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Teste 6
6 Sequncia 4. Jos Saramago
Jos Saramago
Grupo I
A
L o excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Ricardo Reis diz, L lhe ficou uma lembrana, o Pimenta responde, Muito obrigado ao
senhor doutor, quando quiser alguma coisa s dizer, todas estas palavras so inteis, e isso
ainda o melhor que podemos dizer delas, quase todas, em verdade, hipcritas, razo tinha
aquele francs que disse que a palavra foi dada ao homem para disfarar o pensamento, enfim,
5 teria razo o tal, so questes sobre as quais no devemos fazer juzos perentrios, o mais
certo ser a palavra o melhor que se pde arranjar, a tentativa sempre frustrada para exprimir
isso a que, por palavra, chamamos pensamento. Os dois moos de fretes j sabem aonde
devem levar as malas, Ricardo Reis disse-o depois de se ter retirado Pimenta, e agora sobem a
rua, vo pela calada para maior desafogo do transporte []. A meio da rua tm os moos de
10 fretes de chegar-se para um lado, e ento aproveitam para arrear a carga, respirar um pouco,
porque vem descendo uma fila de carros eltricos apinhados de gente loura de cabelo e rosada
de pele, so alemes excursionistas, operrios da Frente Alem do Trabalho, quase todos ves-
tidos moda bvara, de calo, camisa e suspensrios, o chapelinho de aba estreita, pode-se
ver facilmente porque alguns dos eltricos so abertos, gaiolas ambulantes por onde a chuva
15 entra quando quer, de pouco valendo os estores de lona s riscas, que iro dizer da nossa civi-
lizao portuguesa estes trabalhadores arianos, filhos de to apurada raa [].
Estamos perto. Ao fundo desta rua j se veem as palmeiras do Alto de Santa Catarina, dos
montes da Outra Banda assomam pesadas nuvens que so como mulheres gordas janela,
metfora que faria encolher os ombros de desprezo a Ricardo Reis, para quem, poeticamente,
20 as nuvens mal existem, por uma vez escassas, outra fugidia, branca e to intil, se chove s
de um cu que escureceu porque Apolo velou a sua face. Esta a porta de entrada da minha
casa, [] agora entremos todos, as duas malas pequenas, a maior, repartindo o esforo, paga-
-se o preo ajustado, a esperada gorjeta, cheira a intenso suor, Quando tornar a precisar da
gente, patro, estamos sempre ali, no duvidou Ricardo Reis, se com tanta firmeza o diziam,
25 mas no respondeu, E eu sempre aqui estarei, um homem, se estudou, aprende a duvidar,
muito mais sendo os deuses to inconstantes, certos apenas, eles por cincia, ns por expe-
rincia, de que tudo acaba, e o sempre antes do resto.
SARAMAGO, Jos, 2016. O Ano da Morte de Ricardo Reis. 22. ed. Porto: Porto Editora (pp. 250-252) (1. ed. 1984)
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1. Interpreta a afirmao so de tirar e pr essas caras e palavras (ll. 8-9), no contexto em que
ocorre.
2. Apresenta dois traos caracterizadores de D. Joo V, fundamentando as tuas afirmaes
com elementos textuais.
3. Relaciona o recurso ao provrbio pequenas causas, grandes efeitos (l. 29) com a
intencionalidade dos comentrios do narrador, no ltimo pargrafo.
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Mas j que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos l o irmo
Polvo, contra o qual tm suas queixas, e grandes, no menos que So Baslio, e Santo
Ambrsio. O Polvo, com aquele seu capelo1 na cabea, parece um Monge, com aqueles
seus raios estendidos, parece uma Estrela, com aquele no ter osso, nem espinha,
5 parece a mesma brandura, a mesma mansido. E debaixo desta aparncia to modesta,
ou desta hipocrisia to santa, testemunham contestamente2 os dois grandes
Doutores da Igreja Latina, e Grega, que o dito Polvo o maior traidor do mar. Con-
siste esta traio do Polvo primeiramente em se vestir, ou pintar das mesmas cores
de todas aquelas cores, a que est pegado. As cores, que no Camaleo so gala, no
10 Polvo so malcia; as figuras, que em Proteu3 so fbula4, no Polvo so verdade, e
artifcio. Se est nos limos, faz-se verde; se est na areia, faz-se branco; se est no
lodo, faz-se pardo; e se est em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma
estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe
inocente da traio vai passando desacautelado, e o salteador, que est de emboscada
15 dentro do seu prprio engano, lana-lhe os braos de repente, e f-lo prisioneiro.
Fizera mais Judas? No fizera mais; porque nem fez tanto. Judas abraou a Cristo,
mas outros O prenderam: o polvo o que abraa, e mais o que prende.
