Um Olhar Sobre A Presenca Japonesa em Ourinhos PDF
Um Olhar Sobre A Presenca Japonesa em Ourinhos PDF
Um Olhar Sobre A Presenca Japonesa em Ourinhos PDF
a presena japonesa
em Ourinhos
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Coordenao Geral - Neusa Fleury Moraes e Marco Aurlio Gomes
Pesquisa e redao - Evelise da Silva Cunha, Marco Aurlio Gomes, Neusa Fleury Moraes
e Tatiana Oliveira.
O estagirio Rafael Freire Baracho participou da entrevista com as integrantes do Fujin-Kai.
Junho de 2008
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Agradecimentos
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Sumrio
Apresentao.........................................................................7
Organizao Social
Quando a disciplina a regra..............................9
Tradies mesa
O Fujin-Kai e a culinria japonesa em Ourinhos.................33
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Apresentao
Escrever sobre a presena japonesa em Ourinhos escrever um pouco sobre a nossa prpria his-
tria. Afinal, enquanto buscava manter as suas tradies, esse povo tambm soube interagir com
toda uma comunidade, nos momentos felizes e nos perodos marcados pelas adversidades.
Em nosso trabalho no tivemos a inteno de produzir um estudo histrico sobre a imigrao
japonesa, mesmo que as informaes contidas nesse trabalho tenham certa relevncia para
futuras pesquisas. Para esta publicao contamos com a colaborao de alguns imigrantes, e
muitos descendentes fixados em Ourinhos, mas ficaram registradas, sobretudo, as impresses
dos pesquisadores. Tivemos muitas dificuldades com informaes desencontradas e falta de
documentao para pesquisa. Mas contamos sempre com a boa vontade daqueles que se dis-
puseram a contar suas histrias de vida, que se confundem, de uma forma geral, com a prpria
histria da imigrao japonesa. Alm das entrevistas com membros da colnia, outras importan-
tes fontes consultadas foram os depoimentos publicados no livro Um espao para lembranas
de Ourinhos, trabalho coordenado pelas professoras Fernanda Saraiva Romero e Rosemary
Reginato de Moraes, que rene uma srie de relatos de imigrantes japoneses.
No primeiro captulo, enfocamos a organizao social e as vrias formas encontradas pela
comunidade japonesa para se manter unida, cujas caractersticas mais marcantes so a valori-
zao do grupo e a capacidade de superao, evidentes na trajetria dos japoneses no s em
Ourinhos, mas em todos os lugares onde eles se estabeleceram, caractersticas que serviram
tambm para reforar os vnculos entre seus integrantes na busca por objetivos comuns, numa
maneira de relacionar-se que pautada principalmente pelo compartilhamento, organizao e
responsabilidade. A culinria o tema do segundo captulo, pois trata-se de uma das manifesta-
es onde a cultura japonesa facilmente identificada; o terceiro captulo resgata a dedicao
dos japoneses aos esportes, destacando principalmente a prtica do beisebol, que no passado
obteve importantes conquistas em competies nacionais, e o gateball, modalidade esportiva
criada no Japo e praticada hoje pela colnia japonesa de Ourinhos, com a participao, in-
clusive, de no-descendentes, o que confere atividade um importante papel no processo de
integrao social.
Por fim, a contribuio cultural dos japoneses em Ourinhos foi construda ao longo do tempo,
traduzida em manifestaes que se complementam. Os descendentes sabem que a miscigenao
e a aculturao talvez tornem mais espaadas as comemoraes em torno da cultura japonesa.
Da a importncia dessa iniciativa, criando um novo registro escrito, enaltecendo a participao
da comunidade japonesa na evoluo do nosso municpio.
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Tutomu Hayachida nos braos da me, no dia do
embarque para o Brasil.
