Ratio Fundamentalis
Ratio Fundamentalis
Ratio Fundamentalis
DOS SALESIANOS
DE DOM BOSCO
PRINCÍPIOS E NORMAS
RATIO FUNDAMENTALIS
INSTITUTIONIS ET STUDIORUM
Quarta Edição
Roma 2016
1
Edição online
2
SUMÁRIO
Sumário
Abreviações e siglas
Decreto de promulgação
Revisão da “Ratio” sobre o Pré-Noviciado: Carta do P. Francesco Cereda
Revisão da “Ratio” sobre a formação inicial do Salesiano coadjutor: Carta do P. Francesco Cereda
Nota à Quarta Edição
3
SUMÁRIO
SUMÁRIO
ABREVIATURAS E SIGLAS
DECRETO DE PROMULGAÇÃO
CAPÍTULO PRIMEIRO
A FORMAÇÃO SALESIANA NAS CIRCUNSTÂNCIAS ATUAIS. A RATIO.
CAPÍTULO SEGUNDO
IDENTIDADE DA VOCAÇÃO SALESIANA: PRINCÍPIO E FIM DA FORMAÇÃO
CAPÍTULO TERCEIRO
AS DIMENSÕES DA FORMAÇÃO: VALORES E ATITUDES
Objetivos e caracterizações
Empenho pessoal pela formação intelectual
Em nível de Congregação
Em nível inspetorial
Na formação inicial
Os responsáveis pela formação intelectual
A metodologia
Centros de estudo para a formação
Reconhecimento do currículo básico e outros estudos
5
3.4.3.5 A perspectiva de uma pastoral orgânica e a mentalidade de projeto
3.4.4 Algumas linhas de formação educativo-pastoral
3.4.4.1 A qualificação educativo-pastoral
3.4.4.1.1 A escuta de Deus nas necessidades dos jovens
3.4.4.1.2 Atenção ao mundo da educação
3.4.4.1.3 A reflexão teológico-pastoral e as orientações da Igreja
3.4.4.1.4 A assunção das orientações pastorais salesianas
3.4.4.1.5 A formação na experiência cotidiana da missão
3.4.4.2 As atividades pastorais durante a formação inicial
CAPÍTULO QUARTO
LINHAS DE METODOLOGIA FORMATIVA
6
CAPÍTULO QUINTO
CAPÍTULO SEXTO
O PRÉ-NOVICIADO
CAPÍTULO SÉTIMO
O NOVICIADO
7
CAPÍTULO OITAVO
O PÓS-NOVICIADO
CAPÍTULO NONO
O TIROCÍNIO
CAPÍTULO DÉCIMO
A FORMAÇÃO ESPECÍFICA
8
10.5. A EXPERIÊNCIA FORMATIVA
10.5.1. A dimensão humana
10.5.2. A dimensão espiritual
10.5.3. A dimensão intelectual
10.5.3.1. O estudo da teologia
10.5.3.2 Perspectiva salesiana e disciplinas salesianas
10.5.4 A dimensão educativo-pastoral
10.5.4.1 Aspectos que se devem cultivar
10.5.4.2. O exercício dos ministérios e do diaconato
10.5.4.2.1 O leitorado e o acolitado
10.5.4.2.2 O diaconato
10.6 ALGUMAS CONDIÇÕES FORMATIVAS
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
A FORMAÇÃO PERMANENTE
ANEXOS
ANEXO n. 1
9
Estudo da salesianidade
Qualificação e especialização
Formação permanente
2.2. Em relação às fases formativas em particular.
Pré-noviciado
Noviciado
Pós-noviciado
Tirocínio
Formação específica
Profissão perpétua
Anexo n. 2
1. Planejamento da formação
2. O Diretório e o Projeto
3. O Projeto inspetorial de formação
ANEXO N. 3
NOTAS INTRODUTÓRIAS
A ORGANIZAÇÃO
2.1 O PRÉ-NOVICIADO
2.1.1 Orientações par as disciplinas salesianas
2.1.2 A área do mistério cristão
2.1.3 Alguns aspectos culturais
2.2 O NOVICIADO
2.2.1 Orientações para as disciplinas salesianas
2.2.2 A área do mistério cristão
2.2.3 As ciências do homem e da educação
2.3 O PÓS-NOVICIADO
2.3.1 Orientações sobre as disciplinas salesianas
2.3.2 Ciências filosóficas, ciências do homem e da educação
2.3.3 A área do mistério cristão
10
ANEXO N. 4
SUBSÍDIOS
2. CRITÉRIOS DE DISCERNIMENTO
11
A. Indicações gerais para o discernimento
B. Dificuldades e contraindicações a serem avaliadas
a) Contraindicações relativas ou absolutas com base no discernimento
Diversas situações e atitudes pessoais
Experiências antes do início do itinerário formativo
Um problema particular: a masturbação
b. Contraindicações absolutas
c. Discernimento vocacional e homossexualismo
3. AS ADMISSÕES
3.1 O PEDIDO, OS RESPONSÁVEIS E AS MODALIDADES DAS ADMISSÕES
3.1.1. O pedido
3.1.2 Os responsáveis
3.1.3 As modalidades
ANEXO
12
ABREVIATURAS E SIGLAS
ABREVIATURAS E SIGLAS
13
DECRETO DE PROMULGAÇÃO
Somos chamados a ser discípulos do Senhor Jesus, testemunhas do Reino e missionários dos
jovens, vivendo a experiência carismática suscitada pelo Espírito Santo na Igreja através de Dom
Bosco.
A formação à vida religiosa apostólica salesiana encontra no documento normativo “A
formação dos Salesianos de Dom Bosco. Princípios e normas” e em “Critérios e normas de
discernimento vocacional salesiano. As admissões”, que são o seu complemento, uma segura linha
diretiva. A Ratio, de fato, expõe e desenvolve, de maneira orgânica e didática, o conjunto dos
princípios e das normas da formação que se encontram nas Constituições, nos Regulamentos
Gerais e em outros documentos da Igreja e da Congregação” (R 87).
O CG24 pediu a revisão e atualização da Ratio promulgada em 1985 (cf. CG24 147). Ao
pedir a revisão, o Capítulo levou em consideração as orientações eclesiais sobre a vida consagrada
e o ministério sacerdotal surgidas após a publicação da edição precedente, em particular as
exortações apostólicas Vita Consecrata e Pastores Dabo Vobis; os desafios da evangelização e da
inculturação, de grande incidência para uma vocação que se realiza em nível mundial, em
contextos diversos; os grandes novos valores da experiência vocacional salesiana evidenciados
pelos recentes Capítulos Gerais; e a necessidade de dar uma resposta adequada às exigências atuais
e aos problemas da formação. Ao mesmo tempo, os Capitulares reconheceram a validade
substancial da disposição, dos critérios e das diretrizes da Ratio 1985 e sublinharam a necessidade
de maior coerência operativa ao traduzir a Ratio em praxe formativa concreta.
Ao fazer a revisão assumiu-se fielmente o trabalho operativo estabelecido pelo CG24 e
foram considerados com atenção as ênfases e sugestões vindas tanto das Inspetorias, solicitadas a
respeito, como dos especialistas consultados.
Portanto, obtida a aprovação do Conselho Geral, de acordo com o art. 132 § 4 das
nossas Constituições, com a autoridade que me é própria, por meio deste Decreto, promulgo
no dia de hoje, 8 de dezembro de 2000, solenidade da Imaculada Conceição da Bem-
Aventurada Virgem Maria, “A FORMAÇÃO DOS SALESIANOS DE DOM BOSCO.
PRINCÍPIOS E NORMAS”. “Ratio Fundamentalis Institutionis et Studiorum”, terceira
edição, a ser fielmente observada em toda a Congregação Salesiana. Ela entrará em vigor de
acordo com o direito universal. Este mesmo ato de promulgação estende-se também ao texto
“CRITÉRIOS E NORMAS DE DISCERNIMENTO VOCACINAL SALESIANO. AS
ADMISSÕES”, revisto em consonância com a Ratio.
A Ratio, que agora vos entrego, é expressão do cuidado da Congregação com dom recebido e
com a vocação de cada um de seus membros; constitui para todo Salesiano um convite a
corresponder cotidianamente ao apelo do Senhor com o empenho de “uma formação adequada e
contínua” (C. 96); solicita a responsabilidade carismática de cada Inspetoria chamada a
acompanhar a vocação de cada um dos irmãos nas diversas situações e estações da vida e a
sustentar a experiência salesiana das comunidades locais.
Confio este Documento fundamental a Maria Imaculada Auxiliadora, para que a “Mestra de
Dom Bosco” seja a inspiradora, o sustento, a guia da nossa formação e nos ajude a percorrer com
alegria e com renovada fidelidade na consagração apostólica pelos jovens “o caminho da nossa
santificação” (Const. 2) e da nossa plena realização em Cristo (cf. C 22).
Roma, 8 de dezembro de 2000.
Ao Reverendo
Padre Inspetor
Em sua Sede
Para conhecimento
Ao Reverendo
Delegado inspetorial de formação
Em sua Sede
Caríssimo Inspetor,
2. Processo de Revisão
Após o CG26, o Dicastério, consultando os Coordenadores regionais de formação, preparou uma
primeira proposta de revisão do texto sobre o pré-noviciado. Recolheram-se nas Comissões
regionais de formação, realizadas de setembro a novembro de 2008, as primeiras impressões e
foram-lhes indicadas as modalidades do trabalho a fazer.
Em seguida, as Comissões inspetoriais de formação em sua quase totalidade enviaram as respostas
até março de 2009. Em maio e junho, o Dicastério estudou as respostas das Inspetorias e preparou o
novo texto da revisão, que foi agora estudado, integrado e aprovado pelo Reitor-Mor com o
Conselho Geral.
3. Alterações na revisão
15
O texto revisto manteve a mesma numeração; tem mais ou menos a mesma dimensão;
simplificaram-se nele as “orientações e normas para a práxis”. As alterações introduzidas, em
relação ao texto anterior da “Ratio”, referem-se primeiramente ao fato que, segundo o artigo 109
das Constituições e o CG26, há na Congregação uma nova atenção ao acompanhamento vocacional
e ao aspirantado antes do pré-noviciado: 329. Dá-se maior relevância ao amadurecimento humano,
à ajuda oferecida pelo psicólogo profissional e à família: 332. Acentua-se a centralidade da relação
com o Senhor Jesus, o caminho de fé, a catequese, a formação da consciência, a iniciação ao
acompanhamento espiritual: 339.
Foram revistos também os aspectos sobre a formação intelectual, a comunidade formadora e a
experiência comunitária, a equipe dos formadores e o guia espiritual: 342, 344, 345. Há acréscimos
significativos a respeito do cuidado da saúde, do trabalho manual, do jogo e do esporte, das mídias
pessoais e dos meios de comunicação de massa, da música e da prática instrumental, do teatro e da
expressividade juvenil: 333, 336, 337, 342. Dá-se uma ênfase maior à revisão da idoneidade para a
vida consagrada salesiana e à necessidade de uma atenção maior à idoneidade vocacional,
envolvendo também os próprios pré-noviços no processo de discernimento: 346. Reformularam-se,
enfim, as “orientações e normas para a práxis”, evitando as repetições superabundantes do texto
anterior: 348-356.
O texto é confiado agora à Inspetoria, particularmente à comunidade do pré-noviciado, à Comissão
inspetorial de formação, ao Conselho inspetorial, para que seja estudado e, sobretudo, tendo por
base a nova formulação, seja feita durante 2010 a revisão do Projeto inspetorial do pré-
noviciado.
Espero que este trabalho possa reforçar e qualificar essa etapa de formação. Agradeço-lhe desde já
pela colaboração e cumprimento-o cordialmente.
Em Dom Bosco.
P. Francesco Cereda
Conselheiro Geral para a Formação
16
Texto revisto da “Ratio” sobre a formação inicial
do salesiano coadjutor
Ao Reverendo
Padre Inspetor
Em sua Sede
Ao Reverendo
Delegado inspetorial de formação
Em sua Sede
2. Discernimento vocacional
Até agora, uma grave carência na metodologia formativa era constituída pela escassa atenção à
questão do discernimento vocacional em relação às duas formas da vocação consagrada salesiana,
17
que era deixada principalmente ao indivíduo, sem fazer referência a critérios objetivos ou distinguir
a contribuição de cada fase para o próprio discernimento.
Agora, porém, dá-se importância ao discernimento: recomenda-se primeiramente que, depois da
apresentação da vida consagrada em suas duas formas durante o pré-noviciado e a presença de um
salesiano coadjutor como formador (n. 346), os noviços façam no noviciado o discernimento da
própria vocação salesiana como futuro sacerdote ou coadjutor (n. 371, 384), utilizando e
aprofundando as orientações de “Critérios e Normas” nos números 84-87.
Para o coadjutor, o discernimento continua em vários outros momentos: no pós-noviciado, quando
se trata de individualizar o seu futuro campo de exercício da missão salesiana (n. 417); na escolha
da qualificação profissional a se realizar preferivelmente antes do tirocínio (n. 409, 417, 425); no
tirocínio, quando o salesiano coadjutor é enviado a um ambiente em que possa praticar a
qualificação profissional adquirida (n. 439).
Além disso, durante a preparação à profissão perpétua, pede-se aos salesianos clérigos e aos
salesianos coadjutores que retomem e reexaminem todo o itinerário formativo feito até então, para
aprofundar as próprias motivações, também em relação à forma vocacional escolhida; este
discernimento deve ser feito antes do início da formação específica, se esta preceder à profissão
perpétua (n. 512).
Enfim, pede-se para iniciar um processo mais sério e mais responsável no caso de modificação da
opção vocacional de um salesiano coadjutor que deve, contudo, ser exceção e concluir-se com a
decisão do Reitor-Mor (n. 481).
3. Estudos acadêmicos
Reconhece-se a importância dos estudos acadêmicos para o salesiano coadjutor. Tais estudos não
são um prolongamento inútil do itinerário formativo em detrimento da qualificação profissional. As
bases filosóficas e pedagógicas, como também as teológicas e pastorais, são necessárias.
É previsto por isso um biênio paritário, ou no máximo um triênio, de estudos filosóficos e
pedagógicos durante o pós-noviciado; estes estudos ajudam a fazer compreender a cultura
contemporânea e adquirir competências na educação (n. 409, 417, 425).
Também a formação específica do salesiano coadjutor, com os estudos teológicos e pastorais, fica
mais bem caracterizada, evitando confundir formação específica e qualificação profissional; indica-
se a necessidade para todos os salesianos coadjutores que esta fase seja realizada nos centros
regionais ou inter-regionais predispostos para isso (n. 456, 480).
4. Qualificação profissional
A qualificação profissional foi muitas vezes transcurada no passado recente, porque não era
oportunamente programada no itinerário formativo. Embora continuando a ser muito importantes
para a nossa tradição o mundo do trabalho e da formação profissional, nem todos os salesianos
coadjutores se sentem inclinados a atuar nesse campo e, portanto, a adquirir competências técnicas.
Por outro lado, as exigências da nossa missão são múltiplas; por isso, a qualificação no campo
profissional abraça as competências necessárias para a realização de outras diversas
responsabilidades como, por exemplo, além da formação profissional, também a escola, a
comunicação social, o trabalho social, a administração e a gestão. A qualificação deve garantir uma
competência ao menos igual à de um leigo que exerce a mesma profissão na sociedade civil (n.
409).
A qualificação profissional requer um discernimento durante o pós-noviciado (n. 409, 417, 425);
parece oportuno que seja realizada possivelmente antes do tirocínio (n. 439); e pode ser completada
com uma especialização profissional após a formação específica (n. 456, 480).
Esperamos que tudo isso possa contribuir para dar uma maior qualidade à formação desta forma de
vocação consagrada salesiana.
18
Nossos salesianos coadjutores, o Beato Artêmides Zatti, o Venerável Simão Srugi e o Servo de
Deus Estevão Sandor, intercedam por nós e nos obtenham de Deus o dom dessa preciosa vocação.
P. Francesco Cereda
19
NOTA SOBRE A QUARTA EDIÇÃO
Muitas vezes, nestes anos, chegou-nos o pedido de uma nova edição da Ratio. Considerando a
quantidade de trabalho e o tempo que tal empreendimento exigiria, o P. Pascual Chávez pediu ao
dicastério da formação que revisse apenas algumas partes deste importante documento – o capítulo
sobre o pré-noviciado e alguns artigos que se referem à formação inicial do Salesiano coadjutor.
Essas revisões estavam disponíveis até agora apenas como documentos separados no sítio
internet da Congregação www.sdb.org; até agora não foi publicada uma nova edição que
incorporasse as partes revistas.
Pensamos em pôr à disposição ao menos online o texto completo da Formação dos Salesianos
de Dom Bosco incluindo os das revisões, com o texto relativo ao pré-noviciado em azul, e os novos
artigos sobre a formação do Salesiano coadjutor em verde. Isto é, portanto, o que se entende como
quarta edição.
Peçamos ao nosso caro Padre Rua, com o venerável Simão Srugi que intercedam por nós,
enquanto respondemos ao apelo dos últimos Capítulos Gerais de reforçar a nossa identidade
religiosa consagrada em suas duas formas.
20
PARTE PRIMEIRA.
A FORMAÇÃO SALESIANA EM GERAL
« Nossa vida de discípulos do Senhor é uma graça do Pai que nos consagra* com o dom do seu
Espírito e nos envia para sermos apóstolos dos jovens. Com a primeira profissão religiosa
oferecemo-nos a nós mesmos a Deus para caminhar no seguimento de Cristo e trabalhar com Ele na
construção do Reino. Missão apostólica, comunidade fraterna e prática dos conselhos evangélicos
são elementos inseparáveis da nossa consagração, vividos num único movimento de caridade para
com Deus e para com os irmãos. A missão dá a toda a nossa existência o seu tom concreto,
especifica a tarefa que temos na Igreja e determina o lugar que ocupamos entre as famílias
religiosas ». (C. 3) (*cf. LG 44).
CAPÍTULO PRIMEIRO
2. Dom Bosco foi um verdadeiro discípulo de Cristo; “profundamente homem de Deus, repleto
dos dons do Espírito, vivia como se visse o invisível”.4 O ardor pelo Reino, o serviço à Igreja, as
respostas às urgências dos tempos marcaram a sua existência, na qual entreviu a presença e o amparo
de Maria Imaculada Auxiliadora.
Sua vocação, sua missão e seu horizonte permanente foram os jovens e sua salvação. Graças ao
dom do Espírito, teve por eles um coração de pai e de mestre capaz de doação total: “Prometi a Deus
1
C 96
2
Cf. C 2. 22
3
C 96
4
C 21
21
que até meu último alento seria para meus pobres jovens”.5 Foi a predileção pela juventude,
especialmente a mais pobre, a atenção às classes populares e o empenho missionário que conferiram
identidade à sua vida.
Dom Bosco viveu com alegria esta sua vocação, consciente de haver recebido um dom para
transmitir e partilhar com outros. Soube sempre envolver, e despertar corresponsabilidade.6 Muitos
de fato partilharam com ele o espírito e a missão, exprimindo-os e realizando-os com projetos
vocacionais diferentes. Foi assim que, desde o início, o carisma salesiano se tornou comunidade,
família, movimento.7
Dom Bosco Fundador quis no centro de sua obra uma comunidade de consagrados, que
dedicassem toda a sua vida a serem educadores e missionários dos jovens, especialmente dos mais
pobres, em comunidades fraternas e apostólicas, seguindo Jesus obediente, pobre e casto.8 Inspirando-
se na bondade e no zelo de São Francisco de Sales, Dom Bosco deu-lhes o nome de Salesianos.9
3. Consciente da responsabilidade carismática que Deus lhe havia confiado, dedicou-se Dom
Bosco prioritariamente à formação dos seus primeiros filhos. “É impossível pensar em Dom Bosco
fundador sem pensá-lo formador”.10
A formação foi a sua “preocupação constante e a sua fadiga maior, desde os tempos do Oratório,
quando escolhia dentre seus rapazes os que davam esperança de poderem ficar com ele, até os últimos
anos de vida, quando recomendava com insistência aos Diretores, aos Inspetores e aos missionários
que se empenhassem pelas vocações e pela formação”.11 Não se limitou a procurar colaboradores:
chamou-os a ser, de alguma maneira e contemporaneamente, discípulos e mestres, a tornar-se com ele
“cofundadores”.12
4. “Os primeiros salesianos encontraram em Dom Bosco seu guia seguro. Perfeitamente
inseridos na sua comunidade em ação, aprenderam a modelar pela dele a própria vida”.13
A “paternidade carismática”,14 vivida com o estilo do Sistema Preventivo, levou Dom Bosco:
a partilhar com seus filhos espirituais o ardor do “da mihi animas”, o entusiasmo pela missão
juvenil, a alegria interior da dedicação total à causa do Reino no trabalho e no sacrifício;
a oferecer-lhes um ambiente rico de valores e de relacionamentos, fundado na confiança mútua e na
liberdade interior;
a acompanhá-los individualmente, educando-os a uma experiência simples e profunda de Deus,
propondo-lhes uma pedagogia encarnada no cotidiano, abrindo vastos horizontes, tornando-os
responsáveis por seu projeto apostólico.
No cultivo das vocações e no longo trabalho pela formação dos seus, foi Dom Bosco, a um só
tempo, exigente e paciente, firme e flexível.
Formação salesiana é identificar-se com a vocação que o Espírito suscitou por meio de Dom
Bosco. É ter a sua capacidade de partilhá-la, de inspirar-se em sua atitude e em seu método de formar.
5
Cf. C 1
6
Cf. CG24 71
7
Cf. CG24 48-49
8
Cf. CG24 149-150
9
Cf. C 4
10
ISM 359
11
Ib.
12
Cf. CG23 159; DSM 23
13
C 97
14
DSM 23
22
origens até hoje viveu-a e cultivou-a com afetuosa e constante fidelidade, empenhando-se por
comunicá-la de diversas maneiras, sobretudo mediante o cuidado pelas vocações e pela ação
formadora. O esforço de fidelidade e o empenho de renovação expressaram-se de modo especialmente
intenso no período pós-conciliar, como o demonstram de um lado o processo de reformulação das
Constituições e de outro a reflexão e as orientações dos Capítulos Gerais.
Hoje, rosto e raízes da Congregação são universais. O Espírito Santo tornou fecundo o carisma
para o bem dos jovens e continua suscitando pessoas que optam por “ficar com Dom Bosco”, vivendo
na consagração religiosa a missão salesiana. A Congregação está presente em todo o mundo, inserida
nos mais variados contextos humanos, culturais, religiosos e pastorais. São também variadas as
situações que aí vive: situações de implantação ou de refundação, de consolidação ou de expansão, de
redimensionamento e de nova localização. Diferentes são, outrossim, os contextos de que surgem e
nos quais se desenvolvem as vocações, sendo também desiguais seu número, sua condição e a sua
consistência.
Referir-se à formação salesiana implica ter presente a realidade de uma única vocação vivida
pelo mundo de modos diferentes; implica pensar com gratidão, com responsabilidade e realismo neste
“Dom Bosco no mundo”.
A vocação salesiana apresenta-se assim como uma identidade em movimento: embora
permaneça a mesma, é chamada a renovar-se com fidelidade criativa e a encarnar-se continuamente.
Como para Dom Bosco nos primeiros tempos, assim também hoje para a Congregação e para cada
salesiano a identificação com o carisma e o empenho de ser-lhe fiel, isto é, a formação, constituem
uma prioridade absolutamente vital.
6. Para que responda aos seus objetivos, requer-se hoje que a formação atente para alguns
pontos de referência: atenção ao contexto em que se desenvolve a vocação, capacidade de caminhar
com a Igreja e docilidade às suas orientações, sintonia com a experiência carismática da Congregação,
e coerência com a práxis formativa que ela propõe.
15
Cf. MuR 11
16
PDV 5
23
7. Não faltam, tanto em nível de Igreja quanto de Congregação, visões de conjunto da realidade
e leituras adequadas de alguns contextos particulares. Mencioná-las tem por fim sublinhar uma atitude
formativa permanente, que empenhe a Congregação em nível mundial, as Inspetorias e os formadores
nos diversos contextos, isto é: a atenção e o discernimento das situações na sua relação com a
formação permanente e inicial.
Os objetivos e a pedagogia da formação devem prestar continuamente atenção à referência
cultural e à avaliação pastoral, e os formadores hão de tornar-se capazes de um diálogo que os ponha a
ambos em confronto.17
Tendo presente a variedade das situações, o que torna impossível uma apresentação unitária,
podem-se evidenciar alguns desafios, que nascem dos diversos contextos e tocam de perto a
experiência vocacional.
O valor original e inviolável da pessoa humana é hoje universalmente reconhecido, mas há
situações em que a exaltação exagerada do indivíduo leva ao subjetivismo e ao individualismo.
Cresce a consciência da dignidade da mulher e de seu papel na construção de uma nova
sociedade, mas são ainda muitos os ambientes em que ela é, de variadas formas, manipulada e
explorada, criando-se ambiguidade a seu respeito.
Sublinha-se frequentemente, com muita intensidade, mas de forma ambígua ou distorcida, a
dimensão da sexualidade, com a consequente exigência de personalidades sólidas e maduras.
O pluralismo já é um fato difundido em muitos contextos, o que pode ser uma riqueza;
entretanto ele sublinha a necessidade de identidades fortes e opções amadurecidas para não cair no
relativismo e na superficialidade de pensamento.
Também o valor da liberdade é fortemente evidenciado, e cresce a consciência de que a
liberdade deve ser salvaguardada por meio de uma consciência bem formada.
A atual complexidade do mundo e da vida tende à fragmentação, tornando difícil viver uma
vida unificada.
O fluxo constante de mudanças e o acentuar-se da globalização e dos particularismos exigem
atitude crítica e equilibrada, com um enraizamento na própria cultura acompanhado da necessária
abertura.
No campo religioso, percebe-se um maior desejo de espiritualidade e de Deus, enquanto que –
por outro lado – em vastas áreas se constata a crescente irrelevância ou marginalização dos valores
religiosos no projeto de vida das pessoas.
18
Cf. JOÃO PAULO II, Christifideles Laici, 30 de dezembro de 1988 (Sínodo de 1987)
19
Cf. JOÃO PAULO II, Vita Consecrata, 25 de março de 1996 (Sínodo de 1994)
20
Cf. JOÃO PAULO II, Pastores Dabo Vobis, 25 de março de 1992 (Sínodo 1990)
25
São muitos os documentos recentes que oferecem critérios, orientações e disposições a serviço
da formação. Citamos entre eles: Vita Consecrata,21 Potissimum Institutioni,22 A colaboração
interinstitutos para a formação,23 Pastores Dabo Vobis,24 Ratio Fundamentalis Institutionis
Sacerdotalis,25 Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos seminários.26
11. A Congregação sente-se interpelada pela rápida mudança cultural, pelo mundo dos jovens,
pelas solicitações da Igreja e por sua mesma realidade em nível mundial. A caminhada destes decênios
testemunha não só o empenho pela nova compreensão da identidade carismática e o relançamento da
missão, mas também a disponibilidade à renovação.
Alguns aspectos da vocação foram objeto de novos enfoques: desde o significado da
consagração apostólica até a nova compreensão do Sistema Preventivo, da exigência de
espiritualidade à experiência comunitária, da qualificação de base à formação permanente, da
consciência da especificidade vocacional à complementaridade e reciprocidade de vocações na
Família Salesiana, da capacidade de envolver os leigos ao papel animador do salesiano na comunidade
educativo-pastoral.
Novos desafios provêm das situações das comunidades, do novo modelo de ação,27 do novo
relacionamento com os leigos, de um sentido de conjunto mais intenso na Família Salesiana, das
novas fronteiras da missão, das novas situações de pobreza, e da exigência de significatividade.
12. A resposta a estes desafios empenha cada salesiano e pede vivamente à Congregação que
zele por uma experiência salesiana autêntica e renovada, e assegure um tipo de formação que ajude os
irmãos e as comunidades:
a serem portadores de uma clara identidade salesiana e de uma experiência espiritual e
apostólica de qualidade;
a serem fortemente marcados pela graça de unidade, à imitação de Dom Bosco, que realizou
em si uma “esplêndida harmonia de natureza e graça”;28
a serem capazes de discernimento da realidade e de reação positiva, que se traduza em
criatividade pastoral e em projetos juvenis significativos;
a terem consciência de seu papel de núcleo animador no interior dessa rede de
corresponsabilidade com os leigos que é a Comunidade Educativo-Pastoral;
a saberem que a vocação salesiana é não só vocação aberta à partilha da missão e do carisma
com a Família espiritual mas também um Movimento, inspirado em Dom Bosco Pai e Mestre.
Tudo isto requer a elaboração de uma práxis que conduza à formação de salesianos para a Igreja
e o mundo de hoje.
13. O texto das Constituições, oficialmente aprovado pela Igreja, constitui a base segura sobre a
qual fundamentar o caminho da fidelidade vocacional e estruturação da formação.
O Capítulo Geral e o Reitor-Mor são chamados a garantir a unidade de espírito com
responsabilidade e competência, quer oferecendo os meios adequados para cuidar do carisma, guardá-
21
Exortação Apostólica de João Paulo II, Roma, 25 de março de 1996
22
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, 1990
23
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida apostólica, 1999
24
Exortação Apostólica de João Paulo II, Roma, 25 de março de 1992
25
Congregação para a Educação Católica, 1985
26
Congregação para a Educação Católica, 1993
27
Cf. CG24 39
28
C 21
26
lo e desenvolvê-lo, quer propondo particulares orientações e normas sobre a formação dos sócios, em
vista das exigências da vocação comum.
Na esteira das orientações das Constituições, dos Capítulos Gerais e dos Reitores-Mores, a
Congregação elaborou outros documentos que aprofundam a experiência salesiana e indicam o modo
de cultivá-la: tais são, por exemplo, o comentário às Constituições,29 os textos que se referem à práxis
educativo-pastoral, à partilha na Família Salesiana, e ao exercício da autoridade do Inspetor e do
Diretor.30
Dentre todos os textos oficiais, reveste singular importância a Ratio (“A Formação dos
Salesianos de Dom Bosco”). Ela não só traça o modo de transmitir o carisma de Dom Bosco, “a fim
de ser vivido em toda a sua genuinidade pelas novas gerações, na diversidade das culturas e das
situações geográficas”, mas também, e ao mesmo tempo, mostra aos salesianos “os meios de viverem
o mesmo espírito nas várias fases da existência, avançando para a plena maturidade da fé em Cristo
Jesus”.31
15. A elaboração da Ratio foi estabelecida pelo CG21. A primeira edição foi publicada em 1981;
a segunda, de 1985, foi preparada depois da publicação do Código de Direito Canônico e da
aprovação definitiva do texto renovado das Constituições salesianas. A atual revisão foi decidida pelo
CG24,35 tanto para atender aos novos desafios da evangelização e da inculturação, quanto para ser
uma resposta à exigência de um renovado empenho pela formação, emersa com vigor da análise da
situação da Congregação e do aprofundamento do tema capitular.36
29
O Projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco. Guia à leitura das Constituições Salesianas, Brasília: EDEBÊ, 2016.
30
V. no Anexo n. 4 documentos significativos sobre a formação
31
VC 68
32
C 100
33
R 87
34
Cf. VC 68
35
CG24 147
36
Cf. CG24 244
27
1.4.2 A estrutura e o conteúdo da Ratio
A primeira parte abre-se com um capítulo que põe em evidência alguns aspectos da formação
salesiana nas circunstâncias atuais, e a finalidade da Ratio (cap. 1º). Segue-se a apresentação da
identidade vocacional salesiana: princípio e fim da formação (2º), das dimensões da formação, com a
indicação de alguns valores e atitudes requeridos pela vocação salesiana (3º), e de algumas linhas
estratégicas de metodologia formativa (4º).
A segunda parte concentra-se sobre o processo formativo visto na perspectiva da formação
permanente. Após uma introdução que delineia as características do processo formativo (5º), segue-se
a apresentação dos diversos períodos ou fases da formação inicial, até à profissão perpétua: de cada
uma se indicam a natureza e a finalidade, as características particulares e algumas condições
necessárias (6º-11º). O último capítulo trata da formação permanente (12º).37
Quatro Anexos completam o documento. Dois oferecem indicações para a elaboração seja do
Diretório inspetorial – Seção Formação, seja do Projeto Inspetorial de Formação. Um terceiro anexo
contém as linhas de orientação para a organização dos estudos. O quarto relaciona alguns documentos
significativos para a formação.
18. O acolhimento do espírito e da intenção que animam a Ratio por parte da Inspetoria –
comunidade responsável pela inculturação do carisma – exige que se estabeleça quer um clima e uma
mentalidade formativa em nível inspetorial, quer um serviço de animação e de governo que dê real
prioridade ao cuidado da vocação; quer ainda a existência de um grupo de irmãos com real capacidade
de reflexão, avaliação e proposta – normalmente o Delegado inspetorial para a formação e a Comissão
inspetorial de formação – grupo que deve sentir-se responsável, sob a dependência do Inspetor e seu
Conselho, e estar em condições de animar e coordenar a ação formativa nos diferentes níveis.
37
Cada capítulo da Ratio contém, quase sempre no final, uma seção que traz o título de Orientações e normas para a
práxis. Essa seção recolhe algumas indicações já contidas no capítulo e acrescenta outros elementos normativos ou de
orientação, significativos para a práxis formativa. A Ratio é um documento diretivo e nas disposições operativas, onde
quer que se encontrem, normativo (FSDB 20). A seção Orientações e normas para a práxis não contém, portanto, todas
as indicações normativas presentes na Ratio.
38
C 101; Cf. ISM 363
28
Expressão da responsabilidade da Inspetoria relativamente à Ratio é a elaboração:
do Diretório Inspetorial – secção formação, que traduz as modalidades e as exigências da
Ratio em normas precisas, aplicadas às realidades locais;39
do Projeto inspetorial de formação, plano de formação inicial e permanente, que contém
objetivos, urgências e prioridades, linhas de ação concretas estabelecidas – em sintonia com a Ratio –
após uma leitura atenta e atualizada da situação da formação e com base nela. O projeto assegura
gradualidade e organicidade na ação, permite a avaliação e a constante adaptação às situações, e ajuda
a superar os riscos da improvisação e do imediatismo.40
19. O carisma de Dom Bosco Fundador “é princípio de unidade da Congregação e, por sua
fecundidade, está na origem das maneiras diversas de viver a única vocação salesiana. A formação,
portanto, é ao mesmo tempo unitária nos conteúdos essenciais e diversificada nas expressões
concretas. Acolhe e desenvolve tudo o que as várias culturas contêm de verdadeiro, nobre e justo”.41
O pluralismo no modo de levar a cabo a formação salesiana segundo as exigências do próprio
contexto cultural42 supõe esta base carismática de unidade.
20. A formação dos salesianos “terá como guia prático, em nível mundial, uma ‘Ratio
Fundamentalis Institutionis et Studiorum’ e, em nível inspetorial, um Diretório aprovado pelo Reitor-
Mor com o consentimento do seu Conselho. A Ratio expõe e desenvolve, de maneira orgânica e
didática, o conjunto dos princípios e normas da formação que se acham nas Constituições, nos
Regulamentos Gerais e em outros documentos da Igreja e da Congregação”.43
A Ratio está a serviço da unidade e da descentralização da formação na Congregação. É,
portanto, um documento diretivo e, nas disposições operativas, onde quer que se encontrem,
normativo. Deve servir de base ao Diretório Inspetorial - Seção de formação, à organização dos
estudos e ao Projeto inspetorial de formação.
21. Zelem pela Formação o Inspetor e o Delegado Inspetorial para que a Ratio e o suplemento
“Critérios e normas de discernimento vocacional salesiano” sejam conhecidos por todos os irmãos e
constituam ponto constante de referência para os que, por qualquer título, detenham responsabilidades
no campo formativo e vocacional (Conselho e Animadores inspetoriais, Diretores, Formadores,
Confessores, etc.).
22. A animação da formação é a primeira responsabilidade do Inspetor com seu Conselho. Por
meio de um serviço capaz de detectar as diversas situações, de refletir, de projetar e de avaliar,
assegure cada Inspetoria uma ação orgânica, programada e coordenada no campo da formação.
Em via ordinária tal serviço será ordinariamente assumido pelo Delegado inspetorial e pela
Comissão inspetorial para a Formação, de acordo com o Inspetor e o seu Conselho, e sob a sua
responsabilidade.
39
Cf. R 87; ISM 365
40
Cf. ISM 366
41
C 100
42
Cf. C 101
43
R 87
29
23. É tarefa da comunidade inspetorial “estabelecer, pelos diversos órgãos de governo e
animação, o modo de levar a cabo a formação segundo as exigências do próprio contexto cultural, em
conformidade com as diretrizes da Igreja e da Congregação”.44
O Diretório inspetorial – Seção de Formação, elaborado pelo Capítulo Inspetorial45 e
aprovado pelo Reitor-Mor com o consentimento do seu Conselho, “aplica às realidades locais os
princípios e as normas da formação salesiana”46 expostos na Ratio.
Cada Inspetoria – habitualmente por meio da Comissão Inspetorial para a Formação ou,
quando o julgar oportuno, segundo a função que lhe compete, por meio do Capítulo Inspetorial –
verifique com regularidade a aplicação concreta do Diretório Inspetorial – Seção da Formação. O
Inspetor informará disso o Conselheiro para Formação.
44
C 101
45
Cf. C 171,4
46
R 87
30
CAPÍTULO SEGUNDO
25. “A nossa regra viva é Jesus Cristo …. que descobrimos presente em Dom Bosco, o
qual deu a sua vida aos jovens”.47 Esta afirmação das Constituições exprime sinteticamente a
vocação do salesiano: conformar-se a Jesus Cristo e como Dom Bosco dar a vida pelos jovens.
Toda a formação, inicial e permanente, consiste em assumir e realizar nas pessoas e na
comunidade essa identidade. Para o seu cumprimento orienta-se o empenho de cada candidato e
de cada irmão, a ação dos animadores, o inteiro projeto de formação.
A identidade salesiana é, portanto, fundamento de unidade e de pertença à Congregação no
mundo inteiro. É o coração de toda a formação: dela parte o processo formativo e a ela faz
constante referência. E é critério determinante de discernimento vocacional.
26. Dom Bosco Fundador, “homem de Deus e homem dos jovens”, homem da Igreja e do
seu tempo, animador de um projeto de espiritualidade apostólica, é para o salesiano não só
constante ponto de referência, mas também norma de vida. Em sua experiência vocacional e
naquela da primeira comunidade de Valdocco encontra-se a realização original da identidade
salesiana. É nas Constituições, expressão da consciência carismática da Congregação, aprovadas
pela Igreja, que está contida a sua formulação mais autorizada.
Em Dom Bosco e no projeto constitucional salesiano emergem os elementos que definem
o “estilo original de vida e de ação”,48 que o Espírito Santo suscitou na Igreja, a “forma
específica de vida religiosa”49 na qual “encontramos o caminho de nossa santificação”.50
Dando aos seus o nome de Salesianos, Dom Bosco quis evidenciar a sintonia espiritual e
pastoral com São Francisco de Sales, do qual admirava sobretudo a bondade e o zelo pastoral.51
Como para Dom Bosco, também para cada salesiano, na experiência vocacional que se faz
percurso histórico e biográfico concreto, encontra-se a iniciativa de Deus e o projeto humano.52
Tanto para Dom Bosco quanto para cada salesiano a vocação pessoal se une à vocação da
comunidade portadora do carisma e responsável pela missão.
47
C 196
48
C 10
49
C2
50
C2
51
Cf. C 4. 9
52
Cf. C 1
53
C 23
31
na Igreja construtor do Reino como sinal e portador do amor aos jovens, especialmente os mais
pobres.54
É no ato da profissão religiosa que a nossa consagração apostólica encontra a sua
expressão mais significativa. Ela é “sinal do encontro de amor entre o Senhor que chama e o
discípulo que responde, doando-se inteiramente a Ele e aos irmãos”.55
28. Este dom do Espírito, que é o carisma salesiano, enquanto opera uma particular
conformação a Cristo, comporta uma peculiar sensibilidade evangélica que inspira a inteira
existência do salesiano, o seu estilo de santidade e a realização da missão:56
caracteriza a sua experiência teologal: o relacionamento com o Pai, de cuja paternidade
e misericórdia faz cotidiana experiência; com o Filho, Apóstolo do Pai e Bom Pastor, com quem
procura identificar-se cada vez mais; e com o Espírito Santo no qual busca a graça para a sua
santificação e a energia para sua fidelidade;
marca a sua relação com a Igreja, Corpo de Cristo, que ama, da qual se sente parte
viva, e para cujo crescimento trabalha assiduamente;57
evidencia alguns aspectos peculiares no âmbito da ascese, que podem ser definidos com
estas palavras-chaves: trabalho, temperança, bondade (amorevolezza) e competência na missão
educativa, relacionamento fraterno;58
dá à sua vida um tom mariano peculiar, caracterizado pelo seu relacionamento com
Maria Imaculada e Auxiliadora, ícone da sua espiritualidade e apoio da sua vocação. Ele a
contempla como a discípula do Senhor que disse o seu “sim” ao desígnio divino da Encarnação,
e a segue como cooperadora na obra da redenção e como imagem da Igreja;
determina a sua visão da realidade e o seu empenho na história.
29. Para o salesiano, a sequela Christi realiza-se no viver o projeto apostólico de Dom
Bosco.59
“Com um único chamado, Cristo nos convida a segui-lo em sua obra salvífica e no gênero
de vida virginal e pobre que escolheu para Si; e nós, com uma única resposta de amor, com a
graça do Espírito e a exemplo dos apóstolos, aceitamos deixar tudo (cf. Lc 5,11; Mt 19,27) e nos
reunimos em comunidades para melhor trabalhar com Ele para o Reino. Única então é a nossa
consagração de salesianos: inseparavelmente apostólica e religiosa”.60
O salesiano adere, portanto, de modo total a Deus, amado sobre todas as coisas, e ao seu
projeto de salvação. Sua vida parte de uma profunda experiência de Deus e dos desafios da
missão.61 É consagrado para a missão, que dá à sua existência o seu tom concreto.62 É através
da experiência da missão juvenil que lhe chega o chamado de Deus; não poucas vezes é aí que o
seguimento de Cristo tem início. Na missão se empenham e manifestam e nele crescem os dons
da consagração. Um único movimento de caridade impele-o para Deus e compele-o para os
jovens.63 Vive o trabalho educativo com os jovens como um ato de culto e uma possibilidade de
encontro com Deus.
54
C 3; VECCHI J., O Pai nos consagra e envia, ACG 365 (1998)
55
C 23
56
C 10-11
57
Cf. C 13
58
ACG 357, p.17-18 (it.)
59
Cf. C 96
60
O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco, p. 100-101
61
CG24 152;VC 73
62
Cf. C 3
63
Cf. C 10
32
Na “graça de unidade”64 fundem-se os aspectos constitutivos do projeto salesiano de vida
consagrada apostólica.
30. A vida do salesiano, como a de Dom Bosco, é caracterizada pela predileção pelos
jovens, e dentre eles a sua preferência recai sobre “a juventude pobre, abandonada, em perigo”.65
O serviço a eles unifica toda a sua vida: “Basta que sejais jovens para que eu vos queira
muito”,66 “Por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo, por vós estou disposto até a dar a
vida”.67
A predileção de Dom Bosco e de todo salesiano pelos jovens e a sua inteira doação a eles
são fruto da caridade pastoral, isto é, de uma “especial comunhão de amor com Cristo”,68 e não
só fruto da preocupação de educador ou da generosidade de um coração sensível às suas
necessidades.
A caridade pastoral, o amor por Cristo, contemplado como Bom Pastor, e pelos jovens,
torna-se para o salesiano projeto de vida, caminho de santidade, expressão da aliança com Deus
e da vontade de conformar-se a Cristo. É através dos jovens que o Senhor entra na existência do
salesiano, ocupando aí o primeiro lugar, e o anseio de Cristo Redentor encontra eco no lema
“Da mihi animas, cetera tolle”, que constitui o ponto unificador de toda a sua existência.
31. A caridade pastoral assume em Dom Bosco uma ulterior determinação como caridade
educativa. Exprime-se ela em um amor concreto, personalizado, que envolve os jovens e busca a
sua salvação integral; a uns oferece o pão, a outros a competência profissional e a formação
cultural; a todos traça um caminho que os abre à verdade, impele-os a construir a própria
liberdade responsável e os leva a encontrar-se com Jesus ressuscitado.
Trabalhando segundo o critério oratoriano, o salesiano responde às necessidades dos
jovens dando origem a uma vasta gama de atividades e obras, sendo cada qual “casa”, “escola”,
“paróquia” e “pátio”.69 O ímpeto generoso e inovador em nome do Evangelho é o seu jeito de
ser Igreja, e traduz-se em projetos juvenis significativos, quer para a Igreja, quer para a
sociedade.
32. Além disso, a “paixão apostólica animada totalmente de ardor juvenil”70 dá ao serviço
dos jovens um tom particular: chama-se “coração oratoriano” e se exprime através de um
método que Dom Bosco chamou Sistema Preventivo, baseado na razão, na religião e na
bondade.71 Inspirando-se no exemplo e nos ensinamentos de Dom Bosco, o salesiano vive a
experiência espiritual, pedagógica e pastoral do Sistema Preventivo. 72 Seu relacionamento com
os jovens caracteriza-se pela cordialidade e pela presença ativa e amiga,73 que favorece o
protagonismo deles. Assume com alegria as fadigas e os sacrifícios que o seu convívio com os
jovens implica, convencido de nele encontrar o seu caminho de santidade.
64
CGE 127
65
C 26; CGE 47; CG19, p. 101 (it.)
66
BOSCO G. Il Giovane Proveduto, Opere Edite II, LAS Roma, p. 187
67
C 14
68
VC 15
69
Cf. C 40
70
CGE 89
71
Cf. C 38
72
Cf. C 20
73
Cf. C 39
33
O trabalho prioritário pelos jovens harmoniza-se com a ação pastoral pelas classes
populares74 (a educação na fé nos ambientes populares, especialmente com a comunicação
social75) e a ação missionária por meio do anúncio do Evangelho aos povos que ainda o não
conhecem.76
33. O salesiano é por vocação parte viva de uma comunidade (local, inspetorial, mundial)
e cultiva um profundo senso de pertença a ela. A vocação salesiana é a um tempo pessoal e
comunitária, e o é na fraternidade, na missão, na espiritualidade.
Dom Bosco nunca foi um empreendedor solitário. Quis a partilha, e promoveu a
colaboração e a corresponsabilidade. Teve a consciência clara de que a sua vocação devia ser
partilhada e transmitida.
O aspecto comunitário é por isso um dos traços mais decisivamente caracterizantes da
identidade salesiana. O salesiano é chamado a viver com outros irmãos consagrados, para
compartilhar o serviço do Reino de Deus entre os jovens. “Viver e trabalhar juntos – afirmam as
Constituições – é para nós salesianos exigência fundamental e caminho seguro para realizar a
nossa vocação”.77
Com espírito de fé e amparado pela amizade, vive o salesiano na comunidade o espírito de
família e contribui dia após dia para a construção da comunhão entre todos os membros.
Convencido de que a missão é confiada à comunidade, empenha-se por trabalhar com os
irmãos segundo uma visão de conjunto e um projeto partilhado.
Sente na oração comunitária a alegria da presença do Senhor e partilha a experiência
espiritual.
