As Antiguidades Da Lusitânea (2009)
As Antiguidades Da Lusitânea (2009)
As Antiguidades Da Lusitânea (2009)
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A P E N E L
COOR DENAÇÃO CIEN TÍFICA
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Virgínia Soares Pereira, António Manuel R. Rebelo,
João Nunes Torrão, Carlos Ascenso André,
Manuel José de Sousa Barbosa
EDIÇÃO
Imprensa da Universidade de Coimbra
Email: imprensauc@ci.uc.pt
URL: http://www.uc.pt/imprensa_uc
CONCEPÇÃO GR Á FICA
António Barros
PR É -IMPR ESSÃO
SerSilito • Maia
ISBN
978-989-8074-80-5
DEPÓSITO LEGA L
290367/09
Vo l . III
André de Resende
As Antiguidades
da Lusitânia
I – Nota Biobibliográfica
Ratisbona, Passau, Linz, Viena, Mântua, Bolonha, Génova, Barcelona, até acabar em
Portugal, em 1533, com 33 anos. Acabou nessa altura em Évora a sua peregrinação
cosmopolita, para começar a interessar-se pela realidade lusitana.
Conhecido pela sua erudição e importância social, movimenta-se no meio da
classe dirigente, e logo na sua terra com o cardeal-infante D. Henrique. É objecto
das atenções dos seus amigos estrangeiros e portugueses, entre os quais Damião
de Góis, cosmopolita como ele e latinista, ao qual dedica um poema, impresso na
Flandres, em que descreve os prazeres e complicações da vida palaciana, sem que
deixe de manter correspondência com altos dignitários, como D. João de Castro,
nosso vice-rei na Índia, ou com eruditos que ensinam em Portugal, como João Vaseu,
ao qual dedica uma longa carta-ensaio sobre a Era de Espanha, que será incluída
na Crónica da Hispânia publicada por aquele em 1552. A pedido de D. João III
escreve sobre Aquedutos, entre os quais faz especial menção do chamado Da Água
de Prata que ainda hoje vemos em Évora. Já vai trabalhando desde 1545, sobre
As Antiguidades da Lusitânia, com a finalidade de expor e estudar as inscrições
latinas que vai encontrando e que ainda hoje têm inegável valor documental, ao
mesmo tempo que glorifica o passado dos Lusíadas, os descendentes de Luso, filho
de Baco, e fundador da Lusitânia, que começa a ser entendida e consagrada como
equivalente do topónimo Portugal. Não terminará esta obra até morrer em 1573, no
reinado de D. Sebastião, e deixa inacabado o livro V, que mal consegue começar.
A obra será publicada postumamente em Évora em 1593, quando em Portugal já
reinam os monarcas espanhóis.
Entretanto, vai pouco a pouco arredando a Espanha dos nossos santos, os
que, segundo ele, deviam ser incluídos no nosso hagiológio, e de muitos outros
pormenores históricos, e cria a lenda de Viriato que até hoje será uma espécie de
Pai Fundador da nossa nacionalidade, mesmo que a investigação histórica o desminta
parcialmente. Não quer sobretudo aceitar a definição de que Todos somos Hispanos,
uma vez que liga Castela, com a qual o intercâmbio cultural e das famílias portuguesas
não podia ser maior, à visão da Hispânia. Já pronunciara orações de sapiência em
Coimbra e em Lisboa, e vai seguindo a tradição de cartas-ensaios dirigidas a seus
colegas e amigos espanhóis, como Bartolomeu Quevedo, ou Ambrósio Morales,
sobre assuntos piedosos e históricos, tentando discretamente valorizar o que era
retintamente português.
A sua obra é grande e variada e ocupa, na bibliografia publicada no Arquivo
Histórico Português, vol. IX (1914), pp. 310-322, as 154 rubricas que lhe são dedicadas,
nessa altura, nada impedindo que se possam ainda encontrar outros escritos seus,
na confusão secular que ainda reina, embora lentamente combatida, nos nossos
arquivos.
Mesmo assim tem havido a paciência e a coragem para estudar e publicar o
nosso Autor, em congressos e em publicações avulsas. O conhecimento da sua obra,
ainda que não esteja totalmente estudada, traduzida e comentada, bem como da sua
posição intelectual, religiosa e política, tem avançado com entusiasmo e com saber,
Introdução 7
Oração de Sapiência (Oratio pro rostris), trad. Miguel Pinto de Meneses, intr. e
notas de A. Moreira de Sá, Lisboa, 1956.
Obras Portuguesas, pref. e notas de José Pereira Tavares, Sá da Costa, Lisboa,
1963.
Vincentius leuita et martyr, trad. e com. em francês por J. V. de Pina Martins,
Braga, 1981.
Oração de André de Resende Pronunciada no Colégio das Artes em 1551,
reprodução fac-similada, leitura moderna, tradução e notas, de Gabriel de Paiva
Domingues, Coimbra, 1982.
Carta a Bartolomeu de Quevedo, ed., trad. e notas de Virgínia Soares Pereira,
Coimbra, 1988.
Aegidius Scallabitanus, Um Diálogo Sobre Frei Gil de Santarém, ed., trad. e notas
de Virgínia Soares Pereira, Fundação Gulbenkian, Lisboa, 2000.
Algumas Obras de André de Resende, vol. I (1531-1551), edições com tradução
e comentário de vários AA. contemporâneos, publicadas com um estudo de M.
Cadafaz de Matos, Edições Távola Redonda, Lisboa, 2000.
Algumas Obras de André de Resende, vol. II (1529-1551), ed., introd. e estudo
de M. Cadafaz de Matos, que reproduz as edições traduzidas e comentadas de
vários AA. Contemporâneos, Edições Távola Redonda, Lisboa, s. d.
Frankfurt, 1603, como continuação e livro V das Antiquitates Lusitaniae, bem como
na edição de Coimbra, 1790 5.
Vinte anos antes da impressão da edição portuguesa acima referida já Resende,
contudo, oferecia ao Cardeal Infante D. Afonso, filho de D. Manuel, uma recolha
de documentos epigráficos romanos, a que Leitão Ferreira dá o nome de Antiqua
epitaphia, cuja existência, contudo, ainda não foi verificada. O manuscrito com
transcrições epigráficas de Resende a que Huebner se refere no C. I. L., II, n. ° 17,
p. XI, não tem valor científico bastante 6. Devemos, pois, contentar-nos de momento
com a notícia da carta, que tão-pouco é explícita no que se refere à publicação, uma
vez que se limita a dizer, depois de expressar o desejo de «dar a conhecer ao mundo»
as antigas colónias romanas da Lusitânia: «Damos a conhecer os dados que se nos
deparam por ocasião das muitas peregrinações». Nada nos indica que se trate de uma
publicação impressa, tal como deduz Leitão Ferreira, que, ao referir-se a 1533 como
data de regresso de Resende a Évora, após a sua longa estada no estrangeiro, e à
carta ao Cardeal D. Afonso, transcreve o passo final da vida de Resende de Diogo
Mendes de Vasconcelos, seu editor, como prova bastante da existência de um livro:
«Estes são os factos biográficos do nosso Resende, factos que pareceram dignos de
ser contados e aos quais vou juntar uma carta sua ao Cardeal D. Afonso, na qual
é evidente que, já há muito tempo, tinha nascido no seu espírito esta obra sobre
as antiguidades» 7. Não nos parece que daqui se possa deduzir a publicação de um
livro, pese embora a hipótese de Leitão Ferreira de que Mendes de Vasconcelos teria
tido somente notícia do livro, mas que só teria visto a carta. O próprio Braamcamp
Freire, editor de Leitão Ferreira, é extremamente cuidadoso na apreciação destas
informações e liga-as à notícia dada por D. Rodrigo da Cunha, bispo de Lisboa, que se
refere a «hum livro escrito de mão e da letra de Mestre André de Resende, intitulado
Monumenta Romanorum in Lusitanis Vrbibus, dedicado ao Cardeal D. Afonso, que
se nos comunicou». Trata-se aqui, portanto, de uma publicação manuscrita, o que
parece ser mais aceitável, face ao que nos diz o próprio Resende na carta em apreço.
Seja como for ou venha no futuro a ser descoberto, pode desde já concluir-se que a
obra tardia de Resende, que o consagrou como antiquário no mundo erudito do seu
tempo, tem a sua génese na época em que frequentou os grandes centros culturais
europeus, uma vez que ao chegar a Portugal em 1533 já oferece a um dos seus
patronos eborenses os resultados, impressos ou não, do seu esforço de coleccionador
de antiguidades, sobretudo de documentos epigráficos, que 60 anos depois, quando
da publicação por Diogo Mendes de Vasconcelos do seu legado erudito, constituirão
um monumento de consulta de primeira grandeza quanto às antiguidades romanas
em território português, mal-grado alguns óbices quanto à probidade científica do
humanista, como adiante veremos. O De antiquitatibus Lusitaniae, juntamente com
a História da antiguidade da cidade de Évora e outras obras menores de Resende,
entre as quais salientamos a Carta a Bartolomeu Quevedo, constituem ainda hoje
obras de consulta necessária, apesar de toda a investigação posterior que em Portugal
sobre as antiguidades romanas se publicou 8.
Introdução 11
que Resende só depois de muito pensar é que escrevia. Põe, no entanto, o leitor
de sobreaviso quanto à desilusão que possa sentir quando pensa que vai ler uma
história organizada, sistematizada, com inúmeras informações sobre as cidades, pois
muito se reduz a insignificantes anotações. E o leitor moderno sente aqui, mesmo que
bem-intencionado, a emulação do colega, a raiva bem contida do rival Vasconcelos,
que não resistirá a publicar, seguidamente aos quatro livros de Resende, um quinto
livro da sua autoria sobre as antiguidades de Évora, com o qual vai tentar disputar
a primazia ao livro resendiano escrito em vernáculo sobre o mesmo assunto.
Há, contudo, que considerar que a descrição epistolográfica de Vasconcelos
contém em si, ainda que discretamente, uma apreciação crítica do trabalho deixado
por Resende, uma vez que, cuidadosamente, à medida que vai enumerando os vários
itens de cada livro, não hesita em avaliar o que tantas fadigas lhe custou a melhorar
e a editar. A verdade é que admite ter Resende confiado demasiadamente na sua
memória e que «não se tivesse preocupado com o elaborar primeiramente esboços,
planos e ensaios da matéria, mas tivesse escrito os quatro livros, conforme os factos
lhe ocorriam ao espírito...» 19, o que está em nítida contradição com a acribia acima
aludida, quando diz que Resende «se habituara a escrever não ao correr da pena, nem
de improviso, mas sim depois de ter pensado maduramente» 20. Não conseguimos,
ao ver as críticas que prudentemente vai semeando, furtar-nos à sensação de um
certo despeito sentido pelo editor, que para agradar a um poderoso, ou talvez por
não ter capacidade para ir muito mais além, tinha metido por obediência os ombros
a uma obra que não era sua, mas que para cúmulo tinha uma qualidade erudita
de desigual valor, de contornos desordenados, e que constituía novidade total no
mundo intelectual português. Em que medida houve intervenção do editor no texto,
porque na disposição das inscrições confessa ele que houve, não nos é possível
determinar com segurança. Sentimos, todavia, que anota todas as ausências que as
promessas de Resende não faziam prever, como no livro quarto, em que anuncia ir
tratar das cidades e acaba por não saciar a curiosidade de quem esperava mais do
que a descrição de «quinze ou, quando muito, dezasseis ópidos» 21. Por outro lado,
quando do livro primeiro, diz claramente Vasconcelos que Resende «de passagem
toca nalguns problemas de menos importância e um pouco obscuros» 22, e salienta
que no terceiro livro a narração sobre os povos da Lusitânia é «difusa» 23.
Mão é possível, portanto, ignorar a posição crítica do editor com o qual não raras
vezes somos forçados a concordar, visto que o plano dos quatro livros deixados por
Resende é bastante confuso, com múltiplas digressões, como é o caso da que faz
sobre o esturjão, quando da descrição dos rios portugueses no livro segundo, e tantas
outras que, embora nos afastem do assunto, nos dão a conhecer as preocupações de
Resende no fervilhar dos seus múltiplos conhecimentos, das suas inúmeras leituras,
nem sempre sistematizadas como gostaríamos que fossem.
Sobre o quinto livro só sabemos por Vasconcelos que foram escritas por Resende
vinte e cinco linhas, que se ocupavam de Évora, donde se afirmava e era natural,
livro que constitui o ensejo de Vasconcelos nos brindar com um Ersatz da sua lavra,
14 As Antiguidades da Lusitânia
não sem o fazer preceder de uma autobiografia que, quanto a modéstia, deixa muito
a desejar 24, o que naturalmente também não surpreende quem conheça o mundo
erudito de sempre e os seus complicados académicos.
Seja como for, os quatro livros de Resende, trabalhados por Mendes de Vasconcelos,
que afirma tê-los já encontrado acabados, «absolutos», diz-nos, são muito semelhantes
em método e concepção às obras europeias suas contemporâneas.
Mesmo sabendo de antemão que o plano inicial de Resende era escrever dez
livros, tal como nos assevera o seu biógrafo editor 25 , nem por isso deixa de
ressaltar na leitura o sinuoso da descrição, ainda que pressintamos um plano mais
ou menos definido como fundamento expositivo, invadido nos seus contornos bem
demarcados por um sem-número, como já se disse, de digressões, que mais fazem
lembrar os textos dos historiadores antigos (Plínio, Estrabão e tantos outros), que,
quer queiramos quer não, lhe serviram certamente de modelo. A abordagem das
origens lusitanas de Portugal já é feita, contudo, dentro de uma concepção que se
aproxima da que vai ser hoje em dia adoptada pelos historiadores.
Seguindo, no entanto, a moda da época, inicia o primeiro livro com a discussão
da etimologia do nome Lusitânia, o que arrasta Resende para o domínio do fabuloso
e da mitologia, que corresponde na essência à metodologia «científica» da sua altura.
Como se trata, neste caso, de um intelectual português de formação religiosa e
teológica, afloram igualmente as bases da visão providencialista da história que
perdurará nas próximas gerações, vindo a ser por isso a fonte dilecta da historiografia
alcobacense da Monarquia Lusitana e de dissertações mais ou menos históricas como
as de Frei Amador Arrais 26. Constitui, contudo, novidade a sistematização que faz
seguidamente quanto aos povos que habitaram a Lusitânia, tais como Túrdulos,
Vetões, Célticos e muitos outros, dos quais vai salientar sobretudo os Lusitanos e
o seu chefe Viriato: detém-se num capítulo à parte sobre o seu carácter, os seus
costumes e naturalmente sobre a sua coragem. Não difere neste aspecto pois, grosso
modo, do que hoje vemos nas obras sobre o Portugal romano, com excepção, é
evidente, de uma metodologia mais actualizada. O gérmen, contudo, já está aqui.
Ainda no primeiro livro consagra-se o humanista, o que constitui outra novidade, a
uma descrição nitidamente de cariz geográfico, sobre os montes e serras portugueses,
o que o toma, a nosso ver e de alguns estudiosos, um pioneiro da Geografia em
Portugal, visto que procura a respeito de cada uma das zonas descritas salientar as
características, o habitat, o clima e as produções. Esta linha geográfica será mantida
no segundo livro.
De facto, vamos encontrar no Livro segundo uma tentativa geofísica de descrição
dos rios portugueses, do Sul ao Norte do país, tal como dos montes, que não
encontra correspondente quanto às antiguidades romanas que se centrarão sobretudo
Introdução 15
na zona alentejana e algarvia, descrição que logo de início vai ser cortada por um
capítulo, que constitui uma digressão bem pensada e bastante à moda da época
que se ocupará da discussão ictiológica do misterioso esturjão 27, cuja classificação
dentro dos peixes conhecidos de então levantava a maior dificuldade. Efectivamente
o seu nome moderno não coincidia com o nome latino conhecido e divulgado pelos
manuais mais seguidos de zoologia, que ainda eram os manuais da antiguidade
clássica, com especial relevo para Plínio. Dez páginas da edição princeps são
consumidas a discutir o esturjão e até a novidade que para um Português constituía
o caviar e a botarga, depois de uma breve introdução aos rios portugueses, que
mais adiante voltarão a ser estudados um a um ou em grupos (caso dos rios de
Braga), com excepção do Guadiana que propositadamente é referido com menos
pormenor, posto que aparecerá várias vezes com as suas peculiaridades em muitos
outros passos da obra. No meio de citações clássicas, mas demonstrando um
conhecimento factual dos rios, dá-nos Resende a conhecer as suas virtualidades, os
seus peixes e, quando calha, a sua etimologia ou mesmo a sua mitologia (como é
o caso do Tejo), quando não pormenores históricos, como seja o Cachão da Valeira
em pleno rio Douro 28. Ligada à água e consequentemente aos rios aparece-nos
para o fim deste livro um pequeno capítulo destinado à descrição da fertilidade da
Lusitânia, noção que é retirada muito especialmente dos Deipnosofistas de Ateneu e
que certamente reflecte muito mais um lugar-comum, resultante do exotismo desta
parte da ecúmena, do que propriamente uma análise mais ou menos sólida em que
não aparecesse a amenidade do clima como ponto fundamental. A verdade é que já
a Antiguidade tinha uma noção das limitações da fertilidade lusitana, provenientes
da irregularidade do clima e da má qualidade de grande parte do solo, de tal forma
que a história romana encontrava atenuantes para os «salteadores» Lusitanos, devido
a viverem sob a constante pressão da sua pobreza 29.
A história dos povos que, diz-se expressamente, «dominaram a Lusitânia»,
Cartagineses, Romanos ou Godos, é lançada por assim dizer no livro terceiro e em
moldes que sem dúvida constituem novidade absoluta na historiografia portuguesa
de então. A caracterização étnica e histórica dos povos invasores daquela zona
desde a época pré-romana até ao domínio visigótico é abordada efectivamente pela
primeira vez e ligada ao território de Portugal que virá a ser constituído em reino
independente, o que revela um conhecimento minucioso e organizado, apesar das
lacunas e das distorções e das interpretações abusivas que hoje é possível determinar.
É interessante notar que os fundamentos em que se apoia a construção histórica
de Resende em nada diferem no que respeita à concepção e finalidade, do que
se escreve hoje, pois até mesmo a ligação do relato histórico dos historiadores e
geógrafos gregos e romanos não deixa de ser relacionada com as provas palpáveis no
terreno, uma vez que os documentos arqueológicos, muito em especial epigráficos,
são largamente estudados e esquadrinhados, e, de quando em quando, forjados, tal
como era conhecido hábito nos historiadores e antiquários renascentistas 30. Claro
que a influência da historiografia e geografia da antiguidade e da época medieval
16 As Antiguidades da Lusitânia
(cronistas de língua alemã) é seguida com enorme respeito, o que implica a admissão
sem crítica de muitos factos fantasiosos e lendários, que hoje seriam interpretados
certamente de outra forma, sobretudo no sentido de averiguar qual a finalidade da
lenda e o significado dos símbolos à sua volta criados.
Ocupa-se Resende, sobretudo, do povo lusitano e das suas alianças com os
povos seus vizinhos, bem como do significado das guerras que durante mais de um
século moveram contra o invasor Romano e nas quais demonstraram ser um povo
de enorme coragem, de que deram também provas já em guerras mais internacionais
quando para Roma se dirigiram nas tropas recrutadas pelo cartaginês Aníbal. É
pois um capítulo da história antiga da Península Ibérica, da sua parte ocidental,
que aqui se traça, sem esquecer os primeiros reis da lenda e os primeiros povos
de que se tem notícia, como Fenícios e Cartagineses, ainda que com o cuidado
bastante para generalizar o reconhecimento factual da presença dos Gregos, que, à
excepção de Ulisses em Lisboa e de um ou outro pormenor que aparenta os Iberos
com usos gregos ou nomes gregos, pouco transparece 31. Não podem deixar de ser
considerados os grandes chefes dos Lusitanos, que são Viriato, que servirá a Resende
para o introduzir na história portuguesa como herói nacional, e o romano Sertório,
romano perseguido e paladino da nobre causa da resistência contra o invasor. Na
História da Antiguidade de Évora, já Resende o tinha sobejamente ligado à cidade,
e aí certamente de forma mais fantasiosa do que neste livro em que se limita a
fazer como que um florilégio dos passos mais importantes da historiografia grega
e romana atinente à Ibéria lusitana, prenúncio metodológico e historiográfico da
história antiga contemporânea, uma vez que consagra importante parte dos passos
ainda hoje considerados dentro do corpus referente a este momento histórico,
o que revela um conhecimento aturado dos autores clássicos, que depois serão
confrontados com os textos medievais e seus contemporâneos. Do tratamento dos
testemunhos antigos depreende-se a intenção de elaborar uma obra de defesa dos
interesses lusitanos face aos romanos, que por certo nos fazem reflectir no seu
valor quase alegórico e actual de defesa dos interesses nacionais da época perante
a ameaça estrangeira, uma vez que há autênticas interpelações aos historiadores
romanos que na generalidade são acusados de parcialidade e de má fé. Algumas
referências particulares aos factos da história antiga fazem de facto lembrar que o
território português sempre esteve sujeito à possibilidade de invasões, o que não é
de desligar da realidade histórica de então, em que as ligações a Castela tornavam
sempre potencialmente frágil a continuação dinástica em mãos portuguesas, sobretudo
numa altura em que o rei D. Sebastião tinha morrido sem deixar descendência e
o país estava a ser governado por um Cardeal-Rei de provecta idade e que por
definição também não teria filhos. Conhecida como era a tendência da rainha mãe,
castelhana de gema e com influência política, Resende dá a entender por todos os
signos que pode inventar que a coragem lusitana é o sustentáculo possível para a
independência, e que poderá servir ainda melhor se fizer parte integrante de uma
consciência nacional 32. Fica-se este livro pelos Godos, como povo que dominou a
Introdução 17
Lusitânia, sobre os quais vai dar as informações que colhe nos historiadores antigos
que deles se ocuparam, Iordanes e Procópio, não sem que faça digressões sobre os
usos e formas linguísticas por eles usados, demonstrando também que dominava
os textos medievos escritos em latim pelos historiadores godos, como Widukind e
outros, que muitos séculos depois virão a ser editados na edição monumental de
Mommsen, Monumenta Germaniae Historica 33. Mesmo fora da historiografia clássica
vemos o nosso humanista tratar com à-vontade textos difíceis de conhecer, uma vez
que ainda hoje não se encontram em todas as bibliotecas devido à sua obscuridade
e a tratarem de uma época histórica que nunca foi beneficiada pela opinião da Idade
Moderna, aliás como demonstram as próprias palavras de Resende ao falar dos tempos
góticos, como a avalanche que fez aluir todo o magnífico edifício construído pelos
Romanos e pela Antiguidade Clássica, apesar da sua boa vontade e respeito por S.
Isidoro de Sevilha, que ele sempre cita e trata com a maior reverência 34.
É com um capítulo, de certa maneira desfasado do teor geral do livro, que o
termina falando sobre as Vias militares romanas, que discute apoiando-se sobre o
Itinerário de Antonino-o-Pio, bem como sobre o seu conhecimento arqueológico
do terreno 35.
No livro quarto, a enumeração dos ópidos romanos em Portugal começa
arbitrariamente por Moura e Mértola: a primeira fora do Coventus Pacensis e a
segunda a caminho do Algarve, para depois começar pela parte mais meridional
desta província e vir acabar em Elvas, Vila Viçosa e num templo de Júpiter situado
entre Évora e Beja, exactamente no Torrão. Já Mendes de Vasconcelos apontava
para esta limitada lista de 16 ópidos que vai frustrar o leitor que acreditou nas
promessas de que se iriam tratar as principais povoações da Lusitânia. É possível
que Resende pensasse ainda publicar mais sobre este esboço corográfico, que
depois será aproveitado muito contra seu gosto por Gaspar Barreiros 36 e por tantos
outros que no século a seguir muito o imitaram, como Frei Bernardo de Brito e mais
historiadores interessados em antigualhas. Seja como for, a verdade é que a propósito
de cada povoação permite-se Resende elaborar um florilégio precioso de história
local, como é o caso de D. Vataça e a sua história de Dona Bizantina e a cruzada
contra os Infiéis 37, ou a magnífica fraude da história da inscrição mandada gravar
por D. Sebastião no arco da vitória que celebrava a derrota em Ourique do poder
mouro face às armas e à fé de D. Afonso Henriques, e do aparecimento das cinco
chagas e dos símbolos presentes no escudo da bandeira portuguesa 38, bem como
a preciosa recolha epigráfica das inscrições dedicadas a Endovélico, o Esculápio
lusitano, em Terena, que efectivamente tanto significado tem na história dos cultos
antigos ligados ao território português 39. A análise histórica, ajudada pela recolha
e exame das inscrições, pela abordagem etimológica de muitos dos topónimos, pelo
enquadramento documental dos factos afirmados, constitui a prova mais evidente
de que a literatura científica, ainda que misturada com a lenda e com o desejo
de, pela fraude, se colmatarem lacunas e comprovarem teorias, começava a dar os
seus primeiros passos, constituindo pelo material recolhido importante contributo
18 As Antiguidades da Lusitânia
II.6 – As fontes
peninsulares consulta Resende a Plínio, para outros, contudo, a Paulo (séc. II-III
d. C.), bem como, para a rede viária romana, cita abundantemente o Itinerário de
Antonino Pio (séc. III d. C.), no fim do livro terceiro.
serve para investigar o passado português que ele quer distinguir bem do passado
espanhol, ou, melhor, castelhano.
Com igual entusiasmo, porém, lança mão de toda a produção erudita e intelectual
sua contemporânea, e quando não contemporânea, dos tempos do humanismo
europeu, dos séculos XV e XVI. Autores e personalidades de Portugal, de Espanha,
de França, da Itália e da Europa civilizada são citados, utilizados e criticados ou
seguidos, conforme as teses que vai defendendo e alicerçando para a construção,
que ficará por certo incompleta devido à morte do humanista, do edifício das
antiguidades lusitanas e portuguesas que queria erigir. É evidente o seu conhecimento
de figuras como as de D. Miguel da Silva, Bispo de Viseu, fidalgo elegante e
latinista, inimigo de D. João III, ou de Martim de Figueiredo, tradutor de Plínio e
engenheiro frustrado, e Francisco Nunes de Beja, difícil de identificar, Portugueses
célebres na sua época, bem como de Espanhóis eruditos como Fernán Nuñez de
Guzmán, filólogo de Salamanca, Bartolomeu Quevedo de Toledo, Honorato João
Valenciano, Florião do Campo, continuado por Ambrósio de Morales, cronista de
Espanha, aliás como Jerónimo Zurita, historiador aragonês, nomes importantes da
erudição e das letras espanholas. Mas de além-Pirenéus conhece outras fontes da
maior importância, quer como estudiosos de antiqualhas, como João Ânio de Viterbo,
bem conhecido pelas suas falsificações e os seus estudos sobre o Pseudoberoso,
ou o carmelita Onofre Panvínio de Verona, historiador dos fastos da Roma antiga,
ou eruditos como o médico Paulo Jóvio, bom conhecedor de Portugal e dos seus
Descobrimentos, de Baptista Egnácio, historiador dos Césares famosos da Europa e
de Bizâncio, de André Alciato e os seus trabalhos sobre Tácito e o Direito Romano,
do Patriarca de Veneza Hermolau Bárbaro, erudito e célebre, ou Paulo Cortese, assim
como de poetas com nomes famosos em toda a Europa como Baptista Mantuano
ou Sabélico, ou eruditos gregos como Teodoro de Gaza, que vem em meados do
séc. XV de Constantinopla para Itália. Mostra conhecimento do trabalho do francês
Rondelet, professor de medicina na Universidade de Montpellier. Da Flandres citará
o seu colega humanista João Vaseu que virá ensinar para Portugal, como da Suíça
consultará a obra de Joachim Watt (Vadianus), editor de Pompónio Mela, ou, da
Alemanha, Gelénio editor de Plínio. Toda esta bibliografia permite-lhe dissertar
sobre crítica textual, história bizantina, ictiologia (esturjão) e sobre a influência da
velha Roma consubstanciada sobretudo nas inscrições que até nós chegaram, e cuja
colecção e escolha devemos a Resende.
22 As Antiguidades da Lusitânia
II.7 – Originalidade
III. 2 – A linguística
o qual vai buscar uma explicação proveniente do mítico Rei Guto que encontra nos
cronistas saxónicos 44.
A linguística, incipiente como é óbvio, servir-lhe-á sempre de instrumento auxiliar
para encontrar a explicação da origem real do que pretende explicar do ponto de
vista histórico e dentro de um conteúdo conceptual ou ideológico bem definido,
sobretudo como forma de reivindicar, pela língua, mais antiguidade e nobreza para
o povo português.
que facilitem o que tenta provar, na maior parte das vezes sem razão, ainda que se
detenha com rara perspicácia em determinadas tradições textuais que corrige com
grande conhecimento 47.
III.4 – A História
Mas se todos estes aspectos já focados contribuem para que Resende dê uma
visão cientificamente correcta, do seu ponto de vista, dos factos que pretende expor,
a verdade é que essencialmente a sua finalidade é descrever com conhecimento de
causa os nobres antecedentes da história portuguesa, considerada lato sensu, pois
incluirá não só os factos que normalmente se classificam como históricos como
englobará lendas e pormenores que mais ligados estão ao folclore ou à literatura bem
como às ciências naturais, mas que contribuem para criar uma ideia de originalidade
em relação ao país que deseja prestigiar e que evidentemente ama com enorme
zelo patriótico. Por isso não estranhamos que as «antiguidades», antes de tudo o
mais, dêem conhecimento de tudo o que se passou na antiguidade mais remota
em território português, e o que se lhe seguiu nas épocas mais próximas. Isto o
leva a tratar com enorme pormenor da história antiga da Lusitânia, sobretudo na
época romana, para o que se serve dos textos gregos e romanos e da arqueologia
em geral, mas a sua tarefa não se fica por aí, pois muitos dos factos relatados
necessitam de um fundamento mais recente e autorizado, o que o força a utilizar
não raro elementos da história medieval, inclusive da longínqua história bizantina,
e da história contemporânea, neste caso, talvez, com mais intuitos políticos. Para
tal utilizará como sempre as fontes documentais mais adequadas e que revelam a
sua vasta cultura.
Não dispunha Resende de outras fontes que não fossem os historiadores antigos
que trataram da Península e que na maior parte dos casos nem pela Ibéria tinham
passado. De Homero a Iordanes utilizará, como já vimos, o nosso humanista todos
os que à Lusitânia se referiram com maior ou menor conhecimento da realidade e
há que salientar neste número Estrabão, Políbio, Tito Lívio, Plínio, Ptolomeu, Apiano,
Pompónio Mela e outros, cujas lacunas, de que se dá conta, procura colmatar com
as inscrições e restos arqueológicos que já eram conhecidos no séc. XVI ou que
entretanto ia escavando. Seguindo as suas pisadas, tentava ligar os acontecimentos
históricos aos locais em que se tinham processado, o que força naturalmente
o humanista a dedicar muito do seu labor científico à descrição geográfica e à
identificação dos topónimos da sua época com os velhos topónimos transmitidos
pela tradição clássica, recorrendo quando necessário aos conhecimentos linguísticos
26 As Antiguidades da Lusitânia
de que dispunha, o que o levou a identificações ainda hoje correctas, por se ter
dado conta dos diversos estratos por que passara a língua latina, de que não era
de retirar o árabe, que muito alterou os antigos nomes.
E evidente que qualquer historiador gosta de chegar aos inícios da história e
Resende, não fugindo à regra, também o procura quanto à Lusitânia, o que o faz
tratar das figuras lendárias dos primeiros reis ligados ao nosso território entre as
quais inclui a Túbal que estaria na origem do nome de Setúbal.
Habis, Gérion e tantos outros aparecem-nos nomeados, até se chegar pouco a
pouco a tempos mais conhecidos dos historiadores greco-latinos, de que consegue
coligir impressionante somatório de passos que ainda hoje servem de fundamento
a qualquer investigação sobre os primeiros povos da Lusitânia e sobre a conquista
e dominação romana da mesma.
Os inúmeros povos que habitavam antes e durante a ocupação romana o
território português serão tidos em conta minuciosamente por André de Resende.
No primeiro livro sucedem-se capítulos sobre povos que ainda hoje constituem
um problema para a história antiga peninsular, pois só podem ser estudados pelas
notícias dos Antigos que, parte das vezes, nunca tinham tomado contacto com eles
e muitas vezes nem com a Península, como é o caso de Estrabão e até de Plínio.
Os Turdetanos, os Célticos, os Túrdulos, os Vetões, os Barbários (povo fantasioso),
os Pesures, os velhos Túrdulos e finalmente os Lusitanos e a sua índole vão ocupar
uma quinzena de páginas da primeira edição, nalguns casos discutidos com falsas
questões como Vetões ou Vectões ou os referidos Barbários, mas que nos dão uma
visão bastante alargada dos que, com os Cartagineses, teriam habitado a Península
e muito particularmente a Lusitânia-Portugal. Há que realçar a novidade sentida
por Resende e simultaneamente pelos seus colegas humanistas espanhóis, como é
o caso de Florião do Campo e de Ambrósio Morales, em pôr em evidência esses
aspectos etnológicos fundamentais para a compreensão da génese de um povo. Só
que Resende liga-os à Lusitânia-Portugal, e os seus vizinhos à Hispânia no sentido
mais lato, partindo da velha ideia tão do desagrado de Resende de que Hispani
omnes sumus.
Essencialmente, o intuito de Resende é dar a conhecer a forma como as instituições
romanas e as divisões administrativas dos conuentus, bem como o próprio direito
romano, foram adaptados às estruturas sociais e políticas dos povos da Ibéria, muito
especialmente às dos Lusitanos. Há uma preocupação constante em esclarecer a
posição da Lusitânia perante o poder central de Roma, posição essa que Resende
pretende livrar de todo o labéu colonial para lhe dar plenos direitos concedidos às
populações mais romanizadas e, portanto, mais civilizadas e menos bárbaras, pelo
direito do Lácio. Não raro atreve-se Resende a encontrar origens mais nobres pela
comparação com os costumes dos Gregos, o que se denota no retrato traçado dos
Lusitanos, cujos costumes chega a comparar com os de Esparta, não se importando
para tal de forçar um pouco o texto de Estrabão 48.
Introdução 27
agora com a leitura mais recente dos mesmos documentos apresenta uma fidelidade
que é de registar 55. A hagiologia nesta obra servirá, sobretudo, para comprovar a
independência de Portugal em relação a Castela, pois Resende procura portugalizar
os santos que teriam estado no espaço nacional como S. Manços, e outros, e que
muitas vezes eram reivindicados pelos historiadores castelhanos 56.
Uma das peças fundamentais da história medieval que encontramos dispersa por
esta obra sobre as antiguidades romanas é o milagre de Ourique, objecto já de tanta
polémica histórica, e que Resende procura consubstanciar não só numa descrição
pormenorizada da vitória milagrosa de Afonso Henriques sobre os Mouros, mas,
mais do que isso, modernizar, fazendo-a objecto de um arco de triunfo construído
pelo seu rei contemporâneo D. Sebastião, inscrição e arco que na realidade nunca
existiram. Teria sido uma forma de dar a conhecer à comunidade erudita internacional
um facto de tão transcendente significado histórico, pois para uso interno, o mesmo,
tomando em conta a dificuldade de informação e de locomoção num país como o
Portugal quinhentista, não deveria ter grande repercussão.
Ao suposto arco erguido por D. Sebastião dedica Resende um capítulo do livro
quarto, e aproveita para juntamente com o capítulo anterior consagrado a Campo de
Ourique traçar, em breve síntese, a história do reinado portucalense e do confronto
entre o primeiro rei de Portugal e os Mouros no seu esforço de reconquista. A lenda
de Ourique e das cinco quinas será lançada e ficará até hoje como um símbolo do
patriotismo nacional, apesar da refutação histórica contra ela movida e que a todos
os títulos merece o maior crédito 57.
Os seus conhecimentos medievais serão demonstrados ocasionalmente quando
da discussão de vários problemas históricos, como os relacionados com a cidade
de Ossónoba (Estói) em que o humanista se socorre da Crónica do Mouro Rasis,
traduzida em tempos de D. Dinis por um clérigo ao serviço de D. Periannes de
Portel, tal como se servirá das Vidas de S. Martinho de Soure e de S. Rosendo para
determinar locais que vai estudando na sua peregrinação irregular pelas povoações
e cidades portuguesas, com seus mosteiros, rios, castelos e restos da antiguidade
clássica e cristã. Será o caso da heroína D. Vataça, dona bizantina, que Resende liga
à conquista de Santiago do Cacém e de quem traça uma breve história biográfica,
utilizando para tanto fontes medievais bizantinas, que possivelmente existiriam na
livraria do Convento de Alcobaça e cujo conhecimento, ainda que auxiliado por
via indirecta pelos trabalhos do espanhol Zurita, demonstra um domínio razoável
das fontes referentes ao império romano do Oriente e às suas ramificações fortuitas
para Espanha por intermédio do Rei Aragão, que dará abrigo a refugiados da família
real de Bizâncio. A história de D. Vataça, embora não coincida totalmente com o
que hoje se conhece sobre essa nobre bizantina, refere contudo dados essenciais
para a sua inserção na história portuguesa e na história patriótica, ainda que nem
sempre fiel à verdade, devido ao épico estro de Resende. Personagens lendárias
como Aginaldo de Nabância, quando trata do rio Nabão que atravessa Tomar, ou
Santa Iria, ou tantas outras figuras da lenda secular e da lenda sagrada portuguesas,
Introdução 31
III. 6 – Geografia
Se olharmos para o plano dos livros que constituem esta obra de Resende e
verificarmos o seu conteúdo, dificilmente poderemos ignorar o cariz geográfico
das suas descrições, que nalguns casos prevalece até em relação ao seu aspecto
histórico ou arqueológico. Basta olharmos para o livro II ou para o livro IV, em que
se trataram respectivamente os rios de Portugal e as suas cidades (este último muito
incompleto), para ficarmos com uma noção muito clara, se conhecermos sobretudo a
literatura do mesmo género que lhe é anterior, de que a obra de Resende é inovadora
como obra de Geografia. Já anteriormente teria havido uma obra a que o seu editor
moderno Aires do Nascimento deu o título de Roteiro de Arautos 66, em que, com
metodologia diferente da seguida por Resende, se fazia uma resenha geográfica do
território português, em pleno séc. XV. Não julgamos que haja qualquer relação
entre esta primeira obra e o trabalho de Resende, que dá em Latim e com o fim
de comunicar com o grande público erudito e internacional, sobretudo no capítulo
dos rios portugueses (o Sado, por exemplo), uma descrição breve da sua existência
e da sua morfologia. Esta tendência geográfica será concretizada posteriormente
por um Gaspar Barreiros, cujo «latrocínio» acusará, por ter usado e abusado das
informações prestadas, sem fazer menção da sua origem 67, mas sobretudo pela
influência que vai exercer na geografia de Duarte Nunes de Leão 68. Resende já se
refere a um opúsculo sobre o Entre Douro e Minho que julgamos poder identificar
com a obra de mestre António de 1511 mas publicado só em 1959 69, de preferência
à de um tal Dr. João de Barros, com o mesmo título, e que só foi publicada em
1919. De qualquer forma, grande parte do manancial informativo posto à disposição
34 As Antiguidades da Lusitânia
do leitor por Resende será repetido por Barreiros, por Nunes de Leão e por toda a
historiografia alcobacense, sem falar depois dos historiadores que se dedicaram à
descrição histórica e geográfica mais regionalizada, como D. Rodrigo da Cunha, Frei
Amador Arrais, Contador de Argote. É sem dúvida um esforço inovador no capítulo
da geografia da Lusitânia e que permite a quem ler situar no espaço os eventos
históricos do passado de Portugal.
Para que o leitor português e o europeu pudessem situar no espaço os inúmeros
factos históricos relatados, preocupa-se Resende em traçar com algum cuidado o
quadro em que ocorreram, o quadro geográfico, bem entendido. O processo não
era novo, pois já os seus modelos clássicos o tinham seguido com acribia e não só
geógrafos como Estrabão ou Pompónio Mela, ou antiquários cientistas como Plínio-o-
Velho, mas até amadores de antiqualhas, como o grego Pausânias, conhecido e citado
pelo humanista ainda que brevemente no seu livro de peregrinação (periégesis) na
Hélade. Mesmo os Antigos preferiam relacionar o relato histórico dos eventos com o
espaço terráqueo onde se passara, muito embora nem sempre conseguissem fugir à
Utopia e ao reino da imaginação, como Platão e a sua Atlântida. No que respeitava à
Península as informações da antiguidade não eram escassas, mas muito especialmente
no que dizia respeito à Lusitânia «Extremum mundi» aí já elas escasseavam devido à
distância e a certa pobreza que naturalmente repelia exploradores mais sofisticados 70.
As operações de Viriato deram-se a maior parte das vezes em território depois
castelhano, porque aí se encontravam mais riquezas, como ainda hoje em dia é
fácil constatar. Havia, pois, para um bom conhecedor da antiguidade como Resende,
múltiplos exemplos de conhecimento do espaço da oikouméne, da terra habitada,
que, embora eivado de erros e fantasias, ainda hoje são a fonte que permite aos
modernos situarem o antigo face ao moderno. Resende aproveita desse conhecimento
para o modernizar no tocante à toponímia portuguesa, apesar da sua tendência
humanista de tudo latinizar. Basta lermos os títulos dos diversos capítulos, sobretudo
do primeiro, segundo e quarto livros, para nos darmos conta do cuidado que põe
na descrição, muitas vezes pormenorizada, dos montes, rios e cidades portuguesas,
vistas na perspectiva da antiguidade. Há sem dúvida uma preponderância da geografia
do Sul de Portugal, sobretudo quanto às cidades e ópidos do país, certamente por
ser a que mais bem conhecia, mas consegue dar uma visão mais global quanto aos
montes e aos rios. Publicada em forma de livro, porque o livro dos arautos que lhe
é anterior só foi publicado neste século, podemos dizer que é, sem assim se intitular,
a obra de Resende o primeiro ensaio impresso de geografia como ciência aplicada
ao terreno que surge em Portugal, com realce para as descrições do Sado e seus
afluentes ou dos terraços do Guadiana, do Cachão da Valeira no Douro, perto do
qual, no séc. XIX, morreu o Barão de Forrester e se salvou D. Antónia Ferreirinha,
e por se encontrar já muito perto dos objectivos alcançados pela cartografia que
se ocupa do território português, como é o caso da carta de Fernão Vaz Seco de
1570. Gaspar Barreiros, na sua Corographia, aproveitar-se-á de Resende sem nomear
quem lhe tinha dado os ensinamentos, deslealdade de que se ressente por escrito
Introdução 35
Resende na carta a Bartolomeu Quevedo, mas, tal como demonstra Susanne Daveau,
os mesmos ensinamentos de Resende serão aproveitados por Duarte Nunes de
Leão no século seguinte e de forma bastante ancilar, sem esquecermos a enorme
influência que vai ter Resende em todos os escritores portugueses da Lusitanidade,
como sejam Frei Bernardo de Brito ou Frei Amador Arrais. Romero de Magalhães,
Orlando Ribeiro e Susanne Daveau 71 , o primeiro relativamente à História das
Antiguidades de Évora, mas o segundo já em relação ao Roteiro dos Arautos e ao
De antiquitatibus, cujo contributo geográfico é nitidamente superior ao prestado
pela obra resendiana em vernáculo, enquadraram as obras de Resende dentro do
acervo publicado na Península e fora dela quanto ao conhecimento geográfico da
Lusitânia-Portugal. Há que reconhecer que apesar de submetido à descrição antiquária
dos vestígios deixados pelos Antigos em território português, o De antiquitatibus
apresenta novidades indesmentíveis, relativamente aos seus predecessores. Pena é
que a Geografia em latim que João de Barros começara a escrever 72 não tivesse
chegado até nós. De qualquer forma, o contributo resendiano pôde ser apreciado
pelos especialistas em relação ao passado e aos seus seguidores, sobretudo na breve
análise feita nos trabalhos de Susanne Daveau e de Orlando Ribeiro, devendo ainda
salientar-se a geografia dos mirabilia que Resende procura assinalar.
A leitura exaustiva de uma obra deste género, situada dentro das contingências
e modas do seu tempo, provoca inevitavelmente o leitor moderno e até o pode
irritar pelos excursos errantes a propósito de tudo e de todos, bem como pelo
método ziguezagueante que denota. Sente-se, contudo, que o humanista procura
essencialmente traçar para a Europa culta do seu tempo o quadro histórico e
cultural em que o Portugal da sua época nascera e crescera. Preocupa-o a origem
dos Portugueses, composta de inúmeros povos só conhecidos pelos relatos dos
Antigos, como o interessa dominar a origem da língua que fala e dos nomes que
caracterizam as suas gentes e as suas povoações. É pois o fundamento de uma
nacionalidade que Resende procura, utilizando para tal os seus conhecimentos
Introdução 37
linguísticos, históricos e até biológicos, que muito conscientemente alarga para sectores
até então pouco explorados no seu país, como seja o conhecimento geográfico e
a caracterização do terreno em que se passaram os acontecimentos históricos que
descreve. Caracterizar um povo, que para mais é o seu, não é, porém, para Resende
uma operação de puro racionalismo e erudição. Sente-se por toda a parte que é
ao mesmo tempo uma demonstração de amor à pátria que o criou, amor esse que
o leva a demonstrações de grande fidelidade à tradição portuguesa e por vezes de
paixão e parcialidade em relação ao assunto que descreve. Só assim se compreende
a dialéctica reivindicativa continuamente utilizada para portugalizar os santos, os
nomes (Beja, etc.), os povos e até as situações da própria Natureza, como o Cachão
da Valeira, no Douro, que considera como obstáculo posto por Deus, para impedir
que rio abaixo viessem os inimigos do povo português: os Vaceus, metonimicamente
neste passo, por Castelhanos 78.
Eis aqui o ponto de tensão que leva aos argumentos profusamente utilizados
durante esta obra para valorizar o passado e o presente do reino de Portugal. Não
podemos deixar de concordar que todo este esforço se aplica a tentar criar uma
consciência nacional que até então existira mais difusa, uma vez que Portugal e
Espanha, contrariamente ao que muitos pensam, não estavam tão divididos quanto o
desejariam acendrados nacionalistas, pois o castelhano e o português viviam paredes
meias como línguas na produção literária portuguesa, e as relações políticas entre as
cortes de Espanha e de Portugal não podiam ser mais íntimas 79. Resende procura,
neste ambiente que sem exagero poderíamos intitular de certa promiscuidade de
nacionalidades, dar o seu a seu dono, tanto mais que do lado de lá da fronteira
os seus rivais e colegas humanistas e eruditos reivindicavam sem dó nem piedade
tudo o que era português, como se castelhano fosse, partindo do velho princípio
de que Hispani omnes sumus, verdade incontestável, se se partir da tradição legada
pelos escritores da antiguidade clássica. Não há por isso pormenor mais íntimo
de características portuguesas que Resende não tente reivindicar para Portugal, ao
mesmo tempo que pretende, com certa desenvoltura, portugalizar o que a ambas
as nações pertencia, não sem primeiro valorizar historicamente o assunto. É o caso
de Viriato e dos Lusitanos e da sua luta indómita contra o invasor Romano.
Assume Resende o papel de defensor histórico dos Lusitanos e dos seus esforços
de resistência contra Roma. Viriato e Sertório são apresentados como heróis nacionais:
o primeiro como filho da nação lusitana, o segundo como seu filho adoptivo. Os
Romanos são interpelados no tribunal da história e de forma patética pelo humanista
português como sendo agressores brutais e sem lei, ao passo que os Lusitanos,
cujo território Resende faz coincidir, contra a realidade histórica, com o território
português, são apresentados como um povo corajoso e generoso, não faltando para
isso inscrições que o atestem. Não teve aqui Resende o menor rebuço em forjar
inscrições, de resto facilmente detectáveis, em que a generosidade lusitana face aos
Romanos é largamente atestada. Desta forma será lançada a lenda de Viriato herói
nacional que perdurará até hoje e que permitirá aos mais patriotas ombrearem com
38 As Antiguidades da Lusitânia
I – Tradição textual
II – A Ortografia
“cur”, embora uma e outra apareçam poucas vezes; e ainda as formas arcaizantes
“consequutio” e “insequutio”, que o autor justifica na nota 105 do mesmo Livro II
do Vincentius com formas analógicas, por exemplo “perquutio” e “inquutio”.
Pertencem também ao domínio dos arcaísmos preferidos por André de Resende
as formas de acusativo do plural terminadas em ‘-eis’ em vez de ‘-es’, por exemplo
“treis”, “monteis”, “fonteis”, “Aquiflauienseis”, “confluenteis”, “ignobileis”, “urbeis”,
“palanteis”, “genteis”, “imbeleis”, “redeunteis”, “hosteis”, “omneis”, “qualeis”, “pareis”,
etc.; e também o uso do ditongo ‘ei’ em vocábulos como “heic”, “heinc” e “eidus”,
em vez de “hic”, “hinc” e “idus”.
Finalmente, são também arcaizantes alguns casos de assimilação ou não
assimilação de consoantes em contacto, por exemplo em “solennis” ou “conlibuisset”
e “conloquutionem”, respectivamente, matéria que Resende justifica mais uma vez
no seu Vincentius, nota 100 do Livro II.
Ponto de parte os arcaísmos de uso resendiano, que mantivemos, o sistema
ortográfico geral desta obra apresenta-se relativamente equilibrado e coerente
quando comparado com outros escritores latinos da sua época. Mesmo assim,
e em obediência às regras preconizadas pela Associação Portuguesa de Estudos
Neolatinos (APENEL) no seu plano editorial dos Portugaliae Monumenta Neolatina,
interviemos em algumas grafias consideradas erradas pela filologia moderna, ou na
harmonização pelas formas mais correctas em caso de oscilação por parte do autor.
Tal intervenção visou os seguintes casos:
¶ Huic libro quinto praefixa est uita eiusdem Vasconcelli, ab ipso conscripta.
48 As Antiguidades da Lusitânia
1 Elborensis] Elborensensis E
50 As Antiguidades da Lusitânia
[✠ 6]
EPIGRAMA
[ ✠ 6]
EPIGRAMMA
[A]
Ao mui poderoso e invencível rei F ilipe de E spanha ,
segundo deste nome ,
deseja D iogo M endes de Vasconcelos eterna felicidade .
[A]
Potentissimo et inuictissimo H ispaniarum regi P hilippo
huius nominis secundo
I acobus M enoetius Vasconcellus perpetuam felicitatem exoptat
[A2]
Vida de L úcio A ndré de Resende
por
D iogo M endes de Vasconcelos 1
[A2]
Vita l . A ndreae Resendii
avctore
I acobo M enoetio Vasconcello
Andreas Resendius Eborae natus est, quae ciuitas, post Olisiponem, primum
locum in Lusitania obtinet, et olim Liberalitas Iulia cognominata fuit, teste Plinio
libro 4. c. 22., quod confirmant antiquae Romanorum inscriptiones in eadem
urbe repertae, de quibus suo loco agemus.
Patrem habuit Andream Vasium Resendium, ex equestri ordine, matrem
Leonoram Vasiam Gois, feminam, ut honestae inter Eborenses condicionis,
ita celebris apud omnes probitatis et uitae sanctimoniae; cui etiam Angelae
alterum suae gentis cognomen erat. Vnde ipse Resendius, Angeli praenomen
aliquandiu usurpauit, quod ex librorum titulis, quos in prima aetate edidit,
colligere licet.
Apponam autem eius uerba ex quadam epistola quam scripsit ad Georgium
Coelium anno huius saeculi millesimo quingentesimo trigesimo quarto, quibus
nobilitas Resendianae gentis asseritur in hunc modum:
“Iactabis tu forsitan Choelios tuos, aut potius Cuniculos, id enim uestrum
cognomen est, quanquam tu Choelium te primum Lusitanae linguae proprietate,
deinde quasi te ipse adoptaueris, Coelium, quam Cuniculum cognonominari
maluisti.
Opponam ego clarissimam olim, sed et nunc non obscuram nec humilis
fastigii Resendiorum gentem, a Vasco Martino Resendio, cui Magno cognomen
fuit, atauo, per Gillonem, seu mauis Aegidium Vasium, abauum, Vascum Martinum
minorem, proauum, Martinum Vasium, auum, Andream Vasium patrem, Resendios,
ad me legitimis nuptiis et liberali matrimonio deriuatam”.
Et alibi in eadem epistola: “Ego Lusitani equitis filius sum, qui bello Hispaniensi
sanguinem pro patria non semel fudit.”
[A2v]Patre orbatus est, cum adhuc infans, et fere in cunis esset, et a matre
complures annos liberaliter educatus. Cuius impulsu et uirtute commotus, in
ipsa statim adolescentia, ordini Sancti Dominici nomen debit. Et pie ac religiose
a praepositis monasterii Eborensis optimis disciplinis ac litterarum rudimentis
imbutus, mox ipsorum permissu et auctoritate, Complutum adiit, ubi Antonium
Nebrissensem, cuius tunc celebris fama erat, et postmodum Areium Barbosam
Lusitanum Salmanticae Graecas litteras docentem praeceptores habuit.
1 inculpatos U] in culpatos E
58 As Antiguidades da Lusitânia
Com efeito, escreveu muitas obras e muitas deixou por trazer a lume, algumas
porque, interrompido pela morte, não as pôde levar a cabo, [A3v] contando-se entre
elas a história das antiguidades desta província12, que o rei D. Henrique, depois
da morte dele, me confiou para emendar e acabar, como pode ver-se pela carta
que lhe escrevi e pus no início desta obra13. O nosso Resende esteve-me sempre
ligado por estreita amizade e familiaridade e foi principalmente a meu conselho que
começou a escrever este trabalho, embora muitos anos antes tivesse prometido ao
Cardeal D. Afonso14 editá-lo, tal como consta nas suas cartas, que adiante apresento.
Nunca, todavia, metera mãos ao trabalho com seriedade e decisão, a não ser quatro
anos antes de abandonar esta vida. É grato, contudo, neste passo dar a conhecer
os seus elegantíssimos versos, nos quais faz honrosa menção à minha pessoa,
testemunhando abertamente que foi por minha influência que começara esta obra
sobre as antiguidades. É por isso que, um pouco agastado, começa esta sátira:
Essa tal força que a natureza em cada um de nós implantou ou que a vida
Acostumada longamente pelo hábito, quase tornou inata,
É difícil, caro Vasconcelos, fazê-la voltar atrás,
A não ser que a força ou a razão nos forcem a desfazer a trama
5 E a despedaçar os fios da teia quase acabada.
É isso que na verdade me está a acontecer, a mim já avançado em idade,
Ao ter de abandonar os estudos, para os quais me fizera o meu astro criador
E em que sempre prosseguira até aos meus cabelos brancos,
Ao ter de depor a pena e de suportar que meus livros se encham de pó
10 E que pelas suas prateleiras, livremente trabalhe Aracne.
É disso, Vasconcelos, que tens pena e com incessantes recriminações
Tentas levar a bom caminho, quem já se esquivou
E já aborreceu os sagrados deveres para com Minerva
E julgarás indigno que as memórias da história lusitana,
15 Abandonadas a meio da corrida, não sejam levadas até à gloriosa meta,
Pois elas são devidas ao rei, à pátria, à ciência e a ti,
A quem me une, quer a mais alta ciência do direito, quer a própria glória
Da Eloquência em que somos iguais, sem a nódoa
Da furiosa inveja, bem como o carácter e uma igual sinceridade de ambos,
20 Pelos elos recíprocos de uma cadeia indissolúvel.
Não te esforces por saber a causa por que mudei de opinião 15.
Vida de André de Resende 59
[A4] Também não penso que devam ser esquecidos os hendecassílabos com
que me saudou na altura em que recebi como hóspede a Mateu Contarelli 16, que
depois foi Cardeal de Santo Estêvão, quando veio a minha casa no séquito do
Reverendíssimo Cardeal Alexandrino que, com grande embaixada, fora enviado ao
rei D. Sebastião, pelo sumo Pontífice Pio V, seu tio17. Resende, que também fora
convidado para jantar, ofereceu-nos, de facto, quando já estávamos sentados à mesa,
cidras e outros pequenos presentes e com este epigrama:
Em Portugal não houve nenhum membro da família real, dos fidalgos e poderosos,
bem como dos homens cultos, que não o tivesse acarinhado em estreita simpatia
e familiaridade, enquanto viveu. Foi, no entanto, muito especialmente apreciado
pelo cardeal D. Afonso 19, irmão do rei D. João III, que de tal maneira gostava da
companhia e do saber de Resende que não se sentia de todo diminuído em ir
amiúde à sua escola, às suas reuniões literárias, ouvi-lo ensinar, muito embora este
tão grande príncipe fosse já pessoa adulta que brilhava pela importância da sua
autoridade e majestade de uma ascendência real. A escola estava, além disso, no
palácio do próprio Cardeal e era tão contígua à Sé de Évora que podia ir e vir para
a mesma, acompanhado de poucos fidalgos, pelo alpendre de seu pátio.
Depois da morte de D. Afonso, contudo, foi tido em não inferior apreço por
D. Henrique, que o elevou a alguns cargos sacerdotais e o admitiu no número de
seus familiares. Mais teria sido de esperar, se tivesse chegado ao seu reinado, mas
faleceu enquanto reinava ainda o rei D. Sebastião.
[A4v] Usufruiu igualmente da amizade de estrangeiros ilustres na sua maioria e
que eram recomendados pela fama da sua erudição. Em Lovaina foi amigo, mais do
que nenhum outro, do belga Conrado Goclénio20, homem ilustre, como testemunha
a ode, tão elegante, que compôs em seu louvor. Parece-me que não procederei de
modo a desagradar ao leitor se aqui a inserir. É ela assim:
Mitto munificentiam,
Et come ingenium. Quid? quod amas pari
35 Nodo, me, meaque omnia,
Nec uatis reiicis carmina rustici?
1 Pigrabunt E] Migrabunt U
64 As Antiguidades da Lusitânia
Foi também amigo dos polacos Júlio Flu 22 e João Dantisco 23, do cardeal italiano
António Puzzi 24, do espanhol Graciano Lasso 25 e de muitos outros. Ficaram-nos
poemas a eles dedicados, que pensamos um dia editar.
Na sua mocidade, como já referimos, viajou pelas Espanhas, depois pela França,
Alemanha e Itália, sempre com grande renome. Quando daí voltou veio a saber que
sua mãe tinha morrido, e esta morte de tal maneira o impressionou que chegou
a pensar em regressar de novo sozinho e abandonar a pátria, tal como consta no
epitáfio, composto à memória da defunta. Encontrado entre as suas notas pensei
que merecia a pena reproduzi-lo aqui. Está escrito em letras maiúsculas e desta
maneira:
Vida de André de Resende 65
Te fortuna uidelicet
Inuita, cineres iam superabimus:
Et per Cyaneas petras,
Contendam ad spolium uelleris aurei.
[A5v]
45 Salue, pectus amabile
Cocleni, o animae dimidium meae.
Quo te carmine prosequar?
Metam qui meritis carminis es super.
[A6]
DEDICADO
À MEMÓRIA E À PIEDADE
[A6v] Já se preparava para partir, quando foi demovido pela autoridade do Rei
D. João III e principalmente do Cardeal D. Afonso e adiou a partida, perdendo a
vontade de se ir embora.
Resolveu habitar então em Évora, onde por essa altura a corte permaneceu bastante
tempo e onde possuía uma morada de casas modestas, mas muito bem tratadas
por Xisto e Hórtulo 26 e muito aprazíveis. De tal maneira agradavam ao seu dono
que não invejava as entradas mais espaçosas dos outros, e decorou-as dispondo lá
dentro, à volta do jardim, antigos mármores, que conseguiu arranjar, com inscrições
romanas. Dedicou-se tão entusiasticamente a esta actividade, que todas as vezes
que ia de viagem, muito embora partisse para lugares bem longe, tinha sempre o
cuidado de levar dentro da bagagem uma enxada e outras ferramentas, para que, se
Vida de André de Resende 67
[A6]
MEMORIAE ET PI-
ETATI DICATVM.
notitiam proferre posset, quod plurimis in locis fecit, tanta cura ac diligentia, ut
in eo obeundo negotio, nec sumptui, nec labori unquam perpercerit.
[A7]
Os que admiram e procuram com avidez estas pedras antigas que se encontram,
gravadas com letras, nas antigas colónias romanas, são mordazmente criticados, não só
por ignorantes grosseiros, mas frequentemente também por gente bastante culta.
Pelos primeiros, porque desprezam, com o maior atrevimento, tudo o que eles
próprios não conhecem. A fim de que não sejam mal considerados por ignorarem
assuntos tão dignos de conhecimento, procuram esconderijo e refúgio para a sua
ignorância, ao procederem como se desprezassem corajosamente as ninharias dos
gentios, tal como compete a pessoas piedosas. Por que agem, todavia, do mesmo
modo, as pessoas cultas, é que não compreendo, a menos que agrade a ociosos fazer
troça do esforço alheio. Falam de modo trocista, pondo tudo a ridículo, mas oxalá
que, quanto mais falso for o seu discurso, tanto mais verdadeiro, seja o resultado
do que provocam. E porque na verdade a sua tagarelice a ninguém mais ofende
do que a um só, recebe piedosíssimo Príncipe o que tenho para dizer em minha
defesa e daqueles que compartilham da minha opinião.
Este esforço deve ser mais digno de louvor do que de censura e por muitos
motivos.
O primeiro de todos é que, se aceitarmos o testemunho de Fábio 2, o sistema da
escrita, a que os Gregos chamavam ortografia, está ligado à maneira de falar, e se nós
queremos falar e escrever Latim demonstraremos, junto a quem tiver prestado com
um pouco mais de justiça maior atenção ao assunto, que assim como a eloquência
deve ser procurada em livros que a ensinem bem, assim também a ortografia o deve
ser em inscrições de mármore. São os livros maus guardiões da ortografia, pois cada
copista escreve à sua maneira e, levado pela sua opinião própria, altera, inverte e
corrige a seu bel-prazer. Nem mesmo que o livro mostrasse claramente vir da mão
de Cícero ou de Virgílio, isso teria qualquer importância.
Deixo de lado o que Gélio abertamente testemunha sobre as patetices feitas
por sabichões no texto de Salústio e de outros3 e passo à frente. É por isso que
lamentamos as obras dos escritores imortais agora corrompidas? Pois quê? Quando
tomamos nas mãos qualquer velho códice, não nos damos conta de uma maneira
bem diferente de escrever, da que hoje é frequente e que indiferentemente é usada
por cultos e incultos? [A7v] Mas as pedras, aquilo que nelas se gravou, ou mantêm
intacto ou morrem ao mesmo tempo que as letras nelas gravadas. As pedras, digo eu,
que aquela época culta deixou para nós lermos. Mas quanto a mim, sou de opinião
que não devem ser tidas em consideração as muito antigas nem as muito recentes,
ou seja, as que foram gravadas depois da avalanche gótica. Se entretanto encontrar
Carta de A. Resende ao cardeal D. Afonso 71
[A7]
Illi qui uetusta haec saxa, quae in ueteribus Romanorum coloniis inueniuntur
litteris notata, admirantur, cupideue requirunt, mordentur abunde, nec solum
iam ab ineruditis istis, crassisque hominibus, sed interdum etiam a doctis
adprime uiris.
Ab illis quidem, quoniam quae non norunt ipsi, summa improbant confidentia,
et ne scitu quaeque dignissima, male ignorare uideantur, hinc latebram et
perfugium sibi ignorantiae petunt, quasi gentilium nugas, ut pios decet, fortiter
spernant. Quur autem a doctis, non uideo, nisi otiosis facetiari sic libet, in
alienam diligentiam. Facete illi quidem et nimis ridicula oratione iocantur 1 ,
tamen utinam quam false, tam uere hoc ab illis fieret. Quoniam uero neminem
me plus uno, horum laedit dicacitas, accipe, Princeps piissime, quae pro causa
mea, et eorum qui in ea mecum sunt opinione dicenda habeam.
Multas ob res laudari potius, quam reprehendi ea diligentia debet.
Mitto quod Gellius palam testatur sciolos in Sallustio, et aliis, meras fecisse
nugas, illuc eo. Vnde corrupta deflemus immortalium auctorum monimenta.
Quid? quum codicem uetustum quempiam in manus adsumimus, nonne
longe aliam scribendi cerminus rationem, quam ea est, qua passim nunc
docti pariter utuntur, et indocti? [A7v] At saxa, quod semel inscalptum est,
aut incorruptum seruant, aut simul cum litteris pereunt. Saxa inquam, quae
eruditum illud saeculum legenda reliquit. Nec enim ego aut prisca nimis,
aut recentia, hoc est post Gothicam inluuionem incisa, sequenda censeo.
Nec si interdum barbarismum inuenero in saxo, aut marmorarii ignauia, aut
algo de muito bárbaro numa pedra, seja por incompetência do canteiro seja por
falta de atenção, tão-pouco o defenderei, mas seguirei o que vir cada vez mais e
mais empregado. Nem sou de tal maneira escrupuloso que por encontrar escrito
uma vez ou duas VCSOR, VICSIT, PLEPS, COIVGI, formas arcaicas, imediatamente o
vá reproduzir 4. Há que ter prudência e imitar o que agradou à época mais culta, o
que constantemente encontramos. Acresce depois outra vantagem e não pequena,
por exemplo, quando nelas lemos muitas vezes nomes de cidades, de que há
menção em livros e que porventura são agora ignoradas. Porque não só há muitos
factos que ajudam à cosmografia e sobretudo aos que vão escrever em latim, como
também há outro factor agradável; é que os factos ligados à história nos fornecem
muitas vezes instrumentos para embelezar o estilo e para ornamento da pátria. Até
agora julgava-se erradamente que Badajoz era Beja5; Medóbriga, Cetóbriga, Salácia6
eram completamente desconhecidas. Também não havia qualquer referência a
Chaves 7. Quanto à torre de Augusto e ao rio Sarte que se encontram na obra de
Pompónio 8, entrava-se em completo delírio nos comentários e o próprio autor foi,
com grande prejuízo, muito mais despedaçado do que corrigido. O que o nosso
esforço conseguiu carrear, como que de paragens selváticas, tudo isso tentará salvar
da ofensiva de desvairados. Podem dar-se seiscentos exemplos, mas passo adiante
para não me alongar. Quanto a mim, julgo o seguinte: quem gostar de outros
assuntos, dou-lhe toda a autorização para que, sem este penoso trabalho, possa
ressonar profundamente.
Eu, porém, obedeci às tuas ordens, meu Príncipe, e desejo tornar ilustre toda
a Lusitânia e dar a conhecer ao mundo, como que ressuscitadas, as suas antigas
colónias. Mas nada de notável constróem os que em sua casa são atormentados por
uma vida privada mais estéril do que é normal. Damos a conhecer os dados que
se me depararam por ocasião das muitas peregrinações. Daremos depois o que o
tempo for trazendo. Adeus. Évora, Dia l de Outubro de 1533.
Carta de A. Resende ao cardeal D. Afonso 73
[A8]
Foi-me entregue a tua carta, ó valoroso e admirável Rei, não só pelo poder como
pelo inacreditável esplendor de coragem e de sabedoria, carta em que me perguntas
pelos escritos de Lúcio André de Resende, que este, surpreendido pela morte, deixou
já começados, e os quais mandaste me fossem entregues, para que os emendasse
e os editasse. Visto ter recusado, como sabes, esse encargo tão desproporcionado
para o que meus ombros podem aguentar, consciente que estava da fraqueza do
meu talento, de tal modo insististe comigo, não tanto pelo jus do mando (o que
poderia ter sido feito), quanto pela bondosa e simpática maneira de falar (como é
costume na tua singular humanidade), que, quase contra vontade e renitente, aceitei
tal incumbência, que sabia só poder levar a cabo com grandes dificuldades. Pois tão
grande é a alegria do meu espírito em cumprir tuas ordens e tão constante minha
vontade em te obedecer, que nada existe de tão árduo ou difícil que eu hesite
cometer, contanto que me pareça obedecer aos teus desejos.
Ora, antes de eu ter tomado comigo mesmo a inteira decisão de assumir este
encargo, veio-me ao espírito que não faltarão os que me censurem por ser de
alguma maneira um homem acomodatício e com pouco apreço pela ideia que de
mim se faça, visto que, investido em altas funções oficiais e podendo por mim
próprio realizar e fazer obra em qualquer género literário, venha eu aplicar meu
esforço a obra alheia e me preste a exercer um papel que, pelo comum dos mortais,
é considerado indigno de alguém que se dedicou aos estudos de jurisprudência e
que durante tanto tempo foi versado na governação do Estado. Mas dentro de mim
teve grande peso aquela minha incrível obediência para contigo, de tal modo que
mesmo com sacrifício do meu bom nome não hesitei em obedecer-te. Quanto a
mim, contrariei e sempre julguei enganarem-se os que pensam que os estudiosos
da ciência não devem fazer muito caso [A8v] do conhecimento das Humanidades,
sem o qual, eles próprios têm, por força, de reconhecer que se encontram menos
preparados para cultivar e assimilar as restantes disciplinas. Nem é de trazer aqui,
neste nosso tempo em que já se começou a desterrar a inabilidade rude e gética 2,
o teólogo ou o jurisconsulto ou o médico insigne, que ao mesmo tempo não tenha
granjeado cultura e razoável prática nas letras. Mas talvez se ofereça outra ocasião
e lugar para falar deste assunto, com maior oportunidade e mais vagar. Por agora,
de facto, vou deixar de lado tudo isto, e começarei a dar-te conta das Antiguidades
e a expor-te em que situação se encontram esses escritos sobre os quais desejas
que te informe.
Carta de Diogo M. Vasconcelos ao cardeal D. Henrique 75
[A8]
Redditae sunt mihi litterae tuae, praestantissime Rex, ac non solum potentia,
sed etiam incredibili uirtutis et sapientiae splendore admirabilis; in quibus mecum
agis de scriptis L. Andreae Resendii, quae, morte praeuentus, inchoata reliquit,
et mihi recognoscenda atque in lucem edenda tradi iussisti.
Quod onus, ut scis, tamquam impar umeris meis, cum recusarem, ingenii
tenuitatem agnoscens, non tam imperii iure (quod facere poteras) quam
benigno ac blando orationis genere (quae tua est singularis humanitas) eo me
adegisti, ut fere inuitus et renitens munus illud susceperim, quod non sine
magnis difficultatibus me obire posse intelligebam. Tanta est enim ad tua iussa
capessenda animi mei alacritas, tam constans tibi obtemperandi uoluntas, ut
nihil sit tam arduum tamque difficile, quod aggredi dubitem, dummodo tibi
morem gerere uidear.
Antequam uero, eam mihi prouinciam subeundam esse, mecum omnino
constituissem, occurrit animo non defuturos, qui me tanquam hominem facilem,
et parum de existimatione mea sollicitum reprehenderent, quod cum maximo
in republica munere functus essem, et in omni litterarum genere, ipse ex me
aliquid moliri, et efficere possim, alienis scriptis operam impendere, et in ea
facultate uersari sustineam, quae ut uulgus hominum existimat, indigna est uiro
iurisprudentiae studiis addicto, et in gubernaculis reipublicae tandiu uersato.
Sed tantum apud me habuit ponderis incredibilis quaedam mea erga te
obseruantia, ut, etiam cum aliqua honoris mei iactura, tibi parere non dubitauerim.
Equidem eos uehementer decipi, et errare semper existimaui, qui putant seuerioris
litteraturae studiosos, haud magni facere [A8v] debere humaniorum litterarum
cognitionem, sine qua ipsi fateantur necesse est se minus idoneos inueniri ad
percipiendas atque excolendas ceteras disciplinas.
Nec ferendus est nostro hoc aeuo, quo iam exulare coepit Getica ac rudis
imperitia, Theologus, aut Iurisconsultus, seu Medicus insignis, qui non simul
bonarum litterarum cultum, et mediocrem usum sibi comparauerit. Sed de hac
re alio forsitan loco, et opportunius et copiosius dicendi sese offeret occasio.
Nunc uero ea praetermissa tibi antiquitatum rationem reddere, et quo in statu
sint ea scripta, de quibus certior a me fieri desideras, exponere aggrediar.
Antiqua Romanorum monumenta, quae apud Lusitanos extant, primus Andreas
Resendius inuestigare coepit, idque cum per quinquaginta ferme annos, quoad
per alias occupationes licuit, diligenter fecisset (quod ex ipsius litteris constat)
76 As Antiguidades da Lusitânia
Deste esforço resultou também o dar-me conta e depreender quão grandes e quão
abundantes foram os instrumentos deixados por André de Resende para realizar esta
história e para a levar à meta desejada. Essa história, ainda que seja digna do maior
apreço e louvor, devido à sólida e notável erudição daquele homem, não chega, contudo,
à altura da expectativa que os estudiosos de antiguidades por ela sentiam. Quantos
haverá que não pensam poder encontrar nas suas folhas todas as informações que
dizem respeito a este assunto, marcadas e dispostas nos passos que lhes competem e
distribuídas com exactidão e por ordem? Mas isto processou-se bem diferentemente.
De facto, com excepção das inscrições dos antigos Romanos, nenhuma informação foi
possível encontrar acerca das descrições de cada uma das cidades ou ópidos (o que
era a principal razão e escopo desta obra) a não ser bem insignificantes anotações.
Porque, se porventura o autor escreveu outras coisas, de modo algum me chegaram
às mãos. Tão-pouco renuncio à hipótese de que tivessem podido ser suprimidas [Bv]
ou corrompidas por algum acidente. Com efeito, na altura em que por teu mandado
me foram confiados os seus escritos, já eles tinham passado pelas mãos dos que por
ordem dos magistrados tiveram de estabelecer e registar o inventário dos bens.
Parece, contudo, verosímil que, confiando ele em sua singular memória e no muito
exacto conhecimento que tinha de todos os assuntos que confiava aos livros, não se
tivesse preocupado com o elaborar, primeiramente, esboços, planos e ensaios da matéria,
mas tivesse escrito os quatro livros, conforme os factos lhe ocorriam ao espírito e só
com a ajuda da memória. Daí a razão por que até nós chegaram aqueles cobertos de
rasuras e embaraços. Os assuntos versados são em resumo os seguintes:
No primeiro livro, estabelece e discute a etimologia do nome da Lusitânia e qual
teria sido o seu autor e qual a sua origem. Depois determina os termos e regiões
limítrofes desta província, que os geógrafos lhe atribuíram. De passagem toca nalguns
problemas de menos importância e um pouco obscuros, compreendidos por autores
mais modernos com sentido variado e contraditório, ao mesmo tempo que são
interpretados Plínio, Estrabão, Ptolomeu e outros autores de ciências geográficas.
Também trata neste mesmo livro das diversas gentes, povos e nações que habitavam
a Lusitânia sob o domínio romano, tais como os Turdetanos, os Celtas, os Túrdulos,
os Vetões, os Pesuros ou Pesures, os velhos Túrdulos, os Ciscudanos e Transcudanos,
os Tamacanos e especial e especificamente os Lusitanos e quais foram outrora os
costumes dos Lusitanos. Acaba este primeiro livro depois de acrescentar abundante
e elegante descrição de todos os montes que são atribuídos pelos antigos escritores
a esta província, como sendo os principais e os mais elevados.
No segundo, enumera os antigos e novos nomes dos rios e assim também os
nomes mais comuns. Quando trata do rio Guadiana, intercala pequena digressão
não desagradável acerca do peixe esturjão, a que vulgarmente chamamos suilo ou
solho, aduzindo várias opiniões dos modernos acerca do nome pelo qual os autores
antigos, gregos e latinos, chamaram esse género de peixe.
[B2] O livro terceiro tem o seguinte título: “Que Povos Outrora Dominaram na
Lusitânia”; contém a narração difusa, que se relaciona com os historiadores gregos
Carta de Diogo M. Vasconcelos ao cardeal D. Henrique 79
Quotus enim quisque est qui non putaret, in eius schedis, ea omnia inueniri
posse quae ad hanc rem pertinent suis locis annotata, disposita, atque exacte
et suo ordine digesta? Sed longe aliter sese res habet. Exceptis enim ueterum
Romanorum inscriptionibus nullam circa singulas urbium et oppidorum
narrationes (quod erat huius operis praecipuum munus, et institutum) praeter
pauculas annotatiunculas reperiri contigit. Quod si alia fortasse scripsit, ea in
manus meas minime peruenerunt. Nec abnuo potuisse supprimi, aut [Bv] aliquo
casu corrumpi. Quo enim tempore, tuo iussu, mihi eius scripta tradita sunt,
iam illorum manus pertransierant, qui bonorum inuentarium, iure magistratus
confici, atque conscribi curauerant.
Verisimile autem mihi fit, illum memoria fretum singulari, et exactissima
cognitione rerum omnium, quas litteris mandabat, minime curasse, earum
ueluti deliniamenta et praeludia prius deprompta habere, sed memoriter, ita ut
quaeque res in mentem uenerat, hos quattuor libros absoluisse. Vnde accidit, ut
tot lituris ac salebris referti ad nos peruenerint. Quae uero his libris continentur,
in summa haec sunt.
Primo libro etymologiam nominis Lusitaniae, et quis fuerit eius auctor, quaeue
origo, exponit. Terminos deinde et confinia huius prouinciae, quae ei ueteres
geographi assignarunt, declarat. Obiter tangens difficiles aliquot, et subobscuras1
quaestiunculas, a recentioribus uario, ac diuerso sensu intellectas, dum Plinium,
Strabonem, Ptolemaeum, ceterosque geographicae scientiae auctores interpretantur.
Agit etiam in hoc ipso libro de diuersis gentibus, populis, nationibus, quae sub
Romano imperio Lusitaniam incolebant; utpote de Turdetanis, de Celticis, de
Turdulis, de Vettonibus, de Barbariis, de Paesuris, seu Pesuribus, de Turdulis
ueteribus, de Ciscudanis, et Transcudanis, de Tamacanis, et de peculiariter et
proprie Lusitanis. Et qualis olim fuerint Lusitanorum mores. Addita deinde copiosa
et eleganti descriptione omnium montium, qui ut praecipui et eminentiores, huic
prouinciae ab antiquis scriptoribus assignantur, librum hunc primum absoluit.
In fecundo fluuiorum nomina, tam antiqua, quam noua ac uulgaria enarrat.
Ac dum agit de flumine Ana, diuerticulum quodam non inamoenum interserit
de pisce Asturione, quem uulgo Suillum, seu Solho dicimus, referens uarias
neotericorum opiniones circa nomen quo antiqui auctores tam Graeci, quam
Latini, id piscis genus appellarunt.
[B2] Liber tertius hunc habet titulum, uidelicet, “Quinam olim in Lusitania
rerum potiti sint”. Et diffusam narrationem continet, ad Graecas et Romanas
historias spectantem, circa res gestas quae ad hanc prouinciam pertinere uidentur,
et ad duces in re militari claros, quos olim habuit. Additum est etiam nonnihil
de Gothorum seu Getarum gente. Adiecto deinde quodam de uiis militaribus
compendio, huic libro finem imponit.
In quarto de urbibus et oppidis agere incipit, cuius prima haec sunt uerba:
“Vrbes nunc aggrediar non minimam intentionis meae partem”. Deinde nonnullas
enarrat, partim antiqua nomina, partim uero uulgaria apponens, ubi uetera
deficiunt. Ac quindecim aut ad summum sexdecim describit oppida, adhibitisque
antiquis inscriptionibus, quas in illis repertas habuit, hunc quartum librum, et
ultimum eorum, quos scripserat, absoluit.
Librum quintum scribere coepit in foliolo quodam, ubi uiginti tantum
lineae scriptae extant, in hunc modum: “Ab Ebora patria mea librum hunc
auspicabor, sed ita, ut succintius modo loquar, quandoquidem historiolam
de eius antiquitate Lusitana lingua pridem edidi, et multa in Apologetico ad
Franciscum Nonium, Pacensem, non pauca ad Kebedium Toletanum de eadem
re conscripsi”. Ex quibus uerbis, atque etiam ex scribendi formula, qua in
superiori libro usus est, in enarrandis urbibus, licet facile coniicere, illum in
animo habuisse, solas Romanorum inscriptiones cuilibet oppido, cui conuenire
uidebantur adiungere, exposita paucis uerbis super qualibet earum opinione
sua, nihilque praeterea addere quod ad ipsarum urbium conditores et res gestas,
recentiorumque temporum historiam pertineret. Vnde facile adducor, ut credam
nihil eum amplius annotatum, aut praemeditatum habuisse circa oppida. Si enim
aliquid huiusmodi litteris mandasset, uix fieri poterat quin inter eius scripta et
schedas appareret. Ex quibus liquido constat quam modicum est quod reliquit,
collatum cum his quae scribere in animo habuit. Proposuerat enim de omnibus
Lusitaniae oppidis sigillatim agere.
[B2v] Videns autem ipse Resendius quam difficilem et arduam prouinciam
suscepisset, quantumque homines ab eo expectarent, tanquam reformidans
posteritatis iudicium, non semel in his libris testatur, et edicit se non omnes
huius prouinciae antiquitates, sed eas tantum quas labore suo ac studio reperire
potuisset, scribendas suscepisse. Admonens harum rerum studiosos, ut reliquas
ipsi, sua industria ac diligentia, inuestigare nitantur. Cuius ego consilium
sequutus, opus ab eo inchoatum dum tuis iussis pareo, ad exitum perducere
sum aggressus, partim illius schedis, partim nouis inscriptionibus, quas ipse
repperi, adiutus.
Quattuor autem libri ab eo absoluti et a me recogniti, confestim, si ita tibi
uisum fuerit, in lucem edi atque diuulgari poterunt, dummodo expensas in
eam rem necessarias e regio aerario conferri iubeas. Deus Optimus Maximus
te nobis, praestantissime rex, incolumem seruet, atque tueatur. Eborae 15 die
Ianuarii 1580.
82 As Antiguidades da Lusitânia
[B3]
[B3]
[B4]
Epigramas
Outro
[B4v]
Outro
[B4]
Epigrammata
Aliud
[B4v]
Aliud
1 Finxerat E ] Pinxerat U
86 As Antiguidades da Lusitânia
[B5]
Se comparar todo o prazer, ó Albornoz, que senti pela tua chegada até mim, com
o desgosto que tive por te ser recusada a entrada na nossa cidade por quem, na
ausência do governador desta província transtagana, desempenhou interinamente as
suas funções, não há dúvida que este último sentimento deixa o primeiro atrás de
si e a grande distância. Na verdade, assim como muito me animou no primeiro caso
a consideração que por mim mostraste, assim também no segundo, de tal maneira
me deprimiu e encheu de vergonha, que, muito embora o escondesse, ouso afirmar
que nada na vida me afectou tão dolorosamente. Veio aumentar esta angústia,
depois daquela quase furtiva conversação de um só dia numa casa de campo, o
boato de expulsão que se espalhou pela cidade, tendo-se o povo admirado que me
fosse negada, a mim, pessoa bem conhecida e apreciada pelos meus concidadãos,
a possibilidade de receber visita de tão grande importância. Isto sob o pretexto
especioso de evitar a peste, que se temia vir de Sevilha, ainda que nos pusesse
ao abrigo desse receio a enorme distância geográfica, entre Sevilha e Talavera, de
onde vinhas. As altas personalidades e os vereadores do senado municipal 2, assim
como os apreciadores das belas-letras que entre nós são em número não pequeno
e não de desprezar, logo que voltou Rui Fernandes de Castanheda 3, governador da
província, ao qual chamamos corregedor 4, com a devida vénia dos jurisconsultos
como tu, e que é um homem muito culto e fidalgo e espírito muito aberto e liberal
e humano, não só levaram muito a mal o procedimento indigno, como também
censuraram com palavras, considerando que dizia respeito à honra da cidade o deixar
entrar tão grande homem. Com efeito, se nada mais houvesse por estes lados que te
agradasse ver e algumas coisas há, a verdade é que, seis dias depois da tua partida,
uma jovem de dezassete anos, Públia Hortênsia de Castro 5, versada invulgarmente
nos estudos aristotélicos, ao discutir em público, diante de muitos homens doutos
desejosos de destruir as teses que propusera, com grande habilidade e não menor
graça conseguiu esquivar-se às subtilezas das argumentações e teria enchido o teu
espírito de tal prazer que serias forçado a confessar, se tivesses estado presente, que
nunca tinhas visto espectáculo mais belo e não negarias que a cidade que tem tal
menina (deixo de lado [B5v] a sua excepcional beleza) merecia que a ela viesses só
por esse facto. Mas o bom do tal governador interino, se pôde perturbar tudo isso,
não pôde escapar-se a ser castigado pelo seu aspecto carrancudo e espírito estreito,
para não dizer selvagem, ao ser apodado até aos gritos de bárbara imbecilidade e
eu não pude deixar escapar, quando me lembrava destas coisas, de lhe agradecer,
Carta de A. Resende a B. Frías Albornoz 87
[B5]
como merecia. Mas volto a falar de ti, a quem penso estar devedor por causa da tua
extraordinária bondade: mas não vejo, com efeito, o que possa dar a um homem de
letras, apoiado em tanta ciência, a não ser uma dádiva literária. Por isso é que vou
escrever uma história das antiguidades do nosso Portugal, com antigas inscrições,
que já notei serem do teu agrado, tarefa que os nossos estudiosos da antiguidade
há muito esperam de mim, mas que até agora foi adiada, porque primeiramente
tinham de ser todos os locais visitados por aquele que prometia ir escrever sobre
eles todos.
Não me foi possível realizar tudo isto dentro da modéstia dos meus recursos
pessoais nem me coube em sorte quem, com sua grande riqueza, erguesse e
animasse o meu espírito a construir obra tão custosa. Escreverei, portanto, o que vi
e encontrei e, depois de abrir o caminho aos espíritos curiosos, deixarei atrás de
mim mais coisas que devem ser completadas por outros 6.
Carta de A. Resende a B. Frías Albornoz 89
LIBER PRIMVS
92 As Antiguidades da Lusitânia
[1]
Vamos logo dizer de início alguma coisa sobre o nome da Lusitânia. Plínio, cujas
palavras se prestaram a diferentes interpretações, diz que “Luso, filho do pai Líber, e
Lysa, que com ele celebrava as Bacanais, lhe tinham dado o nome”1. Enquanto uns
pensam que Luso e Lysa foram companheiros de Baco, tendo o nome de Lusitânia
derivado do primeiro e o de Lysitânia do segundo, pois são estes dois nomes que
é costume atribuir-lhe, outros vêem em Luso não o nome de um homem mas a
palavra ludus (jogo) ou lusio (brincadeira) 2. Parece não se terem apercebido antes
de que a província não podia ser denominada naquele tempo por palavra latina
provavelmente nunca ali ouvida. Ora, a dar fé a Varrão, que Plínio cita, a Lusitânia
é assim chamada desde o tempo do próprio Baco 3.
Não faltam os que substituem Lysa por Lyssa, ou seja, “raiva” e “fúria” das
Bacanais, mas como as Ménades faziam Bacanais em diversas províncias, não vejo
porque este nome havia de ser dado aqui e não alhures, em comemoração do
furor báquico. Além disso, se admitirmos que a província derivou o nome daquela
palavrinha insólita e disparatada, conviria chamar-lhe Lyssitânia e não Lysitânia.
Todas estas explicações, todavia, fraquejam, se não recusarmos a velha informação
e não considerarmos que Luso e Lysa foram seres humanos e se não nos repugnar
que Lusitânia tivesse recebido o nome de Luso e a Lysitânia de Lysa. Pelo menos o
autor do Pseudoberoso4 identificou Luso com o homem que afirma [2] ter reinado na
Ibéria nos tempos de um tal Ascátide, rei da Babilónia, em cuja época, segundo os
Gregos, foi descoberta a videira, ao que se diz, aliás, por Dioniso. Assim contribuem
Dioniso, o inventor da videira, e Luso, para que seja viável, pela relação cronológica,
que Luso possa ter ligação com Dioniso, ou seja, com o pai Líber 5.
Se acaso se hesitar sobre o laço de parentesco que teria unido Luso a Dioniso, eu,
pela expressão empregada, imagino que tenha sido seu filho. Não deve, efectivamente,
parecer estranho o afirmar-se que Dioniso, que de todas as maneiras era um homem,
tenha tido um filho, até porque os Gregos também lhe atribuem a paternidade
de Aristeu, o inventor do azeite, segundo afirma Cícero em certo discurso contra
Verres 6. No entanto, parece-me que não se deve ler “e Lysa”, mas “ou Lysa”, para
que Luso tenha sido aquele mesmo Lyso que costumava celebrar as Bacanais com
o pai Líber. Na verdade, a partir da palavra grega lÚw, da qual também provém o
epíteto Lysio do próprio Baco e dos seus sacerdotes, e o nome Lysios foi um homem
cujo nome passou a Luso segundo o costume da língua latina. É que nos parece
mais natural que a província tenha recebido o nome de uma só pessoa do que de
várias. Mas se agradar manter a forma Lysa, mudaremos apenas a partícula “e” em
“ou” de modo a que resulte, como é evidente, que ou foi denominada Lusitânia de
Luso, ou Lysitânia de Lysa 7.
Livro Primeiro • Liber Primus 93
[1]
Nec desunt qui pro Lysa, Lyssam reponant, id est bacchantium rabiem atque
furorem. Sed cum per diuersas prouincias Maenades bacchatae sint, cur hoc
nomen hic potius, quam alibi, tanquam rabiei monumentum sit impositum non
uideo. Adde quod si ab illa insolenti et absurda uocula prouinciam dictam esse
admittamus, non Lysitaniam, sed Lyssitaniam eam nominari oporteret. Verum
cessant ista omnia, si ueterem lectionem non abdicemus, et Lusum ac Lysam
homines fuisse intelligamus, et a Luso quidem Lusitaniam, a Lysa uero Lysitaniam
esse uocatam, aegre non admittamus. Certe Lusum hominem fuisse suppositicius
Berosi auctor intellexit, quem in Hiberia, Ascaridis nescio cuius Babyloniorum
regis tempore, [2] regnasse perhibet, sub quo uitis apud Graecos inuenta sit,
inuentam autem aiunt a Dionysio. Concurrunt igitur Dionysius uitis inuentor,
et Lusus, ut appareat ex ratione temporis, Lusum ad Dionysium, id est Liberum
Patrem, potuisse pertinere.
[3]
L I B E R I A E . L . F.
GALIAE FLAMI-
NICAE. MVNIC
EBORENSIS. FLA-
MINICAE LYSITA-
NIAE
Lusitaniae nomine Latini libri pleni sunt, et Graecorum nonnulli, inter quos
Ptolemaeus atque Stephanus. Lysitaniae uocabulo utuntur Dion, Strabo, Athenaeus
ex Polybio. Neque id latinis est insolitum.
Nam et in Pandectis, sub titulo de censibus, uerba sunt notissima Pauli iuris
consulti: “In Lysitania Pacenses, et Emeritences iuris italici sunt.” Eborae quoque
in aedibus magistri equitum lapis est cum hac inscriptione
[3]
L I B E R I A E . L . F.
GALIAE FLAMI-
NICAE. MVNIC
EBORENSIS. FLA-
MINICAE LYSITA-
NIAE
os limites da lusitânia
Por outro lado, verificámos que, de autor para autor, sobretudo para os Gregos,
assim variavam os limites atribuídos à Lusitânia e a algumas outras províncias.
Segundo Estrabão, estende-se a Lusitânia até aos Ártabros, que vivem junto ao
cabo Finisterra: “A região que fica ao norte do Tejo – diz ele – é a Lusitânia, uma
das maiores tribos hispânicas, contra a qual, durante muitos anos, os Romanos
combateram. É delimitada, a sul, pelo Tejo, a ocidente e a norte, pelo oceano, a
oriente pêlos bem conhecidos povos Carpetanos, Vetões, Vaceus e Galaicos.”18 Pouco
mais adiante diz que o Minho bate em grandeza todos os rios da Lusitânia: chama
Ártabros mesmo aos mais recuados habitantes da Lusitânia, a norte e a ocidente.
Exclui, sem dúvida, desta província a região entre o Tejo e o Guadiana, e é por
isso que, quando fala acerca das minas de estanho, afirma que o cabo Espichel
fica para lá dos Lusitanos. Delimitando a Lusitânia a oriente com os Carpetanos, os
Vetões, os Vaceus e os Galaicos, situa-os fora da Lusitânia, como é evidente, mas,
segundo adverte no mesmo passo, há autores que consideram estes povos também
Lusitanos. Dos Vetões, voltaremos a falar 19.
Por agora é suficiente verificar que Estrabão, sem o provar, considera alguns destes
povos, Carpetanos, Vetões, Vaceus e Galaicos, hoje todos desaparecidos, como não
Lusitanos. Acresce que, ao falar da nascente do Tejo e ao dizer que este rio corre
da região dos Celtiberos para o ocidente equinocial, através dos Vetões, Carpetanos
e Lusitanos, separa abertamente dos Lusitanos não só os Vaceus e Galaicos como
ainda os Vetões. Sobre os Vaceus não há qualquer dúvida, mas quanto aos Galaicos
e Carpetanos poder-se-á facilmente levantar objecções. Também convém lembrar
que Estrabão estende a Lusitânia até aos Ártabros, embora não esconda que, no
seu tempo, mitos já chamavam os Galaicos de Lusitanos 20.
[5] Assim compreendida, portanto, a Lusitânia de Estrabão, os Galaicos, que,
segundo o próprio autor, vieram habitar em último lugar a zona montanhosa e
passaram a ser vizinhos dos Vaceus, e alguns deles dos Ástures, a quem chama
indistintamente Galaicos por serem povos limítrofes, tornando-se deste modo vizinhos,
a oriente, dos Lusitanos. Mas quanto aos Carpetanos, que diz inclinarem-se para
Norte a seguir aos Oretanos, não compreendo porque chegaram até à Lusitânia, a
não ser que admitamos que Estrabão os prolongasse até esta província ao longo
do curso do Tejo, que se dirige de oriente para ocidente. O mesmo se pode dizer
dos Vetões, Vaceus e igualmente dos Túrdulos, que se estendiam entre o Tejo e
o Guadiana e em cujo território situa Mérida. Tal região, para ele, não pertence à
Lusitânia, visto que esta é delimitada a sul pelo rio Tejo.
Noutro passo, porém, isto é, já perto do fim do livro terceiro, diz que as His-
pânias foram divididas, por uns, em duas partes, por outros, em cinco, que algumas
Livro Primeiro • Liber Primus 97
LVSITANIAE TERMI
[5] Ita igitur intellecta Strabonis Lusitania Gallaici, qui ipso auctore nouissimi
montana habitant, Vaccaeis uicini, et Asturum nonnulli, quos omnes ob uicinitatem
Gallaicos appellat, ab aurora Lusitanis fiunt.
Sed Carpetani, quos post Orenatos ad aquilonem declinare commemorat, quid
ad Lusitaniam attineant non uideo; nisi dicamus Strabonem eos per defuentem
Tagum, ab oriente uersus occasum usque ad Lusitaniam protraxisse.
Similiter et Vettones, et Vaccaeos, quemadmodum et Turdulos inter Anam et
Tagum, in quibus Emeritam locat. Quae regio illi Lusitania non est, cum primum
australe eius latus Tago determinat.
