Mediação
Mediação
Mediação
Resumo: A mediação é uma das categorias mais usadas pelo Serviço Social na sua
prática. Seu significado nem sempre é explicitado, podendo ser revelado pela direção
que o profissional imprime a sua intervenção. Este ensaio teórico pretende desvendar o
seu significado a partir da incorporação da sua potencialidade com instrumento teórico-
metodológico na prática no Serviço Social. Para tanto é preciso analisar o
comportamento de instituições públicas e/ou privadas que se apresentam com “vontade
de ajudar” escondendo a rede complexa de intenções que permeiam seus cotidianos. O
projeto ético-político precisa através de reflexões ininterruptas romper com a
intencionalidade assistencialista elaborando suas intervenções junto com os usuários
considerando a realidade concreta, organizada pelas relações de forças estabelecidas
pelo capitalismo. Romper com o assistencialismo significa dar direção e
comprometimento a prática buscando superação. As Políticas Sociais como
“concessões” oportunizam a imediatização, mas na visão crítica do Serviço Social
também se apresentam como campos de mediações. Com relação aos questionamentos
iniciais deste estudo consideramos ter avançado consideravelmente quanto ao
significado da categoria mediação para o Serviço Social. Contudo, assim como a
categoria mediação é dinâmica e processual, refletir sobre o tema não tem começo, meio
e fim. A função do Serviço Social, como colocamos anteriormente, é intervir mediando
as construções, puxando os vários fios alternativos que darão origem a outras
alternativas, elaboradas com criticidade visando à superação da realidade concreta.
Políticas Sociais. Deparamo-nos a cada dia, com deliberações dos conselhos e órgãos
federais, estaduais e municipais, que ao concederem os benefícios deixam os
Assistentes Sociais perplexos e confusos diante da aplicabilidade dos mesmos e das
demandas apresentadas pelos usuários.
Além da organização antidemocrática da assistência, o profissional de Serviço Social
ainda enfrenta a ação reguladora das instituições de serviços quer no âmbito público ou
privado. A realidade das instituições e a prática do Assistente Social servem como base
para dar início a uma reflexão que pretendemos possa contribuir no desvelamento destas
questões: realidade institucional e prática profissional. E para organizar nossa prática
desvinculando-a da institucionalizada entendemos delimitar como referência à categoria
mediação em Serviço Social como instrumento teórico-metodológico da prática,
apreendendo, decodificando e intervindo com e nas imbricações que permeiam a rede
institucional e o contexto de sobrevivência dos usuários. Para tanto alguns
questionamentos se fazem necessários: como o Serviço Social, a partir do projeto de
ruptura com o assistencialismo incorpora nas suas intervenções a categoria mediação no
Estado capitalista neoliberal, que se vale das Políticas Sociais para o “enfrentamento”
das questões sociais? Qual a concepção de mediação que direciona a prática? Quando,
como e porque o Serviço Social usa a categoria mediação? Como esta categoria pode
ser incorporada ao projeto pedagógico do Serviço Social na prática institucional?
A decodificação e a apreensão da ideologia da rede institucional potencializa a idéia
central da nossa reflexão. Mediação portanto é a categoria que dá direção e qualidade à
prática, baseada no método dialético marxista, resultado de um processo dinâmico e
ativo desenvolvido pela interação entre as pessoas, objetos, conceitos, preconceitos,
instituições, enfim uma rede de associações em que o usuário é tido como sujeito
engajado na construção de sua própria história. A função do Assistente Social é intervir
facilitando e mediando essa construção, puxando os vários fios alternativos que darão
origem a outras alternativas.
Construir mediação é construir o significado mediato da realidade concreta para poder
intervir de maneira eficaz na perspectiva da transformação e/ou superação da mesma.
A instituição, apesar da rede complexa de suas contradições, ainda assim se constitui
como espaço de construção social onde as mediações encontram ambiente para as
interações entre profissional e usuários. Pelas mediações as relações, objetivos e
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projetos pessoais adquirem uma função que diminui o peso dos fatores institucionais e
sociais, tornando assim a instituição o lugar de novas significações sociais que
promoveriam à superação e/ou transformação da realidade vivida pelos usuários.
O estudo da categoria mediação nos remete a possibilidade de romper com a ideologia
institucional de organicismo e mecanicismo, na qual a instituição funciona segundo um
modelo de reprodução com cunho organizacional capitalista, repassador de
encaminhamentos e de intervenção mecânica através de políticas sociais “concedidas”.
A mediação, como processo de comunicações, informações e estabelecimento de
relações sociais, no qual os usuários tenham expressão de identidade e de atitudes, leva
a instituição a se identificar como um espaço de convergência de sujeitos históricos, do
social e da expressão pessoal, com sujeitos mobilizados, organizados e participativos,
fazendo história e buscando permanentemente seus direitos de cidadãos.
Faleiros (1997) faz a seguinte ponderação que julgamos pertinente para nosso estudo:
A sistematização não implica situar-se fora das instituições, mas no estabelecimento de uma
nova estratégia de conhecimento e ação. Essa estratégia implica uma nova visão da palavra e da
ação das classes subalternas, como uma mediação de um sistema complexo de relações sociais
estruturais. A prática torna-se mediatizada, não pelas normas e controles institucionais, mas por
um plano de análise que se constrói historicamente na própria práxis de relações entre as forças
em presença e das quais os profissionais fazem parte.
