BECKER, Howard. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais
BECKER, Howard. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais
BECKER, Howard. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais
MÉTODOS DE PESQUISA
EM CIÊNCIAS SOCIAIS
TRADUÇÃO
MARCO ESTEVÃO
RENATO AGUIAR
REVISÃO TÉCNICA
MÁRCIA ARIEIRA
'l'OMBO. : 7 4519
Segunda Edição
EDITORA HUCITEC
São Paulo, 1994
CAPÍTULO 4
3 Louis Wirth, The Ghetü,J (Chicago, 1928); Harvey W. Zorbaugh, The Gold
Coasl and the Slum: A Sociplogi.cal Study of Near.North Side (Chi-
cago, 1929); M. Thrasher, The Gang: A Study of 1,313 Gangs in
Chicago (Chicago, 1928).
104 A HISTÓRrA DE VIDA E O MOSAICO ClENTÍ:FlCO
O
do então, a
é freqüentemente empregado como
.
uma forma básica de coleta de dados. Acima de tudo, os
sadores são cada vez mais móveis, deslocando-se de cidade em
cidade e de universidade em universidade em períodos de poucos
anos, sem constnlir uma reserva de conhecimentos especializados
a nível local e sem transmitir estes conhecimentos para seus es-
tudantes. A tendência atual se distancia do estudo comunitário
não existirão mais programas elaborados de estudo coordenado
como os que produziram as Yankee ·City Series 5 ou o Black Me-
tropolis.6 Isso será uma grande pe1·da.
De qualquer modo, a contribuição científica de uma história
de vida tal como The Jack-Roller só. pode ser apropriadamente
avaliada em relação a todos os estudos realizados sob a direção
de Park, pois se beneficiou e dependeu de todos eles, exatamente
como a totalidade dos estudos posteriores desta Idade de Ouro
da sociologia de Chicago dele dependeu um pouco. Boa parte do
histórico que qualquer estudo isolado teria que
r '" •- ., '"• . ., . , ' " - ' -...........
prio ou, pior, sobre o qual teria que fazer afirmações não verifi-
-cadas, . . estava já ao ·aicànce. ctá -mãõ_p.arã·o·lertor··ai"Ilie JCieli=
. Roller. Quando Stanley, seu os jogos in-
fanÜs de roubar aos quais ele e seus companheiros se dedicavam,
sabemos que podemos encontrar uma extensa e penetrante
crição ·deste fenômeno em The Gang de Thrasher. Quando fala
do tempo que passou na West Madison Street, sabemos que po-
demos nos voltar para The Hobo 7 de Nels Anderson para obter
uma compreensão do meio em que Stanley se encontrava então.
Se nos interessarmos pela representatividade do caso de Stanley,
basta simplesmente voltarmo-nos para os estudos ecológicos de-
senvolvidos por Shaw e MacKay 8 para vermos a mesma história
contada em termos de estatísticas de niassa. De modo semelhante,
se quisermos entender os mapas e correlações contidos nos estu-
dos ecológicos da delinqüência, basta consultar The Jack-Roller
e outros documentos simílares para obter essa compreensão.
Não tenho certeza dos critérios através dos quais se pode julgar
a contribuição de um tJ·abalho científico considerado em seu con-
texto total, mas sei que não são os critérios cqrrentemente em
voga como os implícitos no modelo do experimento controlado.
Não temos a expectativa,· num programa de pesquisa amplo e/
diferenciado, de que qualquer trabalho nos dê todas as
ou mesmo tudc;_ ..de..qu."ªlguer..
é o\ell}preendirnento de pesquisa como U1U todo,Tentft\·
:-todas as suas
-putcrireriostãis·co·mô--os propostos por Kluckhohn, Angell e Dol-
estão por ser OS; critérios
_!!l.iOirr-O-QUª-I!l;Q_ um_j'ragrnento de um
conclusões estes ·
:::.tl.tuêm exatarnênteo tipo de critério de que se tem
:Em-seulugar;- i)üd.eillõs-rernp.õrãriàmente .. ã.Pre-
12 Ver Max Gluckman (org.), Closed System.s and Open Minds (Chicago,
19134).
