1 Formacao em Psicologia Escolar, Realidades e Perspectivas
1 Formacao em Psicologia Escolar, Realidades e Perspectivas
1 Formacao em Psicologia Escolar, Realidades e Perspectivas
PSICOLOGIA ESCOLAR
Realidades e perspectivas
Herculano R. Campos
organizador
A
A
A
AA
Alínea
E D I T O R A
DIRETOR GERAL
Wilon Mazalla Jr.
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Willian F. Mighton
COORDENAÇÃO DE REVISÃO
Helena Moysés
REVISÃO DE TEXTOS
Lilian Moreira Mendes
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Fabio Diego da Silva
CAPA
Ivan Grilo
Bibliografia.
ISBN 978-85-7516-195-1
Editora Alínea
Rua Tiradentes, 1053 − Guanabara − Campinas-SP
CEP 13023-191 − PABX: (0xx19) 3232.9340 e 3232.2319
www.atomoealinea.com.br
Impresso no Brasil
SUMÁRIO
Apresentação ................................................................................................5
Sobre os autores............................................................................................9
Parte I
Desafios e alternativas para a formação do psicólogo escolar.....................15
Capítulo 1.
A psicologia escolar nas diretrizes curriculares:
espaços criados, desafios instalados .................................................................17
Claisy Maria Marinho-Araujo
Capítulo 2.
Formação inicial em psicologia escolar:
questões apontadas por alunos de graduação....................................................49
Marisa Maria Brito da Justa Neves
Capítulo 3.
Psicologia escolar: perspectivas e compromissos na formação continuada ......69
Claisy Maria Marinho-Araujo
Marisa Maria Brito da Justa Neves
Capítulo 4.
A educação e a educação do psicólogo:
idéias e práticas de pesquisa-ação-formação.....................................................89
Sônia Maria Rocha Sampaio
Parte 2
Atuação e formação em psicologia escolar: uma articulação desejada.....107
Capítulo 5.
O psicólogo escolar e os processos
de implantação de políticas públicas: atuação e formação .............................109
Albertina Mitjáns Martinez
Capítulo 6.
A formação do psicólogo escolar e a atuação
em instituições infantis: da história às práticas atuais .....................................135
Celia Vectore
Eulália H. Maimoni
Capítulo 7.
Reflexões a respeito da atuação do psicólogo
no campo da psicologia escolar/educacional em uma perspectiva crítica .......149
Marilene Proença Rebello de Souza
Capítulo 8.
Psicólogos recém-formados:
oportunidades de trabalho e atuação na área educacional ...............................163
Alacir Villa Valle Cruces
Maria Regina Maluf
Parte 3
Psicologia escolar e educação inclusiva:
novas demandas teórico-práticas ..............................................................211
Capítulo 9.
A pessoa com deficiência mental entre os muros da educação.......................213
Alexandra Ayach Anache
Capítulo 10.
Como estranhos no ninho:
o diferente jeito de viver das pessoas com a Síndrome de Asperger ...............245
Eliana Rodrigues Araújo
Herculano R. Campos
APRESENTAÇÃO
O organizador
SOBRE OS AUTORES
CELIA VECTORE
Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Escolar pelo Programa de
Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Pós-doutora pela
Facoltà Degli Studi di Ferrara, Itália e pela Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo. Professora do Instituto de Psicologia da
Universidade Federal de Uberlândia nos níveis de graduação e
pós-graduação, coordenadora do curso de especialização em psicopedagogia
(lato sensu) e dos laboratórios: de Estudos Avançados em Desenvolvimento
Humano e, de Estudos da Criança e do Brincar do IPUFU, onde também é
orientadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Aplicada. Membro
do Grupo de Trabalho da ANPEPP, Psicologia Escolar/Educacional.
Atualmente é líder do grupo de pesquisa do CNPq intitulado Psicologia e
Desenvolvimento da Aprendizagem: contextos institucionais e coordenadora
de pesquisa financiada pela FAPEMIG.
E-mail: vectore@ufu.br
EULÁLIA H. MAIMONI
Doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo,
docente do Mestrado em Educação da Universidade de Uberaba (MG), é
responsável pela representação de Minas Gerais junto à ABRAPEE.
Presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
(ABRAPEE) no biênio 2004-2006. Docente aposentada da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU). Publicou capítulo nos livros: A Escola e a
Família (Cabral Ed, 2003.) e Formação de Professores en América
Latina: diversos contextos sócio-políticos (Bogotá: Antropos, 2003). Faz
parte do Grupo de Pesquisa: Os professores e suas práticas (CNPq).
HERCULANO R. CAMPOS
É psicólogo e doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. No Departamento de Psicologia da UFRN atua, na
graduação, como supervisor de estágio em Psicologia Escolar, e como
professor e orientador no Programa de Pós-graduação, Mestrado, em
Psicologia.
É, também, membro-pesquisador do Núcleo de Estudos Socioculturais da
Infância e Adolescência – NESCIA; coordenador do Curso de Especialização
em Psicopedagogia; atual vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em
Psicologia – Mestrado; e vice-coordenador do Curso de Especialização sobre
Crianças e Adolescentes: aspectos legais e sociais. É assessor da Pró-reitoria
de Planejamento e Coordenação Geral, na qual preside a comissão
responsável pela implementação da auto-avaliação institucional.
É membro da Comissão Assessora do MEC/INEP na área de Formação
de Professores. Tem atuado junto a várias ONGs no acompanhamento de
projetos destinados à infância e adolescência com sujeitos em situação de
vulnerabilidade pessoal e social. Presta assessoria na área de formação de
professores para a inclusão educacional.
INTRODUÇÃO
O presente capítulo se propõe a discutir os desafios
instalados no cenário da graduação em Psicologia a partir da
promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais, enfocando o
que se refere especificamente à formação em Psicologia Escolar.
As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Psicologia
foram aprovadas em fevereiro de 2004, pelo parecer nº CNE/CES
0062/2004, da Câmara de Educação Superior do Conselho
Nacional de Educação. Após a homologação pelo Ministro de
Estado da Educação em 12 de abril de 2004, a resolução nº 8, de 7 de
maio de 2004, instituiu nacionalmente as Diretrizes.
A partir de então, o tema da formação inicial em Psicologia
na graduação vem motivando estudos, discussões, publicações e
propostas de reestruturações curriculares em todo o país. Esse
cenário também se reflete nas produções teóricas relativas à
Psicologia Escolar, gerando intensas reflexões na busca de maior
criticidade à formação e atuação do psicólogo escolar.
O presente trabalho se propõe a contribuir com tais reflexões,
na medida em que apresenta articulações entre as possibilidades de
formação inauguradas com as Diretrizes e as necessárias
18 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO
EIXO TEÓRICO-CONCEITUAL
Desenvolvimento de competências:
o foco das mudanças na formação do psicólogo
Na construção das trajetórias de formação profissional, a
abordagem por competência surge como estratégia privilegiada e
útil, tanto ao desenvolvimento pessoal do psicólogo, quanto à
preparação para os papéis e funções que ele poderá desempenhar
nos contextos de atuação e intervenção.