Organizao social
Quando a
disciplina a regra
Os primeiros imigrantes japoneses que
chegaram ao Brasil em 1908 fizeram
a longa viagem pressionados pelas
dificuldades encontradas em seu pas. A
vida no estava fcil para os japoneses no
incio do sculo passado. A realidade do
Japo impunha todo tipo de dificuldades, e
o desemprego era uma delas.
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Acervo: Tutomu Hayachida
trabalhadores carregavam uma enxada nas costas e ia para o servio. Isso era O Carreiro (fotos)
questo de alguns minutos, depois tarde voltavam para casa... Depois eles
mostravam que sbado ou domingo todos iam para a cidade, sentavam no jardim
foi um dos bairros
comendo banana, porque l no Japo banana s se comia as pessoas doentes... rurais onde as
Ento, cinqenta anos atrs tudo era difcil, ento eu, quando menino de nove famlias japonesas
ou dez anos, tinha vontade de comer banana e isso que eles mostravam no ci- se instalaram.
nema... No bastassem as bananas em profuso, o menino Hisao Kobata se
recorda de outra promessa: O reprter tambm falava: O Brasil um pas que
tem rvores que d ouro - que era o caf E o filme terminava com todo mundo
feliz!. Segundo Kobata, o governo japons pagava as passagens, incentivando
quem sonhava em deixar o pas.
Ourinhos no estava nos planos dos primeiros imigrantes que vieram para o Brasil.
Hisao Kobata conta que a regio era temida por ser considerada foco de maleita:
Tinha famlia que morria inteira. Isso eu ouvia. Colocavam o cadver no saco de
caf, de noite, e largavam na porta do cemitrio. Muitos passaram um perodo
trabalhando como lavradores em outras regies do estado, antes de se fixarem
em Ourinhos. A instalao dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana na cidade
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Acervo: Tutomu Hayachida
Acervo: Tutomu Hayachida
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Algumas comunidades rurais
de Ourinhos, como o bairro da
Sobra (fotos), surgiram antes
da Segunda Guerra Mundial.
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Cooperativa Agrcola de Ourinhos:
A unio fez a fora
A Cooperativa Agrcola de Ourinhos foi fundada em 1940, no Bairro da Sobra,
com trinta e cinco membros e sob a liderana de Kyoji Ueno, seu maior acionista
e primeiro presidente. O jornalista Benedito Pimentel, em matria publicada pelo
jornal O Momento, em 30 de junho de 1993, afirma que Kyoji Ueno possua 75
cotas partes, num total de 6 contos e 500 mil ris. O Conselho de Administrao
era formada pelos fundadores Hakaru Kondo, Shohachi Tatekawa, Tyuzo Sato,
Kenzo Ogata, Yonezo Oda, Shigeru Tanaka e Tadatuna Watanabe. O conselho
fiscal era formado por Kieti Tashiro, Kioshi Koike e Minoshuki Hayashi.
Esse grupo de imigrantes reunidos sob a forma de cooperativa foi muito impor-
No incio a
tante para incrementar a comercializao da produo agrcola dos bairros rurais
japoneses. Intermediando a compra e venda de produtos agrcolas, incentivou o
Cooperativa era
plantio de cereais e dinamizou a economia do municpio durante um bom tempo, muito importante
mostrando para os moradores da cidade uma outra forma de organizao e de porque a gente
trabalho. O importante para os japoneses era o esprito cooperativista, onde no precisava se
preocupar em
comercializar.
Era s plantar
e levar l.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
Edital de convocao
para reunio da
Cooperativa Agrcola,
sob presidncia de
Gabriel Eugnio de Campos.
todos os agricultores eram donos, todo mundo era scio, servia para melhorar
a situao do produtor, para facilitar a comercializao das safras; com isso, os
japoneses plantavam mais cereais, movimentando o comrcio. No incio a Co-
operativa era muito importante porque a gente no precisava se preocupar em
comercializar. Era s plantar e levar l, comenta Hayachida.
