Apostila Bioengenharia para Engenharia Química
Apostila Bioengenharia para Engenharia Química
Apostila Bioengenharia para Engenharia Química
ITA02003
- POLGRAFO -
Semestre 2006/2
ITA02003 Bioengenharia para Engenharia Qumica Profa. Rosane Rech
Semestre 2006/2 2
ndice
Lista de Figuras
1.1 Definies
Biochemical engineering is concerned with conducting biological processes on an industrial scale,
provinding the links between biology and chemical engineering. (...) The heart of biochemical engineering
lies on the scale up and management of cellular processes. Aiba, Humphrey, Millis Biochemical
Engineering (1973).
Processing of biological materials and processing using biological agents such cells, enzymes or
antibodies are the central domain of biological engineering. Sucess in biochemical engineering requires
integrated knowledge of governig biological properties and principles and of chemical engineering
methodology and strategy. (...) Reaching this objective clearly requires years of careful study and practice.
Bailey, Ollis Biochemical Engineering Fundamentals (1986).
A primeira fase durou at 1900. Nessa poca apenas dois produtos eram fabricados em grande
escala: o vinagre e o lcool (incluindo as bebidas alcolicas). A operao se dava em reator batelada
utilizando-se cepas de culturas puras.
A segunda fase abrange o perodo de 1900 a 1940. Fabricava-se um nmero maior de produtos. Os
fermentadores eram equipados com agitadores mecnicos e passou a ser feita a aerao do meio. O controle
do processo era feito atravs da monitorao fora de linha do pH e da temperatura. O biorreator batelada
alimentada passou a ser utilizado.
A terceira fase comeou em 1940 e vai at os dias de hoje. Aos produtos que j eram fabricados
acrescentou-se os antibiticos, os aminocidos, as enzimas, etc. A assepsia dos equipamentos e do meio de
cultura, o controle de pH, de O2 dissolvido e de temperatura tornaram-se prtica comum. Com o avano das
tcnicas de medio em linha, a tendncia atual a monitorao e o controle do processo utilizando-se o
computador. Alguns processos passaram a ser realizados em operao contnua. O controle de qualidade
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passou a ser importante e comeou-se a empregar plantas piloto. Tcnicas de mutao e programas de
seleo passaram a ser essenciais no desenvolvimento de novos processos.
A quarta fase comeou em 1960 com a aplicao de tcnicas de engenharia gentica para produzir
cepas mais eficientes. A produo de SCP (single cell protein) a partir de hidrocarbonetos constitui-se na
principal aplicao desta fase. Devido aos problemas de transferncia de calor e massa apresentados por este
processo, tem-se utilizado fermentadores tipo air lift no processamento.
A quinta fase comeou em 1970 com a aplicao da tecnologia do DNA-recombinante. Esta tcnica
de engenharia gentica tem propiciado a alterao de microrganismos de modo que estes produzam
substncias que no so produzidos naturalmente por eles. A aplicao desta tcnica j obteve como
resultado prtico a produo em escala comercial de insulina e interferon por microrganismos.
A sexta fase data do incio dos anos 80. Ela baseia-se principalmente em aplicaes mdicas,
notadamente em diagnstico de doenas de origem virtica tais como AIDS, rubola, hepatite, etc. e
monitorao de nveis de compostos importantes tais como colesterol, glicose, uria, etc.. A principal linha
de aplicao a tcnica de hibridoma na produo de anticorpos monoclonais (monoclonal antibodies).
Em muitos processos uma ou mais destas etapas so desnecessrias ou diferentes. Por exemplo, a
produo de etanol por Saccharomyces cerevisae no Brasil feita sem a esterilizao do meio e dos
equipamentos. J a produo de SCP (single cell protein) d-se pela ao de uma mistura de microrganismos,
sendo o preparo do inculo diferente do mencionado acima e as prprias clulas so produto desejado.
A eficincia do processo fermentativo pode ser aumentada atravs de programas de pesquisa e
desenvolvimento atuando principalmente em trs das etapas citadas acima: modificando o microrganismo
atravs de tcnicas de mutao e de engenharia gentica, e selecionando variaes de clulas mais
produtivas, otimizando as condies do meio durante a reao e desenvolvendo estratgias de separao e
purificao do produto.
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2 Microbiologia
A nomenclatura dos organismos vivos binomial, sendo que o nome cientfico dado por uma
combinao do nome genrico (gnero) seguido da espcie. O nome do gnero iniciado com letra
maiscula mas o da espcie no. Ambos devem ser escritos em itlico ou grifado. Exemplo:
Saccharomyces cerevisiae
gnero espcie
vrias camadas de invlucro, possuindo um revestimento bastante espesso e com considervel resistncia
agentes externos, sobretudo temperatura.
A reproduo das bactrias se d por diviso binria simples, gerando duas clulas filhas iguais.
2.2.2 Fungos
So organismos eucariticos, heterotrficos. Podem ser divididos em leveduras (unicelulares) e
bolores ou mofos.
As leveduras possuem forma esfrica, elptica ou filamentosa, com 1 a 5m de dimetro a 5-30m
de comprimento. Bolores so constitudos por clulas multinucleadas que formas tubos denominados hifas.
Um conjunto de hifas denominado de miclio.
A clula fngica possui parede celular, membrana citoplasmtica, e membrana nuclear, dentro da
qual existem diversos cromossomos, nuclolo e histonas. O citoplasma possui vacolos, mitocndrias,
retculo endoplasmtico, ribossomos e material de reserva.
A reproduo das leveduras pode ser assexuada, por brotamento ou diviso celular, ou sexuada, via
formao de esporos.
Figura 2.5: Esquema de clulas eucariticas (a) animal e (b) vegetal (Fonte: Borzani et al., 2001).
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2.3.2.2 gua
Representa 75% de peso celular. essencial para a absoro dos nutrientes e a remoo de
produtos indesejveis.
2.3.2.3 Oxignio
O oxignio o receptor final de eltrons na respirao celular. Tambm altera o potencial de
oxidao-reduo das clulas. Muitos sistemas enzimticos de clulas requerem condies extremamente
reduzidas, isto , um baixo potencial de oxidao-reduo, para funcionar. Outros requerem condies
oxidadas, um potencial de oxidao-reduo elevado.
