Povos Indígenas No Brasil 1991-1995 (Parte 1)
Povos Indígenas No Brasil 1991-1995 (Parte 1)
Povos Indígenas No Brasil 1991-1995 (Parte 1)
rAcervo
-/;\ I SA
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INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
rAcervo
-/;\ I SA
a Instituto
Socioambiental 8 uma associacao civil, sem fins lucrativos, fund ada em 22 de abril de 1994, por pessoas com forma~ao e experlencla marcante
na luta por direitos sociais e ambientais. Incorporou 0 patrlmonio material e imaterial de 15 anos de expariencla do Programa Povos
I ndfgenas no Brasil, do Centro Ecumenico de Documentacao e lnfurrnacao (CEOI), e 0 Nucleo de Oireitos Indfgenas {NDO, de Brasilia, orqanizacao de atuacaoraconhecida nas quastoes dos direitas indfgenas no Brasil.
Com sede em Sao Paulo e sucursal permanente em Brasilia (alern de bases locals para a lmplantacao de projetos demonstratives). a Instituta tem como objetivo defender bens e direitos socia is, coletivos e difusos, relativos ao meio ambiente, ao patrirndnio cultural, aos direitos humanas e das povos. a ISA produz estudas, pesquisas, projetos e pragramas que promovam a
sustentabilidade socioambiental, divulgando a diversidade cultura I e biol6gica do pais,
As principais modalidades de trabalho do I nstituto sao: doc urnentac ao e lntormacso, tormacao e capacitacso, cartografia e sensoriamento remoto, inventarics e perfcias, consultorias e services, campanhas, acoes judiciais e assessoria juridica, monitoramento de poifticas publicas, formulacao
e gerenciamento de projetos, conservacao ambienta I e re cuperacao de areas d egrad adas.
a Instituto privilegia agoes globais que articulem projatos de carater demonstrative e programas de trabalho, combinando diversas modalidades e pianos de atuacso, desde 0 local, ao regional, ao nacional e ao global. Sua comunidade de
i nteresses atu a atravas de coa lizoas e parcerias no Brasil e no exterior,
em cooperacao com orqanizacdes nao governamentais, movimentos sociais, instituicoas de ensino e pesquisa, igrejas, agencias de governo, fundacdes e empresas.
Dados Internacionais de Cataloga'riio na Publica'riio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Povos indigenas no Brasil: 1991-19951 Carlos Alberto Ricardo editor.Sao Pallia: lnstituto Socioambiental, 1996.
ISBN 85-85994-02-9
1. Indios da America do Sul - Brasil l. Ricardo, Carlos Alberto, 1950-
CDD-980,41
96-1711
indices para catillogo sistematico:
1. Brasil: indios 980.41
2. Brasil: Povos indiqenas 980.41
3. indios: Brasil 980.41
4. Povos indigenas: Brasil 980.41
Conselho Diretor
Carlos Frederico Mares de Souza Filho (Presidente)
Juliana Santilli
(Vice-Presidente)
Eduardo Viveiros de Castro Neide Esterci
Enrique Svirsky
Secretiuios - Executivos Carlos Alberto Ricardo
Joao Paulo Capobianco
SUMARIO
rAcervo
-/;\ I SA
Apresentacso
Temas
Legisla~1:io
39 Politica lndigenista
63 Terras lndfgenas: Damarcacao e Exploracso de Recursos Naturais
89 Orqanlzacdes lndlqenas e Orqanizacdes de Apoio
101 Projetos de Desenvolvimento Regional
113 Regioes Geogriificas
811 Lista de Referencias
856 Siglas
861 Diret6rio Nacional
864 Fontes
865 indice Remissivo de Povos
861 lndics Geral
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
Sao Paulo:
Av. Hiqienopolis, 901 CEP 01238-001 Sao Paulo SP BRASIL
Telefone: (011) 825-5544 Fax: (011) 825-7861 E-mail: socioamb@ax.apc.org
Brasilia:
SCLN 210 Bloeo C - sala112 CEP 70862-530 Brasilia DF BRASIL Telefone: (061) 349-5114 Fax: (061) 274-7608 E-mail: isadf@ax.ape.org
Edi~HO geral de texto e toto Beta Ricardo
Pesquisa, edi\fao de texto e reda\fao Fany Pantaleoni Ricardo
Reda\fao e assistencia de edi\fao
Luis Donisete Benzi Grupiani, Marina Kahn, Marco Antonio Goncalves e Marleine Cohen
Revisao
Ana laura Junqueira, Leila Maria Monteiro da Silva, Maria Clea Brito de Figueiredo, Vera Feitosa
Design e produ\fao griifica
Roberto Strauss
Prepara\fao de originais e secretaria de produ\fao griilica Vera Feitosa
Editora\fao eletrilnica
Adriana Quaglia, Marcia Maria Signorini,
Roberto Strauss ICoordena~ao), Roberto Temin, Rogero Bottino
taboraterie fotogriifico
Ailton Costa, Patricia de Filippi
Mapas
Alicia Rolla
Laboratorio de tntormacnes GeogrMicas e Sensoriamento Remota do ISA
Documenta~ao
Angela Galvao, leila M. M. da Silva, Luiz Adriano dos Santos
Processamento de Dados
Jose Roberto de Souza, Radolfo Marincek
Administra\fHO
Carlos Alberto de Souza, Evandro Dutra, Marcelo A. de Souza, Nilto Tatto
Colaboraram
Os nomes dos colaboradores que escreveram artigos e notlcias au cederam fotos aparecem nos raspectivns taxtos
e fotos. Aqueles que colaborararn para a Lista de Referilncias, astao mencionados na propria set;:ao, ao final.
Ana lange, Ana Paula Souto Maior, Anai - BA, Apolonio XOCQ,
Angela Papianni, Aryan D. Rodrigues, Bizuca, Benigno Pessoa Marques, Bruna Franchetto, Pe. Carlo Ubbiali, Carlos Augusto da Rocha Freire, CPI-AC, Cecilia Helm, Claudia Andujar, Claudio Zannoni,
Daniela Chiaretti, Daniel Monteiro Costa, Dalila Fernandes,
Delvair Montagner, Fernanda Tocchetto, Frederico Oliveira,
Isa Rogado, lvar Bussato, Leonardo Carneiro da Cunha, Leao Serva, Lidia Jose dos Santos, Luiz Fernando Lemos Santos, lux Vidal,
Mario Bordignon, Monica Maya, Otflia Maria Correa da Escossia Nogueira, Oneron Pith am, Paulinho Pankararu, Pedro Martinelli, Regina Celia Fonseca Silva, Roberto Baruzzi, Roberto Lima da Costa, Rodrigo Venzon, Rosa Maria de Oliveira Costa, Rui Cotrim,
Silbene de Almeida, Sofia B. M. de Mendon~a, Suzana Camargo, Sylvia Caiuby, Vincent Carelli
Apoio de Ion go prazo para a realizal/ao do PIB 91/95
.A. Programa para ~:V Povos Indigenas da
."..... Fafo (Noruega)
Apoios complementares
MEC - Ministerio da Educacao e do Desporto SEF/DPE/Assessaria de Educacso Escolar Indigena FAE - Fundaqao de Assistsncia ao Estudante
Operation Day Work/Norwegian Church Aid (Noruega)
Sociedade Brasileira de Silvicultura
Apoio institucional
~/CCO
Cortesias de imagens (Agencias)
, AGENCIA ES1ADO
EDITORA AZUL
Servi\fos de Bureau I Fotolitos Paper Express
Impressiio e acabamento Cartgraf Editora S.A.
Tiragem
3.000 exemplares
Papel
Miolo impressa em
da Cia. Suzano de Papel e Celulose
I r , APRESENTACAO
A SOCIODIVERSIDADE NATIVA
-
CONTEMPORANEA NO BRASIL
Beto Ricardo (*)
o Brasil, que vai completar 500 anos no ana 2000, desconhece e ignora a imensa sociodiversidade nativa contemporanea dos povos indfgenas. Nao se sabe ao certo sequer quantos povos nem quantas Ifnguas nativas existem. 0 (re) conhecimento, ainda que parcial dessa diversldade, nao ultrapassa as restritos circulus academicos especializados. A publicacao deste volume e uma contrlbuicao para se superar este abismo. Agora publicado pelo Instituto Socioambiental (ISA), vern se somar as publicacoes seriadas de mesmo titulo, iniciadas em 1980 pelo Programa Povos Indigenas no Brasil do CEDI (vel' na orelba da capa).
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991-1995 e uma obra de referencia que apresenta urn resumo comentado da politica indigenista, da politica indigena, dos conflitos e da situacao jurfdica e de fato das terras indfgenas e temas afins, no perfodo.
Nas 872 paginas deste volume, 0 leitor encontrara 2.234 noticias extraidas e resumidas a partir de urn vasto conjunto de documentos avulsos (cartas, notas a imprensa, atas de reuniao, relat6rios de pesquisadores, documentos administrativos) e de fontes diretas (depoimentos e inforrnacoes pessoais). Foram utilizados como fontes duas revistas semanais eVeja eJsto iJ) e 83 jornais diaries, assim distribuidos regionalmente : 22 do Norte, 18 do Centro-Oeste, 25 do Sudeste, 12 do Nordeste e seis do SuL Alguns desses jornais (DDU, DES?, FSp, IT, Oazeta Mercantil, fE, 0 Clabo e Correio Braziliense) sao rece-
bidos diariamente par assinatura, recortados e classificados pela equipe do ISA em Sao Paulo. Dezenove outros peri6dicos - especialmente de ONGs, organizacoes indigenas, de igrejas e associacoes cientfficas - tambem foram usados. As fontes impress as aparecem listadas ao final, assim como cada fonte aparece nominalmente identiflcada nos blocos de noticias, mapas, quadros, tabelas e boxes das secoes, assim como nas fotos.
Neste volume 0 leitor encontrara ainda 70 artigos assinados, cinco entrevistas, 27 mapas, 55 quadros e tabelas e 299 fotos. Todo a ma-
n Carlos AlbertD (Betol Ricardo 8 antrop61ogo 9 sacretario execut.vo do ISA.
POVOS INDIGENAS NO BRASil 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
terial foi organizado em capitulos tematicos - com subtemas - e regionais - por etnia e/ou terra/area indigena. No final, alern dos Indices, hi uma Lista de Referencias, a qual, salvo engano, e 0 mais completo levantamento do que foi produzido sobre 0 tema no perfodo, em diferentes generos e suportes.
A tarefa de teeer urn painel abrangente da situacao atual dos povos indfgenas no Brasil ii, de fato, um quebra-cabeca com milhares de pecas espalhadas e sem uma imagem guia. Faze-lo a partir da Sociedade Civil- e nao do Estado - tem exigido, ao Ion go desses ultimos 20 anos, a participacao de uma extensa rede voluntaria de colaboradores e a persistencia de uma equipe de pesquisadores-editores com uma cultura editorial apropriada, dentro de uma estrategia participativa e acumulativa. As condicoes materials de trabalho ao Iongo dos ultimos cinco anos receberam apotos de agendas de coopera~ao no Brasil e no exterior, assim como a ftnalizacao editorial e a producao grafica foram viabilizadas por um conjunto de contribuicoes que aparecem nominalmente discriminadas nas paginas de creditos.
ABISMO E OASIS
Hoje, um estudante ou um professor, por exemplo, que quiser saber algo mais sobre "os Indios" brasileiros conternporaneos tera muitas dificuldades. Em primeiro lugar, porque hi pOliCOS canals e espacos para a expressao diretamente indfgena no cenario cultural e politico do pals. Via de regra, vivendo em "locals de diffcil acesso", com tradicoes basicamente orais de cornunicacao e na condicao de monolmgues, com parco dominic do portugues, as diferentes etnias encontram barreiras para se expressar livremente com 0 mundo dos nao-Indios. Seus pontes de vista sao tomados geralmente fora dos contextos onde vivem, mediados por interpretes freqtientemente precaries, e registrados, finalmente, como fragmentos e em portugues.
No Brasil sao rarfssimos, por exemplo, os registros em lingua nativa do que se poderia chamar de arte oral. Nao hi publicacao que contemple sequer uma amostra dos generos praticados atualmente, como tambern sao rarfssimos os museus indigenas, a literatura pubJicada
APRESENTA~AO
~~;f~i DEC~~ro 1775RE~ii~d~:~TOf!/~ANT;;~~i~'iNA ... IPG. 64} •• ' .. '
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ou videos de autores indigenas. Ha excecoes como, por exemplo: 0 Museu Magtita dos Ticuna, que funciona desde 92 na cidade de Benjamin Constant (AM), ou 0 Centro Cultural da Folrn (Federacao das Organizacoes Indfgenas do Rio Negro), na cidade de Sao Gabriel da Cachoeira (AM), inaugurado em abril de 95, Os livrosAntes 0 Mundo ndo Bxistia, a mitologia heroica dos indios Desdna, dos autores Urmisin Panlon e Tolarnan Kenhiri (versao em portugues, Livraria Cultura Editora, SP,1980) - reeditado pela Foirn/Unirt em 95 - numa versao revista e ampliada que abriu a serie Narradores Indtgenas do Rio Negro, assim como Toru Duu'ugu, nosso povo (narrativas orals de dois Ticuna, publicadas em edicao bilingue em 1985, RJ, Museu Nacional!SEC/MEC/SEPS/FNDE), sao obras iinicas no genero. Ha alguns escritos de autores indfgenas, em lfngua nativa, feitos especialmente para publicacoes de carater didatico utilizadas em programas escolares nao oficiais. Publicacoes que reiinem mitos sao mais frequentes, mas este e apenas urn dos generos, Ainda assim, as mais completas foram publicadas no exterior.
H:i registros public ados de music as indfgenas, quase sempre fragrnentos, e a maior parte tambem esta no exterior. No Brasil ha algumas poucas excecoes, destacando-se, por ordem cronologica; z.Discoteca Etno-LingiHstieo-Musical das Tribes dos Rios Uaupes, Icana e Cauaburi (gravados por pe. Alcionilio Bruzzi Alves de Lima em 1951, e publicados pelo Centro de Pesquisasde Iauarete, AM, 1961, doze LPs); A Arte Vocal dos Suyd (Tacape, Serie Etnomusicologia, Sao Joao Del Rei, 1982); Paiter Marewd (Memoria Discos e Edig6es Ltda, SP, 1984); Kaapor; Cantos de Pdssaros nita Morrem (Unicamp/ Minc/Seac, 1988), Bor01'O Vive (Museu Rondon/UFMT, Cuiaba, 1989). No periodo 1991-95 foram publicados varies titulos importantes (uer na Lista de Referencias, no final deste volume).
Na area de VIdeo, a decada de 80 assistiu a entrada em cena de alguns videomakers indigenas, entre eles Sia Kaxinaua (AC) , urn dos poucos que finalizou produtos que ja foram exibidos em mostras e festivais no Brasil e no exterior, Outro destaque eo Projeto video nas Aldeias, coordenado pelo videomaker Vincent Carelli (CTIISP), que estimula a intercambio cultural entre diferentes povos indigenas atraves do video, treinando e acompanhando videomakers Indigenas, como Raimundo Xontapti Gaviao Parkateje (PA) e Kasiripina Waiapi (AP), e tambem produzindo VIdeos proprios, cuja marca e a audio direto em lingua nativa, com legendas em portugues e outras lfnguas.
Em segundo lugar, porque sabe-se poueo sobre "os Indios", Basta mencionar, por exemplo, que das 206 etnias relacionadas neste volume (das mais de mil que, segundo estimativas, existiarn nessa parte do mundo quando da chegada dos europeus) e das cerca de 170 lfnguas nativas existentes hoje no Brasil, talvez apenas metade tenha sido objeto de pesquisa basica por parte de etnclcgos ou Ilngutstas. Das 170 Ifnguas indigenas do Brasil, aproximadarnente 80 receberam alguma descricao, em geral da fonologia segmental ou de
APRESENTA~AD
detalhes da gramatica, Menos de 10% das linguas tern descncoes eompletas de urn born nivel cientffico (cf. Moore, D, & Storto, 1.:
Lingufstiea Indigena no Brasil, MPEG, Belern, mimeo, 1993, pag.03), resultando numa bibliografia especializada (artigos e monograflas), cu]a maior parte nao esta publicada ou acessivel apenas em lingua estrangeira. Nao ha urn balance atualizado a respeito do estado das pesquisas, etnologica e lmgufstica, sobre os Indios no Brasil. Os iiltimos balances bibliogr:ificos incluslvos a esse respeito sao os de: Seeger, A. & Viveiros de Castro, E.: Pontos de vista sobre os indios brasileiros: um ensaio bibliogrdfico (Boletim Informativo e Bibllograftco de Ciencias Sociais, IUPERJ, n. 2 , 1977); The Present State of the Study of the Indigenous Languages of Brazil, de Aryan Dall'Ignia Rodrigues (1985); e 0 artigo de Moore & Storto, mencionado anteriormente, a sairna revista America Indlgena (Mexico). Para a Amazonia, 0 balance mais recente fOi feito por Eduardo Viveiros de Castro em Images of Nature and Images of Society in Amazonian Ethnology (a sair no Annual Review of Anthropology, vol 25, 1996).
Vale lembrar duas publicacoes de referenda, muito prezadas pelos especialistas da area: 0 Handbook of South American Indians (editado por Julian Steward, seis volumes, entre 1946/50, publicado pelo Smithsonian Institute, Washington DC, dos quais os volumes I e III sao de especial interesse para 0 Brasil) e a Bibliografia Critica da Etnologia Brasileira (vol, I, SF, 1954 e vol. II, Hanover, 1968, ambos de Herbert Baldus e 0 vol. III, Bedim, 1984, de Thekla Hartmann), Mais recentemente foi publicada a Encyclopedia of World Cultures (editor-chefe D. Levine, Human Relations Area Files, Yale University, 1991,20 volumes, dos quais 0 vol. VII, editado porlohannes Wilbert, trata de parte dos povos indfgenas da America do Sul).
o publico lei go interessado em conhecer mais a respeito dos Indios esta diante de urn abismo cultural e ted que se contentar com uma bibliografia didatlca rala, quando nao p reconceituosa ou deslnformada Ver a respeitoA questdo indigena na sala de aula - Subsfdios para professores de 1° e 2° graus, coletanea organizada por Aracy Lopes da Silva (Ed, Brasiliense, SF, 1987,253 pags.), que traz analises criticas na primeira parte e orientacoes positivas na segunda, Como exemplo, vale registrar que apenas em uma das enciclopedias - a Larousse Bnciclopedta, Brasil AlZ, Edltora Universo, SP, 1988 - destinada a um publico estudantil de primeiro grau, constam verbetes sobre etnias nativas conternporaneas no Brasil, ainda assim com diminutas quatro linhas de texto, em media, para cada uma.
Neste panorama, hi algumas publicacoes que constituem excecoes, Urn classico disponfvel, de espectro geral, eo livro Indios do Brasil, do antropologo Julio Cesar Melatti (Hucitec/Ed. da UNB, SP, 7" ed. 1993,220 pgs.). Sobre 0 passado, ver 0 impressionanteMapa EtnoHistorico de Curt Nimuendajii (IBGE, RJ, 1981,97 pgs + mapa), a coletanea Historic dos Indios do Brasil, organizada por Manuela Carneiro da Cunha (Cia, das Letras/SMCSF, 1992,611 pgs.) e, espe-
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 . INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
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~Acervo
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cificamente sobre as relacoes entre indios e nao-Indios no Brasil na primeira metade deste seculo, 0 livro Os indios e a Civilizarao, de Darcy Ribeiro (Vozes, Petropolis, 1982,509 pgs.), outro classico.
Para um mergulho mais profundo no universo de urn povo indfgena especffico ver Arawet~ 0 povo do ipixuna, de Eduardo Viveiros de Castro (CEDI, SP, 1992, 192 pgs), versao para um publico ampliado de urn trabalho monografico de grande envergadura, e 0 video documentario Araweti, de Murllo Santos (CEDI, VHS, 28', 1992). Para uma visao conternporanea abrangente das varias situacoes regionais enfrentadas pelos pOVOS indfgenas e suas relacoes com 0 cenario nacional e internacional, ver 0 Aconteceu Especial Povos Indtgenas no Brasil (serie publicada pelo CEDI, Sp, desde 1980), especialmente 0 volume dedicado ao perfodo 198711990 (592 pags.). Ver tambem A Temdtica Indigena na Escola -. Novos Subsfdios para Professores de 1° e 2° Graus (organizado por Aracy Lopes da Silva & Luis Donisete B. Grupioni, MEC/Mari/Unesco, Brasilia, 1995, 575 pgs). Hi bons titulos na cham ada literatura infantil, como os livros de Cica Fittipaldi e Rubens Matuck, por exemplo.
Esta em curso a elaboracao de uma enciclopedia Povos Indfgenas no Brasil, que sera lancada pelo Instituto Socioambiental a partir de 1997, em edicoes acumulativas em suporte CD-Rom multimfdia, ate ganhar tambem a forma de volumes impressos em papel no ana 2000.
A IMPRENSA E OS MANUAlS DE REDA~AO
Dentre as varias fontes de informacao utilizadas neste trabalho, recorreu-se frequentemente a imprensa diana e semanal, procurando extrair Informacoes textuals e imagens. Apesar do interesse da mfdia pelos "indios" nos ultimos 25 anos, 0 que se informa e, portanto, 0 que se "consome" sobre a assunto sao fatos fragmentados, historias superficiais e imagens genericas, enormemente empobrecedoras da realidade. A coisa rnais comum de se ler ou de se ouvirna imprensa sao notlcias com 0 nome das "tribes" trocado, grafado au pronunciado de maneira aleatoria, Nao raro urn determinado povo indigena e associado a locais onde nunca viveu, ou ainda a imagens que, na verdade, sao de outro povo indigena.
Os arquivos das redacoes dos jornais diaries praticamente nao discriminam positivamente a diversidade nativa contemporanea, reduzindo-a, via de regra, a um coniunto de pastas de recortes e fotografias classificadas genericamente como "indios". Quando muito, tem informacoes descontinuas sobre as "tribos em pauta", sem nenhuma densidade cultural ou historica especifica. Basta lembrar, por exemplo, as etnias que, por circunstancias hist6ricas, ocuparam concretamente 0 espaco "do indio de plantae" no noticiario e no lmaginario do pais em diferentes epocas: como 0 foram, na decada de 40, os Karaja da Ilha do Bananal visitados pelo presidente Genilio Vargas, ou os Xavante de Mato Grosso, que logo ap6s os primeiros contatos com os "civilizados" apareceram, nos an os 50, vestindo ternos
POVOS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
brancos numa loja da rede Ducal em Sao Paulo e, depois, voltaram, nos anos 70, com Mario [uruna. Ou ainda como as Krenakarore, "os indios gigantes'', "paclficados'' e removidos para que uma rodovia llgando Cuiaba a Santarern fosse aberta na floresta, nos anos 70. Mais recentemente, nos anos 80, os guerreiros Kayapo, de Raoni e Palaka, do sul do Para, ou os Yanomami de Roraima, vitirnas da invasao garimpeira ha dez anos ou 0 "retorno" dos velhos Guarani que, misteriosamente, passaram a produzir ondas de suicfdios de jovens. Ate os famosos "indios do Xingu", desde muito tempo no noticiario e presenga obngatoria em qualquer colecao de postais sobre 0 Brasil, nao passam de uma referencia generic a e grosseira para se tratar de urn conjunto de 17 povos que hoje vivem no chamade Parque Indfgena do Xingu, alguns deles tao diferentes entre si como os brasileiros dos russos.
Os povos indigenas que viviam no que veio a se chamar Brasil eram agrafos e atualmente a rnaioria nao domina nem a leitura nem a escrita. Foram - e continuam sendo - "batizados" por escrito por "brancos", antes mesmo que alguem lhes compreendesse a lingua. Como muitos povos nativos nao se expressam em portugues e nao foram pesqulsados por antropologos e linguistas, e outros tantos ainda vivem "isolados", desconhecidos, hi urn espaco aberto para todo 0 tipo de confusio semantica e ortografica, alern das mudancas por correcao e acrescimo a partir de novas inforrnacoes.
Sobre a confusao de tipo ortograftca, atualmente ha uma grande variabilidade na maneira de grafar os nomes das etnias indigenas. Para dar apenas um exemplo, uma das sociedades indigenas que hole hablta areas no estado do Acre tem sua designacao escrita de pelo men os quatro maneiras diferentes: caxinaua, cashinaua, kaxinawa e kaxlnaua.
o que se poderia chamar uma "convencao de nomes oficiais dos indios", usada pela Funai, e aleat6ria, oriunda dos seus funcionarios (sertanistas) e combinada com outras tomadas de ernprestimo dos antrop6logos. Convivem padroes diferentes e hi mudancas constantes. Varios povos atuais sao conhecidos par names que apareceram pela primeira vez em trabalhos antropologicos. A tendencia e que esses nomes se tornem internacionais e aparecam com a mesma grafia em todas as linguas. A razao basica pel a qual os antropologos grafam 0 nome de uma deterrninada maneira tern a ver com a escolha de um mesmo alfabeto com 0 qual vao escrever as palavras cia lfngua desse povo. Como essas lfnguas tem sons que nio encontram representacao direta nas letras do alfabeto brasileiro, eles sao obrigados a recorrer a outras letras e combinacoes de letras. Certas letras do alfabeto brasileiro tern sons diferentes daqueles em outras linguas. 0 c na frente de e, por exemplo, comas, e na frente de a, como k. Em outras Hnguas 0 C, nessa posicao, tern sorn de Is. Q e c sao complicados e, por isso, os antrop6logos as evitam ao grafar names de povos. Buscam usar letras cuja interpretacao sonora se aproxime
APRESENTACAo
III
do alfabeto Ionetico internacional, usado pelos Iingiiistas de todo 0 mundo.
Alem das razoes que explicam porque os antrop6logos preferem usaf uma grafla que seja pronunciavel mais ou menos da mesma forma em todas as linguas - €, portanto, dificllmente podera ser a forma brasileira -, deve-se considerar que alguns desses povos nao existem apenas no Brasil (ver na listagem adianie, na coluna Nome, aqueles marcados com um - '" - asterisco). Em tais casos, asfronteiras que vieram a ser estabelecidas historicamente, criando limites entre os Estados nacionais na America do SuI, se sobrepuserarn as sociedades indigenas, de tal forma que algumas delas vivem hoje sob a [urisdi~io pohtko-administrativa de dois, tres e ate quatro parses dlferentes.
Existe a norma culta da "Convencao para a grafiados nomes tribais", estabelecida pela Associa~io Brasileira de Antropologia (ABA) em 14 de novembro de 1953. Virios aspectos dessa convencao sao respeitados pelos antropologos ate ho]e, mas muitos nunca 0 foram. 0 que mais salta aos olhos a esse respeito e 0 usa de manisculas para os nomes tribais - mesmo quando a palavra tem funcao de adjetlvo - e o nao uso do plural. Trata-se, no primeiro caso, de uma inflllencia direta de regras gramaticais do ingles, segundo as quais todo nome de povo e em maiiiscula (The Brazilians). Quanto a nio flexionar 0 plural, a razao estaria no fato de que, na maioria dos casos, sen do os nomes palavras em lingua indigena, acrescentar urns resultaria em hibridismo. Alem do mais, ha a possibilidade das palavras ja estarem no plural, ou, ainda, que ele nao exista nas Ifnguas indfgenas correspondentes.
Claro que se poderia perguntar porque manter Ulna norma inglesa, o que certamente tern a ver com 0 fato de que a maior parte da literatura antropologica no mundo seja em lingua inglesa. Defato, quando a denominacao de uma etnia nativa aparece com funcao de adjetivo, poderia ser escrita com rniruiscula (lingua arawete, por exemplo). Ji quando aparece como substantivo gentilico, seria mais adequado manter com maiuscula porque, se e verdade que essas tribos nao tern pafses (como os franceses, a Franca), tambem e certo que seus nomes sao designativos de uma coletividade unica, de uma 50- ciedade, de um povo, e nao apenas de uma sornatoria de pessoas.
A imprensa escrita, por exemplo, nos seus manuals de redacao, tem imposto um aportuguesamento da grafia dos nomes das tribos, proibindo 0 uso de letras como w, y , k (1) e certos grupos de letras nao existentes em portugues comosh. Esse enteric nao tern consistencia, assim como grafar os names sempre em mirnisculas ou flexionar 0 ruirnero mas nao 0 genero. Por exemplo, se krah6 se deve eserever crao , entao Kubitscheck deveria ser escrito Cubicheque, Geisel, Gaisel. Por que 0 mesrno manual de redacao que recomenda grafar ianornami e os ianomamis veta a flexao por genera, quando a palavra tem funcao de adjetivo (as mulheres ianomamis). resultando num aportuguesamento pel a metade? 0 Manual de Redacdo e Bstilo do jornal 0 Estado de S. Paulo diz que "os nomes das tribos indi-
IV
APRESENTA~Ao
genas terao singular e plural, e serao adaptados ao portugues e escritos com inicial mimiscula' e "como adjetivo, terao apenas plural, mas nao feminine" (SP, ] 990, verbete indio, pag. 185). 0 Novo Manual de Redaoio, da Falha de S. Paulo (verbete indfgenalfndio, pag. 81), determina apenas que os nomes de tribos Indtgenas devem ser flexionados, e ao dar exemplos, coincide com as regras mencionadas anteriormente.
Sobre as confusoes semanticas - isto e, sobre 0 significado dos names das etnias nativas - ha varios aspectos aconsiderar. Membros deEstados-nacoes, como nos, lem 0 preconceito de que toda sociedade tem que ter nome proprio. Isso e tao falso quanto supor que toda sociedade humana tern que ter chefe.
SEQUER SABEMOS OS SEUS NOMES
Boa parte dos names correntes ho]e - como no pass ado - para designar os povos indfgenas no Brasil nao sao autodenorninacoes. Muitos deles foram atribufdos por outros povos, frequentemente Inimigos e, por isso mesmo, carte gam conotacbes pejorativas. Eo caso, por exemplo, dos conhecidos Kayap6, designacao generica que lhes foj dada por povos de lingua tupl, com os quais guerrearam ate recentemente, e que quer dizer semelhante a rnacaco. Outros nomes foram dados por sertanistas do antigo SPI (Service de Protecao aos Indios) ou da Funai, rnuitas vezes logo ap6s as primeiros contatos com as charnadas "expedicoes de atracao". Nesse contexto, sem entender a lingua, os equfvocos sao frequentes e determinados povos acabam conhecidos por nomes que lhes sao atributdos por razoes absolutamente aleat6rias.
Eo caso, por exemplo, dos Arawete, povo de lmgua tupi que habita a regiao do medic Rio Xingu, no estado do Para, assim nomeado pela prirneira vez pOl' um sertanista da Funai que [ulgava cornpreender a sua lfngua, logo ap6s os "prirneiros contatos", estabelecidos em meados da decada de 70. Tal designacao, grafada entao pela primeira vez por urn funcionario do governo federal num relat6rio, acabou permanecendo como idenLidade publica oficial desse povo, incorporando-se depois ao nome de uma porcao de terras, que Ihe foi reconhecida oficialmente em 1992 como Area Indfgena Arawete do Igarape Ipixuna. Mas um antropologo que estudou as Arawete alguns anos depois e aprendeu a lfngua deles descobriu que os membros desse povo originalmente nao se denominam por um substantivo e usam para se referir ao coletivo do qual fazem parte apenas a palavra bide, urn pronome que quer dizer nos, os seres humanos. Para rnais detalhes se pode ler 0 Iivro Arawete, a povo do Ipixuna, de Eduardo Viveiros de Castro (CEDI, SP, 1992).
Nesses tempos de prirneiros contatos, de comunicacao precaria com "trihos desconhecidas", alguns povos passaram a ser denominados pelo nome de algum dos seus individuos ou fracoes. Ha ainda casos de nomes impostos em portugues, como, par exemplo, Beico de Pau (para se referir aos Tapayuna, do lYlT) ou Cinta-Larga, assim cha-
POVOS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
" 'rAcervo "
"~jl !.~l0ADf/Rf/RAS OfTONAM ARfA$INOiGENAS fNiBUSCA,OO DURO VERDE.,. (PG. (4)
mados por sertanistas da Funai simplesmente porque usavam largas cintas de entrecasca de arvore quando foram contactados no final da decada de 60, em Rondonia.
"Atrair e paclficar" os Indios- como reza a tradicao indigenista do Estado brasileiro -, impor-lhes arbitrariamente nomes e chefes, tern aver historicamente com praticas coloniais de controle social: concentracao espacial da populacao - com a conseqtiente con tam ina~ao por doencas e a depopulacao p6s-contato -, implantacao de sistemas paternalistas e precarios de assistencia social, confinamento territorial e exploracao dos recursos naturals disponfveis. Tudo em nome da "integracao dos Indios a cornunhao nacional". Ao contrario, reconhecer e valorizar suas identidades especfficas, compreendel' suas lfnguas e suas formas tradicionais de organizacao social, de ocupacao da terra e uso dos recursos naturais, tern a vel' com gestos diplomaticos de intercambio cultural e respeito a direitos coletivos especiais que constam do capftulo VIII (Dos Indios), da Ordem Social, na ConstituicaoFederal do Brasil (1988) e do projeto de Estatuto das Sociedades Indfgenas, em tramitacao no Congresso Nacional.
Apesar de todas as ressalvas, foi possfvel preparar uma lista, que apareee a seguir, com algumas informacoes basicas disponiveis a respeito dos povos indfgenas atuais no Brasil. Na coluna outros nomes ou grafias foram incluidas as variantes em uso atualmente, raras vezes incluindo a autodenominacao e os subgrupos, 0 que, de longe, nao esgota as possibilidades. Esta !ista reflete praticas correntes entre pessoas (antropologos, lingutstas, missionarios, indlgenistas etc) e instituicoes que trabalham com indios, membros da rede de colaboradores do ISA. Nao tern, portanto, pretensao ou valor normative. Na terceira coluna constam as famflias lingiifsticas correspondentes, segundo classiftcacao do prof. Aryon Dall'Igna Rodrigues, e na seguinte, aparecem siglas das Unidades daFederacao (UF) onde as etnias se localizam e, quando for 0 easo, os paises limitrofes. Finalmente, constam nas duas iiltirnas colunas, 0 censo e a data.
Certamente incompleta, esta lista esta sobretudo sujeita a constantes alteracoes, em funcao de novas e melhores informacoes e do fato de o Brasil serum pais em formacao, no qual etnias julgadas extintas emergem e reconstr6em sua identtdade (ver a esse respeito, par exemplo, 0 Atlas das Terras Indfgenas do Nordeste, Pen/Museu Nadonal, dezembro de 1993), e outras tantas, ainda "isoladas", ingressarao no quadro futuramente. Ho]e hi indicios de 53 grupos indfgenas sem contato regular/conhecido com a sociedade nacional, todos na regiao amaz6nica. Tais indfcios foram colecionados a partir de mencoes que aparecem em relat6rios de tecnlcos da Funai, de missionaries ou indigenistas de ONGs, baseados em relatos de outros Indios e/ou de populacoes regionais ou em observacao direta de aldeias e rocas, atraves de sobrevoos. A Funai confirma apenas doze. Nos Quadros de Terras Indfgenas publicados neste livro, aparecern listadas as 53 evldencias, com localizacao aproximada: 31 en-
POVOSINOfGENAS NO BRASIL 1991/95 ·INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
contrarn-se em terras indfgenas ja demarcadas ou com algum grau de reconhecimento oficial pelo governo federal. Portanto, a tendencia nos pr6ximos anos e crescer 0 nurnero de povos e a populacao global, ainda que alguns povos possam perder populacao (como esta acontecendo hoje, por exemplo, com os Yanomami) e 0 espectro da sociodiversidade possa sofrer perdas Irreparaveis com a nao viabilizacao hist6rica de algumas das microssociedades nativas conternporaneas.
A POPULA(:AO TOTAL, CRESCENDO
Mais uma vez, tambem no capitulo da demografia, 0 que se sabe sobre a situacao contemporanea dos Indios no Brasil e multo pouco. Os dados dernograftcos que aparecem no quadro adiante sao bastante heterogeneos, quanta a sua origem, data e procedimento de coleta. Reuni-los foi um verdadeiro quebra-cabeca para juntar inforrnagoes dispersas, muitas das quais sao resultado de estimativas e nao de contagem direta. Mesmo quando sao dados resultantes de contagem direta, via de regra os recenseadores nao dominam a lfngua, nao entendem a organizacao social nem a.dinarnica espacial e sazonal das sociedades indfgenas, produzindo, portanto, informacoes inconsistentes e totais errados, para mais ou para menos. Ainda assim representam, no conjunto, a melhor e mats atualizada colecao de informacoes qualificadas disponivel. Mais uma vez, trata-se do resultado da coleta sistematica de inforrnacoes fei ta por Fany P. Ricardo, da equipe do Programa Povos Indigenas no Brasil do CEDI e agora do Programa Brasil Socioambiental do ISA, a partir da leitura de relat6rios de campo, trabalhos monograficos academicos, publicagoes do Brasil e do exterior e contatos diretos com pessoas da rede de colaboradores do programa. Os dados do ultimo Censo Demografico do IBGE, coletados em 1991, foram publicados no capftulo 14, "Areas Especiais", do Anudrio Estatistico do Brasil 0992, secao I, IBGE, pigs. 176 a 178) sem maio res explicacoes, como estimativas e associados as terras indfgenas, 0 que nem sempre permite vincula-los inequivocadamente as etnias. Assim sendo, nao foram aqui considerados para a montagem do quadro.
Algumas ressalvas rnais devem ser feitas sobre os dados de populacao que aparecem no quadro:
(1) nao hi informacoes sobre parcelas de algumas etnias que vivern em areas urbanas, por exemplo, como Manaus (AM, onde hi SatereMawe, Munduruku, varies povos do Rio Negro e outros), Sao Gabriel da Cachoeira (AM, no alto Rio Negro), Boa Vista (RR, Makuxi e Wapixana) I em vanas cidades do Mato Grosso do Sui (Terena), ou em Corumba (MT, onde estao os Kamba) e ate mesmo na cidade de Sao Paulo Conde vive boa parte dos Pankararu);
(2) para alguns povos que cons tam do quadro nao aparecem dados de populacao, ou os totais estao subestimados, porque coabitam, integral ou parcialmente, uma mesmaArea Indfgena com outros povos e os cen- 50S disponfveis nao fornecem dados discrirninados: sao os casos dos
APRESENTACAO
v
~Acervo ' ,
-//\ "I SA ... YANO'MAMI: OEMARCADA TERRA CONTiNUA,
MAS INVASAO GARIMPf/RA CONTINUA ... (PG. 199)
LISTA DE POVOS INDIGENAS NO BRASIL CONTEMPoRANEO
(Fonte: Banco de Dados do Programa Povos Indfgenas no Brasil - Instituto Socioambiental, dezl95)
Nome Outros nome ou graftas Troncollfngua UF (Brasil) Populacao Ano
Pafses Limitrofes censo/estimativa
Aikana Aikana, Massaka.Iubarao Aikana RO 175 1995
2 Ajuru Tupari RO 38 1990
3 Amanaye Amanaie Thpi-Guarani PA 66 1990
4 snambe Thpi-Guarani PA 105 1994
5 Aparai Apalai Karfb PA
6 Apiabl Apiaca Thpi-Guarani MT 43 1989
7 Apinaye Apinaje, Apinaie js TO 718 1989
8 Apurina Aruak AM 2.800 1991
9 Arapa~o Arapasso Thkano AM 317 1992
10 Arara Ukaragma, Ukarangma Karfb FA 165 1995
11 Arara Karo Ramarama RO 130 1989
12 Arara Shawanaua Pano .. AC 300 1993
13 Arara do Arlpuana Arara do Beiradao MT 150 1994
14 Arawete Arauete Iupi-Guarani PA 230 1995
15 Arikapu Aricapu [aboti RO 6 1990
16 Arikem Ariquen Arikem RO
17 Ami Monde RO 36 1990
18 Asurini do Tocantins Akuawa Thpi-Guarani PA 233 1995
19 Asurini do Xingu Awaete 'Iupi-Guarani PA 81 1995
20 Atikum Aticum ** PE V99 1989
21 Ava-Canoeiro Thpi-Guarani TO/GO 14 1995
22 Aweti Aueti Aweti MT 93 1995
23 Bakairi Bacairi Karfb MT 570 1989
24 Banawa Yafi Arawi AM 120 1991
25 Baniwa* Baniua, Baniva Aruik AM 3.189 1995
Colombia
Venezuela (1.192) 1992
26 Bara* Tukano AM 40 1992
Colombia (296) 1988
27 Bare" Nheengatu AM 2.170 1992
Venezuela (IJ36) 1992
28 Bororo Boe Bororo MT 914 1994
29 Chamacoco" Samuko MS 40 1994
Paraguai (908) 1992
30 Cinta Larga Matetamae Monde MTIRO 643 1993
31 Columbiara Corumbiara RO
32 Deni Arawa AM 570 1995
33 Dessano* Desana, Desano, Wira Thkano AM 1.458 ]992
Colombia (2.036) 1988
34 Enawene-Nawe Saluma Aruik MT 253 1995
35 Fulni-a Yale PE 2,788 1989
36 Galibi Marwomo Galibi do U~a, Ama Karfb AP 1.249 1993
37 Galibi* Galibi do Oiapoque Karfb AP 37 1993
Guiana Francesa (2.000) 1982
38 Gavtao Digtit Monde RO 360 1989 VI
APRESENTACAO
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 ·INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Nome Outros nome ou graflas Tronco/lingua UF (Brasil) Populacao Ano
Pafses Limitrofes censo/ estimativa
39 Gaviao Parkateje, Gavlao do Mae Maria je PA 333 1995
40 Gaviao Pukoble, Pykopje, GavifLo do MA je MA 150 1990
41 Guaja Awa,Ava . Tupi-Guarani MA 370
42 Guajajara Tenethehara Tupi-Guarani MA 10.200 1995
43 Guarani* Tupi-Guarani MS1SP IRJIPRIES/SCIRS 30.000 1995
Kaiowi Pai Tavytera Tupi-Guarani MS, Paraguai (25.000) Paraguai 1995
Nandeva Avakatuete, Chiripa Tupi-Guarani MS/SP IPRIParaguai
M'bya Thpi-Guarani SP IRj/ES/PRISC/RS
ArgentinaIParaguai
44 Guat6 Guat6 MS 700 1993
45 Hixkaryana Htxkariana Karib AMlPA
46 Ingarik6* Ingaric6 Karib RR 1.000 1994
Akawaio, Kapon Guiana (4.000) 1990
Venezuela (728) 1992
47 Iranxe Irantxe lranxe MT 250 1994
48 jaboti [abott RO 67 1990
49 Jamamadi Yamamadi, Djeoromitxi Arawa AM 250 1987
50 jaminawa* Iaminaua Pano AC 370 1987
Yaminahua Peru (600) 1988
51 [arawara jarauara Arawa AM 160 1990
52 [enipapo- Kaninde ** CE
53 Jiripanc6 jertpanco ** AL 842 1992
54 Juma Yuma Thpi-Guarani A.l~. 07 1994
55 Juruna Yuruna, Yudja Juruna PA 212 1995
56 Kaapor Urubu-Kaapor, Ka'apor, Kaaporte Tupi-Guarani MA 500
57 Kadiweu Caduveo, Cadlueu Guaikuru 1993
58 Kaimbe Caimbe ** BA 1.200 1989
59 Kaingang Caingangue ]e SPIPRISCIRS 20.000 1994
60 Kaixana Caixana ** AM
61 Kalapalo Calapalo Karib MT 326 1995
62 Kamayura Carnaiura Tupi-Guarani MT 303
63 Kamba Camba MS
64 Kambeba Cambeba, Omagua Tupi-Guaranl AM 1989
65 Kambiwa Cambiua ** PE 1.255
66 Kampa" Campa Aruik AC 763 1994
Ashanlnka, Ashaninka Peru (55.000) 1993
67 Kanamanti Canarnanti Arawa AM 150 1990
68 Kanarnari Canarnari Katuklna AM 1.300 1994
69 Kanela Apanlekra Canela, Timbira Je MA 336 1990
70 Kanela Rankokamekra Canela, TImbira ]e MA 883
71 Kanoe Canoe Kanoe RO 61 1990
72 Kantarure Cantarure ** BA
73 Kapinawa Capinaua ** PE 354 1989
74 Karafawyana Karib PA/AM
75 Karaji Caraja Karaji MTrrO/PA 1.900 1995
KarajitJavae Karaja TO 750 1995
Karaji/Xarnbioa Karaji do Norte Karaja TO 250 1995 POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
APR ESENTACAo
VII
~:f"s~ .. ; RONDONIA: QUA'S NOVASTR1B05 SA'dr"NO PAS'TO ... (PG. 5451 .
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Nome Outros nome ou graflas Troncollingua UF (Brasil) Populacao Ano
Proses Limftrofes censol estimativa
76 Karapana" Carapana Thkano AM 40 1992
Colombia (412) 1988
77 Karapoto Carapoto ** AL 1.050 1994
78 Karipuna Caripuna Thpi-Guarani RO 8 1995
79 Karipuna do Amapa Caripuna Creoulo Frances AP 1.353 1993
80 Kariri Cariri ** CE
81 Kariri-Xoco Cariri-Choco ** AL 1.500 1990
82 Karitiana Caritiana Arikem RO 171 1994
83 Katuena Catuena Karfb PNAM
84 Katukina Peda Djapa Katukina AM 250 1990
85 Katukina Shanenawa Pano AC 400 1990
86 Kaxarari Caxarari Pano AMlRO 220 1989
87 Kaxinawa" Cashinaua, Caxinaua Pano AC 3.387 1994
Cashinahua Peru (1.200) 1988
88 Kaxixd ** MG
89 Kaxuyana Caxuiana Karfb PA
90 Kayabi Caiabi, Kaiabi Thpi-Guarani MTIPA 1.200 1995
91 Kayapo Kalapo, Caiapo Je MT/PA 4.000 1993
Mebegnokre
A' Ukre, Gorotire
Kikretum, Mekragnoti
Kuben- Kran-Ken
Kokraimoro, Kubenkokre
Metuktire, Pukanu
Xikrin do Bacaj a
Xikrin do Catete
Kararaa
92 Kiriri ** BA 1.526 1994
93 Kocama* Cocama Thpi-Guarani AM 320 1989
Colombia (236) 1988
94 Kokuiregateje Timbira je MA
95 Krahf Crao, Kraa, Timbira je TO 1.198 1989
96 Kreje Timbira ]e PA
97 Krenak Crenaque Krenak MG 99
98 Krikati Krinkati, Timbira ]e MA 420 1990
99 Kwaza Coaia, Koala lingua isolada RO 15 1995
100 Kubeo* Cubeo Thkano AM 219 1992
Cobewa Colombia (5.837) 1988
101 Kuikuro Kuikuru Karfb MT 343 1995
102 Kujubim Kuyubi Txapakura RO 14 1990
103 KulinaiMadihi* Culina, Madija Arawa AC/AM 2.500 1991
Madiha Peru (500) 1988
104 Kulina Culina Pano AM 50 1990
105 Kuripako* Curipaco, Curripaco AnIak AM 880 1995
Venezuela (2.585) 1992
Colombia (6.790) 1988
106 Kuruaia Curuaia Munduruku PA VIII
APRESENTA~i'iO
POVOS INOfGENAS NO BRASil 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
I.JZ?Acervo
~j\\ I S~, OS XIKRIN DO CATETE APOSTAM NO MANEJO SUSTENTAVEL. .. (PG. 389)
Nome Outros nome ou graflas Troneo/lingua UF (Brasil) Populacao Ano
Paises Limitrofes eenso/estimativa
107 Machined Manchineri Arwik AC 332 1994
108 Macurap Makurap Tuparf RO 129 1990
109 Maku" Macu, Maku AM 2.050 1989
Maku Yuhupde Maku
Maim Hupda Maku
Maku Nadeh Maku
MakuDow Maku
Maku Cacua e Nucak Maku Colombia (786) 1988
110 Makuna* Macuna, repamahsa Thkano AM 34 1992
Colombia 528 1988
111 Makuxi* Macuxi, Macushi, Pemon Karib RR 15.000 1994
Guiana (7.500) 1990
112 Mambo Pano AM 960 1994
113 Matipu Kanb MT 62 1995
114 Matis Pano AM 178 1994
115 Maise* Mayoruna Pano AM 640 1994
Peru (1.000) 1988
116 Mawayana Kanb PNAM
117 Maxakali Maxacali Maxakali MG 594 1989
118 Mehinako Meinaku, Meinacu Aruak MT 149 1994
119 Menky Myky, Munku, Menki Iranxe MT 62 1995
120 Mequem Tupari RO
121 Miranha* Miranha, Mirafia Bora AM 400 1994
Colombia (445) 1988
122 Miriti Tapuia Tukano AM 120 1992
123 Munduruku Mundurucu Munduruku PA 3.000 1990
124 Mura Mura AM 1.400 1990
125 Nahukwi Nafuqua Karfb MT 64 1995
126 Nambikwara Anunsu, Nhambiquara, Nambikwara MTIRO 885 1989
Nambikwara do Campo Halotesu, Kithaulu, Wakalitesu, Nambikwara
Sawentesu
Nambikwara do Norte Negarote, Mamainde, Latunde, Nambikwara
Sabanf e Manduka, Tawande
Nambikwara do Sui Hahaintesu, Alantesu, Waildsu, Nambikwara
Alaketesu, Wasusu, Sarare,
127 Nukini Nuquini Pano AC 400 1994
128 Ofaie Of aye -Xav ante Ofaie MS 87 1991
129 Paiaku ** CE
130 PakaaNova Wari, Pacaas Novas Txapakura RO 1.300 1989
131 Palikur* Aukwayene, Aukuyene Arwik AP 722 1993
Paliku'ene Guiana Francesa (470) 1980
132 Panara Krenhakarore, Krenakore, Je MT 160 1995
Krenakarore
Indios Gigantes
Kreen-Akarore
133 Pankarare Pancarare ** BA 723
134 Pankararu Pancararu ** PE 3.676 1989
135 Pankaru Pancaru ** BA 74 1992 POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1981(95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
APRESENTACAO
IX
Nome Outros nome ou grafias Tronco/lingua UF (Brasil) Populacao Ano
Paises Limitrofes censo/estimativa
136 Parakana Paracana, Apiterewa 'Iupi Guarani PA 624 1995
137 Pareci Paresi, Haliti Aruik MT 1.200 1995
138 Parintintin Iupi-Guarani AM 130 1990
139 Patamona'" Kapon Karib RR 50
Guiana (5.500) 1990
140 Patax6 ** BA 1.759 1989
141 Patax6 Ha-Ha-Hae ** BA 1.665 1993
142 Paumari Palmari Arawa AM 539 1988
143 Paumelenho RO
144 Piraha Mura Piraha Mura AM 179 1993
145 Piratuapuia* Piratapuya, Piratapuyo 'fukano AM 926 1992
Colombia (400) 1988
146 Pitaguari ** CE
147 Potiguara ** PB 6.120 1989
148 Poyanawa Poianaua Pano AC 385
149 Rikbaktsa Canoeiros, Erigpaktsa Rikbaktsa MT 690 1993
150 Sakirabiap Tupari RO
151 Satere-Mawe Satare-Maue Mawe AM 5.825 1991
152 Suruf Aikewara Thpi-Guarani PA 185 1995
153 Suruf Palter Mende RO 586 1992
154 Suya Suia Je MT 213 1995
155 Tapayuna Beico-de-Pau Je MT 58 1995
156 Tapeba *'" CE 1.143 1992
157 Tapirape Tapi'irape Tupi-Guaranl MT 380 1995
158 Tapuia Tapuia-Xavante *'" GO
159 Tariano* Aruak AM 1.630
Colombia (205) 1988
160 Taurepang* Taulipang Karfb RR 200 1989
Pemon, Arekuna Venezuela (20.607) 1992
161 Iembe Tupi-Guaranl PAlMA 800 1990
162 Tenharim Tupi-Guaranl AM 360 1994
163 Terena Aruak MS 15.000 1994
164 Ticuna" Tikuna, Tukuna, Magilta Ticuna AI'v1 23.000 1994
Peru (4.200) 1988
Colombia (4.535) 1988
165 Tingui Boto *'" AL 180 1991
166 Tiriy6* Trio, Tarona, Yawi, Pianokoto, Karfb PA 380 1994
Piano Suriname (376) 1974
167 Tora Txapakura AM 25 1989
168 Tremembe ** CE 2.247 1992
169 Truka ** PE 909 1990
170 Trurnai Trumai MT 89 1995
171 Tsohom Djapa Tsunhum-Djapa Katukina AM 100 1985
172 Thkano* Theano 'fukano AM 2.868 1992
Colombia (6.330) 1988
173 Iupari Tuparf RO 204 1992
174 Iupiniquim ** ES 884 1987
175 Turiwara Tupi-Guarant PA 39 1990 x
APRESENTACAO
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
~Acervo "
-I~( PARP:CASA ... (PG. 601) ... CERCa DE DfSTRU/~AO AMfA(:A PARaUf DO XINGU ... (PG. 614)
'.'
Nome Outros nome ou graflas Troncollingua UF (Brasil) Populacao Ano
Paises Limftrofes censo/ estimativa
176 Tuxa ** BAlFE 929 1992
177 Tuyuka* Tuiuca Tukano AM 518 1992
Colombia (570) 1988
178 Txikao Txicao, Ikpeng Karib MT 214 1995
179 Umutina Omotina, Barbados Borora MT 100 1989
180 Uru-Eu-Wau-Wau Urueu-Uau-Uau, Uru Pan In, Tupi-Guarani RO 106 1994
Arnundawa RO
181 Wai Wai Waiwai Karfb RRlAMIPA 1.366
182 Waiapi* Wayampi, Oyampi, Wayapy, Tupi-Guarani AP 498 1994
Guiana Francesa (412) 1982
183 Waimiri Atroari Kina Karib RRiAM 611 1994
184 Wanano" Uanano Tukano AM 506
Colombia 1.113
185 Wapixana* Uapixana, Vapidiana, Wapisiana, Arllak - RR 5.000 1994
Wapishana Guiana (4.000) 1990
]86 Warekena* Uarequena Aruak AM 476 1992
" Venezuela (420) 1992
]87 Wassu ** AL 1.220 1994
188 Waura Uaura, Wauja Aruak MT 226 1995
189 Wayana* Waiana, Uaiana Karfb "PA
Suriname (150) 1972
Guiana Francesa (510) 1980
190 Witoto* Uitoto, Huitoto Witoto AM
Colombia (5.939) 1988
Peru (2.775) 1988
191 Xakriaba Xacriaba Je MG 4.952 1994
192 Xavante Akwe, Awen, Akwen Je MT 7.100 1994
193 Xerente Akwe, Awen, Akwen Je TO 1.552 1994
194 Xereu Karfb PNAM
195 Xipaia Shipaya juruna PA
196 Xok6 Xoc6, Choc6 !io:* SE 250 1987
197 Xokleng Shokleng Je SC 1650 1994
198 Xukuru Xucuru ** PE 3.254 1992
199 Xukuru Kariri Xucuru-Kariri ** AL 1.520 1989
200 Yanomami* Ianomami, Ianoama, Xiriana Yanomami RRIAM 9.975 1988
Yanomam, ranomami Venezuela (15.193) 1992
Sanuma Yanomami
Ninam Yanomami
201 Yawalapiti Iaualapiti Aruak MT 196 1995
202 Yawanaw:.i Iauanaua Pano AC 270 1994
203 Yekuana* Maiongong, Ye'kuana, Yekwana Karfb RR 180 1990
Venezuela (3.632) 1992
204 Zo'e Poturu 'Iupi-Guarani PA 110 1990
205 Zor6 Monde MT 257 1992
206 Zuruaha Sorowaha, Suruwaha Arawi AM 143 1995
(O) Povos que estao em mais de urn pars.
( •• ) J:l nao fa!am a lingua original, usam 0 portugues regional
Observacao: As famflias lingulsticas 'lupi Guarani, Awetf, Munduruku, Mawe, 'Iupari, Arikem, Monde, Ramarama e Juruna Iazern parte do Tronco Tupi.
N; farnilias lingufstlcas Je, Maxakall, Krenak, Yale, Karaja, Ofale, Guato, Rikbaktsa e Bororo fazem parte do Tronco Macro-Je.
POVOS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL APRESENTACAo XI Witoto, Miranha, Kaixana e Kambeba das Areas Indfgenas Meria, Miratu e Barreira da Missao, os Arikem, Mequem e Columbiara das Areas Indigenas Guapore e Rio Branco, as Xereu, Katuena, Mawayana, Kaxuyana, Hyxkariana, Karafawyana da Area Indigena Nhamunda, e os Wayana e Aparai, das Area Rio Paru do Leste e do Parque do Tumucumaque, onde vivem tambern os Kaxuyana e as Tyric do Parque Indigena Tumucumaque;
(3) nao hi mforrnacoes disponfveis tambem para alguns casos de grupos "emergentes", como as [enipapo Kaninde, Kantarure, Kariri, Pitaguari e Paiaku, todos no Nordeste e os Kaxixo (MG);
(4) nao constam do quadro os povos chamados "isolados", sobre os quais, por razces obvias, nao hi informacoes de populacao: e
(5) para efeitos dos computes que aparecem a seguir, nao foram consideradas, embora constem do quadro entre parenteses, as inform a~oes sobre populacao das parcelas dos povos indfgenas residentes tambern fora do territorio brasileiro, 0 que distorce sobretudo a classtficacao do padrao demograftco, como sao os casos, entrecutros, dos Kampa (99% no Peru), dos Guarani (70% ou mais no Paraguai, Bolivia e Argentina), dos Yanomami (50% na Venezuela), dos Wapixana e dos Makuxi (45 e 30%, respectivamente, na GUiana).
Os dados computados a partir do quadro aeima, acreseidos das ressalvas, permitem dizer que a populacao indfgena vivendo em terras indfgenas no Brasil ho]e e de cerca de 280.000, isto e, 0.2% da populacao naclonal, Pode-se, portanto estimar que, a populacao indfgena total este]a na casa dos 300 mil, algo diferente dos 334 mil, dado (sem memoria de calculo revel ada) que tem sido usado mais recentemente pela Funai, Cimi,Coiab e Capoib.
A maior parte dos povos indigenas no Brasil, do ponto de vista demogrifico, e formada por microssociedades. Dos 206 povos Indigenas que aparecern no quadro, 71 (34%) tem uma populacao de ate 200 individuos. Hi 49 com populacao entre 201 e 500 indlvfduos e 32 entre 501 e 1.000. Ou seia, cerca de 73% dos povos indigenas no Brasil tern uma populacao de ate.mil individuos. Hi 44 povos na faixa de urn a cinco mil, quatro (Satere-Mawe, Potiguara, Xavante e Yanomami) entre cinco e dez mil, tres (Guajajara, Terena e Makuxi) com mais de 10 e menos de 20 mil, outros dois com algo mais do que 20 mil (Kaingang e Ticuna) e, com cerca de 30 mil (no Brasil), apenas os Guarani.
o FUTURO
Se e verdade que esta afastada a hipotese do desaparecimento fisico dos indios no Brasil e que, portanto, nao estamos diante de uma "causa perdida" como se chegou a dizer anos atras, e verdade tam bern que 0 futuro dos indios depended em primeira lnstancia, mas apenas em parte, deles proprios, Via de regra reduzidos demograficamente e sujeitos a pressoes ereseentes das frentes de expansao econornica que avancam sobre as terras e as recursos naturais, os Indios se vern
XII
APRESENTACAO
freqUentemente imersos em correlacoes de forcas a nfvel regional bastante desfavoriveis, que as eventuais coalis6es de forcas de apoio (meios de cornunicacao, apoio de ONGs do Brasil e do exterior, a~6es [udiciais, projetos aplicados) nao logram reverter a longo prazo.
Hoje 40% da populacao indfgenado pais vivem nas regi6es mais ocupadas do Nordeste, Leste e Sui do Brasil, confinadas a 2% da extensao das terras indfgenas. Ao reves, 60% da populacao indigena atual, que vive no Centro Oeste e Norte do pafs (amazonia e cerrado), tern formalmente dire ito a 98% da extensao das terras indfgenas. A historia ensina que a cada etapa do avanco das frentes de expansao da sociedade naeional, sob determinadas eonjunturas politicas especificas, 0 Estado Nacional refaz suas contas com respeito as terras indigenas, impondo um padrao de confinamento progressivo em terras cada vez mais reduzidas. 0 Decreto 1775 do ministro Jobim, assinado por FHC em janeiro de 1996, abre a possibilidade de urn novo ciclo de revisao reducionista das terras lndigenas no pais (ver a respeito 0 capitulo Twas Indfgenas).
Sera possfvel aos indios de ho]e manterem tetras extensas e contfnuas nas regioes Centro-Oeste e Norte do pais no futuro, ou, para simplificar, a Amazonia de arnanha sera 0 Mato Grosso do Sui de hoje?
Embora nao sendo "naturalmente ecologistas'', aos indios se deve reconhecer 0 credito historico de terem manejado historicamente os recursos naturais de maneira branda, provocando poucas perturb a~6es ambientais ate a chegada dos conquistadores europeus. E fato tambern que, diante de pressces concretas, contfnuas e via de regra impunes, ainda que ilegais, das formas predatorias de exploracao dos recursos naturais hoje em vigor na Amazonia, por exemplo, varies povos indigenas tenham se atrelado ativamente a estes modelos, como socios menores, E 0 casu recente e notorio do envolvimento dos Kayapo no Para com a exploracao ilegal de ouro e rnogno nas suas terras. 0 outro lado desta moeda sao as incipientes formas de articulacao dos recursos existentes nas terras indfgenas com 0 chamado capitalismoverde.
De qualquer forma, entre as varias alternativas em jogo, a aproximacae dos projetos indfgenas com estrategias nao indfgenas de uso sustentado de recursos naturais, sejarn piiblicas ou privadas, em tese aumentariam as chances de os fndios equacionarem favoravelmente no futuro 0 domfnio de terras extensas com baixa demografia.
No mesmo sentido, e imprescindfvel contar com uma clara polftica cornpensatoria por parte do Estado, fugindo do padrao neoliberal que impera neste momento nas politicas piiblicas setoriais dos governos latino-arnericanos, que fizesse valer na pratica as direitos constitucionais e valorlzasse estrategicamente a sociodiversidade nativa e a sua correlacao com a biodiversidade. Claro esta que uma nova polttica indigenista deveria romper com a pesada tradlcao colonial do indigenismo braslleiro e estar aberta a um regime de parcerias com os proprios Indios e outras organizacoes de apoio da sociedade civil,
POVOS INOJGENAS NO BRASIL 1991/95 ~ INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
rAcervo
-/;\ I SA
o ESTATUTO DAS SOCIEDADES INOIGENAS
Marcio Santilli (*)
EM 28/06/94, A COMiSsAo ESPECIAL DA CAMARA DOS DEPUTADOS RESPONSAvEL PELA REVISAo DA LEI 6.001/73,
o ESTATUTO DO iNDIO, APROVOU POR UNANIMIDADE A PROPOSTA DO RELATOR, OEPUTADO LUCIANO PIZZATTO, QUE SUBSTITUI as TRES PROJETOS DE LEI ORIGINALMENTE ANALISADOS PELA coursszo.
Esta Comissao Especial tern poder terminativo, 0 que slgnifica que, nao havendo recurso formal para 0 plenario da Camara ap6s 0 prazo de dez sessoes, 0 projeto de lei proposto pela Comissao e considerado aprovado pel a Camara e enviado ao Senado. 0 recurso depende de requerimento subscrito por no mfnimo 10% (51) dos deputados. No Senado, 0 projeto sera submetido a uma de suas comissoes tecnicas, provavelmente a de Assuntos Socials e, posteriormente, ao plenario, Se 0 Senado aprovar emendas ao projeto da Camara, estas serao analisadas e votadas pela Camara. Se forem aprovadas, incorporam-se a lei que sera, entao, encaminhada a sancao presidencial. Se houver vetos do presidente, 0 Congresso Nacional os apreciara em sessao conjunta e podera rejeita-los pela maioria absoluta (50% + 1) dos seus membros.
o PROJETO
o projeto aprovado institui 0 Estatuto das Sociedades Indfgenas, com urn total de 175 artigos, agrupados em oito tftulos que se desdobram em 19 capftulos. A Comissao aprovou, tambem, a proposlcao de urn outro projeto de lei especffico para tratar da isencao de tributos so-
("' Secretailo Executive do lnstituto Socioambiental (ISAI.
2
LEGISLA{,:AO
bre rendimentos auferidos por comunidades indfgenas, como exige a Constituicao, destacando 0 tema anteriormente constante do projeto principal.
o projeto dispoe sobre temas tradicionalmente tratados pela legtsla~ao indigenista como a situacao jurfdica dos Indios, suas terras e as responsabilidades assistenciais da Uniao, abordando-os, porem, sob o enfoque renovador da Constituicao de 88. Incorpora, tambern, novas temas como 0 da defesa dos direitos autorais e de propriedade intelectual indigena, e 0 da protecao ambiental. Regulamenta a exploracao de recursos naturais das terras indfgenas, enfrentando diffceis questoes como rnineracao e exploracao dos recursos florestais e dos recursos hfdricos. 0 projeto se propoe, tambem, a regulamentar em lei os procedimentos para a demarcacao de terras indigenas e para a atuacao assistencial da Uniao, questoes tradicionalmente normatizadas por portarias e decretos unilaterais do Executlvo.
SOCIEDADES DIFERENCIADAS
A proposta da Comissao revoga 0 dispositive do C6digo Civil que aplica aos indios ("Silvfcolas") 0 instituto jurfdico da "tutela", deixando de considera-los como "relativamente capazes", e estabelecendo varios outros instrumentos de protecao especial pela Uniao Federal aos direitos das sociedades indfgenas e de seus membros. Em lugar de revogar simplesmente a tutela, promovendo uma "ernancipacao" dos indios, como a pretendida no passado por interesses antiindfgenas, 0 projeto superou-a, substituindo este instrumento de protecao a Indivfduos par urn coniunto de outros, que tern como enfoque basico desta protecao os direitos e bens coletivos das sociedades e comunidades indfgenas. A situacao [uridlca dos Indios evoluiu da condicao de indivfduos poueo eapazes para a de membros de soeiedades diferenciadas, detentoras de direitos especiais a serem protegidos nas suas relacoes com a sociedade-estado nacional.
Passam a ser detalhadamente protegidas em lei as obras e conhecimentos indfgenas passiveis de serem comercialrnente apropriados por terceiros, inclusive atraves de patenteamento. 0 projeto estabelece as necessarias ressalvas a utilizacao didatica e cientffica, especialmen-
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL
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ra.:::!:....-lI~~alm()pOlloglcca, dos conhecimentos indigenas, de modo a nao cercear a producao de conhecimento sobre as sociedades indfgenas e 0 desenvolvimento das suas relacoes culturais com a sociedade nacional. Fica protegido, ainda, 0 direito das sociedades indigenas aos seus segredos e a preservacao das suas praticas culturais restritas.
o novo Estatuto estabelece que as normas gerais de protecao ao meio ambiente aplicam-se as terras indfgenas. Se a lei brasileira, por exemplo, proibe 0 corte da castanheira em todo 0 territorio nacional, entao a proibicao tambem se aplica as terras indfgenas. Porem, a delimltacao de areas especificas de protecao ambiental dentro de terra indfgena depende da iniciativa da propria comunidade ocupante de propor convenio com 0 orgao competente da Uniao, tendo os Indios direito a compensacao por restricces que se auto-imponham no exercfcio do seu direito de usufruto exclusivo, sujeitas a fiscalizacao, A Undo dispora do prazo de urn ano para submeter aos termos da lei as unidades de conservacao ambiental anteriormente criadas com incidencia parcial ou total sobre terras indigenas, sob pena de revisao compulsoria dos seus limites, exc1uindo-se deles a incidencia. Ficam protegidos tambem, os recursos biogeneticos existentes em terras indfgenas do assedio de terceiros para fins comerciais ou industriais.
REGULAMENTANDO A EXPLORA~AO
Ao regulamentar a exploracao de recursos naturais em terras indigenas, 0 projeto da Comissao caminha em duas direcces principais, com tratamentos distintos para os recursos minerais e potenciais energeticos, que sao bens da Uniao, cuja exploracao depende de concessao, e sobre os quais os Indios nao detem direitos de usufruto exclusivo, e - de outro lade - os recursos florestais e biogeneticos, agregados do solo, rios e lagos, destinados ao seu usufruto exclusivo.