22 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO
itens n,o
e profissional. Capacidade de autonomia frente a situações de conflito ou decisões.
Disponibilidade para socializar saberes, promover a circulação de informações, estimular a participação
coletiva e o diálogo em equipes profissionais e multiprofissionais, compartilhando metas e objetivos comuns.
INTERPESSOAIS Características
Facilidade para coordenação de estudos, tarefas e trabalhos coletivos.
e recursos favoráveis ao
Artigo 4º, itens Sensibilidade para integrar, nos processos relacionais, saberes e conhecimentos, ouvindo o outro,
relacionamento interpessoal,
c,d,e; Artigo 8º, respeitando diferentes pontos de vista, abrindo-se para o novo, disponibilizando conquistas pessoais em prol
promovendo a construção de
itens b,h,i, de projetos coletivos.
espaços de interlocução férteis à
Facilidade para buscar alternativas de resolução de problemas, por meio de habilidades comunicativas e
atuação profissional.
cooperativas.
Sensibilidade para integrar saberes e conhecimentos na relação com o outro.
ÉTICAS Sensibilidade para considerar a singularidade de cada situação diante de decisões e avaliações.
Características e recursos que Habilidade para o questionamento e a interrogação reflexivos, críticos e constantes sobre suas próprias
permitam exercitar o discernimento Artigo 4º, decisões, ações e posturas.
entre várias verdades e princípios item c. Sensibilidade e habilidade para trabalhar com o pluralismo e a diversidade.
presentes na intersubjetividade Compromisso político-social com a transformação da realidade social.
das relações. Disponibilidade para revisão de critérios, guias e referências em função de novos dados ou argumentações.
Figura 1 . Categorização de competências na formação do psicólogo escolar.
31
32 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO
EIXO OPERACIONAL
Os resultados e conclusões de estudos e pesquisas recentes
(Marinho-Araujo, 2003; Neves, 2001) apontam para a gênese de uma
epistemologia da ação enquanto sustentação para a compreensão do
movimento dialético entre conhecimento e ação, no qual o
conhecimento se inspira e se transforma na ação e esta se converte, de
forma intencional, em novas fontes de produção de conhecimento.
Utilizar a epistemologia da ação em um processo de formação
profissional inicial requer o desenvolvimento de uma metacognição
do conhecimento que emerge da reflexão na e sobre a ação, por meio
da análise e interpretação das conseqüências da ação enquanto é
realizada, implicando um olhar retrospectivo e prospectivo sobre o ato
concretizado. Gerar um conhecimento ligado à ação e adquirido pelo
contato com a prática é instalar novos paradigmas no cenário da
formação do psicólogo escolar (Araújo, 2003).
O desenho da abordagem formativa inaugurado pelas
Diretrizes Curriculares deve contemplar, entre suas metas, a
reflexão sobre a prática, fazendo surgir novos saberes e enfrentando
as limitações da perspectiva prioritariamente técnica como fio
condutor de uma ação de formação na graduação.
Ao se pensar na epistemologia da ação orientando uma
formação profissional mais qualificada, espera-se, também, que o
contexto formativo acadêmico encontre sustentação em uma nova
organização curricular e metodológica, mais comprometida com as
A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há significativos avanços nas Diretrizes, principalmente
quando comparadas ao antigo Currículo Mínimo; entretanto,
acredita-se que, ainda, dois grandes pontos merecem discussões e
reflexões mais aprofundadas, por parte de pesquisadores, de
professores e de gestores nas instituições de ensino superior que
estão envolvidos com as reestruturações curriculares de seus cursos
de Psicologia: a ampliação conceitual da noção de competências
para maior clareza do perfil profissional desejado; os indicadores
para ênfases curriculares e sua diferenciação com as áreas de
formação, de tal forma a apresentar um desenho curricular mais
adequado à formação do psicólogo escolar.
Verticalizar esses temas pode ajudar no enfrentamento do
grande desafio instalado: a implementação de um desenho curricular
que corresponda aos avanços sinalizados nas Diretrizes. O risco de se
46 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO
REFERÊNCIAS
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uma opção para a capacitação continuada. Tese de Doutorado, Instituto de
Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília.
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trabalho e na educação: implicações para o currículo Boletim Técnico do SENAC –
publicação quadrimestral eletrônica. 27 (3), set./dez. 2001. Disponível em:
www.senac.com.br.
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de todos? Boletim Técnico do SENAC – publicação quadrimestral eletrônica. 27
(3), set./dez. 2001. Disponível em: www.senac.com.br.
Dolmans, S. & Snellen-Balendong, H.(1995). Educacion Médica Basada en
Problemas. Maastricht, Holanda: Universidade de Maastricht
A PSICOLOGIA ESCOLAR NAS DIRETRIZES CURRICULARES 47
DOCUMENTAÇÃO OFICIAL
Ministério Da Educação - Conselho Nacional De Educação (Brasil). Câmara de
Educação Superior (2004). Parecer CNE/CES 0062/2004, aprovado em 19 de
fevereiro de 2004, fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação em Psicologia.
Ministério Da Educação - Conselho Nacional De Educação (Brasil). Câmara de
Educação Superior (2004). Parecer CNE/CES 0062/2004 Brasília, MEC.
Ministério Da Educação - Conselho Nacional De Educação (Brasil). Câmara de
Educação Superior (2004). Parecer CNE/CES nº 329/2004 Brasília, MEC.
FORMAÇÃO INICIAL EM PSICOLOGIA ESCOLAR
Questões apontadas por alunos de graduação
INTRODUÇÃO
A natureza e a qualidade da informação recebida na
graduação são primordiais para que a futura ação do psicólogo
escolar atenda às demandas sociais de maneira ética e socialmente
comprometida, de forma a consolidar o espaço escolar como
promotor do desenvolvimento humano. As instituições de Ensino
Superior, responsáveis pela formação desse profissional, devem
direcionar seu trabalho e dar-lhe prioridade no sentido de produzir
conhecimento e de instrumentalizar seus graduandos, visando à
apropriação de competências e habilidades técnicas e pessoais para
atuarem nos contextos educativos, de forma que suas atuações
possam transpor atuações tradicionais, fundamentadas na pretensa
autoridade e neutralidade dos “especialistas”.
O desafio da produção do conhecimento na área da
Psicologia Escolar é o de acompanhar tanto os avanços científicos
quanto as demandas do mercado de forma ética e socialmente
comprometida, de maneira a formar indivíduos politicamente
conscientes, uma vez que a prática profissional se constitui no
campo de aplicação da ciência.
A necessidade de definir a atuação do psicólogo no contexto da
escola e a dificuldade de delinear um perfil de atuação profissional,
bem como de articular a prática à teoria são questões amplamente
50 MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
CONTEXTUALIZANDO O ESTUDO
Neste trabalho, serão apresentadas e discutidas questões de
investigação na área da Psicologia Escolar, propostas pelos alunos
da disciplina Pedagogia Terapêutica do Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília. Os dados foram construídos a partir dos
trabalhos finais nessa disciplina e foram desenvolvidos por 40
alunos no 1º semestre de 2005. Foram produzidos 16 trabalhos e os
temas foram livremente escolhidos por eles.