Mas o sucesso nos negcios dos imigrantes tambm passaria por reveses. A
Segunda Guerra Mundial fez com que Brasil e Japo rompessem relaes diplo-
mticas, e os japoneses foram perseguidos. Por conta disso, uma das medidas
tomadas pelo presidente Getlio Vargas foi obrigar que todas as empresas ou
Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
A qualidade da
agricultura praticada
pelos japoneses foi
destaque nos jornais.
O Progresso de Ourinhos
11/02/1968
Os lavradores
tinham um pouco
de dinheiro e
aprenderam a
fazer negcio
tambm. Ento
entidades dirigidas por estrangeiros principalmente por japoneses pas- cada um fazia seu
sassem para administradores brasileiros. Assim, no dia 19 de abril de 1942, o prprio negcio e
presidente da Cooperativa Agrcola de Ourinhos, Kyoji Ueno, foi substitudo por
Gabriel Eugnio de Campos. A ata dessa reunio registra discurso do Inspetor
foi esvaziando
do Departamento de Assistncia ao Cooperativismo, Raul Dias de vila Pires, a cooperativa.
que justificou: O momento, sendo como de verdadeira exceo, oriunda de
causas no dependentes das autoridades brasileiras nem dos que professam
a prtica do cooperativismo no pas, mas de causas que exigem o mximo de
cautela para a proteo das instituies ptrias como se admite, com o con-
senso unnime dos que orientam a vida nacional, que se realizem a substituio
dos elementos japoneses na direo dos cargos eletivos da Cooperativa por
elementos brasileiros, que sabero corresponder integralmente, como de se
prever, a esta prova de confiana. Mas esse fato no parece ter sido muito
traumtico para os imigrantes agricultores, conforme resume Tutomu Hayachi-
da, falando da maneira encontrada para enfrentar o problema: O Gabriel era
sitiante daquela regio da Sobra, pediram para ele ser o lder.
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
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Acervo: Tutomu Hayachida
Meu pai tinha um binculo. A polcia brasileira tomava todas as armas que os
japoneses tinham. Binculo no era arma, mas como meu pai foi do exrcito ti-
nha medo que pegassem dele, e da meu pai deu para o dono da fazenda. Muita
gente escondia coisas no telhado, fazia buraco e escondia. Eu, por exemplo, no
podia pegar nibus. Morava em So Pedro e para ir para Santa Cruz precisava
ir na delegacia tirar salvo- conduto.
O perodo ureo da
comercializao dos
A primeira sede da Cooperativa foi um rancho coberto de sap, construdo em
junho de 1940 no bairro da Sobra. Algum tempo depois, o ranchinho foi transfor-
produtos cultivados
mado numa ampla casa de tbuas. S em 1949 foi construda a sede definitiva, pela comunidade
um prdio imponente na rua Antnio Prado. japonesa foi de
O perodo ureo da comercializao dos produtos cultivados pela comunidade 1941 at 1978.
japonesa foi de 1941 at 1978. So vrios os motivos apontados para a deca-
dncia da Cooperativa Agrcola de Ourinhos. Segundo Hisao Kobata, as causas
no so localizadas, mas reflexo de uma poltica econmica nacional. As coo-
perativas entraram em crise. Veja s, a maior cooperativa da Amrica do Sul - a
Cooperativa de Cotia - tambm acabou. Ele observa ainda que os agricultores
perceberam que poderiam obter um lucro maior comercializando sua prpria pro-
duo agrcola, sem passar pela intermediao da Cooperativa. Os lavradores
tinham um pouco de dinheiro e aprenderam a fazer negcio tambm. Ento cada
um fazia seu prprio negcio e foi esvaziando a cooperativa.
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Um outro motivo apontado para a decadncia da Cooperativa foi o xodo rural,
fenmeno sentido na dcada de 70 em todo o pas. Os agricultores foram abando-
nando a agricultura, passaram a viver na cidade e aos poucos foram se dedicando
a outros tipos de trabalho, no comrcio ou prestao de servios. O fato que os
sitiantes comearam a migrar para as cidades procura de melhores condies
de vida. Os mais velhos que sempre viveram nos stios, quando ficaram numa
situao melhor de dinheiro, preferiram morar na cidade, e mais para frente a
crise da lavoura tambm fez o pequeno agricultor difcil de sobreviver no campo,
explica Hayachida.