As atividades de mineracao em terras indtgenas fie am subordinadas as condicces estabelecidas pela Constituicao Federal e pela legislagao rnineraria e ambiental. A garimpagem e privativa dos Indios. Empresas de rnineracao poderao se habilitar a pesquisa e a lavra minerals se cumprirem urn conjunto de condicoes e procedimentos fixados pelo Estatuto. Sao regulamentados os procedimentos tecnicos e administrativos no ambito do Executivo, a forma da consulta as comunidades afetadas e a da sua participacao nos resultados da lavra, e 0 processo para a previa autorizacao do Congresso Nacional para a concessao de direitos minerarios em terras indfgenas. Os requerimentos de pesquisa mineral incidentes sobre estas terras, protocolados no DNPM antes da prornulgacao da Constituicao, poderao ser validados se atenderem as condicces da lei, assegurando-se as empresas habllitadas 0 direito de prioridade para 0 fim de negociar com a comunidade indigena envolvida, direito este que ficara pre[udtcado na hipotese da negativa dos fndios.
A exploracao de madeira em florestas naturais existentes em terras indfgenas so podera ser feita atraves de empreendimentos dos proprios Indios, sob urn rigoroso conjunto de condicoes tecnicas, ambientais, de ftscallzacao e de aplicacao dos recursos obtidos. Estas condicces nao se aplicarao quando tratar-se de aproveitamento para fins de subsistencia, como para a construcao de barcos ou habitacoes tra-
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991(95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
dicionais. Sob outros criterios mais f1exfveis, os Indios poderao aproveitar economicamente madeiras de cultivo, desde que nao estejam vinculadas a reposicao florestal.
Os procedimentos administrativos para a demarcacao das terras indfgenas estao previstos no projeto, desde a etapa da identificacao dos limites ate a sua homologacao. Havera prazos para 0 encaminhamento de cada procedimento, e somente 0 ate homologatorio, de competencia do presidente da Republica, nao sera praticado pelo drgao indigenista. Havera criterios de transparencia quanta a definigao de limites, que serao discutidos em audidncia publica, As comunidades indfgenas disporao de instrumentos legais para deflagrar o processo de demarcacao das suas terras nos pianos administrativo e judicial. Elas poderao instruir e prop~r a delimitacao das terras e os [ufzes federais, quando provocados, suprirao eventuais omissoes do Executivo em qualquer das fases da demarcacao. Ficam deftnidas com maior clareza as categorias de terras indfgenas tradtcionais e reservadas, assim como 0 alcance e as impltcacoes jurfdicas dos direitos territoriais inscritos na Constituicao.
As ag5es assistenciais de governo nas areas de saude, educacao e atividades produtivas serao implementadas a partir das diretrizes fixadas por comiss5es de ambito nacional compostas por representantes dos orgaos governamentais pertinentes, das organizacces indfgenas e da sociedade civil. 0 projeto contempla a figura dos distritos sanitarios e escolares indfgenas, em cujo ambito deverao ser implementadas as ag5es de saude e de educacao.
Ha, ainda, urn titulo dedicado as normas penais, onde estao referidos dez tipos de crimes contra indios, com suas respectivas penas e condicoes agravantes. Matar membros de urn mesmo grupo indfgena, provocando 0 seu extermfnio total ou parcial, ou pondo em risco a sua existencia, implica para os culpados em reclusao de vinte a trinta anos. Nao havendo Intencao dos mesmos, se preve detencao de tres a doze anos. Entre outros, ha previsao criminal nos casas de apropriacao, para fins comerciais, de conhecimentos tradicionais indfgenas e de recurs os geneticos das terras indfgenas, sem 0 previo consentimento das comunidades envolvidas.
o PROCESSO LEGISLATIVO
o processo de discussao sobre a revisao do Estatuto do Indio iniciouse durante 0 governo Collor, no infcio de 1991, com a constituicao de uma comissao interministerial para este fim. Deflagrou-se, portanto, no ambito do Poder Executivo, tendo a Constituicao recem promulgada como motivacao [urfdica e a proximidade da Unced-92
. como motivacao poiftica. Sucederam-se reuni5es publicas e restritas, algumas abertas a participacao de organlzacoes nao-governamentais e de especiallstas, nas quais foi esbocado urn primeiro anteprojeto, criticado pela Funai e entidades. A Funai assumiu a coordena~ao do grupo interministerial na gestae de Sydney Possuelo, esbocando outros dots anteprojetos, 0 NOl, que participou de reunioes e encaminhou sugest5es ao grupo de trabalho do Executivo, decidiu formular 0 seu proprio projeto para intervir com maior objetividade e eficacia nas discuss5es e negociacoes. Este processo desenvolveu-se
LEGISLA~AO
3
.___--.!±:ao~lo",ngo do ana de 91, sendo que a proposta do NDI fol a prlmeira a chegar ao Congresso em outubro daquele ano, trinta dias antes do projeto do Executivo, tornando-se a referenda principal no processo legislativo. Em abril de 92, 0 Cimi tarnbem apresentou 0 seu proprio projeto. Os deputados Aloisio Mercadante, Fabio Feldman, Sidney de Miguel.jose Carlos Saboia e Nelson Jobim foram os autores do projeto formulado pelo NDI. 'fuga Angerami e cerca de cinqtienta outros deputados foram os auto res da proposta do Cimi.
o presidente da Camara determinou a formacao de uma Comissao Especial para dar parecer aos projetos, constitufda por vinte deputados de varies partidos politicos. 0 deputado Domingos juvenil foi eleito 0 seu presidente e designou, mediante acordo partidario, a deputada Teresa Juca como relatora. 0 presidente da Funai, 0 secretario executivo do NDI e 0 coordenador juridico do Cimi foram convidados para apresentar os respectivos projetos em sessao publica da Comissao e seguiu-se a realizacao de varias audiencias piiblicas, das quais participaram ministros de Estado, liderancas indigenas, representantes de outras entidades e especialistas no tema. A relatora chegou a apresentar uma proposta substitutiva ao final de 92, antes de tornar-se prefeita da cidade de Boa Vista, mas sua proposta nao chegou a ser votada. 0 deputado Luciano Pizzatto substituiu-a na relatoria.
A discussao dos projetos fol retomada no inicio de 93 com a realiza~ao de novas audiencias publicas, Porem, na medida em que se aproximava 0 mes de outubro, quando se iniciaria 0 processo de revisao constitucional, cafa 0 nfvel de interesse de parte do Congresso pela regulamentacao dos direitos indfgenas com base na Constituicao de 88, e cresciam as articulacces entre setores antiindfgenas com 0 obietivo de altera-la para prejudicar estes direitos. Foi somente a partir de abril de 94, quando ja nao havla possibilidade de alterar os dispositi vos constitucionais pertinentes, e a revisao j a havia se inviabilizado, que a Comissao Especial retomou os seus trabalhos em ritmo de decisao. 0 relator, em vers6es sucessivas, apresentou 0 seu substitutivo, intensificou as negoclacoes entre as partes envolvidas, analisou cerca de 170 emendas apresentadas pelos dernais parlamentares e acolheu sugestoes de varias instituicties, como 0 Ministerio Publico Federal e a Associagao Brasileira de Antropologia.
Submetido a votacao, 0 Estatuto das Sociedades Indfgenas foi aprovado por unanimidade. Dezoito destaques para votar dispositivos especfficos em separado foram retirados pelos seus auto res para que 0 projeto fosse aprovado na fntegra, sem novas protelacoes. Este resultado revela 0 exito do relator em consensualizar slgniftcativarnente a extensa e complexa materia sob 0 seu encargo.
OS DEBATES FORA DO CONGRESSO
Durante os quase tres anos de tramitacao do Estatuto na Camara dos Deputados, aproveitando os longos hiatos do processo Iegislativo, imimeras reuni6es, ocorridas em foros diversos, envolveram entidades interessadas em debates e negociacoes sobre 0 assunto. Inicialmente, a discussao avancou no ambito interno das organizacoes que formularam propostas proprias, como 0 NDI, 0 Cimi, e a Funai.
4
LEGISLACAo
Vale destacar que, pel a primeira vez na historia da legislacao indigenista brasileira, uma lei foi elaborada a partir de propostas concretas oriundas da sociedade civil, da Igreja Catolica e tamb€m do governo federal. As normas legais anteriores a Constitufcao de 88 sempre foram unilateralmente propostas pelo Executivo. Desta vez, o Congresso pode considerar outras formulacoes, nao se limitando a ratiflcar as vontades dos governos.
Nas primeiras tentativas de entendimentos entre as partes surgiram divergencias acentuadas e discussoes acaloradas, No entanto, tambern surgiram instancias mediadoras, como a Comissao Indios no Brasil, constitufda pela Secretaria de Cultura do Municfpio de Sao Paulo durante 0 ana de 92. A seguir, 0 Ministerio Publico Federal promoveu outra serie de reunioes informais, ajudando as entidades a buscarem denominadores comuns sobre os principais temas. Seguiram-se longas reuni6es diretas entre 0 NDI, 0 Cirni e a Funai, que permitiram a superacao e a reformulacao de pontos divergentes ou, pelo men os, a compreensao madura das diferencas de concepcao, Todos fizeram concessoes quanta as suas propostas originais e chegaram a produzir novas propostas, que sequer constavam dos proletos apresentados a Camara.
o texto relativo a mineracao foi discutido em foro especffico, a partir de uma proposta apresentada pelo ministro das Minas e Energia a Comissao Especial, e elaborada por tecnicos do DNPM. Foram 15 reuni6es, realizadas no DNPM, que contaram com a participacao deste, da Funai, do NDI, do Cimi, da Conage, da FNE (Federacao Nacional dos Engenheiros), do Ibram e de representantes de empresas como a Paranapanema. Foram negociacoes diffceis, que exigiram concessees importantes dos indigenistas, especialmente quanta a possibilidade da validacao de requerimentos de pesquisa mineral anteriores a 88. Porem, foram obtidos avances no estabelecimento de uma sistematica propria para a concessao de direitos minerarios em terras indigenas, inclusive para empreendimentos dos proprios Indios.
Finalmente, os saldos acumulados destes varies processos de discussao foram acolhidos e elaborados pelo relator, auxiliado pela assessoria legislativa. Ele promoveu uma nova serie de reunioes com as entidades e incorporou ao seu substitutivo praticamente todos os textos legais consensuados, arbitrando a seu criterio os pontos divergentes nao superados. 0 relator promoveu consultas junto a setores rnais avessos aos direitos indfgenas, entre parlamentares da bancada amazfmica e interlocutores da area militar. Introduziu no texto concess6es ponderadas a estes setores, fazendo inc1uir representacao dos governos estaduais no grupo de trabalho responsivel pela identifica~ao das terras indfgenas e submetendo as propostas de limites a audiencia publica. Ressalvou as Forcas Armadas da necessidade de previa autorizacao para ingresso em areas indfgenas situadas em faixa de fronteira, permitindo a sua atuacao na defesa do territorio nacional sem prejufzos aos direitos dos Indios. Estas concessoes foram importantes para remover resistencias a aprovacao do Estatuto.
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
GOVERNO PHC PARALISA ESTATUTO
Por iniciatioa do governo Fernando Henrique Cardoso 0 projeto do novo Estaiuto das Sociedades Indigenas se encontra parade na Camara. Antes mesmo da posse do novo governo, em fins do ana de 1)4, 0 entdo deputado Arthur da Tdvola (boje senador) apresentou recurso contra a aprovarao do Estatuto pela Comissao. Esse recurso teve 0 objetivo de levar a discussao sobre 0 Esta-
tuto para 0 plendrio da Camara, 0 que tem retardado 0 andamento do projeto. Apesar dos inumeros pedidos feitos pelos indios e ONGs para que 0 governo retirasse 0 recurso, ele permanece, demonstrando a sua falta de interesse em ver aprouada uma nova legislardo para os pooos tndigenas, (I SA, dez/95)
DESAFIO
o Estatuto das Sociedades Indigenas ainda nao e lei e sera submetido as etapas ulteriores do processo legislativo. Pode, ainda, ser aperfeicoado, havendo espago para novas intervencoes das liderancas e organizacoes indfgenas e de apoio aos Indios, alem de outros interessados. Porem, 0 trabalho ate aqui realizado ja indica as contornos da nova lei e cristaliza formulacoes para as quais dificilmente surgirao alternativas mais consensuais.
Supondo-se a sua aprovacao nos termos atuais, 0 desafio estara na sua lmplementacao. 0 movimento indfgena tera um papel fundamental na arnpliacao das discussoes e na divulgacao entre os indios do conteudo da nova lei. As comunidades ja devem se preparar para ocupar os novos espacos que a lei oferece para 0 fortalecimento da sua autonomia. As organizacoes de apoio provavelmente verso ampliadas as suas possibilidades de atuacao e as demandas de assessoria.
Porem, as consequencias mais profundas da nova lei recaem sobre 0 estado nacional, especialmente sobre 0 orgao indigenista. A superagao da tutela e a definicao de responsabilidades especfficas da Undo em cada vertente tematlca da lei, colocam 0 6rgao indigenista diante da urgencia de uma reformulacao geral da sua estrutura, de uma ampla reciclagem dos seus quadros, incorporando-lhes novas competencias t€cnicas em diversas areas de conhecimento e de atuacao profissional. Se a Funai for capaz de organizar e de enfrentar estas novas demandas, e previsfvel 0 surgimento de uma 6rgao indigenista mais forte e mais plural. Se, no entanto, prevalecer a acomodaeao corporativa e uma visao isolacionista das novas demandas, a Funai podera sucumbir diante da impotencia para articular as varias interfaces da questao indfgena. 0 novo Estatuto das Sociedades Indigenas poe em discussao 0 novo papel do Estado frente aos povos indigenas, no exato momenta em que 0 Pals 58 aproxima de eletcoes gerais que redeflnlrao os seus horizontes polfticos para os proxirnos anos.
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Duasoutras instituig6es terao ampliadas as suas responsabilidades frente aos direitos tndigenas. 0 Ministerio Publico Federal acumula algumas competencias extra-judiciais, e dispora de instrumentos de fiscalizacao e de atuacao quanta aos atos negociais praticados pelas comunidades indfgenas e as hipcteses de exploracao de recursos naturais. 0 MPF acompanhara a Funai na audlencia as comunidades indigenas ocupantes de terras em que se pretende mlnerar A Associacao Brasileira de Antropologia tambem ted novas responsabilidades, fazendo-se representar nas cornissoes setoriais de saude e educacao indigenas, Antropologos credenciados pela ABA coordenarao os grupos de trabalho constitufdos pelo orgao indigenista para identificar as terras indigenas. 0 laudo antropologico sera exigido nos procedimentos referentes a exploracao de recursos naturals,
Evidentemente, 0 NDI nao considera 0 Estatuto perfeito e nem viu acolhidas muitas das sugestoes que submeteu ao processo legislativo. Reconhece, porern, que 0 projeto aprovado pela Comissao representa o denominador comum possfvel entre as diversas vis6es sobre a questao indfgena, e considera que as dtscussoes a respeito atingiram um novo patamar. 0 NDI se orgulha de ter participado intensamente deste processo, de ter influido decisivamente sobre muttos aspectos da nova lei, e de ter colaborado, inclusive atraves de concess6es, para que 0 resultado tambem fosse aceitavel para as outras partes envolvidas. Registramos, aqui, 0 nosso elogio e reconhecimento a todas as demais entidades que partilharam esta experiencia, Agradecemos especialmente aos companheiros do Cimi e da Funai, aos parlamentares que nos apoiaram, sobretudo ao relator, que tiveram enorme paciencia em nos ouvir e em compreender as nossas posicoes e limitagoes. No entanto, muitas outras pessoas e instituicoes de todo 0 Pafs, advogados, antropologos, geologos, engenheiros florestais, medicos, educadores, artistas, indios, missionaries, assessores legislativos e indigenistas, colaboraram imensamente para que essa obra coletiva, ainda provisoria, pudesse comecar a se realizar. (juli94)
LEGISLACAo
5
rAcervo
-/;\ I SA
o CONGRESSO NACIONAL
,
E OS OIREITOS INDIGENAS
Adriana de Carvalho Barbosa Ramos (*1
SETORES INTERESSAOOS NAS TERRAS INOIGENAS SE MOBILIZAM PARA RESTRINGIR OS OIREITOS INOIGENAS CONQUISTAOOS
NA CONSTITUICAOOE 88
o Congresso Nacional nao teve uma atuacao muito incisiva, no que concerne a questao indfgena, durante 0 perfodo de 1991 a 1994. Alem do processo de impeachment do ex-presidente Collor e a CPI do Or" camento, que congelaram as atividades no Congresso entre 1992 e 1993, a perspectiva da revisao constitucional que nao se concretizou neste perfodo tambem contribuiu para 0 emperramento das proposi~5es. Nem mesmo os projetos de lei ordinaria e complementar que deveriam regulamentar os dispositivos constitucionais foram apresentados.
o avanco mais significativo havido na Camara foi a conclusao da Comissao Especial que aprovou 0 substitutivo ao Estatuto das Sociedades Indfgenas (PL 2057/91), embora sua tramitacao tenha sido obstrufda pelo novo governo. Neste periodo, tambem chegou ao Con" gresso a mensagem do Poder Executivo solicitando a ratiflcacao a Convencao 169 da OIT, que recebeu pareceres favoraveis da Camara dos Deputados, mas ainda esta em tramitacao no Sen ado Federal.
E importante ressaltar que foram os setores interessados em alterar os direitos constitucionais dos Indios os responsaveis pelo emperramento do processo de elaboracao e apreciacao das leis ordinarias e complementares, uma vez que estas estarao condicionadas aos termos das modificacoes que estes setores pretendem provocar na legislacao,
Agora que 0 Congresso avanca na reform a constitucional, estes mesmos setores tern apresentado propostas de emenda a Constituicao que procuram revogar direitos indfgenas. Atualmente estao em tramita-
I') Assessora de Polfticas Publicas do ISA.
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LEGISLACAO
~ao no Congresso Nacional25 proposicoes referentes a questao indigena (ver tabela abaixo). Destas, 18 estao na Camara dos Deputados e sete no Senado Federal. A maioria destas proposicoes tem como objetivo restringir conquistas das populacoes indfgenas. A Camara dos Deputados conta com uma verdadeira tropa de choque contra os direitos indfgenas, que, embora nao numerosa, tern se mostrado ativa e incansavel. Esta bancada antiindfgena e responsavel por 60% das proposicoes relacionadas com a questao indfgena em tramita~ao na Camara dos Deputados.
As proposicoes favoraveis a questao indfgena sao 0 Estatuto das Sociedades Indfgenas; 0 PL 4681/94, do deputado Sergio Arouca, que visa a definir atribuicoes e responsabilidades do Sistema Unico de Saiide em relacao as comunidades indfgenas; 0 Projeto de Decreto Legislativo 237/93, que ratifica a Convencao 169 da OIr; 0 PL C 260/9'0, que define a hip6tese de relevante interesse publico da Uniao " este, Ievando-se em conta 0 texto do substitutivo da deputada Raquel Capiberibe, aprovado na Comissao de Defesa do Consumidor Meio Ambiente e Minorias da Camara; eo PL 4881190, que regulamenta 0 procedimento de demarcacao das areas indfgenas, embora este nao represente gran des avances.
EMENDAS ANTIINDIGENAS
As demais proposicoes concentram-se na revogacao dos direitos conquistados pelos Indios na Constituicao Federal. Sao sete Propostas de Emenda a Constituicao, versando sobre 0 artigo 231. A mais adiantada em termos de tramitacao e a PEC 133/92, do deputado Nicias Ribeiro (PMDB/PA), apresentada em 1992 e desarquivada nesta legislatura. Esta proposta veda a dernarcacao de terras indigenas em area de fronteira e atribui poderes ao Congresso Nacional para auto" rizar previamente a demarcacao. Institufda Comissao Especial para apreciar a PEC 133, na primeira audiencia publica, os ministros da [ustica, Nelson jobim, do Exercito, gal. Zenildo Lucena, e do Meio Ambiente, Gustavo Krause, afirmaram que a demarcacao de terras indigenas em area de fronteira nao compromete em nada a soberania nacional, nao constituindo fonte de preocupacao do governo.
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 ~ I NSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
_,"",,- __ .;:.;Ta:;;;;;I_~o$i~ao fez com que 0 proprio autor da emenda negociasse com o relator, dep. Salomao Cruz (PFLlRR), a retirada deste item da Emenda. 0 dep. Salomao Cruz, entao, aproveitou-se de sua privilegiada posicao de relator, para redirecionar a PEe 133 em funcaode outra preocupacao, ja manifestada pela PEG 72/95 de sua autoria: a retirada do inciso XVI do artigo 49 da Constituicao Federal, que estabelece que compete exclusivamente ao Congresso Nacional "autorizar, em terras indigenas, a exploracao e 0 aproveitamento de recursos hidricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais''. Desta forma, o substitutivo aprovado pela Comissao Especial apresenta urn texto que difere do objetivo lnicial da PEC, e que diverge do acordo com 0 DNPM (Departamento NacionaJ de Pesquisa Mineral) feito pela Comissao Especial que apreciou 0 Estatuto das Sociedades Indfgenas. A principle, 0 proprio autor da materia nao ficou satisfeito com 0 resultado, 0 que gerou uma situacao insolita na Comissao, estando alinhados contra 0 parecer do relator os deputados favoraveis a causa indfgena e os costumeiramente contraries. Entretanto, nova rodada de negociacoes fez com que a bancada antiindfgena voltasse a votar unificadamente, aprovando 0 substitutivo do dep. Salomao Cruz, que ira agora a plenario para votacao em dois turnos, para depois tramitar no Sen ado.
Os maiores entraves aos direitos indtgenas estao relacionados a questao da terra e dos reeursos naturais. Sob esse aspeeto, urn dos maiores riseos que essa legislatura oferece e a rediscussao do Estatuto, uma vez que este foi construido a base de muita negociacao entre os diversos setores interessados na questao.
A insistencia destes parlamentares contraries aos indios ehega ao exagero de coloear duas propostas com a mesma Iinalidade trami-
tando paralelamente. E 0 caso dos Projetos de Decreto Legislativo 365/93 e 133!95, respectivamente dos deputados J air Bolsonaro (PPRI RJ) e Bonifacio de Andrada (PTBIMG), que tern como objetivo anular a demarcacao da Area Indfgena Yanomami. 0 dep. jair Bolsonaro, alias, parece ter essa como a grande causa de sua carreira polftica. Em 1992 ele apresentou urn projeto com 0 mesmo objetivo, que foi arquivado. Outras duas proposicoes com 0 mesmo objetivo, do deputado Francisco Rodrigues e do senador Cesar Dias, tarnbem foram apresentadas na legislatura anterior e arquivadas.
A bancada antiindfgena da Camara dos Deputados nao e formada apenas pela regiao Amazonica. Hi parlamentares do Rio Grande do Sui, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. 0 partido que mais se manifesta contrario as quest5es indfgenas e 0 PPR, mas tambem encontramos parlamentares com essa postura no PTB, PFL e PMDB.
No que eoneeme ao conjunto dos parlamentares, nao podemos dizer que 0 atual Congresso e sensfvel a questao indigena. Na verdade, a maioria e indiferente, havendo uma bancada minoritaria que defende arduamente os direitos indfgenas.
Entretanto, 0 que se pode notar e que a questao indfgena ainda e tratada de forma periferica pelo Poder Legislativo. As votacbes referentes aos indios sao circunstanciais, nao permitindo uma previsao dos rumos que 0 atual Congresso vai dar as proposicoes atualmente em tramitacao, 0 Poder Legislativo deixa claro, desta forma, que tern pautado suas prioridades pela otica do Executivo, e que a Indefinicao do atual govemo em relacao a politica indigenista tern se refletido diretamente no Congresso Nacional. (dez/95)
PROPOSI~6ES EM TRAMITA~AO NO SENADO FEDERAL
Tipo Numero Ano Origem Ementa
PLS 260 1989 PL 4881/90 Estabelece os procedimentos administrativos para a demarcacao das terras tradicionalmente ocupadas
pelos Indios e da outras providenclas.
PDS 34 1993 Executivo! Aprova 0 texto da Convencao 169 da Ol'l' sobre povos indfgenas e tribais em pafses independentes.
PDL 237/93
PEe 22 1995 sen. J oao Pranca Altera 0 art. 20 da CF, colocando como bern da Uniao "as terras ocupadas pelos Indios" - retirando
e outros a palavra tradicionalmente - e 0 art. 231, determinando que no conceme as terras ocupadas pelos indios
sejam observados os direitos dos nao indios.
PEC 23 1995 sen. Joao Franca Sup rime 0 § 7° do art. 231 da CF, abrindo a possibilidade de autortzacao para cooperativas de garimpo
atuarem em areas indfgenas.
PEC 24 1995 sen.joao Franca Altera os arts. 49 e 231 da CF, determinando como competencia do Congresso N acional a aprova~ao do
processo de demarcacao de areas indfgenas e de autorizacao para exploraracao e aproveitarnento de
recursos hfdricos e minerais.
PLS 121 1995 sen. Romero juca Dispoe sabre a exploracan e 0 aproveitamento de recursos minerals em terras indfgenas de que tratam os
arts. 176, § 10, e 231, § 30, da CF, e da outras provtdenclas.
PLS 216 1995 sen. Joao Franca Dispfie sabre a rnineracao em terras indfgenas e da outras providencias. POVOS INOiGENAS NO BRASIL 1991{95 ·INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
LEGISLACAO
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Tipo Nrimero Ano Origem Ementa
PDC 365 1993 dep. [air Bolsonaro Torna sem efeito 0 decreto de 25/05/92 que homologa a demarcacao da AI Yanomami,
(PPRJRJ) nos estados de Rorairna e do Amazonas.
PDC US 1995 dep. Nicias Ribeiro Susta os efeitos do Dec. 22/91 que "disp6e sobre 0 processo admfnlstrativo de demarcacao
(PMDB/PA) das terras lndigenas''.
PDC 133 1995 dep. Bonifacio de Andrada Susta a aplicacao da Portaria 580/91 (Area Yanomami) por ferir, no tocante a faixa de
(PTBIMG) fronteira, 0 disposto constitucional.
PEC 133 1992 dep. Nicias Ribeiro o texto original acrescentava paragrafo ao art. 231 da Constituicao, vedando a demarcacao de
(PMDBIPA) areas indfgenas em terras de fronteira e condicionando-as a autorizacao previa do
Congresso Nacional, 0 substitutive aprovado retira do Congresso a competencia para autorizar
lavra mineral em ills e da aos estados audiencia para se manifestarem sobre as demarcacoes,
PEC 69 1995 dep. Antonio Feijao Da nova redacao ao art. 225 (Meio Ambiente) da CF, estabelecendo que: a decretacao de areas
(PTB/AP) indfgenas far-se-a somente por lei complementar; a regularnentacao de seu uso e
ocupa~ao sera proposta por comissao interministerial; e, as atuais areas deverao ser reavalfadas.
PEC 72 1995 dep. Salomao Cruz Suprirne 0 inciso XVI do art. 49 da CF e da nova redacao ao § 3° do art. 231 da CF, dando ao
(PFURR) Minisretio a que estlver subordinado 0 orgao indigenista oflcial e ao Ministerio das Minas e
Energias cornpetencia para autotizar pesquisa e lavra mineral em terras lndfgenas,
PEC 100 1995 dep. Salomao Cruz Modifica 0 § 10 do art. 231 da CF, determinando que a demarcacao de areas indfgenas devers
(PFURR) ser feita por lei. Esta PEC fol retirada pelo autor apes a aprovacao do substltuttvo da PEC 133 na
Comissao Especial.
PEC 125 1995 dep. Luciano Castro Alters 0 art. 231 da CF, dando competencla exclusiva ao Congresso Nacional para homologar as
(PPRlRR) tetras indigenes, bern como revisar, no prazo de cinco anos, aquelas pendentes de demarcacao ou
ja demarcadas,
PEC 153 1995 dep. Osvaldo Biolchi Modiflca a redacao do § 4" do art. 231 da CF, garantindo posse da terras aos ocupantes
(PTBIRS) que tenham justa tftulo par prazo superior a 20 anos.
PEC 196 1995 dep. Antonio Feijao Altera 0 inciso XVI do art. 49 e os paragrafos 3° e 7" do art. 231 da CF, retirando da competencia
(PTB/AP) exclusiva do Congresso Nacional a autotiz~ao para realizar pesquisa geologica em area indfgena.
PEC 183 1995 dep. Elton Rohnelt Estabelece !imites para demarcacao de terras indfgenas, determinando que no maximo 20% da
(PSClRR) extensao territorial de cada unidade da Federacao pode ser demarcada como terra indfgena,
estipulando 0 prazo de dois anos pam reavaliacao das ji demarcadas e ajuste ao limite proposto.
PL 260 1990 PLS 257/89 Define a hip6tese de relevante interesse publico da Uniao para os fins previstos no art. 231, § 6°, da
CE o substitutlvo aprovado pel a Comissao estabelece mecanismo de compensacao de perda territorial
das comunidades indfgenas afetadas, bern como de avali~iio e minimizacso dos impactos amblentais.
PL 2057 1991 dep. Aloisio Mercadante Institui 0 Estatuto das Sociedades Indigenas.
(PT/SP) e outros
PL 4420 1994 Mensagem 87/94 Dtspoe sobre a ocupacao, a utiliza~ao e 0 exercicto de attvidades na faixa de frontetra,
do Poder Executivo o texto original submete ao Conselho de Defesa Nacional (CDN) a demarcacao e a utiliza~ao
de terras indfgenas na faixa de fronteira, entre outras atividades. 0 substitutive adotado pela
Comissao troca 0 CDN pel a Secretaria de Assuntos Estrateglcos (SAE) , submetendo a sua
aprovacao 0 relat6rio que Identifica as terras indfgenas a serem demarcadas,
PL 4681 1994 dep. Sergio Arouca Dispoe sobre as condi~6es e funcionamento de services de saiide para as populacoes indfgenas,
(PPSIR]) Institutndo um subsistema de atencao a saiide indfgena, como componente do sus.
PL 668 1995 dep. Boniflicio de Andrada Disp6e sobre a demarcacao de terras Indjgenas, nomeando comissao especial composta
(PTB/MG) de membros indicados pelos Ministerios da [ustica, das Forcas Armadas, do Meio Ambiente, do
Planejamento, Mlnlsterio Publico, governo estadual respectlvo e tribo indfgena interessada para
demarcar terras indfgenas e rever as areas j a demarcadas,
PL 4906 1995 PLS 112/93 Altem 0 art. 19 da Lei 6001173, dispondo sobre 0 processo para demarcacao das terras
(sen. Cesar Dias) indfgenas estabelecendo que as demarcacoes devem ser feltas por lei, consultados os governos
estaduais respectivos.
Rep 13 1995 dep. Elton Rohnelt Constitui cpr destinada a investigar a atuacao da Funai
(PSC/RR) 8
LEGISLA(,:AO
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 . I NSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
rAcervo
-/;\ I SA
F r
o MINISTERIO PUBLICO FEDERAL
E A QUESTAO INDIGENA: 0 QUE FOI FEITO A PARTIR DE 1988
Raimundo Sergio Ba rros Leita 0 (*)
UMA DAS BOAS NOVAS
TRAZIDAS PELA CONSTITUICAO DE 1988 FOI A TAREFA ATRIBUiDA AD MINISTERIO PUBLICO DE DEFENDER as DIREITOS E INTERESSES DOS POVOS INDiGENAS (ART. 129,
INCISO V). COM ELA, ATENDEU-SE
A ASPIRACA.9 DE iNDIOS, SUAS ORGANIZACOES E ENTIDADES
DE APDIO, NO SENTIDO DE QUE PASSASSE A HAVER UM ORGAD QUE, AGINDD DE FORMA INDEPENDENTE DO ESTADO, PUDESSE GARANTIR
A DEFESA DOS PDVDS INDiGENAS.
A PARTIR DE ENTAD, INICIOU-SE
ND MINISTERID PUBLICO FEDERAL (MPF), A MONTAGEM DE UMA ESTRUTURA QUE PERMITISSE
AD ORGAO ATUAR NESSA AREA.
o MPF, COMO TANTAS OUTRAS INSTITUICOES PUBLICAS, POUCD CON HEClA SaBRE OS iNDIOS, SEUSINTERESSES,COSTUMES
OU TRADICOES.
A COORDENADORIA DE DEFESA DOS DIREITOS E INTERESSES DAS POPULA(i>ES INDiGENAS
I·) Assessor jurfdico do ISA.
A primeira estrutura criada no ambito do MPF para tratar dos assuntos relacionados aos Indios foi a Coordenadoria de Defesa dos Direitos e Interesses das Populacoes Indfgenas, que integrava a Secretaria de Coordenacao de Defesa dos Direitos Individuals e dos Interesses Difusos (Secodid). 0 subprocurador da Republica, Carlos Victor Muzzi, foi a primeiro coordenador de Defesa dos Direitos Indfgenas. Ap6s a sua aposentadoria, foi substituido pelo procurador Wagner Goncalves, que, por sua vez, deixou a cargo par ter sido eleito presidente da Associacao Nacional dos Procuradores da Republica. A Coordenadoria foi, entao, assumida pelo procurador Aurelio Virgilio Veiga Rios.
Goube it Coordenadoria a adocao de uma serie de iniciativas na esfefa judicial e admlnistrativa, No que diz respeito ao judiciarlo, ha que se destacar a propositura das seguintes a~6es:
- A~ao Dec1arat6ria para demarcar a Terra Indfgena do Alto Rio Negro, proposta contra a Uniao, a Funai e 0 Ibama. Tramita na S" Vara dajustica Federal em Brasilia, onde aguarda ser proferida a sentenca;
- A~ao Civil Publica para retirada dos invasores (principalmente garimpeiros) da Area Indfgena Raposa/Serra do Sol, tambem proposta contra a Uniao, a Funai e 0 Ibama. Em tramite na 1 T' Vara dajusti~a Federal em Brasilia, encontra-se na fase de avaliacao do laudo pericial, que anallsou os danos ambientais causados it Area Indigena;
- A~ao Civil Publica, mais uma vez proposta contra a Uniao, a Funai eo Ibama para retirada dos garimpeiros e madeireiros das areas indfgenas ocupadas pelos Kayapo. Tramita na 3" Vara dajustica Federal em Brasilia, tendo sido concedida medida liminar, visando a interdicao dessas areas it presenca de nao-Indios;
- A~ao Civil Publica para retirada dos invasores do Parque Indfgena do Araguaia, proposta contra a Uniao e a Funai perante a 9" Vara da [ustica Federal em Brasilia. Em 06 de setembro deste ano, foi julgada procedente, tendo sido determinado a Funai que adote providencias
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
LEGISLACAO
pMa.anular os contratos de arrendamento incidentes sobre aquela area, alem de exercer 0 seu poder de polfcia para protecao do Parque.
]a no campo administratlvo, a Coordenadoria determinou a instal a~ao de Inqueritos Civis, destin ados a apurar violacoes dos direitos indfgenas. Por meio desses, 0 MPF requisita documentos a orgaos priblicos, convoca pessoas para prestarem depoimentos, enfim, procura reunir 0 maximo de informacoes e provas, que irao permitir aos procuradores instruir devidamente as a~oes judiciais a serem propostas.
Um desses inqueritos, por exemplo, destinou-se a averiguar as "causas do nao cumprimento pela Uniao do prazo constitucional prevlsto no Art. 67 das Disposicoes Constitucionais Transitorias, para a conclusao do processo de dernarcacao das terras indfgenas" (Portaria n° 334, de 06/10/1993, da lavra do procurador-geral da Republica, Aristldes junqueira Alvarenga). Referido inquerito esta ainda em andamento.
Alem dessas atividades, a Coordenadoria buscou tambem organizar eventos para dlscussao dos direitos indfgenas. Um desses (Encontro sobre Direitos Indfgenas) foi realizadono perfodo de 02 a 03 de setembro de 1993, no anditcrio Petronio Portela do Senado Federal. 0 Encontro contou, entre outros, com a presenca do ministro Francisco Rezek (Supremo Tribunal Federal), do procurador-geral Aristides ]unqueira, do juiz. do Tribunal Regional Federal da I" Regiao, Tourinho Neto, do senador Darcy Ribeiro, do secretario executive do NDI e do seu diretor tecnico, respectivamente, Marcio Santilli e Carlos Frederico . Mares. Estavam presentes ainda os procuradores da Republica que atuam nos estados da Federacao em defesa dos direitos coletivos e difusos.
A DESCENTRALIZA~AO DAS INICIATIVAS EM DEFESA DOS DIREITOS DOS POVOS INDIGENAS
No principio, a adocao de praticamente todas as providencias em defesa dos direitos indigenas por parte do Ministerio Publico Federal ficaram centralizadas em Brasilia, a nivel da Coordenadoria. Isso se deveu principalmente ao fato de que na maioria dos estados nao havia procuradores da Republica com interesse em atuar na questao.
Essa situacao, porern, foi pouco a pouco sendo alterada com 0 ingresso de novas procuradores nos quadros do Minlsterio Publico Federal, em funcao dosdiversos concursos piibhcos realizados pelo orgao nos tiltimos anos. Tal fato permitiu que as Procuradorlas localtzadas nos estados passassem a desenvolver acoes especfficas, como, por exemplo, as relacionadas abaixo:
- A~ao Civil Publica proposta pel a Procuradoria da Republica no estado do Amazonas, com 0 objetivo de retirar os garimpeiros da Area Indfgena do Rio Negro. A Procuradoria obteve uma liminar que permitiu a retirada da maior parte dos invasores desta area;
- A~oes Civis Public as movidas pela Procuradoria da Republica no estado do Mato Grosso, visando retirar madeireiros e garimpeiros das Areas Indigenas Vale do Guapore e Sarare. Nessas a~5es, a justica concedeu as medidas liminares pleiteadas, a fim de interditar as areas em questao;
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LEGISLACAo
- Abertura de Inquerito Civil pel a Procuradoria da Republica no estado do Maranhao para apurar os fatos relativos a extracao irregular de madeira nas Areas Indfgenas Alto 'Iuriacu, Arariboia e Governador (Portaria n° 05, de 30 desetembro de 1993);
- Inquerito Civil instaurado pela Procuradoria da Republica no estado do Mato Grosso do Sui para apurar a realizacao de contratos de arrendamento de terras entre os Kadiweu e particulares (Portaria n° 01, de 17 de fevereiro de 1994);
- Inquerito Civil aberto pela Procuradoria da Republica no estado da Bahia para investigar a situacao do Projeto de Assistencia a Sande das Comunidades Indfgenas (Portaria n° 03, de 18 de novembro de 1993).
Alern disso, esses Procuradores passaram a atuar em varies processos movidos contra os indios, principalmente por fazendeiros invasores de suas terras. Isso se deu em especial no Mato Grosso do Sui, onde a atuacao do Ministerio Publico Federal contribuiu para que Fosse alterado um quadro que se desenhava completamente negativo aos Indios, em face da constante emissao de sentencas contrarias aos seus direitos por parte da justica estadual e federal.
RessaJte-se que nas agoes judiciais movidas pelos proprtos fndios e organizacces de apoio, 0 MPF (encabecado pela Coordenadoria) passou a ter um papel de destaque, respaldando inteiramente as demandas indfgenas em seus pareceres. Merece mencao especifica a atuagao do MPF nas acoes movidas pela assessoria [urfdlca do Niicleo de Direitos Indigenas,
ESTABELECENDO UM CORPO l'ECNICO DE ASSESSORES
Outro fato relevante para 0 melhor desempenho das fungoes do Ministerio Publico foi a realizacao, pelo orgao, de concurso publico para 0 preenchimento de cargos de assess ores tecnicos em diversas areas. No tocante aos Indios, foram contratados antropologos, que flcarao sediados nas cidades de Brasflia, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Sao Paulo, a fim de assessorar 0 trabalho dos procuradores principalmente na realizacao de perfcias antropol6gicas em agoes [udiciais.
A Procuradoria tambem contratou proftsslonals da area de engenharia florestal, que poderao desempenhar papel importante no acompanhamento das questoes indfgenas, ja que a exploracao de madeira e urn de seus pontos mais delicados.
o NOVO FORMATO INSTITUCIONAL
Apos a promulgacao da Constituicao de 88, que definiu novas fun~6es para 0 Mlnisterio Publico como um todo, comecou a tramitar no Congresso Nacional urn projeto de lei que visava regulamentar as novas disposicoes, principalmente no que se refere a sua organizagao e atribuicoes. 0 processo de tramitacao dessa lei foi cheio de percalces, porque muitas foram as tentativas de setores conservadores para restringir os poderes e as areas de atuacao do MPE
No dia 20 de maio de 1993, fol afinal sancionada a Lei Complementar n" 75, relativa ao Ministerio Publico da Uniao (que abrange 0
roves IND1GENAS NO BRASil 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
- ........ =---l"lr-l·,~u Ministerio Publico do Trabalho, 0 Ministerio Publico Militar e 0 Ministerio Publico do Distrito Federal e Territ6rios). Uma das principais novidades lntroduzidas por essa Lei foi a criacao das Camaras de Coordenacao e Revisao, introduzidas na estrutura do MPF (arts, 58 a 62). Tais Camaras tern por funcao estabelecer toda a politica de atuacao do MPF em suas diversas areas, alem de decidir sobre as questoes administrativas do orgao,
Em relacao aos indios, com a instalacao desse sistema cameral, foi extinta a Coordenadoria. Esta foi substitufda pela Camara de Coordenacao e Revisao dos Direitos das Comunidades Indigenas e Minorias, que foi instalada no dia 05 de abril de 1994.
Cada Camara, segundo dispoe 0 art. 60 da Lei Complementar n° 751 93, e integrada por tres membros do MPF, escolhidos, sempre que possfvel, dentre os subprocuradores-gerais (art. 3° da Resolucao n° 06, de 16112/93, do Conselho Superior do MPF). Compete ao procurador-geral indicar, de maneira exclusiva, um destes trfs membros, cabendo a indicacao dos demais ao Conselho Superior do orgao,
A Camara de Coordenacao dos Direitos das Comunidades Indfgenas e hoje integrada por dois subprocuradores e um procurador regional. Sao eles: Haroldo Ferraz da N6brega, lair Bolzani e Aurelio VirgOio Veiga Rios. Este ultimo foi indicado para comp6-la mesmo nao sendo subprocurador. Isso se deveu ao reconhecimento do seu trabalho no exercfcio da Coordenacao de Defesa dos Direitos e Interesses das Populacoes Indfgenas pelos proprios membros do ConseIho Superior do MPF. Na ocasiao, ressaltou-se que a sua experiencia no trato da causa indlgena nao poderia ser descartada, sob pena de prejuizo para as atividades a serem desenvolvidas pela Camara,
Ao todo foram instaladas sete Camaras no ambito do Ministerio Publico, sendo a relativa aos indios a 6". Merece destaque 0 fato de que, ern sua primeira reuniao, a 6a Camara deliberou que 0 seu relacionamento corn os "organismos nao-govemamentais sera 0 mais amplo possfvel, de modo a manter sempre 0 canal de comunicacao com a sociedade civil organizada",
DESAFIOS FUTUROS NO TRATO DOS DIREITOS INDfGENAS
Virios sao os desafios postos ao MPF no seu desempenho institucional em relacao aos direitos indigenas. A posicao independente do orgao 0 tem levado a exercer 0 papel de mediador entre as diversas instancias do Poder Executivo que detern parcelas de poder sabre 0 tema. Isso, sem que seja essa uma de suas funcoes pre-estabelecidas.
No atual corpo do Projeto de Estatuto das Sociedades Indigenas (que propoe a revisao do Estatuto do Indio), que agora devers ser discutido e votado pelo Senado, diversas sao as atribuicoes conferidas ao Ministerio Publico (assessorar os Indios na discussao sobre instala~ao de projetos de mineracao em suas terras, participar de organismos colegiados etc), Essa crescente particlpacao do orgao em a~5es de carater executive, porem, precisa ser melhor debatida e definida, para que nao venha a prejudicar 0 desempenho de suas a~5es junto ao Poder [udiciarlo.
Alem disso, e necessario que a 6" Camara passe a ter urn conhecimento maior sobre as a~5es que tramitam em todas as instancias do Poder [udiciarlo, inclusive nos estados, para que a a~ao do orgao se
ARISTIDES DElXA SAUDADES
Passados alguns meses da saida do dr. Aristides junqueira da chefia da Procuradoria Geral da Republica, e hora de reconbecermos a sua importancia como 0 principal responsdoel pelas mudancas no perfil do Ministerio Publico Federal, De adoogados da Unido a defensores da cidadania, 0 salto da PGRfoi visivel, 0 trabalho iniciado por Sepulveda Pertence, consolidando essas novas atribuig6es no plano constitucional, brotou um campo fertil, na gestdo de Aristides junqueira, para a efetivagao das novas fungoes e dos instrumentos legai« postos ao alcance da PGR em defesa dos direitos humanos, indios, minorias, meio ambiente e tantos outros interesses difusos au coleiioos.
Euidentemente a Constifuir;ao de 88 teve um papel muito importante para que os procuradores da Republica pudessem trabafhar nessas novas missoes. Mas, as indispensaveis autonomia e independencia funcional asseguradas, indistintamente, pelo dr. Aristides, foram fundamentais para a efetivar;ao desses direilos. Aristides junqueira jamais impediu qualquer membro do Ministerio Publico Federal de proper, em jutzo au fora dele, as medidas que quisesse, no tempo que entendesse oportuno.
Pode-se discordar de muitas dessas ar;oes ou de seus euentuais maus resultados. Porem, ninguem pede negar que a instituir;ao funcianou com toda a liberdade necessaria ao bam cumprimento do deuer legal e social do Ministerio Publico. Mais que tudo, Aristides junqueira empenbou-se em dar encaminhamento as mais diversas solicitar;6es da sociedade civil, Lembro-me, em especial, da visita que fizemos as Areas lndigenas Guarant/Kayoud, em que pela primeira vez 0 procurador geral da Republica dirigiu-se ao Mato Grosso do Sui. Ao inves de visitar as orgdos oficiais ou os representantes politicos gerados pelas atiuidades agropecudrias do estado, preferiu ele estar com os indios e ouvir as seus lamentos e queixas sobre a modo desumano e cruel como vem sendo tratados pelas autoridades locais e pelos grandes latifundidrios. Que seu exemplo frutifique em todos as membros do Ministerio Publico Federal e nas entidades de defesa da cidadania. (Aurelio Rios, nov/9S)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991(95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
LEGISLACAO
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b~a~e..maneira ordenada e unfssona, Muitas vezes, urn processo versando sobre direitos indigenas e [ulgado pelo Supremo Tribunal Federal sem que a 6a Camara tenha dele 0 menor conhecimento.
E importante, ainda, que ° orgao possa ter condicoes de divulgar todas as solicitacbes de providencias a ele enderecadas, e 0 seu consequente encaminhamento, para facilitar aos interessados urn maior conhecimento sobre as suas atividades.
Enfim, e indiscutfvel que a insercao do Ministerio Publico no trato da causa indfgena tern sido a mais positiva. A atuacao do MPF, em
especial, permitiu aos Indios contar com urn orgao independente, dotado de profissionais qualificados, os quais, nesses seis anos de atuacao, tern dernonstrado honrar 0 encargo recebido. 0 orgao, no entanto, tera que se aparelhar ainda mais para lidar com as multiplas fungoes que the vern sendo atribufdas (e ainda serao) , a fim de nao comprometer 0 alto nfvel do trabalho ate aqui alicergado.(setl94)
PROCURADOR SAl DA COORDENAr;AO POR FALrA DE APOIO
Em razdo da falta de apoio do atual procurador geral da Republica, Ceraldo Brindeiro, a procurador Aurelio Rios pediu seu afastamento das funr;oes de coordenador da atuacdo do Ministerio Publico Federal na quesido indigena. 0 pedido do dr. Aurelio
comproua que a atuar;iio do dr. Geraldo Brindeiro e no sentido de esvaziar todas as areas de atuar;iio do orgiio voltadas para a defesa dos interesses da sociedade. (ISA, jan/96)
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lEGISlACAo
POVOS INDfGENAS NO BRASil 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
rAcervo
-It' I SA
OS OIREITOS INOIGENAS
,
E 0 JUDICIARIO
Ana Valeria Araujo (*1
APOS A C_ONSTITUICAO DE 1988, A QUESTAO INDIGENA PASSOU A OCUPAR ESPACOS IMPORTANTES NO JUDICIARIO QUE, SEt MUITAS VEZES, NAO CORRESPONDEU As EXPECTATIVAS DOS INDIOS, FOI TAMBEM RESPONSAvEL POR DECISOES QUE, POUCO A POUCO, PASSAM A TORNAR EFETIVOS OS SEUS DIREITOS.
Desde a promulgacao da Constituicao de 1988,0 mimero de processos sobre direitos indfgenas perante 0 judiciario vem sofrendo urn acrescimo consideravel, Alem do fato de que as proprlas comunidades indfgenas passaram a entrar em [uizo em defesa de seus interesses, a atuacao do Ministeno Publico, encabecando grande mimero de demandas e, por outro lado, a reacao de pretensos proprietaries, que se julgam prejudicados com 0 avanco do processo de demarcaC;;ao das terras indigenas no pais e vao ao judiciario rec!amar seus supostos direitos, sao os responsaveis por esta sensfvel rnudanca. A Funai, como de praxe, nao propos novas agoes judiciais (se 0 fez, nao foi mais que uma), Mas foi obrigada a manifestar-se em jufzo com frequencia, ja que, fosse qual fosse a situacao dentre as elencadas aeima, sempre era alvo das acoes - na maioria das vezes, como re.
A verdade e que, passados seis anos, a questao indfgena nao e mais uma excecao na rotina dos [ufzes e tribunals. Alias, na [ustica Federal de I" ins tan cia em estados como Para, Mato Grosso, Mato Grosso do Sui e 0 Distrito Federal chega a ser uma constante. 0 mesmo se diria dos Tribunals Regionais Federais de Brasilia e Sao Paulo. Cabe aqui, entao, uma breve analise do comportamento do judiciario diante dos direitos indigenas a partir do novo texto constitucional, que
(*) Assessora jurfdica do ISA
POVOS INDIGENAS NO BRASIL 1991/95 . INSTITUTO SOCiOAMBIENTAL
em alguns momentos foi a garantia dos avances alcancados em 1988, enquanto que em outros, interpretando e distorcendo tais dlreitos, deu mostras de como os proprios juizes as vezes desfazem as leis.
o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTI{:A
o Superior Tribuna! de justica CSTJ) revelou-se um foro contrario a consolidacao dos direitos constitucionais indfgenas. Instancia superior e ultima para muitos dos recurs os previstos na lei processual brasileira, 0 STY e tambern 0 tribunal competente para analisar atos de ministros, dentre outras tantas atividades. Composto por 33 rninistros de presumida capacidade e experiencia, dali, porem, safram as mais estranhas interpretacoes legais sobre este assunto.
A mais grave delas veio a tona, pela primeira vez, no julgarnento do Mandado de Seguranca (MS) impetrado pel as empresas usineiras Rio Vermelho Agropastoril Mercantil SIA, Destilaria Miriri S/A e Usina Central Nossa Senhora de Lourdes S/A contra a portaria do ministro da Iustica que, em 01/06/92, demarcou a AreaJacare de Sao Domingos, dos Potiguara, na Paraiba, As usineiras, todas representadas pelo advogado Oscar Dias Correia, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e ministro da lustica durante 0 governo Sarney, tinham por objetlvo anular a portaria citada, alegando nao se tratar ali de area de ocupacao tradicional indfgena,
CONTRADIZENDO A JURISPRUDENCIA
Contradizendo a [urisprudencia predominante no Iudiciario brasileiro, a qual afirma nao ser 0 MS a via adequada para discutir tais questoes, que dependem de producao e analise substancial de provas - 0 que s6 e possivel por meio de urn procedimento ordinario, os ministros integrantes da I" Secao daquele Tribunal admitiram a documentacao apresentada pelas usineiras como prova pre-constitufda suficiente da sua posse sobre a area, fato este que, na opiniao dos mesmos, nao foi contestado pelo ministro dajustica, sequer pelo Ministerio Publico Federal, quando se pronunciaram nos autos. Assim resolveram porque entendiam que as empresas usineiras nao haviam sido chamadas a participar do processo administrative de
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demarcx~ii;o e, por isso, seus titulos nao foram levados em considera~ao - a despeito do § 6° do art. 231 da Constituicao Federal, que estabelece a nulidade de pleno direito de todos eles, mas que, segundo os ministros, hi que ser declarada em procedimento especffico,
Essa decisao, alem de equivocada, preocupou muito. Embora os ministros partissem da premissa de que, na Constltuicao Federal, "a propriedade privada distanciou-se do seu conceilo tradicional, '" ficando excepcionado 0 direito adquirido do particular", terminavam por entender que 0 art. 231 pressupoe a verificacao da ocupacao tradicional dos Indios por meio de uma a~ao judicial demarcat6ria, que, conforme mterpretacao ainda mais absurda, teria prazo de cinco anos de acordo com 0 art. 67 das Disposicces Constitucionais Transitorias. Isso, quando nao fosse necessario mover uma agao discriminatoria para examinar a legitimidade dos tftulos e "depois dizer se as terras pertencem aos particulares ou aos indios".
Por conseguinte, concluiarn que 0 Executivo nao poderia interditar qualquer que fosse a area indfgena enquanto durasse a discussao judicial sobre ela, tudo iS80 em nome da "paz social", j a que os "princfpios destinados ao relacionamento com as nacoes indfgenas", nao poderiam ser entendidos de modo a "semear a discordia ou 0 desajuste social ou, com 0 sacriffclo da cidadania, a duras lidas, serneada pela Constituicao Federal."
DISTORCENDO CONCEITOS
o grande alvo do julgamento era, como se percebe, 0 item III da Portaria ministerial, que se referia a interdicao da Area lndfgenajacare de Sao Domingos e, conseqiientemente, implicava na expulsao de ocupantes ilegais - neste caso, usineiras portadoras de tftulos de propriedade. Para impedir que lsso ocorresse, os ministros interpretaram as normas, distorcendo conceitos e concluindo que a interdigao de uma area indigena s6 poderia ocorrer em carater excepcional, nso existindo base legal para a previsao do Decreto n" 22/91, que a incorpora ao processo administrative de demarcacao. justincaram-se afirmando que "as aspectos culturais e 0 reconhecimento do direito dos indios it posse permanente das terras por eles habitadas" independem da proibicao de acesso a area por terceiros.
Se acertaram ao reconhecer que as direitos indigenas nao estao realmente condicionados a qualquer ate adrninistrativo de interdtcao - sao anteriores conforme concebidos pela Constituicao, por outro lado, fecharam os olhos para a obrigacao da Uniao, tambern constitucional, de proteger as terras indigenas e garantir aos indios 0 usufruto exclusivo dos recursos naturais nelas existentes. Desses conceitos decorre, obviamente, a necessidade de proibir 0 ingresso, 0 trans ito e a permanencia de terceiros nao-autorizados nas areas declaradas como de posse permanente de determinada comunidade indigena, sem 0 que nao e possfvel proteger ou garantir exc1usividade. Tal proibigao nada mais e que, na pratica, a por eles tao questionada e combatida interdicao, cuja base legal esta, portanto, no proprio texto constitucional. Nao viram par que nao qulseraml
Durante todo 0 julgamento desse MS, a 1 a Secao do S1J seguiu interpretando de forma absurda e iinica os dispositivos constitucionais
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LEGISLACAO
referentes aos indios e, nao se sabe se por engano au vontade de errar, fazendo Ietra morta dos avances alcancados pelo constituinte de 1988.
INVERTENDO 0 ONUS DA PROVA
Os ministros chegaram ao ponto de afirmar que, neste caso, se havia indicios, era de que a area nao seria indigena - subentenda-se, porque existiam tftulos. Por isso, prosseguem: "em face da garantia do direito de propriedade ... nao poderia '" a Funai levan tar dados e 0 sr. ministro dec1arar, desde logo, como terra tradicionalmente ocupada pelos indios" determinado territ6rio. Ao ministro, qualificamno arbitrario "ao dec1arar, de pronto, numa Portaria, que toda essa documentacao (referindo-se aos mesmos titulos apresentados pelas usineiras), legitimamente registrada em cartorio, ate prova em contrario, nao tem nenhum valor jurfdico". Tudo Isso porque, segundo eles, "a constituicao garante esse direito de propriedade ate prova em contrario".
Com essa decisao 0 STJ conseguiu inverter totalmente 0 onus da prova, despejando sobre os indios a obrigacao de provar que estavam em seus territories antes de usineiros, fazendeiros, madeireiros, garimpeiros ou quem mais se disponha a usurpar-Ihes os direitos. Os doutos magistrados resolveram ignorar par completo a garantia constitucional quanta aos direitos originarios dos indios as suas terras e a nulidade de qualquer ate que viole esses direitos, colocando em risco todo 0 processo de demarcacao de terras no pafs, que vern se consolidando a custa de imensos esforcos nos ultimos anos.
A decisao, que anulou 0 item III da Portaria de demarcacao da Area jacare de Sao Domingos, deu inicio a uma serie de outras de igual teor, por meio das quais se inviabilizou temporariamente a desintrusao de divers as areas indigenas em estados como 0 Mato Grosso do Sui e outros, onde ha problemas graves de invasao de terras por grandes fazendeiros. Essas decisoes deverao ser apreciadas pelo STF, corte encarregada da guarda da Constituicao em ultima instancia, que, espera-se, reforme tal entendimento, restaurando a legalidade integral do ate do ministro da [ustica e remetendo as vias ordtnarias qualquer questao remanescente.
OS TRIBUNAlS REGIONAIS FEDERAlS
Na tentativa de exemplificar como 0 [udiciario pode realmente deturpar ou desfazer 0 dlreito ao interpretar a lei, merecem ainda mengao algumas decis6es exaradas a nfvel dos Tribunals Regionais Federais (TRFs) - instancia revisora das decisoes proferidas par [uizes federais, que se organiza por regioes, em mimero de cinco em todo 0 pals.
TRF EM SAO PAULO INTERPRETA A LEI EM DETRIMENTO DO DIREITO
o TRF da 3a Regiao (que engloba Mato Grosso do Sui e Sao Paulo, onde esta sediado), por exemplo, especializou-se, nos riltimos dois anos, em garantir a Funai 0 direito de demarcar uma area Indigena determinada, sem permitir que os indios a ocupassem. Foram casos e casos referentes as terras dos Guarani no Mato Grosso do Sui, cujas areas eram objeto de portaria do ministro da justica - todas invadi-
POVDS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
"""':....____,....._y_",._. grandes fazendas. Contra as portarias, os fazendeiros invasores (todos eles, cada urn a seu turno) propuseram medidas cautelares a [ustiea Federal em Campo Grande, que, gracas a uma disposigao implacavel de [ufzes loeais em impedir que as comunidades Indigenas reocupassem terras de onde foram expulsas, resultavam invariavelmente em liminares determinando a interrupcao do processo de demarcacao e a manutencao do invasor na area. Todas essas liminares foram obieto de recurs os para 0 Tribunal de Sao Paulo.
Foi ai que 0 TRF/SP, tambem liminarmente, instituiu urn metodo (bastante comodo para os jufzes) de interpretar a lei em detrimento do direito: passaram a garantir 0 direito a continuidade do processo administrativo de demarcacao sem que os indios pudessem reocupar as terras (evitando, portanto, molestar os possfvels direitos dos fazendeiros). A [ustificativa para essa postura, embora nunca expressa, estava na neeessidade de resguardar "proprletarios portadores de titulos" de possfveis prejuizos econemtcos, decorrentes de danos ao seu patrimdnio, caso ocupadas as terras por indfgenas.
APENAS UMA DECISAO OUSADA E PRECISA
Mais uma vez, 0 judlclario se negava a aplicar a Constituicao, torcendo e distorcendo 0 direito para que ele pudesse beneficiar outros interesses. Na verdade, todas essas decisoes poderao ainda ser modificadas pelo proprio Tribunal, que devera [ulgar 0 mente dessas :u;oes. E possivel, inclusive, prever-se resultados mais otimistas em razao de recente decisao no easo da Area J aguari , na qual 0 [ufz relator ousou superar 0 rnetodo estabelecido, aplicando a lei com precisao e beneficiando os Guarani do Mato Grosso do Sui pel a primeira vez. A decisao dajustica Federal em Campo Grande foi cassada integralmente, sendo determinada a continuacao do processo administrative de demarcacao daquela area, a retirada imediata dos fazendeiros do local e a reocupacao do territ6rio pela comunidade indfgena.
TRF EM BRASILIA NEGA AOS INDIOS 0 FUTURO
o Tribunal Regional Federal da 1 a Regiao (que engloba os estados da reglao Norte, a Maranhao, Mato Grosso, Minas Gerais e a regiao Centro-Oeste, incluindo 0 Distrito Federal aonde esta sediado) tambern acrescentou obstaculos a consolidacao dos direitos indigenas. Devido a omissao da Uniao em iniciar e/ou levar adiante processos administrativos de demarcacao de algumas areas, 0 Mimsterio PUblico Federal moveu, na [ustica Federal em Brasilia, acfies declarat6rias a fim de obter 0 reconhecimento do carater indfgena daquelas terras. Assim ocorreu no caso Yanomami e com relacao ao Vale do Iavari, onde existiam imimeras demincias de invasao e extracao ilegal de madeira, colocando em risco os povos indfgenas que oeupam aquela area.
Em ambos os casos, as a~6es foram propostas contra a Uniao Federal e a Funai, que informaram nos autos a existencia de processo administrativo em andamento no ambito do 6rgao indigenista. Pais bern, a existencia dos processos administrativos foi suficiente para que 0 [udlciario negasse seguimento as ag5es judiciais, entendendo que teriam perdido seus objetos. Ou seja, que nao havia disputa au con-
eovos INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
flito a ser sanado pelo Iudicfario a partir do momenta em que a Administracao dera os primeiros passos na diregao da providencla pretendida, demonstrando a ela nao se opor.
Essas decisoes, porem, deixaram de considerar que a agao dedarat6ria e 0 instrumento indicado para a obtencao de uma certeza de direito, certeza essa que nao e dada pela mera instauracao de urn processo de identiflcacao de area e nem mesmo pelo ato final do processo administrativo de demarcacao - afinal, pelo menos em tese, urn ate administrativo pode ser revisto pela autoridade a qualquer tempo. Negar seguimento as agoes signiflcou impedir que as comunidades indfgenas tivessem acesso a uma sentenca judicial declarat6ria de sua posse sobre as areas em questao, essa sim, imutavel e capaz de garantir a perpetuidade do direito.
DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS
Ambos os casos foram objeto de recurso, que receberam do TRF em Brasflia 0 mesmo tipo de tratamento: 0 Tribunal reiterou a negativa. As razoes por tras da decisao, no entanto, causam assombro. Eis 0 que diz 0 juiz relator em urn dos processos: "E em que resultaria tal providencia? A certeza j urfdica transform ada em coisa j ulgada? Para que? Para garantir-se aos Yanomami uma area que, como demonstram as documentos dos autos, nao lhes foi negada? Qual a incerteza? Entendo que 0 processo nao pode servir de instrumento para garantia futura, obstaculando-se com a coisa julgada decisoes tecnicas e politlcas da maior relevancia. Convem nao perder de vista que ao julgador nao cabe apenas 0 exercfcio mental em torno da teoria do processo. Como ente politico que e, cabe-lhe avaliar 0 interesse processual concretamente, a vista dos fatos sociais e polfticos que norteiam os conflitos de interesses" ...
Com esses cornentarios, 0 TRF deixou claro que, contrariamente aos fundamentos do direito brasileiro - que assegura a todos os cidadaos o direito de obter a coisa julgada, nao se pode pretender que 0 [udiciario garanta 0 futuro dos Indios. Serao do is pesos e duas medidas?
QUANDO NAO JDLGAR E UMA FORMA DE JULGAR
A verdade e que 0 judiciario tern algumas vezes servido como entrave a consolidacao dos direitos mdtgenas. Nao bastassem as interpretagoes duvidosas, varios sao os cas os em que jufzes, frente a total impossibilidade de decidirem contrariamente aos direitos indfgenas, optam por "arquivarem" as processos em suas pr6prias gavetas, impedindo 0 andamento dos casos.
E verdade que a [ustica e morosa e isso nao afeta so os Indios. Porem, hi situacoes em que, sem diivldas, nao se trata de mero acumulo de trabalho - nao julgar e 0 tinico meio de evitar resolver a questao. A agao movida pelos Gaviao da Montanha contra a Eletronorte, que se arrasta na [usttca Federal em Belem desde 1989 e 0 recurso interposto pelos Guarani de Iaguapire, que descansa nas maos de seu relator, no TRF/SP, desde 1991 sao bons exemplos disso. Os processos estao prontos para serem [ulgados hi tempos, mas as decis6es telmam em nao vir...
LEGISlACAO
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Visto assim, talvez se pudesse pensar que os esforcos para ampliar a atuacao do [udiciario em relacao a questao indfgena de nada serviram. Nao e verdade. Apesar de conceitos e preconceitos, os Indios tern somado algumas vitorias de peso.
A ja mencionada decisao do TRF/SP no caso Jaguari, por exemplo, comeca a reverter uma sucessao de arbitrariedades cometidas contra os Guarani no Mato Grosso do SuI. 0 [udiciario reconheceu 0 direito incondicional da comunidade indfgena as suas terras, fundamentando-se na soberania da Uniao para impor a destinacao de seus bens a despeito de qualquer outro interesse. A decisao resultou na reconducao da comunidade a area de onde fora hi anos expulsa e na retirada dos fazendeiros invasores, nurna operacao que envolveu oficiais de [ustica, agentes da Funai, Polfcia Federal e grande parte da Policia Militar do Mato Grosso do SuI. Tambem os Guarani de Sete Cerros obtiveram do STF uma liminar, que Ihes permitiu impedir que a juiza da za Vara Federal em Campo Grande, autora de imimeras decisoes contrarias aos direitos indigenas, continuasse a [ulgar 0 seu caso. Ha perspectivas de que eles lamb em venham a retomar as suas terras em breve.
CONSOLIDANDO MODERNOS CONCEITOS
A ideia de que e necessario ter-se urn antropologo a frente de todas as pericias em processos que digam respeito aos Indios passou a ser ace ita com tranquilidade pelos jufzes tambem nos ultimos anos. Nao raro, inclusive, os mesmos solicitam que a Associacao Brasileira de Antropologia indique lista trfplice de nomes dos profissionais habilitados a analisarem 0 caso especiflco, Com isso, 0 trabalho de verificar (dentre outras tarefas) a existencia de vestfgios da posse de uma comunidade indfgena sobre determinada area njio devera mais ser entregue a engenheiros agronomos ou tecnicos agrimensores, como era costume anteriormente.
Os jufzes tern sido ainda unanirnes em dispensar as Indios (de forma explfcita ou irnplfcita) do pagamento de taxa judiciaria e outras custas processuais, estendendo-lhes os privilegios da Fazenda Piibli-
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LEGISLACAO
ca e facilitando a seu acesso ao judictarto. Dessa forma, as comunidades indfgenas s6 tern que arcar com algum custo se vierem a ser derrotadas no final da agao.
o INfcIO DO FIM DA IMPUNIDADE
Sobretudo e preciso ressaltar, que decisces liminares foram expedidas para retirar empresas madeireiras instaladas em areas indfgenas no estado do Para. Tais decisdes causaram enorme imp acto na regiao, que sofria impunemente as consequencias do assedio de madeireiros sem qualquer escnipulc. Alem disso, a justica Federal no Mato Grosso condenou dois outros madeireiros a indenizarem comunidades Nambikwara pelo roubo de madeira, bern como a arearem com as custos do reflorestamento de suas areas. Esses estao ainda sendo processados criminalmente. Todas essas decis6es, alern de Ineditas, tendem a freiar 0 processo de degradacao ambiental imposto ao patrimonio indfgena dessas areas.
Mats recentemente, 0 STF garantiu aos Krenak 0 direito sobre suas terras tradicionais. Essas terras, localizadas no Vale do Rio Doce, entre Minas Gerais e Espfrito Santo, foram tituladas a 54 fazendeiros nos anos 70 e os Krenak de la removidos compulsoriamente. 0 STF declarou nulos todos esses titulos, nao reconhecendo sequer aos fazendeiros 0 direito de permanecerem na area enquanto discutem 0 direito a indenizacao por supostas benfeitorias. Garantindo aos Krenak o retorno imediato ao seu terrltorio, 0 STF colocou a direito indigena acima de qualquer interesse.
