Tattva Bodha - Conhecimento Da Verdade ( (Ilustrado)
Tattva Bodha - Conhecimento Da Verdade ( (Ilustrado)
Tattva Bodha - Conhecimento Da Verdade ( (Ilustrado)
(Conhecimento da Verdade)
Introdução
Vedanta refere-se aos textos no final de cada Veda, cujo sujeito é o conhecimento
do Ser. Quando você adquire o conhecimento do Ser, você não tem mais dúvida a
respeito da natureza da realidade.
Por que se deve confiar nos ensinamentos do Vedanta? Porque eles não são a
filosofia de um indivíduo, nem são as alegações de uma religião específica ou uma
escola de pensamento filosófica. Apesar de terem surgido na Índia, não há nada
“indiano” a respeito deles. Eles são Verdade revelada. Verdade revelada por
definição não tem autoria de pessoas nem pertence a nenhuma religião em
particular. Ela vem diretamente do Ser. Durante a revelação, os preconceitos
individuais e visões pessoais são suspensos, porque a pessoa está “extática”...
fora do pequeno ser. Mesmo nesse caso, as palavras que são usadas para
transmitir o senso de verdade, devem ser verificadas por muitos outros por um
longo período de tempo, antes que possam ser aceitos.
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despertar um desejo de realizar o Ser, você vai abordar alguém estabelecido no
não-dualismo e solicitar o ensinamento.
Desejo
Necessidades físicas e biológicas são naturais; elas estão integradas ao corpo e
são compartilhadas por todos os membros da espécie humana. Outras
necessidades, no entanto, são cultivadas baseadas em ideias predeterminadas que
surgem da experiência. A tendência de um cão de ir em direção à um homem
carregando um osso é um instinto cultivado. Ele foi previamente alimentado à mão
e se lembra de que a experiência de mastigar um osso é atrativa. Se seu dono
aparecer segurando um pau, ele corre, tendo desenvolvido uma aversão a
apanhar, baseada nas experiências passadas.
Seres humanos são um trabalho em andamento. Eles não são apenas imperfeitos
e incompletos, mas, ao contrário dos animais, eles estão conscientes disso. Esse
senso inato de incompletude provoca uma forte necessidade de buscar a
completude e a totalidade. Essa necessidade por sua vez surge como um desejo
de ser melhor ou diferente do que a pessoa é no momento e pode ser tão
importante para ela - às vezes mais importante - do que seus instintos e
necessidades corporais naturais.
Então ao invés de terminar livre do desejo quando eu ajo - o que era a minha
intenção - em última análise eu termino com mais desejo. Outra maneira de
formular esse problema é dizer que seres humanos são motivados continuamente
a remover um senso de limitação inato, mas antinatural. Portanto eles se esforçam
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para se sentirem ilimitados e livres. Por exemplo, quem não se sente limitado por
falta de dinheiro, tempo, poder ou amor?
Causa e Efeito
O desejo de ser completo só pode ser satisfeito se for possível alcançar a
completude. Infelizmente, a completude não pode ser alcançada, por causa da lei
de causa e efeito. Completude/não limitação/perfeição só poderiam ser alcançadas
se fosse possível fazer um esforço que trouxesse um resultado ilimitado. Mas
ações, que são sempre desempenhadas por entidades finitas, produzem apenas
resultados limitados. Mesmo a soma de dezenas de milhares de ações limitadas
não se equipara à não limitação. Milhardários se tornam milionários e milionários
se tornam bilionários e bilionários empenham-se ainda mais. Tristemente, um
indivíduo está tão longe da riqueza com um dólar quanto com um trilhão. No caso
do estado de êxtase ilimitado, dez mil momentos de satisfação emocional são
exatamente o mesmo que um momento. Mesmo na esfera do conhecimento,
quanto mais alguém sabe, mais se torna consciente do que é desconhecido. Apesar
de seu grande conhecimento matemático, Einstein era ignorante de muitas outras
coisas.