34. Impelido pela caridade pastoral e pelo sentido da missão, Dom Bosco propôs aos seus
colaboradores uma forma de vida que, num estilo inteiramente fundado nos valores do
Evangelho, testemunhasse a solidariedade efetiva pelos jovens e o Absoluto de Deus,
introduzindo no horizonte educativo o testemunho radical dos bens do Reino.78 Ele “faz notar
com frequência quanto a prática sincera dos votos consolida os vínculos do amor fraterno e a
coesão na ação apostólica”.79
O estilo de vida segundo os conselhos de obediência, pobreza e castidade, fundado no
amor a Cristo e aos jovens, erguido sobre as bases de uma sólida maturidade humana, e
sustentado pela vida comunitária e pela ascese pessoal, testemunha que a necessidade de amar, o
impulso de ter e a liberdade de decidir a respeito da própria vida, aspectos que tocam inclinações
profundas da natureza humana, adquirem o seu sentido supremo em Cristo Salvador. 80 É uma
experiência rica de valores evangélicos e humanos.
74
Cf. C 29
75
Cf. C 6
76
Cf. C 30
77
C 49
78
VC 96; CG24 152
79
C 61
80
Cf. C 62
34
A prática dos conselhos evangélicos manifesta de modo particular o “Da mihi animas,
cetera tolle” que caracteriza a mística e a ascese apostólica do salesiano; constitui um princípio
de identidade e um critério formativo.
37. Aberto à ação do Espírito, Dom Bosco soube interpretar os sinais dos tempos e
responder, de modo iluminado, criativo e concreto, às necessidades emergentes.85 O diálogo
com a realidade entrou no tecido da sua vocação. Participou pessoalmente da história da Igreja e
da Pátria, captando a sua complexidade e nela inserindo-se como protagonista. Para ele, a
conjuntura histórica tornou-se desafio e convite imperioso ao discernimento e à ação. “Fui
sempre avante […] como Deus me inspirava e as circunstâncias o exigiam”.86
81
CG24 159
82
Cf. CGE 151
83
Cf. CG24 142
84
C5
85
Cf. VC 9
86
MB VI, p. 381.
35
Aberto à realidade, o salesiano nutre uma sensibilidade preferencial pela situação juvenil,
popular e missionária, para a qual se sente investido de responsabilidade carismática.87
Esforça-se por compreender os fenômenos que hoje caracterizam a vida, entrega-se a uma
reflexão atenta e empenhada a seu respeito, enquadra-os na perspectiva da Redenção sob a
urgência do da mihi animas e do “Reino que vem”,88 e neles reconhece um desafio permanente a
pedir respostas concretas, criativas e audazes.
O confronto com a realidade estimula o crescimento na identidade vocacional, com
fidelidade dinâmica a Dom Bosco e aos tempos.
38. Quis Dom Bosco que o único projeto da consagração apostólica salesiana se
exprimisse em sua inteireza nas duas formas que lhe são próprias: a do salesiano presbítero [ou
diácono] e a do salesiano coadjutor. Vivem a mesma profissão e participam da mesma
comunidade de vida e de ação.
A vocação do salesiano presbítero [ou diácono] e do salesiano coadjutor são duas formas
complementares que enriquecem a vida fraterna e apostólica, dando-lhe cada qual a sua
contribuição específica.89
44. A vocação salesiana encontrou a sua realização paradigmática em Dom Bosco e a sua
forma histórica mais original na primeira comunidade de Valdocco.
É claro que a realização pessoal da única identidade salesiana tem rostos e histórias
diferentes, segundo os dons recebidos de Deus. A história da santidade salesiana e a leitura
inteligente da experiência de irmãos que viveram em plenitude o projeto evangélico salesiano
evidenciam a comunhão na fidelidade e a variedade de ressonâncias pessoais do carisma.
Isto evidencia a necessidade de uma formação que saiba comunicar o mesmo núcleo
identificador, os mesmos valores de sustentação, as mesmas características mestras, a mesma
“cultura” salesiana,99 que, ao mesmo tempo, estimule cada irmão a exprimir na vocação
salesiana os dons que recebeu e nela encontrar o caminho de sua plena realização em Cristo.100
Identificação salesiana de cada irmão e personalização da identidade salesiana constituem
uma tarefa permanente da formação como atitude pessoal e responsabilidade comunitária.
98
Cf. VC 80
99
Cf. VC 80
100
Cf. C 22
38
2.2.5 A formação ajuda a viver a identidade numa comunhão de vocações
47. Cada salesiano, chamado a identificar-se com Cristo como o fez Dom Bosco, cultive o
relacionamento com o Fundador, assuma as Constituições qual “livro de vida”,104 mantenha-
se em sintonia com a consciência carismática da Congregação, conheça e assuma suas
orientações, especialmente as dos Capítulos Gerais, do Reitor-Mor e do seu Conselho, e
consolide o sentido de pertença à sua Inspetoria.
101
CG24 138
102
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, A colaboração Inter-
Institutos para a formação, 8
103
C 97
104
C 196
105
C 192; Cf. VECCHI J., O Pai nos consagra e envia, ACG 365, p. 24; O Projeto de vida dos Salesianos de Dom
Bosco, Roma, 1986; Parola di Dio e spirito salesiano. Ricerca sulla dimensione biblica delle Costituzioni della
Famiglia Salesiana, a cura dell'Associazione Biblica Salesiana 1995
106
Cf. C 106
39
50. Aprofundem todos os irmãos o espírito salesiano e cultivem um conhecimento sério e
atualizado da história, da espiritualidade e do patrimônio pedagógico e pastoral próprio do
nosso carisma.107 Os responsáveis inspetoriais assegurem as condições e promovam as
iniciativas para que se faça tal estudo durante a formação inicial e permanente.
107
Cf. VECCHI, J., Por vós estudo, ACG 361, pp. 37-38.
108
Cf. CG21 259; ver Anexo n. 3 Linhas de orientação acerca do ordenamento dos estudos.
109
Cf. CG21 337
110
Cf. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, A vida fraterna em
comunidade, 46; Cf. VECCHI J., Salesianos e movimentos eclesiais, ACG 338 (1991), pp. 38-44
111
Cf. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. A colaboração
interinstitutos para a formação, 9.
40
CAPÍTULO TERCEIRO
54. “Cada um de nós é chamado por Deus a fazer parte da Congregação Salesiana. Para
tanto recebe dEle dons pessoais e, respondendo fielmente, encontra o caminho da sua plena
realização em Cristo”.112
A vocação é um chamado que passa por mediações e circunstâncias externas. Mas é em
primeiro lugar o chamado de Deus que se manifesta por meio de um conjunto de dons pessoais
(aspirações, expectativas, projetos, qualidades) – obra do Espírito – que estão em sintonia com o
projeto vocacional salesiano e tornam o indivíduo idôneo a vivê-lo. Tal vocação se reconhece na
pessoa: envolve-a em sua totalidade, em todas as suas dimensões e por toda a sua vida.
Compete à formação ajudar a reconhecer, interiorizar e desenvolver os valores e as
atitudes que constituem a idoneidade vocacional, sinal do chamamento e fruto da resposta.
Consequentemente, a formação deve ser integral: compreende a dimensão humana,
espiritual, intelectual e pastoral.113 Estas dimensões integram-se entre si, estão presentes
conjuntamente, e “uma chama a outra”:114 não podem ser pensadas separadamente e “devem
harmonizar-se numa unidade vital”.115
Por outro lado, a formação é permanente e dinâmica. As dimensões de que aqui se trata e
os elementos que as constituem não devem considerar-se de forma estática, como se fossem
condições que se cumprem ou metas que se alcançam de uma vez para sempre. Devem ser vistos
no dinamismo e segundo o desenvolvimento de cada pessoa, na perspectiva de uma resposta
continuada, estimulada e requerida pela evolução de cada um, pelas exigências da situação, e
pelas circunstâncias que marcam a vida.
A ótica do carisma salesiano constitui o ponto de síntese e a perspectiva peculiar de onde
são vistas as dimensões. E é a partir dela que nelas se evidenciam conotações e aspectos
específicos.
112
C 22
113
Cf. VC 65
114
Cf. CG23 118
115
Cf. C 102
41
vive de modo pessoal a identidade vocacional, segundo os dons recebidos. A pedagogia
formativa ajudará a distinguir, numa perspectiva gradual, a idoneidade de base, a idoneidade
exigida pelos diversos momentos de compromisso vocacional e especialmente a maturidade
necessária para o compromisso definitivo.
56. Tanto a individuação dos valores e das atitudes requeridos para traduzir em
experiência pessoal a identidade salesiana quanto a indicação de linhas pedagógicas e de
atividades para torná-los reais, oferecem aos formadores uma base para o seu serviço de
orientação e de discernimento. Ao mesmo tempo, estimulam cada irmão a traduzir em
compromisso concreto o desejo e a vontade de tornar-se salesiano com todo o próprio ser.
As diversas fases da formação inicial acentuarão os valores e atitudes que mais se afinam
com os objetivos específicos. Nas diferentes épocas e situações da vida, ao mudarem-se os
contextos e ao sucederem-se as obrigações, cada irmão se sente responsável por renovar-se na
mentalidade, nas atitudes e nas habilitações, a fim de poder exprimir melhor na própria pessoa a
vocação salesiana e percorrer a via da santidade.
57. Só uma personalidade equilibrada, forte e livre, que saiba integrar os diversos aspectos
da sua pessoa num todo harmônico, pode perseverar no caminho de identificação vocacional e
tornar-se capaz de viver com serenidade e plenitude a consagração religiosa. Sem uma adequada
formação humana, toda a formação estaria privada do seu necessário fundamento, não só para o
adequado e requerido amadurecimento, mas também em vista da missão.116
Por outro lado, uma experiência consagrada, que dê atenção à dimensão antropológica de
todos os seus elementos e ajude a viver uma humanidade rica e profunda, torna-se profecia de
verdadeira humanidade e representa a melhor resposta aos que veem a consagração como
mortificação da pessoa e de sua realização.117 No contexto atual, a maturidade humana assume
particular importância.
58. Para o salesiano chamado a ser por profissão amigo, educador e pastor dos jovens, e
servidor de seu crescimento integral, a qualidade da dimensão humana é determinante. Sua
vocação exige uma personalidade que saiba amar e fazer-se amar com afeto, equilíbrio e
transparência, com capacidade de compreensão e de firmeza. Nisto ele se inspira em Dom
Bosco, “profundamente homem, rico das virtudes da sua gente”.118
A maturidade humana é tarefa permanente; comporta valores e atitudes que se exprimem
diferentemente segundo as diversas fases da vida e os variados contextos culturais.
59. O estilo salesiano de vida e de ação requer habitualmente boa saúde e resistência
física, com grande capacidade de trabalho.
Dom Bosco, convidado desde menino a tornar-se “forte e robusto”, sublinhava a
necessidade da saúde para um intenso e prolongado serviço à missão. Aos noviços dizia:
“Preciso que cresçais e vos torneis jovens robustos e tomeis os devidos cuidados para conservar
a saúde, a fim de mais tarde poderdes trabalhar muito!”.119 “Trabalho, trabalho, trabalho!”,
116
Cf. PDV 43
117
Cf. A vida fraterna em comunidade, 35
118
C 21
119
MB XIII, p. 89
42
repetia a seus salesianos. “Quem quiser entrar na Congregação deve amar o trabalho”.120 As
Constituições relembram que “o trabalho assíduo e sacrificado é uma característica deixada a
nós por Dom Bosco”.121
O próprio Dom Bosco foi exemplo de vida dedicada ao trabalho e quis que seus
salesianos se caracterizassem pelo espírito de empreendimento e laboriosidade. Valdocco
tornou-se escola de trabalho onde se desenvolvia a pedagogia do dever que não foge da fadiga e
se transforma em caminho de ascese e jeito de viver a espiritualidade.122
62. O equilíbrio psíquico, particularmente necessário num contexto que pode levar à
fragmentação e à fragilidade psicológica, constrói-se mediante a progressiva integração de
vários elementos que interagem positivamente entre si.
Portanto, o salesiano:
busca o conhecimento e a auto-aceitação: isso reflete em sua experiência, em suas
qualidades e limites; aprende a aceitar-se; cultiva a confiança em si e em suas possibilidades; é
capaz de conhecer e valorizar o tecido da própria história na ótica do plano da salvação; sabe
que Deus dispõe de um projeto para ele, projeto que acolhe confiando plenamente. A
consciência alegre de que é amado por Deus dá-lhe serenidade e alegria, sustenta-o nos conflitos
e incertezas;
120
MB XIII, p.424
121
C 78
122
Cf. CG24 98
123
C 18
124
Cf. CG24 98
43
cultiva a capacidade de gerir o próprio mundo interior: aprende a entender-se a si
mesmo, às suas atitudes e às motivações profundas do seu agir; aprende a dominar os
sentimentos, as emoções, os medos e as reações diante das pessoas e dos acontecimentos.
Esforça-se por potenciar os aspectos positivos e superar as dificuldades, num gradual processo
de amadurecimento. Sabe prevenir os possíveis conflitos. É capaz de viver o sucesso com
moderação e aceitar com serenidade o insucesso. Sabe ser flexível e desinibido; baseia suas
decisões em motivações verdadeiras e autênticas;
valoriza o ambiente e o acompanhamento fraterno: insere-se na comunidade, cultiva
relações de vida e de trabalho, interessa-se pela partilha fraterna e o confronto espiritual,
evitando o isolamento e a falta de comunicação.
64. O salesiano vê sua vida como dom recebido e dom que se deve transmitir; realiza-se
doando.
Torna-se capaz de amar com gratuidade, de estabelecer relacionamentos humanos
positivos, personalizados, autênticos, de dar e receber afeto com simplicidade. Este seu amor é
profundo e pessoal, feito de sinceridade, fidelidade e de calor humano. Sabe urdir verdadeiras e
profundas amizades,128 sem atitudes possessivas; vive com equilíbrio a solidão; e é capaz de
dosar o seu envolvimento afetivo com as pessoas, particularmente na relação educativo-pastoral
Em seu relacionamento com as mulheres é acolhedor, equilibrado e prudente; sua atitude
reveste-se de estima, respeito e responsabilidade.
Esta limpidez de afeto e de amor só é possível graças à disciplina dos sentimentos, dos
desejos, dos pensamentos e dos hábitos. O “exercício ascético”, expressão da virtude
eminentemente positiva da castidade, conduz as tendências e as potencialidades sexuais do
indivíduo na harmonia da inteira personalidade, quer tornando possível o dom alegre de si
mesmo, liberto de toda escravidão egoísta, quer fazendo prevalecer as atitudes racionais sobre as
impulsivas.
125
Cf. C 15
126
Cf. C 15. 16
127
Cf. A vida fraterna em comunidade, 37
128
Cf. C 83
44
encontra em sua vocação uma razão válida de vida e na consagração uma realidade que
confere beleza e bondade à sua existência; cresce no sentido de confiança em si mesmo e na
segurança da própria identidade; evita buscar apoios e compensações, também de natureza
afetiva;
cultiva uma amizade profunda com Cristo por quem é chamado à comunhão fraterna e
enviado aos jovens para amá-los em seu nome; sua vida e o seu tempo são “preenchidos” por
Deus, pela comunidade e pelos jovens;
ama aqueles com quem partilha a vocação e, no afeto doado e recebido, conscientiza-se
do seu valor como pessoa e exprime as mais profundas potencialidades do seu ser. 129 Ama a
Congregação salesiana e sente a comunidade como verdadeira família;
sente-se bem no meio dos jovens, buscando ser para eles sinal límpido do amor de Deus:
não invade nem é possessivo, mas quer-lhes o bem com a mesma benevolência de Deus;
zela por um relacionamento maduro e coerente com os leigos colaboradores, homens e
mulheres, ciente de que a maior integração da mulher em nível educativo-pastoral e institucional
incorpora aspectos novos e valores próprios do “feminino”, estimula uma nova compreensão da
identidade masculina e da reciprocidade, envolve a afetividade, a capacidade de relacionamento
e a ascese;130
ama a própria família: um relacionamento afetivamente sereno e maduro com a família
traz desdobramentos muito positivos para a formação. Entrando para a Congregação, conserva
íntegro o afeto pelos seus familiares, especialmente pelos pais. Exprime-o na oração, na
correspondência e nas visitas;131
cultiva as amizades que favorecem a interiorização de valores, a busca do crescimento
humano e espiritual, e a consolidação da própria vocação. Tais amizades aborrecem qualquer
egoísmo e permanecem abertas aos olhos de Deus e de outras pessoas;
mantém-se vigilante em sua própria vida: não se expõe a situações ou relacionamentos
não límpidos; pratica a mortificação e a guarda dos sentidos; usa de maneira discreta os meios
de comunicação social.132 Sente nisso o empenho de ser austero e pronto à renúncia.
129
Cf. VECCHI J., Um amor sem limites a Deus e aos jovens, ACG 366 (1999), p. 41
130
Cf. CG24 33
131
Cf. R 46
132
Cf. C 84
133
CG24 92; a citação é de Paulo VI, Ecclesiam suam, n° 82.
134
Cf. CG24 91
135
MB X, p. 1039
45
67. Esse estilo de relações interpessoais requer que o salesiano inspire o seu
relacionamento em algumas virtudes humanas características:
o respeito constante pela justiça, a fidelidade à palavra dada, a gentileza no trato, o
senso da medida nas relações e comportamentos, a solicitude pressurosa pelos outros;
a aceitação dos outros, ainda que diferentes por motivo de formação, idade, cultura,
etc.;
as atitudes que facilitam o diálogo, como a empatia, a confiança, o saber ouvir, a
abertura de espírito, o apreço pelo ponto de vista do outro, as boas maneiras e a capacidade de
perdoar;
a capacidade de colaborar com outros, o espírito de serviço, a corresponsabilidade, a
aceitação da autoridade.
136
Cf. C 19. 79. 119
137
Mt 9,36
138
PDV 72
139
R 43
140
Cf. R 99
47
confiadas e aprenda a trabalhar na corresponsabilidade contribuindo para a convergência
fraterna e operativa.141
74. “O salesiano conserva íntegro o afeto pelos seus familiares, especialmente pelos
pais”, e “a comunidade mantém relações cordiais com a família de cada irmão”.142
Durante a formação inicial, eduque-se a um justo equilíbrio entre o relacionamento com
a própria família e o sentido de pertença à comunidade e à Congregação segundo os critérios
da vida consagrada e o estilo salesiano.143
76. Para viver a missão salesiana não bastam apenas os dotes humanos, a preparação
cultural e o profissionalismo, a criatividade apostólica e a paixão pelos jovens; tudo isto é
necessário, mas não é suficiente para sustentar com motivações adequadas a experiência
vocacional.146 O salesiano precisa antes de tudo de uma intensa experiência de Deus e do
Espírito, elemento que funda e motiva a missão.
O salesiano é chamado a unir vida no Espírito e pedagogia, vivendo a educação como
lugar de espiritualidade e caminho de santidade. Da qualidade espiritual da vida depende a sua
fecundidade apostólica, a sua generosidade no amor pelos jovens pobres e a atração vocacional
que exerce sobre as novas gerações.147
A necessidade da espiritualidade torna-se ainda mais evidente num mundo e cultura que
impelem ao ativismo e à autossuficiência. A vida centrada no encontro e experiência com Deus
faz-se testemunho atraente e profecia para as pessoas do nosso tempo, sedentas que estão de
valores absolutos. Converte-se assim o salesiano em comunicador de espiritualidade,148
141
Cf. VECCHI J., Especialistas, testemunhas e artífices de comunhão, ACG 363 (1998), pp. 33-35
142
R 46
143
Cf. ib.
144
C 21
145
Cf. ib.
146
Cf. CG24, 240; ACG 365, p.10-12
147
Cf. VC 93
148
Cf. CG24 239
48
animador e guia de vida espiritual149 para os jovens, para os leigos e no âmbito da Família
Salesiana.
77. Homem de grande fé, foi Dom Bosco o iniciador de uma escola de espiritualidade.150
A sua experiência de Deus evidencia os traços da figura do Senhor151 que o sensibilizavam
e se caracteriza “por modulações espirituais particulares e opções operativas”152 que definem a
peculiar espiritualidade salesiana como espiritualidade apostólica.
Ao reconhecer a Congregação, a Igreja declara que essa espiritualidade – transmitida pelo
Fundador a seus filhos e filhas – possui “todos os requisitos objetivos para alcançar a perfeição
evangélica pessoal e comunitária”.153
Ela constitui, portanto, na Igreja, uma “grande corrente espiritual”, uma “escola verdadeira
e original” de santificação.154 É o caminho para o testemunho de santidade que constitui “o dom
mais precioso que podemos oferecer aos jovens”.155
Não faltam sínteses e expressões que recolhem e comunicam a fisionomia espiritual do
salesiano e seus traços característicos: nas Constituições encontra-se a sua apresentação
autêntica, os valores que a configuram e as condições que a tornam possível; nelas a
espiritualidade salesiana, “meditada pelas sucessivas gerações que a viveram, é magnificamente
apresentada em fórmulas originais que lhe refletem sua tão prolongada vivência”.156 Retomamos
aqui brevemente e explicitamos alguns desses traços.
79. Jesus Bom Pastor é o centro vivo e existencial de sua vida consagrada. Se é verdade
que todos os consagrados estão centrados no Cristo Jesus, isto para o salesiano se traduz no
testemunho específico, caracterizado pelo aspecto pedagógico-pastoral: contempla o Senhor
como o “Bom Pastor” que redime e salva.157
O salesiano contempla-O Bom Pastor em sua gratidão para com o Pai por seu plano de
salvação, na capacidade de predileção pelos pequenos e os pobres, na solicitude em pregar, curar
e salvar sob a urgência do Reino que vem. Imita a sua mansidão e a doação de si, e com ele
partilha o desejo de reunir os seus na unidade de uma só família.158
É um Jesus “vivo”, agindo e caminhando em busca de quem está perdido e que, em
retornando, transporta aos ombros a ovelha perdida, celebrando o fato com grande alegria.
149
Cf. VC 55
150
Cf. JOÃO PAULO II, Juvenum patris, 5
151
Cf. C 11
152
VC 93
153
Ib.
154
Cf. VIGANÓ E., Redescobrir o espírito de Mornese, ACS 301, p. 24
155
C 25
156
VECCHI J., O Pai nos consagra e envia, ACG 365 (1998), p. 24
157
Cf. VIGANÓ E., Espiritualidade salesiana para a nova evangelização, ACG 334, pp. 22-23
158
Cf. C 11
49
É um Jesus que carrega na mente e no coração a Deus, seu Pai, reza-lhe incessantemente,
rende-lhe graças e cumpre a sua vontade, fala dele aos seus e aponta a si mesmo como o
caminho para vê-lo e encontrá-lo.
80. Por meio de Jesus o salesiano encontra o Pai e vive no Espírito. Trabalhando para a
salvação da juventude e vivendo a experiência espiritual do Sistema Preventivo, faz experiência
da paternidade de Deus,159 descobre a sua presença e ação providente, e sente-se chamado a ser
o revelador do Pai aos jovens.
O Espírito Santo que suscitou Dom Bosco, formando nele um coração de pai e mestre, e
guiando-o em sua missão,160 chama também a cada um de seus discípulos a continuar a mesma
“experiência do Espírito”161 para servir os jovens. O salesiano é homem espiritual, atento em
discernir os caminhos pelos quais o Espírito age no coração dos jovens. Sabe colher-lhe a
presença em suas perguntas, expectativas e invocações, e torna-se instrumento da sua ação nos
corações.
O Espírito, a ele doado pelo Pai na consagração,162 forma e plasma o seu espírito,
configurando-o a Cristo obediente, pobre e casto, e impelindo-o a fazer própria a sua missão.
159
Cf. C 12. 20
160
Cf. C 1
161
MuR 11
162
Cf. C 3
163
C 12
164
Cf. C 34. 2
165
Cf. VC 18
50
Ele,166 “fonte permanente de graça e apoio no esforço cotidiano para crescer no perfeito amor a
Deus e aos homens”.167
82. A missão de Dom Bosco está inserida no mesmo mistério da Igreja em seu devir
histórico: nela e para ela é que foi ele suscitado.168 O amor à Igreja é uma das expressões
características de sua “vida e santidade”.
A experiência espiritual do salesiano é, por isso, uma experiência eclesial.
“A vocação salesiana situa-nos no coração da Igreja”, dizem as Constituições.169 Ela
comporta intenso sentido de Igreja, identificação com ela, comunhão cordial e profunda com o
Papa e com todos os que operam a construção do Reino.
84. Em relação muito íntima com a experiência espiritual está a presença especial de
Maria na vocação e missão salesiana. Maria Imaculada Auxiliadora aparece como ícone da
espiritualidade do salesiano que estimula à caridade pastoral e à interioridade apostólica. Na
experiência carismática de Dom Bosco Fundador, foi Maria, desde o primeiro sonho até os
vastos horizontes das missões, uma presença permanente, determinante.
Nela, como Imaculada, o salesiano vê a fecundidade do Espírito, a disponibilidade ao
projeto de Deus, a ruptura com o mal e com todas as forças que o sustentam, a totalidade da
consagração. Inspira-lhe a Imaculada a abertura para o sobrenatural, a pedagogia da graça, a
delicadeza de consciência, e os aspectos maternos do acompanhamento educativo.175
166
Cf. C 99
167
C 25
168
Cf. VIGANÓ E., A Família Salesiana, ACS 304, p. 10
169
C6
170
C 13
171
C6
172
Cf. C 13
173
C 13
174
VC 46
175
Cf. VECCHI J., Indicações de um caminho de espiritualidade salesiana, ACG 354 (1995), p. 44-45
51
Em Maria, como Auxiliadora, o salesiano contempla a maternidade com relação a Cristo e
à Igreja, o amparo ao Povo de Deus nas conjunturas históricas mais difíceis, a colaboração na
obra de salvação e na encarnação do Evangelho por entre os povos, a mediação de graça para
cada cristão e comunidade. A Auxiliadora sustenta o sentido de Igreja, o entusiasmo pela
missão, a audácia apostólica e a capacidade de arregimentar forças para o Reino.176
85. Para viver a presença de Maria em sua vocação e para crescer na sua “devoção filial e
forte”,177 o salesiano:
cultiva um relacionamento pessoal com Maria, fundamentando-o na contemplação do
seu lugar no Plano da salvação e no Mistério de Cristo, exprimindo-o numa atitude filial por
meio das diversas práticas marianas;
sente-a ativamente próxima como estímulo e amparo de sua consagração apostólica,
como Aquela que o “educa à plenitude da doação ao Senhor”;178
encontra n’Ela inspiração e coragem para a sua missão educativa: d’Ela aprende a
estar junto dos jovens e a servi-los com solicitude.
86. “Cremos que Deus está a nos esperar nos jovens para oferecer-nos a graça do encontro
com Ele e para dispor-nos a servi-lo neles”.179
Esta profissão de fé do CG23 indica a encruzilhada da vida espiritual do salesiano. Deus
marca com ele um encontro e faz-se achar no encontro educativo com os jovens.
O primeiro Oratório foi, por isso, experiência educativa, pedagogia realística de santidade
para o educador e para o educando. A vocação salesiana leva a viver “o elã para a santidade no
empenho pedagógico”, a realizar “a perfeição da caridade através do educando”.180 O
intercâmbio entre educação e santidade é o aspecto característico da figura de Dom Bosco. Ele
realiza a sua santidade pessoal por meio do trabalho educativo vivido com zelo e coração
apostólico.181
Hoje também o salesiano, revivendo a experiência espiritual de Dom Bosco, torna-se, na
espiritualidade do cotidiano e do pátio, o homem espiritual que possui o sentido de Deus.
176
Ib.
177
C 92
178
Cf. Ib.
179
CG23, 95
180
VC 96
181
Cf. João Paulo II, Juvenum Patris, 5
182
Cf. O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco, p. 72
52
educação e evangelização, entre promoção humana e empenho evangélico, entre cultura e fé,
entre trabalho e oração.
89. O salesiano encontra em seu viver e trabalhar em comum uma exigência fundamental e
um caminho seguro para realizar a sua vocação.183
A experiência comunitária é para ele experiência teologal e profundamente humana. Com
e mediante os irmãos, os jovens e os colaboradores, ele encontra Deus e experimenta a sua
presença.
Participante da missão comum, o salesiano discerne as conjunturas com a comunidade e à
luz do Evangelho, e sente-se corresponsável pelas intervenções educativas e pastorais, e de sua
realização.
Ajuda a comunidade a ser o centro de comunhão e participação, agregando e animando
outras forças apostólicas.
Perante um mundo tão necessitado de comunhão, o “viver e trabalhar juntos” do salesiano
entre irmãos diferentes por idade, língua e cultura, não só se torna sinal da possibilidade do
diálogo e profecia de uma comunhão que sabe harmonizar as diferenças, mas também proclama
com a eloquência dos fatos a força transformadora da Boa Nova.184 É assim que a comunhão se
faz missão185 e fonte de espiritualidade.
90. Para viver a experiência de Deus na vida comunitária, o salesiano cultiva em si estas
atitudes:
183
Cf. C 49
184
Cf. A vida fraterna em comunidade, 56
185
Cf. VC 46
53
considera a comunidade “um mistério que deve ser contemplado e acolhido com alma
reconhecida numa límpida dimensão de fé”.186 Acolhe os irmãos como presente de Deus, ama-os
como Cristo nos ensinou e faz, da partilha da experiência de fé na escuta da Palavra e na
celebração da Eucaristia, a base da vida comunitária. Cuida para que na vida cotidiana se
patenteie a escolha radical por Jesus Cristo e que a comunidade se torne “sinal”, “escola” e
ambiente de fé;187
consciente dos próprios limites, o salesiano ama a sua comunidade tal como é, com seus
arrojos e mediocridades, com sua busca de autenticidade e suas indigências;
vive o espírito de família, que é afeto correspondido, tecido de relações fraternas e
amigas, estilo fraterno de exercício da autoridade e da obediência, de diálogo e
corresponsabilidade na ação; mantém com o diretor um relacionamento vivo, à imitação dos
primeiros salesianos para com Dom Bosco,
aperfeiçoa sua capacidade de comunicação interpessoal a ponto de partilhar os
sentimentos, a oração e as experiências espirituais e apostólicas;
vive segundo um projeto comunitário e participa ativamente de momentos significativos,
como o “dia da comunidade”, os encontros comunitários, as assembleias, os conselhos;
sente e vive concretamente a sua pertença à comunidade inspetorial e mundial;
aprofunda o sentido da missão como a experiência mais estimulante de comunhão, que
o ajuda constantemente a superar toda forma de egoísmo e individualismo. Lê e avalia, em
conjunto, as situações, colabora com os agentes pastorais, vive a corresponsabilidade e a coesão
perante o projeto comum, assumindo seu papel e respeitando o dos outros;
vive inserido na Igreja particular com sentido de comunhão e está disponível a
colaborar com todas as forças que no território se engajam pela juventude.
91. A vida espiritual salesiana é uma forte experiência de Deus, que é sustentada e por sua
vez sustenta um estilo de vida fundado por inteiro nos valores do Evangelho.188
Por isso, o salesiano assume a forma de vida obediente, pobre e casta que Jesus escolheu
para si na terra. É para ele um modo radical de viver o Evangelho e caminho seguro para doar-se
totalmente aos jovens por amor de Deus. É o seu modo de buscar a caridade perfeita.189
Crescendo na radicalidade evangélica com intensa tonalidade apostólica, faz de sua vida
uma mensagem educativa, dirigida especialmente para os jovens, proclamando com a sua
existência “que Deus existe e o seu amor pode saciar uma vida; que a necessidade de amar, a
ânsia de possuir e a liberdade de decidir da própria existência adquirem em Cristo Salvador o
sentido supremo”.190
92. A obediência ao Pai é para Jesus a síntese de sua vida, que se exprime no mistério
pascal. Revela a sua identidade de Filho e ao mesmo tempo de Servo, mostrando-O, de modo
absolutamente único, unido ao Pai e totalmente dócil. À consagração da parte do Pai
corresponde a sua total disponibilidade para a missão de salvação.
186
A vida fraterna em comunidade, 12
187
Cf. CG23 216-218
188
Cf. C 60
189
Cf. PC 1
190
C 62
54
Para o salesiano, uma das razões principais da prioridade da obediência – Dom Bosco
dizia: “numa Congregação a obediência é tudo”191 – deve ser buscada na importância peculiar
que tem a “missão” em sua vida,192 e especificamente em sua forma comunitária.193 A obediência
torna-o plenamente disponível para o serviço dos jovens.
No atual contexto cultural, que põe em evidência a autorrealização e o protagonismo
individual, o discípulo de Cristo obediente aperfeiçoa a própria liberdade de consagrado, pondo
toda a sua pessoa a serviço da missão comum com espírito empreendedor, responsabilidade,
docilidade, e evitando toda a forma de individualismo.
93. Para viver a experiência de obediência, o salesiano atenta para algumas atitudes:
esforça-se para que se opere em si mesmo a difícil passagem do que agrada a ele para o
que “agrada ao Pai”, identificando-se com os sentimentos de Cristo;
busca a vontade do Pai por meio da oração e das mediações legítimas – o diálogo
comunitário, o discernimento pastoral, a atenção às situações concretas e aos sinais dos tempos,
o colóquio fraterno com o superior – e cumpre-a com plena dedicação;
acolhe com plena liberdade as Constituições como a seu projeto de vida e santidade, e
aceita com docilidade as determinações da Igreja e dos Pastores, as orientações da Congregação
provenientes dos Capítulos Gerais, das intervenções do Reitor-Mor e dos outros superiores;
cumpre suas atribuições com generosidade e criatividade, investindo todos os seus dotes
no serviço da missão;
assume pessoalmente a missão da obra a que é enviado; na comunidade é aberto ao
diálogo e à corresponsabilidade; trabalha em sintonia com o projeto comum servindo-o segundo
a própria função e respeitando a contribuição dos outros;
vive a obediência no exercício das funções de autoridade e governo, cumprindo-as com
o estilo da animação, favorecendo a colaboração e a convergência operativa, estimulando o
sentido da missão comum, sabendo intervir com bondade e destemor;
quando a obediência exige dele provas difíceis de amor, ele se lembra de Jesus, filho
obediente do Pai.194 Relembra as palavras de Dom Bosco: “Haverá alguma regra que não
agrada, algum cargo ou outra coisa de que não se gosta; não nos deixemos vencer pelo
desânimo, vençamos essa disposição contrária do nosso ânimo por amor de Nosso Senhor Jesus
Cristo e do prêmio que nos está preparado… Daí nascerá a verdadeira obediência”.195
94. Jesus assumiu a pobreza como forma de vida; como expressão de total pertença à
missão, de solidariedade para conosco e de renúncia ao próprio interesse; e como visão pastoral
e preferência pelos pobres. Em Jesus o salesiano encontra a verdadeira riqueza; n’Ele deseja
amar os jovens pobres e sentir-se solidário com eles.
A pobreza é uma atitude do coração,196 uma característica da missão. É um estilo pessoal e
comunitário de vida que torna livre para a dedicação generosa a serviço do Evangelho.
Deste modo o salesiano e a comunidade se tornam profecia de uma sociedade alternativa
que busque mais o bem comum, respeite os valores de cada pessoa, sociedade construída sobre
critérios de justiça e de equidade, e solidária com os fracos e injustiçados.197
191
MB X, p. 1059
192
Cf. C 3
193
Cf. C 50
194
Cf. C 71
195
MB VI, p. 933
196
“Para praticar a pobreza – costumava dizer Dom Bosco – é preciso tê-la no coração”. Cf. MB V, p. 670
55
95. Em caminhada progressiva e constante, o salesiano cultiva em si estas atitudes:
assume Jesus pobre como modelo de vida e n’Ele encontra o verdadeiro tesouro:
“Renunciei a tudo para ganhar Cristo... E isto para que O possa conhecer e à eficácia de sua
ressurreição”;198
procura viver com alegria uma vida simples e laboriosa, ama o trabalho apostólico e o
serviço à sua comunidade, é disponível ao trabalho manual,199 aceita com simplicidade os
inevitáveis inconvenientes e as necessárias renúncias;
confia no projeto de Deus sobre a própria existência; sente-se responsável pelos bens de
que usa e é sensível ao testemunho comunitário de pobreza; procura partilhar tudo
fraternamente: os bens materiais, os frutos do trabalho, os presentes recebidos, as energias, os
talentos, a experiência; sabe depender da comunidade e do superior;200
manifesta a pobreza na fidelidade aos destinatários, na configuração da ação educativa
e pastoral nas diversas obras, na perspectiva peculiar com que observa a realidade e os
acontecimentos, na sensibilidade para com a situação social e as novas pobrezas, solicitado
também pela doutrina social da Igreja; sente-se por vocação impelido a interessar-se pelos
pobres e seus problemas, e “amá-los em Cristo”201 com amor solidário e empreendedor e a
participar de suas condições de vida. Alegra-se por trabalhar com os jovens pobres, com os
jovens trabalhadores e com a classe popular. Desenvolve em si e nos outros o amor pelas
missões e o envolvimento na animação missionária;
vivencia a ação educativa e promocional como o melhor serviço aos pobres,
valorizando os meios e as estruturas mais apropriadas, unindo capacidade administrativa e
confiança na Divina Providência, apelo aos “benfeitores” e plena dedicação pessoal.
96. “União com Deus”, “predileção pelos jovens”, “bondade”, “espírito de família”, são
todas características do espírito salesiano que exprimem a forma salesiana de amar.
O salesiano faz cotidianamente a experiência do amor de Deus que lhe sacia a vida202 e
vive uma castidade feliz como sinal indicativo de Cristo vivo, ressuscitado, presente em sua
Igreja, capaz de conquistar os corações.203
Está convencido de que a castidade consagrada imprime um estilo original à sua
capacidade de amar e o torna generoso e feliz na doação sem medida, livre no coração para
amar somente a Deus e sobre todas as coisas, e capaz de viver a bondade afetuosa.
Aprende a ser testemunha da predileção de Deus pelos jovens, educador capaz de encarnar
a paternidade de Deus para eles, de modo que “saibam que são amados”. Por meio da caridade
que sabe fazer-se amar, educa-os no amor verdadeiro e na pureza.
No contexto de uma cultura que sublinha o corpo e não poucas vezes exacerba a
sexualidade, o empenho pela castidade e o testemunho de uma humanidade equilibrada e feliz
são sinal do poder da graça de Deus na fragilidade da condição humana. O salesiano apregoa
com a vida que mediante o auxílio de Deus é possível orientar o coração, educar os afetos e
197
Cf. VECCHI J., Enviados a anunciar aos pobres uma alegre mensagem, ACG 367 (1999), pp. 10-11
198
Fl 3, 8-10
199
Cf. R 64
200
Cf. C 76
201
C 79
202
Cf. C 62
203
VECCHI J., Um amor sem limites a Deus e aos jovens, ACG 366, p. 13
56
dominar-se a si mesmo, o que leva a uma experiência autenticamente humana de amor a Deus e
ao próximo.
99. Imita Dom Bosco, que viveu e educou os salesianos a um relacionamento singelo com
Deus. Testemunhou uma atitude permanente de oração e a capacidade de orientar todas as coisas
para a glória de Deus, de viver e de trabalhar na sua presença, de ter como única preocupação o
seu Reino. Seguindo o seu o exemplo, o salesiano “cultiva a união com Deus, consciente da
necessidade de rezar sem interrupção”.208
O relacionamento com Deus e a interioridade apostólica constituem o coração de sua
experiência; permeiam-lhe todo o ser antes mesmo de traduzir-se em atividade ou em práticas de
204
Cf. R 66. 68
205
Cf. C 84
206
Cf. C 86
207
C 95
208
C 12
57
piedade. A sua oração é a oração do Da mihi animas, cetera tolle, que encontra a fonte na
Eucaristia e se exprime na plena doação ao empenho apostólico.209
101. No diálogo pessoal e comunitário do salesiano com Deus, há que sublinhar algumas
expressões e eventos de particular importância:
“A Palavra de Deus é a fonte primeira de toda a espiritualidade cristã. É ela que alimenta
um relacionamento pessoal com Deus vivo e com a sua vontade salvífica e santificadora”.214
“É para nós fonte de vida espiritual, alimento na oração, luz para conhecer a vontade de
Deus nos acontecimentos e força para viver com fidelidade a nossa vocação”.215 Exatamente por
isso, o salesiano ouve-a com fé e humildade, acolhe-a no coração para guia dos seus passos, fá-
la frutificar em sua vida e proclama-a com alegria.216
A escuta da Palavra de Deus “é o momento cotidiano mais eficaz de formação
permanente”.217 E isto se realiza de modo particular na celebração da Eucaristia e por meio da
prática da meditação. A meditação cotidiana é momento privilegiado de intimidade com o
Senhor, ocasião concreta para familiarizar-se com a Palavra de Deus e encarná-la na vida.
102. A celebração da Eucaristia é o ato central do dia do salesiano. Nela dá graças ao Pai,
faz memória do projeto de salvação cumprido pelo Filho, comunga do Corpo e do Sangue de
Cristo e recebe o Espírito que o torna capaz de comunhão fraterna e o renova em sua doação
apostólica.
A presença da Eucaristia na casa salesiana é para um filho de Dom Bosco motivo de
frequentes encontros com Cristo, do Qual ele haure dinamismo e constância no trabalho pelos
jovens.218
209
Cf. VECCHI J., Este é o meu Corpo, oferecido por vós, ACG 371 (2000), pp. 39-42
210
CGE 535
211
C 85
212
Cf. C 86; O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco, pp. 493-495
213
C 86
214
VC 94
215
C 87
216
Cf. ib.
217
VECCHI J., Este é o meu corpo, oferecido por vós, ACG 371, p. 22
218
Cf. C 88
58
A graça da Eucaristia estende-se às diversas horas do dia pela celebração da Liturgia das
Horas.219
219
Cf. C 89
220
Cf. C 90
221
Cf. C 92
222
A vida fraterna em comunidade, 16
59
religioso e trabalho educativo ou qualquer fuga para formas de vida que não correspondam ao
conselho de Dom Bosco: trabalho, oração, temperança”.223
O salesiano esforça-se para que o seu dinamismo espiritual não sofra retardamentos ou
interrupções, sua vida espiritual não seja ameaçada pela superficialidade ou pela dispersão. Para
tal objetivo, empenha-se em caminhar no Espírito, agir movido pela interioridade apostólica e
cultivar uma vida unificada.
A vida comunitária
A obediência salesiana
109. “Fiel à recomendação de Dom Bosco, cada irmão se encontra frequentemente com o
próprio superior em colóquio fraterno”.229 “Os irmãos em formação inicial terão uma vez por
mês o colóquio com o superior, previsto pelo artigo 70 das Constituições”.230
A pobreza salesiana
110. Vivam todos os irmãos a pobreza “como desapego do coração e generoso serviço
aos irmãos, com um estilo austero, industrioso e rico de iniciativas”;231 cultivem a
solidariedade com os pobres232 trabalhando pela justiça e pela paz, especialmente mediante a
educação dos necessitados.233
223
VECCHI J., O Pai nos consagra e envia, ACG 365 (1998), p. 29
224
Cf. CG21 59b; CGE 494. 540
225
CG23 222
226
Cf. R 65
227
Cf. R 174
228
Cf. CG24 152
229
C 70
230
R 79
231
C 73
232
Cf. C 79
233
Cf. C 73
60
“A comunidade local e a inspetorial avaliem, com a frequência que julgarem oportuna, o
próprio estado de pobreza quanto ao testemunho comunitário e aos serviços prestados.
Procurem os meios para contínua renovação”.234
A castidade salesiana
112. Desde os primeiros anos da formação assegure-se, por meio do diálogo pessoal e do
acompanhamento de toda a experiência formativa, a educação personalizada da sexualidade
que ajude a conhecer a sua natureza verdadeiramente humana e cristã, assim como a finalidade
no matrimônio e na vida consagrada;236 educação que leve à estima e ao amor pela
consagração, e faça “crescer numa atitude serena e madura em relação à feminilidade”.237
114. A vida espiritual do salesiano é sustentada pela pedagogia litúrgica da Igreja, pela
participação “plena, consciente e ativa”244 nas celebrações e pela permanente educação
234
R 65
235
Cf. CGE 613; ACS 253 (1968), p. 55 (it.); ACS 276 (1974), p. 85 (it.)
236
Cf. PDV 50
237
CG24 178
238
Cf. PO 16; CG21 39. 59
239
Cf. R 68; CGE 675
240
Cf. CG21 59
241
Cf. R 44
242
Cf. R 50. 66
243
Cf. CG21 39. 58; PC 12; C 15
244
SC Vaticano II, 1963 14
61
litúrgica comunitária. Tenha a peito cada irmão a dignidade do culto divino, o respeito pelas
orientações litúrgicas, a sensibilidade pelo canto, os gestos, os símbolos.245
118. Uma adequada e bem cuidada celebração da Liturgia das Horas contribui para
consolidar a atitude de oração e a união com Deus.250 “Os sócios celebrarão todos os dias,
possivelmente em comum, as Laudes e as Vésperas”.251 Os irmãos diáconos e presbíteros sejam
fiéis às “obrigações assumidas na ordenação”,252 participando, com a celebração das diversas
Horas, do louvor incessante que a Igreja eleva ao seu Senhor.
119. Cuide-se com particular atenção não só da educação na oração pessoal e na oração
mental, mas também da participação e da animação dos retiros e dos exercícios espirituais
anuais: eles são momentos fundamentais da pedagogia espiritual do salesiano, momentos que
estimulam a atitude de renovação e consolidam a unidade de vida. 253 “A comunidade destinará
ao menos três horas ao retiro mensal e, convenientemente preparado, um dia inteiro ao retiro
trimestral. Todos os anos os sócios farão seis dias de exercícios espirituais, segundo as
modalidades estabelecidas pelo Capítulo Inspetorial”.254
245
Cf. VECCHI J., Este é o meu corpo, oferecido por vós, ACG 371 (2000), p. 51-52
246
Cf. C 88
247
R 70
248
CEC-Instrução A formação litúrgica nos seminários, 1979 36; CRIS Decreto Dum canonicarum legum, 1970, art. 3
249
CRIS Decreto Dum canonicarum legum, 1970, art. 3
250
Cf. C 89
251
R 70
252
C 89
253
Cf. C 91; R 72
254
R 72
255
Cf. R 71
62
121. Ponham-se, durante o ano, segundo o espírito da liturgia, na devida evidência, as
festas marianas; valorizem-se as expressões de devoção mariana típicas da Família Salesiana,
especialmente o santo Terço.256
Celebrem-se com participação alegre as festas e as memórias dos Santos e Beatos da
Família Salesiana, louvando a Deus pelo dom da santidade concedido à nossa Família
espiritual e acolhendo o estímulo deles para a sua imitação.
124. Para viver de forma adequada a vocação salesiana é indispensável uma formação
intelectual sólida e constantemente atualizada, fundada em estudos sérios, que amadureça e
cultive a capacidade de reflexão, de avaliação e de confronto crítico com a realidade.
A sociedade em contínua mutação está a exigir pessoas de mentalidade aberta e crítica, em
atitude de busca, dispostas a aprender e a enfrentar o novo, hábeis em distinguir o permanente
do transitório, inclinadas ao diálogo e capazes de discernimento.
Somente uma abordagem inteligente da realidade e uma visão aberta à cultura, ancorada
na Palavra de Deus, no sentir eclesial e nas orientações da Congregação, conduzem o salesiano a
uma escolha e experiência vocacional solidamente motivada e o ajuda a viver com consciência e
maturidade, sem reducionismos nem complexos, a própria identidade e o seu significado
humano e religioso. Doutra forma, há o perigo de extraviar-se perante as correntes de
pensamento ou de refugiar-se em modelos de comportamento e formas de expressão superadas
ou não coerentes com a própria vocação.259
256
Cf. C 92; R 74
257
CG21 45
258
Cf. CG21 44
259
Cf. VECCHI J., Por vós estudo, ACG 361 (1997), p. 35
63
126. Além disso, no cumprimento da missão, realizada com leigos competentes, confia-se
ao salesiano a tarefa de orientador pastoral, responsável primeiro da identidade salesiana das
iniciativas e das obras, animador e formador de adultos corresponsáveis no trabalho educativo.