Os microrganismos podem ser classificados quanto ao requerimento de oxignio em (Figura 2.6):
i) aerbios - necessitam do oxignio para a sua sobrevivncia. O oxignio participa do metabolismo
desses microrganismos como receptor final de eltrons. Bacillus, Pseudomonas e Streptomyces pertencem a
esta classe.
ii) anaerbios - no sobrevivem na presena de oxignio, que txico para esta classe de
microrganismos. As espcie do gnero Clostridium incluem-se nesta classe.
iii) anaerbios facultativos - sobrevivem na ausncia ou na presena de oxignio. Tais organismos
podem ser subdivididos em dois grupos, dependendo se o oxignio ativamente metabolizado ou
meramente tolerado. As bactrias acticas (Streptococcus, Leuconostoc e Lactobacillus) pertencem ao grupo
que obtm energia exclusivamente de fermentao, embora no sejam prejudicadas pelo oxignio. Por outro
lado, bactrias coliformes, tal como Escherichia coli, podem obter energia de fermentao ou respirao. O
desenvolvimento timo destes microrganismos geralmente acontece em uma das duas condies.
Zymomonas mobilis por exemplo, se desenvolve na presena de oxignio, porm no o utiliza no seu
metabolismo e a taxa de crescimento inferior que na sua ausncia.
iv) microaerfilos - precisam de oxignio para sobreviver, mas a concentraes muito baixas.
v) aerotolerantes - so bactrias anaerbias que crescem em presses de oxignio inferiores a da
atmosfera terrestre.
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2.4.1 Temperatura
A temperatura ideal para o crescimento do organismo varia de espcie para espcie. Os
microrganismos podem ser classificados de acordo com a temperatura em que o seu crescimento pleno em
(Figura 2.6):
i) mesfilos - se desenvolvem em temperaturas mdias entre 20C e 40C
ii) termfilos - se desenvolvem em temperaturas entre 45C e 100C. A principal vantagem destes
microrganismos sobre os outros que crescem em temperaturas inferiores o metabolismo mais rpido.
iii) psicrfilos- se desenvolvem em temperaturas baixas entre -4C e 15C. Estes microrganismos,
por sua vez, apresentam taxas metablicas bastante reduzidas.
Figura 2.6: Classificao dos microrganismos quanto sua temperatura tima de crescimento.
2.4.2 pH
Existe uma faixa tima de concentrao de ons hidrognio para o desenvolvimento de
microrganismos, embora a faixa de pH em que eles se desenvolvam seja relativamente ampla. As bactrias
preferem os meios neutros (pH 7-7,5), sendo a maioria tolerantes a pH entre 6 e 9. As leveduras e os mofos
preferem meios relativamente cidos de pH 3 a 6.
Os microrganismos geralmente crescem melhor no pH do seu habitat natural. Em muitos casos, o
prprio microrganismo, como resultado do seu metabolismo, exerce papel preponderante na definio do pH
ideal para o seu crescimento. Bactrias produtoras de cido, mofos e leveduras aumentam a concentrao de
ons hidrognio no ambiente e tendem a crescer melhor em valores de pH moderadamente baixos. Outras
bactrias, especialmente as putrefativas que decompem protenas em aminocidos e amnia, aumentam o
pH do ambiente e vivem bem em condies alcalinas.
Alguns autores chamam de meio semi-definido ou completo, o meio complexo complementado por
quantidades conhecidas de sais minerais.
Os meios de cultura so usualmente esterilizados com calor em autoclave a 121oC e 15 libras de
presso de vapor durante 15 a 30 minutos.
Os microrganismos que possam ter interesse industrial podem ser obtidos basicamente das seguintes formas:
- isolamento a partir de recursos naturais
- compra de colees de cultura
- obteno de mutantes naturais
- obteno de mutantes induzidos por mtodos convencionais
- obteno de microrganismos recombinantes por tcnicas de biologia molecular.
Figura 3.1: Configuraes de biorreatores (a) STR; (b) coluna de bolhas; (c) air-lift; (d) plug-flow; (e) com
clulas imobilizadas (leito fixo); (f) com clulas imobilizadas (leito fluidizado); (g) reator com membranas
planas; (h) hollow-fiber (Fonte: Schmidell et al., 2001).
4 Cultivo Descontnuo
Os cultivos descontnuos clssicos vm sendo utilizados pelo homem desde a Antigidade e, ainda
hoje so os mais utilizados para a obteno de diversos produtos. So tambm conhecidos como
fermentaes descontnuas, fermentaes por batelada ou processo descontnuo de fermentao.
Forma de operao:
No primeiro instante, o meio de cultura esterilizado adicionado ao biorreator. Aps adicionada o
inculo e inicia-se o cultivo. Ao longo do cultivo podem ser adicionados ar, no caso de cultivos aerbios,
soluo cida e/ou alcalina, quando se deseja manter o pH constante, e antiespumante. Terminado o tempo de
cultivo, esvazia-se o biorreator e o meio fermentado segue para a etapa de extrao e purificao dos
produtos. O biorreator ento lavado, esterilizado e recarregado novamente com meio de cultivo.
4.1 Inculo
Denomina-se de inculo, p-de-cuba ou p-de-fermentao um volume de suspenso de
microrganismo de concentrao adequada capaz de garantir, em condies econmicas, o cultivo de um dado
volume de meio de cultura.
O armazenamento dos microrganismos possui o objetivo de conservar a cepa vivel e com
capacidade produtiva, portanto, como o mnimo possvel de divises celulares, evitando desta forma o
aparecimento de mutaes. O principais mtodos de armazenamento das cepas so em gar inclinado ou
secas. A manuteno da cepa to importante que algumas empresas possuem centros especializados para
manuteno e distribuio das cepas.
O volume de inculo introduzido em um fermentador normalmente em torno de 10% de sua
capacidade til, podendo variar, no entanto entre 0,5% e 50% de sua capacidade conforme o processo.
A Figura 4.1 apresentas as diversas fases de preparao do inculo.