Kobata analisa a crise no campo, e conclui, criticando: Quando tinha uma boa
produo o preo era barato. Quando a produo era ruim o preo era bom. Nin-
gum queria ser mais lavrador, n. Aqui no Brasil o governo no garante nada
para o agricultor, muito duro.
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
A Fapi era a oportunidade de expor a produo agrcola dos japoneses.
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Organizados em kaikans, os imigrantes
japoneses mostram fora
Hisao Kobata um observador atento. Afirma que a primeira coisa que japons faz quando
monta uma cidade o kaikan. J o brasileiro primeiro constri uma igreja. O que os
japoneses chamam de kaikan so as associaes organizadas. So to importantes
na comunidade japonesa que para abrig-las eles se apressam em construir
amplos prdios que para os ocidentais so equivalentes s igrejas.
Cada bairro rural de Ourinhos possua sua associao, onde os
japoneses se reuniam para discutir problemas comuns. Em
1936, fundada a primeira associao reunindo todos
os imigrantes, provenientes de vrios bairros.
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Hisao Kobata relata: Era uma associao da colnia japonesa chamada Nihon
Jin Kai, mas no era registrada. O kaikan era um barraco onde os japoneses
se reuniam para conversar, fazer festa. A rea onde hoje a rodoviria e a sede
Escola de lngua da AECO era propriedade dessa associao. Na poca da guerra, para no
japonesa que
perder o patrimnio, passamos para o Torataro Tone e outros imigrantes que se
funcionava na rua
Maranho, em terreno naturalizaram brasileiros.
onde, posteriormente, A histria registra a data de fundao da Associao Esportiva e Cul-
foi construda a sede
tural de Ourinhos, a AECO, em 18 de Maro de 1951. O grupo que formou a
da AECO.
AECO era praticamente o mesmo da antiga Nihon Jin Kai. Seu primeiro
presidente foi Torataro Tone.
Quase 20 anos depois dos japoneses terem sido
obrigados a passar os bens da antiga associao
para imigrantes naturalizados brasileiros, a nova
associao nasce num clima de liberdade e
incio de prosperidade para os
imigrantes e descendentes. O
prdio atual se localiza Rua
Maranho, n 425, no Bairro
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Os jornais noticiavam as
apresentaes artsticas e
esportivas promovidas pela
colnia nipnica.
comemoraes do Ano Novo, Dia dos Pais, das Mes, das Crianas, dos Ancios
e outras. Nas festas mais tradicionais ainda utilizam o idioma japons nos dis-
cursos. Todos participam das tarefas de limpar, cozinhar ou organizar; no existe
distino social. No final das festas, comum v-los rapidamente empilhando
cadeiras, recolhendo lixo, limpando pratos. E os participantes no vo embora
com as mos vazias, sempre recebem algum presente.
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
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Acervo: Susumo Ikuno
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
As manchetes dos jornais destacaram as comemoraes do
cinquentenrio da imigrao japonesa.
Anncio da
apresentao do
grupo teatral japons
Shinseisakuza, no
antigo Cine Pedutti.
O Progresso de Ourinhos
9/6/1972
Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
Toshio Kaneda
cortou o bolo
com velas
indicando 99
e 100 anos.
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
Toshio Kaneda o
terceiro, da esquerda
para a direita, recebendo
prmio na AECO. O
primeiro, esquerda,
Natal Hiroshi Nishikawa,
ento presidente
da entidade.
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
Na noite do seu aniversrio, acompanhado
por uma flauta doce, Toshio Kaneda cantou
msicas folclricas japonesas.
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Na imensa cozinha, as integrantes do Fujin-Kai chegam
a preparar mais de mil pores de yakisoba.
