Revista 1 Angulo
Revista 1 Angulo
Revista 1 Angulo
pt
Ensaios em Arqueologia
www.cph.ipt.pt
N. 1 // 2001-2002 // Instituto Politcnico de Tomar
PROPRIETRIO
Centro de Pr-Histria, Instituto Politcnico de Tomar
Edifcio M - Campus da Quinta do Contador, Estrada da Serra, 2300-313 Tomar
NIPC 503 767 549
DIRETORA
Ana Cruz, Centro de Pr-Histria
DESIGN GRFICO
Gabinete de Comunicao e Imagem
Instituto Politcnico de Tomar
PERIODICIDADE
Anual
EDIO
Centro de Pr-Histria
SEDE DE REDACO
Centro de Pr-Histria
ISSN
1645-8214
ANOTADA NA ERC
FUNDAMENTOS...................................................................................................................7
Prospeco Terrestre
ADRIANA TORRES .............................................................................................................................. 9
Datao em arqueologia
JOO MANUEL COELHO .................................................................................................................... 69
Ana Cruz
7
PROSPECO TERRESTRE
Adriana Torres
8
Prospeco Terrestre
Adriana Torres
RESUMO
ABSTRACT
The superficial search is a convencional method and though valid that consists on
searching the most significant remains of the landscape, above all the structural vestiges but
many ranches therefore of a more meticulous exam than one could call recognition search, for
they be detected.
The investigation of a territory should leave from work hypotheses which involves the
prospection. The field work is indispensable in archaeology. The search of sources is
designated by Archaeological Prospection.
So that the search work elapses with success it is necessary to appeal to other areas of
knowledge as ethnografy, architecture, ecology and archaeology. Being able, to follow a
developemente more cientific method from the recognition of the landscape, of the ranches
and found archaeological discoveries and later on to the computering of the dates.
9
superficialy, and detection of what can exist in the underground, always using non destrutiv
method or to archaeological surveys.
1. INTRODUO
Para que o trabalho de prospeco decorra com sucesso necessrio recorrer a outras
reas de conhecimento como a etnografia, ecologia, arquitectura e arqueologia. Podendo
assim, seguir um desenvolvimento/mtodo mais cientfico desde o reconhecimento da
paisagem, dos stios e achados arqueolgicos encontrados e posteriormente informatizao
dos dados. O trabalho de gabinete processa-se na consulta de pr-existentes tais como
arquivos, publicaes impressas, mapas cartogrficos, iconogrficos, litogrficos, etc., e
tambm a anlise toponmica de toda a regio. Logo que tenha dados suficientes, o
arquelogo passa imediatamente prospeco. Assim dispem-se cartas topogrficas
(1/250000) e cartogrficas (1/50000) e mais algumas cartas temticas tais como a geolgica,
resistncia do solo, litogrfica, etc. A cartografia para alm de ser um sistema de referenciao
espacial tambm um til instrumento de estudo e de produo cientfica.
Assim o primeiro cuidado a ter ser o da observao das formas do relevo, para que se
impe um conhecimento mnimo geomorfolgico das regies objecto de estudo. H que ter
em conta das variaes, diferenas dos nveis da gua dos rios, dos mares e dos oceanos,
coberturas vegetais, todo um conjunto de factores que so diferentes da nossa poca.
10
de subsolo, como os meios instrumentais da magnometria, resistncia elctrica dos solos e
radar dos subsolos, anlises qumicas especialmente a anlise fosftica.
2. CONCEITO DE STIO
3. TIPOS DE PROSPECO
11
iam interessando cada vez mais na reconstituio do uso humano global na paisagem,
comearam a dar-se conta de que existem disperses de artefactos apenas perceptveis, que
no os podemos classificar de stios ou achados mas que sem dvida representam uma
actividade significativa.
Nas ltimas dcadas, a prospeco passou de uma simples fase preliminar do trabalho
de campo (busca de achados adequados para uma escavao), a um estudo mais ou menos
independente, uma rea de investigao por direito prprio, podendo fornecer informao
bastante diferente das obtidas pela escavao. Em alguns casos esta no pode ser feita, talvez
por falta de permisso, tempo ou dinheiro, sendo a escavao moderna mais dispendiosa
enquanto que a prospeco barata, rpida, arquelogos elegeram deliberadamente um
mtodo superficial como fonte de informao regional, com o fim de investigar questes que
lhes interessem e que a escavao no poderia resolver.
3.2. Magnometria
12
3.3. Prospeco Fosftica
A anlise fosftica utilizada em arqueologia desde os anos trinta realizada pelo sueco
Arrehenius que impulsionou a aplicao deste mtodo em investigao arqueolgica no incio
da dcada. A aplicao do mtodo ficou praticamente limitada s reas geogrficas
correspondentes ao norte do continente americano, ao centro da Europa e s Ilhas Britnicas.
Foi preciso aguardar nove anos para que o investigador alemo Lorch, desenvolve-se
um mtodo similar para descobrir enterramentos arqueolgicos. Demonstrou que as amostras
devem ser rpidas e que melhor utilizar equipamentos baratos a dispendiosos nestas
amostras.
Segundo Sverre Bakkevig as principais razes que levaram a esta estagnao prendem-
se com os prprios interesses da arqueologia cronolgica e tipolgica. Salienta tambm o
efeito nefasto que provocou a aplicao de mtodos de anlise agrcola sem se ter em conta
os diferentes de agricultores e arquelogos. Desta forma no foi dada a devida ateno
distribuio vertical do fsforos nem aos fosfatos insolveis que as plantas no podem
assimilar. um desenvolvimento de um mtodo de campo, fivel rpido e pouco dispendioso,
ganhando novos desenvolvimentos.
Mtodo foi tambm comprovado por Nunez na Finlndia, como tambm Simonsen que
no ano de1968 havia comprovado a aplicabilidade do mtodo em arqueologia. Todas estas
investigaes comprovaram que as concentraes de fosfatos se associam claramente com as
reas de maior concentrao de material arqueolgico.
13
associa mxima concentrao de material arqueolgico. um complemento til e
perfeitamente aplicvel ao mtodo de prospeco arqueolgico tradicional. Auxilia de forma
preciosa a determinao de reas de maior actividade humana.
A sua rapidez, fcil utilizao, fiabilidade e baixo custo econmico transformam o Spot-
test num mtodo importante para resolver problemas pontuais da prospeco e da escavao
arqueolgica. Permite identificar e definir com maior segurana a configurao e extenso de
determinadas estruturas no visveis superfcie.
4. METODOLOGIA
5. CONCLUSO
Aps ter realizado este trabalho posso concluir que a prospeco terrestre um
elemento fundamental ao trabalho arqueolgico.
14
Todas estas informaes so de mais valia para a escavao visto que atravs delas
poderemos efectuar uma escavao mais correcta sabendo priori o tipo de estao que se
pretende escavar, sem correr o risco de destruir a prpria estrutura.
BIBLIOGRAFIA
15
TCNICAS DE ESCAVAO TERRESTRE
Tiago Tom
16
Tcnicas de Escavao Terrestre
Tiago Tom
RESUMO
Por outro lado, observando a evoluo desta componente essencial do corpus tcnico-
prtico da Arqueologia, registamos os paralelos verificados com a evoluo do corpus terico
da mesma; nfase cronolgica positivista, correspondem as metodologias privilegiando os
aspectos temporais e seriacionais; posteriormente, com os paradigmas emergentes na
segunda metade do sculo XX (como o processualismo) a enfatizarem aspectos at ento
ignorados, como a compreenso de relaes infraestacionrias, observa-se o correspondente
nascimento de metodologias que enfatizam aspectos espaciais.
ABSTRACT
When you think of the archaeological excavation in terms of a scientific experiment (in
spite of being one), it becomes extremely important that we take some time to examine its
own history, as a way of understanding the evolution of the notion archaeologists have made
of excavation. It is this comprehension that allows us to observe the evolution of how man fits
himself in his surrounding environment and how he understands that same environment.
17
1. INTRODUO
Mas no pensemos por estes factos que a escavao se torna menos importante. Na
construo do conhecimento arqueolgico, esta ocupa ainda um lugar de destaque. Para alm
disso, a escavao , por natureza, o palco privilegiado verdadeira realizao de uma
caracterstica inerente prpria Arqueologia: a interdisciplinariedade. , por isso, um
momento decisivo na investigao arqueolgica (Schnapp, 1980: 25).
Como experincia cientfica, a escavao deve ser encarada com o mximo de cuidado
bem como de rigor. No entanto, como Barker to bem frisa, a escavao arqueolgica ocupa
um lugar particular nas experincias cientficas, pois as teorias propostas no podem ser
verificadas atravs da realizao de uma segunda experincia nas mesmas condies (Barker,
1982: 37).
1
A viso materialista do objectivo da escavao arqueolgica s comeou a ser derrubada por Sir Mortimer Wheeler, quando este
afirma (na que se viria a tornar numa das mais famosas e mais comummente citadas frases em Arqueologia) The archaeological
excavator is not digging up things but people (Frdric, 1980: 11). Presentemente, a escavao encarada como a exumao
sistemtica dos depsitos arqueolgicos estratificados que se encontram total ou parcialmente enterrados, sendo, assim, o
procedimento fundamental de recuperao de testemunhos materiais do passado (Lloret, 1997: 151).
18
2. TESOUROS DO SUBSOLO A ESCAVAO COMO UM ACTO INERENTE AO SER
HUMANO
As primeiras actividades deste mbito parecem ter tido lugar na Babilnia, no sculo VI
a.C., durante o reinado de Nabodinus (entre 555 e 539 a.C.), que ter escavado o pavimento
de um templo, com vista a encontrar uma fundao em pedra, a colocada 2200 anos antes
(Bahn, 1997: 22; Renfrew, Bahn, 1996: 18). Ao longo do tempo, registam-se diversas
intervenes que marcam a evoluo da Arqueologia. De um modo geral, estas relacionam-se
com a ideia de recuperao de tesouros (quer estes fossem artsticos ou de um valor mais
mundano). No contexto renascentista, formam-se os chamados gabinetes de curiosidades,
patrocinados por homens influentes, como prncipes e burgueses de maior riqueza, reunindo
objectos arqueolgicos com objectos naturais (Renfrew, Bahn, 1996: 18; Bahn, 1997: 23;
Almagro, 1980: 180). Obviamente que estas recolhas se faziam sem qualquer preocupao de
contextualizao dos objectos e, consequentemente, sem qualquer gnero de metodologia
particular aplicada. Vive-se ento, o perodo das relquias e monumentos (Binford, 1983:
102).
No sculo XVIII, as atenes dos estudiosos destas matrias vm-se atradas pela
descoberta de Pompeia e Herculano, soterradas desde 79 d.C. por uma erupo do Vesvio.
Tanto o prncipe de Elboeuf como os reis de Npoles se interessaram pelas descobertas,
patrocinando as escavaes no local (Renfrew, Bahn, 1996: 20; Frdric, 1980: 30). Mais uma
vez, verifica-se que o interesse apenas a recolha de objectos de arte. As escavaes em
Pompeia apenas atingem um cariz mais rigoroso em 1860 (Renfrew, Bahn, 1996: 20), como
veremos adiante.
2
Sensivelmente contemporneas (1805) sero as escavaes dirigidas por Colt Hoare e William Cunnington, a Norte de
Stonehenge (Renfrew, Bahn, 1996: 19).
19
3. ESTABELECIMENTO DA ARQUEOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTFICA E
CONSEQUENTE DESENVOLVIMENTO DAS TCNICAS DE ESCAVAO
3
No nos esqueamos, no entanto, das pilhagens que franceses (dirigidos por Paul Botta) e ingleses (dirigidos por Austen Henry
Layard) levaram a cabo nos anos 40 do sculo XIX na Mesopotmia, com base numa mera competio, tentando determinar qual
dos lados conseguiria recolher o maior nmero de obras de arte (Renfrew, Bahn, 1996: 28).
4
Theory of the Earth, 1785.
5
Principles of Geology, 1833.
20
mesmos (Trigger, 1989: 154), ser uma constante no trabalho de campo efectuado. Por outro
lado, no podemos esquecer o impulso dado aos estudos arqueolgicos e antropolgicos no
sculo XIX, com o derrubar dos limites temporais bblicos existncia do Homem6, como um
factor catalisador das atenes no factor temporal e cronolgico do registo arqueolgico, de
que as referidas sequncias estratigrficas so testemunho fsico.
Apesar do rigor pretendido por estes homens, faltava ainda o estabelecimento de uma
metodologia que regularizasse os trabalhos arqueolgicos, um mtodo que pudesse servir de
guia a arquelogos e se impusesse de forma quase universal. isto que vai permitir o mtodo
institudo por Sir Mortimer Wheeler nos anos 307, o estabelecimento das bases para uma
moderna Arqueologia (Lloret, 1997: 154). Apesar de colher directamente dos seus
antecessores influncias metodolgicas, cabe a Wheeler o mrito de ter sistematizado,
aperfeioado e executado o seu mtodo (Raposo, 1996: 77).
