Apostila Concreto Projetado PDF
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FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
FICHA CATALOGRÁFICA
FOÁ, SILVANA BLUMEN & ASSIS, ANDRÉ
Concreto Projetado para Túneis
[Distrito Federal] 2002
70 p., 297 mm (ENC/FT/UnB, Geotecnia, 2002)
Apostila - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
1. Concreto Projetado 2. Túneis.
I. ENC/FT/UnB II. Título (Série)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FOÁ, SILVANA BLUMEN & ASSIS, ANDRÉ (2002). Concreto Projetado para Túneis.
Apostila, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, 70 p.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Silvana Blumen Foá e André Assis
____________________________ ____________________________
Prof. André P. Assis, Ph.D. Silvana Blumen Foá, Ms.C.
(aassis@unb.br) (sil@e-net.com.br)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO __________________________________________________________3
2. ELEMENTOS DE SUPORTE ________________________________________________5
3. CONCRETO PROJETADO _________________________________________________8
3.1. CONCEITO __________________________________________________________8
3.2. BREVE HISTÓRICO DO CONCRETO PROJETADO ____________________________8
3.3. PROCESSOS DE PROJEÇÃO ____________________________________________13
3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS ___________________________________16
3.5. PROPRIEDADES DO CONCRETO PROJETADO ______________________________18
3.5.1. REFLEXÃO _____________________________________________________18
3.5.2. DESPLACAMENTO _______________________________________________21
3.5.3. POEIRA E NÉVOA ________________________________________________22
3.5.4. HOMOGENEIDADE E DEFEITOS TÍPICOS ______________________________22
3.5.4.1 EFEITO DE SOMBRA ______________________________________________23
3.5.4.2 LAMINAÇÃO ____________________________________________________23
3.5.4.3 IMPERFEIÇÕES SUPERFICIAIS ______________________________________24
3.5.4.4 CONTROLE DA HOMOGENEIDADE ___________________________________24
3.5.5 ADERÊNCIA ____________________________________________________26
3.6. MATERIAIS ________________________________________________________27
3.6.1. AGREGADOS ____________________________________________________27
3.6.2. CIMENTO ______________________________________________________28
3.6.3. ADITIVOS ______________________________________________________28
3.6.4. ÁGUA _________________________________________________________30
3.7. DOSAGEM _________________________________________________________31
4. CONCRETO PROJETADO COM ADIÇÕES ____________________________________31
4.1. CONCRETO PROJETADO COM POLÍMERO ________________________________31
4.2. CONCRETO PROJETADO COM SÍLICA ATIVA _____________________________33
4.2.1 OBJETIVOS DO USO DA SÍLICA ATIVA _____________________________ 34
4.3. CONCRETO PROJETADO COM FIBRA _________________________________35
4.3.1 INTERAÇÃO FIBRA-MATRIZ ______________________________________ 38
4.3.2 VOLUME CRÍTICO DE FIBRA ______________________________________40
Concreto Projetado para Túneis
Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental / Faculdade de Tecnologia
Programa de Pós-graduação em Geotecnia
1. INTRODUÇÃO
Uma das aplicações de obras subterrâneas em rocha e sua estabilização, ocorrem em minas
subterrâneas, cavernas de armazenamento e de uso público, barragens com circuito
hidráulico subterrâneo e túneis, os quais podem ter as mais diversas finalidades
(transportes rodoviários, ferroviários e de água). Os custos da estabilização destas
escavações são onerosos assim como podem ser os custos (prejuízos) de uma eventual
ruptura. Escavações subterrâneas sofrem dificuldades naturais de uma boa investigação
geológico-geotécnica, levando a mudanças de projeto durante a fase executiva da obra.
No Brasil, a construção de túneis, tem sido feita na sua grande maioria pelo método
NATM (New Austrian Tunneiing Method) onde o concreto projetado representa um
elemento fundamental. A demanda de novos túneis é estimada em dezenas de quilômetros.
Além das obras urbanas se destacam as rodoviárias, quer sejam federais ou estaduais,
como foi a Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, onde o concreto projetado teve uma das
primeiras grandes aplicações.
Esta apostila tem como objetivo principal dar um panorama geral do concreto projetado. A
análise se constitui em abordagens sobre os seguintes tópicos principais:
!"elementos de suporte;
!"conceito e breve histórico do concreto projetado;
!"processos de projeção e comparação entre os processos;
!"propriedades, materiais utilizados e dosagem do concreto projetado;
!"concreto projetado com adições;
!"aplicações do concreto projetado;
!"controle tecnológico do concreto e do processo de projeção.
2. ELEMENTOS DE SUPORTE
O suporte deve possuir rigidez para acompanhar as deformações no maciço. Caso o mesmo
possua uma alta rigidez, passa a restringir as distorções devidas à pressão diferenciada no
maciço, impedindo assim, o alívio de tensões. Deve ainda apresentar resistência suficiente
O suporte da cavidade pode ser executado em duas etapas; suporte de primeira e segunda
fase. O suporte de primeira fase, primário, imediato, temporário ou inicial, tem função de
induzir a formação do efeito arco, restabelecendo o equilíbrio tridimensional preexistente.
Para tal, deverá possuir rigidez suficiente para absorver esforços, evitando deslocamentos
excessivos, e flexibilidade suficiente para acompanhar as deformações impostas pelo
maciço. Já o suporte de segunda fase, secundário, permanente ou final, é aplicado somente
após a estabilização dos deslocamentos do maciço, com função estética e de aumentar a
segurança da obra.
Os sistemas de suporte podem ser divididos em categorias segundo sua área de aplicação.
Assim sendo tem-se: suportes pontuais ou isolados (tirantes ativos), suportes lineares
(cambotas e treliças metálicas, e enfilagens cravadas ou injetadas) e suportes superficiais
ou contínuos (concreto projetado, concreto moldado in loco, suportes segmentados).
O sistema de suporte contínuo ou externo ativo controla a instabilidade do maciço na
superfície da escavação. Estes suportes atuam contra a solicitação de instabilidade do
maciço. Eles geram tensões de equilíbrio aos deslocamentos do maciço, devido a um
incremento na tensão de confinamento (∆σ3) do maciço circundante, mudando a trajetória
e o nível de tensões. Este tipo de suporte é representado por uma força distribuída na
superfície de escavação do maciço. Como exemplos têm-se: o concreto projetado, o
concreto moldado in-loco, os segmentos de concreto pré-moldado, os segmentos de placa
metálica e as cambotas metálicas.
O concreto projetado tem sido cada vez mais utilizado. Suas características se adaptam
perfeitamente à filosofia do NATM, pois consiste em um sistema de suporte que promove
boa interação entre o maciço recém escavado e o mesmo, preenchendo os vazios da
sobrescavação. O concreto projetado é usado como elemento estabilizante devido as
seguintes propriedades:
!"tempo de endurecimento controlável através da utilização de aditivos;
!"perfeita aderência ao maciço recém escavado;
!"alta resistência a baixas idades;
!"flexibilidade adequada às deformações impostas pelo maciço;
!"estanqueidade e durabilidade;
!"versatilidade - dispensa o uso de escoramento, formas e armaduras e podendo ser
utilizado em associação a outros elementos estabilizadores
3. CONCRETO PROJETADO
3.1. CONCEITO
As definições de concreto projetado possuem sempre como ponto de partida uma descrição
do processo de projeção deste material. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), na norma NBR 14026 (ABNT, 2001) define “o concreto projetado
como um concreto com dimensão máxima do agregado inferior a 4.80 mm, transportado
através de uma tubulação e projetado sob pressão, a elevada velocidade sobre uma
superfície, sendo compactado simultaneamente”.