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isso e a pessoa que deseja a conclusão. Através de esforços oportunos e
adequados, qualquer coisa que não tenha sido alcançada pode ser alcançada. No
entanto, nenhum esforço ou ação são requeridos para alcançar aquilo que já foi
alcançado. Certo dia um homem pediu a Deus para dar a ele uma cabeça sobre os
seus ombros, e o Senhor ficou desconcertado. “Eu posso ser onipotente, mas não
posso satisfazer o seu pedido.” Ele disse, “Eu posso te dar uma cabeça maior, uma
cabeça menor. Eu posso torcer sua cabeça como um pretzel, ou achatá-la como
uma pizza, mas eu não posso te dar uma cabeça sobre os seus ombros.” “Por que
não?” o homem perguntou. “Porque, tolinho, você já tem uma cabeça sobre os
seus ombros.”
VEDANTA
O Décimo Homem
Um grupo de dez homens estava fazendo uma viagem pelo país. Eles chegaram a
uma parte rasa do rio que precisava ser atravessada a pé. Para se certificar de
que estavam todos presentes e contabilizados para depois de cruzarem, o líder os
alinhou e contou... mas a conta revelava apenas nove. Eles ficaram agoniados e
procuraram por toda parte pela pessoa desaparecida. Quando todos os seus
esforços não produziram o décimo homem, eles caíram em uma profunda
depressão. Nesse momento, um senhor se aproximou e vendo a sua aflição
perguntou qual era o motivo. O líder explicou a situação e o velho sorriu. “Se alinhe
com os outros,” ele disse ao líder. Então o senhor contou. “...Oito, nove, dez!” ele
disse apontando para o líder... que havia esquecido de incluir a si mesmo.
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de conhecimento do Ser. Vedanta também inclui as escrituras de Yoga, que são
essenciais para atingir o estado mental apropriado para receber o conhecimento.
Um professor de Vedanta é alguém que tomou conhecimento da sua natureza
ilimitada e pode habilmente revelar o Ser ao desdobrar o verdadeiro significado
dos ensinamentos. Frequentemente acredita-se que uma epifania ou uma
transmissão energética de um “mestre espiritual” vão resultar na Realização do
Ser, mas isso não é verdade, a não ser nas situações extremamente raras onde o
conhecimento “Eu sou consciência ilimitada” surge durante a experiência e
mantem-se de forma permanente na mente quando a experiência termina,
destruindo todos os pensamentos subsequentes de limitação. O assim chamado
“mundo espiritual” consiste de um pouco mais de centenas de milhares de pessoas,
que desfrutaram da experiência de sentirem-se ilimitados e completos, mas que
persistem em ver a si mesmos como criaturas carentes e limitadas. Portanto
alguém que busca o conhecimento do Ser precisa estar preparado. A preparação
consiste essencialmente em adquirir uma mente imune à atração ao medo e ao
desejo, uma mente na qual o Ser possa ser claramente apreendido e que possa
reter o conhecimento “Eu sou o Ser.”
Conhecimento
Dois fatores são necessários para obter o conhecimento de um objeto: O objeto
em si e um meio válido de conhecimento. Para adquirir o conhecimento de
cachorro, um cachorro deve estar presente dentro do escopo da percepção e dos
olhos que devem estar funcionando - apoiados pela atenção da mente (porque
todo o conhecimento acontece na mente). Se apenas os olhos estiverem
funcionando mas a mente não estiver presente, o conhecimento não pode
acontecer. Nesse caso, os olhos e a mente são os meios de conhecimento.
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porque a imagem formada na mente depende de nossas impressões passadas e
nossas crenças e opiniões. A imagem do mesmo objeto ou descrição de um objeto,
formada em diferentes mentes é geralmente diferente.
O Texto
Tattva Bodha foi escrito em Sânscrito no Século Oito por Shankaracharya e
significa “conhecimento da verdade.” É um texto introdutório, que delineia os
fundamentos do Vedanta. Após explicar as qualificações necessárias para realizar
o Ser, ele lida com o relacionamento entre o indivíduo, o mundo e o Ser. Ele explica
os termos técnicos que formam a base do Vedanta. Sem compreender o sentido
dessas palavras, os meios de conhecimento não vão funcionar.
INVOCAÇÃO
Saudações ao Ser, aquele que confere o conhecimento na forma do meu
professor. Este tratado, “O Conhecimento da Verdade” é para o benefício
dos buscadores da liberação qualificados.