Se e verdade, portanto, que as iuizes as vezes desfazem as leis, e tambern certo que e este mesmo [udiciario quem as consolida. Afinal, os direitos indfgenas tern sido postos a prova e, pouco a pouco, van conseguindo ganhar 0 respaldo judicial. Assegurar plena efetividade a esses direitos, porem, e ainda urn desafio. Trata-se de urn processo lento, que passa ate mesmo pela educacao de [ufzes quanta as modernas concepcoes do Direito, a ser vencido dia ap6s dia pelos proprios Indios, suas organizacoes, pelo Ministerio Publico, advogados e todos os que atuam nessa questao, (jan/95)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
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A PROTECAO AOS DIREITOS DE
PROPRIEDADE INTELECTUAL DAS
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COMUNIDADES INDIGENAS
Juliana Santilli (*)
QUANDO SE FALA EM PROTECAO
AOS "DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL" DOS POVOS INDiGENAS,O QUE SE BUSCA, aASICAMENTE, SAO INSTRUMENTOS LEGAlS QUE RECONHECAM: (1) 0 DIREITO DOS POVOS INDiGENAS SOBRE 0 SEU PATRIMONIO CULTURAL E SOBRE SEUS CONHECIMENTOS TRADICIONAIS;
(2) 0 DIREITO DE CONTROLE SOBRE
A SUA UTILIZACAO POR TERCEIROS - INCLUINDO 0 DIREITO DE NEGAR
o ACESSO; (3) NOS CASOS DE UTILIZACAO POR ELES AUTORIZADA, o RECONHECIMENTO DE SUA ORIGEM, BEM COMO PARTICIPACAO EM QUAISQUER LUCROS AUFERIDOS COM A SUA COMERCIALIZACAO, OU DE SEUS PRODUTOS DERIVADOS.
Os direitos mencionados aeima, embora possam parecer evidentes e irrefutaveis, nao gozam de nenhum reconhecimento ou protecao especifica do ordenamento jurfdico brasileiro. Tambem nao se tem notfcia de nenhum outro pals que tenha adotado legislacao interna visando assegurar eficazmente os direitos de propriedade intelectual de suas comunidades indfgenas. Ha uma absoluta lacuna na regulamentacao jurfdica da materia, que nao acompanha os avances conquistados no reconhecimento legal de outros direitos dos povos indfgenas - as suas terras tradicionais, ao usufruto de suas riquezas naturais, a assistencia diferenciada do Estado etc.
(*1 Assessors jurfdica do ISA.
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A nfvel internacional, tambem nao existe, ate 0 momento, nenhum instrumento que proteja especificamente os direitos de propriedade intelectual de povos indfgenas. Os principais tratados internacionais que regulam a materia (Convencao de Paris para a Protecao da Propriedade Industrial e a Convencao de Berna para a Protecao de Obras Artfsticas e Literati as , administradas pela Organizacao Mundial de Propriedade Intelectual) nao fazem qualquer referencia as especificidades do conhecimento indfgena.
CONVEN(:AO SOBRE A DIVERSIDADE BIOLOGICA
Ha, entretanto, algumas iniciativas internacionais nesta dtrecao que merecem destaque. Entre elas, a Convencao sobre a Diversidade Biologica, ja assinada pelo Poder Executivo e ratificada pelo Congresso Nacional. Em seu artigo 8°, alinea i, estabelece que as partes contratarrtes devem "em conformidade com sua legislacao naeional, respeitar, preseruar e manter 0 conhecimento, inovacoes e praticas das comunidades locais e populafoes indigenas com estilos de vida tradicionals relevantes a conservacao e a utilizacao sustentavel da diversidade biolcgica", bem como "incentlvar sua mais ampla aplicacao com a aprovafao e a participa¢o dos detentores desse conhecimento, inovas;5es e praticas", e "encorajar a reparticao equitativa dos beneffcios oriundos da utilizas;ao desse conhecimento, inovas;5es e praticas",
Ia a Agenda 21, que em seu Capitulo 26 trata do "reconhecimento e fortalecimento do papel dos povos indfgen as " , estabelece, entre outras rnedidas a serem adotadas pelos governos nacionais a firn de assegurar aos povos indigenas maior controle sobre suas terras e recursos, "a adocao e 0 fortaleeimento de politicas apropriadas e/ou instrumentos legaisque prate jam a propriedade intelectual e cultural indigena e 0 direito a preservacao de sistemas e praticas de acordo com os seus costumes" (26.4, b).
DECLARA(:AO DA CONFERENCIA DA NOVA ZELA.NDIA
E de se destacar ainda a realizacao da 1 a Conferencia Internacional sobre os Direitos de Propriedade Intelectual e Cultural de Povos Indfgenas, entre 12 e 18 de junho de 93 em Whakatane, na Nova
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Zelandia. Na Conferencia, chegou-se ao final a uma Declaracao com
- ..... ~-.
a afinnacao de que "os povos indfgenas do mundo tern 0 direito a auto-
determinacao, e, no exercicio deste dire ito , devem ser reconhecidos como os donas exclusivos de sua propriedade intelectual e cultural".
A Declaracao reconhece que "os povos indfgenas sao capazes de rnanejar; por si proprtos, os seus conhecimentos tradicionais, mas estao dispostos a oferece-los a toda a humanidade, desde que seja assegurada protecao, peia comunidade internacional, aos seus direitos fundamentais de definir e controlar estes conhecimentos". Afirma ainda a Declaracao que os mecanismos de protecao existentes sao insuficientes a protecao dos direitos de propriedade intelectual e cultural dos povos indfgenas, e pede uma "moratoria" na "comercializacao de quaisquer plantas medicinais indfgen as " , ate que os povos Indigenas tenham desenvolvido mecanismos apropriados de protecao a seus direitos.
NA~OES UNIDAS
No mesmo sentido, a ultima versao (draft) da Declaracao sobre os Direitos dos Povos Indfgenas, em processo de elaboracao pelas Nagoes Unidas, contem artigo afirmando que: "Os povos indfgenas tern direito a medidas especiais visando a protecao, enquanto proprledade intelectual, de suas manifestacoes culturais tradicionais, tais como literatura, desenhos, artes, medicamentos e conhecimento das propriedades iiteis da fauna e da flora.", reconhecendo-se ainda em relatorio (tambem elaborado pela ONU) sobre 0 mesmo tema que hi de se "considerar a necessidade de desenvolver protecao especffica para os direitos de propriedade intelectual dos povos indfgenas".
Tal Declaracao encontra-se ainda em processo de elaboracao e negociacao no ambito das Nacoes Unidas. E, nao obstante 0 avanco que representara a sua eventual aprovacao e ratificacao pelos pafses membros, certo e que os tratados internacionais em geral sao pouco eficazes na responsabilizacao concreta dos violadores de seus preceitos, genericos e programaticos. Estas declaracoes nao sao legalmente executaveis, e nao contem sancoes passiveis de aplicacao coercitiva contra os responsaveis pela violacao de seus principios. Somente a legislacao nacional, passfvel de ser aplicada pelos Estados, teria condicces de punir efetivamente os infratores de suas normas.
SOCIEDADE INTERNACIONAL DE ETNOBIOLOGIA
Diante da lacuna, a nivel de legislacao interna e internacional, acerca dos direitos de propriedade intelectual indigena, as (escassas) experiencias de reconhecimento dos mesmos tern se dado por intermedio de contratos ass in ados com empresas/organizacoes interessadas em obter acesso aos conhecimentos tradicionais indfgenas. Nesta Iinha, merece destaque a declaracao de princfpios de conduta etica, visando parcerias eqiiitativas entre empresas, cientistas e instituicoes responsaveis e povos indfgenas, desenvolvida pela Sociedade Internacional de Etnobiologia, fundada em Bel€m, em 1988.
Ocorre que, ainda que os contratos abram a possibilidade de negociacoes atendendo as particularidades de cada easo concreto, certo e que, geralmente, as necessidades econdmicas imediatas das comu-
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LEGISLACAO
nidades indfgenas as colocam em condicoes extremamente desfavoravels para negociar beneffcios com terceiros interessados em parcerias comerciais. Por isso, a lei (de aplicafiio cogente) deve estabelecer garantias e parametres mfnimos que os contratos devem observar a fim de que nao sejam flagramente lesivos e prejudiciais aos interesses indfgenas.
No Brasil, com a criacao de uma Comissao Especial, na Camara dos Deputados, com a finalidade especffica de reformular 0 Estatuto do Indio (Lei 6.001173), abriu-se uma oportunidade institucional para insercao, na Iegislacao nacional, de uma protecao mais efetiva aos tao falados (e pouco assegurados) direitos de propriedade intelectual indigena, Foi este 0 objetivo do projeto aprovado pela Comissao Especial.
PRINCIPAlS ENTRAVES
Antes de se discutir, entretanto, as regras especfficas deste projeto, e importante trazer a baila os principals entraves gerados pela legislacao brasileira (e dos pafses ocidentais em geral) ao reconhecimento dos dlreitos de propriedade intelectual dos povos indfgenas e de outras populacoes tradicionais. Assim, se podera entender melhor por que M necessidade de uma regularnentacao especffica, e por que 0 sistema vigente nao protege os produtos/processos gerados pela criatividade e inventividade indigenas.
Toda a 16gica do sistema ocldental de protecao a propriedade intelectual (patentes, registros de modelos e desenhos industriais, etc.) se funda em conceitos e valores individualistas e de conteiido precipuamente economico, muitas vezes antagontcos com os valores culturais dos povos indfgenas. Ja 0 sistema que garante a sua execugao pratica depende de acesso ao [udiciarlo, atraves de agoes judiciais caras e demoradas e assessoria jurfdica especializada, em geral dificultadas para os povos indfgenas.
Todo 0 sistema patentario vigente protege os chamados "conhecimentos novos'', individualmente produzidos, e nao conhecimentos de natureza tradicional/lustorica, produzidos informal e coletivamente, como 0 sao os conhecimentos indfgenas. Estes sao considerados, dentro do sistema vigente, como pertencentes ao dominio publico e sem qualquer protecao patentaria ou autoral.
E evidente tambem a incornpatibilidade do nosso sistema patentario no que diz respeito a natureza temporaria da protecao assegurada a conhecimentos ou produtos patenteados. Por sua propria deftnicao, as patentes asseguram aos inventores/criadores de produtos intelectuais urn monopollo temporario sobre a sua producao e cornercializaCao, e uma vez decorrido 0 prazo, estes caem no domfnio publico. Os conhecimentos tradicionais indfgenas dificilrnente tern uma origem precis a no tempo, e sao repassados as novas geracoes de acordo com usos, costumes e tradicoes proprias, e, portanto, nao podem ser submetidos a tal Iimttacao temporal caracterfstica daspatentes.
OUTROS PROBLEMAS
Ha outros problemas. Parece ser incontestavel que, uma vez perrnitido 0 acesso de conhecimentos tradicionais indfgenas a terceiros, 0
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sobre sua divulgacac se lorna praticamente impossfve!. E natureza da concessao de patentes,o fato de que 0 Estado, ao concede-las exige, em contrapartida, 0 desvendamento integral da invencao, Logicamente, nao h:1 como patentear nada sem uma descricao detalhada do que se trata. E, tendo a comunidade indfgena revel ado seus conhecimentos ao orgao de propriedade industrial, para fins de obtencao da patente, estara abrindo mao de uma confidencialidade absoluta sobre os mesmos. RUSSELL BARSH (Notes on Protecting Traditional Ecological Knowledge) aponta tambern para 0 fato de que, quando uma comunidade divide seus conhecimentos com uma empresa, atraves de um contrato, tudo 0 que pode esperar, no caso da empresa fazer uso nao-autorizado de seus conhecimentos, e uma compensacao financeira, nada mais. BARSH ve estes e varies outros problemas nos contratos em que os indios autorizam 0 acesso a seus conhecimentos a parceiros comerciais, e acha que a solugao ideal e que as comunidades indfgenas se capacitem para conduzir as suas pr6prias pesquisas cientificas dentro de seus terntorios.
Outro fator que nao pode ser desconsiderado e que grande parte de conhecimentos tradicionais indfgenas e compartilhada por varias comunidades habitantes de uma mesma regiao geogrsfica, e que a atribuicao de direitos a apenas uma delas, ou mesmo a concessao de protecao patentaria a um grupo em detrimento de outro, poderia crlar serios problemas e ate conflitos entre estes, de diffcil solucao, Em muitos casas, os conhecimentos sao gerados a partir de uma experiencia comum de varias comunidades tradicionais, ao Ion go de muitas geracbes, e de forma "difusa", que nao pode ser atribufda a uma iinica comunidade determinada, mas a toda uma area etnograflca, STEPHEN B. BRUSH (A Non-Market Approach to Protecting Biological Resources) salienta que as inven~5es/cria~oes coletivas podem ser "profundamente perturbadas" pelo que chama de "comoditizacao", porque esta introduz a divisao de lueros nas relagoes socials", gerando, essencialmente, eonflitos e divis5es internas lesivas. BRUSH e contrario ao estabelecimento de direitos de propriedade intelectual, nos moldes ocidentais, as comunidades indfgenas.
Se, por urn lado, existem todas estas diflculdades/restricoes a adapta~ao das exigenctas do sistema patentario vigente as peculiaridades indfgenas, por outro, hi cifras suficlentemente convincentes para se considerar que os conhecimentos tradicionais indfgenas necessitam ser efetivamente protegidos - de alguma forma. Ha estimativas de que 0 valor anual do mercado de produtos farmaceuticos derivados de plantas medicinals descobertas (e utilizadas primeiro) por comunidades indfgenas exceda 43 bilh5es de d6lares, e os lueros raramente sao divididos com as rnesmas. Conforme salienta RICARDO ARNT (Perspectivas de Futuro: Biotecnologia e Direitos Indigenas), "inexiste reconhecimento a direitos de propriedade intelectual "tradicionais" para Indios, seringueiros, ribeirinhos e agricultores que, ao longo dos anos, descobriram, selecionaram e manejaram especies com propriedades farmaceuticas, alimentfcias e agricolas. 0 sistema de patentes nao protege a cultura popular e as empresas de biotecnologia tern livre acesso tanto a recursos quanta a informacoes de domfnio publico. Hd poucos obstaculos para a privatizaydo desse patrimimio difuso".
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991/95 . I NSTITUTO SDCIOAMBIENTAL
POTENCIALIDADES
Dos 120 componentes ativos isolados de plantas e amplamente utilizados pela medicina atualmente, 74% apresentam uma correlacao positiva entre 0 seu uso terapeutico moderno e 0 usa tradicional da planta da qual foram extraidos. Segundo pesquisas do [ardim Botanico de Nova York, a utilizacao de conhecimentos tradicionais (indfgenas e de outras populacoes tradicionais) aumenta a eficiencia do processo de selecao/investigacao ("screening") de plantas em busca de suas propriedade medicas em mais de 400%.
No caso do Brasil, parecem 6bvias as potencialidades estrategicas de exploracao de seus recursos biogeneticos, e a importancia dos conhecimentos tradicionais indfgenas como porta de acesso a estes. Trata-se do pafs mais rico do mundo em biodiversidade (com 30% das florestas tropicais, que concentram mais de 50% das especies), e com rico patrlmonio sociocultural (hi cerca de 200 povos Indfgenas, falando cerca de 170 Ifnguas diferentes, segundo dados do CED I). Alem disso, 98% da extensao das terras indfgenas estao situadas na Amazonia, (a maior parte em florestas tropicais), onde vive 60% da populacao indfgena. Evidente, portanto, a correlacao povos indigenas/florestas tropicaislbiodiversidade. Os beneffcios gerados pela exploracao do patrtrnonlo blogenetico nacional via conhecimentos tradicionais Indigenas, entretanto, nao serao repartidos de forma equitativa se 0 pais nao consolidar um sistema de protecao legal aos direitos de propriedade intelectual dos povos indfgenas e de outras populacoes tradicionais.
Outra questao, no entanto, e saber se 0 reconhecimento de direitos de propriedade intelectual aos povos indfgenas levara necessariamente ao seu desenvolvimento economico. Seguramente, a expressao "direitos de propriedade intelectual" tern pouco significado para a grande maioria dos povos indfgenas brasileiros, preocupados com os imperativos mais concretos e imediatos de sua sobrevivencia, e a solucao de problemas como a demarcacao de suas terras tradicionais, sua sustentabilidade economica, conflitos com invasores de suas terras etc. Sao questoes que tem um impacto muito mais imedlato e aparentemente direto sobre suas vidas, em relacao as implicacoes mais abstratas e de tonga prazo geradas pelo reconhecimento de "direitos de propriedade intelectual". Conforme pondera 0 sociologo SHELTON DAVIS (Indigenous Economic Development and Intellectual Property Rights), do Departamento de Meio Ambiente do Banco Mundial, antes de mais nada, e necessario que as comunidades indfgenas exercam eontro1e efetivo sobre suas terras, florestas, aguas e outros recursos naturais e que controlem as politicas para 0 desenvolvimento em suas terras. Parece-nos, entretanto, que a necessidade de se garantir tais avan~os nao exclut a importancia de se reconhecer e proteger legalmente os direitos das comunidades indigenas de controlar 0 acesso e 0 uso de seus conhecimentos tradicionais, com 0 que, alias, concorda Davis.
Concluindo: a prote~ao aos direitos de propriedade intelectual das comunidades Indigenas nao pode se restringir a tentativa de adaptagao do sistema patentario vigente as suas peculiaridades culturais. Esta adaptacao sera sempre precaria, porque alicercada em valores e
LEGISLACAo
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conceitos estranhos ao mundo indfgena e aos seus sistemas proprios
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ae proau~ao, controle e utilizacao do conhecimento. Devem ser cri-
ados conceitos e mecanismos novos de protecao ao conhecimento tradicional, que incorporem e traduzam com mais fidelidade os valores culturais/referencias indfgenas. Entretanto, a discussao e elaboracao de propostas neste sentido, € ainda incipiente e avanca lentamente. A proposta incorporada (com modificacoes) ao (projeto) de "Estatuto das Sociedades Indfgenas" ainda esta longe de regular satisfatoriamente a materia, mas visa aproveitar uma oportunidade institucional para 0 estabelecimento da sustentacao legal necessaria a qualquer agao concreta (judicial ou extrajudicial) visando assegurar direitos mfnimos sobre 0 seu patrimonio cultural.
o PROJETO APROVADO NA COMISSAO ESPECIAL DA CAMARA
o projeto de lei que regula 0 "Estatuto das Sociedades Indfgenas" divide os capftulos dedicados a protecao da propriedade intelectual indigena em duas questoes fundamentais: (1) proteeao a propriedade industrial (atraves da concessao de patentes e registros industriais sobre produtos desenvolvidos com base em conhecimentos tradicionais indfgenas) e (2) protecao aos direitos autorais, de natureza coletiva, das comunidades indigenas (sobre suas composicoes musicais, obras artesanais, desenhos, obras arquitetOnicas etc.)
Os dois capftulos foram elaborados com a assessoria do NDI e dos drs. Fernando Furriella e Fernando Tadeu Rennor (na parte referente a propriedade industrial) e da cantora e compositora Marlui Miranda, bem como de outros advogados especializados (na parte referente aos direitos autorais).
Propriedade Industrial- 0 projeto estabelece alguns princfpios basicos, como 0 "dlrelto fundamental das comunidades indigenas de manterem sob absoluto sigilo e confidencialidade todo e qualquer conhecimento tradicional que detenham, em especial sobre caracterfsticas ou propriedades de ecossistemas e habitats naturais, especies vivas, vegetais ou animais, microorganism os, firmacos e essencias naturais, ou quaisquer recursos ou processos biol6gicos ou geneticos". Este direito inclui a faculdade de recusarem, sem qualquer justificativa, 0 acesso de terceiros a seus conhecimentos tradicionais, au de recusarem autorizacao para a divulgacac ou utilizacao, para fins cientfficos, comerciais ou industriais, sob qualquer forma, de seus conhecimentos tradicionais. Trata-se de assegurar, antes de mais nada, 0 direito a nao-comercializacao e a nao-divulgacao, par terceiros, de seus conhecimentos. Embora fale-se muito em compensagao (geralmente economica) pela utillzacao, e importante nao esquecer a possibilidade das comunidades indigenas nao terem interesse em dividi-los com terceiros estranhos a comunidade, por razoes culturais, principalmente porque, uma vez permitido este acesso, diffcil sera, na pratica, 0 controle sobre sua disseminacao. '
E assegurado ainda as comunidades e sociedades indigenas, bern como a qualquer urn de seus membros, 0 direito de requerer patente de invencao, modelo de utilidade, modelo industrial ou registro de desenho industrial desenvolvidos com base em seus conhecimentos
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LEGISLAC;iio
tradicionais coletivos. Tais patentes ou registros, entretanto, deverao ser sempre concedidos em nome da comunidade ou sociedade indfgena, quando se tratar de invencao, modele ou desenho industrial desenvolvidos com base em conhecimentos tradicionais coletivos, pertencentes a toda a comunidade ou sociedade indfgena e transrnitidos a novas geracces de acordo com usos, costumes e tradi~oes indfgenas, vedada, nestes casos, a concessao de patente ou registro em nome individual, sob pena de nulidade.
Ja 0 acesso, a utilizacao e a aplicacao de conhecimentos tradicionais lndigenas em pesquisas cientfficas que tenham finalidade industrial ou comercial s6 podem ser realizados mediante 0 consentimento prevlo e por escrito, atraves de contrato, celebrado com a assistencia do Ministerio Publico Federal, que estipule as condicces especfficas em que sera permitido 0 acesso, a utilizacao ou aplicacao dos conhecimentos tradicionais indfgenas, e fixe remuneracao justa e equitativa para a comunidade indfgena, bem como sua participacao nos beneffcios auferidos com a utilizacao comercial ou industrial dos resultados da pesquisa. Salvo estipulacao em contrario no ato de consentimento da comunidade indfgena, quaisquer mformacoes prestad as por seus membros, envolvendo conhecimentos tradicionais indfgenas, de natureza coletiva, serao confidenciais, e nao poderao ser transmitidas a terceiros sem a sua previa autorizacao por escrito.
AMm disso, serao nulos e extintos, nao produzindo efeitos [uridicos, quaisquer atos ou contratos firmados por comunidades ou sociedades indfgenas com terceiros que permitam 0 acesso, a utillzacao ou aplicacao, industrial ou comercial, de conhecimentos tradicionais Indigenas em pesquisas cientfficas sem a previsao express a de cotitularidade da propriedade de todos os resultados das pesquisas e de todos os seus produtos derivados. Estas exigencias e restricoes nao se aplicarao as pesquisas ou obras cientiflcas, de natureza academica, ou a suas publicacoes e demais produtos derivados, ainda que comerciallzavets.
Estes sao alguns dos conceitos basicos do projeto, que preve ainda a responsabilidade administrativa e penal (sao criados crimes especfficos com.esta flnalidade) dos responsaveis pela sua violagao, sem prejufzo da obrlgacao de reparar todos os danos e prejufzos materiais e morais causados as comunidades indigenas.
Direitos Autorais - Em relacao ao Capftulo (III), que trata "Do Direito Autoral", e de se salientar, inicialmente, que a Lei 5.988/73, que regula ordinariamente a materia (sem qualquer referencia a direitos indigenas em especffico) cria varies problemas para 0 reconhecimento de direitos autorais de comunidades indfgenas sobre as suas obras e criacoes coletivas, basicamente por tres razoes: 1) s6 regula direitos autorais sobre obras individuais - mesmo no caso de obras feitas em colaboracao, por varias pessoas, estas sao perfeitamente individualizaveis. Nas obras coletivas de comunidades indfgenas, geralmente nao se pode atribuir a sua auto ria a determinados individuos; 2) preve que as obras de "autor desconhecido, transmitidas pela tradir;ao oral" , pertencem ao domfnio publico; 3) preve ainda que os direitos autorais perdu ram por toda a vida de seu autor, ou de seus filhos, pais ou conjuge (que tambem usufruem dos mes-
POVOS INO{GENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
mos vi 'aliciamente). Os demais herdeiros do autor (irmaos, primos
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etc.) gozam destes direitos pelo perfodo de 60 anos. Logicamente,
estas llmitacoes temporais inviabilizariam 0 reconhecimento de direttos sobre obras indfgenas coletivas cuja origem nao possa ser precisada no tempo.
Portanto, a regulamentacao dos direitos autorais de comunidades indfgenas sobre suas obras e criacoes coletivas deve, necessariamente, prever a nao-aplicacao destas regras, e isto foi basicamente 0 que o projeto procurou fazer no Capitulo (III) que trata "Do Direito Autoral". Ele preve a aplicacao das normas ordinarias de protecao as obras produzidas individualmente por indios, e regula apenas os direitos coletivos de comunidades indigenas.
Estabelece que as obras indigenas coletivas nao passarao, em qualquer hipotese, a pertencer ao domfnio publico, ou a propriedade da Uniao, estados, Distrito Federal ou dos municfpios, ainda que transmitidas pela tradicao oral, e independemente de sua origem temporal (art. 36). Em seu art. 38, condiciona qualquer forma de reprodu~ao, uttltzacao ou de comunlcacao ao publico, direta ou indireta, a previa e expressa autorizacao por escrito das comunidades indigenas, atraves de contrato escrito, celebrado com a assistencia do Ministerio Publico Federal, sempre por prazo determinado. 0 NDI, atraYes de emenda apresentada ao projeto, havia sugerido que se estabelecesse apenas que "as comunidades e sociedades lndigenas poderao solicitar a assessoria do Ministerio Publico Federal e do orgao indigenista federal, para esclarecimento de seus direitos autorais e situacoes de seu interesse". Desta forma, ficaria mais claro que a decisao sobre a concessao de autorizacao ou nao para a utilizacao por terceiros de obra Indtgena compete a comunidade indfgena. Esta poderia, a seu livre crlterio, recorrer ou nao a assessoria destas institui~6es, ao inves de se impor uma assistencia obrigatoria.
Em seu art. 34, 0 projeto aprovado na Camara determina que 0 orgao indigenista federal mantenha service junto ao qual as comunidades indfgenas possam efetuar 0 registro de suas obras, estabelecendo ainda diversas outras atrlbuicoes para este service, tais como: impedir ou interditar a representacao, extbicao, execucao ou transmissao de obras indlgenas sem a devida autorizacao, impedir a destrui~ao das mesmas, estabelecer normas que regulamentem 0 sistema de cobranca, arrecadacao e distrlbuicao dos direitos autorais das comunidades, sociedades e individuos indfgenas, arbitrar questoes que versem sobre direitos autorais indfgenas, e gerir 0 Fundo de Direito Autoral Indfgena, aplicando-lhe os recursos segundo as normas que estabelecer (observado 0 seguinte criterio: quando se tratar de obras indfgenas cuja autoria nao possa ser atribufda a uma comunidade ou sociedade indfgena determinada, os recursos serao recolhidos ao Fundo de Direito Autoral Indigena, e quando se tratar de obra cuja autoria possa ser especificamente determinada, os recur- 80S serao repassados diretamente a mesma),
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o projeto original conferia tais atrlbulcoes a urn Conselho Nacional de Direito Auroral Indigena, a ser criado, composto de urn representante do orgao indigenista federal, urn representante de organizacao de apoio aos fndios, dois representantes de organizacoes indfgenas, urn representante do Ministerio Publico Federal e urn representante da Associacao Brasileira de Antropologia. Entendemos que a outorga destas atrlbuicoes exclusivamente a Funai (como 0 faz 0 projeto), e nao a urn Conselho de composicao heterogenea, foge as finalidades do projeto original, de criar uma instancia decisoria com maier representatividade, encarregada de garantir a efetividade dos direitos autorais tndigenas e fiscalizar as formas de sua aplicacao, alem de suprir as lacunas legais no trato com casos concretos. Porem, a proposta de criacfn deste Conselho nao foi acolhida porque a Assessoria Legislativa da Camara considerou que urn projeto de lei de iniciativa do Poder Legislativo nao poderia determinar a criacao de urn novo orgao no ambito do Poder Executivo, em funcao de vedacao constitucional. No entanto, a solucao encontrada pela Relatoria podera ser aperfeicoada durante a tramitacao do projeto no Senado.
Acesso a recursos geneticos - 0 projeto de "Estatuto das Sociedades Indigenas'', preve, em seu art. 116, que "0 acesso e a utilizacao, por terceiros, de recursos biogeneticos existentes nas terras indigenas, respeitara 0 direito de usufruto exclusivo das comunidades indfgenas, e depended de previa autorizacao das mesmas, bem como de previa comunlcacao ao orgao indigenista federal",Ja em seu art. 157, 0 projeto considera crime 0 "uso, comercial ou industrial, de recursos geneticos ou biol6gicos existentes nas terras indfgenas para o desenvolvimento de processos ou produtos blotecnologicos, sem 0 previa consentimento, por escrito, da comunidade ou sociedade indigena que tenha a sua posse permanente."Assim, 0 projeto da urn primeiro passo no reconhecimento dos direitos de comunidades indfgenas (e nao so de Estados nacionais, como 0 faz a Convencao sobre a Diversldade Biologica) sobre os recursos btogeneticos existentes em suas terras. A regulamentacao do acesso e uso dos recursos biogeneticos nacionais e de importancia estrategica para 0 pais. 0 que ocorre atualmente e a apropriacao, pura e simples, do patrimonio biogenetico nacional, por empresas estrangeiras, atraves de seu patenteamento, sem qualquer retorno ou beneffcio ao pais detentor deste patrimonio ou as populacoes locais. Mais de 80% das patentes biotecnologlcas estao nas maos dos pafses de Primeiro Mundo, apesar de desenvolvidas com base em recursos biogeneticos retirados nos paises de Terceiro Mundo. Os setores nacionalistas contrarios a demarcacao de terras indfgenas na Amazonia parecem n ao se dar conta de que e a apropriacao de nosso patrirnonio btogenetico a verdadeira usurpacao da soberania nacional, e nao 0 reconhecimento dos direitos indfgenas. (out/94)
LEGISlACAo
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I r A CON TEe E U
PIRATARIA GENETICA
A DIVERSIDADE DO GENOMA HUMANO INTERESSA A QUEM?
Cinco geneticistas - tres brasileiros, dais argentinas e urn colombiano - integram 0 Cornite Sul-Arnericane do Projeto Diversidade do Genoma Humano que pretende coletar amostras de genes (sangue, cabelos) de populacoes mdfgenas para integrar uma colecao de genes de povos de todo mundo e decifrar a evolucan da especie humana. Embora tenha sido Iancado no Brasil no dia 24111/94, no Congresso daAssoci~ao Latino-Americana de AntropologiaBiol6gica, no Rio, a projeto ji contava com oposl!,:ao antecipada.
No dia 24 de setembro, deputados da Assemhleia Legislativa do Rio Grande do Sui, a Funai, 0 Cimi, e diversas ONGs realizaram uma audiencia publica na.Assembleia para denunciar 0 projeto. Onze entidades assinaram um "Manifesto Contra 0 Projeto Vampire", acusando-o de estar interessado em "conhecer 0 DNA das populacoes autoctones para patentea-Jo para uso comercial no diagnostico e no combate de doencas da civilizacao ocidental". Para os manifestantes, trata-se da ultima e mais perversa expropriacao colonialista sobre os povos indigenas - agora, sobre suas celulas.
"Isso e paranoia. 0 Projeto existe hi quinze dias. Como e possivel ser contra 0 que nao existe? Essas pessoas estao mal informadas. Fico perplexo que urn projeto concebido para desmoralizar 0 racismo seja acusado de colonialista" - desabafa, indignado, 0
geneticista Sergio Pen a, membro do Comite e do Conselho do Projeto Genoma Humano. Um dos objetivos do Projeto e "cornbater os vulgarizados receio popular e ignorantia sobre a genetica".
o Projeto Genoma Humano e 0 Projeto Diversidade do Genoma Humano sao interligados mas diferentes. 0 primeiro surgiu em 1990 paradecifrar os cem mil genes contidos nos 23 pares dos cromossomas, antecipando uma revolucao na genetlca Eo maior programa de pesquisafinanciado pelo governo norte-americana (US$ 3 bilhoes, durante 15 anos) e esta induzindo a esforcos de pesquisa privados maiores. 0 Projeto Diversidade do Genoma Humano surgiu em 1991 a partir de urn apelo, publicado na revista Genomics, alertando contra 0 desaparecimento dos povos indigenas e sua ahsorcao por conjuntos geneticos predominantes. Em 1992, foi adotado pelo Projeto Genoma, que auspicia suas atividades (US$ 5 milh6es, em cinco anos) , mas nao 0 administra.
A dlferenta e que 0 Projeto Genoma trabalha com 0 mapa dos genes do homem, explorando os cromossomos de urn individuo que tanto pode ser urn agricultor frances como uma dona-de-casa de Los Angeles - mas nao representa os genes de um saudita, urn navajo ou um esquimri. Parafazer urn mapa aproximado da humanidade, 0 Projeto Diversidade vai sistematizar as colecoes geneticas existentes dos povos da Terra, coletar novas e "lmortalizalas" em bancos de dados abertos a comunidade cientffica. Organlzadies como a Rural Advancement Foundation International (Raft) rechacarn aideia, "Se e pnssivel ter acesso aos genes, 0 que impede que eles venham a ser patenteados?", indaga Hope Shand, dire-
tor da Rafi. Para muitos, 0 projeto e invasivo, anti-etico e acahara por legalizar roubo.
Francisco Salzano, geneticista da UFRGS e integrante do Camile Sul-Americano, dirige cole~oes de celulas e estuda povos indfgenas brasileiros desde 1958. "Nunca me envolveria com urn projeto que preiudicasse os Indios, A pesquisa sera precedida das autorizacoes legais, da Funai ate as comunidades, e baseia-se em participacao informada e voluntarta. Se 0 material coletado liver carater sagrado recomenda-se deslstencia. Preve-se 0 empenho do Projeto para a partilha com a comunidade de eventuais vantagens de patenteamento, apesar de rnuito remotas. As quest6es eticas ocupam um capitulo inteiro do docurnento". Segundo Salzano, 0 Comire estuda o deposito do material coletado na America do SuL Vari~oes genetic as podem ser muito valiosas para a medic ina. Mas, mesmo que nao fossem, os geneticistas devem protege-las. Cercade 85% da vari~ao genetica humana esta, geralmente, contida em urn pequeno grupo de pessoas de uma mesma comunidade. Os 15% restantes dlstribuern-se por padroes geograficos que refletem "fissoes, fusbes e migracoes populacionais'' do passado. Desses, 9% expressam diferencas entre grupos lingiifsticos e etnicos e apenas 6% diferencas entre racas, Pode haver mais variedade genetic a dentro de um grupo de cern alemaes do Reno, do que entre 50 japoneses e 50 etiopes. Para a genetica, cada vez mais, os traces de diferenciacao racial- que sustentam 0 racismo - parecem ser apenas adaptacoes funcionais dos Ofganismos ao ambiente. (Parab61icasIISA, dez194)
LEGISLA9AO BRAS/LEIRA E AMBfGUA E OMISSA
A tegistafao brasileira em vigor ndo regula 0 patenteamento de genes bumanos. 0 C6digo de Propriedade Industrial (Lei n° 5 7 72) foipromulgado em 1971, quando as diseussoes sobre biotecnologia ainda eram incipientes. 0 C6digo considera "invenr;oes ndo privilegidveis" - e.portanto, ndo patentedueis - os usos e empregos reladonados com descobertas de uariedades ou especies de microorganismos. 0 entendimento e de que estd exduida a possibilidade legal de patenteameiuo de seres vivos ou de partes dos mesmos. Entretanto, tram ita no Congresso Nacional 0 Projeto deleinG 824/91, que revoga 0 CDdigo em vigore eria nova regulameruaou). 0 projeto jd fot aprovado pela Camara dos Deputados e esta atualmente no Senado.
De aeordo com 0 art. 10, ruio se considera invenfiio nem modelo de utilidade - nao sendo, JJOts, passiveis de patenteamento - "0 todo ou parte
de seres vivos naturais e materiais biol6gieas encon/racks na natureza, au ainda que dela isolados, inclusive a genoma au germoplasma de ser vivo natural e as processos bio!6gieos naturais ". Em seu uoto, 0 relator, deputado Hey Lopes, aflrma que "a insercdo de seres vivos como patenteaveis ndo foi sequer cogitada ". Os erftieos do projeto afirmam, entretanto, que 0 risco de apropriar;iJo dos recursos geneticos nacionats nito estd s6 em seu patenteamento tais como se eneantram na natureza, ou mesmo isoladc« dela. o projeto permitiria que um mfnimo grau de manipulaoio de um gene fosse suficiente para qualified-lo como "inuenoio ", Desta forma, genes, enzimas e outras substancias bumanas seriam patentedveis.
A lei das EUA e do Japao jd permite 0 patenteamento de genes bumanos. Tres milpedidos de patente para fragmentos de genes burna-
nos jd foram deposuados, Assim, e perfeitamente possivel que uma sequencia de genes pertencente a determinado povo ind(gena, ou a seus membros, venha a ser objeto de peddo de patente nos EUA au em qualquer outro pais que 0 permita, aincia que islo nito seja passive! no Brasil.
A Constituir;iJo brasileira determina ao Poder PUblico que preserve a .diuersidade e a iniegridade do nosso patrimonio genetico, fiscalizando as entidades dedicadas a pesquisa e manipu!a0ao de material gendico (art. 225). Ndo bd lei au jurisprudeneia naeional sabre a materia. 0 projeto que regula 0 novo "Esiatuto das Sociedades Indigenas ", aprouado na Camara, protege como propriedade intelectual ind(gena as produtos direta ou indiretamente resuitarue: de seus conbecimentos, mas ndo prevc - protbe au permue - 0 patenteamento de seus genes. (juliana Santilli, Parabolicas/lxs, dez/94)
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POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
rAcervo
-/;\ I SA
OIREITO INTERNACIONAL E POVOS INOIGENAS
Ana Valeria Araujo (*)
NOS ULTIMOS ANOS, OS DIREITOS DOS POVOS INDIGENAS PASSARAM A SER ALVa DE INTENSAS DISCUSSOES NOS FORUNS INTERNACIONAIS, RESULTANDO
NO SURGIMENTO DE UM CORPO DE NORMAS INOVADORAS DO CARATER DAS RELACOES ENTRE as ESJADOS NACIONAIS E as POVOS INDIGENAS, QUE ANTES DE MAIS NADA VEM INCENTIVANDO 0 DEBATE INTERNO SOBRE ESSAS QUESTOES E A MUDANCA ~AS LEGISLACOES
DE CADA PAl S.
Durante longo tempo, a assim chamado Direito Internacional modemo tratou exclusivamente dos direitos dos Estados, estabelecendo conceitos que serviram para promover e apoiar as padroes colonialistas impostos pelos europeus em tad as as partes do mundo. Dessa forma, a lei esteve muitas vezes distante da moral, reconheeendo direitos aos Estados em detrimento de quaisquer outros, para que fossem usados como justificativas de "guerras justas", espolia~ao e exploracao de terras ate entao ocupadas por outros povos, matancas e escravidao.
Foram necessaries mais de 400 anos e duas guerras mundiais para que 0 Direito Internacional passasse a se preocupar com a manuten~ao da paz e 0 bem-estar do homern, A partir dar, tern incorporado modernos preceitos de protecao aos direitos humanos que, inicialmente, visavam tao so a protecao de individuos, mas, pouco a pouco e cada vez mais, passam a conceber a existencia de grupos e direitos coletlvos.
1'1 Assessors juridica do ISA.
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991{95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
No final da decada de 70, a agenda internacional de discussao dos direitos humanos comecou a conheeer as demandas e reivlndlcacoes de grupos identificados como indigenes - a categoria povos indigenas vern sendo entendida como eompreendendo nao apenas as tribos, nar;oes ou sociedades nativas das Americas, mas tambem outros grupos culturalmente diferenciados, como as comunidades aborigines da Australia e Nova ZeHl.ndia, os povos tribais do sui do continente asiatica etc.
Foram os esforcos de grupos indfgenas em se organizarem para assegurar a protecao legal ao direito de continuar existindo como comunidades distintas, dotadas de cultura, institulcoes politicas e terrttdrios proprios, que lhes garantiu a mobilizacao de diversos programas de organismos internacionais em seu favor. Num apelo it comunldade internacional, os povos indfgenas e algumas organiza~oes de apoio conseguiram ligar esses pleitos a principios gerais de direitos humanos, como a autodeterrninacao e o'repiidio a qualquer tipo de discrlmlnacao.
Recentemente, os direitos fundamentais dos povos indfgenas vern ganhando maior reconhecimento do ponte-de-vista juridlco, traduzindo-se em urn novo corpo (ainda em formacao) de normas de direitos humanos internacionais. Isso acontece, de certa forma, num momenta crucial da hlstoria mundial, em que questoes como a integridade territorial e a soberania dos Estados nacionais estao sendo remexidas e colocadas em xeque em face dos Iatos com que se depafa a arena polftica global.
ORGANIZA(:AO DAS NA(:OES UNIDAS
A postura internacional frente a questao indfgena comecou a se modificar efetivamente com a resolucao do Conselho Econorntco e Social da ONU, em 1971, que autorizou 0 preparo de um estudo 50- bre as condicoes de vida das populacoes indfgenas. 0 embaixador Martinez Cobo foi encarregado desta tarefa, que so foi conclufda em 1983.0 estudo, em cinco volumes, e consider ado um dos melhores levantamentos sobre 0 status de comunidades indfgenas em todo 0 mundo ao tempo de sua elaboracao. Contendo conclus5es e reco-
LEGISlA~AO
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menda~6es detalhadas em apoio a demandas indigenas em geral, tornou-se uma referenda necessaria para qualquer deliberacao normativa sobre direitos indfgenas no ambito do sistema das N~5es Unidas.
As recomendacoes de Martinez Cobo, a crescente inclusao do tema indigena na pauta de debates e conferencias internacionais, mas sobretudo os anos de lobby por parte dos proprios indios, fizeram com que, em 1982, a Organizacao das Nacoes Unidas criasse 0 "Grupe de Trabalho sobre Populacoes Indigenas". Este, que logo se transfermou no mais importante forum internacional de discussao dos direitos indfgenas, constituiu-se num marco definitivo no tratamento da questao a nivel mundial.
GRUPO DE TRABALHO SOBRE POPULA~OESINDfGENAS
o Grupo de Trabalho esta subordinado a Suhcomissao de Prevencao de Discriminacao e Protecao de Minorias, que, por sua vez, conferme a estrutura interna da ONU, deriva da Comissao de Direitos Humanos e do Conselho Eeon6mieo e Social. Ii integrado por cinco membros da Subcomissao de Minorias (em princfpio, urn de cada uma das cinco regi6es do globo), que atuam em suas capacidades pessoais de especialistas em direitos humanos e nao como representantes dos respectivos governos. Desde a sua criacao, 0 Grupo de Trabalho vern se reunindo anualmente, durante uma ou duas semanas, em Genebra.
o mandato original do orgao propunha uma reflexao sobre 0 desenvolvimento dos direitosde populacoes indigenas em todo 0 mundo e urn esforco na direcao de estabe1eeer padr6es internacionais de referencia. Em 1985, porem, esse mandato foi aperfeicoado, tendo a Subcornissao de Minorias ratificado a declsao do proprio Grupo de Trabalho de esbocar uma declaracao sobre os direitos dos povos indigenas para futura consideracao pela Assembleia Geral da ONU.
DECLARA~AO DOS DIREITOS DOS POVOS INDfGENAS Em 1988, a presidente do Grupo de Trabalho, Erica-Irene Daes, produziu uma primeira minuta do que seria a declaracao, que, a partir de entao, passou a ser dtscutida e comentada por representantes governamentais, povos indfgenas, ONGs e demais presentes as sessoes anuais do orgao. Naquele mesmo ano, a ONU instituiu 0 "Fundo voluntano para Populacoes Indfgenas" com 0 objetivo de auxiliar representantes indigenas em suas despesas de viagem e estadia, facilitando a participacao de muitos povos e comunidades no processo.
o texto inicial da Declaracao sofreu imimeras alteracoes na medida em que a dr" Daes passou a incorporar e a aperfeicoar conceitos e principios ano a ano. Em 1993, 0 processo de revisao foi dado por encerrado no ambito do Grupo de Trabalho e a ultima versao da "Minuta de Declaracao sobre os Direitos dos Povos Indigenas", considerada bastante satisfat6ria. 0 texto fot em seguida apresentado a Subcomissao de Minorias, que, um ano depois, na sessao de agosto de 1994, 0 aprovou na integra. Este fato determinou urn avanco significativo no processo de.aprovacao da declaracao, que foi entao submetida a Comissao de Direitos Humanos em fevereiro de 1995.
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lEGISlACiio
A Comissao de Direitos Humanos decidiu criar urn Grupe de TrabaIho para decidir sobre a declaracao. Este Grupo, que viria a ser composto por delegacoes governamentais e representantes de organizagoes nao governamentais possuidoras de status consultivo perante 0 Conselho Econ6mico e Social (Ecosoc) da ONU, contou tambem com representantes de organizacoes indfgenas especialrnente credenciados, cuja selecao se deu em fungao de procedimento excepcionalmente estabeleeido para este fim. 0 Grupo de Trabalho reuniu-se em dezembro do ana passado. Novas discussoes sobre a minuta deverao ter lugar durante 0 ana de 1996.
PAD ROES MfNIMOS
Preve-se que a min uta de declaracao ted ainda que enfrentar enormes pressoes da parte de alguns governos, determinados a emendar substancialmente 0 seu texto durante 0 processo de analise pelos orgaos que antecedem uma possivel aprovacao da Assernbleia Geral. Embora nao haja qualquer certeza quanto ao conteiido final da declaracao, certo e, porem, que as discuss5es desenvolvidas ao longo destes quase dez anos, no ambito do Grupo de Trabalho, contribufram, em muito, para a articulacao e aflrmacao de principios e rnaxirnas do direito indfgena a nfvel lnternaclonal. Ha que se reconhecer que ja existe hoje urn razoavel consenso sobre urn conjunto de padroes mfnimos favoraveis as reivindicacoes dos fndios, os quais passaram a integrar inclusive manifestacoes public as de representantes governamentais e outras autoridades diante dos mais diversos f6runs internacionais.
CONVEN~AO 169
Urn pouco em decorrencia da iniciativa do Grupo de Trabalho da ONU, a Organizacao Internacional do Trabalho (OIT) - agencia especializada que integra 0 sistema das Nacoes Unidas, viu-se compelida a rever a sua convencao sobre populacoes indigenas, que datava de 1957 e era largamente criticada por acolher dtsposicoes ultrapassadas, em especial dirigidas a asslmilacao dos Indios pelas sociedades nacionais, em total descompasso com a evolucao da mentalidade acerca dos seus direitos a nfvel internacional.
Em 1986, a Ol'I' realizou urn "Encontro de Especialistas", no qual recomendou-se fosse a antlga convencao (Convencao 107) revista e atualizada a luz do mundo moderno, tendo em vista a sua linguagem integracionista, considerada retrograda e destrutiva. Por isso, nos anos seguintes, a Conferencia de Trabalho Internacional (0 mais alto orgao de decisao da OrT) discutiu a revisao da convencao durante suas sess6es annals, tendo sido aprovado por consenso urn novo texto em 1989.
A Conferencia de 1989 adotou a "Convencao sobrePovos Indfgenas e Tribais em Pafses Independentes" (mais conhecida como ConvenCao 169), que sofreu imimeras criticas por admitir limitacoes expressas a alguns dos eonceitos incorporados ao seu texto, bern como por nao possuir instrumentos passfveis de constranger efetivamente as condutas governamentais. A Convencao fieou aquem das expectativas iniciais.
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95" INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
disso, foi 0 prirneiro instrumento internacional a tratar de
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temas basicos como 0 direito dos povos indigenas viverem e desen-
volverem-se como povos diferenciados, de acordo com os seus proprios padr5es. A Convencao 169, sem diivida, avancou no sentido do reconhecimento da integridade cultural indfgena, de seus direitos a terra e aos recursos naturais, bern como a nao-discriminacao em todas as esferas do bem-estar social. Entrou em vigor em 01 de setembro de 1991 e sua ratificacao vern sendo objeto de exame em diversos pafses. No Brasil, ja foi aprovada pela Camara dos Deputados e agora tramita no Senado Federal.
DECLARAc;AO INTERAMERICANA
SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS INDiGENAS
A Organizacao dos Estados Americanos (OEA) e outro organismo internacional que esta buscando acompanhar a evolucao das normas sobre direitos indfgenas. Em 1989, a sua Assemblers Geral dectdiu requisitar a Comissao Interamericana de Direitos Humanos 0 preparo de urn instrumento [urfdico referente aos direitos dos povos indfgenas. 0 instrumento inicialrnente teria a forma de uma resolu~ao, mas, na verdade, devera ter 0 carater de uma declaracao, podendo vir a se tornar a base de uma futura convencao,
Algumas reuni6es e consultas a organizacoes indfgenas e nao-governamentais de todas as Americas foram efetuadas pela Comissao, que posteriormente solicitou ao Instituto Interamericano de Direitos Humanos, orgso independente mas intimamente ligado a OEA, que desse continuidade ao processo. Para tanto, 0 Instituto convidou urn pequeno rnimero de especialistas de pafses latino-americanos a discutirem a possibilidade de elaboracao de urna primeira versao do documento (do Brasil, foi convidado Carlos Frederico Mares de Souza Filho).
o grupo de especialistas, que passou a compor 0 assim chamado Comite de Especialistas Independentes, no entanto, concluiu que nao deveria ser sua a funcao de redigir 0 texto da declaracao. 0 Comite optou por realizar consultas e discussoes ao longo da America Latina que resultaram em urn documento bern mais amplo, que podera servir de referencia para a redacao do texto oficial. 0 documento do Comite de Especialistas faz uma analise da situacao atual na America Latina, refletindo 0 desgaste de velhos modelos frente a mudan~as qualitativas ocorridas nas relacces entre Estados e povos indigenas em quase todo 0 continente, consubstanciando-se numa exposigao de princfpios atual e precis a,
o Instituto Interamericano contratou ainda dois consultores, que produzirarn um longo material sobre os direitos indfgenas na America Latina, 0 qual devera subsidiar 0 documento que 0 proprio Instituto entregara a Comissao de Direitos Humanos da OEA como contribuicao ao processo de elaboracao da declaracao. E certo, porem, que a Comissao ji preparou uma primeira minuta desta declaracao e tem conduzido suas proprias consultas (por escrito) acerca da mesma junto a governos, organizacoes indigenas e de apoio em toda a America,
POVOS INDfGENAS ND BRASil 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
AGENDA 21
Merecem ainda mencao os resultados da Conferencta sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU - Unced, que reuniu no Rio de Janeiro, em [unho de 1992, povos indigenas, ambientalistas, ONGs, ativistas e 118 chefes de Estado, num dos mais expressivos encontros ji registrados pelo Direito InternacionaL Dali resultaram documentos como a Convencao sobre Diversidade Biologica, a Declaracao do Rio e a declaracao de principios sobre manejo e conservacao de florestas, sobre os quais os direitos indfgenas tiveram grande ressonancia, Em especial, porem, a assinatura da Agenda 21 constituiu um dos mais extensos e forrnais reconhecimentos desses direitos ji registrados pelo Direito Internacional.
A Agenda 21 e antes de tudo um documento ambicioso, contendo quatro secoes, 40 capitulos e mais de cern programas, por meio dos quais os govern os signataries pretenderam estabelecer um plano de agao para 0 desenvolvimento sustentavel global durante 0 proximo seculo. 0 documento diz respeito a todas as areas do planeta onde haja intercessao entre ambiente e desenvolvimento, bem como grupos socials afetados, dedicando toda a sua 3" Secao ao fortalecimento do papel desses agentes, dentre os quais mereceram urn capftulo exclusivo os povos indigenas e suas comunidades. Incluem-se ali, com detalhes, os direitos e responsabilidades desses povos e comunidades frente as legislacoes nacionais.
FUNDO INDfGENA
Na linha do atendimento internacional as retvindicacoes dos povos indigenas, hi que se apontar tambem a criacao do Fundo para 0 Desenvolvimento dos Povos lndfgenas da America Latina e do Caribe, em 1992, o convenio constitutivo pelo qual se estabeleceu esta sendo analisado pelo Congresso Nacional com vistas a sua ratificacac pelo Brasil.
Sediado na Bolfvia, este Fundo teve apoio iniclal do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrfcola (Fida) do Programa das Nacoes Unidas para 0 Desenvolvimento (PNUD) e da OIT, e visa atender a projetos encaminhados pelos proprios Indios ou suas organizacces. A estrutura do Fundo pressupoe a presenga de delegados indigenas e de representantes dos Estados membros nos seus orgaos de administracao. Embora de forma bastante incipiente, essa e, sem drivida, a primeira vez em que a representacao indfgena e admitida a nfvel institucional.
ANO INTERNACIONAL DOS POVOS INDiGENAS
Por fim, e importante ressaltar a declaracao pela ONU do ana de 1993 como 0 "Ano lnternacional dos Povos lndigenas" e de 1994, como uma fase prep aratoria para a "Decada Internacional", instalada aos 10 de dezembro daquele ana para estender-se ate 2004, com o objetivo de fortalecer a cooperacao internacional para a solucao de problemas indfgenas, em especial em areas como direitos humanos, meio ambiente, desenvolvimento, educacao e saiide. Alguns menos avisados poderiam indagar da validade desses tipos de procedimento, mas a verdade e que hi dez anos atras, eles seriam trurnaginaveis.
lEGISlACAO
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A DECLARAqAO SOBRE OS DIREITOS DOS PQVOS INDIGENAS
Bmbora redigida pelo Grupe de Trabalho da GNU, a Declaracdo e produto de longo trabalho de representantes e ttderancas indfgenas, que organizaram suas propriae reunii5es paraleias (e preparatorias) em Genebra, para desenvolver propostas que eram submetidas, ana aP6s ano, it analise daquele orgao. Centenas de representantes indigenas participaram desse processo, reuisando, criticando, debatendo e trazendo sugesti5es ao texto da Deciaracao durante 0 curso dos quase dez an os de discussdo.
Naturalmente, muitos representantes gouernamentais tambem contributram para a composiriio da Minuta, assim como alguns dos mais experientes e respeitados especialistas em direitos bumanos e membros de organizafoes nao-gooernamentais. 0 processo de construr;ao da Declaracdo requereu enormes esforcos conjuntos. Ndo obstante, sito os Estados membros da ONU que irito, em ultima instancia, decidir se adotam, rejeitam ou modificam a Declaracdo.
o que e - Uma declarariio internacional nao e um acordo ou um instrumento legal obrigatorio . .8, como 0 proprio nome sugere, uma manifestar;iio acerca do que os Estados membros acreditam ser direitos, uma exposir;ao generica de ualores e princfpios fundamentais, que deveriam ser respeitados por todos os go~ vernos. mas que ndo possuem qualquer forca de lei. Apesar disso, e indiscuHvel que pode ser imensamente importante, jd que, no caso da ONU, e adotada por consenso de Estados que somam praticamente quase que a totalidade dos paises do mundo. Mesmo nito possuindo forca legal vinculativa em sentido tecnico, e uma declaracdo formal sobre regras e poluicas, firmada sob as bases da euca e da moral, que, por isso mesmo, tenderia a comprometer os governos que com ela concorciaram.
A Minuta elaborada pelo Grupe de Trabalho sobre Popular;i5es Indfgenas da ONU e, de certa forma, diferente de outras: tratase de um documento relatiuamente longo e detalhado, contendo inclusive uma linguagem auto-exeoutduel. Normalmente, uma declarat;iio de direitos humanos nito e a ultima palavra sobre 0 assunto, mas antes, 0 comer;o do processo de crfar;ito legal - em geral, a ela se segue uma conoencdo ou um tratado de direitos bumanos, estes sim, detalhados e mais especficos, contendo dispositioos regulamentares para a implementacdo eo cumprimento dos term os convencionados. E possfvel imaginar, portanto, que uma conuencdo internacional sobre os direitos dos povos indigenas venha a ser desenvolvida pela ONU a partir da Declaracao.
Principios fundamentals - A "Min uta de Declaracdo sobre os Direito: dos Povos Indfgenas" contempla uma serie de princfpios
preambulares e mais 45 artigos, divididos por nove partes ou secoes. 0 predmbulo, por sf so, e uma Jorte declararao de direitos dos pouos indigenes, anunciando e afirmando as principals temas contidos no corpo do documento. A Declaracdo aborda da igualdade de direitos it liberdade contra genoddio e etnocidio, passando pela proterao it identidade, integridade fisica, cultura, religiao e educacao. Define direitos como autogoverno, participa¢o em processos decfsorios, trabalbo, terms, recursos e desenvoloimento, prote¢o ao meio ambiente e it propriedade intelectual etc.
Um dos prmapios fundamentais nela contemplados e a igualdade de direitos e a protbirao de discriminacdo. A este, segue-se o direito de ser diferente e de viver como tal, bem como 0 de proteger e manter caracteristicas e atributos, considerados especiais e proprios desses pooos, os quais VaG desde a cultura as suas instituifoes socia is.
A Minuta de Declaracdo proclama tambem a direito dos POtlOS indfgenas terem controle sabre os assuntos que os afetem, ressaltan do af 0 direito a autodeterminacdo - outre dos pilares da Declaracdo. Ao fongo do texto, este direito sobressai intimeras vezes, determinando a importancia do consentimento livre par parte dos POtlOS indfgenas quanto a todas as decisoes que lhes digam respeito.
G texto enfatiza ainda a neceesidade de se estabelecerem relafoes democrdticas entre os POtlOS indfgenas e os gouemos, partindo do principio de que a igualdade e a dignidade de todos sao fundamentos do estado de direito e de que a legitimidade de um governo deriva da aceitacdo do povo muito mais do que da sua impasifiio pela forca. A Dedaracdo insiste que 0 consentimento e o acordo de vontades sejam 0 referen cia I para todo 0 relacionamento entre povos indigenas e Estados, conclamando tanto a propria ONU quanta seus Estados membros a promooerem aroes efetioas de protecdo aos direitas desses povos.
Vale notar que a Declaracdo expressa-se tanto quanta a direitos indivz'duais como coletivos dos povos indigenas. E sobretudo porque os direitos coletioos constituem 0 cerne desse instrumento que 0 mesmo marca um momenta bisuirico no processo de reconhecimento de direitos humanos a nivel internacional.
A postura do Brasil - Multo antes de sua aprotlafao pela Assembleia Geral da GNU, entretanto, a Declaracao ja vem sendo alvo de oiolentas criticas no Brasil. Os representantes do governo brasileiro na ONU tem resistido insistentemente aos aoanios insertdos no seu texto. Diga-se de passagem, 0 Brasil passou a ser um
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LEGISLA~ii.O
POVOS INOIGENAS NO BRASIL 1991/95 ~ INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
A.cell.Vo
dos que encabeca 0 grupo de paises que mais se opoem as inouafoes em termos de direitos indtgenas a nivel internacional. Para o governo brasileiro, a questao indigena e um assunto interno e nada mais.
Atem disso, sempre que 0 assunto e abordado, ueiculam-se informafoes infundadas de que a ONU estaria produzmdo um documento internacional, que apoia a independencia de povos indigenas e pro move a violafao a soberania dos passes. Isso, obviamente, tem levant ado acaloradas potemicas no pais. Por aqui, ainda boje nao se admite reconbecer aos indios 0 cardter de povos e muito menos, quaisquer outras implicacoes que este termo possa vir a fer a nivel do Direito Internacional.
Coerencia - 0 que e precise ficar clare para os governos, especialmente 0 nosso, e que a declaracdo e, sem duvida, um instrumento auancado, mas que reflete 0 conjunto das reioindicacoes atuais dos pouos indigenas em todo a mundo acerca da melhoria de suas reladies com os Estados nacionais, incorporando, it luz do melhor Diretto, suas mats recentes conquistas. E este processo, em principia, ndo deverd retroceder.
Sendo assim, e oportuno transcrever um pequeno trecbo do discurso de Erica-Irene Daes, presidente do Grupe de Trabalbo e encarregada da conducao de todo 0 processo de redafao da Minuta de Declaracdo, que, ao submete-la a apreciacdo da Subcomissdo de Minorias em sua sessao de 1994, fez referenda aos argumentos contrdrios it sua aprovarao da seguinte forma:
"Bstd clare para mim que a momento e favordvel aos direitos dos povos indfgenas como povos, tanto entre os proprios povos indfgenas quanta em relacdo a um grande numero de governos. tambem me parece claro que a distin¢o bistorica entre povos indfgenas e outros pooos estd fadada a juntar-se ao racismo, colonialismo e totalitarismo, na classe dos pretextos para a desumanidade e a auidez que nossa era tem lutado para eliminar para sempre. Transigir nessa questdo seria tao retr6grado - olhando a passes de boje, quanto comprometer a liberdade de expressao e oposioio hd uma decada atrds. Seria melhor, numa visao mais ampla das coisas, ter uma longa batalba para a aprouarao do texto existente, do que compromete-lo de tal forma que implicitamente passasse a afirmar a nocdo antiquada de que povos indigenas ndo sao iguais a outros pouos. " (traduzido extraoficialmente do original em Ingles)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
E certo que, no Brasil, pouco se fez para dar ao Ano Internacional qualquer conotacao especial. Urna comissao interministerial foi criada para definir acoes e providencias, mas, encabecada pelo Itamaraty, passou praticamente todo 0 tempo de sua Iimitada existencia discutindo se deveria ado tar a nomenclatura oficial - povo ou povos indfgenas, ou se trataria de populacoes, Indios ou qualquer outro conceito que nao representasse, a seu modo do ver, uma arneaca a legislacao ou a soberania naciona!. De concreto, a comissao nao fez nada eo Ano Internacional passou quase que desapercebido para os indios e para os brasileiros de uma forma geral.
Nao obstante, na esfera internacional, 0 Ano Internacional criou oportunidades meditas para que representantes indfgenas se dirigissem diretamente a governos, abriu espa~os importantes de negocia~ao dentro de organismos internacionais e conseguiu uma enorme repercussao na imprensa de todo 0 mundo (ou quase todo). Na sessao de aberturado Ano Internacional, realizada em Nova York, cerca de vinte representantes indlgenas de todas as partes do mundo falaram a Assembleia Geral da ONU - dentre eles, Davi Yanomami. Alguns meses depois, varias liderancas se pronunciararn diante da Comissao de Direitos Humanos daquele organismo, apresentando denuncias e reivindicacoes, Ainda em junho do mesmo ano, doze representantes foram ouvidos pelo plenario da Conferencia Mundial sobre Direitos Humanos, ocorrida em Viena.
OUTRAS CONQUISTAS
Obviamente que, se esses fatos demonstram a repercussao do Ano Internacional, muito mais do que isso sao resultados concretos de vinte anos de luta por urn reconhecimento cultural, legal e sobretudo politico. Quem, ha alguns anos, por exemplo, imaginaria Rigoberta Menchu, lfder indfgena e ativista na Guatemala, recebendo 0 Prernio Nobel da Paz? 0 mesmo se diria sobre urn delegado indfgena dirigindo-se, de maneira formal, a qualquer dos orgaos de representacao eminentemente governamental da ONU.
Nao ha como negar que a questao indfgena ja garantiu urn espaco na agenda internacionaL Virios seminarios tern sido realizados para discutir temas relevantes para 0 Direito Internacional, como racismo, auto governo , desenvolvimento sustentavel e direitos territoriais indfgenas. Neste momento, a ONU estuda uma proposta de criacao de urn forum permanente para os povos indfgenas. Alern disso, relatores especiais do Grupo de Trabalho sobre Populacoes Indfgenas foram designados para preparar estudos sobre a existencia e validade de tratados e acordos entre Estados e povos indigenes, bern como sobre a protecao a propriedade cultural e intelectual dos mesmos. Os povos indfgenas tern se organizado mais e mais, conquistando espacos em todos os grandes Ioruns internacionais de discussao de direitos humanos da atualidade.
DECADA INTERNACIONAL DOS POVOS INDIGENAS
E preciso dizer, porern, que a Decada Internacional estabelecida pela ONU vai se deparar com novas demandas. Comunidades lndigenas tern buscado cada vez mais a cooperacao internacional como urn
LEGISLACAO
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meio de melhorar suas condicoes de vida. Sera necessaria uma quantia suhstanclal de recursos provenientes da comunidade intemacional para esse fim e, de certa forma, este e urn dos maiores desafios para os proxlrnos anos. Mesmo porque, as agendas de desenvolvimento, dentro e fora do sistema das Na~oes Unidas, precisam ter em conta simultaneamente a questao ambiental, cultural, a prote~ao aos direitos humanos, dentre outros temas, para estabelecerem programas de desenvolvimento, que possam preferencialmente ser coordenados pelas pr6- prias comunidades, beneficiando-as de fato e especificamente.
Nada disso e facil, pois os recursos disponfvels para projetos de desenvolvimento estao largamente comprometidos com outras questoes, alem do que os organismos internacionais nao estao preparados para lidar com projetos comunltarios, quase sempre de pequeno porte, como os apresentados por comunidades ou povos indfgenas. Ha que se convencer os governos a dedicarem mais fundos para o etnodesenvolvimento, assim como as agendas internacionais a combinarem seus conhecimentos especializados com aqueles dos povos indigenas a serem beneftciados para que os projetos sejarn planejados e implementados em conjunto. As dificuldades sao, portanto, previsfveis.
2B
LEGISLACAO
AVAN</OS CONSIDERA VEIS
Todos esses fatos, no entanto, refletem a enorme avanco do Direito Internacional no trato da questao indfgena. As novas normas internacionais sao fundamentos jurfdicos sobre os quais os povos indfgenas podem construir suas demandas perante foruns internacionais, ainda que procedimentos para eompelir 0 respeito as regras de Direito Internacional seiam Iimitados, Seja como for, existem mecanismos relevantes para a defesa de direitos humanos no ambito de organismos como a ONU, OIT e a OEA, que de certa forma podem passar a ser acionados pelos povos indfgenas na defesa de seus direitos coletivos - eoisa que ate multo poueo tempo atras nao seria viavel.
E claro que hi os que ainda assim consideram tudo isso nao mais do que palavras de muito pouco resultado prance. Essa e, porem, s6 uma forma limitada de olhar a hist6ria. Mais que tudo, e importante entender que 0 avanco do Direito Internacional impulsiona a evolu~ao do pensamento de governos e autoridades. Dessa forma, transforma conceitos, ora tidos por ternerarios e absurdos, em referencias tranquilas, para, enfim, abrir espaco a consolidacao futura de direitos (ate entao inconcebfvels) no ambito dos sistemas jurfdicos internos de cada Estado. Algumas das recentes constituicoes sul-americanas passaram a reconhecer 0 carater multi-etnico de seus pafses e 0 direito a diferenca dos povos que neles vivem. Em toda a parte, 0 debate sobre 0 direito dos povos indfgenas demanda alteracoes nas legislacoes nacionais. Tudo isso faz parte de urn processo para 0 qual o Direito Internacional tern contribufdo. (mar/96)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBlfNTAl
rAcervo
-/;\ I SA
AS CONSTITUICOES A,MERICANAS E OS POVOS INDIGENAS
Carlos Frederico Mares de Souza Filho (*)
AS CONSTITUICOES DA AMERICA NAO REFLETEM
A PROFUNDA E GIGANTESCA DIVERSIDADE CULTURAL DOS PAISES CONSTITUIDOS.
Ate a dec ada de 80, com raras excecoes, as Constituicoes nem sequer se referiam aos direitos dos povos indigenas, Alguns pafses, como a Bolivia, de maioria de populacao indigena, criaram urn sistema iurfdico a margem da diferenca etnica alterando a situacao somente em 1994.
Neste conjunto a Constituicao brasileira e urn marco. Antes dela 0 tratamento das Constituicoes era reticente e remetia sempre a legislacao infra-constltucional, ainda assim nao conseguia reconhecer a etnodiversidade e a multiculturalidade.Quem Ie a Constituicao refundida do Parana, de 1983, por exemplo, e incapaz de saber que a realidade construiu comarcas indfgenas com verdadeira [urisdicao alternativa.
Em 1988, embora sem coragem para declarar 0 pais multietnico e pluricultural, a Constituicao brasilelra reconheceu a diversidade na formula de reconhecer a organlzacao social, os costumes, a lingua, crenca e tradicoes dos povos indfgenas alem do direito orlginario sobre as terras que habitam.
(·1 Advagado. presidents do ISA.
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991/95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Aberta a porta, as novas constitulcoes americanas vao reconhecendo a sociodiversidade de (lOSSOS pafses: Colombia reconhece e protege a sua diversidade etnica e cultural (1991); Mexico (1992) assume que tern uma "composicao pluricultural"; Paraguai (1992), alem de reconhecer a existencia dos povos indigenas, se declara como um pais pluricultural e bilfngiie, considerando as demais lfnguas patrim6- nio cultural da Nacao; 0 Peru, em sua Constituicao outorgada de 1993, nao vai tao longe e apenas admite como lfnguas oficiais, ao lade do castelhano, 0 quetchua, 0 aimara e outras lfnguas "aborigenas"; finalmente em 1994, a Boiivia com sua fulgurante maioria indlgena admire romper a tradicao de silenclo integracionista e se define como multietnica e pluriculturaL
Nestes ultirnos dez anos, portanto, houve urn significativo avanco no reconhecimento constitucional dos povos indigenas da America, Oxata a proxima decada seja conhecida como a decada em que a realldade latino-americana ficou parecida com suas Constituicoesl
A seguir as textos das Constltuicoes americanas que tratam dos direitos indfgenas:
Canada - 1982, Panama -1983, Equador - 1983, Guatemala - 1985, Nicaragua - 1987, Brasil- 1988, Colombia - 1991, Mexico - 1992, Paraguai - 1992, Bolivia - 1994.
