PDF (Artigo Empresarial - Títulos de Crédito)
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1 – INTRODUÇÃO
Na realidade, o novo Código Civil veio regular “papéis outros” diversos dos
títulos de crédito hoje existentes, e que continuarão a existir com a sua entrada em
vigor. Assim, a impropriedade do novo Código é gritante ao intitular o seu Título VIII
como “Dos Títulos de Crédito.”
*
Palestra proferida no Seminário sobre o novo Código Civil, realizado pela Faculdade de Direito de
Caratinga (MG) em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais, em 28 de abril de
2003.
1
COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito e novo Código Civil. Revista da Faculdade de Direito Milton
Campos, v. 8, 2001.
2
Não podemos olvidar que a criação dos títulos de crédito trouxe novos
contornos às práticas comerciais, na medida em que valorizou a figura do crédito,
dando-lhe posição de destaque no fomento das atividades desenvolvidas pelos
comerciantes e os modernos empresários.
2
A propósito, registre-se aqui a observação de João Eunápio Borges (Títulos de crédito. Rio de Janeiro, p.
8) que “nem todo documento será título de crédito; mas, todo título de crédito é, antes de tudo, um
documento no qual se consigna a prestação futura prometida pelo devedor.”
3
A literalidade, por sua vez, reside no fato de que só vale o que se encontra
escrito no título.
3
COSTA, Wille Duarte. Atributos, princípios gerais e teorias dos títulos de crédito: o direito que precisa
ser repensado. Revista da Faculdade de Direito Milton Campos v. 4, p. 145-167, 1997.
4
BORGES, João Eunápio. Títulos de crédito, p. 9.
5
Esclarece Newton de Lucca (Aspectos da teoria geral dos títulos de crédito, p. 11) que “a primeira
definição importante dos títulos de crédito, registrada pelos tratadistas, foi formulada pelo jurista
germânico Brunner, segundo a qual os títulos de crédito são ‘documentos de um direito privado que não
pode ser exercido, senão pela apresentação do título.”
6
Fran Martins (Títulos de crédito, v. I, p. 5) destaca que, “dentre as inúmeras definições que foram dadas
aos títulos de crédito, coube a Cesar Vivante formular aquela que, sem dúvida, é a mais completa, pois
encerra, em poucas palavras, algumas das principais características desses instrumentos”.
7
MARTINS, Fran. Títulos de crédito, v. I, p. 5.
4
Por último, a autonomia do título de crédito determina que cada pessoa que
a ele se vincula assume obrigação autônoma relativa ao título. É em razão da autonomia
do título de crédito que o possuidor de boa-fé não tem o seu direito restringido em
decorrência de negócio subjacente entre os primitivos possuidores e o devedor.
Aliás, não se pode falar de autonomia dos títulos de crédito sem que se faça,
ainda que rapidamente, uma abordagem acerca da abstração, outro princípio
característico de tais instrumentos.
Pela abstração temos que os direitos decorrentes dos títulos são abstratos,
independentes do negócio que deu lugar ao seu surgimento. 8 A abstração não se
confunde com a autonomia. Aquela traz a regra de que uma vez emitido o título este
libera-se de sua causa; esta disciplina que as obrigações assumidas no título são
independentes umas das outras.
Ponto mais importante em relação aos títulos de crédito é que estes, para
serem tidos como tal, devem ser regulados por lei. Em outros termos: deve existir uma
lei que atribua a determinado “documento” creditício a natureza de um verdadeiro título
de crédito, com todas as características e atributos a ele inerentes.
8
MARTINS, Fran. Títulos de crédito, v. I, p. 9.
5
9
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil , v. 4, p. 7.
10
Letra de câmbio: artigos 1º e 2º do Decreto n. 57.663/66; nota promissória, artigo 76 do Decreto n.
57.663/66; duplicata, artigo 2º da Lei n. 5.474/68; cheque, artigo 2º da Lei n. 7.357/85.
6
- data de emissão;
- indicação precisa dos direitos que confere;
- assinatura do emitente
5 – TÍTULOS ELETRÔNICOS
Com propriedade, alerta Costa 11 que “se a pretensão foi a de criar um título
completo, incluindo a assinatura do emitente, ficou regulamentar “assinatura
criptografada”, “chave privada”, “chave pública” e outros elementos necessários para
segurança do emitente do título eletrônico. De qualquer forma, o legislador autorizou
um tipo de emissão do qual não demostrou o menor conhecimento. Quis ser moderno
apenas.”
11
COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito e novo Código Civil. Revista da Faculdade de Direito Milton
Campos, v. 8, 2001.