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Para compreender nossa verdadeira identidade, o processo de discriminação
(viveka) deve ser empregado. O conhecimento do Ser está misturado com a
ignorância do Ser. Portanto uma pesquisa discriminativa é necessária. Essa
pesquisa apenas produzirá resultados bem-sucedidos se o estudante for
qualificado. Uma pessoa qualificada possui as qualidades descritas a
seguir:
1 - Discriminação (viveka)
O que se entende por discriminação entre o impermanente e o
permanente? É a convicção de que apenas o Ser é permanente e que tudo
o que é experienciado é impermanente.
Essa qualificação basicamente exclui noventa e nove vírgula nove por cento da
raça humana da realização do Ser. Por que? Porque é precisamente por causa do
desejo pelos resultados das suas ações que as pessoas executam ações. Um
buscador da liberação, no entanto, compreendeu e aceitou o fato doloroso de que
os resultados de uma ação não apagam permanentemente o seu senso de
inadequação, incompletude e limitação. Por que? Porque eles são condicionados
pelo tempo (são temporários). O não-apego deve surgir desse entendimento, não
do desespero. É comum as pessoas se tornarem negativas quando percebem que
conseguir o que querem e evitar o que não querem, não resolve a questão da
felicidade. Uma pessoa discriminativa ficará satisfeita ao descobrir que os
resultados das ações (o que acontece na vida dele ou dela) não são
permanentemente satisfatórios. Por que? Porque isso a libera da sua compulsão
por agir e permite atividades criativas e espontâneas que não são orientadas por
objetivos. E libera a mente para buscar a felicidade no Ser.
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3 - Controle da mente e dos sentidos (sama e dama)
A força de vontade é útil mas não o suficiente para controlar uma mente inquieta.
Controle mental significa que uma pessoa não cede aos medos e desejos que
surgem na mente, mas vive de acordo com um princípio superior. Ao subordinar-
se a um princípio superior, a mente se torna calma.
5 - Tolerância (titiksha)
Ater-se ao seu caminho escolhido com um estado de espírito alegre, não
importando quais são os obstáculos encontrados, é chamado de titiksha.
6 - Fé (shraddha)
Fé é a crença de que o que a escritura e o professor dizem é verdade.
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desapegada, com uma mente clara, não vai realizar o Ser a não ser que desenvolva
um interesse duradouro por isso.
Investigação no Ser
O texto agora discute a natureza da investigação (discriminação) que leva à
verdade do seu Ser.
O SER
Aquilo que existe mas sofre mudança é chamado de “mithya”, realidade aparente.
Todas as coisas nos mundos subjetivo e objetivo mudam.
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O INDIVÍDUO
O que são os três corpos (sharira traya)?
Os corpos Bruto, Sutil e Causal são testemunhados pelo atman, o Ser. Se o Ser se
identifica com o Corpo Bruto, ele parece ser uma entidade ambulante. Quando se
identifica com o Corpo Sutil, parece ser um sonhador ou pensador. Quando se
identifica com o Corpo Causal, parece ser aquele que dorme. Esse processo é
parecido com o de um ator, fazendo diferentes personagens num drama, ou um
cristal límpido que assume a cor de um objeto que está próximo dele. Mas como
um ator, o Ser se distingue dos papéis que aparenta assumir. O Ser é portanto
chamado de testemunha (sakshi) dos três corpos e de seus respectivos estados.
O Ser é “Eu” e os corpos são “isso”.
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O que é o Corpo Bruto (Físico)?
É aquilo que é composto dos cinco elementos (mahabhutas) ...espaço, ar, fogo,
água e terra... depois deles terem passado pelo processo de se dividir e combinar
(panchikarana).
O Corpo Bruto, o envoltório material externo, é mantido vivo pelo Corpo Sutil que
opera os órgãos da percepção e ação e os pranas, os sistemas fisiológicos. Quando
o Corpo Bruto morre, o corpo Sutil o deixa. O Corpo Sutil varia de uma pessoa
para a outra. A identificação do Ser com o aspecto emocional do Corpo Sutil resulta
em sentimentos como: “Eu estou feliz. Eu estou infeliz. Eu estou bravo.” Etc.
Espaço para o ouvido. Ar para a pele. Fogo (luz) para os olhos. Água para o paladar
e Terra para o nariz.
O campo de experiência para o ouvido é o espaço, que faz com que o som seja
possível. O campo de experiência para a pele é o ar, que faz com que o toque seja
possível. Fogo (luz) faz com que a percepção da forma seja possível. Percepção
das formas é função dos olhos. A língua funciona porque a água faz com que o
gosto seja possível. O propósito do nariz é a cognição dos elementos da terra.
