001 Beber Na Fonte 2004 1 Oração
001 Beber Na Fonte 2004 1 Oração
001 Beber Na Fonte 2004 1 Oração
BEBENDO NA FONTE - 1
PRIMEIRA ETAPA
2004
O R A Ç Ã O
Apresentação
Esta data é um convite, oferecido por Deus, a toda a Família Carmelitana para reunir-
nos, novamente, ao redor desta fonte tão antiga para beber das suas águas sempre novas
e matar nossa sede de Deus, de fraternidade e de justiça.
A Fonte
REGRA DE VIDA DOS IRMÃOS E DAS IRMÃS DA FAMÍLIA
DA BEMAVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO
1. Alberto, pela graça de Deus, chamado a ser Patriarca da Igreja de Jerusalém, aos amados
filhos em Cristo B. e demais eremitas que, sob a sua obediência, vivem junto à Fonte no
Monte Carmelo, a Salvação no Senhor e a Bênção do Espírito Santo.
2. Muitas vezes e de muitas maneiras os Santos Padres estabeleceram como cada um, qualquer
que seja o estado de vida a que pertença ou qualquer que seja o modo de vida religiosa que
tenha escolhido, deve viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-lo fielmente com coração
puro e consciência serena.
3. No entanto, como vocês nos pedem que, de acordo com o seu projeto, lhes apresentemos uma
forma de vida à qual, de agora em diante, devem manter-se fiéis:
4. Determinamos, em primeiro lugar, que tenham um de vocês como prior, que seja eleito para
este serviço através do consenso unânime de todos ou da parte mais numerosa e mais
madura. A ele cada um dos outros prometa obediência e se empenhe em cumprir de
verdade, na prática, o que prometeu, juntamente com a castidade e a renúncia à
propriedade.
7. De tal modo, porém, que, num refeitório comum, tomem o alimento que lhes for doado,
ouvindo juntos alguma leitura da Sagrada Escritura, onde isto puder ser feito sem
dificuldade.
8. A nenhum irmão será permitido, a não ser com a licença do prior em exercício, mudar-se do
lugar que lhe foi indicado ou trocá-lo com outro.
9. A cela do prior deve localizar-se junto da entrada do lugar, para que ele seja o pri meiro a ir
ao encontro dos que vierem a esse lugar; e, depois, todas as coisas que devem ser feitas
aconteçam de acordo com o seu critério e a sua disposição.
10. Permaneça cada um em sua cela ou na proximidade dela, meditando dia e noite na Lei do
Senhor e vigiando em orações, a não ser que esteja ocupado em outros justificados
afazeres.
11. Os que sabem recitar as horas canônicas com os clérigos, as recitem conforme as
disposições dos Santos Padres e segundo o costume aprovado da Igreja. Os que não o
sabem, recitem vinte e cinco vezes o Pai Nosso nas vigílias noturnas, com exceção dos
domingos e dias solenes, em cujas vigílias determinamos que se duplique o número
mencionado, de modo que o Pai Nosso seja recitado cinqüenta vezes. No louvor da manhã,
porém, a mesma oração seja recitada sete vezes. Da mesma maneira, em cada uma das
outras horas, a mesma oração seja recitada sete vezes, menos nas vésperas, em que devem
recitá-la quinze vezes.
12. Nenhum dos irmãos diga que algo é propriedade sua, mas tudo entre vocês seja comum, e
seja distribuído a cada um pela mão do prior, quer dizer, pelo irmão por ele designado para
este serviço, conforme cada qual estiver precisando, levando-se em consideração as idades
e as necessidades de cada um.
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 3
13. Contudo, na medida em que alguma necessidade de vocês o exigir, lhes é permitido possuir
burros ou mulos, e algum tipo de animais ou de aves para criação.
14. O oratório, de acordo com as possibilidades, seja construído no meio das celas, aonde, cada
dia pela manhã, vocês devem reunir-se para participar da solenidade da Missa, quando as
circunstâncias o permitirem.
15. Da mesma maneira, nos domingos ou em outros dias caso for necessário, vocês devem tratar
da observância na vida comum e do bem-estar espiritual das pessoas. Igualmente, nessa
mesma ocasião, as transgressões e culpas dos irmãos, que por ventura forem encontradas
em algum deles, sejam corrigidas mediante a caridade.
16. O jejum, vocês o observem todos os dias, com exceção dos domingos, desde a festa da
Exaltação da Santa Cruz até o Dia da Ressurreição do Senhor, a não ser que enfermidade
ou debilidade do corpo ou outro justo motivo aconselhem dispensar o jejum, pois a
necessidade não tem lei.
17. Abstenham-se de comer carne, a não ser que seja tomada como remédio em caso de enfer -
midade ou debilidade. E visto que, durante as suas viagens, vocês se vêem obrigados com
maior freqüência a mendigar o seu sustento, para não incomodarem a quem os hospeda, fora
de suas casas vocês poderão comer alimentos preparados com carne. Também será
permitido comer carne em viagens marítimas.
18. Visto que a vida humana na terra é uma tentação, e todos os que querem viver fielmente em
Cristo sofrem perseguição, e como o seu adversário, o diabo, rodeia por aí como um leão que
ruge, espreitando a quem devorar, procurem, com toda a diligência, revestir-se da
armadura de Deus, para que possam resistir às emboscadas do inimigo.
19. Os rins devem ser cingidos com o cíngulo da castidade, o peito protegido por pensamentos
santos, pois está escrito: O pensamento santo te guardará. A couraça da justiça deve ser
usada como veste, a fim de que vocês amem o Senhor com todo o coração, com toda a alma
e com todas as forças, e o próximo como a si mesmos. Sempre e em tudo deve ser
empunhado o escudo da fé, com o qual possam apagar todas as flechas incendiárias do
maligno, pois sem a fé é impossível agradar a Deus. O capacete da salvação deve ser
colocado sobre a cabeça, para que esperem a salvação unicamente do Salvador, pois é ele
que libertará o seu povo dos pecados. E que a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus,
habite abundantemente em sua boca e em seus corações, e tudo que vocês tiverem de
fazer, seja lá o que for, que seja feito na Palavra do Senhor.
