Checklist Dos Aspectos Estéticos A Serem
Checklist Dos Aspectos Estéticos A Serem
Checklist Dos Aspectos Estéticos A Serem
Resumo
Introduo: a exposio exagerada da gengiva ao sorrir um dos problemas que afetam nega-
tivamente a esttica do sorriso e, na maioria das vezes, est relacionada atuao conjunta de
alguns fatores etiolgicos. A anlise sistematizada de alguns aspectos do sorriso e da posio
de repouso dos lbios facilita a correta avaliao desses pacientes. Objetivo: apresentar um
checklist de caractersticas dentolabiais e ilustrar como esse mtodo de registro de dados, du-
rante o diagnstico ortodntico, pode facilitar a tomada de decises no tratamento do sorriso
gengival, que geralmente envolve o conhecimento da Ortodontia e de outras especialidades
mdico-odontolgicas.
* Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Professora Colaboradora do Curso de Especializao em Ortodontia da UFBA. Diplomada pelo Board Brasileiro
de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
** Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Professor de Ortodontia da EBMSP. Professor Colaborador do Curso de Especializao em Ortodontia da UFBA.
*** Doutora e Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Professora Titular e Coordenadora do Centro de Ortodontia Prof. Jos dimo Soares Martins-UFBA.
Diretora Presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
gengival dos incisivos centrais superiores1,2,3. Po- A sua etiologia est relacionada a diversos fa-
rm, sabe-se que alguma quantidade de gengiva tores como: excesso vertical maxilar; protruso
mostra esteticamente aceitvel e, em muitos dentoalveolar superior; extruso e/ou erupo
casos, confere uma aparncia jovial4,5,6. passiva alterada dos dentes anterossuperiores;
Apesar de existirem diversos parmetros na hiperatividade dos msculos elevadores do lbio
literatura para definir o sorriso gengival (quanti- superior. Contudo, em grande parte dos casos, al-
dade em milmetros de exposio da gengiva ao guns desses fatores ou mesmo todos encontram-
sorrir), o que mais parece interessar ao ortodon- se associados. O ortodontista parece ser o profis-
tista a opinio sobre o que ou no bem aceito, sional mais capacitado a avaliar, criteriosamente,
esteticamente, pelo pblico em geral. Segundo a participao de cada um deles, sendo a hiperati-
pesquisa realizada por Kokich Jr. et al.7, somente vidade dos msculos elevadores do lbio superior
ao atingir 4mm de exposio gengival o sorriso o menos percebido e estudado.
considerado antiesttico, tanto por dentistas cl-
nicos como pelo pblico leigo. Para os ortodon- Diagnstico
tistas, mais exigentes, 2mm de exposio gengival A despeito do(s) fator(es) etiolgico(s)
ao sorrir so suficientes para comprometer a har- envolvido(s) no sorriso gengival, existem as-
monia do sorriso (Fig. 1). pectos a serem obrigatoriamente considerados
A altura do sorriso influenciada pelo sexo durante a avaliao clnica dos pacientes. O re-
e pela idade. Existem evidncias de que as mu- gistro sistematizado da distncia interlabial em
lheres apresentam sorrisos mais altos do que repouso, da exposio dos incisivos superiores
os homens8,9 e que a exposio dentogengival durante o repouso e a fala, do arco do sorriso,
diminui com a idade8. Essa informao tem re- da proporo largura/comprimento dos incisi-
levncia clnica, uma vez que o sorriso gengival vos superiores e das caractersticas morfofun-
exibe certo grau de autocorreo com o passar cionais do lbio superior, por meio de um che-
do tempo, principalmente em indivduos do cklist (Fig. 2), de grande utilidade durante o
sexo masculino10. diagnstico. A incluso desses dados na ficha de
A B
C D
Figura 1 - Diferentes graus de exposio gengival ao sorrir: A) 0mm; B) 1mm; C) 2mm e D) 4mm.