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Os órgãos da ação são chamados karma indriyas. Eles são: fala, mãos, pernas,
anus e genitais. O elemento responsável pela fala é o fogo. Para as mãos, ar. Para
os pés, espaço. Para o ânus, terra e para os genitais, água.
Se nós somos inteiros e completos, puros e perfeitos por natureza, não existe
razão para entrar num corpo para experienciar o mundo, já que o mundo é
simplesmente um lugar para acumular experiência cujo objetivo é remover o
sentimento universal de incompletude. O verso diz que a ignorância que causa o
nosso nascimento é inexplicável. Isso significa que ela é anterior à formação do
Corpo Sutil (a mente) e portanto não pode ser racionalmente explicada.
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A experiência do Êxtase
O Corpo Causal é responsável pelo êxtase que um indivíduo sente no estado
desperto. Existem três energias sutis (vrittis) que operam nele. A primeira é priya
vritti. É a alegria sentida ao pensar num objeto que se gosta. Moda vritti é a alegria
sentida quando o objeto de desejo de alguém está prestes a ser possuído. Pramoda
vritti é a alegria de experienciar o objeto desejado.
O fato de que o “Eu” está consciente dos cinco envoltórios significa que
ele não pode ser nenhum deles.
Assim como as posses materiais de uma pessoa são diferentes dela, o Ser não tem
conexão com os três corpos ou cinco envoltórios. Aquele que conhece sempre
é diferente daquilo que é conhecido. Portanto é dito que o Ser, aquele que
conhece, está “além dos corpos e dos envoltórios” (panchakoshatita).
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Os Três Estados (avasha traya)
Os três estados da experiência são a vigília, sonho e sono profundo e
correspondem aos três corpos.
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Prajna significa “quase ignorante.” Ainda que o Corpo Sutil seja ausente e portanto
nenhum conhecimento esteja disponível no estado de sono, o Ser, consciência,
está presente e portanto é “quase ignorante.”
O SER (ATMAN)
Os três estados de consciência relacionados ao indivíduo foram descritos. Pela
descrição, fica claro que é dado ao Ser um nome diferente em cada estado, porque
ele está identificado com um “corpo” diferente. No entanto, o Ser é sempre o
mesmo e sempre presente em cada estado. É o conhecedor dos estados e é
portanto chamado sakshi ou “a testemunha.”
Não é suficiente saber o que o Ser não é. Para ter consciência disso diretamente e
reter o conhecimento, o buscador necessita saber o que isso é. O texto agora
explica o que é o Ser. Ainda que se ouça comumente que o Ser não pode ser
conhecido com segurança, já que é a única coisa que é sempre existente, sempre
presente e nunca muda. Os objetos, sutis e grosseiros que uma pessoa conhece,
desfrutam de uma condição ontológica e peculiar: eles não são nem reais nem
irreais. Qualquer conhecimento deles está sujeito a erro e correção porque eles
nunca permanecem os mesmos.
O Ser não muda quando os três corpos e seus respectivos estados mudam. Está
além do tempo e portanto é chamado de “aquilo que sempre existe (sat).”
As limitações sofridas pelos corpos não afetam o Ser. Ele é ilimitado. É auto-
radiante, vê o espaço como um objeto interno e permeia cada átomo do cosmos.
É ilimitado e completo (purna). É um todo sem partes.
É a natureza de cada coisa viva e não viva, mas não é conhecido porque toda a
nossa atenção está envolvida em:
1 - Tentar afastar a morte - a morte no entanto, não é uma questão para o Ser
e tentativas de impedi-la demonstram falta de discriminação;
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quais os humanos sofrem originam-se de uma identificação desnecessária com
aquilo que muda;
A felicidade real acontece quando o indivíduo sabe que é o Ser. Objetos não podem
fornecer felicidade. No estado de sono profundo, não existem objetos, nem corpos
ou mente, no entanto o indivíduo experiencia êxtase ilimitado, o Ser.
O Universo (jagat)
O que é o cosmos e como ele evoluiu?
Então surge a pergunta: como o mundo objetivo, que é finito, surge do infinito?
