegal
contra um grupo por motivo de sua orientao sexual, identidade de gnero e
diversidade corporal.
Resumo executivo | 15
Captulo 5
15.
16.
16 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
17.
consistentes que demonstram que as mulheres trans que exercem trabalho sexual
so especialmente vulnerveis violncia em seu ambiente comunitrio, incluindo
homicdios cometidos por indivduos, por seus clientes, por grupos ilegais armados
ou gangues.
A CIDH observa tambm que existe um forte vnculo entre pobreza, excluso e
violncia. As pessoas LGBT que vivem na pobreza so mais vulnerveis a abusos e
profiling policiais, e consequentemente a taxas mais altas de criminalizao e
encarceramento. Segundo a informao recebida, as pessoas LGBT jovens no
possuem adequado acesso moradia, o que aumenta seu risco de ser vtimas de
violncia. Alm disso, a CIDH observa que os abrigos e lares comunitrios de
assistncia geralmente no so seguros para as pessoas LGBT, principalmente para
as pessoas trans e aquelas inconformadas com seu gnero. Ainda, a situao
socioeconmica das pessoas trans determina a qualidade dos servios mdicos que
recebem, incluindo as cirurgias de afirmao sexual e outras modificaes
corporais que so necessrias para algumas pessoas trans no processo de
construo de sua identidade.
Captulo 6
18.
19.
Resumo executivo | 17
20.
21.
22.
23.
18 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
24.
25.
26.
27.
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28.
29.
contra pessoas LGBT, como homicdios ou outras agresses, pois teriam sido
cometidos em resposta a insinuaes sexuais (no violentas) de uma pessoa do
mesmo sexo que o perpetrador, ou em razo da identidade de gnero da vtima. A
CIDH recomenda que os Estados Membros da OEA realizem as reformas legais e de
poltica pblica necessrias para estabelecer explicitamente que a orientao
sexual, a identidade de gnero ou a expresso de gnero das vtimas jamais
possam ser utilizadas como justificativa parcial ou total dos crimes cometidos
contra elas.
A CIDH ressalta que, alm de considerar uma linha de investigao desde o incio
que leve em conta a possibilidade de que a motivao do crime foi o preconceito, e
de realizar investigaes livres de esteretipos relativos a orientaes sexuais e
identidades de violncia distintas, os Estados Membros da OEA devem levar em
considerao o contexto geral de esteretipos, preconceito e violncia contra
pessoas LGBTI em seus pases, os quais podem estar mais enraizados em
localidades do interior dos pases ou fora das principais cidades. Alm disso, ao
realizar as investigaes, as autoridades do Estado devem basear-se em
testemunhos de peritos, e especialistas capazes de identificar a discriminao e o
preconceito contra as pessoas LGBTI que esto enraizados nas sociedades da
regio. A Comisso tambm solicita aos Estados que consultem as organizaes da
sociedade civil, a fim de elaborar protocolos adequados que estabeleam
indicadores para identificar a violncia por preconceito em determinado pas.
Finalmente, a CIDH apela aos Estados Membros da OEA para que adotem medidas
para garantir que as pessoas LGBTI, que so vtimas de violaes de direitos
humanos e seus familiares, possam ter acesso efetivo a reparaes, de acordo com
os parmetros jurdicos interamericanos. Os Estados devem elaborar e
implementar programas de reparao que levem em considerao as necessidades
especficas das pessoas LGBTI, e que sejam resultado de processos de consulta com
as organizaes da sociedade civil que defendem os direitos de pessoas LGBTI.
CAPTULO 1
INTRODUO
Captulo 1 Introduo | 23
INTRODUO
A.
Antecedentes
1.
Nos ltimos anos, a CIDH tem recebido cada vez mais informaes sobre a situao
dos direitos humanos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo
(LGBTI)2 nas Amricas. As fontes de informao incluem exposies orais e
escritas durante audincias pblicas, informao recebida atravs de visitas da
Comisso, peties e pedidos de medidas cautelares, e comunicaes de outros
atores do sistema interamericano. A informao recebida indica que as pessoas
LGBTI, ou aquelas percebidas como tal, esto sujeitas a diversas formas de
violncia e discriminao baseadas na percepo de sua orientao sexual, sua
identidade ou expresso de gnero, ou porque seus corpos diferem das formas
corporais femininas ou masculinas socialmente aceitas. Estas situaes de
violncia e discriminao so uma clara violao a seus direitos humanos, tal como
reconhecido nos instrumentos internacionais de direitos humanos.
2.
24 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
3.
Captulo 1 Introduo | 25
4.
5.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 115/11, CIDH cria Unidade para os direitos das lsbicas, gays e
pessoas trans, bissexuais e intersexo, 3 de novembro de 2011.
Referida neste Relatrio como Relatoria sobre os Direitos das Pessoas LGBTI, Relatoria LGBTI, ou
simplesmente Relatoria.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 94/13, CIDH cria Relatoria sobre temas de orientao sexual,
identidade e expresso de gnero, e diversidade corporal, 23 de novembro de 2013.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 15/14, A Relatoria sobre os direitos das pessoas lsbicas, gays,
bissexuais, trans e intersexo (LGBTI) da CIDH comea a funcionar e a primeira Relatora formalmente
designada, 19 de fevereiro de 2014.
Informaes adicionais sobre a Relatoria LGBTI podem ser encontradas no seguinte endereo eletrnico:
http://www.oas.org/es/cidh/lgtbi/default.asp.
10
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B.
Metodologia do relatrio
6.
7.
8.
14
15
16
17
As audincias pblicas perante a CIDH (udio e vdeo) esto disponveis em: www.cidh.org.
Resumos, comunicados para a imprensa e informao sobre as reunies de espexcialistas esto disponveis
em: www.cidh.org.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
O questionrio est disponvel em ingls, espanhol, portugus e francs em www.cidh.org.
Captulo 1 Introduo | 27
C.
10.
Terminologia
A Comisso Interamericana toma nota dos distintos termos utilizados para definir
e caracterizar as pessoas e movimentos vinculados a orientaes sexuais,
identidades e expresses de gnero diversas; e a diversidade corporal. Esta seo
descreve a terminologia comumente utilizada para aludir a estes grupos e
identidades, e que ser utilizada no presente relatrio.
1.
11.
18
Trs pessoas tambm responderam o questionrio a ttulo individual: Tijon Cox, Ximena Gauch Marchetti e
Ronald Cspedes.
28 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
12.
13.
19
Global Rights: Partners for Justice, Demanding credibility and sustaining activism: a guide to sexuality-based
advocacy, 2010, pg. 14.
Ver entrevista com Mauro Cabral, Poticas y Polticas de la Intersexualidad, 8 de outubro de 2014.
Carpenter, M., Hough, D. (2014), Employers Guide to Intersex Inclusion. Sydney: Pride in Diversity,
Organisation Intersex International Australia. (Traduo livre da CIDH).
Global Rights: Partners for Justice, Demanding credibility and sustaining activism: a guide to sexuality-based
advocacy, 2010, pg. 14.
Fundacin Diversencia, El estado de los Derechos Humanos de las Personas LGBTI de ascendencia diversa en
el contexto de los pueblos indgenas en Abya Yala, Relatrio apresentado na audincia pblica durante o
147 perodo ordinrio de sesses da CIDH, 16 de maro de 2013. Audincia solicitada pela Fundacin
Diversencia.
National Aboriginal Health Organization (NAHO), Suicide Prevention and Two-Spirited People, 2012, pg. 2,
citando Walters, K. L., e outros, (2006). My spirit in my heart: Identity experiences and challenges among
American Indian two-spirited women. Revista de Estudos Lsbicos, 10, 125149 (Disponvel somente em
ingls).
20
21
22
23
24
Captulo 1 Introduo | 29
14.
25
National Association of Friendship Centers, Supporting two-spirited peoples: Discussion paper. (Ottawa,
2008) (Disponvel somente em ingls).
Lang, Sabine, Lesbians, Men-Women and Two-Spirits, in Blackwood and Wieringa, Evelyn and Saskia,
Female Desires: Same-sex Relations and Transgender Practices across Cultures, pg. 93.
Chias, Beverly (1995). Isthmus Zapotec attitudes toward sex and gender anomalies, pgs. 293-302 em
Stephen O. Murray (ed.), "Latin American Male Homosexualities" Albuquerque: Editora da University of New
Mexico. Ver tambm, Revista The Advocate, The Striking Muxe: Mexicos Third Gender, 11 de maro de 2014.
(Disponvel somente em ingls).
Testemunho de Amaranta Gmez Regalado durante a audincia pblica no 147 perodo ordinrio de
sesses da CIDH, 16 de maro de 2013. Audincia solicitada pela Fundacin Diversencia. O vdeo e udio
esto disponveis em: www.cidh.org.
Gloria Wekker, The Politics of Passion: Womens sexual Culture in the Afro-Surinamese Diaspora, Editora da
Columbia University, Nova Iorque, pg. 173.
Gloria Wekker, The Politics of Passion: Womens sexual Culture in the Afro-Surinamese Diaspora, Editora da
Columbia University, Nova Iorque, pg. 193.
Gloria Wekker, The Politics of Passion: Womens sexual Culture in the Afro-Surinamese Diaspora, Editora da
Columbia University, Nova Iorque, pg. 173.
Gloria Wekker, The Politics of Passion: Womens sexual Culture in the Afro-Surinamese Diaspora, Editora da
Columbia University, Nova Iorque, pgs. 220-221.
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2.
16.
17.
33
34
35
36
37
Cabral, Mauro e Maffia, Diana, Los sexos son o se hacen?, 2013. Buenos Aires, Argentina.
Fausto-Sterling, Anne. Sexing the Body, Nova Iorque, Estados Unidos: Brown University, 2000, pg. 3.
Cabral, Mauro e Maffia, Diana, Los sexos son o se hacen?, 2013. Buenos Aires, Argentina.
Cabral, Mauro e Maffia, Diana, Los sexos son o se hacen?, 2013. Buenos Aires, Argentina. Ver tambm,
Katrina Karkazis, Fixing Sex: Intersex, Medical Authority, and Lived Experience, Editora da Duke University,
2008.
Cabral, Mauro. Entrevista com Gabriel Benzur, Cuando Digo Intersex. Un dilogo introductorio a la
intersexualidad, 2005, Cadernos Pagu, no. 24 Campinas. Junho de 2005.
Captulo 1 Introduo | 31
18.
explica que as pessoas intersexo nascem com variaes nas caractersticas sexuais
fsicas, incluindo caractersticas genticas, hormonais ou anatmicas atpicas. 38
Neste contexto, a diversidade corporal refere-se a um amplo espectro de variaes
do corpo que diferem do corpo padro, por exemplo, variaes na anatomia
sexual que extrapolam as concepes culturais de como devem ser os corpos
femininos e masculinos. Intersexo um termo abrangente que abarca essa
diversidade corporal. Com efeito, h muitas variantes intersexo, e pelo menos 30
ou 40 variaes corporais conhecidas pela cincia. 39 As pessoas intersexo podem
autoidentificar-se como intersexo, como homens, como mulheres, como ambos ou
como nenhum dos dois. 40
Neste sentido, a CIDH concorda com a posio, articulada pelo Instituto Nacional
contra a Discriminao, Xenofobia e Racismo do Ministrio de Justia, Segurana e
Direitos Humanos da Argentina (INADI), de que os genitais e a assignao de sexo
so dois conceitos distintos e que no h necessariamente uma conexo direta
entre um e outro. Assim, o INADI indicou que a categorizao de um homem ou
uma mulher um ato social, cultural e institucional. 41
3.
19.
A orientao sexual de uma pessoa independente do sexo que lhe foi assignado
ao nascer, e independente de sua identidade de gnero. A CIDH indicou que a
orientao sexual constitui um componente fundamental da vida privada das
pessoas e que h uma evidente conexo entre a orientao sexual e o
desenvolvimento da identidade e do plano de vida de cada pessoa, incluindo sua
personalidade, e as relaes com outros seres humanos. 42 Tambm nesse sentido,
a Corte Interamericana estabeleceu que a orientao sexual de uma pessoa est
vinculada ao conceito de liberdade e possibilidade de toda pessoa para a
autodeterminao e de escolher livremente as circunstncias que do sentido sua
38
Documento preparado por ativistas e defensores e defensoras de direitos humanos de todo o mundo para o
processo de reviso e reforma da Classificao Internacional de Doenas (CID), Organizao Mundial da
Sade. Ver documento intitulado Intersex issues in the ICD: a revision. Preparado aps uma consulta
realizada em Genebra, 8 e 9 de setembro de 2014, pag. 2 (traduo livre da CIDH). Ver tambm Global
Rights: Partners for Justice, Demanding credibility and sustaining activism: a guide to sexuality-based
advocacy, 2010, pg. 15.
Documento preparado por ativistas e defensores e defensoras de direitos humanos de todo o mundo para o
processo de reviso e reforma da Classificao Internacional de Doenas (CID), Organizao Mundial da
Sade. Ver documento intitulado Intersex issues in the ICD: a revision. Preparado aps uma consulta
realizada em Genebra, 8 e 9 de setembro de 2014, pg. 2. Esse documento tambm afirma que a maioria
das caractersticas intersexo no so patolgicas, seno que expressam variaes saudveis dos corpos
humanos.
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People.
Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 15.
INADI, Ministrio de Justia e Direitos Humanos, Presidncia da Nao, Buenas prcticas en la comunicacin
pblica: Informes INADI, Identidad de gnero. (2011), pg. 13.
CIDH, Demanda perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso de Karen Atala e filhas (Caso
12.502) contra o Estado do Chile, 17 de setembro de 2010, paras. 111 e 116.
39
40
41
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32 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
20.
21.
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44
45
46
47
48
Corte IDH. Caso Karen Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro
de 2012. Srie C No. 239, para. 136.
Os Princpios de Yogyakarta so um conjunto de princpios que orientam a aplicao do direito internacional
dos direitos humanos em relao orientao sexual e identidade de gnero. Os Princpios foram adotados
por um grupo diverso de especialistas em direitos humanos, incluindo juzes, acadmicos, um ex Alto
Comissrio das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos
Humanos da ONU, especialistas independentes em direitos humanos, membros dos rgos de tratados,
organizaes no governamentais, e outros. Princpios sobre a aplicao de legislao internacional dos
direitos humanos em relao orientao sexual e identidade de gnero, 2006.
Princpios de Yogyakarta. Princpios sobre a aplicao de legislao internacional dos direitos humanos em
relao orientao sexual e identidade de gnero, 2006, pg. 6, nota de rodap 1.
Princpios de Yogyakarta. Princpios sobre a aplicao de legislao internacional dos direitos humanos em
relao orientao sexual e identidade de gnero, 2006, pg. 6, nota de rodap 2.
Existem vrias posies polticas sobre o uso da palavra travesti (como utilizada nos idiomas portugus e
espanhol). Alguns grupos de ativistas trans expressaram que este termo depreciativo, enquanto outros
grupos entendem que a palavra travesti tem uma conotao poltica com um importante significado. Ver,
por exemplo, a Declarao de Travestis Feministas, XI Encontro Feminista da Amrica Latina e do Caribe,
Cidade do Mxico, maro de 2009.
Na obra The Apartheid of Sex: A Manifesto on the Freedom of Gender, a Dra. Martine Aliana Rothblatt
desenvolveu esta categoria genrica, que os movimientos sociais trans e acadmicos tm utilizado como um
termo que inclui vrias formas de expresses de identidade trans. Ver tambm, Julia Serano, Whipping Girl:
A Transsexual Woman on Sexism and the Scapegoating of Femininity. Editora Seal (Emeryville, CA), junho de
2007.
Captulo 1 Introduo | 33
22.
23.
49
Comisso Internacional de Juristas, Orientacin Sexual e Identidad de Gnero y Derecho Internacional de los
Derechos Humanos, Guia para Profissionais No. 4, 2009, pg. 21.
Comisso Internacional de Juristas, Orientacin Sexual e Identidad de Gnero y Derecho Internacional de los
Derechos Humanos, Guia para Profissionais No. 4, 2009, pgs. 132-133. Ver tambm, Alto Comissariado das
Naes Unidas para los Refugiados (ACNUR), Nota de orientacin del ACNUR sobre las solicitudes de la
condicin de refugiado relacionadas con la orientacin sexual y la identidad de gnero, Genebra, 21 de
novembro de 2008, para. 5.
H diferentes entendimentos sobre o termo queer como categoria de identidade. Por um lado, utilizado
como tema genrico pela gama de orientaes sexuais e identidades que ultrapassam os LGBT. Ver, por
exemplo, Eli R. Green, Eric N. Peterson, LGBTQI Terminology, LGBT Resource Center, UC Riverside, 20032004. (Disponvel somente em ingls). Alm disso, o conceito gnero queer um termo geral para as
pessoas cuja identidade de gnero no est includa ou transcende o binrio homem/mulher. Ver Heartland
Trans Wellness Group, Trans and Queer/LGBTQPIA Terminology, pg. 5 (Disponvel somente em ingls). Por
outro lado, os movimentos queer denunciam a excluso, as falhas de representao e os efeitos de
renaturalizao de toda poltica de identidade. Se em sentido poltico os movimentos queer aparecem como
ps-gay, podemos dizer que desde um ponto de vista discursivo, a teoria queer aparece como um retorno
reflexivo sobre os erros do feminismo (tanto essencialista como construtivista) dos anos oitenta: o
feminismo liberal. Carrillo, Jess e Preciado, Beatriz. Entrevista com Beatriz Preciado, outubro de 2004.
Projeto Legal Sylvia Rivera, Fact Sheet: Transgender and Gender Nonconforming Youth in School (Disponvel
somente em ingls; pgina visitada em maio de 2015).
Projeto Legal Sylvia Rivera, Fact Sheet: Transgender and Gender Nonconforming Youth in School (Disponvel
somente em ingls; pgina visitada em maio de 2015).
50
51
52
53
CAPTULO 2
ENTENDENDO E DEFININDO A
VIOLNCIA CONTRA AS PESSOAS
LGBTI
24.
A.
25.
54
Ver supra, Captulo 1. Neste relatrio, a CIDH utilizar a sigla LGBT ou LGBTI dependendo de quais grupos ou
violaes aos direitos humanos esteja fazendo referncia.
38 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
26.
27.
55
56
57
58
O Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos definiu que a
violncia contra as pessoas LGBT constitui uma forma de violncia de gnero,
provocada pelo desejo de punir aqueles que teoricamente desafiam as normas de
gnero. 56 O Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas
cruis, desumanos ou degradantes observou que, em parte considervel dos casos
de tortura contra pessoas LGBT, h indcios de que so frequentemente
submetidos a atos de violncia de ndole sexual, como estupros ou agresses
sexuais, a fim de castig-los por ultrapassar as barreiras do gnero ou por
questionar ideias predominantes sobre o papel de cada sexo. 57 O Relator Especial
inclusive acrescentou que as pessoas LGBT so vtimas em proporo excessiva a
torturas e outros tratamentos porque no se adequam ao socialmente esperado de
um ou outro sexo. Com efeito, a discriminao por motivo de orientao ou
identidade sexuais pode contribuir muitas vezes para desumanizar a vtima, o que
frequentemente uma condio necessria para que ocorram a tortura e os maus
tratos. 58 Isso consistente com a informao que as organizaes da sociedade
civil proporcionaram CIDH. Por exemplo, uma organizao explicou Comisso
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Leis e prticas discriminatrias e atos de
violncia cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/19/41, 17 de
novembro de 2011, para. 57.
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Leis e prticas discriminatrias e atos de
violncia cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/19/41, 17 de
novembro de 2011, para. 20.
ONU, Relatrio do Relator Especial sobre a questo da tortura e outros tratamentos ou penas cruis,
desumanos ou degradantes, A/56/156, 3 de julho de 2001, para. 17.
ONU, Relatrio do Relator Especial sobre a questo da tortura e outros tratamentos ou penas cruis,
desumanos ou degradantes, A/56/156, 3 de julho de 2001, para. 19, citado em ONU, Conselho de Direitos
Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou
degradantes, Juan E. Mndez, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 79.
28.
29.
59
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66
CIDH, Audincia sobre discriminao por motivo de gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133
perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2008. Vdeo e udio no disponveis.
Mara Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los Jueces: Sexualidades
diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena Sez, eds., Bogot:
Editores Siglo del Hombre, Rede Alas, 2008, pgs. 185-186.
Ver, por exemplo, Gaystarnews, Brain damaged victim of 2009 Vancouver gay bar bashing has died in
nursing home, 4 de fevereiro de 2015.
Em alguns casos, os juzes atenuam sentenas em funo de que insinuaes desse tipo supostamente
provocam asco, o que resulta na violncia. Ver, Martha C. Nussbaum, Hiding from Humanity: Disgust,
Shame, and the Law. Editora da Princeton University, 2004, pgs. 130-134.
Mara Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los Jueces: Sexualidades
diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena Sez, eds., Bogot:
Editores Siglo del Hombre, Rede Alas, 2008, pg. 177.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, OEA/Ser.L/V/II.84, Doc. 39 rev.,
14 de outubro de 1993, captulo VII.
Gosine, Andil, Speaking Sexuality, em Barrow, Christine, Marjan de Bruin e Robert Carr, Sexuality, Social
Exclusion and Human Rights, 2009, pg. 102.
ONU, Relatrio do Relator Especial sobre a questo da tortura e outros tratamentos ou penas cruis,
desumanos ou degradantes, A/56/156, 3 de julho de 2001, para. 18.
40 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
30.
B.
A heteronormatividade, a cisnormatividade e os
binrios de sexo e gnero
31.
67
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Leis e prticas discriminatrias e atos de
violncia cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/19/41, 17 de
novembro de 2011, para. 1.
Comisso Africana de Direitos Humanos e dos Povos. 275: Resoluo sobre a Proteo contra a Violncia e
a
outras Violaes de Direitos Humanos devido Orientao Sexual Real ou Imputada, adotada na 55 Sesso
Ordinria, Luanda, Angola, 28 de abril a 12 de maio de 2014.
CIDH, Relatrio No. 81/13, Caso 12.743, Mrito, Homero Flor Freire, Equador, 4 de novembro de 2013,
para. 82.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 84/12, CIDH condena ataque e assassinato por orientao sexual
percebida no Brasil. 11 de julho de 2012.
CIDH, Relatrio No. 81/13, Caso 12.743, Mrito, Homero Flor Freire, Equador, 4 de novembro de 2013,
para. 83. A discriminao e a violncia contra as pessoas com base na associao que outros fazem,
independentemente de sua autoidentificao, j foi tratada em outros casos decididos pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos que no se relacionam diretamente com a orientao sexual ou
identidade de gnero. A Corte Interamericana reconheceu que possvel que uma pessoa seja discriminada
por motivo da percepo que outras tm sobre sua relao com um grupo ou setor social,
independentemente de que isso corresponda realidade ou com a autoidentificao da vtima. Corte IDH.
Caso Perozo e outros Vs. Venezuela. Objees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 28 de
janeiro de 2009. Srie C No. 195, para. 380.
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32.
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Warner, Michael (1991), Introduction: Fear of a Queer Planet, Social Text; 9 (4 [29]): 317. Ver tambm
Samuel A. Chambers, Telepistemology of the Closet; Or, the Queer Politics of Six Feet Under. Journal of
American Culture 26.1: 2441, 2003. Outro conceito til o de heterossexualidade obrigatria, ver
Adrienne Rich. Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence' Signs. Journal of Women in Culture and
Society, 5:631-60, 1980.
UNESCO, Avaliao do Bullying Homofbico em Instituies Educacionais, 2012, pg. 50.
Global Rights: Partners for Justice, Demanding credibility and sustaining activism: a guide to sexuality-based
advocacy, 2010, pg. 95.
Rebecca Cook e Simone Cusack, Gender Stereotyping: Transnational Legal Perspectives. Pennsylvania Studies
in Human Rights, Editora da University of Pennsylvania, 2010, pg. 27.
Gayle Rubin, Chapter 9: Thinking Sex: Notes for a Radical Theory of the Politics of Sexuality, en Pleasure and
Danger, 1984, pg. 153.
Katrina Karkazis, Fixing Sex: Intersex, Medical Authority, and Lived Experience, Editora da Duke University,
2008, pg. 139 [traduo livre da CIDH].
Do Latim: trans (do outro lado de); cis (do lado de c).
Greta R. Bauer, Rebecca Hammond, Robb Travers, Matthias Kaay, Karin Hohenadel e Michelle Boyce. 2009.
I dont think this is theoretical; this is our lives: How erasure impacts health care for transgender people).
Journal of the Association of Nurses in AIDS Care, 20(5): 34861.
Greta R. Bauer, Rebecca Hammond, Robb Travers, Matthias Kaay, Karin Hohenadel e Michelle Boyce. 2009.
I dont think this is theoretical; this is our lives: How erasure impacts health care for transgender people).
Journal of the Association of Nurses in AIDS Care, 20(5): 34861.
42 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
33.
34.
C.
35.
81
Global Rights: Partners for Justice, Demanding credibility and sustaining activism: a guide to sexuality-based
advocacy, 2010, pg. 95.
Tracy Robinson, Authorized Sex: Same-Sex Sexuality and Law in the Caribbean em Christine Barrow, Marjan
de Bruin e Robert Carr, Sexuality, Social Exclusion and Human Rights, 2009, pg. 19.
Andil Gosine, Speaking Sexuality em Christine Barrow, Marjan de Bruin e Robert Carr, Sexuality, Social
Exclusion and Human Rights, 2009, pgs. 98-99.
Global Rights: Partners for Justice, Demanding credibility and sustaining activism: a guide to sexuality-based
advocacy, 2010, pg. 95. Ver tambm, Judith Butler, Gender Trouble: Feminism and the Subversion of
Identity. Nova Iorque: Routledge, 1990.
Mauro Cabral, Pensar la intersexualidad, hoy em Maffa, Diana (Ed.), Sexualidades Migrantes: gnero y
transgnero, 2003, pg. 121.
Katrina Karkazis, Fixing Sex: Intersex, Medical Authority, and Lived Experience, Editora da Duke University,
2008, pg. 138.
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36.
37.
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ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre o direito humano gua potvel e
o saneamento, O estigma e o exerccio dos direitos humanos gua e o saneamento, A/HRC/21/42, 2 de
julho de 2012, para. 12.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre o direito humano gua potvel e
o saneamento, O estigma e o exerccio dos direitos humanos gua e o saneamento, A/HRC/21/42, 2 de
julho de 2012, para. 13.
Comissionada Rose-Marie Belle Antoine, Discurso Los Derechos Humanos, el VIH y la discriminacin en
Amrica con motivo de la exposicin del edredn conmemorativo del SIDA en el marco de la XIX Conferencia
Internacional del SIDA en Washington DC, 23 de julho de 2012.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre o direito humano gua potvel e
o saneamento, O estigma e o exerccio dos direitos humanos gua e o saneamento, A/HRC/21/42, 2 de
julho de 2012, prr. 65.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre o direito humano gua potvel e
o saneamento, O estigma e o exerccio dos direitos humanos gua e o saneamento, A/HRC/21/42, 2 de
julho de 2012, prr. 65.
44 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
sua deciso de 2013 sobre o caso de um homem que foi afastado das foras
armadas por supostamente realizar ato sexual com outro homem, a CIDH
estabeleceu que:
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39.
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93
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95
Em outro caso relacionado com a perda da guarda de suas filhas por uma mulher
lsbica devido sua orientao sexual, a Comisso e a Corte Interamericanas
mencionaram a influncia de esteretipos negativos contra as mes lsbicas, e em
especial, a viso preconceituosa de que a expresso da orientao sexual de Karen
Atala como mulher lsbica teria um impacto prejudicial em suas filhas. Nesse caso,
o Estado alegou que a Sra. Atala perdeu a custdia de suas trs filhas em
interpretao do interesse superior das meninas. A Corte Interamericana decidiu
que em casos sobre guarda, o princpio do interesse superior da criana deve
estar baseado numa avaliao do comportamento especfico de pais e mes, assim
como em danos comprovados ao bem-estar das crianas, e no em simples
especulaes. Assim, a Corte considerou que uma determinao a partir de
presunes infundadas e estereotipadas sobre a capacidade e idoneidade maternal
de poder garantir e promover o bem-estar e o desenvolvimento da criana no
adequada para assegurar o fim legtimo de proteger o interesse superior da
criana. 93 Sobre este tema, a Corte Interamericana concluiu que as consideraes
baseadas em esteretipos sobre a orientao sexual as quais definiu como
preconceitos sobre condutas ou caractersticas das pessoas homossexuais ou o
impacto que estas supostamente possam ter nas crianas so inadmissveis. 94
rgos e especialistas regionais e internacionais de direitos humanos
desenvolveram amplamente o conceito de no discriminao por motivo de
orientao sexual e identidade de gnero. Apesar destes avanos, a CIDH observa
que, conforme o Direito Internacional, salvo raras excees, 95 os conceitos
CIDH, Relatrio No. 81/13, Caso 12,743, Mrito, Homero Flor Freire, Equador, 4 de novembro de 2013,
para. 111. A CIDH observou que a vtima sostiene que desconhece a ocorrncia destes fatos e afirma que
no se identifica com uma orientao sexual homossexual (para. 111).
Corte IDH. Caso Karen Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro
de 2012. Srie C No. 239, para. 111.
Corte IDH. Caso Karen Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro
de 2012. Srie C No. 239, para. 111.
Ver, por exemplo, a Conveno Interamericana contra Toda Forma de Discriminao e Intolerncia, adotada
no quadragsimo terceiro perodo ordinrio da Assembleia Geral da OEA, em 6 de junho de 2013. Alm
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100
disso, a Conveno Interamericana sobre a Proteo dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas inclui uma
referncia especfica no discriminao por motivo de diversas orientaes sexuais e identidades de
gnero (artigo 5 Igualdade e no discriminao por motivo de idade). OEA, Assembleia Geral, Conveno
Interamericana sobre a Proteo dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas, quadragsimo quinto perodo
ordinrio de sesses, adotada em Washington D.C., 15 de junho de 2015, assinada no mesmo dia por
Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica e Uruguai.
ONU, Comit de Direitos Humanos, Toonen vs. Austrlia, Comunicao No. 488/1992, U.N. Doc.
CCPR/C/50/D/488/1992 (1994). Ver tambm outros casos do mesmo Comit: Edward Young vs. Austrlia
(Comunicao No. 941/2000), CCPR/C/78/D/941/2000, 6 de agosto de 2000) e X vs. Colmbia (Comit de
Direitos Humanos, Comunicao No. 1361/2005: Colmbia. 14/05/2007. CCPR/C/89/D/1361/2005).
O Comit de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais da ONU indicou que em qualquer outra condio
social, tal como consagrado no artigo 2.2 do Pacto, est includa a orientao sexual [...]. A identidade de
gnero tambm reconhecida como motivo proibido de discriminao. Comit de Direitos Econmicos,
Sociais e Culturais da ONU. Observao Geral N 20: A no discriminao e os direitos econmicos, sociais e
culturais (artigo 2, pargrafo 2 do Pacto Internacional de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais),
E/C.12/GC/20. 2009, para. 32. A Corte Europeia de Direitos Humanos determinou que a orientao sexual e
a identidade de gnero esto inseridas no artigo 14 da Conveno Europeia sobre Direitos Humanos. O
artigo 14 desse tratado estabelece: O gozo dos direitos e liberdades reconhecidos na presente Conveno
deve ser assegurado sem quaisquer distines, tais como as fundadas no sexo, raa, cor, lngua, religio,
opinies polticas ou outras, a origem nacional ou social, ser membro de uma minoria nacional, a riqueza, o
nascimento ou qualquer outra situao. Ver CEDH, Identoba e outros v. Gergia (No. 73235), Sentena de
12 de maio de 2015. CEDH, Salgueiro da Silva Mouta V. Portugal, (No. 33290/96), Sentena de 21 de
dezembro de 1999. Final, 21 de maro de 2000, para. 28. Ver tambm, CEDH, Clift V. Reino Unido, (No.
7205/07), Sentena de 13 de julho de 2010. Final, 22 de novembro de 2010, para. 57; CEDH, Frett V. Frana,
(No. 36515/97), Sentena de 26 de fevereiro de 2002. Final, 26 de maio de 2002, para. 32; CEDH, Kozak V.
Polnia, (No. 13102/02), Sentena de 2 de maro de 2010. Final, 2 de junho de 2010, para. 92; J.M. V. Reino
Unido, (No. 37060/06), Sentena de 28 de setembro de 2010. Final, 28 de dezembro de 2010, para. 55, e
Caso Alekseyev v. Rssia, (No. 4916/07, 25924/08 e 14599/09), Sentena de 21 de outubro de 2010. Final, 11
de abril de 2011, prr. 108 (citados em Corte IDH. Caso Karen Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro de 2012. Srie C No. 239, para. 87).
Ver CIDH, Demanda perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Karen Atala e filhas (Caso
12.502) contra o Estado do Chile, 17 de setembro de 2012, paras. 90 e 95.
Corte IDH. Caso Karen Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro
de 2012. Srie C No. 239, paras. 84, 85, 91 e 93.
O artigo 1.1 da Conveno Americana estabelece: os Estados Partes nesta Conveno comprometem-se a
respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exerccio a toda pessoa que
esteja sujeita sua jurisdio, sem discriminao alguma por motivo de raa, cor, sexo, idioma, religio,
46 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
40.
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opinies polticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posio econmica, nascimento
ou qualquer outra condio social.
O primeiro pas a incluir uma referncia especfica a pessoas intersexo em sua legislao sobre igualdade foi
a frica do Sul, atravs de uma emenda de 2005 Lei de Promoo da Igualdade e Preveno da
Discriminao Injusta de 2000 (Promotion of Equality and Prevention of Unfair Discrimination Act). A emenda
estabeleceu que a categoria sexo inclui intersexo. Tambm foram aprovadas leis na Alemanha, Finlndia,
Esccia, Comunidade Autnoma Basca na Espanha, e Malta. Talvez mais conhecida seja a Emenda de
Discriminao Sexual de 2013, adotada na Austrlia (Australian Sex Discrimination Amendment of 2013).
Esta lei estabelece que uma pessoa discrimina contra outra por motivo de seu estado intersexo se a
discriminao est baseada em: (a) estado intersexo da pessoa discriminada; ou (b) uma caracterstica que
geralmente pertence a pessoas intersexo; ou (c) uma caracterstica que geralmente atribuda a pessoas
intersexo; e se a pessoa que discrimina trata a pessoa discriminada de uma maneira menos favorvel da que,
em circunstncias similares, trata ou trataria uma pessoa que no intersexo. Tambm estabelece que uma
pessoa discrimina outra pessoa por motivo de seu estado intersexo, quando a pessoa impe ou tenta impor,
uma condio, requisito ou prtica que tenha ou possa ter o efeito de prejudicar as pessoas intersexo. A
legislao define estado intersexo como a situao de ter traos fsicos, hormonais ou genticos que (a)
no so totalmente femininos ou totalmente masculinos; ou (b) uma combinao de feminino e masculino;
ou (c) no so nem feminino nem masculino. Ver Parlamento da Austrlia, Sex Discrimination Amendment
(Sexual Orientation, Gender Identity and Intersex Status), Lei No. 98 de 2013. Conselho da Europa,
Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People. Silvan Agius, 12 de maio
de 2015, pgs. 44-45.
Com efeito, Mara Mercedes Gmez afirma que o preconceito criao de um esteretipo. Ver Mara
Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los Jueces: Sexualidades diversas en
la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena Sez, eds., Bogot: Editores Siglo
del Hombre, Rede Alas, 2008, pg. 99.
Rebecca Cook e Simone Cusack, Gender Stereotyping: Transnational Legal Perspectives. Pennsylvania Studies
in Human Rights, Editora da University of Pennsylvania, 2010, pg. 9 (Disponvel somente em ingls).
42.
43.
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Outro conceito til o de crimes de dio, que foi criado para caracterizar a
violncia contra as pessoas LGBT. O termo crimes de dio tornou-se popular em
1990 nos Estados Unidos, quando foi emitida a Lei de Estatsticas de Crimes de
dio (Hate Crimes Statistics Act). 106 Esta lei foi aprovada durante uma onda de
crimes com motivao racial investigados pelo Federal Bureau of Investigation
(FBI). 107 Vale destacar que no h consenso universal sobre a definio do crime
de dio. 108 Na Amrica Latina, o Uruguai estabeleceu especificamente o conceito
jurdico de crimes de dio baseados na orientao sexual e identidade
sexual 109, dentre outras categorias, tais como a cor da pele, raa, religio, e origem
nacional ou tnica. A legislao uruguaia define os crimes de dio como atos de
dio, menosprezo ou violncia contra determinadas pessoas com base nestas
categorias. No Uruguai, os crimes de dio consistem em agravante de pena de
priso de entre 6 e 24 meses sano imposta pelo crime cometido. 110 As
organizaes da sociedade civil adotam um conceito mais abrangente de crime de
dio, a fim de incluir agresses baseadas em rejeio, intolerncia, menosprezo,
dio e/ou discriminao. 111
A Comisso enfatizou o vnculo existente entre discriminao e violncia contra as
pessoas LGBT, e indicou que o conceito de preconceito por orientao sexual,
identidade de gnero ou expresso de gnero constitui uma ferramenta para a
ACNUR, Nota de orientao do ACNUR sobre os pedidos de condio de refugiado relacionados com a
orientao sexual e a identidade de gnero, 21 de novembro de 2008, para. 3; Opinio Consultiva do ACNUR
para a Associao de Advogados de Tquio, 3 de setembro de 2004, para. 8, citadas pela CIDH em seu
Relatrio No. 81/13, Caso 12.743, Mrito, Homero Flor Freire, Equador, 4 de novembro de 2013.
Gregory Herek, The Psychology of Sexual Prejudice, University of California, Current Directions in
Psychological Science, 1999.
A Lei de Estatsticas de Crimes de dio dos Estados Unidos (Hate Crime Statistics Act) (28 U.S.C. 534) define
os crimes de dio como crimes que manifestam a evidncia de preconceito baseado em raa, gnero ou
identidade de gnero, religio, discapacidade, orientao sexual ou etnia.
CEJIL, Hivos, Diagnstico sobre los crmenes de odio motivados por la orientacin sexual e identidad de
gnero en Costa Rica, Honduras y Nicaragua, 2013, pg. 15.
CEJIL, Hivos, Diagnstico sobre los crmenes de odio motivados por la orientacin sexual e identidad de
gnero en Costa Rica, Honduras y Nicaragua, 2013.
Segundo descrito no Captulo 6 deste relatrio, alguns Estados Membros da OEA promulgaram leis que
agravam a pena para crimes cometidos por motivo de orientao sexual e/ou identidade de gnero.
Lei No. 17.677 Incitao ao dio, desprezo ou violncia ou comisso destes atos contra determinadas
pessoas, que substituiu o artigo 149 do Cdigo Penal, 29 de julho de 2003.
CEJIL, Hivos, Diagnstico sobre los crmenes de odio motivados por la orientacin sexual e identidad de
gnero en Costa Rica, Honduras y Nicaragua, 2013, pg. 24.
48 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
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Nem todos os atos de violncia contra as pessoas LGBT podem ser caracterizados
como violncia por preconceito. Nesse ponto, a Comisso reconhece que difcil
determinar quando os atos de violncia contra as pessoas LGBT so motivados por
preconceito. Essa determinao exige uma investigao exaustiva das razes que
motivaram a violncia, realizada de acordo com o dever de devida diligncia, como
ser examinado no captulo sexto deste relatrio.
No presente relatrio, a CIDH examina as obrigaes estatais de investigar e
castigar atos de violncia contra as pessoas LGBT, e os desafios enfrentados pelos
Estados nessa matria. A Comisso recebeu informao indicando que, devido ao
preconceito reinante nos sistemas de justia em pases das Amricas, as mortes de
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 134A/12. Anexo ao Comunicado para a Imprensa 134/12 emitido ao
trmino do 146 perodo de sesses. 16 de novembro de 2012.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 134A/12. Anexo ao Comunicado para a Imprensa 134/12 emitido ao
trmino do 146 perodo de sesses. 16 de novembro de 2012.
Mara Mercedes Gmez, entrevista, Centro Latinoamericano de Sexualidades y Derechos Humanos. 2007.
Mara Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los Jueces: Sexualidades
diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena Sez, eds., Bogot:
Editores Siglo del Hombre, Rede Alas, 2008.
Informao apresentada por organizaes da sociedade civil CIDH, Audincia sobre a discriminao por
motivo de gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133 perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro
de 2008. Ver tambm Mara Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los
Jueces: Sexualidades diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena
Sez, eds., Bogot: Editores Siglo del Hombre, Rede Alas, 2008, pg. 185.
Mara Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los Jueces: Sexualidades
diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena Sez, eds., Bogot:
Editores Siglo del Hombre, Rede Alas, 2008, pg. 99.
47.
48.
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Mara Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los Jueces: Sexualidades
diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena Sez, eds., Bogot:
Editores Siglo del Hombre, Rede Alas, 2008, pg. 176.
50 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
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123
A Relatora Especial das Naes Unidas sobre a violncia contra a mulher, suas
causas e consequncias, Rashida Manjoo, definiu a violncia institucional e
estrutural como qualquer forma de desigualdade estrutural ou de discriminao
institucional que mantenha a mulher em posio subordinada, seja fsica ou
ideolgica, a outras pessoas de sua famlia, lar ou comunidade. 123 Nesse sentido,
afirmou que as convices sociais segundo as quais um grupo de pessoas
superior a outro podem constituir uma forma de violncia estrutural. As
convices que perpetuam a noo de que os homens so superiores s mulheres,
Conveno Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violncia contra a Mulher, adotada em Belm
do Par (doravante Conveno de Belm do Par), Brasil, em 6 de setembro de 1994, entrada em vigor em
5 de maro de 1995, artigo 1.
Corte IDH. Caso da Priso Miguel Castro Castro Vs. Peru. Sentena de 25 de novembro de 2006 (Mrito,
Reparaes e Custas). Srie C No. 160, para. 303. Ver: Corte IDH. Caso Gonzlez e outras (Campo
Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de
2009. Srie C No. 205, para. 397. Ver tambm, ONU Comit sobre a Eliminao da Discriminao contra a
Mulher, Recomendao Geral 19 Violncia contra as Mulheres. Doc. HRI/GEN/1/Rev. 1 at 84 (1992),
para. 6.
Corte IDH. Caso Gonzlez e outras (Campo Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de 2009. Srie C No. 205, para. 134.
ONU, Relatrio sobre o Mxico produzido pelo Comit sobre a Eliminao da Discriminao contra a Mulher
de acordo com o Artigo 8 do Protocolo Adicional Conveno, e resposta do Governo do Mxico,
CEDAW/C/2005/OP. 8/Mxico, 27 de janeiro de 2005, pg. 51.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre a violncia contra a mulher, suas
causas e consequncias, A/HRC/17/26, 2 de maio de 2011, para. 26.
que brancos so superiores a negros, que pessoas sem deficincia fsica ou mental
so superiores aos portadores de alguma deficincia, que um idioma superior a
outro, e que uma classe goza de direitos que so negados a outra, so fatores que
contribuem para a violncia estrutural e se transformaram em formas
institucionalizadas de discriminao mltipla e interconectada em muitos
pases. 124 Da mesma forma, as crenas e preconceitos sociais que perpetuam a
ideia de que as pessoas heterossexuais, cisgnero 125 e aquelas que no so
intersexo, so superiores s pessoas LGBTI, contribuem para uma cultura de
violncia estrutural baseada no preconceito contra as orientaes sexuais e
identidades de gnero no normativas e corpos diversos.
52.
124
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre a violncia contra a mulher, suas
causas e consequncias, A/HRC/17/26, 2 de maio de 2011, para. 28.
Cisgnero o termo utilizado para referir-se quela pessoa cuja identidade de gnero coincide com o sexo
que lhe foi assignado ao nascer. Cisgnero o oposto de transgnero ou trans.
a
O artigo 9 da Conveno de Belm do Par, adotada em 6 de setembro de 1994, durante a 24 Sesso
Regular da Assembleia Geral da OEA (e entrou em vigor em 5 de maro de 1995) estabelece: Para a adoo
das medidas a que se refere este captulo, os Estados Partes levaro especialmente em conta a situao da
mulher vulnervel a violncia por sua raa, origem tnica ou condio de migrante, de refugiada ou de
deslocada, entre outros motivos. Tambm ser considerada sujeitada a violncia a gestante, deficiente,
menor, idosa ou em situao scio-econmica desfavorvel, afetada por situaes de conflito armado ou de
privao da liberdade.
125
126
CAPTULO 3
53.
54.
127
A CIDH expressou sua preocupao em relao com a legislao em Belize e Trinidade e Tobago, que probe
a entrada de pessoas homossexuais a esses pases. CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 131A/14,
Relatrio sobre o 153 perodo de sesses da CIDH, 29 de dezembro de 2014.
A idade de consentimento a idade na qual se considera que uma pessoa legalmente competente para dar
seu legtimo consentimento para atos sexuais. Algumas das leis sobre a idade de consentimento na regio
prevm distintas idades de consentimento para: (1) a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo versus
a atividade sexual entre pessoas de sexos distintos; ou (2) o sexo anal versus outros tipos de sexo. Algumas
dessas leis so as seguintes: [Bahamas] Lei de Violncia Domstica e Crimes Sexuais (1991), Seo 16(1) (2).
Idade de consentimiento para a atividade sexual entre pessoas de sexos distintos: 16, e Idade de
consentimiento para a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo: 18; [Canad]: Cdigo Penal, Seo
159(2) (b), R.S.C., 1985, c.C-46. Idade de consentimento para o sexo anal: 18 anos; Idade de consentimento
para outros tipos de sexo: 16. Tribunais de Ontario, Quebec e Alberta declararam a seo 159 desse cdigo
penal inconstitucional, por consider-la uma violao da disposio sobre igualdade da Carta Canadense dos
Direitos e Liberdades; [Chile] Cdigo Penal, Artigo 365. Idade de consentimiento para a atividade sexual
entre pessoas de sexos distintos: 14; Idade de consentimiento para a atividade sexual entre pessoas do
mesmo sexo: 18; [Paraguai] Cdigo Penal, Artigo 138. Idade de consentimiento para a atividade sexual entre
pessoas de sexos diferentes: 14; Idade de consentimiento para a atividade sexual entre pessoas do mesmo
sexo: 16. [Suriname] Cdigo Penal, Seo 302. Idade de consentimiento para a atividade sexual entre
pessoas de sexos distintos: 16; Idade de consentimiento para a atividade sexual entre pessoas do mesmo
sexo: 18.
128
56 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
A.
55.
Em primeiro lugar, a CIDH destaca que o principal objetivo desta seo examinar
a relao existente entre a legislao que criminaliza as relaes sexuais
consensuais entre pessoas do mesmo sexo e as expresses de gnero no
normativas, e a violncia contra pessoas LGBT. Este captulo ressalta o impacto
negativo destas disposies legais nas violaes dos direitos vida e integridade
pessoal de pessoas LGBT, ou aquelas percebidas como tal. Apesar disso, a
Comisso tece algumas consideraes preliminares sobre o impacto destas normas
nos direitos igualdade e no discriminao, sade e outros direitos humanos.
56.
129
130
A CIDH recebeu denncias sobre pelo menos quatro pases nos quais as relaes sexuais entre pessoas do
mesmo sexo esto diretamente proibidas no exrcito, ou indiretamente sancionadas disciplinarmente pelas
foras policiais: [Brasil] o artigo 235 do Cdigo Penal Militar penaliza a pederastia, que em portugus
significa praticar ou participar de atos lascivos, homossexuais ou no, em um lugar sob administrao
militar, e estabelece uma pena de 6 a 12 meses de deteno. O cdigo data de 1969, quando as mulheres
no podiam ingressar nas foras armadas, por conseguinte, a sociedade civil afirma que o termo
pederastia utilizado para restringir a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo (Resposta ao
questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela organizao Liga
Humanista Secular do Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 24 de dezembro de 2013).
Atualmente, existe uma Ao de Descumprimento de Preceito Fundamental ADPF, perante o Supremo
Tribunal Federal, solicitando que esta disposio legal seja declarada inconstitucional. [Peru] O Decreto
1.150 estabelece sanes disciplinares na Polcia Nacional e a expulso por atividade do mismo sexo ou
sexo que cause escndalo e o deteriorao da imagem institucional; [Repblica Dominicana] Lei 285 de
1966, Artigo 210. O Delegado de Polcia de Santo Domingo teria expressado recentemente que as pessoas
LGBT no eram elegveis para formar parte das foras policiais pela proibio de sodomia entre oficiais do
mesmo sexo. Observatorio Derechos Humanos Grupos Vulnerabilizados (ODHVGV), La Comunidad de Trans,
Travestis, Trabajadoras Sexuales Dominicanas (COTRAVETD) e Trans Siempre Amigas (TRANSSA), Relatrio:
Violencia y Discriminacin contra mujeres trans en Repblica Dominicana, 27 de outubro de 2014, pg. 3.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 35A/14, Relatrio sobre o 150 perodo de sesses da CIDH, 13 de
maio de 2014. Ver tambm, declaraes da CIDH emitidas no contexto de audincias sobre a situao dos
direitos humanos em Belize, Guiana, Jamaica e Trinidade e Tobago, e o impacto destas leis e outras no gozo
e exerccio de direitos humanos de pessoas LGBT, em: CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 131A/14,
Relatrio sobre o 153 perodo de sesses da CIDH, 29 de dezembro de 2014. CIDH, Comunicado para a
57.
58.
131
132
133
134
135
Adicionalmente, vale destacar que, ainda que as restries legais nos pases do
Caribe Anglfono ou da Comunidade do Caribe estejam relacionadas com o prprio
ato sexual, e apesar das leis, pelo menos em seu aspecto formal, no terem o
objetivo de atacar diretamente o status ou identidade de uma pessoa, geralmente
limitam a capacidade das pessoas de conseguir ou manter empregos. 131
Em julho de 2012, em evento organizado de forma conjunta pela OEA, CIDH e
ONUSIDA, a Comissionada Rose-Marie Belle Antoine afirmou:
A CIDH observa que o ex Relator Especial da ONU sobre o direito de toda pessoa ao
mais alto padro de sade fsica e mental declarou que este tipo de legislao afeta
negativamente o gozo do direito sade das pessoas que tm sexo com pessoas do
mesmo sexo, por exemplo, ao incidir de forma negativa na busca de assistncia
mdica e em sua sade mental. 133 A Corte Europeia de Direitos Humanos 134 e a
Corte Constitucional da frica do Sul 135 tambm mencionaram o impacto que a
mera existncia de leis que probem a intimidade sexual entre pessoas do mesmo
sexo gera na sade mental dessas pessoas, e que pode se manifestar em
sentimentos de ansiedade, culpa e depresso. Estas leis tambm podem ter um
Imprensa No. 83A/13, Anexo ao Comunicado para a Imprensa CIDH finaliza o 149 perodo de sesses, 8 de
novembro de 2013.
Comissionada Rose-Marie Belle Antoine, Discurso Stigma and Discrimination based on Sexual Orientation
and Gender Identity in the Commonwealth Caribbean, 11 de outubro de 2012 (Disponvel somente em
ingls).
Comissionada Rose-Marie Belle Antoine, Discurso Los Derechos Humanos, el VIH y la discriminacin en
Amrica con motivo de la exposicin del edredn conmemorativo del SIDA en el marco de la XIX Conferencia
Internacional del SIDA en Washington DC, 23 de julho de 2012.
Organizao das Naes Unidas, Relatrio do Relator Especial sobre o direito de toda pessoa ao mais alto
nvel possvel de sade fsica e mental, Anand Grover, A/HRC/14/20, 27 de abril de 2010, para. 17. Tambm
observou que a violncia pode inibir as pessoas de buscar acesso aos servios de sade por medo de
represlias e vitimizao secundria como resultado da identificao como vtimas de um ataque desse tipo
(para. 21).
Corte Europeia de Direitos Humanos, Caso de Norris vs. Irlanda, Caso No. 10581/83, deciso de 26 de
outubro de 1988, para. 192.
Corte Constitucional da frica do Sul, Caso CCT 11/98, The National Coalition for Gay and Lesbian Equality
and Another v. Minister of Justice and Others, 9 de outubro de 1998, para. 23.
58 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
59.
60.
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141
CIDH observa que tribunais nacionais emitiram decises no mesmo sentido. Por
exemplo, a Corte Constitucional da Colmbia estabeleceu que a orientao sexual
em si no pode ser considerada como motivo para castigar, e que as disposies
legais que sancionam nica e exclusivamente pessoas com essa condio implicam
uma clara discriminao que promove a estigmatizao contra pessoas LGBT. 142
No mesmo sentido, a Corte Constitucional da frica do Sul afirmou que tais
disposies no tem outro propsito a no ser criminalizar a conduta que no se
encaixa nas opinies morais ou religiosas de um setor da sociedade. 143 A CIDH
tambm nota a existncia de decises similares emitidas pela Corte Constitucional
do Equador 144 e da Corte Suprema dos Estados Unidos. 145
1.
61.
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60 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
62.
entre pessoas adultas do mesmo sexo em particular. Estes crimes variam de pas
para pas em relao sua tipificao legal: alguns pases criminalizam a
sodomia, delitos contra a ordem natural, ou crimes de conexo no natural. 151
Estas leis, em geral, probem o sexo anal, e fazendo uma leitura literal so
aplicveis igualmente ao sexo anal entre homens e mulheres, e ao sexo anal entre
homens. Com efeito, em alguns pases estas leis so utilizadas para processar
penalmente atos de estupro entre pessoas de sexos diferentes que envolvem a
penetrao anal. No entanto, na prtica estas leis tm um impacto desproporcional
em homens gays e outros homens que praticam sexo com homens. Similarmente, a
CIDH foi informada que, apesar destas leis no tratarem especificamente de atos
sexuais entre mulheres, os preconceitos predominantes nestas sociedades contra
as sexualidades no normativas colocam em risco as mulheres que praticam sexo
com mulheres, ou as mulheres percebidas como tendo uma identidade ou
expresso de gnero que no ajusta a uma noo tradicional de feminilidade. 152
Por ltimo, a Comisso destaca que, ainda que estas leis sejam destinadas a
atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo, as pessoas trans e as pessoas
inconformadas com o gnero, por sua alta visibilidade, tambm enfrentam
violncia e discriminao nestes contextos. 153
151
[Antgua e Barbuda] Lei de Crimes Sexuais de 1995 (Lei No. 9), Seo 12 (Sodomia); [Barbados] Lei de Crimes
Sexuais, Captulo 154, Seo 9 (Sodomia); [Belize] o Cdigo Penal prev o crime em seu Captulo 101, Seo
53 (relaes carnais contra a ordem natural) e Seo 45 (ataque indecente agravado); [Dominica] Lei de
Crimes Sexuais 1998, Seo 15 (Sodomia), Seo 16 (tentativa de sodomia); [Granada] Cdigo Penal, Seo
431 (conexo no-natural); [Guiana] Lei de Direito Penal, Captulo 8:01, Seo 353 (Tentativa de cometer
crimes antinaturais), Seo 354 (Sodomia); [Jamaica] Lei de Crimes contra a Pessoa, Seo 76 (Crime
Antinatural), Seo 77 (tentativa); [So Cristvo e Nevis] Lei de Crimes contra as Pessoas, Seo 5684
(Sodomia); [Santa Luca] Cdigo Penal, Sub Parte C, Subseo 133 (Sodomia); [So Vicente e Granadinas]
Cdigo Penal, Seo 146 (Sodomia); [Trinidade e Tobago] Lei de Crimes Sexuais Captulo 11:28, Seo 13
(Sodomia).
152
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012.
Por exemplo, sobre a Jamaica, ver: HRW, Not Safe at Home: Violence and Discrimination against LGBT
People in Jamaica, outubro de 2014, pg. 10. A CIDH tambm recebeu informao durante as audincias
pblicas sobre a Jamaica celebradas em 2014. udios e vdeos destas esto disponveis em www.cidh.org.
Human Rights Watch, This Alien Legacy, 2008.
Human Rights Watch, This Alien Legacy, 2008.
153
154
155
63.
156
Antgua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Santa Lcia, e Trinidade e Tobago. T. Robinson,
The Vagaries of Justice, (disponvel somente em ingls) em Sexualities in Conversation, No. 1, Caribbean
sexualities, Parte 1, maro de 2008, citado em Reunio Regional de Ativistas LGBTI do CARICOM, The
Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through Legal Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual
Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In Caribbean Countries, 2010. Relatrio apresentado
CIDH em novembro de 2010, pg. 21.
Por exemplo, en Belize, uma emenda de 1944 eliminou o requisito do consentimento para o crime contra
natureza, portanto, o consentimento tornou-se irrelevante para a prtica do crime. Ver Tracy Robinson,
Authorized Sex: Same-Sex Sexuality and Law in the Caribbean, em Sexuality, Social Exclusion and Human
Rights: vulnerability in the Caribbean Context of HIV, Barrow, de Bruin e Carr (organizadores), Editora Ian
Randle, 2009, pg. 12 (Disponvel somente em ingls).
Por exemplo, em Trinidade e Tobago, a pena por atividade sexual entre dois adultos aumentou para dez
anos com a reforma de 1986, e para 25 anos de priso com a reforma de 2000. Ver Lei de Crimes Sexuais,
1986 Captulo 11:28; Lei 27 de 1986 (modificada pelas Leis 20 de 1994; e 31 de 2000), seo 13.
Em Barbados, por exemplo, a Lei de Crimes Sexuais de 1992 diferenciou o crime de sodomia do crime de
bestialismo, e reduziu a sentena para este ltimo. Em Santa Lcia, uma reforma no ano de 2004
despenalizou o sexo anal entre um homem e uma mulher, e restringiu o crime ao sexo anal entre pessoas do
mesmo sexo. Ver Tracy Robinson, Authorized Sex: Same-Sex Sexuality and Law in the Caribbean, em
Sexuality, Social Exclusion and Human Rights: vulnerability in the Caribbean Context of HIV, Barrow, de
Bruin and Carr (organizadores), Editora Ian Randle, 2009, pgs. 13-14 (Disponvel somente em ingls).
Atualmente, um crime contra a natureza aquele no qual h relaes sexuais entre uma pessoa adulta e
outra pessoa do mesmo sexo que menor de idade; ou entre pessoas adultas de qualquer gnero ou
orientao sexuam em espao pblico, independentemente do consentimento. Bahamas, Lei de Crimes
Sexuais e Violncia Domstica, 1991 No. 9, Captulo 99, Seo 16.
Bahamas, Lei de Crimes Sexuais e Violncia Domstica (1991) antes da reforma de 2008.
Bahamas, Lei de Crimes Sexuais e Violncia Domstica (1991) antes da reforma de 2008.
A Seo 4 da Lei define o termo relaes sexuais e inclui todas as formas de penetrao na vagina ou nus,
toda estimulao da vagina ou do nus, e a penetrao oral com o pnis.
Tracy Robinson, Authorized Sex: Same-Sex Sexuality and Law in the Caribbean, em Sexuality, Social
Exclusion and Human Rights: vulnerability in the Caribbean Context of HIV, Barrow, de Bruin e Carr
(organizadores), Editora Ian Randle, 2009, pg. 14 (Disponvel somente em ingls).
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169
170
ou pessoas de sexos diferentes, e a pena foi reduzida de vinte para dois anos. 165
Porm ainda existe uma disposio discriminatria em relao com a diferena
sobre a maioridade requerida para o consentimento entre pessoas do mesmo sexo
e de sexos diferentes. Alm disso, o Cdigo Penal das Bahamas justifica o uso da
fora e inclusive de fora letal contra uma pessoa em distintas situaes de
extrema necessidade, incluindo dentre outros, crimes de natureza muito distinta,
como o crime forado contra a natureza [forcible unnatural crime]. 166
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Bahamas, A/HRC/10/70, para. 9;
Bahamas, Lei de Crimes Sexuais e Violncia Domstica.
Artigo 107 (4) do Cdigo Penal das Bahamas.
Ver, por exemplo, CEDAW, Observaes Finais: Guiana, CEDAW/C/GUY/CO/7-8, 27 de julho de 2012, para.
33; , Observaes Finais: Guiana, CEDAW/C/GUY/CO/7-8, 7 de agosto de 2012, para. 23(f); Comit de
Direitos Humanos, Observaes Finais: Jamaica, CCPR/C/JAM/CO/3, 17 de novembro de 2011, para. 8;
Comit de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais, Observaes Finais: Jamaica, E/C.12/JAM/CO/3-4, 10 de
junho de 2013, para. 8; Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais, Jamaica, CCPR/C/JAM/CO/3, 17 de
novembro 2011; Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Granada, CCPR/C/GRD/CO/1, 14 de
agosto de 2009, para. 21; Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: So Vicente e Granadinas,
CCPR/C/VCT/CO/2, 24 de abril de 2008, para. 8; Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Barbados,
CCPR/C/BRB/CO/3, 14 de maio de 2007.
Ver Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Belize (na ausncia do relatrio do Estado de Belize),
CCPR/C/BLZ/CO/1, 26 de marzo de 2013; CEDAW, Observaes Finais: Guiana, CEDAW/C/GUY/CO/7-8, 27 de
julio de 2012, prr. 33.
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Barbados, Anexo (A/HRC/10/73/Add.1),
16 de maro de 2009; Conselho de Direitos Humanos, A/HRC/10/73, recomendao 77.17 (Frana, Canad,
Eslovnia, Repblica Tcheca, Chile, Sucia) e 77.18 (Canad); Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame
Peridico Universal: Barbados, A/HRC/10/73, 9 de janeiro de 2009, para. 74; Relatrio do Grupo de Trabalho
sobre o Exame Peridico Universal: Dominica, A/HRC/27/9, 26 de junho de 2014, para. 22; Relatrio do
Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So Cristvo e Nvis, A/HRC/17/12, 15 de maro de
2011, para. 14; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So Vicente e
Granadinas, Anexo, A/HRC/18/15/Add.1, 22 de setembro de 2011, para. 23; Relatrio do Grupo de Trabalho
sobre o Exame Peridico Universal: Antgua e Barbuda, A/HRC/19/5, 14 de dezembro de 2011, para. 35.
Vrios pases mencionaram consideraes religiosas. Por exemplo, Barbados indicou que uma sociedade
muito religiosa, que conta com muitos grupos de lobby vinculados igreja, inclusive ativistas evanglicos,
que possuem seus prprios pontos de vista sobre o tema. Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame
Peridico Universal [Barbados], A/HRC/10/73, 9 de janeiro de 2009, para. 74. Outros pases, como a Jamaica,
tambm mencionaram consideraes religiosas para no despenalizar os atos sexuais entre pessoas do
66.
67.
171
172
173
174
175
176
oposio cultural e social. 171 Outros Estados indicaram que se trata de uma
questo delicada que exige uma consulta em nvel nacional. 172
A Comisso observa, porm, que os pontos de vista dos Estados sobre o tema da
discriminao variam amplamente nos pases da regio que criminalizam o sexo
anal. A CIDH ressalta que a Dominica, por exemplo, reconheceu que a legislao
que criminaliza a intimidade sexual entre pessoas adultas do mesmo sexo
discriminatria, 174 mas mantm vigente essa legislao. Com um ponto de vista
diferente, mas com o mesmo resultado, Trinidade e Tobago, que tambm mantm
vigente a legislao que criminaliza as relaes sexuais entre pessoas adultas do
mesmo sexo, indicou que a discriminao baseada na orientao sexual continua
sendo motivo de preocupao. 175 Santa Lcia deu um passo positivo ao condenar
a violncia contra pessoas com uma orientao sexual diferente. 176 Outros
Estados Membros da OEA que ainda criminalizam as relaes sexuais consensuais
mesmo sexo. Ver, inter alia, Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Jamaica,
A/HRC/16/14, 4 de janeiro de 2011, para. 32.
Comit de Direitos Humanos, Informao recebida sobre a implementao das observaes finais do Comit
de Direitos Humanos, [Barbados], CCPR/C/BRB/CO/3/Add.1, 2 de junho de 2009, para. 11; Relatrio do
Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Barbados, A/HRC/23/11, 12 de maro de 2013, para.
22; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Guiana, A/HRC/15/14, 21 de junho
de 2010, para. 17; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So Cristvo e Nvis,
A/HRC/17/12, 15 de maro de 2011, para. 14; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico
Universal: Jamaica, A/HRC/16/14, 4 de janeiro de 2011, para. 32; Misso Permanente da Jamaica perante a
OEA CIDH Jamaica-Relatrio de Audincia, 27 de maro de 2014, pg. 14; CIDH, Audincia de seguimento
do Relatrio da CIDH sobre a Situao dos Direitos Humanos na Jamaica, 150 perodo ordinrio de sesses,
27 de maro de 2014; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So Vicente e
Granadinas, Anexo, A/HRC/18/15/Add.1, 22 de setembro de 2011, para. 23. Ver tambm, CIDH, Comunicado
para a Imprensa No. 79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos violentos, o abuso policial
e outras formas de violncia contra pessoas LGTBI, de 24 de outubro de 2013.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Suriname, Nota PVOAS/728/13/NB/CE, de 13 de dezembro de 2013, recebida na Secretaria Executiva da
CIDH em 16 de dezembro de 2013, pg. 2. Ver Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico
Universal: So Vicente e Granadinas, Anexo, A/HRC/18/15/Add.1, 22 de setembro de 2011, para. 16.
Corte IDH. Caso Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro de
2012. Srie C No. 239, para. 119.
Ver, por exemplo, Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Dominica,
A/HRC/13/12, 4 de janeiro de 2010, para. 33.
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Trinidade e Tobago, Anexo,
A/HRC/19/7/Add.1, 14 de dezembro de 2011, para. 24.
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Santa Lcia, Anexo, A/HRC/17/6/Add.1,
1 de junho de 2011, pg. 7 (traduo livre da CIDH).
64 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
68.
entre pessoas adultas do mesmo sexo observaram que tentaram adotar 177 ou
concretamente tomaram medidas para proteger os direitos das pessoas LGBT. 178
69.
Alguns Estados Membros do Caribe Anglfono ressaltaram que, apesar das leis
discriminatrias continuarem vigentes, na prtica no h discriminao contra
pessoas LGBT. 182 So Cristvo e Nevis, por exemplo, inclusive indicou que apesar
da existncia de legislao discriminatria, existe uma cultura de tolerncia na
sociedade em geral diante das pessoas LGBT. 183 E ainda, alguns Estados indicaram
que no receberam quaisquer queixas de assdio ou ataques contra lsbicas ou
homens gays. 184
177
A Guiana indicou que sua tentativa de incluir o termo orientao sexual na clusula contra a discriminao
da Constituio provocou consternao e protestos generalizados. Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o
Exame Peridico Universal: Guiana, A/HRC/15/14, 21 de junho de 2010, para. 17.
Belize mencionou que apesar da resistncia das igrejas, especialmente de igrejas evanglicas, estava
trabalhando na implementao de um plano para a poltica de gnero, que incluiria a prestao de servios
de sade sexual e reprodutiva para homens que praticam sexo com homens. O Primeiro Ministro de Belize
havia afirmado seu compromisso com a poltica. Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico
Universal: Belize, A/HRC/25/13, 11 de dezembro de 2013, para. 96.
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Granada, A/HRC/15/12, 16 de junho de
2010, para. 26 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH). Ver tambm Relatrio do Conselho
a
de Direitos Humanos em sua 19 sesso, Trinidade e Tobago, A/HRC/DEC/19/105, 15 de maro 2012, para.
478 ( preciso modificar a forma de pensar da populao para tratar destas questes de maneira
adequada) (traduo livre da CIDH).
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Trinidade e Tobago, Anexo,
A/HRC/19/7/Add.1, 14 de dezembro de 2011, prr. 9 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH).
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Santa Lcia, A/HRC/17/6, 11 de maro
de 2011, para. 65 (traduo livre da CIDH).
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Antgua e Barbuda, A/HRC/19/5, 14 de
dezembro de 2011, para. 35; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Granada,
A/HRC/15/12, 16 de junho de 2010, para. 26; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico
Universal: Jamaica, A/HRC/16/14, 4 de janeiro de 2011, para. 31; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o
Exame Peridico Universal: So Cristvo e Nvis, A/HRC/17/12, 15 de maro de 2011, para. 35; [Relatrio
do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Santa Lcia, A/HRC/17/6, 11 de maro de 2011,
para. 65; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So Vicente e Granadinas,
Anexo, A/HRC/18/15/Add.1, 22 de setembro de 2011, para. 23.
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So Cristvo e Nvis, A/HRC/17/12, 15
de maro de 2011, para. 35.
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Guiana, A/HRC/15/14, 21 de junho de
2010, para. 17; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So Cristvo e Nvis,
A/HRC/17/12, 15 de maro de 2011, para. 35.
178
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3.
71.
72.
192
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195
indecncia sria para adultos que concordem com o ato aumentou para cinco anos. Alm disso, como em
Trinidade e Tobago, em Barbados uma lei de 1992 substituiu o crime menor de indecncia grave que era
cometido por um homem contra outro homem, pelo crime de indecncia sria que prev pena de priso de
at dois anos. Robinson, Tracy, preparado para o Fundo de Desenvolvimento das Naes Unidas para a
Mulher (UNIFEM), A legal analysis of sex work in the Anglophone Caribbean, abril de 2007 (disponvel
somente em ingls; traduo livre da CIDH).
A Seo 153, parte (1)(xxvii) Captulo 8:02 Resumo dos Crimes Judiciveis estabelece que o crime cometido
quando um homem, de qualquer forma pblica ou em lugar pblico, para quaisquer fins imprprios,
aparece com vestimenta feminina, ou se mulher, de qualquer forma pblica ou em lugar pblico, para
quaisquer fins imprprios, aparece com vestimenta masculina.
CIDH, Audincia sobre discriminao baseada em gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133
perodo ordinrio de sesses, 24 de outubro de 2008. Vdeo e udio no disponveis.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Anistia Internacional, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013.
Neste caso, a Corte decidiu que interessante observar que no constitui crime que um homem use
vestimenta de mulher e que uma mulher use vestimenta de homem de forma pblica ou em lugar pblico
[...], a no ser que esse ato seja cometido com um fim inapropriado, o que ento enseja responsabilidade
penal. Portanto, no crime que uma pessoa utilize trajes do sexo oposto como preferncia, forma de
expresso ou para demonstrar sua orientao sexual. A penalizao est destinada finalidade inapropriada
de tal conduta. High Court of the Supreme Court of Judicature, Civil Jurisdiction, Quincy McEwan, Seon
Clarke, Joseph Fraser, Seyon Persaud and the Society Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD) vs.
Attorney General of Guyana. Deciso de 6 de novembro de 2013, pg. 26 (disponvel somente em ingls;
traduo livre da CIDH).
4.
73.