Alibi tamen, hoc est sub finem tertii libri, cum Hispanias ab aliis in partes
duas, ab aliis in quinque fuisse diuisas dicit, earumque alias plebi, Senatuique
98 As Antiguidades da Lusitânia
Pomponius scriptor non modo diligens ac disertus, sed etiam, utpote Hispanus,
domesticarum rerum peritissimus, breuiter et eleganter treis, quae tunc erant,
Hispaniae prouincias diuisit. “Tribus autem – inquit – est distincta nominibus,
parsque eius Tarraconensis, pars Baetica, pars Lusitania uocatur. Tarraconensis
altero capite Gallias, altero Baeticam, Lusitaniamque contingens, mari latera
obiicit nostro, qua meridiem, qua septentrionem spectat, Oceano. Illas fluuius
Anas separat”.
Et lib. tertio de flexu terrae inter Tagum et Durium quum agit, ita scribit:
“In eoque sunt Turduli ueteres Turdulorumque oppida. Amnes autem Munda
in medium fere ultimi promontorii latus effluens, et radices eiusdem abluens
Durius.” In tria enim promontoria dispersam Lusitaniam dixerat.
Plinius similiter libro tertio capite primo: “Vlterior uidelicet Hispania, in duas
per longitudinem prouincias diuiditur. Siquidem Baeticae latere septentrionali
praetenditur Lusitania, amne Ana discreta.” Et lib. quarto cap. uigesimo primo:
“A Durio Lusitania incipit.” Sed quando in hunc Plinii locum incidimus, exigit res
ut duo eius capita expendamus, quae ad Lusitaniae situm rectius percipiendum
maxime pertinere censemus.
100 As Antiguidades da Lusitânia
[7] In medio igitur uigesimo capite quarti libri ad hunc modum ambo codices
habent:
“Promontorium Celticum, quod alii Artabrum appellauere, terras, maria,
caelum disterminans. Illo finitur Hispaniae latus, et a circuitu eius incipit frons.
Septentrio hinc, Oceanusque Gallicus, occasus illinc et Oceanus Athlanticus.
Promontorii Excursum LX M. prodidere. Alii XC ad Pyrenaeum inde, non
pauci XII L millia, et ibi gentem Artabrum, quae nunquam fuit, manifesto errore.
Arotebras enim, quos ante Celtium diximus promontorium, hoc in loco posuere,
litteris permutatis. Amnes Florius, Nelo, Celtici cognomine Neriae, superque
Tamarici, quorum in paeninsula tres arae Sestianae Augusto dicatae. Cepori.
Oppidum Noela. Celtici cognomine Praesamarci. Cileni. Ex insulis nominandae
Corticata et Aunios. A Cilenis, conuentus Bracarum. Heleni, Grauii, Castellum
Tyde. Graecorum sobolis omnia. Insulae Cicae. Insigne oppidum Abobriga. Minius
amnis IIII M. passuum ore spatiosus. Leuni Seurbi. Bracarum oppidum Augusta.
Quos supra Callaecia. Flumen Limia. Durius amnis ex maximis Hispaniae, ortus
in Pelendonibus, et iuxta Numantiam, lapsus deinde per Areuacos, Vaccaeos,
disterminatis ab Asturia Vettonibus, a Lusitania Callaecis; ibi quoque Turdulos a
Bracaris arcens. Erratum et in amnibus inclitis. Ab Minio, quem supra diximus
CC M. pass. ut auctor est Varro, abest Aeminius, quem alibi quidam intelligunt,
et Limiam uocant, obliuionis antiquis dictus. Omnisque dicta regio a Pyrenaeo
metallis referta auri, argenti, ferri, plumbi nigri, albique.
[8] Fiquei então bem contente com a seriedade de Plínio, visto que daquela
maneira parecia ficar livre da acusação de negligência, de que sofrem todos os
que se ocuparam de assuntos de geografia, e agradeci muito a Pinciano porque o
conseguira demonstrar. Deixei, porém, de estar contente ao apreciar com mais cuidado
o encadeamento das palavras de Plínio, ao mesmo tempo que o cotejava com Solino,
macaco de Plínio, como se diz. Transcreverei as palavras deste velhíssimo códice
manuscrito a fim de obter um texto mais fiel: “Na Lusitânia, situada na Hispânia,
existe um promontório a que chamam Ártabro, outros Olisiponense, o qual separa
o céu, terras e mares. Quanto às terras, domina ele um dos lados da Hispânia e
assim divide o céu e os mares, porque rondando-o começa o golfo da Gasconha
e a frente setentrional depois de se ter chegado ao fim do oceano Atlântico e do
ocidente. Aqui se situa Lisboa, fundada por Ulisses, o rio Tejo, que sobreleva aos
outros rios por causa das suas areias auríferas. Na proximidade de Lisboa, as éguas
entram em cio com estranha fecundidade, pois, bafejadas pelos Favónios, concebem
pelo vento, e tendo desejo de macho cobrem-se com o sopro das brisas” 31.
Não há dúvida de que Solino foi buscar estas palavras a Plínio, tal como para
a mesma opinião convergiram Marciano Capela 32 e S. Isidoro, no livro décimo
quinto das Etimologias 33. De resto, o próprio encadeamento das palavras mostra
suficientemente que a frase é de Plínio. Repare o leitor atento: “Referiam-se certamente
aos Arótebras, dos quais falámos antes de chegarmos ao cabo Finisterra e que eles
localizaram aqui” 34. Serão estas as palavras de quem já se afastou do Finisterra
ou de quem se detém ainda a descrever o mesmo? “Localizaram-nos aqui”. Onde?
Acaso no Finisterra? Com certeza. Portanto, aqui os situam os restantes autores e o
próprio Plínio. Com efeito, coloca os Arótebras antes do Finisterra. Mas Arótebras
e Ártabros são o mesmo povo, como confirma Estrabão ao dizer: “Os homens do
nosso tempo chamam Arótebras aos Ártabros” 35 . E Plínio declara: “trocando as
letras” 36. Foi, por conseguinte, deste modo, que, ocupando-se do cabo Finisterra e
como que esquecido de si próprio, acusa de erro manifesto os que aí localizaram
o povo dos Ártabros, que nunca teria estado em tal lugar.
Todos estes factos, que puderam ser aqui trazidos pela leitura dos códices
de Toledo e Salamanca e que puderam ser sujeitos a críticas, já não podem ser
recusados se dissermos simplesmente que Plínio liga ao cabo da Roca tudo o que
diz sobre os Ártabros. No entanto, é falso [9] que o mesmo cabo esteja no limite
das terras, do céu e dos mares; que aí termine um dos lados da Hispânia ou que,
contornando-o, comece a parte frontal, tanto mais que Estrabão disse, com toda a
clareza, que esta costa se estende do cabo de S. Vicente até ao monte dos Ártabros,
isto é, até ao cabo Finisterra, e que a península tem um quarto lado, desde aqui até
ao cabo Creus, parcialmente voltado ao norte. Também é falso o que diz do seu
comprimento e da distância que o separa do cabo Creus, se entendermos aquele
como o cabo da Roca.
Que havemos pois de dizer a não ser que Plínio identificou erradamente o
cabo Finisterra com o da Roca? Poder-se-á, porém, reduzir grande parte da sua
Livro Primeiro • Liber Primus 103
Exultaui equidem tunc, propter Plinii grauitatem. Illo siquidem [8] pacto
calumnia negligentiae, quam patitur ab omnibus qui geographica tractarunt,
liberari sane uidebatur, et Pintiano magnas egi gratias, qui id commonstrasset.
Verum exultare desii Plinii uerborum seriem pensitatius expendens, simulque
sumpto in manus Solino, Plinii ipsius, ut perhibetur, simia; cuius referam uerba,
atque ex manuscripto uetustissimo codice, ut sincerius exeant.
“In Lusitania Hispaniae promontorium est, quod Artabrum alii, alii Olisiponense
dicunt. Hoc caelum, terras, maria distinguit. Terris Hispaniae latus finit, caelum
et maria hoc modo diuidit, quod circumitu eius incipiunt Oceanus Gallicus,
et frons septentrionalis, Oceano Atlantico, et occasu terminatis. Ibi oppidum
Olisipo ab Vlysse conditum. Ibi Tagus flumen. Tagum ob arenas auriferas ceteris
amnibus praetulerunt. In proximis Olisiponis equae lasciuiunt mira fecunditatae.
Nam adspiratae fauoniis, uento concipiunt, et sitientes uiros aurarum spiritu
maritantur.”
culpa, na medida em que não afirma que o Finisterra é esse promontório, mas
sim que alguns autores assim o designaram e que aí localizaram os Ártabros, em
erro manifesto, segundo diz, pois foi povo que nunca existiu em tais paragens. E
explica a causa do erro: “Referiam-se seguramente aos Arótebras, dos quais falámos,
antes de chegarmos ao cabo Finisterra e que eles, trocando as letras, localizaram
aqui” 37. Critica, com razão, aqueles, quem quer que tenham sido, que designaram
por Finisterra o cabo da Roca e associa outro erro não insignificante ao continuar
com todo o acerto: “Também se errou acerca de rios célebres” – afirma ele, assim
como quem diz: “errou-se nisto, porque chamavam Ártabro ao promontório Magno,
ou seja, Olisiponense, e aqui colocaram os Artabros, o que é um erro manifesto,
pois foi povo que nunca esteve nessas paragens; erraram, do mesmo modo, acerca
de rios importantes, como o Minho e o Lima” 38. Muito embora estejamos prontos a
desculpar Plínio deste passo, visto que acusa de engano os que chamam Finisterra
ao cabo da Roca, já não ousamos contudo proteger da censura quem afirma que
as terras, os céus e os mares são divididos pelo cabo da Roca e que o lado da
Hispânia, voltado a ocidente, é delimitado por ele.
Mas não é de admirar que Plínio, naquela época, tenha sido enganado e induzido
em erro, porque, nos nossos dias, em que quase tocamos as coisas com as mãos
no contacto diário e em que as observamos até à saciedade [10] com tão grande
frequência, Joaquim Vadiano 39, que tanto se exasperou contra Plínio devido a este
erro e que dele não o desculpou, se enganou ele mesmo, ao crer que o promontório
Cúneo é o cabo de S. Vicente e que o Sacro e o Barbário são um e o mesmo cabo,
além do que diz sobre Alcácer do Sal e Lisboa, afirmações que já foram objecto da
minha crítica 40. Estes assuntos são escorregadios, não muito fáceis de conhecer, e
é quase um prodígio não se escorregar em tão grande globo terrestre.
Se me fosse permitido emendar Plínio à minha vontade, ler-se-ia antes assim: “O
cabo Finisterra, que separa as terras, os mares e o céu. Com ele termina uma das
partes laterais da Hispânia e depois de rondado começa a parte frontal. Do lado
norte tem o golfo da Gasconha, do ocidente o oceano Atlântico”. Mais à frente,
no capítulo da Lusitânia, proporíamos: “Depois alarga-se para outro promontório
de ponta retorcida e larga, a quem uns chamam Ártabro, outros Magno e muitos
Olisiponense, devido ao nome da cidade. Uns calculam o seu comprimento em 60
mil, outros em 90 mil passos e daí até aos Pirenéus consideram não poucos uma
distância de 1250 mil passos, lacalizando aí os Ártabros, o que é erro manifesto, pois
foi povo que nunca ali existiu, etc.” 41. Seria então conveniente desculpar Solino e
Capela, na medida em que deveriam ter utilizado edições já deturpadas de Plínio.
E não sei se isto não se poderia provar.
Eis porque, quanto a mim, se deve ficar agradecido àqueles cópias opriginais
e à de Pinciano, porque propositadamente evitam afirmar a existência de erro em
Plínio, mas, depois de aceite a lição, devemo-nos ficar por essa tal nodoazita de
tão grande homem sem que maltratemos a sua opinião.
Livro Primeiro • Liber Primus 105
quod non ipse affirmat Artabrum id esse promontorium, sed nonnullos ita
uocasse, et ibi gentem Artabrum, quae nunquam ibi fuerit, collocasse, atque hoc
manifesto, ut inquit, errore. Et erroris causam subiicit: “Arotebras enim, quos
ante Celticum diximus promontorium, hoc in loco posuere, litteris permutatis.”
Quos iure reprehendit, quicuunque ii fuerint, qui Artabrum promontorium hoc
Olisiponense uocarint, additque optima uerborum consequutione alium non
minimum errorem.
“Erratum – inquit – et in amnibus inclitis”, sicut, ait, “erratum in hoc est,
quod promontorium magnum, siue Olisiponense Artabrum appellauere, ibique
gentem Artabrum, quae nunquam ibi fuit, manifesto errore posuere, ita erratum
ab iis est in amnibus inclitis, uidelicet Aeminio atque Limia. Quemadmodum
itaque ex parte hac Plinium excusare possemus, quando erroris arguat eos qui
Olisiponense promontorium Artabrum appellauere, ita protegere a culpa non
audemus Olisiponensi isto terras, caelum, maria distingui, eoque Hispaniae latus
ad occidentem finiri asseuerantem.
Quod nescio an euinci posset. Quare per me quidem autographis libris illis,
et Pintiano habeatur sane gratia Plinianum erratum sedulo amolientibus, sed
recepta lectione, cum isthac magni uiri labecula contendi simus, neque eius
sententiae uim faciamus.
106 As Antiguidades da Lusitânia
Ad Pyrenaeum inde non pauci XII L. milia, et ibi gentem Artabrum, quae
nunquam fuit, manifesto errore. Arotebras enim, quos ante Celticum diximus
promontorium, hoc in loco posuere, litteris permutatis.
“Erratum et in amnibus inclitis. Ab Minio, quem supra diximus CC M. pass.,
ut auctor est Varro, abest Aeminius, quem alibi quidam intelligunt et Limaeam
uocant, Obliuionis antiquis dictus, multumque fabulosus. Ab Durio Tagus CC M.
passuum interueniente Munda. Tagus, auriferis arenis celebratur. Ab eo CLX M.
passuum promontorium Sacrum e media prope Hispaniae fronte prosilit. XIIII
M. passuum, inde ad Pyrenaeum medium colligi Varro tradit. Ab Ana uero, quo
Lusitaniam a Baetica discreuimus, CXXI M. pass.
A Gadibus CII M. passuum additis, Gentes Celtici, Turduli, et circa Tagum
Vettones.
estreita, do que a antiga, a Oriente junto dos Vetões, quase [14] todos separados
dos nossos compatriotas.
Habitam, portanto, a região entre Douro e Guadiana, a verdadeiramente dita
Lusitânia, povos tais como os especialmente designados por Lusitanos, os Turdetanos,
os Célticos, os Túrdulos, os Vetões, os Barbáries, os Pesuros e os Túrdulos Velhos. De
modo algum podemos discriminar com exactidão as suas fronteiras e confins, no meio
de tão grandes trevas que envolvem as coisas antigas, e no meio dos testemunhos
discordantes dos autores. Que ninguém incorra em erro ao basear-se nos números
de Ptolomeu 47, que, por sua natureza, são susceptíveis de deturpação, pois mesmo
que estivessem como quando foram anotados, ainda assim não mereciam crédito
absoluto, porque o autor não tirou estes números da sua observação no local, mas
da narração. Sendo assim, pôde facilmente ter deslizes, e nas cartas geográficas
desenhadas e lançadas por ele são mais as coisas que há a rejeitar do que aquelas
em que se deva ou possa acreditar.
OS TURDETANOS
OS CÉLTICOS
septentrione longior non paulo et auctior, ab oriente uero propter Vettones fere
[14] omneis a nostris separatos, aliquanto uetere angustior.
Eam ergo quae proprie dicta Lusitania est, inter Durium atque Anam fluuios
incolunt gentes, Lusitani peculiariter uocati, Turdetani, Celtici, Turduli, Vettones,
Barbarii, Paesuri, Turduli ueteres. Quorum limites atque confinia exacte
discriminare nequaquam possumus, in tantis antiquarum rerum tenebris, et
inter mutuo se collidentia scriptorum testimonia. Numeris Ptolemaei, per se rei
maxime corruptioni obnoxiae, nemo quisquam se astringat. Qui si perseuerarent
integri, uti ab illo notati sunt, fidem integram adhuc non facerent, quum is, eos
numeros, non additis locis, sed relatione acceptis, subnotarit. In quo labi potuit
facillime. Depictae autem tabellae, atque illi adiectae, plura habent, quae reiicias,
et adspernere, quam quibus credere merito, uel debeas, uel possis.
DE TVRDETANIS
DE CELTICIS
Contigui his sunt atque intermixti Celtici, Gallica natio, iuxta Anam late usque
ad Turdulos, et Vettones multis ciuitatibus effusi, inter quas etiam nostro aeuo
Heluae clarae sunt, ipso nomine originem prae se ferentes. Parentes fuerunt hi
non solum Celticorum, qui Nerium Callaeciae promontorium insedere, cuique
nomen dedere, uerum etiam eorum Celticorum qui ad alteram Anae ripam
migrantes in Baeturia, Baeticae parte urbeis condidere. De prioribus illis refert
112 As Antiguidades da Lusitânia
cidades da Betúria, uma parte da Bética. Aos primeiros refere-se Estrabão com as
seguintes palavras: “Os mais recuados, os Ártabros, vivem junto do promontório
chamado Nério que é o limite não só do lado ocidental como do setentrional. Na
sua periferia, encontram-se os Célticos, da mesma raça daqueles que vivem perto
do Guadiana. Contam que quando estes últimos e os Túrdulos organizaram como
aliados uma expedição, depois da travessia do rio Lima desertaram, e tendo-se dado
nessa deserção a perda do chefe ficaram naquele mesmo local errantes e dispersos
e foram eles próprios que deram ao Lima o nome de rio do Esquecimento” 54.
Acerca dos outros, diz Plínio no livro terceiro, capítulo primeiro: “Esta região, a
chamada Betúria, [16] estende-se mais além da que foi referida, entre o Bétis e o
Guadiana, dividida em duas partes e outros tantos povos: os Célticos do Convento
Hispalense, que confinam com a Lusitânia, e os Túrdulos que vivem junto da
Lusitânia e da Tarraconense, dependentes da jurisdição de Córdova. Que os Célticos
provieram dos Celtas da Lusitânia é evidente pela identidade de culto, língua e
nome de povoações, que na Bética se distinguem pelos cognomes” 55. Também a
este respeito bastante falámos na epístola a Vaseu em defesa de Beja 56.
OS TÚRDULOS
Strabo hisce uerbis: «Extremi incolunt Artabri circa promontorium quod Nerium
uocatur, quod et occidui et septentrionalis terminus est lateris. Circumhabitant
ipsum Celtici, consanguinei eorum qui ad Anam sunt. Hos etenim, et Turdulos
sociis armis exercitum cum duxissent, ibi post Lemii fluminis transitum seditionem
egisse ferunt, in eaque seditione facta ducis amissione palanteis, ac dissipatos
ibidem remansisse, et ab iis fluuium Obliuionis esse dictum.»
De alteris his Plinius libro tertio capite primo : «Quae autem regio a Baeti
ad fluuium Anam tendit extra praedicta, Baeturia appellatur, [16] in duas diuisa
partes, totidemque genteis, Celticos, qui Lusitaniam attingunt, Hispalensis
conuentus, Turdulos, qui Lusitaniam et Tarraconensem adcolunt. lura Cordubam
petunt.» Celticos a Celtis ex Lusitania aduenisse manifestum est, sacris, lingua,
oppidorum uocabulis, quae cognominibus in Baetica distinguntur. Diximus de
hoc quoque satis in epistola ad Vasaeum pro Pacensi colonia.
DE TVRDVLIS
Turduli sequuntur, gens per Hispaniam Vlteriorem late diffusa. Nam et Baeticae
partem tenuere, quorum Metropolis erat Corduba, et Lusitaniae portionem iuxta
Vettones, et maritimam omnem regionem a Tago usque ad Durium, ex iis quidam
Veteres appellati sunt. De quibus postea. Quorum meminisse modo conuenit, ii
sunt qui a Turdulis Baeticis amne Ana discreti erant, de quibus Plinius in capite
de Lusitânia: “Gentes Celtici, Turduli, et circa Tagum Vettones.”
OS VETÕES E OS VECTÕES
Plínio situa os Vetões junto ao Tejo entre os povos da Lusitânia e escreve assim:
“A partir do Guadiana, com o qual separámos a Lusitânia da Bética, os povos são os
Célticos, os Túrdulos e, junto ao Tejo, os Vetões” 63. Resolvamos, se pudermos, este
problema já anteriormente abordado no passo em que, ao ocuparmo-nos dos limites
da Lusitânia, dela excluímos os Vetões, transcrevendo a opinião de Estrabão. Acerca
da grafia e ortografia do nome, calemo-nos [18] até examinarmos o resto. Compare
o leitor atento o que diz Estrabão: “Os Oretanos estendem-se ao máximo para o
Sul, chegando até à zona marítima de certa parte que está para o lado ocidental
das colunas de Hércules. A seguir estão os Carpetanos que se inclinam para norte
e depois os Vetões e os Vaceus, por cujo território corre o Douro”; e o passo, um
pouco mais à frente, quando diz que a Lusitânia é delimitada a oriente por Vetões,
Vaceus e Galaicos 64; comparemos, como disse, com as palavras de Plínio no cap.
terceiro do livro terceiro: “Os primeiros são os Bástulos na costa e a seguir, por
ordem e em direcção ao interior, os Mentesanos, os Oretanos e os Carpetanos junto
ao Tejo; perto destes os Vaceus, Vectões e Celtiberos” 65.
Do mesmo modo, no cap. décimo do livro quarto: “O Douro, um dos maiores
rios da Hispânia, nasce entre os Pelendónios, perto de Numância, corre pelos Aré-
vacos e Vaceus, separa os Vectões da Astúria e os Galaicos da Lusitânia no mesmo
sítio em que também separa os Túrdulos dos Brácaros” 66. Comparadas entre si,
lado a lado, as palavras de ambos, ver-se-á que falam os dois da Hispânia Citerior
e que situam os Vectões fora da Lusitânia, como também fez César no primeiro
comentário Sobre a Guerra Civil, em que diz: “Os legados de Pompeio – Afrânio,
que tinha obtido com o comando de três legiões a Hispânia Citerior; Petreio, que,
Livro Primeiro • Liber Primus 115
Tu r d e t a n i a m . I n c o l a s u e r o i p s o s Tu r d e t a n o s , e t Tu r d u l o s a p p e l l a n t .
Quidam autem eosdem esse existimant, alii uero diuersos, e quibus etiam est
Polybius, qui Turdetanis finitimos ad septentrionem dicit esse Turdulos. Verum
tempestate hac nulla inter ipsos apparet distinctio.”
Mihi non contigit eum Polybii locum expendere, cum praeter quinque eius
libros Graece, et a Nicolao Perotto Episcopo Sipontino Latine uersos, ad hoc
tempus nihil uiderim. Sed fidem Straboni habeo, et Polybium uere sensisse
arbitror, etiam si Liuius et alii eos propter uicinitatem confundant. Siquidem
Ptolemaeus distincte Turdulos alios a Turdetanis facit in ipsa Baetica. Nam in
Lusitania Turdetanorum tantum meminit, ut superius exposuimus, Turdulos
praetermisit. E contrario Plinius de Turdetanis in Lusitania nullum uerbum,
Turdulos posuit geminos, uidelicet hos Anae contiguos, et alteros Veteres
uocatos. De quibus postea.
DE VETTONIBVS ET VECTONIBVS
Vettones, inter Lusitaniae populos, circa Tagum, recenset Plinius, ita scribens.
“Ab Ana uero, quo Lusitaniam a Baetica discreuimus, gentes Celtici, Turduli, et
circa Tagum Vettones.” Dissoluamus, si possumus, nodum hic, superius obiter
tactum, quum de Lusitaniae terminis agebamus, ubi ex Strabonis sententia
Vettones Lusitania exclusimus. Atque de scriptura, uel nominis orthographia
quiescamus tantisper, [18] dum cetera examinamus. Conferat diligens lector
quae Strabo dicit: “Oretani maxime uergunt ad meridiem, peruenientes usque
ad maritimam, aliqua ex parte intra columnas. Post quos Carpetani declinant ad
aquilonem; inde Vettones et Vaccaei, per quos Durius labitur.»
Et paulo post, ubi Lusitaniam ab aurora cingi ait Vettonibus, Vaccaeis, et
Callaeci. Conferat inquam haec cum Plinii uerbis lib. 3. cap. 3 : «Primi in ora
sunt Bastulli, post eos, quo dicetur ordine, intus recedentes Mentesani, Oretani,
et ad Tagum Carpetani, iuxta eos Vaccaei, Vectones et Celtiberi.»
com duas legiões, dominava a região que vai da serra de Segura até ao Guadiana;
e Varrão, a quem coubera a terra dos Vectões a partir do Guadiana e dominava
a Lusitânia com número igual de legiões – partilharam as suas funções para que
Petreio, vindo da Lusitânia através dos territórios dos Vectões, alcançasse, com todas
as suas forças, Afrânio”.
E mais à frente: “Petreio chegou até junto de Afrânio atravessando os Vectões”67.
Portanto, os Vectões estavam fora da Lusitânia. No entanto, Ptolomeu considera-os
como os mais orientais dos Lusitanos; entre as suas cidades, das que são conhecidas
na nossa época, cita Salamanca, Caparra e Ávila. Também Plínio diz na descrição
da Lusitânia: “E junto ao Tejo os Vetões”. Deve-se, por conseguinte, perguntar se
esses Vectões ou Vetões são os mesmos ou povos diferentes e se os autores estão
de acordo entre si ou não.
[19] “O Douro – diz Plínio – corre pelos Arévacos e Vaceus e separa os Vectões
da Astúria e os Galaicos da Lusitânia” 68. Que distribuição é esta “separa os Vectões
da Astúria e os Galaicos da Lusitânia”, se nesse local foram situados por Ptolomeu 69
Vectões Lusitanos? E aquela afirmação “e junto ao Tejo os Vetões”? Se estão junto
ao Tejo não são, portanto, os que pelo curso do Douro são separados dos Ástures
e que são localizados pelo mesmo Plínio junto dos Vaceus na Hispânia Citerior. Se
de facto são os mesmos foi com pouca propriedade que se disse “e junto ao Tejo
os Vetões”, pois mais de acordo com as circunstâncias e com igual brevidade se
poderia ter dito “e do Tejo ao Douro os Vetões”. Mas nesse caso, quem seriam então
aqueles Vectões não Lusitanos separados da Astúria pelo rio Douro?
Vamos investigar o assunto um pouco mais a fundo e descobrir quem eram estes a
seguir aos Vaceus e separados dos Ástures pelo Douro. Quem quiser siga num mapa
da Hispânia o curso do Douro desde Numância, capital dos Pelendónios, através
dos Arévacos e suas cidades de Osma, Xigonza, Penalva del Castro e as restantes
evocadas por Plínio. Depois o local em que o Areva, causa e origem do nome desse
povo, se mistura ao Douro. Seguidamente, a partir do rio Pisuerga, corre o Douro
entre os Vaceus e suas cidades de Falência, Coca e as que lhes são atribuídas por
Ptolomeu, ou seja, Píncia, Sárabris, Sêntica. E de entre elas Zamora, que se pensa
ser a antiga Sêntica 70, está perto do ângulo formado pelo Douro no sítio em que,
perto de Miranda, recebe as águas do Esla, rio das Astúrias que recordámos na
descrição da Lusitânia.
Procuremos agora estes Vectões contíguos a eles e separados dos Ástures pelo
Douro. Não se apresentam nenhuns a não ser os que se estendiam desde o ângulo
em forma de cunha voltado para o interior, de que já falámos, até aos Carpetanos,
pela margem sul do Douro, uma vez que estão separados por meio do curso do
rio dos Mirandeses, outrora sob o domínio do valente povo Ásture. Pois bem, são
estes que Ptolomeu disse serem os mais orientais dos Lusitanos e entre eles situou
Salamanca, Ávila e Caparra, para que seja dos Vetões, limítrofes dos Vaceus, como
mostrámos, a zona por onde corre para o Douro o Tormes que banha Salamanca.
Livro Primeiro • Liber Primus 117
Paulo expressius rem indagemus, eruamusque, qui sint isti post Vaccaeos
Durio ab Asturibus disterminati. Percurrat qui uelit, in Hispaniae pictura Durii
cursum usque ex Numantia Pelendonum urbe, per Areuacos, et eorum urbeis
Vxamam, Saguntiam, Cluniam, et reliquas a Plinio commemoratas. Tum ubi se
Areua, eorum nominis causa et origo, Durio miscet. Deinde a Pisoraca fluuio
Vaccaeos eorumque ciuitates Pallantiam, Caucam, et illis a Ptolemaeo tributas
Pintiam et Sarabrim et Senticam. Quarum Sentica, quae Zamora existimatur,
uicina fluminis angulo est, ubi Estulam, fluuium Asturum, Durius excipit, iuxta
Mirandam, cuius in Lusitaniae descriptione meminimus.
[20] São também estes que Estrabão e Plínio nomeiam na Hispânia Citerior. Mas
por que se calcula para os mesmos Vectões uma distância de 160.000 passos até
aos Vetões de Plínio, que estão junto ao Tejo, que é a distância que vai desde a
margem do Douro, junto aos Vaceus, até ao Tejo? É que os Vetões se estendiam até
esse ponto, dirá alguém, sem estar inteiramente contra a razão, pois Estrabão ao
falar da nascente do Tejo diz o seguinte: “Nascendo entre os Celtiberos, corre para
o Ocidente equinocial através dos Veciões, Carpetanos e Lusitanos e mantém, por
pouco tempo, igual distância do Guadiana e do Guadalquivir” 71. Mas Ptolomeu 72,
embora tenha enumerado cuidadosamente as cidades dos seus Vetões, das quais, a
título de exemplo, apenas refiro Salamanca, Ávila e Caparra, levanta um obstáculo
ao encher o enorme espaço intermédio, quase lacunar, desde ali até ao Tejo, ou
melhor, até ao Guadiana, não já com Vetões mas com Lusitanos propriamente ditos,
e com as cidades de Cória, Cáceres, Vila Nova da Coelheira, situadas junto ao Tejo
ou não longe das suas margens, e com a própria Mérida, metrópole dos Vetões, e
como esta todas ditas dos Vetões, como adiante explicarei.
Será que estes povos são dois, um Lusitano e o outro não, mas pertencentes
à Hispânia Citerior, ambos unidos pela semelhança de nome, ou então é apenas
um? Não ouso garantir que sejam dois, embora seja bem evidente pelo diverso
testemunho dos autores e pela diferença de grafia de uma só letra. Não falo de
Estrabão 73, em cujos códices, que parecem brincar estranhamente com este nome,
não sei se por culpa dele ou dos copistas, ora são Ovetões, depois Vuetões e logo
Oveciões. Examinemos os códices latinos. Segundo Plínio, nos dois passos em que
fala da Hispânia Citerior, o nome deste povo escreve-se com -ct- 74; assim também
no comentário de César acima citado 75; igualmente segundo Lívio, no livro quinto
da quarta Década 76, quando diz que Marco Fúlvio combateu contra eles e contra
os Vaceus e Celtiberos; do mesmo modo, segundo Lucano 77 e Sílio 78, cujas palavras
citarei em breve. Pelo contrário, o nome dos tais Vetões, que vivem junto ao Tejo,
escreve-se com a geminada -tt-, como pode verificar-se mesmo no próprio Plínio
e tal como encontrei em muitas inscrições em pedra. Transcrevi duas delas não há
muito no livrinho dirigido a Quevedo 79, cónego de Toledo, e não me envergonho
de fazê-lo agora, mesmo que pareça excessivo, já que o assunto a meu ver o exige.
Há um enorme cipo na minha casa de Évora, que diz o seguinte:
[21]
L. VOCONIO. L. F.
Q V I R. PAVLLO.
AED. Q. II. VIR. VI.
FLAM. ROM. DI-
VOR. ET. AVGG.
PRAEF. COH. I.
LVSIT. ET. COH. I.
VETTONVM.
Livro Primeiro • Liber Primus 119
[21]
L. VOCONIO. L. F.
Q V I R. PAVLLO.
AED. Q. II. VIR. VI.
FLAM. ROM. DI-
VOR. ET. AVGG.
PRAEF. COH. I.
LVSIT. ET. COH. I.
VETTONVM.
120 As Antiguidades da Lusitânia
Isto é: A Lúcio Vocónio Paulo, filho de Lúcio, da tribo Quirina, o qual foi edil,
questor, duúnviro, flâmine dos Deuses de Roma e Prefeito da primeira coorte dos
Lusitanos de Augusto e da primeira coorte dos Vetões 80.
P. AELIO. VITALI
AVG. LIB. TABVL.
PROVINC. LVSI-
TANIAE. ET. VE-
TTONIAE. STEP-
HANVS. LIB. ET
HERES. PATRO-
NO FECIT.
SERGIAE. M. F. PE-
REGRINAE M. SER
GIVS VETTO. AMI-
TAE.
Isto é: A [sua] tia paterna, Sérgia Peregrina, filha de Marco, Marco Sérgio Vetão
[erigiu este monumento] 82.
L. PVBLICIVS. L. F.
PAP. THIAMVS. E-
MERIT. AN. XXVII
H. S. E. S. T. T. L.
CAECILIVS VET-
TO. SODALI CIP-
PVM. D. S. D.
Livro Primeiro • Liber Primus 121
Id est: Lucio Voconio Lucii filio Quirina Paullo Aedili quaestori duumuiro
Sextum 1 flamini Romae diuorum et Augustorum praefecto cohortis primae
Lusitanorum et cohortis primae Vettonum.
P. AELIO. VITALI
AVG. LIB. TABVL.
PROVINC. LVSI-
TANIAE. ET. VE-
TTONIAE. STEP-
HANVS. LIB. ET
HERES. PATRO-
NO FECIT.
[22] Hoc est: Publio Aelio Vitali Augusti liberto, tabulario prouinciae Lusitaniae,
et Vettoniae Stephanus libertus et haeres patrono fecit.
SERGIAE. M. F. PE-
REGRINAE M. SER
GIVS VETTO. AMI-
TAE.
Hoc est: Sergiae Marci filiae peregrinae, Marcus Sergius Vetto amitae.
L. PVBLICIVS. L. F.
PAP. THIAMVS. E-
MERIT. AN. XXVII
H. S. E. S. T. T. L.
CAECILIVS VET-
TO. SODALI CIP-
PVM. D. S. D.
[23] Isto é: Lúcio Publicio Tiamo, filho de Lúcio, da tribo Papíria, emeritense, de
27 anos, está aqui sepultado. Que a terra lhe seja leve! Cecttio Vetão dedicou, à sua
custa, [este] cipo ao [seu] camarada 83.
L. DOMITIVS T. F.
GAL. VETTO. OTO
BESANI H.S.E.S.T.
T. L. DOMITIVS
FORTVNAT. PA-
TRONO. D. S. F.
Isto é: Lúcio Domício Vetão, filho de Tito Oto-besano, da tribo Galeria, está
aqui sepultado. Que a terra lhe seja leve! Domício Fortunato à sua custa erigiu [este
monumento] ao [seu] protector 84.
Também Ptolomeu 85, referindo estes Vetões Lusitanos, embora sob a forma de
Ovetões, usou o -tt- duplo. Mas há ainda outras diferenças. De facto, o nome daqueles
Vectões da província Citerior tem a sílaba interior alongada como mostram os dois
grandes poetas Lucano e Süio. Lucano, no canto quarto da Farsália, canta assim:
[24]
Com ele, contra o Lácio, estava o activo Ásture,
Os ágeis Vectões e os Celtas foragidos, da velha raça gaulesa
Que misturavam o seu nome ao dos Iberos 86.
A verdade é que o nome dos Vetões Lusitanos, unidos aos Túrdulos junto do Tejo
e que se escreve com um duplo -tt-, tem aquela mesma sílaba breve, proveniente
do próprio nome de Vetónia, conforme pode verificar-se em Prudêncio no poema
a St. a Eulália: “A Ilustre colónia da Vetónia” 88. De acordo com ele está Samónico
Sereno, quando fala da erva vetónica que Plínio 89 diz ter sido encontrada na Hispânia
pelos Vetões:
Dioscórides91 diz que os Romanos lhe chamam Betónica, mas que era designada
pelos Gregos de Késtron.
Livro Primeiro • Liber Primus 123
[23] Hoc est: Lucius Publicius, Lucii fulius Papiria Thiamus Emeritensis
annorum uiginti septem hic situs est. Sit tibi terra leuis. Caecilius Vetto sodali
cippum de suo dedicauit.
L. DOMITIVS T. F.
GAL. VETTO. OTO
BESANI H.S.E.S.T.
T. L. DOMITIVS
FORTVNAT. PA-
TRONO. D. S. F.
Hoc est. Lucius Domitius Titi filius Galeria Vetto Otobesani hic situs est, sit
tibi terra leuis. Domitius Fortunatus patrono de suo fecit.
[ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .] campis
Vectonum eductum genitrix effuderat Harpe.
E assim verificámos que aquela sílaba é breve. Daí parece concluir-se que um
povo é o dos Vetões e que outro é o dos Vectões. Se esta opinião for aceite, será
respeitada a autoridade tanto de César92, como de Estrabão93, como ainda de Plínio94,
os que separam os Vectões da Lusitânia. Deverá, porém, ser emendada a grafia da
palavra no códice de Estrabão, corrigindo-se onde está escrito Ovetões, ou Uvetões
ou Oveciões para Ovectões95. Fraquejará, neste caso, a descrição de Ptolomeu 96, que
parece ter confundido os Vetões com os Vectões devido à semelhança de nomes,
ao delimitar a fronteira oriental da Lusitânia com nove partes e meia e quarenta
e uma partes e quase dois terços, isto é, com uma linha que passa por Sarabre,
cidade dos Vaceus, identificada pelos eruditos com a actual Toro, vai até ao ópido
de Medellin, outrora colónia ou pouco mais.
Mas se esta opinião é rejeitada pela sua novidade, que me ensine alguém quem
são pois os Vetões separados da Astúria pelo Douro, segundo Plínio, quais são os
que rodeiam a Lusitânia a Oriente juntamente com os Carpetanos, Vaceus e Galaicos,
segundo Estrabão, e porque fez Ptolomeu tão grande menção daqueles, [25] que
são separados da Astúria pelo Douro e que se estendem até Caparra.
Se pudéssemos concluir desta confusão que os Vetões estão parcialmente
espalhados pela Hispânia Citerior nas proximidades dos Carpetanos e Vaceus, que
habitam o Douro do lado contrário ao dos Ástures, que de tal maneira ficaram
dominados pelos Túrdulos que sobressaiu tão-só o nome de Vetões até ao Guadiana,
sendo daí que Emérita foi chamada a “ilustre colónia” dos Vetões pelo tão casto e
ao mesmo tempo tão sabedor Prudêncio, mandaria então eu próprio que fossem
emendados os passos de César, Lívio, Estrabão, Lucano, Sílio e Plínio, nos quais o
seu nome está escrito com as letras -ct- e reduziria todos ao duplo -tt-, e aqueles
que são divididos dos Ástures pelo Douro, excluí-los-ia com Plínio da Lusitânia, e
o limite oriental não o delimitaria eu tão para o interior da Hispânia Citerior, mas,
começando pela segunda curva do Douro, que acima já apontei junto a Freixo
desde o lugar onde o Tormes, o rio de Salamanca, se lança no Douro e onde o rio
já com o leito direito penetra na actual Lusitânia e a divide dos Galaicos Brácaros,
como consta em Plínio97, eu dirigiria a linha fronteiriça um pouco acima por Ciudad
Rodrigo, Placência e Castra Iulia, junto ao ópido de Metellinum .
No que diz respeito à quantidade da sílaba teria pouca confiança~tanto em
Prudêncio como em Sereno, ou, se isto fosse considerado injurioso, diria que a
sílaba é ancípite 98, tal com em muitos casos que foram analisados pelos gramáticos
nas obras dos poetas, o que neste momento não cabe nos nossos propósitos.
Manteremos todavia e de novo a mesma opinião devido a Ptolomeu99, que estende
em maior longitude a profundidade da Lusitânia a partir do ponto setentrional, de
acordo com as abertas reclamações de Plínio, homem romano, ao que é difícil não
dar crédito.
Até que ponto é isto verdade afirma-o o próprio Plínio 100 no fim do capítulo
primeiro do livro terceiro: “por um lado muda-se a configuração das províncias,
por outro acontece que outros começam a medir em sítios diferentes, de tal modo
Livro Primeiro • Liber Primus 125
Vsque adeo uerum est, quod ipse ait Plinius in fine primi capitis libri
tertii: «alibi mutato prouinciarum modo, alibi aliis aliunde exordium mensurae
capientibus factum esse, ut nulli duo concinant.»
126 As Antiguidades da Lusitânia
que não há dois que estejam de acordo”. Concluamos, portanto, que os Vetões,
quer sejam diferentes dos Vectões, quer sejam os mesmos, [26] o que defendemos
como mais provável, devem ter seus nomes escritos com o duplo -tt- e nem todos
pertencem à Lusitânia, mas uma grande parte deles espalha-se pelos Carpetanos
seus vizinhos da Hispânia Citerior e através dos Vaceus até aos Ástures, no ponto
em que eles são divididos da Lusitânia por Estrabão 101 e Plínio 102, muito embora
Ptolomeu 103 assim os não divida. A outra parte estaria ligada aos Lusitanos, e o seu
nome ter-se-ia estendido até ao Guadiana e teria habitado uma só província com os
restantes Lusitanos. Finalmente e muito depois a província da Vetónia teria surgido
por si própria e a sua capital e metrópole seria Mérida Augusta, situada noutro
ponto do território dos Túrdulos, sendo este o motivo por que o santo Prudêncio
lhe chamou a “ilustre colónia de Vetónia”, ainda que, noutros trechos, a ela mesma
se refira, pensando noutros tempos, como capital dos ópidos dos Lusitanos104. Ainda
há pouco, no entanto, demonstrámos no livrinho dedicado a Quevedo105, tal como
se comprovou pelas inscrições um pouco mais acima examinadas, de como a Vetónia
por si própria se elevou a província e que foi a partir dessa altura que a Vetónia e
os Vetões começaram a ser descritos separadamente dos Lusitanos.
OS BARBÁRIOS
Concludamus igitur Vettones uel alios esse a Vectonibus, uel si iidem [26] sunt,
quod magis probamus, per geminum -tt- debere scribi, nec omneis ad Lusitaniam
pertinere, sed magnam eorum partem per Citerioris Hispaniae finitimos Carpetanos
atque Vaccaeos ad Astures usque diffundi, quo illos a Lusitania seiungunt Strabo
atque Plinius, licet non seiungit Ptolemaeus; partem alteram Lusitanis cohaesisse,
protenso etiam usque ad Anam nomine, et cum ceteris Lusitanis prouinciam
unam coluisse ; nouissime tandem per se prouinciam effecisse Vettoniam, cuius
caput, ac metropolis esset Augusta Emerita, alioqui in Turdulis sita, unde eam
sacer Prudentius «claram Vettoniae coloniam» appellarit, quum tamen eandem
alibi, diuersa respiciens tempora, Lusitanorum caput oppidorum dixerit.
Factam uero Vettoniam per se prouinciam, ex eoque tempore coepisse
Vettoniam et Vettones separatim a Lusitanis scribi, in libello ad Kebedium nuper
ostendimus, et ex inscriptionibus paulo ante relatis comprobatur.
DE BARBARIIS
tal modo brilham que podem ser usados em vez de espelhos e até com vantagem.
Mas na verdade o terreno abunda na tão celebrada baga «Emeritense», que Plínio109
louvou, e que de modo algum cede o seu lugar. Dela tingem os tintureiros os tecidos,
que os nossos contemporâneos chamam de “escarlata” ou “grana”, certamente com
fundamento nos grãos que nascem nos arbustos em toda aquela região, do mesmo
modo que os Antigos, com fundamento no verme que nascia dentro dessas bagas
e que era parecido com a barata, começaram a chamar ao tecido “vermiculado”,
tecido que os mais modernos chamam de blattea, coccinea 110, querendo dizer com
isto “púrpura”, embora entre esses tecidos haja diferenças.
Com efeito, “púrpura” propriamente só aparece quando produzida do sangue das
púrpuras, ou seja, de moluscos com conchas. A coccinea vem, porém, como já disse,
do próprio cocceus. É daí que Suetónio111, ao manifestar-se contra a luxúria de Nero
o incrimina por ter “pescado com rede dourada, sustida por cabos entrelaçados de
púrpura e escarlata”. Porque Eutrópio 122 usou de vocábulo mais moderno, blatteis
funibus, muito usaram tal palavra os escritores do seu tempo e, por causa da
semelhança da cor muito viva de ambas, começaram a confundi-las. Vou mostrar
tal facto fundamentando-me em Sidónio Apolinar 113, que não deve ser desprezado,
posto que monstruosamente se enganou neste poema anacreôntico, que, por nossa
iniciativa, foi emendado, assim como os restantes escritos do mesmo autor:
Neste passo deve chamar-se a atenção para o facto de Lucrécio ter dito “tecidos
da Barbaria” onde Apolinário falou de “colchas estrangeiras”. Mas voltemos agora ao
nosso assunto. Os tintureiros de tecidos de púrpura, de coccum e de vermiculum,
que eram importados de terras bárbaras, ou seja, estrangeiras, começaram a ser
chamados de “Barbaricários”, como é evidente em Gaio 115 em Das excusas dos
Artífices e da distribuição das verbas palatinas, que também anotou Alciato 116 nos
três últimos livros do códice. Mariano Escoto 117, com o título Mestres de Ofícios e
Fábricas, chama-lhes Barbários.
Por conseguinte, todos estes nomes terminados em -eiros, [lat. -arius], significam
quase sempre mesteres humanos, como saleiros [sagarius, fabricantes de sagum, saio],
tecedeiro [corresponderá ao ciligarius, que é o tecelão de pano grosso, cilicium],
bordadeiro [que corresponde a limbolarius, bordador que faz a limba, debrum], e
muitos outros que o bom do Megadoro enumera na Comédia das Panelas de Plauto118.
Deste modo Barbaricarius e Barbarius dizem respeito a esse tipo de artesãos e
de fabricações. Por isso, estes povos dos quais falámos são chamados “Barbados”.
Essa a razão por que eu também pensava se porventura não teria sido devido ao
coccum119, que apanhavam em grande quantidade [29] e vendiam aos mercadores
que para Roma levavam essa mercadoria ou talvez porque tingissem, visto serem
conhecedores dessa técnica, que tivessem sido denominados de Barbarias. Isto,
contudo, é deitar-se a adivinhar. Por isso, nem peço aos meus leitores que adiram
às minhas conjecturas, nem por minha conta e risco tomo a iniciativa de transmitir
as causas e origens deste tipo de denominações.
OS PESUROS OU PESURES
OS VELHOS TÚRDULOS
Por seu lado, todavia, os Velhos Túrdulos são muito célebres e estão aparentados
com todos os Túrdulos, que encheram a maior parte da Hispânia Ulterior. Deles com
Livro Primeiro • Liber Primus 131
DE TVRDVLIS VETERIBVS
Nec ad fortitudinem non pertinet, quod idem Valerius titulo De uafre dictis
aut factis commemorat: «Non potuisse Sertorium Lusitanos oratione flectere, ne
cum uniuersa Romanorum acie uellent confligere, donec uellendis equorum
duorum caudis notissimum illud exemplum oculis mirantium obiecit.» Vocet
Valerius suo libito gentem barbaram, asperam, regi difficilem; his opprobriis
parum disciplinae militaris peritos Lusitanos arguerit; imbelleis, aut ignauos
animos iis minime fuisse eadem illa narratione palam praedicat. Multa Liuius
tertia, quarta et quinta decadibus, proelia cum Lusitanis uaria fortuna commissa
134 As Antiguidades da Lusitânia
terceira, quarta e quinta Décadas128 narra muitos combates travados contra Lusitanos
com diferentes resultados, apesar de, com razão, se poder considerar suspeita a
boa fé dos escritores romanos. Com efeito, quase sempre diminuem e minimizam
os feitos guerreiros dos “bárbaros”, como lhes chamam. E aos seus próprios feitos,
aumentam-nos ainda imoderadamente, talvez por terem tomado esse mau hábito
dos escritores mais antigos. 129
Estrabão, no livro terceiro, critica com eloquência Políbio, porque para agradar
a Tibério Graco lembrou que ele arrasara trezentas cidades dos Celtiberos: “Em
verdade, os chefes e os historiadores, para tornarem mais belos os assuntos, são
levados a este tipo de mentira” 130. Mais do que uma vez o próprio Tito Lívio 131
censura Valério por ser desmedido e exagerado no elevar dos números, e sobretudo
acerca do finalizar da terceira década afirma “que [Anciate] não tem qualquer medida
na mentira”. Como a maior parte das vezes o tomou como fonte não admira que
se enganasse também.
Aprecie-se (para mostrar como exemplo este único caso) a narrativa do livro
quinto da quarta Década de um combate travado pelo propretor Públio Cornélio
Cipião, filho de Gneu, contra os Lusitanos que, depois de devastarem a Hispânia
Ulterior, regressavam a casa carregados com os despojos. Citarei as suas próprias
palavras: [32] “Cipião tinha realizado isto em pretor. O mesmo, quando propretor,
saindo ao caminho a Lusitanos, que depois de devastarem a província da Ulterior
regressavam a casa com enorme despojo, combateu-os com resultado duvidoso
desde a terceira hora do dia até à oitava, em situação de inferioridade de número
mas em superioridade quanto ao mais. De facto, tinha-se chocado a linha de batalha
compacta contra uma coluna longa e embaraçada pela multidão de animais, com
soldados repousados contra homens fatigados pela longa marcha. Os inimigos
tinham deixado o acampamento à terceira vigília. A esta marcha nocturna tinham-
se seguido três horas do dia e, sem qualquer descanso do trabalho da jornada,
viera o combate. Assim, pois, só no começo da batalha houve certa energia nos
corpos e nos espíritos. A princípio desorientaram os Romanos; depois de algum
tempo as forças equilibraram-se. No momento crítico o propretor fez a promessa
de instituir jogos em honra de Júpiter se, pela força, pusesse o inimigo em fuga
e o massacrasse. Finalmente os Romanos atacaram com mais vigor, os Lusitanos
cederam, e depois fugiram voltando as costas. Como os vencedores perseguiram os
fugitivos, foram mortos cerca de doze mil inimigos, presos quinhentos e quarenta,
quase todos cavaleiros, e capturados cento e trinta e quatro insígnias militares. Do
exército romano perderam-se setenta e três homens.” 132
Quem não achará abertamente suspeito, ó Tito Lívio, que, num combate de
cinco horas e de resultado duvidoso, em que, segundo tu dizes, os primeiros
desorientados foram os Romanos, passado algum tempo as forças se equilibrassem;
que o propretor, no momento crítico, prometesse jogos em honra de Júpiter, o que
sem dúvida costumavam fazer os que desesperavam completamente da vitória; que
morressem doze mil Lusitanos e fossem aprisionados quinhentos e quarenta, quase
Livro Primeiro • Liber Primus 135
Expendatur (ut unum hoc argumentum uerbi causa referam) Publii Cornelii
Cneii filii Scipionis propraetoris pugna cum Lusitanis, qui deuastata Vlteriori
Hispania onusti praeda domum redibant, narrata in initio quinti libri quartae
decadis. Eius ipsius uerba recensebo:
[32] «Praetor haec gesserat Scipio. Idem propraetor Lusitanos, deuastata ulteriori
prouincia, cum ingenti praeda domum redeunteis in ipso itinere adgressus, ab
hora tertia diei ad octauam incerto euentu pugnauit, numero militum impar,
superior aliis. Nam et acie frequenti armatis, ad longum, et impeditum turba
pecorum agmen, et recenti milite aduersus fessos longo itinere concurrerat.
Tertia namque uigilia exierant hostes. Huic nocturno itineri tres diurnae
horae adcesserant, nec ulla data quiete laborem uiae proelium exceperat. Itaque
principio pugnae uigoris aliquid in corporibus animisque fuit. Et turbauerant
primo Romanos, deinde aequata paulisper pugna est.
In hoc discrimine ludos Ioui, si ui fudisset cecidissetque hosteis, propraetor
uouit. Tandem gradum acrius intulere Romani, cessitque Lusitanus; deinde
prorsus terga dedit.
Et cum institissent fugientibus uictores, ad XII millia hostium sunt caesa, capti
quingenti quadraginta, omnes ferme equites, et signa militaria capta centum
triginta quatuor. De exercitu Romano septuaginta et tres amissi.”
Quid enim Romanos turbauit? Quid est, post quinque horarum spatium incerto
euentu, paulisper aequatam fuisse pugnam? Ab hora tertia diei ad octauam
incerto euentu pugnauit Romanus, deinde aequata paulisper pugna est.
[33] Si tam illaesi in proelio erant Romani, si tam obtusis gladiis et exhausto
uigore Lusitani, cur horis continentibus quinque incertus fuit euentus? An non
quia caedebant et caedebantur? Quid sibi uult aequatam fuisse pugnam, nisi
eatenus inferiores fuisse Romanos? Et persuadebis in tanto discrimine, quum
Lusitanorum duodecim millia caesa fuerint, solos treis et septuaginta de Romano
exercitu fuisse amissos?
Sed bene quod itinere longo fessos, et de tertia uigilia eggressos, praedaque
longo agmine impeditos, confessus es, parum alioqui fidei habiturus. Non enim
gerebatur res cum fugacibus Armeniis, et uentosi Tigranis exercitu, sed cum
Lusitanis assuetis pugnare contra Romanos, quorum forti opera usus fuerat
Annibal, non modo in Hispania, sed in ipsa etiam Italia, quique Lucii Aemilii
Pauli propraetoris exercitum apud Lyconem oppidum profligarunt, caesis uno
proelio sex Romanorum millibus, ceteris intra uallum compulsis ac aegre castra
defendentibus, ac tandem admodum fugientium magnis itineribus in pacatum
agrum reductis. Quod idem testatur Liuius decadis quartae libro 7, ubi etiam
aduertant lectores, quam religiose Romanorum fugam scriptor facundissimus
obumbret, “Admodum fugientium magnis itineribus in agrum pacatum reductos”
memorans.
Orosius certe “L. Aemilium cum uniuerso exercitu caesum interiisse” dicit
libro 4, cap. 20, de quo alibi diffusius, et cap. 21, Sergium Galbam praetorem
“a Lusitanis magno proelio uictum, uniuerso exercitu amisso, cum paucis uix
elapsum euasisse” narrat. Ex qua ignominia quum se postea ulcisci Galba
statuisset, Lusitanos qui citra Tagum habitabant, sponte sua se dedentes ad
colloquium uocauit, simulans de eorum se commodis acturum.
Sed circumpositis militibus, inermeis atque incautos per scelus maximum
omneis profligauit. “Quae res – inquit Orosius – postea uniuersae Hispaniae
propter Romanorum perfidiam causa maximi tumultus fuit.”
138 As Antiguidades da Lusitânia
Assim que os apanhou descuidados e sem armas, mandou-se cercar por soldados,
e criminosamente liquidou-os. “Esta acção – diz Orósio –, motivada pela perfídia dos
Romanos, foi posteriormente a razão da maior revolta de toda a Hispânia” 134.
“Depois de ter convocado a população de três cidades lusitanas – como diz Valério
Máximo no capítulo acerca Da Perfídia do livro nono –, de nove mil homens entre
os quais se encontrava a flor da juventude, trucidou uns e vendeu os outros” 135.
[34] M. Catão acusou severamente Sérgio Galba quando falou em favor dos
Lusitanos, massacrados apesar da palavra dada, tal como é testemunhado por M.
Túlio no Bruto136 e, de passagem, no Da Adivinhação 137, passo que Ascónio Pediano
desenvolve com certa extensão138, por Lívio no livro quadragésimo nono do epítome139
e pelo mesmo Valério Máximo no capítulo primeiro do livro oitavo 140.
Tinha Catão, no entanto, noventa anos de idade, quando acusou Galba, conforme
o testemunho de Lívio no livro nono da quarta Década 141.
Mas não nos afastemos de Orósio 142 . Este, fundamentando-se em Cláudio,
conta que trezentos Lusitanos travaram um combate contra mil Romanos, no qual
morreram setenta Lusitanos e trezentos e vinte Romanos. Já os vencedores se
afastavam, dispersos e em segurança, quando um deles, que ia a pé e, longe dos
outros, se tinha deixado ficar para trás, foi apanhado por cavaleiros que por ali
andavam. Com a lança, porém, trespassou ele o cavalo do primeiro e de um só
golpe de gládio arrancou a cabeça do próprio cavaleiro, pelo que semeou um tal
terror em todos, que muito desdenhosa e calmamente se afastou dos que reunidos
observavam de longe.
Estariam à nossa disposição exemplos semelhantes de valentia, se os Romanos
exaltassem mais moderadamente a sua. Como, todavia, não temos outros historiadores
dos nossos feitos, somos obrigados a aceitar tudo o que lhes agradar dizer a nosso
respeito, quer tenham sido imparciais quer parciais. Por vezes, contudo, a verdade
escapa sem querer aos descuidados.
Júlio Obsequente, em Acerca dos Prodígios 143, diz no capítulo décimo quinto
que os Romanos sofreram grandes reveses militares contra Gauleses e Lusitanos e,
no capítulo quadragésimo, que o exército romano foi desbaratado pelos Lusitanos.
Floro, no capítulo décimo sétimo do livro segundo, afirma: “A maior parte das
batalhas deu-se contra Lusitanos e Numantinos, não sem razão, pois de todos os
povos foram os únicos que tiveram chefes” 144.
Veja-se, por estas palavras, o grande contributo que os chefes traziam para a
vitória. Como os Romanos sempre os tiveram, não admira se venceram uma turba
desordenada de homens sem comando.
No entanto, todas as vezes que, da parte contrária, havia chefes que não ignoravam
a ciência militar, já os Romanos não se gabavam tanto. Que sirvam de exemplo,
no tocante a Lusitanos, quer Viriato, o Rómulo da Hispânia, no dizer do mesmo
Floro 145, caso a fortuna o tivesse permitido, quer Sertório. Justino, por seu lado,
faz-se engraçado no último livro, quando diz: «Em tão grande fiada de séculos não
tiveram nenhum grande chefe além de Viriato, que durante [35] dez anos atormentou
Livro Primeiro • Liber Primus 139
At quoties duces contingebant militaris rei non ignari, non tantum se iactabant
Romani. Esto indicium uel Lusitanus Viriatus, si fortuna cessisset, Hispaniae
Romulus, ut idem scribit Florus, uel Sertorius. Facetus est Iustinus libro ultimo:
“In tanta saeculorum serie nullus illis dux magnus praeter Viriatum fuit, qui
annos decem uaria [35] uictoria Romanos fatigauit. Adeo feris, quam hominibus
os romanos com diversas vitórias. As suas qualidades estão mais próximas das dos
animais que das dos homens” 146. Vejamos, Justino, porque consideras as qualidades
dos nossos mais próximos das dos animais que das dos homens? Porque durante
dez anos atormentaram os Romanos? Porquê? Considerá-las-ias, creio, mais próprias
de deuses do que de homens, se fossem os Romanos a atormentarem os Lusitanos
com vitórias duvidosas. É ou não verdade o que acima dissemos, que os escritores
latinos rebaixaram sempre e de toda a maneira que puderam os nossos feitos? Mas
já chega o que dissemos acerca da coragem.
Estrabão anotou cuidadosamente os costumes, tal como os conheceu no seu
tempo e que nem eram maus então nem motivo de vergonha para nós agora.
Muitos se modificaram com a religião, muitos outros ainda persistem. Passarei a
expor alguns.
Que ninguém interprete no pior sentido o ter-se afirmado que “eram hábeis em
emboscadas”, porque se trata, como observou Júlio Pólux l47 no capítulo décimo de
uma expressão militar. Cícero, no capítulo primeiro do Acerca dos Deveres, louva Q.
Fábio Máximo por causa disto: “Sabemos que o hábil Aníbal, entre os Cartagineses,
e Q. Máximo, entre os nossos chefes, facilmente enganavam, guardavam segredos,
dissimulavam, armavam ciladas, roubavam planos dos inimigos” 148 . No que diz
respeito aos Lusitanos, Dion 149 afirma que os habitantes dos montes Hermínios
armaram ciladas a César.
“O punhal está preso ao lado” 150. O uso dos punhais, antiquíssimo entre os
Hispanos e que, quando eu era criança, gozava ainda de grande apreço entre os
homens, deslizou pouco a pouco para os punhais curvos com que são armados
mesmo os impúberes antes do uso excessivamente prematuro das espadas, muitas
vezes para desgraça deles e desgosto dos pais.
“Cada um leva consigo vários dardos”151. Ainda agora a maior parte da gente do
povo dos Galaicos e dos Brácaros conserva o costume de levar, quando vai para os
campos, dois dardos e, o que é mais importante, prontos para servir.
“Alguns usam também lanças”152. É costume tradicional dos Transtaganos, quando
saem das cidades, mesmo a pé, levarem habitualmente consigo lanças compridas.
São mais manuseáveis pelos cavaleiros.
[36] “Bebem água.”153 Isto mantém-se em grande parte na nossa época sobretudo
entre os nobres. Pelo menos as crianças, antes da puberdade, são de um modo geral
abstémias e é hábito nos nossos reis a abstinência de vinho.
Quanto ao resto, “que os Lusitanos se entretinham, à maneira espartana, que,
segundo o costume grego, realizavam hecatombes e competiam em lutas gímnicas.154,
visa como finalidade mostrar a origem grega dos Lusitanos. Quem queira pode ver
o restante no próprio Estrabão.
César, no primeiro Comentário da Guerra Civil155, diz que “os Lusitanos usam uma
armadura ligeira”. Receberam dos Romanos, Gauleses e Germanos uma armadura
mais pesada, a que se chama panóplia. César, Lívio, Sílio testemunham que os peões
combatiam armados de escudo l56.
Livro Primeiro • Liber Primus 141
propriora sunt ingenia.” Quaeso te, Iustine, cur feris quam hominibus propriora
dicis nostrorum ingenia? Quia annos decem Romanos uaria fatigauerunt? Quid?
Romanorum, quum Lusitanos uariis fatigabant uictoriis, ingenia diis credo,
quam hominibus propriora existimares. Estne, an minime, quod superius dixi,
Latinos scriptores semper, ut ut potuerunt, nostra detrectasse? Sed de fortitudine
isthaec sufficiant.
Mores Strabo, qualeis suo tempore acceperat, diligenter annotauit, neque tunc
quidem malos, neque modo nobis erubescendos; quorum multi cum religione
mutati sunt, multi etiam perseuerant. Ex iis exponam aliquos.
Tal como o rio (Lima) que sobre os Grávios rola as areias brilhantes
Para os habitantes trazendo o esquecimento do subterrâneo Lete.
E no canto terceiro:
Plínio 160 divide-os em quatro, Helenos, Grávios, Leunos e Seurbos; Ptolomeu 161,
sempre mais minuciosamente, em Túrdulos, Nemetatos, Celerinos, Bíbalos, Límicos,
Gruios, segundo outros Grávios, Luangos, Quarquernos, Lubenos e Narbasos. Mas isto
são mais nomes de cidades, tendo em vista a coluna de Chaves, de que falaremos
a seu tempo e que assim reza:
[37]
CIVITATES DE -
CEM AQVIFLAVI-
ENSES. AOBRIGE-
NS. BIBALI. COELE-
RINI. EQVAESIL. I-
NTERAMICI. LIMI-
CI. AEBISOC. QVA-
RQVERN . TA M A -
CANI.
Et libro tertio
CIVITATES DE -
CEM AQVIFLAVI-
ENSES. AOBRIGE-
NS. BIBALI. COELE-
RINI. EQVAESIL. I-
NTERAMICI. LIMI-
CI. AEBISOC. QVA-
RQVERN . TA M A -
CANI.
Pomponius uero uno nomine Gronios, seu potius Grauios complexus est.
Addit Iustinus Amphilocos Graecae originis. Strabo Hellenas et Amphilocos,
et “Graecorum sobolis omnia” dixit Plinius. Nam praeter Teucrum, Telamonis
filium, quem scribit Iustinus ad Callaeciam uenisse et genti nomen dedisse,
etiam Diomedes eo delatus, Tyden urbem condidit, quam propterea Aetolam
Silius cognominauit libro tertio: “Aetolaque Tyde”.
Durio uicinos amni Spartano ritu degere, Strabo de Lusitanis agens, memoriae
prodidit, hecatombas, certamina gymnica, ludos armis, equis, cestibus et cursu
144 As Antiguidades da Lusitânia
OS MONTES
A Lusitânia tem vários montes, mas só vale a pena fazer menção de montes como
Monchique, Arrábida, Montejunto, Hermínio, Sintra, Ansião, Monte Corva, Buçaco,
Montemuro, Marão e Geres. Monchique, que começa a partir do ópido de Castro
Marim e da foz do Guadiana, é como que um apêndice dos Montes Marianos, corta
o reino do Algarve e depois de dar origem a alguns rios que se vão esconder no
mar próximo, vem morrer perto de Aljezur, com o rio do mesmo nome, no litoral
oceânico ocidental. Da Arrábida já atrás se disse o suficiente 172.
O monte da Lua, designado entre nós por serra de Sintra devido ao nome do ópido,
termina naquele promontório a que os geógrafos chamam Magno ou Olisiponense.
No ponto mais alto dos seus penhascos está o templo consagrado à Santíssima
Mãe de Deus, venerado com a maior devoção pelos naturais, e assim também um
convento de monges que seguem a regra de S. Jerónimo, e que deve ser protegido
não tanto pelo número de frades como pela santidade dos seus costumes. Junto ao
sopé da serra, mesmo no cimo do promontório, que é cortado abruptamente sobre o
oceano, existiu outrora um templo consagrado ao Sol e à Lua, do qual agora apenas
existem ruínas nas areias do litoral e cipos, alguns com inscrições reveladoras da
antiga superstição. A primeira diz o seguinte:
[39]
SOLI. ET LVNAE.
CEST. ACIDIVS
P ERENNIS LEG .
AVG. PR, PR. PRO
VINCIAE LVSITA
NIAE.
Livro Primeiro • Liber Primus 145
DE MONTIBVS
Montes nonnullos habet Lusitania, sed quorum mentio facienda sit: Cicum,
Barbarium, Iunctum, Herminium, Lunae montem, Tapiaenum, Cordibam,
Alcobam, Murum, Maranum, et Iuressum. Mons Cicus ab Castro Marino oppido
Anaeque fluminis exitu incipiens, tamquam Marianorum montium appendix,
Algarbii regnum secat, et nonnullis emissis fluminibus in mare propinquum se
condentibus, ad oppidum Algiazur cum fluuio eiusdem nominis in occidentalis
Oceani litore deficit. De Barbario superius dictum satis.
Lunae montem, nos Sintriae ab oppido appellamus, efficitque promontorium
illud quod magnum, siue Olisiponense appellant geographi.
In quuius summis rupibus templum est Sanctissimae Dei Matri sacrum, ab
indigenis maxima religione cultum, simulque coenobium monachorum ad Diuum
Hieronymum uitae institutum referentium, non tam numero, quam morum
integritate suscipiendum. Ad radices montis in ipso promontorii cacumine, quo
in Oceanum praecipitatur, templum olim fuit Soli et Lunae sacrum. Cuius modo
inter litoraleis arenas ruinae tantum extant, et cippi aliquot inscripti superstitionis
antiquae indices.
Isto é: Ao Sol e à Lua dedica Céstio Acídio Perene, Legado Augusta!, Propretor
da província da Lusitânia 173.
[40] Isto é: Ao Sol eterno e à Lua, pela eternidade do império e pela boa saúde do
impe-rador Gaio Septímio Severo, Augusto e Pio, e do imperador César Marco Aurélio
Antonino, Augusto, Pio… César, e de Júlia Augusta, mãe de César, dedicam Druso,
Valeríano Celiano… e Quinto Júlio Saturnino e António… 174
Está também aqui um outro cipo enorme, que tem para cima de trinta linhas
em letra bastante pequena, mas com o desgaste do tempo e com a água do mar
tornou-se de uma tal aspereza que, na primeira linha, a custo se reconhecem quatro
letras. É aqui o local onde os que fizeram publicar na Alemanha As Inscrições da
Antiguidade Sagrada 175 dizem ter sido desenterradas três colunas quadrangulares
numa das quais anunciam estar contido o vaticínio da Sibila:
Penso que esta profecia é uma mentira e que as três colunas quadrangulares
são os três cipos, realmente enormes, de que falei. Eu soube de facto que Valentim
da Morávia 177, o defensor da história, homem de bem e negociante famoso, foi tão
ignorante do latim que facilmente poderia ser enganado por um impostor qualquer,
e suspeito que, levado pela admiração do recente acontecimento, quis que os seus
compatriotas alemães participassem nele.
Livro Primeiro • Liber Primus 147
Hoc est. Soli et Lunae Cestius Acidius Perennis Legatus Augustalis propraetor
prouinciae Lusitaniae.
[40] Hoc est: Soli aeterno, Lunae pro aeternitate imperii, et salute imperatoris
Caii Septimii Seueri, Augusti Pii, et imperatoris Caesaris, Marci Aurelii Antonini
Augusti Pii, Caesaris, et Iuliae Augustae Matris Caesaris, Drusus, Valerius
Coelianus, Augustorum sua et Quintus Iulius Saturninus, et Antonius.
Est ibi praeterea ingens alius cippus, qui habet supra triginta lineas littera
minutiore. Verum iniuria temporis, et adspergine maris in tantam scabritiem
deuenit, ut in unaquaque linea uix litterae quatuor agnoscantur. Atque hic
est locus in quo, qui sacrosanctae uetustatis inscriptiones typis in Germania
edendas curauerunt, erutas fuisse aiunt quadratas columnas treis, in quarum
una uaticinium Sybillae contineri asserunt:
Quod uatinium ego fictum existimo, et treis illas quadratas columnas treis
esse cippos, quos dixi, sunt enim ingentes. Valentinum uero Morauum fabulae
assertorem, uirum bonum, negotiatorem splendidum, litterarum tamen Latinarum
rudem fuisse accepi, ut facile fuerit ab impostore quodam decipi, et nouae rei
admiratione inductum suspicor uoluisse Germanos suos participare.
148 As Antiguidades da Lusitânia
[41] Varrão diz que o Tagro é aquele monte perto de Lisboa onde as éguas são
fecundadas pelo vento: “Na altura de reprodução, diz ele, uma coisa incrível mas
verídica acontece na Hispânia, pois naquela região da Lusitânia junto ao mar, onde
está a cidade de Lisboa, em certa altura do ano algumas éguas são fecundadas
pelo vento do monte Tagro” 178. Não discuto a fecundação pelo vento, coisa de
que nesta altura não temos conhecimento, mas, porque está no âmbito do meu
trabalho, inspira-me uma certa dúvida a semelhança entre Tagro e Tago [Tejo], ou
seja o nome do monte e do rio.
Frequentemente me interroguei sobre se não se deveria atribuir ao rio o que
diz acerca do monte, com o fim de substituirmos monte Tagro por rio Tejo [Tago],
tal como fez Plínio que disse “junto à cidade de Lisboa e do rio Tejo” 179 e Justino
“na Lusitânia junto ao rio Tejo”180. Duas coisas, no entanto, o impedem: a primeira,
porque não faria sentido dizer que as éguas são fecundadas no rio Tejo; a segunda,
as palavras de Columela181 que também nomeia um monte, embora lhe chame Sacro
e não Tagro. Como ele consultou Varrão temos, de qualquer modo, de conservar a
lição. Se alguém achar que também em Varrão se deve ler “Monte Sacro”, tal não
me repugnaria se soubéssemos que existe um Monte Sacro algures na região. Existe
um Monte Sacro na Galécia, do qual temos conhecimento por Justino 182, e um outro
na Lusitânia, o qual forma o promontório do mesmo nome. Ambos estão, porém,
muito longe de Lisboa e Varrão refere-se a um que está perto. Eis a razão por que
não ouso modificar a sua lição nem sou de opinião que isto deva ser feito ao acaso
pelos comentadores 183.
Por outro lado, o que Plínio e Justino disseram “junto ao rio Tejo” não impede
que o mesmo tenha acontecido no monte que está perto do próprio rio. Deste modo,
todos falaram verdade: uns ao dizerem “unto ao rio”, outros, “no monte”. Quanto ao
resto, parece-me ser claro que este é o monte a que os habitantes da região chamam
Junto e que está contíguo ao Albardo, assim designado pela grande quantidade de
cavalos selvagens que por ali vagueiam à vontade, sozinhos ou mesmo em manada.
São de pequena estatura mas rijos, com cascos sólidos e espantosa agilidade 184.
É por isso que habituados, como é evidente, aos montes, uma vez apanhados e
submetidos, quer a trabalhos de carga quer à estrada, são de longe superiores em
resistência aos outros cavalos.
[42] Muito embora tenha afirmado que não discutiria a fecundação pelo vento,
ainda assim contarei o que me disseram quando andei a investigar o assunto por
amor à verdade. Deixei, faz agora sete anos, a casa de um lavrador da região de
Bena-vente, junto ao Tejo, a quem perguntei o que ele próprio sabia e se se recordava
de ter ouvido contar a outros acerca deste modo de reprodução. Respondeu que
nem ele nem os seus vizinhos, proprietários de manadas, se tinham alguma vez
preocupado com isso.
Livro Primeiro • Liber Primus 149
[41] Tagrum montem, in quo equae uento concipiunt Olisiponi uicinum Varro
asserit: “In fetura – inquit – res incredibilis est in Hispania, sed est uera, quod
in Lusitania ad Oceanum, in ea regione ubi est oppidum Olisipo, monte Tagro,
quaedam e uento, certo tempore, concipiunt equae.” Non disputo de conceptu ex
uento, re nobis modo incomperta, sed quod ad institutum meum attinet, mouet
mihi scrupuli nescio quid, similitudo Tagri et Tagi, hoc est montis et fluuii.
Nam quod Plinius et Iustinus “iuxta amnem Tagum” dixere, non tollit, in
monte, qui iuxta ipsum amnem sit, idem etiam fieri, ut uere dixerint hi “iuxta
amnem”, et illi “in monte”. Ceterum montem hunc eum esse, quem Iunctum
adcolae uocant, contiguumque illi Albardum, uidetur liquere ex equiferorum inibi
passim multitudine per montem, quum solitarie, tum etiam gregatim errantium.
Corporatura illis mediocris, sed firma. Soliditas ungularum siccissima, pernicitas
mirabilis.
Quare capti, ac domiti, ad perferendos labores, tam sarcinae, quam itineris,
ceteris duritia, uidelicet rupibus assueti, longe praestant.
Logo que se davam conta de que as fêmeas estavam com cio, mandavam-nas
cobrir. No entanto, de uma vez que possuía uma bela égua, desejando que ela
estivesse em boas condições para ser vendida na feira seguinte, deixou-a sozinha,
antes de a mandar cobrir, no mouchão que está no meio do Tejo, para que ela
engordasse com a abundância da pastagem.
Daí a dois meses a égua, que não tornara a ver, foi encontrada prenha. Admirado,
porque nenhum garanhão se tinha aproximado daquele local, aguardou o resultado
e, quase sete meses depois, a égua pariu, não um animal, mas uma pasta informe
de sangue endurecido, um aborto, segundo pensou.
Nada mais soube desta procriação das éguas. Admira-me, porém, que Virgílio185
não refira isto em passo algum, para não falar de Sílio no canto terceiro 186, embora
Varrão com tanto saber assevere que ela é verdadeira, Colu-mela a tenha como
conhecidíssima e Plínio testemunhe a sua existência. Mas os naturalistas que discutam
isto entre si. Voltemos nós ao assunto que nos compete tratar.
O MONTE HERMÍNIO
De hac equarum genitura aliud noui nihil; miror tamen ut Virgilium, Siliumque
libro tertio taceam, Varronem doctrina tanta esse ueram asseuerantem, Collumellae
habitam pro notissima, Plinium constare testatum, nec uno id loco referentem.
Verum id inter se agitent physici. Nos ad susceptam materiam reuertamur.
DE MONTE HERMINIO
[43] Ipsa etiam destructa ciuitas a monte, cui subiecta est, Herminia uulgo
dicitur, siue, ut Lusitane loquar, Haraminia.
Supersunt tota illa inter monteis conualle, heic turreis, illic super fluuium
pontes, heic aedium nobilium strata pauimenta, etiam Asarotica, illic ductus
aquae fortanae, parte alia parietes semidiruti, et alia ueteris frequentiae
manifesta indicia. Fodinae quoque plumbi aurique, ut indigenae aiunt, multis
locis per latera montis apertae, ut non immerito Meidubrigenses Plumbarios
Plinius cognominarit. Veni in huius loci notitiam primum ex ipso seruato ad
hanc diem montis nomine, conspectisque inter ruinas sepultae urbis uestigiis.
Deinde ex collatis Hircii, aut Oppii uerbis in Commentario Belli Alexandrini,
qui est ciuilium bellorum quartus, ubi refertur Cassius Longinus Meidubrigam
oppidum, Montemque Herminium, quo Meidubrigenses confugerant, expugnasse.
Eamque mihi opinionem confirmauit Antonini Pii Itinerarium, tribus ab Olisipone
Emeritam positis itineribus.
Quorum in tertio Meidubriga LXIIII. M. pass. distat ab Emerita, hoc est,
Hispanicis leucis sedecim. Tot enim modo numerantur. Sic: “Post Meidubrigam
152 As Antiguidades da Lusitânia
Meidúbriga até Sete Altares, onde presentemente está a cidadela de Alegrete, 14.000
passos. Até Plagiária 20.000. Até Mérida 30.000”. Na segunda via diz assim: “Depois
de Sete Altares: Budua, 12.000 passos”. Budua situava-se a cerca de 12.000 passos
do lugar em que está agora a povoação de Campo Maior. Aí se eleva uma igreja
dedicada à Virgem Maria junto de Bótoa, deturpação compreensível das letras do
nome de Budua 193: “Partindo de Budua a Plagiária, são 8.000 passos. Daí a Mérida
são 30.000 passos”. Pensei que isto devia ser explicado de tal modo que o espírito do
leitor se aperceba da posição de Meidúbriga em relação a Mérida e não se confunda
acerca do monte Hermínio e de Meidúbriga, agora referidos, quando dentro em
pouco eu provar que muito longe daqui também há um monte Hermínio.
Sustento pois que a chamada serra da Estrela, famosa em toda a Lusitânia, com
inúmeros ópidos, nascente de muitos rios e onde as neves se derretem, cheia de
rebanhos por causa da abundância de pasto, também é o Hermínio, o que não
obsta a que entre o monte agora referido e esta serra da Estrela [44] haja poucas
distâncias não preenchidas por montanhas contínuas.
Mostrar-se-á pelos livros de testamentos, doações, compras e vendas dos cónegos
do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra194, que a serra da Estrela também era designada
por Hermínio. Assim, na quarta parte do livro de testamentos, documento primeiro, o
Conde Henrique e a rainha Teresa, pais do primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques,
dizem o seguinte: “Fazemos carta de doação daquela herdade que tem o nome de
São Romão e que está situada junto a Seia, nas faldas do monte Hermeno.” 195 Ora
é bem sabido que as povoações de Seia e de São Romão se situam nas faldas da
serra da Estrela, perto da importante cidade [Covilhã] que toma o nome de “Cova
Juliana”, célebre pelo fabrico de lã e de que falaremos noutra altura 196.
O documento oitavo197 do mesmo livro, onde se trata de uma herdade de Ansedo,
dispõe-se assim: “Eu, Ansedo, de metade de toda a nossa herdade que temos na vila
de Lagares, no concelho de Seia, no sopé do monte Hermeno…”.
No documento décimo terceiro 198, sobre a herança de João Garcia, lê-se: “Da
nossa terra que temos no concelho de Seia, subjacente ao monte Hermeno, no lugar
a que se chama Assamassa...”.
No artigo décimo quinto 199 acerca de Santa Maria de Mesquida: “E está situada
no sopé do monte Hermeno, na região de Seia.”
[45] No documento décimo oitavo 200, ao tratar da herança de Paio Aires: “De toda
aquela herdade que temos na vila de São Romão, no lugar, a saber, que se chama
Assamassa, no sopé do monte Concieiro...”. Repare-se que o castelo de São Romão
e o lugar de Assamassa, anteriormente localizados no sopé do monte Hermeno, são
agora situados no sopé do Concieiro, evidentemente porque é este o nome específico
daquela parte do Hermínio sobranceira a São Romão e a Assamassa.
No documento vigésimo nono 201, sobre a herdade de Sancho Vermudes: “De
toda aquela minha herdade que tenho no lugar de Paços, concelho de Seia, no
sopé do Hermeno.”
Livro Primeiro • Liber Primus 153
Quod autem Stellae mons Herminius uocatus quoque sit, patebit ex libris
testamentorum, donationum, emptionum ac uenditionum Coenobii Canonicorum
Sanctae Crucis Conimbricensis.
In quarta igitur parte libri testamentorum, instrumento primo, Comes Henricus
et Regina Therasia, Alphonsi Henrici primi Portugaliae Regis parentes, ita
loquuntur: “Facimus chartam donationis, de illa hereditate nomine Sancto Romano,
quae est sita iuxta Senam, sub monte Hermeno.” Valde uero notum est Senam
oppidum oppidumque Sanctum Romanum sub Stellae monte esse, non longe
ab insigni oppido, a Cabia Iuliani dicto, et lanificio celebri, de quo alias.
Instrumento octauo eiusdem libri, ubi agitur de hereditate Ansedi, habetur
sic: “Ego Ansedus de medietate totius nostrae hereditatis, quam habemus in
uilla Lagaris in terrotorio Senae, subtus monte Hermino.”
Instrumento decimo tertio, de hereditate Ioannis Garsiae: “De nostra terra
quam habemus in territorio Senae subtus monte Hermeno in loco, qui dicitur
Assamassa.”
Instrumento quinto decimo de Sancta Maria de Mesquida: “Et est – inquit –
sita sub monte Hermeno, in partibus Senae.”.
[45] Instrumento duodeuigesimo, de hereditate Pelagii Ariei, sic: “De tota
illa hereditate quam habemus in uilla Sancti Romani, in loco scilicet qui dicitur
Assamassa subtus monte Concieiro.” Vbi aduertendum Sanctum Romanum
oppidum et uicum Assamassam sub monte Concieiro collocari, uidelicet quia
Concieirus Herminii pars sit, peculiari nomine Sancto Romano, et Assamassae
imminens.
outro caminho e, ao invés, foi ele afinal que os atacou. Vitorioso, perseguiu os
próprios fugitivos até ao oceano Atlântico. Mas os fugitivos, deixando o continente,
atravessaram para certa ilha, e César, que não tinha barcos, deixou-se ficar por aquela
região e enviou contra eles uma parte do exército em jangadas feitas de pranchas
unidas. Perdeu, porém, nessa operação muitos homens.
Efectivamente, quando o comandante dos tais soldados se dirigiu para uma
língua de terra que da ilha se alonga em linha recta e para ali os encaminhou com
a intenção de atravessarem a pé, ele próprio, impelido logo pela força da corrente
contrária, foi arrastado e separou-se deles. Outros, depois de se terem vingado,
morreram corajosamente. Quanto a Públio Cévio, o único que sobreviveu, privado
do escudo e, ainda por cima, ferido por muitos golpes, saltou para a água e a custo
se salvou a nado.
[48] Foi na verdade assim que as coisas se passaram.
Mais tarde foi César, que depois de ter mandado vir barcos de Cádis, atravessou
para a ilha com todo o exército e sem luta forçou-os à rendição, pois estavam
enfraquecidos pela falta de abastecimento de trigo. E daqui navegou ao longo
da costa com o comboio de navios até chegar à cidade da Corunha, na Galécia,
apavorando aqueles que até então nunca tinham visto uma armada e submetendo-
os à sua autoridade.”
O que Díon aqui nos conta, que César invadiu as cidades dos povos vizinhos
do Hermínio, concorda com o que diz Suetónio 206, segundo o qual “César saqueou
como inimigo algumas cidades dos Lusitanos, embora eles não só não recusassem
as ordens por ele dadas, como ainda lhe abrissem as portas quando chegou.” Mas
que parte do Hermínio se entende neste passo não me é ainda suficientemente claro.
Com efeito, pelos rebanhos e manadas que os habitantes lançavam aos Romanos
com o objectivo de dispersar o exército, parece depreender-se que se trata da serra
da Estrela, que, como já disse, apresenta boas condições para a criação de gado,
muito embora aquela encosta junto à cidade de Meidúbriga também tenha rebanhos
em não pequena quantidade.
O exílio das mulheres e filhos, bem como o transporte dos objectos de valor para
lá do Douro, parece dizer respeito à serra da Estrela, que é a que mais perto está
do Douro, mas, por outro lado, a fuga dos Hermínios e a perseguição de César até
ao Atlântico adapta-se mais ao monte exposto em primeiro lugar. No entanto, em
qualquer dos casos, deve tentar-se saber que ilha foi aquela, junto do continente,
para onde os fugitivos puderam atravessar, quer a pé quer a nado, e para onde, da
mesma forma, também os soldados tentaram passar.
[49] Prova de que não foi a Londobre, mencionada por Ptolomeu 207 (a que
actualmente chamamos Berlenga), é a distância que a separa do continente, e como
no nosso tempo nenhuma outra existe junto ao litoral de toda a Lusitânia, esta de
que fala Díon ou foi desgastada pelo mar que lhe batia com violência e depois
por ele tragada, ou então será de admitir que seja aquela península da cidade de
Peniche, perto de Atouguia 208. Realmente mesmo agora está separada do continente
Livro Primeiro • Liber Primus 157
[50] Pareceu-me, para que não tenhamos de voltar ao mesmo assunto mais
adiante ao fazer a história das cidades, e uma vez que se ofereceu a ocasião, que
não era de omitir aqui um epigrama, qualquer que seja o seu valor, que eu próprio
fiz em memória de tão grande homem:
A SERRA DE ANSIÃO
aestu cedente transitur, redeunte uero insula plane fit neque adiri uado potest.
Et forte illo saeculo fuerit aliquanto maior.
S ecvritati , et memoriae
DE TAPIAEO MONTE
Tapiaei montis nomen apud scriptorum antiquorum quempiam non legi. Inueni
tamen in uita Sancti Martini Sauriensis presbyteri, scripta a Saluiano alumno
160 As Antiguidades da Lusitânia
Segundo soube pelos naturais, dá-se ainda hoje o nome de Porto Tapieu à parte
mais elevada do monte.
O MONTE CÓRDOVA
A SERRA DO BUÇACO
DE MONTE CORDVBA
[52] Corduba mons in Portuensi dioecesi nomen adhuc uulgo retinet, nisi
quod rusticorum inscitia, primum concise montem Corduam coepit appellare,
postea deprauatius montem Coruam. De quo, et de basilicis in eo Saluatoris ac
Sancti Michaelis Archangeli, particularis fiet mentio in rebus, ac historia Sancti
Rodesindi episcopi et confessoris, quam etiam aliquando, Deo bene iuuante,
ex tenebris in lucem proferendam curabimus.
DE ALCOBA MONTE
rios, porém, vão misturar-se uns no Mondego, outros no Vouga e outros ainda no
Douro, e ao perderem então os seus nomes engrossam outros caudais.
Achei que o Marão, o Gerês, e o Muro, mais o Soajo se se quiser, deviam ser
referidos apenas devido ao facto de cortarem a meio a província dos Brácaros tão
rigorosamente que a parte que deles se estende até ao mar é chamada Entre Douro
e Minho (existe um opúsculo, cuja leitura não é de desprezar, sobre as qualidades
desta região, sua fertilidade, amenidade, salubridade) 218, quanto à outra parte fica
para lá destes montes, deixando à esquerda o Minho, sobe na direcção do oriente
e é chamada vulgarmente a região de Trás-os-Montes.
[53] Parece, por outro lado, que estes montes são como que ramificações do
monte Vínduo, de que Floro219 e Orósio220 fazem menção. Ptolomeu221 chama Víndio
àquele que se estende largamente a partir dos Pirenéus a norte de Pamplona, cidade
dos Cântabros, por Vitória, cidade do mesmo povo, e pelos Gémeos Ástures, até
que se divide em duas pontas recurvadas: uma corre para o mar Cantábrico e cabo
Finisterra; a outra, flectindo a sul, divide os Brácaros, como se disse, entrando
na jurisdição da Lusitânia 222, junto de Chaves, e logo depois recebe ao acaso nos
diferentes lugares nomes também diferentes.
Livro Primeiro • Liber Primus 163
[53] Videntur autem hi montes quasi rami esse quidam montis Vindui. Cuius
Florus et Orosius meminere. Ptolomaeus Vindium uocat qui ex Pyrenaeo supra
Pompelonem, Cantabrorum urbem, per Victoriam eiusdem gentis ciuitatem, et
Geminos Astures late excurrit, donec in duo diuisus cornua, altero Gallaicum
petit Oceanum et Nerium promontorium; altero in meridiem flexus Bracaros,
uti dictum est, dissecat, iuxta Aquas Flauias Lusitanam ingressus dicionem, ac
uariis subinde locis nomina quoque uaria sortitur.
(Página deixada propositadamente em branco)
LIVRO SEGUNDO
LIBER SECVNDVS
166 As Antiguidades da Lusitânia
[54]
OS RIOS
A Lusitânia é irrigada por muitos rios, tal como não deixou de referir Estrabão:
“A região de que falamos, diz ele, é rica e banhada por grandes e pequenos rios.
Todos eles correm de Oriente e são paralelos ao Tejo. Na sua maior parte não só
são navegáveis como ricos em areias de ouro” 1. É tal a celebridade de alguns, como
o Guadiana, o Tejo, o Mondego, o Ave, o Lima e o Minho, que parece supérfluo
ocuparmo-nos em descrevê-los. Cada um tem, no entanto, certas particularidades que,
segundo penso, não se tornarão aborrecidas para os leitores, como, por exemplo, a
do Guadiana, que, apesar da tão grande massa de água, se enconde completamente
em galerias subterrâneas por mais de uma vez e reaparece de novo com maior
ímpeto em qualquer sítio, numa extensão de 40.000 passos 2. Graças à sua água e
ao pasto, de tal modo pela própria força interior da natureza se desenvolve o gado,
que na Hispânia deve ser atribuído o primeiro prémio de corpulência às manadas e
bois da região do Guadiana3. Embora o rio seja muito rico em peixe, os seus peixes
recomendam-se mais pelo tamanho [55] do que pela delicadeza do paladar. Sobem
desde o mar até Mértola sáveis e lampreias, quer se acorde em chamar-lhes mustelas,
quer se prefira chamar-lhes moreias fluviais, como as designa Tertuliano no Sobre a
Toga4, ao referir a crueldade de Védio Polião, que mergulhava em viveiros escravos
condenados à morte para que pouco a pouco se fossem esvaindo em sangue,
sugados pelas moreias. Que de facto Septímio (Tertuliano) se referia às lampreias,
indicam-no as palavras que subscreveu: “animais terrestres sem dentes, sem unhas,
sem cartilagens” 5. Na verdade, se se referisse às moreias marítimas, não seriam elas
designadas por animais terrestres, além de que não são desdentadas mas antes muito
acentuadamente providas de dentes. Sobem também o Guadiana de meados de Março
até ao Estio avançado asturjões de razoável tamanho, mas raramente demasiado
grandes para que dois cheguem para carregar um macho com albarda.
Em boa verdade peço aos leitores o favor de não se indignarem por eu empregar
neste meu livro a recente designação do excelente peixe, uma vez que não está
perto do seu fim a discussão dos médicos 7, os principais interessados, e dos eruditos
que escreveram sobre peixes, nem ainda se concertaram em designação segura as
opiniões dos que discordam uns dos outros.
Paulo Jóvio 8, que se situa entre os que parecem aproximar-se mais da verdade,
julga que é o “siluro”, e de facto não poucos pormenores parecem dar-lhe razão se
Livro Segundo • Liber Secundus 167
DE FLVMINIBVS
Myrtilin usque a mari subeunt alosae et lampetrae, siue mustellas eas, siue
fluuialeis muraenas magis conueniat appellare, ut eas appellauit Tertullianus
in libro De pallio, notata Vedii Pollionis immanitate, qui damnata mancipia
uiuariis earum immergebat, ut muraenarum suctu paulatim absumerentur; et
quidem lampetras Septimium intellexisse, indicant uerba, quae subdit: “Terrenae
bestiae, exedentulae, exungues et excornes”. Marinae siquidem muraenae, ut
neque terrenae bestiae erant nuncupandae, ita neque exedentulae sunt, uerum
dentatae etiam eminentius. Subeunt et Anam sub Eidus Martias, usque ad iam
adultam aestatem, asturiones iusta magnitudine, sed raro maiores quam ut bini
mulum onerent clitellarium.
inversamente não houvesse outros que são manifestamente contrários aos primeiros.
Com efeito, desde que se reconheça que o asturjão, completamente desprovido de
dentes – assim criado pela natureza porque não se alimenta de peixes –, não é,
nem poderia ser, perigoso, este único argumento é o bastante para rejeitar [56] a
hipótese de ser o siluro.
É que o siluro é um animal perigoso e, como escreve Plínio no capítulo
décimo
quinto do livro nono, “ataca onde quer que esteja, por cobiçar toda e
qualquer
presa e frequentemente arrasta para o fundo cavalos a nadar”9. Por outro
lado,
é vulgar que quando é apanhado com o anzol o despedace, pois morde
com seus
dentes duríssimos, tal como diz Aristóteles no capítulo trigésimo sétimo
do livro
nono da História dos Animais10. Nada se poderia evocar mais alheio ao
asturjão
do que os factos que acabamos de referir. Acresce que Aristóteles diz, no
mesmo
passo, que o siluro é um peixe do rio e Plínio secunda-o no capítulo décimo
quinto
do livro nono. Com efeito, depois de falar no grande porte dos atuns, diz:
“Existem
também nalguns rios peixes que em proporções não são inferiores, como
seja o
siluro do Nilo, o ésox no Reno, o átilo no Pó”; e no capítulo décimo sexto:
“O siluro, entre os peixes fluviais, sofre com a chegada da canícula”; e também
no
capítulo décimo do livro trigésimo segundo: “...colocando por cima carne do
siluro
fluvial, que tanto nasce do Nilo como noutros rios, etc.” 11.
Também Estrabão no livro décimo sétimo 12 dá a entender que o Nilo possui
siluros em abundância. E a este respeito, se alguém depreender das palavras de
Plínio, que anteriormente citei, que ele se refere ao «siluro fluvial», por existirem
também siluros marinhos que sobem pelo curso dos rios, de diversos rios e não só do
Nilo, será esclarecido por Estrabão que, no livro décimo quinto, o nega firmemente
no que respeita ao Nilo, fundamentado-se em Aristóbulo: “Aristóbulo afirma ainda,
diz ele, que, por causa dos crocodilos, nenhum dos peixes marinhos sobe o Nilo
a não ser o sável, o mugem e o golfinho”13. Sobre o siluro, que é, por assim dizer,
natural do Nilo, nada disse.
