Tese Manguezais Aracruz
Tese Manguezais Aracruz
Tese Manguezais Aracruz
VILA VELHA
2009
DANIELE BRANDO ALVES DE OLIVEIRA
VILA VELHA
2009
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA
CENTRAL DA UVV - CENTRO UNIVERSITRIO VILA VELHA
109f.
COMISSO EXAMINADORA
Mahatma Gandhi
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter sido to presente em todos os momentos e ter nos dado sabedoria
para aceitar o que no podemos mudar.
Em primeiro lugar, tenho uma dvida de gratido para com a Dr. Renata Diniz
Ferreira, minha professora exaltou uma quantidade substancial de energia para me
ensinar e orientar-me nos ltimos dois anos e para completar o trabalho de
investigao necessria para esta dissertao. Minha dissertao no teria sido
concluda sem o apoio contnuo e vital da Dr. Renata.
Ao meu primo Magno Oliveira, por passar boa parte do seu tempo visitando comigo
as aldeias e o manguezal de Santa Cruz, que me acompanhou durante todo o
processo da pesquisa, pelo apoio, companheirismo e incentivo. Sua ajuda foi
imprescindvel para a realizao deste trabalho.
Aos professores Dr. Paulo Dias e Dr. Alessandro Coutinho, pelo apoio e incentivo
durante os momentos de desnimo.
Obrigada Prof. Dr. Cludia Cmara do Vale e Prof. Dr. Zilma Maria Almeida
Cruz, por seu apoio como membros da comisso examinadora. E a todos que direta
ou indiretamente, contriburam para este desfecho, meus agradecimentos.
RESUMO
Analyzes the mangrove ecosystem from the perspective of human ecology and its
various forms of sustainable use by traditional communities in different continents.
Investigates the current distribution of mangroves in tropical areas with emphasis on
the Brazilian coast. Checks the main negative human impacts represented by the
extraction of timber, firewood, charcoal and tannin, the conversion of the ecosystem
in areas cultivated with rice, shrimp, salt production, urbanization and tourist
activities. Verifies also positive impacts through national and international initiatives
such as the RAMSAR Convention, the creation of conservation units and
environmental legislation. Understands the origin, history and current situation of
indigenous settlements Tupiniquim existing and Guarani in Santa Cruz (Aracruz-ES).
Uses an ethnographic approach, known as social research, interpretive or analytical
research to identify the inter-relationships and different forms of use of the
mangroves of the river basin Piraqu-au. Conducts interviews from june and
september 2009, with the chiefs of the villages of Three Guarani Palmeiras, Good
Hope and Piraqu-au Mirim and the village of Old Caieiras. Identifies the villages
studied, knowledge of flora and fauna of the wetland, forms of use of its products
direct and indirect, as well as actions and initiatives relating to the preservation and
conservation of this type of vegetation in the region.
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 10 Durante a entrevista com Dona Tereza e o Cacique Nelson da aldeia Trs
Palmeiras..................................................................................................................................... 86
Quadro 8 - Recursos Naturais do Manguezal Descritos pelo Cacique Pedro Aldeia Piraqu-
au Aracruz/ES 2009............................................................................................................ 77
Quadro 9 - Recursos Naturais do Manguezal Descritos pelo Cacique Toninho Aldeia Boa
Esperana Aracruz/ES 2009................................................................................................. 82
Quadro 10 - Recursos Naturais do Manguezal Descritos pelo Cacique Nelson Aldeia Trs
Palmeiras Aracruz/ES 2009.................................................................................................. 88
Quadro 11 - Recursos Naturais do Manguezal Descritos pelo Cacique Nelson Aldeia Trs
Palmeiras Aracruz/ES 2009.................................................................................................. 95
LISTA DE SIGLAS
FAO Food and Agricultures Organization of the United Nations/ Organizao das Naes Unidas
para Agricultura e Alimentao
TI Terra Indgena
IUCN International Union for Conservation of Nature / Unio Internacional para a Conservao da
Natureza e dos Recursos Naturais
1 INTRODUO.............................................................................................. 15
2 FUNDAMENTAO TERICA..................................................................... 21
3 O ECOSSISTEMA MANGUEZAL................................................................ 30
3.1 DISTRIBUIO NO MUNDO E NO BRASIL................................................
30
3.2 PRINCIPAIS IMPACTOS ANTRPICOS NOS MANGUEZAIS:
NEGATIVOS E POSITIVOS...............................................................................
35
7 REFERNCIAS............................................................................................... 101
15
1 INTRODUO
Mais tarde, os fatores que tiveram peso para fixao de agrupamentos humanos nas
zonas costeiras brasileiras foram queles relacionados presena de ambientes
que pudessem prover alimentos, proximidade da gua doce, matria-prima, bem
como facilidade de comunicao e transporte, principalmente pelo mar.
