Artigo MRP USP
Artigo MRP USP
Artigo MRP USP
M.F. Carvalho
Fundação Centro Tecnológico Para Informática – CTI
Caixa Postal 6162 – Campinas, São Paulo, Brasil
Departamento de Projeto Mecânico,
Faculdade de Engenharia Mecânica,
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Resumo
Este trabalho apresenta uma revisão das metodologias mais utilizadas como ferramentas de apoio
ao planejamento da produção de sistemas de manufatura. Dentre elas destacam-se as práticas
industriais conhecidas como técnicas avaliativas de soluções e os métodos de otimização conhecidos
como técnicas gerativas de solução. Procura-se discutir como estas técnicas trabalham e analisar as
vantagens e desvantagens de cada uma delas. Na conclusão a otimização é apresentada como uma
ferramenta complementar para superar certas deficiências encontradas durante a aplicação das
práticas industriais, tornando-se assim essencial ao planejamento da produção.
Níveis de
Produção ordens conhecidas
ordens previstas
meses
TEMPO
Longo Prazo ESTRATÉGICO
(Agregação em tipos) Metas agregadas
Novos
Médio Prazo Limites Metas detalhadas
(Agregação em famílias) TÁTICO
Novos
Curto Prazo Limites
(Itens individuais) OPERACIONAL
controle (ou de monitoramento). Esta função dos de práticas industriais serão também
permite estabelecer uma medida de desempenho considerados. Abre-se um espaço para se discutir
em relação aos resultados esperados pelo plane- uma hierarquia que possibilite um grau de
jamento e o resultado obtido na execução. Como representação do problema, coerente com as
resultado da análise desta função é possível necessidades dos vários níveis do planejamento
realimentar os níveis hierárquicos superiores e que venha ser factível de implementar, tanto
com informações que conduzem a uma constante em termos de tempo quanto de capacidade de
revisão das metas e objetivos (ou seja, fluxo de memória, em uma estrutura computacional.
informação entre as fases de planejamento). Isto O artigo está organizado da seguinte maneira.
permite, ainda, estabelecer, se necessário, A seção seguinte introduz alguns conceitos e
decisões de controle operacional que procurem objetivos do planejamento tático e da programa-
operações mais efetivas e econômicas. Note que ção da produção. Em seguida serão estudadas as
as decisões neste nível devem ser imediatas e Práticas Industriais e as políticas de estoque que
por isto automatizadas pelo sistema. contornem as incertezas do processo produtivo,
Uma conclusão do exposto acima é que a na- da matéria-prima e da demanda. Por outro lado,
tureza multidisciplinar dos problemas de plane- o problema de planejamento da produção será
jamento e controle da produção dos sistemas de modelado como um problema de otimização de
manufatura constituem-se em uma rica fonte de fluxo em rede com uma avaliação do desempe-
pesquisa e desenvolvimento de metodologias nas nho desta modelagem. Por fim comentários
áreas de ciência do gerenciamento, pesquisa ope- comparativos entre as técnicas avaliativas e
racional e mais recentemente na área da teoria de gerativas de solução mostram a complementari-
controle ótimo (GERSHWIN et al., 1986). dade entre o enfoque por otimização e o enfoque
Neste artigo serão examinados os problemas por práticas industriais.
