Teoria Da Literatura II Vol1
Teoria Da Literatura II Vol1
Teoria Da Literatura II Vol1
Moraes Volume 1
Volume 1
Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo
Júlio França
Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba
ISBN 978-85-7648-911-5
Teoria da Literatura II
Teoria da Literatura II
Volume 1 Anita M. R. Moraes
Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo
Júlio França
Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua da Ajuda, 5 – Centro – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20040-000
Tel.: (21) 2333-1112 Fax: (21) 2333-1116
Presidente
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Vice-presidente
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Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Anita M. R. Moraes
Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo EDITOR DIRETOR DE ARTE
Júlio França Fábio Rapello Alencar Alexandre d'Oliveira
Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba COORDENAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO VISUAL
REVISÃO Ronaldo d'Aguiar Silva
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL
Cristina Freixinho
ILUSTRAÇÃO
Cristine Costa Barreto REVISÃO TIPOGRÁFICA Clara Gomes
SUPERVISÃO DE DESENVOLVIMENTO
Beatriz Fontes
CAPA
INSTRUCIONAL Carolina Godoi
Clara Gomes
Flávia Busnardo Cristina Freixinho
Elaine Bayma PRODUÇÃO GRÁFICA
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Patrícia Sotello Verônica Paranhos
E REVISÃO
Thelenayce Ribeiro
Ana Maria Osborne
COORDENAÇÃO DE
AVALIAÇÃO DO MATERIAL PRODUÇÃO
DIDÁTICO Bianca Giacomelli
Thaïs de Siervi
Copyright © 2013, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
M827t
Teoria da Literatura II. v. 1. / Anita M. R. Moraes...[et
al]. - Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2013.
ISBN: 978-85-7648-911-5
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
CEFET/RJ - CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA RIO DE JANEIRO
Diretor-geral: Carlos Henrique Figueiredo Alves Reitor: Carlos Levi
SUMÁRIO
Aula 11 – A literatura e a vida social _______________________________ 7
Anita M. R. Moraes
11
AULA
a vida social
Anita M. R. Moraes
Metas da aula
Definir estratégias de estudo das relações entre
literatura e sociedade e reconhecer problemas
teóricos concernentes a uma abordagem interdis-
ciplinar nos estudos literários.
objetivos
INTRODUÇÃO Quando nos interessamos por investigar as relações da literatura com a vida
social, somos conduzidos a uma abordagem interdisciplinar, ou seja, a arti-
cular diferentes disciplinas ou áreas do saber. Isso porque necessariamente
dialogamos, a partir dos estudos literários, com as disciplinas dedicadas
ao estudo da vida social, como é o caso da Sociologia, da Antropologia e
da História. Nosso objetivo, nesta aula, será refletir sobre como podemos,
como estudiosos de literatura, valer-nos de contribuições de outras áreas do
conhecimento de maneira a enriquecer nosso olhar sobre a literatura. Para
tanto, conheceremos aspectos do pensamento de Antonio Candido (estudio-
so e teórico brasileiro nascido em 1918) sobre como certos conhecimentos
das Ciências Sociais e da História podem ser úteis para os estudos literários.
Importa ter em mente que Candido, no início de sua carreira, foi professor
de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP) e atuou na imprensa como
crítico literário (tendo sido um dos editores da revista Clima). Este duplo ponto
de vista, que caracterizou sua formação intelectual, foi certamente importante
para a definição de sua perspectiva teórica.
8 CEDERJ
De fato, antes se procurava mostrar que o valor e o significado
11
de uma obra dependiam de ela exprimir ou não certo aspecto da
AULA
realidade, e que este aspecto constituía o que ela tinha de essen-
cial. Depois, chegou-se à posição oposta, procurando-se mostrar
que a matéria de uma obra é secundária, e que a sua importância
deriva das operações formais postas em jogo, conferindo-lhe uma
peculiaridade que a torna de fato independente de quaisquer con-
dicionamentos, sobretudo social, considerado inoperante como
elemento de compreensão.
Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar
nenhuma dessas visões dissociadas; e que só a podemos entender
fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente
íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos
fatores externos, quanto o outro, norteado pela convicção de
que a estrutura é virtualmente independente, combinam-se como
momentos necessários do processo interpretativo (2000, p. 5-6).
CEDERJ 9
Teoria da Literatura II | A literatura e a vida social
11
consciência da relação arbitrária e deformante que o trabalho
AULA
artístico estabelece com a realidade, mesmo quando pretende
observá-la e transpô-la rigorosamente, pois a mimese é sempre
uma forma de poiese (p. 13).
CEDERJ 11
Teoria da Literatura II | A literatura e a vida social
12 CEDERJ
ATIVIDADE
11
Atende ao Objetivo 1
AULA
1. Reconhecendo problemas concernentes ao estudo das relações entre
os fatores externos e os fatores internos ao texto literário.
Leia as passagens a seguir:
a) Trecho da introdução à História da literatura inglesa (1863), de Hip-
polyte Adolphe Taine:
b)
CEDERJ 13
Teoria da Literatura II | A literatura e a vida social
RESPOSTA COMENTADA
Em sua resposta, você pode tratar das possíveis formas de diálogo
dos estudos literários com outras áreas do conhecimento. Discutindo
o excerto da Introdução à literatura inglesa, de Taine, você poderá
abordar a perspectiva oitocentista, que desconsiderava as especifi-
cidades do texto literário em favor dos fatores externos, como, por
exemplo, a vida do autor. Discutindo o segundo excerto, poderá
tratar do posicionamento de Antonio Candido, retomando o conceito
de transfiguração.
14 CEDERJ
sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa. Nesta obra, o narrador é
11
o próprio sertanejo, Riobaldo, cujo discurso denso e poético desafia
AULA
o leitor a desenvolver novas perspectivas sobre a realidade brasileira.
Há, assim, uma via de mão dupla: a obra literária é tanto influenciada
pelo meio social como nele interfere, reforçando ou transformando as
concepções vigentes.
Candido anuncia, porém, que seu “estudo abordará de preferência
o primeiro aspecto – sem desdenhar de todo do segundo –, começando
por indagar quais são as possíveis influências do meio sobre a obra”
(2000, p. 18). O estudioso entende que são vários e de natureza múltipla
os fatores externos a serem considerados, afinal, são todos os elementos
externos ao texto que podem contribuir para seu entendimento porque,
de alguma maneira, afetaram sua produção, circulação e/ou recepção.
Contudo, haveria três conjuntos particularmente decisivos de fatores
externos: aqueles que “se ligam à estrutura social, aos valores e ide-
ologias e às técnicas de comunicação” (2000, p. 20). Esta proposição
é fundamental: Candido sugere que são “estes três grupos de fatores”
(2000, p. 20) – a estrutura social, os valores e ideologias, bem como as
técnicas de comunicação – que devem ser especialmente considerados
nos estudos literários. Isso porque afetam concretamente a composição
da obra de arte. Como podemos considerar esses fatores e avaliar sua
influência na configuração da obra de arte literária? O autor explica:
CEDERJ 15
Teoria da Literatura II | A literatura e a vida social
CONCLUSÃO
16 CEDERJ
como se fazia no século XIX. Contudo, Antonio Candido tampouco
11
considera que a obra exista desvinculada de um contexto social especí-
AULA
fico de produção e circulação. Em sua perspectiva, toda obra de arte é
uma realidade particular que mantém relações com a realidade externa.
Por um lado, a obra não é um simples reflexo, um espelho do mundo;
por outro, mantém com a realidade uma relação necessária, mesmo que
deformante (transfiguradora). Assim, Candido propõe uma abordagem
íntegra da obra literária, atenta tanto a sua composição interna como a
fatores externos. Em sua perspectiva, desde que as pontes entre texto e
contexto sejam feitas de maneira cuidadosa e precisa, o conhecimento
do contexto social de produção da obra pode trazer elementos impor-
tantes para sua compreensão.
ATIVIDADES FINAIS
Atende aos Objetivos 1 e 2
1)
CEDERJ 17
Teoria da Literatura II | A literatura e a vida social
a) Era nos primeiros anos do reinado de Sr. D. Pedro II. No fértil e opulento
município de Campos de Goitacases, à margem do Paraíba, a pouca distância
da vila de Campos, havia uma linda e magnífica fazenda. Era um edifício
de harmoniosas proporções, vasto e luxuoso, situado em aprazível vargedo
ao sopé de elevadas colinas (…) A casa apresentava a frente às colinas. (…)
Os fundos eram ocupados por outros edifícios acessórios, senzalas, pátios,
currais e celeiros, por trás dos quais se estendia o jardim, a horta, e um imenso
pomar, que ia perder-se na barranca do grande rio (GUIMARÃES, 1981, p. 9;
apud ABREU, 2004, p. 204).
18 CEDERJ
fatores socioculturais destacados por Candido: 1) estrutura social, 2) valores e
11
ideologias, 3) técnicas de comunicação. A seguir, explique com suas próprias
AULA
palavras, em até 15 linhas, por que o poeta de cordel Apolônio Alves dos Santos
fez as alterações que você leu no trecho b, em relação ao trecho a do romance
A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.
RESPOSTA COMENTADA
Nesta atividade, você deve ser capaz de reconhecer como certos fatores socioculturais
influenciam o trabalho dos poetas que adaptam romances eruditos para os folhetos
de cordel. Deve também considerar que as maneiras de se representar a realidade
são múltiplas e dependem de valores e ideologias partilhados socialmente. Para tanto,
é importante recorrer às proposições de Antonio Candido abordadas durante a aula.
CEDERJ 19
Teoria da Literatura II | A literatura e a vida social
RESUMO
20 CEDERJ
O conceito de
12
AULA
sistema literário
Anita M. R. Moraes
Meta da aula
Apresentar a literatura como um circuito de
comunicação que envolve, necessariamente, três
elementos: o autor, a obra e o público.
objetivos
22 CEDERJ
12
Segundo o Dicionário Aurélio, solipsismo significa, no âmbito da filoso-
AULA
fia, “doutrina segundo a qual a única realidade do mundo é o eu”. Por
extensão, significa também “vida ou costume de quem vive na solidão”.
CEDERJ 23
Teoria da Literatura II | O conceito de sistema literário
24 CEDERJ
MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS VERSUS SISTEMA LITERÁRIO
12
AULA
Antonio Candido publicou, em 1959, a Formação da literatura
brasileira: momentos decisivos, trabalho que se tornou uma referência
muito importante para os estudos literários produzidos no Brasil. Antonio
Candido define seu estudo como a investigação dos momentos decisi-
vos da formação de nossa literatura enquanto um “sistema literário”.
Vejamos:
CEDERJ 25
Teoria da Literatura II | O conceito de sistema literário
26 CEDERJ
modelo para a sua própria produção, não dependendo de influências
12
externas (estrangeiras), podemos dizer que um novo sistema literário
AULA
está formado (simbólico e material, ou seja, envolvendo elementos
internos e externos às obras, como veremos adiante). Antonio Candido
pretende, assim, identificar como as obras se articulam num dado período
(definindo uma fase) e ao longo do tempo (formando uma tradição).