Desse modo, dentro de uma perspectiva histrica, pode-se observar que os biomas
localizados nessas reas, estiveram sujeitos a um maior impacto ambiental, como foi
o caso da Mata Atlntica e seus ecossistemas associados, entre eles, o manguezal.
Com isso, o que se busca retratar um tema que coloca como ponto de partida uma
anlise sobre grupos indgenas inseridos em seu habitat, cuja busca pela
preservao dos recursos naturais so explicitadas em vises conservacionistas e
socioambientalistas.
Ainda nessa etapa, foi estabelecido contato pessoal com a Sra. Edelvira Tureta,
chefe do Posto Tupiniquim da FUNAI, em Aracruz, para obteno da autorizao
que permitiria o acesso s aldeias Tupiniquim e Guarani, escolhidas para o
desenvolvimento da pesquisa. Esse contato foi de suma importncia, pois atravs
dele foram definidas as formas de abordagens que seriam realizadas durante as
visitas aos aldeamentos, bem como facilitou o primeiro dilogo com os caciques,
posteriormente envolvidos. Ficou decidido, que apenas os caciques poderiam ser
entrevistados, no sendo permitido o contato com os demais membros das aldeias.
Antes das entrevistas com os lderes, realizou-se uma observao exploratria nas
aldeias com o intuito de estabelecer maior proximidade com os Guaranis e
Tupiniquins e conhecer melhor a realidade dos grupos a serem pesquisados.
19
Isso foi feito atravs de uma abordagem etnogrfica, tambm conhecida como
pesquisa social, observao participante, pesquisa interpretativa ou pesquisa
analtica, pois para compreender a relao que os ndios das aldeias de Aracruz tm
com manguezal do rio Piraqu-au era essencial o entendimento sobre a cultura
desses agrupamentos humanos. Tinha-se em mente que, na etnografia, o
pesquisador , ao mesmo tempo, cronista e historiador, pois as fontes de pesquisa
no so os documentos escritos, mas fontes vivas que possuem comportamento e
memria dos seres humanos.
Durante essas incurses informais, apenas uma vez um dos caciques se disps a
realizar uma visita ao manguezal em companhia dos pesquisadores. Os demais se
mostraram bastante reticentes quanto ao afastamento da aldeia para tais fins,
preferindo manter a conversa no interior da mesma. Outra dificuldade encontrada foi
a questo da lngua indgena. A falta de conhecimento, principalmente da lngua
Guarani, por parte da pesquisadora dificultou o entendimento dos dilogos entre eles
durante as conversas informais.
2 FUNDAMENTAO TERICA
Kormondy e Brown (2002) entendem a ecologia humana como a cincia que tem
como objetivo integrar as relaes culturais, antrpicas, sociais e ambientais como
fatores determinantes do desenvolvimento da humanidade.
22
De acordo com Poizat e Baran (1997), este tipo de conhecimento pode ser usado
como um estgio preliminar da investigao ecolgica cientfica e, conforme
destacam Nordi (1992) e Alves e Nishida (2002), pode subsidiar planos de manejo,
visando uma explorao sustentvel, sobretudo daqueles recursos mais fortemente
explorados em reas estuarinas.
23
Para RAMSAR (2002, p.18), entende-se uso ou explorao sustentvel como sendo
o uso de uma rea mida pelos seres humanos de modo que produza o maior
benefcio contnuo para as geraes presentes, mantendo ao mesmo tempo seu
potencial para satisfazer as necessidades e aspiraes das geraes futuras.
J o uso racional das terras midas, [...] consiste no seu uso sustentvel para
benefcio da humanidade, de maneira compatvel com a manuteno das
propriedades naturais do ecossistema (RAMSAR, 2007, p.13).
Hertz (1991, p.14) o conceitua como comunidade vegetal que se estende ao longo
da zona costeira aos processos transicionais do ambiente marinho, estuarino e
24
Tambm para a Food and Agricultures Organization of the United Nations FAO
(1997) extremamente relevante o papel dos manguezais para a manuteno da
vida humana. Para este organismo internacional, milhes de pessoas ao redor dos
trpicos e subtrpicos dependem deste produtivo ecossistema como fonte de lenha,
carvo, madeira e de alimentos.
25
Esses autores ressaltam, ainda, que comunidades tradicionais que vivem prximas
aos manguezais e dependem de recursos oriundos desses ambientes, apresentam
um amplo conhecimento acerca dos componentes biticos e abiticos que integram
esse ecossistema, evidenciando, assim, a interao entre o homem e o meio onde
vive.
Lana (2004) observou a mudana de paradigma, atravs dos aportes cientficos, que
foram demonstrando ao longo do tempo que o manguezal no se baseia em reas
insalubres, como se chegou a acreditar, sendo consequncia de uma rotina de
erradicao de modo a reduzir a insalubridade de reas costeiras. A mudana de
pensamento levou a um uso racional dessas reas, fortalecido na legislao
ambiental, luz do Princpio de Precauo, ou seja: quando uma atividade
representa ameaas de danos ao meio ambiente ou sade humana, medidas de
precauo devem ser tomadas, mesmo se algumas relaes de causa e efeito no
forem plenamente estabelecidas cientificamente (ANTUNES, 2001, p.58).