de planejamento em especial aqueles associados
ao níveis hierárquicos relacionados com o plane- 2. Sistema de Produção Discreta: Aspectos
jamento detalhado e com a programação da pro- Conceituais
dução. Para este tipo de problema existem alguns
enfoques de solução que utilizam a programação
matemática, entre eles estão: as técnicas de
programação linear, programação inteira, branch
D escrição: Um sistema de manufatura é
composto por itens a serem processados em
centros de produção, cada um podendo possuir
and bound, programação dinâmica e teoria de uma ou mais unidades processadoras. Estas
redes. Outros procedimentos heurísticos chama- unidades podem ser máquinas que modificam
38 Carvalho, Silva Filho, Fernandes – O Planejamento da Manufatura
Produto 1 Produto 2
M3
M3
M2 M2
M1 M1
Tempos e Rotas
Produtos #1 #2 #3
1 1/M1 8/M2 4/M3
2 6/M2 5/M1 3/M3
3 4/M1 7/M3 9/M2
MÁQUINA 1
MÁQUINA 2
MÁQUINA 3
4 5 6 11 14 18 23
primeiro estágio de produção (PPC) e “empurra- Com relação às incertezas quanto a demanda
das” pelo sistema produtivo até que venham é conveniente considerar o seguinte caso:
atender o pedido do consumidor. A Figura 6 quando uma expectativa de demanda, incorpora-
ilustra este tipo de operação. Questões imediatas da ao planejamento, é interrompida ou não se
a serem analisadas por este princípio são: data realiza, um replanejamento deve ocorrer. É
em que a matéria-prima deve estar disponível justamente aí que ocorre uma das principais
para que seja respeitada a data de entrega do vantagens do sistema EMPURRA, ou seja, neste
pedido; capacidade total de produção do sistema, tipo de sistema é muito mais simples tratar as
capacidades especificadas para os recursos variações devidas a demanda; refazendo-se
individuais; requisitos de mão-de-obra para cálculos e colocando novas expectativas de
determinada política de operação e nível de produção imediatamente disponíveis a todos os
estoque em processo. O programa de produção estágios. Note que isto é possível devido ao fato
conhecido por “Manufacturing Resource de que qualquer variação (para mais ou para
Planning” (MRP-II) (FOX, 1984) é uma técnica menos) da demanda observada em relação à
avaliativa do tipo empurra e como tal avalia o demanda planejada poder ser imediatamente
comportamento do sistema para um cenário comunicada à entrada do processo.
predeterminado. Este cenário basicamente Com relação aos pontos acima, o MRP é bas-
especifica: a demanda a ser atendida, os recursos tante preciso mas apresenta algumas dificuldades
de produção necessários, as datas de compra e de em considerar, por exemplo: as perdas por
entrega, às disponibilidades de matéria-prima e defeito de fabricação; os limites de capacidade
outros detalhes vitais à realização das atividades no processamento de multiprodutos; as incerte-
de planejamento. Outros cenários podem ser zas tanto da demanda quanto do processo produ-
gerados a partir de mudanças no cenário base e, tivo. Além disso, ele não considera explicita-
iterativamente, pode-se chegar a uma solução mente a questão de custo e possui dificuldade
adequada para o planejamento. em gerar uma solução que tenha uma visão
Estes sistemas determinam, para cada produ- temporal do problema com relação a evolução da
to final e horizonte preestabelecido: demanda no horizonte de planejamento. Resu-
1. a quantidade a ser produzida; mindo, pode-se dizer que o MRP é simplesmente
2. os tempos nos quais os itens devem ser um viabilizador de cenários de produção
comprados, fabricados ou montados de forma definidos a partir dos pedidos de produção.
a atender as datas de entrega dos pedidos; e É importante acrescentar que os problemas
3. os requisitos de capacidade, tamanho de lotes relacionados às incertezas, tanto de demanda
e seqüência de operações. quanto do processo (por exemplo, quebra de uma
42 Carvalho, Silva Filho, Fernandes – O Planejamento da Manufatura
Estágio de Produção
Armazenagem
Fluxo de informação
Fluxo de material
máquina), podem ser contornados estabelecen- colocados no último estágio de produção. Eles
do-se estoques e tempos de segurança. Os proce- necessitam de pontos de armazenagem em cada
dimentos para quantificação destes estoques e estágio de produção, embora devam trabalhar
tempos serão estabelecidos na próxima seção. com lotes tão pequenos quanto possível de modo