Alguns Estados Membros da OEA observaram que, apesar destas leis que
criminalizam as relaes sexuais consensuais entre pessoas adultas do mesmo
sexo em mbito privado permanecerem vigentes, elas no foram aplicadas
recentemente para penalizar relaes consensuais entre homens adultos. 199 Em
termos gerais, a Comisso reconhece que estas leis no tm sido aplicadas na
prtica, porm a CIDH recebeu informao sobre a sua aplicao recente em
Granada. 200 Alm disso, organizaes da sociedade civil alegaram que, ainda que
estas leis contra atos sexuais consensuais entre pessoas do mesmo sexo no sejam
geralmente implementadas, pesquisas em outros contextos nacionais indicam que
[...] as leis que no so aplicadas na prtica podem ter efeitos generalizados na
196
High Court of the Supreme Court of Judicature, Civil Jurisdiction, Quincy McEwan, Seon Clarke, Joseph Fraser,
Seyon Persaud and the Society Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD) vs. Attorney General of
Guyana, Deciso de 6 de novembro de 2013, pg. 24.
High Court of the Supreme Court of Judicature, Civil Jurisdiction, Quincy McEwan, Seon Clarke, Joseph Fraser,
Seyon Persaud and the Society Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD) vs. Attorney General of
Guyana, deciso de 6 de novembro de 2013, pg. 28 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH).
Quincy McEwan, Diretor de Guyana Trans United (GTU), Constitutional Court Rules Cross-Dressing is Not a
Crime if Not for Improper Purpose - Rights Groups Plan Appeal on Dubious Decision, 27 de fevereiro de
2013 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH).
Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Antgua e Barbuda, A/HRC/19/5, 14 de
dezembro de 2011, para. 35; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: So
Cristvo e Nvis, A/HRC/17/12, 15 de maro de 2011, para. 14; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o
Exame Peridico Universal: Dominica, A/HRC/27/9, 26 de junho de 2014, para. 22; Relatrio do Grupo de
Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Trinidade e Tobago, Anexo, A/HRC/19/7/Add.1, 14 de
dezembro de 2011, para. 71; e Relatrio do Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal:
Barbados, A/HRC/23/11, 12 de maro de 2013, para. 21.
Revista The Advocate, Man arrested for gay sex in Granada, 26 de maio de 2011. Ver informao
apresentada pelas organizaes Groundation Grenada e GrenCHAP durante a audincia Denncias sobre
Criminalizao de Relaes entre Pessoas do Mesmo Sexo em Granada, 156 Perodo de Sesses, 19 de
outubro de 2015. Ver tambm o testemunho de Colin Robinson (da organizao CAISO de Trinidade e
Tobago) perante a CIDH na audincia Utilizao indevida do Direito Penal para criminalizar Defensoras e
Defensores de Direitos Humanos, 153 Perodo de Sesses, 31 de outubro de 2014. Vdeo e udio
disponveis em www.cidh.org.
197
198
199
200
68 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
74.
sociedade. 201 Uma pesquisa recente realizada por ONUSIDA na regio do Caribe
determinou, por exemplo, que quase 23% dos entrevistados recebeu insultos
verbais no perodo de um ms, enquanto que 33% dos homens entrevistados
recebeu olhares incmodos ou foi intimidado porque se presumia ou sabia que
sentiam atrao por outros homens. 202 E pior ainda, ao menos um de cada dez
(11%) relatou haver sido atacado fisicamente nos ltimos cinco anos. 203
O Alto Comissrio da ONU para os Direitos Humanos expressou que, em geral,
estas leis so usadas para intimidar e perseguir as pessoas pela sua orientao
sexual ou identidade de gnero, real ou percebida. 204 A CIDH observou que este
tipo de legislao contribui para um ambiente que, no melhor dos casos, no
condena e, no pior deles, permite a discriminao, a estigmatizao e a violncia
contra pessoas LGBT. 205 Estas leis reforam preconceitos sociais existentes e
aumentam consideravelmente os efeitos negativos que o preconceito provoca nas
vidas das pessoas LGBT. 206 A criminalizao de relaes sexuais entre homens
tambm tem um efeito simblico, visto que aos olhos do sistema legal dos pases
onde essa criminalizao continua vigente, todos os homens gays so
criminosos. 207
75.
201
Society Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD), Collateral Damage: The Impact of Laws Affecting
LGBT Persons in Guyana, maro de 2012, pg. 3 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH).
Programa das Naes Unidas sobre HIV/AIDS (ONUSIDA), CARIMIS: The Caribbean Mens Internet Survey,
2014, pg. 50. Para este estudo, foram entrevistados homens dos seguintes Estados Membros da OEA:
Antgua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Cuba, Dominica, Repblica Dominicana, Granada, Guiana,
Haiti, Jamaica, So Cristvo e Nvis, Santa Lcia, So Vicente e Granadinas, Suriname, e Trinidade e Tobago,
dentre outros.
ONUSIDA, CARIMIS: The Caribbean Mens Internet Survey, 2014, pg. 50.
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Leis e prticas discriminatrias e atos de
violncia cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/19/41, 17 de
novembro de 2011, para. 40.
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012,
para. 271.
Corte Constitucional da frica do Sul, Caso CCT 11/98, The National Coalition for Gay and Lesbian Equality
and Another v. Minister of Justice and Others, 9 de outubro de 1998, para. 23.
Corte Constitucional da frica do Sul, Caso CCT 11/98, The National Coalition for Gay and Lesbian Equality
and Another v. Minister of Justice and Others, 9 de outubro de 1998, para. 28.
CIDH, Audincia Medidas punitivas e discriminao por motivo de identidade sexual em pases do Caribe,
140 perodo ordinrio de sesses, 26 de outubro de 2010. udio disponvel em www.cidh.org.
202
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208
inclusive atos de tortura contra pessoas LGBT. 209 Em seu relatrio de 2014 sobre a
Jamaica, a organizao Human Rights Watch indicou que:
76.
77.
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209
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215
Quase nunca so promovidas aes penais com base nestas leis. No entanto,
estas leis tm um impacto real e negativo. Criminalizar a intimidade sexual
entre homens oferece uma aprovao normativa da discriminao contra
minorias sexuais e de gnero, e num contexto de homofobia generalizada,
estas leis outorgam uma aprovao social ao preconceito e ajudam a criar um
ambiente no qual a hostilidade e a violncia so direcionadas contra a
populao LGBT. 210
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Anistia Internacional, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013.
HRW, Not Safe at Home: Violence and Discrimination against LGBT People in Jamaica, outubro de 2014,
pg. 10.
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012,
para. 282.
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012,
para. 282.
CIDH, Relatrio Anual 2010, 7 de maro de 2011, captulo I (introduo), para. 11. Adicionalmente, em
outubro de 2010, a CIDH realizou uma audincia na qual recebeu bastante informao sobre o estado das
distintas leis nesta regio e suas consequncias. CIDH, Audincia Medidas punitivas e discriminao por
motivo de identidade sexual em pases do Caribe, 140 perodo ordinrio de sesses, 26 de outubro de
2010. udio disponvel em www.cidh.org.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos
violentos, o abuso policial e outras formas de violncia contra pessoas LGTBI, de 24 de outubro de 2013.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 131A/14, Relatrio sobre o 153 perodo ordinrio de sesses da
CIDH, 29 de dezembro de 2014.
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79.
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A Comisso recebeu informao de que nos Estados onde as relaes sexuais entre
pessoas do mesmo sexo ou as identidades de gnero distintas so criminalizadas,
muitas vtimas no denunciam os crimes por medo de ser objeto de acusaes
penais. 217 A Comisso indicou que estas leis proporcionam uma aprovao social
para o abuso. Como se entende que as pessoas LGBT participam de uma atividade
criminosa, lgico deduzir que menos provvel que a polcia investigue os
crimes contra estas pessoas. 218 De acordo com o Relator Especial da ONU sobre o
direito sade, o castigo ratificado pelos Estados refora preconceitos existentes, e
legitima a violncia nas comunidades e a violncia policial direcionada contra as
pessoas afetadas. 219 Em janeiro de 2015, o Secretrio Geral da ONU, Ban Ki Moon,
reafirmou que era contra a criminalizao da homossexualidade, e considerou
que estas leis reproduzem a intolerncia. 220
Por exemplo, a Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos da Nicargua informou a CIDH que o fato
de que s recentemente foram despenalizadas as relaes sexuais consensuais entre adultos do mesmo
sexo desestimula muitas pessoas LGBT de denunciar a violncia sofrida. Resposta ao questionrio da CIDH
sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo Estado da Nicargua, recebido pela
Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 8.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos
violentos, o abuso policial e outras formas de violncia contra pessoas LGTBI, de 24 de outubro de 2013.
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012,
para. 271.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre o direito de toda pessoa ao mais
alto nvel possvel de sade fsica e mental, Anand Grover, A/HRC/14/20, 27 de abril de 2010, para. 20.
Washington Blade (Por Michael K. Lavers), Ban Ki/moon: Anti/sodomy laws breed intolerance [Disponvel
somente em ingls], 15 de janeiro de 2015.
Relatrio do Relator Especial sobre execues extrajudiciais, sumrias ou arbitrrias, E/CN.4/2000/3, 25 de
janeiro de 2000, para. 116.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre o direito de toda pessoa ao mais
alto nvel possvel de sade fsica e mental, A/HRC/14/20, 27 de abril de 2010, para. 22.
81.
82.
83.
84.
223
224
225
Outro aspecto que deve ser considerado que a acusao criminal por crimes
menos graves pode ser utilizada para perseguir pessoas LGBT ou pessoas
inconformadas com o gnero, e assim submet-las ao sistema de justia criminal,
criminalizao e mais violncia. Quando essas pessoas so presas ou processadas,
esta situao pode resultar em novos incidentes de discriminao e violncia. Uma
pesquisa revelou que a lei contra o uso de trajes tradicionalmente associados a
outro gnero invocada com maior frequncia que a lei contra a sodomia, e s
vezes as pessoas so processadas e condenadas por aquele crime. Cinco pessoas
trans entrevistadas para uma pesquisa realizada nos meses de abril e maio de
2011, indicaram que haviam sido processadas penalmente, e que todas menos uma
haviam sido acusadas por usar roupas tradicionalmente associadas a outro gnero.
Das cinco pessoas trans entrevistadas, aquelas que foram julgadas se declararam
culpadas e receberam multas. Outro exemplo o de uma trabalhadora sexual
trans de 17 anos de idade, de nacionalidade indo-guianesa, que foi detida e
mantida em priso por trs meses antes de ser informada das acusaes
imputadas. Durante o tempo em que esteve presa, alega-se que foi agredida com
uma corda, arrastada pelos esgotos [e] obrigada a limpar o ptio da delegacia. 225
A Comisso considera que a discriminao histrica contra as pessoas LGBT obriga
os Estados a ser especialmente vigilantes para adotar medidas que assegurem o
CIDH, Justia juvenil e direitos humanos nas Amricas, OEA/Ser.L/V/II. Doc. 78, 13 de julho de 2011,
para. 121.
CIDH, Justia juvenil e direitos humanos nas Amricas, 2011, para. 121.
Christopher Carrico, Collateral Damage: The Social Impact of Laws Affecting LGBT Persons in Guyana,
publicado pelo Projeto de Defesa de Direitos, Faculdade de Direito da University of the West Indies, maro
de 2012, pg. 16 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH).
72 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
85.
B.
86.
226
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Argentina, Nota 96357/2013 de 29 de novembro de 2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 13
de dezembro de 2013, pg. 20. Ver tambm, CEJIL, Estudio sobre los Crmenes de Odio Motivados en la
Orientacin Sexual e Identidad de Gnero en Costa Rica, Honduras y Nicaragua, 2010.
87.
88.
89.
227
228
229
230
231
232
Estas leis so criticadas por sua linguagem imprecisa, dentre outros aspectos. As
definies ambguas de condutas proibidas permitem a sua aplicao arbitrria a
pessoas que discrepam das normas de gnero aceitas socialmente, especialmente
as pessoas trans. H evidncias de que agentes de segurana do Estado usam estas
leis de forma reiterada para atormentar e perseguir as pessoas LGBT,
especialmente as trabalhadoras sexuais trans. 230 Em alguns pases, oficiais da
polcia e agentes encarregados de fazer cumprir a lei tm amplos poderes para
limitar ou restringir a circulao das pessoas em espaos pblicos. Esta faculdade,
juntamente com a discriminao e o preconceito social predominantes contra as
pessoas LGBT, resulta no abuso da discricionariedade policial na aplicao de
normas sobre o uso de espaos pblicos. ainda mais preocupante a informao
recebida sobre oficiais da polcia que usam essas disposies de bons costumes
seletivamente contra mulheres lsbicas, bissexuais e trans. 231
A CIDH observou que uma seo da Lei de Polcia e Convivncia Social de
Honduras (2001) provoca, na prtica, situaes de violao aos direitos humanos,
especialmente em detrimento de pessoas trans. 232 A Comisso concorda com
organizaes da sociedade civil no sentido de que esta lei preocupante, pois
facilita o abuso policial e as detenes arbitrrias de pessoas trans, que exeram ou
Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais sobre o terceiro, quarto e quinto relatrios peridicos de El
Salvador, CCPR/CO/78/SLV, 22 de agosto de 2003, para. 16.
Comit contra a Tortura, Costa Rica, CAT/C/CRI/CO/2, 7 de julho de 2008, para. 11.
[Argentina] por exemplo, Lei 219-1951, Provncia de Jujuy, contra a moral e os bons costumes; e Provncia
de Salta, Lei Provincial N7.135, artigo 114, prostituio; [Chile] Cdigo Penal, artigo 373, bons costumes,
escndalo; [El Salvador] Lei para a Convivncia Cidad do Municpio de San Salvador, artigo 32, moral e
bons costumes; [Equador] Guayaquil, Lei de Regulamentao da zona de regenerao urbana, artigo 4.4,
ordem pblica e bons costumes; [Guatemala] Cdigo Penal, artigo 489, bons costumes; [Honduras]
Lei de Polcia e da Convivncia Social, artigo 100, conduta suspeita; [Mxico] Cdigo Penal do Estado de
Jalisco, artigo 135, atos contra a moral pblica, exibies obscenas; dentre outros.
[Argentina] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pela Argentina, Nota 96357/2013, de 29 de novembro de 2013, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 13 de dezembro de 2013, pg. 11. [Mxico] Resposta ao questionrio da CIDH sobre
violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo Centro de Apoyo a las Identidades Trans
(Mxico), recebida pela Secretaria Executiva em 20 de dezembro de 2013, pg. 8.
Ver, por exemplo, Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pela Organizacin de Transexuales por la Dignidad de la Diversidad (Chile), recebido pela
Secretaria Executiva em 25 de novembro de 2013. Ver tambm, BBC Mundo, Derechos gays: paradoja
colombiana, 4 de setembro de 2008.
CIDH, Relatrio Anual 2013, Captulo IV: Honduras, para. 427.
74 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
90.
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92.
93.
241
242
243
244
245
246
Artigo 373 do Cdigo Penal do Chile. Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI
nas Amricas apresentada pelo Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH) (Chile),
recebida em 20 de novembro de 2013, pgs. 9-10.
Centro de Promocin y Defensa de los Derechos Sexuales y Reproductivos (PROMSEX) e Red Peruana TLGB:
Informe Anual sobre derechos humanos de personas trans, lesbianas, gays y bisexuales en el Per 2012: sin
igualdad no hay justicia, 2012, Peru, pg. 57.
CIDH, Audincia Pblica, Direitos humanos, orientao sexual e identidade de gnero no Haiti, 141
perodo ordinrio de sesses, 25 de maro de 2011.
The Violations of the Rights of Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender Persons in Mexico: A Shadow Report.
Relatrio sombra apresentado ao Comit de Direitos Humanos por: Global Rights; Gay and Lesbian Human
Rights Commission (IGLHRC); International Human Rights Clinic, Human Rights Program, Harvard Law School;
e Colectivo Binni Laanu A.C., maro de 2010, pg. 12.
CIDH, Audincia Temtica Crimes de dio contra membros da comunidade LGBT e impunidade na Amrica
Central, 140 perodo ordinrio de sesses, solicitada pelo Centro pela Justia e o Direito Internacional
(CEJIL), Centro Nicaragense de Derechos Humanos (CENIDH), Centro de Investigacin y Promocin de
Derechos Humanos (CIPRODEH), Asociacin LGBT Arco Iris, Centro para la Educacin y Prevencin del SIDA
(CEPRESI), Centro de Investigacin y Promocin para Amrica Central de Derechos Humanos (CIPAC), 26 de
outubro de 2010.
A CIDH recebeu informao sobre as agresses sofridas por pessoas LGBTI nas delegacias de polcia em
Honduras durante a audincia temtica: Denncia sobre detenes arbitrrias e tortura em centros de
deteno em Honduras, 133 Perodo Ordinrio de Sesses, solicitada por CEJIL, CARITAS e CPTRT, 23 de
outubro de 2008. Ver David Brown. Los Crmenes de Odio contra las personas LGTB en Honduras Periodo
2005 2009, pg. 10. Human Rights Watch, No Vales un Centavo: Abusos de Derechos Humanos en contra
de las Personas Transgnero en Honduras, maio de 2009, pg. 10 (entrevistas com Beyonc [Jos Garay],
Alejandra Vega [Julin Acosta], Marce Andino [Marlon Andino] e Sayuri [Gerardo Paniagua], pessoas trans de
San Pedro Sula. 14 de fevereiro de 2011; Entrevista com Ramn Valladares, Diretor da Comunidad Gay
Sampedrana. San Pedro Sula. 14 de fevereiro de 2011).
76 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
94.
247
Tracy Robinson, A legal analysis of sex work in the Anglophone Caribbean, artigo preparado para o Fundo
de Desenvolvimento das Naes Unidas para a Mulher (UNIFEM), abril de 2007.
Por exemplo, a Lei de Contravenes de Antgua e Barbuda de 1892 (Antigua and Barbuda Small Charges Act
1892), Captulo 405, sees 19 e 41; Lei de Contravenes de Dominica de 1891 (Dominica Small Charges Act
1891), Captulo 10:39, seo 39; Lei de Contravenes de So Cristvo e Nvis de 1892 (St. Kitts-Nevis Small
Charges Act), Captulo 75, sees 18, 29, 39 e 43.
Lei de Belize sobre Crimes e Jurisdio Sumria de 1953 (Belize Summary Jurisdiction (Offences) Act),
Captulo 98, sees 15 18; Lei da Guiana sobre Crimes e Jurisdio Sumria de 1894 (Guyana Summary
Jurisdiction (Offences) Act), Captulo 8:02, sees 155 156.
Tracy Robinson, A legal analysis of sex work in the Anglophone Caribbean, artigo preparado para o Fundo
de Desenvolvimento das Naes Unidas para a Mulher (UNIFEM), abril de 2007.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Fundacin Silueta X (Equador), recebida em 27 de novembro de 2013, pg. 3.
Observatorio Derechos Humanos Grupos Vulnerabilizados, Trans Siempre Amigas (TRANSSA) e Comunidad de
Trans y Travestis Trabajadoras Sexuales (COTRAVETD), Informe sobre Violencia y Discriminacin contra las
Mujeres Trans en la Repblica Dominicana, 27 de outubro de 2014, pg. 3.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Honduras, Nota DC-179/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg.
6. A CIDH tambm recebeu informao durante a visita Colmbia da Relatora sobre os Direitos das Pessoas
LGBTI em outubro de 2014. Ver tambm, Audincia Pblica Situao de Direitos Humanos de Pessoas Trans
no Panam, 19 de outubro de 2015. udio e vdeo disponveis em: www.cidh.org.
Informao recebida durante a audincia pblica Crimes de dio contra as pessoas LGBT na Amrica
Central, 140 perodo ordinrio de sesses, 26 de outubro de 2010 (sobre a Nicargua, udio en 00:17:15).
udio disponvel em: www.cidh.org.
Christopher Carrico, Collateral Damage: The Social Impact of Laws Affecting LGBT Persons in Guyana,
publicado por Human Rights Advocacy Project, Faculty of Law, University of the West Indies, maro de 2012,
pg. 16.
248
249
250
251
252
253
254
255
95.
256
mulheres trans que fazem trabalho sexual de 22,7 anos, o que exacerba sua
vulnerabilidade violncia. 256
Observatorio Derechos Humanos Grupos Vulnerabilizados, Trans Siempre Amigas (TRANSSA) e Comunidad de
Trans y Travestis Trabajadoras Sexuales (COTRAVETD), Informe sobre Violencia y Discriminacin contra las
Mujeres Trans en la Repblica Dominicana, 27 de outubro de 2014, pg. 2.
CAPTULO 4
FORMAS E CONTEXTOS DA
VIOLNCIA CONTRA PESSOAS
LGBTI
A.
Introduo
96.
B.
97.
82 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
98.
99.
100. A insuficiente capacitao de agentes de polcia, promotores e autoridades mdicolegais tambm pode ser a causa dos registros imprecisos. Por exemplo, quando as
vtimas so pessoas trans, os registros no refletem sua identidade de gnero,
257
258
259
260
261
262
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
Letra S, Sida, Cultura y Vida Cotidiana A.C., Informe de crmenes de odio por homofobia en Mxico 19952008, 2009, pg. 10.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
seno que indicam o sexo que lhes foi assignado ao nascer. As mulheres trans
frequentemente so identificadas nos registros pblicos como homens vestidos
com roupa de mulher. 263 O desconhecimento e a falta de capacitao tambm
podem fazer com que oficiais de polcia e promotores confundam as noes de
orientao sexual e identidade de gnero, e portanto identifiquem mulheres trans
como homens gays. 264 Em alguns Estados, as organizaes denunciaram que as
autoridades registram pessoas gays, lsbicas, bissexuais ou trans sob categorias
genricas, tais como LGBT ou gay inclusive quando so pessoas trans sem
especificar sua orientao sexual ou identidade de gnero. 265
2.
Violncia generalizada
264
265
266
Ver, por exemplo, [Guatemala] CIDH, Audincia sobre discriminao por motivo de orientao sexual e
Identidade de gnero na Guatemala, 146 perodo ordinrio de sesses, 4 de novembro de 2012; e
[Colmbia] Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay,
Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2010-2011, 2013, pg. 10.
CIDH, Atas da reunio de especialistas sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas, Washington DC,
24-25 de fevereiro de 2012.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Colectivo Entre Trnsitos y otros (Colmbia), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de
novembro de 2013, pg. 16; Colombia Diversa, Cuando el Prejuicio Mata: Informe de Derechos Humanos de
Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2012, junho de 2014, pg. 7.
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas
por motivos de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 25 [notas
de rodap no original omitidas].
84 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
3.
267
268
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
4.
270
271
272
273
CIDH, Audincia sobre discriminao por motivo de gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133
perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2008. udio e vdeo no disponveis.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH, Audincia sobre discriminao contra pessoas trans nas Amricas, 153 perodo ordinrio de sesses,
30 de outubro de 2014.
Jornal La Pgina, Comunidad LGBTI pide investigar detencin de transgnero agente del CAM, 29 de junho
de 2015.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
86 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
sugere que as pessoas bissexuais padecem de taxas mais altas de violncia sexual e
ntima proveniente de seus companheiros, se comparado com as pessoas gays,
lsbicas e heterossexuais.274
106. Em relao s pessoas intersexo, durante o perodo de quinze meses (entre janeiro
de 2013 e maro de 2014) includo no Registro de Violncia da CIDH no foram
registrados casos de violncia mdica contra pessoas intersexo. A Comisso atribui
esta falta de dados a vrios fatores, inclusive o fato de que estas cirurgias
normalizadoras nas pessoas intersexo geralmente so realizadas conforme
protocolos mdicos aprovados pelo Estado, e no so divulgadas nos meios de
comunicao nem denunciadas pelas vtimas, familiares ou organizaes. A CIDH
observa tambm que, geralmente, as pessoas intersexo e suas famlias
experimentam profundos sentimentos de culpa e medo; o que contribui para que o
tema permanea invisvel e em segredo. 275 Estes sentimentos negativos,
incrementados pelos tabus existentes na sociedade sobre a sexualidade e os
genitais, afetam gravemente as pessoas intersexo. 276 Um estudo realizado nos
Estados Unidos revelou que pais e mes de crianas intersexo tambm
manifestaram pena, medo, horror, humilhao, arrependimento e dvidas
contnuas sobre as decises adotadas sobre seus filhos e filhas. 277 J uma pesquisa
realizada no Uruguai concluiu que a maioria das pessoas intersexo submetida a
cirurgias normalizadoras no foi informada que era intersexo antes das cirurgias.
Com efeito, devido ao tabu que geralmente rodeia as pessoas intersexo, as pessoas
entrevistadas nessa pesquisa no conheciam outras pessoas abertamente
intersexo, inclusive dentro da comunidade LGBT. 278
5.
107. Tanto Estados Membros da OEA 279 como organizaes da sociedade civil 280
indicaram de maneira consistente que os crimes contra pessoas LGBT
274
275
276
277
278
279
280
Movement Advancement Project-BiNetUSA- Bisexual Resource Center, Understanding issues facing bisexual
Americans, setembro de 2014. (Disponvel somente em ingls. Traduo livre da CIDH).
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
Ver, inter alia: CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas,
147 perodo ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013; Cabral, Mauro, Pensar la intersexualidad, hoy
em: Maffa, Diana (Ed.), Sexualidades Migrantes: gnero y transgnero, 2003, pg. 122.
Human Rights Commission of the City & County of San Francisco, A Human Rights Investigation into the
Medical Normalization of Intersex People, 28 de abril de 2005, pg. 19.
Heinrich Bll Foundation (Por Ghattas, Dan Christian), Human Rights between the Sexes: A preliminary study
on the life situations of inter* individuals, vol. 34, Publication Series on Democracy, 2013, pg. 46.
Ver, por exemplo, Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pelo Estado do Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 9 de outubro de 2014,
pg. 5.
Ver, por exemplo, [Bolvia] Red de Travestis, Transexuales y Transgnero de Bolivia (Red TREBOL) e
Heartland Alliance for Human Needs & Human Rights, La situacin de los derechos humanos de las personas
lesbianas, gay, bisexuales, transgnero en Bolivia, maro de 2013, pg. 4; [Canad] Resposta ao questionrio
da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por Egale, Canada Human Rights
Trust, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 22 de novembro de 2013, pg. 1. [Colmbia] Caribe
281
282
283
284
285
Afirmativo - Global Rights, Violacin de derechos a personas lesbianas, gays, bisexuales, trans e intersex
(LGBTI) en el Caribe Colombiano en el marco del conflicto armado interno, Outubro de 2014, pg. 14;
[Guatemala] Trans Organizacin de Apoyo a una Sexualidad Integral Frente al SIDA (OASIS), Informe de
OASIS sobre la Situacin de los Derechos Humanos de la Comunidades de la Diversidad Sexual y de Gnero en
Guatemala, 10 de abril de 2012, para. 9; Organizacin Trans Reinas de la Noche (Guatemala), Informe
Guatemala: Transfobia, Agresiones y Crmenes de Odio 2007-2011, 1 de maio de 2011, pgs. 37-38; [Mxico]
Letra S, Sida, Cultura y Vida Cotidiana A.C., Informe de crmenes de odio por homofobia Mxico 1995-2008,
2009, pg. 12; [Amrica Latina] Transgender Europe (TGEU) e Transrespeto versus Transfobia en el Mundo
(TvT), Transrespeto versus Transfobia en el Mundo: un estudio comparativo de la situacin de los derechos
humanos de las personas trans, 2012, pg. 49.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre a violncia contra a mulher, suas
causas e suas consequncias, A/HRC/20/16, 23 de maio de 2012, para. 71.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
Ver, por exemplo, Alto Comissariado das Naes Unidas para os DIreitos Humanos, Leis e prticas
discriminatrias e atos de violncia cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de
gnero, A/HRC/19/41, 17 de novembro de 2011, para. 22; Alto Comissariado das Naes Unidas para os
DIreitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo de orientao sexual e identidad
de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 23.
Ver, por exemplo [Canad] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas
Amricas apresentada por Egale, Canada Human Rights Trust, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 22 de novembro de 2013, pg. 1; [Colmbia] Colombia Diversa, Cuando el Prejuicio Mata: Informe de
Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2012, junho de 2014, pg.
17. [Honduras] Cattrachas e outros, Audincia de homicdios de pessoas LGTTBI e impunidade nas Amricas
perante a Comisso Interamericana de Direitos Humanos, perodo de sesses 1 de novembro de 2012,
pg. 11.
CIDH, Registro de Violncia contra Pessoas LGBT nas Amricas, (documento de Excel), 17 de dezembro de
2014; CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI
na Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014. Para referncias a
queimaduras com cido, ver: Christopher Carrico, Collateral Damage: The Social Impact of Laws Affecting
LGBT Persons in Guyana, Publicado pelo Projeto de Defesa de Direitos da Faculdade de Direito da University
of West Indies, maro de 2012, pg. 18. Informao tambm obtida de testemunhos recebidos durante a
visita da Presidente da CIDH Colmbia, de 29 de setembro a 3 de outubro de 2014.
88 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
109. Nos ltimos anos, vrios casos de homicdios brutais contra pessoas LGBT foram
denunciados perante a CIDH. Por exemplo, em 2009, o corpo de Jorge Lpez
Mercado foi decapitado, esquartejado e parcialmente queimado, em Porto Rico.286
Em maro de 2012, Daniel Zamudio, um homem de 24 anos foi brutalmente
atacado e sadicamente torturado por vrias horas por um grupo de quatro homens
num parque, em Santiago do Chile. Apesar de ter sido encontrado ainda com vida e
imediatamente hospitalizado, a severidade dos ferimentos infligidos resultou em
sua morte alguns dias depois. 287 A CIDH emitiu um comunicado para a imprensa
condenando intensamente seu homicdio e apoiando uma investigao efetiva. 288
Em outubro de 2013, os quatro rus foram considerados culpados e condenados a
priso. 289 A Comisso tambm foi informada sobre o caso de uma menina lsbica
de 17 anos de idade, de Valdvia, no Chile, que estava participando de uma
manifestao por Daniel Zamudio um pouco depois da sua morte, quando foi
atacada, ferida com objetos, e marcada com cigarros em forma de sustica.
Segundo informado, a vtima no teria apresentado uma denncia por medo de
revelar sua orientao sexual para sua me. 290
110. Ahumada e Angulo perguntaram [a Daniel Zamudio] se ele era homossexual, [],
e quando Daniel disse que sim, Ahumada comeou a dar-lhe bofetadas [...] Angulo
disse que Daniel era um nojo por ser gay, enquanto Ahumada ria // Os dois
[Ahumada e Angulo] comearam a dar socos nele sem parar, pularam na sua
cabea e nariz. [...] Depois de agredi-lo, os dois sentaram e continuaram fumando.
Posteriormente, ngulo levantou-se e urinou na boca e no peito de Daniel, despois
Ahumada fez o mesmo, tambm urinou nele, e ento comearam a bater nele de
novo; Ahumada quebrou uma garrafa de rum [...] na cabea de Daniel, e Angulo
pegou o gargalo e talhou trs susticas nele, duas no estmago e uma no peito, e o
apunhalou duas vezes no lado esquerdo do corpo. [...] Ahumada e Angulo
espancaram Daniel novamente, agarrando sua cabea pelas orelhas e a batendo no
286
287
288
289
290
Jornal Primera Hora, Espeluznante crimen de odio contra joven homosexual, 16 de novembro de 2009.
Cinco meses depois, Ashley Santiago, uma mulher trans, foi encontrada morta esfaqueada em sua casa.
Revista The Advocate, Transgender Woman Murdered in Puerto Rico, 26 de abril de 2010. No ms
seguinte, Angie Gonzlez, outra mulher trans, foi estrangulada at a morte com um fio eltrico em sua casa.
Edge Media Network, Another transgender woman murdered in Puerto Rico, 25 de maio de 2010. Um caso
recente tambm foi denunciado em Porto Rico: o corpo de um jovem jogador de voleibol foi encontrado
boiando numa praia em Dorado. Seu cadver estava sem calas e com vrias balas no estmago, pernas e
braos. Primera Hora, Dos individuos confiesan haber asesinado a joven voleibolista por ser gay, 20 de
maro de 2014.
Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH), Daniel Zamudio Vera, A un ao de la
tragedia, marzo de 2013; Relatrio do Relator Especial sobre as formas contemporneas de racismo,
discriminao racial, xenofobia e formas conexas de intolerncia, Implementao da resoluo da
Assembleia Geral 66/143, A/HRC/20/38, 29 de mayo de 2012, para. 8.
CIDH, Comunicado para a Imprensa 34/12, CIDH lamenta a morte de Daniel Zamudio no Chile, 29 de maro
de 2012.
Jornal Ahora Noticias, Caso Zamudio: Patricio Ahumada es sentenciado a presidio perpetuo, 28 de outubro
de 2013.
Jornal La Nacin, Joven lesbiana habra sido atacada por presuntos neonazis en Valdivia, 29 de maro de
2012.
cho. [...] Depois Ahumada quebrou outra garrafa na cabea de Daniel e disse
paraAngulo que devia aprender a fazer as incises, e talhou outras duas susticas
nas costas [...]. Posteriormente, Angulo e Ahumada pularam na cabea, deram
socos no nariz, olhos, genitais de Daniel, e urinaram de novo nele. [...] Ral Lpez
pegou uma pedra no local e atirou contra a perna de Daniel para quebr-la [...], mas
no conseguiu, ento agarrou sua perna e a quebrou com as mos; todos riram e
disseram que o rudo parecia com o osso de uma galinha. 291
111. Em fevereiro de 2013, o cadver de uma mulher trans de 20 anos foi encontrado
numa estrada rural de Puebla, no Mxico. Seu rosto havia sido desfigurado com
um pau ou basto, alguns de seus dentes foram encontrados a vrios metros de
distncia, e um de seus olhos foi removido. 292 E no ano de 2013, a Comisso foi
informada sobre o caso de Joel Molero, um homem de 19 anos de idade que foi
brutalmente atacado e decapitado no Peru. Seus genitais e dedos das mos e ps
foram mutilados; seu corpo foi estendido sobre um colcho e depois incendiado. 293
6.
292
293
294
295
296
Termos de declaraes dos acusados Ral Alfonso Lpez Fuentes e Fabin Mora Mora. Caso de Daniel
Zamudio Vera. Quarto Tribunal de Assuntos Penais de Santiago, Processo (RUC) 1200245128-8, Sentena de
28 de outubro de 2013, pgs. 56, 58, 63, 64 e 68.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelos
Defensores de Derechos Humanos por la Universidad Nacional Autnoma de Mxico (Mxico), recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 135; Zocalo Saltillo, Torturan y asesinan a
homosexual en Puebla, 6 de fevereiro de 2013.
PROMSEX, Informe Anual sobre los Derechos Humanos de los transexuales, lesbianas, gays y personas
bisexuales en Per 2013, maio de 2014, pg. 36; Jornal El Comercio, Chachapoyas exige justicia para Joel
Molero, joven gay asesinado brutalmente, 2 de dezembro de 2013; Peru 21, Piden justicia para Joel
Molero, joven gay descuartizado en Chachapoyas, 1 de dezembro de 2013; La Repblica, Juez dispone
prisin preventiva para asesino, 6 de dezembro de 2013.
Ver, por exemplo, [Brasil] Jornal O Tempo, Jovem homossexual agredido na Praa da Liberdade, 8 de
setembro de 2011; [Estados Unidos] Human Rights Campaign, Research Overview: Hate Crimes and Violence
against Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender People, maio de 2009, pg. 11; Daily News, Im NOT sorry
Im gay: Defiant tweet goes viral after Ohio college student punched after kiss, 12 de novembro de 2014;
Revista The Advocate, Bible-Quoting Man Shoots Couple With BB Gun Outside Minneapolis Gay Bar, 30 de
setembro de 2014.
Ver, por exemplo, [Mxico], Jornal Milenio, Retiran a pareja gay de centro comercial, 27 de maro de
2015.
Portal Pragmatismo Poltico, Gays so espancados por 15 homens no metr de So Paulo 14 de novembro
de 2014.
90 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
C.
1.
Execues extrajudiciais
113. No que diz respeito a este relatrio, o termo execues extrajudiciais 301 significa
as privaes do direito vida perpetradas ilegalmente por agentes do Estado. A
297
298
299
300
301
SDP Noticias, Fanticos gays del Atltico de Madrid sufren ataque homofbico en Mxico, 27 de maio de
2014.
The Clinic, Movilh denuncia golpiza a lesbianas en pub y dos casos de discriminacin en clnica, 25 de julho
de 2012.
Corte Constitucional Colombiana, Deciso T-909 de 2011, 1 de dezembro de 2011.
CIDH, Atas da reunio de especialistas sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas, Washington DC,
24-25 de fevereiro de 2012; [Brasil] Jornal O Tempo, Jovem gay afirma ter sido agredido por guardas em
SP, 4 de abril de 2014; [Chile] Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH), XI Informe
Anual de Derechos Humanos de la Diversidad Sexual en Chile 2012, 2013, pg. 61-65. [Colmbia] Colombia
Diversa, Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en
Colombia 2010-2011, 2013, pg. 49-50. [Equador] Fundacin Ecuatoriana Equidad, Informe sobre la situacin
de los derechos humanos de las poblaciones LGBTI, 2013, pg. 30. Uma das vtimas informou que os agentes
da polcia disseram que eles deveriam estar agradecidos porque no foram estuprados; [Mxico] Comisin
Nacional de los Derechos Humanos (CNDH), Informe especial de la comisin nacional de los derechos
humanos sobre violaciones a los derechos humanos y delitos cometidos por homofobia, 2010, pg. 8; Jornal
Telediario, Pareja gay denuncia discriminacin por parte de policas de Metepec, 3 de maio de 2013; Jornal
Novedades Acapulco, Sorprenden a pareja de hombres besndose; los trasladan a barandilla, 5 de
fevereiro de 2013; Jornal Diario Contra Poder en Chiapas, Pareja gay denuncia a policas por discriminacin,
extorsin y amenazas (sem data); Jornal Notiese, Pareja gay denuncia a tres policas bancarios por abuso
de autoridad, 5 de maio de 2004; [Peru] Jornal El Comercio, Plaza San Miguel fue multada por
discriminacin a pareja gay, 10 de abril de 2014; [Argentina] Jornal DiarioHuarpe, Detuvieron a una pareja
gay por besarse en el parque, 5 de abril de 2015.
O termo execues extrajudiciais tem sido utilizado em relao a atos de privao da vida cometidos por
agentes estatais, ou com sua cumplicidade, tolerncia ou aquiescncia. O conceito de execuo extrajudicial
faz referncia arbitrariedade da privao da vida, em contraponto execuo realizada de acordo com a lei
(como no caso da aplicao da pena de morte). Ver, por exemplo, Relatrio do Relator Especial sobre
execues extrajudiciais, sumrias ou arbitrrias, A/HRC/4/20, 29 de janeiro de 2007, para. 1, nota de
rodap 1.
303
304
305
306
307
308
Corte IDH. Caso Boyce e outros Vs. Barbados. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de
20 de novembro de 2007. Srie C No. 169, para. 57. No mesmo sentido: Caso Cantoral Huaman e Garca
Santa Cruz Vs. Peru. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 10 de julho de 2007.
Srie C No. 167; e Caso Escu Zapata Vs. Colmbia. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 4 de julho de
2007. Srie C No. 165.
Corte IDH. Caso Bmaca Velsquez Vs. Guatemala. Mrito. Sentena de 25 de novembro de 2000. Srie C
No. 70, para. 172; Corte IDH. Caso Nios de la Calle (Villagrn-Morales e outros) Vs. Guatemala. Mrito.
Sentena de 19 de novembro de 1999. Srie C No. 63, para. 145; e Comit de Direitos Humanos da ONU,
Comentrio Geral No. 6: Artigo 6 (Direito vida), 30 de abril de 1982, para. 3.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 14.
Relatrio do Relator Especial sobre execues extrajudiciais, sumrias ou arbitrrias, Anexo. Seguimento das
recomendaes a pases: Colmbia, A/HRC/20/22/Add.2, 15 de maio de 2012, para. 51.
Relatrio do Relator Especial sobre execues extrajudiciais, sumrias ou arbitrrias, E/CN.4/2000/3, 25 de
enero de 2000, para. 54.
HRW, Mujeres transgnero se enfrentan a atentados mortales: vctimas preocupadas porque los
responsables de estos crmenes puedan ser policas, 21 de fevereiro de 2006.
Em 3 de fevereiro de 2006, a CIDH outorgou medidas cautelares em favor de Sulma Alegra Robles, Jorge Luis
Lpez Sologaistoa e outros onze membros da Organizao Apoyo a una Sexualidad Integral (OASIS) na
Guatemala. A informao disponvel indica que na noite de 16 de dezembro de 2005, na Cidade da
Guatemala, duas pessoas trans de nome Paulina (Juan Pablo Mndez Cartagena), assistente de comunicao
de OASIS, e Sulma (Kevin Josu Alegra Robles), usuria dos servios brindados por OASIS foram atingidas por
balas de fogo em incidente que, conforme as alegaes, envolveu quatro policiais uniformizados. Observase ainda que Paulina foi ferida mortalmente, e que Sulma sobreviveu ao incidente, e seria uma testemunha
chave para esclarec-lo. Outras fontes de informao confirmam que a comunidade de lsbicas, gays,
bissexuais e pessoas transgnero da Guatemala enfrentam ataques e ameaas envolvendo agentes da
Polcia, o que provoca o medo de que exista uma poltica clandestina de limpeza social dentro da Polcia.
92 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
117. Em janeiro de 2013, dois policiais foram presos pelo sequestro, tortura e execuo
de um casal de jovens do sexo masculino. O incidente supostamente ocorreu no
contexto de uma briga entre dois jovens, de 17 e 22 anos, na Cidade do Mxico.
Aps serem expulsos de uma boate, uma patrulha policial e outros carros
chegaram, e os policiais empurraram os jovens violentamente em direo a um
veculo branco. Os corpos dos dois homens foram encontrados no dia seguinte com
vrios sinais de pancadas em distintas partes do corpo (algumas das quais eram
to brutais que deixaram os ossos mostra), suas mos e ps amarrados com um
cabo de ao, suas orelhas amputadas, e cada um tinha trs buracos de bala na
cabea. As cmeras de segurana da boate mostraram que os veculos usados para
309
310
311
Com base nestes antecedentes, a Comisso solicitou ao Governo da Guatemala que adotasse as medidas
necessrias para garantir a vida e a integridade fsica dos beneficirios e informasse sobre as aes adotadas
para esclarecer judicialmente os fatos que justificaram a adoo de medidas cautelares. A Comisso
continua dando seguimento situao dos beneficirios. CIDH, Resumo da MC 3-06 Sulma Alegra Robles e
membros de OASIS, Guatemala, disponvel em www.cidh.org.
Relatrio d Relator Especial sobre execues extrajudiciais, sumrias ou arbitrrias. Anexo: Misso a
Guatemala A/HRC/4/20/Add.2, 19 de fevereiro de 2007, para. 34.
Anistia Internacional, Relatrio: Situao dos Direitos Humanos no Mundo, 2011, Captulo sobre Honduras.
A CIDH continua monitorando a implementao destas medidas cautelares. A ltima reunio entre o Estado
e os beneficirios foi realizada em outubro de 2015, durante o 156 Perodo de Sesses da CIDH. Resumo da
MC 18-10 Indyra Mendoza Aguilar e outros, Honduras, 29 de janeiro de 2010, disponvel em www.cidh.org.
118. A Comisso Interamericana observa que na maioria dos casos de violncia contra
pessoas LGBT documentados no Registro de Violncia da CIDH, h escassa
informao sobre os perpetradores desses ataques, principalmente nos casos de
homicdios. Porm, durante o perodo de quinze meses anteriormente
mencionado, a CIDH recebeu informao sobre supostas execues por agentes do
Estado de um menino de 15 anos em Patu (Rio Grande do Norte), Brasil, 313 uma
mulher trans de 40 anos na Cidade do Mxico, 314 e o caso supracitado de dois
homens gays de 17 e 22 anos de idade, tambm na Cidade do Mxico. 315 Por outro
lado, a CIDH tambm recebeu informao sobre a morte de Angelina Luca
Martnez Figueroa, uma mulher trans de 19 anos em Cartagena, Colmbia, que
teria sido assassinada com um tiro na cabea, supostamente uma bala perdida, em
virtude de disparos ao ar feitos por um agente da polcia para controlar uma briga
de rua. 316
2.
Homicdios
119. A Comisso determinou que durante um lapso de quinze meses (entre janeiro de
2013 e maro de 2014) pelo menos 594 pessoas LGBT ou percebidas como tal
foram assassinadas em ataques aparentemente relacionados com a percepo
sobre sua orientao sexual ou sua identidade e expresso de gnero. 317 Este
nmero compreende 283 assassinatos de homens gays ou percebidos como tal, e
282 assassinatos de mulheres trans ou pessoas trans com expresso de gnero
feminina. 318 A CIDH tambm conseguiu identificar tendncias estatsticas sobre o
local dos assassinatos e as armas utilizadas. Os homens gays, ou aqueles
percebidos como tal, tendem a ser assassinados com armas brancas e em espaos
privados, tais como a residncia da vtima. 319 Em contrapartida, as mulheres trans
e as pessoas trans com expresso de gnero feminina tendem a ser assassinadas
312
313
314
315
316
317
318
319
Comisin de Derechos Humanos del Distrito Federal, Recomendao 8/2013, Anexo IV, Caso A, Processo
CDHDF/IV/122/CUAUH/13/D0208, pgs. 1-14; Jornal La Razn, Arraigan a polica por las muertes del
Living, 23 de janeiro de 2013.
Portal Catol News, Soldado PM mata adolescente em Patu, e comete suicdio em seguida, 7 de abril de
2013.
Portal Sdpnoticias, Soldado mata a travesti en hotel del DF; no saba que era hombre, 10 de outubro de
2013.
Portal Animal Poltico, CDHDF confirma 7 asesinatos cometidos por policas capitalinos, 2 de maio de 2013.
Jornal Caracol, En Cartagena muere transsexual tras recibir impacto de bala en la cabeza, 3 de maro de
2014. Corporacin Caribe Afirmativo, Caribe Afirmativo exige claridad en el homicidio de una mujer trans en
la Ciudad de Cartagena, 3 de maro de 2014.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH, Registro de Violncia contra Pessoas LGBT en Amrica, (arquivo do Excel), 17 de dezembro de 2014.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
94 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
120. Algumas organizaes da sociedade civil e agncias do Estado em alguns pases das
Amricas registraram um aumento no nmero de homicdios de pessoas LGBT nos
ltimos anos. No entanto, no possvel concluir se concretamente houve um
aumento, ou se h mais visibilidade e maior documentao devido a um
monitoramento mais minucioso dos homicdios contra pessoas LGBT. Nesta seo,
a CIDH resume alguns dados de distintas fontes sobre homicdios em vrios pases
da regio. Alm disso, a Comisso observa que, conforme a informao recebida
sobre alguns pases, aparentemente houve um aumento no nmero de homicdios.
Por exemplo, em 2014, a Comisso Executiva de Ateno a Vtimas (CEAV) do
Mxico uma agncia federal governamental autnoma expressou sua
preocupao sobre o aumento nas cifras e a natureza cada vez mais violenta dos
crimes por preconceito contra as pessoas LGBT. 321 Segundo a organizao da
sociedade civil Letra S Sida, Cultura y Vida Cotidiana A.C., houve 1.218 homicdios
motivados por preconceito contra pessoas LGBT. Segundo esse relatrio, mais de
80% das vtimas teriam sido alvo de ataques previamente ao seu homicdio. 322
Outras organizaes no Mxico documentaram pelo menos 164 homicdios de
mulheres trans entre 2007 e 2012, indicando um aumento constante nas cifras. 323
321
322
323
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326
327
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
Comisin Ejecutiva de Atencin a Vctimas (CEAV), Boletim 32/2014: Preocupa a la CEAV que en Mxico
sigan aumentado vctimas de homofobia con expresiones cada vez ms violentas, 16 de maio de 2014.
Relatrio de Letra S, Sida, Cultura y Vida Cotidiana A.C., citado em Notiese, Registran 1218 homicidios por
homofobia en Mxico, 12 de maio de 2015.
Centro de Apoyo a las Identidades Trans (CAIT), Informe Crmenes de Mujeres Trans en Mxico: Invisibilidad =
Impunidad, 2013, pg. 9.
Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH), XII Informe Anual de Derechos Humanos de
la Diversidad Sexual en Chile 2013, 2014, pg. 37.
Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH), XII Informe Anual de Derechos Humanos de
la Diversidad Sexual en Chile 2013, 2014, pg. 40.
Organizacin de Apoyo a una Sexualidad Integral Frente al SIDA (OASIS), Crmenes de Odio en Guatemala:
una Aproximacin a los Retos y Desafos para el Desarrollo de una Investigacin sobre Crmenes en el Pas en
contra de Gay, Bisexuales y Trans, abril de 2010, pg. 35.
Organizacin Trans Reinas de la Noche (Guatemala), Informe Guatemala: Transfobia, Agresiones y Crmenes
de Odio 2007-2011, 1 de maio de 2011, pg. 37.
atacadas. 328 Segundo uma organizao da sociedade civil, pelo menos 30 pessoas
trans foram assassinadas entre 2009 e 2010 na Guatemala. 329 Em Honduras,
conforme a Red Lsbica Cattrachas, ocorreram pelo menos 189 homicdios de
pessoas LGBT entre 2008 e 2014 330, e 10 homicdios foram registrados durante os
primeiros cinco meses de 2015. 331
122. No Peru, organizaes locais denunciaram que pelo menos 38 pessoas LGBT foram
assassinadas entre 2001 e 2013, 332 e 13 foram assassinadas entre abril de 2014 e
maro de 2015. 333 Na Venezuela, organizaes informaram que documentaram
pelo menos 46 homicdios entre 2009 y 2013. 334 Na Argentina, uma organizao
denunciou que houve 25 homicdios de pessoas LGBT entre 2011 e 2013. 335 Em
2014, teriam sido assassinadas 7 pessoas, comparadas a 5 no ano anterior. Essa
organizao tambm observou que, apesar de uma reduo nos homicdios de
homens gays em 2014, o nmero de homicdios de pessoas trans aumentou mais
que o dobro, em comparao com o ano anterior. 336 Em outubro de 2015,
organizaes informaram que trs mulheres trans foram assassinadas no perodo
de um ms na Argentina. 337 No Uruguai, organizaes da sociedade civil
328
329
330
331
332
333
334
335
336
337
Organizacin Trans Reinas de la Noche (Guatemala), Informe Guatemala: Transfobia, Agresiones y Crmenes
de Odio 2007-2011, 1 de maio de 2011, pgs. 37 y 38.
Fundacin Myrna Mack e outros, Discriminacin por orientacin sexual e identidad de gnero y una
aproximacin a la interseccionalidad con otras formas de discriminacin en Guatemala, 4 de novembro de
2012, pg. 33.
Cattrachas & Safo, Informe del Observatorio binacional Honduras-Nicaragua: Muertes Violentas de la
Comunidad Lsbica, Gay, Bisexual, Transexual e Intersexual, 2008-2014, pg. 9. 26 de junho de 2015.
importante destacar que o Estado de Honduras ressaltou a confiana nas estatsticas produzidas por esta
organizao da sociedade civil. Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas
Amricas, apresentada pelo Estado de Honduras, Nota DC-179/2013 de 20 de novembro de 2013, recebida
pela Secretaria Executiva da CIDH em 23 de novembro de 2013, pg. 3.
Red Lsbica Cattrachas, Lista de Vtimas 2015 at 6 de junho de 2015, recebido pela Secretaria Executiva da
CIDH em 11 de junho de 2015.
PROMSEX, Informe Anual sobre los Derechos Humanos de los transexuales, lesbianas, gays y personas
bisexuales en Per 2013, mayo de 2014, pg. 34; PROMSEX, Informe Anual sobre los Derechos Humanos de
los transexuales, lesbianas, gays y personas bisexuales en Per 2012, maio de 2013, pg. 61; PROMSEX,
Informe Anual sobre los Derechos Humanos de los transexuales, lesbianas, gays y personas bisexuales en
Per 2011, maio de 2012, pg. 52.
Promsex, Informe Annual sobre la Situacin de Derechos Humanos de Personas TLGB en Per (2014-2015),
maio de 2015, citando o Observatorio de Derechos Humanos de Personas LGBT y sobre VIH/SIDA e outras
fontes, pg. 31.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada por
Accin Ciudadana Contra el SIDA (ACCSI), recebida em 25 de novembro de 2013, pg. 1; Accin Ciudadana
Contra el SIDA (ACCSI), Informe Venezuela 2013 Crmenes de odio por orientacin sexual, identidad de
gnero y expresin de gnero en la noticia de los medios de comunicacin y organizaciones de la sociedad
civil, pg. 20.
Comunidad Homosexual Argentina, Informe crmenes de odio del ao 2013 (Asesinatos por Orientacin
Sexual e Identidad de Gnero), 2014; Comunidad Homosexual Argentina, Informe crmenes de odio del ao
2012 (Asesinatos por Orientacin Sexual e Identidad de Gnero), 2013, pg. 3.
Comunidad Homosexual Argentina, Informe Anual Crmenes de Odio del ao 2014 (Asesinatos por
Orientacin Sexual e Identidad de Gnero), 2015.
Alto Comissariado das Naes para os Direitos Humanos, Escritrio Regional repudia mortes de pessoas
transgnero na Argentina, 21 de outubro de 2015.
96 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
123. O Estado da Colmbia informou a CIDH que, entre 2011 e 2013, foram registrados
pelo menos 219 homicdios de pessoas LGBT em todos o pas. 340 Uma organizao
da sociedade civil denunciou que, entre 2010 e 2011, pelo menos 280 pessoas
LGBT foram assassinadas. 341 O Alto Comissariado das Naes Unidas para os
Direitos Humanos indicou que em 2013 houve um aumento no nmero de
denncias de homicdios de pessoas trans na Colmbia, em comparao com as
denncias de 2012. 342 A CIDH tambm recebeu informao sobre o impacto
diferenciado do conflito armado na Colmbia nas pessoas LGBTI. A organizao
colombiana Caribe Afirmativo documentou 114 mortes violentas de pessoas LGBT
na regio do caribe colombiano, das quais 52 mortes teriam ocorrido em
territrios onde continua o conflito armado. As vtimas foram predominantemente
homens gays e mulheres trans. 343 A Comisso recebeu informaes alarmantes
sobre outras regies na Colmbia. Por exemplo, na regio do Cauca, denunciou-se
que um homem gay teve seu pnis decepado e o deixaram sangrar at morrer. 344
341
342
343
344
Jornal El Correo, Asesinadas cinco mujeres transexuales en Uruguay este ao, 27 de setembro de 2012.
Jornal El Mundo, Asesinados cuatro transexuales en tres meses en Uruguay, 4 de abril de 2012.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo
Estado da Colmbia, Comunicao MPC/OEA No. 1673/2013 de 27 de dezembro de 2013, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 12 de fevereiro de 2014, pg. 16.
Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y
Personas Trans en Colombia 2010-2011, 2013, pg. 14.
Alto Comissariado das Naes para os Direitos Humanos, Situao de Direitos Humanos na Colmbia,
A/HRC/25/19/Add.3, 24 de janeiro de 2014, prr. 94.
Caribe Afirmativo - Global Rights, Violacin de derechos a personas lesbianas, gays, bisexuales trans e
intersex (LGBTI) en el Caribe Colombiano en el marco del conflicto armado interno, outubro de 2014,
pg. 14.
Reunio da Presidente da CIDH com organizaes LGBTI do Caribe Colombiano (em Cali e Tumaco).
Informao proporcionada por um defensor de direitos humanos de Barranquilla. Cartagena, Colmbia. 3 de
outubro de 2014.
representa um aumento anual de 11.5%. 345 em 2013, a ONG Grupo Gay da Bahia
(GGB) documentou pelo menos 312 homicdios de homens gays, mulheres lsbicas
e pessoas trans no seu Relatrio Anual de 2013.346 Os homens gays (59%) e as
mulheres trans (35%) representam a maioria das vtimas. 347
125. A Comisso recebeu informao sobre casos com altos nveis de selvageria e
crueldade no Brasil. Por exemplo, em abril de 2014, uma mulher bissexual que
tinha um filho de 6 anos de idade e rompeu o relacionamento com seu namorado
para viver com uma mulher foi brutalmente esfaqueada, teve seus rgos
internos extrados, e o corpo abandonado perto dos trilhos do trem. Antes de fugir,
o agressor ainda desmembrou a vulva da vtima e a inseriu em sua boca. Os
investigadores observaram que este modus operandi revelou o motivo do crime, e
que o ex-namorado da vtima estava entre os suspeitos. 348 Em janeiro de 2014, um
homem gay de 2014 de idade foi encontrado quase morto perto de um engenho de
cana de acar em Joo Pessoa (Paraba), e seu corpo apresentava sinais de
estupro e leses fsicas violentas. Ele foi hospitalizado, mas morreu logo depois. 349
Em maio de 2013, um homem gay de 22 anos de idade foi atacado verbalmente
com insultos homofbicos na rua, e depois atropelado 3 vezes seguidas por um
carro, no Rio de Janeiro. Apesar de ter sido levado ao hospital por amigos, no
sobreviveu aos ferimentos; sua coluna vertebral foi fraturada em trs lugares, e
seu quadril, costelas e pulmes tambm foram seriamente afetados. 350 Durante o
ano de 2013, a CIDH foi informada de inmeros homicdios de mulheres trans que
eram trabalhadoras sexuais, na sua maioria perpetrados por clientes. As vtimas
foram atacadas com pedras na cabea, 351 apedrejadas at a morte enquanto
ofereciam seus servios, 352 agredidas at a morte com garrafas quebradas, 353
esfaqueadas em seus lugares habituais de trabalho, 354 foram baleadas ao se
345
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348
349
350
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352
353
354
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo
Estado do Brasil. Comunicao 268 de 9 de outubro de 2014, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em
9 de outubro de 2014, pg. 3.
Grupo Gay da Bahia (GGB), Assassinato de Homossexuais (LGBT) no Brasil: Relatrio 2013/2014.
Grupo Gay da Bahia (GGB), Assassinato de Homossexuais (LGBT) no Brasil: Relatrio 2013/2014, pg. 5.
Portal Meionorte.com, Estudante estripada foi vtima de crime passional e morte tem uma trama, 17 de
abril de 2014; Jornal Gazeta da Ilha, Mulher brutalmente morta em Teresina, 16 de abril de 2014.
Portal PB Agora, Sepultado corpo de homossexual que foi espancando e estuprado, 29 de janeiro de 2014;
Portal Litoral PB, Acusado de estuprar e matar homossexual em Joo Pessoa preso, 30 de janeiro de
2014.
Governo do Rio de Janeiro - Rio Sem Homofobia, Policia prende acusado de matar Eliwellton da Silva
Lessa, 9 de agosto de 2013; Portal Pragmatismo Poltico, Motorista passa com veculo trs vezes por cima
de homossexual, 3 de maio de 2013.
Portal Globo.com Travesti encontrado morto com a cabea esmagada na Vila Irm Dulce, 5 de janeiro de
2014; Portal R7 Notcias, Travesti encontrada morta com marcas de pedrada na cabea em Tefilo Otoni,
13 de agosto de 2013.
Portal Globo.com, Homem morto a pedradas em uma rua do bairro Mumbuca em Maric, RJ, 16 de maio
de 2013.
Jornal Folha PE, Travesti assassinado na praia de Piedade, 24 de janeiro de 2013.
Portal Terra Notcias, RS: travesti morto com sete facadas no centro de Gravata, 6 de maro de 2013.
98 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
355
356
357
358
359
360
361
362
D.
128. A CIDH estabeleceu que a atividade legtima das foras de segurana, destinada a
proteger a populao, fundamental para alcanar o bem comum numa sociedade
democrtica. Os direitos humanos requerem que os Estados previnam e
respondam ao exerccio arbitrrio da autoridade, e constituem uma salvaguarda
essencial da segurana das pessoas. O respeito e a adequada interpretao e
aplicao das garantias estabelecidas na Conveno Americana e na Declarao
Americana devem servir de guia aos Estados Membros para garantir que as aes
de suas foras de segurana respeitem os direitos humanos. 364
129. Sobre a preveno de atos de tortura e maus tratos pelo Estado, a CIDH ressaltou
que as normas que regulamentam os procedimentos policiais devem estabelecer
claramente que nenhum oficial encarregado de fazer cumprir a lei pode infligir,
instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou outro tratamento ou pena cruel,
desumano ou degradante, e que todo membro das foras de segurana deve
denunciar de imediato qualquer caso de tortura ou tratamento cruel, desumano ou
degradante que chegue a seu conhecimento. 365
363
364
365
Artigo 7, Conveno Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, adotada na 15 Sesso Ordinria da AG
da OEA, Srie de Tratados No. 67, em 9 de dezembro de 1985, entrada em vigor em 28 de fevereiro de 1987.
CIDH, Relatrio sobre segurana cidad e direitos humanos, OEA/Ser.L/V/II., Doc. 57, 31 de dezembro de
2009, para. 24.
CIDH, Relatrio sobre segurana cidad e direitos humanos, OEA/Ser.L/V/II., Doc. 57, 31 de dezembro de
2009, para. 129.
100 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
130. Nos ltimos anos, a CIDH tem constantemente recebido informao sobre atos de
violncia contra pessoas LGBT perpetrados por foras de segurana do Estado, 366
incluindo atos de tortura, tratamentos degradantes ou desumanos, uso excessivo
da fora, deteno arbitrria e outras formas de abuso. 367 Vrios casos de
violncia estatal foram documentados no continente americano. 368 Com efeito,
366
367
368
Para os propsitos deste relatrio, foras de segurana do Estado o termo utilizado para referir-se
queles agentes encarregados de fazer cumprir a lei, e inclui todo agente estatal com prerrogativas legais de
levar a cabo obrigaes relacionadas segurana pblica, incluindo, portanto, foras policiais, policiais
militares, agentes de segurana aeroporturia, agentes de segurana, militares, foras da polcia real,
agentes de imigrao e outras autoridades de controle de fronteiras.
Audincia sobre discriminao por motivo de gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133 perodo
ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2008. Vdeo e udio no disponveis; Audincia sobre a situao das
pessoas lsbicas, gays, bissexuais e transgnero na Colmbia, 137 perodo de sesses, 5 de novembro de
2009; Audincia sobre crimes de dio contra membros da comunidade LGBT e impunidade na Amrica
Central, 140 Perodo ordinrio de sesses, 26 de outubro de 2010; Audincia sobre segurana cidad,
prises, diversidade e igualdade sexual na Venezuela, 140 perodo ordinrio de sesses, 29 de outubro de
2010; Audincia sobre a situao dos direitos das pessoas LGBTI nas Amricas, 143 perodo ordinrio de
sesses, 28 de outubro de 2011; Audincia sobre homicdios de pessoas LGTB e impunidade nas Amricas,
146 perodo ordinrio de sesses, 1 de novembro de 2012; Audincia sobre informao sobre
discriminao por orientao sexual e identidade de gnero na Guatemala, 146 perodo ordinrio de
sesses, 4 de novembro de 2012; Audincia sobre a situao de direitos humanos de pessoas
afrodescendentes trans no Brasil, 149 perodo ordinrio de sesses, 29 de outubro de 2013; Audincia
sobre denncias de violncia contra pessoas trans em El Salvador, 149 perodo ordinrio de sesses, 29 de
outubro de 2013; Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas LGBTI em Belize, 150
perodo ordinrio de sesses, 28 de maro de 2014; Audincia sobre a situao de direitos humanos das
pessoas LGBTI na Regio Andina, 150 perodo ordinrio de sesses, 28 de maro de 2014; Audincia de
seguimento ao relatrio da CIDH sobre a situao de direitos humanos na Jamaica, 150 perodo ordinrio de
sesses, 27 de maro de 2014; Audincia sobre discriminao contra pessoas trans nas Amricas, 153
perodo ordinrio de sesses, 30 de outubro de 2014; Audincia sobre denncias sobre violncia contra
pessoas LGBTI no Caribe colombiano, 153 perodo ordinrio de sesses, 27 de outubro de 2014. Vdeos e
udios das audincias pblicas perante a CIDH disponveis em: www.cidh.org.
Ver, inter alia, [Argentina] INADI, Hacia una Ley de Identidad de Gnero, 2012, pgs. 7, 21; [Belize] United
Belize Advocacy Movement (UNIBAM) e Belize Youth Empowerment for Change (BYEC), Final Report before
the IACHR, 28 de maro de 2014, pg. 6; [Bolvia] Conexin Fondo de Emancipacin, Situacin de las
poblaciones TLGB en Bolivia: Encuesta Nacional 2010, 2011, pg. 63; MANODIVERSA, Red TREBOL, MTN,
ILGA, Examen Peridico Universal (EPU): Estado Plurinacional de Bolivia, maro de 2014, pg. 5; [Brasil]
ABGLT e Sexual Rights Initiative, Relatrio sobre o Brasil para a 13 Rodada do Exame Peridico Universal,
junho de 2012, pg. 5; [Chile] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas
Amricas, apresentada pela Organizacin de Transexuales por la Dignidad de la Diversidad (OTD), recebida
pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 3; Organizacin de Transexuales por la
Dignidad de la Diversidad (OTD) & International Gay and Lesbian Human Rights Commission (IGLHRC),
Violaciones de derechos humanos de las personas lesbianas, bisexuales y transexuales (LBT): Un informe
sombra, setembro de 2012, pg. 6; [Colmbia] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra
Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo Colectivo Entre Trnsitos e outros, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 9; Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin: Informe de
Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2010-2011, 2013, pg. 53;
[Costa Rica] Mulabi e International Gay and Lesbian Human Rights Commission (IGLHRC), Situacin de las
personas lesbianas, bisexuales, transexuales, transgnero e intersexuales las mujeres en Costa Rica en lo que
respecta a la discriminacin: Informe Sombra, julho de 2011, pg. 5; [Repblica Dominicana] Human Rights
Observatory for Vulnerable Groups e outros, Discriminacin y Violencia contra las Mujeres Transgnero en
Repblica Dominicana, 27 de outubro de 2014, pg. 4; Coalizo LGBTTI (CLGBTTI) da Repblica Dominicana,
Presentacin Conjunta ante el Consejo de Derechos Humanos respecto de Repblica Dominicana para la
Evaluacin Peridica Universal, 2013, paras. 15-22; [Guatemala] CIDH, Audincia sobre discriminao
baseada na orientao sexual e na identidade de gnero en Guatemala, 146 perodo ordinrio de sesses, 4
de novembro de 2012; Fundacin Myrna Mack e outros, Discriminacin por orientacin sexual e identidad de
369
102 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
casos de abuso policial entre janeiro de 2014 e maro de 2015; porm a Comisso
ressalta os altos nveis de sub-registro de atos de violncia, especialmente quando
cometidos por agentes estatais, como mencionado no incio deste captulo. E ainda,
rgos de tratados do Sistema de Direitos Humanos da ONU, 370 vrios
procedimentos especiais371 e o Alto Comissariado das Naes Unidas para os
Direitos Humanos 372 receberam informao similar, e expressaram sua
preocupao com as denncias de abuso policial contra pessoas LGBT em vrios
Estados Membros da OEA. Vrias organizaes da sociedade civil informaram que
as foras policiais chegam ao cmulo de sentir-se facultadas para praticar violncia
contra pessoas LGBT. 373
370
371
372
373
374
375
376
Comit contra a Tortura, Observaes Finais: Peru, CAT/C/PER/CO/5-6, 21 de janeiro de 2013, para. 22;
Comit para a Eliminao da Discriminao contra a Mulher, Observaes Finais: Costa Rica,
CEDAW/CRI/CO/5-6, 29 de julho de 2011, para. 40.
Relatrio do Relator Especial sobre a situao dos defensores de direitos humanos. Anexo: Misso a
Honduras, A/HRC/22/47/Add.1, 13 de dezembro de 2012, para. 90; Relatrio do Grupo de Trabalho sobre
Detenes Arbitrrias. Anexo: Misso a Colmbia, A/HRC/10/21/Add.3, 16 de fevereiro de 2009, para. 56.
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Relatrio sobre a situao de direitos
humanos na Colmbia: Anexo A/HRC/16/22, 3 de fevereiro de 2011, para. 9; Alto Comissariado das Naes
Unidas para os Direitos Humanos, Relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia: Anexo IV:
Situao de Grupos Especialmente Vulnerveis, E/CN.4/2006/009, 20 de janeiro de 2006, para. 27.
CIDH, Atas da reunio de especialistas sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas, Washington DC,
24-25 de fevereiro de 2012.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos
violentos, o abuso policial e outras formas de violncia contra pessoas LGTBI, de 24 de outubro de 2013.
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012,
para. 275.
Ver mais adiante a seo deste relatrio sobre pessoas LGBTI privadas de liberdade.
prprios bairros. Como afirmou uma das mulheres trans entrevistadas, para a
polcia, todas as trans somos prostitutas. 377
132. Segundo informao recebida pela Comisso, a violncia ocorre em todas as etapas
de custdia policial, inclusive na captura, no transporte em viaturas policiais e,
principalmente, nas instalaes das delegacias e centros de deteno. Dentre as
formas de abuso mais comumente denunciadas esto: as extorses e a exigncia de
favores sexuais; uso excessivo da fora; pauladas; uso de armas de fogo para
machucar ou incapacitar as vtimas; situaes em que as mulheres trans so
obrigadas a se despir completamente em pblico; assim como constante
hostilidade e atos de humilhao, como arrancar com fora suas perucas; uso
maldoso ou deliberado de um gnero distinto ao qual se identificam para se referir
a elas (misgendering) 378 e abusos verbais reiterados. Conforme observado pelo
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, os Estados devem
evitar de prender ou deter pessoas por razes discriminatrias, includas as causas
relacionadas com a orientao sexual e a identidade de gnero. 379
378
379
380
Human Rights Watch, Trabajadores sexuales en riesgo: los preservativos como prueba de prostitucin en
cuatro ciudades de Estados Unidos, 2012, pg. 20.
A referncia equivocada e deliberada da identidade de gnero (misgendering) ocorre quando uma pessoa
faz meno a outra utilizando termos (geralmente pronomes, substantivos e adjetivos) que expressam um
gnero diferente daquele com o qual a outra se identifica, a fim de humilh-la ou degrad-la. Isto ocorre, por
exemplo, quando algum se refere a mulheres trans como homens ou pelo seu nome masculino de registro,
e igualmente quando algum se refere a homens trans como mulheres ou pelo seu nome feminino de
registro. Ver, inter alia: Colombia Diversa, Cuando el Prejuicio Mata: Informe de Derechos Humanos de
Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2012, junho de 2014, pg. 30.
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas
por motivo de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 15.
United Belize Advocacy Movement (UNIBAM) - Belize Youth Empowerment for Change (BYEC), Final
presentation before the Inter-American Commission on Human Rights, 28 de maro de 2014, pg. 6.