O mtodo Wheeler (como viria a ficar conhecido), estabeleceu aquilo que se viria a
tornar na imagem de marca da Arqueologia moderna: a quadriculagem do terreno de
escavao. De facto, este mtodo baseia-se numa quadrcula, de 5x5 m8, sendo que a rea
escavada na realidade se limitava a 4x4 m, deixando-se de cada lado dos quadrados uma
berma de 50 cm (somando os quadrados contguos, obtinha-se uma berma total de 1 m de
lado). Estas bermas no seriam escavadas, persistindo como testemunhos da estratigrafia
verificada na estao arqueolgica (Frdric, 1980: 172-175; Lloret, 1997: 154; Pelletier, 1985:
67). A existncia destas bermas apresenta vantagens prticas bvias, ao permitir um fcil
acesso a todos os pontos da escavao e a passagem de carros-de-mo, por exemplo (Frdric,
1980: 175), uma economia de tempo e esforo, pois uma relativamente grande rea
permaneceria por escavar e tambm o facto de cada berma apresentar toda a sequncia
estratigrfica em toda a sua extenso (Pelletier, 1985: 67). No entanto, ao nvel da
interpretao, estas mesmas bermas apresentam inconvenientes, pois representam
interrupes artificiais na continuidade do registo arqueolgico. Dificultam a visualizao de
estruturas horizontais (podendo esconder a totalidade de certas estruturas), a observao das
camadas estratigrficas individualmente e tambm podem impedir a correcta definio das
mesmas, pois sabe-se que a estratigrafia raramente se encontra numa disposio lgica,
verificando-se frequentemente a existncia de irregularidades na mesma9 (Pelletier, 1985: 67-
68).
6
Neste aspecto, vale a pena relembrar a exactido com que Usser Lighfoot, vice-reitor da Universidade de Cambridge, indicou, no
sculo XVII, a data da apario do Homem na Terra: 23 de Outubro de 4004 a.C., s 9 da manh (Raposo, 1996: 202).
7
Mtodo que o mesmo viria a enunciar na sua famosa obra, Archaeology from the Earth, de 1954.
8
Ver imagem 1.
9
Ver imagens 2a e 2b.
21
5. NOVOS DESAFIOS, NOVAS TCNICAS O PARADIGMA PROCESSUALISTA E O
MTODO OPEN-AREA
Assim, nos anos setenta Barker10 apresenta uma nova viso sobre os problemas
metodolgicos encontrados, mais adequada aos novos problemas colocados pela Arqueologia.
Percebeu que a existncia das bermas, pressupostas pelo mtodo Wheeler, levantava
problemas correcta percepo do registo horizontal da escavao (Lloret, 1997: 154).
Considerava que toda a escavao devia aspirar condio de escavao total (Barker, 1982:
68), tendo esta ideia dois significados complementares: primeiro, que toda a estao
arqueolgica deveria ser escavada, no recorrendo a seces ou trincheiras de amostragem
(Barker, 1982: 54); segundo, que toda a rea da estao deveria ser escavada, ou seja, que no
deveriam ser deixadas interrupes fsicas no interior da rea escavada, pois, regra geral, um
stio arqueolgico provavelmente trs vezes mais complexo em plano do que parece ser em
seco (Lloret, 1997: 154; Barker, 1982: 52). Nascia, assim, o mtodo open-area, baseado na
suposio da escavao de amplas superfcies de terreno (Lloret, 1997: 154).
bvio que esta nova estratgia de escavao d origem a uma nova percepo da
estratigrafia; os testemunhos estratigrficos deixam de ser elementos includos no interior da
rea escavada, como acontecia com as bermas do mtodo Wheeler, passando a estratigrafia a
ser representada cumulativamente, atravs da representao grfica dos interfaces dos
diferentes estratos (Lloret, 1997: 156). Para alm disso, a reconstituio estratigrfica torna-se
mais rigorosa, pois o mtodo Wheeler era muitas vezes, erradamente, associado a um
processo arbitrrio de escavao, no qual se observa a extraco de terra em nveis artificiais
de espessura predeterminada (Lloret, 1997: 154).
Este mtodo pretende, antes de mais, ter em conta cada camada ou sequncia
estratigrfica na sua integridade horizontal (Pelletier, 1985: 69).
10
Barker normalmente associado aos trabalhos de Harris e Carandini. No entanto, estes ltimos no desenvolveram uma
metodologia de escavao, mas sim um sistema de registo (Lloret, 1997: 153).
22
6. CONSIDERAES FINAIS
Observando os vrios passos por que passou a evoluo da metodologia aplicada nas
escavaes arqueolgicas, parece tornar-se bvio que esta acompanhou a evoluo terica da
prpria disciplina, no sem algum atraso, apesar de tudo. De facto, as grandes inovaes
metodolgicas neste campo do corpus tecnico-prtico da Arqueologia justificam-se pelos
avanos registados no corpus terico da mesma, no obstante registarem, regra geral, um
hiato temporal relativamente a estes.
As transformaes que a Arqueologia vir a sofrer na segunda metade do sc. XX, com
vrios paradigmas a nascerem, marcar nova evoluo das metodologias de escavao. A
nfase que estes novos paradigmas colocam na compreenso da envolvente espacial (quer
fsica, quer socialmente), em particular a Nova Arqueologia (Alarco, 1996: 11-14), provoca a
necessidade de um mtodo de escavao que permita mais facilmente, no a reconstruo das
mudanas culturais, mas, particularmente, a percepo dos fenmenos que tm lugar
contemporaneamente e das relaes entre os diversos componentes de uma dada rea de
ocupao. isto que vir a ser proporcionado pelo mtodo open-area.
11
Note-se que se deve falar, neste perodo de tempo, em recuperao de objectos, visto encontrarmo-nos ainda na fase prvia ao
estabelecimento de um corpus terico consistente e tambm afirmao de Wheeler, j referida acima.
23
7. IMAGENS
Imagens 2a e 2b: inconvenientes levantados pelo mtodo Wheeler na correcta definio de uma sequncia estratigrfica.
BIBLIOGRAFIA
ALARCO, J. (1996) Para Uma Conciliao Das Arqueologias. Porto: Edies Afrontamento.
24
PELLETIER, A. (dir) (1985) Larchologie et ses mthodes. Roanne/Le Coteau: Horvath.
RAPOSO, L.; SILVA, A. C. (1996) A Linguagem das Coisas Ensaios e Crnicas de Arqueologia.
Lisboa: Publicaes Europa-Amrica.
RENFREW, C.; BAHN, P. (1996) Archaeology: Theories, Methods and Practice. Londres e Nova
Iorque: Thames and Hudson.
25
HISTORIOGRAFIA DO DESENHO ARQUEOLGICO
ENQUANTO TCNICA APLICADA ARQUEOLOGIA
Manuel Lemos
26
Historiografia do desenho arqueolgico enquanto
tcnica aplicada Arqueologia
Manuel Lemos
RESUMO
ABSTRACT
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho dificilmente teria sido feito nestes parmetros sem a ajuda
preciosa dos meus amigos: Pedro Mendes, Patrcia Jordo e Antnio Cruz, que com os seus
conhecimentos e pacincia me deram uma inestimvel ajuda.
27
1. INTRODUO
O ser humano, se lhe for permitido, desde cedo na sua vida que contacta com o
desenho: [...] o primeiro interesse por este tipo de actividade surge por volta do ano e meio de
idade. Mas o verdadeiro mpeto, com garatujas mltiplas, arrojadas e seguras, no aparece
antes dos dois anos. [...] (Morris, 1967), para alm de que, h muito na nossa histria, esta
forma de comunicao foi eleita como forma de expresso: [...] Trata-se de um tipo de
comportamento que assumiu, h milhares de anos, importncia vital para a nossa espcie,
como atestam os vestgios pr-histricos de Altamira e de Lascaux. [...] (Morris, 1967).
Quando, exactamente, na nossa histria enquanto espcie, o teremos iniciado, incerto, mas
sem dvida que ter sido ainda antes dos registos em grutas e rochas nossos conhecidos.
Representar objectos, figuras ou paisagens, por meio de linhas, pontos e sombras, como forma
de comunicao, pois algo que fazemos h muito.
Para alm das reas que forneceram os meios tcnicos ao Desenho Arqueolgico,
ilustradas acima com o exemplo da Arquitectura, h ainda que referir outras, com cariz mais
ilustrativo e didctico, como o desenho de ilustrao, o qual possivelmente ter nascido de
uma qualidade que nos inerente: a de explicar a outros aquilo que conhecemos ou vimos,
atravs de um simples desenho. Ao longo da nossa Histria temos mltiplos exemplos de
desenhos como veculos de comunicao, mais ou menos erudita, como o desenho de um
rinoceronte (executado por Drer, segundo as descries de espectadores), o livro de D.
Carlos: Aves de Portugal, este ltimo filivel no desenho cientfico, o qual conheceu um
grande desenvolvimento no sculo XIX. Podemos afirmar que o Desenho Arqueolgico nasce
num contexto de charneira de diferentes tipos de desenho, sendo a sua origem no obra do
caso mas de uma lenta evoluo e combinao de factores sociais, polticos e de motivaes
vrias, tendo evoludo com a prpria Arqueologia, a qual desde cedo o entendeu como uma
das formas privilegiadas de ilustrao, divulgao e comparao de artefactos e estruturas.
Relativamente a este trabalho, mais concretamente parte da contextualizao histrica,
optou-se por ilustrar e exemplificar a mesma com personagens portuguesas, no por um furor
nacionalista, mas por de facto serem exemplares, tanto na parte dos nossos descobrimentos,
28
que vieram dar mundos ao mundo, como e sobretudo, no sculo XIX, altura em que estvamos
a par e passo com o que se fazia l fora a nvel de investigao e Arqueologia, no querendo
de qualquer forma explorar em demasia a verte poltica nacional e o respectivo contexto
internacional, sobejamente importantes para o desenrolar dos acontecimentos. Uma outra
razo prende-se naturalmente com os conhecimentos adquiridos ao longo deste ano, noutras
disciplinas, com o gosto pelos aventureiros portugueses destas pocas, e por fim, com a
bibliografia disponvel. Tambm da opinio do aluno, que os seguintes exemplos
(portugueses) so to ou mais vlidos quanto os estrangeiros, para qu falar do distinto
Livingstone, se o mesmo andava perdido, sendo ajudado por portugueses para ir para bom
porto?...
Um outro ponto que foi focado, desta vez de uma forma mais ligeira, foi o que
concerne s tcnicas e tecnologias do Desenho Arqueolgico, tema muito vasto, que foi
resumido por forma a dar uma coerncia e suficiente brevidade ao trabalho, que de outra
forma deixaria de ser uma historiografia para passar a ser uma monografia ou tese sobre o
tema.
2. CONTEXTUALIZAO HISTRICA
Remontando paixo pelas civilizaes clssicas, uma das fontes que mais tarde ir
dar origem ao Desenho Arqueolgico, o registo de estruturas e objectos de uma forma
natural, como quem tira uma fotografia realidade que observa, de uma forma interessada
mas amadora.
29
vo fazer levantamentos de patrimnio (arqueolgico), constituindo muitas vezes os seus
registos a nica prova actual da existncia de alguns monumentos, que entretanto foram
destrudos. Prova disso o trabalho de inmeros interessados pelo passado, como foi o caso
primeiro do humanista Andr de Resende, enquadrado no movimento dos Dilitanti no sculo
XVI, que estudou as antiguidades de vora, o castro da Sra. da Cola e publicou diversas
inscries que estudou; Amador de Arraes, na sua obra Dialogos: Gloria e Triumpho dos
Lusitanos, de 1598, regista inscries originrias de textos epigrficos, e menciona algumas
runas de povoados. Do sculo XVII no existe registo de grande quantidade de desenhos de
cariz arqueolgico, embora se tenham feito diversas publicaes, com o rigor e razes que j
citmos; no sculo XVIII, surge-nos um ptimo exemplo, falamos de Fr. Jernimo Contador de
Argote, dotado de um senso crtico maior que o dos seus antecessores, registando no s em
desenho, como tambm descritivamente inmeros monumentos, como por exemplo em
Panoias, perto de Vila Real, em 1732, e retomando um estudo de Antnio de Aguiar sobre as
fragas de Panoias, registou fragas com inscries e pias votivas, num conjunto de estampas,
conhecendo-se presentemente apenas 3 das 11 por ele estudadas.