a garantir que o número de peças dentro do
4.2 Princípio Operativo PUXA sistema não venha a crescer.
Este princípio apresenta uma desvantagem
Neste tipo de sistema, as informações acerca quanto à velocidade de transmissão da informa-
dos pedidos dos consumidores e suas previsões ção. Considere uma súbita mudança de requisito
são processadas pelo último estágio de produção no estágio e3. Esta mudança é inicialmente
(PPC) ou pelo estoque de produtos finais. Se a transmitida para o estágio e2 e daí ao estágio e1,
demanda não puder ser atendida diretamente e assim sucessivamente, até se necessário, ao
pelo estoque disponível, quando da colocação do fornecedor de matéria-prima. Se esta mudança
pedido, este estágio irá emitir um pedido para o fosse no sentido de aumentar a produção, o
estágio imediatamente precedente, e assim procedimento acima iria levar a atraso na data de
sucessivamente até o primeiro estágio. Tem-se atendimento a demanda, dado que o WIP (i.e.,
aqui um sistema de ordens sucessivas de produ- inventário em processo) deve ser essencialmente
ção e de ordens de transporte, para repor as mínimo. Este fato exige uma sinergia, entre
partes retiradas das áreas de armazenagem. Este fornecedores, força de trabalho e manutenção, no
procedimento pode ser estendido a todos os sentido de cumprir a meta de satisfazer os
fornecedores da fábrica. A Figura 7 ilustra este pedidos dos clientes nas datas combinadas.
tipo de sistema, para um processo de produção Devido a esta característica, o sistema PUXA
serial com três estágios, onde os pontos de é adequado somente quando a taxa de produção
armazenagens de itens são observados para cada é constante, mas torna-se desastroso quando
estágio. Note-se que o fluxo de informação (ou ocorrem mudanças bruscas na demanda.
as ordens de produção) podem ser baseadas em Portanto, pode-se dizer que este sistema tem
um sistema manual conhecido por KANBAN dificuldades para adaptar-se rapidamente às
(GOLHAR et al., 1991). No sistema Kanban a variações impostas pelo mercado. As práticas
direção do fluxo de informação é sempre industriais relacionadas com a implementação do
contrária a direção do fluxo de produto. Estes conceito PUXA, juntamente com os outros
são sistemas seriais de múltiplas ordens de pro- objetivos da produção, recebem o nome de
dução que podem ser estendidas aos fornecedo- JUST-IN-TIME (JIT) (GOLHAR et al., 1991 e
res de matéria-prima e que têm os pedidos SCHONBERGER, 1984).
GESTÃO & PRODUÇÃO v.5, n.1, p. 34-59, abr. 1998 43
e1 e2 e3
Estágio de produção , ei
Armazenagem
Fluxo de informação
Fluxo de material
GARGALO
Estágio de produção
Armazenagem
Fluxo de informação
Fluxo de material
do ponto de acoplamento entre as duas redes ser considerado crítico (por exemplo, o tempo de
torna-se mais complexo. O software que utiliza processamento) e assim sendo deve ser operado
este procedimento é o “Optimised Production de forma diferenciada. A Figura 9 ilustra um
Technology” (OPT) (JACOBS, 1984). processo com caminho crítico.
O OPT é uma tecnologia de gestão da produ- Observe-se que pelo princípio misto, este
ção suportada por um software complexo que faz caminho é visto como possuindo uma demanda
a programação e o seqüenciamento da produção. maior que sua capacidade de produção, sendo
Este software é visto como uma caixa preta, pois mais atrativo operá-lo na forma empurra,
a metodologia que o suporta não está divulgada procurando assim maximizar sua utilização e
na literatura. Entretanto, sabe-se que ele está agilizar o processo de produção. Os outros
baseado em um conjunto de nove regras, cujo caminhos podem trabalhar com base no
objetivo é a programação de máquinas e mão-de- princípio puxa. Nos pontos de encontro entre o
obra para suprir os gargalos de produção de caminho crítico e os demais caminhos devem
forma sincronizada, de modo a reduzir inventá- haver pontos de estoque.
rio e aumentar as taxas de produção. Sob a ótica
OPT, o objetivo maior da empresa é fazer 4.4 Comentários sobre as Práticas Industriais
dinheiro. Partindo então desta premissa são
estabelecidos os princípios heurísticos e medidas Os conceitos apresentados acima foram
de desempenho que determinam a forma de formados por experiência e intuição adquiridas
programação, seqüenciamento da produção. Um pelos gerentes e operadores ao longo dos anos e
dos problemas para aplicação do OPT é a são conhecidos como práticas industriais. Estas
determinação do gargalo. Muitas vezes a práticas vêem os sistemas produtivos do ponto
dinâmica do processo de produção torna o de vista do cliente (demanda) e trabalham no
gargalo móvel, dificultando enormemente a sentido de maximizar o nível de satisfação deste,
aplicação deste enfoque. Para processos com tanto pela entrega dos produtos nas datas
gargalos móveis a aplicação do princípio combinadas quanto pela qualidade dos mesmos.