Figura 2 - Sugesto de checklist, com cinco itens, para avaliao de caractersticas dentolabiais (download disponvel no endereo: www.dentalpress.
com.br/journal).
consulta ortodntica assegura que informaes auxlio em outras especialidades como, por
fundamentais ao plano de tratamento no sejam exemplo, recursos da Medicina Esttica. Alm
esquecidas ou negligenciadas. disso, o diagnstico correto diminui o risco de
se corrigir a exposio exagerada da gengiva em
1. Distncia interlabial em repouso detrimento de outros aspectos estticos favor-
Para registro desse dado, importante que o veis do sorriso. Isso sustenta o paradigma orto-
ortodontista inclua na documentao inicial uma dntico contemporneo, que consiste em iden-
fotografia aproximada dos lbios em repouso. tificar os aspectos estticos favorveis do sorriso
Avaliaes fonticas por meio de filmagens so para certificar-se de que eles sero mantidos no
tambm de grande utilidade documental. tratamento dos problemas dentofaciais14.
No h relao direta entre sorriso gengival e
quantidade de espao interlabial em repouso11. 2. Exposio dos incisivos superiores
Ao contrrio do que se acreditou durante mui- durante o repouso e a fala
to tempo, pacientes com comprimento normal Sabe-se que, durante a posio de repouso dos
do lbio superior e espao interlabial reduzido lbios, a quantidade de exposio dos incisivos su-
podem apresentar exposio exagerada da gen- periores apresenta valores de aproximadamente 2
giva ao sorrir. Quando o espao interlabial em a 4,5mm nas mulheres e de 1 a 3mm nos homens
repouso normal (1-3mm), o sorriso gengival (Fig. 5). Essa caracterstica est diretamente rela-
considerado de origem predominantemente cionada com a aparncia jovial do sorriso, sendo
muscular (Fig. 3A, B, C). Diante de um espa- esperada a sua diminuio ao longo da vida (pelo
o interlabial aumentado, desarmonias dentoes- alongamento do lbio superior, devido ao processo
queletais (excesso vertical maxilar e/ou protru- de maturao e envelhecimento dos tecidos)10,11,12.
so dos incisivos superiores) so, geralmente, a Para o registro desse item, pode-se utilizar uma
causa principal do problema, estando associadas radiografia cefalomtrica em norma lateral com os
ou no a alteraes anatmicas e/ou funcionais lbios em repouso e medir a distncia, em milme-
do lbio superior (Fig. 4A, B, C)11,13. Diagnos- tros, entre a borda incisal do incisivo central supe-
ticar a etiologia muscular do sorriso gengival rior e o contorno inferior do lbio superior (Fig.
fundamental para reconhecer, de imediato, as 6). Avaliaes fonticas durante o exame clnico
limitaes ortodnticas do tratamento e buscar so tambm importantes. O paciente deve ser
A B C
A B C
Figura 3 - Pacientes com espao interlabial entre 1 e 3mm, exposio normal de incisivos superiores em repouso e sorriso gengival. Nessa situao, a
intruso dos incisivos superiores para a reduo da exposio da gengiva ao sorrir est contraindicada.
A B C
A B C
Figura 4 - Pacientes com espao interlabial >3mm, exposio aumentada de incisivos superiores em repouso e sorriso gengival. Nessa situao, a
intruso ortodntica e/ou ortocirrgica dos incisivos superiores necessria para reduo da exposio da gengiva ao sorrir.
A B
Figura 5 - A quantidade de exposio dos incisivos superiores em repouso nos homens (A) , Figura 6 - Medida em milmetros da quan-
normalmente, menor do que nas mulheres (B). tidade de exposio do incisivo superior na
radiografia cefalomtrica de perfil.
A B
Figura 7 - A) Arco do sorriso paralelo curvatura formada pelo lbio inferior durante o sorriso,
conferindo-lhe um aspecto jovial. B) Arco do sorriso plano, devido inclinao vestibular excessiva
dos dentes superiores.
3. Arco do sorriso
O termo arco do sorriso descrito como a cur-
A B C
vatura formada pela unio das bordas incisais dos
dentes anterossuperiores. Em um sorriso considera-
Figura 8 - Incisivos centrais superiores com diferentes propores, do esttico e de aparncia jovial, essa curvatura deve
representando dentes: A) estreitos e compridos; B) proporcionais;
C) curtos e quadrangulares. ser paralela margem superior do lbio inferior (Fig.