Na Europa, ao longo dos sculos XVII e XVIII, vo-se cruzando os interesses pela
antiguidade, sendo a descoberta de Herculano e Pompeia, na primeira metade do sculo XVIII,
um marco importante para o incio de uma nova fase de redescoberta do passado.
Ainda durante todo o sculo XVIII vo-se formando grupos de interesse, como o caso
da Sociedade de Diletantes de Londres, formada em 1734, a qual vai funcionar durante 80
anos, divulgando os seus estudos, ilustrando-os com imagens das suas descobertas e
investigaes.
30
uma atitude de saque de materiais e a uma necessidade de inventariar, catalogar, classificar
e descrever, fazendo-se assim uso corrente das tcnicas de desenho.
O gosto pelo antigo veio a alargar-se durante os finais do sculo XVIII e no sculo XIX,
ultrapassando as fronteiras das civilizaes clssicas, iniciando-se uma crescente demanda
pelo saber e conhecimento nas prprias terras europeias, como j vimos, e das possesses
ultramarinas, onde existia um mundo desconhecido, cheio de mitos e lendas.
De uma forma exemplar existiram aventureiros como Silva Porto, que tendo estado no
Brasil, chega a Angola e, de uma forma autnoma, torna-se no primeiro a tentar uma travessia
do continente Africano (concretizada em 1853), acompanhando mercadores rabes. Nesta
expedio contactou com tribos indgenas, registando novidades. de destacar tambm o seu
encontro com o famoso Livingstone, a quem forneceu informaes do caminho a seguir at
Luanda.
Ao longo do sculo XIX a revoluo industrial alastra-se por toda a Europa; com ela
proporciona--se um desenvolvimento econmico e tecnolgico e um novo quadro social.
Neste, destaca-se uma crescente classe mdia que protagoniza uma nova mentalidade que
acredita no progresso e na cincia positivista. As inovaes tcnicas em diversos campos
asseguram esta evoluo como algo de positivo, necessrio e indispensvel, a que ningum
alheio e que todos querem partilhar.
Surgem homens fascinados pela vaga de novas cincias, um corpo de sbios que se
interessa por diversos campos do desenvolvimento Biologia, Etnologia, Antropologia,
Arqueologia, Geografia, entre outros. So estes homens, seduzidos pelo desconhecido, que
vamos encontrar na formao de Sociedades, que vo dinamizar actividades culturais como as
expedies cientficas por mar e por terra, nomeadamente ao interior dos continentes. Por
parte de Portugal, as expedies ao continente africano, numa primeira fase, at ao terceiro
quartel do sculo XIX, tm um carcter comercial e aventureiro, como o caso de Silva Porto;
numa segunda fase, aps a dcada de 70, tm objectivos essencialmente polticos, no contexto
da corrida a frica, tentando assegurar territrios. Nestas h uma maior preocupao
cientfica de registar tudo o que se apresenta aos olhos dos europeus, sejam etnias, flora,
fauna, recursos mineralgicos e hidrolgicos, bem como a elaborao de mapas.
Desta forma, em meados de 1877, o major Serpa Pinto parte para Benguela e rene-
se com outros dois exploradores: Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, iniciando assim a
primeira expedio cientfica no continente africano.
Um outro arquelogo que merece destaque pela qualidade e quantidade das suas
publicaes Estcio da Veiga, que devido aos desenhos que executou com rigor na sua
31
poca, nos permite hoje estudar alguns dos j desaparecidos monumentos pr-histricos em
Portugal. Este facto comum maioria dos arquelogos do sculo XIX, demonstrando a
importncia do registo em desenho de artefactos e estruturas para um futuro estudo.
No incio do sculo XX, Petrie considerou que a escavao estava subordinada a dois
objectivos: (...) obter a planta e informao topogrfica (...) e antiguidades transportveis
(...) (Harris, 1989).
De facto, o desenho foi tendo uma longa evoluo, tanto na sua vertente esttica
quanto na sua vertente tcnico-cientfica. As suas preocupaes iniciais prendiam-se
basicamente com a complementarizao grfica de textos, ilustrando o que era descrito. Hoje,
o Desenho Arqueolgico descende no s da sua vertente ilustrativa, mas tambm de reas
com maior rigor cientfico e tcnico, constituindo no s uma forma de ilustrao, mas
tambm de informao.
Da que designamos por desenho tcnico, ainda podemos subdividir em trs grandes
campos:
- Desenho de Arquitectura
- Engenharia
- Ilustrao Cientfica
- Desenho de Reconstituies
Desta forma podemos ainda dizer que existe no apenas um tipo de Desenho
Arqueolgico, mas vrios, com base nos tipos de desenho que lhes deram origem, ou aos quais
se foram buscar ferramentas tcnicas e bases tericas:
32
- Mapas e Cartas arqueolgicas (executadas com base em fontes pr-existentes, ex:
Servios Geolgicos de Portugal, Servios Cartogrficos do Exrcito, etc.)
- Estratigrafias
- Artefactos:
Elementos essenciais:
33
3-Elementos de normalizao como sejam as vistas do cubo de projeco (pelo
mtodo americano ou europeu), os traos de continuidade, traos de ligao, seces, escala,
etc.
Elementos secundrios:
5-Textura da pea, que pode no ser secundrio no caso do metal, por exemplo.
6-Cor.
Estes contedos tm sido alvo de discusso entre os profissionais para tentar atingir
valores de normalizao, tendo-se apenas na dcada de 70 do sculo XX iniciado o dilogo
internacional sobre a questo. Por exemplo, convencionou-se que a luz projectada no objecto
teria uma orientao de 45 vinda do canto superior esquerdo (o que pode no constituir
regra para alguns materiais); que se faria uso da representao atravs do cubo de projeco,
entre muitos outros.
- Era por vezes usada a cor e o excesso de texturas que perturbavam o contraste
necessrio para um melhor entendimento da forma e decorao (ex: cermica).
34
universal. Por exemplo: a utilizao de escala, ttulo, legenda, o uso de seces, traos de
ligao e de continuidade, entre outros.
- Na pedra lascada representavam a pontilhado aquilo que hoje seria feito com linhas
curvas representativas da fractura concoidal, tpica deste tipo de artefactos.
- Os metais que poderiam muitas vezes ter texturas, visto serem formas simples, sem
grandes sombras e no decorados (com o intuito de representar eventuais concrees, dando
uma ideia do estado de conservao), eram representados de uma forma simples, muitas
vezes sem sombra.
NOTA: Muitos dos aspectos aqui referidos so ainda hoje esquecidos pelos
desenhadores e investigadores pelo facto de, ao contrrio de outros tipos de desenhos, em
Arqueologia a necessidade de normalizao ainda no ser consensual.
De uma forma rpida, podemos ainda falar de mais exemplos de caractersticas actuais
do desenho de materiais, tendo em conta que elas so muito mais vastas do que as
apresentadas, e que, como se diz em Conservao e Restauro cada caso um caso:
os lticos - a evoluo do desenho deste tipo de artefactos, para alm das acima
citadas, prende-se em muito com a necessidade de entendimento global e imediato por parte
dos investigadores, tendo-se criado normas para representar diferentes tipos de pedra em que
os objectos so executados, por exemplo (e abreviando muitssimo), comparando as diferentes
texturas usadas: para a pedra polida, temos pontilhado criando o volume das peas atravs do
efeito de sombra, ao passo que para a pedra lascada (no caso do slex), as linhas so curvas
sugerindo no s a fractura concoidal da matria-prima mas tambm o volume, expresso
atravs do tamanho, orientao, espessura e espao entre as linhas;
35
a cermica a torno - esta difere da cermica manual a nvel de representao, pois
prescinde da sombra, evidenciando caso exista, a decorao e assinalando as marcas de torno;
36
grficas que vo desde a simples fotocpia, cpia heliogrfica e serigrafia para publicao,
entre outras);
Desenho de cortes - tm muitas vezes uma janela da localizao de onde foi feito o
corte, contendo ainda elementos como a altimetria e escala, estando associados com as
plantas gerais, que por sua vez tm assinalados os cortes efectuados, cotas, orientao,
quadrcula e escala.
Seguidamente apresenta-se uma breve lista dos principais materiais que se utilizam
para desenhar no campo e em gabinete, para alm de toda a panplia de material informtico
que pode ser usado como auxiliar na sua elaborao e como arquivo: Compasso; compassos
de pontas curvas; paqumetro; perfilador ou pente de perfis; diedro; esquadro graduado;
rgua flexvel (cobra); rgua graduada; escalmetro; lupa de mo; lapiseira; lpis de cor;
37
canetas de tinta da china; tinta da china; X-Acto; papel milimtrico; pelcula de polister;
borracha macia; plasticina; fio de prumo; fita mtrica malevel; fita mtrica de metal; metro
articulado; prancheta de desenho.
11. EM CONCLUSO
38
12. IMAGENS
39
Figura 5: Serpa Pinto
40
Figura 8: Estcio da Veiga
41
Figura 11: Litografia do sc. XIX Cermica
42
Figura 14: Prancha actual de Lticos
43
Figura 16: Prancha actual de Metais
44
Figura 19: Enxs de pedra polida Gruta I de Senhora da Luz Rio Maior
Figura 20: Alabarda e Punhal - Gruta IIb Senhora da Luz Rio Maior
45
Figura 22: Pontas de seta e punhal em cobre Algar Joo Ramos, Alcobaa
46
Figura 26: Prancha com furadores de osso. Gruta do Escoural Montemor
Figura 27: Figura feminina em cermica, com reconstituio parcial. Minas de Gav Espanha. Segundo Bosch e Estrada.
47
Figura 28: Placa de Xisto. Gruta do Furadouro da Rocha Forte Cadaval.
Figura 30: Objectos de cestaria. Gruta de los Murcilagos de Albol. Desnho de Gngora, 1868.
48
Figura 31: Carta Arqueolgica do Alandroal
49
Figura 33 e 34: Planta e corte de estruturas das termas de Tongbrica Marco de Canavezes
50
Figura 37: Reconstituio do povoado do Torro Elvas. Desenho de Pedro Mendes
51
Figura 41 e 42: Fotografia e desenho de pintura a cor negra cabea de cavalo. Gruta do Escoural
52
Figura 43 e 44: Fotografia e desenho de Alabarda em cobre. Algar Joo Ramos Alcobaa.
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53
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54
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56
A FOTOGRAFIA AREA NA ARQUEOLOGIA
Anabela Carvalho
57
A Fotografia Area na Arqueologia
Anabela Carvalho
RESUMO
No que diz respeito cartografia area, o avio voa altitude mais adequada escala
mdia da fotografia que se pretende para o mapa. Para tal, as fotografias so tiradas na
vertical, com o avio voando alternadamente num sentido e em sentido inverso ao longo de
faixas contguas. Garantindo que todas as reas parciais do solo sero fotografadas pelo
menos duas vezes. O mesmo acontece com o satlite, embora este consegue obter imagens
atravs de sensores que posteriormente so enviados para a terra.
ABSTRACT
In the past, cartographer would climb to the top of a hill with their instruments and
equipment. The first aerial photographs taken were used to make maps and were taken in
1851 by the Frenchman, Aim Laussedat, he overflew the fields in a hot air ballon and later he
managed to identify an archaeology site. With the passing of time, present day cartographers
use a similar process as used by their oldest predecessors: their climb or send instruments
(satellites) to a high enough point to have a general view of the area that they want to map.
Concernig aerial photography, the plane flies at the adequate altitude according to the
photograph needed for the scale that is used for a map. The photographs are taken in the
vertical, with the aircraft flying alternately one way, then back again along adjoining strips. This
guarantees that all the areas of the ground are photographed at least twice. The same
happens with a satellite, though this is able to obtain images by its sensors which are then sent
to Earth.
58
The purpose of these photographs (aerial and satellite) in archaeology is to identify
archeological sites, for this it is necessary to make a study of nature in order to discover
archeological sites, which many times can be identified by the characterist of relief.
1. INTRODUO
Ao longo deste trabalho pretendi apresentar de modo sucinto uma breve Histria da
fotografia area e por satlite, abordando alguns aspectos importantes, tais como: a fotografia
area na Arqueologia, as suas tcnicas de execuo, a interpretao da fotografia area e por
satlite, as vantagens e desvantagens das vrias pelculas, a sua aplicao e o seu equipamento
de leitura. Tendo em conta que, actualmente, antes de se tirar fotografias areas de uma
determinada zona necessrio, seleccionar a rea, criar um plano de voo, verificar as
condies climticas e saber qual a melhor altura do ano.