20. Vocês devem fazer algum trabalho, para que o diabo sempre os encontre ocupados e não
consiga, através da ociosidade de vocês, encontrar alguma brecha para penetrar em suas
almas. Nisto vocês tem o ensinamento e o exemplo de São Paulo apóstolo, por cuja boca
Cristo falava e que por Deus foi constituído e dado como pregador e mestre dos gentios na
fé e na verdade. Se seguirem a ele, não poderão desviar-se. Ele escreve: Em meio a
trabalhos e fadigas estivemos entre vocês, trabalhando dia e noite, para não sermos um
peso para nenhum de vocês. Não que não tivéssemos esse direito, mas queríamos
apresentar-nos como um exemplo a ser imitado. Com efeito, quando estávamos com vocês,
demos esta regra: Quem não quiser trabalhar, também não coma! Ora, temos ouvido falar
que entre vocês há alguns que levam uma vida irreqüieta, sem fazer nada. A esses tais
ordenamos e suplicamos no Senhor Jesus Cristo, que trabalhem em silêncio e, assim, comam
seu próprio pão. Este caminho é santo e bom. É nele que devem andar!
21. O apóstolo recomenda o silêncio, quando manda que é nele que se deve trabalhar. E como
afirma o profeta: a justiça é cultivada pelo silêncio. E ainda: no silêncio e na esperança
estará a força de vocês. Por isso, determinamos que, depois da recitação das completas,
guardem o silêncio até depois da Hora Primeira do dia seguinte. Fora desse tempo, embora
a observância do silêncio não seja tão rigorosa, com tanto mais cuidado abstenham-se do
muito falar, porque, conforme está escrito e não menos ensina a experiência: No muito
falar não faltará o pecado; e: Quem fala sem refletir sentirá um mal-estar; e ainda: Quem
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 4
fala em demasia prejudica a sua alma; e o Senhor no Evangelho: De toda palavra inútil que
os homens disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo. Portanto, cada um faça
uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente,
não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que,
como diz o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe,
com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça.
22. Agora, você, irmão B., e quem quer que for indicado como Prior depois de você, tenham
sempre em mente e cumpram na prática o que o Senhor diz no Evangelho: Todo aquele que
entre vocês quiser tornar-se o maior, seja o seu servidor, e quem quiser ser o primeiro,
seja o seu empregado.
23. E vocês, os demais irmãos, tratem o seu prior com deferência e humildade, pensando, mais
do que nele mesmo, em Cristo que o colocou acima de vocês, e que diz aos que estão à
frente das igrejas: Quem ouve a vocês, é a mim que ouve; quem despreza a vocês, é a mim
que despreza, a fim de que vocês não sejam condenados como réus por menosprezo, mas
possam merecer por obediência a recompensa da vida eterna.
24. É isso que, com brevidade, lhes escrevemos com o intento de estabelecer para vocês a
forma de conduta, segundo a qual deverão viver. Se alguém fizer mais do que o prescrito, o
Senhor mesmo lhe retribuirá quando voltar. Use, porém, de discrição, que é a moderadora
das virtudes.
1
A sigla Rc significa Regra do Carmo.
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 5
1. Os Círculos, o nome já o diz, foram feitos para serem usados em grupo. Eles podem ser
usados também como leitura e meditação pessoais. Quando usados em comunidade, é bom
preparar o ambiente do encontro com algum símbolo carmelitano: flores, vela, imagem,
escapulário, escudo, estrela, etc.
2. Em cada círculo ou roteiro, vamos ouvir um texto da Regra e um texto da Bíblia. São como
dois galhos distintos, nascidos do mesmo tronco. Quando lidos à luz da realidade de hoje,
os dois se iluminam mutuamente e, juntos, ajudam a iluminar nossa vida.
3. O objetivo principal é redescobrir o significado e o alcance da Regra para as nossas vidas e
para a nossa missão, hoje, aqui na América Latina. O meio principal que usamos para
alcançar este objetivo é a conversa a partir da vida e a partir da Bíblia e da Regra .
Conversa franca, fraterna, respeitosa, em que aprendemos a escutar o irmão, a irmã.
Quando a conversa é boa e longa ela se torna conversão. (Sem conversa não tem
conversão).
4. Cada círculo tem um Subsídio: Alargando os Horizontes, que traz algumas chaves de leitura
para ajudar na compreensão dos textos da Regra e da Bíblia. O Subsídio pode ser lido com
proveito antes ou depois do encontro.
Roteiro 1
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
Chave de leitura para o texto da Regra
Neste primeiro encontro vamos meditar o prólogo da Regra que define o objetivo da vida
no Carmelo: “viver em obséquio de Jesus Cristo”. Jesus é o modelo que nos inspira, a
pessoa amada a quem devemos seguir, a presença divina que devemos assimilar e
testemunhar. Vamos escutar atentamente a leitura do texto, tendo a seguinte pergunta na
cabeça: “Como eu entendo e vivo esta parte da Regra?”
2º Momento:
“Levanta-te! O Senhor vai passar!”
Canto ou Mantra: Preparar o coração para a escuta da Palavra de Deus
Chave de leitura para o texto da Bíblia
Vamos escutar dois textos da Bíblia que descrevem as exigências do seguimento de
Jesus. Estes textos nos ajudam a entender melhor como devemos “viver em obséquio de
Jesus Cristo”. Durante a leitura, vamos prestar atenção no seguinte: “Quais as
características do seguimento de Jesus?”
1. Qual o ponto nestes dois textos de que você mais gostou? O que mais chamou a sua
atenção? Por quê?
2. Quais as características do seguimento de Jesus que descobrimos nos dois textos?
3. Procure encontrar outros textos dos evangelhos ou acontecimentos da vida que
ajudam a entender e a viver melhor o “seguimento de Jesus orante”
4. Qual a ligação que percebemos entre estes dois textos do evangelho e o texto da
Regra que fala da vida em obséquio de Jesus Cristo? Por quê?
3º Momento:
E anda no longo caminho da justiça e da paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
O rumo que a Regra do Carmo nos propõe é o rumo de todo cristão. Descreve a
maneira como nós, carmelitas, devemos viver em obséquio de Jesus Cristo. A expressão
Viver em obséquio de Jesus Cristo designava o novo tipo de Vida Religiosa que estava
surgindo naquela época. Os empregados das grandes fazendas diziam: "Nós vivemos em
obséquio de fulano de tal, senhor desta terra". Os primeiros carmelitas, como tantos
outros religiosos que tinham feito peregrinação até à Terra Santa, diziam: Nós vivemos em
obséquio de Jesus Cristo, o Senhor desta Terra Santa.
A vida em obséquio de Jesus Cristo tem três aspectos fundamentais:
Ressurreição (Fil 3,7-12). Isto exige de nós um exercício contínuo da presença de Deus.
Meditar dia e noite na Lei do Senhor (RC 10).