A disciplina Pedagogia Terapêutica é uma das disciplinas
obrigatórias do Curso de Psicologia da Universidade de Brasília, e
sua denominação reflete as concepções vigentes à época de sua
criação. Contudo, o conteúdo dessa disciplina tem acompanhado as
discussões atuais a respeito das articulações entre a Psicologia e a
Educação, e tem sido desenvolvido de forma a privilegiar essas
discussões, principalmente no que se refere à produção na área da
56 MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
Categorias Nº % Temas
Concepções de professores sobre as
queixas escolares.
Trabalho dos professores sobre cidadania.
O discurso psicopedagógico e as ações dos
Pesquisa com
7 43% professores.
professores
Educação superior e atuação do psicólogo
escolar.
O trabalho com a inclusão escolar.
O conto como atividade pedagógica.
Pesquisa com Atuação dos psicólogos escolares.
psicólogos 5 31% Formação dos psicólogos escolares.
escolares Concepções sobre as queixas escolares.
Oficina de contos.
Intervenção com
3 18% Oficina sobre conceitos matemáticos.
os alunos
Aplicação do diagnóstico operatório.
Pesquisa com
O trabalho da psicologia clínica com as.
uma psicóloga 1 6%
queixas escolares.
clínica
Figura 1. Categorias e temas propostos pelos alunos.
FORMAÇÃO INICIAL EM PSICOLOGIA ESCOLAR: QUESTÕES APONTADAS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO 57
Tema 1:
Concepções de professores sobre as queixas escolares
Segundo os resultados, as professoras entrevistadas
atribuíram o mau desempenho escolar a problemas que estariam
localizados nos próprios alunos e/ou em suas famílias. Os fatores
sociais foram citados como importantes na determinação das
queixas escolares; no entanto, quase não foram analisados pelos
próprios professores. Uma questão que chamou atenção foi o fato
de as professoras não terem se referido a hipóteses de que as
dificuldades de aprendizagem possam estar relacionadas às práticas
pedagógicas inadequadas, às instalações deficientes, à falta de
material escolar, entre outras questões.
58 MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
Tema 2:
Trabalho dos professores sobre cidadania
Os professores pesquisados afirmaram que o principal papel da
escola é formar cidadãos. A análise de suas respostas apontou que eles
vão além da simples repetição do discurso e relatam o desenvolvimento
de ações que tiveram como objetivo trabalhar essa questão.
O discurso dos professores afirma que, para formar cidadãos
autônomos, é necessário que se respeitem as escolhas dos alunos e não
se pode negar que as escolas têm, a priori, um projeto de cidadão.
Percebeu-se, no entanto, algumas incoerências que emergiram das
análises das entrevistas.
Tema 3:
O discurso psicopedagógico e as ações dos professores
Os resultados das entrevistas com os professores apontaram
que, de maneira geral, é muito difícil uma escola trabalhar fora do
discurso psicopedagógico hegemônico, ou seja, hoje educa-se a fim de
preparar a criança para o futuro. O adulto não mais conta à criança a
sua história passada por achá-la irrelevante para o desenvolvimento da
criança e pensa ser mais importante a transmissão de conhecimentos
didáticos e psicológicos, pois esse tipo de conhecimento irá garantir
que o adulto não “estrague” o desenvolvimento psicomaturacional da
criança (Lajonquière, 1999).
A professora entrevistada concordou com o fato de que o
cotidiano escolar está sofrendo uma psicologização crescente. As
práticas educacionais atuais fundamentam-se no postulado
(psico)pedagógico da adequabilidade, retirado da Psicologia, e
pecam por insistir em fazer do discurso psicológico a primeira e a
última palavra no que se refere a todos os aspectos relevantes da
prática educativa.
Tema 4:
Educação superior e atuação do psicólogo escolar
Esse tema foi desenvolvido com uma professora universitária
de uma instituição pública de ensino superior que atuava na área das
ciências exatas. Para essa professora, é fundamental a existência de
FORMAÇÃO INICIAL EM PSICOLOGIA ESCOLAR: QUESTÕES APONTADAS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO 59
Tema 5:
O trabalho com a inclusão escolar
As entrevistas apontaram que a implantação da escola inclu-
siva está se concretizando, mas não sem várias questões que mere-
cem ser observadas. De um lado, os professores ficam apreensivos
por não saberem o quê fazer, apresentando angústia e sobrecar-
regando as equipes de apoio escolar. De outro lado, as crianças que
entram no ensino regular enfrentam a falta de propostas para
ajudá-las, o que acaba, por vezes, reforçando a exclusão.
Segundo os professores entrevistados, algumas práticas
inclusivas podem estar cometendo profundos equívocos, como a
mera inserção do aluno deficiente em classes comuns a título de
inclusão, o que pode acabar por institucionalizar a normatização e
reforçar o tratamento preconceituoso com as pessoas portadoras de
necessidades especiais, apesar de já haver um discurso consolidado
em favor da inclusão das pessoas com necessidades educacionais
especiais em decorrência de desenvolvimento atípico. No entanto,
continuam a existir, nos sistemas de ensino, escolas especializadas
para determinada clientela, como por exemplo a escola para meninos
e meninas de rua.
60 MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
Tema 6:
O conto como atividade pedagógica
As entrevistas feitas com três professoras apontaram que elas
atribuem ao conto um importante papel no desenvolvimento infantil,
principalmente na construção de análises críticas pelas crianças, além
do estímulo à imaginação e à criatividade. Falaram das trocas e das
interações propiciadas pelos contos, pois as crianças maiores, ao
apresentarem críticas mais elaboradas, incentivam as crianças
menores a desenvolvê-las também. Ressaltam que a atividade do
“conto” favorece interações entre as crianças de diversas idades.
Relataram que as crianças menores gostam muito de contos que
tenham bruxas e, segundo suas percepções, isso pode ser explicado
pelo fato de que elas ainda tratam as pessoas como totalmente boas ou
totalmente más.
Tema 1:
Atuação dos psicólogos escolares
Esse tema foi desenvolvido em três trabalhos e envolveu
três escolas distintas. Em uma das escolas pesquisadas, existe uma
grande distância entre a atuação do psicólogo escolar e os demais
membros da equipe pedagógica. O forte distanciamento atinge de
forma negativa a percepção que a comunidade escolar tem do
psicólogo. Uma outra questão refere-se ao fato de que, era muito
difícil esse profissional realizar um trabalho no qual se
desvinculasse da orientação geral dessa escola. O modelo
utilizado pelas psicólogas é o Comportamentalismo que é bastante
coerente com o modelo pedagógico adotado pela instituição
educacional analisada.
