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Calixto, Fabiano - Blue

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Jurubeba blue

Fabiano Calixto

7
regiane coelho

fabiano calixto nasceu em Garanhuns (PE), em


1973. Vive em So Paulo. poeta e professor.
Cursa doutorado em Teoria Literria e Literatura
Comparada na Universidade de So Paulo, USP.
Publicou Algum (edio do autor, 1998), Fbrica
(Alpharrabio Edies, 2000), Um mundo s para
cada par (Alpharrabio Edies, 2001), Msica possvel
(CosacNaify/7Letras, 2006), Sangnea (Editora 34,
2007), A cano do vendedor de pipocas (7Letras, 2013),
Para ninar o nosso naufrgio (Corsrio-Sat, 2013),
Equatorial (Tinta-da-China, 2014) e Nominata morfina
(Crrego/Corsrio-Sat/Pitomba, 2014).
Fabiano Calixto

JURUBEBA BLUE

Belo Horizonte, 2015


Este livro foi realizado com recursos da Lei Municipal
de Incentivo Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte.
Fundao Municipal de Cultura.
956/2012/FPC
Tiragem: 2.500 exemplares
2015 coleo leve um livro
Os textos deste livro so de propriedade dos autores. Direitos desta edio
cedidos coleo Leve um Livro. Todos os direitos reservados. Reproduo
permitida mediante autorizao dos autores e dos editores.

editores
Ana Elisa Ribeiro e Bruno Brum

projeto grfico
Bruno Brum

logo da coleo
Bruno Brum e Tatiana Perdigo

reviso
Ana Elisa Ribeiro

ilustrao de capa
Tatiana Perdigo

desenvolvimento do site
Bruno Brum e Mozart Brum

produo
Marcelo Ramos

conhea mais
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instagram.com/leveumlivro
A cano do vendedor de pipocas
Para Anglica Freitas

em frente ao
Banco de La Nacin Argentina
o vendedor de pipocas
da avenida Paulista
desvenda os mistrios do Honda prata
que passa lentamente, soberbo
(coisa mais sem gente!)
pensa na noite crnica no organismo
da tiazinha de vestido florido (onde
predomina o ruivo)
agora assobia e coloca milho na panela
os estouros acordam a minha fome
(no El Pas
El presidente apuesta por las polticas
a favor de los ms olvidados
y los que pueden menos
risco outro fsforo, acendo outro cigarro,
outra melodia
frustrated incorporated)
quando chega o outro, de bicicleta

fabiano calixto 5
noticiando o acidente na Rebouas
(foi feio pra caralho, mano!)
logo envelopa a fala, se cala
a chuva recomea sua cantilena
preciso das horas, mas no encontro meu
[celular
uma moa linda (ensopada) pra
em frente a mim,
balbucia
can you help me remember how to smile?
silencio e lembro de uma rua
que tem o nome do meu amor
imagino que as canes de Bob Dylan
existam para nos fazer suportar dias
como este a
cidade se altera, oxida de
alteridade e acdia
(La Contenta Bar
est muito muito longe e
a noite passada
voc no veio me ver

6 coleo leve um livro


Versos de circunstncia

eu no entendia
& ela se mexia tanto ao meu lado
& aqueles bancos apertados
o ar condicionado gelando tudo
(os brincos dela, o meu humor)
mais de uma hora cruzando
ruas, avenidas, pargrafos
o livro gritando alto
num mundo surdo
depois de arrumar-se
mais algumas dezenas de vezes
passou batom nos lbios
o sol j estava no meio do cu
quando ela se levantou
foi ento que percebi que
trs pequenos pssaros
voavam em suas costas

fabiano calixto 7
Espera

a janela aberta
da cozinha
as mos
os pratos limpos

uma hora
de msica
um quinto
cigarro
para passar o tempo

rumor de fresta
noite de maio

uma espera
acesa
durando uma estrela

8 coleo leve um livro


Juntando gravetos
Para Antonio Calixto, com carinho & muita saudade

Faz um tempo eu quis


Fazer uma cano
Pra voc viver mais
John Ulhoa

o silncio de hoje
toca a quaresmeira l fora
e, hspede da perfeio,
torna-se igualmente lils

com esse silncio


que leio suas palavras potveis
recm-chegadas de longe
de onde?