104 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
381
382
383
384
385
Entrevista de Human Rights Watch com Victoria D. [mulher trans], Cidade de Nova Iorque, 20 de janeiro de
2012, includa em: Human Rights Watch, Trabajadores sexuales en riesgo: los preservativos como prueba de
prostitucin en cuatro ciudades de Estados Unidos, 2012, pg. 25.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada por
Madre, ILGHRC, Cuny School of Law, SEROVie e FACSDIS, (Haiti), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 25 de novembro de 2013, pg. 2.
Agenda LGBT A.C., Informe de la situacin de homofobia en Mxico del ao 2013, fevereiro de 2013
(atualizado em junho de 2013); Portal La Jornada, Joven fue detenido, vejado, golpeado y robado por
policas por andar de puto, 27 de maro de 2013.
Procuradura para la Defensa de los Derechos Humanos (PDDH), Nicargua, Respeto a los Derechos Humanos
de las personas de la diversidad sexual por parte de la Polica Nacional, maro de 2012, pg. 27.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos
violentos, o abuso policial e outras formas de violncia contra pessoas LGTBI, de 24 de outubro de 2013;
Portal Acento.com.do, En este pas ser maricn es peor que ser delincuente! (opina agente de la ley), 22
de
agosto
de
2013;
Testemunho
da
Vctima,
disponvel
no
YouTube,
em
https://www.youtube.com/watch?v=NKaB4XrHk_w#t=23; Jornal Le Monde, Les Carabes touches par une
vague d'homophobie, 23 de agosto de 2013.
137. Na Argentina, um relatrio oficial do Estado do ano de 2012 demonstrou que 83%
das mulheres trans entrevistadas tinham sido vtimas de graves atos de violncia e
discriminao perpetrados por policiais. 388 Por sua vez, uma pesquisa realizada
por organizaes da sociedade civil publicado dois anos depois da promulgao da
lei de identidade de gnero, destacou que as mulheres trans se sentem mais
seguras em espaos pblicos, e que os abusos da polcia contra pessoas trans
haviam diminudo. 389 No entanto, vrias fontes indicam que incidentes graves de
abuso policial contra pessoas LGBT, principalmente mulheres trans, continuam
ocorrendo com grande frequncia em vrias provncias argentinas. 390
138. A CIDH recebeu relatrios de vrias organizaes sobre casos em que agentes da
polcia no s agem com violncia, mas tambm incitam outras pessoas a atacar
pessoas LGBT, ou so indiferentes diante da violncia praticada por terceiros
contra aquelas pessoas. Por exemplo, conforme denunciado, policiais teriam
participado de um ataque grupal a um homem gay na Jamaica, que eventualmente
resultou na sua morte. Alega-se que o incidente comeou com policiais espancando
a vtima com cassetetes, e posteriormente encorajando outras pessoas a espanclo. A vtima foi esquartejada, esfaqueada e apedrejada at a morte. 391
139. Uma mulher trans em Honduras explicou que procurou ajuda da polcia depois que
um cliente bbado e agressivo a esfaqueou nos braos, pescoo e perna, em
386
387
388
389
390
391
Agenda LGBT A.C., Informe de la situacin de homofobia en Mxico del ao 2013, fevereiro de 2013
(atualizado em junho de 2013).
Informao proporcionada CIDH por vrias organizaes LGBT de Cuba. Outubro de 2014.
Instituto Nacional de Estadstica y Censos (INDEC), Primera Encuesta Sobre Poblacin Trans 2012, setembro
de 2012, pg. 19.
ATTTA e Fundacin Husped, Ley de Identidad de Gnero y Acceso al cuidado de la salud de las personas
trans en Argentina, maio de 2014, pgs. 12-13.
Ver, por exemplo, Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas,
apresentada pela Asociacin por los Derechos Civiles (ADC), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em
20 de dezembro de 2013, pg. 4; Jornal El Tribuno de Salta, Una travesti denunci feroz acoso, abuso y
golpiza policial, 10 de novembro de 2012; Jornal La Gaceta, Cinco policas abusaron de una travesti en una
Comisara, 3 de dezembro de 2013; Jornal La Gaceta, Aprehendieron a dos policas por agredir a una
travesti en el parque 9 de julio, 4 de novembro de 2013; Jornal Pgina/12, Agresin a Diana Sacayn, 23
de agosto de 2013; Kaosenlared, Argentina. Cmo tortura la polica a las trans, (caso de ataque contra
Michelle Mendoza em Rosario), 3 de julho de 2015.
Human Rights Watch, Hated to Death: Homophobia, Violence and Jamaica's HIV/AIDS Epidemic, novembro
de 2004, pg. 18; Reunio Regional de Ativistas LGBTI do CARICOM, The Unnatural Connexion: Creating
Social Conflict Through Legal Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their
Human Rights Impact In Caribbean Countries, 2010. Relatrio apresentado CIDH em novembro de 2010,
pg. 30.
106 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
setembro de 2011. Ela recorda que: a polcia no tomou por termo minhas
declaraes, riam de mim, e me pediram servios sexuais, apesar de eu dizer que
estava ferida e necessitava de ajuda. Eles me disseram que tinha recebido o que eu
merecia por estar nas ruas. 392
140. Quando a defensora de direitos humanos e ativista argentina Diana Sacayn foi
ofendida e atacada num bar em 2013, procurou ajuda de dois agentes de polcia
que estavam nas proximidades. Segundo alegado, os policiais falaram com o
agressor, permitiram que fosse embora, e depois disseram vtima que era
melhor ela comear a correr, e bateram nela com um cassetete. Quando Diana
chegou delegacia para fazer um boletim de ocorrncia, o delegado de planto
recusou-se a receber sua denncia e a levou para um hospital prximo, onde se
constatou que havia sofrido fraturas no nariz e ma do rosto. No haveria
nenhum registro de sua presena na delegacia. 393 A CIDH tambm recebeu
informaes sobre indiferena policial em casos de violncia contra pessoas LGBT
no Chile. 394
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404
405
406
Portal La Prensa, Video: Indignacin por golpiza que le dan a un transexual en Honduras, 29 de julho de
2014.
Jornal El Heraldo, Brutal golpiza a gay en Honduras, 6 de agosto de 2014.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 15.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada por
Colectivo Entre Trnsitos e outros (Colmbia), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de
novembro de 2013, pg. 9; Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de
Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2010-2011, 2013, pgs. 48 e 49.
Corporacin Caribe Afirmativo. Informao recebida em 1 de janeiro de 2015 pela Secretaria Executiva da
CIDH.
Corporacin Caribe Afirmativo e Global Rights, informao por escrito apresentada durante a audincia
Relatrios sobre violncia contra pessoas LGBTI no Caribe Colombiano, realizada em 27 de outubro de
2014. Citado em CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela
CIDH no Relatrio Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na
Colmbia, 7 de maio de 2015, para. 308.
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Relatrio sobre a Situao de Direitos
Humanos na Colmbia: Anexo, A/HRC/16/22, 3 de fevereiro de 2011, para. 9.
108 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
contra uma mulher trans que ainda foi posteriormente vtima de ameaas para
for-la a desistir de sua denncia um policial foi suspenso por trs dias sem
direito remunerao. A defensora explicou que, apesar de apenas alguns policiais
serem abusivos, a falta de resposta e a impunidade maculam toda a fora
policial. 407 Em setembro de 2014, a CIDH solicitou informao do Estado
colombiano sobre denncias de organizaes locais sobre uma onda de violncia
perpetrada por policiais contra mulheres trans em Cali, Cartagena e
Barranquilla. 408 O Estado informou a Comisso que, segundo dados oficiais, 22
casos foram registrados pelas foras de segurana nestas trs cidades, sendo que
17 destes ocorreram em Cali. O Estado tambm informou a CIDH que destes 17
casos de abuso, 7 foram arquivados por concluir que no houve faltas de conduta
por parte dos policiais, 8 foram resolvidos com decises inibitrias, 1 estava ainda
sob investigao, e apenas em 1 caso o acusado recebeu uma reprimenda por
escrito. Adicionalmente, 3 dos 4 casos em Cali tambm foram arquivados por
inexistir faltas de conduta dos policiais, enquanto que 1 continuava sendo
investigado. 409
407
408
409
410
411
412
Testemunho de uma mulher transgnero defensora de direitos humanos de Cali. Reunio de pessoas LGBTI
com a Presidente da CIDH em Cali, Colmbia. 30 de setembro de 2014. Citado em CIDH, Relatrio Anual
2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio Verdade, Justia e
Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio de 2015,
para. 310.
CIDH, Pedido de informao conforme o artigo 41 da Conveno Americana. 24 de seetembro de 2014. Nos
arquivos da Secretaria Executiva da CIDH. A nota formal enviada ao governo solicitou informao sobre 3
assuntos especficos: (a) o nmero de denncias de abuso policial contra mulheres trans e a atual situao
dos inquritos; (a) medidas especficas adotadas pelo Estado em nvel nacional para implementar a Diretriz
Policial 006/2010; e (3) medidas especficas adotadas pelo Estado em nvel nacional ou por governos locais
para prevenir e punir o abuso policial.
Estado de Colmbia, Pedido de informao: supostos casos de abuso policial contra mulheres trans em Cali,
Cartagena e Barranquilla, Nota MPC/OEA No. 1509/2014, 20 de outubro de 2014, pg. 5.
Jornal La Voz de Durango, Denuncia comunidad gay 70 casos de abusos sexuales por parte de policas, 18
de fevereiro 2011.
Human Rights Observatory for Vulnerable Groups e outros, Discrimination and violence towards Transgender
women in the Dominican Republic, 27 de outubro de 2014, pg. 4.
Global Rights: Partners for Justice, Report on the Human Rights Situation of Afro-Brazilian Transgender
Women, 2013.
145. A Comisso expressa sua preocupao pelos repetidos atos de violncia sofridos
pelas pessoas lsbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT), 420 ou aquelas percebidas
como tal, que esto privadas de liberdade nas Amricas. A CIDH recebeu
413
414
415
416
417
418
419
420
CIDH, Relatrio No. 90/14, Petio 446-09. Admissibilidade. Luis Alberto Rojas Marn. Peru. 6 de novembro
de 2014.
No Plano Estratgico Institucional 2007-2011 do Governo do Distrito de Pueblo Libre, a
homossexualidade estava includa como um dos principais problemas criminais que afetavam o Distrito.
Municipalidade de Pueblo Libre, Plano Estratgico Institucional 2007 2011, dezembro de 2007, pg. 39.
Cifras includas no relatrio evidenciam que entre janeiro e setembro de 2007, foras locais de segurana
atuaram em 16 casos de erradicao da homossexualidade. Municipalidade de Pueblo Libre, Plano
Estratgico Institucional 2007 2011, dezembro de 2007, pg. 46.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo
Centro para la Promocin de Derechos Sexuales y Reproductivos (PROMSEX), recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 5; Promsex, Informe anual sobre derechos humanos de
personas trans, lesbianas, gays y bisexuales en el Per 2012, maio de 2013, pg. 57; Jornal La Repblica,
Ms denuncias contra comunas que discriminan a homosexuales en Lima, 30 de junho de 2012; Portal
Lamula.pe, Poltica de erradicacin de homosexuales se practica en varios municipios de Lima, 11 de julho
de
2012;
Gravaes
de
udio
de
consultas
telefnicas
com
policiais:
https://www.youtube.com/watch?v=hFTpcy_k3ls.
Portal Lamula.pe, Poltica de erradicacin de homosexuales se practica en varios municipios de Lima, 11
de julho de 2012; Gravaes de udio de consultas telefnicas com policiais:
https://www.youtube.com/watch?v=hFTpcy_k3ls.
Portal Peru.com, Municipio de Lima se disculpa por documento que dispone erradicacin de
homosexuales, 29 de junho de 2012.
Boletn Diversidad, Municipio promueve denunciar a personas homosexuales, 4 de fevereiro de 2014.
Municipalidade de Santiago de Surco, Compendio estadstico municipal 2013, agosto de 2014.
A CIDH no recebeu informao especfica sobre a situao dos direitos humanos das pessoas intersex
privadas de liberdade na regio.
110 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
421
422
423
424
425
426
427
[Argentina] Informao apresentada CIDH pela Procuracin Penitenciaria de la Nacin Argentina, recebida
na Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pgs. 10-11; [El Salvador] Programa das
Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Procuradura para la Defensa de los Derechos Humanos (El
Salvador), Informe sobre la situacin de los Derechos Humanos de las Mujeres Trans en El Salvador, 2013,
pg. 37; [Guatemala] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas,
apresentada pelo Estado da Guatemala, Nota 1262-2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2
de dezembro de 2013, pg. 1.
CIDH, Ata da reunio de especialistas sobre violncia contra as pessoas LGBTI nas Amricas, Washington
D.C., 24 e 25 de fevereiro de 2012.
[Argentina] CIDH, Audincia Temtica: Situao de direitos humanos das pessoas privadas de liberdade na
Provncia de Buenos Aires, celebrada durante o 141 Perodo Ordinrio de Sesses, 28 de outubro de 2014;
[Chile] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada
pela Organizacin de Transexuales por la Dignidad de la Diversidad (OTD), recebida pela Secretaria Executiva
da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 4; [Colmbia] CIDH, Audincia sobre a situao das pessoas
lsbicas, gays, bissexuais e trans na Colmbia, 137 perodo ordinrio de sesses, 5 de novembro de 2009 e
Colombia Diversa, Del amor y otras condenas: personas LGBT en crceles en Colombia, 2013-2014;
[Granada] Grenada Caribbean HIV/AIDS Partnership (GrenCHAP), Hope Pals Foundation e Grenada Human
Rights Desk, Sexuality, Gender, HIV Vulnerability & Human Rights in Grenada: A Shadow Report to the United
Nations Human Rights Committee, julho de 2007, pg. 6; [Peru] Resposta ao questionrio da CIDH sobre
Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo Centro para la Promocin de Derechos
Sexuales y Reproductivos (PROMSEX), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de
2013, pg. 1; [Uruguai] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas
Amricas, apresentada pelo Colectivo Ovejas Negras, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de
dezembro de 2013, pg. 3; [Nicargua e Honduras] CIDH, Audincia Temtica: Crimes de dio contra
membros da comunidade LGBT e impunidade na Amrica Central, 140 Perodo Ordinrio de Sesses, 26 de
outubro de 2010; [Guatemala] REDNADS, Primer Diagnstico: Necesidades de las Poblaciones LGBTI Privadas
de Libertad, junho de 2015.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre tortura e outros tratamentos ou
penas cruis, desumanos ou degradantes, A/HRC/13/39Add.1, 25 de fevereiro de 2010.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre tortura e outros tratamentos ou
penas cruis, desumanos ou degradantes, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 79.
CIDH, Comunicado para a imprensa No. 97/14, Relatoria sobre os Direitos das Pessoas Privadas de
Liberdade finaliza visita ao Paraguai, 15 de setembro de 2014.
A CIDH recebeu informao sobre a discriminao enraizada que sofrem as pessoas LGBT, especialmente as
pessoas trans, nos locais de deteno. Esta se relaciona com o tratamento hormonal, as restries de
vestimenta e comprimento do cabelo; e a discriminao para obter benefcios e servios, como as visitas
ntimas, dentre outros. A CIDH tratou de alguns destes temas sobre discriminao contra as pessoas LGBT
146. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com dignidade estritamente de
acordo com os instrumentos internacionais de direitos humanos, e com absoluto
respeito sua dignidade pessoal e garantia de seus direitos fundamentais. 428 Os
Estados so guardies dos direitos das pessoas privadas de liberdade, em virtude
da situao de dependncia das pessoas detidas com o Estado, e as decises
tomadas pelo pessoal de custdia. 429 Assim sendo, os Estados devem garantir a
vida e a integridade fsica e psicolgica das pessoas sob sua custdia. 430 Os
Estados tm a obrigao de assegurar que a forma e o mtodo de privao de
liberdade no ultrapassem o nvel de sofrimento inerente recluso. 431 Os
Estados devem tomar todas as medidas preventivas para proteger as pessoas
privadas de liberdade de ataques perpetrados por agentes do Estado ou terceiros,
inclusive outras pessoas privadas de liberdade. 432
148. De acordo com a informao recebida pela CIDH, as pessoas LGBT privadas de
liberdade enfrentam um risco maior de violncia sexual inclusive so mais
vulnerveis a mltiplas agresses sexuais e outros atos de violncia e
discriminao, praticados por outras pessoas privadas de liberdade ou pelos
428
429
430
431
432
433
434
435
privadas de liberdade em relatrios anteriores. Ver por exemplo, CIDH, Verdade, justia e reparao: quarto
relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, OEA/Serv.L/V/II. Doc. 49/13, 31 de dezembro de
2013 (doravante CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013).
CIDH, Relatrio sobre os direitos humanos das pessoas privadas de liberdade nas Amricas. OEA/Ser.L/V/II,
doc. 64, 31 de dezembro de 2011, (doravante CIDH, Relatrio sobre os direitos humanos das pessoas
privadas de liberdade nas Amricas, 2011), para. 9.
CIDH, Relatrio sobre os direitos humanos das pessoas privadas de liberdade nas Amricas, 2011, para. 49.
CIDH, Relatrio sobre os direitos humanos das pessoas privadas de liberdade nas Amricas, 2011, para. 30.
CIDH, Relatrio sobre os direitos humanos das pessoas privadas de liberdade nas Amricas, 2011, para. 70,
citando Corte IDH. Caso Vlez Loor Vs. Panam. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 23 de novembro de 2010. Srie C No. 218, para. 198, entre outras.
CIDH, Relatrio sobre os direitos humanos das pessoas privadas de liberdade nas Amricas, 2011, para. 73,
citando CIDH, Relatrio de Mrito No. 41/99, Menores Detidos, Honduras, 10 de maro de 1999, paras. 136
e 140.
CIDH, Comunicado para a imprensa No. 97/14, Relatoria sobre os Direitos das Pessoas Privadas de
Liberdade finaliza visita ao Paraguai, 15 de setembro de 2014.
CIDH, Princpios e boas prticas sobre a proteo das pessoas privadas de liberdade nas Amricas, adotados
pela CIDH atravs da Resoluo 1/08 no 131 perodo ordinrio de sesses, realizado de 3 a 14 de maro de
2008.
Princpios de Yogyakarta sobre a Aplicao da Legislao Internacional de Direitos Humanos em relao
Orientao Sexual e Identidade de Gnero, 2006. Princpio 9.
112 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
agentes de segurana. 436 A Relatora Especial sobre violncia contra a mulher, suas
causas e consequncias expressou sua preocupao sobre as mulheres lsbicas
detidas em celas com homens como castigo por rejeitar as propostas sexuais de
agentes penitencirios. Segundo alegaes, as mulheres privadas de liberdade que
so vistas pelo pessoasl de custdia como masculinas so submetidas a assdio,
abuso fsico e feminizao forada. 437 Adicionalmente, os homens gays ou as
mulheres trans privadas de liberdade podem ser vtimas de situaes de servido
forada impostas por outros internos ou so obrigados a fornecer servios
sexuais. 438 Existem denncias de que policiais incitam outras pessoas a abusar
sexualmente das pessoas LGBT que esto detidas, e inclusive distribuem
camisinhas para facilitar o abuso. 439 Alm disso, h relatos de agentes
penitencirios que permitem que pessoas LGBT privadas de liberdade sejam
agredidas ou deixam que outros internos abusem sexualmente delas; assim como
guardas que colocam as pessoas LGBT privadas de liberdade em delas com pessoas
notoriamente conhecidas como perpetradores de atos de violncia sexual.
Tambm se denuncia que os funcionrios das prises administram redes de
prostituio em que as reclusas trans so foradas a participar como trabalhadoras
sexuais. 440 Vrias organizaes no governamentais informam que as pessoas
LGBT frequentemente decidem ficar enclausuradas em suas celas pelo maior
tempo possvel para evitar ataques de outras pessoas privadas de liberdade. 441
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CIDH, Comunicado para a imprensa No. 053/15,CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas de liberdade, 21 de maio de 2015; Ocorreram tambm agresses sexuais,
incluindo estupros coletivos nas prises de ativistas dos direitos das lsbicas, homossexuais, bissexuais e
transexuais, no Equador, Honduras, e Mxico. ONU, Conselho de Direitos, Relatrio de Margaret Sekaggya,
Relatora Especial sobre a situao dos defensores dos direitos humanos, A/HRC/16/44, 20 de dezembro de
2010, para. 87; Comit contra a Tortura, Costa Rica, CAT/C/CRI/CO/2, 7 de julho de 2008, para. 18; Conselho
de Direitos Humanos da ONU, Relatrio do Relator Especial sobre Tortura e outros tratamentos ou penas
cruis, desumanos ou degradantes, A/56/156, 3 de julho de 2001, para. 23; ONU, Conselho de Direitos
Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a Independncia de Juizes e Advogados, A/66/289, 10 de
agosto de 2011, para. 81.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Causas, condies e consequncias do crcere para as mulheres,
A/68/340, 21 de agosto de 2013, paras. 58, 59 e 63, citado em Alto Comissariado da ONU para os Direitos
Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo de orientao sexual e identidade de
gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 36.
Escritrio das Naes Unidas contra a Droga e o Delito (UNDOC), Manual sobre Reclusos com necessidades
especiais: reclusos homossexuais, bissexuais e transexuais,, 2009, pg. 105.
[Guyana] Carrico, Christopher, Collateral Damage: The Social Impact of Laws Affecting LGBT Persons in
Guyana, publicado por Faculty of Law UWI Rights Advocacy Project, Faculty of Law, University of the West
Indies, maro 2012, pg. 16; [Nicargua] Procuradura para la Defensa de los Derechos Humanos (PDDH),
Respeto a los Derechos Humanos de las personas de la Diversidad Sexual por parte de la Polica Nacional,
maro 2012, pg. 23.
Escritrio das Naes Unidas contra a Droga e o Delito (UNDOC), Manual sobre Reclusos com necessidades
especiais: reclusos homossexuais, bissexuais e transexuais, 2009, pg. 106.
[Mxico] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada
pela Asistencia Legal por los Derechos Humanos, ASILEGAL (Mxico), recebida pela Secretaria Executiva da
CIDH em 1 de novembro de 2013, pg. 9; [Peru] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra
Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo Centro para la Promocin de Derechos Sexuales y
Reproductivos, PROMSEX (Peru), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013,
pg. 1.
442
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444
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448
US Department of Justice - Bureau of Justice Statistics, PREA Data Collection Activities 2013, junho de 2013,
NCJ 242114, pg. 2.
US Department of Justice - Bureau of Justice Statistics, PREA Data Collection Activities 2013, junio de 2013,
NCJ 242114, pg. 2.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pela
Asistencia Legal por los Derechos Humanos, ASILEGAL (Mxico), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 1 de novembro de 2013, pg. 9.
Corte Constitucional da Colmbia, Sentena T-1096/04, caso de Mauricio Gutirrez, 4 de novembro de 2004.
Ver tambm, Colombia Diversa, Situacin de los derechos humanos de lesbianas, gays, bisexuales y
transgeneristas en Colombia, 2005, pg. 35.
Fundacin Myrna Mack e outros, Discriminacin por orientacin sexual e identidad de gnero y una
aproximacin a la interseccionalidad con otras formas de discriminacin en Guatemala, 4 de novembro de
2012, pg. 37. A CIDH tambm recebeu informao sobre o tratamento degradante e a violncia sexual
perpetrados por autoridades contra os presos gays. CIDH, Quinto relatrio sobre a situao dos direitos
humanos na Guatemala, OEA/Ser.L/V/II.111 doc. 21 rev., 6 de abril de 2001, captulo 8, para. 45.
Conselho de Direitos Humanos da ONU, Causas, condies e consequncias do crcere para as mulheres,
A/68/340, 21 de agosto de 2013, paras. 58, 59, 63, citado em Alto Comissariado das Naes Unidas para os
Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo de orientao sexual e identidade
de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 36.
ONU, Subcomit para a Preveno da Tortura, Relatrio sobre a visita ao Paraguay do SPT, CAT/OP/HND/1,
adotado em 7 de junho de 2010, para. 214. Ver tambm, Conselho de Direitos Humanos da ONU, Relator
Especial sobre Tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou degradantes, Relatrio da
Misso ao Paraguai, A/HRC/7/3/Add.3, adotado em 1 de outubro de 2007. Cap. IV: Condies de deteno,
para. 70.
114 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
mltiplos estupros. 449 Durante uma audincia pblica realizada seis meses
aps aquela visita, em maro de 2015, o governo do Paraguai informou a CIDH
que adotou medidas para garantir melhores condies de deteno para as
pessoas trans na Penitenciria Nacional de Tacumb. 450
152. Em janeiro de 2015, denunciou-se que Leslieann Manning, uma mulher trans,
processou judicialmente a priso de mxima segurana de Nova Iorque onde
estava detida, alegando que os guardas de custdia foram deliberadamente
indiferentes diante da violncia sexual da qual ela foi vtima. 454 No caso de Ashley
Diamond, uma mulher trans afrodescendente privada de liberdade na Gergia,
Estados Unidos, a Comisso solicitou informao ao governo em abril de 2014, 455
em virtude de informao de conhecimento pblico que indicava que Ashley havia
sido estuprada sete vezes desde que foi presa em 2012, e que lhe era negado o
acesso a tratamento hormonal. Segundo uma notcia veiculada na imprensa, Ashley
foi vtima de piadas dos guardas penitencirios que a chamavam de essa coisa e
ele-ela, e foi colocada em confinamento solitrio por fingir ser uma mulher.
Segundo denunciado, Ashley Diamond sofreu mudanas fsicas drsticas depois
que lhe foi negado o acesso a hormnios. Alm disso, tentou se castrar e
449
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CIDH, Comunicado para a imprensa No. 97/14, Relatoria sobre os Direitos das Pessoas Privadas de
Liberdade finaliza visita ao Paraguai, 15 de setembro de 2014.
CIDH, Audincia Pblica intitulada Denncias de atos de violncia e impunidade contra pessoas trans no
Paraguai, 154 perodo ordinrio de sesses, 17 de maro de 2015. Ver tambm CIDH, Comunicado para a
imprensa No. 037/15, Relatrio sobre o 154 Perodo de Sesses da CIDH, 19 de junho de 2015.
A CIDH recebeu informao sobre outros casos de violncia contra solicitantes de asilo LGBT detidas nos
Estados Unidos e no Mxico. Estes casos estaro mencionados na seo deste relatrio sobre pessoas no
contexto da mobilidade humana (captulo 5).
Jornal El Nuevo Da, Denuncian violacin de mujer transgnero en centro de detencin de inmigrantes, 31
de julho de 2014.
Conselho de Direitos Humanos da ONU, Relatrio do Relator Especial para a tortura e outros tratamentos ou
penas cruis, desumanos ou degradantes, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 178, citado em Alto
Comissariado das Naes Unidas para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por
motivo de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 35.
Portal LGBTQ Nation, Transgender inmate sues N.Y. prison over sexual assault,, 8 de janeiro de 2015.
Resposta CIDH, Pedido de Informao conforme o artigo 18 do Estatuto da CIDH, 27 de setembro de 2015
(Re: pedido de informao sobre Ashley Diamond). Representante Permanente dos Estados Unidos da
Amrica perante a OEA, 28 de maio de 2015, recebido em 3 de junho de 2015 (no arquivo da Secretaria
Executiva da CIDH).
suicidar. 456 Durante uma entrevista, Ashley disse que cada dia luto para me
manter viva e para no desejar a morte. Algumas vezes acredito que ser mrtir
seria melhor que viver com tudo isto. 457 O Governo dos Estados Unidos
respondeu ao pedido de informaes da CIDH indicando que o Departamento de
Justia ingressou como Assistente no processo federal ajuizado por Ashley contra
os funcionrios penitencirios da Gergia. 458
153. Em 26 de novembro de 2013, Ayeln, uma mulher trans, foi presa pela polcia local
na cidade de San Miguel de Tucumn, na Argentina. Foi levada delegacia, onde,
conforme a informao, cinco policiais abusaram sexualmente dela. Depois,
colocaram-na em uma cela junto com outros homens privados de liberdade, onde
ela foi novamente vtima de atos de violncia sexual perpetrados por vrios deles.
No dia seguinte, foi forada a limpar a delegacia. Ela conseguiu fugir, foi at um
hospital local e apresentou uma denncia. Segundo as alegaes. Quando estava
fazendo o exame de corpo delito no hospital, os policiais chegaram e lhe
persuadiram a retratar sua denncia. Inclusive se alega que eles a obrigaram a
assinar um documento atestando que o que havia dito anteriormente no era
verdade. 459
155. As mulheres trans encontram-se em maior perigo de sofrer violncia sexual pois
corriqueiramente so presas em prises para homens, sem levar em conta as
particularidades da pessoa ou do caso concreto. 461 A CIDH foi informada que as
mulheres trans regularmente so alojadas em pavilhes para homens em vrios
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460
461
Jornal The New York Times, Transgender Woman Cites Attacks and Abuse in Mens Prison, 5 de abril de
2015 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH).
Jornal The New York Times, Transgender Woman Cites Attacks and Abuse in Mens Prison, 5 de abril de
2015 (disponvel somente em ingls; traduo livre da CIDH).
Resposta CIDH, Pedido de Informao conforme o artigo 18 do Estatuto da CIDH, 27 de setembro de 2015
(Re: pedido de informao sobre Ashley Diamond). Representante Permanente dos Estados Unidos da
Amrica perante a OEA, 28 de maio de 2015, recebido em 3 de junho de 2015 (no arquivo da Secretaria
Executiva da CIDH).
Akahat (Equipo de Trabajo en Sexualidades y Gneros) e Heartland Alliance for Human Needs & Human
Rights, Situacin de los Derechos Humanos relacionados con las personas LGBTI y los Derechos Sexuales y
Derechos Reproductivos en Argentina, janeiro de 2014, para. 4.
CIDH, Pedido de informao conforme o artigo 41 da Conveno Americana, 27 de abril de 2015 (Ref:
Investigao sobre o caso de Vernica Bolina).
Ver, por exemplo, Lambda Legal, Transgender Incarcerated People in Crisis, sem data (disponvel somente
em ingls).
116 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
Estados Membros da OEA. 462 Por outro lado, conforme a informao disponvel,
vrias penitencirias na Argentina, 463 Brasil 464 Colmbia, 465 El Salvador, 466
Guatemala, 467 Honduras, 468 Jamaica, 469 Paraguai, 470 Estados Unidos 471 e Uruguai 472
dispem de pavilhes ou celas separadas nas prises de homens para abrigar
especificamente mulheres trans e homens gays.
156. Apesar desta separao de homens gays e mulheres trans da populao geral de
internos nos centros de deteno ter como objetivo a garantia de maior segurana
para aqueles, a CIDH expressa sua preocupao pela informao recebida relativa
s condies de vida inferiores nestas celas ou unidades, em comparao com
outras unidades nas prises e uma maior estigmatizao por causa destas medidas
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[Chile] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada
pela Organizacin de Transexuales por la Dignidad de la Diversidad (OTD), recebida pela Secretaria Executiva
da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 4; [Guatemala] REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas.
Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina,
2012, pg. 16; [Mxico] Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas
Amricas, apresentada por Defensores de Derechos Humanos por la Universidad Nacional Autnoma de
Mxico (Mxico), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 135.
Informao apresentada CIDH pela Procuracin Penitenciaria de la Nacin Argentina, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 5; Jornal Diario Uno (Mendoza), En el
pabelln gay conviven 15 presos, 5 de maio de 2009.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo
GAJOP Gabinete de Assessoria Jurdica s Organizaes Populares (Brasil), recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 4.
Colombia Diversa, Del Amor y otras condenas: personas LGBT en crceles en Colombia, 2013-2014, pg. 2627, indicando que de acordo a estatsticas do Estado (INPEC), 14% das penitencirias na Colmbia tm
pavilhes especficos ou celas para pessoas LGBT.
Respostas por escrito do Governo de El Salvador lista de perguntas (CCPR/C/SLV/Q/6) que devem ser
tratadas ao examinar o sexto relatrio peridico de El Salvador (CCPR/C/SLV/6), CCPR/C/SLV/Q/6/Add.1, 21
de setembro de 2010, para. 56; PNUD e Procuradura para la Defensa de los Derechos Humanos (El
Salvador), Informe sobre la situacin de los Derechos Humanos de las Mujeres Trans en El Salvador, 2013,
pg. 35.
CIDH, Quinto relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Guatemala, OEA/Ser.L/V/II.111 doc. 21 rev.,
6 de abril de 2001, captulo 8, para. 45.
Verificado pela delegao da CIDH que visitou a Penitenciria Nacional de San Pedro Sula, durante a visita in
loco a Honduras em dezembro de 2014. CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 146/14, CIDH finaliza sua
visita in loco a Honduras, 5 de dezembro de 2014. A delegao da CIDH foi informada que os homens gays e
bissexuais, assim como as mulheres trans, eram anteriormente alojados com a populao masculina, e isto
lhes tornava mais vulnerveis violncia sexual. Essa situao mudou e agora essas pessoas possuem
dormitrios prprios, onde se sentem mais seguros.
The Gleaner, Gay colony in prisons, 8 de outubro de 2006.
CIDH, Comunicado para a imprensa No. 97/14, Relatoria sobre os Direitos das Pessoas Privadas de
Liberdade finaliza visita ao Paraguai, 15 de setembro de 2014.
Jornal Huffington Post, New Yorks Largest Jail to Open Housing Unit For Transgender Women, 18 de
novembro de 2014.
Colectivo Ovejas Negras, Relatrio sobre o Uruguai para a 18 Rodada do Exame Peridico Universal do
Conselho de Direitos Humanos da ONU, junho de 2013, para. 9; Relator Especial sobre a tortura e outros
tratamentos ou penas cruis, desumanos ou degradantes. Apndice: Uruguai, A/HRC/13/39/Add.2, 21 de
dezembro de 2009, para. 112.
de segregao. 473 Alm disso, essa separao pode limitar o acesso aos programas
e benefcios oferecidos populao carcerria em geral, os quais so cruciais para
a reabilitao ou a participao em programas de livramento antecipado. 474 As
medidas tomadas para proteger as pessoas LGBT privadas de liberdade no devem
incorporar maiores restries a seus direitos que aquelas experimentadas pela
populao penitenciria em geral. O Escritrio das Naes Unidas contra a Droga e
o Delito recomendou que o princpio para classificao e distribuio deve ser
alojar os reclusos LGBT no ambiente que melhor garanta a sua segurana. 475 A
violncia cometida contra pessoas LGBT privadas de liberdade, incluindo a tortura
e a violncia sexual agravada pela impunidade que prevalece nestes casos. Isso
especialmente verdadeiro quando so os guardas e demais agentes estatais que
cometem estes atos de violncia, pois as vtimas tendem a no denunciar estes
crimes por medo de maior vitimizao e violncia.
474
475
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478
Por exemplo, a CIDH tambm recebeu informao de que s vezes as pessoas LGBT so alojadas com
pessoas que vivem com HIV, aumentando assim os esteretipos e a estigmatizao das pessoas LGBT.
Colombia Diversa, Del amor y otras condenas: personas LGBT en crceles en Colombia, 2013-2014, pg. 26.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
Escritrio das Naes Unidas contra a Droga e o Delito (UNDOC), Manual sobre Reclusos com necessidades
especiais: reclusos homossexuais, bissexuais e transexuais, 2009, pg. 106. nos Estados Unidos, algumas
penitencirias em determinados estados adotaram polticas para beneficiar as pessoas trans privadas de
liberdade, que se aplicam ao alojamento, vestimenta, banheiros, higiene, revista e outros aspectos da
deteno, e assim mulheres trans foram colocadas em prises para mulheres e referidas para tratamentos
mdicos com base no seu gnero, e no conforme o sexo assignado ao nascer. Estas polticas deram
resultados positivos. Ver, por exemplo, Jornal NBC Chicago, Jail Has New Policy for Transgender Inmates, 8
de abril de 2011.
Testemunho de Ari Vera, Almas Cautivas A.C. (Mxico), em audincia perante a CIDH, Direitos humanos das
pessoas LGBT privadas de liberdade na Amrica Latina (audincia solicitada pela Associao para a
Preveno da Tortura - APT, com sede em Genebra), 156 perodo de sesses, 23 de outubro de 2015.
Testemunho de Ari Vera, Almas Cautivas A.C. (Mxico), em audincia perante a CIDH, Direitos humanos das
pessoas LGBT privadas de liberdade na Amrica Latina (audincia solicitada pela Associao para a
Preveno da Tortura - APT, com sede em Genebra), 156 perodo de sesses, 23 de outubro de 2015.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
118 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
158. Fui presa 18 vezes por ser trabalhadora sexual, [...] era detida na rua e me diziam
que estava fazendo escndalo em via pblica, e por isso me levariam presa. No
incio havia o setor 10 que era somente para gays e trans, mas [isso] logo acabou,
na ltima vez que fui presa j fui levada ao setor 5 junto com homens, [...] tambm
fui vtima de abuso, estupros, tive que fazer sexo com os prprios chefes, e com os
funcionrios, para sobreviver. No denunciava todas estas coisas por MEDO [...].
Quando ia presa [...] era tratada como homem, me chamavam por meu nome
masculino, me insultavam verbalmente, me diziam: s homem, deixa dessa frescura.
Quando se adquire uma identidade, isso impe objetivos, e se assumir uma
responsabilidade [...] algumas [mulheres trans] cortam o cabelo porque preferem
passar desapercebidas como gay e no como mulher trans, pois somos mais
violentadas . 479
160. A Comisso Interamericana reitera que o confinamento solitrio deve ser usado
apenas em circunstncias excepcionais, pelo menor perodo de tempo possvel, e
somente como medida de ltimo recurso. 484 Tambm deve estar sujeito a um
rgido controle judicial, ser feito em celas que renam as condies mnimas,
conforme os parmetros internacionais aplicveis sobre essa matria. As pessoas
privadas de liberdade em confinamento solitrio devem estar sob rigorosa
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Testemunho de uma mulher trans privada de liberdade na Guatemala. REDNADS, Primer Diagnstico:
Necesidades de las Poblaciones LGBTI Privadas de Libertad, junho de 2015, pg. 65.
O confinamento solitrio refere-se, em termos gerais, a qualquer regime no qual um interno mantido em
isolamento e separado dos demais (exceto pelos guardas) por pelo menos 22 horas dirias. Relator Especial
sobre a tortura, Relator Especial da ONU sobre a Tortura solicita que o confinamento solitrio seja proibido,
18 de outubro de 2011. Conselho de Direitos Humanos da ONU, Relatrio do Relator Especial para a tortura
e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou degradantes, A/HRC/66/268, 5 de agosto de 2011.
American Civil Liberties Union, Ending Solitary Confinement The Dangers of Isolation for LGBTI Prisoners
and Detainees, 27 de junho de 2012. Ver tambm Lambda Legal, Transgender Incarcerated People in
Crisis. Ver, por exemplo, [Estados Unidos] Jornal Huffington Post, CeCe McDonald Shares The Struggles of
Being A Trans Woman in A Male Prison Facility, 5 de maio de 2014.
American Civil Liberties Union, Ending Solitary Confinement The Dangers of Isolation for LGBTI Prisoners
and Detainees, 27 de junho de 2012. Ver tambm Lambda Legal, Transgender Incarcerated People in
Crisis.
Jornal New York Times, Immigrants Held in Solitary Cells, Often for Weeks, 23 de maro de 2013.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
161. A Comisso recebeu informao sobre boas prticas utilizadas em alguns pases da
regio, como Argentina, Brasil, Colmbia, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala,
Honduras e Mxico, dentre outros. A CIDH foi informada, por exemplo, sobre
determinadas medidas adotadas pela Procuradoria Penitenciria da Nao na
Argentina, desde 2008. 488 Na Colmbia, uma diretriz da autoridade penitenciria
do ano 2011 e vrias decises da Corte Constitucional garantiram os direitos das
pessoas LGBT em situao de privao de liberdade. Estas medidas incluem o
treinamento e programas de sensibilizao para guardas e reclusos sobre
orientao sexual e identidade de gnero nos centros de deteno. 489 Nos Estados
Unidos, a lei denominada Federal Prison Rape Elimination Act (PREA) exige que as
autoridades penitencirias coloquem disposio das pessoas trans privadas de
liberdade em centros penitencirios procedimentos de denncia por violncia
sexual, e que capacitem os guardas sobre temas relacionados com as pessoas
trans. 490 A CIDH tambm recebeu informao sobre medidas positivas adotadas
em El Salvador, 491 Guatemala 492 e Mxico, 493 onde os governos e as organizaes
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CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
Informao apresentada CIDH pela Procuracin Penitenciaria de la Nacin Argentina, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013. Durante a audincia pblica sobre a situao de
direitos humanos de pessoas LGBT privadas de liberdade na Amrica Latina, realizada em outubro de 2015, a
Comisso tambm recebeu informao sobre as medidas adotadas pela Procuracin Penitenciaria de la
Nacin de Argentina, Mecanismo Nacional de Preveno desse pas. CIDH, Audincia pblica sobre a
situao de direitos humanos de pessoas LGBT privadas de liberdade na Amrica Latina, 156 perodo de
sesses, 23 de outubro de 2015. Vdeo disponvel em www.cidh.org.
Ver, Corte Constitucional da Colmbia, Sentena T-062 de 2011, 4 de fevereiro del 2011. Ver tambm,
Instituto Nacional Penitenciario y Carcelario INPEC, Diretriz No. 10, de 5 de julho de 2011. Ver tambm o
Cdigo Penitencirio e Carcerrio aprovado em 2014 atravs da Lei 1709, na qual se incluem como
categorias especialmente protegidas o sexo, a orientao sexual e a identidade de gnero. Colombia Diversa,
Del Amor y otras Condenas: personas LGBT en las crceles de Colombia, junho de 2015, pgs. 9-10.
United States Department of Justice, National Institute of Corrections, Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender
and Intersex Offenders (Selected Resources for Criminal Justice Professionals), janeiro de 2015.
Portal Contra Punto, LGBTI Recluidos contarn con protocolo de atencin, 23 de junho de 2015.
Ministerio de Gobernacin da Guatemala, SP Comprometido con Sensibilizar Necesidades de Reclusos
LGBT, 19 de fevereiro de 2015
120 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
163. A Comisso faz um apelo aos Estados Membros da OEA para limitar o uso
indiscriminado e prolongado do confinamento solitrio de pessoas LGBT nos locais
de deteno, incluindo prises e centros de deteno migratria. A CIDH
recomenda que os Estados Membros da OEA assegurem que as medidas destinadas
a proteger as pessoas LGBT privadas de liberdade no sirvam como punio ou
castigo, ou lhes privem do acesso a benefcios, ou lhes imponham restries
indevidas.
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A CIDH foi informada que a organizao Almas Cautivas, A.C. do Mxico realizou uma srie de capacitaes
em centros de deteno mexicanos, treinando a mais de 300 servidores pblicos sobre questes
relacionadas com pessoas trans e identidade de gnero. Tambm realizaram, conjuntamente com o ACNUR,
capacitaes para oficiais de centros de deteno migratria que trabalham no Instituto Nacional de
Migrao do Mxico. Capacitaes realizadas entre abril e junho de 2015. Ver CIDH, Audincia Pblica sobre
a situao de direitos humanos de pessoas LGBT privadas de liberdade na Amrica Latina, 156 Perodo de
Sesses, 23 de outubro de 2015. Vdeo disponvel em www.cidh.org.
Os Mecanismos Nacionais de Preveno so agncias nacionais, independentes ou incorporadas nas
instituies nacionais de direitos humanos, que so responsveis pela preveno da tortura. Possuem
mandato previsto pelo Protocolo Facultativo da Conveno contra a Tortura, da qual Honduras signatrio.
Associao para a Preveno da Tortura (APT), Personas LGBT Privadas de la Libertad, 2013, pg. 14.
GELEDS, Maria Clara de Sena, transexual de PE a 1 do mundo a atuar no combate tortura em prises,
6 de junho de 2015.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
164. Finalmente, a Comisso Interamericana solicita aos Estados Membros da OEA que
adotem medidas para prevenir a violncia contra as pessoas LGBT privadas de
liberdade. Estas medidas incluem, dentre outras, as seguintes: procedimentos
independentes e eficazes para a apresentao de denncias sobre estupro e abuso,
avaliaes de risco personalizadas ao momento de ingressar, a coleta minuciosa de
dados sobre as pessoas LGBT privadas de liberdade respeitando os princpios de
confidencialidade e privacidade e da violncia praticada contra estas pessoas, e
programas de sensibilizao e capacitao em diversidade para o pessoal de
segurana, migrao e funcionrios policiais. 498 A coleta de informao sobre as
pessoas LGBT privadas de liberdade e sobre a predominncia da violncia por
preconceito nos centros de deteno deve ser feita de forma cuidadosa, levando
em considerao os riscos inerentes de revitimizao, estigmatizao e abuso. 499
Por ltimo, um componente importante da preveno a investigao, julgamento
e sano dos atos de tortura e tratamentos cruis, desumanos ou degradantes
contra pessoas LGBT, o que envia uma clara mensagem populao privada de
liberdade de que a violncia contra as pessoas LGBT no tolerada.
2.
165. A Corte Interamericana de Direitos Humanos definiu a violncia sexual como aes
de natureza sexual cometidas contra uma pessoa sem seu consentimento, que
compreendem a invaso fsica do corpo humano e podem incluir atos que no
envolvam penetrao ou contato fsico algum. 500 A Corte estabeleceu que o
estupro no significa necessariamente uma relao sexual sem consentimento, por
via vaginal, como considerado tradicionalmente. Por estupro tambm se deve
entender atos de penetrao vaginal ou anal, sem o consentimento da vtima,
atravs da utilizao de outras partes do corpo do agressor ou objetos, assim como
a penetrao oral com o membro viril. 501 A Comisso tambm observou que a
violncia sexual assume distintas formas. A jurisprudncia da Corte
interamericana sobre a violncia sexual impe ao Estado obrigaes abrangentes e
multidimensionais de prevenir, investigar, punir e reparar esta grave violao de
direitos humanos. 502
498
499
500
501
502
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao pela violncia e discriminao
contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
A Associao para a Preveno da Tortura (APT) elaborou uma srie de diretrizes para realizar o
monitoramento preventivo da situao das pessoas LGBT privadas de liberdade em todo o mundo. Nessas
diretrizes, a APT coloca especial nfase na precauo requerida no momento de realizar entrevistas, ou de
coletar estatsticas sobre pessoas LGBT privadas de liberdade. Associao para a Preveno da Tortura (APT),
Personas LGBT Privadas de la Libertad, 2013.
Corte IDH. Caso da Penitenciria Miguel Castro Castro Vs. Peru, Sentena de 25 de novembro de 2006. Srie
C, No. 160, para. 306.
Corte IDH. Caso da Penitenciria Miguel Castro Castro Vs. Peru, Sentena de 25 de novembro de 2006. Srie
C, No. 160, para. 310.
CIDH, Acesso justia para vtimas de violncia sexual na Mesoamrica, OEA/Ser.L/V/II. Doc. 63, 9 de
dezembro de 2011 (doravante CIDH, Acesso justia para vtimas de violncia sexual na Mesoamrica,
2011), para. 6.
122 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
166. As pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo podem ser especialmente
vulnerveis violncia sexual. Uma das razes desta vulnerabilidade ocorre pelo
fato de que as orientaes sexuais e identidades de gnero diversas desafiam as
noes tradicionalmente aceitas de sexo, sexualidade e gnero. Em consequncia,
a violncia sexual pode adquirir um significado especial se perpetrada contra
pessoas LGBT, pois pode ser utilizada para punir e degradar as vtimas por ser
quem so. A CIDH tambm recebeu informao sobre estupros e atos de violncia
sexual contra pessoas intersexo, visto que no imaginrio social a violncia sexual
tenta curar os corpos das pessoas intersexo. 503
503
504
505
506
507
508
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
Portal Ojo.pe, Degella y viola gay en plena calle, 13 de novembro de 2011.
Revista The Advocate, Watch: Gay Male Sexual Assault Survivors Speak Out, 27 de junho de 2015.
Jornal New York Times, Lured Into a Trap, Then Tortured for Being Gay, 8 de outubro de 2010.
CIDH, Audincia sobre discriminao em funo do gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133
perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2008. Vdeo e udio no disponveis.
Grupo Gay da Bahia (GGB), Assassinato de Homossexuais (LGBT) no Brasil: Relatrio 2013/2014, pg. 3;
Portal UOL.com, Ex-vereador foi morto com mais de 100 facadas e teve cabo de foice introduzido no nus,
25 de maio de 2013.
170. A Comisso tambm recebeu denncias de atos de estupro que parecem ter uma
motivao distintiva e clara: os chamados estupros corretivos que constituem
uma manifestao extrema do preconceito contra as orientaes sexuais e
identidades de gnero diversas, e que so praticados especialmente contra
mulheres lsbicas ou bissexuais. O estupro corretivo foi definido como um crime
de dio no qual uma pessoa estuprada por causa de sua orientao sexual ou de
gnero percebida, buscando que como consequente do estupro seja corrigida a
orientao da pessoa, ou que ajam de maneira mais condizente com seu
gnero. 510 Por trs deste crime, o que se envidencia uma concepo perversa e
equivocada de que, se penetrada por um homem, a mulher converter-se-
novamente em normal. A anterior Alta Comissariada da ONU para os Direitos
Humanos, Navi Pillar, indicou que o estupro corretivo normalmente combina
uma falta de respeito fundamental com as mulheres que frequentemente constitui
misoginia, com uma homofobia profundamente enraizada. 511
171. A CIDH reconhece que os conceitos de estupro corretivo e violncia sexual
corretiva so incoerentes e deplorveis, pois todo ato de tentar corrigir um
aspecto fundamental da identidade de um ser humanos incompatvel com a
dignidade e a decncia humana. A essncia deste crime consiste na sano das
sexualidades e gneros que se distanciam das normas tradicionais. Segundo a
Corte Interamericana, o estupro uma experincia extremamente traumtica, 512
que provoca enormes danos fsicos e psicolgicos que so difceis de superar com o
tempo e deixa a vtima fsica e emocionalmente humilhada. 513 A CIDH observa
que este tipo de violncia sexual um dos crimes de violncia por preconceito
menos denunciados nas Amricas. Alm das razes pelas quais as vtimas so
509
510
511
512
513
Reunio da Presidente da CIDH com organizaes LGBTI do Caribe Colombiano (Cali e Tumaco). Informao
proporcionada por defensor de direitos humanos em Barranquilla. Cartagena, Colmbia. 3 de outubro de
2014.
Keren Lehavot e Tracy L. Simpson, Incorporating Lesbian and Bisexual Women into Women Veterans Health
Priorities, 27 de junho de 2013.
Navi Pillay, The shocking reality of homophobic rape, em The Asian Age, 20 de junho de 2011.
Corte IDH, Caso Rosendo Cant e outra Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 31 de agosto de 2010 Srie C No. 216 , para. 114; e Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros
Vs. Mxico. Interpretao da Sentena de Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 15
de maio de 2011. Srie C No. 224, para. 124, citando: Corte Europeia de Direitos Humanos, Caso de Aydin v.
Turquia (GC), Sentena de 25 de setembro de 1997, App. No. 57/1996/676/866, para. 83.
Corte IDH, Caso Rosendo Cant e outra Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 31 de agosto de 2010 Srie C No. 216 , para. 114; e Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros
Vs. Mxico. Interpretao da Sentena de Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de de
15 de maio de 2011. Srie C No. 224, para. 124, citando: Corte Europeia de Direitos Humanos, Caso de Aydin
v. Turquia (GC), Sentena de 25 de setembro de 1997, App. No. 57/1996/676/866, para. 83.
124 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
173. Alm disso, segundo vrias fontes o estupro de mulheres lsbicas ou percebidas
como tal constitui um assunto de preocupao especial na Jamaica. 516 Por
exemplo, em 2007 um lsbica de 17 anos de idade foi sequestrada por sua prpria
me e seu pastor durante 18 dias. Durante este perodo, distintos homens
religiosos a estupraram violentamente de forma reiterada, dia aps dia, numa
tentativa de fazer com que receba homens e que viva como Deus manda. 517 Em
2008, quatro casos adicionais com fatos similares foram denunciados perante
organizaes locais. Em todos estes casos, as mulheres no quiseram denunciar os
fatos polcia por medo de continuar sendo vitimizadas. 518 Pelo menos trs outros
casos de estupro foram denunciados em 2009. 519 Em 2010, denunciou-se que uma
mulher lsbica foi estuprada em grupo por quatro homens de sua comunidade que
se queixavam de sua vestimenta, por consider-la machona ou masculina.
Depois de estupr-la, os homens cortaram-na com uma faca para que pudesse
receber melhor os homens. Alguns dias depois, alega-se que uma amiga dela foi
sequestrada por homens que se encontravam em um veculo; foi ameaada com
514
515
516
517
518
519
Reunio da Presidente da CIDH com a Mesa Nacional de Vtimas afetadas pelo Conflto Armado Colombiano.
Cartagena, Colmbia. 3 de outubro de 2014.
CIDH, Comunicado para a imprensa No. 118/14, A Presidente da CIDH conclui sua visita a Colmbia, 10 de
outubro de 2014.
CIDH, Audincia de seguimento ao relatrio da CIDH sobre a situao de direitos humanos na Jamaica, 150
perodo ordinrio de sesses, 27 de maro de 2014; Jamaica Forum for Lesbians, All-Sexuals, & Gays (J-FLAG)
e outros, Human Rights Violations of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender (LGBT) people in Jamaica: A
Shadow Report. Outubro de 2011, pg. 14; AIDS-Free World, Protect Lesbian and Gay Population: A letter by
Maurice Tomlinson to the Jamaica Observer, 23 de setembro de 2010; The Gleaner, Lesbians Targeted By
Men Who Want To 'Straighten Them Out', 3 de dezembro de 2014.
Reunio Regional de Ativistas LGBTI do CARICOM: The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through
Legal Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In
Caribbean Countries, 2010, Relatrio apresentado CIDH em novembro de 2010, pg. 34.
Reunio Regional de Ativistas LGBTI do CARICOM: The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through
Legal Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In
Caribbean Countries, 2010, Relatrio apresentado CIDH em novembro de 2010, pg. 34.
Gay Lesbian Bisexual Transgender & Queer Jamaica (GLBTQJ), Corrective Rape in Jamaica? ... Yes, 5 de
agosto de 2009.
174. A CIDH recebeu vrias denncias deste tipo de violncia sexual provenientes de
outros Estados Membros da OEA. 522 Organizaes do Haiti observaram que em
2012, cinco policiais teriam estuprado em grupo duas mulheres lsbicas e durante
o ataque lhes diziam: Nunca estiveste com um homem? No s mulher de
verdade! Vamos te transformar em mulher!. 523 Em outro caso ocorrido em 2012,
alega-se que duas mulheres que estavam demonstrando afeto dentro de um carro
foram repentinamente interrompidas por policiais em uma patrulha. Os policias
teriam estuprado as mulheres. 524 No Equador, denunciou-se que este tipo de
violncia sexual ocorre como um dos mtodos perversos utilizados nas clnicas de
cura homossexual que estaro descritas mais detalhadamente neste captulo. 525
175. A violncia sexual produz sofrimento psicolgico e cicatrizes emocionais.
Alm disso, a violncia sexual pode causar leses fsicas incluindo
ferimentos que atentam contra a vida, como ocorre quando o estupro anal ou
vaginal ocorre com objetos grandes ou afiados e uma maior vulnerabilidade
infeco por HIV. Considerando que as pessoas LGBT e pessoas
inconformadas com o gnero esto em alto risco de que lhes seja negado
tratamento mdico ou sejam revitimizados na busca de ateno mdica aps
ser vtimas de violncia sexual, o impacto das agresses sexuais contra estas
pessoas pode ser, em alguns casos, mais agravado que para outras vtimas que
no se identificam como LGBT ou percebidas como tal.
520
521
522
523
524
525
Reunio Regional de Ativistas LGBTI do CARICOM: The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through
Legal Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In
Caribbean Countries, 2010, Relatrio apresentado CIDH em novembro de 2010, pg. 34.
Reino Unido, Cmara de Imigrao e Asilo do Tribunal de Alada, SW (lesbians - HJ and HT applied), UKUT251, deciso de 24 de junho de 2011, para. 107(2).
Ver, inter alia: [Peru] Red Peruana de Trans, Lesbianas Gays y Bisexuales & Centro de Promocin y Defensa
de los Derechos Sexuales y Reproductivos (PROMSEX), Informe Anual sobre Derechos Humanos de personas
Trans, Lesbianas, Gays y Bisexuales en el Per 2010, 2011, pg. 81; [Paraguai] Heartland Alliance - Aireana,
Human Rights Violations of Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender and Intersex (LGBTI) People in Paraguay: A
Shadow Report, maro de 2013, para. 17(e); Ver tambm: Portal Ultimahora.com, Romper el silencio, 5 de
fevereiro de 2014.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada por
Madre e outros (Haiti), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 2.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada por
Madre e outros (Haiti), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 2.
Fundacin de Desarrollo Integral Causana, Clnicas de Deshomosexualizacin: Delito Comn o Violencia
Estructural?, 20 de fevereiro de 2014, pg. 3.
126 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
3.
Ataques multitudinrios
176. Nos ltimos anos, a CIDH recebeu informao sobre alarmantes cifras de ataques
multitudinrios (mob attacks), especialmente em pases do Caribe. Durante os
meses de agosto e setembro de 2013, a Comisso recebeu informao sobre vrios
ataques que consistiam em grandes grupos de pessoas que encurralavam homens
gays, atiravam-lhes objetos (como pedras e coquetis Molotov) ou pediam seu
linchamento. Pelo menos sete desses ataques foram relatados nos ltimos dois
meses: cinco na Jamaica e dois no Haiti. 526 Estes ataques geralmente iniciam com
uma pessoa ou um grupo de pessoas que so identificadas como gay ou trans527
por pedestres em lugares pblicos. A tenso tende a escalar rapidamente e, em
questo de minutos, grandes grupos de pessoas juntam-se ao redor da vtima ou
vtimas. Vrios casos denunciados indicam que, quando as vtimas tentam escapar,
so perseguidas ou lhes atiram garrafas, pedras ou outros objetos. Nos casos em
que multides encurralam as vtimas, a violncia fsica pode chegar ao ponto de
deixar a vtima gravemente ferida ou pode levar sua morte.
177. Em especial, a Comisso foi informada que este tipo de ataques ocorre com grande
frequncia na Jamaica. 528 A informao recebida indica que vrios ataques
multitudinrios contra homens gays ou aqueles percebidos como tal ocorreram em
dezembro de 2005, 529 fevereiro de 2007, 530 maro de 2007, 531 e em 2008. 532 Em
2012, uma multido enfurecida invadiu uma casa para atacar trs homens gays
que estavam vivendo juntos em Jones Town, na cidade de Kingston. Alega-se que
membros da comunidade tambm confrontraram a polcia quando esta chegou
cena do crime e tentou proteger os trs homens. 533 Outro caso alarmante ocorreu
em 2012 na Universidade Tecnolgica da Jamaica, quando um estudante foi
perseguido por um grupo de estudantes (homens e mulheres). A vtima conseguiu
chegar at a guarita de segurana, e o grupo de pessoas permaneceu gritando do
lado de fora. Um vdeo mostra como pelo menos dois guardas davam bofetadas,
pontaps e socos no estudante na frente da multido, enquanto as pessoas que
gritavam do lado de fora comearam a entrar pelas janelas da guarita. 534 Alguns
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CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos
violentos, o abuso policial e outras formas de violncia contra pessoas LGTBI, de 24 de outubro de 2013.
A palavra utilizada pode no ser necessariamente gay ou trans, mas expresses locais como battyman,
sissy boy, shemale, e outros termos ofensivos.
Ver CIDH, Relatrio Anual 2014: Captulo V: Relatrio de Seguimento sobre a Situao de Direitos Humanos
na Jamaica, 7 de maio de 2015, para. 173 e seguintes.
Jamaica Forum for Lesbians, All Sexuals and Gays (J-FLAG), Statement on the death of Nokia Cowen, 28 de
dezembro de 2005.
Portal Direland, Jamaica: Gay Leader Escapes St. Valentine's Day Lynch Mob, 21 de fevereiro de 2007.
Portal Pink News, Homophobic violence at Jamaica funeral, 12 de abril de 2007; Reunio Regional de
Ativistas LGBTI do CARICOM: The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through Legal Tools, Laws
Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In Caribbean
Countries, 2010, Relatrio apresentado CIDH em novembro de 2010, pg. 31.
Jornal The New York Times, Attacks Show Easygoing Jamaica Is Dire Place for Gays, 24 de fevereiro de
2008.
CVM TV Jamaica News Watch: vdeo, [minuto 3:16], 21 de junho de 2012.
The Gleaner, CAUGHT ON TAPE! UTech Security Guards Beat Alleged Gay Student, 2 de novembro de 2012.
178. Adicionalmente, no ano de 2013 a CIDH recebeu informao sobre vrios ataques
multitudinrios na Jamaica. Em julho de 2013, Dwayne Jones, uma pessoa trans de
16 anos de idade foi esfaqueada at sua morte por um grupo de pessoas numa
festa na Jamaica. 536 Segundo informao de pblico conhecimento, um grupo de
homens encurralou Dwayne depois que algum lhes disse que era trans. Dwayne
foi brutalmente esfaqueada, levou tiros, morreu e seu corpo foi atirado em
arbustos prximos do local. Alega-se que Dwayne era vtima de piadas constante
no colgio por ser considerada um menino efeminado, at que abandonou seus
estudos definitivamente. Dwayne tambm havia sido explusa de casa aos 14 anos
de idade e sido obrigada a virar moradora de rua. 537 Um ano aps o homicdio,
uma organizao local observou que no foram efetuadas prises relacionadas
com o caso. 538 Em virtude de um pedido de informao formulado pela CIDH, 539 o
Estado respondeu que as investigaes estavam sendo feitas; que fora coletada
prova forense, e foram recebidos treze testemunhos. Dois suspeitos haviam sido
interrogados, e posteriormente colocados em liberdade por falta de provas. 540
535
536
537
538
539
540
541
On The Ground News, Confirmed: Former UTech guards accused of beating student freed, 31 de agosto de
2013.
The Gleaner, J-FLAG Condemns Mob Killing Of Alleged MoBay Cross-Dresser, 24 de julho de 2013; Jornal
The Huffington Post, Gay Voices, Dwayne Jones, Jamaican Transgender Teen, Murdered By Mob: Report,
11 de agosto de 2013; Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas,
apresentada pela Anistia Internacional, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de
2013.
Human Rights Watch, Jamaica: Cross-Dressing Teenager Murdered, 1 de agosto de 2013; Jornal The New
York Post, Transgender teen killed by mob in Jamaica after wearing dress to party - casts light on nation's
'rabid homophobia', 11 de agosto de 2013.
Quality of Citizenship Jamaica (QCJ), Comunicado para a imprensa: Dwayne Gully Queen Jones One Year
Later, 22 de julho de 2014; Jornal Jamaica Observer, Justice Minister condemns killing of St James crossdresser, 29 de julho de 2013; CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 89/13, CIDH reconhece medidas
adotadas recentemente por vrios Estados Membros da OEA para promover a igualdade das pessoas LGBTI,
21 de novembro de 2013.
CIDH, Pedido de informao com base no Artigo 41 da Conveno Americana Jamaica, 2 de outubro de
2013 [nos arquivos da Secretaria Executiva da CIDH].
Misso Permanente da Jamaica perante a OEA, ref. 6/80/1, comunicao recebida em 12 de novembro de
2013.
Jornal On The Ground News, Residents and Police square off over Cops found in 'compromising position', 2
de agosto de 2013.
128 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
numa casa em St. Catherine. 542 Dez dias aps estes incidentes, a Comisso foi
informada que em 10 de agosto de 2013, a polcia teria sido acionada para
proteger uma pessoa trans em St. Catherine, depois que uma multido enfurecida
que a viu na comunidade comeou a ama-la com chicotadas. 543 Em 22 de agosto
de 2013, outro grupo de pessoas realizou um cerco casa de cinco homens gays
em Manchester. Os homens ficaram sem poder sair de casa at que a polcia
chegasse e os escoltasse a um lugar seguro. 544 Adicionalmente, em 26 de agosto de
2013, meios de comunicao locais informaram que dois homens tiveram que
buscar abrigo quando, chegaram a uma delegacia aps um acidente de automvel,
e residentes locais furiosos disseram que os homens pareciam ser gays. Os policiais
tiveram que escoltar os dois homens para fora da delegacia e afastar a multido
enfurecida que estava reunida do lado de fora. 545 Dois meses depois, um grupo
atirou bombas de fogo contra uma casa na qual viviam vrios homens gays em
Porto Bello, St. James, Jamaica. 546
543
544
545
546
547
548
549
Jornal The Daily Extra, Angry crowds surround gay men in two Jamaican incidents, 6 de agosto de 2013.
Ver tambm, CVM TV (Kingston, Jamaica), CVM Newswatch, vdeo online, 1 de agosto de 2013 [minuto
25:27].
Jornal The Jamaica Star Online, Cops Rescue Man In Girl Clothes, Save Him From Angry Mob, 14 de agosto
de 2013.
Jornal The Huffington Post Gay Voices, Jamaica Mob Traps And Barricades 5 Gay Men In House, 26 de
agosto de 2013.
CVM TV (Kingston, Jamaica), News at noon, vdeo, [minuto 5:50] 26 de agosto de 2013.
The Gleaner, House Occupied By Gays Firebombed, 10 de outubro de 2013.
Pedido de informao com base no artigo 41 da Conveno Americana Jamaica, 2 de outubro de 2013 [nos
arquivos da Secretaria Executiva da CIDH].
Misso Permanente da Jamaica perante a OEA, ref. 6/80/1, comunicao recebida em 12 de novembro de
2013. (Traduo livre da CIDH).
Jornal Channel 7 News Belize, Street Mob Attacks Transgender Vanessa Paris, 9 de abril de 2014; Jornal
Huffington Post, Belize Transgender Woman Stoned And Beaten By Mob, 14 de abril de 2014.
E.
Haiti, dois homens percebidos como gays foram agredidos at a morte durante
uma passeata anti-gay promovida pela Coalizo Haitiana de Organizaes
Religiosas e Morais (Coalition Hatienne des organisations religieuses et morales). A
passeata ocorreu em julho de 2013, em Porto Prncipe, em meio a uma onda de
violncia contra pessoas LGBT. 552 Outros relatrios informam que em 2011 uma
multido atacou dois homens gays que viviam num acampamento para refugiados
internos, acusados de manter relaes sexuais em sua barraca de acampamento.
Os agressores invadiram sua barraca e agrediram os dois homens enquanto lhes
acusavam de ter causado o terremoto de 2010 no Haiti. 553
551
552
553
554
555
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada por
Madre, ILGHRC, Cuny School of Law, SEROVie e FACSDIS, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25
de novembro de 2013, pgs. 1 e 2.
AIDS-Free World, The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through Legal Tools, Laws Criminalizing
Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In Caribbean Countries, Reunio
Regional de Ativistas LGBTI do CARICOM: The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through Legal
Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In
Caribbean Countries, 2010, Relatrio apresentado CIDH em novembro de 2010, pg. 35. (Traduo livre da
CIDH).
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 54/13, CIDH condena recente onda de violncia contra pessoas
LGTBI no Haiti, 30 de julho de 2013; Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI
nas Amricas, apresentada por Madre, ILGHRC, Cuny School of Law, SEROVie e FACSDIS, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 1; Jornal Haiti Sentinel, Haiti: Two assumed
homosexuals beaten to death by protest mob, 19 de julho de 2013.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada por
Madre, ILGHRC, Cuny School of Law, SEROVie e FACSDIS, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25
de novembro de 2013, pg. 2.
Testemunho oferecido por Mauro Cabral (Argentina) perante a CIDH, Audincia sobre a situao de direitos
humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
Zwischengeschlecht.org, Intersex Genital Mutilations: Human Rights Violations of Children with Variations of
Sex Anatomy, maro de 2014, pg. 12.
130 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
557
558
559
560
561
562
563
564
565
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013. Ver tambm, Advocates for Informed Choice (Tamar-Mattis,
Anne), Report to the Inter-American Commission on Human Rights: Medical Treatment of People with
Intersex Conditions as a Human Rights Violations, 2013, pg. 2-7. Ver tambm, Conselho da Europa,
Comissrio de Direitos Humanos, Relatrio Human Rights and Intersex People. Silvan Agius, 12 de maio de
2015; e Jornal Montreal Gazette, My Coming Out: The Lingering Intersex Taboo, 9 de agosto de 2015.
Testemunho oferecido por Mauro Cabral (Argentina) perante a CIDH, Audincia sobre a situao de direitos
humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013. CIDH, Audincia sobre discriminao contra pessoas trans nas
Amricas, 153 perodo ordinrio de sesses, 30 de outubro de 2014.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
Ver artigos escritos por Janik Bastien-Charlebois (Universit du Qubec Montral), como por exemplo:
Bastien-Charlebois, Janik, My coming out: The lingering intersex taboo, no Jornal Montreal Gazette, 11 de
agosto de 2015. (Disponvel somente em ingls).
Ver por exemplo, Corte Constitucional Colombiana, Deciso T-622/14, 28 de agosto de 2014.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 131A/14, Relatrio sobre o 153 perodo de sesses da CIDH, 29 de
dezembro de 2014. Ver tambm, ONU, Comit de Direitos da Criana, Observaes Finais do quarto
relatrio peridico do Chile, CRC/C/CHL/CO/4-5, 15 de outubro de 2015, paras. 48-49.
Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Procuradura para la Defensa de los
Derechos Humanos (El Salvador), Informe sobre la situacin de los Derechos Humanos de las Mujeres Trans
en El Salvador, 2013, pg. 23.
Unidos 567 e Uruguai, 568 dentre outros. No entanto, a CIDH foi informada que estas
intervenes so parte de uma prtica normal nos pases de todo o continente
americano. 569 A Comisso nota que a documentao e os dados coletados sobre
esta problemtica so escassos, 570 o que ser abordado com mais profundidade no
captulo 6 deste relatrio, quando for analisada a obrigao estatal de coletar
dados.
567
568
569
570
571
572
573
Ver Eva Alcntara Zavala, Pobreza y condicin intersexual en Mxico: reflexiones y preguntas en torno al
dispositivo mdico, em Interdicciones: Escrituras de la Intersexualidad en Castellano (Mauro Cabral, editor),
Crdoba, fevereiro de 2009.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
Fundao Heinrich Bll (Ghattas, Dan Christian), Human Rights between the Sexes: A preliminary study on
the life situations of inter* individuals, Vol. 34 Publicaes para a Democracia, 2013, pg. 46.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
Isto foi reconhecido por alguns Estados. Ver por exemplo, Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia
contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo Equador, Nota 4-2-380/2013 recebida pela CIDH em 2
de dezembro de 2013, pg. 2.