Em sua perspectiva, o atestado de maturidade da literatura brasileira
seria Machado de Assis (1839-1908), escritor que teria se voltado para
o legado de Manuel Antonio de Almeida (1831-1861) e José de Alencar
(1829-1877) ao elaborar sua obra.
Uma grande polêmica teve lugar nos finais dos anos 1980 e começo dos
anos 1990 envolvendo a Formação da literatura brasileira, de Antonio
Candido. Haroldo de Campos, importante teórico, tradutor, poeta e estu-
dioso de literatura (integrante do grupo Concretista), criticou a exclusão
de Gregório de Mattos do “cânone da Formação” proposto por Candido.
Em seu livro, intitulado O sequestro do barroco na formação da literatura
brasileira, de Antonio Candido: o caso Gregório de Mattos (1989), Haroldo
de Campos discorda da abordagem sociológica de Candido, sugerindo
que o estudioso dá pouca atenção à função poética em favor das fun-
ções referencial e emotiva da linguagem. Em sua perspectiva, é a função
poética aquela que deve ser priorizada. Vemos que Haroldo de Campos
recorre às funções da linguagem propostas por Roman Jakobson para
construir sua crítica. O grande problema apontado pelo concretista é que
Candido teria dado primazia ao critério da nacionalidade, da expressão
do caráter nacional, para selecionar as obras que participariam do sistema
literário, deixando em segundo plano sua qualidade estética.
Leia o livro de Haroldo de Campos e conheça melhor sua posição. Afinal,
é conhecendo diferentes concepções acerca da literatura e dos estudos
literários que você pode ir definindo, paulatinamente, a sua própria
perspectiva.
Para saber mais sobre as críticas feitas por Haroldo de Campos a Antonio
Candido, leia o artigo do professor Alcides Villaça intitulado “Um contro-
verso libelo da crítica”, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, no dia
12 de março de 2011. O artigo pode ser acessado no seguinte endereço:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-controverso-libelo-da-
-critica,690818,0.htm
CEDERJ 27
Teoria da Literatura II | O conceito de sistema literário
28 CEDERJ
12
Para saber mais sobre o Iluminismo, consulte o E-Dicio-
AULA
nário de termos literários, organizado por Carlos
Ceia. Verbete Iluminismo: http://www.edtl.com.pt/
index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_
id=409&Itemid=2
CEDERJ 29
Teoria da Literatura II | O conceito de sistema literário
30 CEDERJ
ATIVIDADE
12
Atende ao Objetivo 1
AULA
1. Reconhecendo os conceitos de sistema literário e sistema simbólico.
Leia os seguintes excertos de “A literatura e a vida social” e Formação da
literatura brasileira, de Antonio Candido, respectivamente:
Como se vê, não convém separar a repercussão da obra de sua feitura, pois,
sociologicamente ao menos, ela só está acabada no momento em que
repercute e atua, porque, sociologicamente, a arte é um sistema simbólico
de comunicação inter-humana, e como tal interessa ao sociólogo. Ora, todo
o processo de comunicação pressupõe um comunicante, no caso o artista;
um comunicado, ou seja, a obra, um comunicando, que é o público a que
se dirige; graças a isso define-se o quarto elemento do processo, isto é,
seu efeito (2000, p. 20).
RESPOSTA COMENTADA
Nesta resposta, você pode retomar a ideia de que a literatura, como
toda a arte, é um processo de comunicação. Nesse processo, diversos
elementos estão envolvidos. Há um conjunto de obras, que se articu-
lam por certos denominadores comuns, e também fatores externos,
também articulados. Você pode lembrar que os recursos expressivos
comuns, que articulam as obras entre si, configuram um sistema
simbólico. Este sistema, contudo, não existe desligado de condições
sociais e materiais, envolvendo, portanto, fatores externos às obras
(econômicos e sociais). Desenvolvendo seu argumento, você pode
propor que o conceito de sistema literário articula diferentes esferas
da realidade, de maneira dinâmica.
CEDERJ 31
Teoria da Literatura II | O conceito de sistema literário
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1 e 2
32 CEDERJ
A questão pode ser retomada a partir do livro mais recente de Antonio
12
Candido – Iniciação à literatura brasileira [1997] –, no qual a ideia de um
AULA
sistema literário é trabalhada em detalhes, estando a expressão, inclusive,
presente no título de dois dos três capítulos da obra. Neste livro, o conceito
primeiro se apresenta como especulação teórica:
É este espessamento da vida urbana que torna possível, pela primeira vez, a
reunião, num mesmo espaço social e geográfico, de escritores, obras e público
institucional e textualmente articulados, que, para o crítico, são instâncias
essenciais para a configuração de um sistema literário (LAJOLO, p. 58-60).
CEDERJ 33
Teoria da Literatura II | O conceito de sistema literário
RESPOSTA COMENTADA
Nesta atividade, você deve retomar o conceito de sistema literário e apontar como
este sistema paulatinamente se formou no Brasil. Pode falar das Academias de
Letrados do século XVIII, consideradas por Antonio Candido como fundamentais para
a configuração de um sistema literário nacional. Pode, também, abordar o processo
de consolidação do sistema literário, ao longo do século XIX, que se tornou maduro
no final desse mesmo século. O importante é destacar que, para haver literatura, há
certamente um conjunto vasto e dinâmico de elementos. Assim, temos tanto as obras
literárias como os escritores, o público, os livreiros, os críticos literários, as bibliotecas,
as universidades, as escolas, os professores, os jornais, as editoras etc. Todos estes
elementos, em interação dinâmica, é que possibilitam a existência da literatura.
34 CEDERJ
12
RESUMO
AULA
Nesta aula, conhecemos novos aspectos da reflexão de Antonio Candido acerca das
relações entre literatura e vida social. Vimos que, em sua perspectiva, a literatura,
como toda arte, é um processo comunicativo. Envolve, portanto, um comunicante
(o artista), um comunicado (a obra), um comunicando (o público). Ao elaborar
sua obra, o artista se vale dos recursos expressivos socialmente disponíveis, que
configuram um “sistema simbólico”. Da mesma maneira, o público terá suas
expectativas em relação às obras, recorrendo também ao “sistema simbólico”
para interpretá-las. Assim, a literatura é entendida como uma atividade social, não
existindo sem um conjunto historicamente situado de produtores e receptores.
Vimos também que, para Antonio Candido, a literatura brasileira se forma,
enquanto um sistema literário, entre os séculos XVIII e XIX, mais especificamen-
te no Arcadismo e no Romantismo. Em sua perspectiva, a existência de grupos
de produtores e de receptores organizados (nas Academias setecentistas e nas
Faculdades oitocentistas), como também de meios de difusão estabelecidos (jor-
nais, livrarias, bibliotecas etc.), é fundamental para que a literatura se torne uma
prática socialmente relevante. Para Candido, apenas no final do século XIX o
sistema literário estaria consolidado no Brasil, sendo a obra de Machado de Assis
seu atestado de maturidade. Pudemos conhecer, também, que esta proposição de
Antonio Candido sofreu críticas, como a feita por Haroldo de Campos no livro O
sequestro do barroco na Formação da literatura brasileira, de Antonio Candido:
o caso Gregório de Mattos (1987).
CEDERJ 35
Teoria da Interpretação
e suas relações com a
13
AULA
Teoria da Literatura
Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba
Meta da aula
Apresentar as noções básicas da Teoria
da Interpretação.
objetivos
PRESSUPOSTO Teoria da Literatura – interpretar constitui uma atividade pela qual se argu-
A palavra "pres- menta sobre a literatura como conceito e segundo uma metodologia. São
suposto" significa
aquilo que se supõe
esses dois requisitos que permitem dizer que a literatura é objeto da Teoria
como exigência da Literatura ou que a literatura é uma escrita que passa pela investigação
anterior.
Exemplo: ter decla- da Teoria da Literatura.
ração de conclusão
de Ensino Médio é Tendo em vista a diferenciação inicial quanto ao entendimento de interpre-
pressuposto para ins- tação, podemos determinar dois modos de compreender os significados
crição no vestibular.
Exemplo: conhecer dessa palavra: enquanto no cotidiano as interpretações são espontâneas,
a formação da disci-
plina Teoria da Lite- impressionistas e, por isso mesmo, dispensam questionamentos teóricos,
ratura é pressuposto
na formação acadêmica do estudante de Letras interpretar literatura requer
para a compreensão
da Teoria que este termo, literatura, seja entendido como objeto de investigação, em
da Interpretação.
função de um determinado P R E S S U P O S T O e respectiva B A S E METODOLÓGICA.
38 CEDERJ
O que importa aqui é a Teoria da Interpretação em seu sentido
13
estrito, ou seja, ciência do conhecimento sobre construção de signifi-
AULA
cação para a literatura em suas relações com a Teoria da Literatura, a
disciplina que tem por objeto de estudo a literatura. Se a literatura é o
objeto da Teoria da Literatura e se a Teoria da Interpretação faz parte
dessa disciplina, deduzimos que a construção de significação para a
literatura segundo os princípios da Teoria da Interpretação deve ser uma
atividade desenvolvida por especificidades teórico-metodológicas, o que
a diferencia da interpretação que é comumente feita em nosso cotidiano.
Para melhor compreensão de literatura como objeto, recomendamos
que você reveja o conteúdo da segunda aula de Teoria da Literatura I, quando
teve a oportunidade de estudar o significado de literatura como conceito.
De qualquer modo, lembramos que, nessa condição de conceito, literatura
é definida como composição verbal dotada de determinadas propriedades,
em virtude de uma elaboração da linguagem, como ocorre na poesia,
ou de construção literária de universos ficcionais ou imaginários, como
ocorre na prosa.
As propostas de exame da literatura segundo as exigências formu-
ladas pela Teoria da Interpretação ocorreram paralelamente ao próprio
processo de formação da disciplina Teoria da Literatura. De fato, à
medida que grupos de teóricos se reuniam em torno de modos aceitos e
compartilhados de concepção da literatura e de regras metodológicas de
leitura, passaram a sistematizar suas propostas de exame da literatura e,
assim, foram se construindo as diferentes correntes críticas do século XX.
Desde os anos 1910, os membros de cada uma destas correntes – Estilís-
tica, Formalismo, New Criticism, Estruturalismo etc. – caracterizaram
a construção de significação da obra literária por diferentes princípios
organizadores de leitura de seu discurso.
No capítulo “A constituição da Teoria da Literatura” do livro
Teoria da Literatura, de Roberto Acízelo Quelha de Souza (SOUZA,
2007, p. 35-56), você encontrará toda uma descrição clara e precisa
acerca da formação das correntes críticas, além de outras informações
relevantes tais como os significados históricos da palavra literatura, suas
distintas acepções, as diferenças entre poesia e literatura etc. Sugerimos,
portanto, que você acompanhe o que passamos a apresentar, fazendo uso
também da leitura desse capítulo do livro do professor Roberto Acízelo,
a fim de aprofundar o conhecimento sobre o histórico da formação das
correntes críticas.