Tal encargo, que, segundo as obras e as funções, pode assumir expressões diferenciadas,
está a reclamar dele tanto um conhecimento maior, teórico e prático dos problemas juvenis e dos
caminhos da educação quanto a capacidade de interagir com os adultos acerca de problemas de
vida e de fé, e de comunicar e orientar, como de propor autorizadamente metas e itinerários
educativos.
Supõe também vivência mais convicta do espírito salesiano, conhecimento reflexo e
orgânico do Sistema Preventivo e consciência maior da própria identidade.260
260
Ib. p. 16-18
261
VC 98
262
CG23 220-221
263
MB XV, p. 28
264
Cf. VECCHI J., Eu por vós estudo, ACG 361 (1997)p.11; La formazione intellettuale nell'ambito della formazione
salesiana, encontro promovido pelo Dicastério para a formação com a colaboração da Faculdidde de Teologia da UPS,
Roma 1981
64
Lugar especial ocupa a formação intelectual durante a formação inicial, especialmente
em alguns períodos. Ela tende a assegurar a preparação e qualificação de base, a mentalidade
pedagógica pastoral aberta e crítica, a visão salesiana inteligente e fundada, a atitude permanente
de reflexão e de estudo.
Cada salesiano, coadjutor ou sacerdote, adquire e cultiva uma sólida base cultural. Por
outro lado, a vocação específica incide na organização dos estudos, precisando-lhe as escolhas,
a orientação e o planejamento. Para os salesianos candidatos ao presbiterado, o currículo
específico é determinado pela Igreja, segundo as exigências do próprio contexto cultural.
A formação de base leva em conta a situação inicial dos candidatos, uma situação
diversificada: algumas vezes frágil nos conteúdos, na perspectiva e no método de estudo; outras
vezes já profissionalmente qualificada.
265
R 82
65
Tal saber unificado e orgânico nasce não só da síntese ativa dos conteúdos próprios das diversas
disciplinas e das diversas abordagens, mas também de um método de ensino e de estudo que
estimula a interiorização e a síntese.
Ele leva o salesiano a compreender a originalidade de sua vocação, que supõe
constantemente a delicada referência da natureza à graça, da ciência à fé, da ordem temporal ao
Reino de Deus.
3.3.3.4 Continuidade
3.3.3.5. Inculturação266
266
Cf. PDV 55; Inculturazione e formazione salesiana, preparado pelo Dicastério para a formação e a Faculdade de
Teologia da UPS, Roma 1984
267
C 101
66
instrumento de toda reflexão e metodologia pastoral, com o objetivo de preparar educadores e
evangelizadores habilitados a serem mediadores do relacionamento entre Evangelho e cultura
em sintonia com a Igreja.
A reflexão e o estudo devem acompanhar também a inculturação dos valores do carisma e
da espiritualidade salesiana, ajudando a encarnar os conteúdos e as modalidades características
nas várias culturas e indicando “as maneiras diversas de viver a única vocação salesiana”.268
137. A experiência vocacional e a missão salesiana, na sua unidade e nos elementos que a
constituem, faz-se critério privilegiado também para a escolha das áreas culturais, sua interna
estruturação e suas relações. Além de uma sólida cultura de base, ela requer uma adequada
abordagem teológica, filosófica e pedagógica, particular atenção a alguns aspectos da realidade e
o estudo da “salesianidade”.
139. Uma qualificação de base nas ciências teológicas e sua constante atualização leva o
fiel a uma compreensão adequada do mistério cristão, a viver com ciência o relacionamento
entre Evangelho e cultura, e habilita-o a responder às questões que a ela dirigem as mutáveis
situações e a evolução cultural.
A teologia está a serviço da fé, de sua dimensão eclesial e de sua inculturação. Está
indissoluvelmente conexa com a vida e a história do Povo de Deus e com o Magistério que lhe
orienta o caminho; tem saliente caráter vital e uma relevante incidência na missão da Igreja e em
particular sobre a vida espiritual e o ministério pastoral de seus membros.270
268
C 100
269
PDV 56
270
Cf. CEC A formação teológica dos futuros sacerdotes, 1976, passim
67
Consequentemente, a reflexão teológica ajuda o salesiano a crescer no amor a Jesus Cristo
e à sua Igreja, confere sólido fundamento à vida espiritual, qualifica para a missão educativo-
pastoral. Requer a atual conjuntura que já nas fases iniciais da formação – mas não só nelas –
esteja presente um bom enraizamento da fé, seja em termos de conhecimento intelectual da
verdade, seja em termos de uma experiência de vida baseada no Evangelho. Especial atenção
deve merecer também a teologia da vida consagrada.
3.3.4.3 Uma coerente visão da pessoa, do mundo e de Deus por meio da filosofia
3.3.4.5 A “salesianidade”
271
Cf. JOÃO PAULO II, Fides et Ratio, 60
272
Cf. PDV 52
68
142. Cultivar a identidade vocacional, aprofundar a riqueza carismática do Fundador,
viver em sintonia com a consciência da Congregação e as orientações que ela se dá para
caminhar com fidelidade ao projeto vocacional e exprimi-lo de modo adequado aos tempos e às
circunstâncias, tudo implica uma compreensão e por isso um estudo inteligente, atualizado e
constante da espiritualidade, da pedagogia, da pastoral e da história da congregação.
É tarefa permanente de todo salesiano cultivar a inteligência da própria vocação e assumir
a mens da Congregação, consolidando a própria identidade e tornando-se capaz de comunicar e
propor os valores do carisma salesiano.
143. Além da sólida qualificação de base, a nossa vocação requer adequada competência
profissional, que envolvem às vezes a especialização. Por outro lado, o contexto e os campos em
que operamos e as tarefas que assumimos exigem com frequência o reconhecimento oficial das
qualificações. Assegurada, portanto, a formação de base, torna-se necessária uma ulterior
qualificação ou especialização.273
É certo que uma pessoa pode habilitar-se em determinado setor por meio da vida e do
trabalho. Hoje, entretanto, para dar qualidade à práxis cotidiana e evitar a improvisação e a
superficialidade operativa, requer-se o conhecimento adequado e a preparação específica.
A especialização valoriza os dons pessoais para a ação apostólica e tem por fim habilitar o
salesiano a um serviço marcado pelo profissionalismo e pela competência.
Todo salesiano se qualifica para a tarefa educativo-pastoral e para o encargo que lhe é
confiado, especialmente quando se trata de responsabilidade de animação, de governo e de
formação na comunidade local e inspetorial.
273
Para outros estudos além dos previstos pelo currículo comum, a serem feitos durante a formação inicial em função de
uma ulterior qualificação ou especialização, tenham-se presentes os critérios e as normas indicados pela Ratio.
274
Cf. MuR 26
275
Cf. R 84
69
Existe, de fato, na Congregação uma diversidade de estruturas para os estudos do pós-
noviciado e da teologia: o centro salesiano, quer integrado com uma comunidade formadora
(“estudantado”), quer funcionando independentemente dela; o centro não salesiano; e o centro
administrado em corresponsabilidade com outros
Muitos centros salesianos estão abertos a estudantes não pertencentes à Congregação.
Dentre os diversos tipos de centros de estudo deve-se dar preferência ao centro salesiano,
que oferece uma configuração dos estudos com perspectiva salesiana, evidenciando o caráter
pastoral e pedagógico, favorece a integração entre projeto formativo global e formação
intelectual, e a relação entre salesianos estudantes e docentes; dever-se-á garantir o
relacionamento entre centro de estudos e comunidade.
146. É dever dos Inspetores velar cuidadosamente pelos centros de estudos, preocupar-se
com o seu objetivo salesiano e com a qualidade do serviço acadêmico, e provê-los dos meios
necessários. A consistência qualitativa e o adequado funcionamento de um centro de estudos
exige sobretudo o cuidado pelo corpo docente e, portanto, que se programe o quadro dos
professores efetivos e se preveja a preparação, a estabilidade, o emprego racional e a
substituição necessária do pessoal; que se sublinhe a salesianidade como ponto de convergência
e se proceda à qualificação de docentes para aqueles setores culturais que caracterizam
salesianamente o centro; que se favoreça o contato e o envolvimento dos docentes na ação e na
reflexão da Congregação e da Inspetoria.
É preciso também ter presente que os centros salesianos podem oferecer às Inspetorias e à
Igreja local, um serviço qualificado de animação espiritual, pastoral e cultural: iniciativas para a
atualização dos irmãos, dos membros da Família Salesiana e dos leigos; assessoria para
organismos inspetoriais e interinspetoriais; pesquisa, publicações, elaboração de subsídios;
iniciativas várias em colaboração com organismos eclesiais e religiosos.
O centro de estudos de uma só Inspetoria é uma exigência por vezes pesada. É, pois,
aconselhável, e frequentemente necessária, a colaboração entre várias Inspetorias.
Quando a frequência a um centro salesiano de estudos, tanto em nível inspetorial, como
em nível interinspetorial, não for possível, a escolha do centro deve-se basear em critérios
formativos, assegurando as condições e seguindo o procedimento indicado pela Ratio. Em cada
caso, para tal escolha dever-se-á tomar em consideração a situação da Inspetoria, o número dos
salesianos estudantes, a vizinhança ou não de centros salesianos e o contexto eclesial.
276
Vecchi J., Relação do Vigário do Reitor-Mor ao CG24, n. 229
70
148. O empenho pela formação intelectual deve ser uma constante na vida do salesiano.
Tal empenho encontra estímulo e expressão concreta em algumas atitudes que ele deve cultivar:
o salesiano faz com que o entusiasmo por sua vocação, gerado pela caridade pastoral,
se torne uma intensa motivação para a sua formação intelectual. Nutre amor pelo estudo, dedica-
lhe tempo e valoriza as oportunidades que lhe são oferecidas, considerando-o instrumento eficaz
para a missão;
zela por uma visão de síntese entre fé, cultura e vida, entre educação e evangelização,
entre valores seculares e pastorais;
vive a formação intelectual como uma autoformação, especialmente na perspectiva da
formação permanente, isto é, como atitude e empenho pessoal, valorizando a reflexão, a partilha
e o intercâmbio em grupo;
consciente das exigências da missão, empenha-se em desenvolver autênticos interesses
culturais; manter a identidade vocacional salesiana como critério de orientação dos próprios
esforços para atualizar-se e amadurecer intelectualmente; adquirir uma mentalidade de reflexão
e de discernimento perante os sinais dos tempos e dos novos fenômenos emergentes nas culturas
juvenis;
encontra na comunidade, tanto inspetorial quanto local, estímulo e auxílio para sua
formação intelectual; projeta-se ela de fato como ambiente rico de valores salesianos, aberto à
vida e à cultura. De particular auxílio é a reflexão sobre a práxis no âmbito do Projeto
Educativo-Pastoral Salesiano, feita juntamente com a CEP;
na formação inicial, assume a responsabilidade pela própria formação intelectual.
Enfrenta com generosidade e sentido apostólico a ascese demandada pela seriedade dos estudos,
o esforço penoso do trabalho científico, a diligência e a concentração. Toma parte ativa na aula,
nos grupos e nas diversas iniciativas acadêmicas e culturais, e valoriza o encontro com os
professores. Interioriza as motivações e os objetivos de cada disciplina e atividade escolar em
que está envolvido;
introduz-se na metodologia da ação apostólica, e sabe unir exercício pastoral com
formação intelectual, a serviço de uma experiência integral que evita os riscos do abstraimento e
do imediatismo.
Objetivos e caracterizações
150. Por meio de constante reflexão sobre a práxis, do aporte complementar das várias
disciplinas de estudo e da aquisição das necessárias habilitações, forme em si o salesiano uma
mentalidade pedagógico-pastoral e habilite-se a enfrentar adequadamente as tarefas e os
desafios próprios da missão.
277
R 82
71
151. A preparação intelectual deve formar no salesiano uma mentalidade “aberta e
crítica”278 que o torne capaz de compreender a realidade, especialmente a dos jovens e dos
pobres; desenvolva nele o espírito de iniciativa;279 leve-o “a seguir o movimento da história e a
assumi-lo com a criatividade e o equilíbrio do Fundador”.280
152. Cultive todo salesiano a reflexão pessoal e comunitária sobre a práxis, e o hábito da
leitura; aproveite as oportunidades de atualização oferecidas pela comunidade local, pela
Inspetoria e pela Igreja; vele pela qualificação cultural requerida por sua tarefa de educador
dos jovens, por seu papel de animador e pelos desafios do contexto, tornando-se cada vez mais
apto para o cumprimento da missão comum.
“Cada irmão procure com os superiores o campo de qualificação mais apropriado às
suas capacidades pessoais e às necessidades da Inspetoria, dando preferência a quanto diz
respeito à nossa missão. Conserve a disponibilidade característica do nosso espírito e esteja
disposto a requalificações periódicas”.281
Em nível de Congregação
156. Favoreça-se o estudo do italiano como instrumento para conhecer as fontes, ler os
documentos, e como elemento de comunicação na Congregação, especialmente nos contatos e
encontros internacionais.
278
R 99
279
Cf. ib.
280
C 19
281
R 100
282
Cf. C 135
72
Estimule-se também o estudo de outras línguas que possam servir para a comunicação
pastoral e salesiana.283
Em nível inspetorial
Na formação inicial
160. Há que sublinhar, durante a formação inicial, a configuração salesiana dos estudos
e cultivar o estudo gradual e sistemático das disciplinas especificamente salesianas.285
283
Cf. ACS 276, p. 85(it.); CG21 153d; VECHI J., Por vós estudo, ACG 361, p. 38
284
Cf. O Salesiano Coadjutor, pp. 160-161
285
Cf. R 85; Gli studi di “Salesianità” durante la formazione iniziale, seminário organizado pelo Dicastério para a
formação, Roma, 1993
73
quando se frequenta um centro não salesiano, essa tarefa é assumida pela comunidade
formadora, a não ser que a cumpra o mesmo centro.
163. Consciente de sua função formadora específica, demonstre o irmão professor todo o
interesse pela caminhada intelectual dos estudantes, promova o desenvolvimento de suas
capacidades, tendo presentes os objetivos e as exigências pastorais e pedagógicas da atividade
salesiana.
Subordine os eventuais serviços culturais e apostólicos, em nível de Inspetoria ou de
Igreja local, àqueles aos quais é chamado a oferecer aos irmãos estudantes. Dedique-se a
sistemático esforço de atualização na própria qualificação.
A metodologia
165. A metodologia dos estudos e do ensino abra espaço a uma válida caracterização
antropológica e a instâncias de interdisciplinaridade, a métodos que favoreçam a capacidade
de reflexão, de diálogo e de confronto, a maturidade crítica e a atitude de formação intelectual
permanente. Professores e estudantes entreguem-se com seriedade ao trabalho intelectual e
procedam segundo perspectivas de síntese em função de uma mentalidade pastoral pedagógica.
286
Cf. RFIS 93
287
Cf. CIC, can. 809. 810. 812; CG24 164
74
instituam-se “seminários” e exercitações para estimular a ativa participação dos
alunos;
ensinem os professores um método sério de trabalho científico;288
favoreça-se de diversas maneiras o estudo pessoal.
168. Entre os dois tipos de centros de estudo acima indicados – centro salesiano e centro
não salesiano – escolha-se ordinariamente o centro salesiano.289 Sublinha esta opção a
importância de uma orientação que favorece a integração e a convergência entre a formação
intelectual e a formação global na perspectiva salesiana.
Tal convergência pode verificar-se, seja na forma de comunidade formadora com um
centro próprio de estudos (“estudantado”), seja na forma de separação entre comunidade
formadora e centro salesiano de estudos, desde que haja estreita colaboração entre as duas
instâncias para a consecução do comum objetivo formativo.
O centro salesiano oferece também a vantagem formativa da partilha de reflexão e de
vida entre irmãos docentes e discentes, e de um serviço qualificado para a formação
permanente na Inspetoria.
169. A preferência pelo centro salesiano não significa que ele deva reservar-se apenas
aos salesianos. Os mesmos regulamentos convidam a abrir nossos centros “na medida do
possível também aos externos, religiosos e leigos, para um serviço à Igreja particular”.290
Esta abertura, que deve salvaguardar a identidade e as condições de qualidade do centro,
importa outrossim vantagens formativas, quais a partilha, a colaboração e a maior presença
numérica de estudantes.
170. “As Inspetorias em condição de fazê-lo tenham um centro próprio de estudos para a
formação dos irmãos e para serviços qualificados de animação espiritual, pastoral e
cultural”.291
Mantenham-se os centros salesianos de estudo, garanta-se a sua qualidade acadêmica e
formativa, a consistência do corpo de professores e a continuidade do pessoal qualificado. Para
a troca de irmãos que fazem parte do corpo docente estável de um centro salesiano de estudos,
proceda o Inspetor de entendimento com o Conselheiro para a formação.
288
Cf. RFIS 91
289
Cf. CG21 282. 283. 441
290
R 84
291
Ib.
75
Planejem-se, segundo a consistência e a estrutura do centro, as diferentes atribuições e
organismos acadêmicos (coordenador de estudos, conselho, congregação dos professores,
assembleia dos estudantes…), zelando por seu reto funcionamento. Tenha cada centro salesiano
de estudos seus próprios estatutos e regulamentos inspirados na Ratio.
171. Haja uma decidida e séria colaboração em nível interinspetorial para a criação de
centros de estudo para a formação e para assegurar-lhes as condições, sobretudo quando não
for possível fazê-lo em nível inspetorial.
292
Ib.
76
civis, deve ser aprovada pelo Reitor-Mor. Faça-se com que os irmãos neles empenhados
estejam adequadamente qualificados e possam prestar serviço válido e significativo.
175. Recomenda-se vivamente que os Centros de estudos teológicos, tanto das dioceses
quanto dos Institutos Religiosos, frequentados por nossos irmãos estejam afiliados a alguma
Faculdade de Teologia.293
179. Cada Inspetoria estabeleça no Diretório qual é o centro de estudos escolhido para a
formação dos irmãos, apresentando os motivos de contexto que levaram a tal decisão.
180. Quando os irmãos frequentam um centro de estudos não salesiano, a fim de que se
garanta a consecução dos objetivos formativos, cuide-se para que, segundo as possibilidades e
circunstâncias concretas:
tais irmãos estudantes se empenhem, individual e grupalmente, por assumir em visão de
síntese e segundo a perspectiva da vocação salesiana os conteúdos culturais propostos pelo
centro de estudos;
não falte relacionamento entre os responsáveis da comunidade formadora e os
responsáveis acadêmicos;
293
Cf. JOÃO PAULO II, Constituição apostólica Sapientia Christiana sobre as universidades e faculdades eclesiásticas,
1979, art. 62, 2; citar-se-á Sapientia Christiana
294
Cf. CG21 262
77
um salesiano competente acompanhe a formação intelectual dos irmãos que frequentam
o centro e, se possível, haja algum irmão que ensine no centro de estudos e tenha nele
participação significativa;
os conteúdos de história, pedagogia, pastoral e espiritualidade salesiana sejam objeto
de cursos específicos e sistemáticos, ou como parte do currículo do centro ou como proposta
interna da comunidade formadora.
181. Faça-se com que os estudos previstos pelo currículo comum durante a formação
inicial “sejam estruturados de modo a tornar possível, onde as condições o permitam, a
obtenção de títulos de estudo com valor legal”.295 O Plano inspetorial de qualificação terá
presente esta exigência.
183. Tenha-se presente a norma da Congregação para a Educação Católica que proíbe,
durante os estudos filosóficos e teológicos, a frequência simultânea como alunos ordinários a
mais de uma universidade ou centro de estudos superiores.296 Estejam, portanto, os formandos,
nas diversas fases da formação, matriculados como alunos ordinários num só instituto de nível
universitário.
185. O salesiano forma-se para viver na Igreja o projeto de Dom Bosco: ser sinal e
portador do amor de Deus aos jovens, especialmente aos mais pobres.297
Toda a formação é orientada por esta missão e habilita a vivê-la; por isso, a dimensão
educativo-pastoral constitui a sua característica original. Ela é a destinação final e o ponto de
295
R 83
296
Cf. CEC Disposições da Sagrada Congregação para a Educação Católica para a exata aplicação da Constituição
Apostólica Sapientia Christiana 1979 art. 25
297
Cf. C 2
78
convergência das outras dimensões formativas; determina-lhe com unidade vital os conteúdos,
as escolhas e os percursos, dando a cada um deles caráter educativo-pastoral.
Assim, o serviço aos jovens, que é parte integrante da consagração apostólica, exige
necessariamente do salesiano qualidades humanas, preparação cultural, competência profissional
e profundidade espiritual.
A missão salesiana inspira-se no Sistema Preventivo e se realiza na Pastoral da Juventude
Salesiana. É firmada nesses dois elementos – Sistema Preventivo e Pastoral da Juventude
Salesiana – em que se articula a dimensão educativo-pastoral da formação.298
186. O salesiano educador e pastor dos jovens prepara-se para viver o estilo de vida e de
ação de Dom Bosco e de seus primeiros discípulos, o espírito salesiano, que se encarna na
experiência espiritual e educativa de Dom Bosco no Oratório de Valdocco e chamado por ele de
Sistema Preventivo. Ele pertence à essência mesma da nossa missão; pode considerar-se uma
como síntese de quanto Dom Bosco quis ser e viver para os jovens. Constitui, por isso, uma
referência essencial para a formação salesiana.
A formação e realização da missão segundo o Sistema Preventivo pressupõe:
habilitar para uma experiência espiritual que tem sua fonte e centro na caridade de
Deus, dispõe a acolher e a servir Deus nos jovens, e cria com eles uma relação educativa para
orientá-los à plenitude da vida;
capacitar não só para fazer uma proposta de evangelização que valoriza o patrimônio
natural e sobrenatural que todo jovem recebeu de Deus, mas também, num ambiente acolhedor e
carregado de vida, propor um itinerário educativo que orienta para uma forma original de vida
cristã e de santidade juvenil, a Espiritualidade Juvenil Salesiana;
assumir uma metodologia pedagógica caracterizada:
pela presença amorável e solidária em meio aos jovens
pela aceitação incondicional de cada jovem e o encontro pessoal
pelo uso do critério preventivo por meio do qual se busca desenvolver os recursos do
jovem através de experiências positivas de bem
pelo apelo aos recursos da razão através da razoabilidade das propostas e da riqueza de
humanidade
pela religião como proposta de cultivar o sentido de Deus natural em toda pessoa e o
esforço de evangelização cristã
pela bondade como amor educativo que faz crescer e cria correspondência
pelo ambiente positivo, vivificado tanto pela animação dos educadores trabalhando
tanto na corresponsabilidade quanto pelo protagonismo dos mesmos jovens;299
saber exprimir o modelo operativo nas diversas obras e serviços, e nas “novas formas de
presença salesiana entre os jovens”, em particular na AJS, em cada uma delas segundo a sua
peculiaridade.300
298
Cf. DICASTÉRIO PARA A PASTORAL JUVENIL SALESIANA, La Pastorale Giovanile Salesiana. Quadro di riferimento
fondamentale. Seconda edizione, Roma 2000; será citado como La Pastorale Giovanile Salesiana
299
Cf. La Pastorale Giovanile Salesiana, pp. 18-19
300
Cf. La Pastorale Giovanile Salesiana. Parte II
79
187. Ao desenvolver a missão com fidelidade dinâmica, a experiência da Congregação
aprimorou uma modalidade concreta de realizar a ação educativo-pastoral entre os jovens
segundo o Sistema Preventivo: é a Pastoral Juvenil Salesiana.
A formação e a realização da missão implicam assumir os elementos que definem a
Pastoral Juvenil Salesiana:
a escolha determinante dos jovens, especialmente dos pobres, que permeia todo o modo
de pensar e de agir;
o processo unitário de educação e evangelização juvenil, que visa à salvação integral
dos jovens na realidade humana e na vocação de filhos de Deus (“honestos cidadãos e bons
cristãos”), articulando quatro dimensões características: a educativo-cultural, a da evangelização
e catequese, a da experiência associativa, a vocacional;301
o estilo específico da animação e o critério oratoriano aplicado nas diversas obras e
serviços;
o processo vivido na Comunidade Educativo-Pastoral (CEP) de que a comunidade
salesiana é núcleo animador, promovendo a corresponsabilidade de todos no respeito e
integração das diversas funções atribuídas e na atenção ao próprio papel específico;
a Pastoral Juvenil realizada segundo o Projeto (Projeto Educativo-Pastoral salesiano:
PEPS), que é o modo concreto em que a comunidade educativa entende viver o carisma de Dom
Bosco, encarnando-o na própria realidade social e eclesial, e escolhendo prioridades adequadas,
objetivos, estratégias e ações, formas de participação e de avaliação.
Ser salesiano quer dizer ter um coração para os jovens, especialmente para os mais pobres
e em perigo, e que vivem à margem na Igreja. Cultivar o dom da predileção pelos jovens impele
a:
dirigir-se a eles com atitude amiga e capacidade de partilha;
acolhê-los sem bloqueios e preconceitos, reconhecendo e valorizando tudo quanto
trazem dentro de si;
caminhar com eles, adequando-se- aos seus passos e ritmos de vida;
ajudá-los a captar a riqueza da vida e seus valores, equipando-os para enfrentar a
realidade, e tornando-os conscientes dos valores permanentes.302
A predileção pelos jovens move o salesiano a interessar-se pelos ambientes populares em
que vivem, ler a realidade colhendo-a de seu ponto de vista, e reagir a ela com respostas e
projetos significativos para a Igreja e o território.
301
Cf. La Pastorale Giovanile Salesiana, p. 31
302
Cf. La Pastorale Giovanile Salesiana, p. 17
80
189. O serviço que prestamos aos jovens é a educação e a evangelização “segundo um
projeto de promoção integral do homem, orientado para Cristo, homem perfeito”, como dizem
as Constituições.303 Por isso, a ação educativa e a ação evangelizadora não são dois caminhos
sucessivos: a preocupação pastoral situa-se, sempre, no interior do processo de humanização e
este se abre e orienta para o horizonte do Evangelho.
Isto significa:
partir de uma visão de fé: a vida é um dom em que Deus está presente;
orientar positivamente todo o processo educativo dos jovens para o encontro com Cristo
e o seu Evangelho;
promover o desenvolvimento humano da pessoa e a promoção social do ambiente;
fazer com que os valores evangélicos e os dinamismos cristãos animem o processo de
amadurecimento dos jovens (formação à liberdade responsável, formação da consciência,
formação da dimensão social);
promover uma fé operosa que permeie o crescimento da pessoa e da sua cultura de modo
que se possa formar nela uma síntese vital de fé e cultura.
190. A ação do salesiano em favor dos jovens é sempre ação comunitária, vivida na
corresponsabilidade e partilhada na comunidade religiosa e na Comunidade educativo-pastoral,
no âmbito da Família Salesiana e do Movimento Salesiano.
Por isso, o salesiano aperfeiçoa o sentido da “ação conjunta” segundo a diversidade das
tarefas e papéis, a consciência de ser parte do núcleo animador, a responsabilidade de contribuir
para “manter a unidade do espírito e estimular o diálogo e a colaboração fraterna para mútuo
enriquecimento e maior fecundidade apostólica”.304
192. A pastoral juvenil salesiana é uma pastoral orgânica porque nela as diversas
atividades e intervenções miram à promoção integral dos jovens, e porque na CEP se
compartilham os objetivos e linhas operativas, e se integram e complementam os aportes de
todos.
303
C 31
304
C5
81
Ela pede um modo de pensar e agir que promova a coligação e a convergência de todas as
pessoas e entre todos os elementos que intervenham na ação educativo-pastoral.
Isso exige:
uma mentalidade de projeto, que se exprime no PEPS;
a idoneidade para atuar segundo as diversas dimensões do Projeto;
a capacidade de organizar a animação pastoral, de modo a promover a comunicação, a
coordenação e o trabalho em equipe.305
193. Inspirado no exemplo de amor e doação com que Deus veio em socorro da pessoa
humana, e imitando Dom Bosco que percorria as ruas para encontrar-se com os jovens em sua
realidade, o salesiano sente no coração os apelos que lhe vêm dos jovens, especialmente dos que
estão em situação de pobreza e sofrimento.
Por meio do discernimento, feito com o auxílio do Espírito, detecta o sentido teológico dos
desafios que procedem do mundo dos jovens. Aprende a reconhecer em seus apelos a voz de
Deus salvador, que o interpela. Entra assim em diálogo com o Senhor, introduz nesse diálogo os
jovens e põe-se por inteiro ao seu serviço.
A consciência de ser chamado e enviado por Deus a encontrá-lo nos jovens e a empenhar-
se por sua libertação e evangelização, ajuda-o a formar em si uma mentalidade de apóstolo que
dá unidade à toda a sua vida.
305
Cf. La Pastorale Giovanile Salesiana, pp. 20-25
82
3.4.4.1.4 A assunção das orientações pastorais salesianas
198. Na linha da tradição salesiana, “em toda a formação inicial – lê-se nas Constituições
– juntamente com o estudo, dá-se importância às atividades pastorais da nossa missão”,307
ainda que, metodologicamente, em algumas fases prevaleçam as atividades teóricas e que
habilitam para o serviço de específicos objetivos formativos. O tirocínio é a expressão salesiana
típica e qualificada de experiência formativa pastoral.
As atividades pastorais têm por fim desenvolver a dimensão educativo-pastoral. Se bem
programadas e acompanhadas, orientam e ajudam a alcançar algumas finalidades formativas
específicas:
crescer na sensibilização pela situação dos jovens e adquirir o hábito de perceber a sua
realidade do ponto de vista da salvação;
cultivar as capacidades educativo-pastorais, como sejam, especialmente, a assistência
salesiana, a animação de grupo;
amadurecer na vocação, ponderando as possibilidades e dificuldades que se encontram
no caminho de identificação com os ideais apostólicos salesianos. É vivendo concretamente a
missão que se aprende a verificar as atitudes, as motivações e as capacidades, e se esforça por
sintonizá-las com as exigências da missão;
integrar na própria vida os diversos aspectos espirituais, intelectuais, emotivos e
operativos da experiência, visando a um equilíbrio entre trabalho e oração, entre ação e
306
Cf. CG24 237
307
C 115
83
contemplação, teoria e práxis, atenção ao indivíduo e atenção ao conjunto, consagração e
missão;
fazer experiência pessoal da missão salesiana nas diversas obras e atividades, abrir-se
aos horizontes da Família Salesiana e do Movimento Salesiano, e progredir no sentido de
corresponsabilidade no trabalho segundo as exigências da “pastoral orgânica” e do trabalho em
equipe.
84
Apresente tal itinerário propostas graduais e progressivas, com objetivos formativos
precisos, nos diversos setores da pastoral da juventude salesiana. A Comissão inspetorial para
a formação, em diálogo com a Comissão para a pastoral da juventude, verifique
periodicamente esse itinerário.
308
Cf. CG21 284. 289. 296
309
Cf. RFIS 98b
85
CAPÍTULO QUARTO
205. A identificação vocacional salesiana (cap. 2º) é em primeiro lugar dom do Espírito,
mas é também tarefa que envolve cada irmão e cada comunidade num processo de
discernimento e constante amadurecimento.
A apresentação da vocação salesiana pôs em evidência os conteúdos a assimilar, as
aptidões a possuir e as atitudes a viver (cap. 3º). Trata-se de fazê-los passar de proposta a
projeto, de valores conhecidos a valores vividos. Responder ao apelo de Cristo, que chama
pessoalmente, significa realizar os valores da vocação.
310
Cf. VC 65
86
pessoa, de tal modo que cada uma das suas atitudes ou gestos, tanto nos momentos importantes
quanto nas circunstâncias ordinárias da vida possa revelar a sua pertença total e feliz a
Deus”.311 Não se trata de adaptação ou adequação, mas de interiorização.
O texto constitucional faz consistir o método formativo no fazer experiência dos valores
da vocação312 e os Regulamentos gerais afirmam que “a assimilação do espírito salesiano é
fundamentalmente um fato de comunicação de vida”.313
311
VC 65
312
Cf. C 98
313
R 85
314
C 119
87
como elementos de um único processo, de uma única proposta, de ação coordenada e
convergente. Evitando o risco de fazer da formação uma soma de intervenções desorganizadas
e descontínuas, confiadas à ação individual de pessoas ou grupos.
212. O projeto não se limita a assinalar as grandes metas e as linhas gerais da formação.
Inclui também a elaboração específica de cada fase, em termos de objetivos, estratégias,
programação de intervenções e processo de avaliação.
Os conteúdos, experiências, atitudes, atividades, momentos fortes devem ser pensados,
programados e orientados segundo o objetivo de cada fase e de toda a formação, por meio de
uma pedagogia que supere o perigo da fragmentação, do improviso ou de uma ação sem
finalidade e dispersiva.
Tal estruturação faz com que a passagem de uma fase a outra seja marcada mais pela
consecução dos objetivos do que pelo transcurso do tempo ou do currículo de estudos, e que
uma fase prepare a seguinte, que seja construída sobre a base da anterior. O ritmo de
crescimento vocacional é assim mantido, sem quedas de tensão, e é sustentado por crescentes
compromissos e por oportunas revisões.
A atenção à pessoa e ao seu amadurecimento requer que o processo formativo disponha
do tempo necessário. “É preciso, pois, encontrar um justo equilíbrio entre a formação do grupo
e a de cada pessoa, entre o respeito aos tempos previstos para cada fase da formação e a sua
adaptação ao ritmo de cada um”.315
213 É tarefa do salesiano assumir desde o início uma clara atitude formativa,
compreender os objetivos de todo o processo e de cada momento, viver a passagem de uma
fase a outra assumindo responsavelmente as finalidades do novo momento formativo, traçar
metas e itinerários concretos, verificar e partilhar a realização do projeto formativo pessoal.
É tarefa dos formadores assumir e traduzir as indicações do projeto inspetorial e fazer
com que o candidato se aproprie da proposta formativa que ele vive em comunidade e com
responsabilidade.
É nessa ótica que os diferentes aspectos e momentos, situações, tarefas, relacionamentos,
avaliações, que configuram o processo formativo ao longo dos anos, devem ser vistos e
vividos. De fato, são elementos da única experiência integral personalizada, da proposta
315
PI 29
88
acolhida e interiorizada, do desafio compartilhado por todos os agentes, do itinerário
pedagógico animado pelo amor à vocação e pela docilidade ao Espírito.
Mais que um texto para levar à prática, o projeto é expressão e instrumento de uma
comunidade que quer trabalhar junto, a serviço do caminho formativo de cada irmão.
215. Cada irmão reconhece ser pessoalmente chamado por Deus à vida consagrada
salesiana. É um chamamento a amar a Deus com todo o coração e a amar os jovens com
caridade pastoral, buscando a salvação deles.
A caridade pastoral é, portanto, a motivação que fundamenta o empenho da formação e
dá significado às renúncias, aos esforços, à ascese e à disciplina que a formação implica. 316 E
não é somente o ponto de partida da formação; é também a meta a alcançar. E como a caridade
nunca está completamente desenvolvida, sempre se está em formação!
216. Impelido pela caridade, cada qual se torna “protagonista necessário e insubstituível
de sua formação: toda e qualquer formação, naturalmente incluída a sacerdotal, é, no fim de
contas, uma autoformação. Ninguém de fato pode substituir a pessoa na sua liberdade e
responsabilidade”.317
O salesiano assume essa tarefa, tomando como ponto de referência a Regra de vida e
envolvendo-se na experiência cotidiana e no caminho formativo da comunidade. Adquire um
conhecimento sempre mais profundo de si mesmo, cultiva os diversos aspectos da pessoa, e
empenha-se a ser instrumento maleável nas mãos de Deus para o cumprimento da missão.
Assume a ascese e enfrenta as lutas que a fidelidade à vocação pressupõe.
Uma das formas concretas para exprimir a sua responsabilidade na formação é ter o
próprio projeto pessoal de vida. Nele delineia cada irmão o tipo de salesiano que se sente
chamado a ser e o caminho para realizá-lo, sempre em sintonia com os valores salesianos;
verifica periodicamente – em diálogo com o Diretor – o progresso na consecução de tal
objetivo.
217. Diante dessa responsabilidade formativa, o salesiano não está só. Vive antes de tudo
em atitude de diálogo com Deus. Reconhece que a iniciativa de sua consagração apostólica
316
Cf. C 98
317
PDV 69
89
reside no chamado de Deus. Deixa-se guiar pelo espírito de Jesus, primeiro e principal agente
de sua formação,318 e plasma no seu coração os sentimentos do Filho.319
“Dócil ao Espírito Santo, desenvolve suas aptidões e os dons da graça num esforço
constante de conversão e renovação”.320
218. Olha para Dom Bosco Fundador como pai, mestre e guia na sua experiência
formativa, ou melhor, como seu modelo. Descobre nele o núcleo originário do carisma
salesiano, e nutre por ele uma “simpatia”, um “sentir comum”, uma consonância íntima de
valores e de ideais.
Segue com amor e fidelidade as orientações da Igreja, “geradora e educadora de
vocações”,321 e encontra a via segura na sua fidelidade ao sucessor de Pedro e ao seu
magistério.
Acolhe as orientações e os estímulos da Congregação, comunidade carismática, que zela
constantemente pela fidelidade a Cristo, à Igreja e ao genuíno pensamento de Dom Bosco.
Mantém-se em diálogo constante com a comunidade local e inspetorial, que também são
mediações da ação formativa de Deus e responsáveis pelo projeto vocacional salesiano num
território. Participando ativamente do caminho comunitário, que é tornar-se-discípulos-juntos,
acolhe o papel daqueles que têm a missão de acompanhá-lo, orientá-lo e guiá-lo.
Ao mesmo tempo, na medida do seu empenho de formação, ele também é agente de
crescimento para os seus irmãos e a sua comunidade.
318
Cf. CRIS Gli elementi essenziali dell'insegnamento della Chiesa sugli istituti dediti all'apostolato, 1983 47
319
Cf. VC 66
320
C 99
321
PDV 35
322
R 85
90
220. “O ambiente natural de crescimento vocacional é a comunidade na qual o irmão se
insere com confiança e colabora com responsabilidade. A própria vida da comunidade, unida
em Cristo e aberta às exigências dos tempos, é formadora”.323
Como ambiente e sujeito coletivo de formação, a comunidade:
promove uma rede de autênticos relacionamentos pessoais e de trabalho, e cria um
clima que acompanha o crescimento de cada um;
oferece uma pedagogia de vida, feita de partilha fraterna, corresponsável arrojo
apostólico, oração comum, e estilo autêntico de vida evangélica, que se torna estímulo
vocacional;
demonstra uma atenção particular para o crescimento vocacional de cada irmão;
favorece a sintonia com a vida da Igreja e da Congregação, e a abertura ao
envolvimento com a Família Salesiana e com os leigos;
formula o próprio projeto formativo alinhado com o projeto inspetorial.
323
C 99
324
Cf. CG24 145
325
Cf. C 103
326
PI 27
327
PDV 42
91
no amor por Dom Bosco, na caridade, na estima recíproca e na convergência dos esforços, 328
intentam reviver “a experiência do grupo dos Doze unidos a Jesus”.329
Enquanto “comunidade educativa em caminhada”,330 caracteriza-se por um projeto que
faz tudo convergir para uma única finalidade: a formação do salesiano. Em clima de
corresponsabilidade, todos se empenham em viver juntos, valores, objetivos, experiências e
métodos formativos, programando, verificando e adequando periodicamente a própria vida, o
próprio trabalho e as experiências apostólicas às exigências da vocação.
Condição indispensável e ponto estratégico determinante para construir uma atmosfera
formativa, para traduzir em práxis o projeto comunitário e atuar com pedagogia adequada é a
existência de equipes formadoras consistentes, integradas por educadores preparados, que
oferecem contribuições diferentes segundo suas qualidades, sua experiência e competência. Os
formadores, na verdade, ocupam um posto-chave, que determina o espírito e a inteira eficácia
da ação formadora.331
328
Cf. C 103
329
PDV 60
330
Ib.
331
Cf. Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos seminários, 1
92
Nas comunidades interinspetoriais deve-se assegurar a corresponsabilidade formativa de
modo estável, por intermédio do “curatorium” ou outras instâncias e instrumentos, e por meio
da presença de formadores das diversas Inspetorias. Deve-se também zelar pelo sentido de
pertença à própria Inspetoria por meio de visitas frequentes do Inspetor ou de outros irmãos, da
troca de notícias e de todo e qualquer outro meio e ocasião de comunicação, e por meio de
outras formas possíveis de contato.
225. O centro de estudos faz parte integrante do ambiente formativo. Nele todos estão
envolvidos num único projeto que tem por finalidade a formação, ainda que a contribuição do
centro seja prevalentemente intelectual.
As relações entre os vários componentes do centro inspiram-se no diálogo, na
compreensão, na amizade e na corresponsabilidade.
Para a escolha do centro de estudos e garantir as condições que lhe determinam a
qualidade e a índole formativa, é importante ater-se aos critérios indicados pela Ratio.332
332
Cf. números precedentes: 145-146. 167-180
333
Cf. ISM cap. 10, “Animazione e governo dell'Ispettoria, comunità in formazione e formatrice”
334
Cf. C 157
93
Este clima permite aos irmãos formandos fazer experiência viva da identidade salesiana e
de sentir-se sustentados na caminhada vocacional. É precioso também para os outros irmãos,
que se veem estimulados no processo de fidelidade.
335
C 170
336
Cf. C 171
337
Cf. C 59
94
4.3.3.1. Corresponsáveis em nível local
4.3.3.1.1 O diretor338
233. Além das tarefas confiadas a cada Diretor de comunidade local, o Diretor de uma
comunidade formadora tem um encargo ainda de maior empenho no campo da formação.
Anima a comunidade constituindo uma equipe unida com os formadores e fazendo convergir o
empenho de todos para um projeto comum em sintonia com o projeto inspetorial.
Ele é responsável pelo processo formativo pessoal de cada irmão. É também o diretor
espiritual proposto, não imposto, aos irmãos em formação. É seu encargo principal
acompanhar cada irmão, ajudá-lo a compreender e a assumir a fase formativa que está
vivendo.344 Mantém com ele diálogo frequente e cordial, esforça-se por conhecer suas
qualidades, sabe fazer propostas claras e exigentes e indicar metas adequadas, apoia e orienta
nos momentos de dificuldade, verifica junto a caminhada formativa.
338
Cf. O Diretor Salesiano. Um ministério para a animação e o governo da comunidade local, Roma, 1986
339
Cf. CG21 53
340
Cf. C 70
341
C 55
342
Cf. O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco, p. 419-422
343
Cf. C 55
344
Cf. DSM 234
95
A essa tarefa que a Inspetoria confia ao Diretor deve corresponder no irmão a consciência
e o empenho de entrar em relacionamento pessoal de abertura, confiança e partilha formativa.
Com o Conselho da comunidade o Diretor realiza o devido discernimento vocacional,
especialmente por ocasião das admissões e avaliações.
234. Compõem a equipe formadora e são corresponsáveis pelo ambiente e pelo projeto
formativo todos os que colaboram com encargos, funções e contribuições diversas e
complementares, garantindo juntos uma orquestração perfeita e unitária a serviço da comum
experiência formativa. Zelam pela animação da oração, pelo âmbito dos estudos ou da pastoral,
pelo aspecto econômico e administrativo ou pelo acompanhamento espiritual.
Papel de relevância pertence ao confessor pela importância que detém o seu serviço na
orientação vocacional dos irmãos.
Significativa é na comunidade formadora, e possivelmente com os encargos de animação
comunitária ou de ensino, a contribuição de irmãos coadjutores.
237. Sabem atuar uma pedagogia “dinâmica, ativa, aberta à realidade da vida, atenta ao
processo evolutivo da pessoa”348 e ao ritmo do grupo.
345
Cf. CEC, Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos seminários, 1993
346
Cf. C 104
347
Ib.
348
CEC, Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos seminários, 1993, 10
96
Dão atenção particular à pessoa do formando, ao qual fornecem os elementos espirituais,
doutrinais e pastorais necessários à interiorização da proposta formativa. Acompanham,
aconselham, sustentam, corrigem e estimulam segundo as exigências da situação pessoal do
irmão em formação.
Acompanham a caminhada de cada um, avaliam em nome da Igreja e da Congregação a
idoneidade vocacional, e apresentam elementos de informação e de discernimento também em
vista das diversas admissões.
Para a prestação de tal serviço requer-se dos formadores “um olhar atento e afinado por
um bom conhecimento das ciências humanas para ir além das aparências e do nível superficial
das motivações e dos comportamentos e para ajudar [o candidato] a conhecer-se em
profundidade, a aceitar-se com serenidade, a corrigir-se e a amadurecer partindo das raízes
reais, não ilusórias, e do ‘coração’ da sua pessoa”.349
239. Para prestar este serviço requerem-se dons pessoais, conjugados não só com uma
séria preparação doutrinal, espiritual, pastoral e pedagógica de base, mas também,
ordinariamente, com uma qualificação específica.
A formação no dia-a-dia, a capacidade de trabalho partilhado, programado e avaliado, a
disponibilidade para encontrar-se periodicamente a fim de refletir sobre o andamento do
processo formativo, para o intercâmbio e a atualização, as periódicas ocasiões de renovamento,
isto constitui para os formadores da Inspetoria uma verdadeira escola de formação permanente.
Para isso é importante certa estabilidade no encargo formativo e é indispensável a ação
animadora do Delegado da Comissão inspetorial para a formação.
349
Ib. 57
350
VECCHI J., I protagonisti della formazione sacerdotale, in DAL COVOLO-TRIACCA, Sacerdoti per la nuova
evangelizzazione. Studi sull'Esortazione apostolica 'Pastores dabo vobis' di Giovanni Paolo II, Roma 1993 pag. 321
97
Orientam o estudo pessoal dos alunos para que eles aprendam um método científico de
trabalho, assimilem os conteúdos culturais, aprofundem-nos, atualizem-nos.
241. Para cumprir a sua função, os professores possuem sólida preparação de base em
nível humanístico-filosófico e teológico, e são qualificados no próprio setor de ensino.
Possuem capacidades pedagógicas e, para esta finalidade, recebem preparação
conveniente,351 a fim de ajudarem os alunos a cultivar uma visão crítica e uma mentalidade de
formação permanente. São além disso formados nos métodos didáticos ativos para estimular os
alunos à participação, e mantêm-se atualizados no campo científico e metodológico.
243. Salesianos e outros, que possuam competência específica (expertos) são chamados a
dar uma contribuição especial, de modo sistemático ou ocasional. Seu aporte à experiência
formativa e à caminhada dos candidatos ou dos irmãos pode situar-se na linha preventiva,
pedagógica ou integrativa. Quando tais peritos não são salesianos, é importante fazer com que
o seu trabalho atente para as características próprias da vocação e seja visto na perspectiva
global da formação salesiana. Caso a intervenção do especialista tivesse finalidade terapêutica,
é obrigatório que ele seja proposto, nunca imposto, com oportunas motivações.