Anne Tamar-Mattis, Exceptions to the Rule: Curing the Law's Failure to Protect Intersex Infants, em
Berkeley Journal of Gender, Law & Justice, Volume 21, Nmero 1, setembro de 2013, pg. 99, citando a:
Ford, Kishka-Kamari, "First, Do No Harm, The Fiction of Legal Parental Consent to Genital-Normalizing
Surgery on Intersexed Infants, em Yale Law & Policy Review, No. 19, 2001, pg. 476; Beh, Hazel Glenn e
Diamond, Milton, An Emerging Ethical and Medical Dilemma: Should Physicians Perform Sex Assignment
Surgery on Infants with Ambiguous Genitalia?, em: Michigan Journal of Gender and Law, No. 7, 2000,
pg. 7.
Luciana Lavigne, La regulacin biomdica de la intersexualidad. Un abordaje de las representaciones
socioculturales dominantes em Interdicciones: Escrituras de la Intersexualidad en Castellano (Mauro Cabral,
editor), Crdoba, fevereiro de 2009, pg. 55.
Luciana Lavigne, La regulacin biomdica de la intersexualidad. Un abordaje de las representaciones
socioculturales dominantes em Interdicciones: Escrituras de la Intersexualidad en Castellano (Mauro Cabral,
editor), Crdoba, fevereiro de 2009.
132 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
574
575
576
577
578
579
Mulabi e IGLHRC, Situacin de las mujeres lesbianas, bisexuales, transexuales, transgnero e intersex en
Costa Rica respecto de la Discriminacin: Informe Sombra, julho de 2011, pg. 9.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013; CIDH, Anexo ao Comunicado para a imprensa emitido no
trmino do 147 perodo ordinrio de sesses, 5 de abril de 2013.
Human Rights Commission of The City & County of San Francisco, A Human Rights Investigation into the
Medical Normalization of Intersex People, 28 de abril de 2005, pgs. 31, 43; Advocates for Informed Choice
(Tamar-Mattis, Anne), Report to the Inter-American Commission on Human Rights: Medical Treatment of
People with Intersex Conditions as a Human Rights Violations, 2013, pg. 2013, pg. 5.
Advocates for Informed Choice (Tamar-Mattis, Anne), Report to the Inter-American Commission on Human
Rights: Medical Treatment of People with Intersex Conditions as a Human Rights Violations, 2013, pg. 3.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre o direito de toda pessoa ao mais
alto nvel possvel de sade fsica e mental, A/64/272, 10 de agosto de 2009, para. 49.
iniciava a puberdade, foi realizada uma terceira cirurgia, para construir uma
vagina mais aceitvel atravs do mtodo da vaginoplastia. Atravs de mentiras,
disseram-me que tinha ovrios cancergenos e que os mdicos eram uns
salvadores que me salvaram. 580
188. Alm disso, a informao recebida pela CIDH indica que estas intervenes
normalmente so realizadas sem o consentimento informado das pessoas
intersexo ou de seus pais, mes ou tutores legais. Com efeito, o Comit da ONU
contra Tortura e o Relator Especial da ONU contra a Tortura expressaram sua
preocupao pela falta de consentimento informado sobre estas cirurgias. 581 O
Relator Especial da ONU sobre o direito de toda pessoa ao mais alto nvel possvel
de sade fsica e mental, pronunciou-se sobre a importncia do consentimento
informado para as pessoas intersexo. Adicionalmente, recomendou que os
fornecedores de servios de sade empreendam esforos para postergar as
intervenes invasivas e irreversveis que no so de emergncia at que o
paciente tenha a maturidade necessria para dar seu consentimento informado. 582
189. A CIDH foi informada de que os protocolos mdicos vigentes em vrios Estados
Membros da OEA esto baseados em conceitos que associam todas as pessoas
intersexo e todas as variaes de caractersticas sexuais com patologias e, em
geral, recomendam estas cirurgias de normalizao genital. Em alguns casos, o
consentimento das pessoas no um requisito. 583 Por exemplo, a informao
indica que as disposies legais que estabelecem que situaes de urgncia mdica
autorizam mdicos a realizar intervenes em crianas sem o consentimento dos
pais e mes, foram utilizadas em casos destas cirurgias de normalizao dos
genitais em crianas intersexo. 584 Em outros casos, os mdicos consultam os
familiares, mas fornecem pouca ou nenhuma informao sobre as consequncias
destes procedimentos. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela Comisso
580
581
582
583
584
Testemunho de Jen Pigeon Pagonis, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo
nas Amricas, 147 perodo ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
Comit contra a Tortura, Observaes Finais: Alemanha, CAT/C/DEU/CO/5, 12 de dezembro de 2011, para.
20; ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos
ou penas cruis, desumanos ou degradantes, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 77; Alto
Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Leis e prticas discriminatrias e atos de violncia
cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/19/41, 17 de novembro
de 2011, para. 57.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre o direito de toda pessoa ao mais
alto nvel possvel de sade fsica e mental, A/64/272, 10 de agosto de 2009, para. 46.
CIDH, Audincia sobre Discriminao contra Pessoas Trans nas Amricas, 153 Perodo de Sesses 30 de
outubro de 2014; CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas,
147 perodo ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
CIDH, Audincia sobre Discriminao contra Pessoas Trans nas Amricas, 153 Perodo de Sesses 30 de
outubro de 2014. As defensoras e defensores mencionaram o Artigo 46 do Cdigo da Infncia e Adolescncia
da Costa Rica (Lei No. 7.739): Artigo 45: Denegao de consentimento. Se o pai, a me, os representantes
legais ou as pessoas encarregadas negarem, por qualquer razo, seu consentimento para a hospitalizao, o
tratamento ou a interveno cirrgica urgentes de seus filhos, o profissional da sade fica autorizado para
adotar as aes imediatas a fim de proteger a vida ou a integridade fsica e emocional deles, nos termos do
artigo 144 do Cdigo de Famlia.
134 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
190. Adicionalmente, um relatrio emitido pelo Programa das Naes Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e a Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos de
El Salvador, indica que as normas do Cdigo da Sade de El Salvador no probem
as intervenes cirrgicas de assignao de sexo em crianas intersexo e no
exige o consentimento livre e informado da pessoa, inclusive nos casos em que as
crianas tm idade suficiente para ter a capacidade de aceitar ou rejeitar tais
alteraes em seus corpos. 587 Organizaes chilenas denunciaram que em 2003,
um homem de 20 anos de idade descobriu atravs de uma srie de exames
mdicos que, imediatamente aps seu nascimento, o mdico que foi autorizado por
seus pais para tratar uma hrnia inguinal, removeu seus testculos e operou seus
genitais. Segundo o relatrio, o pai e a me nunca deram seu consentimento para
essa operao nem foram informados a respeito posteriormente. Ativistas
asseguram que no um caso isolado no sistema de sade pblica do Chile. 588
Segundo uma pesquisadora de temas relativos a pessoas intersexo no Brasil,
extremamente raro que mdicos e mdicas decidam no realizar cirurgias em
crianas intersexo no momento no nascimento. 589
585
586
587
588
589
590
591
Human Rights Commission of The City & County of San Francisco, A Human Rights Investigation into the
Medical Normalization of Intersex People, 28 de abril de 2005, pg. 19.
Human Rights Commission of The City & County of San Francisco, A Human Rights Investigation into the
Medical Normalization of Intersex People, 28 de abril de 2005, pg. 42.
Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Procuradura para la Defensa de los
Derechos Humanos (El Salvador), Informe sobre la situacin de los Derechos Humanos de las Mujeres Trans
en El Salvador, 2013, pg. 23.
Global Rights, IGLHRC, MOVILH, Organizacin de Transexuales Masculino, Violations of the Rights of Lesbian,
Gay, Bisexual, Transgender and Intersex Persons in Chile: A Shadow Report, 2008, pg. 12.
Informao proporcionada por Paula Sandrine Machado, Audincia sobre a situao de direitos humanos das
pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, ONU Mulheres, ONUSIDA, PNUD, UNFPA, UNICEF e
Organizao Mundial da Sade, Eliminando a esterilizao forada, coercitiva e involuntria: um
pronunciamento interagencial, 2014, pg. 7.
Advocates for Informed Choice (Tamar-Mattis, Anne), Report to the Inter-American Commission on Human
Rights: Medical Treatment of People with Intersex Conditions as a Human Rights Violations, 2013, pg. 4.
192. A CIDH enfatiza que a esterilizao forada e involuntria das pessoas intersexo
representa uma grave violao de direitos humanos. A esterilizao involuntria
pode ter srias consequncias para a integridade fsica e psicolgica, o direito
autonomia reprodutiva e o direito autodeterminao das pessoas intersexo. A
Comisso recomenda que as classificaes mdicas que patologizam todas as
pessoas intersexo ou todas as variaes das caractersticas sexuais sejam revisadas
e modificadas, respectivamente, com o objetivo de assegurar que as pessoas
intersexo desfrutem efetivamente do direito ao nvel mais alto possvel de sade e
outros direitos humanos. 592
193. O Relator Especial da ONU sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis,
desumanos ou degradantes reconheceu que os tratamentos mdicos de carter
invasivo e irreversvel, quando no tiverem finalidade teraputica, podem
constituir tortura e maus tratos, se aplicados ou administrados sem o
consentimento livre e informado do paciente. 593
194. A CIDH adverte que o consentimento prvio, livre e informado muito importante
e deve orientar toda deciso relacionada com as cirurgias, procedimentos,
tratamentos hormonais e qualquer outro tratamento mdico das pessoas
intersexo. A Comisso Interamericana recomenda que os Estados Membros
realizem as modificaes necessrias em matria legislativa e de poltica pblica
para proibir procedimentos mdicos desnecessrios em pessoas intersexo, quando
realizados sem o consentimento livre e informado das pessoas intersexo. Devem
ser feitas as modificaes a protocolos mdicos para assegurar o direito
autonomia das pessoas intersexo: as pessoas intersexo devem decidir por si
mesmas se desejam ser submetidas a cirurgias, tratamentos ou procedimentos. 594
Considerando que estas intervenes mdicas geralmente no so necessrias do
ponto de vista mdico, e devido a que, em geral, causam alto risco de danos
irreversveis sade fsica e mental das pessoas intersexo, elas somente poderiam
ser realizadas quando a criana intersexo possa manifestar diretamente seu
consentimento prvio, livre e informado. As cirurgias e outras intervenes
mdicas que no so necessrias segundo critrios mdicos devem ser adiadas at
que as pessoas intersexo possam decidir por si mesmas.
592
593
594
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Relatrio Human Rights and Intersex People. Silvan
Agius, 12 de maio de 2015. Em relao com o tema da patologizao das pessoas intersexo, a CIDH toma
nota de um documento preparado por ativistas e defensoras e defensores de direitos humanos das pessoas
intersexo de todo o mundo no contexto do processo de reviso e reforma da Classificao Internacional de
Doenas (CID ou ICD, por sua sigla em ingls) emitida pela Organizao Mundial da Sade (OMS). Ver
documento intitulado Intersex issues in the ICD: a revision, elaborado aps uma consulta realizada em
Genebra de 8 a 9 de setembro de 2014.
Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou
degradantes, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 32; Ver tambm, Relatrio do Relator Especial
sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou degradantes, A/63/175, 28 de julho de
2008, para. 47.
CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 147 perodo
ordinrio de sesses, 15 de maro de 2013.
136 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
F.
596
597
Ver por exemplo, Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Chile, CCPR/C/CHL/CO/5, 18 de maio de
2007, para. 16; Comit para a Eliminao da Discriminao Contra a Mulher, Observas Finais: Costa Rica,
CEDAW/CRI/CO/5-6, 29 de julho de 2011, para. 40.
Portal Lambda Legal, When Health Care Isnt Caring Lambda Legals: Survey on Discrimination against LGBT
People and People Living with HIV, pg. 10.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo
Estado do Paraguai, Nota 1079/13/MPP/OEA de 26 de dezembro de 2013, pg. 2.
uma das causas pelas quais as pessoas LGBT decidem no buscar assistncia
mdica. 598
G.
200. A CIDH recebeu relatrios sobre violncia contra pessoas LGBT, ou pessoas
percebidas como tal especialmente crianas, adolescentes e jovens a fim de
tentar modificar sua orientao sexual ou identidade de gnero. A informao
recebida faz referncia a casos em que as pessoas LGBT ou aquelas percebidas
como tal so submetidas a supostos tratamentos teraputicos, internadas em
clnicas ou acampamentos, e vtimas de abuso fsico. Alm disso, as mulheres
tambm so sujeitas a estupro e outros atos de violncia sexual, como forma de
castigo por sua orientao sexual e identidade de gnero, real ou percebida. 601 Em
declarao conjunta com especialistas independentes da ONU e com o Comit dos
Direitos da Criana, a CIDH adverteu que os jovens LGBT so submetidos a estas
supostas terapias para modificar sua orientao ou identidade. Estas terapias
598
599
600
601
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo
Estado de Honduras, Nota DC-179/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de
2013, pg. 17.
Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Documento de Discusso: Sade e Direitos
Humanos dos Transgneros. Dezembro de 2013, pg. 17; [Colmbia] Resposta ao questionrio da CIDH
sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pela Fundacin Manos que Construyen Paz,
recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 7; [Guiana] Carrico,
Christopher, Collateral Damage: The Social Impact of Laws Affecting LGBT Persons in Guyana, publicado por:
Rights Advocacy Project, Faculty of Law, University of the West Indies, maro de 2012, pg. 21; [Estados
Unidos] National Center for Transgender Equality and the National Gay & Lesbian Task Force, National
Transgender Discrimination Survey: Report on Health and Health Care, outubro de 2010, pg. 6.
Ravishankar, Mathura, The Story about Robert Eads, em: The Journal of Global Health, 18 de janeiro de
2013. (Disponvel somente em ingls; traduo livre CIDH).
Sobre isso, ver seo prvia neste captulo sobre o estupro e outras formas de violncia sexual contra as
mulheres.
138 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
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606
607
Comunicado Conjunto No. 49/15 no Dia Internacional contra a Homofobia, a Bifobia e Transfobia emitido
pela CIDH, o Comit dos Direitos da Criana da ONU, um grupo de especialistas da ONU, a Relatora Especial
de Direitos de Defensores e Defensoras da Comisso Africana de Direitos Humanos e dos Povos, e o
Comissrio de Direitos Humanos do Conselho da Europa. Diante da discriminao e violao de seus
direitos, jovens LGBT e intersexo necessitam reconhecimento e proteo. 17 de maio de 2015.
Ver, dentre outros: Organizao Panamericana da Sade, Curas para una Enfermedad que no existe, 2012,
pg. 1; Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Leis e prticas discriminatrias e atos de
violncia cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/19/41, 17 de
novembro de 2011, para. 56; ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a
tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou degradantes, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de
2013, para. 76; ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre o direito de toda
pessoa ao mais alto nvel possvel de sade fsica e mental, A/HRC/14/20, 27 de abril de 2010, para. 23; ONU,
Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas
cruis, desumanos ou degradantes, A/56/156, 3 de julho de 2001, prr. 24.
Organizao Panamericana da Sade, Curas para una Enfermedad que no existe, 2012.
Organizao Panamericana da Sade, Curas para una Enfermedad que no existe, 2012.
[Argentina] Lei 26.657, Artigo 3(c) [Lei de Sade Mental] (probe o diagnstico mdico em funo da opo
sexual ou identidade sexual); [Equador] Ministrio da Sade, Acordo Ministerial No. 767, junho de 2012
(probe a administrao de qualquer tratamento destinado a curar a orientao sexual ou a identidade de
gnero). [Estados Unidos, Califrnia] Cdigo de Servios e Profisses da Califrnia, Seo 865-865.2 (em
julho de 2013, a Corte Suprema dos Estados Unidos rejeitou a anlise de um caso que questionava esta
disposio legal, por vrios motivos, confirmando assim as decises judiciais das cortes inferiores que
declararam sua validez constitucional). Ver, dentre outros: Jornal The New York Times, Supreme Court
Declines Case Contesting Ban on Gay Conversion Therapy, 30 de junho de 2014; [Estados Unidos, Distrito
de Columbia] B20-0501, Lei de Emenda, Proibio da Terapia de Converso para Menores de Idade de 2013;
[Estados Unidos, Nova Jersey] Assembleia No. 3371, Estado de Nova Jersey, 125 legislatura. Aprovada
P.L.2013, c. 150; [Estados Unidos, Oregon] Oregon governor signs bill banning conversion therapy for LGBT
youth, 19 de maio de 2015. [Estados Unidos, Illinois] Em 19 de maio de 2015, o Congresso de Illinois
aprovou uma lei sobre o assunto, a qual foi enviada ao Senado para aprovao.
[Brasil] Conselho Federal de Psicologia, Resoluo 001/99, 22 de maro de 1999; [Canad] Ordre des
psychologues du Qubec, Les interventions qui visent changer lorientation sexuelle, 23 de novembro de
2012; [Costa Rica] Colegio Profesional de Psiclogos de Costa Rica, La homosexualidad no es una
enfermedad, 25 de fevereiro de 2013 [Paraguai] Sociedad Paraguaya de Psiquiatra, Comunicado sobre la
homosexualidad, 17 de maio de 2011; [Estados Unidos] Asociacin Americana de Psiquiatras, Resolution on
Appropriate Affirmative Responses to Sexual Orientation Distress and Change Efforts, 5 de agosto de 2009.
608
609
610
611
612
613
Portal Peru.com, Lima: Conoce la terapia de un centro para dejar la homosexualidad, 24 de agosto de
2013. Ver tambm, Promsex, IV Informe Anual sobre Derechos Humanos de Personas Trans, Lesbianas, Gays
y Bisexuales en el Per, 2011.
Revista The Advocate, Abuse in the Name of Christianity, 10 de outubro de 2013; Revista Newsweek,
Where American Teens were Abused in the Name of God, 7 de julho de 2014. Esta informao tambm foi
apresentada durante uma audincia temtica sobre a situao de direitos humanos das pessoas LGBT na
Repblica Dominicana, 156 perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2015.
National Gay and Lesbian Task Force Policy Institute, Youth in the Crosshairs. The Third Wave of Ex-Gay
Activism, 2006, pgs. 11-14; Jornal The New York Times, Gay Teenager Stirs a Storm, 17 de julho de 2005.
Informao apresentada CIDH pelo Taller de Comunicacin Mujer, em 10 de maio de 2011, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 24 de maio de 2011, pg. 1; Taller de Comunicacin Mujer, Situation of
lesbian and trans and women in Ecuador: Shadow Report (CEDAW), setembro de 2008, pg. 7.
CIDH, Audincia sobre discriminao em funo do gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133
perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2008. Vdeo e udio no disponveis; Informao
apresentada CIDH pelo Taller de Comunicacin Mujer, em 10 de maio de 2011, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 24 de maio de 2011, pg. 1; Taller de Comunicacin Mujer, pg. 4.
Informao apresentada CIDH pelo Taller de Comunicacin Mujer, em 10 de maio de 2011, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 24 de maio de 2011, pg. 4. Ver tambm: Taller de Comunicacin Mujer,
Anlisis estadstico de clnicas de rehabilitacin en el Ecuador, janeiro de 2012.
140 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
204. Apesar de existirem relatos sobre jovens homens gays ou percebidos como tal
internados nestas clnicas, 614 os relatrios da sociedade civil indicam que as
principais vtimas tm sido as mulheres jovens. 615 Nestes casos, quando os
familiares ficam sabendo de sua orientao sexual ou identidade de gnero, tentam
coloc-las nesses centros. Os familiares geralmente enganam e inclusive
sequestram as vtimas; 616 e h casos nos quais as vtimas foram algemadas ou
drogadas para que no resistissem internao. 617 As denncias tambm mostram
que os familiares pagam considerveis quantias de dinheiro a estes centros. 618
205. Testemunhos de pessoas internadas em tais locais indicam que a foram: expostas
a insultos verbais sistemticos, gritos, humilhao e ameaas de estupro; 619
alojadas em quartos superlotados; 620 mantidas em isolamento por longos perodos
de tempo; 621 privadas de alimentao por vrios dias ou foradas a comer
alimentos insalubres ou beber gua de poos infestados por sapos mortos, baratas
e outros insetos; 622 foradas a se vestir e comportar como prostitutas para
aprender o comportamento feminino e manter relaes sexuais com outros
internos homens por ordem de seus terapeutas; 623 mantidas algemadas por mais
de trs meses ou acorrentadas a sanitrios usados por outras pessoas; 624
614
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621
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623
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acordadas com baldes de gua fria ou urina jogados nelas; 625 submetidas a
choques eltricos; 626 e que o pessoal de custdia as tocava, abusava e at
estuprava. 627 Tambm h denncias de clnicas onde as vtimas foram foradas a
dar comida ao gado e trabalhar em matadouro. 628
207. Segundo a denncia, Clara estava esperando para voltar para casa com sua me e
pai quando trs homens se aproximaram, agarraram suas mos e lhe disseram que
poderiam usar qualquer declarao dela contra ela. Sua me estava atrs deles.
Clara exigiu que lhe mostrassem uma ordem de priso, mas os homens atiraram
Clara dentro de um carro e passaram a tentar algem-la. A me de Clara
aproximou-se do carro e pediu que no a algemassem. No trajeto, Clara percebeu
que estava sendo presa por sua prpria famlia. Seu pai seguia o carro em que ela
estava num txi. Clara estava no banco de trs, enquanto dois homens apontavam
uma arma para ela, e cada um segurava uma de suas pernas. Minutos depois,
chegaram ao hospital psiquitrico Julio Endara. Clara viu seu pai e um dos
sequestradores falando com um guarda do hospital. Foi levada a um quarto onde
uma mdica aplicou-lhe um sedativo que a fez ficar sonolenta e incapaz de reagir.
Depois foi transferida a uma clnica em Chone, na provncia equatoriana de
Manab, onde foi mantida presa. 632
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628
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630
631
632
Tribunal Regional dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais das Mulheres, Casos por discriminacin a
mujeres lesbianas en el Ecuador, junho de 2005, pg. 21.
Jornal El Universo, Ignorancia, silencio y ceguera sociales que an destrozan vidas, 27 de junho de 2011;
Jornal El Tiempo, Liberan a 17 personas retenidas en clnica clandestina en Quito, 8 de novembro de 2013.
Taller de Comunicacin Mujer, Situacin de las mujeres lesbianas en Ecuador: Pacto Internacional de
Derechos Civiles y Polticos, Informe Sombra, setembro de 2009, pg. 9; Fundacin de Desarrollo Integral
Causana, Clnicas de Deshomosexualizacin: Delito Comn o Violencia Estructural?, 20 de fevereiro de
2014, pg. 3; ExploRed, Deshomosexualizacin: nuevos casos, 28 de julho de 2013.
Fundacin de Desarrollo Integral Causana, Clnicas de Deshomosexualizacin: Delito Comn o Violencia
Estructural?, 20 de fevereiro de 2014, pg. 3.
Ver por exemplo, CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23A/2013, Anexo ao Comunicado para a
imprensa emitido ao trmino do 147 Perodo de Sesses, 5 de abril de 2013.
Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais do Comit de Direitos Humanos: Equador,
CCPR/C/ECU/CO/5, 4 de novembro de 2009, para. 12.
Taller de Comunicacin Mujer, Violencia y Discriminacin contra mujeres lesbianas en el Ecuador: Informe
Sombra para el Comit sobre la Eliminacin de Todas las Formas de Discriminacin hacia Mujeres (CEDAW),
2014, pg. 5.
Taller de Comunicacin Mujer, Violencia y Discriminacin contra mujeres lesbianas en el Ecuador: Informe
Sombra para la Convencin sobre la Eliminacin de Todas las Formas de Discriminacin hacia Mujeres
(CEDAW), 2014, pg. 10.
142 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
634
635
636
637
638
639
Resposta ao questionrio da CIDH sobre Violncia contra Pessoas LGBTI nas Amricas, apresentada pelo
Estado do Equador, Nota 4-2-380/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de dezembro de
2013, pgs. 2 e 9.
Defensora del Pueblo do Equador, Aportes de la Defensora del Pueblo de Ecuador a la elaboracin de la
Lista de Cuestiones Previa a la presentacin del Sexto Informe Peridico de Ecuador al Comit de Derechos
Humanos, 28 de janeiro de 2014, pg. 4.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/13, CIDH expressa preocupao com a violncia e discriminao
contra pessoas LGTBI, e particularmente pessoas jovens, nas Amricas, 15 de agosto de 2013.
CIDH, Audincia sobre discriminao em funo do gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133
perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2008. Vdeo e udio no disponveis.
CIDH, Audincia sobre discriminao em funo do gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133
perodo ordinrio de sesses, 23 de outubro de 2008. Vdeo e udio no disponveis.
Fundacin de Desarrollo Integral Causana, Clnicas de Deshomosexualizacin: Delito Comn o Violencia
Estructural?, 20 de fevereiro de 2014, pg. 5.
Informao apresentada CIDH pelo Taller de Comunicacin Mujer, em 10 de maio de 2011, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 24 de maio de 2011, pg. 3.
641
642
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644
645
646
Informao apresentada CIDH pelo Taller de Comunicacin Mujer, em 10 de maio de 2011, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 24 de maio de 2011, pg. 3.
Asociacin Silueta X, Acceso a la Justicia y Derechos Humanos de los TILGB en Ecuador 2010-2013. Informe
Complementario: Resultados del sondeo a medios de comunicacin, Fiscala, Comisara y Defensora del
Pueblo, novembro de 2013, pg. 10.
Fundacin Regional de Asesora en Derechos Humanos INREDH, Anlisis del Habeas Corpus: caso de
privacin de la libertad en clnicas o centros teraputicos de deshomosexualizacin, pg. 2; Fundacin
Ecuatoriana Equidad, Informe sobre la situacin de los derechos humanos de las poblaciones LGBTI
(Ecuador), 2013, pg. 40.
Asociacin Silueta X, Acceso a la Justicia y Derechos Humanos de los TILGB en Ecuador 2010-2013, novembro
de 2013, pg. 86.
Taller de Comunicacin Mujer, Violencia y Discriminacin contra mujeres lesbianas en el Ecuador: Informe
Sombra para la Convencin sobre la Eliminacin de Todas las Formas de Discriminacin hacia Mujeres
(CEDAW), 2014, pg. 8.
Fundacin Ecuatoriana Equidad, Informe sobre la situacin de los derechos humanos de las poblaciones
LGBTI (Ecuador), 2013, pg. 43; Jornal El Universo, Comisaria implicada en un centro ilegal de
rehabilitacin, 20 de julho de 2013; Jornal Diario la Hora, Clnica de caso Zulema es de una funcionaria de
Salud, dice ministra Vance, 19 de julho de 2013; Jornal Diario El Telgrafo, En 2012 el MSP registr 123
centros de rehabilitacin legales en Ecuador, 19 de julho 2013.
Taller de Comunicacin Mujer, Violencia y Discriminacin contra mujeres lesbianas en el Ecuador: Informe
Sombra para el Comit sobre la Eliminacin de Todas las Formas de Discriminacin hacia Mujeres (CEDAW),
2014, pg. 9.
144 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
H.
648
649
650
requisitos que deve ter qualquer restrio a este direito, como ocorre no caso da
Conveno Americana, a Comisso historicamente interpretou o alcance das
obrigaes que impe a Declarao Americana no contexto mais amplo do sistema
internacional e interamericano de direitos humanos desde que esse instrumento
foi adotado, e levando em considerao outras normas de direito internacional
aplicveis aos Estados Membros. 651
215. Durante os ltimos anos, vrios pases do continente americano levaram adiante
iniciativas legais para promover a igualdade, sancionar a discriminao e proibir o
discurso de dio. Apesar disso, a CIDH tem conhecimento de que em muitos
casos, estas legislaes no satisfazem o princpio de legalidade. A ambiguidade
das definies contidas nelas pode resultar em interpretaes que comprometem o
efetivo exerccio da liberdade de expresso sobre assuntos de interesse pblico.
Em razo disso, mais necessrio assegurar que as medidas adotadas para
combater a intolerncia e responder ao discurso de dio contra pessoas LGBTI
estejam inseridas numa poltica orientada a promover o exerccio sem
discriminao do direito liberdade de expresso de todas as pessoas.
216. Para desenvolver estas ideias, esta seo estabelece uma viso geral do marco
jurdico interamericano relativo ao discurso de dio e incitao violncia.
Tambm identifica e analisa as diferentes medidas no jurdicas e boas prticas
que podem contribuir para a preveno e a resposta ao discurso de dio. Isto tudo
a fim de estabelecer as bases para uma melhor compreenso do alcance bsico do
discurso de dio e permitir a elaborao e implementao de respostas efetivas.
Apesar deste relatrio estar enfocado principalmente nas obrigaes estatais,
nesta seo tambm se examina o papel importante dos meios de comunicao na
implementao das distintas estratgias para prevenir e combater o discurso de
dio.
1.
217. De acordo com a Conveno Americana, todos os seres humanos podem gozar e
exercer todos os direitos em condies de igualdade, sem discriminao alguma
por motivo de raa, cor, sexo, idioma, religio, opinies polticas ou de qualquer
outra natureza, origem nacional ou social, posio econmica, nascimento ou
qualquer outra condio social. Conforme determinou a Corte Interamericana,
dentro da proibio de discriminao por orientao sexual devem estar includas,
como direitos protegidos, as condutas no exerccio da homossexualidade. 652 A
Comisso e a Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso consideram que
esta lgica tambm deve ser aplicada expresso da identidade de gnero de uma
pessoa. A Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso da CIDH observou que
o artigo 13 da Conveno Americana compreende o direito das pessoas de
expressar sua orientao sexual e identidade de gnero, e que este tipo de
651
652
CIDH, Relatrio No. 80/11, Caso 12.626, Mrito, Jessica Lenahan (Gonzales) e outras. Estados Unidos. 21 de
julho de 2011, para. 118.
Corte IDH. Caso Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro de
2012, Srie C No. 239, para. 139.
146 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
219. O direito liberdade de expresso tambm fundamental para assistir aos grupos
vulnerveis no restabelecimento do equilbrio de poder entre os componentes da
sociedade. 658 Alm disso, este direito til para fomentar a compreenso e a
tolerncia entre as culturas, favorecer a desconstruo de esteretipos, facilitar a
livre troca de ideias e oferecer opinies alternativas e pontos de vista distintos. 659
A desigualdade provoca a excluso de determinadas vozes do processo
653
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657
658
659
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, paras. 54-57; Corte IDH. Caso Lpez-lvarez Vs. Honduras. Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 1 de fevereiro de 2006. Srie C No. 141, para. 169.
Organizao das Naes Unidas. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a
promoo e proteo do direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012,
para. 3; Comit das Naes Unidas para a Eliminao da Discriminao Racial. Recomendao Geral No. 35,
A Luta contra o Discurso de dio. CERD/C/GC/35. 26 de setembro de 2013, para. 45.
Artiigo XIX. Los Principios de Camden sobre la Libertad de Expresin y la Igualdad. Abril de 2009.
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, paras. 1-4; Corte IDH. A Associao Obrigatria de Jornalistas (Artigos 13 e 29 da
Conveno Americana sobre Direitos Humanos). Opinio Consultiva OC-5/85 de 13 de novembro de 1985.
Srie A No. 5, para. 50; CIDH, Relatrio Anual 1994. OEA/Ser.L/V.88. Doc. 9 rev. 1. 17 de fevereiro de 1995.
Captulo V.
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, paras. 6-10; Corte IDH. A Associao Obrigatria de Jornalistas (Artigos 13 e 29 da
Conveno Americana sobre Direitos Humanos). Opinio Consultiva OC-5/85 de 13 de novembro de 1985.
Srie A No. 5, para. 70; Corte IDH. Caso Claude Reyes e outros Vs. Chile. Sentena de 19 de setembro de
2006. Srie C No. 151, para. 85; Corte IDH. Caso Herrera Ulloa Vs. Costa Rica. Sentena de 2 de julho de
2004. Srie C No. 107, para. 112; Corte IDH. Caso Ricardo Canese Vs. Paraguai. Sentena de 31 de agosto de
2004. Srie C No. 111, para. 82; Corte IDH. Caso Ros e outros Vs. Venezuela. Excees Preliminares, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 28 de janeiro de 2009. Srie C No. 194, para. 105; Corte IDH. Caso Perozo
e outros Vs. Venezuela. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 28 de janeiro de
2009. Srie C No. 195, para. 116.
Comit das Naes Unidas para a Eliminao da Discriminao Racial. Recomendao Geral No. 35, A Luta
contra o Discurso de dio. CERD/C/GC/35. 26 de setembro de 2013, paras. 39 a 42.
Comit das Naes Unidas para a Eliminao da Discriminao Racial. Recomendao Geral No. 35, A Luta
contra o Discurso de dio. CERD/C/GC/35. 26 de setembro de 2013, paras. 39 a 42.
660
661
662
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, para. 36.
Artigo XIX. Los Principios de Camden sobre la Libertad de Expresin y la Igualdad. Abril de 2009, sobre
afirmao introdutria.
International Gay and Lesbian Human Rights Commission (IGLHRC) e United and Strong, em colaborao
com Groundation Grenada, Guyana Rainbow Foundation, J-FLAG, e United Belize Advocacy Movement,
Homophobia and Transphobia in Caribbean Media: A Baseline Study in Belize, Grenada, Guyana, Jamaica,
and Saint Lucia, 2015, pg. 1.
148 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
2.
223. Em seu relatrio, a UNESCO adverte que, apesar disso, o discurso de dio no pode
incluir ideias amplas e abstratas, tais como as vises e ideologias polticas, a f ou
as crenas pessoais. Tambm no se trata de mero insulto, injria ou provocao
sobre uma pessoa. Desta forma, o discurso de dio pode ser facilmente manipulado
para incluir expresses que possam ser consideradas ofensivas por outras pessoas,
especialmente aqueles que detm o poder, o que resulta na indevida aplicao da
lei e restringe as expresses crticas e dissidentes. Adicionalmente, o discurso de
dio deve ser distinguido dos crimes de dio que se traduzem em condutas
explcitas, como as ameaas e a violncia sexual, as quais esto excludas de
qualquer proteo do direito liberdade de expresso.
224. A falta de definio clara sobre o que constitui discurso de dio tambm pode ser
observada nas legislaes nacionais. Sobre o assunto, o Relator Especial da ONU
sobre a promoo e proteo do direito liberdade de opinio e de expresso
expressou sua preocupao pela existncia e utilizao de leis nacionais
imperfeitas para supostamente combater a incitao ao dio, mas que na realidade
so usadas para reprimir vozes crticas ou dissidentes. 664 Estas leis apresentam
disposies muito amplas e ambguas que probem a incitao ao dio e so usadas
abusivamente para censurar discusses de interesse pblico.
664
UNESCO. Countering Online Hate Speech, 2015, pgs. 10 -11. Disponvel somente em ingls (traduo lvbre
de la CIDH).
ONU. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do
direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, para. 42.
por motivos como a raa, cor, religio, idioma ou origem nacional, dentre outros
(artigo 13.5 da Conveno Americana).
226. Em outros casos, ainda que o marco normativo interamericano permita aos
Estados limitar com medidas jurdicas o direito liberdade de expresso, sempre
que estritamente cumpridos os requisitos de legalidade, necessidade e
proporcionalidade (artigo 13.2 da Conveno Americana), a CIDH considera
necessrio enfatizar que a censura do debate sobre assuntos controvertidos no
influenciar as desigualdades estruturais e o preconceito dominante que afeta as
pessoas LGBTI no continente americano. Pelo contrrio, como regra geral, ao invs
de restringir, os Estados devem criar mecanismos preventivos e educativos, e
promover debates mais abrangentes e profundos, como uma medida para
desvendar e combater os esteretipos negativos.
3.
227. Em princpio, todas as formas de discurso esto protegidas pelo direito liberdade
de expresso, independente do seu contedo e do grau de aceitao do mesmo
pelo governo e pela sociedade. O Estado tem o dever fundamental de respeito da
neutralidade dos contedos e, em consequncia, deve garantir que nenhuma
pessoa, grupo, ideia ou forma de expresso sejam excludos a priori do debate
665
especialmente importante a regra segundo a qual a liberdade de
pblico.
expresso deve garantir no apenas a difuso de ideias e informaes recebidas
favoravelmente ou consideradas inofensivas ou indiferentes, mas tambm aquelas
que ofendem, chocam, inquietam ou so ingratas aos funcionrios pblicos ou a um
setor da populao. Estas so as exigncias do pluralismo, da tolerncia e do
esprito de abertura que devem existir numa sociedade verdadeiramente
666
democrtica.
666
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, para. 36.
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, para. 31; Corte IDH. Caso Herrera Ulloa Vs. Costa Rica. Sentena de 2 de julho de 2004.
Srie C No. 107, para. 113; Corte IDH. Caso de La ltima Tentacin de Cristo (Olmedo Bustos e outros) Vs.
Chile. Sentena de 5 de fevereiro de 2001. Srie C No. 73, para. 69; Corte IDH. Caso Ros e outros Vs.
Venezuela. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 28 de janeiro de 2009. Srie C
No. 194, para. 105; Corte IDH. Caso Perozo e outros Vs. Venezuela. Excees Preliminares, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 28 de janeiro de 2009. Srie C No. 195, para. 116; CIDH. Relatrio Anual
1994. Captulo V. Ttulo III. OEA/Ser. L/V/II.88. doc. 9 rev., 17 de fevereiro de 1995.
150 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
Estas restries devem ter natureza excepcional e, para ser admissveis devem
cumprir com trs condies bsicas estabelecidas no artigo 13.2 da Conveno
Americana: (a) devem ser expressamente fixadas por leis redigidas de forma clara
e precisa; (b) devem ser necessrias para assegurar os objetivos imperativos
autorizados pela Conveno Americana; e (c) devem ser necessrias numa
sociedade democrtica para alcanar o objetivo perseguido, estritamente
proporcionais finalidade buscada, e idneas para alcanar esse objetivo.
229. Adicionalmente, o artigo 13.5 da Conveno Americana estabelece que a lei deve
proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao dio
nacional, racial ou religioso que constitua incitao discriminao, hostilidade,
ao crime ou violncia. A CIDH e sua Relatoria Especial para a Liberdade de
Expresso consideram que, luz dos princpios gerais da interpretao dos
tratados, a apologia ao dio contra as pessoas por motivo de sua orientao
sexual, identidade de gnero ou diversidade corporal, que constitua incitao
violncia ou a qualquer outra outra ao ilegal similar pode ser entendido como
includo nesta disposio e, portanto, contrria Conveno Americana. 667
230.
667
668
669
671
672
673
674
Comit das Naes Unidas para a Eliminao da Discriminao Racial. Recomendao Geral No. 35, A Luta
contra o Discurso de dio. CERD/C/GC/35. 26 de setembro de 2013, paras. 20 e 25; ONU. Assembleia Geral.
Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do direito liberdade de
opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, prr. 32; Plano de Ao de Rabat sobre a
proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua incitao discriminao,
hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012, para. 11.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio da Relatora Especial sobre assuntos das minorias, Rita Izsk,
A/HRC/28/64, 5 de janeiro de 2015, para. 54.
Em 2011 e 2012, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos realizou quatro oficinas com
especialistas regionais sobre a relao entre liberdade de expresso e discurso de dio. O objetivo era
realizar uma avaliao exaustiva da aplicao da legislao, jurisprudncia e polticas pblicas sobre a
apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua incitao discriminao, hostilidade ou violncia
em mbito nacional e regional, fomentando tambm o pleno respeito pela liberdade de expresso protegida
pelo direito internacional dos direitos humanos. O resultado das oficinas foi o Plano de Ao de Rabat
sobre a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso, um documento com uma srie de
recomendaes para os Estados, rgos da ONU e outras partes interessadas sobre a aplicao da proibio
da incitao discriminao, hostilidade ou violncia consagrada no artigo 20 do PIDCP. O Plano de Ao de
Rabat foi posteriormente apoiado e adotado por outros organismos internacionais no cumprimento de seus
mandatos.
Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua
incitao discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012, paras. 20 e 22; Comit das Naes
Unidas para a Eliminao da Discriminao Racial. Recomendao Geral No. 35, A Luta contra o Discurso de
dio. CERD/C/GC/35. 26 de setembro de 2013, para. 12.
Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua
incitao discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012, paras. 14, 19.
152 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
234. A CIDH e sua Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso consideram que
especialmente importante que os Estados adotem aes para garantir o exerccio
do direito liberdade de expresso das pessoas LGBTI e que empoderem as
pessoas afetadas e invisibilizadas pelo discurso de dio. Como observou a
Relatoria Especial da CIDH, faz-se necessrio refutar, no silenciar, o discurso que
ofende pela intrnseca falsidade dos seus contedos racistas e discriminatrios:
aqueles que promovem essas vises necessitam ser persuadidos sobre o seu erro
no debate pblico. Diante da desigualdade das opinies, no h melhor resposta
que a justia dos argumentos, e isso requer mais e melhor discurso, no menos.. 675
De qualquer forma, para que o debate vigoroso seja possvel, necessrio garantir
maior e melhor diversidade e pluralismo no acesso aos meios de comunicao. 676
675
676
CIDH. Relatrio Anual 2010. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Avaliao sobre o estado da liberdade de expresso no continente). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 5. 4 de maro de
2011, para. 50.
CIDH. Relatrio Anual 2010. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Avaliao sobre o estado da liberdade de expresso no continente). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 5. 4 de maro de
2011, para. 50; CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de
Expresso. Captulo II (Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso).
OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de dezembro de 2009, paras. 24-37. CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual
da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II (Marco Jurdico Interamericano sobre o
Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de dezembro de 2009, para. 100.
678
679
680
681
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, para. 59.
Ver, por exemplo: Comit das Naes Unidas para a Eliminao da Discriminao Racial. Recomendao
Geral No. 35, A Luta contra o Discurso de dio. CERD/C/GC/35. 26 de setembro de 2013, paras. 15 e 16;
ONU. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do
direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, para. 45; Artigo XIX.
Respondiendo al Discurso de Odio contra las Personas LGBTI. Outubro de 2013, pg. 27.
O contexto tem vital importncia na hora de avaliar se uma afirmao especfica poderia incitar
discriminao, hostilidade ou violncia contra um determinado grupo, e pode incidir diretamente tanto na
inteno como na causalidade. Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da apologia ao dio nacional,
racial ou religioso que constitua incitao discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012,
para. 22.
A negligncia e a imprudncia no so suficientes para uma situao de artigo 20, a qual exige apologia e
incitao, ao invs de mera distribuio ou circulao. Nesse sentido, necessrio ativar uma relao
triangular entre o objeto e o sujeito do discurso, assim como o pblico-alvo. Plano de Ao de Rabat sobre
a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua incitao discriminao,
hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012, para. 22.
Outros elementos incluem: se o discurso pblico, quais os seus meios de difuso, levando em conta se o
discurso foi disseminado atravs de um nico panfleto ou atravs da difuso em meios de comunicao ou
Internet, com que frequncia, a quantidade e o alcance dessas comunicaes, se o pblico-alvo teve
condies de agir em resposta incitao, se a declarao (ou obra de arte) foi distribuda em ambiente
154 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
uma probabilidade razovel de que o discurso consiga incitar uma ao real contra
o grupo ao qual se dirige, reconhecendo que essa relao deva ser direta. 682
682
683
684
restrito ou amplamente acessvel para o pblico em geral. Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da
apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua incitao discriminao, hostilidade ou
violncia. 5 de outubro de 2012, para. 22.
"A incitao, por definio, um crime incipiente. A ao que se defende atravs do discurso de incitao
no precisa ser cometida para que este discurso constitua um crime. No entanto, necessrio identificar um
certo grau de risco de que possa ocorrer um prejuzo. Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da apologia
ao dio nacional, racial ou religioso que constitua incitao discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de
outubro de 2012, para. 22.
CIDH. Relatrio Anual 2010. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Avaliao sobre o estado da liberdade de expresso no continente). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 5. 4 de maro de
2011, para. 51; Corte IDH. A Associao Obrigatria de Jornalistas (Artigos 13 e 29 da Conveno Americana
sobre Direitos Humanos). Opinio Consultiva OC-5/85 de 13 de novembro de 1985. Srie A No. 5, paras. 3940; Corte IDH. Caso Palamara Iribarne Vs. Chile. Sentena de 22 de novembro de 2005. Srie C No. 135, para.
79; Corte IDH. Caso Herrera Ulloa Vs. Costa Rica. Sentena de 2 de julho de 2004. Srie C No. 107, para. 120;
Corte IDH. Caso Tristn Donoso Vs. Panam . Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de
27 de janeiro de 2009. Srie C No. 193, para. 117; CIDH. Relatrio Anual 1994. Captulo V: Relatrio sobre a
Compatibilidade entre as Leis de Desacato e a Conveno Americana sobre Direitos Humanos. Ttulo IV.
OEA/Ser. L/V/II.88. doc. 9 rev. 17 de fevereiro de 1995; CIDH. Relatrio No. 11/96. Caso No. 11.230.
Francisco Martorell. Chile. 3 de maio de 1996, para. 55; CIDH. Alegaes perante a Corte Interamericana no
caso Ricardo Canese Vs. Paraguai. Transcritos em: Corte IDH. Caso Ricardo Canese Vs. Paraguai. Sentena de
31 de agosto de 2004. Srie C No. 111, para. 72. Tambm aplicvel ao tema a definio da Corte
Interamericana includa em sua Opinio Consultiva OC-6/86, que assevera que o termo leis no significa
qualquer norma jurdica, seno uma norma de carter geral promulgada pelo rgo legislativo estabelecido
constitucionalmente e eleito democraticamente, conforme os procedimentos previstos na Constituio, e
encaminhada ao bem-estar geral.
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de
dezembro de 2009, para. 62 e seguintes.
delimitem claramente as condutas punveis, o que por sua vez implica uma clara
definio da conduta incriminada, a definio de seus elementos e a delimitao de
comportamentos no punveis ou condutas ilcitas sancionveis com medidas no
penais. 685
240. A CIDH e sua Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso consideram que
organismos independentes de vigilncia podem desempenhar um papel
importante na identificao e denncia de contedos de dio, assim como na
promoo da aplicao dos mais altos parmetros ticos. No entanto, ao faz-lo,
devem aderir aos parmetros internacionais de direitos humanos. Exemplos de
recursos administrativos no punitivos implementados por organismos de
vigilncia podem encontrar-se nas recentes medidas adotadas pela Ouvidoria de
Servios de Comunicao Audiovisual da Argentina, a fim de promover o direito
igualdade e no discriminao na programao de servios audiovisuais. 688 Por
exemplo, em dezembro de 2014 a Ouvidoria recomendou a uma estao de rdio
que adotasse um cdigo de tica ou manual de estilo que inclusse diretrizes sobre
o princpio de no discriminao de forma a demonstrar o progresso alcanado
pela legislao nacional Tambm determinou ao Departamento Legal que
elaborasse e depois distribusse um manual sobre a abordagem jornalstica
685
686
687
688
Corte IDH. Caso Usn Ramrez Vs. Venezuela. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de
20 de novembro de 2009. Srie C No. 207, para. 55; CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria
Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II (Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito
Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de dezembro de 2009, para. 73.
Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua
incitao discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012, pg. 14.
Artigo XIX. Los Principios de Camden sobre la Libertad de Expresin y la Igualdad. Abril de 2009.
Segundo o artigo 3.m da Lei 26.552, que regulamenta os Servios de Comunicao Audiovisual, estes
servios devem promover a proteo e a salvaguarda da igualdade entre homens e mulheres, e o
tratamento plural, igualitrio e no estereotipado, evitando toda discriminao por gnero ou orientao
sexual. Congresso da Nao Argentina. Ley 26.522. Servicios de Comunicacin Audiovisual. 10 de outubro de
2009.
156 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
4.
691
693
694
695
696
Corte IDH. Caso Apitz Barbera e outros (Corte Primera de lo Contencioso Administrativo) Vs. Venezuela.
Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 5 de agosto de 2008. Srie C No. 182, para.
131. Ver tambm (relacionado): CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a
Liberdade de Expresso. Captulo II (Marco Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de
Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de dezembro de 2009, para. 204; Corte IDH. Caso Ros e outros Vs.
Venezuela. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 28 de janeiro de 2009. Srie C
No. 194. para. 139; Corte IDH. Caso Perozo e outros Vs. Venezuela. Excees Preliminares, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 28 de janeiro de 2009. Srie C No. 195, para. 151; CIDH, Relatrio Anual
2013. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II (avaliao sobre o estado da
liberdade de expresso no continente), OEA /Ser.L/V/II.149 Doc. 50. 31 de dezembro de 2013, para. 44.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 37/13. CIDH chama os Estados Membros a garantir o respeito por
parte de funcionrios estatais aos direitos das pessoas LGTBI. 17 de maio de 2013.
FELGTB. La FELGTB denuncia la homofobia del presidente de la Comisin de Derechos Humanos de Brasil; 15
de abril de 2013; Jornal Tribuna da Bahia, Marco Feliciano pe o projeto sobre a "cura gay" para ser votado
na Cmara, 2 de maio de 2013.
Portal Dos Manzanas. Costa Rica: el presidente de la Comisin de Derechos Humanos avergenza a sus
compatriotas con sus declaraciones homfobas, 4 de maro de 2013; Portal El PeriodicoCR. Comentarios
homofbicos de diputado Orozco causan indignacin en las redes sociales, 22 de fevereiro de 2013.
Jornal El Espectador. Edil de Bogot, en los por posible discriminacin, 2 de maio de 2013.
158 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
245. Adicionalmente, a Comisso chama ateno das autoridades para que no apenas
se abstenham de difundir mensagens de dio contra as pessoas LGBT, mas tambm
contribuam de maneira contundente para a construo de um clima de tolerncia e
respeito, no qual todas as pessoas, inclusive as pessoas LGBTI e aqueles que
defendem seus direitos, possam expressar seus pensamentos e opinies sem medo
de ser atacadas, sancionadas, ou estigmatizadas por isso. 699
698
699
700
701
702
703
Colombia Diversa, Todos los Derechos, Pocos los Deberes, Situacin de Derechos Humanos de Lesbianas,
Gay, Bisexuales y Transgeneristas en Colombia 2008-2009, pg. 11; citando ORDOEZ, Maldonado
Alejandro, Ideologa de Gnero: Utopa Trgica o Subversin Cultural. 2006, pgs. 108 y 153. Informao
fornecida por organizaes da sociedade civil, CIDH, Audincia Pblica Situao de Defensores de Direitos
Reprodutivos na Colmbia, 147 perodo ordinrio de sesses, 14 de maro de 2013, vdeo disponvel em
www.cidh.org.
Portal Noticias24, Pedro Carreo a Capriles: Acepta el reto, mari (vdeo), 13 de agosto de 2013.
Comunicado para a Imprensa No. 37/13. CIDH chama os Estados Membros a garantir o respeito por parte
de funcionrios estatais aos direitos das pessoas LGTBI. 17 de maio de 2013.
ONU. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do
direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, para. 67.
ONU. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do
direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, para. 64.
Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua
incitao discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012, para. 24.
Comit das Naes Unidas para a Eliminao da Discriminao Racial. Recomendao Geral No. 35, A Luta
contra o Discurso de dio. CERD/C/GC/35. 26 de setembro de 2013, paras. 37 e 38.
5.
248. A CIDH e a Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso ressaltam que, para
combater efetivamente o discurso de dio, necessria uma abordagem
compreensiva e permanente que ultrapasse as medidas jurdicas e inclua a adoo
704
de mecanismos preventivos e educativos. Como observado pela Relatoria
Especial para a Liberdade de Expresso, este tipo de medidas evidencia a raiz
cultural da discriminao sitemtiva, e assim, pode ser um instrumento valioso
para identificar e refutar o discurso de dio e alentar o desenvolvimento de uma
705
sociedade baseada nos princpios de diversidade, pluralismo e tolerncia.
705
706
707
Plano de Ao de Rabat sobre a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua
incitao discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012, para. 11; ONU. Assembleia Geral.
Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do direito liberdade de
opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, para. 33.
CIDH. Relatrio Anual 2010. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Avaliao sobre o estado da liberdade de expresso no continente). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 5. 4 de maro de
2011, para. 48.
CIDH. Relatrio Anual 2013. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo IV
(Liberdade de Expresso e Internet). OEA/Ser.L/V/II.149. Doc. 50. 31 de dezembro de 2013, para. 48.
INADI. Plataforma por una Internet Libre de Discriminacin.
160 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
251. Uma poltica preventiva deve incluir a coleta e anlise de dados estatsticos e
informao sobre o discurso de dio. Na maioria dos pases da regio no so
recolhidos nem analisados dados. A coleta e anlise de dados podem ter, dentre
outros, o objetivo de avaliar as distintas formas de discurso de dio, de
perpetradores, das circunstncias pelas quais se manifesta e do pblico alvo.
Outras reas de avaliao podem incluir o impacto das leis existentes sobre o
discurso de dio e sua compatibilidade com a normativa internacional, assim como
os efeitos de discurso contrrio ou narrativa contrria [counter-speech/counternarrative techniques]. 709
252. Outra medida importante consiste na promoo de polticas pblicas proativas
para a incluso social nos meios de comunicao para garantir que as pessoas e a
comunidade LGBTI possam concretizar seu direito liberdade de expresso sem
discriminao. 710 O Relator Especial da ONU sobre a promoo e proteo do
direito liberdade de opinio e expresso ressaltou a necessidade de corrigir a
censura indireta, a desproteo e a alienao que sentem muitas pessoas e grupos,
especialmente aqueles que geralmente so vtimas de graves situaes de
perseguio e intimidao por atores estatais e no estatais. 711 Alm disso,
afirmou que isso resulta na criao, explcita ou implicitamente, da iluso de que s
aqueles que possuem a autoridade necessria podem falar sobre determinados
assuntos, o que provoca uma cultura de medo que inibe o debate pblico e viola
diretamente o direito liberdade de opinio e de expresso. Neste sentido, os
governos devem adotar medidas proativas para facilitar que as pessoas
sistematicamente atingidas por expresses de dio possam responder. 712
708
709
710
711
712
253. Um exemplo de boa prtica o fortalecimento das obrigaes dos meios pblicos
para atender as necessidades de informao e expresso das pessoas LGBT, assim
como para promover conscincia sobre esses assuntos. Outro exemplo a reserva
de segmentos do espectro radioeltrico para meios comunitrios operados por
grupos LGBTI, alm da criao de procedimentos especiais para assessorar estes
setores na obteno de licenas de rdio. Tambm devem ser feitos esforos para
apoiar, seja atravs de financiamento ou de regulamentao, os meios ou o
contedo comunicativo que atenda as necessidades de informao e expresso de
pessoas LGBTI. Estes so exemplos de criao de igualdade de oportunidades e
igualdade real no exerccio da liberdade de expresso. 713
254. Faz-se mister enfatizar o papel dos meios na veiculao de informao, ideias e
opinies. Este papel fundamental para a elaborao de narrativas que valorizem
a diversidade e condenem a discriminao arbitrria. 714 Assim sendo, a CIDH
expressou sua preocupao sobre o uso de linguagem discriminatria e de
esteretipos nocivos e prejudiciais pelos meios de comunicao, que ignora a
humanidade ou a dignidade das pessoas LGBTI. 715 A Relatoria Especial para a
Liberdade de Expresso expressou sua preocupao sobre a promoo, pelos
meios de comunicao, de contedo claramente discriminatrio que poderia
incitar a violncia contra as pessoas LGBTI, especialmente quando estas
mensagens so oriundas daqueles que influenciam a opinio pblica. 716
255. A CIDH parabeniza uma recente investigao realizada por vrias organizaes da
sociedade civil, que focalizou no monitoramento dos meios de comunicao em
cinco pases da regio (Belize, Granada, Guiana, Jamaica e Santa Lcia). Segundo
esta pesquisa, muitos meios de comunicao reforam os esteretipos negativos
que podem resultar na violncia contra pessoas LGBTI e, em geral, criam uma
imagem desequilibrada, imprecisa e muito pouco agradvel das pessoas LGBTI.
713
714
715
716
CIDH. Relatrio Anual 2009. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo VI
(Liberdade de Expresso e Radiodifuso), OEA/Ser.L/V/II. Doc.51. 30 de dezembro de 2009, paras. 37, 96 e
seguintes. CIDH. CIDH. Relatrio Anual 2012. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso.
Captulo II (Avaliao sobre o estado da liberdade de expresso no continente). OEA/Ser.L/V/II.147. Doc. 1, 5
de maro de 2013, para. 155.
CIDH. Relatrio Anual 2010. Relatrio da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II
(Avaliao sobre o estado da liberdade de expresso no continente). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 5. 4 de maro de
2011, para. 46.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH, Relatrio Anual 2014: Captulo V: Relatrio de Seguimento sobre a Situao de Direitos Humanos na
Jamaica, 7 de maio de 2015, para. 183; CIDH. Relatrio Anual 2012. Relatrio da Relatoria Especial para a
Liberdade de Expresso. Captulo II (Avaliao sobre o estado da liberdade de expresso no continente)
OEA/Ser.L/V/II.147. Doc. 1, 5 de maro de 2013, para. 351; CIDH. Relatrio Anual 2013. Relatrio Anual da
Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II (Avaliao sobre o estado da liberdade de
expresso no continente) OEA /Ser.L/V/II.149 Doc. 50, 31 de dezembro de 201, paras. 560-563; CIDH.
Relatrio Anual 2009. Relatrio Anual da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso. Captulo II (Marco
Jurdico Interamericano sobre o Direito Liberdade de Expresso). OEA/Ser.L/V/II. Doc. 51. 30 de dezembro
de 2009, paras. 58-59. No mesmo sentido, ver: ONU. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das
Naes Unidas sobre a promoo e proteo do direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7
de setembro de 2012, para. 43.
162 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
256. No mesmo sentido, a CIDH expressou sua preocupao pela publicao sistemtica
de artigos nos meios de comunicao com mensagens que poderiam fomentar o
dio e a violncia contra pessoas LGBTI em 2013 e 2014 na Jamaica. 719 Por
exemplo, a CIDH observou720 que em 23 de maro de 2014, o jornal Jamaica
Observer teria publicado uma caricatura aludindo a uma invaso de homossexuais
na Jamaica [homos over run Jamaica], que supostamente seria comparvel ao
aumento da delinquncia e da corrupo governamental. 721 Em 01 de julho de
2014, foi publicado um artigo com o ttulo igrejas locais prometem prevenir que a
homossexualidade domine a sociedade [Local churches vow to prevent
homosexuality from dominating society], cujo contedo tinha frases como a
comunidade da igreja local prometeu no ficar de braos cruzados e permitir que o
estilo de vida homossexual se infiltre na sociedade jamaicana722 [The local church
community is vowing never to sit idly by and allow homosexual lifestyles to infiltrate
the Jamaican society]. Em 13 de julho de 2014, esse jornal publicou o artigo
intitulado polcia caa suspeito de homicdio gay [Police hunt gay murder
suspect], que continha frases como os homens que geralmente se vestem de drag e
fingem ser prostitutas, vivem vidas arnomais e, conforme a polcia, representam
uma sria ameaa para o ambiente de New Kingston [The men who often dress in
drag and pose as prostitutes, live subnormal lives and according to the police, pose a
serious threat to the New Kingston environment], e a polcia diz que eles tm fortes
indcios de que mais de 90% dos roubos so perpetrados por pessoas consideradas
membros da comunidade gay723 [Police say that they have strong evidence that
more than 90 per cent of the robberies were perpetrated by persons purported to be
members of the gay community]. Em 16 de julho de 2014, o mesmo jornal publicou
717
718
719
720
721
722
723
IGLHRC e United and Strong, em colaborao com Groundation Grenada, Guyana Rainbow Foundation, JFLAG, e United Belize Advocacy Movement, Homophobia and Transphobia in Caribbean Media: A Baseline
Study in Belize, Grenada, Guyana, Jamaica, and Saint Lucia, , 2015, pg. 1.
IGLHRC e United and Strong, em colaborao com Groundation Grenada, Guyana Rainbow Foundation, JFLAG, e United Belize Advocacy Movement, Homophobia and Transphobia in Caribbean Media: A Baseline
Study in Belize, Grenada, Guyana, Jamaica, and Saint Lucia, , 2015, pg. 2.
CIDH. Relatrio Anual 2014: Captulo V: Relatrio de Seguimento sobre a Situao de Direitos Humanos na
Jamaica, 7 de maio de 2015, para. 236.
CIDH. Relatrio Anual 2014: Captulo V: Relatrio de Seguimento sobre a Situao de Direitos Humanos na
Jamaica, 7 de maio de 2015, para. 657.
Maurice Tomlinson, Ms material anti-gay del Jamaica Observer, correio eletrnico enviado CIDH em 23
de maro de 2013. Disponvel nos arquivos da Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso.
Jornal Jamaica Observer. Local churches vow to prevent homosexuality from dominating society, 1 de julho
de 2014.
Jornal Jamaica Observer. Police hunt gay murder suspect, 13 de julho de 2014.
257. Em 2014, ao dar seguimento a seu relatrio de 2012 sobre a situao de direitos
humanos na Jamaica, 725 a CIDH observou que durante a audincia Seguimento ao
Relatrio da Comisso sobre a Situao dos Direitos Humanos na Jamaica,
realizada em 28 de outubro de 2014, a Comisso Interamericana e sua Relatoria
Especial para a Liberdade de Expresso receberam informao sobre a constante
estigmatizao e os discursos de dio reproduzidos pelos meios de comunicao
sobre a comunidade LGBTI. De acordo com as organizaes da sociedade civil, as
autoridades estatais da Jamaica no fomentam vises positivas para reduzir a
discriminao e o estigma contra pessoas LGBTI. O Estado informou que o governo
est consciente do debate existente na Jamaica sobre os direitos das pessoas LGBTI
e vem fazendo esforos para garantir o direito igualdade destas pessoas. A
respeito dos debates pblicos sobre o tema, o Estado indicou que adota a postura
de que estes assuntos esto amparados pelo direito liberdade de expresso no
contexto de meios privados e independentes, e o Estado somente intervem no
mbito de instituies que esto sob controle do governo. 726 A Relatoria Especial
da CIDH adverteu que este tipo de afirmaes discriminatrias pode
potencialmente causar violncia, dependendo do contexto em que so
difundidas.727
726
727
Jornal Jamaica Observer. Homosexuality: the long, painful search for workable rules of engagement, 16 de
julho de 2014.
CIDH, Relatrio Anual 2014: Captulo V: Relatrio de Seguimento sobre a Situao de Direitos Humanos na
Jamaica, 7 de maio de 2015, para. 237.
CIDH, Audincia de seguimento ao relatrio da Comisso sobre a situao de direitos humanos na Jamaica,
153 perodo ordinrio de sesses. 28 de outubro de 2014.
No contexto da Jamaica, h vrios registros de ataques motivados pela orientao sexual ou identidade de
gnero das vtimas. Um exemplo foi o caso de Dwayne Jones em 22 de julho de 2013. Ver IFEX/Human
Rights Watch, Cross-dressing teenager murdered in Jamaica, 1 de agosto de 2013; Jornal Huffington
Post/AP, Dwayne Jones, Jamaican Transgender Teen, Murdered By Mob: Report, 11 de agosto de 2013;
CIDH, Relatrio Anual 2014: Captulo V: Relatrio de Seguimento sobre a Situao de Direitos Humanos na
Jamaica, 7 de maio de 2015, para. 237.
164 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
728
729
730
731
732
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014. Ver tambm: Plano de Ao
de Rabat sobre a proibio da apologia ao dio nacional, racial ou religioso que constitua incitao
discriminao, hostilidade ou violncia. 5 de outubro de 2012. Recomendaes a outros atores.
ONU. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do
direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, para. 74.
ONU. Assembleia Geral. Relatrio do Relator Especial das Naes Unidas sobre a promoo e proteo do
direito liberdade de opinio e de expresso. A/67/357. 7 de setembro de 2012, para. 74.
Relator Especial de las Naciones Unidas para la Libertad de Opinin y de Expresin; Representante para la
Libertad de los Medios de Relator Especial da ONU para a Liberdade de Opinio e de Expresso;
Representante para a Liberdade dos Meios de Comunicao da Organizao para a Segurana e a
Cooperao na Europa (OSCE); Relatora Especial da OEA para a Liberdade de Expresso; e Relatora Especial
sobre Liberdade de Expresso e Acesso Informao da Comisso Africana de Direitos Humanos e dos
Povos. Declarao Conjunta sobre Universalidade e o Direito Liberdade de Expresso. 6 de maio de 2014.
Princpios de Yogyakarta sobre a aplicao da legislao internacional de direitos humanos em relao com a
orientao sexual e a identidade de gnero. Recomendaes adicionais, pg. 36. Maro de 2007.
(inclusive se essa opinio injusta ou perturbadora), mas que essa pessoa tinha a
clara inteno de promover a violncia ilegal ou qualquer outra ao similar contra
pessoas LGBTI, assim como a capacidade de alcanar este objetivo e constituir um
risco verdadeiro de danos contra as pessoas que pertencem a estes grupos. Estes
elementos devem ser estabelecidos claramente nos sistemas jurdicos nacionais,
seja explicitamente na lei ou atravs de interpretao jurisprudencial. Em outras
palavras, as sanes penais devem ser encaradas como medidas de ltima
instncia que somente devem ser aplicadas em situaes estritamente justificadas,
conforme o artigo 13.5 da Conveno Americana. Tambm devem ser consideradas
sanes e recursos civis, alm do direito retificao e rplica.
CAPTULO 5
VIOLNCIA E INTERSEO
COM OUTROS GRUPOS
A.
Povos indgenas
263. A CIDH recebeu informao limitada sobre a situao dos direitos humanos das
pessoas indgenas com sexualidades diversas. A CIDH observa que estas pessoas
podem no se identificar com a sigla LGBT, e ao invs disso tenham outra
expresso de sexualidade diversa, por exemplo, a de Dois Espritos; ou talvez no
considerem seu gnero, orientao sexual ou identidade de gnero em termos que
possam ser adaptados ao conceito de pessoas LGBT como utilizado neste
733
Ver, por exemplo, Luke Boso, Urban Bias, Rural Sexual Minorities and Courts Role in Addressing
Discrimination UCLA L. Rev. 60 (2012): 562.
170 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
735
736
737
738
739
740
CIDH, Audincia pblica, Situao dos direitos humanos de indgenas lsbicas, gays, trans, bissexuais e
intersexo nas Amricas, 147 perodo ordinrio de sesses, 16 de maro de 2013. udio e vdeo disponveis
em www.cidh.org.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23A/13, Anexo ao Comunicado para a Imprensa emitido ao trmino
do 147 Perodo de Sesses, 5 de abril de 2013.
Fundacin Diversencia, Situacin de derechos humanos de las personas LGBTI y diversidades ancestrales en el
contexto de los pueblos Indgenas en Abya Yala, 2013, pg. 4.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23A/13, Anexo ao Comunicado para a Imprensa emitido ao trmino
do 147 Perodo de Sesses, 5 de abril de 2013.
National Aboriginal Health Organization, Suicide Prevention and Two Spirited People, 2012.
Conveno Americana sobre Direitos Humanos, 11 de noviembro de 1969, artigos 1(1) e 24; Declarao
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, 1948, artigo II.
CIDH, Relatrio No. 40/04, Caso 12.053, Comunidades Indgenas Mayas do Distrito de Toledo, Belize, 12 de
outubro de 2004, paras. 162-169; Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros Vs. Mxico, Exceo Preliminar,
741
742
743
Mrito, Reparaes e Custas, Sentena de 30 de agosto de 2010, para. 200; Corte IDH. Caso Rosendo Cant e
outra Vs. Mxico, Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas, Sentena de 31 de agosto de 2010,
paras. 169-170.
Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos, 16 de dezembro de 1966, artigos 2(1) e 3; Conveno sobre
a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao contra a Mulher, 1979, artigos 1, 2 e 3; Conveno
Internacional sobre a Eliminao de todas as Formas de Discriminao Racial, 4 de janeiro de 1965, artigos 1
e 2; OIT Convnio 169 sobre Povos Indgenas e Tribais, 1 de janeiro de 1989, artigos 3, 4 e 20; e Declarao
das Naes Unidas sobre os Direitos dos Povos Indgenas, 20 de junho de 2006, artigo 2.
CIDH, Mulheres indgenas desaparecidas e assassinadas em Columbia Britnica, Canad, OEA/Ser.L/V/II.,
Doc. 30/14, 21 de dezembro de 2014, para. 117; CIDH, Direitos dos povos indgenas e tribais sobre suas
terras ancestrais e recursos naturais, OEA/Ser.L/V/II., Doc. 56/09, 30 de dezembro de 2009, paras. 24-31, 37.
Corte IDH. Caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni Vs. Nicargua, Sentena de 31 de agosto de
2001, Srie C, No. 79, para. 148: () Os indgenas, pela sua prpria existncia, tm direito a viver livremente
em seus prprios territrios; a estreita relao que os indgenas mantm com a terra deve ser reconhecida e
compreendida como a base fundamental de suas culturas, sua vida espiritual, sua integridade e sua
sobrevivncia econmica. Para as comunidades indgenas, a relao com a terra no meramente uma
questo de posse e produo, mas sim um elemento material e espiritual de que devem gozar plenamente,
inclusive para preservar seu legado cultural e transmiti-lo s geraes futuras.
CIDH, Audincia pblica, Situao dos direitos humanos de indgenas lsbicas, gays, trans, bissexuais e
intersexo nas Amricas, 147 perodo ordinrio de sesses, 16 de maro de 2013. udio e vdeo disponveis
em www.cidh.org. Ver tambm, CIDH, relatrio anexo sobre a Situao de Direitos Humanos das Personas
LGBTI e Diversidades Ancestrais no contexto dos Povos Indgenas em Abya Yala, apresentado pelas
organizaes solicitantes dessa audincia.
172 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
B.
Mulheres
269. A CIDH observou que nos casos de crimes relacionados com violncia contra as
milheres, os Estados tm obrigaes adicionais em virtude da Conveno de Belm
do Par, que reforam as obrigaes contidas na Conveno Americana e na
Declarao Americana. 745 A Comisso recomendou aos Estados que prestassem
ateno aos princpios e obrigaes contidos na Conveno de Belm do Par,
quando tratem de violncia perpetrada contra mulheres lsbicas, considerando a
invisibilidade desta violncia. 746 A CIDH tambm fez referncia a mulheres trans e
lsbicas em comunicados para a imprensa que comemoram datas tradicionalmente
criadas para mulheres cisgnero e heterossexuais, como o Dia Internacional da
Mulher (8 de maro)747 e o Dia Internacional para a Eliminao da Violncia contra
a Mulher (25 de novembro) 748. Em visita conjunta a quatro pases do Caribe,
realizada em 2015, a Relatora Especial da ONU sobre Violncia contra a Mulher e a
Comissionada da CIDH Tracy Robinson, como Relatora dos Direitos da Mulher,
observaram que (as questes de direitos humanos que afetam as mulheres
lsbicas, bissexuais e trans foram mencionadas incessantemente em reunies,
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748
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 41/15, Comunicado para a Imprensa Conjunto das Relatoras da
ONU e da CIDH, 28 de abril de 2015 (disponvel somente em ingls). Ver tambm, Comit da CEDAW,
Recomendao Geral No. 28, 2010, para. 18. Ver tambm, artigo 9 da Conveno de Belm do Par. A CIDH
estabeleceu que em casos de crimes envolvendo a violncia contra a mulher, alm das obrigaes contidas
na Conveno Americana, os Estdos tm uma obrigao em virtude da Conveno de Belm do Par.