CEDERJ 39
Teoria da Literatura II | Teoria da Interpretação e suas relações com a Teoria da Literatura
Critérios de interpretação
Critério interno
40 CEDERJ
relevante tanto para o conhecimento do texto propriamente dito quanto
13
para ultrapassar suas relações internas com conhecimentos de outras
AULA
disciplinas, como as que vimos anteriormente.
A concepção de interpretação pelo critério “interno” implicava
observar a literatura em seus níveis hierarquicamente dispostos – fono-
lógico, morfossintático, semântico –, o que significava pôr em relevo
o trabalho com a língua. Esse pressuposto de base exclusivamente lin-
guística se ligava a um método que, na prática, consistia em destacar,
comentar e relacionar os vários recursos de criatividade decorrentes da
elaboração com a linguagem da obra. Dentre eles, destacamos: sons,
fonemas, repetições, figuras de linguagem, antonímia, sinonímia, estru-
turas frasais, paradigmas semânticos.
Vejamos alguns desses recursos no poema trabalhado a seguir
e de que forma eles podem ser explorados. Você poderá acessá-lo em
http://www.jornaldepoesia.jor.br/ceciliameireles01.html#retrato, acesso
em 2/7/2012.
Repare que, na primeira estrofe do poema "Retrato", de Cecília
Meireles, o eu lírico declara o não reconhecimento de si, pelo recurso
da descrição do “rosto” e dos “olhos” na forma negativa da frase “Eu
não tinha esse rosto de hoje”. O sentimento dessa descoberta é visto pelo
eu lírico como perda, uma afirmativa possível de ser feita quando veri-
ficamos que os elementos do poema se interligam em seus vários níveis.
Vejamos como se dá essa interligação. Primeiramente, por esta-
belecer uma relação de oposição (antonímia) entre o momento passado
(“Eu não tinha”), falado explicitamente, e o presente, a que o eu lírico
implicitamente faz alusão (Eu tenho). Em segundo lugar, porque tal
oposição entre tempos se complementa pela presença/ausência dos
paradigmas semânticos referentes aos significados das palavras “rosto” e
“olhos” que, acompanhados dos adjetivos “triste”, “magro”, “vazios”,
“amargo”, concedem uma conotação negativa à visão do presente.
Também no segundo verso, a semelhança fonética das palavras “magro”
e “amargo” e a repetição do termo “assim” constituem propriedades
estéticas do poema que intensificam a gradual transformação expressa
pelo eu lírico, quando se depara com sua imagem no retrato.
Na segunda estrofe, ocorre ainda o estranhamento, dessa vez pela
descrição de “mãos” e “coração”, que são adjetivados, respectivamente,
por “sem força”, “paradas”, “mortas” (“mãos”), e pela frase “que nem
se mostra”, em referência a “coração”.
CEDERJ 41
Teoria da Literatura II | Teoria da Interpretação e suas relações com a Teoria da Literatura
Critério externo
42 CEDERJ
estrofe. A interpretação diria, então, que, mesmo na ausência de per-
13
cepção do homem, o presente será sempre um momento de interrupção
AULA
de um passado que o modifica. Essa interpretação também pode ser
argumentada pelo exame da palavra “espelho”, já que vem do “espelho”
a imagem que intercepta o sujeito para que ele viva o espanto. Nesse
círculo, o tempo da mudança poderá ser tanto o nascimento, interrom-
pendo a vida, quanto a vida interrompendo a morte. Vida e morte são
momentos de inevitáveis relações. Por isso mesmo, constituem temas
sempre presentes na busca de respostas para a existência do homem.
Esse caminho de interpretação, que relaciona o texto a um pensa-
mento extratexto (no caso por uma perspectiva de base filosófica), passou
a ser cada vez mais valorizado pelos críticos e teóricos da literatura.
Trata-se de uma tendência que já vinha sendo construída na formação das
correntes críticas, quando os intérpretes passaram a usar de concepções
de bases sociológica, antropológica, filosófica, psicanalítica, para além
dos critérios de base exclusivamente linguística.
44 CEDERJ
Há um conto de Henry James, "The figure in the carpet" (A figu-
13
ra no tapete), escrito em 1896, capaz também de exemplificar o debate
AULA
sobre unicidade e multiplicidade interpretativa. Nessa obra, trava-se uma
discussão entre personagens – uma delas, como crítico – sobre o que
significaria um desenho visto no tapete. O enredo do conto consiste na
busca do significado para o último romance de um autor, o personagem
chamado Vereker. Nesse conto, há duas visões divergentes: a do narrador
em primeira pessoa e a de seu amigo, a personagem vivida por Corvick.
Os leitores percebem inicialmente que tudo o que ficam sabendo na his-
tória sobre as descobertas de Corvick é o oposto às afirmações trazidas
pela personagem do narrador. Com o desenrolar da trama, percebem
ainda que, na perspectiva de Corvick, a busca por uma verdade nunca
se concretiza no conto. Com isso, resistem em aceitar a orientação
do personagem-narrador. Assim, quando os leitores se convencem da
permanência da controvérsia sobre a figura estilisticamente implicada
no significado da “figura no tapete”, entendem que o próprio tema do
conto é aquilo que nele se relata: a busca fracassada de um autêntico e
verdadeiro significado para a literatura.
CEDERJ 45
Teoria da Literatura II | Teoria da Interpretação e suas relações com a Teoria da Literatura
46 CEDERJ
CONCLUSÃO
13
AULA
Pelo que estudamos até aqui, podemos concluir que interpretar é
uma atividade cuja exigência é o entendimento de literatura como objeto
a ser investigado segundo um determinado método. Tivemos a oportu-
nidade de verificar também que as relações da Teoria da Interpretação
com a Teoria da Literatura implicam a realização de uma atividade de
ordem teórica, diferente, pois, daquela que costumamos ver no senso
comum. Além disso, estudamos toda uma argumentação em torno da
adoção dos critérios internos e externos à obra articulada à concepção
de multiplicidade interpretativa.
ATIVIDADES FINAIS
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
CEDERJ 47
Teoria da Literatura II | Teoria da Interpretação e suas relações com a Teoria da Literatura
RESPOSTA COMENTADA
Você deverá ser capaz de expressar os pontos centrais da leitura que realizou sobre
a ficção, estabelecendo os elos entre eles e a mudança ocorrida em seu modo de
pensar. Avalie a repercussão dessa mudança, levando em conta a interpretação
que atribuiu ao texto.
RESUMO
48 CEDERJ
Teoria da Interpretação
14
AULA
e projeção
Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba
Meta da aula
Apresentar concepções de literatura e respectivas
metodologias de interpretação, segundo três
modalidades de “projeção”.
objetivos
INTRODUÇÃO Em nossa Aula 13, você pôde verificar que a Teoria da Interpretação é um
conhecimento integrado à Teoria da Literatura. Em decorrência disso, pôde
também ver por que o intérprete deve se basear em pressupostos e meto-
dologias de interpretação, conforme o entendimento da disciplina sobre
literatura. Nas duas formas de interpretação que apresentamos sobre o poema
"Retrato", de Cecília Meireles, a mais abrangente e enriquecedora foi aquela
que fez a investigação dos aspectos linguísticos, não para ficar somente neles,
mas para servir ao estabelecimento de relações com dados extratextuais. Foi
possível então constatar que a interpretação de maior rentabilidade fez uso
do critério externo como etapa decorrente de articulação com o interno.
Nesta aula, usaremos também dessa estratégia de articulação entre os critérios
interno e externo, com o objetivo de caracterizar a proposta de interpreta-
ção denominada “projeção”, conforme registram os manuais de Teoria da
Literatura. Você terá então oportunidade de distinguir e reconhecer a “pro-
jeção” em suas diferentes modalidades, em seus respectivos pressupostos,
em suas adequadas metodologias. Além disso, você tomará conhecimento
das ações a serem realizadas pelo intérprete para que a obra seja examinada
em função de seus próprios elementos ou do que ela mesma sugere. Nessa
trajetória, serão apresentadas as relações estabelecidas por três modalidades
da “projeção”, pelo recurso de informações relativas à biografia do autor e aos
contextos histórico, sociológico, antropológico, filosófico da obra. Para isso,
recorreremos ao capítulo “Como ler” de seu livro, Poética da prosa (1979),
que poderá ser lido em: http://pt.scribd.com/doc/54231982/Tzvetan-Todorov-
Poetica-da-Prosa-pdf-rev ou na edição impressa: TODOROV, Tzvetan. Poética
da prosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Primeiro, lembramos a importância de você aproveitar bem o conteúdo
aqui exposto não só para tomar conhecimento de nomenclaturas da Teoria
da Interpretação, mas para reforçar o que estudou na aula anterior sobre
o próprio método, que pressupõe observação cuidadosa da literatura e de
cada etapa desse processo de leitura.
Lembramos, ainda, que você terá acesso à transcrição da obra literária para
esse espaço de aula, quando se tratar de poemas. Quando recorrermos a
romances e contos, você deverá fazer a leitura prévia da obra sugerida, por ser
este um requisito essencial para se chegar ao reconhecimento da modalidade
mais adequada da “projeção” ao modo como a literatura é construída. Em
ambas as propostas – transcrição e recomendação de leitura –, você deverá
50 CEDERJ
estar atento para relacionar os elementos da literatura em foco às interpre-
14
tações de cada modalidade da “projeção”. Só por essa articulação, será
AULA
possível atingir a meta de reconhecer e produzir interpretação de literatura.
PROJEÇÃO
CEDERJ 51
Teoria da Literatura II | Teoria da interpretação e projeção
52 CEDERJ
Os dois últimos versos, porém, estabelecem um corte com esse
14
paradigma, mais especificamente na frase “– Não. A única coisa a fazer é
AULA
tocar um tango argentino”. Essa resposta, que é dada à pergunta “Então,
doutor, não é possível tentar o pneumotórax?”, refere-se à própria res-
posta do médico, aquele que concede um rumo inesperado à conversa.
Embora ele seja a autoridade no assunto, pela escolha de palavras logo
percebemos que age como se não fosse. É em virtude dessa frase que o
poema interrompe o clima de seriedade do quadro anterior. O verso,
iniciado por travessão, faz referência a um estranho diagnóstico, no
momento em que foge do significado habitual das palavras da medicina.
A estranheza dá-se não só através de uma frase do cotidiano, mas também
pelo emprego da metáfora “tocar um tango argentino”. Na verdade, o
verso “– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino” conduz
o leitor a se deslocar de uma esperada solução do problema para uma
compreensão súbita do inevitável, que é não haver mais nada a fazer. A
fala do médico traduz, pela ironia, a única resposta possível na ausência
de saída na medicina, sendo que a metáfora do tango remete para uma
descrença que, através da fala do outro, indica uma visão trágica de vida:
vida como existência ameaçada pela morte.