Em termos tcnicos, considera-se uma fotografia area como aquela obtida por meio
de cmara area rigorosamente calibrada (com distncia focal, parmetros de distoro de
lentes e tamanho de quadro de negativo conhecidos), com o eixo ptico da cmara prximo da
posio vertical numa aeronave devidamente preparada e homologada para receber este
sistema. Assim, a observao area d ao observador a possibilidade de conhecer elementos
que no solo pareciam isolados, lig-los e agrup-los em conjuntos, quer estes sejam
geogrficos, histricos ou arqueolgicos.
A arqueologia a cincia que estuda o antigo no seu sentido mais alargado (pocas
pr-histrica e histrica), com recolha, descrio e estudo sistemtico da cultura material com
a ajuda de tcnicas apropriadas. Para isso, necessrio a realizao de busca s estaes
arqueolgicas, a partir da fotografia area e fichas de prospeco realizadas durante o voo. Em
geral, esta prospeco faz-se depois de ter estudado e obtido o mximo de informao sobre a
regio, demonstrando que esta importante no ponto de vista arqueolgico.
59
Assim, a informao obtida a partir da arqueologia constitui documentao histrica,
pelo que se deveria pensar na arqueologia mais como uma fonte da histria do que como uma
sua cincia auxiliar. Possui um carcter disciplinar, empregando conhecimentos oriundos das
cincias exactas (fsica, qumica), naturais, da geografia, da estatstica, da arquitectura, da
histria da arte, etc.
Tendo em conta que os vestgios recentes, sepultados com terra pela mo do Homem,
so menos visveis do que os vestgios antigos, que foram lentamente enterrados pelo hmus.
No que diz respeito fotografia area, inicialmente esta era tirada do cimo de um
monte, caso contrrio subir-se-ia a uma rvore (S.A.,1991: 54).
Mais tarde, em 1842, surge o primeiro registo, realizado por Francis Arago (director do
Observatrio de Paris) atravs de imagens fotogrficas com o objectivo de auxiliar
levantamentos topogrficos. De seguida, Daguerre desenvolveu o balo cativo de ar quente,
sendo este utilizado em 1849 pelo Coronel Aim Laussedat e em 1858, Nadar atravs do balo,
consegue obter um alvar para fotos aerostticas destinadas realizao de levantamentos
civis e militares (Busselle, 1979: 33). Assim, a necessidade da fotografia area fez-se sentir
cada vez mais. J em 1888, tiraram-se fotografias de altitude, a partir de um foguete cuja
queda retardada por um paraquedas (Frdric, 1980: 63).
60
Assim, em 1930, desenvolveu-se a pelcula fotogrfica area infravermelha e, em 1935
desenvolveu- se a pelcula colorida, ambas produzidas pela empresa Eastman-Kodak. Na
pelcula infravermelha a camada sensvel a verde representada em azul, o vermelho em
verde e o prximo do infravermelho em vermelho. Esta tem como vantagens uma melhor
penetrao na nvoa, alguns objectos de imagem so representados com melhor realce (ex:
delineao entre corpos de gua e vegetao), permite fazer a diferenciao entre folhosas e
conferas (apresentam-se de cor verde mais azulado do que uma caduciflia) e distino entre
vegetao sadia e estressadas. No entanto, tem como desvantagem ser muito sensvel s
variaes de temperatura e humidade, requer armazenamento a baixa temperatura e
revelao imediata aps a exposio, a fim de evitar a degradao qumica nas diversas
camadas. Enquanto que, a pelcula colorida, apresenta grande detalhe devido sua
representao a cores reais possuindo muito mais sensibilidade aos fenmenos atmosfricos
(bruma, poluio) do que o filme Branco & Preto, este o mais usado na fotografia area pelo
seu baixo custo e pela sua resposta espectral ser bem prxima do espectro visvel do olho
humano; os tons de cinza permite uma fcil interpretao de elementos naturais ou
produzidos pelo Homem. Tem como principal desvantagem ser sensvel bruma atmosfrica
reduzindo o contraste da imagem.
61
estereoscpico de imagens. O par estereoscpico de imagens permite determinar a posio
topogrfica de um ponto do terreno a partir das suas fotocoordenadas, nas duas imagens, e
dos parmetros das duas imagens (Frdric, 1980: 76).
Alguns voos, tais como os voos destinados ao levantamento de faixas do terreno para
o projecto de vias de comunicao, no podem respeitar as orientaes regulares.
A interpretao das fotografias areas faz-se pelo exame a olho nu (ou com uma lupa)
ou ento com a ajuda de um estereoscpico, de fotografias simples ou estereogramas, por
comparao das diversas fotografias do mesmo stio, tiradas em horas, pocas e pontos de
vista diferentes. preciso observar, para alm das marcas visveis e facilmente identificveis,
as formas (reconhecer pormenores naturais irregulares como tambm os pormenores
artificiais), as dimenses (fazer comparaes com objectos j conhecidos), as tonalidades de
cada pormenor (reconhecer as diferenas de intensidade de tons negros ou carregados)
(Renfrew, 1996: 70). Muitas das vezes, os prprios montes de feixes de cereais, os traos de
tractores, as mquinas agrcolas, podem induzir em confuses. Por exemplo, as zonas
hmidas, mais sombrias do que as outras, notam-se facilmente devido a permanecerem mais
hmidos apresentando-se mais carregados, o que leva a determinar muitas das vezes culturas
radiantes. Alm disso, determinadas rvores (linhas de choupo, amendoeiras isoladas numa
paisagem seca), cujas tonalidades so diferentes de espcie para espcie, podem levar
determinao de um poo ou de uma fonte. Tendo em conta que os vestgios recentes,
sepultados com terra pela mo do Homem, so menos visveis do que os vestgios antigos, que
foram lentamente enterrados pelo hmus.
62
geral, nos cavados onde o terreno mais hmido, as culturas e as plantas so mais verdes,
altas e crescem mais rapidamente, enquanto que sobre as estruturas enterradas as mesmas
sero mais secas, pouco desenvolvidas e o crescimento menos rpido porque o terreno mais
compacto e mais seco.
6. APLICAO CARTOGRFICA
Para isso, preciso ter em conta a fotogrametria que, permite determinar a dimenso
dos objectos graas a medies verificadas nas perspectivas dos mesmos. Esta tcnica, alm da
sua aplicao corrente em cartografia, emprega-se tambm para estudar monumentos e
conjuntos arquitectnicos (Sougez, 2001, p. 209). A interpretao da fotografia area de uma
dada regio permite ento realizar, segundo as informaes recolhidas, cartas do passado da
regio, como as cartas da ocupao do solo em vrias pocas onde pode indicar as
modificaes do meio, nomeadamente as sucessivas ocupaes do solo como tambm a
utilizao de tcnicas diferentes; as cartas das vias e povoados em diversas pocas e as cartas
de fragmentao de construes. Estas cartas analisadas comparativamente, podem levar
criao de cronologias relativas que podero posteriormente tornar-se muito teis ao
arquelogo na sua investigao de testemunhos.
Por isso, a fotografia area tem como objectivo registar tudo aquilo que ocorre
superfcie terrestre para posteriormente poder-se aplicar ao nvel da cartografia como
tambm em cartas militares, nomeadamente: mapas topogrficos e mapas temticos
fornecendo informaes acerca dos relevos, vegetao, rede hidrogrfica, cidades, estradas,
caminhos de ferro, actividades industriais, tipos de solo, etc (S.A.,s.d.: 84).
63
O primeiro satlite artificial da Terra, o Sputnik I, foi lanado pela Unio Sovitica a 4
de Outubro de 1957 e em 1961 foi lanado a espaonave Mercury MA 4.
Desde essa data, muitos outros satlites tm sido lanados com as mais diversas
finalidades: comunicaes, meteorologia, televiso, investigao cientfica, aplicaes
militares, entre outras. Os satlites em rbitas de baixa e mdia altitude (da ordem das
centenas e dos milhares de quilmetros, respectivamente) tm perodos de rotao que vo
desde cerca de uma hora e meia at algumas horas, sendo "vistos" pelas estaes terrestres
durante perodos de tempo que vo desde alguns minutos at algumas horas. Os satlites em
rbita geostacionria tm um perodo de translao de 24 horas, deslocam-se no mesmo
sentido de rotao que a Terra e mantm-se no plano equatorial. Permanecem, assim, ao
longo do tempo, na mesma posio em relao Terra.
No entanto, antes da criao dos satlites orbitais, utilizavam-se trs mtodos, a partir
de avies (que transportam telescpios podem voar a grandes altitudes, cerca de 20 Km, para
recolha de informaes mais vastas na banda do infravermelho; a partir de bales (mais acima
da superfcie terrestre, cerca de 50 Km de altitude, transportam instrumentos de medio at
s reas do ultravioleta, medida que o balo sobe, vai-se tornando mais redondo, at
alcanar a presso zero, altura em que rebenta (tendo j transmitido os seus dados), alguns
transmissores regressam Terra de pra-quedas; e, por fim, a partir de foguetes de
sondagem (estes voam a uma altitude de cerca de 100 Km ou mais, penetrando na regio dos
raios X, enquanto que, os satlites podem transportar instrumentos a altitude suficiente para
registar dados em todos os comprimentos de onda do espectro electromagntico., pelo facto
de ser mais econmico e o tempo de observao ser mais reduzido) (S.A., s.d.: 129).
64
Os pares estreo, so formados a partir de duas imagens Spot, adquiridas com
diferentes ngulos de viso em trajectrias diferentes e com o mnimo de sobreposio de 60
%, adquiridas com a tcnica da fotogrametria. Tambm podem ser utilizados satlites
geodsicos para monotorizar uma vasta gama de outros factores, como o uso e gesto de
terras e os efeitos de poluio como tambm efeitos meteorolgicos (S.A., s.d.: 89).
A interpretao das fotografias por satlite, faz-se de igual modo como na fotografia
area (geralmente examina- se a olho nu), atravs da comparao das diversas fotografias do
mesmo stio, tiradas em horas, pocas e pontos de vista diferentes. Sendo necessrio
observar, para alm das marcas visveis e facilmente identificveis, as formas, as dimenses, as
tonalidades, as superfcies, as sombras e os relevos. Como exemplo, o satlite Lansdat tira
fotografias do solo com sete comprimentos de onda diferentes. Trs so visveis; azul, verde e
vermelho; os outros so as ondas infravermelhas ou quase infravermelhas, invisveis aos olhos
humanos. Estas diferentes faixas de cor permitem distinguir diversos terrenos ou coberturas
vegetais, sendo os contrastes entre diferentes tipos de vegetao mais destacados com raios
infravermelhos do que com as frequncias visveis. Alm disso, os satlites que utilizam a
fotografia por infravermelhos ajudam tambm a identificar o grau de secura de uma regio (a
quantidade de gua nas folhas de uma planta determina a quantidade de radiao
infravermelha que a planta reflecte (S.A.,1991: 174). Como tambm, revelam falhas nas
rochas, alm de abbadas e inclinaes nos estratos rochosos (S.A.,1991: 175).
65
base e temtica, na geologia, para fins militares, para o estudo de ventos solares e outras
disciplinas que necessitem de informao geogrfica actualizada sobre a superfcie terrestre.
12. CONCLUSO
Assim, pode-se concluir que a fotografia por satlite como a fotografia area
necessitam para a realizao de coberturas estereoscpicas de uma sobreposio de imagem
cerca de 60%. No entanto, diversos satlites nomeadamente o Landsat tira fotografias do solo
com sete comprimentos de onda diferentes, a uma altitude suficiente para recolher dados, o
que no acontece com o avio, pois este s poder atingir uma altitude de cerca de 20 Km
conseguindo tirar dentro da banda do espectro electromagntico os raios infravermelhos. As
diferentes faixas de cor obtidas quer por fotografia area quer por satlite, permitem
distinguir assim, diversos vestgios nos terrenos ou nas coberturas vegetais, atravs: da altura
e densidade da vegetao, da concentrao de humidade, das variaes de tonalidade da
vegetao na superfcie do solo e da presena de baixos relevos nas superfcies.
Alm disso, as fotografias por satlite revelam alm de falhas nas rochas, inclinaes
nos estratos rochosos como tambm o tipo de culturas do solo.
BIBLIOGRAFIA
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66
S.A. (s.d.) A Terra- Enciclopdia do Conhecimento Cincias e Tecnologia. Rosomnia Editors.
67
DATAO EM ARQUEOLOGIA
68
Datao em Arqueologia
Joo Manuel Coelho
RESUMO
Este trabalho procura dar uma noo geral sobre datao relativa e absoluta, como
mtodos e servir como referencia para as tcnicas de datao arqueolgica mais usadas e
promissoras, compreendendo a tcnica estratigrfica como datao relativa e as tcnicas de
datao absoluta, do radiocarbono e potssio-rgon.
ABSTRACT
1. INTRODUO
69
As tcnicas de datao usadas em arqueologia variam consideravelmente em preciso
e na natureza dos materiais a datar, sendo que a determinao de datas pode ser directa ou
indirecta.