Contudo, para tratar sobre o uso sustentvel deste ecossistema, preciso fornecer
um valor de mercado, atravs de seus bens e servios que so comercializados.
Como descrevem Barbier, Acreman e Knowler (1997) o planejamento e
desenvolvimento das decises tomadas sobre as questes econmicas,
principalmente sobre o sistema de livre mercado, quando traslado a esfera
ambiental, demonstram uma mudana de conceito sobre a conservao e utilizao
racional das zonas midas que esto em perigo.
Para estes mesmos autores seria irreal ignorar o processo econmico, dentro deste
contexto. Para tanto, preciso classificar os bens e servios dando um valor
quantitativo sua conservao, atravs de utilizaes alternativas da biodiversidade
e beleza esttica destes tipos de ecossistemas. Claro que no existe um mercado
mundial que permite um fcil clculo do valor do manguezal, por exemplo. Sendo
ainda muito mais difcil estabelecer uma avaliao econmica com mtodos
tradicionais. Outro grande obstculo so os problemas significativos na apropriao
dos benefcios globais da conservao, tais como da diversidade biolgica.
Bryon (1991, apud RASP, 1999, p.34) classifica os diferentes usos do manguezal
em uso direto, onde todos os produtos so possveis de serem extrados (incluindo
fauna e flora); uso indireto, relacionado s funes ecolgicas do manguezal em
associao a outros ambientes, incluindo o urbano; uso opcional, que se refere
27
Esses autores classificam ainda o uso do manguezal em: ativos e passivos. Tal
classificao, para tanto, compe o Valor Econmico Total VET, onde o uso
passivo refere-se aos valores que os indivduos outorgam a um bem, mesmo que
no ocorra um uso ativo do mesmo. Destacam-se os valores de herana e de
existncia. O primeiro caso refere ao valor transmitido, ou seja, os benefcios para
as geraes futuras. o valor de um recurso simplesmente porque este existe. J
uso ativo subdivide-se em dois tipos de valores: uso futuro e uso presente. Valores
de uso futuro so aqueles que concedem a possibilidade de que no futuro se
encontre um uso para um recurso ambiental que atualmente carece de valor no
mercado. Os valores de uso presente so aqueles que j esto no mercado ou a
margem deste, tendo um uso ativo na atualidade. Por sua vez, estes tipos de valores
podem ser classificados em valores de uso direto e valores de uso indireto.
Sobre o uso atual dos manguezais, Vale (1993) analisou o manguezal da baa de
Vitria (ES) como fonte de alimento, principalmente para as populaes carentes
dos bairros do entorno. Foi observado que, dos 304 entrevistados, 187 utilizavam os
recursos do manguezal. Destes 74,3% consumiam pelo menos, uma vez por
semana, os recursos provenientes do manguezal, na dieta alimentar. No bairro de
Ilha das Caieiras a maior parte da populao analisada (75%) dependia do
manguezal, tanto para alimentao quanto para a comercializao de seus produtos.
3 O ECOSSISTEMA MANGUEZAL
TABELA 1
DISTRIBUIO DO MANGUEZAL POR CONTINENTE 2005
Conforme pode ser observado nas Tabelas 1 e 2, a rea total de manguezal na sia
representa 38% da rea global. A Indonsia o pas com a maior rea de
manguezais do seu continente e do mundo (30.623 km), representando 52% e 20%,
respectivamente. Alm da Indonsia, outros pases asiticos apresentam extenses
significativas de manguezais, tais como: Malsia, Mianmar, Bangladesh e ndia. Os
manguezais destes cinco pases representam uma elevada percentagem global de
manguezal (33%) e todos eles esto includos entre os dez pases com a maior rea
de manguezais no mundo (Tabela 2).
31
TABELA 2
DEZ MAIORES REAS DE MANGUEZAL DO MUNDO
Segundo Souza Filho (2005), o problema no clculo das reas de manguezal pode
estar associado s diferentes metodologias e tecnologias empregadas, que incluem
fontes de dados com resolues espaciais diversificadas, bem como pores dos
diferentes ecossistemas costeiros adjacentes como pntanos, plancies de mares,
plancies de inundao fluvial.
33
De acordo com esses autores (Quadro 1), tal ecossistema encontrado em sete dos
oito unidades sugeridas, estendendo-se desde o Cabo Orange (0430' N) at Santa
Catarina (28 30 'S).
TABELA 3
DISTRIBUIO DOS MANGUEZAIS NO BRASIL
Os litorais das Regies Sudeste e Sul, possuem cerca de 610,77 km, (6,3%) da
rea total de mangues do Brasil, conforme pode ser observado na Tabela 3. Nessa
regio manguezais so restritos ao interior de baas, embora em vrias reas sejam
mais desenvolvidas e complexas que no litoral Nordeste (LACERDA, 1999).