2. Consciência serena
Alguns traduzem reta consciência. Preferimos traduzir consciência serena. Para nós, a
expressão "reta consciência" sugere uma consciência moralmente correta. Sem excluir a
retidão moral, o acento da Regra é outro. É ter uma consciência fundamentada na
humildade, no chão da realidade. É a consciência de quem ultrapassou o seu próprio ego, e
encontrou em Deus a raiz do seu ser, a fonte da sua paz e da sua identidade. "Vivo, sim,
mas já não sou eu. É Cristo que vive em mim!" (Gl 2,20).
em falar com as irmãs Stein. A superiora imagina que eles venham revisar o visto para que
possam ir para a Suíça, mas, infelizmente, trata-se do pior. Recebem ordem de, dentro de
10 minutos, deixarem o mosteiro. A superiora tenta resistir, mas recebe graves ameaças. E
ainda recebe a ordem: “Limite-se a dar uma manta à Dra Stein, um copo, uma colher e
mantimentos para três dias. Se quiser levar o hábito, que o leve sua irmã também”. Na cela
de Edith, as monjas tratam de animá-la, preparando-lhe as coisas e arrumando alimentos.
Ao chegar à porta, abraçada à irmã, Edith lhe diz: “Vamos, partiremos ao encontro de
nosso povo”. Assim foram transportadas ao campo de concentração, onde morreram em
uma câmara de gás.
(Frei Cláudio van Balen, Edith Stein, 1891-1942,
Curitiba, Editora do Carmo, 2003, pp. 49-50).
Roteiro 2
Meditar dia e noite na Lei do Senhor ...
ruminando os fatos da vida
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
Momento de silêncio
Perguntas para ajudar a sair da gruta
1. Como cada um/a de nós entende este pedido da Regra? O que fazemos para realizá-la?
Está conseguindo? Qual a sua maior dificuldade?
2. Na meditação da Lei do Senhor levamos em conta a realidade da comunidade, do povo
do bairro, do país, da Família Carmelitana? Como fazemos?
2º Momento:
Levanta-te! O senhor vai passar...
Canto ou mantra: preparar o coração para a escuta da Palavra de Deus
Chave de leitura
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 12
Vamos ouvir um pequeno texto da Bíblia que, aparentemente, nada tem a ver com o texto
da Regra. É um texto que mostra o fruto que a meditação constante da Lei do Senhor
alcançou na vida de Jesus. Durante a leitura, fiquemos atentos no seguinte: “Como o texto
nos ajuda a entender melhor o texto da Regra sobre a oração constante?”
3º Momento:
E anda no longo caminho da Justiça e da Paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
Elias e Maria
Elias escondeu-se na torrente Karit (1Rs 17,2-6), não para fugir do mundo, mas para
estar no mundo sem ser do mundo (Jo 17,2-6). O mesmo vale para o carmelita ou a
carmelita que se esconde na cela. Vivendo junto da torrente, a Palavra de Deus se torna a
nossa morada, a nossa cela, na qual devemos permanecer dia e noite. Ruminando e
meditando a Lei do Senhor, a Palavra entra em nós, como a água entra na árvore plantada
junto dos córregos (Sl 1,3; Jr 17,8). O próprio Jesus vai abrindo nossos olhos e nos revela
a sua presença no pobre, no pequeno, no marginalizado
Maria meditava e ruminava todas as coisas no seu coração (Lc 2,19.51) e, assim, ia
descobrindo a presença da Palavra de Deus em tudo que acontecia. Melhor do que qualquer
outro, ela compreendeu que a Lei do Senhor, a Lei suprema, é o amor. Deixando-se invadir
pelo amor, pôde reconhecer, acolher e encarnar a Palavra em sua vida e tornar-se a sua
servidora (Lc 1,38). Ela vigiava em oração para guardar e fazer irradiar o que tinha
descoberto na ruminação.
Lucas 13,1-5
A meditação da lei de Deus ajuda a perceber o apelo de Deus na vida
Um temporal derrubou a torre de Siloé e matou 18 pessoas. Naquela mesma época, Pilatos
prendeu e matou alguns romeiros da Galiléia e misturou o sangue deles com o sangue dos
sacrifícios. Os grandes interpretavam: “Castigo de Deus”. Jesus respondeu: “Eu digo que
não! E se não houver uma conversão, muita gente ainda vai morrer do mesmo jeito”. Eles
não fizeram a conversão que Jesus pediu e, quarenta anos depois, a cidade foi destruída
pelos romanos que mataram muita gente. Jesus tinha uma outra maneira de interpretar os
fatos. Meditando a palavra de Deus ele chegou a ter a visão de Deus sobre os fatos da vida
e procurava comunicar esta visão ao povo do seu tempo. Por isso, entrou em conflito com a
visão oficial dos grandes e foi por eles eliminado.
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 14
2) "Deus é traiçoeiro! (imprevisível) Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto. A força dele,
quando quer - moço! - me dá medo e pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na
lei do mansinho - assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza. A
pois: um dia, num curtume, a faquinha minha que eu tinha caiu dentro de um tanque, só
caldo de casca de curtir, barbatimão, angico, lá sei. - "Amanhã eu tiro..." - falei, comigo.
Por que era de noite, luz nenhuma eu não disputava. Ah, então saiba: no outro dia, cedo, a
faca, o ferro dela, estava sido roído, quase por metade, por aquela agüinha escura, toda
quieta. Deixei, para mais ver. Estala, espolêta! Sabe o que foi? Pois, nessa mesma da tarde,
aí: da faquinha só se achava o cabo... O cabo - por não ser de frio metal, mas de chifre de
galheiro. Aí está: Deus... Bem, o senhor ouviu, o que ouviu sabe, o que sabe me entende...!
João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas,
VIII Edição, Ed. José Olímpio, RJ, 1972, p.21
Roteiro 3
Rezar os Salmos, Rezar a Vida ...
O lado orante da história do Povo de Deus
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
Chave de leitura para o texto da Regra
No encontro anterior, refletimos sobre a oração individual a ser feita na cela. Neste
encontro, veremos como a recomendação de “ meditar dia e noite na Lei do Senhor e vigiar
em orações” recebe a sua expressão comunitária no Ofício Divino. Para os que não
conseguem acompanhar o Ofício Divino, a Regra recomenda a oração do Pai-Nosso. Neste
encontro, vamos olhar de perto o sentido do Ofício Divino com os seus salmos. No próximo
encontro veremos de perto a oração do Pai-Nosso.