Nos processos industriais, as bateladas podem ser classificadas conforme seu inculo em trs tipos:
- cada biorreator recebe um inculo;
- processo com recirculao de microrganismos;
- processo por meio de cortes.
- a disponibilidade e o armazenamento
- dificuldade de esterilizao;
- a fermentescibilidade
- o comportamento do meio durante e aps o cultivo (ex: formao de espuma);
Exemplos de substratos disponveis para utilizao como meio de cultura industrial: acares,
melaos, soro de queijo, celulose, amido, e resduos como gua de macerao de milho, metanol, etanol,
alcanos, leos e gorduras, etc.
Figura 4.1: Representao esquemtica do preparo do inculo (Fonte: Schmidell et al., 2001)
6 1200
lactase (U/ml)
5 lactase (U/mg cl) 1000
3 600
2 400
1 200
0 0
0 5 10 15 20 25 30
100 60
50
biomassa
1 30
acares totais
etanol 20
0,1
10
0,01 0
0 5 10 15 20 25 30
tempo (h)
Fase lag ou de latncia: durante a fase lag, a taxa de crescimento nula (X = X0 = cte), pois as
clulas esto se adaptando ao novo meio de cultura, sintetizando novas enzimas ou componentes estruturais.
A durao da fase lag varia com a concentrao do inculo, com a idade do microrganismo e com seu estado
fisiolgico. Conforme a composio e a durao do pr-inculo possvel que a fase lag nem exista.
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0,16
0,14
0,12
B
0,10 A
(h )
-1
0,08
0,06
0,04
0,02
0,00
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
S (mg/L)
Figura 4.4: Curvas da equao de Monod para valores hipotticos de mx = 0,14h-1 e KS = 0,60mg.L-1
(Curva A) e KS = 0,030mg.L-1 (Curva B).
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A equao de Monod no leva em conta o efeito inibidor tanto do substrato como do produto
formado, contudo no o nico modelo que tenta explicar a relao entre o substrato limitante e a velocidade
de crescimento microbiano nesta condio de cultivo. Outras equaes foram propostas e merecem ser
citadas:
Equao de Teissier:
= mx 1 e
S
KS
(4.2)
Equao de Moser:
Sn
= mx (4.3)
KS + S n
Equao de Contois e Fujimoto:
S
= mx (4.4)
KS X + S
Equao de Powell
S
= mx (4.5)
KS + KD + S
A ausncia de inibio , na verdade, uma situao pouco comum na prtica, principalmente em
cultivos descontnuos, onde h um crescente acmulo de metablitos que acabam interferindo
desfavoravelmente sobre o metabolismo e crescimento microbianos.
O efeito da inibio pelo substrato ocorre quando um alto valor inicial de S, ao invs de aproximar
de mx, provoca o efeito contrrio, conforme mostrado na Figura 4.5:
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0,14
B
(h )
-1
0,07
0,00
0,0
KS 5,0 10,0 15,0 K 20,0
I,S 25,0
S (mg/L)
Figura 4.5: Cintica de inibio pelo substrato (Curva A) e sem inibio (Curva B), conforme a equao de
Monod para mx = 0,14 h-1.
Com o objetivo de explicar esta reduo na velocidade especfica de crescimento, foi proposta uma
modificao na equao de Monod:
S K I ,S
= mx (4.6)
K S + S K I ,S + S
Nesta nova expresso, KS continua sendo a constante de saturao da equao de Monod, e KI,S a constante
de inibio pelo substrato, que se refere a um valor de S para qual X = mx , porm para um valor de S de
cause inibio, sendo assim superior ao valor de S da equao de Monod. Se KI,S muito maior que S, a
ltima parte da equao 4.6 fica igual unidade e no h inibio pelo substrato.
Quando ocorre inibio pelo produto, uma equao semelhante foi proposta:
S K I ,P
= mx (4.7)
K S + S K I ,P + P
onde KI,P a constante de inibio pelo produto, com significado semelhante KI,S da equao 3.20.
coeficiente de manuteno, mS, com dimenso (tempo)-1, geralmente expresso em (kg de substrato) (kg de
biomassa)-1 (s)-1. Alguns exemplos de coeficiente de manuteno so mostrados na Tabela 4.3.
Tabela 4.2: Exemplos de produtos conforme sua associao com o metabolismo energtico.
Tabela 4.3: Coeficiente de manuteno de diversos microrganismos em glicose como fonte de carbono.
Microrganismo Condio de cultivo mS (kg glicose) (kg clulas)-1 (s)-1
Saccharomyces cerevisiae anaerbia 0.036
anaerbia, 1,0M NaCl 0,360
Azotobacter vinelandii fixao de nitrognio, tenso de O2 dissolvido: 0,2 atm 1,5
fixao de nitrognio, tenso de O2 dissolvido: 0,02 atm 0,15
Klebsiella aerogenes anaerbica, limitao de triptofano, 2g.L-1 NH4Cl 2,88
anaerbica, limitao de triptofano, 4g.L-1 NH4Cl 3,69
Lactobacillus casei 0,135
Aerobacter clocae anaerbia, limitao de glicose 0,094
Penicilium crysogenum aerbia 0,022
Fonte: Doran, 1997
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A fora inica do meio de cultivo possui grande influncia no coeficiente de manuteno celular,
pois so necessrias grandes quantidades de energia para manter os gradientes de concentrao atravs da
membrana celular.
V
td =
F (4.9)
Para fins de aproximao inicial, pode-se considerar:
tc = t d (4.10)
A Figura 4.8 mostra um sistema em que, cada vez que um biorreator termina de ser descarregado,
existe outro pronto para comear a ser descarregado, fornecendo meio cultivado ininterruptamente ao setor
de extrao e purificao dos produtos.