35
Tais stios encontram-se distribudos por todos os continentes, conforme pode ser
observado na Tabela 4.
TABELA 4
LISTA DE STIOS RAMSAR
Cerca de 10% (182) dos stios RAMSAR protegem reas de manguezais. Destes 65
so encontrados nas Amricas Central e do Sul (incluindo as possesses
europias); 33 na Amrica do Norte, 33 na frica, 32 na sia e 19 na Oceania
(RAMSAR, 2006).
38
Ecossistemas
Aras midas Hectares
protegidos
Segundo o Banco Mundial et al. (2004) possivel atribuir aos manguezais uma
posio legal nacional como reas protegida em diversos nveis. Como exemplo,
utilizou-se o Quadro 4 para demonstrar algumas reas protegidas, envolvendo os
manguezais, em vrias regies do mundo tropical.
39
4.1 LOCALIZAO
A zona quatro, que abrange 5,2% da rea do municpio, o domnio das terras
quentes acidentadas e chuvosas, com mdias de temperaturas mnimas e mximas
variando entre 11,8C e 30,7C; sete meses chuvosos e cinco secos.
1
Algumas caractersticas das zonas naturais do municpio Aracruz
Para Martin et al. (1989), no Esprito Santo podem ser observadas trs formaes
geolgicas-geomorfolgicas distintas: a regio serrana, o plat tercirio e os
depsitos quaternrios pleistocnicos e holocnicos.
Ainda de acordo com Martin et al. (1989), a costa capixaba pode ser subdividida em
litoral Norte, Central e Sul, em funo do tipo de unidades geomorfolgicas que
delimitam para o interior os depsitos quaternrios costeiros.
O litoral Central segue da baa de Vitria at a foz do rio Itapemirim (ES). Nessa
regio ocorre a presena de rochas cristalinas pr-cambrianas em contato direto
com os sedimentos quaternrios, praticamente sem depsitos da Formao
Barreiras.
47
Por fim, o litoral Sul, se estende da embocadura do rio Itapemirim (ES) ao Norte do
estado do Rio de Janeiro; neste trecho, voltam a correr os plats tercirios da
Formao Barreiras.
Para Petrobras/ Biodinmica (2005), que caracterizou a regio das aldeias indgenas
no municpio de Aracruz, os depsitos de mangues ocorrem s margens do rio
Piraqu-au, constitudos por sedimentos argilo-siltosos com influncia de guas
marinhas que penetram pelo rio, durante as mars altas. Alm disso,
especificamente para terrenos prximos ao Piraqu-au, em Caieras Velhas, nos
setores ocupados por plataformas de abraso marinha, esculpidas em sedimento da
Formao Barreiras, ocorrem crostas calcrias, mais ou menos desenvolvidas, de
algas, corais e vermetdeos.
De acordo com Moraes (1974), a bacia do rio Piraqu-au possui 457 km de rea,
correspondendo a 1% da rea de Esprito Santo.O rio Piraqu-au nasce na reserva
de Lombardia, no municpio de Santa Teresa, e passa por Joo Neiva, antes de
alcanar Aracruz, pela localidade de Santa Maria, possui 65 km de extenso.O
encontro com as guas do rio Piraqu-mirim, esse ltimo com apenas 22 km de
extenso, forma o rio Piraqu, que se prolonga por mais 3 km at a sua foz, junto a
vila de Santa Cruz (Mapa 2).
J para Barroso (2004), o rio Piraqu-au (brao Norte) apresenta maior aporte
continental e possui uma rea de drenagem de 379 km2, e pode estar contaminado
devido a sua maior rea de influncia, pois recebe efluentes domsticos e industriais
a partir de seus tributrios montante (municpio de Joo Neiva e de Aracruz) e a
juzante (sada da Estao de Tratamento de Esgoto de Coqueiral). J o rio Piraqu-
mirim (brao Sul) possui uma pequena bacia de drenagem de 69 km2, com
caractersticas fsico-qumicas mais estveis, gerando padres pouco estratificados.
Entretanto, para Vale e Ferreira (1998), esta mesma rea foi calculada em 70,35
km, correspondendo a 0,69% daquela preconizada por Hertz (1991).
Para Branco (1992), o sambaqui de Piaagera (SP) possui uma datao de 2.980
a.C. a 2.940 a.C. Nele foram encontradas grandes quantidades de conchas de
ostras, restos de caranguejos e de saracura-do-mangue (Aramides mangle), como
parte da dieta desses povos.