Tradies mesa
O Fujin-Kai e a
culinria japonesa
em Ourinhos
Espao onde predomina a presena feminina,
a cozinha j impressiona pelo tamanho e
pela estrutura. A quantidade de mulheres
trabalhando, indica que logo mais noite
haver uma grande movimentao na sede
da AECO, entidade que representa a colnia
japonesa de Ourinhos.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
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Os buquezinhos de brcolis
passam por pelo menos cinco
pares de olhos. A primeira
a toc-lo retira as folhas
grandes e coloca a florzinha
embaixo da torneira, lavando
em gua corrente.
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
calor, eles amolecem, quase que cozinham e muda o gosto. Cenouras e legumes
exigem tcnica especial para o preparo, j que no devem amolecer demais no
cozimento.
Cada mulher tem sua especialidade. Algumas cortam as carnes, outras lavam
os legumes e as verduras, outras a loua. Mas isso no fixo, podem mudar,
embora prefiram ficar na sua funo de costume. As panelas de alumnio esto
muito areadas, brilhando.
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
Na cozinha, cada integrante
do Fujin-Kai assume uma
funo. Enquanto um grupo
prepara o macarro, outro se
dedica ao corte das carnes.
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
Aps o cozimento, as
pequenas pores de
macarro so separadas,
aguardando o momento de
servir, quando so
adicionados o molho
e os legumes.
As novas geraes
Alm de no serem numerosos na cozinha, poucas tambm so as atribuies dos
homens durante o preparo do yakisoba. Assumem apenas a funo de transportar
e pesar alguns ingredientes e acompanhar, com certa distncia, o andamento do
trabalho. Apesar de todo o esforo, muitas deixando seus afazeres domsticos,
as mulheres do Fujin-Kai dedicam-se com muito prazer ao trabalho. Elas sentem
que as novas geraes se interessam pelas tradies. Entretanto, mesmo con-
tando com cerca de cento e oitenta membros, a vida moderna impede que as
mais jovens tenham o mesmo envolvimento. A explicao, segundo elas, est
na realidade dos dias atuais, onde as mulheres tm suas profisses e as mais
jovens muitas vezes estudam em outras cidades. Outras observam que agora
a participao das mulheres acontece quando elas se aposentam ou quando os
filhos j esto criados.
Na preparao do yakisoba, as mulheres se dividem em grupos. Um fica res-
ponsvel pela pr-produo do prato, outro pelo trabalho de auxiliar de cozinha,
que inclui lavar e cortar os legumes, preparar o molho, pr-cozinhar a massa do
macarro, cortar as carnes e fritar. Esse trabalho consome o dia todo. No final
da tarde entram outras voluntrias, que sero encarregadas do preparo final do
prato at a hora de servir. Durante a noite percebe-se um outro grupo: descen-
dentes muito jovens circulam entre as mesas anotando os pedidos, servindo as
bebidas. Quem trabalha noite fica andando muito, correndo pra l e pra c.
Precisa ser mais jovem.
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Apreciado no s
pelo sabor, o sushi chama
a ateno tambm pelo
cuidado na montagem,
alimentando tambm
os olhos.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
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dos japoneses. Preparados moda brasileira, arroz e feijo no podiam ser con-
sumidos utilizando o hashi, aqueles pauzinhos utilizados pelos japoneses para
levar o alimento boca.
Interessante perceber como aquela realidade contrasta com a atual prolifera-
o de restaurantes orientais, no s no Brasil mas pelo mundo afora, servindo
principalmente comida japonesa e chinesa, sendo essa ltima influncia para a
culinria oriental de uma forma geral. Em Ourinhos, temos um exemplo bastante
significativo dessa influncia chinesa na cozinha oriental. O prato que mais iden-
tifica a comunidade japonesa da cidade, o yakisoba, teve sua origem na China.