(a dor nos traz anseios


tolos como fazer a Terra
voltar meses, anos atrs, como fez
aquele heri extraterrestre

fabiano calixto 9
do filme e do lbum de figurinhas
que juntos colvamos
em muitas manhs de domingo
ou olhar uma estrela
e imaginar que voc
dorme em algum lugar
ali por perto
e nos d a medida do tempo
e continuamos sem entender
medida alguma, aguardando
o barco retornar de Delfos
para que possamos, tambm,
nos despedir definitivamente
desse nosso
bosque liliputiano)

dizem que a ltima cano


mas eles no nos conhecem

por dentro da tarde


as flautas tomam flego
para que canes flutuem
ao redor das rvores
que fazem sombra
para os que se despedem

10 coleo leve um livro


Nem a Nona Sinfonia tem tanta beleza

numa manh de setembro


meio dormindo
meio acordado

foi assim
no xtase enovelado
do ps-sonho
que ouvi pela primeira vez
a mijadinha dela

fabiano calixto 11
eu queria fazer um poema
maneira clssica chinesa

montar num grou amarelo


& passear bbado
pela terra dos imortais

(me imaginando Li Bai


breaco
morrendo
na tentativa
desesperada
de agarrar o reflexo da lua
numa imensa lagoa)

eu queria
encher a cara contigo outra vez
(alis, o que mais
eu poderia querer?)

queria te levar para um passeio


intergalctico
num drago vermelho
que tem um drago azul
tatuado na cauda

12 coleo leve um livro


mas ao rs do cho
tudo so cinzas
como no amor

& depois da chuva


o asfalto torna-se um espelho
de lgrimas
dos solitrios da cidade

(um poeta chins da dinastia Tang


diria que
depois da chuva
o pessegueiro ainda mais vermelho,
como o corao recm-arrancado
do inimigo)

tudo est longe agora


muito longe
enquanto alimento o grou amarelo
com amoras muito vermelhas
penso que teu sorriso
resume o sol de trs primaveras

fabiano calixto 13
E-mail para Carlito Azevedo

rapaz, mas est tudo to srio


tudo to carteira da frente
sem sol, sem Rio, sem gente

essa falta de imaginao, que mistrio!


tudo carece dessa leveza bonita
que em nossas leves veredas levita

(os passos da deusa sempre acesa,


uma garota sempre de Ipanema,
sempre sol, sorvete, praia, cinema)

so tantos tontos em ponto de tristeza


por um lugar na mdia toscos teachers
verso brasileira Herbert Richers

e so tantos tiques todos: traa


tanto poeta pedante (eu s podia
que mania! estar falando de poesia)

... o Brasil est perdendo a graa...


mas algum de longe grita: alea jacta est,
Coca-cola is the best!
14 coleo leve um livro
Onde encontrar nossos livros
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Rua Pioneiros da Paz, 28 Pampulha fundao municipal de cultura
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caf cine brasil Rua da Bahia, 888 Centro
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caf com letras Rua Piau, 631 Santa Efignia
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sesi emlia massanti Praa Rio Branco, 100 Centro
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centro federal de educao Av. Augusto de Lima, 420 Centro
tecnolgica de minas gerais
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fabiano calixto 15
Poesia circulando na cidade
Poesia circulando nas ruas, para o maior nmero
possvel de pessoas. Essa foi a ideia que nos
motivou a criar a coleo Leve um Livro.
O funcionamento bastante simples: convi-
damos 24 poetas de todo o Brasil para publicar
microantologias, duas a cada ms, ao longo de
um ano. Os livros so feitos especialmente para
a coleo, com projeto grfico exclusivo, e so
distribudos gratuitamente, em 20 pontos de
Belo Horizonte. Quem quiser, s levar para
casa, ler e colecionar.
Em nosso site voc encontra todas as informaes
sobre o projeto: autores participantes, pontos
de distribuio, lanamentos, fotos e muito
mais. Alm disso, disponibilizaremos todos os
livros para download gratuito, medida em que
forem sendo lanados. Boa leitura!

www.leveumlivro.com.br

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