Atravs de pesquisa desenvolvida pelo IBGE (2005), foi realizada uma anlise da
populao indgena, baseada na comparao dos Censos de 1991/2000 e chegou-
se concluso de que existem, atualmente, 604 Terras Indgenas no Brasil,
distribudas em uma superfcie de 1.063.592 km. O levantamento concluiu, tambm,
que 743.127 pessoas se auto declararam indgenas, o que corresponde a 0,4% da
populao total brasileira em 2000.
mariscadores com o brao nu; e como tiram as fmeas fora s tornam logo
a largar para que no acabem e faam criao.
Biar (s.d) quando tambm esteve no Esprito Santo entre 1858 e 1859, ao descrever
sua descida pelo rio Piraqu-au (Aracruz), relatou:
Sobre o uso dos recursos do manguezal feito pelos ndios de Santa Cruz, esse
mesmo autor relatou um episdio no qual os ndios tinham pescado na vspera
uma enorme quantidade de caranguejos e, de acordo com seus hbitos, tinham-nos
amarrado pela pu (BIAR, s.d., p.55). Novamente observa-se outra herana cultural
legada pelos indgenas aos catadores de caranguejos da atualidade, ou seja, a
tcnica da imobilizao do animal para transporte e/ou venda.
Ao que tudo indica, estas populaes tinham uma relao harmnica com al
geofcie, de onde s retiravam o necessrio para o sustento, sem provocar
grandes desequilbrios, respeitando os ciclos biolgicos existentes no
mesmo. A necessidade de manter este celeiro de alimentos, de fcil acesso
e de fartura renovvel, orientou mais as vrias ocupaes ao longo do litoral
e a coleta indgena, do que o imediatismo do branco [...] (FERREIRA, 1989,
p. 210).
Silva (2000) realizou uma pesquisa antropolgica com os ndios do litoral Norte do
Esprito Santo entre 1998 e 1999. Seu trabalho enfatiza, sobretudo, a trama social e
histrica que culminou com a definio do territrio indgena na regio. So
apresentados, ainda, alguns depoimentos interessantes sobre a percepo de ndios
Tupiniquins sobre os manguezais do rio Piraqu-au, evidenciando a importncia
dos mesmos para a alimentao das aldeias e certo grau de temor a determinadas
crendices relacionadas ao ecossistema e a sua trama de razes, sua lama e sua
fauna.
Ferreira et al. (2008) analisaram seis regies da costa brasileira, fundamentados nos
paradigmas da ecologia de paisagens, levando em considerao as terras indgenas
existentes na rea e suas relaes com os manguezais e os ecossistemas vizinhos.
O ndio Guarani do Esprito Santo foi classificado segundo Schaden (1974), como
Mbya, embora prefiram autodenominar-se como Nhandeva, pois, segundo os
indgenas, esta denominao significa nossa gente, o que ns somos e Mbya
atribuem significado negativo de fraco, estrangeiro, estranho, aquele que vem
de fora, de longe.
58
A chegada dos Guaranis no Esprito Santo teve apoio dos Tupiniquins, que inclusive
compartilharam, desde aquele momento, seus territrios (TEAO, 2008).
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Nmero de Individuos
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Idade
Ao contrrio das outras aldeias Tupiniquins, a diferena entre sexos, na idade mais
produtiva, menor, pois so encontrados 31% de mulheres para 33% de homens na
faixa dos 21 aos 40 anos (Grfico 2).
Caieiras Velhas aparenta ser, tambm, a mais aculturada de todas as aldeias, com
presena de automveis, pequenas lojas de negcio, do Posto Indgena da FUNAI,
que atende tambm s TI Pau-Brasil e Caieiras Velhas II, alm do maior posto de
sade e da sede da AITG.
A aldeia Iraj a menos protegida de todas as aldeias, pois boa parte de seu
permetro, feito pela estrada de terra que liga Coqueiral a Aracruz. Do lado
esquerdo da pista, em frente a essa aldeia, encontra-se uma vila de posseiros,
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Idade
De acordo com o censo da FUNAI realizado em 2008, a aldeia Iraj habitada por
459 pessoas, distribudos em 129 famlias.
A aldeia de Boa Esperana (ou Teko Por) foi o primeiro ncleo dos Guaranis no
estado, fundada em meados de 1968 (Esquema 1).
apenas outras aldeias Mbya, mas tambm Nhandev e Kayov ou Kaiow (naturais
da terra), devido ao estabelecimento de alianas pelo vnculo do casamento.
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Idade
Observa-se no Grfico 4 que a maior parte dos membros esto concentrados entre a
faixa de 2 a 15 anos (42 habitantes), representando 48% da populao local.
A aldeia conta com uma escola localizada no seu interior. O Posto de Sade,
localiza-se na aldeia, atende tambm as populaes das aldeias Trs Palmeiras e
Piraqu-au Mirim.
Segundo depoimento do cacique Wer Kwaray, esta aldeia por ser a mais
tradicional, busca seguir os princpios religiosos guarani, onde os mais velhos se
preocupam com as prticas dos brancos como o alcoolismo, bailes e forrs.