CIDH, Relatrio sobre Segurana Cidad e Direitos Humanos, 2009, para. 47.
CIDH, Relatrio sobre Segurana Cidad e Direitos Humanos, 2009, para. 47.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 24/15, No Dia Internacional da Mulher, a CIDH solicita que os
Estados garantam os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, 6 de maro de 2015.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 140/14, No Dia Internacional para a Eliminao da Violncia contra
as Mulheres, a CIDH recomenda que os Estados implementem medidas transformadoras, 25 de novembro
de 2014.
750
751
752
753
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 41/15 Comunicado para a Imprensa Conjunto das Relatoras da
ONU e da CIDH, 28 de abril de 2015.
Mecanismo de Seguimento da Conveno de Belm do Par (MESECVI), Guia para a aplicao da Conveno
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violncia contra a Mulher, 2014, pg. 22.
Ver, por exemplo, CIDH, Demanda perante a Corte IDH, Caso Ins Fernndez Ortega, Caso 12.580 contra o
Mxico, 7 de maio de 2009; e CIDH, Demanda perante a Corte IDH, Caso Valentina Rosendo Cant e outra,
Caso No. 12.579 contra o Mxico, 2 de agosto de 2009.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 22.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014. Ver tambm, Comit de
Amrica Latina y el Caribe para la Defensa de los Derechos de la Mujer (CLADEM), Monitoreo sobre violencia
174 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
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sexual en conflicto armado en Colombia, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicaragua y Per, 2007,
pg. 326.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23A/13, Anexo ao Comunicado para a Imprensa emitido ao trmino
do 147 Perodo de Sesses, 5 de abril de 2013.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
Jornal El Diario, Marido le dispar tras acusarla de ser lesbiana, 28 de fevereiro de 2013.
Organizacin de Transexuales por la Dignidad de la Diversidad (OTD) & International Gay and Lesbian Human
Rights Commission (IGLHRC), Violaciones de derechos humanos de las personas lesbianas, bisexuales y
transexuales (LBT): Un informe sombra, septiembre 2012, pg. 8; Portal EMOL, PDI detiene a supuestos
implicados en brutal golpiza a joven lesbiana, 20 de julho de 2012; Portal Biobio Chile, Joven de 16 aos
sufri brutal agresin en Santa Juana: Acusan discriminacin por ser lesbiana, 19 de julho de 2012.
Promsex, Mujer lesbiana, agredida brutalmente por hermano de su pareja por homofobia, requiere
solidaridad por parte de todos los peruanos, 1 de abril de 2014.
que, como era sapato, seu filho seria uma bicha. 761 As mulheres lsbicas
tambm so castigadas por rejeitar as insinuaes sexuais dos homens. 762
274. A CIDH recebeu informao preocupante sobre os altos nveis de violncia sofrida
por mulheres bissexuais, em comparap com as mulheres lsbicas e
heterossexuais. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional sobre Relaes
ntimas e Violncia Sexual nos Estados Unidos de 2010 (U.S. National Intimate
Partner and Sexual Violence Survey NISVS), sobre estupros e outras formas de
violncia sexual cometidas por distintos perpetradores (uma relao ntima, uma
pessoa conhecida, membro da famlia, pessoa desconhecida ou pessoa com
autoridade sobre a vtima), durante suas vidas, as mulheres bissexuais sofrem este
tipo de violncia com uma frequncia significativamente maior em comparao
com mulheres lsbicas e heterossexuais. 763 Segundo a informao, 61.1% das
mulheres bissexuais foram vtimas pelo menos uma vez na vida de estupro,
violncia fsica e/ou assdio por uma relao ntima, comparado com 43.8% das
mulheres lsbicas e 35% das mulheres heterossexuais. 764
275. Desde a criao da Unidade para os Direitos das Pessoas LGBTI na CIDH, a
Comisso Interamericana vem monitorando e expressado sua preocupao em
relao com a violncia contra pessoas trans nas Amricas. 765 Vrias pesquisas e
relatrios de organismos internacionais, 766 organizaes da sociedade civil, 767
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Portal Sinetiquetas, Pilar tena que vivir y la voz de su hijo fue lo ltimo que escuch, 5 de maio de 2015.
Portal Cba24n, Activistas lesbianas fueron atacadas por una patota en beep, 3 de maro de 2014.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Governo dos Estados Unidos da Amrica, recebida na Secretaria Executiva da CIDH em 8 de abril del 2014,
pg. 2.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Governo dos Estados Unidos da Amrica, recebida na Secretaria Executiva da CIDH em 8 de abril del 2014,
pg. 2.
Para ter acesso aos comunicados para a imprensa e os captulos sobre o tema nos relatrios anuais,
temticos e de pas, visite http://www.oas.org/es/cidh/lgtbi/ (Relatoria dos Direitos das Pessoas LGBTI).
ONUSIDA, Transgender People em The Gap Report, setembro de 2014, pg. 3; Programa das Naes
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Discussion Paper: Transgender Health and Human Rights
[disponvel somente em ingls], Dezembro de 2013, pg. 17; PNUD, Informe sobre Desarrollo Humano El
Salvador, 2013, pg. 198.
Ver, por exemplo, [Bolvia] IGLHRC, Situacin de las mujeres lesbianas, bisexuales, transexuales, transgnero
e intersex en Bolivia en relacin a la discriminacin: Informe Sombra (CEDAW), 2007, pgs. 13-14; [Costa
Rica] Mulabi e IGLHRC, Situacin de las mujeres lesbianas, bisexuales, transexuales, transgnero e intersex en
Costa Rica en relacin a la discriminacin: Informe Sombra, julho de 2011, pg. 4; [Repblica Dominicana]
Observatorio Derechos Humanos para Grupos Vulnerabilizados e outros, Informe sobre Violencia y
Discriminacin contra las mujeres Trans en la Repblica Dominicana, 27 de outubro de 2014, pg. 3; [Per]
PROMSEX, Informe Anual sobre Derechos Humanos de Personas Trans, Lesbianas, Gays y Bisexuales en el
Per 2010, 2011, pg. 58; [Amrica Latina] REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y
Violencia contra Mujeres Transgnero Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 2527; Ignacio Gabriel Ulises Borgogno, La transfobia en America Latina y el Caribe: un Estudio en el Marco de
REDLACTRANS, (sem data), pg. 41; IGLHRC, Latin American Trans Women Living in Extreme Poverty, junho
2009, pg. 6; Transgender Europe (TGEU), Proyecto Transrespeto versus Transfobia en el Mundo (TvT),
Transrespeto versus Transfobia en el Mundo: un estudio comparativo de la situacin de los derechos
humanos de las personas trans, pgs. 46-49.
176 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
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Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Estado da Argentina, Nota 96357/2013, de fecha 29 de novembro de 2013, recebida na Secretaria Executiva
da CIDH em 13 de dezembro de 2013, pg. 6. Instituto Nacional contra la Discriminacin, la Xenofobia y el
Racismo, INADI (Argentina), Hacia una Ley de Identidad de Gnero, 2012, pgs. 7 e 21.
Lohana Berkins, Travestis: una identidad poltica em Pensando los feminismos en Bolivia, Conexin Fondo
de Emancipacin, 2012, pg. 224.
Ver, dentre outros: Lilin Abracinskas, Relevamiento de necesidades de salud de personas trans en
Uruguay. Enviado CIDH pelo Uruguai como documento anexo resposta ao questionrio da CIDH sobre
violncia contra as pessoas LGBTI nas Amricas, Nota 0141/2013 recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 20 de dezembro de 2013; Baral, SD., Beyrer, C., & Poteat, T., (2011), Human Rights, the Law, and HIV
among Transgender People. Documento de Trabalho preparado para a Terceira Reunio do Grupo Tcnico
Assessor da Comisso Global sobre HIV e Direito, 7-9 de julho de 2011, pgs. 4-6.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
As cifras exatas podem variar de acordo com a fonte e os pases. Ver: CIDH, Audincia sobre o direito
identidade das pessoas trans, 144 perodo ordinrio de sesses, 23 de maro de 2012; CIDH, Ata da
Reunio de Especialistas sobre Violncia contra as Pessoas LGBTI nas Amricas, Washington DC, 24 e 25 de
fevereiro de 2012; REDLACTRANS, La Transfobia en Amrica Latina y el Caribe, 2009, pg. 63; [Argentina]
INADI, Polticas inclusivas para el colectivo trans, 2013; [Guatemala] Organizacin Trans Reinas de la Noche,
REDLACTRANS, IGLHRC, Heartland Alliance e The George Washington University Law School International
Human Rights Clinic, Human Rights Violations of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender (LGBT) People in
Guatemala: A Shadow Report [disponvel somente em ingls], maro de 2012, pg. 16; [Uruguai] Ministrio
de Desenvolvimento Social, Polticas Pblicas e Diversidad Sexual: Anlisis de la heteronormatividad en la
vida de las personas y las instituciones. Informe final, junho de 2013, pg. 135. Uma pesquisa realizada na
Argentina em 2005, na qual se analisaram as mortes de 420 pessoas trans (travestis), revelou que 70% tinha
entre 22 e 41 anos de idade quando veio a falecer. Berkins, Lohana, Travestis: una identidad poltica em
Pensando los feminismos en Bolivia, Conexin Fondo de Emancipacin, 2012, pg. 224.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
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777
Ver, por exemplo, CIDH, Audincia sobre a situao de direitos humanos de pessoas afrodescendentes trans
no Brasil, 149 perodo ordinrio de sesses, 29 de outubro de 2013; CIDH, Audincia sobre discriminao
por motivo de gnero, raa e orientao sexual nas Amricas, 133 perodo ordinrio de sesses, 23 de
outubro de 2008. udio e vdeo no disponveis; Global Rights, Informe sobre la situacin de mujeres trans
afro-brasileas [disponvel em ingls], 2013, pg. 13; Grupo Gay da Bahia (GGB), Assassinato de
Homossexuais (LGBT) no Brasil: Relatrio 2013/2014, pg. 13; Transgender Europe (TGEU) Transrespeto
versus Transfobia en el Mundo (TvT), Transrespeto versus Transfobia en el Mundo: un estudio comparativo
de la situacin de los derechos humanos de las personas trans, 2012, pg. 47; Relatrio do Relator Especial
sobre tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou degradantes, A/56/156, 3 de julho de
2001, para. 18.
Por exemplo, Diamond Williams, uma mulher afroamericana trans, foi assassinada em julho de 2013 na
Filadlfia, Estados Unidos, supostamente depois que o perpetrador percebeu que ela era trans. Seu corpo foi
esquartejado e os restos encontrados por toda a cidade. Rede NBC, Loved ones celebrate life of slain
transgender woman, 23 de julho de 2013. Adicionalmente, a CIDH recebeu informao sobre a morte de
Cristforo F., uma pessoa trans que supostamente foi asfixiada em 6 de setembro de 2013. CIDH.
Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na Amrica:
um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014, Anexo ao
Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014. Ver tambm a Reunio Regional do
CARICOM de Ativistas LGBTI, The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict through Legal Tools, Laws
Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact in Caribbean
Countries [disponvel somente em ingls], 2010, informao apresentada CIDH em novembro de 2010,
pg. 30.
Red Peruana de Trans, Lesbianas Gays y Bisexuales & Centro de Promocin y Defensa de los Derechos
Sexuales y Reproductivos (PROMSEX), Informe Anual sobre Derechos Humanos de personas Trans, Lesbianas,
Gays y Bisexuales en el Per 2009, 2010, pgs. 57, 58 y 98; IGLHRC, Latin American Trans Women Living in
Extreme Poverty, Junho de 2009, pg. 8; Anistia Internacional, Prou. Craintes Pour La Scurit [disponvel
somente em francs], AMR 46/004/2009, 27 de fevereiro de 2009.
Jornal Clarn, Villa Luro: un grupo de vecinos, en pie de guerra contra travestis, 28 de maro de 2009; Portal
Pgina 12, Un arma habla ms que mil palabras, 26 de maro de 2009; Portal Infobae, Un volante llama a
"echar a tiros" a los travestis de Villa Luro, 26 de maro de 2009.
178 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
279. A CIDH tambm foi informada que as pessoas LGBT, especialmente as mulheres
trans, so mais vulnerveis violncia por ao de grupos armados ilegais e do
crime organizado na Amrica Central. 779 Uma organizao regional denunciou
altos ndices de violncia imposta contra mulheres trans pelas gangues juvenis
(maras e pandillas) na Guatemala, Honduras e El Salvador. 780 Sobre El Salvador,
em junho de 2015, a CIDH indicou que no contexto dos pases com altos nveis de
insegurana cidad e delinquncia organizada, especialmente importante que os
Estados adotem um enfoque diferenciado para garantir os direitos vida e
integridade de pessoas LGBTI e de defensores/as de direitos humanos das pessoas
LGBTI, os quais, segundo a informao, so especialmente vulnerveis violncia
praticada por grupos armados. 781 A CIDH tambm documentou de maneira
detalhada a violncia praticada por grupos armados contra as mulheres trans na
Colmbia, particularmente contra aquelas que moram fora de Bogot, em zonas
afetadas pelo conflito armado. 782
280. A CIDH recebeu informao consistente que indica que as mulheres trans que so
trabalhadoras sexuais so especialmente vulnerveis violncia em seu ambiente
comunitrio, incluindo homicdios praticados por grupos ou por seus clientes.
Devido discriminao no mercado de trabalho e outras adversidades que
enfrentam socialmente, o trabalho sexual para muitas mulheres trans um meio
de sobrevivncia, e inclusive algumas comeam a fazer trabalho sexual desde
muito cedo na adolescncia. Uma pesquisa indica que aproximadamente 90% das
mulheres trans no continente americano exercem o trabalho sexual, 783 e as
estimativas para alguns pases so ainda maiores, entre 94 e 95% no Peru e Chile,
respectivamente. 784
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REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 26.
CIDH, Audincia pblica sobre migrao forada e perseguio de defensores LGBTI na Amrica Central. 154
perodo ordinrio de sesses, 17 de maro de 2015. udio e vdeo disponveis em: www.cidh.org.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 26.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 63/15, CIDH condena homicdio de defensora de direitos humanos
das pessoas trans em El Salvador, 8 de junho de 2015.
CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013. Ver tambm, Relatrio do Relator Especial sobre
Execues Extrajudiciais, Sumrias ou Arbitrrias, E/CN.4/1999/39, 6 de janeiro 1999, para. 76 (informao
recebida sobre Mxico e Brasil).
REDLACTRANS, Informe sobre el acceso a los derechos econmicos, sociales y culturales de la poblacin trans
en Latinoamrica y el Caribe, dezembro de 2014, pg. 21.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 25, nota de rodap 82.
Ver, por exemplo: [Amrica Latina] REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia
contra Mujeres Transgnero Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 14;
786
787
788
Transgender Europe (TGEU) & Transrespeto versus Transfobia en el Mundo (TvT), Transrespeto versus
Transfobia en el Mundo: un estudio comparativo de la situacin de los derechos humanos de las personas
trans, 2012, pg. 46; [Colmbia] Alianza Iniciativa de Mujeres Colombianas por la Paz e outros, Una mirada a
los derechos de las mujeres en Colombia. Informe alternativo, setembro de 2013, pg. 38; [Peru] Red
Peruana de Trans, Lesbianas Gays y Bisexuales e Centro de Promocin y Defensa de los Derechos Sexuales y
Reproductivos (PROMSEX), Informe Anual sobre Derechos Humanos de personas Trans, Lesbianas, Gays y
Bisexuales en el Per 2008, 2009, pgs. 85-86; [Estados Unidos] Human Rights Watch, Sex Workers at Risk,
Condoms as Evidence of Prostitution in Four US Cities [disponvel somente em ingls], 2012, pg. 2.
COMCAVIS Trans, Informe para la Audiencia ante la CIDH sobre la situacin de violencia contra la poblacin
de mujeres trans en El Salvador, outubro de 2013, pg. 11. Sobre El Salvador, a Relatora Especial da ONU
sobre Violncia contra a Mulher, suas causas e consequncias, o Procurador Nacional de Direitos Humanos
de El Salvador e o Coordenador Residente do Sistema da ONU em El Salvador, expressaram sua preocupao
pelos crescentes nveis de violncia, e indicaram que na maioria dos casos, os corpos das vtimas
apresentavam sinais de tortura, esquartejamento, mltiplas facadas, socos e disparos. Relatrio da Relatora
Especial sobre Violncia contra as mulheres, suas causas e consequncias. Apndice: Misso de Seguimento a
El Salvador, A/HRC/17/26/Add.2, 14 de fevereiro de 2011, para. 28. Ver tambm Posicionamiento ante los
recientes homicidios contra la poblacin LGBTI en El Salvador del Procurador para la Defensa de los Derechos
Humanos y del Coordinador Residente del Sistema de las Naciones Unidas, 24 de setembro de 2014.
Artigo 6, Conveno de Belm do Par.
Artigo 8.b, Conveno de Belm do Par.
180 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
284. Por ltimo, a CIDH solicita a todos os Estados Membros da OEA que incluam de
maneira especfica as mulheres lsbicas, bissexuais, trans e intersexo em sua
legislao, polticas pblicas, e em todos os esforos governamentais sobre o
direito das mulheres de viver livres de toda discriminao e violncia, includa a
violncia sexual. Alm disso, a CIDH recomenda que os Estados Membros detalhem
os dados relacionados com a violncia contra as mulheres, separando-os em
categorias relacionadas com sua orientao sexual, identidade de gnero e
diversidade corporal (relacionada a pessoas intersexo). Neste sentido, a CIDH
adverte que o acesso informao est estreitamente vinculado com o exerccio de
outros direitos humanos e um pr-requisito para exigir e exercer estes
direitos. 789 Assim sendo, o acesso a dados e estatsticas detalhados uma
ferramenta importante para avaliar a efetividade das medidas para prevenir, punir
e erradicar a violncia contra as mulheres e formular as mudanas de polticas
pblicas necessrias. 790
C.
789
790
791
792
CIDH, Acesso justia para as mulheres vtimas de violncia nas Amricas, 20 de janeiro de 2007, para. 230.
Ver tambm, dentre outros,: CIDH, Direito de acesso informao no marco jurdico interamericano,
Segunda Edio, Relatoria Especial para a Liberdade de Expresso, 7 de maro de 2011, para. 4; CIDH, Acesso
informao em matria reprodutiva desde uma perspectiva de direitos humanos, 22 de novembro de 2011,
paras. 1, 26 e 31.
CIDH, Acesso justia para as mulheres vtimas de violncia nas Amricas, 20 de janeiro de 2007, para. 42.
CIDH, Direitos humanos dos migrantes e outras pessoas no contexto da mobilidade humana no Mxico. 30
de dezembro de 2013. OEA/Ser.L/V/II. Doc. 48/13 (doravante CIDH, Direitos humanos dos migrantes e outras
pessoas no contexto da mobilidade humana no Mxico. 30 de dezembro de 2013), paras. 5, 51-52 e 80-94.
CIDH, Direitos humanos dos migrantes e outras pessoas no contexto da mobilidade humana no Mxico. 30
de dezembro de 2013, para. 83.
287. A CIDH tambm recebeu informao sobre as pessoas trans que se dedicam ao
trabalho sexual fora de seus pases de origem, e a violncia a qual ficam sujeitas
pela interseo de identidade de gnero e situao migratria. Por exemplo,
segundo documentado pela informao apresentada por uma organizao da
sociedade civil, na noite de 23 de dezembro de 2014, no Suriname, seis mulheres
trans trabalhadoras sexuais, nacionais da Guiana e de Trinidade e Tobago foram
abordadas pela polcia para uma verificao de passaportes. Conforme a
informao recebida, teriam sido foradas a assinar documentos que no
compreendiam, pois no estavam disponveis em ingls. Alega-se que durante sua
deteno foram submetidas a tratamentos desumanos e degradantes, incluindo
abusos fsicos e verbais relacionados com sua identidade e expresso de gnero.
Tambm denunciam que o promotor negou-se a falar em ritmo razovel para que o
interprete pudesse traduzir adequadamente suas palavras. Por ltimo, alegam que
os guardas incitaram outros reclusos a atacar as mulheres trans durante sua
793
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ACNUR, Diretrizes sobre Proteo Internacional No. 9: pedidos da condio de refugiado relacionados com a
orientao sexual e/ou a identidade de gnero no contexto do artigo 1A(2) da Conveno sobre o Estatuto
dos Refugiados de 1951 e/ou seu protocolo de 1967, HCR/GIP/12/01, 23 de outubro de 2012, para. 1. A CIDH
observa que h um grande nmero de solicitantes da condio de refugiado oriundos de pases das
Amricas, especialmente do Caribe. Ver, por exemplo, Jornal Washington Post, Jamaicas gays finding refuge
by applying for U.S. asylum, artigo escrito por Shankar Vedantam, 11 de fevereiro de 2011 (disponvel
somente em ingls).
A CIDH utilizar o termo migrante em situao irregular para mencionar aqueles migrantes que hajam
ingressado de forma irregular ao territrio, ou que hajam permanecido nele alm do tempo para o qual
estavam autorizados a permanecer em alguns dos Estados Membros da OEA. A Comisso recomenda aos
Estados Membros da OEA que evitem utilizar termos como ilegal, ou imigrante ilegal para fazer
referncia a migrantes cuja situao migratria irregular. A utilizao desses termos ilegal ou imigrante
ilegal, refora a criminalizao dos migrantes e o esteretipo falso e negativo de que eles, pelo simples fato
de estar em situao irregular, so criminosos.
CIDH, Audincia pblica, Migrao forada e persequio de defensores LGBTI na Amrica Central.
Participante: Casa Abierta. 154 perodo ordinrio de sesses, 17 de maro de 2015. Ver tambm, CIDH,
Comunicado para a Imprensa No. 037A/15, Relatrio sobre o 154 perodo ordinrio de sesses da CIDH, 19
de junho de 2015.
182 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
deteno, e que estas foram foradas a realizar trabalhos sexuais na priso para ter
acesso comida, gua, e instalaes de higiene pessoal. 796
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SASOD (Guiana), Documentao sobre as trabalhadoras sexuais trans detidas no Suriname, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 14 de julho de 2015.
ACNUR, Diretrizes sobre Proteo Internacional No. 9: pedidos da condio de refugiado relacionados com a
orientao sexual e/ou a identidade de gnero no contexto do artigo 1A(2) da Conveno sobre o Estatuto
dos Refugiados de 1951 e/ou seu protocolo de 1967, HCR/GIP/12/01, 23 de outubro de 2012, para. 40.
ORAM, Callejones sin Salidas: las luchas invisibles de los refugiados urbanos lesbianas, gays, bisexuales,
transgneros, e intersexuales. Parte I: Gua para las ONG, los Gobiernos, ACNUR y Donantes. Fevereiro de
2013, pg. 12.
ORAM, Callejones sin Salidas: las luchas invisibles de los refugiados urbanos lesbianas, gays, bisexuales,
transgneros, e intersexuales. Parte I: Gua para las ONG, los Gobiernos, ACNUR y Donantes. Fevereiro de
2013, pg. 11.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 68/14, Dia Mundial dos Refugiados: CIDH destaca importncia do
direito de solicitar e recibir asilo, 20 de junio de 2014.
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806
Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados (ACNUR), Nota de orientao sobre as Diretrizes
em relao a Reclamaes de Refugiados sobre Orientao Sexual e Identidade de Gnero, 21 de novembro
de 2008, para. 3.
ACNUR, Diretrizes sobre Proteo Internacional No. 9: pedidos da condio de refugiado relacionados com a
orientao sexual e/ou a identidade de gnero no contexto do artigo 1A(2) da Conveno sobre o Estatuto
dos Refugiados de 1951 e/ou seu protocolo de 1967, HCR/GIP/12/01, 23 de outubro de 2012, prr 10.
ACNUR, Diretrizes sobre Proteo Internacional No. 9: pedidos da condio de refugiado relacionados com a
orientao sexual e/ou a identidade de gnero no contexto do artigo 1A(2) da Conveno sobre o Estatuto
dos Refugiados de 1951 e/ou seu protocolo de 1967, HCR/GIP/12/01, 23 de outubro de 2012, para. 10. Ver
tambm, Reino Unido: Ministrio do Interior, Sexual Orientation Issues in the Asylum Claim [disponvel
somente em ingls], 6 de outubro de 2011; Departamento de Segurana Nacional dos Estados Unidos,
Diretrio RAIO, Treinamento de Oficiais: Guidance for Adjudicating Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, and
Intersex (LGBTI) Refugee and Asylum Claims, rev., 16 de novembro de 2011.
ACNUR, Diretrizes sobre Proteo Internacional No. 9: pedidos da condio de refugiado relacionados com a
orientao sexual e/ou a identidade de gnero no contexto do artigo 1A(2) da Conveno sobre o Estatuto
dos Refugiados de 1951 e/ou seu protocolo de 1967, HCR/GIP/12/01, 23 de outubro de 2012, paras. 18, 32 e
seguintes, citando um caso de 2008 dos Estados Unidos, e outro de 2012 da Austrlia.
O artigo 22.7 da Conveno Americana estabelece que toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo
em territrio estrangeiro, em caso de perseguio por delitos polticos ou comuns conexos com delitos
polticos e de acordo com a legislao de cada Estado e com os convnios internacionais.
O artigo 22.8 da Conveno Americana estabelece que em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou
entregue a outro pas, seja ou no de origem, onde seu direito vida ou liberdade pessoal esteja em risco
de violao por causa da sua raa, nacionalidade, religio, condio social ou de suas opinies polticas.
184 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
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Corte IDH. Caso Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro de
2010. Srie C No. 239, paras. 84, 85, 91 e 93.
Sobre este assunto, ver Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia
contra as pessoas por motivo de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015,
para. 12. Neste sentido, a CIDH observa os Princpios de Yogyakarta, especialmente o Princpio 23 sobre o
direito de buscar asilo: em caso de perseguio, includa aquela relacionada com a orientao sexual ou
identidade de gnero, toda pessoa tem direito a procurar asilo e a obt-lo em qualquer pas. Um Estado no
poder remover, expulsar ou extraditar uma pessoa a nenhum Estado em que essa pessoa possa estar
sujeita a temor fundado de sofrer tortura, perseguio ou qualquer outra forma de penas ou tratamentos
cruis, desumanos ou degradantes, em funo da orientao sexual ou identidade de gnero. Assim, os
Estados a) revisaro, emendaro e promulgaro leis a fim de garantir que um temor fundado de
perseguio por motivo de orientao sexual ou identidade de gnero seja aceito como base para o
reconhecimento da condio de refugiado ou refugiada e do asilo; b) asseguraro que nenhuma poltica ou
prtica discrimine os solicitantes de asilo por sua orientao sexual ou identidade de gnero; c) garantiro
que nenhuma pessoa seja removida, explusa ou extraditada a nenhum Estado no qual possa estar sujeita a
temor fundado de sofrer tortura, perseguio ou qualquer outra forma de penas ou tratamentos cruis,
desumanos ou degradantes, em funo de sua orientao sexual ou identidade de gnero. Princpios de
Yogyakarta. Princpios sobre a aplicao da legislao internacional de direitos humanos em relao com a
orientao sexual e a identidade de gnero, 2006.
Portal Minutouno.com, Argentina refugi a un homosexual que escap de Rusia por homofobia, 20 de
outubro de 2014.
Portal Oblogdeeoblogda.me, Gay Refugee couple from Uganda land safely in Canada, [disponvel somente
em ingls], 26 de novembro de 2014. Para uma discusso sobre refugiados e solicitantes de asilo LGBT no
Canad, ver Sharalyn R. Jordan, Un/Convention(al) Refugees: Contextualizing the Accounts of Refugees
Facing Homophobic or Transphobic Persecution, em Refuge: Canadas Journal on Refugees, Vol. 26, No. 2
(2009) [disponvel somente em ingls].
CIDH, 154 perodo ordinrio de sesses, Audincia pblica sobre migrao forada e perseguio de
defensores LGBTI na Amrica Central. 17 de maro del 2015.
Ver, por exemplo, Migration Policy Institute, International Protection for a Newly Surfacing Refugee
Community, 2 de janeiro de 2013.
Government Accountability Office Report, Immigration Detention, citado em: Fusion, Why did the U.S. lock
up these women with men?: A Fusion investigation, [disponvel em ingls], 17 de novembro de 2014.
294. A CIDH recebeu informao sobre Nicoll Hernndez Polanco, uma mulher trans de
24 anos proveniente da Guatemala, que buscou asilo nos Estados Unidos, e que de
forma reiterada foi abusada sexualmente e colocada em confinamento solitrio
num centro de deteno para homens em Florence, Arizona. 815 A CIDH tambm foi
informada sobre os abusos que sofrem as pessoas migrantes LGBT no Mxico.
Conforme a informao recebida, em 22 de outubro de 2013, oficiais de imigrao
mexicanos que estavam perto da fronteira da Guatemala, em Tapachula, Chiapas,
prenderam um defensor de direitos LGBT de El Salvador, quando este tentou
solicitar asilo. De acordo com seu testemunho, ela foi proibida de tomar banho e
forada a dormir no cho molhado. Os funcionrios de custdia teriam exigido
favores sexuais de Nicoll, em troca de uma melhor alimentao. As organizaes
que trabalham com migrantes LGBT no Mxico indicam que as pessoas trans que
esto buscando asilo tambm so vulnerveis a este tipo de abusos e violncia
durante sua deteno. 816 Neste sentido, a CIDH observou que os Estado precisam
adotar medidas urgentes e efetivas que garantizem a vida, segurana e integridade
pessoal, e a dignidade humana das pessoas LGBT, ou aquelas percebidas como tal,
nos lugares de deteno da regio, inclusive em centros de deteno migratria. 817
295. Em dezembro de 2014, uma carta enviada ao Presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, assinada por mais de 100 organizaes nos Estados Unidos,
denunciou o caso de Johanna, uma mulher trans de El Salvador, que teria fugido em
direo aos Estados Unidos aps ser abusada sexualmente por um grupo de
homens. A carta indica que depois de viver nos Estados Unidos por doze anos,
Johanna foi detida por oficiais do ICE e enviada a um centro de deteno somente
para homens. Quando estava nesse centro, Johanna foi agredida e atacada
sexualmente por outro imigrante detido. Incapaz de suportar as condies de
deteno, ela exigiu ser deportada. A vida em El Salvador rapidamente tornou-se
muito perigosa para ela, ento tentou regressar aos Estados Unidos. Cruzou a
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CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao a respeito da violncia e
discriminao contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
Revista The Advocate, Guatemalan Trans Woman released after harrowing six months in immigration
detention [disponvel em ingls], 4 de maio de 2015.
Jornal Washington Blade, LGBT Migrants face abuse, discrimination in Mexico [disponvel somente em
ingls], 30 de outubro de 2014.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 53/15, CIDH expressa preocupao a respeito da violncia e
discriminao contra pessoas LGBT privadas da liberdade, 21 de maio de 2015.
186 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
296. A CIDH tambm recebeu informao preocupante sobre as pessoas LGBT que so
deslocadas internas. Durante uma visita da Relatora Tracy Robinson e poca
Presidente da CIDH a Colmbia, em outubro de 2014, a delegao recebeu
informao sobre a situao de deslocamento forado de pessias LGBT,
especialmente nas reas do pas mais afetadas pela presena dos grupos armados,
incluindo relatos sobre paramilitares e grupos armados ilegais que atacam
seletivamente pessoas LGBT por sua orientao sexual, identidade de gnero e
expresso de gnero. 819 Com efeito, no Relatrio sobre a Colmbia, a CIDH indicou
que desde 2007 vinha recebendo relatrios de vrias fontes sobre os mtodos
especficos de intimidao e ameaas de morte usualmente dirigidas a pessoas
LGBT de maneira explcita que ocorrem no contexto do conflito armado. Estes
mtodos consistem principalmente na distribuio de panfletos. 820 Os panfletos
so colocados em lugares pblicos ou distribudos entre os moradores de uma
determinada cidade ou localidade, e neles est anunciado que as pessoas indicadas
no panfleto devem ser assassinadas se no abandonam seu lugar de residncia
dentro de um perodo de tempo geralmente curto. 821 A CIDH foi informada que os
grupos criminosos (bacrim) ou grupos armados so os responsveis por distribuir
estes panfletos. Estes grupos alegam que esto implementando medidas de
limpeza social. 822 Os panfletos referem-se a pessoas LGBT como bichas ou
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Carta assinada por mais de 100 organizaes comunitrias e da sociedade civil dos Estados Unidos e da
regio, e enviada ao Presidente Barack Obama em 16 de dezembro de 2014. Ver tambm Upworthy, They
put her in solitary confinement for 7 months. Before that, she was in a prison full of men, [disponvel
somente em ingls] 19 de novembro de 2014.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 118/14, A Presidente da CIDH conclui sua visita a Colmbia, 10 de
outubro de 2014.
CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013, para. 993.
CIDH, Audincia sobre denncias de violncia contra pessoas LGBTI no Caribe Colombiano, 153 perodo
ordinrio de sesses, 27 de outubro de 2014; [Colmbia] Colombia Diversa, Cuando el Prejuicio Mata:
Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2012, junho de
2014, pg. 12.
Defensora del Pueblo, Vigsimo Informe del Defensor del Pueblo al Congreso de la Repblica: Primera Parte,
20 de julho de 2013, pg. 227; Colombia Diversa, Cuando el Prejuicio Mata: Informe de Derechos Humanos
de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2012, junho de 2014, pg. 12.
297. Por outro lado, a CIDH nota com preocupao as dificuldades e obstculos que
enfrentam as pessoas trans quando viajam e exercem seu direito liberdade de
movimento. Por exemplo, vrias mulheres trans que so defensoras de direitos
humanos e ativistas, e que planejavam participar das audincias pblicas perante a
CIDH em outubro de 2013, e da Assembleia Geral da OEA em junho de 2015,
tiveram dificuldades ou no conseguiram obter um visto para viajar aos Estados
Unidos oportunamente. A CIDH observa que, apesar de haver razes legtimas
para que um Estado conceda ou negue um visto, h um risco de discriminao
indireta nas polticas e procedimentos que poderiam colocar as pessoas trans em
desvantagem desproporcional devido, por exemplo, aos altos nveis de
criminalizao contra as pessoas trans e as mulheres trans. Em novembro de
2013, a CIDH determinou que estas violaes do direito humano liberdade de
movimento causaram obstculos para o acesso a lugares, como a Comisso, onde
as vtimas podem denunciar violaes de direitos humanos sofridas. 825 O
tratamento discriminatrio recebido por muitas mulheres trans e pessoas trans
quando tentam cruzar fronteiras nacionais desempenha um papel central nas
limitaes ao seu movimento. Estas restries de circulao aumentam a
associao socialmente enraizada e preconceituosa entre inconformidade com o
gnero e periculosidade. 826 A CIDH recomenda aos Estados Membros da OEA, que
no exerccio de seu poder de regular as fronteiras, considerem a grande
importncia de viajar para o trabalho das defensoras e defensores de direitos
humanos das pessoas trans, e para que ampliem o respeito pelos direitos humanos
das pessoas trans. Alm disso, a discriminao prvia pode levar a que muitas
pessoas trans paream menos dignas ou qualificadas para obter um visto, portanto
a CIDH solicita aos Estados Membros que revisem com ateno os pedidos de visto
para evitar o risco de discriminao indireta.
298. Por ltimo, a CIDH recebeu informao limitada, porm preocupante sobre a
vulnerabilidade das pessoas LGBT de serem vtimas de trfico de pessoas. As
mulheres trans que carecem de proteo social e poltica podem querer fugir de
seus pases, e se no possuem os meios para locomover-se, acabam tornando-se
alvos fceis de traficantes que se beneficiam delas e se aproveitam de seu
desespero. 827
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825
826
827
CIDH, Audincia sobre denncias de violncia contra pessoas LGBTI no Caribe Colombiano, 153 perodo
ordinrio de sesses, 27 de outubro de 2014.
Caribe Afirmativo - Global Rights, Violacin de derechos a personas lesbianas, gays, bisexuales trans e
intersex (LGBTI) en el Caribe Colombiano en el marco del conflicto armado interno, Outubro de 2014, pg. 21.
CIDH Comunicado para a Imprensa No. 83A/13, Anexo ao Comunicado para a Imprensa emitido ao trmino
do 149 perodo ordinrio de sesses, 8 de novembro de 2013. Ver tambm: Coalizo de Organizaes
LGBTTTQI que trabalham junto OEA, Declarao sobre a negao de vistos a defensores de direitos
humanos trans que participariam da Assembleia Geral em Washington DC, em junho de 2015.
IGLHRC, Latin American Trans Women Living in Extreme Poverty, junho 2009, pg. 5.
Crystal DeBoise, Human Trafficking of Immigrant Transgender Women: Hidden in the Shadows, 11 de
janeiro de 2012 [disponvel somente em ingls].
188 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
299. H informao limitada sobre o alcance desta problemtica para as pessoas LGBT,
mas foram identificados casos nos Estados Unidos e na Argentina. Em 2013,
organizaes da sociedade civil da Argentina identificaram traficantes que
prometiam oportunidades de trabalho na Europa a mulheres trans, mas ao invs
disso, confiscavam seus passaportes e lhes obrigavam a se prostituir. 828 Outro
relatrio indica que jovens LGBT so especialmente vulnerveis ao trfico de
pessoas para explorao sexual na Bolvia. 829 Neste sentido, a CIDH reconhece os
esforos realizados em pases como os Estados Unidos, para coletar dados sobre as
pessoas LGBT que so vtimas de trfico de pessoas. 830
D.
Crianas e adolescentes
829
830
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832
833
834
US Department of State, Office to Monitor and Combat Trafficking in Persons, Relatrio sobre o Trfico de
Pessoas 2014, The Vulnerability of LGBT individuals to Human Trafficking [disponvel somente em ingls].
US Department of State, Office to Monitor and Combat Trafficking in Persons, Relatrio sobre o Trfico de
Pessoas 2014, The Vulnerability of LGBT individuals to Human Trafficking [disponvel somente em ingls].
Por exemplo, segundo a informao recebida, como parte do Plano Federal de Ao Estratgica sobre
Servios para Vtimas de Trfico de Pessoas nos Estados Unidos 2013-2017, rgos desse pas assumiram o
compromisso de coletar informao sobre as necessidades das pessoas LGBT que so vtimas de trfico de
pessoas. US Department of State, Office to Monitor and Combat Trafficking in Persons, Relatrio sobre o
Trfico de Pessoas 2014, The Vulnerability of LGBT individuals to Human Trafficking [disponvel somente em
ingls].
US Department of State, Office to Monitor and Combat Trafficking in Persons, Relatrio sobre o Trfico de
Pessoas 2014, The Vulnerability of LGBT individuals to Human Trafficking [disponvel somente em ingls].
Neste sentido, ver, US Department of State, Office to Monitor and Combat Trafficking in Persons, Relatrio
sobre o Trfico de Pessoas 2014, The Vulnerability of LGBT individuals to Human Trafficking [disponvel
somente em ingls].
US Department of State, Office to Monitor and Combat Trafficking in Persons, Relatrio sobre o Trfico de
Pessoas 2014, The Vulnerability of LGBT individuals to Human Trafficking [disponvel somente em ingls].
Conforme a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em ateno definio contida na Conveno da
ONU sobre os Direitos da Criana, o termo criana significa qualquer pessoa que ainda no completou 18
anos de idade. Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28
de agosto de 2002, Srie A No. 17, para. 42.
302. O artigo 19 da Conveno Americana estabelece que toda criana tem direito s
medidas de proteo que sua condio de menor requer, e isto cria deveres para
sua famlia, a sociedade e o Estado. Os Estados tm a obrigao de respeitar e
garantir o direito consagrado no artigo 19 em relao s crianas, sem
discriminao por motivo de sua orientao sexual e identidade de gnero,
conforme o artigo 1.1 do referido tratado. 840 Similarmente, o artigo VII da
Declarao Americana afirma que toda criana tem o direito proteo, cuidados e
auxlio especiais.
303. O respeito aos direitos das crianas implica a oferta de cuidados e proteo, assim
como reconhecer, respeitar e garantir sua personalidade individual e sua condio
de sujeitos titulares de direitos e obrigaes. 841 As crianas requerem medidas
835
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841
A violncia contra crianas intersexo tratada neste relatrio de forma especfica na seo relativa
violncia mdica contra pessoas intersexo, includa no captulo anterior.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 049/15 Declarao Conjunta em Comemorao ao Dia Internacional
contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia 2015, entre a CIDH e outros organismos internacionais e regionais,
Diante da discriminao e violao dos seus direitos, jovens LGBT e intersex precisam de reconhecimento e
proteo, 17 de maio de 2015.
UNICEF, Position Paper No. 9: Eliminating Discrimination and Violence against Children and Parents Based on
Sexual Orientation and/or Gender Identity, Novembro de 2014, pg. 3.
CIDH, Relatrio sobre a situao de direitos humanos na Repblica Dominicana, OEA/Ser.L/V/II.104 Doc. 49
rev. 1, 7 de outubro de 1999, para. 430.
Corte IDH. Caso das Meninas Yean e Bosico Vs. Repblica Dominicana. Sentena de 8 de setembro de 2005.
Srie C No. 130, para. 134. Ver tambm: Corte IDH. Caso dos Nios de la Calle (Villagrn Morales e outros)
Vs. Guatemala. Sentena de 19 de novembro de 1999. Srie C No. 64, para. 146; Corte IDH. Caso dos Irmos
Gmez Paquiyauri Vs. Peru. Sentena de 8 de julho de 2004. Srie C No. 110, para. 162; e Corte IDH. Caso
Bulacio Vs. Argentina. Sentena del 18 de setembro de 2003. Srie C No. 100, para. 133.
Como indicado neste relatrio, no Caso Karen Atala contra o Chile, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos advertiu que a orientao sexual e a identidade de gnero esto includas nos motivos de no
discriminao consagrados no artigo 1.1 da Conveno Americana. Corte IDH. Caso Karen Atala Riffo e filhas
Vs. Chile. (Mrito, Reparaes e Custas), Sentena de 24 de fevereiro de 2012. Srie C No. 239.
Corte IDH. Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28 de
agosto de 2002, Srie A No. 17, paras. 37 e 53; Corte IDH. Caso dos Nios de la Calle (Villagrn Morales e
outros) Vs. Guatemala. Sentena de 19 de novembro de 1999. Srie C No. 64, para. 194; CIDH, Terceiro
190 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
304. A Comisso afirmou que, para determinar as obrigaes dos Estados em relao s
crianas, a Conveno Americana deve ser interpretada luz das disposies da
Conveno dos Direitos da Criana da ONU e outras declaraes do sistema
universal sobre o tema, 844 assim como das decises do Comit sobre os Direitos da
Criana. 845 O Comit dos Direitos da Criana indicou que qualquer interpretao
sobre o princpio do interesse superior da criana deve ser compatvel com a
Conveno dos Direitos da Criana, includa a obrigao de proteger as crianas de
toda forma de violncia. 846 O princpio do interesse superior da criana significa
que o desenvolvimento das crianas e o exerccio pleno de seus direitos devem ser
considerados como critrios orientadores para a elaborao de normas e aplicao
destas em todos os aspectos das suas vidas. 847
305. O Comit dos Direitos da Criana da ONU observou que crianas LGBT so um dos
grupos mais vulnerveis violncia, 848 e a Representante Especial do Secretrio
Geral da ONU sobre violncia contra as crianas indicou que todas as crianas
devem ser protegidas de todas as formas de violncia, independentemente de sua
orientao sexual ou outra condio. 849 Adicionalmente, o Comit dos Direitos da
Criana afirmou que a orientao sexual e a identidade de gnero constituem
842
843
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848
849
relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Colmbia, 1999, Captulo XIII, para. 1; CIDH. Relatrio No.
33/04, Mrito, Jailton Neri da Fonseca (Brasil), Caso 11.634, 11 de maro de 2004, para. 80.
Corte IDH. Caso Servelln Garca e outros Vs. Honduras. Sentena de 21 de setembro de 2006. Srie C No.
152, para. 133.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes,
OEA/Ser.L/V/II.135, 5 de agosto de 2009 (doravante CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos
humanos de crianas e adolescentes, 2009), para. 23.
CIDH, Relatrio de Admissibilidade e Mrito No. 41/99, Caso 11.491, Menores Detidos, Honduras, 10 de
maro de 1999, para. 72. Adicionalmente, a Conveno Americana e a Conveno dos Direitos da Criana
so parte de um amplo corpus juris internacional para a proteo das crianas, que esta Corte utiliza para
determinar o contedo e o alcance da disposio geral consagrada no artigo 19 da Conveno Americana.
Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28 de agosto de
2002, Srie A No. 17, paras. 37 e 53; e Corte IDH. Caso dos Nios de la Calle (Villagrn Morales e outros)
Vs. Guatemala. Sentena de 19 de novembro de 1999. Srie C No. 64, para. 194.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, para. 21.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, prr. 24.
Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28 de agosto de
2002, Srie A No. 17, paras. 53 e 137.2.
ONU Comit dos Direitos da Criana, Comentrio Geral No. 13: O direito das crianas a viver livre de todas as
formas de violncia, CRC/GC/2011/13, 18 de abril de 2011.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio Anual da Representante Especial do Secretrio Geral sobre
violncia contra crianas, A/HRC/19/64, 13 de janeiro de 2012.
307. Os Estados devem proteger todas as pessoas que estejam sujeitas sua jurisdio.
Esta obrigao exigida no somente em relao ao poder do Estado, mas tambm
em relao com a atuao de terceiros, na medida em que o Estado deve adotar
medidas para prevenir e responder a tais atos. 851 Conforme afirmou a Corte
Interamericana, no mbito privado no h espao para discricionariedade em
relao ao respeito pleno dos direitos humanos de crianas e adolescentes. 852
851
852
853
854
855
ONU Comit dos Direitos da Criana, Observao Geral N 15 (2013) sobre o direito da criana ao mais alto
nvel possvel de sade (artigo 24), 17 de abril de 2013, para. 8.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, para. 74,
citando Corte IDH. Assunto do Povo Indgena Sarayaku. Resoluo de 17 de junho de 2005. Voto
Fundamentado do Juiz Antnio Canado Trindade, paras. 14 a 20.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes,2009, para. 75,
citando Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28 de
agosto de 2002, Srie A No. 17, para. 66.
Corte IDH. Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Sentena de 4 de julho de 2006. Srie C No. 149, paras. 94, 96, 99;
Corte IDH. Caso Alban Cornejo e outros Vs. Equador. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 22 de
novembro de 2007. Srie C No. 171, para. 119.
Corte IDH, Resoluo de 27 de janeiro de 2009, em resposta ao Pedido de Opinio Consultiva submetida pela
Comisso Interamericana de Direitos Humanos, em relao com o castigo corporal, para. 13, citando: Corte
IDH. Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Sentena de 4 de julho de 2006. Srie C No. 149, paras. 89 e 90. Ver
tambm, Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28 de
agosto de 2002, Srie A No. 17, para. 19; Corte IDH. Opinio Consultiva OC-18/03, Condio jurdica e
Direitos dos Migrantes Indocumentados, paras. 146 e 147.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009 para. 69.
192 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
310. Como ocorre com pessoas adultas, crianas LGBT tambm podem se tornar alvo de
ataque por assumir publicamente sua orientao sexual ou identidade de gnero,
ou simplesmente por parecer que desafiam de alguma maneira as normas
tradicionais de masculinidade ou feminilidade. Isto , crianas podem sofrer
discriminao e marginalizao em funo de sua expresso de gnero, inclusive
antes de estarem plenamente conscientes de sua sexualidade ou identidade. Neste
sentido, uma pesquisa realizada com a colaborao da UNESCO e PNUD em trs
Estados Membros da OEA concluiu, por exemplo, que o assdio ocorre quando um
menino percebido como afeminado ou quando sua expresso de gnero no est
de acordo com os esteretipos masculinos. 856
311. A CIDH recebeu informao preocupante sobre ataques violentos perpetrados por
pais, mes, irmos ou irms, e outros parentes contra crianas LGBT, ou aqueles
percebidos como tal, em pases do continente americano. A violncia intrafamiliar
contra pessoas LGBT um tema constante, e inclui pessoas que so impedidas de
ter acesso escolarizao, sujeitas violncia sexual, expulsas de casa, e/ou
abusadas fsica e psicologicamente. 857
312. As crianas so muitas vezes expulsas de casa depois de revelar sua orientao
sexual a seus pais e mes. 858 Como explicitado numa declarao conjunta da CIDH,
do Comit dos Direitos da Criana, e de outros especialistas internacionais, as
crianas LGBT geralmente sofrem com a rejeio de suas famlias e comunidade, os
quais reprovam sua orientao sexual e identidade de gnero. Isto pode resultar
em altas taxas de falta de moradia, excluso social e pobreza. 859
856
857
858
859
Instituto de Estudios en Salud, Sexualidad y Desarrollo Humano, Universidad Peruana Cayetano Heredia,
PNUD, UNESCO, Era como ir todos los das al matadero...: El bullying homofbico en instituciones pblicas
de Chile, Guatemala y Per. Documento de trabajo, 2013, pg. 14.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Colectivo Entre Trnsitos e outros (Colmbia), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de
novembro de 2013, pg. 14. Ver tambm, Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas
LGBTI nas Amricas apresentada por Defensores de Direitos Humanos da Universidad Nacional Autnoma de
Mxico (Mxico), recebida em 20 de dezembro de 2013, pg. 6.
[Venezuela] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pela Repblica Bolivariana da Venezuela, Nota AGEV/000373 de 20 de dezembro de 2013,
recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 26 de dezembro de 2013, pg. 3; e [Guatemala] Organizacin
de Apoyo a una Sexualidad Integral Frente al SIDA (OASIS), Crmenes de Odio en Guatemala: una
Aproximacin a los Retos y Desafos para el Desarrollo de una Investigacin sobre Crmenes en el Pas en
contra de Gay, Bisexuales y Trans, abril de 2010, pg. 35.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 049/15 Declarao Conjunta em Comemorao ao Dia Internacional
contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia 2015, entre a CIDH e outros organismos internacionais e regionais,
Diante da discriminao e violao dos seus direitos, jovens LGBT e intersex precisam de reconhecimento e
proteo, 17 de maio de 2015.
313. Alguns exemplos extremos incluem os seguintes: uma me que tortura e mata seu
filho de 4 anos por achar que ele era gay;860 um pai que ataca brutalmente e
humilha seu filho de 16 anos por sua orientao sexual, amarrando os ps do filho
a uma caminhonete e ameaando arrast-lo pelas ruas; 861 uma irm que humilha e
agride constantemente o seu irmo de 15 anos, inclusive jogando urina nele por ele
ser gay (agresses que eventualmente levaram seu irmo ao suicdio);862 um pai
que ateou fogo em seu filho ao descobrir que este era gay e soropositivo; 863 e um
homem que agrediu brutalmente o seu irmo e o ameaou de morte porque era
gay. 864
314. Por exemplo, a CIDH foi informada sobre o caso de um jovem no Haiti que, ao
revelar sua orientao sexual sua famlia, foi atacado com um faco e agredido
por seu irmo. Quando denunciou polcia, ouviu que seu irmo tinha razo
porque ele era gay. Alega-se que a polcia se negou a registrar a queixa e investigar
o caso. 865 Na Guiana, uma organizao da sociedade civil foi informada que um pai
expulsou seu filho de 13 anos de casa e ameaou mat-lo. A Agncia de Proteo e
Cuidado a Crianas (Child Care and Protection Agency CCPA) interviu e colocou o
menino sob custdia de sua av. Segundo a denncia, o pai continuou com os
abusos e a perseguio, em virtude da ausncia de uma interveno legal efetiva
neste caso. 866
315. A Comisso tambm recebeu informao sobre casos em que pais e outros
membros da famlia praticam violncia fsica contra crianas por achar que so
lsbicas, gays, bissexuais ou inconformados com o gnero, a fim de tentar corrigir
essas crianas, atravs de um mtodo brutal conhecido como tirar o gay a
pauladas. 867 Como mencionado no captulo anterior, esses mtodos brutais para
860
861
862
863
864
865
866
867
[Estados Unidos] Portal Oregon Live, Jessica Dutro murder trial: Jury sees Facebook message with gay slur
referring to 4-year-old, [disponvel somente em ingls], 28 de maro de 2014; Jessica Dutro murder trial:
Motive for Tigard killing was 4-year-old's perceived homosexuality, prosecutors say [disponvel somente em
ingls], 27 de maro de 2014.
[Brasil] Portal UOL Notcias, Pai indiciado por torturar filho gay e ameaar arrast-lo pela rua em Trs
Lagoas (MS), 2 de agosto de 2013; Jornal Correio do Estado, Pai indiciado depois de ameaar matar filho
gay, 1 de agosto de 2013.
[Peru] Red Peruana de Trans, Lesbianas, Gays y Bisexuales (RED PERUANA TLGB) & Centro de Promocin y
Defensa de los Derechos Sexuales y Reproductivos (PROMSEX), Informe anual sobre derechos humanos de
personas trans, lesbianas, gays y bisexuales en el Per 2013-2014, 2014, pg. 31.
[Peru] Portal Per 21, Loreto: Quema a su hijo tras descubrir que era homosexual, 12 de abril de 2013;
Jornal Huffington Post, Hitler Baneo Nez, padre peruano, incendia a su hijo por ser gay y VIH positivo, 18
de abril de 2013.
[Brasil] Jornal A Crtica, Jovem agride irmo em Coxim, aps descobrir que ele homossexual, 5 de maro
de 2014.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Madre, ILGHRC, CUNY School of Law, SEROVIE e FACSDIS, (Hait), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 25 de novembro de 2013, pg. 2.
Red Thread, Artistes in Direct Support (A.I.D.S.), Family Awareness Conscious Together (FACT) & Society
Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD), Sexuality and Gender Issues Affecting Children in Guyana:
A Joint Submission under the Convention of the Rights of the Child, janeiro de 2013, pg. 7.
Jornal Huffington Post, Mary Gowans, North Carolina Mother, Allegedly Instructed Son To 'Beat The Gay'
Out Of Older Brother [disponvel somente em ingls], 28 de agosto de 2013; Portal Gay Star News, Ohio
194 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
316. No que diz respeito violncia intrafamiliar contra crianas lsbicas, gays,
bissexuais ou trans, ou que so percebidas como tal, a CIDH gostaria de destacar
que a adoo de medidas especiais para proteger as crianas uma
responsabilidade do Estado, da famlia, da comunidade e da sociedade qual
pertencem. 869 Assim sendo, o Estado, a sociedade e a famlia devem prevenir e
evitar, atravs de todas as formas possveis, toda forma de violncia contra
crianas em todos os mbitos. 870 Alm disso, conforme a Corte Interamericana,
deve haver um justo equilbrio entre os interesses da pessoa e os da comunidade,
assim como um equilbrio entre os interesses da criana e os de seus pais e
mes. 871 E ainda, a autoridade que se outorga famlia no significa que esta possa
exercer um controle arbitrrio sobre a criana, e que possa resultar em dano sua
sade ou ao seu desenvolvimento. 872
317. O assdio ou bullying escolar um tipo especfico de violncia que ocorre nos
ambientes educacionais. Uma anlise realizada pela UNESCO em 2012 indicou que
o bullying escolar caracteriza-se por um conjunto de caractersticas especficas, tais
como, a inteno do agressor de causar dano ou medo; a natureza sistemtica da
violncia; sua repetio no tempo; o desequilbrio de poder entre a vtima e o
agressor; e o dano resultante. 873 O Comit de Direitos Humanos da ONU expressou
sua preocupao com a discriminao contra pessoas LGBT no sistema
educacional, 874 e em 2011 o Secretrio Geral da ONU afirmou que o bullying
868
869
870
871
872
873
874
man sentenced to 2 years for trying to beat the gay out of disabled brother [disponvel somente em
ingls], 15 de abril de 2014.
National Center for Lesbian Rights (NCLR), NCLR Representing Conversion Therapy Survivor who Alleges
Sexual Abuse by School Leader After Coming Out, 27 de agosto de 2014.
Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28 de agosto de
2002, Srie A No. 17, para. 62.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, para. 28.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, para. 76,
citando a Opinio Consultiva 17 e jurisprudncia da Corte Europeia de Direitos Humanos.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, prr. 76,
citando jurisprudncia da Corte Europeia de Direitos Humanos; e Corte IDH. Condio Jurdica e Direitos
Humanos da Criana, Opinio Consultiva OC-17/02, 28 de agosto de 2002, Srie A No. 17.
UNESCO, Anlise sobre Bullying Homofbico em Instituies Educacionais. Preparado para a Consulta
Internacional sobre Bullying Homofbico em Instituies Educacionais, Rio de Janeiro, Brasil, 6 a 9 de
dezembro de 2011, 12 de maro de 2012, pg. 4.
Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Mxico, CCPR/C/MEX/CO/5, 17 de maio de 2010, para. 21.
318. As crianas LGBT, ou aquelas percebidas como tal, sofrem maiores nveis de
vitimizao como grupo e esto expostos a um maior risco de ser assediados por
outras crianas na escola. 876 Com efeito, vrios estudos na regio indicam que o
bullying escolar devido orientao sexual ou identidade ou expresso de gnero
razo de sria preocupao no continente. 877 Pases como Honduras e Estados
Unidos inclusive reconheceram a existncia deste problema. 878
319. No Canad, um relatrio demonstra que quase 40% dos estudantes trans e 20%
das estudantes lsbicas, gays ou bissexuais denunciaram haver sido assediados ou
atacados fisicamente por sua orientao sexual ou identidade de gnero real ou
percebida. 879 Um caso terrvel noticiado pela imprensa referiu-se a adolescentes
num nibus escolar tentando enfiar pilhas na garganta de um adolescente por este
ser patinador artstico; e a informao indica que esta vtima posteriormente
cometeu suicdio. 880 No Chile, uma pesquisa demonstrou que os ambientes
875
876
877
878
879
880
Centro de Notcias da ONU, Homophobic bullying represents grave violation of human rights Ban, 8 de
dezembro de 2011.
UNICEF (Canad), Bullying and Cyberbullying: Two Sides of the Same Coin, Relatrio apresentado pela
UNICEF Canad ao Comit Permanente do Senado sobre Direitos Humanos, 28 de maio de 2012, pg. 3;
Representante Especial do Secretrio Geral da ONU sobre Violncia contra as Crianas, Combatendo a
violncia nas escolas, uma perspectiva global, preparado para a Reunio de Especialistas de Alto Nivel sobre
o Tratamento da Violncia nas Escolas, Oslo, Noruega, 27 e 28 de junho de 2011, pg. 17; Pinheiro, Paulo
Srgio, Relatrio Mundial sobre Violncia contra Crianas, 2006, pg. 121; Movimiento Mundial por la
Infancia e outros, Mapeo Regin Amrica del Sur: Implementacin de las Recomendaciones del Estudio
Mundial sobre la Violencia contra los Nios y Nias, julho 2011, pg. 20.
[Barbados] Caribbean HIV & AIDS Alliance, Assessing the Feasibility and Acceptability of Implementing the
Empowerment Project: An Evidence-Based HIV Prevention Intervention for Gay Men in Barbados, 2010,
pg. 41; [Bolvia] Conexin Fondo de Emancipacin, Situacin de las poblaciones TLGB en Bolivia: Encuesta
Nacional 2010, 2011, pg. 32; [Canad] Egale Canada Human Rights Trust, Every Class in Every School: Final
Report on the First National Climate Survey on Homophobia, Biphobia and Transphobia in Canadian Schools;
[El Salvador] PNUD e Procuradura para la Defensa de los Derechos Humanos (El Salvador), Informe sobre la
situacin de los Derechos Humanos de las Mujeres Trans en El Salvador, 2013, pg. 21; [Guiana] Society
Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD) & Sexual Rights Initiative (SRI), On Devils Island: A UPR
Submission on LGBT Human Rights in Guyana, junho de 2014, para. 30; [Estados Unidos] Gay, Lesbian &
Straight Education Network (GLSEN), The 2013 National School Climate Survey: The Experiences of Lesbian,
Gay, Bisexual and Transgender Youth in Our Nations Schools, 2014; National Center for Transgender Equality
e National Gay and Lesbian Task Force, Injustice at Every Turn: A Report of the National Transgender
Discrimination Survey, 2011, pgs. 33-47; [Regional] Instituto de Estudios en Salud, Sexualidad y Desarrollo
Humano, Universidad Peruana Cayetano Heredia, PNUD, UNESCO, Era como ir todos los das al
matadero...: El bullying homofbico en instituciones pblicas de Chile, Guatemala y Per. Documento de
trabajo, 2013, pg. 14.
[Honduras] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pelo Estado de Honduras, Nota DC-179/2013 de 20 de novembro de 2013, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 16; e [Estados Unidos] Resposta ao
questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelos Estados Unidos,
pg. 28.
Egale Canada Human Rights Trust, Every Class in Every School: Final Report on the First National Climate
Survey on Homophobia, Biphobia and Transphobia in Canadian Schools, 2011.
CBC News, Gay Ottawa teen who killed himself was bullied, 18 de outubro de 2011.
196 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
320. Nos Estados Unidos, uma pesquisa de 2011 indicou que quase a metade dos
estudantes trans (44%) alegou haver levado socos, chutes ou feridos com uma
arma pelo menos uma vez durante o ano anterior. 882 Tambm nos Estados Unidos,
houve vrios processos judiciais em casos em que os atos de bullying baseados na
orientao sexual resultaram posteriormente em atos brutais de violncia contra
as vtimas, principalmente porque manifestaes prvias e mais leves de violncia
e discriminao no foram levadas a srio ou foram ignoradas por autoridades
locais e escolares. Estes casos incluem provocaes constantes, insultos verbais e
palavres, que se transformaram em ataques mais violentos, tais como: atos
reiterados de abuso sexual ou toques nos genitais da vtima enquanto os
perpetradores gritavam termos de baixo calo; 883 arrastar a vtima amarrada pelo
pescoo a uma caminhonete; 884 dar socos, chutes e atirar a vtima em um
mictrio;885 jogar gua e queijo derretido escaldante na cabea da vtima;886 urinar
nelas e simular estupros; 887 atirar garrafas nelas e empurrar as vtimas escada
abaixo;888 empurrar as vtimas para dentro de armrios e cuspir nelas; 889 e assdio
contnuo que terminou em abuso sexual no vestirio; 890 dentre outros.
321. Em declarao conjunta realizada pela CIDH, o Comit dos Direitos da Criana da
ONU, e especialistas independentes de direitos humanos, estes afirmaram que as
crianas LGBT sofrem bullying escolar praticado por seus colegas e por
professores, o que resulta em evaso escolar. Ainda h casos de crianas que so
proibidas de ingressar na escola, ou so expulsas em funo de sua orientao
sexual ou identidade de gnero real ou percebida. 891
881
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884
885
886
887
888
889
890
891
Centro Latinoamericano en Sexualidad y Derechos Humanos (CLAM) & Instituto de Medicina Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS), Derechos, Poltica, Violencia y Diversidad Sexual, Segunda
Encuesta Marcha de la Diversidad Sexual Santiago de Chile 2011, 2012, pg. 45.
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Comunicado para a Imprensa No. 049/15 Declarao Conjunta em Comemorao ao Dia Internacional contra
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Diante da discriminao e violao dos seus direitos, jovens LGBT e intersex precisam de reconhecimento e
proteo, 17 de maio de 2015.
893
894
895
896
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[El Salvador] PNUD & Procuradura para la Defensa de los Derechos Humanos (El Salvador), Informe sobre la
situacin de los Derechos Humanos de las Mujeres Trans en El Salvador, 2013, pg. 21; [Honduras] Resposta
ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo Estado de
Honduras, Nota DC-179/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013,
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Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Argentina, Nota 96357/2013, 29 de novembro de 2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 13 de
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[Guiana] Red Thread, Artistes In Direct Support (A.I.D.S.), Family Awareness Conscious Together (FACT) &
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Humanos de la Diversidad Sexual en Chile 2012, 2013, pgs. 70 - 73; [Colmbia] CIDH, Relatrio Anual 2014,
Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio Verdade, Justia e
Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio de 2015, citando:
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por Colombia Diversa, recebido pela Secretaria Executiva da CIDH em 11 de dezembro de 2014; [Guatemala]
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Guatemala, Nota 1262-2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de dezembro de 2013, pg. 4.
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el Per: Problemtica, normatividad y tareas pendientes, Serie Documentos Defensoriales Documento N
2, setembro de 2007, pg. 109.
198 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
898
899
900
901
902
Red Peruana de Trans, Lesbianas Gays y Bisexuales & Centro de Promocin y Defensa de los Derechos
Sexuales y Reproductivos (PROMSEX), Informe Anual sobre Derechos Humanos de personas Trans, Lesbianas,
Gays y Bisexuales en el Per 2008, 2009, pg. 60.
[Bolvia] Conexin Fondo de Emancipacin, Situacin de las poblaciones TLGB en Bolivia: Encuesta Nacional
2010, 2011, pg. 31; [Chile] Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH), Informe anual de
derechos humanos de la diversidad sexual en Chile, 2014, pgs. 13, 65; [El Salvador] PNUD) & Procuradura
para la Defensa de los Derechos Humanos (El Salvador), Informe sobre la situacin de los Derechos Humanos
de las Mujeres Trans en El Salvador, 2013, pg. 22; [Guiana] Red Thread, Artistes In Direct Support (A.I.D.S.),
Family Awareness Conscious Together (FACT) & Society Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD),
Sexuality and Gender Issues Affecting Children in Guyana: A Joint Submission under the Convention of the
Rights of the Child, janeiro de 2013, pg. 7; [Regional] Movimiento Mundial por Infancia e outros, Mapeo
Regin Amrica del Sur: Implementacin de las Recomendaciones del Estudio Mundial sobre la Violencia
contra los Nios y Nias, julho de 2011, pg. 20.
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[Brasil] Portal UOL.com, Estudante de 12 anos comete suicdio em Vitria aps sofrer bullying na escola, 2
de maro de 2012; [Canad] CBC News, Gay Ottawa teen who killed himself was bullied, 18 de outubro de
2011; [Mxico] Portal SDP Noticias, Adolescente gay se suicida por bullying en Hermosillo; "no aguant la
carrilla", 24 de outubro de 2013; [Estados Unidos] Portal QUEERTY, Bullied to Death: Seth Walsh, 13, dies
after 10 days on life support after suicide attempt, 28 de setembro de 2010; Portal CNN News, Parents' suit
says school ignored bullying that led to teen's suicide, 29 de maro de 2011; Portal FOX 40, 12-year-old
Bullying Victim, Ronin Shimizu, Remembered by Cheer Squads, 7 de dezembro de 2014; Jornal Huffington
Post, Gay New Mexico Teen Commits Suicide After Reportedly Being Bullied By Classmates, 16 de julho de
2013; Jornal Huffington Post, Gay Iowa Teen Commits Suicide, Was Allegedly Bullied By Classmates, 29 de
julho de 2013; Portal Uniradio Noticias, Madre de Sergio Alonso clama justicia a autoridades escolares, 23
de outubro de 2013.
UNICEF, Documento de Posicin No. 9: Eliminando la Discriminacin y la Violencia contra nios, nias y
padres por su orientacin sexual y/o identidad de gnero, novembro de 2014, pg. 3.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 92/13, CIDH preocupada com a violncia e discriminao contra
pessoas LGBTI no contexto da educao e do ambiente familiar, 22 de novembro de 2013.
326. A Comisso tambm observou que o preconceito e o estigma social podem ser
especialmente prejudiciais a crianas LGBT. 905 Conforme a UNICEF, os Estados
devem combater as normas e prticas sociais que discriminam e marginalizam
crianas e adultos em funo de sua orientao sexual e identidade de gnero real
ou percebida. 906 Os Estados devem garantir que suas polticas de educao estejam
especialmente concebidas para modificar padres sociais e culturais de conduta,
combater o preconceito e costumes discriminatrios, e erradicar prticas baseadas
em esteretipos de pessoas LGBTI que possam legitimar ou exacerbar a violncia
por preconceito. 907
328. A violncia sexual e de gnero contra estudantes comum por causa do fracasso
dos Estados em promulgar e implementar leis e polticas que proporcionem aos
estudantes proteo inequvoca contra a discriminao e violncia. 910 Na
903
904
905
906
907
908
909
910
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 92/13, CIDH preocupada com a violncia e discriminao contra
pessoas LGBTI no contexto da educao e do ambiente familiar, 22 de novembro de 2013.
Comit dos Direitos da Criana, Comentrio Geral No. 13: O direito da criana de viver livre de todas as
formas de violncia, CRC/C/GC/13, para. 27.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 92/13, CIDH preocupada com a violncia e discriminao contra
pessoas LGBTI no contexto da educao e do ambiente familiar, 22 de novembro de 2013.
UNICEF, Position Paper No. 9: Eliminating Discrimination and Violence against Children and Parents Based
on Sexual Orientation and/or Gender Identity, Novembro de 2014, pg. 4.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 92/13, CIDH preocupada com a violncia e discriminao contra
pessoas LGBTI no contexto da educao e do ambiente familiar, 22 de novembro de 2013.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, para.77.
Corte IDH, Resoluo de 27 de janeiro de 2009, em resposta ao Pedido de Opinio Consultiva apresentado
pela CIDH; citando: Corte IDH. Opinio Consultiva OC-17/02 de 28 de agosto de 2002, Srie A No. 17. Ver
tambm, Corte IDH. Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 14 de julho de
2006. Srie C No. 149, paras. 89 e 90.
ONU, Assembleia Geral, Relatrio do especialista indedependente para o estudo das Naes Unidas sobre
violncia contra as crianas, A/61/299, 29 de agosto de 2006, para. 52.
200 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
330. A CIDH solicita aos Estados Membros da OEA que cumpram com suas obrigaes
de respeitar, garantir e adotar medidas no mbito interno que garantam
plenamente o direito das crianas LGBT, ou daquelas percebidas como tal, a uma
vida livre de discriminao e violncia no seio familiar e na escola. Estas medidas
incluem: a erradicao de programas de estudo nas escolas com informao
preconceituosa, no cientificamente comprovada ou incorreta que estigmatize
orientaes sexuais e identidades de gnero diversas; a superviso e o controle dos
regulamentos escolares que discriminam estudantes LGBT; a implementao de
polticas integrais para prevenir, investigar e punir a violncia contra crianas
LGBT, independente de onde esta ocorra; a implementao de medidas especiais
para a documentao e produo de dados relativos violncia contra crianas em
funo de sua orientao sexual e identidade de gnero real ou percebida; a
criao de mecanismos de denncia eficazes e a realizao de investigaes com a
devida diligncia em casos de violncia contra crianas LGBT no lar ou na escola; o
treinamento das instituies estatais encarregadas de supervisar o bem-estar das
crianas para que possam identificar o abuso e a violncia contra crianas
911
912
913
914
UNICEF, Position Paper No. 9: Eliminating Discrimination and Violence against Children and Parents Based
on Sexual Orientation and/or Gender Identity, Novembro de 2014, pg. 4.