Em alguns pafses, 0 ana corresponde a reforma da Constituicao que introduziu a questao dos direitos indfgenas, como Mexico e Bolivia.
LEG ISLACi'iO
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CONs'rrTmON ACT
Part 1: Canadian Cha:rterof,IUghts and Freedoms.
(b) any rlghtsorfreedollSlhatmay be ~cqutred by the abiJdginilpeoples'ofCa~ada byway of land claIms settlement.
Sect. 27: This chartershall be interpreted in. a manner consistent with the Ilt~rvation and 8Db,ancement9f the mu~tictlltural heritage of Canallians:
Part.H:Rights 'O~lh~ Aboriginal P.eoplesofCaoada. Sect.3S:
.. W The exis,ting a~ori.gina.l ~!;IdtfegtY tlghij of the ab'Or!ginalpe9P\~s!pf Ciuada 'are he"\'ilPY rllcogniZllc\ <ihd ai~trffied." '. ".'"
(2) In this Acl, "ab'Original p.e"OpIes of C~'ada'~ includes the Indian, .lImit and
Melis peoples.of Canada. .
L91 CONSTITUTIONELLE
Par.!le I: Charte canadi,enne des droits et Jibedes.
An. 27: Toute interpretation de la pre~ente.ch!lrte dQitooncQrder avec l'1)ojeffif de promouvolr Ie mainneu et_la yalorisatiop du patrlmQlneniultlc:Uln,ueJ des Canadiens.
Parfie II: Dreits ,des,peuple:ralltocht'Onesdu Canada.
(.) Proclarnacton dela MQIlar<!J.Iia BrHanica, tras 1a.obtencl6n del Canada, gat:antlzandp a los. indi~en:i!; sus lerritor:iOs rs alltonomfa.
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LEGISLACAO
CONSTITUCION DE PANAMA. (TEXTO REFUNDIDO DE 1983)
Tit. Ill: Derechos y deberes individuaIes y sociales. Cap. IV: Cultura nacional
Art. 84; Las Ienguas aborfgenes seran objeto de especial estudio, conservacton y divulgaci6n y el Estado prornovera programas de alfabettzacldn bllingtie en las comunidades indfgenas.
Cap. V: Educacidn.
Art. 104: EI Estado desarrollara program as de educaci6n y promoclon para grupos indigenas, ya que poseen patrones culturales proplos, a fin de lograr su particlpaciou activa en la funci6n ciudadana.
Cap. VIII: Regimen agrario.
Art. 120: EI Estado dara atencion especial a las comunidades campesinas e indfgenas con el fin de promover su participaci6n econcmica, social y politica en la vida naclonal.
Art. 122: Para el cumplimtento de los fines de la polltiea agraria el Estado desarrollara las siguientes actividades:
1". Dotar a los campestnos de las tierras de labor necesarias y regular el uso de las aguas. La Ley podra establecer un regimen especial de propiedad colectica para las comunidades carnpeslnas que 10 solicilen.
4°. Establecer medics de comunicacion y lransporte para unir las comunidades campesinas e indfgenas con los centros de alrnacenamiento, distnbucion y consumo,
7°. Reallzar estudlos de la tierra a fin de establecer la claslficacion agrologica del suelo panamefio.
La. politica establecida para este capitulo sera aplicable a las comunidades indlgelias de acuerdo con [as metodos cientfficcs de cambio cultural.
'CON,sTtrtlcI(lN DE ECUADOR (TEXlO R£FPNDIDO DE 1983)
Tft\lI'O prellril.iJ:l:u'. Art. 1: ( ... )1:1 ldiorna 'Ofldal e~ el castellano.Bl qutchuaj [as
demas lengaas aborfgelfes forman parte ae lacultuta national ( ... ). '
Tft. I; De los eauatofiallps rde los extranjeros, Secc, Ill: De la educaCion YClI.ltura.
1 . .,. .'. ." ..
t\rt:27;(...)Sn IQsslsteruas de educactonqae s_edesarrollel).en.las zonas de pre-
d9miQauteJib~.laCf~ri.tndlgena, se uUli.zira cQmq l~ngua Bfincipal de edllca~rpn
1 "at, 1uI~b~j;1O;1~ .. le,~g~a de la.cllftuta tespectiva, yel.casie\lanl!i\ eom[)'leryg~,a 'de NlitCipn inte!"Cult~ffil (. .. J ..
CONSTITUCION DE GUATEMALA (1985)
Tit. U: Derechos humanos. Cap. II: Derechos sociales. Secc. Il: Cultura.
Art. 59: Identidad cultural. Se reconoce el derecho de las personas y de las comunidades a su identidad cultural de acuerdo a sus valores, su lengua y sus costurnbres.
Secc. III: Comunidades lndfgenas.
Art. 66: Proteccion a grupos etnlcos. Guatemala esta formada POf diversos grupos etnicos entre 1'05 que figuran l'OS grupos indlgenas de ascendencia maya. EI Estado reconoce, respeta y promueve sus forrnas de vida, costumbres, tradiciones, formas de organizacion social, el uso del traje lndlgena en hombres y rnujeres, idiomas y dialectos.
A_rt. 67: Proteccion a las tierras y las cooperanvas agrfcolas indfgenas. Las tierras de las cooperativas, comunidades tndtgenas 0 cualesquiera otras formas de tenencia
POVOSINDIGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
_ ... =-=- _ __;.;.;.;;=: .. _ 0 colectiva de propiedad agraria, asf como el patrimonio famJliar y vivienda popular, gozaran de proteccion especial del Estado, de asistencia crediticia y tecnica preferencial, que garanticen su posesion y desarrollo, a fin de asegurar a todos los habitantes una mejor calidade de vida.
Las comunidades indigenas y otras que tengan tierras que histdricamente les pertenecen y que tradicionaJmente han 'admlntstrado en forma especial, mantendran ese sistema.
Art. 68: Tierras para comunidades indigenas. Mediante programas especlales y leglslaclon adecuada, el Estado proveera de tierras estatales a las comunidades indigenas que las necesiten para su desarrollo.
Art. 69: Traslacion de trabajadores y su proteccion. Las actividades laborales que impliquen traslacion de los trabajadores fuera de sus comunidades, seran objeto de proteccion y legislackin que aseguren las condiciones adecuadas de salud, ssguridad y previsi6n social que impidan el pago de sal arias no ajustados a la ley, la desintegraci6n de estas comunidades y en general todo trato dtscriminatorto.
Art. 70: Ley especffica. Una ley regulars 10 relativo a las materias de esta secclon.
C.ONSTITUCH1.N. UE NICAR1ttUA (T987)
Tit ]1 Sob~e el"Esfadp.Capitulo unieo.
an. 11; EI espafiules-illploma oftdal "dill Bstado. Las len:guasde las C~\llunidade~c 'Ii£) ll\J)Q~1fI Ath1.\'Iti.c.a 4eJ~j.caragq~ t~D,lbien tendran u,SQofi,Ci~1 en los Ga.sf:l~~ue, ~taNezca la ley;
Art,91: El Estil,do liene,la obligacion de diotar leyes deStinadas.a promover acetones que.aseguten quenlllgun nicaragtiense sea objeto de dist:Jilllifiaci6n por razon ~e
su lengua; c·uJ!u.ra YJ1rigen. '
T$t. IX: Djvisi6fi poiItico~adIliihistratiya. Cap. 1J: G6il!RD;idad~s,de laCt)-S~;l.
Atlantica. ' . " ' . ,
.. ..
Al"t,l80: Las Comunidades de la C()sta, AHantle:l Uenen ~f d~rechG de vivir y desarrollarse ba;o I~ADrtna deorganlzaci6n soeial-que eorresponden nus' 'tradiciolleshisWkl\.s l' culturales.'
. BIEstado, ,gatanfizaaciftas co:munidad,es:-eI disfru te 'de,s],l&r:(lIl~s8s nam rates.) la ijectlvidad de$us (booa,'i de propied:i(fl;oJ]lunaly hiJjbre~l~l;elon de sus autQrida" ,des Y iepresent;mtes.
Asimismo garaDti~a la preservaci6n de sus cultur.asy; tengu[s"religiGnes..y eostumbres, . . c
AiLlS:l; ~1 Es'!'<l-dp q,f!gan.t,za:f.a,p,pr:m;eOiD!le 'uu<tle¥ e.l;re~~~de ~utpniJlUlie~.( .. las regil:5nes donde'Mbltanlas Cotilunid!Jde.sde 'I a C6~tiJ: At1~tltJt:a pafa~1 eiercjqi6~
de sus derechos, . .
POVOS INOIGENAS NO BRASIL 1991/95 ~ INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
CONSTITUI(:AO DO BRASIL (1988)
Tft. VIII: Da ordern social. Cap. VIII: DDS indios.
Art. 231: Sao reconhecidos aos fndios sua orgamzacao social, costumes, lfnguas, crencas, e tradlcoes, e os direitos odginartos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo a Uniiio demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens,
1° Sao tertas tradicionalmente ocupadas pelos indios as por eJes habitadas em carater permanente, as utilizadas para suas ativtdades produtivas, as imprescindfveis a preservacao dos recursos ambientais necessaries a seu bern-estar e as necessarias asua reproducao ftslca e cultural, segundo seus usos, costumes e tradicoes.
2°. As terras tradicionalmente ocupadas pelos indios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes a usufruto exclusive das riquezas do 5.01.0, dos rios e dos lagos nelas existentes.
3°. 0 aproveitamenta dos recursos hfdricos, tnclufdos os potenciais energeticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em tetras indfgenas s6 podem ser efetivados com autorizacao do Congresso Nacional, ouvtdas as comunidades afetadas, ficando-lhes asegurada participacao nos resultados da lavra, na forma da lei.
4°. As terras de que trata este artigo sao tnaltenaveis e indisponfveis, e as direitos sobre elas, tmprescrttfveis.
5°. E vedada a remocao dos grupos indfgenas de suas terras, salvo ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catastrofe ou epldemia que ponha em risco sua populacao, ou no interesse da soberania do Pais, ap6s deliberacao do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipotese, 0 retorno imediato logo que cesse a risco.
6°. Sao nulos e extintos, nao produzindo efeitas [urfdicos, as atos que tenham par objeto a ocupacao, a damfnio e a posse das terras a que se refere este artigo, au a exploracao das rlquezas naturais do solo, dos nos e dos lagos nelas exisientes, ressalvando 0 relevante interesse publico da Uniao, segundo 0 que dispuser lei complementar, nao gerando a nulidade e a extin~aG direito a Indenlzacao au a agoes contra a Uniao, salvo, na forma da lei, quanto as benfeitorias derivadas da ocupa~ao de boa fe.
7°. Nao se aplica as terras indfgenas a dJsposto no artigo 174, 30 e 40.(*)
Art. 232: Os fndios, suas comunidades e organlzacoes sao partes legftimas para ingressar em [ufzo em defesa de seus direitos e lnteresses, intervindo 0 Ministerio Publico em todos as atos do processo,
LEGISLA~AO
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T(t. k Ele j"s princlpiOS .fund;Ullentales.
5°, Velar I~ la prcSerVacI6n de los reoursos naturales,
8°, ~ep.reSenfar a los terr!tQrios ante el Gobierno Naclonal y las demas entidades a las ,aua!es;seJntegren,
9·, Las q¥ejless:efial~n"I~ Go
Pir,~gra( 'd,e
sLIi:~ _~al, social, y eOO • fas oomup.idad~ Indige-
nas. En IQ.'lwspos1ciones. qlle se.adopten~to de dlchaexplolaci6n, el GoOO1l10 propiclart 1.II;Partj'¢paclon, ·de los r:epq;sentantes de IlIS-~flI!Cii~as WIDllllir4d¢s;,
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lEGISlACAO
CONSTITUCION DE MEXICO (REFORMAS DE 1992)
TIt. I. Cap. I; De las garantfas tndividuales.
Art. 4: La N acion mexicana tlene una composicion pluricultural sustentada ori ginalmente en sus pueblos Indlgenas. La ley protegera y prornovera el desarrollo de sus lenguas, culturas, USOS, costumbrss, recursos y Iorrnas especfficas de organlzaci6n social, y garantizara a susintegrantes el efectlvo acceso a la [urlsdfcclon del Estado, En los [uiclos y procedimientos agrarios en que aquellos sean parte, se tomaran en cuenta sus practicas y costumbres [urfdicas eo los tenninos que establezca la ley (...).
Art. 27. (._.). VH:Se reeonoce la personalidad [undtca de los nucleus de poblaci6n ejidales y comunales y se protege su propledad sabre la tierra, tanto para el asentamiento humano como para actividades productivas,
La ley protegera la rntegndad de las tierrras de los pueblos Indtgenas,
La ley, considerando el respeto y fartalecimiento de Ia vidacomunitaria de las ejidos y comunidades, protegera la tierra para el asentamiento humane y regulars el aprovechamiento de tierras, bosques y aguas de usa cornun y la provisirin de acetones de fomento necesarlos para. elevar el nivel de vida de sus pobladores.
La ley, con respeto a la voluntad de los ejldatarios y comuneros para adoptar las coudiciones que mas les convengan en el aprovecharnlento de sus recursos productivos, regulars el ejerclcio de 1.05 derechos de los cornuneros sobre la tierra y de cads ejidatario sabre su parcela.Asirnismo estabiecera los procedtmientos por 105 cuales ejidatarios y cornuneros pcdran asociarse entre sf, can el Estado 0 con terceros y otorgar el uso de sus tterras; y, tratandose de ejidatarios, transmitir sus derechos parcelanos entre los mlernbros del micleo de poblacion; igualrnente fijara los requisites y procedimienlos conforme a los cuales la asamblea ejidal otorgara at ejidatario el dominio sabre su parcela. En caso de enajenacsin de parcelas, se respetara el derecho de preferencia que prevea la ley.
Dentro de un mismo micleo de poblaclon, ningiin ejidatario podra ser titular de mas tierra que la equivalente al cinco por ciento del total de las tierras ejidales. En todo case, la titularidad de tierras en favor de un solo ejidatario debera ajustarse a los lfrnltes sefialados en la fracci6n XV (*) .
La asamblea general es el organo supremo del micleo de poblacion ejidal 0 cornunal can la organlzacion y funciones que la ley sefiale. El comisariado ejidal 0 de bienes cornunales, electo democraticamente en los terminos de la ley, es el 6rgano de representacicn del micleo y el responsable de ejecutar las resoluciones de la asamblea
La restitucion de tterras, bosques y aguasa los nucleos de poblaci6n se hara en los terminos de Ia ley reglamentaria.
POVOS JNOIGENAS NO BRASIL 1991/9.5 -INSTlTUTO SOCIOAMBIENTAL
POVOS INOiGENAS NO BRASil 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
CONSTITUCION DE PERU (]993)
Til.. I: De la Persona y de la Sociedad. Cap. 1: DerechosFundamentales de la Persona.
Art. 2: Toda personauene derecho: [ .. 1
19." A su ldentidad etnlca y cultural. El Estadn reconoce y protege la pluralidad etnica y cultural de Ia Naci6n.
Tit.II: Del Estado y la Naci6n. Cap. I: Del Estado, la Naci6n y el Territorio Art. 48: Son idlomas oficiales el castellano y, en las zonas donde predorninen, tamblen 10 son el quechuu, el aimara y las dernas lenguas aborigenes, segtin la ley.
T1tJIl: Del Regimen .Economico. Cap. VI: Del Regimen Agrar.io de las Cornunldades Campeslnas y Nativas.
Art.88: EI Estado apoya preferentemente el desarrollo agrario. Garantiza el derecho de propiedad sobre la tierra, en forma privada 0 comunal 0 en cualquier otra forma asociativa. La ley puede fijar los limites y la extension de la tierra segtin las peculiariedades de cad a zona.
Las tierras abandonadas, segun prevision legal, pasan al dominic del Estado para su adjudicaci6n en venta,
Art. 89: Las Comunidades Campesinas y las Nativas tienen existencia legal y son personas [uridicas.
Son aut6nomas en su organlzaci6n, en eJ traba]o comunal y en el uso la Iibre disposicidn de sus tierras, asf como en 10 exenomico y adminlstrativo, dentro del marco que la ley establece. La propiedad de sus tlerras es Imprescriptible, salvo en el case de abandono previsto en el articulo anterior.
El Estado respeta la identidad cultural de las Comunidades Campeslnas y Nativas Til.IV: De la Estructura del Estado. Cap. VIII: DelPoder judicial.
Art. 149: Las autondades de las Comunidades Campesinas y Natlvas, con el apoya de las rondas Campeslnas, pueden ejercer las Iunciones jurisdiccionales dentro de su ambito territorial de conformidad can el derecho consuetudlnarlo, slempre que no violen los derechos fundamentales de la persona. La ley establece las formas de coordtnaclon de dicha ju rlsdlccirin especial con ]05 J uzgados de Paz y can I as dernas instancias del Poder Judicial.
Las auJorid1.\des n~tl;lrales de .iasGQIDULlidades ind[genllS y eampesinas (wMlin n .(]nciooe.s ·!kadminist'ratlo:p ya~Ucaci6Ii\deJ1Qnnas pr(lprlaSl!lqJllo §Btu.cI6n. I de 'coUnltos, en comofm:ldad con sus'~os~~btes If Pf(fced!1tii~l1Ws, que !1:o';:Seancon,ttaria:sa ;8~nt ConstitU0:ltlti:e If:'~ las le.ye~A';t!;i t€y a:tfpllizadi estak funeiones con las atribucioliHl's;.deJasI'oderes des E$tal1ol .
lEGISLACAO
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I'", ACONTECEU
ESTATUTO DO INDIO E REVISAO CONSTITUCIONAL
TEREZA JucA E NOMEADA RELATORA
A deputada Tereza juca (PDS-RR) foi designada relatora da Comissao Especial para a Revisao do Estatuto do Indio, cujos trabalhos devem ser iniciados em fevereiro. Segundo informou a deputada, a Comissao tera como ponto de partida duas propostas que ja tramitam no Congresso Nacional: 0 Projeto de Lei 2057, formulado pelo NDI e assinado pelos deputados Alofzio Mercadante, Fabio Feldman, Jose Carlos Sahdia, Nelson jobim e Sidney de Miguel, e urn projeto do Poder Executivo. Esposa do ex-presidente da Funai, Romero juca, - que salu do 6rgao, durante 0 govemo Sarney, carregando urn processo por ter autorizado exploracao ilegal de madeira em area indfgena -, Tereza Juca disse que espera conclulr os trabalhos da Comissao antes do Infcio da revisao constitucional, marcada para 93. (PIB/CEDI, a partir de Correia B1'tlziliense, 26/01192)
FUNAI, NDI E CIMI DEBATEM PROPOSTAS
A tutela foi 0 ponto central das dtscussoes, ontem, durante a segunda reuniao da Comissao Especial da Camara dos Deputados que ira elaborar 0 novo Estatuto do Indio. Na sessao, prestaram depoirnentos 0 presidente da Funai, Sidney Possuelo, 0 secretarlo-executivo do NDl, Marcio Santilli, e 0 coordenador da AssessoriaJurfdica do Cimi, Paulo Machado Guimaraes,
A necessidade da tutela, definida pelo presidente da Funai como uma "tutela de direito sobre os bens da populacao indfgena", fez cada uma das entidades defender os pontos de vista que nortearam os tres projetos de lei em trarnitacao na Camara, que deverao servir de base para a proposta da comissao. Para a relatora da comissao, deputada Tereza Juca, todas as propostas "tern aspectos interessantes, que merecern ser bern analisados no sentido de conciliar, numa proposta final, os pontos que melhor atendam aos interesses das comunidades indigenas''. (Correia Braziliense, 25/03/92)
CO lAB REUNE 330
LiDERES EM BRASiLIA
Cerca de 330 liderancas indfgenas de todo 0 pafs estao reunidas desde ontem, em Brasflia, discutindo a formulacao de uma nova proposta para 0 Estatuto do Indio, a partir das versoes preparadas pelo Cimi e pelo NDL De acordo com Saba Machineri, integrante
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lEGISlACAO
da Coiab, organizadora do evento, algumas das propostas j a existentes se aproximam dos interesses dos Indios, mas muitos avances precisam ser promovidos. Entre estes avances, estaria 0 detalhamento dos itens ligados it demarcacao das terras indfgenas, exploracao de minerios e garantias dos direitos dos povos indigenas. (Onreio Braziliense e A Critica, 26/04/92)
COIAB APRESENTA SUA PROPOSTA A COMISSAO
A Coiab, apes uma semana de discussoes, apresentou ontem ao presidente da Comissao Especial do Estatuto do lndio, deputado Domingos [uvenil (PMDB-PA), e ao presldente da Comissao de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, deputado Thga Angerami (PSDB-SP), urn documento contendo emendas as propostas para 0 Estatuto que estao tramitando na Camara dos Deputados. De acordo com Orlando Bare, presidente da Coiab, a demarca{:iio das terras e a questao mineral foram as duas gran des preocupacoes dos Indios neste encontro. A reuniao dos fndios resultou ainda na criacao do Conselho de Articull{:3.0 dos Povos lndfgenas do Brasil, composto por 25 Ifderes de todas as regi6es que, segundo Bare, ira acompanhar 0 andamento das discussoes sobre 0 Estatuto do indio na Camara. Orlando disse que a proposta da Coiab contem avancos que certamente iran senstbi lizar os parlamentares. Entre os avances, ele aponta a exigencia de acompanhamento do processo de demarcacao das terras indfgenas pelas liderancas indlgenas, de sua identiflcacao ate a homologacao pel a Presidencla da Republica. Quanto 11 exploracao mineral, os Indios querem que ela nao se]a permitida em terras nao demarcadas ou que estejam em areas de conflito. Eles tambern defendem que ela so deve ocorrer em territ6rios de indios contatados ha pelo menos 50 anos. "Diante disso, achamos que a Constitulcao s6 permiti ra a exploracao em caso de extrema interesse nacional, como ultimo recurso", acentuou. A proposta apresentada pela Coiab contou com a colaboracao do Cimi em sua formulacao. (PIB/CEDI, a partir de Correia Braziliense, 01/05/92)
TUTELA DIVIDE
OPINIOES ENTRE OS iNDIOS
Durante a sessao de ontem no Congresso Nacional, representantes dos Kayapo, Xavante, Xerente e Terena, demonstraram preocupacao em relacao ao encontro de Brasilia e, partlcularmente, com 0 documento entregue pelos representantes da Coiab as comissoes. Ligados a Funai, lfderes xavante e kayapo defenderam a prote~ao do orgao indigenista oficial e disseram que nao aceitavam 0 jogo do Cirni e dos Indios para acabar com a tutela. 0 presidente da Coiab, Orlando Bare, disse que 0 encontro de Brasf-
lia veio para unir os povos indfgenas, e nao para dividi-los. "Iernos representatividade e objetivos concretos e imediatos como liderancas eleitas pelas bases", disse Orlando, lembrando que sempre deixou claro que, no Brasil, apareceram liderancas lndfgenas que se posicionaram em nfvel internacional sem que suas posi~6es fossem dernocratizadas dentro do Brasil. (PIB/CEDI, Correia Braziliense, 01/05192)
cnn DISTRIBUI
NOTA SOBRE 0 ASSUNTO
o Cimi distribuiu nota a imprensa para contestar noticias dando conta de que a entidade teria manipulado 0 Encontro dos Povos e Organlzacoes Indfgenas, realizado em Luziania (GO), para discutir a revisao do Estatuto do fndio. De acordo com a nota, sao falsas as tnformacoes de que a Igre]a Catolica deseja acabar com a tutela constitucional e com a propria Funai.
"Em nenhum momenta 0 Cimi confundiu 0 fim da tutela com 0 fim da protecao aos povos indfgenas ou mesmo da Funai. Se, por urn lado, a tutela e incompatfvel com os preceitos constitucionais, por outro lado, a protecao e uma exlgencta dessa rnesrna Constttuicao". (0 Liberal, 07105/92)
DIREITOS INDiGENAS
DEVEM GERAR EMBATES
o infcio da revisao constitucional, previsto para 6 de outubro, arneaca levar a extremos 0 confronto entre as entidades defensoras dos direitos indfgena e os parlamentares que querem rever os princlpios assegurados pelos artigos 231 e 232 da Constitui~ao. A rnobtltzacao das duas partes, reforcada pela demlncia de massacre dos Yanomami, sera Intenstficada nos pr6ximos dtas com a reahzacao de debates, manilestacoese 0 lancamento de urn lobby no Congresso para atrair 0 voto dos parlamentares indecisos. o senador Cesar Dias (PMDB-RR) previu que a disputa de interesses em torno do Capftulo 8°, referente aos direitos indfgenas, sera mais intensa do que ha cinco anos, na Constltuinte. "0 assunto val ser tratado em pe de guerra", admitlu Dias. 0 trabalho de convencimento das entidades Iigadas ao Forum de Defesa dos Direitos Indfgenas sera reforcado no encontro de representantes dos 200 povos indfgenas, que sera realizado de 14 a 17 deste meso Alem da defesa unanime dos atuais direltos, a manlfestacao pretende cobrar do governo federal 0 cumprimento do artigo 67 das Disposi~6es Transitorias, que obriga a Uniao a conduir a demarcacao das terras indigenas ate a Instalacao da revlsao constitucional. (OES?, 31108/93)
POVOS INDrGENAS NO BRASil 1991/95 . INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
::tt:s~ A·C 0 NT E C E· U ..
iNDIOS VAO A BRASiLIA
k; 300 liderancas indigenas brasileiras que estao reunidas desde ontem em Luziania (GO) van ao Congresso Nacional amanha para dizerum veemente "nao" a revisao constituctonal. Eles querem a manutencao dos artigos 231 e 232, que comp6em 0 Capftulo go da Constitui~ao Federal, e tentam uma audiencia com 0 presidente !tamar Franco para a entrega de urn documento com 200 mil assinaturas de indios de varias partes do mundo pedindo a demarcacao urgente das terras indigenas brasileiras. Foi num clima de ernocao e revolta que caciques de centenas de na~5es Indlgenas abriram 0 encontro nacional que discutira a revlsao constitucional, 0 Estatuto do Indio, a demarcacao e as propostas de altera~ao ou regulamentacao dos artigos 231 e 232 ja existentes no Congresso. David Yanomami falou da violencia contra seu povo e Raoni sobre a trajetortado fndio brasileiro e daforma com que os brancos foram espalhando confusao, "gente que mata outra gente". Segundo 0 cacique, "0 Kayapo aprendeu com branco e, quando ficou mansinho, a branco vern tirar 0 mato, a terra eo rio do Kayapo". (Correia Braziliense, 15109193)
iNDIOS ENTREGAM CARTA A CAMARA
"Coroado" com urn cocar de penas de arara e cercado por todos os Iados, 0 presidente da Camara, Inocencio de Oliveira, garantiu on tern a dezenas de liderancas indtgenas que a revisao constitucional, se realmente acontecer, nao mexera nos seus direitos, assegurados pela Constltulcao de 1988. "Senhores caciques, fiquem tranquilos que a casa do povo estara atenta a todos os problemas do povo brasilelro", aflrmou depois de receber das maos do Macuxi Valdir Tobias a copia de urn documento repudiando a revisao constitucional e pedindo a aceleracao da demarcacao das terras indfgenas.
Antes de levar 0 documento ao presidente da Camara' os chefes indfgenas se reuniram no auditorio Nereu Ramos, onde receberam, com resiri~6es, 0 novo presidente da Funai, Dinarte Nobre de Madeiroo "Estamos recebendo aqui 0 presidente da Funai que dlz que representa os Indtos, mas nao faz nada por nos", rec1amou urn lfder xavante.
A reuniao terminou apos urn irado discurso do cacique Raoni, que gritou para osparlamentares presentes ao encontro que "a vida de voces e muito complicada, a vida de voces e muito ruirn, voces estao matando meu povo", antes de sair e reclamar:
"Branco ti pensando que Indio e burro". (Estada de Minas, 17109193)
MAIO RIA NO CONGRESSO ACHA QUE "RA MUITA TERRA PARA POVCO INDIO"
A maioria dos parlamentares do Congresso Nacional quer diminuir a extensao das Als. Segundo pesquisa do Datafolha, 47% dos congressistas van defender essa postcao easo 0 tema sera discutido na revisao constttucional, Apenas 1 % dos parlamentares acha que as reservas dos indios devem ser aumentadas e 29% querem mante-las nas atuais dimensoes. Duas outras propostas nao conseguiram grande apoio: 7% aereditam que carla caso deve ser discutido separadamente e 5% pretendem redimensionar as areas de acordo com a populacao indfgena do local.
A Constituicao determina, no artigo 67 das Disposi\;oes Transitorias, que a Uniao deve acabar de demarcar essas terras ate 0 proximo dia 5 de outubro. o proprio ministro da] ustica, Mauricio Correa, j a dlsse que isso e impossfvel, Na revisao, varies lobbies devem atuar para altera-lo,
A dimlnuicao das reservas e defendida pelos governos dos estados da Amazonia, de Roraima e do Para e pelos garimpeiros. 0 argumento principal e de que hi muita terra para poueo Indio. Antropologos e entidades como a Funai dizern. que as reservas tern o tamanho necessarlo para evitar a aculturacao forcada, AMm disso, os indios teriam urn direito historico sobre as terras que ocupam. (FSP, 04110193)
T~TELA E DEMARCA<;AO NA MIRA DA BANCADA DO NORTE
Urn grupo de parlamentares composto principalmente por deputados da Amazonia - a chamada "bancada do Norte" - vern pressionando 0 relator da revisao constitucional, deputado Nelson ]obim (PMDB-RS), para que ele inclua na agenda mfnirna de vota~ao urn paeote de emendas sobre a questao indfgena. Elaborada pelo deputado Nicias Ribeiro (PMDB-PA), uma das principais propostas do pacote e rever 0 tamanho das Als, 0 que pode reduzir 0 territorio dos Yanomami.
Pelas emendas propostas, os Indios aculturados deixariam de ser tutelados pelo govemo, passando a responder civil e criminalmente por seus atos. AMm disso, as reservas indfgenas seriam transformadas em reservas florestais, sendo vedada qualquer exploracao comercial de seus recursos naturals, 0 pacote tambem retira da Uniao a competencia de legislar sobre fndios, transferindo para 0 Congresso Nacional a decisao de aprovar os limites e 0 tamanho dos territorios indigenas, homologar a demarc~ao das tetras e autorizar a exploracao e 0 aproveitamento dos recursos hidricos e minerais existentes nessas areas.
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Uma das emendas do deputado paraense assegura aos estados e municfpios 0 direito de participarem efetivamente dos processos demarcatorios das terras indigenas Iocalizadas em seus territorios, Outra, estabeleceo prazo de tres anos, apes a revtsao, para que todas as terras sejam demarcadas e que, nesse perfodo, os est ados e municfpios possam requerer a Uniao a revisao das demarcadies desses territories, podendo solicitar, Inclusive, a reducao das areas destinadas aos fndios.
o deputado Nicias Ribeiro garante que as propostas refletem as relvindicacoes da maioria dos habitantes, dos governantes e dos parlamentares da Amazonia, os quais admitem que os fndios tern direitos, mas nao aprovariam os "privilegios e beneffcios exagerados que os constituintes de 1988 teriam concedido as populacoes indfgenas". (Correia Braziliense, 20101194)
MILITARES NAO
QUEREM AIS NA FRONTEIRA
o receio de uma tntemacionahzacao da Amazonia em nome de teses como "soberania restrita'', "dever de ingerencia'' au "ajuda humanitarian, utilizando-se de Als na faixa de fronteira, levou os militares a proporem uma nova redacao ao artigo 231 da Constitui~ao Federal, referente ao capitulo "Dos Indios". Reconhecendo os direitos originarios dos Indios sabre as terras que tradicionalmente ocupam, as Forcas Armadas abriram a exce~ao, contudo, "para as que se encontrarem em faixa de fronteira'', E justificaram: "os povos indfgenas nao possuem nogao do que sej a frontelra em relacao aos direitos originarios sobre as terras tradicionalmente ocupadas pelos fndios, as quais sao insuceptfveis ao poder de imperio do Estado". A modificacao proposta, segundo a emenda que traz a marca do senador Irapuan Costa] unior (PMDB-GO), e exatamente para evitar que no futuro surjam "enclaves, zonas de exclusao etc, como ocorreu nas areas ocupadas pelos Yanomami, on de interesses externos podem vir a advogar as teses de soberania limitada ou restrita, dever de ingerencla ou ajuda humanitaria", escreveram os titulares da emenda.
Tambem no interesse da "seguranca nacional" poderao se proceder ao aproveitamento dos recursos hfdricos, inelufdos os potenciais energeticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em Als, "inelusive na Iaixa de fronteira". E assirn I rapuan Costa JUnior se [ustificou: "As Forcas Armadas e necessario 0 permlssivo legal, a Ilm de que possam cumprirsua missao constitucional nas referidas areas e na faixa de fronteira" .
AMm de maior domfnio sobre a faixa de fronteira, os rnilitares estao reivindicando que no Capitulo referente aos "bens da Uniao" se incluam as terras devolutas "indlspensavets ao treinamento militar".
LEGISlA~Ao
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;S$f~A'A C6'N T .IE C EW . . .... '.·c,
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LUTA PELOS DfREITOS fNDtGENAS PERDE SEVERO GOMES
A morte do senador e ex-minisiro Seuero Gomes deve difu:ultar a luta peos dirlfitos dos POl!OS indigenas, jd que ele era 0 mats importarue articulador da causa no Congresso Nacionat. Segundn 0 secretdrio-execu/ivo dIJ NDI, Mdt·cio Santilli, 0 senador era "0 homem que cosiuraria as propostas do NDt dentro do PMDB". Para de, sem 0 apoio do PMDB no Congresso, as reivindica¢es dos indios correm 0 risco de nao se tornarem lei.
A Jalta de Severo Gomes serd s(mtitia sobreludo em 1993, quando acontecer a revisiio consmuclonal, acredua 0 assessor JUTidlcD do Cimi, Felisberto Damasceno. a aumenio da bcmcada de representantes da l'egifio Norte no Congresso, eonstituida ern sua maioria por politicos amtrdnos a causa indigena agrava a perda de Severo Gomes e ameac« os dirmtos obtfc/os na Constitui~iio de 88. (PIB/CEDI, a partir de jornal do Comrnercio, 16110/92)
Com isso resguardam de alienacao os campos de Instrucao e treinarnento espalhados pelos estados e que fazem das Porcas Armadas um dos grandes latifundiarins do pafs. 001'nal de B1'aStlia, 25112193)
GLOBO VOLTA A ATACAR.,.
o deputado Euler Ribeiro (PJVIDB-AM) fez urn apelo ao presidente Hamar Franco para que se constitua, em carater emergencial, Lim GT composto por "setvidores de alta qualficacao" da SAE, PF, DNPM e Funai para apurar a denuncla veiculada pelo lorna! National, da Rede Globo, na noite de 5 de janeiro corrente. Segundo a reportagem, 0 processo de dernarcacao das Als estaria sendo feito sernpre com a presenca de um antropelogo ou mlssionario estrangeiro que estaria recornendando 0 superdtmensionamento das areas a serern demarcadas pela Funai (ver capitulo Solimoes). Para 0 [ornal Nacional,isso estaria "rnantendo maprovettsvets" pelo pais as imensas riquezas rninerais existentes no subsola amazonico, A reportagem recupera a memoria a arnpla campanha de difamacao patrocinada por [ornais do pais interessados em nao permitir a aprova<;:ao do capitu 10 "Dos Indios" que tram.tava pela Constituinte.
Tiinel do tempo - Naquela ocasiao, a Assembleia Constituinte estava instalada e a proposta sabre os direilos indigenas trarnitava com grandes chances de ser aprovada na integra. Repentinamente, 0 jornal 0 £StMO de S.Paulo Iancou uma semana de reportagens, sob 0 nome de "Os Indios na nova COllS-
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LEGISLACAo
tltuicao", [las quais denunciava urna conspiracao lutemacional contra. a soberania do pais. Os agentes da armas;ao seriam exatarnente aqoeles que vinham trabalhando em favor dos Indios no processo Constituinte: religiosos, prlncipalmente 0 Cimi, e ONGs, Outros diaries comoA Critica, de Manaus, 0 Glaba e Correia Braziliense entraram no vacuo da campanha e multiplicaram as aeusacoes contra as entidades. Em setembro, foi instalada uma Cl'I para averiguar 0 case e, ap6s desvendar rapidamente as falsrrlcagoes dos docurnentos que sustentavam as denuncias, as investiga~6es forarn paralisadas sern apontarresponsdveis. (PIBICEDI, a partir deA CrItica, 08101194)
RICUPERO CONTESTA DENUNCIAS
o rninlstro do Meio Ambiente, Rubens Rictipero, afirmou ontern, num duro discurso na Frente ParI amentar da Amazonia do Congresso, que consldera lima "falacia" a. derui nd a de que ademarcacaodas terras indlgenas esteja sendo patrocinada por interesses estrange ros com 0 apoio de religlosos que atuam nas areas, a fim de impedir a exploracao das reservas minerals da regiao. 0 ministro, diante da insistencla dos parlamentares para que providencias fossern tomadas sobre 0 assunto, lembrou que a Constitui~ao hoje permite a exploracao de mmerios na regiao e cobrou do Congresso a aprovacao de uma lei que regulamente a lavra a a exploracao mineral na Amazoni a, lnclusi ve em Als. "Na inexistencia da lei, prosperam 0 clandestino e 0 ilegal", disse,
Riciipero disse que consldera ridfculo falar em campanha de Intemaclonaltzacao da Amazonia e afirmou que 0 pais deveria se preocupar mais em canalizar recursos externos para financiar grandes projetos ambientais na regiao. Segundo urn assessor do rninistrn, Riciipero sabe da existencia de lobbies poderosos atuando neste Infcin de revisao constitucional dispostos a dlficultar a dernarcacao das Als. Uma das propostas apresentadas estabelece que cada demarcacao teri a que passar pelo Congresso, tirando a autonomia da Funai. "0 processo ficaria tao burocrati zado que a demarcacao de Als seria obstrufda etemamente", disse,
Ao cobrar uma lei que regulamente 0 usa das terras indigenas, Riciipero deu urna ideia do que gostaria de ver aprovado. 0 rninistro disse que ao autorizar 0 pedido de lavra em terras lndigenas a empresa que se qualificasse deveria fiear obngada a remunerar a comunidade com urn percentual dos lucros e investir em proietos socials na area. "Para sobrevlver, as comunidades tndigenas necessi.tam receber urn retorno das riquezas que tenharn em suas terras". Para o rninistro, todo 0 processo deveria ser fiscallzado pelo Mlnisterio Piibllco. (Correio Braziiiense, 27101194)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTD SOCIOAMBIENTAL
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POlEMICA JAGUARIBE
OBLfQuo CONCEITO DE CIDADANIA
o soclelogo Helie jaguaribe, militante do PSDB e ex-minlstro do governo Collor, disse ontem que a solucao para os problemas indigenas e 0 aculturamento dos indios. Ele disse que e preciso "acabar com 0 Indio" ale a ana 2000 e promover a sua integracao mediante escolarfzacac. Segundo ele:
"Nao vai haver indio no seculo 21. A ideia de congelar 0 homem no estado primario dasua evolucao e, na verdade, cruel e hip6crita". jaguaribe foi muito aplaudido pela plateia de 30 generais e dezenas de coronets do Exercito presentes no seminarlo "Polftica educacional para 0 Exerclto: ana 2000", que se realizava no Quartel General do Exercito, em Brasilia. Ao criticar as ONGs que desenvolvem trabalhos, dentro e fora do pais, com as comunidades indigenas, 0 ex-ministro da Ciencia e Tecnologia dlsse que: "0 mundo se preocupa com 200 mil indios e se esquece de 30 milhoes de favelados". Jaguaribe classificou como "uma gigantesca impostura" e "urn embuste" a proposta de urn grupo de estudo da ONU em conceder independencia polftica as na¢€s indigenas. Para 0 chefe do Estado Maior do Exercito, Benedito Onofre Bezerra Leonel, 0 aculturamento dos povos indigenas e "urn fatalismo socioI6gico". [aguaribe disse ainda que 0 Brasil "e rnais qualificado para discutlr a questao indigena que os Estados U nidos, pais estes assassinaram seus indios. Para 0 cientista politico, e preciso criar escolas em areas indfgenas para que "os indios tenham direito de se tornar cidadaos brasilelros". (F!JP eO Globo, 30108194)
REA~6ES
"As declaracoes do sr. Helio jaguanbe constituem urn exemplo cabal da crise moral e intelectual que assola este pais. Urn cientista politico renomado, supostamente social-democrats, que se transformaem boneco de ventrfloquo de concepcoes nazistas". Marcio Santilli e Beto Ricardo, secretarios-executivos do Instituto Socioambiental. (FSP, 31108194) "Ao propor 0 flrn dos Indios ate 0 ano 2000, 0 professor Hello Jaguaribe ressuscita as velhas teses etnocidas do ex-ministro Rangel Reis, que serviu a ditadura militar. 0 Cimi consideraparticularmente grave 0 fato de a afirmacao ser feita durante 0 processo eleitoral por urna pessoa vinculada a candidatura de Fernando Henrique Cardoso". Guenter Francisco Loebens, secretano-executt vo do Cimi. (FSP, 31108194)
"Como membro de uma comunidade mdigena que sabe ler, escrever e que continua Indio, quero sugerir ao professor jaguaribe e aos oficiais que 0 aplau-
diram que coloquem seus ouvidos no chao e tentem escutar os lamentos e os choros e sentir 0 cheiro de sangue derramado na Bosnia e Africa entre povos irrnaos, onde 0 simples fato de serem diferentes os tern levado a morte e a destruicao, justificados po urn pensamento identico: a limpeza etnica!". Marcos Terena. (FSP, 31108194)
"0 fato de ele ser do meu partido nao implica que 0 partido 0 apole. Achamos que e muito importante a preservacao das terras e da cultura indfgena". Fernando Henrique Cardoso. (FSP, 31108194)
"Eu nao tenho nem resposta para definir isso. Urn cientista do quilate do Helin ... fiquei horrorizado. AfinaI, temos uma Constituicao". Dinarte Nobre de Madeiro. (Correia Braziliense, 31108194)
"Colocar, a servico dessa tesedesumana, 0 dlscurso da ciencia na voz de urn poltttcologo e urn dos matores absurdos de que live notfcia". Darcy Ribeiro. (FSP, 01109194)
"NOs, parte do povo Krenak do Rio Doce, Minas Gerais, ha 30 anos vivendo ern Tupa (sr) , num exilic forcado pelo governo, nos preocupamos com as declaracoes do sr. Helio J aguaribe. Durante todo este seculo, nao so mente ouvimos a mesma coisa, como nosso povo experimentou os sofrimentos e humilhw;:iies de polftlcas que seguiram tais preceitos". Joan Batista O. Borum Him, Helena Cecflio D. Nomiak, Maria C. Damascene Iepo e Lucileia C. Damasceno Trumaent. (FSP, 01109194)
"Em relacao ao espantalho brandido pelo professor Helie jaguaribe, em apoio a suas lamentaveis teses, esclarecemos que a Declaracao dos Direitos dos Povos Indfgenas, da Subcomissao pela Prevencao da Discrimlnacao e Protecao das Minorias, da Comissao de Direitos Humanos da ONU (que alias esta ainda em rascunho) nao e uma resolucao, Como 0 nome indica, e uma declaracao, ou seja, urn instrumento sem poder legal de obrigar os Estados ou a comunidade international. As declaracoes de instancias internacionais jamais poderiam justificar intervencoes ou movimentos separatistas. Se declara~6es tivessem algum poder, as que Hello Jaguaribe cometeu teriam funestas consequenclas". Manuela Carneiro da Cunha, coordenadorado Niicleo de Histona Indigena/USp, Fernando Millan, diretor da Comissao Teot6nio Vilela e Paulo Sergto Pinheiro, coordenador do Niicleo de Estudos da ViolenciaiUSP' (FSP, 01109194)
"Sao estarrecedoras as declaraeoes atribuidas ao cientista politico Helio [aguaribe. A sfirmacao de que 'nao vai haver indio no seculo 21' nao parece de modo algum corresponder a urn jUlZO de urn homem de ciencia, mas somente a urn gratuito e perigoso exercicio de futurologia. Ou, pior ainda, alimenta uma suspeita de que ali 0 autor estaria
POVOS INOIGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIQAMBIENTAL
tao-somente expressando suas convic~5es pessoais (e altamente questionaveis em terrnos eticos)". Joao Pacheco de Oliveira, presidente da ABA. (FSP, 03109194)
"0 professor H€!ioJaguaribe desconhece a propria legtslacao do seu pais, propondo a integracao dos Indios, 0 que, de fato, significa a assimilacao das culturas indtgenas, atraves de urn processo de dissolucao dos povos indigenas na sociedade nacional, sem qualquer respeito para com sua cultura e espeeificidade etnica, Em resumo, afirmando que e preciso acabar com os indios ate 0 ano 2000, 0 cientista politico esta propondo urn etnocidio". Sebastiao Manchinery, coordenador-geral da Coiab. (0 Liberal, 03109194)
"Os Indios tambern esperam extinguir 0 Helio J aguaribe ate 0 ano 2000". Eduardo Viveiros de Castro, antropologo do Museu NacionaVUFRJ e vicepresidente do Instituto Socioambiental. (Tribuna da Imprensa, 05109194)
"Apesar de tudo, Hello [aguaribe e urn intelectual. E, portanto, deveria saber quao esdnixula e a "teoria evolutiva" segundo a qual a nossa 'clvilizacao' e urn estagio mais avancado da organizacao humana, ao qual 'os pobres fndios' deverlam ter 0 'direito' de chegar. Alias, nao e preciso nem ser intelectual para saber que as coisas nao sao tao simplistas assim. Bastam born senso e sensibilidade para concluir que a nossa dita civiliza~ao, se atingiu urn patamar ihegavelmente impressionante de sofisticacao tecnol6gica e de consumo, torna esse avanco disponfvel para poueos a custa de multo sofrimento humano, violencia - muitas vezes tarnbem sofisticada e disfareada - e destruicao arnbiental. Portanto, e preciso muita cara de pau para afirrnar que a sociedade industrial e qualitattvarnente superior a dos Indios". Fabio Feldmann, deputado federal pelo PSDB e presldente da Funda~ao Nacional de A~ao Ecologica, (FSP, 08109194)
"De acordo com editorials recentes, parece que alguns brasileiros se ressentem da preocupacao dos Estados Unidos com os povos indfgenas da Amazonia. Urn proeminente soci61ogo foi citado se referindo a 'exterminacao' dos Indios nos EUA, sugerindo que, assim sendo, nao temos 0 diretto de comentar sobre a situacao no Brasil. Gostaria de salien tar que hoje existem 1,5 milhao de indios nos Estados Unidos ( ... )
Nao estamos orgulhosos do modo como os indios foram tratados ao longo da historia de nosso pais e sabemos que multas injusticas foram cometidas, mas temos nos empenhado firmemente nos ultlmos anos para corrigir os erros do passado. ( ... )
Muito embora nossos Indios gozem de uma certa independencia, os Estados Unidos nao encorajarn estados autonomos em seu proprio territorio, nem
LEGISLACiiO
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, .
~:s'.t AC 0 N:T E ca U
TERM/NA A REV/SAO CONST/TUC/ONAL
Na ultima terca-fetra, 31 de maio, esgotou-se 0 prazo regimental para realiza¢o da revisiio constitucional. Marcada para comecar em 6 de outubro do ana passado, a revisiio acaba com um saldo ridiculo de sets emendas it Constitui¢oapmvadas, entre as quais se destacam a que reduziu 0 mandato presidencial para quatro anos e criou a Pundo Social de Emergencia. Dezessete mil emendas foram propostas.
Falta de quorum, divergencias, ausencia de vontade po[{tica, proximidade das eleir;oes e obstru¢o dos "contras" sao as razoes apontadas para o fracasso da revisiio. Nos altimos dias do prazo, liderancas partiddrias ainda tentaram chegar a utn acordo sobre a traniferencia da reoisio para
o prOximo ano, sem sucesso. Futuras mudancas na Constitui¢o dependerao de emendas apresentadas por no mfnima um terco dos deputados au dos senadores, e aprouadas por 315 (60%) dos deputados e dos senadores. separadamente, em dais turnos de vota¢o.
Hd dispositivos da Constituir;iio que precisam, mesmc, ser modificados. Porem, e sdbio 0 criterio de se exigir quorum elevado para se emendar a Constituir;ao. Deve-se procurer um ample consenso entre as jorgas poliucas e os setores sociais interessados em cada questiio. A Constitui¢o constitui um pacto entre todos os brasileirose nito pede ser modfftcada atraves de um rolo compressor imposto por segmentos isolados, ainda que
poderosos. Quanto a revisiio que se extingue, as elites cometeram este erro e ameacam os direitos de vdrios outros segmentos, na esperanca frustrada de que poderiam valer-se de um quorum mais reduzido para impor os seus interesses.
o fracasso da revisiio consolida os direitos constitucionais dos fndios. Contfnuariio as tentativas de emendar a Constitui¢a para restringir esses direitos, mas estas iniciativas s6 terao exito se os fndios se deixarem isolar polittcamente e cometerem erros que possam ser explorados por seus inimigos. No entanto, 0 movimento ind{gena deve manter-se sempre atento as propos/as de emendas que aparecam futuramente. (Mircio Santilli, junl94)
nunca defenderam tal polftica para 0 Brasil". Melvin Levitsky, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. (Correia Braziiiense, 10109194)
OS INDIOS DO JAGUARIBE, OS TREMEMBE E OS TAPEBA
OS fndios do jaguaribe passaram pelo processo que o cientista polftico homonimo afirma ser uma lei Inelutavel da htstona E como os outros fndios do Ceara, fornecem urn desmentido a sua afirmacao. Em todos esses casos, nao foi a marcha inelutavel do progresso quem venceu os Indios, Foi a mesquinha e gananeiosa polftica de conquista. As etapas nao foram abstratas com a selecao natural favorecendo a civiliza~ao ocidental. Esse esquema universal invocado porlieltcjaguartbe e na realidade uma pseudo-hlstoria, associ ada a dois antropologos materialistas norte-americanos: Morgan e, mats recentemente, Leslie White. Foi construida inicialmente pela antropologia da Inglaterra vitoriana e [ustificou, com a aparencia de ciencia, a expansao imperialista que se estabeleceu no globo a partir de 1870. o charnado progresso fundamentou 0 usa da forea para invadir povos e destruir civiliz~6es. Na verdade, a hist6ria real" ao contrario do esquema universal- e feita de caminhos especials, de processos paralelos e divergentes.
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LEGISLACAO
Dos indios do Ceara, a histona e a seguinte: atacados no final do seculo 17 pelos mercenaries paulistas, por estarem resistindo aocupacao de suas terras, eles acabam procurando refugio nos aldeamentos. E a celebre "Guerrados Barbaros", que agitou 0 Nordeste. "Ajustada a paz com a na<;ao do gentio Payacu", reza uma carta de 1696, povoa-se a ribeira de Jaguaribe. Isla porque os aldeamentos eram formas de se reduzirem os territories tradicionais: a cada urn desses aldeamentos, verdadeiros campos de refugiados, davarn-se terras, em geral uma leguaern quadra. Isso feito, povoava-se a regiiio que se acabara de "desinfestar" (os terrnos sao literais) e impunha-se 0 trabalho compuls6rio aos Indios, Querendo apoio real para destruir aos Indies rebeldes do Jaguaribe, a Camara de Aquiras, em 1704, escrevia ao rei de Portugal nestes termos: "missoes com estes barbaros sao escusadas, porque de humano s6 tern a forma, e quem disser outra coisa e engano conhecido". Sao eeos do Jaguaribe e eada epoca tern sua llnguagem.
Os Tremernbe e os Tapeba do Ceara passaram por experiencias semelhantes. Celebrada a paz com os Trernembe, foram aide ados em Almofala e receberam uma legua em quadra de terra. Os Tapeba, nome que reeobre urn conjunto de remanescentes de grupos liquidados, foram aldeados em Caueaia, que ficou a cargo dos jesuftas. Em 1759, as aldeias
passaram a vilas e teve infeio uma polfuca de assimilacao cultural e de rniscigenacao preconizada pelo Marques de Pombal. E urn seculo mais tarde, 0 Ceara inaugurou uma polftica de grande sucesso: a de declarar os fndios extintos, ao arrepio de todos os fatos, e Iiberar assim suas terras.
Hoje, depois de 300 anos de derrotas, os Tremernbe e Tapeba ainda existem e ainda resistem nos mesmos locais em que foram aide ados no fim do seculo 17. As suas terras, jii entao diminutas, estao invadidas. Seus invasores, alguns muito poderosos, tentam por todos os meios impedir a demarcacao das terras dos fndios, como manda a Constituicao, Alegam tese que, como Dalmo Dallari ja provou, nao se sustenta: que nao se podem demarcar twas que estao em litfgio judicial.
A decisao agora e polftica e a palavra esta com 0 govemo federal. Sao dectsoes como esta, e nao a marcha da evolucao humana, que tracam 0 destine das populacoes indfgenas. (Manuela Carneiro cia CUnbaiFSp, 21110194)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
rAcervo
-/1\\ I SA
,
U A FUNAI E UMA MORTA-VIVA QUE
,
CONTINUARA PAIRANDO SOBRE
, ,
A POLITICA INDIGENISTA ATE QUE
HAJA ALTERNATIVAS CONSISTENTES"
Edi!1ao Beto Ricardo/ISA
NOMEADO POR FHG EM
SETEMBRO DE 95, MARCIO SANTILLI DUROU NA PRESIDENCIA DA FUNAI APENAS SElS MESES. EX-DEPUTADO FEDERAL E DIRIGENTE DE ONGS,
A NOMEACAO DE SANTILLI ROMPEU GOM A TRADICAO REPUBLICANA
DE TER MILITARES E INDIGENISTAS DE CARREIRA NO GOMANDO 00 ORGAo. EM DUAS ENTREVISTAS GONCEDIDAS AO ISA (EM 10/11/95
E 12/03/96), RESUMIDAS A SEGUIR, SANTILLI REVELA OS BASTIDORES DA FUNAI E AS IMPOSSIBILIDADES DE REFORMA-LA.
P - Qual a situa~ao orcamentaria que voce encentrou ao assurnir 0 cargo?
R - 0 orcamento e uma lei votada pelo Congresso e uma peca de fic~ao, porque 0 montante aprovado e maior do que a capacidade de arrecadacao do governo. Trata-se de urn parametro restritivo: nao se pode ultrapassa-lo, mas tambem ninguem 0 atinge na pratica.
Ele e supostamente elaborado de baixo para cirna, As propostas de orcamento enviadas por eada orgao sao eortadas e, depots que entram para 0 orcamento propriamente dito, sao novamente eortadas na execucao. 0 processo de Iormulacao da proposta de orcarnento enviada pel a Funai e absolutamente primario e cadtico: a presidencia do orgao pede informacces, que vern das Administracoes Regionais e dos Departamentos. Ela junta tudo num pacote, faz urn offcio
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POLiTICA INDIGENISTA
e manda para eima. Nao hi mstancia que analise e sistematize as informacoes, com parametres apropriados. E uma somatoria de reivindicacoes superfaturadas que vern da base. Chega as instancias superiores do governo uma rnacaroca de mimeros e rubrieas, sem urn plano de trabalho que se articule com as propostas orcamentarias. Se houvesse urn plano, ele seria absolutamente esquizofrenico porque nao hi consistencia entre valores e populacao atendida por unidade administrativa, por exemplo. Nesse quadro e que se elabora o choror6 interno da Funai.
A proposta orcarnentarta elaborada nesse modelo pela Funai para 1996 e de cerca de R$ 400 milhoes para custeio, isto e fora 0 pessoal, que e congelado e liberado diretamente pelo Ministerio da Administracao. Desses R$ 400 milhoes, chegaram ao Congresso R$ 74 milhoes, ou se]a 15% do que foi solicitado. Na diferenca entre os dois mirneros se faz 0 chororo. em Deus aprovaria a proposta orcarnentaria da Funai se a analisasse por urn segundo. Eu mesmo peguei 0 orcamento quando assumi a Funai, bati 0 olho e encontrei um erro de R$ 200 milhoes, fruto de urn caculo errado do valor de uma Indenizacao. Por af se pode ter uma ideia da credebilidade da institul~ii.o nos escaloes superiores do governo. Como a falta de credibilidade da Funai e cronica, ja no ambito do Ministerlo da [ustica se faz urn outro orcamento, antes de enviar para eima. Estimam urn valor por rubrica - exceto 0 pessoaJ - baseado nos gastos do ana anterior. Por exemplo, em 95 a Funai gastaria, se funcionasse, R$ 62 milhoes (fora pessoal). Entao, para 96, botaram R$ 74 milhoes - que e menos do que R$ 62, caleulada a inflacao - e aeham que e muito. Se voce olhar esse valor do ponto de vista de demanda indfgena, e poueo, mas considerando a capacidade efetiva da Funai de funeionar e gas tar, e multo.
Do valor finalmente aprovado ha uma parte que e contingeneiada, isto e, congelada. 0 corte OU nao desses recurs os depende da execuc;ao orcamentaria e de negoclacao politica. Em 95, os valores de custeio do quarto trirnestre estavam eontigenciados. 0 governo baixou resolucao cortando todos os recursos de custeio de orgaos federais contingenciados para 0 quarto trimestre, para fazer caixa e pagar a
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991/95· INSTITUTO SOCIOAM81ENTAL
----folhad funeionaUsmo. Resumindo: pede-se R$ 400, 0 governo aprova R$ 62 e contigencia 25%. 0 Planejamento vai liberando mes a mes 0 orcamento que se pode gastar Mas iS80 e uma mera carta de credito que 0 governo da aos orgaos. 0 dinheiro mesmo vern sempre muito atras da liberacao do orcamento. Ate setembro, quando assumi a Funai, 0 que havia sido efetivamente Iiberado somava R$ 22 milhoes, ou seja 35% Iiberado no final do terceiro trimestrel 0 repasse dos recursos e feitO de dez em dez dias, Em 95, a media de repasses para a Funai nos tres primeiros trtmestres, a cada dez dias, foi de R$ 500 mil. Para um orgao como a Funai, esses R$ 500 mil funcionam como uma gota numa chapa quente. Bateu, evaporou no ato. E insuficiente para pagar aquila que a Funai empenha e empenha mal. Tendo credito orcamentario, a Funal abre licitacao e, quando os reeursos sao liberados, paga. Quando assumi a Funai, tinha R$ 6,4 milhoes em dfvidas, isto e, 0 orcamento empenhado aguardando liberacao de reeursos.
P - Qual 0 perfil dessa divida?
_.
R - Cerea de R$ 500 mil sao da sede em Bra-
sflia e 0 restante, das ADRs. 0 maior buraeo negro e a ADR de Redencao, no Pari, que atende aos Kayapd, Hoje, essa ADR tern R$ 1,l milhao de dfvidas sem cobertura orcamentiria! Tudo e uma sangria desatada. Iudo e superfaturado. Como a Funai nao tem eredibilidade na praca, tude e cobrado a mais. E a divida sempre aumenta .. 0 tramite e hierarquizado. A Funai conversa com 0 MJ, que conversa com a Fazenda au a Planejamento, conforme do easo. Nesse esquema, a Funai nunea tem aeesso dire to a quem decide sobre as recursos. Via de regra, os pleitos da Funai sao encaminhados par via burocra-
tica, atraves de offcios, ao MJ. No inicio da
minha administracao, eu expressei ao MJ meu desejo de falar diretamente com a presidente sabre reeursos para a.Funai, mas acahei aceitando a intermediacao, Fui informado posteriormente do resultado da negociacao do MJ com a MF: triplicar 0 valor da verba de eusteio a cada dez dias, Isto e, R$ 1,5 rnilhao. 1S50 de fato oeorreu na libera~ao seguinte, masdepois 0 patamar voltou aos R$ 500 mil. Ou seja, os acordos dos Ministerios com a area economica nao duram rnais do que dez dias (risos). E a dfvlda vai aumentando. Ai, pedi ajuda ao presidente FHC que viabilizou 0 meu acesso ao Planejamento e ao Tesouro. No dia seguinte, a Funai recebeu R$ 4 milhoes, dos R$ 6,5 que eu havia pedido. Foram liberados R$ 5 milh5es e, quando esses recursos passaram pelo M], R$ 1 milhao foi destinado a outros fins, segundo 0 M] para repor igual quantia liberada na negociacao anterior. Eu havia pedido R$ 40 rnilhoes para fechar 0 ano. 0 sr Murilo Portugal, queesta no Tesouro hi sets anos, me disse que as pretensoes da Funai eram totalmente inviaveis : R$ 6 milhdes a cada dez dias quando se repassa R$ 4,5 para 0 MJ por mesl Comentou a tragedia nacional e fez a conta: quanta 0 governo arrecada, despesas cor-
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMSIENTAL
rentes (divida extern a, previdtncia, etc). Resulta que sobram R$ 260 milh5es par mes, que sao os reeursos para 0 custeio da a~ao dos Ministerios, dos quais 0 MJ tern R$ 4,5 milhoes, Ou se]a, a liberacao dos R$ 4 milhoes para a Funal foi inedita, Agora, 0 problema e que 0 parametro que 0 governo tern para liberar recurs os para a Funai e baixo, porque esse orgao tern duas difieuldades crdnicas para executar 0 seu orcamento: das suas 48 unidades (ADRs) existentes, 22 estao fora do Sistema de Ioformacao e Controle Financeiro (SlAP). lS80 significa que os gastos feitos por essas unidades levam um tempo enorme para cair no sistema. Entao, quando se eonsulta 0 Sistema, eonsta que a. Funai tem caixa, porque os recursos ja gastos eletivamente nao aparecem_ Via de regra, a Funai ja gastou rnuito mais do que aparece no sistema, mas boa parte das comprovacoes dos empenhos ainda nao consta.
p- Saldada uma divida na ponta do sistema, uma outra comeca a ser contraida. Quais os criterios da Funai para definir os precos a pagar? Hi poucos dias, 0 dire tor de Administracao da Funai em BSB estava as voltas com urn problema curioso: definir a
diaria a ser paga para as Xavante quando eles estao na capital federal. Os caciques queriam R$ 250,00 e as Xavante "comuns", R$ 150,00 par dia. Ai recorreuse a uma tabela qualquer para definir que deveria se pagar R$ 68,00.
fa a Funai, '. mil a cada
'. iuncionem 'gota numa teo Bateu, uno ato!
R- Naohi criterios, Faz parte do jogo empenhar, abrir a divida, para poder liberar recursos, Da Lei de Diretrizes Orcamentarias para 1996 nao constam rubrieas que pennitam, por exemplo, receber doacoes, seja de dentro ou de fora do Pais. Ha outros recursos aos quais se pode ter acesso fora do orcamen-
to da Funai. Por exemplo, os do PP-G7 estao no orcamento do Ministerio do Meio Ambiente. Sao cerca de R$ 20 milhoes. Quando fui falar com 0 secretario do Tesouro, levei a seguinte conta: R$ 6,4 de dividas, mais R$ 3 milhoes para pagar indenizacoes - 0 que nao e possivel empenhar, pois somente com 0 dinheiro na mao e que se pode pagar para que os intrusos saiam de terras indigenas -; rnais recursos para comprar cornputadores e treinar pessoal para enquadrar as 22 unidades administrativas de base ao sistema de eontrole financeiro on line, etc. Esgotado 0 argumento concreto, negocia-se urn cronograma de Iiberagao, dentro dos limites orcamentarios. A1argar esses Iimites depende de uma Dutra negoclacao com 0 Ministerio do Planejarnento.
No firn das contas, depots das gest5es que fiz, a perspeetiva agora e que a Funai tera para 0 ultimo trimestre 0 equivalente, mais ou menos, ao que ela gastou nos primeiros nove rneses do aoo. Isso e mais do que qualquer Dutro orgao federal. 0 mais curioso e quernuito provavelmente a Funai nao conseguira gastar esses recursos ate 0 final do exercfcio. Por exemplo, Iiberei R$ 300 mil para pagar parte das indenizacoes devidas a ocupantes nao indlgenas da Area Kiriri,
POLiTICA INDIGENISTA
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na.Bahia, A DAF se ernpenhou, mas os recursos nao forarn efetivamente gastos no prazo de dez dias por problemas burocraticos, A unidade administrativa local estafora do sistema, hi procedimentos cartoriais, etc. Enfim, expirado 0 prazo, os recursos ainda nao constavam do sistema de mformacoes do governo e, portanto, arestavam incapacldade de gasta-los,
Melhoramos 0 fluxo e passamos a exigir que as ADRs cumprissem os prazos de planejamento de suas despesas e entrassem Com os dados no sistema com rapidez. Porern, outra questao e a rnaneira como os recursos sao usados, As ADRs estao sempre correndo arras das dfvidas. E dificil saber os criterios que utilizarn para estabelecer prioridades e nao ha prestacao de contas que permita visualizar as detalhes, Aparecem gastos com saude, por exemplo, mas nao exatarnente no que, Estamos Iazendo umplanejamento para 1996 que obngueas ADRs a enviar demonstrativos detalhados sobre os gastos e montar um esquema em Brasilia para analisar os dados, porgue ho]e nao ha instancia na Funai que f~a isso.
De qualquer maneira, com os recursos que consegui ate 0 final do ana, sera possfvel saldar todas as dfvidas, exceto aquelas que extrapolaram a cobertura orcamentana, uma novela a parte. Sao os casas de Reden~ao e Xavantina, basicamente. Mesmo assim 0 risco e nao conseguir gastar os R$ 22 dos R$ 40 milhoes que pedi. No caso da Funai, que e uma Iundacao de direito publico, as recursos podern ser repassados para 0 proximo ano fiscal. Ou se]a, esse tradicional chorord de que cortaram os recursos da Punai e mais ou menos, porque ela tradicionalmente nao consegue gastar 0 quedtspoe .. Agora, como ja disse, se a analise for feita sob 0 ponto de vista das areas demarcadas indigenas, entao 0 volume de recursos e mini mo. 0 Estado nao gasta R$ 200,00 porano por Indio. Nao ha
negociacao de recursos de medic e longo prazo. E 110 curto prazo e precise abrir canals, negociar sempre e, se nao se gasta a que foi negociado e liberado, se perde espaco na proxima rodada
MINI:S,TRAT1VA
p- Existe alguma alternativa para se sair desse esquema?
R- Nao hi uma alternativa, ela precisa ser construfda e passa por uma reforma admlnistrattva. Os dados apresentados servern para demonstrar a camisa-de-forca que existe e que tern um imp acto multo grande,. por exemplo, na possibilidade de assinar cenvenios com tereeiros, com repasse de recursos, Convenios sao feitos com base na fic~ao orcarnentaria. Na linha da terceirizacao, uma organizacao conveniada com a Funai na area de saiide corre 0 risco de contratar pessoal para executar os services e depois os recursos nao chegam, Ou seja, 0 recado e 0 seguinte: nunca topem convenio com a Funai ou qualquer orgao publico com base na Lei Orcamentaria, nem no
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credito orcamentario liberado pelo governo. E preciso saber do fluxo real dos recursos.
Sobre 0 outro pedaco do orcamento, os gastos com pessoal, a situa~ao e a. seguinte: sao mais de quatro mil vagas, 3400 funcionarios, ou se] aha 700 vagas abertas, pouco mais de mil funcoes de confian~a (DAS e FG). au se]a, num universe de cerca de 4 mil, mil com DAS sao os que se sentem rnais obrigados a trabalhar Os demais, que nao tern DAS, acham que nao devem Iazer tanto 0 esforco para trabalhar; Desses DAS, consegulmos identificar 130 indios. Essa cota de DAS da .Funai e considerada escandalosamente alta pelo Mmisteno da Administra~ao. Ha. uma briga sabre i5S0. A fun~ao de presidente da Funai e DAS 6, os drretores sao DAS 5, abaixo deles estao os quatro, os administradores regionais sao tres; chefes de posto, dois. Com o inicio do governo FHC e diante da diflculdade de levar bons quadros para a administracao federal, houve um aumento geral no valor dos DASs. llm nivel tres significa R$ 1,1 mil. a quatro pula. para R$ 4 mil brutos. Ou seia, gente rnelhor qualificada nao vai para as ADRs. E facil exonerar um administrador regional, mas quaseirnpossivel substituf-lo por alguern qualificado. Esses val ores sao relatives, porque, se a pessoa ja for funcionario daFunai, ela tera uma porcentagern de DAS agregada.