Servido em festas organizadas em sua prpria sede ou em eventos importantes
do calendrio do municpio, esse prato preparado pelas mulheres do Fujin-Kai
conquistou o paladar de todos. Essa distino, essa diferena no gosto e na pre-
parao dos alimentos, talvez seja um dos fatores que levam tantos brasileiros
a se deleitarem com uma poro de yakisoba, com o mesmo prazer com que
Preparados moda saboreiam um churrasco no final de semana.
brasileira, arroz e feijo
no podiam ser consumidos Mesmo os japoneses, ou descendentes mais diretamente ligados colnia, par-
utilizando o hashi, aqueles ticipam desses eventos gastronmicos para, segundo as prprias integrantes do
pauzinhos utilizados pelos Fujin-Kai, saborear pratos que j no fazem, e para os mais jovens talvez nunca
japoneses para levar
tenham feito, parte do seu cotidiano alimentar. Por isso que at pessoal gosta de
o alimento boca.
comer aqui na AECO, porque tem comidas diferentes, japonesas, que no comem
em casa... verdade, comenta uma das dedicadas senhoras que participam do
grupo. A companheira ao lado confirma que as pessoas j de idade no esto
comendo comida japonesa em casa. Comem arroz, feijo, bife e salada.
Servido na sede
da AECO ou
em eventos do
calendrio cultural
do municpio, o
yakisoba o prato
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
O sekihan, preparado
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Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
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J na dcada de 30, Ourinhos contava com algumas
equipes de beisebol formadas nos bairros rurais.
0 esporte japons
em Ourinhos
As manifestaes esportivas da colnia
japonesa esto presentes desde a vinda
dos primeiros imigrantes para Ourinhos na
dcada de 20. A atividade esportiva mais
popular era o beisebol, que na dcada de
trinta j contava com algumas equipes
formadas nos bairros rurais fundados pelos
imigrantes, como o Sobra e o Cateto.
Acervo: Tutomu Hayachida
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
No campo do Clube
Atltico Ourinhense foi
realizado um torneio
de luta japoneza, em
benefcio das obras da
Igreja Matriz.
A Voz do Povo 24/9/1949
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revertida em benefcio das obras da nova matriz, cuja cobertura, agora que se
inicia a estao das chuvas, precisa ser efetuada com rapidez, noticiou o jornal
A Voz do Povo, ilustrando um exemplo de cooperao entre os japoneses e a
comunidade catlica de Ourinhos.
Em 1970, um ourinhense foi considerado um dos melhores lutadores de sum, em
Tquio. Fazendo o caminho inverso de seus ascendentes, Ryohei Takenaka, na
poca com 19 anos, era conhecido no Japo como Tatsunishiki (Drago Brogado).
O fato foi notcia no jornal Folha de So Paulo e transcrito em 15 de fevereiro de
1970, no jornal O Progresso de Ourinhos.
Uma atividade esportiva bastante praticada hoje na sede da AECO o tnis de mesa.
A cidade se orgulha de um grande destaque nessa modalidade, o ourinhense Gustavo
Tsuboi, medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos em 2007. O mesatenista participa-
r dos Jogos Olmpicos deste ano na China.
Acervo: Wilson Rodrigues
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O gateball
So 7h da manh, o jogo j comeou, mas tudo se passa bem silenciosamente,
ao som uno das tacadas. Uma a uma as bolas vo cumprindo seu trajeto, sob
o olhar atento dos 32 descendentes assduos na prtica do gateball. Esporte
mais popular entre a comunidade japonesa de Ourinhos, o gateball praticado
diariamente na sede da AECO Campo.
Eles so senhores e senhoras, aposentados e dedicadssimos ao esporte. Aqui
em Ourinhos o pessoal est comeando a jogar a partir dos 55 anos, mas a
maioria tudo aposentado com mais de 65, de 65 a 85, conta Hitoshi Otsuka
presidente do Departamento de Gateball da Associao Esportiva e Cultural
de Ourinhos - AECO que, entre uma tacada e outra por sua equipe, nos fala da
histria do gateball em Ourinhos.