Assim, pois, é fluvial. Mas os asturjões são do mar alto, com a particularidade
de, na expectativa de alimento mais rico, procurarem águas doces onde não só
engordam, como, perdendo o sabor acre da água salgada, se tornam depois de
cozinhados muito mais agradáveis ao paladar 14.
[57] Guilherme Rondelet, no erudito e bem elaborado livro que publicou sobre
os peixes 15, sustenta que o actual asturjão foi o acipenser dos Latinos, o chamado
onisco por Dórion 16, escritor grego, e galáxia por Galeno 17. Mas que responderia
Plínio, que no capítulo décimo sétimo do livro nono diz: “O acipenser [esturjão],
considerado entre os antigos como o peixe mais nobre e de todos o único com
as escamas voltadas para a cabeça contrariamente ao movimento da natação, não
goza agora de qualquer fama, o que na verdade me admira, porque é difícil de ser
encontrado. Alguns chamam-lhe elops” 18.
E que diremos de Plutarco? Este, no livro sobre A actividade dos animais, ao
afirmar que todos os peixes têm o cuidado de evitar que o vento batendo por detrás
Livro Segundo • Liber Secundus 169
essent alia quae manifeste abrogarent. Nam cum asturionem fateatur, maleficum
neque esse, neque esse posse, quia dentibus omnino careat, sic ab natura
formatus, quoniam piscibus non alatur, hoc uno argumento, suam de siluro [56]
opinionem tueri non poterit.
Nam silurus maleficus est, et ut scribit Plinius libro nono, capite decimo
quinto “grassatur ubiquunque est, omne animal adpetens, et equos innatanteis
saepe demergens”. Ad haec, hamo prehensus, morsu durissimi dentis saepe
hamum frangit, ut in nono Historiae animalium capite trigesimo septimo inquit
Aristoteles. Quibus nihil alienius ab asturione commemorari potest.
Praeterea eodem loco Aristoteles silurum fluuiatilem piscem esse ait, quem
sequitur Plinius libro nono capite decimo quinto. Quum enim de thynnorum
magnitudine esset locutus: “Sunt – inquit – et in quibusdam amnibus non
minores, silurus in Nilo, esox in Rheno, attilus in Pado”. Et capite decimo
sexto: “Fluuiatilium, silurus caniculae exortu sideratur. Libro quoque trigesimo
secundo, capite decimo: “Siluri fluuiatilis, qui et alibi quam in Nilo nascitur,
carnes impositae”, etc.
Strabo etiam libro decimo septimo siluris abundare Nilum ostendit. Quod
siquis propter Plinii uerba postremo a me posita, “siluri fluuiatilis”, ideo dictum
existimet, quia sint et marini, qui tamen amnes adscendant, tum alios, tum etiam
Nilum, id Strabo de Nilo constanter negat Aristobuli auctoritate libro decimo
quinto: “Tradit etiam – inquit – Aristobulus nullum ex marinis piscibus in Nilum
recurrere, praeter alosam et mugilem et delphinum, propter crocodilos.” De
siluro tanquam Nili indigena nihil dixit.
Fluuiatilis ergo est. Asturiones uero pelagici, nisi quod pinguioris pabuli
gratia, dulceis petunt aquas, quibus et pinguescunt et salsuginis deposita tristitia
in obsoniis longe suauiores gustui efficiuntur.
Mas há a lamentar que o seu livrinho fragmentado nos abandone neste verso,
pois talvez fôssemos mais amplamente documentados todos sobre o acipênser.
Livro Segundo • Liber Secundus 171
addidit: “Hoc igitur commune piscium est omnium, acipensere tantum excepto,
secundum uentos et fluctus meat hic, squamae uulsionem ueritus, ut quarum
commissuras ad hos uersas habet.” Vbi enim squamae in asturione? ut de
conuersis ad os sileam.
Videlicet dormiens literis ista mandabat. Non norat fortasse, quoniam rarus
inuentu esset. Ita certe acipenser. Admodum enim raro capi, etiam in libro De
fato, Cicero testis est, ut asserit in tertio Saturnalium Macrobius. Nam nos eum
Ciceronis librum imperfectum habemus. Cui ignotum quoque fuisse Acipenserem
indicant [58] ipsiusmet uerba. Etenim cum allatum ad Scipionem dixisset:
“Raro, inquit, admodum capitur, sed est piscis, ut ferunt, in primis nobilis”. Et
Plutarchus ipso in libro de anthia sacro pisce apud Homerum: “Eratosthenes –
inquit – auratam uidetur, pernicemque supercilio flauente, sacrumque dicere.
Multi acipenserem. Nam et hic rarus est et aegre capitur. Conspicitur autem
circa Pamphyliam saepe”. Martialis quoque rarum dicit:
Quis autem uel Plinio, uel Ciceroni, uel etiam Martiali credat, raro capi eum
piscem qui Pado, qui Tyberi, ut nihil amplius dicam tam familiaris sit? Acipenser
autem non tantum rarus admodum, sed etiam omnino peregrinus.
Sed dolendum quoniam in hoc uersu fragmentum eius libelli nos destituit.
Forte enim de acipensere plenius instrueremur. Illud tamen satis est, peregrinum
172 As Antiguidades da Lusitânia
Basta, porém, que o poeta chame ao peixe “estrangeiro” para que este atributo não
convenha de modo algum ao esturjão, peixe tão familiar.
“O acipênser não tem escamas”, diz Rondelet 24. Isto nunca se deduzirá da leitura
de Plínio, de Nigídio Fígulo (o maior investigador das questões naturalistas, como lhe
chama, em sinal de consideração, Samónico Sereno, no livro quarto de Macróbio)25,
de Plutarco, de Macróbio e do próprio Sereno, que comeu frequentemente o acipênser
nos festins do imperador Severo e que confirmou ser por Nigídio considerado
verdadeiro o que Plínio diz sobre as escamas voltadas para o lado da cabeça 26.
[59] Ora, segundo a opinião de Arquéstrato, referida em Ateneu 27, o gáleo ródio
é o peixe a que se chamava, entre os Romanos, acipenser, e que era levado para
os banquetes por escravos coroados e no meio de coroas e de flautas. Que assim
seja, pois. Mas Rondelet devia ter feito compreender, e não o fez, que o asturjão
era o gáleo de Rodes e que era ele que chegava às mesas com tão grande pompa.
No entanto, aquele famoso gáleo ródio parece identificar-se mais com o elops. De
facto, Columela 28 e Eliano 29 dizem que o elops, que vive apenas no profundo mar
panfílico, não é capturado senão rara e dificilmente. Gélio 30, fundamentado em
Varrão, diz, no capítulo décimo sexto do livro sétimo, que os Romanos deram ao
ródio o nome de acipenser, para que o gáleo ródio e o elops sejam o mesmo peixe.
Eis porque Plínio nos diz que alguns chamaram elops ao acipenser; e entre estes
conta-se, segundo Ateneu 31, o gramático Apião.
Teodoro de Gaza 32, homem não menos erudito em latim do que em grego, e
que se dispôs, sempre que isso pudesse ser feito, a verter regularmente para latim
os nomes gregos, traduziu elops, referido por Aristóteles na História dos Animais,
capítulo décimo terceiro do livro segundo, por acipenser. Aristóteles, com efeito,
tratando das guelras dos peixes, escreve o seguinte: “Uns têm duas de cada lado,
umas simples e outras duplas, como o congro e o sargo; outros têm quatro guelras
simples de cada lado como o acipenser, o peixe-serra, a moreia e a enguia” 33. Ora,
se tivéssemos a certeza de que o acipenser era o mesmo que o elops, como traduziu
Teodoro e como disseram muitos gregos, apenas esta descrição das quatro guelras
nos seria suficiente para se dever excluir do nome de acipenser o asturjão.
O facto é que, em vez deste grande número, as suas guelras são tão exíguas,
simples e dissimuladas, que mais se deve pensar que as não tem. Refresca-se, porém,
pelas narinas e expele água, que absorve, pela abertura da boca que se apresenta
sempre aberta e alargada para a frente. Mas os Gregos teriam visto se o elops, rodio
ou panfílico, [60] ou o “gáleo” ródio eram ou não o acipenser. A verdade é que
tanto o acipenser como o elops são estrangeiros. Ovídio, no livrinho acima referido,
diz o seguinte:
Theodorus Gaza, homo non minus Latine quam Graece eruditus, quique
Graeca nomina semper Latine, quoad fieri poterat, reddere conatus est, apud
Aristotelem De historia animalium libro secundo capite decimo tertio elopem
acipenserem transtulit. De branchiis enim piscium agens Aristoteles, ita scribit:
“Aliis binae utrinque alterae simplices, alterae duplices, ut congro et scaro. Aliis
quaternae utrinque simplices, ut acipenseri, dentici, muraenae, anguillae.” Quod
si certi essemus eundem cum elope esse acipenserem, ut uertit Theodorus, et
multi dixere Graecorum, haec una quaternarum branchiarum nota, satis nobis
erat, ad excludendum ab acipenseris nomine asturionem.
Etenim pro ea mole, tam exiguae, simplices, et opertae illi branchiae sunt,
ut branchiis carere sit potius existimandus. Naribus autem refrigeratur, et quam
haustu collegit aquam, eam illo semper patentis proni oris foramine reiicit.
Verum sit ne idem elops Rhodius, uel Pamphylius, [60] siue galeus Rhodius cum
acipensere, uiderint Graeci. Certe tam elops, quam acipenser peregrini sunt.
Ouidius in superius citato libello sic ait:
Plínio, sugestionado por estes versos de Ovídio, disse, no fim do livro trigésimo
segundo35, que se enganavam os que pensavam que o elops era o acipenser, peixes
diferentes se bem que um e outro estrangeiros.
O asturjão, por seu lado e como se disse anteriormente, é tão frequente, não só
no Pó e no próprio Tibre como em todos os rios do mundo romano, pelo menos nos
grandes, que seria atitude pouco prudente atribuir ao asturjão o que foi dito sobre
o acipenser ou elops e pensar que Nigídio, Cícero, Plutarco, Plínio e outros menos
importantes do que estes, muito embora eruditos, se enganaram tão puerilmente.
Se o acipenser for, pois, se quisermos, cartilagíneo e se tiver o corpo triangular
como Rondelet sustenta, desde que seja pequeno como diz Ateneu e desde que seja
estrangeiro, somente originário do mar panfílico ou ródio e não de alhures, e que
rara e dificilmente seja capturado, então não pode ser de modo algum o asturjão,
que é peixe vulgaríssimo. É isto que deve ser respondido a Rondelet.
Hermolau Bárbaro 36, célebre pela glória de se dedicar a estudos nobres, ao ser
interrogado sobre isto por Paulo Cortesi37, respondeu em carta que o asturjão foi na
antiguidade a ica de que fala Ateneu 38, tendo sido levado a esta conjectura por ica
significar porquinho e sobretudo porque o asturjão pequeno é ainda chamadoporceleto
pelos Italianos, nome sem dúvida formado pelo diminutivo de porco ou porquinho.
Santo Ambrósio apoia esta opinião, quando diz no Sermão de Domingo da Paixão:
“o comilão ou glutão gosta de leitão para o comer” 39; [61] e no Hexámeron, afirma
que os Judeus se alimentam de porco-marinho, embora se abstenham dos terrestres40.
Esta conjectura não é tão fraca quanto a considerou Jóvio 41. No entanto, se nos
parecer fraca, podemos fortalecer-nos com as palavras de Santo Isidoro, escritor que
nem é estrangeiro nem tão-pouco desconhecido que seja de desprezar.
Este, no livro décimo segundo das Etimologias, no capítulo Sobre os peixes, descreve
assim, expressamente e sem quaisquer possibilidades de dúvida, o actualmente
chamado esturjão pelos Italianos: “Os porcos-marinhos são vulgarmente chamados
suilhos, porque enquanto procuram o alimento foçam na terra sob as águas como
os porcos. É que têm a função da boca junto à goela e se não mergulham o focinho
nas areias não apanham alimento” 42.
Não podia apresentar a questão por forma mais simples nem mais evidente.
O peixe tem um focinho oblongo como os proboscídeos e sob o queixo, junto à
goela, um buraco, mais do que uma boca, sem dentes nem maxilas. Por isso lhe é
necessário mergulhar o focinho no lodo, no fundo do rio, enquanto come, senão,
por outra forma nada agarrará. E com isto acontece que, quando se alimenta, o
limo revolvido no fundo ao atingir a superfície mostra aos pescadores que ele se
esconde naquele sítio. Portanto, Isidoro representou-nos bem o peixe e nem deixou
de referir aqui o nome que todos nós os Hispânicos usamos. Chamamos-lhes, com
efeito, suilhos ou, para falar pura e lusitanamente, “solhos”.
No entanto, se não tiverem confiança no testemunho de Isidoro os que não o
consideram como digno de crédito no que respeita as diversas opiniões sobre o
siluro, o onisco, a galáxia e o acipenser, que não lhes pareça tão-pouco absurdo que
Livro Segundo • Liber Secundus 175
Si tamen frigida uideatur calefaciamus nos eam uerbis Isidori scriptoris, neque
externi neque tanquam ignobilis contemnendi. Is Etymologiarum libro decimo
segundo, capite de piscibus, diserte et sine ulla ambiguitate, asturionem modo
Italis uocatum, ita describit: “Porci marini, qui uulgo uocantur suilli, quod dum
escam quaerunt, more suis terram sub aquis fodiunt. Circa guttur enim habent
oris officium, et nisi rostrum arenis immergant pastum non colligunt.”
Non potuit neque planius neque euidentius res aperiri. Rostrum habet piscis
oblongum, instar proboscidis, sub mento circa guttur foramen, magis quam os,
dentes autem nullos neque maxillas. Quare dum pascitur rostrum limo, soloque
aluei, ut immergat, necesse est, nihil alioqui comprehensurus. Eoque fit ut cum
pascitur, limi reuolutio e fundo ad summam aquam pertingens indicium latentis
eo loci faciat piscatoribus. Bene igitur piscem nobis expressit Isidorus. Nec
tacuit nomen hoc, quo Hispani omnes utimur. Suillos enim appellamus, siue,
ut mere Lusitane dicam, “soilhos”.
Quod si de Isidori fide dubitabunt, quibus is auctor idoneus non uidetur, inter
uarias de siluro, onisco, galaxia et acipensere sententias, ne uideatur absurdum,
si etiam nos scrupulum doctis iniiciamus, adductis duobus piscium generibus,
176 As Antiguidades da Lusitânia
qui asturiones non inepte uideri queant. Ex Niliacis piscibus, a Strabone primo
loco numeratur oxyrinchus, ex eo utique dictus quod oblongum atque acutum
rostrum habeat. Talia uero esse asturionum rostra indubitatum, nec minus certum
frequentem in Nilo esse capturam.
de retiradas dos esturjões, a esquinália, feita da parte dorsal, as pleuras, que provêm
dos flancos, e a hipocélia, da região abdominal e genital 49.
Hermolau 50 garante que esta salmoura, que todos reconhecem ser do esturjão,
é feita da ica ou isca, isto é, do porco-marinho. Diz, porém, que na Itália a ica
ou isca é, por comum acordo, chamada de esturjão. Reflictam pois e julguem os
eruditos se o oxirrinco de Estrabão51, o marião ou peixe sem nome de Plínio52, que
Hermolau compreendeu como sendo o antaceu, o próprio antaceu de Estrabão53 e
de Heródoto 54, a ica ou isca de Ateneu 55 e o pórculo não serão, em última análise,
o mesmo peixe agora chamado esturjão ou asturjão.
Mas se o marião ou o peixe sem nome de Plínio é o porco-marinho ou outro
muito semelhante, não no-lo explica muito claramente o mesmo Plínio. Para mim é
suficiente que este peixe sem nome, ou marião ou antaceu, seja caracterizado sem
ossos, nem espinhas, mas de carne agradabilíssima e muito semelhante ao porco-
marinho. Em verdade já considero a partir deste momento que o porco-marinho
carece de ossos e espinhas e que tem uma carne muito saborosa. Quem ignora que
o asturjão seja assim, é porque nunca viu nem saboreou um asturjão.
Se alguém, todavia, objectar que o asturjão não é inteiramente desprovido de
alguns ossos, por exemplo, na cabeça, responder-lhe-ei que estes não são de modo
algum verdadeiros ossos, mas uma cartilagem calosa, e que se o peixe for adulto
terá esses ossos um pouco mais duros, mas que isso é tão pouco acentuado que não
devem ser considerados verdadeiros ossos. Quanto a ser o mesmo que o marião, ou
o antaceu ou o porco-marinho, ou se, pelo contrário, é outro diverso, mas muito
semelhante, admita-se que já Isidoro nos elucidou correctamente 56.
Tantos nomes para um só peixe, dir-se-á! Que esta grande quantidade de nomes
não perturbe ninguém. Sabiamente agiu Plínio no passo anteriormente citado. Será
conveniente, com efeito, usar na maior parte dos nomes as formas gregas, porque,
conforme as regiões, assim os designam por uns e outros nomes. No Egipto, por
exemplo, chamaram-lhe oxirrinco por causa da forma do focinho; os povos Antaces
junto do Dniepre e do mar de Azof deram-lhe o nome, que lhes é familiar, de
antaceu; os Gregos [64] preferiam ica ou isca e os Romanos pórculo ou porco pela
razão que apresentou Isidoro.
O extensíssimo reino do Congo na Etiópia57 converteu-se à religião de Cristo, vindo
de uma religião em que se adoravam ídolos, pela acção e esforço dos mui piedosos
reis de Portugal, e nessa religião persiste com admirável devoção. Segundo dizem os
habitantes, um braço do Nilo, desmembrado logo nas próprias nascentes, precipita-
se, mais do que corre, com tal caudal de água e tão grande corrente que excede
em largura os 12.000 passos, com um leito de uma profundidade incomensurável.
Nele se criam os mesmos peixes e os mesmos animais que naquele braço que corre
através do Egipto, peixes contudo mais compridos e todos mais desenvolvidos
quanto ao volume dos corpos. Aí se encontram, em proporções gigantescas, não
só crocodilos como hipopótamos, como ainda, por todo o rio, grande número de
outros peixes vulgares no Nilo.
Livro Segundo • Liber Secundus 179
est, latera, et hypocaelia, id est, abdominis pubisque partes, per totam Italiam
circunferri, uulgatissimum est.
Ea salsamenta, quae ex Asturione esse omnes fatentur, Hermolaus ex hycca,
uel hysca, id est porculo marino constanter affirmat. Hyccam autem, siue
hyscam sturionem Italiae consensu ait appellari. Considerent igitur et expendant
eruditi, num Oxyrinchus Strabonis, Mario, siue innominatus Plinii piscis, quem
Antacaeum Hermolaus interpretatur, ipseque Strabonis, et Herodoti Antacaeus,
hycca, siue hysca Athenaei, et porculus, idem omnimo piscis sit, sturio, siue
asturio modo uocatus.
Verum mario, uel innominatus Plinii piscis, sitne idem qui marinus porculus, an
alius illi simillimus liquido nobis non distinxit Plinius. Mihi satis est innominatum
hunc, uel marionem, siue antacaeum, sine ossibus, sine spinis, carne autem
praedulci, ac simillimum marino porculo indicari. Iam enim hinc habeo porculum
marinum ossibus, ac spinis carere, et praedulci esse carne. Isthaec sturioni inesse
qui ignorat asturionem neque uidit neque gustauit.
O CALÍPODE
Asturionum quoque ingens copia, fisci tamen regii. Capitaleque est captum
piscem regium ad regem non deferri. Delatum ipse cui uult donat. “Angullum”
ibi uocant, id est, porcum. Differentiae tamen causa, “angullum amazi”, hoc est
aquarum porcum dicunt.
DE CALLIPODE
a ele a honra. É desde esse ponto que começou a ser designado por Sadão. Também
não conserva o nome por muito tempo, pois daí a 16 milhas ou um pouco mais
longe perde o nome de que se apropriou ao adiantar-se no enormíssimo estuário já
chamado de Salaciense, sem dúvida para que não se gabasse por soberba à deusa
Salácia, da qual provém o nome [66] da cidade, de ser o fim de três rios 65.
São familiares a este rio os mugens, quer cabeçudos quer beiçudos, os barbos e
as enguias de excelente paladar, além das bogas e de outros peixes mais pequenos.
E no sítio em que se mistura às águas salgadas é enorme a apanha de camarões e
de moluscos. Raramente nele se capturam lampreias 66.
O TEJO
O Tejo, que desagua no golfo de Lisboa, pedia pelo seu prestígio um livro só
sobre ele, tão grande é o número de cidades, de ópidos fortificados e ricos à volta
do golfo e ao longo de uma e outra margem do rio, numa extensão de quase 100
milhas. Não é neste momento, todavia, o assunto apropriado para quem apenas
recolhe dados sobre a antiguidade.
Além disso, também não chegou até nós intacto muito do que Estrabão67 disse
sobre o rio, como prova a sequência confusa de palavras: “Depois o cabo Espichel e
as bocas do Tejo, até se dirigem em linha recta os rumos dos navios. São no entanto
10 estádios. Também neste local há estuários e um deles estende-se desde a torre
já referida até uma distância superior a 400 estádios. É aqui que se reabastecem
de água... etc.”.
Só a frase “desde a torre já referida” prova com segurança que o passo está
deturpado. Desde que torre? Não houvera antes alusão a nenhuma outra. E aquilo
“é aqui que se abastecem de água. Iponlacia”. Como me considero incapaz de
reconstituir os passos, teremos de esperar ou por engenhos mais dotados do que
o meu, ou por exemplares mais correctos 68.
O Tejo mistura-se às águas do mar no interior do golfo junto a Vila Franca.
Estrabão, por sua vez, disse que a largura da foz é de 20 estádios, e tão grande a
profundidade que pode facilmente ser navegado por barcos com capacidade de
10.000 talentos 69. Isto é verdade, como também o é ser navegável por dois canais,
[67] um velho e um novo, e aquilo que diz sobre as duas cheias que se derramam
sobre os campos mais altos com a vinda das marés, de tal maneira que a superfície
do mar aumenta para 150 estádios, tornando-se toda a planície navegável, tudo isto
conhecemos por experiência desde precisamente Vila Franca até Benavente 70. Mas
qual tenha sido, na verdade, a ilha de 30 estádios de comprimento e de quase a
mesma largura, fértil e plantada de belas vinhas, não podemos dizer 71.
Há ali muitas ilhas e de facto fertilíssimas, mas não plantadas com vinhas, pois
são todas semeadas de trigo ou reservadas para pastagem 72.
Livro Segundo • Liber Secundus 183
ita nomen id non longe perfert, sed post sedecim aut paulo amplius milliaria
usurpatum amittit, Salaciensi aestuario longissimo praeoccupatus. Videlicet, ne
recens usurpato nomine, Deae Salaciae, ex qua urbi nomen, [66] de interitu
fluuiorum trium superbius se iactaret.
Familiares huic flumini sunt mugiles, tum cephali tum labiones, barbi, et
anguillae egregio sapore. Bocae quoque, et minores alii pisces. Atque ubi salsis
intermiscetur undis cammarorum pectinumque prouentus ingens. Raro lampetrae
in eo capiuntur.
DE TAGO
Certe corruptum locum uel hoc testatur: “A turri iam dicta”. A qua turri?
Nullius enim mentio praecesserat. Et illud: “Ea in parte aquantur. Iponlacia”.
Quibus restituendis locis cum impar ego sim, expectanda erunt uel foeliciora
ingenia, uel exemplaria emendatiora.
Multae ibi sunt insulae, ac fertilissimae quidem, sed nullis uinetis consitae.
Frumentariae enim factae omnes sunt, aut pastionibus seruatae.
184 As Antiguidades da Lusitânia
Quanto a dizer que toda a terra em redor é notável pela fertilidade, também
sabemos que não é só aqui e que os famosos campos de um e de outro lado do
rio até Tancos, devido às cheias lodosas, se tornam tão ricos e férteis que com uma
simplicíssima e quase nula lavoura da terra permitem que pelo menos o trigo e
a cevada sejam ceifados ao quinquagésimo dia após a sementeira, exemplo único
para qualquer solo 73. E logo a seguir, nas terras muito levemente lavradas, eu direi,
gradadas, é semeado o milho-miúdo, de crescimento e colheita muito rápida 74, ou
então, no espaço de pouquíssimos dias, sem qualquer sementeira a não ser as das
sementes deixadas cair na ceifa, o campo torna a germinar espontaneamente com
novo vigor.
O que Mela disse de Eriteia 75, ilha junto à Lusitânia e que hoje não se encontra
em parte alguma, pode verificar-se, por provas bastante numerosas, que se adapta
aos campos e ilhas do rio, quer se procure a riqueza de produtos da terra quer a
abundância de pastagem. Tal é a natureza do solo que o Tejo torna produtivo com
as cheias. Estrabão disse com verdade: “Os ópidos que estão junto ao Tejo são mais
ricos do que os restantes” 76.
O rio, na verdade, produz peixe em grande quantidade e transborda de ostras.
Entre os peixes do Tejo estão em primeiro lugar os sáveis, não só pela delicadeza
da carne, como pela abundância. Há outra espécie de sável, objecto de discussão
no meu livro sobre Gil de Santarém 77, as sabogas ou sabelas, bastante mais secas
[68] e insípidas, excepto no mês de Maio. Nessa altura, de facto, são acolhidas com
certo agrado entre os alimentos, com a condição de serem assadas num grelhador
de brasas, assim que saiam do rio e temperadas com salsa picada, pimenta, aipo e
sumo de limão, o que prova que Ausónio tinha razão em pensar o que delas disse
no Mosela:
O NOME DO TEJO
Quod uero dicit agrum circum circa bonitate conspicuum, scimus non solum
eo loci, sed ex utroque amnis latere campos illos ad Tancos usque, limosis
inundationibus, tam laetos ac fecundos effici, ut simplicissima fereque nulla
aratione triticum quidem et ordeum quinquagesimo ab satione die metatur,
singulari terrarum omnium exemplo. Statimque in leuiuscule aratis dicam, an
scalptis? milium seratur, ubere ocissimoque prouentu, uel inter paucissimos
a messe sublata dies, nullo satu, sed sponte seges regerminet, faecunditate
restibili.
Vt quod de Erytheia contra Lusitaniam insula, quae nusquam modo est, Mela
tradidit, longe in his agris amnisque insulis contingere copiosius experimenta
demonstrent; siue frugum ubertas, siue pabuli abundantia requiratur. Tale
ingenium glebae est, quam Tagus inundationibus laetificat. Vereque dixit Strabo:
“Vicina Tago caeterorum opulentissima sunt oppida.”
Rarae im Tago capiuntur lampetrae, rariores marini porculi, siue suilli. Iam
enim audeo Isidoro niti. At celebris illa auri fama per omneis poetas uulgatissima,
obscurior modo ac prope exstinta est, cautione legum, ne commotae arenae
depressiores frumentarios agros nocumento afficiant. In testimonium tamen
cantatae gloriae, regum Lusitanorum sceptrum ex Tagano auro, quo purius
reperiri nullum potest, factum et scimus et non semel uidimus.
DE TAGI NOMINE
De ipso Tagi nomine, quum aliquid etiam cuperem annotare, nihil inuestiganti
oblatum est, quod ullum operae esse pretium existimarem. Piget autem fabularum
quas Ioannes Annius in ficticium suum Berosum effudit, Tagum dictum fuisse
186 As Antiguidades da Lusitânia
no seu Pseudoberoso, sobre o chamar-se o Tejo assim por causa do nome do rei
que terá reinado na Hispânia depois de Brigo. Fico admirado a este respeito com
S. Isidoro, homem de valor, bom conhecedor de grande número de factos e não
tão desprovido do culto das belas-letras que deva ser impedido, com insólito rigor,
de dar a sua opinão. Diz, no entanto, no livro décimo terceiro das Etimologias: “A
Cartago da Hispânia deu ao rio que ali nasce o nome de Tago [Tejo]. O rio tem
grande quantidade de areias auríferas e, por isso, é mais celebrado do que os
restantes rios hispânicos” 82.
[69] Omito o facto de o Tejo não nascer em Cartago, quer a consideremos como
Cartago-a-Nova de Asdrúbal, quer mesmo como a Velha dos Ilercáones também
na Hispânia e que só é lembrada por Ptolomeu 83, mas não por Cícero, como, por
falta de atenção, pensou e anotou Vadiano no comentário a Pompónio 84, baseado
num passo de Cícero do Sobre a lei agrária: “Com que então até vendem a própria
Cartago-a-Velha” 85. Com efeito, Cícero mostrou claramente no livro segundo da
mesma obra, Sobre a lei agrária, qual a cidade que designava por Velha Cartago:
“E na África até a própria Cartago-a-Velha consegue vender” 86.
Mas deixando isto, não posso de facto compreender como o rio foi chamado
Tejo [Tago] por causa de Cartago. No entanto, não é de espantar que a etimologia
de Isidoro pareça bastante artificial e confusa, porque nem mesmo o célebre Marco
Varrão foi sempre muito bem sucedido nesse campo 87.
Deve ter sido nosso compatriota aquele que terá escrito algures que foi o próprio
Ulisses, na altura em que fundou Lisboa, que lhe deu o nome de Tejo [Tago], por
causa de um seu companheiro Tago, que morreu no rio 88. E não repugnava aceitá-
lo, devido à perfeita identidade, desde que se fundamentasse em testemunho da
antiguidade.
Confesso, portanto, que não sei donde provém este nome de Tejo. Mas donde
quer que seja, o nome é antiquíssimo e não se tem notícia de que o rio tenha tido
outro. Lívio 89 escreve que o Guadalquivir era designado pelas gentes da região por
Círtio, alguns Gregos, como Estesícoro, diz Estrabão 90, chamaram-lhe Tartesso, e
Estêvão 91 conta que era chamado Perce pelas populações.
O Tejo não sofreu nenhuma alteração do nome nem entre os Gregos nem entre
os Latinos. Que de facto é um nome antiquíssimo no Lácio, mesmo para homens,
mostra Virgílio no canto nono da Eneida:
a nomine regis qui post Brigum in Hispania regnarit. Isidorum demiror uirum
magnum et rerum multarum bene peritum, nec elegantiorum litterarum tam
expertem, ut insolenti fastidio sit a dicendo testimonio ablegandus.
[69] Omitto quod non oritur a Carthagine Tagus, siue Carthaginem nouam
Asdrubalis intelligamus, siue ueterem Ilercaonum etiam Hispaniae, cuius
solus meminit Ptolemaeus, non autem Cicero, sicut ex non adhibita diligentia
existimauit, et adnotauit in Pomponium Vadianus, adducto Ciceronis loco De
lege agraria: “Tum ipsam ueterem Carthaginem uendunt”. Cicero enim quam
ueterem Carthaginem uocarit, satis aperuit libro secundo De eadem agraria lege:
“Et in Africa ipsam ueterem Carthaginem uendit”.
Verum hoc omisso, intelligere non possum quonam modo Tagus a Carthagine
sic nuncupatus. Neque tamen mirum, si Isidori coactior ac contortior etymologia
uideatur, quum M. illi Varroni non perbene semper res ea successerit.
Fuit ex nostris, qui alicubi scripserit Olyssem quo tempore Olisiponem condidit,
a socio “Tago”, qui in flumen ceciderit, ipsum Tagi nomen fluuio indidisse. Nec
abhorrebat a uera similitudine, si antiquitatis fundamento niteretur.
Fateor igitur non nosse me unde isthaec “Tagi” originatio processerit. Sed unde
unde sit, antiquissimum nomen est, nec aliud flumini fuisse comperitur. “Baetin
Cirtium” ab incolis apellatum scribit Liuius. Graecorum quidam “Tartessum” dixere,
ut Stesichorus apud Strabonem. Stephanus ab indigenis “Percen” uocari tradit.
Tago nulla nominis contigit mutatio, neque apud Graecos, neque apud
Latinos. Esse uero nomen uetustissimum etiam uiris proprium in Latio, ostendit
Virgilius Aeneidos libro nono:
Hispano quoque regulo cuidam nomen idem fuisse, quum rerum in [70]
Hispania Carthaginienses potirentur, auctor est Silius libro primo Asdrubalis
crudelitatem, Tagi reguli saeuum interitum, et serui non minus magnanimam in
uindicanda iniusta domini caede audaciam, quam in perferendis ob patratum
nobile facinus cruciatibus generosam patientiam his carminibus prosequutus:
188 As Antiguidades da Lusitânia
O MONDEGO
DE MVNDA
Agros fecundat tritico, hordeo, secale, alyra, milio, panico, et praecipue lini
magna copia tenuissimi, et quum quouis optimo conferendi. Non procul Catina
oppidum (ita enim legendum) uulgo Catima dictum, etiam adhuc extat, in quuius
agro fontes illi sunt Plinio libro secundo memorati, alter omnia respuens, alter
absorbens, ille quia fere communem cum reliquis naturam habet, miraculo
nequaquam est. Hic propter mirabilitatem quotidie a uisentibus frequentatatur,
“Feruentiam” uulgus appellat.
Vidi egomet, cum illo issem cum Alphonso Cardinale principe memorabili,
caesam arborem bene magnam in lacunculum arenae, in quo ebulliens fons
O RIO VOUGA
O DOURO
O Douro, celebradíssimo pela sua beleza e pelo testemunho dos escritores, supera
o Tejo na massa de água com a diferença que esta vem mais comprimida, dado que
corre quase sempre por um leito entre montanhas, enquanto o Tejo se expande até
à ostentação por campos desimpedidos e planos. Daí aquilo que é costume dizer-se
entre nós à laia de provérbio: “O Tejo leva a fama e o Douro arrasta as águas”.
Dos restantes rios, exceptuando o Minho, é o que produz maiores sáveis, lampreias
e trutas, preferidas pelos que, com razão, as consideram de sabor mais delicado,
[73] mas é mais parco em salmões e asturjões 104.
É navegável contra a corrente cerca de 100.000 passos até à queda de água donde,
com grande fragor, ele se precipita de uma rocha que impede a subida dos pequenos
barcos. Ali, sob a água que cai em arco, é enorme a apanha de lampreias que aderem
com a boca à rocha. Chamam vulgarmente a este local e ao pequeno ópido, S.
João da Pesqueira. Quando eu era rapaz, Martim de Figueiredo 105, jurisconsulto e
bom conhecedor das letras latinas, a cujo estudo, sob a orientação de Policiano de
Livro Segundo • Liber Secundus 191
DE VACCA FLVVIO
Medio fere inter Mundam et Durium interuallo, Vacca in mare influit, [72] et
ipse, ut Strabo ait, quemadmodum et Munda paruas habens nauigationes. Nec
longe ortus, alosarum, lampetrarum, troctarumque ferax. “Vacuam” illum Strabo
uocat, “Vacum” Ptolemaeus. Oritur non peregre, sed paulo supra Alcobam montem
collectus, indeque leni alueo illapsus multos nec exiguos fluuios ac fere parem
Agatham in se condit. Iamque intra modum magnus miscetur mari.
DE DVRIO
Florença, não pouco se aplicara, pensou que, removida a queda de água, poderiam
as barcaças com pouco trabalho ser levadas sobretudo até aos campos de trigo de
Toro e Zamora e regressarem, rio abaixo, carregadas de cereal. Como obtivesse a
autorização do rei, devido à esperança de uma descida significativa no preço do
trigo e vantagens de âmbito nacional, ele próprio, como simples particular e de
posses não comparáveis com a grandeza do empreendimento, tentou realizar a obra
e, com grande trabalho, tinha conseguido forçar uma boa parte do obstáculo.
Escarneceram, contudo, do excelente homem não só aqueles que ainda não
estavam porventura apaziguados de alguma velha inimizade, como os que mais
facilmente censuram os feitos de valor realizados por outrem do que por si próprios
realizam seja o que for de notável, e junto ao rei o incriminaram como pessoa
meio louca e propuseram que o não ajudasse com a régia generosidade e que até
proibisse aquele projecto insensato. Não há dúvida que aquela queda de água e a
passagem subterrânea perto da cidade de Bragança onde o rio, tragado pela terra e
pelas rochas, mergulha, durante o tempo estival, por cerca de 1000 passos, devem
ser consideradas obra divina, porque recusam aos Espanhóis a possibilidade de se
infiltrarem desde os Vaceus até ao meio de Portugal, como se a segurança de toda
a pátria se apoiasse naquela única rocha 106. Por fim, tendo perdido parte dos seus
bens de família e sentindo que o favor real se afastara por maldade dos seus rivais,
Martim de Figueiredo perdeu a esperança de terminar a obra e desistiu.
[74] Se ignorássemos que o Douro leva ouro, poderíamos ser lembrados por
Sílio,
quando diz: “Destes lados, Pactolo, vencem-te o Tejo e o Douro”107. As suas
terras
foram, contudo, poupadas, por uma útil proibição legal, que já anterior
mente
referimos a propósito do Tejo 108 . Quanto ao nome, chamaram-lhe os
Romanos
unanimemente Douro, mas em Ptolomeu é Dórias, em Díon Dório e
em Estrabão
tanto Dúrio como Dúrias l09.
Houve quem erradamente confundisse Túria com Dúrio, criando um mesmo nome
para ambos, creio que por ignorância das coisas hispânicas, visto o Túria não ser
um rio tão conhecido. Por outro lado, o Túria corre junto a Valência e sobre ele diz
Pompónio no livro segundo: “Recebe as águas de rios pequenos, o Sorobi, o Túria e
o Júcar”110; e Plínio no capítulo terceiro do livro terceiro: “A colónia de Valência dista
do mar 3000 passos. O rio Túria...” 111. Hermolau sustenta com verdade e erudição
que assim, com efeito, se deve ler tanto em Pompónio como em Plínio 112.
Prisciano, nos livros quinto e sexto 113 , cita um passo do livro segundo das
Histórias de Salústio: “Entre as muralhas à esquerda e o Túria que à direita corre,
a pouca distância de Valência”.
Também Gneu Pompeio na epístola ao Senado (que circula apensa aos fragmentos
salustianos 114) diz, segundo o testemunho do velho códice que tenho junto a mim:
“Reconquistei a Gália, os Pirenéus, a Lacetânia, os Indigetes e sustive, é verdade
que com soldados inexperientes e em muito menor número, o primeiro embate de
Sertório vencedor”. E um pouco mais à frente: “Que o acampamento perto de Júcar
foi capturado, que houve uma batalha junto do rio Túria e que o chefe inimigo,
Livro Segundo • Liber Secundus 193
Verum illudentibus optimo uiro, uel qui ex uetere forte simultate nondum illi
erant pacati, uel quibus mos est, facilius aliorum egregios reprehendere conatus,
quam egregium aliquid ex se conari, hominemque tanquam semidelirum apud
Regem criminantibus, neque modo principali munificentia non iuuandum, sed
coepto temerario etiam prohibendum obloquentibus. Cataractam enim illam, et
meatum subterraneum non procul a Brigantia urbe, ubi terrae et rupibus mersus
amnis aestiuo tempore fere per mille passus subterlabitur, diuinum non sine
prouidentia esse opificium, negata Hispanis in mediam Lusitaniam usque ex
Vaccaeis ea illabendi facultate. Quasi uero una illa rupe totius patriae securitas
niteretur, tandem familiari sua re attenuatus, interuersoque aemulorum malignitate
regali fauore, desperata perficiendi spe destitit.
Non bene quidam miscuerunt Turiam cum Durio, idem ambobus nomen
facientes, credo ob Hispanicarum rerum ignorationem, quia Turia non tam
celebris est. Fluit autem Turia iuxta Valentiam, de quo Pomponius libro secundo:
“Saetabin, et Turiam, et Sucronem non magna excipit flumina”. Et Plinius libro
tertio, capite tertio: “Valentia colonia tribus M. pass. a mari remota. Flumen
Turia”. Ita enim legendum, et apud Pomponium et apud Plinium, erudite et
uere contendit Hermolaus.
Pareceu, porém, à maior parte das pessoas que o poeta não olhou suficientemente
à estrutura interna do poema. Porque escolheria, de facto, com tanta solenidade um
rio pequeno, desconhecido aliás, esquecendo o Ebro, o Guadalquivir, o Guadiana, o
Douro e o Minho quando desejava celebrar acontecimento tão importante, e ao Tejo
o associa chamando-lhe “formoso pelas margens com rosas”, epíteto conhecidíssimo
dos rios da Hispânia 118, e lhe atribui a qualidade que é própria do Guadalquivir,
como diz Marcial: “Que nas águas brilhantes tinges de ouro os velos” 119 ? Eis a
razão por que houve quem emendasse a lição do texto e em vez de Túria pusesse
Dúria, como se Claudiano recebesse este nome de Estrabão 120 que, como já disse,
lhe chama Dúrio ou Dúria, o que parece adaptar-se ao sentido. Com efeito, tinha
dito que “Sorriu a Galécia por meio das flores” e assim ligou ao poema o rio que
separa a Galécia da Lusitânia.
Por outro lado, pensa-se que alongou a primeira sílaba do nome porque em
Grego era um ditongo e evidentemente porque ele próprio era Grego. Nós, porém,
argumentamos com Sílio, para quem este nome não designa apenas o rio, mas
também é nome de homens e vem sempre expresso com a primeira sílaba breve 121.
Assim, no canto quinto:
[76]
[…] A qual, sendo ele o vencedor às muralhas de Sagunto,
retirara a Dúrio […] 122.
Dux hostium C. Herennius cum urbe Valentia, et exercitus deleti satis clara
uobis sunt.”
Vbi corrupte legitur “apud flumen Durium”. Turiam enim uocari id flumen,
de quo Pompeius loquitur, ostendit Plutarchus in Sertorio. “Remedia (inquit) in
rebus aduersis, magis claram eius uirtutem faciebant, ueluti in ea pugna quae
apud [75] Sucronem contra Pompeium commissa est, et rursus in ea, quae apud
Turiam aduersus Metellum simul et Pompeium.”
Et adducunt quidam Claudianum in Laudibus Serenae:
Plerisque tamen uisus poeta est non satis oeconomiae prospexisse. Nam cur
fluuium paruum, et alias ignobilem, praetermissis Ibero, Baeti, Ana, Durio, ac
Minio maximae rei, quam efferre gestiebat, tanta pompa seligeret, ac formosum
roseis ripis uocatum Tago copularet, fluminum Hispanorum famae uulgatissimae,
et dotem, quae pecularis Baeti est, ut ait Martialis, “Aurea qui nitidis uellera tingis
aquis”, illi tribueret? Quare lectionem emendarunt, et pro Turia substituerunt
Duria, quasi acceperit Claudianus hoc ex Strabone, qui, ut dixi, Durion et Durian
appellat, uideturque congruere sensui. Nam dixerat “Callaecia risit floribus”,
adnexuitque fluuium qui Callaeciam et Lusitaniam dirimit.
[76]
[...] Quam uictor sub moenibus ille Sagunti
abstulerat Durio [...]
Turia igitur Turia sit, et Durius suo fruatur nomine, ut Latinis placuit. Nam
Graeci, in recensendis Latinis uirorum, fluuiorum, et urbium nominibus, mire
uariant, neque sibimetipsis constant.
DE FLVMINIBVS BRACARORVM
Post Durium, quo Lusitanos a Callaecis separari supra docuimus, per Grauios,
qui Bracari postea dicti sunt, “fluunt – inquit Pomponius – Auo, Celandus,
Naebis, Minius, et cui Obliuionis cognomen est Limia. Non seruauit ordinem
Pomponius, sed satis habuit omneis nominare.
Ordo sic habet: Celandus, Auo, Naebis, Limia, Minius; ita enim a Durio
sequuntur. Est autem Celandus is fluuius, qui ad oppida Laeciam et Matusinos
mare ingreditur, aestu iuuante, etiam nauigiis aptus. Auo, siue Auus, ut Ptolemaeo
placuit, notior est, et nauigiorum capacior.
Naebis is est qui et oppido, et ponti Naebiae (quuius mentionem facit
in Itinerario Antoninus) nomen debit, sed ubi Cadauo iungitur, sub Cadaui
appellatione exit in mare, ad oppidum Fanum.
o exército e os soldados não tivessem querido passar o rio, ele próprio o atravessou
depois de arrebatar o estandarte ao porta-estandarte, assim os persuadindo a passar.
Eis a razão por que Plínio diz que este rio está muito envolvido pela lenda 132.
O MINHO
[78] Segue-se o Minho, que Justino, no último livro 133, mostrou designar-se
assim
por causa do mínio, que nele existe em inúmeros veios. Estrabão deu-lhe
dois
nomes, escrevendo o seguinte: “Depois destes o Bénis. Outros, porém,
chamam-lhe
Minho” 134. Penso eu, no entanto, que há aqui um duplo erro: o primeiro é o da
escrita, admitindo que não se deva ler Bénis, mas Névis; o segundo
é o da situação,
de tal modo que a vizinhança teria levado Estrabão ao erro. Com
efeito, dissemos,
apoiados em Pompónio, que o Neiva é o rio vizinho do Minho
e do Lima e que
desagua no litoral do Fão, misturado com o Cávado. Mas que
cada um pense como
quiser.
De resto, todos estes rios e em primeiro lugar o próprio Minho são abundantes
em peixes apreciados, lampreias, sáveis, trutas, trutas assalmonadas, trutas arco-iris e
salmões. O Lima produz salmões e soilhos, ou seja, asturjões, mas bastante pequenos.
O Minho, por seu lado, tem-nos notáveis, de tamanho enorme e muito bons. Todos
estes rios, de que até agora falei, foram conhecidos dos antigos cosmógrafos.
DE MINIO
[78] Sequitur Minius, quem Iustinus libro ultimo a minii frequentibus uenis
sic uocatum prodidit. Strabo duo illi nomina tribuit, ita scribens: “Post hos
Baenis. Alii autem Minium uocant”. Verum ego duplicem errorem inesse coniicio.
Alterum scripturae, ut non Baenis, sed Naeuis legendum sit. Alterum situs, ut
uicinitas Strabonem fefellerit. Nam diximus ex Pomponio Naebis fluuium esse
Minio Limiaeque uicinum, qui mixtus Cadauo in Fanuensi litore erumpit. Verum
qui uelit suo fruatur iudicio.
Sunt alii, et perquam multi neque ignobiles. Qui quoniam in maiores influunt,
nec suo alueo in mare egrediuntur, Geographiae scriptoribus, aut ignorati sunt,
aut suppressi. Horum aliquot, dignos qui in notitiam ueniant hominum nostrorum,
referam. Nominibus ubi licuerit priscis ac Latinis, ubi minus, iis, quibus modo
appellantur, quam maxime potero, barbarie, siqua inerit mitigata.
A FERTILIDADE DA LUSITÂNIA
Considero que é inútil dissertar aqui sobre o estado actual desta província, seu
admirável clima e abundância e produtividade em frutos de toda a espécie. Por outro
lado, seria longo repetir o que, desde a antiguidade, os escritores transmitiram, nas
suas diferentes obras, sobre este tema 147.
Invocarei apenas um único testemunho, o de Ateneu, pelo qual facilmente
se poderá verificar que a região que tratamos sempre foi considerada como mui
fecunda, fértil e privilegiada.
Escreveu Ateneu no capítulo primeiro do livro terceiro do Jantar dos Sofistas:
“Políbio de Megalópolis, ó Timócrates, meu querido amigo, escreve no livro trigésimo
quarto das Histórias, no passo em que afirma a fertilidade da Lusitânia, região da
Ibéria que os Romanos designam por Hispânia, que ali, graças à óptima temperatura
do ambiente, os animais e as gentes são fecundos e que jamais faltam produtos da
Livro Segundo • Liber Secundus 201
Anci nomen, ex uita Sancti Martini Sauriensis presbyteri, abhinc annos supra
quadrigentos quinquaginta scripta, accepi. De quo, quum de Tapiaeo monte
agerem, superius memini.
Non tacendus est Subur, de quo a Ioanne Barrho uiro nobili et inter negotia
litterato interrogatus respondi uetus me nomen ignorare. Sed quum Lusitane
Soor dicatur, o littera obscure sono inter o et u prolata, ausus ego sum Subur
formare, interposita b, ad similitudinem duorum eodem nomine uocatorum,
alterius quidem in Africa, alterius uero in citeriore Hispania.
Noster itaque Subur postea Raiae iunctus, Suburraiae nomen accepit, quod
perfert, donec exit in Tagum, ubi alosarum mercatura [80] nobis Transtaganis
factus celebris.
Seilia nomen priscum sortitus est, ab oppido quod praeterfluit dicionis
Vrbanensis coenobii. Ingrediturque Mundam, iisdem quibus Munda piscibus
abundans.
DE FERTILITATE LVSITANIAE
terra naquela região: com efeito, as rosas, as violetas brancas, os espargos e produtos
similares aparecem [81] em espaço não superior a três meses.
Por outro lado, o pescado, no que diz respeito à quantidade, boa qualidade e
beleza, difere muitíssimo do que existe no Mediterrâneo.
Em verdade também, o siglo de cevada, que contém um medimno, vende-se por
um dracma, por nove óbulos alexandrinos se for de trigo; uma metreta de vinho
custa um dracma; um cabrito pequeno, um óbulo, tal como a lebre. Mas era costume
o preço do borrego ser de três ou quatro óbulos.
Um porco que se aproximasse em peso das cem libras é comprado para os
jantares por cinco dracmas e a ovelha por dois; um talento de figos compra-se por
três óbulos.
Um bezerro custa cinco dracmas, um boi apto a receber a canga, dez; quanto
à carne de caça, consideram-na, na verdade, sem valor, mas trocam-na entre eles,
quer por amabilidade oferecendo-a, quer simplesmente negociando-a” 148.
Na verdade, o bom Larêncio149 providencia para que Roma esteja presente, como
se fosse a Lusitânia, e todos os dias nos cumula de diferentes bens, forcejando por
mostrar que tudo se realiza com facilidade e grandeza, mesmo quando para casa
nada mais trazemos senão palavras.
Livro Segundo • Liber Secundus 203
sunt fecunda atque homines; nec unquam fructus desunt in ea regione: rosae
enim, albaeque uiolae, asparagi, resque huiusmodi non desunt per maius [81]
temporis spatium, quam trium mensium.
At marinum obsonium, quod ad multitudinem, bonitatem, pulchritudinemque
spectat, maxime differt ab eo quod est in nostro mari.
Nam et hordei siclus, qui medimnum continet, drachma uenundatur, et tritici
nouem Alexandrinis obolis; uini metreta drachma; haedus mediocris obulo, sic
et lepus; at agnus trium, uel quattuor obolorum pretium esse consueuit.
Sus qui ad centum librarum pondus accedat quinque drachmis in cenas
emitur, ouisque duabus; ac ficuum talentum tribus obolis emitur.
Vitulus drachmis quinque, bos iugo aptus, decem; siluestrium uero animalium
carnes neque pretio quidem ullo dignae putantur, sed has inter se conferunt,
benigneque admodum uicissim largiuntur ac mutant.”
Nobis uero bonus Larensius Romam Lusitania adesse facit, quotidieque uariis
implet bonis, ut cum suauitate magnificentiaque omnia conficiantur, studet, cum
nihil domo afferamus, praeter sermones.
(Página deixada propositadamente em branco)
LIVRO TERCEIRO
LIBER TERTIVS
206 As Antiguidades da Lusitânia
[82]
Não me será fácil dizer a quem terá estado sujeita a Lusitânia antes dos Cartagineses
e dos Romanos, a menos talvez que acreditemos na existência do régulo Luscínio,
sobre o qual, assim como sobre Cuíca, diz Lívio no livro terceiro da quarta Década:
“Enquanto era esta a situação na Ásia, Grécia e Macedónia, apenas terminada a
guerra e ainda não inteiramente concluída a paz, uma enorme guerra rebentou na
Hispânia Ulterior, e Marco Hélvio, que obteve esta província, informou, por carta, o
Senado, de que os régulos Cuíca e Luscínio tinham pegado em armas. Culca tinha
a seu lado dezassete ópidos, e Luscínio as poderosas cidades de Cardo e Bardo,
além da orla marítima que até aí não mostrara a intenção de se associar à rebelião
dos vizinhos” 1.
Tudo isto é excessivamente obscuro e na verdade as fábulas aborrecem. Eis porque
deixo o catálogo dos reis, quer o que se tira do Pseudoberoso quer o imaginado
por Ânio de Viterbo ou pelos historiadores da Hispânia em épocas [83] recuadas 2,
para aqueles a quem muito agradam esses inventores da guerra.
Penso eu que sempre existiram por toda a Hispânia, em diversos locais, muitos
reis, ou melhor, régulos, tais como Gargor, Hábis, Argantónio e Gérion 3, apesar de
o historiador Hecateu, segundo Arriano no livro segundo 4, ter contado que Gérion
de modo algum pertencia à Ibéria, mas sim a Ambrácia e aos Anfílocos, e o próprio
Arriano diz que não havia Hispano algum que soubesse ter existido entre os seus
reis algum com esse nome. Deve não obstante ter existido, visto que muitos outros
autores o referem e que não devemos desautorizar a tradição transmitida 5.
Existiu também Téron, o qual Macróbio recordou no livro primeiro dos Saturnais 6
e, segundo Lívio na terceira década, do mesmo modo Mandónio e Indíbil, também
celebrados por Sílio: Mandónio, por exemplo, no canto terceiro, no catálogo dos
Hispanos que seguiram o partido de Aníbal 7, e Indíbil, no canto décimo sexto:
[82] Quibus subdita fuerit Lusitania ante Carthaginienses atque Romanos haud
facile dixerim, nisi forte Luscinio regulo putemus, de quo et Culca, Liuius libro
tertio decadis quartae: “Quum is status rerum in Asia Graeciaque, et Macedonia
esset, uixdum terminato cum Philippo bello, pace certe nondum perpetrata,
ingens in Hispania Vlteriore coortum est bellum. Marcus Heluius eam prouinciam
obtinebat. Is litteris senatum certiorem fecit Culcam et Luscinium regulos in
armis esse. Cum Culca decem et septem oppida, cum Liscinio ualidas urbeis
Cardonem et Bardonem, et maritimam oram, quae nondum animos nudauerat,
ad finitimorum motus consurrecturam.”
Obscura nimis haec sunt, taedet enim fabularum. Quare catalogum regum uel
ex ficto Beroso, uel ab Annio Viterbiensi, uel a superioris aetatis Hispanicarum
rerum scriptoribus excogitatum, illis relinquo, [83] quibus belli isti concinnatores
ualde placebunt.
Ego multos per totam Hispaniam diuersis in locis reges, aut potius regulos
semper fuisse existimo. Quales fuere Gargoris, Habides, Argantonius et Geriones.
Etsi Hecataeus historicus, ut est apud Arrianum libro secundo, Gerionem nihil
ad Iberiam pertinere tradiderit, sed potius ad Ambraciam, et Amphilocos,
ipseque Arrianus neminem extare Hispanum dicit qui id nomen sciret regibus
suis fuisse.
Veruntamen fuerit, quum multi alii id tradant auctores, neque receptae
antiquitati derogemus. Fuit quoque Theron, quuius in primo Saturnaliorum
meminit Macrobius. Mandonius item et Indibilis apud Liuium decade tertia, quos
etiam celebrat Silius. Mandonium quidem libro tertio, in catalogo Hispanorum,
qui Annibalis sequuti sunt parteis. Indibilem autem libro decimo sexto:
Indibilisque diu laetus bellare Latinis
Iam socius.
Hunc, nisi ego fallor, Polybius libro tertio Andobalem uocat, de Cn. Corn.
Scipione loquens, cum inquit: “Viuos autem cepit Annonem Carthaginiensium
ducem, et Andobalem Iberorum.”
Plutarchus etiam in Scipione, non hos duos solum, uerum et Corbin, et
Orsuam inuicem patrueleis, de regno inter se narrat dissidenteis.
208 As Antiguidades da Lusitânia
Ainda Hilermo, capturado por Marco Fúlvio Nobílior num combate junto a
Toledo, de quem fala Lívio no livro quinto da quarta década 11, [84] e, finalmente,
Turro, de longe o mais poderoso de todos os Hispanos, no dizer de Lívio no livro
décimo da quarta década 12.
Existiram também muitíssimos outros, mas querer enumerá-los por ordem de
sucessão parece-me imoderado desejo de mentir. Como a maior parte, que se encontra
aqui e além nalguns escritores, se dissolve na mais remota antiguidade, de modo
algum se integra no meu objectivo específico sobre a Lusitânia.
A Hispânia, para não falarmos de Gregos, Iberos, Persas e Celtas à procura de
novas terras, de Fenícios e dos próprios Tírios atraídos pela fama das suas riquezas,
esteve exposta à degradação dos Romanos e Púnicos, consoante eram estes ou
aqueles pelas armas os mais fortes, antes do conflito entre os dois povos, motivado
pelo império que se expandia.
A Lusitânia, sabe-se por Lívio 13, esteve com a restante Hispânia sob o domínio
dos Cartagineses por altura do começo da segunda guerra Púnica. Com efeito,
depois que os Púnicos foram destroçados pelos Romanos na guerra e devido às
circunstâncias adversas abandonaram a Sicília, logo que se recompôs a situação
em África invadiram a Hispânia. Amílcar, a quem foi dado o cognome de Barca, foi
enviado com o exército juntamente com Aníbal, seu filho, de quase nove anos de
idade e com Asdrúbal seu companheiro no comando e genro.
Amílcar recuperou, portanto, grande parte da península outrora perdida na
guerra, conservando cerca de nove anos o comando da Hispânia. Morreu finalmente
na guerra contra os Vetões (assim de facto se deve ler no Aníbal14 de Plutarco)
combatendo corajosamente junto de Castro Alto, nome que Lívio dá ao local da sua
morte, no livro quarto da terceira década 15.
Depois de Amílcar ter sido morto e de Aníbal regressar a casa, sucedeu-lhe
Asdrúbal, [85] que, segundo os testemunhos de Políbio 16 , Mela 17 e Estrabão 18 ,
fundou Cartago-a-Nova. Sílio Itálico, porém, no canto terceiro, atribuiu-a a Teucro,
como seu fundador:
E não julgamos que isto foi dito acerca da outra velha Cartago na Hispânia, que
Ptolomeu mal recordou e também nós dela já falámos, quando tratámos do nome do
Tejo 20. O mesmo Sílio descreve à perfeição, nestes versos do canto décimo quinto,
a localização e o porto:
Quae autem heic Silius canit, explicat copiose Liuius libro sexto tertiae
decadis.
Iustinus Teucrum aedificasse non dicit, sed Hispaniae litoribus appulsum,
loca occupasse, ubi nunc Noua Carthago est, inde in Callaeciam trasiisse. Fieri
tamen potuit ut aliquid ibi manserit aedificii parum frequentis, et sine nomine,
a Teucro usque relictum. Carthaginis enim ipsum nomen, utramlibet in Hispania
intelligas, Teucer ponere non potuit, quum nondum ulla extaret Carthago ad
quuius exemplum id nomen sumeret.
Siue enim originem Carthaginis ex Iustino petas, non parum multos post
Troiam captam interfluxisse annos intelliges, siue ab Aurelio [86] Cassiodoro,
qui conditam dicit a Tyriis, quod fatentur omnes, sed duce eorum Carchedone,
regnante apud Italos Latino Siluio, a capta Troia anni colligentur ultra centum
triginta quinque.
[87] Iam, cum a capta Troia usque ad conditam Romam anni fuerint
quadrigenti triginta tres, ut Solinus asserit libro primo capite secundo, si ex iis
demas septuaginta duos quibus Iustinus Carthaginem ait Romam antecessisse,
212 As Antiguidades da Lusitânia
Cartago precedeu Roma, não se concluirá que a origem de Cartago data do ano
tricentésimo sexagésimo segundo a contar da destruição de Tróia?
Não existia, pois, nenhuma Cartago quando Teucro abordou os litorais da
Hispânia, pouco depois da queda de Tróia, não se podendo, por conseguinte,
dar a este local o nome de Cartago, a não ser que alguém nos prove que Teucro
imaginou tal nome por outra qualquer razão particular. Não penso, todavia, que
tal possa ser provado.
Asdrúbal, porém, elevou à categoria de cidade e fortificou uma aldeia que, devido
ao favorável condicionalismo da sua situação, talvez se tivesse desenvolvido mais
rapidamente, e depois de a ter feito chamar Cartago para imitar a sua cidade natal
fê-la povoar por grande número de habitantes púnicos, para que, com razão, fosse
considerado como fundador da cidade.
O mesmo Asdrúbal, portanto, conseguindo conciliar pela amizade os ânimos
dos régulos e príncipes, mais pelo bom senso do que pela força, aumentou
significativamente a supremacia púnica. Foi um chefe de notável habilidade e tão
receado pelos Romanos que, tendo-lhes estes enviado embaixadores, concluíram
um tratado pelo qual, entre outras coisas, se estipulava, conforme referiu Políbio
no livro segundo 34 e Lívio no início da terceira década35, que não fosse permitido
aos Cartagineses atravessar armados o rio Ebro mas que pudessem passar por onde
quisessem nas restantes partes da Hispânia, desde que se mantivessem afastados
de Sagunto.
Sob o comando de Asdrúbal serviu Aníbal, apenas adolescente, durante três anos
até que foi chamado por carta de Cartago. Mas quando Asdrúbal foi assassinado pelo
tal escravo, cujo ódio era motivado por ele ter assassinado o seu amo, tal como ao
de leve referimos anteriormente [88] quando falámos do nome do rio Tejo, Aníbal
foi proclamado chefe pelo exército.
Reuniu ele, sob as suas ordens, não apenas aquela parte da Hispânia que está
mais perto de África, mas ainda a Lusitânia. Testemunham que esteve na Lusitânia
tanto o ópido de Porto Aníbal, no cabo de S. Vicente, assim denominado por sua
causa segundo Mela 36, quanto as palavras que Lívio lhe atribui no livro primeiro da
terceira década: “Já vistes suficientemente que até aqui nenhum proveito tirastes de
todos os trabalhos e perigos de seguirdes o gado pelos vastos montes da Lusitânia
e da Celtibéria” 37.
Do mesmo modo, quando já a guerra tinha começado na terra e no mar, os
Lusitanos combateram a favor de Aníbal, conforme mostra Lívio com as seguintes
palavras do livro primeiro da terceira década: “Foram nomeados cônsules Gneu
Servílio e Gaio Flamínio. De resto, nem mesmo o acampamento de Inverno era calmo
para os Romanos, com cavaleiros númidas vagueando aqui e além e por causa dos
Celtiberos e Lusitanos, o que para eles era bastante embaraçoso 38.
Também Asdrúbal, irmão de Aníbal, a quem tinha sido entregue a defesa da
Hispânia, “se retirou para a Lusitânia, para muito perto do oceano Atlântico”, como
diz Lívio no livro citado 39.
Livro Terceiro • Liber Tertius 213
Sub hoc imperatore Annibal uixdum puber, triennio meruit, litteris accersitus
Carthagine. Sed obtruncato Asdrubale a seruo quodam ob iram interfecti ab eo
domini, sicut superius attigimus, [88] quum de Tagi nomine ageremus, dux ab
exercitu Annibal est declaratus.
Is non modo eam Hispaniae partem, quae propius Africam est, sed etiam
Lusitaniam suo iunxit imperio. Fuisseque eum in Lusitania testatur uel oppidum
ab ipso dictum, portus Annibalis in promontorio Sacro apud Melam, uel illius
uerba quae refert Liuius primo tertiae decadis libro: “Satis adhuc in uastis
Lusitaniae Celtiberiaeque montibus pecora consectando, nullum emolumentum
tot laborum periculorumque uestrorum uidistis.”
Coepto quoque iam terra marique bello militasse pro Annibale Lusitanos,
ostendit Liuius decadis tertiae libro primo his uerbis: “Creati consules Cn.
Seruilius et C. Flaminius. Ceterum ne hiberna quidem Romanis quieta erant,
uagantibus passim Numidis equitibus, et quae his impeditiora erant Celtiberis
Lusitanisque.”
Quin Asdrubal Annibalis frater, cui relicta erat custodienda Hispania, ut eodem
libro inquit Liuius, “in Lusitaniam ac propius Oceanum concessit.”
214 As Antiguidades da Lusitânia
Pouco depois, tendo-se reunido ao irmão que fazia a guerra na Itália, ficaram
a dirigir os interesses púnicos na Hispânia dois outros Asdrúbais, com Mago e
Masanissa, e parece que a um dos dois, o filho de Gisgo, coube a mais recuada
orla da Hispânia, aquela que se inclina para o Atlântico e para Gades, ou seja, os
Transtaganos e Turdetanos lusitanos, e que a Mago, por seu lado, couberam os
restantes.
Quando ambos partiram dali e levaram já tarde ajuda ao outro Asdrúbal, depois
de este ter travado combate contra Cipião junto à cidade de Bécula, resolveram de
comum acordo que Asdrúbal fosse com o exército ao encontro de Aníbal na Itália
e que as baixas [89] se preenchessem com soldados hispânicos.
Mago, depois de entregar a Asdrúbal, filho de Gisgo, o contingente militar que
comandava, partiu com grande soma de dinheiro para recrutar tropas auxiliares
das Baleares.
Quanto a Asdrúbal, filho de Gisgo, embrenhou-se com o exército no interior da
Lusitânia, levando os soldados hispânicos para a parte mais recuada da Hispânia,
com o objectivo de evitar que eles se passassem para os Romanos. Isto, segundo
Lívio, no livro sétimo da terceira década e no início do oitavo 40.
E mais adiante: “Os Cartagineses vencidos num combate em que perderam o chefe
foram empurrados para o mais afastado litoral hispânico até junto do Atlântico 41.
Não apenas deduzimos por Lívio que os Lusitanos seguiram Aníbal até à Itália,
como o facto é ainda confirmado por Sílio no canto terceiro, quando apresenta o
catálogo dos povos que o Púnico reuniu para a guerra na Itália:
Também no canto décimo diz que Gneu Servílio foi morto naquela memorável
batalha de Canas por Viriato, chefe dos Lusitanos, e o próprio Viriato pelo cônsul
Paulo Emílio:
[91] E para que ninguém fique perturbado pela narrativa de Sílio sobre Viriato,
advirta-se que este foi um Viriato, mas que houve um outro, o grande e célebre, e
que foi ele, que com os Lusitanos combateu durante anos contra os Romanos.
Com efeito, este é apresentado pelo poeta como régulo, aqueloutro, conforme
contam todos os que escreveram a seu respeito, foi um ladrão, primeiramente pastor
e caçador, e depois chefe de exército. O primeiro foi abatido pelo cônsul Paulo na
batalha de Canas, o outro morreu devido ao ardil e traição de Servílio Cépio. Por
outro lado, entre a morte de um e o início das guerras do segundo decorreram cerca
de 70 anos, ou seja, desde 540 a contar da fundação de Roma até ao ano 607 45.
E se alguém insistir novamente sobre a razão por que Sílio afirma que o nome
se tornou rapidamente conhecido por causa dos reveses dos Romanos, responderei
que este nome não deve ser atribuído ao primeiro Viriato, embora também a ele,
que não só junto a Trasimeno como em Canas se distinguira, mas de preferência
ao Viriato que veio depois, ao maior dos chefes. E, por isso, o poeta não disse que
o chefe se tornou conhecido, mas sim que o próprio nome de Viriato, até então
desconhecido, rapidamente, isto é, poucos anos depois, se tornou conhecido pelos
reveses dos Romanos.
Quem tenha pensado que contemporaneamente existiram tantos Aníbais, e
Asdrúbais em maior número ainda, não se admirará na verdade de que dois chefes
lusitanos tenham tido o mesmo nome em épocas diferentes. Até porque o nome
Livro Terceiro • Liber Tertius 217
[91] Et nequem turbet haec Silii de Viriato narratio, aduertat alterum fuisse
Viriatum hunc, alterum magnum illum qui cum Lusitanis aduersus Romanos,
annos quattuordecim pugnauit.
Nam hic regulus a poeta perhibetur, ille alter ex pastore ac uenatore latro,
et inde dux exercitus ab omnibus qui de eo scripsere fuisse narratur. Hic a
Paulo consule in Cannensi pugna occisus est, ille alter Seruilii Caepionis dolo
atque insidiis periit. At inter mortem unius, atque initium bellorum alterius
fluxerunt anni circiter septuaginta, uidelicet ab anno conditae urbis DXL ad
annum DCVII.
Iterum si quis urgeat, quonam modo Silius Viriati nomen mox factum nobile
Romanorum damnis asserat? Respondebo non referendum hoc ad priorem Viriatum,
quanquam et ad hunc qui et ad Trasymenum et ad Cannas, Romanorum damnis
inclaruerat, sed potius ad posteriorem Viriatum ducem maximum.
Ideoque poeta non dixit ducem factum nobilem, sed ipsum nomen Viriatum,
ignotum prius, mox, idest post paucos annos, Romanorum damnis factum
nobile.
de Viriato, criado sem dúvida devido à imponência da força física, pôde por esta
mesma razão ser atribuído a um e a outro pelos seus compatriotas 46.
Essa a razão por que Lucílio, como se lê em Nónio Marcelo, tenha chamado
Viriato a Aníbal 47.
Terminada a guerra púnica e expulsos da Hispânia os Cartagineses por Públio
Cornélio Cipião, como as províncias ainda não estivessem completamente pacificadas,
os Romanos desgastaram-nas com guerras sucessivas, em que umas vezes eram
vencidos, sobretudo por terem sido mortos, no espaço de um mês, os dois irmãos
Públio e Cornélio Cipião, mas mais frequentemente vencedores.
[92] No que diz respeito aos Lusitanos, a acreditarmos em Políbio citado por
Plutarco 48 , parece que Marco Pórcio Catão, o que foi denominado Censor, se
transferiu da Hispânia Citerior, que lhe coubera, para a Ulterior. Em todo o caso,
manteve os Lusitanos em obediência não sei se pelo medo se por meio de regalias.
Encontrei dois fragmentos de mármore com inscrições a seu respeito, mas nada de
certo pude decifrar. Um está em Lisboa, nos degraus do palácio que se encontra
no ponto mais alto do castelo, e diz:
M. PORTIVS. M. F. M. N. CATO
O outro está na região de Sintra, numa aldeia de que falaremos noutra altura,
que tem o nome de Fão, e é a parte superior de um cipo quebrado. E diz:
M. PORCIO. M. F. CATONI
OB SINGVL EI
Isto é: A Marco Pórcio Catão, filho de Catão, pela sua singular... 50.
M. PORTIVS. M. F. M. N. CATO
Alterum in agro Sintriensi, in uico cui nomen est Fanum de quo alias, et est
cippi fracti superior pars.
M. PORCIO. M. F. CATONI
OB SINGVL EI
Ora foi este mesmo que, já propretor, travou contra os Lusitanos o violentíssimo
combate de que falámos anteriormente ao dissertarmos sobre o carácter do povo
Lusitano 52.
No consulado de Lúcio Cornélio Cipião, mais tarde chamado Asiático, e de Gaio
Lélio Nepos, por volta do ano 564 da fundação de Roma, os Lusitanos derrotaram o
propretor Lúcio Emílio Paulo com todo o exército numa batalha em que, segundo
Orósio 53, teria morrido o próprio Emílio, a quem chama procônsul. Não sei em que
autor se fundamentou. A verdade é que não morreu, porque, depois desta batalha,
de novo em combate regular, infligiu aos Lusitanos enormes perdas e dirigiu mais
tarde a guerra da Macedónia com grande glória, como o próprio Orósio reconhece
no mesmo capítulo, a não ser que tenha pensado tratar-se de outro. Sabe-se, no
entanto, por Lívio que foi o mesmo 54.
Quanto ao facto de Orósio lhe chamar procônsul, a razão é talvez a seguinte:
foi enviado para a Hispânia, província que lhe coube por decreto, não apenas
com os seis lictores à maneira dos outros pretores, mas com doze, em sinal de
consideração, para que assim o seu comando tivesse a dignidade consular, segundo
conta Plutarco 55 na biografia que sobre ele escreveu.
[94] Mas mais vale ouvir o que diz Lívio no livro sétimo da quarta década:
“Diminuiu a alegria do seu triunfo” – ou seja, o de Marco Acílio Glabrião sobre
os
Etólios – “a triste notícia vinda da Hispânia de que em combate desfavorável
contra
os Lusitanos e sob o comando do propretor Lúcio Emílio, junto ao ópido
de Lico,
no território dos Vascetanos, tinham morrido seis mil homens do exér
cito romano
e que os restantes, amedrontados, foram compelidos para dentro das paliçadas,
onde defenderam a custo o acampamento, e afastados como fugitivos e em marchas
forçadas para território pacificado” 56.
Quando João Vaseu, homem sabedor e escrupuloso, compunha a Crónica de
Espanha 57, perguntou-me um dia quem pensava eu que fossem na realidade os
Vascetanos, em cujo território os Lusitanos tinham alcançado tão brilhante vitória;
respondi que a lição me parecia algo deturpada, com troca de letras, e que se
devia ler “entre os Bastetanos”. Com efeito, alguns costumavam pronunciar o -b-
com o mesmo som que -v- consonântico, como ainda a maior parte dos Gregos e
Hispânicos; quanto ao -t- escrito com letra minúscula (que agora estamos a usar),
pôde facilmente ser mudado em -c-. É que não conheço nenhuns Fascetanos na
Hispânia Ulterior e muito menos na Citerior.
Encontrei em Plínio58 e em Ptolomeu59 o ópido de Vesco na Bética, cognominada
Favência, donde poderia derivar Vescetanos, se no contexto se falasse de habitantes
de uma cidadela e não de povos. Ora Lívio pensava em povos, quando disse “entre
os Vascetanos, junto ao ópido de Lico”. Se este ópido ainda existisse ou pelo menos
traços do nome, seria trabalho fácil conhecer a verdadeira lição. Entretanto parece-
me bem que se substitua Vascetanos por Bastetanos.
Mas, para voltarmos a Lívio, diz ele, perto do fim do mesmo livro, ao falar de
Públio Júnio [95] Bruto, que foi enviado para a Hispânia Ulterior no consulado de
Livro Terceiro • Liber Tertius 221
Non enim interiit, quum post hanc pugnam, iterum collatis signis, ingenti
clade Lusitanos affecerit, et postea bellum Macedonicum cum magna gloria
gesserit, ut idem Orosius fatetur eodem capite, nisi alium existimauerit; constat
autem ex Liuio eundem fuisse.
Nam quod Orosius illum proconsulem uocat, id forte est quoniam in Hispaniam
sibi decretam prouinciam, non cum sex tantum securibus, aliorum praetorum
more, sed cum duodecim honoris causa missus est, ita ut dignitas consularis in
imperio eius inesset, ut in ipsius uita narrat Plutarchus.
[94] Sed praestat Liuium audire libro septimo quartae decadis: “Huius
triumphi” – uidelicet M. Acilii Glabrionis de Aetolis – “minuit laetitiam, nuntius
ex Hispania tristis, aduersa pugna in Vascetanis ductu L. Aemilii propraetoris
apud oppidum Lyconem, cum Lusitanis, sex milia de exercitu Romano cecidisse,
ceteros pauentes intra uallum compulsos aegre castra defendisse, et admodum
fugientium magnis itineribus in agrum pacatum reductos.”
Gneu Mânlio Vulso, filho de Gneu, e de Marco Fúlvio Nobílior, filho de Marco, por
volta do ano 565 da fundação de Roma, diz: “E partiu para a Hispânia o propretor
Públio Júnio. Nesta província, um pouco antes de o seu sucessor chegar, Lúcio
Emílio Paulo, que mais tarde venceu o rei Perseu com grande glória, como no ano
anterior não fosse bem sucedido, recrutou à pressa um exército e, em combate
regular, lutou contra os Lusitanos.
Os inimigos foram derrotados e postos em fuga. Dos que levavam armas foram
mortos 18.000, aprisionados 3.300, e os acampamentos foram tomados. A notícia
desta vitória tornou mais tranquila a situação na Hispânia” 60.
Concluem alguns das palavras de Veleio Patérculo, no livro primeiro, que Lúcio
Emílio Paulo obteve o triunfo por causa desta vitória sobre os Lusitanos: “Então o
Senado e o povo romano escolheram como cônsul Lúcio Emílio Paulo, que já tinha
obtido o triunfo como pretor e cônsul, homem digno de tanto louvor quanto o valor
se lhe pode atribuir e que era filho do cônsul Paulo que, em Canas, etc” 61.
Mas Lívio, depois de narrar esta vitória sobre os Lusitanos, diz: “Em seguida, por
deliberação do Senado, foram dadas acções de graças porque Lúcio Emílio tinha
sido bem sucedido na Hispânia”62. Nem ele, nem Plutarco, extremamente propenso
a elogiar este homem, nem ainda as Tábuas Capitolinas de Marco Vérrio Flaco
mencionam o triunfo 63.
Onofre de Verona 64, porém, no comentário aos heróis que obtiveram o triunfo,
parece concluir, e não sem fundamento, das palavras que há pouco citei de Patérculo,
de certo pedestal do Capitólio e de algumas moedas, que Lúcio Emílio triunfou.
“A notícia desta vitória” – diz Lívio – “tornou mais tranquila a situação na
Hispânia”65. Mas não por muito tempo. Com efeito, quando exerciam os seus cargos
nas Hispânias, Gaio Catínio e Lúcio Mânlio, por volta do ano 568 da fundação de
Roma, os Celtiberos na província Citerior e os Lusitanos na Ulterior submetiam pelas
armas [96] os aliados dos Romanos e devastavam os seus campos. Eram nessa altura
cônsules Espúrio Postúmio Albino e Quinto Márcio Filipo.
Por isso, Gaio Catínio, que no biénio anterior tinha partido como pretor para a
província da Ulterior e que, devido a ter sido prorrogado o seu comando, a obtinha
agora como propretor, lutou em combate regular contra os Lusitanos na região de
Asta. “Foram mortos cerca de 6.000 inimigos”, como refere Lívio no livro nono da
quarta década, “e os restantes foram derrotados, postos em fuga e arrancados do
acampamento” 66.
Depois disto Catínio dirigiu as legiões para o ataque a Asta, que tomou depois
de uma batalha não muito maior que a travada contra o acampamento, mas foi
ferido quando, sem tomar precauções, subia as muralhas, e morreu do ferimento
poucos dias mais tarde. Ao saber disto, o Senado ordenou a Gaio Calpúrnio Pisão,
que o ia substituir, que se apressasse a partir para que a província não estivesse
sem comando.
Tomou Gaio Calpúrnio Pisão o caminho da Hispânia Ulterior, por causa da
sublevação dos Lusitanos, e Lúcio Quíncio Crispino o da Citerior, e na Primavera
Livro Terceiro • Liber Tertius 223
C. ergo Catinius, qui cum1 biennio ante praetor in ulteriorem prouinciam esset
profectus, et tum ex prorogato imperio eam pro praetore obtineret, in Astensi
agro cum Lusitanis signis collatis pugnauit. “Ad sex millia hostium sunt caesa”, ut
refert Liuius libro nono quartae decadis. “Ceteri fusi, fugati, castrisque exuti.”
Catinius inde ad Astam oppugnandam legiones duxit, eamque haud multo
maiore certamine cepit, quam castra, sed dum incautius subit muros, ictus ex
uulnere paucos post dies mortuus est. Qua re cognita Senatus censuit, ut C.
Calpurnius Piso, qui erat successurus, maturaret proficisci, ne sine imperio
prouincia esset.
Verum postea expendens Liuii paulo superius uerba, ubi sic scribit: “Eodem
anno in Hispania. L. Posthumius et Tib. Sempronius propr. conparauerunt ita inter
se, ut in Vaccaeos per Lusitaniam iret Albinus, inde in Celtiberiam reuerteretur;
Gracchus, quod maius ibi bellum esset, in ultima Celtiberiae penetrauit.” Non
audeo quidquam immutare.
[100] Videtur enim Liuius finem consilii, quo inter propraetores conuenerat,
posuisse, nempe, ut in Vaccaeos per Lusitaniam iret Albinus, sicut et Tib. ipse
Gracchus Mundam Vlterioris prouinciae urbem oppugnauit ac cepit. Ita enim e
rep. fore uterque existimauit.
Gracchus praetor ibidem iterum ducenta oppida expugnauit, et cepit. Ibidem,
hoc est, in Citeriore Hispania, iterum, quia iam ibi centum quinque ad deditionem
coegerat. Ergo in citeriore, non in Vlteriore prius legendum.
228 As Antiguidades da Lusitânia
Quonam igitur modo in Vlteriore Hispania gesta res fuisset narratur? Videlicet
quia propraetor Vlterioris erat Albinus, et finitimi Lusitanis Asturibusque Vaccaei,
uti superiore libro, quum terminos Lusitaniae definiebamus, ex Strabone
ostendimus, etiam si eas pugnas idem extra Lusitaniam Albinus pugnauerit.
Nisi et illic emendandus Liuii codex sit, ut legatur “in Bracaros per Lusitaniam
iret Albinus”. Nam si cum Vaccaeis, et non cum Bracaris, hoc est cum Lusitanis ea
pugnae fuissent, quo iure Posthumio Albino de Lusitanis decretus est triumphus,
non autem de Vaccaeis?
Verba Liuii haec sunt decadis quintae lib. primo: “Triumphi ex Hispania
deinde duo continuo acti. Prior Sempronius Gracchus de Celtiberis, sociisque
eorum; postero die L. Posthumius de Lusitanis aliisque eiusdem regionis Hispanis,
triumphauit.” Docti examinent.
Por esta mesma altura, no consulado de Lúcio Licínio Luculo e de Aulo Postúmio
Albino, como a guerra hispânica não fosse por vezes bem sucedida e de tal modo
[102] tivesse desconcertado os cidadãos romanos que não se encontrava quem
aceitasse o tribunado nem legados que quisessem partir, Públio Cornélio Cipião
Emiliano, filho de Lúcio Paulo, neto do Africano, mas adoptivo, e também ele próprio
mais tarde chamado Africano, adiantou-se e declarou que aceitaria qualquer espécie
de campanha desde que lho ordenassem. E com este exemplo suscitou em todos
o desejo de combater 91.
“Sob os mesmos cônsules combateu sem sucesso o pretor Sérvio Sulpício Galba
contra os Lusitanos” 92, diz o abreviador de Lívio. Parece ser aqui o sítio indicado
para repetir com pormenor e com base no capítulo trigésimo primeiro do livro
quarto de Orósio este assunto que já aflorámos num livro anterior 93 . “O pretor
Sérgio Galba, porém, foi vencido pelos Lusitanos numa grande batalha, em que
perdeu todo o exército e da qual ele próprio fugiu, escapando-se a custo com alguns
companheiros”94. Como Galba estivesse resolvido a vingar-se mais tarde desta afronta,
cometeu o crime desumano e mais do que bárbaro, que Orósio conta da maneira que
se segue: “Como o pretor Sérgio Galba, então na Hispânia, tivesse aceite em rendição
voluntária os Lusitanos que vivem junto ao rio Tejo, massacrou-os criminosamente.
Na verdade, fingindo que ia agir no interesse deles, mandou-os cercar por soldados
e apanhando-os todos juntos, sem armas e descuidados, esmagou-os. Esta acção,
motivada pela perfídia dos Romanos, foi posteriormente a razão da maior revolta
de toda a Hispânia” 95.
Valério Máximo, no capítulo Sobre a Perfídia do livro nono, diz o seguinte:
“Sérvio Galba também foi da maior perfídia. Com efeito, tendo convocado o povo
de três cidades lusitanas, como se fosse agir no interesse delas, de nove mil homens
escolhidos, despojados das armas e que constituíam a flor da juventude, trucidou
parte e vendeu outra parte. Com este feito, ultrapassou na dimensão do crime a
maior destruição (o códice manuscrito tem “parte”) dos bárbaros” 96.
Marco Catão acusou severamente Galba, quando falou em favor dos Lusitanos
massacrados [103] apesar da palavra dada, como testemunham Marco Túlio no Bruto
e de passagem em Da Adivinhação, o que Ascónio Pediano desenvolve um pouco
mais claramente e, assim também, o Epítome de Lívio, no livro quadragésimo nono97.
E, no entanto, Catão tinha noventa anos de idade, segundo o testemunho de Lívio no
livro nono da quarta década 98, quando acusou Galba, em discurso inflamadíssimo,
que depois reproduziu nas suas Origens 99.
Mas quando o réu Galba compreendeu que ia ser condenado, abraçado aos dois
filhos, vestidos já com a toga pretexta, e ao filho de Gaio Sulpício, de quem era
tutor, defendeu-se tão pateticamente que a demanda foi rejeitada 100.
“Foi a misericórdia”, diz Valério Máximo no capítulo primeiro do livro oitavo, “e
não a equidade que protegeu a questão” 101. De resto, quanto ao prenome de Galba,
não sei se posso dar cabal resposta, a quem acaso pergunte porque se encontra
umas vezes Sérvio e outras Sérgio.
Livro Terceiro • Liber Tertius 231
Per haec ipsa tempora, L. Licinio Lucullo, Aulo Posthumio Albino coss.
Hispaniense bellum, quum parum prospere aliquoties gestum, ita [102] confudisset
ciuitatem Romanam, ut ne ii quidem inuenirentur qui aut tribunatum exciperent,
aut legati ire uellent, P. Cornelius Scipio Aemilianus, L. Pauli F. Africani nepos, sed
adoptiuus, qui, et ipse postea Africanus est appellatus, processit, et excepturum
se militiae genus, quodcumque imperatum esset, professus est. Quo exemplo
ad militandi studium omnes inuitauit.
Accusauit acriter M. Cato Galbam pro interfectis [103] contra interpositam fidem
Lusitanis, ut testatur in Bruto M. Tullius, et obiter in Diuinatione, quod explicat
apertius Asconius Pedianus, et Liuii epitome libro quadragesimo nono.
Aetatis autem nonagesimum annum agebat Cato, teste Liuio, decadis quartae
libro nono, quum Galbam accusauit ardentissima oratione, quam in Origines
suas retulit.
Reus uero Galba, quum se damnari uideret complexus duos filios praetextatos,
et C. Sulpitii filium, cuius tutor erat, ita miserabiliter pro se loquutus est, ut
rogatio antiquaretur.
“Misericordia ergo – inquit libro 8, cap. I, Valerius Maximus – illam
quaestionem non aequitas texit.” Ceterum de praenomine Galbae, quod alias
Seruius, alias autem Sergius habetur, si quis forte inquirat, nescio an facere
satis omnino possim.
232 As Antiguidades da Lusitânia
Anno igitur ab Vrbe condita DCVII Cn. Cornelio Lentulo, L. Mummio Nepote
coss. Lusitanos Viriatus erexit. De quo haec auctores:
Iustinus: “In tanta saeculorum serie, nullus illis dux magnus praeter Viriatum
fuit, qui annos decem Romanos uaria uictoria fatigauit. Adeo feris propiora,
quam hominibus ingenia sunt. Quem ipsum non iudicio populi electum, sed
ut cauendi scientem, declinandorumque periculorum peritum, sequuti sunt.
Quuius ea uirtus continentiaque fuit, ut quum consulareis exercitus frequenter
uicerit tantis rebus gestis, non armorum, non uestis cultum, non denique uictum
mutauerit; sed in eo habitu, quo primum bellare coepit, [106] perseuerauerit ut
quiuis gregarius miles, ipso imperatore etiam opulentior uideretur.”
Eutropius: “Quintus quoque Caepio ad idem bellum missus est quod quidem
Viriatus contra Romanos in Lusitania gerebat. Quo metu Viriatus a suis interfectus
est, quum quattuordecim annos Hispanias aduersus Romanos mouisset. Pastor
primo fuit, mox latronum dux, postremo tantos ad bellum populos concitauit,
ut adsertor contra Romanos Hispaniae putaretur.”
Cepião, porque não podia vencê-lo de outra maneira, subornou com dinheiro dois
companheiros para que matassem Viriato quando deitado no chão. Esta vitória não
mereceu a aprovação do Senado, porque tinha sido comprada” 117.
Orósio, no capítulo quarto do livro quinto: “Na Hispânia, Viriato, de raça
lusitana, pastor e salteador, primeiro infestando os caminhos, depois devastando
as províncias e finalmente vencendo, pondo em fuga e submetendo os exércitos
dos pretores e cônsules, inspirou o maior terror em todos os Romanos. De facto,
quando ele vagueava [107] e passava muito além do Ebro, do Tejo e dos maiores
rios de diversas regiões, saiu-lhe ao encontro o pretor Gaio Vetílio, com o que foi
logo desbaratado até quase à aniquilação todo o seu exército. A custo o próprio
pretor escapou com alguns, por ter recorrido à fuga.
Em seguida, Viriato em pessoa pôs em fuga o pretor Gaio Plâncio, vencido em
muitos combates. Posteriormente Cláudio Unímano, que tinha sido enviado, como
que para apagar a nódoa anterior, com grande equipamento de guerra contra Viriato,
ainda tornou, ele próprio, a infâmia mais vergonhosa. Com efeito, ao bater-se com
Viriato perdeu todas as tropas que trouxera consigo e a maior parte das forças do
exército romano. Viriato expôs nos seus montes, como trofeus, capas senatoriais,
varas de lictores e outras insígnias romanas.
Na mesma altura, trezentos Lusitanos travaram, em certo desfiladeiro, uma batalha
contra mil Romanos, na qual, conta Cláudio, morreram setenta Lusitanos para trezentos
e vinte Romanos. E quando os Lusitanos, vencedores, se afastavam dispersos e já
seguros, um deles que se tinha deixado ficar para trás longe dos outros foi apanhado,
ele que ia a pé, por cavaleiros que por ali andavam. Depois de trespassar o cavalo
de um deles com a lança, decepou a cabeça do próprio cavaleiro com um único
golpe de gládio, pelo que semeou um tal pânico em todos que muito desdenhosa
e calmamente se afastou dos que reunidos o observavam de longe” 118.
E um pouco mais adiante: “No consulado de Lúcio Cecílio Metelo e de Quinto
Fábio Máximo Serviliano... Combatendo, por conseguinte, o cônsul Fábio contra os
Lusitanos e contra Viriato, libertou, depois de ter escorraçado o inimigo, o ópido
de Bácia, que Viriato cercava, e recebeu a sua submissão juntamente com a de
muitos outros castelos. Cometeu um feito odioso mesmo para os mais remotos
bárbaros da Cítia, para não falar da honra e moderação romanas, pois cortou as
mãos a quinhentos chefes que, convidados para sua companhia, acolhera sob o
privilégio da rendição.
Pompeio, cônsul no ano seguinte, invadiu o território dos Numantinos, mas bateu
em retirada depois de sofrer estrondosa derrota, em que não só foi aniquilado [108]
quase todo o exército, como ainda morta a maior parte dos nobres que faziam parte
daquela campanha. Viriato, porém, foi assassinado por traição dos seus, depois
de ter durante catorze anos esmagado os chefes e exércitos romanos. Numa coisa
apenas agiram os Romanos correctamente para com ele e foi em considerarem os
seus assassinos indignos de prémio” 119.
Livro Terceiro • Liber Tertius 237
humi depositum perimerent. Quae uictoria, quia empta erat, a Senatu non fuit
probata.”
Et paulo post: “L. Caecilio Metello, Q. Fabio Max. Seruiliano coss. Igitur
Fabius consul contra Lusitanos et Viriatum dimicans, Bacciam oppidum, quod
Viriatus obsidebat, depulsis hostibus, liberauit, et in deditionem cum plurimis
aliis castellis recepit. Fecit facinus etiam ultimis barbaris Scythiae, non dicam
Romanae fidei et moderationi execrabile. Quingentis enim principibus eorum,
quos societate inuitatos, deditionis iure susceperat, manus praecidit.
vencê-lo de outra maneira, subornou com dinheiro dois companheiros para que
matassem Viriato quando deitado no chão”? 127
Volto à designação de salteador que me parece ter sido sugerida pelos Romanos
no
seu ódio, bastante invejoso, ao grande homem. Entendo, porém, de outra maneira
palavras como salteador ou chefe de salteadores, como também Lívio, que no
livro
nono da terceira década diz acerca de Masinissa: “A partir deste momento, todo
o
território em redor esteve exposto aos ataques, primeiro em incursões nocturnas
e
furtivas, depois em assaltos às claras, sobretudo nos campos de Cartago, porque
não
só ofereciam mais despojos do que os dos Númidas, como o latrocínio era
mais
seguro. E logo pareceu pouco digno de um rei imitar um salteador vagabundo pelos
montes”128. No entanto, o “salteador vagabundo” era Masinissa, que
procurava [110]
retomar o reino que lhe era devido.
Assim, portanto, como os Lusitanos estivessem numa disposição muito diferente
da dos Romanos devido à perfídia de Galba, uniram-se alguns a Viriato para que
fizesse transporte a troco de dinheiro, a esse homem, primeiro pastor, depois caçador,
homem de argúcia extrema e hábil em evitar os perigos, que com eles se ocupava
em incursões e latrocínios contra Romanos e aliados dos Romanos.
A sua ousadia bem sucedida foi favorecida por muitos depois da última injúria
dos Romanos, e como cada dia que passava maiores se tornavam as suas tropas,
tendo-se finalmente reunido um exército regular, foi ele eleito como chefe, e com
o exército avançou já intrepidamente não para o latrocínio mas para a guerra e
para a libertação da pátria. Com efeito, Justino celebra a sua admirável coragem
e moderação a ponto de, depois de ter travado tantas batalhas, nem sequer usar
armas mais cuidadas do que as dos outros nem mudar o vestuário ou a alimentação,
de tal modo que qualquer soldado parecia mais rico do que o próprio chefe. Este
equilíbrio de alma não costuma existir nos hábitos dos ladrões.
Depois de Viriato ter sido assassinado, graças a Servílio Cepião, por dois guardas
de corpo e quando os seus assassinos vieram pedir a recompensa ao cônsul Cepião,
foi-lhes respondido, segundo diz Eutrópio, que “nunca agradou aos Romanos que
os generais fossem mortos pelos seus soldados” l29.
Valério Máximo, no capítulo sexto do livro nono130, censura a respeito do assassínio
de Viriato uma dupla traição: em primeiro lugar, a dos seus amigos, porque foi morto
às mãos destes; em segundo, a de Quinto Servílio Cepião, porque foi ele o autor
deste crime ao prometer-lhes impunidade. Não ganhou uma vitória, comprou-a.
Em suma, os chefes romanos que se lê terem sido vencidos por Viriato são [111]
os seguintes: o pretor Gaio Vetílio, segundo Orósio, ou Marco Vetílio, como diz
o Epítome de Lívio 131; Gaio Pláucio, Cláudio Unímano; Gaio Nigídio como Popílio
Lenas 132, então pretor, segundo penso. Com efeito, não obteve o consulado senão
depois de Quinto Servílio Cepião por cuja intervenção Viriato morreu vítima de uma
cilada na própria casa. Com Popílio, pois, ainda em pleno vigor, tratou da paz, mas
porque se exigia que entregasse as armas recomeçou a guerra, visto que entregá-las
seria confessar que tinha sido vencido.
Livro Terceiro • Liber Tertius 241
ait Plinius “Caepio quum uincere aliter non posset, duos satellites pecunia
corrupit, qui Viriatum humi depositum perimerent.”?