Fazer da linguagem um instrumento que reúne o lado mórbido à
alegria de ações corriqueiras é uma estratégia peculiar à poesia de Ban-
deira. Propomos que você observe como o poeta tematiza essa relação
com o inesperado num outro momento de sua criação, o poema intitu-
lado “Poema tirado de uma notícia de jornal”. Sugerimos que o leia em
algum livro do autor. Caso não o tenha ou não possa consultá-lo em
uma biblioteca, você poderá acessá-lo no endereço: http://valiteratura.
blogspot.com.br/search/label/Poema%20tirado%20de%20uma%20
not%C3%ADcia%20de%20jornal.
Existe também, a seu dispor, a proposta de performance, apre-
sentada no seguinte vídeo do YouTube: http://www.youtube.com/
watch?v=I2PTjKHk1AU. Trata-se de um modo interessante de a lin-
guagem visual propor uma recriação com base na poesia de Bandeira.
Como você pode constatar, a observação das estratégias internas
de “Pneumotórax” concede à interpretação informações que ativam
a riqueza da obra, permitindo que o intérprete vivencie a experiência
provocada pela estética do poema. Para saber um pouco mais de Manoel
Bandeira, leia o que é dito sobre o livro Libertinagem, onde foi publicado
o poema “Pneumotórax”.
CEDERJ 53
Teoria da Literatura II | Teoria da interpretação e projeção
54 CEDERJ
14
O mulato
AULA
Aluísio de Azevedo
Nota informativa
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu no Maranhão, a 14 de
abril de 1857, vindo a demonstrar muito cedo a vocação para as letras.
Ainda jovem, lê muito, colabora nos jornais com versos e desenhos, ensina
Português. Aos 19 anos transfere-se para o Rio de Janeiro, onde seu irmão,
Artur Azevedo, encontrava-se já cercado de grande êxito.
Aluísio Azevedo chega ao Rio com o propósito de se aperfeiçoar em
desenho e pintura; trabalha como caricaturista para vários jornais; estuda
durante um ano na Escola de Belas-Artes e luta com grande dificuldade
na corte. Em 1879, com o falecimento do pai, retorna ao Maranhão. Entre
1880 e 1881, milita contra o clero e os jornais católicos na imprensa de
São Luís – principalmente nos periódicos A Pacotilha e O Pensador. Esta
militância de certa forma influenciará a escritura da obra O mulato.
Em O mulato, publicado no ano de 1881, Aluísio Azevedo deixa marca-
do, pela ambiência e cenário da obra, o preconceito racial maranhense,
além de demonstrar os abusos eclesiásticos que se escondiam, como por
salvo-conduto, na batina e na suposta santidade de um homem por ter-
se tornado um padre. O fato de retratar as contradições e intolerâncias
maranhenses explica por que a obra foi recebida de maneira entusiástica
pela crítica literária na corte e nas províncias e renegada no Maranhão.
O mulato consagra também a escrita naturalista de Aluísio Azevedo,
situando o autor como o maior representante deste estilo no Brasil.
Pode-se dizer que a escrita naturalista impressa na obra inaugura uma
nova fase para a literatura brasileira, libertando-a, como solução, dos
impasses trazidos pelo Romantismo.
Ao ler o livro de Azevedo, exuberante pela crueza naturalista, pode-se
“sentir” a dor desesperada de um homem cujo único desvio de caráter foi
ter nascido mulato. Raimundo, homem culto e rico, formado na Europa
e acostumado às liberdades e refinamentos que somente a vida instruída
pode trazer, descobre, ao retornar à pátria, a impossibilidade de realizar
uma paixão pelas amarras irremediáveis que as correntes sociais criaram
diante da comprovação de sua ascendência negra: ele era filho de uma
escrava! Raimundo tem, então, de suportar o peso da intolerância de uma
sociedade em que o valor maior do ser humano era nascer branco... E nada
do que fizesse ou alegasse faria mudar o preconceito entranhado naquelas
pessoas. Diante de tão “irremediável” destino, resta ao autor entregar
“seu” protagonista aos desígnios deterministas da marca naturalista.
O cotejo desta obra baseou-se nas edições de 1973, publicada pela Edi-
tora (Clássicos Brasileiros) e de 1975, editada pela Livraria Martins Editora
S. A., INL (Instituto Nacional do Livro).
Maria Cristina Gioseffi
Fontes: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/omulato.html#nota
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira#Biografia
CEDERJ 55
Teoria da Literatura II | Teoria da interpretação e projeção
56 CEDERJ
que você possa melhor estabelecer os nexos entre a obra e o contexto
14
histórico e social.
AULA
Através dessa metodologia, sua interpretação revestir-se-á dos
aspectos indispensáveis na argumentação de significações que ultrapas-
sem as percepções impressionistas sobre o romance. Lembre-se de que
sua interpretação deve se caracterizar pelo desenvolvimento de questões
para as quais você foi provocado a pensar a partir da narrativa. Como
você já sabe que interpretar não é simplesmente recontar a história, deve
usar suas anotações como meio para endossar as afirmativas que vier
a fazer. Seguindo essa metodologia de leitura, você estará apto a bem
interpretar a obra O mulato, de Aluísio de Azevedo.
CEDERJ 57
Teoria da Literatura II | Teoria da interpretação e projeção
regras e rituais. Queria regularizar suas ações e que sua igreja fosse
exatamente contrária à de Deus, ou seja, uma igreja em que as pessoas
não tivessem que pagar o preço alto para ter salvação. Nela, o Diabo
pretendia acolher todos aqueles que cometessem pecados e possuíssem
vícios. O Diabo vai a Deus, explica a necessidade de criar uma nova
doutrina e volta ao reino dos homens para fazer suas pregações. Suas
ideias propagaram-se, e o número de seguidores foi aumentando com
o passar do tempo. Depois de vários anos, o Diabo deparou-se com
um impasse para seus planos: muitos dos seus seguidores passaram a
praticar o bem às escondidas. Vez por outra se mostravam generosos e
até faziam caridade.
Por esses dados, vemos que o enredo aborda ações humanas
segundo os paradigmas do Bem e do Mal, sendo que, nessa dicotomia,
o leitor se vê mobilizado, desde o título, a entrar com as questões que
envolvem esses significados. “A igreja do Diabo” é um título que já
anuncia uma paródia, uma paródia no sentido de a ordem do profano
transgredir o sagrado. O título faz lembrar a citação de Santo Agostinho,
quando declarou que “A igreja do Diabo imita a igreja de Deus”, já que
o Diabo nada traz de novo a não ser mostrar a versão oposta da crença
que ele próprio condenava.
Por esse resumo do enredo, ficamos sabendo que a nova moral iria
ao encontro do desejo do homem de fazer tudo o que era proibido. É por
essa maneira alegórica que o Diabo protagoniza um mundo regido por
uma doutrina, que se caracteriza por ser a negação das regras divinas.
APÓLOGO Trata-se de um grande A P Ó L O G O constituído por outros menores, daí o
É uma narrativa que seu caráter moralizante.
busca ilustrar lições
de sabedoria ou Ao propor uma crença oposta à de Deus, o Diabo quer convencer
ética, através do uso
de personalidades
os homens de que o Mal pode ser melhor do que o Bem. E, para exempli-
de índole diversa, ficar essa doutrina do Diabo, Machado faz uso de apólogos e símbolos.
imaginárias ou reais,
com personagens Uma dessas alegorias é a das franjas e mantos de algodão ou de seda.
inanimados.
Fonte: http://
Se os mantos podem ter franjas de seda ou não, essa variação também
pt.wikipedia.org/wiki/
Ap%C3%B3logo
é própria do homem, pelo caráter ambíguo de sua natureza. Além da
simbologia do manto e das franjas, é importante que você observe outros
dados, tais como: a tematização dos pecados capitais nas ações dos
homens; a função das citações feitas pelo autor; as alusões intertextuais
encontradas na história; o modo como o Diabo reage diante de Deus
e das atitudes dos homens quando esses contrariam seus planos etc. É
diante dessas ocorrências que podemos afirmar que o conto tematiza
58 CEDERJ
as relações entre Bem e Mal, a ambiguidade e contradição das reações
14
humanas, a incapacidade de se prescreverem regras ou doutrinas que
AULA
sejam inabaláveis.
(http://teorialiterariaufrj.blogspot.com.br/2009/06/analise-do-
conto-igreja-do-diabo-de.html )
Alegoria
Uma alegoria (do grego αλλος, allos, "outro", e αγορευειν, agoreuein, "falar em público") é uma
figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado,
ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal. Diz
b para significar a. Uma alegoria não precisa ser expressa no texto escrito: pode dirigir-se aos olhos
e, com frequência, encontra-se na pintura, na escultura ou noutras formas de linguagem. Embora
opere de maneira semelhante a outras figuras retóricas, a alegoria vai além da simples comparação
da metáfora. A fábula e a parábola são exemplos genéricos (isto é, de gêneros textuais) de aplicação
da alegoria, às vezes acompanhados de uma moral que deixa clara a relação entre o sentido literal
e o sentido figurado.
João Adolfo Hansen estudou a alegoria e publicou seu estudo em Alegoria: construção e interpre-
tação da metáfora, distinguindo a alegoria greco-romana (de natureza essencialmente linguística,
não obstante o anacronismo) da alegoria cristã, também chamada de hexegese religiosa (na qual
eventos, personagens e fatos históricos passam também a ser interpretados alegoricamente). Nor-
throp Frye discutiu o espectro da alegoria desde o que ele designou de "alegoria ingênua" da The
Faerie Queene de Edmund Spenser às alegorias mais privadas da literatura de paradoxos moderna. Os
personagens numa alegoria "ingênua" não são inteiramente tridimensionais, para cada aspecto de
suas personalidades individuais e eventos que se abatem sobre eles personificam alguma qualidade
moral ou outra abstração. A alegoria foi selecionada primeiro: os detalhes meramente a preenchem.
Já que histórias expressivas são sempre aplicáveis a questões maiores, as alegorias podem ser lidas
em muitas dessas histórias, algumas vezes distorcendo o significado explícito expresso pelo autor.
A alegoria tem sido uma forma favorita na literatura de praticamente todas as nações. As escrituras
dos hebreus apresentam instâncias frequentes dela, uma das mais belas sendo a comparação da
história de Israel ao crescimento de uma vinha no Salmo 80. Na tradição rabínica, leituras alegóricas
têm sido aplicadas em todos os textos, uma tradição que foi herdada pelos cristãos, para os quais as
semelhanças alegóricas são a base da exegese. Na literatura clássica, duas das alegorias mais conheci-
das são o mito da caverna na República de Platão (Livro VII) e a história do estômago e seus membros
no discurso de Menenius Agrippa (Tito Lívio ii. 32); e várias ocorrem nas Metamorfoses de Ovídio.