7A)15. Sorrisos femininos possuem curvatura mais
acentuada, enquanto nos masculinos essa apresenta-
orientado a articular frases formadas por fonemas se mais plana. Nos indivduos com padro facial bra-
que favoream a captura da maior exposio dos quiceflico, o arco do sorriso mais plano, quando
incisivos8 e, como sugesto, pode-se adotar a frase comparado ao dos padres meso e dolicoceflico11.
Tia Ema torce pelo time do Corinthians, seguida Em alguns pacientes com sorriso gengival, a in-
de um sorriso amplo e espontneo, como exempli- truso dos incisivos superiores pode ser realizada.
ficado no link: www.dentalpress.com.br/journal. Porm, a no avaliao do arco do sorriso pode re-
Esto relacionados a uma maior exposio dos sultar em um inadequado achatamento da sua cur-
incisivos superiores em repouso: a extruso desses vatura, tornando-o plano e menos atrativo16,17.
dentes; o padro facial dolicoceflico; o excesso
vertical maxilar; o lbio superior curto. Quando 4. Proporo largura/comprimento
o planejamento do tratamento envolve a impac- dos incisivos superiores
o maxilar e/ou intruso de dentes anterossupe- A cosmtica odontolgica apresenta diversas
riores, a magnitude da alterao dentoesqueletal consideraes sobre proporo e morfologia den-
no deve basear-se na quantidade de exposio tria. Alguns autores apontam a importncia de
gengival a ser diminuda, mas no grau de exposi- se alcanar propores no sorriso que se harmo-
o de incisivos em repouso que se deseja manter. nizem com a face17,18,19. A proporo esttica pa-
Pacientes que apresentam possibilidade esttica dro-ouro determina que a largura dos incisivos
de intruso dos incisivos superiores no trazem centrais superiores deve ser de aproximadamente
grandes desafios em relao ao planejamento da 80% do seu comprimento (Fig. 8), com variao
aceita entre 65% e 85%; e a dos incisivos laterais o sorriso. sondagem periodontal, esses dentes
superiores em torno de 70%17,18,19. apresentam valores normais de profundidade de
A relao largura/comprimento (L/C) elevada sulco gengival e o tratamento pode ser realizado
encontrada em dentes mais quadrados, enquan- por meio de cirurgia periodontal com reabilita-
to a proporo mais baixa relaciona-se com uma o prottica ou Ortodontia associada Dents-
aparncia mais alongada. Em conceitos de prtese tica Restauradora:
dentria, a proporo e a morfologia das coroas Cirurgia de aumento de coroa clnica com
dos incisivos centrais superiores devem estar em osteotomia
harmonia com o tipo facial do paciente12,18,19. A realizao desse procedimento, por provocar
Em indivduos com sorriso gengival, impor- a exposio da superfcie radicular e a necessidade
tante avaliar se as coroas dos dentes anteriores de tratamento restaurador complementar, dever
apresentam-se muito curtas. Caso isso seja obser- ser exaustivamente discutida com o paciente (Fig.
vado, o prximo passo diagnosticar a razo do 9). Alm disso, devido conicidade das razes,
encurtamento, que pode acontecer, fundamental- as coroas protticas ganharo um formato mais
mente, por dois motivos: triangular e dificilmente uma esttica interproxi-
mal satisfatria ser alcanada, no sendo raro o
A) Reduo em altura das bordas incisais dos den- surgimento de espaos negros ps-operatrios.
tes superiores, por atrio e/ou fratura A vantagem dessa abordagem engloba um tem-
Em alguns desses casos, os incisivos extruem po menor de tratamento e a no necessidade do
levando junto todo o seu periodonto de insero uso de aparelho ortodntico. Como desvantagem,
e proteo. Tal processo, chamado de extruso tem-se a diminuio da proporo coroa/raiz, per-
dentria compensatria20, pode ser responsvel da de suporte sseo e necessidade de restaurao
por uma exposio exagerada da gengiva durante prottica dos dentes envolvidos12,18,19,20.
Figura 9 - Caso de extruso dentria compensatria onde a queixa principal era o tamanho reduzido dos
incisivos centrais superiores. O tratamento, por deciso da paciente, foi realizar o aumento cirrgico da
coroa clnica das unidades 11 e 21, e construir novas coroas de porcelana.