Redeo ad latronis nomen. Mihi uidetur inuidiosius id a Romanis in magni
uiri odium inculcatum; latronem autem, aut latronum ducem, aliter intelligo,
ut et Liuius de Masinissa decadis tertiae libro nono ait: “Inde nocturnis primo
ac furtiuis incursionibus, deinde aperto latrocinio infesta omnia circa esse,
maxime uero Carthaginiensis ager, quia et plus pradae, quam inter Numidas,
et latrocinium tutius erat. Et statim uix regium uidebatur, latronem uagum in
montibus consectari.” “Latro” autem “uagus” Masinissa erat, debitum sibi [110]
regnum reposcens.
Ita ergo quum propter Galbae perfidiam, alienissimo a Romanis essent animo
Lusitani, Viriato pastori primum inde uenatori, et qui mercenariam uecturam
faceret, uiro tamen calliditatis acerrimae, periculorumque declinandorum perito
adhaesere nonnulli, cum quibus incursiones, ac latrocinium aduersus Romanos
Romanorumque socios exercebat.
Quuius felici audaciae, quum ex Romanorum recenti iniuria multi fauerent,
et copiae indies maiores accrescerent, iusto tandem exercitu congregato,
electus dux, ad bellum iam intrepide patriamque liberandam, non autem ad
latrocinium processit. Quippe quuius miram uirtutem, continentiamque adeo
Iustinus praedicet, ut tantis rebus gestis neque cultioribus armis, quam ceteri,
sit usus, neque uestitum, neque uictum mutauerit, ut quiuis gregarius miles ipso
imperatore opulentior uideretur. Quae animi moderatio in latronum moribus
esse non solet.
Duplicem in eius caede perfidiam accusat Valerius Maximus libro nono, capite
sexto. Alteram amicorum eius, quod eorum manibus interemptus est. Alteram
Quinti Seruilii Caepionis, quod is sceleris huius auctor, promissa impunitate,
fuerit, uictoriamque non meruerit, sed emerit.
Imperatores igitur Romani, quos Viriatus deuicisse legitur, fuere [111] hi:
praetores C. Vetilius, ut Orosius, siue M. Vetilius, ut Epitome Liuii habet. C.
Plautius, Cl. Vnimanus C. Nigidius, cum M. Popillio Laenate, tunc praetore, ut
arbitror. Nam consulatum non iniit nisi post Quintum Seruilium Caepionem,
quo agente domesticis insidiis periit Viriatus. Cum Popillio ergo, adhuc integer
de pace agitauit. Sed quia tradere arma poscebatur, quod ea res uideretur uicti
esse confessio, bellum renouauit.
242 As Antiguidades da Lusitânia
Isto é: Aqui jaz Lúcio Silão Sabino que, em luta contra Viriato nos campos de
Évora, da província da Lusitânia, foi trespassado por grande quantidade de dardos
e trazido para junto do pretor Gaio Plaucino aos ombros dos soldados. Ordenei que
com o meu dinheiro me fosse erigido este monumento no qual ninguém quero comigo,
seja ele escravo ou liberto. Se isto não for cumprido e se a pátria for livre quero que
retirem do meu sepulcro os ossos, sejam eles de quem forem 136.
Livro Terceiro • Liber Tertius 243
Cum Laelio uarie pugnauit. Nam si eum Laelius tam fregisset, quam in eius
gratiam iactat Cicero, nequaquam censuisset Senatus, ut bellum aduersus Viriatum,
non iam per praetores, sed per consules administraretur.
Cum Q. Fabio Maximo consule etiam uarie pugnauit. Cum eodem postea
Proconsule uarie quoque. Quare cum eo Fabius aequis condicionibus pacem fecit,
quum tamen bonam ei Lusitaniae partem ademisset. Vnde labem prospere gestis
a se rebus imposuisse Fabius est iudicatus. Proconsul tum erat Fabius, ut patet
ex Liuii Epitome. Emendandusque est Flori locus paulo ante citatus. Tandem eum
Fabius Maximus consul oppresserat. Sine dubio enim legendum proconsul: nam
Fabius anno Vrbis DCXII consul fuit, postquam fuere Cn. Seruilius Caepio, et Q.
Pompeius Rufus. Quorum anno prorogatum Fabio imperium est, ut proconsule
aduersus Viriatum ex parte affectum bellum tandem conficeret.
Honorato João Valentim, homem nobre não só pelo nascimento como pela
brilhante [113] erudição 137 , mostrou-me em Lisboa este monumento e os três
que abaixo apresentarei, tal como os recebeu de Florião do Campo 138. Ora este,
entreguei-lho eu bastante emendado, mas o outro que diz ter sido encontrado no
mesmo local e na mesma altura, até agora não o consegui ainda encontrar embora
tenha procurado cuidadosamente. Diz ele, porém, que reza assim:
Isto é: A Lúcio Emílio, filho de Lúcio, abatido por golpe inimigo, sob o comando
do cônsul Nigídio, na guerra contra o salteador Viriato. Os Lancienses, cuja república
defendera, levantaram-lhe num lugar público um pedestal com a urna e uma estátua
em sinal de consideração e generosidade 140.
Também não vi esta inscrição nem tenho conhecimento de que Nigídio fosse cônsul
na guerra de Viriato, a não ser que queiramos dizer que tinha feito a guerra com os
poderes consulares o Nigídio que Plínio afirmou ter sido desbaratado por Viriato141.
Fala-se ainda de que foi encontrado na Lusitânia o testamento de Galo Favónio,
que Marliano refere na descrição da cidade de Roma 142, o qual declara ter recebido
de Giácomo Simonetta, bispo de Pesaro e auditor da Rota, nestes termos:
que caí na guerra de Viriato, instituo herdeiros dos bens de Jocundo, meu pai, e
daqueles que eu próprio por mim adquiri, a Jocundo e Pudente, meus filhos e dos
de Quíncia Fábia, minha mulher, com a condição no entanto de aqui se deslocarem,
Livro Terceiro • Liber Tertius 245
Hoc est: Quintus Longinus Tartareo absorptus hiatu ante tempus armorum
hostilium in campis Lusitaniae. Marcus Regulus Tribunus militum marmoreo
sarcophago ossa contexit. Valete milites Romani.
Hoc est: Lucio Aemilio Lucii filio confecto uulnere hostili sub Nigidio consule
contra Viriatum latronem, Lancienses, quorum Remp. tutarat, basim cum urna,
et statuam in loco publico erexerunt honoris liberalitatisque ergo.
Hoc quoque neque ergo uidi, neque C. Nigidium consulem Viriatino bello
fuisse inuenio, nisi consulari potestate bellum gessisse dicamus, quem a Viriato
oppressum dicit Plinius. Fertur etiam testamentum Galli Fauonii, quod retulit
Marlianus in Vrbis descriptione, in Lusitania repertum, quod ab Iacobo Simoneta
Pisauriensi episcopo et Rotae auditore, se accepisse ait, in haec uerba:
qui bello contra Viriatum obcubui, Iocundum et Pudentem filios e me, et Quintia
Fabia coniuge mea ortos, et bonorum Iocundi patris mei, et eorum, quae ipse
mihi acquisiui, heredes relinquo, hac tamen condicione, ut ab urbe Roma huc
246 As Antiguidades da Lusitânia
da cidade de Roma, e de, no prazo de cinco anos, levarem deste local os meus ossos
[115] e os depositarem no sepulcro de mármore que foi erigido na via Latina por
minha ordem e vontade. Nele não quero ninguém comigo, seja escravo ou liberto.
Exijo que os ossos de quem quer que lá esteja sejam imediatamente retirados do meu
sepulcro. Que se observem as leis romanas, pois se deve respeitar, à maneira dos
nossos maiores, a vontade do testador no que se refere à conservação dos túmulos.
E se fizerem de outro modo, exceptuando-se o caso de surgirem causas legítimas,
ordeno que tudo aquilo que deixo aos meus filhos seja dado para reparação do
templo do deus Silvano, que está no sopé do monte Viminal. Que os meus Manes
implorem o auxílio do sumo pontífice e dos sacerdotes de Júpiter que estão no
Capitólio para castigarem a impiedade dos meus filhos; que os sacerdotes do deus
Silvano se comprometam a trazer-me para a cidade e a depositar-me no sepulcro.
Mais ordeno que todos os escravos de nascença, que estão na minha casa, sejam
libertados assim como as suas mães pelo pretor urbano e que a cada um seja dada
um libra de prata pura e uma veste. Na região da Lusitânia, no dia 2 do mês de
Julho, na guerra de Viriato”.
ueniant, et ossa hinc mea intra [115] quinquennium exportent, et uia Latina
condant in sepulchro iussu meo condito, et mea uoluntate.
In quo uelim neminem mecum, neque seruum, neque libertum inseri. Et uelim
ossa quorumcumque sepulchro statim meo eruantur, et iura Romana seruentur,
in sepulchris ritu maiorum retinendis uoluntate testatoris.
Et si secus fecerint, nisi legitimae oriantur causae, uelim ea omnia, quae filiis
meis relinquo, pro reparando templo Dei Siluani, quod sub Viminali monte est,
attribui. Manesque mei a Pontifice Max. et a flaminibus Dialibus, qui in Capitolio
sunt, opem implorent, ad liberorum meorum impietatem ulciscendam.
Teneanturque sacerdotes Dei Siluani me in urbem referre, et sepulchro meo
condere.
Volo quoque uernas, qui domi meae sunt omneis a praetore Vrbano liberos
cum matribus dimitti, singulisque libram argenti puri, et uestem unam dari. In
Lusitania in agro. VIII Cal. Quintiles bello Viriatino.”
Displicent tamen mihi affecta hic aliquot compendia contra saeculi illius
morem. Ac nescio an ita in marmore sit, an magis ita Florianus tradere uoluerit,
quo antiquitatem suo iudicio maiorem repraesentaret, si lectori mutilatis
dictionibus negotium facesseret.
Decius inde Iunius Brutus M. Iunii Poeni filius, quum circa Vrbis annum
DCXVI una cum P. Corn. Nasica, qui Serapio appellatus est, consulatum gereret, in
Hispaniam uenit, et ii qui sub Viriato militauerant, agros oppidumque dedit, quod
Valentia nuncupatum est. Ex Epitome Liuii. Meminit etiam huius rei Sabellicus,
quintae Aeneados libro nono. Et nos in Vincentio Martyre, ut liqueat Lusitanis
ceterisque Viriati militibus Valentiam esse conditam, et nominatam.
Fabulam uero inanem esse, eam conditam ante Romam, et Romin appellatam
a Romo rege nescio quo, apud commenticium Manethonem reperio. Quae tamen
fabula Floriano Campensi, et quibusdam ex neotericis Hispanicarum antiquitatum
scriptoribus non displicuit.
Isto é: Décio (ou Décimo) Júnio Bruto Galaico, filho de Marco, neto de Marco,
procônsul, no ano 617, [triunfou] dos Lusitanos e Galaicos [vindo] da Hispânia
Ulterior 157.
Hoc est: Decius uel Decimus Iunius Marci filius Marci nepos Brutus Callaicus
anno sexcentesimo decimo septimo proconsul de Lusitaneis et Callaiceis ex
Hispania Vlteriore.
Anno inde conditae Vrbis DCLII C. Mario IIII, Q. Luctatio coss. “deuictis
Lusitanis, pacatam Vlteriorem Hispaniam,” scribit Obsequens. Non tamen a
quo deuicti sint, expressit. Opinatur Panuinius a D. Iunio Syllano, propter Sexti
Rufi uerba: “Rebellantes in Hispania Lusitanos, per D. Brutum obtinuimus, et
usque Gades ad Oceanum peruenimus. Post, ad Hispanos tumultuantes Syllanus
missus, eos uicit.”
Ego tamen et Obsequentis, et Rufi uerba aliter intelligo. Nempe deuictis a Bruto
Lusitanis, ulteriorem Hispaniam fuisse pacatam, usque ad Gades, et Oceanum.
[120] Isto é: Lúcio Cornélio Dolabela, filho de Lúcio, neto de Lúcio, procônsul
da Hispânia Ulterior [triunfou] sobre os Lusitanos no quinto dia antes das Calendas
de Fevereiro 163.
Cinco anos depois, ou seja, em 660 da fundação de Roma, triunfou Públio Licínio
Crasso sobre os Lusitanos. Vérrio Flaco testemunha assim:
Isto é: Públio Licínio Crasso, filho de Marco, neto de Públio, procônsul no ano
600, [triunfou] sobre os Lusitanos na véspera dos Idos 164.
Como Estrabão diz no fim do livro terceiro 165 que aquele levou também a paz
às ilhas Cassitérides da região do cabo Finisterra, concluímos daí que combateu na
Lusitânia e naquela parte da Galécia que pertence aos Brácaros.
No ano 673 da fundação de Roma, como os Romanos estivessem empenhados
em guerras dispersas pela Macedónia, Panfília e Dalmácia, e como, por isso, se
combatesse bastante frouxamente na que tinham na Hispânia, sossegaram os Lusitanos
durante algum tempo até que rebentou, motivada pelas guerras civis, a guerra de
Sertório, herança da proscrição de Sula, tal como diz Floro 166.
Quinto Sertório, homem da maior e também da mais funesta coragem, chefe de
grande experiência militar, visto ter sido proscrito por Sula, porque tinha ingressado
no partido de Mário, [121] retirou-se da Urbe e da Itália e foi arrastado por muito
sítio em diferentes empresas 167. Como Plutarco descreveu com pormenor e cuidado
a sua vida e combates 168 e se lhe referiram longamente Apiano, no livro primeiro
das Guerras Civis 169, Lúcio Floro no segundo 170, e Paulo Orósio no quinto, 171 além
do que aqui e ali disseram Plínio-o-Moço nos seus Homens Ilustres, Valério Máximo,
Frontino, Obsequente e outros172, de modo algum é necessário que, neste particular,
me esforce. Apresentarei em resumo o que dizem Plutarco, Apiano e Orósio.
Chamaram-no de África os Lusitanos e veio dali com dois mil e seiscentos homens
a que chamava Romanos, trazendo contudo neles misturados setecentos africanos.
Juntaram-se-lhes quatro mil peões lusitanos e setecentos cavaleiros. No entanto, com
tão pequeno contingente, combateu contra quatro chefes romanos sob cujas ordens
estavam duzentos mil peões, sete mil cavaleiros, dois mil archeiros e fundibulários,
além de inúmeras cidades, quando ele próprio de início tinha apenas vinte cidades
lusitanas do seu lado.
Submeteu não só povos e cidades poderosas, como ainda generais romanos
enviados contra ele. Venceu Cota num combate naval perto de Fuente Ovejuna e
o pretor Fídio junto ao Gualdaquivir, luta em que tirou a vida a dois mil cidadãos
romanos. [122] Esmagou Domício, devido à acção do seu chefe Hirtuleio, sendo
este igualmente quem, para falar como Orósio 173, despojou de acampamentos e
Livro Terceiro • Liber Tertius 253
[120] Hoc est: Lucius Cornelius Lucii filius, Lucii nepos Dolabella proconsul
ex Hispania Vlteriore de Lusitanis quinto Calendas Februarii.
Quinto post anno, id est ab Vrbe condita DCLX, P. Licinius Crassus de Lusitanis
triumphauit, testatur hoc Verrius Flaccus, sic:
Hoc est: Publius Lucinius Marci filius Publii nepos Crassus anno sexcentesimo
proconsul de Lusitanis pridie Idus Iuni.
de soldados Manílio, procônsul da Gália, que tinha passado à Hispânia com três
legiões e mil e quinhentos cavaleiros, e forçou-o a refugiar-se quase sozinho em
Ilerda. Desbaratou o procônsul Lúcio e aniquilou Torânio, enviado por Metelo, e
assim também todo o seu exército. Criou ao próprio Metelo uma situação tão difícil,
que Lúcio se viu obrigado a trazer-lhe auxílio da Gália Narbonense e que Pompeio
Magno teve de ser a toda a pressa enviado de Roma por causa dele. Não sabia, com
efeito, Metelo para onde se voltar 174.
Destruiu Aquílio e os seus mil homens, com que este tinha sido enviado por
Metelo. Recebeu em pé de guerra Pompeio que já tinha atravessado os Pirenéus
e, colocados lado a lado os acampamentos, mostrou que lhe era superior. Repeliu
Pompeio que cercava Palência e, assaltando os acampamentos que estavam perto
da Calahorra, matou cerca de três mil homens. Capturou e incendiou a cidade de
Lauro, sob a vista do mesmo Pompeio, não ousando este, que tão altivamente se
tinha comprometido com os Lauronenses, levar auxílio a aliados em vias de soçobrar.
Sertório concedeu a vida aos habitantes da cidade incendiada e trouxe-os para
a Lusitânia em deplorável escravidão. Junto ao Júcar pôs de tal modo em fuga a
Pompeio, vencido no combate, que este, ferido e atirado para debaixo do cavalo,
quase foi morto e capturado. [123] Como Afrânio, que comandava a ala esquerda,
repelisse os Sertorianos, cujo chefe perseguia Pompeio, compreendeu Sertório o
perigo em que estavam os seus e, acorrendo, facilmente venceu aquele, matando-
lhe os soldados já dispersos.
Castigou duramente Pompeio junto do rio Túria e, se não tivesse surgido Metelo,
tinha sido o fim daquele. É daqui que provém a célebre fanfarronada de Sertório:
“Teria mandado este menino para casa, depois de o ter mandado açoitar, se não
tivesse aparecido aquela velha” 175.
Némio, questor de Pompeio e casado com uma sua irmã, foi morto perto de
Sagunto num combate de que Sertório saiu vencedor. E como tivesse conseguido,
no meio do maior massacre, chegar vitorioso até junto de Metelo, devia ter este
morrido trespassado por uma lança, se o não tivesse protegido o grande sentido
de vergonha dos seus companheiros 176.
Dídio Lelo, legado de Pompeio, que tinha ido buscar forragem, foi morto, segundo
escreve Obsequente 177, pelos Sertorianos.
Não há dúvida de que os chefes do partido de Sertório eram geralmente os
melhores, sobretudo Hirtuleio, que a princípio tinha desgastado Metelo em muitos
combates antes de se juntar a Pompeio, mas, por fim, ao encontrar-se com o mesmo
Metelo junto a Sevilha-a-Velha, cidade da província da Bética, levado, segundo creio,
pela confiança que lhe deram as antigas vitórias, travou um combate em que perdeu
vinte mil homens e de onde fugiu, vencido, para a Lusitânia com alguns companheiros.
Mas Sertório, travando, depois destes acontecimentos, batalha com Pompeio, matou-
lhe dez mil soldados, embora ele próprio tenha perdido outros tantos. E assim levou
aqueles dois generais notáveis, Metelo e Pompeio, a um tal desespero que Metelo
instituiu publicamente como prémios para quem matasse Sertório, cem talentos em
Livro Terceiro • Liber Tertius 255
[122] Domicium per Hirtuleium ducem oppressit. Qui etiam Manilium Galliae
procoss. cum tribus legionibus, et mille quingentis equitibus in Hispaniam
transgressum, castris, copiisque nudauit, ut Orosii uerbis dicam, et paene solum
Ilerdam compulit refugere.
Lucium procoss. contriuit. Toranium a Metello missum cum toto exercitu
deleuit.
Ipsum Metellum in tantam compulit necessitatem, ut L. Lollius ex Narbonensi
Gallia ei ferre auxilium cogeretur, et Pompeius magnus ex Vrbe cum summa
festinatione ea de causa mitteretur. Neque enim habebat Metellus quo se
uerteret.
Aquilium a Metello missum cum sex millibus cecidit.
Pompeium iam Pyrenaeos montes transgressum bello excepit, positisque
iuxta castris superior fuit. Pompeium Palantiam obsidentem ui repulit. Et castra
quae ad Calagurrim erant, adortus, ad tria millia interfecit. Eodem Pompeio
spectante Lauronem urbem expugnauit atque incendit, neque ille tam magnifice
Lauronensibus de se pollicitus, sociis pereuntibus auxilium ferre ausus est.
Quibus uitam ex incensa urbe dedit Sertorius, in Lusitaniam miserabili
captiuitate traduxit.
Ad Sucronem Pompeium proelio superatum fugauit, ita, ut uulneratus et ex
equo prostratus, paene interfectus et captus sit.
[123] Afranium, qui cornu sinistrum regebat, quum Sertorianos intento in
Pompeium duce pelleret, suorum intellecto periculo accurrens facile superauit,
eiusque milites dispersos occidit.
Ad flumen Turiam Pompeium male multauit, et nisi Metellus superuenisset
actum de eo erat. Vnde illa Sertorii gloriatio: “Ego puerum hunc, nisi uenisset
anus illa, castigatum uerberibus, domum remisissem.”
Memmius Pompeii quaestor, et sororis eius maritus, ad Saguntum Sertorio
superante, est interfectus. Et cum magna strage uictor ad Metellum usque
peruenisset, pilo percussus Metellus interierat, nisi a suis pudore nimio affectis
protectus esset.
Didium Laelium Pompeii legatum, qui pabulatum exierat, scribit Obsequens,
a Sertorianis interfectum.
Et certe Sertoriani duces fere superiores erant. Praecipue Hirtuleius, qui initio
Metellum, antequam se Pompeio iungeret, multis proeliis fatigarat, tandem cum
eodem Metello apud Italicam Baeticae prouinciae urbem congressum, ex fiducia
credo praeteritarum uictoriarum elatus, commissa pugna, uiginti millibus amissis
uictus in Lusitaniam cum paucis profugit.
At Sertorius post id cum Pompeio congressus decem millia militum eius
interfecit, licet totidem, et ipse amiserit. In tantamque desperationem duos
egregios illos duces Metellum atque Pompeium adduxit, ut publice Metellus
praemia statuerit ei, qui Sertorium necaret, centum argenti talenta et uiginti
256 As Antiguidades da Lusitânia
Eis porque sossegaram os Lusitanos e tanto Metelo Pio como Gneu Pompeio
Magno, até aí cavaleiro romano, triunfaram no ano 682 da fundação de Roma,
conforme as Tábuas Capitolinas 185.
[126] Marco Cícero, no discurso contra Rulo Sobre as Leis Agrárias 186, queixa-se
por não ter sido pago, durante todo o período da guerra de Sertório, nenhum
tributo
pelos Hispanos.
Após tudo isto, Júlio César, a quem, depois da pretura urbana, tinha cabido em
sorte a Hispânia Ulterior, onde anteriormente fora questor sob as ordens do pretor
Tuberão, submeteu a Lusitânia e a Galécia ao império romano. Que o leitor se
não enfade de eu recordar o que disse a este respeito, baseado em Díon, quando
descrevi o monte Hermínio 187.
Tendo-se seguido o Triunvirato pouco depois, César invadiu as Gálias, Crasso a
Ásia e Pompeio as Hispânias, as quais administrava por meio de três legados, Marco
Petreio, Lúcio Afrânio e Marco Varrão, até à altura em que rebentou a guerra civil.
Vindo César nessa ocasião às Hispânias, forçou-as consoante as circunstâncias
à paz, tendo obtido o procônsul Marco Lépido a Citerior e o propretor Gaio Cássio
Longino a Ulterior. Nesse momento cercava César a Pompeio em Dirráquio.
Este Cássio Longino, homem de insaciável ganância e consequentemente de
crueldade não difícil de compreender, como sabia do ódio em que era tido na
província e como, dia a dia, se tornasse mais forte esta aversão contra ele, procurava
escudar-se contra a inimizade dos provinciais com a dedicação do exército ao
fazer distribuições exageradas de donativos e promessas de prémios provenientes
de rapinas e de tributos pesadíssimos. Assim, depois de prometer cem sestércios
aos soldados, tomou de assalto Medóbriga, vila fortificada na Lusitânia, e o monte
Hermínio para onde os Medobrigenses se tinham refugiado. Aí foi aclamado general
e de novo gratificou os soldados com cem sestércios.
[127] Tempos depois, no ano 710 da fundação de Roma, César após ter vencido
Pompeio marchou em direcção da Hispânia contra os dois jovens filhos de Pompeio
Magno, os quais tinham recomeçado a guerra.
A Lusitânia estava mais inclinada para o partido de Pompeio, quer porque o
Senado e o povo romano apoiassem sobretudo este, como mais justo, quer pela
recordação das ofensas de César, em cuja pretura os Lusitanos tinham sido tratados
com excessivo rigor “apesar de não terem recusado as suas ordens e de lhe terem
aberto as portas quando chegou”, segundo diz Suetónio188. É isto que em poucas
palavras indica um bem mordaz jambo de Catulo:
Marco Petreio ocupava pois a região dos Vetões e a Lusitânia, que estavam a
favor de Pompeio, antes de partir com as suas forças militares, cavaleiros e tropas
auxiliares de toda a Lusitânia até junto de Afrânio na Celtibéria, para que juntamente
Livro Terceiro • Liber Tertius 259
[127] Anno inde ab Vrbe condita DCCX Caesar post deuictum Pompeium,
in Hispanias est profectus aduersus duos adolescentes Pompeios Magni filios,
qui bellum instaurauerant.
Pronior in Pompeii partes erat Lusitania, siue quia S. P. Q. R. magis eas
fouebat, ut iustiores, siue recordatione iniuriarum Caesaris, a quo in praetura
direpti nimis hostiliter fuerant Lusitani, quamquam nec imperata detrectarent,
et aduenienti portas patefacerent, ut inquit Suetonius. Et paucis uerbis Catulli
mordacissimus iambus innuit:
L. MVNATIVS. L. F. L. N. L. PRON.
PLANCVS. COS. IMPER. ITER. VII. VIR.
EPVLON. TRIVMPH. EX RAETEIS.
AEDEM SATVRNI FECIT, DE MANVBIIS.
AGROS DIVISIT. IN ITALIA BENEVENTI.
IN GALLIA COLONIAS DEDVXIT
LVGDVNVM. ET RAVRICAM.
Livro Terceiro • Liber Tertius 261
Munatius ergo Flaccus uocabatur, atque ita eum appellat Plutarchus in Catone:
“Praeterea – inquit – quum Pompeius commendationes reis dari in iudiciis
consuetas, per legem uetuisset, ac postea ipse Munatio Flacco commendationem
scripsisset”, Cato, qui in ea causa uidex erat, quum recitari coepta est Pompeii
commendatio, aures manibus clausit, legique illam prohibuit.
Vt mendum quoque sit apud eundem Plutarchum in Pompeio, ubi idem
Catonis factum referens, Plancum eum non autem Flaccum appellat.
Nisi forte iidem Munatii, tam Flacci, quam Planci appellarentur. Probabile
est Munatiam gentem in duas familias, Flaccorum uidelicet et Plancorum, fuisse
diuisam. Et ideo apud Plutarchum in Pompeio ex Flacco factum Plancum.
L. MVNATIVS. L. F. L. N. L. PRON.
PLANCVS. COS. IMPER. ITER. VII. VIR.
EPVLON. TRIVMPH. EX RAETEIS.
AEDEM SATVRNI FECIT, DE MANVBIIS.
AGROS DIVISIT. IN ITALIA BENEVENTI.
IN GALLIA COLONIAS DEDVXIT
LVGDVNVM. ET RAVRICAM.
262 As Antiguidades da Lusitânia
Isto é: Lúcio Munácio Planco, filho de Lúcio, neto de Lúcio, bisneto de Lúcio,
cônsul, general por duas vezes, septênviro dos epulões, triunfou dos Récios, fez com
o dinheiro do saque um templo para Saturno, dividiu os campos de Benavente na
Itália, na Gália fundou as colónias de Lugduno e Ráurica 198.
Mas afastámo-nos muito do nosso assunto por causa do passo de Valério. Volto
a Munácio Flaco que se tinha protegido com uma guarda escolhida de Lusitanos,
os quais Valério desmente terem sido os cúmplices da sua crueldade. [130] Díon
cala-se. A descrição do Comentário da Guerra Hispânica é um pouco obscura e não
faz menção nem de Munácio nem dos Lusitanos 199.
Os soldados de Petreio e de Afrânio, como estavam acostumados aos Lusitanos,
habituaram-se a combater à maneira deles, escreve César no primeiro Comentário
de A Guerra Civil 200.
Por seu lado, os Lusitanos apoiavam tanto o partido de Pompeio que mesmo
depois da morte daquele se mantiveram fiéis a seus filhos, Gneu e Sexto Pompeio,
em todas as eventualidades. Não falo de Cotão, ou Catão, como têm outros códices,
que sob as ordens de Munácio estava em Atégua com a escolta de Lusitanos e que
se passou para César com o legado Túlio 201.
Foram acérrimos defensores do partido pompeiano, Fílon, conhecidíssimo em toda
a Lusitânia, e Cecílio Niger, que, com um contingente de lusitanos bem grande, com
extraordinário ardor trabalharam em Sevilha contra César a favor do jovem Gneu e
incendiaram os navios que estavam no Guadalquivir. Vencido este finalmente e ferido
junto de Munda, não o abandonaram e seguiram-no quando se refugiou em Carteia.
Quando os habitantes desta, a fim de o atraiçoarem, enviaram embaixadores a César,
Pompeio, prevenido, tomou uma barca e fugiu para os navios que aí tinha na sua
escolta. Tendo, porém, enlaçado acidentalmente um pé nas amarras, enquanto se
esforçava por cortar o cabo com o gládio, cortou com este a planta do pé, segundo
diz Apiano no livro segundo das Guerras Civis 202, ou torceu o pé, como refere o
Comentário da Guerra Hispânica 203. [131] Procurado pelos inimigos, à frente dos
quais vinha Dídio, prefeito em Cádis da armada de César, fugiu do navio onde se
tratara e quando fugia para a Lusitânia era transportado numa liteira. Mas, como as
feridas e o pé torcido o atrasassem na fuga, foi apanhado por Dídio no caminho e
morto, depois de se ter defendido, diz Apiano, não sem coragem 204. César ordenou
que a sua cabeça, que tinha sido levada para Sevilha, fosse exposta à vista do povo
e assim se assenhoreou da cidade.
Os lusitanos que sobreviveram a este combate, como se reorganizassem em tropas
regulares, voltaram a atacar Dídio, agora valorizado por aquela glória, prejudicando-o
em lutas quotidianas. Com os soldados divididos em três grupos de combate,
incendiaram-lhes navios, e o próprio Dídio foi morto pelos que não estavam na
batalha, quando acorreu com as tropas para os escorraçar, e desbarataram todas as
suas tropas, das quais poucos escaparam com vida. Os que fugiam quer na barca
Livro Terceiro • Liber Tertius 263
Hoc est: Lucius Munatius Lucii filius, Lucii nepos, Lucii pronepos Plancus
consul imperator, iterum septemuir epulonum triumphauit ex Raeteis. Aedem
Saturni fecit de manubiis, agros diuisit in Italia Beneuenti, in Gallia colonias
deduxit Lugdunum, et Rauricam.
que estava na margem quer nadando para os navios que estavam ao largo, pediram
aos remos a continuação da vida, depois de levantadas as âncoras.
Os lusitanos apoderaram-se de grande despojo, como refere aquele Comentário
da Guerra Hispânica 205, mutilado, de resto, em mau estado e confuso pelo estilo
obscuro. E isto quem quer que tenha sido o seu autor. De facto, não penso que deva
atribuir-se a sua autoria a Hírcio ou a Ópio, homens bastante eloquentes. Aquele,
contudo, visto que era soldado de César, é imoderado no elogio e escreve de tal
modo que não é possível compreender o que pretende e, nem mesmo que se tente
adivinhar, o seu estilo é coerente em si próprio.
Com a morte de Gneu Pompeio e com o regresso da maior parte da Hispânia
[132] à autoridade de César, este, que tinha pressa de dominar na cidade de Roma,
deixou na Hispânia Sexto Pompeio, o segundo dos filhos de Pompeio Magno e o
mais novo, por não lhe dar importância nem valor devido à sua juventude, não
pensando que ele, com a idade que tinha, fosse tentar qualquer grande feito. Mas
tudo aconteceu diferentemente.
Com efeito, o jovem desconhecido dedicou-se primeiramente com alguns
companheiros à pirataria. Depois, libertando-se pouco a pouco do medo e apresentando-
se a si próprio como Pompeio Magno, formou exército poderoso fundindo nele os
que tinham combatido sob as ordens de seu pai Pompeio ou de seu irmão Gneu e
tinham abandonado as armas, porque vencidos, mas que nessa altura vinham juntar-se
a ele, considerando-o seu chefe, pois o nome de Pompeio lhes era grato.
Engrandecido, pois, pelo contingente militar que era cada vez maior, começou
a inspirar um tal terror nos chefes que, sob o mando de César, tinham obtido as
Hispânias, que estes recearam defrontá-lo. Quando César soube disto, enviou Carrinas
com forças militares mais poderosas, a fim de submeter Pompeio.
Em Apiano encontra-se escrito nestes passos, não sei se por erro do tradutor, Carrina
em vez de Carrinas. Fala-se, na realidade, de Gaio Álbio Carrinas que depois obteve o
consulado, porque Augusto abdicou206. O jovem, porém, logo que soube da chegada
de Carrinas, acorreu imediatamente e desbaratou-o. Por esse motivo, César enviou
um sucessor de Carrinas, Gaio Asínio Polião, que ainda chefiava a guerra na Hispânia
Ulterior, quando César foi morto. Além disso, o Senado mandou chamar Pompeio.
Este, no entanto, embora já tivesse sido trazido para Marselha, de modo algum
voltou a Roma, pois atento esperava o que nela iria acontecer, [133] e sendo eleito
almirante, como fora seu pai, juntou aos navios que foram tomados aqueles que tinha
consigo na Hispânia e navegou rumo à Sicília contra o domínio dos triúnviros. Muitos
gauleses, iberos e mesmo muitos lusitanos o seguiram por amor a seu pai, Pompeio,
e pelo ódio que ainda ressentiam por César. Na verdade, mesmo Bruto, quando,
proscrito pelos triúnviros, preparava com Cássio no golfo de Melas a guerra contra
António tinha consigo, escreve Apiano207, quatro mil cavaleiros celtas e lusitanos.
Pompeio, portanto, depois de se apoderar da Sicília, combateu, as mais das vezes
vitorioso, contra Octávio e António, e teria na realidade deixado para a posteridade
uma reputação de grande chefe se não tivesse tentado mais nada. De facto a sorte
Livro Terceiro • Liber Tertius 265
Lusitani praeda ingenti potiti sunt, ut refert ille Hispaniensis belli commentarius,
alioqui mutilus, corruptus, impeditoque sermone confusus, quisquis auctor
illius fuerit.
Neque enim ad Hircium aut Opium disertos satis homines referendum ego
existimo. Miles tamen Caesaris quum esset, et in eius laudes immodicus ita
scripsit, ut saepe, neque quid uelit intelligas, neque si diuines, oratio ipsa sibi
congruat.
Cn. Pompeio extincto, et maxima ex parte Hispania in potestatem [132]
redacta, Caesar ad Vrbanam dominationem festinans, Sext. Pompeium alterum
ex Pompeii Magni filiis iuniorem, contempta eius adolescentia, neglexit in
Hispania, non arbitratus eum aliquid magnum propter aetatem esse ausurum,
sed aliter res euenit.
Nam iuuenis primo cum paucis piraticam exercuit ignotus. Deinde paulatim
timorem exuens, seque Pompeii Magni filium professus, ex iis qui uel sub patre
Pompeio, uel sub Cn. fratre militauerant, uictique cesserant, ualidum conflauit
exercitum, ad eum tanquam ad ducem suum confluentibus, quibus Pompeii
nomen erat gratiosum.
Adauctus igitur amplioribus copiis, formidini esse cepit praesidibus, qui
sub Caesaris imperio Hispanias obtinebant, ita ut uererentur cum eo ad manus
uenire.
Qua re intellecta Caesar Carrinatem cum ualidioribus copiis misit, qui
Pompeium debellaret.
Apud Appianum Carrinam in his locis scriptum pro Carrinate reperias, nescio
an iuterpretis uitio. Nam sermo est de C. Albio Carrinate, qui postea consulatum
gessit, quum Augustus abdicasset.
At uero iuuenis cognito Carrinatis aduentu, statim aduolans illum oppressit.
Ea ex causa Caesar successorem Carrinati misit. C. Asinium Pollionem, quo in
Vlteriore Hispania bellum gerente, Caesar interemptus est, et Senatus Pompeium
ultro reuocauit.
Ille uero, quum Massiliam esset delatus, ad urbem nequaquam rediit, sed
quae ibi fierent intentus expectabat.
[133] Atque electus maris imperator, ut pater eius fuerat, assumptis, quae
in portu erant, nauibus, una cum iis, quas uel secum, uel in Hispania habebat,
contra triumuirorum dominationem in Siciliam nauigauit. Multi illum Galli,
multi Iberi, multi etiam Lusitani sequuti sunt, Pompeii patris amore, et Caesaris
adhuc odio.
Nam etiam Bruto a triumuiris proscripto, quum una cum Cassio ad nigrum
sinum aduersus Antonium bellum pararet, quattuor millia Celtarum, ac Lusitanorum
equitum illi fuisse scribit Appianus.
Pompeius igitur Sicilia potitus contra Octauium, et Antonium pugnauit
plerumque uictor.
266 As Antiguidades da Lusitânia
habitual transformou-se como que indignada pela insolência com que ele, vestido
de azul e com palavras orgulhosas, se tinha gabado de ser filho de Neptuno, como
se fosse pouco sê-lo de Pompeio Magno, e, vencido, entregou-se a Tício, general
de António, que o matou em Mileto.
Quem quiser saber estes factos com mais pormenor, leia os livros quarto e quinto
das Guerras Civis de Apiano 208. Nós atardámo-nos neles bastante mais largamente,
porque Orósio, baseado não sei em que autor, escreve que a morte de Sexto Pompeio
se seguiu imediatamente à batalha de Munda 209 . São estas as suas palavras no
capítulo décimo sexto do livro sexto: “O último encontro travou-se junto da cidade
de Munda, onde se combateu com tal força e foi tanta a mortandade, que César –
uma vez que os seus veteranos não tinham vergonha de recuar –, como visse a sua
linha de batalha em risco de ser trucidada e desbaratada, teria pensado [134] em
evitar com o suicídio o futuro opróbrio de ser vencido, quando inesperadamente
o exército dos Pompeianos se pôs em debandada e cedeu”. E logo a seguir: “Gneu
Pompeio fugiu com o centésimo cavaleiro. O seu irmão, Sexto Pompeio, reuniu
rapidamente um não pequeno contingente de lusitanos, travou batalha com Cesónio
e foi vencido e morto quando fugia. A cidade de Munda, depois de atacada por
César, foi capturada a custo com enorme massacre de homens” 210.
Não tenho, porém, a menor dúvida de que este passo está corrompido. Com
efeito, um pouco mais à frente, no décimo oitavo e décimo nono capítulos, lembra
Orósio a quarta guerra de Octávio, que também foi contra Sexto Pompeio, filho
de Gneu Pompeio, e conta que Sexto tinha ocupado a Sicília mas que, finalmente
vencido por Tício e Fúrnio, generais de António, foi capturado e pouco depois
morto 211, como dissemos anteriormente fundamentando-nos em Apiano.
Eis porque eu leria de bom grado no passo anterior: “...travou batalha com Cesónio
e foi vencido e quase morto quando fugia”. Fugiu de facto e depois disso voltou-se
para a pirataria, o que o próprio Orósio confirma com as seguintes palavras: “Sexto
Pompeio, depois que descobriu que o tinham colocado no número dos proscritos,
voltou-se para o latrocínio e devastou toda a costa da Itália com mortes e rapinas,
tendo-se apoderado da Sicília” 212.
Para voltarmos, contudo, a Asínio Polião, existem três cartas dele entre as de
Cícero aos amigos, no livro décimo, numa das quais se diz: «De resto, segundo
calculo, Pansa começou o combate no mesmo [135] dia em que os navios partiram
de Cádis. É que depois do Inverno não houve qualquer navegação antes desse
dia. E, por Hércules, longe de toda a suspeita que ia levantar-se, eu tinha posto as
legiões nos quartéis de Inverno lá para o interior da Lusitânia. A sorte inclinou-
se, depois disto, para César Augusto e, obtido o poder sobre o mundo romano,
pacificou a Hispânia em quatro anos, quer pelo seu esforço, quer pelo dos seus
generais. Fundou umas colónias e engrandeceu outras” 213. Destas falaremos com
alguma demora quando tratarmos das cidades 214.
No primeiro volume, quando assinalávamos os limites da Lusitânia 215, dissemos
que a Bética era uma província atribuída à plebe, para onde era enviado um pretor
Livro Terceiro • Liber Tertius 267
De Augusto, pois, até aos Godos nada encontrei de especial a respeito da Lusitânia
na tão deplorada decadência dos escritores antigos, a não ser que se aquietou sob
o domínio romano e que se mostrou obediente às suas leis e que Otão, mais tarde
imperador, foi, por ordem de Nero, governador da Lusitânia para que este, escreve
Tácito no livro terceiro, afastado o marido de Roma, gozasse mais facilmente a
companhia de Popeia, mulher de Otão. “Onde [na Lusitânia] – diz o historiador –
serviu até às guerras civis, não devido a qualquer antecedente desonroso, mas com
integridade e lealmente. Sem freio na vida privada, foi bastante moderado no uso
do poder.” Repete quase o mesmo no livro décimo sétimo 221.
Suetónio Tranquilo também diz na vida de Otão: “Afastado para a Lusitânia [138]
devido às funções de governador” 222. Correu mesmo um dístico a este respeito:
Q. ATTIO. T. F.
MAEC. PRISCO
AED. II VIR. QVINQ.
FLAM. AVG. PONTIF.
PRAEF. FABR. PRAEF. COH. I.
HISPANORVM. ET. COH. I.
MONTANORVM. ET. COH. I.
LVSITANO R. TRIB. MIL. LEG. I.
ADIVTIC. DONIS. DONATO.
AB IMP. NERVA. CAESARE AVG.
GERM. BELLO SVEBIC. CORON.
AVREA. HASTA. PVRA. VEXILL.
PRAEF. ALAE. I. AVG. THRACVM.
PLEPS. VRBANA.
Livro Terceiro • Liber Tertius 271
Q. ATTIO. T. F.
MAEC. PRISCO
AED. II VIR. QVINQ.
FLAM. AVG. PONTIF.
PRAEF. FABR. PRAEF. COH. I.
HISPANORVM. ET. COH. I.
MONTANORVM. ET. COH. I.
LVSITANO R. TRIB. MIL. LEG. I.
ADIVTIC. DONIS. DONATO.
AB IMP. NERVA. CAESARE AVG.
GERM. BELLO SVEBIC. CORON.
AVREA. HASTA. PVRA. VEXILL.
PRAEF. ALAE. I. AVG. THRACVM.
PLEPS. VRBANA.
272 As Antiguidades da Lusitânia
Isto é: A Quinto Átio Mecenas Prisco, filho de Tito, duúmviro, cinco vezes flâmine
augustal, pontífice, prefeito dos operários, prefeito de cavalaria da primeira coorte
dos Hispanos e da primeira coorte dos Montanos e da [140] primeira coorte dos
Lusitanos, tribuno militar da primeira legião auxiliar, presenteado pelo imperador
Nerva Augusto Germânico na guerra contra os Suevos com uma coroa de ouro, um
dardo [em ferro] puro e um vexilo [estandarte], prefeito da primeira ala augustal dos
Trácios, a Plebe Urbana [Dedica] 228.
OS GODOS
Hoc est: Quinto Attio Titi filio Maecenati Prisco aedili, duumuiro quinque
Flamini Augustali pontifici praefecto fabrum, praefecto cohortis primae [140]
Hispanorum, et cohortis primae Montanorum, et cohortis primae Lusitanorum,
tribuno militum legionis primae adiutricis donis donato ab imperatore Nerua
Caesare Augusto Germanico bello Suebico corona aurea, hasta pura, uexillo;
praefecto alae primae Augustalis Thracum, plebs urbana.
DE GOTHIS
Não omitamos, além disto, que segundo o mesmo autor Procópio, os Alanos
também foram da mesma raça gótica 249 , os mesmos que Amiano Marcelino, no
vigésimo terceiro livro 250, diz terem sido os Massagetas. Embora aparentados, estes
povos, divididos entre si por secessões e partidos, combatiam frequentemente uns
contra os outros. [144] Aconteceu com isto que os Alanos, Suevos e Vândalos,
expulsos da sua região pelos Godos, seus vizinhos e do mesmo sangue, se uniram
por um tratado e penetraram primeiro nas Panónias, depois nas Gálias e finalmente
nas Hispânias. Desse grupo foram os Vândalos que ocuparam a Bética, denominada
depois Vandália ou Vandalícia por eles próprios, tendo sido daí escorraçados para
África pelos Visigodos, que mais tarde tudo vieram a submergir, e pelo seu rei Vália,
já federado de Honório Augusto 251. Os Alanos obtiveram Mérida e a maior parte
da Lusitânia incluindo Lisboa, que se remiu por uma vez com dinheiro. Os Suevos
ocuparam toda a Galiza.
Os que se fixaram em Mérida foram, porém, vencidos em duro combate por
Constâncio, primeiramente “conde” 252 e depois declarado imperador por Honório,
seu parente depois do casamento com Placídia já restituída, e ajudado por tropas
auxiliares do mesmo Vália e dos Visigodos. Como tivessem perdido na batalha o seu
rei Atace, parte dos Alanos resignou-se a pedir a paz, enquanto outros se refugiaram
junto dos Suevos que ocupavam Lisboa e ali repousaram sob a sua tutela 253.
Aterrados todos eles pelo receio dos Romanos e discutindo projectos de paz,
pediam a Honório, segundo diz Orósio, o seguinte: “Mantém-te em paz com todos e
de todos exige reféns. Nós lutamos uns contra os outros, matamo-nos, mas damos-te
vitórias. Será uma imortal vantagem para a tua república se ambos morrermos”254.
Assim falavam eles então, mas ao terem conhecimento da morte de Constâncio,
rejeitaram o plano da petição de paz e voltaram [145] às suas disposições naturais.
Logo os Alanos que regressavam a Mérida reivindicaram para si toda a Lusitânia,
sendo encorajados pelos Vândalos que ainda restavam na Bética.
Exaltaram-se, bem entendido, os ânimos com o regresso de Vália a Tolosa, que
Honório lhe confiara com algumas outras cidades da Auxitânia. Por isso se chamou
Visigótia a esta região que os Hispanos preferiram designar por Gália Gótica 255.
A morte de Honório, logo a seguir, também fez aumentar a ousadia. Mas quando
Teodósio-o-Moço nomeou imperador a Valentiniano, filho da sua tia paterna Placídia
e de Constâncio, enviou para a Lusitânia, contra os Alanos e os Suevos, o “conde”
Sebastião. Este, sem dúvida bem sucedido, tinha-se apoderado completamente da
Lusitânia, mas, aspirando ao poder absoluto, lançou-se num tratado com os Vândalos
que restavam e com os Visigodos. Pouco depois foi cercado por eles e morto 256.
Os Suevos, deixando portanto a Lusitânia aos Alanos, seus aliados, como se
dirigiram ao encontro dos seus compatriotas, que estavam na Galiza, engrossaram
a comunidade e formaram um reino que, segundo Isidoro257, durou cento e setenta
e sete anos, de Hermerico a Leovegildo, rei dos Visigodos.
Os Visigodos levaram-lhes, porém, vantagem, pois cavando mais fundo as suas
raízes, estenderam-se [146] pela Hispânia Citerior e mesmo pela Gália Narbonense
Livro Terceiro • Liber Tertius 277
e reinaram durante trezentos e oitenta anos e mais, honra e glória que perderam
no reinado de Rodrigo.
Desta maneira estiveram abertas as Hispânias aos povos Cíticos que sempre
se misturavam nestas emigrações com povos das nações vizinhas que porventura
tivessem aborrecido o céu sombrio e o solo bastante estéril das suas pátrias 258. O
nome de Gótico, pelo seu carácter geral, abrangia, porém, todos.
Oxalá se tenha dito com brevidade e resumidamente aquilo que parecia ser
necessário à obra por nós empreendida.
AS VIAS MILITARES
[147] É por isso que nós, os Portugueses, lhes chamamos “estradas reais” 261.
Cobriam-nas, porém, nuns sítios, com pedras irregulares e grosseiras, noutros,
para lustre da cidade, com lápidas quadrangulares quase em excessiva profusão,
como me recordo de ter visto na Gália Narbonense. Erguiam-se colunas dividindo
a via de mil em mil passos, com a inscrição dos que a tinham mandado fazer ou
reparar. Daí provém aquela forma conhecidíssima “o primeiro a partir da Vrbe”, no
primeiro marco depois de cada cidade e outras coisas semelhantes. Todavia, nos
locais pantanosos e fundos deitavam sobre a terra o agger [entulho], para em cima
estenderem a camada de pedra. Aconteceu por isso algumas vezes que a própria via
pública e militar era designada por agger público, sobretudo por escritores gauleses,
como é o caso de Sidónio Apolinar, que no Adeus ao Meu Livro diz:
DE VIIS MILITARIBVS
A Equabona 12 m. p. A Cetóbriga 12 m. p.
A Ceciliana 12 m. p. A Malceca 16 m. p.
A Alcácer do Sal 12 m. p. A Évora 44 m. p.
Ao rio Guadiana 60 m. p. A Evandriana 17 m. p.
A Dipo 12 m. p. A Mérida 9 m. p.”
Omito os nomes das cidades de que a seu tempo se tratará. Neste itinerário, na
propriedade do Ilustríssimo Duque de Aveiro, à qual chamam “Pinheiro” e que fica
à distância de 20 mil pasos de Tróia e a 16 mil passos de Alcácer do Sal, subsistem
ruínas de uma povoação 265. Encontra-se aí um cipo, nada grosseiro, em que se lê:
[149]
L. AELIO. AVRELI
O. COMMODO.
IMP. ANTONI
NI. AVG. PII. P. P.
FILIO. COS. DE
SIGNATO. P. M.
D. D.
Isto é: A Lúcio Élio Aurélio Cómodo, filho do imperador Antonino Augusto Pio,
pai da pátria, cônsul designado, pontífice máximo, dedicaram 266.
Entre Alcácer do Sal e Évora, na colina sobranceira ao pequeno rio que tem o
nome de Mourinho, está, ainda hoje, uma coluna gravada, que diz assim:
Livro Terceiro • Liber Tertius 281
L. AELIO. AVRELI
O. COMMODO.
IMP. ANTONI
NI. AVG. PII. P. P.
FILIO. COS. DE
SIGNATO. P. M.
D. D.
Hoc est: Lucio Aelio Aurelio Commodo Imperatori, Antonini Augusti Pii patris
patriae filio, consuli designato, pontifici maximo, dedicarunt.
Inter Salaciam, atque Eboram, in colle super flumen, cui riuo Maurino nomen
est, columna adhuc extat ad hunc modum inscripta:
282 As Antiguidades da Lusitânia
[150]
[151] Isto é: O Imperador César Marco Aurélio Antonino, Pio, Feliz, Augusto,
Pártico Máximo, Britânico Máximo, Germânico Máximo, Pai dos soldados, vinte
vezes com poder tribunício, três vezes general, quatro vezes cônsul, Pai da Pátria,
procônsul, filho do Divino Septímio Severo Pio, Arábico, Adiabénico, Pártico Máximo,
Britânico Máximo, neto do Divino Marco Antonino Pio, Germânico, Sarmático, bisneto
do Divino Antonino Pio, trineto do Divino Adriano, tetraneto do Divino Trajano e
do Divino Nerva, reparou-a 267.
Junto ao décimo segundo miliário da mesma estrada, a contar de Évora, estão duas
colunas na propriedade a que chamam “Tabuleiros”. Uma tem as letras completamente
corroídas pelo tempo, a outra conservou-se em melhor estado com esta inscrição:
iMP. caes.
Maxi
Miano
Pio. Feli
ci. avg. ebo
ra. M. P.
xii.
[152] Isto é: Ao Imperador César Maximiano, Pio, Feliz, Augusto. A doze mil
passos de Évora 268.
Livro Terceiro • Liber Tertius 283
[150]
[151] Hoc est: Imperator Caesar, Diui Septimii Seueri Pii, Arabici, Adiabenici,
Parthici Maximi, Britannici Maximi filius, Diui Marci Antonini Pii Germanici,
Sarmatici nepos, Diui Antonini Pii pronepos, Diui Adriani abnepos, Diui Traiani
Parthici et Diui Neruae abnepos, Marcus Aurelius Antonius Pius Felix, Augustus,
Parthicus, Maximus Britannicus, Maximus Germanicus, Maximus pater militum,
tribunicia potestate uigesimum, imperator tertium, Consul quartum, pater patriae,
proconsul restituit.
iMP. caes.
Maxi
Miano
Pio. Feli
ci. avg. ebo
ra. M. P.
xii.
[152] Hoc est: Imperatori Caesari Maximiano Pio, Felici, Augusto. Ebora
millia passuum duodecim.
284 As Antiguidades da Lusitânia
No mesmo caminho existe num velho edifício uma igreja consagrada a Nossa
Senhora Mãe de Deus e frequentada com grande piedade. Este lugar chama-se
Toureja, e muito escrevi sobre ele no opúsculo dedicado a Quevedo Toledano 269.
Encontra-se aí uma mesa de mármore que Calpúrnia Sabina, mulher de Quinto Júlio
Máximo, mandou colocar num sepulcro em que foram colocados também os seus
dois filhos, curadores das vias. Diz assim:
D. M. S.
[153] Isto é: Consagrado aos deuses Manes. A Quinto Júlio Máximo, homem
ilustríssimo, questor da província da Sicília, tribuno de plebe, legado da província
Narbonense da Gália, pretor designado, de quarenta e oito anos. Dedica Calpúrnia
Sabina ao seu óptimo marido.
A Quinto Júlio Claro, homem ilustríssimo, quatuórviro encarregado das estradas, de
vinte e um anos. A Quinto Júlio Nepociano, jovem ilustríssimo, quatuórviro encarregado
das estradas, de vinte anos. Dedica Calpúrnia Sabina aos seus filhos 270.
Eodem itinere in ueteri aedificio templum est Virgini Dei Matri sacrum, et
magna religione cultum. Turegiam locum eum uocant. De quo multa in libello
ad Kebedium Toletanum scripsi.
Ibi mensa marmorea est, quam sepulchro Q. Iulii Maximi Calpurnia Sabina
uxor imponendam curauit. In quo sepulchro duo etiam filii eius uiarum curatores
fuere conditi. Ea sic habet:
D. M. S.
[153] Hoc est: Diis Manibus sacrum. Quinto Iulio Maximo, clarissimo uiro,
quaestori prouinciae Siciliae, tribuno plebis, legato prouinciae Narbonensis
Galliae, praetori designato, annorum quadraginta octo. Calpurnia Sabina
marito optimo.
Quinto Iulio Claro, clarissimo uiro, quartum uiro uiarum curandarum,
annorum uiginti unius. Quinto Iulio Nepotiano, clarissimo iuueni, quartum uiro
uiarum curandarum, annorum uiginti. Calpurnia Sabina filiis.
[154] A segunda conserva-se com esta inscrição, que já se lê, porém, a custo
e que diz:
[155] Isto é: Ao Imperador César Marco Aurélio Antonino Pio, Feliz, Augusto,
Pontífice Máximo, duas vezes com o poder tribunício, duas vezes cônsul, procônsul,
pai da pátria, príncipe valentíssimo e felicíssimo, filho do Divino Antonino Magno,
neto do Divino Septímio Severo Pio. A vinte e dois mil passos de Évora 272.
Em Elvas, na casa de certo fidalgo, estão por terra duas colunas para ali levadas
da estrada, mas com as letras tão deterioradas que dificilmente em cada linha são
visíveis duas ou três. Além disto nada mais vi desta estrada.
São evidentes ainda os vestígios de uma estrada calcetada de Évora a Beja. Há
colunas por vários sítios, umas, mesmo agora, de pé, outras tombadas, partidas
e cobertas de terra. De resto, subsistem duas pontes arruinadas sobre os rios
Xarrama, Murtária e Odivelas, aqui escoras, além pilares e bases de pilares. As letras
desapareceram das colunas e apenas numa dificilmente consegui ler estas, apesar
de as ter examinado durante bastante tempo, e dizem:
Livro Terceiro • Liber Tertius 287
[154] Altera stat cum inscriptione hac, quae tamen aegre iam legitur:
[155] Hoc est: Imperatori Caesari, Diui Antonini Pii Magni filio, Diui Septimii
Seueri Pii nepoti, Marco Aurelio Antonino Pio, Felici, Augusto, Pontifici Maximo,
tribunitia potestate secundum, consuli secundum, proconsuli, Patri patriae,
fortissimo felicissimoque principi. Ebora millia passuum uiginti duo.
[156]
iMP. caes
vae neP
ianvs hadr
cos. iii
Isto é: Ao Imperador César... neto de Nerva, Trajano, Adriano, três vezes cônsul...273.
A Tavira 24 m. p.
A Estói 16 m. p.
A Arani 60 m. p.
A Rarapia 35 m. p.
A Évora 44 m. p.
A Serpa 13 m. p.
A Fines 20 m. p.
A Aroce 25 m. p.
A Beja 30 m. p.”
E deve seguir-se logo outro caminho, que está bem assinalado, de Castro Marim
a Beja por atalho. É assim:
De Mértola 40 m. p.
De Beja 36 m. p.”
Também viciada por grande deturpação está uma distância no caminho que
descreve Antonino de Alcácer do Sal a Estói. De facto tem: “De Alcácer do Sal, [158]
de Estói 16 m. p.” 276. São, no entanto, para cima de 116 mil passos.
Livro Terceiro • Liber Tertius 289
[156]
iMP. caes
vae neP
ianvs hadr
cos. iii
Hoc est: Imperatori Cesari Neruae Nepoti Traianus Hadrianus consul tertium.
Balsa M. P. XXIIII.
Ossonoba M. P. XVI.
Arani M. P. LX.
Rarapia M. P. XXXV.
Ebora M. P. XLIIII.
Serpa M. P. XIII.
Fines M. P. XX.
Arucci M. P. XXV.
Pace Iulia M. P. XXX.”
Et statim sequi debet alterum iter per compendium ab Esuri Pacem Iuliam,
quod bene signatum est. Ita enim habet:
“Item ab Esuri per compendium, Pace Iulia. M. P. LXVI. Sic:
Myrtili M. P. XL.
Pace Iulia M. P. XXXVI. ”
D. D. N. N.
AETERN. IMPP.
C. AVRE. VALER-
IO. IOVIO. DIOCLE
TIANO. ET
M. AVR. VALERI
O. ERCVLEO
MAXIMIANO
PIIS. FEL. SEMPER AVGG.
TERMINVS INTER
PACENS. ET EBORENS.
CVRANTE. P. DATIANO
V. P. PRAESIDE. HH.
N. M. Q. EORVM
DEVOTISSIMO
HEINC PACENSES.
[159] Isto é: Pela eternidade dos nossos Senhores. Sendo Imperadores Gaio Aurélio
Valério Jóvio Diocleciano e Marco Aurélio Valério Hercúleo Maximiano, Pios, felizes,
sempre Augustos, estabeleceu-se o termo entre Pacenses e Eborenses por diligência de
Públio Daciano, homem patrício, governador das Hispânias, muito zeloso da divindade
e majestade deles. Deste lado os Pacenses, deste os Eborenses. 278.
Benavente 38 m. p.
Alter do Chão 28 m. p.
Ponte de Sor 27 m. p.
Açumar ou Alegrete 8 m. p.
Nossa Senhora de Betove 12 m. p.
Plagiária 8 m. p.
Mérida 30 m. p.”
Livro Terceiro • Liber Tertius 291
D. D. N. N.
AETERN. IMPP.
C. AVRE. VALER-
IO. IOVIO. DIOCLE
TIANO. ET
M. AVR. 1 VALERI
O. ERCVLEO
MAXIMIANO
PIIS. FEL. SEMPER AVGG.
TERMINVS INTER
PACENS. ET EBORENS.
CVRANTE. P. DATIANO
V. P. PRAESIDE. HH.
N. M. Q. EORVM
DEVOTISSIMO
HEINC PACENSES.
É evidente que as distâncias estão enganadas, pois indo a direito por ali, de
[160] Lisboa a Mérida, contamos cinquenta e três léguas e estas perfazem 220 mil
passos, assim: de Lisboa a Benavente, atravessando o Tejo junto a Vila Franca, 8
léguas; dali a Salvaterra, que uns pensam será Arício, outros Pretório, l légua; depois
Culucos, que outros admitem que seja Tubucos (Abrantes), e daí todo o caminho
suburipontano 280.
O outro, por Santarém, é assim:
“Igualmente por outro caminho de Lisboa a Mérida, 220 mil passos. Assim 281:
Povos 30 m. p.
Santarém 32 m. p.
Abrantes 32 m. p.
Alpalhão 32 m. p.
Aramenha 30 m. p.
Açumar ou Alegrete 13 m. p.
Plagiária 20 m. p.
Mérida 30 m. p.”
[161] As colunas desta estrada, umas quebradas pela acção do tempo, outras
calcinadas por inúmeros fogos, apenas deixam ver vestígios de letras desgastadas.
Aconteceu que as vi e é assim que as têm.
Por outro lado, o caminho, a partir de Santarém, sobranceiro ao ópido de
Almeirim, era conduzido através das nascentes do rio Alpiarça. Em qualquer lado
se vêem grosseiros fragmentos de colunas, das quais nada havia a transcrever.
Depois, apesar de ter encontrado no caminho quatro colunas caídas, apenas pude
ler numa delas o seguinte:
[162]
iMP.
caes. caivs
ivlivs ver
nob. iMPera
tor. v.
v tribvni-
ciae. Po
test. cos. Pro. P.
P
Patriae
Isto é: O Imperador César Gaio Júlio Vero, nobre general vencedor cinco vezes,
com o poder tribunício, cônsul, procônsul, pai da pátria… 282.
Livro Terceiro • Liber Tertius 293
Corruptos esse numeros hinc apparet. Nam recto isthac itinere ab [160]
Olisipone Emeritam, numeramus tres et quinquaginta leucas, eae conficiunt
ducenta duodecim millia passuum. Sic:
Ab Olisipone Beneuentum, traiecto ad Villam Francam Tago, leucae octo.
Inde Saluaterram, quae an Aritium Praetorium sit, alii expendant, leuca una.
Inde Culucci, ad, quod an Tubucci sit, alii quoque expendant, et inde tota uia
suburipontana.
Alterum per Scallabin, sic:
“ Item Alio Itinere ab Olisipone Emeritam. m. p. CCXX. sic:
Hierabriga M. P. XXX.
Scallabis M. P. XXXII.
Tubucci M. P. XXXII.
Fraxinum M. P. XXXII.
Medobriga M. P. XXX.
Ad septem Aras M. P. XIII.
Plagiaria M. P. XX.
Emerita M. P. XXX. ”
[161] Huius uiae columnae partim uetustatis iniuria diffractae, partim crebris
ignibus adustae tantum abrasarum litterarum uestigia demonstrant. Quas mihi
uidere contigit, ita habent.
Iter autem a Scallabi supra Almerinum oppidum, per Alpiarsae fluuii initia
ducebatur.
Alicubi fragmenta rudia columnarum apparent, ex quibus nihil erat quod
scriberem. Postea quum quattuor collapsas inuenissem, in una earum haec
tantum potui legere:
iMP.
caes. caivs
ivlivs ver
nob. iMPera
tor. v.
v tribvni-
ciae. Po
test. cos. Pro. P.
P
Patriae
Hoc est: Imperator Caesar Caius Iulius Verus, nobilis imperator, quintum
tribuniciae potestatis, consul, proconsul, pater patriae.
294 As Antiguidades da Lusitânia
iMP. caes.
traianvs. avg.
ger. Pont. Max.
trib. Potestat
is. ii. restitv
it.
x
i
restitv
tor vrbis.
iMP.
caesari
clavdi
o. tacito
Pio. F. in.
victo.
avg.
Pont. M.
trib. Po
testa
tis. ii
cos. Pro.
Livro Terceiro • Liber Tertius 295
iMP. caes.
traianvs. avg.
ger. Pont. Max.
trib. Potestat
is. ii. restitv
it.
x
i
restitv
tor vrbis.
[165]
iMP.
caesari
clavdi
o. tacito
Pio. F. in.
victo.
avg.
Pont. M.
trib. Po
testa
tis. ii
cos. Pro.
296 As Antiguidades da Lusitânia
Isto é: Ao Imperador César Cláudio Tácito, Pio, feliz, invicto, Augusto, pontífice
máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, procônsul… 285
[166] Mil passos depois e estavam três colunas, duas caídas, com letras desgastadas
pelo tempo, e uma de pé que tem o seguinte:
iMP.
caesari
M.
clavdio
tacito
Pio. F. in
victo
avg. PontiF.
M. trib.
Potesta
tis. ii. cos.
P. P.
[167] Isto é: Ao Imperador César Marco Cláudio Tácito, pio, invencível, Augusto,
pontífice máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, pai da pátria 286.
Mil passos a seguir estão duas colunas tombadas e no fim de uma delas apenas
podem ser lidas estas palavras:
cos.
iiii. Procos.
reFecit.
[168] Mil passos adiante, junto à encruzilhada a que chamam Mestas, estão quarto
colunas caídas. Três têm inscrições inutilizadas, mas numa lê-se:
Livro Terceiro • Liber Tertius 297
Hoc est: Imperatori Caesari Claudio Tacito, Pio, felici, inuicto, Augusto,
pontifici maximo, tribuniciae potestatis secundum, consuli, proconsuli.
[166] Post mille passus, tres columnae: duae collapsae abrasis uetustate
litteris, una erecta, quae sic habet:
iMP.
caesari
M.
clavdio
tacito
Pio. F. in
victo
avg. PontiF.
M. trib.
Potesta
tis. ii. cos.
P. P.
[167] Hoc est: Imperatori Caesari Marco Claudio Tacito pio, felici, inuicto,
Augusto, pontifici maximo, tribuniciae potestatis secundum, consuli, patri
patriae.
Post mille passus duae collapsae, in fine unius hae tantum legi possunt
litterae:
cos.
iiii. Procos.
reFecit.
[168] Post mille passus, iuxta diuersorium quod uocant Mestas, quattuor sunt
columnae collapsae: tres corruptas habent inscriptiones; in una sic legitur:
298 As Antiguidades da Lusitânia
[169] Isto é: O Imperador César Gaio Júlio Vero Maximiano, Pio, Feliz, invencível,
Augusto, pontífice máximo, pai da pátria, três vezes com o poder tribunício, cônsul,
Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, e Gaio Júlio Vero Máximo,
nobilíssimo César, príncipe da juventude, Germânico Máximo, Dácico Máximo,
Sarmático Máximo, quarto filho do Imperador César Gaio Júlio Vero Maximino,
Pio, Feliz, Augusto, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo,
valentíssimo. 288
Livro Terceiro • Liber Tertius 299
[169] Hoc est: Imperator Caesar Caius Iulius Verus Maximinus pius, felix 1,
inuictus, Augustus, pontifex maximus, pater patriae, tribunitiae potestatis ter,
consul, Germanicus Maximus, Dacicus Maximus, Sarmaticus Maximus, et Caius
Iulius Verus Maximus nobilissimus Caesar, princeps iuuentutis, Germanicus
Maximus, Dacicus Maximus, Sarmaticus Maximus, imperatoris Caesaris Cai Iuli
Veri Maximini, Pii, Felicis, Augusti, Germanici Maximi, Dacici Maximi, Sarmatici
Maximi, fortissimi Caesaris filius quattuor.
LIBER QVARTVS
302 As Antiguidades da Lusitânia
[170] Passarei agora às cidades que constituem parte não desprezível do meu
plano. Grande número delas perdeu os nomes antigos ainda ao tempo dos Romanos.
Lívio nomeia muitas, tal como as recebeu dos escritores antigos, as quais actualmente
ou é impossível ou é difícil reconhecer, porque os Romanos posteriormente lhes
deram outros nomes.
Comecemos por aquela parte da Bética, que é agora um apêndice da Lusitânia e onde,
conforme lembrámos no livro I, estão Olivença, Mourão, Moura, Mortigão e Noudar1.
Da cidade de Olivença, entretanto, nada tenho até agora que interesse à sua
antiguidade a não ser a inscrição que me enviaram de um cipo ali encontrado e
onde está escrito:
[171]
d. M. s.
c . a n t e s t i v s c a lv v s
c. antestivs Procv
lvs. h. s. s. cornelia
tertvlla. viro et Filio
de. s. P. F. c.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jazem Gaio Antéscio Calvo e Gaio Antéscio
Próculo. Cornélia Tertula mandou fazer à sua custa para o marido e filho 2.
Moura
Estou convencido de que o insigne ópido de Moura foi Nova Aroche pelo
seguinte cipo que aí li. Diz ele:
[172]
ivliae. agriPPinae.
caesaris. avg. gerManici
Matri. avg. nova
civitas arvccitana.
Isto é: A Júlia Agripina, mãe augusta de César Germânico dedica a nova cidade
Arucitana 3.
Livro Quarto • Liber Quartus 303
[170] Vrbes nunc aggrediar, non minimam intentionis meae partem. Quarum
pleraeque, etiam Romanis temporibus, prisca nomina amiserunt. Multas nominat
Liuius a uetustioribus acceptas, aut nullo nunc modo, aut aegre intellectas,
quoniam iis alia Romani postea uocabula imposuerunt.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Caius Antestius Caluus, Caius Antestius Proculus
hic siti sunt. Cornelia Tertulla uiro et filio de sua pecunia fieri curauit.
DE MAVRA
Mauram insigne oppidum, nouum fuisse Arucci, ex cippo istius modi, quem
ibi legi, persuasum habeo:
[172]
ivliae. agriPPinae.
caesaris. avg. gerManici
Matri. avg. nova
civitas arvccitana.
Hoc est.: Iuliae Agrippinae, Caesaris Augusti Germanici Matri Augustae, noua
Ciuitas Aruccitana.
304 As Antiguidades da Lusitânia
[173] Ora, eu penso que se dizia nova Arouche porque subsiste até agora, e
conserva o nome, a antiga Aroche. Em realidade, diz-se vulgarmente Arouche, que
é como é chamada por Ptolomeu4, e deixa-se ver claramente que é em língua grega.
A velha Aroche já é contudo pouco populosa.
Os naturais de Moura ajustam ao novo nome aquilo a que não sei se chame
fábula. Existiu certo pequeno rei mouro, senhor daquela zona, que foi morto quando,
por uma questão de fronteiras, combatia contra outro mais poderoso. Embora o
vencedor já tivesse procurado frequentemente seduzir a mulher daquele, que era
de extrema beleza, e até recorresse a ameaças, caso não quisesse ceder, com ódio
tenaz deixou ela sempre sem resposta os pedidos do assassino. Não tendo confiança
na antiga Aroche por causa da proximidade do inimigo, partiu para a nova cidade
Arucitana não só mais segura pela localização como mais apropriada pela boa
qualidade de um solo mais fecundo. Como os naturais de Aroche lhe chamavam
vulgarmente moura, aconteceu que mesmo a própria cidade foi a partir desse facto
denominada Moura 5.
Também na área da mesma cidade subsistem muitos vestígios da antiguidade.
Entre Moura e Ficalho, povoação meio destruída junto à aldeia a que chamam Vale
de Vargo, encontrei entre as ruínas de um antigo templozinho – onde os vindouros,
com melhor religião, elevaram uma capela dedicada a S. Miguel – quatro cipos
quebrados e já deformados, com as letras carcomidas pelo tempo. Um deles, que é
o único completo, foi fielmente transcrito por mim e diz o seguinte:
[174]
DIS. MAN
IBVS. AVRIILIAII
M. F. GALLAII. A
NNO. XII.
H. S. E. S. T. T. L.
Isto é: Aos deuses Manes. Aurélia Gala, filha de Marco, de 12 anos, aqui jaz.
Que
a terra te seja leve 6.
[175]
[173] Nouum autem Arucci dici puto, quoniam adhuc superest Arucci uetus,
nomenque retinet. Vulgo enim “Arouche” dicitur, proferturque plane Graece, ut
a Ptolemaeo uocatur.
Parum tamen iam frequens est Arucci uetus.
Accommodant Maurenses nouo nomini, haud scio an fabulam appellem.
Fuisse Maurum regulum quendam tractus illius dominum, qui cum de finibus
cum altero potentiore bellum gereret, atque in proelio cecidisset, eiusque uxorem
forma luculenta mulierem saepe uictor interpellasset, additis nisi acquiesceret
minis, illam contumaci odio interfectoris postulata respuisse.
Hoc est: Diis Manibus, Aureliae Marci filiae Gallae annorum duodecim, hic
sita est, sit tibi terra leuis.
[175]
“Marco Pôncio Hedisto mandou fazer para a sua mulher Dene, que bem o mereceu.
Viveu comigo três anos” 7.
E o corrector anotou que encontrara ainda noutro lado postos dois II em vez de E.
Também é de Ficalho o seguinte cipo, onde está escrito:
d. M. s.
vlPia. M. F.
Marcella
annorvM
liii.
h. s. e. s. t. t. l.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Úlpia Marcela, filha de Marco, de
53 anos. Que a terra te seja leve 8.
d. M. s.
vibia. cr
isPia rv
Fini. ara
bricensis
annor.
lxvii.
h. s. e. s. t. t. l.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Víbia Críspia [filha
[ ] de Rufino
Arabricence, de 67 anos. Que a terra te seja leve 9.
d. M. s.
F
Fabia Prisca
serPensis. c. r.
ann. xx. h. s. e. s. t. t. l.
c. geMinivs. Pris
cvs Pater
P . et
F
Fabia cadilla Ma
ter. Posvervnt.
Livro Quarto • Liber Quartus 307
d. M. s.
vlPia. M. F.
Marcella
annorvM
liii.
h. s. e. s. t. t. l.
Hoc est: Diis Manibus sacr um. Vlpia Marci filia Marcella annor um
quinquaginta trium, hic sita est, sit tibi terra leuis.
d. M. s.
vibia. cr
isPia rv
Fini. ara
bricensis
annor.
lxvii.
h. s. e. s. t. t. l.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Vibia Crispia Rufini Arabricensis annorum
sexaginta septem, hic sita est, sit tibi terra leuis.
Insigne quoque oppidum Serpa non multum mihi negotii exhibuit, nomen
enim illaesum usque ex antiquo retinet, ut apud Antoninum in Itinerario est,
et in cippo iuxta oppidum reperto:
[177]
d. M. s.
F
Fabia Prisca
serPensis. c. r.
ann. xx. h. s. e. s. t. t. l.
c. geMinivs. Pris
cvs Pater
P . et
F
Fabia cadilla Ma
ter. Posvervnt.
308 As Antiguidades da Lusitânia
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Fábia Prisca de Serpa, cidadã
romana, de 20 anos. Que a terra te seja leve. Seu pai, Gaio Gemínio Prisco, e sua
mãe, Fábia Gadila, mandaram erigir 10.
O ALGARVE DA LUSITÂNIA
MÉRTOLA
Mírtilis, a quem chamamos Mértola, situada sobre o rio Guadiana, está cheia
de grande número de monumentos da antiguidade como cipos, colunas e estátuas
Livro Quarto • Liber Quartus 309
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Fabia Prisca Serpensis ciuis Romana annorum
uiginti, hic sita est, sit tibi terra leuis. Caius Geminius Priscus pater et Fabia
Cadilla mater posuerunt.
LVSITANIAE ALGARBIVM
Anae proximum, quia lata sede procurrens, paulatim se, ac sua latera fastigiat,
Cuneus ager dicitur: sequens Sacrum uocant; Magnum, quod ulterius est.”
Aduertant lectores promontoria hic non uocari ipsa tantum terrae acumina,
quae mar i imminent, sed totos late etiam tractus, qui tandem acumine in mare
desinunt.
Ita Liuius decadis 3, libro primo: “Praegressus signa Annibal in promontorio
quodam.”
Patet hoc ex ipsa Pomponii descriptione: “Quia lata sede procurrens paulatim
se ac sua latera fastigiat, Cuneus Ager dicitur”, uidelicet ad similitudinem cunei
quo ligna scinduntur.
Graeci Sphina uocarunt promontorium hoc, Latini Cuneum.
Nostra aetas Sanctae Mariae caput appellat, sicut et sequens, quod sacrum
dicebatur, Sancti Vincentii caput uulgo dicitur.
Prisci tamen nominis uestigium ibi in oppido Sacri adhuc perseuerat.
DE MYRTILI
que Godos e Mouros, por serem uns e outros de inteligência perfeitamente bárbara,
utilizaram largamente para reparar as muralhas em vez de pedra de alvenaria. Os
habitantes de Mértola permitiram, há alguns anos, que levassem dali oito ou dez
estátuas, escavadas da terra, artisticamente esculpidas mas sem cabeça. Admite-se
que as cabeças fossem de bronze e inseridas nos corpos e que tivessem mesmo
sido arrancadas para outro uso.
Dista de Beja 36 mil passos rigorosos, ou seja, 9 das nossas léguas tal como
disse Antonino no Itinerário 17.
Plínio l8 deixou escrito que Mértola, assim como Évora e Alcácer do Sal, foi
município com o direito do velho Lácio. Ptolomeu 19 deu-lhe o cognome de Júlia.
[180]
TAVIRA
ESTÓI
Quanto a Ossónoba, foi quase destruída. São visíveis ainda alguns vestígios da
sua antiga grandeza aqui e ali pelos arredores, sobretudo nas muralhas da cidade
de Faro, sua vizinha e mais litoral.
Esta cidade foi sede episcopal como é evidente pelos concílios em que assinou
o bispo de Ossónoba 24.
O nome modificou-se um pouco no tempo dos Mouros. O mouro Rasis chama-lhe
Exúbana por deturpação natural da língua púnica. É este o seu testemunho acerca
dessa cidade, testemunho não literal mas de sentido: “Exúbana está situada numa
região de solo fértil, com aptidão cerealífera, plano e com árvores de fruto. Tem
ainda pinhais, montes extremamente favoráveis para a criação de gado e também,
em grande número, hortas irrigadas, pois abunda em fontes e cursos de água. Produz
um óptimo âmbar. Está perto do mar, onde se encontram algumas [181] ilhotas
favoráveis para o tráfego de embarcações e para importações. A cidade, entre as
que lhe são iguais pelo tamanho, é das melhores de todo o mundo. Tem sob a sua
jurisdição e soberania alguns ópidos, um dos quais é Silves, situado sobre o estuário
que saindo do mar se mistura com um pequeno rio” 25. Escreveu ele até aqui.
Por vicissitudes da fortuna, Silves foi adornada com a autoridade pontificial e
Ossónoba reduziu-se a simples aldeia. Também Faro, na sua proximidade, se torna
famosa e cresce à custa das suas ruínas. Nem o próprio nome escapou a ser exposto
à injúria. De Ossónoba passou a Exúbana e hoje, embora já não esteja próxima,
chama-se Estói 26.
Livro Quarto • Liber Quartus 311
[180]
DE BALSA
Olim uocatam Balsam, eam esse coniicimus, quae nostro tempore Tauilla
nominatur, maxima Algarbii ciuitas. Eius, praeter Pomponium, meminere Plinius,
Ptolemaeus, et in Itinerario Antoninus.
DE OSSONOBA
Ossonoba uero diruta paene est, quuius priscae nobilitatis nonnulla adhuc
extant uestigia, passimque per uiciniam praecipue in muris Phari propinquae
ciuitatis, magisque litoralis.
Haec urbs sedes fuit episcopalis, ut liquet ex Conciliis, in quibus Ossonobensis
Episcopus subscripsit.
Nomen Maurorum temporibus paululum inuersum est. Rasis Maurus Exubanam
eam uocat, ingenito linguae Punicae uitio.
Quuius de ea testimonium, non ad uerbum, sed ad sensum istiusmodi est:
“Exubana solo fertili ac frumentario sita est, plano et fructiferis arboribus
consito. Habet etiam pineta, et montes ad alenda pecora maxime accomodatos.
Hortos quoque irriguos multos, quoniam fontibus ac fluentis abundat. Electrum
producit optimum. Mari uicina est, ubi aliquot sunt [181] insulae paruae, cymbis
ac nauiculis ad usum et inuectiones opportunae. Ciuitas inter eadem magnitudine
pares de melioribus totius est orbis. Sub iure ac dominio suo habet oppida
nonnulla, e quibus Siluis est, sita super aestuarium quod a mari egressum paruo
fluuio commiscetur.”
Hactenus ille.
Fortunae uicissitudine facta, Siluis pontificio exornata est. Ossonoba uero in
uicum redacta, de quuius quoque ruinis proxima Pharus nobilitatur et crescit.
Nec ipsum nomen iniuriae non patuit. Ex Ossonoba in Exubanam transiit, et
312 As Antiguidades da Lusitânia
Na muralha de Faro, entre o baluarte novo e outro levantado por Rui Barreto,
há um cipo onde está escrito:
[182]
Isto é: Ao Imperador César Públio Licínio Valeriano, Pio, Feliz, Augusto, pontífice
máximo, pai da pátria, no seu terceiro poder tribunício, cônsul, a República
Ossonobense, por decreto da ordem, ofereceu e dedicou, com a maior devoção ao
seu génio e majestade 27.
[183] Em certa torre do lado do mar existe um cipo, onde está escrito:
d. M. s.
catvrisae Pri
Mae. conivgi PiissiMae
qvae. vixit. ann. xxv.xxv
M. viii. l. calP. the
odorvs. Marit.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. A Caturisa Prima, modelo de esposa, que viveu
vinte e cinco anos e oito meses, dedica Lúcio Calpúrnio Teodoro, seu marido 28.
[184] Entre Faro e Tavira, na torre a que chamaram Torre Marinha, há um cipo
onde está escrito:
d. M. s.
c. annivs
roMvlvs
annorvM
xxviii.
h. s. e. s. t. t. l.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Gaio Ânio Rómulo de vinte e oito
anos. Que a terra te seja leve 29.
Livro Quarto • Liber Quartus 313
quum iam prope non sit, Estoi nuncupatur. Phari in muro inter propugnaculum
nouum et alterum a Roderico Barreto extructum cippus est:
[182]
Hoc est: Imperatori Caesari Publio Licinio Valeriano, Pio, Felici, Augusto,
pontifici maximo, patri patriae, Tribunicia potestate tertium, consuli, Respublica
Ossonobensis ex decreto ordinis deuotissima numini maiestatis eius dedicauit.
d. M. s.
catvrisae Pri
Mae. conivgi PiissiMae
qvae. vixit. ann. xxv.xxv
M. viii. l. calP. the
odorvs. Marit.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Caturisae primae coniugi piissimae, quae uixit
annos uiginti quinque, menses octo. Lucius Calpurnius Theodorus maritus.
d. M. s.
c. annivs
roMvlvs
annorvM
xxviii.
h. s. e. s. t. t. l.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Caius Annius Romulus annorum uiginti octo,
hic situs est, sit tibi terra leuis.
314 As Antiguidades da Lusitânia
M. CORNELIVS ERIDIMVS. C.
IVNIVS. RECEPTVS. OB HONO
REM. IIIIII VIR. D. S. P.
D. D.
[185] Isto é: Marco Cornélio Eridimo e Gaio Júnio Recepto em honra do Sevirato
ofereceram à sua custa 30.
LAGOS
Só não sei donde terá tirado isto. Como a fama deste poeta já esfriou muito,
poderão ver, se quiserem, o que diz mais a respeito de Lagos aquelele em cujas
mãos tenha vindo a parar este livro.
Livro Quarto • Liber Quartus 315
M. CORNELIVS ERIDIMVS. C.
IVNIVS. RECEPTVS. OB HONO
REM. IIIIII VIR. D. S. P.
D. D.
[185] Hoc est: Marcus Cornelius Eridimus, Caius Iunius receptus ob honorem
Seuiratus de sua pecunia dedicarunt.
In sinistro cornu Sacris oppidum est quod adhuc promontorii nomen refert.
In dextro nobile Diui Martyris ac Leuitae Vincentii templum, quuius corpus,
quonam pacto ex Valentia delatum eo sit, tyrannidem exercente in Sanctorum
reliquias Abderramene, quum in meo de eodem Diuo poemate, tum in libello
ad Kebedium Toletanum, late explicaui.
Veteres geographi urbium huius tractus nequaquam mentionem faciunt. Vnus
Pomponius, utpote Baeticus, et non longo interuallo dissitus, Lacobrigae ac
Portus Annibalis maritimarum ciuitatum meminit. “In sacro – inquit – Lacobriga,
et Portus Annibalis”.
DE LACOBRIGA
Quod nescio unde fuerit mutuatus. Quuius poetae, quoniam multum iam fama
refrixit, cetera quae ad Lacobrigam attinent uidere poterunt, si uelint, quorum
in manus liber is deuenerit.
316 As Antiguidades da Lusitânia
PORTO DE ANÍBAL
Apresentavam-se duas fozes a quem hesitava sobre Porto de Aníbal. Uma, junto
a Vila Nova, por cognome Portimão, é a foz daquele rio que, correndo pela cidade
de Silves para onde foi transferida de Ossónoba a sede episcopal, se lança no mar;
a outra junto à bem conhecida povoação do Alvor, e ambas num golfo capaz de
conter grandes e muitos navios. Não havia, porém, acesso ao interior das suas fozes
a não ser com o fluxo da maré.
O rio de Vila Nova, que corre a direito, é bastante acessível, [187] o de Alvor
é um pouco mais difícil por causa dos vários meandros e das areias que assoreiam
a foz à semelhança do que acontece na Sirte. Mas desde que se penetre quando
o estuário se abre, depara-se com um óptimo ancoradouro de navios. No interior
está uma pequena ilha, bastante elevada e plana no cimo, onde existiu outrora um
ópido. Subsistem por todo o lado muros, desde as fundações até meia altura de
alvenaria e daí para cima de taipa como a construção púnica. Todo o alto desse
terreno plano, cheio de entulho, paredes, pedaços de cerâmica e telhas, tem à vista
ruínas de edifícios. Porque ele entretanto desapareceu devido à muita antiguidade,
construíram os nossos antepassados Alvor, ali perto, na orla interna do estuário.
Pensamos que, de preferência a Vila Nova, cidade realmente recente, foi este o
chamado Porto de Aníbal por causa da situação do local donde os navios podiam
ser defendidos perfeitamente e os inimigos impedidos de avançar, tal como convinha
a um chefe experimentadíssimo na guerra e que tinha de prever.
Não ouso de modo algum afirmar com segurança em que data teria Aníbal
fundado este ópido. Mostrei contudo no terceiro volume 36 que Aníbal esteve na
Lusitânia. Vindo de Gades, “depois de ter cumprido as promessas a Hércules e de
se ter comprometido a outros”, como escreve Lívio no livro primeiro da década
terceira37, pôde chegar Aníbal a este promontório por causa de um templo dedicado
a Hércules e da crença geral de que os deuses dominavam esse lugar. Assim também,
segundo o testemunho de Estrabão38, e como acima referimos, pôde chegar devido
à tão convidativa amenidade do mar daquela zona e da situação favorável para as
operações militares.
[188]
MERÓBRIGA
DE PORTV ANNIBALIS
[188]
DE MEROBRIGA
g. cocilico. Fvsco
P
Patri .
ex test. cocilici
a Pastos
P
Isto é: Gaio Cocílico Fusco, seu pai, por disposição testamentária, Cocilícia
Pastos... 40.
c. nvMisio. c. F. Fvsco
vi. viro. sen
tatinia. q. F.
Fvlvianilla
vcsor
PerMittente. ord.
Merobrig.
Isto é: A Gaio Numísio Fusco, filho de Gaio, séviro [dedica] a mulher, Sentacínia
Fulvianila, filha de Quinto, com autorização da ordem senatorial de Meróbriga 41.
santiago do cacéM
Disse eu que a Meróbriga tinha sucedido o ópido de Santiago numa colina mais
alta que oferece vista para o mar e que não chega a distar 200 passos de Meróbriga.
[191] Dominava nesse local o tirano mouro Cacim quando o ópido foi retomado
pelos Cristãos. Deu origem ao nome uma imagem em mármore do apóstolo Tiago
Livro Quarto • Liber Quartus 319
g. cocilico. Fvsco
P
Patri .
ex test. cocilici
a Pastos
P
c. nvMisio. c. F. Fvsco
vi. viro. sen
tatinia. q. F.
Fvlvianilla
vcsor
PerMittente. ord.
Merobrig.
Hoc est:: Caio Numisio Caii filio Fusco sextum uiro Sentatinia Quinti filia
Fuluianilla uxor permittente ordine Merobrigensi.
que ali foi encontrada debaixo da terra e que ainda agora é religiosamente honrada
na região, cujo nome foi tirado da imagem do santo e o cognome do régulo sob
cuja autoridade estivera 42.
Os habitantes atribuem a reconquista à heroína Vataça 43 e porque a sua fama
está meio sepultada no esquecimento não deixará de ter interesse dedicar-lhe um
pouco de trabalho. Tinha-nos aberto caminho Jerónimo Zurita Valentim 44, homem
sabedor e historiador escrupuloso, mas como parece confundir João Vatatzes com
João Comeno, a que alguns chamam Coloiane, pai de Manuel Comeno, procuremos
o mesmo assunto em Nicetas Coniate, autor grego que viveu nessa época, e em
Baptista Egnácio 45.
Como o imperador da Grécia, Aléxio Ângelo, tivesse duas filhas muito novas e
viúvas e parecesse desejar para elas segundas núpcias devido à sua extrema juventude
e beleza, segundo diz Nicetas46, ajustou o casamento de Irene com Alésio Paleólogo
e o de Ana com Teodoro Láscaris, jovem corajoso e muito aguerrido. “Como forma
de dote – diz Egnácio – deu ao genro títulos de comando.» 47 E, de facto, quando
Láscaris escorraçou e venceu Manuel Maurozomes, que estava calçado com os sapatos
vermelhos, foi saudado com o título de imperador por todas as cidades orientais,
[192] segundo testemunha Nicetas 48. Todavia “não teve da mulher nenhum filho
varão mas tão-só uma filha, Irene, que uniu pelo casamento a João Diplobatásio e
a quem assim legou pessoalmente o império”. É isto que diz Egnácio. No entanto,
este a quem Egnácio chama João Diplobatásio é denominado João Vatatzes por
outros, que até são gregos, entre os quais Nicéforo Calisto49. Mas tanto Zonaras como
Nicetas lhe chamam Vatatzes 50. Por conseguinte, João Vatatzes deixou como sucessor
o filho mais novo Teodoro Láscaris que ao morrer confiou a Miguel Paleólogo, na
qualidade de tutor, seu filho João e a sua filha Láscara. Mas Paleólogo, tendo morto
de forma altamente criminosa a criança, reivindicou para si o império 51.
Voltemos agora a Zurita 52, ao último capítulo do livro quinto da História de
Aragão. Láscara, ainda menina, receando incorrer também ela na violência do tirano,
veio para Génova com o auxílio de mercadores lígures. [193] Desposou na Ligúria
o conde Guilherme de Entemélio ou, como vulgarmente se diz, de Ventimiglia,
de quem teve um filho, João Láscaris, e três filhas. Quando o marido deixou em
Génova o filho que sucedeu ao pai no poder de Entemélio e, levando consigo as
filhas, dirigiu-se a Pedro, rei de Aragão, que tinha grande fama, para saber se acaso
se dignaria a prestar-lhe auxílio a fim de recuperar o império paterno de que, pela
tirania, havia sido despojada. O nobre rei acolheu-a com muita deferência e teve-a
como hóspede no reino de Valência. Deu em casamento a filha mais velha, Violante,
cognominada da Grécia, a Pedro, barão de Aierba e neto do rei Tiago; a segunda,
chamada Beatriz da Grécia, passamo-la por alto porque não é necessária a este
trabalho. Vataça, também da Grécia, não esteve casada muito tempo e teve uma filha
a quem pôs o seu nome e que Violante, sua tia materna, tratou de casar assim que
a idade o permitiu. [194] Como entretanto tivesse casado Isabel, filha do rei Pedro,
com Dinis de Portugal, Vataça, já viúva, veio também ao mesmo tempo devido à
Livro Quarto • Liber Quartus 321
eo loci reperta, quae nunc quoque religiose ibi colitur. Factumque nomen ab
Diui simulacro, cognomen autem a regulo sub cuius fuerat potestate.
Expugnationem referunt oppidani ad heroidem Batazam, cuius quia semisepulta
fama est, non abs re fuerit operae pauxillum impendere. Viam nobis aperuit
Hieronymus Zurita Valentinus 1 uir doctus et historiae diligens scriptor.
Sed quia Ioannem Batazen cum Ioanne Comneno, quem Caloiannem quidam
appellant, Manuelis Commeni patre, confundere uidetur, ex Niceta Choniate
Graeco auctore, qui ea tempestate fuit, et ex Baptista Egnatio rem ipsam
petamus.
Graeciae imperator Alexius Angelus cum duas haberet filias adolescentulas
ac uiduas, et eas ob adolescentiam et formam, ut ait Niceta, secundas nuptias
desiderare uideret, Irenem Alexio Palaeologo, Annam Theodoro Lascari,
adolescenti animoso et bellicosissimo despondit, “dotisque nomine – inquit
Egnatius – imperii titulos genero tribuit.”
Et quidem Lascaris, depulso et profligato Manuele Maurozome rubro calceo
induto, ab omnibus orientalibus urbibus imperator [192] consalutatus est, ut
testatur Niceta. Ceterum “ex uxore mascula illi proles nulla fuit. Femina tantum
Irene. Hanc Ioanni Diplobatazio in matrimonium iunxit, imperiumque illi per
manus tradidit.” Ita Egnatius. Sed quem Ioannem Diplobatazium ipse uocat,
Ioannem Batazem appellant alii, et quidem Graeci, inter quos Nicephorus
Callistus. Et Batazem 2 tam Zozaras quam Niceta saepe nominant.
Ioannes itaque Batazes filium Theodorum Lascarem minorem successorem
reliquit. Qui moriens Ioannem filium et filiam Lascaram Michaeli Palaeologo,
tutorio nomine commendauit. Verum Palaeologus, interfecto puero, per summum
scelus, sibi imperium uindicauit.
Redeamus modo ad Zuritam in Aragonicis libro quinto, capite ultimo. Lascara
puella, uerita ne et ipsa in tyranni saeuitiam incurreret, Ligurum mercatorum
auxilio Genuam uenit. [193] Nupsitque in Liguria Wilelmo Comiti Entemelii,
uel, ut uulgo dicitur, Vigintimilii. Peperitque ex eo filium Ioannem Lascarem,
et tres filias.
Mortuo marito, filium Genuae reliquit, qui patri in Entemelii dicione3 successit.
Ipsa filias secum ducens, ad Petrum Aragoniae regem, cuuius ingens erat fama, se
contulit, si forte dignaretur auxilium ferre, ad recuperandum paternum imperium
sibi per tyrannidem ereptum. Suscepit illam Rex nobilis honorificentissime,
et in Valentiae regno retinuit. Filiarumque maximam Iolanthen ex Graecia
cognominatam, uxorem dedit Petro Baroni Aierbae, regis Iacobi nepoti.
Secundam Beatricem ex Graecia uocatam praetermitto, huic operi non
necessariam. Bataza quoque ex Graecia, in matrimonio non diu fuit, peperitque
filiam, cui sui nomen imposuit. Hanc Iolanthe matertera, ubi per aetatem licuit,
nuptui collocandam curauit.