Numa outra escola, pôde-se concluir que a psicóloga escolar
começou sua atuação sem nenhum modelo de atuação específico
para trabalhar no contexto educacional. Após sua entrada na escola,
buscou especializar-se na área e hoje apresenta uma forma de atuação
FORMAÇÃO INICIAL EM PSICOLOGIA ESCOLAR: QUESTÕES APONTADAS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO 61
Tema 2:
Formação dos psicólogos escolares
Nesse trabalho, ficou evidente que a psicóloga não possui
formação específica na área escolar e realiza seu trabalho em
função de experiências prévias adquiridas na sua prática clínica.
Existem diversos problemas relativos à deficiência da formação do
psicólogo escolar. Um dos mais evidentes refere-se à noção de que
o psicólogo escolar deve ater-se aos problemas de aprendizagem,
numa atitude remediativa, e mantém-se, então, uma demanda para
esse profissional atuar nos moldes de uma prática clínica com uma
atuação voltada para atendimentos individuais. Em relação aos
professores, parece haver um certo tipo de hierarquização, sendo a
psicóloga colocada num patamar superior ao dos educadores, e as
intervenções surgem apenas por parte dela.
62 MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
Tema 3:
Concepções sobre as queixas escolares
Esse tema foi pesquisado com duas psicólogas, uma que
trabalhava no contexto escolar e outra no clínico. As concepções
das duas psicólogas, ao se referiam às queixas escolares, são
bastante semelhantes. As duas profissionais atribuem as
dificuldades apresentadas pelos alunos a vários aspectos. No
entanto, as profissionais mostram-se bem diferentes quanto à forma
de atuação. A psicóloga escolar atua de acordo com o PAIQUE
(Neves & Almeida, 2003), modelo escolar que trata de forma
contextualizada o atendimento aos alunos; e a psicóloga clínica
acrescenta ao modelo clínico de atuação apenas uma visita à escola,
com intuito de dialogar com os professores.
Tema 1:
Oficina de contos
Nessa categoria, os próprios alunos do Curso de Psicologia
propuseram realizar intervenções diretamente com os alunos. A
oficina de contos (Gillig, 1999) foi realizada com crianças de 6
anos, matriculadas numa instituição de educação infantil. Os
resultados indicaram que as crianças desempenharam muito bem as
atividades propostas e os alunos do Curso de Psicologia relataram a
satisfação em desenvolver a atividade.
Tema 2:
Oficina sobre conceitos matemáticos
Nessa oficina os estudantes do Curso de Psicologia objetivaram
desenvolver uma forma de vivenciar situações de ensino e de mediação.
De maneira espontânea, as crianças tocaram em questões como a
importância do lúdico, da afetividade com o educador, da
descontextualização dos exercícios passados em sala de aula. Um
aspecto significativo, observado no decorrer da atividade, foi a
FORMAÇÃO INICIAL EM PSICOLOGIA ESCOLAR: QUESTÕES APONTADAS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO 63
Tema 3:
Aplicação do diagnóstico operatório
Essa intervenção constou da aplicação das provas do
diagnóstico operatório num grupo de crianças e o objetivo dos alunos
do Curso de Psicologia foi o de conhecer, na prática, os pressupostos
da teoria piagetiana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização desse estudo e dos temas propostos pelos
alunos reafirmam a importância de se conhecer o que pensam os
alunos de graduação a respeito das atividades relacionadas à
atuação dos psicólogos escolares.
64 MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
REFERÊNCIAS
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partir dos sentidos construídos por professores sobre o conceito de inclusão
escolar. Dissertação de Mestrado. Brasília: Universidade de Brasília.
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formação e atuação Profissional. Campinas-SP: Editora Alínea.
Bogoyavlensky, N. & Menchinskaya, N. A. (1991). A psicologia da aprendizagem
de 1900 a 1960. Em A. N. Leontiev; L. S. Vygotsky; A. R. Luria (Orgs.).
Psicologia e Pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do
desenvolvimento. Lisboa: Editora Estampa.
Chauí, M. (1994). O que é ideologia. Coleção Primeiros Passos. 37. ed. São Paulo:
Editora Brasiliense.
FORMAÇÃO INICIAL EM PSICOLOGIA ESCOLAR: QUESTÕES APONTADAS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO 67
INTRODUÇÃO
A temática da Psicologia Escolar, especialmente no que
concerne à consolidação da identidade, da formação e da atuação do
psicólogo escolar, vem sendo amplamente discutida, notadamente
na última década. Mas, apesar do debate, observa-se que tanto
profissionais da Educação quanto da Psicologia, ainda não têm total
clareza sobre papéis e funções do psicólogo escolar e a importância
da sua presença na escola.
O perfil desejado para esse profissional requer uma trajetória
de formação que privilegie o desenvolvimento de competências
adequadas para uma atuação apropriada ao desafiante sistema
educacional brasileiro. As atuais demandas dirigidas ao psicólogo
escolar instalam a urgência por uma formação que considere a
complexidade do perfil profissional articulada a uma prática real.
Essa trajetória formativa deve ser ampliada para além da
graduação, visando alternativas de formação continuada que,
diante das especificidades da Psicologia Escolar, promovam uma
concreta articulação entre teoria e prática, pesquisa e intervenção.
Os estudos e pesquisas na área mostram que o psicólogo
escolar nem sempre é formado para atuar como tal, necessitando de
maior suporte que aquele oferecido na graduação, a fim de
prepará-lo para enfrentamento dos desafios de seu futuro cotidiano
70 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO E MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que cabe à Universidade cumprir, para além de seu
compromisso com a formação inicial, a função de oferecer novos
desenhos de intervenção na realidade, favorecendo a busca de
84 CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO E MARISA MARIA BRITO DA JUSTA NEVES
REFERÊNCIAS
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formação e atuação profissional. Campinas: Alínea.
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competências: Uma opção para a capacitação continuada. Tese de Doutorado.
Brasília: Universidade de Brasília.
Araujo, C. M. M. & Almeida, S. F. C de . (2003). Psicologia escolar institucional:
desenvolvendo competências para uma atuação relacional. Em: S. F. C. de
Almeida (Org.) Psicologia Escolar: compromisso ético e competências na
formação e atuação profissional. Campinas: Ed. Alínea.
Araujo, C. M. M. & Almeida, S. F. C de. (2005) Psicologia escolar: recriando
identidades, desenvolvendo competências. In A. Martinez Mitjáns (org.).
Psicologia Escolar e compromisso social: novos discursos, novas práticas.
Campinas: Ed. Alínea.
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(1994). Atendimento Psicopedagógico. Orientação Pedagógica, 20. Brasília:
GDF/SE.
Gomes, V. L. (1994). Psicologia escolar: teoria, prática e compromisso social.
XVII International School Psychology Colloquium, II Congresso Nacional de
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Guzzo, R. S. L (Org.) (1999). Psicologia escolar: LDB e educação hoje.
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Marinho-Araujo, C. M e Almeida, S F. C. (2005). Psicologia Escolar: construção
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2/05, pp. 73-85.