Leitura da Regra, n. 11
Momento de silêncio
Perguntas para ajudar a sair da gruta
1. Como entendemos esta norma da nossa Regra? O que fazemos para realizá-la? Você
gosta dos salmos? Sente dificuldade? Quais?
2. O salmo mais rezado pelos povos da América Latina é a Ave Maria. Você conhece
outros salmos que o povo reza e canta? Quais?
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 15
2º Momento:
“Levanta-te! O Senhor vai passar!”
Canto ou Mantra: Preparar o coração para escutar a Palavra de Deus
Chave de leitura para o texto da Bíblia
Vamos escutar dois pequenos textos da Bíblia nos quais Jesus aparece rezando os salmos.
São textos que ajudam a entender melhor a recomendação insistente da Regra para rezar
os salmos. Durante a leitura, prestemos atenção naquilo há de comum entre os três textos.
Leitura da Bíblia: Mc 15,34 e Lc 23,46
Momento de silêncio
Perguntas que ajudam a “levantar-se e descobrir o Senhor que passa”.
1. Qual o ponto nestes dois textos de que você mais gostou o que mais chamou a sua
atenção? Por quê?
2. Quais os salmos que Jesus rezou?
3. Qual a imagem de Jesus que estes dois textos nos comunicam?
4. Procure encontrar outros textos da Bíblia ou acontecimento da vida, em que Jesus ou
outras pessoas aparecem rezando os salmos.
5. Como tudo isso nos ajuda a entender melhor a recomendação da Regra que nos pede
para rezar os salmos? Por quê?
3º Momento:
E anda no longo caminho da Justiça e da Paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
existe no nosso corpo e na criação. Rezando o Ofício, entramos neste ritmo, e o ritmo da
criação entra em nós. É um ritmo antigo, que vem desde os tempos de Jesus. Durante os
33 anos, sua vida era marcada pelo ritmo diário da oração em casa: de manhã, ao meio dia e
à noite; pelo ritmo semanal da oração do sábado na comunidade, na sinagoga; pelo ritmo
anual da celebração das grandes festas judaicas. O que importa é entrar neste ritmo
orante que abrange as horas do dia, as semanas, os meses, os anos. A forma das orações é
relativa. Pode ser o Ofício Divino, pode ser a reza do Pai-Nosso. O que importa é cada
comunidade ou família ter os seus momentos de oração comunitária. Importante é manter
sobretudo os dois momentos principais: de manhã, para o louvor da aurora; à tarde, para o
louvor do fim do dia
Pois a oração não é só um meio para alcançar um fim, ela também vale por si mesma.
É tarefa específica dos apóstolos dedicar-se à Palavra e à Oração (At 6,2-4). A oração é
um ato de louvor ao Criador. Nela reconhecemos a Deus como Senhor supremo do tempo e
a Ele nos doamos em total gratuidade. Ela é a respiração mais profunda do nosso ser.
Rezando o Ofício Divino ou os Pai-Nosso, nós nos unimos à Igreja, não na sua
organização, mas na sua oração: à oração humilde dos pobres da América Latina; à oração
silenciosa e suplicante dos doentes abandonados; à oração angustiada dos sem-terra e
sem-teto, dos estrangeiros, dos presos, dos desempregados; à oração esperançosa dos
romeiros que acendem uma vela em Aparecida do Norte ou em Juazeiro do Norte; à oração
do pobre que não tem ninguém que escuta o seu grito; à oração dos que buscam sem saber
em que direção devem procurar; à oração dos que rezam sem saber que estão rezando! A
oração com a igreja nos tira de nós mesmos, do nosso pequeno mundo, e nos abre para o
mundo dos outros, dos sofredores, dos pobres.
Irmã Maria de Lourdes, carmelita descalça do mosteiro de Itaguaí, RJ, tinha uma dor
permanente na coluna. Há anos, sofria dores insuportáveis. Um dia, de manhã, na hora de
levar a comunhão para ela, perguntei: “Irmã Maria de Lourdes, como vai? Está doendo
muito?” Ela respondeu: “Estou bem! Obrigada. Como Davi nos salmos, eu também já convidei
as gotas das ondas do mar que se quebram nas rochas da praia, para comigo louvar a Deus!”
Roteiro 4
A oração do Pai Nosso ...
Cartilha orante da nossa missão
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
2º Momento:
Levanta-te! O senhor vai passar...
Momento de silêncio
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 18
3º Momento:
E anda no longo caminho da justiça e paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
A Regra foi escrita em 1207 e foi aprovada em 1247. O texto de Alberto de 1207
dizia: “Os que conhecem as letras e sabem ler os salmos, devem recitá-los, nas várias
horas, conforme estabeleceram os Santos Padres e segundo o costume aprovado da
Igreja. Os que não conhecem as letras” devem dizer um determinado número de Pai Nosso.
Alberto fazia a distinção entre os que sabem ler e os que não sabem ler. O texto de
1247, corrigido e aprovado pelo Papa Inocêncio IV, diz: “Os que sabem dizer as horas
canônicas com os clérigos devem recitá-las conforme estabeleceram os Santos Padres e
segundo o costume aprovado da Igreja. Os que não sabem recitá-las,” devem dizer um
determinado número de Pai Nosso. Aqui, a distinção já não é entre os que sabem ler e os
que não sabem ler, mas entre os que sabem dizer o ofício com os clérigos e os que não o
sabem.
Introdução: Pai Nosso que estás no céu! * De maneira didática, Jesus resume todo o
1º pedido Santificação do Nome seu ensinamento em sete pedidos dirigi-
2º pedido Vinda do Reino dos ao Pai.
3º pedido Realização da Vontade * Nestes sete pedidos, ele retoma as gran-
4º pedido Pão de cada dia des promessas do Antigo Testamento e
5º pedido Perdão das dívidas pede que o Pai nos ajude a realizá-las.
6º pedido Não cair nas Tentações * Os primeiros três dizem respeito ao rela-
7º pedido Libertação do Maligno cionamento nosso com Deus. Os outros
Conclusão: Amém! Assim seja! Apoiado! quatro dizem respeito ao relacionamento
entre nós.
* Pai Nosso.
O novo relacionamento com Deus como Pai é o fundamento da fraternidade (Nosso Pai),
cuja origem é a experiência que Jesus teve de Deus como Pai.
1. Santificar o Nome:
O nome é a revelação da pessoa. Santificar o nome é respeitar profundamente a pessoa. O
nome de Deus é JAVÉ. Significa Estou com você! Deus conosco. Neste NOME Deus se dá a
conhecer (Ex 3,11-15). Este Nome é santificado quando usado conforme o seu verdadeiro
objetivo, isto é, não para a opressão, mas sim para a libertação do povo e para a
construção do Reino.