2. DATAES RELATIVAS
70
encontrados em diferentes camadas. O princpio foi criado pelo anatomista dinamarqus
Nicolas Steno (Dutch, et all, 1998), que reparou durante a ocorrncia de cheias no processo de
deposio sedimentar. Observou que a mesma se processava por assentamento de camadas
de sedimentos, umas sobre as outras onde vrios organismos eram como que apanhados
pela deposio sedimentar das cheias, criando assim um registo fssil, geolgico e, porque
no, arqueolgico.
4. DATAES ABSOLUTAS
A necessidade de mtodos mais exactos de datao foi sempre patente, pois tornava-
se necessrio encontrar marcos temporais mais bem definidos para poder desenvolver a
datao relativa que se desenvolvia por comparaes. Nos anos quarenta, o senhor Willard
Libby, descobriu que o carbono-14 presente em matria orgnica morta, se alterava com o
passar do tempo a uma determinada velocidade podendo, a partir desse estudo ser medida e
uma data exacta determinada. Esta descoberta constituiu uma revoluo para as tcnicas de
datao e o incio da datao absoluta, ou seja, a determinao de uma idade exacta para um
objecto.
71
alterao expressa em termos de um meio ciclo, ou seja, quanto tempo necessrio para
que metade dos tomos numa amostra do istopo radioactivo se alterem para uma estvel.
Comparando a quantidade residual do istopo original numa amostra, com a quantidade do
produto alterado e, por fim, comparando isto com o meio ciclo do istopo possvel
determinar h quanto tempo dura o processo de alterao.
Em1947, durante a sua estadia no Instituto de Estudos Nucleares, Libby com a ajuda
dos seus alunos, desenvolve a tcnica do radiocarbono, utilizando um contador Geiger muito
sensvel. Ele testou este processo em objectos de idade conhecida, como madeiras de
sarcfagos Egpcios, com bons resultados. Mais tarde chegou a considerar a tcnica adequada
para dataes at 50 mil anos.
72
Em 1954, enquanto estava em Chicago, tornou-se no primeiro qumico a ser nomeado
para a comisso de energia atmica, neste cargo liderou o projecto internacional do
presidente Eisenhower, tomos para a Paz, onde estudou os efeitos da poeira atmica.
O seu grande contributo foi, sem dvida, a tcnica de datao por radiocarbono,
acabando por receber o prmio Nobel da qumica, em 1960. Publicou em 1952 Radiocarbon
Dating.
73
tipos de valores: a estimativa em mdia de idade e o erro tipo, ou seja, o nvel de erro
estatstico que reflecte a natureza ocasional da emisso radioactiva e outros factores que
podem afectar as medies. Este factor de erro crtico na aferio da probalidade da prpria
baliza temporal em que se enquadra a provvel data, sendo que a datao por radiocarbono
no indica uma particular e especfica data, mas sim uma baliza temporal onde provavelmente
se enquadra essa mesma data especfica. Um resultado de 9000100B.P. indica que h uma
possibilidade de 67%, de a data real se encontrar entre 8900 (9000 menos 100) e 9100 (900
mais 100 anos) B.P., duplicando o factor de erro para 8800-9200 B.P. aumenta a ocorrncia
para 95%, da data se encontrar dentro desta baliza. Assim, h um compromisso na
interpretao entre a preciso da data por radiocarbono e a confiana que o arquelogo ter
nela. Ento, o factor de erro torna-se to significativo como a estimativa de data, pois sem este
torna-se impossvel determinar a preciso da medio.
O material mais usado para datar quase sempre o carvo vegetal apesar de, em
princpio, qualquer material orgnico ser susceptvel de ser datado, sendo a amostra retirada
com todo o cuidado para qualquer contaminao, colocada em embalagens seladas, devendo
o contexto da amostra ser tambm correctamente documentado (posio estratigrfica e
associaes).
74
avanos previstos para esta tcnica apontam para uma diminuio no tamanho das amostras e
uma crescente preciso e autonomia temporal, permitindo este mtodo datar at 90 mil anos.
75
Durante uma erupo vulcnica, as altas temperaturas libertam todo o rgon dos
cristais da rocha, sendo que, terminada a erupo a rocha inicia novamente, com a formao
de novos cristais, a alterao do K- 40 para Ar-40. Assim, contendo a rocha somente Ar-40,
produzido depois de arrefecida, comparando a proporo de K-40 em relao a Ar-40, numa
amostra de rocha vulcnica que ainda contenha todo o gs e sabendo a taxa de alterao de K-
40, pode determinar-se a idade em que a rocha se formou, ou seja, a data aproximada em que
a rocha arrefeceu, depois da erupo vulcnica.
Recentemente, surgiu uma variante desta tcnica, mais sensvel e menos susceptvel
de contaminao durante o processamento laboratorial, requerendo mesmo uma menor
amostra, chegando apenas para uma datao, um singular cristal de rocha vulcnica. Nesta
tcnica o istopo estvel Potssio-39 convertido num istopo artificial de rgon-39, que
ento comparado com o rgon-40 para determinar a proporo entre os dois e a idade
estimada da amostra.
15. LIMITAES
76
A tcnica requer depsitos vulcnicos, resultando com quase todas as rochas gneas e
vulcnicas, sempre que a rocha no apresente indcios de ter sido exposta a um novo processo
de aquecimento e recristalizao, depois de ter sido formada, sendo recomendado que as
amostras sejam recolhidas por gelogos experientes. Determina idades indirectamente para os
materiais arqueolgicos, por relao com a datao dos depsitos rochosos. particularmente
indicada para stios onde se formou uma camada de lava, que cobriu a camada de vestgios a
estudar e datar, as datas ento obtidas com este mtodo indicam que os materiais
arqueolgicos no podem ser mais novos que os estratos de lava.
Apesar dos factores de erro associados a esta tcnica serem por vezes substanciais, na
ordem de 20 mil a 50 mil anos, dando uma preciso de 10%, estes factores perdem
importncia face s idades muito avanadas das amostras.
16. CONCLUSO
77
BIBLIOGRAFIA
DUTCH, S.I.; MONROE, J.S.; MORAN, J.M. (1998) Earth Science. Belmont Ca: West Wadsworth
Publishing Inc., p. 239-242.
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RENFREW, C.; BAHN, P. (1996) Archaeology, Theories Methods and Practice. London/New
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DOCUMENTOS ELECTRNICOS
ONEIL, D. (2000) The Record of Time, Relative Techniques. Disponvel em www: <URL:
http://anthro.palomar.edu/time/time_3.htm>
78
HISTRIA DA CONSERVAO E RESTAURO E ARQUEOLOGIA
Gonalo Velosa
79
Histria da Conservao e Restauro e Arqueologia
Gonalo Velosa
RESUMO
ABSTRACT
This work refers to the history of conservation related with archaeological aspects in a
synthetic way. It is not much developed due to the limitations of pages as also to the running
schedule. This article reaches since the earlier concerns of conservation, till the most modern
concept of archaeological conservation.
1. INTRODUO
2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO
Os primeiros restauros eram feitos nas oficinas dos artesos e artistas das grandes
civilizaes. A transio destas origens para o conceito moderno de conservao do interesse
particular da conservao arqueolgica.
80
Os restauradores que trabalharam na recuperao de Herculaneum, Pompeia e Estbia
influenciaram os acadmicos e cientistas da poca em que foram descobertas, destacando-se
Winckelmann com as suas teorias. O desejo de querermos observar os objectos na sua forma
original e de diferenciarmos rplicas/original levou- nos procura de procedimentos
cientficos. Estes juntamente com a necessidade de estabelecermos a origem da sua
manufactura e um desenvolvimento sistemtico de critrios para resolvermos as questes dos
materiais dos objectos e suas tcnicas fez com que introduzssemos a anlise qumica nos
artefactos antigos.
81
de Alcubierre ficou responsvel pelas escavaes at sua morte em 1780. No dia 24 de Julho
de 1755, o rei providenciou uma legislao para proteger a importante herana de Roma e na
rea de Npoles. Esta proclamao incide principalmente os objectos encontrados em
escavaes e mantidos guarda da casa real nas suas coleces.
Na 2. metade do sc. XVIII e no comeo do sc. XIX, as cidades antigas de Siclia foram
includas no circuito turstico, e, visitadas por milhares de turistas.
Nos finais do sc. XV, existiam 40 coleces em Roma, mas durante o prximo sculo
elas aumentaram devido ao aumento de construes e escavaes. Julius II (1503-1513)
nomeou Bramante para construir um jardim na Villa Belveder no Vaticano para seleccionar as
esttuas antigas e coloca-las no jardim. Durante o sc. XVII, foram descobertos outras obras e
os preos subiram para os pequenos coleccionadores.
82
O restauro fazia parte da actividade normal de qualquer escultor, e poderia ser usado
como teste das capacidades de um artista. Por esta altura discute-se: o conceito de restauro. A
maioria queria completar os fragmentos da obra de arte de maneira a tornarem-se mais
aprazveis e agradveis; e existiam outros que admiravam a qualidade da obra original em
demasia para poder restaur-la; por um lado preserva-se a esttua no seu estado original, e
por outro lado, o restauro da sua forma que poderia ser a original. Esta questo no era a de
restauro moderno, mas uma reintegrao esttica tendo como base uma ideia da forma
original. Vrias esttuas monumentais foram restauradas para espaos pblicos, como por
exemplo, Capitol Hill por Miguel ngelo que constri uma estrutura volta da esttua de
Marcus Aurelius.
Orfeo Boseli (c. 1600 -?) discpulo de Francis Duquesnoy escreve um tratado sobre as
esculturas antigas, apresentando o princpio da pose, propores e iconografia. Esta anlise
era a preparao essencial para uma correcta restaurao e admirava restauros feitos por
Bernini, Algardi e Duquesnoy.
Raphael Mengs (1728-79) era um terico do neoclassicismo, prepara uma teoria sobre
as integraes na escultura, e afirma que existe regras para distinguirmos as partes
restauradas da parte original.
Bartolomeo Cavaceppi, publica os seus restauros, e indica quais as partes que foram
restauradas e qual era a parte original. Primeiro, afirma que o restaurador tem de ter um bom
conhecimento de histria da arte e de mitologia, que se ganha consultando especialistas nessa
rea. Segundo, os novos fragmentos devem ser feitos com o mesmo tipo de mrmore igual ao
da escultura original e respeitando a inteno artstica da obra. Terceiro, aponta que quando
adicionamos os fragmentos obra estes tm que ser reajustados superfcie original. O
objectivo do restauro tinha fins didcticos. Estuda em especial o tratamento das superfcies
das esttuas antigas. Afirma que os restauradores queriam suavizar esta superfcie, perdendo
assim qualquer trao da potencialidade do escultor da antiguidade. Seguindo a linha de
pensamento de Winckelmann, afirmou que antes de recuperarmos ou restaurarmos uma
escultura mutilada devemos definir e compreender o seu significado original. Todos os
tratamentos devem ser efectuados de acordo com o material original, e devem ser
compatveis com as intenes do artista da obra. Por outro lado, reconhece que devemos dar
prioridade admirao da obra de arte original, e consequentemente as restauraes e
adies modernas no devero desviar o observador ou artista no estudo do objecto. O
restauro dever ser relacionado com o objecto original.
83
5. FRIEDERICH RATHGEN: O "PAI" DA CONSERVAO ARQUEOLGICA MODERNA
84
Com a metodologia cientfica a tecnologia da altura foi rapidamente aplicada para a
resoluo de problemas que teriam resultados desastrosos se no fossem analisados. Por
exemplo, Leechman avisou o uso de nitrato de celulose dissolvido em acetona como um
consolidante de vrios materiais. No entanto esta nova tendncia do uso de tratamentos
qumicos foi questionada muito cedo por Gettens, que sugere o uso da soluo de celulide ou
parafina era inadequado em alguns objectos.
Nos ltimos vinte anos tem-se verificado uma utilizao de produtos sintticos
utilizados para a conservao e restauro. Este processo informal desenvolve-se ao mesmo
tempo que a disciplina amadurece. Com o passar do tempo tornou-se evidente que estes
tratamentos em tempo real e os efeitos em variadas condies podero produzir resultados
inesperados.
85
pesquisa ou anlise. A pesquisa e a experimentao dever ser feita pela recuperao e
preservao dos artefactos.
Ao longo de 40 anos a conservao tem sido desenvolvida para uma parte integrada da
arqueologia. Exige no s um alto nvel de habilidade mas tambm uma compreenso do
processo da arqueologia, um conhecimento do material cientfico e de tecnologias avanadas.
The United Kingdom Institute of Conservation of Historic and Artistic Works tem
produzido directrizes sobre estas questes complicadas da tica nas reas de conservao
arqueolgica.