Pode se dizer, então, que o concreto projetado é o nome genérico para a mistura formada
por cimento, areia, agregado fino e água, que é aplicada pneumaticamente, e compactada
dinamicamente a grandes velocidades. Pode-se citar que a principal aplicação do concreto
projetado é em estruturas contínuas, como estas:
!"Túneis;
!"Revestimentos de taludes;
!"Recuperação de estruturas;
!"Novas construções.
O Brasil caracteriza-se por ser um país com grandes concentrações populacionais nos
centros urbanos. Por esta razão, qualquer novo empreendimento na área de transporte,
onde a cidade apresenta problemas crônicos, irá implicar num grande custo em termos de
desapropriações. Este fato faz do metrô e dos túneis rodoviários urbanos alternativas
economicamente viáveis, passíveis de construção.
Grandes somas vêm sendo gastas em tentativas de melhoria das condições de trânsito em
todo o Brasil. A construção de túneis tem tido ênfase, sendo na sua grande maioria pelo
método NATM onde o concreto projetado é um elemento fundamental. Atualmente, a
demanda de novos túneis, para novas linhas do Metrô, é estimada em dezenas de
quilômetros. Além das obras urbanas se destacam as rodoviárias, quer sejam federais ou
estaduais, como foi a Rodovia dos Imigrantes, onde o concreto projetado teve sua primeira
grande aplicação. Tais obras se constituem num mercado promissor para empresas de
Nos meados dos anos 80, as especificações de construções de túneis exigiam que o
revestimento secundário fosse de concreto convencional lançado com o auxilio de formas
metálicas. Isso demonstrava que, além de exigências de ordem estéticas (acreditava-se que
o acabamento do concreto projetado era de baixa qualidade), existiam dúvidas quando à
durabilidade do revestimento. As construções terminavam com um alto custo e baixa
velocidade de execução.
No final dos anos 80, iniciou-se a aplicação do concreto projetado por via úmida com a
utilização de braços mecânicos. Atualmente emprega-se esta técnica, com o uso do sistema
de pré-umidificação e com injeção de água sob pressão. Na década de 90, houve um
avanço dos túneis com o emprego de novos equipamentos de escavação. No entanto, um
grave acidente ocorrido na Cidade de São Paulo (Camargo, 1993), levantou uma série de
questões sobre a segurança dos túneis e a necessidade de aprofundar o conhecimento
tecnológico na área.
O concreto projetado apresenta dificuldades na pesquisa de cunho científico, uma vez que
é complexa a implantação de laboratórios para seu estudo. Em 1989, o primeiro projeto de
pesquisa sobre concreto projetado, envolveu a Universidade de São Paulo, através da
Escola Politécnica, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo - IPT e a
Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO). Este projeto deu origem aos quatro
primeiros trabalhos acadêmicos sobre o assunto no país. Um deles abordou a dosagem e o
controle do concreto projetado (Prudêncio, 1993, citado em Figueiredo, 2000). Foi um
trabalho fundamental para a tecnologia do concreto projetado, uma vez que introduziu uma
abordagem científica do estudo do concreto projetado. Em paralelo houve a publicação de
uma dissertação abordando a questão do controle do processo de projeção (Figueiredo,
Atualmente conta-se com quatro centros a nível internacional dispondo deste laboratório.
O mais antigo é o da Universidade de Bochun na Alemanha, onde foi produzida uma série
de trabalhos com enfoque principal no estudo do processo de projeção. O segundo centro
que se destaca é o de Vancouver, no Canadá, onde está a Universidade da Colúmbia
Britânica e foram realizados trabalhos abordando a reologia do concreto projetado sendo a
utilização de fibras de aço tanto para a via seca como para a via úmida. Lá também está o
pesquisador D. R. MORGAN que atua nas áreas de aplicação de túneis e recuperação de
estruturas (Figueiredo, 2000). O terceiro centro é o da Universidade de Laval (Canadá),
onde está sendo dada ênfase no estudo dos aditivos para o concreto projetado. Outro centro
é o da Universidade de Loughborough, no Reino Unido. Lá os pesquisadores atuam tanto
na área do revestimento de túneis como na recuperação de estruturas, estudando também a
utilização das fibras de aço.
O concreto projetado reforçado com fibras de aço (SFRS) é uma tecnologia recente para o
revestimento de túneis. Ele apresenta uma série de vantagens quando comparado ao
reforço da tela metálica. Desenvolvimentos foram apresentados em áreas fundamentais da
tecnologia do SFRS, como o controle da qualidade e a dosagem do material, onde a
interdependência das influências da fibra e da matriz no comportamento do compósito têm
de ser consideradas. Outros aspectos desta tecnologia merecerão estudos futuros.
Segundo, ainda, Figueiredo & Helene (1993), outro fator inibidor do uso das fibras no
Brasil está no fato de ser recente seu uso como reforço do concreto. As fibras nacionais
eram, basicamente, subprodutos. Elas produziam um baixo desempenho pós-fissuração, ou
dificultavam a mistura e a aplicação provocando entupimentos nos equipamentos.
Atualmente, existem fabricantes nacionais especializados.
Em 1983, a ABNT nomeou uma Comissão Técnica para elaboração das normas brasileiras
de concreto projetado. Neste meio tempo o Código de Proteção do Consumidor assumiu as
normas brasileiras como documentos de referência legais para o projeto, construção e
acompanhamento técnico de obras. Devido a isto, foram exigidos, em caráter de urgência,
normas técnicas brasileiras sobre o concreto projetado.
A comissão, então, preparou e publicou nove normas, sendo: uma especificação, seis
métodos de ensaios e dois procedimentos. Agora, estão sendo preparadas outras normas,
principalmente relacionadas a métodos de ensaio. Além disto, o Instituto Brasileiro de
Concreto – IBRACON nomeou, também, um Comitê Técnico para a produção de
documentos, como diretrizes, manuais, e relatórios técnicos. Atualmente a comissão e o
comitê trabalham juntos. Entre as normas criadas pode-se citar:
#"
NBR 13044 (ABNT, 1993) – Reconstituição de mistura recém projetada. Ela é similar
ao método recomendado pelo ACI. Tem por objetivo determinar o teor de aditivos,
proporção entre agregados (miúdo e graúdo) e o cimento, correção do teor de cimento:
medindo o passante na peneira 200 (ou 100) do agregado e o retido para o cimento;
#"
NBR 13069 (ABNT, 1994) – Determinação de tempo de pega em pastas de cimento
Portland com e sem aditivos aceleradores. É muito similar ao método ASTM C1102/88
com diferença apenas na massa da agulha para determinação do início de pega (190.35g).
Porém, não é considerado representativo do desempenho do concreto projetado em campo.
É recomendado para controle de recebimento.
#"
NBR 13070 (ABNT, 1994) – Moldagem de placas. Esta norma fixa as dimensões das
placas (devido o calor de hidratação, uma placa maior alcança temperaturas mais altas
devido a dificuldades em dissipação de calor) e o procedimento de moldagem, a
determinação de resistência potencial.
#"
NBR 13317 (ABNT, 1995) – Concreto projetado – Determinação do índice de reflexão
por medida direta – Método de ensaio;
#"
NBR 13354 (ABNT, 1995) – Concreto projetado– Determinação do índice de reflexão
em placas – Método de ensaio;
#"
NBR 13597 (ABNT, 1996) – Qualificação de mangoteiro – via seca. Esta norma avalia
a capacidade do mangoteiro de manter a homogeneidade do concreto. Possui um
procedimento simples, sendo:
!"Moldagem de duas placas (não em seqüência);
!"Mangoteiro deve proceder a regulagem do equipamento;
!"Variações limitadas (especialmente consistência).