De acordo com o censo da FUNAI (2008), Trs Palmeiras conta com uma
populao de 156 indivduos, distribudos em 35 famlias entre Mby e Nhandev.
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Idade
Grfico 5 - Populao da Aldeia Trs Palmeiras por Faixa Etria
Fonte: Censo Demogrfico Indgena (FUNAI, 2008).
65
Na parte baixa da aldeia encontram-se as famlias Kaiiow, que esto na regio por
dois principais motivos: casamento como Mbya e visitas a parentes na regio. Nessa
rea existem problemas de constantes alagamentos, em funo de sua formao
brejosa. Quando as chuvas tornam-se incessantes, essa regio fica impossibilitada
ao trnsito das pessoas e o local torna-se de difcil acesso.
Caieiras Velhas II, a menor e mais recente Terra Indgena, habitada por ndios
Guarani, uma rea contgua a TI Caieiras Velhas, localizada na confluncia dos
rios Piraqu-au e Piraqu-mirim. A rea, atravessada pela rodovia ES-010, foi
incorporada aps um conflito entre os ndios e a empresa Thotham Mineradora
Martima Ltda, que pretendia extrair calcrio coralneo na regio. Inicialmente, a
prefeitura local cedeu as terras para a mineradora, mas, aps a reivindicao dos
Guaranis e sua ocupao na regio, a rea foi reconhecida, identificada e
demarcada como Terra Indgena em julho de 2001, e homologada em 2004.
Caieiras Velhas II constituda unicamente pela aldeia Piraqu-au Mirim (Esquema
1).
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N m ero de Individuos
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Idade
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Nmero de Individuos
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Idade
Grfico 7 - Populao da Aldeia Pau-Brasil por Faixa Etria
Fonte: Censo Demogrfico Indgena (FUNAI), 2008.
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Nmero de Individuos
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Idade
Grfico 8 - Populao da Aldeia de Comboios por Faixa Etria
Fonte: Censo Demogrfico Indgena (FUNAI), 2004.
70
No dia 01 de agosto de 2009 foi realizada a entrevista com o cacique Pedro, mais
conhecido como Peru (Kara), da aldeia Piraqu-au Mirim, composta por ndios
Guaranis. Durante todo processo o cacique foi bastante receptivo e interessado com
a entrevista, que ocorreu sombra da cabana (oca), bem no centro da aldeia
(Fotografia 2).
Quanto Avicennia schaueriana (mangue preto), disse que era uma espcie que
ficava mais para cima do rio. Segundo ele, de acordo com o relato dos mais
velhos, essa a rvore que corta o tronco e depois nasce do outro lado, referindo-
se capacidade de rebrotamento da espcie.
Para ele, o aratu do mangue (Goniopsis cruentata) um animal muito rpido, fica
nas razes das rvores e longe dos caranguejos. Sua aldeia no captura e nem se
alimenta desse recurso, uma vez que d muito trabalho para pegar e tem pouca
carne.
O siri-au (Callinects danae) fica mais no rio, entra muito pra dentro do rio e difcil
de achar. Utilizam-no na alimentao, porm em menor quantidade que os
Tupiniquins que, alm de comer, comercializam-no em grande quantidade,
juntamente com o caranguejo.
A espcie chama-mar (Uca sp) foi reconhecida pelo cacique, porm, sem maiores
comentrios.
73
O teredo, turu ou buzano (Teredo sp.) foi identificado como bi`i. Para o cacique,
trata-se de uma lesma que aparece na madeira podre do mangue, a qual no
utilizada para alimentao, [...] um dia eu estava aqui pescando l pra cima do rio, a
gente estava com fome, fome demais, a vimos esse bichinho na rvore, ai eu falei
nossa senhora ser que de comer (cacique Pedro, entrevista em 01 de agosto de
2009).
Ficou surpreso ao saber que o teredo muito utilizado na culinria do Par e como
isca por alguns pescadores ao longo do litoral brasileiro.
A coleta das ostras feita pelos membros da aldeia, com o cuidado de s retirar as
grandes e sem as razes das rvores, ao contrrio do que ele observa entre os
catadores no ndios. Inclusive eu aqui que moro bem prximo do rio, falo muito
sobre isso,falo sempre pro pessoal no retirar ostra pequena, raiz e tudo mais,
mesmo assim eles tiram (cacique Pedro, entrevista em 01 de agosto de 2009).
O sururu (Mytella sp.) chamado de imt. Alm de comerem sua carne, a casca
utilizada no artesanato.
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Segundo o cacique, as penas do soc foram substitudas pelas penas das galinhas
criadas na aldeia. As penas so tingidas com corantes comprados na cidade. De
acordo com ele, antigamente as penas eram coloridas com tanino do mangue, cuja
tcnica demonstrou conhecer bem.
O objetivo da visita era uma aula sobre o manguezal, a fixao de placas educativas
nas rvores de mangue, alusivas proteo do mesmo e o recolhimento do lixo
encontrado nesse ecossistema.