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
CEDERJ 59
Teoria da Literatura II | Teoria da interpretação e projeção
CONCLUSÃO
Por tudo que estudamos até aqui, podemos concluir que a “pro-
jeção”, desde que entendida pela observação cuidadosa da estrutura da
obra, seguida de relação com aspectos externos, pode se configurar como
uma atividade interpretativa pertinente à aproximação do intérprete com
a literatura. Além disso, podemos verificar que cada uma das modalidades
da projeção deve ser selecionada em função do que a literatura provoca
e permite. Acreditamos que, a partir do conteúdo desta aula, você já
saiba distinguir as modalidades da prática de interpretação denominada
“projeção”, por ter compreendido o conjunto de elementos que permite
a adequada relação a ser estabelecida com os dados extratextuais.
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1 e 2
Canção do exílio
(Murilo Mendes)
[...]
60 CEDERJ
Canção do exílio
14
AULA
(Gonçalves Dias)
[...]
[...]
CEDERJ 61
Teoria da Literatura II | Teoria da interpretação e projeção
RESPOSTA COMENTADA
Você deverá ser capaz de perceber qual das três modalidades de “projeção” estu-
dadas nesta aula é adequada à comparação proposta. Além disso, espera-se que
sua produção textual revele conhecimento sobre a crítica que o Modernismo fez
do Romantismo, revelando, em sua resposta, as passagens das duas canções que
ilustram o pensamento de cada época.
RESUMO
Projeção é uma prática interpretativa registrada por Tzvetan Todorov que compre-
ende a literatura como reflexo ou produto de algo que lhe é externo, sendo que
esse dado externo é nomeado por “origem”. Ainda segundo Todorov, a “origem”,
por sua vez, pressupõe três possibilidades: a vida do autor; o contexto histórico
e social; as propriedades intemporais do ser humano. Cada prática interpretativa
só deve ser empregada se a própria literatura sugerir a utilização do recurso. É
fundamental que a obra seja lida, examinada e relacionada metodologicamente
com outros aspectos, de modo a ativar seu potencial de provocar reflexões.
62 CEDERJ
Crítica literária –
15
AULA
histórico e conceito
Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo
Meta da aula
Identificar o conceito de crítica literária e as eta-
pas principais de seu percurso histórico.
objetivos
INTRODUÇÃO Você certamente utiliza no dia a dia a palavra “crítica”, nas conversas no
trabalho, nas redes sociais, referindo-se à arte (cinema, música, literatura,
artes plásticas), à política, à economia e até à filosofia.
Vamos tratar aqui especificamente da crítica literária, de seu histórico e sua
função. Quem pode realizar a crítica? Com que método? O que é crítica?
Questões que inquietam o leitor de textos literários, o frequentador de deba-
tes, cursos, eventos e feiras literárias, e quem busca na internet – em blogs
e revistas virtuais – saber mais sobre literatura.
BREVE HISTÓRICO
64 CEDERJ
Todos esses tratados ainda se vinculavam à Filosofia, à Gramática,
15
à Eloquência, num sentido normativo e com orientação de uma certa
AULA
pedagogia. Não formavam um estudo exclusivamente sobre as obras
literárias e a experiência da leitura.
Na Idade Média, o interesse menor e, até clandestino, pela cultura
dos antigos reduziu a importância dos estudos críticos que se confundiam
com a Gramática e a Retórica. Nesse mesmo período, a palavra “crítica”
passa a ser usada como adjetivo, no contexto da Medicina, no sentido
de “crise” e doença “crítica”.
O florescimento do espírito humanista, no século XVI, permitiu
o início da emancipação da palavra crítica, em relação à Gramática e
à Retórica, através da redescoberta dos clássicos. A Poética, de Julius
Caesar Scaliger (1484-1558) é o exemplo da concepção crítica da época
e apresenta uma abordagem geral dos poetas gregos e romanos, numa
perspectiva normativa com direcionamento de modelos e regras. A arte
greco-latina torna-se a medida universal de beleza e a crítica adquire a
função de orientar os meios e padrões para os autores na composição
das obras.
Do século XVII até meados do século XVIII, manteve-se a adoção
dos clássicos como modelo estético, mas a utilização do termo crítica
já aparece em obras como a Arte poética, de Boileau (1674), termo aos
poucos identificado com todo o problema da compreensão e julgamento,
e até mesmo com a teoria do saber e do conhecimento (WELLEK, s/d, p.
33). O termo torna-se aceito gradativamente com a Crítica da Escola de
- e com a História crítica do Velho Testa-
Mulheres (1663), de Moliere,
mento (1678), de Richard Simon, autor que opera interessante ruptura.
Primeiro, afirma que a crítica deve estabelecer o grau de autenticidade
dos textos; em seguida, minimiza as considerações estéticas e morais,
e apoia-se ,sobretudo, na Filologia. Uma “preocupação com a boa
compreensão dos textos” que já “anuncia a crítica interna” (BOURDÉ;
MARTIN, 2003, p. 64) a ser definida posteriormente.
Todo esse longo período também se caracteriza pela moda inte-
lectual marcada por uma atitude crítica, isto é, uma atitude de espírito
que “consiste em não acreditar levianamente e em saber duvidar em
todas as ocasiões” (BOURDÉ; MARTIN, 2003, p. 63). Dessa maneira,
a palavra crítica ganhou uma abrangência de sentido que se estendeu
a todos os domínios da atividade intelectual. O que havia sido limita-
CEDERJ 65
Teoria da Literatura II | Crítica literária – histórico e conceito
66 CEDERJ
Assim, a Filologia e a história das línguas expandiram-se, domi-
15
nando os estudos literários e a crítica.
AULA
O SÉCULO XIX
CEDERJ 67
Teoria da Literatura II | Crítica literária – histórico e conceito
68 CEDERJ
SÉCULO XX
15
AULA
Figura 15.1: Máquina de escrever.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1quina_de_escrever
CEDERJ 69
Teoria da Literatura II | Crítica literária – histórico e conceito
70 CEDERJ
mas seus integrantes continuaram publicando nas décadas seguintes. A
15
conexão das ações entre esses grupos heterogêneos e sua relação com as
AULA
vanguardas estéticas (futurismo, cubismo) produziu o método de crítica
denominado Formalismo Russo.
As categorias para definição do procedimento artístico como lite-
rariedade e estranhamento, e outras, foram fundamentais à renovação
da linguagem da crítica literária. Apesar de polêmicas, tais categorias
repercutem até os nossos dias, projetando-se para outras áreas, como,
por exemplo, a utilização feita pelo historiador Carlo Ginzburg do termo
estranhamento como atitude moral diante do mundo, um meio para
superar as aparências, tomar distância e alcançar uma compreensão mais
profunda da realidade, “antídoto eficaz contra um risco a que todos nós
estamos expostos: o de banalizar a realidade (GINZBURG, 2001, p. 41).
CEDERJ 71
Teoria da Literatura II | Crítica literária – histórico e conceito
72 CEDERJ
15
À medida que suas obras são publicadas e estudadas, sua vinculação aos
AULA
formalistas russos, seus contemporâneos, dilui-se, e cada vez mais suas
ideias aparecem como uma contestação às teorias formalistas e às visões
historicistas. Seus estudos sobre o romance, por exemplo, exemplificam
essa abordagem. O historicismo apresenta o romance como uma suces-
são e/ou versão da epopeia, mas Bakhtin o apresenta como negação
ideológica plena do universo épico, um gênero historicamente aberto,
plurilinguístico, autorreflexivo e acanônico.
Tornou-se famoso como criador da categoria “romance polifônico”,
apresentado por ele a partir da obra de Dostoiévski, no livro Problemas
da poética de Dostoievski, publicado na então União Soviética em 1929,
mas divulgado no Ocidente quatro décadas depois. Também muito
significativo é o seu estudo sobre a cultura popular, a partir da obra de
Rabelais em A cultura popular na Idade Média e no Renascimento – o
contexto de François Rabelais. Bakhtin estuda a cultura popular como
possuidora de uma carnavalização que destrói as estruturas hierárquicas
dos valores políticos, morais, ideológicos, estéticos, religiosos.
A diversidade de suas categorias e sua contribuição para vários campos
de estudos, literários e linguísticos, não nos permite uma síntese ou o
desenho de uma unidade do pensamento bakhtiniano. Atualmente, o
autor é também conhecido como filósofo da linguagem.
CEDERJ 73
Teoria da Literatura II | Crítica literária – histórico e conceito
CONCLUSÃO
74 CEDERJ
ATIVIDADE FINAL
15
Atende aos Objetivos 1 e 2
AULA
Depois de ler esta aula, você identificou a função da crítica e as particularidades
da crítica literária, da Antiguidade Clássica às primeiras décadas do século XX.
Formule, com suas próprias palavras, uma síntese sobre cada tópico a seguir.
b. Formalismo Russo
RESPOSTA COMENTADA
Nesta atividade, você deve ser capaz de resumir, com suas próprias palavras, as
principais tendências da crítica literária no século XIX e apresentar, sinteticamente,
a finalidade da crítica, segundo o Formalismo Russo, nas primeiras décadas do
século XX.
CEDERJ 75
Teoria da Literatura II | Crítica literária – histórico e conceito
RESUMO
76 CEDERJ
16
Crítica literária – as
principais correntes dos
anos 50, século XX,
AULA
aos nossos dias
Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo
Meta da aula
Apresentar as características das principais cor-
rentes da crítica literária, da segunda metade do
século XX aos nossos dias.
objetivos
Pré-requisito
Para um bom aproveitamento desta aula, é
importante você relembrar a definição, a função e
o histórico da crítica literária, conteúdo apresen-
tado na Aula 1.
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
INTRODUÇÃO Como você acompanhou na aula anterior, somente no século XVIII a palavra
crítica ganhou relevo e importância. Antes disso, a função do crítico literário
confundia-se com a do gramático, na Idade Média; ou, ainda, era exercida
pelo filólogo no Renascimento. Depois de Kant e após a difusão do livro, o
crítico passou a ter como prioridade a avaliação, a interpretação e a descrição
da literatura.
No dia a dia, encontramos diferentes maneiras de divulgação da crítica, nos
jornais, nos livros, nas universidades. Ao mesmo tempo, estudamos sobre a
crítica na disciplina Teoria da Literatura.
Veremos, nesta aula, a relação da crítica com a Teoria da Literatura e o
percurso da crítica a partir da segunda metade do século XX, suas diversas
características e formas de manifestação.
78 CEDERJ
construção conceitual a que só se chega por via da análise”(ACÍZELO,
16
1992, p. 384).
AULA
Numa perspectiva analítica, a teoria tem por objeto os discursos
sobre a literatura, a crítica e a história literárias. Diferentes atitudes
metodológicas formaram correntes da crítica literária, problematizadas
e descritas no âmbito da Teoria da Literatura.