Figura 10 - Extruso dentria compensatria das unidades 11 e 21, tratada com intruso ortodntica
e restaurao provisria dos teros incisais com compsito.
Intruso ortodntica e posterior restaurao sivos realizado por meio da remoo do excesso
das propores dentrias com procedimentos da de tecido gengival que recobre o esmalte cervical.
Dentstica Restauradora (Fig. 10)17. Quando a distncia entre a crista ssea alveolar
e a JCE menor que 1mm (insuficiente para a
B) Aumentos gengivais adaptao da insero conjuntiva), a realizao de
Os fatores etiolgicos relacionados aos aumen- osteotomia torna-se necessria para o estabeleci-
tos gengivais so diversos e vo desde uma hiper- mento de corretas distncias biolgicas21.
trofia tecidual por razo infecciosa e/ou medica-
mentosa at a erupco passiva alterada20,21. O pro- 5. Caractersticas morfofuncionais
cesso de erupo dentria considerado finalizado do lbio superior
quando os dentes atingem o plano oclusal e en- Os lbios participam de modo fundamental na
tram em funo. Os tecidos moles acompanham expresso facial, principalmente no ato do sorriso,
esse movimento e, ao final, a gengiva marginal mi- cujas variaes esto relacionadas s caractersti-
gra apicalmente, at que esteja localizada prxima cas morfofuncionais labiais como: comprimento,
juno cemento-esmalte (JCE). Todo esse pro- espessura e insero, direo e contrao das fibras
cesso chamado de erupo passiva. Quando, por dos vrios msculos a eles relacionados22.
motivo desconhecido, a gengiva no migra para a Quanto ao comprimento, tem-se um valor m-
posio esperada, d-se o nome de erupo passi- dio para o lbio superior de 24mm para o sexo
va alterada. sondagem periodontal, esses dentes masculino, e 20mm para o sexo feminino23. Apesar
apresentam valores aumentados de profundidade de parecer que indivduos com lbio superior curto
de sulco gengival e tal situao representa indi- tendem a expor mais gengiva ao sorrir, o compri-
cao precisa para a atuao do periodontista no mento labial no parece ter relao direta com o
tratamento do sorriso gengival (Fig. 11)20,21. Nor- sorriso gengival11. Casos de excesso vertical maxilar
malmente, o aumento das coroas clnicas dos inci- acentuado, por exemplo, podem apresentar lbio
Figura 11 - Caso de erupo passiva alterada, com presena de incisivos superiores curtos e sorriso
gengival.
Sn
C1 Sn C2 C1 C2
St St
C1 C2
C1 C2
A B
Figura 12 - Medio do comprimento do lbio superior: A) lbio superior longo; B) lbio superior curto.
Figura 14 - Pacientes com lbios finos e hiperativos, contribuindo para uma maior exposio gengival ao sorrir.
saber: msculo elevador do lbio superior, msculo superior bem mais eficiente quando compara-
elevador do lbio superior e asa do nariz, msculo dos aos que apresentam nveis normais de expo-
elevador do canto da boca, zigomtico maior, zigo- sio gengival11,24-28.