2. Vinda do Reino:
O único Dono e Rei da vida humana é Deus (Is 45,21; 46,9). A vinda do Reino é a realização
de todas as esperanças e promessas. É a vida plena, a superação das frustrações sofridas
com os reis e os governos humanos. Este Reino acontecerá, quando a vontade de Deus for
plenamente realizada.
3. Fazer a Vontade:
A vontade de Deus se expressa na sua Palavra. “Seja feita a tua vontade assim na terra
como no céu”. No céu, o sol e as estrelas obedecem às leis de suas órbitas e criam, assim, a
beleza da ordem do universo (Is 48,12-13). Da mesma maneira, a observância da lei de
Deus será fonte de ordem e de bem-estar para a vida humana.
4. Pão de cada dia:
No êxodo, cada dia, o povo recebia o maná no deserto (Ex 16,35). A Providên cia Divina
passava pela organização fraterna, pela partilha. Jesus nos convida para realizar um novo
êxodo, uma nova maneira de convivência fraterna que garante o pão para todos e não
permite acumulação (Mt 6,34-44; Jo 6,48-51).
5. Perdão das dívidas:
Cada 50 anos, o Ano Jubilar obrigava todos a perdoar as dívidas. Era um novo começo (Lev
25,8-55). Jesus anuncia um novo Ano Jubilar, "um ano da graça da parte do Senhor" (Lc
4,19). O Evangelho quer recomeçar tudo de novo! Hoje, nossa dívida externa não é
perdoada pelos países que se dizem cristãos!
6. Não cair na Tentação:
No êxodo, o povo foi tentado e caiu (Dt 9,6-12). Murmurou e quis voltar atrás (Ex 16,3;
17,3). No novo êxodo, a tentação será superada pela força que o povo recebe de Deus
(1Cor 10,12-13).
7. Libertação do Mal:
O Mal é o Satanás. Satanás é o adversário, é tudo aquilo que afasta de Deus. Assim, Pedro
chegou a ser satanás para Jesus, pois tentou desviá-lo do projeto de Deus (Mt 16,23). O
mal tentou Jesus no deserto, mas Jesus o venceu (Mt 4,1-11). Por isso, Ele nos diz:
"Coragem! Eu venci o mundo!" (Jo 16,33)
* Amém: Aprova os pedidos e diz estar de acordo com este programa.
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 20
Roteiro 5
A celebração diária da eucaristia ...
Manter viva e atuante a memória de Jesus
Abertura: Entrar em sintonia com Deus e com a realidade do povo de Deus
Canto inicial
Acolher as pessoas e introduzir o assunto do encontro
Oração inicial
V. Introduzi vocês na terra do Carmelo
R. Para que possam saborear os seus frutos
V. Estamos aqui reunidos em oração,
R. Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
V. Que a participação no corpo e sangue de Jesus
R. Faça crescer entre nós a fraternidade.
V. Que a memória da morte e ressurreição de Jesus
R. Nos leve a uma doação cada vez maior da nossa vida.
Invocar a luz do Espírito Santo
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
da comunidade. Durante a leitura, vamos prestar atenção naquilo que há de comum entre os
dois e naquilo que mais chama a nossa atenção.
3º Momento:
E anda no longo caminho da justiça e paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
Esta maneira de celebrar a Páscoa, presidida pelo pai de família, dava liberdade e
creatividade ao presidente na maneira de conduzir a celebração. Jesus, aproveitando
desta liberdade, deu um novo significado aos símbolos do pão e do vinho, dizendo: “Tomem
e comam, pois isto é o meu corpo! Tomem e bebam, pois isto é o meu sangue da nova
aliança, derramado em favor de muitos”. Eucaristia é celebrar a memória de Jesus, é ter
acesso àquele mesmo gesto de doação pelo qual entregou sua vida, para que nós
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 23
pudéssemos viver em Deus e ter acesso ao Pai. Aqui está o sentido profundo da eucaristia:
colocar presente no meio de nós e experimentar na própria vida o gesto de amor de Jesus
(Jo 13,1-2).
A Páscoa dos judeus, tal como era feito no tempo de Jesus, tem muitos aspectos que
ajudam na compreensão da eucaristia. Eis alguns destes aspectos:
* Tomar consciência das opressões
* Recordar a libertação da opressão
* Experimentar a grandeza do poder libertador de Deus
* Celebrar a Aliança e reassumir o compromisso com o projeto de Deus
* Agradecer as maravilhas de Deus por nós
* Reanimar a fé, a esperança e o amor
* Lembrar o já feito e esperar o ainda não feito
* Recriar em nós a mesma doação que Jesus fez da sua vida
* Viver a paixão, morte e ressurreição: o mistério permanente da vida
* Realizar a comunhão na doação, força geradora da fraternidade
* Partilhar os bens e evitar a acumulação
* Dar louvores ao Pai de todos os dons
Levado, enfim, para Dachau, lá mantém o mesmo desejo. “Dois sacerdotes alemães do
campo têm a possibilidade de celebrar a Missa e conseguem, com perigosa sagacidade e às
escondidas, fazer chegar a Pe. Tito a Hóstia Consagrada”. Segundo depoimento de Rafael
Tijhuis, frade carmelita, que estava preso junto com Frei Tito em Dachau, isso era feito “sempre
às escondidas, porque o chefe do bloco e o chefe da camarata não suportavam Tito”.
Frei Tito costumava guardar a Hóstia dento do estojo dos óculos. “Certa noite, ao entrar
no dormitório, após as rígidas inspeções, Tito Brandsma foi grosseiramente insultado e
maltratado pelo chefe da camarata. ‘Deu-lhe uma cacetada que o fez cair por terra. Seu furor
não conhecia limites, espancou-o e o pisou por todas as partes do corpo... No final, Tito entrou no
dormitório, e eu – continua ainda irmão Rafael – o sustentei e o conduzi ao leito, perguntando-lhe
se sentia muita dor. Ele me olhou e sussurrou: ‘Ah, irmão, eu sabia Quem estava comigo’, e
indicava o estojo dos óculos apertado sob a axila esquerda’.
Como tantas outras vezes, Tito conseguira ter e conservar a Hóstia Consagrada.