351
Cf. RFIS 35
352
Cf. RFIS 37
353
Cf. PDV 66; DES (Diretrizes Educadores Seminários) 20
354
Cf. VECCHI J., Um amor sem limites a Deus e aos jovens, ACG 366 (1999), por exemplo, pp. 27-29; Cf. também
PDV 66; CG24, Índice analítico Mulher
355
PDV 66
356
Cf. CG24 138-141
98
245. Por quanto se refere ao envolvimento dos leigos, homens e mulheres, na formação
inicial dos salesianos, é desejável que eles possam desenvolver papéis de incidência formativa
direta. O CG24 declara que os irmãos em formação “recebem ajuda mais eficaz, quando desde
a formação inicial são encaminhados a experiências de colaboração com os leigos tanto no
plano prático quanto no terreno da elaboração do PEPS”.357 Por isso pede que, “tendo presente
a natureza diversa das vocações dos SDB e dos Leigos, e os tempos de amadurecimento
humano, afetivo e apostólico, as etapas da formação inicial prevejam conteúdos e experiências
de formação recíproca e complementar para o crescimento comum”.358
Há, além disso, setores em que os leigos podem dar uma contribuição específica em
virtude de suas particulares competências e de sua experiência, como a espiritualidade familiar,
algumas áreas pastorais, o campo político, econômico e social, a comunicação social. 359 Nestes
casos, eles “devem ser escolhidos com cuidado, no quadro das leis da Igreja e segundo as suas
comprovadas competências”,360 e a sua colaboração deve ser oportunamente coordenada e
integrada com as responsabilidades educativas primárias dos formadores.
357
CG24 53
358
CG24 142
359
Cf. Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos seminários 10-11
360
PDV 66
361
Cf. L'Ispettore salesiano. Un ministero per l'animazione e il governo della comunità ispettoriale, Roma 1987,
especialmente cap.10: “Animazione e governo dell'Ispettoria, comunità in formazione e formatrice”
99
comunidades formadoras e os irmãos em formação inicial; informa-se a respeito de suas
qualidades e inclinações e anima-os a se aperfeiçoarem tendo em vista as exigências do bem
comum;
zela pelo crescimento de todos na vocação salesiana, animando por diferentes maneiras
os irmãos a vivê-la no trabalho apostólico com o arrojo do “da mihi animas”, a amadurecê-la
por meio de relacionamentos verdadeiros, a exprimi-la num particular estilo de vida evangélica,
a fundá-la sobre um permanente e ativo diálogo com Deus e a renová-la na fidelidade a Dom
Bosco;362
cuida para que se ofereça a quem se orienta para a vida salesiana o ambiente e as
condições adequadas ao primeiro discernimento vocacional; acompanha-o nos delicados
períodos da formação inicial e assume a própria responsabilidade no discernimento e nas
admissões;
assume como empenho prioritário a qualificação dos irmãos; identifica as áreas em que
a preparação cultural e a competência profissional parecem mais urgentes na perspectiva de
presente e de futuro para a melhor realização da missão; elabora e põe em prática um Plano
inspetorial de qualificação do pessoal e o avalia periodicamente; empenha os irmãos
qualificados em tarefas específicas para o serviço da Inspetoria e da Congregação e faz o
possível para que permaneçam no âmbito da própria qualificação;
promove iniciativas ordinárias e extraordinárias que favorecem os processos de
formação permanente;
oferece uma colaboração aberta e generosa para a formação em nível interinspetorial
e de Congregação, e no âmbito da Família Salesiana; valoriza as propostas e as ocasiões
oferecidas em nível eclesial e de vida consagrada.
362
Cf. ISM 305-307
100
reflexão e o diálogo, a atenção às orientações referentes à formação, a colaboração nos serviços
concretos.
Entre as tarefas do Delegado – em colaboração com a CIF – indicam-se as seguintes:
refletir, com o Inspetor e seu Conselho, sobre a situação da formação na Inspetoria
assistir o Inspetor na elaboração, atuação e avaliação do Projeto inspetorial para a
formação;363
colaborar na elaboração e avaliação do Plano inspetorial de qualificação e
especialização dos irmãos;364
realizar em via ordinária a avaliação da atuação do Diretório inspetorial – seção
formação;365
cuidar para que a Ratio e o fascículo Critérios e normas de discernimento vocacional
salesiano sejam conhecidos e sejam contínuo ponto de referência;366
garantir uma ação orgânica, programada e coordenada no campo formativo,367 de tal
forma que as diversas áreas da formação, as intervenções, as iniciativas, o trabalho dos
responsáveis, tendam à realização da identidade vocacional salesiana e contribuam para fazer
da Inspetoria uma comunidade formadora;
cuidar da unidade e continuidade do processo de formação inicial, com especial
atenção aos critérios de discernimento e à pedagogia formativa;368
acompanhar, na estruturação e avaliação da ação formativa, as comunidades
formadoras e, onde for necessário, também os centros de estudos para a formação;
verificar periodicamente o itinerário das atividades educativo-pastorais, em diálogo
com a Comissão para a Pastoral da Juventude;369
assegurar iniciativas de animação e acompanhamento para os tirocinantes e de apoio às
suas comunidades;370
colaborar com o Inspetor e o seu Conselho na realização do Plano orgânico de
formação permanente, na animação do processo de formação permanente das comunidades e
dos irmãos, e no programa de formação conjunta com os leigos;371
planejar um programa anual de formação permanente de acordo com o Projeto
inspetorial de formação, que responda às diversas situações dos irmãos (idade, vocação
específica, funções),372 que preveja a organização dos serviços específicos, a elaboração de
conteúdos e subsídios;
garantir as condições e promover iniciativas para favorecer nos irmãos o conhecimento
das orientações da Congregação, o aprofundamento do espírito salesiano e uma exposição séria
e atualizada da história, da espiritualidade e do patrimônio pedagógico próprio do nosso
carisma;373
programar encontros sistemáticos para o diálogo e o intercâmbio com os delegados e
as equipes inspetoriais da Pastoral Juvenil, da Família Salesiana e dos outros setores, para levar
a efeito a adequação maior da formação à realidade inspetorial e a maior coordenação da
animação;
363
Cf. precedente n. 24
364
Cf. precedente n.158
365
Cf. precedente n. 23
366
Cf. precedente n. 21
367
Cf. precedente n. 22
368
Cf. precedente n. 29; seguinte n. 278
369
Cf. precedente n. 202
370
Cf. precedente n. 437
371
Cf. precedente n. 556
372
Cf. ib.
373
Cf. precedente n. 50
101
cuidar e valorizar os contatos e as iniciativas em nível interinspetorial ou regional e
com a Família Salesiana no campo da formação;
manter contato com o Conselheiro para a formação.
248. A ação formativa das Inspetorias encontra apoio e estímulo graças a diversas
modalidades de comunicação, conexão e colaboração interinspetorial no campo da formação
inicial e permanente.
Já se fez referência às comunidades de formação inicial e aos centros de estudos
interinspetoriais, sublinhando a importância de juntar forças para o serviço da qualidade da
formação e indicando suas formas concretas.
Referem-se outras iniciativas aos delegados inspetoriais, aos formadores, aos irmãos em
formação, ou a todo o âmbito da formação permanente.
As formas e estruturas de conexão, o tipo e os níveis de serviço e os destinatários são
diferentes, dependendo também do relacionamento existente entre as Inspetorias. Vai-se da
coordenação ocasional às “delegações” (ou delegados) e equipes estáveis, interinspetoriais ou
de Conferência, aos centros nacionais ou regionais; de encontros esporádicos a iniciativas
periódicas, a programações orgânicas; da partilha da experiência à reflexão e ao estudo feitos
em comum, à organização de encontros, seminários, experiências formativas, à preparação de
pontos de referência comuns e de subsídios de apoio; de uma primeira atenção dada aos
delegados inspetoriais e aos formadores, ao serviço oferecido aos diversos grupos de irmãos
(diretores, sacerdotes e coadjutores do “quinquênio”, irmãos que se preparam à profissão
perpétua, experiências de formação permanente, etc.).
Na diversidade das situações e dos contextos, a conexão entre os delegados de formação,
as comissões inspetoriais e os formadores ajuda as Inspetorias a:
refletir juntos sobre a formação salesiana e os desafios que ela apresenta no âmbito
interinspetorial;
promover o intercâmbio de experiências e tudo aquilo que qualifica o caminho
formativo salesiano em cada Inspetoria;
elaborar critérios, linhas de referência, subsídios para o trabalho formativo;
responder às necessidades da formação com uma visão aberta e partilhada e com real
capacidade de colaboração;
apoiar a ação formativa de cada inspetoria por meio de iniciativas comuns;
estimular e valorizar a contribuição dos Salesianos dos centros de estudos e dos centros
de formação permanente.
A incidência das formas de coordenação e colaboração, que se realizam na dependência e
em estreita relação com os Inspetores e com os responsáveis em nível de Conferência ou de
Região, depende em grande parte da dedicação dos coordenadores, da programação sistemática
e atenta às reais necessidades, do empenho dos Delegados inspetoriais e da corresponsabilidade
dos Inspetores.
374
C 135
375
Cf. C 40
376
C 119
103
E como “o testemunho é a única linguagem capaz de convencer os jovens de que ‘Deus
existe e o seu amor pode saciar uma vida’”,377 sente-se desafiado a viver e a tornar
transparente a sua fé em Jesus Cristo.
4.4.3 A comunicação
256. O relacionamento com o próprio contexto sociocultural também é uma instância que
incide cotidianamente sobre a maneira de ser, sentir e avaliar; ele interpela a própria
identidade.
O primeiro passo consiste em conhecer a situação e montar um quadro do contexto
sociocultural em que se está envolvido, dos estímulos e condicionamentos que dele provêm.
Mais importante, porém, que o conhecimento é a interpretação da situação, tarefa difícil
por causa da ambivalência dos vários elementos presentes. “Não se trata única e simplesmente
de acolher os fatores positivos e rejeitar frontalmente os negativos. Mas tem-se de submeter os
mesmos fatores positivos a um atento discernimento, para que não se isolem uns dos outros
nem entrem em oposição entre si, absolutizando-se e combatendo-se mutuamente. O mesmo se
diga dos fatores negativos: não são de rejeitar em bloco e sem distinções, porque em cada um
deles pode ocultar-se algum valor que espera ser liberto e reconduzido à sua verdade plena”.383
257. Tal interpretação, elaborada à luz do Evangelho, faz com que não surjam da situação
simplesmente “dados” de fato que não criam envolvimento, mas a “voz” de Deus que desafia
por meio da percepção da “tarefa” a realizar. É um verdadeiro discernimento espiritual, “a arte
de procurar os sinais de Deus nas realidades do mundo”.384
Com ânimo e sabedoria buscam-se respostas adequadas e novas abordagens; criam-se
novas formas de vida e de pedagogia à medida que são selecionadas, modificadas, e assumem
os valores culturais que podem ser harmoniosamente fundidos com o Evangelho e com as
exigências quer da própria consagração, quer do espírito e missão salesiana.
A capacidade de ver Deus no mundo e de captar seu chamado por meio das urgências dos
tempos e lugares é uma lei fundamental do caminho de crescimento salesiano. Como diz o
artigo 119 das Constituições, “vivendo entre os jovens e em constante contato com os
ambientes populares o salesiano se esforça para discernir nos acontecimentos a voz do Espírito,
adquirindo assim a capacidade de aprender da vida”. Isto é: torna-se discípulo inteligente da
vida, chega à sabedoria por meio da experiência.
381
A vida fraterna em comunidade, 27
382
VECCHI J., ib.
383
PDV 10
384
VC 68
105
da comunidade ou do ambiente, da direção ocasional e da direção de consciência habitualmente
na confissão.
Dar qualidade ao acompanhamento significa assegurar ao irmão a proximidade, o
diálogo, a orientação e o apoio adequado em cada instante do itinerário formativo e fazer com
que ele seja disponível e ativamente responsável no buscar, acolher e tirar proveito de tal
serviço, tendo presente que ele pode assumir variados graus e múltiplas formas. Não se
restringe ao diálogo individual; é um conjunto de relações, um ambiente e uma pedagogia,
próprios do Sistema Preventivo: vai da presença próxima e fraterna que suscita confiança e
familiaridade, até a caminhada realizada em nível de grupo, a experiência comunitária; dos
encontros breves e ocasionais ao diálogo pessoal buscado, frequente e sistemático; do
confronto com aspectos externos à direção espiritual e à confissão sacramental.
A situação atual dos candidatos e o fato de a experiência formativa ser vivida
sucessivamente em diversas comunidades torna ainda mais determinante a incidência do
acompanhamento formativo. Por outro lado, a experiência ensina que a ausência do
acompanhamento ou um acompanhamento que não vá à profundidade do ser ou seja
descontínuo, podem lançar uma séria hipoteca sobre toda a ação formativa.
259. Da comunidade como ambiente formativo e das condições para que o seja
realmente, já se tratou, como também já se falou do papel do diretor.
O acompanhamento das pessoas em estilo salesiano é feito antes de tudo pelo ambiente
educativo, por aquilo que na comunidade se ouve e comunica, pela inspiração que move tudo e
a todos, que conduz o trabalho e propõe uma experiência vivida que se torna critério constante
de identificação e orientação.
O ambiente, o clima, o relacionamento interpessoal, de grupo e com os educadores; a
orientação dada pelos responsáveis, feita num estilo que leva à participação; o proceder
segundo um projeto comum e com objetivos definidos – tudo isso orienta e acompanha cada
membro da comunidade na sua caminhada pessoal, enquanto sublinha a atenção à pessoa e à
perspectiva vocacional, propõe metas, sugere critérios, indica itinerários, estabelece momentos
de confronto e avaliação. Comunidades com baixo teor formativo, com capacidades frágeis de
proposta e escassa orientação, com pouca interação e limitada participação no projeto comum,
são de muito pouco apoio para cada irmão.
Cuidar do acompanhamento comunitário a serviço da formação dos irmãos significa
garantir a qualidade pedagógica e espiritual da experiência comunitária e a qualidade da
animação e da orientação da comunidade: é o que se chama “direção espiritual comunitária”.
Tende a construir não só uma comunidade orientada pela clareza de identidade e animada
pedagogicamente; tende também a edificar uma experiência comunitária que, por meio das
múltiplas cotidianas expressões do estilo salesiano, orienta, estimula e sustenta. Constitui um
empenho para cada ambiente formativo e especialmente para as comunidades muito pequenas
ou muito grandes.385
385
Cf. seguinte n. 280
106
260. A experiência comunitária não é a única determinante para a formação salesiana.
Requer-se também um acompanhamento personalizado, que ajude cada um a assumir e
interiorizar os conteúdos da identidade vocacional.
São diferentes as formas que assume tal acompanhamento e as pessoas que intervêm: o
diretor da comunidade, o diretor espiritual, que pode ser o mesmo diretor, o confessor, os
formadores aos quais são confiados diferentes aspectos da experiência formativa, os irmãos
mais chegados que sabem ajudar em nome de uma verdadeira amizade espiritual, o Inspetor. A
Ratio explicita as diversas contribuições, as responsabilidades e as formas de intervenção nesta
obra comum.
Qualificar o acompanhamento pessoal significa assegurar a presença, a competência, a
dedicação, a unidade de critérios e a convergência de intervenções das pessoas chamadas a
prestar este serviço com aportes diferentes.
261. Na tradição salesiana, o Diretor ocupa lugar especial. Sua responsabilidade é direta
em relação a cada irmão: ajuda-o a realizar a sua vocação pessoal.386 Durante a formação
inicial, o Diretor é responsável pelo processo formativo pessoal. “É seu encargo principal
acompanhar cada irmão, ajudá-lo a compreender e a assumir a fase formativa que está vivendo.
Mantém com ele diálogo frequente e cordial, esforça-se por conhecer-lhe as qualidades, sabe
fazer propostas claras e exigentes e indicar metas adequadas, apoia e orienta nos momentos de
dificuldade, verifica, come ele, a caminhada formativa.387
Expressão típica desse serviço do Diretor é o colóquio, elemento integrante da práxis
formativa salesiana; sinal concreto de atenção e zelo pela pessoa e por sua experiência; de
partilha fraterna e diálogo. Dom Bosco via no colóquio com o Diretor um momento
privilegiado de diálogo para o bem do irmão.388 Com esta atenção à caminhada de cada um e ao
seu crescimento, as Constituições estabelecem que cada irmão “fiel à recomendação de Dom
Bosco se encontre frequentemente com o próprio superior em colóquio fraterno”.389
Na formação inicial, o colóquio, vivido segundo o espírito das Constituições, há de ser
um autêntico momento de acompanhamento formativo. “Um encontro que exige os valores da
vida salesiana, a história pessoal do irmão: virtudes, aptidões e limitações, sucessos e
insucessos, alegrias e esperanças, necessidades profundas”.390 Uma forma de orientação
espiritual que ajuda a personalizar o itinerário formativo e a interiorizar os seus conteúdos.
Para os irmãos em formação, seguindo a nossa tradição, a frequência do colóquio é assim
estatuída: “uma vez por mês”.391 Nele pode o irmão, se quiser, manifestar também seu estado
de consciência.392
Uma forma de acompanhamento explicitamente prevista pela pedagogia formativa
salesiana é constituída pelos momentos periódicos de avaliação pessoal (“escrutínios”), por
meio dos quais o Conselho da comunidade ajuda o irmão a avaliar sua situação formativa
pessoal, orienta-o, estimula-o concretamente no seu processo de maturação.393
386
Cf. C 55
387
Precedente n. 233; Cf. seguinte n. 290
388
Cf. C 70
389
C 70
390
DSM 252
391
R 79
392
Cf. C 70
393
Cf. seguinte n. 294
107
A direção espiritual de consciência é um auxílio oferecido a quem está buscando a
plenitude de sua vocação cristã e religiosa. É um ministério de iluminação, de apoio e de guia
no discernimento da vontade de Deus para atingir a santidade; motiva e suscita o empenho da
pessoa, estimula-a a sérias opções em sintonia com o Evangelho e confronta-a com o projeto
vocacional salesiano.
A direção espiritual é um ministério eclesial qualificado, que requer do diretor espiritual
equilíbrio humano e sabedoria, paternidade verdadeira, capacidade de amor gratuito, grande
disponibilidade e relacionamento que inspira confiança e otimismo. Ao diretor espiritual
favorece a respeitabilidade que advém da experiência vivida, particularmente – para nós – da
experiência salesiana; uma certa competência nas ciências psicopedagógicas; a capacidade não
só de ler as moções do Espírito na pessoa, mas também de comunicar-se, ouvir e ser empático.
Ele põe em jogo a qualidade mesma de sua pessoa como homem, cristão, consagrado e
salesiano. Além das qualidades pessoais e da experiência, é-lhe indispensável a devida
preparação e a atualização.
Segundo a tradição salesiana, o Diretor da comunidade de formação, “mestre e guia
espiritual”,394 “guia da comunidade e mestre de espírito”,395 é o diretor espiritual proposto aos
irmãos, que, no entanto, permanecem livres de optarem por outro diretor espiritual.
264. O acompanhamento formativo em seus diversos níveis exige dos que prestam tal
serviço em primeiro lugar disponibilidade e dedicação; a consciência de serem mediadores da
ação de Deus, do ministério da Igreja, da mens da Congregação. São, além disso,
indispensáveis algumas convicções, atitudes e condições: uma atitude espiritual e uma
perspectiva de fé, a ótica da vocação salesiana e, portanto, o conhecimento dos critérios para
discerni-la e das condições para vivê-la, uma sensibilidade pedagógica que favoreça o clima de
liberdade e a atenção à pessoa e ao seu ritmo de amadurecimento, algumas habilitações
específicas referentes quer à dimensão humana quer à pedagogia espiritual.
Cada qual é chamado a ver a sua contribuição em complementaridade com as outras
intervenções e em ater-se aos critérios de prudência e de justiça que, segundo os casos,
requerem discrição ou absoluto respeito ao segredo profissional399 e ao segredo sacramental.
394
C 55
395
C 104
396
Cf. precedente, n. 117
397
Cf. precedentes n. 199. 204
398
Cf. precedente n. 162
108
Para dar qualidade ao acompanhamento formativo é indispensável que os responsáveis
inspetoriais se preocupem com a preparação e a atualização dos diretores, dos confessores, dos
formadores e com sua real dedicação a esta tarefa. Zelem pela convergência dos critérios e pela
continuidade do processo de acompanhamento ao longo do percurso formativo e na passagem
de uma comunidade para outra.
267. O salesiano adulto, que avança segundo a Regra de vida e assimila vitalmente
quanto lhe oferece a animação comunitária, sente-se apoiado na experiência vocacional e
estimulado a uma fidelidade permanente. Mesmo que possa haver momentos e situações que
requerem confronto pessoal e discernimento mais atento, ordinariamente na idade adulta não é
necessária aquela direção metódica exigida pelo primeiro período da formação. Este o
entendimento de Dom Bosco, confirmado por sua práxis habitual e pela tradição salesiana.403
399
Em termos jurídicos, e nos manuais de moral, é às vezes chamado “segredo comisso” ou de consciência, enquanto é
entregue (“comisso”, de cometer com o sentido de entregar) à consciência da pessoa pela profissão que exerce.
400
Cf. precedente n. 213
401
VC 66
402
Cf. C 105
403
Cf. DSM 266-267
109
268. A atitude de discernimento espiritual e pastoral é indispensável para que cada
salesiano viva a vocação com fidelidade criativa e como resposta permanente.
O discernimento comunitário, vivido como experiência de fé e de caridade, reforça a
convergência e a comunhão, sustenta a unidade espiritual, aprofunda o sentido da vocação,
estimula a procura da autenticidade e a renovação. Por isso, cada comunidade, atenta aos sinais
do Espírito, aberta aos estímulos da Igreja e da Congregação, cultiva um olhar evangélico sobre
a realidade e busca a vontade de Deus com fraterno e paciente diálogo e com sentido vivo de
responsabilidade.404 E fá-lo em clima de verdade e de confiança recíproca, à luz da Palavra, na
oração e por meio da reflexão e da partilha.
407
Cf. FSDB 298
408
Cf. R 81
409
FSDB 321
111
274. – As admissões aos diversos compromissos da caminhada vocacional constituem
momentos importantes de discernimento para o candidato que faz o pedido e para quem é
chamado a avaliá-lo; recolhem o fruto de uma atitude permanente e exprimem-no num parecer
ou num consenso para o qual confluem o conhecimento, o diálogo e a avaliação. A seriedade
do processo de admissão, por parte do candidato, da comunidade e dos responsáveis diretos em
nível local e inspetorial, comprova a qualidade do discernimento. A admissão e, portanto, o
discernimento para o início do processo formativo e para a profissão perpétua, têm especial
incidência sobre a experiência formativa e sobre a perseverança vocacional.
281. A Comissão inspetorial para a formação zele pela unidade do processo formativo
inspetorial, pela atitude de discernimento, pela convergência dos critérios e pela continuidade
metodológica.
283. A comunidade formadora seja constituída por número de membros suficiente para
o desenvolvimento da experiência formativa, evitando tanto um número muito pequeno, que
não oferece as condições mínimas para alguns aspectos da formação, quanto um número
excessivo, que não favorece nem a personalização, nem o acompanhamento do processo.
284. Os formadores sejam homens de fé, capazes de diálogo, com suficiente experiência
pastoral e em condições de comunicar vitalmente o ideal salesiano. O Inspetor escolha um
Diretor e uma equipe particularmente preparada, sobretudo para a direção espiritual
comunitária e pessoal.414
Os formadores, cientes da própria tarefa, formem junto com o diretor um grupo
consciente de sua responsabilidade comum e assegurem aos irmãos formandos as condições
para uma experiência válida, o acompanhamento e o discernimento.415
Faça-se com que as equipes formadoras contenham salesianos coadjutores e zele-se por
sua preparação específica para a tarefa.
412
Ib.
413
C 103
414
Cf. R 78
415
Cf. C 104. 101; CG21 112
113
285. Inclua-se no Plano inspetorial de qualificação e especialização dos irmãos a
programação para a qualificação em pedagogia e metodologia formativa e em espiritualidade
salesiana dos irmãos escolhidos para o serviço formativo: diretores, mestres de noviços,
formadores.416
A Inspetoria preveja para os Diretores das comunidades formadoras uma periódica e
específica atualização que lhes seja de ajuda no cumprimento da tarefa do acompanhamento
formativo, da direção espiritual comunitária e pessoal.417
Ofereçam-se analogamente oportunidades de aperfeiçoamento e de requalificação aos
outros formadores.
289. Segundo o estilo educativo de Dom Bosco, seja a comunidade formadora uma
comunidade aberta, e inserida no contexto social e eclesial em que está.419
Mantenha-se informada acerca da situação e das orientações pastorais da Igreja local420
e desenvolva formas concretas de participação;421 haja recíprocos intercâmbios e momentos
de encontro422 com as comunidades formadoras de outros Institutos religiosos; esteja atenta à
realidade juvenil e cultural.
293. A pedido do irmão em formação, também o Diretor e o mestre podem oferecer o seu
ministério no sacramento da Reconciliação, mas somente de modo extraordinário, e contanto
que no momento das admissões se sintam capazes de fazer uma serena distinção entre foro
interno conhecido em âmbito sacramental e foro externo unicamente referível naquele ato.434
Avaliações
425
Cf. R 175
426
Cf. C 44b; R 4b.5
427
Cf. C 181.1; R 184.3
428
Cf. R 48
429
Cf. R 79
430
Cf. R 78
431
Cf. CGE 678c
432
Cf. ACS 244, p. 97 (it.)
433
Cf. C 112
434
“O mestre de noviços e seu sócio, o reitor do seminário ou de outro instituto de educação não ouçam confissões
sacramentais dos alunos que residem na mesma casa, a não ser que eles, em casos particulares, o solicitem
espontaneamente” (CIC, can. 985)
435
R 78
436
Cf. OT 11; ACS 293, p. 3-11
115
297. No interior da comunidade (Diretor, Conselho, formadores, confessores) e entre as
comunidades de formação (pré-noviciado, noviciado, pós-noviciado, tirocínio, formação
específica) favoreça-se a unidade dos critérios de discernimento vocacional e de admissão,
seguindo quanto está indicado em “Critérios e normas para o discernimento vocacional. As
admissões”.
Com a mesma finalidade realizem-se encontros entre os responsáveis locais e o Conselho
inspetorial.
299. “Usem-se em forma habitual e sistemática (e não apenas nalguns casos difíceis) os
vários recursos das ciências psicológicas e pedagógicas”,437 seja para os momentos de
discernimento, seja para o acompanhamento formativo ordinário.
Assegure-se que as intervenções profissionais no discernimento inicial e no
acompanhamento sucessivo sejam coerentes com a vocação salesiana. É conveniente, por isso,
que se escolham especialistas cuja orientação esteja atenta à vocação religiosa, e, no possível,
que tenha conhecimento suficiente da vida salesiana.
A decisão final sobre a idoneidade dos candidatos é tarefa dos responsáveis salesianos.
Colaboração interinspetorial
Discernimento vocacional
437
CGS 673a; Cf. RFIS 39; SaC 163; OT 11
438
Cf. CG21 277.250b
439
Cf. R 81
116
parecer do Conselho inspetorial de origem (quando o irmão está fora de sua
Inspetoria);
voto do Conselho local;
voto do Conselho inspetorial e decisão do Inspetor.
303. Faça-se o possível para que os membros do Conselho inspetorial, que têm a tarefa
de dar o próprio consentimento para a admissão à profissão, aos ministérios e às ordens,442
conheçam os candidatos, acompanhem-lhes a preparação, pondo em andamento aquelas
formas de contato e de averiguação que permitem dar um voto motivado e consciente.
305. Com a finalidade de permitir uma avaliação do ponto de vista formativo das saídas
de irmãos com votos temporários, solicite o Inspetor a quem deixa a Congregação ao término
dos votos que redija por escrito os motivos da decisão. Seja tal informação comunicada com a
devida prudência à Secretaria Geral.
440
R 81
441
Cf. C 108
442
Cf. ib.
117
CAPÍTULO QUINTO
307. Viver a vocação é entrar numa história onde se entrelaçam a iniciativa de Deus e o
projeto humano.444 É participar de um diálogo de vida no qual chamado e resposta não são
episódios de um momento, mas experiência permanente do seguimento de Jesus. Quanto se
disse nos capítulos precedentes a respeito da formação salesiana e as condições para assumi-la
pessoalmente realiza-se por meio de um caminho formativo que dura toda a vida.
A experiência vocacional de Dom Bosco – experiência carismática e fundacional –
testemunha uma atitude constante de atenção às solicitações do Espírito e de corajosa e
sempre renovada resposta. Deixou-se ele formar pelo Espírito e seguiu os seus impulsos com
docilidade. Sentiu-se chamado e desafiado pela realidade, sobretudo pela dos jovens, e
devotou-se inteiramente a responder com criatividade em cada momento.
As Constituições apresentam a experiência do salesiano como “resposta sempre
renovada”:445 “iluminado pela pessoa de Cristo e pelo seu Evangelho, vivido segundo o
espírito de Dom Bosco, o salesiano se empenha num processo formativo que dura toda a vida e
lhe respeita os ritmos de amadurecimento”.446
309. Pela profissão perpétua – e, no caso dos presbíteros, pela ordenação sacerdotal – o
salesiano entra plenamente na experiência de vida salesiana a ser vivida com uma fidelidade
sustentada pela graça da formação permanente.
De fato, justamente porque se trata de uma transformação de toda a pessoa, o processo
formativo não pode reduzir-se à sua fase inicial. “A pessoa consagrada não poderá mais pensar
443
C 98
444
Cf. C 1
445
C 195
446
C 98
447
C 105
118
em ter completado a gestação daquele homem novo que experimenta os mesmos sentimentos
de Cristo dentro de si, em cada circunstância da vida. A formação inicial deve, portanto,
consolidar-se com a formação permanente, criando no sujeito a disponibilidade de se deixar
formar em cada dia de sua vida”.448
A formação permanente consiste num “esforço constante de conversão e renovação”:449 é
crescimento na maturidade humana, é configuração a Cristo, é fidelidade a Dom Bosco, para
responder às exigências sempre novas da condição juvenil e popular.450 É um caminho que se
realiza segundo a condição de vida de cada um.
310. Em todo este itinerário, a experiência formativa salesiana pede ao mesmo tempo
uma igualdade de base e uma diferenciação que respeita e promove a especificidade
vocacional: “A formação inicial dos salesianos leigos, dos futuros sacerdotes e dos diáconos
permanentes – dizem as Constituições – tem ordinariamente um currículo de nível paritário
com as mesmas fases e com objetivos e conteúdos semelhantes. As distinções são determinadas
pela vocação específica de cada um, pelos dotes e aptidões pessoais e pelos deveres do nosso
apostolado”.451
312. O processo formativo é realizado por meio de uma experiência vital determinada
pela identidade salesiana, que integra diferentes elementos e apresenta características
peculiares.
Unem-se na formação o empenho da comunidade, que demonstra solicitude pelo
crescimento de cada um de seus membros, e a responsabilidade pessoal de cada irmão.
448
VC 69
449
C 99
450
Cf. C 118
451
Const. 106, citado em parte por FSDB 49.
452
Ao se falar do processo formativo, referimo-nos aqui sobretudo à formação inicial. Mais adiante tratar-se-á
especificamente da formação permanente.
119
5.2.1 Processo personalizado
313. Por intermédio das diversas mediações, a comunidade acolhe o candidato e o irmão
em formação, ampara-o com sua ajuda, oferece-lhe a possibilidade de diálogo sério na procura
da vontade de Deus e realiza o necessário discernimento. Garante-lhe uma vida comunitária
formativa, possibilitando-lhe ambiente e meios que lhe promovem o crescimento.
A Comunidade inspetorial envolve-o, além disso, em seu projeto de formação e constitui
um núcleo animador que o acompanha e que favorece a convergência de tudo e de todos para
os objetivos a alcançar.
O salesiano, por sua vez, progredindo em seu caminho, torna-se para a comunidade
portador da riqueza de seus dons de natureza e de graça.
120
315. O candidato e o irmão aprofundam a identificação com o projeto salesiano, aprimora
a idoneidade e consolida as motivações por meio de ação progressiva e ininterrupta: cada fase
continua a precedente e prepara a seguinte. A passagem de uma fase a outra é delicada; merece
cuidadoso acompanhamento.
O princípio da gradualidade impõe que se atente, ao mesmo tempo, para a qualidade
como meta, pedagogia e critério de discernimento, e que se imposte o processo com realismo e
flexibilidade formativa.
Tal processo contínuo e gradual não termina nunca. A configuração com Cristo seguindo
Dom Bosco é um empenho constante para toda a vida.
453
Cf. C 101
454
Cf. VECCHI J., Levantai vossos olhos e vede os campos que estão brancos, prontos para a colheita. O nosso
empenho missionário em vista do ano 2000, ACG 362 (1998), pp.18-19
455
Cf. C 107
121
319. Durante a formação inicial sejam os irmãos ajudados a aprofundar a identidade da
consagração, a maturarem sólidas convicções a respeito de seu valor educativo e a assumirem
uma atitude de formação permanente.456
321. Cuide-se de modo particular dos momentos de passagem de uma fase a outra,
velando por uma pedagogia que ajude o irmão a assumir com plena consciência e
responsabilidade a nova situação formativa.
Não se permita o início de fases formativas ou a assunção de compromissos (profissões,
ministérios, ordens) a candidatos não idôneos.458
Ponha-se, neste caso, o irmão formando na situação que melhor lhe consinta alcançar a
idoneidade requerida.
Mesmo levando-se em conta a gradualidade da experiência formativa, evite-se protrair
situações problemáticas ou de indecisão, que não oferecem perspectivas sérias de superação.
456
Cf. CG24 167
457
Cf. C 108
458
Cf. O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco, p. 614
122
técnico-científica ou profissional”, para adquirirem uma “qualificação específica” com título
reconhecido;459
os salesianos coadjutores sejam inseridos, para o tirocínio, preferivelmente em
ambientes onde possam praticar a qualificação profissional adquirida e avaliar o
discernimento feito no pós-noviciado sobre o futuro âmbito profissional;460
a formação específica dos salesianos coadjutores, como para o salesiano clérigo, siga
imediatamente o tirocínio,461 tenha a duração de dois anos e seja concluída num dos centros
regionais ou inter-regionais aprovados pelo Reitor-Mor com o Conselho Geral;
a preparação para a profissão perpétua seja feita, o quanto possível, em comum pelos
salesianos coadjutores e salesianos clérigos, antes ou durante a formação específica;
o “quinquênio” envolva tanto os salesianos presbíteros/diáconos permanentes nos
primeiros cinco anos após a ordenação e os salesianos coadjutores nos primeiros cinco anos
depois da formação específica;
após a formação específica, em tempo oportuno, se necessário, o salesiano coadjutor
tenha a possibilidade de concluir uma especialização no seu campo profissional específico e
nas competências necessárias para a realização das diversas responsabilidades ou papéis que
lhe serão confiados, completando assim a qualificação profissional iniciada durante o período
da profissão temporária.
As opções relativas ao currículo formativo do salesiano coadjutor sejam inseridas na
seção formação do Diretório inspetorial.
459
Cf. Reg. 95
460
Cf. FSDB 442.
461
Cf. Const. 116; FSDB 479.
462
CG21 301
463
Cf. CG24 142
464
CG24 147
465
Cf. CG24 142
123
326. Tenham-se presentes, durante a formação inicial, os ritos de proveniência e de
pertença dos irmãos, e a necessária preparação para desenvolver a missão em contextos de
ritos diversos.466
466
Para os candidatos dos vários ritos orientais, recorde-se de pedir o prescrito “Nada Obsta” da Congregação para as
Igrejas Orientais – com a anexa permissão de “bi-ritualismo” – segundo o can. 517 § 2 do Codex Canonum Ecclesiarum
Orientalium (1990). O pedido do candidato, acompanhado pelo parecer do Inspetor, seja remetido à Secretaria geral.
124
CAPÍTULO SEXTO
O PRÉ-NOVICIADO
329. Esta primeira etapa formativa pressupõe que o pré-noviciado tenha tido anteriormente
uma experiência e um período apropriado de crescimento vocacional e amadurecimento humano e
cristão, acompanhamento, experiência comunitária, exercício na pastoral salesiana, que não se pode
deixar de lado. A “quem se orienta para a vida salesiana”, dizem nossas Constituições, a Inspetoria
oferece o “ambiente e as condições adequadas para conhecer a própria vocação e amadurecer como
homem e como cristão. Desta forma pode, com o auxílio de um guia espiritual, fazer sua escolha de
maneira mais consciente e livre de pressões externas e internas”.468
Esta experiência é chamada de modo geral com o nome de “aspirantado”,469 embora o termo
possa variar de acordo com os lugares, culturas e sensibilidades. Ela mira a fazer conhecer a
vocação consagrada salesiana, favorecer o conhecimento de si e da vontade de Deus, fazer o
discernimento vocacional, e é conduzida nas formas e nos tempos mais convenientes à situação e às
necessidades dos candidatos. Trata-se de uma experiência necessária, tanto mais que os candidatos
provêm de ambientes heterogêneos, com situações de idade, família, amadurecimento pessoal, com
experiências de vida, de fé e de cultura, de contato vivo com Dom Bosco e a realidade salesiana
muito diversas.
330. “O candidato só é admitido ao pré-noviciado quando houver feito a opção pela vida
salesiana”470 e apresenta, segundo o juízo dos responsáveis, as correspondentes condições de
idoneidade humana, cristã e salesiana471. Embora no início do pré-noviciado472 “não se exija que o
candidato à vida religiosa seja capaz de assumir imediatamente todas as obrigações dos religiosos,
deve ser julgado capaz de aí chegar progressivamente. O poder julgar dessa capacidade justifica que
se deem o tempo e os meios para consegui-lo. Tal é a finalidade da etapa preparatória ao
noviciado”473.
A Inspetoria, garantido um sério caminho vocacional e em sintonia com ele, empenha-se
decididamente a organizar o pré-noviciado como uma fase específica. Ela esforça-se por cuidar da
personalização e inculturação da formação, criando um projeto claro e definido e mantendo a
devida flexibilidade e criatividade na estrutura e programação.
A importância do pré-noviciado, que frequentemente condiciona as fases seguintes e em
particular o noviciado, exige que ela “dure normalmente um ano e não seja ordinariamente inferior
467
C 109.
468
C 109.
469
Cf. R 17; CGS 662; ASC 273, p. 40-48; CG21 118; CG26 54, 58, 69-73.
470
CG21 267.
471
Cf. ACS 276, pp. 73-74.
472
Cf. CG21 267.
473
PI 42
125
a seis meses”.474 Iniciá-lo com uma celebração apropriada ajuda a inculcar nos candidatos a seriedade
e a importância da decisão que estão para assumir.
331. O pré-noviciado tem os seguintes objetivos específicos, que precisam ser conhecidos
pelo candidato e por ele assumidos em caminhos formativos concretos:
amadurecer como pessoa e como cristão;
conhecer a sua vocação e aprofundar as motivações da sua opção vocacional;
fazer experiência comunitária e apostólica, e refletir seriamente sobre a vida e a missão
salesiana;
verificar a idoneidade necessária para começar o noviciado;
decidir de modo consciente, e livre das pressões externas e internas;
assumir uma atitude formativa explícita e concreta.
O tempo do pré-noviciado permite, igualmente, à Congregação avaliar se o candidato é
idôneo e maduro para entrar no noviciado.
333. A vida e a missão salesiana exigem habitualmente resistência física e boa saúde, como
também capacidade de sacrifício e vida exigente. Por isso, o pré-noviço é formado para assumir um
cuidado razoável da própria saúde, disciplinando a alimentação e o sono, praticando ginástica e
esporte, habituando-se ao trabalho manual.
Durante o pré-noviciado devem ser verificadas as condições físicas e o bom estado de saúde
necessário para poder observar as Constituições da Sociedade. 475 Os oportunos exames médicos
também podem ser feitos antes da admissão à fase.
474
CG21 270 e R 88.
126
6.2.1.2 Conhecer-se e fazer-se conhecer
475
Cf. R 90.
476
PI 43
127
a prática continuada de um instrumento musical, a exercitação teatral e o cuidado com as
formas da expressividade juvenil favorecem também o desenvolvimento das capacidades
relacionais e apostólicas do pré-noviço.
337. O pré-noviço é fiel a seus deveres cotidianos e aprende a trabalhar com dedicação. Ama
o trabalho, é assíduo ao estudo, cumpre os serviços comunitários com disponibilidade, sacrifício e
constância, vendo neles ocasiões concretas de explicitar o seu amor à vocação. Aprende a usar bem
do tempo, a valorizar de maneira responsável os meios de comunicação de massa e as mídias
pessoais, a utilizar as qualidades recebidas de Deus e a fazer todos os dias opções motivadas e
orientadas ao dom gratuito de si.
A vida cristã deve levar desde o início da caminhada formativa à viva experiência de fé e à
profunda relação com o Senhor Jesus; essa relação é condição necessária para qualquer opção
vocacional; sem uma experiência pessoal, motivada e convicta, da vida cristã não é possível a
vocação da vida consagrada. A frouxidão atual da experiência de fé nos jovens e nas famílias exige
um verdadeiro caminho catecumenal que fundamente em bases sólidas a experiência cristã e,
portanto, a opção de vida consagrada.
339. Chamado a abraçar uma vida radicalmente centrada na pessoa de Cristo, o pré-noviço é
levado a viver com o Senhor um relacionamento pessoal e a fundamentar solidamente sua vida
cristã, concentrando-se em alguns aspectos e experiências, típicos, de tal vida, sublinhando-os com
as características da Espiritualidade Juvenil Salesiana. Cultiva por isso:
uma sólida catequese, que inclui os fundamentos de uma formação bíblica, moral, espiritual
e litúrgica necessários para aprofundar sua fé e para descobrir a pessoa de Jesus Cristo, a missão da
Igreja, o plano divino da salvação e que é atenta à formação da consciência também por meio do
aprofundamento e do estudo dos critérios do agir moral cristão;
uma iniciação à vida sacramental e à devoção mariana: põe-se em atitude de escuta e de
resposta à Palavra de Deus, nutre-se à mesa da Eucaristia, aproxima-se regularmente do sacramento
128
da Reconciliação e descobre a presença materna de Maria em sua vida e na história de sua vocação,
entrega-se a ela e invoca-a por meio do Rosário; favorece também o crescimento na sua vocação
salesiana mediante a devoção a Dom Bosco;
uma iniciação à vida de oração: ele reza em grupo e em comunidade, exercita-se na oração
pessoal e aprende a partilhar as experiências de fé. Capacita-se pouco a pouco a ler os
acontecimentos de sua vida à luz do Evangelho e a ouvir a voz interior do Espírito; é iniciado
também na liturgia das horas e na “lectio divina” como elementos básicos da vida cristã e eclesial;
uma introdução à prática do acompanhamento espiritual e do colóquio com o diretor, que
são meios indispensáveis para o crescimento na vida espiritual.
340. Pondo-se o candidato perante o projeto de vida dos SDB, compreende que a missão
salesiana implica a vocação à comunidade.
Exercita-se, por isso, à vida de comunidade adquirindo suficiente capacidade para a
comunicação interpessoal, aceitando os outros e integrando a própria ação no projeto
comunitário, perdoando e superando as antipatias e os preconceitos. Cultiva o sentido da
amizade, assimila os traços do espírito de família, contribui para ele, e mostra uma atitude
prestimosa de serviço aos outros.
À medida que se insere em sua comunidade e na comunidade educativa, e se abre às
comunidades maiores da Inspetoria, da Congregação e da Família Salesiana, ele realiza uma
experiência de Igreja.
342. A vocação salesiana e a missão juvenil requerem uma sólida preparação intelectual.
Antes de iniciar esta fase, o pré-noviço já deve ter adquirido a “cultura geral de base que
corresponde à que geralmente se espera de um jovem que haja terminado uma escolaridade normal
no país”.477
No pré-noviciado a formação intelectual visa alcançar, de forma personalizada, os objetivos
específicos da fase. Sendo fundamental no pré-noviciado a dimensão humana e espiritual, é
necessário que, além do trabalho prático na forma de exercitações, colóquios, trabalhos de grupos,
treinamentos, haja também aulas, discussões, explicações, estudo pessoal, que ajudem a mudança
de mentalidade nos aspectos humanos e espirituais.
É preciso, portanto, que haja uma apresentação sistemática dos aspectos de relacionamento,
do processo de comunicação interpessoal, com os aspectos do conhecimento de si, do
amadurecimento emocional, afetivo e sexual, do celibato. É preciso, ainda, garantir a consolidação
da fé, tanto em nível afetivo quanto cognoscitivo, e do agir moral cristão mediante o estudo
profundo da doutrina moral cristã e da iniciação à Palavra de Deus, à oração e à liturgia.
O pré-noviço é introduzido na missão da Igreja, são-lhe apresentadas as suas diversas
vocações e, em particular, conhece a vida consagrada salesiana e as suas duas formas de salesiano
sacerdote e salesiano coadjutor. Estuda Dom Bosco, vendo nele um modelo de valores humanos e
cristãos; começa a conhecer e admirar a sua missão que continua hoje na Congregação espalhada
477
Ibid. 43.
129
pelo mundo todo; recebe encorajamento em sua vocação pela leitura e pelo estudo de algumas
grandes figuras de salesianos de ontem e de hoje.
Para esta fase formativa é indicado também um conjunto de estudos e experiências no campo
da comunicação social,478 com a finalidade de compreender melhor os atuais desafios culturais. É
preciso favorecer o estudo sério da música e a prática do teatro, de modo que possa ser continuado
com fruto também em seguida. O pré-noviciado deve garantir a aquisição de um método de estudo
adequado e, sobretudo do hábito ao estudo e à reflexão; a capacidade para os estudos posteriores;
onde for necessário, o domínio da língua em uso no noviciado,479 e onde for possível, o aprendizado
de outras línguas.
A formação intelectual precisa, por isso, de um programa especial e específico de estudos,
elaborado precisamente para alcançar os objetivos fundamentais desta fase; ela dificilmente deixa
espaço para outros estudos de peso. De modo particular nesta fase não se antecipem os estudos
filosóficos próprios do pós-noviciado; caso, porém as circunstâncias de uma Inspetoria exigissem
diversamente é preciso pedir autorização ao Reitor-Mor.
343. Enquanto por diferentes maneiras aperfeiçoa o conhecimento e o amor pela missão
salesiana em suas múltiplas expressões, empenhar-se-á o pré-noviço em experiências proporcionais
à sua preparação que se referem à finalidade evangelizadora da atividade salesiana.
São experiências educativas e pastorais significativas, de clara feição salesiana, como a
presença-assistência no meio dos jovens, especialmente os mais pobres, a colaboração na animação
de grupos juvenis e as atividades de catequese e de trabalho missionário.
Mediante tais experiências, experimenta o pré-noviço o Sistema Preventivo e a colaboração
com os leigos e com outros membros da Família Salesiana.
Para serem formativas essas experiências devem incluir elementos de reflexão e partilha da
ação; convém, portanto, que sejam programadas e revistas juntamente com o pré-noviço, dando
atenção aos objetivos e métodos.
478
Cf. DICASTÉRIOS PARA A FORMAÇÃO E PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL, Orientações para a formação
dos Salesianos em comunicação social. Conteúdos e metodologias para as várias formativas, Roma 2006, 5.
479
Cf. ibid.
130
isso facilita a continuidade entre as duas etapas e favorece a consistência da equipe dos formadores.
No caso de um elevado número de pré-noviços, é também possível que o pré-noviciado forme uma
comunidade autônoma, sendo necessário, porém, garantir boas possibilidades de apostolado
salesiano, quem sabe animado pela mesma comunidade salesiana ou por uma comunidade salesiana
próxima.
Em todo caso, o pré-noviciado deve oferecer a experiência real de uma comunidade salesiana
que vive intensamente os valores do carisma. Haja na comunidade um clima de apertura e
cordialidade, que leve à familiaridade e confiança. Ao mesmo tempo é preciso habituar os pré-
noviços ao estilo de vida um tanto exigente, garantindo que o ambiente seja simples e pobre, onde
se exija generosidade, trabalho e sacrifício, experimente-se o sentido de alegria e satisfação em não
ter nada além do necessário. Isso exige que a mesma comunidade salesiana dê testemunho desse
estilo de vida.