operativo misto é um pouco diferente e passa a Assim sendo, ao receber uma previsão de data de
ser apresentada a seguir. Se a estrutura do entrega de produtos aos clientes, a gerência deve
produto é complexa, pode-se utilizar a combina- imediatamente atentar para a disponibilidade de
ção dos princípios puxa-empurra para melhorar recursos e capacidade de produção para só então
o desempenho do sistema. Usualmente, neste questionar esta data. Para ter eficiência neste
caso um caminho da estrutura do produto pode questionamento, a gerência deve dispor de
GESTÃO & PRODUÇÃO v.5, n.1, p. 34-59, abr. 1998 45
caminho crítico
Estágio de produção
Armazenagem
Fluxo de informação
Fluxo de material
“mecanismos” para negociar novos prazos, em Além da satisfação total do cliente, atendi-
termos do objetivo principal da empresa que é o mento ao prazo de entrega, qualidade e custo,
lucro. Neste contexto, algumas dificuldades dos que significa produção dirigida por pedido, os
princípios operativos, discutidos anteriormente, sistemas de manufatura devem buscar outros
complicam este processo de negociação com o objetivos tais como a satisfação da empresa
cliente. Por exemplo, quando é adotado o (definida em termos de retorno) e satisfação dos
princípio PUXA (que caminha da demanda para empregados (definida em termos da participação
matéria-prima) a disponibilidade de matéria- nos lucros). Alguns destes objetivos podem ser
prima, via de regra, não é avaliada. Por outro “quantificados” e tratados pela otimização, como
lado, quando é adotado o princípio EMPURRA discutido na seção 6 deste trabalho.
(que caminha da matéria-prima para a demanda)
a data de entrega, via de regra, não é garantida. 5. Políticas de Estoque
Outras dificuldades gerenciais envolvendo estas
práticas industriais são: a impossibidade de
compatibilizar os recursos de capacidade em
sistemas tipo multiprodutos e o fato de conside-
A s práticas industriais utilizam a redução do
nível de estoque como estratégia para redu-
zir custos. Entretanto ao fazer isto, a abordagem
rar as incertezas sobre a demanda e o processo fica vulnerável às incertezas e variabilidade do
de produção de maneira extremamente rígida. processo produtivo. Para contornar este problema
Pode-se assim concluir que estas práticas têm é necessário considerar uma política de estoque
o plano de produção dirigido pelo cliente. Isto é, que venha amenizar as flutuações causadas pelas
a empresa recebe um pedido com uma data para incertezas como: as do sistema de produção
entrega do produto estabelecida pelo cliente que (quebra de equipamento, falta de pessoal, etc.),
não olha a capacidade ou as dificuldades do da demanda e da oferta de matéria-prima. Para
sistema produtivo. Isto coloca a questão negócio estabelecer esta política é necessário notar que
em segundo plano. Tanto o MRP quanto o JIT um sistema de produção multiestágio pode ser
pressupõem a disponibilidade de recursos de descrito como uma rede composta de estágios de
produção e matéria-prima e não questionam a produção separados por pontos de estoque.
data de entrega do pedido, típica característica Na operação de um sistema real é importante
do processo EMPURRA. Assim sendo, questões estabelecer a diferença entre uma fila e um ponto
do tipo como compatibilizar o interesse da de estoque. A fila, ou estoque intraestágio, acu-
empresa (ponto de vista da empresa) com o mula material que está esperando ou competindo
interesse do mercado consumidor (ponto de vista por recurso e o processamento começa assim que
do mercado) ficam totalmente em aberto. o recurso esteja disponível. No ponto de estoque,
46 Carvalho, Silva Filho, Fernandes – O Planejamento da Manufatura
ou estoque interestágio, o material em estoque Inicia pelo caso mais simples, o caso estágio
não é imediatamente liberado para o chão de único.