#"
NBR 14278 (ABNT, 1999) – Determinação da consistência pela agulha de Proctor.
Tem por objetivo a medida da consistência pela resistência à penetração da agulha e
trabalhabilidade. No caso de aditivo acelerador à base de aluminatos: o ensaio mede apenas
o tempo de pega (flash set). É similar à ASTM C1117 com uma diferença no tempo de
penetração de 25 mm em 1 segundo.
#" NBR 14279 (ABNT, 1999) – Aplicação do concreto projetado via seca. São regras para
boa aplicação.
Este revestimento permite uma economia de custos e prazos (se comparado a concreto “in
loco”). A sua alta capacidade de suporte, sem a necessidade do uso de formas e
escoramentos, aumenta a velocidade de concretagem, reduzindo o custo e o prazo de
conclusão dos serviços.
A American Cocrete Institute – ACI (1990), citado em Figueiredo e Helene (1993), alerta
que o sucesso da aplicação do concreto requer um equipamento com operação e
manutenção apropriada. Desta forma, o concreto projetado depende, intimamente, do
processo de projeção utilizado, o qual irá definir as propriedades do concreto.
♦ Via seca (dry mix) ⇒ o concreto é conduzido à bomba de projeção a seco. A mistura
de agregados e cimento é conduzida por ar comprimido, através de um mangote até o
bico de projeção, onde é adicionada água;
♦ Via úmida (wet mix) ⇒ o concreto é conduzido à bomba com toda a água necessária já
misturada, sendo o ar comprimido utilizado para acelerar a projeção no bico e, por
vezes, para pressurização de câmaras da bomba de concreto ou mesmo para transporte
mistura úmida mangote;
♦ Via semi-úmida ⇒ é um caso especial da via seca, onde se adiciona água à mistura de
agregados e cimento antes do bico no mangote, por meio de um anel umidificador, e
próximo ao bico (igual ao processo de via seca).
cimento
concreto
mistura máquina de projeção projetado
agregados
Aditivo acelerador
água
No caso do concreto projetado úmido, os componentes são misturados com água num
caminhão misturador. Depois é jogado no sistema de bombeamento hidráulico, que
bombeia a mistura até o bico injetor, onde se introduz ar para o projetar sobre uma
superfície (Figura 4 e 5). Com isso têm-se índices de reflexão reduzidos e uma melhoria
das condições de operação. Contudo algumas restrições à aplicação deste método se
tornam necessárias no que tange ao tempo de pega. Este não deve ser excessivamente
reduzido para evitar o endurecimento do concreto no interior do equipamento de projeção;
transporte de
bico
concreto
cimento
máquina de projeção concreto
água mistura ou bomba projetado
agregados
saída da
mangueira
mistura úmida
Vale salientar que, segundo a ACI, citado em Figueiredo e Helene (1993), a equipe de
projeção é apontada como o elemento mais importante para que se obtenha uma aplicação
de concreto projetado bem sucedida. Na projeção por via seca, por exemplo, o mangoteiro
é o responsável pelo controle da umidificação do material, que é um dos mais importantes
fatores da variação das propriedades do concreto projetado.
Assim, na equipe, o mangoteiro tem o papel chave, sendo ele o responsável pela aplicação
do material, o controle da quantidade de água adicionada e o controle da uniformidade do
fluxo de ar, da vazão e da pressão adequadas para uma boa compactação do concreto.
Acima de tudo, o mangoteiro tem a responsabilidade de conhecer e executar a aplicação
Uma das desvantagens do concreto projetado apontada pela comunidade técnica foi sempre
a grande variação das propriedades deste material, causando dúvidas quanto sua
confiabilidade e viabilidade ao longo do prazo. Lorman (1968), citado em Figueiredo &
Helene (1993), afirma que em varias pesquisas, de 1911 a 1965, as propriedades físicas do
concreto projetado variavam do pobre ao excelente.
Vale salientar, ainda, que além da caracterização do processo, deve-se indicar a forma
como foram obtidas as propriedades do material e abordar todos os aspectos envolvidos no
processo desde a dosagem até o uso. A seguir serão descritas algumas propriedades do
concreto projetado, sendo elas dependentes do processo de projeção.
3.5.1. REFLEXÃO
Durante o impacto do concreto projetado contra superfícies duras (como armaduras ou o
próprio concreto), parte do material é refletido. Assim, ele não se incorpora ao alvo de
projeção e, consequentemente, cai ao chão. Este fenômeno é conhecido como reflexão.
A reflexão é quantificada pelo índice de reflexão (IR), devendo ser mínimo, expresso por:
IR = MR × 100
MT
Onde:
MR= massa de material refletido;
MT= massa de material total inicial.
Segundo Parker et al. (1976), citado em Figueiredo & Helene (1993), a reflexão é um
processo dinâmico dividido em duas fases distintas sendo:
Concreto Projetado para Túneis 18
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Programa de Pós-graduação em Geotecnia
bico bico
bico
Maior será a reflexão, também, quanto maior for a quantidade e a dimensão do agregado.
Isto se deve ao fato de quanto maior for o agregado, maior será a camada necessária para o
amortecimento, o que aumenta a duração da primeira fase e, portanto, maior a reflexão.
Quanto maior a quantidade de água da mistura, menor será a reflexão. Isto porque maior
será a plasticidade da mistura projetada e, por conseqüência, maior será a capacidade do
colchão de amortecimento terá de tornar o choque anelástico. É obvio que a quantidade de
água não pode exceder a certos valores que fluidifiquem a mistura, perdendo sua coesão
impedindo sua aderência à parede.
A reflexão é afetada, também, pela superfície de impacto onde se projeta. Quanto mais
irregular for à superfície maior será a camada de amortecimento e, portanto, maior a
duração da primeira fase e maior a reflexão. O mesmo ocorre com as superfícies rígidas
que demandem uma maior camada de amortecimento. Por outro lado, ao se projetar sobre
telas que vibrem e causem o desprendimento dos grãos fracamente aderidos, tem-se uma
maior reflexão.
Vale salientar, ainda, que existe uma variação do traço dos materiais que ficaram aderidos
a parede e aqueles que foram dosados inicialmente. Isto ocorre, pois a maior parte do
material refletido é composta de agregado graúdo. Assim, o material que ficou retido no
alvo de projeção é mais rico em finos do que a mistura seca, a qual alimentou a máquina de
projeção. Vários estudos existem para orientar a estimativa de gastos com materiais
constituintes do concreto dentre eles o de Aliva (1981) e o da ACI (1990), ambos citados
em Figueiredo e Helene (1993).
literatura aponta a distância de projeção ideal variando entre 0,60 a 1,80 m, quando haveria
o maior grau de compactação para a menor reflexão possível.
A incorporação de material segregado na superfície em projeção, devido a reflexão,
denomina-se oclusão. Esta é uma das principais causas da heterogeneidade do concreto
projetado. Este fenômeno provoca o aparecimento de regiões de baixa resistência e alta
permeabilidade. Ela é formada da parcela de material refletido que ao invés de cair no
chão, acaba se aderindo a armadura, a forma ou a cambota formando um concreto com
pouco teor de finos e baixa compactação.
Para combater a oclusão deve ser feita uma limpeza utilizando o bico de jato de ar, para
ajudar a manter o material refletido e o solto fora do campo de trabalho durante a projeção.