Funainao ue gastar cursos de aisose, . ora seJam 'eros R$ 200
dio ao ano.
p.- Isso fora as diarias, nao e?
R· Partindo de urn patarnarsalarial e de fun~5es de confianca baixos, engendra-se um mecanismo de cornpensacao salarial. Come~a pelo DAS: deveria sec rnais do que urna rernuneracao, e uma definlcao do grau de hierarquia e responsabilidade que a pessoa tern. Mas virou urn mecanisme de cornpensacao salarial. 1S50 e com urn a toda adrni-
nistracao federal, mas, no caso da Funai, 0 agravante e que os indios tamhem estao envolvidos no leilao dos DAS. Virou moeda. de troca 11a relacao com alguns grupos e criou todo tipo de distorcao. Todo mundo quer DAS. Uma vez consegutdo, para tirar e rnuito dtffcil, sempre provoca insurreicoes. Por oposlcao, generalizou-se a ideia de que quem nao tern DAS nao precisa trabalhar, OU apenas fazer 0 mfnimo. Fora isso, nao se demite ninguem, E impossivel pela legislacao, a nao ser que se abra uma sindicancia e seja comprovada irregularidade. Nesse caso, se abre um processo admlntstrativo, que, uma vez concluindo pela culpa, permite dernitir 0 funcionario. Quando assurni, fiz urn levantamento e havia 350 sindicancias em curso, sem eon tar os casos conclufdos. Para cada sindicancia, hi que se montar uma comissao, pagar deslocarnentos de pessoas para tornar depoimentos, gerar processos interminaveis que, via de regra, concluem pOl' afastarnentos temporaries. 1S80 engendra a industria da diana, uma outra forma de compensacao sal anal. Suspeito que 0 que Ioi gasto pelas sindtcancias e da mesrna erdem de grandeza que 0 desvro de recursos, que originou as apuracoes .. E uma lcgica sinistra, pOTque a lei obriga 0 dirigente do orgao publico a apurar atraves de sindicancia
roves INDiGENAS NO BRASIL 1981/95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
teda e qualquer demincia recebida por escrito .. Das sindidncias feitas durante a gestae Claudio Romero e parte da gestae Dinarte resultau urn conjunto de puni~6es a funcionarios que foram posteriormente anuladas por urna Comissao de Anistia Interna, Ou seja, recebe-se a dernincia de parte da irregularidade, apura-se parte do denunciado, ou parte do apurado e depois se anistia todo mundo que foi punido!
Quando percebl que era assim, exonerei 0 diretor do pessoal, que acumulava a presidencla dessa Comissao de Anistia. Uma sernana depots, recebi urn abaixo-assinado de toda a bancada do PSDB na Camara Federal, indicando-o para a Diretoria de Assuntos Fundlarios'
Existem mil buracos negros para dtgertr as demandas que batern na Funai, Nao existem retinas ou procedimentos. Se uma ccmunidade indfgena manda um projeto para a Funai, isso nao temporta de entrada, num tern sistematica de trarnitacao e nem porta de safda, Todos as dias entra uma pilha de fax que ninguern Ie. Viajoll um diretor, tchau' Nao se tern acesso a qualquer inforrnacao daquela diretoria. Nao ha. interlocucao interna para enfrentar emergencias. Nao hi informacoes nem sobre a populacao de uma area. Nao hi dados oficiais qualificados.
Diante desse quadro, estou imaginando uma estrategia de reestruturacao em tres tempos: implantar imediatamente urna rnudanca na cabeca do orgao e conceitos-chaves que per-
rnitarn, na sequencia, numa segunda etapa, implantar mudancas na base da estrutura, Criar uma nova dlretoria de tnformacao e projetos, juntando os atuais setores de documentacao, projetos especiais e de pesquisa, Ai seria possfvel agregar 0 pessoal mills quaIificado para analisar projetos e formular propostas. Reformular a assessoria da presidencia, porque ela nao existe. Outra provi-
dencia: criar cinco novos cargos, 0 de vice-presidente e mais quatro diretores adjuntos, para perrnitir a continuidade de cada area, Sobretudo quando 0 titular estiver viajando. Com isso, poderia funcionar 0 Conselho Dtretor, que nunca se reline. Implantar os conceitos para poder mudar na base. Temos 48 ADRs, todas equivalentes juridicamente, mas com situacoes bern diferentes entre si. Par exemplo, as ADRs de Gclania e Cuiaha nao tem Indios sob suas jurisdi~5es. Entao, estou propondo duas coisas: programas regionais e representa~5es estaduais, que existiriam nas capitais de Estados com importancia para a questao indlgena e que nao sediassem urn program a regional. Quando coincidirem, amesma unidade acumularia as duas funcoes, As representacoes estaduais terao estrutura enxuta. Os programas regionais nao podem ser por etnia, pOTque elas sao 200, terao que. ter bases geograficas para nao engendrar a industria das diartas, Tais bases geograflcas nao vao coincidir com as divisoes politico-adrninistrativas e serao feitas com base nos recortes etnleos e nas \ondi~6es operacionais do Estado.
Se uma comunide mender u para a Fun tem porta I,
nem porta
POVOS INoiGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Ai comecarn os problemas. Na sede, para criar as cinco novas fun~5esj sendo quatro DAS 4 e rnais dois DAS 5, um para 0 vice-presidente e outro para 0 procurador-geral, eu teria que cortar 0 DAS de 50 pessoas. Depois de rnuita ginastica conseguimos reduztr a corte par 20. De 19 prograrnas regionais no Pals, para poder colocar na cabeca um DAS 4, ha que se cortar varias coisas, baixar os DAS de postos para 0 nivel I, etc. Uma vez aprovada essa proposta, que passa por urn decreto do presidente da Republica, urna portaria do Ministro e urn novo Regimento Interno da Funai, teremos de imediato uma insurreicao na sede e, a medic prazo, 19 insurreicoes na base.
A segunda etapa seria formular e imp Ian tar os programas regionais e, uma vez feito isso, se teria uma ideia do que a lnstituicao deveria ser no seu conjunto e haveria apossibilidade de se contruir urn orcamento a partir de regi6es melhor dimensionadas. Com sorte, talvez seja possivel fazer isso ao longo de 96. Muito provavelmente, sera necessario implantar 0 que nao existe. Mas estou supondo que a implantacao desses progtamas possa andar mals rapido em determinadas regioes, onde 0 movimento indigena for mais organizado e onde houver outras instituicoes atuando. Aquilo que depender exclusivamente da Funai vai dernorar mais, ted mais deficienciae, a.certa altura, sera implantado com menor gran de consistencia
Aultima etapa seria retomar e rever a lei que criou a Funai e ten tar a cartada de fazer com que 0 6rgao seja de fato uma fundacao: com autonomia de Imanciamento para fora, sem que os reCUfSOS tenham que passar pela 16- gica atual do orcamento, com autonomia para contratar pessoas com flexibilidade, usando a CLT, permitrndo contratacoes temporarias e com uma instanc: a de direcao
constituida dentro do 6rgao. Em tese, isso combina com a estrategia mais geral do governo FHC para a reforrna do Estado, pela qual esta sendo imaginada a estrutura de fundacao para determlnados orgaos piiblicos, como o Ibama, por exemplo. Varias autarquias atuais tendern a se tornar fundacoes, buscando ganhar autonornia de gestae .. Estamos com minutas prontas para as decisoes superiores que viabilizem esse processo. Conceitualmente, tais minutas ficam muito aquem do que consideramos razoavel, porque nao tenho como fugir dos parametres da lei que criou a Funai, incluindo 0 mandate tutelar. No memento, nao estou a fim de abrir essa dicussao no govemo. Se 0 processo andar, no final vamos rever a lei que criou a Funai.
A pretendida reforma administrativa pressupoe urn decreta do presidente. 0 novo Estatuto da Funai tem que passar por ato do Ministro da [usticae 0 Regimento Interno, que e uma parafrase do Estatutc. por ato do presidente da Funai. Pretendo incluir nesse pacote a regularnentacao do poder de policia da Funai, para gerar uma fonte propria de receita que perrnita bancar algumas coisas, incluindo urna gratlficacao para quem trabalha nas areas, em lugar das diarias.
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_ ....... _P......,_f ..... q- se possa limpar os DASs e lirnitar a industria das diarias, e preciso ter alga na mao que permita compensar as pessoas que estao trabalhando nas areas. Propor uma gratificacao sem fonte de receita nao passa pelo Ministerto da Adminlstracao. A lei que criou a Funai [he atribui urn poder de polfcia que nunea foi regulamentado. Viabilizar essa regulamentacao e uma negociacao pesada. Pode gerar distorcoes, sem duvida. Mas distorcoes ji existem e a Funai nao tern fonte de reeeitas. Hi parentesco com os guardas florestais do Ibama. Alias, 0 Ibama tem 30% das suas receitas oriundas de fontes proprias.
p- lsso nao podera provocar uma reacao negativa na opiniao publica?
R- Tirar garimpeiro de area indfgena provoca reacao negativa na sociedade regional. Se a regulamentacao de policia da Funai passar, at teremos que internalizar isso at raves de portaria interna, treinar pessoal, estabelecer urna estrategia e prioridades. 0 Ministerio da [ustica esta concordando com a tese de que se regulamente 0 poder de policia, que se tenha uma fonte de receita e que se erie urn sistema de gratificacao funcional, mas hi diividas sobre como viabilizar legalmente isso.
p- Que tipo de receitas se vislumbra e como elas serao usadas?
R- As receitas serao oriundas de multas e apreensoes. Se receita houver, entao hi que se regulamentar a seu uso. Hoje se raciocina sobre 0 poder de policia da Funai somente atraves de atos praticados e flagrados dentro das Areas Indigenas. Esse conceito deve ser ampliado, de forma a permitir que se multe urn madeireiro fora de Area Indfgena, desde que se consiga comprovar a origem da madeira do seu caminhao, ou alguem que tenha usurpado
direitos autorais de uma comunidade.
Mas ha uma outra novidade proposta ness as minutas: existe um fundo de direitos difusos no Mlnisterlo da Iustica, ao qual a Funai nao tem acesso. Estamos propondo que 10% do total dos recursos do fundo sejam da Funai, alern do que for oriundo de Areas Indigenas e ultrapassar os 10%.
P- E com relacao ao patrimonio da Funai?
R- Ho]e nao hi informacao sobre 0 patrimonio da Funai. E preciso fazer urn inventario. Brasilia nao sabe quantos vefculos e tmoveis a Funai tem. 0 cadastro exlstente esta totalmente errado. Ninguern e responsavel par nada, ninguern apresenta relatorio de nada, ninguem cuida de nada.
P- A ADR de Vilhena recentemente, na ultima prestacao de contas para 0 Planafloro, teoricamente urn projeto supercontrolado, apresentou notas frias para cobrir compras de telefones, aparelhos de fax, maquinas copiadoras ... Esse tipo de patrirndnio nao ~ registrado?
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R- Nao e. 0 modo de fazer todas as coisas e torto. A Funai quase nao faz licitac;ao de nada. Tudo e urgente.
Com referenda aos decretos que estabeleceram cornpetencias entre a Funai e outros orgaos quanta aos services de assistencia, a estrategia e suhstituf-los par convenios bilaterais que estabelecam c1aramente quem vai fazer 0 que, onde, como e com que recursos. Hi reacoes corporativas, mas eu estou insistindo.
A Funai nao tern canais estabelecidos com nenhum orgao da administracao federal. Todas as relacoes sao truncadas e burocratizadas. Mandam-se offcios que nao sao respondidos. Estou investindo pes ado nesse campo, com resultados diferenciados. Com 0 Incrae 0 Ibama esta andando. Com a FNS, pouco. A COSAl pediu urn contato direto. Ha fortes interesses corporativos af, porque, diferentemente do resto da politica de descentralizacao dos SUS que transformou a F S numa repassadora de recursos, a COSAl quer se aparelhar como estrutura permanente dentro do Minlsterio da Sande especializada em saiide indfgena. Um exernplo disso e 0 concurso publico para 0 Distrito Sanitaria Yanomami.
'nformafao 'monio da aO S8 sabe feulos nem veis existem.
P- Como e que se pode abrir e aprofundar essas questoes?
R- No caso das identificacoes ha uma preiiminar que nao tem discussoes: hi uma Constituicao no Pals que tem urn artigo que define 0 que e terra indfgena. Terra indfgena e aquilo Ia, quem nao concorda tern que mudar a Constituicao. 0 parametro nao € posse imemorial, 0 parametro sao terras tradicio-
nalmente ocupadas. Leiam 0 paragrafo primeiro do artigo 231!
P- Voce nao acha que tern que haver uma via para 0 dtalogo, a capacltacao e 0 treinamento do pessoal da Funai? Falla disseminar internamente lima ortentacao geral da politica a seguir?
R- Sem mexer na estrutura da cabeca nao tern solucao para essa questao. Nao hi continuidade em nada, nem na conversa, nem na acao. Voce comeca um papo e ele some. Eu estou me reunindo com cada setor. Para fazer isso, cada reuniao e uma guerra, porque ochefe do setal' nao quer colocar na minha frente os tecnicos da area dele. Quer que eu me entenda com ele ... IS50 vai ser urn processo demorado. Estamos tentando estabelecer uma dinamica de reunioes do Conselho Diretor, cuja pauta esta entulhada pelas questoes da reestrutura~ao. Sem resolver isso, nao da para diversificar a pauta. E uma discussao indigesta porque tern impacto nas areas. E preciso dimensional' as impactos no pessoal, hi que se fazer aproximacoes sueessivas. Mesmo se eu pudesse trocar pessoas, nao ha quem colocar no lugar. Nao ha milagres.
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rtL:._J::;..&...Q_illlm:suu vai cornecar a assinar alguma coisa? E a interdi\ao da area dos recem-contatados em Corumbiara, Rondonia?
R- Val. A interdi~aO e urn problema a parte. Posso chegar h1. Mas hi outros problemas mais eomplicados. 0 ministro [obim tern 0 habito de levar os processos para easa e ler. E depois vern cheio de marcas no texto, senta comigo e detona. E detona com muita facilidade, porque realmente as coisas sao de uma Inconsistencia chocantel
P- Para resolver isso, seria preciso definlr uma metodologia que orientasse 0 pessoal que val para campo. Hi uma incomunicabilidade, dentro daFunai, entre 0 antropologo que vai a campo e a cartografia, por exemplo,
R- Politicamente, 0 que eu disse ao ministro e que 0 que ji foi encarninhado eu nao vou mudar. Se voce quiser assmar, assine; se nao quiser ... Mas seria born assinar, porque se nao val dar bode. Eu nao vou refazer, nao da para refazer. 0 que da para fazer e colocar, daqui para frente, os novos processos num eixo rnais razoavel. .
p, Mas ele vai assinar?
R- Sai urn pacote de homologacoes e delimita~oes junto com 0 novo decreto. No medic Rio Negro serao quatro portarias. Nao VaG sair todas as deltmitacoes porque 0 ministro Ie e anota tudo e aponta as inconsistencias,
naO VOU
P- E sobre as interdicoes?
R- 0 rninistro aeha que essa Iigura nao exis-
teo 0 ST] detonou essa figura em varias decisfies, baseado no inciso das portarias que interditavam areas, sob a alegacao de que isso impediao livre transite de residentes nao indfgenas. Isso e ilegal. Mas hi outros detalhes. Essa Iigura da mterdicao s6 existe no texto
atual do Decreto 22. Isso nao tern na lei que
criou a Funai, nem em qualquer outra, 0 ST] tem varias decisoes de derrubar as interdicoes, Alem do mais, a poder de polfeia e da Funai e nao do Ministro dajustica e, assirn sendo, ele nao pode interditar, 0 que cria uma confusao de hie rarqui a. A minuta do 22 revisto cortou a mterdicao. Eu abri essa discussao no Ministerio e eu acabei propondo uma formulacao que nao fala em interdicao, mas diz que 0 presidente da Funai regulars a entrada eo transite de pessoas estranhas em Areas Indigenas de Indios isolados au para protege! Indios em geral. Nao se fala em interdicao, mas se resgata 0 poder da Funai de baixar portarias e normatizar 0 ingresso de pessoas estranhas em Areas lndigenas,
Eu disse a que as ter encaminh
P - No caso concreto dos chamados isolados do Omerf (Corumbiara/Ru). recem-contatados, como e que fica?
R- Estou mandando uma proposta de interdicao ao ministro, mas nao set se ele val assinar Nao achei a interdicao ideal. Vamos dizer que ele nao banque e que saia urn novo decreto regulamentando as dernarcacoes, com esse dispositive que mencionei anteriormente.
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Nesse caso, eu teria que baixar urna portaria especiflca, dizendo que nao se pode cortar arvores, que [agunco nao entra, se liver gada a dono pode entrar tantas horas par dia para lidar com os animais, etc, Em cada caso, 0 presidente da Funai teria que baixar uma. portaria especifiea.
p, Estou sentindo que essa e a primeira oportunidade de COIlversar com voce depots da sua posse como presidente da Funai, Eu esperava ouvir qual a estrategia para mudar e as limites para i8S0, ao inves de ouvir apenas como voce esta lidando com as rotinas. A irnpressao que da a seu relato e que voce esta gastando toda a sua energia para fazer a Funai funcionar, suprir 0 imediato, A pergunta e a seguinterse voce Iicar it frente da Funai ate 0 final do mandata FHC, a que sera da Funai e da politica indigenista? Vai sobrar alguma coisa? Voce vai ficar correndo arras do prejuizo ate quando?
R - Voce nao tenha nenhurna dtivida que eu, ou voce ou quem caia Ia, vai ter que correr atras do prejufzo. A questao e saber se a gente consegue lidar com 0 prejuizo de tal maneira que sobre alguma coisa para gente armar daqui para frente.
P - Mas hi alguma coisa que deve sobrar, do ponto de vista institucional? Por que voce falou em abrir canais da Funai com outros orgaos pubhcosr
R - Porque as Indios estao morrendo por falta de assistencia, porque as demarcacoes de terra estao blefadas, esta tudo invadido ... 0 que e possfvel fazer, num perfodo de, no maximo, dois all os? Sera possivel desempatar essa questao da demarca-
~ao? Hi um universo importante de terras com algum grau de reconhecimento em gesttes anteriores que precis am ser consolidadas. Hi um horizonte de recursos (G-7 e outros) para i5S0 tarnbem. Nao acho que seja pouca coisa. Organizar 0 fluxo da demanda que vern de fora para dentro. E urn absurdo que a Estado brastleiro nao tenha urn procedimento para apreciar urn projeto enviado par uma cornunidade indfgena. Nesse contexte de programas regionals a gente pode criar uma grade aberta a parcerias, onde houver essa possibilidade, o que nao deve ocorrer em todo a Pals, certo? Isso eu acho que da para fazer em dois anos, Se der para abrir essa grade de parcerias regionais, onde se incorporem instituicoes nao-governarnentais, liderancas, outros orgaos, com base em demandas dimensionadas, e possfvel criar uma dinamica que funcione. Sera mais diffcil destruir isso com urna caneta, posteriormente, porque se cria uma rede de rela~5es, de instancias de decisao, etc. Se se consegue fechar a terceira etapa deste processo, criam-se instancias de decisao dentro da estrutura central que vao refletir de alguma maneira 0 que foi armada par baixo.
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P -Presidente da Funai e como juiz de futebol, ja entra em campo vaiado. Voce esperava urn apoio mais explfcito da sociedade civil ?
R - Nao, em nenhum rnornento eu tive qualquer cobranca em rela~ao as entidades da sociedade civil. Eu acho que elas tern 0 seu proprio programa de trabalho, que nao poderia ser monopolizado pel a agenda da propria Funai .. E extremamente importante que as entidades tenham a sua propria agenda de trabalho, de forma a manter a sua autonomia e a maier vitalidade no campo do indigenismo.
P - Na sua carta de demissao, voce minimiza os efeitos do Decreto 1775/96, e diz que nao teve apoio do ministro dajustlca para enfrentar a "mafia" intema contra a reforma administrativa da Funai. Afinal, por que voce se demitiu ?
R- Nas ultirnas semanas, houve urn acumulo de pendencies no ambito do Minlsterio dajustica (uer box), que inc1ui a apropriacao de
parte dos recursos negociados diretamente pela Funai junto ao Tesouro Nacional para outros orgaos do Minislerio; a nao entrega do predio que 0 orgao negociou junto ao Ibama para sua nova sede, as pendencias em relacao adez portarias delimitatonas, ja anunciadas pela imprensa, que nao chegaram a ser publicadas no Diario Oficial; e a questao de urn ernpenho insuficiente, por parte do Ministerio da Iustica, em investigar as pessoas que estavarn mobilizando indios e atribuindo urgencia a certas demand as, de forma a boicotar a adrninistracao da Funai. Nao e possivel enfrentar corn sucesso os problemas intemos do orgao sem que 0 Ministerio, ao qual a Funai esta vinculada, tenha urn empenho direto nessa iniciativa.
P- Qual 0 perfil dessa "mafia" e como ela atua ?
Desde muitos anos hi um grupo de pessoas que se valern de sua vinculacao com a "rnaconaria'', que dominou a area administrativa da Funai e mantinha relacoes de cobranca e poder de pressao sobre urn con junto de indigenistas importantes. Essas pessoas foram substituIdas na atual admlnistracao e passaram a se articular na petiferia
PENDENClAS NO MIN/STERIO DAjUST/9A, NA SAiDA DE SANTILLI DA PRESIDENCIA DA FUNA/ EM 07103196
1. DELIMITA(;rJESDE TERRAS INDiGENAS: 0 Ministirio dajustiya anunciou a imprensa em meados de janeiro, que [aria publicar portarias de delimitaoio de dez terras indigenas, a saber:
Aguas Betas (BA), Avd-Canoeiro (GO), Escondido e Teresa Cristina (MT), Panard (MTIPA), GuatO (MS), Carzpuna e Massaco (RO), Rio Araporis e Rio Tea (AM). A Funai informou que seriam 13 terras. Apenas trill' portarias foram publicadas no DOU, dentre etas somente Rio Tea constava da lista cficialmente anunciada (outras Ires dreas ndo incluidas nos numeros anunciados bauiam sido publicadas anteriormente). Os outros dez processos ainda se encontram no MJ. 0 atraso na publicayiio das respecuuas portarias Jot atribuido pelo MJ a existencia de erros a.serem corrigidos nas coordenadas geogrdficas cons/antes das minutas encaminbadaspela Funai. 0 DAF da Funai nega a existencia desses erros. 0 MJ ndo dis poe de condiyoes tecnicas para correyoes de eventuais erros. Se existissem, tais erros poderiam ser corrigidos em 24 boras. 0 atraso na pubUcar;ao das portarias e de mais de 60 dias em retar;ao ao anuncio oficial. Alem das terras aqui mencionadas, outras tantas aguardam decisao ministerial, sendo que seus respectiuos processes foram devolvidos a Funai e so serdo considerados aP6s 0 decurso do contraditorio.
2. HOMOLOGAt;AO DE TERRA IND/GENA: A Terra fndigena Maxacali (MG), jd demarcada, ndo teue 0 seu processo de homologagao encaminbado pelo M/ a Presidenda da Republica, Todos os demais processos de bomologacdopendentes (28) foram assinados e publicados pelo presidente, conforme compromisso assumido. 0 processo da Terra Maxacali fot retido pelo MJ por solicitar;ao do deputado Jose Resende (PMDB-MG), do partido do ministro jobim.
3. RECURSOS PARA A PUNA/: Em 12/02/96, a Funai obteve do Tesouro Nacional, atraves de negociar;iio dire/a, a Iiberacdo de 10 milbOes de reais para cobertura dos empenhos orcamentdrios do final de 95 e inicio de 96, Na mesma data, 0 MJ confirmou publicamente 0 repasse dos recursos do Tesouro para 0 MJ. Porem, a Secretaria Executiua do M} reteue os recursos e so repassou, em 16/02196, 5,5 milhOes, comprometendo-se a repassar os oulros 4,5 milhOes em 26/02. Isso, contudo, ndo ocorreu. Em 05103, 0 MJ enviou a Funai somente 300 mil, consolidando 0 desoto de 4,2 milhOes de reais para atender as suas proprias necessidades financeiras, em detrimento da Funai. Houve precedentes de desuio de recursos, especialmente no mes de dezembro de 95, quando outros 4 milhOes de reais do orcamento de pessoal da Funaiforam apropriadospelo MJ
4. SEDE DA PUNAI: Em outubro de 95, a Funai comunicou aficialmente ao MJ que 0 pridio onde funciona a sua sede central estaoa condenado. Laudos de engenbaria indicam "esmagamento" de colunas de sustentacdo estrutural do edijido. Pecas de mdrmore do seu acabamento caem frequentemente. 0 forro do teto estd todo esburacado, abrigando grande quantidade de escorpioes e outros insetos letais. Hd inumeras infiltrar;oes de dguas pluviais em todo a edif{cio. 0 MJ respondeu it comunicacdo da Funai afirmando que so mente poderia mobilizar-se para obter outro pridio para a instalacdo da sede, se a pr6pria Funai identificasse um edifkio dispon{vel. A Funai identificou um edif{cio pertencente ao lbama, 0 uruco predio publico com metragem aproximada das necessidades da Punai. Negociou diretamente com 0 Ibama a cessdo deste predio, finalmente obtida em fins de fevereiro de 96. Comunicado pelo Minis/trio do Meio Ambiente
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junto corn outras que ainda permanecem nele, para coniirgencta a uma serie de demandas cronicas existentes nas Areas Indfgenas, impor uma 16gica de emergencialismo na administragao da Funai e impedir a planejamento de medidas de media e longo prazo. E 0 carater da atuacao € este - uma atuacao de bastidores, atraves da qual as pessoas nao mostram a cara e se utilizam de [iderancas indfgenas que foram apodrecidas pel a propria agao da Funai, e de pessoas de dentro da Funai, como urn biombo para as suas finalidades Inconfessaveis.
P - 0 Decreto 1775 estipula urn prazo, que vence em 10 de abril, para acolher contestacoes contra demarcacoes de terras tndfgenas.Voce saiu antes disso. Voce nao poderia esperar terminar 0 processo?
R- Nao, no momento em que voce constata que hi urn conjunto de fatores adversos a sua permanencia no cargo, e indispensavel colocar imediatamente urn fim nessa situacao. Minha intencao inicial era a de poder acompanhar todo 0 processo do Decreto 1775 e pro-
mover aquila que compete a Funai, que e a defesa das identific~6es ji realizadas. Entretanto, nao havendo condicoes para isso, nao valia a pena postergar minha permanencia no cargo.
P -Mas quando voce assumiu, nao sabia onde estava se metendo? R - Evidente que sabia. Nos ja tfnhamos discussoes acumuladas no ambito do ISA e das proprias ONGs sobre as dificuldades de se reestruturar urn 6rgao como a Funai. Claro que a vivencia conereta
. com esses problemas da uma dimensao muito mais preeisa a essas dificuldades. 0 saldo desse processo € que, hoje, nos temos condi~5es, a partir da experiencia vivid a na Funai, de poder conferir urn grau de objetividade multo maior a discussao sobre como 0 Estado brasileiro deve se organizar para dar eonta da demanda da politics indigenista.
P - Como € a estrutura informal de poder dentro da Funai ?
R - No easo das pessoas que tern vfnculo com a "maconaria'', isso se faz atraves da forma usual de trabalho, da ajuda mutua, sem se con-
(ao qual 0 lbama estd oinculado) da cessdo do predio, 0 Mj (ao qual a Funai estd vincutada) decidiu destind-lo a Polida Rodouidria Federal (tambem vinculada ao Mj), alegando precedencia na comunicacdo desta ultima ao Mj quanta a necessidade de novas dependencies. Note-se que a Policia Rodouidria Federal necessita de espaco tres vezes menor do que 0 disponivel no predio do tbama.
5. REESTRUTURAr;AO DA FUNAI: A proposta de reestruturacdo foi encaminhada pela Funai ao Mj informalmente em dezembro de 95 e formalmente no infcio de janeiro de 96 Ap6s sucessivas cobrancas pela Funai sobre 0 parecer do Mj, em fevereiro, um assessor da Secretaria Executiva do Mj compareceu a Funai expressando formalmente a inexistencia de objef6es por parte do M], exceto quanta it 'Jalta de clareza" sabre as oinculos da Funai com a MJ. A pro posta de reestruturacdo ndo rompia com esses uinculos, expressos nas minutas nela inseridas. Ate marfa, a M] ruio havia produzido qualquer parecer au encaminhamento formal da proposta da Funai a outros drgaos competentes, como 0 Mare (Minist&io da Administra¢o e da Reforma do Bstado), que, por sua uez, consultado informalmente pela Funai, ja havia produzido seu juizo a respeito, com objef6es pontuais e contrapropostas vidveis. Porem, a inexistencia de encaminhamento formal pelo Mj impediu a conclusiio das negociar6es ate 0 momento.
6 CONSELHO DE POL/TICA INDIGENISTA: Em agosto de 95,0 presidente da Republica informou, em reunido mantida com antrop6logos e representantes de ONGs, sua intenfao de dispor de um conselho para assessord-lo sabre questoes indigenas, no ambito da propria Presidencia. Em dezembro, a Secretaria Exe-
cutiua do MJ enviou a Funai, para consulta, uma min uta de decreto para a criafao de um Conselho de Politica Indigenista (Copin), composto por representantes de vdrios drgaos publicos e de algumas ONGs, que ficaria subordinado ao Mj. Em feuereiro, a Funai encaminbou ao Mj uma contraproposta, visando a criafao de um Conselho de Defesa dos Direitos Indigenas (CDDi), com representacdo paritaria de drgaos governamentais e de ONGs e representantes indigenas, que funcionaria como uma instdncia de apoio interinstitudonal as demand as indigenas. Ate marfO, ndo houve manifestarao do Mj (que inicialmente alegava urgencia) acerca da contraproposta da Funai.
7. APURAr;AO DE BOICOTES A FUNAl: De outubro de 95 ao inicio de marco de 96, a Presidencia da Funai enfrentou cinco casas de seqiiestros de funciondrios e uma invasao de sua sede central, promovidos por faccoes indigenas manipuladas por funciondrios e ex-funciondrios do orgao. Todos esses incidentes foram resolvidos pacificamente par meio de negociafoes exaustivas com os indios envolvidos. A Funai recusou sistematica mente 0 uso de forca poliaal contra os indios, solicitando ao MJ investigafao da Poltcia Federal sobre os ex-funciondrios que os haviam manipulado. Estes ex-funciondrios haviam sido exonerados pela direfao da Funai por envolvimento em prdticas criminosas de cooptacdo de indios e de desvio de recursos, opondo-se a restruturacdo do orgao. A Policia Federal alegou necessitar de prouas contra estes funciondrios para pro ceder as investigafoes. (I SA, 26/03/96)
POVOS INOiGENAS NO BRASIL 1991/95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
POUTICA INOIGENISTA
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conetie" a a area ativa da poder de ~ ,,¥,~, n'fJ1 '11r.' cob ran y a conjunto ig,enistas
tmportentes
siderar ! ropriamente a finalidade da a~ao do orgao, e esse grupo tern urn certo poder de chantagem sobre urn conjunto de quadros da organizacao, em funcao de informacoes que detem sobre a trajetoria de cada uma dessas pessoas. Tal e a forma como essas pessoas atuam. Buscando, a, partir dessas relacoes, estabelecer urn certo tipo de loteamenta das fungoes de confianca e dos recursos disponlvels no orcamento do orgao.
P - Quais seriam as alternativas para 0 atual modelo da Funai ? R - Acho que essa questao rnerece urn trabalho maior, que eu pretendo desenvolver no ISA, contando com a colaboracao de outras pessoas que vivenciaram a experiencia da Funai comigo. Eu acho que a Funai nao tern capacidade de formular e muito menos de executar projetos, Ela.nao tem capacidade de planejamento, nem como escapar da adrninistracao precaria do emergencialismo que ela propria gera, Eu penso que a ponto de referencia de uma outra polftica indigenista poderia ser pensado a partir da irnplantacao de uma institui~ao de fomento a projetos, que na minha opiniao deveria estar de algurna maneira vinculadaao Ministerio do Meio Ambiente, que tern uma caracterfstica mais apropriada ao desenvolvimento de uma ideia como essa. Evidentemente que outras medidas seriam necessarias e se trata de detalha-las num estudo mais amplo.
P - Agora que voce nao e mais governo, quaI sua posi~ao em relacao ao Decreto 177 5 e ao ministro jobim ?
R - 0 Decreto e urn fato concreto. Eu acho que a discussao sobre as intencces do ministro ou sobre os resultados desse processo do contradit6rio retroativo nao sao os pontos fundamentais. 0 Decreto tern prazos e a situa~ao vai ficar absolutamente clara dentro
de curto tempo .. Eu acho que a a~ao das ONGs
deveria ter como referenda fatos concretos,
e nao a mera especulacao sobre lntencoes que 0 tempo val se encarregar de esc1arecer.
p, As ONGs e os mimigos dos indios acham que 0 Decreto e para reduzir as Areas Indigenas. 0 governo diz que nao. AfinaI, por que 0 governo editou 0 Decreto ?
R - 0 empenho na modifka~ao da sistematica foi pessoal do ministro Jobim que, muito antes de ser ministro, ji havia tornado posicao em relacao a essa questao, seja na condicao deadvogado, seja na condicao de relator da revisao constitucional, que nao houve. Ao aceitar editar 0 Decreto, 0 presidente da Republica considerou que era a alternativa menos ruirn diante dos riscos que estavam obletivamente postos, e nao se moveu simplesmente por questoes de natureza jurfdica, mas pelo fato politicoconcreto que estava criado ness a circunstancia. Eu reconheco no presidente da Republica um objetivo muito claro de consoli dar as areas que estao envolvidas no processo do cnntraditorio, e acho que ele acompanhara 0 processo de deci?iio que sera tornado no ambito do Ministerio da [ustica.
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POLiTICA iNDiGENiSTA
p , Voce acha que a fundamentacao [uridica das contestacoes existentes, ou sobre as quais se tern notfcia, e preciria? Como e que a Funai e 0 Ministerio da justica tern que responder a estas contestacoes ?
R - Quem responde e a Funai, e nao 0 Ministerio. 0 Ministerio decide. As contestacoes podem ser de alguns tipos especfficos, seis ou sete, a depender de quem contesta e do que e reclamado, Entao, nao e dificil estabelecer os argumentos basicos para cada urn desses tipos de contestacao. A Funai tem, nos processes de dernarcacao, um aciimulo consideravel de informacoes e de conhecimento sobre 0 grupo, e eu penso que nenhuma parte que este]a contestando tern. Embora alguns processes possarn ter urn certo grau de precariedade, iS50 nao significa que as condicoes de argumentacao, de comprovagao que contestariam esses processes, sejam maiores do que aquelas acumuladas dentro dos processes. Entao, a questao nao e do procedimento.da resposta, mas sun da decisao politica que sera tomada em cada caso. Esse e que eo ponte.
P - Como lidar com as etnias que foram manipuladas ao longo dos ultimos 20 anos pela poliuca clientelista da Funai ?
R - Em primeiro lugar, eu acho que nao hi comoprioriza-las, porquesera necessario um esforco a longo prazo para poder superar a cultura que fbi incutlda em algumas liderangas dessas etnias. Mas e importante enfatizar tambem quenao sao as etnias como urn todo, e sirn alguns grupos de algumas etnias que estao mais envolvidos com esse processo de cooptacao. Acho que 0 importante e notar que a a~ao da Funai nao chega a todos as lugares, e que ha regii5es vastissimas do Pais nas
quais vive uma parcela importante da populagao indigena e onde a agao da Funai e praticarnente inexistente. Sorte dos indios que vivem nessas regioes, porque, embora a siruacao deles nao possa ser considerada boa, eles ainda sao os que vivem em condicoes rnenos precarias. Acho que a estrategia deveria set pens ada em termos gerais. Em relacao a essas etnias a que me referiporultimo, como as que vivem no Rio Negro, em Roraima, no Alto Solimoes, no Acre, no sui do Amazonas, no Amapa, eu aeho que deveria haver uma nova modalidade de atuagao e apoio aos povos indigenas que pudesse ser colocada como paradigrna, Com isso, se criariarn condtcoes mais favoraseis de reverter a processo em relacao aessas outras etnias que tern um grau de promiscuidade maior com a Funai.
P - Voce ainda acha que a Funai e lmprescindfvel?
R - Nao. Eu nao acho que a Funai seja imprescindivel. Ache que ela e uma morts-viva que continuara pairando sobre a politica indigenlsta ate que haia alternativas consistentes a esse modelo.
POVOS iNOiGENAS NO BRASil 1991/95 - iNSTiTUTO SOCiOAMBIENTAL
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I .,', A CON TEe E U
FU NAI/G ERAl
FUNAI CRIA CDDI PARA REGISTRAR DENUNCIAS
A Coordenacao Geral de Defesa dos Direitos Indfgenas - com, fol criada na administraeao do presldente Sydney Possuelo com 0 intuito de abrir urn espaco real, onde indios e sociedade civil pudessem registrar demincias de violru;5es dos direitos individuals e colenvos dos povos indigenas. Com a apoio de ONGs e da PGR, em seis meses a com recebeu cem dernincias. Os principals casos sao de homicidios, estupros, espancamentos e tnvasao de areas por madeireiros e garimpeiros.
o Nordeste e a Para se destacam em mimero de 110- mlcfdios e espancamentos, 0 Mato Grosso do Sui em quest5es fundiarias, 0 Amazonas e Roraima em estupros e espancamentos. A Amazonia Legal e a area de maior Incidencla de garimpo e extracao de madeira llegais em area indlgena, envolvendo urn grande numero de ~5es para a retlrada dos mesmos. A com pode acompanhar e responder aos interessados somente na fase intermediaria do processo, ou seja, durante a trarnitacao na Funai, PGR, OPF etc. Uma vez encaminhado ao [udiciarto, nao foi possfvel ao com prosseguir no acompanhamento dos casas. Foi iniciado urn levantarnento das ac;6es judicials no Brasil onde sao vftimas a pessoa ou a comunidade indfgena, A Coordenacao de Defesa dos Direitos e Interesses das Populacces Indfgenas - CDDIPI da PGR, auxiliou na confecciio de um quadro com as irformacoes minimas necessanas, As dificuldades para se obter as infomla~oes foram grandes. A iinica fonte foi a Funai. Resultou numa listagem de aproximadamente 600 ac;5es que envolvem direitos indfgenas no [udiciario.O Ndcleo de Direltos Indfgenas - NDI auxillou durante todo 0 processo na a valia~ao dos dados pela vasta experlencia na area jurfdica,
As primeiras impress5es foram assustadoras. 0 JUdiciario brasilei ro decididamente nao esta preparado para trabalhar com culturas diferenciadas. lnfelizmente 0 trabalho foi interrompido com a safda do presidente da Funai Sidney Possuelo. (Carmen FigueiredfJ, I" coordenadora cia CDDI, set/94)
DECRETO DEFINE RESPONSABILIDADE DA PUNAI E INSTITUI COMISSAO
o presidente ltamar Franco assinou a decreto nO 1141, de 19/05/94, que "disp6e sobre ac;6es de prote~ao ambiental, saude e apoio as atividades produtivas para as comunidades lndigenas". 0 decreto contempla a participacao de ONGs nos programas, propositivae executivamente, e institue uma Comis-
sao lntersetorial com competeucia para "definir as objetlvos gerais" dos program as propostos, analisar e aprova-los e "estabelecer prioridades para otimizar a uso dos recursos flnanceiros, materials e humanes exlstentes''.
A Comissao Intersetorial sera composta por urn representante dos Ministerios: dajustica, que a presldira (0 presidente da Funai); urn da Sande, do Meio Arnbiente, da Cultura, urn da Funal e dais da sociedade civil~ONGs,
Os representantes dos ministertos serao indicados pelos titulares das pastas respectivas, e designados pelo Ministerio da justlca. Os representantes da 80- ciedade civil serao indicados de comum acordo, pelas entidades de defesa dos mteresses das comunidades Indfgenas,. para mandate de um ana e design ados pelo ministro da Justi~a,
Este decreto revoga os Decretos nOs 23,24 e 25, assinados pelo entao presidente Femando Collor em fevereiro de 91 - que retiravam da alcada da Funal a asslstencia a saiide, as atividades produtivas, e de protecao ambiental das areas indfgenas - e repoe, em parte, as atividades da Funai, uma vez que ela passa a coordenar as ac;oes nessas areas. (PIB/C'EDI, a partir do DOU. 20/05/94)
COMISSAO INTERSETORIAL E NOMEADA
Atraves da Portaria n° 405, de 16/06/94, 0 ministro da jusuca, Alexandre Dupeyrat Martins, designou a composicao da Comissao Intersetorial. A comissao sera presidida pelo presidente da Funai, Dinarte Nobre de Madeiro e tera os segulntes membros: do Ministerio da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agraria, Raimundo de Carvalho Noronha (titular) eJose Fernando Morais Gomes (suplente); do Ministerio da Sande, Flavto Pereira Nunes (titular) e Eliane Torres Goncalves (suplente): do Minislefia do Meio Ambiente e da Amazonia Legal, Ana Maria C. Ribeiro Lange (titular) e Marcelo Ribeiro Nunes (suplente); do Ministeria da Cultura, Olympio Serra (titular) e Eneida Braga Rocha Lemos (5Uplente): da Funai: Ronice Maria Franco de Souza e Sa (titular) e Mauro Ribeiro Alves (suplente); dasociedade civil, Sebastiao Alves Machlneri, coordenador da Coiab, e Wilson Jesus de Souza, da Comissao de Articul~ao Leste-Nordeste (titulares), Ambrosio da Silva, daAssocia~ao das Comunidadesda Reserva Kadiweu, e Pedro Cornelio Segue Segue, do. Conselho Indfgena Regional de Guarapuava (suplentes). (DOU, 17/06194)
POVOS INOIGENAS NO BRASil 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
CONSELHO INDIGENISTA E RESSUSCITADO
Desativado no regime m.ilitar, foi empossado ontern o Conselho Indigenista da Funai, presidido pelo sertan.istaDinarte Madel roo Desta vez 0 Conselho tera entre seus integrantes um Indio, 0 piloto da Funai Marcos Terena. Os outros titulares sao; Ana Maria Carvalho Ribeiro Lange, do MMA; Aurelio Virgilio Veiga Rios, da Procuradoria Geral da Republica; [oao Pacheco de Oliveira Pilho, da ABA; Jose Porffrlo de Carvalho, da Eletronorte; Marcin Santilli, do NDl e, Raimundo de Carvalho Noronha, do Ministerio da Agricultura, do Abastecimentn e da Reform a Agraria.OB,16/03/95)
MORRE 0 INDIGENISTA ALVARO VILLAS-BOAS
Alvaro Villas-Boas, de 71 anos, morreu ontem, em Bauru, de insuflclencia respiratona, consequencia de um cancer e de enfisema pulmonar. Alvaro foi presidente da Funai por dais meses, em 1985, e enIra para a historia do indigenismo brasileiro par ter sido, junto com seus irrnaos Orlando e Claudio Villas-BOas, urn dos fundadores do Parque Indfgena do Xingu. (1.14, a partir de OESp, 23/08/95)
POLITICA INDIGENISTA
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GALERIA DA CRISE PERMANENTE
OS PIONEIROS DA GALE RIA
nome forma~ao gestae
Jose de Queir6z Campos jornalista de7167 - junl70
Oscar jeronymo Bandeira de Mello militar jun170 - mar174
Isrnarth Araujo de Oliveira militar mar/74 - mar179
Adhemar Ribeiro da Silva engenhelro mar179 - nov179
Joao Carlos Nobre da Veiga ruilltar nov179 - ouV81
Paulo Moreira Lea: rnllttar ouV81 - juV83
Otavto Fen-elra Lima economists juV83 - abr/84
Jurandy Marcos da Fonseca advogado mai/84 - seV84
Nelson Marabuto policial seV84 - abrIB5
Ayrton Carneiro de Almeida"
Gerson da Silva Alves nulttar abr/85 - set/85
Alvaro Villas-Boas indigerusta set/8S - nov/8S
Apoena Meirelles sertanista nov/8S - mail86
Romero Juca Filho economista mail86 - setl88
Ins Pedro de Oliveira advogado setl88 - mar/90
Alrtol1 Alcilntara milttar 1113r/90 - ago/90
Camidio Guerreiro Guimaraes militar ago/9D - Jull91 (0) Indtcado pelo ministro COSia Couto, foi impedido, por urn conlunto de ,ndios, de assumlr 0 cargo no dia 18 de abril. Sua nome~ao ficou no papel.
180 - SIDNEY FERREIRA POSSUELO - JUNHO/91 A MAlO/93
o sertanista Sidney Ferreira Possuelo chefiava a Coordenadoriade Indios 150- lades da Funai quando foi nomeado no dia 28/06/91 pelo presidente Collor, em substituicao a Cantfdio Gnimaraes, demitido no dia 21106. Possuelo rece-
beu carta branca para fazer alteracoes administrativas e afirmou como prioridades 0 casu Yanomami e a demarcacac de 266 terras mdigenas. Puncionario de carrelra da Funal, chefe da Frente de Atragao dosArara CPA), nadecadade 80, Possuelo reivindicou perrnanentemente ao presidente Collar a revogacao dos Decretos 23,24,25 e 26 (de 04/02191), que tiraram da Funai as responsabilidades pela educacao, saude, projetos produtivos e meio ambiente em areas indigenas, transfermdo-as a outros ministerios.
Realizou uma reforma adminlstrativa, iniciada em 20/01/92, quando exonerou seu superintendente geral, Edfvio Batlstelli. Desapareceram do organograma nao so esse cargo, mas todas as Superintendencias Regi on ais. Todas as ati vi dades, desde o planejamento geral da Funai ate 0 atendlmento aos mais remotes Postos Indigenas passaram a se
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POLiTICA INDIGENISTA
vincular diretarnente a Presidencia do orgao. As Superintendencias passaram 3. categori a de Administra~6es Regionais - que somam 46, sem autonomia administrativa ou orcarnentaria, ligados a Diretoria Geral de Assisrencia, em Brasilia. Foram criadas tarnbem as Diretorias Fundiaria e de Adminlst~ao. Em sua gestae, Possuelo distendeu arelacao do orgao com entidades nao-govemarnentais. Ao criar 0 CDDI, convocou representantes de ONGs para compo-lo e assinou quatro convenios de parceria com essas entidades no ambito da demarcacao de terras lndlgenas (uer mais detalhes no capitulo Tel'ras1ndfgenas). Sofreu forte oposi~ao interna por isso, 0 principal feito da sua gestao foi a demarcagao ffsica da terra Yanornami de forma continua, facilitada pela disposicao polftica do presidente Collor para encaminhar processos de reconhecimento oficiaJ dos direitos territcriais indfgenas, com vistas a ECO-92 (vel' Crono!ogia de um Genocidio Documeniado, 1'10 capitulo Roraima Mata) _ Possuelo acabou demitido no dia 19105/93, pelo rninistro da Justiga Mauricio Correa, por ordem do presidente ltamar Franco. Na versao do proprio Possuelo, sua cabeca rolou devido a tres motivos: conflito aberto com 0 rninistro Henrique Hargreaves, do Gabinete Civil- que fizera indica~6es para postos de chefia da Punai no Acre e em Goiania; pressao de mllitares inconformados com as demarcacoes de terras na fronteira, e pressao de segmentos economtcos contrariados, como as mineradoras. (7£4)
190 - CLAUDIO DOS SANTOS ROMERO - MAIO A SETEMBRO/93
Claudio Romero ocupava 0 cargo de Diretor Geral de Asslstencia da Funai, quando Ioi nomeado para presidir 0 orgao em 20/05/93. Funcionario de carreira do orgao, desde meados da decada de setenta, coordenou 0 Projeto Xavante que tinha como principal objetivo a demarcat;ao do territorlo xavante ocupado pela frente colonizadora, alem de projetos de educa~ao e desenvolvimento comunitario, Foi diretor do Parque Indigena do Xingu, quando entre outras coisas apoiou os Kayapo Metuktire na demarcacao da AI Capoto/jarina.
Tomou posse do cargo de presidente do orga.o prometendo que nao haveria qualquer ruptura na COI1- tinuidade dos trabalhos da gestae de Sidney Possuelo, Nos quase quatro meses que esteve a frente da Funai, Romero teve uma gestae controvertida. Disse que 0 presidente Itamar Franco nao tinha vonlade polftica para cumprir 0 prazo constitudonal de 05110 para regularizar a dernarcacao das terras indfgenas no pals e foi obrigado a reparar 0 comentario, publicamente. Em agosto de 93, foi acusado, par Urn dossie i nterno, de ter delatado em 83 a ,A,ssessoria de Segural1~a e Informacao- a SNI da Funai - uma conspiracao de funcioruirios contra 0 entao presidente do orgao, coronel Paulo Leal. Ele admitiu que escreveu urn relatorio denunciando servidores do orgao, mas negou ser "araponga"do regime militar. Romero dlz que os servidores denunciados plane] avam invadlr a sede da Funai, articulados pelo entao deputado Mario Juruna e pelo entao vice-govemador do Rio, Darcy Ribeiro, Na epoca, diretor do Parque Indfgena do Xingu, Romero disse que estava interessado em obter da dire~ao da Funai a demarcacao das terras indigenas na regi ao e, par isso, foi contra 0 movimento.
Foi demitido no dia 03/09193, em meio a infonna~6es contraditorias sobre a chamada chacina dos Yanomami em Haximu, sobre a qual divulgou numeros sucessivamente desmentidos pela imprensa. Dlscutiu com parlamentares em Roraima ameaeando proibi-los de entrar na AI Yanomami, ao mesmo tempo autorizou a visita de diplomatas estrangeiros sem consultar 0 Itamaraty, alem de ter criado um confronto ao declarar que nao se subordinana as orlentacoes do novo ministro extraordinario para a Amazonia, Rubens Rtcripero. (1£4)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
2.0n - DINARTE NOBRE DE MADEIRO - SETEMBRO/93 A SETEMBRO/95
Dinarte assurniu interinamente a Presidencia da Funai, no dia 03/09/93, e acabou perrnanecendo dois anos a. frente do orgao. Ha 23 anos funcionarto da
Funai, ao assumir 0
cargo era assessor da Presidenci a. do orgao para a regiao Norte e Nordeste, e estava em Boa Vista coordenando a retirada dos garlmpeiros da AI Yanomam i. Defendeu a neeessidade do orgao retemar 0 poder de policta para tel" mats autonomia e mobllidade no cambate aos garimpetros que invadem tetras indlgenas
Madeiro foi mantido no cargo com a rnudanca de governo e. no conjunto, teve uma gestao discreta, sem demincias de irnprobidades administrativas. Apesar disso, Dinarte foi publicarnente desprestigiado pelo ministro dajustica NelsonJobim e pelo proprio presidente FHC. Chegou a pedir demissao alegando suas divergencias com 0 secretario-executive do Ministerio, Milton Selligman, na questao das dernarcaeoes das terras Indlgenas, principalmente sobre a areados Xavante, a Suia-Missll. o ministro nao aceitou a dernlssao. Afaslado das dellberacoes sobre os rumos da polflica indigenista oficlal, COIOCOll sen cargo a disposi~ao rnais de uma vez e manifestou sucessivamente sen apoio a rnanutencao dos procedimentos admuustrauvos COl1Stantes no Decreta 22/91. (7£4)
210 - MA.RCIO JOSE
BRANDO SANTILLI -
SETEMBRO/95 A MAR<dO/96
Indicado por FHe, urn di a depots da reuniao ocorrida no Palacio da Alvorada em 03/08/95 entre 0 presidente, 0 ministro da jusnca e urn grupo de antropologos (uer capitulo Ierras fnd(genas) i Santilli nao era o preferido de jobirn. Entao secretarioexecutive do Institute Socioambiental em Brasflia, Santilli dernorou urn mes pam aceitar a indtcacao, penodo em que indicou outros names ao ministro [obirn. Consultou pteviarnente varias
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ONGs do campo indigenista sabre a oportunidade de encarar 0 dessfio de administrar lima Punai sucateada e enfrentar urn novo decreta sobre demarca~ao de terras indigenas, medida ja decidida pelo presidente nrc.
~ Formado ern filosofia, Santilli foi deputado pelo ! PMDB de SP (1982-86) e integrante do grupo pollti~ co do arual presidente FHC. Durante seu mandate 5
~ parlamentat foi membra da Comissao de Relacoes
~ Exteriore.s e da Comissao do fndio, na Camara dos Deputados, Entre 1987 e 88, foj pessoa-chave na liga~ao entre a Coordenacao Nacional dos Povos Indfgenas na Constitllinte - que reunia Indios e orga-
niz~6es civis de apoio - eo Congresso Nacional. Em .1989, juntamente com LIm grupo de indios, antropologos e [uristas, fundou e dirigiu 0 NOI, urna ONG com sede em Brasilia, que teve destacado papel na aplicacao pranca dos dlreitos coletivos dos Indios, atraves de demandas [udiciais paradigmiticas. Em 1994, foi urn dos fundadores do Instituto Socioambiental (rSA).
o Cimi consideroua sua norneacao como "uma tentativa do governo para criar condicoes poltticas favoraveis para mudar 0 procedimento administrativo de demarcacao das terras indfgenas". AIem da Igre]a Catolica, Santilli ganhou multos inirnigos inter!los com a demissao de funcionarlos corruptos das Areas Kayap6 e Xavante, 0 corte de diatlas de caciques xavante em Brasflia, 0 fechamento de Administracoes Regionais, eo aminclo de uma grande reforma admlnlstrativa
Enfrentou varias rebeltoes regionais e sequestros de funclonarios por Indios aruculados com segmentos de mafias funeionais e 0 seu proprio gabinete em Brasflia foi invadido por urn grupo de Xavante, acompanhado da Rede Globo de TV. Santilli pediu oermssao alegando falta de apoto do Mtnlsteno da Jlliltk;:a, que nao buscava arnpliar as verbasda Funai e retinha os recursos que ele conseguira diretsmente do Tesouro Nacional, alem de nao garantir a investiga~ao policial a respeito das mifias funcionais. (7Si!)
220 - JULIO MARCOS GERMANY GAIGER - MAR~O/96
Norneado presidente da Funai no dia 12/03/96, Gaiger e advogado, gaucho e trabalhava como assessor concursado na Comissao de Defesa do Consumrdor, Meio Ambiente e Minorias, da Camara. Ligado a questao indfgena desde 1977, qu ando dirigi u a Associ a~ao N acional de Apoto ao indio de POl1a Alegre, da qual salu em 1986.
POVOS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95·· INSTlTUTD SDCIOAMBIENTAl
Gaiger foi assessor [uridicn do Cimi, orgao da Igreja Catollca, ate 1991.
Escolhido pelo ministro da [ustica Nelson jobim, com quem trabalhava desde meados de 95 na formulacso do polamco Decreta 1775, que prev€ a revisao de areas indfgenas aintla nao registradas, sua indica~ao causou imediatos protestos de organiza~5es indlgenas e de apoio. (/SAj
I
OS MINISTROS
DA JUSTICA
JARBAS PASSARINHO - OUTUBRO/91 A ABRILl92
o senador pelo Para, [arbas Passarinho, assurniu 0 cargo de rninistro da [ustica no dia 15/10/91, em substituicao a Bernardo Cabral, soh protestos da soeledade civil organlzada e da I greja Cat61 ica par sua vincl1la~ao polftica com a regime milltar - fora rninistro da Prevideocia Social de Costa e Silva sendo lim des signataries do AI-5, e da Edllca~cio no govemo Medici. Natural de Xapuri (Ae), ironicamente, demitiu 0 ultimo prestdente de llnhagem milltar da Funai, o sargento Cantidio Guerreiro Guimaraes, e pbs em seu lugar 0 sertanista Sidney Possuelo.
Com Possuelo, ao 1011 go de sells dais anos de gestfn, assinou a delimitacan de 22 areas, incluindo lima area contmua para. os Yanornami, com 9,6 milhoes de hectares. Virou persona non grata nos rneios milltares por esse feito, sendo hostilizado por todos as segmentos antiindfgenas do pais. Diante das press6es, sustentou a integridade do territerio Yanomami com argumentos antropologlcos e juridicos, no COI1- gresso, ern jornais e, inclusive, na Revista do Clube Militar (ver artigo de sua au/aria no capi1uto Roraima Mata)
CELIO DE OUVEIRA BORJA - ABRILl92 A SETEMBRO/92
o advogado carioca Celio Borja comecou sua cal' reira polftica na decada de 40, na rnilitancia estudantil, quando foi integrante da juventude llniversitarta Cat6Uca e vtce-presrdeote da UNE. Depots de cornpor a UDN, Borja foi Ires vezes deputado federal, entre 70 e 83, pela Arena e pelo PDS. Foi presidente da Camara entre 75 e 77 e, em 85, passou para o PFL. Ao deixar 0 Legislative, foi assessor especial do ex-presidente Jose Sarney, que 0 nomeou para 0
PDLITICA INDIGENISTA
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STF, em 86. Pouco antes de ser escolhido pOT Collor para 0 Ministerio da [ustica, em abril de 92, recebeu aposentadoria do STF. Parlamentarista de carteirinha e cat6lico praticante (OESP e FSp, abrill 92), Borja teve destacada atuacao no encaminhamento de processos administrativos para. a demarca~ao de terras tndtgenas, sendo 0 ministro que mais assinou portarias de delimita~ao de terras - 36 areas em seis meses. (JSA)
MAURICIO CORREA - OUTUBRO/92 A ABRIU94
Advogado mineiro, senador (PDTIDF) eleito em 1986, Maurfcin Correa era ligado ao entao governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Correa se aproximou de Hamar Franco, que se transformaria em presidente da Reptiblica com 0 impeachment de Collor, durante a CPt que investlgou demincias de corrupcao no governo Samey. G ministro foi urn dos mais ativos integrantes da comissao que tinha Itamar como vice-presidente.
Ao assumir 0 Ministerio, confirrnou Sidney Possuelo na Presidencia da Funai. Durante 0 seu mandate, aconteceu 0 massacre dos Yanomami de Haxirnu, Muito preocupado, visitou a aldeia queimada juntamente com 0 procurador geral da Republica. No perfodo em clue Esteve a frente do Ministerio, delimitou 35 areas Indigenas, (J.'JA)
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POLfTICA INDIGENISTA
ALEXANDRE DE PAULA DUPEYRAT MARTINSABRILl94 A DEZEMBRO/94
Advogado Geral da Uniao e espectalista em direito economtco, Alexandre Dupeyrat fez carreira como consultor [urfdico do Senado, onde aproxirnou-se do ex -senador Itarnar Franco, para q uem el aborou diversos projetos de lei. Teve uma atuacao discreta e essencialmente tecnlca durante sua gestae, periodo no qual assinou as delirnitacoes das tres Areas Indfgenas Guarani Mbya: Araponga, Aguapet'i e Paraty Mirim; e da Al Pinhal dos Kaingang em SC, somando 5.583 ha.
Enq LlaJ1tO esteve it frente do Ministerio, Dupeyrat decidiu batxar port aria determlnando 0 reexame das regras de demarcacao de terras indfgenas em vigor, sob 0 argumento de que demarcaeoes anteriores criaram inumeros problemas. (ISA)
NELSON ]OBIM - JANEIRO/95 Advogado, gaucho, Jobim foi eleito deputado federal pelo PMDBIRSem87 e 91. Participou como urn dos quatro relatoresadjuntcs da Comissao de Ststematizacao da Constitulcao aprovada em 1988 e foi relator da fraeassada Revisao Constitucional, entre 93/94.
Em 1993, apesar de proibido pelo C6digo da GAB, praticou advocacia contra. a Uniao ao fazer um parecer sobre terras indfgenas, a soldo do entan governador do Para, [ader Barbalho, levantando a tese da suposta ineonslitueionalidadee do Decreta 22/91 pelo fato de nao contemplar 0 charnado direito do contraditorio, Uma vez nomeado ministro da Justica por FHC, jobim travou a aprovacao do novo Estatuto das Sociedades lndfgenas no Congresso e paralisou as demarcacoes de terra, subordinando-as it sua obsessao de fazer 0 prestdente FHC assinar um novo decreto sobre os procedimentos adrninistrativos de demarcacao de terras indfgenas.
Autor da teo ria dos "cfrculos concentricos'' (uer capitulo Terras fndfgenas) ,)obim aiegou que fallava objetividade nos procedimentos de identifica~ao de terras indfgenas. Redigiu e finalmente, em janeiro de 1996, a governo FHC acabou promulgando 0 Decreto 1775, que abriu a possibilidade de contestacao de todas as terras indlgenas, mesmo aquelas j a demarcadas, ainda nao-registradas, Delimitou, ate marco de 1996, seis terras indigenas que somarn 2.549.508 ha. (JSAj
POVOS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
rAcervo
-/;\ I SA
, ,
POLITICA PUBLICA DE
SAUDE PARA OS iNDIOS E UMA INDIGESTA SOPA DE LETRINHAS
Istvan Varga (*)
ENQUANTO PERDURA
o DESENTENDIMENTO CORPORATIVISTA ENTRE A FUNAI E A FNS, PIORA A SITUACAO DE SAUDE NAS AREAS INDIGENAS.
Deflnida como atrlbutcao do orgao indigenista oficial (desde os tempos do SPI), a atencao a saiide dos povos indlgenas do pais, por forca do Decreto presidencial n" 23 (07/02/91), passou a ser de responsabilidade da Fundacao Nacional de Saiide, do Ministerio da Saiide - orgao diretor do Sistema Unico de Sande (SUS)- a qual deveria buscar sempre a cooperacao com a Funai, no planejamento e execucac de suas a~oes. Diante dos insucessos e da falta de credibilidade acumulados pela Funai nesse campo, a transferencia de encargos para 0 orgao dirigente do SUS era reivindicada por organizacoes indfgenas, por profissionais de saiide e entidades envolvidas em agoes de atengao a saiide em areas indfgenas, desde 1986.
Na pratica, entretanto, em seus dois primeiros anos de vigencia, 0 novo modelo MS/FNS/Deope/Cosai (Ministerio da Saiide, Fundacao Nacional de Sande, Departamento de Operacoes, Coordenacao de Saiide do fndio) exibiu uma performance pouco convincente. Em funcao do mau relacionamento entre as equipes da Cosai e da Funai no perfodo, a Funai e a FNS nao chegaram a urn plano conjunto de trabalho e cooperacao. Ao contrario, 0 perfodo 1991-92 foi palco de disputas e impasses entre ambas, com varios efeitos e repercussoes: duplicacao e antagonizacao de agoes (na Area Yanomami, porexemplo); perda de significativas oportunidades de estabelecer projetos mais amplos de cooperacao com instituicoes e entidades internacionais interessadas em apoiar agoes nesse campo (como a Opas, 0 G-7 e a CEE); 0 estrangulamento (por falta de recursos) de projetos em andamento, ja anteriormente alocados na Funai.
(" Istvan Varga e medico com mestrado em antropologia. professor da Univ. Federal do Maranhao e trabalha com forma~ao de agentes indigenas de saiide e comunidades rurais desde 1985.
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Alem do mais, 0 processo de implantacao dos cham ados Distritos Sanitarios Indfgenas, anunciado carro-chefe da primeira gestio da Cosai, nao apresentava, ate entao, resultados objetivos do ponto de vista institucional: nenhum distrito sanitario indfgena havia sido oficialmente implantado; prirneiro experimento assumido pela Cosai, o Distrito Sanitario Yanomami, encontrava-se virtualmente paralisado. A grande maioria dos medicos, que em algum momenta estiveram envolvidos com 0 DSY, por exemplo, ou retornaram a seus estados de origem ou foram em busca de projetos que Ihes oferecessem maior eficacia operacional, seguranca e estabilidade no trabalho e melhores condicoes de remuneracao (ver mais detalhes a respeuo no capt/uta Roraima Mala, em especial no artigo de Marco A. Pelegrini).
Resulta, grosso modo, que 0 quadro geral de saiide indfgena do pafs nao apresentou melhora em relacao ao perfodo Funai; ao contrario, em funcao da paralisacao de seus projetos, par falta de recursos, a situacao se agravou em varias areas do pals (uer, por exemplo, as noticias sobre a situar;iio sanitaria alarmante nos capitulos Rondonia e jurualjutaflPurus).
FORUM NACIONAL
De 22 a 26 de abril de 1993 realizou-se, em Brasilia, 0 I Forum Nacional de Saude Indfgena, organizado pela FNS - que assim marcava 0 lnfeio de uma nova gestae na Cosai - e pela Funai. Resultou do encontro urn conjunto de diretrizes gerais para 0 setor e uma divisao de atribuicoes entre FNS e Funai, determinando que ambas tracassem urn plano conjunto de trabalho. Para tanto, determinou-se que fosse constitufda (ate 30104/93) uma comissao de nfvel central- CODtando com a participacao de tecnicos das areas de satide, iurfdica, auditoria e administracao - que deveria normatizar a aplicacao dos recursos disponfveis para 0 setor e definir diretrizes que regulamentassem convenios com ONGs, universidades e demais centros de formacae de recursos humanos.
A plenaria final do evento elegeu uma comissao de oito representantes (sendo dots funcionarios da FNS, dois da Funai e quatro lndfge-
POlfTICA INDIGENISTA
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MODELO GERENCIAL PARA OS SERVI90S DE SAUDE PARA COMUNIDADES INDfGENAS DA II CNSPI
Durante a II Conferencia, consagrou-se um modelo de gerencia, que abarca todos os atores interessados, e um plano comum de diretrizes e metas a cumprir. As instancias estrategicas para a implementacdo desse modelo gerenaal sao os Distritos Sanitdrios Especiais Indtgenas (DSE!) e os Nucleos Interinstitucionais de Saude Indigena (Nisi).
Os DSEls, conforme definido pelo I Forum Nacional de Sauck Indigena e pela II CNSPI, se constituem na base operacional propriamente dua, a niuel do SUS, desse modelo gerencial. Os Distritos Sanitdrios configuram a jd tradicional base operacional do SUS. Slio delimit ados com base nas dindmicas e determinantes demogrdficos e epidemiologicos da popularao regional e em suas vias e modos de acesso aos seruicos de referenda disponfveis (modelo preconizado pela Organizafao Panamericana de Saude, os chamados Sistemas Locais de Saude - Silos).
No caso das ar;oes e seroko: ooltados a grupos indigenas, a delimitaoio dos distritos, assim como 0 planejamento das afoes a serem desenvolvidas em seu ambito, deve obedecer a criterios ainda mais especficos, que tomem por base, alem dos descritos acima, as caracteristicas e dindmicas sociaie, culturais e historicas dos grupos indfgenas abrangidos, e de suas relacoes com a sociedade envolvente; essa delimitagao deue, portanto, tambem ser dinamica e flextuel, de modo a permitir sucessivas readaptacoes.
A nosso Vet; a implantafao dos DSEls ndo necessaria mente deverd impiicar na configuraglio de um .. subsistema" local especfJico de saude para atender a populacoee indigenas, na medida em que, na maioria etas vezes, deverd abranger instituir;oes e servicos de satide tambem voltados it popula¢o regional em geral.
Os DSEls caracterizam-se, isso sim, como instdncias de planejamento (conjunto, interinstitucional) de agoes e de gerenciamento de recursos (especficos do SUS) voltados a saude das comunidades indfgenas. Suas necessidades em implementor novos serui{;Os e/ou compor quadro profissional especifico para 0 desenooloimento de a(foes voltadas a essas comunidades e determinado, basicamente, pela disponibilidade, pela capacidade operacional
e pela qualidade de atendimento oferecido pelos seroicos ja disponiveis da rede SUS local/regional e de outras insHtuiqoes ali atuantes.
Para que tenham a capacidade de implementar, assim, on de e quando se fizer necessdrio, esses serviqos e/ou programas de agao especficamente voltados a comunidades indfgenas, os DSEIs devem ser dotados de autonomia administratiua e financeira.
As prioridades e programas de agao a serem executados no ambito dos DSEIs, assim como 0 controle sobre a aplicar;ao dos recursos a ele destinados, e objeto dos Conselhas Distritais de Saude lndigena (CDS!), colegiados de composicao paritdria entre os representantes das comunidades indigenas e das instituigoes/entidades prestadoras de seroicos (quer sejam ou nao integrantes da redeSUS).
Conforme determinado pela propria II CNSP!, as Nisis sao instdncias colegiadas estaduais de planejamento e supervisito das adies de saude voltadas aos grupos indfgenas e de controle da aplicagao dos recursos destinados para esse fim. Os Nisis, entretanto, ruio se constituem em instdncia« de gerenciamento de recursos ou de execuciies de agoes de saude. Uma vez defintdas, a nfvel de um determinado Nisi, as prioridades regionais e as atribuir;oes de cada instituigao/entidade prestadora de seruicos ali representada, caberd a cada uma delas dispor de seus proprios recursos e seguir seu proprio protocolo inferno de ordenacdo das despesas na execucdo dessas aroes. Aos Nisis compete, em outras palauras, a coordenacdo propriamente dita, a nivel dos estados, da articulagao mterinstitucumal entre 0 conjunto de prestadores de seroicos.