A conservao arqueolgica requer muita pesquisa para vrios problemas, como por
exemplo recuperao de muitos metais retirados de escavaes ou desenvolvimento de
polmeros sintticos. Enquanto que o conservador obtm vrios dados e pesquisa novos
mtodos de conservao, este necessitar da ajuda de cientistas especializados em corroso
de metais e uma engenheiro qumico, havendo teoricamente, uma interdisciplinaridade de
variadas reas trabalhando todas para o mesmo fim.
9. CONCLUSO
86
BIBLIOGRAFIA
INSTITUTI PER I BENI ARTSTICO E NATURALI DELLA REGIONE EMILIA (s.d.) Archeologia
Recupero e Conservazione. Romagna: Editora Nardini.
MADSEN, H. B. (1994) Handbook of Field Conservation. [S.l.]: Royal Danish Academy of Fine
Arts/School of Conservation.
DOCUMENTOS ELECTRNICOS
87
ARQUEOISTORIOGRAFIA E IDENTIDADE NO CONTEXTO DAS
PESQUISAS ARQUEOLGICAS EM SAMBAQUIS
88
Arqueoistoriografia e Identidade no contexto das
pesquisas Arqueolgicas em Sambaquis.
Rafael Guedes Milheira
RESUMO
ABSTRACT
This paper intention is to presente the history of archaeology in Brasil by studing the
evolution in the history of sambaquis research. Its history is presented as well as the
nowadays perspective and interpretations through archaeohistoriography and achieving the
importance of the main researcher background when analising the interpretation.
89
Nesse sentido, a Arqueologia:
Ainda no sculo XIX, Peter Wilhelm Lund (1801 80) iniciou trabalhos de Arqueologia
na regio de Lagoa Santa, estado de Minas Gerais. Alm disso, eram desenvolvidos trabalhos
de Arqueologia em stios sambaquieiros da regio sul do Brasil e sobre as culturas do Baixo
Amazonas. (Gaspar, 2000c).
Foi elaborado um acordo entre a United States Agency for Inter-American Development e o
Ministrio da Educao e Cultura do Brasil, que gerou a reorganizao de todo sistema
universitrio nacional, sob a gide da ideologia de segurana nacional. (Funari, 1998b: 16).
1
Em 1937, foi criado o Dec-Lei n 25/37, que definia os parmetros para as pesquisas e a explorao dos monumentos
arqueolgicos, bem como no mesmo ano, foi organizado o Servio do Patrimnio Histrico e Artstico nacional, para promover no
territrio nacional: o tombamento, a conservao e a divulgao do patrimnio brasileiro. (Silva, 1996).
2
Paulo Duarte teve destaque, junto a outros profissionais, na criao de uma legislao mais abrangente de defesa do patrimnio
arqueolgico e histrico nacional, possibilitando a criao, em 1961, da Lei 3.924/61, que visava combater a degradao dos stios
arqueolgicos no Brasil, sobretudo os Sambaquis. Essa lei complementar s lacunas deixadas pela lei de 1937. (Silva, 1996).
90
Com a Ditadura Militar, foi implantada uma poltica de fortalecimento do poder
pblico com a organizao de rgos de represso e segurana nacional, os quais tinham
objetivos primeiros de manter a paz social e desenvolvimento econmico, baseados no
princpio da criminalizao da sociedade civil3
Essas teorias iam ao encontro dos interesses do poder pblico brasileiro, pois
permitiram o fortalecimento de uma poltica clientelista e a centralizao do controle das
prticas arqueolgicas nas mos de um grupo, o qual ficou responsvel pela avaliao dos
projetos de pesquisa no Brasil.
Esse grupo formou uma confraria que passaria a controlar escavaes, financiamentos,
publicaes, postos arqueolgicos e em museus, e, no menos importante, limitar a difuso de
perspectivas diversas. Mesmo estudiosos americanos, que tivessem posies interpretativas
diferentes, histricas, foram sistematicamente impedidos de trabalhar (FUNARI, 1998b:20).
3
Esse conceito de criminalizao de amplos setores da sociedade civil comeou a estruturar-se antes do golpe de Estado de
1964. as foras reacionrias, nacionais e imperialistas, engajadas na preparao do golpe, comearam a trabalhar os seus prprios
adeptos e outros setores sociais na tese de que a sociedade estava infiltrada, contaminada, doente, na iminncia de escapar ao
controle das classes dominantes, do capital financeiro e monopolista.. da por que todos os que divergiam desses interesses, ou se
opunham a eles, passaram a ser incriminados como subversivos, inimigos, estrangeiros, aliengenas, exticos. (IANNI, 1981:157).
4
Para facilitar a difuso e atingir os objetivos de padronizao da metodologia do PRONAPA foram publicados pelos
coordenadores: Guia para a Prospeco Arqueolgica no Brasil (1965) e Como Interpretar a Linguagem da Cermica (1970).
91
Pas que passaram a formar um nmero cada vez maior de pesquisadores qualificados. (Dias,
1995: 35).
Essa escola terica empirista, apesar de ainda ser bastante forte na Arqueologia
brasileira, sofreu uma crise de questionamentos por no conseguir atingir seus prprios
objetivos de classificao da totalidade das culturas pr-histricas evidenciadas pela
Arqueologia brasileira, bem como no atendeu aos novos conceitos tericos internacionais de
complexidade e diversidade cultural.
Neste sentido, enquanto as dcadas de 1960 e 1970 ficaram fortemente marcadas por uma
dose talvez exagerada de autodidatismo, empirismo, indutivismo e uma conseqente falta de
interesse por novos aportes tericos, apesar da grande quantidade de pesquisas realizadas,
algo que no foi monoplio da Arqueologia no Brasil, as de 1980 e 1990 testemunharam o
surgimento de uma gradativa e crescente transformao rumo a uma Arqueologia brasileira
mais dedutiva, erudita, heurstica, holstica, plural, social e teoricamente mais aberta,
preparada e diversificada. (Oliveira, 2002: 46).
92
Para responder a esse questionamento, trs correntes terico-metodolgicas se
desenvolveram. A corrente naturalista, explicava que os sambaquis tinham uma origem
natural, pois os processos de transformao da natureza teriam possibilitado a construo dos
montes dos montes de conchas e terra5. Nesse sentido:
Considerados restos de cozinha do homem primitivo, passaram e passam ainda como sendo
uma espcie de lata de lixo da Pr-histria ou acmulo de detritos nos quais predominam
conchas de moluscos, marinhos ou terrestres, entre ns ostras e berbiges principalmente, de
mistura sempre com instrumentos de pedra e osso, esqueletos ou parte de esqueletos de
animais e humanos, indcio que nos do a certeza de no estar definitivamente decifrado o
significado completo dsses depsitos (Duarte, 1968: 5).
Foram os estudos sobre raa que resultara na criao da categoria Homem de Lagoa Santa,
que tinha sua correspondente no litoral denominada Homem de Sambaqui. (Gaspar, 2000c:
14).
5
Para o pintor Calixto, o ndio era um eterno indolente e, portanto, a idia de que pudesse mariscar junto ao mar e trazer a
coleta at dezenas de quilmetros, onde se situavam os sambaquis, atingia as raias do absurdo. E de forma fantasiosa, descrevia
como os sambaquis ter-se-iam formado, graas a cataclismos, redemoinhos, dilvios e correntes netunianas, num hipottico mar
que teria existido onde hoje se encontra Santos (So Paulo). (SOUZA, A. M., 1991:78). Benedicto Calixto aderiu s teorias
naturalistas sobre a origem dos sambaquis de acordo com Lhering, o qual descreveu os sambaquis de Itanham e Santos em 1904.
93
estratificao social, mitos e simbolismos culturais, diversidade cultural, padro de
assentamento, etc. Alm de estudos etnogrficos, efetuados com comunidades de pescadores
na regio de Santa Catarina, que permitem entender alguns cdigos culturais e estruturas
sociais especficas de comunidades que se sustentam atravs da produo pesqueira. Nesse
sentido, as pesquisas em sambaquis integram-se no sistema de pluralismo terico-
interpretativo com base em estudos mais amplos, se utilizando dataes absolutas
sistematizadas em diversos stios dos principais complexos sambaquieiros do litoral brasileiro.
Alm disso, as equipes de arqueologia que pesquisam sambaquis, tendem cada vez mais a se
especializar sobre essa temtica, associando-se a outros profissionais especialistas em outras
cincias que acrescentam positivamente s interpretaes e conhecimentos, o que transforma
o trabalho arqueolgico interdisciplinar e objetivo.
Outro motivo a destruio dos monumentos quando das pesquisas, pois os mtodos
arqueolgicos exigem o arrasamento fsico de parte do stio pesquisado.
94
(sementes e coquinhos), provenientes dos restos alimentares depositados como detritos. So
conhecidos sambaquis com at 30 metros de altura por 400 metros de comprimento, como o
sambaqui de Garopaba no estado de Santa Catarina, completamente destrudo em 1971.
Geralmente os sambaquis medem em mdia 6 metros de altura por algumas dezenas de
metros por dimetro.
(...) No aceito a explicao corrente de que tais stios sejam resultado da maior oferta de
fauna marinha que caracterizou algumas regies nos ltimos 10 mil anos. (...) as condies
ambientais propiciaram o desenvolvimento de sociedades que se apoiavam na explorao de
recursos aquticos, mas a maior oferta desses recursos no explica o hbito cultural de
acumular restos faunsticos. Trata-se de intenso trabalho social que, em algumas regies,
resultou na construo de verdadeiras montanhas. (Gaspar, 2000c: 38).
A questo alimentar tem sido considerada uma das principais tendncias de pesquisas.
As interpretaes tradicionais sobre a dieta alimentar das populaes sambaquieiras afirmam
que a base da mesma a explorao dos moluscos e bivalves, pois so materiais encontrados
em grande abundncia nos stios, j que so os restos faunsticos que permitem a construo
da maior parte do sambaqui. No entanto, pesquisas recentes asseguram a interpretao de
uma diversidade alimentar bastante variada e mais complexa. Os estudos feitos sobre os
restos faunsticos e vegetais indicam que se tratam de populaes que exploravam boa parte
dos recursos naturais do ambiente, sendo considerados caadores-coletores e pescadores do
litoral.
Pesquisas recentes indicam que, apesar da grande quantidade de conchas encontradas nesses
stios, provvel ter sido a pesca a principal fonte de alimentao do grupo, e no a coleta de
bivalves. Por qu? Para ilustrar a razo tomemos dois tipos de lixo, ou de restos, deixados por
dois alimentos: moluscos bivalves e peixes. Quanto de uma ostra consumido e quanto
descartado? Do peso bruto de uma ostra teremos consumido menos de 20%, o restante a
concha. De um peixe ocorre o inverso, consumimos mais de 70% de seu peso bruto. Resultado
ao final da refeio: um monte de conchas e algumas espinhas. (Figuti, 2000: 201).
95
Note-se que, esse tipo de stio encontrado em vrios pases do mundo, porm no se
pode pensar nas sociedades construtoras de montes conchferos de forma homognea quanto
questo cultural. Mesmo entre os sambaquis situados no territrio brasileiro visvel uma
grande diversidade cultural, desenvolvida de forma heterognea e plural. As estruturas
culturais, bem como os smbolos e cdigos culturais no so padronizadas, no sendo possvel
conceber-se uma cultura sambaquieira. Temos que compreender os stios sambaquieiros
como construes dinamizadas pelas aes humanas inseridas no tempo e espao.
Durante o timo Climtico, entre 6.000 e 4.000 A.P., o clima foi muito mais quente e mido,
com maiores precipitaes pluviomtricas. As altas temperaturas continentais derreteram as
neves nas cadeias de montanhas dos Andes, o que provocou uma subida acentuada dos nveis
marinhos, 3 a 5 m acima da costa atual. Isto provocou intensas e extensas alternncias dos
nveis marinhos na plancie litornea. Tanto as transgresses como as regresses do mar
tiveram imensas conseqncias para a hidrografia local. (Kern, 1998: 81).
96
populaes sambaquieiras j produziam cermica a pelo menos 7.500 A.P., desde o inicio das
ocupaes pelas culturas sambaquieiras na regio e, ainda assim, mantinham os recursos
marinhos como a base de alimentao. (Gaspar, Imazio, 2000).
A arqueloga Madu Gaspar (2000c) comenta que analisou 147 stios datados e
juntamente com estudos de estratigrafias, percebeu que em alguns casos no h ausncia de
ocupao entre uma e outra camada estratigrfica, havendo stios com ocupao de 350 anos
(Sambaquis: Ilha da Boa Vista I, II, III e IV). Essa informao permite pensar no modo de vida
das populaes sambaquieiras, no que se refere permanncia temporal dos habitantes em
um stio, pois fica claro que se trata de populaes com um modo de vida sedentrio6. Assim,
aumentam as possibilidades de defesa do espao e acrscimo dos conhecimentos sobre a
regio e seus principais recursos. Essa permanncia sedentria decorrente por vrios sculos,
permite pensar a dinmica de modificaes e permanncias das tradies culturais, bem como
na diversidade cultural produzida entre as vrias comunidades.