A oclusão diminui a aderência (monolitismo) entre as camadas, a resistência à compressão
axial, e aumenta a permeabilidade do concreto. A Figura 6 mostra dois corpos de prova
(CP1 e CP2) extraídos de uma estrutura onde se verificou uma queda de resistência devido
à oclusão.
Concreto São
Concreto São
Material
Refletido
Concreto São
3.5.2. DESPLACAMENTO
por falta de coesão. Assim, para atingir estas espessuras, ou utiliza-se várias passadas (o
que aumenta a reflexão) ou se recorre a aditivos aceleradores de pega ou microssílica.
O desplacamento gera um maior risco de acidentes no trabalho, durante a projeção. Pode
ocorrer queda de material sobre algum operário ou sobre o próprio mangoteiro.
No caso da via seca com injeção de água a elevada pressão, onde a umidificação da
mistura seca é mais eficiente, pode ocorre outro problema que é a produção de uma névoa
a partir do jato de água pulverizado. Esta névoa prejudica a visualização do serviço. Além
disto, ao se utilizar aditivos líquidos, diluídos na água, os quais são a base de aluminatos
ou silicatos de sódio ou potássio, pode-se provocar uma atmosfera cáustica, nociva a saúde.
Concreto
Velho
Concreto
Armadura projetado
3.5.4.2 LAMINAÇÃO
Entende-se por laminação a ocorrência de camadas ou faixas alternadas, visivelmente
diferenciadas, de material de alta e baixa densidade no sentido perpendicular ao da
projeção, formando um material anisotrópico e de durabilidade reduzida. Este fenômeno
pode ser observado em testemunhos extraídos de um concreto projetado, sendo um
esquema visto na Figura 9. A ocorrência da laminação deve-se a alguns fatores, como:
!"ao jateamento do concreto sobre a superfície que orienta o material em função das
camadas umas sobre as outras;
!"a projeção da mistura muito seca, segregando o material e aumentando a reflexão.
!"variações de traço devido a variações de fluxo da máquina;
!"utilização de aditivos a base de aluminato que dificultem a compactação do concreto e
a utilização de mão de obra pouco qualificada ou supervisão inadequada.
a) Controle visual
O PEM é utilizado para resistências inferiores a 1 MPa e o PEC para a faixa variando de 1
a 10 MPa. Ambos têm como principio básico a correlação entre a penetração de uma
agulha no concreto e a sua resistência à compressão. O PEM é um equipamento manual
que fornece índices para penetração de 15 mm de uma agulha padronizada no concreto. O
PEC utiliza o disparo de uma mola para penetrar no concreto um pino padrão. Assim, a
resistência é obtida por uma correlação com a profundidade de penetração.
Estes equipamentos, também, são usados para avaliação da uniformidade do material uma
vez que para a obtenção da resistência a compressão é feita diversas medidas, para se
analisar a dispersão de resultados. Devido a facilidade de manuseio o PEM pode forncer
resultados do material, logo após a projeção, o que agiliza o controle da homogeneização a
respeito dos aditivos aceleradores de pega e endurecimento.
3.5.5 ADERÊNCIA
A aderência é uma propriedade fundamental para o concreto projetado, pois sem ela não é
possível se executar nenhuma camada estrutural, já que o material não se adere ao alvo de
projeção. Para os túneis, Figueiredo (2000) recomenda que o concreto projetado se
mantenha aderido a superfície do maciço de maneira a preservar a sua resistência natural e
mantê-lo sem alterações o quanto for possível.
Por outro lado substratos fracos, muito lisos, contaminados com material solto ou
parcialmente endurecido, material pulverulento, graxas, tintas, desmoldantes ou com
umidade excessiva provocam um falta de aderência do concreto comprometendo seu
desempenho.
Outro fator que provoca perda de aderência é a baixa resistência a compressão do material
nas primeiras horas após a projeção. Nesta etapa, o material pode apresentar fissuaramento
na superfície de contato entre o substrato e o concreto. Neste instante o peso próprio da
camada e sua deformabilidade, torna a aderência nula. Nestes casos a solução,
normalmente, aplicada é a utilização de maior quantidade de aditivos aceleradores de pega.
Alternativas diferentes poderiam ser:
Uma das primeiras formas de controle da aderência pode ser realizada preparando a
superfície do substrato. Porém, é muito difícil, medir a resistência ao cisalhamento quando
o substrato é um solo friável, mole e úmido, pois neste caso, sabe-se apenas, que ela é
muito baixa. Então, o critério de avaliação é o próprio sistema de execução do
revestimento: ele está aprovado se não houver desplacamento.
3.6. MATERIAIS
3.6.1. AGREGADOS
Os agregados a serem utilizados, areia e pedrisco, devem seguir as especificações da
norma da NBR 7211/EB 4, quanto a granulometria, torrões de argila e matéria orgânica. O
excesso de torrões de argila e matéria orgânica pode reduzir a aderência da pasta ao
agregado (diminuindo a resistência) e alterar a pega.
A utilização de areia mais grossa geralmente resulta em maior reflexão, enquanto areia
mais fina gera maior retração por secagem. De acordo com Silva (1997), o módulo de
finura da areia deverá estar compreendido entre 2.35 e 2.75 e a dimensão máxima
característica do pedrisco não deverá ser maior que 9.5 mm, pois 60% a 70% dos grãos
acima desse diâmetro são refletidos. No caso do processo via seca, Silva (1997) atenta que
o teor de umidade da areia deverá estar compreendido entre 3% e 7%. Abaixo de 3% pode
3.6.2. CIMENTO
O cimento utilizado pode ser do tipo I (Portland Comum), II (Portland Composto), III
(Portland de Alto-Forno), IV (Portland Pozolânico), V (Portland de Alta Resistência
Inicial) e ARI-RS.
Os cimentos ARI e ARI-RS são os que apresentam maiores resistências iniciais (até 3 dias)
e finais, conforme pode ser observado na Tabela 2. Os cimentos com superfície específica
blaine superior a 400 m2/kg são mais susceptíveis a retração e fissuração, e por conseguinte
exigem maiores cuidados na cura. Caso o concreto for manter contato com terrenos ou
águas sulfatadas, deve ser utilizado um cimento resistente a sulfatos.
3.6.3. ADITIVOS
Os aditivos mais utilizados em concreto proejado são:
• aditivo acelerador em pó (à base de carbonato de sódio - Na2CO3), para o processo via
seca ou líquido (à base de aluminato de potássio - KAl2O3), para os processos via seca e
úmida. Estes aditivos são cáusticos. Já existem no Brasil aditivo não cáustico, tanto na
forma líquida como em pó, os quais não queimam a pele dos operários;
• aditivo plastificante, somente para o via úmida;
• aditivo superplastificante, somente para o via úmida.
Apesar dos objetivos acima descritos dos aditivos aceleradores, eles têm o inconveniente
de reduzirem a resistência do concreto a 28 dias em relação a um concreto sem esse
aditivo, além de aumentarem a sua porosidade (volume de vazios permeáveis). A
porcentagem de aditivo acelerador, para um mesmo traço, deverá ser igual tanto para as
paredes quanto para as calotas.
Silva (1997) exemplifica este fenômeno citando um caso no qual a resistência do concreto
sem aditivo acelerador após 28 dias foi de 48 MPa e absorção de água de 4%, e o mesmo
traço, com a adição de 3% do acelerador cáustico obteve 30 MPa de resistência a 28 dias e
6,3% de absorção. Recomenda-se para os aditivos cáusticos que o teor seja inferior a 3%.