PSICOLOGIA ESCOLAR: PERSPECTIVAS E COMPROMISSOS NA FORMAÇÃO CONTINUADA 87
INTRODUÇÃO
No ano de 1999, teve início, na Escola Mestre Pastinha, a
oferta de Estágio Supervisionado em Psicologia Escolar, cujo
objetivo era formar profissionais para atuar no contexto da educação
pública. O nosso interesse por esse espaço se deu a partir da inserção
do Depto. de Psicologia no Projeto Cidadania Solidária2, em parceria
com o Instituto de Saúde Coletiva. Lá estiveram ou ainda estavam
matriculadas várias das crianças atendidas por esse projeto, que
visava facilitar a fixação tanto na família quanto na escola de crianças
em situação de rua. Assim, atuar nessa escola poderia se constituir
também numa possibilidade a mais de compreensão das demandas
dessa clientela, favorecendo o desenvolvimento de uma metodologia
de acesso pedagógico e psicológico a essas crianças. Como
defendíamos uma prática contextualizada, a aproximação com a
comunidade onde se situava a escola foi, desde o início, uma espécie
de pano de fundo para o trabalho.
Aspectos epistemológicos
Neste item, reunimos depoimentos relativos à necessidade
da interlocução com outros campos do saber psicológico e
extrapsicológico, à compreensão da Psicologia como saber voltado
para a promoção da saúde e às dificuldades em articular teoria e
prática ao longo do curso.
1. "O projeto Mestre Pastinha foi muitíssimo importante na minha
vida profissional porque foi nele, a partir dele e através dele que me ‘tornei’,
concretamente, psicóloga. Foi nele que aprendi que atuar na área de
educação como psicólogo é integrar as várias áreas da psicologia (psicologia
escolar, psicologia do desenvolvimento, psicologia comunitária, psicologia
social, psicologia clínica, psicologia organizacional, psicologia institucional)
com outras áreas do conhecimento humano: educação, história, sociologia,
antropologia, filosofia, artes, senso comum...”.
2. "Dessa maneira, a observação participante, bem como as
reuniões de análise da prática (pesquisa-ação) me fizeram, de uma ora
para outra, desconsiderar as fronteiras entre as áreas do conhecimento.
Assim, não me interessava mais se eu ia estudar antropologia, ou filosofia,
ou sociologia ou literatura... eu era arrebatado por um tema ou uma cena e
o que me interessava era criar sentido para aquilo que eu presenciava."
96 SÔNIA MARIA ROCHA SAMPAIO
Aspectos relacionais
Aqui apresentamos as opiniões que se referem à dimensão
relacional, afetiva do trabalho realizado.
1. "O trabalho em Mestre Pastinha foi a melhor ‘primeira
experiência significativa’ que alguém poderia desejar ter. Foram quatro
longos e intensos anos de aprendizagens, trocas, dúvidas, erros, acertos e
emoções."
A EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO DO PSICÓLOGO: IDÉIAS E PRÁTICAS DE PESQUISA-AÇÃO-FORMAÇÃO 99
Aspectos políticos
Neste item, os ex-estagiários depõem acerca do papel da crítica,
da política e da implicação do psicólogo, da importância do caráter
social de sua atuação e da necessidade de superar uma alienação que
percebem entre os estudantes acerca de diferenças e desigualdades.
1. "Foi a partir dele [do projeto] que também pude ter uma atuação
mais política, mais crítica (do social e da própria psicologia), mais próxima
e implicada com as questões sociais. Ele foi importante, inclusive, na minha
formação como cidadã brasileira."
2. "Além disso, a gente discutia que o psicólogo precisa entender as
políticas públicas, o projeto pedagógico da escola e as leis que
regulamentam o ensino para aprimorar a sua análise de contexto. Além do
ECA, é claro!"
3. "Ampliação de consciência, esse é um termo que pode resumir
os benefícios da experiência de ter participado do Projeto Mestre
Pastinha. Essa ampliação de consciência atinge dimensões diversas e
destaco o fato de ter podido conhecer, me relacionar com a parcela da
sociedade mais pobre, desprovida de recursos e apoio financeiros,
afetivos, institucionais. A experiência no projeto me apresentou a uma
realidade que, até então, eu não conhecia. Sabia que existia, porém eu
estava distante, fazia parte de uma outra realidade, uma realidade de
classe média, uma realidade privilegiada onde estão iincluídos a maioria
dos estudantes do curso de psicologia. O contraste entre os diferentes
A EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO DO PSICÓLOGO: IDÉIAS E PRÁTICAS DE PESQUISA-AÇÃO-FORMAÇÃO 101
Aspectos negativos
Neste item, agrupamos as contribuições relacionadas a
dificuldades não superadas ou questões que poderiam ter sido
melhor desenvolvidas ou concebidas.
1."O que ficou faltando foi a articulação do projeto com a escola. A
escola trabalhava de uma maneira e o projeto de outra, algumas vezes até
essas maneiras eram conflitantes."
2. "Isso tudo, foi desafiador, prazeroso e inacabado. O que eu
quero dizer com inacabado? Que eu sinto que poderíamos ter ido além
se tivéssemos tido um maior apoio financeiro, de infraestrutura, dos
órgãos governamentais relacionados com a própria educação e com a
102 SÔNIA MARIA ROCHA SAMPAIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Meses após sua municipalização, que resultou no afastamento
cirúrgico de toda a equipe técnica e sua substituição por profissionais
recém-concursados11, a escola Mestre Pastinha foi extinta por
decreto municipal em janeiro de 2004. Nesse momento, por ironia,
era exatamente a Secretaria Municipal de Educação que apoiava
financeiramente o projeto, após o final das parcerias anteriores.
Mesmo assim, nenhuma explicação nos foi dada a respeito do súbito
fechamento da escola12. Como esse fato se produziu no período de
férias, não tivemos como nos dirigir à comunidade da escola para
encerrar formalmente as atividades do projeto, o que foi, por toda a
equipe, vivenciado com muita dificuldade. Atualmente, em
Salvador, crianças com experiência de rua não contam com nenhum
espaço escolar que as aceite e acompanhe e isso é uma dívida que a
municipalidade tem para com elas.
Para nós, restava transformar esses sentimentos e a
experiência acumulada em relato e foi o que nos dedicamos a fazer
desde então; com esse artigo sobre a formação propiciada pelo
projeto aos estudantes de Psicologia, pensamos ter cumprido
integralmente essa tarefa.
Sabemos que a questão da formação está no meio de um
embate epistemológico que se trava no seio das ciências do homem,
ao longo, especialmente, da segunda metade do século passado, e
que versa, sobretudo, acerca do reconhecimento ou não do valor
que tem o saber que qualquer indivíduo carrega consigo, mesmo o
mais comum cidadão. Sobre isso, comenta Lainé (2000, pp. 1-32):
Esta questão metodológica e ética é objeto de um debate
tanto em matéria de epistemologia das ciências do homem e
da sociedade quanto em matéria de concepção e prática da
formação. Em um primeiro campo de oposição, se
encontram os defensores da abordagem experimental, dos
métodos quantitativos, estatísticos, calcados sobre o modelo
das ciências duras e cujas posições no seio das práticas de
11.É importante lembrar que a Diretora que foi removida encontrava-se há mais de
20 anos na escola, onde começou como professora e tinha uma excelente
relação com a comunidade.