Assim, pode-se escrever, para ter-se o setor de extrao e purificao dos produtos funcionando
continuamente:
( D 1) t d = t d + t f para D3 (4.11)
substituindo a equao (4.9) na (4.11) e rearranjando:
F t f
D = 2+
V (4.12)
A equao (4.12) nos permite calcular o nmero de biorreatores, desde que se conhea F, V e tf. A
Figura 4.9 mostra visualmente o resultado da equao (4.12)
5 Cultivo Contnuo
O cultivo contnuo caracteriza-se por possuir uma vazo de alimentao contnua e constante de
meio de cultura dentro do biorreator, sendo que o volume de meio de cultura mantido constante dentro do
biorreator atravs da retirada contnua de meio cultivado. Nesta operao o biorreator atinge a condio de
estado-estacionrio ou regime permanente, no qual as variveis de processo permanecem constantes ao longo
do tempo.
Vantagens do processo contnuo em relao ao descontnuo:
- aumento da produtividade do processo devido da reduo dos tempos mortos e no
produtivos;
- o meio de sada do biorreator uniforme, facilitando os processos de extrao e
recuperao de produto;
- manuteno das clulas num mesmo estado fisiolgico;
- possibilidade de associao com outras operaes contnuas da linha de produo;
- menor necessidade de mo-de-obra.
Desvantagens do processo contnuo:
- maior investimento inicial na planta;
- possibilidade de ocorrncia de mutaes genticas espontneas;
- maior possibilidade de ocorrncia de contaminaes;
- dificuldade de operao do estado estacionrio.
20 12
18
10
16
X
14 S 8
Qx (g/(L.h)
X, S (g/L)
12 Qx
10 6
8
4
6
4
2
2
0 0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
diluio (1/h)
Figura 5.1: Variao da concentrao celular (X) e da concentrao de substrato (S) na corrente de sada, e
da produtividade celular (QX) com a taxa de diluio em um cultivo contnuo, com mx = 0,8h-1, S0 = 40g/L,
YX/S = 0,45 e KS = 1g/L.
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70 40
60 35
30
50
25
Qx (g/(Lh))
X, S (g/L)
40
X S 20
30 X S
15
Qx Qx
20
10
10 5
0 0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
diluio (1/h)
Figura 5.2: Variao da concentrao celular (X) e da concentrao de substrato (S) na corrente de sada, e
da produtividade celular (QX) com a taxa de diluio em um cultivo contnuo, com mx = 0,8h-1, S0 = 40g/L,
YX/S = 0,45 e KS = 1g/L em um sistema com reciclo interno onde a frao de meio que sai diretamente do
biorreator 0,2 e o fator de diluio do meio filtrado 0,1.
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6 Cultivo Semi-contnuo
O cultivo recebe a denominao de semi-contnuo quando, uma vez colocados no biorreator o meio
de cultura e o inculo, as operaes que se seguem obedecem seguinte ordem:
1. aguarda-se o trmino do cultivo
2. retira-se parte do meio cultivado, mantendo-se no reator o restante do meio cultivado
3. adiciona-se no reator um volume de meio de cultivo igual ao volume retirado na operao
anterior (2).
Este processo chamado semi-contnuo porque so intermitentes tanto o fluxo de entrada de meio
no reator quanto o de sada de material cultivado.
O antigo processo de fabricao de vinagres partir do vinho um exemplo tpico de processo
semi-contnuo.
Vantagens do processo semi-contnuo
a) possibilidade de operar o biorreator por longos perodos sem que seja necessrio preparar um
novo inculo;
b) possibilidade de aumentar a produtividade do biorreator apenas modificando-se o cronograma
de trabalho;
c) possibilidade de, uma vez conhecidas as condies timas de operao, conseguir
produtividade significativamente maior que a obtida em processos descontnuos.
O cultivo em regime batelada alimentada definido como a tcnica em que um ou mais nutrientes
so adicionados ao biorreator durante o cultivo com vazo de alimentao controlada, e os produtos
permanecem no biorreator at o final do cultivo. A vazo de alimentao pode ser constante ou pode variar
com o tempo. Pode ser ainda contnua ou intermitente.
No cultivo em batelada-alimentada, a concentrao de um dado substrato pode ser controlada
dentro do biorreator de modo que, por exemplo, o metabolismo microbiano seja deslocado para uma
determinada via metablica, levando ao acmulo de um produto especfico.
Vantagens do cultivo em baleada-alimentada:
a) minimizao da represso catablica de enzimas do metabolismo de fontes de carbono
complexas pela glicose e outras fontes de carbono rapidamente metabolizveis;
b) minimizao da represso catablica pela glicose sobre a produo de metablitos secundrios
como alcalides de ergot, cefalosporina C, indolmicina, bacitracina, estreptomicina, neomicina,
novobiocina, penicilina, etc.;
c) inibio da produo de proteases quando o produto um protena recombinante extracelular;
d) preveno da inibio por substratos como etanol, metanol, cido actico e compostos
aromticos;
e) minimizao da formao de produtos txicos do metabolismos celular, como etanol para
leveduras, cido actico para Escherichia coli e lactato e amnia no cultivo de clulas animais;
f) minimizao de problemas como contaminao, mutao e instabilidade de plasmdeo;
g) adequao do bioprocesso s condies operacionais:
i. formao de espuma
ii. nutriente instvel
iii. processos aerbios de longo perodo (1 a 2 semanas).
h) estudo da cintica de processos fermentativos.
Os cultivos em batelada alimentada permitem que se trabalhe com cultivos em duas fases, uma de
crescimento e outra de produo de produto e ainda que se obtenham cultivos com grandes concentraes de
clulas, at 100g/L.
O cultivo em batelada-alimentada repetitiva aquele em que uma frao constante do volume da
cultura removida em intervalos de tempos fixos, podendo ser mantido indefinidamente.
O cultivo em batelada-alimentada estendida aquele em que a concentrao do substrato
limitante mantida constante no meio de fermentao atravs do suprimento contnuo deste nutriente.
O cultivo em batelada-alimentada ainda pode ser dividido em dois tipos baseado no fato de a vazo
de alimentao ser ou no baseada em um sistema de retro-alimentao. No modo de operao com sistema
retro-alimentado, a vazo de alimentao pode ser controlada atravs da concentrao de substrato no meio
de alimentao (sistema direto) ou em funo de outros parmetros (controle indireto) como densidade tica,
pH, coeficiente de respirao, concentrao de etanol e outros. No modo de operao no reto-alimentado a
vazo de alimentao pode ser intermitente ou contnua, seguindo um padro pr-estabelecido.