Acima de 3%, observa-se um menor acréscimo de resistência de 3 dias para 7 dias (inferior
a 10%) e o mesmo ocorre de 7 dias para 28 dias (inferior a 5%).
O aditivo cáustico líquido à base de aluminato de potássio, KAl2O3, reage com o gesso do
cimento (o qual retarda o início de pega), reduzindo a formação de etringita (composto que
também retarda o início de pega) e dessa forma acelera a hidratação do C3A (responsável
pelas resistências de 10 e 24 horas); logo, ele é um aditivo acelerador de pega.
O teor máximo de aditivo acelerador a ser utilizado deverá ser determinado em ensaios de
compatibilidade cimento x aditivo, em laboratório, e verificado em campo. Este teor não
deverá ser superior a 3%, por razões tecno-económicas. A Tabela 4 mostra a relação não
proporcional entre o aumento na porcentagem de aditivo acelerador e a resistência inicial.
Observa-se a existência de um teor ótimo para cada tipo de cimento e aditivo.
Antes da utilização do aditivo líquido deve-se verificar se ele não se encontra cristalizado
(podendo entupir a mangueira ou a bomba de aditivo). A verificação da presença ou não de
cristais é visual, utilizando-se de uma proveta de 1.000 ml. Os aditivos devem ser isentos
de cloretos, para evitar a corrosão das armaduras.
Com relação aos aditivos aceleradores não cáusticos, o teor recomendado, para o pó, varia
entre 5% e 8% sobre a massa de cimento e, para o líquido, entre 6% e 10%. A perda de
resistência devida à utilização dos aditivos aceleradores não cáusticos também ocorre, só
que é bem menor que os cáusticos. Para um teor de 7% do aditivo não cáustico observa-se
uma queda de 8% da resistência à compressão axial.
3.6.4. ÁGUA
A água a ser utilizada deverá apresentar ph compreendido entre 5.8 e 8, além de atender
aos limites máximos de matéria orgânica, sulfatos, cloretos, açúcar e resíduos sólidos,
estabelecidos na NBR-6118 (ABNT, 1982), sendo:
• matéria orgânica (expressa em oxigênio consumido) 3mg/l.
• resíduo sólido 5.00mg/l.
• sulfato (expressos em íons SO4) 300mg/l.
• cloretos (expressos em íons Cl-) 500mg/l.
• açúcar 5mg/l.
3.7. DOSAGEM
As principais diferenças entre a dosagem dos concretos projetados e normais são com
relação ao consumo de cimento e dimensão máxima do agregado. A dimensão máxima
característica do agregado a ser utilizado deverá ser inferior a 12.5 mm. Traços contendo
pouco cimento (misturas pobres) aumentam a reflexão e diminuem a aderência.
b) concreto de resina consiste na mistura de resina com fíller e agregados (secos ou com
umidade de até 2%), ou seja, o aglomerante passa a ser o polímero.
c) concreto de cimento e polímero é a mistura de cimento, polímero, agregados e água.
Há alguns polímeros que não resistem à ação do meio alcalino, formando ácido e outros
produtos. O ácido interfere na hidratação do cimento, produzindo um concreto menos
resistente. Deve-se verificar a compatibilidade entre o tipo de cimento e o polímero, pois
existem polímeros cujo uso não é compatível com cimento pozolânico (CP IV).
No Brasil foram realizados alguns ensaios com o uso de polímeros. Silva (1997) cita como
exemplo de comparação entre um traço com e sem polímeros (CS) onde houve uma
redução de consumo de 60 kg de cimento/m3. Os resultados obtidos a 28 dias foram:
O teor mínimo recomendado de polímero sobre a massa de cimento é de 6%. O teor ideal
deverá ser determinado em testes práticos na obra, levando-se em consideração o
custo/beneficio (atendimento aos parâmetros especificados). Apesar de tudo exposto o
concreto projetado com polímeros não é, comumente, usado no Brasil, necessitando de
maiores pesquisas.
Entende-se por concreto projetado com sílica ativa a mistura de cimento, areia, pedrisco,
água, aditivos plastificantes e superplastificantes (para via úmida somente) e sílica ativa. A
sílica ativa é um material com propriedades pozolânicas, em forma de pó, cuja coloração
varia de branco a cinza dependendo do teor de sílica. Este material é constituído com no
mínimo 85% de sílica amorfa que o torna mais reativo (SiO2 não cristalizado). É obtida em
fornos a alta temperatura (2.000º C), quando o quartzo perde a sua estrutura cristalina. Não
adianta tentar obtê-la apenas moendo o quartzo, pois desta forma não se consegue destruir
a sua estrutura cristalina e o produto resultante não é reativo (ele não é amorfo).
A sílica ativa pode ser fornecida na formas densificada, não densificada e de lama
(misturada com água). O processo de densificação consiste na aglomeração e formação de
pequenos nódulos de sílica ativa. A massa unitária da não densificada está compreendida
entre 300 kg/m3 e 400 kg/m3, enquanto para a densificada é de 600 kg/m3. Para o concreto
projetado só se utiliza a não densificada.
EFEITO POZOLÂNICO ⇒ reação entre a sílica ativa e a cal hidratada do cimento (Ca
(OH)2), formando C-S-H (silicato de cálcio hidratado). O C-S-H é o composto responsável
pela resistência do cimento e de sua aderência aos agregados. Desta forma a sílica ativa
aumenta a resistência do concreto, devido a uma melhora na ligação pasta/agregado e no
aumento da resistência da pasta de cimento. Há um aumento na durabilidade do concreto,
pois o teor de Ca (OH)2 é menor e o tamanho dos poros é reduzido.
Para uma mesma relação água / (cimento + sílica ativa) pode haver uma queda de
resistência, caso ocorra segregação de material. Esta segregação é devida a um excesso de
aditivo superplastificante.
A redução da permeabilidade é devido a uma redução dos diâmetros dos poros do concreto
projetado quando da adição de sílica ativa, isto é a formação de uma zona de transição
menos porosa. Verifica-se através do ensaio de penetração de água sob pressão uma
Como o teor de Ca (OH)2 disponível é menor, há maior resistência química à ação das
águas sulfatadas (sulfatos).
A sílica ativa retém os álcalis do cimento, reduzindo os riscos de uma reação de agregados
reativos com o cimento (reação álcali-agregado).
O teor de sílica ativa recomendado está compreendido entre 5% e 10%, sendo o valor de
8% o mais usual. O uso de um aditivo superplastificante acelerador ou normal (nunca um
superplastificante retardador), sempre se faz necessário quando o processo de projeção é
por via úmida. O teor de aditivo acelerador pode ser reduzido de 0,5% a 1,0% em relação
ao concreto projetado sem sílica ativa.
A colocação da sílica ativa na betoneira pode ser feita junto com os outros materiais na
correia transportadora (coberta por uma lona), em forma de lama (na obra) ou misturada
com o cimento (que é a forma mais prática).
caso a tensão de tração (σt) for maior que ftk, ele fissura. Para aumentar o valor de ft
adicionam-se ao concreto compósitos como fibras de aço, telas ou fibras de base orgânica.
Os materiais compósitos vêm sendo utilizados na construção civil desde a antiguidade.