347. A admissão ao noviciado é feita pelo Inspetor baseado nos sinais positivos que
comprovam a aptidão do pré-noviço à vida salesiana:482
481
Cf. CGE 674.
482
Cf. R 90.
132
saúde suficiente;
cultura geral de base e dotes intelectuais idôneos para ser educador;
uma adequadamente vivenciada experiência de vida cristã e de apostolado;
existência de uma verdadeira atitude formativa assumida pelo pré-noviço;
capacidade de escolha por motivos autênticos e sentido de responsabilidade;
reta intenção;
capacidade de viver em comunidade, com obediência e generosidade, em espírito de fé;
propensão à vida simples, à iniciativa e à laboriosidade;
afetividade serena, e equilibrado e adequado desenvolvimento da capacidade de
relacionamento;
amor a Dom Bosco e à missão salesiana, bom relacionamento com os jovens, e preferência
pelos jovens pobres.
351. A admissão ao pré-noviciado é feita pelo Inspetor, a quem o candidato dirige o seu
pedido. Ele recolhe, em colaboração com os responsáveis do acompanhamento vocacional e com o
próprio candidato, aqueles dados e informações que podem fazer emergir os sinais de uma
verdadeira vocação salesiana e de suas eventuais contraindicações.
Para a admissão ao pré-noviciado, a opção e a idoneidade para a vida consagrada salesiana
sejam avaliadas em relação a “Critérios e normas”485 levando em conta o nível de maturidade da
pessoa e de suas possibilidades de desenvolvimento.
Ao fixar o início do pré-noviciado atente-se para o que o Código determina a respeito da
idade mínima para a admissão ao noviciado, isto é, os 17 (dezessete) anos486.
352. Antes ou durante o pré-noviciado é necessário que haja exame médico e exame
psicológico, que verifique a existência da base humana e os requisitos de idoneidade exigidos por
“Critérios e normas” para poder iniciar o itinerário formativo salesiano, respeitando-se,
entretanto quanto se dispõe no cânon 220. Os resultados do controle médico e do exame
psicológico podem ser comunicados pelo médico e pelo psicólogo ao Diretor do pré-noviciado e ao
Inspetor, se antes do controle médico e do exame psicológico o pré-noviço tiver dado o seu
483
C 132 §2, C 165 § 5.
484
CG21 270 e R 88.
485
Cf. Critérios e normas de discernimento vocacional salesiano. As admissões, Roma 2000.
486
Cf. Can. 643 § 1.1; 656.1; R 90.
133
consentimento por escrito, “na perspectiva do discernimento e no espírito da colaboração
necessária com os responsáveis do processo formativo” (CN 36). Tal consentimento deve ser
“prévio, explícito, informado e livre”. 487
Admissão ao noviciado
355. A admissão ao noviciado é feita pelo Inspetor com o consentimento do Conselho, ouvido
o parecer do Diretor da Comunidade com o seu Conselho.490 Os superiores, se o julgarem
oportuno, podem pedir informações, também sob segredo.491 O responsável dos pré-noviços tenha
um conhecimento adequado da família dos pré-noviços, a ser apresentado ao Inspetor.
487
CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, Orientamenti per l’utilizzo delle competenze psicologiche
nell’ammissione e nella formazione dei candidati al sacerdozio, Roma 29 giugno 2008, n. 12.
488
R 90.
489
Cf. Critérios e normas de discernimento vocacional salesiano. As admissões, n. 114-116.
490
C 108.
491
Cf. Can. 645 § 4.
492
Cf. CONGREGAZIONE PER L’EDUCAZIONE CATTOLICA, L’ammissione al seminario di candidati provenienti
da altri seminari o famiglie religiose, Roma 1996.
493
Trata-se das certidões de batismo e de crisma, e dos “outros documentos requeridos segundo as disposições da Ratio
de formação sacerdotal” (can. 241 § 2)
494
Cf. RFIS 39.
495
Can. 241 § 3.
496
Cf. can. 220
134
CAPÍTULO SÉTIMO
O NOVICIADO
497
Cf. C 110. Veja-se proposta de celebração para o início do noviciado no Rituale della professione religiosa, Società
di San Francesco di Sales, Roma 1989, cap. I, L'ammissione alla vita religiosa.
498
Can. 646
135
É importante que o mestre e a equipe formadora abram “espaços” de responsabilidade e
de liberdade, a fim de que o noviço se possa medir a si mesmo, à sua autonomia pessoal e à sua
capacidade de colaboração, e tenha possibilidade de refletir sobre as opções feitas.
361. A formação tende a purificar e consolidar a atração inicial por Dom Bosco e pela
vida salesiana, e a torná-la real mediante um processo de assimilação do carisma salesiano
expresso nas Constituições.
O noviço é guiado a uma experiência espiritual que se concentra num modo original de
ser e de operar, e se exprime em atitudes características: uma forte sensibilidade pela missão
salesiana entre os jovens pobres, um estilo particular de oração e de vida fraterna em
comunidade, numa palavra, um modo peculiar de viver a consagração.
362. O noviço aprofunda a particular experiência de Deus feita por Dom Bosco, verifica
as motivações que o impelem a abraçar a vida consagrada salesiana e aprende a manter o
equilíbrio entre a tensão ideal e a situação concreta da comunidade. Entra em contato profundo
e sério com as fontes da experiência carismática.
Prepara-se para fazer parte da Congregação, cultiva a comunhão com a sua Inspetoria e
se abre à realidade da Família Salesiana. Por meio do conhecimento de sua história e da
informação a respeito dos seus acontecimentos mais significativos, toma consciência da
diversidade das vocações na Família Salesiana e vai assim crescendo em sua pertença a ela.
499
Cf. C 196
500
VC 109
501
Cf. C 22
136
7.2.2.3 A experiência de vida fraterna
364. O noviciado oferece clima e ambiente de recolhimento que favorece o diálogo com
Deus. Assegura também orientações apropriadas, tempo e regularidade, conhecimento das
diferentes modalidades de oração. Apresenta-se deste modo como verdadeira escola de
iniciação à oração. Grande auxílio encontra o noviço quando a comunidade do noviciado tem
um programa de oração bem conduzido, oração feita com simplicidade, dinamismo e alegria, e
quando também lhe oferecem diferentes possibilidades de rezar, em pequenos grupos até, com
os jovens e com os leigos.
Durante o noviciado, o noviço é educado:
a amar a Palavra de Deus e pôr-se à sua escuta;
a compreender e amar a liturgia como oração de Cristo e da Igreja, e como caminho de
vida espiritual;
a viver a Eucaristia como ato central cotidiano de sua vida e da comunidade salesiana,
“vivido como uma festa em liturgia viva”,505 a celebrar com regularidade e profundidade o
Sacramento da Reconciliação, a descobrir a riqueza da Liturgia das Horas e a rezar com os
salmos da Igreja;
a exercitar-se na oração pessoal e a sentir a sua necessidade como um autêntico respiro
da alma; é importante que o noviço adquira o hábito da meditação, hábito que o deverá
acompanhar por toda a vida;
a aprender a caminhar pessoalmente na vida espiritual.
Este caminho de oração ajuda-o a viver em “união com Deus” e a santificar as atividades
de cada dia. Passa assim o noviço de um ritmo de oração ao espírito de oração, que lhe engloba
toda a existência e fá-la tornar-se vida no Espírito.
365. “Os estudos durante o noviciado se façam com seriedade, segundo um programa
definido na organização geral dos estudos; tenham como objetivo principal a iniciação ao
502
Cf. R 85
503
Cf. C 50
504
Cf. C 52
505
C 88
137
mistério de Cristo, para que o noviço, no contato com a Palavra de Deus, desenvolva mais
profunda vida de fé e um conhecimento amoroso de Deus. Aprofunde-se também a teologia da
vida religiosa e se estudem as Constituições, a vida de Dom Bosco e a nossa tradição”.506
Apresentar-se-ão os aspectos significativos da história da Congregação, uma visão da Família
Salesiana e do Movimento Salesiano.
O estudo ajuda o noviço a iluminar sua fé, a compreender a vocação salesiana, a
fundamentar as convicções, a crescer na direção da completa doação de si507 e a sustentar os
comportamentos e as opções. O programa de estudos previsto tende a reforçar este caminho de
amadurecimento espiritual e tem, como centro, o estudo das Constituições.
Fomenta-se durante o noviciado a leitura de autores de espiritualidade e favorece-se o
estudo das línguas, especialmente das que são requeridas pela situação da Inspetoria, e da
língua italiana. Esta permanece elemento de comunicação para a Congregação, para o
conhecimento das fontes e a leitura dos documentos, para os contatos com os superiores e para
os encontros internacionais.
506
R 91
507
Cf. C 110
508
R 89
138
7.3 ALGUMAS CONDIÇÕES FORMATIVAS
369. “O mestre dos noviços é o guia espiritual que coordena e anima toda a ação
formadora do noviciado”.511 O noviço desde o início do noviciado “se coloca sob a direção do
mestre”,512 abre-lhe com confiança e simplicidade o coração, assume uma clara disposição
formativa e colabora com responsabilidade.
É tarefa principal do mestre dos noviços, assistido pelos outros formadores, fazer do
noviciado uma verdadeira comunidade educativa, que acompanha cada noviço numa
experiência formativa personalizada e salesianamente identificada e que vive segundo o estilo e
o espírito do Sistema Preventivo, aberta à realidade salesiana inspetorial.
As conferências, as boas noites, o colóquio pessoal regular, os encontros de programação,
avaliação e partilha são alguns dos meios à sua disposição.
370. O mestre possui capacidade de diálogo e bondade nos contatos, de modo a inspirar
confiança; demostra apego a Dom Bosco e à Congregação, zelo apostólico, capacidade de
trabalhar em equipe e de criar clima de família.
Favorece a corresponsabilidade entre os formadores que dão uma contribuição particular
segundo o próprio papel e são envolvidos no discernimento e nas decisões. Cuida do
relacionamento com os responsáveis do pré-noviciado e do pós-noviciado.
509
C 110
510
Cf. R 89
511
C 112
512
C 111
139
Adapta-se à situação de cada noviço, fazendo o possível para conhecer seu ambiente, a
educação recebida na família e a experiência de vida precedente. Deixa espaço suficiente para
que os noviços se exprimam com espontaneidade e sabe discernir com profundidade.
372. O noviço é admitido à primeira profissão pelo Inspetor com o consentimento do seu
Conselho, ouvido o parecer do Diretor da comunidade com seu Conselho.515
A profissão religiosa sanciona publicamente o início do pacto de aliança que Deus, a
Igreja e a comunidade estabelecem com o novo consagrado.
É Deus que consagra e o noviço responde oferecendo-se todo inteiro a Ele na vida
salesiana. A comunidade reconhece-o capaz de viver tal vocação e o acolhe como irmão.
Em sua experiência, estabeleceu a Igreja um período de profissão temporária em que o
religioso aprofunda o amadurecimento e a verificação de suas capacidades concretas baseando-
se no carisma vivido, a fim de poder chegar a uma escolha livre, responsável e definitiva.
513
Const. 45.
514
Const. 45.
515
Cf. C 108
140
O candidato, acolhendo de todo o coração as disposições da Igreja, emite a profissão
temporária, mas com a intenção de doar-se completamente por toda a vida, porque sabe que
“não se entrega a vida a Cristo 'para tentar’”.516
373. “Para ser válido o noviciado deve ser feito numa casa devidamente designada para
isso”.517 Compete ao Reitor-Mor com o consentimento de seu Conselho erigir ou suprimir a
casa de noviciado, aprovar a sua transferência ou a colocação junto a outra comunidade
apropriada.518 Estes atos devem ser feitos canonicamente, isto é, por decreto escrito.
375. O Inspetor sob cuja jurisdição se põe a casa de noviciado “pode permitir que o
grupo de noviços, em determinados períodos de tempo, more em outra casa do Instituto por
ele mesmo designada”.521 Se a casa escolhida pertencer a outra Inspetoria, deverá haver o
acordo com o Inspetor competente. Especifica-se:
a designação da casa deve ser feita por escrito;
junto com os noviços devem estar também o mestre e os formadores;
o período de tempo deve ser claramente determinado no decreto;
a casa religiosa deve ser unicamente salesiana e canonicamente ereta.522
376. Um candidato pode fazer o noviciado em outra casa com as seguintes condições:
em casos particulares e por exceção, apenas por concessão do Reitor-Mor com o
consentimento do seu Conselho;
sob a direção de um salesiano experiente que faça as vezes do mestre, nomeado pelo
Inspetor com o consentimento do seu Conselho e aprovado vez por vez pelo mesmo Reitor-
Mor;523
em uma casa salesiana canonicamente ereta.
516
PI 55
517
Can. 647 § 2; Cf. C 111
518
Cf. C 132 §1.3; can. 647 § 1
519
R 89
520
Cf. R 86; can. 652 § 5
521
Can. 647 § 3
522
Cf. ib.
523
Cf. C 111. 165 § 3; cân. 647 § 2
141
reconduzido”.524 A aprovação do Reitor-Mor é necessária: tanto para o primeiro triênio
quanto para os demais.525
378. Nas casas de noviciado destinadas exclusivamente a tal escopo, é oportuno que o
mestre seja também Diretor. Nos outros casos – seja ele Diretor ou não –, o Inspetor garantirá
que as condições em que o mestre trabalha sejam as mais apropriadas para levar a termo as
finalidades do noviciado.526
Seja a equipe dos formadores consistente tanto pelo número quanto pela qualidade.
Zele-se pela diversidade dos papéis e dos personagens; em particular, faça-se o possível para
que haja entre os formadores também salesianos coadjutores.
379. “De acordo com o direito, o noviciado dura doze meses. Começa quando o
candidato, admitido pelo Inspetor, entra na casa do noviciado, erigida canonicamente, e se
coloca sob a direção do mestre. Uma ausência superior a três meses, contínuos ou
descontínuos, torna-o inválido. Uma ausência superior a quinze dias deve ser recuperada”.527
Para a cômputo do tempo é preciso remeter-se a quanto dispõe o CDC.528
380. Em casos especiais o Inspetor pode prolongar o noviciado, não, porém, por mais de
seis meses, de acordo com o cânon 653”.529
384. O mestre, com o Conselho da comunidade, faça a cada três meses uma avaliação
atenta do amadurecimento vocacional de cada noviço. Os noviços sejam educados a fazer um
524
C 112; Cf. cân. 651 § 1
525
Cf. ACS 276 p. 76 (it.)
526
Ib.
527
C 111; Cf. Elementi giuridici e prassi amministrativa nel governo dell'Ispettoria. Roma 1987 55-56; si citerá
Elementi giuridici
528
Cf. cân. 201§ 1; 202 § 2; 203 § 1.3
529
R 93
530
R 92
531
Cf. precedentes nn. 198-199. 202-204
532
Cf. R 86; ACS 276, p. 81 (it.)
533
Cf. ACS 276, p. 77 (it.)
534
R 91
142
constante discernimento, a fim de compreenderem a vontade de Deus e purificarem as próprias
motivações.
O noviço também faça com o mestre o discernimento sobre as duas formas da vocação
consagrada salesiana, servindo-se especialmente de “Critérios e normas”, números 84-87.
Antes do pedido de admissão à profissão, cada noviço esclareça a própria orientação
vocacional de salesiano coadjutor ou de salesiano presbítero/diácono permanente. Tal
orientação vocacional deverá ser definitiva, para todos, antes da formação específica após o
tirocínio ou antes da profissão perpétua, caso esta preceda a formação específica.535 A fim de
favorecer o correto discernimento e dar relevo à vocação consagrada salesiana, se houver o
costume de entregar a veste talar durante o noviciado, isso seja transferido para o seu término.
A profissão
386. O pedido para a primeira profissão, respeitando-se embora a forma pessoal própria
de cada um, contenha os seguintes elementos comuns:
conhecimento do ato público que se pretende fazer;
intenção de empenhar-se por toda a vida;
liberdade para se fazer tal ato;538
referência ao discernimento feito e ao pedido de parecer ao diretor espiritual e ao
confessor;
indicação da orientação para a vocação específica de salesiano presbítero ou
salesiano coadjutor.
388. As condições para a validade da profissão temporária estão contidas no cânon 656:
dezoito anos completos;542
535
Afirma-se em “Critérios e normas”, n. 7: “É bom que a opção vocacional seja clara já com a primeira profissão e, de
qualquer forma, antes do início da formação específica e da profissão perpétua”.
536
R 93; can. 653 § 1
537
Cf. R 90; can. 653 § 1.2
538
Cf. C 108
539
Cf. R 93; cân. 653 § 2
540
C 108; Cf. cân. 657 § 1
541
Cf. CGE 697b
542
Cf. cân. 656 § 1
143
noviciado válido;
admissão feita livremente;
profissão expressa publicamente em total liberdade; o caráter público exige a
presença do superior legítimo ou de um seu delegado, que recebe a profissão em nome da
Igreja, segundo o cânon 1192 § 1, e de duas testemunhas para a prova jurídica de sua
emissão;
recepção pessoal por parte do legítimo superior ou de um seu delegado.
“Observem-se cuidadosamente todas as disposições do direito referentes às condições de
validade e aos prazos da profissão”.543
392. A renovação da profissão temporária realiza-se após decorrer o tempo para o qual
foi feita.548 A data precisa do tempo findo é o dia seguinte àquele em que foi feita.
A renovação deve ser celebrada “sem nenhuma solenidade particular”,549 embora com a
consciência do compromisso que importa.
393. O hábito que portam os futuros sacerdotes é o que se conforma com as disposições
das Igrejas particulares dos países em que residem. Valem tais disposições também para o
tempo que determinam para o início de seu uso
Os salesianos coadjutores e, antes da vestidura clerical, os candidatos às ordens
sagradas zelarão por trajar-se com a simplicidade e dignidade que Dom Bosco aconselhava.550
394. Compete ao Inspetor com seu Conselho readmitir na Congregação quem a tenha
deixado legitimamente no final do noviciado ou depois da profissão. Quem for readmitido
deverá repetir o noviciado e cumprir o período dos votos temporários
543
PI 57; Cf. can. 655-657
544
Cf. O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco, pp. 613-614
545
Cf. C 117
546
C 113
547
Cf. PI 56; Congregação para o Culto Divino, Ordo profissionis religiosae 5, nota 24. Para a celebração da profissão
temporária e perpétua, ver Rituale della professione religiosa, Società di San Francesco di Sales, Roma 1989
548
Cf. can. 657 § 1; Elementi giuridici e prassi amministrativa nel governo dell'Ispettoria, Roma 1987; ISM, App. 64
549
PI 56
550
Cf. C 62
144
Segundo o cânon 690, o Reitor-Mor com o consentimento do seu Conselho pode
dispensar da obrigação de repetir o noviciado, dando ao mesmo tempo ao Inspetor com seu
Conselho faculdade de readmitir
Cabe ao Reitor-Mor estabelecer – nestes casos – um conveniente período de prova antes
da profissão temporária e a duração dos votos temporários antes da profissão perpétua.551
O Inspetor, avaliadas com seu Conselho as motivações do pedido de readmissão,
apresentará a solicitação ao Reitor-Mor, com uma relação pormenorizada do caso (currículo
detalhado do requerente, motivos pelos quais não fez a profissão ou decidiu sair depois da
profissão e agora pede para ser aceito, etc.).552
551
Cf. cân. 690 § 1
552
Cf. Elementi giuridici, 70-71; ISM App.70-71
553
Cf. Lettera del Vicario del Rettor Maggiore D. G. Scrivo agli Ispettori, 20.1.1985. Prot. 85/64; Cf. Elementi
giuridici, 91
145
CAPÍTULO OITAVO
O PÓS-NOVICIADO
396. “A primeira profissão abre um período de vida consagrada durante o qual o irmão,
apoiado pela comunidade e por um guia espiritual, completa o processo de amadurecimento em
vista da profissão perpétua e desenvolve, como salesiano leigo ou como aspirante ao
sacerdócio, os diversos aspectos de sua vocação”.554
Como primeiro tempo deste período da profissão temporária, o pós-noviciado é “uma fase
de amadurecimento religioso que continua a experiência formativa do noviciado”, evitando uma
brusca mudança de estilo de vida e uma queda de tensão no crescimento vocacional, “e prepara
o tirocínio”.555
É um momento delicado e importante. O irmão, vivendo com alegria e fidelidade os
compromissos assumidos com a primeira profissão, radica-se na identidade salesiana mediante a
interiorização e o aprofundamento de seus diferentes aspectos.
Estabelecem as Constituições que ele seja ajudado a “integrar progressivamente fé, cultura
e vida” mediante “o aprofundamento da vida de fé e do espírito de Dom Bosco, e uma adequada
preparação filosófica, pedagógica e catequética em diálogo com a cultura”.556
554
C 113
555
CfrCf. C 114
556
C 114
146
As dimensões da formação são integradas e harmonizadas numa síntese: inspira-a o
princípio unificador do carisma salesiano.
Dado que salesianos, clérigos e leigos, participam da única vocação, a formação do pós-
noviciado prevê “um currículo de nível paritário”.557 Entretanto, o programa de estudos pode
ser diferenciado, porque os clérigos, visto como se preparam ao sacerdócio, devem submeter-se
às disposições da Igreja.
399. O pós-noviciado é um tempo em que o irmão zela de modo concreto pela integração
de sua personalidade com os elementos da vida consagrada salesiana. Introduz o processo de
seu amadurecimento pessoal no cotidiano fluxo de vida da comunidade, integrando o sentido de
liberdade e responsabilidade pessoal com o sentido de pertença à comunidade e ao projeto
comum. Cultiva, pois, a serenidade de ânimo, presta-se para os serviços domésticos, aceita a
todos indistintamente e dá a sua contribuição para a animação.
Na comunidade vive com regularidade no cumprimento do próprio dever, na dedicação ao
estudo, cultivando o sentido da disciplina, a comunicação, o diálogo e o confronto, a
programação do próprio tempo, o uso sensato dos meios de comunicação social
557
C 104
147
Perante, pois, as perguntas da cultura hodierna e da missão salesiana, o pós-noviciado
oferece um programa original que harmoniza as disciplinas filosóficas com as ciências humanas
e da educação numa síntese aberta às propostas da fé.
Na orientação dos estudos se cuida de modo especial da inculturação na perspectiva e nos
conteúdos, prestando particular atenção ao estudo dos escritos, das tradições, da antropologia e
da história do povo e descobrindo neles autênticos valores culturais, como a religiosidade, o
sentido de Deus, a hospitalidade, o amor à vida, e a solidariedade.
Ao longo deste caminho intelectual vai o irmão adquirindo um quadro mental claro e
coerente com suas opções, o qual lhe permite formar-se uma visão de vida pessoal, sólida e
aberta. Habilita-se a um sério relacionamento com a cultura, com o mundo juvenil, com os
problemas educativos, com a vida cristã. Adquire o gosto pelo trabalho intelectual sério,
consolida o método de estudo, adquire capacidade de refletir, objetividade no julgar e sentido
crítico.
8.2.3.1 Os estudos
402. Segundo o nosso direito, a organização dos estudos do pós-noviciado prevê “uma
adequada preparação filosófica, pedagógica e catequética em diálogo com a cultura”558 e uma
“iniciação teológica”.559 “Pode-se ainda começar ou continuar a formação técnico-científica ou
profissional, tendo em vista uma qualificação específica”.560
558
C 114
559
R 95
560
IbidIb..
561
CfrCf. RFIS 71
148
8.2.3.1.3 O mistério cristão e a educação da fé
405. A fé, que está na base da síntese vital a que se pretende educar durante esta fase,
exige que seja consolidada por meio do aprofundamento do mistério cristão e da sua
comunicação na catequese.
Tais estudos, porém, não se devem identificar com o currículo institucional de teologia,
próprio da formação específica do presbítero. Sua configuração é mais bem de iniciação
sintética e sapiencial, vinculada a uma visão positiva da história da salvação, dirigida a uma
habilitação catequética e preocupada diretamente com o fortalecimento e a iluminação do
crescimento pessoal na experiência da fé.
407. “Durante os anos de formação inicial, os estudos sejam estruturados de modo a tornar
possível, onde as condições o permitam, a obtenção de títulos de estudo com valor legal”,562
dizem os nossos Regulamentos.
Em não poucas Inspetorias o programa de estudos do pós-noviciado, oportunamente
integrado e prolongado, goza de reconhecimento oficial e leva, por isso, à consecução de títulos
acadêmicos oficialmente reconhecidos. É um passo positivo, quando se pode unir a fidelidade
aos objetivos formativos e à caracterização da formação intelectual salesiana com uma
preparação profissional reconhecida.
É preciso, porém, em todos os casos salvaguardar a originalidade salesiana dos estudos
desta fase.
Fazer coincidir, ainda que parcialmente, o programa comum de estudos do pós-noviciado
com o empenho em outros estudos requer atenta avaliação e respeito para com as exigências
formativas.
562
R 83
149
408. Os estudos do pós-noviciado têm presente as características próprias da vocação do
salesiano coadjutor.563
Dada a importância da filosofia para a formação à vida religiosa e para a preparação de um
educador dos jovens, também o salesiano coadjutor se lhe dedica ao estudo, em modo e medida
mais condizente com sua vocação específica.
O programa de estudos inclui também a preparação pedagógica, os elementos pastorais e
catequéticos, e uma educação sócio-política que leve primeiramente em conta o ensinamento
social da Igreja e prepare para uma específica ação educativa no mundo.
É, por isso, necessário que em nível inspetorial, e mesmo interinspetorial, exista para os
coadjutores um “currículo formativo sério, mas flexível e adaptável, quer à natureza própria das
diversas tarefas, quer às possibilidades concretas [dos candidatos]”.564
410. O salesiano adquire as atitudes requeridas por sua vocação de educador-pastor, antes
de tudo por meio do esforço progressivo de integrar fé e vida, fé e cultura.
O estudo, a reflexão comunitária e a direção espiritual habilitam-no a uma leitura cristã da
história e da cultura, a uma visão inteligente dos acontecimentos da Igreja e do mundo, dos
conteúdos e linguagens juvenis e da comunicação social.
Educa-se ele assim ao “sentido apostólico” como alma da atividade cotidiana, cultivando o
conhecimento e a compreensão do mundo dos jovens.
Vive seu compromisso no estudo como amor aos jovens, cujo serviço requer competência
e profissionalismo.
563
CfrCf. O Salesiano Coadjutor, p. 155-159
564
CG21 301
150
aprender a trabalhar em equipe, reconhecendo os diferentes papéis e respeitando-os com
sentido de co-responsabilidade;
habituar-se ao acompanhamento e à avaliação pastoral;
aprofundar o conhecimento e o contato com a vida pastoral da Inspetoria.
8.3.1 O ambiente
414. A comunidade formadora pode ter o seu próprio centro de estudos, como no caso do
estudantado. Mas pode também frequentar um centro de estudos externo, salesiano ou não
salesiano.
O delicado processo de síntese cultural e religiosa desta fase requer a cuidadosa
organização e escolha de um centro de estudos com programação de conteúdos aptos ao
desenvolvimento vocacional. Devem-se, por isso, privilegiar os centros de estudos salesianos,
frequentemente em nível interinspetorial,567 que se propõem como objetivo sublinhar melhor o
565
CfrCf. CG21 303
566
C 103
567
CfrCf. CG21 283
151
relacionamento entre filosofia e ciências da educação, e integrar tais conteúdos com os
tipicamente salesianos, tendo em vista a unidade vocacional.568
Diferentes razões, como as exigências de uma particular situação eclesial, o reduzido
número de irmãos, a escassez de formadores ou outras dificuldades – como a distância de um
centro salesiano – podem aconselhar a opção por um centro de estudos não salesiano.
Permanece, porém, o empenho de garantir o tempo, os programas, os professores e os
formadores que zelem pelos aspectos essenciais e originais desta fase, como, por exemplo, a
integração e o completamento dos estudos do ponto de vista salesiano: as ciências da educação,
a pedagogia, a catequética, as disciplinas salesianas.
8.3.2 Os formadores
416. Os formadores são chamados a ser homens espirituais, de profundo sentido salesiano,
capazes de diálogo porque competentes e informados sobre os problemas que os irmãos
estudam.
A delicadeza e a importância desta fase requerem da Inspetoria um esforço assíduo para
integrar a equipe com irmãos culturalmente abertos e qualificados, especialmente para a
direção espiritual, o ensino, a organização da vida comunitária, o trabalho pastoral, a animação
litúrgica e musical dos tempos de oração.
Julga-se particularmente importante a presença de salesianos coadjutores na equipe do
pós-noviciado, “não só com funções de formação cultural e técnica, mas sobretudo com
empenhos de formação para a vida religiosa e salesiana”.570
417. O Diretor continua a ação do mestre de noviciado. Com sabedoria e bom senso ele
anima o ambiente e o caminho da comunidade, acompanha e ajuda os pós-noviços particularmente
mediante o acompanhamento pessoal e o colóquio, a direção espiritual de consciência e as
conferências periódicas. Favorece em cada um a consciência vocacional, o aprofundamento das
motivações da vida consagrada salesiana laical ou presbiteral, a participação e a responsabilidade
formativa.
Sob a responsabilidade também do Inspetor, ele acompanha o pós-noviço coadjutor na
realização do discernimento sobre a profissão em que se sente chamado a desenvolver os seus dons
e capacidades, como resposta às necessidades da Inspetoria, a fim de poder realizar, garantidos os
568
CfrCf. CG21 247
569
CG21 245b
570
CfrCf. CG21 305
152
estudos filosóficos e pedagógicos, um período apropriado de “estudos de natureza técnico-científica
ou profissional”,571 em vista da qualificação profissional.
Mediante revisões periódicas, comunitárias e pessoais, os formadores avaliam, estimulam e
orientam o processo formativo.
Os docentes têm grande influxo nesta fase. Eles são chamados a oferecer um quadro de
referência sólido e convincente e desenvolver o conhecimento “sapiencial”, a formação do espírito
crítico na leitura da realidade e a capacidade de síntese.
É importante valorizar a contribuição dos leigos e dos membros da Família Salesiana para a
formação dos pós-noviços. Faça-se com que a sua contribuição seja qualificada.
419. “Logo depois do noviciado todos os irmãos devem continuar, pelo menos por um
biênio, a sua formação em comunidades formadoras”.573
422. Durante esta fase não se confiem aos irmãos em formação encargos que lhes
desviem o empenho e causem obstáculos à consecução dos objetivos.576
571
Cf. FSDB 409.
572
CfrCf. ACS 276, p. 83-84 (it.)
573
R 95; Cf..r cân. 659 § 1
574
CfrCf. C 113
575
CfrCf. R 78
576
CfrCf. can. 660 § 2
153
Assegurados o desenvolvimento e a assimilação deste núcleo e as outras condições
formativas, “pode-se ainda começar ou continuar a formação técnico-científica ou profissional,
tendo em vista uma qualificação específica”.577
424. O Inspetor com seu Conselho, por meio da Comissão inspetorial para a formação,
programe com particular cuidado os diversos elementos do currículo formativo do salesiano
coadjutor, inserindo-os no Projeto inspetorial de formação.
425. A duração dos estudos filosóficos e pedagógicos para o salesiano coadjutor durante
o pós-noviciado deve ser ao menos de dois anos. A fim de favorecer também um tempo
adequado para a qualificação profissional não é conveniente, ordinariamente, que ele
prolongue os estudos filosóficos e pedagógicos do pós-noviciado por mais de três anos.
427. Sejam os estudos de tal forma estruturados que se possa conseguir o seu
reconhecimento oficial e a obtenção de títulos de estudo com valor legal,579 “onde as
condições o permitam”580 e isso não se torne incompatível com as exigências formativas da
fase. Em caso de real incompatibilidade, ainda que se tratasse de qualificar jovens irmãos para
os seus préstimos no tirocínio, deve-se dar a precedência absoluta às exigências da experiência
formativa e aos estudos próprios do pós-noviciado.581
577
R 95
578
CfrCf. CG21 283; Cf..r precedentes n. 168, 170, 178
579
CfrCf. PC 18; CG21 440
580
R 83
581
CfrCf. CG21 440. Quanto a outros estudos durante esta fase, Cf.r. precedentes 182-183
154
CAPÍTULO NONO
O TIROCÍNIO
428. “Em toda a formação inicial, juntamente com o estudo, dá-se importância às atividades
pastorais da nossa missão.
Fase de confronto vital e intenso com a ação salesiana numa experiência educativo-pastoral é
o tirocínio. Durante esse tempo, o jovem irmão exercita-se na prática do Sistema Preventivo e em
particular na assistência salesiana.
Acompanhado pelo diretor e pela comunidade, realiza a síntese pessoal entre sua atividade e
os valores da vocação”.582
É esta, do ponto de vista salesiano, a fase mais característica da formação inicial, o modelo
em que se apoia a experiência que Dom Bosco viveu com os jovens do primeiro Oratório.
429. A intenção e a perspectiva formativa são prioritárias no tirocínio, que tem como primeira
finalidade a formação do irmão. São dois os objetivos do tirocínio:
o amadurecimento na vocação salesiana: o irmão, exercitando-se na missão e no espírito do
Sistema Preventivo, desenvolve as suas atitudes e a sua responsabilidade583 e visa a realizar uma
“síntese pessoal entre a sua atividade e os valores da vocação”.584
a avaliação da idoneidade vocacional de acordo com a experiência pessoal e comunitária
da missão salesiana, com vistas à profissão perpétua.
430. No tirocínio é privilegiada a dimensão educativo-pastoral, que por sua vez estimula e
enriquece de novos conteúdos as outras dimensões.
582
C 115
583
Cf. CG21 285
584
C 115
155
empenha-se na comunidade com espírito de colaboração e de corresponsabilidade; aprende
a refletir, a planejar, a organizar e a verificar adquirindo uma mentalidade de projeto, traz à
comunidade a contribuição específica do seu dinamismo juvenil.
156
434. Enviado a uma comunidade, o tirocinante assume a sua missão e o seu projeto segundo a
realidade específica da obra, e insere-se nela conforme o encargo e as tarefas que lhe são
atribuídos.
Aprende a trabalhar junto como membro da comunidade, com uma visão integral da Pastoral
Juvenil Salesiana, em sintonia com o projeto inspetorial.
Nos diversos ambientes em que se encontra, desenvolve sua capacidade de assistência, de
animação, e de educação, e exercita-se na comunicação e no ensino.
435. Movido pela predileção pelos jovens, especialmente pelos mais pobres, ele se sente
contente de ficar com eles e de animá-los tanto individualmente como em grupo. Esforça-se por
criar um ambiente de alegria, espontaneidade e amizade, unindo firmeza e bondade. Estando
vizinho às novas gerações, sabe entusiasmá-las,585 testemunhando os valores da sua vocação de
consagrado e desfruta essa experiência.
Tendo sempre presente o horizonte do seu ser clérigo ou leigo, vive o impulso apostólico no
espírito do “da mihi animas”. Procura o crescimento integral dos seus jovens dando uma dinâmica
educativa e evangelizadora à sua presença entre eles. Torna-se educador da fé,586 em todos os
ambientes: a escola, o pátio, a oficina.
Colabora na animação da oração da comunidade e dos jovens.
Valoriza os contatos com os membros da Família Salesiana e com os leigos colaboradores.
Trabalha com eles em equipe e com espírito de serviço e de animação. Cresce no sentido de
pertença à Congregação e à Família Salesiana. Aprecia as diversas formas de participação no
carisma salesiano e adquire maior consciência em relação à própria vocação de salesiano
consagrado.
9.3.1. A comunidade
436. Importa antes do mais que o tirocinante seja enviado a uma comunidade que esteja
capacitada a oferecer-lhe as condições para uma experiência válida e frutuosa.
Ela o acolhe cordialmente, envolve-o na sua vida e missão, e sente-se corresponsável pelo
compromisso formativo desta fase.
Em particular, a comunidade garante ao tirocinante “um trabalho pastoral proporcionado à sua
preparação e às suas forças”587 dentro do projeto comunitário. Ao mesmo tempo, faz com que o
trabalho do tirocinante não fique limitado a um único tipo de atividade, a fim de que ele possa dar-
se conta das diversas expressões da missão. Dá-lhe um espaço decisório real.
Acompanha-o fraternalmente com compreensão e encorajamento, particularmente quando o
ano de tirocínio coincide com a preparação para a profissão perpétua.
Assiste-o na avaliação das próprias experiências e na realização da “síntese pessoal entre a
sua atividade e os valores da vocação”,588 sempre atenta ao seu ritmo de crescimento. Oferece-lhe
sugestões e correções quando necessárias, e mediante o Conselho exprime o seu juízo, de modo
especial no momento dos escrutínios trimestrais e das eventuais admissões.
585
Cf. C 46
586
Cf. C 34
587
CG21 287
588
C 115
157
437. A experiência do tirocínio, pela mudança de situações, pela realidade comunitária e pela
imersão no trabalho educativo-pastoral, exige particular atenção para garantir um acompanhamento
válido.
É indispensável que o tirocinante tenha uma guia formativa iluminada e competente, que a
Congregação lhe oferece, ordinariamente, na pessoa do Diretor.
Quem acompanha tem consciência de que o tirocinante está fazendo a primeira experiência de
plena inserção na missão da comunidade e que o ambiente da comunidade apostólica é um tanto
diferente, por composição, ritmo de vida e tipo de compromissos, do da comunidade formadora da
qual ele provém.
9.3.3. O Inspetor
158
440. “O tirocínio dura ordinariamente dois anos e é feito antes da profissão perpétua, numa
comunidade que apresente os requisitos exigidos para a validade dessa experiência”.589 O
advérbio ‘ordinariamente’ indica que uma duração inferior ou superior aos dois anos deve ser
considerada extraordinária e para cada caso.
O escopo formativo próprio do tirocínio deve ser o primeiro critério para a escolha da
comunidade; ela deve garantir as condições formativas exigidas, de modo particular o
acompanhamento adequado, pelo qual o Diretor é o primeiro responsável.
443. O Inspetor procure ter um contato pessoal com os tirocinantes. Pode fazer-se ajudar
nessa tarefa por algum irmão qualificado.
444. Os escrutínios trimestrais dos tirocinantes sejam feitos pelo Conselho da casa. 591 São
uma ajuda para o tirocinante e demonstram a responsabilidade formativa do Conselho, que avalia
a experiência educativa pastoral e a progressiva maturação do irmão. O resultado dos escrutínios
deve ser posto por escrito, com prudência e clareza, a fim de favorecer a continuidade do
discernimento e do acompanhamento formativo.
Ao fim do tirocínio faça-se uma avaliação global da experiência por parte do Inspetor, da
comunidade e do irmão.
589
R 96
590
Cf. CGS 696; CG21 285
591
Cf. CG21 289
592
CG21 289
159
CAPÍTULO DÉCIMO
A FORMAÇÃO ESPECÍFICA
448. O momento da formação específica, visto no contexto da opção definitiva pela vida
salesiana, oferece-se ao salesiano coadjutor como oportunidade de:
um tempo de avaliação e integração do caminho vocacional e formativo percorrido;
um tempo de reafirmação da própria identidade, vivida na complementaridade com o
sacerdote, e das próprias motivações;
um tempo de reflexão, de estudo e de qualificação no âmbito cristão-teológico-pastoral e da
vida consagrada salesiana;
um tempo de consolidação de uma atitude e de uma pedagogia de formação permanente.
593
C 116
594
Cf. RFIS
595
C 116; Cf. Il Salesiano Coadiutore, Postirocinio, pág. 202-206.
596
Cf. VC 65.68
160
449. Dada a situação concreta, e em particular o número normalmente reduzido de irmãos
para esta fase e cada Inspetoria, diversas são as modalidades da sua realização. Em todo o caso, é
preciso garantir que seja uma experiência integral e comunitária. Ela deve durar pelo menos um
ano.
Para ajudar a avaliação, o aprofundamento e o complemento da formação destacam-se alguns
valores e atitudes específicos em cada uma das quatro dimensões, que se devem ter presentes neste
período.
452. A formação específica oferece ao salesiano coadjutor uma formação intelectual sólida e
atualizada. Ela abrange “uma séria formação teológica, pedagógica e salesiana”598 a serviço da
experiência vocacional e da missão, e reforça o hábito de unir a reflexão com o próprio trabalho.
Essa formação é especificada no projeto inspetorial de formação.
597
Cf. C 95.
598
R 98
599
C 116
161
de evangelização e catequese entre a juventude, especialmente a operária, e na relação com os
leigos.
Entre as diversas matérias que fazem parte deste programa teológico não deveriam faltar os
temas atuais de moral cristã, a teologia da vida consagrada, aprofundamentos bíblicos e litúrgicos,
elementos de teologia pastoral e catequese e a doutrina social da Igreja.
No que diz respeito ao grau de conhecimento teológico nos coadjutores, ele deve ser
“proporcionado ao grau de cultura que eles alcançaram nos outros setores de estudo e de
qualificação”.600
455. Em linha com a dimensão laical da sua vocação, o salesiano coadjutor é devidamente
preparado, pelo estudo e pela reflexão, para sua inserção no mundo complexo do trabalho, da
técnica e da economia e contato com as situações sociais e políticas.
600
CGE 688
601
C 116
162
10.3. ALGUMAS CONDIÇÕES FORMATIVAS
458. Mesmo estruturando-se em formas diversas, a experiência formativa não pode limitar-se
a oferecer ao salesiano coadjutor a possibilidade de frequentar alguns cursos de índole teológico-
pastoral. Deve tratar-se de uma proposta formativa orgânica e adequada ao escopo que lhe é
próprio.
A qualidade dessa experiência formativa exige que se garantam algumas condições concretas
também onde, por causa do número diminuto ou por outras razões, não é possível oferecer uma
solução estrutural estável (casa, comunidade, centro e programa de estudos).
É importante considerar:
o contexto salesiano;
o ambiente comunitário;
a programação, a animação e o acompanhamento da experiência;
um programa específico de estudos e de reflexão.
a avaliação da experiência salesiana vivida;
o serviço dos formadores responsáveis.
Para garantir essas condições é indispensável a colaboração responsável e perseverante das
Inspetorias neste campo, no qual já existem experiências positivas.
602
C 116
603
VIGANÒ E., “O que vivamente nos interessa é o sacerdote do ano 2000”, ACG 335 (1990). Pag. 22 (it.)
163
sentir com a Igreja:604 assumir a identidade do sacerdote como é apresentada pela Igreja e
na relação com a comunidade cristã (leigos, outras vocações...); colaborar na realização da missão
segundo o carisma salesiano; agir em comunhão com o Papa e os Bispos;
crescer na consciência de que o ministério presbiteral é uma dimensão específica da sua
vocação salesiana e é caracterizado por ela: pelo aspecto juvenil e educativo, pela índole
comunitária, e pelo compromisso de ser padre sempre e em toda a parte605 na diversidade de
atividades, obras e funções;
desenvolver uma sensibilidade própria do espírito salesiano pela dimensão catequética,
vocacional e mariana no exercício do ministério sacerdotal.
amadurecer uma atitude de discernimento espiritual e pastoral diante de pessoas e eventos,
para poder orientar e acompanhar cada pessoa e as comunidades;
adquirir uma formação teológica e pastoral sólida e atualizada, em sintonia com as
orientações da Igreja e da Congregação;
fazer experiência do ministério próprio do leitorado e do acolitado, do diaconato e do
presbiterado, no contexto da comunidade local e inspetorial;
educar-se numa pedagogia de vida que prepare para viver em atitude de formação
permanente.
461. A experiência formativa sacerdotal, que deve conservar toda a amplitude de vista do
sacerdócio universal e a unidade com o presbitério local,606 é feita na perspectiva salesiana e
acontece por graus e etapas progressivas, que compreendem a outorga e o exercício dos
ministérios do leitorado e do acolitado e a outorga e o exercício da ordem do diaconato.
Em algumas Inspetorias ela coincide em parte com o período de preparação para a profissão
perpétua.
Chamado a ser, como Dom Bosco, sinal-instrumento de Cristo Pastor a serviço dos jovens, o
futuro presbítero ou diácono cultiva uma fé forte e viva, centrada na pessoa de Jesus Cristo, Chefe
da Igreja, sumo sacerdote e mediador.
De Cristo aprende e atinge a caridade pastoral que está na base de toda a sua vida e da sua
formação, e que se expressa naquela compaixão e naquele amor que o leva a dedicar-se plenamente
à missão.
Vive e expressa essa caridade como ministro da Palavra, dos sacramentos e no serviço da
caridade.
Movido pelo “da mihi animas”, vê cada pessoa e cada acontecimento com ótica pastoral e se
empenha com sentido comunitário “em múltiplos serviços pedagógico-pastorais a fim de fazer
chegar aos destinatários a capacidade de viver a liturgia da própria vida incorporando-a na
Eucaristia de Cristo”.607
604
Cf. PI 24
605
Cf. CG21 294
606
Cf. MuR 36; PO 8.10
607
Cf. VIGANÒ E., “O que vivamente nos interessa é o sacerdote do ano 2000”, ACG 335 (1990), pag. 35 (it.)
164
462. Consciente de que a eficácia do ministério presbiteral depende muito da maturidade
pessoal e do bom relacionamento com os outros, o futuro sacerdote esforça-se por refletir, na
medida do possível, a perfeição humana que vê brilhar em Jesus Cristo e admira em Dom Bosco.
Demonstra, pois, grande sentido de responsabilidade, afetividade madura e serena, equilíbrio
e prudência no avaliar e julgar, sinceridade de coração e respeito pela justiça.
Cultiva em si as qualidades humanas que o tornam amável e, por isso mais crível, como
simpatia, afabilidade, lealdade, fidelidade à palavra dada, respeito pelas pessoas e abertura às ideias
dos outros, reserva e discrição.
Desenvolve os dotes que facilitam o encontro com as pessoas, como a humildade, a gentileza
do trato, a confiança, a escuta, a empatia, a compreensão e a caridade na conversação
Aprimora um relacionamento fraterno de complementaridade na missão com o salesiano
coadjutor.
Aprende a reconhecer os limites que deve ter nas relações pastorais e no seu envolvimento na
vida das pessoas. Cultiva uma relação pastoral positiva, equilibrada e prudente com a mulher.
Cultiva uma profunda sensibilidade pelos mais pobres e por quem sofre.
464. A sua configuração a Cristo manifesta-se também pela identificação com a Igreja. Ele é
chamado a ser homem da Igreja.
Ama a Igreja, contemplando sua realidade na fé e vivendo em comunhão de mente e coração
com os pastores. Cultiva o ardor pastoral e missionário e dá sua contribuição pessoal à edificação da
Igreja. Santifica-a com sua vida santa. Faz da Liturgia das Horas, em cuja celebração comprometeu-
se solenemente,610 o alimento da oração pessoal e a expressão do sentido eclesial.
608
PDV 21
609
Fl 2,5
610
Cf. PAULO VI, Carta Apostólica Ad pascendum, VIII, 1972,
165
Esse amor pela Igreja torna-se efetivo no compromisso de viver a relação com a Igreja local,
com o bispo, com os sacerdotes, com os religiosos e os leigos, apreciando e promovendo “a unidade
da comunidade eclesial na harmonia das diversas vocações, carismas e serviços”.611
466. A formação intelectual do salesiano presbítero tem como objetivo a aquisição por parte
do candidato de uma ampla e sólida preparação nas ciências sagradas, de um sólido enraizamento
na “salesianidade” e de uma cultura geral proporcionada às necessidades dos nossos tempos, que
permita habilitar-se ao diálogo e discernimento pastoral e habilitar-se para anunciar
convenientemente a mensagem evangélica aos jovens de hoje, de inseri-lo na sua cultura, de
orientar e construir a comunidade cristã.614
Os estudos são integrados num caminho espiritual marcado pela experiência pessoal de
Deus. Assim o candidato ao sacerdócio vai além de uma pura ciência limitada às noções; põe sólido
fundamento e nutre a própria fé, chega à sabedoria ou inteligência do coração, e habitua-se à
reflexão, ao estudo e à partilha como atitude de formação permanente.
