Trecho Do Livro A Fé em Crise - Ratzinger
Trecho Do Livro A Fé em Crise - Ratzinger
Trecho Do Livro A Fé em Crise - Ratzinger
- O Cardeal Ratzinger Se
Interroga
Sobre a Igreja
Pg.4 Enquanto for peregrina sobre esta terra, no tem a Igreja o direito de
gloriar-se de si mesma.
Conclio Vaticano II
Tudo o que novo seria sempre, de qualquer forma, melhor do que j existiu
ou existe. o anti-esprito, segundo o qual se deveria comear a histria da
Igreja a partir do Conclio Vaticano II, visto como uma espcie de ponto de
partida.
A f da Igreja
Devemos ter sempre presente que a Igreja no nossa mas sua. Portanto as
reformas, as renovaes, embora sempre necessrias, no podem se resumir em
um esforo zeloso de nossa parte para exigir novas e sofisticadas estruturas.
Quero dizer com isso que o que podemos fazer infinitamente inferior quele
que faz.
Sacramento da Reconciliao
E me parece sempre mais amargo o auto elogio que alguns padres fazem
Pg. 39
de seus
Colquios penitenciais, feitos raros, mas, em compensao, bem mais
pessoais, como eles dizem. Sem esquecer que, em tantas conversas que se
tornam analticas demais, humano insinuar-se uma espcie de complacncia,
uma auto absolvio que, na abundncia das explicaes, pode no deixar mais
espao para o sentido do pecado pessoal pelo qual, para alm de todas as
atenuantes, somos sempre responsveis. fora de dvida que alguns homens,
hoje, no conseguem mais aproximar-se do confessionrio tradicional,
enquanto a forma coloquial de confisso lhes abre realmente uma porta.
Magistrio
Pg. 40 Pergunta: Tudo em ordem novamente, pois com o Conclio Vaticano II?
Nos documentos sim, mas no na prtica, na qual se deu um outro efeito
paradoxal do ps-conclio, com efeito, explica: - A decidida retomada o papel do
bispo, na realidade enfraqueceu-se um pouco, ou corre o risco de at ser
sufocada pela insero dos prelados em conferncias episcopais sempre mais
organizadas, com estruturas burocrticas, frequentemente pesadas. No
entanto, no devemos esquecer que as conferncias episcopais no possuem
ordem teolgica, no fazem parte da estrutura indispensvel da Igreja, assim
como querida por Cristo: tm somente uma funo prtica, concreta.
Doutrina da F Crist
Pg. 49 Cada telogo parece agora querer ser criativo, mas a sua tarefa
autntica a de aprofundar, ajudar a compreender e anunciar o depsito
comum a f, e no a de criar caso contrrio, a f se fraciona com uma srie de
escolas e correntes frequentemente contraditrias, com grave prejuzo para o
desorientado povo de Deus. Nessa viso subjetiva a teologia, o dogma muitas
vezes considerado como uma camisa de fora intolervel, um atentado
liberdade do estudioso, individualmente considerado. Perdeu-se de vista o fato
de que a definio dogmtica , ao contrrio, um servio de verdade, um dom
oferecido aos crentes pela a autoridade querida por Deus.
Escritura
Pg. 51 O liame entre Bblia e Igreja foi rompido. Esta separao foi iniciada h
sculos no ambiente protestante e, recentemente, estendeu-se tambm entre os
estudiosos catlicos. A interpretao histrico-critica da Escritura abre, por
certo, muitas e grandiosas possibilidades novas de compreenso do texto
bblico, mas ela por sua prpria natureza, pode ilumina-lo apenas em sua
prpria natureza, pode ilumina-lo apenas em sua dimenso histrica, e no no
seu valor atual. Se se esquece este limite, ela se torna no somente ilgica, mas
tambm, justamente por isso, no cientfica. Esquece-se ainda que a Bblia
como mensagem para o presente e para o futuro, s pode ser compreendida em
coligao vital com a Igreja. Acaba-se, dessa forma, lendo a Escritura no mais
a partir do ltimo mtodo que se apresente como cientfico. Essa independncia
tornou-se, em alguns, at mesmo uma contraposio, tanto que a f tradicional
da Igreja, para muitos, j no parece mais justificada pela exegese crtica, mas,
pelo contrrio, torna-se um obstculo compreenso autntica moderna do
cristianismo.