UNICEF, Position Paper No. 9: Eliminating Discrimination and Violence against Children and Parents Based
on Sexual Orientation and/or Gender Identity, Novembro de 2014, pg. 3.
CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e adolescentes, 2009, para. 67.
Corte IDH. Caso Cantoral Benavides Vs. Peru. Sentena de 18 de agosto del 2000. Srie C No. 69, para.
178. Corte IDH. Caso Baena Ricardo e outros Vs. Panam. Sentena de 2 de fevereiro de 2001. Srie C No.
72, para.180, citado em CIDH, Relatrio sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianas e
adolescentes, 2009, para. 73.
E.
331. A CIDH reitera que o trabalho de defensores e defensoras de direitos humanos 915
fundamental para a implementao universal dos direitos humanos, e para a
existncia plena da democracia e do estado de direito. Os defensores e defensoras
de direitos humanos so um pilar essencial para o fortalecimento e a consolidao
da democracia. Portanto, quando algum impedido de defender os direitos
humanos, o resto da sociedade diretamente afetado. 916 A CIDH considera que o
exerccio do direito defesa dos direitos humanos implica a possibilidade de
promover e defender livre e eficazmente qualquer direito cuja aceitao seja
inquestionvel, 917 assim como qualquer novo direito ou componente de direito que
ainda seja tema de debate. 918
332. Nesse sentido, a Comisso adverte que os Estados devem continuar ou iniciar
processos de dilogo com defensoras e defensores de direitos humanos de pessoas
LGBTI, a fim de aprender sobre os problemas que enfrentam e facilitar sua
participao ativa na adoo de polticas pblicas. 919 Estes espaos de dilogo
devem ser criados de acordo com os direitos de reunio e liberdade de associao,
consagrados no artigo XXI da Declarao Americana e no artigo 15 da Conveno
Americana, assim como em outros instrumentos internacionais. 920 Com efeito,
915
916
917
918
919
920
A CIDH entende que defensor ou defensora de direitos humanos toda pessoa que de qualquer forma
promove ou busca a concretizao dos direitos humanos e liberdades fundamentais, em mbito nacional ou
internacional. O nico critrio utilizado para determinar se uma pessoa pode ser considerada como defensor
de direitos humanos a atividade realizada por essa pessoa, e no outros fatores, como se recebe salrio
por seu trabalho, ou se pertence a uma organizao da sociedade civil. CIDH, Segundo relatrio sobre a
situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas, OEA/Ser.L/V/II. Doc.66, 31 de
dezembro de 2011 (doravante CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de
direitos humanos nas Amricas, 2011), para. 12.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 13.
CIDH, Relatrio sobre a situao das defensoras e defensores dos direitos humanos nas Amricas,
OEA/Ser.L/V/II.124. Doc. 5 rev. 1, 7 de maro de 2006 (doravante CIDH, Relatrio sobre a situao das
defensoras e defensores dos direitos humanos nas Amricas, 2006), para. 36.
CIDH, Relatrio sobre a situao das defensoras e defensores dos direitos humanos nas Amricas, 2006,
citado em CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas
Amricas, 2011, para. 16.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 7.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 128. Este direito tambm est reconhecido no artigo 20.1 da Declarao Universal de Direitos
Humanos; no artigo 21 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos; e no artigo 5 da Declarao sobre
202 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
921
922
923
924
o direito e dever dos indivduos, grupos e instituies de promover e proteger os direitos humanos e as
liberdades fundamentais universalmente reconhecidos, A/RES/53/144, 8 de maro de 1999.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 128.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 297; CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23/14, A CIDH expressa preocupao com ataques a
pessoas LGBTI e outras formas de violncia e restries impostas a organizaes LGBTI nas Amricas, 27 de
fevereiro de 2014.
OEA, Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES.
2863 (XLIV-O/14), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 5 de junho de 2014; OEA, Assembleia
Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2807 (XLIII-O/13),
aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 6 de junho de 2013; OEA, Assembleia Geral, Direitos
Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2721 (XLII-O/12), aprovada na
segunda sesso plenria, celebrada em 4 de junho de 2012; OEA, Assembleia Geral, Direitos Humanos,
Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2653 (XLI-O/11), aprovada na quarta sesso
plenria, celebrada em 7 de junho de 2011; OEA, Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e
Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2600 (XL-O/10), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada
em 8 de junho de 2010; OEA, Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e
Expresso de Gnero, AG/RES. 2504 (XXXIX-O/09), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 4 de
junho de 2009. Todas as resolues esto disponveis na seo de enlaces da pgina web da Relatoria
LGBTI, acessvel atravs da pgina da CIDH: www.cidh.org.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 57/14, Declarao conjunta, 17 de mayo - Dia Internacional contra
a Homofobia e Transfobia (IDAHO-T), 15 de maio de 2014.
grupos. 925 O Relator Especial da ONU sobre a Tortura observou que os grupos de
direitos humanos e as pessoas que atuam em temas sobre sexualidade, orientao
sexual e identidade de gnero, so geralmente vulnerveis ao preconceito,
marginalizao e rejeio pblica, por autoridades do Estado e tambm por outros
atores sociais. 926 O Relator Especial da ONU sobre Defensores de Direitos
Humanos expressou sua preocupao em relao com as contnuas campanhas de
desprestgio e ameaas violentas contra defensoras e defensores dos direitos das
pessoas LGBTI. 927 A CIDH, por sua vez, recebeu informao sobre atos de violncia
e pichaes que contm mensagens de dio destinadas a organizaes que
trabalham em temas de orientao sexual e identidade de gnero, 928 assim como
ameaas de morte enviadas por mensagens de texto a estes lderes de direitos
humanos. 929
925
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927
928
929
930
931
ONU, Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou
degradantes, A/56/156, 3 de julho 2001, para. 25; Relatrio sobre defensores de direitos humanos do
Representante Especial do Secretrio Geral, E/CN.4/2001/94, 26 de janeiro de 2001, prr. 89(g).
ONU, Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou
degradantes, A/56/156, 3 de julho 2001, para. 25.
ONU, Relatrio da Relatora Especial sobre a situao dos defensores de direitos humanos, Margaret
Sekaggya, A/HRC/13/22, 13 Sesso, 30 de dezembro de 2009, para. 49.
Ver, por exemplo, Portal Emol, Movilh denuncia atentado homofbico contra sede: Frontis fue rayado con
fuertes eptetos, 19 de maio de 2014.
Por exemplo, desde maro de 2014, membros de uma organizao chamada Grupo Matizes, no Piau
(Brasil), comeou a receber ameaas de morte atravs de mensagens de texto. Alm disso, a Relatora da
CIDH sobre os Direitos das Pessoas LGBTI recebeu informao em outubro de 2014 de vrias lideranas LGBT
da Colmbia que receberam ameaas de morte por mensagens de texto. Informao recebida durante a
visita da ento Presidente da CIDH a Colmbia em setembro-outubro de 2014.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, paras. 325-337.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, paras. 325-337.
204 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
336. Dentre as pessoas mais vulnerveis violncia esto as mulheres trans que so
defensoras de direitos humanos e que tambm realizam trabalho sexual. 932 Um
relatrio regional sobre a situao das mulheres trans defensoras de direitos
humanos, elaborado pela organizao REDLACTRANS evidenciou o vnculo
existente entre trabalho sexual, por um lado, e o ativismo sobre HIV e direitos
humanos, pelo outro. 933 Segundo este relatrio, as mulheres trans na Amrica
Latina, especialmente aquelas que so tambm trabalhadoras sexuais, geralmente
procuram organizaes trans de direitos humanos, devido ao trabalho realizado
por tais organizaes nas reas de preveno do HIV e acesso a programas de
HIV. 934 Uma defensora de direitos humanos trans de San Pedro Sula, Honduras,
declarou que a polcia lhe conhecia pelo seu ativismo, e quando policiais a viram na
noite, foi presa e vtima de abuso policial sem razo, Outra defensora trans de
direitos humanos de Cali, Colmbia, indicou que policiais constantemente pedem
cdula de identificao a elas quando esto trabalhando na rua, apesar de conhecer
seu trabalho de defesa dos direitos humanos ou participar de reunies com elas.
Complementa dizendo que para os policiais como se deixassem de ser defensoras
quando esto na rua. 935 De acordo com a organizao REDLACTRANS, a
combinao de ambas atividades claramente pe as defensoras de direitos
humanos trans numa posio mais vulnervel porque, apesar da violncia contra
elas ocorrer potencialmente em qualquer lugar e hora do dia, o fato de que se
dedicam ao trabalho sexual na rua noite, permite mais oportunidades para a
polcia tomar medidas contra elas em impunidade. 936
933
934
935
936
937
938
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 27.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 27.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 27.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 28.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 28.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 328.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 335.
338. A CIDH tambm recebeu informao inquietante sobre atos de violncia fsica e
verbal perpetradas contra defensoras e defensores de direitos humanos de
pessoas LGBT por outros grupos durante o Quadragsimo Quinto Perodo
Ordinrio de Sesses da Assembleia Geral da OEA realizado em 2015. 939 Por outro
lado, em 2 de junho de 2014, comentaristas sociais e ativistas dos direitos das
pessoas LGBTI denunciaram que foram agredidos, supostamente por agentes de
segurana, durante um protesto em frente ao edifcio onde se realizava o
Quadragsimo Quarto Perodo Ordinrio de Sesses da Assembleia Geral da OEA
em Assuno, no Paraguai. 940
339. A CIDH afirmou que os ataques contra a vida das defensoras e defensores de
direitos humanos tm um efeito multiplicador que impacta mais alm do que a
vtima em questo. Quando acontece um ataque em represlia pelas aes de um
defensor ou defensora, isso provoca um efeito intimidador naquelas pessoas
vinculadas defesa e promoo dos direitos humanos, o que diminui de maneira
concreta as possibilidades de realizar esse trabalho de defesa. 941 A CIDH tem
reiterado que o homicdio de um defensor ou defensora de direitos humanos
LGBTI, assim como de qualquer defensor ou defensora, provoca medo naquelas
pessoas que defendem e promovem direitos, e aqueles cujos direitos so
promovidos e defendidos, o que resulta na perpetuao das violaes cometidas
contra grupos vulnerveis e seus defensores. 942 A Corte Interamericana observou
que o temor causado por essa violncia pode menoscabar de forma direta a
possibilidade de que as defensoras e defensores de direitos humanos possam
exercer seu direito de realizar esse trabalho. 943 Organizaes ressaltaram que os
homicdios de lderes LGBT demonstraram na prtica como podem tornar-se
fatores de dissuaso das atividades de defensores e defensoras na regio.944 Este
medo exacerbado pela impunidade que geralmente caracteriza estes ataques;
uma impunidade que serve para perpetuar essas violaes aos direitos
humanos. 945 A CIDH observou que, quando defensoras e defensores de direitos
humanos denunciam seus casos perante o Judicirio, especialmente os casos
939
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943
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945
Informao enviada pela Coalizo de Organizaes LGBTTTI que trabalham junto OEA, junho 2015 (nos
arquivos da Secretaria Executiva da CIDH).
Sindicato de Jornalistas do Paraguai, Repudio a la represin de periodistas y grupos de LGTBI en Paraguay, 5
de junho de 2014; Somos Gay Paraguay, Violenta represin a activistas LGBT y periodistas frente a la OEA en
Paraguay, 2 de junho de 2014; Jornal El Mundo, Violenta represin policial ante la marcha gay en Paraguay,
3 de junho de 2014.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 25.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 331.
Corte IDH. Caso Valle-Jaramillo e outros. Vs. Colombia. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 27 de
novembro de 2008. Srie C No. 192, para. 96; e Corte IDH. Caso Huilca Tecse Vs. Peru. Mrito, Reparaes e
Custas. Sentena de 3 de maro de 2005. Srie C No. 121, para. 78.
Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y
Personas Trans en Colombia 2010-2011, 2013, pgs. 19-20.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23/14, A CIDH expressa preocupao com ataques a pessoas LGBTI e
outras formas de violncia e restries impostas a organizaes LGBTI nas Amricas, 27 de fevereiro de
2014.
206 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
342. Durante os ltimos anos, a Comisso outorgou onze medidas cautelares para
proteger defensoras e defensores de direitos humanos LGBTI em Belize, 950
Honduras, 951 Jamaica, 952 Mxico 953 e Guatemala. 954 Em fevereiro de 2014, a CIDH
emitiu um comunicado para a imprensa no qual expressou sua preocupao sobre
o alto nmero de ataques contra organizaes LGBTI e seus membros que
946
947
948
949
950
951
952
953
954
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 333.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 21.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 21.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, para. 297.
CIDH, Medida Cautelar 155/13: Caleb Orozco, Belize, outorgada em 29 de maio de 2013. (resumo disponvel
em www.cidh.org).
CIDH, Medida Cautelar 457/13: Membros da Asociacin para una Vida Mejor de Honduras (APUVIMEH),
Honduras, outorgada em 22 de fevereiro de 2014; CIDH, Medida Cautelar 18/10: Indyra Mendoza Aguilar e
outros, Honduras, outorgada em 29 de janeiro 2010; CIDH Medida Cautelar 196/09: Ampliao de Medidas
Cautelares, Honduras; Medida Cautelar 210/08: Marlon Cardoza e outros membros da Associao CEPRES;
CIDH, Medida Cautelar 621/03: Elkyn Johalby Surez Meja e Membros da Comunidade Gay Sampedrana,
Honduras, outorgada em 4 de setembro de 2003. Ver os resumos destas medidas cautelares em
www.cidh.org.
CIDH, Medida Cautelar 153/11: X. e Z., Jamaica, outorgada em 21 de setembro de 2011; e CIDH, Medida
Cautelar 80/11: Maurice Tomlinson, Jamaica, outorgada em 21 de maro de 2011.
CIDH, Medida Cautelar 222/09: Agustn Humberto Estrada Negrete e outras, Mxico, outorgada em 7 de
abril de 2010.
CIDH, Medida Cautelar 3/06: Kevin Josu Alegra Robles e membros de OASIS, Guatemala.
343. Sobre o Brasil, a CIDH recebeu informao sobre o homicdio de Gabriel Henrique
Furquim, em 21 de junho de 2009, 956 um membro do Grupo Dignidade para a
Defesa dos Direitos das Pessoas Gays e da Associao Brasileira de Pessoas Gays,
Lsbicas, Bissexuais e Trans;957 e sobre o homicdio de Jacare Iranilson Nunes da
Silva, em 23 de novembro de 2010, um membro da organizao Revida. 958 Em
junho de 2014, um grupo denominado Irmandade Homofbica teria enviado uma
srie de ameaas de morte atravs de panfletos, mensagens de texto, e mensagens
em redes sociais, contra defensores de direitos humanos LGBT no estado do Piau.
A CIDH enviou uma carta ao Brasil em 9 de julho de 2014, solicitando informaes
sobre as medidas adotadas para investigar as ameaas contra Marinalva de
Santana Ribeiro, uma defensora de direitos humanos lsbica e fundadora da
organizao LGBT Grupo Matizes, em Teresina, Piau. O Brasil respondeu ao
pedido de informaes indicando as medidas adotadas para investigar as ameaas,
assim como mencionou a incluso de Marinalva no Programa Nacional para a
Proteo dos Defensores de Direitos Humanos do Piau, para proteg-la das
ameaas de violncia e lhe oferecer tratamento psicolgico. 959
344. Em relao com a Colmbia, a CIDH vem recebendo de forma contnua informaes
sobre homicdios de defensoras e defensores de direitos humanos em vrias partes
do pas. Em 2009, uma mulher trans960 e um homem gay961 foram assassinados;
ambos eram defensores de direitos humanos LGBT que haviam denunciado
publicamente casos de violncia, incluindo ocorrncias de abuso policial. Em 2010,
quatro lderes lsbicas foram assassinadas com poucos dias de diferena em
955
956
957
958
959
960
961
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23/14, A CIDH expressa preocupao com ataques a pessoas LGBTI e
outras formas de violncia e restries impostas a organizaes LGBTI nas Amricas, 27 de fevereiro de
2014.
Citado em CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas
Amricas, 2011, para. 332.
Grupo Gay da Bahia, Militante de grupo gay assassinado em Curitiba, Redao Bem Paran, 22 de junho
2009.
Portal Infoglobo Extra, Jacare: homem morto com 12 tiros recebia ameaa, 25 de novembro de 2010; Portal
A Capa, Homossexual morre com 12 tiros em Jacare; polcia suspeita de homofobia, 25 de novembro de
2010.
Misso do Brasil perante a OEA, Carta No. 186 de 31 de julho de 2014.
Wanda Fox, uma lder trans, foi assassinada em 2009 aps denunciar publicamente o assdio sofrido pelas
mulheres trans nas mos de policiais. Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas
LGBTI nas Amricas apresentada por Colectivo Entre Trnsito e outros (Colmbia), recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 44.
O Relator Especial da ONU denunciou o caso emblemtico de lvaro Miguel Rivera Linares, um ativista dos
direitos das pessoas LGBT e pessoas vivendo com HIV/AIDS, que foi encontrado morto em seu apartamento
em 6 de maro de 2009, na Colmbia. Seu corpo tinha marcas de tortura. [] o senhor Rivera Linares havia
denunciado a violncia generalizada contra a populao LGBT em Cali, incluindo supostos abusos e
detenes arbitrrias praticados por policiais. Em 2001, recebeu amenaas porque denunciou a prtica de
membros da guerrilha de fazer testes de HIV/AIDS na populao e excluir as pessoas cujo resultado era
positivo. ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a situao dos defensores
de direitos humanos. Apndice: Misso a Colmbia, A/HRC/13/22/Add.3, 4 de maro de 2010, para. 50.
208 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
Antioquia 962 e Medelln, 963 assim como um lder poltico gay em Crdoba. 964 Em
2011, uma lder trans foi assassinada em Pasto, aps receber inmeras ameaas. E
ainda, a CIDH recebeu informao sobre o homicdio de Wizy Romero, em 23 de
julho de 2013, uma mulher trans de 21 anos reconhecida por sua liderana no
movimento LGBTI de Barranquilla. 965 Adicionalmente, Guillermo Garzn Andrade,
fundador da organizao Somos Opcin LGBT, foi assassinado em novembro de
2014. Seu corpo foi encontrado amordaado e com sinais de violentos ferimentos
infligidos por uma arma branca. 966
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Os homicdios de Cruz Elena Rojo Pea e Nedys Yuleny Roldn Snchez. Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin:
Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2010-2011, 2013,
pg. 23.
Colombia Diversa, Todos los deberes, pocos los derechos, Situacin de los derechos de lesbianas, gay,
bisexuales y transgeneristas en Colombia 2008-2009, pg. 141; Caracol Radio, Piden investigar el asesinato
de dos integrantes de la comunidad LGBT en Medelln, 8 de agosto de 2010.
Morte de Yerys Tilson Daz Pez, um lder poltico gay assassinado em novembro de 2010. Colombia Diversa,
Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en
Colombia 2010-2011, 2013, pg. 23.
Este e outros homicdios foram includos no comunicado para a imprensa emitido pela CIDH sobre os atos de
violncia cometidos contra pessoas LGBTI durante o ms de julho de 2013. Ver CIDH, Comunicado para a
Imprensa No. 60/13, CIDH expressa preocupao com a violncia e discriminao contra pessoas LGTBI, e
particularmente pessoas jovens, nas Amricas, 15 de agosto de 2013.
Colombia Diversa, Activista LGBT fue brutalmente asesinado en Bogot, 18 de novembro de 2014.
CIDH Comunicado para a Imprensa No.118/14, Presidente da CIDH finaliza sua visita a Colmbia, 10 de
outubro de 2014.
A CIDH nota com preocupao a circulao de panfletos com ameaas de morte contra defensoras e
defensores LGBT em Barrancabermeja, Departamento de Santander; e as ameaas de morte contra Ovidio
Nieto de Gente Accin, em 2013. CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013, prr. 994.
CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio
Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio
de 2015, para. 301.
346. Nos ltimos aos, a CIDH recebeu informao preocupante sobre homicdios e
supostos abusos policiais contra defensores e defensoreas de direitos humanos de
pessoas trans em el Salvador. Francela Mndez, uma mulher trans de 29 anos de
idade, e defensora integrande da Red Salvadorea de Defensoras de Derechos
Humanos, foi assassinada em 30 de maio de 2015. 973 Depois de sua morte, a CIDH
declarou que no contexto de pases com altos nveis de insegurana e crime
organizado, especialmente importante que os Estados adotem um enfoque
diferenciado para garantir os direitos vida e integridade de defensores de
direitos humanos de pessoas LGBTI, que se tornam especialmente vulnerveis
violncia de grupos armados. 974
347. Em maio de 2013, Tania Vzquez, uma mulher trans lder de uma organizao
trans em El Salvador foi assassinada. 975 Conforme a informao recebida pela
CIDH em maio de 2015, h um inqurito aberto sobre o caso, mas este no resultou
em nada. 976 Depois da morte de Tania, uma organizao local de direitos humanos
das pessoas trans denominada COMCAVIS denunciou que a polcia havia entrado a
suas instalaes com uma ordem de busca e apreenso indicando que a sede de
COMCAVIS era um lugar onde eram realizadas atividades ilegais e prostituio.
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Corporacin Caribe Afirmativo e Global Rights, informao apresentada por escrito durante a audincia
perante a CIDH Denncias sobre violncia contra pessoas LGBTI no Caribe colombiano, celebrada em 27 de
outubro de 2014.
Corporacin Caribe Afirmativo, Asesinan a golpes a mujer trans en San Marcos, Sucre, 9 de janeiro de
2015.
A Corporacin Caribe Afirmativo afirma que os atos de violncia contra pessoas LGBTI na regio do Caribe
colombiano so perpetrados principalmente por grupos criminosos, como Las guilas Negras, Los Paises, Los
Urabeos, Los Nevados, Los Tayronas e Los Rastrojos, que decidiram no aderir aos benefcios da Lei de
Justia e Reparao; assim como as Frentes 19, 37 e 29 das FARC, uma srie de redutos do Exrcito Nacional
de Liberao (ELN) e vrios grupos desmobilizados das AUC. Corporacin Caribe Afirmativo, informao
apresentada por escrito na audincia perante a CIDH Denncias sobre violncia contra pessoas LGBTI no
Caribe colombiano, celebrada em 27 de outubro de 2014.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 63/15, CIDH condena homicdio de defensora de direitos humanos
das pessoas trans em El Salvador, 8 de junho de 2015.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 63/15, CIDH condena homicdio de defensora de direitos humanos
das pessoas trans em El Salvador, 8 de junho de 2015.
CIDH, Audincia sobre denncias de violncia contra pessoas trans em El Salvador, 149 perodo ordinrio de
sesses, 29 de outubro de 2013. Ver tambm Asociacin Solidaria para Impulsar el Desarrollo Humano
(ASPIDH), Monitoreo y nmeros de casos de homicidios contra la comunidad Trans y Gay, 2013.
Portal Sin Etiquetas, Sin justicia: a Tania Vsquez la mataron en El Salvador hace dos aos, 4 de maio de
2015.
210 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
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CIDH, Carta de pedido de informaes enviada a El Salvador, conforme o artigo 41 da Conveno Americana,
em relao com a situao de ASPIDH-Arcoiris Trans, enviada em 27 de abril de 2015 (nos arquivos da
Secretaria Executiva da CIDH).
El Salvador enviou CIDH duas cartas em resposta ao pedido de informaes. El Salvador, Fiscala General de
la Repblica, carta de 11 de maio de 2015, referncia Of. FDH-77-15, Exp. FDH-021-2015; e El Salvador,
Informe sobre la situacin de los defensores de derechos humanos de ASPIDH-Arcoiris Trans, NV-95/2015, de
19 de junho de 2015, recebida em 22 de junho de 2015; ambas cartas esto nos arquivos da Secretaria
Executiva da CIDH.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Madre, ILGHRC, CUNY School of Law, SEROVie e FACSDIS, (Haiti), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 25 de novembro de 2013, pg. 9.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Madre, ILGHRC, CUNY School of Law, SEROVie e FACSDIS, (Haiti), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 25 de novembro de 2013, pg. 2.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Madre, ILGHRC, CUNY School of Law, SEROVie e FACSDIS, (Haiti), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 25 de novembro de 2013, pg. 2.
349. Em 2013, a CIDH foi informada sobre o aumento das ameaas recebidas por
Kouraj, uma organizao que defende os direitos das pessoas LGBT no Haiti, 982
depois do anncio de uma Marcha contra a Homossexualidade, agendada para o
dia 26 de julho de 2013. A informao indica que Charlot Jeudy, presidente de
Kouraj, teria sido alvo de algumas das ameaas, e tambm teria recebido ligaes
annimas acusando as pessoas gays de causar o terremoto que provocou a morte
de mais de 200.000 pessoas no Haiti em 2010. 983 De acordo com a Anistia
Internacional, em 21 de novembro de 2013, trs homens armados com faces e
armas de fogo invadiram as instalaes de Kouraj e ameaaram, agrediram e
amarraram dois membros da organizao, roubaram computadores e outras
informaes de carter delicado. Alega-se que um juiz de paz foi at a sede da
organizao para verificar a situao, e que membros da organizao denunciaram
o incidente polcia. 984
350. Sobre Honduras, a CIDH foi informada que pelo menos doze defensores de direitos
humanos de pessoas LGBT foram assassinados nesse pas entre 2006 e 2013. 985 A
CIDH condenou os homicdios de defensores e defensoras de direitos humanos de
pessoas LGBT em Honduras em 2009, 986 2011 987 e 2012. 988 Em julho de 2013, foi
encontrado o cadver de Herwin Chamorro Alexis Ramrez, uma mulher trans,
afrodescendente de 24 anos de idade, com mltiplos tiros e facadas. Herwin era
uma lder jovem, ativa em sua comunidade, e que fazia trabalho voluntrio para
organizaes dedicadas preveno do HIV e direitos das comunidades
afrodescendentes de Honduras. 989 Durante sua visita a Honduras em dezembro de
2014, a CIDH recebeu informao de que as defensoras e defensores de direitos
humanos de pessoas LGBT eram constantemente atacados e perseguidos por
grupos que procuram impor a discriminao estrutural contra eles atravs da
violncia. Alega-se que defensoras e defensores de direitos humanos das pessoas
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Kouraj trabalha para conscientizar sobre os direitos LGBTI e provocar debate pblico sobre o estigma sobre a
homossexualidade no Haiti. Other Worlds, Amnesty International Alert: Support LGBTI Activists at Risk in
Haiti, 19 de julho de 2013.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Anistia Internacional, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013.
Institute for Justice and Democracy in Hait, Urgent Action: LGBTI Organization in Haiti Attacked, 26 de
novembro de 2013.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela Red
Lsbica Cattrachas, (Honduras), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 1 de dezembro de 2013,
pg. 26.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 3/09, CIDH condena homicdio de defensora de Direitos Humanos
em Honduras, 6 de fevereiro de 2009 [condenando o homicdio de Cynthia Nicole].
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 4/11, CIDH observa com profunda preocupao homicdios de
integrantes da comunidade transgnero em Honduras, 20 de janeiro de 2011 [condenando o homicdio de
7 pessoas trans em Honduras, ocorridos entre novembro de 2010 e janeiro de 2011, e tambm
mencionando os homicdios dos seguintes defensores de direitos humanos: Neraldys Perdomo, Imperia
Gamaniel Parson e Walter Trochez, dentre outros].
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. R46/12, Relatorias de Liberdade de Expresso, de Defensores e
Defensoras de Direitos Humanos e a Unidade para as Pessoas LGTBI condenam o homicdio de ativista e
comunicador em Honduras, 11 de maio de 2012 [condenando o homicdio de Eric Alex Martnez vila].
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Anistia Internacional, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013.
212 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
LGBT esto sujeitos a detenes arbitrrias pela polcia por representar uma
ameaa moral e aos bons costumes. Uma mulher trans defensora de direitos
humanos contou CIDH que em Honduras, criminaliza-se pelo simples fato de ser
trans, por ser defensora, por ser parte desta sociedade. 990 Outra organizao
informou que das sete mulheres trans que fundaram a organizao Colectivo
Unidad Color de Rosa em 2001, seis foram assassinadas; e que das 27 mulheres
trans assassinadas em Honduras entre 2009 e 2012, 15 eram ativistas dessa
organizao. 991
351. Dentre os casos mais notrios de Honduras est o homicdio de Walter Trochez, de
27 anos de idade, em dezembro de 2009. 992 Ele era um defensor de direitos
humanos que, trs meses antes de sua morte, ofereceu seu testemunho CIDH
durante a visita da Comisso a Honduras do ano de 2009, e que, posteriormente ao
golpe de estado, comeou a reunir informao sobre os homicdios de pessoas
LGBT em Honduras. 993 Alguns dias antes de seu homicdio, Walter foi
supostamente sequestrado por quatro homens mascarados e vestidos de civis, que
o agrediram, exigiram que divulgasse os nomes e endereos de outros ativistas, 994
e alegaram ter ordem para mat-lo. 995 Em maro de 2015, um tribunal penal em
Tegucigalpa absolveu um amigo de Walter que havia sido acusado pelo crime, e
que esteve em priso preventiva durante dois anos, quando supostamente foi
vtima de estupros por sua orientao sexual. 996 A organizao Red Lsbica
Cattrachas alegou que o amigo de Walter estava no Mxico com sua me quando
aquele foi assassinado, e que foi usado como bode expiatrio para encobrir a
suposta participao da polcia no homicdio de Walter. O Estado nega qualquer
participao da polcia. 997 A organizao Red Lsbica Cattrachas observa que este
um caso emblemtico da impunidade caracterstica dos homicdios de pessoas
LGBT, e que a investigao realizada foi deficiente porque no considerou as
atividades de Walter como defensor de direitos humanos, e ao invs disso,
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CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 146A/14, Observaes Preliminares sobre a Situao dos Direitos
Humanos em Honduras, anexo ao comunicado que finaliza a visita: CIDH finaliza visita in loco a Honduras,
5 de dezembro de 2014.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pgs. 28-29.
Relatrio do Relator Especial sobre a Situao dos Defensores de Direitos Humanos, Apndice: Resumo de
casos transmitidos aos Governos e as respostas recebidas, A/HRC/16/44/Add.1, 28 de fevereiro de 2011,
para. 997-1000; Relatrio do Relator Especial sobre a Situao dos Defensores de Direitos Humanos,
Apndice: Misso a Honduras, A/HRC/22/47/Add.1, 13 de dezembro de 2012, para. 91; Jornal Huffington
Post, The murder of Walter Trochez: political violence and impunity in Honduras, 13 de dezembro de 2010
(disponvel somente em ingls).
Jornal Huffington Post, The murder of Walter Trochez: political violence and impunity in Honduras, 13 de
dezembro de 2010 (disponvel somente em ingls).
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 164A/14, Observaes preliminares da Comisso Interamericana de
Direitos Humanos sobre sua visita a Honduras, 15 a 18 de maio 2010, para. 53.
Jornal Huffington Post, The murder of Walter Trochez: political violence and impunity in Honduras, 13 de
dezembro de 2010 (disponvel somente em ingls), citando Anistia Internacional.
Red Lsbica Cattrachas, Comunicado: Sentencia Absolutoria del acusado por homicidio de Walter Trochez,
24 de maro de 2015.
Jornal Huffington Post, The murder of Walter Trochez: political violence and impunity in Honduras, 13 de
dezembro de 2010 (disponvel somente em ingls).
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Red Lsbica Cattrachas, Comunicado: Sentencia Absolutoria del acusa por homicidio de Walter Trochez, 24
de maro de 2015.
Agenda LGBT A.C., Informe de la situacin de homofobia en Mxico del ao 2013, fevereiro de 2013, pg. 5;
Portal Notiese, Asesinan a Activista gay en Chilpansingo, 4 de maio de 2011; Portal Notiese, Asesinan a
Activista Gay en DF, 24 de julho de 2011; Revista Proceso, Investigan asesinato de abogado transexual; era
agente del MP en el DF, 8 de junho de 2013.
CIDH Comunicado para a Imprensa No. 42/11, CIDH condena homicdio de defensor dos direitos humanos
LGBTI no Mxico, 10 de maio de 2011.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 32/12, CIDH condena homicdio de defensora de direitos humanos
no Mxico, 20 de maro de 2012; Revista Proceso, Asesinan a Agnes Torres, Activista Transgnero, 12 de
marco de 2012.
Jornal El Sol de Puebla, Presentan a los presuntos asesinos de la activista Agnes Torrez Hernndez; hay un
prfugo, 18 de maro de 2012.
Portal Notiese, Exigen esclarecer homicidio del activista Edgar Sosa, 13 de maio de 2014; Jornal La Jornada
Jalisco, Marchan para visibilizar a las vctimas de la homofobia en Jalisco, 17 de maio de 2014.
GLBTQ Jamaica, Remembering Brian Williamson, 9 de junho de 2011.
HRW, Hated to Death: Homophobia, Violence and Jamaicas HIV/AIDS Epidemic, novembro de 2004, Vol. 16,
No. 6(B), pg. 2.
Jornal Jamaica Cleaner, Gay Rights activists killer gets life, 21 de maio de 2006.
214 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
a polcia no prendeu ningum pelo ataque, e que ao invs disso, levou os homens
gays presos, e depois abusou deles enquanto estavam sob custdia policial. 1007
354. A CIDH tambm recebeu informao de que membros de organizaes LGBT nas
Bahamas1008 e em Dominica 1009 sentem medo de realizar seu trabalho de defesa
dos direitos humanos pela discriminao e violncia generalizada contra pessoas
LGBT nesses pases. Em Santa Lcia, uma das lderes da organizao United &
Strong informou q CIDH que recebeu vrias ameaas de morte, e inclusive dois
homens ameaaram mat-la se no parasse com seu trabalho de defesa dos
direitos humanos. Os escritrios de United & Strong foram incendiados, e o caso
continua sendo investigado. 1010 Conforme a informao recebida, a participao
em litgios estratgicos contra leis e estatutos que discriminam ou causam um
efeito negativo nas pessoas LGBT perante tribunais nacionais na regio do Caribe
Anglfono expe defensoras e defensores a um grau de violncia preocupante, e
que inclui ameaas de morte, intimidao, e ataques violentos. Em Belize, o ativista
gay Caleb Orozco recebeu inmeras ameaas de morte aps impetrar um recurso
judicial perante a Corte Suprema contra a disposio legal que criminaliza as
relaes sexuais consensuais entre adultos do mesmo sexo nesse pas. 1011
1007
1008
1009
1010
1011
1012
1013
Reunio Regional de Ativistas LGBTI de CARICOM, The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict Through
Legal Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact In
Caribbean Countries, 2010, relatrio apresentado CIDH en novembro de 2010, pg. 31.
Jornal The Bahamas Journal, Gay Activist Fears Violence, 2 de setembro de 2014; Jornal Tribune 242, 'I
Have Been Discriminated Against For My Sexuality', 12 de junho de 2013; Jornal The Nassau Guardian,
Death Threats over GB gay pride event, 1 de setembro de 2014.
Minority Rights Dominica (MiRiDom) e Sexual Rights Initiative, Stakeholder Submission on Lesbian, Gay,
th
Bisexual and Transgender (LGBT) Rights in Dominica for the 19 Session of the Universal Periodic Review,
maio de 2014, para. 17.
Jornal The Star Newspaper, Gays Say We Are Here to Stay, 8 de maro de 2012.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Amnista Internacional, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013.
Corte IDH. Caso Kawas-Fernndez Vs. Honduras. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena del 3 de abril de
2009. Srie C No. 196, para. 45; e CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de
direitos humanos nas Amricas, 2011, para. 28.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, pg. 233, Recomendao No. 11.
356. A CIDH tambm asseverou que os Estados no devem tolerar nenhuma tentativa
das autoridades de questionar a legitimidade do trabalho realizado pelos
defensores e defensoras de direitos humanos e por suas organizaes. 1014 As
autoridades pblicas devem abster-se de emitir declaraes que estigmatizem
defensoras e defensores de direitos humanos, ou sugiram que as organizaes de
direitos humanos atuam de forma inapropriada ou ilegal, simplesmente pelo fato
de participar do trabalho de promoo e de proteo dos direitos humanos. 1015 Os
governos devem dar instrues precisas s autoridade sobre esse assunto, e devem
aplicar sanes disciplinares queles funcionrios que no obedeam essas
instrues. 1016 Por ltimo, os Estados ficam obrigados a garantir a segurana das
defensoras e defensores de direitos humanos que so especialmente vulnerveis,
adotando medidas especficas para sua proteo, com base nas atividades que
realizam e nos riscos que enfrentam no dia-a-dia. 1017
F.
1015
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1017
1018
1019
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, pg. 232, Recomendao No. 5.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, pg. 232, Recomendao No. 5.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, pg. 232, Recomendao No. 5.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas,
2011, pg. 232, Recomendao No. 11.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 31/15, A CIDH insta os Estados da OEA a eliminarem a
discriminao racial nas Amricas, 20 de maro de 2015. A CIDH ainda no recebeu informao sobre
pessoas intersexo afrodescendentes nas Amricas.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 90/12, CIDH apresenta seu Relatrio sobre a Situao de Pessoas
Afrodescendentes em reunio do CARICOM, 17 de julho de 2012.
216 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
359. A CIDH observou como a estreita relao entre raa, classe scio-econmica e
pobreza, resulta que a populao afrodescendente seja atingida de maneira
adversa por mltiplos nveis de discriminao. 1024 Adicionalmente, a Comisso
expressou sua preocupao sobre a vulnerabilidade especial das mulheres
afrodescendentes, que sofrem uma discriminao tripla com base em seu sexo e
gnero, pobreza extrema e raa. 1025 Assim, a CIDH destaca que as mulheres
afrodescendentes enfrentam discriminao baseada em seu sexo dentro de
sua prpria comunidade. A Comisso recebeu informao sobre o fenmeno
da hipermasculinidade ou machismo reforado praticado por alguns
homens afrodescendentes. 1026 Estas atitudes podem resultar em restries do
acesso educao e ao trabalho para mulheres afrodescendentes, e perpetuar a
subordinao das mulheres, 1027 a qual exacerbada no caso das mulheres
afrodescendentes com orientaes sexuais e identidades de gnero no
normativas. A CIDH tambm percebeu as mltiplas formas de discriminao e
violncia sofrida pelas mulheres afrodescendentes com orientaes sexuais e
identidades de gnero no normativas, na interseo dos distintos fatores. Como
explicou uma escritora e ativista dos Estados Unidos, ns mulheres trans somos
alvo de ataque porque existimos na interseo vulnervel de raa, gnero e
classe. 1028
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CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, OEA/Ser.L/V/II, Doc. 62, 5 de dezembro de
2011, paras. 99 e 100.
OEA, Comunicado de Prensa No. 144/15, El Consejo Permanente de la OEA celebr el lanzamiento de la
Dcada Internacional para las Personas Afrodescendientes, 22 de abril de 2015.
CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, OEA/Ser.L/V/II, Doc. 62, 5 de dezembro de
2011, (doravante CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011), paras. 99 e 100.
CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, paras. 99 e 100.
CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, paras. 13 e 59.
CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, para. 13.
CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, para. 69.
CIDH, A Situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, para. 69.
Mock, Janet. A Note on Visibility in the Wake of 6 Trans Womens Murders in 2015, 16 de fevereiro de 2015.
361. De acordo com a Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos da Nicargua,
as pessoas LGBT das comunidades Creole enfrentam maior risco de discriminao
e violncia por sua origem tnica e por sua orientao sexual e/ou identidade de
gnero. Segundo a informao, h casos de humilhaes, atos degradantes e
1029
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1034
Caribe Afirmativo e Global Rights, Violacin de derechos a personas lesbianas, gays, bisexuales trans e
intersex (LGBTI) en el Caribe Colombiano en el marco del conflicto armado interno, outubro de 2014, pgs. 78.
CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio
Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio
de 2015, para. 293.
CIDH, Audincia Denncias sobre violncia contra pessoas LGBTI no Caribe colombiano, 153 perodo
ordinrio de sesses, 27 de outubro de 2014.
Caribe Afirmativo e Global Rights, Violacin de derechos a personas lesbianas, gays, bisexuales trans e
intersex (LGBTI) en el Caribe Colombiano en el marco del conflicto armado interno, outubro de 2014, pg. 16.
CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio
Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio
de 2015, para. 248.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 118/14, Presidente da CIDH finaliza sua visita a Colmbia, 10 de
outubro de 2014.
218 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
362. Nos Estados Unidos, vrias organizaes denunciam que as pessoas LGBT
afrodescendentes sofrem altos nveis de violncia. Principalmente as mulheres
trans afrodescendentes, e de maneira geral as mulheres trans de cor. 1036 Por
exemplo, de acordo com a organizao no governamental National Coalition of
Anti-Violence Programs (NCAVP), 55% dos homicdios de pessoas lsbicas, gays,
bissexuais, trans e queer (doravante LGBTQ) em 2014 correspondeu a mulheres
trans, e 50% a mulheres trans de cor. 1037 Adicionalmente, 80% de todas as vtimas
de homicdios de pessoas LGBTQ em 2014 eram pessoas de cor. 1038 De acordo
com a NCAVP, o impacto desproporcional da violncia letal sobre as pessoas
LGBTQ de cor, e principalmente, sobre as mulheres trans de cor fica evidenciado
todos os anos desde 2009. 1039 Por exemplo, em 2013, a NCAVP denunciou que
quase 90% das vtimas de homicdios LGBTQ eram pessoas de cor, e 72% das
vtimas LGBTQ de homicdios eram mulheres trans, e 67% de todas as vtimas
LGBTQ de homicdio eram mulheres trans de cor. 1040 Em relao violncia
domstica, a CIDH foi informada de que as pessoas LGBTQ de cor so mais
propensas a sofrer atos de violncia perpetrados por seus companheiros e
companheiras, e mais propensas a enfrentar essa violncia em pblico. 1041 Alm
disso, as pessoas de cor que vivem com HIV, e as pessoas de cor que so lsbicas,
gays e bissexuais, tm o dobro da probabilidade de receber tratamento abusivo de
mdicos, em comparao com as pessoas brancas. 1042
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1042
Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos (PDDH) da Nicargua, Respeto a los Derechos Humanos de
las personas de la Diversidad Sexual por parte de la Polica Nacional, maro de 2012, pg. 22.
Human Rights Campaign, Research Overview: Hate Crimes and Violence against Lesbian, Gay, Bisexual and
Transgender People, Estados Unidos, 2009, pg. 39.
National Coalition of Anti-Violence Programs, Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, and HIV-Affected
Hate Violence in 2013, edio de lanamento (2014) [disponvel somente em ingls].
Segundo o professor Salvador Ortiz, que trabalha nos Estados Unidos, o termo pessoa de cor refere-se de
maneira coletiva a vrios grupos raciais e minorias tnicas, e frequentemente utilizado no contexto
contemporneo popular, no ativismo e em debates acadmicos, primordialmente nos Estados Unidos. Este
termo est sendo lentamenete substitudo por termos como minorias raciais e tnicas. Pessoas de cor
considerado um termo inclusivo que inclui os afroamericanos, latinos, asiticos, pessoas provenientes das
ilhas do Pacfico, e as pessoas indgenas dos Estados Unidos. Vidal-Ortiz, Salvador. 2008. People of Color.
Pgs. 1037-1039, em Encyclopedia of Race, Ethnicity, and Society, Richard T. Schaefer (ed.). Editora Sage,
pgs. 1037-1038. Ver tambm, NCAVP, Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, and HIV-Affected Hate
Violence in 2013, edio de lanamento (2014) [disponvel somente em ingls].
NCAVP, Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, and HIV-Affected Hate Violence in 2013, edio de
lanamento (2014) [disponvel somente em ingls].
NCAVP, Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, and HIV-Affected Hate Violence in 2013, edio de
lanamento (2014) [disponvel somente em ingls].
NCAVP, Media Alert, An Open Letter from LGBTQ Organizations in the United States Regarding the Epidemic
Violence that LGBTQ People, Particularly Transgender Women of Color, Have Experienced in 2015, 1 de
maro de 2015.
Lambda Legal, When Health Care Isnt Caring: Lambda Legals Survey on Discrimination Against LGBT People
and People Living with HIV, 2010, pg. 12.
363. Sobre os supostos casos de abusos perpetrados por foras estatais de segurana
nos Estados Unidos, a CIDH recebeu informao que indica que as pessoas LGBT de
cor esto em maior risco de ser vtimas de abuso policial, em funo da violncia
motivada pela raa e da violncia motivada pela orientao sexual e/ou identidade
de gnero. Por exemplo, uma pesquisa nos Estados Unidos apontou que as pessoas
trans de cor so 6 vezez mais propensas a sofrer violncia praticada pela polcia
que as pessoas brancas cisgnero. 1043 A Comisso tambm recebeu informao
preocupante sobre bairros em determinadas cidades dos Estados Unidos com
grande presena de pessoas de cor (e, portanto, de pessoas LGBTQ de cor), que so
atingidos de maneira desproporcional por um tratamento diferenciado atravs de
racial profiling, perseguio e violncia perpetrada pela polcia. 1044 Alm disso,
tambm h denncias de que as pessoas trans de cor so identificadas
equivocadamente como trabalhadoras sexuais, e que a polcia habitualmente
utiliza a posse de camisinhas por estas pessoas como prova de que exercem
trabalho sexual. 1045
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1048
1049
NCAVP, Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender, Queer, and HIV-Affected Hate Violence in 2013, edio de
lanamento (2014) [disponvel somente em ingls], pg. 10.
Make The Road New York. Transgressive Policing: Police Abuse of LGBTQ Communities of Color in Jackson
Heights, outubro de 2013, pg. 4.
Make The Road New York. Transgressive Policing: Police Abuse of LGBTQ Communities of Color in Jackson
Heights, outubro de 2013, pg. 4.
O censo realizado no Brasil em 2010 foi o primeiro em que a maioria da populao brasileira autoidentificouse como no sendo da raa caucasiana ou branca. Ver Jornal Oglobo, Censo 2010: a populao do Brasil no
mais predominantemente branca, 3 de novembro de 2011.
Estado do Brasil. Secretaria de Direitos Humanos, Relatrio sobre violncia homofbica no Brasil: ano de
2011, 2012, pg. 114.
Global Rights e Rede Negra LGBT do Brasil. Human rights situation of trans people of African descent in
Brazil, apresentado durante audincia pblica realizada no 149 perodo ordinrio de sesses da CIDH, 29 de
outubro de 2013.
Estado do Brasil. Secretaria de Direitos Humanos, Relatrio sobre violncia homofbica no Brasil: ano de
2011, 2012, pg. 25.
220 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
366. A CIDH reitera que fundamental que os Estados Membros da OEA adotem
medidas para visibilizar a maneira especial segundo a qual a interseo de raa,
situao scio-econmica, pobreza, orientao sexual, identidade e expresso de
gnero e diversidade corporal, atinge negativamente as pessoas LGBTI, e
principalmente, como estas intersees resultam em maior risco de sofrer
violncia para as pessoas de cor e afrodescendentes com sexualidades e
identidades no normativas.
367. A Comisso considera essencial que os Estados da regio adotem medidas efetivas
para erradicar a discriminao racial e o seu impacto diferenciado nas pessoas
LGBTI, e que garantam de forma efetiva os direitos das pessoas afrodescendentes e
aquelas atingidas pela discriminao racial. Com esse objetivo, os Estados devem
coletar informao detalhada, e destinar recursos humanos e financeiros
suficientes para aes de preveno e sensibilizao destinadas a eliminar as
prticas culturais, preconceito e estertipos raciais, e melhorar as condies de
vida das pessoas LGBTI descendentes de africanos, no que diz respeito sade,
1050
1051
1052
Global Rights. Report on the Human Rights Situation of Afro-Brazilian Transgender Women: I Dont Want to
Die Like This! Why Do People Have to Die Like This? Why Do We Have to Be Beaten and Stabbed to death?,
2013, pg. 16.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 83A/13, Anexo ao Comunicado par aa Imprensa CIDH finaliza o 149
Perodo de Sesses, 8 de novembro de 2013.
CIDH, Audincia pblica, Situao de direitos humanos de pessoas trans afrodescendentes no Brasil. 149
perodo ordinrio de sesses, 29 de outubro de 2013.
368. Os Estados tambm devem proceder reviso integral da legislao nacional e das
prticas da polcia com o objetivo de identificar e modificar disposies legais ou
prticas que resultem na discriminao direta ou indireta; ou no tratamento
diferenciado pela polcia contra as pessoas LGBTI afrodescendentes e outras
pessoas LGBTI atingidas pela discriminao racial em funo do perfil racial.
G.
369. A CIDH observa que existe um forte vnculo entre pobreza, excluso e violncia. O
Relator Especial da ONU sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos observou que
as pessoas que vivem na pobreza so mais propensas a ser vtimas de atos
criminais ou ilegais, inclusive explorao sexual ou econmica, violncia, tortura e
homicdios. 1053 O Relator Especial tambm indicou que, para as pessoas que vivem
na pobreza, provvel que a delinquncia e a ilegalidade tambm tenham um
grande impacto em suas vidas, porque muito difcil para elas obter uma
reparao, e como resultado, podem terminar em uma situao ainda pior de
pobreza. 1054 Adicionalmente, o Escritrio das Naes Unidas contra a Droga e o
Delito destacou que h um consenso, tanto de acadmicos como na comunidade
internacional, de que a violncia letal geralmente se origina em contextos de
escassez, desigualdade e injustia, marginalizao social, baixos nveis de
educao, e frgil estado de direito. 1055
1054
1055
Relatrio do Relator Especial sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos, A/67/278, 9 de agosto de 2012,
para. 5.
Relatrio do Relator Especial sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos, A/67/278, 9 de agosto de 2012,
para. 5.
UNODC, Estudio Mundial sobre el Homicidio. Tendencias, Contextos, Datos, Viena, 2011. Citando Land, K.,
McCall, P.L. e Cohen, L.E., Structural Covariates of Homicide Rates: Are There Any Invariances Across Time
and Social Space?, em American Journal of Sociology, 1990; Tcherni, M., Structural Determinants of
Homicide: The Big Three, em Journal of Quantitative Criminology, 2011; Bourguignon, F., Crime As a Social
Cost of Poverty and Inequality: A Review Focusing on Developing Countries, em Revista Desarrollo y Sociedad,
2009.
222 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
1057
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1062
1063
Relatrio do Relator Especial sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos, A/67/278, 9 de agosto de 2012,
para. 29.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 42.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 42, citando vrios
relatrios do Comit de Direitos Humanos, Comit dos Direitos da Criana e do CEDAW.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 42, citando Lucas Paoli
Itaborahy, LGBT people living in poverty in Rio de Janeiro, (Londres, Editora Micro Rainbow, 2014); e Gary J.
Gates, Food Insecurity and SNAP (Food Stamps) Participation in LGBT Communities, Williams Institute,
fevereiro de 2014.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 42, citando M.V. Lee
Badgett, The economic cost of stigma and the exclusion of LGBT People: a case study of India, World Bank
Group, 2014.
Open Society Foundations, Transforming Health: International Rights-Based Advocacy for Trans Health, 2013,
pg. 11.
Cabral, Mauro e Hoffman, Johanna. International Gay and Lesbian Humans Rights Commission, They Asked
Me How I Was Living/Surviving, I said, surviving: Latin America Trans Women Living in Extreme Poverty,
2009, pg. 6.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 49/15, Diante da discriminao e violao dos seus direitos, jovens
LGBT e intersex precisam de reconhecimento e proteo, 17 de maio de 2015.
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1074
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 49/15, Diante da discriminao e violao dos seus direitos, jovens
LGBT e intersex precisam de reconhecimento e proteo, 17 de maio de 2015.
Spade, Dean. Entrevista realizada por Laura Flanders, The Laura Flanders Show, GRITTV, 2015. Disponvel
em: https://www.youtube.com/watch?v=eQJigIBllbU.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 49/15, Diante da discriminao e violao dos seus direitos, jovens
LGBT e intersex precisam de reconhecimento e proteo, 17 de maio de 2015.
Spade, Dean. Entrevista realizada por Laura Flanders, The Laura Flanders Show, GRITTV, 2015. Disponvel
em: https://www.youtube.com/watch?v=eQJigIBllbU.
Spade, Dean. Entrevista realizada por Laura Flanders, The Laura Flanders Show, GRITTV, 2015. Disponvel
em: https://www.youtube.com/watch?v=eQJigIBllbU. Ver tambm, Conner, Brendan; Banuelos, Isela; Dank,
Meredith; Madden, Kuniko; Mitchyll, Mora; Ritchie, Andrea; Yahner, Jennifer; Yu, Lilly. Urban Institute,
Surviving the Streets of New York: Experiences of LGBTQ Youth, YMSM, and YWSW Engaged in Survival Sex,
2015.
Urban Institute, Research report, Surviving the Streets of New York: Experiences of LGBTQ Youth, YMSM,
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Spade, Dean. Entrevista realizada por Laura Flanders, The Laura Flanders Show, GRITTV, 2015. Disponvel
em: https://www.youtube.com/watch?v=eQJigIBllbU.
Spade, Dean. Entrevista realizada por Laura Flanders, The Laura Flanders Show, GRITTV, 2015. Disponvel
em: https://www.youtube.com/watch?v=eQJigIBllbU.
Parra, Andrea. Palestrante convidada a Decreto Trans: Retos e Implicaciones, Sentido, 2015. Disponvel em:
https://www.youtube.com/watch?v=c58rbSLxul0.
Baral, SD., Beyrer., C., e Poteat., T. Human Rights, the Law, and HIV among Transgender People. Documento
de Trabalho preparado para a Terceira Reunio sobre o Grupo Tcnico Consultivo da Comisso Global sobre
HIV e a Lei, 7-9 de julho de 2011, pg. 6.
REDLACTRANS, Informe sobre los Derechos Econmicos, Sociales y Culturales de la Poblacin Trangnero de
Latinoamrica y el Caribe, apresentado em audincia pblica durante o 154 perodo ordinrio de sesses da
CIDH, 16 de maro de 2015.
224 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
indireta. 1075 Adicionalmente, independentemente de sua origem scioeconmica, um grande nmero de mulheres trans que so expulsas de suas casas
ainda crianas ou muito jovens, terminam nas estatsticas de mulheres trans que
vivem na pobreza extrema durante a maior parte de suas vidas. 1076 As mulheres
trans em geral so expulsas de casa ainda muito jovens, e se envolvem no trabalho
sexual muito cedo, e enfrentam uma falta crnica de acesso a servios
educacionais e de sade, oportunidades de trabalho e moradia adequada. 1077 As
mulheres trans envolvidas em trabalho sexual normalmente trabalham e inclusive
moram nas ruas, onde so vtimas de assdio permanente, perseguio e da
ameaa constante de serem presas. 1078
374. Vrios estudos tambm demonstram que as pessoas LGBT so mais vulnerveis
falta de moradia. Numa pesquisa no Canad feita com ocupantes de um abrigo
para jovens, 1 em cada 5 pessoas entrevistadas, autoidentificou-se como LGBTQ
(lsbica, gay, bissexual, trans e queer). 1079 Nos Estados Unidos, ONGs estimam que
de 20 a 40% da populao jovem que no possui moradia pertence ao coletivo
LGBT. Estas pessoas esto em risco especialmente alto de ser foradas
prostituio. 1080 Da mesma forma, a CIDH recebeu informao de que
aproximadamente entre 40 e 50% dos jovens sem moradia que vivem nas ruas de
Nova Iorque, autoidentificam-se como LGBT. A maioria deles foi expulsa de casa
em funo de sua orientao sexual ou identidade de gnero, ou fugiram para
escapar da violncia intrafamiliar. 1081
375. A Comisso observa que h um forte vnculo entre a falta de moradia, o trabalho
sexual e o sexo para sobreviver, e a violncia. A juventude de Nova Iorque com
orientaes sexuais, identidades e expresses de gnero diversas, identificam a
falta de moradia como uma das razes mais comuns para seu envolvimento com o
comrcio do sexo. Estes jovens tambm observaram que preferem praticar sexo
para sobreviver que enfrentar potenciais situaes de violncia em abrigos para
jovens ou em centros de cuidado tutelar. 1082 De acordo com um estudo, a
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REDLACTRANS, Informe sobre los Derechos Econmicos, Sociales y Culturales de la Poblacin Trangnero de
Latinoamrica y el Caribe, apresentado em audincia pblica durante o 154 perodo ordinrio de sesses da
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Me How I Was Living/Surviving, I said, surviving: Latin America Trans Women Living in Extreme Poverty,
2009, pg. 5.
Cabral, Mauro e Hoffman, Johanna. International Gay and Lesbian Humans Rights Commission, They Asked
Me How I Was Living/Surviving, I said, surviving: Latin America Trans Women Living in Extreme Poverty,
2009, pg. 5.
Cabral, Mauro e Hoffman, Johanna. International Gay and Lesbian Humans Rights Commission, They Asked
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2009, pg. 7.
Toronto City Council, Street Needs Assessment 2013: Results, 2014, pg. 24.
US Department of State, Office to monitor and combat Trafficking in Persons, Trafficking in Persons Report
2014: The Vulnerability of LGBT individuals to Human Trafficking, 2014.
Funders for Lesbian and Gay Issues, Out for Change: Racial and Economic Justice Issues in Lesbian, Gay,
Bisexual and Transgender Communities, 2005, pg. 10.
Conner, Brendan e outros. Urban Institute, Surviving the Streets of New York: Experiences of LGBTQ Youth,
YMSM, and YWSW Engaged in Survival Sex, 2015, pg. 5. Citando New York City Association of Homeless and
juventude trans da cidade de Nova Iorque est 8 vezes mais propensa a oferecer
sexo em troca de um lugar seguro para dormir, do que jovens que no so
trans. 1083 A CIDH tambm observa que, conforme o mesmo estudo, 48% das
pessoas trans que participam em trabalho sexual relataram que no possuem
moradia. 1084
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1089
1090
1091
Street-Involved Youth Organizations (NYCAHSIYO), State of the Citys Homeless Youth Report 2009, New York,
2010.
Conner, Brendan e outros. Urban Institute, Surviving the Streets of New York: Experiences of LGBTQ Youth,
YMSM, and YWSW Engaged in Survival Sex, 2015, pg. 5. Citando Freeman, Lance e Darrick Hamilton. A
Count of Homeless Youth in New York City: 2007, New York: Empire State Coalition of Youth and Family
Services, 2008.
Conner, Brendan e outros. Urban Institute, Surviving the Streets of New York: Experiences of LGBTQ Youth,
YMSM, and YWSW Engaged in Survival Sex, 2015, pg. 7. Citando Grant, Jaime M. e outros. Injustice at Every
Turn: A Report of the National Transgender Discrimination Survey, Washington, DC: National Center for
Transgender Equality and National Gay and Lesbian Task Force, 2011.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas, apresentado pela
Clnica Internacional de Direitos Humanos da Santa Clara University School of Law (Estudo sobre a Jamaica),
25 de novembro de 2013, pg. 1; Jamaican LGBT News, Police Raid Homeless Gay Men, vdeo do Youtube (18
de outubro de 2013), www.youtube.com/watch?v=4d21CYwg5K0.
Human Rights Watch, Not safe at home: Violence and Discrimination against LGBT People in Jamaica, 2014,
pg. 45, citando estatsticas proporcionadas pela organizao Caribbean Vulnerable Communities.
J-FLAG, Homophobia and Violence in Jamaica, 2013, pg. 2.
J-FLAG, (re)Presenting and Redressing LGBT Homelessness in Jamaica: Towards a Multifaceted Approach to
Addressing Anti-Gay Related Displacement, 2014, pg. 2.
J-FLAG, (re)Presenting and Redressing LGBT Homelessness in Jamaica: Towards a Multifaceted Approach to
Addressing Anti-Gay Related Displacement, 2014, pg. 2.
Jornal The Gleaner, Government To Develop Programmes For Homosexual Youth, 2014.
Jornal The Gleaner, Government To Develop Programmes For Homosexual Youth, 2014.
226 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
377. A falta de moradia aumenta o risco de que as pessoas LGBT sejam vtimas da
violncia, inclusive de violncia sexual. De acordo com uma pesquisa, a juventude
LGBTQ em situao de rua experimenta taxas mais altas de ataques fsicos e
sexuais, e uma maior incidncia de problemas de sade mental e conduta sexual de
risco, do que os jovens heterossexuais em situao de rua. Por exemplo, h relatos
que indicam que as pessoas jovens lsbicas, gays e bissexuais em situao de rua
so 2 vezes mais propensas a tentar o suicdio que os jovens heterossexuais em
situao de rua. 1095
378. A CIDH observa que as pessoas LGBT sofrem discriminao e violncia nos abrigos
e centros comunitrios de cuidado para pessoas em situao de rua. Os altos
ndices de falta de moradia entre pessoas LGBT ocorrem em grande parte porque
os sistemas de abrigo geralmente no so locais seguros para as pessoas LGBT.1096
Alm disso, a CIDH observa com preocupao que estas instituies normalmente
esto segregadas por gnero masculino e feminino, o que aumenta a violncia e a
discriminao contra as pessoas trans e outras pessoas inconformadas com o
gnero.
1094
1095
1096
1097
Jornal The Gleaner, Government To Develop Programmes For Homosexual Youth, 2014.
CIDH, Relatrio Anual 2014: Captulo V: Relatrio de Seguimento sobre a Situao de Direitos Humanos na
Jamaica, 7 de maio de 2015.
CIDH, Audincia sobre Seguimento do relatrio da CIDH sobre a situao de direitos humanos na Jamaica,
153 perodo ordinrio de sesses, 28 de outubro de 2014.
National Alliance to End Homelessness, LGBTQ Youth.
Spade, Dean. Entrevista realizada por Laura Flanders, The Laura Flanders Show, GRITTV, 2015. Disponvel
em: https://www.youtube.com/watch?v=eQJigIBllbU. Ver tambm, Conner, Brendan e outros. Urban
Institute, Surviving the Streets of New York: Experiences of LGBTQ Youth, YMSM, and YWSW Engaged in
Survival Sex, 2015.
ONU, Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a Tortura e Outros Tratamentos ou
Penas Cruis, Desumanos ou Degradantes, Juan E. Mndez, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 29.
380. Por exemplo, a CIDH recebeu informao preocupante sobre como a situao
scio-econmica dos pais e mes de filhos e filhas intersexo no Mxico pode
determinar se os mdicos contam ou no famlia que a criana intersexo. De
acordo com uma pesquisa realizada no Mxico, 1099 quando os mdicos sentem uma
relao mais equitativa entre eles e os pacientes e suas famlias, fazem um
esforo em traduzir a terminologia para termos comuns e explicar completamente
a intersexualidade ou o estado intersexo da criana. No entanto, em se tratando de
outros hospitais ou sobre pacientes com os quais os mdicos no percebem essa
relao equitativa, eles tendem a no informar o pai ou a me sobre o diagnstico
da criana, por crer que os pais no possuem educao escolar avanada. De
acordo com esta pesquisa, h uma crena generalizada entre o pessoal mdico de
que a condio scio-econmica desprivilegiada ou uma limitada educao formal
de pais, mes ou familiares, so osbtculos insuperveis para entender o
diagnstico intersexo. Pior ainda, nos hospitais pblicos onde a alta demanda de
cuidados mdicos coexiste com recursos humanos limitados, os mdicos no
podem passar mais de dez ou vinte minutos com cada paciente. Isto dificulta um
dilogo aberto e efetivo com as famlias sobre crianas que nascem intersexo, o que
por sua vez prejudica o consentimento informado sobre cirurgias genitais e
intervenes mdicas. Apesar disso, esta pesquisa tambm demonstra que as
famlias e membros da comunidade de pessoas intersexo s vezes tm uma atitude
mais aberta sobre a diversidade anatmica de crianas e adultos intersexo que os
prprios mdicos especialistas. 1100
381. A Organizao Panamericana da Sade tratou do tema da discriminao e excluso
de pessoas LGBT na rea da sade. 1101 Sua anlise confirma que geralmente as
pessoas LGBT enfrentam barreiras no acesso a uma ateno mdica apropriada e
enfocada no paciente, e assim as pessoas LGBT no recorrem aos servios de sade
de forma imediata ou oportuna, ou simplesmente no procuram esses servios.
Alm disso, a Organizao Mundial da Sade declarou que h um estigma
relacionado com a homossexualidade e ignorncia sobre a identidade de gnero,
tanto na sociedade em geral como nos sistemas de sade. 1102
382. Adicionalmente, a situao scio-econmica das pessoas trans determina a
qualidade dos servios mdicos prestados a elas, incluindo as cirurgias de
1098
1099
1100
1101
1102
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hombres que tienen sexo con hombres y personas transgnero, Departamento de HIV/AIDS, junho de 2011.
228 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
383. A CIDH recomenda que os Estados Membros adotem medidas integrais que
efetivamente combatam a discriminao e a violncia enfrentadas pelas pessoas
LGBTI que vivem na pobreza e na extrema pobreza, e que continuem
empreendendo esforos e dedicando recursos erradicao da pobreza. Os
Estados Membros da OEA devem incluir a discriminao baseada na orientao
sexual, identidade de gnero e caractersticas sexuais ou diversidade corporal,
quando elaboram e implementam aes e programas para combater a pobreza.
Adicionalmente, os Estados devem promover aes para proteger todas as crianas
e adultos jovens contra violncia incluindo a juventude LGBTI em situao de rua
e garantir que existam sistemas de proteo e apoio, inclusive abrigos e outros
mecanismos de segurana para aquelas pessoas que precisam de proteo. 1107
1103
1104
1105
1106
1107
Cabral, Mauro e Hoffman, Johanna. International Gay and Lesbian Humans Rights Commission, They Asked
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Asociacin Internacional de Lesbianas, Gay, Bisexuales, Trans e Intersex para Amrica Latina y el Caribe,
Muere mujer trans en Cartagena, luego de practicarse una ciruga artesanal, 2014.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 49/15, Diante da discriminao e violao dos seus direitos, jovens
LGBT e intersex precisam de reconhecimento e proteo, 17 de maio de 2015.
CAPTULO 6
385. Os Estados tm o dever de atuar com a devida diligncia para prevenir, investigar,
julgar, punir e reparar violaes de direitos humanos, incluindo homicdios e
outros atos de violncia. 1109 Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos
Humanos, esta obrigao inclui a adoo de medidas legislativas e de outra
natureza para proibir, investigar e punir todos os atos de violncia e incitao
violncia motivados por preconceito e praticados contra as pessoas LGBTI;
proporcionar reparao s vtimas e proteo contra represlias; condenar
publicamente estes atos; e registrar estatsticas sobre tais crimes e sobre o
resultado das investigaes, os procedimentos judiciais e as medidas de
reparao. 1110 A Corte Europeia de Direitos Humanos tambm afirmou que a
obrigao de prevenir a violncia motivada pelo dio proveniente de
particulares, e investigar a existncia de um possvel vnculo entre o ato de
violncia e o motivo discriminatrio pode estar contemplada na obrigao de
proibir a tortura (artigo 3), e tambm pode ser encarada como parte das
1108
1109
1110
Em novembro de 2014, a CIDH declarou admissvel uma petio sobre supostos atos de tortura cometidos
contra um homem gay no Peru em funo de sua orientao sexual. CIDH, Relatrio No. 90/14. Petio 44609. Admissibilidade. Luis Alberto Rojas Marn. Peru. 6 de novembro de 2014.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 11. Sobre violncia
contra as mulheres, ver tambm: CIDH, Relatrio de Mrito No. 54/01 Caso 12.051 Maria da Penha Maia
Fernandes. Brasil. 16 de abril de 2001, paras. 43-44 e 55-57; Corte IDH. Caso Gonzlez e outras. (Campo
Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de
2009. Srie C No. 205, paras. 252 e seguintes.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 11.
232 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
387. Este captulo trata das principais obrigaes em matria de direitos humanos dos
Estados sobre a violncia contra as pessoas LGBTI. Primeiro, a Comisso analisa a
obrigao de prevenir violaes de direitos humanos contra as pessoas LGBTI e
aquelas percebidas com tal, assim como de investigar, punir e garantir o acesso
justia das vtimas quando ocorre essa violncia. Depois, a CIDH refere-se
obrigao de reparar as pessoas LGBTI e seus familiares que sejam vtimas de
violncia por preconceito.
1111
1112
1113
Corte Europeia de Direitos Humanos, Caso Identoba e outros, (Comunicao no. 73235/12) vs. Gergia, 12
de maio de 2015, para. 63.
CIDH, Relatrio de Mrito No. 54/01 Caso 12.051 Maria da Penha Maia Fernandes. Brasil. 16 de abril de
2001, paras. 43-44 e 55-57; Corte IDH. Caso Gonzlez e outras. (Campo Algodonero) Vs. Mxico. Exceo
Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de 2009. Srie C No. 205, paras. 252 e
seguintes.
OEA, Assembleia Geral, Conveno Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violncia contra a
Mulher "Convencin de Belm do Par", adotada em Belm do Par, Brasil, em 6 de setembro de 1994,
artigo 7 (b).
A.
389. Os Estados devem tomar todas as medidas necessrias para prevenir violaes de
direitos humanos de pessoas submetidas sua jurisdio, obrigao esta que
deriva do dever de garantir os direitos humanos estabelecido no artigo 1.1 da
Conveno Americana, 1114 assim como dos direitos consagrados na Declarao
Americana. 1115 O dever de preveno inclui todas aquelas medidas de natureza
jurdica, poltica, administrativa e cultural que assegurem que uma eventual
violao dos direitos humanos seja efetivamente considerada e tratada como um
fato ilcito suscetvel de gerar sanes para quem os pratique. 1116 Em casos de
violncia contra as mulheres, a CIDH 1117 e a Corte Interamericana 1118
estabeleceram que, para prevenir eficientemente essa violncia, os Estados devem
adotar medidas integrais, estas devem estar destinadas a enfrentar os fatores de
risco conhecidos, e devem fortalecer as instituies que possam oferecer uma
resposta efetiva.
1115
1116
1117
1118
1119
1120
Corte IDH. Caso Velsquez Rodrguez Vs. Honduras, Mrito. Sentena de 29 de julho de 1988. Srie C No. 4,
para. 175.
A CIDH estabeleceu que o desenvolvimento do corpus iuris do direito internacional dos direitos humanos
relevante para a interpretao e aplicao da Declarao Americana, que constitui uma fonte de obrigaes
jurdicas para todos os Estados Membros da OEA, pode advir das disposies de outros instrumentos
internacionais e regionais de direitos humanos, tais como a Conveno Americana. Ver, por exemplo: Corte
IDH. Opinio Consultiva OC-10/89 Interpretao da Declarao Americana dos Direitos e Deveres do Homem
no marco do artigo 64 da Conveno Americana sobre Direitos Humanos, 14 de julho de 1989. Srie A No.