Um outro fator importante que pode ser acrescentado nessa lgica identitria a
existncia das esculturas pr-histricas conhecidas como zoomrfos7. No presente artigo,
vamos nos debruar em apresentar algumas consideraes sobre uma parte importante
dessas peas, conhecidas como zolitos, (zoo = animal; lito = pedra), os quais representam
animais aquticos, terrestres e voadores e nos fornecem subsdios para entender as culturas
sambaquieiras, pois so animais pertencentes ao mundo dos homens indicando as vises de
mundo dessas populaes. Essas esculturas ocorrem numa faixa litornea que se estende do
estado de So Paulo at o Rio Grande do Sul, sendo encontrados tambm no Uruguai. Sua
maior concentrao se d no estado de Santa Catarina.
O artefato revela um potencial, enquanto fonte, que no se limita a um mero suporte material
de informaes. Ultrapassando o patamar interpretativo limitado pelo fornecimento dos dados
intrnsecos sua prpria natureza, os artefatos habitam e compem um universo sgnico,
constituindo uma linguagem simblica extra-corprea construda pelos homens atravs do
processo de trabalho. Ao mesmo tempo que se caracterizam como resultantes concretas, de
opes sociais e individuais, os objetos comunicam mensagens mesmo quando no so usados
e, evidentemente, conotam uma ideologia historicamente determinada. (Hirata, 1989: 13).
6
Porm, a noo de sedentarismo deve ser pensada de forma diferenciada do habitual, pois trata-se de um sedentarismo
baseado no habitat, havendo uma permanncia dos habitantes num meio ambiente e no em somente um sambaqui. Alm disso,
h a possibilidade da existncia de complexos sambaquieiros num mesmo espao com ocupaes contemporneos.
7
Esculturas produzidas em pedra ou ossos, que representam animais, homens ou seres no identificados.
97
armazenados lquidos ou substncias corantes, ou ainda, ps narcotizantes, entre outros
materiais a serem utilizados em rituais.
(...) bem provvel que a cermica tenha tido a mesma importncia que as belssimas
esculturas em pedra e osso que ocorrem e caracterizam os sambaquis das regies Sul e Sudeste
do Brasil. Nesse sentido, a cermica no deve ser percebida como o indcio de uma etapa de
evoluo da sociedade, embora possa ter significado maior conforto para a populao que a
produziu. bem possvel que tenha sido um marcador de identidade social que, junto com as
esculturas, identificava as populaes de um extremo e de outro do Brasil.(Gaspar, Imazio,
2000: 251).
8
A grande maioria dos zolitos conhecidos so provenientes de coletas efetuadas nos stios por catadores de artefatos e/ou por
colecionadores.
98
zolitos, em detrimento de milhares de contextos em que no so dispensados tratamentos
diferenciados aos mortos. Para Andr Prous (1974), os zolitos podem representar unidades
clnicas das sociedades sambaquieiras, evidenciadas e fortalecidas atravs do contato entre as
comunidades sambaquieiras vizinhas.
A produo de zolitos uma tarefa que tem suas peculiaridades em cada stio ou
complexo sambaquieiro, os motivos que levam a produo desse tipo de artefato, por vezes
so individualizados de acordo com o espao e cultura. No entanto, existe uma estrutura, um
conjunto de regras em todos os sambaquis, ao menos nos que se encontrou zolitos. A tcnica
de produo desses artefatos segue uma srie de normas, muito bem classificadas por Andr
Prous (1974), o qual indica que: as formas em cruz em losango, disposio e forma da
cavidade, limitao voluntria do realismo, utilizao geomtrica das massas so cdigos
geralmente repetidos. Tudo isso, se transmite em uma longa durao e no sem o suporte de
um mito juntamente com conceituaes fundadas num saber comum.
Essa arte se transmite num conjunto de regras que no permite ao autor muita
liberdade de produo, de transparecer seu humor e sua personalidade. (Prous, 1974) Assim
como as normas de produo dos prprios stios sambaquieiros conforme Gaspar (2000c):
Esse conjunto de normas ditava que os restos faunsticos deviam ser acumulados, que ali era o
espao de mortos e, na maioria dos casos, era tambm o espao de moradia. (Gaspar, 2000c:
38-39).
Trata-se de uma sociedade muito mais complexa, capaz de executar grandes obras como a
construo dos prprios stios -, que contava com artesos que se aprimoraram na arte ltica e
cuja trama social inclua nmero significativo de pessoas. (Gaspar, 2000c: 78).
Para a mesma autora, a produo de zolitos passa por uma produo especializada:
As belas esculturas em pedra e osso sugerem que havia artesos especializados em sua
confeco, mas preciso levar em conta que, para um sistema social que esteve ativo por mais
de 5 mil anos, elas so to poucas que difcil pensar que havia nessa sociedade especialistas
como um segmento social claramente definido (Gaspar ,2000c: 77 ).
99
Entendemos que a fabricao segue um padro tcnico e que o mesmo se estende aos
diversos sambaquis existentes, mesmo que os interesses e as vises da necessidade de
produo sejam diferenciados de acordo com a complexidade e especificidade cultural de cada
sociedade. Portanto, essa inter-relao de contatos culturais poderia suprir a inexistncia de
um setor especfico de artistas dentro de um nico sambaqui, j que os artistas transitariam,
bem como suas idias e tcnicas de fabrico das artes ritualsticas e religiosas.
4. CONCLUSES
9
A grande maioria dos zolitos conhecidos so provenientes de coletas efetuadas nos stios por catadores de artefatos e/ou por
colecionadores.
100
sobre os estudos e interpretaes mais recentes sobre essa temtica10. Rever as concepes
de cincia em conjunto com as perspectivas de pesquisa importante para o desenvolvimento
da cincia na atualidade. A Cincia se embasa no somente nos estudos da modernidade, mas
na sua prpria histria relacionada com as prticas de relaes sociais.
Devido a essa incompreenso cultural, a essa impermeabilidade pelas coisas do esprito, que
firmamos uma opinio que acreditamos, dever ser a norma geral a ser seguida ainda hoje,
salvo raras excees, com referncia ao patrimnio pr-histrico e Pr-histria no Brasil.
Todo o esforo daqueles que lutam nesse campo cientfico deve ser muito mais, muitssimo
mais, dirigido para a defesa das jazidas do que para a pesquisa cientfica. (Duarte, 1968: 23).
10
Entendemos que uma viso geral sobre as culturas sambaquieiras deve ser vista com cuidado, pois devem ser respeitadas as
especificidades de cada cultura relacionada em um ambiente pormenorizado. No entanto, apresentamos de forma sinttica,
algumas caractersticas gerais, bem como as principais caractersticas estruturais sobre essas sociedades.
101
5. IMAGENS
Figura 1: Zolito em forma de tubaro espcie Isurus Oxyrinchus;.Vista lado direito; Dimenses: 57,2 x 22,3 x 13,5 cm
(comprimento x largura x altura); Peso: 11.950 g. Foto: Winde Mertens.
Figura 2: Vista ventral; Dimenses da cavidade ventral: 17,5 x 12,6 x 5,2 cm (comprimento x largura x profundidade); Foto: Winde
Mertens.
Figura 3: Sambaqui Figueirinha I; Localizao: Jaguaruna SC; Dimenso: aproximadamente 15 m de altura; Foto: Paulo De
Blasis, Imagem disponvel no site: itaucultural. Org.Br/arqueologia/pt/home.htm
102
BIBLIOGRAFIA
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104
OS ATERROS (CERRITOS) NA FRONTEIRA BRASIL - URUGUAI:
UMA ABORDAGEM HISTRICA E TEORICO-CONCEITUAL
105
Os Aterros (Cerritos) na fronteira Brasil - Uruguai:
uma abordagem histrica e teorico-conceitual
Andr Garcia Loureiro
RESUMO
Este artigo pretende ser um ensaio onde se ir analisar a temtica dos Aterros ou
Cerritos atravs da abordagem histrica aos paradigmas tericos desde uma perspectiva
histrica centrada nos investigadores Uruguaios. O elevado nmero de dados neste territrio
permitir-nos- perceber a diferena para interpretaes da mesma realidade noutros
contextos.
ABSTRACT
This paper purposes to be an essay where it will be analised the Aterros or Cerritos
theme through an historical approach to the theorethical paradigms from a historician
perspective focused in Uruguayan researchers. The big number of data in this area will allow
us to understand the different interpretations of the same reality in other contexts.
1
Eclodiu no estado do Rio Grande do Sul/Brasil fronteira com o Uruguai no perodo de 1893 a 1895, a chamada Revoluo
Federalista, de cunho poltico dividiu o estado em duas faces opostas, os governistas e os federalistas.
106
utilizar os modelos europeus do Ps-Revoluo Francesa (1789) e dos processos de unificao
da Alemanha e Itlia, uma lngua, uma escrita, uma bandeira, e uma origem nica e
personificadora, o de construir uma identidade nacional homognea em detrimento das
diversidades regionais. Com este modelo de homogeneizao das culturas surge a arqueologia
no Brasil.
De la literatura temprana, surgen las dos hipteses clasicas para explicar la monumentalidad:
la primera en la que se habla de arquitectura funeraria en terra (Figueira, 1892; Bauz, 1895),
y la segunda en la que se habla de adaptaciones a la vida en zonas inundables (Ferrs, 1927).
Mientras que la primera poscion se basaba en interesantes observaciones arqueo-
estatigrficas, la segunda lo haca en la analoga no controloda con ambientes y estructuras
similares en otras regiones, como el Delta del Paran, pero en gran medida tamben, a partir
de la percepicin actual de las tierras inundables (Lpez, 2002).
Com a ausncia de um marco terico explcito, bem como uma metodologia elaborada
condizente com a regio, essas abordagens iniciais se caracterizaram por vises empricas,
comparativas e de cunho evolucionista a fim de explicar as estruturas tumulares das terras
baixas platinas. Na dcada de 1930, B. Sierra faz importantes descobertas de esculturas em
pedra chamadas zolitos (zo = animal, lito = pedra) em aterros da regio. Tais esculturas so
caracterizadas de acordo com a teoria difusionista, vigente nas pesquisas brasileiras, como
sendo especficas de culturas sambaquieiras3, - os achados em contextos diferentes so
diagnosticados como aculturao ou troca.
Durante a primeira metade do sculo XX, os estudos sobre aterros ficaram restritos a
estudiosos uruguaios, j que no Brasil era total o desconhecimento acerca dos mesmos,
sobretudo no estado do Rio Grande do Sul. Constatava-se a existncia de aterros, recebendo,
ento, a denominao de mounds, somente na Ilha de Maraj, localizada no litoral
setentrional brasileiro e pertencente ao estado amaznico do Par. Entretanto, em tais
trabalhos, a cermica foi o norteador das pesquisas segundo estudos comparativos esta
cermica sofreu influncia das culturas andinas - , ficando a morfologia do stio relegada a um
segundo plano. To-somente a partir da dcada de 60, com a criao do Programa Nacional de
Pesquisas Arqueolgicas, PRONAPA (1965-70), apoiado pelo Smithsonian Institution (EUA) e
pelo Instituto de Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, que as estruturas comearam a
ser classificadas de acordo com formulaes tericas de corte difusionista e ecolgico-
adaptacionistas, - as quais caracterizavam os aterros como stios moradia, conceituaes estas
tambm utilizadas por arquelogos uruguaios do mesmo perodo.
2
Regio do Brasil central onde em uma caverna foi encontrado o fssil humano mais antigo das Amricas, Luzia como chamado
obteve uma datao absoluta em torno de 11.500 A.P.
3
Na academia brasileira impera o ceticismo quando da possibilidade de outras culturas produzirem zolitos, o difusionismo e
norteador das concepes, apesar dos inmeros achados destas esculturas em contextos diversos.
107
fsicos, ergolgicos e tnicos. De este modo, las poblaciones marginales como las del Este del
Uruguay y Sur de Brasil, eran progressivamente aculturadas por sociedades que se expandan
portanto rasgos nuevos, tecnolgicamente ms avanzados, como las hachas pulidas, la
cermica, la domesticacon de plantas, y condutas sociales novedosas como jefaturas polticas
fuertes, antropofagia, y otras (Lpez, 2002).