Tanto os DSEls quanto os Nisis, finalmente, s6 poderdo ser considerados oficialmente constitufdos uma vez que esteja assegurada a paridade de composicdo, em suas instancias intern as de decisito, entre representantes das comunidades indsgenas (na condigiio de "usuaries") e representantes do conjunto das institUifoes governamentais e entidades ndo-gouernamentais que lhes prestam seroicos,
nas) , para acompanhar todas as negociacces e 0 trabalho das respectlvas comiss5es. A Funai constituiu rapidamente sua comissao (em 29/04/93, dentro do prazo detenninado pelo I Forum); a presidencia da FNS s6 oficializou a sua em 18/05/93 (Portaria 541, assinada com atraso de quase 20 dias em relacao ao prazo definido). Essas comiss6es, no entan. to, s6 viriam a reunir-se, efetivamente, a partir de julho de 93.
Pressionadas pelos seus respectivos funcionarios nas varias ADRs e eRs do pais e pelos proprios representantes do I Forum, Funai e FNS
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POLiTICA INDIGENISTA
iniciararn negoclacoes na busca de urn entendimento rmituo que viabilizasse 0 flm das disputas e 0 inicio de urn perfodo de coopera<;:3.0. Seus dirigentes tambern parecem ter finalmente compreendido que apenas a cooperacao mutua poderta manta-los viaveis nesse campo de atividades. Os representantes do I F6rum passaram a participar assiduamente das reuni6es da Comissao Intersetorial de Saiide do Indio - Cisi (uma das comiss6es consultivas do Conselho Nacional de Saiide), aumentaram seu coletivo, reforcaram sua representatividade e sua legitimidade e se constituiram num impor-
POVDS INOiGENAS NO BRASIL 1991/95 ·INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
..... _ _.""'-'~, .. vr de pressao sobre as duas instituicoes na supervisao e avaliacao de seus respectivos desempenhos administrativos; na deflagracao do inicio dos trabalhos das comissoes; e zelando para que as negociacoes aeerea do futuro plano de cooperacao se baseassem na divisao de atribuicoes e no modelo de gerenciamento conjunto de reeursos definldo pelo Forum: Niicleos Interinstitueionais de Saiide Indfgena (Nisi) e Distritos Sanitarios Espeeiais Indfgenas (DSEI).
A participacao dos representantes do Forum limitou-se a segunda reuniao dessas eomiss6es (21/07/93), oeorrida durante a gestae do dr. Carlos Shigueioshi Aguni na Cosai/FNS, que cobriu suas respectivas despesas com passagens e diarias. Com a destituicao do dr. Aguni e a nomeacao da sra. Odenir Dias Teixeira para 0 cargo, a Cisi e 0 representantes do Forum nunca mats receberam informacoes precisas acerca do andamento dos trabalhos e nem foram eonvidados a participar das reunifies, eonforme determinado.
Entendimentos entre as ciipulas das duas instituictes foram sendo conduzidos, a portas fechadas, durante 0 segundo semestre de 1993. A IX Conferencia N acional de Saiide (Brasilia, 9-14/08/92) deterrni-
EXPECTATIVA DE VIDA
E preocupanie a siiuacdo de satide dos povos indigenas brasileiros, conforme den uncia do Instituto de Medicina Tropical de Manaus (IMTM), em congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMJ), realizado em GoianialGO (03-07103196). Ocorre que a falta e a imprecisao de dados tem impossibilitado a determinacao e indicar;oes fidedignas sabre a saude indigena. Com a implantafiio do registro de 6bi/os, nas 47 unidades administrativas da Punai (de janeirol93 a outubroI94), registraram-se 2.591 6bi/os em indios em todo a pais. As causas mais freqiientesforam a desassistencia medica (22,3%), causas externas (13%), infecfiio respiratoria aguda (I2,3%), diarreias agudas (8,7%), doencas degenerativas (6,9%), causas perinatais (5,8%), desnutri¢o (5,4%), malaria (5,2%), tuberculose (3,9%), bepatites (3,2%), causas mal definidas (3,15%), neoplasias (2,5%), outras (7,8%). Ocorreram 6bitos em 135 etnias, com predominio dos Kaingang 552 (21,4%), Kaiowa 297 (11,5%), Yanomami 213 (8,2%), Guarani 134 (5,2%), Munduruku 132 (43,1%), Xavante 118 (4,6%) e Ticuna 93 (3,6%). fjuase metade dos 6bi/os, 1.079 (45,8%) ocorreram antes dos cinco anos, sendo 631 (12,6%) no primeiro ana de vida, e apenas 404 (17,2%) aP6s as 65 anos. A expectativa de vida media dos indios brasileiros fat de 45,6 anos, sendo as niveis baixos registrados em Roraima, Mato Grosso do Su( Para e Amazonas; os mais elevados ocorreram em Sao Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Alagoas. Houve redufao progressiva e acentuada da expectativa de vida nos ultimos tres anos: de 48,2 em 1993, para 45 em 1994. Qayme Neves/O Estado de Minas, 14/03/96)
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FUNDACAO NACIONAL DO iNDIO Comissao Intersetorial
RESOLUC:;l':o N9 2, DE 27- DE OUTUBRO DE 1994
o Pre:sidente da Comi~sio Intersetorial - CIS, conatituida pe Lo D!_ c~et.Q nO 1.141, de 19.0S.94J no usa de Buas atribui-coes legais que Lhe s;'o eonferidas.pelo Regimento lnterno e de acordo com as deliber.a¢Qea rea.ul tan tee -da qu_inta reuniao ordinar La realizada nc ~ia 27.10.94, l"!.
solve: -
Aprovar 0 "Modelo de At.enc.ao Integral a SalIda do~ Indio" elaborado pela Su.bcom.,j,s9io de Sande &!Ia CIS f que contempla os obj'etlvos. estrate" 'iias e sistema: de org-anizacao e qerenciamento para 1I area de saude do l.ndio. 0 -Madelo" tem como orienta'Cao basle-a a compreensao de que 0 pr.2, ceS80 saude"Qoenca doe paves indigenas e 0 resul tado de determinantes 8ocio-econiSllieas e eEnico-culturais que via desde a inte.grldade terri to rial e preservaQio do maio aQbiente ate a preservacao das sistemas midI cos tr.a.diciottais •. Esses princIpLos ba.-eicQS bU8«;:Am realizar importante8 lQUdanCilS na forma como tem aida conduz idas ae pol! t.iaa:s e at:OQB de sa!. de. dir 19'idaa· a essea POVQ8 e.. desdobram~se nas se9uintes diretrizes;
- as pollticas de saude deliberadas no imbito OilS ConferenciilB aeef.enais de Prote-cao a Sauda do Indio, de Conselho Nacional de Saude/CISI e da Co~issio Interseterial/CIS;
- desenvc.lvdseenee de a~o.eB de saude em. consQnancia com as especlficid.!. d.es iitnico-cu-lturais d08 povos indlgenasl .
- iJnplement.acao < de proqramas de atenQao integral i saiide do Indio espe C!lfico& para .req.J..Qe:Q: definidaa· a partir de base etcnicas, epidemiQlog"! cas. e geogrifi..;as J
- desenvolvimento de unt Jlodelo de gestio. integrada entre a FNS/MS e a FUliAlfMJ, send" J.mpr",sc1ndivel,
- pre8ervacao no ambi to do Minister io da. saude/FNS, da Coordenao;aa de Salide do Indio - COSAl, (;:ou.. orca-mento proprio e corupatlvel com euee atribui-goes,
- preserva.cao, n~ iinbi to do MJ IFUNAI , . do Departamento de Saude, com D;t"~amento propr.~ e CQmpat:.lvel com suas atribuiooes.
- promot;io da t-,"ansfa,"incia alii conhecimento sobre salida de socledade e.!! volventG, Ai;'! populacoii!IIi1, lndIgenas~
- prioJ;"i:i:a~io da fo.t1naQ:io d.e agent:es indi.genas de s efide - AIS e 0 dese.!! vo~vi:ment:.o de programas de educD;;ao para a.saude das comunidades. como
forma c1e se ter. um atendlmento perma..nente a eases povos~ .
- promocao de articulacao··. interinstitucion.s.l envolvendo todoa os seq-
ment"8 da sQcledade que d'reta Oil J.ndiretamente "tll&lll nas questS". de
salida indlgenaj . .
- .9arantia da participa.ca.o comunitiria em todos ce n Ive Ie de decisao,
execuc';'o e avaliacao deace modelo i
po qarollntia. a todos oe Indios do aces so is acoes de prcmocao, pxevencSo
e recuperacio da Baudo ~ .
- orqanizaQao do cont~ole social no nlvel local, reqional e central,por meio do Conselho Consl:lltivo Local - CC:t., dos Nucleas lnterinstitucio nais de Saude Indlqena - NISI e da Comissao Intersetorial de Saiide IndI g91"tQ - CISI, reapeot.i'Vam.ente~ -
Para ass8gurar a exeeuc:io das ac;6es de saude em forma sist.emati:;::! da e continua, 0 modelo preve, via contrato de gestao, a part.icipacao de associac6es filantropicas, oem fins lucrativos, na contratacao de peiiilsoal suplelnent.a~ aQS quadroa da FUNAI e PHs. Isto permitira a ampli_! Qao da cobertura doa se~icos e propieiara a assitencia diretamente nas
aldeia·s. .
A respOnsabilidade pelo desenvolvimento das acOes de atenca.o a sau de do indio cabera ao Minister Lo da Justioa, atravee: da Funqacao Nacio= nal do Indio e ao Minister1.o da Saade. atraves da ·Funaacao Nacional de Saiidel com. a par~ic.ipaCaQ de. Sist.ema Onico de Saudjl/SUS e· em forma com ... plenaent.ar atuario as Or9anizacoas Nao Governament.ais r Oiqanlzacoes lnd_! genl'1sr 'Un·iversidadea e lnstitutos de PesquiBa, at revee de articulaca.o
multi-inetitucional ... de forma inteqradat harmonio,,". e sine.r9ioa, por
meio de Programas Inte9:rais de Atencio a Saiide do ·t"ndio - PIASIe, que
serao implementadoB para beneficiar etnias que habi tam areas com cacaote~lsticas geograficas, socio"'economicas e epidemiologicas corauns , 0 ge renciamento dos PIASIs sera realizado no nlvel central palo Departamen= to de. Saiide/FUNAI. no l'egional. pot" CooX'denacoea Regionai.s e 00 nivel local. por Coordenat;oes ~cais.
Ao Mini~terio da Justica. atraves da Funda-cao Nacional do tndio t
cabe reallzar a assistencia a saude em areas indigenas e em Casas do
IndiOt .as a.Lm COIllo. art.icular' Q at:.endimento em cutiroa n.lve Is , _
Ao Kinlste·rio da<Saude, ·atraves de Fundacao Nacional de. Saude cape executar acoes de prevenoal? ~m saude, eontrole de ende-mias., v ig.11ancia epideroj,ologica, $lLneolUnent:o ba.sico. capacita-cao de recur sos humanos e im.Uhizar;;io, .,lam de oueroe px-oqrattlaa do Mini.sterio da Sauoe como as de controle do DST/AIOS, de tuberculose, da coler-a. e cuezos , em. forma d!f_!. ~enciada.
A Coo.r;denacao Naclonal do Modelo de Aten-cao Integral a Saude do I!!: dio sera de responsabil idade do orgao indiqeni s te oficial - FONAI, atr~ viis do eeu Departamento de Salide.
DINARTE NOBRE DE MADEIRO
(Of. n9 327/94)
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nou a realizagao da II Conferencia Nacional de Saiide Indfgena, em 1993, assim como se dera com a I Conferencia Nacional de Protecao a Sande do indio (Brasilia, 26-29/11186), tema especffico da VIII Conferencia Nacional de Saiide.
A II Conferencia Nacional de Sande para os Povos Indfgenas (II CNSPI) contou com mais de 400 participantes, dentre os quais cem delegados indigenas e cern nao-indigenas, representantes das institui~5es prestadoras de services. Entre os demais observadores (mais de 200) havia discreta maioria indfgena. As vesperas da II CNSPI, Funai e FNS definiam os termos de um convenio de cooperacao, Esses termos vieram a publico apenasdurante 0 even to. Apesar do interesse e do empenho de todos, nao houve tempo habil para discutilos. 0 resultado foi urn texto que, voltado a solucao imediata dos impasses administrativos e operacionais entre ambas as instituicoes, nao previa a interveniencia das instancias de planejamento e gerenciamento conjunto (e de controle social) dos recursos disponiveis para saiide indfgena: os Nisi e DSEI.
A II Conferencia havia acabado de definir, par votagao em plenaria - ap6s urn longo e exaustivo processo de discussao preparat6ria a nfvel das aldeias, municfpios, estados e macro-regioes, que abrangeu todo 0 pals - urn extenso e detalhado programa de diretrizes de trabalho a ser assumido por todas as instituigoes e atores ja atuantes, ou interessados em se-los, no campo da atengao a saiide dos povos indfgenas.
o DECRETO 1141 EO MODELO GERENCIAL DEFINIDO PELA II CNSPI
Com a revogacao do Decreto 23/91 - que previa a coordenacao da FNS - e a publicacao do Decreto ne= 1141, em 19/05/94, a coordenagao de todas as agoes governamentais de saride voltadas a grupos indfgenas passou a ser de responsabllidade de uma Comissao Intersetorial presidida pela Funai.
As interpretacoes que tanto a Funai quanta a FNS vem dando ao Decreto 1141 sao coincidentes no que concerne a responsabilidade pela implernentacao de agoes assistenciais em campo: "0 decreto e claro em repassar a Funai a responsabilidade de execucao das a~oes assistenciais." (Offcio Funai/Presi/94 n" 380, 29/06/94); "tanto a FNS
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POLITICA INDIGENISTA
quanta 0 Mlnisterio da Saiide passaram a ser apenas crgaos de apoio a execucao de atividades relativas a saiide do Indio". A FNS passaria a priorizar " ... 0 controle de endernias, capacitacao de recursos humanos, saneamento basico e os projetos que ja tenham financiamento externo garantido." (Offcio 5204/Cosai, 22106/94).
Com a mudanca, a FNS desincumbiu-se, da responsabilldade de prestar apoio as a~oes de assistencia medico-odontologica em areas indfgenas, Conforme definido no item 1 do Offcio 5204/Cosai, mantiveram-se, no entanto, as atividades de apoio que ji haviam sido previstas no orcamento da Fundacao para 1994. A Funai, que deveria passar a assumir a execucao das a~oes assistenciais, nao dispoe, nesse momento, dos recursos necessaries para arear, por exemplo, com as despesas referentes as diarias de campo para profisslonats de satide, nem para a aquisicao de equipamentos e medicamentos e, certamente, ainda levari certo tempo para que se definam os instrumentos burocraticos necessaries a sua integracao efetiva ao SUS, de modo a que tambem possa captar recursos desse orcamento, conforme determinado no Decreto 1141.
Caso nao se definam, portanto, a curtissimo prazo, alternativas administrativas que permitam suportar as agoes de saiide ji implantadas junto a essas comunidades, todos os programas a elas voltados, implementados desde 1991, correm series riscos de solucao de continuidade ate meados de maio/95, quando se espera ja estejam definidas as novas equipes responsavels pelas pastas rninisteriais, pela Funai e pela FNS.
A II CNSPI nao deu espaco, tanto em sua programacao de atividades (deflnida pela comissao organizadora) quanta nas propostas apresentadas para votac;ao em plenaria final (deflnidas espontaneamente pelos participantes) , a discussao do papel de "coordenacao" institucional, em nfvel central, das a<;oes de sadde voltadas aos povos indigenas (objeto tanto do revogado Decreta 23, quanto do Decreto 1141). Esse fato refletiu 0 entendimento geral, entre os participantes da Conferencia, de que esta e uma questao menor, que diz respeito apenas as disputas entre as interesses politicos das cripulas da Funai e da FNS: na Interpretacao delas e de outros setores do governo, entendia-se que a lnstituicao "coordenadora" caberia 0 controle sabre a maior parte dos recursos destinados ao setor. (ago/94)
rovns INOIGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
I'", ACONTECEU
EOUCACAO INOjGENA
MEC INSTITUI COMITE DE EDUCA<;AO ESCOLAR INDIGENA
o secretario Nacional de Educacao Baslca, Paulo Elpidio de Menezes Neto, instituiu atraves da Portaria n° 60, de 8/07, 0 Comite de Educacao Escolar Indigena (GEE!), junto ao Departamento de Educat;ao Fundamental e Medio do MEC, com "a fin alidade de su bsidi ar as at;oes e proporcionar apoio tecntcc-ctenuflco as deeisoes que envoi vern a ado~ao de normas e procedimentos relacionados com 0 Programa de Educacao Escolar lndigena" . N a mesrna Portari a, foi criada a Assessoria de Educacao Escolar lndfgena no Departamento de Ensino Fundamental e Medio da Secretaria Nacional de Educa~ao Baslca, com a finalidade de dar curso as recomendacoes do Comite e acornpanhar as a~oes
referentes a educacao indigena nos estados. (PIBI CEDI, a partir do DOV, 13/07/92)
COMITE E EMPOSSADO
Em solenidade realizada na Sala de Atos do MEC, com a presenca do rninistro Murilio Hingel, foi instalado no dia 17/03 0 CEElIMEC, 0 qual tern carater interinstitucional e interdisciplinar e compoe-se de representantes do MEC (Marineuza G azzetta), da Funai (lairne Mattos e Nelmo Scher), das universidades (Ruth Monserrat e Bruna Franchetto), das ONGs (Marina Kahn e jussara Gruber), da ABA (Araey Lopes da Silva e Luis Donisete Grupioni): da Abralin (Raquel Teixeira), do Consed (Ruy Rodrigues da Silva) e de representantes indfgenas da regiao Centro-Oeste (Daniel Cabixi e Domingos Verissimo), Norte (Euclides Pereira Macuxi e Nino Fernandes) e Sui (Selia Ferreirajuvencio Kaingang e Andila Inaclo Delfort). 0 Comite e urn orgao as-
sessor do MEC e devera se reunir duas vezes por ano. (PIB/CEDI a partir do injormativo Fundamental/MEC, abr/93)
MEC LAN<;A DIRETRIZES PARA EDUCAgAO INDIGENA
o MEG lancou, durante 0 I Seminario Nacional de Educacao Indlgena, realizado em Belem (PA) de 7 a 11112, a publicacao "Diretrizes para a Polftica Naclonal de Educacao Escolar Indigena'', elaborada pelo CEEIIMEC.
Apoiadas em dispositivos constantes na Constitui~ao de 1988, as diretrizes para a polftica de educa~ao indfgena tern como princfpios gerais a especlficidade, a afirmacao da diferenca, a interculturalidade,o bilingiHsmo e a globalidade do processo de conhecimento. 0 documento em questao define 0 que seentende par cada urn destes princtpios e, ao se estender pelas normas e diretrizes, da
DE QUEM t A RESPONSABILIDADE PELA EDUCAr;AO ESCOLAR IND/GENA?
Com 0 Decreto n° 26/91, assinado pelo presidente Fernando Collor, em 04/02/91, 0 MEC recebeu a incumbencia de coordenar as aroes nferenies a educacdo escolar indigena no pafs "em todos os niveis e modalidades de ensino, ouoida a Funai' '. A assinatura deste Decreto, juntamente com outros Ires (nOs 23,24 e 25) relacionados a saude, prole¢o do meio ambiente e atiudades produtioas representou um processo de esoaziamento do 6rgao indigenista federal. Muitos se posidonaram contrdrios Ii pulveliza¢o das a¢es de assistencia aos indios em vdnos ministerios e ao consequente processo de desmantelamento cia Funai.
Pato If que algum tempo depois, este conjunto de decretos Jot revogado: menos 0 que repassou a responsabilidade pela assistmcia a educaoio nas comunidades indfgenas para 0 MEC. E isto aeontece-u com 0 apoio cia comunidade cientfjica e do mooimemo de apoio aos indios, pots desde que 0 MEC assumiu 0 gerenciamento do processo, bouve uma maier abertura do Estado para repensal' suas prdticas. Vale lembrar a reststmeta cia Punai, quando esta mantinha a exclusioidade de atuarao nessa drea, em rever sua prdtica integracionista e em apoiar projetos alternatitos desenooloidos pelos proprios indios e por organizaroes ndo-gouernamentais de apoio. Vale lembrar; tambem, a assinatura sistematica, por parte cia Funai, de conoemos com missoes religiosas proselitislas para prestar assistencia educacional as comunidades indfgenas.
Ao assumir a responsabuidade peia educa¢o escoiar indfgena, 0 MEC tratou de constituir um Comite de Educa¢o Esco/ar Indfgena, para subsidiar suas aroes, e lancou as direbizes para uma poWica nacional de educa¢o escolar indfgena, atendendo, em parte, l'eivindicaroes que vinham sendo apresentadaspelo mooimento indfgena e indigenista, no sentido de construir uma escola que respeitasse a especfiadade e colaborasse para a manutencdo da diferenra e da identidade por parte dos grupos indigenas.
Percalcos - Iodatna, a passagem da educacdo indigena da Funai para 0 MEC veio a aceierar 0 processo de estadualiza¢o e municipa/iza¢o das escotas indfgenas. /slo ocorreu porque, nos tiltimos anos, a politica do MEC tem sido a de repassal' recursos para que outros Drgaos e instdncias administratiuas exeeutem as a¢es. Ou seja, a passagem para 0 MEC ndo representou apenas uma mudanca do Drgao gerenciador do processo, mas representou signijieativamente uma mudanca em termos da execucdo das ar;oes. Estas passaram a ser desenvolvidas pelas secretarias estaduais de eduea¢o, que foram incentioadas a criarem Nticleos de Educa¢o Indfgena.
A estadualiza¢o das escolas tndfgenas, e em alguns casas, sua municipaliza¢o, ocorreu sem que se eriasse mecanismos que assegurassem uma ceria uniformidade de a¢es e sem que se garantisse a espeaficidade destas escolas. A estadualiza¢o nao representou um processo de instituiriio de parcerias entre Drgaos gouerna-
mentais e entidades ou organizaroes cia sociedade civil, compartilhando uma mesma concepoio sobre 0 processo educativo a ser ojerecido para as comunidades indfgenas, mas sim uma simples transjerenda de a/ribuiyiJes e responsabilidades. Da Funai para 0 MEC e dese para as secretarias estaduais de educa¢o criou-se uma situa¢o de acljalia no processo de gerenciamento global cia assistencia educacional aos pouos indigenas. 0 MEC assumiu a questdo em termos de um macrogerenciamento normatizador; preocupando-se basicamente em fornecer alguns elementos e alguns recursos para que as secretarias estaduais de educa¢o desenooluessern 0 trabalho. Estas, POl' sua uez, encamparam tal tarija seguindo ritmos proprio« e de acordo com a conjuntura politictllocal de simpatia ou enfrentamento com as comunidades indfgenas. E mais: quando conseguiram veneer 0 susto de tel' que lidar com a queslao indfgena, direcionaram, em sua grande maioria, recursos humanos nao habilitados para 0 desenooloimento de aroes.
Q resultado deste processo, amparado inclusive na legisla¢o, If que todos tem responsabilidade e, ao mesmo tempo, ninguem tem responsaoitidade, restando aos indios a drdua missao de buscar solUl;oes para seus problemas. frequenlando indmeros gabinetes em diferentes orgaos, num oerdadero labirinio burocrdtico. Tal situar;ao precisa, eudentemente, ser equacionada. (Lufs Donisete B. Grupioni, abr/95)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
POLITICA INDIGENISTA
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amplo espaco para a conceltualizacao e operacionaliza~ao do que devem ser os currfculos das escolas indfgenas. Aborda, ainda, a questao dos materiais didatico-pedagoglcos, a formacao de recursos humanos e as possfveis fontes de financiamento para a educacao escolar indfgena.
Pela primeira vez na historia educacional brasileira, 0 pals possui uma polftica - ainda que no papel - de educacao escolar para as comunidades indfgenas consubstanciada num conjunto de diretrizes que respeitam e valorizam a especificidade socio-cultural das comunidades indfgenas. (Luts Donisete B. Grupioni, Jev/94)
EDUCA~AO INDiGENA NA NOVA LDB No dia 10/05 foi aprovado, na Comissao de Constitui~ao [ustica e Gidadania do Senado, 0 substitutivo do senador Darcy Ribeiro ao proieto de Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LDB) , que vinha sendo elaborado pela Camara dos Deputados desde 1988. No projeto da Camara, a questao da educa~ao para as comunidades indfgenas estava contempi ada em tres artigos, que garantiam 0 direito a uma educacao especffica, nao integradora, e respeitosa da diversidade cultural existents no Brasil. No novo substitutive do senador-aotropologo, a educa~ao indfgena estava restrita a reproducao do artigo 210 da Constitutcao Federal. No Plenario recebeu 57 emendas, entre as quais algumas da senadora Benedita da Silva e de Ademir Andrade, que tratayam da questao da educacao escolar indfgena, par-
cialmente aceitas pelo senador. .
No artigo 75 do substitutivo esta estabelecido que a Unlao apoiara tecnica e financeirarnente os sistemas de ensino para provimento da educacao bilfngue e intercultural as comunidades Indfgenas, desenvolvendo programas de ensino e pesqutsa que serao planejados com audiencia das comunidades indigenas e inclufdos nos pianos nacionais de educacao. Estes programas terao como objetivos 0 fortalecimento das praticas soclo-culturais e a lfngua materna de cada comunidade indfgena; a forma~ao de pessoal especializado; 0 desenvolvimento de currfculos eprogramas especfficos e a elaboracac e publicacao sistematica de materiais didaticos e bilfngues, Vale registrar que a LDB em vigor nilo contern qualquer referenda a educac;ao escolar indigena. (Luts Doniseie B. Grupioni, ago/95)
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POUTICA INDIGENISTA
MISSOES RELIGIOSAS
CONVENIOS COM MISSOES SERAO REVISTOS
A Funai perdeu 0 controle sobre a situ~ao das missoes religiosas em areas Indigenas - reconhece a antropologa Maria Auxiliadora Cruz Lew, assessora do presidente da Funai, Sidney Possuelo. "Agora vamos rever todos os convenios flrmados com missoes religiosas, sem excecao", garante. A PF, acionada pelo ministro da justica [arbas Passarinho, tarnbem esta trabalhando para saber a real situ a~ao das mtssoes religiosas em areas Indfgenas, principalrriente na Amazonla.Embora os convenios firmados com a Funai estabelecam que os missionaries estrangeiros tern de abrir mao do proselitismo religioso quando estiverem atuando em areas indfgenas, a Funai tem contestado que, na grande maioria dos casos, isso nao oeorre. Em Roraima, a Missiio Novas Tribos do Brasil (MNTB) e a Missiio Evangelica da Amazonia (Meva), arnbas protestantes, fazem urn pennanente trabalho de catequese, exigindo que os fndios abandonem suas tradicoes. A Meva vern mesmo traduzindo a Bfblia para a lfngua yanomami. As missoes religiosas da Igreja Catolica tambem serao investigadas, embora 0 Conselho Indigenista Mission:irio (Cimi), em seus estatutos, assegure que abre milo da evangelizacao dos Indios para seguir deterrninacao do Concilio Vaticano II. (FSP, 07/07191)
MISSOES AGEM NAS ALDEIAS SEM CONTROLE DA FUNAI
As 53 organiz~6es religiosas que atuam nazrnazonia nao tern autorlzadio da Funai hi pelo menos dais anos para desenvolver trabalhos lingufsticos, prestar assistencia medica ou ate mesmo para entrar nas aldeias indfgenas. Desde 1991 quando terminou 0 convenio de tres anos da Funal com nove entidades religiosas, nenhuma autorizacao foi concedida a missoes eat6lieas ou evangelicas. Os trabalhos feitos atualmente poressas instituicies silo irregulares. Mas os missionaries continuam decididos a pregar a bib Ii a aos "pecadores" Indios que desconhecem 0 Deus dos brancos.
A Funai nao tern controle sobre as atividades das missoes, Os mimeros provam a supremacia das entidades religiosas sobre 0 proprio orgao responsavel pela preservacao da cultura de 270 mil indios espalhados em 200 povos no pats. Dos 4.150 funcionarios da Funai, apenas 30%, ou seja 1.245 trabalham nas a1deias. 0 mimero de misstonarios ultrapassa cinco mil e eles estao presentes em imimeras a1deias. Para cada funcionario da Funai nas aldeias existem quatro religiosos.
Em alguns caso, os missionarlos chegam antes que os tecnicos da FunaL Foi 0 queaconteceu na area dos Indios Zo'e, no oeste do Para, isolada ate 1982 quando representantes da missao norte-americana Novas Tribos no Brasil ocuparam a reserva sern autorizacao e omitiram a morte de Indios por doencas pulmonares, tipicas do p6s contato com 0 branco. A Funai s6 chegou em 1989. Estes missionaries foram retirados da area pelo orgao indigenista, em outubro de 1991.
A MNTB tem 500 missionarios, 60%, em 35 tribos da Amazonia. Alfabetizam os fndios em portugues e na lingua original, por meio de levantamento fonetico, sempre com 0 enfoque bfblico. Prestam asststencia medlcas, "Nos nao temos eonvenio com a Funai, mas permissao de funcionarios dos postos onde atuamos", comenta Assis Militilo da Silva, membra da MNTB. Esse tipo de autonzacao nao tem validade. Segundo Otflia Maria Esc6ssia Nogueira, chefe da Coordenadoria Geral de Estudos e Pesquisas da Funai, e necess:irio uma autorizacao oficial, com regras definidas, para a continuacao dos trabalhos, o que nao foi concedido. (Trechos do artigo de Marcos UchOa in DES?, 28/11/93)
ESPECIALISTAS CRITICAM MISSOES
Antropologos e indlgenistas nao poupam criticas ao trabalho de algumas rntssoes que tentam envangeltzar os indios a todo custo. Alinal os indios pagaram tributo muito alto durante os 200 anos de dorninacao [esuitica. Para eles os Indios eorrem series riseos com 0 trabalho das organizacdes religiosass que atuam nas areas indfgenas, sem controls da Funal, Essas missces continuam, mas de maneira dtsfarcada 0 processo de colonizacao. "Nem todos os missionaries pens am. assim, mas a grande maioria quer imprimir urn outro ritmo a Esses povos, 0 que e extremamente negativo", aftrmouo sertanista Orlando Villas Boas.
AI; intervencoes dos grupos evangelicos sao as mais criticadas. Esses grupos sao classificados par especialistas como lntranstgentes. "Profbem rituais e fazem pressao para que se convertam ao Deus branco", disse Villas Boas. "Os valores de um povo sao constitufdos pelo mundo mftico religioso e magtco, mas esses evangelicos nao entendem isso". o antropologo Gilberto Azanha, do CTI, aflrma que os Indios nao podem, sofrer pressoes para aceitar a verdade que nao e deles. "A chegada das missoes confronta com esse conceito de llberdade", sftrmou. Como sempre apareeem equipamentos, com remedies e ate alirnentos, alguns mlssionarios trocam a ajuda pela conversao, "0 grau de .resistencla desses.Indios e pequeno, pois enfrentam dificuldades e acabam aceitando essa condicao", criticou. (trechos do artigo de Marcos UchOa in DESp, 29/11193)
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
, Lrz_", Acervo "
-/f\\ISA A CON TEe E' U
I ATO DO PRESIDENTE DA FUNAI QUE NORMATIZA 0
i INGRESSO E PERMANENCIA DE MISSOES EM TERRAS INDIGENAS
I
INST~UGji,O NORMAT.l VA N9 2, DE 8 DE AB~ IL DE ! 9 9 4
G PRES(OENTE OA FUNDA~AO NACIONAL DO i~010 - FUNAI. no V5D d ... ilt,. ib ...... "Q." q_~ .. lil. 'IlrB,() c.Qnfet' .das e e t c EstiltU'tD a,PI"" evade Pil-f'\Q D~creto n~ 56~. oe.9 de J~nhQ Q« t~~~, t~n~c ~~ VI~~~ 0 qU~ con~~~ do Pr-oce s eo FUNAI/8-sB 12105/92. I""ESQ 1 ve l
CQn'l·iotlc .... n.;lc. a nl£(: •• sld.-d...: d ...... """"qUr"iI!l" il nIIilJ .... Jtlll:n~a.o E:
p.r"'I!"$oQ'P"ViII ... O ~~Uli fO .... iiL. ctm- or-ganlzac:.\c !ioe, .. l e (;l,Lltl~rati If"loigeona ... "I3S
su~~ ~~P.~lfl~jd.dc.i
CQn$ idc:ran-do~ a n.cR'Si'Std.adE de s ar an t Ir as. b en s, ,.ate,... e I S e
tallDV. " •• boll'l;O~r qu. d .. ..,inl!'_ a e r-ae e er ene t r uace da cc ue ac ao
t.rritor~~l. i.p,Jc .. fldo t:;l.lIIIbfi ... na. DrDte,;:.ao das. t cec t oai e s nac' .... aSi.ol.l. !:ieja ... 05 t:n~t9S~ C9SlQo1091it. e todas as fqrru-3-& pra,:orLa'S de ..-£'l.lo;..io~idade-.
Conslde ... eno c , alndiJ,~ qyf!' e cevee- do argaa ,,,dIgenista of"lt:i:till P"'Opo":'·-c I onar -u_ espaE:O cie.oC:rat: i co as soc I ec ad e e i no i s enae Q~ modo a
lh£5 iavor~cer aC~S~D a U~ malo~ ou~~~o de po~~iDliidades pa~~
rll'def in i ,.~o ne--r::e"5'Sar' a dIE "!iEU'&. padrclllz'&o 5-Qi: i c+ec on OlD I c o a e "pol it ,j CDS qoJ.e • fiitu.,t;ao dlf coot::Lto HT"~'" lmpo"El. e enuo por h a s e a Hvrl! m:-iln.itl"!i.t:cl.(;.a.o de .... ont ade d;:\s soc leGades· ind"9I1!'nas. r .. '!lool .... e=
Art .. 12 Apro v ;:I1F"" ... t. norlfla"5 que' ue e t ne 05 p~ri.Alletros ere ~tu,i:l.e;..ilo
d~~ "i5S~lII!'s'''Infit itu~C;Qe5 R~i '9io5~S :ci.r6"iI l:Ildigena.~ c:onf"or.~
dOCU~Ento e~ anexo.
Art. 22 E"&t~ ln9tru~aD ti!Of"Mat~ .... a ent ....... eM vigor n a d ... ta de 5U:a pub 1 i ca,:ao ..
·A r- t ... 3g Re\,109-CLIIIII--se c's diS~·QSUjvos 12. 13~ 14. 15 Iii l6 do ite. III~ da, Port.arla. 7.S2/Ba. plJ:blic~d:a no Dlii r- ,0 Oficlal da Unlao e., 11 .. ~7.8B Silldio 1". p.:;i.g.ina, 12.785 e qt..1:;tlq'll.-li!r- outJ'"o disFlOSltl<,;tO e. cantriLI'" '0 ..
Art. 42 Ma"G -At'"e ... 1it InCll9I!J:nas oi)d-e ja OPlltJ'" a III
l"iu.soe']./In"Gt itlJ.~a"'9 RE"l tog.iOSiU ... a;Itr'"Ic:ao da lifd.anife&t-.~ao de vontade diL"S -scci ed .. d~s ~ndi1uma'!o quanta a e enk l nu+e ae e da pres.enl;a Cll'ii-!liona.r.a fil.r-1iIlr-~ atrave~ de avallalf.a.o antrapo),ogi:cil. e dll" ..... £ .... ~ 5eg.uir p~ri.etrD5 abal~O relaciooadDsl
I. a FUNAI. ino~caJ'"a. a antro,polo90 de- Sf:u i:\uad ... :a.~ nil. ·i'lllpas-s.~billdaoe
do~ P.,...t Ii c. i pa.lC;":a.o do t.en. i co- dESt-a. Funda-t;"ao. '5ol!"ra conclI"iI i (10
.;::reden<::lail:lento a. pro-li"!!!i'llienal af'j .. de qUBdre dEr In"!iitltuiC.iio F£<ieriOl'l.
~/o~ ":'lii'liOr;. l at;ao 9r-as j le ira de Antropolog i:jl - A9A ...
II. il 8.v:alla"G:ao :antroPoI6'ii1~ca dlE .... era pay.tar-se ~t"efer"enC:lillmen.te~ rn"",~ nio e~c]l,Jsjya. .. umtG:' pelos se9IJintes criter'"ios:
a) srau dR vigor na ma~u~Kn~ia das cc~.olQ9.a5 natlva~ Tor.as
Pr"Of$-..- i a. de lilian I fe-st a'!;ao rel i 9 i osa de-.nn$'I;rftdo 'Pel Q grupo Ion i SJ~nA
f'rll'nt~ ~'i IdllOlo91:as relig'osas. -e'~'HilenaS.
b) gr:;:lu d~ -depenoen!: i a do grtJ.po ~ nd I :fi!l!nil da M, ':J.'D-ao/lnst ~ t u i t:.iio
Ihr!i9iQ'I~ do P'Dnto de vista assist!E!nc.al eqm.oMjC:D ou r'"E"li9io"5a~
c·) gril.lJ de e-nY!D1Y~lIIIent:o do grupo au ,cODllJ.nidade ~nd~gen:a. C9111 a
H~sliao/lnstitiJ.j,c;~o Re1i"!llio,;;. £:a'S d:if"i"cQldaclE!'s pa .... ;a a Cloe .... to.l .... a do gruPO Ind~9e-na. a outrDs credos e/ou opt;(i:esi:
:Art. 512 A .f\U "G"5io/ [nst I t·u i f;;';O iRe 1.9 t osa i nt "I""~!O-$.ct.d" d':-Yl:!r.Ci seT" l'\ot~Tit:&Ld:ot. sobr-I!" 0 rl£"Sull:ado dlil aVil.lli1o;ao iln"I:,.C]p~lQgit:a~ pC;II;ia-ndoC) def"l!nd~r"'so£" 'PoII"rantll" iI. pr'6"5~denc ia. d:a. FUNAI nos caso"$ ell'l que:;" a .... a. 1 I ac:ao for dE;s-fa .... '; ..... av"ll :jl C:Qnt ifll.i idiloe da sua presen~a eM area ~nd I·sena..
Art. 6~ No -Ci\SO da a. .... al.i~~[io neg:atjy:a.~ aPQs liIo ap ... esentacao do
ra-q4.leriPllEl"\to de ~efesa Junto a pr~'S~aenci:a. ser"a clln.stituioo
CCnllli--s';i(l IIIIU l tid j 5C ~ P 11 nl.'lt':" 5Qb a ca!OrdenaoG:ao diiL &GEP. i nt.egr'"ad.. I"U"-
teerl ic:o"!i do or9:iiQ. 0 ilfltrQPelo90 ,..e5PD.ro-g.~v"Cl pe1:a. :aval i a.'II=i.o. QIJ.Iir
d.t'inlra. 0 pariMII!''r:rQ d~ defesil- e e,POS 9uvid;.s as ~illr"t(t5 -e'"'~,t H· .. .;j. IJ.~
p~recer'" f:inal sl!"ra 5ubllurtj,ac II prE"'5.lder-1;1i\ dO' or9"0 p;:t_ra fins de de:~eri:l'llen"[o.
A .... t. 7)1. -0 r"e-!i.ult .. do d·a avallat;a.D :antropolD9lca f'"avo ... a. .... e:l
(;;Qntj.l"luilliiLile d~s ~"c.iYldkde-"!i das M.'ssil!"s/ln'liI!:Etul~i:iE"5 -Rell:Sl:lD!5.iiI.!i.;o-
i.pl'ca~a no cu~prlmento do. se5uint~. p~ocad1m.n~os;
l .. 1\'5 atividacle'i. i'1:fI"!ii~'ljiI;:I;:n.cial$ dill$ KifiSiih./ In'$t;jt:ui~Qe"!i R£"ligio50a.~ RII #11':'.... Ind iV'Ena de"Vcrao £"atar or .. e-nt"BIda'5 para a B.Juda human I ~ ar • a ~ dl!"v ... ndo pautar-o:;.v pela.'l!t di.rRtrIZIEr'5i dE!" i!I'!iis~'li.tinc.i:a. cia FUN:Al. ane-)(ad~'5 a Ei!'stas norlli!l$;
II .. iii ve-daCla .w..Ii i "$~·itJj!"s/l:rl1i.t j tl,j: t c;o-r-s floe. ~ 9 I O~:i;i~ a ab13'''' t ura. de no .... a'i {rente'S mi5'5'Q·nar ia-l, eKcetuand.o-se os casos em que a propr.8. CO"'un.dad£, indigeniii. "$(]JICit.lllr .(l ~IJ.;;I, In-staiat;;ao elP areas nov<tos;
Ill. 0 defer~lI'ie-nto da. 501iclt.~io ... ete ... ida ·no II'\CtSO II deste 3.t'"ttgo ~Q.e~te sera enc~minn~dD pel. FUN~I apos CLvall~c~o p~€via Pl""evista flO 1f"lr:'SO II· do Art. 42 de-Q.t4il In~~r'"ucijo NOl'"m ... t:lva OUvldo 0 COl1st:'lh.o Ind j gen i st a do· a.r9:io;
VI. eM nllinhUlliil C (rc:uost anc i a a Hi !S-ililci . Iri!it i tu.* I;a.U R. .. l '·9 i O!!H\ .p.edera e.tabelece ... , Pr'avocar au .&t irnuli'Lr teorC:fI;"iros i;l C"olltactar ind,os ·isoladcs OoJ: .;a ........ ltd i05'
V .. naQ §~,...i. P'jU"N i t I da a prill-sent;.iI. d~ HI sil.olt5-/lnst Ii t: U I dies Re 1 i"9 i os as n:as
areas ocupadas par 'ndios isoiadc5 ou ar~ediosr .
VI. {".tca .... eeaee a 11~'l.sa.o/In5t itui-G:a.o .R~U"No5a pro .... o.r;i;lir au I!"~t imula..- -III .. uda.n~a do gr'IJPO QIJ: soc I ed_de i od,j geoa do 1 Dcai de or I gem t:;"ON e I nt u ito da-. i':ac, 1 I t: ar-]lll~ ac;esoao a prest i!I.-=~1J de se-us -ser- .... ' cos.;
VII .. t oc a e qOJ.llI 1 euee- at i 'J I eaee CDIrle-rc i al (..,..eo(lil Oli!' produt as e)C:tr-at j YDS e/ou arte5anals) que- u r ~ 1 t ae os ;:I.gen"t.£'Ii mUisl.llna"I01i ';:0.0 ~nte~~ed~aries Q£\,I~~a se~ e?etuada aepo~s de Oovldo$. 0 O£pa~ta.£nto de Ar-te1ia.r'I.ta eM a .... ilsil.~ .. e CL AdRl~ni~t"..:a.;:ao Regional do o,"9ao~
VI I I... iI. Ok). fabe-t I ;tao;ao nu 1. n9uii I-Iat ern:;" ~oml!!:l'Ite ·POI)f!:ra ~£r Imp 1 ill.ent.ada pe}a" t1iS"i:Ges./lti6t i t ui c ae s. Rel~9iosas ee a a,vallali::"lio a,ntropolo'Jica
pre'ilocrit:a. no Art'!lO 49 destar,s nor etae. ncuvee ava r t ae.c
pC$>it: IVOImliO:nte ecee e slJ:a neee s s r cee e e de v era oeeuec e- d~re-tt"" IZ~1i
i!".lIIIanaaas pele "DQ:.Piiu·talMent:o ee Educ.iil:lO:ao.
IX. D .. a.ter(al didatico produz£.do p-e:ia. i1.ssao/I n -s.t.tlJ:I e a:o ue t r nr c ea
··oeye-,..:;_ eer- BubMoa:t t ee ae De-:p~rt:;lIIllII!'ntD de EdlJlcalO:a-o e it I.I.tlll::!;:a.~io de ...
mat:eria.is b.lingu!£-s p.li\l""iA ver cu l ac ao de textos biDl~CDS ... a'!i ArEav Ind I"gen:as. nao S--I2r.ae aut or. zado5J!
.x, c 6Iissiona'-lo-] in9ij;_ .... t a , de v era s.e':9OJir 05 tni..ites e iI."5 nor.as -qUI!" l'"eSlG!.· a's .. t r v e c ace-s de j;lli!"squi"':fiI cle-nt:I·"·ICIi\ I£r. ~rea Indigena. lIIe-SIllQ q .... 1i. o eca e t Lvo SR"Ja c:oletiltr dado"li ~1,J1i!" vennee iIllPl..-mehtillr" a-s ilt"IVld.a.dp'"5 defii!'-d~<: s.;:liic JlJ.f\t: Q a ':'>flO::.1 euee e Inti i 91£na Q'.1e prop·DE at uil.r;
Xl .. CL FUNAI .podeyi ql.J..alqlJer te~po de-s.I ijlnar OJOI'" eq'JIPIZ'
lIuli;: ~aiscl'?l ;"nilr'" 'Par:a ac:oMP3.flh~t" e av a r.r ar- 05 ot r- a"DaI1"105- da~
Hi'!ii'iQ-e5/Il'\stalJ~t;;QIi!S ReJ igiDsa5 tUI er ee-s. Ind:ige-niJ.'ii-.
Art. BQ 0-& P r o ... ec cs de tri!l.oa)no IIIIlssionario GlJie ·"SC
..daquarefl' a01ii paJ'"ii.ll'letr'"QS a.C.."H)' €st .. ee t ec Idos QE: v eri).D -ser formal'zaoos atra ... e-s. de- ConVint05 ee edec endc 05 "SIE"SlULnt:: ... -s. p,...e:S'iupostO$:
I. 0'5 Conven.os aer-ao .propostos pel~$. ;'~"S"$o~s .... Ie e e Itu~t;oes Reli9iosas E: llE"ver'"ao nee- €iaDOl'"ado"ii s a r a c.ada area De i'tlJoac:"ij.(I (ai.Da-i_ ou.~rll"a IndiV'II?n:aJ CDm a in't:E"r ... £"ni,em:'~ deL "Socie-dade indigena.e de'lerlii.o at~njj€r a~ necE:s5~d"di!S e5PSl;; if Ica-s de- e ae a uma de I ..... , Levanao e .. CDnsidE:rat;ao a s~tul\lO:ao Oil' CQnt~to de e ae a gr-UPO.1r" "!I.lillS pa~tl~u).a""'ttaQES soc~o-cu1tura.,s~
II. 05 cur-r-Lcu Loe (10"5 tlEI'Dlbr05 da-s. e-QUIPes .tSS(Of1arI4'ls que ~tl.Jar:;:o 1")410~ ~ r- ea s loolsen:a.-s eevee-ec '!'>er co.pat ,Ve-ISi ee .. o'S t,...abalht._ pr"opo"&tcs:;:
III .. a COMPOS~C;i.o da e-qLJ.lpe 1"II~"Soslot"J:<l""la. de .... er:a r~~tr in"lpr"-"'1Ii; -110
Est.1"" ' t::a~p."f1te ne-C6"5.sar 10 r"Eal I ZCit;:<iO das .. t:;I v i dadl£"5 ;loS'" I -&~ en.c i al 13
pr"opastiL"i
..i.V_ a 'liub"St.ltu,i~a() da eql1.lpe fd'S5101laP"la "II"ra §tJt:I.lI~trdli
acoapanha.ento PQr p~rte oo~ ~etQres ~o~p~ten~€~ oa r~MA1. o~venao ser colin.~olcil.d.,. CpJ'l -ant-ecedenc~a -de 6e (sessentaJ dia.5~
v. tooa e ql,Jalquer proposta de con'!itru~aD e/ou ailrlpl ia'cdi:o 91.1 edl-F,c;:l.lO:oC''S e. ·'r"e-as In~ijlE:na5 cle...,cr;i ser '5ubqet Ldiil. pre- .... ~:al'oll?nte- il O .... e-torla de:
AlG"G i 'ittEi:nc i... da FUNA.I i.r:Etraf5i 11-l1 ie· 1:0 ...... a.l da Coct"doen.a.(lOr- Ii iii; G ......... 1 de
E'Stude~ e- i'e:squ.j 'jii:il'li. ... CG£P:
vt.. abe-rt-ura, d~ :p iwta dlf POU,'SO I'!'Q;I .6.rea.-a lnd "g~nll". devera. "$-lI!r 1i-ub.cr\" i. d-... .. .prey j a. illJtor ~ ziI;-c;;io do Co ..... ndo AereD .... C:O.t-IA:F!: ~ eo da f'n~s··hte·n.c: i a a:a cFUNA·l J
VII ..... ,*dii'ic:.~o ..... pi.t •• d. PQLU~O e tleM .. i. ,j·n.t:al.ar,::ae'i ,:ol'\stuida. PIEla ,·dss_o/l.nv.t i.tui~aQ Rel i910sa P .. SSii. a .• n.tegro..... 06 b~05 ell!;! P:a.tr.'lionio Ind'geniil.';
VIrI .. 0') .CQnveniQS t...:r:aio -4L dlJra.c;:ao de.2: .(do;o;i.)· anQ'Ii podenoo ...... renovades. "pe]o .e:s .... o prOlZO e de...,lil:ndo a ~qULPR .issrOnarf& ser prev.a.Etnte nomlnad ... no CCliweniof
1X~ as .Issionar.es estr.angeiros ~~~~D auto~i~ado~ ~~Giante 0
t;'I,I..pr i .. eoto dos tr~.ltill!·1i iRIiI ... I1i R'liiit·a~urlel;: Idos pelo1io ar-giiios d.
j .• igr1il~iio~ Gc:mf"Qrflle Q -Art igo jj;!~ do O£crll"te nil a6_1l:.S/SL
Art. ''is ND 1:."50 do dI!"5CUIDPrr..l!:ntD d.s norr.as dl£.t:a In1!i'trut;:iio -No ...... t iVil.t 1i4i!!:P"'. abil,.t:o p,...Oc:. .... D .dfllll'lhu:,. .. t: i .... o P»'r'O). iii. s .... a ..... "' .... ali:a.o~ cuJo p~azo G~ trk.itaeio devera &er de 00 .'~I.O 69 ~seG~eota} d'a.~r a.GlSegu .... uHL ill .. liP 1 .. deT"e ... ~ Ii Ii: 'iosio/In-&t j tlJ ~ li:io Re l 'iii' ~ osa :af' .. t aca.
Art .. 1e COIJProviida :a r .. spon1S:abil ~Da-de d:a "'.598.0/ Ing.t itu~c;:ii.o R.,.ll.glo-sa no d-R-scu",pr •• -EoI"Ito des.a-s nor.as dlu"'-'Iw-a a f'" .... c~.:io .~ c .. r .• t.r da:f"lnlt.ivc do <;:Qn .... in.Q .flrmadQ ~ 0 B:f"IIl.t •• llnt;o •• e,II:jI·to dll Hi ".ii:o/ Inst: i 1:.1.1 i ~ao Ra 1 I iii i ,p."S1ll da~ ti.rv ... -a. Iod. i.1iI "nil,,_
A,..t .• 1·1. Apos a. pub. ~C:1Lca:o Oit~t.CL In~trlJ:c..o Ncr.at. I.... no
Oia ... io OTiCla] ,hI: I..IInla01 tOGOS os inte9: ..... nt:lts de: l'\iSL1Lae"!il'lng.t.ltu~~D'£1i ftR]ig~OSilS conven.adas ou nao c.o. a Funda~iQ Nac.lona. do iodEC dev~rio a:ptli'1Sentar-lIIU no pra:to 06 30 (trinta) dii!l.!& it lIf~til Fun-dldlD para dar in iC·1 0 aD processo de re9ul amaota.;:ao da-a at I y i oOide-.. ul!"se-nvo} v I das Juntoas dlversas soct£dade~ Indtgenas.
OI~A~Te; HOaRe: DE ttAOElf{O
(Of. n9 63/94.1
POVOS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95, INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
POLiTICA INDIGENISTA
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MEG POSIGIONA-SE SOBRE ATUA9AO DE MISSIONARIOS NAS ESGOLAS INDiGENAS
A Instru¢o Normativa n" 2 causou polemtca e a Punai nao promoueu nenbum debate entre as partes mteressadas, seja para discutir suas imperfei¢es ou para justijicar sua manuten¢o. 1sl0 s6 tem reforcado 0 que jd vinha ocorrendo antes de sua puhlica¢o, isto i, cada organiza¢o religiosa recorre a solu¢es particulares para introduzir ou manter suas atividades dentro de dreas ind(genas. Uma das formas ierficadas por alguns missionarios e submeterem-se a concursos publicos para ingressarem como professores regulares na rede de ensino estadual ou municipal, alternativa vidvel desde que a Punai deixou de ser a responsdvel peias escolas ind(genas (Decreto 26/91).
o Comite de Educa¢o Escotar Ind(gena do MEC, que dd as diretrizes para a Educa¢o fnd(gena do Orgao, redigiu um documento no qual de/ende a separa¢o das atividades reugiosas das prdticas pedag6gicas adotadas nas eseolas das atdeias. Publicamos abaixo trecbos do documento do MEC, redigido em main de 1995.
o Estaluto do Indio (Lei 6001, de 1(112173), no seu capitulo II, art. 58, considera "crime contra indios e a cultura indigena escarnecer de cerimania, rito, uso, costume au tradt¢o cultural ind(genas, vilipendid-los ou pel'lurbar, de qualquer modo, a sua prdtica ", prevendo detengiio de um a tres meses de prisao para 0 infrator.
A necessidadede revisao da Portaria 745188 (061 07188) deueu-se precisamente Ii constata¢o de que algumas Missfies Religiosas vinham exercendo influencia nefasta sobre as comunidades indigenas, justamente naqueles aspectos previstos na lei. Pelo fato das regras da Instru¢o Normativa n° 2 serem mats rfgfdas, com crit&ios mais delimitados, muitas organiza¢es religiosas, vendo-se tolhidas, passaram a utilizar-se de outros expedtentes para conseguir levar adiante seus objetivos. Estes sao, explieitamente, evangelizar individuos ind(genas para lorna-los, num segundo momento, agentes de transmissao, dentro de sua comunidade, das condutas morais ditatlas pelo cristianismo monotesta, 0 que implica em concepcses totalmente diversas das ditadas peia tradi¢o cultural do pooo indigena, Missiondrios professores - As escolas indigenas sao as mais visadas para alocar recursos huma-
nos advindos de organizarjjes religiosas. Isto porque hd uma grande demanda indigena por al/abetizarao e escolariza¢o mais ampla, 0 que con/ere grande espayo para prcfessores-missiondrios serem admitidos num contexto de quase ausencia de mdo-de-cbra qualificada e ate disponfvel. Este espaco foi aberto sobretudo diante da polftica de tutela da Punai, que nao se ocupou de ter em seus quadros professores qualificados, justamente por fer entregue as organizaroes religiosas a tarefa da escolariza¢o htd(gena, Alem disto, a defesa do bilingiiismo, islo e, a pertinenda do uso das linguas indigenas no processo de letramento, e defendido, endossado e ate conceitualizado por organizagoes religiosas, sendo que as de cunbo fundamentalista (SIL, MNTB, Alem,Jocum, Meva e outras) sempre embasaram seu trabalbo de evangelizarito nos estudos fonemicos e fonol6gicos das lfnguas indigenas, de modo a permifir a tradu¢o do texto bibtico nas di/erentes linguas natiuas. Desestruturaoio etnica - Sao insimeros os estudos que analisam a arao missiondria de cunho fundamentalista em dreas indigenas, no Brasil e no mundo. Monogra/ms, rdatos antropol6gicos, emografias, enfim, a maier parte dos trabalhos uoltados para a aoaliacao da afao evange/izadora entre pozos de culiura ndo-crista sao undnimes em diagnosticar a desestruturaoio emica a que sao submetidos esses povos. No limbito escolar os estudos sao mais raros, mas nem par isso os que foram feitos atenuam 0 papel nocno que estes assumem na vida social dos grupos atfngidos.
A desestrutura¢o etnica, no entanto, faz parte de um projeto expHcito de integrar 0 grupo indfgena Ii comunhao naciona!: trocar rocas comunitdrias baseadas em diversidade de espedes pelo sistema de monocultura, au por cria¢o de gado; ou novas condutas sociais que vilo sendo transmitidas, tais como a jolga dominical, a celebra¢o de festas natalinas, os batismos, a comemora¢o de aniversdrios etc, silo os exemplos mais 6bvios desse processo de desestrutura¢o,
Assim sendo, recomenda-se cada vez mais, e 0 pr6prio MEC tem-se mobilizado neste senudo, que as escolas, se necessdrias e solidtadas pelo grupo indigena, sejam aeompanhatlas por professores
que tenham conhecimento da dimensao de sua presenca prcfissiona! dentro da aldeia. Se os professore: sao missiondrios, eles certamente se esforrarao em formar leitores, mas aqueles habilitados a ler a B{blia, Reside ai 0 cardter mais nocivo do trabalho das missfies fundamentalistas: reduzir 0 problema das injustigas soaae, dafalta de terra (principal problema dos fnd/os), das desigualdades sociais e todo lipo de discriminar;iio, ao desconhecimento que os pooos indfgenas tem dos Evangelhos. Os Indios sao lidos como prtm/livos e impuros par terem se manlido afastados 'da palaora '.
Dai 0 trabalho mais estruturado das missiies toltar-se para as escotas: amparam-se numa metodologia fundamentada em discurso academico, respaldada em pesquisa lingiiistica. Querem comprooar seu respeuo as comunidades indfgenas in!roduzindo 0 "ensino bilingiie nas aldeias", ou seja, aljabetizam os indios em lingua materna. Podemos constatar, porem, que as escolas sob sua responsabiiidade estiveram totalmente desvinculadas de uma arao pedag6gica que visasse a autonomia dos indios em rela¢o ao assistencialismo e ao paternalismo introduzidos pelo contato. Quando nao formam, reforram as caracteristicas inculcadas nos indins p6s-contato: submissao, servitidade, dependencia de bens manufaturados etc.
As missoes que enviam pessoas para as aldeias contam geralmente com quadros superjicialmente qualificados nessas dreas tecnicas de saMe e educacdo, mas, por outre lado, altamenle capacaados para 'suportar' perfodos prolongados de isolamento nas areas ind(genas. Sacrficam-se para cumprir sua missao.
Setientarizafao - Para conC!uir, 0 !ipo de esccla e 0 cardter da assistencia de saude promooidos pela« missfies, com 0 aval da Puna! - e agora das Secret arias Estaduais ou Municipais de Educa¢o ou Saude - causam um dos maiores impactos s6cio-culturais oerficados entre os pooos ind(genas: a sedentariza¢o em aldeias. lsto os leva a alterar os metodos tradicionais de alimenta¢o e conseqiiente forma de utiliza¢o do territorio que ocupam. lmobilizam-se em aldeias superpoooadas em rela¢a aos padrfJes habituais, o que fadlita a a¢o assistencial mas depaupera
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a populagao indigena, instaurando um processo de dependencia que a comunidade diftcilmente pede eontrolar. Esta estrategia de concentrar os indios em aldeias abre uma breeha para que os interesses economicos sobre as dreas indigenas desqualifrquem a necessidade de demarcar terras extensas, nas dimensies adequadas ao padrao tradieional de ocupagdo indigena. Portanto, 0 aspecto nocivo desse tipo de agito missiondrla encontra-se no cardter cia intertengao, que confunde prdtiea assistencialista com a¢o ifetivamente assimilacionista. A conoersdo tem um discurso civilizat6rio: a submissao aos dizeres cia Biblia IraI'd melhores condifoes de mda aos pooos indigenas, jd que ela Joj desestruturada pelo eontato.
Se ndo se quer entrar no mrfrito cia op¢o do individuo indio pe/a cris/ianiza¢o, deve-se evitar que ele seja confundido a/raves do diseurso assistencial. Nao se troca terra por remedio, tampouco cartilhas bilingiies POl' subserviencia e resigna¢o. Ou seja, niio se deveconfundir busca de assistencia de sadde e educa¢o com opgdo religiosa, individual. A Cons/i/ui¢o brasileira determina que e dever cia Uniiio a assistencia ao indio. 0 Estado pede, por conoenio, outorgar a outras instaneias da sociedade civil organizada algumas tarefas relacionadas a assistencia, com vistas ao atendimento dos interesses do poio indfgena em face de seus direitos coietttos. Retirada - Nosso parecer If que sejam retirados das areas indigenas todos e quaisquer agentes missiondrios que resdam nas aldeias e estejam desempenhando tarifas assistenciais, sejam elas quais forem. Isla porque ruio se cleve confundir op¢o religiosa - individual - demonstrada POI' um Indio, com alternativa de conquista de beniflcios assistenciais, garantidos, em lei, como direito coletivo. Escola e saude sao direitos cia comunidade indfgena elf dever do Estado garantilas para a coleuoidade. Adotar uma religtdo (crisIii) If op¢o individual, e quem quiser obte-la tem direito de bused-lao Da mesma forma que 0 ensino publico e laico, 0 ensino ministrado em dreas indfgenas tambem 0 deve set. (ISA, com base no parecer da CEEIIMEC, mail95)
FUNAI REGULAMENTA ENTRADA DE MISSIONARIOS NAS AIS
A atua~ao de missoes religiosas em areas indfgenas foi regulamentada por meio da Instrucao Normativa n° 02/94, assinada pelo presidente da Funai e publicada no DOU de 15/04194. 0 trabalho mission ario depende de uma avali~ao antropologtca feita pela Funai junto a comunidade indfgena afetada pela atividade mlsslonaria, restrita agora, de acordo com a Instrucao Norrnativa, a atividades essencialmente de carater hurnanitario e de respeito as tradicoes indigenas. Caso a rnissao religiosa seja reprovada na avaliacao, os missionaries poderao apresentar a Funai alegacoes em defesa de seu trabalho junto aos fndios. A Funai deu 0 prazo de urn mes para que os integrantes de miss6es religiosas em areas indigenas, conveniadas ou nao como orgao indigenista, solicitem a regulamentacao de suas atividades. N a Instrucao Normativa, a Funai profbe que os misslonartos abram novas frentes religiosas sem consentimento dos indios, que entrem em contato com indios arredios e isolados e incentivem a mudanca da tribo do seu local de origem para facilitar o trabalho assistencial. (0 Liberal, 16/04/94)
FUNAI ABUSA DO PODER DE POLICIA, DIZ CIMI
Ao fixar normas de conduta para particulares • as missoes religiosas - na Instrucao Normativa n° 021 94, 0 presidente da Funai pratica urn ato alheio as suas atrtbulcoes legals. Ora, quem tern 0 poder de regulamentar 0 exercfcio do poder de polfcia da Funai e 0 presidente da Republica, at raves de deereto. As mstrucoes expedidaspelo presidente da Funai, mesmo que de natureza normativa, tern alcance restrito a admtnistracao publica e aseus funcionarios, Para 0 Cimi, orgao oficial da CNBB, da I grej a Catdlica Romana, a Instrucao Normativa n" 02/94 e urn ato administrativo nulo. A entidade observa amda que 0 disposto em seu artigo 3° contem urn vielo insanavel. Esse artigo revoga os dtspositivos da Portaria n° 745/88 (equivocadamente citada, pela propria Funai, com 0 numero 782188). Acontece que uma instru~ao nao pode revogar uma portaria, por ser urn ato ad.rrtinistrativo hierarquicarnente inferior
No entendimento do Cimi, as obrtgacoes impostas as missoes e instituicoes religiosas nos incisos I, VII, VllI e IX do artigo 7° da lnstrucao Normativa n° 021 94, no sentido depautar suas atividades assistenciais em diretrizes daFunai, constituem urn abuso do poder de policia da Funai. Sao elas: condicionar a tntermediacao de agentes missionarios no comercio das comunidades indigenas a audiencia do Departamento de Artesananto em Brasilia e da Administracao Regional da Funai; condicionar a alfabetizacao em lingua materna a obedlencta de
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
diretrizes emanadas do Departamento de Educacao, e de submetero material didanco que produzirem ao Departamento de Educacao.
A lei precisa ser respeitada - Tal poder deve ser exercido pela admlntstracao publica federal, mas nos limites da lei. Alias, ao contrarlo do que tern sido a sua pratlca corrente, de ornissao, a Funai deve verificar as atividades ou condutas lesivas a organlzagao social, aos usos, costumes, linguas, crencas e tradicces, bern como em relacao aos direitos originarios sobre as terras que os povos indigenas tradicionalmente ocupam e quanta aos demais bens indfgenas. Verificada qualquer conduta considerada incompatfvel ou lesiva a uma comunidade indfgena, 0 sujeito a que se atribui a responsabilidade pelo fato deve ter 0 dire ito da ampla defesa previstona Constituicao. 0 acusado nao pode sersubmetido aos "parametres de defesa" definidos pela Comissao Multidisciplinar prevista no artigo 6° da Instrucao Normativa.
Outra tmpropriedade da Instrucao Normativa refere-se a exigencia da formalizacao de convanos, baseada em nove pressupostos listados no artigo 8°. Para 0 Cimi, denota-se do teor dessas clausulas a percepcao arbitriria e abusiva da administracao publica em conceber-se como unico meio para 0 apoio e assistencia as comunidades indfgenas, enquanta que a Constituicao e a Iegtslacao em vigor considerarn as comunidades indfgenas como pessoas [urfdtcas com organizacao social propria que deve ser respeitada. 0 Cimi conelui pedindo ao presidente da Punai a revoga~ao da Instrucao Normativa n" 2/94. (ISA, com base em materia do Porantim, jul-ago/94)
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~:SA ACONTECEU
S. 110 ··caso de negativa das lidera:w;as indigenas quanto ao pleito do i.Dgret:tao au quaisquer Qutt."08 entraves levantados no deoorrer da .iI.t16lise do proceeso ou .. em. qualquer outra etapa de d.~lgenvolvim.ent:o da pesquisa~ a CG2P encaminhar& a quest&o ao Conselho Indigenista atravea da Presi4!ncia do &gao.
FUNAI REGULAMENTA ENTRADA DE PESQUISADOR EM TERRAS INDfGENAS
FUNDA{:AO NACIONAL DO iNDIO
INS'l'IIU{:AO NORMATIVA N 9 1, OE 29 OE NOVEMBRO DE 1995
o l'RBSIDIiN1'B DA I'UNDAcKo NACION1iL 00 INDIO - PllNAI, no uao daa atribui9&11 que lbe sao conferidas pelo Bstatuto· aprova<to pelo DoIc:rato·n" 56.; de 06 de jUDho de 19~2, tendo elll vieta 0 que """sta c!o Procesao PIllIIU/BsB/210S/92, resolve,
1. l\prOVar. as !1D%1JIllII que diaciplinam 0 ingreallO ~ Terras lnd1gena. com finali4a4e de deaeqvolver ~squiaa Cient!fics, con~o~ documento em anexo.
:I. Eeta rnatrll<;,lo Normativa entra em vigor na data de Bua pul>l ic;J.9"O. 3. Revoga-se a Instru<;,llo Normal;iva N' OOl/PIIBSI/94 de 08 de abril de 1994~ como qualquer outre dispositivo em contrArio.
MARCIO JOSf BR1o!IDO BlINTILLl
ANEXO
... Todo e qualquer pesqu1aador nacional ou estrangeiro que preteoda ingressar em te:rraB i:nd1genae, para desenvol ves: proj eto de peaquiaa cient!ficaf dever& encaminhar sua 9Qlieita~IQ 4 Prea1d&neia ~ ~. e DO caBO de reque:rimento coleti"lI'o, daver4 sel':" aubserito POl" WQ doe membros do grupo, como seu respoDB.ivel.
5. 0 pesqu1sador ou peaquiolad"rea deVllr:!o ane>ear ao pedd.do do que trata e Art. 1" a aegulnte docu ... "'ta~le,
1. ·"art.. de ap ...... enl:l'<;'llo da Inse!tu1<;t:O a que 0 pesquiaador ead. ~incul.do • no caao ~ eatudan~eH de graduav30 e p6$-9Tadua~fto. carta de .apxe.8_t~lo do Qrientador resp6ns've~;
II .• pl'Ojeto de pesqu;.sa, em poreuguAs, detalbando a(s) terra!a). ind1gena(a) na(s) qual[ls) pretend .. ingreasar e cronograma;
III. curriculum ·vitae do [sl p""qui"ador Iee) red1gido e .. poreugul!s;
N. c6pla autenticada da Cart .. i .... de ldend.dade au P .... saporte. quando ,", tratar de ~c:ionalidade ·estrangeiraJ
v. 'ateatadQ individual de yacina contra mol'st1~ ~nd!mica na'4rea; n .• atestado mIOdiCo d .. nlIo portador. de mo16stia contagiosa;
VIl •. quando se tr;atar de pesquisador(esJ de naedonaf.Ldade estrangeira, exigir-se-,i para. a efetiva<;lo de seu ingres90 na terra ind1gena a oQten<;:llo de a .. 11 respective visto tempor'rl0, como prev!! ·0 artigo 22, do decreto ". 86.715 de 10 de de~lI1l1bro de 1981. al~ do cwnprimento do diorpoato "" decreto n' ~8.830, de 15 de janeiro de 1990.