mtico menor, depressor do septo nasal (Fig. 13)11. Nos portadores de sorriso gengival com pro-
A formao do sorriso apresenta dois estgios: o pores faciais normais, comprimento dos lbios
primeiro, sorriso voluntrio, eleva o lbio superior dentro dos limites mdios, gengiva marginal lo-
em direo ao sulco nasolabial pela contrao dos calizada prximo JCE e dentes com relao
msculos elevadores que se originam nesse sulco e largura-comprimento normal, a etiologia pode
tm insero no lbio. Os feixes mediais elevam o estar associada hiperatividade dos msculos
lbio superior na regio dos dentes anteriores e os responsveis pela movimentao labial superior
laterais na regio dos dentes posteriores at encon- durante o sorriso. O lbio superior no hipera-
trar a resistncia do tecido adiposo das bochechas. tivo translada cerca de 6 a 8mm da posio de
O segundo estgio, sorriso espontneo, inicia-se repouso para um amplo sorriso. Por outro lado,
com maior elevao tanto do lbio superior como no lbio superior hiperativo, essa distncia pode
do sulco nasolabial, sob a ao de trs grupos mus- ser 1,5 a 2 vezes maior (Fig. 14)23. Nesses casos,
culares: o elevador do lbio superior, com origem alguns procedimentos plsticos esto dispon-
na regio infraorbital; o msculo zigomtico maior veis e comearam a ser estudados em pacientes
e as fibras superiores do bucinador (Fig. 13)11,22. com paralisia facial, desde 197327. Entre eles, a
De acordo com a classificao de Rubin22, exis- implantao de silicone no fundo do vestbulo
tem trs tipos de sorriso: o chamado Mona Lisa, na base da espinha nasal anterior, a infiltrao da
no qual as comissuras labiais so mais desloca- toxina botulnica A e os procedimentos ressecti-
das para cima pela ao do msculo zigomtico vos nos msculos responsveis pela mobilidade
maior; o sorriso canino, quando o lbio superior do lbio superior apresentam resultados estti-
elevado uniformemente; e, finalmente, o sorriso cos favorveis24-27.
complexo, no qual o lbio superior comporta-se O custo-benefcio, considerando-se a durabili-
como no sorriso canino e o lbio inferior desloca- dade, segurana e morbidade desses procedimen-
se inferiormente, expondo os incisivos inferiores. tos, deve ser analisado e estudado pelo ortodon-
Estudos revelam que indivduos com sorriso tista, para que essa abordagem seja sugerida com
gengival tm a musculatura relacionada ao lbio maior frequncia e segurana aos pacientes.
C
2,5mm
8,5mm
8,5mm
A D
Figura 17 - Aspectos avaliados no checklist: A) exposio dos incisivos superiores em repouso; B) distncia interlabial em
repouso e caractersticas morfolgicas do lbio superior; C) arco do sorriso e caractersticas funcionais do lbio superior;
D) proporo largura/comprimento dos incisivos superiores.
Sulco Gengival
Margem Gengival
2,5mm
A B
C D
A B
C D
3,5mm
C
8,5mm
8,5mm
A D
Figura 24 - Aspectos avaliados no checklist: A) exposio dos incisivos superiores em repouso; B) distncia interlabial em
repouso e caractersticas morfolgicas do lbio superior; C) arco do sorriso e caractersticas funcionais do lbio superior;
D) proporo largura/comprimento dos incisivos superiores.
hipermobilidade do lbio superior ao sorrir foram bilidade labial superior. Esses dois fatores contri-
aspectos considerados desfavorveis (Fig. 24). buram fortemente para o aumento da exposio
A sondagem periodontal inicial mostrou va- gengival nas regies anterior e posterior do sorriso.
lores aumentados de profundidade dos sulcos O tratamento ortodntico corretivo total foi re-
gengivais dos incisivos, indicando uma situao alizado sem extraes. Em sua fase final, aps nova
de erupo passiva alterada, associada hipermo- sondagem periodontal, foi feita gengivectomia
para eliminar pseudobolsas gengivais presentes incisivos superiores, provocou a melhora esttica
em toda a regio anterossuperior (Fig. 25). Res- do sorriso (Fig. 26). Apesar de algum grau de ex-
tauraes em compsito nas bordas incisais das posio gengival ainda presente, devido hiper-
unidades 12, 11, 21 e 22 regularizaram a silhue- mobilidade labial superior, o resultado esttico
ta incisal, que, juntamente com a obteno de do tratamento foi considerado satisfatrio pela
adequada proporo largura/comprimento dos paciente (Fig. 27, 28).
A B
C D
Figura 27 - Fotografias inicial e final do sorriso, mostrando a diminuio do excesso gengival superior.