A HISTÓRIA DE VIDA E O MOSAICO CIENTÍI<'ICO 109
tais mentais. 13 Embora as próprias teorias se interessem mais
pela ação das instituições do que pela experiência individual, elas
o\! presumem alguma coisa sobre a maneira como as pessoas ex-
perimentam estes processos, ou, pelo menos, levantam questões
sobre a natureza desta experiência. Ainda que a experiência de -
prisão de Stanley não forneça, é claro, um conhecimento comple-
tamente seguro sobre estas questões, ela nos dá alguma base para
fazer um julgamento. .
.. de vidaL!!QYilmente em virtude de sua riqueza de
det_lllb(}s.:··pocre''serJmportant!iiliCiueles
n1omeiitos -·em qmn:rmã
área de estl!<lo_f?l3 .quando· a
'dedicado. ('investigação de varl"ávefs coni préclsãô-
sempre crescente, más' tem' recebiêfoern mil}_-·
guantes de conhecimento. Quàndo isso ócorre, os investigadoies
podein prosseguir coletando documentos pessoais que sugiram no-
vas variáveis, novas questões e novos processos, empregando os
dados ricos, embora não sistemáticos,. para propiciar a necessária
reorientação do campo.
Sob estas contribuições que a história de vida é capaz de dar,
oculta-se uma que é mais fundamental. A história de vida, mais
·do que qualquer outra técnica, excetÓ, talvez, a observação par::_
ticipante,. pode dar um sentido à superexplorada noçf!Q. M pro-
cesso . .Sociólogos gostam de falar de "processos em curso" e coisas
parecidas, mas seus métodos geralmente os impedem de ver os .
processos sobre os quais falam tão desembaraçadamente.
George Herbert Mead, se o levarmos a sério, nos diz que a-
realidade da vida social é uma conversação de símbolos signifi-
cantes, no curso da qual as pessoas fazem movimentos tentativas
e depois ajustam e reorientam s1.1a atividade à luz das reações
(reais ou imaginadas) que os outros têm a estes movimentos. A
formação do ato individual é um prOCE!SSo no qual a .conduta é
continuainelrte 'reformulada de modo a levar em consideração a
expectativa de outros, como esta se exprime na situação imediata
e como o ator supõe que possa vir a se exprimir. A ativídade cole-
tfvà, do ti]'ro- á que se alude- por conéeitos como "organização" ou
Ver George Herbert Mead, Mind, Self, and Society (Chicago, 1934);
14.
Herbert Blumer, "Society as SymboÍic Interaction", in Arnold Rose (org.),
Hun"tan Behavior and Social Proce..qses (Boston, 1962), 179-92; e Anselm L.
Strauss ct aL, Psyc.hi.atric ldeologies anel ln.stitutim'ts (Nova York, 1964)1 292- '
315.
A HISTÓRIA DB VIDA E O MOSAICO CIENTÍFICO 111
J 7 Ver
o ensaio muito influente de Samuel A. Stouffer, "Some Observations
on Study Design", American Journ.a.l of Sociology 5.5 (janeiro de 1950), 355-61,
e qualquer um dentre o grande número de livros e artigos sobre método que
assumem essencialmente a mesma posição.
A HISTÓRIA DE VIDA E O MOSAICO CIENTÍFICO 115
aqueles que não o foram, antes e depois da exposição. As múltiplas
comparações que se tornam possíveis através desta técnica nos
permitem testar não somente a hipótese original, mas também
algumas das explicações alternativas prováveis dos mesmos re-
sultados, desde que sejam -o que previmos. Este é o modelo apro-
vado. Se não conseguirmos realizá-lo, nosso estudo é falho, a me-
nos que possamos criar substitutos viáveis. Se conseguirmos fazê-
lo,. podemos dizer com segurança que produzimos descobertas
cientificas fortes o bastante para sustentar o peso de estudos pos-