·6. O.Pesquisa.dor dever' encamfnhar <iiretamente ac Conselho ·Nacional de :;e:~'-::"!j\~~t!fico e Tecnol~i"o - CNPq, 0 Projeto de Pesquisa
7. A BO~icita9Ao do ingreaao e"; te=a indigena por parte de pesquisadol:'es ~cioc.ailil ou estrangeiroB Beri objeto de <lllA.lise pela ~i:a Garal de Bstudos e Pesquisas - C'GBP.' ursa vez instrufdo 0 processo com 0 ,parecer favQ~&vel do CNPg quanta ao me~ito da pesquisa p:t'Opf;)ata e ap6B ouvidae as l1del"anc;ae indf.genaD.
Par.igra£o ,tJnico - A C'OD.&ulta as lideranQas ind.!genaa sera realizada pela _~,. com a prese~a e partieipac;:.f(o dp pe[i.quisador~ podendo eeze em. ,.~, de ~ta pos,itiva permanecer na ten'a illdf:gena com autorizaQDO prDV1s6ria. at' a emissao de uma defin~tLva.
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POLiTICA INDIGENISTA
9. QiJ.aDdo ae tratar de pesquisa em espaQo territorial de ocupaQlio tradicionsl de indios isolados, 0 pedido sed. ednda , objeto de exame e parecer pzevio especifico por parte do Departamento de jndios tsolados DIt/PllNAI. .
10 •. 11. prBsic:U!ncia da !roBiu poder' suspender a. qua.lquer tempo. as autc;>ri2a<;i5ee """"edidas de acordo com as presentes normae desde que:
I. ·seja solicitada a sua interrupQlio por parte da comunidade indigena .,., questlo;
:II. a peaqu.iSa em desenvolvimento venha a gerar conf1itos dentro da tan-aind1gena;
Ill., ~ ,~9~ia de situ~oea epid!micas agudas au conflitos graves envol~~ ~o.s e,nao ... 1ndios.
Par4gra.fo Onico - Pica automaticament... pl"orzvgada a autorizaorrao pelo pra.., que a teoa ind1gena olljeto do Projeto estiver interditada. pel¢e UC~iV08 apontados no Art. 101 inaiso III.
11:., Todae -08 "pesquisaQ.ores Bstrangeiros OU cacionaia que tiverem "utori~" cPncedidae para ' 1ngresso . .... terraB indigenas, abrigar_se-DO,
I. cwapri.%' todos oa preceito8 legals' vigentes, nota-da~nte os previatoa na Lei n' 6.001 de 19.12.73;
II. remeter A PuNAl, relat6rio doe Traba1hos de campo~ em portugu~8~ ,l.t4 6 (~isl meses .ap6B Q t6.rmino d.a pesquiBa~ onde poder!o cons.tar sugeste5ea pr6ticas que possam trazer beneficioB para as comunitI.-des iud1genaB que poder.!o aer consideradas pela FUNAI nas definivQee de :5IU3 pol.!tica;
tIl. remeter ill FUNAl, 2 (doia) ~~lal;'ee de: p'l.LblicaQ6ee~ artigo8~ e.eseG e O\ltra:e produiFOea illtelectuaio oriundaa dee r(!:ferid.aa :l4IiIsqu.1sas.
1.2. Nos CaBQS d.e 801icita<":ao d.e prorrogacr2:o do prazo para. cont'inuidade 10 projeto de pesquiaa e1ent!fica na !lie",,", terra indigena, called a ~rdena<;llo Gex:al de EBtudo8 e PesquiS8" CGllP, 08 ""guintes ~roced1 .... "tos:
r-, Dotificar ju.Q.to ac setor corapet.ence do Conaelho Naciona1 de Oesenvolvimento Cieut1fico e TecnQl6gico ~ CNPq~ a solicitayAo;
I I • consultiilr as 11d.orancras quanto 80 ret;omo do pt!IllIquis'ad.or na terra Lndige1lll ;
[II. olllervar 0 C'UIIlpri ..... to do Art. 8' por parte c!o peaquiaador l.nt ......... ado.
(of •. 09 435/95J
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
_mais de 40.000 hectares
• m e n o s de 40.000 hectare.
300 300 600 Km
~,~~~~~~-~~~-----~-----
FHC REACENDE
,
ESTOPIM ANTIINDIGENA
Beto Ricardo e Carlos Mares (*)
DECRETO 1775, QUE SUBSTITUI 0 DECRETO 22/91
E AlTERA as PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS PARA
A DEMARCACAO DE TERRAS INDiGENAS, ADIA a CUMPRIMENTO DA CONSTITUICAO E REABRE CONFLITOS
Ap6s urn primeiro ano de imobillsrno, 0 governo FHC inaugurou a sua po!ftica indigenista com urn pacote de medidas cujo carro-chefe eo polemico Decreto 1775, que altera os procedimentos para a demarcacao das terras indlgenas e introduz a possibilidade de "Estados, municipios e demais interessados" contrariados manifestarernse "para 0 flm de pleitear indenizacao ou para demonstrar vicios" na tdenuftcacao e delimitacao das terras indigenas.
Baseado em pressupostos juridicos discutiveis, 0 novo decreto nao foi propriamente uma surpresa, mas certamente sed. um enorme "compltcometro" de percurso, burocratico e politico, cu]o saldo para os direitos indfgenas somente podera ser dimensionado por etapas: a curto prazo, contabilizando-se as invas6es e conflitos reabertos ou agudizados em determlnadas areas; em abril de 96, tabulando-se as demandas dos contrariados sobre terras identificadas, dernarcacoes em andamento e ate as ja homologadas nao registradas; e, entre [unhoe [ulho de 96, verificando-se 0 teor das decis6es do ministro dajustiga e do presidente FHC sobre 0 primeiro lote de terras contestadas,
Contando com prazos longos, os interesses contrarlados, que ate hoje dispunham da via judicial para reclarnar supostos direitos Iesados - a qual evidentemente segue valendo - agora podem, com 0 decreto 1775, entupir 0 canal administrativo. Eo que e pior, pelo novo de-
'*) Carlos Alberto ,Beta) Ricardo e antrop61ogo 8 secreta rio executive
do ISA e Carlos F. Mares de Souza filho e advogado e prssidente do ISA:.
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TERRAS INDfGENAS
creto estao sujeitas a este tipo de contestacao todas as demarcacoes em curso, "cu]o decreto homologat6rio nao tenha sido objeto de registro em cart6rio Imobiliarlo ou na Secretaria do Patrtmonio da Uniao". 0 quadro se agrava se considerarmos que uma grande quantidade de terras passou a estar sob 0 efeito imediato do contradit6rio. A Funai, orgao a quem cabera metabolizar a esperada avalanche de contestacoes, e urn 6rgao sabidamente sucateado. Embora 0 novo decreto preve]a, de forma generic a, a particlpacao dos indios em todas as fases, nao inclui as procedimentos pelos quais comunidades indfgenas possam defender os seus direitos. Os indios terao que encontrar os caminhos para, por exemplo, pleitear revis6es de terras que considerem insuficientes.
A medida vinha sendo anunciada desde 0 infcio do governo FHC. A tese de que 0 Decreto 22, que regulou a demarcacao de terras mdfgenas a partir de 04/02/91 era inconstitucional, porque nao conternplava 0 principio do contradltorio, e obsessao antiga do advogado, ex-deputado federal (PMDB-RS) e ministro da justica de FRC, Nelsonjobim. Ern setembro de 93, embora vedado pelo Estatuto da OAB, ele praticou advocacia contra 0 poder publico enquanto deputado e assinou urn parecer encomendado pelo entao governador do Pari, 0 atual senador Jader Barbalho (PMDB-PA), incomodado com a extensao das terras indfgenas no seu estado, para sustentar uma A~ao Direta de Inconstituciona1idade do 22. Com esse antecedente, os argumentos do ministro nesta materia flcarn submetidos a uma previa caucao etica,
Apesar do STP ter declarado, em 17/12/93, que tal a~ao era descahida, a tese foi ressucitada pela empresa Agropecuaria Sattin S.A., num Mandato de Seguranca com 0 objetivo de anular a demarcacao da terra Guarani chamada Sete Cerros (MS). Caso 0 STP mudasse de opiniao e julgasse pela inconstitucionalidade do 22, cairiam por terra, numa penada, todas as demarcacoes feitas sob a sua egide, Para sanear 0 (alegado) v(cio de origem do 22, 0 ministro [obim sustentou e redigiu 0 decreta que 0 presidente FRC assinou em janeiro de 96, embora a decisao ji estivesse tomada quando Marcio Santilli, ex-deputado federal (PMDB-SP) e, na ocasiao, secretario executive
POVOS INDiGENAS NO BRASil 1991/95 . INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Socioambiental em Brasflia, deeidiu aceitar 0 convite para assumir a presidencia da Funal, em setembro de 95.
Organizacces indfgenas e indigenistas, apoiadas por pareceres de eminentes [uristas e dossie de documentos elaborado pelo ISA, alegaram que as razces do ministro para urn novo decreta eram infundadas, e que a introducao do contraditorio, ainda mais com efeito "retroativo", na verdade seria urn expediente revisor para reduzir as terras indfgenas. Suspeita, alias, calcada mais na experiencia do que numa visao satanizada do neoliberalismo do governo FHC. Historicamente, cada vez que a Estado brasileiro, atraves do governo de plantae, refez suas contas sobre as terras indfgenas foi para subtrairlhes urn bocado. Essa curva hist6rica do acuar progressivo dos indios para as "fronteiras" e 0 confinamento dos "remanescentes" em terras diminutas, comecou a ser invertida nos iiltimos 25 anos, juntamente com a surpreendente recuperacao demograftca dos Indios, com suas lutas por terras, com a sua aparicao na cena polftica e com a aprovacao de urn capitulo de direitos especiais na Constituicao de 88. Apesar da Constituicao determinar urn prazo de cinco anos (art. 67 das Disposicoes Iransitorias), as dernarcacoes nao foram conclufdas.
Especulacoes hi sobre a demora do governo em efetivar a decisao, mas FHC adiou a prornulgacao do novo decreto mais em funcao da sua propria agenda polftica, fazendo-a coincidir com a reabertura do Congresso no inicio de 96, no contexto de uma estrategia de reformas para as quais necessita "administrar diariamente" - na expressao de urn dos seus lfderes na Camara Federal - uma base parJamentar sabidamente heterogenea e conservadora.
o fato do decreto ter vindo acompanhado de 17 hornologacoes de terras ji demarcadas, ainda que tais terras tambem estejam sujeitas a contestacao pelo contradit6rio, faz diferenca - porque somente poderao ser alteradas por outra decisao presidencial- mas nao 0 suficiente para dissipar diividas sobre as posicoes do governo nas futuras decisoes.
o decreto nao gera qualquer novo direlto e continua valendo a Constituicao de 88, que no artigo 231 define 0 que e terra indfgena e estabelece que 0 direito coletivo dos Indios as terras que tradieionalmente ocupam e urn direito originirio, isto €, precede a qualquer outro direito e ao proprio Estado, significando que os eventuais titulos e documentos de interessados sao nulos.
o QUE SAO TERRAS INDiGENAS
No Brasil, quando se [ala em terras indigenas, hd que se ter em mente, em primeiro lugar, a definir;ao e alguns conceitos jurfdicos materializados na Constituir;ao Federal de 1988 e tambem na legislagao espeofica, em especial no chamado Estatuto do fn~ dio (Lei 6. 001/73), que estd sendo reoisto pelo Congresso Nacional.
A definirao de terras tradicionalmente ocupadas pelos indios encontra-se no pardgrafo primeiro do artigo 231 da Constituir;iio Federal: sao aquelas "por eles habitadas em cardter permanente, as utilizadas para suas atiuidades produtivas, as imprescindiveis it preservar;iio dos recursos ambientais necessdrios a seu bem-estar e as necessdrias a sua reprodur;ao jisica e cultural, segundo seu usos, costumes e tradir;oes." Trata-se de um conceito composto por quatro elementos, que se integram, se somam e devem ser reconbecidos it luz dos usos, costumes e tradir;oes indfgenas.
Segundo 0 artigo 20 da Constituir;ao, essas terras sao bens da Unido, inaliendveis e indisporuueis. Aos indios, conforme 0 jd referido artig» 231, sao reconhecidos direitos origindrios e imprescritiveis sobre elas, quais sejam os de posse permanente e usufruto exclusivo das riquezas dos solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
A Constiluiqao de 1988 consagrou 0 principio de que os indios sao os primeiros e naturais senbores da terra. Esta e a fonte primaria e congenita de seu direito, que i anterior a qualquer outro. Consequentemente, 0 direito dos indios a uma terra determinada independe de reconhecimento formal.
Nao obstante, tambem por forca da Constituiqao, 0 Poder Publico esui obrigado a promover tal reconhecimento. Sempre que uma comunidade indfgena ocupar determinada drea nos moldes do artigo 23I, a Admtnistragiio terd que delimitd-la e realizar a demarcacdo fisica dos Sf!US limites. Este ato estd vinculado it deftniqiio do artigo 231 e, por isso mesmo, a Administraqao nao pode deixar de promoue-lo.
Entretanto, como a oportunidade do ato ndo estd definida na legistar;iio, 0 Poder Pubtico pede promouer 0 reconbecimento das terras indigenas a qualquer tempo. E certo que deueria te-las demarcado todas ate 05 de outubro de 1993, prazo estabelecido pelo art. 67 do ato das disposiqoes constitudonais transit6rias. Contudo, como se sabe, isso ndo ocorreu.
o ato governamental de reconhecimento tem conteudo meramente declaratorio; ou seja, ele nao constitui 0 direito indigena propriamente dito, que, como se viu, jd existia. 0 seu objetivo e simplesmente precisar a real extensdo da posse indigena para assegurar a protecao dos limites demarcados, de modo, inclusive, a disciplinar a ocupagao por terceiros.
Desde a aprovaqao do Estatuto do IndiO, em 1973, esse reconhecimento formal passou a obedecer a um procedimento administratioo, preoisto no al'tigo 19 daquela lei. Tal procedimento e regulado por decreta do Bxecutitoe, ao fongo dos anos, sofreu inumeras modificar;oes. (ISAIAssessoriajurfdica)
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TERRAS INOfGENAS
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RESUMO DAS SISTEMATICAS ANTERIORES AO DECRETO 1775196
- Decreto 94.945, de 23109/87: Havia aqui participafiio de representantes dos 6rgiios fundidrios federal e estadual, bem como de outros 6rgiios que a Punai julgasse conveniente, na equipe tecnica do 6rgiio indigenista, que promovia a identifieafiio preliminar dos limites das terras. Se as terras estivessem localizadas em faixa de fronteira, haveria participafiio obrfgal6ria de um representante da Secretaria-Geral do Conselho de Seguranca Nacional.
Com base nos trabalbos da equipe tecnica, a Punai apresentava uma proposta de demarcacdo a um Grupo de Trabalho Interministerial, que dava parecer conclusivo sobre a mesma, submetendo-a aos ministros do Interior, da Reforma e do Desenvolvimento Agrdyz·o e ao secretdrio-gera! do Conselho de Seguranca Nacional, quando se tratasse de drea de fronteira. Na prdtica, porem, 0 secretdrio do Conselho de Seguranftl passou a decidir sobre todos os casos.
AS ministros, em aprovando 0 parecer, baixavam portaria interministerfal declarando a area como de ocupacdo ind{gena e descrevendo os seus limites. A demarcaaio fisica era realizada pela Puna! e, em seguida, 0 processo era submetido a homologafiio do presidente da Republica. Por Jim, provideneiava-se 0 registro das terras em cartorio e no SPU.
- Decreto 88.118, de 23/02/83: Equipe tecnica da Puna! jazia a identificafiio preliminar da area, que resultava numa pro posta do argiio indigenista para um Grupe de Trabalbo, composto por ministerios e outros 6rgiios jederais ou estaduais, quando conveniente. a Grupo emitia parecer eonclusivo, encaminhando 0 assunto a dec/sao dos ministros do Interior e Extraordindrio para Assuntos Fundidrios.
Se aprouado pelos ministros, 0 processo era levado ao presidente da Republica, acompanbado de min uta de decreto, que homologaria 0 procedimento e descreveria os limiles da area indfgena reconhecida. A demarcacao fisica seria entiio jeita com base no decreto e, depots disso, levada a registro em cart6rio e no SPU.
Na prdtica, no entanto, havia dois decretos presidenciais: no primeiro deles, 0 presidente apenas delimitava a area a ser demarcada. Depots da demarcacdo fisica, 0 processo retornava as suas miios para bomologacao por meio de um novo decreto. Ao final, promouia-se 0 registro.
- Decreto 76.999, de 08/01176: a presidente da Punai nomeava um antropologo e um engenheiro ou agrimensor, que faziam relat6rio contendo a identificar;ao previa dos limites da area. a relat6rio era aprovado pelo presidente da Funai - embora a legislafao ruio especifique, este ato se consubstanciava numa portaria. Com base nele, promovia-se a demarcacdo fisica da area em questdo.
Depois de demarcada, 0 processo era submetido ao presidente da Republica para homologafiio. As terras eram entao levadas a registro em cart6rio e no Spu.
- Decreto 22, de 04/02/91: a Punai criava um GT de tecnicos, coordenado por antrop6logo, para proceder ao levantamento preliminar dos limites da terra ind{gena em questao - facultada a participafiio do pouo ind{gena interessado - e elaborar relat6- rio caracterizando a drea a ser demarcada. Uma vez aprouado pelo presidente da Funai e publicackJ no Didrio Oji.cial da Unido (DOU), 0 processo era encaminhado ao ministro da Justifa, 0 qual poderia solicita» informafoes adicionais a 6rgaos publicos. Uma uez aprouado, 0 ministro declarava a terra em questao como de posse indigena permanente, atraves de portaria publicada no DOU. Caso ndo aprouasse, 0 ministro deueria reexaminar o caso em 30 dias. Na sequencia, a Punai, com base nos limites declarados na portaria do ministro, poderia pro ceder a demarcarao ftsica da terra e, nos casos necessdrios, 0 Incra deueria reassentar ocupantes niio-indigenas. Conclufda a demarcacao, o processo era submetido a homologafiio do presidente da Republica, atraves de decreto publicado no DOU, seguindo-se os registros nos cart6rios tmobiudrios das comarcas correspondentes e no SPU.
Se 0 Brasil pretende se encontrar com urn estilo de desenvolvimento democratico, plural e sustentavel, a correlacao altamente positiva entre sociodiversidade nativa e biodiversidade e urn patrtmonlo inestimavel. Para tanto, hi que se reconhecer as direitos indfgenas como determina a Constituicao. Cabe ao governo demarcar, desintrusar e proteger as terras indfgenas e manter polfticas piiblicas cornpensat6rias de apoio as iniciativas indfgenas que contribuam para a preservacao do patnmonio cultural e ambiental do pals. 0 novo decreto de FHC, nesse sentido, e gal contra. (versiio do arligo publicado no Parabolicas, boletim mensal do ISA, janeirol96)
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TERRAS INOIGENAS
POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
I'", ACONTECEU
DEMARCACAO:
PARCERIAS FUNAljONGS
ONZE DEMARCA<i0ES
A mcltnacao de Collor para investir ern urn marketing politico personalista acabou por redundar ern avances significati vos para 0 processo de reconhecimento of ida I das terras indigenas no pais. N unca a dlsposican para dar encaminhamento politico a questao foi tao grande como naqueles dois anos - 1990/92 (veja 0 quadro). Corn a caserna afastada do comando do 6rgao indigenista of ida I, esse perfado permitiu, tambem, a aproxtmacao da Funai com a sociedade civil organizada, inclusive, no ambito da demarcacao de terras, atraves de parcerias localizadas.
Desde os anos 80, a Funai vinha padecendo de cortes orcamenrarins e de atrasos nos repasses dos recursos para demarcacao de terras em escala creseente. Paralelamente, oeorreu 0 esvaziamento de suas funcoes, distribufdas, por Collor, para outros ministerios. Essa situacao, mais a escolha do sertanista Sidney Possuelo para a Presidencia do 6rgao, criou as condi~6es para que fosse tracada uma polltica de cooperacao com entidades de apoio aos fndios. Desi gnado por Collor, em [ulho de 91, Sidney
Possuelo criou, dols meses depois da posse, 0 ConseIho de Defesa dos Direitos Indfgenas, convocando representantes da sociedade civil para compo-lo, No mesmo ana, diante das dificuldades para cap tar recursos externos para viabilizar seu projeto de demarcar 266 areas em tres anos e meio, Possuelo inaugurou a parceria Funai-ONGs assinando convenio com 0 NDI para a dernarcacao da AI Kampa do Rio Amonea (AC). A nao-governamental coube a tarefa de administrar os recursos necessaries para executar a demarcacao da area, homologada com 87.205 ha. Nesse mesmo ana, Possuelo assinou a segundo convenlo, autorizando a FMV a coordenar a demarcacao ffsica da AI Mekragnoti, dos Kayap6, no Para (ver capitulo Sudeste do Pard/Xingu).
A demarcacao dos 4,9 milhoes de ha dos Kayapo marcou 0 infcio da cooperacao entre Funai e ONGs na execucao da demarcacao fisica de uma area indfgena. Os trabalhos consumiram US$ 650 mil, levantados pela Rainforest Foundation International, e foram conclufdos em apenas 74 dias. Em 1993, Possuelo assinou dois outros convenios: com 0 Centro Maglita, do Alto Solimoes, para dernarcar seis areas indfgenas Ticuna, (ver capitulo Solimoes) e com a UNI ~AC, para demarcar a Al Kulina, no Medio Juru:i, ambas no estado do Amazonas. Como no convenio anterior, asentidades obtiveram finaaciamentos extemos e coordenararn os trabalhos em campo.
A substltulcao de Possuelo por Claudio Romero e as pressoes de grupos internos, contrariados com a participacao das ONGs em atribuicoes exclusivas do orgao, nao interromperam a pr:itica. Romero assinou, em 1994, convenio com a Programa Povos Indfgenas no Brasil do CEDI para a demarcacao ffsica daAl Arawete, no Para e seu sucedaneo, Dinarte Nobre de Madeiro, assinou com 0 CTI, para demarcar a AI Waiapi, no Amapa, tarnbem em 94.
() apoio interne a parceria com ONGs ajudou a consolidar a aproximacao. Para a diretora de Assuntos Fundiarics da Funai, Isa Pacheco Rogedo, a particlpacao das entidades indigenistas tern sido fundamental. "A Funai tern poueo pessoal capacitado e faltam recursos, Sera a cooperacao das ONGs, nao s6 na demarcacao, mas no apoio jurfdico e logistico, n6s nao terfarnos condi~5es de resolver os problemas". Por parte das entidades, a parceria tern possibilitado envolver os Indios nos trabalhos demarcatonos, permitindo-lhes, assim, melhor reconhecer e con ~ trolar os !imites de seu territorlc. Hi outros beneflcios, como 0 desenvolvimento, fora do Estado, de urn suporte tecntco mais especializado para a execu~ao de trabalhos dessa natureza na Amazonia e a geracao de renda para 0 mere ado local nao-indigena, 0 que ajuda a mitigar suspeitas e preconeeitos em relacao as ONGs e aos pr6prios indios. (Marco A. Goncaloes, dezl95)
ONG
CONVENlOS ONGS-FUNAl PARA DEMARCAt;AO DE TERRAS lNDiGENAS (199111994)
Area Indfgena UF Extensiio (ha)
AI Kampa do Rio Amonea AC 87.205
AI Mekragnoti PA 4.914.255
Evare I AM 548.177
Evare II AM 76.205
Bettinia AM 122.769
Lago Beruri AM 4.080
Vui Uataln AM 121.198
Porto Espiritual AM 2.839
Kulina AM 770.000*
Araweti PA 940.900
Waiiipi AP 573.000" NDI
1991
Ana do Con venia
FMV
1991
Centro Magiita
1993
UNI-AC, JECLB, Cimi e Opan
1993
CEDI
1994
1994
• Aguardam publicat;(;o de decreta de hom%gariio dos limites.
Fonte: lnstituto Socioambiental, dezembral95
POVDS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
TERRAS INDfGENAS
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DO DECRETO 22 AD 1775
FUNAI CRIA COMISSAO PARAREVISAO DE AIS
AtravES da Portartan? 398, de 26/04/91, a Funai instituiuurna Comissao Especial composta por dez funcionarios, vi nculada it Superintendencia de Assuntos Pundiarios em Brasflia, com atribulcao de analisar e de manifestar-se conclusivamente sobre os processes de demarcacao das terras indfgenas que se encontram paralisados dentro do 6rgao. A portaria vern normatizar 0 dlsposto no Decreto 22/91, que prel'e 0 aprcveitamento desses processos dentro da nova sistematica e que inclui a possibilidade de revisao das terras indfgenas consideradas insuficientes e daquelas que 0 6rgao indigenista considerar conveniente. Em anexo aportaria, sao relacionadas 144 areas que deverao ser apreciadas per esta comissao, totalizando cerca de 62% do total da extensao de terras indfgenas no pais. Segundo iuforma~Oes da propria Funai, trata -se de uma lista iniclal que sera complementada (PIB/CEDI, 27105/91)
GOVERNO QUER DEMARCAR PARA MELHORAR lMAGEM
Urn docurnento reservado mostra que a governo estabeleeeu como enteric para a dernarcacao das terras indfgenas 0 efeito publicnano no exterior, visando aECO-92
No item que trata dos "Programas de A~ao Imediata", 0 documento ressalta que "para execucao do Programa de A<;:ao Fundiaria Imediata, conferiu-se prtortdade a areas que, pel a sua repercussao internacional, deveriio ter sua demarcat;ao homologada antes da Confarencia Intemacional sobre Melo Ambiente e Desenvolvtmento: no caso, Yanomami e Guarani Kaiowa". 0 relat6rio, preparado pelo Ministerio da ]usti<;:a, foi apresentado pelo m.inistro J arbas Passarinho na reuniao setorial sobre a queslao i ndigena. Participaram 30 pessoas, entre elas 0 presidente Fernando Coller de Mello, sete rninistros eo novo presidente da Funal, Sidney Possuelo. (FSP, 29106/91)
DEMARCA<';AO FAZ FUNAI APELAR AO EXTERIOR
A Funai esta usando urn metodo alternativo para dnblar a falta de recursos necessaries ademarcacao
das terras lndigenas. Em resposta a quase 30 mil cartas de ONGs de todo 0 mundo que protestam can - ;;; Ira a morosidade 110 processo de dernarcacao, a g Funai esta solicitando diretamente as entidades :; apoio finsnceiro. Faltam ser demarcadas 266 areas ~ mas 0 6rgao nao dlspoe dos recursos, (Corr'ei~ ~ Braziliense, 20/08191) l'l
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TERRAS INOiGENAS
COLLOR HOMOLOGA A DEMARCA<';AO DE 71 AIS
o presidente Fernando Collar de Mello assinou 011- tern (29/10/91) a homologagiio de 71 areas mdfgenas, em 16 estados, Dum total de 11 rnilhces de hectares, beneftciando 48 mil Indios, (FSP, 30110191)
COLLOR ASSINA DELIMITA{:AO YANOMAMI
o presidente Fernando Collor, acompanhado de Jose Lutzenberger, secretano nacional do Meto Ambiente, e Sidney Possuelo, presidente da Funai, anunciou a decisao historioa de reconhecer ao povo Yanornami uma area continua de 9,4 milhoes de hectares, em solenidade realizada no Palacio do Planalto em Brasilia, vel' mais detalhes no capitulo "Roraima Mata". (16111/91)
SEMINARIO SOBRE DEMARCA{:AO
o Seminario "Reconhecimento e Dernarcacao de Terms Indfgenas na Amazonia", promovido pelo NDI e pela Rede Amazonica, apoiado pela Gaia Foundation de Londres, durante os dlas 9 a 12112191, reuniu tecnicos dos governos do Peru, Colombia, Bolfvia, Paraguai, Equador; Venezuela e Brasil, lideraneas indfgenas e organiza~5es nao-governamentais nacionais e internacionais. 0 seminario teve como objetivoanalisar os proced.imentos govern amentais para 0 reconhecimento legal dos direitos territoriais dos povos indfgenas que habttam nos diferen tes pafses da regiao amazonlca, comparar os procedimentos e apresentar a situa~ao em que se encontrarn as terras indigenas nos diferentes pafses amazonicos, (FIB/CEDI, dez/91)
COLLOR HOMOLOGA A DEMARCACAO DE 27 AIS
Com a presenca da atriz Luceli.a. Santos e de representantes xikrin, patax6 e arara, 0 presidente Collor
assinou 27 decretos homologando a demarcRQao de 27 AIs que somam 2 rnilhoes e 206 mil ha garantindo a posse a 9.817 Indios em dez estados brasileiros. (Correio Braziliense, 25/12/91)
GOVERNO QUER CONDICIONAR DEMARCA~6ES, SOB PROTESTOS
A criacao de novas unidades de conservat;ao e de areas ind1genas esta condicionada, agora, aos pronunciamentos do Emfa (sabre a aspecto da soberanianaclonal), do DNPM (quanto it sobreposieao de novas a.reas em jazidas de minerals estrategicos), da Eletrebras (indicando 0 potencial hidreletrico de regi5es em questao) e daEmbrapa (sobre a defesa da biodiversldade). A decisao e do presidente Collor e foi repassada as areas ambiental e indigenista do governo, atl'av€s do Aviso n" 745/SG-PR.
o CEDI, a Fa~ eo NDl manifestaram-se contrarios a nova determin~ao do governo. Em nota distribufda a irnprensa, as entidades lembram que "a 5Ubordinacao da criacao de un.idade de conservacao ambiental e da demarcat;ao de twas indigenas aos orgaos cltados viola varios dispcsitivos constitucionais". Segundo essas ONGs: "cabe ainda ressaltar que 0 secretano-geral da Prestdeacia da Republica, ernbaixador Marcos Coimbra - que expediu a circular - pretende implernentar tal esbulho it ConstituiCao par meio de urn mero "aviso", que e um ato admlnlstrati vo sem poder normativo ou legal, e que sequer e objetn de publicagao oficial". A1em disso, 0 Aviso 745 represents a interven~ao militar em assuntos como 0 da biodiversidade e pode pulverizar todas as declaracoes, discursos e acordos firmados pelo Brasil durante a ECO-92. (Correio Brazuiense, 07108192)
PROCURADORIAVETA "AVISO"
A Procuradoria Geral da Republica considerou "ilegal e impertinente" o aviso ci.rcular do presidente Fernando Collor, enviado as autoridades ambientais
Col/or e a ministro Pesserinho, ne cetitntmie de homologa~6es
no Ptsnetto.
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~fSA ACONTECEU
Deeret:o ftV 22" de 04 aD·teverolro de 1991.
D1apOe Bohre 0 proce •• o eodrainl&'trativo de d.ltmarclll;io das t.r,..... ihdlgen •• e di out:ra. providenclas"",
, . 0 PUStI>8ItR 010 Rl!ftIloLxb. no ... e cI. ur1bui9ao que lhe confere 0 art. 804 .• :l.tll::-1.0 1\1~ e ten40 ern .. 1st.. 0 4!.po.ta no art. 231, p- 00. da Con.t.ltuicio, • con.i4erandQ • IU'po.1<::io c:ontich, no art. ;:0, 1noho lX, d. L.i nQ ~.OG1, d. 19 d. d ..... b~o d. 19?1.
D.C· •• ~A.
Art... 1 Q A"tI t..rra. Indlogena., d. que -t:r.tam 0 art.. 17 d" LI:!' i
nO '''001, 4. l' d. de:tembro 41". 1973 •• 0 art. 231 CliI. eon .. titulcio~ a .. - iriio administ.rati"lIme-nte dema.rc.dCls po,; iniclativ4 e sob e- orientacio dD '6rgio federal de assiat;!n¢ia a'O t~aio, de .c:0"0 COla as n0IlR48 ~deate necreeo,
Art 01 20 A demarca(:io dao terras· uadlc.ional.me:nt.e ocupadas pelos Indio," I!!iera precedid.a. de identificacio par' GI'UPO Tecnico,. queprocederi aos E!st.udo.s e. levant.-rnentQs, a fim. de atender ao diaposto no S 19 do i!l~t '". 231 da Con:st:.itttiCio.. .
S 10 0 Gr\1PO 'Tet:;fi).co Ui"a designalSo pelo orqi.Q :fed.e:ral de eSBistencia ao Indio e sera eompoBt.O por ticnicos eapeela.lizado. dasse org-.o que, soo a coordena-cio de antrop.oloqo, realizari. es't.udos et:nohi&t6~iC09, eociol6gicas, c-artogrifi.cDB e fundiirios necesl!iiirios.
S. 20 0 levantamento fwu1iirio de que trata 0 S HI', ca80 seja necessirio.· .sera ~eali~ftdQ ":OhjUl:1t4UDrente GOlQ Q Orgio feder·al 0I:l esea-. dual espec:ifico.
S 39 0 qnlpO ihaI9i!n. 'et.lvo1vido· pan.icipa.ri do proeesso em todas as suas reeee.,
5 40 Out.ro .. orgi05 pUblicos .. membros da CODnmidade cient.lfica ou especialistas 80bre 0 gr1lPO 1ndlg-Eina envolvido, poc.\erio aer con'\1'id~dos, par Bolicitacio do Grupo 'lecnico,. a. parttetpat' dOB tr~lhoB.
S So Os 6:1;-9"i08 pUblicoB federais, estadu.a1s e .municipais ~&vern, no 5mb1t.o de: eu ... CObtpetenc:iaa, e is entidades civi:D e facultado" pz:estar., peranee Q Grupo ~enieo, 1nfol''IIl~~rgi5e8 eebee a irea abjeto ae estudo, no prazo de trinta dias cont.ado. a. p.rtir de ptbliC8.Qm do at:o que c:on&t:i tuir Q re:ferido qrupo.
. S 60 ConcluIdo8. ee t.rabalhot: 4e Identif"lcacio, 0 ·Grupo Ticnico ap~se-ntari ralatorio circun8t:anciad.D aa orgio flHleral de a511115- tencia eo indir;> r caracterizando a terra ind.iqenll. a .... el"· d:eN.rccu:la.
S 7~ AprO'l1adt) Q 'r-elatorio pelo titular do 6rgio federal de assiGtencia 8.0 Indio ... este 0 fat"i pt,lbli(:"n no. Diirio Oficia1 da Oniio, incluindo 86 in£~rmacOes recebida;s, de acordo com 0 S 50 ..
S 80 ApOs a publi';:.fJC'io de que trata 0 .pariqrafo anterior, 0 orgao federal de a5sist.encia ao Indio ·enc:aminhari Q respectivo proaea:uo de da.;n.arca¢io 80 M!nistro da J'uati"e que, c;aso julgue nece.siria$ .iriforma-r;Oe-Ii IldiciClIl4.i~ r .ali 801icitari aOB orqiDB meneionados no S 50 para que sejam. pz:estlldA& no prazo de trint.a 4i .. a. ...
S 91il Aprovando 0 p):c,JI;:ep8o, 0 !oI.inistro d.a JUa.til;a do!!clarari, ltIediante portari~, os limi tea aa terra 1ndIge:n.a r dettJndn.ndo a Bua i2emarc«.-ciio ..
S 10. Nio aendo ap~V~(I Q p:roc::aBso d~roAtorio. a Hinlstro da Justica devolve":'lo .. '; para ree)CaIM:,. nC? prazo de t:.ri1'l:ta ,UilLlI!i.
Art. 39 Os trahalhos de ident.ific&!I;ao Q delimit.~io de te.rras ihd.iqenas realizado5 anterionnente. poderio aer consider-ados palo: orgio fll"lderal d~ assi8tenc~a 80 Indio para efelto de 'demarcacio. deade
qu-e ccerentee com os princIplos- eatabeieeidoB ne~te neeeeee anuencia. ae grapo ind:l.qena envolvido ..
;
Art .. 40 Durante 0 processo de demarcaeio, 0 orgio fundiirio federal proceder-£ .. 0 rel!l""B~f\te,,qento de ocupantes nao-Indios, podenao para tanto :Hrmar convenio como 0 org;o federal de assist:.inei. &:0. in-
dio... .
Pariqr:-afo imico... 0 orgao fundiario federa.1 Clara priorida.de ao reassentament:o de ocupanteli nio-!ndios cad;;llBtt'a13os pelo Grupo T8c-ni(:0, obedec i.daa as nc'rmaa e1ipecifieal!l: ...
AIe. 5-Q A dernarcacaa dae areas res-e7:Vada5_, de que tra~ 0 art .. 26 da Lei no 6.001r de 1913, sera felt .. com base na de:&cril;aO dOG limites cone Idea nO atQ do Potter Executivo que a~ houver estahelecido.
Art. Go A demarcar:ao da.s t:.err~'U;. r)e dom:l.nic 1ndl9"en~, referidas.no art~ 32 da t.el. nc 6.001, de 1973,. sera proceditla com ba$~ nos . re,spe.;ti VCUi tl tulos aominiais.
Art. 79 0 orqio federal de- D.asiatencia ao Indio procedera. no pxaae de um eno , a rev1aao das t.:rr~e: indIgenas eonsidBrlUias insu:fi ... (dentes. para a sobrevivencie. ftsica e c~ltural doG. grupoo .tnaIgena2ii.·
Art. 80 0 Kin1.stJ"o .da JUatil;&, .edla.nt:.e 8~11~itagi~ dO tit:ular do orgio federal de: a.asistencia lIO indio ... ~era determ1nar· • in'" tet""diOB.o provisoria eae terra8 em que Be constate a presenca de !n410. i80.l~do&, ow de Ol,I.tras em que a interdioio ee faga necesB.aria; para a preserval;io Q:ii int.e9r1d~de 4008 Indios a do. respec::tivo8 t.erritOrioG ..
P.1:'9rafo 60ioo. It. In.t..r41,,lo prowl.or'.· vi •• I'" 0, ••• :tcs{c!o ee pod..r d. pollal. pr.vi.tc no i.nCilo v:n 40 .rt. .. ]D .s. z..J. nO 5-.371, d. :5 .s. ~ .. .oro ". 196'1" ... vig.x-i por pral:o 4.t..:nt1:Da40" PX.cH:"J:09'",.l.
Art:.. 90 A dGlIjIarcacao doll. terra. indiqena., obedecido 0 proee •• o .dmini.1:.t:ativD d •• t.. DtlCr.to, •• ri .\lbJcat.ida i· ~lo9.~io do P .... 1.4.M.· 4& RopUbl1c ••
,. Art. 10. Ap6s·. bomoloqacio: 0 orgio federal d. a •• istinei. e.o indio promoveri 0 seu re"9iatro em cartOrio imobiUirio aa cc.ara c:Orn-.II1lOM@.t .. .e-ne Departamento do Ratr:1mOal0·d,a uniio.
art. 11. £ taculU4" ." 6r~ic>' f.dual d .... btinci ..... 1_ dio proc04u I ~"blg cI .. tarr •• I.ndlnn ... proylIdo. 011 .s. .. uoad .. _ ba •• na l~i.l.~i. ... nt.ri"~.
• Art. 12.. A. ·terr •• 4 •• 1qn."'.1 ire •• in4tqena •• cDlOnl •• in-. dlg.n •• l no. t.nna. 40 Dtu:r.to nQ ' •• 9415,. 411.33 de .tedtl:o .. ~.de., 1987 ... pa ...... Clat.;o~i. d. urr ... incll"'.n ....
Art. ll. 0 6rgao fel1eral+ de aB.i ... tinc-l. ao indio I1OllN.th:amediante port.ria •.. a '.i~temiticft •• or .t1Ota&t pelo ~po r.cnJco.
Art. 14. 0 Mln1.tro 4_ tlu.tl;;a :fari publiCl.r plano de ~J:'a.¢lo d •• t.rr ... 1natgenal. <:OI!I ,,1.'1:. ••• .0 cumt:tl:'.u.n.ta 40: ~1:-. " .so Ato d •• Di.po.i.go.a Ccn.tit.uc::iona.i. "I'ra.n.it.6r1 .....
Art..- ·lS. Blt.e Decret:o .anUB .... vigor 'DB -data. &I .ua pubiica-
1Ll"t:,.. 1-6_ :1\.'109"- •• o. D.or.to. ~1jjiII. ,9'_'.50 .. "'.'4', ~ Z) d ••• t.em»zc d. 1 e87 ..
Bru{U •• 04 ~ __ .,.. lnll 1100 ~ X_pon4ine.t. • 1030 d.I. aepUbliCla.
FERNANDO COLLOa J.n.u PU.arhJbfl
SituaI;iio
caMPUTO DA SITUAr;AO jURiDICO-ADMINISTRATIVA DAS TERRAS INDiGENAS NO BRASIL (Fonte; lSA, 10/03/96)
N"de terras
Extensiio (ba)
A idrmtificar
79
4.808.700 (interditados)
Em identifica¢o
38
93.600 (interditados)
2
416.100
Em identificaftiolrevisao
35
11.168.031
Encaminhada ao ministro da justifa pi ser interditada
Delimitadas
57
14.981.765
ldentificadas - Encaminhadas aa ministra da Justi(;a
28
3.500.203 (+ 8.150.000*)
Delimitadas com demarcafao jisica conclu(da
11
3.727.614
Reservadas SPI com decretos estaduais antigos
1.9
429.301
Reservadas com deere/os presidrmciais anttgos
5
4.537.524
Demarcadas pelo Incm e adquiridas para assrmtamento de comunidades indigenas
7
4.251
Homologadas sem registro
43
4.639.192
Total
93.988,503
Registradas no CRI e ou SPU
221
45.682.222
545
('I<') ExJensiio do A1'&i IndfgenQ Alto Rio Negro ~lcaminhoda pela Funm ao ministro doJustifll em 02106/921 ijtle englomz 14 Areas lndfgenas bomologadas durante 0 gOller-no Samey ell Plores/as Na.donais criadastltl mesma ep0C4.
POVOS INDIGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
TERRAS INDfGENAS
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1-.fL. Acervo '
-!f\\ISA A CON TEe E U
(Ibama e Secretaria do Meio Ambiente) e indigenistas (Funai e Mtnisterto da justica), determinando novas normas para a criacao de unidades de conservacao ou areas indigenas, "Ao expedir 0 aviso, praticou 0 senhor secretario-geral ato ilegal e impertinente, uma vez que as razoes que a [ustificam padecem de validade", afirmou 0 procurador Wagner Goncalves,
A Presidencia da Republica [ustiflca a medida informando a necessidade de se aproveitar melhor a exploracao dos minerlos estrategicos, como ouro, prata, chumbo, terras raras, tttanto e cassiterlta. 0 procurador Wagner Goncalves fundamentou sua dectsao expllcando que nao pode urn "aviso-circular" mudar urn Decreto-Lei, 0 de mimero 22/91, que trata da demarcacao de terras indfgenas. "Norma de hierarquia inferior nao altera norma superior" . o gabinete da Secretaria Geral da Presidencia nao quis fazer qualquer comentario sobre 0 assunto. OB, 04/09/92)
84% DAS TERRAS INDIGENAS ESTAO INVADIDAS
Das 510 areas indfgenas conhecidas, nada menos que 431 (84%) estao Invadldas. As invas6es obedecern os mais vanados motives, do garimpo e explor~ao madeireira afazendas de gada e projetos agrfcolas, alern de povoados, como ocorreu em S. Pedro dos Cacetes, uma vila encravadaem terra Guajajara, no Maranhao. Outra area considerada explosiva e a dos Karapot6, em Alagoas, com 1.810 ha, que foi desaproprtada para ser reserva indfgena, mas a Funai nao tern recursos para pagar as tndentzacoes aos fazendeiros, e os Indios estao sofrendo retalia~6es, segundo denunciou a diretora de Assuntos Pundiarios, Isa Rogedo. (jornal de Brast7ia, 15/11/92)
ITAMARATY QUER VETAR FINANCIAMENTO DO PP-G7
o lIamaraty solicitou junto a Embaixada da Republica Federal da Alemanha, em nome do govemo brasileiro, a retirada do projeto "Demarcacao de Ierras Indfgenas" do contexto do PP-G7. Entidades e friruns de apoio aos indios enviaram correspondencia ao ministro do Meio Ambiente e da Amaz6- nia Legal, Rubens Riciipero, solicitandc esc1arecimentos e pedindo audiencia para tratar do assunto. (PIB/CEDI, marl93)
ITAMARATY DESMENTE
o Ministerio das Relacoes Exteriores negou ontem (09/03/93) que tenhaemitido nota abrindo mao do financiamento de US$ 18 bilh6es oferecido pelo governo alernao para a demarcacao de terras indigenas no Brasil. 0 programa e parte do acordo bilate-
70
TERRAS INOfGENAS
ral entre os dots pafses para financiamento de urn plano piloto de preservacao da Amaz6nia. De acordo com 0 Itamaraty, houve rna interpret~ao da nota, que apenas manifestava duvidas e pedia esclarecimentos sobre os mecanismos do financiamento. Oornal do Commercia, 10103193)
GOVERNO DIZ NAO TER
DINHEIRO PARA DEMARCAR
o ministro da justi~a, Maurfcio Correa, admitiu ontern que 0 govemo nao tem condi~6es financeiras de curnprir 0 dispositivo constitucional que obriga a Uniao a demarcar todas as terras indfgenas ate 05/10/93. (A Cn/ica, 16/04/93)
o QUE E 0 PROGRAMA PILOTO
o Programa Piloto para Prote~ao das Plorestas Tropicals Brasileiras ap6ia urn conjunto de projetos que contribuirao para a reducao da taxa de desmatamento das florestas tropicais do Brasil de maneira consistente, com 0 desenvolvimento sustentavel dos recursos naturais e humanos da area, e que proporclonarao li~6es a serem utilizadas na elaboracao de futuras atividades. 0 Programa Piloto foi criado a pedido dos pafses do Grupo dos Sete (G-7) mais ricos do mundo (EOA, Alemanha, Franca, Inglaterra.japao, Italiae Canada), e recebe apoio financeiro de todos eles, bern como da Comissao das Comunidades Europeias e da Holanda. 0 montante total de compromissos de assistencia financetra e t€cnica do Programa Piloto € coordenado pelo Bird, em conformidade com os acordos celebrados entre os participantes - os pafses do adores e 0 Brasil - do Programa Piloto. (Pilot Program Update, ju1193)
FORUM DEBATE SITUA~AO DAS TERRAS INDIGENAS
o F6rum em Defesa dos Direitos Indfgenas, criado em maio de 93, por 30 organizacoes nao-governamentais, reuniu-se ontem em Brasflla para discutir a demarcacao das terras indigenas, que deveria, por forca de dispositivo constttuclonal, ser concluida ate 5/10/93. 0 Forum discutiu uma campanha nacional pela demarcacao das terras. (Correio Braziliense, 03/07193)
MINISTRO ALTERA ITEM DA PORTARIA DA AI KAINGANG DE lRAI
o ministro dajustica, Mauricio Correa, assinou portaria, publicada no DOU de 08/07/93, anulando 0 item III daPortariade 28/05/92, que define os limltes daAl Kaingang de Iraf (RS). 0 item exeluido e 0 que proibia 0 "ingresso, 0 ttansito e a permanencta de pessoas ou grupos de nao-indtos dentro do perf-
metro ora especificado, ressalvadas a presenca e ~ao de autoridades federais, bern como a de particulares especialmente autorizados, desde que sua atividade nao seja nociva, inconvenlente ou danosa a vida, aos bens e ao processo de assistencia aos indfgenas". Dessa forma, 0 ministro acatou a decisao do Superior Tribunal de justlca, que atendeu Mandado de Seguranca impetrado por ocupantes nao-fndios. (PIB/CEDI, jul!93)
HARGREAVES VETA HOMOLOGA~5ES
o ministro-chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, vetou a proposta encaminhada pelo ministro dajustica, Mauricio Correa, de homologacao da demarcagao de seis Als que seriam feitas pelo presidente lIamar Franco, por decreto. Motivo da devolucao: faltavam pareceres do Emfa, Embrapa, Eletrobras eDNPM.
"E urn absurdo essa exlgencia da Casa Civil, que nao tern nada a ver com 0 assunto. As demareacoes dessas terras custaram milhares de d61ares, agora na fase da homologacao das demarcacoes pelo presidente, pede-se pareceres que sao totalmente desnecessaries. Se essa exigencia ilegal continuar, 0 Ministerio publico val recorrer a Justi~a", disse 0 procurador Aurelio Veiga RiDS. (0 Globo, 20107/93)
LIDERES INDIGENAS VAO AO PLANALTO EXIGIR DEMARCA(;AO Lfderes tndigenas entregaram ao ministro dajusti~a, Maurfcio Correa, no dia 16/09/93, um abaixoassinado com 118 mil assinaturas recolhidas nos diversos estados do pais, que exige do govemo a demarcacao de todas as terras indfgenas ate dia 05/10/93, conforme estabelece a Constttutcao. A comissao, formada par 14 Indios, com 0 cacique Raoni a frente, tentou ser recebida pelo presidente Itamar Franco. (Correio Braziliense, 17/09193)
COMITE EUROPEU QUER PAGAR DEMARCA(:AO
o Comite Europeu pela Demarcaeao das Terras Indigenas Brasilelras .,: que reline cerca de 70 organiz~6es do mundo inteiro em defesa dos direitos humanos - anunolou que esta disposto a iniciar uma campanha para levan tar no exterior 0 dinheiro necessario a demarcacao das terras indigenas no Brasil, caso 0 govemo insista na alegacao da falta de verbas. ( 0 Globo, 18109193)
DEPUTADO JOBIM ADVOGA PARA GOVERNADOR DO PA
o deputado federal e advogado Nelson ]obim (PMDBRS), assina parecer encomendado pelo govemador
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
'!:1%fSA ACONTEC~U
do Para, Jader Barbalho, levantando a tese da inconstitucionalidade do Decreto 22/91 e, por consequencia, de todas as demarcaeoes de terras indfgenas efetivadas sob sua egide, (1£4 com base no parecer assinado por N jobim em 21109193, cujo fac-simile consta do dossie divulgado pelo lSA em 04/08/95. Ver adiante)
TERMINA PRAZO CONSTITUCIONAL PARA DEMARCA~AO
o prazo fixado pel a Constituicao para que todas as AIs fossem demarcadas pelo govemo termina hoje, e metade delas ainda estao sem qualquer marco. Das 532 areas tradicionalmente ocupadas por popula~6es indfgenas, apenas 266 estao demarcadas, totalizand044,7milh5esdeha (49%). (FSP, 05110/93)
JUNQUEIRA COBRA DEMARCA~OES o procurador-geral da. Republica, Aristides [unqueira, enviou ontem dia 06/10/93, oficio ao presidente !tamar Franco pedindo explicacces sobre as terras indfgenas ja demarcadas que aguardam homologacao da Presidencia da Republica. De 35 portarias demarcat6rias remetidas pelo ministro dajustica ao Palacio do Planalto, apenas 16 foram homologadas. junquetra abriu inquerito civil publico para apurar, em "toda a sua extensao'' , as causas do nao cumprimento da determinacao constitudonal de que todas as AIs fossem demarcadas ate 05/10/93. (PIlIICE1)I, 07/10/93)
OS LATIFUNDIARIOS
Giovanni Alioti, autor de uma carta publicada pelo jomal Folha de S. Paulo, comenta: "pesquisa da Folha (a qual) levantou que a maioria dos parlamentares do Congresso N acional, com a exee~ao dos petistas, querem diminuir a extensao das areas indfgenas. 0 argumento principal e de que ha muita terra para poueos fndios. 0 argumento e eficaz, mas tanto quanta curiosa no Brasil, onde 44% das terras estao concentradas nas maos de 1% de fazendeiros e 10% da populacao detem 53% das riquezas do pafs. Sera que os mesmos parlamentares querem, com a mesma 16gica usada para a questao das areas indigenas, redistribuir terras aos camponeses e riqueza ao povo?" (FSP, 11/10/93)
SATTIN PROTOCOLA MANDADO DE SEGURAN~A
A empresa Sattln Agropecuaria protacolou mandado de seguranca no STF, em Brasilia, requerendo a anulacao do decreto de homologacao da AI Sete Cerros (Guarani), no Mato Grosso do Sui, alegando a inconstitucionalidade do Decreto 22/91, ver mais informacoes no capitulo "Mato Grosso do Sui". (PIlI/CE1)I, 24/01/94)
PIB/CEDI CONCLUI ANALISE SOBRE SOBREPOSI~OES COM TERRAS INDIGENAS
Ha 57 casos de sobreposicao a terras indfgenas de outras areas da Uniao, destinadas a usos especiais nazmazonta, como varies tlpos de unidades de conservacao, areas militares, reservas garimpeiras e areas de hidreletrtcas, N a maior parte dos casos, as sobreposicoes decorrem de atos praticados pela propria Dniao, que antecederam cronologicamente aqueles de reconhecimento administrativo das terras indigenas afetadas. Ha casos onde mais de uma figura jurfdica se superp6e a uma mesma terra indfgena, como naAl Yanomami e na Al Alto Rio Negro. Essa e a principal conclusao da analise feita pela equipe do Programa Povos Indigenas 00 Brasil do CEDI, em extenso e detalhado relat6rio lntttulado "Terras indfgenas na Amazonia brasileira e outras areas da Uniii.o destinadas a usos especiais", entregue ao Fundo Nacional do Meio Ambiente do Ministerio do Meio Ambiente e da Amazonia Legal. o relat6rio apresenta recomendacoes, cenarios cartogcificos e relat6rios do banco de dados sobre a sttuacao jurfdico-administrativa das terras indigenas e demais areas da Uniao. (PIB/CEDI, abr/94)
NOVO MINISTRO QUER MUDAR CRITERIOS PARA DEMARCA~AO
o ministro da Justi~a, Alexandre Dupeyrat, manifestou desej 0 de baixar portaria determ inando 0 reexame das regras em vigor, sob 0 argumento de que as demarcacoes anteriores criaram inumeros problemas que precisam ter solu~6es concretas de agora em diante. A decisao foi baixada poucos dias ap6s uma acirrada discussao sobre a demarcacao dakea Raposa/Serra do Sol (RR), considerada a maior reserva de diamantes de todo 0 pafs. A revisao dos criterios de demarcacao sera realizada por uma comissao interministerial, que tera prazo de 60 dias para opinar sobre 0 assunto. (Correia Brasiliense, 06/05/94)
SENADO APROVA MEDIDAS CONTRA AIS NA FAlXA DE FRONTEIRA
Um projeto, aprovado sem alarde no mes passado pelo Sen ado, prev@ a revisao da demarcacao das terras indfgenas localizadas em faixa de fronteira, entre elas a Area Yanomani (RR). Se a proposta do senador Cesar Dias (PMDB-RR) for aprovada pela Camara e sancionada pelo presidente FHC, 0 Poder Exeeutivo tera que encaminhar, dentro de seis meses, um projeto de lei ao Congresso com os pontos a serem revistos, 0 projeto determina, tambem, que 05 governos estaduais sej am ouvidos antes de se ini-
POVOS INDIGENAS ND BRASIL 1991/95" INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ciar qualquer processo de dernarcacao de area indigena no pafs. Quando se tratar de dernarcacao em area de fronteira, 0 assunto tera que ser encammhado para uma comissao composta por representantes dos ministerios dajustica, Relacoes Exteriores, Exercito, Marinha, Aeronautica, Minas e Energia e da Amazonia Legal e Meio Ambiente. A Funai aposta que 0 projeto nao sera aprovado nem sancionado por FHC. (0 Globo, 27/01/95)
JOBIM DEFENDE NOVA POLfTICA PARA TERRAS INDfGENAS ...
o ministro da justica, Nelson Jobim, disse que vai apresentar as linhas gerais de uma nova polftica de dernarcacao de terras indigenas e explicou que um dos pontos a serem discutidos e se as demarcacoes continuam sendo feitas atraves de decreta presidencial ou por projeto de lei. Segundo joblm, ja h:i urn recurso no STP questionando a demarcaeao por decreto. 0 projeto do senador Cesar Dias, aprovado no Senado, sera estudado pelo govemo, afirrnou 0 ministro. (0 Globo, 31/01/95)
... E SECRETARIO CONFIRMA INTEN~AO DE ALTERAR DECRETO
o secretarto-executivo do Minlsterio da J ustica, Milton Seligman, disse que 0 governo esta estudando uma forma de introduzir no processo de demarcagao de terras indfgenas uma forma dos proprietarios de terras se defenderem. "Estamos prevendo urn atraso na questao indigena", diz Isa Rogedo, diretora de Assuntos Fundiarios da Funai. Ela diz que 0 govemo esta empenhado em fazer com que as demarcacoes de terras nao sejam feitas 56 pela Funai e pelo governo, mas por deputados, senadores e adrrunistracoes estaduais. "Assim, eles acabam barrando todas as demarcacoes''. (Gazeta Mercantil, 14103/95)
ALEMANHA DOA VERBA PARA DEMARCA~AO
o governo brasileiro vai receber US$ 22 milh6es do governo alemao para a demarcacao de terras lndigenas. Alern de contribuir para as demarcacces de terras indfgenas na Amazonia, 0 empr€stimo a fundo perdido feito pelaAlemanha vai beneficiar projetos para a preservacao da Mata Atlantica e a censerva~ii.o das florestas tropicais, Os alemaes doaram tambem outros US$ 28 milh5es ao Brasil destin ados a projetos ambientais e recupera¢io de estradas.
Os acordos foram assinados no Itamaraty pelo ministro das Rel~5es Exteriores, Felipe Lampreia e pelo ministro da Cooperacao Econ6mica e do Desenvolvimento da Alemanha, Carl Dieter Spranger. Os acordos 56 foram viabilizados "depots de anos de negociacao". No Brasil, sobretudo na regiao amazonica,
TERRAS INOfGENAS
71
~:SA ACONTECEU
SUSTENTABILIDADE DA DEMARCA9JO E DIFERENCIAL DO PP-G7
Os recursos do Projeto Integrado de Prote¢o das Terras e Poputa90es Indfgmas da Amazonia Legal (PPTAL) do Programa Piloto para a Protecao de Florestas Tropicais do Brasil (pP-G7), ftnandado pelo seleto grupo dos sete parses mais ricos do globo, atraves do Fundo Fidueldno para Plores/a Tropical (RFT) administrado pelo BIRD, no valor US$ 2.100.000,00 ( 'dois milhoes e cem mil dolares), do KjW, Banco Estatal da Republica Federal da Alemanba, com DM 30 milhOes de marcos e 0 governo brasileiro com US$ 2.200.000, estao sendo internalizados pela Secretaria do Tesouro Nacional, atraves do orcamento do Ministrfrio do Meio Ambiente, Recursos Hidricos e Amazonia Legal (MM4) que, por sua vez, os repassa a Funai mediante convenio. 0 orcamento If anual e estd condieionado ao Plano Operauoo Anual, elaborado pela Funai de acordo com sua capacidade operacional.
o conoenio entre Funai e MM4 Jot assinado somente em 04112/95. A/raves dele, a Funai recebeu recur so or~men/drio no mont ante de R$ 1.705.171,00 rejerente ao Plano de Trabalbo inicialmenie elaborado para execu¢o no periodo de jutho a dezembro de 1995. No entanto, esses recursos niio ehegaram a ser utilizados face
a exigiiidade do tempo - como 0 orcamento If anual, 0 prazo para sua ap/ica¢o era ate 0 dia 31112/95. Com isso, osrecursosretomaram para o MM4. 0 Plano de Trabalho citado previa a identifica¢o de tres areas indfgmas, a demarcacao de duas e um componente de estudos, capacua¢o e apoio a gerencia da Funai.
Os US$ 2, 1 mil hoes oriundos do Fundo Fiducidrio do Banco Mundial, serdo utilizados para ativiclades de fortalecimento institucional e capacuagao da Funai, com vistas a execu¢o de estudos legislativos, alternativas de pereniza¢o de picadas, metod%gia ambient ai, geoprocessamento, cursos de indigenismo e outros. Ao mesmo tempo, 0 dinbeiro servird para cobrir despesas com a promo(ao de reunioe: da Comissao Paritdria Consulttva, constituida de oito representantes, quatro dos quais de entidades gouernamentais e quatro de organizagoes indfgenas. Esse acordo estd valendo desde 11112195 e um novo orgamento estd sendo solicttado para as agoes previstas para 0 ana de 1996.
Sao, portanto, tres as fontes finanaaaora« do PPTAL: KjW, da Republica Federal daAlemanba (RFA), Bird e governo brasileiro, a quem cabe, como contra partida prover 0 projeto com 10%
do total de recursos alocados (Bird + IqW). Esse dinheiro custeard a indeniza¢o de benfeitorias de ocupantes de boa Ji. Os recursos do projeto serilo depositados em contas especiais, abertas pela Secreta ria do tesouro Nacional em nome da Punai nas agendas do Banco do Brasil em Hamburgo (RFA) e Washington (EVA). A titulo de adianiamento, foram depositados os oalores de 250 mil marcos alemdes e US$ 20 mil respectiuamente. As contas serdo realimentadas de acordo com as necessidades de pagamento leoantadas durante a execucda do pp7)JL.
Para 0 in{cio dos trabalbos de demarcacdo, fot estabelecida uma lista de prioridades entre Funai, Bird e FjW (veja quadro nesta pagina). 0 criterio fundamental e a vulnerabilidade das areas indfgenas. As Areas Kararao, Medio Rio Negro I e II sao as primeiras da lisla, origina/mente preoistas para serem demarcadas ainda em 1995. Tecnicamente, 0 PPTAL ndo If s6 para demarcacdo de terras indigenas, mas tambem de prote¢o. Indui, ainda, a identifica¢o de mais de 40 areas, levantamento ambiental e pianos de vigi/aneia dos limites. (Slowack de Assis, lndigenista/Funai, j anJ96)
hi vanes grupos que se opoem a participacao estrangeira na demarcacao das terras indigenas. Carl Spranger aflrmou que a contribuicao dos pafses ricos para preservacao do meio ambiente cornecou a ser definida na Cupula Mundial sobre Ecologia, no Rio de janei ro, em 1992. 0 Brasil vai participar com 10% dos recursos, nos acordos recem-assinados com a Alemanha, Os projetos fazem parte do Program a Piloto para a Protecao das Florestas Tropicais do Brasil, no valor de US$ 250 milhdes, que esta sendo financiado com recursos do G-7 e do Bird. (Correio Braziuense, 07104/95)
DECRETO 22 E
OBSESSAO DO MINISTRO
o ministro da Justi~a, Nelson jobim, defende a redu~ao territorial das areas indfgenas onde tenha OCOfrido diminuicio de sua populacto. 0 govemo desconfia que grande parte das reservas foi demarcada tendo como base uma populacao indigena superestimada. A primelra providencta para rever as terras indlgenas ja foi tomada pelo Ministerio da justica. Jobim anunciou na sernana pass ada, na Comissao de Defesa Nacional da Camara, que vai levar a FHC uma proposta para alterar 0 texto do Decreto-Lei 22/91, A
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TERRAS INOiGENAS
avaliacao do rmntstro e que "0 decreto e inconstitucional", pots ele exclui a defesa de todas as partes interessadas no processo de demarcacao feito pela Funai. "Ele (0 decreto) fere 0 artigo 5°, que garante a ampla defesa ern processo judicial ou administrativo", disse 0 ministro.