Mais recentemente surgiram novos possibilidades tecnológicas como os concretos
reforçados com fibras de aço. A adição de fibras de aço aos concretos minimiza o
comportamento frágil característico do concreto. Ele passa a ser um material pseudo-dúctil,
ou seja, continua apresentando uma resistência residual a esforços nele aplicados mesmo
após sua fissuração. A alteração do comportamento é função das características das fibras e
da matriz de concreto e da sua interação. Com isto o material passa a ter exigências
específicas para seu controle da qualidade, dosagem e mesmo aplicação, diferentes do
concreto convencional. Ao mesmo tempo, as possibilidades de aplicação do material são
ampliadas. Para algumas aplicações o concreto projetado com fibras apresenta vantagens
tecnológicas e econômicas em relação ao convencional, como é o caso do revestimento de
túneis, dos pavimentos e dos pré-moldados.
Vale salientar que deve haver uma grande compatibilidade entre a fibra e a matriz,
podendo se esperar uma durabilidade satisfatória do conjunto. Isto não acontece com a
utilização de fibras de vidro em matrizes cimentícias. Neste caso ocorre a natural
deterioração da fibra por parte dos álcalis do cimento, o que demanda a utilização de uma
fibra especial, resistente a álcalis.
Além das fibras de aço também são aplicadas as de base orgânica que podem ser sintéticas
ou de origem vegetal, como a palha, fibras de cisal, as casca de coco e as de celulose. Elas
são empregadas na produção de componentes como tijolos, telhas e cochos. Estas fibras
apresentam o problema de garantia de durabilidade satisfatória quando aplicadas em meios
alcalinos, como é o caso das matrizes de base de cimenticia. No entanto, podem
representar uma alternativa muito interessante para a construção no meio rural ou até de
habitações populares onde as exigências de desempenho não são muito elevadas.
Um compósito que tem tido um aumento no volume de aplicação, inclusive no Brasil, são
as argamassas e concretos reforçados com fibras sintéticas (polipropileno e nylon). No
Brasil, existem representantes comerciais e fabricantes destas fibras. Um ganho apreciável
de desempenho quanto ao controle de fissuração por retração plástica foi observado para
argamassas de reparo (Figueiredo, 1998), onde o baixo módulo de elasticidade das fibras é
suficiente para inibir a propagação das fissuras. Quando o módulo de elasticidade da matriz
é maior as fibras de polipropileno tendem a apresentar uma limitada capacidade de reforço.
Isto se deve ao fato dos cimentos atuais, em conjunto com os aditivos aceleradores de pega
e redutores de água, propiciarem um elevado ganho de resistência inicial e do módulo de
elasticidade. Com isto, as fibras de baixo módulo só têm possibilidade de atuar como
reforço num curto espaço de tempo após o lançamento, onde a cura bem feita já garante os
bons resultados. Resumidamente, os tipos de fibra existentes podem ser compostos de:
!"aço;
!"vidro;
!"ferro fundido (Fe, Cr, C, Si);
!"plástico (polipropileno e nylon);
!"carbono.
A função do reforço com fibra de aço é oferecer ao concreto projetado maior ductilidade e
menor possibilidade de ruptura frágil. A distribuição não uniforme das deformações de
grande magnitude, pode sobrecarregar e levar a ruptura o sistema de suporte, a menos que
28
d = 0.5
0.45
25
0.53
0.50
32.5
1.35
0.50
32.5
2.75
0.25
25.5
1.12
No caso do concreto simples quando existe uma fissura, ela representa uma barreira à
propagação de tensões, diagramadas pelas linhas de tensão, conforme o apresentado na
Figura 11. Este “desvio” irá implicar numa concentração de tensões na extremidade da
fissura e, no caso desta tensão superar a resistência da matriz, teremos a ruptura abrupta do
material. Caso o esforço seja cíclico, pode ocorrer uma ruptura por fadiga, ou seja, para
Concreto Projetado para Túneis 38
Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental / Faculdade de Tecnologia
Programa de Pós-graduação em Geotecnia
O volume crítico corresponde ao teor de fibras que mantém a mesma capacidade portante
para o compósito, a partir da ruptura da matriz. Isto significa que abaixo do volume crítico,
no momento em que haja a ruptura da matriz, ocorre necessariamente uma queda na carga
que o material tem capacidade de suportar. Acima do volume crítico, o compósito continua
aceitando níveis de carregamentos crescentes mesmo após a ruptura da matriz. Este
conceito se encontra ilustrado na Figura 13 onde são apresentadas curvas de carga por
deslocamento em corpos de prova prismáticos de concretos com fibras rompidos à flexão.
Existe um trecho elástico linear inicial, correspondente ao estágio pré-fissurado da matriz
do compósito e outro, similar a um patamar de escoamento, onde se pode diferenciar o
comportamento do concreto reforçado com teores abaixo, acima e igual ao volume crítico.
Para corrigir estes desvios são normalmente utilizados os chamados fatores de eficiência,
que permitem uma maior aproximação do Vfcrit teórico e aquele obtido experimentalmente.
Os fatores de eficiência considerados são basicamente dois: o η1 e o η2. O valor de η1
está associado ao efeito da orientação da fibra e o η2 ao comprimento da fibra.
Corrigindo o valor de Vfcrit de 0,4% para compósitos de matriz de concreto reforçado com
fibras de aço orientadas em duas direções, que é o normalmente esperado para o concreto
projetado, tem-se o valor sendo:
Vfcrit corrigido = Vfcrit/η1 = 0,3 1/0,375 = 0,83 %
O comprimento crítico de uma fibra é definido como aquele que permite a fibra
desenvolver uma tensão no seu centro igual à sua tensão de ruptura do sistema. Este
modelo baseia-se no conceito de que a transferência de tensão entre a matriz e a fibra
aumenta linearmente dos extremos para o centro da fibra. Então, a tensão máxima ocorre
quando a tensão a que está submetida à fibra se iguala à tensão de cisalhamento entre a
fibra e a matriz. O fator de eficiência η2 está associado à redução de desempenho
provocada pelo fato de se utilizar fibras descontínuas de comprimento reduzido. Este fator
é determinado através do estabelecimento do comprimento crítico (Lc). Na Figura 14 são
apresentadas as situações possíveis de distribuição de tensão na fibra em relação ao
comprimento crítico (Lc), sendo L o comprimento da fibra. Desta forma, estabelece-se:
a) Se L= Lc ⇒ a fibra terá na região média do seu comprimento uma tensão igual à sua
tensão de ruptura;
Pode-se concluir, pelas análises acima que quanto mais direcionadas as fibras estiverem
em relação ao sentido da tensão principal de tração, melhor será o desempenho do
compósito. Como consequência prática, recomenda-se a utilização de fibras, cujo
comprimento seja igual ou superior ao dobro da dimensão máxima característica do
agregado utilizado no concreto. Em outras palavras, deve haver uma compatibilidade
dimensional entre agregados e fibras de modo que estas interceptem com maior frequência
a fissura que ocorre no compósito. Esta compatibilidade dimensional possibilita a atuação
da fibra como reforço do concreto e não como reforço da argamassa do concreto. Isto é
importante pelo fato da fratura se propagar preferencialmente na região de interface entre o
agregado graúdo e a pasta para concretos de baixa e moderada resistência mecânica.
Assim, a fibra que deve atuar como ponte de transferência de tensões nas fissuras deve ter
um comprimento tal que facilite o seu correto posicionamento em relação à fissura, ou seja,
superior a duas vezes a dimensão máxima do agregado. Na Figura 15 representa-se um
concreto com compatibilidade dimensional entre agregado e fibra e na Figura 16 outro
onde isso não ocorre. Percebe-se que, quando não há esta compatibilidade, poucas fibras
trabalham como ponte de transferência de tensões na fissura. Duas alternativas são
empregadas de maneira a otimizar a mistura de concreto com fibras: ou se reduz a
dimensão máxima característica do agregado, ou se aumenta o comprimento da fibra.