[194] Interea cum Isabella Petri regis filia nupsisset Dionysio Lusitaniae regi,
Bataza iam uidua, propter morum et uitae probitatem, una etiam uenit, fuitque
in Lusitania, quoad Constantiam ipsius Dionysii et Isabellae filiam, Ferdinandus
Castellae rex duxit in matrimonium. Tunc quoque Bataza spectatae uirtutis
matrona, nouam nuptam comitata est, tanquam moderatrix eius adolescentiae.
Quae quum partu edidisset Alphonsum postea regem, non diu superstite marito,
regis filii cum Bataza nutricationem sedulo curabat. Sed subducto a materna
cura infante auiae consilio, quae ad suam potestatem transferre maluit, regina
mater et recenti uiduitate maesta, et praecipue nutriendi filii solatio destituta,
insuper alendae familiae impar, quod peranguste admodumque tenuiter, nec pro
regia dignitate, sumptus suppeditaretur, ex dolore morbum incurrit decessitque
in oppido Sancto Facundo. Et cum eius suppellex mundusque muliebris ad
satisfaciendum alumnis minime sufficeret, testamento a Dionysio patre atque
Isabella matre petiit, ut quod illi deerat, ipsi supplerent.
Bataza autem quum se inuidiosam ex praeterita potentia indies persentiret, re
cum suis communicata, nauem adornari praecepit. Beneque tam ex suis copiis,
quam sororum auxilio instructam, conscendens per Mediterraneum mare exiit,
ac circumitis Gadibus et Sacro promontorio, ad flexum ubi oppidum Sinis est,
excensionem 1 fecit.
[195] Conuenerunt ad illam Christiani multi, et ex Sacra Spathophororum
Militiae equites non pauci, qui uicina loca tenebant, atque ad non spernendas
copias aucti, Cacem regulum oppido exuerunt. Extructoque templo Bataza
bonam ligni Sanctae Crucis partem, quam a Lascara matre Constantinopoli
delatam acceperat, in quadam templi pila conclusit, quae diu ignorata latuit,
donec miraculo fuit prodita.
Ob hoc solemne ibi est, dominicis ac celebrioribus diebus, quum post sacrificii
euangelium populum sacerdos alloquitur, etiam adhortari ut precentur Deum
pro Bataza Lascara, Graeciae imperatoris nepte.
Relicto in potestate Christianorum oppido, uenerabilis matrona Conimbrigam
se contulit, adhuc ilia tempestate urbem regiam, ubi facultates opesque suas
iis qui sibi inseruierant distribuens, pauperum nequaquam immemor, Ecclesiam
Cathedralem donariis multis ac praediis locupletauit. Sepulta ibi est in lapideo,
nec operoso monumento inscriptione simplici.:
[196]
TRÓIA
E porque na cidade de que estamos a falar era célebre a pesca e salmoura destes
peixes – tal como ainda agora em Sesimbra, que é uma vila da região quase no
litoral extremo do cabo Espichel –, chamou-se-lhe Cetóbriga.
Subsistem ainda hoje no litoral de Tróia os próprios tanques de salga feitos na
antiguidade de argamassa signina. [197] No meio da cidade coberta de areia está
um templo antiquíssimo que a religião cristã dedicou, depois de arranjado, à Virgem,
mãe de Cristo. Junto à entrada, sobre a porta, observa-se a cabeça de um carneiro
com os chifres retorcidos, feita de mármore, na verdade com grande arte. Não é
impossível que este templo e a imagem tivessem sido outrora de Júpiter Amon aí
venerada pelos pagãos para evitar os frequentes turbilhões de areia. Foi levada dali
para Setúbal uma estátua vestida de manto, também em mármore mas sem cabeça,
e igualmente esta inscrição de uma pedra quadrangular de jaspe branco que se
pode ver em Setúbal no convento de freiras que professam a regra de S. Domingos,
e onde está escrito:
[198] Isto é: Aqui jaz Lúcio Júlio Valente, liberto de Lúcio e Tício, de 25 anos.
Que a terra te seja leve. Copiro ao irmão 56.
Livro Quarto • Liber Quartus 325
[196]
DE CETOBRIGA
Causa nominis a “cetis”, et “briga” orta est. Briga siquidem uetere Hispanorum
lingua urbem significat, ut Arabriga, Conimbriga, Cetobriga, Lacobriga et multae
aliae. Prima uero compositi nominis pars, a “cetis” est facta. Cete magnos pisces
ut thynnos, omissis marinis belluis significare, et qui pisceis eos saliunt, condiunt
ac uendunt, cetarios appellari, notum est; lacus autem in quibus saliuntur,
cetariae et cetaria dicuntur; unde Horatius:
Quoniam uero in urbe hac, de qua nobis sermo est, celebris erat piscatio et
salsura talium piscitum, sicut etiam nunc Cecimbrigae, quod oppidum e regione
est, in extimo fere Barbarii promontorii litore, Cetobriga uocata ciuitas est. Durant
adhuc in Cetobrigensi litore ipsa cetaria, signino opere antiquitus fabricata.
[197] In medio obrutae arenis ciuitatis, fanum peruectus est, quod instauratum
Virgini Christi matri sacrauit Christiana religio. Ad quuius ingressum, supra
portam, arietis caput uisitur contortis cornibus, factum ex marmore et quidem
elegantissime.
Neque dissentaneum est fanum id, atque simulacrum Iouis Ammonis olim
fuisse, contra frequentes arenarum turbines, ab ethnicis ibi culti. Statua quoque
marmorea stolata illinc Neocetobrigam delata est, absque tamen capite. Inscriptio
quoque haec in quadrato iaspidis albi lapide, in parthenone uirginum Diui
Dominici institutum profitentium, Neocetobrigae extat:
[198] Hoc est : Lucius Iulius Lucii et Titi libertus Valens annorum uiginti
quinque hic situs est. Sit tibi terra leuis. Copirus fratri.
326 As Antiguidades da Lusitânia
SETÚBAL
Depois de Tróia se ter arruinado, a colónia mudou-se há cerca de 450 anos para
a outra margem do golfo voltado a norte, tendo-se juntado os pescadores neste
local. E é tão grande, não só aqui como em Sesimbra, situada, como disse, quase no
litoral extremo do cabo Espichel, a recolha de peixes de boa qualidade, visto que
o mar é muito piscoso, que acorrem enchendo as estradas mercadores mesmo do
interior da Hispânia. [199] Acresce enorme abundância de sal branquíssimo devido
à grande quantidade de salinas por todo o golfo. Por causa dele sai e entra sempre
grande número de navios, mesmo estrangeiros.
O ópido tornou-se tão famoso pelo comércio tanto de importações como de
exportações e tão rico que de modo algum tem inveja ao brilho das grandes
cidades.
Esta colónia foi também chamada Cetóbriga Posterior, mantendo o antigo nome,
mas correntemente Cetobra. Como, porém, de dia para dia aumentasse a corrupção,
ficou Cetóbala.
Florião do Campo 59 imaginou, nas origens fantasiadas a seu respeito e a partir
do nome corrompido Cetóbala, que havia um cetáceo de Túbal e conta a origem
do ópido a partir de Túbal. Costumo designá-la, para estabelecer distinção, por
Neocetóbriga mas cada qual é livre de usar um ou outro nome, pois quer diga
Cetóbriga quer Neocetóbriga falará com erudição.
BEJA
DE NEOCETOBRIGA
[199] Accedit ingens candidissimi salis copia, propter salinarum toto sinu
multitudinem. Quuius gratia, externarum quoque nauium magnus semper numerus
aut exit, aut ingreditur. Commercio itaque tam inuectionum, quam reuectionum,
factum insigne oppidum est opulentissimumque, adeo ut magnarum urbium
nequaquam inuideat claritati.
Vocata quoque Cetobriga posterior haec colonia est, retento prisco nomine, et
uulgo Cetobra. Indies autem pergente corruptione, Cetobala. Florianus Campensis
in commenticiis suis originibus, a Cetobala corrupto nomine, cetum Tubalis
confinxit, originemque oppidi usque a Tubale fabulatur. Ego Neocetobrigam
soleo nominare distinctionis gratia, liberum cuique est alterutro uti: siue enim
Cetobrigam, siue Neocetobrigam dixerit, erudite loquetur.
Dicta ora est, ab exitu Anae usque ad Salaciensem sinum. Quem priusquam
transgrediamur, redire ad continentem oportet, per ciuitates, non quidem omnes.
[200] Neque enim omnes recensere propositum mihi est, sed eas quae uel a
ueteribus auctoribus nominatae sunt, uel quae inscriptionum uetustarum beneficio,
aut maxime insigni quopiam facto, nomina sibi suo merito prodiderunt. Idque
semel hoc loco praefatum 1 esse me, candidi lectores meminerint.
c. ivlivs. c. F.
ii. vir. bis Pra
v t r i qv e . s en
eqvit. PraeF.
F
Fabrv M.
M . av r e l i o . c . F.
gal. ii. vir. FlaMin.
ti. caesaris. avg.
PraeF.
F. F
Fabr .
d. d.
Isto é: A Marco Aurélio, filho de Gaio, da tribo Galéria, duúnviro, Flâmine de Tibério
César, Augusto, prefeito dos artífices, por decreto dos decuriões [ou dedicaram] 69.
Livro Quarto • Liber Quartus 329
Ceterum Pacem Iuliam, siue Augustam descripturus modo eram, nisi satis
superque id fecissem, in bene longa ad Vasaeum epistola, Pro Pacensi colonia, et
in libello ad Franciscum Nonium, et aliis non paucis scriptorum meorum locis.
Siquidem ostendi eam esse quae uulgo Bexa dicatur 1, corrupto a Mauris
nomine, sitam uero in Celticis Lusitaniae populis, iuxta Strabonem, uel in confinio
Celticorum Turdetanorumque, iuxta Ptolemaeum. Coloniam fuisse et secundum
Lusitaniae conuentum, et quo pacto ab ea Pontificatus dignitas translata Badiosam
sit, prolixe etiam exposui.
Ante uniuersalem Hispaniae cladem, floruit in hac urbe Apringius episcopus
scriptor eruditus, quuius In Apocalypsin interpretationem ueteribus omnibus
praefert Isidorus. Floruit etiam Isidorus Pacensis cognominatus, quuius opuscula
horrido parumque culto sermone, eaque imperfecta et mendis senticosissimis
scatentia circumferuntur.
[201] Floruere quoque iuuenis Sisenandus martyrio Cordubae coronatus, et
Tyberinus presbyter. Extant ibi complura Romanorum monumenta, ex quibus
aliquot adscribam quae per muros ipsius ciuitatis dispersa uisuntur.
Ad portam Maurensem, uersus nouam:
c. ivlivs. c. F.
ii. vir. bis Pra
v t r i qv e . s en
eqvit. PraeF.
F
Fabrv M.
M . av r e l i o . c . F.
gal. ii. vir. FlaMin.
ti. caesaris. avg.
PraeF.
F. F
Fabr .
d. d.
q. Peticio. t. F.
rvFo
Mater. Filio.
Isto é: A seu filho, Quinto Petício Rufo, filho de Tício, dedica a mãe 70 .
Do outro lado das Portas de Moura está um fragmento com letras de oito polegadas.
As pedras estão incompletas em ambas as extremidades e dizem:
[203]
cvriae Pont.
FlaM.
M. P
Pacis ivliae
ve. FlaMi
d. M. s.
hel. aeria
nvs. ann
orvM xii.
h. s. e. s. t. t. l.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Élio Eriano de 12 anos. Que a
terra te seja leve 72.
c. ivlio. l. F. gal.
avito. Fratri
vs. sabinvs.
Isto é: A Gaio Júlio Avito, filho de Lúcio, da tribo Galéria, Sabino cumpriu sua
promessa ao irmão 73.
P . ivli
Pax
q. Petron .
Hoc est: Marco Aurelio Cai filio, Galeria1, duumuiro, Flamini Tiberii Caesaris
Augusti, praefecto fabrum decreto decuriorum, uel dedicarunt.
Ad portam Myrtilensem:
q. Peticio. t. F.
rvFo
Mater. Filio.
Extra muros:
d. M. s.
hel. aeria
nvs. ann
orvM xii.
h. s. e. s. t. t. l.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Helius Aerianus annorum duodecim, hic situs
est, sit tibi terra leuis.
[204] In quodam horto:
c. ivlio. l. F. gal.
avito. Fratri
vs. 2 sabinvs.
Hoc est: Caio Iulio Lucii filio Galeria Auito fratri votum soluit 3 Sabinus.
In gradibus summi templi.
P . ivli
Pax
q. Petron .
1 Galeria E ] Galerio RC1FC2U | 2 VS. RC1FC2U ] om. U | 3 uotum soluit ] om. ERC1FC2U
332 As Antiguidades da Lusitânia
d. M. s.
ivl.. P
Paterna
ann. xv
ivlia
tersPicore
libertae ob
seqventissiMae
h. s. e. s. t. t. l.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Júlia Paterna de 15 anos. Júlia
Terpsícore [dedica] à liberta obedientíssima. Que a terra te seja leve 75.
Por erro do gravador que não quis corrigir, está Terspícore em vez de
Terpsícore.
l. aelio avrelio
coMModo
iMP. caes. aeli. ha
driani antoni
ni. avg. Pii. P. P. Filio
col.. P
Pax . ivlia
d. d.
q. Petronio Materno
c. ivlio ivliano
ii. vir.
Isto é: A Lúcio Élio Aurélio Cómodo, filho do Imperador César Élio Adriano
Antonino, Augusto, Pio, pai da pátria, dedicou a colónia de Beja, sendo duúnviros
Quinto Petrónio Materno e Gaio Júlio Juliano 76.
Livro Quarto • Liber Quartus 333
d. M. s.
ivl.. P
Paterna
ann. xv
ivlia
tersPicore
libertae ob
seqventissiMae
h. s. e. s. t. t. l.
Hoc est : Diis manibus sacrum. Iulia paterna annorum quindecim, Iulia
Terpsicore libertae obsequentissimae, hic sita est. Sit tibi terra leuis.
Errore sculptoris positum est Terspicore pro Terpsicore, sed ego mutare
nolui.
In foro, cippus:
l. aelio avrelio
coMModo
iMP. caes. aeli. ha
driani antoni
ni. avg. Pii. P. P. Filio
col.. P
Pax . ivlia
d. d.
q. Petronio Materno
c. ivlio ivliano
ii. vir.
Hoc est: Lucio Aelio Aurelio Commodo, Imperatoris Caesaris Aelii, Adriani,
Antonini, Augusti, Pii patris patriae filio, Colonia Pax Iulia dedicauit, Quinto
Petronio Materno, Caio Iulio Iuliano duumuiris.
334 As Antiguidades da Lusitânia
A Ω
SEVERVS
PRESBIT. FAM
VLVS. CHRISTI VI
XIT. ANN. LV.
REQVIEVIT I
N PACE DOMINI
XI. KAL. NOVEMBRIS. ERA
DCXXII.
Isto é: Alfa e ómega. O presbítero Severo, servidor de Cristo que viveu 55 anos,
descansou na paz do Senhor no décimo primeiro dia das calendas de Novembro da
era 622 77.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Mercador de 32 anos. A mulher
ao marido merecedor colocou. Que a terra te seja leve 78.
Existem nesta cidade outros fragmentos mas mais pequenos; a cabeça de uma
imagem de Vespasiano; dez cabeças de touro; um aqueduto subterrâneo nuns sítios
intacto, noutros destruído; três portas de muralhas ainda segundo a arquitectura
romana. [209] Foi encontrada uma lápide de mármore de dois côvados em que
estavam competindo numa corrida equestre um rapaz e uma rapariga com admirável
elegância 79.
CAMPO DE OURIQUE
Campo de Ourique, unido por Turdetanos e Célticos, abrange uma pequena região
com oito ou dez cidades no máximo, além de aldeias desconhecidas. Recebeu o
nome do mais famoso ópido da região, Ourique, e como é zona rural, cerealífera e
Livro Quarto • Liber Quartus 335
A Ω
SEVERVS
PRESBIT. FAM
VLVS. CHRISTI VI
XIT. ANN. LV.
REQVIEVIT I
N PACE DOMINI
XI. KAL. NOVEMBRIS. ERA
DCXXII.
Hoc est: Alpha, et omega. Seuerus presbiter famulus Christi uixit annos
quinquaginta quinque, requieuit in pace Domini undecimo Kalendas Nouembris
era sexcentesima uigesima secunda.
D. M. S.
MERCATOR
ANN. XXXII.
VXOR MARITO
MERENTI POSV
IT. H. S. E. S. T. T. L.
Hoc est : Diis Manibus sacrum. Mercator annorum triginta duorum: uxor
marito merenti posuit. Hic situs est, sit tibi terra leuis.
DE ORICHIENSI AGRO
1 Ac RC1FC2U ] ab E
336 As Antiguidades da Lusitânia
Afonso ocupou a colina onde estava uma antiga ermida em que determinado
velho, de provecta idade, vivia entre os mouros como um ermitão e que, devido
à pobreza e à santidade de vida, por ninguém era provocado injustamente. O
quase infindável contingente militar de Ismar enchia todos os campos em redor
e já esperançadamente se via a tragar os adversários cercados. Não parecia aos
nossos soldados ser decisão avisada combater contra tão grande multidão pois
cada um deles teria de defrontar no combate [212] para cima de cem inimigos.
Mas o príncipe robusteceu o espírito dos seus soldados por meio de um discurso
cheio de esperança e firmeza. Ao mandá-los dispersar ordenou que tratassem de
seus corpos e que aguardassem alegremente o dia seguinte que era santificado ao
apóstolo Tiago, padroeiro das Hispânias.
Como tivesse anoitecido, veio aquele anacoreta à presença de Afonso e exortou-o
a ter coragem com a revelação de uma profecia. Disse-lhe que à hora da noite em
que ouvisse o som de uma sineta que estava na capelinha deveria sair da tenda
pois lhe iria aparecer no ar Cristo suspenso da cruz.
Afonso, contente com uma notícia tão desejada e tão inesperada, velou toda
a noite aguardando o prometido. E assim, ao romper da alva e antes do dia, ao
sair da sua tenda real quando tinia a sineta, pôde olhar para o Senhor crucificado,
suspenso no ar. Arrastado, quase fora de si, pelo prazer desta visão, adorando-o
dizia assim: “Será verdade, ó Salvador do mundo, que me apareces a mim neste
momento? Mas por que razão apareces àquele que em ti crê e que te honra com
a maior devoção? Antes te dignasses a aparecer a estes infiéis, ignorantes da tua
divindade, inimigos teus e portanto meus, para que compreendam o mistério da
tua cruz e deixem de ser insensatos”.
[213] Quando com estas e outras palavras semelhantes prosseguia, como que
em êxtase, foi muito agradavelmente surpreendido pela voz de Cristo que lhe falava
e prometia vitória. Logo que a divina aparição se recolheu ao céu, pediu as armas,
ordenou que se armassem os soldados, que se formassem as linhas de batalha e
que as tubas em uníssono dessem o sinal.
Alguns dos chefes procuraram-no em nome do exército, dizendo:
— Os teus homens, valente chefe, pedem que lhes permitas saudar-te como
rei.
Insedit tumulum Alphonsus, ubi uetus sacellum erat, in quo senex quidam
prouectae aetatis heremiticam uitam agebat, inter Mauros, et ob paupertatem, et
ob uitae sanctimoniam, nullius iniuria lacessitus. Ismarii copiae prope infinitae
undequaque campos opplebant, iamque agmina circumclusa spe deuorabant.
Non uidebatur militibus nostris sani esse consilii, cum tanta multitudine
confligere. Vnus enim quisque supra centum hosteis aduersum [212] se in proelio
erat habiturus. Sed militum animos oratione spei, ac fiduciae plena princeps
confirmauit. Dimissosque curare corpora iubet, et crastinum diem, qui Iacobo
Apostolo Hispaniarum patrono sacer erat, laetos exspectare.
[213] Haec atque alia his similia, cum ex mentis quasi abstractione
prosequeretur, Christi colloquentis et uictoriam pollicentis uoce iucundissime
affectus, in caelum recepta diuina illa specie, arma postulat, armari milites, acies
ordinari, et canoro tubarum concentu imperat signum dari. Quem ex proceribus
quidam exercitus nomine adeuntes:
Quibus ille:
Então, depois de quase terem forçado a quem se escusava, foi aclamado por três
vezes em altos brados e ao som de tubas, clarins e tambores:
Contra illi:
[215] Afonso, o novo rei, portanto, ficou nos arraiais durante três dias conforme
era hábito dos vencedores, tendo deixado o despojo para os soldados.
Ele próprio, que até então usava um escudo branco, imaginou insígnias que
representassem o combate que ali se passou. Em primeiro lugar, porque no ar olhara
para Cristo pregado na cruz, desenhou no escudo de prata uma cruz da cor do céu;
depois, porque tinha vencido cinco reis, separou com a própria cruz cinco escudos;
em cada um destes representou trinta moedas de prata, porque se considerara que
por essa soma fora vendido o Salvador do mundo.
O desenho das moedas foi modificado por uma questão de comodidade pelos
reis que se seguiram e em cada um destes escudos foram colocadas cinco moedas
em forma de cruz, aproximadamente com a forma da letra X, de maneira que,
contando duas vezes o que está no meio e como a conta é feita desde cima e de
lado a lado, se perfaz o número trinta.
Foram estas as insígnias que naquele momento e naquele lugar se adoptaram.
Quanto aos sete castelos que no campo rubro do escudo régio rodeiam as orlas,
relacionam-se com outra história.
Expusemos, com toda a brevidade possível, o início e a causa [216] dos nossos
reis e do reino há 434 anos. Com efeito, a batalha travou-se, segundo informam os
meus velhos anais, na era de 1177 e, se a este número se retirarem 38 anos, ficará
o ano de 1139 da era cristã. Como quando eu contava isto se estava em 1573, ver-
se-á, fazendo a conta, que decorreram os 434 anos a que me referi 83.
Já teria partido de Ourique se não fosse pena deixar por mencionar o que o
nosso rei D. Sebastião ainda há pouco fez. Foi ele, no início deste ano, ao reino
do Algarve para observar com os seus próprios olhos como estavam fortificadas as
cidades marítimas. E se algo, segundo o seu juízo exactíssimo e segundo o conselho
dos peritos militares, parecia faltar para a defesa, na sua presença se completava,
renovava ou corrigia.
Ora, fazendo caminho por Campo de Ourique e percorrendo todos os locais da
memorável vitória, [217] não encontrou ali erigido nenhum troféu nem nenhuma
inscrição, mas apenas aquela ermida de construção grosseira, mais de uma vez
reparada, que era contudo objecto de culto dos camponeses. Envergonhou-o aquele
descuido e indiferença dos séculos anteriores. Merece no entanto ser desculpada a
época daqueles homens que passavam a vida em contínuas guerras e que tinham
as mãos direitas mais prontas para combater do que talentos inclinados para as
letras, nesses tempos como que sepultadas. Não é, porém, de admirar tão longo
esquecimento, visto que depois floresceram as artes e renasceu a filologia, senão que
Livro Quarto • Liber Quartus 343
[215] Alphonsus igitur nouus rex, consueto uictoribus more in castris triduo
permansit, et concessa militibus praeda, ipse qui eatenus niueo scuto utebatur,
insignia commentus est, quae rem ibi gestam designarent. Ac primum, quia
Christum in aere cruci subfixum conspexerat, in argenteo scuto caeruleam crucem
formauit. Deinde quod quinque reges uicisset, scuta quinque per ipsam crucem
distinxit. In unoquoque triginta numos argenteos figurauit, quod totidem mundi
Seruator uenditus exstitisset.
Fecit autem iter per Orichiensem agrum, et uictoriae memorabilis loca omnia
perlustrauit. [217] Nullum ibi erectum trophaeum, nullam inscriptionem, tantum
sacellum illud ignobili fabrica, non semel refectum, rusticorum tamen cultu
religiosum reperit. Puduit illum incuriae ac socordiae seculi superioris.
a Natureza assim tenha decidido para que as coisas que são óptimas não apareçam
todas juntas, mas com intervalos de tempo.
Por isso D. Sebastião, tomado de grande piedade e com o objectivo de fazer
reviver a lembrança, não só da aparição de Cristo como da célebre vitória do maior
dos reis, deu instruções para que, depois de demolida a velha ermida, se edificasse
uma igreja e, depois de levantado o arco comemorativo, confiou-me a composição
de uma inscrição de modo a que numa parte se lesse em latim [218] e na outra
em língua portuguesa.
A parte latina [que aqui traduzimos em português] tem assim:
[219]
COLA
quod Natura comparatum ita est, ut quae optima sunt, non omnia simul, sed
per temporum interualla emergant.
Sebastianus igitur mira pietate affectus, ut et apparitionis Christi, et regis
maximi, inclitaeque uictoriae memoriam rediuiuam faceret, diruto ueteri sacello,
templum inaedificari praecepit, atque exstructo nobili arcu, mihi inscriptionem
curam demandauit, ita ut altera ex parte Latine, ex altera [218] Lusitano idiomate
legeretur.
[219]
DE COLLA
[220]
Isto é: Gaio Minúcio Jubato, filho de Gaio, da tribo Lemónia, tribuno da décima
legião Gémea, que o general Cláudio Unímano abandonou desmaiado pelas feridas
como se estivesse morto. Fui recolhido pelos cuidados do soldado lusitano Ebúcio e até
levado a curar-me mas poucos dias sobrevivi. Morri desgostoso porque não testemunhei
reconhecimento ao benfeitor segundo o costume romano 86.
[221] Junto às portas da igreja, entre colunas caídas, está um enorme cipo, ali
colocado outrora por motivo da ornamentação, que durante três horas me ocupou
até à saciedade. Foi tão maltratado pela gente bárbara, que perdi completamente a
esperança de perceber o sentido completo. Nele é representada uma ave semelhante
ao gaio e outra parecida olhando-se mutuamente, e está escrito:
d. M. s.
b. svrsi F. v c
brianae. coivgi
nctissiMe. tv
vM. Posite vics
n. xxxviii. die
s. xvii. si qvan
Piet///s erM. ti
antvM Fortv
ger. lite avrec
it. t. Posvi. s
vale.
[222] Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Balbo, filho de Surso, elevou um
túmulo para sua mulher virtuosíssima que viveu 38 anos e 17 dias 87.
Livro Quarto • Liber Quartus 347
[220]
Hoc est: Caius Minicius Cai filius Lemonia Iubatus Tribunus legionis decimae
Geminae, quem in proelio contra Viriatum uulneribus sopitum imperator Claudius
Vnimanus pro mortuo dereliquit, Ebutii militis Lusitani opera seruatus, curarique
iussus, paucos superuixi dies, maestus obii, quia benemerenti more Romano
gratiam non retuli.
[221] Ab ianuam templi ingens cippus est, inter columnas ibi iacentes olim
ornatus causa positus, qui me amplius horis tribus ad fastidium detinuit. Tam
male a barbaris hominibus habitus est, ut spem percipiendi integre sensum
plane deposuerim.
Auis in modum gracculi, altera similis mutuo se respicientes.
d. M. s.
b. svrsi F. v c
brianae. coivgi
nctissiMe. tv
vM. Posite vics
n. xxxviii. die
s. xvii. si qvan
Piet///s erM. ti
antvM Fortv
ger. lite avrec
it. t. Posvi. s
vale.
[222] Hoc est : Diis Manibus sacrum. Bolbus Sursi filius coniugi sanctissimae
tumulum posuit. Vixit annos triginta octo dies septendecim.
348 As Antiguidades da Lusitânia
sines
Não é de esquecer o ópido marítimo de Sines, não pouco útil, pela pesca, à
região vizinha.
Existe aí, na igreja, um cipo quebrado com estas letras, onde está escrito:
an. l. clavd.
thalassinvs
Marite Me-
rentissiMe
h. s. e. s. t. t. l
Isto é: Aqui jaz ... de cinquenta anos, Cláudio Talassino, à esposa tão cheia de
merecimento. Que a terra te seja leve 88.
d. M. s.
Fvlvivs. l. F. qvin
tianvs Faber
F
Materiarivs
Pivs in svos
vixit ann. xlvi.
rvbria q. F. ser
gilla. Merobr.
Marito b. M. Fec.
h. s. e. s. t. t. l.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Fúlvio Quinciano, filho de Lúcio,
carpinteiro, devotado aos seus. Viveu 46 anos. Rúbria Sergila, filha de Quinto,
Merobrigense, fez para o marido merecedor. Que a terra te seja leve 89.
d. M. s.
ivlia. c. Fil.
Marcellin
a. an. xxx.
h. s. e. s. t. t. l.
Livro Quarto • Liber Quartus 349
DE SINI
an. l. clavd.
thalassinvs
Marite Me-
rentissiMe
h. s. e. s. t. t. l
d. M. s.
Fvlvivs. l. F. qvin
tianvs Faber
F
Materiarivs
Pivs in svos
vixit ann. xlvi.
rvbria q. F. ser
gilla. Merobr.
Marito b. M. Fec.
h. s. e. s. t. t. l.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Fuluius Lucii filius Quintianus faber materiarius,
pius in suos uixit annos quadraginta sex. Rubria Quinti filia Sergilla Merobrigensis
marito benemerenti fecit, hic situs est, sit tibi terra leuis.
d. M. s.
ivlia. c. Fil.
Marcellin
a. an. xxx.
h. s. e. s. t. t. l.
350 As Antiguidades da Lusitânia
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Júlia Marcelina, filha de Gaio, de
30 anos. Que a terra te seja leve 90.
elvas
F e l . c e Pa l
o n i s . F. s e
vervs. an
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Iulia Cai filia Marcellina annorum triginta,
hic sita est, sit tibi terra leuis.
DE HELVIS
Ab Heluis igitur Celtarum populis, qui inter Celtas olim ad nos [225] uenere,
Heluae ciuitas nominata, quod nomen a conditoribus obtinuit, etiam hodie
retinet. Vrbs fertilitate soli et nobilitate ciuium, ut postremas non fert, ita olei
bonitate sine controuersia primas obtinet. Dioecesis Eborensis hactenus fuerat,
uerum agente Sebastiano rege, episcopalem dignitatem adepta, metropolim, unde
excisa est, nihilominus agnoscit. Non multa ibi sunt Romanorum monumenta,
et quae sunt, pessime a barbaris habita, ita inueni.
F e l . c e Pa l
o n i s . F. s e
vervs. an
Hoc est: Caius Axonius Quinti filius Papiria legionis uigesimae natus Coloniae
Firmicae Piceno se uiuo monimentum fecit sibi et fratrei Quinto Axonio, Quinti
filio.
352 As Antiguidades da Lusitânia
anthYMvs reb
scientini. et ce
leris ser
v s. a. l.
v.
No campo a que chamam da Ventosa está uma lápide oblonga, ou seja, de sete
côvados para côvado e meio de largura, tosca e rugosa, que se diz ser o sepulcro
de Beltrão, um dos doze pares de França. Nela está escrito:
cacalo
avioli
lib.
hic
sit.
[228] Tenho em minha casa uma placa de mármore partida, gravada com letra
elegante:
insigneMMPParvo
Mans carMine aMor
req. in Pace
P d. xiii Kal
Mart. era. dlxxxii
Isto é: Para que sempre eu exprima num pequeno poema um amor que há-de
perdurar. Descansou na paz do Senhor no 13.° dia das Calendas de Março da era
582 98.
vila viçosa
Apresenta-se, a quem vem de Elvas, uma nobilíssima cidade, residência dos Duques
de Bragança, que um idiotismo português denominou, devido à sua beleza, de Vila
Livro Quarto • Liber Quartus 353
anthYMvs reb
scientini. et ce
leris ser
v s. a. l.
v.
[227] Hoc est: Anthymus Reburri Scientini et Celeris seruus uotum soluit
animo libenti, uel libens.
cacalo
avioli
lib.
hic
sit.
insigneMMPParvo
Mans carMine aMor
req. in Pace
P d. xiii Kal
Mart. era. dlxxxii
Hoc est: Insignem paruo mansurum carmine amorem requieuit in pace Domini
decimo tertio Kalendas Martias, era quingentesima octogesima secunda.
VILLA VIZOSA
Viçosa. Não é possível dizer-se com um só nome latino. A não ser que imaginemos
em grego, Calípole, exemplo ousado mas que de modo algum desagradará aos leitores
depois de terem ouvido com assiduidade esta palavra. Existiu aí, nos arredores, onde
actualmente se encontra a igreja de Santiago, um santuário de Prosérpina. Encontrei
lá estes monumentos, onde está escrito:
[229]
PROSER
PINAE
SANCTAE
G. IVLIVS
PARTHENOP
AEVS. VOT.
QVOT FECIT
A. L. P.
Q. HELVIVS
SILVANVS
PROSERPIN
AE VOTVM
S. AN. L. P.
P ROSER P INAE
SERVATRICI
C . VETTIVS SIL
VINVS . P RO EV
NOIDE P LAVTIL
LA CONIVGE SIBI
RESTITVTA
V. S. A. L. P.
Vno nomine Latine dici non potest, nisi Callipolin Graece confingamus, audaci
fortassis exemplo, sed lectoribus postquam ea uox assiduitate percrebuerit,
minime displicituro. Proserpinae ibi delubrum fuit, ubi modo Diui Iacobi aedes
est, in suburbio, ubi haec inueni monumenta:
[229]
PROSER
PINAE
SANCTAE
G. IVLIVS
PARTHENOP
AEVS. VOT.
QVOT FECIT
A. L. P.
Hoc est: Proserpinae sanctae Caius Iulius Parthenopaeus uota quot fecit
animo libenti posuit.
[230]
Q. HELVIVS
SILVANVS
PROSERPIN
AE VOTVM
S. AN. L. P.
Hoc est: Quintus Heluius Siluanus Proserpinae uotum soluens animo libens
posuit.
P ROSER P INAE
SERVATRICI
C . VETTIVS SIL
VINVS . P RO EV
NOIDE P LAVTIL
LA CONIVGE SIBI
RESTITVTA
V. S. A. L. P.
Hoc est: Proserpinae Seruatrici Caius Vettius Siluinus pro Eunoide Plautilla
coniuge sibi restituta uotum soluens animo libens posuit.
356 As Antiguidades da Lusitânia
[231]
d. M. s.
P v l ta r i v s
an. xxiii. h. s. e. s. t. t. l.
seMne. et. seMn
Matri Posvervnt.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Pultário de 23 anos. Que a terra
te seja leve. Semne e Semnine dedicaram à mãe 102.
[232]
deo. endovel
lico. Praestan
tissiMi. et Praesen
tissiMi nvMinis
sextvs. cocceivs
cratervs. honori
nvs. eqves. roMa
nvs ex. voto.
endovellico
albia
ianvaria.
[231]
d. M. s.
P v l ta r i v s
an. xxiii. h. s. e. s. t. t. l.
seMne. et. seMn
Matri Posvervnt.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Pultarius annorum uiginti trium, hic situs
est, sit tibi terra leuis. Semne et Semnine matri posuerunt.
[232]
deo. endovel
lico. Praestan
tissiMi. et Praesen
tissiMi nvMinis
sextvs. cocceivs
cratervs. honori
nvs. eqves. roMa
nvs ex. voto.
Cippus fractus:
endovellico
albia
ianvaria.
358 As Antiguidades da Lusitânia
[233]
ENDOVELLICO
SACRVM. MAR
CVS. IVLIVS.
PROCVLVS
ANIMO. LI
BENS. VOTVM
SOLVIT.
[234]
[Isto é: Consagrado ao deus Endovélico. Júnia Eliana por ter feito promessa. Élvia
Ibas,
a mãe, cumpriu de boa vontade a promessa feita por sua filha] 106.
Estas inscrições são de tal modo simples que não carecem de especial leitura.
Outras dizem:
D. ENDOVELLICO. SA.
AD RELICTICIVM. EX
T. NVMIN. ARRIVS. BA
DIOLVS. A. L. F.
[233]
ENDOVELLICO
SACRVM. MAR
CVS. IVLIVS.
PROCVLVS
ANIMO. LI
BENS. VOTVM
SOLVIT.
[234]
D. ENDOVELLICO. SA.
AD RELICTICIVM. EX
T. NVMIN. ARRIVS. BA
DIOLVS. A. L. F.
[235]
Q. SEVIVS. Q. F.
PAP. FIRMANVS
VOTVM DEO
ENDOVELLICO
S. L. M.
Isto é: Quinto Sévio Firmano, filho de Quinto, da tribo Papíria, cumpriu de boa
vontade a promessa ao deus Endovélico 108.
ENDOVELLICO
CRITONIA
MAXVMA
EX. VOTO. PRO
CRITONIA. C. F.
[236] O cipo que se segue foi levado daqui para o castelo do ópido do Alandroal
onde agora se encontra. Diz assim:
C. IVLIVS. NOVATVS
ENDOVELLICO
PRO. SALVTE
VIVENNIAE
VENVSTAE
MANILIAE SVAE.
VOTVM. SOLVIT.
[Isto é: Gaio Júlio Novato, para a sua promessa a Endovélico, pela saúde da sua
Vivénia Venusta Manília] 110.
[235]
Q. SEVIVS. Q. F.
PAP. FIRMANVS
VOTVM DEO
ENDOVELLICO
S. L. M.
Hoc est: Quintus Seuius Quinti filius Papiria Firmanus uotum Deo Endouelico
soluit libens merito.
ENDOVELLICO
CRITONIA
MAXVMA
EX. VOTO. PRO
CRITONIA. C. F.
[236] Hic cippus allatus est, illinc ad arcem oppidi Lendroalis, ubi nunc
extat:
C. IVLIVS. NOVATVS
ENDOVELLICO
PRO. SALVTE
VIVENNIAE
VENVSTAE
MANILIAE SVAE.
VOTVM. SOLVIT.
D. M. S.
P. PETRONI
VS CAVTIN
ANN. LXXXXI
LAVDICE
MARITO PIIS
SIMO POSVIT
H. S. E. S. T. T. L.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Públio Petrónio Gautinense, de
noventa e um anos. Laudice levantou ao marido, exemplo de piedade. Que a terra
te seja leve 114.
O TEMPLO DE JÚPITER
Sobre o rio Xarrama, 2 mil passos abaixo da vila de Torrão, existiu outrora um
templo de Júpiter. Este foi transformado, quando a fé cristã já fortalecera, na igreja
dos santos mártires Justo e Pastor. Falei a este respeito no opúsculo a Ambrósio
Morales 115 de Alcalá de Henares, homem que merece ser nomeado nestas notas
entre outras razões pela sua brilhante erudição.
[239] Sobre a porta do templo está uma inscrição do tempo dos Godos, que
significa:
Propagata breui religio est, et inuitis tyrannis mira pietate adoleuit. Quam natio
Lusitana incorruptam, ut a Sanctis Patribus accepit, ad nostra haec tempora
custodiuit. Et quod non sine magno Dei munere nobis contigit, nec sine magna
mea uoluptate refero, quassantibus orbem sectis, incolumi religione, integraque
sacrosanctae Apostolicae Sedis auctoritate perseuerat. Nec solum id, sed longe
lateque etiam per uasti Oceani recessus, et ante nunquam prioribus cognitas
regiones, orientemque totum, et antipodas, ipsum Seruatoris nomen propagare
non cessat.
[238]
D. M. S.
P. PETRONI
VS CAVTIN
ANN. LXXXXI
LAVDICE
MARITO PIIS
SIMO POSVIT
H. S. E. S. T. T. L.
DE IOVIS FANO
Isto é: Este edifício iniciado em honra dos santos mártires Justo e Pastor, a quem
foi dedicado, finalmente foi terminado este trabalho na era de 720 116.
[240]
IOVI. O. M.
FLAVIA. L. F. RVFINA
EMERITENSIS. FLA
MINICA. PROVINC.
LVSITANIAE. ITEM COL.
EMERITENSIS. PERPET.
ET MVNICIPI. SALACIEN.
D. D.
De um lado está representada uma árvore que não reconheço; do outro lado
uma
águia de asas abertas, como se fosse levantar voo, segurando nas garras um
raio
de três pontas.
[241] Um cipo bastante menor mas mais perfeito, em que está escrito:
I. O. M.
OB PVLSOSAQ. SER
TORIO METELLVM
ADQ. POMP.
IVN. DONACE
CORON. ET SCEPTRVM
EX ARG. MVNVS
ADTVLIT
FLAMINICAE PHIA
LAM CAELATAM
HIERODVLIS COE
NAM DEDIT.
Isto é: A Júpiter Óptimo e Máximo. Por terem sido escorraçados Metelo e Pompeio
por Quinto Sertório, Júlia Donace trouxe, como oferenda, uma coroa e um ceptro
de prata. À Flamínica ofereceu uma fíala cinzelada, aos escravos do templo, uma
ceia 118.
Livro Quarto • Liber Quartus 365
Hoc est: Hunc (pro hoc) denique aedificium sanctorum nomine ceptum Iusti
et Pastoris martyrum, quorum constat esse sacratum, consumatum est oc (pro
hoc) opus era septingentesima uigesima.
[240]
IOVI. O. M.
FLAVIA. L. F. RVFINA
EMERITENSIS. FLA
MINICA. PROVINC.
LVSITANIAE. ITEM COL.
EMERITENSIS. PERPET.
ET MVNICIPI. SALACIEN.
D. D.
Hoc est: Ioui optimo maximo. Flauia Lucii filia Rufina Emeritensis, Flaminica
prouinciae Lusitaniae, item coloniae Emeritensis perpetua et municipii Salaciensis,
dedicauit.
Ex uno latere est arbor mihi incognita, ex altero latere Aquila est expansis
alis, quasi subuolatura, in unguibus trisulcum fulmen habens.
I. O. M.
OB PVLSOSAQ. SER
TORIO METELLVM
ADQ. POMP.
IVN. DONACE
CORON. ET SCEPTRVM
EX ARG. MVNVS
ADTVLIT
FLAMINICAE PHIA
LAM CAELATAM
HIERODVLIS COE
NAM DEDIT.
Hoc est: Ioui optimo maximo. Ob pulsos a Quinto Sertorio Metellum, atque
Pompeium, Iunia Donace coronam et sceptrum ex argento munus adtulit,
Flaminicae phialam caelatam, hierodulis coenam dedit.
366 As Antiguidades da Lusitânia
L. RVBRIVS
PRISCINVS
ANN. XXVI. H. S. E.
Há três outros cipos mas foram postos nas paredes da igreja com as letras
escondidas
pelo lado de dentro.
Em Cuba, não longe de Beja, há um cipo na igreja, onde está escrito:
D. M. S.
TERENTI
VS. CRYS
OGONVS.
ANN. XXXII. H. S. E. S. T. T. L.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Terêncio Crisógono de 32 anos.
Que a terra te seja leve 120.
FORTVNAE OBSEQVEN
TI. SACRVM
FLAVIA MODESTINA
PERP. EIVS ANTISTES
EX VOLVNTATE TEREN
TI. AEMILIANI VIRI
SVI. IN PRAEDIO
A PATRE FL. MODESTO
SALACIENSI SIBI
RELICTO. A. L. F.
L. RVBRIVS
PRISCINVS
ANN. XXVI. H. S. E.
[242] Hoc est: Lucius Rubrius Priscinus, annorum uiginti sex, hic situs est.
Sunt tres alii cippi, sed positi in parietibus templi, contectis interius
litteris.
Cubae non procul a Pace Iulia in templo cippus:
D. M. S.
TERENTI
VS. CRYS
OGONVS.
ANN. XXXII. H. S. E. S. T. T. L.
FORTVNAE OBSEQVEN
TI. SACRVM
FLAVIA MODESTINA
PERP. EIVS ANTISTES
EX VOLVNTATE TEREN
TI. AEMILIANI VIRI
SVI. IN PRAEDIO
A PATRE FL. MODESTO
SALACIENSI SIBI
RELICTO. A. L. F.
d. M. s.
serg. terentiv s
serg. F. aeMi lianvs.
centvr. eMer. vix. n lxx.
ordin. dvx. svb
l. Post vMio. Modes
tina. Marito
MerentissiMo
P. h. s. e. s. t. t. l.
Isto é: Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Sérgio Terêncio Emiliano, filho
de Sérgio, centurião licenciado. Viveu 70 anos e comandou tropas sob as ordens de
Lúcio Postúmio. Modestina ao marido, muito merecedor, colocou. Que a terra te seja
leve 122.
Livro Quarto • Liber Quartus 369
d. M. s.
serg. terentiv s
serg. F. aeMi lianvs.
centvr. eMer. vix. n lxx.
ordin. dvx. svb
l. Post vMio. Modes
tina. Marito
MerentissiMo
P. h. s. e. s. t. t. l.
Hoc est: Diis Manibus sacrum. Sergius Terentius, Sergii filius Aemilianus,
centurio emeritus, uixit annos septuaginta, ordines duxit sub Lucio Postumio.
Modestina marito merentissimo posuit. Hic situs est, sit tibi terra leuis.
(Página deixada propositadamente em branco)
E S C Ó L I O S
S C H O L IA
E S C Ó L I O S
DE
DIOGO MENDES DE VASCONCELOS
AOS QUATRO LIVROS DE RESENDE
[245]
LIVRO PRIMEIRO
Página 92, linha 1: Plínio, no livro terceiro, primeiro capítulo, exprime-se com
estas palavras: “Marco Varrão conta-nos que para toda a Hispânia chegaram os
Iberos, os Persas, os Fenícios e os Cartagineses. Que Luso [divertimento] [246] do
pai Líber ou Lysa [frenesim], que com ele celebravam Bacanais, tinham dado o nome
à Lusitânia e que Pã era o governador de tudo isso” 1.
Na mesma página, linha 6: outros interpretam Luso não como um homem, mas
de preferência como “jogo” ou então “brincadeira”. Marciano Capela no livro sexto,
cujo título é Da Geometria, tem uma frase onde, ao tratar da Lusitânia, assim nos
diz (628-629): “deu-lhe a lenda o nome tirado de Luso, filho do pai Líber e assim
também associou-lhe o das Bacantes”. Acrescenta outra opinião não menos ridícula,
quando crê que o rio Guadiana é denominado a partir do nome de Lusitânia e di-
lo com estas palavras: “Ela [Lusitânia] também é atravessada por um rio quanto ao
nome, embora seja o Tejo que a ilustra devido às areias de ouro” 2.
Na mesma página, linha 11: Não falta quem substitua Lysa por Lyssa. Foi
desta opinião Segismundo Gelénio no primeiro capítulo do livro terceiro das suas
Observações a Plínio 3.
Na mesma página e linha 18: “Pelo menos o autor do Pseudoberoso identificou”,
Cf. João Ânio no livro sobre os reis da Hispânia, capítulo vigésimo 4.
Na mesma página, linha 28: “segundo afirma Cícero em certo discurso contra
Verres”. Na sexta acção, que começa: “Venio nunc ad istius, quemadmodum ipse
appellat studium”. E não longe do fim do discurso, são estas as suas palavras:
«Aristaeus qui ut Graeci ferunt, Liberi filius inuentor olei fuit 5.
Na mesma página, linha 31: “da qual também provém o epíteto Lysio do próprio
Baco, etc.”. Pausânias, na descrição da Beócia, por volta do meio do livro nono,
quando descreve os antigos monumentos da cidade de Tebas, escreve assim: “próximo
do teatro está o templo de Dioniso a quem dão o cognome de Libertador (Lysios).
A razão do cognome é devida ao facto de que outrora os Trácios tinham levado
presos vários cativos tebanos. Quando chegaram ao território de Haliárcia,
Dioniso
libertou-os [247] das cadeias e seguidamente entregou-lhes os Trácios para serem
mortos depois de os ter dominado pelo sono”. (IX, 16, 6) É isto o que ele diz. Outros,
porém, julgam que deriva do facto de os espíritos se perturbarem e perderem a
força, o que costuma acontecer com o excesso de vinho, ou então porque os liberta
de cuidados é que Baco é assim chamado 6.
Pag. 94, linha 19: Estêvão, porém, no livro sobre as cidades. Na sua versão:
Belitanos. De facto nem é de admirar que Estêvão se enganasse quanto a isto, uma
vez que era um escritor grego que pessoalmente nunca tinha atravessado nem a
região da Hispânia, nem as suas cidades, razão do engano de outros gregos, como
nos atesta Políbio.
Escólios • Scholia 375
[245]
LIBER PRIMVS
Pag. prima, linea 2: “Asserit Plinius.” Libro uidelicet tertio, capite primo, his
uerbis: “In uniuersam Hispaniam Marcus Varro peruenisse Iberos, et Persas, et
Phoenicas, et Poenos tradit. Lusum [246] enim Liberi patris, aut Lysam cum eo
bacchantes, nomen dedisse Lusitaniae, et Pana praefectum eius uniuersae”.
Eadem pag., lin. 5: “Alii Lusum, non hominem, sed ‘ludum’ potius, seu
‘lusionem’ interpretantur.” Marcianus Capella libro sexto, qui De Geometria
inscribitur in ea fuit sententia, ubi ita tradit agens de Lusitania: “Cui nomen
fabula a Lusu Liberi patris, uel cum eo bacchantium sociauit”. Addit et aliam
non minus ridiculam opinionem, credens Anam fluuium a Lusitaniae uocabulo
cognominari, hisce uerbis: “Haec quoque cognominis sui, fluuio permeatur, licet
eam Tagus quoque arenis illustret auratis”.
Eadem pag., lin. 10: “Nec desunt, qui pro Lysa, Lyssam reponant.” Fuit in
ea sententia Sigismundus Gelenius in Obseruationibus in Plinium libro tertio,
capite primo.
Ead. pag. lin. 17: “Suppositicius Berosi auctor intellexit.” Ioannes Annius in
libro de regibus Hispaniae, capite uigesimo.
Eadem pag., lin. 26: “Vt in quadam contra Verrem oratione affirmat Cicero.” In
sexta actione, quae incipit, “Venio nunc ad istius, quemadmodum ipse appellat
studium”, non longe a fine orationis; eius autem uerba sunt haec: “Aristaeus,
qui, ut Graeci ferunt, Liberi filius inuentor olei fuit”.
Eadem pag. lin. 29: “Vnde, ipse etiam Bacchus Lysius cognominatus est.”
Pausanias in Boeoticis circa medium libri noni dum Thebanae urbis antiqua
monimenta enarrat, ita scribit: “Theatro proxima est Liberi patris aedes cognomento
Lysii. Cognominis causa, quod cum olim captiuos complures ex Thebanis uinctos
Thraces abducerent, eos cum ad Haliartiorum fines uentum esset, uinculis [247]
solutos dimisit, moxque illis Thracas sommo oppressos occidendos praebuit.”
Haec ille. Aliqui uero credunt a dissoluendis et eneruandis animis, quod ex
uini copia accidere solet; uel quod curis liberos eos reddat ita Bachum fuisse
appellatum.
Pag. 95, lin. 18: “Stephanus autem in libro de urbibus.” In dictione “Belitani”.
Nec mirum est in hoc errasse Stephanum, utpote Graecum scriptorem, et qui
Hispaniae situm ac urbes minime ipse peragrasset, quod alios quoque Graecos
decipit, teste Polybio.
Extat etiam similis error apud eundem Stephanum in dictione “Lusitania” dum
eam asserit partem esse Baeticae, cum Vlterior Hispania in duas prouincias diuisa
376 As Antiguidades da Lusitânia
Pag. 97, lin. 4: “Strabo enim.” Vide Strabonem libro tertio fol. 103.
Pag. 99, lin. 15: “Ptolemaeus.” Libro secundo, ubi agit de Lusitaniae situ.
Pag. 101, lin. 1: “Ante annos quadraginta”, etc. Haec de Artabro promontorio
tam diffuse tradita mihi semper superuacanea sunt uisa, quia meo iudicio,
neque Pintianus neque ipse Resendius exacte sensum Plinii hoc in loco sunt
assequuti. Vnde accidit ut eius uerbis uim inferre sint conati. Plinius enim, cum
prius de Celtico seu Nerio promontorio libro 4, capite 20, uerba fecisset, et a
Minio ac Limia fluuiis ad Durium peruenisset: “Tuc demum de Lusitania agere
coepit in ipso uigesimo capite, cuius initium est: “A Durio Lusitania incipit”. Nec
aliquid eorum quae mox sequuntur, ad Nerium [248] promontorium pertinere
potest 1. Miror autem tam insignes uiros non aduertisse Celticum promontorium
nunquam apud geographos Artabrum appellari, sed semper Nerium aut Celticum,
quamuis omnes consentiant iuxta illud Artabros populos, seu Arrotrebas uel
Arotebras habitare. In eo etiam decepti sunt quod crediderint Nerium frontem
esse Hispaniae, cum aperte Plinius eodem capite uigesimo asserat, frontem
Hispaniae tribus effici promontoriis, uidelicet Olisiponensi, Sacro et Iunonio,
ita ut Sacrum e media prope fronte erumpat. Certum est etiam Olisiponense,
seu Artabrum, caelum, terras et maria disterminare, ut tradit Plinius. Nam
quemadmodum Iunonium, seu Calpe australe et occidentale latus Hispaniae
diuidit, ita Magnum, seu Olisiponense, uel Artabrum frontis occidentalis est
terminus, et ab eo septentrionale latus incipit, quamuis ad occasum etiam
aliquantulum uergere uideatur usque ad circuitum Nerei promontorii, a quo
penitus ad septentrionem terra conuertitur, ut Pomponius Mela tradit libro 3,
cap. primo. Quod ut facilius intelligatur, expendantur uerba eiusdem Pomponii
libro secundo, capite sexto, quae sic habent: “Lusitania Oceano tantummodo
obiecta est, sed latere ad septentriones, fronte ad occasum, ex quibus aperte
constat ea litora quae a promontorio Olisiponensi, usque ad Minium amnem
extenduntur, latus septentrionale Lusitaniae efficere. Quae uero a Celtico seu
Nerio ad Gallicum Oceanum tendut, latus septentrionale Hispaniae totius, non
autem Lusitaniae constituunt.”
Pag. 101, lin. 34: “Oppidum et flumen Aeminium”, etc. Aeminium Ptolemaeo
oppidum est in Lusitania, Plinio oppidum et flumen libro 4, cap. 21 et 22. Fit
etiam illius mentio ab Antonino in Itinerario, cum illud iter describit, quod ab
Itinerário, quando descreve o caminho que conduzia de Lisboa a Braga. Estava contudo
naquele lugar, onde hoje se encontra o ópido a que vulgarmente se chama Ágata
ou Águeda, que é banhado pelo rio com o mesmo nome, e caso esta constatação
for aceite, tal como fizeram Vaseu e Barreiros, deve então o códice de Antonino
ser emendado na seguinte ordem: de Conímbriga a Águeda, quarenta mil passos, a
Talábriga [Cacia?] dez mil passos. Conímbriga é contudo aquele ópido antigo, que
hoje vemos em ruínas e que vulgarmente é denominado Condeixa-a-Velha. Talábriga
[Cacia?], porém, estava perto [249] do ópido marítimo, que hoje é denominado Aveiro.
Desta forma está certo o número de passos por mim calculado, pois de Condeixa a
Águeda são cerca de dez léguas e de Águeda a Talábriga [Cacia?] são duas e meia.
Este número foi contudo ultrapassado no códice de Antonino e escandalosamente
alterado. Por isso parece de rejeitar a opinião daqueles que pensaram ser o ópido
de Emínio [Águeda] o mesmo que hoje chamamos Conímbriga ou Colíbria e o
rio Mondego o mesmo que Emínio [Águeda]. Com efeito, para que omita outros
argumentos por motivos de brevidade, o que relatámos briga abertamnente com as
palavras de Plínio, que no já citado capítulo vigésimo segundo do livro quarto, logo
que denomina o rio Emínio e o ópido, imediatamente acrescenta estas palavras: “Do
Douro ao Tejo, duzentos mil passos, com o Mondego pelo meio.” Além disso tenho
em meu poder um antiquíssimo códice, de que Vaseu e Resende fazem muitas vezes
menção, cujo título é Crónica dos Godos, onde entre outras acções, que se descrevem
como tendo sido realizadas por D. Afonso IV, filho de Ordonho, de grande fama, se
escrevem estas tal-qualmente assim: “Muitos foram os territórios dos inimigos que
este rei conquistou. Tomou com efeito o castro, que se chama Nasão, mas Antense
obteve-o por meios pacíficos. Esvaziou Coimbra, possuída pelos inimigos, e depois
povoou-a com galegos. Mas também submeteu muitos outros castros. Na sua época
cresceu em importância a Igreja, e o reino aumentou. Essas cidades são também
povoadas por cristãos, nomeadamente, a Bracarense, a Portugalense, a Eminiense
e a Lamecense.” Eis o que ele nos diz. Destas palavras deduzimos claramente que
Emínio e Conímbriga foram cidades diferentes e, por conseguinte, o Mondego e o
Emínio diferentes rios 11.
Pag. 114, linha 16: “Acerca dos Vetões, etc....”. Florião do Campo, no livro
segundo, capítulo décimo, diz que os Vetões foram denominados a partir de um nome
corrompido de Berões e que a sua região, parte da Lusitânia, tinha a forma triangular
ou “triquetra”, por tal forma que o lado setentrional começava no lugar em que o rio
Pisuerga se mistura com o Douro, até vinte mil passos, ou seja, cinco léguas abaixo
do ópido vulgarmente chamado Fermosel, que está situado nas margens do mesmo
Douro, dentro dos termos da antiga [250] Lusitânia, que se estendiam em cerca de
vinte e seis léguas a partir desse lado. O outro lado estende-se desde o já citado
ópido de Fermosel por Ciudad Rodrigo e Caparra até ao rio Guadiana, pelo qual
a Lusitânia é separada da Bética. Contudo, o lado oriental, diz-nos ele, estende-se
desde o rio Guadiana até ao Douro, onde começa Pisuerga, e que a linha deve ser
conduzida até ao ponto onde está o ópido, que hoje se chama Villa Nueva de la
Escólios • Scholia 379
Olisipone Bracaram ducebat. Fuit autem Aeminium eo loci ubi hodie est oppidum
dictum uulgo Agatha, seu Águeda, quod flumine eiusdem nominis alluitur, et
recepta hac sententia, in qua etiam fuerunt Vasaeus et Barrerius, emendari
debet codex Antonini hoc ordine: “Conimbrica Aeminium quadraginta millia
passuum, Talabricam decem millia passuum”. Est autem Conimbrica oppidum
antiquum quod dirutum cernitur1, et uulgo Condexa Vetus dicitur. Talabrica uero
fuit prope oppidum [249] maritimum quod hodie Aueiro dicitur, et sic bene
quadrat passuum numerus a me restitutus, nam a Condexa Agatham sunt decem
circirer leucae, et ab Agatha Talabricam duae cum dimidia. Erat autem in codice
Antonini numerus transpositus, et praepostere mutatus. Hinc apparet reiiciendam
esse illorum opinionem, qui existimarunt idem esse oppidum Aeminium, et
illud quod hodie Conimbrigam, seu Colibriam appellamus, et eundem fluuium
Mundam, et Aeminium. Nam ut cetera argumenta breuitatis causa omittam, id
aperte Plinianis uerbis repugnat, qui in allegato cap. 22 libri quarti cum prius
Aeminium flumen, et oppidum nominasset, statim haec uerba adiecit: “A Durio
Tagus ducentis millibus passuum, interueniente Munda.” Praeterea habeo apud
me codicem uetustissimum cuius saepe mentionem faciunt Vasaeus et Resendius,
qui inscribitur Chronica Gothorum. Vbi inter cetera, quae gesta fuisse narrantur
ab Alphonso quarto Ordonii filio, cognomento magno, haec ad uerbum scripta
sunt:
“Multos quin etiam inimicorum terminos acquisiuit rex iste. Cepit namque
castrum, quod dicitur Nazan. Antensam uero pace acquisiuit. Conimbriam ab
inimicis possessam hereditauit, et ex Gallaecis postea populauit. Multa quoque
alia castra sibi subiecit. Eius tempore Ecclesia creuit, regnumque ampliauit.
Vrbes quoque istae a Christianis populantur: scilicet Bracharensis, Portugallensis,
Aeminiensis, atque Lamecensis.” Hactenus ille. Ex cuius uerbis aperte colligitur
Aeminium et Conimbriam diuersas fuisse ciuitates, et ex consequenti Mundam
et Aeminium diuersa flumina.
Pag. 115, lin. 14: “De Vettonibus,” etc. Florianus Campensis libro 2, cap.
10, ait Vettones a Beronibus corrupto uocabulo denominatos fuisse, et eorum
regionem, quae Lusitaniae pars erat, fuisse figura triangulari, seu triquetra, ita
ut latus septentrionale inciperet ab eo loco, quo Pisorga fluuius Durio miscetur,
usque ad XX. M. passuum, seu quinque leucas infra oppidum uulgo dictum
Fermosel, quod ad ripas ipsius Durii situm est, intra terminos antiquae [250]
Lusitaniae, ubi uiginti sex leucis circiter extendebantur ab eo latere. Alterum
uero latus a dicto oppido Fermosel per Rodericopolin et Caparam usque ad
Anam fluuium, quo Lusitania a Baetica diuiditur, extendit. Latus uero orientale
describit a flumine Ana usque ad Durium, ubi Pisorgam excipit, ducta linea per
eum tractum in quo est oppidum dictum hodie Villa Noua de la Serena, ita ut
Serena, por tal forma que esta região incluía dentro das nossas fronteiras Salamanca,
Bletise, Fermosel, Bejar, Ciudad Rodrigo ou Miróbrigua, muito embora alguns pensem
que Miróbriga ou Miróbrica é o ópido vulgarmente chamado Gonadramiro e que
Civitatense, ou Ciudad Rodrigo [Rodericopolin] seja Augustóbriga [Badajoz]. Ver
Vaseu no tomo primeiro, capítulo décimo 12.
Pag. 140, penúlyima linha: “os peões combatiam armados de escudo, etc.”. Muitos
julgaram que a “cetra” era o género de escudo a que vulgarmente se chama “adarga”,
e entre eles se contam o nosso Resende e Ambrósio de Morales, no livro oitavo,
capítulo vigésimo quinto. Mas a opinião deles é nitidamente contestada pelo passo
de Sílio Itálico no canto terceiro onde escreve:
Efectivamente, quando chama “cetras ressoantes” o que significa que elas emitem
um tilintar e um som, depreendo manifestamente que se trata de escudos pequenos,
que se chamam Bluquerías feitos à mão, de madeira e cobertos de bronze, os
quais, ao baterem entre si, emitem um som muito nítido, com o qual (tal como os
Coribantes com os sistros) os soldados hispanos costumavam dançar, facto que de
forma alguma poderia ser compatível com os tais escudos maiores feitos de coiro
ou com os escudos pequenos e redondos.
Adapta-se a esta descrição a imagem da própria Hispânia ou a sua efígie, que
o mesmo Ambrósio de Morales teve o cuidado de pôr no princípio da sua obra,
imagem que tem numa mão [251] os dardos e a cetra ou seja o Bluquério e na
outra espigas 13.
[LIVRO TERCEIRO]
Pág. 280, linha 9: “Igualmente de Lisboa,” etc. Parece que Antonino, devido à
importância da Colónia Emeritense, que no seu tempo quase detinha o commando na
Hispânia, quis descrever vários caminhos que de diversos lugares para ali conduziam.
Entre eles, lembra três saídos de Lisboa, dois pelos lados maiores e portanto mais
longos e um terceiro quase pelo meio e mais curto. Neste passo estão os exemplares
francamente deteriorados.
Escólios • Scholia 381
includeret haec regio intra fines suos Salmanticam, Bletisam, Fermosel, Beiar,
Rodericopolin seu Mirobriguam. Licet aliqui putent Mirobrigam seu Mirobricam
esse oppidum uulgo dictum Guadramiro; Ciuitatensem autem, seu Rodericopolin
esse Augustobricam. Vide Vasaeum tomo primo, capite decimo.
Pag. 141, lin. paenultima: “Caetratos pugnare pedites,” etc. Caetram nonnulli
crediderunt esse illud scuti genus quod uulgo adargua dicitur, inter quos fuere
noster Resendius et Ambrosius Moralis lib. 8, cap. 25. Sed illorum opinioni
aperte refragatur locus Silii Italici libro tertio, ubi ita canit:
Cum enim Caetras resonas, hoc est, tinnitum et sonitum edentes uocet,
manifeste innuit esse illa parua scuta, quae “Bluqueria” dicuntur ex ligno fabrefacta
atque aere contecta, quae clarissimum sonitum inter se collisa edunt, ad quem
(ueluti sistris olim Corybantes) Hispani milites tripudiare solebant, quod coriaceis
illis et maioribus scutis, seu parmis nequaquam conuenire potest. Adstipulatur
huic sententiae imago ipsius Hispaniae, seu effigies, quam idem Ambrosius
Moralis apponi curauit in principio operis sui, quae altera manu [251] iacula
et caetram, hoc est Bluquerium, altera uero spicas gerit.
[LIBER TERTIVS]
Pag. 281, lin. 9: “Item ab Olisipone,” etc. Videtur Antoninus propter Emeritensis
Coloniae dignitatem, quae eius tempore in Hispania fere principatum obtinebat,
complura itinera ad eam ducentia ex diuersis locis describere uoluisse, inter
quae tria ab Olisipone commemorat, duo per extrema latera, et ita longiora,
tertium uero quasi medium et compendiosum. Sunt autem hoc loco exemplaria
mire deprauata.
382 As Antiguidades da Lusitânia
[252]
De Lisboa a Mérida 212 mil passos, ou talvez 210. São, porém, 53 léguas e desta
forma:
[252]
Hierabrica M. P. 30 Povos
Scalabi M. P. 22 Santarém
Tubucci M. P. 32 Abrantes
Fraxinum M. P. 32 Alpalhão
Medobriga M. P. 30 Aramenha
Ad septem Aras M. P. 14, fors 16 Açumar ou Alegrete
Plagiaria M. P. 20.
Emerita M. P. 30
E assim este caminho abreviado é mais curto na distância de 16 mil passos, que
correspondem a quatro léguas.
Tenho as minhas dúvidas de que Antonino tenha querido descrever outro caminho
entre Alcácer e Faro (entre Salada e Ossonoba), cujas paragens faltam totalmente,
a menos que em vez de Alcácer ponhamos Tavira (Balsa em vez de Salada), por
forma a termos os 16 mil passos. Embora se enquadre bem, parece-me que não é
verosímil, devido a ter-se de calcular um intervalo tão curto para o caminho.
Et ita compendiosum hoc iter breuius erat spatio sedecim P. M. quae leucas
quattuor constituunt.
Suspicor etiam Antoninum describere uoluisse aliud iter a Salacia Ossonobam,
cuius mansiones omnino desunt, nisi pro Salacia Balsam reponamus, ut numerus
sedecim M. P. recte quadret, licet mihi non fiat uerisimile, tam exiguum locorum
iuteruallum pro itinere esse computandum.
Igaedita Idanha-a-Velha
[255] Amaea Portalegre
Medobrica Aramenha
Ad septem Aras Açumar ou Alegrete
Elteri Alter do Chão
Matusarum Ponte de Sor
Aritium Praetorium Benavente
Equa Bona Coina
Cetobrica Setúbal
Ciciliana Agualva ou Águas de Moura
Malteca Marateca
Salacia urbs Imperatoria Alcácer do Sal
Ebora liberalitas Iulia Évora
Calantica Arraiolos
Coellium Ceice junto de Tomar
Saurium Soure
Heluii Elvas
Noua ciuitas Aruccitana Moura
Serpa unde populi Serpenses Serpa (de onde provêm os Serpenses) 19
Pax Iulia Beja
Myrtilis Iulia Mértola
Merobrica Santiago do Cacém
[256] Lacobriga Lagos
Portus Annibalis Portimão
Ossonoba Estói próximo de Faro
Balsa Tavira
Pesures ou Pesuros habitam aquém do Tejo, pelos montes Hermínios até ao rio Côa.
Comarca da Covilhã e Serra da Estrela. Os povos Transcudanos são os que hoje
habitam em Côa, para além do rio Côa. Vulgo Riba de Côa. Os Barbários devem ser
colocados imediatamente depois dos Lusitanos, a seguir a Cetóbriga e até ao mar,
onde se encontra o promontório Barbário. Os povos Túrdulos pertencem à região
entre o Douro e o Mondego, não longe do mar, no espaço que hoje se chama
Beira. Os Brácaros são os povos que habitam entre o Minho e o Douro. Por isso
são chamados interamnenses. Entre Douro e Minho. Os Aquiflavienses são os povos
que se estendem para além dos Brácaros em direcção ao Oriente e ao Norte, até
Bragança e à povoação de Miranda, sita junto ao Douro, e são vulgarmente chamados
Transmontanos. É aí a maior latitude da Lusitânia. Trás-os-Montes.
[257]
NOMES DOS RIOS
et serra da Estrella. Transcudani populi qui ultra fluuium Cudam, hodie Coam
inhabitant. Riba de Coa uulgo. Barbarii statim post Lusitanos a Cetobrica usque
ad mare collocandi sunt, ubi etiam Barbarium promontorium. Turduli populi a
Durio usque ad Mundam pertinent non procul a mari, qui tractus hodie Beira
dicitur. Bracari Populi sunt qui a Minio usque ad Durium incolunt. Et ideo
Interamnenses appellantur. Antredoraminho. Aquiflauienses populi sunt, qui
ultra Bracaros ad Orientem solem et uersus Septentrionem extenduntur usque
ad Brigantium et Mirandensem ciuitatem iuxta Durium sitam, et ultramontani
uulgo dicuntur, ibique maxima est Lusitaniae latitudo, Tralos Montes.
[257]
FLVVIORVM NOMINA
[LIVRO QUARTO]
Pag. 314, linha 30: “Diz-se que Lagos a Ardibur” etc. No livro de crónicas que se
intitula História dos Vândalos, cujo autor é Alberto Krantz, no capítulo vigésimo do
livro primeiro, faz-se menção de Ardibur, chefe militar altamente capaz, dos tempos
do imperador Valentiniano. Pelo cálculo cronológico, porém, verifica-se ser aquele
e o que Baptista Mantuano denomina de Ardibur, uma e a mesma pessoa 20.
Pag. 346, primeira linha: “Gaio Minícío,” etc. Esta inscrição parece-me sempre, de
todas as que até hoje se encontraram na Lusitânia, a mais digna de ser conhecida
pela humanidade e de ser conservada pelos Portugueses na sua memória para todos
os tempos. Com efeito, contém uma determinada e ilustre acção de um certo soldado
lusitano, de nome (tanto quanto se pode concluir das letras partidas) Ebúcio, que
protegeu a vida e tratou com cuidados de grande humanidade o tribuno militar
Gaio Minício, que pelos seus tinha sido abandonado como morto. Este exemplo
para com um inimigo é tão raro e tão admirável que o povo português, muito
justamente, não pode orgulhar-se menos com a piedade de Ebúcio do que com
as glórias de Viriato. Este o motivo por que o próprio Minício, como compete a
um herói digno do nome romano, se esforçou, dando exemplo memorável de um
espírito agradecido, na medida do que sentia, por celebrar e conservar na sempiterna
memória dos homens tão insigne coragem do varão lusitano, aliada ao mais extremo
cumprimento do seu dever.
Deduz-se também desta inscrição, o que até agora era incerto na opinião dos
sábios, a saber, que naquele lugar foi travada a [259] batalha na qual Viriato derrotou
quase até à destruição total Cláudio Unímano e todo o seu exército. Quem pois já
duvidará que a batalha se travou no campo de Ourique, não longe do sítio onde
se pode ver este cipo? 21
Pag. 354, linha 2: “Vila Viçosa” (Callipolin). Pompónio Mela, no capítulo quarto
do livro segundo, relata que há uma cidade na Calábria com um nome igual.
Plínio
também no capítulo duodécimo do livro quarto, em que enumera as ilhas
Cíclades,
coloca uma Callípolis em Naxos, que alguns, devido à fertilidade das vinhas,
chamavam
de Dionisíada, e outros Sicília Menor. De facto se é devido à amenidade
e beleza
da situação que aos ópidos e cidades cabe em sorte nome tão belo, com
razão o
nosso Resende denominou Viçosa Amena de Callípolis [cidade bela] 22.
Pag. 360, linha 26: “A causa ou origem do nome Endovélico,” etc. Há quem pense
que Endovélico provém da palavra grega Balos, ou Valos, ou seja “caminho”, mais
endon, que significa “dentro”, e que era ele que os pagãos julgavam presidir aos
caminhos pensando-se de certa forma que ele presidia como termo aos espaços
rurais. Mas as inscrições parecem induzir algo diferente, na medida em que o
consideram como deus por toda a parte presente, o que pouco se conforma com um
Escólios • Scholia 391
[LIBER QVARTVS]
Pag. 315, lin. 29: “Dicitur Ardiburi posuisse Lacobrica septem,” etc. In chronico,
quod Wandalia inscribitur, cuius auctor fuit Albertus Krantz, libro primo, capite
uigesimo, fit mentio Ardaburi ducis rei militaris peritissimi, tempore Valentiniani
imperatoris. Constat autem ex ratione temporis eundem fuisse illum et hunc
quem Baptista Mantuanus Ardiburem nominat.
Pag. 347, linea prima: “C. Minucius,” etc. Haec inscriptio mihi omnium, quae
hactenus in Lusitania repertae sunt, dignissima semper est uisa, quae in hominum
notitiam deuenire, et a Lusitanis perpetua memoria conseruari deberet. Continet
enim pium quodam et illustre facinus cuiusdam militis Lusitani, cui (quantum
ex confractis litteris coniicere licet) Ebutio nomen fuit, a quo Caius Minicius
tribunus militum qui a suis pro mortuo derelictus fuerat, seruatus, et omnibus
humanitatis officiis excultus fuit. Quod exemplum in hoste tam rarum tamque
admirabile est, ut gens Lusitana non minus Ebutii pietate, quam Viriati uictoriis
gloriari merito possit.
Vnde Minicius ipse, ut uirum fortem decuit, et Romano nomine dignum, tam
insignem Lusitani uiri uirtutem, cum summa pietate coniunctam, memorabili
etiam grati animi exemplo, quantum in ipso fuit, celebrare, et ad perpetuam
hominum memoriam conseruare studuit.
Colligitur etiam ex hac inscriptione, id quod apud eruditissimos uiros
hactenus incertum erat, quo loco uidelicet commissa fuit ea [259] pugna, in qua
Viriatus Claudium Vnimanum cum uniuerso exercitu fere usque ad internicionem
profligauit. Quis enim iam dubitet in Orichiensi campo non procul ab eo loco
ubi cippus hic uisitur proelium fuisse commissum.
Pag. 361, lin. 23: “Nominis Endouellici causam, et originem,” etc. Sunt qui
putent Endouellicum dici a dictione Graeca “Balos”, seu “Valos,” id est “uia “et
“Endon”, hoc est “intus”, et esse eum quem ethnici uiis praeesse crederent,
quemadmodum terminus agris praeesse credebatur.
Sed inscriptiones aliud innuere uidentur, dum eum praesentissimi numinis
uocant, quod uiarum custodi parum conuenit. Quare potius a uellendo dictum
392 As Antiguidades da Lusitânia
guardião dos caminhos. Por isso julgo ser preferível derivá-lo de vellendo [arrancar,
N.T.], porque aqueles tempos cegos julgavam e mal que ele arrancava ou extraía
dardos, setas, ossos e coisas semelhantes que saíam ou estavam espetadas nos
corpos. E então a partícula endo deveria ser interpretada com o sentido de “muito”,
como costumavam admitir os antigos, segundo o testemunho de Festo. Com efeito,
não podemos de forma alguma aceitar com Resende, o que foi dito de um ópido
Endovélia, que então podia ter existido, uma vez que os geógrafos e restantes
autores dele não fazem menção 23.
fuisse puto, quod caeca illa aetas iacula, fagittas, ossa, et similia corporibus affixa
et haerentia eum auellere atque extrahere falso existimaret. Et tunc particula
“endo”, pro “ualde”, accipi debet, ut antiqui accipere solebant, teste Festo. Nam
ut cum Resendio suspicemur, ab oppido Endouellia, quod tunc extare potuit,
dictum fuisse, adduci nullo pacto possum, cum apud geographos, et ceteros
auctores nulla eius fiat mentio.
INTRODUÇÃO
Português, 1500-1600, Lisboa, 1988, p. 593 s.s.; «La rupture entre le Portugal et l’Europe au
XVIe siècle», Arq. Cent. Cult. Port., XXXII, p. 59 ss.
4 Rondelet e Jóvio aparecem na discussão sobre o esturjão, livro II, p. 166 ss.; os outros,
alguns deles amigos pessoais, são utilizados na discussão histórica e epigráfica ao longo do
livro (ver Índice).
5 É um livro que será largamente utilizado pelos escritores eborenses, com os Padres
Manuel Fialho e António Franco. Ver a obra deste, Évora Ilustrada, Évora, 1945.
6 Foi o que se constatou no manuscrito ainda hoje existente na Academia das Ciências.
7 Leitão Ferreira, Vida de A. R., A. H. P., VII (1909), pp. 348-9, 361; VIII (1911), pp. 63-64;
pp. 226-242; trad. em alemão em Zu Begriff und Problem der Renaissance, ed. A. Burck,
Darmstadt, 1969, pp. 151-179.
13 p. 82.
14 pp. 70-73.
15 p. 86-89.
16 p. 70.
17 p. 52.
18 p. 80.
19 p. 78.
20 p. 76.
21 p. 80.
22 p. 78.
23 p. 78.
24 Ocupa na edição de 1593 pp. 1-9 impressas em letra pequena e com paginação própria.
Tudo o que é redigido por Mendes de Vasconcelos, a sua autobiografia e o livro V sobre as
antiguidades de Évora, obedece a paginação diversa, o que mostra o seu intuito de distinguir,
ou por modéstia ou individualismo, o que era da sua autoria em relação à obra do autor que
editava.
25 p. 76.
26 Basta percorrer a obra de Frei Bernardo de Brito e o diálogo sobre a grandeza dos
27 pp. 166-181.
28 p. 190-192.
29 Ver o comentário de A. Schulten, F. H. A., II, p. 140 e IV, pp. 97, 102 e o seu Viriato,
em que aponta para a pobreza como causa determinante do bandoleirismo lusitano. De facto
Apiano, 58-60, transmite-nos as palavras de paz de Galba aos Lusitanos: «São a desgraça e a
pobreza que vos forçam a isto». E por isso lhe oferece terra boa para cultivarem e assim manter
a paz.
30 Ver as referências a Onofre Panvínio, a Marliano, a Florião do Campo, a Ambrósio de
III, p. 206 ss., em que descreve com pormenor a resistência contra os Romanos invasores.
33 Resende começa a apresentar de forma racional e cronológica as transformações por
esturjão.
35 Livro III, p. 278 ss. sobre as vias militares.
36 Queixa-se Resende da «usurpação» feita por Barreiros, na carta a Quevedo, ed. V. Soares
Henriques, o seu discurso e o comportamento dos seus soldados em tons épicos de grande
nacionalismo e seguidamente fala do arco mandado construir por D. Sebastião.
39 Livro IV, p. 356 ss.
40 São inúmeras as notas do C. I. L., II, em que Huebner manifesta a sua desconfiança. Ver
bibliografia).
45 Ver p. 100, p. ex.
46 p. 106 ss.
47 Cf. p. 176 (Gelénio e Plínio); 186 (Vadiano e Cícero); 226 (ed. Badiana de Lívio); 266
(emenda a Apiano).
48 p. 142.
49 p. 344 sobretudo.
50 Ver p. 134 (contra Lívio); 138-139 (contra Justino).
51 p. 207 ss.
52 Ver a bibliografia citada de Resende sobre a cidade de Évora.
53 p. 140.
54 Ver a tese de licenciatura de A. Borges Nunes, Paulo Orósio Bracarense, Faculdade de
Letras de Lisboa, 1958; introdução de Lúcio Craveiro da Silva a P. Orósio, História contra os
Pagãos, Univ. Minho, 1986.
55 p. 150 ss.
56 p. 263 ss. e sobretudo a Carta a Quevedo editada por V. Soares Pereira.
57 p. 334 ss.
58 Cf. n. 40.
59 Ver n. 40.
60 C. I. L., II, p. 14. Huebner afirma peremptoriamente que a habilidade de Resende era
63 Basta ler o aparato contido das inscrições publicadas no C. I. L., II, e por J. d’Encarnação
portuguesa.
69 p. 162, n. 218.
70 Ver n. 29.
71 Ver bibliografia.
72 A Geografia Universal escrita em latim perdeu-se, diz-nos António José Saraiva no art.
como a intitulou Hernâni Cidade. Ver R. M. Rosado Fernandes, «Ulisses em Lisboa« (cit.
bibliografia).
1 Não traduzido, nesta edição, por ser obra alheia a Resende. O mesmo fizeram os diferentes
editores da obra nos sécs. xvi, xvII e xvIII. Seguem-se aparecer, o imprimatur e o privilégio
régio, que não transcrevemos por se encontrarem redigidos em Português no texto-base desta
edição.
2 É evidente que os dois itens se referem a duas obras do editor Mendes de Vasconcelos
EPIGRAMA
A DIOGO MENDES DE VASCONCELOS
1 Tradução de José Geraldes Freire, Obra Poética de Diogo Mendes de Vasconcelos, Coimbra,
1962, p. 74.
1 Desta biografia fez Bento José de Sousa Farinha uma excelente tradução na Collecção
das Antiguidades de Évora, Lisboa, 1785, pp. 11-36, de que aproveitamos largamente nesta
edição. Quanto à actividade do biógrafo de Resende e editor do De antiquitatibus, Diogo
Mendes de Vasconcelos, ver além da sua autobiografia publicada na ed. de Évora de 1593 do
De antiquitatibus, pp. 1-9, Barbosa Machado, Bibl. Lus., sv. Nicolau António, Bibl. Hisp. N., s.
v., Hislampa, e José Geraldes Freire, Obra Poética de D. M. V., Coimbra, 1962, p. 30 ss.
2 Pl., H. N., IV, 22, 11, 117-118: «oppida ueteris Latii Ebora, quod idem liberalitas Iulia, et
Myrtilis ac Salacia, quae diximus«. Tanto Resende em vernáculo, como Mendes de Vasconcelos
em latim escreveram sobre as antiguidades de Évora. O primeiro, na História da Antiguidade
de Évora, Évora, 1.a ed., 1553, 2.a ed. 1576; editada igualmente por J. Pereira Tavares em André
400 As Antiguidades da Lusitânia
de Resende, Obras Portuguesas, Lisboa, 1963, pp. 1-70. Desta edição fez-se tradução latina, De
antiquitatibus Eborae, ex Lusitanico nunc primum Latine redditus ab Andr. Schotto Antuerp.,
Colónia, 1600 e 1613; Francoforte, 1603; finalmente Coimbra, 1790; o segundo, no De Eborensi
Municipio, livro quinto do De antiquitatibus, e publicado em Évora também em 1593. Bento
José Farinha fez deste opúsculo uma tradução, na Collecção das Antiguidades de Évora, Évora,
1785, pp. 37-111.
3 A biografia mais completa de Resende é ainda hoje a de F. Leitão Ferreira, que A.
Braamcamp Freire editou, anotou e corrigiu, «Vida de André de Resende. Biografia Inédita»,A.
H. P., VII (1909), 339-417; VIII (1910), 62-69; 161-184; 338-366; IX (1914), 177-334; Na B.N.L.,
há também uma Vida de André de Resende (Apontamentos Biográficos), de José Soares da
Silva, Res. C. 641, 51 ss. Quanto ao nome de Resende, o trabalho mais actualizado é de A.
Costa Ramalho, «Lucius Andreas Resendius. Porquê Lucius?»,Humanitas, XXI-XXII (1969-70),
353-364, reproduzido em Estudos sobre o Séc. XVI, Lisboa, 1983, 203-213.
4 Jorge Coelho, humanista e poeta (actividade literária c. 1536), amigo de Resende, de
Jerónimo Cardoso e outros, bem como do círculo de letrados ligados ao Cardeal D. Henrique;
Barbosa Machado, Bibl. Lus., Nicolau António, Bibl. Hisp. N., s. v., Sousa Rebelo, Poesia
Neolatina, in Dic. Lit. Port.; A. Costa Ramalho, Enc. Verbo, s. v.; Isaltina Figueiredo Martins, O
Poema «De Patientia Christiana» de Jorge Coelho, Coimbra, 1974 (diss. dactil); J. da Silva Terra,
«O Humanista Português Jorge Coelho e a sua Correspondência com os Cardeais Bembo e
Sadoleto», Mélanges André Joucla – Ruan, Ed. Univ. Provence (1978), pp. 1133-1160.
5 Élio António de Nebrija, helenista e linguista de influência internacional, Nicolau António,
Bibl. Hisp. N., s.v.; J. Lopez Rueda, Helenistas Españoles del siglo XVI, Madrid, 1973, pp. 56-59,
156-159, 161-169, 290-298, 354-356 e passim.
6 Aires Barbosa, 1470-1540. Humanista conhecido internacionalmente, professor em
Salamanca, pensador católico ortodoxo, cuja posição perante a obra de Erasmo variou, sendo,
como diz A. Costa Ramalho, «medianamente anti-erasmista», que é a definição que melhor se
lhe adapta, sobretudo no que respeita ao seu poema Antimoria, i. e., «Contra a Loucura», bem
entendido, de Erasmo e do seu Elogio da mesma. Ver Barbosa Machado, Bibl. Lus., Nicolau
António, Bibl. Hisp. N.; Hislampa, s. vv., bem como sob o mesmo nome o art. de A. Costa
Ramalho, no Grande Dic. de Lit. Port., Lisboa, I (1977). Quanto a textos e mais bibliografia,
ver Isaltina Figueiredo Martins, Bibl. do Humanismo em Portugal no séc. XVI, Coimbra, 1986,
n. os 1454-1464; J. Lopez Rueda, ob. cit., 53-59 (Aires Barbosa em Salamanca).
7 Pedro ou Pêro Mascarenhas, militar e diplomata (1484?-1555), embaixador português na
corte de Carlos V em Bruxelas (1539-1533), Vice-Rei da Índia, 1554; E. Sanceau, Dic. Hist.
Port., s. v.; Domingos Maurício, Enc. Verbo, s. v.; Diogo de Couto, Décadas da Ásia, VII, liv.
1., col. 13, Lisboa, 1782, 30 e ss., A. Herculano, Hist. Inquis., II, Lisboa, 1907, 207-304; Luís de
Matos, L’Expansion Portugaise, 43, n. 61; 427.
8 Solimão II pôs cerco a Viena em 1529 e depois em 1532, quando D. Pedro Mascarenhas
se casou D. João III, e foi preceptor da Princesa D. Maria, filha de D. Manuel I, juntamente
com Joana Vaz e Luísa Ligeia. Será Bispo de Miranda e de Portalegre; ver Luís de Matos, «O
Ensino na Corte durante a Dinastia de Avis», in O Humanismo Português, 1500-1600, Primeiro
Simpósio Nacional, Lisboa, 1988, pp. 501, 503 e 567 n. 39; José da Silva Terra, «Espagnols au
Portugal au temps de la Reine D. Catarina, I – D. Julião de Alva (c. 1500-1570), Arch. Cent.
Cult. Port., IX (1975), pp. 417-506.
10 Poeta neolatino e amigo dos humanistas portugueses mais eminentes: ver Barbosa
Machado, Bibl. Lus., s. v.; A. Costa Ramalho, Enc. Verbo, s.v.; Cândido Aparício Pereira, Subsídios
para a História do Humanismo em Portugal – Pedro e Rodrigo Sanches, Coimbra, 1955 (tese
lic. dact.); Isaltina Figueiredo Martins, Bibl. Hum. Port., n. os 3100-3103.
11 A influência horaciana e epicurista é evidente, p. ex., a Ode, III, 30 non omnis moriar,
etc.
12 Subentende-se província da Lusitânia, equivalente a Portugal.
13 Ver p. 74.
Notas e Comentários – Vida de André de Resende 401
14 Ver p. 70.
15 Trad. de J. G. Freire, ob. cit., p. 69.
16 Vid. J. G. Freire, ob. cit, p. 21-22; 28; 57-58; 64; 69.
17 Trata-se da passagem por Évora, em 1571, do legado pontifício e dominicano, Michele
Bonelli «Cardinale Alessandrino», tal como o seu tio-avô, Pio V, também dominicano. Tinha
então o Cardeal 30 anos, pois nascera em Bosco no Piemonte a 25 de Novembro de 1541 (ver
J. Quétif et J. Échard, Scriptores ordinis praedicatorum, II, Paris, 1721, p. 306; New Catholic
Encyclopaedia, s. v. Pius V). Vem tratar do casamento de Margarida de Vallois com D. Sebastião;
cf. Visconde de Santarém, Quadro Elementar, Paris, 1843, vol. III, p. 449 ss.
18 O poema é escrito em hendecassflabos falécios. Ver J. G. Freire, ob. cit., pp. 70-71.
19 Ver n. 1 à carta referida.
20 Conrad Goclenius era alemão e professor no Colégio Trilingue de Lovaina, onde ocupava
a cátedra de Latim desde 1519. Com ele manteve Resende relações de amizade. Deve ter-se
interessado por Portugal e pelas conquistas portuguesas dessa altura. Ver Luís de Matos,
L’Expansion Portugaise, p. 428-431; O. Sauvage, L’Itinéraire Érasmien d’André de Resende, Paris,
1971, pp. 23, 46, em que se encontram duas cartas de A. R. a Goclénio discutindo dois dos
seus poemas, um sobre Lovaina e outro sobre os detractores de Erasmo.
21 Este poema, cujo início é imitado de Catulo, 14 (Nei te plus oculis méis amaram, /
Iocundissime Calue..., por sua vez, imitado de Mecenas, fr. 3 (Morei): ni te uisceribus meis,
Horati, plus iam diligo...), e utiliza uma profusão de impossibilia, como perífrases para a noção
de nunca, bem como de imagens tiradas dos movimentos perenes da Natureza, como p. ex.
o sidereum iubar (que Mendes de Vasconcelos nos escólios a Resende identifica com a estrela
de Alva, ver p. 372), como perífrase da noção sempre. É um texto de retórica retumbante, em
que até aflora o animae dimidium meae que Horácio, Odes, I, 3, 8, dedica ao seu amigo
Virgílio. Também horaciano é o metro usado, o quarto asclepiadeu.
De notar a erudição geográfica herdada dos Antigos, p. ex. com Tanaiticum (empregue
por Sidónio Apolinar, Carm., XI, 96) de Tanais, o rio Don, como rio mais oriental da Europa
em relação ao Tejo, ou mitológica: Hipérion, filho de Úrano e de Geia, pai do Sol, da Lua e
da Aurora; As rochas Cianeias, já celebradas por Lucano, Fars., II, 716, Cyaneas...cautes, são
duas ilhotas à entrada do Ponto Euxino, por onde passou Jasão na procura do velo de ouro
(P. Grimal, Dict. Myth., s.v. Cyane).
22 Deve tratar-se do bispo de Naumburg-Zeit Júlio Pflug e não Flu que desempenhou
primeiro Núncio residente em Portugal (p. 584), onde já estava antes de 1514; cf. pp. 114,
385-388; 392-396; 408-411.
25 Trata-se de Garcilaso de la Vega, 1501-1536, «el más insigne de los poetas españoles»,
como o descreve o Dicionario de literatura española, ed. G. Bleiberg – J. Marías, Madrid, 1972
(4), s.d., s.v. É filho de Garci-Lasso, o que deve explicar o nome latino usado por Vasconcelos:
Gra-tianus Lassus.
26 Os seus dois escravos.
27 «Crasta» ou «Claustra», ver J. P. Machado, Dic. Etim. Ling. Port., s. v.; Augusto Pinho Leal,
Portugal Antigo e Moderno, III, Lisboa, 1874, p. 191: refere-se à Claustra da Sé de Évora, obra
de D. Pedro IV, seu bispo, em 1376. A Crasta referida parece ser a do mosteiro de S. Domingos,
hoje já não existente.
402 As Antiguidades da Lusitânia
28 A data é, porém, de 1573, o que já foi sugerido por Leitão Ferreira, Vida de André de
Resende, A. H. P., VII (1909), 339, e aceite pelos eruditos que da sua vida e obra trataram.
29 Aquiles Estaço, natural de Vidigueira (1524-1581), foi, como diz Luís Sousa Rebelo, no
artigo do Dic. Lit. Port., «um dos mais brilhantes humanistas portugueses do seu tempo».
Estudou em várias universidades europeias (Paris, Lovaina), o que lhe permitiu entrar no
convívio internacional dos humanistas da sua época. Deixou uma obra importante que ainda
merece a pena ser conhecida pelo saber filosófico e literário que revela. A bibliografia mais
recente sobre a sua vida e obra encontra-se em Isaltina Figueiredo Martins, Bibl. Hum. Port.,
Coimbra, 1986, n. os 2111-2126.
quae sit loquendi regula, dicendum, quasi scribentibus custodienda, quod Graeci Ñrqograf…an
vocant, nos recte scribendi scientiam nominemus». Tece seguidamente Quintiliano as considerações
que julga necessárias quanto aos problemas ortográficos da sua época, como por exemplo o
valor da oclusiva gutural sonora de C (oc. gut. surda) no que respeita a Gaius e Gnaeus (o C
como letra do alfabeto romano provém da sonora G do alfabeto grego).
3 Noctes Atticae, IV, 15, 1.: «Elegantia orationis Sallustii uerborumque fingendi et nouandi
studium cum multa prorsus inuidia fuit, multique non mediocri ingenio uiri conati sunt
reprehendere pleraque et obtrectare in quibus plura inscite aut maligne uellicant». De salientar
a metáfora com o verbo uellicare «mordiscar, beliscar, espicaçar», com que muitos criticaram
sem razão a beleza do discurso salustiano, bem como a capacidade revelada pelo historiador
romano de inovar no que toca ao léxico latino.
4 É evidente que A. R. não está consciente das razões fonéticas que presidem às variações
ortográficas que apresenta como erro e que pretende corrigir ao gosto clássico, fazendo
exactamente o contrário do que pretende actualmente a metodologia científica. Quanto a
COIVGI, trata-se de uma inscrição de Roma a que se refere no livro IV, n. 7.
5 O nome de Beja vai ser tratado pormenorizadamente e etimologicamente numa carta-
Lima: «perque eos (Praesamarchos) Tamaris et Sars flumina non longe orta decurrunt, Tamaris
secundum Ebora portum, Sars iuxta turrem Augusti titulo memorabilem». Nela cita, porém,
ainda mais duas Eborae, uma no Guadalquivir (III, 4) e outra no Promontório Magno (III, 4).
Da primeira nada resta, a segunda deverá ser identificada, apesar da incompatibilidade
geográfica, com Évora (ver García-Bellido, La España del Siglo Primero, Com. a Pomp. Mela,
pp. 55-56, notas 89, 105, 125 (rio Sars, o Sar actual), 126 (Ebora «seria, pues, una ciudad de
la ria de Noya»), 127 («Esta Turris Augusti hubo de estar cerca de Padrón. Acaso llevó inscripción
recordatoria de la victoria del Emperador sobre los galaicos, como la de Mónaco, etc.»).
Notas e Comentários – Cartas e Epigramas 403
A. R. recorda a discussão sobre o nome Ebora que se verifica no Cap. I Do vero nome
desta cidade do seu livro História da Antiguidade da Cidade de Évora, editado pela primeira
vez em Évora em 1553 (ed. moderna de J. Pereira Tavares, Lisboa, s.d. [1963], p. 11 ss.).