12.Para conhecer o histórico da escola e do projeto, ver Leite, 2004.
104 SÔNIA MARIA ROCHA SAMPAIO
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ATUAÇÃO E
FORMAÇÃO EM
PSICOLOGIA ESCOLAR:
UMA ARTICULAÇÃO DESEJADA
O PSICÓLOGO ESCOLAR E OS PROCESSOS DE
IMPLANTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Atuação e formação
INTRODUÇÃO
A relação entre a Psicologia e as políticas públicas tem sido
objeto de crescente reflexão por parte de muitos psicólogos, sendo
tratada, essencialmente, em duas direções. Primeiramente, há o
esforço em compreender e promover o papel da nossa ciência na
elaboração de políticas sociais, dada a importância de, no seu
delineamento, ter em conta aspectos essenciais do funcionamento
humano, visando seu desenvolvimento e bem-estar. Assim, como
representante do debate sobre o compromisso social da Psicologia,
Gonçalves (2003, p. 279) afirma:
Nesse sentido e já particularizando a discussão, quero
destacar o papel da Psicologia em relação à formulação de
políticas públicas. A atuação em defesa da elaboração e
implementação de políticas públicas de saúde, de educação,
lazer, participação e organização popular, convivência social,
circulação humana, proteção ambiental, segurança pública, nas
quais a contribuição da Psicologia é fundamental, pode
representar uma possibilidade de atuação transformadora e
deve expressar essa posição, de defesa de uma Psicologia
voltada para as necessidades de nossa sociedade, acessível a
todos, contribuindo para a emancipação das pessoas e engajada
na transformação social que leve à superação da desigualdade.
110 ALBERTINA MITJÁNS MARTÍNEZ
Funções emergentes:
• Assessoria para a elaboração, implementação e avaliação
da Proposta Pedagógica da escola;
• Assessoria e participação no processo de seleção dos
membros da equipe pedagógica e de avaliação dos
resultados do trabalho docente;
• Contribuição para a formação técnica e para a coesão da
equipe de direção pedagógica;
• Realização da análise institucional e muito especialmente dos
aspectos da subjetividade social da instituição escolar, com o
objetivo de delinear estratégias de trabalho favorecedoras de
mudanças necessárias a nível institucional;
• Coordenação de disciplinas e oficinas direcionadas ao
desenvolvimento integral dos alunos;
• Caracterização da população estudantil com o objetivo de
contribuir para subsidiar o ensino personalizado;
• Realização de pesquisas diversas com objetivo de
melhorar o processo educativo;
• Facilitar de forma crítica, reflexiva e criativa a implementa-
ção das políticas públicas.
Esta última função, que não tem sido foco da ação intencional
do psicólogo na instituição escolar devido à tendência dominante de
conceber o processo de ensino-aprendizagem fora da complexa rede
de elementos que configuram sua qualidade, evidencia-se como
essencial quando se adota um olhar mais abrangente desse
fenômeno, não centrado apenas e fundamentalmente nos indivíduos,
mas nos processos subjetivos da escola como espaço social. O
exercício dessa função constitui uma importante forma de contribuir
para a otimização do processo educativo, já que muitas políticas
educativas são elaboradas com esse objetivo e sua implantação real
depende dos processos da subjetividade social dos espaços sociais
onde devem ser inseridas e das subjetividades individuais daqueles
que devem assumi-las e de fato implementá-las. O reconhecimento
de que a efetivação de qualquer mudança ou inovação idealizada fora
do contexto escolar passa necessariamente pela forma como os atores
da escola assumem-na tem sido evidenciado na produção científica
sobre inovação educativa. No entanto, na tentativa de implantar as
118 ALBERTINA MITJÁNS MARTÍNEZ
Tese 1:
A formação inicial do psicólogo
precisa ter como foco sua formação como sujeito
Partimos da idéia que de que o psicólogo é antes de tudo um
sujeito que, munido de um conjunto de conhecimentos,
essencialmente constituídos em uma ciência particular – a Psicologia
–, atua profissionalmente num determinado campo de atividade para
cumprir determinados objetivos. De sua condição de sujeito e de sua
configuração subjetiva dependerão em grande medida a forma de
apropriação dos conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades e
competências no processo de formação profissional. Também a
posterior utilização desses recursos dependerá de suas expectativas,
valores, projetos, concepção do mundo, enfim, de sua subjetividade
individual, subjetividade que está em constante processo de
constituição nos espaços sociais onde está inserido, em função, entre
outros elementos, da subjetividade social que os caracteriza. O
psicólogo na sua condição pessoal constitui o eixo de sua ação
profissional, daí a necessidade de colocar em foco a formação pessoal
do psicólogo na sua condição de sujeito. Utilizamos a categoria sujeito
tal como formulada na teoria da subjetividade de González Rey para
nos referir ao indivíduo concreto portador de personalidade que se
caracteriza por ser atual, interativo, consciente, intencional e emocional
(González Rey, 1999, p. 108). É o sujeito, entendido nessa perspectiva,
quem toma decisões, interage com os outros, aprende, produz idéias,
forma representações da realidade e vivencia emoções, expressão dos
sentidos subjetivos que gera nas situações em que se encontra.
122 ALBERTINA MITJÁNS MARTÍNEZ
Tese 2:
A formação inicial deve estar direcionada
ao desenvolvimento de representações abrangentes
da complexidade do funcionamento psicológico humano,
tanto na dimensão individual quanto na social
Desde nosso ponto de vista, torna-se um objetivo essencial da
formação que o psicólogo construa uma representação geral de como
funcionam, na sua complexidade, os indivíduos e os espaços sociais.
A ação profissional, como qualquer outra, está mediatizada pelas
representações que o sujeito constrói e, no caso do psicólogo, sua
ação profissional estará orientada pela representação que tem de
como as coisas funcionam, mesmo que necessariamente isso não seja
consciente para ele. No entanto, a construção intencional de uma
representação do funcionamento humano em correspondência com
sua complexidade constitutiva real não é um objetivo nem explícito
nem implícito da maioria dos cursos de formação.