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0,25 3,5
exponecial
linear 3,0
0,20
constante
2,5
F (m /h)
0,15 2,0
V (m )
3
3
0,10 1,5
1,0
exponecial
0,05
0,5 linear
constante
0,00 0,0
0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
tempo (h) tempo (h)
0,10
exponecial
0,08 linear
constante
0,06
D (1/h)
0,04
0,02
0,00
0 5 10 15 20 25 30
tempo (h)
0,50 70
veloc espec crescimento (1/h)
exponecial
60
0,40 linear
constante 50
0,30
X (g/L)
40
0,20 30
20
exponecial
0,10
10 linear
constante
0,00 0
0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
tempo (h) tempo (h)
Figura 7.2: Biomassa e produo de ergosterol para diferentes mtodos de controle de alimentao em
cultivos batelada alimentada (Fonte: Gao & Tan, 2003).
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Figura 7.3: Cultivo batelada-alimentada com alimentao exponencial combinada com pH-stat de
Escherichia coli K12 com velocidade especfica de crescimento controladas em 0,1h-1 (esquerda) e 0,3h-1
(direita) (Fonte: Kim et al., 2004)
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Polissacardeo (1 a 4%) +
clulas
Partculas contendo
clulas imobilizadas
dimetro de 0,5 a 5 mm
250 mg de clulas / g Soluo de KCl ou CaCl2
matriz 0,05 a 0,5M
Agitador magntico
Figura 8.2: Imobilizao de clulas por envolvimento em gel hidroflico induzida por Ca++ e K+.
Os cultivos com clulas imobilizadas possuem diversas vantagens sobre os cultivos com clulas
livres:
atividade e estabilidade prolongada do biocatalisador, pois o suporte de imobilizao pode atuar como
uma barreira protetora aos efeitos fsico-qumicos do pH, temperatura, solvente ou metais pesados;
maior densidade de clulas por unidade de volume do biorreator, levando a uma maior produtividade
volumtrica, menor tempo de cultivo, eliminao de fases de crescimento celular no produtivas;
maior consumo de substrato e aumento do rendimento;
possibilidade de processamento contnuo;
aumento da tolerncia a altas concentraes de substrato e menor inibio pelo produto final;
maior facilidade na recuperao do produto, diminuindo a necessidade de filtrao e separao,
diminuindo assim os custo de equipamento e mo-de-obra e o consumo de energia;
regenerao e reutilizao do biocatalizador em cultivos batelada, sem remov-los do biorreator, levando
a cultivos semi-contnuos;
reduo do risco de contaminao microbiana devido alta concentrao celular;
possibilidade do uso de biorreatores menores, com processos mais simplificados, reduzindo o custo.
5000
atividade lipoltica (U/L)
4000
3000
2000
1000
0
72 96 120
tempo (h)
cl livres alginato de sdio k-carragena poliacrilamida
Figura 8.3: Produo de lipase com clulas imobilizadas e clulas livres (Fonte: Ellaiah et al., 2004).
5,0
2,0 4
1,0 2
0,0 0
1 2 3 4 5 6 7 0 5 10 15 20 25 30
batelada vazo de alimentao (mL/h)
Figura 8.6: Biomassa e atividade de bacteriocina em um biorreator contnuo com clulas livres (Fonte:
Bhugaloo-Vial et al., 1997).
Figura 8.7: Produtividade de bacteriocina com a taxa de diluio (a) em um biorreator contnuo com clulas
livres e (b) em biorreator contnuo PBR com clulas imobilizadas em alginato de sdio (Fonte: Bhugaloo-
Vial et al., 1997).
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Figura 8.8: Produo de etanol, evoluo de CO2 e consumo de glicose por clulas de S. cerevisiae
imobilizadas (smbolo cheio) e livres (smbolo aberto) (Fonte: Wendhausen et al., 2001).
Figura 8.9: Produtividade (smbolo cheio) e concentrao de etanol (smbolo aberto) em clulas de S.
cerevisiae imobilizadas em funo da taxa de diluio e em funo do tempo em um bioreator de leito
empacotado alimentado com 33% de caldo de cana (180 g/L de sacarose) a 30oC (Fonte: Wendhausen et al.,
2001).
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Figura 9.1: Configuraes de MBRs: (a) membrana submersa, (b) circulao externa (Fonte: Melin et al.,
2006).
A primeira gerao de MBRs foram os sistemas de circulao externa, onde o mdulo de filtrao
(membranas) localizado fora do biorreator. A soluo efluente bombeada em alta velocidade
paralelamente s membranas, e a soluo concentrada retorna ao tanque de lodo ativado. Os MBRs
desenvolvidos recentemente possuem a configurao de membrana submersa, onde o mdulo de filtrao
colocado dentro do tanque de aerao contendo o efluente e o lodo ativado. A caracterstica desta
configurao o baixo fluxo atravs da membrana reduzindo as obstrues (fouling) tanto quanto possvel e
operando a baixa presso transmembrana.
Os MBRs com circulao externa normalmente utilizam mdulos tubulares de membranas,
enquanto que os de membrana submersa utilizam os mdulos de membrana plana (flat plate) ou de fibra-oca
(hollow-fibre). A Tabela 10.1 mostra a comparao entre estes mdulos de membranas.
O papel principal da membrana em um MBR uma barreira contra slidos suspensos. Contudo,
devido complexidade do efluente lquido, possvel a remoo de espcies solveis, conforme o tipo de
membrana: microfiltrao (MF), ultrafiltrao (UF) ou nanofiltrao (NF).
Microfiltrao:
- poros: 0,1-0,2 m
- remoo de slidos suspensos como bactrias
- remoo parcial de vrus e macrosolutos
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Ultrafiltrao:
- poros de 0,1 m a 5 nm
- boa remoo de vrus e substncias polimricas extracelulares (SPE)
Nanofiltrao:
- poros de 2 nm
- retm quase todas as espcies solveis, com exceo de alguns ons e substncias
orgnicas de baixo peso molecular.