1 Diogo Mendes de Vasconcelos foi sempre tido em alta conta pelo cardeal D. Henrique.
Esta carta de 15 de Janeiro de 1580 provavelmente nem foi lida pelo destinatário, que morreu
em 31 do mesmo mês. Ver José Geraldes Freire, Obra Poética de Diogo Mendes de Vasconcelos,
Coimbra, 1962, pp. 24-25.
2 Era bem conhecida a rudeza dos Getas sobretudo pelo testemunho de Ovídio que esteve
exilado nas suas paragens: Trist., V, 10, 38; V, 12, 53-58; Pont., IV, 13, 13, 22.
3 Hor., A.P., 387.
4 Donato, Vita Verg., 80, 81-82: «non absurde Carmen se ursae more parere dicens et
publicada e estudada por Virgínia Soares Pereira, André de Resende, Carta a Bartolomeu
Quevedo, Coimbra, 1988.
1 Este poema é traduzido e exaustivamente comentado por J. Geraldes Freire, ob. cit., pp.
144-147 (poema XXVII) e 246-248 (comentário).
EPIGRAMAS EM LOUVOR
DE DIOGO MENDES DE VASCONCELOS E DE RESENDE
2 Tradução (e comentário) destes três poemas de J. G. Freire, ob. cit., pp. 75-78.
1 Nicolau António, Bibl. Hisp. Nova, s.v., afirma que B. Frias de Albornoz foi o primeiro
é referido por Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana, tomo V (1667-1690), vol. I, p.
416.
4 Corrector – Corregedor ou Desembargador como era designado por Jacinto Leitão Manso
de Lima, Famílias do Reino de Portugal, vol. 7, pp. 194-195 e na BNL/RES/POMB., COD. 367
(Diogo de Macedo, Nobiliário, letra C (Castanhedas), fls. 291-291 v.
5 Ver Barbosa Machado, Bibl. Lus., e Nicolau António, Bibl. Hisp. Nova, s. vv., e Carolina
Michaelis de Vasconcelos, A Infanta D. Maria de Portugal e as Suas Damas, Porto, 1902, pp.
107-117. Nasceu em Vila Viçosa em 1548 e morreu em Évora em 1595.
404 As Antiguidades da Lusitânia
6 Esta carta, diz-nos Leitão Ferreira, Vida, A. H. P., VIII (1910), 353, teria sido escrita em
15 de Maio de 1556, data que parece errada, sendo preferível 1565, segundo D. Carolina
Michaelis de Vasconcelos, ob. cit. (n. 5), pp. 111-113, o que é já referido por Anselmo Braamcamp
Freire, no comentário a Leitão Ferreira, Vida, A. H. P. (1914), IX, p. 331.
LIVRO PRIMEIRO
1 Plínio, H. N., III, 1, 8: «In uniuersam Hispaniam M. Varro peruenisse Hiberos et Persas et
Phoenices Celtasque et Poenos tradit; lusum enim Liberi patris aut lyssam cum eo bacchantium
nomen dedisse Lusitaniae, et Pana praefectum eius uniuersae.»; Marc. Capela, VI, 628 (p. 308
Dick): «cui [Lusitania] nomen fabula a lusu Liberi patris uel cum eo bacchantium sociauit.»; S.
Isidoro, Etim., XIV, 4, 29, não nos transmite qualquer etimologia. Quanto à possível origem
do nome, tudo aponta para que seja céltica ou, pelo menos, língua indo-europeia ocidental:
S. Lambrino, «Les Lusitaniens», Euphrosyne, I (1955), pp. 117-145; «Les Celtes dans la Péninsule
Ibérique selon Aviénus», Bulletin des Études Portugaises, XIX (1956), pp. 7-33; J. Leite de
Vasconcelos, As Religiões da Lusitânia, Lisboa, 1907-1913, 3 vols.; Mário Cardoso, Dicionário
de História de Portugal, ed. Joel Serrão, s.v. Lusitanos; ver ainda Lusitânia em Antenor Nascentes,
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, tomo II (nomes próprios), Rio de Janeiro, 1952;
J. P. Machado, Dic. Onom. Etim. Ling. Port., Lisboa, s. d. (1984), s.v. Lusitânia; R. M. Rosado
Fernandes, «Méthodologie et Histoire dans De antiquitatibus Lusitaniae d’André de Resende»,
in Humanisme Portugais et l’Europe, Paris, 1984, pp. 496-497; K. H. Schmidt, «A Contribution
to the Identification of Lusitanian», Actas del III Coloquio sobre lenguas paleohispánicas,
Salamanca, 1985, pp. 319-341.
Quanto ao texto citado de Plínio, existe a variante Lysam em vez de lyssam, simplesmente
esta última é a única aceite nas edições modernas, desde Detlefsen (ver n. 7). A tese aqui
apresentada já fora concebida por Resende aquando das anotações ao seu poema Vicentius
Leuita et martyr, Lisboa, 1545 (editado e estudado por J. V. Pina Martins em edição de Braga,
1981), sobretudo na n. 24 das pp. 38-39.
2 Trata-se evidentemente de uma possibilidade etimológica aceitável na perspectiva dos
antigos devido à simples semelhança gráfica das palavras. Desde que o sentido conviesse,
encarava-se a etimologia, como é o caso de ludus e lusio do verbo ludere, que pode significar
«jogar», «brincar», pois relacionavam o seu valor semântico com os cortejos báquicos. Cf. J. P.
Machado, Dic. Onom. Etim. Ling. Port., Lisboa, s. d. (1984), s. v. Luso.
3 H. N., III, 1,8.
4 Quanto a Pseudoberoso, ver Paul Schnabel, Berossos und die babylonisch-hellenistische
Literatur, Leipzig, 1923 (Hildesheim, 1968); João Ânio de Viterbo publicou um passo falsamente
atribuído a Beroso (sacerdote babilónico que teria vivido 340-370 a. C.) nos seus Comentários
à obra de diversos autores que falaram sobre Antiguidade, cap. XX, Os Reis da Hispânia: «Este
luso não era grego mas hispano, filho de Sileceu, e começou a reinar no ano décimo terceiro
da Ascátide... Todos são de opinião que a Lusitânia foi assim chamada por causa de Luso.»
Ver Encicl. Verbo, s. v. Beroso. As edições de J. Ânio de Viterbo são os Commentaria super
opera diuersorum de Antiquitatibus loquentium, publicados em Roma, 1498, e dedicados aos
Reis Católicos que de novo aparecem juntamente com a obra de Beroso: Berosi sacerdotis
chaldaici, Antiquitatum libri quinque, cum commentariis Ioannis Annü Viterbensis sacrae
Theologiae professoris, nunc primum in antiquitatum studiorum commoditatem, sub forma
Enchiridü excusi et castigati..., Antuérpia, 1545. Fls. 61v e 293. Ambas as obras são citadas
por Braamcamp Freire, em Leitão Ferreira, Vida de André de Resende, A.H.P., VIII (1909), p.
179, n. 77 e IX (1914), p. 216, n. 215.
5 Liber é uma antiga divindade itálica, que cedo foi confundida com o Dioniso grego.
Como o próprio nome faz supor, é «livre» o deus e, por isso, facilmente se confundiu com o
deus grego que, por epíteto, também era conhecido como o deus que liberta Lua‹oj. Daí que
a sua mitologia fosse um reflexo da que os poetas atribuíram a Dioniso. Ver P. Grimal,
Dictionnaire de la Mythologie Grecque et Romaine, Paris, 1969 (4. a ed.), s. v. Liber; sob o mesmo
nome, cf. também R. E., XIII, 68 segs. (Schur) e o Der Kleine Pauly, III, 620-621. Importante é
Notas e Comentários – Livro I 405
o livro de A. Bruhl, Liber pater, Paris, 1953. De qualquer forma, a etimologia de Liber não tem
que ver com «livre», mas sim com *leudh, «germinar, fecundar», mais consentâneo com a natureza
de um deus ligado certamente aos cultos da fecundidade.
6 Cic., Verr., II, 4, 57, 128: «Aristaeus qui [ut Graeci ferunt, Liberi filius] inuentor olei esse
dicitur, una cum Libero patre apud illos eodem erat in templo consecratus.» A identificação
de paternidade, que no texto se encontra entre parênteses rectos, corresponde à lição dos
manuscritos repudiada por todos os editores modernos. No entanto, não acontecia assim com
os editores contemporâneos de Resende, p. ex., em M. Tulii Ciceronis Orationes diligentius
recognitae et aptiore serie repositae. Sunt autem cum actionibus in C. Verrem et philippicis in
Mar. Antonium universae, LVII, etc., edição que tem no cólofon a indicação dos livreiros que
em Paris a vendiam, e a data de impressão, 1522, sendo o lugar da impressão talvez Roma.
Ver Os Lusíadas 1572-1972, Catálogo da Exposição Bibliográfica... Bibl. Nac. de Lisb., Lisboa,
1972, p. 213.
Cic., De nat. deorum., 3, 45, apresenta uma versão diferente da que acima se deduz:
«Aristaeus qui oliuae dicitur inuentor, Apollinis filius...».
7 Resende perante as lições dos manuscritos, sobretudo dos AA. gregos, em que Lousitan…a
aparece ao lado de Lusitan…a, decidiu-se pela introdução de aut, que é a lição corrente
adoptada pelos editores modernos (ver n. 1). Quanto à etimologia ligada a lÚein «desligar,
libertar», nada há a contrapor, pois a noção expressa pelo verbo estava intimamente ligada à
acção psicológica do culto dionisíaco, conforme indica o epíteto LÚsioj e o nome dos sacerdotes
LÚsioi ligados à ideia de libertação. O nome LÚssa por seu lado, é nome corrente de bacante,
como se pode ver em Eurípides, Herc. fur. 822, 834, etc.; Bacantes, 977.
8 Claudi Ptolemaei Geographia, ed. C.F.A. Nobbe, Leipzig, 1843-5 (reimpr. Olms, Hildesheim,
1966): H, 3 (p. 64); 5 (p. 79, segs); VIII, 4, 3 (p. 198); passos em que se encontra Lousitan…a,
tal como Lousitano… se lê em II, 5, 7, (p. 81); cf. A. Tovar, Iber. Landesk., p. 187 ss.
9 Estêvão de Bizâncio, Ethnica, ed. A. Meinecke, Berlim, 1849 (reimpr. Graz, 1958): s. vv.
B. ciu., I, 110, 111; Díon Cássio, XXXVII, 52-53, 26; Estrabão, II, 120-3, 153; Ateneu, VII, 302
(que cita Políbio, que de facto é a grande fonte). Ver W. Pappe-G. Benseler, Woerterbuch der
griech. Eigennamen, reimpr. da ed. de Brauschweig, 1911 (Graz, 1959), s. vv. Numa inscrição
honorífica de Faro (Osónoba) editada por J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Com. Pac., n.° 7,
aparece-nos igualmente Lysitania.
11 Paulo, Digesta, XXXXX, Tit. XV, De censibus, VIII, p. 840 em Digestorum seu Pandectarum
reeditada em 1576 na mesma cidade e em 1783 em Lisboa. A edição mais recente com útil
introdução é a de J. Pereira Tavares, André de Resende, Obras Portuguesas, Lisboa, 1963. A
inscrição da Flamínica é discutida e apresentada por Mestre André, no cap. VII desta obra e
é considerada com grandes dúvidas por Huebner no C. I. L., II, 114; J. d’Encarnação, Inscr.
Rom. Conv. Pac., p. 442, exclui-a do catálogo, depois de lhe dedicar análise cuidadosa; o A.
refere igualmente esta inscrição em «Da Invenção de Inscrições Romanas pelo Humanista André
de Resende», Biblos, LXVII (1991), p. 199 ss.
13 Estr., III, 3, 4.
14 Estêvão de Bizâncio, Ethnica, 161, 20 (Meinecke): Belitano… oƒ aÙtoˆ to‹j Lusitano…j,
Bilbilis, cidade da Tarraconense, hoje Calatayud, pátria de Marcial) e não os Belitani. Ver A.
García y Bellido, La España del siglo primero de nuestra era, Buenos Aires, 1947, p. 104 (notas
à tradução de Plínio).
16 Estr. III, 4, 13 (Ver Schulten, F. H. A., VI, p. 249).
17 Paus., VIII, 18, 7: no texto grego não se fala, contudo, das ruínas de Mepsas, topónimo
18 Estr. III, 3, 3. Resende tem uma noção correcta da diversidade da área da Lusitânia
também se estuda a descrição dos rios Minho e Lima e contesta-se que o Lima e o Minho
venham da terra dos Vaceus e «mucho menos de los Celtiberos», visto procederem das serras
asturianas.
21 Estr. III, 4, 20: os ordines que compunham o exército correspondem aos t£gmata de
grego», viveu de 1475? a 1553 e publicou as suas Observationes Ferdenandi Pintiani... in loca
obscura, aut deprauata, historiae naturalis C. Plinii, Salamanca, 1544, com edições em Antuérpia,
1574, Francoforte, 1593 e Lião, 1593. Resende aponta para a existência, aliás real, dos dois
códices fundamentais para o texto de Plínio: o Codex Toletanus, do séc. XIII e o Codex
Salmanticensis Pintiani (historicamente ligado a Nunez de Guzmán. A sua datação não é bem
conhecida, mas pensa-se que seja tardio). Ver A. García y Bellido, ob. cit. (n. 15), p. 105 segs.;
José López Rueda, Helenistas Españoles del siglo XVI, Madrid, 1973, pp. 303, 304, 306.
29 Trata-se de pura fantasia, quanto à origem grega destes povos. Ver A. García y Bellido,
ob. cit. (p. 15), p. 247, n. 140. De resto é conveniente seguir este comentário para compreender,
ainda que com lacunas, o texto pliniano referente à Península Ibérica.
30 Quanto ao texto pliniano aqui apresentado, em que a ordem dos manuscritos é alterada
se a compararmos com os textos elaborados pela crítica moderna, alteração essa talvez devida
a erro do copista, conforme alvitra Resende, ver R. M. Rosado Fernandes, art. cit., na n. 1, pp.
497-499. Aponta-se aqui para o «puzzle», em que a ordem foi alterada: Plínio, H.N., IV, 20,
111-112; IV, 21, 113; IV, 22, 114, aparecem em diferente combinação de forma a permitir que
o «promontorium Celticum» seja descrito como se se tratasse do «promontorium Olisiponense».
Ambos são, contudo, bem descritos geograficamente por Plínio. Quanto às medições podem
traduzir-se millia por milhas, uma vez que a milha romana corresponde a «mil passos»
(subentende-se passum), o que equivale a 1478,7 m.
31 Solino, Collectanea rerum memorabilium, 23, 5, p. 103, 17 (Mommsen). Neste texto não
illic oppidum ab Ulixe conditum ferunt, ex cuius nomine promunturium, quod maria terrasque
distinguit. Nam ab eius ambitu inchoat mare Gallicum et facies setentrionalis Oceani, Atlanticus
Notas e Comentários – Livro I 407
uero et occiduus terminatur, qui tum Hispaniae limitatur excursibus.» De novo se repete o erro
de que o promontório Olisiponense (cabo da Roca) é o ponto limite, que, depois de rondado,
dá acesso ao mar Gálico, ou seja, ao mar Cantábrico no golfo da Gasconha.
33 Isidoro, Etim., XV, 1,70-71: «Olisipona ab Ulixe est condita et nuncupata; quo loco, sicut
posuere litteris permutatis.» Este é o texto de Plínio à luz da ciência textual moderna. É
importante ter a totalidade do período diante dos olhos, na medida em que ao finalizar com
litteris permutatis Plínio alude à identificação que Resende discute um pouco mais adiante,
ao citar repetidamente o mesmo passo.
35 Estr., III, 3, 5:
36 Resende não está consciente do que significa a afirmação de Plínio: é que o nome do
povo era Arrotrebae e não, como diz aceitar, Arotebrae. Esta última forma do etnónimo era
mais fácil de identificar com Ártabros. Plínio estava certo quanto ao nome do povo, embora
se enganasse quanto à identificação do promontório.
37 Ver n. 34.
38 H. N., IV, 22, 115 oƒ d� nàn toÝj 'Art£brouj 'Arotšbraj kaloàsin.
39 Joaquim Vadiano (Watt), cidadão suíço, publicou a edição Pomponi Melae de orbis situ
libri tres accuratissime emendatis, una cum commentariis Ioachimi Vadiam Helvetii castigatioribus,
Basileia, 1522, fl. 161, alínea h, em que acusa Plínio de «magnus error» porque «Olisiponensi
promontorio oram Hispaniae occiduam finiri et septentrionalis lateris flexum incipi existimauit...».
O erro que A. R. lhe aponta está na mesma fl. 161 em que faz o comentário à descrição da
Lusitânia de Mela, «(Cuneum) caput hodie Sancti Vicentii nominant. Idipsum Ptolemaeus sacrum
esse credit, ut facile in locis non adeo distantibus error commititur», e mais adiante na alínea
i «Sacrum. Quod Barbarium, nisi fallor, Ptol. uocat, Magnum aut, quod ipse Lunae montis
promontorium dixit.»
40 Nas notas ao poema Vicentius leuita et martyr, publicado em Lisboa, 1545 (ed. fac-
seguidamente e resignadamente acaba por aceitar para nos darmos conta das alterações. A
verdade é que Plínio, autoridade incontestada no séc. XVI, se enganara, pois pela sua descrição
mostra que estava convencido de que a costa entre o cabo da Roca e o cabo Finisterra (na
Galiza) estava situada a norte de Espanha, ou seja que ocuparia o mesmo lugar da costa galega
e asturiana. Ver Francisco Oliveira, «A Imagem da Hispânia em Plínio o Antigo», in II Congresso
Peninsular de História Antiga, Fac. de Letras, Univ. de Coimbra, s.d. (1990), separata de 13
pp., que analisa a problemática levantada pelo texto pliniano.
42 H. N. IV, 21, 113; 22, 114-118 (não é pois somente IV, 21, cap. 22, pois o parágrafo 118
pagar o tributo em dinheiro, diferente de uectigal, que era pago em espécies. Ver s. v. E.
Schwelm, R. E., VII, l ss. Quanto a Salácia Vrbs imperatoria, ver A. Tovar, Iber. Landesk., p.
214.
44 M. Vipsanius Agrippa, amigo e apoiante de Augusto, militar e político, autor de um
comentário geográfico, hoje perdido mas utilizado por Plínio e Estrabão, de onde foi tirado
o mapa do Império Romano, construído no Porticus Vipsania depois da sua morte. Ver G. W.
Richardson e T. J. Cadoux, Oxf. Class. Dict., s.v. e as referências que amiúde lhe faz A. Tovar,
Iber. Landesk., vol.II, Lusitanien.
45 Encontra-se na edição de Coimbra das obras de Resende: Pro Sanctis Christi Martyribus
quantificadas e, portanto, «susceptíveis de erro», como por outros motivos afirma Resende,
bem como quanto às cartas geográficas e tabelas estabelecidas, ver o artigo s. v. Ptolemy no
Oxf. Class. Dict. (2 a ed. – 1972). Também haverá interesse em consultar os artigos sobre o
mesmo geógrafo e astrónomo grego na enciclopédia de Pauly-Wissowa, mesmo na sua versão
abreviada, Der kleine Pauly. J. Barradas de Carvalho, O Renascimento Português (Em busca da
sua Especificidade), Lisboa, 1980, cita Ptolomeu várias vezes, como fonte de roteiros e livros
de viagem, p. ex., pp. 22, 24, 26, etc.; À la recherche de la spécificité de la Renaissance Portugaise,
Paris, 1983, 2 vols. A. Tovar, Iber. Landesk., apresenta no fim do vol. II sobre a Lusitânia a
carta da Ibéria segundo Ptolomeu.
48 Geogr., II, 5, 3 e 5; para outros geógrafos antigos, contudo, os Turdetanos não se
encontram nesta zona, mas sim no Sul de Andaluzia. Resende considera-os o mesmo povo
que os Túrdulos. Quanto à localização dos diversos povos, é elucidativa a carta de «distribuição
dos povos pré-romanos de Portugal», em J. Alarcão, Portugal Romano, p. 19; o Dom. Rom.
Port., p. 32 no importante cap. As Divisões Administrativas, p. 31 ss; A. Tovar, Iber. Landesk.,
p. 17 ss e passim, que os junta aos Tartéssios; quanto aos Túrdulos, pp. 23 (diferença entre
Turdetani e Turduli) e 201ss.
49 III, l, 6: descreve a região entre os rios Tejo e Guadiana (a que chama de «entre-rios»,
ou seja, «mesopotâmia» e na qual diz habitarem Célticos e Lusitanos). Ver comentário de García
y Bellido à tradução que fez deste passo.
50 Encontra-se na edição de Coimbra (1790) das obras de Resende: L. Andr. Resendii, pro
colonia Pacensi ad Ioannem Vaseum uirum doctissimum, vol. II, pp. 7-33.
51 Plínio não esquece os Turdetanos, pois lhes chama Túrdulos, H. N., III, 8, 13, 14. Ver
García y Bellido no comentário ao texto de Plínio. Este mais adiante diz (IV, 22, 116): «ab Ana
ad Sacrum Lusitani». Resende, contudo, considera-os diferentes.
52 Para o leitor moderno a noção evocada no texto latino por ciuitates, que traduzimos
por cidades, não corresponde ao seu valor semântico na antiguidade romana. A ideia abstracta
de ciuitas reside essencialmente na sua ligação a ciuis romanus e, portanto, ao direito de
cidadania, visto que as tribos, ao admitirem a sociedade romana e ao serem admitidas pelos
representantes desta, agruparam-se em ciuitates que, mantendo os seus fundamentos autónomos,
passavam no «entanto a organizar-se com formas de governo definidas desde o tempo da
república romana. Nas zonas mais atrasadas, como na Hispânia e em África, eram elas a base
da administração provincial. Ver s.vv. civitas e municipium em Oxf. Class. Dict., bem como as
enciclopédias Pauly-Wissowa e Der Kleine Pauly.
53 É o actual cabo Finisterra.
Notas e Comentários – Livro I 409
54 III, 3, 5: o texto de Resende é fiel ao de Estrabão. Cf. M. Maia, «Celtici e Turduli nas
fontes clássicas», in Actas del III Coloquio sobre lenguas y culturas Paleohispánicas, Salamanca,
1985, p. 165-177; A. Tovar, Iber. Landesk., 194-195.
55 H. N., III, l, 13.
56 Ver n. 48.
57 H. N., IV, 22, 116. Ver M. Maia, art. cit., n. 54. É evidente que Resende confunde Túrdulos
e Turdetanos, esses sim perto de Córdova, com Túrdulos. Cf. n. 48 e A. Tovar, Iber. Landesk.,
pp. 23 e 201 ss.
58 Tito Lívio, XXIV, 16; 17; 20;
59 III, 1, 6. O passo de Políbio, XXXIV, 8, é somente conhecido pela citação do
geógrafo.
60 Deve tratar-se da seguinte edição: Polybii Lycortae historiaram libri V, opera Vincentii
Obsopoei in lucem editi, graece. Iidem lat. Nic. Perotto interprete, Hagenoae, per Johan. Secerium,
1530.
61 Geogr., IV, 10; 11 (Túrdulos, cuja capital diz ser Córdova); 12; 13; 14 (Turdetanos, cuja
capital é indicada como Híspalis, ou seja, Sevilha). Quanto à Lusitânia, ver n. 48.
62 H. N., IV, 21, 113; 22, 116. Cf. III, 1,8.
63 H. N., IV, 22, 116. Sobre os Vetões, ver J. M. Roldán Hervás, «Fuentes antiguas para el
estudio de los Vetones», Zephyrus, XIX-XX (1968-1969), pp. 73-106; A. Tovar, Iber. Landesk.,
p. 202.
64 III, 3, 2 e 3.
65 H. N., III, l, 19.
66 H. N., IV, 20, 112.
67 De bello ciu., I, 38.
68 Os dois passos de Plínio já citados em n. 63 e 66 são H. N., IV, 22, 116; IV, 20, 112.
69 Geogr., II, 5, 9.
70 Não é possível que Sêntica seja Zamora, visto que fica a sul de Salamanca, o que pode
verificar-se pela consulta de qualquer Atlas antiquus, como o de A. van Kampen, publicado
em Gotha, s.d., que é a reedição do velho Atlas de Julius Perthes (ver carta n.° 17 –
Hispania).
71 III, 3, 1.
72 Geogr., II, 5, 9.
73 O nome em grego transcreve-se como OÙšttwnej, Estrabão, III, 3.2. Cf. Pape-Benseler,
Poderíamos pensar que se trate de uma hipercorrecção, em que a geminada tt fosse corrigida
para ct.
75 Ver n. 67.
76 Tito Lívio em XXXV, 7 e 22, fala em Vectones: «Vectonum magnus exercitus Toletanis
Coimbra, p. 98 e pp. 99-100; cf. ed. V. Soares Pereira, nn. 185, 186.
80 C. I. L., II, 18*: é uma inscrição forjada, segundo E. Huebner. Aparece numa inscrição
de Beja o cognome Vettonianus, J. Encarnação, Insc. Rom. Conv. Pac, n.° 248; «Da Invenção
de Inscrições Romanas pelo Humanista André de Resende», Biblos, LXVII (1991), p. 208 ss.
81 C. I. L., II, 485.
82 C. I. L. II, 3884.
83 C. I. L. II, 823.
84 C. I. L. II, 929.
85 Geogr. II, 5, 9: emprega OÙšttwnej que não pode ser transcrito por Ovetones na medida
em que o ditongo grego ou corresponde à semivogal latina u: é pois Vettones. Tal como
Resende aponta seguidamente, há em Grego uma alternância quantitativa na grafia do etnónimo
410 As Antiguidades da Lusitânia
que ora aparece como o, OÙšttonej, ora com w, como no passo de Estrabão, III, 3, 2:
OÙšttwnej.
86 IV, 8-10: há de facto manuscritos que nos transmitem a lição Vectones, mas refere-se em
impede que a lição mais comum seja a Vettonum, aceite nas edições modernas (vid. Pun., III,
378, indicado na n. 78) e ambas as formas com o longo. No texto da edição de 1593 de Resende
a citação de Sílio Itálico é precedida erradamente em «itálico» pela identificação do passo, erro
tipográfico emendado em edições posteriores.
88 Peristephanon, hino 3 (in honorem passionis Eulaliae Beatissimae Martyris), vv. 186-190:
«Nunc locus Emerita est túmulo,/ clara colonia Vettoniae,/ quam memorabilis amnis Ana/
praeterit et uiridante rapax/ gurgite moenia pulchra lauit./» (Agora já o seu túmulo tem Mérida
para ficar, a célebre colónia da Vetónia, pela qual passa o rio Guadiana digno de ser lembrado
e que em verdejante voragem lava rapidamente as suas lindas muralhas.) O metro, tetrâmetro
dactílico cataléctico, mostra-nos efectivamente que o o de Vettoniae é breve, repetindo-se
portanto em latim o que já o léxico grego nos mostrava (ver n. 85). Quanto à métrica, ver I.
Rodrigues Herrera, Poeta christianus, Esencia y misión dei poeta cristiano en la obra de
Prudencio, Salamanca, 1981 (Helmantica), p. 70 ss.
89 H. N., I, 25, 46: trata-se da enumeração que Plínio faz no primeiro livro dos assuntos
científicos que vai tratar. Ao referir-se ao livro XXV (Botânica), diz-nos que no parágrafo 46
será observado o «cestros siue psychotrophon, quae Vettonica siue serratula, etc». Infelizmente
o livro XXV chegou até nós incompleto.
90 Quinto Sereno Samónico, uir saeculo suo doctus, nas palavras de Macróbio, III, 16, 6,
vive no reinado de Septímio Severo (193-211) e era grande investigador de Plínio. Ver Funaioli,
«Q. Serenus Sammonicus« na RE, s. v. O texto referido é de Sereni Sammonici, Liber medicinalis,
P.L.M. (Baehrens), vol. III, p. 116 (XIII, Oculorum dolori mitigando), V, 202, (vv. 119-202):
91 Dioscórides, De med. mat., IV, l (De Betonica); Amato Lusitano, In Dioscoridis Anazarbei
de medica materia libras quinque... enarrationes eruditissimae, Lugduni (Lião), apud Viduam
Baettragaris Arnocetti, 1558, p. 579-80 confirma as observações de A. Resende.
92 Ver n. 67.
93 Geogr. II, 5, 9 com a indicação das latitudes.
94 Ver 74.
95 A proposta de A. Resende é completamente fantasiosa, na medida em que as formas
gregas estão perfeitamente definidas (nn. 73 e 85) e a grafia com tt geminado ou ct não levanta
problemas de maior na transcrição latina de um etnónimo hispânico. Enumeração diferente
da que encontramos na p. 20 da ed. lat. (Ouettones, Vuettónes, Ouetiones). Neste passo Ouettones,
Ouettônes (o longo, Ouetiones).
96 Ver n. 85
97 H. N., IV, 20, 112. A correcção de A. R. refere-se a Castra Iullia (não identificável) perto
de Metellinum, que se situava sobre o Guadiana. Ver J. Alarcão, Port. Rom., p. 40.
98 Sílaba ancípite, de anceps, ou seja, com duas cabeças. Daí o sentido de «duplo», ambíguo»,
de que se infere a noção métrica de sílaba com duas quantidades possíveis. Ver Ernout-Meillet,
Dictionnaire Étymologique de la Langue Latine, Paris, 1959-1960, s. v. caput; Crusius-Rubenbauer,
Römische Metrik, Munique, 1955, parágrafos 9 e 37.
99 Geogr. II, 5, 9.
100 H. N., III, l, 16.
101 Ver n. 73.
102 Ver n. 100.
103 Ver n. 99.
Notas e Comentários – Livro I 411
104 Ver n. 88. Efectivamente Mérida aparece referida por perífrase antonomástica igualmente
el maestro..., Medina del Campo, 1533, fól. 13 v. (promontorio Barbárico) remete para fól. 155
e ao falar dos Sários Lusitanos diz: «.. .nación cruel y de mal hospedaje para los estrangeros...»,
numa zona em que havia um promontório «a quien los Cosmógrafos deziam el Promontorio
Barbárico, por estar en la provincia destos Bárbaros Sarios, y nosotros agora... lhes lhamamos
Cabo Despichel.» Mais notícias sobre a sua crueldade no fól. 95 v ss.
107 Estr., III, 2, 9: no texto de Estrabão aparece simplesmente b£rbaroi, que significa os
bárbaros que viviam nas regiões para além da Lusitânia e nas ilhas Cassitérides (em geral
identificadas com a Grã-Bretanha). O termo bárbaros é por conseguinte genérico. Isso não
impede que em III, 3, l, Estrabão se refira ao promontório Barbário, que não é mais do que
o cabo Espichel, depois do qual, segundo o geógrafo, aparecem as bocas do Tejo. Antes do
promontório haveria um golfo, que é certamente o que era compeendido entre o cabo de S.
Vicente e o cabo Espichel. Ptol., Geogr., II, 5, 4: barb£rion ¥kron.
108 É o chamado «mármore da Arrábida», como refere O. Ribeiro, «Excursão à Arrábida»,
maxima laude est.» Descreve seguidamente as suas qualidades e classificação botânica. Ver o
comentário de García y Bellido ao passo (n. 201, p. 264): trata-se sim de uma lagarta de que
se extraía uma matéria para tingir (cf. Plínio, H. N., XVI, 8, 32).
110 Blattea, blatteia, blattia, aparecem registados no Thes. Ling. Lat., s. v., bem como blatta
(2) como os equivalentes a púrpura. Também coccineus, -a, -um nos aparece atestado com o
sentido atribuído por Resende, no Thes. Ling. Lat., s. v. Referem-se-lhes autores tardios, como
Venusiano, Carm., 2, 3, 19 (blattea); Sid. Apol., Carm., V, 48 (blatta); ou Marcial, XIV, 131
(coccineus). A primeira expressão só aparece tardiamente com o sentido de tecidos de
púrpura.
111 Nero, 30: «Piscatus est rete aurato et purpura coccoque funibus nexis.»
112 Breu., VII, 14.
113 Ep., IX, 13, 5, vv. 14-27. O texto apresentado por A. Resende, salvo nalguns particulares
infecta («tingida»), ainda que certos códices (de Leiden, p. ex.) apresentem a lição «tincta»,
«tingidas». De realçar a erudição do humanista ao comparar os textos de Sidónio Apolinar e
Lucrécio.
115 Gaio, 10, 66 (6) De excusationibus artificum, col. 108 in Volumen Legum, Parvum quod
vocant in quo haec insunt tres posteriores libri codicis Justiniani, ..., Venetiis, 1583; anterior a
esta temos a mesma informação no Parvus, ou seja, Brachylogos totius iuris ciuilis, Lugduni,
1553, (Brachylogos = Parvus).
116 D. Andreae Alciati..., Paradoxorum ad Pratum libri sex. Dispunctionum, lib. IIII, De eo
quod interest, liber unus, In tres libras Codicis, lib. III, Praetermissorum, lib. II, Declamatio
una, De Stip. divisionibus, Commentaríolus, Lugduni apud Sebastiaum Gryphium, MDXXXVII
(In tres posteriores codicis Iustiniani libros annotatiunculae), p. 200: De excusationibus artificum.
Depois de lecticarii, lactarii fala dos Barbaricarii. Cita os myrobrechariorum referidos por
Flauto na Aulularia, 3, 5, 37 (ver murrobatharius, dub.), que corrige: «In praesentiarum tamen
castigatius legendum hic putaverim barbaricarii, ut hi sint, qui barbaricas vestes intexunt,
aliter dicti phrygiones. Horum artis est ex auro et coloratis filis in vestibus hominum animaliumque
exprimere, ete.» (cita Virgílio e Apuleio).
412 As Antiguidades da Lusitânia
117 Não pode tratar-se de Mariano Escoto, monge de Fulda, que escreveu no séc. XI uma
Crónica da Igreja, só publicada no séc. xvi. Por sugestão do Prof. Nuno Espinoza Gomes da
Silva, autor de Humanismo e Direito em Portugal no Século XVI, Lisboa, 1964, consultámos o
repositório da bibliografia jurídica dos tempos quinhentistas, de A. Fontana, Amphitheatrum
legale ...seu Bibliotheca legalis amphissima ..., Parmae, 1688, onde encontrámos sob o nome
Scotus, um Mariano Escoto autor de um De Romanis Pontificibus, impresso em Frankfurt, 1583,
que poderá não ser necessariamente a primeira edição (Resende morre em 1573). No catálogo
da Biblioteca Nacional de Paris encontra-se uma obra de Federicus Scotus, Ad rubricam
Pandectarum de operis novi nuntiatione liber, Venetiis, J. Gryphius, 1547. Não nos foi possível
consultar nenhum destes livros. Partindo, contudo, do princípio de que o texto tem sempre
razão, só procedendo a uma busca mais apurada poderemos talvez identificar a obra utilizada
por A. Resende.
118 Aulularia, vv. 508-521: linarius (508); caupones, patagiarii, indusiarii (509), flamarii,
uiolarii, carinarii (510): trata-se de uma enumeração caótica, com fins cómicos, proferida pela
personagem Megadoro. Resende avança claramente com a hipótese, pouco provável aliás, de
que Barbário seria a designação de um profissional de tinturaria.
119 Ver J. André, Lexique des Termes de Botanique en Latin, Paris, 1956, s. v.
120 H. N. IV, 20, 113: Paesuri. A. Tovar, Iber. Landesk., p. 257.
121 C. I. L., II, 760; os Paesures são igualmente nomeados na inscr. dedicada a Adriano,
e o Tejo, ver R. Alarcão, Port. Rom., p. 18 (Fig. 1); O Dom. Rom. Port., p. 44 e Fig. 6 (p. 32).
123 Pómpónio Mela, Chorogr., III, 8.
124 Biblioteca, V. 43, 4: tîn d ' 'Ib»rwn ¢lkimètatoi mšn e„sin oƒ kaloÚmenoi Lusitano…...
que durante mais tempo foi combatida pelos Romanos.» Cf. M. Cardoso, s. v. «Lusitanos»,Dic.
Hist. Port.
126 Valério Máximo, Acções e Ditos Memoráveis, VI, 4. No capítulo De grauiter dictis aut
factis ab externis (Da autoridade nas palavras e nos actos dos estrangeiros). O passo trata da
conquista da Lusitânia e da cidade de Cingínia, que faltava conquistar a Bruto, contra o qual
resistia. Bruto propôs aos habitantes que pagassem um resgate, e a resposta foi que «os seus
antepassados lhes tinham deixado ferro para que se defendessem, e não ouro para que
comprassem a liberdade a um general ganancioso.» Resende apresenta o topónimo de Cinania
em vez de Cinginnia, o que é manifesto erro.
127 VII, 3, 6 (Da esperteza nas palavras e nos actos dos Romanos): é neste capítulo que o
historiador romano faz uma referência, que Resende não transcreve, mas que critica, pois ela
refere a ingovernabilidade da nação lusitana. É a conclusão à história de Sertório que, pela
sua habilidade, tinha conseguido dos Lusitanos o que eles próprios não conseguiam uns dos
outros: «Ita gens barbara, aspera et regi difficilis, in exitium suum ruens, quam utilitatem
auribus respuerat, oculis peruidit.»; «Foi assim que um povo bárbaro, rude, difícil de governar
e que se precipitava para a própria perda, viu pelos olhos a utilidade de um conselho que só
pelos ouvidos tinha desprezado.»
128 Tito Lívio, XXXV, 1 (são vencidos os Lusitanos por P. Cornélio Cipião e mortos 12.000);
XXXVII, 46 (matam os Lusitanos a 6.000 Romanos); XXXVII, 57 (derrotados por L. Emílio Paulo,
e mortos 18.000); XXXIX, 21 (O pretor Gaio Atínio mata 6.000); XXXIX, 42 (triunfo de Gaio
Calpúrnio Pisão, pretor, sobre os Lusitanos); XLI, 3 e 11 (submissão: triunfo de L. Postúmio
Albino).
129 Este aspecto propagandístico da historiografia romana é tratado por H. Peter, Wahrheit
und Kunst, Geschichtschreibung und Plagiat im klassischen Altertum, Leipzig - Berlim, 1911,
p. 277 ss.
Notas e Comentários – Livro I 413
130 III, 4, 13: relata a troça feita pelo filósofo Posidónio a Políbio devido às trezentas cidades
que este referia e que segundo Posidónio deveriam ter sido trezentas torres. Quanto à atitude
de Posidónio a respeito do imperialismo romano, ver Oxf. Class. Dict., s. v.
131 XXVI, 49: trata-se da crítica liviana ao analista Valério Anciate, que costumava empolar
os números a favor dos Romanos; cf. H. Peter, ob. cit. (n. 129).
132 XXXV, l, 4 e segs.
133 XXXVII, 46, 7.
134 Paulo Orósio, Hist. adu. Paganos, IV, 20, 23; 21, 3 e 10.
135 IX, 6, 2.
136 XXII, 89-90; cf. Oratorum Romanorum fragmenta (Malcovati), M. Porcius Cato, frags.
(Peter). Cf. A. Schulten, R. E., s. v. Lusitani, vol. XIII (1869); R. M. Rosado Fernandes, «O
Episódio dos Trezentos Lusitanos contra Mil Romanos e Sua Possível Explicação», in Rev.
«Ocidente», LXXII (1967), pp. 278-283. Trata-se de um topos heróico inspirado na gesta espartana
dos trezentos das Termópilas na guerra da Hélade contra os Persas.
143 Prodigiorum liber, 17 (ano 154 a.C.). Ver Periochae, XLVIII de Tito Lívio.
144 Epitomae, I, 33, 13: «Sed tota certaminum moles cum Lusitanis fuit. Nec inmerito. Quippe
uenatore latro, ex latrone subito dux atque imperator et, si fortuna cessisset, Hispaniae
Romulus...».
146 Epit. hist. phil., XLIV, 2, 7.
147 Onomasticon, I, 173 (Bethe): o vocábulo aparece num longo capítulo sobre termos
militares.
148 De officiis, I, 30, 108.
149 Díon Cássio, Hist. Rom., XXXVII, 52, 3.
150 Estrabão, III, 3, 6: paraxifˆj prÕj toÚtoij (subentende-se) ¢spid…oij À kop…j.
151 Ibidem: ¢kÒntia d' �kastoj (subentende-se pezÕj ple…w).
152 Ibidem: tin�j d� kaˆ dÒrati crîntai.
153 Id., III, 3, 7: ÙdropÒtai.
154 Ibidem: poioàsi d� kaˆ �katÒmbaj ˜k£stou gšnou `Ellhnikîj teloàsi d� kaˆ ¢gînaj
gumnikoàj, kti.
Fala-se de «à moda grega» `Ellhnikîj e não, pelo menos nas edições modernas, «à moda
de Esparta».
155 De bello ciuili, I, 48.
156 César, B.C., 48; Tito Lívio, XXI, 27, 5; XXVIII, 5, 11; Sílio Itálico, Pun., III, 348; Luc.,
Fars. VII, 232, etc. A caetra era um pequeno escudo redondo. Cf. M. Cardoso, art. cit. (n. 126);
Cabré Aguiló, «La Caetra y el Scutum en Hispania durante Ia Segunda Edad de Hierro», Bol.
del Seminario de Estudio de Arte y Arqueología, Valladolid, VI, 1936-1940, p. 57 ss. Ver Escólios
de Mendes de Vasconcelos, à p. 36, linha 10, e n. 1.
157 Chorogr. III, 10: «totam Celtici colunt, sed a Durio ad flexum Groui...».
158 H. N., IV, 20, 112: «A Celenis conuentus Bracarum, Helleni, Groui, castellum Tyde,
Gaecorum sobolis omnia;». Como podemos avaliar pelas lições adoptadas posteriormente, o
etnónimo é Groui e não Gronii ou Grauii como pretende Resende. Sabemos, no entanto, que
Grauii ou Groui são uma e a mesma coisa. Cf. R. Grosse, F. H. A., VII, p. 226.
159 Sílio Itálico, Pun., I, 235-236 e III, 366-367; Grávios e Graios um mesmo nome para
nobilitar com origem helénica, ainda que fantasiosa, um povo peninsular (ver n. 164).
160 Ver n. 158.
414 As Antiguidades da Lusitânia
contudo, no parágrafo anterior (2) que os Galaicos se atribuem origem grega e que foi Teucro
que, depois de ter passado por Chipre, a seguir à guerra de Tróia, e por ter sido impedido
de regressar à sua terra natal, teria ido habitar no Sul da Espanha (a então Nova Cartago, hoje,
Cartagena) e daí teria passado à Galécia. Sobre as origens míticas gregas da Ibéria, inventadas,
segundo os historiadores, por Asclepíades de Mirleia, ver A. Schulten no comentário aos passos
de Justino sobre a Hispânia, em F. H. A., VIII, pp. 334-354 e em especial p. 350.
165 Em III, 4, 3, transmite Estrabão a mesma lenda criada por Asclepíades. Ver o comentário
ao passo referido feito por A. García y Bellido na sua tradução espanhola, bem como o de A.
Scbulten, F. H. A., VI, p. 226.
166 Ver n. 158.
167 Ver n. 164
168 Sílio Itálico, Pun., III, 367. Ver comentário ao passo em R. Grosse, F. H. A., VII, p. 226.
Segando a lenda, teria sido Diomedes, rei da Etólia, que no seu regresso de Tróia teria fundado
Tyde, em cujo nome recordaria a memória do seu pai Tydeus.
169 Ver n. 154.
170 Ver pp. 92 e 186-187.
171 Quanto às influências gregas na Hispânia, ver J. Maluquer de Motes y Nicolau, «Gregos
na Península»,Dic. Hist. Port., que cita a principal bibliografia. Quanto às influências linguísticas
não é de crer que se tenham exercido directamente, mas sim por intermédio do Latim.
172 Ver p. 126.
173 C. I. L., II, 258 (zona de Lisboa e Estremadura).
174 C. I. L., II, 259 (zona de Lisboa e Estremadura).
175 Intitula-se o livro referido, Inscriptiones sacrosanctae uetustatis non illae quidem
Romanae, sed totius fere orbis summo studio ac maximis impensis Terra Marique conquisitae
feliciter incipiunt. Magnifico Viro Domino Raymundo Fuggero invictissimorum. Caesaris Caroli
Quinti ac Ferdinandi Romanorum regis a Consiliis bonarum litterarum Mecaenati incomparabili
Petrus Apianus Mathematicus Ingolstadiensis F. Bartholomeus Amantius Poeta DED. Ingolstatii
in aedibus P. Apiani, anno M.D.XXXIIII.
176 C. I. L., II, 30* Inscript. Sacros., p. II no livro sobre Inscriptiones Hispaniae.
177 Foi o editor Valentim da Morávia (ver J. Barradas de Carvalho, s. v. Valentim Fernandes,
Dic. Hist. Port.) que encontrou, nas circunstâncias adiante descritas, esta «duvidosa» inscrição
e a dedica a Jeronimo Münzer (Monetário) de Nuremberga (Ob. cit., p. H): «Valentinus Moravus
D. Hieronymo Monetário Nurenbergen. Anno a nativitate Dni 1505, nona uero die Augusti,
regnante Emanuele Rege excellentissimi Portugalliae Regni autem sui anno 13. in ultimis suae
ulterioris Hispaniae finibus, versus solis occasum in calce Lunar promontorii quod Rocham de
Sinna vulgus appellat, secus Maris Occeani littus tres sub terra ex insperato compeste fuere
ex saxo columnae quadrata forma priscis temporibus characteribus Romanis una tantum quadra
incisis, quarum basis recta ordine immitato paululum in caput erigebatur, caput uero proprium
in basim ex industria ut apparebat defixum conspeximus, euulsisque ferro et arte decoctis
lapidibus, quibus praefatae mirandae colunnae subtus alligabantur tandem in earum una iam
directe conuersa has figuras liquido annotauimus, nam aliarum literas in lucidum explicare
Notas e Comentários – Livro I 415
non satis nobis fuit integrum, quia temporum uetustate ac maris imbribus et afflatu erant pare
consumptae.»
178 Varrão, De re rust., II, 1, 7. Ver R. M. Rosado Fernandes, «O Vento, as Éguas da Lusitânia
e os Autores Gregos e Latinos», Euphrosyne, XII (1984), pp. 53-77, em que se estuda esta lenda
na tradição antiga. Este trabalho é continuado em «O vento, as Éguas de Lisboa e os Humanistas
do Ocidente Peninsular», Primera Reunión Gallega de Estudios Clásicos, Santiago de Compostela,
1981, pp. 369-388, em que se analisa a transmissão e interpretação do mesmo mito nos autores
medievais, renascentistas e modernos.
179 H. N., VIII, 67, 166.
180 Hist. Phil. XLIV, 3, l,: «In Lusitanis, iuxta fluuium Tagum...».
181 De re rust., VI, 27, 4-7.
182 Hist. Phil., XLIV, 3, 6: Justino fala de um «sacer mons», que não pode ser violado pelo
ferro por motivos sagrados, isto é, não pode ser lavrado nem cultivado, certamente por estar
consagrado a qualquer culto. O mesmo se deve ter dado nas imediações de Lisboa, pois já J.
Leite de Vasconcelos apontava Monsanto, como possível lugar sagrado, Religiões da Lusitânia,
II, Lisboa, p. 30. Cf. R. M. Rosado Fernandes, art. cit. (Euphrosyne), p. 55 e segs. e n. 3.
183 Leite de Vasconcelos, ob. cit., p. 103, propõe com razão que a lição de Varrão seja
considerada como erro de copista. Tagro estaria por Sacro, visto que a toponímia o justificaria.
Tagro é topónimo que não existe, segundo Leite de Vasconcelos.
184 Esta descrição lembra a dos cavalos do Sorraia de que fala Ruy de Andrade, «Les chevaux
Sorraia», in Comptes Rendues du XIIe Congrès International de Zoologie, Lisboa, 1935, pp. 2368-
2370; publicado em sep., Lisboa, 1937.
185 Georg., III, 271-275, ver Ruy Mayer, As Geórgicas de Virgílio, Lisboa, 1948, p. 375.
Resende admira-se de o caso das éguas lusitanas não ser referido por Virgílio, tanto mais que
o poeta no passo indicado se refere em termos genéricos à grande intensidade do cio nas
éguas, tema bem conhecido dos zoólogos e naturalistas antigos.
186 Sílio Itálico, Pun., III, 378-383; XVI, 362-365, não refere o caso olisiponense mas
apresenta forte influência homérica e refere-se, sim, aos «campos dos Vetões», perto de Mérida
e Salamanca, mas não de Lisboa.
187 Braamcamp Freire, na ed. da «Vida de André de Resende» de Leitão Ferreira, A. H. P.,
IX (1914), diz-nos a p. 215, n. 211, que não conseguiu encontrar nos repositórios bibliográficos
as cartas a que se refere A. R., dirigidas a Manuel de Sousa, alcaide de Arronches, bem como
a João Vaseu.
188 Meidubriga, Medobriga, Medobrega (ver n. 193) ou Medubriga, não é identificável na
zona de Marvão, mas sim com Ranhados no concelho de Meda, na Beira Alta e, portanto,
perto da serra da Estrela. Ver J. Alarcão, Portugal Romano, p. 46; O Dom. Rom. Port., p. 43;
A. Tovar, Iber. Landesk., p. 254 ss.
189 No concelho de Marvão a citada Aramenha corresponde à antiga Ammaia e não a
Herminia, criação fantasiosa. Ver J. Alarcão, ob. cit., p. 77 e sobretudo «Os Montes Hermínios
e os Lusitanos» in Livro da Homenagem a Orlando Ribeiro, 2.° vol., Lisboa, 1988, pp. 41-48;
que em nada coincide com as hipóteses apresentadas nem com o passo de Díon Cássio; A.
Tovar, Iber. Lméak., p. 220.
190 H. N., IV, 22, 114: «Medubricenses qui Plumbari (cognominantur)...». Ver R. Grasse, F.
H. A., VII, p. 199: «Medubriga, ciudad de Lusitania, llevava el nombre de Plumbaria, sin duda
por el plomo que se obtenia alli». Como pode verificar-se, a informação não é abundante. Cf.
ed. de Plínio de García y Bellido, p. 253, n. 156, com um comentário pouco conclusivo, em
que se interroga se Medóbriga deve ser colocada na serra da Estrela. A resposta já foi dada
na n. 190. Quanto ao passo de Plínio, ver J. Alarcão, ob. cit., p. 129; O Dom. Rom. Port., p.
43; A. Tovar, Iber. Landesk., 254 ss.
191 De bello Alexandrino, 48: o autor desconhecido desta pequena obra histórica refere-se
ao ataque de Cássio Longino contra «in Lusitania Medobregam oppidum montemque Herminium...
quo Medobregenses confugerant...», o que implica a proximidade de Medobrega ou -briga, do
monte Hermínio, provavelmente serra da Estrela, apesar da identificação de Resende com a
região de Portalegre.
416 As Antiguidades da Lusitânia
192 Antonino Pio, Itineraria, Itineraria Romana, vol. I, Itineraria Antonini Augusti..., ed.
O. Cuntz, Leipzig, 1920, p. 64. A lição aceite transmite-nos o topónimo Montóbriga e não
Medóbriga, além de que o texto se limita à enumeração dos nomes com as distâncias à frente.
Montóbriga «está igualmente por localizar», diz J. Alarcão, ob. cit., p. 7; igual atitude assume
J. M. Roldán Hervás, Itin. Hisp., s. v. Montobrica, p. 251 e também p. 66.
193 Budua é Bótoa já em território espanhol, J. Alarcão, ob. cit., p. 75; J. M. Roldán Hervás,
Leontina Ventura & Ana Santiago Faria, Coimbra, INIC, 1990, indicação bibliográfica que ficamos
a dever, assim como sugestões quanto à compreensão do texto de A. R., ao Prof. Aires do
Nascimento.
195 Livro Santo (Torre do Tombo), fl. 64, doc. 70, publ. e Documentos Régios por Rui Pinto
de Azevedo, doc. 10, e Livro Santo de Santa Cruz, doc. 70 (de 1106, l de Agosto). A. R. abrevia
e altera o texto original: «Ego comes Henricus Portugalensium patrie princeps et uxor mea
domna Tarasia magni regis Ildefonsi filia facimus cartam donationis et firmitudinis tibi Johanni
Siiciz presbitero et socio tuo Fafila presbitero de illa hereditate nomine Sancto Romano que
est sita juxta Senam sub Monte Hermeno».
196 A. Resende não falará mais do assunto, como promete, mas a Cabia Iuliani de que fala
é a corruptela de Cauea Juliani ou Cova Juliana (do Conde Julião, o traidor cristão causador
da invasão árabe da península). É um dos étimos apresentados para Covilhã, como vemos em
A. Nascentes, Dic. Etim. Ling. Port., II (nomes próprios), s. v.; J. P. Machado, Dic. Onom. Etim.,
s. v. contesta a «consistência científica» das hipóteses aduzidas por Nascentes, e não considera
os potenciais étimos, apresentados, como este, pela imaginação dos eruditos, e que têm
importância cultural e histórica.
197 Livro Santo, fl. 66, doc. 77; ed. doc. 77 (1140, Janeiro): «Idcirco ego Ansedus et uxor
mea Gontila facimus cartam testamenti Deo... videlicet de medietate tocius nostre hereditatis
quam habemus in villa Lagares territorio Sene sub Monte Hermeno».
198 Livro Santo, fl. 67 v. doc. 82; ed. doc. 82 (1139, Agosto): «de una nostra terra quam
habemus in territorio Sene, subtus Monte Hermeno in loco qui dicitur Assamassa».
199 Livro Santo, fl. 68, doc. 84; ed. doc. 84 (1140, Janeiro). Confere o texto, só que à leitura
fielmente o medieval.
201 C.R. (Corporações Religiosas, no A.N.T.T.), Santa Cruz de Coimbra, m. III, doc. 24; Livro
Romani et in circuitu ejus sub monte Hermeno discurrente ilumine Alvia.» A. R. cita trocando
flumen por fluuius.
204 Ver A. Nascentes, Dic. Et. da Líng. Port., II, Nomes Próprios, s. v. Estrela, que cita a Leite
de Vasconcelos, Tradições, 29, Etnografia, II, 26, o qual refere a lenda segundo a qual teria
sido também um pastor que, guiado por uma estrela, ali teria chegado, depois de ter passado
por muitas terras e que acabaria por ser rei. A história de Resende tem o aliciante de apresentar
o enigma da rocha, que até agora parece não ter sido identificada. De resto, quanto à
identificação do Mons Herminius com a serra da Estrela mostra-se Leite de Vasconcelos muito
cauteloso e não assevera a identificação em Religiões da Lusitânia, II, p. 32.
205 Díon Cássio, XXXVII, 52: a tradução latina apresentada por Resende reproduz, com
relativa fidelidade, o texto grego. O monte Hermínio, ou montes Hermínios como mais
vulgarmente são conhecidos, correspondem ao grego do texto: tÕ Óroj tÕ `Erm…nion. Quanto
à ilha para onde, depois da perseguição movida por César, os Lusitanos se teriam refugiado,
pensa A. Schulten, F. H. A., V, p. 13, que se trataria de Peniche, pois que a ilha na descrição
de Díon tocava a costa durante a maré-baixa. É esta também a opinião de Resende.
206 De uita Caesarum, I, Diuus Iulius, 44.
Notas e Comentários – Livro I 417
207 Trata-se de Londobr…j referida por Ptolomeu,, Geogr., II, 5, 10: «junto à Lusitânia existe
a ilha...», que Leite de Vasconcelos virá igualmente a identificar com as Berlengas, Religiões
da Lusitânia, II, p. 26 e segs.
208 Ver n. 205.
209 Ver J. Veríssimo Serrão, s. v. «Ataíde, D. Luís de»,no Dic. Hist. Port.
210 A inscrição de D. Luís de Ataíde em Atouguia foi composta, segundo Braamcamp Freire,
em Leitão Ferreira, Vida de André de Resende, A. H. P., IX (1914) 216, n. 212 «depois de 21 de
Abril de 1555, data de carta de doação da vila de Atouguia a D. Luís de Ataíde, e antes de 2
de Março de 1568, quando ele foi nomeado vice-rei da Índia». Ver também a citação de Leitão
Ferreira na p. 257, n.° 94.
211 O Ad Ludouicum Ataidium Epigramma é publicado em Évora, 1593, e seguidamente
na História da Índia de Frei Miguel da Cruz, Coimbra, 1616, p. XIV. Braamcamp Freire, Vida
de André de Resende, A. H. P., IX, 197, n. 162, diz que o poema foi composto depois de 25 de
Julho de 1572, quando da entrada triunfal de D. Luís de Atouguia em Lisboa.
212 Publicada como Vita S. Martini Saurensis nos Portugaliae Monumenta Historica, I,
Scriptores, p. 59-62. Na p. 60, 0.2 o nome do Autor é Saluatus e não Saluianus.
213 P. M. H., Scriptores, I, 60, 2, 6-8: «Ab urbe uero Colimbrianorum XVIIIo, austrum uersus,
distat miliario. Ad orientem sunt tapiei montis saxosa cacumina.» Aires do Nascimento, Vita S.
Martini Saurensis, Índices, concordância, análise linguística – dados estatísticos, Lisboa, 1977,
s. vv. Colimbrianorum e Tapiei.
214 Poema dedicado a Lopo Gentil na epístola que lhe dedica A. R. É referida na Vida de
André de Resende, A .H .P., IX, 1914, p. 253, n.° 46, por Leitão Ferreira, e por Braamcamp
Freire, p. 317, n. os 90 e 91, com as suas várias edições. Lupo Scintillae Iuris consulto L. Andrea
Resendius S., Lisboa, 1561.
215 É certamente a evolução fonética popular a que não deve ser alheia a etimologia popular
tanto uma como outra, ao monte Córdova. Ver Vida e Milagres de São Rosendo, ed. de M. H.
da Rocha Pereira, Porto, 1970, pp. 34 (in monte corduba) e 43 (baptismos de S. Rosendo in
ecclesia sancti Saluatoris super montem Cordubae e referência logo a seguir à Igreja de S.
Miguel). As duas Vidas foram igualmente publicadas nos Portugaliae Monumento Historica,
Scriptores, pp. 34-46.
217 Sobre o Castelo de Arouca e as quatro ermidas que ali se erguem (de diferentes épocas),
ver Guia de Portugal, vol. III (Beira Litoral, Beira Baixa, Beira Alta), s. d. (1944), p. 385 ss.
218 Deve tratar-se do opúsculo de Mestre António, de 1512, intitulado Tratado sobre a
Província d’Antre Douro e Minho e suas avondanças publicado por Luciano Ribeiro, «Uma
descrição de Entre Douro e Minho por Mestre António», Boletim Cultural da Câmara Municipal
do Porto, vol. XXII (1959), pp. 441-460; também João de Barros (não o historiador) escreveu
uma Geographia d’Antre Douro e Minho e Trás os Montes, publicada no Porto, Biblioteca Pública
Municipal do Porto, 1919; estas obras e outras do seu tempo são analisadas por J. Romero
Magalhães, «As descrições geográficas de Portugal: 1500-1650. «Esboço de Problemas», Rev. de
Hist. Económica e Social, 1980, pp. 15-56.
219 II, 33, 49: Vindius e não Vinduus é o monte em que se refugiam os Cântabros. Ver A.
Vindius, pois é Tito Lívio a sua fonte, ou seja, a mesma de Floro. Ver A. Schulten, F. H. A., V,
pp. 196-198. De resto nalguns manuscritos de Orósio encontra-se Vindius. Quanto à identificação
proposta por Resende, não parece ser de aceitar, na medida em que o Vindius mons se
encontrava junto à costa cantábrica, ao Norte da Galécia e não em Trás-os-Montes.
221 Trata-se «das montanhas que na Tarraconense têm o nome genérico de Uníndio», em
gr. OÙn…ndion, que certamente deve corresponder ao lat. Vindius, que neste caso abrangeria
uma zona montanhosa mais dilatada, Ptol., Geogr., II, 6, 21, não sendo contudo evidente grande
diferença geográfica no que respeita às duas fontes anteriormente citadas.
222 Não é fácil admitir esta interpretação do nosso humanista, na medida em que só na
as terras ao Norte do Douro e, por conseguinte, Chaves. De resto esta zona nortenha foi
sempre considerada como pertencente à Galécia e parte naturalmente da Hispânia Citerior.
Ver J. Alarcão, Portugal Romano, p. 20; O Dom. Rom. Port., p. 60.
LIVRO SEGUNDO
1 III, 3, 4. Cf. A. Schulten, F. H. A., VI, pp. 203-205; ed. García y Bellido, p. 126 e notas.
2 Correspondendo o passus a 1479 m, 40.000 passus equivalem a 59.160 metros. Quanto
às galerias subterrâneas, embora no texto nos pareçam aumentadas pela imaginação do
humanista, não deixam elas de existir muito especialmente na zona do Pulo do Lobo, nas
imediações de Serpa. A esse respeito já escreveu Mariano Feio, Os Terraços do Guadiana a
Jusante do Ardila, Lisboa, 1947, especialmente no cap. IV, p. 34 ss. que o A. dedica ao estudo
pormenorizado da geografia física do Pulo do Lobo.
3 Ver F. Sommer de Andrade, A Raça Bovina Transtagana, Sub-raça Alentejana, Lisboa,
1952, monografia que dá uma ideia histórica sobre a raça descrita por A. Resende. Quanto à
precocidade e estatura do gado, há que atribuí-la em grande parte à imaginação do escritor.
4 De pallio, V, 6, 68.
5 De pallio, V, 6, 68-70: «Inmergo aeque scalpellum acerbitati ei, qua Vedius Pollio seruos
muraenis inuandendos obiectabat. Noua scilicet saeuitiae delectatio terrenae bestiae exedentulae
et exungues et excomes; de piscibus placuit feras cogere, utique statim coquendis, ut in uisceribus
earum aliquid de seruorum suorum corporibus et ipse gustaret». Tertuliano considerava pois
esta forma de sádico assassínio, próxima do canibalismo, pois Vélio Folião ao mandar cozinhar
as moreias depois de estas terem devorado os escravos, como que ia saborear a carne daqueles
ainda existente nas vísceras desses peixes carnívoros.
Quanto aos nomes de peixes referidos por A. Resende, ver s. vv. comentário de E. Saint-
Denis, Le vocabulaire des animaux marins en latin classique, Paris, 1947.
6 Asturjão, porque o esturjão, segundo Resende, deveria ser assim chamado por existir no
rio Minho, que vem das Astúrias. De resto, o nome recente sturio (do germânico) estará em
causa, pois segundo Resende não se pode identificar com o antigo acipenser. Emprega-se este
nome latino na tradução, para permitir o entendimento do texto.
7 A zoologia era estudada sobretudo pelos médicos, tais como Jóvio ou Rondelet, cujas
De sturione, pp. 18-48. Depois de refutar várias identificações já tentadas para o sturio, nome
germânico recentemente (séc. IX) importado, decide-se Jóvio pela identificação, devido
certamente ao porte e também à pele lisa, com o siluro, ainda que ao referir-se à possível
identificação com o clássico acipenser recorda a descrição de Plínio, que o vê com as escamas
voltadas para a cabeça, e considera essa uma das razões para o desaparecimento do acipenser
(esturjão); ver cap. I, p. 7: «Acipenser quoque ille regum mensis usurpatus et conuersa in caput
squamarum serie insignis, eadem ratione, quoad fartasse fuerit inquilinus, hac aetate procul
dubio euanuit».
Discutimos estes aspectos no artigo «Solho, esturjão ou asturião do Guadiana», in Estudos
de Homenagem a Mariano Feio, Lisboa, 1986, pp. 627-648, em que se publica um documento
notarial de D. Dinis, celebrando a oferta de um esturjão em Valada do Ribatejo.
9 H. N. , IX, 15, 45. Ver Com. de E. de Saint-Denis na edição Belles-Lettres, pp. 110-111,
parágrafos 44-45. O Prof. S. Tavares de Pinho lembra, a este respeito, o texto do italiano Latino
Latini (1513-93) intitulado «De siluro pisce», in Lucubrationes, II, Viterbo, 1667, p. 128 ss.
10 IX, 37, 621 b. Cf. Eliano, De nat. animal, XII, 29.
11 H. N., IX, 15, 44; 16, 58; e XXXII, 43, 125.
12 XVII, 2, 4.
13 XVH, 2, 5.
14 O esturjão é um peixe anádromo, o que significa que vindo do mar sobe pelos estuários
dos rios para vir desovar na água doce. Os Antigos pensavam que tal mudança era motivada
pela necessidade de encontrarem esses peixes (é o caso do salmão e de outros) zonas mais
Notas e Comentários – Livro II 419
ricas em comida e pensavam também que a tranquilidade dos rios os levaria a uma espécie
de «engorda». Nunca relacionavam o facto com a procriação da espécie.
15 Trata-se de facto de um livro célebre, em que efectivamente a identificação de sturio
com acipenser é proposta com toda a razão. Isso levará Lineu, no séc. XVIII, a considerar uma
das espécies do esturjão como Acipenser sturio. Resende refere-se ao capítulo IX, De acipensere
em Gulielmi Rondeletti Doctoris medici et medicinae in schola Monspeliensi Professoris regii,
libri de piscibus marinis, in quibus uerae piscium effigies expressae sunt, Lião, 1554, nas pp.
410-417.
16 Dórion é citado por Ateneu, III, 118 b-c, como sendo o autor de um tratado sobre peixes.
A identificação com Ônoj (burro) e Ôniskoj (burrinho) apoia-se na descrição do autor em VII,
312b-c e 315e.
17 Galeno, Perˆ trofîn dun£mewj, De alimentorum facultatibus, Corpus Medicorum
Graecorum, V, 4, 2, ed. G. Helmreich, Leipzig, 1993, p. 372, 15, 12-21 (727, 2), 30: Perˆ tîn
sklhros£rcwn „cqÚwn: Ð g¦r toi par¦ `Rwma…oij ™ntimÒtatoj icqÚj, Ön Ñnom£zousi galax…an,
™k toà tîn galeîn ™sti gšnouj, Öj oÙd� genn©sqai doke‹ kat¦ t¾n `Ellhnik¾n q£lattan, kaˆ
kat¦ toàtÒ ge kaˆ Ð FulÒtimoj aÙtÕn ºgnohkšnai fa…netai. Trata-se, pois, dos peixes de
carne dura, entre os quais efectivamente se poderia incluir o esturjão, embora neste passo
dele se não fale.
Cf. supra 727, l (p. 372,4-11); — Filótimo que escreve no 2.° livro do Perˆ trofÁj: refere-
se aos dr£kontej (peixe com grande barbatana dorsal) galeènumoi (ou galeo…), peixe conhecido
entre nós por cação, e a outros como os ¢eto… em gr. águia, mas raia se aplicado ao mar.
São peixes gordos, de carne dura, que produzem óleo.
18 H. N., IX, 17, 60. E. Saint-Denis, ed. Belles-Lettres do livro IX de Plínio, H. N., aponta
na p. 117 (parágrafo 60) para a sinonímia acipenser-elops. Considera, contudo, que o acipenser
será o esturjão comum, Acipenser sturio, L., e o elops o pequeno «sterlet», Acipenser Ruthenus,
L., que é frequente no Mediterrâneo Oriental. Quanto à extrema variedade de ictiónimos para
caracterizar o esturjão, ver D. J. Georgacas, Icthyological Terms for the Sturgeon and Etimology
of the International Terms Botargo, Caviar and Congeneres (A linguistic, philological and
culture-historical Study), Atenas, 1978 (tomo 43 das Actas da Academia de Ciências de
Atenas).
19 Plutarco, Moralia, Terrestriane an aquatilia animalia sint callidiora, 28, 979 c. No texto
refere-se o elops, que o mesmo é dizer esturjão, e apresenta a ideia que também é transmitida
por Plínio: a de que o elops terá as escamas voltadas para a cabeça, o que naturalmente o
impede de nadar contra o vento e contra a corrente. Este pormenor é completamente fantasioso,
na medida em que o esturjão não tem escamas, mas sim pele lisa com cinco fieiras de placas
ganóides (isto é, placas de matéria parecida com a dos dentes humanos), que, conforme a
perspectiva, podem até parecer voltadas para a cabeça. O texto latino, tradução do grego de
Plutarco, não corresponde, porém, ao original grego que diz: «É isto, como já disse, comum
a todos os peixes, com a excepção do elops. Diz-se que este nada a favor do vento e da
corrente, por não temer que as suas escamas se levantem, na medida em que elas não estão
inseridas na direcção da cauda». Por outro lado, o título do pequeno tratado (em diálogo) de
Plutarco, que nos é dado como De industria animalium pelo humanista português, é mais
conhecido como De sollertia animalium ou como se indica na citação. Cf. Eliano, De natura
animalium, VIII, 28.
20 Satumalia, III, 16, 3-4. Só fala da raridade do esturjão e cita Cícero, sem deixar de referir
mais adiante também a peculiaridade das escamas. Quanto ao De fato de Cícero e à sua feição
incompleta, ver Cicéron, Traité du Destin, ed. de A. Yon, Paris, 1950, introdução e frag. V., p.
28. O que importa salientar é a anedota contada por Cícero, segundo a qual teria dito a Cipião,
durante um banquete que se preparava e para o qual este convidava toda a gente, que «o
esturjão é peixe digno de pouca gente».
21 Moralia, Terrestriane an aquatilia, etc., 32, 981 d-e: diz Plutarco que havia quem
relacionasse o verso de Eratóstenes com o elops. Não fala de ântias e muito menos de acipenser.
O verso de Eratóstenes é recolhido por Powell, Collectanea Alexandrina, p. 60, frag. 12, 3.
22 Marcial, Epigr., XIH, 91.
420 As Antiguidades da Lusitânia
com o esturjão (sturio), muito comum segundo Resende, é uma falácia, na medida em que o
esturjão era um peixe igualmente raro. Daí a importância que lhe dão naturalistas do séc.
XVI.
24 G. Rondelet, De acipensere, fóls. 413-414: discute o problema das escamas e naturalmente
defende que o esturjão ou acipenser não tinha escamas, como é a verdade, e que se trataria
de um equívoco daqueles que confundiam o acipenser com o elops, que, este sim, teria escamas.
Neste caso também Rondelet não tem razão, porque elops e acipenser eram, como já se disse,
um e o mesmo peixe (ver n. 18).
25 Ver n. 19. Trata-se aqui, Sat., III, 16, 6-8, da carta escrita por Samónico Sereno a Septímio
Severo, na qual refere a raridade do peixe e a pompa com que deveria ser servido. Na carta
cita a autoridade de Plínio, bem como a do naturalista Nigídio Fígulo, que no tratado De
animalibus também apontava para as escamas do acipenser: «cur alii pisces squama secunda,
acipenser aduersa sit».
26 Ver n. 18.
27 Deipnosofistas, VII, 294 f: Arquéstrato, segundo Ateneu, é de opinião que o gáleo de
Rodes, que era levado em grande pompa para os banquetes, era o esturjão (emprega o gr.
¢kip»sioj por acipenser), e descreve-o como diferente do gáleo (que é um seláceo da família
do cação e do tubarão).
28 De re rustica, VIII, 16, 9: «Non enim omni mari potest omnis esse, ut helops, qui Pamphilio
Homero, Il., XVI, 407 alude); noutros passos menciona também o antaceu (XIV, 26) e o
oxirrinco, nomes gregos para o mesmo esturjão. Ver D. J. Georgacas, Ichthyological Terms for
the Stur geon, Atenas, 1978, pp. 110-212 (somente os nomes usados pelos escritores
clássicos).
30 Noctes Atticae, VII, 16.
31 Plínio, H. N., IX, 60; Ateneu, VII, 294 f.
32 Teodoro de Gaza, na tradução latina das obras de zoologia de Aristóteles: In hoc volumine
haec continentur, Aristotelis, De historia animalium libri IX; De partibus animalium et earum
causis libri III; De generatione animalium libri V; Theodoro Gaza interprete, De communi
animalium gressu liber I; De communi animalium motu liber I, Paris, Ex offïcini Simonis
Colinaei, 1533, fól. 15 v, 35: «aliis quaternae (branchiae) utrimque simplices: ut acepenseri,
dentici, murenae, anguillae». Igualmente traduz elops por acipenser, fól. 16 v, 1. 49. Tal facto
também é mencionado por Hermolau Bárbaro no Corolário (ver n. 46), no cap. CCXCVII (297)
fól. 41 v, intitulado Fel animalium: «... Dixi hellopa eundem qui accipenser dicatur. Item hellopa
hoc est accipenserem et castum sacrumque piscem. Sunt qui callichtyn et anthiam quoque
appelent».
33 Hist. Animal., II, 13, 505 a: enumera peixes de quatro guelras, quer as tenham simples
de cada lado, ou uma simples e uma dupla de cada lado. Entre eles está o elops, de que fala
também em II, 15, 49.
34 Halieutica, vv. 96 e 132 (verso já citado anteriormente na p. 114). E. de Saint-Denis na
edição Belles Lettres, Paris, 1975, faz o comentário aos dois passos a propósito do v. 96 (p.
52) e diz: «Tandis que l’acipenser est l’esturgeon commun (Acipenser sturio L.), l’helops serait
le petit esturgeon ou sterlet (Acipenser Ruthenus L.). En effet nostris incognitus undis ne
convient pas à l’esturgeon commun qui se rencontre en Méditérranée occidentale et jusqu’à
Sète; mais au sterlet qui appartient à la Méditérranée orientale et à la mer Noire». No entanto,
o editor não explica a atribuição de um habitat também estrangeiro ao acipenser, que era
conhecido, como vemos em Macróbio, Sat. III, 16, 5, já citado na n. 20. A verdade é que ambas
as espécies eram raras e altamente apreciadas e passam grande parte da vida no mar alto, só
subindo os rios para desovar.
35 H. N., XXXII, 153: «helopem dicit (Ouidius) esse nostris incognitum undis, ex quo apparet
falli eos qui eundem acipenserem existimauerint». Cf. com o passo pliniano da n. 31, bem
como com a discussão de G. Rondelet que defende, ob. cit., f.° 411, que o elops e o acipenser
não são o mesmo peixe.
Notas e Comentários – Livro II 421
36 Carta II, na ed. Ermolao Barbaro, Epistolae, Orationes et Carmina, edizione a cura di
Vittore Branca, vol. II, Florença 1943, p. 86 (carta não datada): «Hermolaus Barbarus Paulo
Cortesio S. P. D.; Dicam igitur quod sentio. Sturionem Graeci modo appelant hyscam siue
hyccam, id nomen porcum significat...». Faz esta afirmação depois de dizer que é mais perigoso
do que difícil dar uma opinião sobre um assunto deste género.
37 Paulo Cortesi (1465-1510), humanista ligado à cúria papal. Distinguiu-se numa polémica
descrição do peixe de forma a termos alguma ideia taxonómica. Não há dúvida de que o
ictiónimo está ligado a Ûj (porco) e muito possivelmente corresponderia à toninha ou golfinho,
com o qual o esturjão era não raro confundido, tanto mais que o golfinho também é conhecido
como porco-marinho.
39 Em Omnia quotquot extant Divi Ambrosii Episcopi Mediolanensis Opera, per Des. Erasmum
Roterodamum...emendata, Basileia, 1538, IV, fol. 52, C: «Patet quod diabolus non diligit filios
suos, sed odit; quia non amat nisi ut perdat; sicut amat gluto porcellum ut comedat». A edição
de Migne, P. L., XVI, 666, 432, Sermo XXX, De Sancta Quadragesima, XIV adopta a lição gluto.
Ver o Thes. Ling. Lat., s. v. glutto.
40 Id., Hexaemeron, V, 3, 6, 81 F: «Adde porcos maris etiam Iudaeis gratos; quia nihil est
commune, quod non aqua abluat, et ideos communes eos sicut in terra editos aestimare non
possunt».
41 Paulo Jóvio, ob. cit., p. 29 e segs. (n. 8) analisa e critica as diferentes identificações dos
peixes conhecidos pela antiguidade com o esturjão, entre as quais rejeita a de Hermolau
Bárbaro (identificação com o hica citado por Ateneu).
42 Etim., XII, 6, 12: É de suillum que Resende vai derivar erradamente solho (que deriva
sim de solea, «sola»). Ver R. M. Rosado Fernandes, «Solho, Esturjão ou *Asturião no Guadiana»,
p. 641, n. 24, e «A Etimologia e sua Finalidade em André de Resende, De antiquitatibus
Lusitaniae», Homenagem a Joseph M. Piel, Tuebingen, 1988, p. 240 ss.
43 XVII, 2, 4. Este ictiónimo é de facto, como diz Georgacas, ob. cit., pp. 112-115, um dos
ubicumque est, omne animal appetens, equos innatantes saepe demergens. Praecipue in Moeno
Germaniae amne protelis boum et in Danubio mari extrahitur porco marino simillimus. Et in
Borysthene memoratur praecipua magnitudo, nullis ossibus spinisue intersitis, carne
praedulci».
É evidente que in Danubio mari extrahitur não é compreensível, na medida em que mar
e rio Danúbio se encontram como se fossem um todo, quase levando a interpretar como mar
Danúbio. Além disso o siluro de que se fala é um peixe de rio. Sentindo que não era possível
aceitar o texto pliniano, houve a aceitação por parte de Gelénio, na edição de Basileia de
1543, da versão apresentada pelo códice recolhido por Dalecampius, em que se praticava uma
nova pontuação e mari era intrepretado como mario, ou seja, como ictiónimo. Daí o marião,
ou em esp. marión, que aparece na tradução de Jerónimo Huerta da História Natural de Plínio,
2 vols., Madrid, 1624 e 1629. A verdade é que marión ainda hoje é aceite nos dicionários
espanhóis como significando esturjão, muito embora seja nome completamente inventado,
porque traduzido de uma lição latina inexistente, mas também aceite por Resende. É ela: «Et
in Danubio mario extrahitur, porculo marino simillimus, et in Borysthene. Memoratur praecipue
magnitudo nullis ossibus, spinisue intersitis, carne autem praedulci». A versão aceite pelas
edições modernas é, contudo, igual à versão da generalidade dos manuscritos, com a excepção
de que mari é substituído por marris (arpões), emenda proposta pela edição de Hardouin, na
edição de Paris de 1685. Temos assim: «...et in Danubio marris extrahitur». É este o texto
adoptado por E. de Saint-Denis, Paris, 1955 (Belles-Lettres), na edição do livro IX da Hist. Nat.
de Plínio, p. 52. A ed. de Detlefsen, Berlim, 1867, vol. II, p. 98, não apresenta sequer no
aparato crítico a hipótese de Gelenius (mario).
422 As Antiguidades da Lusitânia
45 P. Jóvio, ob. cit, p. 142: «Laudant et Moronem, ignoti nobis praedura frusta, ualdeque
rubentia, quae Maeotidis paludis accolae mercimonii causa transmittunt, ea prius exedi commode
non possunt, nisi aquae calidae perfusione molliantur».
46 O Corolário está editado na edição de comentários a Dioscórides: Ioannis Baptistae
ocupa do Egipto e onde se refere, isso sim, ao oxirrinco, como se vê na n. 43): ka… m£lista
oƒ ¢ntaka‹oi delf‹si p£risoi tÕ mšgeqoj. De qualquer forma, o antaceu é um nome aceite
como designando o esturjão. Ver Georgacas, ob. cit., pp. 111-112. Estrabão trata neste passo
do Dniepre e do mar Cáspio, do Don e do mar de Azov em que abunda o esturjão de grandes
dimensões (mais de uma tonelada), o Huso huso L. Daí o parecer-se com o golfinho.
48 Heródoto, IV, 53: k»te£ te meg£la ¢n£kanqa, t¦ ¢ntaka…ouj kalšousi, ... Como vemos,
os antaceus (esturjões) são comparados, de novo, com cetáceos (baleia, golfinho), são situados
no estuário do Borístenes (Dniepre), e são caracterizados como «sem espinhas» ¢n£kanqa. Ver
Georgacas, ob. cit., p. 111.
49 Cf. idêntica descrição em P. Jóvio, ob. cit., p. 42: «In Borysthene uero, qui hodie Neper
est amnis, Phasique et in ipso Tanai apud Tanam emporium tanta eorum est copia (sturionum),
ut cetariae ibi institutae sint officinae, in quibus ea salsamenta ex sturionum oueis salitis, quae
cauiaria dicimus, itemque ipsa Schinalia ex sumo sturionis spinali dorso, sale, fumoque inueterata
conficiantur». A descrição de Jóvio aponta para as regiões russas mais célebres pelo esturjão
(Dniepre e Don) e não esquece de referir, além do caviar, o que ainda hoje se conhece como
esturjão fumado, que é consumido em muitas partes do mundo, rivalizando com o salmão
fumado.
50 Ver n. 46.
51 Ver n. 43.
52 Ver n. 44. Quanto ao «peixe sem nome», refere-se Resende ao passo acima discutido, na
medida em que não está expresso o sujeito da segunda proposição. Na primeira frase do passo
transcrito em n. 44 o sujeito é siluro, mas na oração começada Et in Borysthene memoratur
tem de subentender-se o sujeito, que admitimos ser um peixe cujas características de excelência
são seguidamente descritas e que não é o siluro. Esse peixe não tem o nome mencionado e
é por isso que Resende nos apresenta a sua versão.
53 Ver n. 47.
54 Ver n. 48.
55 Ver n. 38.
56 Ver n. 42.
Notas e Comentários – Livro II 423
57 Como é corrente nos textos da época, Etiópia é o equivalente de África, assim como
Guiné significa, grosso modo, toda a costa ocidental africana, sobretudo a partir do Senegal.
58 Esta identificação completamente fantasiosa do esturjão com angulo amazi «porco das
águas», assenta sobre informação desconhecida dos cronistas dos Descrobrimentos ou dos
navegadores. A palavra indígena provém do Quicongo, língua falada junto ao rio Zaire e é
ligeiramente diferente.: o ambize angulo de que fala Pigafetta (mbizi ngulu) em 1591, utilizando
uma relação de Duarte Lopes, Relação do reino do Congo e das Terras Circunvizinhas, ed. e
trad. de Rosa Capiaens, Lisboa, 1951, vol. I, p. 36, publicada em Roma, 1591, sob o título:
Relatione dei reame di Congo et delle circonvicine confrade tratta dalli Scritti et ragionamenti
di Odoardo Lopez Portoghese per Filipo Pigafetta, p. 36. O mbizi ngulu de Pigafetta é o chamado
peixe-porco, o angulo amazi de Resende está foneticamente próximo do ngulu amazi, «porco
das águas» do Quicongo. Ver R. M. Rosado Fernandes, «André de Resende e o seu asturjão
africano (O angulo amazi do De ant. Lus.)», in Humanismo Português na Época dos Descobrimentos,
Coimbra, 1993, pp. 355-368. Este falso peixe é afinal o mamífero manatim, conhecido também
por peixe-porco, peixe-mulher (tem o úbere do mamífero), ou peixe-boi do Brasil (trichechus
senegalensis ou manatus senegalensis) a que se referem Fr. Cristóvão de Lisboa na História
dos Animais e Árvores do Maranhão, publicada por F. Frade em Garcia de Orta, 14 (1966), pp.
343-350, e Pêro de Magalhães de Gândavo, História da Província de Santa Cruz, Revista do
Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, 21 (1858), pp. 329-388, onde o manatim é apresentado
como o Hipúpiàra, ou seja demónio d’água, morto em 1564, na capitania de S. Vicente. Já
Anchieta, em carta de 1560, se lhe referira. Ver A. Geraldo da Cunha, Dic. Hist. das Palavras
Port. de Origem Tupi, São Paulo, 1989, p. 157, s. v. ipupiara (informação do Prof. Tavares de
Pinho). Toda esta confusão zoológica deriva de Resende ter identificado o esturjão, solho, com
o «porco» das Etimologias de S. Isidoro.
59 H. N., V, 10, 51 (cap. dedicado inteiramente ao Nilo).
60 O rio Senegal, também conhecido por Rio Negro, foi descoberto por Álvaro Fernandes
em 1445 e já aparece citado na Crónica da Guiné de Azurara, cap. LX, e no Esmeralda de situ
orbis de Duarte Pacheco Pereira (p. 95 da ed. Acad. Port. Hist.). O primeiro chama-lhe Çanaqua
e Duarte Pacheco refere-o como «braço do Nilo». Ver L. de Albuquerque, Dic. Hist. Port., s. v.
Senegal. Quanto à descrição topográfica e à toponímia, ver R. M. Rosado Fernandes, art. cit.,
na n. 58.
61 O passo de Isidoro de Sevilha, já citado na n. 42, é precedido de uma alusão fantasiosa
à existência de golfinhos no rio Nilo, que matam os crocodilos, Etim., XII, 6, 11: «Est et
delphinum genus in Nilo dorso serrato, qui crocodillos tenera uentrium secantes interimunt».
«Há no Nilo uma espécie de golfinhos com o dorso em forma de serra os quais matam os
crocodilos por lhes cortarem a parte mole do ventre.» E depois segue-se a descrição já referida
dos porci marini, chamados suilli, «porquinhos», de que Resende faz derivar soilho ou solho.
Tal etimologia é impossível. É-nos proposta a etimologia de solho (esp. sollo) como proveniente
de sucutus, «porquinho», não só por J. Corominas e J. A. Pascual, Diccionario Crítico Etimológico
Castellano y Hispánico, s. v. sollo, como por J. P. Machado, Dic. Etimol. da Língua Port., s. v.
solho; R. M. Rosado Fernandes, art. cit., na n. 42.
62 A proposta de Miguel da Silva, bispo de Viseu, ao Papa, aparece referida igualmente
por P. Jóvio, ob. cit., p. 44, depois de ter descrito as navegações portuguesas e espanholas, e
de se ter referido ao facto de que «Hispania autem omnis sturionem, sulium appellat», facto
que lhe serve para defender a sua tese de que o esturjão é o mesmo que o siluro, pois sulius
em pouco difere de siluro e por vezes até significa o mesmo. De qualquer modo, a forma
asturjão que em esp. também surge como asturión, não é mais do que simples etimologia
popular com origem em Astúrias, tal como aponta Corominas-Pascual, Dic. Cr. Etim. Cast.
Hisp., s. v. asturión. O mesmo dicionário, s. v. marión, cf. n. 44, atribui-lhe existência duvidosa,
mas embora refira e bem a tradução de Huerta a que já aludimos, não explica a razão da
dúvida: a aceitação, por parte do tradutor espanhol, de uma lição não aceitável, e que, no
entanto, se perpetua ainda no mesmo dicionário da Academia espanhola.
63 Esta confusão terminológica e taxonómica, ocupou muitos eruditos, humanistas e médicos
do séc. XVI, como podemos ver pela profusa e actualizada bibliografia citada pelo nosso A.
424 As Antiguidades da Lusitânia
64 Geogr., II, 5, 3: entre as cidades dos Turdetanos, como Balsa, Ossónoba, Salácia, menciona
que se lança na sua caracterização geográfica. Quanto aos afluentes, levanta problemas o
Santa Detença, que ainda aparece no mapa de Fernão Vaz Seco, de 1561, e é identificado por
Alves Ferreira, Custódio de Morais e Amorim Girão, «O mais Antigo Mapa de Portugal», Bol.
Centro Est. Geogr., Coimbra, 12/13, 1956, pp. 1-65; João Bautista de Castro, Mappa de Portugal
Antigo e Moderno, I, Parte I e II, 2. a ed., 1762, n.° 224, Sadão ou Sado.
Quanto a Salácia, deusa, não conhecemos fonte alguma que ateste o seu culto.
66 No que respeita ao Sado e seus peixes, consultar R. M. Albuquerque, «Peixes de Portugal
e Ilhas adjacentes», Port. Acta Biol. (B), 5, 1954-56, 1-1164; A. X. L. Vieira, Catálogo dos Peixes
de Portugal, Ann. Scient. Nac., 4 (1898), 1-87 (separata); A. Nobre, Fauna Marinha de Portugal,
I – Vertebrados, 1935, Barcelos.
67 III, 3, 1. Ver comentários de A. Schulten, F. H. A., VII, pp. 195, 203, 248 e de García y
Bellido. Quanto às medidas há que lembrar que o estádio tem 625 pés romanos, o que perfaz
cerca de 185 m.
68 O passo é de facto corrupto e há várias emendas propostas. Quanto a Iponlacia trata-se
de conclusão apressada, pois vem de uma sequência vocabular incompleta nos mss. eiponlakeia,
a qual tem sido emendada das mais variadas maneiras. Na edição de C. Mueller, por ex., a
frase lacunar é entendida como ™pˆ Sal£keian, «até Salácia», ou seja, Alcácer do Sal, no que
se refere à navegabilidade do estuário do Tejo, o que é evidente erro geográfico de Estrabão,
a ser correcta esta emenda. Quanto a pÚrgoj que Resende traduz por turris trata-se simplesmente,
como diz García y Bellido, do promontório Barbário, ou seja, o cabo Espichel.
69 A largura de 20 estádios (estádio c. 185 m) é portanto de 3.700 m. O talento, peso grego
variável, tem cerca de 50 libras. Corresponderá, arredondado, a cerca de 25 kg, o que quer
dizer que os barcos teriam uma tonelagem aproximada de duzentas e cinquenta toneladas, ou
seja, o equivalente nos tempos modernos a um batelão.
70 Trata-se pois das lezírias, descritas com brevidade e elegância por Silva Teles, em Guia
plantado ali, como o faziam noutras zonas. Não há dúvida, contudo, de que a tradição nos
conta que ali se semeava cevada, trigo e outros cereais.
73 Quanto à fertilidade era já ela um locus amoenus para quem se referisse à Lusitânia. É
pelo menos o que vemos em Ateneu, Deipnosofistas, VIII, 330 c, que, apoiando-se em Políbio,
refere a fertilidade e o bom clima da Lusitânia. Naturalmente que a zona da lezíria aqui referida
por Estrabão, e era essa que deviam normalmente conhecer os forasteiros romanos ou gregos
que à Lusitânia viessem por mar, é ainda hoje uma zona que a todas excede em fertilidade e
em extensão. Por isso, as terras de Santarém, as que se chamam do «campo», formadas de
aluviões, são continuadamente celebradas, são mesmo um lugar-comum oratório, como vemos
na oração de Cataldo Sículo, que deveria ter sido proferida diante de D. Manuel nos princípios
de 1500, e em que o mestre siciliano diz, entre muitas coisas, depois de ter feito o elogio do
Tejo: «Ó campo tão saudável! Ó campo preferível a todos os campos! Ó campo em nenhum
preço avaliável, por nenhum bem, por grande que seja, comutável! Três vezes no ano floresce.
Pouco cultivado produz três colheitas. Na primeira, trigo; na segunda, cevada; na terceira,
milho». Ver Cataldo Parísio Sículo, Duas Orações, ed. M. Margarida Brandão G. da Silva e
Américo da Costa Ramalho, Coimbra, 1974, p. 107 e p. 118, notas 23 e 24 (outro exemplo do
mesmo lugar-comum). É evidente que a ceifa a 50 dias da sementeira é nítida hipérbole!
74 O milho meudo que não é o mesmo que o milho importado no século XVI da América.
Ver a este respeito o artigo de O. Ribeiro, Agricultura, no Dic. Hist. Port.; E. Castro Caldas, A
Agricultura Portuguesa Através dos Tempos, Lisboa, 1991, p. 196 ss.
Notas e Comentários – Livro II 425
75 Pompónio Mela, III, 6, 47: «In Lusitania Erythia est quam Gerionae habitatam accepimus,
aliaeque siue certis nominibus adeo agris fertiles, ut cum semel sata frumenta sint, subinde
recidiuis seminibus segetem, septem minime, interdum plures etiam messes ferant».
76 Ainda hoje, de um modo global, se pode aceitar a afirmação de Estrabão, III, 3, 1: éste
kaˆ tîn perˆ tÕn T£gon pÒlewn aátai kr£tistai. O termo grego não só significa mais ricas
como mais poderosas, ou seja, com maior potencialidade.
77 A publicação sobre São Frei Gil de Santarém, espécie de Fausto português, é intitulada
Ver Ov., Am., I, 15, 34: «et auriferi ripa benigni Tagi!», Lucano, Fars., VII, 755: «quidquid Tagus
expuit auri...» e muitos outros. Cf. n. 82. Quanto ao ceptro dos reis de Portugal, ver Duarte
Nunes de Leão, Descripção do Reino de Portugal, 2. a ed., Lisboa, 1785, p. 78: «Mas o ouro que
em suas areias se tirava era tão puro, que querendo El-rei D. João III, deste reino, que lhe
fizessem um ceptro, mandou que lhe buscassem o ouro nas areias do Tejo, do qual se fez um
que muitas vezes vimos nas mãos dos Reis, nos tempos que faziam cortes ou os levantavam
por Reis, o qual se guarda hoje entre o facto do tesouro em Lisboa com outras peças do Estado
e que facilmente poderá ver quem for curioso».
81 Ver n. 4 do livro I.
82 Isidoro, Etim., XIII, 21, 33. Quanto à discussão etimológica, ver A. Nascentes, Dic. Etim.
Língua Port., II, Nomes Próprios, s. v. Tejo. A semelhança entre Tagus e Cartago é naturalmente
fortuita e não etimológica, além de que Cartago, a Cartago Nova do Sul de Espanha (Cartagena),
está geográfica e etnicamente bem afastada.
83 Trata-se da região dos Ilergáones ou Ilergavonenses (ver A. Schulten, F. H. A., III, p.
68), conhecidos por 'Ilerk£onej em Ptolomeu, Geogr., II, 6 e 64, e por Plínio, H. N., II, 21:
«regio Ilergaonum», situada na Hispânia Tarraconense. Ptolomeu considera de facto (II, 6, 64)
erradamente Cartago-a-Velha nessa zona, uma vez que já antes (II, 6, 14) nomeara Cartago-a-
Nova. Não havia na Hispânia duas Cartagos e a Cartago-a-Velha era no Norte de África, como
é sabido. Ver Westermann, Grosser Atlas zur Weltgeschichte, Braunschweig, 1978, 10, 26-27, II,
A, 2; 34-35, III, C, 1.
84 Trata-se da edição Pomponii Melae Hispani, de orbis situ libri tres..., Basileia, 1522, fl.
140.
85 A citação de Cícero feita por Vadiano difere da lição actual (cf. n. 86): «Post aut agros
in Hispania apud Carthaginem nouam durum Scipionum eximia virtute possessos, tum ipsam
veterem Carthaginem vendunt»; e comenta: «sita fuit haud procul Tarracone et a Teucris
condita».
86 Cíc., De lege agraria, II, 19, 51: «et agros in Hispania propter Carthaginem nouam et in
Africa ipsam ueterem Carthaginem vendit». Esta lição correcta é a apontada por A. R.
426 As Antiguidades da Lusitânia
87 Deve aludir genericamente aos trabalhos de M. Varrão sobre etimologias, cujos reflexos
se encontram em parte significativa da sua obra, como nos tratados De lingua latina, libri
XXV, ed. Schoell e Goetz, Leipzig, 1910, ou no Antiquitatum rerum humanaram et divinarum
libri XLI, de que restam fragmentos.