Pg.53 Todo catlico deve ter a coragem de crer que a sua f, em comunho com
a da Igreja, supera qualquer novo magistrio dos peritos e dos intelectuais.
Matrimnio e sexualidade
Pg. 60.
Na cultura do mundo desenvolvido rompeu-se primeiramente o liame
entre sexualidade e matrimnio. Separado do matrimnio, o sexo ficou
deslocado, viu-se privado de pontos de referncia: tornou-se uma espcie de
mina vagante, um problema e, ao mesmo tempo um poder onipresente.
Declogo
Pg. 64 Existem hoje moralistas catlicos que afirmam ser o declogo, sobre o
qual a Igreja constituiu a sua moral objetiva, um mero produto cultural ligado
ao antigo oriente mdio semita , volta aqui pois, a negao da unidade da
Escritura, reaparecendo a antiga heresia que declarava o Antigo Testamento (
Lugar da Lei ) superado e rejeitado pelo Novo ( reino da graa ) mas, para o
catlico, a Bblia um todo unitrio, as bem aventuranas de Jesus , no
anulam o declogo entregue por Deus a Moiss e, atravs dele, os homens de
todos os tempos. Pelo contrrio, segundo estes novos moralistas, ns, homens
j adultos e liberados devemos procurar sozinhos outras normas de
comportamento. Pg. 66 O homem deseja continuamente apenas isto: Ser criador
e o senhor de si mesmo, mas aquilo que o aguarda, ao final desta estrada, no
certamente, o paraso terrestre.
Mudanas
Maria aquela que no teme ficar ao p da cruz, que como reala vrias
Pg. 79
vezes o evangelista, conserva e medita em seu corao o que acontece ao seu
redor, criatura da coragem e da obedincia, , hoje e sempre, um exemplo para
o qual todo cristo, homem, mulher, pode e deve olhar.
Pg. 81... Estando a Revelao encerrada em Jesus Cristo. Ele mesmo a
Revelao, mas certamente no podemos impedir Deus de falar a este nosso
tempo, atravs de pessoas simples e tambm por meio de sinais extraordinrios
que denunciam a insuficincia das culturas que nos dominam, marcadas pelo
racionalismo e pelo positivismo.
Escatologia
Liturgia
A liturgia para alguns, parece reduzir-se apenas Eucaristia, visto sob o nico
aspecto de banquete fraterno. Mas a Missa no apenas refeio entre amigos
reunidos para comemorar a ltima Ceia do Senhor mediante a partilha do po.
A Missa sacrifcio comum da Igreja, no qual o Senhor ora conosco, por ns e
a ns se d. a renovao sacramental do sacrifcio de Cristo.
Penso em duas das mais ricas e fecundas oraes do cristianismo que levam
sempre e de novo grande corrente eucarstica: a Via Sacra e o Rosrio.
Existncia do demnio
Purgatrio: O fato que hoje todos nos julgamos de tal forma bons que
Pg. 111
s podemos merecer o paraso. H nisso a responsabilidade de uma cultura que,
fora de atenuantes e libis, tende a tirar dos homens a sua culpa, do seu
pecado. Algum observou que a ideologias dominantes so todas unidas por um
comum dogma fundamental: a obstinada negao do pecado, isto , exatamente
aquela realidade de que a f liga ao inferno e ao purgatrio. Pg. 112 E eu digo que
se o purgatrio no existisse, seria preciso invent-lo.
Alm disto, para atingir os ltimos recnditos dos riscos, preciso precaver-se
de um ecumenismo fcil demais, pelo qual grupos carismticos catlicos podem
perder de vista a sua identidade e ligar-se de modo acrtico a formas de
pentecostalismos e origem no catlica, em nome exatamente do Esprito, visto
como oposto instituio dos grupos catlicos da renovao. No Esprito devem,
pois, mais o que nunca agir sempre em comunho com o bispo, tambm para
evitar o risco cada vez que a Escritura desenraizada do seu contexto
comunitrio: o fundamentalismo, o esoterismo e o sectarismo.