4mm C
0,5mm
8mm
8,5mm
Sulco Gengival
A D Margem Gengival
Figura 31 - Aspectos avaliados no checklist: A) exposio dos incisivos superiores em repouso; B) distncia interlabial em
repouso e caractersticas morfolgicas do lbio superior; C) arco do sorriso e caractersticas funcionais do lbio superior;
D) proporo largura/comprimento dos incisivos superiores, cujas profundidades de sondagem eram normais.
incisivos centrais superiores em repouso. A baixa gengivais normais. Foram observados desgastes das
proporo largura/comprimento desses dentes e bordas incisais dos incisivos centrais superiores, o
a hipermobilidade labial superior foram aspec- que conduziu ao diagnstico de extruso dentria
tos considerados desfavorveis. A sondagem pe- compensatria dessas unidades (Fig. 31).
riodontal inicial revelou profundidades de sulcos O tratamento ortodntico corretivo total foi
A B
C D
realizado sem extraes, com intruso e correo Essa abordagem possibilitou a melhora da propor-
da inclinao lingual dos incisivos centrais supe- o largura/comprimento e manuteno da expo-
riores. Aps o nivelamento superior, as bordas inci- sio dos incisivos superiores em repouso. A pe-
sais das unidades 12 e 22 foram regularizadas com quena exposio gengival ainda presente, decor-
ameloplastia e as unidades 11 e 21 foram restau- rente da hipermobilidade labial, no compromete
radas, provisoriamente, com compsito (Fig. 32). a esttica final do sorriso (Fig. 33, 34).
Figura 34 - Alterao esttica do sorriso entre as fases inicial, intermediria e de finalizao do tratamento.
5mm
10mm
8mm
A D
Figura 37 - Aspectos avaliados no checklist: A) exposio dos incisivos superiores em repouso; B) distncia interlabial em
repouso e caractersticas morfolgicas do lbio superior; C) arco do sorriso e caractersticas funcionais do lbio superior;
D) proporo largura/comprimento dos incisivos superiores.
(porm com curvatura acentuada) e lbio superior reo das inclinaes axiais dos incisivos, caninos
curto, fino e com hipermobilidade. A proporo e segundos pr-molares, e fechamento dos espaos
largura/comprimento dos incisivos superiores apre- com retrao dos dentes anteriores (Fig. 38, 39,
sentava-se satisfatria (Fig. 37). Tab. 1). Apesar de parte do checklist apontar para
Durante o tratamento ortodntico, foram rea- possibilidade de intruso dos dentes superiores,
lizados alinhamento e nivelamento dentrios, cor- qualquer tentativa de corrigir a exposio gengival
Figura 38 - Vistas laterais e frontal da ocluso final, com restauraes provisrias das bordas incisais dos incisivos centrais superiores.
Inicial Final
SNA 78 78
SNB 76 76
ANB 2 2
GoGn-SN 39 39
IMPA 80 95
1-NA 21 18
1-NB 15 32
1-NA 5mm 5mm
1-NB 5mm 4mm
Ls - Linha S 0mm -2mm
A B Li - Linha S 1mm -0,5mm
Figura 39 - Comparao das radiografias cefalomtricas inicial (A) e final (B), revelando as altera-
es dentrias realizadas no tratamento.
A B C
Figura 40 - A) Sorriso inicial do tipo complexo, com grande mobilidade labial. B) Sorriso voluntrio ps-tratamento. C) Manuteno da exposio gengival
durante o sorriso espontneo, aps o tratamento.
desse modo poderia provocar achatamento inde- vs de remodelao cosmtica dentria (amelo-
sejvel no arco do sorriso e, por isso, o nivelamento plastia das bordas incisais das unidades 12 e 22
dos dentes superiores demandou cuidado especial. e acrscimo provisrio de compsito nas bordas
As caractersticas morfofuncionais do lbio su- incisais das unidades 11 e 21).
perior fino, curto e com hipermobilidade , Apesar da melhora esttica do sorriso em termos
responsveis pelo sorriso do tipo complexo, repre- de posicionamento dentrio, a exposio gengival
sentavam a grande limitao para a correo orto- foi praticamente mantida, para que a abordagem
dntica da exposio exagerada da gengiva. ortodntica estivesse de acordo com o paradigma
Foi restaurada a silhueta incisal superior atra- contemporneo de tratamento (Fig. 40, 41).