4.3.5.1. TENACIDADE
Para os compósitos, a definição mais aceita define a tenacidade como sendo a área sob a
curva carga por deslocamento (Figueiredo, 2000). Ou seja, o trabalho dissipado no material
ou a energia absorvida pelo material, em Joules, até um certo nível de deslocamento. Tal
valor é o utilizado na avaliação dos compósitos e possui a desvantagem básica de depender
das dimensões do corpo-de-prova, bem como do sistema de aplicação dos esforços.
Um dos métodos mais usados para o concreto é o ASTM C1018 (1994) proposto pela
American Society for Testing and Materiais (ASTM), normalmente aplicado em conjunto
com o método ASTM C78 (1984) para determinação da resistência à tração na flexão do
concreto. Este ensaio é muito similar, com relação à metodologia, ao ensaio prescrito pela
Japan Society of Civil Engineers (JSCE-SF4, 1984), alterando-se os critérios de medida do
trabalho pósfissuração do concreto. Ambos são realizados ensaios em corpos-de-prova
prismáticos carregados segundo quatro cutelos. Além destes métodos existem os propostos
pela EFNARC (European Federation of Producers and Applicators of Specialist Products
for Structures) (EFNARC, 1996) que são dois: um de punção de placas e outro de tração
na flexão com corpo-de-prova prismáticos. Todos estes métodos forma citados em
Figueiredo (2000). Os objetivos do ensaio de tenacidade são:
Pf .Mu
Ti = (kg/m3)
Pa
Onde:
Mu = a massa unitária do concreto fresco em kg/m3 (soma dos consumos de materiais/m3);
Pa = peso de uma amostra da estrutura (kg);
Pf = quantidade de fibra contida na amostra (kg).
AASTM-C1018 define os índices de tenacidade (I5, I10, I30), Figura 17, como sendo:
área OACD
a) I 5 = (I5 ≥ 3,5);
área OAB
área OAEF
b) I10 = (I10 ≥ 5,0);
área OAB
área OAGH
c) I 30 = (I30 ≥ 14,0);
área OAB
Apesar do melhor desempenho conferido pelas fibras no que se refere à contenção da das
fissuras, quando o concreto se encontra no estado endurecido, a adição de fibras altera a as
condições de consistência do concreto e a sua trabalhabilidade. Isto ocorre porque ao se
adicionar à fibra ao concreto está se adicionando também uma grande área superficial que
demanda água de molhagem. Assim, tem-se uma menor quantidade de água disponível
para fluidificar a mistura.
Devido a isso, quanto menor for o diâmetro da fibra, maior será a influência da mesma na
perda de fluidez da mistura. De maneira similar, fibras mais longas atuam na consistência
do concreto. Tais parâmetros podem ser representados em conjunto através do conceito do
fator de forma que consiste na relação entre o comprimento da fibra e o diâmetro da
circunferência com área equivalente à sua seção transversal. Assim, quanto maior for o
fator de forma maior será o impacto na trabalhabilidade do concreto. Por estas razões,
aponta-se a adição da fibra como um elemento redutor da trabalhabilidade dos concretos,
podendo ocasionar prejuízos à sua compactação e à sua durabilidade e desempenho
mecânico incluindo aí a própria tenacidade.
Vale salientar que as informações dadas acima precisam ser analisadas a luz dos pelos
métodos de medida indireta da trabalhabilidade. O American Concrete Institute (ACI)
recomenda três diferentes métodos para a avaliação.
O primeiro e o mais simples é o abatimento do tronco de cone, o qual pode não apresentar
capacidade de medida da consistência do concreto quando o teor de fibras é elevado. O
segundo método é o que mede a fluidez do concreto com fibras submetido à vibração e
forçado a descer por um cone de abatimento invertido (ASTM C995-94), como mostra a
Figura 18. Há, ainda, a utilização do VeBe (ACI 211.3), Figura 19, para a determinação
dos parâmetros de trabalhabilidade do concreto com fibras.
Num estudo realizado por CECCATO (1998), citado em Figueiredo (2000), demonstrou-se
que o ensaio com o cone invertido não é adequado para a avaliação da trabalhabilidade de
concretos reforçados com quaisquer teores de fibra. Isto aconteceu por duas razões:
a) se o concreto é muito plástico acaba passando pela extremidade inferior aberta do cone
invalidando o ensaio;
b) se o concreto é muito coeso acaba por entupir a mesma extremidade inferior de modo a
impossibilitar a obtenção de qualquer resultado do ensaio.
Outro problema associado à aplicação dos concretos com fibras é o aparecimento dos
chamados ouriços. Estes são bolas formadas por fibras aglomeradas como a apresentada na
Figura 21. Neste caso serão produzidos uma redução do teor de fibra homogeneamente
distribuída e um ponto fraco (poroso), no local onde o mesmo se alojar. No caso do
concreto projetado estes ouriços produzem entupimentos de mangote, com sérios riscos à
operação do processo.
Vários estudos já foram feitos para avaliar se a adição de fibras ao concreto altera a
resistência à compressão do mesmo e não há um consenso entre os resultados. Alguns
trabalhos apontam uma redução nos valores obtidos para a resistência à compressão como
uma conseqüência da má compactação obtida com o material. Porém, como as fibras
atuam como ponte de transferência de tensões pelas fissuras, sejam elas produzidas por
esforços de tração ou cisalhamento como ocorre no ensaio de compressão, o concreto
também apresentará um ganho quanto à tenacidade, isto é, haverá um maior consumo
energético após a fissuração do material.
4.3.5.4. FADIGA
Deve-se ressaltar, então, que o concreto com fibras de aço, mesmo fissurado, continua
suportando esforços, devido o seu comportamento pseudo-dúctil. Mesmo pequenas
quantidades de fibras representam um ganho com relação à fadiga. Tal característica é
vantajosa em estruturas sujeitas a esforços cíclicos como caso dos pavimentos rígidos.
4.3.5.5. DURABILIDADE
Não existem provas técnicas de que à durabilidade do concreto aumente devido ao reforço
com fibras de aço. Isto se deve ao fato de se observar fibras oxidadas na superfície de
pavimentos e túneis, ou mesmo daquelas que se perdem durante a reflexão do concreto
projetado. No entanto, é conveniente citar que as fibras de aço não recebem nenhum
tratamento para evitar a corrosão, logo sua durabilidade é condicionada ao confinamento
no meio fortemente alcalino (pH em torno de 12,5) do concreto onde é apassivada.
Estudos reportados por Figueiredo (2000) envolvendo ensaios de durabilidade, mostraram
que as fibras no concreto apresentaram mínimos sinais de corrosão e nenhum efeito
deletério nas propriedades do concreto após sete anos de exposição a ataque de sais de
descongelamento. Assim, a corrosão das fibras na superfície do concreto está associada à
carbonatação do concreto que se inicia justamente nesta região mais próxima da atmosfera
e força a redução do pH. Quando o mesmo atinge o valor de 9 o aço é despassivado e
principia-se a corrosão. No entanto, isto vem a indicar a necessidade de previsão de um
recobrimento, que pode ser até uma camada de sacrifício que garantirá uma seção mínima
de trabalho para a estrutura durante a sua vida útil.
Deve-se ressaltar o fato de que as fibras restringem a propagação das fissuras no concreto.
Como consequência direta, tem-se um aumento da resistência à entrada de agentes
agressivos com o aumento da durabilidade da estrutura. Assim, espera-se que a estrutura
apresente um desempenho superior com relação à durabilidade com a utilização de fibras.