10, para. 37; Corte IDH. Opinio Consultiva OC-16/99 O Direito Informao sobre a Assistncia Consular no
marco das Garantias do Devido Processo Legal, 1 de outubro de 1999. Srie A No. 16, para. 115; CIDH,
Informe de Mrito No. 12/14, Caso 12.231, Peter Cash. Bahamas, 2 de abril de 2014, paras. 58 e 60.
CIDH, Relatrio sobre segurana cidad e direitos humanos, 2009, para. 41.
CIDH, Relatrio sobre segurana cidad e direitos humanos, 2009, para. 49.
Corte IDH. Caso Gonzlez e outras. (Campo Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de 2009. Srie C No. 205, para. 258.
Corte IDH. Caso Gonzlez e outras. (Campo Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de 2009. Srie C No. 205, para. 280. Ver tambm: Corte
IDH. Caso Massacre de Pueblo Bello Vs. Colmbia. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 31 de janeiro de 2006, para. 123.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 20.
234 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
391. A CIDH observa que, para poder cumprir integralmente com a obrigao de
prevenir a violncia contra as pessoas LGBTI, os Estados devem elaborar
estratgias transversais, incluindo dentre outras as seguintes aes: criar
mecanismos de coleta de dados para analisar e avaliar o alcance e as tendncias
destes tipos de violncia; adotar disposies legais que criminalizem a violncia
por preconceito contra as orientaes sexuais, identidade de gnero no
normativas e a diversidade corporal; buscar mecanismos preventivos
comunitrios; e elaborar e implementar polticas pblicas e programas educativos
para erradicar os esteretipos e estigmas existentes contra as pessoas LGBTI.
Todas estas medidas devem envolver instituies estatais nacionais e estaduais ou
distritais de vrios setores, desde a polcia e o sistema de administrao de justia
at o setor educacional, laboral e de sade.
1.
Coleta de dados
1121
1122
1123
CIDH, Relatrio: A situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, paras. 14, 22 e 75; CIDH,
Relatrio: Acesso justia para mulheres vtimas de violncia sexual: educao e sade,
OEA/Ser.L/V/II. Doc.65, 28 de dezembro de 2011 (doravante CIDH, Relatrio: Acesso justia para
mulheres vtimas de violncia sexual: educao e sade, 2011), para. 32; CIDH, Relatrio Anual 2009,
Captulo V: Seguimento ao Relatrio Acesso justia e incluso social: O caminho para o fortalecimento da
democracia na Bolvia, OEA/Ser/L/V/II.135 Doc. 40, 7 de agosto de 2009, para. 216; CIDH, Informe: A
situao dos direitos das mulheres em cidade jurez: o direito de no ser vtima de violncia e discriminao,
Captulo IV: Recomendaes para melhorar a aplicao da devida diligncia para prevenir a violncia contra
as mulheres em Cidade Jurez e melhorar sua segurana, OEA/Ser.L/V/II.117 Doc. 44, 7 de maro de 2003,
para. 5.
OEA, Assembleia Geral, Direitos humanos, orientao sexual e identidade e expresso de gnero, AG/RES.
2863 (XLIV-O/14), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 5 de junho de 2014; OEA, Assembleia
Geral, Direitos humanos, orientao sexual e identidade e expresso de gnero, AG/RES. 2807 (XLIII-O/13),
aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 6 de junho de 2013.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos
violentos, o abuso policial e outras formas de violncia contra pessoas LGTBI, 24 de outubro de 2013.
garantam que estas estatsticas estejam divididas por fatores como a raa e a
etnia. 1124
393. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos expressou sua preocupao
sobre os deficientes ou inexistente mecanismos de coleta de dados relativos
violncia contra as pessoas LGBTI, e recomendou que os Estados coloquem tais
mecanismos em funcionamento. 1125 No Conselho da Europa, o Comit de Ministros
recomendou aos Estados europeus que recolham e analisem estatsticas relevantes
sobre a predominncia e a natureza da discriminao e intolerncia baseadas na
orientao sexual ou identidade de gnero. 1126
1125
1126
1127
1128
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Leis e prticas discriminatrias e atos de violncia
cometidos contra pessoas por sua orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/19/41, 17 de novembro
de 2011, paras. 23, 84(a); Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia
contra as pessoas por motivo de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015,
para. 27; 78 (c).
Conselho da Europa, Recomendao CM/Rec (2010)5 do Comit de Ministros para os Estados Membros
sobre as medidas para combater a discriminao baseada na orientao sexual ou identidade de gnero:
Apndice, 31 de maro de 2010, para. 5.
[Equador] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
pelo Equador, Nota 4-2-380/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de dezembro de 2013,
pg. 13; [Guatemala] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pela Guatemala, Nota 1262-2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de
dezembro de 2013 pg. 5; [Uruguai] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI
nas Amricas apresentada pelo Uruguai, Nota 0141/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20
de dezembro de 2013, pg. 1; [Paraguai], Audincia Pblica Relatrios sobre violncia contra as pessoas
Trans e Impunidade no Paraguai, 17 de maro de 2015, 154 perodo ordinrio de sesses.
[Belize] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
pelo United Belize Advocacy Movement (UNIBAM), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 7 de
novembro de 2013; [Chile] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas
Amricas apresentada pelo Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH), (Chile), recebida
236 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
396. Por exemplo, a Lei de Estatsticas sobre Crimes de dio [Hate Crime Statistics Act]
dos Estados Unidos 1129 reformada em 2009 pela Lei Matthew Shepard e James
Byrd Jr. para a Preveno de Crimes de dio (daravante Lei Matthew Shepard e
James Byrd Jr.)1130 exige que o Advogado Geral recolha informao estatstica
sobre delitos praticados em funo da raa, cor, religio, origem nacional, gnero,
orientao sexual, identidade de gnero, ou deficincia real ou percebida da vtima.
Sobre esse ponto, a Comisso reconhece que os Estados Unidos criaram um
mecanismo compreensivo de coleta de dados, administrado pelo Departamento de
Justia, segundo o qual dois programas estatsticos distintos, mas complementares,
medem a predominncia e o impacto dos crimes:1131 a Pesquisda Nacional de
Vtimas de Crime [National Crime Victimization Survey ou NCVS, por sua sigla em
ingls] do Escritrio de Estatsticas de Justia;1132 e o Programa Uniforme de
Denncias de Crime [Uniform Crime Reporting Program ou UCR, por sua sigla em
ingls] do Departamento Federal de Investigaes (FBI, por sua sigla em
1129
1130
1131
1132
pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 6; [Colmbia] Colombia Diversa,
Cuando el Prejuicio Mata: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en
Colombia 2012, Junho de 2014, pg. 22; [Costa Rica] CEJIL, Estudio sobre los crmenes de odio motivados en
la orientacin sexual e identidad de gnero en Costa Rica, Honduras y Nicaragua, 2013, pg. 95; [Guatemala]
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Asociacin de Mujeres Alas de Mariposas, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de
2013, pg. 2; [Guatemala] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas
Amricas apresentada pela Organizacin de Apoyo a una Sexualidad Integral frente al SIDA (OASIS), recebida
pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 4; [Peru] PROMSEX, Informe Anual
sobre derechos humanos de personas trans, lesbianas, gays y bisexuales en el Per 2013-2014, maio de 2014,
pg. 34.
FBI, Hate Crime Statistics Act 28 U.S.C. 534 (HCSA) (Disponvel somente em ingls).
Esta lei leva os nomes de Matthew Wayne Shepard e James Byrd Jr., pois ambas pessoas foram vtimas de
crimes de dio. Matthew Shepard era um estudante gay de 22 anos de idade que foi agredido, torturado e
assassinado no estado do Wyoming em 1998. James Byrd era um homem afroamericano que foi
brutalmente assassinado por supremacistas brancos no estado do Texas, tambm em 1998. Seus assassinos
amarraram-no a um caminho, e o arrastaram por trs milhas de uma estrada de asfalto, e depois o
decapitaram. O texto completo da lei est disponvel em: Public Law 11184 - Oct. 28, 2009, pg. 647.
(Disponvel somente em ingls).
Para informao detalhada sobre estes dois mecanismos, consultar: Departamento de Justia dos Estados
Unidos, The Nations Two Crime Measures, Setembro de 2014 | NCJ 246832. (Disponvel somente em
ingls).
A Pesquisa Nacional de Vtimas de Crimes (National Crime Victimization Survey NCVS, por sua sigla em
ingls) um estudo que coleta dados de um conjunto de pessoas com 12 anos de idade ou mais,
representativo em nvel nacional de domiclios. A NCVS inclui perguntas sobre crimes baseados na
orientao sexual, independentemente que hajam sido denunciados polcia. Porm, conforme explicou o
governo dos Estados Unidos da Amrica em sua resposta CIDH, a NCVS no rene informao sobre crimes
violentos cometidos por agentes estatais. Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas
LGBTI nas Amricas apresentada pelos Estados Unidos da Amrica, recebida pela Secretaria Executiva da
CIDH em 8 de abril del 2014, pg. 5.
397. A partir de 2011, o Brasil publica um relatrio intitulado Relatrio sobre Violncia
Homofbica no Brasil, o qual contm informao sobre atos de violncia contra
pessoas lsbicas, gays, bissexuais e trans. 1136 O PNUD tambm contribui para este
relatrio. 1137 O relatrio divide-se em duas partes: a primeira inclui informao
coletada pelo Governo Federal atravs das linhas telefnicas de apoio Disque 100
e Disque 180, e atravs da Ouvidoria do Sistema nico de Sade. A segunda
parte contm informao colhida em jornais e outras fontes de notcias. 1138 O
Governo Federal vem tentando melhorar este sistema para coletar informao
relativa a homicdios, e para isto, em 2014 o Ministrio da Sade comeou a
solicitar informao sobre a orientao sexual e a identidade de gnero como parte
obrigatria em denncias recebidas sobre mortes violentas. 1139
398.
1133
Atravs do Programa Uniforme de Denncias de Crimes (Uniform Crime Reporting Program UCR, por sua
sigla em ingls), o FBI coleta informao dos boletins de ocorrncia da polcia sobre crimes motivados,
parcial ou totalmente, por preconceito do agressor em relao raa, religio, orientao sexual, origem
nacional/tnica ou deficincia da vtima. Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas
LGBTI nas Amricas apresentada pelos Estados Unidos da Amrica, recebida pela Secretaria Executiva da
CIDH em 8 de abril del 2014, pg. 5.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelos
Estados Unidos da Amrica, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 8 de abril del 2014, pg. 5.
Departamento de Justia dos Estados Unidos, FBI, Hate Crime Data Collection Guidelines and Training
Manual), 19 de dezembro de 2012. (Disponvel somente em ingls).
A metodologia foi elaborada por um grupo de trabalho composto por membros do Conselho Nacional de
Combate Discriminao contra Pessoas LGBT, dentre os quais participam: acadmicos de vrias
universidades, especialistas do Ministrio da Sade do Brasil e especialistas da Secretaria de Polticas para as
Mulheres.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 9 de outubro de 2014, pg. 4.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 9 de outubro de 2014, pg. 4.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 9 de outubro de 2014, pg. 4.
1134
1135
1136
1137
1138
1139
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1146
1147
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Guatemala, Nota 1262-2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de dezembro de 2013, pg. 5.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Guatemala, Nota 1262-2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de dezembro de 2013, pg. 5.
Organizacin de Apoyo a una Sexualidad Integral Frente al SIDA (OASIS), Crmenes de Odio en Guatemala:
una Aproximacin a los Retos y Desafos para el Desarrollo de una Investigacin sobre Crmenes en el Pas en
contra de Gay, Bisexuales y Trans, abril de 2010, pg. 38.
Portal Sin Etiquetas, Guatemala: Formulario Policial de Denuncias incluye a poblacin LGBTI, 29 de
dezembro de 2014.
CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013, pg 422.
Repblica da Colmbia. Progreso en la Proteccin y Garanta de los Derechos Humanos en Colombia (20132014) y seguimiento a las recomendaciones contenidas en el Cuarto Informe de pas de la CIDH: Verdad,
justicia y reparaciones. Nota S-GAIID-14-094783, recebida em 29 de dezembro de 2014, pg. 350. Citado em:
CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio
Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio
de 2015, para. 286.
Colombia Diversa, Informacin sobre situacin de derechos humanos de personas LGBTI en Colombia,
recebida em 11 de dezembro de 2014.
Repblica da Colmbia. Progreso en la Proteccin y Garanta de los Derechos Humanos en Colombia (20132014) y seguimiento a las recomendaciones contenidas en el Cuarto Informe de pas de la CIDH: Verdad,
justicia y reparacin. Nota S-GAIID-14-094783, recebida em 29 de dezembro de 2014, pg. 350. em: CIDH,
Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio
400. A Comisso destaca que, para poder gerar informao estatstica sobre violncia
por preconceito, os Estados devem tomar medidas para criar sistemas de
informao e de denncias que expressamente incorporem variveis sobre
orientao sexual e identidade de gnero. Se os atuais sistemas no permitem que
esta informao seja includa no momento de registrar estatsticas sobre os crimes,
os Estados devem realizar os ajustes necessrios para inclu-las. Assim sendo, a
CIDH felicita pela informao apresentada pela Defensoria Pblica da Venezuela,
segundo a qual em 2007 foram revisados os formulrios utilizados para apresentar
denncias para incorporar os campos orientao sexual e identidade de gnero
das vtimas, e em 2009 a respectiva base de dados foi atualizada para incluir essa
informao. 1148
1148
1149
1150
Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio
de 2015, para. 286.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Repblica Bolivariana da Venezuela, Nota AGEV/000373, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 26
de dezembro de 2013, pg. 3.
Informao enviada CIDH pelo Ministrio Pblico do Chile, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em
19 de dezembro de 2013, pg. 3.
PROMSEX, Informe anual sobre derechos humanos de personas trans, lesbianas, gays y bisexuales en el Per
2013-2014, 19 de maio de 2014, pg. 34.
240 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
tendncias nacionais. Sobre esse ponto, o Mxico observou que apesar de coletar
alguma informao em nvel federal, a coleta de dados nos estados no
sistemtica. 1151 A CIDH reconhece que os Estados federais podem apresentar
desafios adicionais na implementao de um mecanismo naicional coordenado de
coleta de dados. Nesses casos, a Comisso solicita que os Estados redobrem os
esforos para criar instrumentos de coleta de dados de forma coordenada ou
celebrar convncios com os governos locais.
403. Em muitos outros Estados Membros da OEA, vrias organizaes da sociedade civil
produzem estatsticas sobre violaes de direitos humanos que, de outra forma,
nunca seriam documentadas. A informao coletada por organizaes da
sociedade civil e outros atores no estatais, apesar de til, com frequncia no
completa devido ao seu limitado acesso informao. Portanto, o Estado no
somente tem a obrigao de coletar estas estatsticas, mas tambm se encontra em
melhor posio para faz-lo, atravs de seus distintos rgos de governo.
1152
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelos
Estados Unidos Mexicanos, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 4 de diciembre de 2013, pg. 8.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 25.
406. Alm disso, a Comisso enfatiza que as estatsticas devem ser as mais detalhadas
possveis, de forma que evidenciem as particularidades e tendncias da violncia.
A informao detalhada um fator chave quando esta violncia contra pessoas
LGBTI resultado da interseo de discriminao motivada pela orientao sexual,
identidade de gnero e diversidade corporal com outros motivos de discriminao,
tais como raa, etnia, deficincia, idade, nacionalidade e situao scio-econmica
das vtimas, dentre outros fatores. Em 2013, a CIDH felicitou os esforos do Brasil
para produzir estatsticas detalhadas sobre os crimes motivados pela orientao
sexual ou identidade de gnero real ou percebida da vtima. 1156 Naquela ocasio, a
Comisso tambm recomendou ao Estado a incluso da raa como um critrio de
coleta de dados adicional orientao sexual e a identidade de gnero. O Relator
Especial da ONU sobre as formas contemporneas de racismo, discriminao
racial, xenofobia e formas conexas de intolerncia felicitou os esforos dos Estados
para estabelecer mecanismos de coleta de dados sobre crimes de dio, incluindo
aqueles cometidos contra as pessoas em funo de sua raa, cor, etnia, origem,
cidadania, idioma, religio, deficincia, orientao sexual, gnero ou identidade de
gnero. 1157
407. A Comisso Interamericana observa com preocupao que praticamente no existe
informao sobre as pessoas intersexo. Segundo o Conselho da Europa, at o
presente h pouca informao sobre a situao jurdica e social das pessoas
intersexo em muitos pases europeus e ao redor do mundo. 1158 Por esta razo, em
15 de maro de 2013, a CIDH convocou de ofcio uma audincia para escutar as
1153
1154
1155
1156
1157
1158
Ver, por exemplo, [Guatemala] CIDH, Audincia sobre discriminao baseada na orientao sexual e
identidade de gnero na Guatemala, 146 perodo ordinrio de sesses, 4 de novembro de 2012; [Colmbia]
Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y
Personas Trans en Colombia 2010-2011, 2013, pg. 10.
CIDH, Atas da reunio de especialitas sobre violncia contra as pessoas LGBTI nas Amricas, Washington DC,
24-25 de fevereiro de 2012.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Colectivo Entre Trnsitos e outros (Colombia), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de
novembro de 2013, pg. 16; Colombia Diversa, Cuando el Prejuicio Mata: Informe de Derechos Humanos de
Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2012, junho de 2014, pg. 7.
CIDH, Anexo ao Comunicado para a Imprensa emitido ao trmino do 149 Perodo de Sesses. Anexo ao
Comunicado para a Imprensa No. 83/13, 8 de novembro de 2013.
ONU, Conselho de Direitos Humanos. Relatrio do Relator Especial sobre formas contemporneas de
racismo, discriminao racial, xenofobia e outras formas de intolerncia, A/HRC/18/44, 21 de julho de 2011,
prr. 13. (Disponvel somente em ingls).
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People.
Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 16. (Disponvel somente em ingls).
242 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
1160
1161
CIDH, Audincia pblica sobre a situao dos direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas. 15 de
maro de 2013. udio e vdeo disponveis em: www.cidh.org.
CIDH. Comunicado para a Imprensa No. 153A/14, Um panorama da violncia contra as pessoas LGBTI na
Amrica: um registro que documenta atos de violncia entre 1 de janeiro de 2013 e 31 de maro de 2014,
Anexo ao Comunicado para a Imprensa No. 153/14. 17 de dezembro de 2014.
Testemunho e informao de Natasha Jimenez, MULABI, apresentada CIDH durante Audincia pblica
sobre a situao dos direitos humanos das pessoas intersexo nas Amricas, 15 de maro de 2013. udio e
vdeo disponveis em: www.cidh.org.
2.
410. A CIDH observa que existe um crescente consenso sobre o reconhecimento legal de
crimes motivados pela percepo da orientao sexual ou identidade de gnero da
vtima como fatores agravantes na prtica de delitos. Neste sentido, os
pronunciamentos de especialistas e rgos internacionais e regionais de direitos
humanos, e um nmero crescente de Estados Membros da OEA. O Comit de
Direitos Humanos da ONU recomendou aos Estados que criminalizem
especificamente os atos de violncia baseados na orientao sexual ou identidade
de gnero, por exemplo, atravs de legislao que proba crimes de dio ou por
preconceito. 1162 O Comit de Ministros do Conselho da Europa recomendou que os
Estados garantam que na determinao das penas, seja considerado como
circunstncia agravante todo motivo relacionado com preconceito sobre a
orientao sexual ou identidade de gnero. 1163 As organizaes da sociedade civil
reivindicam especificamente a emisso de tais disposies legais. 1164 Para o Alto
1162
1163
1164
244 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
411. De maneira anloga, em 2011 a CIDH ressaltou que a promulgao de leis que
enviam sociedade a mensagem de que a violncia contra as mulheres no
tolerada e punida, constitui um passo positivo adotado pelos Estados para
erradicar a violncia contra as mulheres. 1167 A Assembleia Geral da ONU destacou
a necessidade de combater todas as formas de violncia contra as mulheres e
meninas como um crime sancionado por lei. 1168 Similarmente, em 2011, a CIDH
recomendou aos Estados Membros da OEA que adotassem legislao que sancione
atos de discriminao racial. 1169
412. A CIDH reconhece as vrias medidas jurdicas adotadas por vrios Estados
Membros da OEA, dentre elas: determinar agravantes nas sentenas de crimes
cometidos em funo da orientao sexual e/ou identidade de gnero; incorporar
novos tipos penais em seus sistemas legais, como a tipificao dos crimes de dio
ou crimes por preconceito; adotar novas leis contra a discriminao que
explicitamente incluam a orientao sexual e a identidade de gnero; e ampliar a
proteo da legislao existente contra a discriminao a fim de incluir a
orientao sexual e a identidade de gnero. Por exemplo, pases como
Argentina, 1170 Bolvia, 1171 Chile, 1172 Canad, 1173 Colmbia, 1174 Equador, 1175 Estados
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outubro de 2015, as organizaes da sociedade civil presentes indicaram que apesar de anos de peties das
organizaes, a ltima reforma do Cdigo Penal aprovada em fevereiro de 2015, no inclua os crimes de
dio baseados na orientao sexual ou identidade de gnero. Audincia solicitada por Diversidad
Dominicana, Funceji, RevASA, Amigos Siempre Amigos, GAyP e CARIFLAGS. Audincia Pblica "Situao dos
Direitos Humanos das Pessoas LGBT na Repblica Dominicana", 156 perodo de sesses, 23 de outubro de
2015. udio e vdeo disponveis em: www.cidh.org.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 39.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 78(a).
CIDH, Acesso justia para vtimas de violncia sexual na Mesoamrica, 2011, para. 134.
ONU, Resoluo da Assembleia Geral No. 61/143: Intensificao dos esforos para eliminar todas as formas
de violncia contra a mulher, A/RES/61/143. 30 de janeiro de 2007, pt. 4.
CIDH, A situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, para. 260 (6).
A Argentina incorporou a motivao baseada na orientao sexual, identidade de gnero ou expresso de
gnero da vtima como circunstncia agravante que, segundo a informao recebida, s cabvel no crime
de homicdio. Cdigo Penal da Argentina, 80(4), reformado pela Lei 26.791, 1, publicado no Dirio Oficial
em 14 de dezembro de 2012.
Cdigo Penal da Bolvia, art. 40bis; Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI
nas Amricas apresentada pela Bolvia, Nota MPB-OEA-NV261-13 de fecha 19 de mayo de 2013, recebida
pela Secretaria Executiva da CIDH em 23 de dezembro de 2013, pg. 7.
Cdigo Penal do Chile, artigo 12(21); Informao apresentada CIDH pelo Ministrio Pblico do Chile,
recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 19 de dezembro de 2013, pg. 2. Ver tambm Congresso
Unidos, 1176 El Salvador, 1177 Honduras, 1178 Mxico, 1179 Nicargua, 1180Suriname, 1181 e
Uruguai, 1182 promulgaram legislao sobre crimes de dio ou incluram a
orientao sexual e/ou a identidade de gnero como circunstncias agravantes do
crime. O Brasil no possui legislao federal sobre este aspecto, mas vrios estados
brasileiros aprovaram normas que reprovam os atos de violncia baseada na
orientao sexual, identidade de gnero e/ou expresso de gnero. 1183
413. A CIDH observa que alguns pases incluram a orientao sexual s vezes
referida como preferncia sexual 1184 mas omitiram a incluso da identidade de
gnero nestas disposies legais. 1185 A Comisso Interamericana enfatiza que os
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Nacional do Chile. Ley Nm. 20.609 que estabelece medidas contra a discriminao. Publicada em 24 de
julho de 2012, referida posteriormente neste relatrio.
Cdigo Penal do Canad (R.S.C., 1985, c. C-46), artigo 718.2(a)(i).
Ver artigo 58 do Cdigo Penal da Colmbia (Lei 599 de 2000), publicado em 24 de julho de 2000.
O Cdigo Penal do Ecuador contempla crimes de dio em funo da orientao sexual ou identidade de
gnero, dentre outros motivos, includa a incitao ou prtica de qualquer tipo de violncia fsica ou moral.
Cdigo Orgnico Integral Penal (COIP), art. 177 (2014); Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia
contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo Equador, Nota 4-2-380/2013, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 2 de dezembro de 2013, pg. 7.
United States Code, Ttulo 18, Captulo 13, 249 Normas de Crimes de dio; Resposta ao questionrio da
CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelos Estados Unidos da Amrica,
recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 8 de abril del 2014, pg. 24.
Jornal The Washington Blade, El Salvador lawmakers approve enhanced hate crime penalties, 9 de
setembro de 2015. A CIDH foi informada que o Presidente de El Salvador sancionou estas reformas em 5 de
outubro de 2015.
Cdigo Penal de Honduras, artigos 27 e 321; Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra
pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por Honduras, Nota DC-179/2013, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 4. Porm, a CIDH observa que em agosto de 2015
estava em discusso uma reforma ao Cdigo Penal que modificaria estas disposies legais. Informao
apresentada CIDH pela Red Lsbica Cattrachas, agosto de 2015.
Cdigo Penal Federal do Mxico (reformado pelo Decreto publicado no Dirio Oficial de 14 de junho de
2012), artigo 149; Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pelo Mxico, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 4 de dezembro de 2013, pg. 3.
Cdigo Penal da Nicargua, Artculo 36(5); Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas
LGBTI nas Amricas apresentada pela Nicargua, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de
novembro de 2013, pg. 4.
De acordo com a informao recebida pela CIDH em agosto de 2015, o artigo 175 do Cdigo Penal do
Suriname foi modificado para incluir penas pelos crimes cometidos em funo da orientao sexual.
Cdigo Penal do Uruguai, artigo 149bis (reformado pela Lei 17.677 de 2003).
Esses estados incluem: Mato Grosso, Sergipe, Par, So Paulo e Rio de Janeiro. Resposta ao questionrio da
CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela organizao Casaro do Brasil. A
Comisso recebeu informao das organizaes da sociedade civil que alega que a presena e influncia de
grupos e polticos radicais religiosos constitui o principal obstculo para aprovar legislao federal que
penalize a violncia contra as pessoas LGBTI. Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra
pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela organizao Liga Humanista Secular do Brasil [Brasil], recebida
pela Secretaria Executiva da CIDH em 24 de dezembro de 2013.
A CIDH considera que a terminologia correcta orientao sexual, e no preferncia sexual. Ver Corte IDH.
Caso Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena del 24 de fevereiro de 2012. Srie C
No. 239.
[Canad] Cdigo Penal do Canad (R.S.C., 1985, c. C-46), artigo 718.2(a)(i); [Colmbia] Cdigo Penal da
Colmbia , artigo 58(3); Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas
246 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
1186
1187
Amricas apresentada por Colombia Diversa, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 26 de novembro
de 2013 , pg. 72; [Nicargua] Cdigo Penal da Nicargua, artigo 36(5); Resposta ao questionrio da CIDH
sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela Nicargua, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 4; [Mxico] Cdigo Penal Federal do Mxico
(reformado pelo Decreto publicado no Dirio Oficial de 14 de junho de 2012), artigo 149; Resposta ao
questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo Mxico, recebida
pela Secretaria Executiva da CIDH em 4 de dezembro de 2013, pg. 3.
Por exemplo, ver, o reconhecimento e crticas feitas pelo setor acadmico legislao contra crimes de dio
nos Estados Unidos da Amrica, em Gmez, Maria M. Captulo 2: Violncia por motivo de preconceito,
Motta, Cristina e Sez Macarena (eds), La Mirada de los Jueces: Sexualidades Diversas en la Jurisprudencia
Latinoamericana. Vol. 2, Bogot, Colmbia: Siglo del Hombre Editores, Red Alas, 2008, pg. 108 e seguintes.
CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013, para. 988.
416. Em relao com as pessoas intersexo, a Comisso observou que os Estados devem
proibir os tratamentos e intervenes cirrgicas ou mdicas em pessoas intersexo
que sejam desnecessrios do ponto de vista mdico, e que se realizam sem o
consentimento prvio, livre e informado de pessoas intersexo. 1190 Estas
intervenes podem gerar um grave sofrimento fsico e psicolgico a longo prazo,
violando assim os direitos das crianas integridade fsica, sade, vida privada e
autonomia, e poderiam constituir uma forma de tortura ou maus tratos. 1191 Tanto
o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos como o Comit dos Direitos
da Crianas, o Comit contra a Tortura, e os Relatores da ONU sobre o direito
sade e sobre a tortura recomendaram a erradicao desta prtica. 1192 Neste
sentido, o Comissrio para os Direitos Humanos do Conselho da Europa
recomendou num relatrio de 2015 que as caractersticas sexuais fossem
includas como uma categoria especfica na legislao contra a discriminao e
crimes de dio ou, alternativamente, a categoria sexo/gnero deva ser
interpretada de forma vinculante para incluir as caractersticas sexuais como
categorias proibidas de discriminao. 1193
417. A CIDH considera que a legislao que especificamente protege as pessoas LGBTI
contra a violncia tem um impacto simblico, envia uma mensagem social positiva
e fortalece a preveno. A CIDH solicita que os Estados Membros da OEA ampliem
1188
1189
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1191
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1193
Colombia Diversa, Informacin sobre la situacin de derechos humanos de personas LGBTI en Colombia,
recebida em 11 de dezembro de 2014.
CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio
Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia, 7 de maio
de 2015, para. 292.
Comunicado Conjunto No. 49/15 no Dia Internacional contra a Homofobia, a Bifobia e Transfobia emitido
pela CIDH, o Comit dos Direitos da Criana da ONU, um grupo de especialistas da ONU, a Relatora Especial
de Direitos de Defensores e Defensoras da Comisso Africana de Direitos Humanos e dos Povos, e o
Comissrio de Direitos Humanos do Conselho da Europa. Diante da discriminao e violao de seus
direitos, jovens LGBT e intersexo necessitam reconhecimento e proteo. 17 de maio de 2015.
Comunicado Conjunto No. 49/15 no Dia Internacional contra a Homofobia, a Bifobia e Transfobia emitido
pela CIDH, o Comit dos Direitos da Criana da ONU, um grupo de especialistas da ONU, a Relatora Especial
de Direitos de Defensores e Defensoras da Comisso Africana de Direitos Humanos e dos Povos, e o
Comissrio de Direitos Humanos do Conselho da Europa. Diante da discriminao e violao de seus
direitos, jovens LGBT e intersexo necessitam reconhecimento e proteo. 17 de maio de 2015.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 53. Ver tambm: ONU,
Conselho de Direitos Humanos, Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas
cruis, desumanos ou degradantes, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 88.
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People.
Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 9, recomendao 5. A CIDH toma nota sobre legislao sobre este
aspecto aprovada em pases fora do continente americano, como Austrlia e Malta. A Lei de Identidade de
Gnero, Expresso de Gnero e Caractersticas do Gnero foi aprovada pelo Parlamento de Malta em abril
de 2015. Grupo do Parlamento Europeu sobre direitos das pessoas LGBT, Malta adopts ground-breaking
gender identity, gender expression and sex characteristics law. 2 de abril de 2015. (Disponvel somente em
ingls).
248 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
b.
418. O Comit de Direitos Humanos da ONU recomendou aos Estados que adotem leis
abrangentes para combater a discriminao, incluindo a proteo contra a
discriminao em razo da orientao sexual e identidade de gnero. 1194 Os
Estados devem reconhecer em seu marco normativo de direitos humanos a todas
as pessoas, sem discriminao alguma por motivo de orientao sexual, identidade
de gnero ou diversidade corporal. A CIDH considera que para prevenir e
combater a violncia contra as pessoas LGBTI, os Estados devem adotar um marco
jurdico que proteja especificamente as pessoas contra a discriminao baseada na
orientao sexual, a identidade de gnero ou diversidade corporal (pelo fato de ser
intersexo), por causa do vnculo inerente entre violncia e discriminao
examinado no captulo 2 deste relatrio.
419. No contexto deste relatrio, a CIDH nota que esta obrigao inclui a adoo de leis
de identidade de gnero. Nos ltimos anos, a CIDH solicitou reiteradamente aos
Estados Membros da OEA que adotassem leis de identidade de gnero que
reconheam o direito identidade das pessoas trans sem trat-las como
patologias. A Lei de Identidade de Gnero da Argentina constitui a melhor prtica
na regio, pois no requer qualquer tipo de interveno ou procedimento mdico,
procedimento judicial ou certificao psiquitrica ou mdica, para o
reconhecimento do gnero das pessoas. Um estudo, publicado dois anos aps a
promulgao dessa lei, afirma que a predominncia da violncia e da discriminao
contra as pessoas diminuiu a partir da adoo da lei em 2012. 1195 Porm, a CIDH
continua recebendo informao sobre homicdios e outros atos de violncia contra
mulheres trans em diferentes provncias da Argentina. 1196 A CIDH observa que o
Uruguai tambm adotou uma lei de identidade de gnero, tendo sido o primeiro
1194
1195
1196
pas da regio a fazer isso, em 2009, 1197 e que h um projeto de lei de identidade de
gnero pendente perante o Congresso do Chile. 1198
420. Alm disso, em julho de 2015, a CIDH parabenizou o Mxico e a Colmbia por
adotar decretos que permitem modificar o componente sexo nos documentos de
identidade atravs de procedimentos administrativos simples. Estes
procedimentos esto disponveis na Cidade do Mxico e em todo o territrio
colombiano. A CIDH observou que antes destas medidas, a retificao do
componente sexo nos documentos oficiais somente era possvel atravs de
procedimentos judiciais lentos e onerosos. Esses procedimentos exigiam
diagnsticos psiquitricos e/ou exame mdicos que patologizavam as pessoas
trans. Apesar da CIDH haver reconhecido estes passos positivos, recomendou que
tanto o Mxico como a Colmbia adotassem leis de identidade de gnero. 1199
421. A CIDH nota que alguns pases na regio como a Bolvia 1200 e Honduras, 1201 dentre
outros, proibiram especificamente a discriminao baseada na orientao sexual e
identidade de gnero. No Chile, uma lei contra a discriminao foi adotada aps o
brutal homicdio motivado por preconceito perpetrado contra o jovem Daniel
Zamudio, que foi mencionado no captulo 4 deste relatrio. 1202 Em outros pases,
no h propostas desse tipo de legislao, 1203 ou os projetos de lei apresentados
1197
1198
1199
1200
1201
1202
1203
REDLACTRANS, Informe sobre el Acceso a los Derechos Econmicos, Sociales y Culturales, de la Poblacin
Trans en Latinoamrica y el Caribe. Dezembro de 2014 (pg. 14), faz referncia Lei 18.620 Derecho a la
Identidad de Gnero y al Cambio de Nombre y Sexo en Documentos Identificatorios, Uruguai, Publicada D.O.
17 nov/009 - N 27858.
IGLHRC, Chile: Hace dos aos que ingres el proyecto de ley de identidad de gnero al congreso, 5 de
agosto de 2015. Ver tambm, Frente de la Diversidad Sexual (Chile), Declaracin Pblica del Frente de la
Diversidad Sexual, principal red de organizaciones LGBTI del Chile, sobre el anuncio del Ministro Secretario
General de Gobierno Marcelo Daz sobre darle suma urgencia al proyecto de Ley de Identidad de Gnero. 19
de setembro de 2015.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 75/15, CIDH parabeniza Mxico e Colmbia por medidas que
reconhecem a identidade de pessoas trans. 1 de julho de 2015.
Em 2012, o Cdigo Penal da Bolvia foi reformado para penalizar os atos de discriminao baseados, dentre
outros motivos, na orientao sexual e na identidade de gnero. Adicionalmente, constitui uma
circunstncia agravante quando essa discriminao cometida com violncia ou quando perpetrada por
um agente do Estado. Cdigo Penal da Bolvia, art. 281 Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia
contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela Bolvia, Nota MPB-OEA-NV261-13, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 23 de dezembro de 2013, pg. 7.
Em 2013, Honduras reformou o seu cdigo penal para penalizar atos de discriminao baseados na
orientao sexual e na identidade de gnero. Cdigo Penal de Honduras, art. 321 (reformado pelo Decreto
Legislativo 23-2013, de 21 de fevereiro de 2013); Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra
pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por Honduras, Nota DC-179/2013, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 6. No entanto, segundo a informao recebida pela
CIDH, a proposta de reforma do cdigo penal de 2015 incluiria emendas ao referido artigo. Informao
apresentada CIDH pela Red Lsbica Cattrachas, agosto de 2015.
Congresso Nacional do Chile. Ley Nm. 20.609 que estabelece medidas contra a discriminao. Publicada em
24 de julho de 2012.
Por exemplo, segundo informao recebida pela CIDH, na Repblica Dominicana no h leis que probam a
discriminao em funo da orientao sexual ou identidade de gnero. CIDH, Audincia Pblica sobre
Situao dos direitos humanos das pessoas LGBT na Repblica Dominicana. 156 perodo de sesses. 23 de
outubro de 2015.
250 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
no foram exitosos aps anos de debate. 1204 A CIDH no possui informao sobre o
efeito especfico que a vigncia destas leis possa ter causado na preveno e
eliminao da violncia. Porm, estas leis tambm tem um impacto simblico por
reconhecer explicitamente os riscos de discriminao especiais que as pessoas
enfrentam por causa de sua orientao sexual, identidade de gnero ou
diversidade corporal.
c.
1205
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1207
1208
1209
1210
Por exemplo, segundo informao recebida pela CIDH, um projeto de lei contra a discriminao que foi
apresentado perante o Congresso paraguaio foi rejeitado em novembro de 2014, aps sete anos esperando
aprovao. Ver, Portal ABC Color, Proyecto de Ley contra toda forma de discriminacin, 26 de janeiro de
2015. Informao tambm recebida durante uma audincia pblica perante a CIDH em maro de 2015.
CIDH, Audincia pblica Denncias de atos de violncia e impunidade contra pessoas trans no Paraguai.
154 Perodo de sesses. 17 de maro de 2015.
CIDH, Relatrio de Mrito No. 80/11, Caso 12.626, Jessica Lenahan (Gonzalez) e outras, (Estados Unidos), 21
de julho de 2011, para. 107; CIDH, Relatrio No. 40/04, Caso 12.053, Comunidade Indgena Maya (Belize), 12
de outubro de 2004, para. 163; CIDH, Relatrio No. 67/06, Caso 12.476, Oscar Elas Bicet e outros. (Cuba), 21
de outubro de 2006, para. 228; CIDH, Relatrio sobre terrorismo e direitos humanos, Doc.
OEA/Ser.L./V/II.116 Doc. 5 rev. 1 corr., 22 de outubro de 2002, para. 335.
Ver Corte IDH. Caso Atala Riffo e filhas Vs. Chile. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de fevereiro
de 2012. Srie C No. 239, dentre outras.
CIDH, Relatrio No. 40/04, Caso 12.053, Comunidade Indgena Maya (Belize), 12 de outubro de 2004,
para. 162.
CIDH, Relatrio de Mrito No. 80/11, Caso 12.626, Jessica Lenahan (Gonzalez) e outras, (Estados Unidos), 21
de julho de 2011, para. 108; e CIDH, Relatrio No. 40/04, Caso 12.053, Comunidade Indgena Maya (Belize),
12 de outubro de 2004, para. 162.
CIDH, Relatrio de Mrito No. 4/01, Caso 11.625 Maria Eugenia Morales de Sierra, (Guatemala), 19 de
janeiro de 2001.
Corte IDH. Opinio Consultiva OC-18/03, Condio Jurdica e Direitos dos Migrantes Indocumentados. 17 de
setembro de 2003. Srie A No. 18, para. 167. A CIDH estabeleceu que o desenvolvimento do corpus iuris do
direito internacional dos direitos humanos relevante para a interpretao e aplicao da Declarao
Americana, que constitui uma fonte de obrigaes jurdicas para todos os Estados Membros da OEA, pode
advir das disposies de outros instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos, tais como a
Conveno Americana. Ver, por exemplo, Corte IDH. Opinio Consultiva OC-10/89 Interpretao da
Declarao Americana dos Direitos e Deveres do Homem no marco do artigo 64 da Conveno Americana
1211
1212
1213
1214
sobre Direitos Humanos, 14 de julho de 1989. Srie A No. 10, para. 37; Corte IDH. Opinio Consultiva OC16/99 O Direito Informao sobre a Assistncia Consular no marco das Garantias do Devido Processo Legal,
1 de outubro de 1999. Srie A No. 16, para. 115; e CIDH, Informe de Mrito No. 12/14, Caso 12.231, Peter
Cash. Bahamas, 2 de abril de 2014, paras. 58 e 60.
CIDH, A situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, para. 194.
CIDH, A situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, para. 194, citando Corte IDH Caso das
Meninas Yean e Bosico Vs. Repblica Dominicana. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 8 de setembro de 2005. Srie C No. 130, para. 141; Corte IDH. Opinio Consultiva OC 18/03
Condio Jurdica e Direitos dos Migrantes Indocumentados. 17 de setembro de 2003, Srie A No. 18, para.
88, citados em Corte IDH. Caso Lpez lvarez Vs. Honduras. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e
Custas. Sentena de 1 de fevereiro de 2006. Srie C No. 141, para. 170; Corte IDH. Opinio Consultiva OC
17/02 Condio Jurdica e Direitos Humanos da Criana. 28 de agosto de 2002. Serie A No. 17, para. 44;
Corte IDH. Opinio Consultiva OC4/84 Proposta de Modificao da Constituio Poltica da Costa Rica
relacionada com a Naturalizao. 19 de janeiro de 1984. Srie A No. 4, para. 54; Corte IDH. Caso Yatama Vs.
Nicargua. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 23 de junho de 2005. Srie C
No. 127, para. 185.
CIDH, A situao das pessoas afrodescendentes nas Amricas, 2011, para. 194, citando CIDH, Relatrio de
Mrito No. 80/11, Caso 12.626, Jessica Lenahan (Gonzalez) e outras, (Estados Unidos), 21 de julho de 2011,
para. 109; CIDH, Relatrio No. 67/06, Caso 12.476, Oscar Elas Bicet e outros. (Cuba), 21 de outubro de 2006,
paras. 228-231; CIDH, Relatrio 40/04, Caso 12.053, Comunidade Indgena Maya (Belize), 12 de outubro de
2004, paras. 162 e 166.
CIDH, Relatrio de Mrito No. 80/11, Caso 12.626, Jessica Lenahan (Gonzalez) e outras, (Estados Unidos), 21
de julho de 2011, para. 109; CIDH, Relatrio No. 57/96, Caso 11.139, William Andrews (Estados Unidos), 6 de
dezembro de 1996, para. 173.
252 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
425. A CIDH solicita aos Estados da regio, que possuem leis que criminalizam as
relaes sexuais consensuais entre pessoas do mesmo sexo, atos de indecncia
grave e indecncia sria e utilizadas para criminalizar a intimidade sexual entre
pessoas do mesmo sexo, e as leis que tipificam o uso de vesturio tradicionalmente
associado a outro gnero (cross-dressing), que revoguem estas leis ou,
alternativamente, imponham uma moratria explcita e formal sobre a aplicao
de tais disposies legais. A CIDH tambm insta os Estados Membros da OEA a
revisar toda legislao domstica que inclua linguagen ambgua sobre bons
costumes ou moral pblica, que poderia ser utilizada para justificar prticas
discriminatrias contra pessoas LGBT, e especialmente contra pessoas trans. A
CIDH tambm recomenda aos Estados que emitam diretrizes especficas para
todos os agentes de segurana do Estado, atravs das quais se reafirme que a
violncia, o abuso e a discriminao baseados na orientao sexual, identidade de
gnero ou expresso de gnero, sero punidos.
427. A Comisso Interamericana observa que na regio ainda prevalece uma cultura
segundo a qual os atos de violncia e ataques contra as pessoas LGBT so
absolutamente naturais. H quem inclusive alegue ter o direito de agredir as
pessoas LGBT. 1217 Um Estado informou a Comisso que a violncia contra as
1215
1216
1217
CIDH, Relatrio de Mrito No. 80/11, Caso 12.626, Jessica Lenahan (Gonzalez) e outras, (Estados Unidos), 21
de julho de 2011, para. 109; e CIDH, Relatrio: Acesso justia para mulheres vtimas de violncia sexual:
educao e sade, 2011, para. 90.
Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Paraguai, CCPR/C/PRY/CO/3, 26 de maro de 2013,
para. 9.
CIDH, Atas da Reunio de Especialistas sobre Violncia contra as Pessoas LGBTI nas Amricas, Washington
DC, 24-25 de fevereiro de 2012.
1219
1220
1221
1222
1223
1224
1225
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Brasil, Nota 268, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 9 de outubro de 2014, pg. 3.
CIDH, Informe sobre seguridad ciudadana y derechos humanos, 2009, prrs. 52 y 53.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Brasil, Nota 268, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 9 de outubro de 2014, pg. 1.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
organizao Liga Humanista Secular do Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 24 de
dezembro de 2013.
Jornal El Nuevo Diario, Procuradora especial de diversidad sexual, 30 de novembro de 2009.
Escritrio do Procurador de Direitos Humanos, Defensora de la Diversidad Sexual, em funcionamento desde
abril de 2014.
Plan de Accin Nacional en Derechos Humanos 2007-2017, apresentado pela Guatemala perante o Alto
Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. Setembro de 2007.
Informao proporcionada pela organizao OTrans Reinas de la Noche, disponvel em:
http://www.reinasdelanoche.org.gt/web/.
254 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
431. A CIDH tambm observa que vrias Instituies Nacionais de Direitos Humanos no
continente americano promoveram aes em prol das pessoas LGBTI, sejam
declaraes pblicas de apoio, ou aes especficas para conscientizar sobre as
violaes de seus direitos humanos. Por exemplo, a Comisso foi informada de
aes empreendidas por essas instituies na Colmbia, 1231 Costa Rica, 1232
Equador, 1233 El Salvador, 1234 Guatemala, 1235 Peru, 1236 e Venezuela. 1237
1226
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1235
1236
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 86/14, CIDH finaliza o 152 perodo extraordinrio de sesses. 15
de agosto de 2014.
Informao apresentada CIDH durante a audincia sobre a Guatemala, durante o 152 perodo
extraordinrio de sesses celebrado na Cidade do Mxico, em agosto de 2014.
Direccin de Diversidad Sexual, Secretaria de Incluso Social da Presidncia da Repblica de El Salvador.
Asociacin Salvadorea de Derechos Humanos Entre Amigos; Comisin Internacional de Derechos
Humanos para Gays y Lesbianas; Global Rights; International Human Rights Clinic, Human Rights Program,
Harvard Law School; e Red Latinoamericana y del Caribe de Personas Trans: La Situacin de los Derechos
Humanos de las Personas Lesbianas, Gays, Bisexuales y Transgnero en El Salvador, Informe Alterno
sometido al Comit de Derechos Humanos de las Naciones Unidas, Outubro de 2010, pg. 7.
Secretaria de Incluso Social. SIS lanza call center 131 para atencin y asistencia en diversidad sexual. 17
de maio de 2013.
Portal Noticias RCN. Defensora: Corte contaba con elementos suficientes para permitir adopcin gay sin
restricciones. 19 de fevereiro de 2015.
A Defensoria do Cidado da Costa Rica declarou o dia 17 de maio de 2014 como feriado para marcar a
discriminao baseada na orientao sexual e na identidade de gnero, e solicitou que outras agncias do
Estado fizessem o mesmo. Alm disso, em 2015 a Defensoria lanou uma campanha com o lema Conta
Comigo (http://www.contaconmigocr.org/), que mostra uma srie de vdeoclips de parentes de pessoas
gays e lsbicas na Costa Rica expressando seu pleno apoio a elas e convidando os demais a fazer o mesmo.
Em 2013, o Defensor dos Cidados do Equador emitiu uma srie de declaraes pblicas em favor das
pessoas LGBT, disponveis na pgina de internet da Defensoria: http://www.dpe.gob.ec/.
Em 2015, o Procurador para a Defesa dos Direitos Humanos condenou o homicdio de Francela Mndez,
ativista e defensora dos direitos de pessoas trans em El Salvador. Jornal La Prensa Grfica, Procurador
condena asesinato de activista transgnero en Sonsonate, 4 de junho de 2015. A Procuradoria tambm
parte de uma Mesa Permanente sobre os Direitos Humanos das pessoas LGBTI junto com organizaes da
sociedad civil.
Ver aes realizadas pela Defensoria da Diversidade Sexual adscrita Produradoria dos Direitos Humanos da
Guatemala, disponvel em www.pdh.org.gt
Em julho de 2014, a Defensoria enviou uma comunicao ao Ministrio de Justia e Direitos Humanos do
Peru expressando sua preocupao sobre a excluso das pessoas LGBT do Plano Nacional de Direitos
Humanos. Em setembro de 2014 a CIDH enviou uma comunicao ao governo solicitando informaes sobre
o mesmo assunto com base nas faculdades conferidas pelo artigo 41 da Conveno Americana.
432. A Comisso reconheceu que nos ltimos anos a Colmbia adotou medidas positivas
e importantes em apoio s pessoas LGBTI, e est prestes a adotar uma poltica
pblica nacional compreensiva sobre o tema. 1238 A CIDH tambm toma nota das
atividades da Comisso Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do Mxico, que em
2008 e 2012 publicou relatrios sobre crimes motivados pela orientao sexual e a
identidade de gnero, e organizou uma srie de conferncias no incio de 2012
para conscientizar sobre os assuntos de interesse das pessoas LGBTI. 1239 A CIDH
tambm reconheceu os esforos realizados pelo Centro Nacional de Educao
Sexual (CENESEX), uma entidade estatal cubana dependente do Ministrio da
Sade que trata de assuntos relacionados com a diversidade sexual, a fim de
promover e proteger os direitos das pessoas LGBTI. 1240 Segundo Mariela Castro,
diretora do CENESEX, h vontade poltica em Cuba para tratar dos problemas que
enfrentam as pessoas LGBTI, o que vem facilitanto a implementao de um
programa nacional de educao social que est ajudando a modificar a
mentalidade patriarcal e homofbica. 1241 O Instituto Nacional contra a
Discriminao, a Xenofobia e o Racismo (INADI) da Argentina tambm tem sido
muito ativo na promoo e defesa dos direitos das pessoas LGBTI. 1242
1237
1238
1239
1240
1241
1242
1243
1244
CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo IV: Venezuela, 7 de maio de 2015, para. 615; CIDH, Relatrio Anual
2013, Captulo IV: Venezuela, para. 710.
Ver CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no
Relatrio Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na Colmbia,
7 de maio de 2015, para. 276. Ver tambm CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013.
CNDH, Informe Especial sobre Violaciones a los derechos humanos y delitos cometidos por Homofobia, 2010.
CIDH, Relatrio Anual 2013, Captulo IV: Cuba, para. 216. CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo IV: Cuba,
para. 292.
CIDH, Relatrio Anual 2013, Captulo IV: Cuba, para. 222.
Informao sobre o INADI, disponvel em: http://inadi.gob.ar/tag/derechos-lgbt/.
Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Estado Plurinacional da Bolvia, CCPR/C/BOL/CO/3, 6 de
dezembro de 2013, para. 7; Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Peru, CCPR/C/PER/CO/5, 27 de
maro de 2013, para. 8; Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Repblica Dominicana,
CCPR/C/DOM/CO/5, 19 de abril de 2012, para. 16; Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais:
Guatemala, CCPR/C/GTM/CO/3, 19 de abril de 2012, para. 11.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/14, A CIDH v com satisfao os avanos registrados nos Estados
membros da OEA na promoo e proteo dos direitos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e
intersexuais (LGBTI). 20 de maio de 2014.
256 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
434. Em novembro de 2013 e maio de 2014, a CIDH destacou uma srie de declaraes
positivas emitidas por autoridades de alto escalo incluindo Chefes de Estado e
Ministros de vrios pases do Caribe Anglfono, nos quais as relaes sexuais
consensuais entre pessoas adultas do mesmo sexo so criminalizadas. Por
exemplo, a Comisso saudou as declaraes feitas por altos funcionrios em
Belize, 1245 Barbados, 1246 Jamaica, 1247 Bahamas, 1248 e So Cristvo e Nevis. 1249 A
CIDH considerou positivo o compromisso destes funcionrios de alto escalo que
adotaram uma posio pblica em favor da igualdade em contextos nos quais o
preconceito, a discriminao e a violncia contra as pessoas LGBTI so
generalizados. 1250
435. A CIDH lanou duas campanhas em redes sociais para conscientizar sobre os
direitos das pessoas LGBTI e as violaes de direitos humanos cometidas contra
elas. Em 17 dezembro de 2014, a Comisso lanou uma campanha de dez dias em
vrias plataformas de redes sociais sobre a violncia contra as pessoas LGBTI.
Essa campanha incluiu grficos 1251 e 3 vdeos 1252 que mostravam uma compilao
1245
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1247
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1250
1251
A CIDH expressou sua satisfao com a declarao do Primeiro Ministro de Belize, Dean Oliver Barrow, que
observou que, apesar do governo respeitar as posies religiosas sobre a homossexualidade, o que o
governo no pode fazer eludir sua obrigao de assegurar que todos os cidados, sem exceo, desfrutem
da plena proteo das leis. CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 89/13, CIDH reconhece medidas
adotadas recentemente por vrios Estados Membros da OEA para promover a igualdade das pessoas LGBTI,
21 de novembro de 2013.
A CIDH destacou que o Primeiro Ministro de Barbados, Freundel Stuart, mencionou a importncia da
Declarao Universal de Direitos Humanos e apoiou a eliminao de todas as formas de discriminao,
includa a discriminao contra pessoas de orientao sexual diferente. Ver em: CIDH, Comunicado para a
Imprensa No. 60/14, A CIDH v com satisfao os avanos registrados nos Estados membros da OEA na
promoo e proteo dos direitos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexuais (LGBTI). 20 de
maio de 2014.
A CIDH observou que a Ministra da Juventude da Jamaica, Lisa Hanna, anunciou que o governo est
desenvolvendo programas destinados aos jovens LGBTI. Ver em: CIDH, Comunicado para a Imprensa No.
60/14, A CIDH v com satisfao os avanos registrados nos Estados membros da OEA na promoo e
proteo dos direitos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexuais (LGBTI). 20 de maio de
2014. Alm disso, la CIDH destacou que o Ministro da Justia da Jamaica condenou a morte de uma
adolescente trans, Dwayne Jones, e solicitou aos jamaicanos que acolham o princpio de respeito pelos
direitos humanos bsicos de todas as pessoas. Ver em: CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 89/13,
CIDH reconhece medidas adotadas recentemente por vrios Estados Membros da OEA para promover a
igualdade das pessoas LGBTI,, 21 de novembro de 2013.
A CIDH observou que Frederick Mitchell, Ministro das Relaes Exteriores e Imigrao das Bahamas, afirmou
que a orientao sexual de uma pessoa que se candidata para uma eleio no deve ser um factor
pertinente. Adicionou que, no mnimo, deve haver tolerncia e devemos defender o princpio de que os
direitos pelos quais lutamos [so] direitos para todas as pessoas... [e] no podem ser violados em funo da
orientao sexual da pessoa. Ver em: CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/14, A CIDH v com
satisfao os avanos registrados nos Estados membros da OEA na promoo e proteo dos direitos das
pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexuais (LGBTI). 20 de maio de 2014.
A CIDH expresou sua satisfao pela declarao do Primeiro Ministro de So Cristvo e Nevis, Denzil
Douglas, contra a discriminao e estigmatizao das pessoas LGBTI. Ver em: CIDH, Comunicado para a
Imprensa No. 89/13, CIDH reconhece medidas adotadas recentemente por vrios Estados Membros da OEA
para promover a igualdade das pessoas LGBTI,, 21 de novembro de 2013.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 89/13, CIDH reconhece medidas adotadas recentemente por vrios
Estados Membros da OEA para promover a igualdade das pessoas LGBTI,, 21 de novembro de 2013.
CIDH, Campanha em redes sociais para conscientizar sobre os direitos das pessoas LGBTI (dezembro de
2014).
4.
a.
1253
1254
1255
1256
1257
1258
258 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
438. Para prevenir a violncia, os Estados devem garantir que seus sistemas de justia
tenham a capacidade de investigar de maneira exaustiva e efetiva todo caso de
abuso policial e todo caso de tortura ou tratamentos cruis, desumanos e
degradantes. Os Estados devem agir com a devida diligncia na investigao da
violncia por preconceito, visto que a impunidade das violaes de direitos
humanos fomenta sua repetio. A CIDH destacou reiteradamente a necessidade
de que os Estados treinem a polcia e os agentes de segurana do Estado em
matria de direitos humanos. 1260 Essas capacitaes devem levar em considerao
os direitos das pessoas com orientaes sexuais e identidade de gnero no
normativas. 1261 Adicionalmente, os Estados devem garantir que todos os nveis de
de agentes de polcia e membros das foras de segurana do Estado encarregados
do cumprimento da lei participem dessas capacitaes. 1262 A falta de capacitao
de policiais e demais agentes encarregados do cumprimento da lei constitui um
dos desafios mais srios para a erradicao da violncia por preconceito cometida
por agentes estatais no continente americano.
439. Segundo informao recebida pela CIDH, em vrios Estados Membros da OEA
foram realizadas sesses de capacitao para agentes de segurana e de polcia
sobre temas de diversidade sexual e de gnero. 1263 Isto inclui uma srie de
1259
1260
1261
1262
1263
Corte IDH. Caso Velsquez Rodrguez Vs. Honduras, Mrito. Sentena de 29 de julho de 1988, Srie C, No. 4,
para. 172.
CIDH, Relatrio: Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013, para. 976(1); CIDH, Relatrio sobre
Segurana Cidad e Direitos Humanos, 2009, para. 67; CIDH, Relatrio: Acesso justia para mulheres
vtimas de violncia nas Amricas, OEA/Ser.L/V/II. Doc. 68, 20 de janeiro de 2007 (doravante CIDH, Acesso
justia para mulheres vtimas de violncia nas Amricas, 2007), para. 226; Relatrio sobre a situao de
direitos humanos na Repblica Dominicana, OEA/Ser.L/V/II.104 Doc. 49 rev. 1, 7 de outubro de 1999, para.
231; Justia e incluso social: os desafios democracia na Guatemala, OEA/Ser.L/V/II.118 Doc. 5 rev. 1, 29
de dezembro de 2003, para. 98; Relatrio sobre a situao de direitos humanos no Mxico,
OEA/Ser.L/V/II.100 Doc. 7 rev. 1, 24 de setembro de 1998, para. 705; Relatrio sobre a situao de direitos
humanos no Brasil, OEA/Ser.L/V/II.97 Doc. 29 rev. 1, 29 de setembro de 1997, Captulo III, para. 36.
Ver, por exemplo CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc.
12, 2012, para. 305(d).
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012, para.
305(d). A CIDH tambm recebeu informao sobre os desafios na implementao da Diretiva 006/2010, para
prevenir o abuso policial na Colmbia. Segundo a informao proporcionada por organizaes da sociedade
civil, os oficiais designados como vnculo entre a polcia e os membros da comunidade LGBTI, previstos na
Diretiva, eram frequentemente agentes de baixa hierarquia. Adicionalmente, informaram que foram
capacitados agentes de escritrio, mas no aqueles que patrulham as ruas. Reunio da Presidente da CIDH
com organizaes LGBTI do Caribe Colombiano (Cali e Tumaco). Cartagena, Colmbia. 3 de outubro de 2014.
Ver tambin, CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH
no Relatrio Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situao de direitos humanos na
Colmbia, 7 de maio de 2015.
[Brasil] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
pela organizao Liga Humanista Secular do Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 24 de
dezembro de 2013; [Colmbia] Resposta da Colmbia ao pedido de informao: supostos casos de abuso
policial contra mulheres trans em Cali, Cartagena e Barranquilla, Nota MPC/OEA No. 1509/2014, 20 de
outubro de 2014; [Estados Unidos da Amrica] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra
capacitaes para policiais realizadas nos pases do Caribe Anglfono nos ltimos
anos, como em Barbados, 1264 Jamaica, 1265 So Cristvo e Nevis, 1266 Santa Lcia, 1267
e Suriname. 1268
440. A Comisso Interamericana solicita aos Estados Membros da OEA que redobrem
seus esforos para capacitar as foras de segurana do Estado a fim de erradicar os
abusos e a violncia por preconceito. Esta capacitao deve incluir informao
sobre como responder de forma adequada e respeitosa s vtimas de violncia, e
como prevenir os maus tratos e o tratamento policial discriminatrio. Os
capacitadores devem familiarizar-se com as tendncias sociais sobre a violncia
baseada em preconceito social e ter conhecimento sobre a existncia de grupos
que possam ter a inteno de agredir especificamente pessoas com orientaes
sexuais ou identidades de gnero no normativas. Adicionalmente, a CIDH
recomenda que os Estados Membros da OEA capacitem os funcionrios de polcia e
de custdia nas penitencirias, delegacias, centros de deteno migratria e outros
lugares de privao de liberdade, a fim de garantir que esses agentes protejam
adequadamente a vida e a integridade pessoal das pessoas LGBTI privadas de
liberdade. Alm disso, os Estados devem assegurar que existam mecanismos
independentes para receber adequadamente e investigar efetivamente as
denncias de casos de tortura, tratamentos cruis, desumanos ou degradantes,
abuso policial e outros atos de violncia praticados por agentes de segurana do
Estado.
b.
1264
1265
1266
1267
1268
pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelos Estados Unidos de Amrica, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 8 de abril del 2014, pg. 11; [Nicargua] Resposta ao questionrio da CIDH sobre
violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela Nicargua, recebida pela Secretaria Executiva
da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 7; [Peru] Instituto de Desarrollo y Estudios de Gnero RUNA,
Informe de derechos humanos sobre la poblacin trans (transexuales, travestis, transgnero) en la ciudad de
Lima (Informe 2008), janeiro de 2009, pg. 4; Miraflores (Portal Oficial), Capacitacin contra la
Discriminacin, 18 de maro de 2013; [Venezuela] Defensora del Pueblo de la Repblica Bolivariana de
Venezuela, Informe Anual 2010, marzo de 2011, pg. 340; [Paraguai] Informao apresentada pelo Estado
durante a Audincia Pblica Denncias de atos de violncia e impunidade contra pessoas trans no
Paraguai, celebrada em 17 de maro de 2015, 154 perodo ordinrio de sesses.
A organizao Canadian HIV/AIDS Legal Network apresentou informao sobre estas capacitaes CIDH.
Jornal Jamaica Observer, Police Sharpen to Work with Vulnerable Groups, 22 de junho de 2015. Ver
tambm, Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
pela Jamaica, Nota 6/80/1, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 16 de dezembro de 2013, pg. 3.
Jornal SKN Vibes, Mitigating and Reducing impact of disasters on Health Facilities, 8 de abril de 2009.
Jornal Saint Lucia Star, Police Schooled In Sensitivity Towards Gays, 2 de setembro de 2013.
A organizao Canadian HIV/AIDS Legal Network enviou informao sobre estas capacitaes CIDH.
260 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
445. Sobre os direitos das pessoas intersexo, a CIDH celebra a posio adotada em 2013
pelo Instituto Nacional contra a Discriminao, a Xenofobia e o Racismo no
Ministrio de Justia, Segurana e Direitos Humanos da Argentina, que afirmou que
as pessoas intersexo tm direito integridade fsica e autodeterminao sobre o
1269
1270
1271
Comit de Direitos Humanos, Observaes Finais: Chile, CCPR/C/CHL/CO/5, 18 de mayo de 2007, para. 16.
OPS, Blueprint for the Provision of Comprehensive Care to Gay Men and Other Men who have sex with Men
(MSM) in Latin America and the Caribbean, baseado na consulta realizada no Panam em julho de 2009,
pg. 20.
OPS, Blueprint for the Provision of Comprehensive Care to Gay Men and Other Men who have sex with Men
(MSM) in Latin America and the Caribbean, baseado na consulta realizada no Panam em julho de 2009,
pg. 20.
seu prprio corpo, e que todos os protocolos mdicos devem garantir o direito ao
consentimento livre, prvio e informado. 1272 A Comisso tambm considera
positivo um conjunto de diretrizes emitidas pelo Ministrio da Sade da Provncia
de Buenos Aires (Argentina) que trata especificamente das cirurgias em crianas
intersexo e incorpora expressamente como recomendao as concluses do
Primeiro Frum Internacional Intersexo. 1273 Segundo a informao recebida pela
Comisso, esse Ministrio da Sade vem realizando capacitaes em hospitais com
base nestas diretrizes. 1274
447. Desde 2013, a Assembleia Geral da OEA pediu que os Estados Membros da OEA
ofeream uma proteo adequada a pessoas intersexo, assim como a implementar
polticas e procedimentos, caso seja necessrio, para garantir que as prticas
mdicas sejam consistentes com os parmetros aplicveis de direitos humanos. 1278
1272
1273
1274
1275
1276
1277
1278
INADI, Intersexualidad: el INADI contra la violencia del sistema binario de sexo y de gnero, 25 de fevereiro
de 2013.
rea de Polticas de Gnero do Ministrio da Sade da Provncia de Buenos Aires, Gua para Personal de
Salud sobre Salud Sexual y Reproductiva y Prevencin de la Violencia hacia Poblacin LGTB, 2012, pgs. 12,
21, 22. Frum Internacional Intersexo, Comunicado de Prensa: Primer Foro Internacional Intersex, Bruxelas,
Blgica, 5 de setembro de 2011 (disponvel somente em ingls).
Ministrio da Sade da Provncia de Buenos Aires, Ms de 40 profesionales se capacitaron sobre diversidad
sexual en el hospital Carrillo, 19 de setembro de 2012.
Corte Constitucional Colombiana, Deciso T-622/14, 28 de agosto de 2014, pargrafo primeiro do 2.4.
Corte Constitucional Colombiana, Deciso T-622/14, 28 de agosto de 2014, pargrafo resolutivo 7.
Advocates for Informed Choice (AIC), AIC announces important first victory in MC case!, 26 de agosto de
2013.
OEA, Assembleia Geral, Direitos humanos, orientao sexual e identidade e expresso de gnero, AG/RES.
2807 (XLIII-O/13), adotada na quarta sesso plenria, celebrada em 6 de junho de 2013.
262 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
1280
1281
1282
1283
Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou
degradantes, A/HRC/22/53, 1 de fevereiro de 2013, para. 88.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, ONU-Mulheres, ONUSIDA, PNUD, FNUAP, UNICEF e
Organizao Mundial da Sade (OMS), Eliminando a esterilizao forada, coercitiva e involuntria: Uma
Declarao Interagencial, 2014, pg. 9 (disponvel somente em ingls).
Relatrio do Relator Especial sobre o direito de toda pessoa ao mais alto nvel possvel da sade fsica e
mental, A/64/272, 10 de agosto de 2009, para. 46.
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People.
Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 9.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, ONU-Mulheres, ONUSIDA, PNUD, FNUAP, UNICEF e
Organizao Mundial da Sade (OMS), Eliminando a esterilizao forada, coercitiva e involuntria: Uma
Declarao Interagencial, 2014, pg. 10 (disponvel somente em ingls).
1284
1285
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 92/13, CIDH preocupada com a violncia e discriminao contra
pessoas LGBTI no contexto da educao e do ambiente familiar, 22 de novembro de 2013.
Comit sobre os Direitos da Criana, Observaes Finais: Guiana, CRC/C/GUY/CO/2-4, 18 de junho de 2013,
para. 25.
264 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
contra elas. 1286 Com efeito, a CIDH reafirmou que a educao desempenha um
papel fundamental na promoo e proteo dos direitos humanos, ao promover
uma mudana cultural que aceite plenamente a diversidade e promova a aceitao
das orientaes sexuais e identidades de gnero diversas. 1287
1286
1287
1288
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1290
1291
1292
1293
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 92/13, CIDH preocupada com a violncia e discriminao contra
pessoas LGBTI no contexto da educao e do ambiente familiar, 22 de novembro de 2013. Ver tambm
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 68/13, CIDH celebra reunio regional sobre educao, cultura e
direitos das pessoas LGTBI, 19 de setembro de 2013.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 92/13, CIDH preocupada com a violncia e discriminao contra
pessoas LGBTI no contexto da educao e do ambiente familiar, 22 de novembro de 2013.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 57.
Relatrio do Relator Especial da ONU sobre o Direito Educao, A/65/162, 23 de julho de 2010, para. 23.
UNESCO, Education sector responses to Homophobic Bullying, 2012, pg. 42.
UNESCO, Education sector responses to Homophobic Bullying, 2012, pg. 27.
No Brasil, o plano de implementao do Ministrio da Educao inclui o programa Escolas Sem Homofobia
que inclui a transformao do currculo escolar para incluir perspectivas sobre diversidade sexual e de
gnero, capacitao e o estabelecimento de espaos seguros para estudantes nas salas de aulas. UNESCO,
Education sector responses to Homophobic Bullying, 2012, pg. 32.
A CIDH foi informada que o Centro Nacional de Estatsticas de Educao do Departamento de Educao dos
Estados Unidos (US Department of Educations National Center for Education Statistics, NCES por sua sigla
em ingls) coleta dados estatsticos sobre violncia nas escolas. Resposta ao questionrio da CIDH sobre
457. A Comisso observa que a UNESCO recomendou uma estratgia transversal para
prevenir este tipo de bullying, incluindo o uso de evidncias para conscientizar
todas as partes envolvidas (funcionrios de educao, associaes de professores,
lderes comunitrios e pais e mes de famlia) sobre a natureza, escala e impacto
do bullying contra pessoas LGBTI. 1295 A UNESCO identificou vrios aspectos
essenciais sobre quais os professores e autoridades da educao devem receber
capacitao especfica, entre as que se encontram habilidades de aprendizagem
para enfrentar o bullying escolar, a assessoria em discusses em classe sobre a
sexualidade com contedo apropriado para a idade, dentre outras. 1296 A CIDH
ressalta que a sensibilizao e as capacitaes desempenham um papel
fundamental na preveno da violncia contra as pessoas LGBTI em ambientes
educacionais.
B.
458. A CIDH definiu o acesso justia como o acesso de jure e de facto aos rgos
judiciais e a recursos judiciais de proteo. 1297 A Comisso adverteu que o direito
a um recurso judicial efetivo deve ser compreendido como o direito de toda pessoa
a ser ouvida por um tribunal quando quaisquer de seus direitos hajam sido
violadas (incluindo direitos protegidos pela Conveno, Constituio nacional ou
leis internas), a fim de que se realize uma investigao judicial por um tribunal
competente, imparcial e independente que possa estabelecer se ocorreu ou no
uma violao, e que ordene, se for o caso, uma compensao adequada. 1298
1294
1295
1296
1297
1298
violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelos Estados Unidos da Amrica, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 8 de abril del 2014, pgs. 3, 5, 12 e 28.
Primeira reunio de Ministros da Sade e Educao para Deter HIV e DSTs na Amrica Latina e no Caribe.