Porque o infinito não pode se transformar em finito, a presença de uma realidade
temporal apresenta um problema.
MAYA
Um objeto criado pode vir a existir como uma mudança ou como uma
modificação da substância a partir da qual foi feita, ou por erro que
confunde a substância real com outra coisa.
Um exemplo do primeiro tipo de criação seria um pote que foi criado a partir de
um monte de argila.
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"Cobra! Cobra! Pegue um pau antes que ela ataque!" ela sussurrou
freneticamente.
O senhor explodiu em risadas. "Hei!" ele disse, "Tenha calma. Isso não é uma
cobra. É a corda do poço que está enrolada. Apenas se parece com uma cobra no
escuro."
Nesse caso a cobra foi criada pela ignorância da mulher a respeito da corda. Esse
poder de projeção é universal e se aplica momento a momento a quase tudo o que
é experienciado. É a causa da maior parte dos conflitos sociais. O processo de
autoinvestigação basicamente implica em tornar-se consciente das suas projeções
e descartar a parte do Ser que as produz: a mente.
Enquanto o indivíduo se sentir separado de tudo, ele sofre. Como alguém pode
perceber a sua identidade com Deus, o todo? O indivíduo possui tanto o corpo sutil
quanto o corpo bruto. Enquanto o corpo bruto absorve a consciência, como um
muro de tijolos absorve a luz, o Corpo Sutil é reflexivo e o Ser pode ser percebido
nele.
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Criação
Duas causas são necessárias para qualquer criação intencional: uma causa eficaz
(nimitta karana) e uma substância material (upadana karana). Quando um pote é
criado, a mente do ceramista e a ideia contida nela são a causa eficaz e a argila é
a causa material. A causa eficaz precisa ter o conhecimento necessário,
inteligência e poder para criar.
Com respeito à criação do universo, pode parecer que o criador criou o mundo a
partir da matéria. Mas quem criou a matéria? É parecido com uma aranha que é
tanto a substância da sua teia quanto a inteligência que a formata.
Os Elementos
A próxima seção do texto descreve o processo da evolução, tanto dos elementos
sutis quanto grosseiros que constituem o universo. Os objetos sutis evoluem a
partir dos elementos, antes de sua divisão e recombinação. Os elementos
evoluíram a partir de Maya, que por sua vez é o poder de Brahman, o Ser. Portanto
o Ser é a substância fundamental a partir da qual o universo de matéria grosseira
e sutil (energia) é feito.
O espaço transcende tudo o que está nele. Portanto quando alguém move um
objeto de um lado a outro, ele não precisa mover o espaço que o objeto ocupa.
De forma similar, a consciência ou Atman está em todo lugar. O Corpo Sutil está
sempre banhado em consciência. Ele brilha com consciência quando está livre de
agitação e de embotamento. Se o indivíduo medita sobre a mente nessas
condições, ele pode ver facilmente o reflexo perfeito do Ser. Conforme alguém
medita sobre o Ser na mente, ele deve pensar claramente sobre o que ele é e
como se relaciona com os Corpos Sutil e Bruto, mantendo na mente o tempo todo
que o que está experienciando não é nada diferente do que o seu próprio Ser...
ainda que possa parecer. O propósito de todos os ensinamentos Vedantinos é
ajudar o indivíduo a ter consciência da sua identidade como o Ser. Essa identidade
está contida no mantra: “tat tvam asi” que significa “aquilo (consciência) é você.”
Ler escrituras não vai resultar na realização do Ser, porque as escrituras, como a
vida, são cheias de paradoxos. O paradoxo sutil do indivíduo e do todo pode ser
removido com a ajuda de um professor que tenha o entendimento adequado e a
habilidade de comunicar isso, de acordo com a metodologia básica de ensino. Ao
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contrário do Yoga, Vedanta não é um sistema de práticas para fazedores. É
revelação através de paradoxos.
No entanto, esse texto é escrito para aqueles que estão presos na teia da dualidade
e pensam em si mesmos como “pessoas”, então o texto explica a Autorrealização
em termos de uma identidade limitada. Um “jivanmukta” é alguém que “é livre
ainda vivo.” O indivíduo não pode na verdade “ser liberado” (porque já é livre), a
não ser que a liberação ou a iluminação seja vista como uma remoção da
ignorância do Ser.