Segundo Hitoshi, O gateball um tipo de lazer e custa dinheiro. Quem pratica
so pessoas mais ou menos bem de vida, que tem tempo disponvel e so favo-
recidos economicamente. Por conta do desinteresse dos jovens descendentes,
desde que assumiu a presidncia do gateball ourinhense, Hitoshi estimula a prtica
do gateball por no-descendentes. Tm alunos meus que j esto treinando com
a gente h mais de 6 meses, diz ele, que tambm professor de matemtica na
Em princpio, basta
acertar a bola com um
taco e pass-la por trs
traves, cada uma com 22
centmetros de largura.
Cada jogador ganha um
ponto pela passagem da
bola na trave e dois quando
acerta no pino central.
So necessrios quatro
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
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Escola Tcnica Estadual de Ourinhos. Alm de ser uma prtica esportiva saudvel
para todas as idades, o gateball caracteriza-se por manter um ritual de preser-
vao cultural e tambm atua como elo com a comunidade ourinhense.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura.
Esporte mais popular Ampliando esse contato com a comunidade ourinhense, o Departamento
entre a comunidade de Gateball da AECO proporciona esporte e lazer para algumas crianas que
japonesa de Ourinhos, so atendidas pelo Centro de Referncia da Assistncia Social da Vila So Luis,
o gateball praticado atravs de uma parceria com a Secretaria Municipal de Assistncia Social. Toda
diariamente na sede da quarta-feira, cerca de 20 crianas com idade entre 12 e 13 anos vo at a sede
AECO Campo.
da AECO Campo praticar gateball, interagindo e aprendendo com os experientes
jogadores.
Hitoshi Otsuka,
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Histria
Criado por Eiji Suzuki num Japo ainda abalado pela derrota na Segunda Guerra,
o esporte foi uma forma de proporcionar s crianas uma brincadeira divertida.
Para a surpresa de Suzuki, os maiores adeptos do esporte criado por ele foram
os mais velhos, e na dcada de 80 todo o Japo j praticava o gateball, uma
modalidade esportiva inspirada no cricket, jogo muito popular na Inglaterra. O gateball exige
No Brasil, o gateball chegou em 1978 atravs de Matsumi Kuroki. Em visita ao trabalho em equipe
Japo teve oportunidade de assistir um jogo de gateball na companhia de um e raciocnio para
amigo, que explicou a ele as regras e tcnicas do esporte. Ainda no Japo, Ku- elaborar tticas.
roki participou de vrios treinos, e no retorno ao Brasil trouxe junto a idia de
introduzir o gateball nas atividades do Clube dos Ancies.
A partir de 1982, o gateball comeou a se expandir, aumentando consideravelmen-
te os adeptos. Tornou-se assim, necessria a criao de um rgo coordenador, e
foi convocada uma reunio com representantes dos clubes de ancies. Em julho
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do mesmo ano, mais de 200 pessoas reuniram-se em Itapeti, onde foi celebrado
o 1 Encontro de Clubes de Gateball. A partir da, estava criada a Associao
de Gateball do Brasil.
As regras do jogo so simples, mas muito rigorosas. O desgaste fsico moderado,
o trabalho em equipe e o raciocnio para elaborar tticas tm papel fundamental.
A durao do jogo de 30 minutos e dentro deste espao de tempo, cada jogador
dever passar pelos Gates 1, 2 e 3 e por fim acertar no goal pole. Este seria o
desfecho da jogada, chamado de agari.
Gateball no tem time forte, depende do momento. Precisa ter sorte e estrat-
gia, diz Hitoshi. Atualmente 20 milhes de pessoas praticam gateball no mundo,
estima-se que no Brasil existam 10 mil praticantes. A equipe ourinhense mantida
pela AECO, e os treinos so dirios, das 7h s 10h, porque depois das 10 horas
fica muito quente, explica Hitoshi.