‘Enquanto eu ainda estava perde dele, acrescentou: ‘Venha, vamos rezar... Eu queria pôr-me de
joelhos, mas ele não permitiu. Sussurrando, adorávamos o Deus escondido: o grande e paciente
prisioneiro no Santíssimo Sacramento, como o chamava muitas vezes Pe. Tito. Depois, deu-me a
bênção do Santíssimo com o estojo dos óculos e fomos para a cama. Pela manhã, ao levantar,
perguntei-lhe se havida dormido bem. – Estou acordado desde as duas – respondeu-me – mas sou
um afortunado por ter podido velar junto com Nosso Senhor’ ”.
(CIRAVEGNA, G. Tito Brandsma: o mártir da liberdade. S.Paulo, Paulinas, 1992, Pp. 69-85).
Roteiro 6
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
Momento de silêncio
Perguntas para ajudar a sair da gruta
1. Como entendemos esta norma da nossa Regra a respeito do pensamento santo? O que
fazemos para realizá-la? Sente alguma dificuldade? Qual?
2. Para você, o que vem a ser “pensamento santo”? De onde vem a maior parte dos
pensamentos que povoam as nossas cabeças? Como podemos ter influência sobre os
nossos pensamentos e fantasias?
3. No número 18, a Regra dá três motivos que devem levar-nos a assumir a luta e buscar
as armas para poder assumir a luta espiritual. Quais são os motivos? Como este
motivos se apresentam a nós hoje, aqu na América Latina?
2º Momento:
“Levanta-te! O Senhor vai passar!”
Foram só três anos que Jesus andou pela Galiléia anunciando a chegada do Reino. Três
anos é muito pouco tempo. Foi como um raio que, por uma fracção de segundo, iluminou a
vida para, em seguida, deixá-la novamente envolta em trevas. Mas o clarão repentino
mostrou um caminho! E os discípulos de Jesus procuravam no AT palavras ou comparações
para verbalizar a novidade da vitória sobre a morte que tinham experimentado convivendo
com Jesus.
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 26
Uma das expressões mais antigas, usadas pelo NT para expressar o significado de
Jesus para a vida das comunidades, é aquela do resgate (goêl). No AT, caso alguém, por
motivo de pobreza ou de dívidas, perdesse a terra ou fosse vendido como escravo, o
parente mais próximo (goêl) devia dar tudo de si para resgatá-lo (Lev 25 e Dt 15). Para os
primeiros cristãos, Jesus era o parente mais próximo, o irmão mais velho, que deu tudo de
si, humilhou-se e esvaziou-se, para resgatar seus irmãos e suas irmãs, vítimas da
escravidão da lei, do racismo, da ideologia do império e da religião opressora. Paulo dizia:
“Ele me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Ele se fez escravo para nos enriquecer com
a sua pobreza (2Cor 8,9), para que nós pudéssemos recuperar a liberdade e retomar a vida
em fraternidade.
Roteiro 7
A Palavra de Deus na boca e no coração ...
Para saber conduzir o combate espiritual
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
Chave de leitura para o texto da Regra
Neste sétimo encontro vamos meditar um outro trecho do capítulo 19 da Regra que nos
fala sobre as armas a serem usadas no combate que devemos conduzir contra o poder do
mal. Já vimos duas armas: o cinto da castidade e o colete do pensamento santo. Durante a
leitura, prestemos atenção no seguinte: “Quais as armas que a Regra recomenda?”
2º Momento:
“Levanta-te! O Senhor vai passar!”
Momento de silêncio
Perguntas que ajudam a “levantar-se e descobrir o Senhor que passa”.
1. Qual o ponto nestes dois textos de que você mais gostou ou que mais chamou a sua
atenção? Por que?
2. O que nos impede de perceber que a Palavra de Deus está perto de nós? O que é hoje,
para você, Palavra de Deus, apelo de Deus, voz de Deus? Por que?
3. Procure encontrar outros textos da Bíblia ou acontecimento da vida que ajudam a
entender melhor o significado da recomendação de fazer habitar a palavra de Deus
abundantemente na boca e no coração?
3º Momento:
E anda no longo caminho da justiça e paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
Eis a enumeração das armas que compõem a armadura de Deus e defendem as partes
frágeis do nosso ser. Já vimos o significado do cinto e do colete (veja roteiro 6). Seguem
mais quatro armas, três de defesa e uma de ataque:
1. A couraça da justiça para o corpo (Mt 22,37; Dt 6,5).
A Regra usa a palavra justiça como sinônimo de amor a Deus e ao próximo . É a justiça do
Reino de que fala Jesus: "Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça!" O amor a Deus
deve ser total: de todo coração, de toda alma, com todas as forças.
2. O escudo da fé contra as flechas de fogo (Ef 6,6).
O capítulo 11 da carta aos Hebreus dá uma idéia do que vem a ser o escudo protetor da fé.
Ele descreve como, no passado, desde os tempos de Abraão e Sara, a fé foi a grande força
que animou e guiou o povo, e o defendeu nas lutas. Pois, sem a fé é impossível agradar a
Deus.
Pois havia gente que dizia: “A Palavra de Deus é muito difícil para nós. Fica muito distante da
vida da gente!” O texto responde: “A Palavra de Deus não está fora do seu alcance, não está
no céu, nem do outro lado da terra! Pelo contrário, ela está perto de você na sua boca e no seu
coração, para que a ponha em prática!” Você deve decidir-se e escolher. A recompensa será
grande! A convicção de fé expressa neste texto, até hoje, estimula as pessoas a fazer leitura
orante da Bíblia.
Roteiro 8
Fazer tudo na Palavra do Senhor, nada sem ela ...
para que se realize o projeto de Jesus, o projeto dos pequenos
Oração inicial
V. Introduzi vocês na terra do Carmelo
R. Para que possam saborear os seus frutos
V. Estamos aqui reunidos em oração
R. Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
V. Que a tua palavra, meditada e rezada, diariamente,
R. Nos oriente em todos os caminhos da nossa vida
V. Envia-nos a luz do teu Espírito
R. Para que possamos ser sinais vivos da tua Palavra.
Invocar a luz do Espírito Santo
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
Momento de silêncio
Perguntas para ajudar a sair da gruta
1. Qual destes textos é o que mais chama a sua atenção? Por que?
2. Como entendemos o texto da Regra onde se diz que devemos fazer tudo na Palavra de
Deus? O que fazemos para realizar esta obrigação? Sente dificuldades? Quais?
3. Como você lê a Bíblia? Durante a leitura, você está atenta ao projeto dos pequenos,
tão elogiados por Jesus?
2º Momento:
Levanta-te! O senhor vai passar...