Tabela 9.1: Comparao das caractersticas dos diferentes mdulos de membranas utilizados em MBRs.
10 Cultivo Semi-Slido
Figura 10.1: Influncia do tamanho das partculas na velocidade de fermentao de acar de beterraba por
Zymomonas mobilis para produo de etanol. (Fonte: Schmidell et al., 2001)
Figura 10.2: Reatores para cultivo semi-slido industrial (a) tanques circulares; (b) esteira rolante; (c) reator
tubular com agitao interna. (Fonte: Schmidell et al., 2001)
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Para mais detalhes consultar Durand, A. Bioreactor desings for solid-state fermentation.
Biochemical Engineering Journal 13 (2003) 113-125.
Figura 10.3: Influncia do teor de umidade sobre o crescimento de Aspergillus niger. (Schmidell et al.,
2001)
10.4.3 Temperatura
Devido s atividades metablicas do microrganismo e dependendo da altura da cama de substrato,
uma grande quantidade de calor pode ser produzida durante o cultivo. Como a temperatura afeta diretamente
a germinao dos esporos, o crescimento e a esporulao dos microrganismos, e a formao de produto, o
calor produzido dever ser imediatamente dissipado para que o aumento da temperatura no prejudique a
fermentao desejada.
A Figura 10.5 apresenta a velocidade de produo de protenas por Aspergillus niger em relao
temperatura empregada no processo.
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Figura 10.4: Relao entre a atividade de gua e as reaes de deteriorao dos alimentos.
Figura 10.5: Influncia da temperatura sobre o crescimento de Aspergillus niger. (Schmidell et al., 2001)
10.4.4 pH
O controle do pH durante o CSS, embora crtico, difcil de ser conseguido devido
heterogeneidade e a consistncia do meio de cultivo. Como tentativa de evitar variaes bruscas no pH
utilizam-se substratos com boa capacidade tamponante ou a adio de soluo tampo durante a etapa de
umidificao do substrato.
10.4.5 Aerao:
A aerao necessria para o bom rendimento de praticamente todos os processos produtivos
biotecnolgicos, incluindo os via CSS. A oxigenao pode ser realizada via entrada de ar estril sob presso
dentro do biorreator. A quantidade de ar que deve ser fornecido ao cultivo depende do microrganismo, da
quantidade de calor metablico a ser dissipado no processo, da espessura da camada de substrato. Da
quantidade de CO2 e outros volteis a serem eliminados e da necessidade de oxignio para sntese dos
produtos.
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10.4.6 Agitao
Visa obter uma melhor homogeneizao do meio de cultivo, gerando uma melhor distribuio do
inculo e do meio umidificante, impedindo a formao de agregados e favorecendo tanto a transferncia
gasosa como a troca de calor do meio.
O oxignio necessrio para todas as culturas aerbias, e manter uma concentrao apropriada de
oxignio dissolvido no meio de cultura importante para a operao eficiente do reator (Fogler, 1992). A
equao estequiomtrica da oxidao completa da glicose dada por:
C6H12O6 + 6O2 6CO2 + 6H2O
Ou, seja, para que ocorra a oxidao de 1 mol de glicose, so necessrios 6 moles de oxignio.
Contudo, enquanto fontes de carbono e de nitrognio e outros nutrientes so bastante solveis em gua, o
oxignio pouco solvel. Pode-se dissolver centenas de gramas de glicose em gua, mas a solubilidade do
oxignio a 35oC da ordem de 7mgO2/L (7ppm). Desta forma de nada adianta colocar centenas de gramas
por litro de glicose do meio de cultivo se no se consegue transferir oxignio ao microrganismo numa
velocidade suficientemente grande para suportar um crescimento exclusivamente aerbio.
0,016
0,014
Conc O2 (kg.m-3)
0,012
0,01
0,008
0,006
0 10 20 30 40 50
o
temperatura ( C)
de oxignio da bolha at a clula controlado pelo passo (iii) e a taxa de transferncia de massa pode ser
calculada a partir da Equao 11.1 (Doran, 1995).
Figura 11.2: Etapas da transferncia de oxignio da bolha de ar para a clula (Doran, 1995. p. 200).
Uma expresso para a taxa de transferncia de oxignio do gs para o lquido dada pela equao
(11.1).
(
N = k L a C* C ) (11.1.)
onde N a velocidade de transferncia de oxignio por unidade de volume de fluido (mol.m-3.s-1), kL o
coeficiente de transferncia de massa da fase lquida (m.s-1), a a rea da interface lquido-gs por unidade
de volume do fluido (m2.m-3), C a concentrao de oxignio no meio de cultura (mol.m-3), e C* a
concentrao de oxignio no meio de cultura em equilbrio com a fase gasosa (mol.m-3), tambm denominada
solubilidade do oxignio no meio de cultura.
Caso o sistema no esteja em regime permanente, ou seja, est ocorrendo uma variao de O2
dissolvido no meio de cultivo, N pode ser expresso por dC/dt e a equao 11.1 fica:
dC
dt
(
= kLa C * C ) (11.2.)
Esta equao, apesar de extremamente simples permite uma compreenso exata de todas as formas
disponveis para o controle da concentrao de oxignio dissolvido em um certo meio.
ou
C
ln 1 * = k L a t (11.3.)
C
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ou ainda:
C
*
= e k L at (11.4.)
C
Da equao 11.3 percebe-se que plotando-se os valores de ln1 C contra o tempo obtm-se uma
C *
reta cujo coeficiente angular -kLa. Ainda, no necessrio conhecer o valor de C*, apenas a frao C/C* que
obtida de um eletrodo calibrado entre 0 e 100%.
onde QO2 mx o valor mximo de QO2 e K O2 a constante de saturao da equao de Monod para o O2. A
Figura 11.3 mostra a variao de QO2 com a concentrao de O2 dissolvido, onde observa-se a existncia de
uma dada concentrao de O2, denominada crtica, acima da qual o valor de QO2 constante e mximo. Um
sistema adequadamente dimensionado de aerao/agitao deve permitir a mxima capacidade respiratria
dos organismos, mantendo a concentrao de O2 acima da crtica a fim de que este no seja limitante. Alguns
valores de Ccrit so mostrados na Tabela 11.1.