12
FERNANDES, Jean Carlos. Ilegitimidade do boleto bancário. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
13
O boleto bancário também não se caracteriza um “título de legitimação”, tal como definido por Fran
Martins (Títulos de crédito, v. I, p. 20), uma vez que não exterioriza o direito de recebimento de uma
prestação de coisas ou de serviços. Igualmente, o boleto bancário não encontra guarida nas estipulações
concernentes aos títulos de crédito traçadas pelo novo Código Civil Brasileiro – Lei n. 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 – sendo certo ali não se caracterizar como um título atípico ou inominado, uma vez que
não contém assinatura de espécie alguma (Wille Duarte Costa, Títulos de crédito e o novo código civil),
8
6 – ENDOSSO
Com efeito, o Código Civil dispôs em seu art. 914 que “ressalvada cláusula
expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo
cumprimento da prestação constante do título.”
muito menos um título ao portador por faltar-lhe a promessa, devidamente firmada pelo sacado, de
realizar certa prestação (Maria Helena Diniz, Curso de direito civil brasileiro, v. 3, p. 740-741).
9
direitos específicos sem a ele atribuir a propriedade do título (endosso mandato para
realização de simples cobrança).
Contudo, o art. 914 do novo Código não se aplica aos títulos regulados por
leis especiais, como ressalva o art. 903 do mesmo diploma legal.
Por fim, destaca-se que o novo Código, em seu art. 912, parágrafo único,
repete a regra de ser o endosso parcial nulo, o que faz com que relembremos a lição do
eminente João Eunápio Borges, no sentido de que “não seria nulo o endosso parcial,
apenas eficaz – considerada cambialmente não escrita – a limitação ou parcelamento da
soma constante do referido endosso” 14. Entendimento diverso, importaria na quebra da
cadeia de endosso, tornando-se injustificável a posse do título pelo endossatário e
eventuais portadores que lhe sucederem.
7 – AVAL
14
BORGES, João Eunápio. Títulos de crédito, p. 76.
15
BORGES, João Eunápio. Do aval. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1975.
10
Exerce o aval importante papel na teoria geral dos títulos de créditos. Trata-
se de uma obrigação cambial ou cambiariforme, que visa garantir o título regularmente
emitido.
O novo Código Civil tratou do instituto do aval nos artigos 897 a 900,
ressaltando, dentre outros aspectos, a vedação ao aval parcial, a aposição deste no verso
ou anverso do próprio título, prevendo ainda o chamado aval em preto e em branco.
Do novo texto legal sobressai a regra concernente aos efeitos do aval dado
posteriormente ao vencimento do título, não os diferenciado do aval dado anteriormente
a tal fato, como dispõe o art. 900. Trata-se de inovação que arreda a divergência que
ainda existia em pequena parte da doutrina, que considerava que o aval dado
posteriormente ao vencimento do título tinha efeitos de fiança. Como inexiste
dispositivo neste sentido nas leis especiais, prevalece agora a regra geral traçada pelo
novo Código Civil.
16
PAES, P.R. Tavares. O aval no direito vigente (Doutrina, jurisprudência e legislação), p. 6
11
9 – CONCLUSÕES
Observa-se que o novo Código Civil pouco inovou quanto aos títulos de
crédito, justificando, pois, a opinião da doutrina no sentido da inutilidade de tais
disposições, que, na sua grande maioria, revelaram-se apenas como repetição de
dispositivos da Lei Uniforme de Genebra.
17
COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito e o novo Código Civil. Revista da Faculdade de Direito
Milton Campos, v 8, 2001.
12
preceito.”
Assim, o novo Código Civil em nada altera a teoria geral dos títulos de
crédito, não alterando os efeitos do endosso nos títulos regidos por leis especiais, muito
menos criando “títulos virtuais”, sendo certo que agasalha, em seu art. 887, os
princípios da carturalidade (documento necessário), a literalidade e a autonomia
(exercício de direito literal e autônomo nele contido).
10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORGES, João Eunápio. Títulos de crédito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1976.
. Do aval. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1975.
. Curso de direito Comercial terrestre. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967.
COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. No prelo.
. Algumas notas sobre títulos de crédito. Palestra proferida no I Seminário de
Direito Comercial. Faculdade de Direito da Universidade de Uberlândia. Uberlândia,
1996.
. Atributos, princípios gerais e teorias dos títulos de crédito: O Direito que
precisa ser repensado. Revista da Faculdade de Direito Milton Campos. V. 4. Belo
Horizonte: Inédita, 1997.
. Títulos de crédito e o novo código civil. Revista da Faculdade de Direito
Milton Campos. V. 8. Belo Horizonte: Inédita, 2001.
13
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria das obrigações
contratuais e extracontratuais. 17ª ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2002.
FERNANDES, Jean Carlos. Ilegitimidade do boleto bancário. Belo Horizonte: Del
Rey, 2003.
LUCCA, Newton de. Aspectos da teoria geral dos títulos de crédito. São Paulo:
Pioneira, 1979.
MARTINS, Fran. Títulos de crédito.13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, v. I e II.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 28. ed. São Paulo: Saraiva,
1995.
PAES, Paulo Roberto Tavares. O aval no direito vigente. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1982.