fábrica. Aqui a decisão de liberação é extrema- Caso 1 Estágio Único: Suponha que as or-
mente importante; o processamento imediato não dens sejam lote por lote. No esquema MRP II
é permitido mesmo que o recurso esteja mostrado na Tabela 2 podemos ver como a
disponível. Note-se que eles existem para reduzir previsão de demanda influencia na determinação
incertezas e flutuações da produção. das ordens de produção no caso de não se ter
As práticas industriais trabalham para dimi- estoque de segurança.
nuir o estoque intraestágio pela coordenação e Seja D(t,t+k) a demanda para o período t+k
balanceamento da produção. Contudo incertezas como previsto no início do período t e C(t) a
associadas à demanda, ao tempo de produção e soma do estoque e do WIP no início do período
até mesmo a entrega das ordens de compra criam t. Assim, por exemplo, da Tabela 2, segue que
dificuldades de gerenciamento que só podem ser C(1) = 30 +80 +60 +70. A relação, para o
contornadas pelos “estoques reguladores” dispo- período t, entre a ordem planejada P(t), o
níveis estrategicamente nos pontos de estoque. estoque C(t) e a previsão de demanda D(t,t+k) é
De acordo com o tipo da incerteza pode-se dada por:
adotar uma política diferente para a definição do l
tamanho de estoque. Exemplos são as incertezas P(t ) = ∑ D(t , t + i ) − C (t )
associadas à previsão de demanda e com o pro- i =0
semana 1 2 3 4 5 6 7
demanda prevista 100 50 80 40 130 50 100
produção especific. 80 60 70
disponibilidade 30 10 20 10 -30 -160 -210 -310
requisito líquido 30 130 50 100
ordem planejada 30 130 50 100
nível de
estoque
tempo de tempo de
segurança segurança
tempo
due- need- due- need-
date date date date
(MP) (D)
Matéria- Demanda
-Prima
três estágios de produção na qual cada estágio a capacidade de cada grupo pode ser diferente
pode ter associado uma máquina ou um grupo de ao longo do período de planejamento.
máquinas que realizam transformações ou Segundo os custos unitários de matéria-
transportes com capacidades definidas a priori. prima, de operação, de estocagem e de atrasos na
O objetivo do planejamento é, a partir de metas entrega dos produtos e com o retorno por uni-
semanais estabelecidas por um nível hierárquico dade de demanda atendida, o planejamento deve
superior (por exemplo, decisões geradas pelo gerar um conjunto de decisões que determina:
programa mestre da produção (FOX, 1984), ou o quanto cada máquina deve produzir e em
por um sistema hierárquico de decisão que período;
(CARVALHO et al., 1996)), desmembrá-las em o quanto armazenar por estágio e em que
produções diárias, de forma a otimizar os custos, período;
atendendo ao mesmo tempo às restrições de a escala de utilização de matéria-prima por
capacidade das máquinas, de armazenagem e de período;
suprimento de matéria-prima. a escala de atendimento à demanda por
As decisões a serem tomadas para cada dia período;
podem envolver: a quantidade produzida, a a quantidade de demanda atendida com
utilização de matéria-prima, o carregamento de atraso; e
cada máquina ou grupo de máquinas, entre o retorno dentro do período de planejamento.