Segundo o autor, o profissional tem que se colocar como ator social que interage no
interior do campo institucional, intervindo nas relações de força, fortalecendo os
poderes dos usuários, buscando resgate da cidadania, da autonomia, da auto-estima e
dos valores individuais e coletivos dos mesmos.
Em Faleiros (1999) encontramos o seguinte, em relação à categoria mediação:
prática que pulveriza as ações, atendendo o “que vai aparecendo na estrutura e dinâmica
institucionais”.
Yazbek se refere aos mecanismos institucionais enquanto processo de alienação dos
usuários, tornando-os permanentemente necessitados, na citação que segue e da qual
nos valemos para nossa reflexão a respeito da prática institucionalizada e da atitude do
profissional que vive esse cotidiano:
O estudo do método dialético marxista, enquanto situado como uma das concepções teórico-
metodoólogica dentro do Serviço Social, vem sendo tematizado há, no mínimo, vinte anos. A
tentativa de aprofundar o estudo sobra à categoria de mediação – uma das medulares categorias
que infibram a concepção dialética a de Marx – e é resultante deste processo, de
amadurecimento teórico da profissão. (PONTES, 1997, p. 154-155)
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Para que os agentes profissionais possam reconstruir, através do conhecimento, o seu espaço de
intervenção – apreendendo o movimento que se inicia partindo da demanda institucional e
ascende até a reconstrução da demanda sócio-profissional – torna-se necessário avançar no
conhecimento de algumas mediações ontológicas constituintes do espaço de intervenção
profissional genericamente concebido.
- mediatização de política institucional (setorial) em face das políticas públicas de corte social;
- dimensionamento do campo de forças políticas, franjas de classes determinantes no arco de
forças políticas;
- ponderação da capacidade técnica de influência e de ação propriamente dita, considerando a
composição das unidades técnicas de ação;
- possibilidade de constituição de alianças amplas no arco de forças políticas envolvidas, voltadas
à consolidação ou não de eixos das políticas em execução que apontem para a reprodução e
reforçamento dos princípios progressistas para a educação-sócio política da população, dos
agentes institucionais envolvidos;
- condições favoráveis de dimensionamento concreto dos instrumentais técnicos da profissão,
sejam para ações de cunho mais amplo de direcionamento de vetores de políticas sociais,
orçamento de ação, planejamento social etc. ou para ações que se dirijam para ação
individualizada, setorizada e grupalizada (Pontes, l997, p. 181).
Metodologia
Considerações finais
A revisão bibliográfica que realizamos nos leva a concluir que a categoria mediação
para o Serviço Social, sob a perspectiva do projeto ético-político da profissão, tem
direção: intervir no cotidiano dos usuários da assistência construindo com eles
superações, considerando suas historicidades, a realidade concreta e as relações
contraditórias dos seus cotidianos. Portanto a categoria mediação é essencial na prática
que entende a promoção humana como processo refletido e crítico. No entanto não
basta ser crítico é preciso ser político e buscar alternativas, construir mediações,
rompendo com práticas assistencialistas e institucionalizadas como as que se legitimam
nas redes complexas das instituições.
O projeto de ruptura do Serviço Social tem na categoria mediação significado rigoroso
no tratamento das Políticas Sociais e na direção política da prática profissional. Se isso
não acontecer corre-se o risco de articular mediações de segunda ordem, o que
acarretaria isentar o Estado das suas responsabilidades com seus cidadãos, perpetuando
neles o caráter de eternos “assistidos”. Cabe ao profissional analisar a questão dos
“assistidos” a partir do movimento social gerado na produção capitalista e dar direção a
sua prática comprometida com os usuários
Salientamos que a prática comprometida se articula e se sustenta na teoria e na
metodologia que dão o cunho de cientificidade ao Serviço Social como profissão. Logo
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a prática não é qualquer prática, isto demanda formação profissional com perspectiva
crítica, que realiza pesquisas dos processos e instrumentos de intervenção, produzindo
conhecimentos que facilitem a compreensão e apreensão das complexidades,
procedimentos estes que irão reforçar elaborações de mediações que visam superação.
A mediação deve para a prática profissional ser entendida como instrumento da práxis
do Serviço Social.
Concluímos nossa reflexão sobre a categoria mediação citando Yazbek (2003, 170):
Bibliografia
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de rua. São Paulo: Xamã, 2001.
BONETTI, Dilsea Adeodata. Serviço Social e Ética. Convite a uma nova práxis.
2.ed. São Paulo: Cortez, 1998.
HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1970.
LIMA, Maria Helena de Almeida. Serviço Social e Sociedade Brasileira. 3. ed. São
Paulo: Cortez, 1987.
____________. Serviço Social. Identidade e Alienação. 6. ed. São Paulo, Cortez, 2000.
PONTES, Reinaldo Nobre. Mediação e Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997.
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RICO, Elizabeth Melo (org.). Avaliação de Políticas Sociais: Uma questão em debate.
3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
______. (org.). Os Direitos (dos assistidos sociais). 3. ed. São Paulo: Cortez 1999.
YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. 4. ed. São Paulo:
Cortez, 2003.