Como se pode observar, os valores de Ccrit encontram-se entre 0,3 e 0,7ppm, abaixo de 10% da
concentrao de saturao do O2 no ar atmosfrico a 1 atm e 35oC.
Clulas crescendo a altas velocidades especficas de crescimento possuem uma alta velocidade
consumo de substrato e tambm uma alta velocidade de respirao. Desta forma natural que exista uma
relao entre a velocidade especfica de crescimento da cultura () e a velocidade especfica de respirao,
conforme a equao abaixo:
1
QO2 = mO2 + (11.7.)
YO2
onde mO2 o coeficiente de manuteno das clulas para o O2 (g O2 / (g cl . h)) e YO2 o fator de converso
de O2 para clulas (g cl / g O2). Foram determinados valores de 2mmolO2/(g cl . h) para mO2 e 1,55 g cl /
g O2 para YO2 de Aspergillus awamori NRRL3112.
Cessando o suprimento de oxignio, temos que o primeiro termo do lado direito da Equao (11.8)
torna-se zero, resultando em:
dC
= QO2 X (11.9.)
dt
Deste modo, QO2 X pode ser facilmente obtido atravs da inclinao da curva do grfico C contra
t, mostrado na Figura 11.4. Dividindo-se o valor de QO2 X pela biomassa correspondente, a taxa especfica
de consumo de oxignio, QO2 , pode ser calculada.
A aerao reassumida antes que a concentrao de oxignio dissolvido atinja um valor crtico (em
torno de 5 a 10% da saturao), e a Equao (11.8) pode novamente ser utilizada para descrever o processo.
Rearranjando os termos da Equao (11.8) obtemos:
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dC * QO2 X
= C C k L a
(11.10.)
dt kLa
Q O2 X
Para um sistema particular, C* e podem ser considerados constantes e agrupados:
kLa
QO X
C * 2 = Ci
(11.11.)
kLa
onde Ci a concentrao de oxignio dissolvido original do sistema em estado estacionrio.
Substituindo a Equao (11.11) na Equao (11.10), obtemos:
= k L a(Ci C )
dC
dt (11.12.)
integrando a Equao (11.12), o kLa pode ser isolado e calculado:
C C0
ln i
Ci C
k La =
t t0 (11.13.)
onde Ci, C0 e C so diferentes valores de concentrao de oxignio dissolvido mostrados na Figura 11.4.
Figura 11.4: Curva de variao de concentrao de oxignio dissolvido para clculo de kLa e q O2 conforme o
mtodo dinmico. Fonte: Ayub, 1991, p. 60.
tenso de cisalhamento sobre as clulas. Os reatores (5) e (6) so os aerados de tanque agitado. O biorreator
(5) conhecido como padro e corresponde a 93% das aplicaes industriais. O biorreator (6), conhecido
como draugth-tube o sistema que causa o maior cisalhamento celular.
O biorreator tipo tanque agitado e aerado (padro), apresenta altura do lquido igual ao dimetro do
tanque e agitado por um impelidor dom 6 ps planas que apresentam dimetro igual a 1/3 do dimetro do
tanque. A fim de evitar a formao de vrtice, utiliza-se um sistema de 4 chicanas, diametralmente opostas,
com largura de 1/10 ou 1/12 do dimetro do tanque.
P NDi2 N 2 Di H L DT WB
NP = = f N
Re = , N = , , , (11.14.)
N 3 Di5 Di Di Di
Fr
g
onde: NP = nmero de potncia (adimensional)
NRe = nmero de Reynolds (adimensional)
NFr = nmero de Froude (adimensional)
P = potncia transmitida na agitao (W)
N = freqncia de agitao (s-1)
= densidade do lquido (kg.m-3)
= viscosidade do lquido (kg.m-1.s-1)
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O grfico da Figura 11.7 apresenta a relao entre o NP e o NRe para o impelidor tipo hlice e
para a turbina de disco com 6 ps planas (turbina Rushton) para tanques com as relaes padro conforme o
item anterior. Para esta situao tem-se que a equao 11.14 fica:
N P = f ( N Re ) (11.15.)
Na Figura 11.7 pode-se observar trs regies distintas: a regio de escoamento laminar (NRe <
10), uma regio de transio e a regio de escoamento turbulento (NRe > 104).
P = k1 N 2 Di3 (11.16.)
P = k 2 N 3 Di5 (11.17.)
Na regio de transio h uma tendncia queda do Np, o que interessante quando, durante o
cultivo, ocorre um aumento da viscosidade do meio. Assim, se o motor foi planejado para a regio turbulenta
no h risco de sobrecarga at o incio do escoamento laminar.
Para se calcular a potncia transmitida em sistemas geometricamente distintos do que foi
utilizado para as relaes acima, foi proposto um fator de correo para ser aplicado sobre a potncia
calculada a partir das equaes 11.16 e 11.17.
* *
DT H L
D Di
fc = i
DT H L
D Di
i
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* *
onde T
D e H L so as relaes geomtricas da Tabela 11.1 e DT e H L so as
Di Di D Di
i
novas relaes geomtricas.
Quando se utilizam mais de um impelidor no eixo, se estes estiverem muito prximos um do
outro no ser obtida a mxima potncia de transferncia. Desta forma as seguintes relaes normalmente
so utilizadas para o nmero e a distncia entre os impelidores:
Di < Hi < 2Di (11.18.)
H L Di H 2 Di
> nmero de impelidores > L (11.19.)
Di Di
onde Hi a distncia entre os impelidores.
P NDi2
Figura 11.7: nmero de potncia N P = em funo do nmero de Reynolds N = para
N 3 Di5
Re
0 , 45
P 2 NDi3
Pg = 0,706 0,58 (11.21.)
Q
com as unidades no sistema internacional de unidades.
Q
Figura 11.8: Pg/P em funo do nmero de aerao N A = para um sistema de agitao com duas
NDi3
turbinas Rushton.
12 Escalonamento de biorreatores
Figura 12.1: Etapas do desenvolvimento de um processo produtivo, com as fases de obteno de dados e
instantes principais de tomadas de deciso.