outras. A expansão da Figura 11 para considerar Um caminho para modelar e resolver este
um período de planejamento de cinco dias é tipo de problema, passa pela observação de que a
mostrada na Figura 12. Nesta expansão a linha de produção, para o sistema ilustrado pela
disponibilidade de cada grupo de máquinas pode Figura 12, pode ser visualizada como um
ser diferente ao longo do período de planejamen- conjunto de partes fluindo pelas máquinas e
to. Assim o grupo de máquinas 1 sofre decrés- unidades de armazenamento, sofrendo trabalho
cimo de capacidade nos intervalos de tempo 4 e (fabricação ou transporte) em cada período de
5 enquanto o grupo de máquinas 3 recebe uma tempo, até se tornarem um produto final. Se um
nova máquina a partir do período 3. Variações item deixa um estágio i, ele pode ir imediata-
semelhantes podem ocorrer com suprimento de mente ao estágio i+1 ou ser armazenado para
matéria-prima e com a demanda. De uma processamento em períodos subseqüentes. Esta
maneira geral, este problema apresenta as decisão passa pelas capacidades e custos de
seguintes características: produção e de estocagem. Esta característica
o horizonte de planejamento é discretizado sugere a aplicação de técnicas de grafos para
em períodos (hora, turno, dia); modelagem do problema de planejamento da
cada estágio de produção pode conter um ou produção, podendo ser escrita para cada estágio
mais grupos de máquinas; a seguinte equação de balanço:
são conhecidas as capacidades de produção e
de armazenagem de matéria-prima para x i -1, t + y i, t -1 = x i, t + y i, t
atendimento à demanda, dentro do horizonte
de planejamento; e
50 Carvalho, Silva Filho, Fernandes – O Planejamento da Manufatura
Mp2 D2
2 4 2
Mp3 D3
2 4 3
Mp4 D4
1 4 3
Mp5 D5
1 4 3
Períodos
(dias) Estágios
Injeção de
Semi-acabados
1,1 2,1 3,1 4,1 t=1
Arcos de
Arcos de
Matéria Prima Demanda
Sublinha 1
Sublinha 2 Produto
Final
Sublinha 3
de três sublinhas é ilustrado na Figura 14. eficiência na montagem dos produtos finais. Esta
Através das sublinhas fluem os itens e os com- coordenação ou sincronização é necessária para
ponentes necessários à montagem do produto prevenir a criação de estoques supérfluos entre
final, que são acoplados em pontos determinados estágios ou que a produção pare devido a um
da linha. Nesta figura, as linhas pontilhadas fluxo não balanceado entre produtos e compo-
indicam os acoplamentos entre as sublinhas nos nentes. A Figura 15 expande a linha da
seus respectivos pontos de montagem. Figura 14 para um horizonte de três períodos de
É necessário definir o número de componen- planejamento.
tes a serem montados a cada item do produto A representação por grafo da Figura 15 é
principal (quatro pneus por carro, por exemplo). apresentada na Figura 16. Nesta figura, os arcos
Desta forma, uma das funções mais importantes em linha cheia representam as produções, os arcos
do planejamento da produção é coordenar o em tracejado as armazenagens e os arcos em
fluxo entre as sublinhas concorrentes visando pontilhado indicam os pontos de acoplamento.
52 Carvalho, Silva Filho, Fernandes – O Planejamento da Manufatura
Mp1 D1
Mp2 D2
Mp3 D3
t=1
Mp1 D1
t=2
Mp2 D2
t=3
Mp3 D3
Produto k
t=1
Produto 2
Produto 1
t=2
t=1
t=3
t=2
t=3
durante a operação do sistema. Assim sendo é A representação matricial para a Figura 17,
importante garantir que, dentro do horizonte de considerando o caso multiproduto, pode ser
planejamento, o processamento de peças diferen- escrita como:
tes em uma mesma máquina não leve à violação
A1
de sua capacidade de produção. Para assegurar o
A2 0
atendimento a esta restrição deve-se estender o
. 0
problema de grafo para um problema multifluxo,
.
para isto adiciona-se mais uma restrição ao
problema: 0 .
AK
∑ x(i, t) ≤ X(j, t)
i∈I(j)
A Q1
Q2 0
.
onde X(j,t) é a capacidade máxima de produção 0
.
da máquina j e x(i,t) é a quantidade processada
0 .
da peça i no tempo t. O conjunto I(j) contém os
tipos de peças que serão processadas pela QK
E1 E2 . . . EK I
máquina j.