Todos os anos a comunidade japonesa representa Ourinhos com 4 equipes nos
campeonatos regionais e estaduais. Em maio de 2008 aconteceu a 7 Taa Cidade
de Ourinhos de Gateball.
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Atualmente a porcentagem de homens praticando o gateball em Ourinhos maior,
mas as mulheres participam tambm. Hitoshi observa ainda que nas competies
em outros municpios o problema a conduo, quando a mulher casada vai
junto, mas quando viva fica meio intimidada, com medo de comentrios... o
problema o preconceito. Mas o tcnico faz questo de enfatizar que no tem
homem melhor que mulher; no gateball quem acertar ganha.
Hitoshi comeou a jogar gateball em 2003,me aposentei e, em 2004, j assumi
como tesoureiro. Em 2007, foi eleito presidente do Departamento de Gateball
de Ourinhos, alm de ser membro da diretoria do Conselho Deliberativo da Unio
de Gateball do Estado de So Paulo e da diretoria da Liga de Gateball da Alta
Sorocabana.
Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
A equipe ourinhense
de gateball participa
regularmente de diversas
competies regionais.
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Acervo: Museu Municipal Histrico e Pedaggico de Ourinhos
Beisebol
Se hoje o gateball o esporte responsvel pela integrao da comunidade
japonesa com os ourinhenses, h mais de 70 anos, pequenos brasileirinhos j
permeavam os campos nipnicos, aprendendo o beisebol.
Presente em Ourinhos desde a formao dos primeiros bairros rurais de origem
japonesa, como o Cateto e Sobra, foi nessas localidades que surgiram as primei-
ras equipes competitivas e, posteriormente, tambm as selees ourinhenses de
beisebol de vrias categorias.
A partir de 1970, Takashi Masuda assume a formao tcnica das equipes de
beisebol de Ourinhos, introduzindo novas idias e formando equipes de base,
levando Ourinhos a importantes conquistas nesta modalidade.
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Eu sempre colocava um brasileirinho de capito pra incentivar, conta o ex-
tcnico da seleo ourinhense de beisebol Takashi Masuda, que com um olhar
avanado sobre o esporte trouxe para a cidade dois ttulos de campeo brasileiro,
nas categorias mirim e infantil. Por seu desempenho, Masuda foi convocado para
integrar a comisso tcnica da seleo brasileira de beisebol em 1973, ano em
que participou do campeonato mundial, realizado no Mxico. Eu fui 2 auxiliar
tcnico, mas fui mesmo como mdico. Quando voc tcnico nos regionais
uma coisa, agora quando chega l comea a tremer todo mundo, a camisa pesa
conta, com saudade, o mdico esportista.
Takashi comeou a jogar beisebol com 10 anos. Quando foi estudar medicina em
Curitiba, no perdeu o contato com o esporte, jogando pelo Clube Pinheiros.
Terminando a faculdade em 1964, Takashi volta para Ourinhos e comea a se
integrar com as equipes de beisebol dos bairros, compostas por 5 ou 6 times.
Os melhores jogadores dos bairros eram selecionados para integrar o time de
Ourinhos. Segundo Masuda, faltava treino e melhor preparo para os jogadores Se na dcada de 50 o
do time da cidade. Na verdade tava tudo errado, mas eu no queria falar que beisebol ourinhense j
era notcia nos jornais, foi
tava tudo errado, explica. Depois de um tempo acompanhando e jogando com
com as equipes formadas
nos anos 70 que a
cidade obteve suas mais
Por seu desempenho, Takashi Masuda foi importantes conquistas.
convocado para integrar a comisso tcnica da
Dirio da Sorocabana 4/4/1958
seleo brasileira de beisebol, em 1973.
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Dentre as inmeras conquistas do beisebol
ourinhense, uma das mais festejadas foi a
vitria no Campeonato Brasileiro de Beisebol
Mirim, disputado em 1974. Para comemorar
esse importante episdio, que assinala a
dedicao dos japoneses ao esporte, a equipe
desfilou em carro aberto pelas ruas da cidade.
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