Pg.124-
Igrejas Ortodoxas Orientais: Essas Igrejas possuem um ensinamento
autntico, mas esttico, como que bloqueado, permanecem fiis tradio do
primeiro milnio cristo, rejeitando todos ulteriores desenvolvimentos, porque
teriam sido decididos pelos catlicos sem eles, somente um conclio realmente
ecumnico, portanto ampliado a todos cristos, poderia, na opinio deles decidir
em matria de f. Tm em comum conosco a noo da necessria sucesso
apostlica, o seu episcopado e a sua eucaristia so autnticas. No conseguem
aceitar que o Bispo de Roma, o Papa, possa ser o princpio e o centro da unidade
mesmo em uma Igreja Universal, entendida como comunho.
Pg. 136-
b) A teologia da libertao tem certamente o seu centro de gravidade na
Amrica Latina, mas no de modo algum um fenmeno exclusivamente latino-
americano, no se pode conceb-la sem a influncia determinante de telogos
europeus e tambm norte-americanos. Mas existe tambm na ndia, no Siri
Lanka, nas Filipinas, em Taiwan, na frica- embora nesta ltima predomine a
busca de uma teologia africana. A unio dos telogos do terceiro mundo
fortemente marcada pela ateno prestada aos temas da teologia da libertao.
Nada permanece fora do empenho poltico. Tudo existe com uma colaborao
poltica.- escreve textualmente um de seus principais representantes sul-
americanos. Uma teologia que no seja prtica, o que quer dizer essencialmente
poltica, considerada idealista e condenada como irreal ou como meio de
conservao dos opressores no poder.
Para um telogo que tenha aprendido a sua teologia na traio clssica e que
tenha aceitado a sua vocao espiritual, difcil imaginar que posso esvaziar
seriamente a realidade global do cristianismo em um esquema de prxis scio-
politica de libertao. Isso, entretanto, possvel, j que os telogos da
libertao continuam a usar grande parte da linguagem asctica e dogmtica
da Igreja, mas em chave nova, de tal modo que quem l ou escuta partindo de
um outro fundamento pode ter a impresso de reencontrar o patrimnio antigo
apenas com o acrscimo de algumas afirmaes um pouco estranhas, mas
que, unidos a tanta religiosidade no poderiam ser to perigosas.
Pg. 141 Esta mesma ideia podemos encontrar um tanto modificada, no conceito
de povo, com o qual se transformou em mito marxista a realidade do povo de
Deus, to acentuada no Conclio. As experincias do povo explicam a
Escritura. Povo torna-se desta forma, um conceito oposto ao de hierarquia e
em anttese a todas as instituies indicadas como foras de opresso.
Finalmente, o povo quem participa da luta de classes, a Igreja popular se
contrape Igreja hierrquica. Por ltimo a instncia hermenutica decisiva
o conceito de histria. A opinio considerada cientificamente segura e
irrefutvel, de que a Bblia raciocina exclusivamente em termos histricos de
salvao, e, portanto, de maneira anti-metafsica, permite fuso do horizonte
Bblico com a ideia marxista da histria, que procede dialeticamente como
autentica revelao e, portanto, a verdadeira instncia hermenutica da
interpretao bblica. Tal dialtica apoiada, algumas vezes pela
pneumatologia, isto , pela concepo da ao do Esprito Santo.
Amor consiste na opo pela luta pelos pobres, isto , coincide com a opo pela
luta de classes. Os telogos da libertao sublinham fortemente diante do falso
universalismo, a parcialidade e o carter partidrio da opo crist; tomar
partido , segundo eles, requisito fundamental de uma correta hermenutica
dos testemunhos bblicos. Na minha opinio, aqui se pode reconhecer muito
claramente a mistura entre verdade fundamental do cristianismo e uma opo
fundamental no crist, que torna o conjunto to sedutor. O sermo da
montanha seria, na verdade, a opo pelos pobres feita por Deus.
Podemos dizer que a Igreja surgiu quando Jesus deu Seu Corpo e o Seu
Sangue sob as espcies do po e do vinho, dizendo: Fazei isso em
memria de mim. Isso corresponde dizer que a Igreja a resposta a este
mandato, ao poder e responsabilidade que lhe so conferidos. A Igreja
Eucaristia.
Sobre sacrifcio: Deus d o cordeiro que Abrao depois lhe restitui. dos teus
dons e das tuas ofertas sacrificamos ns, diz o Cnone Romano. A teologia do
culto cristo reconheceu-a a comear j com o Joo Batista em Cristo, o
Cordeiro oferecido por Deus; o Apocalipse descreve o Cordeiro Sacrificado, como
o centro da liturgia celeste, agora presente no centro do mundo atravs do
sacrifcio de Cristo, tornando desnecessrias as liturgias de substituio.