O delineamento curricular tradicional por disciplinas,
expressão da fragmentação do próprio conhecimento psicológico,
sem espaços de integração nem de interdisciplinaridade no próprio
interior da Psicologia, não só não favorece como dificulta a
construção de representações gerais que sirvam como marco para
compreender a ação dos indivíduos em situações complexas e a
configuração de espaços sociais também complexos como a
instituição escolar. A maioria dos psicólogos tem dificuldade de
integrar na sua prática profissional conhecimentos que estudou de
forma fragmentada e inclusive contraditória. Geralmente os cursos
não têm um eixo teórico norteador claro na compreensão do homem
e é comum que cada professor, na sua disciplina, focalize
dogmaticamente uma ou outra concepção teórica, freqüentemente
contraditória com a concepção apresentada por outro professor em
uma outra disciplina ministrada, possivelmente, no mesmo dia ou
no mesmo semestre. A falta de um eixo teórico norteador ou de uma
estratégia consensual para fugir dos dogmas e verdades absolutas
em muitos casos é justificada pelo apelo à democratização do saber
ou pela necessidade de que o aluno faça suas próprias escolhas. No
entanto, essa ausência pouco contribui para a construção, no
126 ALBERTINA MITJÁNS MARTÍNEZ
Tese 3:
A formação continuada é uma
responsabilidade do próprio psicólogo
e o auto-didatismo sua principal forma de expressão
Temos defendido que um dos principais aspectos na
formação do psicólogo é o desenvolvimento de seu compromisso
com um trabalho profissional de qualidade e socialmente
responsável (Mitjáns Martínez, 2003c, 2005a). Isso implica seu
O PSICÓLOGO ESCOLAR E OS PROCESSOS DE IMPLANTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: ATUAÇÃO E FORMAÇÃO 129
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162 MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA
PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO:
INTERAÇÕES CONSTRUÍDAS AO LONGO DO SÉCULO XX
Grandes historiadores da área relacionam o início da
Psicologia científica aos trabalhos experimentais de Wundt
(Boring, 1929; Schultz & Schultz, 1992), enquanto que as
aplicações dessa ciência à educação têm seu marco inicial
associado a E. L. Thorndike, que, em 1903, publicou o livro
Educational Psychology e o Journal of Educational Psychology,
por tratarem de um corpo doutrinário específico, com denominação
também específica (Maluf, 1994; Goulart, 1999).
A educação institucionalizada e pública passou a ser uma
reivindicação depois da consolidação de sistemas capitalistas, pois
era vista como instância que poderia concretizar o ideal da igualdade
de oportunidades da sociedade democrática (Yazlle, 1997; Saviani,
1989), mas mostrou-se incapaz de permitir que todos conquistassem
as vantagens dessas novas sociedades que se instalaram.
PSICÓLOGOS RECÉM-FORMADOS: OPORTUNIDADES DE TRABALHO E ATUAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL 165
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO EM
PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL
Oakland e Sternberg (1993) mostram que houve um
acentuado desenvolvimento da Psicologia Escolar e Educacional
nos anos subseqüentes ao nascimento da própria Psicologia e que,
depois da 2ª Guerra Mundial, suas dimensões internacionais
começaram a ser reconhecidas. Segundo os autores, relatório da
UNESCO de 1948, que coletou informações de 43 Ministérios da
Educação em países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre as
características gerais da Psicologia, a regulamentação da disciplina e
a importância da pesquisa, já revelava o grande interesse de
educadores e de outras autoridades educacionais pela área que, na
maioria dos países, responsabilizava-se pelos diagnósticos de
crianças excepcionais para identificar e tratar de suas dificuldades e
da implantação de programas educacionais adaptados às suas
realidades. O relatório detectou, ainda, que esses serviços eram
restritos a áreas urbanas e executados por profissionais que tinham
recebido treinamento universitário em educação e em psicologia e
apontavam a importância da pesquisa para o desenvolvimento de um
trabalho com qualidade.
Oakland e Sternberg (1993) detectaram, também, que o
crescimento da Psicologia Escolar e Educacional, assim como o da
Psicologia, é altamente influenciado por diversos fatores, internos e
externos à própria ciência, mas relacionados às características culturais
dos países analisados, tais como as condições econômicas e o sistema
educacional do país. Eles concluíram que a qualidade nos serviços da
Psicologia Escolar tende a existir em países que dão um alto valor na educação
e que têm um sistema educacional bem desenvolvido (p. 17).
172 ALACIR VILLA VALLE CRUCES E MARIA REGINA MALUF
A INSERÇÃO PROFISSIONAL,
A ATUAÇÃO NOS MEIOS EDUCACIONAIS
E O TRABALHO COM O FRACASSO ESCOLAR
NA VISÃO DE PSICÓLOGOS RECÉM-FORMADOS
Os trabalhos relativos à área da Psicologia Escolar e
Educacional encontrados permitiram acompanhar transformações
relativas às modalidades de atuação e às concepções sobre os
problemas vividos pelas instituições de ensino. Além disso,
permitiram concluir que os cursos de graduação nem sempre estão
preparando os alunos para desenvolverem atividades bem
PSICÓLOGOS RECÉM-FORMADOS: OPORTUNIDADES DE TRABALHO E ATUAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL 181
Os problemas de aprendizagem
na visão dos participantes da pesquisa
Ainda na terceira fase desta pesquisa, os participantes foram
convidados a se posicionarem em relação aos motivos que
poderiam explicar as causas dos problemas de aprendizagem
freqüentemente encontrados nas crianças de classes populares que
freqüentam, em sua maioria, as escolas públicas.
194 ALACIR VILLA VALLE CRUCES E MARIA REGINA MALUF
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As repostas dadas pelos participantes permitiram concluir que
as possibilidades de inserção profissional que se lhes apresentam não
são escassas, pelo menos em termos quantitativos. Passados
aproximadamente oito meses da conclusão do curso de formação de
psicólogos, 75,2% dos participantes da segunda etapa já estavam
atuando na área e mais 4,1% associavam a Psicologia a outra área de
atuação. Nas duas etapas posteriores desta pesquisa, 75,1% dos
participantes atuavam como psicólogos. No entanto, isso não podem
ser considerado suficiente, uma vez que um quarto dos participantes da
pesquisa não informaram inserção profissional no período estudado.
Os dados obtidos na presente pesquisa permitem também
afirmar a preferência dos profissionais pela área clínica de atuação,
além de constatar que é nela que a maioria deles se insere
profissionalmente, como também concluíram, por exemplo, Mello
(1975), Carvalho e Kavano (1982), CFP (1988), Bastos (1990) e
CRP-06 (1995).
Em relação à área escolar e educacional, foi possível
verificar que 9,6% dos concluintes tinham-na como preferida para
atuação. Passados aproximadamente oito meses da conclusão do
curso de graduação, constatamos que 11,9% dos egressos estavam
nela inseridos e que, depois de um ano, aproximadamente, já eram
15,4% dos egressos que nela atuavam. Aproximadamente dois anos
e meio depois de graduados, 10,1% dos participantes atuavam
nessa área, índice que se aproxima ao obtido na primeira etapa.