88 Quanto a esta versão de Tago, companheiro de Ulisses, é eco de Ânio de Viterbo
notas 135 (p. 101) e 137 (p. 101-102). O texto de Estesícoro corresponde ao frag. 184 (Page).
Ver n. 5 do livro III.
91 Estêvão de Bizâncio, Ethnika, p. 156, 9.
92 En., IX, 418.
93 Sílio Itálico, Pun., I, 144-161: Resende acaba abruptamente a citação: o último verso,
iniciado por cum rapidum... ageret... pressupõe um complemento que vem no verso seguinte
(162), quadrupedem...
94 Pompónio Mela, Corografia, III, 1,8.
95 H. N., IV, 2, 115. 200.000 passos (1,48 m) = 296 km, próximo da distância real.
96 Calina não é referida por Duarte Nunes de Leão, Descrição do reino de Portugal, p. 68.
alter absorbens». A identificação proposta por Resende é fantasiosa, na medida em que se trata
de um topónimo Carrinum e não Catina, mesmo que lhe conviesse identificá-lo como Cadima.
Ver R. Grosse, F. H. A., VIII, pp. 172-173, quanto a possíveis mas dificilmente verificáveis
identificações. A fonte encontrava-se no actual território de Espanha, talvez na Cantábria, mas
Resende reivindica-a, como é seu hábito, para território português, interpretando a seu favor
o texto de Plínio.
98 Quanto a Fervença é atestada por Duarte Nunes de Leão no passo citado na n. 96. O
Guia de Portugal, vol. II, Beira Litoral, Beira Baixa, Beira Alta, p. 129, refere-se-lhe a respeito
da freguesia de Cadima do conselho de Cantanhede, em que existem «os afamados ‘olhos’ da
Fervença, grande manancial de águas em terrenos calcários». A altura de um pé, a que se eleva
a água em ebulição, corresponde a 0,29 m.
99 D. Afonso é o sexto filho de D. Manuel (1509-1540), por quem esta obra foi encomendada,
conforme lemos na carta introdutória de Resende (p. 57). Era arcebispo de Lisboa e bispo de
Évora.
100 III, 3, 4: gnwrimètatoi d� tîn potamîn ™fexÁj tù T£g w Ä MoÚndaj, ¢n£plouj œcwn
mikroÚj, kaˆ OÙakoÚa æsaÚtwj. Como se pode ver, o nome dado ao rio por Estrabão aproxima-
se literalmente do Munda romano, o que não impede que a forma Mouli£daj apareça nos
códices. Ver A. Schulten, F. H. A., VI, p. 203.
101 Ver n. anterior.
102 Geogr., II, 5, 3.: refere-se na Lusitânia, seguidamente ao Mondego, ao estuário do Vouga
(com a forma OÜakoj que aparece ao lado de OÙakoÚa: OÙ£kou potamoà ™kbola….).
103 Etim., IX, 2, 107.
104 O provérbio indicado por Resende não o conseguimos localizar noutros A. A. Quanto
Renascentista em Portugal, Coimbra, 1985, pp. 137-153, primeira edição acessível e comentada
do A.
106 Trata-se de evidente alusão ao perigo castelhano. Simplesmente que, para encobrir a
sua intenção acusatória, Resende lhes chama Vaceus, usando da antonomásia. A obra do
«cachão da Valeira» acabou por ser feita nos fins do séc. XVIII, no tempo de D. Maria I. Ver
R. M. Rosado Fernandes, «Méthodologie et Histoire dans De Antiquitatibus Lusitaniae d’André
de Resende», in L’Humanisme Portugais et l’Europe, p. 505. Quanto a desaparecer o rio Douro,
levado por galerias subterrâneas, trata-se da mesma fantasia que preside à descrição do percurso
misterioso do Guadiana, quando o rio porventura corria pelos terraços (ver n. 2). 1.000 passos
correspondem a 1470 m.
107 Sílio Itálico, Pun., I, 234.
108 Ver p. 120.
109 Ptol., Geogr., II, 5, 2, 3, 4: Dwr…aj; Díon Cássio, Hist. Rom., XXXVII, 52: Dèrioj; Estrabão,
a Valência.
112 Em Hermolai Barbari castigationes in Plinium castigatissimae, Cremonae, 1495, c 3 c
5 v-6, comentário a Plínio, N. H., III, 3 (20): «Flumen Turium. Codices Romani Flumen Durias.
Pomponius quoque proximum Valentiae amnem Duriam appellat. Cícero in oratione pro
Cornelio Balbo Carthaginem inquit profectum esse acerrimisque proeliis Sucronensi Duriensique
interfuisse Sallustius tamem Turiam... Idem quarto Historiarum Turia... Claudianus: «Floribus
et roseis formosus Turia ripis». Grammatici formosum legerentque unum amnium Turia neutro
genere proferri putent: Aurelius Augustinus auctor Priscianusque uti ne hunc quoque praeteream.
Est et in Lusitania quoque Durius, quem Strabo Duriam, multi Doriam appellant. Silius Durium:
«Hinc certant Pactole tibi Duriusque Tagusque».
113 Prisciano, Inst., G. L. II Keil, 5, 6; 6, 9 (=Sal., Hist., II, 47, 24, p. 136 Kurfess): «inter
laeua moenium et dextrum flumen Turiam, quod Valentiam paruo interuallo praeterfluit».
114 Epistula Cn. Pompei ad Senatum, incluída nos Fragmentos das Historiae, II, 98, 4-8,
Resende e substitui apud flumen Turiam por apud flumen Durium [Ex historiis, frag., II, 98,
6, p. 157 (Kurfess)].
116 Plut., Vida de Sertório, 19: a tradução latina de Resende não corresponde inteiramente
ao texto actual de Plutarco, onde se diz: «Devido ao facto de saber tirar partido das derrotas
era mais admirado do que os generais vitoriosos seus opositores, como foi o caso na batalha
de Sucro contra Pompeio, ou na de Turia, contra aquele e também Metelo». O que parece
corresponder mais à zona referida, toda ela no Sul: Sucro, Valentia, etc. No entanto, a lição
Turiam é mantida por J. C. Rolfe, na ed. Loeb.
117 Claudiano, Louvores à Rainha Serena, 70-73: nas edições modernas trata-se de Duria
e não Turia. Não tem, portanto, razão de ser a observação de Resende. Claudiano fala
efectivamente do Douro.
118 Claudiano, ibidem, v. 72.
119 Marcial, XII, 98, 2.
120 Resende relata o que na verdade aconteceu, simplesmente mantém um quiproquó inútil.
Quanto a Estrabão, ver n. 109, não usa a forma indicada por Resende, mas sim Ptolomeu,
numa declinação masculina de tema em -a.
121 De facto Durius, apresenta as três sílabas breves. Duria, ao contrário de Durius apresenta
que abstulerat Duri é início de hexâmetro, precedido de caeso quam uictor moenibus ille
Sagunti. Quam refere-se a uma lança célebre.
428 As Antiguidades da Lusitânia
corresponde ao Grego.
126 Antonino, Itinerário, p. 66, 425, 2 (Cuntz); J. M. Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 76-78.
127 III, 3, 4: Kaˆ met¦ toÚtouj Ð tÁj L»qhj, Ó tinej Lima…an, oƒ d� Belifîna kaloÚsi. Ver
Efectivamente, o nome de Límicos aparece, mas quanto à sua ciuitas limicorum, outras inscrições
há mais elucidativas, como as do C. I. L., II, 2516, 2517. A zona chama-se Jinzo de Limia e
pertencia à Tarraconensis.
129 Ver a resenha sobre o Lima feita por Duarte Nunes de Leão, Descrição do Reino de
Portugal, cap. 19, Do Rio Lima, p. 85 e segs., em que o A. segue escrupulosamente a descrição
de Resende.
130 Liv., Per., LV: «at cum flumen Obliuionem transire nollent milites, raptum signifero
signum ipse transtulit et sic, ut transgrederentur, persuasit». Ver Floro, Epitome, I, 33, 12, que
dá uma versão sem este pormenor, mas com o de Bruto ter olhado para o sol, quando este
mergulhava no Oceano, já no caminho de volta, depois de ter atravessado o rio do
Esquecimento.
131 Plut., Quaest. Rom., 34: tal como na versão de Floro (ver n. 130), refere-se unicamente
que D. Júnio Bruto Galaico tinho sido o primeiro homem a visitar as remotas paragens da
Lusitânia e a atravessar com um exército o rio Lete (Lima). Ver R. E., erste Reihe, 19 Halbband,
s. v. Iunius (Brutus), n.° 57 Decimas Iunius Brutus Callaicus, cols. 1021-1025.
132 H. N., IV, 22, 115.
133 Justino, Epit. Hist. Phil., XLIV, 3, 4: «Regio (Gallaecia) cum aeris ac plumbi uberrima,
tum et minio, quod etiam uicino flumini nomen dedit». O minio é o óxido vermelho de chumbo,
vulgarmente chamado zarcão. Trata-se em Justino de mais uma tentativa de racionalizar a
etimologia do nome por qualquer facto concreto. A verdade é que na zona não existia zarcão.
É portanto etimologia popular. Tentativa idêntica fez o A. quando tratou das éguas da Lusitânia
prenhas do vento (ver p. 94).
134 III, 3, 4. Ver comentários de A. Schulten e de García y Bellido a este passo, nas edições
já referidas. A hipótese de emenda proposta pelo nosso A. não tem o mínimo fundamento. O
texto estrabónico tem Ba‹nij, que corresponde a Ba…thj em Apiano, Iberica, VI, 12, 71.
135 É efectivamente esta a etimologia aceite por Antenor Nascentes no Dicionário Etimológico
E. Huebner (p. 346, 14-16) diz: «Tamagani aperte nomen ducunt a Tamaga fluuio, hodie Tâmega,
cui pons ille superstructus est».
138 Também a esta santa se refere Duarte Nunes de Leão, Descripção do Reino de Portugal,
cap. 45, p. 177-180, que para mais, quando descreve o rio Zêzere, cita Resende (p. 82). Quanto
à história de St. a Iria, ver Miguel de Oliveira, «Santa Iria e Santarém», R. P. H., VII (1957), pp.
439-470. Em apêndice apresenta o A. o Ofício do Breviário de S. Simão da Junqueira (1514),
In natale Sancte Herene virginis et martyris, pp. 465-469 (do Breviarium secundum Ordinem
Divi Augustini, fl. 444 e 446v, Bibl. Geral da Univ. de Coimbra, R-6-14) e as Lições do Breviário
de Santa Cruz (1531), In Sancte Herene virginis et martyris, pp. 469-470. (Do Breviarium
Sanctae Crucis, fl. 489 v a 490 v; Bibl. Geral da Univ. de Coimbra, R-3-16).
139 Trata-se, com Nabância, de uma hipotética cidade romana, cujo nome é obviamente
derivado de Nabão, ver s. vv. Nabância e Nabão, J. P. Machado, Dic. Onom. Port.; M. de
Oliveira, art. cit., p. 461, em que afirma que Nabância é topónimo «de fantasia erudita». Também
A. R. não chegará a tratar desta cidade inventada.
Notas e Comentários – Livro III 429
140 O Zêzere, cuja etimologia é estudada por A. Nascentes, Dic. Etim., s. v., parece provir
de nome árabe. A forma avançada por Resende também é considerada. Hipótese diferente é
referida em J. P. Machado, Dic. Onom. Port., s. v., sem que defina etimologia definitiva.
Surpreende-se o A. que J. Piel apresente Ozecarus como o topónimo lat. originário, quando
A. R. já o refere aqui neste passo, aventando mesmo a etimologia fantasiosa de que Ozecarus
derive de «ozaena, a gravi capitis odore», Plínio, H. N., IX, 30, 48.
141 A informação de Resende sobre a cor e o nome do Zêzere é citada sem comentários
por Duarte Nunes de Leão, Descr. do Rein. de Port., p. 82, o que leva a pensar que seja Resende
o primeiro a testemunhar tal facto. Ver S. Daveau e O. Ribeiro, «Conhecimento Actual da
História e Geografia em Portugal», in Hist. e Desc. da Ciência em Port., Coimbra, 1986, p.
1054.
142 Cf. I, n. 214; Vita S. Martini Saurensis, P. M. H., I, parágrafo 60, 2: «Est ergo circa
decursum anci cuiusdam aluei amene porrectum...» Quanto às hipóteses sobre a etimologia
de Soure, ver A. Nascentes, Dic. Etim. Líng. Port., s. v. e J. P. Machado, Dic. Onom. Port., s.
v.
143 Será o historiador João de Barros que redigiu uma Geografia, que, diz I. S. Révah, s.
v. João de Barros, no Dic. da Lit. Port., se perdeu devido ao desleixo português, ou o outro
João de Barros, alto funcionário, autor da Geografia de Entre Douro e Minho, referida na n.
218 do livro I.
144 Subur é naturalmente uma hipótese etimológica sedutora, só que não se encontra
justificação geográfica nem atestação histórica. Ver J. P. Machado, Dic. Onom. Port., s. v. Soure,
que aventa como possível étimo o lat. Saurium.
145 O sável é peixe comum em todo o vale do Tejo e do Sorraia e sobre ele faz Resende
notável e erudita digressão na Maravilhosa Conversão de Frei Gil, citada na n. 77 deste livro
II.
146 O mosteiro Urbanense não é mais, como confirma a sua proximidade de Ceira – ópido
e rio – do que o mosteiro de Lorvão, situado no concelho de Penacova, a pouco mais de uma
dezena de quilómetros de Coimbra, tal como nos sugeriu o Prof. Aires do Nascimento. Era
monumento religioso e cultural importante na Idade Média (Apocalipse de Lorvão), fundado
pela ordem de S. Bento. Adriano de Gusmão, s. v. «Lorvão, Mosteiro de»,Dic. Hist. Port.; Guia
de Portugal, vol. III, p. 372 ss.
147 A Lusitânia foi tratada do ponto de vista da sua «riqueza e potencialidades por muitos
autores da antiguidade (Estrabão, Ateneu, Plínio, Marcial, etc.), cujos testemunhos se encontram
coligidos na totalidade nas Fontes Hispaniae Antiquae começados a editar por A. Schulten, e
de que nos temos servido largamente nesta edição.
148 Ateneu, Deipnosofistas, VIII, 331, b-c.
149 Larênsio (de Larensius) é forma erradamente atribuída por Resende ao gr. Lar»nsioj,
anfitrião do jantar de sábios relatado por Ateneu, Deipnosofistas, I. Em latim o nome é Larensis,
que aparece atestado epigraficamente (C. I. L., VI 212). Cf. Oxf. Class. Dict. (2) s. v. Athenaeus
(1).
O discurso de Larênsio é comentado por A. Resende como se fosse tendencioso, por
contrastar, na fertilidade que descreve, com a real pobreza da Lusitânia.
LIVRO TERCEIRO
Interessa sobretudo no Livro III, fól. XXXVI: Hispani priusquam Graeci nouerunt litteras
plusquam mille annis; tese fantasiosa em que pretende provar o conhecimento do alfabeto
pelos Hispanos, mil anos antes dos Gregos; Hispanorum origo, liv. XV, fól. CXXVI, v; De primis
temporibus et quattuor et uiginti regibus Hispaniae et eius antiquitate, liv. XII, fól. LXXXVI, v.
com os nomes de Lusus, fól. LXXXXIX, v e Romus, fól. XC.
Quanto a Beroso, consultar P. Schnabel, Berossos und die babylonisch-hellenistische Literatur,
Leipzig, 1923 (reed. Hildesheim 1968).
No que respeita aos historiadores hispânicos «de épocas recuadas» recordemos Rodrigo de
Toledo e outros. Ver Manuel Diaz y Diaz, Index Scriptorum Latinorum Medii Aevi Hispanorum,
Madrid, 1959, nas rubricas que dedica ao cronista.
3 Gargoris «rex uetustissimus» dos Curetes é citado por Justino, Epit., XLIV, 4, l, F. H. A.,
VIII, pp. 344 e 352, e o seu reino ficaria na zona de Gades (Cádis); Habis citado no mesmo
passo de Justino, parágrafo 10 ss., parece poder identificar-se com o touro sagrado egípcio
Hapi, F. H. A., VIII, p. 352-353. Argantónio é referido por Heródoto, I, 163 a 165, como rei de
Tartessos que os Foceences teriam encontrado no séc. VI a.C. Reinou 80 anos e viveu 120.
Este último número é aumentado por Apiano (61-63) para 150 (F. H. A., IV, 107-109). Esta
versão já teria sido consagrada por Estrabão, III, 2, 14, e dada como proveniente de Anacreonte
(F. H. A., VI, 191), lição também conservada por Plínio, H. N., VII, 48, 154. Quanto a Gérion,
citado no parágrafo 14 do texto de Justino acima indicado, cf. n. 5.
4 Arrian., An., II, 16, 5 (Eustácio, Comm. Dion. Per., p. 558), Hecateu, Geneal., frag. 30
conforme nos transmite Estrabão, III, 2, 11, fazendo-se eco (como já Resende regista na
p. 186, n. 90, do livro II) de Estesícoro, frag. 181 e segs (Page), muito especialmente o frag.
184, que refere o passo de Estrabão. Tinha Estesícoro de facto publicado um poema que
intitulara Garuonaij (ver F. H. A., VII, p. 184). Cf. s. v. Géryon, o Dict. Myth. Gr. et Lat. de P.
Grimal, que dá a lista dos autores antigos que trataram do tema desde o próprio Hesíodo,
bem como W. Roscher, Woert. d. Gr. R. Myth., e R. E., ver comentário a Avieno de Schulten, F.
H. A., I (2), p. 179 ss.
6 Macróbio, Sat., I, 20, 12: «Theron rex Hispaniae citerioris...».
7 Tito Lívio, XXII, 21; XXVI, 49 e passim; Sílio Itálico, Pun. III, 376-377: «Mandonius populis
domitorque equorum/ imperitat Caeso, et socio stant castra labore». Eram os chefes de povos
oriundos da Tarraconense, de Saetabis (na zona de Valença) e das terras por onde passa o
rio Sucro, ou Júcar, como agora se chama.
8 Sílio Itálico, Pun., XVI, 564-565.
9 Políbio, III, 76, 7, refere-se de facto a um general dos Iberos de nome Andobales, que
corresponde a Indibilis em latim e que era o rei dos Ilergetas (Pol., IX, 18,7). Cf. F. W. Walbank,
A Historical Commentary on Polybius, vol. I, p. 410.
10 Não se conhece Vida de Plutarco com o título de Cipião. O único que é objecto de
biografia é Aemilius Paulus e como tal é citado. Nessa vida nada se refere aos dois nomes
mencionados por Resende. Eles aparecem, sim, em Tito Lívio, XXVIII, 21: «Neque obscuri
generis homines sed clari inlustresque Corbis et Orsua, patrueles fratres, de principatu ciuitatis
quam Idem uocabant ambigentes ferro se certaturos professi sunt.» A. Schulten, F. H. A., III,
p. 148, diz-nos que os nomes de Corbis e Orsua, bem como da cidade de Ide, só aparecem
neste passo, além de que a situação da cidade é completamente desconhecida. O texto de
Resende, onde vemos, como em Lívio, patruelles, denuncia que deve ter havido erro de citação
por parte do humanista.
11 Tito Lívio, XXXV, 7.
12 Id., XL, 49.
13 Id., XXI, 43; XXVII, 20.
14 Não há notícia de nenhuma Vida de Aníbal por Plutarco. A morte de Amílcar vem,
contudo, descrita na história de Diodoro Sículo, XXV, 10, que afirma ter-se ela dado na guerra
contra os Oretanos e junto a '/Akra Leuk», que Tito Lívio nos transmite como Castrum Album
(e não Altum como nos diz Resende; ver n. seg.). Tão-pouco morreu na luta contra os Vetões,
conforme lemos e que é versão transmitida por Cornélio Nepos, Amílcar, 4. Resende defende
Notas e Comentários – Livro III 431
a versão que inclui erradamente os Vetões, porque estes vivem à volta de Mérida e, portanto,
da Lusitânia e mais perto de Portugal, ao passo que os Oretanos se situam ao sul de Toledo,
bem como Castrum Album que é identificado como Alicante. Ver A. Schulten, F. H. A., III, pp.
9-15.
15 Tito Lívio, XXIV, 41. Cf. comentário de A. Schulten, F. H. A., III, p. 84 e segs.
16 Políbio, II, 13, 1.
17 Pompónio Mela, Corogr., II, 6, 94.
18 Estrabão, III, 4, 6.
19 Sílio Itálico, Pun., III, 368.
20 Ver p. 184.
21 Sílio Itálico, Pun., XV, 192-195. Sonho de Cipião em que lhe é descrita a cidade.
22 Tito Lívio, XXVI, 42 e segs. Descrição da cidade e da sua conquista por Cipião.
23 Justino, XLIV, 3, 3. Sobre esta versão, em que se apresenta um Troiano como ligado a
uma cidade de origem cartaginesa, anacronismo evidente, ver R. Grosse, F. H. A., VIII, pp.
226-228.
24 Aurélio Cassiodoro, Chronica, 55-57, M. G. H., Auctores antiquissimi, vol. XI, 2 (Mommsen),
p. 122: «Latinus Silvius Hier. a. 940 55 / Huius temporibus Hier. a. 940 56 / Amazones Asiam
vastaverunt. / Carthago condita est a Carcedone Tyrio, uti quidam dicunt.» Hier. a. 974 57.
25 A data da conquista de Tróia parece-nos ser avaliada pela cronologia de S. Jerónimo
que está subjacente à de Cassiodoro. Efectivamente, nos Chronica, p. 121, 47, lemos que no
Hier. a. 835 e no 25.° ano do reinado de Latino «Troia capta est». Sendo a tomada de Tróia
em 835 e a fundação de Cartago em 974 medeiam 139 anos, ou seja, «para cima de 135 anos»,
como diz Resende.
26 Eusébio de Cesareia, Chron. Liber II, P. G. (Migne), col. 405 e: KarchdÒna fhsˆ F…listoj
ktisqÁnai ØpÕ 'Azèrou (?) kaˆ Karc»donoj tîn Tur…wn kat¦ toàton tÕn crÒnon. (tempo da
Atenas de Teseu e das leis instituídas por Minos); Mueller, F. H. G., I, 50 (em vez de 'Azèrou,
'Ezèrou. Cf. também Jacobi, F. G. H., 47 (50) Euseb. Chron. a Abr. 802 (= 1215 a).
Na coluna 419, k do mesmo Eusébio pode ler-se: karchdën ™pekt…sqh ØpÕ
Karc»donoj toà Tur…ou, æj d� ¥lloi, ØpÕ Lidoàj tÁj ™ke…nhj qugatrÕj met¦ t¦ Trw‹k¦ ›tesi
rmg' (ano 143). Na col. 421 há o comentário e tradução de S. Jerónimo «Carthago secundum
nonnullos condita a Didone. Alii suprascritpum tempus uindicant: quod Vergilius non esse
uerum ostendit, qui Didonem se interfecisse ait.»
27 Timeu de Tauroménio, frag. 60, ( Jacoby, F. G. H., dritter Teil, B, 566, p. 619, citação de
Díon. Halicarnasso, A. R., I, 74, 1: tÕn d� teleuta‹on genÒmenon `Rèmhj o„kismÕn À kt…sin À
Öti d»pote kale‹n T…maioj m�n Õ Sikelièthj (oÙk o‡d' ÓtwÄ kanÒni crhs£menoj) ¤ma Karc»doni
ktizomšnV genšsqai fhsˆn ÑgdÒ wÄ kaˆ triakostù prÒteron ›tei tÁj prèthj Ñlumpi£doj (ver o
comentário e notas de Jacoby a este frag. nos vols. do dritter Teil b. Kommentar, Text, p. 564
ss. e Noten, p. 330 ss, n. 305 ss.).
Trata-se, como é evidente, de mostrar um certo alarde erudito, querido a Resende, que
apresenta diversas fontes antigas que discutem o famoso problema de Tróia e sua queda,
relativamente à fundação de Cartago e igualmente à fundação de Roma. Era um tipo de
«arqueologia» favorito dos historiadores antigos, quando pretendiam descer às raízes das
civilizações que estudavam.
28 Virg., em., I, 619.
29 Os livros XVIII a XXI das Hist. Filípicas de Justino ocupam-se da história de Cartago e
naturalmente de Tiro na Ásia Menor. A história da pele de boi é contada no livro XVIII, 5, 8
segs. Quando Dido chegou a um golfo da costa de África começou por comprar aos nativos
um pequeno pedaço de terra que se podia cobrir com uma pele de boi. Simplesmente, depois
foi cortando a pele em tiras e com elas aumentando mais espaço, tanto mais que as tiras eram
cortadas finíssimas. Assim começou a fundação de Cartago.
30 Hist. Filip., XVIII, 6, 9.
31 Hist. Rom., I, 6, 4.
32 Com. En., I, 12 (Thilo-Hagen): «et ‘antiqua’ autem et ‘fuit’ bene dixit, nam que et
septuaginta annos urbis Romae condita erat, et eam deleuerat Scipio Aemilianus.»
432 As Antiguidades da Lusitânia
tardias, como é Solino, para comprovar a tese de que Cartago não existia, quando Teucro
abordou a Hispânia. Desta forma entra Resende na complicada discussão das datas de fundação
das cidades, bem como da destruição de Tróia. Quanto à discutida Tróia homérica, sua tomada
e possível destruição (não se sabe se por terramoto, no caso de Tróia VI, ou incêndio, Tróia
VII b, pouco plausível por intervenção inimiga) pelas forças inimigas gregas, segundo a versão
homérica, julga poder-se situar no séc. XII a. C. ou por volta de 1200, ainda que a Tróia
histórica dificilmente se adapte à lenda homérica, o que contrasta com o séc. X a. C., data em
que se pensa poder identificar as mais antigas construções do Palatino, Quirinal, Esquilino e
Coles na zona que viria a ser Roma, a qual, segundo Varrão, teria sido fundada em 21 de Abril
de 753, data que está longe de ser confirmada. Quanto a Cartago, parece que muito aponta
para a sua fundação no séc. IX, muito embora as precisões dadas pelos diversos historiadores
latinos e gregos, cujos ecos, de alguns pelo menos, Resende nos dá a conhecer, não tenham
por vezes fundamento arqueológico e histórico. Ver s. vv. Karthago, Roma e Tróia os artigos
do Der kleine Pauly. Quanto aos mesmos assuntos, consultar rapidamente as tábuas cronológicas
de P. Leveque, A Aventura Grega, Lisboa, 1967, bem como R. Bloch e J. Cousin, Roma e o seu
Destino, Lisboa, 1964, publicadas pela Cosmos.
34 II, 13, 1 (ver n. 16).
35 XXIV, 41 (ver n. 15).
36 Pompónio Mela, Corogr., III, 7: «in Sacro (promunturio) Laccobriga et Portus Hannibalis.»
A. Schulten admite que Porto Aníbal possa ser Portimão. Ver F. H. A., III, p. 44; A. Tovar, Iber.
Landesk., 207.
37 Tito Lívio, XXI, 43.
38 Id., XXI, 57.
39 Id., XXII, 20, 2.
40 Id., XXVII, 20 ss.
41 Id., XXVIII, 12, 11.
42 Sílio Itálico, Pun., III, 354-356.
43 Id., Pun., V, 333-342. O verso final reflecte uma lição que não é aceite nas edições
modernas, que alteram substancialmente o conteúdo do último verso: praebebat tellus, sparsis
uix peruia telis, / iniecit pariter, pluresque in corpore nullum / inuenere locum perfossis ossibus
hastae (vv. 341-343), «[e o que quer] que a terra juncada de dardos dispersos, que impediam
o movimento, lhes oferecia. Até os ossos foram trespassados, e muitos dos dardos nem lugar
tiveram naquele corpo».
44 Id., Pun., X, 217-231.
45 A segunda guerra púnica, em que é inserido o 1.° Viriato, dura 4 anos, ou seja, de 218
a 222. A batalha de Canas, a que se refere o passo do canto X, dá-se em 216. O «bellum
Viriaticum« dura de 154 a 133, data em que Viriato é assassinado. Conclui-se portanto que o
lapso de 70 anos referido por Resende é correcto.
46 Vemos que se pretende ligar Viriatus a uis (força). Parece que o nome, no entanto, deve
ser ligado, sim, a uiria do céltico, que significava «bracelete», tal como acontece com o nome
bem latino de Torquatus que vem do célt. torques «colar». Ver M. Cardoso, s. v. Viriato, Dic.
Hist. Port.; Der kleine Pauly, s. v. Viriatus; A. Nascentes, Dic. Et. L. Port, II, s. v. Viriato; J. P.
Machado, Dic. Onom. Et., s. v. não se refere à etimologia proposta.
47 Lucílio, frag. 615-616 (Marx): Contra flagitium nescire bello uinci a barbaro / Viriato,
Annibale...
48 Plutarco, Marco Catão, X, 1: De facto Plutarco refere-se brevemente aos sucessos militares
de Catão, a quem coubera, quando cônsul, a Hispânia Citerior. Devido a dificuldades criadas
pelos povos indígenas, teria Catão feito um acordo com os Celtiberos, a quem pagou, e
conquistou, com a sua ajuda e segundo Políbio, todas as cidades para aquém do Guadalquivir
(Bétis) num só dia.
49 C. I. L., II, 25*: diz Huebner no comentário que «tamen n. 25* potest genuinus esse, si
52 Ver p. 132.
53 Orósio, Hist. adu. pag., IV, 20, 23: neste passo fala-se unicamente de L. Aemelius, ao
passo que mais adiante, IV, 20, 39, fala-se de L. Aemilius Paulus. Trata-se, contudo, do mesmo,
como supõe Resende. Ver A. Tovar e J. M. Blásquez, Hist. Hisp. Rom., Madrid, 1975, p. 42.
54 Tito Lívio, XXXVII, 46. Também Lívio, tal como Orósio, lhe dá o título de procônsul,
quando descreve a derrota em que seis mil romanos teriam morrido e os outros fugido. Não
diz, porém, que tivesse morrido. Em XXXVII, 57, narra a futura vitória sobre os Lusitanos.
55 Plutarco, Emílio Paulo, IV, 1-2. Traduzimos secures, os machados com que os lictores
ministravam justiça, porque consideramos tratar-se de uma metonímia, tal como no passo de
Plutarco em que pelškeij equivale aos mesmos magistrados. Resende faz correctamente uma
paráfrase que quase traduz literalmente o texto grego.
56 É o passo citado na n. 54.
57 Trata-se do Chronici rerum memorabilium Hispaniae tomus prior. Auctore Ioanne Vasaeo
tal como A. Tovar a apresenta na carta que concebeu segundo a descrição do geógrafo grego,
em Hist. Hisp. Rom., p. 353; Tovar, Iber. Landesk., pp. 14, 62.
60 XXXVII, 57 (cf. n. 54). É um passo que Resende refere já por três vezes.
61 Veleio Patérculo, Hist. Rom., I, 9, 3. O triunfo realizou-se efectivamente, mas, tal como
defende Resende, para deslustrar o imperialismo romano na península, não foi para celebrar
a vitória sobre os Lusitanos. Ver R. Bloch, Roma e o seu Destino, p. 67. A vitória que lhe conferiu
o triunfo foi sobre o rei Perseu da Macedónia, em 168 a.C., realizando-se as cerimónias do
triunfo em 167.
62 Tito Lívio, XXXVII, 58.
63 M. Vérrio Flaco é sobretudo conhecido como gramático. Refere-o Suetónio, De grammaticis,
17, como tendo uma estátua em Preneste perto de um hemiciclo «in quo fastos a se ordinatos
et marmoreo parieti incisos publicaret». Albrecht Dihle aponta para a dificuldade de compatibilizar
estes fastos com os publicados no séc. XVI por Onofre Panvínio (ver A. Dihle s. v. M. Verrius
Flaccus na enciclopédia Pauly-Wissowa). É mais racional que ele tenha ordenado os Fasti
Praenestini, cf. J. E. Sandys, Latin Epigraphy, reed. Groningen, 1969 (da ed. de Cambridge),
p. 173 ss.
64 Onofre Panvínio (Veronense) é um humanista italiano que depois de Marliani (Roma,
1549) e outros, publica os Fasti Capitolini que intitula de Tabulas Capitolinae, às quais aparecia
ligado o nome de M. Vérrio Flaco (n. 63), cf. J. E. Sandys, ob. cit., pp. 24-26. Também Panvínio
foi célebre pelas suas peças forjadas, procedimento considerado elegante pelos antiquarii
como o Cardeal António Agustín de Saragoça (1517-1586). Ver o art. de C. Mitchell, p. 458,
cit. n. 2.
Há que consultar Onuphrii Panvinü Veronensis fratis eremitae augustiniani... Fastorum
libri V a Romulo rege usque ad Imp. Caesarem Carolum V Austrium Augustum. Eiusdem in
fastorum libros commentarii... Onuphrii Panvinii... commentariorum in fastos consulares
Appendix ...In Verri Flacei triumphalium consulariumque tabularum fragmenta ...De antiquis
Romanorum nominibus, ex officina Erasmiana Vicentij Valgrisij, Veneza, 1558 [Bibl. Nac. Paris,
1105 (1)].
Quanto a Lúcio Emílio, refere-se-lhe Panvínio na p. 25, mas o texto citado por A. R. provém
do trabalho de Carolus Sigonius, In Fastos ac Triumphos Romanos commentarius, Basileia, 1569
(incorporado por vezes nas edições de Panvínio), p. 166 c.
434 As Antiguidades da Lusitânia
As inscrições foram editadas por Th. Mommsen, C. I. L., I, l, pp. 1-54, e o enquadramento
histórico dos Fasti Consulares e dos Acta triumphorum com as datas romanas e as cristãs. Estes
últimos encontram-se respectivamente nas pp. 79-167 e 168-181.
65 Cf. R. E., s. v. L. Aemilius Paulus.
66 Tito Lívio, XXXVÜ, 57. Não se trata de C. Catinius, mas sim de C. Atinius. O nome
Catinius deve ter surgido de uma má leitura dos manuscritos, em que o C. de Gaius foi ligado
ao nomen. Trata-se de Tito Lívio, XXXIX, 21, 30-31.
67 Id., XXXIX, 30.
68 Id., XXXIX, 31.
69 Id., XXXIX, 32.
70 Id., XXXIX, 33.
71 Estes acontecimentos são narrados no livro XXXIX de Lívio, seguidamente aos passos
pretor da Hispânia Ulterior de 181 a 180. As batalhas que Lívio não descreve não são facilmente
localizáveis, pois a bibliografia que se ocupa da Hispânia só cita Tito Lívio como sua fonte.
Ver F. H. A., IV (guerras de 237-154 a.C.), pp. 177 ss. e 210-211.
73 Tito Lívio, XL, 50.
74 Trata-se de Josse Bade (Badius), professor, impressor, erudito. Nasce em 1462, em Assche
Loritus Glareanus, polígrafo suíço, nascido em Glaris (daí Glareanus) em 1488 e morto em
Friburgo de Brisgau (Alemanha) em 1563. Ver Nouvelle Biographie Générale, Firmin Didot
Frères, Paris, 1857, tomo XX, s. v. Glareanus.
76 João Vaseu, ver n. 57. De facto os Vaceus, na época a que se refere Lívio, seriam mais
de incluir na Citerior do que na Ulterior. Ver Westermam Grosser Atlas zur Weltgeschichte,
Braunschweig, 1978, p. 28. No entanto, o critério nunca seria suficiente para fundamentar a
hipótese de Resende.
77 Neste epítome fala-se simplesmente da vitória sobre os Celtiberos, cuja rendição foi
aceite por T. Semprónio Graco, e que os Vaceus e Lusitanos foram dominados por A. Postúmio
Albino.
78 Lív. XL, 47.
79 Ver p. 96 ss.
80 Lív., XLI, 7.
81 Orósio, Hist. adv. Pag., IV, 32-33. Quanto aos códices e edições, ver as edições de C.
Zangemeister do C.S.E.L., Viena, 1882, com reed. anastática da Olms, Hildesheim, 1967 e a
das Belles Lettres, de Arnaut Lindet, vol. I, Paris, 1991.
82 J. Obsequente, Prod. Liber, 17. Os prenomes variavam conforme os mss.; mas efectivamente
Consulares, ano 600 da fundação de Roma, no tocante à guerra pérsica, ano 154 a. C., p.
147.
84 J. Obsequente, Prod. Liber, 18.
85 A citação provém, sim, do Per., XLVIII: «Lusitani uastati.»
86 São efectivamente M. Claudius Marcellus e L. Valerius Flacus, cônsules em 602 a.V.c. =
152 a. C. O primeiro foi depois enviado para a Hispânia. R. E., III, 2759 (s. v. Claudius - M.
Claudius Marcellus 255) e VIII (zweite Reihe), 21 (s. v. Valerius Flaccus - L. Valerius Flaccus
- 174).
87 Comentários às Tábuas Capitolinas. Cf. C. I. L., I, l, p. 26, coluna XXII dos Fasti consulares,
ano 608 da fundação de Roma referente à terceira guerra púnica, ou seja, 146 a. C., ver p.
149.
Notas e Comentários – Livro III 435
88 Apiano, VI, Iber., X, 58. Cf. F. Muenzer, s. v. L. Mummius, R. E., XVI, l, Nachtraege, 1195
ss.
89
Eutr., Breu., IV, 9.
90
Trata-se de facto de Mummius, ver A. Schulten, F. H. A., IV, 98. Nas edições de Eutrópio
o nome de Memmius é confundido com o de Mummius, o que acontece também com Diodoro
Sículo, 31, 42.
91 Cf. Políbio, XXXV, 4; Lív., per., 48; A. Tovar-Blásquez, Hist. Hisp. Rom., p. 55.
92 Lív., Per., XLVIII.
93 Orósio, Hist. adv. pag., IV, 31. Ver p. 136-138 do livro I.
94 Orósio, IV, 21, 3.
95 IV, 21, 10.
96 Vai. Máx. Fact. dict. memor., IX, 6, 2. É difícil reproduzir na tradução a equivalência
cladem – partem de que fala Resende. Fugindo à letra, podia substituir-se destruição por perda,
palavra mais próxima de parte.
97 Cíc., Brutus, 80; Diuinatio in Caecilium, 66; Ps. Ascónio, p. 124 (Orelli); Lívio, Per.,
XLIX. Ainda há, porém, outras referências em autores antigos, ver A. Schulten, F. H. A. IV, pp.
103-106.
98 Lív. XXXIX, 40, o mesmo também é narrado no passo do Brutus da n. 97.
99 Catão, frags. 106-110 do livro VII das Origines em H. Peter, H. R. R., I, p. 89 ss.; E.
oratória de Galba, mas sim a comiseração que ele provocou, a causa da sua absolvição. O
que parece ter sido a principal causa foi o interesse da ordem senatorial em não castigar muito
duramente um dos seus. Isso não impediu, contudo, que se instituísse em 149 a. C. um tribunal
permanente contra os abusos dos pretores; ver A. Schulten, F. H. A., IV, p. 105. Quanto a outras
atrocidades, como a cometida por Galba, ver ibidem, p. 31.
102 Existem de facto as duas denominações, mas a de Sergius aparece em Orósio (Hist.
adu. nat., IV, 21, 10), tal como diz Resende, enquanto o texto de Lívio sempre nos dá
Seruius.
103 Em todos os passos de Lívio, como se disse anteriormente, é esta a forma usada.
104 O passo de Valério Máximo que citamos na n. 96 limita-se a apresentar o praenomen
pelos prenomes pretendia formar uma tese, não colhe, na medida em que, mesmo no texto
de Eutrópio, VII, 16, aparece Seruius Galba.
108 Em Díon Cássio, Hist. Rom., LVII, 19, 4, aparece unicamente referência a Galba (o
imperador). Já em LXVI, 29, 5, lemos Sšrouioj Soulp…kioj G£lba, bem como noutros passos
dos livros seguintes.
109 Qualquer dicionário nos indica que Seruius é um cognomen sobretudo ligado à gens
Sulpicia, ao passo que Sergius é um nomen, característico portanto de uma gens, como é o
caso de Lucius Sergius Catilina, sendo Catilina, como é sabido, um cognomen. Ver igualmente
A. Schulten, F.H.A., IV, p. 103.
110 C. I. L., II, 4268: P. Fábio P. f(ilio) Ser(gia) Lepido f(ilio); quae (i. e. statua) ex d(ecreto)
d(ecurionum) Tarr(aconensium), quod factum post mortem eius, ... quam (i. e. impensam)
mater eius Iuia Sex(ti) filia Reburrina de suo dedit. A leitura é de Huebner e trata-se não de
um cipo mas de uma estátua.
111 Cf. n. 94.
112 Cf. n. 106.
436 As Antiguidades da Lusitânia
113 Floro, I, 33, 15. Traduz-se fasces por varas, muito embora fosse possível utilizar o
Victor. É de autor anónimo e foi editada em 1911 por Fr. Pichlmayr nas ed. Teubner e de novo
reeditada em 1970. O título é Incerti auctoris liber de Viris illustribus urbis Romae. Ver Schanz-
Hosius, Geschichte der röm. Lit. Vierter Teil, Erster Band, Munique, 1914, pp. 70-72, p. 799.
118 Orósio, Hist. adu. pag., V, 4, 1-6. Orósio é uma das fontes preferidas, porque também
uma das mais completas, acerca do bellum Viriathicum. Tinha além disso a vantagem de
defender com forte patriotismo hispano a história dos seus antepassados. Daí o relevo que dá
ao desenrolar da luta contra os Romanos, e a forma crítica como encara a acção militar dos
invasores da Península. Quanto à ressonância dos 300 das Termópilas que se sente no episódio
dos 300 Lusitanos, ver R. M. Rosado Fernandes, «O Episódio dos ‘Trezentos Lusitanos Contra
Mil Romanos’ e a sua possível explicação», Ocidente, LXXII (1967), 278-283.
119 Id., V, 4, 8 e 12-14.
120 Frontino, Strat., II, 5, 7.
121 Por ex., II, 13, 4 ou III, 10, 6; 11, 6, etc.
122 Lív., Per., LII.
123 Lív., Per., LIV.
124 Estr., III, 5, 158: oÜte tù lVstÍ OÙri£q w Ä kaˆ Sertor… wÄ met¦ taàta kaˆ e‡ tinej ›teroi
dunaste…aj ™peqÚmhsan me…zonoj.
125 Cíc., De off., II, 11, 40. É de notar o aproveitamento dialéctico por parte de Resende,
que comenta o passo ciceroniano dentro da técnica retórica, a fim de transmitir como que
uma mensagem parenética para desmascarar o parcialismo romano. Dialéctica idêntica é
utilizada no nosso tempo para ilibar da noção de crime de sangue o terrorismo ou guerrilha
nacionalista de cariz político dos movimentos de libertação.
126 Id., Brut., XXI, 84: nota-se o eufemismo «recuar» por «ser vencido», que Resende
aponta.
127 De uir. Ill., 71; ver n. 117. Como se vê, repete-se parte do passo pseudo-pliniano.
128 Resende procura habilmente passos em que possa fundamentar a refutatio da tese,
defendida por historiadores antigos, em como Viriato era um ladrão. Refere por isso a figura
de Masinissa, célebre pelo tipo de guerrilha que praticava. Lívio, XXIX, 31.
129 Eutr., Breu., IV, 16; ver n. 116.
130 Repete o passo indicado na n. 96 (IX, 6, 2).
131 Orósio, Hist. adu. pag., V, 4, 2; Lív., Per., 52.
132 Para o conhecimento deste período e da cronologia, ver A. Schulten, F. H. A., IV, pp.
96-140, em que se analisam todos os passos históricos, ou não, referentes às guerras lusitanas
de 115 a 136 a. C. Também é útil o trabalho de A. Tovar, no já citado A. Tovar y J. M. Blazquez,
Hist. Hisp. Rom., pp. 58-66 sobretudo. Naturalmente que, apesar dos anos, ainda continuam
imprescindíveis os trabalhos de A. Schulten sobre Viriato, tanto na monografia Viriato, Porto,
1927, como no artigo Viriatus na R. E.
133 Lív. Per., LIV: «Q. Fabius procos. rebus in Hispania prospere gestis...».
134 Floro, I, 33, 17. De facto trata-se de Quinto Fábio Máximo Serviliano, que será cônsul
em 142 a. C., mas que em 141, quando se deu o acontecimento, era procônsul. Resende tem
razão. Ver A. Schulten, F. H. A., IV, p. 118 segs.
135 Ver n. 116.
136 C. I. L. , II, 21* (Campos de Évora, São Bento de Pomares). Huebner apresenta as
137 Honorato João Valentim, ou melhor, Valenciano, pois era natural de Valência, foi
preceptor de D. Sebastião e viveu em Lisboa nos tempos de Resende. Foi mandado chamar
pela rainha D. Catarina, irmã de Carlos V e mulher de D. João III. Dedicou-se certamente ao
estudo das antiguidades romanas, uma vez que Huebner, C. I. L., II, p. XIV, n. 28, nos informa
sobre um Codex Valentianus que conheceu num livreiro de Valença, intitulado Inscripciones
de memorias Romanas y Españolas recogidas de varios autores, entre os quais Florião do Campo.
Ver Luís de Matos, «O Ensino na Corte durante a Dinastia de Avis», in O Humanismo em
Portugal, 1500-1600 – Simpósio Nacional, Lisboa, 1988, pp. 502-503 e sobretudo 574, n. 49.
138 Florião do Campo, continuado por Ambrósio Morales, Coronica General de España,
Alcalá de Henares, 1574, vo. II, 7, ff. 112v-113. Apresenta o texto epigráfico de André de
Resende e comenta: «Esta piedra de Lúcio Silo, tengo por la mas antiqua que de Romanos se
habla agora en España.» Considera para mais Évora já em Espanha.
139 C. I. L., II, 20* (Évora).
140 C. I. L., II, 51* (Viseu).
141 Trata-se de novo da obra anónima De uir. Ill., 71 (Cf. n. 117): «Viriatus ... bellum aduersus
Romanos sumpsit eorumque Claudium Unimanum, dein C. Nigidium oppressit.» Não se sabe
de que Nigídio se trata, pois só neste passo é mencionado. Ver A. Schulten, F. H. A., IV, p.
113.
142 O Testamento de Galo Favónio Jocundo, transmitido por Bartolomeu Marliano, Topographia
antiquae Romae, Lugduni, 1534, f. 209, que o recebeu de Giacomo Simonetta, que efectivamente
foi bispo pisaurense de 1528 a 1535 e faleceu em 1539, é considerado como pseudoepigráfico
por Huebner, C. I. L., II, 40*, XI Conimbriga, que apresenta impressionante recolha de testimonia
que atestam a importância que lhe foi concedida no séc. XVI, ao mesmo tempo que consigna
as variantes do texto mais próximo da leitura de Florião do Campo transmitida na de Honorato
João.
143 A declaração de Honorato João a respeito da transcrição do mesmo testamento por
Florião do Campo continuado por Ambrósio de Morales, La Coronica General de España, Alcalá
de Henares, 1574, vol. II, 7, f. 116, apresenta o texto latino com tradução explicando a sua
edição: «Carlo Sigonio tratando en sus fastos este ano (142 a.C.), y Aldo Manucio en su
ortographia la pusieran: y yo movido por su authoridad, cuento lo que en ella avia, que yo
ni la he visto, ni he oydo a nadie que la viesse.» O R que aparece em fim de inscrição é lido
por Huebner como pertencendo a SER. do praenomen de Servius Galba.
144 Ver. ed. de Veneza, p. 259 (n. 64 deste Livro III) do livro I dos Fastos em que se diz:
pormenores sobre a campanha de Bruto, dos quais ressalta a passagem pelo rio do Esquecimento,
o Lima (ver p. 196). Ver A. Schulten, F. H. A., IV, p. 136-140. Quanto à identificação de Valentia,
do Minho ou da Costa do Levante, ver p. 139. Valença do Minho é, apesar de tudo, a mais
situada nas proximidades das zonas em que Bruto se movimentou.
146 Marcantonio Coccio Sabellico, Enneades seu rhapsodiae historiaram, Veneza, 1498-1504;
foi traduzido em português como Coronica geral de Marcantonio... Des ho começo do mundo,
até nosso tempo. Tresladada em lingoage Portugues por Dona Lianor filha do Marques de Vila
Real D. Fernando, Coimbra, 1550. É considerada uma das fontes dos Lusíadas, Catálogo da
Exposição Bibliográfica, etc., Lisboa, 1972, p. 285 (V. 562).
147 Ver A. Resende, Vicentius Levita et Martyr, ed. Pina Martins, Braga, 1981, Adnotationes,
de Henares, 1553, vol. I, l, f. 55-55 v. (cap. 30), aceita efectivamente a tese de João de Viterbo
e «Su Maneton» da origem de Valência ligada a Romo, cuja etimologia faz derivar do gr. ·wm»
(força) e que teria começado a reinar em 1339 a. C. e fundado junto ao Mediterrâneo a cidade
de Valência que fez derivar de Valere (ter força, ter valor), etimologia equivalente à de Romo.
Compara-se depois às outras Valências: de Alcântara, de Campos, do Minho, mas considera
Valência do Sul de Espanha a principal, ao contrário de A. Resende, que vai preferir a do
Minho.
438 As Antiguidades da Lusitânia
150 Entre os recentes historiadores hispânicos pode contar-se Francisco Tarafa, Canonicus
Barcinonensis, que no De origine a rebus gestis Regum Hispaniae tem um pequeno capítulo
sobre Romo. A primeira edição da sua obra em Latim aparece em Antuérpia, 1553, seguida
de uma edição espanhola de 1563. O referido capítulo pode consultar-se na edição da sua
obra inclusa em Hispaniae Illustratae seu rerwn urbiumque Hispaniae, Lusitaniae, Aethiopiae
et Indiae scriptores varii, Frankfurt, 1603, vol. I, p. 524, 35. Romo continuará a ser considerado
posteriormente, p. ex., na obra de João Mariana, S. J. da mesma Hispania Illustrata: Ioannis
Marianae ex Societate Iesu, Historiae de rebus Hispaniae, libri XX, cap. XI, De Siculo Hispaniae
Rege, vol. II, p. 218, 31 em que diz: «Romus Valentiae fundator in Edetanis, etc.».
151 Val. Max., VI, 4, ext. 1. O nome da cidade é, porém, Cinginia, que é desconhecida. Ver
F. H. A., p. 138.
152 Livro II, pp. 92 ss.
153 Orósio, Hist. adu. nat., V, 5, 12.
154 Estr., III, 3, 4. Refere-se o geógrafo ao rio Minho, em grego também chamado, L»qh,
Lima…a e Bel…wn, que considera como o limite até onde chegaram as campanhas de Bruto:
TÁj m�n oân BroÚtou strate…aj Óroj oátoj…
155 A tradução de Estrabão utilizada por A. de Resende é Strabonis Gnosii Amasini de situ
orbis libri XVII e graeco traducti Gregorio Typlernale ac Guarino Veronense interpretibus, 1502,
Venetiis, per Bartholomeum de Zanis de Porterio, fól. 32 v., e tem efectivamente a tradução
latina que Resende refere, i. e., strate…a (ver n. 154) que é erradamente traduzida por praetura
em vez de o ser por expeditio, como traduz o nosso humanista.
156 É certo, na medida em que tendo sido cônsul em 138 a. C., altura em que combatia
na Lusitânia, passou para a Galécia em 137, já não sendo cônsul, mas sim procônsul. Quanto
ao passo, ver p. 128.
157 A inscrição é diferente. No C. I. L. , I, l, p. 26 dos Fasti consulares, coluna XXIV, lêem-
549 a. C. sobre o nome dos cônsules P. Rutilius e Cn. Manlius, que «A Lusitanis exercitus
Romanus caesus».
159 Cassiodori Senatoris Chronica, M. G. H., XI, 2, p. 132, 461 ab urbe condita 649: dá como
nomes dos cônsules P. Rutilius Rufus et G. Manilius. Tem pois um Rufus não referido por
Obsequente e em vez de Cnaeus.
160 Onofre Panvínio, Fastorum libri, p. 30 (n. 64). Se consultarmos o comentário de Cigonius
(n. 64) veremos que o ano não é o de DCXLIX mas DCXLVIII, p. 242 D. Também se trata de
C. Manilius e não Manlius.
161 Obsequente, quando refere o ano 101 a. C. (652 a. urb. cond.), cf. n. 158.
162 Rufio Festo, Breu., V, 1. No texto não figura o nome de Silanus, mas sim Sulla. Julga-se
no entanto (ver A. Schulten, F. H. A., IV, p. 146) que deva entender-se de facto Silanus,
conforme diz Resende, pois M. Júnio Silano, cônsul em 109, pode ter sido pretor da Ulterior
e sucessor de Pisão. Quanto ao prenome de Silano, seria Marco e não Décio.
163 Vérrio Flaco (Cf. n. 64), Tábuas Capitolinas correspondem aos Acta Triumphalia, neste
caso, com o texto transmitido em C. I. L., I, 1, 49, XXXIV, ano 656 da fundação de Roma: L.
Cornelius P. f. L. n. Dolabell. procos. a. DCLV ex Hispania ulterior. de Lusitan(is) V. K. Feb. É
o dia 26 de Janeiro de 98 a. C. (ver p. 177).
164 Públio Licínio Crasso, cônsul em 97, triunfou em 93 pelas suas vitórias na Ulterior,
diz-nos A. Schulten, F. H. A., IV, p. 152. Cf. R. E., XIII, 288. Cf. C. I. L., I, l, p. 49 dos Acta
Triumphalia, col. XXXIV, ano 661 da fundação de Roma, ou seja, ano 93 a. C. (p. 177 do C.
I. L., I, 1).
165 Estr., II, 5, 11.
166 Floro, II, 10, 22.
167 Os principais trabalhos sobre Sertório são de A. Schulten, Sertorius, Leipzig, 1926, e
Porto, 1928 (trad. port.), e os diversos artigos sobre a sua figura aparecidos na enciclopédia
Pauly-Wissowa, R. E. no Oxford Classical Dictionary e no Dicionário de História de Portugal
Notas e Comentários – Livro III 439
e outras fontes, que se baseiam muito na biografia de Sertório das Vidas Paralelas de
Plutarco.
168 Trata-se ainda da principal fonte biográfica, sobre a qual se têm fundamentado as
História Romana de Apiano. A acção de Sertório é relatada portanto nos Bella Ciuilia, I, 8,
65, 67; 10, 85; 86 (partida para a Hispânia); 13, 107; 108-114 (guerra de Sertório).
170 Floro, II, 10 (bellum Sertorianum).
171 Orósio, Hist. adu. pag., V, 24, 18.
172 De uir. Ill., 77, 4 (cf. n. 177); Val. Máx., Fact. dict. memor., I, 2, 4; VII, 3, 6 passim.
Frontino, I, 10 1-2; II, 5, 31, passim; Obsequente, 58, passim. Há muitas outras fontes, como
Lívio, Diodoro Sículo, Salústio, que estão reunidas, com todos os outros já mencionados, por
A. Schulten, F. H. A., IV, pp. 160-250, no capítulo que abrange as guerras de Sertório na
Hispânia, de 82 a 72 a.C.
173 Não se trata de Manílio, mas sim de Lúcio Mânlio, como se pode verificar pelo passo
de Orósio, Hist. adu. pag., V, 23, 3, ou mesmo por César, B. G., III, 20.
174 Ver além de A. Schulten, ob. cit., na n. 172, A. Tovar e J. M. Blazquez, Hist. Hisp. Rom.,
p. 87 e segs.
175 O facto de Sertório chamar velha a Metelo aponta para a diferença entre o jovem e
e a de Plutarco, Sertório, 21. Embora diferentes, ambas apontam para o ataque a Metelo, que,
segundo Plutarco, lutou com grande coragem e saiu ferido por uma lançada, ao passo que
Apiano aponta para o facto de ter sido o próprio Pompeio a defender Metelo.
177 Obsequente, 58.
178 Julgamos que Resende se refere sobretudo à guarda celtibérica de que se fazia acompanhar
Sertório, que assim dava azo a certa animosidade por parte dos seus seguidores romanos. É
pelo menos o que se lê em Apiano, B.C., I, 112, onde são referidos Celtiberos, mas não
Lusitanos. De resto, quanto à permanência de Sertório na Lusitânia e da defesa das cidades
lusitanas contra os generais romanos, como Metelo, o mesmo Apiano, B.C., I, 108 segs., fornece
também alguns pormenores.
179 Ver o livro IV dedicado efectivamente à descrição de cidades, entre as quais falta,
185 C. I. L., I, l, Acta Triumphalia, p. 178, ano 683 da fundação de Roma, 29 de Dezembro.
Não chegou até nós, contudo, a inscrição. O facto é relatado pelos historiadores.
186 Cíc., De leg. agr. contra P. Seru. Rullum, II, 30.
187 Ver p. 150.
188 Suet., César, 54.
189 Catulo, 26, 18-19.
190 César, B. C., I, 43-44.
191 Val. Máx., Fact. dict. memor., IX, 2, rom. 4: trata-se efectivamente de Munatius Flaccus
e dos Ateguenses, como pretende Resende quando um pouco à frente propõe a emenda ao
códice de Valério.
192 Bell. Hisp., 19, 4.
193 Díon Cássio, XLIII, 33; Plutarco, Cato, Minor, IX, 1; XXXVI, 3, etc. Chama-lhe somente
Moun£tioj.
194 Plutarco, Cato Minor, XLVIII, 4 segs. Trata-se de Titus Munatius Plancus.
195 Plutarco, Pompeio, LV, 5: trata-se igualmente de Titus Munatius Plancus e não Flaccus.
mesmo no De nominibus, p. 77. O mesmo se encontra no comentário de Cigonius (n. 64), pp.
324 B-C-D e 325-A.
198 C. I. L., X, l, 6087: Resende transmite-nos uma leitura correcta da inscrição de Gaeta
na Campânia, muito embora não reproduza com total fidelidade a disposição das palavras nas
linhas que lhes competem. É pormenor contudo insignificante pois em nada altera o sentido
do texto.
Os Septemuiri epulonum constituíam um colégio de sacerdotes encarregados de organizar
festins dedicados a Júpiter e a outros deuses. Ver R. E., s. v. Septemuiri epulonum. Lugduno é
Lião e a Ráurica situava-se nas imediações de Basileia.
199 No passo citado na n. 193 Díon Cássio não refere efectivamente o que lemos em Valério
Máximo. Também o autor do Bell. Hisp. (n. 192) é omisso a esse respeito, referindo-se apenas
à atitude de Munácio para com Pompeio.
200 César, B. C., I, 44.
201 Trata-se, segundo A. Schulten, F. H. A., V, p. 133, efectivamente de Cato, que é nome
de origem céltica, como se pode averiguar pela existência de nomes como Cattos e de outros
em que Catu aparece como parte de nome: Catuuolcus, p. ex. O passo em que disto se trata
pertence ao Bell. Hisp., 17 segs.
202 Depois da batalha de Munda, em que Sexto Pompeio ficou ferido, acabou este por se
refugiar em Carteia, mas os habitantes desta dividiram-se em duas facções, uma que o queria
entregar a César e outra que o queria preservar. De qualquer forma foi Pompeio forçado a
fugir em embarcações. Segundo Apiano, B. C., II, 15, 105, ao entrar para um pequeno barco
prendeu o pé num cabo, e o homem que o tentou libertar, ao pretender cortar o cabo, cortou
sim a palma do pé do fugitivo Pompeio. Diz Apiano que mesmo assim ele se fez ao mar e
recebeu tratamento em determinado lugar. Do texto de Resende parece implicar-se que foi
ele próprio que tentou libertar o pé com o gládio. Apiano, porém, diz-nos que foi alguém
que o fez.
203 Bell. Hisp., 39, 1: «Pompeio ut supra demonstrauimus, saucius et intorto talo...».
204 A exposição pormenorizada destes eventos pode seguir-se tanto em Apiano como no
Bellum Hispaniense. O fim de Sexto Pompeio é contado por Apiano no passo citado na n.
202.
205 Bell. Hisp., 40, l segs. A opinião de Resende é correcta quanto ao estado do texto
chegado até nós. Refere-se inclusivamente às hipóteses de autoria desta obra anónima. Quanto
ao miles Caesaris, possível autor deste comentário e à sua relação com o seu general, ver H.
Drexler, «Parerga Caesariana», Hermes, LXX (1935), 203-234.
206 Pela descrição de Resende é fácil entrever que o humanista toma o partido de Pompeio,
na medida em que a Sexto Pompeio acabaram por ficar ligados muitos Lusitanos. Isso era já
razão suficiente para a sua história quase parenética. Quanto ao nome de Carrinas, em Apiano,
Notas e Comentários – Livro III 441
B. C., IV, 11, 83, é ele representado em grego por Karr…naj -ou e em latim Carrinas, -atis,
ver s. v. C. Carrinas, R. E., III, 1612, que em 45 chegou à Hispânia como legado de César
contra Sexto Pompeio. Na tradução utilizamos o nome Carrinas e não Carrinate, como propõe
F. Rebelo Gonçalves no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, Coimbra, 1966, por ser mais
próximo do nome latino e por semelhança com nomes da mesma declinação, como é o caso
de Mecenas.
207 Apiano, B. C., IV, 88 segs., descreve as tropas de que dispunha Bruto na costa da Trácia,
no golfo de Melas, banhado pelo mar Trácio. Trata-se efectivamente de 4.000 cavaleiros Kelto…
e lusitanos. Se este nome não levanta qualquer dúvida quanto à sua tradução, o mesmo não
pode dizer-se com os Celtas que em Apiano significam Gauleses e não Celtiberos, como
possivelmente Resende gostaria que fosse. De qualquer forma, é inegável a presença lusitana
em regiões tão longínquas entre as tropas que se batiam, na parte republicana que ia perder,
contra os Cesarianos.
208 A utilização do texto de Apiano por André de Resende é bastante criteriosa e foi feita,
como o autor nos deu a entender, por uma tradução. Em Portugal, na B. N. L., existem dois
incunábulos (incompletos) da ed. latina de Apiano, Historia Romana, de Petrus Candidus
Decembrius, publicada em Veneza em 1472. Ver Biblioteca Nacional, Catálogo de Incunábulos,
intr., org. e índices por Maria Valentina C. A. Sul Mendes, Lisboa, 1988, n.os 121, 122; a edição
humanística do texto grego apareceu posteriormente em 1551 de autoria de C. Étienne e a
tradução latina virá três anos depois, em 1554, e será de Sigism. Gelenius.
209 Efectivamente, Sexto Pompeio virá a morrer na Ásia em 35 a. C.
210 Orósio, Hist. adu. pag., VI, 16, 7 segs.
211 Foi efectivamente morto em Mitilene por ordem de Marco de Tício. Ver Apiano, Civ.,
V, 144.
212 Orósio, Hist. adu. pag., VI, 19 segs.
213 Asínio Folião, em Cíc., Ep. ad familiares, XXXIII, 3 (ed. L. C. Purser, Oxford).
214 Ver p. 183 ss.
215 Ver p. 73 ss. Como veremos nas n. 216 e 217 seg., a Bética não era dedicada à plebe
mas ao senado. Resende não disse, porém, no cap. referido que a Bética fosse atribuída à
plebe.
216 Díon Cássio, Hist. Rom., LIII, 12: é o comentário de Díon Cássio ao discurso proferido
por Augusto diante do senado (3-11), em que o futuro imperador dá a entender com extrema
hipocrisia que pretendia devolver o poder, embora este lhe pertencesse completamente e sem
contestação, ao próprio senado. Por isso, só se atribui tudo o que pressupunha trabalho e
risco, deixando o resto aos senadores. Diz o historiador: «Desta forma fazia ratificar a sua
liderança pelo senado assim como pelo povo. Mas como além disso desejava ser considerado
democrático... declarava que não governaria pessoalmente todas as províncias... e devolveu
assim ao senado as províncias mais fracas, devido a serem pacíficas e não estarem em perigo
de guerra, enquanto para si reservou as províncias mais poderosas, alegando que eram inseguras
e em precária situação... Revelava, assim, a intenção de que o senado pudesse aproveitar dos
aspectos mais agradáveis do império, enquanto ele ficava com os perigos e trabalhos, mas a
finalidade real era a de que desta forma os senadores ficassem desarmados e incapazes de
entrar em combate, enquanto seria ele o único a ter armas e soldados». Díon Cássio enumera
então as províncias que passaram a pertencer a César Augusto, entre as quais «o que sobrava
da Hispânia, ou seja a Tarraconense e a Lusitânia».
217 Ver p. 87 (Vetões). Sobre a divisão administrativa da Hispânia, ver a parte sobre a
evidente preocupação de continuidade histórica, ver Joel Serrão, s. vv. conde, duque e marquês
no Dic. Hist. Port. A fonte mais autorizada sobre o assunto ainda é Gama Barros, Hist. da
Administração Pública em Portugal nos sécs. XII a XV, ed. por T. de Sousa Soares, 11 vols.,
Lisboa, Liv. Sá da Costa, 1945-1954. Ver o passo das F. H. A. de R. Grosse citado na n.
anterior.
219 Ver R. E., s. v. Langobardi.
220 Ver J. P. Machado, s. v. marca, Dic. Etim. Líng. Port.
221 Tác., An., XIII, 46, 3; trata-se de erro de A. Resende ou do seu editor quanto à citação
do livro dos Anais. A outra referência a Otão e à Lusitânia encontra-se nas Hist., I, 13, 3, em
que Tácito se refere à maneira eficiente como Otão geriu a Lusitânia. Quanto ao livro 17 não
existe ele nas edições de que normalmente se dispõe. Os Anais são constituídos por 16
livros.
222 Suet., Otão, 3, 3-4.
223 Ibidem.
224 Ver, p. ex., Plut., Galba, 22, 8. Cf. a recolha de passos referentes à história da Hispânia,
que lemos «Caecina... dum sententiae Vitellii certior fieret... laetum ex Italia nuntium accipit,
alam Silanam, circa Padum, agentem, sacramento Vitellii acessisse... [muito depois]... Et, quia
praesidio alae unius latissima pars Italiae defendi nequibat, praemissis Gallorum Lusitanorum
Britanorum cohortibus et Germanorum uexillis, cum ala Petrina, ipse paullulum cunctatus...».
Não é pois claro que tenham prestado juramento.
226 In P. Cornelium Tacitum annotationes B. Rhenani, Alciati ac Beroaldi. Eiusdem B.
da Dertona, entre Génova e Milão, C. I. L., V, 2, 7425. O texto da inscrição condiz com a leitura
de Resende, que é correctíssima, só que a disposição das palavras da inscrição em causa não
coincide: Q. Attio. T. F. / Maec. Prisco / Aed. Vir. Quinq. / Flam. Aug. Pontif / Praef. Fabr. Praef.
Coh. I / Hispanorum. Et. Coh. I / Lusitanor., etc. Quanto à divisão das palavras, confessa o
próprio Mommsen ter seguido a leitura de Resende.
229 L. Andr. Resendii, Pro Colonia Pacensi, Ad. Ioannem Vasaeum virum doctissimum, da
Sepulveda) deixou efectivamente nos seus escritos referências à identificação de Badajoz com
Pax Augusta, que era confundida com a Pax Iulia que Resende, e bem, identificava com Beja:
Ioannis Genesii Sepulvedae Cordubensis... Opera... omnia, Colónia, 1602; nos Epistolarum libri
septem, pp. 168-170, está uma carta (XXXIV) de 1543 enviada a Filipe II de Espanha em que
se refere Carcabosus (p. 168) a vinte e cinco léguas de Mérida, e mais adiante se diz claramente:
«Hanc enim urbem, quae nunca Badajoz corrupto vocabulo nominatur, olim fuisse Pacem
Augustam, consensus et eruditorum». «Esta cidade, que hoje em dia é denominada com a
palavra deturpada de Badajoz, foi, na opinião consensual dos eruditos, a antiga Pax Augusta».
Ver Angel Losada, J. G. de Sepúlveda através de su «Epistolario» y nuevos documentos, Madrid,
1949, cap. XVII, Sepúlveda, Arqueólogo, p. 298 ss.; E. Viejo Otero, Miscelânea, «CIL II 4658 en
Notas e Comentários – Livro III 443
una cana inédita de Juan Ginés de Sepúlveda», Emérita X (1942), 345-348; V. Pereira Soares,
«Uma carta de André de Resende reconstituída», Humanitas, XXXIX-XL (1987-88), p. 220 ss.
231 Ver p. 183 ss. A verdade é que não chegou a comentar, uma vez que as cidades incluídas
entender.
235 Quanto a estas divisões administrativas, ver L. García Iglesias, «El Guadiana y los limites
comunes de Bélica y Lusitania», H. Ant., II (1972), pp. 165-177; Albertini, Les divisions
administratives de l’Espagne romaine, Paris, 1923, pp. 102-103, cf. n. 217.
236 S. Engrácia (Encratis) foi martirizada, em 304 da nossa era, na perseguição movida
contra os Cristãos por Diocleciano. O seu martírio foi cantado por Prudêncio no Peristephanon,
Hino 4, 110-140, que é a única fonte que nos resta sobre a santa, cujo pai não se conhece,
apesar do que diz Resende.
237 Castinaldo era senhor de Nabância, cidade inventada pelos hagiólogos eruditos (ver n.
139 do Livro II). Foi contemporâneo de S. Iria e aparece citado no ofício do Breviário de S.
Simão de Junqueira (1514) e no Breviário de Santa Cruz (1531), cujos textos latinos referentes
a S. Iria nos são dados por M. de Oliveira no artigo «Santa Iria de Santarém», citado na n. 138
do livro II.
238 Vitichindus, ou melhor, Windichindus, como lemos em Sigberti de script. eccl., 129 (ed.
Miraeus, p. 149): «Windichindus mon. Corbeiaei Saxonicae scripsit historiam Saxonum usque
ad mortem primi Othonis imperatoris...» (apud M. Manitius, Gesch. d. lat. Literatur des Mittelalters,
vol. I, Munique, 1911 (1974), p. 714 ss. Trata-se de Windekind von Korvei. A sua obra histórica
intitula-se Windukindi monachi Corbeiensis Rerum gestarum Saxonicarum libri III, ed. P. Hirsch
e Hans-Everhard Lohmann, M. G. H., Munique, 1935 (1977). Aparece também nos M. G. H.,
Scriptores, III, ed. G. Waitz, p. 408 ss. O passo citado por A. Resende encontra-se em I, 18 (p.
425), mas com a forma Gotha, ainda que também esteja registado no aparato critico Gothus.
Windukind diz: «A proprio autem duce, nomine Gotha, Gothi appelati sunt». Quanto aos Godos,
ver S. Teillet, Des Goths à la nation Gothique. Les origines de l’idée de nation en Occident du
V au VII e siècle, Paris, 1984.
239 Ptolomeu, Geogr., II, 11, 35, fala simplesmente dos Goàtai como povo que ocupava a
kaˆ ¥llai prÒterÒn te Ãn kaˆ t£nun œsti, t¦ d¾ p£ntwn mšgist£ te kaˆ ¢xiologètata GÒtqoi
tš eƒsi kaˆ Band…loi kaˆ OÙis…gotqoi kaˆ G»paidej. P£lai mšntoi SaurÒmatai kaˆ Mel£gclainoi
çnom£zonto. A tradução de Resende ou utilizada por Resende pressupõe que as tribus godas
tenham sido mais diferentes outrora do que agora, o que não corresponde ao texto grego.
241 lordanes, Get., XIV, 82, p. 878, 7 (Mommsen): «id est orientales, dicti sunt Ostrogothae,
Einhard (Eginardo) publicada nos Monumenta Germaniae Histórica, Scriptores, II, pp. 426-463.
É reproduzido o texto latino na edição bilingue de Evelyn Scherabon Firchow, Einhard, Vita
Karoli Magni, Reclam, Estugarda, s. d. (1968), parágrafo 29 (p. 54): «Ventis vero hoc modo
nomina inposuit, ut subsolanum vocaret ostroniuuint, eurum ostsundroni, euroaustrum
sundostroni, austrum sundroni, austroafricum sunduuestroni, africum uuestsundroni, zefyrum
uuestroni, chorum uuestnordroni, circium norduuestroni, septentrionem nordroni, aquilonem
nordostroni, vulturnum ostnordroni» e depois publicado separadamente por Oswald Holder-
Egger, Hannover-Leipzig, 1911, reed. 1965.
244 No Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, nos artigos Noroeste, Sudoeste,
Sudeste, etc., J. P. Machado, embora dê o testemunho de livros de marinharia, não indica como
444 As Antiguidades da Lusitânia
origem dos nomes de ventos utilizados pelos marinheiros portugueses a nomenclatura lançada
no tempo de Carlos Magno.
245 Iordanes, Get., V, 42, p. 64, 22 (Mommsen). A citação está correcta, só que as formas
de etnónimos usadas por Iordanes são em -gothae e não -gothi, como pretende o nosso
humanista.
246 É na obra de Iordanes que Resende se inspira, pois nela se estudam as genealogias
diversas das estirpes godas. Baltha está certamente relacionado com o inglês bold «ousado» e
o al. bald «em breve», que estão relacionados com o Germ. *balthaz e o Gót. Balthei
«coragem».
247 Iordanes, Get., XXXVI-XXXVII, p. 108-109 (Mommsen) relata esta batalha e chama ao
chefe godo Theodoridus. Gregório de Tours, Hist. Francorum, III, 30, refere-se a Theudis que
foi rei dos Godos na Hispânia.
248 Ver R. E., Erste Reine, Halbband 2, 1718-1719, s. v. Amali (da palavra alemã amal
œqnoj.
250 Am. Marc., XXIII, 5, 16: «Namque ut Luculum transeam uel Pompeium, qui per Albanos
et Massagetas, quos Alanos nunc apellamus, etc.». No entanto, os Massagetas e os Alanos são
distintos, conforme lemos em Claud., in Ruf., I, 310 segs.
251 Honório Augusto e Vália são nomeados por Orósio, Hist. adu. pag., VII, 43, 10, 15
segs.
252 O «conde» Constâncio é assim denominado por Orósio, Hist. adu. pag., VII, 42, l, segs.
35, 2463; rei Adoce e não Atace (como escreve Resende), in II, 19, 68 «Alani, qui Vandalis et
Suevis potentabantur, adeo caesi sunt a Gothis, ut extincto Adace rege ipsorum pauci, qui
superfuerant, ... se patrocinio subiugarent»; não há, contudo, qualquer referência a Lisboa,
neste passo, mas sim em II, 30, 188, que refere a presença dos Suevos em Lisboa, como também
em 35, 246; Isid., Hist. Goth., II, 276, 12 ss. (o mesmo assunto).
254 Orósio, Hist. adu. pag., VII, 43, 14.
255 A discussão dos vários nomes a dar às diversas nações é extremamente importante no
texto de Orósio, Hist. adu. pag., VII, 43, 5 segs., na medida em que nele aparecem pela primeira
vez nomes como Romania e Gothia. Quanto à complicada geografia de Orósio, ver Y. Janvier,
La Géographie d’Orose, Paris, 1982.
256 Sebastianus faz parte do «catalogus tyrannorum» apresentado por Orósio, Hist. adu.
2: «informem terris, asperam coelo, tristem culto adspectuque...», muito embora mais adiante
informe quanto à fertilidade (5): «satis ferax: frugiferarum arborum inpatiens: pecorum fecunda,
sed plerumque inprocera...».
259 Gal., Methodus medendi, IX, 8: 'Amšlei taàt'™coÚsaj ¡p£saj ™pˆ tÁj 'Ital…aj ÐdoÝj
Ñ Tra‹anÕj ™ke‹noj ™phgwrqèsata, t¦ m�n Øgr¦ kaˆ phlëdh mšrh l…qoij strwnnÝj, À Øyhlo‹j
™xa…rwn cèmasin, ™kkaqa…rwn d� t£ te ¢kanqèdh kaˆ tracša kaˆ gefÚraj ™pib£llwn toˆj
duspÒroij tîn potamîn. «Era assim que se apresentavam todas as estradas em Itália e foi
Trajano que as reconstruiu, etc. ...».
260 Lucr., De rer. nat., I, 315-316.
261 Estradas reais, que eram as estradas principais e construídas por vezes sobre as antigas
vias romanas. Quanto à feitura das vias romanas, ver R. Chevalier, Les voies romaines, Paris,
1972, entre outros, bem como, quanto às peculiaridades estereotipadas a que se refere Resende,
cf. J. M. Roldán Hervás, Itineraria Hispana, Fuentes antiquas para el estudio de las vias romanas
en la Península Ibérica, supl. de Historia Antiqua, Madrid, 1975, sobretudo as ilustrações XIV-
XXI, no fim.
Notas e Comentários – Livro III 445
difere profundamente do texto na sua versão actualizada. Basta confrontar, neste primeiro caso,
com o itinerário transmitido nos Itineraria Romana, vol. prius, Itineraria Antonini Augusti et
Burdigalense, ed. O. Cuntz, Lípsia, 1929, 416, 4-5; 417, 1-5, p. 64, para vermos que muito difere,
desde a distância total que são 161 mil passos e não 204 mil, bem como a sucessão das diferentes
etapas e respectivas mansiones, cujos nomes não conferem. Temos assim no texto actual: Item
ab Olisipone Emeritam m. p. CLXI, sic: Aquabona m. p. XII; Catobrica m. p. XII; Caeciliana m.
p. VIII; Malateca m. p. XXVI; Salacia m. p. XII; Ebora m. p. XLIIII; Ad Atrum flumen m. p. VIII;
Dipone m. p. XII; Euandriana m. p. XVII; Emerita m. p. VIII. Cf. J. M. Roldán Hervás, Itin. Hisp.,
63-64. Ainda se podem consultar M. Sáa, As grandes vias da Lusitânia, O Itinerário de Antonino
Pio, Lisboa, 1956-64; G. Árias, Portugal a la vista, Mil. Extr., 10, 1965, e Notas complementarias
sobre las vias antoninianas de Portugal, Mil. Extr., 13, 1967. Segundo Roldán, a distância total
de 161 milhas é excessivamente curta e as explicações até agora encontradas insatisfatórias. A
verdade é que a distância apresentada por Resende está mais perto da verdade e até é possível
que seja uma das habituais correcções que o humanista introduz nos textos antigos. Pode
também provir do texto que utilizou. É de extrema utilidade o comentário de J. Alarcão, Portugal
Romano, Lisboa, 1975, pp. 68-74, aos diversos lugares que figuram neste itinerário, visto que
os analisa com excelente conhecimento arqueológico.
265 Não há a menor dúvida de que na Herdade do Pinheiro, perfeitamente localizada por
encontrava a «duas léguas a sudoeste de Évora». Esta inscrição, por várias vezes estudada
devido à importância de que se reveste, no que respeita a informações regionais, é analisada
pormenorizadamente por José d’Encarnação, Inscrições Romanas do Conventos Pacensis,
Coimbra, 1984, n.° 382, pp. 456-458.
271 C. I. L., II, 436*: Huebner afirma a respeito desta inscrição: «Quamquam genuini esse
possunt... tamen propter Eborae, Resendii patriae, mentionem aliaque iam mihi suspecti sunt».
José d’Encarnação, ob. cit., n.° 661, p. 720, muito embora indique que o actual paradeiro é
desconhecido, nem por isso a considera forjada.
272 C. I. L., II, 435*. Huebner, só porque é recolhida por Resende e porque se refere a
Évora, como lemos na frase citada na n. anterior, considera-a suspeita. Segundo José d’Encarnação,
ob. cit., n.° 663, p. 722, não há razão para tanta suspeita, na medida em que os dados são
correctos, excepto no que respeita à distância entre Évora e Barbacena, que é bastante mais
do que os 32,56 km indicados, muito embora o miliário tenha eventualmente desaparecido.
273 C. I. L, II, 432*. O juízo de Huebner segue implacável: «Quamquam fortasse genuina,
suspecta tamen utpote a tali auctore solo relata». O caso não é, contudo, estudado no livro
de Encarnação.
274 Itin. Anton. Pii, 425, 6, 426, 1-6, 427, 1-3, p. 66; Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 77-78: no
texto actual Item de Esuri Pace Iulia. A ordem das mansiones corresponde ao texto de Resende,
bem como as distâncias, só se exceptuando a distância global: em Resende CCLVII, muito
embora a distância indicada de CCLXVII em nada resolva o problema da distância, que é muito
maior, na medida em que o itinerário serpenteia pelo Sul de Portugal, pois não só passa por
446 As Antiguidades da Lusitânia
Alcácer do Sal como por Aroche, etc. Resende e os AA. modernos estão conscientes da falta
de racionalidade do caminho traçado, o que leva a pensar que este itinerário até possa
pressupor três vias. Ver Roldán Hervás, ob. cit., p. 79. Quanto ao topónimo Esuris, também
aparece na forma Besuris (Baesuris), tal como o adopta J. Alarcão, Port. Rom., p. 80, possivelmente
baseado na forma do Anónimo de Ravena, IV, 43, 9. A povoação de Fines, também segundo
J. Alarcão, ob. cit., p. 83, talvez se possa identificar com as Cortes de Messangil, na freguesia
de Vale de Vargo.
275 Itin. Anton. Pii., 431, 4-7, p. 66; Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 78-79. Segundo este A.,
a via não levanta problemas pois até a distância coincide, tal como também reconhece Resende.
Há disparidade no primeiro número: em Resende LXVI, ao passo que na versão actual são
LXXVI.
276 Itin. Anton. Pii., 418, 6, p. 64; Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 64-65, aponta com razão
que o número de milhas conservado, ou seja de XVI, deve resultar do facto de se ter perdido
o número C, o que perfaria a distância aproximada e aceitável de 116 milhas entre Alcácer e
Faro, ou sejam, 116 x 1,480 kms = 171,680 kms.
277 Trata-se do opúsculo já citado na n. 269. O marco é discutido na p. 81 e segs. na ed.
para considerar como «fortemente suspeito» um teminus inter Pacenses et Eborenses, definido
curante P. Datiano v. p. praeside. Não anda longe, contudo, de admitir que o limite do terminus
não estaria afastado de Oriola, na medida em que aí se situa o santuário de N. a Sr. a de Aires,
considerado recentemente como a fronteira sul do território Eborense.
279 Itin. Anton. Pii., 418, 7-419, 6, p. 64; J. M. Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 61-66; J. Alarcão,
Port. Rom., p. 74-75, que apresenta excelente comentário, pois toma em conta os vestígios
arqueológicos. É evidente que a comparação do texto recolhido por Resende com o das edições
mais modernas apresenta diferenças consideráveis na distância total, mas quanto a esta e a
outras permanecem as dúvidas que o próprio humanista já levanta.
280 Via suburipontana, ou seja o caminho por Ponte de Sor, muito embora a mansio seja
denominada Matusaro e a identificação possa levantar dúvidas. Ver Roldán Hervás, Itin. Hisp.,
p. 248. Quanto a Subur, étimo de Sor, não é ele considerado por J. P. Machado, Dic. Onom.
Etim., s. v. Sor, que o faz derivar de Saurium; R. M. Rosado Fernandes, «A etimologia e sua
finalidade em André de Resende, De ant. Lusit.», Homenagem J. Piel, Tuebingen, 1988, p.
248.
281 Itin. Anton. Pii., 419, 7-420, 7, p. 64; J. M. Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 66-67; J. Alcarcão,
Port. Rom., p. 75-77, apresenta a discussão actualizada desta alternativa, sobre a qual subsistem
dúvidas, ainda que não haja variação quanto à distância total entre Olisipo e Emerita, entre
o texto humanista e o actual.
282 C. I. L, II, 439* (Alpiarça): como vemos, Huebner não o considera.
283 C. I. L., II, 4634.
284 C. I. L., II, 4634: diz Huebner: «pro urbis sine dubio orbis corrigendum»; J. d’Encarnação,
Inscr. Rom. Conv. Pac., p. 719, também afirma que «o texto não nos merece confiança», não
só devido à identificação do imperador como também devido ao título em que figura restitutor,
ao passo que o mais comum era pacator orbis.
285 C. I. L., II, 4636; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 666, compara com a inscr.
cit. na nota seg., e aponta que a única discrepância reside na omissão do praenomen
Marcus.
286 C. I. L., II, 4635; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 665. Pertence este miliário
e o anterior à via Olisipo-Emerita por Scallabis e, segundo Encarnação, dataria dos finais de
275 d. C.
287 C. I. L., II, 4637; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n. 678: inscrição do termo de
a atitude de Huebner que não aceita a sua autenticidade, uma vez que a descoberta epigráfica
se tinha ficado a dever exclusivamente a Resende.
LIVRO QUARTO
Alarcão, Port. Rom., pp. 54, 83; Dom. Rom. Port., pp. 33, 40 fig. 8; A. Tovar, Iber. Landesk., p.
172.
4 Ptol., Geogr., II, 4, 15: nomeia 'Aroàci entre as cidades dos Celtas da Bética.
5 Moura é topónimo que provém de Maura, nome visigótico de homem, segundo J. M.
Piel, «Os Nomes Germânicos na Toponímia Portuguesa», Bol. Fil. V (1938), pp. 51 e 53; ver
Antenor Nascentes, Dic. Et. L. Port., II, s. v. Resende refere-se a óbvia etimologia popular.
6 C. I. L., II, 101 *. Huebner considera esta descrição forjada. No entanto o praenomen
por Iacobus Mazochius no ano de 1521 em Roma. É a terceira edição de uma colectânea
epigráfica de Francesco de Albertinis, como lemos na introdução ao C. I. L., VI, l, p. XLVI,
auctor n.° XXI. A inscrição indicada por Resende e cuja leitura é bastante conforme ao original
está na p. 148 e não 149 da ed. quinhentista e é reproduzida no C. I. L., VI, 24 720: D. M. S.
/ M. PONTIVS HIIDISTVS / DANAENI COIVGI BIINII / MIIRIINTI GIICI VIXIT / ANNIS MIICVM
/ TRIBVS. De notar além do E=II apontado pelo humanista, o G=F, bem como o nome da
esposa que é Danaene e não Dene, e o COIVGI e não COIVNGI do lat. arc., que Resende já
refere na carta ao Cardeal D. Afonso (p. 58). Devido às dúvidas levantadas por Huebner (n.
° 6), que nos parecem justificadas, deve tratar-se aqui de um arcaísmo inventado pelo humanista,
uma vez que a inscrição de Moura não parece ser autêntica. Era uma forma de valorizar a
antiguidade da Lusitânia.
Quanto à inscrição romana é de notar que a versão de Resende apresenta o dedicante a
falar no texto na terceira pessoa fecit, apesar do mecum a seguir, ao passo que no texto real
Hedisto fala na primeira pessoa: «Consagrado aos deuses Manes. (Eu) Marco Pôncio Hedisto
erigi [este monumento] a Danene minha mulher tão digna, que comigo viveu três anos».
8 C. I. L., II, 968; quanto a Myrtilis, ver A. Tovar, Iber. Landesk., pp. 170, 189, 210 ss., que
p. 11 segs.
16 Pompónio Mela, Cor., III, 7; A. Tovar, Iber. Landesk., p. 194.
17 Itin. Anton. Pii., 431, 4-7, p. 66; J. M. Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 78; J. Alarcão, Port.
Rom., p. 81; Dom. Rom. Port., pp. 100-101, fig. 20, p. 93, com alguns pormenores importantes
sobre Mértola. A distância de Mértola a Beja coincide efectivamente.
18 Plínio, H. N., IV, 22, 118.
19 Ptolomeu, Geogr., II, 5, 5:
20 Pompónio Mela, Cor., III, 7; ver A. Tovar, Iber. Landesk., p. 205 ss.
21 Plínio, H. N., IV, 22, 118.
22 Ptolomeu, Geogr., II, 5, 3.
448 As Antiguidades da Lusitânia
23 Antonino, Itinerário, Itin. Anton. Pii., 426, 1; J. M. Roldán Hervás, Itin. Hisp., p. 78; J.
Alarcão, Port. Rom., p. 79 e passim; Dom. Rom. Port., pp. 53, 101.
24 Ver Concilios visigóticos y hispano-romanos, ed. José Vives, Consejo Superior de
25 É Resende uma das mais importantes fontes para o conhecimento da obra de Rasis. Ver
de Faro, vedor da Fazenda do Algarve, capitão e governador de Azamor. Ver Damião de Gois,
Crónica do Felicíssimo Rei Dom Manuel, parte III, cap. XLVIII e parte IV, cap. V; Baquero
Moreno, «A Conspiração contra D. João II; O Julgamento do Duque de Bragança», in Arq.
Centro Cult. Port., II (1970), pp. 80-87, informação devida ao Prof. S. Tavares de Pinho.
28 C. I. L., II, 4; J. d’Encarnacão, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 18; propõe, na esteira de uma
hipótese de Huebner e de uma afirmação de Holder, a leitura do nome Caturisa como Caturica,
frequente no Sul da Península.
29 C. I. L., II, 3; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 40.
30 C. I. L., II, 2 (corrigido em II, 5133); J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 11. O
comentário ao poema.
33 Pro sanctis Christi martyribus Vincentio Olisiponensi patrono, etc., ded. a Bartolomeu
Quevedo, ed. de Coimbra, 1790, II, p. 41 segs.; ed. V. Soares Pereira, A. Resende, Carta a
Bartolomeu Quevedo, Coimbra, 1988, p. 73 ss.
34 Pompónio Mela, Cor., III, 7.
35 Sobre o A., ver Sebastião Tavares de Pinho, «Baptista Mantuano na literatura do século
XVI em Portugal», Humanitas, XLI-XLn (1990), pp. 3-29. Como o passo referido por A. R. não
estivesse consignado na ed. utilizada por S. T. Pinho, indicou-nos este posteriormente a edição
dos Opera Omnia em que o passo aparece referido. Ver BAPTISTAE MANTVANI CAR /
MELTTANAE THEOLOGI / AGELARIORVM LIBRI SEX / AD CONSAIVVM [sic] FER / DINANDVM
AGE / LARIVM DVCEM / INVICTIS / SIMVM., Fol. GG iij (vv. 16-30) in Vitima Pars ope/ris
Baptistae Man/tuani Carmelitae./ Impressum. In Florentissima Lugdunesi Ciuitate,/ Solertia.
Stephani de Basignana. Gorgoni Car/melitae. Doctoris. Theologi. In officina./ Bernardi Lescuyer./
Notas e Comentários – Livro IV 449
Tovar, Iber. Landesk., p. 267. Tudo indica que Portus Hannibalis estivesse nas proximidades
de Portimão. Quanto à presença de Aníbal na Lusitânia, nada consta a esse respeito, pois a
notícia que há é a de que o recrutamento dos habitantes da zona teria sido feito quando da
estada do exército de Magão, que em 209 se encontrava no Algarve, bem como da presença
do exército de Gisgão que por essa altura desembarcava na foz do Tejo. A. Shulten admite
que tivesse sido construído por ordem de Aníbal, F. H. A., III, p. 44 e 127.
37 Tito Lívio, XXI, 21.
38 Estrabão, III, l, 4.
39 Plínio, H. N., IV, 22, 116. Quanto a Lisboa e Alcácer, ver pp. 76-79. Sobre Miróbriga na
Lusitânia, ver A. Tovar, Iber. Landesk., 248, 269; a etimologia é contudo discutida na p. 96, a
respeito de Miróbriga na Baeturia.
40 C. I. L., II, 26; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 154: que completa os dizeres
da inscrição, que analisa cuidadosamente. Propõem que o nomen lido por Resende como
Cocilicus seja intrepretado como Cocilicius. Quanto a Vulcano, não encontrámos vestígios da
estátua na bibliografia actual.
41 C. I. L., II, 3*: inscrição atestada somente por Resende e considerada falsa por Huebner.
Kasim, com o s surdo, que significa «que divide, repartidor» (ver J. P. Machado, Influência
Arábica no Vocabulário Português, vol. 2, Lisboa, 1961, pp. 39-40; Dic. Onom, Etim, da L. Port.,
s. v.). A palavra árabe com acentuação aguda foi adoptada em português devido à influência
de dialectos hispânicos que possibilitaram a deslocação do acento no adjectivo «relativo» Kasem,
relacionando com o antropónimo em causa, segundo nos informa também Adel Sidarus.
Quanto a ser Cacém o derivado do nome do tirano mouro local, Cacim, é Resende a única
fonte que o refere.
A imagem de S. Tiago de que temos conhecimento é a que figura num alto-relevo da Igreja
Matriz, obra provavelmente do séc. XIV e que representa o apóstolo a combater os mouros,
Guia de Portugal, II, Estremadura, Alentejo, Algarve, p. 10.
43 Consultar os dois importantes trabalhos saídos em Portugal sobre Bataça ou Vataça (esta
forma mais fiel à leitura bizantina do grego): Maria Helena da Cruz Coelho e Leontina Ventura,
«Vataça – Uma Dona na Vida e na Morte», separata das Actas das II Jornadas Luso-Espanholas
de História Medieval, vol. I, Porto (1987), pp. 159-194, e «Os Bens de Vataça, Visibilidade de
Uma Existência», separata da Revista de História das Ideias, 9 (1987), Faculdade de Letras,
Coimbra, pp. 33-77. No primeiro trabalho, fig. 3, p. 12, é apresentada a árvore genealógica de
Vataça, pertencente à família dos Láscaris.
Havia efectivamente boas relações entre Miguel Paleólogo de Bizâncio e Pedro de Aragão.
Daí a presença de D. Bataça junto a D. Isabel de Aragão, mulher de D. Dinis, a Rainha Santa,
não sem que para tal tenhamos de seguir a complicada história bizantina relatada por Zurita,
deformada ligeiramente por Resende, e que consta nos historiadores de Bizâncio, p. ex., George
Acropolites, Opera, ed. A. Heisenberg, Leipzig, 1903, pp. 88-89; Nikeforos Gregoras, Byzantina
Historia, ed. L. Schopen, I. Bekker, 3 vols., Bona, 1930-45, vol. I, pp. 92-93; Giorgios Pachymeres,
De Michaelo et Andronico Paleologis, ed. I. Bekker, 2 vols., Bona, 1835, I, pp. 180-181.
44 Jerónimo Zurita Valentim, de Saragoça, é o autor de Los cinco libros primeros de la
primera parte de los Anales de la carona de Aragon, Saragoça, 1562, a que se seguem Los cinco
libros pósteros de la primera parte, Saragoça, 1562, completada por uma segunda parte, dividida
igualmente em dois grupos de cinco livros, publicada em Saragoça, em 1579 (ver n. 52).
45 Ioannis Baptistae Egnatii, De Caesaribus libri III, 1516. Cita-se edição impressa em
Florença, 1519, livro II, fl. 33v-37v, sobretudo fl. 26v-37, Lascariorum stemma.
46 O imperador é Aléxio III Ângelo que reinou em Niceia de 1206 a 1259; Nicetes Coniates,
Imperium Alexii Commeni Fratris Isacii Angeli, liv. III, c. 2: PG 139, col. 888: 'O d�
450 As Antiguidades da Lusitânia
BasileÝj qugatšraj Ðrîn Ñrg£daj ™pˆ lšcoj deÚteron di¦ neèthta kaˆ éran sèmatoj ™filokr…
nei... `Rwma…oij aÙt¦j ™kdšdwke, t¾n m�n 'E…r»nhn sun£yaj tù PalaiolÒg wÄ 'Alex… w... Ä t¾n
d ' 'Annan sunhrmÒkei qewdÒr wÄ tù L£skari, nean… aÄ tolmht… aÄ kaˆ `ragda… wÄ prÕj œrga
polšmia.