A B C
6,5mm C
9mm
8mm
A D
Figura 44 - Aspectos avaliados no checklist: A) exposio dos incisivos superiores em repouso; B) distncia interlabial em
repouso e caractersticas morfolgicas do lbio superior; C) arco do sorriso e caractersticas funcionais do lbio superior;
D) proporo largura/comprimento dos incisivos superiores.
Figura 45 - Aspectos facial e oclusal ps-tratamento, com restauraes das bordas incisais das unidades 11 e 21.
Inicial Final
SNA 76 76
SNB 72 74
ANB 4 2
GoGn-SN 45 42
IMPA 98 88
1-NA 21 14
1-NB 37 23
1-NA 11mm 6mm
1-NB 12mm 6,5mm
Ls - Linha S -1mm -2,5mm
A B Li - Linha S 2mm -1mm
superiores excessivamente inclinados para vesti- Como muitas vezes a correo da protruso
bular parece provocar, durante o sorriso, um maior superior reduz a exposio exagerada da gengi-
estiramento muscular do lbio superior, o qual re- va ao sorrir, esse aspecto deve ser sempre con-
trai para cima e para trs, acomodando-se na regio siderado durante o planejamento do tratamento
mais profunda do processo alveolar (Fig. 46A). do sorriso gengival29,30.
Apesar de tratar-se de um caso clssico de ex- horizontal formado entre o lbio superior e a
cesso vertical maxilar, com indicao ortocirrgica, base do nariz); melhora na relao entre o arco
a paciente no aceitou esse tipo abordagem. Restou do sorriso e o lbio inferior (proporcionada pela
a alternativa de diminuir a exposio gengival, or- sua recolocao superior e posterior) (Fig. 47).
todonticamente, pela reduo da biprotruso e do Com o objetivo de melhorar o nivelamento
plat dentoalveolar anterossuperior. O tratamen- do contorno gengival anterossuperior, as unida-
to corretivo total foi realizado com extraes das des 11 e 21 foram intrudas e suas bordas inci-
unidades 14, 24, 75 e 44, retrao dos incisivos e sais aumentadas com compsito. Para estabele-
mximo controle vertical (Fig. 45, 46 e Tab. 2). cer melhor relao proporcional entre os inci-
Com a correo da biprotruso, houve ganho sivos centrais e laterais superiores, as unidades
esttico facial (Fig. 45), melhora do selamento 12 e 22 sofreram desgastes interproximais de
labial (Fig. 45, 46) e diminuio do desloca- esmalte e remodelao cosmtica por meio de
mento apical do lbio superior durante o sorriso arredondamento do ngulo distovestibular.
(Fig. 47B). Numa vista aproximada, pode-se ob- A quantidade de exposio gengival ainda pre-
servar algumas alteraes importantes: mudana sente aps a finalizao do tratamento no com-
do comportamento muscular do lbio superior prometeu o grau de satisfao da paciente em re-
ao sorrir (evidenciada pela eliminao do sulco lao aos seus ganhos dentofaciais (Fig. 48).
A B
C D
Figura 47 - Sorrisos iniciais voluntrio (A) e espontneo (B): m proporo entre os tamanhos dos incisivos centrais e laterais superiores; exposio dos
incisivos inferiores; exposio gengival superior acentuada; presena de sulco horizontal formado entre o lbio superior e a base nasal. Sorrisos finais
voluntrio (C) e espontneo (D): dominncia dos incisivos centrais superiores; diminuio da exposio gengival e do sulco labial horizontal; reduo da
exposio dos incisivos inferiores; melhora da relao entre o arco do sorriso e a curvatura do lbio inferior.
Figura 48 - Alterao esttica do sorriso entre as fases inicial e final do tratamento: reduo da
exposio gengival pela correo da biprotruso e diminuio da hipermobilidade labial.
Abstract
Introduction: Excessive gingival display on smiling is one of the problems that negatively affect smile aesthetics and
is, in most cases, related to several etiologic factors that act in concert. A systematic evaluation of some aspects of the
smile and the position of the lips at rest can facilitate the correct assessment of these patients. Objective: To present
a checklist of dentolabial features and illustrate how the use of this record-keeping method during orthodontic diag-
nosis can streamline decision making in treating the gummy smile, which usually requires knowledge of orthodontics
and other medical and dental specialties.
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