Segundo Pedro, essa prtica inadequada feita pelo pessoal que vem catar
caranguejo e ostra. Eles j levam a ostra descascada para evitar peso demais, s
vezes comem aqui mesmo (cacique Pedro, entrevista em 02 de agosto de 2009).
Fotografia 4 Fogueira para queima de ostra dentro do manguezal. No detalhe: razes de Rhizophora
mangle retiradas juntamente com as ostras.
Ostras do Mangue (Crassostrea rhizophorae) Ostra da Mar Alimentao e utilizam a casca como adubo
Saracura do Mangue (Aramides mangle) nhn Bioindicador - Sinaliza quando vai chover
A entrevista com o cacique Toninho (Wer Kwaray = relmpago como a cor do sol)
foi realizada na aldeia Guarani de Boa Esperana no dia 02 de agosto de 2009
(Fotografia 5 ).
O mangue yapo a gente sempre usa. Usamos mais pra pescar. s vezes
tem alguns peixes que ficam no buraco dos caranguejos e as crianas
gostam de pegar. Esse peixe ns chamamos de moreia. Ns no usamos
muito o mangue, como outras tribos usam (relato do cacique Toninho,
entrevista em 02 de agosto de 2009).
Para o cacique, no existe muita diferena entre as rvores das diferentes espcies
de mangue quando fala de yapo, tudo que tem lama e raiz por cima, tudo uma
coisa s.
Observando as fotos dos frutos, folhas, flores e tronco das espcies de mangue,
mencionou que o caule da Avicennia schaueriana (mangue preto) utilizado para
espantar mosquitos. Reconheceu o fruto do Conocarpus erectus (mangue boto),
pois so parecidos como fruto do kaa, cujo ch utilizado nos batismos das
crianas. Por outro lado, relatou que no comem nenhum fruto do mangue se o
macaco come o fruto, ns podemos comer tambm.
Quanto aos peixes presentes no esturio do rio Piraqu-au, o cacique informou que
sua aldeia utiliza, para alimentao, os peixes sem escamas pirate, como o
robalo, a tainha e o bagre nhndi, todos os piraetes so peixes que ns come,
tem alguns como o baiacu, que tem escama e ns no comemos, relata Toninho.
Fotografia 7 Tour pela aldeia Boa Esperana em companhia do cacique Toninho da adeia Boa
Esperana.
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Na rea central da aldeia foi construda uma cabana, com a finalidade do uso para
venda do artesanato, para a realizao de reunies, eventos e tambm como uma
extenso do espao escolar. Alm disso, a cabana configura-se como espao de
socializao da comunidade Guarani. frequente a presena de jovens, homens,
mulheres e crianas que trocam informaes entre si, tocam msica, produzem e
vendem seus artesanatos. Foi observado o movimento das crianas na escola, bem
como a presena de turistas e de djuru (pessoas no indgenas) na aldeia.
Enquanto Nelson no chegava, Toninho apresentou Dona Tereza, uma ndia idosa
que possui uma enorme experincia de vida, sendo respeitada pelos Guarani da
regio. Dona Tereza falava apenas em Guarani, mas compreendia o portugus.
Toninho, sempre prestativo, serviu como intrprete.
O robalo foi um peixe bastante reconhecido por ela, que o chamou de pir. Disse
que gosta muito, come assado, cozido junto com aipim e o tempero que usa s
sal. No gosta de sardinha, mencionando no come peixe com escama. A tainha ela
tambm come e chama de piraete, preferindo, entretanto, o robalo e o bagre para
se alimentar.
Nelson reclamou que muitas pessoas vo a sua aldeia, fazem pesquisas e depois
no voltam mais, no do assistncia e no comunicam que fim levou as
informaes fornecidas por ele. Inicialmente estava desconfiado e hesitou bastante
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Fotografia 10 - Entrevista com Dona Tereza e o Cacique Nelson da aldeia Trs Palmeiras.
Quanto ao aratu, relatou que no se alimentam desse animal, mas que de vez em
quando usam como isca de peixes como sirioba e carapeba.
Aratu do Mangue (Goniopsis cruentata) Nenhuma denominao Isca de Peixe como Sirioba e Carapeba
siriba um mangue mais duro, relata o cacique, tem uma madeira que o nome dela
tambm siriba, essa madeira ns tiramos para fazer o tambor que a gente usa aqui
e tambm comercializa. Relatou ser uma madeira prpria que oca, muito boa e
resistente.
Quando perguntado qual o manguezal que eles mais utilizam, Cizenando informou
que seria o bosque de mangue vermelho, pois dele retiram mais recursos como
vrios mariscos, peixes alm do caranguejo. Sobre a rea do manguezal onde
ocorre a cata dos caranguejos, ele explicou.