467. A formação intelectual nesse período exige tempo e grande dedicação, amor e espírito de
sacrifício. É fruto de uma contribuição interdisciplinar e de uma metodologia que envolve
ativamente.
O rigor científico dos estudos será equilibrado com seu destino pastoral,615 enfrentando os
problemas pastorais de hoje, especialmente os desafios da evangelização das culturas e da
inculturação do Evangelho. Inspirada nas orientações eclesiais, essa tarefa implica uma inteligente e
responsável contextualização da reflexão.
Os estudos devem habilitar a comunicar a fé aos jovens em sua situação sociocultural e a
iluminar e guiar-lhes a vida espiritual. Ao mesmo tempo, continua muito verdadeiro que somente
um estudo sério contribui para uma sólida formação do pastor de almas como mestre da fé e
habilita-o a anunciar a mensagem evangélica com eficácia de maneira mais condizente com a
cultura hodierna.
611
PDV 16
612
PDV 49
613
PDV 28
614
Cf. RFIS 59
615
Cf. PDV 55
166
468. O estudo da teologia tende a fazer com que o candidato ao presbiterado adquira uma
visão orgânica das verdades reveladas por Deus em Jesus Cristo e da experiência de fé da Igreja.
Por um lado, ela se dirige ao sacerdote, chamado a crer, viver e comunicar a fé e o ethos
cristãos: de aí, o estudo da dogmática, da teologia moral, da teologia espiritual, do direito canônico
e da teologia pastoral.
A referência ao homem crente exige que se enfrente a questão da relação fé-razão – por isso,
o estudo da teologia fundamental – tratando da revelação cristã e da sua transmissão na Igreja. E
procura dar respostas aos problemas conexos com a situação social e cultural: para tanto, o estudo
da doutrina social da Igreja, da missiologia, do ecumenismo, das religiões não-cristãs616 e das
expressões da religiosidade.
O importante é que todos esses aspectos da teologia convirjam harmonicamente na visão da
história da salvação que se realiza na vida da Igreja e nos acontecimentos do mundo.617
Não se deve descurar a formação no campo da comunicação social, que oferece um quadro de
referência sobre a teologia da comunicação, o magistério da Igreja, os valores éticos e as
problemáticas pastorais conexas com as culturas juvenis, e habilita o futuro sacerdote ou diácono à
capacidade de comunicação na homilética, nas práxis litúrgica, na pastoral, na catequese e no
serviço ministerial em geral. O conhecimento dos instrumentos, e conjuntamente dos estilos, dos
códigos e das linguagens dos modernos meios de comunicação, ajudá-lo-ão a anunciar o
Evangelho, tornando a mensagem mais compreensível ao homem contemporâneo.
616
Cf. PDV 54
617
Cf. RFIS 77
167
471. Para ser servidor da Palavra, no contexto da nova evangelização e diante dos desafios
culturais, o futuro presbítero ou diácono:
qualifica-se, pelo estudo e pela meditação, para anunciar e testemunhar a Palavra de Deus,
em sintonia com a “mens” da Igreja e tendo sempre presente a relação entre fé e cultura;
aprende a arte da pregação, especialmente a homilética, e a arte da comunicação social em
função da evangelização, com especial atenção a alguns âmbitos como o primeiro anúncio, a
educação da fé na catequese, o diálogo ecumênico e o diálogo inter-religioso;
torna-se mais idôneo para o acompanhamento e o crescimento espiritual das pessoas,
especialmente no campo juvenil e no âmbito da Família Salesiana;
618
Cf. PAULO VI, Carta Apostólica, Ministeria quaedam, V, 1972.
168
Assim sendo, o exercício do acolitado destaca a participação na celebração da Eucaristia e o
serviço litúrgico nos seus diversos aspectos.
Para os candidatos às ordens sagradas, o exercício gradual do ministério da Palavra e do altar
tem uma finalidade predominantemente pedagógica, à proporção que os torna mais conscientes de
sua vocação e os ajuda a ser fervorosos no espírito e prontos no servir o Senhor nos fiéis.619
10.5.4.2.2 O diaconato
619
Cf. PAULO VI, Carta Apostólica Ad Pascendum, Introdução, 1972
169
o envolvimento de todos no empenho formativo, superando atitudes de reação ou de
individualismo, agindo de forma motivada com liberdade madura, aceitando serenamente o serviço
da autoridade e as diversas mediações;
o estudo assumido com seriedade e a importância dada à reflexão pessoal e participada,
espiritualidade presbiteral e cultivando uma atitude e um ritmo pessoal de oração.
a orientação da vida de oração com estilo salesiano e com qualidade, sublinhando a
espiritualidade presbiteral e cultivando uma atitude e um ritmo pessoal de oração;
o sentido de fraternidade mediante a partilha da própria experiência, o discernimento
comunitário à luz da Palavra, o caminhar juntos na conversão e na correção fraterna, o confronto
sincero e compreensivo;
a oferta e a prática do acompanhamento pessoal e da direção espiritual;
um forte impulso pastoral expresso conforme as características dessa fase, evitando dois
perigos: que o estilo de vida da comunidade esteja muito distante dos interesses pastorais salesianos
ou de tal modo inserido numa ação concreta que já não ofereça aos candidatos tempo suficiente para
o estudo, para a vida comunitária e a oração;
o sentido de união com a Inspetoria, com a Congregação e a Família Salesiana, e a sintonia
com a Igreja e com as orientações dos Pastores.
Dar-se-á seriedade às admissões ao diaconato e ao presbiterado, procurando fazer cuidadoso
processo de discernimento e de co-responsabilidade de todos aqueles que intervêm, a começar pelo
candidato.
478. É parte do ambiente formativo dessa fase o “centro de estudos” – salesiano ou não
salesiano – que contribui para amadurecer a mentalidade, os critérios e a qualificação pastoral,
comunicando de fato uma imagem do sacerdote e do ministério que incide na identidade
vocacional, na visão da missão e na espiritualidade.620 Sua orientação deve ser coerente com o
projeto formativo global.
O centro salesiano – que deve ser preferido – torna possível uma orientação dos estudos
voltada para a perspectiva salesiana e os conteúdos específicos que dela derivam.
Não basta que a comunidade formadora garanta a dimensão salesiana por seu estilo de vida
espiritual e fraterna, de empenho apostólico e de estudos, mas é necessário completar o programa
das matérias “salesianas”, justamente para oferecer uma base sólida à vocação e ao ministério do
futuro sacerdote ou diácono.
480. É responsabilidade das Inspetorias garantir aos irmãos coadjutores, depois do tirocínio,
a formação específica e a preparação profissional, previstas pelas Constituições e pelos
Regulamentos gerais: “A formação específica no âmbito intelectual consiste numa adequada
preparação teológica, pedagógica e salesiana segundo a própria vocação específica. Após a
formação específica, pode-se prever um possível novo empenho de especialização, para completar a
qualificação profissional iniciada preferivelmente antes do tirocínio”.622
620
Cf. PDV 67
621
Cf. C 116
622
Cf. Reg. 98.
170
481. A vocação do salesiano coadjutor é um dom do Senhor que deve ser cuidado e cultivado
pelo irmão e pela comunidade. Nesta perspectiva, o pedido de um salesiano coadjutor para iniciar
o currículo formativo em vista do diaconato permanente ou do presbiterado deve ser tratado com
especial discernimento, com a consideração e as reservas que merece uma mudança de opção
vocacional.
No caso de um salesiano coadjutor professo temporário, a decisão será tomada pelo Inspetor
com o seu Conselho, segundo o processo que ele entender oportuno.
No caso de um salesiano coadjutor professo perpétuo, o pedido deve ser endereçado ao
Reitor-Mor, com a aprovação prévia do Inspetor com o seu Conselho. Antes do pedido ao Reitor-
Mor, deve-se garantir um processo sério e responsável no interior da Inspetoria:
o salesiano coadjutor requerente inicia o processo de discernimento com o guia espiritual;
se o discernimento com o guia espiritual for concluído com a indicação da mudança de opção
vocacional, ele se dirige ao Inspetor;
o Inspetor com o seu Conselho procede à aprovação ou não do pedido, avaliando a história
vocacional e as motivações surgidas, o parecer do Diretor da comunidade, estudando se o irmão
demonstra sinais claros da vocação ao diaconato permanente ou presbiterado salesiano,
individualizando, enfim, o que de novo aconteceu para determinar essa mudança; no caso de
aprovação pelo Inspetor e o seu Conselho, o Inspetor encaminha toda a documentação ao Reitor-
Mor, a quem cabe a decisão final..
482. A formação específica do irmão clérigo exige de cada candidato a orientação clara para
a vida sacerdotal. Por isso, no momento da sua aceitação para essa fase formativa, exige-se do
irmão uma declaração de intenção nesse sentido. As modalidades para tal declaração podem ser
várias: por exemplo, pelo pedido ao Inspetor para iniciar os estudos teológicos ou o pedido para
iniciar a preparação da profissão perpétua na linha do presbiterado salesiano.
484. Os estudos teológicos devem durar quatro anos.625 Nas faculdades onde ao triênio
institucional segue-se a inscrição a um biênio de licença em ciências eclesiásticas, o quarto ano de
teologia é substituído por esse biênio.626
485. “Haja uma séria formação teológica pastoral mediante os estudos prescritos pela
Igreja”.627 Sejam eles “ordenados e desenvolvidos segundo a nossa específica intencionalidade
vocacional. Cuide-se de modo particular dos estudos de salesianidade com referência explícita à
figura de Dom Bosco padre”.628
623
C 116
624
R 97; Cf. CG21 295.44
625
CEC, La formazione teologica dei futuri sacerdoti; CG21 295
626
Cf. Sapientia christiana art. 72-74
627
CG21 295
628
Ibid
171
486. Os estudos teológicos dever ser feitos com seriedade, de preferência em centros
salesianos.629 Quando não for possível a frequência de um centro salesiano, privilegie-se o centro
não salesiano capaz de contribuir melhor para a formação de um padre ou diácono educador
pastor. Para a escolha do centro tenham-se presentes os critérios anteriormente apontados.630
487. Os irmãos devem enfrentar os estudos teológicos com a “necessária preparação tanto
literária como filosófica”.631 Estejam capacitados a acessar as fontes da reflexão teológica (a
Sagrada Escritura, os documentos do Magistério, as obras dos Padres da Igreja e os grandes
Teólogos).
Para tanto deve-se favorecer um suficiente conhecimento do latim, e pelo menos para os que
se orientam para os graus acadêmicos, das línguas bíblicas.632
488. No fim dos estudos teológicos e, para os futuros presbíteros ordinariamente antes da
ordenação sacerdotal, haja um exame de “síntese” ou de bacharelado.633
629
R 97
630
Veja atrás o n. 178
631
CEC, La formazione teologica dei futuri sacerddotiI 129
632
Cf. Ibid 130
633
Cf. Sapientia christiana art. 72
634
Cf. CGE 684-686
635
Cf. C 55.70; R 49.79.175
636
Cf. ACS 293 26
637
PAULO VI, Carta Apostólica, 1972, Ad Pascendum II
638
Cf. cân 1035 § 2
172
conferir o leitorado e o acolitado sem que entre eles intercorra pelo menos o espaço de
alguns meses é ilícito e irregular e faz perder o sentido pedagógico dos próprios ministérios. Assim
também uma proximidade muito estreita entre o acolitado e o diaconato.639
496. Se um diácono, terminado o currículo formativo normal, pedir mais tempo antes de
apresentar o pedido para ser ordenado presbítero, esclareçam-se os motivos do pedido e
estabeleçam-se os objetivos, a duração e as condições formativas da experiência.
639
Cf. ACS 293, pág. 36; CEC-FS, pág 16
640
Cf. Critérios e normas; também o n. 301
641
Cf. ACG 312, pág. 46
642
Cf. ACG 312, pág. 46-47
643
ACG 312, pág. 47
644
Cf. Sapientia christiana art. 72-74
173
498. A preparação dos diáconos permanentes atenha-se, em princípio, às disposições da
Igreja local onde irão exercer seu ministério.645 Eles eventualmente manterão referência às
comunidades formadoras e aos centros salesianos de estudo do lugar.
645
Cf. ACS 267, pág. 54
646
PAULO VI, Carta Apostólica Sacrum diaconatus ordinam (1967) 34
174
CAPÍTULO ONZE
650
Cf. C 195
176
11.3 ALGUMAS CONDIÇÕES FORMATIVAS
507. Sendo tal preparação um dos tempos fortes de todo o processo formativo, a Igreja exige
que seja um período de particular intensidade espiritual.651
A preparação traduz-se por vezes num itinerário de um ano ou de vários meses, vivido no
empenho ordinário de tirocínio ou de formação específica, orientado por propostas concretas,
marcado por momentos particulares, pessoais ou de grupo, oportunamente acompanhado pela
comunidade local e apoiado pela comunidade inspetorial. Pode ser disposto e completado em
tempos escalonados ao longo do ano (por ex., no início do período, durante o percurso e nas
proximidades da profissão), de modo, porém, que se não percam a continuidade e a eficácia da
preparação.
509. Essa é uma das situações em que a colaboração entre diversas Inspetorias pode
manifestar-se na organização de iniciativas e tempos particulares e pode proporcionar à experiência
formativa maior qualidade pela consistência comunitária e numérica, pela possibilidade de escolher
monitores válidos e pela partilha de experiências e métodos.
510. “A profissão perpétua se faz ordinariamente seis anos depois da primeira profissão.
Todavia, se julgar oportuno, o inspetor pode prolongar esse tempo, mas não além de nove anos”.652
A oportunidade de prolongar a profissão temporária deve resultar de um juízo prudencial, baseado
em motivos razoáveis e adequados.
651
Cf. PI 64
652
C 117
653
Cf. can. 657 § 1; C 117
654
Cf. can 657 § 3
177
profissão; dando-se a aceitação, não se limita a preparar a celebração. No período de preparação
para a profissão perpétua feita pelos salesianos clérigos e salesianos coadjutores dê-se cuidadosa
atenção ao discernimento sobre as duas formas, ministerial e laical, da vocação salesiana, em vista
da opção definitiva. O mesmo discernimento cuidadoso deve ser feito antes do início da formação
específica, caso ela preceda a profissão perpétua. Tal discernimento seja feito, além de pelo
formando, também pelo Inspetor com o seu Conselho.
515. O professo temporário, por volta de um ano antes de terminar o prazo da profissão,
manifeste explicitamente ao Inspetor, na forma que se julgar mais oportuna, sua vontade de iniciar
a preparação para a profissão perpétua.
516. Na preparação para a profissão perpétua dê-se particular atenção à dimensão litúrgica
da consagração religiosa, valorizando os diversos elementos fornecidos pelo Rito.
A celebração litúrgica da profissão perpétua tenha uma solenidade que a distinga claramente
da primeira profissão e das sucessivas renovações. Observem-se os elementos próprios do Ritual
com as adaptações nele previstas.655
517. “O sócio faz a profissão perpétua quando atingiu a maturidade espiritual salesiana
exigida pela importância de tal opção”.656 No seu pedido ele deve manifestar:
a plena consciência do ato definitivo que realiza;
a total liberdade ao realizá-lo;
a vontade expressa de continuar na vida salesiana já iniciada;
a referência ao diálogo mantido com o Diretor e à sua anuência para a apresentação;
a menção ao discernimento feito e ao pedido de parecer ao diretor espiritual e ao
confessor.
519. “Quando um religioso de votos perpétuos pede para passar do seu Instituto à nossa
Sociedade, faça um período de prova de três anos pelo menos numa de nossas comunidades a fim
de assimilar o nosso espírito. Terminada a prova, pode apresentar o pedido e, se for aceito, faz a
profissão perpétua segundo o direito”.657
655
Cf. Ordo Professionis Religiosae, Premissas 5. 14c; para a celebração salesiana., ver Ritual da profissão religiosa,
Sociedade de São Francisco de Sales, Roma 1989
656
C 117
657
R 94, Cf. can. 684
178
CAPÍTULO DOZE
A FORMAÇÃO PERMANENTE
658
VC 70
659
CG23 90
660
Cf. CG21 310
661
PI 68
662
C 119
179
Num nível mais amplo – inspetorial, interinspetorial ou eclesial – recebe estímulo e apoio
mediante propostas e iniciativas ordinárias e extraordinárias de renovação espiritual e pastoral ou
de atualização.
523. Sujeito de formação permanente é antes do mais a pessoa do salesiano. Nada pode
substituir-se ao seu empenho livre e convicto. Ninguém pode percorrer por ele o itinerário da
renovação. “Cada salesiano – dizem as Constituições – assume a responsabilidade da própria
formação”.663
Finalidade da formação permanente é fazer com que o salesiano viva a vocação com
maturidade e alegria, com fidelidade criativa, e com capacidade de renovação, como resposta
permanente ao Senhor e aos desafios da missão. Tal atitude exprime-se na capacidade de
discernimento e reflexão, no empenho por um caminho espiritual constantemente cultivado e por
um estilo de vida que garanta a qualidade da experiência, e na busca de qualificação para cumprir a
missão com competência profissional e para animar numerosas forças apostólicas.
525. A formação permanente mantém vivo “um processo geral e integral de contínuo
amadurecimento, mediante o aprofundamento de cada uma das dimensões da formação... a partir
da caridade pastoral e em referência a ela”.665 Ela se vale de métodos adequados a pessoas adultas,
métodos que partem de sua experiência e das situações concretas de vida.
663
C 99
664
Cf. CG21 311
665
PDV 71
666
Cf. VC 71
180
bondade, a promoção da dignidade de cada pessoa tornam-se para eles uma experiência deveras
original, um válido “testemunho”.667
A realidade evolutiva da pessoa exige atenção, nas diversas fases da vida, aos aspectos
biofísicos e psicológicos, mediante a iluminação e o acompanhamento pessoal e comunitário.
527. O salesiano cultiva a vida espiritual como experiência de Deus no relacionamento com
os jovens, no olhar de fé sobre os acontecimentos e no discernimento; consciente de ser mediador
da sua presença e da sua atuação, experimenta a alegria de anunciar Jesus Cristo e seu Evangelho.
Aprofunda a sua via espiritual mediante a partilha comunitária da experiência de fé e da
missão. Junto com sua comunidade vive a presença de Espírito como “fonte permanente de graça e
apoio no esforço cotidiano para crescer no amor de Deus e dos homens”.668
Caminha segundo o itinerário espiritual que a Igreja lhe oferece e segundo o projeto de vida
consagrada que as Constituições propõem como pedagogia concreta de santidade. Valoriza os
momentos fortes, como os Exercícios Espirituais, e as ocasiões extraordinárias de renovação que
lhe são oferecidas.669
Cultiva a radicalidade da doação a Deus e a unidade de vida nele, evitando cair na dispersão e
na superficialidade. O diálogo filial com o Pai leva-o a unir trabalho e oração e a viver a união com
Deus nas atividades ordinárias e em qualquer situação.
667
Cf. CG23 292
668
C 25
669
Cf. C 91
670
Cf. PI 68
181
529. O salesiano é chamado a reavivar o dom da caridade pastoral recebido na sua profissão
religiosa, a fim de poder viver o trabalho educativo e de evangelização, a mística e a ascese da sua
plena doação a Deus e aos jovens, o impulso do Da mihi animas.
Escola de formação é antes de tudo o trabalho educativo-pastoral assumido e realizado como
projeto comunitário: ele é pensado, programado e avaliado em conjunto, partilhado numa
colaboração ampla e corresponsável na CEP, vivido como experiência espiritual e eclesial.
“A rede de relações promovidas por uma CEP viva e atuante – escreve o CG24 - é lugar de
intensa formação permanente e toca os aspectos humanos, pedagógicos e salesianos. Tais relações
transmitem mensagens, habilitam a novas linguagens, favorecem uma escuta mais atenta do mundo
e da cultura juvenil, especialmente quando a CEP promove o protagonismo juvenil”.671
Pelo recíproco dar e receber, o salesiano adquire uma compreensão renovada da sua
identidade vocacional, partilha a espiritualidade salesiana, atualiza suas competências, torna-se
capaz de animar um amplo ambiente educativo, de acompanhar grupos e orientar pessoas.
532. Os primeiros anos de inserção plena no trabalho pastoral assumem para o salesiano
sacerdote e coadjutor uma importância particular: oferecem novos estímulos, mas podem também
apresentar problemas.
A passagem de uma vida orientada e acompanhada – como a vivida nas comunidades
formadoras – à plena responsabilidade pessoal no trabalho apostólico implica geralmente uma
mudança de organização da existência, a adequação a um ritmo diferente de vida e trabalho, e exige
uma nova síntese vital.
671
CG24 55
672
C 119
673
VC 70
182
Surgem com maior força algumas necessidades, como a afirmação de si, a busca de
fecundidade, o incentivo à iniciativa pessoal e à criatividade. No confronto com a realidade
salesiana pode acometer o salesiano a tensão, a distância e a desproporção entre o que apreende e o
que encontra na vida concreta de todos os dias. Pode sentir-se incapaz diante de novos encargos e
responsabilidades.
535. A plena doação que o irmão demonstra e as funções e responsabilidades que assume
amadurecem nele um sentido de segurança e de confiança em si mesmo. Essa estabilidade torna-o
mais apto para um serviço competente em seu campo, mais sereno no exercício da autoridade, mais
capaz de compor conflitos e mais aberto aos outros, às suas necessidades e aspirações.
Todavia, com o passar dos anos, podem advir situações em que se experimenta a inadequação
diante da situação juvenil, ao defrontar-se com os novos contextos culturais e pastorais. Podem
surgir perguntas referentes à própria experiência na vida comunitária, ao campo da afetividade, ao
caminho espiritual, à fecundidade da doação.
Exige-se vigilância da parte do irmão para não cair no perigo de uma vida habitudinária, de
uma perda do impulso e do entusiasmo inicial, de um ativismo exagerado ou de um
“individualismo, acompanhado tanto pelo temor de não se adaptar aos tempos como por fenômenos
de enrijecimento, de fechamento, de relaxamento”.674
537. O prolongar-se da vida constitui um dom que se deve acolher e valorizar, uma
oportunidade que deve viver-se salesianamente, segundo as características da consagração
apostólica e do espírito que dá o tom a toda a nossa existência.677 Também para esse momento
vocacional temos como modelo e estímulo o nosso pai e fundador Dom Bosco na sua velhice e na
doença; ele não se fechou em si mesmo, mas manteve-se em constante contato com os jovens, cheio
de ardor pela missão e pelas missões, animador dos irmãos, totalmente entregue a Deus, preocupado
com os outros, consciente do valor apostólico da paciência e do sofrimento.
As condições pessoais em que se chega e se vive essa fase da vida são muito diversas, quanto
à saúde, à possibilidade de atividades e de serviço e de integração na comunidade.
538. É uma fase que apresenta dons que devem ser valorizados, riscos que se devem
enfrentar, riquezas que se devem partilhar. Podem emergir nesse período limites que devem ser
assumidos e manifestações menos positivas que devem ser superadas. Há quem, após anos de forte
identificação com uma função ou com a atividade profissional, forçado a diminuir seus trabalhos ou
a deixar determinadas tarefas, sente-se quase marginalizado, aceita com dificuldade o processo de
envelhecimento. Há quem, experimentando a inadequação diante das situações, mostra-se menos
disponível à mudança e tende a fechar-se.
Para quem se torna disponível, esse tempo abre a porta a novas manifestações de equilíbrio
pessoal, de fraternidade e de serviço. O irmão aprende a envelhecer serenamente, construindo uma
presença preciosa, mas diferente na comunidade, à qual continua a oferecer os grandes valores de
que é portador, como, por exemplo, a capacidade de reflexão, a sabedoria, o olhar sobre o que é
fundamental e outras características próprias dessa idade.
539. O salesiano idoso é ajudado a assumir a nova situação e a encarnar nela o sentido
profundo da sua vocação, consciente de que a vida consagrada conserva seu pleno significado em
todas as circunstâncias, como disponibilidade radical e contínua à vontade de Deus. Esforça-se por
viver plenamente integrado na comunidade fraterna e apostólica, oferece seus recursos de
testemunho e oração, de experiência, sabedoria e conselho. Procura um alimento espiritual e
pastoral adequado e a possibilidade de prestar as formas de serviço e apostolado de que ainda é
capaz.
E quando chega a hora da doença, do sofrimento ou da dependência também física ou a hora
suprema do encontro com Cristo, o salesiano é ajudado a viver até o último momento a fidelidade
à consagração e a fazer da sua vida um dom total, que o leva à união plena e definitiva com seu
Deus.
676
Cf. VC 70
Cf. VECCHI, L’anzianità: um’etá da valorizzare, ACG 337 (1991), p. 44-51 [rivedere questa citazione: mi
677
sembra degli Atti 377 (2001)] La lettera del 337 è di don Viganò sulla nuova educazione.
184
540. Não apenas as fases da vida, bastante previsíveis, mas também as circunstâncias
previstas e imprevistas formam o conteúdo concreto da experiência vocacional e da formação
permanente. Em qualquer idade podem surgir situações particulares ou momentos que exigem uma
nova referência aos valores e às motivações da nossa existência; podem advir de causas externas
(mudança de comunidade ou de trabalho, convite a novos encargos, insucessos, dificuldade da
comunidade) ou de causas internas (doença, problemas de relacionamento interpessoal, falta de
motivações, novos estímulos espirituais, aridez, crise de fé ou de identidade, ou também
aprofundamentos vocacionais, novos estímulos espirituais etc.).678
A caridade atenta dos irmãos e do Diretor intui esses momentos antes que seja tarde, e oferece
o apoio de uma maior confiança e do necessário acompanhamento.
O irmão procura e é ajudado a procurar o apoio qualificado de pessoas prudentes, que o
iluminam a compreender a situação e o amparam no discernimento do significado vocacional do
que está vivendo. O diretor e os irmãos, atentos à situação, manifestam com delicadeza e
oportunidade, nas formas mais adequadas, sua compreensão, seu apoio e o acompanhamento
oportuno.
Esses momentos, vividos em atitude formativa, podem transformar-se em ocasiões de
renovada entrega a Deus, de verdade interior e de integração no mistério da Páscoa.
678
Cf. VC 70. “I confratelli in difficoltà o ‘gravemente compromessi’” in ISM 390-395; v. também DSM 268
679
Cf. CG21 311
680
C 98
681
C 119
682
Cf. R 99
683
Cf. VECCHI J., Eu por vós estudo, ACG 361 (1997), pág. 29 (it.)
185
preocupa-se com o próprio caminho espiritual ou projeto de vida, segue com fidelidade as
indicações das Constituições, esmera-se na qualidade da oração, da meditação e da vida
sacramental, valoriza o acompanhamento e a reflexão pessoal, sabe ocupar-se em cultivar as fontes
da consagração e evitar o desgaste e a superficialidade;
valoriza os aspectos formativos do caminho cotidiano da sua comunidade e aproveita os
momentos extraordinários de formação permanente que lhe são propostos; na CEP e nos contatos
com a Família Salesiana mantém-se aberto às oportunidades de formação em conjunto;
procura desempenhar o próprio trabalho com a competência exigida pelas situações e pelos
tempos:684 tem consciência de que animar, educar e guiar no atual contexto cultural e religioso
significa tornar-se capaz de enfrentar os problemas da vida, da relação fé-cultura, do campo ético-
moral, da pedagogia espiritual e sacramental e da dimensão social;
procura com os superiores o campo de qualificação mais condizente com suas capacidades
pessoais e as necessidades da Inspetoria. Está sempre disponível a requalificações685 periódicas,
tanto em nível doutrinal como profissional, e aproveita as oportunidades que lhe são oferecidas em
dias de estudo, conferências, cursos, encontros pastorais e outras iniciativas formativas.
valorizar todos os tempos, meios e aspectos que a vida comunitária oferece para favorecer
a formação permanente:
os tempos de oração comunitária, como a meditação, a leitura espiritual, a boa-noite, os
retiros mensais e trimestrais; os momentos de avaliação, participação e co-responsabilidade
(entre os quais, em particular, o dia comunitário687);
a comunicação com a comunidade inspetorial e com a Congregação e o acolhimento dos
estímulos e das orientações que delas chegam;
a informação, as leituras, uma biblioteca atualizada;
684
Cf. C 119
685
Cf. R 100
686
C 99
687
Cf. CG23 222
186
garantir a formação em conjunto na comunidade educativo-pastoral mediante encontros
de reflexão, programação e avaliação e as iniciativas partilhadas com outros membros da Família
Salesiana;
oferecer a quem tiver necessidade a possibilidade de momentos ou programas específicos
de renovação e atualização (iniciativas, experiências, cursos, etc.).
688
R 175
689
Cf. R 173
690
Cf. CG24 172
187
São os encontros dos Diretores, das várias equipes inspetoriais e dos grupos de irmãos.
São enfim todas as iniciativas que educam a capacidade de discernimento, estimulam a
renovação metodológica, acompanham os animadores, qualificam sistematicamente o pessoal,
promovem o empenho para a constituição e a qualidade das equipes e dos centros, que podem dar
uma contribuição significativa à comunidade inspetorial”.
promover encontros:
das equipes inspetoriais, par criar convergências e preparar as pessoas para as funções que
devem desempenhar;
dos Diretores, dos formadores, dos animadores pastorais, dos ecônomos e de outros irmãos,
como ocasiões para aprofundar a identidade salesiana em suas dimensões educativas
pastorais.693 Em tais encontros, enquanto se tratam aspectos específicos também de caráter
administrativo e organizativo, está presente a preocupação com a vida religiosa e o progresso
espiritual e doutrinal dos salesianos;
691
CG23 223
692
CG24 145
693
Cf. R 101
694
CG21 332
188
promover a colaboração com outros grupos da Família Salesiana no campo da formação
permanente, mediante iniciativas extraordinárias ou uma ação sistemática e programada, que pode
ser proposta e animada por equipes integradas com membros dos diversos grupos;
manter a abertura às instâncias de renovação e qualificação oferecidas em nível eclesial,
dos Institutos de vida consagrada e nos setores próximos à nossa missão.
549. O Delegado para a formação, com a ajuda de Comissão inspetorial para a formação,
tem o encargo de:
sensibilizar os irmãos e as comunidades no respeitante à necessidade da formação
permanente;
coordenar as diversas iniciativas para dar continuidade à formação;
elaborar conteúdos e subsídios e organizar serviços apropriados: os exercícios espirituais
renovados, os dias e sessões de oração, os cursos longos de renovação, os encontros de atualização
por categorias, os encontros para o estudo dos documentos eclesiais e salesianos, as indicações
bibliográficas;
valorizar a contribuição para a formação permanente dos outros delegados e animadores:
manter contato com os delegados de outras Inspetorias e com o responsável da
coordenação em nível interinspetorial.
550. Algumas iniciativas para a animação da formação permanente num raio mais amplo são:
formas diversas de ligação entre as Inspetorias para trocar experiências, organizar
programas e iniciativas, elaborar subsídios, e apoiar o trabalho dos animadores;
em nível de Região, Grupo linguístico ou Conferências inspetoriais, constituir, segundo a
possibilidade e a conveniência, centros de formação permanente. Tais centros oferecem de várias
maneiras seu serviço às Inspetorias, às comunidades e a cada irmão, organizando, por exemplo,
cursos ou programas, preparando e distribuindo material para a animação das comunidades ou
promovendo a tradução de textos salesianos;
criar, em nível regional ou de Conferências inspetoriais, grupos de pessoas qualificadas para
estudos salesianos com possibilidade de serviços, publicações, seminários e cursos específicos de
atualização para irmãos em fase de formação permanente.
552. O salesiano, como primeiro responsável da própria formação,696 procura viver numa
atitude constante de resposta vocacional e de renovação: cuida de uma adequada pedagogia de
vida espiritual pessoal, faz do cotidiano o tempo privilegiado da formação, cultiva a atitude de
discernimento e torna-se capaz de aprender da vida;697 mantém-se atualizado e aberto aos
estímulos da Igreja e da situação particularmente dos jovens e dos ambientes populares; assume a
comunidade como o ambiente natural da sua experiência vocacional e partilha ativamente seu
caminho; vive a pertença à Inspetoria e à Congregação e acolhe as propostas e iniciativas que dela
provêm.
554. “As comunidades locais deverão programar a própria atividade de maneira a assegurar
aos irmãos a participação nos tempos de oração, reflexão em comum e também o tempo necessário
para uma atualização pessoal contínua”.698
559. A Comissão inspetorial para a formação colabora com o Inspetor e o seu Conselho na
animação do processo de formação permanente das comunidades e dos irmãos,705 e no programa
de formação junto com os leigos. A Comissão ofereça um roteiro de iniciativas de
acompanhamento formativo em conformidade com o projeto inspetorial de formação, atenta às
diversas situações dos irmãos, conforme as idades, a vocação específica, seus diversos papéis.
560. A partilha do espírito e da missão salesiana com os leigos exige uma válida formação
conjunta706 que encontra seu caminho privilegiado no correto funcionamento da CEP.707
O projeto inspetorial de formação inclua as linhas da formação conjunta de salesianos e
leigos; preveja experiências, conteúdos, responsáveis e tempos dedicados às atividades
formativas.708
704
Cf. C 161
705
Cf. CG21 322
706
Cf. CG24 138
707
Cf. CG24 43.144
708
Cf. CG24 145
709
CG21 323 ; cf. R 101
710
R 101
711
CG21 342
191
“A fidelidade ao compromisso assumido com a profissão religiosa é resposta sempre
renovada à Aliança especial que o Senhor fez conosco. A nossa perseverança se apoia totalmente na
fidelidade de Deus, que nos amou por primeiro, e é alimentada pela graça da sua consagração. É
ainda sustentada pelo amor aos jovens aos quais somos enviados, e se manifesta na gratidão para
com o Senhor pelos dons que a vida salesiana nos oferece” (Constituições art. 195).
ANEXOS*
Anexo n. 1
O Diretório inspetorial - seção formação
Anexo n. 2
O Projeto inspetorial de formação
Anexo n. 3
Linhas orientadoras para a organização dos estudos
Anexo n. 4
Documentos eclesiais e salesianos sobre a formação
* Os Anexos apresentam
o conteúdo do Diretório inspetorial – seção formação, pedidos pela Ratio;
as principais indicações referentes ao Projeto inspetorial de formação;
as linhas orientadoras para a organização dos estudos;
alguns documentos eclesiais e salesianos significativos para a formação.
ANEXO n. 1
1. Natureza do Diretório
1.3 Fazem parte do Diretório as deliberações capitulares que dizem respeito à formação de
caráter normativo estável, e são, por isso, incluídas no que se pode definir códice legislativo
particular da Inspetoria. Deve-se ter presente a diferença que há entre o que é matéria de lei, bem
precisa e aprovada, e as indicações de caminho ou de processos que a Inspetoria quer seguir, mas
que por sua natureza não têm o valor de uma norma jurídica estável.
2. Conteúdo do Diretório
567. De acordo com as indicações da Ratio e atendendo a quanto exige a realidade inspetorial,
o Diretório tem na “seção formação” as seguintes finalidades:
II. Estabelecer com que serviço, “com capacidade de atenção às diversas situações, de
reflexão, projetação e avaliação”, a Inspetoria garantirá “uma ação orgânica, programada e
coordenada no campo formativo”: o Inspetor com o seu Conselho, a Comissão inspetorial para a
formação ou outro serviço (FSDB 22).
193
IV. Determinar as instâncias para garantir a unidade e a continuidade do processo de
formação inicial (FSDB 280, 281, 314, 315, 317).
V. Indicar os critérios para garantir a continuidade da informação sobre a situação dos irmãos
em formação inicial, especialmente nos momentos de passagem de uma fase a outra ou de uma
comunidade a outra, para as avaliações trimestrais, para a conservação da documentação, para a
participação da comunidade na expressão de um parecer para as admissões (FSDB 296, 298).
Formação intelectual
IX. Estabelecer as orientações fundamentais para os estudos durante a formação inicial e para
a escolha dos centros de estudos e sua orientação, tendo presentes as normas da Congregação, as
exigências da missão e do contexto inspetorial (FSDB 157. 179-180).
Estudo da salesianidade
Qualificação e especialização
Formação permanente
XIII. Traçar os critérios para o Plano inspetorial de formação permanente a ser incluído no
Projeto inspetorial de formação, indicando opções, linhas operacionais nos diversos âmbitos, para
194
os diversos destinatários, para circunstâncias particulares (p. ex., diretores, “quinquênio”, sdb e
leigos, Família salesiana, etc.). (FSDB 556).
Pré-noviciado
XV. Determinar quanto se refere ao controle médico e psicológico pedido pela Ratio antes ou
durante o pré-noviciado (PSDB 352).
Noviciado
XVII. Estabelecer as opções inspetoriais para o noviciado: lugar, comunidade, equipe dos
formadores, estudos, experiências pastorais, modalidades de celebração da primeira profissão
(FSDB 358, 365, 367, 374, 375, 378, 382, 383, 391).
Pós-noviciado
XX. Cuidar que haja para os salesianos coadjutores um currículo formativo sério, mas flexível
e adaptável seja à natureza própria dos diversos encargos seja às possibilidades concretas dos
candidatos, que tenha presente a multiplicidade de possibilidades para viver na Congregação a
laicidade consagrada (FSDB 322, 424-425).
Tirocínio
570. XXI. Dar indicações para garantir as condições formativas do tirocínio em nível local e
inspetorial: tipo de comunidade, acompanhamento, iniciativas inspetoriais, subsídios, avaliações
(FSDB capítulo 9).
Formação específica
Profissão perpétua
195
XXIV. Apresentar os critérios, as opções e as condições para a elaboração do programa de
preparação para a profissão perpétua (FSDB 513). Especificar a forma de manifestação por parte do
candidato da intenção de iniciar a preparação para a profissão perpétua (FSDB 515).
Anexo n. 2
1. Planejamento da formação
2. O Diretório e o Projeto
713
A Ratio refere-se ao projeto inspetorial de formação e ao projeto da comunidade formadora local; recolhemos aqui as
principais indicações que dizem respeito ao Projeto inspetorial.
196
3. O Projeto inspetorial de formação
A formação deve situar-se nos diversos níveis de acordo com o projeto e ser vivida com
mentalidade de projeto (FSDB 211). É uma das linhas estratégicas de metodologia formativa
apresentadas pela Ratio (cfr FSDB cap. IV).
Cada Inspetoria deve ter um Projeto inspetorial de formação como plano geral de atuação
(FSDB 18.24). O Projeto exprime de forma concreta a mens e a práxis formativa da Inspetoria em
função de um processo gradual, contínuo, orgânico e unitário (FSDB 235).
Mais que um documento que se deve elaborar ou um texto para ser executado, o Projeto é a
expressão e o instrumento operativo de uma comunidade que quer atuar na formação de maneira
reflexa e convergente, promovendo a comunicação e a coordenação, realizando uma ação
sistemática e contínua, capaz de confrontar-se com a realidade e renovar-se (FSDB 211). O Projeto
é mediação concreta do modelo formativo e é critério e guia para executá-lo.
O Projeto é indispensável, especialmente para garantir a unidade e a continuidade da
experiência formativa inicial, que se desenvolve em períodos sucessivos, em diversas comunidades
e por vezes em diversas Inspetorias, e para favorecer a ligação entre as fases e a convergência das
intervenções (cf. FSDB 210, 314, 317).
O Projeto deve ter a estabilidade e a flexibilidade que a formação requer. Não reflete um agir
em permanente experimentação, mas tende a consolidar uma práxis inspetorial aberta à avaliação
periódica e capaz de ajustar-se às situações. Neste sentido, o processo de elaboração do Projeto
inspetorial de formação é um processo aberto.
A estreita relação do Projeto formativo com a realidade inspetorial exige que ele esteja em
consonância com as demais expressões do planejamento inspetorial. Ao mesmo tempo, a
diversidade de situações inspetoriais faz com que os Projetos inspetoriais tenham caraterísticas
diversas.
A comunidade formadora “caracteriza-se por um projeto que faz convergir tudo para uma
única finalidade: a formação do salesiano. Num clima de co-responsabilidade, todos se empenham
em viver juntos valores, objetivos, experiências e métodos formativos, programando valores,
objetivos, experiências e métodos formativos, programando, verificando e adequando
periodicamente a própria vida, o próprio trabalho e as experiências apostólicas às exigências da
vocação” (FSDB 222).
A finalidade, os conteúdos e o processo de elaboração do Projeto da comunidade de formação
são análogos aos apresentados para o Projeto inspetorial.
Assumindo como base as indicações da Ratio e a orientação dada pelo Diretório e pelo
Projeto inspetorial em relação à natureza e ao escopo da fase, às diversas dimensões da experiência
formativa, às condições que se devem garantir, aos conteúdos, as estratégias, às formas de
participação e de coordenação, às avaliações, etc., a comunidade formativa local elabora o próprio
projeto:
apresenta o objetivo formativo e as características da experiência formativa da fase (perfil
formativo, quadro de referência);
confronta-o com a sua situação concreta mediante a avaliação da comunidade e a atenção
aos estímulos do contexto salesiano, eclesial e social);
traça as linhas operativas nos diversos âmbitos e nas diversas dimensões da formação e
estabelece as condições que levam a atingir o escopo formativo (objetivos prioritários, metas,
estratégias, intervenções, roteiros, responsabilidades, avaliações, etc.).
198
Em nível inspetorial, essa tarefa é assumida em via ordinária pelo Delegado inspetorial e pela
Comissão inspetorial para a formação, de acordo e sob a responsabilidade do Inspetor e do seu
Conselho, ao qual é confiada a primeira responsabilidade da formação (FSDB 22). Em nível local
pelo Diretor e por uma equipe de formadores consistente e suficientemente estável (cfr FSDB 222,
233, 235, 284) nas diversas fases.
ANEXO N. 3
NOTAS INTRODUTÓRIAS
1.2.Os estudos do salesiano devem ser vistos na perspectiva da formação intelectual como é
apresentada pela Ratio, seja na descrição geral da dimensão intelectual da formação (capítulo
terceiro), seja na apresentação da dimensão intelectual em cada uma das fases. Trata-se de uma
ótica formativa, atenta à caracterização salesiana e ao horizonte da formação permanente.
1.3 A apresentação das normas dentro de cada fase subdivide-se em áreas: das disciplinas
salesianas, das ciências do homem e da educação, do mistério cristão ou das ciências teológicas,
cuja acentuação varia segundo as fases. Em alguns casos preferiu-se a expressão “área do mistério
cristão” em vez de falar de “disciplinas teológicas”, porque não se trata de um ensinamento
teológico propriamente dito, que tem uma metodologia específica e pressupõe a assimilação
orgânica das disciplinas filosóficas e pedagógicas.
A ORGANIZAÇÃO
2.1 O PRÉ-NOVICIADO
584. Tendo presente a diferente preparação e situação dos pré-noviços, podem-se sublinhar:
A. um complemento no campo da cultura de base (língua, redação, cultura geral);
200
B. introdução ao método de estudo e de reflexão.
C. uma apresentação básica dos valores humanos, dos valores relacionais e do processo da
comunicação; os aspectos fundamentais do conhecimento de si, da própria afetividade e das suas
expressões, a análise da própria experiência.
2.2 O NOVICIADO
585. Os Regulamentos gerais indicam o escopo e algumas áreas de conteúdos dos estudos
durante o noviciado: “tenham como objetivo principal a iniciação ao mistério de Cristo, para que o
noviço, no contato com a Palavra de Deus, desenvolva mais profunda vida de fé e um
conhecimento amoroso de Deus. Aprofunde-se também a teologia da vida religiosa e se estudem
as Constituições, a vida de Dom Bosco e a nossa tradição” (R 91).
587. Para uma “sequela Christi” mais consciente e profunda na vida consagrada salesiana:
Introdução geral à Escritura, à leitura e compreensão dos textos bíblicos da liturgia, em
vista da oração pessoal e comunitária e da catequese.
Apresentação sistemática de alguns conteúdos fundamentais da fé e da vida espiritual;
iniciação à oração nas diversas expressões; uma introdução aos tempos litúrgicos e à Liturgia das
horas.
Principais linhas da teologia da vida consagrada, com particular referência à
espiritualidade apostólica; apresentação sintética da evolução histórica da vida consagrada e das
diversas formas vocacionais.
Algumas temáticas de moral fundamental (aliança, consciência, leis, virtude e pecado) e
alguns aspectos da moral social.
201
A comunicação social na vida salesiana, em Dom Bosco e na Congregação. Música, canto
e dramatização no estilo salesiano: elementos teóricos e práticos.
O estudo da língua italiana e de outras ínguas de maior utilidade e difusão.
2.3 O PÓS-NOVICIADO
591. Nesta área dever-se-á ter presente a qualificação exigida para cada salesiano e a
adequação às exigências das duas formas vocacionais. Não poucos aspectos das ciências humanas,
incluídas as filosóficas, são necessários para a comum formação de base, ainda que possam ser
colocados de modo diferente.
As ciências filosóficas, as ciências do homem e da educação exigem particular atenção às
exigências da inculturação.
202
e entre filosofia e teologia; os ateísmos contemporâneos; fenomenologia, filosofia e história da
religião).
Filosofia da natureza: o problema do cosmo e da ciência (inteligibilidade da realidade
material; cosmologia científica e cosmologia filosófica; saber científico e saber filosófico. O
problema da epistemologia).
Ética: princípios e dinâmica da conduta humana; a conduta humana em relação a Deus;
consciência e liberdade; economia e direito; problemas de bioética.
Filosofia social: princípios fundamentais; modos de “leitura” de uma ordem social;
sínteses sócio-políticas em confronto com a de inspiração cristã; relações internacionais e
comunidade mundial; a Doutrina Social da Igreja.
Filosofia da educação: os fundamentos últimos do fato educativo.
Estética: a arte e as outras atividades humanas; gosto e juízo estético; arte e moral.
D. Disciplinas psicológicas
Psicologia geral e dinâmica; os processos psíquicos fundamentais, psicologia do
desenvolvimento humano; a organização da personalidade: diversas teorias. Elementos de
psicopatologia.
Psicologia da educação e da instrução.
Psicologia da religião, com particular atenção ao mundo juvenil.
Psicologia social; comunicação, interação, dinâmica de grupo e de comunidade.
Comunicação e linguagens.
E. Disciplinas sociológicas
Sociologia geral: aspectos sociológicos da família, da condição juvenil, da escola, do
mundo do trabalho e da formação profissional.
Sociologia da religião, com particular referência à condição juvenil.
Doutrina social da Igreja (cf. também Filosofia social).
Antropologia cultural, com atenção à cultura local, sua história, suas características.
Formação artística
Educação para a música e o canto
Teatro e outras formas de expressão artística úteis à missão juvenil salesiana.
Elementos teóricos e práticos de música sacra em função litúrgica, catequético-pastoral e
educativa.
Metodológicas
Metodologia do estudo e da pesquisa, leitura de textos, crítica histórica.
Elementos de didática geral.
Elementos de pedagogia e didática do ensino da religião na escola e técnicas de animação
sociocultural para o ensino, a catequese, a educação e evangelização; outras iniciativas não
formais.
Elementos de economia e administração.
Estudo do italiano e de outras línguas necessárias ou úteis para a missão, estudo do latim
para os candidatos ao presbiterado.
596. A Ratio põe em evidência as diversas modalidades que assume de fato a formação
específica do salesiano coadjutor, distingue a formação específica da qualificação profissional e
indica as áreas da formação intelectual durante a formação específica.
Tendo presente a variedade de situações pessoais e de comunidade, de propostas e de
duração, e sobretudo o escopo formativo desta fase, a organização dos estudos destaca os
seguintes conteúdos.