Os dados relativos à área escolar e educacional permitiram-nos
sustentar uma hipótese que levantamos pela observação e
acompanhamento de egressos, a de que os profissionais nela inseridos
vêm assumindo novas posturas e desenvolvendo atividades que não se
limitam à avaliação ou ao atendimento a alunos. Pudemos constatar que
PSICÓLOGOS RECÉM-FORMADOS: OPORTUNIDADES DE TRABALHO E ATUAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL 201
REFERÊNCIAS
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PSICÓLOGOS RECÉM-FORMADOS: OPORTUNIDADES DE TRABALHO E ATUAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL 205
INTRODUÇÃO
Este artigo resultou de trabalhos de pesquisa que realizamos
junto às redes de serviço de Educação, que oferecem apoio às
pessoas que apresentam deficiência mental. Esses resultados estão
subsidiando nossas reflexões sobre o tipo de inclusão que temos e a
que pretendemos. Dito de outro modo, fazemos referência às
contradições provocadas pela sociedade capitalista, que ao mesmo
tempo que exclui, conclama pela inclusão.
Assim, o desafio que ora se apresenta é o de entender que a
educação direcionada para a diversidade precisa “quebrar muros”.
Essa figura de linguagem foi extraída do depoimento de uma
professora do ensino comum quando se referiu às dificuldades que
encontrava para ensinar os estudantes com deficiência mental.
Eu tenho muita dificuldade para ensinar estas pessoas, o
deficiente físico, o visual e até mesmo o auditivo é mais
fácil, agente ensina igual os outros... É claro que precisa de
algumas coisas, mas eles entendem... Agora o deficiente
mental, esse sim... Eu não sei como ele aprende! E duvido
que aprenda como os outros... Olha, nesta escola que está
aí precisa quebrar os muros para conseguir ensinar, precisa
mudar muita coisa... Eu não sei bem o que é... Então peço
ajuda dos psicólogos, eles podem me dizer sobre como
essas pessoas aprendem.
214 ALEXANDRA AYACH ANACHE
AS POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM
DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA MENTAL
Uma das dúvidas recorrentes sobre a pessoa que apresenta
deficiência mental se refere à sua capacidade de aprender,
questão que ainda se mostra pendente para muitos desde os
trabalhos de Itard (século XVIII) – mencionado por estudiosos
da área, dentre eles, Leite-Banks e Galvão (2000). Isso pode ser
ilustrado por meio das descrições elaboradas pelas equipes de
avaliação sobre os aspectos de aprendizagem dos estudantes.
Entre elas, escolhemos a apresentada no relatório 2, que justifica
o diagnóstico emitido:
228 ALEXANDRA AYACH ANACHE
O PSICÓLOGO NO PROCESSO
DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
O estudo sobre o processo de aprendizagem de sujeitos que
apresentam deficiência mental, a partir da leitura sobre a subjetividade
na perspectiva histórico-cultural, permitiu-nos estabelecer um diálogo
entre a Educação Especial e as diversas disciplinas – tanto da área
educacional quanto da área de saúde. Destacamos aqui as contribuições
da Psicologia enquanto conhecimento imbricado com as diversas
disciplinas que compõem o campo de referência dos educadores, ao
invés de relacionar-se unicamente ao processo de ensino-aprendizagem.
Entendemos ensino-aprendizagem como processo que
circunscreve um contexto institucional, interpretado pelos níveis
da comunicação humana, tendo como principal característica a
intencionalidade, e no qual se desenrolam estratégias necessárias
para possibilitar a aprendizagem.
Vale lembrar que, na Política Nacional de Educação
Especial, o termo Excepcional foi trocado por Portador de
Necessidades Especiais, visando diminuir o peso do rótulo, porém,
assim como o primeiro, o segundo também se caracteriza pela
abrangência conceitual, causando alguns equívocos, como, por
exemplo, o de considerar toda pessoa com deficiência como sendo
deficiente mental. A mudança de nomenclatura surgiu mais como
uma tentativa de suavizar a expressão “aluno excepcional” do que
como uma nova reflexão sobre o alunado da Educação Especial.
Além disso, nesta pesquisa, pudemos observar que a abrangência
do termo Portador de Necessidades Especiais tem contribuído para
que o sentido da deficiência e suas especificidades sejam negados,
comprometendo a qualidade dos serviços especiais prestados.
Em relação à deficiência mental, é preciso que se reconheça
que ela se caracteriza pelo modo diferenciado de aprender, no
entanto, essa é uma questão ainda silenciada. Sabemos que a
professora pode aprender, mas não sabemos como ela o faz. Diante
disso, as práticas pedagógicas ficam limitadas ao treino de
habilidades. Tentativas nessa direção ocorreram pelas diferentes
matrizes teóricas que versam sobre aprendizagem, mas que ainda
priorizavam o cognitivo em detrimentos das demais dimensões
implicadas no processo de aprender.
236 ALEXANDRA AYACH ANACHE
REFERÊNCIAS
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A PESSOA COM DEFICIÊNCIA MENTAL ENTRE OS MUROS DA EDUCAÇÃO 243
Lua adversa
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles
INTRODUÇÃO
As pessoas com Síndrome de Asperger (SA) são vistas como
estranhas, pedantes, esnobes e anti-sociais, postura corporal
“esquisita ou desengonçada”, ao mesmo tempo em que brilhantes em
certos aspectos concernentes à intelectualidade. Em geral, as famílias
246 ELIANA RODRIGUES ARAÚJO E HERCULANO R. CAMPOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E mb o r a h aj a u m c o n s en s o e m p r o l d e ca u s as
neurobiológicas, elas ainda não estão comprovadas em relação à
Síndrome de Asperger, podendo ser genéticas ou provocadas por
doenças ou traumas cerebrais (Frith, 1991 apud Moore, 2002). Em
quase toda a literatura, a SA está associada ao autismo, e há
controvérsias quanto ao diagnóstico diferencial – e à nosologia
própria da SA – entre autismo de alto funcionamento e a Síndrome.
Até o momento, as pesquisas convergem para a idéia de que a
diferenciação entre a SA e o autismo com alto funcionamento se dá
pela sintomatologia mais branda e do aparecimento tardio dos
sintomas autista, apresentados pelos pacientes com SA, preferindo
guiarem-se pelo conceito de continuum2 autístico (Volkmar et al.,
1996; Klin, 1995, Klin, Volkmar & Sparrow, 2000; Assumpção,
1997; Schwartzman, 1995).
Quanto à incidência, também há discrepâncias entre os
estudos. Enquanto Gillberg (1998) apresentou incidência de 7 para
cada 1.000 crianças com idade entre 7 e 16 anos, Fombonne (2001
apud Lopes-Herrera, 2005) relatou estudo em que 1 em cada 150
crianças apresenta algum tipo de transtorno global do
desenvolvimento, seja autismo, autismo de alto funcionamento ou
Síndrome de Asperger.
Cabe aos educadores e profissionais das áreas de psicologia e
educação estudar a Síndrome, conhecer os programas existentes,
como também elaborar novos programas específicos de aprendizagens
de habilidades sociais. Espera-se que tais programas possibilitem às
pessoas com a Síndrome um melhor insight sobre as habilidades
sociais e ajudem a lidar com seu jeito especial de ser, trabalhando sua
auto-estima. Também espera-se que contenham elementos para
REFERÊNCIAS
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Assumpção Júnior. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento Infantil. S. Paulo:
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258 ELIANA RODRIGUES ARAÚJO E HERCULANO R. CAMPOS