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Tabela 12.2: Relao entre variveis em uma ampliao de escala (V1 = 60L; V2 = 7,5m3)
13 Esterilizao
Radiao ionizante:
So as radiaes alfa (), beta (), gama (), raios X, raios catdicos, alm de prtons, nutrons e
eltrons de alta energia. Estas radiaes podem produzir radicais qumicos altamente reativos, como
perxidos e radicais livres, os quais podem alterar grupos qumicos e at quebrar fitas de DNA. Dentre estas
a radiao gama a mais importante.
A radiao gama em geral produzida por cobalto 60 ou csio 137, e possui um poder de
penetrao extremamente alto. Os materiais expostos radiao gama no guardam nenhum resqucio
radioativo, tornando a irradiao um mtodo seguro.
O bombardeio com radiao gama realizados em cmaras especiais que uma vez postas em
operao, no mais possvel impedir a emisso de radiao, de forma que estas cmaras operam de forma
contnua. Materiais como vidrarias, metais, alimentos, sementes, solo, ps, embalagens podem ser
submetidos este tipo de esterilizao.
Plasma de perxido de hidrognio:
O plasma, considerado um quarto estado da matria, definido como uma nuvem de ons, eltrons
e partculas neutras, altamente reativas. A gerao de um campo eletromagntico pela energia de
radiofreqncia produz a formao do plasma. Os radicais livres gerados no plasma de perxido de
hidrognio apresentam-se com cargas negativas e positivas, que excitados tendem a se reorganizar,
interagindo com molculas essenciais ao metabolismo e reproduo microbianos, ligando-se de maneira
especfica s enzimas, fosfolipdeos, DNA e RNA. Essa reao qumica extremamente rpida, viabilizando
o processo de esterilizao em curto espao de tempo.
indicado para esterilizao de artigos termossensveis. O ciclo de esterilizao ocorre em torno de
1 hora. compatvel com a maioria dos metais, plsticos, vidros, borrachas, acrlicos e incompatvel com
celulose e ferro. O produto final gua e oxignio, no oferecendo portanto toxicidade para os profissionais
e clientes.
xido de etileno (EtO):
um ter cclico que reage substituindo um tomo de H de grupos funcionais de protenas, cidos
nuclicos e outras molculas (radicais carboxil, amino ou sulfidril) pela molcula de EtO aberta (CH2CH2O-).
Esta reao causa a inativao destas molculas. O xido de etileno um gs inodoro, sem cor, inflamvel e
explosivo. A adio de estabilizantes como dixido de cloro ou clorofluorocarbonado reduz o risco de
exploso e de fogo. Vantagens: podem ser esterilizados materiais sem danific-los. Desvantagens: alto custo,
toxicidade, e tempo longo do ciclo.
Glutaraldedo:
O glutaraldedo reage como os grupamentos amina livres da camada de peptidioglicano na
superfcie das clulas, onde ocorrem reaes glutaraldedo-protenas, o que interfere no transporte de
aminocidos de baixo peso molecular. Em alguns microrganismos ocorre a aglutinao celular, devido
formao de ligaes intercelulares. indicado para desinfeco em alto nvel em artigos termossensveis
com tempo de exposio de 30 minutos em soluo a 2%. Tambm indicado como esterilizante, com o
tempo de exposio entre 8 e 10h. O produto sofre alteraes em temperaturas superiores a 25C. txico,
no biodegradvel, portanto deve ser manipulado em local ventilado e com uso de EPI.
Formaldedo:
Formaldedo um monoaldedo que existe como um gs solvel em gua. Embora tenha sido usado
durante muitos anos, seu uso foi reduzido com o aparecimento do glutaraldedo. Suas desvantagens
principais estavam relacionadas a menor rapidez de ao e carcinogenicidade. Embora tido como
carcinognico, isto foi demonstrado a altas doses de exposio.
Ao: ativo apenas na presena de umidade para formao do grupo metanol. Interage com
protenas, DNA e RNA. No entanto difcil especificar acuradamente seu modo de ao na inativao
bacteriana. Possui amplo espectro de ao, inclusive contra esporos.
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Figura 13.1:Perfil tpico de temperatura do meio de cultivo e evoluo da morte celular em uma
esterilizao em batelada (Fonte: Doran, 1997).
hM& s t
M mC pT0
T = T0 1 + (13.1)
M&
1+ s t
Mm
b) aquecimento eltrico (curva linear, Figura 13.2):
Qt
T = T0 1 + (13.2)
M CT
m p 0
M& wC pwt
UA
1 e
M& wC pw
T0 Tci M mC p
T = Tci 1 + e
(13.4)
Tci
onde:
A = rea de transferncia de calor;
Cp = calor especfico do meio de cultivo;
Cpw = calor especfico da gua;
h = diferena especfica de entalpia entre o vapor e o meio;
Mm = massa inicial de meio de cultivo ;
M& s = vazo mssica de vapor;
M& = vazo mssica de gua;
w
T = temperatura;
T0 = temperatura inicial do meio de cultivo;
Tci = temperatura inicial da gua de resfriamento;
Ts = temperatura do vapor;
t = tempo;
U = coeficiente global de transferncia de calor.
120
manuteno da temperatura
100
80
temperatura (oC)
60
trocador
de calor
trocador meio de
seo de manuteno cultivo
de calor
da temperatura estril
meio de cultivo
trocador
meio de cultivo estril de calor
injeo de vapor
biorreator biorreator
vapor
Figura 13.3: Equipamentos para esterilizao contnua: (a) injeo direta de vapor com resfriamento flash;
(b) transferncia de calor utilizando trocadores de calor.
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(a) (b)
Figura 13.4: Curvas de aquecimento, manuteno da temperatura e resfriamento durante uma esterilizao
contnua: (a) injeo direta de vapor com resfriamento flash; (b) transferncia de calor utilizando trocadores
de calor.
Figura 13.5: Trocador de calor de placas (Fonte: Dairy Processing Handbook, 1995).
Figura 13.6: Trocador de calor tubular (Fonte: Dairy Processing Handbook, 1995).
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14 Bibliografia
14.1 Livros
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