54 Carvalho, Silva Filho, Fernandes – O Planejamento da Manufatura
40
te m p o d e e x e c . (s )
G AM S
35
R ETR A
30
25
20
15
10
0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
p ro d u to s
onde A1 é a matriz incidência nó-arco do produto especial do problema. Um método que pode tirar
1, A2 é a matriz incidência nó-arco do produto 2, proveito deste tipo de estrutura é o GUB
Ak é a matriz incidência nó-arco do produto k e (“Generalized Upper Bounding”) especializado
Qk são as matrizes que definem as relações de para estruturas de rede. Este método é também
acoplamento entre as linhas concorrentes de cada conhecido como algoritmo primal para fluxo em
produto. As submatrizes Ek representam as redes com restrições adicionais. O algoritmo
restrições de capacidade mútua de processamen- empregado é o NETSIDE, código em Fortran
to. O número de restrições adicionais é igual ao para resolver problemas de fluxo em redes com
número de pontos de acoplamento multiplicado restrições adicionais, desenvolvido por
pelo número de intervalos de tempo adicionada KENNINGTON (1990) e que possui bom
ao número de máquinas que processem mais de desempenho quando o número de restrições
uma peça no mesmo intervalo de tempo. Como adicionais é menor que o número de nós do
pode-se ver acima, a matriz resultante para o grafo, caso específico do problema de planeja-
caso do planejamento da produção de uma linha mento da produção aqui formulado.
multiproduto, multiestágio e multiperíodo possui Outro enfoque é trabalhar as restrições adi-
uma estrutura muito particular que deve ser cionais de forma a converter a estrutura acima
aproveitada pela técnica de solução. Para tanto em um problema de fluxo em redes simples em
deve ser parcionada como sugerido em que algoritmos específicos muito eficientes estão
FERNANDES et al. (1995). disponíveis. Para obter uma estrutura de fluxo
em redes com função objetivo linear, dois passos
6.4 Técnica de Solução devem ser seguidos: tratamento das restrições
adicionais por técnica de penalidade quadrática
Em geral, os problemas de planejamento da suavizada e resolução do problema resultante
produção são de grande porte, devido principal- por decomposição simples e implementada no
mente à natureza temporal e à quantidade de software RETRA (CARVALHO et al., 1998). A
produtos que compartilham os mesmos recursos Figura 18 mostra o desempenho desta técnica em
de produção. Logo, requisitos como armazena- relação ao GAMS (BROOKE et al., 1992),
gem de variáveis e tempo de execução computa- software de programação linear de propósito
cional são fatores essenciais na escolha de um geral. Nesta figura é variado o número de pro-
método de solução. Para tanto, um meio de dutos e medido o tempo de execução. O GAMS
satisfazer estes requisitos é aproveitar a estrutura mostra um crescimento próximo ao exponencial
GESTÃO & PRODUÇÃO v.5, n.1, p. 34-59, abr. 1998 55
DEMANDA
PLANEJAMENTO MESTRE
RETRA
PRODCON
PLANEJAMENTO PLANEJAMENTO
DE CAPACIDADES DE RECURSOS
CONTROLE DA
PRODUÇÃO
SUPERVISÃO
PROCESSO
Dt2 = 80.000
GM1: 150.000 GM2: 100.000
M01
Prod 088 Dt1 = 40.000
M15
Mi Máquina i
saturada
prod087
prod088
PRODCON que gera as ordens de compra e de demanda, o PRODCON (que possui a estrutura
produção. Discutiu também a integração das de um MRP II) procura factibilizar de forma
duas técnicas, gerativa e avaliativa de solução, detalhada uma solução que atenda aos interesses
necessária devido a complementaridade. Ou seja, dos clientes. O grande apelo da integração destas
enquanto a otimização, para fugir do problema metodologias é olhar o sistema de produção sob
de dimensionalidade, trabalha com os produtos o ponto de vista da empresa (retorno esperado
agregados em família, otimiza custos e considera dentro do horizonte de planejamento) e do
restrições rígidas de capacidade e incerteza na cliente, privilegiado pelas técnicas avaliativas.
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MANUFACTURING PLANNING –
INDUSTRIAL PRACTICES AND OPTIMIZATION METHODS
Abstract
This paper presents a review of the most common methodologies used as tools for supporting the
production planning process of manufacturing systems. The industrial practices, known as evaluative
techniques, and the optimization methods, known as generative techniques are highlighted. The way
these techniques work is discussed, and their advantages and drawbacks are analyzed. It is concluded
that optimization is a complementary tool for overcoming certain deficiencies found during the
application of industrial practices and is essential for production planning.