Helene (1986) aponta que a corrosão localizada, apesar de intensa e perigosa, é originada
quando os ânodos são de dimensões reduzidas e estáveis, sendo, portanto rara no concreto
armado. Tanto maior será a dificuldade de se encontrar uma diferença de potencial numa
armadura quanto menor forem suas dimensões.
O ACI (1988), citado em Figueiredo (2000), baseado numa série de pesquisas, relata que a
resistência aos esforços dinâmicos é de 3 a 10 vezes maior no concreto reforçado com
fibras (esforços como cargas explosivas, queda de massas e cargas dinâmicas de
compressão, flexão e tração). Isto advém do fato de ser grande a quantidade de energia
dissipada no concreto com fibras, gerada no esforço de se arrancar à fibra da matriz para a
ruptura do material.
Existem várias formas diferentes de ensaios para medir a resistência aos esforços
dinâmicos. O mais simples destes métodos é o preconizado pelo ACI (1989), citado em
Figueiredo (2000). Ele consiste na queda de uma massa sobre uma esfera de aço apoiada
sobre um determinado ponto fixo do corpo de prova. O ensaio possui um carácter
qualitativo, servindo para avaliar o ganho de desempenho quando da adição de fibras de
aço. Existem limitações neste ensaio, incluindo sua grande variabilidade. Um outro ensaio
é a instrumentação da fissura que permite medidas de tenacidade, a dissipação de energia, a
resistência última e as deformações para diferentes taxas de carregamento ou deformação.
A retração e a fluência são pouco afetadas pela adição de fibras. Como estes fenômenos
estão associados ao movimento de fluidos dentro do concreto, a fibra representa pouca ou
nenhuma restrição quando o concreto permanece não fissurado. No entanto, quando a
retração é restringida, as fibras podem proporcionar um beneficio no que se refere ao
controle da fissuração.
A reflexão do concreto projetado com fibras pelo processo via seca é bem maior que pelo
processo via úmida. A reflexão de fibras é maior que a reflexão de concreto. A reflexão das
fibras depende de alguns itens, como:
!"do comprimento da fibra;
!"da espessura da camada de projetado;
!"da reflexão total;
!"da consistência do concreto;
!"do ângulo e distância de aplicação.
4.1.7 APLICAÇÕES
Segundo Figueiredo (2000), o Brasil já se superou a marca dos dois milhões de metros
quadrados de pavimentos industriais executados com fibras de aço. Isto ocorre apesar de
alguns aspectos de sua tecnologia ainda carecem de desenvolvimento e popularização. Tal
popularização só ocorrerá quando se possuir uma normalização sobre o assunto
proporcionando uma maior confiabilidade. Porém, algumas vantagens tecnológicas são
inquestionáveis se comparadas ao uso das telas de aço soldadas:
!"inexistência da etapa de colocação das telas metálicas, reduzindo o tempo total o
número de operários necessários para a execução do pavimento.
!"redução de espaço na obra, uma vez que não é necessário estocar a armadura.
!"inexistência de espaçadores como nas telas metálicas;
!"reforço de toda a espessura de concreto do pavimento (deve-se usar concreto com
consistência adequada e sem excesso de vibração);
!"as fibras também permitem o corte das juntas de dilatação sem a necessidade de barras
de transferência pré-instaladas. Além disso, as fibras reforçam as bordas das juntas
minimizando o efeito de lascamento nessas regiões;
!"existe uma maior facilidade de acesso ao local da concretagem, podendo-se atingir o
local de lançamento do concreto com o caminhão betoneira, o que é impossível quando da
utilização de telas metálicas que impedem o livre trânsito de pessoas e equipamentos após
a sua instalação;
!"não representam restrição quanto à mecanização da execução do pavimento.
Em obras em que a estrutura está muito sujeita a esforços dinâmicos, como é o caso das
estruturas construídas em regiões com abalos sísmicos ou mesmo sujeitas à fadiga por
esforço cíclico é viável a utilização de concretos reforçados com fibras para se minimizar o
dano causado por estes esforços e minimizar a fissuração da estrutura. Isto garante uma
maior vida útil para o material da estrutura.
As construções militares são obras onde a resistência ao impacto é importante. Nelas existe
o risco de impactos provocados pelos mais variados projéteis. Há um enorme potencial do
concreto reforçado com fibras para este tipo de construção, pois o mesmo tem todas as
condições para proporcionar um desempenho superior ao do concreto armado.
A indústria de pré-moldados é outro campo de aplicação dos concretos com fibras devido à
maior velocidade de produção que seu uso proporciona. Isto advém do fato de eliminar a
fase de instalação da armadura nas formas previamente ao lançamento do concreto.
b) Métodos baseados numa resistência sob cura normal à baixa idade: usa-se correlações
entre os resultados obtidos a uma baixa idade, sob cura normal, com resultados em corpos-
de-prova irmãos, à idade de interesse.
Silva (1997), sugere um critério para aceitação e rejeição da estrutura, onde a avaliação do
concreto projetado na superfície de aplicação será realizada mediante inspeção visual e
extração de corpos de prova da estrutura. O método é exposto a seguir:
Após examinar vários aspectos das propriedades do concreto projetado pode-se afirmar
que um produto de qualidade pode ser obtido a partir de materiais convencionais e uma
equipe habilitada. Um dos pontos críticos em todo o processo é a mão de obra, que pode
tornar um material de qualidade em um repleto de falhas executivas. Neste cenário o
controle do processo de projeção é um dos itens de especial atenção, onde são
imprescindíveis o conhecimento, a habilidade e a experiência da equipe executora. Para o
sucesso da aplicação do concreto projetado apresenta-se uma síntese dos cuidados que
devem ser observados no processo na Tabela 5.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O concreto projetado pode ser controlado e dosado cientificamente, sem lançar mão de
traços empiricamente desenvolvidos. No entanto, muito ainda deve ser investido nesta
área. Com relação ao controle do concreto projetado sugere-se estudar métodos de
avaliação do material em laboratório, sem utilização do equipamento de projeção. Neste
caso, a avaliação dos aditivos aceleradores de pega e endurecimento é a mais promissora.
Devido às grandes dificuldades associadas ao estudo da via úmida muito deve ser feito em
matéria de pesquisa. Sua reologia, permite uma avaliação do comportamento do material
em laboratório, uma vez que é um concreto plástico e, em muito se assemelha aos
concretos bombeados. Por isso, métodos de análise de consistência e trabalhabilidade
devem ser estudados e correlacionados com as condições de obra. Isto deve ocorrer para o
concreto com o reforço das fibras de aço, da mesma forma que a utilização de aditivos
aceleradores.
Um dos grandes campos de estudo futuro para o concreto projetado via úmida trata da
utilização de novos aditivos. Neste aspecto, ressalta-se o surgimento de novos produtos
como os aceleradores não alcalinos e os inibidores de endurecimento. Eles possibilitarão
uma grande economia de cimento, uma vez que, estes aceleradores não produzem perda de
resistência a maiores idades, e os inibidores evitam a perda de trabalhabilidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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aditivos aceleradores: NBR 13069. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro. RJ. 2 p.
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de Normas Técnicas, Rio de Janeiro. RJ. 2 p.
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Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro. RJ. 2 p.
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Cotia, SP. 2 p.
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Figura 23 – Secção em planta e aplicação de tela metálica e tirante monobarra de resina, para
contenção de taludes na BR101/BA - Desenvale - Norberto Odebrech (Este, 2001).