As abordagens intelectuais, geradas na complexa realidade cultural
do século XX, encontram espaço na Teoria da Literatura, que proble-
matiza a crítica literária, quer como modo de leitura e interpretação de
textos, quer como conjunto de reflexões sobre a natureza da literatura
e os variados sistemas significativos a que pertence o literário.
CEDERJ 79
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
ESTRUTURALISMO
80 CEDERJ
A intensa preocupação do Estruturalismo com os aspectos linguís-
16
ticos, no anseio de alcançar formulações científicas e comprováveis na
AULA
configuração do texto literário, negligenciou tópicos como influências
culturais, poder, subjetividade e a literatura como prática social.
MARXISMO
CEDERJ 81
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
82 CEDERJ
TEORIA PSICANALÍTICA E CRÍTICA LITERÁRIA
16
AULA
De forte impacto nos estudos literários, a Teoria Psicanalítica
pode ser compreendida como uma forma de interpretação e uma teoria
sobre a linguagem, a identidade e o sujeito. No Brasil, não há ainda
sistematização das confluências das abordagens literárias e psicanalíticas.
A análise de textos literários, realizados por Freud, anunciou o
seu método, como no estudo Delírio e sonho em ‘Gradiva’ de Jensen
(1907) no qual isola um tipo de texto – o sonho – para submetê-lo a um
exame. Depois de expor os sonhos do herói, aparece a interpretação sob
o conteúdo manifesto para, a seguir, alcançar o pensamento latente do
sonho que se constitui como um conjunto de ideias, a partir de detalhes
da vida interior e exterior de quem sonha.
Os estudos realizados, posteriormente, pela Psicanálise sobre o
significado do discurso onírico motivaram críticos e teóricos da litera-
tura à utilização de seu método para a ampliação dos estudos do texto
ficcional. Os estudiosos apontavam aspectos comuns entre o discurso
onírico e a literatura, tais como: a ausência de continuidades, quebras de
expectativas dos leitores, estranhamento acerca dos códigos de compor-
tamentos, aparentes evasões, lapsos e ambivalências, assim como vazios
e lacunas. Na relação entre os discursos onírico e literário, realiza-se a
crítica do sentido projetado na cadeia paradigmática, isto é, o método
consiste em encontrar o sentido dissimulado de uma passagem enigmática
à custa da exploração de um detalhe, um elemento isolado do todo, em
um sistema. Com isso, revela-se alguma coisa do subtexto que, como os
processos do inconsciente, a obra apresenta e controla. Nesse sentido,
a crítica pode observar não só o que o texto diz, mas o modo como
funciona e a partir de quais processos.
A explicação dos sonhos para Freud permite-nos ver a obra como
uma forma de produção. “Como o sonho, a obra toma certas ‘matérias-
primas’ – linguagem, outros textos literários, maneiras de se perceber o
mundo – e transformá-las, utilizando-se para isso de certas técnicas, em
um produto”(EAGLETON, 1997, p. 250).
CEDERJ 83
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
84 CEDERJ
O foco na recepção fundamenta a história da literatura em outras
16
bases, isto é, não mais uma ordenação sequenciada de obras e períodos,
AULA
mas a história de sucessivas leituras as quais marcam as obras de forma
diferenciada, através dos períodos históricos. Ou, segundo Jauss, a
tarefa da crítica consiste, por um lado, em “aclarar o processo atual
em que se concretizam o efeito e o significado do texto para o leitor
contemporâneo e, de outro, reconstruir o processo histórico pelo qual
o texto é sempre recebido e interpretado de forma diferente, por leitores
de tempos diversos”(JAUSS apud LIMA, 1979, p. 46).
Essa afirmativa já explica a primeira tese, do conjunto de sete
teses nas quais o autor fundamenta sua teoria. Trata-se da concepção
de historicidade da literatura a partir do diálogo entre a obra e o leitor,
produzindo constante atualização da obra literária. Dito de outra manei-
ra, o historiador relata a história das recepções sucessivas, estabelecendo
uma continuidade entre os valores da tradição e a experiência atual da
literatura.
A segunda tese diz respeito ao horizonte de expectativas ou o saber
prévio que orienta a recepção, as experiências e a proficiência do leitor,
de acordo com seu acervo, interesses, interferências e visão de mundo.
Para Jauss, “a obra que surge não se apresenta como novidade absoluta
num espaço vazio, mas por intermédio de avisos, sinais visíveis e invi-
síveis, traços familiares ou indicações implícitas, predispõe seu público
para recebê-la de uma maneira bastante definida”(JAUSS, 1994, p. 28).
O horizonte de expectativas é uma das categorias mais importantes
da Estética da Recepção e torna a leitura um fato social e histórico: o
saber construído socialmente está na consciência individual do leitor,
molda suas expectativas e explica sua primeira reação à obra. As expec-
tativas do leitor são móveis e diversas, de acordo com o seu lugar social
e intelectual. Assim, quando lemos um texto do passado, estabelecemos
com ele um diálogo a partir do nosso ângulo de visão no presente, o
que produz uma atualização das imagens e sentidos do passado, como
também um exame das condições históricas que nortearam a recepção
da obra.
Vejamos um exemplo: quando um leitor escolhe um romance como
Triste fim de Policarpo Quaresma, do escritor brasileiro Lima Barreto,
traz uma certa expectativa para a leitura da obra, conforme sua visão de
mundo, repertório linguístico e literário. Se o interessado na leitura desse
romance for um estudante dos estágios avançados do curso de Letras, a
CEDERJ 85
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
86 CEDERJ
O momento de interseção entre esses aspectos revela a compre-
16
ensão plena da obra, conferindo, além disso, uma função social para
AULA
a criação literária, pelo fato de o leitor visualizar de forma diferente e
crítica sua vivência cotidiana. Assim, a experiência estética integra prazer
e conhecimento, e as grandes obras são as que provocam, em diferentes
momentos históricos, a formulação de novas questões e ampliação do
horizonte de seus leitores.
TEORIA DO EFEITO
CEDERJ 87
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
ESTUDOS CULTURAIS
88 CEDERJ
Se você quiser saber mais sobre os Estudos Culturais, con-
16
sulte o sítio E-dicionário de termos literários, de Carlos
Ceia, http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_
AULA
mtree&task=viewlink&link_id=1034&Itemid=2 da Internet
Encyclopedia of Philosophy.
Fonte: http://www.letralia.com/177/articulo02.htm
CEDERJ 89
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
90 CEDERJ
16
Se você quiser conhecer mais sobre o debate contempo-
râneo liderado por professores universitários e críticos,
AULA
veja o site www.revista.agulha.nom.br/wilsonmartins091.
html, que traz uma entrevista com o crítico Wilson Martins
(1921-2010).
Ou, ainda, consulte o sítio http://www.germinaliteratura.
com.br/enc_pfranchetti_out05.htm com o artigo do crítico
e professor universitário Paulo Frachetti “O mercado da
crítica”.
CEDERJ 91
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
CONCLUSÃO
92 CEDERJ
ATIVIDADES FINAIS
16
Atende aos Objetivos 1 e 2
AULA
1. Agora que você reconhece diferentes formas de manifestação da crítica a partir
da segunda metade do século XX, comente, com suas palavras, pelo menos duas
tendências da crítica literária do período: a Estética da Recepção e outra corrente
crítica de sua escolha.
RESPOSTA COMENTADA
Nestas atividades, você deve ser capaz de resumir os aspectos mais importantes
de, pelo menos, duas correntes críticas, bem como identificar as principais formas e
espaços de manifestação da crítica literária hoje.
CEDERJ 93
Teoria da Literatura II | Crítica literária – as principais correntes dos anos 50, século XX, aos nossos
dias
RESUMO
LEITURAS RECOMENDADAS
JOBIM, José Luís. A crítica literária e os críticos criadores no Brasil. Rio de Janeiro:
Ed. Caetés: EdUerj, 2012.
94 CEDERJ
MARTINS, Wilson. A crítica como ofício. Entrevista concedida ao Jornal do Brasil,
16
publicada em 17 de agosto de 2005. Disponível em: www.revista.agulha.nom.br/
AULA
wilsonmartins091.html. Acesso em 15 ago. 2012.
NUNES, Benedito. Crítica literária no Brasil, ontem e hoje. In: MARTINS, Maria He-
lena (Org.). Rumos da crítica. São Paulo: Editora Senac/Itaú Cultural, 2000. p. 51-79.
CEDERJ 95
Os estudos literários
antes da ascensão da
17
AULA
Teoria da Literatura
Júlio França
Meta da aula
Apresentar um panorama histórico dos modos
de estudar as obras literárias anteriores ao surgi-
mento da Teoria da Literatura.
objetivos
AS DISCIPLINAS CLÁSSICAS
A Retórica
98 CEDERJ
Entendamos por retórica a capacidade de descobrir o que é
17
adequado a cada caso com o fim de persuadir. Esta não é segura-
AULA
mente a função de nenhuma outra arte; pois cada uma das outras
apenas é instrutiva e persuasiva nas áreas da sua competência;
como, por exemplo, a medicina sobre a saúde e a doença, [...] o
mesmo se passando com todas as outras artes e ciências. Mas a
retórica parece ter, por assim dizer, a faculdade de descobrir os
meios de persuasão sobre qualquer questão dada (ARISTÓTELES,
Retórica, p. 95-96).
CEDERJ 99
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
100 CEDERJ
sos, alguns afligem, outros encantam, fazem medo, inflamam os
17
ouvintes, e alguns, por efeito de alguma má persuasão, drogam a
AULA
alma e a enfeitiçam (GÓRGIAS. Elogio de Helena, p. 299-300).
CEDERJ 101
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
A Poética
A Estética
Apesar de Alexander Baumgarten (1714-1762) ser considerado o criador
da disciplina “Estética”, a temática já se fazia presente desde a Anti-
guidade clássica, quando se pensava em abordagens da literatura que
levassem em consideração o conjunto das demais artes. Mais que um
estudo sobre a arte, a Estética de Baumgarten representava um campo
de estudo epistemológico.
Para o filósofo Alemão além do conhecimento lógico e racional, o homem
tinha um nível inferior de apreensão do mundo: o conhecimento sensí-
vel. Através da percepção subjetiva do que estaria à sua volta, o homem
adquiriria certas impressões criadas pela relação sensorial do homem
com o mundo.