Foi perguntado se eles usam algum nome indgena para caracterizar os diferentes
tipos de manguezal. Ns chamamos manguezal mirim o pequeno, o manguezal a
o manguezal grande informou o entrevistado. No caso do mirim uma referncia ao
mangue com rvores mais baixas e au, ao mangue com rvores mais altas.
A coleta dos caranguejos feita com a mo ou com o gancho, pois, desse modo,
eles podem selecionar os machos se pegar as fmeas no tero como se
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reproduzir, a fmea quanto mais voc deixa ela, mais ela pode se reproduzir. Ele
discrimina o uso da redinha para capturar o caranguejo, e reclamou que tem
pessoas que vem de outras regies para fazer a cata do caranguejo e fazem de
forma indiscriminada e [...] antes eram poucas as pessoas que sabiam entrar no
manguezal para catar caranguejo, hoje como o consumo aumentou, apareceu muita
gente pra fazer a cata, a catam de qualquer jeito.
J para o marinheiro (Aratus pissonii) o nome usado pelo cacique sapateiro. Eles
utilizam tanto na alimentao, no to bom saboroso como o aratu, mas a gente
come tambm, utilizam como isca para pegar peixes como o baiacu (Sphoeroides
sp.) ou vermelho (Lutjanus sp).
J o siri do mangue (Callinects sapidus), chamado de siri au, muito usado tanto
para alimentao quanto para comercializao. So vendidos para os bares da
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regio, desfiados e prontos para fazer a moqueca. A casca tambm vendida, pois
serve para compor o tira gosto casquinha de siri.
Eles fazem muita coisa com a concha da ostra, a concha da ostra se faz o
cal, hoje utiliza mais o cal dessas pedras a, mas o melhor cal que existe o
cal da concha de ostra, que depois de cozida, eles tiram a gua e trituram e
vira o cal, hoje ns aqui paramos de produzir, depois que inventaram o cal
da pedra, deixaram de comprar o cal da ostra, antigamente usava bastante,
por isso que essa aldeia chama Caieiras Velhas (relato do cacique Jos
Sezenando, entrevista em 20 de setembro de 2009).
Os peixes que eles mais consomem so o vermelho e o robalo, que alm de serem
alimento tm tima comercializao em Santa Cruz.
Sobre o guache (Cacicus haemorrhouso) e seu ninho, reconheceu como japira que
faz ninho em forma de bolsa pendurada, nas rvores do manguezal. Informou,
ainda, que usam esse ninho como enfeite nas festas de comemorao,
principalmente no Dia do ndio, comemorado em 11 de abril, eles enfeitam as festas
com esses ninhos [...] tem bastante aqui no manguezal relata Cizenando.
A gara branca (Casmerodius sp) conhecida pelo cacique como espera, pois a
ave fica parada esperando, no manguezal, a hora certa de capturar um peixe.
6 CONCLUSO
melhorar as relaes do homem com seu meio, nesse caso especfico, do homem
com o manguezal.
Quanto aos estudos referentes origem, distribuio, usos e costumes dos grupos
estudados, no caso os Tupi-guaranis, eles geralmente abordam muito pouco os
aspectos relacionados ecologia humana, evidenciando mais as caractersticas
antropolgicas, demarcao de terras e estudos lingusticos.
Foi observado, tambm, que a aldeia Caieiras Velhas expandiu-se nas proximidades
de uma rea de mangue bastante conservado e produtivo de Santa Cruz. Tal fato
possibilitou, por parte dos Tupiniquins, uma significativa comercializao dos
recursos extrados do manguezal, transformando-os no s em importante fonte de
alimento, como tambm em uma fonte de renda permanente.
Entretanto, por falta de dados disponveis, no foi possvel neste trabalho, quantificar
o nmero de ostras, sururus, caranguejos, camares e peixes comercializados pelos
Tupiniquins e o provvel impacto provocado no manguezal por essas atividades. Um
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Conforme foi levantado nos arquivos, os ndios Guaranis chegaram a Santa Cruz por
volta de 1967, estando, portanto, nestas terras h apenas 42 anos. Diferentemente
dos Tupiniquins, os resultados das entrevistas com os caciques Guaranis, das
aldeias Boa Esperana e Trs Palmeiras, apresentaram respostas bastante
semelhantes. J as respostas do cacique da aldeia Piraqu-au Mirim, tambm
Guarani, variaram um pouco em relao aos outros dois anteriores.
Tambm o uso dos peixes, como Robalo, Carapeba e Caratinga, por todas as
aldeias, justificam-se tendo em vista que esses peixes habitam os ambientes de
gua salobra e se alimentam de crustceo, moluscos e do lodo encontrado no
manguezal. Isso evidencia que a pesca por eles praticada realizada nos canais e
no esturio do rio Piraqu-au, prximos ao bosque de mangue.
resultados obtidos nas entrevistas evidenciaram uma forte relao ecolgica, social
e econmica dos Guaranis e dos Tupiniquins com esse ecossistema em Santa Cruz
(Aracruz).
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