Declarao Ministerial Prevenir com Educao, 1 de agosto de 2008, para. 3.2.
UNESCO, Education sector responses to Homophobic Bullying, 2012, pg. 26.
UNESCO, Education sector responses to Homophobic Bullying, 2012, pg. 42.
CIDH, Acesso justia para mulheres vtimas de violncia nas Amricas, 2007, para. 5.
CIDH, Relatrio: Acesso justia para mulheres vtimas de violncia sexual: educao e sade, 2011, para.
22; CIDH, Relatrio No. 5/96, Caso 10.970, Mrito, Raquel Martn de Meja, Peru, 1 de maro de 1996,
pg. 22.
266 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
460. No entanto, em termos gerais a CIDH determinou que as pessoas LGBT encontram
vrias barreiras especficas alm das dificuldades que a populao em geral
tambm enfrenta na busca por justia, que incluem: falta de ateno e tratamento
adequados quando tentam denunciar crimes; comportamento negligente e
preconceituoso do pessoal encarregado de fazer cumprir a lei; presunes
estereotipadas que se manifestam nas investigaes sobre o motivo dos crimes
baseados na orientao sexual, identidade de gnero ou expresso de gnero da
vtima; maior temor de revitimizao ou represlias, que gera um efeito
intimidador para denunciar estes crimes; falta de programas especializados de
assessoria jurdica; existncia de legislao ou precedentes jurisprudenciais que
toleram ou justificam a violncia contra pessoas LGBT; atitudes discriminatrias
de juzes, juzas e de outros funcionrios do sistema de administrao de justia; e
alto risco de ter sua credibilidade e a de suas denncias questionadas; dentre
outras.
1299
1300
1301
1302
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Asociacin por los Derechos Civiles (ADC) (Argentina), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de
dezembro de 2013; Observatorio de Gnero en la Justicia de la Ciudad Autnoma de Buenos Aires, Informe
de actividades 2013, pg. 7.
CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH), (Chile), recebida pela Secretaria Executiva da
CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 6.
Palavras de Abertura de Zeid Ra'ad Al Hussein, Alto Comissrio da ONU para os Direitos Humanos, durante
uma reunio de especialistas sobre a erradicao das violaes de direitos humanos de pessoas intersexo,
16 de setembro de 2015, Genebra.
a.
462. Vrias organizaes da sociedade civil 1307 e vrios Estados 1308 do continente
americano observaram que as pessoas LGBT evitam denunciar crimes contra elas
1303
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1306
1307
Palavras de Abertura de Zeid Ra'ad Al Hussein, Alto Comissrio da ONU para os Direitos Humanos, durante
uma reunio de especialistas sobre a erradicao das violaes de direitos humanos de pessoas intersexo,
16 de setembro de 2015, Genebra.
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People.
Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 9. Traduo livre da CIDH.
Informao recebida pela CIDH durante uma reunio de especialistas sobre os direitos de pssoas intersexo
convocada pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. Genebra, 16 y 17 de septiembre de
2015.
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People.
Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 51.
[Belice] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
por United Belize Advocacy Movement (UNIBAM), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 7 de
novembro de 2013; [Brasil] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas
Amricas apresentada por Casaro do Brasil, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de
novembro de 2013; [Colmbia] Colombia Diversa, Cuando el Prejuicio Mata: Informe de Derechos Humanos
de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia 2012, junho de 2014, pg. 17; [El Salvador]
PNUD & Procuradura para la Defensa de los Derechos Humanos, Informe sobre la situacin de los Derechos
Humanos de las Mujeres Trans en El Salvador, 2013, pg. 31; [Estados Unidos] TransLatin@ Coalition,
TransVisible: Transgender Latina Immigrants in US Society, 2013, pg. 42; [Guatemala] Organizacin de
Apoyo a una Sexualidad Integral Frente al SIDA (OASIS), Crmenes de Odio en Guatemala: una Aproximacin
a los Retos y Desafos para el Desarrollo de una Investigacin sobre Crmenes en el Pas en contra de Gay,
Bisexuales y Trans, abril de 2010, pg. 41; [Guiana] SASOD, Collateral Damage: The Impact of Laws Affecting
LGBT Persons in Guyana, maro de 2012, pgs. 16-17; [Jamaica] J-FLAG, Homophobia and Violence in
Jamaica, dezembro de 2013, pg. 2; [Peru] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas
LGBTI nas Amricas apresentada por PROMSEX, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de
dezembro de 2013, pg. 11; [Repblica Dominicana] Centro de Orientacin e Investigacin Integral (COIN) Caribbean Vulnerable Communities Coalition (CVC), Proyecto Grupos Vulnerables del Caribe: Diversidad y
Normalizacin Una Mirada a las Trabajadoras Sexuales Mujeres y Transgnero en tres Pases del Caribe,
maio de 2012, pg. 53; [Uruguai] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas
Amricas apresentada pelo Colectivo Ovejas Negras, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de
dezembro de 2013, pg. 4; e [Venezuela] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas
268 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
463. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, as vtimas LGBT
muitas vezes no denunciam crimes por medo de extorso, de que no se respeite
a confidencialidade necessria, ou de represlias. 1312 O Relator Especial sobre a
1308
1309
1310
1311
1312
LGBTI nas Amricas apresentada pela organizao Diverlex, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em
24 de novembro de 2013, pg. 7.
[Bolvia] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
pela Bolvia, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 23 de dezembro de 2013; [Guatemala] Resposta
ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela Guatemala,
Nota 1262-2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de dezembro de 2013, pg. 4; [Mxico]
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo
Mxico, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 4 de dezembro de 2013, pg. 8; e [Nicaragua]
Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos (PDDH) da Nicargua, Respeto a los Derechos Humanos de
las personas de la Diversidad Sexual por parte de la Policia Nacional, maro de 2012, pg. 7.
[Chile] Movimiento de Integracin y Liberacin Homosexual (MOVILH). XI Informe Anual de Derechos
Humanos de la Diversidad Sexual en Chile 2012, 2013, pgs. 61-65; [Colmbia] Resposta ao questionrio da
CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo Colectivo Entre Trnsitos e outros,
recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 14; Colombia Diversa,
Impunidad Sin Fin: Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en
Colombia 2010-2011, 2013, pg. 50; [Equador] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra
pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pelo Equador, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 2 de
dezembro de 2013, pg. 13; Fundacin Ecuatoriana Equidad, Informe sobre la situacin de los derechos
humanos de las poblaciones LGBTI (Equador), 2013, pg. 68; [Guiana] Carrico, Christopher, Collateral
Damage: The Social Impact of Laws Affecting LGBT Persons in Guyana. Publicado pelo Faculty of Law UWI
Rights Advocacy Project, Faculty of Law, University of the West Indies, maro de 2012, pg. 17.
[Argentina] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada pela Asociacin por los Derechos Civiles (ADC) da Argentina, recebida pela Secretaria Executiva
da CIDH em 20 de dezembro de 2013; [Barbados] Caribbean HIV & AIDS Alliance, Assessing the Feasibility
and Acceptability of Implementing the Empowerment Project: An Evidence-Based HIV Prevention
Intervention for Gay Men in Barbados, 2010, pg. 30; [Regional] Escritrio das Naes Unidas sobre as
Drogas e o Crime (UNODC), Handbook on Prisoners with special needs: Lesbian, gay, bisexual and
transgender (LGBT) Prisoners 2009, pg. 104.
OASIS, Guatemala, el Rostro de la Homofobia: los Crmenes de Odio por Identidad Sexual, 16 de novembro
de 2006, pgs. 19 e 20.
Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Discriminao e violncia contra as pessoas por motivo
de orientao sexual e identidade de gnero, A/HRC/29/23, 4 de maio de 2015, para. 25.
1313
1314
Relatrio do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou
degradantes, A/56/156, 3 de julho de 2001, para. 21.
Por exemplo, na Argentina, o Ministro de Segurana emitiu uma resoluo instruindo as foras de segurana
federais a se diirigir s pessoas trans segundo sua identidade de gnero percebida. Ministrio de Segurana,
Resoluo 1181/2011, 24 de novembro de 2011.
270 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
b.
466. A CIDH mencionou anteriormente que a participao das vtimas nas distintas
etapas do processo penal, de acordo com a legislao interna, garante o direito
verdade e justia, e parte da complexa estrutura de pesos e contrapesos em
aes penais, alm de motivar a fiscalizao pblica das aes do governo. 1315
Durante a etapa de inqurito e os resultantes procedimentos judiciais, as vtimas
de violaes de direitos humanos, ou seus familiares, devem contar com amplas
oportunidades de participar e ser ouvidos, a fim de esclarecer os fatos, determinar
a pena dos responsveis, e buscar formas de reparao justas. 1316
c.
1318
1319
CIDH, Relatrio sobre segurana cidad e direitos humanos, 2009, para 67.
CIDH, Relatrio sobre segurana cidad e direitos humanos, 2009, para. 45.
Informao apresentada por organizaes LGBT de Colmbia (visita a Colmbia da Presidente da CIDH, Tracy
Robinson, seetembro e outubro de 2014) e de Honduras (visita da CIDH em dezembro de 2014).
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 22.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012.
comunidade LGBT, ou que sejam percebidos como aliados desta. 1320 E pior ainda,
alega-se que os advogados que esto dispostos a representar pessoas LGBT ou
aquelas percebidas como tal, muitas vezes aumentam consideravelmente suas
tarifas, o que se torna um obstculo significativo adicional para a representao
legal. 1321
d.
1321
1322
1323
1324
1325
Informao apresentada por organizaes LGBT de Colmbia (visita a Colmbia da Presidente da CIDH, Tracy
Robinson, seetembro e outubro de 2014) e de Honduras (visita da CIDH em dezembro de 2014).
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Madre e outros (Haiti), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 25 de novembro de 2013, pg. 7.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 22.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012.
A CIDH nota avanos na Argentina, onde a Defensoria Geral da Nao decidiu em 2013 oferecer assistncia e
representao jurdica s pessoas LGBTI, especialmente a mulheres trans vtimas de abuso policial.
Informao apresentada pela Defensoria Geral da Nao (Comisso sobre Assuntos de Gnero) Ministrio
da Defensoria Pblica (Argentina), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 30 de junio de 2014, pg. 4
(Resoluo DGN 276/2013).
CIDH, Garantias para a independncia de operadores de justia. Para o fortalecimento do acesso justia e o
estado de direito nas Amricas, OEA/Ser.L/V/II. Doc. 44, 5 de dezembro de 2013, (CIDH, Garantias para a
independncia de operadores de justia, 2013), prr. 15.
272 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
471. Naquele relatrio, a Comisso tambm recomendou aos Estados dar prioridade
implementao de formao especializada para juzes, juzas, promotores e
defensores pblicos sobre os direitos de grupos que, devido a suas caractersticas,
requerem tratamento especializado. 1328 Isto especialmente relevante no que diz
respeito a pessoas LGBTI. Nesse sentido, a Comisso especificou que as operadoras
e operadores de justia devem receber capacitao especializada que lhes permita
respeitar a dignidade dos membros de tais grupos quando forem vtimas de
violaes de direitos humanos; outorgar a estes a participao adequada nos
processos; e assegurar seu pleno acesso justia, para prevenir, investigar e punir
os atos de violncia, conforme os requisitos do Direito Internacional. 1329
472. A CIDH foi informada que em vrios Estados Membros da OEA foram realizados
cursos de capacitao sobre orientao sexual, identidade de gnero, e temas
relacionados com diversidade sexual, para juzes, juzas e outros operadores de
justia, incluindo promotores, defensores pblicos e outros funcionrios
pblicos. 1330 Por exemplo, a Colmbia informou a Comisso que a Diretoria
Nacional de Promotorias implementou um plano integral de ao para a defesa dos
direitos da populao, que incorpora determinadas medidas sobre pessoas LGBTI.
Estas medidas incluem a identificao e priorizao de casos LGBTI em
investigao pela Promotoria Geral da Nao, tal como feito nos casos das
mulheres trans que foram assassinadas em Sincelejo e Maicao. 1331 Porm, a CIDH
1326
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1328
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1330
1331
474. Essas capacitaes devem incluir uma explicao clara dos conceitos centrais
sobre orientao sexual, identidade de gnero e diversidade corporal. Alm disso,
devem reconhecer e conscientizar sobre a discriminao e violncia sofridas pelas
pessoas LGBTI, e o contexto geral de preconceito contra as orientaes sexuais e
identidades de gnero no normativas. A CIDH tambm recomenda aos Estados
informar e capacitar os membros do sistema de justia sobre temas relacionados
com a sexualidade, identidade de gnero, e HIV/AIDS. 1334 A Comisso ressalta que
juzes e juzas devem receber treinamento contnuo sobre temas de diversidade
sexual e de gnero. Os cursos especializados no devem ter como nico objetivo
que as autoridades judiciais estejam atualizadas sobre os novos avanos
legislativos, seno que tambm devem se concentrar na erradicao do
preconceito contra as pessoas LGBTI no sistema de justia. Finalmente, essencial
que estas capacitaes no sejam limitadas a juzes e juzas, mas que incluam
tambm funcionrios em todos os nveis do sistema de administrao de justia.
1332
1333
1334
de 2015, citando: Estado da Colmbia, Situacin de los Derechos Humanos 2013-2014 y seguimiento a las
recomendaciones en el IV Informe de Pas de la CIDH. Nota S-GAIID-14-094783, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 29 de dezembro de 2014, pgs. 348-349.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Defensores de Derechos Humanos por la Universidad Nacional Autnoma de Mxico (Mxico), recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 125.
Relatrio da Relatora Especial sobre a Independncia de Magistrados e Advogados, A/HRC/20/19, 7 de junho
de 2012, para. 54.
CIDH, Relatrio sobre a situao dos direitos humanos na Jamaica, OEA/Ser.L/V/II.144 Doc. 12, 2012, para.
305(c).
274 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
2.
a.
Impunidade da violncia
1335
1336
1337
1338
Corte IDH. Caso do Massacre de Mapiripn Vs. Colmbia. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena del 15 de
seetembro de 2005. Srie C No. 134, paras. 236-237; Corte IDH. Caso da Comunidade Moiwana Vs.
Suriname. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 15 de junho de 2005. Srie C
No. 124, para. 203; Corte IDH. Caso Huilca Tecse Vs. Peru, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 3 de
maro de 2005. Srie C No. 121, para. 82; Corte IDH. Caso das Irms Serrano Cruz Vs. El Salvador. Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 1 de maro de 2005. Srie C No. 120, para. 170; Corte IDH. Caso dos
Irmos Gmez Paquiyauri Vs. Peru. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 8 de julho de 2004. Srie C No.
110, para. 148; Corte IDH. CIDH, Declarao da Comisso Interamericana de Direitos Humanos sobre a
aplicao e alcance da Lei de Justia e paz na Colmbia, OEA/Ser/LV/II.125 Doc. 15, 1 de agosto de 2006,
para. 50.
Corte IDH. Caso Velsquez Rodrguez Vs. Honduras, Mrito. Sentena de 29 de julho de 1988. Srie C No. 4,
para. 176.
CIDH, Situao dos direitos da mulher em cidade Jurez, Mxico: o direito de no ser objeto de violncia e
discriminao, OEA/Ser.L/V//II.117, Doc. 44, 7 de maro de 2003.
Comit de Direitos Humanos, Observaes finais: Estado Plurinacional da Bolvia, CCPR/C/BOL/CO/3, 6 de
dezembro de 2013, para. 7; Observaes finais: Repblica Dominicana, CCPR/C/DOM/CO/5, 19 de abril de
2012, para. 16; Observaes Finais: Guatemala, CCPR/C/GTM/CO/3, 19 de abril de 2012, para. 11.
1341
1342
1343
1344
276 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
479. A CIDH observa que h uma diferena gritante entre o nmero de casos em que se
abriu um inqurito e o nmero de casos com deciso judicial. A informao
enviada Comisso revela nveis alarmantes de impunidade. A CIDH examinar
em seguida mais detalhadamente alguns dos fatores que geram estas altas taxas de
impunidade.
b.
i.
1345
1346
1347
1348
1349
Organizacin Trans Reinas de la Noche (Guatemala), Informe Guatemala: Transfobia, Agresiones y Crmenes
de Odio 2007-2011, 1 de maio de 2011, pg. 38.
PROMSEX, Informe Anual sobre derechos humanos de personas trans, lesbianas, gays y bisexuales en el Per,
2011, 2012, pg. 55.
Society Against Sexual Orientation Discrimination (SASOD) & Sexual Rights Initiative (SRI), On Devils Island: A
UPR Submission on LGBT Human Rights in Guyana, junho de 2014, para. 8.
Informao apresentada CIDH pela organizao Colombia Diversa, recebida pela Secretaria Executiva da
CIDH em 11 de dezembro de 2014.
ONU, Relatrio da Relatora Especial, Asma Jahangir, sobre execues extrajudiciais, sumrias ou arbitrrias.
E/CN.4/2000/3. 25 de janeiro de 2000, para. 116.
482. Em 2014, a CIDH saudou a emisso de um protocolo pela Suprema Corte de Justia
da Nao, no Mxico, para ajudar juzes e juzas nos casos relacionados com
direitos das pessoas LGBTI. 1357 Apesar do protocolo no ser vinculante, este
1350
1351
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1357
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/14, A CIDH v com satisfao os avanos registrados nos Estados
membros da OEA na promoo e proteo dos direitos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e
intersexuais (LGBTI). 20 de maio de 2014.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/14, A CIDH v com satisfao os avanos registrados nos Estados
membros da OEA na promoo e proteo dos direitos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e
intersexuais (LGBTI). 20 de maio de 2014.
Esta Unidade conhecida como Unidad de Investigacin Especializada para la Atencin a Usuarios de la
Comunidad Lsbico Gay, Bisexual, Travesti, Transgnero, Transexual e Intersexual (LGBTTTI). Ver
Procuradoria Geral da Justia do Distrito Federal, Acuerdo 23/2010 del C. Procurador General de Justicia del
Distrito Federal por el que se crea la Unidad Especializada para la atencin de usuarios de la Comunidad
LGBTTTI (MP LGBTTTI), 23 de novembro de 2010; Procuradoria Geral de Justia do Distrito Federal, Segundo
Informe de Gobierno, 2014, pg. 21.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/14, A CIDH v com satisfao os avanos registrados nos Estados
membros da OEA na promoo e proteo dos direitos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e
intersexuais (LGBTI). 20 de maio de 2014. De acordo com a informao apresentada por Honduras, a
Unidad Especial de Muertes de Impacto Social tambm trabalhou com casos sobre estrangeiros e
jornalistas. Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas
apresentada por Honduras, Nota DC-179/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de
novembro de 2013, pg. 11; Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas
Amricas apresentada pela Red Lsbica Cattrachas (Honduras), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH
em 1 de dezembro de 2013, pg. 2.
De acordo com a Nicargua, a pessoa que atualmente ocupa a posio de Procuradora Especial da
Diversidade Sexual foi eleita por consenso entre as organizaes LGBTI da Nicargua. Resposta ao
questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela Nicargua,
recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013, pg. 7; Comit sobre os Direitos da
Criana; Observaes finais: Nicargua, CRC/C/NIC/CO/4, 20 de outubro de 2010, para. 36; Relatrio do
Grupo de Trabalho sobre o Exame Peridico Universal: Nicargua, A/HRC/14/3, 17 de maro de 2010, para.
27; Inter Press Service (IPS), La diversidad sexual ya tiene quien la defienda, 11 de dezembro de 2009.
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/14, A CIDH v com satisfao os avanos registrados nos Estados
membros da OEA na promoo e proteo dos direitos das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e
intersexuais (LGBTI). 20 de maio de 2014.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
Honduras, Nota DC-179/2013, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de novembro de 2013,
pg. 11.
CIDH, Comunicado de Prensa No. 95/14, CIDH felicita a Suprema Corte de Mxico por adopcin de
protocolo para casos que involucren orientacin sexual o identidad de gnero, 29 de agosto de 2014;
278 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
483. A CIDH recebeu bastante informao, tanto de Estados 1358 como de organizaes
da sociedade civil, 1359 sobre a existncia de preconceito e parcialidade na
investigao de crimes contra pessoas LGBT. A CIDH expressou sua preocupao
pela tendncia de funcionrios estatais nos sistemas de administrao de justia
dos pases nas Amricas, de fazer suposies preconceituosas desde o incio da
investigao, sobre os motivos, possveis suspeitos e circunstncias dos crimes,
com base na orientao sexual ou identidade de gnero, real ou percebida das
vtimas. 1360 De maneira geral, a consequncia disso que ao invs de coletas as
provas minuciosamente e realizar investigaes srias e imparciais os policiais e
outros agentes do sistema de administrao da justia direcionam suas aes para
1358
1359
1360
Suprema Corte de Justicia de la Nacin (Mxico), Protocolo de actuacin para quienes imparten justicia en
casos que involucren la orientacin sexual o la identidad de gnero, a Agosto de 2014.
[Mxico] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
pelo Mxico, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 4 de dezembro de 2013, pg. 8. Ver tambm,
Comisso Nacional para Prevenir e Erradicar a Violncia contra as Mulheres (CONAVIM) do Mxico, Estudio
nacional sobre las fuentes, orgenes y factores que producen y reproducen la violencia contra las mujeres,
2012, pg. 434.
[Bolvia] Red de Travestis, Transexuales y Transgnero de Bolivia (Red TREBOL) & Heartland Alliance for
Human Needs & Human Rights, La situacin de los derechos humanos de las personas lesbianas, gay,
bisexuales, transgnero en Bolivia, marzo de 2013, pg. 6; [Colmbia] Resposta ao questionrio da CIDH
sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por Colombia Diversa, recebida pela
Secretaria Executiva da CIDH em 26 de novembro de 2013; Caribe Afirmativo - Global Rights, Violacin de
derechos a personas lesbianas, gays, bisexuales trans e intersex (LGBTI) en el Caribe Colombiano en el marco
del conflicto armado interno, outubro de 2014, pg. 14; [Honduras] Red Lsbica Cattrachas e outros,
Audincia de homicdios de pessoas LGTTBI e impunidade nas Amricas perante a Comisso Interamericana
de Direitos Humanos, 1 de novembro de 2012, pg. 24; [Jamaica] Jamaica Forum for Lesbians, All-Sexuals, &
Gays (J-FLAG) y otros, Human Rights Violations of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender (LGBT) people in
Jamaica: A Shadow Report. Outubro de 2011, pg. 8; Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia
contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por Defensores de Derechos Humanos por la Universidad
Nacional Autnoma de Mxico (Mxico), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de
2013, pg. 114.
CIDH, Segundo relatrio sobre a situao das defensoras e defensores de direitos humanos nas Amricas, 31
de dezembro de 2011, para. 337. A CIDH foi informada da existncia de investigaes preconceituosas em
vrias audincias pblicas que ocorreram desde 2011. A CIDH referiu-se a esta situao em vrios
comunicados para a imprensa nos ltimos anos. Ver, inter alia, CIDH, Comunicado para a Imprensa No.
79/13, CIDH mostra preocupao com os ataques de grupos violentos, o abuso policial e outras formas de
violncia contra pessoas LGTBI, de 24 de outubro de 2013.
484. Os problemas com a investigao de crimes contra pessoas LGBT esto vinculados,
em parte, falta de investigao para determinar se o crime foi cometido em
funo da orientao sexual ou identidade de gnero das vtimas. Na maioria dos
casos, a orientao sexual ou identidade de gnero da vtima totalmente ignorada
no inqurito, apesar de sua possvel utilidade na identificao de possveis motivos
ou suspeitos. 1361 Por outro lado, o preconceito e a discriminao podem resultar
em abandono ou arquivamento do inqurito, ou inclusive em falta total de
investigao dos crimes. 1362
485. A CIDH recebeu informao que estabelece que, em virtude do preconceito
existente nos sistemas de administrao de justia nos pases da regio, os
homicdios de pessoas LGBT, especialmente de pessoas lsbicas, gays e bissexuais,
no so categorizados como crimes de dio ou crimes por preconceito, mas pelo
contrrio, desde o incio so classificados como crimes que resultam de emoes,
cimes, ou motivos relacionados com um relacionamento prvio. Quando os
crimes esto genuinamente motivados por preconceito, mas no so classificados
como tal, a culpa invertida para a vtima (por exemplo, o preconceito pode levar a
que o crime seja entendido como justificado, ou menos grave devido s aes ou
condutas da vtima). Este processo invisibiliza as estruturas de poder que
reproduzem os estertipos homofbicos que formam a base do preconceito. 1363
1362
1363
1364
Ver, por exemplo, Red Lsbica Cattrachas e outros, comunicao apresentada no contexto de uma audincia
pblica perante a CIDH. Audincia sobre homicdios de pessoas LGTB e impunidade nas Amricas, 146
perodo ordinrio de sesses, 1 de novembro de 2012.
Reunio de especialistas sobre violncia contra as pessoas LGBTI nas Amricas, Washington DC, 24-25 de
fevereiro de 2012. Ver tambm CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 23/12, CIDH realiza reunio sobre
violncia e impunidade contra pessoas LGTBI, 1 de maro de 2012.
Gmez, Mara M. Captulo 2: Violencia por Prejuicio, em Motta, Cristina e Sez, Macarena (eds.), La Mirada
de los Jueces: Sexualidades diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Bogot, Colmbia: Siglo
del Hombre Editores, Red Alas, 2008, pg. 176.
REDLACTRANS e outros, La noche es otro pas. Impunidad y Violencia contra Mujeres Transgnero
Defensoras de Derechos Humanos en Amrica Latina, 2012, pg. 21.
280 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
488. A violncia que ocorre no contexto de uma relao ntima tambm pode estar
baseada em preconceito, independentemente de ser uma relao entre pessoas do
mesmo sexo ou de diferente sexo. Quando uma pessoa LGBT ou percebida como
tal agredida ou assassinada, o Estado deve levar a cabo uma investigao para
determinar se o crime foi cometido em funo da orientao sexual ou identidade
de gnero, real ou percebida, da/s vtima/s, independentemente da existncia de
indcios que indiquem que a vtima tinha uma relao ntima com o suposto autor.
489. Como analisado no capitulo 2 deste relatrio, nem todos os atos de violncia
podem ser qualificados como violncia por preconceito. Sobre esse ponto, a
Comisso observa que difcil determinar se a violncia baseada ou no em
preconceito. Essa determinao exige uma investigao exaustiva das causas da
violncia, realizada conforme o princpio da devida diligncia. Apesar de nem
todos os atos de violncia contra pessoas LGBT estarem motivados por
preconceito, os elevados ndices de impunidade e de violncia por preconceito
requerem que os crimes cometidos contra pessoas LGBT sejam investigados
completa e imparcialmente.
ii.
490. A CIDH est muito preocupada com a informao recebida sobre decises judiciais
que justificam os homicdios ou atos de violncia contra pessoas LGBT. A Comisso
foi informada que os tribunais da regio eximem de responsabilidade penal,
parcial ou totalmente, por crimes como homicdios ou ataques fsicos contra
pessoas LGBT, porque os ataques em questo supostamente foram cometidos em
resposta a provocaes feitas por pessoas do mesmo sexo que os agressores, ou
pela identidade de gnero da vtima. Nestes casos, os tribunais responsabilizam a
orientao sexual ou a identidade de gnero da vtima pelos atos de violncia
sofridos por esta.
491. Nos Estados Unidos, por exemplo, em alguns casos, as pessoas acusadas pelo
homicdio de pessoas LGBT tentam justificar o crime com o argumento de que a
violncia foi incitada por supostas provocaes sexuais feitas pela vtima (esta
justificativa comumente denominada defesa do pnico gay)1366, ou alegam que
1365
1366
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 51/12, CIDH recomenda que Estados acabem com a homofobia e a
transfobia, 17 de maio de 2012.
Estes casos incluem os homicdios do jovem de 21 anos Matthew Shepard e os e os adolescentes de 15 aos
de idade Lawrence King e Marcus McMillian. Ver Lee, Cynthia, The Gay Panic Defense em University of
California Davis Law Review, Vol. 42, pg. 285-88. Ver tamb, Revista The Advocate, 'Gay Panic' Defense
Trotted Out In Murder of Mayoral Candidate, 11 de maro de 2013. Ver tambm, CBS News, California
1367
1368
1369
1370
1371
1372
teen Brandon McInerney sentenced to 21 years for point-blank murder of gay classmate, 19 de dezembro
de 2011.
Estes casos incluem as mortes do adolescente de 17 aos Gwen Araujo e de Jorge Steven Lpez Mercado,
em Porto Rico, GLAAD, Gwen Araujo Murdered Ten Years Ago Today, 13 de outubro de 2012; Portal Pink
News, Suspect in Puerto Rico teens murder may use gay panic defense, 20 de novembro de 2009.
Ver, por exemplo, o caso do homicdio de Lawrence King, CBS News, California teen Brandon McInerney
sentenced to 21 years for point-blank murder of gay classmate,19 de dezembro de 2011. De maneira
similar, ver caso de Gwen Araujo: Gwen Araujo Murdered Ten Years Ago Today, 3 de outubro de 2012.
American Bar Association, Resolution 113A, adotada pela Cmara de Representantes, 12 e 13 de agosto de
2013 (Disponvel somente em ingls).
American Bar Association, Resolution 113A, adotada pela Cmara de Representantes, 12 e 13 de agosto de
2013 (Disponvel somente em ingls).
Revista The Advocate, California becomes First State to Ban Gay, Trans Panic Defenses, 29 de setembro
de 2014. (Disponvel somente em ingls).
Mara Mercedes Gmez, Captulo 2: Violencia por Prejuicio em La Mirada de los Jueces: Sexualidades
diversas en la jurisprudencia latinoamericana. Volume 2. Cristina Motta & Macarena Sez, eds., Bogot: Siglo
del Hombre Editores, Red Alas, 2008, pg. 170, fazendo referncia deciso no caso do homicdio de uma
pessoa com as iniciais J.W.A.G (os rus: Luis Fernando Combat Paternina e Carlos Humberto Castao
Bedoya), Quarto Juizado Penal da Comarca de Dosquebradas, Risaralda, Processo 2002-00135, 7 de junho de
2004.
282 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
494. Alm disso, a Comisso foi informada de que vrios tribunais dos pases da
Comunidade do Caribe aceitam uma justificativa legal denominada defesa por
investidas sexuais de pessoas do mesmo sexo (same-sex sexual advance defense),
seja como defesa parcial que serve como atenuante da pena, por exemplo, para
reduzir a gravidade ou o carter de qualificado de um homicdio, ou como uma
defesa absoluta que conduz absolvio, por exemplo, nos casos em que o
homicdio considerado justificado por excludentes de ilicitude. 1374 A CIDH
recebeu informao sobre casos de violncia contra pessoas LGBT em que tais
argumentos apresentados pelos advogados de defesa dos rus resultaram em
penas atenuadas ou absolvio em Barbados, 1375 Dominica, 1376 Jamaica, 1377
Bahamas, 1378 e Trinidade e Tobago. 1379 Em um dos casos das Bahamas, o juiz
afirmou que um indivduo tem o direito de utilizar a fora que seja necessria
para evitar ser vtima de um ato homossexual, 1380 ao mencionar uma insinuao
sexual no violenta (e no um caso de agresso sexual).
495. Nestes pases, o veredicto de homicdio justificado constitui uma defesa absoluta
que resulta em absolvio. O conceito de homicdio justificado inclui aquele que
praticado para evitar um crime forado e atroz, dentre os quais se incluem as
1373
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1375
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1378
1379
1380
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 59/15, luz de uma sentena emitida na Argentina, CIDH destaca
parmetros na matria, 3 de junho de 2015.
Reunio regional de Ativistas LGBTI do CARICOM, The Unnatural Connexion: Creating Social Conflict through
Legal Tools, Laws Criminalizing Same-Sex Sexual Behaviors and Identities and Their Human Rights Impact in
Caribbean Countries, 2010, apresentado CIDH em novembro de 2010, pg. 30. Ver tambm Se-shauna
Wheatle, Adjudication in Homicide Cases involving Lesbian, Gay, Bisexual and Transgendered (LGBT) Persons
in the Commonwealth Caribbean, Faculty of Law University of West Indies Rights Advocacy Project, 2013.
Harewood v. The Queen BB 2009 CA 22 (21 de dezembro de 2009) (CA, Barbados).
Portal Dominica News Online, Man facing serious charges walks free, 25 de setembro de 2012. Caso de
Clem Philbert v the State, (Dominica) citado em Anistia Internacional, Dominica: Failure to address key
human rights concerns overshadows minor progress, Relatrio para o Exame Peridico Universal da ONU,
maio de 2014, pg. 3. Philbert v The State (30 de abril de 2012) (Eastern Caribbean CA, Dominica).
R v Bartley (1969) 14 WIR 407 (CA, Jamaica) 411.
Cdigo Penal das Bahamas, art. 107(4) (j). Para a preveno ou para a prpria defesa ou a de qualquer
outra pessoa dos seguintes crimes, uma pessoa pode justificar qualquer fora necessria ou dano, que pode
chegar, em casos de extrema necessidade, at a matar, a saber: [] crimen forado contra a natureza.
Portal Pink News, Nassau man freed after using gay panic defence at murder trial, 2 de fevereiro de 2009.
Marcano v The State Cr. App. No. 2 of 2002 (26 de julho de 2002) (CA, Trinidade e Tobago).
Comunidade das Bahamas na Corte de Apelacin, The Attorney General v. Latherio Jones, SCCrApp & CAIS
No. 89 de 2009, pg. 3.
1381
1382
1383
1384
1385
284 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
c.
498. A Comisso solicita que os Estados adotem as medidas necessrias para agir com
devida diligncia na preveno, investigao e punio da violncia contra pessoas
LGBTI, independentemente da violncia ocorrer no contexto da famlia, da
comunidade, ou na esfera pblica, a qual inclui as instituies educacionais e de
sade. 1386 Sobre a investigao dos crimes contra as pessoas LGBT ou aqueles
percebidos como tal, a Comisso adverteu que os Estados devem investigar a
possibilidade de que os atos violentos hajam sido praticados em virtude da
orientao sexual, identidade de gnero e/ou expresso de gnero da vtima. 1387
1387
1388
1389
1390
1391
CIDH, Comunicado para a Imprensa No. 60/13, CIDH expressa preocupao com a violncia e discriminao
contra pessoas LGTBI, e particularmente pessoas jovens, nas Amricas, 15 de agosto de 2013.
CIDH, Relatrio Anual 2012 (Captulo IV, Cuba, seo de situao de direitos de pessoas LGBTI), para. 136.
Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 30 de agosto de 2010. Srie C No. 215, para. 191; Corte IDH. Caso Velsquez Rodrguez Vs.
Honduras. Sentena de 29 de julho de 1988. Srie C No. 4, paras. 166 e 176; Corte IDH. Caso Valle Jaramillo e
outros Vs. Colmbia. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 27 de novembro de 2008. Serie C No. 192,
para. 98; e Corte IDH. Caso Garibaldi Vs. Brasil. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 23 de setembro de 2009. Srie C No. 203, para. 112.
Corte IDH. Caso Velsquez Rodrguez Vs. Honduras. Sentena de 29 de julho de 1988. Srie C No. 4,
para. 177.
Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 30 de agosto de 2010. Srie C No. 215, para. 191; Corte IDH. Caso Velsquez Rodrguez Vs.
Honduras. Sentena de 29 de julho de 1988. Srie C No. 4, para. 177; Corte IDH. Caso Radilla Pacheco Vs.
Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 23 de novembro de 2009. Srie C
No. 209, paras. 192 y 233; e Corte IDH. Caso Chitay Nech e outros Vs. Guatemala. Excees Preliminares,
Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 25 de maio de 2010. Srie C No. 212, para. 192.
Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 30 de agosto de 2010. Srie C No. 215, para. 191; Corte IDH, Caso Massacre de Pueblo Bello vs.
Colmbia. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 31 de janeiro de 2006. Srie C No. 140, para. 143; Corte
IDH. Caso Perozo e outros Vs. Venezuela. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de
28 de janeiro de 2009. Srie C No. 195, para. 298; e Corte IDH. Caso Gonzlez e outras (Campo
Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de
2009. Srie C No. 205, para. 290; CIDH, A Situao dos Direitos das Mulheres em Cidade Jurez, Mxico: o
direito a viver livre de violncia e discriminao, OEA/Ser.L/V//II.117, Doc. 44, 7 de maro de 2003, prr. 133.
500. A Corte tambm afirmou que, se o Estado falha em seu dever de devida diligncia
numa investigao penal, isto pode resultar na ausncia de elementos de convico
suficientes para esclarecer os fatos que esto sendo investigados, identificar os
possveis responsveis, e determinar as eventuais responsabilidades criminais em
nvel interno. 1395 Ao elaborar o conceito de devida diligncia, a Corte
Interamericana definiu os princpios norteadores que devem ser observados em
investigaes criminais de violaes de direitos humanos, que incluem, dentre
outros: recuperar e preservar o material probatrio; identificar potenciais
testemunhas; e determinar a natureza, causa, lugar, e momento do ato sob
investigao. Adicionalmente, os profissionais competentes devem utilizar os
procedimentos mais apropriados, examinar de maneira detalhada a cena do crime,
e realizar exames rigorosos de medicina legal. 1396 A Corte Interamericana tambm
determinou claramente a obrigao do Estado de investigar com a devida
diligncia os homicdios e atos de violncia sexual contra mulheres, 1397 levando em
conta as causas e consequncias da violncia de gnero.
1392
1393
1394
1395
1396
1397
Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 30 de agosto de 2010. Srie C No. 215, para. 191.
Corte IDH, Caso Famlia Barrios Vs. Venezuela. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 24 de novembro de
2011. Srie C No. 237, para. 176; Corte IDH, Caso Massacre de Pueblo Bello vs. Colmbia. Mrito, Reparaes
e Custas. Sentena de 31 de janeiro de 2006. Srie C No. 140, para. 143; Corte IDH, Caso Manual Cepeda
Vargas vs. Colmbia. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 26 de maio de 2010.
Srie C No. 213, para. 117.
Corte IDH, Caso Velsquez Rodrguez Vs. Honduras. Mrito, para. 177; Corte IDH, Caso Vlez Restrepo e
famlia Vs. Colmbia. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 3 de setembro de
2012. Srie C No. 248, para. 188; Corte IDH, Caso Gonzlez Medina e famlia vs. Repblica Dominicana.
Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 27 de fevereiro de 2012. Srie C No. 240,
para. 206; Corte IDH, Caso Ibsen Crdenas e Ibsen Pea vs. Bolvia. Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de
1 de setembro de 2010. Srie C No. 217, para. 167.
Corte IDH. Caso Osorio Rivera e Familiares Vs. Peru. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 26 de novembro de 2013. Srie C No. 274, para. 144.
Corte IDH. Caso Juan Humberto Snchez Vs. Honduras. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 7 de junho de 2003. Srie C No. 99, para. 128; Corte IDH. Caso Garibaldi Vs. Brasil. Excees
Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 23 de setembro de 2009. Srie C No. 203, para. 115;
e Corte IDH. Caso Gonzlez e outras (Campo Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de 2009. Srie C No. 205, para. 300.
Corte IDH. Caso Fernndez Ortega e outros Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas.
Sentena de 30 de agosto de 2010. Srie C No. 215, paras. 193-194; Corte IDH. Caso Gonzlez e outras
(Campo Algodonero) Vs. Mxico. Exceo Preliminar, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 16 de
novembro de 2009. Srie C No. 205, paras. 283, 300-301.
286 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
501. Desde 2009, a Assembleia Geral da OEA solicita aos Estados que garantam que atos
de violncia e violaes de direitos humanos contra pessoas por motivo de sua
orientao sexual e identidade de gnero sejam investigados, e que os
responsveis sejam devidamente sancionados. 1398 Para tanto, os Estados devem
fortalecer suas instituies nacionais a fim de prevenir e investigar os atos de
violncia e outras violaes de direitos humanos contra pessoas LGBT, garantir a
proteo judicial das vtimas e sancionar os responsveis. 1399
502. A CIDH recebeu informao de que em muitos pases da regio onde existe
legislao que agrava as penas por crimes cometidos por motivos relacionados
com a orientao sexual ou identidade de gnero da vtima, essas leis quase nunca
so aplicadas a casos concretos, e os crimes de dio so geralmente tratados como
crimes comuns, sem considerar o preconceito em questo. 1400 Nesse sentido, a
CIDH foi informada sobre dificuldades em processar crimes de dio nos Estados
Unidos, por exemplo. 1401 Na Colmbia, uma organizao informou a CIDH que em
nenhum dos 730 casos de homicdio de pessoas LGBT documentados entre 2006 e
2014, aplicou-se a agravante da pena prevista em lei para crimes motivados por
preconceito. 1402 No Chile, organizaes observaram que a verificao da
motivao preconceituosa de um crime de dio complexa, pois se trata de um
elemento subjetivo difcil de provar. Portanto, indicam que a linguagem destas
1398
1399
1400
1401
1402
OEA, Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES.
2863 (XLIV-O/14), aprovada na quarta sesso plenaria, celebrada em 5 de junho de 2014, res. para. 3; OEA,
Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2807
(XLIII-O/13), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 6 de junho de 2013, res. para. 3; OEA,
Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2721
(XLII-O/12), aprovada na segunda sesso plenria, celebrada em 4 de junho de 2012, res. para. 3; OEA,
Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2653
(XLI-O/11), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 7 de junho de 2011, res. para. 2; OEA,
Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2600
(XL-O/10), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 8 de junho de 2010, res. para. 2; OEA,
Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES. 2504
(XXXIX-O/09), aprovada na quarta sesso plenria, celebrada em 4 de junho de 2009, res. para. 2. Todas as
resolues esto disponveis na seo de enlaces da pgina web da Relatoria LGBTI, acessvel atravs da
pgina da CIDH: www.cidh.org.
OEA, Assembleia Geral, Direitos Humanos, Orientao Sexual e Identidade e Expresso de Gnero, AG/RES.
2807 (XLIII-O/13), adotada na quarta sesso plenria, celebrada em 6 de junho de 2013.
[Colmbia] Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin, Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay,
Bisexuales y Personas Trans en Colombia, 2010-2011, pg. 31; [Honduras] Cattrachas e outros, Audincia de
homicdios de pessoas LGTTBI e impunidade nas Amricas perante a CIDH, 1 de novembro de 2012, pg. 27;
[Mxico] Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada
por Defensores de Derechos Humanos por la Universidad Nacional Autnoma de Mxico (Mxico), recebida
pela Secretaria Executiva da CIDH em 20 de dezembro de 2013, pg. 64; Portal Notiese, A pesar de reformas
constitucionales, an restan pendientes para comunidad LGBTTTI, 16 de agosto de 2011.
Ver, por exemplo, Jornal Huffington Post, Gay Hate Crime Acquittal In Kentucky Throws Fuel On Hate Crime
Debate, 26 de outubro de 2012; CBS News, Two Kentucky men acquitted in landmark gay hate crime case,
24 de outubro de 2014.
Informao apresentada CIDH pela organizao Colombia Diversa, recebida pela Secretaria Executiva da
CIDH em 11 de dezembro de 2014.
503. A CIDH reconhece que pode ser difcil provar o elemento subjetivo da motivao
em muitos casos. Pode ser complicado saber com certeza se o crime foi o resultado
de preconceito do perpetrador, especialmente em ausncia de uma confisso do
ru nesse sentido. No entanto, outro tipo de provas ou a presena de determinadas
circunstncias podem servir como indcios valiosos para determinar se essa
motivao existiu. Nos Estados Unidos, por exemplo, o FBI emitiu um conjunto de
diretrizes para a investigao de crimes por preconceito. O FBI indica que, apesar
de um fato no ser conclusivo se visto de forma independente, determinados
elementos, especialmente quando encontrados em combinao com outros,
tendem a confirmar a existncia de preconceito. 1404 O FBI adverte que estes
elementos no incluem todos os tipos de fatos que demonstram uma motivao
preconceituosa, e enfatiza a necessidade de avaliar caso a caso. 1405 Organizaes
da sociedade civil, como Colombia Diversa, tentaram elaborar critrios para
distinguir os crimes cometidos em funo da orientao sexual ou identidade de
gnero, real ou percebida, da vtima, dos crimes cometidos com outras
motivaes. 1406 Estes critrios incluem fatores relevantes ao suposto autor do
crime (se conhecido), o suposto motivo, o nvel de brutalidade utilizada, e o lugar
1403
1404
1405
1406
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada por
MOVILH (Chile), recebida em 20 de novembro de 2013, pg. 15; e Resposta ao questionrio da CIDH sobre
violncia contra pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela Fundacin Iguales (Chile), recebida em 29 de
janeiro de 2014, pg. 6.
Os seguintes elementos foram includos, e eles se referem orientao sexual e/ou identidade de gnero, e
tambm raa e origem tnica, dentre outros fatores: (1) o delinquente e a vtima tm um orientao
sexual e/ou identidade de gnero distinta; (2) comentrios preconceituosos feitos para a vtima; (3)
desenhos, marcas ou smbolos deixados na cena do crime ou objetos usados pelo perpetrador relacionados
com preconceito; (4) elementos relacionados com o bairro onde o crime aconteceu (porque a vtima
membro de um grupo numericamente superado de maneira impressionante por outros residentes; o crime
aconteceu num bairro onde outros crimes de dio j aconteceram anteriormente; vrios incidentes
ocorreram na mesma localidade, aproximadamente no mesmo horrio e todas as vtimas tinham a mesma
orientao sexual ou identidade de gnero); (5) uma parte substancial da comunidade onde ocorreu o crime
acredita que o mesmo foi motivado por preconceito; (6) a vtima era um/a ativista ou defensor/a ou
participava em ativismo para defender ou promover os direitos das pessoas LGBT, inclusive se a vtima no
era membro do grupo que foi alvo do ataque; (7) o incidente coincidiu com um dia significativo para a
comunidade LGBT; (8) o acusado havia previamente estado envolvido em crime similar motivado por
preconceito ou existe indcio de que um grupo de dio estava envolvido; e/ou (9) existe uma animosidade
histrica baseada em preconceito entre a vtima e o acusado. CJIS Division, UCR Program, Hate Crime Data
Collection Guidelines and Training Manual, 27 de fevereiro de 2015, pgs. 6-7. (Disponvel somente em
ingls; traduo livre da CIDH)
CJIS Division, UCR Program, Hate Crime Data Collection Guidelines and Training Manual, 27 de fevereiro de
2015, pg. 7.
Porm, como mencionado por uma organizao da sociedade civil, devido discriminao histrica qual o
grupo foi submetido, provvel que o motivo da maioria destes crimes tenha sido o preconceito. Lleras,
Catalina, Captulo I: La justicia es ciega ante la evidencia de crmenes por perjuicio, em Colombia Diversa,
Impunidad Sin Fin, Informe de Derechos Humanos de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en
Colombia, 2010-2011, Bogot, 2013, pg. 17.
288 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
504. A Comisso solicita aos Estados Membros da OEA que investiguem de forma
efetiva e imparcial todos os crimes cometidos contra pessoas LGBTI, e criem
diretrizes ou protocolos que incluam indcios ou elementos que possam ajudar
agentes de polcia, promotores, e outros investigadores a determinar se o crime foi
praticado por preconceito contra a orientao sexual e/ou identidade de gnero
real ou percebida da vtima. Nesse sentido, a CIDH considera que os seguintes
elementos, dentre outros, poderiam ser indicativos de um crime por preconceito,
especialmente quando observados concomitantemente: (i) declaraes da vtima
ou do suposto responsvel de que o crime foi motivado por preconceito; (ii) a
brutalidade do crime e sinais de selvageria (incluindo os casos de homicdio em
que a natureza e o nvel de violncia parecem ultrapassar a mera inteno de
matar e estar destinados a castigar ou eliminar a identidade da vtima); (iii)
insultos ou comentrios feitos pelo/s suposto/s responsvel/veis, que se refiram
orientao sexual e/ou identidade de gnero da/s vtima/s; (iv) o fato da vtima
ser ativista de temas LGBT ou defensor/a de pessoas LGBT e de seus direitos, ou a
participao da vtima em evento especial para comemorar a diversidade de
pessoas LGBT; (v) a existncia notria de preconceito contra pessoas LGBT no
perpetrador, ou se o perpetrador forma parte de um grupo que possui preconceito
contra pessoas LGBT; (vi) a natureza ou o significado do lugar onde ocorreu a
violncia, ou de onde as vtimas foram atradas (por exemplo, um lugar
notoriamente frequentado por pessoas LGBT, ou uma rea frequentada por
pessoas trans que exercem trabalho sexual); e (vii) se a/s vtima/s havia/m estado
com um/a companheiro/a do mesmo sexo ou com um grupo de pessoas LGBT
quando a violncia ocorreu.
505. A CIDH deseja enfatizar que a lista de elementos supramencionada no exaustiva,
e que um crime pode estar motivado por preconceito mesmo na ausncia de
quaisquer desses elementos. Em outras palavras, nem todos os crimes contra
pessoas LGBT ou aquelas percebidas como tal apresentaro todas ou inclusive
algumas destas caractersticas. Quando um crime praticado contra pessoas
1407
No caso das mulheres lsbicas, os critrios incluem os seguintes: i) os fatos ocorreram em local de
socializao de homossexuais; ii) foram assassinadas com sua companheira; iii) as vtimas eram defensoras
de direitos humanos; iv) expresses discriminatrias do autor do crime; e v) os supostos autores so
membros de organizaes fora da lei. No caso dos homens gays, os critrios incluem: i) foram assassinados
como um casal; ii) os fatos ocorreram em local de socializao de homossexuais; iii) os fatos ocorreram na
residncia das vtimas; iv) a violncia excessiva usada para assassin-los; v) a suposta participao de grupos
homofbicos; vi) a suposta participao de grupos paramilitares; e vii) o tipo de arma utilizada. No caso das
mulheres trans, os fatores que determinariam estes homicdios como crimes por preconceito foram: i) os
fatos ocorreram em local de socializao de homossexuais ou em pontos de prostituio; ii) a violncia
excessiva usada nos homicdios; iii) a existncia de relatrios de risco do Sistema de Alertas da Defensoria do
Cidado, alertando sobre o risco, em virtude de ameaas prvias; iv) a suposta participao de grupos
transfbicos; v) a suposta responsabilidade de grupos armados ilegais; e vi) a condio de vtimas de
defensores de direitos humanos ou ativistas LGBT. Lleras, Catalina, Captulo I: La justicia es ciega ante la
evidencia de crmenes por perjuicio, em Colombia Diversa, Impunidad Sin Fin, Informe de Derechos Humanos
de Lesbianas, Gay, Bisexuales y Personas Trans en Colombia, 2010-2011, Bogot, 2013, pg. 19, citada em
CIDH, Verdade, Justia e Reparao: Colmbia, 2013, paras. 995-996.
LGBT, os Estados devem garantir que, desde o incio da investigao, seja feito uma
anlise sobre os motivos do crime, e que esta anlise considere a relevncia da
orientao sexual ou identidade de gnero, real ou percebida, da vtima. Desta
forma, a hiptese de que o crime foi motivado por preconceito pode ser
confirmada ou descartada durante a investigao.
506. A CIDH solicita aos Estados Membros da OEA que considerem as circunstncias
especficas da maneira em que a violncia por preconceito ocorre em seus pases, e
que consultem organizaes da sociedade civil e ativistas LGBT para elaborar
adequadamente protocolos que determinem indicadores sobre os potenciais
crimes motivados por preconceito, que possam ser pertinentes para as
investigaes em determinado pas. A CIDH ressalta que esta recomendao no
apenas para Estados Membros da OEA que j possuam legislao vigente sobre
crimes de dio ou circunstncias agravantes para os crimes cometidos por
preconceito contra a orientao sexual e/ou identidade de gnero das vtimas.
Esta recomendao destina-se a todos os Estados Membros da OEA, pois o direito
verdade, neste caso o direito a saber se um ato de violncia foi motivado ou no
por preconceito contra pessoas LGBT, um componente fundamental do direito de
acesso justia e de obter reparaes. Como determinou a CIDH, o direito de uma
sociedade a conhecer inteiramente seu passado no constitui apenas um modo de
reparao e exclarecimento dos fatos ocorridos, mas tambm serve para prevenir
violaes futuras. 1408
507. A Corte Europeia de Direitos Humanos afirmou em sentena recente que, quando
atos violentos so investigados, como os maus tratos, as autoridades do Estado tm
o dever de adotar todas as medidas que sejam razoveis para desmascarar
possveis motivos discriminatrios. 1409 A Corte Europeia ainda observou que, esta
obrigao significa que o Estado deve fazer tudo o que seja razovel de acordo com
as circunstncias do caso, a fim de coletar e preservar as provas, explorar todos os
meios prticos para descobrir a verdade e emitir decises completamente
fundamentadas, imparciais e objetivas, sem omitir fatos supeitos que possam
indicar violncia motivada por discriminao. 1410
508. A Corte Europeia afirmou que tratar a violncia e a brutalidade com inteno
discriminatria da mesma forma que os casos que carecem deste tipo de nuance
seria fechar os olhos para a natureza especfica de atos que so especialmente
destrutivos dos direitos fundamentais [...] e a indiferena resultante seria
equivalente aquiescncia oficial ou inclusive cumplicidade com os crimes de
1408
1409
1410
CIDH, Relatrio No. 37/00, Caso 11.481, Monseor Oscar Arnulfo Romero e Galdmez, El Salvador, 13 de
abril de 2000, para. 148, citado em CIDH, Direito verdade nas Amricas, OEA/Ser.L/V/II.152 Doc. 2, 13
agosto 2014, para. 124, (doravante CIDH, Direito verdade nas Amricas, 2014).
Este caso trata sobre maus tratos sofridos por um grupo de pessoas detidas aps uma parada do orgulho
LGBT, que foi interrompida por manifestantes contrrios, celebrada em Tbilisi, Gergia, em 17 de maro de
2002.
Corte Europeia de Direitos Humanos, Identoba e outros vs. Gergia, (Comunicao no. 73235/12), 12 de
maio de 2015, para. 67.
290 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
509. A CIDH recorda que tanto a Comisso como a Corte emitiram diretrizes sobre
como realizar investigaes efetivas e minuciosas sobre mortes violentas,
incluindo a necessidade de identificar as vtimas e testemunhas, recuperar
material probatrio, realizar uma busca exaustiva na cena do crime, e preservar de
forma adequada as provas em toda a cadeia de custdia. 1413 A Comisso ressalta
que, alm do dever de explorar linhas de investigao que, desde o incio, levem em
considerao a possvel existncia de motivos preconceituosos, e livrar as
investigaes de esteretipos relacionados com a orientao sexual ou identidade
de gnero da vtima, os Estados Membros da OEA devem analisar o contexto geral
de preconceito e violncia contra pessoas LGBT em seus pases, o qual pode ser
mais intenso fora das grandes cidades. Adicionalmente, ao realizar estas
investigaes, as autoridades do Estado devem ser assessoradas por peritos que
sejam capazes de identificar a discriminao e o preconceito contra as orientaes
sexuais e identidades de gnero diversas, que se encontram enraizados nas
socidades da regio. A investigao de mortes e outros atos de violncia contra as
pessoas LGBTI deve comear rapidamente e sem demoras injustificadas, e deve ser
um esforo do Estado em tomar todas as medidas necessrias na busca pela
verdade, a fim de esclarecer o ocorrido e desmascarar possveis motivos
discriminatrios.
C.
1412
1413
1414
Corte Europeia de Direitos Humanos, Identoba e outros vs. Gergia, (Comunicao no. 73235/12), 12 de
maio de 2015, paras. 67 e 77 (Traduo livre da CIDH).
Corte Europeia de Direitos Humanos, Identoba e outros vs. Gergia, (Comunicao no. 73235/12), 12 de
maio de 2015, para. 80.
Caso Fernndez Ortega e outros Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena
de 30 de agosto de 2010. Srie C No. 215, paras. 193-194; Corte IDH. Corte IDH. Caso Gonzlez e outras,
(Campo Algodonero) Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito, Reparaes e Custas. Sentena de 16 de
novembro de 2009. Srie C No. 205 para. 300 e seguintes.
Ver, inter alia, Corte IDH. Caso Velsquez Rodrguez Vs. Honduras. Reparaes e Custas (art. 63.1 da
Conveno Americana de Direitos Humanos). Sentena de 21 de julho de 1989. Srie C No. 7, para. 25,
citado em CIDH, Direito verdade nas Amricas, 2014, para. 122.
511. Alm disso, a Corte Interamericana estabeleceu um vnculo entre o acesso justia
da vtima e o direito verdade, afirmando que os Estados devem assegurar s
vtimas ou seus familiares o pleno acesso e a capacidade de intervir em todas as
etapas da investigao e julgamento dos responsveis. 1418 Nesse sentido, a CIDH
foi informada que as mulheres trans que so assassinadas geralmente no
possuem familiares que venham receber o corpo ou buscar justia em seu nome.
Devido perda de vnculos com a famlia imediata e com outros familiares que
geralmente caracteriza as pessoas trans, a tarefa de buscar justia pode recair
sobre a famlia social da pessoa trans falecida, que de regra inclui outras
mulheres trans. No entanto, sem um vnculo de sangue, essas pessoas podem ser
excludas de intervir em nome da pessoa falecida, e podem ser objeto de
discriminao ao tentar obter justia. Assim sendo, provvel que essa situao
dificulte o acesso justia em casos cujas vtimas so mulheres trans.
512. A Comisso deseja enfatizar que uma reparao adequada por violaes de direitos
humanos que provoquem um dano, inclui medidas que estejam adaptadas vtima
individual ou seus familiares mais prximos, e sejam formuladas para
proporcionar uma adequada restituio, compensao e a reabilitao da vtima;
incluindo tambm medidas gerais de satisfao e garantias de no repetio. 1419 E
ainda, a Corte Interamericana estabeleceu que num contexto de discriminao
estrutural, as reparaes devem ter uma vocao transformadora dessa situao,
de maneira que elas tenham efeitos restitutivos e corretivos. 1420
1415
1416
1417
1418
1419
1420
Ver, inter alia, Corte IDH. Caso Garrido e Baigorria Vs. Argentina. Reparaes (art. 63.1 da Conveno
Americana de Direitos Humanos). Sentena de 27 de agosto de 1999. Srie C No. 39, para. 41, citado em
CIDH, Direito verdade nas Amricas, 2014, para. 122.
CIDH, Relatrio No. 37/00, Caso 11.481, Monseor Oscar Arnulfo Romero e Galdmez, El Salvador, 13 de
abril de 2000, para. 148, citado em CIDH, Direito verdade nas Amricas, 2014, para. 124.
CIDH, Diretrizes principais para uma poltica integral de reparaes, OEA/Ser/L/V/II.131, Doc. 1, 19 fevereiro
2008 (doravante CIDH, Diretrizes principais para uma poltica integral de reparaes, 2008), citado em
CIDH, Direito verdade nas Amricas, 2014, para. 122.
CIDH, Direito verdade nas Amricas, 2014, para. 126, citando vrias decises da Corte Interamericana.
Ver, inter alia, CIDH, Diretrizes principais para uma poltica integral de reparaes, 2008; Corte IDH. Caso
Myrna Mack Chang Vs. Guatemala. Sentena de 25 de novembro de 2003. Srie C No. 101, paras. 236-237;
dentre outras, citada em CIDH, Direito verdade nas Amricas, 2014, para. 123.
Corte IDH. Caso Gonzlez e outras, (Campo Algodonero) Vs. Mxico. Excees Preliminares, Mrito,
Reparaes e Custas. Sentena de 16 de novembro de 2009. Srie C No. 205, para. 450, citada em CIDH,
Direito verdad nas Amricas, 2014, prr. 123.
292 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
514. A CIDH recebeu informao sobre medidas adotadas por vrios Estados Membros
da OEA relativas a reparaes. Na Argentina, por exemplo, um Juizado de Buenos
Aires ordenou ao governo o pagamento de um salrio mnimo a cinco mulheres
trans idosas, no como gratificao pelo trabalho realizado, mas pela
marginalizao e discriminao sofridas. 1424 Estas reparaes buscavam
compensar estas mulheres pelo sofrimento causado como consequncia da
discriminao e violncia institucional generalizada, constante e direta, em
Buenos Aires, Argentina. 1425 Consequentemente, o supracitado INADI declarou
que o Estado tem o dever de corrigir dcadas de invisibilizao e excluso que
afetaram as pessoas trans. 1426 A Comisso tambm foi informada sobre um projeto
de lei pendente no Congresso argentino, apresentado por vrias organizaes
trans da sociedade civil, que exigiria o outorgamento de reparaes para as
pessoas trans, devido violncia institucional sofrida no passado por muitas
pessoas trans pela aplicao de disposies legais contra o uso de vestimenta
tradicionalmente associada a outro gnero e o trabalho sexual, dentre outros
motivos. 1427 A CIDH estimula a Argentina a aprovar essa legislao.
515. Por outro lado, as pessoas LGBTI na Colmbia foram consideradas como populao
prioritria para receber reparaes como vtimas de violaes de direitos
humanos, a partir da adoo da Resoluo 0223 que entrou em vigor em 2013. Em
virtude desta resoluo, desde setembro de 2014, pelo menos 1.152 pessoas LGBTI
1421
1422
1423
1424
1425
1426
1427
International Intersex Forums Public Statement, citado em Conselho da Europa, Comissrio de Direitos
Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People. Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 51.
Conselho da Europa, Comissrio de Direitos Humanos, Issue Paper Human Rights and Intersex People.
Silvan Agius, 12 de maio de 2015, pg. 51 (disponvel somente em ingls. Traduo livre da CIDH).
ONU, Comit dos Direitos da Criana, Observaes Finais sobre o quarto relatrio peridico do Chile,
CRC/C/CHL/CO/4-5, 15 de outubro de 2015, paras. 48-49.
Portal Pgina 12, Reparacin por tantos daos, 3 de outubro de 2013. Ver tambm, Jornal Diario Popular,
Ordenan al Gobierno porteo que otorgue subsidio a una trans, 3 de outubro de 2013.
Portal Pgina 12, Reparacin por tantos daos, 3 de outubro de 2013. Ver tambm, Jornal Diario Popular,
Ordenan al Gobierno porteo que otorgue subsidio a una trans, 3 de outubro de 2013.
INADI, Hacia una Ley de Identidad de Gnero, 2012, pg. 7. Ver tambm, Portal Pgina 12, Es un deber el
pedir perdn, 23 de janeiro de 2012.
INADI, Proyecto de Ley de reparacin histrica para la comunidad trans, 11 de novembro de 2014.
516. A Comisso recomenda que os Estados Membros da OEA adotem medidas para
garantir que as pessoas LGBTI vtimas de violaes de direitos humanos e seus
familiares tenham acesso efetivo a reparaes, conforme os parmetros de Direito
Internacional. Os Estados devem formular e implementar programas de
reparaes que levem em considerao as necessidades especficas das pessoas
LGBTI, e que sejam resultado de um processo consultivo com as organizaes da
sociedade civil.
1428
1429
1430
1431
CIDH, Relatrio Anual 2014, Captulo V: Seguimento de Recomendaes Formuladas pela CIDH no Relatrio
Verdade, Justia e Reparao: quarto relatrio sobre a situaco de direitos humanos na Colmbia, para.
302, citando: Repblica da Colmbia, Situacin de los Derechos Humanos 2013-2014 y seguimiento a las
recomendaciones en el IV Informe de Pas de la CIDH, Nota S-GAIID-14-094783, recebida pela Secretaria
Executiva da CIDH em 29 de dezembro de 2014, pg. 351.
Repblica da Colmbia, Situacin de los Derechos Humanos 2013-2014 y seguimiento a las recomendaciones
en el IV Informe de Pas de la CIDH, Nota S-GAIID-14-094783, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em
29 de dezembro de 2014, pg. 352.
Repblica da Colmbia, Situacin de los Derechos Humanos 2013-2014 y seguimiento a las recomendaciones
en el IV Informe de Pas de la CIDH, Nota S-GAIID-14-094783, recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em
29 de dezembro de 2014. 353-354.
Resposta ao questionrio da CIDH sobre violncia contra as pessoas LGBTI nas Amricas apresentada pela
Fundacin Manos que Construyen Paz (Colmbia), recebida pela Secretaria Executiva da CIDH em 29 de
dezembro de 2013, pg. 14.
CAPTULO 7
CONCLUSES E
RECOMENDAES
CONCLUSES E RECOMENDAES
CONCLUSES
517. Neste relatrio, a Comisso Interamericana destacou a predominncia da violncia
no continente americano contra as pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e
intersexo, ou aquelas percebidas como tal, em todas as esferas da vida pblica e
privada, inclusive em pases com significativos avanos em leis e polticas pblicas
em favor dos direitos das pessoas LGBTI. A CIDH descreveu as mltiplas formas de
violncia que frequentemente envolvem altos nveis de crueldade que buscam
castigar as orientaes sexuais e as identidades de gnero no normativas ou as
pessoas cujos corpos diferem do padro corporal feminino e masculino. A
Comisso tambm analisou a diversidade desta violncia e seu impacto especfico e
diferenciado em grupos ou setores da populao que foram historicamente
discriminados. Na raiz desta violncia est uma forte discriminao e intolerncia
sobre orientaes sexuais, identidades de gnero, expresses de gnero diversas e
pessoas cujos corpos desafiam o padro corporal aceito socialmente. Os Estados,
atravs de sua ao ou omisso, suscitam esta discriminao e intolerncia, e em
alguns casos inclusive as reforam.
518. As sociedades no continente americano esto dominadas por princpios de
heteronormatividade, cisnormatividade, e os binrios de sexo e gnero. Alm
disso, h uma intensa e generalizada intolerncia e falta de respeito em relao s
pessoas LGBTI ou aquelas percebidas como tal, que se soma ao fracasso dos
Estados em adotar medidas efetivas para investigar e punir efetivamente a
violncia por preconceito. Neste relatrio, a CIDH conclui que o contexto
generalizado de discriminao social e intolerncia sobre essa diversidade,
juntamente com a ausncia de investigaes efetivas, e a falta de uma abordagem
diferenciada para prevenir, investigar, julgar, punir e reparar os crimes cometidos
contra pessoas LGBTI, so elementos que levam a que se permita ou tolere esta
violncia, o que resulta em impunidade e repetio.
298 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
520. Desde 2009, a Assembleia Geral da OEA vem solicitando aos Estados que garantam
que os atos de violncia e as violaes de direitos humanos cometidas contra as
pessoas motivadas pelo preconceito contra sua orientao sexual e identidade de
gnero sejam investigadas, e que os perpetradores enfrentem as consequncias
perante a justia. Neste sentido, a CIDH insta os Estados a fortalecer suas
instituies nacionais, a fim de prevenir e investigar de maneira efetiva os atos de
violncia e violaes de direitos humanos das pessoas LGBTI, julgar os
perpetradores, e proporcionar reparaes adequadas e proteo judicial s
vtimas.
521. Com base nas concluses deste relatrio, a Comisso Interamericana de Direitos
Humanos formula as seguintes recomendaes aos Estados Membros da OEA, a fim
de proteger e garantir o direito das pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e
intersexo, ou aquelas percebidas como ta, a uma vida livre de violncia nos pases
do continente americano.
RECOMENDAES GERAIS
1.
a.
b.
Os esforos para coletar dados devem ser feitos em coordenao com todos
os ramos do Estado e, se pertinente, com a Defensoria do Cidado, o
Ministrio Pblico e a Defensoria Pblica. Os sistemas de coleta de dados
devem ter a capacidade de reunir informao proveniente de uma ampla
variedade de fontes, incluindo a polcia, institutos de medicina legal, cortes e
tribunais, Ministrio Pblico e Defensoria Pblica, todos os outros rgos
relevantes do sistema de justia, ouvidorias, agncias que proporcionam
assistncia a vtimas, hospitais, escolas, abrigos, agncias de administrao
de prises, e outras agncias governamentais e instituies pblicas
relevantes que possam fornecer dados teis sobre a violncia contra as
pessoas LGBTI.
c.
d.
e.
2.
3.
300 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
4.
5.
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11.
12.
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15.
16.
17.
18.
19.
20.
Adotar medidas para garantir que funcionrios pblicos respeitem as pessoas com
orientaes sexuais, identidades e expresses de gnero diversas. Funcionrios
pblicos devem respeitar as defensoras e defensores de direitos humanos, e os
espaos onde seus assuntos so debatidos, considerados e decididos. Se estes
espaos no existirem, os Estados devem promover sua criao como uma medida
para garantir sociedades democrticas e pluralistas nas Amricas.
302 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
21.
22.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
Tomar medidas para garantir que as pessoas LGBTI no sejam excludas dos
marcos normativos que buscam proteger as pessoas da violncia que ocorre no
meio familiar, unidade domstica ou qualquer relao interpessoal.
a.
b.
c.
33.
34.
Adotar medidas para garantir que, desde o incio da investigao, sejam analisados
os motivos da violncia, e sejam exploradas linhas de investigao que permitam
analisar se o crime foi cometido em funo da orientao sexual ou identidade de
gnero real ou percebida da/s vtima/s.
304 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
35.
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39.
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41.
a.
b.
c.
d.
e.
f.
306 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
45.
46.
47.
48.
Assegurar que a legislao para punir o discurso de dio, que consititui incitao
violncia contra pessoas LGBTI esteja de acordo com o artigo 13.5 da Conveno
Americana sobre Direitos Humanos, e os princpios e parmetros estabelecidos
pela CIDH e pela Corte Interamericana, conforme a anlise contida no captulo 4
deste relatrio.
Criar conscincia entre os funcionrios pblicos de qualquer nvel, sobre a
importncia de rejeitar publicamente o discurso de dio contra pessoas LGBTI,
onde quer que ocorra e se abster de emitir pronunciamentos que possam ser
entendidos como legitimadores de dio ou discriminao contra estas pessoas.
Alm disso, estabelecer sanes disciplinares adequadas para o discurso de dio
que constitua incitao violncia.
b.
c.
51.
52.
53.
a.
b.
c.
308 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
SADE
54.
55.
56.
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.
EDUCAO
57.
58.
59.
60.
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310 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
MULHERES
66.
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68.
69.
Adotar medidas para combater as causas que provocam a violncia que afeta as
mulheres trans, incluindo aes afirmativas para proporcionar-lhes emprego
formal, moradia adequada e acessvel, e acesso educao. Tomar medidas
especficas para combater a violncia contra mulheres trans no seio familiar.
70.
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74.
75.
312 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
com o devido respeito sua dignidade pessoa, e sempre que possvel, consultando
previamente a pessoa trans.
CRIANAS E ADOLESCENTES
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316 | Violncia contra pessoas lsbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo nas Amricas
104. Adotar as medidas necessrias para garantir que a deciso sobre o local de
alojamento de pessoas trans (que esto em centros de deteno, incluindo
penitencirias, delegacias, e centros de deteno migratria) seja tomada aps
anlise caso a caso, com o devido respeito sua dignidade pessoal, e sempre que
possvel, aps consultar a pessoa trans em questo.