Canto ou Mantra: preparar o coração para a escuta da Palavra de Deus
Momento de silêncio
Perguntas que ajudam a “levantar-se e descobrir o Senhor que passa”.
1. Qual o ponto neste texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção?
Por que?
2. Quais são as pilastras básicas do Projeto de Jesus que aparecem nas oito
bemaventuranças? Qual o alcance de cada pilastra?
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 31
3. Procure encontrar outros textos do Novo Testamento que ajudam a entender melhor o
projeto de Jesus.
4. Como estes textos ajudam a entender melhor o texto da Regra que pede de nós que
façamos tudo na Palavra de Deus?
3º Momento:
E anda no longo caminho da justiça e paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
A Regra do Carmo não só recomenda a leitura da Bíblia, mas também a pratica. Ela é,
ao mesmo tempo, fonte e fruto da Lectio Divina. Vejamos estes dois aspectos:
Resumindo. A Palavra de Deus deve penetrar todo o nosso pensamento; deve ajudar no
equilíbrio dos sentimentos, ser fonte de fé, de esperança e de amor; estar na boca e no
coração; deve penetrar a vida de tal maneira que tudo seja feita na Palavra do Senhor. Por
isso, ela deve ser meditada dia e noite em oração pessoal e comunitária, deve alimentar-nos
quando alimentamos o corpo, deve ser nossa arma de ataque para defender a vida. Deste
modo, realizamos o projeto de vida evangélica, cujo rascunho nossos primeiros confrades
do Monte Carmelo apresentaram ao patriarca Alberto e cuja aprovação foi dada na Regra,
cópia fiel do projeto que Jesus nos expôs nas oito bemaventuranças.
* A primeira e a última categoria recebem a mesma promessa: o Reino dos Céus. E a rece
bem desde agora, pois Jesus diz “deles é o Reino!” O Reino já está presente na vida deles!
Entre estas duas categorias, há três duplas, às quais é feita uma promessa no futuro:
* A primeira dupla diz respeito ao relacionamento das pessoas com os bens materiais. Os
Mansos são os “humilhados”, privados dos seus direitos. Eles vão herdar a terra, conforme
a promessa do Salmo 37,10.11.22.29.34. Os Aflitos são os que choram diante das injustiças
que se praticam: “Lamentam e gemem por causa das abominações que se cometem na
cidade”(Ez 9,4). Eles vão ser consolados. A promessa implica o restabelecimento da justiça
no relacionamento das pessoas com os bens materiais. Vão ter terra e consolo.
* A segunda dupla dis respeito ao relacionamento das pessoas entre si na convivência social.
Os que têm fome e sede de justiça são os que lutam, para que os relacionamentos
comunitários e sociais sejam fundados na justiça. Eles vão ser saciados, pois há um Deus
que julga os seres humanos e realiza a justiça (Sl 58,12; 75,11). Os misericordiosos são os
que têm o coração na miséria dos outros e se fazem solidários com eles, lutando para que a
solidariedade prevaleça sobre o egoismo. Os dois recebem a promessa. No Reino de Deus
que eles ajudama construir haverá justiça e solidariedade.
* A terceira dupla diz respeito ao relacionamento com Deus. Os de coração limpo verão a
Deus, e os construturas da paz serão chamados filhos e filhas de Deus. A promessa afirma
que no Reino o relacionamento das pessoas com Deus atingirá a sua perfeição.
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 33
* Com outras palavras, o Projeto do Reino, apresentado por Jesus nas bem-aventuranças,
quer reconstruir a vida na sua totalidade: no seu relacionamento das pessoas com os bens
materiais, das pessoas entre si e das pessoas com Deus. É o que a Bíblia chama de PAZ,
mwlv No tempo de Mateus, nos anos 80, este projeto estava sendo assumido pelos
pobres e estes, por causa disso, estavam sendo perseguidos..
Roteiro 9
2º Momento:
“Levanta-te! O Senhor vai passar!”
3º Momento:
E anda no longo caminho da justiça e paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
para a vida vêm, de fato, de Elias e Maria. No século XX, temos a beata Isabel da
Santíssima Trindade que retomou com vigor o ensinamento e o exemplo de Paulo, não tanto
como trabalhador, mas mais como o místico da presença de Jesus na nossa vida.
A conversão para Cristo aos 28 anos de idade criou para Paulo uma situação nova,
imprevista. "Por causa de Cristo perdi tudo" (Fl 3,8). Cortado da comunidade judaica,
perdeu o círculo de amizades. Enviado para a missão (At 13,2-3), levou uma vida errante.
Esta situação obrigou-o a buscar uma nova maneira de ganhar a vida.
De acordo com o costume dos missionários ambulantes da época, Paulo tinha tres
opções possíveis: 1. alguns impunham um preço pelo ensino que davam; 2. outros, bem
poucos, viviam das esmolas que pediam nas praças; 3. outros, a maioria, se empregavam
como professores particulares em alguma casa de família de gente mais rica, recebendo
dela uma ajuda em dinheiro. As tres opções tinham em comum que nenhuma delas aceitava
trabalhar com as próprias mãos.
Em lugar daqueles tres caminhos, já aceitos pela sociedade, Paulo escolhe um quarto
caminho: "trabalhar com as próprias mãos" (lCor 4,12). Ele reconhece aos companheiros o
direito de receber um salário pelo trabalho que faziam como missionários (1Cor 9,6-14).
Mas ele mesmo fazia questão de não aceitar pagamento pelo seu trabalho na comunidade.
Queria anunciar o evangelho de graça (1Cor 9,18; 2Cor 11, 7), sem depender da comunidade
nem ser peso para ela (1Ts 2,9; 2 Ts 3,8; 2Cor 11,9; 12,13-14; At 20,33-34). E fazia disto
uma questão de honra, "um título de glória"! (1Cor 9,15). A ajuda da comunidade de Filipos,
a única da qual aceitou ajuda financeira, não era visto como pagamento pelo serviço, mas
como partilha entre irmãos da mesma família (Fl 4,15-16; 2Cor 11,9).