Contudo, o fato do Cristo se ver simbolizado no sol nascente aponta para uma
cristologia de carter escatolgico. O sol simboliza o regresso do Senhor, o
nascer do sol definitivo da histria, rezar em direo ao oriente significa;
aproximar-se do Cristo vindouro. Aparecer, ento (no fim dos
dias), no cu (Dn 7,13) O sinal do Filho do Homem, e choraro todas as tribos da
face da Terra. E vero o Filho do Homem vir sobre as nuvens do cu, com grande
poder e glria.
Uma Igreja sem presena eucarstica , de um certo modo, morta, ainda que
convide para a orao. Mas uma Igreja onde esteja acesa a Luz Eterna em frente
ao Tabernculo ser sempre viva, ser sempre apenas mais e que apenas uma
construo de pedra: nela, o Senhor est sempre minha espera, chama-me,
quer fazer-me eucarstico a mim prprio. Ele prepara-me assim para a
Eucaristia, pe-me em andamento rumo ao seu regresso.
Tempo Sagrado:
A imagem do altar como uma janela pela qual o mundo de Deus entra na
nossa proximidade, o vu da temporalidade sabe e ns podemos olhar por um
instante o interior do mundo divino.
Uma imagem da cruz que no faa transluzir a Pscoa seria to falha como uma
imagem da Pscoa que tenha esquecido das chagas como presena do tormento.
Liturgia e Msica
Na Missa crist, no podem ser admitidos todos os tipos de msica, porque ela
estabelece uma norma: a norma o logos.
Sculo II, o jurista romano (no cristo) Pomponius Festus, definiu o rito como
uso comprovado na administrao de sacrifcios.
Liturgia e o Corpo.
O sinal da Cruz
As Posies
De Joelhos (prostratio)
Santo Agostinho: A humildade de Cristo e o seu amor, que Ele levou at a cruz,
libertaram-nos como ele diz desses domnios (adorao ao dinheiro, egocentrismo)
e perante essa humildade que nos ajoelhamos.
A expresso utilizada por Lucas para a posio de joelhos dos cristos (theis ta
gonata) desconhecida no grego clssico, trata-se, portanto, de uma palavra
especialmente crist.
De p e sentados
A liturgia s pode atrair pessoas olhando para Deus e no para ela prpria. At
agora, nenhum rito cristo conheceu a dana.
Palmas
Sempre que aja aplausos pelos atos humanos na liturgia, sinal de que a sua
natureza se perdeu inteiramente, tendo sido substituda por diverso de gnero
religioso.
Os gestos:
O gesto mais antigo da cristandade o das mos abertas que, como j vimos,
o gesto do orante. o gesto mais primitivo do homem que clama a Deus,
encontrando-se em quase todo mundo religioso. Ele antes de tudo, uma
expresso da no-violncia, um gesto de paz; o homem abre as suas mos,
abrindo-se desta maneira ao outro. tambm um gesto de procura e esperana.
O homem faz o movimento de tentar tocar no Deus oculto, ele estende-se na
direo dele.
Inclinar-se: quem se aproxima de Deus, deve ser capaz de olhar para cima, isso
essencial, nunca antiquado inclinar-se perante Deus, pois isso corresponde
liberdade do nosso ser. E caso o homem moderno tenha se esquecido desse
gesto, ento cabe aos cristos do mundo moderno no s repreend-lo como
tambm ensina-lo aos outros.
Bater com as mos no peito: Histria do publicano (Lc 18,9-14) gesto mediante
o qual apontamos para ns mesmos como culpados.
H duas oraes, profundas e belas que antecedem a comunho e que para que
o silncio no se prolongue demasiado foram postas escolha.
A veste litrgica
A veste litrgica usada pelo sacerdote, deve, em primeiro lugar, demonstrar que
ele no se encontra l em privado, mas que est em lugar de algum- Cristo. No
ele o importante, pois quem ele transmite Cristo e no a sua prpria pessoa.
A veste litrgica indica para alm do significado das vestes exteriores ela
antecipao do vestido novo, do Corpo ressuscitado de Jesus Cristo, a caminho
do novo que nos espera depois da destruio da tenda que ser a nossa morada
eterna.
Sinais e matria
O vinho torna alegre o corao do homem, o azeite que faz brilhar o rosto e o
po que robustece as foras.