O Palhaço Triste
O Palhaço Triste
O Palhaço Triste
O Barbalhotas ficava sempre sentado na sua cadeira at ouvir chamar o seu nome. Ainda
era novo, um jovem rapaz, um pouco magro, o que o ajudava a ter mais piada, mas com
muita genica. Apesar disso, j era palhao h muitos anos, pois j viva no circo desde
muito pequeno. Desde os tempos do palhao Bonifcio, que tinha sido mais do que um
pai para ele, que tinha mostrado ser um palhao com muito talento. O Bonifcio tinha
cuidado dele desde pequeno, desde o primeiro dia em que ele tinha chegado ao circo.
Fora ele que o criara e lhe ensinara tudo o que ele sabia. J na altura o Bonifcio tinha
uma idade avanada e poucas foras para continuar a fazer palhaadas, como
costumava dizer. Por isso, ele tinha comeado cedo a ser o palhao do circo, dando um
descanso ao velhote, que agora se dedicava a vender pipocas.
- E agora. - Ouviu o senhor Ambrsio a dizer. - Senhores e senhoras, meninos e meninas,
chegou o momento que tanto esperavam! - Levantou-se e dirigiu-se para a passagem que
dava acesso arena.
- Eis que chega, directamente da cidade do riso, no pas da gargalhada... o palhao
Barbalhotas!
Ao ouvir o seu nome, atirou para o lado o pano que tapava a entrada e correu para a
arena. O pblico aplaudia com fora, pois j o conheciam e gostavam muito das suas
brincadeiras e piadas. Primeiro comeou por um nmero de malabarismo com bolas em
que estas estavam presas com fios para no as deixar cair, acabando por se ensarilhar
todo nos fios. Depois passou para a magia. Tentou tirar um coelho da cartola, mas este
mordeu-o. Claro que era tudo feito porque o coelho era de peluche. As crianas no se
aguentavam de tanto rir e gritavam por ele. O espectculo continuou com mais uma srie
de tropelias que tinha preparadas para aquela noite. No fim do seu nmero, despediu-se
com um vnia e, como fazia todas as vezes antes de sair, gritou para todas as crianas.
- Bom noite pirilampos!
Aquela era a nica coisa que se lembrava da sua me. Quando ele era pequeno e ela o
deitava na cama dizia-lhe sempre boa noite pirilampo. O trabalho do palhao
Barbalhotas era pr todos felizes, algo que ele fazia melhor do que ningum, mas a nica
pessoa que ele no conseguia pr feliz era a si prprio. O Barbalhotas vivia triste, apesar
de estar rodeado de pessoas que o adoravam, como o senhor Ambrsio, que o recolhera
quando a me deixou de poder tomar conta dele, o palhao Bonifcio, que o criou como
se fosse seu filho, a Dalila, domadora de serpentes, em cujo ombro ele j tinha chorado
muitas vezes, assim como muitos outros, tantos como as pessoas que viviam naquele
circo. Mesmo assim continuava triste porque o nico sonho que tinha na vida era
encontrar a me que, um dia, devido s dificuldades da vida, se vira obrigada a deix-lo
ali no circo. O senhor Ambrsio tinha-a conhecido e ficara to comovido com a sua
histria que aceitara receber e criar a criana. Agora, a criana tinha crescido e sonhava
com a me de que mal se lembrava. Recordava-se dos olhos azuis como os dele, da voz
doce e musical com que lhe dizia, todas as noites, boa noite pirilampo, do calor dos
lbios com que ela o beijava na testa para ele adormecer e do sorriso maravilhoso que o
enchera sempre de alegria e segurana.