Por que Paulo não fez como todo mundo? Por que fez questão de trabalhar com as
próprias mãos? Paulo rompeu com o sonho da sociedade da época, com o que hoje se chama
a ideologia dominante, e abriu o caminho para um novo ideal de vida. A grande massa urbana
era de escravos que trabalhavam com as próprias mãos. Foi no meio deles que surgiram as
primeiras comunidades (1Cor 1,26; 2Cor 8,1-2). Um escravo jamais poderia subir e tornar-
se um cidadão ou homem livre. Quem nascia escravo, nascia numa prisão perpétua! Um
escravo jamais poderia realizar o sonho comum de, um dia, ter uma vida em que já não
fosse necessário trabalhar com as próprias mãos. Este sonho ficava fora das
possibilidades reais da grande maioria do povo. Mais ou menos como hoje: a televisão, a
propaganda, as novelas alimentam em todos uma ideologia, um sonho, que só pode ser
alcançado por alguns poucos ricos da classe média alta. Pois pela sua condição de vida, a
maioria do povo é prisioneiro do salário mínimo! Para ele, o sonho da televisão é uma ilusão,
um sonho irreal.
Se Paulo fosse viver e agir como os outros missionários, querendo ou não, estaria
alimentando o sonho irreal de todos. Apresentando-se, porém, como missionário que vive do
trabalho de suas próprias mãos, ele provoca uma ruptura: faz com que o evangelho por ele
anunciado apareça não como algo que fica fora das possibilidades dos escravos e
trabalhadores, mas sim como algo que faz parte da vida deles. Paulo apresenta um novo
sonho, mais realista, diferente do sonho irreal, apresentado e alimentado pela ideologia
dominante da época.
Roteiro 10
O silêncio orante diante do silêncio de Deus...
ruminando os fatos, sabendo que Deus é maior que a crise
1º Momento
“Sai da gruta ... !”
2º Momento:
“Levanta-te! O Senhor vai passar!”
Momento de silêncio
Perguntas que ajudam a “levantar-se e descobrir o Senhor que passa”.
1. Qual o ponto neste texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção?
Por que?
2. De que maneira, este texto de Isaías nos ajuda a entender melhor o significado
profundo do silêncio para a nossa vida de oração e nosso relacionamento com Deus?
3. Procure encontrar outros textos da Bíblia ou acontecimentos da vida que ajudam a
entender melhor o a importância do silêncio que a Regra que pede de nós?
3º Momento:
E anda no longo caminho da justiça e paz
1. Um canto de meditação
2. Quais os apelos de Deus que apareceram durante as reflexões que acabamos de fazer
sobre a Bíblia, a Regra e a Realidade?
3. Recordar testemunhos de carmelitas ou de outras pessoas que viveram este
compromisso.
4. Qual o compromisso concreto que vamos assumir?
1. O Valor do silêncio
A Regra começa lembrando a recomendação do apóstolo Paulo a respeito do trabalho em
silêncio (Rc 21). Em seguida, descreve o valor do silêncio citando duas frases do profeta
Isaías: "A justiça é cultivada pelo silêncio" , e “É no silêncio e na esperança, que se
encontrará a vossa força. O silêncio recomendado pela Regra tem a sua origem nos
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 38
1) O cultivo do silêncio deve gerar justiça. Isaías compara a prática do silêncio com o
trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Qual o silêncio que
devemos cultivar, para que gere a justiça? É o trabalho que faz silenciar tudo dentro de
nós, para que a realidade possa aparecer do jeito que ela é em si mesma e não como
aparece desfigurada através do muito falatório, do barulho da moda, do diz-que-diz, ou
através dos meios de comunicação, da ideologia dominante. Hoje em dia, o fluxo de
palavras, de imagens e de falatório que nos envolvem é tanto, que impede as pessoas de
perceberem o que está acontecendo de fato. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos
achando normal aquilo que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, anos atrás,
o povo se revoltava diante de assassinatos e diante da violência. Hoje em dia, a violência
tornou-se uma coisa tão freqüente e tão presente, que já nos acostumamos. A miséria
crescente do povo, a injustiça impune, o sofrimento dos que nunca cometeram algum mal, o
abandono, o desemprego, a exclusão, a doença, a solidão, o desamor...! Vivemos numa
situação de morte, e já não nos damos conta. Além disso, muitas vezes, o consumismo mata
qualquer esforço de silêncio, de consciência crítica. Ora, o trabalho ativo da prática do
silêncio produz, aos poucos, o desmantelo das falsas idéias, da ideologia dominante ou dos
preconceitos que tínhamos na cabeça. Este é o cultivo que faz nascer a visão justa das
coisas. Gera em nós a justiça. Este é o primeiro aspecto.
2) A Organização do silêncio
Se o silêncio é um valor tão importante, ele deve ter a sua expressão na vida do
Carmelo. Na Regra, a organização ou institucionalização do silêncio é adaptada ao ritmo
diferente do dia e da noite. A noite, ela por si mesma, já é silenciosa. O silêncio da noite
nos envolve e nos faz silenciar. Produz uma certa passividade. Acalma as pessoas.
Acontece, independente de nós. O dia é mais barulhento. Em vez de silêncio, produz
distração. Agita as pessoas. Exige um esforço interior maior para fazer silêncio. Por isso, a
Regra pede um tipo de silêncio mais estrito para a noite e um silêncio menos estrito para
durante o dia. Insistindo para que o silêncio seja institucionalizado conforme o ritmo
diferente do dia e da noite, a Regra, por assim dizer, cria canais concretos através dos
quais o silêncio possa atingir as pessoas para gerar nelas a justiça, a esperança e a
resistência (força) de que fala o profeta Isaías. Através da observância do ritmo do
silêncio de dia e de noite, a pessoa vai assimilando dentro de si os valores do silêncio
profético.
3) A recomendação do silêncio
A terceira parte consta de dois momentos. Num primeiro momento, a Regra descreve
como a pessoa deve fazer para cultivar o silêncio que gera a justiça. Este cultivo consiste
sobretudo no controle da língua. Citando frases da Bíblia, a Regra aponta os perigos do
muito falatório. Ele diz: No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir
sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o Senhor no
Os 800 anos da Regra Roteiros 1 a 5 39
Evangelho: de toda palavra inútil que as pessoas disserem, dela terão que prestar conta no
dia do juízo. O controle da língua é o ponto de partida.
Em seguida, num segundo momento, citando novamente frases da Bíblia, a Regra passa a
recomendar o cultivo do silêncio ou o controle da língua, como sendo o caminho para se
chegar ao silêncio mais profundo que é o silêncio profético. Nestas recomendações,
aparece, de um lado, o pecado e a morte. Do outro lado, a justiça e a vida. O muito
falatório conduz ao pecado e à morte. O controle da língua conduz à justiça e à vida.
No fim, a Regra retoma a frase inicial sobre a justiça: Cada um procure
diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça. No começo e no fim, a
insistência na prática do silêncio como caminho para a justiça.