Ao reforçar os aspectos sensoriais da arte, a Estética impulsionou a ideolo-
gia romântica da criação artística como obra do gênio.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/9a/Aesthetica.
png/220px-Aesthetica.png
102 CEDERJ
Cada uma das três principais obras clássicas da Poética legou-nos
17
Poética
uma série de conceitos e noções, ainda hoje fundamentais para os estu-
AULA
A Poética legou aos
dos literários. A Poética, em especial, é um livro notável. Como lembra estudos literários
um conjunto de
Penélope Murray (2000, p. viii), a obra aristotélica é, ao mesmo tempo, termos que conti-
a primeira a se dedicar exclusivamente ao tema e uma das mais impor- nuam úteis e fun-
cionais até os dias
tantes do cânone crítico – se não a mais importante. É como se ela fosse, de hoje:
simultaneamente, o ponto de partida e a culminância de uma tradição. Mímesis ou mimese
Em Aristóteles, a concepção platônica da arte como mímesis (veja Noção grega, já
presente nos textos
o boxe ao lado) retomada, mas em outros termos. O sentido pejorativo
de Platão, de que a
atribuído por Platão às artes miméticas – produtoras de cópias de ter- arte é uma forma
de representação
ceiro grau – é contraposto a uma ideia mais positiva da representação. da realidade.
Aristóteles desloca o foco platônico sobre a arte (perspectivas morais,
Verossimilhança
pedagógicas, epistemológicas e ontológicas), pensando a mímesis de Noção proposta
forma autônoma, desvinculada da condição de imitação da aparência, por Aristóteles, que
atribui à literatura
contribuindo decisivamente para o estabelecimento de uma visão estética um estatuto parti-
cular de realidade:
da literatura. Além disso, ainda que Aristóteles não esteja absolutamente não a verdade dos
convencido, ele especula que seriam benéficos os efeitos (as emoções) fatos acontecidos,
mas a verdade dos
produzidos pela arte. fatos que poderiam
acontecer.
Kátharsis ou catarse
Termo aristotélico, usado para nomear a purificação da alma decorrente da descarga de emoções
proporcionada pela intensidade das cenas trágicas.
Imitatio ou imitação
Termo latino relacionado à mímesis grega. Por imitatio, entende-se não a imitação despropositada
da natureza, mas uma representação do potencial da natureza humana, fruto da observação dos
fatos da vida.
Emulatio ou emulação
Termo latino relacionado à imitação. Doutrina que preconizava a adoção de certos autores e cer-
tas obras como modelos de perfeição artística, de maneira a aprender com eles e, eventualmente,
superá-los.
Decorum ou conveniência
Termo latino que se refere à necessidade da criação artística ser adequada, tanto a padrões estéticos
quanto a éticos.
CEDERJ 103
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
104 CEDERJ
O tema do tratado é um dos estilos da retórica clássica, o “Subli-
17
me”. Para Longino, a natureza peculiar do discurso sublime é conduzir ao
AULA
êxtase e não à persuasão. Trata-se, pois, de uma experiência de choque,
provocando uma sensação de adynasía (impotência, indigência, impos-
sibilidade) no leitor/ouvinte, diante das situações limites, provocadas
pela violência, seja da paixão, da moral, das ideias ou da imaginação
apresentada.
O tratado de Longino legitimou o subjetivo na experiência estética
e representou uma importante abertura, dentro do pensamento clássico,
de uma região imprecisa, para além da normatividade do pensamento
retórico. Uma região frequentada por uma forma de sensação que não
podia ser circunscrita nem somente aos domínios dos sentidos, nem
somente aos da razão.
CEDERJ 105
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
Impressionismo crítico
Foi um movimento que negava a possibilidade de se teorizar sobre a arte. Diante do surgimento do
movimento romântico, que abalou a estabilidade das poéticas clássicas e, consequentemente, os pró-
prios estudos literários, os estudiosos perceberam que era necessária uma postura que se adequasse
às perspectivas artísticas do momento. Influenciado pelo subjetivismo e individualismo românticos,
o Impressionismo crítico alegava que o máximo que se podia fazer ao lidar com a arte era registrar
impressões de leitura, ou seja, espécies de relatos pessoais das experiências com a obra. Anatole France,
um dos grandes nomes do movimento, defende essa posição da seguinte maneira:
Não existe crítica objetiva, tanto quanto não existe arte objetiva, e todos que esperam colocar
outra coisa além de si mesmos em suas obras são enganados pela mais falaciosa ilusão. A verdade
é que nunca saímos de nós mesmos. É uma de nossas maiores misérias. (...) Estamos fechados em
nós mesmos em uma prisão perpétua. O que temos de melhor a fazer, creio, é reconhecer de bom
grado essa terrível condição (...).
Para ser franco, o crítico deveria dizer:
– Senhores, vou falar de mim, a respeito de Shakespeare, de Racine, de Pascal ou de Goethe. (…)”
(FRANCE, Sobre a subjetividade radical da crítica, p. 580).
ATIVIDADE
106 CEDERJ
17
AULA
RESPOSTA COMENTADA
Nesta atividade, você deve ser capaz de apontar exemplos de como
as técnicas retóricas ainda se fazem vivas em nossa sociedade,
não apenas nos estudos literários, mas em áreas como o direito
e a publicidade. Em relação à Poética, poderá refletir se alguns
dos conceitos-chave da disciplina (gênero literário, representação,
catarse, verossimilhança etc.) ainda são importantes ferramentas
para se descrever as obras de arte contemporâneas.
AS DISCIPLINAS MODERNAS
A crítica literária
CEDERJ 107
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
108 CEDERJ
A História da Literatura
17
AULA
Nas Aulas 5 e 6 do curso de Teoria da Literatura I, foram apresen-
tadas as complexas relações entre a história e a literatura. Vimos como
os processos e os modos de conhecimento do passado influenciaram o
próprio estudo das obras literárias, dando origem a métodos de descri-
ção da literatura, como o da periodização histórica. Na aula de hoje,
veremos como a visão historicista constituiu uma disciplina dentro dos
estudos literários.
Contemporânea da Crítica, a História da Literatura fundamenta-se
no pressuposto de que a História, como disciplina, é científica. A ascen-
são do historicismo como ponto de vista EPISTEMOLÓGICO dominante EPISTEMOLÓGICO
no XIX tem algumas causas recuperáveis: A palavra "episte-
mologia" é formada
(a) a expansão do capitalismo burguês e a exigência de uma refle- a partir de dois
termos gregos: epis-
xão crítica sobre as contradições sociais advindas; teme (conhecimento,
(b) a afirmação do modelo científico físico-matemático como ciência) e logos
(estudo), e é empre-
norteador das ciências humanas; gada para se referir
à parte dos estudos
(c) a ideologia estética romântica e sua valorização do passado filosóficos, voltada
para o modo como
como série de estágios evolutivos da humanidade.
nós, seres huma-
Três foram os principais modelos metodológicos adotados pela nos, conhecemos o
mundo. Também
História Literária no século XIX: o biográfico-psicológico, o sociológico conhecida como teo-
ria do conhecimento,
e o filológico. essa área de estudos
A diretriz biográfico-psicológica, da qual Sainte-Beuve foi um procura responder
questões como “O
dos principais nomes, baseava-se na premissa romântica de que o gênio que é o conhecimen-
to?”, “Como e o que
é a instância suprema para a explicação da literatura. O historiador é possível conhecer”
devia, pois, esforçar-se por reconstruir biográfica e psicologicamente o e “Como podemos
nos certificar de que
autor, o processo criador e o conteúdo psíquico da obra. A exigência da nossos conhecimen-
CEDERJ 109
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/ce/Sainte-Beuve.jpg
110 CEDERJ
(a) Por um lado, o grupo das posturas assumidas pela História
17
de Literatura, cuja modalidade de abordagem tendia a reduzir o objeto
AULA
literário ao interesse sociológico, centrando suas análises na função social
do escritor, nos estudos da significação social das obras e no entendimento
da obra literária como reflexo da sociedade. Hippolyte Taine foi um dos
principais nomes desse modo de abordagem;
(b) Por outro lado, a posição que seria assumida, futuramente,
por algumas correntes da Teoria da Literatura, mais focada no estudo
das relações entre formas literárias e formas sociais. Partirá da premissa
de que a linguagem é uma instituição social e a literatura uma forma
individual e estética de inserção no plano do imaginário (Cf. SOUSA,
1987, p. 70-77).
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hippolyte_taine.jpg
CEDERJ 111
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Gustave_Lanson
112 CEDERJ
CONCLUSÃO
17
AULA
Retórica e Poética, embora tenham praticamente desaparecido
como disciplinas, legaram importantes conceitos e noções para os estudos
literários da atualidade. Em relação à perspectiva historicista, ela ainda
se faz fortemente presente em nossos dias, como pode ser observado,
no Ensino Médio, na importância dada à periodização e aos estilos de
época, e, no Ensino Superior, às literaturas nacionais.
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 2 e 3
Nesta aula, você percebeu que, bem antes de existir o que conhecemos como
“Teoria da Literatura”, já existiam muitas “teorias sobre a literatura”, que,
inegavelmente, deixaram sua herança para os estudos literários. Observando
as relações que você teve com esse campo no Ensino Fundamental e Médio,
analise que características remanescentes dessas vertentes de estudo podem ser
identificadas ainda hoje nas escolas. Tendo feito isso, dê sua posição quanto à
forma como é feito esse estudo na educação nacional.
RESPOSTA COMENTADA
Em sua resposta, você poderá, usando sua experiência como estudante do Ensino
Médio, relacionar o modo como a literatura é ensinada na escola com os métodos
e procedimentos da História da Literatura, a fim de demonstrar como os ideais histo-
riográficos ainda persistem nos níveis de ensino mais elementares. Poderá também,
opinar sobre a maior ou menor eficiência desse tipo de ensino.
CEDERJ 113
Teoria da Literatura II | Os estudos literários antes da ascensão da Teoria da Literatura
RESUMO
A aula de hoje propôs uma quadro geral dos modos de se estudar a literatura,
existentes antes da ascensão da Teoria da Literatura, no século XX, a fim de
demonstrar tanto as rupturas quanto as continuidades que serão propostas pelas
inúmeras correntes teóricas que se seguirão.
114 CEDERJ
A ascensão da Teoria da
18
AULA
Literatura
Júlio França
Meta da aula
Apresentar as principais transformações nos
modos de compreender e de estudar a literatura,
ocorridas com a ascensão da Teoria da Literatura
à condição de disciplina hegemônica dos estudos
literários no século XX.
objetivos
116 CEDERJ
18
Os paradigmas, conforme falham em suas propostas, acabam sendo
suplantados por novos paradigmas, mais abrangentes e eficazes. Ao longo
AULA
da história presenciamos a ascensão e queda de muitos desses paradigmas,
como a indivisibilidade do átomo ou o determinismo.
CEDERJ 117
Teoria da Literatura II | A ascensão da Teoria da Literatura
118 CEDERJ
Os aspectos sociais relacionados à produção, à circulação e à
18
recepção da literatura não passaram despercebidos pelas correntes teó-
AULA
ricas. A Antropologia de orientação estruturalista, com seus sistemas
simbólicos, ganhou espaço em detrimento da Sociologia do século XIX,
pois a Teoria rejeitava a tendência sociológica em ignorar a linguagem
literária considerada em si mesma e buscar, em fatores extrínsecos, as
“causas” da literatura.