597. Alguns conteúdos em mais direta conexão com a formação específica do Salesiano
Coadjutor e a sua ação educativa pastoral:
Dom Bosco Fundador no contexto social e eclesial do seu tempo; a dimensão laical da
missão. Confronto com a situação atual.
204
A espiritualidade salesiana e a espiritualidade juvenil salesiana: destaques particulares,
referência a S. Francisco de Sales, pedagogia de vida espiritual, a figura do salesiano coadjutor e
do salesiano presbítero, outras expressões espirituais no âmbito da Família Salesiana.
A pastoral salesiana: orientações da Congregação (dos últimos Capítulos Gerais e do
Reitor-Mor), a Pastoral Juvenil Salesiana. Envolvimento dos leigos na Família Salesiana e na
Comunidade Educativo-Pastoral, presença e papel específico de animação dos Salesianos.
A missão salesiana no mundo: desafios nos diversos contextos, prioridade e
significatividade. A presença salesiana na própria região ou inspetoria; o Projeto inspetorial.
598. A experiência da vida consagrada e o confronto com a missão exige uma visão
orgânica e atualizada da fé e da missão da Igreja no mundo de hoje, com atenção a alguns núcleos
de conteúdo:
Introdução à Sagrada Escritura (AT e NT) e aprofundamento dos temas centrais da história
da salvação em função espiritual e pastoral.
Reflexão sobre a situação eclesial e sobre aspectos atuais do ensino da Igreja perante os
desafios da nova evangelização.
Aprofundamento teológico da vida religiosa.
Moral pessoal e social; Doutrina social da Igreja;
Pastoral do mundo do trabalho; elementos de metodologia pastoral e catequética em
relação aos destinatários da missão.
599. O serviço ao mundo e aos jovens nos termos da cultura hodierna comporta uma atenção
a outras áreas de conteúdo:
Formação sociopolítica: elementos de sociologia; mundo do trabalho (política, mercado,
sindicato...); promoção social; elementos de economia e administração.
A comunicação social em âmbito educativo e pastoral. Técnicas e tecnologias da
comunicação social: utilização educativa e pastoral das várias linguagens. Técnicas de animação.
A expressão musical.
A gestão dos principais instrumentos de informática.
205
601. A fase da formação específica favorece uma fundação teológica aprofundada do
carisma; uma mentalidade pastoral; uma leitura “salesiana” dos conteúdos teológicos.
Em conexão direta com a figura e a missão educativa pastoral do salesiano presbítero e com os
estudos do quadriênio teológico, devem aprofundar-se os seguintes conteúdos:
Dom Bosco sacerdote: perfil espiritual e pastoral. Linhas da sua espiritualidade e do seu
serviço sacerdotal, a sua colocação pastoral; Dom Bosco sacerdote fundador no contexto eclesial e
social do seu tempo. Fontes e referências da espiritualidade de Dom Bosco, especialmente S.
Francisco de Sales.
A espiritualidade salesiana e a espiritualidade juvenil. Espiritualidade do salesiano
presbítero: o salesiano presbítero na missão salesiana e nos diversos tipos de obras,
complementaridade com o salesiano coadjutor. Diversas figuras de salesianos sacerdotes.
A reflexão, as opções e as orientações da Congregação, especialmente dos últimos
Capítulos Gerais e na atualidade: Pastoral Juvenil Salesiana, Família Salesiana, partilha com os
leigos. Atenção à dimensão pastoral, catequética, sacramental, ao acompanhamento espiritual
(disciplinas correlativas e acentuação particular). O Projeto educativo pastoral da Inspetoria.
O Salesiano Sacerdote na animação espiritual dos grupos da Família Salesiana;
conhecimento das diversas vocações e de suas características espirituais.
A missão salesiana no mundo: desafios pastorais nos diversos contextos, prioridade e
significatividade.
B. Teologia litúrgica:
noções e princípios fundamentais;
a Eucaristia e o culto eucarístico; a celebração dos outros sacramentos e sacramentais;
pastoral dos sacramentos;
a santificação do tempo: ano litúrgico e liturgia das Horas.
206
603. F. Teologia prática e pastoral: teologia prática geral, teologia pastoral fundamental;
catequética geral e especial; pastoral juvenil; pastoral vocacional; introdução ao ecumenismo e ao
diálogo inter-religioso; introdução à missiologia; pastoral da comunicação e do uso da mídia;
homilética.
H. Teologia moral: teologia moral fundamental, teologia moral especial: religião e fé,
Doutrina social da Igreja, moral e economia, moral sexual e familiar; bioética.
I. Direito canônico:
lineamentos históricos do Código e breve apresentação das Normas Gerais (Livro I) para
uma reta compreensão dos conceitos fundamentais e do vocabulário jurídico-canônico;
as Partes I e II do Livro II, “O povo de Deus”: a função de ensinar e o ministério da
Palavra, a ação missionária, as escolas católicas, os instrumentos de comunicação social; as linhas
mestras dos Livros V, VI e VII;
a seção sobre os Institutos de vida consagrada, com referência concreta e contínua ao
nosso direito próprio, constituições e Regulamentos gerais; o sacramento do Matrimônio;
a legislação complementar das Conferências episcopais.
M. Estudo das línguas bíblicas, pelo menos para os que visam a graus acadêmicos, e,
segundo conveniência e possibilidade, de outras línguas de maior utilidade e difusão.
207
ANEXO N. 4
604. Nota: Indicam-se os principais documentos eclesiais e salesianos recentes que podem ser
de particular interesse para a formação.
Supõe-se a referência aos documentos do Concílio Vaticano II, ao Código de Direito Canônico,
aos documentos dos Sínodos episcopais e às Exortações pós-sinodais, especialmente aos Sínodos
sobre “A vida consagrada e sua missão na igreja e no mundo” (1944) e sobre “A formação dos
sacerdotes na situação atual” (1909) e aos Sínodos continentais.
No que diz respeito aos documentos salesianos supõe-se a referência à documentação salesiana
fundamental oficial e não oficial, aos Capítulos Gerais recentes, às intervenções do Reitor-Mor e dos
Conselheiros gerais que interessam direta ou indiretamente a formação. Pelo que se refere aos
estudos salesianos, especialmente às fontes, as edições críticas e as publicações recentes, devemos
referir-nos ao Instituto Histórico Salesiano e à sua revista Ricerche Storiche Salesiane
João Paulo II
Constituição apostólica Sapientia christiana sobre as Universidades e Faculdades
eclesiásticas, 1979
Exortação apostólica Christifideles laici, 1988
Carta apostólica Mulieris Dignitatem, 1988
Carta Iuvenum Patris no centenário da morte de Dom Bosco, 1988
Exortação apostólica Pastores Dabo Vobis, 1992
Exortação apostólica Vita consecrata, 1966
Carta encíclica Fides et ratio, 1998
208
Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos seminários, 1993
Formação dos seminaristas sobre matrimônio e família, 1995
Normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes, 1998
O período propedêutico (documento informativo), 1998
Capítulos Gerais
CGS (1971)
“A formação para a vida salesiana” (documento 13)
CG21 (1978)
“A formação para a vida salesiana”
“O Salesiano Coadjutor”
“A Obra PAS e a Universidade Pontifício Salesiana”
CG23 (1990)
“Educar os jovens na fé”
CG 24 (1996)
“Salesianos e Leigos: Comunhão e partilha no espírito e na missão de Dom Bosco”
Reitores-Mores
Egídio Viganò
Carta “O componente laical da comunidade salesiana”, ACS 298 (1980) 3-50
Carta “Perfil salesiano no sonho do personagem dos dez diamantes”, ACS 300 (1981) 3-37
Carta “O texto renovado da nossa regra de vida”, ACG 312 (1985) 3-37
Carta “Interessa-nos o sacerdote do ano dois mil”. ACG 335 (1991) 3-4
Carta “Como reler hoje o carisma do Fundador”, ACG 352 (1995) 3-33
Documentos de referência
O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco. Guia à leitura das Constituições salesianas, 1986
O Diretor Salesiano. Um ministério para a animação e o governo da comunidade local, 1986
O Inspetor Salesiano. Um ministério para a animação e o governo da comunidade inspetorial, 1987 contém
em Apêndice “Elementos jurídicos e práxis administrativa”, veja abaixo.
210
Elementos jurídicos e práxis administrativa no governo da Inspetoria, 1987
O Salesiano Coadjutor. História, identidade, pastoral vocacional e formação, 1989
Ritual da Profissão religiosa, Sociedade de São Francisco de Sales, Roma, 1989
Missal Próprio da Família Salesiana, Sociedade de São Francisco de Sales, Roma, 1990
A Pastoral Juvenil Salesiana. Quadro de referência fundamental, Dicastério para a pastoral juvenil, 2000
A Carta de Comunhão na Família Salesiana de Dom Bosco, Dicastério para a Família Salesiana, 1995
A Carta da missão da Família Salesiana, Dicastério para a Família Salesiana, 2000
211
SUBSÍDIOS
3. Como pode uma pessoa, e com ela os co-responsáveis de sua decisão vocacional,
entender se é chamada “a fazer parte da Sociedade salesiana”,720 a viver na Igreja o projeto de
Dom Bosco no serviço aos jovens,721 a vivê-lo “numa forma específica de vida religiosa”?722
Como discernir a vontade de Deus,723 “aprofundar a opção vocacional”724 e as “motivações da
própria opção”?725
714
As Constituições e a Ratio oferecem abundantes elementos para o discernimento. A Ratio transfere para este
fascículo a explicitação de alguns aspectos concretos
715
C3
716
C 195
717
C 109
718
Cf. C 23.110. 117
719
Cf. C 105
720
C 22
721
Cf. C 96
722
C2
723
Cf. C 107
724
C 109
725
C 110
212
A Ratio explicita os aspectos fundamentais que configuram o discernimento salesiano.
No capítulo 2º, põe em evidencia a identidade salesiana, ponto determinante do discernimento,
e os seuS aspectos integrantes. No capítulo 3º, descreve, segundo as quatro dimensões da
formação – humana, espiritual, intelectual, educativo-pastoral – os elementos essenciais
(valores e atitudes) a serem considerados e cultivados em forma permanente para poder viver
com alegria e maturidade o projeto salesiano.
726
C 109
727
C2
213
1.2.2.2 DISCERNIMENTO ATENTO PARA AS DIVERSAS FORMAS DA ÚNICA
VOCAÇÃO
10. Durante o percurso formativo existem, em certo sentido, critérios para uma avaliação de
base e critérios para avaliar o progresso e o crescimento. Uma vez acertada a idoneidade de base a
728
Cf. CG21 173
729
Cf. FSDB 310. 323
730
C 109
731
C 98
732
C 107
214
ausência de contraindicações absolutas, deve-se constatar entre o primeiro início e a profissão
perpétua o crescimento do conhecimento, a maturação da idoneidade, o aprofundamento das
motivações. Partindo da existência de disposições fundamentais, que não são ainda aptidões
desenvolvidas, trata-se de verificar – nas várias admissões e em outros momentos de discernimento
– se o crescimento atingiu a maturidade necessária para assumir os compromissos correspondentes.
11. Cada fase formativa tem objetivos próprios, tende a acentuar aspectos diversos e oferece
possibilidades especiais de conhecimento da pessoa, de contato com a experiência salesiana e de
visão da Congregação. Não são os mesmos, por exemplo, os indicadores a serem considerados
durante o noviciado e os que caracterizam o tirocínio. Trata-se de avaliar o tipo de crescimento que
cada fase quer favorecer e os desafios que se devem enfrentar, prestando “especial atenção nos
momentos de passagem de uma fase à outra”733 e certificando-se, no fim de cada fase formativa, de
que foram atingidos os objetivos exigidos para a fase seguinte. Portanto, mesmo tendo presente que
os valores vocacionais são gradualmente assumidos, o discernimento ajudará a não “prolongar
situações problemáticas ou de indecisão que não oferecem prospectivas sérias de melhora”.734
12. O discernimento deve ser levado a efeito na prospectiva da unidade da pessoa e da sua
experiência e da continuidade do itinerário formativo. Mesmo realizando-se em fases diversas e em
diferentes comunidades, com diversos grupos de formadores e através de momentos sucessivos de
verificação e de admissão, não pode limitar-se a uma única dimensão da formação ou somente ao
momento presente. O discernimento comporta uma visão unitária da formação, continuidade da
metodologia formativa e do conhecimento da pessoa, uma consideração personalizada e dentro do
contexto. Esta prospectiva é indispensável para a justa avaliação de manifestações e fatos.
13. O acompanhamento e o discernimento são uma constante em toda a formação inicial com
acentuações específicas nas diversas fases que preparam para a plena incorporação na Congregação:
na verificação da idoneidade de base, no momento da primeira resposta vocacional, nas admissões
que constituem pontos de síntese.735
Os períodos que precedem a primeira profissão, isto é, a preparação para o noviciado e o
noviciado, têm uma importância especial. “Imediatamente antes do noviciado – afirmam as
Constituições – requer-se uma preparação específica para aprofundar a opção vocacional e avaliar a
idoneidade necessária para começar o noviciado”.736 Durante o noviciado “com a ajuda do mestre, o
noviço aprofunda as motivações da própria opção, certifica-se para a idoneidade para a vocação
salesiana e orienta-se ao completo dom de si a Deus para o serviço dos jovens, segundo o espírito
de Dom Bosco”.737
Atenção especial merece também o discernimento da maturidade espiritual exigida para a
profissão perpétua, dada a importância de tal opção.738
Mesmo depois da formação inicial podem-se viver circunstâncias que exigem um
discernimento mais profundo e uma avaliação mais ponderada: Diante de novas situações e de
733
FSDB 321
734
Ib.
735
Cf. FSDB 268-276
736
C 109
737
C 110
738
Cf. C 117
215
novos desafios, em momentos de dúvida, de desmotivação ou de reafirmação vocacional, em
tempos de dificuldade e também em situações gravemente comprometedoras.739
14. Existe estreita relação entre discernimento e admissões. As admissões aos diversos
compromissos da caminhada vocacional constituem momentos especialmente importantes de
discernimento; nelas sintetiza-se e expressa-se a leitura e a avaliação dos sinais que motivam tanto o
pedido do candidato quanto o juízo dos responsáveis sobre a idoneidade correspondente ao
compromisso que é assumido.740
O pedido, livremente apresentado pelo candidato, fundamenta-se no discernimento que
realizou, com a colaboração daqueles que o acompanham e da comunidade, e permanece aberto a
um sinal decisivo da vontade de Deus, expresso no juízo daqueles que são os “mediadores da ação
do Senhor”.741
Por outro lado, este juízo dos superiores742 é fruto do esforço de compreensão, iluminado
pelos critérios da Igreja e da Congregação, que percorre toda a experiência formativa e pretende
servir a vocação pessoal e a identidade salesiana.
Tudo o que se diz do discernimento em vista das admissões, deve ser considerado nos casos
de readmissão de quem tivesse saído legitimamente da Congregação no fim do noviciado ou depois
da profissão.743
15. No discernimento que visa decisões finais, opções significativas e admissões, devem dar
seu parecer todos aqueles que, com funções e responsabilidades diversas, estão envolvidos no
processo formativo.
O discernimento realiza-se em íntima colaboração entre o candidato e a comunidade, através
de um diálogo de confiança recíproca para compreender a vontade de Deus e reconhecer seus
sinais31.
O aspecto pessoal e o aspecto comunitário do discernimento estão em jogo quando, nos anos
de formação inicial, procura-se determinar a idoneidade de base diante do projeto vocacional
salesiano, ou os requisitos de idoneidade exigidos para dar um ulterior passo no caminho para os
compromissos definitivos.
739
Cf. FSDB 276 e ISM 390-395
740
Cf. C 108
741
C 104
742
Cf. C 108
743
Cf. FSDB 394
31
Cf. FSDB 269
744
Cf. ib.
745
C 99
216
É, em certa medida, o aspecto oficial do discernimento. Com isto não se quer pôr em segundo
plano o papel determinante de outros responsáveis, como o diretor espiritual e o confessor.
Todos os irmãos, especialmente os que constituem a comunidade formadora, têm uma
responsabilidade moral. Esta, é claro, pesa antes de tudo sobre aqueles que têm a responsabilidade
jurídica; estes devem garantir as condições para operar segundo os critérios indicados pela Igreja e
pela Congregação, baseados em uma informação adequada e na prospectiva de um processo de
discernimento que exige gradualidade e continuidade.
17. A tarefa do discernimento vocacional, como já foi dito, compete em primeiro lugar ao
candidato à vida salesiana ou ao irmão em formação. Ele é o primeiro interessado em compreender
a vontade de Deus a seu respeito e é responsável por dá uma resposta autentica; por isso assume
uma atitude permanente de discernimento, cultiva uma abertura constante à voz de Deus e à ação
dos formadores, orienta a sua vida segundo uma prospectiva de fé, confronta-se com os critérios
vocacionais salesianos. Procura conhecer-se de verdade, fazer-se conhecer e aceitar-se; lança mãos
de todas as mediações e dos meios que a experiência formativa lhe oferece, especialmente do
acompanhamento formativo do colóquio com o Diretor, da direção espiritual, do sacramento da
Penitência, do confronto e do discernimento comunitário.746 Mantêm um relacionamento de
abertura e de confiança com o Diretor da comunidade, ao qual é confiado o dever do
acompanhamento formativo, de modo a garantir-lhe o conhecimento necessário para orientar,
discernir e decidir.747
O acompanhamento formativo e a direção espiritual são meios privilegiados para uma
caminhada de profundo conhecimento de si e para orientar a própria existência espiritual,
especialmente diante de opções delicadas e difíceis.748
Mesmo depois da formação inicial, o salesiano mantém-se em atitude de discernimento,
assumindo as mutáveis circunstancias da vida como um desafio e um estímulo no caminho
vocacional e como convite a um renovado compromisso na própria formação.
19. A comunidade inspetorial cumpre sua tarefa nas admissões através dos diversos
responsáveis.
A competência para admitir os candidatos – tanto ao noviciado quanto à profissão e às
ordenações – é do Inspetor, a norma do direito.749 No momento das admissões compete sempre a
746
Cf. FSDB 270
747
Cf. FSDB 292
748
Cf. FSDB 276
217
ele pronunciar-se em modo definitivo; trata-se de uma responsabilidade da qual ele não pode
abdicar, deixando a responsabilidade ao parecer de outros.
Assistido pelo seu Conselho, ele é o garante do discernimento vocacional; a sua
responsabilidade não se limita à decisão final.
Ele “cuida para que sejam oferecidos a quem se orienta para a vida salesiana, o ambiente e as
condições adequadas para o primeiro discernimento vocacional, acompanha-o nos delicados
períodos da formação inicial, e assume a própria responsabilidade no discernimento e nas
admissões”.750
Pessoalmente ou através da Comissão Inspetorial para o formação, o Inspetor cuida da
unidade dos critérios de discernimento e de admissão.751 Promove um adequado conhecimento dos
candidatos, tanto por parte dos membros do Conselho inspetorial, quanto por parte dos responsáveis
pelas diversas fases, favorecendo ao longo do processo formativo a atitude de discernimento e a
comunicação de adequadas informações com as modalidades mais oportunas.752
749
Cf. can. 641
750
FSDB 163
751
Cf. FSDB 247. 281
752
Cf. FSDB 298
753
Em termos jurídicos é chamado “segredo confiado” ou de consciência, porquanto é entregue (“commissum”) à
consciência da pessoa por causa do múnus que ela exerce.
754
Cf. DSM 264
755
Cf. FSDB 296
218
recíproco, da prática da correção fraterna, das avaliações e da expressão de um parecer no momento
da admissão à profissão, aos ministérios e às ordens sagradas.756
25. O diretor espiritual pessoal oferece uma ajuda a quem está à procura da plenitude de sua
vocação cristã e religiosa. Presta um serviço “de iluminação, de apoio e de guia no discernimento da
vontade de Deus para chegar à santidade; motiva e suscita o compromisso da pessoa, anima-a para
opções sérias em sintonia com o Evangelho e a põe diante do projeto vocacional salesiano”.759
26. Grande incidência pode ter sobre o discernimento vocacional, sobre a orientação e sobre
toda a experiência formativa o papel do confessor. Justamente por isso a Ratio aconselha que
durante a formação inicial se tenha um confessor estável e que “ordinariamente seja salesiano”.760
Ao confessor e a quem cumpre o serviço da direção espiritual sem ser Diretor da comunidade
é atribuída uma responsabilidade moral de importância com relação ao discernimento vocacional.
Mesmo não sendo chamados a formular um juízo sobre a idoneidade vocacional e não participando
nas admissões, eles têm uma função muitas vezes decisivas para o esclarecimento das motivações e
aquisições dos valores morais. Por isso, o candidato deve consulta-los e ter sempre em conta o
parecer deles, que, em alguns casos, pode se tornar vinculante em foro interno.
Os confessores ficam sempre ligados ao segredo do sacramento e os diretores espirituais, em
sentido estrito, são obrigados, também eles, ao segredo em força de sua função. Devem agir
somente em foro interno para orientar e para convencer eventualmente os não aptos a se afastar do
caminho que iniciaram.
É dever deles conhecer e assumir como ponto de referência obrigatório em seu serviço os
critérios de discernimento indicados pela Igreja e pela Congregação.
27. Uma contribuição específica pode ser chamada a dar pessoas que têm uma especial
competência em alguns assuntos particulares (peritos). “Quando estes peritos não são salesianos, é
importante fazer com que o seu serviço esteja atento às características próprias da vocação e seja
visto na prospectiva global da formação salesiana”.761
756
Cf. R 81
757
FSDB 237
758
FSDB 236
759
FSDB 262
760
FSDB 117
761
FSDB 243
219
Devem ser cultivadas uma prospectiva vocacional, uma atitude de fé, uma sensibilidade pedagógica
formativa, algumas competências especificas.
30. A vida de cada pessoa é vocação e como tal deve ser compreendida, acolhida e realizada.
A cada um é dado um conjunto de aptidões e qualidades que deve fazer frutificar, um projeto a
realizar.
Os sinais vocacionais se encontram na pessoa: para compreender o chamado, a intenção de
Deus, o projeto ao qual Ele convida, é necessário, portanto conhecer em profundidade a pessoa, a
sua realidade humana, a sua história e a sua atual estrutura, para colher nela os sinais da “vocação
divina”.
A vocação é reconhecida através dos sinais cotidianos. O Espírito não segue habitualmente
modalidades extraordinárias mas fala através das atitudes e aspirações, das intenções e das
motivações que são percebidas no cotidiano, na interação com as pessoas no confronto com a
realidade e no decorrer dos acontecimentos.
A vocação salesiana, como forma especifica de vida religiosa, é reconhecida através daqueles
sinais característicos que manifestam a convergência existente entre a vocação pessoal e o projeto
de vida dos Salesianos de Dom Bosco.
33. Individuar a eventual presença ou ausência dos sinais do chamado de Deus é uma empresa
delicada; exige consciência clara do dever e algumas competências específicas. O discernimento
vocacional é uma graça que ordinariamente se atualiza com a mediação de faculdades humanas de
juízo, que agem em sinergia com a graça. A interpretação dos fatos vocacionais não se dá de modo
unívoco; está estreitamente ligada à experiência e à formação das pessoas que nela intervêm.
Para o discernimento salesiano é necessário o conhecimento das orientações da Igreja e da
Congregação (ver capitulo segundo), dos princípios da teologia da vocação, da contribuição que
podem dar as ciências psicológicas e formativas. É indispensável uma iluminada prudência, que
torna capazes de encontrar os sinais da vocação no fluir concreto das vicissitudes de cada pessoa.
As faculdades humanas de julgamento são adquiridas com a experiência; mas não se pode
prescindir de uma preparação especifica que habilite a compreender os processos psíquicos
conscientes e inconscientes normais e patológicos, relativos à vida intelectiva, afetiva, pessoal e
interpessoal. É preciso notar que no processo de discernimento se supõe duas disposições: que o
formador esteja à altura de entender e ajudar o candidato nas dimensões psíquicas e espirituais e que
o ambiente, caracterizado pelo estilo do Sistema Preventivo, favoreça a confiança recíproca, de tal
modo que o candidato possa conhecer-se e abrir-se, e torne possível aos formadores entendê-lo e
ajudá-lo.
No discernimento intervêm o juízo dado por pessoas que têm uma determinada mentalidade.
Os modelos mentais condicionam frequentemente a interpretação dos fatos. O discernimento dos
formadores, portanto, deve apoiar-se não somente nas capacidades de reelaborar “conhecimentos” e
“dados”, mas também em uma mentalidade aberta, habituada a colher a conexão entre elementos de
diversa natureza. Por isso, para garantir um discernimento, deve se cultivar, naqueles que intervêm
nele, uma mentalidade que possua uma visão de conjunto da vida salesiana e da capacidade de
interpretar os “sinais” vocacionais de modo harmônico e interagente, tanto com relação ao
crescimento humano individual quanto com relação ao estilo de vida da consagração salesiana.
221
a) a atenção formativa constante à pessoa do candidato, que se realiza na partilha das
diversas expressões da vida quotidiana, vivida segundo o estilo de relações próprio do
Sistema Preventivo;
b) a coleta sistemática e a avaliação das informações sobre condições externas e passadas,
relevantes e indicativas;
c) a guia do candidato à auto-observação, ao conhecimento de si, à avaliação de suas
atitudes e de sua caminhada, à comunicação;
d) as diversas formas de relacionamento pessoal, cognoscitivo e formativo.
764
Can. 642
765
Form. Cel. 38
222
O especialista fica vinculado ao segredo profissional, pelo qual ele não pode, senão com
o consentimento expresso e livre de quem o consulta, comunicará a outros aquilo que vem
saber direta ou indiretamente durante a visita do especialista.
2. CRITÉRIOS DE DISCERNIMENTO
38. Discernir significa captar na realidade de uma pessoa os sinais que permitem conhecer a
sua vocação: a orientação para ela, a idoneidade para vive-la, a vontade de vivê-la.
Quais aspectos da realidade pessoal são significativos do ponto de vista vocacional? Quais são
os sinais indicadores de uma determinada vocação?
Os critérios de discernimento são pontos de referência para individuar os aspectos que
permitem colher a presença ou a ausência do chamado divino e da idoneidade para responder a ele.
Pode-se falar de critérios positivos ou requisitos, critérios negativos ou contraindicações.
766
RI 15; Cf. can. 642
223
41. No âmbito das contraindicações há todo um conjunto de situações diante das quais fica-se
frequentemente perplexos. É´ necessário, por tanto, verificar atentamente o grau de compatibilidade
das contraindicações com uma vida salesiana suficientemente serena. Em alguns casos pode-se
encontrar diante de situações que devem ser analisadas e compreendidas, lançando mão também de
contribuições de peritos e especialistas.
Os critérios assinalados pela igreja e pela congregação são fruto da reflexão sobre o
significado de determinados elementos, são deduzidos de princípios doutrinais, das conclusões das
ciências humanas, provêm da experiência secular da própria igreja e da genuína tradição salesiana.
Alguns requisitos e contraindicações são estabelecidos pelo Código de direito canônico, pelas
Constituições e pelos Regulamentos gerais e, como tais devem ser assumidos e praticados: são
normas de tipo jurídico.
Outros não são diretamente codificados, mas respondem a critérios de experiência, ciência e
prudência, tanto da parte da autoridade competente (comunicados em documentos eclesiásticos ou
nos Atos do Conselho Geral...), quanto da parte de quem é chamado a tomar decisões: são
indicações de tipo prudencial.
42. A aplicação dos critérios de discernimento, que agora são descritos, deve ter presentes a
impostação e as condições postas em evidencia no primeiro capítulo:
avaliando os diversos elementos no conjunto da pessoa, e não como uma soma de condições
separadas;
sabendo distinguir segundo a gradualidade do processo formativo entre critérios de base,
critérios de crescimento e de maturidade;
considerando a exigência de qualidade vocacional, sem separa-la da compreensão
pedagógica;
assegurando responsavelmente as condições para uma experiência vocacional autentica e
positiva, sem iludir-se e sem iludir, e não se esquecendo de que são múltiplas as formas de
realização da única vocação salesiana conforme as pessoas que são a elas chamadas e os dons por
elas recebidos.
Nesta prospectiva será entendida a intenção da apresentação dos aspectos positivos ou
requisitos, que pode parecer excessiva ou idealizada. Com efeito ela inclui, além dos aspectos
constitutivos da idoneidade, que se poderiam chamar fundantes e caracterizantes, e sem os quais
não se pode falar de idoneidade ou de aptidão à vida salesiana, também outros elementos cuja
presença não é necessária e não constitui de per si um requisito, mas pode influenciar positivamente
no desenvolvimento da pessoa, favorecer a formação, enriquecer a expressão da vocação.
767
C 108
768
Cf. can. 1029; RI 15; Sac. Coel. 63
769
Cf. RI 16; RFIS 39. 41
224
constitui um primeiro passo no discernimento vocacional, porquanto dispensa uma ulterior
verificação dos sinais positivos.
45. No discernimento deve-se ter presente a relação que se pode estabelecer entre o surgir e o
desaparecer de certas problemáticas e as condições ambientais. Algumas contraindicações podem
desaparecer temporariamente em condições atípicas ou de certo modo artificiais, ou diante de
intensos estímulos positivos. Problemas aparentemente superados tendem a reaparecer quando as
pessoas estão sujeitas à tensão ou à solidão.
O noviciado, por exemplo, pode introduzir em um clima de forte tensão espiritual e ascética,
sem suscitar a pessoal e consciente colaboração por parte do candidato. Experiências semelhantes,
mesmo se por motivos diversos, podem acontecer no período do tirocínio, momento de intenso
envolvimento na ação salesiana, ou na fase da formação presbiteral, para a passagem a um ritmo
diverso de vida e de atividade, ou em outros momentos formativos. É muito provável que os
aspectos problemáticos reapareçam em seguida, diante de condições diferentes de vida770.
Com respeito à relação entre experiência pessoal e condições ambientais, é bom lembrar que
a vida comunitária não pode ser vista em função terapêutica, como se fosse o ambiente ideal para se
curar de certos distúrbios ou para superar situações de imaturidade, se no candidato não existe uma
real idoneidade e um empenho decisivo. Em alguns casos, a maturação deve acontecer e ser
provada em outros contextos de vida.
47. Na pratica, nem sempre é possível estabelecer de forma precisa os aspectos pessoais a
serem discernidos em cada passo vocacional e em cada fase formativa; é porem importante avaliar
no conjunto o efetivo crescimento do candidato nas diversas áreas de discernimento.
770
Form. Cel. 38
225
Em cada caso, diante de uma sistemática falta de crescimento em algum aspecto significativo,
os formadores deverão avaliar a efetiva possibilidade de êxito vocacional.
O discernimento deve levar à positiva verificação das qualidades do candidato. No caso de
dúvida, os superiores, que devem fundamentar seu juízo em elementos positivos que comprovem a
idoneidade do candidato e não somente na confiança em uma idoneidade futura, não devem
proceder á admissão. Sua primeira responsabilidade é servir o carisma, garantindo as condições de
uma autentica experiência vocacional salesiana.
48. Tendo presente as quatro dimensões da formação propostas pela Ratio, indicam-se os
elementos que configuram a idoneidade do candidato com relação à vocação salesiana, sublinhando
os aspectos positivos e os requisitos a serem considerados, as dificuldades e as contra-indicações a
serem avaliadas; elas constituem o paramento do discernimento.
Mesmo se, por motivos práticos, as áreas de discernimento se apresentarem de modo diferente
e sucessivo, o discernimento acontece na medida em que, quem o leva a termo, é capaz de captar a
ligação e a influência recíproca entre os diversos sinais e a íntima relação entre as diversas áreas. As
áreas, com efeito são interdependentes, não constituem âmbitos separados um do outro. É
necessária, portanto uma percepção coerente que considere os diversos aspectos de um modo
integral e não de forma isolada.
Por outro lado, é necessário avaliar caso por caso. Com efeito, as aptidões vocacionais
manifestam-se na pessoa concreta, e portanto têm valor, somente se enquadradas na sua totalidade
psíquica e pessoal.
49. O estilo salesiano de vida e de ação exige boa saúde e resistência física.771 O salesiano
deve estar pronto para o sacrifício e para a dureza da vida. Por outro lado, a boa saúde favorece a
harmonia entre as dimensões da pessoa.
771
Cf. FSDB 59-60
772
HIV = Human Immunodeficiency Vírus, AIDS = Acquired Immune Deficiency Syndrome (Síndrome de ausência de
imunização adquirida ou Vírus da AIDS)
226
alguns casos, para proteger juridicamente a Congregação, é prudente repetir o mesmo teste antes da
eventual demissão do candidato ou irmão.
51. Contraindicações relativas são as deficiências físicas parciais (poliomielite leve, perda de
um olho, etc.), que devem ser consideradas no contexto da personalidade do candidato, com a
previsão de possíveis repercussões que podem despertar no sujeito e no ambiente no qual ele vive
(complexo de inferioridade, medo do juízo dos meninos, ou então aceitação, espontaneidade,
serenidade...). Normalmente, quando há outras qualidades possuídas de tal modo que são facilmente
reconhecidas também pelos jovens, estas compensam e ajudam a superar o risco de certo complexo
de inferioridade.
52. É necessário, além disso, ter presentes anomalias aparentemente leves, resistentes, porém
aos cuidados médicos: dores de cabeça persistentes, insônia, depressões habituais
desproporcionadas às ordinárias condições de vida, e todas as manifestações hipocondríacas
diagnosticadas como tais. Elas representam muitas vezes somatizações de situações difíceis e de
conflitos, que nem sempre têm solução dentro dos esquemas da vida consagrada, mas exigiriam
mudanças radicais. Em tais casos, é necessário ir à raiz e não ficar na aparência externa. Deve-se
observar o alcance, o significado e a superação de tais situações antes da admissão definitiva. Exija-
se o parecer de um médico que conhece concretamente a nossa vida.
53.O habitual abuso de substâncias que alteram a psique (drogas, álcool) na vida passada de
um candidato pode constituir uma contraindicação, porquanto as dinâmicas que levaram a estas
experiências são geralmente ligadas a graves problemáticas de personalidades, que deveriam ser
“cuidadas” ou ao menos pedagogicamente impostadas. Os efeitos do abuso podem também não ter
incidido ou permanecer escondidos por longo tempo, mas as dinâmicas que o geraram devem ser
vencidas. O recurso esporádico a ditas substâncias deve ser avaliado no conjunto da personalidade
do candidato.
54. Antes ou durante o pré-noviciado deve haver um controle médico e um exame psicológico
que certifique a existência de um bom nível geral de saúde e a ausência dos problemas físicos
enumerados nas contraindicações773.
56. Tendo presente as condições concretas das famílias, podem-se sublinhar alguns
indicadores de situações familiares que ajudam a crescer nos valores humanos e cristãos:
773
Cf. FSDB 352
774
Por exemplo, há culturas nas quais o primogênito tem responsabilidade absoluta pelos irmãos e irmãs; por isso, uma
vez mortos os pais, ele deve assumir essa tarefa, dificilmente compatível com os compromissos da vida religiosa.
227
a) uma boa comunicação no interior da família, a relação afetuosa e o diálogo que ajuda a
refletir sobre o sentido da vida e a interiorizar os valores;
b) um estilo de relações que favorece nos filhos a serenidade, a autonomia de pensamento e o
justo uso da liberdade;
c) um ambiente que educa para a responsabilidade, para a coerência, para o valor das coisas,
para a disciplina e para o trabalho, para a gestão dos conflitos;
d) a abertura aos outros o sentido de solidariedade, a participação ativa no território e no
âmbito social;
e) a atenção para a dimensão e para a prática religiosa, o testemunho cristão, o exemplo de
fidelidade na vida matrimonial, a participação na comunidade eclesial.
58. Haja atenção para a admissão também nos casos ou situações seguintes, ainda que
objetivamente menos graves do que os precedentes, mas que podem também ter deixado
consequências negativas na estrutura pessoal:
775
Can. 1040-1042.1139-1140
228
a) o ambiente familiar fortemente desunido, tenso ou com pouco afeto, onde a agressividade
expressa entre os pais influiu negativamente sobre o filho, tornando-o uma pessoa insegura,
desorganizada, instável afetivamente e nas relações interpessoais;
b) a imaturidade afetiva dos pais, visível, por exemplo, nas reações de ânsia, de desespero ou
de exaltação exagerada, ou em atitudes super-protetoras ou instrumentalizadoras, que pode
ter causado distúrbios acentuados de caráter e pode condicionar a liberdade e a
responsabilidade, criando fortes dependências;
c) a eventual proveniência de ambientes sociais com acentuada militância em grupos em tensão
com a Igreja; ou de bairros acentuadamente corrompidos, somente se não consta com
certeza moral que não tenham causado danos notáveis;
d) pais católicos não praticantes ou praticantes, decididamente contrários à vocação do filho,
tendo em conta a idade e a maturidade do candidato.
60. Capacidade de escolhas livres à luz de motivos verdadeiros e autênticos. Esta supõe:
a) uma suficiente autonomia psicológica interna e externa, que torna a pessoa independente
de pressões ambientais e interiormente livre a ponto de poder colocar as próprias
capacidades a serviço do projeto de vida;
b) a aptidão para tomar iniciativas equilibradas e coerentes, usando retamente a liberdade e
assumindo as responsabilidades que disto derivam. Supõe ainda uma atitude ativa, criativa
e constante, que não se bloqueia diante das dificuldades;
c) uma justa percepção do próprio valor real, dos próprios limites, das próprias emoções,
impulsos e tendências, e paralelamente uma sadia confiança em si mesmo;
d) a capacidade de renuncias, também importantes, quando estão em jogo as próprias
responsabilidades, as necessidades dos outros ou o serviço educativo-pastoral, sem
experimentar por isso frustrações negativas;
e) a liberdade interior diante da própria família, para não limitar o caráter universal da
vocação salesiana.
61. Abertura aos outros: este requisito sintetiza um conjunto de atitudes que têm por
denominador comum a capacidade de entrar em relação com os outros de modo adulto, livre de
dependências e rebeliões de tipo infantil. Ele comporta:
a) a comunicação: a arte do diálogo; a abertura à realidade do outro; a capacidade de
simpatia, de relacionamento e de encontro; o julgamento ponderado das opiniões alheias,
capaz de superar preconceitos e impulsos emotivos;
b) a capacidade de abertura: saber se expressar e manifestar, superando excessivos recatos;
saber aceitar o acompanhamento formativo;
229
c) o sentido de pertença: pelo qual a pessoa identifica-se como membro de uma comunidade
e põe nisto sua realidade e sua missão;
d) a colaboração: que implica saber agir com as pessoas próximas e não próximas por intima
convicção e dever de consciência em espírito de reciprocidade, com aceitação da
autoridade;
e) o trabalho em equipe: a habilidade de saber trabalhar “com” e “para” os outros, dentro de
um projeto comum. Quem cresce nesta dimensão, aceita o confronto, respeita a opinião
dos outros, demonstra lealdade na execução das decisões comuns mesmo quando
contrárias aos próprios pontos de vista.
776
De um manual clássico tomamos uma lista de distúrbios da personalidade e uma breve descrição deles com o fim de
informação de referência:
“O distúrbio paranoico de personalidade é um quadro caracterizado por desconfiança e suspeita, pelo qual as
motivações dos outros são interpretadas como maldosas.
O distúrbio esquizoide de personalidade é um quadro caracterizado pelo afastamento das relações sociais e por um
conjunto restrito de expressão emotiva.
O distúrbio esquizotípico de personalidade é um quadro caracterizado por agudo incômodo nas relações estreitas,
distorções cognitivas ou perceptivas, e comportamento excêntrico.
O distúrbio antissocial de personalidade é um quadro caracterizado por inobservância e violação dos direitos dos
outros.
O distúrbio borderline de personalidade é um quadro caracterizado pela instabilidade das relações interpessoais, da
imagem de si e dos efeitos, e por marcante impulsividade.
O distúrbio histriônico de personalidade é um quadro caracterizado por emotividade excessiva e pela procura de
atenção.
O distúrbio narcisista de personalidade é um quadro caracterizado pela grandiosidade, necessidade de admiração e
falta de empatia.
O distúrbio evitante de personalidade é um quadro caracterizado por comportamento submisso e adesivo, ligado a
uma excessiva necessidade de ser acudido.
O distúrbio obsessivo-compulsivo de personalidade é um quadro caracterizado por preocupação pela ordem,
perfeccionismo e exigências de controle” (DSM-IV Manuale diagnostico e statistico dei disturbi mentali, American
Psychiatric Association, Milano – Parigi – Barcelona, 1996, 687). Estes distúrbios da personalidade podem apresentar-
se sozinhos ou unidos a algum outro e frequentemente implicam em alterações fisiológicas (distúrbios psicossomáticos).
230
para determinar se alguns traços de personalidades presentes em formas acentuadas, constituem
distúrbios de personalidades, modelos constantes de experiência interior e de comportamento, que
tornam não aptos para a vida salesiana.
777
Cf. RFIS 39
231
afetivo familiar, a história da infância, a capacidade volitiva, as motivações, o controle do sentido
de culpa, a piedade sincera, os resultados obtidos.
A serenidade e o equilíbrio do candidato facilitam um juízo positivo. Ao contrário, distúrbios
psíquicos, fragilidade morais arrastadas por muito tempo, a atual leviandade com outras pessoas
(homens, mulheres ou jovens), a eventual ânsia ou escrúpulo deixam sérias interrogações sobre as
possibilidades concretas de um êxito positivo.
Frequentemente em candidatos com deficiências em matéria de castidade não existe um
“problema sexual”, mas um problema mais amplo de personalidade. Com efeito, os distúrbios
afetivo-sexuais podem ser a ponta do iceberg de desorganizações mais profundas da pessoa.
Entretanto, muitas desordens pessoais, como certos desejos de posse, certa dureza de julgamentos
ou radicalizações, e mesmo certas formas anômalas de espiritualidade, frequente vezes não são
senão a manifestação externa de repressões ou taras afetivo-sexuais.
Portanto, neste campo é bom identificar as motivações do agir da pessoa, por exemplo o
egocentrismo, o fechamento em si mesmo, o habito de entregar-se a fantasias a fuga do
compromisso cotidiano ou a busca de satisfação imediata o isolamento em lugar do contato, o medo
que impede a realização do projeto.
O trabalho formativo estará atento nas motivações de fundo das manifestações imaturas para
poder orientar positivamente e com eficácia a pessoa.
68. Em terceiro lugar, o discernimento deve estar atento para o contexto no qual o salesiano
deve desenvolver a sua missão. De fato, as condições da educação da juventude e o relacionamento
pastoral apresentam especiais exigências no campo da maturidade afetivo-sexual. É importante
avaliar a capacidade de viver em contextos sociais “abertos” ao feminino e à “coeducação” hoje
sacramentada na ação pastoral salesiana. É necessário ter presente ao mesmo tempo que a
experiência do salesiano acontece em comunidades masculinas e que os meninos e os jovens do
sexo masculino são os primeiros destinatários da Congregação.
778
C 82
232
problemáticos do ponto de vista formativo, ou devem ser considerados contra-indicações do ponto
de vista vocacional.
Algumas situações, ainda que, no pensamento da Igreja, não constituam contra-indicação
absoluta, devem ser avaliadas em si mesmas e em relação a compromissos futuros, porque podem
revelar uma incapacidade de viver plenamente a vida salesiana.
Será o discernimento, apoiado quando necessário em consultas especializadas, que vai
esclarecer se tais situações ou condições podem vir a ser modificadas pela experiência formativa ou
por intervenções psicoterapêuticas, que possam tornar possível a resposta às exigências da vocação
salesiana e a integração da sexualidade na linha da castidade. Em qualquer caso, os responsáveis
pelo discernimento atribuirão a devida importância a estes aspectos, darão tempo e procurarão os
meios adequados para compreende-los e avaliá-los.
71. A experiência sexual completa acontecida antes do início do itinerário formativo salesiano
requer um atento discernimento. O acompanhamento formativo deverá esclarecer o impacto que tal
experiência teve sobre o candidato e avaliar a sua capacidade de integrá-la com sinceridade e
responsabilidade, em vista da castidade consagrada. Isto supõe:
1. uma análise do contexto global da pessoa, dos recursos que ela possui e da influência de
tais fatos na sua experiência atual;
2. a constatação da abertura e partilha mostradas com o próprio diretor espiritual e com os
responsáveis pelo discernimento vocacional, do espírito de fé manifestado na oração
pessoal e comunitária, da capacidade de sacrifício pessoal e de renúncia, da consistência
das motivações. Se não existirem estas condições, parece não ter sentido fazer o candidato
continuar o discernimento;
3. atenção especial merece a condição “tempo”: o período da vida no qual se deram as
relações (infância - enquanto vítima de violência – adolescência ou idade adulta); a
duração do período no qual aconteceram e a frequência; o tempo transcorrido desde
quando terminaram;
779
Cf. RI 30 § 5
233
4. para alimentar esperança de integração é preciso constatar por um longo espaço de tempo
seriedade de compromisso e firmeza de resoluções. Sinais evidentes de autoindulgência
nunca são positivos. Em pessoas com este tipo de vida pregressa podem tornar-se sérias
contraindicações e não é conveniente prolongar o discernimento;
5. no caso dos convertidos é importante verificar se as relações sexuais aconteceram antes ou
depois do batismo.
72. Em âmbito afetivo-sexual um problema particular a ser tratado segundo critérios sérios e
com métodos atuais é o da masturbação.
Diante do fenômeno, os últimos documentos da Igreja insistem na necessidade de considerá-
lo não como um fato isolado, mas mais como um fenômeno sintomático a ser avaliado no conjunto
da personalidade, da sua história e do momento evolutivo no qual cada um se encontra;
considerando as condições da pessoa em seu conjunto e não só os critérios de tempo e de
objetividade, e insistindo sobre as causas que a provocam e sobre as circunstâncias em que é
praticada. Não obstante a gravidade objetiva da masturbação, requer-se, por isso, grande cautela
para estabelecer a responsabilidade subjetiva da pessoa.780 Daí a necessidade de uma avaliação
atenta e séria, e ao mesmo tempo a dificuldade de indicar normas objetivas e de valor universal.
73. Concretamente, o problema é posto com base nos seguintes elementos de avaliação:
1. a qualidade humana e os recursos da pessoa, a maturidade afetivo-sexual em outras
expressões, o equilíbrio pessoal ou a propensão ao sentido de frustração em geral;
2. a qualidade da vida espiritual, a abertura ao acompanhamento formativo, a
responsabilidade em pôr em prática os métodos tradicionais de crescimento espiritual ( a
direção espiritual, a oração e os sacramentos, a ascese, a decisão em evitar as “ocasiões
próximas”);
3. as causas que provocam o fenômeno, que podem estar ligadas com a agressividade, com a
autoimagem ou com a dependência de outros, ou com a qualidade das relações na
comunidade;781
4. as condições que acompanham o ato, que atribuem à masturbação significados diversos na
dinâmica pessoal como: o desafogo da ânsia e da tensão, a fuga da própria solidão ou
sofrimento, a compensação das frustrações, um preenchimento de momentos de vazio
existencial, ou simplesmente uma descarga, muitas vezes não diretamente querida, de
tensões fisiológicas não provocadas;
5. a intensidade ou frequência do fenômeno, a consistência do esforço por supera-lo e o
tempo de real superação.