Os montculos ubicados en las cimas de las sierras, no estuvieron durante el holoceno en cotas
sujetas a peligro de inundacon. La estatigrafa muestra que los cerritos de la planicie atlntica,
se sobrepoen a los depsitos sedimentarios formados durante los niveles altos del mar y que
son posteriores a estos. Desde hace 2.000 aos las condiciones de drenaje, muestra que los
cerritos de planicies medias se encuentran sobre suaves albardones, al lmite de la zona
actualmente inundable. Los contextos arqueolgicos recuperados en nuestras excavaciones y
aquellos reportados en la literatura, no muestran plantas de excavacon com pisos de
ocupacon domesticos claros (Lpez, 2001).
108
A partir da dcada de 90, com a aplicao de princpios da Arqueologia da paisagem,
reformularam-se as perspectivas de anlise da relao homem/natureza/paisagens culturais.
"El perodo neoltico es objeto de discusin, tanto en sus inplicancias econmicas y sociales,
como el registro en el registro arqueolgico. Ocorre lo mismo com el perodo formativo en
Amrica, perodo al que se le atribuyen sociedades complejas (Bracco, 1999). Atravs destas
novas concepes, bem como de trabalhos mais sistemticos na regio leste do Uruguai,
atribuiu-se a estas culturas uma maior complexidade social, - visto que os montculos passam a
ser concebidos como demarcadores territoriais de carter poltico, estratificando as estruturas
sociais e definindo reas de explorao de recursos a grupos cada vez mais hierarquizados.
Os Aterros esto instalados nos banhados que circundam as lagoas ou nos terraos dos
canais que as interligam (arroios, rios, etc), como tambm em plancies mdias e baixas e
Serras com altitudes de no mximo 160 m acima do nvel do mar.
109
A rea que ser utilizada como referencial para as argumentaes do presente artigo
est localizada na poro meridional do sub-continente sul americano, especificamente entre
a fronteira do extremo sul do Brasil (estado do Rio Grande do Sul) e o Uruguai (regies Leste e
Norte).
Figura 2: Aterro encontrado na regio de Santa vitria do Palmar, RS/Brasil. Altura: 4m. Foto: Pedro Igncio Schimtz / UNISINOS.
110
3. O PROCESSO DE OCUPAO DA REGIO
A evidncia que respalda tal teoria (de uma regio atrativa pela grande abundncia de
recursos) o aparecimento de fsseis de megafauna na atual costa atlntica meridional,
depositados nas praias pelas tempestades marinhas, sugerindo que os primeiros
assentamentos de caadores-coletores, que seguiam as manadas, encontram-se abaixo da
linha da costa.
Debemos tener en cuenta que la visin tradicional de la economa de estos grupos ha sido
modificada a la luz de nuevas investigaciones y la aplicacin de tcnicas modernas. Recientes
investigaciones han demostrado que el espectro animal explotado en este perodo es mucho
ms amplio, abarcando, adems de la megafauna, a otras especies de menor porte [...]por lo
tanto, no puede descartarse que otro tipo de punta de proyectil haya sido utilizado para otras
presas o en otras condiciones relacionadas con el entorno (Lpez, 2003).
111
pescado muestran similitudes entre conjuntos provenientes del Atlntico uruguayo y Provincia
de Buenos Aires (Lpez, 2003).
Este perodo se caracteriza por el crecimiento sostenido del nivel del mar y la consiguiente
transformacin del paleodelta del Paran con la formacin del Ro de la Plata. El nivel del mar
sobrepasa el nivel actual, la lnea de costa de desplaza al interior y hace ca 5000 A.P el mar
llega a ubicarse a unos 5 m sobre el nivel actual (Bracco, 1999).
Durante o timo Climtico, entre 6.000 e 4.000 A.P., o clima foi muito mais quente e mido,
com maiores precipitaes pluviomtricas. As altas temperaturas continentais derreteram as
neves nas cadeias de montanhas dos Andes, o que provocou uma subida acentuada dos nveis
marinhos, 3 a 5 m acima da costa atual. Isto provocou intensas e extensas alternncias dos
nveis marinhos na plancie litornea. Tanto as transgresses como as regresses do mar
tiveram imensas conseqncias para a hidrografia local (Kern, 1998).
4
As pesquisas tm corroborado com esta hiptese associativa de caadores-coletores pr-aterro e seus construtores, pois o
material ltico encontrado nos nveis inferiores dos aterros e muito semelhante ao ltico encontrado nos nveis anteriores a sua
construo, da matria prima utilizada (calcednias, opalas, etc) at a tcnica de fabrico e sua morfologia.
112
direito a sua explorao. A Segunda, que teriam a incumbncia de facilitar e orientar o trnsito
de grupos de caadores-coletores em reas periodicamente inundadas (Lpez, 2001). Essas
hipteses tambm so corroboradas, at o momento, pelas poucas evidncias funerrias
significativas encontradas nos nveis iniciais dos aterros mais antigos, - isto pode ser
decorrente de problemas taxonmicos.
Ser neste perodo em que comearo a surgir stios de ocupao sazonal na costa
atlntica, com vestgios de intensificada caa de mamferos marinhos, peixes e outras
atividades costeiras. Estruturas em terra associadas a acampamentos de caa nas terras baixas
do interior coexistem com stios costeiros de explorao de lobos marinhos. A partir de 4.000
A.P, ocorrem mudanas no clima da regio.
Entre el 4000 a.P. y el 2.500 a.P. ocurren en la regin los ltimos pulsos regresivos e ingresivos
del nivel del mar. Estos eventos son de menor envergadura que los anteriores, y la fisonoma
del paisaje y la distribucin de los recursos no sufren un cambio tan radical. Este es el momento
en que el ambiente adopta las caractersticas que subsisten hasta hoy: la formacin de lagunas
costeras y sus microcuencas, los sistemas de baados que cumplen una funcin fundamental
para la circulacin de las aguas en toda la regin, y el final de la depositacin de la ltima
formacin sedimentaria del Holoceno denominada Villa Soriano (Bracco 1999).
113
encontrado nas estruturas diversificado: zooarqueolgico, ltico, cermico, carvo cultural,
ocre, mas predominam os enterramentos humanos e as dataes apontam o auge destas
manifestaes entre 3.000 A.P ao incio do contato com os europeus (XVIII).
La presencia de restos seos humanos en la gran mayora de los cerritos excavados connotan
social y simblicamente a estos sitios, sugiriendo al ceremonialismo como una de las
explicaciones funcionales. A esto se suma la distribucin que estos sitios tienen en el paisaje, y
que ha llevado a manejar la hiptesis de que estamos frente a un sistema de reclamacin de
territorios y recursos. Esto se materializa a travs del emplazamiento de monumentos
asociados a zonas de alta productividad en puntos estratgicos del espacio para el control y la
circulacin en la regin (Lpez, Moreno, 2002).
Nos sepultamentos em aterros, esto representados os dois sexos, assim como todas
as faixas etrias. As oferendas funerrias so compostas por bolas de boleadeira, quebra-
coquinhos, pontas de projtil, contas de colar, ncleos, etc. Corroborada pelas informaes
etnogrficas, a primeira interpretao que se impe a da diferenciao social do morto, pois
as mulheres so enterradas com as contas de colar e os quebra-coquinhos, e os homens com
as pontas de projtil e bolas de boleadeira. Os restos de fauna esto discriminados em trs
possibilidades: 1) peas dentrias, placas de tartaruga e mandbulas, objetos especficos de
oferenda; 2) restos sseos, deixados como alimento ritual para o morto; e 3) restos de comida,
consumida pelos participantes do ritual. Tambm encontram-se enterramentos de cachorros
(cannis familiares) nos aterros ou prximo a estes.
Novas formas de explorao dos recursos naturais surgem neste cenrio de maior
complexidade social, maior diversidade no consumo de animais terrestres e marinhos,
processamento de descarne das presas, com a extrao da medula. Porm, uma das mudanas
mais importantes o aumento na variedade de vegetais consumidos, identificando-se razes,
feijes e batatas, evidenciando experincias incipientes de cultivo.Este manejo intensivo del
114
ambiente a su vez, parece estar vinculado a un patrn de emplazamiento de montculos,
asociados a la red de drenaje y a los suelos ms frtiles (Bracco, 1999). Concomitante a
estabilizao das condies climticas, ao redor de 3.000 A.P, surgem os primeiros indcios da
produo de cermica. Nos stios escavados com esta cronologia h vestgios que sugerem
incipientes processamentos de vegetais, so artefatos lticos com marcas de abraso e
polimento, em contexto com resqucios de vegetais que necessitam de algum tipo de
refinamento para serem consumidos. Outra funcionalidade proposta para estes artefatos
encontrados, o processamento de recursos marinhos para produo de farinha.
Em torno do ano 1.000 A.P, identifica-se stios de maior complexidade bem como
assentamentos com uma maior organizao social, sendo constatada uma notria vinculao
das estruturas em terra aos propsitos funerrios. Ocorrem tambm terraplanagens de alguns
aterros unindo ou modificando, com propsito de construir plataformas ritualsticas. Estas
situaes parecem explicitar o desenvolvimento de espaos pblicos com monumentalidade
cerimonial, sugerindo a necessidade de satisfazer maiores nveis de integrao social, -
pressupostos estes que iro alavancar o surgimento dos cacicados, descritos na etnografia da
poca do contato com os europeus no sculo XVI.
115
6. DADOS ETNOGRFICOS
Mabilde observou estes grupos na regio norte da Lagoa dos Patos -Leste do Estado do
Rio Grande do Sul - relata que a construo de um tmulo novo ocorre quando da morte de
um grande lder, todos os caciques subalternos das aldeias vizinhas so convidados a
participar, Assim que o cacique morre, uma das mulheres velhas sai a prevenir a todos os
chefes das tribus subordinadas (Mabilde, 1983). As festividades duram trs dias onde se
come, bebe, dana e junta-se terra como tributo, culminando com a passagem do poder ao
filho do cacique falecido.
Ao dia seguinte do enterro do cacique principal e desse dia em diante todos os moos das
tribus subordinadas votam ao lugar da sepultura do cacique e sobre ela amontoam terra at
formar um tmulo circular de no menos de 25 palmos de dimetro (e s vezes mais) e 6
palmos de altura em uma espcie de cabaz (feito de taquara e cip).
[...] preparan esta no lugar a maneira de cemitrio e pouco distante do toldo (choza) onde
habitan, consiste em uma pequena fosa que escoran de toda a parte com paus, e depositan o
cadver no centro e logo cobren com terra ate certa altura. Sorte que aparecen tantos
montculos quantas so as sepulturas [...] passados poucos dias, encerran o luto com festas,
bebidas espirituosas e com fanfangos em redor dos tmulos.
Em um dos pequenos estava enterrado seu pai. Em um dos maiores 52 Homens e 2 mulheres,
que morreram naquela circunstancia (ataque) e as enterraram juntos de seus homens [...]. Os
outros quatro tmulos pequenos eran sepulturas de caciques mortos de maneira natural,
anteriores a seu pai.
5
Devemos compreender o limite temporal das fontes etnogrficas, ao relatar um momento esttico de uma cultura dinmica, em
um contnuo processo de transformaes.
116
etnografia Kaingang, direitos a terra e seu uso, continuidade genealgica do poder, assim
como fomentador de alianas.
They bury dead chiefs in theirs best cloths and with their ornaments, arms and food. Kinsmen
place chicha vessels and containers whit meat, corn, flour, and other food in the grave. Each
person attending the funeral places items the grave. The burial of chiefs lasts 3-4 days, during
which time the mournes drink heavily and sing about the deeds of the defunt chief [...].
[...] the first person to throw soil on the tomb was the father. This act initiaded the war cries.
All participants then covered the tomb whit earth, forming a large elevated mound that served
as a medianting line between houses which could be seen from several directions. After this,
they sat at the base of the circular mound, placing all of the chicha jars in prope order
(linajes?). Because the funeral ritual was attendend by more 400 persons [...].
7. CONCLUSO
117
arcabouo terico e metodolgico, o qual desconstri a viso pronapiana de culturas
marginais, baseadas em pesquisas superficiais e ideologicamente comprometidas.
La arquitectura en tierra, a lo largo del tiempo resolvo problemas creados por las
necesidades sociales de mayores niveles de integracin. Las ceremonias y rituales, como
instancias de integracon demandan espacios especializados de actividade y esta arquitectura
seguramente daba facilidade a ese respecto. Los cerritos son productos sociales tiles a la
aticvidad cerimonial, y se vinculan com estructuras y conductas, econmicas, sociales e
polticas (Lpez, 2001)
6
Aqui falamos em diversidade, pois no podemos caracteriz-las como pertencentes a um grupo homogneo, e sim a uma grande
heterogeneidade cultural com suas diferenas e similaridades, visto que tais sociedades interagiam entre si pela construo de um
tipo especfico de monumento, os Aterros ou Cerritos.
118
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