Os aspectos filosóficos da literatura são amplos e diversificados: o
Fonte: http://
particular modo de existência da obra literária, os sentidos e significados pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Edmund_Hus-
que produz, os problemas de subjetividade por ela suscitados etc. Para serl_1900.jpg
lidar com essas questões, sobretudo duas correntes filosóficas foram de FENOMENOLOGIA
importância crucial para a Teoria. A F E N O M E N O L O G I A , como resposta Fundada por
Edmund Husserl
ao positivismo historicista, e o E X I S T E N C I A L I S M O , como contrapartida ao (1859-1938), a
Fenomenologia é um
sociologismo excessivo do XIX, foram os sistemas filosóficos acolhidos campo filosófico de
pela Teoria para lidar com as questões ontológicas, epistemológicas, estudos sobre como
o homem relaciona-
éticas, estéticas e lógicas. se com o mundo
através de experiên-
Com o tempo, os quatro focos de atenção fundamentais da Teoria cias sensoriais subje-
tivas. De acordo com
da Literatura – o texto, os aspectos psicológicos, os aspectos sociais e
essa teoria, os fatos
os aspectos filosóficos – desdobraram-se em múltiplas possibilidades de do mundo nunca
nos são acessíveis: só
discursos sobre a literatura, conforme o aspecto que receberia atenção do podemos nos relacio-
nar com os fenôme-
estudioso. De modo geral, a Teoria da Literatura acabou demonstrando nos, isto é, com obje-
tendência a se concentrar em determinados aspectos da obra literária e tos mentais, frutos
de nossa recepção
a relegar, a um segundo plano, os demais. sensorial do fato.
A Fenomenologia
No quadro a seguir, tentamos resumir, de modo bastante genérico, negava, desse modo,
como o interesse pelos papéis do escritor, do texto, do leitor e de seus as bases do histo-
ricismo do século
respectivos contextos dão ensejo a teorias e métodos muito distintos de XIX, que tomavam
os fatos como provas
estudo da obra literária. científicas.
EXISTENCIALISMO
É uma corrente de pensamento originária de uma série de doutrinas variadas,
que mantinham entre si, como pressuposto comum, a ideia de que o ponto de
partida do pensamento filosófico deveria ser a experiência do indivíduo. Nem a
Ciência nem a Moral seriam suficientes para entender o significado da existência
humana, que só podia ser buscado através da experiência, do conhecimento gra-
dual, da jornada do ser. Jean-Paul Sartre (foto)
esteve entre seus principais pensadores.
Fonte da imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Jean-Paul_Sartre_FP.JPG
CEDERJ 119
Teoria da Literatura II | A ascensão da Teoria da Literatura
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
RESPOSTA COMENTADA
Em sua resposta, você poderá, usando sua experiência como estu-
dante e leitor de literatura, fazer uma autorreflexão sobre seus modos
de leitura das obras literárias. É uma oportunidade de perceber
como as ideias da Teoria da Literatura podem lhe ajudar a produzir
leituras de narrativas, poemas e peças dramáticas para além de seus
gostos e interesses particulares, permitindo-lhe, assim, dimensionar
as obras no que elas significam não apenas para você, mas para
as diferentes comunidades interpretativas.
120 CEDERJ
UM PROJETO DE TEORIA
18
CÍRCULO
LINGUÍSTICO DE
AULA
Neste tópico, discutiremos um dos primeiros projetos de cons-
PRAGA
tituição de uma disciplina puramente teórica nos estudos literários. O Foi um grupo de
livro Teoria da Literatura, de Wellek e Warren, publicado em 1949, linguistas e teóricos
da literatura, que se
representou um marco, ao reunir esforços de superação de um estudo reunia na capital da
Tchecoslováquia,
historicista, em direção a uma prática rigorosamente metódica e voltada no período entre as
aos aspectos textuais. duas grandes guerras
mundiais. Seus mem-
René Wellek era austríaco e havia participado do C Í R C U L O L I N - bros desenvolveram
alguns dos mais
GUÍSTICO DE P R A G A . Tornou-se uma espécie de porta-voz de uma nova importantes métodos
formalistas de pes-
geração de estudiosos da literatura, que concordavam quanto à necessi-
quisa e análise, tanto
dade de uma posição contrária ao historicismo. Já o estadunidense Austin linguísticas quanto
literárias. Entre seus
Warren foi um dos expoentes do New Criticism norte-americano, uma principais nomes
estavam os russos
tendência de estudos de literatura que enfatizava os aspectos formais da Roman Jakobson e
obra literária, considerada como um objeto A U T O T É L I C O e completo em Nikolai Trubetzkoy,
o austríaco René
si. Apesar das formações distintas, ambos compartilhavam a “posição de Wellek e o tcheco
Jan Mukarovsky.
que os estudos literários devem ser especificamente literários” (WELLEK;
WARREN, 2003, p. VIII).
Wellek e Warren não foram “criadores” de uma nova aborda-
AUTOTÉLICO
gem, mas seu livro representou a primeira tentativa de se sistematizar Etimologicamente,
os estudos literários nos termos em que ficaria conhecida a Teoria da auto, “por si”, e
télos, “finalidade”.
Literatura. Em seu projeto, não percebemos ainda alguns radicalismos Diz-se dos objetos
ou ações que não
que caracterizariam a disciplina ao longo do século XX. Defendia-se a têm finalidade ou
sentido fora de si
especificidade do texto literário, mas sem se ignorar os aspectos contex-
mesmos, que são
tuais que o envolvem. Na proposta dos dois autores, História, Teoria e autossuficientes.
Entender a literatu-
Crítica não deveriam ser concorrentes, mas disciplinas que se auxiliariam ra como autotélica
implica tomá-la
mutuamente no trabalho de compreensão e sistematização da literatura. como algo que traz
em si mesmo a sua
justificação de ser.
O conceito de literatura em Wellek e Warren Para saber mais
sobre o conceito de
“autotelia” relacio-
Influenciado pela Fenomenologia, René Wellek postulava que nados aos estudos
literários, consulte o
nossa capacidade de conhecer a obra literária é similar às nossas condi-
E-Dicionário de Ter-
ções de conhecer qualquer outra coisa no mundo. Em outras palavras: mos Literários:
http://www.edtl.
jamais conhecemos um objeto em sua totalidade, apenas apreendemos com.pt/index.
php?option=com_
aquilo que nossos (pouco confiáveis) sentidos e nossa (limitada) capaci-
dade de cognição permitem-nos perceber. Contudo, por mais que nosso
conhecimento seja precário, sempre se pode apreender algo sobre o obje-
CEDERJ 121
Teoria da Literatura II | A ascensão da Teoria da Literatura
122 CEDERJ
históricos em que não há distinção discursiva entre ela e a filosofia, a
18
história, a religião etc. Dada a sua propriedade de ultrapassar seu tempo
AULA
e espaço históricos, novas “utilidades” e sentidos aparecem e se somam
à obra literária, ao longo do tempo. Em alguns casos, quando é passado
o tempo de sua atividade primordial, muitas vezes o que era uma ferra-
menta se transforma em ornamento. É o caso, por exemplo, dos sermões
do padre Antônio Vieira. Se, originalmente, eram discursos persuasivos,
de caráter teológico e político, hoje são apreciados fundamentalmente
por suas qualidades estéticas.
Para Wellek e Warren, a literatura pode ser definida, fundamental-
mente, como um uso específico de língua, com suas normas e estruturas
características. Sendo, porém, a matéria prima da Literatura um com-
plexo fato cultural – a língua –, em que consistiria esse uso literário da
língua? As distinções propostas pelos autores são entre os usos literário,
científico e cotidiano.
A linguagem científica aspiraria a um ideal de pura denotação,
que a aproximasse de alguma linguagem universal, objetiva, sem ambi-
guidades, como a Matemática e a Lógica. A linguagem literária, por
sua vez, seria altamente conotativa, cheia de polissemias, homônimos e
irracionalidades, além de se caracterizar por produzir significados atra-
vés da própria materialidade dos seus signos – pense, por exemplo, na
sonoridade das rimas, das assonâncias, das aliterações etc. Já a distinção
entre linguagem cotidiana e literária é mais problemática, afinal, ambi-
guidades, conotações e polissemias fazem parte da língua do dia a dia.
Para solucionar esse impasse, Wellek remete, implicitamente, às funções
da linguagem de Roman Jakobson, ao entender que se deve considerar
como literárias apenas as obras em que a função estética é dominante.
“Literatura”, portanto, refere-se àquelas obras que se pretendem artís-
ticas, pela força de sua constituição.
CEDERJ 123
Teoria da Literatura II | A ascensão da Teoria da Literatura
124 CEDERJ
Apenas uma concepção muito restrita de verdade pode excluir
18
as conquistas das humanidades do domínio do conhecimento.
AULA
Muito antes do desenvolvimento científico moderno, a filosofia, a
história, a teoria do direito, a teologia e mesmo a filologia haviam
elaborado métodos de saber. Suas conquistas podem ter sido obs-
curecidas pelos triunfos teóricos e práticos das modernas ciências
físicas, mas são, não obstante, reais e permanentes e podem, às
vezes com algumas modificações, ser ressuscitadas ou renovadas.
Devemos simplesmente reconhecer que existe essa diferença entre
os métodos e objetivos das ciências naturais e das humanidades
(WELLEK; WARREN, 2003, p. 5).
CEDERJ 125
Teoria da Literatura II | A ascensão da Teoria da Literatura
CONCLUSÃO
126 CEDERJ
até as concepções fatalistas da criação artística. Embora os elementos
18
ambientais, contextuais e históricos sejam matéria da obra de arte, os
AULA
elementos extrínsecos, em geral, interessariam a um ponto de vista
estranho ao do estudioso da literatura, de competência do historiador,
do psicólogo, do sociólogo, do antropólogo.
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 2 e 3
Para Wellek e Warren, qual seria o objetivo de uma postura teórica diante da
obra literária?
RESPOSTA COMENTADA
Em sua resposta, você poderá, usando seu conhecimento sobre os pressupostos e
objetivos da Teoria da Literatura, demonstrar que, em comparação com os demais
interesses dos estudos literários, a abordagem teórica lida com proposições genera-
listas e universalizantes, e é voltada para perceber, nas obras, aquilo que é recorrente
e geral nos fenômenos literários.
CEDERJ 127
Teoria da Literatura II | A ascensão da Teoria da Literatura
RESUMO
A aula de hoje mostrou que a Teoria da Literatura foi pensada por Wellek e Warren
como uma disciplina universalista e generalizante, que estuda os princípios gerais
da literatura e que, dessa forma, fornece subsídios para a caracterização dos traços
individuais de uma obra, um autor, um período ou uma literatura nacional – a ser
empreendida pela Crítica e pela História literárias. Para tanto, a teoria deve ser
perspectivista, isto é, encontrar um meio termo entre a fixidez do absolutismo
das tradições e a fluidez do relativismo, que inviabilizaria o estudo sistemático.
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Teoria da Literatura II
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