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3 - E imediato (aparoksha). Conhecimento imediato é conhecimento de algo que
está presente mas é desconhecido.
O Ser é sempre presente. Sem ele, nada pode ser experienciado ou conhecido. O
conhecimento do Ser é “Eu sou o Ser ilimitado”, e não “Eu conheço ou experiencio
o Ser.” Se o conhecimento de alguém equivale à declaração “Eu estou
experienciando o Ser”, ele deve continuar a investigar.
O que é Karma?
O indivíduo (jiva) não tem começo porque nasce da ignorância que não tem
começo. Durante a sua existência, ele assume formas diferentes e passa por
incontáveis nascimentos e mortes. Quando em forma humana, faz boas ou más
ações (karmas), com um sentido de autor das ações.
2 - Sanchita karma
3 - Prarabdha karma
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O prarabdha karma determina a forma que um corpo toma nessa vida e o tipo de
ambiente que é mais adequado para que ele seja expresso e processado. Os tipos
de karmas que estão operando determinam se o ambiente/experiência é agradável
ou desagradável. Quando o prarabdha karma for exaurido, o corpo morre.
Assim como um homem que vê a sim mesmo num espelho côncavo ou distorcido
sabe que é livre das limitações da imagem distorcida, uma alma autorrealizada
também sabe que não está preso às limitações do corpo e da mente.
Para que o conhecimento seja obtido, o indivíduo deve primeiro ouvir o que ele é.
Depois de ouvir, ele deve refletir e investigar para ver se o que ele ouviu é verdade.
Uma vez que esteja convencido, ele ou ela precisa viver de acordo com a verdade.
Se uma pessoa acredita que ele ou ela é limitado, inadequado e incompleto, sua
vida nunca será uma fonte de alegria. No entanto, se depois de uma longa
contemplação a pessoa aceitar completamente o fato de que é inteiro e completo,
a vida será um grande prazer.
Fim
Uma Confissão
Se o leitor comparar o texto acima com o original em Sânscrito, ele ou ela vai
encontrar muitos exemplos onde essa versão não é uma réplica exata do original.
Isso não se deve a um erro. A cópia a partir da qual eu estava trabalhando, uma
publicação da Chinmaya Mission escrita há uns quarenta anos atrás, continha
todos os versos originais, mas a apresentação era tediosa. Portanto eu escolhi
interpretar o texto de uma maneira mais atrativa e num formato mais intuitivo e
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como resultado, combinei e condensei alguns versos. Em grande parte eu me ative
aos comentários originais de uma das Swaminis da Chinmaya Mission, mas
ocasionalmente adicionei outros exemplos relevantes e explicações que estão bem
estabelecidas na tradição do Vedanta.
Uma Justificativa
Tattva Bodha, no entanto, não sofre desse problema. É apenas um texto que
estabelece a base para o ensinamento tradicional ao introduzir a linguagem que é
usada para remover a ignorância do Ser e revelar o Ser. Seu problema é menos
óbvio: a linguagem evoluiu... como acontece... de forma que traduções que
serviram a gerações anteriores não funcionam tão bem hoje. Acontece que textos
Vedantinos tem sido publicados em Inglês por bem mais de cem anos. O Inglês
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Vitoriano usado para redigir a primeira onda de traduções, serviu ao seu propósito
e não atrai mais o público. Então eu tornei minha missão atualizar o Inglês de
algumas das traduções de textos importantes. Me sinto especialmente qualificado
para fazer isso, primeiro porque, conforme mencionado acima, meu amor pelo
Vedanta é puro. Segundo, eu aprendi nas “internas”, na Índia, de sábios indianos
que ainda estavam conectados a essa tradição antiga. Terceiro, porque minha
compreensão dos ensinamentos é a base da minha vida; quem eu sou e como eu
vivo não está separado dos ensinamentos. E finalmente, eu amo palavras e me
mantive atualizado com a natureza mutante do Inglês. Acontece que eu estou em
algo porque outros trabalhos que eu atualizei tiveram um impacto profundo na
vida das pessoas. Se você é um purista e quer ter certeza de que eu não peguei
nenhum atalho, você pode desencavar um original em Sânscrito e compará-lo com
a cópia acima. Eu prevejo que você não encontrará nenhuma discrepância séria e
que em espírito, ele está igual ao original.
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