74. Uma visão integral permitirá uma avaliação objetiva do significado prognóstico que
podem ter determinados fatos de ordem sexual, tanto em nível de ato quanto em nível de impulso
instintivo e de imaginação obsessiva. A este propósito, é necessário ter em conta, para um juízo
prudente, alguns fatores que contribuem para enquadrar na dinâmica da pessoa o significado do ato
da masturbação: seu aparecimento muito precoce na vida do jovem, sua persistência além da
adolescência, a reincidência, o aparecimento tardio, o caráter da obsessão, as fantasias que o
acompanham etc., como também a total ausência de tais manifestações. Um silêncio total da
tendência durante a adolescência e sucessivamente, não pode ser considerado, por si só, início
seguro de normalidade.
780
Cf. CDF, Pessoa humana, Declaração sobre algumas questões de ética sexual, 1975, n. 9; CEC, Orientações
educativas sobre o amor humano. Linhas orientadoras de educação sexual, 1983
781
Form. Cel. 5. 36. 63
234
São todas circunstâncias que devem tornar muito prudentes aqueles que devem dar um
conselho, avaliar se o candidato dá uma sólida esperança de superação dentro de um tempo
razoável, exprimir um juízo ou fazer uma previsão para uma vida de celibato consagrado, vivida
com fidelidade, liberdade e serenidade. Neste campo, não é só questão de questionar se o formando
manifesta boa vontade. Ocorre perscrutar os sinais da vontade de Deus na natureza, na estrutura
psíquica da pessoa e na experiência de sua história, em vista dos compromissos e da forma de vida
futura.
b. Contraindicações absolutas
75. Algumas situações, fatos ou hábitos que por sua natureza constituem uma contraindicação
grave e absoluta e um impedimento para a vocação salesiana, devem ser postos às claras desde o
primeiro momento do discernimento, especialmente quando se trata de candidatos adultos:
a) O fato de ter sido parceiro ativo em situação de pederastia ou de pedofilia, ou ter
favorecido em qualquer outro modo a exploração sexual de meninos, adolescentes ou
jovens de qualquer sexo, mesmo independentemente da conduta atual, tais fatos
pregressos ( que em muitos países são punidos por lei, sob acusação, sem prescrição)
constituem um grave risco para o bem da juventude, para a prática do nosso estilo de
castidade consagrada e pela fama da Congregação.
Dependendo da legislação das nações, quando se julgar necessário, deve ser
providenciad0 o pedido de “declaração de inocência” do candidato sobre este tipo de
fatos. Não entra nestes casos o eventual ato isolado acontecido durante a adolescência
com outras pessoas menores.
b) Ações de perversão sexual: relações incestuosas, o exercício de violência ou abuso sexual
com outras pessoas; o trabalho ou implicação no campo da pornografia ou do espetáculo
imoral; o exercício ou a exploração da prostituição...
c) A convivência mais ou menos duradoura implicando atividade sexual; a separação ou o
divórcio (mesmo no plano meramente civil)
76. d) É contraindicação absoluta o “pecado grave com outro ou com outra”, depois da
admissão ao itinerário formativo salesiano. Entram nesta categoria os atos graves procurados ou
queridos com malícia, ainda mais se foram deliberadamente repetidos. Tais fatos criam uma divisão
moral interna expressa na coexistência de comportamentos paralelos contrastantes (vida dupla), e
por isso é preciso agir absolutamente conforme a norma. Se for um pré-noviço, noviço ou professo
temporário, deve ser afastado ou demitido; se for diácono, deverá pensar seriamente em pedir
dispensa.
Consideração diferente exigem os casos de atos isolados, objetivamente graves, que não
provocaram um escândalo e que, sendo isolados e mais ainda quando são fruto de ingenuidade,
inexperiência ou maquinação sofrida, são acompanhados do reconhecimento e da vontade de
mudança do interessado. Uma avaliação séria e cuidadosa pode levar a reconhecer a possibilidade
de uma recuperação real.
235
salesiana, tendo presente a dignidade intrínseca de cada pessoa782 e as peculiares exigências do
projeto e vida consagrada e da missão salesiana.
O complexo fenômeno da homossexualidade inclui as pessoas “que sentem uma atração
sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo”.783
A Igreja distingue tendência ou condição homossexual de sua atuação; 784 defende as pessoas
homossexuais, “chamadas a realizar a vontade de Deus em suas vidas”, de “qualquer tipo de
discriminação injusta”,785 mesmo condenando os atos de homossexualidade.786 Não obstante isto,
sustenta que “há âmbitos nos quais não é injusta discriminação levar em conta a tendência
homossexual”,787 e convida os Institutos religiosos a fazer próprias e a expor “as razões que
justificam o fato de dispensar da vida religiosa aqueles ou aquelas que não conseguirem dominar as
tendências homossexuais”.788
Para nós, a avaliação deve referir-se especificamente à vocação consagrada salesiana, que
exige uma particular capacidade de equilíbrio, de maturidade e de ascese no âmbito afetivo-sexual,
também para aqueles que têm tendências heterossexuais normais. Mas por suas características
peculiares ela comporta exigências específicas com referência à homossexualidade. Trata-se, com
efeito de uma vocação-missão que se vive em comunidade masculinas, que leva a agir em constante
contato com a juventude pobre, de preferência masculina, necessitada de atenção e de afeto, com
um estilo de família e um método explicativo que se exprimem através da bondade, a capacidade de
fazer-se amar e de demonstrar amor.
A experiência salesiana, no seu aspecto comunitário e na sua expressão educativa e pastoral,
ensina quanto é difícil a uma pessoa de tendência ou condição homossexual, poder responder com
equilíbrio, serenidade e coerência às exigências do projeto de vida da Congregação Salesiana. Pelo
que é indispensável, no discernimento em matéria de homossexualismo, uma avaliação séria e
exigente, em atenção à Congregação, que deve garantir seu testemunho autentico, e em atenção ao
candidato, a quem se presta um justo serviço evitando-lhe de assumir um gênero de vida que
exigiria dele um esforço extraordinário de controle e de equilíbrio.
79. b) A tendência ou condição homossexual que se descobre, com a ajuda profissional, como
inserida na estrutura da personalidade. Trata-se somente de tendência, sem atos ou hábitos
homossexuais. De per si, ela pode ser controlada com a educação,790 e não necessariamente se
traduz em atividade homossexual ou em atitudes que põe em risco a identidade sexual. Tal
tendência, porém, frequentemente, torna muito difícil para o indivíduo estabelecer e manter uma
782
CDF, Carta Homossexualitatis problema (1 de outubro de 1986), 6
783
Catecismo da Igreja Católica, 2357
784
Cf. CDF, Pessoa humana, Declaração sobre algumas questões de ética sexual, 1975
785
Catecismo da Igreja Católica, 2358; Cf. 2359
786
Catecismo da Igreja Católica, 2369
787
CDF, Algumas considerações concernentes à resposta a propostas de lei sobre a não-discriminação das pessoas
homossexuais, em L´Osservatore Romano, 24 de julho de 1992,11
788
PI 39
789
Cf. número 76, segunda parte.
790
Catecismo da Igreja Católica, 2359
236
atitude educativo-pastoral “salesiana” diante da juventude masculina. Frequentemente a condição
homossexual leva à perda do equilíbrio na interação pedagógica e pode levar a um enfraquecimento
psicológico da pessoa.
No contexto educativo-pastoral salesiano, o estilo de vida homossexual encontra ocasiões de
grandes estímulos e situações que podem conduzir a vínculos intensos e imaturos, com o risco de
certa morbosidade no relacionamento com pessoas jovens. São fatos que facilmente vêm a público
e, portanto, ameaçam a imagem da Congregação e a eficácia de seu testemunho.
Não entra nestes casos o temor da homossexualidade, que em um ambiente caracterizado pela
ausência de meninas pode afligir os jovens em situações de particular insegurança: tal temor pode
manifestar mais uma fragilidade geral ou uma identidade fraca, ou denotar momentos de definição
ou de passagem. O trabalho formativo nestes casos concentrar-se-á em reais motivações do
fenômeno.
80. Acenamos para algumas disposições, atitudes, condições, que permitem avaliar a
idoneidade espiritual dos candidatos à vida religiosa salesiana. Seu desenvolvimento depende da
ação do Espírito e de um constante empenho formativo. Vamos sintetizá-lo ao redor dos seguintes
núcleos: vida cristã e caracterização salesiana, vida comunitária, conselhos evangélicos, sinais de
vocação específica.
81. No que diz respeito à relação com Cristo, a opção por Ele e o seu seguimento para a
construção do Reino, segundo o carisma de Dom Bosco, devem ser avaliados e cultivados os
seguintes aspectos:
a) uma atitude de fé, marcado pela acolhida da Palavra assumida como critério de vida;
b) um relacionamento de amizade e de intimidade com o Senhor, manifestado na
centralidade da experiência eucarística, na celebração do sacramento da Reconciliação, na
assídua participação na oração comunitária, na fidelidade aos momento de oração pessoal
e às práticas de devoção próprias da vocação salesiana;
c) a identificação com o “da mihi animas caetera tolle”, atuada no zelo apostólico com os
jovens, na disponibilidade para enfrentar as exigências pastorais, na capacidade de
sacrifício;
d) a disponibilidade para o acompanhamento formativo, a constância na prática da direção
espiritual e a colaboração no discernimento;
e) a opção consciente e a decisão de estruturar a própria vida com valores da consagração
salesiana, testemunhada com a coerência das obras;
f) o crescimento nas virtudes humanas e cristãs, e nas atitudes pedagógicas e pastorais
próprias do Sistema Preventivo;
g) um suficiente conhecimento de Dom Bosco e uma experiência positiva de vida salesiana;
h) o sentido de Igreja, que se exprime na comunhão pastoral, na adesão ao magistério, na
inserção na Igreja local, segundo as possibilidades pessoais e o carisma da Congregação.
B. Vida comunitária
82. No que diz respeito à “vida comunitária salesiana”, além dos elementos indicados no
âmbito da capacidade de relacionamento, devem-se verificar os seguintes indicadores:
237
a) uma clara referência ao estilo de fraternidade querido por Dom Bosco na vida concreta e
na ação cotidiana; a referência à própria comunidade e à Inspetoria nas decisões e
iniciativas; o sentido de pertença à Congregação e à Família Salesiana;
b) a atitude de acolhida e a cordialidade dos relacionamentos, segundo o espírito de família;
a capacidade de compartilhar a experiência vocacional e de prestar atenção nos processos
e nas dinâmicas que a comunidade vive;
c) a capacidade de viver e trabalhar com os irmãos e de assumir com lealdade e generosidade
um projeto comunitário;
d) a responsabilidade pessoal na execução nas tarefas confiadas, sem necessidade de
constantes solicitações externas, empregando os próprios dons e aceitando os próprios
limites;
e) a co-responsabilidade na comunidade educativo-pastoral, a valorização na contribuição
dos outros, no respeito a suas funções.
C. Os conselhos evangélicos
83. Com relação aos “conselhos evangélicos”, podem ser considerados os seguintes
indicadores de idoneidade para a vida salesiana:
a) a disposição positiva perante as várias mediações humanas; a assimilação de um projeto
comunitário e a ação com visão e mentalidade de conjunto;
b) a livre e serena aceitação da autoridade, em uma positiva disponibilidade para a
obediência, isenta tanto da dependência passiva quanto da oposição sistemática;
c) o espírito empreendedor e a capacidade de trabalho; o cuidado dos bens da comunidade e
da obra; a capacidade de compartilhar as próprias qualidades e competências, bens e
instrumentos; o sentido social dos bens e dos serviços;
d) a justa compreensão da relação salesiana entre austeridade de vida pessoal e comunitária,
e qualidade dos instrumentos para um serviço eficaz;
e) a efetiva dependência da comunidade e do superior, a capacidade de partilhar os dons
recebidos, a sobriedade no estilo de vida e no uso dos instrumentos pessoais; a
responsabilidade e o cuidado do aspecto econômico;
f) a capacidade de amar autenticamente as pessoas com as quais se vive, de amor de
predileção pelos jovens destinatários da missão, de viver a amizade de modo sereno,
maduro e coerente com a vocação;
g) a atitude de estima, respeitosa e prudente, pela mulher, com uma normal capacidade de
autocontrole e de equilíbrio emocional; a espontaneidade pessoal nas manifestações
afetivas, em sintonia com a própria opção de vida consagrada.
84. Os critérios de discernimento até aqui enunciados são válidos para todos os Salesianos.
Dado, porém, que a vocação específica permeia toda a vida do irmão, a dimensão laical ou clerical
da sua existência constitui uma prospectiva permanente do discernimento vocacional. É, portanto,
oportuno pôr em evidencia alguns sinais, sabendo que se tratam de sinais específicos, mas não
exclusivos.
238
Comunidade Educativa Pastoral e para a Igreja um apelo vivente para os valores da dimensão
secular do mundo e da história.
A laicidade não deve ser entendida como algo negativo – não querer ou não poder tornar-se
presbítero ou diácono – nem se reduz a um serviço ou a uma simples função.791 Não se refere em
primeiro lugar ao que o coadjutor quer ou pode fazer, mas como ele deve ser no fazer. Seu modo de
viver a vocação salesiana de posicionar-se diante da missão, o seu papel na comunidade salesiana792
e na comunidade educativa exigem algumas atitudes e algumas condições específicas:
86. a) Sentir-se chamado a viver o conjunto dos valores salesianos como consagrado leigo,
que implica em:
responder à vontade de Deus, pôr-se ao serviço e realizar a própria santificação como
religioso leigo: uma reposta expressa no testemunho do “bom cristão”, vivido na vida consagrada;
aceitar esta específica vocação como “original” dimensão pessoal com as suas riquezas e a
diversidade das suas funções, que preenche e não limita as próprias aspirações, e compreender o
que isso significa em nível espiritual, comunitário e pastoral;
ser consciente e assumir o compromisso de viver na Congregação “a mesma vocação em
fraterna complementaridade”793 com o salesiano presbítero e estar disponível para a colaboração
criativa na missão.794
b) Tornar-se idôneo para cumprir a missão de educador-pastor dos jovens na forma laical,
cultivando as capacidades e adquirindo as competências necessárias para prestar serviço e
empenhar-se em ambientes profissionais, sociais, culturais mais compatíveis com a identidade do
salesiano coadjutor;
791
Cf. CG21 178
792
Cf. ACS 298 (1980), páginas 16-17.
793
C4
794
Cf. ACS 298 (1980), páginas 20. 23
795
Cf. Terceira parte, 3.6; PI 108-109
239
c) viver e cultivar as expressões do ministério presbiteral em coerência com os destinatários,
com os critérios, com o método e o espírito salesiano, com a radicalidade do “da mihi
animas” e com o estilo do Sistema Preventivo.
d) Viver a vida e a missão em comunhão e colaboração com os irmãos coadjutores, e
expressar o serviço ministerial no âmbito da CEP e da Família Salesiana, com capacidade
de animação;
e) Testemunhar segundo o carisma salesiano o amor pela Igreja na comunhão pastoral, na
docilidade ao Papa e aos pastores, na participação na vida diocesana, na disponibilidade à
missão universal.
88. Quem se sente chamado a vocação salesiana, e pede para ser admitido, pretende optar por
um estilo de vida, por um conjunto de valores que percebe estar de acordo com a sua realidade e as
suas aspirações.
O primeiro passo no discernimento vocacional consiste em verificar a presença dos requisitos
de idoneidade e a ausência de contraindicações. Todavia, mesmo se estes são sinais importantes e
necessários para descobrir um autêntico chamado de Deus, não são suficientes.
89. É necessário ir além, isto é, identificar e avaliar a origem desta inclinação, desta
orientação. É preciso compreender que necessidades, desejos ou interesses, que dinâmicas positivas
e negativas, internas ou externas, constituem o fundamento e dão consistência a esta opção. Em uma
palavra, é necessário individuar as motivações profundas da opção vocacional. O trabalho
formativo contribuirá para torná-las adequadas, verdadeiras e autênticas até a chegar ao sinal
positivo fundamental, a reta intenção.
93. A avaliação de uma motivação autêntica é sempre uma empresa delicada. Nunca se
encontram motivações em estado puro. Uma vez verificada a sinceridade do candidato, que exclui
qualquer falsidade consciente, não se deve presumir a existência da retidão de intenção. Ela pode se
encontrar misturada com um conjunto de motivações egocêntricas, que pertencem à esfera
claramente inconsciente.
Através do discernimento, portanto, devem-se descobrir as motivações conscientes e, se
possível, também as inconscientes, servindo-se também da ajuda das ciências humanas, sobretudo
quando a pessoa não chega a um bom nível de integração. Trata-se de compreender a atitude de
fundo da pessoa, os valores, as necessidades, as carências e os aspectos que, positivos em si mesmo,
pode porém, esconder atitudes defensivas.
É igualmente necessário avaliar quais são as motivações dominantes e quais as simplesmente
presentes, até que ponto são convergentes e, sobretudo se são autenticas e fundamentais ou menos.
Exige-se por isso o empenho do candidato e o contato profundo de direção e de orientação
espiritual com quem tem sensibilidade e capacidade de discernimento.
A compreensão e a avaliação das motivações competem, especialmente, ao diretor espiritual e
ao próprio irmão, mesmo se os membros do Conselho não podem perder de vista este elemento de
capital importância
796
Cf. VECCHI J., Discurso do Reitor Maior na conclusão do CG24, em CG24 240; ACG 365 (outubro-dezembro de
1998) 79, página 10.
241
94. Com respeito à ação formativa, é necessário estar conscientes de que as motivações são
susceptíveis de amadurecimento e de purificação gradual e contínua. Frequentemente o candidato
se apresenta manifestando como dominante uma motivação inadequada, que o trabalho formativo
ajuda a transformar, orientando-a para uma linha mais autêntica. Por isso é oportuno um processo
que privilegie o empenho do sujeito na resposta e no crescimento vocacional. Os formadores, neste
nível, podem influenciar, mais do que com a intervenção direta, com a criação de um clima que
favoreça o conhecimento de si e a valorização das motivações pessoais, e impulsiona para a
autenticidade vocacional.
Assim, a formação leva progressivamente o candidato a compreender com maior
profundidade e clareza que é o Senhor que “chama” e “motiva a opção” do serviço aos jovens na
Congregação.
96. É preciso ter presente que a incapacidade de aprender com a vida, como também o
fechamento mental e a falta de honestidade diante da verdade, são sinais que podem exprimir
problemáticas psicológicas: medos, angústias, e vários outros comportamentos de defesa, que
impedem a abertura aos outros e, por isso, podem tornar a pessoa incapaz de viver a vocação
salesiana.
Por isso, no discernimento, não bastará referir-se unicamente aos resultados escolares ou
acadêmicos. É preciso encontrar também habilidades intelectuais práticas para compreender e
enfrentar os problemas do dia-a-dia, e aquele sentido da realidade que leva a evitar ingênuas
idealizações.
Quem não se sai tão bem nos estudos pode resolver de modo satisfatório problemas práticos e
de relação com as pessoas, avaliação prudente das situações, demonstrando uma boa inteligência
prática.
Quem se sai muito bem nos estudos pode ser, ao contrário, um indivíduo portador de
problema, que encontra dificuldade para aceitar um projeto comunitário, para ser dócil às
exigências mais simples, mas urgentes, e pode se tornar um opositor sistemático.
97. Trata-se de uma aptidão, cujo desenvolvimento deve ser continuamente cuidado. Requer
uma vontade constante e a capacidade de concentração, a presença de autênticos interesses
culturais, o empenho para manter a intencionalidade vocacional salesiana como critério de
242
orientação e de caracterização das opções e dos esforços para atualizar-se e amadurecer
intelectualmente, a atenção aos níveis de vida emergentes nas culturas juvenis.
98. A capacidade intelectual do salesiano, em síntese, deve ser suficiente para completar os
estudos, que correspondem aos compromissos futuros (tanto dos salesianos coadjutores como
daqueles que são chamados ao ministério presbiteral) e para ter um justo conhecimento da natureza
da vocação e das suas exigências.797 Devem incluir a capacidade reflexiva e de juízo, própria de
quem é educador e pastor, necessária para cultivar uma sensibilidade cultural, formativa e pastoral,
que permita viver atentos aos sinais do tempo, de discernir a voz do Espírito e adquirir a capacidade
de aprender com a vida.798
B. Qualificação necessária
99. Todos devem atingir um nível de estudos que os coloque à altura de desenvolver um papel
útil na comunidade e na realização da missão educativo-pastoral salesiana. Para quem começa,
deve-se avaliar ao menos a aptidão para adquirir uma qualificação profissional. Ao longo do
itinerário formativo o salesiano deve obter os títulos de estudo estabelecidos no projeto inspetorial
de formação. Conforme os contextos nos quais se dá o chamado e a primeira formação, os títulos
que atestam a qualificação do candidato podem ser diversos.
Para estar à altura de viver e compartilhar os valores salesianos hoje e de praticar o Sistema
Preventivo, é preciso um suficiente conhecimento de Dom Bosco e da sua história, da experiência,
da reflexão e das orientações da Congregação, dos diversos grupos da Família Salesiana.
Em todos os casos, é indispensável valorizar a caminhada cotidiana de qualificação através
de uma forma de confronto comunitário e de realização programada da missão, acompanhada e
sustentada pela reflexão pessoal e compartilhada e pela atitude de discernimento.
100. Alguns sinais que podem manifestar uma falta de idoneidade para a vida salesiana são:
a) não conseguir superar os estudos necessários para a nossa missão, como são previstos
pelas normas da Igreja e pelos orientações salesianas;
b) a falta de empenho na qualificação pessoal necessária para a função de animação e de
responsabilidade que se deve desenvolver;
c) um fraco interesse pela própria renovação cultural e profissional, e a escassa dedicação ao
estudo, comportamentos que podem induzir a um sentido de marginalização e de
inferioridade e conduzir à superficialidade do agir;
d) um estilo de vida ativista e superficial, que não se preocupa de cuidar da qualidade da
experiência e do trabalho, não sabe dar-se um tempo para a reflexão, não valoriza as
oportunidades de compartilhar e de ler a realidade.
797
Cf. VC 98; PDV 51
798
Cf. C 19. 119
243
a) a predileção pelos jovens pobres e abandonados e pelos ambientes populares; a
solidariedade, a capacidade de manter o contato com os contextos juvenis e de encarnar-se
em contextos diferentes do próprio;
b) a aptidão para receber e estimar os valores do próprio tempo; a capacidade de
compreensão crítica das linguagens da comunicação social, de confronto com as situações
culturais, de abertura à informação;
c) a capacidade de desenvolver a missão salesiana por profundas razões de fé, como
verdadeira experiência espiritual, integrando espiritualidade e ação pastoral, educação e
evangelização, traduzindo o zelo pastoral em iniciativa, na generosidade e no sacrifício;
d) a posse de um adequado sentido pastoral e a assimilação do Sistema Preventivo como
método e espiritualidade; a capacidade de testemunhar um quadro de valores em sintonia
com a proposta educativo-pastoral salesiana;
e) a competência educativo-pastoral, que comporta um conjunto de conhecimentos
específicos, em especial da pastoral juvenil salesiana, a aquisição de habilidades
operativas e a busca de qualificação. Expressão privilegiada desta busca é a constante
atenção aos problemas educativos, às diversas formas de comunicação e as novas
mensagens, para o anúncio da Palavra aos jovens;
f) a capacidade de animar e de acompanhar pessoas e grupos, promovendo um caminho de
qualidade humana e cristã;
g) o sentido comunitário da missão inspetorial e local, manifestado na participação no
projeto (PEPS), no respeito pela programação comum e na referência aos responsáveis, na
colaboração para a execução, em um relacionamento positivo com os leigos e com os
membros da Família Salesiana;
h) o hábito da reflexão sobre a prática, com base nos estímulo e nas orientações da Igreja,
nos critérios da ciência pastoral e nas diretivas da Pastoral Juvenil Salesiana;
i) o viver a missão como caminho de formação.
3. AS ADMISSÕES
104. Não vamos repetir aqui o que já foi visto a propósito da natureza, das condições e dos
critérios de discernimento. A atenção se volta especificamente para as admissões e para o juízo
sobre a idoneidade vocacional dos irmãos em formação inicial.
3.1.1. O pedido
105. Convém que o pedido, endereçado ao inspetor e entregue ao Diretor, mesmo respeitando
a forma pessoal, contenha os seguintes elementos:
nome e sobrenome do candidato e data na qual é apresentado;
referência ao diálogo tido com o Diretor e à sua concordância para apresentação;
referência ao discernimento feito e ao pedido de parecer ao diretor espiritual e ao confessor;
objeto do pedido, expresso em forma clara, isto é, o ingresso no noviciado, a primeira
profissão temporária ou a sua renovação, a profissão perpétua, os ministérios e as ordens;
expressão da consciência do ato público que se pretende realizar, e da liberdade de fazê-lo,
como também da motivação fundamental.
3.1.2 Os responsáveis
799
Cf. CGE 697
800
Cf. C 108
801
Cf. FSDB 321; Cf. número 47 deste documento.
802
Cf. C 108
803
C 117
804
Cf. FSDB 351, 482, 515
245
106. Responsáveis pelas admissões são, em grau diverso, o Inspetor com o seu Conselho e o
Diretor com seu Conselho. “A admissão ao noviciado, à profissão temporária ou perpétua, aos
ministérios e às sagradas ordens... - afirmam as Constituições – é feita pelo Inspetor com o
consentimento de seu Conselho, ouvido o parecer do Diretor com o seu Conselho”.805
A responsabilidade jurídica das admissões compete, portanto, ao Inspetor, ao Diretor e a seus
Conselhos, a cada um segundo a própria competência, consultiva ou deliberativa. Através do
discernimento e da admissão, eles assumem as responsabilidades jurídicas e morais próprias de sua
função. É indispensável que sejam asseguradas instâncias de diálogo para favorecer a comunhão de
critérios e evitar divergências ou contrastes nas avaliações e nas decisões.
107. O pedido é examinado em duplo nível: pelo Conselho da comunidade à qual o candidato
pertence, e pelo Conselho inspetorial, do qual depende a comunidade.
Em nível local, o Diretor e os membros de seu Conselho, que ordinariamente têm um contato
mais próximo com o candidato e um conhecimento direto da sua situação vocacional, são chamados
a expressar um parecer e um voto consultivo. Também o Diretor participa das votações; a maioria é
calculada com base no número dos presentes.
110. Nas votações do Conselho a maioria é calculada sobre o número dos presentes (não
sobre o número dos votos válidos), lembrando que o Inspetor não vota. Se houver paridade de
votos, o Inspetor não pode proceder à admissão.808
805
C 108
806
C 165
807
Cf. can. 127
808
Cf. can. 127 e a interpretação oficial dada pela Comissão para a interpretação do CIC em AAS 1985, página 771; Cf.
Elementos jurídicos e praxe administrativa no governo da Inspetoria, Roma 1987, número 18.
246
Nenhum membro do Conselho local ou inspetorial pode ceder a imposições ou pressões de
qualquer gênero e proveniência, quando se tratar de dar o próprio voto sobre a idoneidade de um
candidato. Em tudo isso se lembra a obrigação do segredo.
3.1.3 As modalidades
111. Nas modalidades de admissão deve ser seguida a sucessão de momentos já consagrada,
tendo em conta a diversidade de situações:
colóquio com o Diretor (confessor e diretor espiritual) e apresentação do pedido;
parecer da comunidade;809
parecer do Inspetor de origem com o seu Conselho (para quem está fora da própria
Inspetoria);810
parecer e voto do Diretor da comunidade com o seu Conselho;
voto deliberativo do Conselho inspetorial competente e admissão pelo Inspetor.811
113. A admissão ao noviciado significa que o candidato é considerado idôneo para iniciar a
experiência religiosa salesiana.816 Segundo os Regulamentos ele “deve estar isento dos
impedimentos previstos nos cânones 643-645 § 1, demonstrar as aptidões e a maturidade necessária
809
Cf. R 81
810
Cf. FSDB 301
811
Cf. C 108
812
FSDB 351
813
Ver acima número 54.
814
Cf. cân. 643-645, § 1
815
CG21 267
816
Cf. C 109
247
para viver a vida salesiana e ter suficiente saúde para poder observar as Constituições da
Sociedade”.817
A importância, e daí a seriedade da admissão ao noviciado, é evidenciada por uma
constatação feita em termos de vida religiosa, segundo a qual “a maior parte das dificuldades
encontradas em nossos dias na formação dos noviços, derivam do fato de que eles, no momento de
sua admissão ao noviciado, não possuíam aquele mínimo de maturidade necessária”.818
Com o noviciado tem início a experiência religiosa salesiana; o candidato dá a ela sua adesão,
porque a julga correspondente ao seu chamado pessoal. A admissão, portanto, pode acontecer
somente depois que foi verificada a presença de tal intenção, que determina uma verdadeira opção
e uma autêntica atitude formativa. É preciso indagar a existência de uma motivação suficientemente
autêntica, adequada e válida.
Se esta decisão ou esta motivação não existirem, o noviciado pode reduzir-se a uma
experiência artificial e externa, quase um empreendimento imprudente por parte do candidato,
dadas as exigências que lhe serão propostas, com incidência não positiva sobre o próprio ambiente
formativo.
114. O cânon 642 estabelece: “Os superiores, com o mais atencioso cuidado, admitam
somente aqueles que, além da idade requerida, tenham saúde, índole adequada e suficientes
qualidades de maturidade para abraçar a vida própria do instituto; essa saúde, índole e maturidade
sejam comprovadas, se necessário, por meio de peritos, salva a prescrição do cânon 220”.
115. Os impedimentos, aos quais se referem os Regulamentos gerais no artigo 90, são assim
apresentados nos cânones 640-644: “Admite-se invalidamente para o noviciado:
quem não tenha ainda completado 17 anos de idade;
o cônjuge, enquanto perdurar o matrimônio;
quem, por vínculo sagrado, esteja ligado a instituto de vida consagrada, ou incorporado
uma sociedade de vida apostólica, salva a prescrição do cânon 684;
quem ingressa no instituto por violência, medo grave ou dolo, ou quem o Superior recebe
induzido do mesmo modo;
quem tenha ocultado sua incorporação a um instituto de vida consagrada ou a uma
sociedade de vida apostólica.”.819
“Os superiores não admitam para o noviciado clérigos seculares sem consultar o Ordinário
deles, nem a endividados insolventes”.820
Sobre a admissão de filhos ilegítimos ou de divorciados, devem ser seguidas as indicações
dadas acima (número 57).
116. Os requisitos jurídicos exigidos para a admissão ao noviciado são: que o candidato
esteja livre dos impedimentos acima citados;
seja admitido pelo legítimo superior;
apresente os documentos exigidos, isto é:
o pedido;
certidão de batismo e de crisma;
o atestado de estado livre;
817
R 90
818
CRIS, Renovationis causam. Instrução sobre a atualização da formação da vida religiosa, 1969, número 4 (citado em
PI 42)
819
Can. 643
820
Can. 644
248
para quem foi incorporado a um Instituto religioso ou a uma Sociedade de vida
apostólica, a declaração do superior maior do Instituto ou da Sociedade;
para os clérigos seculares, o atestado do último ministério ou ordenação e as cartas
testemunhais dos Ordinários das dioceses onde esteve, depois de ter recebido o ministério ou a
ordenação, por mais de um ano.
Os destinatários destas informações têm estrita obrigação de manter o segredo sobre as
notícias recebidas e sobre as pessoas que as forneceram. Quanto às consultas a peritos, é preciso ter
presentes também as leis locais sobre a privacidade.
821
C 110
249
sobre a castidade: ser consciente da dimensão sexual da própria vida; assumir uma visão
justa e serena do celibato, como valor característico da própria existência; fazer-se conhecer
adequadamente pelo próprio diretor espiritual; estar em grau de dar e acolher manifestações de
fraternidade e de afeto e de viver a amizade; cultivar a capacidade de ascese na vida cotidiana.
120. Uma vez satisfeitos os requisitos exigidos para admissão ao noviciado, para a validade
da profissão temporária segundo o cânon 656 se exige que:
o candidato tenha completado ao menos dezoito anos de idade;
o noviciado tenha sido levado a termo validamente;
tenha sido feita livremente a admissão da parte do superior competente, com o voto de seu
Conselho, segundo a norma do direito;
a profissão seja expressa e emitida sem que haja violência, temor ou engano;
a profissão seja recebida pelo legítimo superior, pessoalmente ou por meio de um delegado.
121. No que se refere à duração do noviciado, deve ser lembrado o que está dito no artigo 111
das Constituições: “o noviciado dura doze meses segundo a norma do direito. Começa quando o
candidato, admitido pelo Inspetor, entra na casa do noviciado canonicamente erigida e se põe sob a
guia do mestre. Uma ausência que supere os três meses contínuos ou descontínuos o torna invalido.
A ausência que supera os quinze dias deve ser recuperada”.
Por ausência entende-se o afastamento real e temporário da casa do noviciado com motivos
justificados ou sem eles, com ou sem licença. Quando os noviços como grupo, tomado na sua
totalidade, ficam em uma casa do Instituto, designada para isto pelo Inspetor, segundo a norma do
cânon 647, parágrafo 3, não se dá a ausência.822
No que se refere às experiências pastorais ou a períodos apostólicos formativos dos quais
falam o cânon 648, parágrafo 2, devem-se aplicar os mesmos critérios acima referidos, uma vez que
o nosso direito próprio não estabelece normas particulares a respeito. Também neste caso, portanto
não se pode falar de ausência, se considera o que estabelece o cânon 647, parágrafo 3;
diversamente, estes períodos devem ser computados como ausências.
122. As nossas Constituições, tendo presente o que está disposto no cânon 655, estabelecem:
“A profissão no primeiro triênio será trienal ou anual; no segundo triênio será ordinariamente
trienal”.823 “Nada proíbe que possa ser bienal. A escolha entre as diversas possibilidades deve estar
baseada em motivos formativos, considerando a gradualidade e a seriedade do compromisso. A
decisão depende do pedido do noviço ou do professo temporário ou do inspetor que o admite”.824
O período da profissão temporária dura ordinariamente seis anos; o inspetor, se julgar
oportuno, pode prolongá-lo, mas não além dos nove anos.825 O cânon 658 estabelece que a profissão
temporária deve durar ao menos três anos, salvo o que prescreve o cânon 657, parágrafo 3.
822
No cânon 647 § 3 lê-se: “O superior maior pode permitir que o grupo dos noviços, por determinados períodos de
tempo, passe em uma casa do Instituto, por ele mesmo designada”.
823
C 113; Cf. FSDB 386
824
FSDB 390
825
Cf. C117
250
Conforme norma do cânon 690, o Reitor Maior, com o consentimento do seu Conselho, pode
dispensar da obrigação de repetir o noviciado, dando ao mesmo tempo ao inspetor com seu
Conselho faculdade de readmitir.
Compete ao Reitor Maior estabelecer - nestes casos - um conveniente período de prova antes
da profissão temporária e a duração dos votos temporários antes da profissão perpétua.
O Inspetor, uma vez avaliadas, junto com seu Conselho, as motivações do pedido de
readmissão, apresentará o pedido ao Reitor Maior, com uma relação circunstanciada do caso
(Currículo detalhado de quem pede, motivos pelo quais não fez a profissão ou decidiu sair depois da
profissão e agora pede para ser aceito, etc.)”.826
124. “A primeira profissão abre um período de vida consagrada durante a qual um irmão...
completa o processo de maturação em vista da profissão perpétua e desenvolve, como salesiano
leigo ou aspirante ao sacerdócio, os diversos aspectos da sua vocação”.827
O critério de juízo para a admissão à renovação da profissão é dado pela progressiva
consecução deste objetivo, tanto no imediato pós – noviciado,828 quanto durante o tirocínio.829
125. Mais concretamente, depois de ter avaliado a idoneidade para a vida salesiana e depois
de ter aprofundado as motivações da opção vocacional, dois objetivos do noviciado que
permanecem durante todo o processo formativo, o professo vive sucessivamente as fases do
imediato pós-noviciado e do tirocínio que, segundo o texto constitucional, têm por finalidade:
O imediato pós noviciado, orientar “o jovem irmão a integrar progressivamente fé, cultura e
vida”, mediante “o aprofundamento da vida de fé e do espírito de Dom Bosco e uma adequada
preparação filosófica, pedagógica, e catequética em diálogo com a cultura”;830
O tirocínio, ajudar o irmão a realizar “a síntese pessoal entre a sua atividade e os valores da
sua vocação”, no “confronto vital e intenso com a ação salesiana em uma experiência educativa
pastoral”. Ele a cumpre exercitando-se “na prática do Sistema Preventivo e especialmente na
assistência salesiana”.831
126. Sobre o tempo da renovação, deve ser levado em conta que a profissão, terminado o
período para o qual ela foi emitida, deve ser renovada sem ampliação.832
A renovação é obrigatória também no caso que, estando próxima da profissão perpétua, se
quisesse prorrogar, por motivos racionais, por um breve período, a data oportuna. Neste caso
renova-se a profissão temporária pelo período de tempo que a separa da perpétua. Todavia, uma
826
FSDB 394
827
C 113
828
Cf. C114
829
Cf. C115
830
C 114
831
C 115
832
Cf. can. 657 § 1
251
eventual interrupção devido à ignorância, ou negligência, não infirma a validade e a liceidade da
profissão feita. A renovação deve ser pública, isto é, recebida pelo superior competente.
128. É antes de tudo lembrado que, para quem se orienta ao presbiterado, a prospectiva da
formação sacerdotal está presente durante todo o arco formativo e não somente no período da
formação especifica.
De fato, mesmo tendo a formação salesiana ordinariamente um currículo paritário, com as
mesmas fases e com objetivos e com conteúdos semelhantes, existem algumas distinções
determinadas pela vocação especifica de cada um. Por isso, toda a formação inicial oferece ao
salesiano candidato ao presbiterado a possibilidade de desenvolver os diversos aspectos da sua
vocação como aspirante ao sacerdócio”.833
130. A progressiva configuração do futuro presbítero com Cristo Pastor é fruto da iniciativa
de Deus que chama, habilita e envia, e de um generoso empenho formativo de resposta. Exprime-se
através de um processo gradual, sobre tudo naqueles acontecimentos que manifestam e que
significam também visivelmente o chamado e a resposta, o dom da graça e o mandato para o
serviço.
O serviço do leitorado e do acolitado e a ordenação diaconal, finalizados no presbiterado, são
momentos importantes. O exercício destes ministérios e do diaconato, mesmo tendo cada um
conteúdos e objetivos próprios, tem uma finalidade prioritariamente pedagógica (espiritual,
ascética, litúrgica) em vista da ordenação presbiteral.
833
Cf. C 113
834
Cf. C116
252
132. “Os ministérios do leitorado e acolitado, previstos para os clérigos com finalidade
pedagógica, sejam conferidos durante a formação especifica do salesiano presbítero”.835
Para a admissão aos ministérios exige-se:
O pedido apresentado livremente pelo candidato ao inspetor, através do Diretor da
comunidade;
A presença dos requisitos indicados pela Igreja e dos necessários para a expressão salesiana
dos ministérios, e o grau de maturidade vocacional exigido pelo momento formativo que se está
vivendo;836
O respeito pelo intervalo estabelecidos pela Santa Sé e pelas Conferências episcopais. Isto
vale para admissão ao acolitado e ao diaconato: “O ministério do leitorado e do acolitado, sem que
entre estes intercorra ao menos o espaço de alguns meses, e ilícito, e regular, e faz perder o sentido
pedagógico dos mesmos ministérios. O mesmo acontece com uma proximidade muito pequena
entre o acolitado e o diaconato”.837
835
FSDB 491
836
Cf. can. 230 § 1
837
ACS 293 (1979), página 26; Cf. can. 1035
838
Cf. capítulo segundo
839
Cf. MuR 33
253
uma síntese teológica suficientemente sólida como o fundamento para os deveres que
comporta a transmissão da mensagem evangélica e sua inculturação, e para uma constante
atualização pessoal.
136. No serviço de santificação é necessário que o futuro diácono ou presbítero dê prova de:
sentido salesiano e sacerdotal da sua consagração religiosa: a experiência de Deus e da
vocação, vividas como motivos central da própria existência; a castidade religiosa e o celibato
sacerdotal, aceitos positivamente como dom e estilo de vida;
uma experiência de fé cultivada e mantida por uma pedagogia espiritual concreta e
constante, que se expressa na oração pessoal, na partilha da própria experiência e no cumprimento
dos próprios deveres relativos à oração litúrgica da Igreja;
a capacidade de acompanhar, especialmente os jovens, na vida espiritual e de introduzir na
experiência dos sacramentos, particularmente da Eucaristia e da Penitência.
138. – um vivo sentido de Igreja, da sua presença e da sua missão no mundo de hoje. Alguns
sinais são:
o ardor apostólico, o interesse pelas urgências do Reino, a abertura universal;
uma convicta aceitação da identidade do presbítero e do ministério como são
apresentados pela Igreja e a acolhida das orientações do Papa e dos Pastores;. A consciência da
posição do presbítero na relação de comunhão com os outros membros da comunidade eclesial;
um específico modo de comportar-se como presbítero religioso na Igreja local;841
840
Cf. Sac. Coel. 66
841
Cf. MuR, especialmente 30. 33
254
o acompanhamento sacerdotal das pessoas e dos grupos na direção espiritual, e no
diálogo pastoral;
a gestão dos diversos tipos de ambientes e setores pastorais salesianos;
a comunicação do espírito salesiano aos leigos e o trabalho educativo-pastoral
compartilhado.
142. – a capacidade de viver “sacerdotalmente” nas diversas obras nas quais se realiza a
missão salesiana e nas diversas funções que são exigidas (diretor espiritual, administrador, pároco,
formador, educador de meninos de rua e homem da comunicação social...);
viver o ministério sacerdotal como uma experiência espiritual que dá significado e preenche
a existência e não só como serviço funcional em uma determinada estrutura.
143. São exigidos os seguintes requisitos jurídicos de quem, uma vez cumpridos os três anos
de formação específica no caso do diaconato e os quatros anos no caso do presbiterado pede para
ser admitido à ordenação:842
ter recebido os ministérios de leitor e de acólito, tendo observado os períodos de tempo prescrito:
um tempo conveniente, ao menos de alguns meses, entre o leitorado e o acolitado, ao menos seis
meses entre o acolitado e do Diaconato (Cf. can. 1035 § 2) e entre o Diaconato e o Presbiterado
(Cfr. can. 1031 § 1); é bom lembrar que “a ordenação diaconal pode acontecer ordinariamente
somente depois da conclusão do terceiro ano dos estudos teológicos”;843
o pedido livremente redigido e assinado (Cf. can. 1036);
ter emitido os votos perpétuos (Cf. can. 1037);
estar livre das irregularidade e dos impedimentos de que tratam os cânones 1040-1049; ter
apresentado os documentos exigidos: 1º) certificado dos estudos regularmente cumpridos à norma
do cânon 1032 (terceiro ano dos estudos teológicos para o diácono, e quatro anos para o presbítero);
2º) certificado de diaconato recebido, caso se trate de ordinandos ao presbiterado; 3º em se tratando
de ordinandos ao diaconato, certificado de batismo e de confirmação e recepção dos ministérios,
conforme o cânon 1035; igualmente o certificado da declaração da qual fala o cânon 1036;844
ter sido objeto de escrutínio a respeito das qualidades de que fala o cânon 1051: retidão de
rotina, piedade genuína, bons costumes, aptidão para exercer o ministério, documento sobre seu
estado de saúde física e psíquica.
842
Cf. FSDB 494-495
843
FSDB 494, Cf. 495, Cf. Elementos jurídicos 76. 78
844
Trata-se da declaração do candidato que atesta querer receber a ordem espontânea e livremente, e dedicar-se para
sempre ao ministério; para os documentos exigidos Cf. can. 1050
255
Dada a admissão ao diaconato ou ao presbiterado, dentro dos padrões estabelecidos pelas
Constituições,845 o Inspetor dá as cartas demissórias conforme o cânon 1019 § 1, para a ordenação.
145. A admissão à profissão perpétua implica que o sócio tenha atingido “a maturidade
espiritual salesiana exigida pela importância de tal opção”,849 que se torna “medida de juízo e
critério de discernimento de todas as opções posteriores”,850 e de modo especial tenha demonstrado
motivações adequadas.
As aptidões para a vida salesiana já expostas, deverão ser tidas em conta em uma prospectiva
de síntese, em sua globalidade e harmonia.
146. Mais especialmente e com base sobretudo na experiência do tirocínio, deverá ser
verificado:
sobre a atividade apostólica, se na relação educativo-pastoral foi manifesta um adequada
maturidade humana proporcional à idade cronológica, base de qualquer outra maturidade; se a
experiência do tirocínio foi vivida com zelo como compromisso e resposta vocacional ou como
ativismo e libertação do anonimato, com uma atitude de equilíbrio sereno tanto nos sucessos como
nas dificuldades, com sentido de adaptação a lugares, circunstâncias e compromissos apostólicos
diretos; se nela foi posta em evidencia a predileção pelos jovens especialmente os mais pobres; se
foi praticado com arrojo e fidelidade o Sistema Preventivo; se a missão foi vivida com sentido
comunitário;
sobre a vida comunitária, quais foram as atitudes de convivência com outros irmãos mesmo
de mentalidade e idade diversas, se de abertura, de colaboração, de inserção dócil e ativa nas
iniciativas comuns;
sobre a vida segundo os conselhos evangélicos, se houve uma atitude de discernimento e de
disponibilidade, capacidade de iniciativa e de co-responsabilidade; um testemunho de pobreza no
estilo e nos critérios de vida, na realização da missão e no compromisso de trabalho; equilíbrio e
845
Cf. C 108; Cf. também R 81
846
C 113
847
FSDB 512
848
FSDB 515
849
C 107
850
ACS 295 (1980), p. 20
256
maturidade suficiente nos relacionamentos interpessoais, no contato com os jovens e com os leigos;
capacidade de comunicação e de amizade, prudência e ascese;
sobre a experiência pessoal de oração, de direção e partilha espiritual e de formação
permanente: se o irmão agiu com empenho e constância; se demonstrou uma atitude formativa ativa
e valorizou o acompanhamento espiritual; se foi sensível a uma certa abertura cultural e à
atualização.
Cada um de nós é chamado por Deus a fazer parte da Congregação Salesiana. Para tanto
recebe d’Ele dons pessoais e, respondendo fielmente, encontra o caminho da sua plena realização
em Cristo.
A Sociedade reconhece-o em sua vocação e ajuda-o a realizá-la. Como membro responsável,
ele coloca sua pessoa e os próprios dons a serviço da vida e da ação comum.
Cada vocação manifesta que o Senhor ama a Congregação, deseja-a viva para o bem da sua Igreja
e não cessa de enriquecê-la com novas energias apostólicas. (Constituições, 22)
851
Cf. can. 658, 2º; 657 § 2
852
Cf. C 117
853
Cf. can. 658, 1º
854
Cf. SCR Decreto Militare Servitium (sobre os religiosos obrigados ao serviço militar), 30 de julho de 1957, AAS 49;
Elementos jurídicos e praxe administrativa no governo da Inspetoria, números 53. 73
257
ANEXO
Nota: São indicados alguns documentos eclesiásticos e salesianos recentes que podem ser de
especial interesse para o discernimento vocacional salesiano e para as admissões.
1. DOCUMENTOS ECLESIÁSTICOS
João Paulo II
Exortação apostólica Pastores Dabo Vobis, 1992
Exortação apostólica Vita consecrata, 1996
2. DOCUMENTOS SALESIANOS
O projeto de vida dos Salesianos de Dom Bosco. Guia à leitura das Constituições salesianas,
1986
O Diretor salesiano. Um ministério para a animação e o governo da comunidade local,
1986
O Inspetor Salesiano. Um ministério para a animação e o governo da comunidade
Inspetorial, 1987; contém um Apêndice “Elementos jurídicos e prática administrativa”, ver abaixo.
Elementos jurídicos e práticas administrativa no governo da Inspetoria, 1987
ABREVIATURAS E SIGLAS
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