VIEIRA, Padre Antnio, 2014. Sermo de Santo Antnio. In Obra Completa (Direo de Jos Eduardo Franco e Pedro
Calafate). Tomo II. Volume X (Sermes Hagiogrficos I). Lisboa: Crculo de Leitores (p. 162) (1. ed.: 1682)
1. capuz; 2. com testemunho uniforme; 3. deus do mar que tinha a capacidade de se metamorfosear; 4. falsidade; 5. traidor.
Grupo II
L atentamente o texto.
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chocos (ambos animais com dez membros) e algumas espcies de nutilos, animais
estranhos que possuem 90 tentculos e vivem no interior de carapaas. Os polvos
contemporneos so uma famlia muito diversificada.
10 O polvo-gigante-do-pacfico , como o seu nome sugere, gigantesco. Cada tent-
culo de um indivduo de grande porte pode atingir dois metros de comprimento e o
animal pode pesar mais de cem quilogramas. Outros, como o polvo-pigmeu, so
nfimos, pesando menos de trinta gramas. []
Os polvos e chocos que vivem em guas pouco profundas e so caadores diur-
15 nos so os campees mundiais da camuflagem. Como evidente, o disfarce no
invulgar: muitas criaturas evoluram de maneira a assemelhar-se a algo que no so.
[]
O que torna os polvos e os chocos (e, em menor grau, as lulas) diferentes a sua
capacidade para se disfararem num pice, ora assemelhando-se a corais, ora a um
molho de algas, ora a um pedao de areia. como se utilizassem a pele para elaborar
20 imagens tridimensionais de objetos localizados perto de si. Como conseguem faz-
-lo? O disfarce do polvo composto por trs elementos principais. Um deles a cor.
Os polvos geram cor atravs de um sistema de pigmentos e refletores. []
No seu conjunto, os refletores e os rgos dos pigmentos permitem ao polvo
criar uma enorme variedade de cores e padres. O segundo elemento de disfarce a
25 textura da pele. Contraindo msculos especiais, os polvos conseguem alterar a pele,
que deixa de ser lisa para passar a ser espinhosa. []
A terceira componente do disfarce a postura. O modo como um polvo se com-
porta pode faz-lo dar mais ou menos nas vistas. H alguns polvos, por exemplo,
que se enrolam de maneira a assemelhar-se a um monte de coral e, utilizando apenas
30 dois braos, deslizam suavemente sobre o fundo do mar.
Como conseguiram os polvos ser to bem-sucedidos no disfarce? A resposta
curta : evoluo. Ao longo de dezenas de milhes de anos, os espcimes mais capa-
zes de disfarar-se foram tendo mais probabilidades de fugir aos predadores e gerar
descendncia. E existem muitos animais incluindo enguias, golfinhos, camares
30 louva-a-deus, corvos marinhos, muitos peixes e at outros octpodes que so en-
tusisticos devoradores de polvos. Como os polvos no tm ossos, os predadores
podem comer o animal inteiro.
JUDSON, Olivia, 2016. O poder do oito. National Geographic Portugal,
n. 188, novembro de 2016 (pp. 47-56)
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2. A utilizao das palavras cefalpodes (l. 1), polvos (l. 6), lulas (l. 6), chocos (l. 7) e nutilos
(l. 7) exemplifica o processo de coeso
(A) referencial.
(B) lexical por substituio (holonmia-meronmia).
(C) lexical por repetio.
(D) lexical por substituio (hiperonmia-hiponmia).
3. Com o recurso aos complexos verbais pode atingir e pode pesar, nas linhas 11-12,
concretiza-se
(A) a modalidade epistmica com valor de certeza.
(B) a modalidade dentica com valor de permisso.
(C) a modalidade epistmica com valor de probabilidade.
(D) a modalidade apreciativa.
4. O constituinte por trs elementos principais (l. 21) desempenha a funo sinttica de
(A) complemento oblquo.
(B) complemento do adjetivo.
(C) complemento agente da passiva.
(D) modificador.
8. Refere o valor aspetual da frase: Ao longo de dezenas de milhes de anos, os espcimes mais
capazes de disfarar-se foram tendo mais probabilidades de fugir aos predadores e gerar
descendncia. (ll. 32-34).
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9. Indica o princpio associado coerncia textual concretizado com o recurso s expresses trs
elementos principais (l. 21), Um deles (l. 21), O segundo elemento (l. 24) e A terceira
componente (l. 27).
Grupo III
Redige um texto de opinio em que defendas um ponto de vista pessoal sobre a perspetiva
veiculada pela frase citada.
Observaes:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequncia delimitada por espaos em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hfen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer nmero conta como uma nica palavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2017/).
2. Desvios dos limites de extenso indicados implicam uma desvalorizao.
Cotaes
Item
Grupo
Cotao (em pontos)
1. a 5.
I
5 x 20 pontos 100
1. a 10.
II
10 x 5 pontos 50
TOTAL 200
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