Quanto a Nicetas, ver. A. P. Kazhdan, The Oxf. Dict. Of Byz., s. v. Choniates, Nicetas.
É contudo no liv. II, c. 5, col. 876, que se diz que as filhas do imperador eram viúvas:
basile‹ m�n g¦r oâk Ãn di£docoj uƒÕj tÁj ¢rcÁj, du£zousai d� qugatšraj, kaˆ aátai tîn
suneÚnwn mikroà spanizÒmenai.
47 I. Bapt. Egnatio, De Cães., fól. 37. «Imperator Alexius cognomento Angelus, ...Theodoro
Lascari filiam despondit, dotis prenomine imperii titulos genero tribuit huic mascula proles ex
uxore nulla, foemina tantum Irene filia fuit, quam Ioanni Batazio in matrimonium iunxit,
imperiumque illi per manus tradidit». Batázio diz Egnácio e não Diplobatázio. O texto de
Resende, quanto ao resto, segue pari passu o do humanista veneziano.
48 Nicetas Coniates, Líber de rebus post captam vrbem gestis, col. 1014, PG 139: `O m�n g¦r
Maurozèmhj Manou¾l tÕn KaisorÒhn ØpodÝj, oÙ p£nu prÕ polloà tÍ sfetšr aÄ qugatrˆ
sonafqšnta kaˆ tÁj 'Iconiarc…aj, aáqij labÒmenon... kaˆ t¾n Óshn pot…zei Ma…androj ™piën,
met¦ ToÚrkwn crou£menoj ™ke‹non tÕ ™ruqrÕn pšdilon ØpodÚetai kaˆ BasileÚj `Pwma…wn Ûf
Ólwn tîn ™ówn ¢nagoreÚetai pÒlewn. Os sapatos vermelhos, bem como as vestes de púrpura,
eram as insígnias imperiais.
49 Nicéforo Calisto, Enarratio de Episcopis Byzantii et de patriarchis omnibus Cpolitanis,
PG, 147, col. 465 (c do texto latino) refere 'Iw£nnej Ð DoÚkaj Bat£tzhj; o nome completo do
historiador é Xanthopoulos, Nikephoros Kallistus, ver art. de A. M. Talbot, em Oxf. Dict. of Byz.,
s. v.
50 Ioannes Zonaras, Epitome Historiaram, ed. L. Dindorf, Leipzig, 1871, vol. IV, XVII, 23
(=PG Migne, II, 253), pp. 166-167, refere efectivamente Vatazes por lhe terem arrancado os
olhos: `/Oti ™tuflèthsan Ð Torn…kioj kaˆ Ð Bat£tzhj. Sobre Zonaras, ver A. P. Kazhdan, Oxf.
Dict. Of Byz., s. v. Zonaras, John.
51 Segundo Zurita, Miguel Paleólogo não matou João IV, mas «le hijo siendo moço innocente,
hijas dela infanta de Corecia que casaron eneste reyno y dela donation que hijo la Emperatriz
de Constantinopla al rey de Aragon», apresenta uma versão diferente da de Resende e mais
próxima das fontes bizantinas.
53 Esta inscrição, hoje ilegível, é referida por Maria Helena da Cruz Coelho e Leontina
Ventura no art. «Vataça – Uma Dona na Vida e na Morte», citado na n. 43, p. 38, n. 38, bem
como o túmulo da Domina, fig. 7. No art. também citado na n. 43, das mesmas AA., «Os Bens
de Vataça...», não aparece contudo o pormenor do Santo Lenho.
54 Ptol., Geogr., II, 5, 3: KaitÒbrix, que etimologicamente nada tem a ver com kÁtoj «monstro
marinho», donde deriva o port. cetáceo: M. Isabel Rebelo Gonçalves, «Nota Morfológica sobre
o lat. cetus», Euphrosyne, I (1967), pp. 187-190. Além disso o topónimo lat. é Caetobriga e não
Cetobriga (cf. n. 58); A. Tovar, Iber. Landesk., p. 215 ss.
55 Hor., Sat., II, 5, 44.
56 C. I. L., II, 41=ILER 4667; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 211, informa (p.
280) que «foi encontrado ‘avulso’ nos sedimentos de Tróia» e que o seu paradeiro é desconhecido.
Refere igualmente a localização indicada por A. Resende. Quanto à estátua de Júpiter-Ámon
(do deus Amana, depois Amun, de Tebas no Egipto, ver Der Kl. Pauly, s. v. Ammon) não
conseguimos encontrar notícia, nem da estátua nem do culto na Lusitânia; J. Alarcão, Dom.
Rom. Port., 167 ss ( Júpiter).
57 Informações gerais sobre os Visigodos e o Rei Vamba são dadas por F. Almeida, s. v.
Visigodos, Dic. Hist. Port.; textos e moedas a ele referentes encontram-se em R. Grosse, F. H.
A., IX, Las fuentes de la época visigoda y byzantina, sobretudo pp. 323-342, onde faz a recolha
de passos da Historia Wambae regis auctore Iuliano episcopo, ed. W. Levison, M. G. H., Script.
Rer. Meroving., V, pp. 486-535 e de outras obras da história visigótica. L. Vazquez de Parga,
La División de Wamba. Contribuición ai estudio de la Historia y Geografía eclesiásticas de la
Notas e Comentários – Livro IV 451
Edad Media española, Madrid, 1943; L. de Sousa Rebelo, «A Lenda do Rei Bamba: parábola do
poder real», Arq. Centro Cult. Port., XXIII (1987), pp. 303-317. Vamba reinou de 627 a 680.
58 J. Alarcão, Port. Rom., pp. 68-69, afirma que «a palavra não deriva de Caetobriga, ainda
que o aparente.»; J. Leite de Vaconcelos, R. L., II, p. 21: «Caetobriga, que mal pode identificar-
se com as ruínas romanas de Tróia de Setúbal; Caetobriga devia ser, na origem, pelo menos
como o nome -briga o indica, uma altura fortificada».
59 Florião do Campo, Los cinco libros primeros dela Crónica general de España, vol. I,
Medina del Campo, 1553 (cf. n. 106 do livro I desta ed.), fls. 22, 95v, 96: Tubal «nuestro primero
poblador» (fl. 95v) deu nome a Setúbal, topónimo que segundo Afonso de Castela tem a sua
origem no seth caldeu. Quanto à sua etimologia não é ela diferente da que encontraremos
algumas décadas depois em Fr. Bernardo de Brito e em Faria e Sousa. R. M. Rosado Fernandes,
«Ulisses em Lisboa», Euphrosyne, XIII (1985), p. 150 ss. Não está, contudo, afastada a hipótese
de o nome de Setúbal derivar de facto de Caetobriga (lido Cetobriga) por intermédio dos
Árabes, conforme lemos em A. Nascentes, Dic. Et. L. Port., II, s. v.
Quanto ao comércio, ver entre outras obras a de V. Rau, A Exploração e o Comércio de Sal
de Setúbal, vol. I, Lisboa, 1951.
60 Pro colonia Pacensi, ed. Coimbra, 1790, II, p. 7 ss. e especialmente 13-15. Ver A. Tovar,
bibliografia em bibliografia, como Barbosa Machado, Bibl. Lus., I, 170; Nicolau António, Bibl.
Hisp. N., I, 85; Quétif, Script. Ord. Praedicatorum, II, 225, todos já considerados por Braamcamp
Freire, na n. 223 de Leitão Ferreira, Vida de André de Resende, A. H. P., IX (1914), p. 219.
62 Estr., III, 2, 15: PaxaugÒusta situada ™n to‹j Keltiko‹j. A. Schulten, F. H. A., VI, p. 193
(ed. de Estrabão) diz-nos que só neste passo denomina Beja de Pax Augusta. De resto sempre
Pax Iulia. Admite a hipótese de que Beja tenha sido projectada por J. César e terminada por
Augusto.
63 Ptol., Geogr., II, 5, 5: P¦x 'IoÚlia.
64 De Apríngio, bispo de Beja, chegou até nós o fragmentário Tractatus in Apokalypsin,
publicado por N. Férotin, Apringius de Beja – Son commentaire de l’Apocalypse, Paris, 1900,
bem como A. C. Vega, Apringii Pacensis Episcopi Tractatus in Apocalypsin, Scriptores Ecclesiastici
Hispano-Latini Veteris et Medii Aevii, Fasc. X-XI, Escorial, 1940. Cf. Diss. policopiada, apresentada
à Fac. Letras de Lisboa, de J. Cunha Antunes, Leitura Crítica do Tractatus in Apokalypsin de
Apríngio, Bispo da Igreja de Beja, Lisboa, 1973, que discute com pormenor as ideias e o texto
de Apríngio e sua tradição manuscrita, cuja tradução apresenta.
65 Isidoro de Beja ou de Badajoz seria no séc. VIII o continuador da História de S. Isidoro
de Sevilha. É citado por Vaseu no cap. 4 do Chronicon (ver n. 57 do livro III) e o seu estilo
bárbaro é criticado pelo mesmo autor, fl. 4v. Segundo Mommsen, M. G. H., Chronica Minora,
II, Berlim, 1894, p. 328, é da identificação aventada por Vaseu que depende o nosso humanista:
«Ab hac coniectura pendent quae de Isidoro Pacensi horum chronicorum auctore scribunt
Resendius... et Peresius...». Sobre este assunto ver a informação dada por V. Soares Pereira, A.
R., Carta a Bartolomeu Quevedo, Coimbra, 1988, pp. 155 e 200, n. 244; M. Diaz y Diaz, Índex
Scriptorum Latinorum Medii Aevi Hispanorum, Madrid, 1959, 397, onde se regista como Anónimo
o A. da Chronica mozabarica, considerada por Mommsen, ob. cit., pp. 334-368, entre as
Continuationes Isidorianae, Byzantiae, Arabicae et Hispanae. O texto também é publicado
por Migne, P. L., 96, 1253-1280, como anteriormente por H. Florez, España Sagrada, 6 (2. a ed.
1773), pp. 430-441 (crónica de 741), 8 (2. a ed. 1769), pp. 282-325 (crónicas de 754).
66 Sisenando martirizado em Córdova em 16 de Julho 851. O seu martírio é referido no
67 C. I. L., II, 52. A. Resende não desenvolve suficientemente os dizeres da inscrição, como
podemos ver pelas leituras de Huebner e J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 233 (p.
306), que lêem BIS PRAEF (ectus). FABRVM. Assim, no que ainda é reconstituível deve ler-se:
«Gaio Júlio, filho de Gaio, duúnviro pela segunda vez, prefeito dos artífices». Terá sido um
magistrado municipal.
68 C. I. L., II, 56: a leitura de A. R. difere da apresentada por Huebner e por J. d’Encarnação,
Rom. Conv. Pac., n.° 236 (p. 309). Subsistem, contudo, dúvidas quanto à sua autenticidade,
pois não é sem razão que pode pensar-se ter sido a inscrição forjada por A. Resende, a fim
de criar um cargo de currículo transparente.
70 C. I. L., II, 66: confere o texto de Resende com o de Huebner e J. d’Encarnação, Inscr.
Rom. Conv. Pac., n.° 271 (pp. 344-345), que data a inscrição do séc. I d. C.
71 C. I. L., II, 55 e J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 242 (p. 316), que não admite
podia deixar de ser, merece esta inscrição, pela sua importância no respeitante ao culto
imperial, um comentário alargado por parte dos eruditos portugueses, conforme demonstra a
resenha de J. d’Encarnação. Há que introduzir acrescentamentos como, p. ex., Titus antes de
Aelius, bem como o D. D. de Decreto Decurionum antes do dedicauit. De resto, a inscrição
ainda existe em Beja, nos Paços do Conselho.
77 Inscriptiones Hispaniae Christianae, 3 (ver n. 116).
78 C. I. L, II, 102; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 313 (p. 386): trata-se de uma
inscrição ainda existente no Museu Regional de Évora, cuja proveniência coincide com a
indicada por A. R. A leitura de A. R. é correcta e nada há a alterar.
79 Não é possível localizar qualquer baixo-relevo que corresponda a esta descrição, pelo
menos por agora. Ver o levantamento geral da arte Romana em Portugal no Corpus Signorum
Imperii Romani, Corpus der Skulpturem der roemischen Welt, Portugal, Coimbra, 1990.
80 Esta carta a João de Barros é citada pelos bibliógrafos mais importantes, como nos indica
Braamcamp Freire, Vida de André de Resende, A. H. P., IX, 1914, p. 199, n. 172; 311, n. 19; 317.
Consideram, no caso de Nicolau António, Bibl. Hisp. Nova, I, 1672, 67, que este não viu a
carta. Quanto a Rodrigo de Toledo, é este considerado em Nicolau António, Bibl. Hisp. Vetus,
II, 49 ss., como Rodricus Simonis, «vulgo Ximenez, Archiepiscopus Toletanus». Vid. M. Diaz y
Diaz, Index Scriptorum Latinorum Medii Aevi Hispanorum, vol. II, Salamanca, 1959, n.° 1241,
p. 266, Rodericus Ximenez de Rada, autor no séc. XIII dos Rerum in Hispania gestarum libri
IX seu historia gothica.
É evidente que Resende, no que toca ao nascimento de Elvira e Teresa, toma a posição
de defesa do bom nome português, apesar de ser geral a convicção de ilegitimidade quanto
ao seu nascimento; ver Maria E. Cordeiro Ferreira, Dic. Hist. Port., s. v. Teresa, Condessa D.;
J. Mat-toso, Identificação de um País, 2 vols., Lisboa, 1985, passim.
81 Ver L. F. Lindley Cintra, «Sobre a Formação e Evolução da Lenda de Ourique (até à
Crónica de 1419)», in Miscelânia de Estudos em Honra do Prof. Hemâni Cidade, Lisboa, 1957,
pp. 168-215; J. Mattoso, Identificação de Um País, Ensaio Sobre as Origens de Portugal, 1096-
1325, Lisboa, 1985, I, p. 173; II, p. 189, 204, 209; Martim de Albuquerque, A Consciência
Notas e Comentários – Livro IV 453
Nacional Portuguesa, Ensaio de História das Ideias Políticas, I, Lisboa, 1974, p. 340 ss; M. T.
Campos Rodrigues, Dic. Hist. Port., s. v. Ourique, Milagre de.
82 Há de facto uma referência à batalha de Ourique no poema Vicentius Leuita et Martyr,
Liber posterior, B, vi v. e vii r., a que correspondem as notas 25, p. 39, e sobretudo a 29, p.
41 das adnotationes. Não coincidem em nada com os versos do nosso texto, excepto nalgumas
imagens «ubi castra, cruore tincta nigro» que corresponde ao «tellus tanto est imbuta cruore»;
trata-se certamente de um outro poema que não identificámos.
83 Quanto à data de Ourique, que é efectivamente 1139, ver M. Teresa Campos Rodrigues,
para Colares se aventa etimologia idêntica. Ver A. Nascentes, Dic. Et. Líng. Port., II, s. v.
86 C. I. L., 9*. Segundo julgamos, trata-se de uma excelente invenção de A. R., que com
ela pretende criar a imagem do bonus Lusitanas, espécie de bom selvagem, a fim de nobilitar
a origem dos Portugueses. Ver R. M. Rosado Fernandes, art. cit., p. 502 e segs; José d’Encarnação,
«Da Invenção de Inscrições Romanas pelo Humanista André de Resende», Biblos, LXVII (1991),
p. 193 ss.
87 C. I. L., II, 489*.
88 C. I. L., II, 31; José d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 181 (p. 250). A única
referência a este monumento provém de A. Resende e é aceite por Huebner bem como por
Encarnação. Interessante notar os dativos femininos em -e por -ae do latim vulgar e medieval.
De notar também o termo marita em vez de uxor, bem como o nome Thalassinus, que deve
indicar tratar-se de um liberto. Encarnação afirma tratar-se de «texto não anterior ao séc. II».
89 C. I. L., II, 4*. Parece tratar-se de outra inscrição forjada.
90 C. I. L., II, 30; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 180 (p. 249): não se trata de
92 Estrabão, IV: 2: T¦ d� metaxÝ toà Garoàna kaˆ toà Le…ghroj œqnh t¦ proske…mena to‹j
'Akouitano‹j ™stin `Elouoˆ mšn ¢pÕ toà `Rodanoà t¾n ¥rchn œcontej. A. Nascentes, Dic. Et.
Líng. Port., II, s. v. Elvas atribui ao topónimo origem desconhecida. ELVIA aparece contudo
em inscrições: C. I. L., II, 154; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 587 (p. 651); C. I.
L., II, 135 (n. 105); e Heluius, em C. I. L., II, 143 (n. 100); A. Tovar, Iber. Landesk., p. 218-
221.
93 Plínio, H. N., III, 4, 36 (Alba Helvorum); XIV, 43 («in Narbonensis provinciae Alba
Helvia»).
94 C. I. L., II, 555; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 586 (p. 650): a leitura difere
reservas, e justificadas a nosso ver, quanto a esta inscrição, na medida em que aponta para
diversos aspectos, como o do cognome Anthymius, que em nada se coadunam com a realidade
epigráfïca do território.
97 C. I. L., II, 153; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., p. 632, também duvida da
autenticidade desta inscrição aceite por Huebner sem demasiadas reservas. Quanto à lenda
de Beltrão, refere-se esta a Bertrand du Guesclin [1315 (ou 1320) – 1380], Condestável de
França e herói lendário.
98 Inscriptiones Hispaniae Christianae, 5*. Trata-se de mais um caso pseudo-epigráfico.
99 C. I. L., II, 144; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 571 (p. 637). Quot está por
desenvolver 1.5 a abreviatura S. como suum e não como soluens. De Helvius, nome gentilício
que aparece também numa inscrição de Mértola, procurou Huebner deduzir a etimologia de
Elvas.
101 C. I. L., II, 145; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 572 (p. 638), propõe a mesma
solução de suum e não soluens ou soluit. Quanto a nós e fundamentando-nos nos mesmos
exemplos dos n.os 570, 571, 572, preferimos o uotum soluens, na medida em que não é frequente
em latim o possessivo relacionado com o sujeito em casos como este. Assim uotum soluens é
muito preferível ao uotum suum... posuit, sintacticamente e semanticamente pouco aconselhável,
Votum... posuit já significaria realizou o seu voto, ou a sua promessa. O n.° 571 atesta até a
construção bipartida com dois verbos: uotum quod fecit, animo libens posuit. Porque não
uotum soluens, animo libens posuit, com perfeito e particípio presente? De facto, suum é
redundante em latim, ainda que pode ser admissível num latim de província; no entanto, a
construção solvens... posuit parece mais correcta e com o exemplo do n.° 571 até poderemos
pensar em soluit... posuit, como fecit... posuit pagou a sua promessa e... colocou (subentende-
se monumentum).
102 C. I. L., II, 148; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 466 (p. 546-547), não discute
o sentido a dar ao dat. matri, no contexto da inscrição. Em vez de Semnine deve ler-se
Semnus.
103 C. I. L., II, 131; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 492 (p. 572-573); D. Teodósio
é o 5.° Duque de Bragança, falecido em 1563, ver F. Castelo-Branco, Dic. Hist. Port., s. v.
Teodósio I, D.
104 C. I. L., II, 127; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 483 (p. 564).
105 C. I. L., II, 135; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 510 (p. 587-588): gravado
de uma promessa que acaba por ser cumprida pela mãe de quem a tinha feito.
Notas e Comentários – Livro IV 455
107 C. I. L., II, 129; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 488 (p. 568-569), que nos
apresenta a leitura corrigida, na medida em que o T(estamento) e o dat. numini são lidos
como I(ussu) e, portanto, gen. numinis. Temos assim: Deo Endovellico sacrum. Ad relictitium
(?) ex iussu numinis, Arrius Badiolus animo libens fecit. «Consagrado ao deus Endovélico, para
a posteridade (?), por mandado da divindade, Árrio Badíolo fez de bom grado».
108 C. I. L., II, 139; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 526 (p. 603-604).
109 C. I. L., II, 132; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 494 (p. 574-575): a fórmula
segundo hipótese de Escalígero, transmitida por Huebner, poder admitir-se que Manilia seja
correspondente a mamma (ama). Teríamos assim uma correcção desta sucessão de dois
gentilícios.
111 Não refere A. R. o carácter curandeiro de Endovélico, deus certamente de origem céltica
na liturgia bracarense em 1508. Teria sido um dos discípulos escolhidos por S. Tiago na
Hispânia, e por ele ordenado bispo da igreja bracarense. Ver J. Ferreira, Origens do Cristianismo
na Península Hispânica – A Vila de Rates, Sua Igreja e Seu Mosteiro, Póvoa de Varzim, 1912;
Avelino de Jesus da Costa, «S. Pedro de Rates – Um Problema Histórico-Litúrgico» in Diário do
Minho de 25 e 26 de Abril de 1948 e art. s. v. na Encicl. Verbo; S. da Silva Pinto, O problema
de S. Pedro Mártir, 1.° Bispo de Braga, Braga, 1958.
114 C. I. L., II, 147; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 465 (p. 545-546): a leitura
ex., concordância do acusativo masc. hunc com o neutro edificium, oc em vez de hoc, ceptum
em vez de captum que poderia existir em compostos como inceptum, que aliás é a forma a
considerar) como epigráfica. A possibilidade de se tratar de uma inscrição com pretensões
métricas também não é descurada (pp. 212-214).
A inscrição, cuja tradução em português apresentada no texto é da autoria de Geraldes
Freire, é vista como gothica neste passo de Resende, que já a dera a conhecer «cum suis
soloecismis» a Ambrósio Morales, numa carta de 19 de Março de 1570: L. Andr. Resendii Lusitani,
ad epistolam D. Ambrosii Moralis viri doctissimi inclitae academiae complutensis rhetoris, ac
regii historiagraphi responsio, publicada nas L. Andr. Resendii... Opera, Coimbra, 1790, vol. II,
p. 158 ss.
Quanto à interpretação dada por Geraldes Freire a gothica no sentido de bárbara, admitimos
que assim seja pelo menos em parte. Os Godos eram considerados como pertencentes à Idade
das Trevas, ou seja, à Idade Média, na conotação lançada a seu tempo por Petrarca. Este
sentido é reforçado pela referência cum soloecismis feita por A. R. a Morales. Devido contudo
à proximidade, do próprio De antiquitatibus, de um capítulo histórico sobre os Godos, julgamos
que seria imprudente neste contexto traduzir gothica por bárbara, e assim nos limitámos a
traduzir o adjectivo por «do tempo dos Godos», embora não esquecendo a «avalanche gótica
ou bárbara» que Resende claramente refere na carta ao Cardeal D. Afonso (p. 58).
117 C. I. L., II, 32; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 183 (p. 254-255), que faz
extenso comentário a este rico monumento e a toda a sua simbologia, ligada ao culto de
Júpiter, que foi encontrado, tal como diz Resende, na Capela de S. João dos Azinhais, Torrão,
Alcácer do Sal, e que hoje se conserva no Museu Regional de Évora.
118 C. I. L., II, 5*: esta inscrição é considerada forjada, o que não é difícil de compreender
se virmos o tipo de história breve contada pelo suposto lapidarius e pela dedicante; José
d’Encarnação, «Da Invenção de Inscrições Romanas pelo Humanista André de Resende», Biblos,
LXVII (1991), p. 204 ss.
119 C. I. L., II, 37; J. d’Encarnação, Inscr. Rom. Conv. Pac., n.° 196 (p. 269): da mesma
ESCÓLIOS
1 Ver p. 92 da trad.
2 Ver p. 92 da trad.
3 Ver p. 92 da trad.
4 Ver p. 92 da trad.
5 Ver p. 92 da trad.
6 Ver p. 92 da trad.
7 Ver p. 94-95 da trad.
8 Ver p. 96-97 da trad.
9 Ver p. 98-99 da trad.
10 Ver p. 100-101. Pelo Comentário de Mendes de Vasconcelos, vemos, a admitir que o
texto tenha sido impresso correctamente, que há confusão entre Norte (de toda a Espanha) e
costa ocidental (e não setentrional da Lusitânia).
11 Ver p. 100-101 da trad.
12 Ver p. 114-115 ss. da trad.
13 Bluquerium ou p. Bluqueria, indica o Prof. Aires do Nascimento, mais não é do que a
e guarnecido de ferro, aço ou cortiça, no caso de ser utilizado para a esgrima. Veja-se que
Resende refere a imagem simbólica da Hispânia que aparece na obra de Ambrósio Morales:
La Coronica General de España, que continuava Ambrósio de Morales, natural de Córdova,
Coronista del Rey Catholico nuestro Señor don Philipe Segundo deste nombre, y catedrático de
Rhetorica en la Universidad de Alcala de Henares (continuação dos 5 livros da Crónica de
Florião do Campo), Alcalá de Henares, 1574, vol. I, fól. VI, v. da parte introdutória ao livro
VI e segs., continuação, como se disse, dos 5 livros de Florião do Campo. A mesma efígie
aparece no vol. II, livros XI e XII, Alcalá, 1577, fól. 18 da introdução, e está reproduzida no
frontispício deste livro. Trata-se efectivamente, como nos indica A. Morales, da representação
da Hispânia em moedas de Galba, muito raras. Cf. H. A. Seaby, Roman Silver Coins, vol. II,
Londres, 1968, p. 18; o mesmo lemos em Sylloge Nummorum Romanorum – Italia, a cura di
Rodolfo Martini, Milão, vol. II, 1991, pp. 42 e 43: «Hispania paludata, stante a s., regge com
la mano d. protesa, spighe digrano e con la s., scudo rotondo e due lance verticali. Contorno
perlinato.»
14 Cf. J. M. Roldán Ervás, Itin. Hisp., p. 245.
15 Cacia? Ver J. Alarcão, Port. Rom., p. 98
16 Ver J. Alarcão, ob cit., p. 89, Coimbra.
17 Ver J. Alarcão, ob cit., p. 88-89: S. Sebastião do Freixo.
18 Perto do Tramagal. Ver J. Alarcão, ob cit., p. 80.
19 Todos estes nomes devem ser controlados com os trabalhos de Roldán Hervás e de J.
Alarcão, porque muitas das indicações feitas por Mendes de Vasconcelos são discutíveis, além
de que alguns topónimos nem sequer aparecem no texto de Resende.
20 Albert Krantz, Wandalia, I, 20. Trata-se de um humanista de Hamburgo dos sécs. XV-
XVI (1448-1517), que se ocupou da história dos povos do Norte da Europa e da Saxónia (ver
Neue Biographie, Berlim, vol. XX, s. v.). A obra referida intitula-se A. Kranzii viri in Theologia
et iure pontificio celeberrimi, historicique clarissimi; Wandalia, de Wandalorum vera origine,
variis gentibus, crebris et patria migratonibus, regnis item, quorum vel autores vel eversores
fuerunt, Francofurti, ex officina typographica Andreae de Wecheli, MDLXXV. Nesta edição
também há um apêndice sobre a Polónia e a Prússia. De interesse, no livro I, o prefácio onde
fala de Beroso, e os caps. 26-27 em que se ocupa brevemente da Hispânia e da Lusitânia e
da unificação dos povos germânicos.
21 Ver p. 346-347 desta edição
22 Ver p. 354-355 desta edição
23 Ver p. 360-361 desta edição
(Página deixada propositadamente em branco)
BIBLIOGRAFIA
(Página deixada propositadamente em branco)
BIBLIOGRAFIA
Evitaremos sobrecarregar a consulta desta bibliografia com a indicação das edições correntes
dos textos clássicos, gregos, latinos e bizantinos citados. Provêm elas das mais conhecidas
colecções de textos clássicos: Teubner, Belles Lettres, Oxford e, nalguns casos, Loeb. As
edições mais especializadas, contudo, poderão ser encontradas nesta bibliografia. As grandes
colecções de textos antigos históricos, bem como de enciclopédias, aparecerão citadas nas
notas de forma abreviada, que será desenvolvida nas siglas.
I – Siglas gerais
Libri Quattuor De Antiquitatibus Lusitaniae a Lycio Andrea Resendio olim inchoati & a Iacobo
Menoetio Vasconcello recogniti atque absoluti. – Acessit liber quintus de antiquitate municipii
462 As Antiguidades da Lusitânia
Eborensis ab eodem Vasconcello conscriptus, quo etiam autore, secundus tomus quinque alios
libros continens, cito, deo opt. max. fauente, in lucem prodibit. ...Excudebat Martinus Burgensis
academiae typographus, Eborae anno 1593. É esta a edição princeps utilizada neste livro como
texto latino em que se fundamenta a tradução portuguesa apresentada. É também pela sua
paginação, indicada entre colchetes dentro do texto latino e português da presente edição,
que a tradução se orienta.
Historia da antiguidade de Cidade de Évora fecta per meestre Andree de Reesende, 3. a ed.,
copiada da 2. a ed. de 1576, Lisboa, Of. Simão Thaddeo Ferreira, 1783.
L. André de Resende, História da Antiguidade da Cidade de Évora, em Obras Portuguesas,
pref. e notas de José Pereira Tavares, Lisboa, 1963, pp. 1-69 e a ed. latina acima referida, L.
Andr. Resendii de antiquitatibus Eborae, in L. Andr. Resendii Eborensis Opera Historica, Coimbra,
1790, vol. II, pp. 295-352.
L. Andr. Resendii Pro Sanctis martyribus Vincentio, Olisiponensi Patrono, Vincentio, Sabina
et Christhetide, Eborensibus civibus et ad quaedam alia responsio (Epistola ad Kebedium), in
Opera Historica, Coimbra, 1790, vol. II, pp. 33-117. Edição recente e de excelente qualidade
histórica e filológica por Virgínia Soares Pereira, André de Resende, Carta a Bartolomeu de
Quevedo, Coimbra, 1988.
L. Andreae Resendii, Vicentius Levita et Martyr, in Opera Historica, Coimbra, 1790, vol. II,
pp. 162-283, importante não só devido ao poema, como aos escólios sobre este elaborados, que
contêm inúmeras informações históricas e arqueológicas. Edição actualizada e extremamente
erudita e informativa de J. V. de Pina Martins, André de Resende. Vicentius Levita et Martyr.
Reproduction en fac-simile de l’édition de Luís Rodrigues, Lisbonne, 1545, Braga, 1981.
A Vida de André de Resende de Diogo Mendes de Vasconcelos, que traduzimos do latim,
aparece traduzida em vernáculo por Bento José de Sousa Farinha, na obra por este publicada,
Colleçam das Antiguidades de Évora, escriptas por André de Rezende, Diogo Mendes de
Vasconcelos, Gaspar Estaco, Fr. Bernardo Brito e Manoel Severim de Faria, Lisboa, Off. de
Filippe de Silva e Azevedo, 1785.
Quanto a referências fortuitas a outros opúsculos de Resende, são elas tiradas dos dois
volumes da edição de Coimbra de 1790 dos Opera Historica, já citados.
Acropolites , Georgios
— Opera, ed. A. Heisenberg, Leipzig, 1903.
A guiló , Cabré
— «La caetra y el sartam en Hispania durante la segunda Edad de Hierro»,Boletín del
Seminario de Estudio de Arte y Arqueología, Valladolid, VI (1936-1940), p. 57 ss.
A larcão , Jorge de
— O Domínio Romano em Portugal, Lisboa, s. d. (1988).
— «Os Montes Hermínios e os Lusitanos», in Livro da Homenagem a Orlando Ribeiro, Vol.
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— Les divisions administratives de l’Espagne romaine, Paris, 1923.
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A lciato
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quod interest, liber unus in tres Codicis, lib. III, Praetermissorum lib. II, Declamatio una, De
Stip. divisionibus, Commentariolus, Lugduni, apud Sebastianum Gryphium, MCXXXVII.
— In P. Cornelium Tacitum B. Rhenani, Alciati ac Beroaldi. Eiusdem B. Rhenani thesaurus
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464 As Antiguidades da Lusitânia
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— Omnia quotquot extant Divi Ambrosii Episcopi Mediolanensis. Opera, per Des. Erasmum
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— Amphiteatrum Legale... seu Bibliotheca Legalis Amplissima... Quinque Partibus Divisa...
Authore Augustino Fontana,... Parmae, MDCLXXXVIII.
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professore J. Annio hac serie declarata, venundantur ab Joanne Parvo et Jodoco Badio,
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ÍNDICE
DOS PASSOS CITADOS DE AUTORES GRECO-LATINOS
A enumeração dos loci citati faz-se pela simples indicação do número da nota em que aparecem,
no seguimento de cada um dos quatro livros de Resende ou da abreviatura dos textos iniciais ou dos
escólios finais. Pelo número da nota poderá o leitor facilmente localizar a página do De antiquitatibus,
em que Resende cita e comenta a sua fonte greco-latina.
S. Ambrósio Ausónio
Sermo XXX, De Sancta Quadragesima, XIV, Camina, X, Mosella, 127, II, n. 78.
II, n. 39.
Hexaemeron, V, 3, 6, 81 F, II, n. 40. De bello Alexandrino, 48, I, n. 191.
Aristóteles Catulo
Historia animalium, II, 13, 505 a, II, n. 33; Carmina, 14, 1-2, Vida A. R., n. 21; 26, 18-19,
IX, 15, 44, II, n. 10. III, n. 189.
Arriano César
Anabasis, II, 16, 5, III, n. 4. De bello ciuili, I, 38, I, n. 67; 43-44, III, n.
196, 200; 48, I, n. 155, 156.
Ateneu De bello Gallico, III, 20, III, n. 173.
Deipnosofistas, I, II, n. 149; III, 118 b-c, II, n.
16; VII, 294 f, II, n. 27, 31; 302, I, n. 10; Cícero
312 b-c, 315, e, II, n. 16; 327 f, II, n. 38; Brutus, XXI, 80, III, n. 97; 84, III, n. 126; XXII,
VIII, 330 c, II, n. 73; 331 b-c, II, n. 148. 89-90, I, n. 136.
De diuinatione, XX, 66, I, n. 137; III, n. 97.
Aulo Gélio Epistulae ad familiares, XXXIII, 3, n. 213.
Noctes Atticae, IV, 15, 1, Carta Cardeal D. De fato, frag. V, II, n. 20.
Afonso, n. 3. VII, 16, II, n. 30. De lege agraria, II, 19, 51, II, n. 86; 30, II, n.
186.
De natura deorum, 3, 45, I, n. 6.
476 As Antiguidades da Lusitânia
De oficiis, I, 30, 108, I, n. 148; II, 11, 40, III, Diodoro Sículo
n. 125. Biblioteca, V, 43, 4, I, n. 124; XXV, 10, III, n.
De oratore, I, 227, I, n. 136. 14.
In Verrem, 11, 4, 57, 128, I, n. 6.
Dion Cássio
C. I. L. História Romana, VII, 15,91, II, n. 109; XXXVII,
I – 1, III, n. 164, 185; 1, p. 26, III, n. 52, I, n. 205; II, n. 109; 52, 3, I, n. 149;
157. 52-53, 26, I, n. 149; XLIII, 33, III, n. 193;
II – 3*, IV, n. 41; 4*, IV, n. 89; 5*, II, n. LIII, 12, 3-11, III, n. 216; LVII, 19, 4, III,
118; 6*, IV, n. 121; 7*, IV, n. 122; 8*, 111, n. 108; LXVI, 29,5, III, n. 108.
n. 266; II, 9*, IV, n. 86; 17*, III, n. 278;
18*, I, n. 80; 20*, III, n. 139; 21*, III, n. Dioscórides
136; 22*, II, n. 95; 25*, III, n. 50; 30*, I, De medica materia, IV, 1, I, n. 91.
n. 176; 40*, XI, III, n. 142; 51*, III, n. 140;
75*, I, n. 121; 101*, IV, n. 6; 432*, III, n. Donato
273; 433*, III, n. 268; 434*, III, n. 267; Vita Vergilii, 80, 81-82, Carta Cardeal D.
435*, III, n. 277; 436*, III, n. 271; 439*, III, Henrique, n. 4.
n. 282; 441*, III, n. 288; 489*, IV, n. 87;
Eliano
– p. XIV, n. 28, III, n. 137; 1, IV, n. 27; 2,
De natura animalium, VII, 28, II, n. 19, 29;
IV, n. 30; 3, IV, n. 29; 4, IV, n. 28; 26, IV,
XII, 29, II, n. 10; XIV, 26, II, n. 29.
n. 40; 30, IV, n. 90; 31, IV, n. 88; 32, IV,
n. 117; 37, IV, n. 119; 41, IV, n. 56; 47, IV,
Eratóstenes
n. 76; 48, IV, n. 74; 49, IV, n. 68; 52, IV,
Frag. 12, 3 (Powell), II, n. 21.
n. 67; 55, IV, n. 71; 56, IV, n. 68; 60, IV,
n. 75; 61, IV, n. 73; 64 (=5188), IV, n. 72; Estesícoro
66, IV, n. 70; 94, IV, n. 120; 102, IV, n. 78; Frags. 181 ss. (Page), III, n. 5; 184 (Page), II,
112, III, n. 270; 114, I, n. 12; 127, IV, n. n. 90.
104; 129, IV, n. 107; 131, IV, n. 103; 132,
IV, n. 109; 134, IV, n. 110; 135, IV, n. 92, Estevão de Bizâncio
105; 136, IV, n. 106; 139, IV, n. 108; 143, Ethnika (ed. Meinecke), p. 161; 229, 3; I 324,
IV, n. 92, 100; 144, IV, n. 99; 145, IV, n. 2; 419, 15, I, n. 9; p. 161, 20, I, n. 14; 156,
101; 147, IV, n. 114; 148, IV, n. 102; 152, 9, 11, n. 91.
IV, n. 96; 153, IV, n. 97; 154, IV, n. 92;
212, II, n. 149; 250, I, n. 173; 259, I, n. Estrabão
174; 555, IV, n. 94; 760, I, n. 121; II, n.
136; 823, I, n. 83; 929, I, n. 84; 963, IV, Geografia, II, 120-3, I, n. 10; II, 153, I, n. 10;
n. 3; 967, IV, n. 9, 10; 968, IV, n. 8; 1023, III, 1, 4, IV, n. 31; III, 1, 6, I, n. 49, 59;
IV, n. 2; 2477, II, n. 128, 137, 162; 2516, IV, n. 13; III, 2, 9, I, n. 107; III, 2, 11, II,
II, n. 128; 2517, II, n. 128; 3884, I, n. 82; n. 90; III, 2, 14, III, n. 3; III, 2, 15, IV, n.
4268, III, n. 110; 5616, I, n. 162; 4634, III, 62; III, 2 e 3, I, n. 64, 73; III, 3, 1, II, n.
n. 283, 284; 6435, III, n. 286; 4636, III, n. 67; III, 3, 2, I, n. 85; II, n. 109; III, 3, 3,
285; 6437, III, n. 287; I, n. 18, 20, 125; III, 3, 4, I, n. 13; II, n.
V – 5267, III, n. 226; 2, 7425, III, n. 228. 1, 100, 127, 134; III, n. 154; III, 3, 5, I, n.
VI – 1, p. XLVI, auctor n. o XXI, IV, n. 7; 35, 54; III, 3, 6-7, I, n. 150, 152, 153, 154;
24720, IV , n. 7; III, 4, 3, I, n. 165; III, 4, 6, III, n. 18; III,
X – 1, 6087, III, n. 198. 4, 13, I, n. 16, 130; III, 4, 20, I, n. 4; III,
5, 15, III, n. 165; III, 5, 158, III, n. 124;
Claudiano 111, 14, IV, n. 38; IV, 2, IV, n. 92; VII, 3,
Louvores à Rainha Serena, 70-73, II, 117 e 18, II, n. 47; XVII, 2, 4, 5, II, n. 12, 13,
118; 43.
In Rufinum, I, 310 ss., III, n. 250.
Eurípides
Columela Hercules furens, 822, 834, I, n. 7;
De re rustica, VI, 27,4-7, I, n. 181 ; VII, 16, 9, Bacantes, 977, I, n. 7.
II, n. 28.
Índice dos passos de autores greco-latinos 477
Eusébio de Cesareia n. 67; 234, IV, n. 68; 236, IV, n. 69; 242,
Chronicon, II, col. 405 e, 419 k, 421, III, n. IV, n. 71; 248, I, n. 80; 263, IV, n. 75; 260,
26. IV, n. 72; 265, IV, n. 73; 271, IV, n. 70;
291, IV, n. 76; 313, IV, n. 78; 334, IV, n.
Eustácio de Tessalonica 120; 382, III, n. 270; 397, IV, n. 6; p. 442,
Commentarium in Dionysum Periegetem, p. I, n. 12; 465, IV, n. 114; 446, IV, n. 102;
558, III, n. 4. 483, IV, n. 104; 488, IV, n. 107; 492, IV, n.
103; 494, IV, n. 109; 497, IV, n. 6; 508, IV,
Eutrópio n. 110; 510, IV, n. 105; 514, IV, n. 106;
Breuiarium, IV, 9, III, n. 89; 16, III, n. 116; 526, IV, n. 108; 570, IV, n. 100; 571, IV, n.
VII, 14, I, n. 112; 16, III, n. 107. 99; 572, IV, n. 101; 576, IV, n. 95; 586, IV,
n. 43; p. 631-632, IV, n. 96,97; 661, 111,
Floro
n. 271; 663, III, n. 272; 664, III, n. 288;
Epitomae, I, 33, 12, TI, n. 130; 33, 13, I, n.144;
665, III, n. 286; 666, III, n. 285; 4637, III,
33, 15, I, n.115, III, n. 113; 33, 17, III, n.
n. 287; p. 718, III, n. 284; p. 739, III, n.
134; II, 10, III, n. 170; 10, 22, III, n. 166;
278.
33, 49, I, n. 219.
Inscriptiones Hispaniae Christianae N. o l, p.
Frontão
3, IV, n.77, 116. N. o 5*, IV, n. 98.
Epistula ad M. Caesarem, 3, 20, II, n. 101.
Iordanes
Frontino
Getica, V, 42, 22,III, n. 245; XIV, 82, III, n.
Stratagemata, I, 10, 1-2, III, n. 172; II, 5, 7,
241; XXXVI-XXXVII, III, n. 247.
III, n. 120; II, 5, 31, III, n. 172.
S. Isidoro de Sevilha
Gaio
Etimologias, IX, 2, 107, II, n. 103; XII, 6, 12,
Instituta, 10, 66 (6), I, n. 115.
II, n. 42, 61; XIII, 21,33, II, n. 82; XV, 1,
70-71, I, n. 33.
Galeno
Histor ia Suebor um, M. G. H., XI, 2, 92
De alimentorum facultatibus, 15, 12-21 e 4-11,
(Mommsen), III, n. 257.
II, n. 17.
Methodus medendi, IX, 8, III, n. 259.
Itineraria Antonini Augusti (O. Cuntz) p. 64:
– I, n. 192; 416, 4-5, 417, III, n. 264; 418,
Hecateu de Mileto
6, III, n. 276; 418, 7, 419, 6, III, n. 279;
Genealogias, frag. 30 (Nenci) ou I, 26 ( Jacoby),
419, 7-420, 7, III, n. 281; p. 66: – 425,2,
II, n. 4.
II, n. 126; 425, 6, 426, 1-6, 427, 1-3, III,
Heródoto n. 274; IV, n. 23; 426, 1, IV, n. 23.
História, I, 163-165, III, n. 3; IV, 53, II, n.
Justino
48.
Epitome historiae philipicae, XVIII, 5, 8, III,
Homero n. 29; 6, 9, III, n. 30; XXI, III, n. 29; XLIV,
Ilíada, XVI, 407, II, n. 29. 2, 7, I, n. 146, III, n. 114; 3, 1, I, n. 180;
3, 3, III, n. 33; 3, 4, II, n. 133; 3, 6, I, n.
Horácio 182; 4, 1, III, n. 1; XLIX, 3, 4, I, n. 164.
Odes, I, 3, 8, Vida A. R., n. 21; I, 7, III, n.
196. Lívio, Tito
Sátiras, II, 5, 44, IV, n. 55. Décadas, XXI, 21, IV, n. 37; XXI, 27, 5, III, n.
Arte Poética, 387, Carta Cardeal D. Henrique, 156; XXI, 35,8, IV, n. 12; XXI, 43, III, n.
n. 3. 3; XXI, 57, III, n. 38; XXII, 20, 2, III, n.
39; XXII, 21, III, n. 7; XXIV, 16, 17, 20, I,
Inscrições Romanas do Conventus Pacensis n. 58; XXIV, 41, III, n. 15, 37; XXVI, 40,
N. os 3, IV, n. 27; 7, I, n. 10; 11, IV, n. 30; I, n. 131; XXVI, 42 ss., III, n. 22; XXVI,
18, IV, n. 28; 40, IV, n. 29; 154, IV, n. 40; III, n. 7; XXVII, III, n. 13, 40; XXVIII, 5,
180, IV, n. 90; 181, IV, n. 88; 183, IV, n. 11, III, n. 156; XXVIII, 12, 11, III, n. 41;
117; 196, IV, n. 119; 210, IV, n. 6; 213, IV, XXVIII, 21, III, n. 10; XXVIII, 22, II, n. 89;
n. 6; 211, IV, n. 56; 232, IV, n. 74; 233, IV, XXXV, 1, III, n. 51; XXXV, 7, III, n. 11;
478 As Antiguidades da Lusitânia
XXXIII, 21, III, n. 1; XXXV, 1, I, n. 128, 8, III, n. 119; V, 12-14, III, n. 119; V, 23,
132; XXXV, 7 e 22, I, n. 76; XXXVII, 46 e 3, III, n. 173; V, 23, 14, III, n. 183; V, 24,
57, I, n. 128, 133; III, n. 54, 60, 62, 66; 18, III, n. 171; VI, 19, III, n. 212; VI, 16,
XXXIX, 21 e 42, I, n. 128; XXXIX, 30-32, 7, III, n. 210; VI, 21, 5, I, n. 220; VII, 42,
III, n. 67, 70; XXXIX, 40, 12, I, n. 141; iII, 1, III, n. 252; VII, 42, 6, III, n. 256; VII,
n. 98; XXXIX, 56, III, n. 71; XL, 47, III, n. 43, 5 ss, III, n. 255; VII, 43, 10, 15, III, n.
78; XL, 49, III, n. 12; XL, 50, III, n. 73; 251; VII, 43, 14, III, n. 254.
XLI, 3 e 11, I, n. 128; XLI, 7, III, n.80.
Periochae, XLVIII, I, n. 143; III, n. 85, 92; XLIX, Ovídio
I, n. 139; III, n. 97; LII, III, n. 122, 131; Amores, I, 15, 37, II, n. 80.
LIV, III, n. 123, 133; LV, II, n. 130; III, n. Tristia, V, 10, 38; V, 12, 53-58, Carta Cardeal
145. D. Henrique, n. 2
Pontica, IV, 13, 13, 22, Carta Cardeal D.
Lucano Henrique, n. 2
Farsália, II, 716, Vida A. R., n. 21. IV, 9, I, n. Halieutica, 132, 11, n. 23.
77; IV, 8-10, I, n. 86; VII, 232 ss., I, n. 156;
VII, 755, II, n. 80. Paulo
Digesta, XXXXX, Tit. XV, De censibus, VIII, I,
Lucílio n. 11.
Frag. 615-616 (Marx), III, n. 47.
Pausânias
Lucrécio VIII, 18, 7, I, n. 15.
De rerum natura, I, 315-316, III, n. 260; II,
500-501, I, n. 114. Plauto
Aulularia, 508-521, I, n. 118.
Macróbio
Saturnalia, I, 20, 12, III, n. 6; III, 16, 3-4, 11, Plínio-o-Velho
n. 20; 16, 6, I, n. 90; 16, 6-8, II, n. 25. História Natural, I, 25, 46, I, n. 89; II, 6, 14,
II, n. 83; II, 231, II, n. 97; III, l, 6, I, n.
Marcial 26; III, l, 8, I, n. l, 62; III,1, 10, III, n. 58;
Epigramas, VIII, 21, p. 209; XII, 98, 2, II, n. III, 1, 13, I, n. 55; III, 1, 16, I, n. 100; III,
119; XIII, 91, II, n. 22; XIV, 131, I, n. 1, 19, I, n. 65; III, 3, 24, I, n. 15; III, 4,
110. 36, IV, n. 93; III, 3, 20, II, n. 111,112; III,
8,13, 14, I, n. 51; 111, 21, II, n. 83; III, 22,
Marciano Capela 116, I, n. 55, 63, 68; IV, 2, 115, II, n. 95;
De nuptiis Mercurii et Philologiae (Dick), VI, IV, 20, 111-112, I, n.30, 66, 68, 97,158; IV,
628, p. 308, I, n. 1; 628-630, p. 308, I, n. 20, 113, I, n. 120; IV, 21, 13, I, n. 62; IV,
32. 21, 113, I, n. 27, 30, 42, 122; IV, 22, 114,
I, n. 30, 34, 42, 190; IV, 22, 115, I, n. 38,
Mecenas 42; II, n. 132; IV, 22, 116, I, n. 40, 42, 62;
Fragmenta, 3 (Morel), Vida A. R., n. 21. IV, n. 31; IV, 22, 118, IV, n. 18, 21, 42;
VIII, 67, 166, I, n. 179; IX, 9, III, n. 223;
Nepos, Cornélio
IX, 14, 45, II, n. 44; IX, 15, 14, II, n. 11;
Amílcar, 4, III, n. 14.
IX, 15, 45, II, n. 9; IX, 16, 58, II, n. 11;
IX, 17, 60, II, n. 18; IX, 30, 48, II, n. 140;
Obsequente, Júlio
IX, 40, 141, I, n. 109; IX, 60, II, n. 31; XIV,
Prodigiorum liber, 17, I, n. 143; III, n. 82; 18,
43, IV, n. 93; XXXII, 43, 125, II, n. 11;
III, n. 84; 42, III, n. 158; 58, III, n. 172,
XXXII, 153, II, n. 35; XXV, I, n. 89.
177.
Plutarco
Orósio, Paulo
Vidas: Aníbal (?), III, n. 14.
Historia aduersus paganos, IV, 20, 23, I, n.
Cipião (?) ou Paulo Emílio, III, n. 10, IV,
134; III, n. 53; IV, 21, 3, III, n. 93; IV, 21,
1-2, III, n. 55.
3 e 10, I, n. 134; IV, 21, 10, III, n. 95, 102;
Catão o Censor, X, 1, III, n. 48; XV, 4, III,
IV, 32-33, III, n. 81; V, 4, 1-6, III, n. 118;
n. 105.
V, 4, 2, III, n. 131; V, 4, 5, I, n. 142; V, 4,
Índice dos passos de autores greco-latinos 479
Políbio Salústio
História Romana, II, 13, 1, III, n. 16, 34; III, Historiae, II, 17-19, III, n. 175; II, 47, 24, II,
76, 7, III, n. 8 ; IX, 18, 7, III, n. 8; X, 7, n. 113.
I, n. 10; XXXIV, 8, I, n. 59; XXXV, 4, III, Epistula Cn. Pompei ad Senaturn = Hist., II,
n. 91. 98, 4-8, II, n. 114, 115.
Pseudascónio Solino
In divinationem, p. 203, I, n. 138; p. 124 Collectanea rerum memorabilium (Mommsen),
(Orelli), III, n. 97. 23, 5, p. 103, 17, I, n. 31; I, 28-29, p. 8,
III, n. 33.
Ptolomeu, Cláudio
Geografia, II, 3, I, n. 8; II, 4, 6, 10, I, n. 161; Suetónio
II, 4, 11, III, n. 59; II, 4, 15, IV, n. 4; II, César, 54, III, n. 188; Galba, 3, III, n. 106;
5, 1-2, I, n. 22; II, 5, 2, 3, 4, II, n. 109; II, Nero, 30, I, n. 111; Otão, 3, 3-4, III, n.
5, 3, II, n. 64, 102; IV, n. 14, 22, 54; II, 5, 222, 223.
3, 5, I, n. 47, 48; 11, 5, 4, I, n. 107; II, 5, De grammaticis, 17, III, n. 63.
5, IV, n. 19, 63; II, 5, 7, I, n. 8; II, 5, 9, I,
n. 72, 85, 93, 99; I, 5, 10, I, n. 207; II, 6, Tácito
II, n. 83; II, 6, 1, II, n. 125; II, 6, 21, I, n. Anais, I, 70, III, n. 225; XIII, 46, 3, III, n.
221; II, 6, 41, 42, 43, 44 e 45, I, n. 61; II, 221.
10, 11, 12, 13, 14, I, n. 61; II, 11, 35, III, De Germania, 2, III, n. 258.
n. 239; II, 64, II, n. 83; VII, 4, 3, I, n. 8.
480 As Antiguidades da Lusitânia
Tertuliano Varrão
De pallio, V, 6, 68, II, n. 4; V, 6, 68-70, II, De re rustica, II, 1, 7, I, n. 178.
n. 5.
Veleio Patérculo
Timeu História Romana, I, 6, 4, III, n. 31; 9, 3, III,
Frag. 60 ( Jacoby), III, n. 27. n. 61; II, 1, 3, III, n. 115; 30, 1, III, n.
181.
Valério Máximo
Factos e Ditos Memoráveis, I, 2, 4, III, n. 172; Venusiano
VI, 4, I, n. 126; ext. 1, III, n. 151; VII, 3, Carmina, 2, 3, 19, I, n. 110.
6, I, n. 127; III, n. 172; 6, ext. 3, III, n.
184; VIII, 1, 2, I, n. 140; III, n. 101; IX, 2, Virgílio
rom. 4, III, n. 191; 6, 2, I, n. 135; III, n. Geórgicas, III, 271-275, I, n. 185.
96, 130. Eneida, I, 619, III, n. 28; V, 273, III, n. 263.
De uiris illustribus 71, III, n. 117, 127, 141;
77, 4, III, n. 172; 78, III, n. 177.
ÍNDICE DE NOMES PRÓPRIOS E PALAVRAS
Braga, 7, 15, 100, 378, 384, 404, 407, 437, 455, Carpetanos, 96, 97, 114, 116, 117, 118, 119, 124,
463, 466, 472 125, 126, 127
Bragança, 48, 49, 192, 352, 388, 448, 454, 464 Carquédone, 210
Brasil, 36, 423 Carrina, 264
Bretanha, 126, 411 Carrinas, Gaio Álbio, 264
Brigo, 186 Cartagineses, 15, 16, 26, 140, 186, 206, 208, 212,
Brito, Frei Bernardo de, 17, 35, 397 214, 218, 374
Brito, Luís Sílvio de, 48, 50 Cartago, 186, 208, 210, 212, 240, 425, 431, 432
Broquel (Ver Bluquério), 456 Cartago-a-Nova, 186, 208, 414, 425
Bruquel (Ver Bluquério), 456 Cartago-a-Velha, 186, 425
Bruto Galaico, Décio Júnio, 196, 248 Carteia, 262, 440
Bruto, Públio Júnio, 220, 222 Cassiodoro, Aurélio, 19, 211, 431, 475
Bruxelas, 5, 56, 400, 401, 429, 465, 474 Cassitérides, Ilhas, 126, 252, 411
Budua (Bótoa), 152, 153, 291, 384, 385, 416 Castanheda, Rui Fernandes de, 403
Burgos, Martim de, 44 Castela, 6, 16, 29, 30, 38, 322, 451
Burquel (vd. Bluquério) 456 Castelhanos, 28, 37
Castra Iulia, 106, 107, 124, 125
Castro, Públia Hortênsia de, 86, 87
C Castro Marim, 144, 145, 288
Castro Verde, 336
Cacalo, 352, 353 Catalunha, 274
Cação, 419 n. 17; 420 n. 27 Catão, Marco Pórcio, 138, 218, 260, 262, 432,
Cacém (Kasim), 29, 30, 106, 318, 386, 387, 398, 435
449 Catina, 189, 426
Cáceres, 118 Catínio, Gaio, 222
Cachão da Valeira, 15, 31, 34, 37 Catulo, 258, 401, 440, 475
Cacia, 378, 457 Caurienses, 107, 108
Cacim (tirano árabe), 23, 318, 322, 449 Cávado, 196, 198, 388, 389
Cadima 188, 426 Caviar, 419, 468
Cádis, 106, 154, 156, 250, 262, 266, 322, 430 Ceciliana, 280, 281, 387, 388
Caia, 108, 198, 199 Celandus, 197, 388, 389
Caiola (vd. Gaiola), 108, 109 Celere, 352
Calahorra, 254, 256 Celerinos, 142
Callipolin, 355, 390, 391 Celtas, 78, 112, 122, 208, 209, 350, 351, 441, 447
Calípole, 354 Celtibéria, 212, 226, 238, 256, 258, 272
Callipolis (Vila Viçosa), Celtiberos, 96, 114, 118, 132, 133, 134, 196, 212,
Calípode, 180, 366 222, 224, 226, 228, 238, 406, 412, 432, 434,
Callipus, 388, 389 439, 441
Calvo, Gaio Antéscio, 302 Célticos, 14, 26, 100, 106, 108, 110, 112, 114, 196,
Campo Maior, 152 308, 328, 334, 386, 408
Canas, 216, 222, 432 Célticos da Bética, 108
Cania, 199 Ceice, 386, 387
Cantábrico, Mar, 162, 407 Centil, Lopo, 160
Cântabros, 162, 417 Cepalão, 350
Caparenses, 108 Cepião, 240
Caparra, 116, 118, 120, 124, 378 Cepião, Gneu Servílio, 234, 238, 240, 242
Capitólio, 222, 246 Cepião, Quinto, 234, 242, 250
Cardo, 206 Cepião-o-Velho, Quinto Servílio, 250
Carlos Magno, 20, 274, 444 Cépio, Servílio, 216
Carlos Magno, Vida de (Cf. Einhard), 29 Céporos, 100
Carlos V, 5, 33, 56, 400, 437 César, 19, 114, 118, 124, 140, 146, 154, 156, 158,
Carpetânia, 224 258, 260, 262, 264, 266, 268, 282, 284, 286,
Índice de nomes próprios e palavras 485
288, 292, 294, 296, 298, 302, 312, 328, 332, Clemente VII, 180
413, 416, 439, 440, 441, 451, 455, 464, 467, Clitórios, 94
475, 479 Coa, 23, 389, 428
Cesarobrigenses, 108 Coca (cidade), 116
Cesónio, 266 Coelho, Jorge, 54, 400, 470, 473
Cetaria, 324, 325 Coellium, 386, 387
Cetóbala, 326 Coimbra, 39, 160, 188, 322, 336, 378, 402, 407,
Cetobra, 326, 327 408, 429, passim
Cetóbriga, 72, 180, 280, 324, 326, 388 Colarnos, 108
Cetóbrix, 324 Colíbria, 378
Cetra (= escudo lusitano), 41, 380 Collipo, 107, 384, 385
Cetus, 468 Colímbrios, 160
Cévio, Públio, 156 Coloiane, 320
Chança, 108 Columela, 19, 476
Chaves, 72, 162, 384, 385, 398, 402, 418 Comeno, João, 320
Chaves, Coluna de, 42142, ,196, 198, 428 Comeno, Manuel, 320
Chaves, Ponte de, 32 Comitatus (condado), 268
Cianeia, Rocha de, 64 Comites (condes), 93, 269
Cibilitanos, 108 Como, 270
Cícero, Marco Túlio, 19, 70, 92, 140, 170, 174, Cómodo, Lúcio Élio Adriano,
186, 232, 238, 242, 258, 266, 374, 398, 419, Cómodo, Lúcio Élio Aurélio, 280, 332
425, 427, 475 Concieiro, Monte, 152, 153
Cíclades, 390 Concílios (Visigóticos), 310, 448
Ceira (rio), 198, 200 Concordienses, 107, 108
Ceira (ópido), 429 n. 146 Congo, Reino do, 178, 423, 471
Cientino, Reburro, 352 Coniates, Nicetas, 20, 449, 450, 465
Ciciliana, 382, 383, 386, 388, 389 Conímbriga, 100, 106, 323, 324, 325, 378, 379,
Cilenos, 100 439 n. 142
Cinânia, 132, 248 Constança, 322, 336, 384
Cinanienses, 132 Constâncio, 276, 444
Cingínia, 412 Constantino, 268
Cipião, 134, 170, 206, 214, 218, 232, 419, 430, Constantinopla, 21, 322, 450
431 Contarelli, Mateu (Cardeal de Santo Estevão), 60
Cipião, Gneu Cornélio, 206 Contra-Reforma, 9
Cipião, Lúcio Cornélio, 220 Córdova, 112, 328, 409, 433, 451, 457
Cipião, Públio Comélio, 134, 218, 230, 412 Córdova, Monte, 23, 160, 417
Cipiões, Círculo dos, 18 Córdua, 160
Cipo, 33, 118, 122, 146, 218, 232, 280, 302, 306, Cória, 118
312, 314, 318, 328, 332, 346, 348, 352, 356, Coribantes, 380
360, 364, 366, 390, 435 Coríntios, 228
Círtio, 186 Cortesi, Paulo, 421
Ciscudanos, 78 Corticata (ilha), 100, 101
Cítia, 236 Corunha, 156
Cíticos, 278 Corva, Monte, 144
Ciudad Rodrigo, 124, 378, 380 Cota, 252
Ciuitates, 143 Cotão, 262
Civitatense, 380 Covilhã, 23, 152, 388, 416
Claro, Quinto Júlio, 284 Crasso, Públio Licínio, 252, 258, 438
Claudiano, 194, 427, 476 Creus, Cabo, 100, 102, 106
Cláudio, 138, 236 Crisógono, Terêncio, 366
Cláudio, Ápio, 112, 224 Críspia, Víbia, 306
Cláudio, Públio, 224 Crispino, Lúcio Quíncio, 222, 224
486 As Antiguidades da Lusitânia
Cruz, Santa, 20, 29, 152, 160, 322, 416, 417, 423, Dracma, 202
428, 443, 449, 450, 465, 467, 469, 474 Dórias, 192
Ctesifonte, Monte de, 128 Dório, 192
Cuba, 366 Dourada, 128, 170
Cuda, 23, 198, 199, 388, 389, 428 Duques, 352
Culca, 206, 207, 429 Dúria, 194
Culucos, 292 Dúrias, 427
Cúneo, 104 Dúrio, 192, 194
Cúneo, Campo, 308
Cúneo, Promontório,
Cunha, D. Luís da, 31 E
Cunha, D. Rodrigo da, 10, 34
Eácida, 82
Eanes (Escrivão de D. Dinis), 20
D Eburobritium, 107, 384, 385
Ebisocos, 142
Daciano, Públio, 290, 455 Eborense, Município, 39, 44, 46
Dalmácia, 252 Eborenses, 10, 54, 55, 94, 290, 291, 360, 361,
Dantisco, João, 401 386, 387, 397, 439, 446
Danúbio, 176, 421 Ebro, 194, 212, 218, 234, 236, 238
Dardos, 3, 140, 214, 216, 242, 380, 392, 432 Ebúcio, 346, 390
Daveau, Susanne, 35, 399, 429, 466, 472 Écio, 274
Dene, 306, 447 Egídio, S. (ver Gil, S.), 336
Dídio, 254, 262 Egipto, 178, 180, 422, 450
Dido, 210, 211, 431 Egnácio, Baptista, 21, 320, 450, 466
Digício, Sexto, 218 Einhard (ou Eginhard). (Ver Carlos Magno,
Dilúvio (época do), 31 Vida de), 20, 443, 466
D. Dinis, 20, 30, 418, 425, 449 Eliana, Júnia, 358
Diocleciano, Gaio Aurélio Valério Jóvio, 290, Eliano, 418, 419, 476
443, 455 Elisa, 210
Diodoro Sículo, 132, 430, 435, 439, 476 Elteri, 382, 383, 386, 387
Diomedes, 142, 143, 414 Elogio de Erasmo, 9
Dion Cássio, 476 Elops (Helops), 168, 170, 172, 174, 419, 420
Dionisíada, 390 Elvas, 17, 23, 286, 350, 352, 386, 387, 446, 454
Dioniso, 92, 374, 404 Elvira, 336, 448, 452
Dioscórides, 410, 422, 466, 476 Emérita, 124, 443, 474
Diplobatásio, João, 320 Emeritense, 106, 128, 272, 364, 380
Dipo, 280, 281 Emiliano, Sérgio Terêncio, 230, 366, 368
Direito do Lácio, 26, 106 Emílio, Paulo, 216, 433, 478
Dirráquio, 258 Emílio Paulo, Lúcio, 136, 220, 222, 226, 232,
Dniepre, 176, 178, 422 244, 412, 433
Dolabela, Lúcio Cornélio, 250, 252 Emínio, 100, 378
Domício, Lúcio, 122, 252 Encarnação, José d’, 32, 397, 398, 399, 405, 409,
Domingos, S., 5, 54, 324, 352, 401 436, 445, 446, 447, 448, 449, 450, 452, 453,
Don (rio), 176 454, 455, 456, 466
Donace, Júnia, 256, 364, 365, 439 Endovélia, 360, 392
Dórion, 419 Endovélico, 17, 32, 356, 358, 360, 390, 455
Douro, 8, 15, 23, 31, 33, 34, 36, 37, 98, 100, 106, Enea, Cidade de, 142
108, 110, 112, 114, 116, 118, 124, 132, 142, Eneias, 210
154, 156, 162, 188, 190, 192, 194, 196, 268, Engrácia, S., 443
336, 376, 378, 384, 385, 388, 389, 412, 417, Entemélio, Guilherme de, 320
418, 427, 429, 464, 465 Epigrafia, 32
Índice de nomes próprios e palavras 487
Flu, Júlio. (Ver Pflug, Júlio), 401 Gelénio, 21, 176, 374, 398, 421
Fonte Negra, 180 Gélio, Gélio, 19, 70, 475
Fortunato, Domício, 122, 401, 402, 464 Génova, 6, 270, 320, 442
Forrester, Barão de, 34 Gerês, 162
França, 21, 28, 54, 64, 352, 454 Gérion, 26, 206, 430
Franco, António, 397, 471 Germânia, 274
Fraxinum, 109, 125, 293, 382, 383, 384, 385 Germânico, César, 302
Freire, Braamcamp, 10, 399, 400, 401, 403, 404, Germânico, Nerva Augusto, 272
415, 417, 451, 452, 453, 455, 456, 462, 467 Germanos, 140, 147
Freixo, 108, 124, 457 Getas, 80, 272, 273, 274, 403
Frontino, 238, 252, 436, 439, 477 Gético, 274
Fulvianila, Sentacínia, 318 Gil, S. (Ver Egídio, S.), 7, 20, 22, 54, 184, 425,
Fúlvio, Marco, 118, 208, 222, 348 429, 468, 470, 472
Fúlvio Nobílior, Marco, 208, 222 Gisgo, 214
Fúrnio, 266 Glabrião, Marco Acílio 220, 228
Fusco, Gaio Cocílico, 318, 319 Glareano, Henrique, 226, 227
Fusco, Gaio Numísio, 318 Goclénio, Conrado, 5, 60, 64, 372, 401
Goda, 272
Godos, 15, 16, 18, 23, 29, 80, 132, 270, 272, 274,
G 276, 310, 362, 378, 442, 443, 444, 456
Gonadramiro, 380
Gades, 214, 215, 251, 316, 430 Góis, Leonor Vaz de (Mãe de André Vaz de
Gadila, Fábia, 308 Resende), 6, 468
Gaeta, 260, 440 Golfinho, 36, 168, 421, 422, 423
Gaio, 130, 232, 328, 346, 350, 411 Gótica, Raça,
Gaio, Lélio Nepos, 220, 238, 242 Gótico, 274, 278
Gala, Aurélia, 94, 304 Graco, Tibério Semprónio, 134, 226, 228, 434
Galaicos, 96, 98, 100, 108, 114, 116, 124, 140, Grávios, 100, 142, 196, 413
196, 248, 250, 414 Grécia, 18, 206, 320, 322, 455
Galaicos Brácaros, 98, 108,0 124 Gregório de Tours, 19, 29, 274, 444
Galáxia, 168, 174 Gregos, 16, 18, 26, 70, 82, 92, 96, 122, 172, 178,
Galba (Imperador), 240, 398, 435, 457 186, 196, 208, 220, 308, 414, 415, 430, 433,
Galba, Sérvio Sulpício (ou Sérgio), 136, 138, 230, 443, 467
231, 232, 233, 248, 435, 437 Grónios, 142
Galécia, 8, 100, 108, 110, 142, 148, 156, 194, 210, Grosse, R., 27, 413, 414, 426, 431, 442, 450, 467
248, 252, 258, 268, 414, 417, 418, 438 Gruios, 142, 143
Galego, Aldeia de, 306 Guadiana, 8, 15, 34, 46, 78, 96, 98, 106, 108, 110,
Galegos, 378 112, 114, 116, 118, 124, 126, 132, 144, 166,
Galeno, 9, 169, 278, 419, 477 194, 196, 224, 280, 308, 326, 340, 374, 378,
Gáleo Ródio, 172 382, 383, 386, 387, 388, 406, 408, 410, 418,
Galéria, Tribo, 328, 330 421, 427, 443, 447, 466, 467, 468
Gália, 192, 254, 262, 276, 278, 284, 350 Guadalquivir, 118, 186, 194, 262, 402, 432, 433
Galiza, 276, 336, 380, 407 Guerras Góticas, 18
Gallae, Aureliae, 95, 305 Guto (Rei), 24
Gallaii, Auriiliaii, 304, 305 Gutos, 171 274
Garcia, João, 152, 423, 465, 467, 468 Guzmán, Fernán Nufiez de (Pinciano), 21, 24,
Garcilaso de la Vega, 401 406
Gargor, 206
Gasconha, Golfo da, 00, 102, 104, 106, 376,
407 H
Gauleses, 138, 140, 441
Gautinense, Públio Petrónio, 362 Habis, 26, 430
Índice de nomes próprios e palavras 489
Hecateu, 206, 430, 477 445, 446, 447, 448, 449, 452, 453, 454,
Hedisto, Marco Pôncio, 306, 447 455, 468
Hélade, 34, 413 Hycca-Hysca. (Ver Iça),
Helenos, 100, 142, 143
Helops. (Ver Elops), 420
Heluii, 386, 387 I
Hélvio, Marco, 206, 354
Hélvios, 350, 386 Ibas, Hélvia, 358
Henriques, D. Afonso, 8, 17, 30, 152, 336, 340, Ibéria, 16, 18, 19, 25, 26, 92, 98, 200, 206, 228,
344, 398 258, 408, 414, 439
Henrique, Cardeal D., 6, 11, 12, 400, 403 Iberos, 16, 132, 133, 206, 208, 209, 216, 374, 375,
Henrique, Conde D., 152 412, 430
Henrique, Rei D., 16, 52, 58 Ica-Isca, (gr. hykes),
Hércules, 84, 114, 154, 266, 314, 316 Idade Média, 11, 27, 29, 429, 456
Herénio, Gaio, 194 Idade das Trevas, 11, 456
Hermann, 28, 38, 461 Idanha-a-Velha, 386
Hermerico, 276, 277 Ierabrica, 384
Hermínio (Monte), 28, 144, 150, 152, 154, 156, Igaedita, 386, 387
158, 258, 415, 416 Ilerda, 254
Hermínios, 29, 140, 156, 388, 415, 416, 463 Ilhas Secas, 100
Hermo, 188 Imperatória, Urbe, 318, 407
Hermolau Bárbaro, 21, 174, 420, 421, 427, 468 Índia, 6, 400, 417, 465
Heródoto, 18, 176, 422, 430, 477 Indíbil, 206
Hierabrica, 383 Indigetes, 192, 193
Hilermo, 208 Interâmnicos, 142
Hipérion, 62, 401 Interamnenses, 389
Hírcio, 150, 264 Interausenses, 108, 109
Hirtuleio, 252, 254 Iordanes (ou Jordanes), 17, 19, 25, 275, 444, 469,
Hispânia, 6, 24, 26, 29, 98, 100, 102, 104, 106, 477
108, 112, 114, 116, 118, 122, 124, 126, 130, Irene, 320, 321, 450
132, 134, 136, 138, 144, 148, 166, 180, 186, Iria, S., 20, 30, 198, 428, 443, 471
190, 200, 206, 208, 210, 212, 214, 218, 220, Isabel, D., 20, 320, 322, 449, 450
222, 224, 226, 228, 230, 232, 234, 236, 238, Isidoro de Beja, S., 20, 31, 451, 469
248, 250, 252, 254, 256, 258, 264, 266, 268, Isidoro de Sevilha, S., 17, 19, 20, 423, 451, 477
276, 326, 328, 336, 374, 376, 380, 404, 407, Ismar, 336, 338, 340, 344
408, 414, 418, 425, 430, 432, 434, 439, 441, Itália, 21, 31, 64, 136, 170, 176, 178, 214, 252,
442, 444, 455, 457, 467, 471 262, 266, 268, 270, 274, 278, 444, 454, 464
Hispalense, Convento, 112 Itinerários de Antonino Pio, 445
Hispânia Citerior, 114, 116, 118, 124, 126, 190,
200, 218, 226, 276, 418, 432, 434
Hispânia Ulterior, 98, 112, 130, 134, 206, 220, J
222, 224, 226, 228, 250, 252, 258, 264, 336,
376, 434 Januária, Álbia, 356
Hispanos, 6, 97, 140, 206, 208, 224, 228, 250, Jerónimo, S., 21, 144, 320, 400, 421, 431, 449,
251, 258, 272, 276, 324, 430 468, 474
Homero, 25, 170, 420, 477 João III, D., 6, 21, 56, 60, 66, 158, 314, 400, 402,
Honorino, Sexto Coceio Cratero, 356 425, 437
Honório, Augusto, 276, 444 João da Pesqueira, S., 190
Horácio, 76, 260, 324, 401, 477 Jocundo, Galo Favónio, 244, 246, 437
Hórtulo, 66 Jordanes (ou Iordanes), 274
Huebner, Emil, 10, 18, 32, 38, 397, 398, 402, Jóvio, Paulo, 9, 21, 36, 290, 397, 418, 421, 422,
405, 409, 414, 428, 432, 435, 436, 437, 423, 469
490 As Antiguidades da Lusitânia
Lusíadas, 6, 8, 42, 82, 405, 437, 469 Marianos, (Montes), 144, 224
Luso, 6, 23, 92, 93, 374, 404, 449, 465 Mário, Gaio, 250
Lusões, 94 Mario/marião, 170, 176, 178, 421
Lutácio, Quinto, 250 Marliano, 44, 398, 437, 470
Luteranismo, 9 Marselha, 5, 126, 264
Lysa, 92, 93, 374, 375 Martim, Vasco, 21, 31, 44, 54, 190, 192, 426, 452,
Lyssa, 92, 374 463, 472
Lysios, 92, 374 Martinho de Soure, S., 20, 22, 30, 200
Marvão, 150, 415
Masanissa, 214, 215
M Mascarenhas, D. Luís de, 33
Mascarenhas, D. Pedro, 5, 56, 400
Macedónia, Rei da, 82, 114, 206, 220, 232, 252, Massagetas, 276, 444
433 Masséssilos, 180
Macróbio, 170, 172, 206, 410, 420, 430, 478 Materno, Quinto Petrónio, 332, 333
Magalhães, Romero de, 35, 417, 423, 467, 470 Matosinhos, 196
Mago, 214, 215 Matusaro, 291, 382, 383, 446
Malceca, 280, 281, 382, 383, 387, 388, 389 Maurozomes, Manuel, 320
Malteca, 386 Máxima, Critónia, 360
Mamede, São, 306 Maximiano, César Gaio Júlio Vero, 282, 283,
Mamerco, 214 298
Mâncio, 360, 455 Maximiano, Marco Aurélio Valério Hercúleo,
Manços, S., 30, 455, 473 290, 291
Mandónio, 206 Máximo, Q. Fábio, 19, 138, 140, 230, 232, 234,
Manes, 246, 284, 302, 304, 306, 308, 312, 330, 236, 240, 242, 248, 252, 260, 282, 284, 286,
332, 334, 346, 348, 350, 356, 362, 366, 368, 298, 364, 412, 435, 436, 440
447 Medellín, 106
Manília, Vivénia Venusta, 360 Medimno, 202
Manílio (Mânlio, Lúcio), 254, 439 Mediterrâneo, 202, 322, 419, 433, 437
Mânlio, Gneu, 222, 250 Medóbriga, 72, 258, 415, 416
Mânlio, Públio, 112, 226 Medobrigences,
Mantuano, Baptista, 21, 314, 390, 448, 471 Megadoro, 130, 412
Manuel, D., 10, 46, 70, 400, 402, 424, 426 Megalópolis, 200
Marão, 108, 144, 162 Meidúbriga, 150, 152, 156
Marateca, 382, 383, 386, 387, 388, 389 Meidubrigenses, 108, 109, 150, 151
Marcela, Úlpia, 306 Melanclénios, 274
Marcelina, Júlia, 350 Melas, Golfo de, 264, 441
Marcelo, Marco, 228 Melibeia, Água, 128
Marcelo, Nónio, 218 Mémio, Lúcio, 228
Marciano Capela, 406 Ménades, 92
Marchiones, (Marqueses), 268, 269 Mentesanos, 114
Marcial, 170, 194, 372, 405, 411, 419, 427, 429, Meónia, 188
478 Mepsas, 94, 405
Marco, 118, 120, 146, 186, 206, 208, 218, 219, Mercador, 334
220, 222, 224, 228, 230, 238, 240, 244, 248, Mérida, 8, 28, 94, 96, 98, 106, 118, 120, 126, 150,
250, 252, 256, 258, 260, 282, 286, 287, 290, 152, 276, 280, 290, 292, 364, 382, 383, 410,
291, 296, 297, 304, 306, 314, 328, 331, 358, 411, 415, 431, 442, 448
374, 432, 438, 441, 447 Meróbriga, 316, 318
Margarida, Santa, 66, 401, 424 Mértola, 17, 106, 110, 166, 288, 308, 310, 386,
Maria, Cabo de Santa 2, 106, 152, 153, 308, 318, 387, 447, 454
400, 403, 427, 441, 448, 449, 450, 452, 462, Mértola, Portas de, 330
465, 471, 474 Mesquita, Santa Maria de,
492 As Antiguidades da Lusitânia
Messejana, 344 Munda, 99, 101, 107, 133, 189, 191, 201, 226,
Mestas, 296, 297 262, 266, 267, 379, 388, 389, 426, 440
Metelo, 194, 236, 254, 258, 364, 427, 439 Múnio, Ximena, 336
Metreta, 202, 203 Murtária, Rio, 286
Mexia, Pedro, 120 Murtigão, Castelo de, 108
Miguel, S., 7, 21, 38, 160, 180, 304, 320, 417, 423,
428, 449, 450, 462, 465, 471
Mileto, 266, 477 N
Milho-miúdo, 184, 424
Minerva, 58 Naban, 199, 388, 389
Minho, 23, 33, 36, 96, 98, 100, 104, 106, 108, 162, Nabância, Aginaldo de, 30, 428, 443
166, 180, 190, 194, 196, 198, 248, 336, 376, Nabão, Rio, 30, 198, 200, 388, 428
388, 389, 398, 406, 417, 418, 429, 437, 438, Naebis, 197, 199, 384, 385, 388, 389
455, 464, 465 Narbasos 142, 143
Minho, Rio, Narbonense, Gália, 254, 276, 278, 284
Minício, Gaio, 390 Nascimento, Aires, 33, 416, 417, 425, 429, 456,
Minius, 101, 197, 199, 388, 389, 428 468, 470
Minúcio, Quinto, 112, 346 Nasica, Públio Cornélio, 248, 249, 438
Mirabilia, Geografia dos, 19, 35, 36 Naxos, 390
Miranda, 108, 116, 384, 385, 388, 400, 425, 468 Nebrissa, António de, 54
Miranda do Douro, 384 Neiva, 196, 198, 384, 385, 388, 389
Miróbriga, 380, 407, 449 Neiva, Ponte de, 196, 198, 384, 385, 388, 389
Mirobrigenses, 108, 109 Nela (cidadela), 100, 350, 352, 402
Mírtilis, 308 Nelo, Rio, 100, 101
Mitridates, 256 Nemetatos, 142, 143
Mondego, Rio, 98, 100, 106, 132, 160, 162, 166, Némio, 254
188, 190, 200, 378, 388, 389, 426 Neocetóbriga, 326
Modestina, 368, 369 Nepociano, Quinto Júlio, 284
Modestina, Flávia, 366, 367 Nepos, Lúcio Múmio, 234
Monchique, Monte de, 144 Nepos, Quinto Opímio, (filho de Lúcio Quinto
Monsanto, 415 Postúmio), 228, 229
Montejunto, Monte de, 144 Neptuno, 266
Montemuro, Monte de, 144, 160 Nério (Cabo), 110, 112, 376
Montanos, 272 Nérios, 100
Monterrei, 196 Nero, Ápio Cláudio, 112, 128, 232, 270, 411, 479
Montóbriga, 416 Névis, 198
Montpellier, Universidade de, 21 Nicéforo Calisto Xantópulo 20
Morales, Ambrósio de, 6, 9, 12, 21, 26, 31, 380, Nifate, Monte de, 128
398, 437, 451, 456, 457, 466, 470 Níger, Cecílio, 262, 263
Morávia, Valentim da, 414 Nigídio, Gaio, 172, 174, 234, 240, 244, 420, 437
Morone, 176 Nílides, Lago, 180
Mortigão, 302 Nilo, 168, 169, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 423
Mosela, 184 Noudar, Castelo de, 108, 109
Moura, 17, 23, 108, 302, 304, 328, 330, 386, 387, Nova Civitas Aruccitana, 303, 305, 386, 387, 447
388, 389, 447 Novato, Gaio Júlio, 360
Moura, Portas de, 328, 330 Novocomense, Calpúrnio Fabado, 270
Mourão, 108, 302 Numácio, 260
Mouros, 30, 308, 310, 328, 453 Numância, 100, 114, 116, 234
Mugem, 168 Numantinos, 138, 236
Mulíadas, 190 Númidas, 240
Múmio, Lúcio, 228, 234 Nunes, Francisco (de Beja), 2, 21, 33, 34, 35, 80,
Munácio, 260, 262, 440 398, 403, 425, 426, 428, 429, 466
Índice de nomes próprios e palavras 493
Pinciano. (Ver Guzmán, F. Núnez de), 24, 31, 102, Postúmio, Lúcio Quinto, 222, 226, 228, 230, 366,
104, 376, 406 368, 412, 434
Pirenéus, 5, 21, 100, 104, 106, 108, 162, 190, 192, Presamarcos, 100
254 Pretório, 292
Pisão, Gaio Calpúrnio, 222, 224, 226, 412, 438 Prima, Caturisa, 281, 312, 325
Pisuerga, 116, 378 Prisciano, 19, 192, 427, 479
Placência, 124 Prisco, Quinto Átio Mecenal, 272, 273, 308,
Placídia, 276 442
Plagiária, 152, 290, 292 Próculo, Gaio Antéscio, 302
Plâncio, Gaio, 236 Próculo, Marco Júlio, 358
Planco, Lúcio Munácio, 260, 261, 262 Priscino, Lúcio Rúbio, 366
Platão, 34 Procópio, 17, 18, 29, 274, 276, 443, 444, 479
Plaucino, Gaio, 242 Prosérpina, 354
Pláucio, Gaio, 238, 240 Prudêncio, 19, 122, 124, 126, 443, 479
Plautila, Eunóide, 354 Pseudoberoso, 21, 186, 206, 374, 404
Plauto, 478 Pseudomanéton, 248
Plínio-o-Moço, 252, 436, 442 Pucci, António, 401
Plínio-o-Velho, 19, 34, 467, 468, 478 Pudente, 244, 246
Plumbários, 108, 150 Pulo do Lobo, 418
Plutarco, 19, 168, 170, 172, 174, 194, 196, 206, Pultário, 356
208, 222, 232, 252, 260, 419, 427, 430, 432, Punhal, 140
433, 439, 440, 478 Punhete, 384, 385
Pó, Rio, 168, 170, 174 Púnica, 208
Polião, Gaio Asínio, 264, 266 Púnicos, 208
Polião, Védio, 116 Puzzi, António, 64
Políbio, 18, 25, 114, 134, 200, 206, 212, 218, 374,
405, 409, 413, 424, 430, 431, 432, 435, 472,
479 Q
Policiano de Florença, 190
Pólux, Júlio, 479 Quarquernos, 142, 143
Pombal, 160 Quersoneso Címbrico, 274
Pompeio, Gneu, 14, 154, 155, 192, 194, 236, 242, Quevedo, Bartolomeu (Toledano), 6, 7, 9, 10, 12,
254, 255, 256, 257, 258, 259, 260, 261, 262, 21, 31, 35, 80, 284, 290, 314, 398, 402, 403,
264, 265, 266, 364, 427, 439, 440, 441 408, 409, 445, 448, 451, 455, 463, 471
Pompónio Mela, 19, 21, 25, 34, 376, 390, 406, Quinciano, Fúlvio, 348
425, 426, 427, 428, 431, 432, 447, 448, 472, Quinto, 12, 112, 146, 222, 228, 229, 234, 236,
479 238, 240, 242, 244, 246, 250, 252, 253, 272,
Pontífices da Cúria, 330 273, 284, 285, 318, 330, 331, 332, 333, 348,
Popeia, 270 350, 351, 354, 360, 364, 365, 401, 410, 436,
Popílio, Aulo, 234, 240 479
Porceleto, 174 Quirina, Tribo, 120, 121
Pórcio, Lúcio, 218, 224
Porco-marinho, 174, 176, 178, 421
Pórculo, 178 R
Portalegre, 150, 386, 387, 400, 415
Portimão, 314, 316, 386, 387, 432, 449 Rabaçal, 160
Porto, 160, 180, 212, 316, 384, 385, 401, 403, 417, Raia, 200
432, 436, 438, 449, 461, 464, 465, 470, 471, Raimundo, D., 336, 337
473, 474 Ranhados, 415
Porto de Rei, 180 Rarapia, 288, 289
Portus Annibalis, 315, 386, 387 Rasis (Mouro), 20, 22, 30, 310, 311, 448, 465,
Posidónio, 413 474
Índice de nomes próprios e palavras 495
Rates, S. Pedro de, 360, 455, 465, 467 Sabino, Lúcio Silão, 242, 330
Ráurica, 262, 440 Sabor, Rio, 108
Recepto, Gaio Júnio, 314 Sacro, Cabo, 104, 308
Récios, 262 Sacro, Monte, 148
Régulo, Marco, 244 Sadão, 180, 182, 366, 424
Renascimento, 7, 9, 27, 408, 465 Sado, Rio, 33, 34, 110, 316, 366, 424
Resende, Vasco Martim de, 54 Sagrado (= Sacro), Promontório, 308, 314
Ribeiro, Orlando, 5, 411, 415, 417, 424, 429, 463, Sagres, 308, 314
464, 466, 472 Sagunto, 120, 194, 212, 254, 439
Roca, Cabo da, 24, 100, 102, 104, 308, 406, 407 Salácia, 72, 107, 111, 181, 182, 183, 281, 289, 311,
Roderico, 87, 279, 313 317, 319, 382, 383, 385, 387, 399, 407, 424,
Rodes, 172, 420 445
Rodrigo, 124, 278, 336, 378, 380 Salaciense, 182, 364, 366
Rodrigo de Toledo, 336, 430, 452 Salamanca, 5, 21, 24, 54, 98, 100, 102, 116, 118,
Roldán Hervás, 409, 416, 428, 444, 445, 446, 447, 124, 380, 400, 404, 406, 409, 410, 415, 452,
448, 457, 472 466, 470, 472, 473
Roma, 16, 19, 21, 26, 27, 32, 37, 39, 82, 120, 130, Salústio, 70, 192, 427, 439, 479
154, 202, 210, 211, 212, 216, 218, 220, 222, Salvador, Basílica do, 160, 332, 338, 342, 362
224, 226, 228, 232, 233, 234, 242, 245, 246, Salvaterra, 108, 292
247, 248, 250, 252, 254, 258, 264, 270, 274, Salviano, 158
294, 304, 402, 404, 405, 423, 431, 432, 433, Samónico Sereno, 122, 172, 420
434, 438, 440, 447, 461, 465, 471, 474 Sanches, Pedro, 400, 471
Romanos, 15, 17, 18, 22, 27, 36, 37, 54, 76, 78, Santa Cruz de Coimbra, (Mosteiro), 20, 152, 160,
82, 96, 98, 122, 132, 134, 135, 136, 137, 138, 416
139, 140, 141, 154, 155, 156, 172, 173, 178, Santa Detença (rio), 180, 424
192, 196, 200, 206, 207, 208, 212, 214, 215, Santa Maria, Cabo de, 106, 152
216, 217, 218, 222, 224, 228, 229, 230, 234, Santarém, 292, 382, 383, 384, 385, 424
235, 236, 237, 238, 239, 240, 241, 251, 252, Santarém, S. Frei Gil de, 7, 20, 22,184, 425, 468
253, 256, 260, 272, 274, 276, 278, 302, 398, Santiago, 318, 354
412, 413, 433, 436, 437, 466, 473 Santiago do Cacém, 29, 30, 106, 318, 386, 387,
Romão, São, 152, 154 398
Romis, 248 São Brás, 318
Romo, 248, 249, 437, 438 Sárabris, 116
Rómulo, Gaio Ânio, 312 Saragoça, 94, 272, 411, 433, 448, 449, 474
Rómulo da Hispânia (Viriato), 138, 234 Sármatas, 272, 274
Rondelet, Guilherme, 9, 21, 36, 168, 170, 172, Sarmático, 282, 298
174, 397, 418, 420, 472 Sarracenos, 336
Rosendo, S., 20, 29, 30, 417, 471, 472 Sarte, Rio, 72, 73
Ruão, 176 Saturnais, 170
Rufina, Flávia, 364, 365 Saturno, 262
Rufo, Quinto Petício, 330 Saurium, 161, 386, 387, 429, 446
Rufo, Quinto Pompeio, 242 Sável, 168, 184, 425, 429
Rufo, Públio Rutílio, 250, 251 Saxónicos, 24, 274
Rufo, Sexto, 250 Scallabis, 107, 293, 384, 385, 446
Rulo, 258 Schottus , Andreas, 9, 462
Rutela, 326 Schulten, A., 19, 27, 398, 405, 406, 409, 413, 414,
416, 417, 418, 424, 425, 426, 428, 429, 430,
431, 432, 435, 436, 437, 438, 439, 440, 441,
S 451, 467, 473
Sebastião, D., 2, 3, 6, 16, 17, 30, 31, 42, 60, 276,
Sabélico, Marcantónio, 21, 248, 472 314, 342, 344, 350, 398, 401, 437, 448, 453,
Sabina, Calpúrnia, 284, 285, 408, 445, 463 457
496 As Antiguidades da Lusitânia
Turdetânia, 112, 114 186, 258, 374, 415, 426, 432, 480
Turdetanos, 26, 78, 110, 111, 112, 113, 114, 115, Vascetanos, 220, 221, 433
132, 133, 214, 215, 272, 308, 309, 328, 334, Vasconcelos, Diogo Mendes, 10, 11, 12, 14, 17,
386, 408, 409, 424 29, 39, 44, 46, 48, 50, 52, 54, 74, 82, 84, 372,
Túrdulos, 14, 26, 78, 96, 112, 114, 122, 124, 126, 397, 399, 401, 403, 413, 439, 443, 456, 457,
132, 142, 388, 408, 409, 412 462, 463, 467
Túrdulos, Béticos, 112 Vasconcelos, Manuel Cabedo de, 11, 84
Túrdulos, Velhos, 98, 100, 106, 110, 130, 196 Vaseu, João, 5, 6, 9, 12, 21, 31, 110, 112, 220,
Túrdula, Guerra, 112 272, 378, 380, 398, 402, 415, 434, 448, 451,
Túria, 192, 194, 196, 254 474
Turro, 208 Vataça, D., 17, 20, 30, 320, 322, 449, 450, 465
Tyde, 101, 143, 413, 414 Vatatzes, João, 320
Vaz, André, 54
Vaz, Ângela Leonor, 54
U Vaz, Egídio (Gil), 54
Vaz, Martim, 54
Ulisses, 16, 102, 186, 399, 426, 451, 467 Vectões. (Ver Vetões), 26, 114, 116, 118, 122, 124,
Unímano, Cláudio, 234, 236, 240, 346, 390 126
Urbanense, Mosteiro de, 429 Veleio Patérculo, 19, 210, 222, 256, 433, 436,
Urbe, 252, 318 480
Urraca, 336 Velha dos Ilercáones (Cartago), 186
Universidade de Lovaina, Ventimiglia, 320
Universidade de Paris, 54 Vénus, 84
Vercingetorix, 28, 38
Vermudes, Sanches, 152
V Vero, César Gaio Júlio, 292, 298
Verres, 374
Vaca, 190 Vesco (Ópido de), 220
Vaceus, 37, 96, 100, 114, 116, 118, 124, 126, 190, Vespasiano, 334
192, 196, 226, 228, 406, 427, 434 Vetão, Cecílio, 122
Vaco, 190 Vetão, Lúcio Domício, 122
Vacua, 90, 388, 389 Vetão, Marco Sérgio, 120
Vadiano, Joaquim, 186, 398, 407, 425, 472, 474 Vetílio, Gaio, 236, 240
Valência, 192, 194, 248, 314, 320, 427, 437 Vetílio, Marco, 238, 240
Valente, Lúcio Júlio, 324 Vetões. (Ver Vectões), 8, 14, 26, 78, 96, 98, 100,
Valentim (ou Valenciano), Honorato João, 244, 106, 108, 110, 112, 114, 116, 118, 122, 124,
437 126, 208, 258, 378, 409, 415, 430, 431, 441
Valentim da Morávia, 146, 414 Vetónia, 120, 122, 126, 130, 268, 280, 410
Valentiniano, 276, 390 Viana de Caminha, 385
Valeriano, César Públio Licínio, 312, 313 Vicente, São, 12, 108, 248, 314, 423, 448
Valério, Lúcio, 228 Vicente, Cabo de S., 102, 104, 106, 110, 212, 308,
Valério Anciate, 413 314, 316, 318, 322, 411
Valério Máximo, 19, 138, 230, 232, 240, 248, 252, Vida de S. Martinho de Soure, 20
260, 412, 435, 440, 480 Viena, 6, 56, 400, 434, 461, 471
Vália, 274, 276, 444 Vila Franca, 182, 292
Valladolid, Concílio de, 9, 413, 463 Vila Nova, 316
Vamba, Rei, 326, 450, 451 Vila Nova da Coelheira, 118
Vandália, 276 Vila Nova de Portimão,
Vandalícia, 276 Vila Viçosa, 314, 316, 386, 387, 432, 449
Vândalos, 274, 276, 390, 443, 444, 479 Viminal, 17, 246, 352, 390, 403
Vargo, Vale de, 304, 446 Vínduo (ou Víndio), Monte, 162
Varrão, 19, 35, 92, 100, 106, 116, 148, 150, 172, Violante, 320
Índice de nomes próprios e palavras 499
Introdução ...................................................................................................... 5
TEXTO E TRADUÇÃO
L ivro S egundo
Os Rios ..................................................................................................... 165
L ivro Terceiro
Que Povos Dominaram Outrora a Lusitânia ............................................. 205
L ivro Q uarto
Escólios de Diogo Mendes de Vasconcelos .............................................. 301
502 As Antiguidades da Lusitânia
NOTAS E COMENTÁRIOS