A ideia e editar urn novo decreto, inc1uindo no texto urn dispositivo que permita centes tar qualquer processo de demarcacao em urn prazo de 90 dias. "A proposta deve ser levada ao presidente ate 0 final do mes", adrnitiu Jobim. Nos quatro primeiros meses de govemo FHC, nao foi demarcada nenhuma area indfgena. (FSP, 15/05195)
PRO]ETO PARA REVER
AIS NA FRONTElRA
AVAN(:A NO CONGRESSO
o projeto que preve a revisao das areas indfgenas demarcadas na fronteira foi aprovado ontem na Comissao de Defesa Nacional da Camara dos Deputados. Aprovado anterionnente no Senado, 0 pro] eto pode atingir 160 areas que se localizam na faixa de 150 km ao longo da fronteira. A Funai enviou ao Congresso parecer contrario ao projeto do ex-senador Cesar Dias, alegando que e!e fere a Constituicao
e coloca em risco a vida dos Indios. 0 relator do pro[eto, deputado jair Bolsonaro (PPR -RJ), que na proxima semana vlsltara a Area Yanomami com deputados e representantes da SAE e mlnisterios militares, esti tentando mobilizar parlamentares contra 0 atua! sistema de demarcacao de terras. (jornal de Brastlfa, 18/05/95)
DEMARCA(:OES
FICAM PARALISADAS
o ministro Nelson jobim anunciou que a demarca~ao de terras indfgenas Iicara suspensa ate que seja modificado 0 Decreto 22/91, que trata do assunto. OB, 19105/95)
BLDCD ANTIDEMARCA{:AO VAl A RORAIMA
Urn grupo de parlamentares, liderados por lair Bolsonaro (PPR-RJ) e compos to pelos deputados Elton Rohnelt (PSC-RR), Antonio Feijao (PSDB-AP), ambos ligados aos garimpeiros de seu estado, e Nfcias Ribeiro (PMDB-PA), realizaram audiencia publica na Assembleia Legislativa do Estado, em Boa Vista. o objetivo foi coletar depoimentos dos diversos seg-
POVOS INOiGENAS NO BRASIL 1991(95" INSTITurD SOCIOAMBIENTAL
~fSA ACONTECEU
mentos da socledade roraimense a respeito das questoes envolvendo os indios no estado. (ISA, a partir de Folha de Boa Vista, 23/05/95)
CIMI ESCREVE AO PRESIDENTE
o Conselho Indigenista Mtssionarlo, 6rgao cficial da CNBB, envia carta ao presidente FRC criticando o projeto do ministro [obirn de alterar 0 Decreto 22 e manifestando desagrado porque 0 assunto nao esta sendo discutido com os Indios e a sociedade civil (ISA, baseado na carta do Cimi de 26/05/95)
F6RUM REPUDIA MUDAN~AS NO DECRETO
o Forum de Defesa dos Direitos Indfgenas, formado por entidades de apoio aos indios, divulgou nota de repudto contra a ameaca de retrocesso que paira sobre a demarcacao das terras indigenas no pais, Segundo 0 documento, "todas as iniciativas anteriores para subordinar a demareacao das terras indigenas e a ~ao da Funai a interesses militares, politicos e econorntcos resultaram na prolferacao da violencia, em tentativas de reducao territorial € em genocidio", 0 F6rum tern especial preocupacao com relacao ao grupo interministerial formado pelo governo para alterar os atuais procedimentos demarcatorios, consubstanciados no Decreto 22/91. (ISA, mai/95)
LUTERANOS QUEREM
MANUTEN(:AO DO 22
o Conselho de Missao Entre indios (Comin) da Igreja Evangelica de Confissao Luterana no Brasil Jancou uma campanha de pressao pela manutencao do Decreto 22, contra as pressoes politicas dos setores contrariados com as demarcaeoes. (1£4, 05/06195)
PROCURADOR SAl DO CONSELHO INDIGENISTA DISCORDANDO DE ]OBIM
o procurador da Republica, Aurelio Rios, se exonerou da funcao de membro titular do Conselho Indigenista da Funai, para a qual fora nomeado pelo ministro dajustica Em offcto dirigido ao ministro, o dr. Rios afirma que 0 Decreto 22 nao e inconstitucionale manifesta preocupacao com os rumos da politica indigenista conduzida por J obim. OSA, rom base na carta deA. Rios a N. Jobim de 05/06195)
JOBIM DIVULGA SEU ANTEPRO]ETO Aimprensa teve acesso ao anteprojeto do decreta que trata do processo de demarcacao de terras indfgenas. A novidade e a abertura de urn prazo para a Irnpugnacao das areas ja demarcadas, mas sem registro conclufdo nos cart6rios e SPU. Pelo antepro-
jeto, pessoas com titulos de posse incidentes sabre area que a Funai pretends demarear poderao pedir a Impugnacao do processo antes do ministro da Justica assinar portaria declarando os limites da terra indigena.O texto sera subrnetido ainda a avaliacao do Palacio do Planalto e foi elaborado por tecnicos e assessores do Ministerio da Iustica, sem qualquer consulta a Funai, (0 Estado de Minas, 11/06/95)
CONSELHO DA FUNAI PRE 0 CUPAD 0
Os membros do Conselho Indigenlsta da Funai, que retine representantes do govemo e da sociedade civil, enviaram carta ao ministro da [ustiea manifeslando preocupacao com a revisao de terras j a demarcadas e uma possfvel escalada de conflitos, OSA, com base na carta do CI ao ministro Jobim em 12/06/95)
CIMI QUER MANUTEN~AO DO 22 ... o Cimi criticou, em nota publica de 16/06, a proposta de mudanca no processo de demarcacao de terras indigenas, que sera apresentada nos pr6ximos elias ao presidente FRC. "0 govemo esta cedendo as pressoes e aos interesses politicos contrarios aos direitos constitucionais dos indios", disse 0 secretario do Cimi, Gunter Francisco Loebens. Segundo ele, FHC esta abrindo mao das tetras indfgenas para obter votos para as reform as constitucionais do Congresso. (FSP, 17/06195)
... CAPOIB TAMBEM
Mudancado 22 p6eem risco direitos indfgenas e vai proteJar as demarcacoes, reabrindo conflitos e estimulando a violencla contra os indios, afirma 0 Capoib - Conselho de Articula~ao dos Povos e Organlzacoes Indfgenas do Brasil- em documento enderecado ao presidente FHC, ao ministro Jobim, ao presidente do STF, ao procurador geral da Republica e aos presidentes da Camara e do Senado. (ISA, a partir do documento do Capoib de 21/06/95)
GOVERNADOR DO PARA QUER REDU~AO DE TERRA INDIGENA
o govemador Almir Gabriel (PSDB) esta negociando com 0 Ministerio da [ustica a reducao da Area Indfgena Apiterewa, em S. Felix do Xingu, para regularizar a sttuacao de 1500 colonos que invadiram a area em julho do ana pass ado. 0 caso serviu de mote para 0 governador tratar das pendencias fundiarlas entre 0 Estado e a Unlao, no encontro que manteve com 0 presidente FHC. 0 pleito do governador encontra um govemo federal disposto a "fazer uma completa reformulacao da polfttca lndigenista, retardando as demarcacoes e reduzindo as reservas ainda nao plenamente legalizadas'', diz 0 jomal. (0 Liberal, 21106195)
POVOS INOiGENAS NO BRASJL 1991/95·INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
]ORNAL APONTA "PRIVILEGIO" DOS INDIOS
o [ornalista Ossian Brito f12 uma analise de cada uma das terras indigenas no Para, para conduir que representa um pesado onus para 0 Estado "0 aumento abusivo das areas indigenas ... sem discussao previa com a comunidade e govemo estadual...". (0 Liberal, 26/06/95)
FRC ROMOLOGA OITO AIS
o presidente FHC homologou oito areas indfgenas, simultanearnente ao aviso do ministro Nelson Jobim de que na proxima semana entrara em vigor, nos procedimentos de demarcacao de terras indigenas, a figura do "contradttorto", que permltira a governos estaduais e posseiros contestarern qualquer processo de demarcacao,
Por causa disso, onze liderancas indigenas do Capoib visitaram ontem 0 STF e, em audiencta com 0 presidente do Supremo, Sepulveda Pertence, ressaltaram 0 risco de que a mudanca estimule a violencia contra os Indios, (0 Globo, 27 e 28/06/95)
ISA CRITICA "TESE ]OBIM"
o secretarlo executivo do Instituto Socioarnbiental, Marcio Santillli, criticou a retroatividade do contradit6rio aplicado as terras indfgenas j a demarcadas, conforme pretende 0 ministro da Justi~a e a1ertou para um retrocesso historico sem precedentes nos direitos indfgenas. (ISA, com base no artigo publicado no Parab6ticas, junl95)
ABA PROTESTA
Em carta aberta ao presidente PHC, a Associa~ao Brasileira de Antropologia alertou para as conseqiiencias nefastas de uma possivel revisan de terras indfgenas ja reconhecidas. Embora aceitem revisoes de algumas imperfei~6es do Decreta 22/91, os antropologos slgnatartos da carta afirmam que as areas indigenas ja reconhecidas "nao devem ser reduzidas, sob pena de isso levar ao desespero a populacao lndfgena, bern como instaurar 0 descredito quanta a ~ao indigenista oficial", (1SA, com base na carta daABA de 03/07/95)
PARLAMENTARES VAO A FRC
U m grupo de parlamentares encaminhou pedido de audiencia ao presidente FHC, acompanhado de documento no qual afirmam que nao M razao para alterar 0 Decreto 22 e expressam preocupacao com a possibilidade de revtsao de terras indfgenas j a demarcadas. 0 grupo e integrado pelos sen adores Marina Silva (PT/AC) e Ademir Andrade (PSDBIPA), e pelos deputados Gilney Viana (PT/MT), Luciano Pizzato (PFURR), Fernando Gabeira (PV/RJ), Ivan
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Valente (PT/SP), Rita Camata (PMDB/ES),Antonio Sergio Carneiro (PDTIBA), Gervasio Oliveira (PSBI AP), Raquel Capiberibe (PSB/AP) e Marta Suplicy (PT/SP). ([SA, com base em documento de 05101195)
BIRD LIBERA VERBAS PARA DEMARGA~AO
o Bird liberou US$ 2,1 milh6es para demarcacao, sinalizacao, vigUancia e protecao de areas indfgenas, dentro do Prngrarna Pilato para Protecao das Florestas Tropicais do Brasil. 0 govemo brastletro precisara dispor de contrapartida de US$ 2,2 rnilhoes, para complernentar 0 trabalho de demareacao. 0 contrato firmado estabelece que este contrato e urn anterior, assinado com 0 governo alernao atraves da agencia KfW, tarnbem para areas indigenas, no valor de uss 16,6 nulhoes, s6 comecarao a ser operaciona!lzados ap6s sua ratificacao pelo Congresso Nacional, (Didro Popular, 11101195)
ABAIXO ASSINADO PEDE MANUTEN~AO DO 22
Docurnento assinado por 150 personalidades ligadas principalmente it IgrejaCat6lica, ao PTe organizacoes nao-gcvernamentais e encaminhado ao presidente FHC, pede a rnanutencao dos termos do Decreto 22. (12107195)
PRESIDENTE DIZ TER COMPROMISSO COM DEMARCA~AO
o presidente PHC garantiu, por meio de seu portaI'OZ, ern baixador Sergio Amaral, que as demarca~6es de terras jii. conclufdas pelo govemo nao correm 0 risco de ser suspensas. "0 presidente tem urn compromisso com a dernarcacao das terras indigenas", afirrnou Amaral. No dia 12/07/95, 150 entidades de apoio e liderancas indigenas encaminharam documento ao presidente pedindo a manutencao dos atuais terrnos do Decreto 22/9l. (DC;, 13107 e OES?, 14101195)
SBPC ENVIA MO~AO A FHC
Ern sua 47' Reuniao Anual, a assernbleia da Sociedade Brasileira para a Progresso da Cleneia, reunida em Sao Luis (MA), aprovou mocao dirigida ao presiderue FHC manifestando preocupacao e discordancia sabre a tese anunciada pelo rninistro [obim de rever os procedimentos de demarcacao de terra, indigenas (14101195)
VILLAS~B6AS DIZ QUE
FHC CEDE A PRESSOES
Em entrevista ao jornal 0 Estado de Sao Paulo, 0 sertanista Orlando Villas-Boas afinna que a preten-
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dida alteracao das regras de dernarcacao atenderia it necessidade de FHC ter votos para as reformas constitucionais, cedendo as pressoes antiindfgenas de governos estaduais. (OES?, 11101195)
FHC SE REUNE COM ANTROp6LOGOS E ]OBIM EM BRASILIA
o presidente Fernando Henrique Cardoso dlscutiu ontern (03/08/9S) a reformuiacao da demarcacao das areas Indigenas. Ele esteve reunido pela manha, no Palacio da.Alvorada , junto com a mulher, a antropologa Ruth Cardoso, com urn grupo de antropologos Jigados a ABA (Associagao Brasileira de Antropologia) e ONGs e com 0 rninistro dajustica, que estava acompanhado do secretario geral do Ministeric (Milton Seligman) e do sell chefe de gabinete (lose Gregory). Estiveram presentes as antropologos .loao Pacheco de Oliveira (presidente da ABA), Eunice Durhan e Manuela Carneiro da Cunha (ex-presidentes da ABA), Alcida Ramos (UnB), Bety Mindlin (do lama), Carlos Alberto Ricardo (do 1SA), alem do jurista Carlos Mares (presidente do lSA) e de Marcia Santilli (secretario executivo do ISA em Brasilia). Segundo a porta-voz da Presidencia, Sergio Amaral, Jobim aproveitou a reuniao para expor aos antropologos a "questao jurfdica" sobre as twas demarcadas, 0 ministro garantiu que as terras indfgenas, cuj as demarcacoes j a foram oficializadas em carterio, nao sofrerao lngerenclado governo. As possiveis alteracoes em relacao ao Decreta 22, disse [oblm, VaG atin gir as terras que ainda estao em processo de demarcacao e sobre as quais, segundo a ministro, pesana um virtual entendimento do STF de que estariam irregulares porque 0 governo nao contem-
plou 0 chamado principto do contradit6rio, possiblWando formalmente as partes contrariadas de se rnanifestar Para sanear a que 0 ministro chamou de vicio de origem do Decreto 22, a unica solucao seria editar urn 1l0VO decreto que inclufsse a possibilidade do contradit6rio sobre todas as demarca~Oes em andarnentn Na reuniao, nao houve acordo sobre esse ponto. Aos antrop6logos pareceu absurdo abrir a posstbilldade de revisao de terras ja demarcadas, pelo simples Jato de nao terem sido registradas. Os anrropoiogos alertararn 0 governo de que um novo decreta, nos termos pretendidos pelo ministro, iria reacender conflitos em areas ja pacificadas, Ao conduit a reuniao, 0 presidente FI-1C acabou concordando com a lese j urfdica do mimstro e aflrrnando que assinari a urn novo decreto para nao correr 0 risco de ficar inadirnplente dtante de uma possivel decisao do STF pelalnconstitucionalidade do Decreto 22. Na ocasiao, 0 presidente afirmou 0 compromisso de nao rever os limites de areas ja dernarcadas e nao regtstradas (ISA e.!B, 04!08195)
ISA DIVULGA DOSSIE
o Instituto Socioambiental (SP e DF) divulgou ao publico 0 dossie intitulado 0 governo FHC e a demarcacao de terras indigenas. Paralisia e polanlca: a anunciada mudanca do decreto 22/91 pelo rninistro Jobim gem tensoes e podera slgnitlcar urn r€trocesso sem precedentes. lima copia do dossie - acompanhada de estudo cartograflco sobre os impactos da aphcacao retroativa do principia do contradit6rio sabre as terras indigenas - foi entregue
Reuniao dos antrop61ogos com FHC, no A lvctstie.
POVOS INDiGENAS NO BRASIL 1991/95 ·INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
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previamente a antropologa Ruth Cardoso, que a repassou ao presidente FHC antes da conversa realizada no Palacio da Alvorada no dia 03/08, 0 dossie faz uma analise crftica da "tesejobim". Reune conceitos basicos e inlorrnacces atualizadas sobre a situ a~ao j urfdico-administratlva das terras indigenas, resume a lese do ministro joblm sobre a necessidade de urn novo decreto e apresenta as criticas feitas por diversos setores da sociedade civil, Do anexo de documentos "fac-sfmilados" consta, entre. outros, 0 parecer asslnado em 21/09/93, pelo entao deputado federal e advogado Nelson [obim, levantando pela prirneira vez a lese da (suposta) inconstltuctonalidade do Dec, 22 para. i nstruir demand a judicial do governador do Pant, JOOer Barbalho, para anular demarcacoes de terras indfgenas em seu estado. ([SIl, 04108195j
JOBIM DEFENDE AREAS INDfGENAS NA FRONTEIRA
o ministro da Justi~a fez ornem urn apelo para que os parlamentares votem contra a ernenda do deputado Nfcias Ribeiro (PMDB-PA), ;a aprovada pela Comissao de Constttuicao e justica da Camara. A proposta de emend a constilucional133-A, de Nicias Ribeiro, pretende instituir duas modi:fieru;oes no lexto constitucional: a proibi<;iio de demarcaeao de terras indigenas na faixa de fronteira e a obriga~ao de que qualquer demarcacao seja autorizada pelo Congresso Nacional, [oblm foi energico com urn grupo de parlamentares daAmazonia que ap6iam aemenda de Ribeiro e rnostrou urn mapa das areas indigenas na fronteira. "Voces acham que poderfamos retirar toda essa populacao daqui e levar os indios para serem marginalizados em Manaus?", perguntou. (0 Liberal, 07108 e]B, 09108195)
FHC RECEBE INDIOS NO PLANALTO
o presidents mc recebeu uma delega~ao de Indios do Capoib, em audiencia no Palacio do PI an alto, Na oeasiao, os indios registraram seuprotesto contraas pretendidas altera¢es na sistematica de demarcacao de terms indfgenas e exigirarn que as demarca¢es Sf[am respeitadas e consolidadas. (754, 15108l95j
PASSARINHO E DINARTE DEFENDEM AIS NA FRONTElRA
Depois do rmrustro NelSOn ]obim, foi a vez do exrninistro da justica, jarbas Passarinho (PPR), defender, na Comissao Especi al que analisa a proposta de emenda do deputado Nlcias Ribeiro, a rnanutencao das areas indfgenas demarcadas na fatxa de fronteira. Munido de documentos, Passarinho esclareceu detalhadamente a demarcaeao daAr ranomarul e descartou a possibilidade de haver GOmandado urn processo arbitrario e subjetivo. "0 re-
lanirio antropol6gico da Funai e urn documeruo de grande valor e nenhum mtnisteno consultado se opos a esse laudo, Todas as demarcacoes foram feitas de acordo com 0 que previa a Constituj~ao Federal", eselareceu. (ver artigo do senador Passarinbo sabre a terra Yanomami, no cap{tulo "Roraima Mala')
o presidente da Funai, Dinarte Nobre de Madeira, tambem esteve diante da Comissao e refutou a aflrm~ao de que a Funai "e urn cahide de empregos em Brasflla''. Dinarte defendeu a permanencia dos indios nas areas de fronteira. (O liberal, 18108195)
F6RUM SOUCITA SOLIDARIEDADE AOS iNDIOS
o Forum de Defesa dos Direitos Indfgenas deflagrou uma carnpanha de cartas contra a alteracao no Decreto 22/9 L 0 Comunicado a Sociedade Civil Brastleira e Internacional sohcita que a solidariedade aos povos indigenas seja marufestada atravss do envio de mensagens ao presidente da Republica e ao mlnistro dajustlca .. (ISA, setl95j
MUDAN~A NO DECRETO MACULA VISITA DE FHC A ALEMANHA
o Bundestag (Parlamento alemao) arneaca congelar a partictpacao da Alemaoha no Programa de Prate~iio de Florestas Tropicals, em protesto contra eveotuais mudancas na lei brasileira sobre as reservas Indigenes. A ameaca surgiu e transformou a questao indfgena na tinica sombra sobre a visita bem sucedida de Fernando Henrlque Cardoso a Alemanha. mc discutiu a questao com 0 mimstro para a Cooperacao Econfmuca e 0 Desenvolsrmento, KarlDieter Spranger, exatamente 0 responsavel pelo lado
o ex-ministro da Jus tica Jsrbes Passarinho,
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 ' lNST1TUTO SOCIOAMBIENTAl
alernao do Programa. Aos jornalistas brasileiros, Spranger limitou-se adizer que "foram convincentes" as exphcacoes de FHC a respeito dos problemas [uridicos ligados a questao. E desrnentlu que houvesse "irril~ao" em seu Ministerio com essa hip6- lese, confonne versao publicada no dia 20/09195 pelo jomal General Arlzetger, de Bonn. Disse, ao contmrio, ter "plena conhanca de que 0 governo brasiletro vai continua! a implementar 0 processo de demarcacao". (Clovis RossilFSp, 22109195)
FUNAI, IBAMA E INCRA TENTAM RESOLVER DIFEREN~AS
Tres areas do governo que nao costumam se entender, embora administrem cerca de 20% do territorlo nacional, sentaram-se a. mesa para discutir divergencias e elaborar urn prngrama conjunto. 0 Incra, a Funai e 0 Ibamaestao preparando urn prograrna nacional de regularlzacao fundiaria, que deve ser apresentado ate 0 fim do ana por FHC,
Os problemas entre os !res setores, que trabalham com questoes sensfveis - indios, rneio amblente e reform a agrarla - vaG desde brigas do 1 barna com indios que perseguern aves em extin~ao a projetos do Incraque invadern areas do Ibamae dafunai, 0 presidente da Funai, Marcio Santilli, fez criticas It polfticado Incra. "0 governo anterior dectdiu que a reforma agraria nao poderia receber financiamentos extern os e isso irnpediu que a Funal inclufsse alguns proietos de regularizacao de terras na proposta que recebera recursos do G-T'. Na reuniao passada, Francisco Graziano (lncra) aflrmou que. nos ultimos anos, algumas areas Indlgenas cresceram e invadiram prnjetos de colontzacao. UB, 13109195)
ISA LANgA ALERTA
Em nota publica, diante do amincio de que 0 presidenle FHC esta prestes a assinar urn novo decreta sobre demarcacso de terras indigenas, 0 lnsututo Sociaambiental conclama setores da sociedade civil ase manifestarem em defesa dos direitos indfgenas, pela manutencao das terras indigenas ja identificadas, delimitadas e demarcadas, pelo rim do saque dos recursos naturals das terra, indigenas e pela conclusao das dernarcacoes. (1£4, 10111195)
FHe ASS INA DEC. 1775/96, EM SUBSTITUI~AO AO 22191
o presidente FHC assinou decreto que introduz 0 prlnctpio do contraditorio em qualquer etapa do processo administrative de dernarcacao de terras indigenas. 0 porta-voz da presidtncia, Sergio Amaral, disse que a partir da publtcacao do Decreto 1775/96 no DOD (dia 09/01/96), estados, municipios e demais interessados terse prazo de 90 dias
TERRAS INOiGENAS
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para questionar a demarcacao, pleiteando indentz~6es ou apontando vieios no processo conduzido pela Funal. Ainda segundo Amaral, 0 decreto conta com 0 apoio da area rnilitar e 56 nao foi divulgado no dia 5 (sexta-feira) porque 0 govemo queria bomologar, com base no Decreto 22191, urn pacote com 17 areas ja demarcadas. "Aquelas demarcacoes ja concluidas sao urn ato [urfdico terminado e, portanto, 0 governo espera que nao venham a sofrer contestacao", declarou 0 porta-voz do governo. (OESP e JB, 09101196)
PORTARIA ESTABELECE
REGRAS PARA IDENTIFICA~AO
E DELIMITA~AO
o ministro dajustica Nelson Jobim publicou, no dia 10/01/96, a Portaria n° 14, assinada em 09/01196, que estabelece regras sobre a elaboracao do Relat6- rio Circunstanciado de Identiflcacao e Delimitacao de Terras Indigenas a que se refere 0 Decreto 1775/96. Define que devem cons tar do relat6rio sete partes: dados gerais sobre 0 grupo indigena; habit~ao permanente; atividades produtivas; meio ambiente; reproducao ffsica e cultural;levantamento fundiario; e conclusao e deltmitacao, contendo a proposta de limites da area. (15:1, jan/96)
APOS 0 DECRETO 1775
Ate 0 fechamento desta edicao, estes foram os fatos destacados depois que entrou em vigor 0 polernico Decreta 1775 do governo FRC.
JANEIRO
08 - Cirni repudia 0 decreta em nota dirigldaa opini ao publica, divu lgada pela imprensa e via in ternet. A nota, qualifica 0 ato como "urn ataque aos direitos constitucionais dos povos indigenas".
09 - 0 secretario executivo do Institute Socioambiental, Beto Ricardo, participa do programa Opiniao Nacional, transmitido ao vivo pela TV Cultura, criticando 0 govemo FHC pelo Decreto 1775. A Survival International qualifica a decisao de "larnentavel e retr6grada" e aOxfam, ambas nao governarnentais do Reino Unido, como "a mater derrota para os direitos indfgenas dos ultimos anos", (FSP, 10101196)
09 - Marcio Santilli, presidente da Funal, diz que tern 0 compromisso do ministro Nelson [obirn e do presidente fHC de que nenhuma das areas indfgenas j a demarcadas sofrera qualquer reducao de tamanho por causa do decreto. (Correia Brazuiense, 10101196)
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TERRAS INDiGENAS
10 - The New York Times noticia a expedicao do decreto, comentando sobre a possibilidade de centes~ao de cerca de 300 areas indfgenas.
11 - Ministro dajustica oficia a governadores de Estado indicando a lista de tetras lndfgenas que podem ser contestadas com base no novo decreto: 14 areas no estado do Para e tres em Sao Paulo.
Cotab divulga nota de repiidio ao decreto, acusando o govemo brasileiro de estar selando "urn compromisso com as elites dominantes". Cimi divulga texto de autoria do advogado Felisberto Damasceno que Iaz uma analise jurfdica do decreto, considerandoo inconstitucional e ornisso.
12 - Ministro do Supremo Tribunal Federal afirma que 0 decreta deixa em situacao vulneravel tadas as areas tndtgenas demarcadas a partir de 1991, inclusive a Area ranomamt, (0 Globo, 13101196)
13 - Invasao da Area Indfgena Barao de Antonina, no norte do Parana, de ocupacao tradicional dos Kaingang, por agricultores sem-terra, (0 ESp, 0 Estado do Parana e 0 Globo, J 6101/96)
14 - 0 sertanista Orlando Villas-Boas, em entrevista a imprensa, critica 0 decreto e classifica 0 govemo de OlniSSO e servil aos interesses de madeireiros, fazendeiros e polfticos regionais. (0 ESp, 14/01196)
17 - Capoib e Forum em Defesa dos Direitos Indfgenas lancam manifesto pela revogacao do decreto, sfirmando que 0 govemo federal teria se utillzado "de uma falsa justificativa juridica" para encobrir seureal "propesito ideol6gico" de comprometer os direitos indfgenas garantidos pela Constituicao. Reuniao em Sao Francisco (EUA) de integrantes da Coalizao Amazonica (cerca de 80 ONGs internacionais) para defini~ao de estrategias de curto e longo prazo com vistas it revogacao do decreto. Ficou decidido que a Coalizao ira pressionar as agendas financiadoras de projetos que afetem areas indigenas no Brasil, tais como Usaid, EXimbank, BID, Banco Mundial, 0 Programa G-7, alem de investimentos de capital privado. Em 19/01, uma carta da Coalizao foi enviada ao presidente fHC e outras autoridades, solicitando a revogacao do decreto. Representantes de mais de 20 tribos indfgenas e 0['ganizacoes de apoio do F6rum em Defesa dos Direitos Indfgenasrealizaram uma manifestacao de protesta e entregaram, no protocolo do Palacio do Planalto, em Brasilia, documento contra 0 decreto. A manifesta~iio foi acompanhada por alguns parlamentares. Os Indios puseram arco e flecha no colo e um cocar na cabeca da estatua da J ustica existente em frente ao predio do STF. (0 Globo, 18101196)
20 - Em nota oflclal distribufda a imprensa, 0 ministro jobim aftrrna que 0 novo decreta torna a dernarcacao mais democratica e pede aos fndios que continuem "normalmente suas atividades, pi an tan-
do, e cuidando de suas rocas, cacando e pescando ... ". (FSp, 20101196)
22 - Carta de organtzacoes indfgenas e de apoio, encabecadas pelo Capoib, ao primeiro-ministro da Alemanha, Helmut Kohl, pede a suspensao temporarra do conv€nio de US$ 20 milhoes para a demarca~ao de areas indfgenas no Brasil. (FSp, 23101196) Protesto de agricultores contra a demarcacao da Area lndlgena Panambizinho, dos Guarani no Mato Grosso do Sui, interditando a rodovia BR-163, a 28 km de Dourados. (FSP, 23101196)
Administrador da Funai em Sao Lufs.jose Ario, divulga texto assinado por representantes dos Tembe, Timbira, Guajajara e Kaapor em repiidio ao deereto. (FSP, 23101196)
23 - Cimi denunci a a invasao da Area lndfgena Sete de Setembro, dos Suruf, em Cacoal (RO) , por cerea de 60 famflias. (Correa Braziltense , 24/01/96)
24 - Ministro [obirn depoe perante a Comissao de Defesa do Consumidor, Meio Amblente e Minorias da Camara dos Deputados. Conforrne deliberacao previa do Forum de Defesa dos Direitos lndfgenas, tao logo se iniciou a sessao, 0 Capoib protestou e abandonou 0 plenario da Comissao. (FSP' 25101196) Representantes da Anistia Internacional, Survival International e Oxfam sao recebidos em audiencta pelo embaixador brasileiro em Londres, Rubens Barbosa, e rnanifestam preocopacao com 0 llOYO decreto, As organizacoes distribufram nota as imprensas britanlca e brasileira sobre 0 assunto. (FSP e Correio Braziliense, 25101196)
27 ~ Imprensa divulga reuniao dos Surui, de Rondonia, com uma equipe do Banco Mundial. Os Surui que rem que os ernprestimos para 0 Projeto Planafloro, programas ambientais e demarcacces indfgenas sej am suspensos enquanto 0 govemo nao revogar 0 decreto. (FSP, 27101/96)
29 - Deputado Salomao Cruz reiine-se com fazendeiros em Roraima para instruf-los de como proceder no processo do contradit6rio.
31- Distribufda a 6aVara Federal, em Brasilia, uma A~ao Popular de autoria do deputado Ivan Valente contra a Uniao eo presidente Fernando Henrique Cardoso, visando anular 0 decreto.
FEVEREIRO
01 - Em reuniao, no ltamaraty, em Brasilia, 0 ministro J obim explica aos embaixadores dos paises do G-7 e rnais os embaixadores da Holanda, Dinarnarca, Suecia e do Vaticano os motivos que leva ram 0 govemo a alterar as regras de dernarcacao de terras indfgenas. (FSP, JB e 0 Globo, 01102196)
Em reuniao tecnica na Comissao de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Camara dos Deputados em Brasfli a, 0 presidente da Funai, Martie
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
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Santilli, respondeu aos deputados que "nao pactuara com revisao ou revogacao de dlrettos indfgenas". Diante da tnststencia de alguns parlamentares, a senadora Marina Silva (PT/AC) disse que "mais vale Urn Marcio Santilli na Funai do que dez jobins voando". (FS?, 01102196)
Assembleia Legislativa Estadual de Roraima prepara-se para contestar as demarcaeoes das Areas Indfgenas Sao Marcos e Raposa/Serra do Sol, intormando que 0 seu presidente, deputado Almir Sa, acatando sugestao do deputado federal Salomao Cruz,pretende contratar 0 advogado JUlio Gaiger para assessorslos. (Folha de Boa Vista, 02102196)
05 - Representantes do Banco Mundial estiveram com Marcie Santilli na Funai pedindo explicacoes sobre os efeitos do decreto. (FS?,07102196)
06 - Banco Mundial recebe delegaeao do Capoib e informa que solicitou a seu departamento juridico parecer sobre 0 novo decreto. (FSP e Gazeta M(JI'cantil, 07102196)
08 - Nota do Conselho Indfgena de Roraima (CIR) denuncia a morte do Indio Macuxi Francisco Viriato Raposo, 0 ferimento a bala do tuxaua Adao Soares e
FERNANDO H.ENRIQtiE CARDOSO Nelson A. Jobim
Ja.' Eduardo de AndrUde Vieira
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do 1992.
Art. 1I . ....._ .... ll=cto .. 21odo 0< do ~ do 1 .. ~.0<0re0> .. 608. do 10 do joU»
BIalIia. 8 "jane.iro dc19915;·17~dI~cl0B9dalb:p{lbUc:a.
outro indio, da aldeia Carapani II, ocorridos no dia 07/01. A nota denuncia tambem que 0 tuxaua da aldeia Flexalzinho, Darciano de Souza, e seu irmao, I van de Souza, foram baleados por invasores da Area Indfgena Raposa/Serra do Sol. 0 CIR atribul tais crimes ao aumento da ten sao na reglao, propiciado pela publicacao do Decreto 1775.
15 - 0 Capoib, em carta dirigida ao presidente FHC, ministros da justica e das Relacoes Exteriores, procurador geral da Republica e ao Congresso Nacionil, exige "a revogacao do decreto, a nao reducao de nossas terras e que os recursos do orcamento publico e de doadores nao sejam utilizados para indenizar grileiros e toda a sorte de invasores pretensos donos das nossas tetras". Em carta dirigida ao presidente do Banco Mundial, reforca 0 pedido de suspensao, ate a revogacao do decreto, dos fundos do G-7 para demarcacao de terras indigenas.
A [uiza Selene Almeida, que responde interinamente pela 6' Vara da J ustica Federal em Brasilia, acata parecer do procurador Aurelio Rios e manda citar 0 presidente Fernando Henrique e 0 ministro Nelson Jobim na A~ao Popular movida contra 0 decreto pelo deputado Ivan Valente. Segundo notfcia veiculada
POVOS INDIGENAS NO BRASIL 1991(95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
na imprensa, a [ufza afirma que nao considera necessario 0 estabelecimento do diretto ao contradit6- rio porque as demarcacoes sao atos administrativos do Poder Federal sobre a utilizacao de suas terras. Considera tambem que quem possui titulos de terra em areas indigenas nao tern dire ito a indenizacao da Uniao, prevista no decreto. (FS?, 17102/96)
o Parlamento Europeu aprova resolucao em que acusa 0 governo brasileiro de promover um retrocesso na politlca indfgena do pais e ameacar os direitos constitucionais dos Indios. Membros do Par[amen to querem que a Uniao Europeia tarnbem condene 0 texto do decreto e cancele os financiamentos a projetos comunitarios nas areas demarcadas.OB) 17102196 e OES?, 19102196)
Parecer do procurador Aurelio Rios apresenta novos fundamentos para que seja anulado 0 decreto e indica para serem considerados reus na A~ao Popular, movida pelo deputado Ivan Valente, os ministros da justica e da Agricultura e a Funai.
19 - 0 senador e antroprilogo Darcy Ribeiro, em artigo publicado na Imprensa mtitulado "Ministro sinistro", critica 0 comportamento do ministro ]obim, dizendo que ele "desencadeia a intranqiiilidade e 0
TERRAS INOfGENAS
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· . .
C-/J\ fSA AC 0 N"" E C e U
DECRETO DO MEDO
Estabelece 0 Estatuto do indio que 0 procedimento de demarca¢o de tetras indfgenas deve ser regulamentado em decreto do presidente da Republica. Ateagora, vigia o Decreto n" 22191, editado pdo' governo Collor. Tinha imperfeifoes e segura mente ndo atendia as reivindicar;oes ind(genas, principalmente porque afastava as comunidades da participa¢o direta no processo. Mesmo assim, 0 Decreto 22 Joi utilizado para demarcar iruaneras e importantes terras indfgenas pelo Brasilafora. iifinal, trata-se apenas de uma norma legal procedimental, porque a garantia, 0 conceito, a dimensiio e a necessidade das terras ind(genas estiio incorporados it Constitui¢o Federal, a qual, alitis, reconhece 0 direito dos {ndios as terras independentemente ria demarca¢o.
o Decreto apenas regulamenta 0 procedimento pelo qual a Unido reconhece as terras ind{genas garantidas na Constitui¢o: nao as cria, nao as inventa nem as pode diminuir. POl' isso, todos os atos praticados pela Uniiio,fundados no ja revogada Decreto 22 sao legftimos, tem a presun¢o da legitimidade dos atos administrativos e a gar antia que 0 sistema jurfdico tid aos atos pefeuo:
o mmistro da justifa, Nelson jobim, mesmo sendo depiuado federal, em setembro de 1993, assinou parecer encomendado pelo entiio governador do Para, jdder Barbalho, apontandtJ uma inconstituaonaiidade no Decreto 22:faltar-lhe-ia 0 contradim, isto If, a manifesta¢o e explicita¢o de eventuais direilos ou interesse: contrariadfJs pelo reconhecimenkJ dos direilos garantidos pela Constitui¢o. POl' considerar descabida uma argiiifao de inconstitucionalidade sobre um decreto regulamental', 0 STF nao declarou 0 22 inconstitudonal, mas 0 advogado-deputado ndo se conformou. Logo apos assumir 0 Minist&io ria justir;a e, assim, por ironia do destino, esiar encarregado cia questdo indigena, Jobim retomou a obsessilo e declarou que nilo demarcaria uma unica terra indfgena enquanto nao reoogasse 0 Deereto 22 e, em seu lugal', pusesse novo procedimento que contemplasse 0 chamado principio do con-
traditorio. Espalhou a quatro ventos que 0 22 era inconstitucional, disse fer aferido a opiniao de ministros do STF e convenceu 0 presfdenle da Republica de que tinha uma formula para sanear todas asdreas indfgenas sob suspeita de terem sido demarcadas POl' pracedimento inconstitucional. Levou um ana para lirar do bolso do colete a solu¢o mdgica. Nesse ano restou aos {ndios esperar pelas demarcafaes ja atrasadas, afina! era apenas mais um ana em quinbeuos. E 0 que oeio depois de um ana in/eiro de conuersas, marasmo e espera? 0 Decreton" 1775, pubticado em 8 de janeiro passado, que caca a possibi/idade dos indios de reivindicar a revislio de demarcafaes insujicientes, introduz 0 coniraduorio, com fongos e generosos prazos para contestafaes das novas demarcacoes, e gera medo as comunidades indfgenas, porque abre uma rodovia que permitira aos interesses antiind(genas Ira/egar na contramdo de terras jd demarcadas.
Vamos analisar melbor esta contra-via: 0 deereto do go vern 0 possibilita a reclama¢o de qualquer interessado retroativamente para revisar as terras jd consolidadas com decreta presidencial, islo if, ataca atos juridicos peifeuos. Este if, provavelmente, 0 principal sentido do novo decreta, porque 0 dispositivo e in6cuo, se fosse sincere. Nao havia necessidade do dispositivo se apenas quisesse 0 ministro dizer que nas demarcriroes em curse se apticaria a novo decreo. Novas normas procedimentais se aplicam a prOCes808 em curse, dtz a Lei, nao poderia dize-lo diferente 0 decreto. Entretanto, apenas aos procedimentos em curse se aplica a nova lei e 0 ministro fez com que se aplicasse aos.procedimentos ja consumados com a chancela presidenciai, mas sem 0 registro em cart6rio. Quer dizer, 0 novo procedimento retraage a terras jd cansolWadas, cdocando uma armadilha a todas as terras indigenas demarcadas pelo revogadtJ 22: 0 decreta abre a temporada de Ct/{a as terras indigenas, mesmo asja demarcadas e homologadas por atos jurfdicos peifeitos. Considerando-se 0 passado de advogado de inte-
resses antiindfgenas do ministro articulador do Decreto, e impossivel nao suspeitar de que esta retroatividade antijur{dica tenba endereco cer- 10, mas islo s6 poderd ser conbeddo, mantido 0 decreta, depois cia aplicafao das novas disposi-
fOes, em cerca de seis meses. .
Alicis, tambbn e bam analisar os prazos do decreto: 90 dias para apresentar redamadies, somados aos 60 dias para analise e mais 30 dias para dedsio, completam 180 dias, meio ano. as prazos dos procedimentos administrativos e mesmo judiciais costumam ser muito mais curtos. POl' que entlio esta generosidade paga com 0 direito dos povos indfgenas?
Tatvez a resposta se encontre na leitura da paula de discussaes do Congresso, 0 que esplicaria tambem a demora em edilar um decreto que estava pronto e ameaflJva sail' M mais de seis meses. Com 0 Decreto, 0 govemo espera ganhar votos cia raivosa bancada antiindfgena, por abrir, samdente, a temporada de caca. Mas ao mesmo tempo, tenia apaziguar os defensores dos {ndias dando a pafavra de bonra de que niio diminuird nenhuma area indigena e que 0 decreta e saneador.
So quem perde sao os proprios {ndias: nao apenas porque passarlio 180 dias de agonia e medo, mas porquesabem que, bistoricamente, no mexeremexe, os governos adulam os poderoeos e desprezam os direitos, protelando as demarcadies e condenando os {ndios it invasao e morte.
Mais uma uez, as indios serdo bucha de canhao. Mais umaoe: serdo obrigados a conduit que 0 seu direito sO e reambeddo pelo &ta40 no dado jogo de forr;a, apesar das doce: palavras da Constitui¢o. o ministro jobim, em nota divuigada pela FSP na edi¢o de 20101, diz que 0 novo decreto torna mais democrdtica a demarca¢o das terras ind{genas epedeaos mdios quecontinuem normalmentesuaatividades,plantando ecuWandtJ de suas J'OfOS, car;ando e pescandtJ ... Parece brincadeira. 0 medo sO serd aliviado com a substitui¢o doDeereto 1. 775. (Beta Ricardo e Carlos Mares, artigo publicado na ~fu) 'Iendencias e Debates, FSp, em 05/02196).
sofrimento em todas as aldeias indfgenas e reacende uma luta secular, em nome de urn direito hipotetlco que desconhece direitos maiores, para reimplantar a chicana e a grilagem contra os poucos Indios quesobreviveram ate nossos dias". (FSP, 19102196)
22 - Joao Alberto Caplberibe, governador do estado do Arnapa, em artigo public ado na imprensa sob 0 titulo "Desenvolvimento e defesa das terras indfge-
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TERRAS INOfGENAS
nas", considera 0 decreto urna ameaca aos dlreitos conquistadospelos povos indfgenas. (FSP, 22102196) o deputado Jose Sarney Filho (PMDBIMA), presidente da Comissao de Minorias da Camara dos Deputados, em artigo publicado na irnprensa intitulado "0 contradit6rio como direito", defende 0 direito ao contradltorto estabelecido pelo decreto, pots negar este direito "e urn artiffcio autoritario que nao se compatibiliza com ademocracia". (FSP, 22102196)
28 - 0 advogado Luis Fernando Lemos denuncia a invasao daArea Indigena.Pequlzal, dos Nambikwara, no Vale do Guspore (MT), por grileiros,
29 - D. Lucas Moreira Neves, presidente da CNBB, entrega ao presidente Fernando Henrique documento de protesto contra 0 1775, afirmando que "esse Decreta tern servido para encorajar abusos de pessoas desejosas de se apoderar das terras dos fudios". (OESF1 01103196)
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1991/95 ·INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
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!J.Jb., Acenio " "- " _ '_"
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PORTARIA ESTABELECE REGRAS PARA RELATORIO DE IDENTIFICA~AO
PORTARIA NQ 14 I DE 9 DE JANEIRO DE 1996
Ei:tabclccc :rf;S:rJ,S SOble. d..bora9lo do. Rel.tOrio ci.-callll •• c:llld(l de id~Dlifi";l-ylo e dclll'liCIit.~ID de Tmn l:a.dIICD.1 • ql!llt se tdcrc 0 p.derafQ 06-. dQ IniJO 2', d. DecreED •• 1. 11:5. de II; de janelra de 1996-.
o MINISTROi DE 1ST ADO DA.IUSnCA. DO US!) de SdiS .'riblllt-c6u t teadaem vl:.Ita 0 di:SPo"D ao DC~feto II" I.n5, de I de: jallciro de 19'6, objelivt:a.do a Ttl811;lam-cDI.-;lo doItd .. t6rla p[clr'illO 110 f6' 40 art. 21' do tcfcrido dccrcto;
CONSIDERANOO quo;! 0- dccrc1il bum..ololai6rio do Sr. :Ptelldell.ta da .Rcp6blb;., prl!vl:lto 110 eet. :P dD Decreta :an l.nS, tem Q ·de:ilo d-I:Cbru6-rio dQ diomiaia d .. Uai.o :wb:tt III .rn dcmarcanda e, .pill Q leQ_ nSi.$tTo 110 o-fic:io IULubUUirlo compclca1c. 'em Q- efcUo dC'KDDsti~utiyo do dQ ..... jo ptlva40 oyeli:a.alme:ulc ig~~"'c'Dtc ~Qbr, • -dill iTa (.It+ :U!. 6 dl en;
CONSIDE!UNDO qu-e 0 refuido decreEo baseia·1t em Expos.iovlo- de }do~ivol do Miuiuro de E:Ltado da lliliti-;a e qlle ~u. di:COlte .de dccida etabthda ee td .... 6h.flo .eilCU:D.JEaaciado -die J:dcatUica'i'la e dclim:il.o;la, prc,.i:r~o no ,,":rj.l:rala 6 do arl. 1D, do Deerete taD 1.nS, do • .d.OcjaD.eiro de: 1996',
c:l doe,crj~!iQ- das .rIl!J~";l:ies, f6dG~CCUD6miC'o~ultilDili com a'lUrOl. ;IIlrcpal ladlac:a.a, e cco:lll a lioci.c:d:td.e e."olvca1e:
IV - QIIARTA ~AIlIfE.
B-ecen.i.rtu~
III idcrll;1iih::alilo e d'll5cn~o daJ "r", imprelcilld!vcis i prc:",..,.lo;Io do.
Tcc-araas a-eceuitio. *0 bem CII.r 'C(';oD6m.h::0 e ~It.nl do Jrapo iDdlSCu;
b} cX"plicita~I-It d.s Tad.:," pelu q\l.:ili tail 'IUS :sI.a imp:rdiei:adLvcis c
v - QUINT A PARTE
lleptad~~I~ FI$ic .. if; CDlIur .. l:
:a) dad-o-iI- sebre as uxu d.c: DtuUdade e mo:rt .. Uddt: do J"LPo dOi 6Jtil:lLui ":a0l.
C'om IQdlc.I;JIO dWli ;;n;e:u. a.a .lIIip6.ese de idelltiflclI:o;lo de f.lores de dctcqulUbrio de t.1t tlxU, e proj e ~.o lel.tin ao ~res<:lmetllO populaacl;Ltl do IlUpo;
CONSIDE~ANDO !lin 0 rcfetido JIC:l;nmo. PU-II p.ropieiu- am r-c:galu PTOCCSSO 4I1!m~r.;"'t')'lo. dpl;" p~llu. ~m -c-l.r~" •• li:dcz. 1I4liIll.\llltro lih .. ~c "ll=1'h.~ ... ao p.lr:l8ra{c-·l~ do Itt. 131 dt COll;ICitu.t'iIO. que. (:(l.DslJbsl&lIc .... m. em. Co-ajUDIO e Km ""clasio. Q .;:o~,ltq, tle ~JI""l"as lr~Jdl)"QJ"'~fIl.f pcwpod.u ~/"'s Indl'().JH, a U:blCf.' (I.) u. 'rail- -p(lr r-lu ItllbittJdaz I!m cardlu p;tr1fltJllt!1tJ'~. {b) III: ira$ ""llJl~Qd:Q.J P(k,.4 leiflU .lfl'ldt;ld,,~ p,.,.dll'~"H-f-. (c:) as irea:.: -j.pr~:tciDdrvcjs tI pn4erv.f1f~1J o(li ,..u.,..t~:t 9Jrf()i~"'~~.1 1I~':i:~"6,.JQ.:t 13.,. '~II It.tltt esfll" ", e (d) .1 iT!!:;8.&- -'!II!"c.f!;I".or.J.ri.:u a nru ,.~prtJ41/.-;lJ.v Jblota I! .:.lhlI"DJ, ~"itltnrl" .iII·'" 11.1"01. co.ttltlll'C':t e "'ddJ~lJt'.J"'~·
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b) des.¢r1~Oo d.OIi aspecioli co .. moloS~co, do ,rullo. du: ':ral dl!: .. Ia;l rituili. ee,-iI6ri.~r 11;181rel lia.Bndoli. iiUi-tlo1ll II.fqo-t:olbgieas. ese. -tx-pUcit:lndo • rell;;lp .£Iii: 1.:Is .bus .c-ol:l :I J~tD.l~lo UlIo«1 If; CQD'!Ole objeUn esu. rtt.~o :11.0 ease eO"CCTCtQ~
G) idcDlifiOlIQlo e d.cs¢ri~o d .. ·'T~a" 'D;CICcsstti"$ .I Tcrpro.dI • .,la flli:~1 -t c ... Uu1illl1 dQ I!:"'po hullgcRII. Itxplicil&tLdD II ntllc:& pc!.s qa.t. 1Ji00 elu n=ludrl., aD rdtrida fim;
An. P 0 nlllOrio t:iI-COD.5Iaa.ciad.D de idc;'Illifi""lo t d.~limltl.".Q .. que ae rerere 0 f ,- 408ft. 2'"" do Dec:relO ;11.- 1.71S. de .a de j .. :a.eito de 1996. doevidamttue: fUlldlmcntade- U'l dcmcuo:a. objc1:lyoil ... btabgcd .• IIccc.u.llriBmea.le. ".ciIL d.e aal:rall cleme:tatol C:Ollddert&doJ retevaetes pele arapo 1'tc-DlCO. dados ger.lL, -c cspcci.flco~ organlz .. da$ d.a tOIID" "cJ.uiutc;
I - PRIMEIRA PAUE.
Dados au .. i.:
VI - SBXT" PARTE.
Lev .. atam-:'(:I10 rand14rlo:
.) idettllfic:a,'o C -1:1:0'0 de evcatvail o,,:apa ... tci ala [Ddiol;
b) dl:!1:lC;:ri~lo dl(S} 'ro.'.} pot clc{:i) DC'ILpadill~li-). cOm. relpcctiva u:11;!1I.s.ia, 1(5) diata(:51 dl:!$U($. ~lIp.dO(6C:1) c: I. dC:5ICrJl;io dl($) bot~ltorl"(") r"Uzada(s}~
e) i:a.forma~.eJc:I- sabre •• alrUcz.·desia r)Cllpaqlo. -com a idcu.U'ic:a;lo d.o~ thulen d~ pO:l;,e u.,.lJ·doml.iIiI, -e.vntuall:a.tD1e· ea:blene ••. 6ezlC;:revcada·l:u .. q •• lific.'i'lo c orilr:m;
d} iDrOcma",ries. 118 hi,P6t.clc de all_m o,;uplInl!l "U.-pQr de. deeueeete a.riu::ir.do de -6:r8110 pubh-eo. sabte Iii f(l1m& 0 r"llfld.alliidIQ& fell.tins , ~xpcdl~o do -dQ~".I!: •• e qo-e dC"'l'e:rillo • er o!rtidu jli::a.IO .. a orglo cll'Pcd~dor.
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1;1) p-ozq\liza lobn· 0 bist6r!eo de oeupalfSo d:l ten. iDdJK'=aa d.e Icord ... ccer .II :,Dl!:mlrrill 40 gmpo HII::i", ~nYl,'llliido~
J[ - SEOUNDA PARTE;
c) id~Dlifica,,-lo dUo ]mLticas de liel1"esslo c:;veolui.lmeDlc pr.li';ldu p-;Io gn.po e (10.$ respectivcs crttestcs ~.lbsa~s, temporals c: e$paci.ais~
C;oll:cluslo c dc1imin~lo. ~on"'.do a pJapol.E .. dc limite. da .rea demlna.elaT A:rt. .l.~ No .t~Ddimeala d. Stglutd ... QUiOt8 parte do .. rtllo -UltcTio:r dcvtt[;t!-:l ~ont:at c:-o.Q'I II p.iIIrtiei:pa~o do gt1lopa i:a.dl,oD.:l c1tYalyidc, teglUtudo-u a flCl_POc:tivl manit~$1~IO t IS tazOes t fIIQdaiD~lI.tQs do Icolbime:DlD 01:1 njciljJl). t(lUl 0111 P'-'t=1.l1. pdo Grupo ToI!C:luco. d-9 contcird-llo dt r~feddl lEUIItl.ifcsI1910.
lIabUllj:Jn p4!na.a~'nll;!~
a} deacri-Qlo dl dls:tribu~~lo d.l(~) aldc:i.a(,). 1l0m ·1t':$pcCliv .. pOPll.1a9Jo r:
vn - $RTIMA. PARtt.
Art. 3." A propo.s:ta de: dd:iCd.~III: .. h fafrs.e--' acomplIIlI.T de c:lrla topogriflca, (lode dl;:verlo I'Ilt .. "id~l:Ititil;.4o .. Oli dQ.os rcfc:rc:a.~oC~ .I tiu ..te 8.:e"o UfRlstrt', fluv'li$ II! KrUll: -ev-eDttlalm-cale cxiltl:"ates. ])00101, de apolo l=.IIrtI;)8J'Hic(J or: logilli:cos- .e ide:lilllficagia de d,*llb.e~ meDciooados DOS 1101'15 d{l .. n'so l-T
Anc 4.- 0 01811;1 f.,;leral de;, :lssl$tt:aeia :10 :iDd.io fix:ld .• Ditdi.anle !ponari. 11.. seu UtuLar •• -siSlem'd" ... a ler .. d-oq.dl. 9'~(t grlil'JI"O '.r;:lIi!;Q rcterido :ll.D §lD .do arl. 1~ d.o :QIcc-ret-o- u- 1. 77!!1, de .. de je:Q.c:iro til! 199(; .ellii ..... * dem.:I"';'~o (i.le. c J. rc.gulariulilo d .... tclta.s Ito.d1ltlllJi.
Arl. 5.- Aos rebl6riln de ideDlm';I~lo II: ddtmit.;la de: ten ... ~ll.dL!t:l.al.
rcfetido$ nO § 6" d(l an. 2"" do Decrela iIIm 1.17$~ d.e S dc jiIReho de: 1991$. "1I;cupil:ll:!adQ5ao ti1ular do- 6r810 ·fcd.cral de- .":ii"~D. .. ia 10;) indio .lDlCl;!! da prl:bUta~Jo dene:. n60 III; .pUn 0 dL:spaSIO :aCill. ·Peut .. ria .
iI) -c.spllc:l.l:lO;la dQs criltril'ls d.Q STl,l.pO "par.. Localluo;ao. CDII. .. tnr~la iI: plllrma:afncia d:ar(I.) .Idei.a(s), a "re8 par e~ .. (.) oc;:op:ad.l(Ii) e 0 1~mpa cm .qll~ H I!::a.ca.atra(m) nIL atnl(lls,) JI)~U'.::a"'I;lo(~Gc:I:);
III - TERCETRA PARTE_
Allyid .. d-;. ProdUllvu:
• ) 1Iie5-cri~iI lb. ati ... ld .. du ,.od.atiy.. de:s.c:a.,.alyidal peJo srupa COm I. idc::a.lililla~.D. 10C"IIIJh:.lljilo c"dJmc1rlla. d':Ii "rC.ls atUiz.rhll pata eaR tim;
b) deurl;h d~'I= ~.Ta.;tl;rbh;;:u. d.a cco:aam:i. dC:lCDYalvlt;La pdo($) Impa(I). das ahcr .. ;Ocs C\lc •• a:llmc:a..-t: ol:o.rldJIlI QI. ecoDomia nadir;:io~l :I partir 40 CIjID!.al" 1:om II ~ir-d.de cnvolviIlDlc iI: do modo coma IC proce'lI;lam tais aU-crai6el;
(Of. n9 7(96)
Ar1. 6. ~ "Es.ta Parl'TI .. cl!:tnd: -em vlgOt a .. d:llll1 !!I.e :lull. "p'IIbU-caQlo.
NELSON .A r JOBIM
AVALANCHE DE CONTESTAqOES Terminado 0 prazo para apresrmta¢o de contesta(oes as demarcafoes de terras indfgrmas em curso, no dia 08/04/96, denIm cia nova sistematiea instituicla pelo Decreto 1775/96, houve polimiea quanta aos numeros finais. A Diretoria de Assuntos Pundidrios (DAP) da Punai, divulgou inicialmente que haviam sido protocoladas cerea de 1. 020 contestafoes, com base em inJormafoes existrmtes na sede de Brasilia e aquelas transmiticlas por Administrar;iJes Re-
gionais (especial mente a de Boa Vi$ta, em Roraima). Masocladooficial "final" cia Funai e de 531 contestar;oes.
0/£4 contabilizou, no dia 08/04, 1.088 contestar;iJes (total que aparece na nota que divulgou no dia 09), baseado em dados cia DAP, incluinckJ toclas as contestar;iJes apresentadas, mesmo aqueJas incidentes sobre terras que, nos termos do Decreto 1775, niio seriam passfveis de questionamento, pelo Jato de jd estarem registradas em cart6-
rio e/ou do DPU (como 0 caso ri£l Area Yanomami, par mcemplo). Mas as di[erfJru;as nos numeros se devem a casas em que mais de um contestante se .foz representar par um unico advogado.
o Jato e que 0 numero de contestafiJes e de terras contestadas (83, segundo a Funai) superou em muito a expeclativa do governo, earacterizando uma avalanche trabalhosa de papeJs a serem processados e respondidos Pda Funai nos 60 dias seguintes ao dia 08/04. (ISA, abril de 96)
PDVOS INOiGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL
TERRAS INDiGENAS
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::ttfSA ACONTECEU
A TEORM DOS QUATRO C!RCUlOS DO MINISTRO jOBIM
No dia seguinte a edi¢o do Decreto 1775, 0 ministro ria justiffl Nelson jobim assinou a Portaria 14, de 09/01196, estabelecendo as regras de elabora¢o do Relat6rio Circunstanciado de Identifu:a¢o e Delimita¢o de Terras fndfgenas a que se refere 0 Decreta. Esta Portaria pretende estabelecer criMrios unfvocos para a confec¢o dos relat6rios de identificafao de terras indigenas e expresea a maneira como a ministro ria justifa oem interpretando 0 conceito de terras indfgenas, tal como definido pela Constitui¢o Federal. Com e/eito, os quatro criterios constitucionais es/abelecidos peto artigo 231 ria Contitui¢o ("sao tetras tradicionalmente ocupadas pelos indios as pOI' eles babitadas em cardter permanente, as utilizadas para suas auoidades produtiuas, as imprescindfveis it preserva¢o dos recursos ambientais necessdrios ao seu bem-estar e as necessdrias a sua reprodufao /fsica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradifoes"), sao tomados ideaimente pelo ministro como cfrcutos concentricos, os quais, em caso de coincidencia peifeaa, podem levar a demarca¢o de uma terra indfgena continua. Caso contrdrio, aventa 0 minis/ro, nada impediria que uma drea fosse demarcada de maneira descontinua. Para uma tal ava/ia¢o, que em ultima instdncia cabe tambem ao ministro, a nova portaria estabelece um conjutuo de quesuos referentes a cada um dos quatro critrfrios, buscando assim introduzir 0 mdximo deobje/ividade nosrelat6rios antropol6gicos, porem subordinada a visiio de jobim quanta as terras indfgenas.
Segue abaixo um trecho do discurso de Nelson jobim pro/erido na Audiencia Publica reauzada na Comissao de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Cdmara dos Deputados, no dia 18/05/95. Nesta passagem, 0 ministro exp6e em detalhes sua teoria dos quatro cfrculos:
"0 primeiro circulo concentrico de menor amplitude e de maier objetivzdade, no sentido ria
verifica¢o in loco das circunstdncias, e aquele que explicit a aspor eles babitadas em cardter permanente. Ou seja, a habita¢o em cardter permanente significa basicamente a moradia, que If 0 cfrculo menor; e a identifica¢o do locus central e do nudeo deste habitat indfgena, que e 0 fato de existir a habita¢o em carate» permanente. Subsequentemente, como um circulo que amplia o conceito e que tem uma certa autonomia te6rica de andlise, autonomia decorrente do texto constitucional, as terras tradicionalmente ocupadas peios indios nao sao somente as terras por eles babitadas em cardter permanente. Sao tambem, e induem nesse conceito, as utilizadas para suas atividades produtioas. Este segundo conceito que vai complementando, expandindo 0 conceito de habitat indfgena da Constituifiio de 88, tambem tem uma natureza objetiva no sentido de haver a possibilidade de identificar in loco quais sao as terras utilizadas para suas atividades produtivas. Nlio sao aquelas terras possiveis de serem utilizadas, mas sim aquelas terras objetivamente utilizadas para suas atividades produtivas. Portanto, a ocupafdo permanente, Ii habita¢o permanente soma-se tambem, 110 segundo conceuo, que amplia 0 conceito de 'tradidonaimente ocupadas', 'as utilizadas para as suas atividades permanentes. ' Mas a Constitui¢o ndo fica nisso. 0 habitat indigena nao e habitafdo e produ¢o. 0 habitat indfgena indui tambem urn terceiro circulo, que abrange os dots outrc« drculos anteriores. E aqui comeca a inlroduzir Ii Constitui¢o canceitos valorativos, ou seja, camera a reduzir o (ndice de objetividade do conceuo para comecar a introduzir elementos subjetivos do conceito. Terceiro cido: 'as terras imprescindiveis Ii preservafdo dos recursos ambientais necessdrios ao seu bem-estar. ' Aqui hd dois juizos de valor: a juizo de imprescindibilidade e 0 jufzo de necessariedade. Preservafao dos recursos ambientais If 0 eixo desse terceiro ado. A estes se acres-
centa a Constitui¢o, induem-se, portanto, no conceito de "ocupados tradicionalmente" aquela parte do con junto dessa situa¢o regional que implica a preservafiio dos recursos ambientais, mas aquelas que sejam imprescindiveis Ii preserva¢o dos recursos ambientais necessdrios ao bem-estar indigena.
o ultimo e terminal cfrculo que compoe todo 0 conjunto unitdno das cbamadas terras tradicionalmente ocupadas pdos indios sao 'as necessdrias it sua reprodueao /fsica, cultural, segundo seus usas, costumes e tradi¢es. ' Aqui chegamas ao indice md.ximo de subjetividade no conceito de habitat indigena, que eo cfrculo maim; que jeda os Ires circulos anteriores e diz respeito as terras necessdrias - juizo de valor -it sua reprodu¢o /fsica e cultural, segund() seus usos, costumes e tradi¢es. Com esses quatro circuios, na forma pela qua! procuramos aqui simplificar, esM caracterizado na Constitui¢o 0 que significa habitat indfgena, 0 que significa tetras tradicionalmente ocupadas peios indios.
Explicito tambem que a expressao 'sao terras tradicionalmente ocupadas peios indios' nao tem conceito hist6rico, tem coneeito tlntco-cultural. A palavra 'tradicionalmente' nao significa bistoricamente ocupada pelos fndios. 'Tradicionalmente'signifim a ocupa¢o na forma tradicionat dos indios e ndo na forma dos ndo-mdio:
Ou seja, a classifimt;;ao de 'tradicionalmente ocupadas' ndo significa imemorial, nao significa, no ponto de vista das mterpretaciies que esposamos, a hist6ria. Signifu:a a bistoria da forma pela qual se ocupa. A octtpa¢o If de acordo com as tradir;oes indfgenas e ndo de acordo com as regras dos possuidores nao-indios. Entao, a expressiio 'tradicionalmente' nao remete it hist6- ria no sentido das terras bistoricamenie ocupadas pelos indios, mas sim terras ocupadas pela forma tradicional dos indios que cump1'am esses quatro circulos ria Constitui¢o. (ISA)
RECONHECIMENTO DE TERRAS INDiGENAS NOS GOVERNOS COllOR, ITAMAR E FHC ANO I
Presidente Periodo Delimitadas Extensiio (ha) Homologadas Extensiio (ha)
Fernando Collor jan90/set92 58* 25.794.263 112 26.405.219
Itamar Franco out92/dez94 39 7.241.711 16 5.432.437
Fernando H. Cardoso jan95!jev96 06 2.549.508 28 3.260.745
(*) 0 ministro da justiga, [arbas Passarinbo, delimitou 22 areas indfgenas e 0 ministro da justica, Celio Borja, 36. 80
TERRAS INOiGENAS
POVOS INOiGENAS NO BRASil 1991/95 . I NSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
~Acervo
"'::;1\\ I SA
-
EXPLORACAO MADEIREIRA
, ,
DETONA AREAS INDIGENAS
equipe de redacso
COMPRA-SE POR QUASE NADA; VENDE-SE POR US$ 3.000,000 METRO CUBICO, TANTO NA EUROPA COMO NOS ESTADOS UNIOOS. 0 NEGOCIO COM MOGNO, MADEIRA NOBRE AMEA,CADA DE EXTINCAO, E TAO RENTAVEL QUE CHEGOU A CUNHAR 0 BRASIL COM UMA MARCA INDELEVEL: o PAis E 0 QUE APRESENTA MAIOR TAXA DE DESFLORESTAMENTO DO MUNDO. EM 1994,1,2 MILHAO DE HECTARES FORAM DEVASTADOS PELA ATIVIDADE PEcuARIA E INDUSTRIA MADEIREIRA. ANTES, DURANTE DUAS DECADAS, ENTRE 1970 E 93, SEGUNDO o GREENPEACE, NADA MENOS DO
QUE 3,1 MILHOES DE METROS CUBICOS DE MOGNO FORAM RETIRADOS
EM TOOO 0 TERRITORIO NACIONAL, REDUNDANDO NO INCREMENTO
DO NUMERO DE MADEIREIRAS CADASTRADAS: EM 1986, ERAM 1.500 EMPRESAS; EM 1991, CONTAVAM-SE 3.500, DE ACORDO
COM LEVANTAMENTO REALIZADO PELO COMITE EM DEFESA DAS FLORESTAS. RESULTADO: MADEIRA AD CHAO
NAS AREAS INOiGENAS, REDUTOS PRESERVADOS POR LEI ONDE HA MAIOR INCIDENCIA DA ESPECIE.
POVOS INOfGENAS NO BRASIL 1SS1/S5· INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Malo Grosso, Acre, Rondonia, Amazonas e principalmente Pari sao os estados mais visados por madeireiros n6mades que, nos anos 70, ja exploravam as reservas de madeira nobre que cobriam 0 Parana.
Em Rondonia, onde, no auge da exploracao madeireira, entre 1988 e 89, explorava-se basicamente mogno, 60% da madeira hoje extrafda e branca. Ja nao resta mais mogno no Estado fora das reservas lndigenas e areas protegidas. E a producao anual de madeira, no estaclo, caiu de 4 millhoes de metros cubicos para menos de 2 milh5es de metros ciibicos ao ano. Das 1.300 empresas cadastradas em 1989 sobraram apenas 927.
Atualmente, 0 Para e 0 maior p6lo produtor de mogno do Brasil, responsavel por 64% do volume de madeira exportado entre 1985 e 1990, de 1 milhao de metros ciibicos ao ano. As madeireiras tambem estao dirigindo suas motosserras em direcao ao Acre, cu]a cobertura florestal ainda se man tern intacta em 95%. No Pari, as mais cobicadas reservas de "ouro verde" estao em Areas Indfgenas, principalmente as dos Kayap6. 0 sui do estado esta praticamente desflorestado. A incidencia da especie ainda se da em cerca de 22 AI, onde quase 3 mil quilometros de estradas i1egais vern sendo abertas. Situacao semelhante se repete nos Estados vizinhos.
o cornercio iJegal de mogna e reconhecidamente urn flagelo no Brasil. A cada ano, mais de 1 milhao de metros ciibicos de madeira e vendido c1andestinamente nos mercados internacionais, 0 que representa evasao de recursos da ordem de US$ 1,2 bilhao.
Mas a magno nao e a unico produto atraente daAmaz6nia. Explorar madeira branca - menos nobre e fartamente usada na construcao civil- tarnbem e born neg6cio. No mercado internacional, a madeira branca nacional de boa qualidade, como 0 angelim, 0 marupa ou a pari-para, ja vale 0 mesmo que custava 0 mogno para exportacao hi seis anos: US$300,00 0 metro cubico. A quaruba, madeira branca encontradano sui do Para, custa US$ 310,000 metro cubico, para exportacao.
Ate 1992 0 Brasil exportava anualmente cerca de 300 mil metros cubicos de madeira branca, segundo dados do Decex. No ana passado, a media dobrou: foram vendidos ao Exterior 586 mil metros ciibicos, 80% desta madeira saiu da Amazonia.
TERRAS JNofGENAS
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Segundo a Aimex, houve aumento da demanda de alguns pafses da - ..... ~Asia, como Filipinas, China e Coreia, nos ultimos dois anos, em fun~ao das restricoes impostas a partir de 1992 na Malasia, onde foi proibida a exportacao de toras. Tais restricces, somadas as previsces de esgotamento dos recursos madeireiros daAsia no infcio do proximo seculo, vern sendo apontadas como 0 principal motivo para a elevacao dos precos da madeira no mercado internacional. Atualmente, Malasta e Indonesia abastecem 80% do mercado internacional. 0 Brasil colabora com S%. (ISA, mar!9S)
UM FLAGELO DESDE OS ANOS 60
A exploracao de madeira na Amazonia e conhecida desde 0 infcio do seculo, Na decada de 60, a extracao de mogno intensificou-se no extremo sui do Para, ao longo do rio Araguaia e da rodovia BelernBrasilia. A partir da decada de 80, 0 setor madeireiro se expandiu e assumiu posi~ao de destaque na economia regional. Seu desenvolvimento foi apoiado pela politica de incentivo fiscal e de fomento a exportacao madeireira (Cacex Res. 643 e 674), adotada pelo governo federal. A construcao da PA-1S0 (Rodovia Redencao-Belem) e da BR-364 (ligando Cuiaba a Porto Velho) representou 0 principal eixo de fixaeao de empresas madeireiras, em meio ao movimento de ocupacao da regiao. A reducao do potencial madeireiro em outras regioes do Brasil fez com que empresarios do Sui, com tradi~ao no setor, viessem se estabelecer na Amazonia e, posteriormente, dominassem a atividade de exploracao, beneficiamento e comercializacao da madeira.
Na dec ada de 80, 0 setor madeireiro ganhou importancla no processo de ocupacao de terras na Amazonia e foi urn dos pilares do mode- 10 atual de ocupacao. Com recursos gerados atraves da venda da madeira de suas propriedades, pecuaristas, posseiros e colonos assentados pelo Incra passaram a contar com nova alternativa de capitalizacao para seus empreendimentos, substituindo em parte os incentivos fiscais, mais escassos na epoca, ou mesmo os creditos agricolas, inacessfveis para posseiros e colonos. Atraves da abertura de estradas, a exploracao madeireira tambem criou condicoes de acesso e apropriacao de imensas areas ainda inexploradas na Amazonia.
COBI~A NAS AREAS INDfGENAS
Com altfssima cotacao no mercado intemacional e crescente penetra~ao no mercado interno, 0 mogno passou a ser 0 "ouro verde" da Amazonia. Distribuida de forma descontfnua por uma faixa de floresta de aproximadamente 800 mil quilbmetros quadrados, nos estados do Mato Grosso, Rondonia, Para, Acre e Amazonas, a incidencia da nobre madeira se da em numerosas Areas Indfgenas, logo cobicadas por madeireiras.
A alta lucratividade do mogno tomou a aeao das madelreiras imp laGavel. Realizando sobrevoos para identificar manchas de mogno e investindo alto na abertura de estradas ilegais e na compra de rnaquinario sofisticado, 0 setor mobilizou uma longa cadela de interrnediarios e se destacou pelo constante assedio a proprletarlos e ocupantes de terras.
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TERRAS INDfGENAS
Em todos os estados, a pratica e a mesma: quando 0 mogno e identificado em determinada area, ou se faz urn acordo para compra e venda, ao pre~o imposto pelas madeireiras, ou se corre 0 risco de ver a madeira roubada. est ados como 0 Pari, Rondonia e Mato Grosso representam os principais p610s de exploracao do mogno e acumulam 0 maior mimero de easos de conflitos e roubos da especie, dentro e fora das Areas Indfgenas. Imensas areas publicas, de propriedade da Uniao ou dos estados, foram, e continuam sendo, sistematicamente invadidas por madeireiras, ao longo de uma extensa cadeia de atores intermediarios, sendo a atividade de exploracao freqi1entemente organizada por empresas informais, tributarias de grandes empresas que se consolidam como compradoras de toras e beneftciadoras de mogno para exportacao, 0 que caracteriza aparente distanciamento entre a atividade de exploracao e a de comercializacao da madeira.
o ROUBO, "INSTITUCIONALIZADO"
A partir de meados da decada de 80, cresceu a atuacao das rnadeireiras em Areas Indfgenas. As relacoes estabelecidas entre as sociedades indfgenas e essas empresas, no infeio deste perfodo, foram, na maioria das vezes, intermediadas pela propria Funai. Na area dos Kayapo do Para, existem contratos assinados pela Punai desde 1983 (gestae Otavio Ferreira Lima). Em Rondonia e no Mato Grosso, a crescente pressao do setor sobre as Areas Indigenas fez com que aumentassem os casos de roubo, em meio a rumores de crescente envolvimento de funcionarios da Funai com a venda ilegal do mogno dos indios.
A invasao das madeireiras confrontou-se com a cronica falta de recursos assistencials da Funai e com a perspectiva de faci! acesso a recursos gerados pela exploracao do potencial madeireiro existente nas Areas Indfgenas. No entanto, longe de representar uma solucao rnomentanea, embora questionavel, para a falta de recursos, a crescente instituclonallzacao do corte de madeira por parte da Funai acabou delineando-se como pratica vinculada a interesses de grupos de funcionarios que se beneficiavam do agenciamento junto as madeireiras. Assim, 0 presidente da Funai, Romero Juca, autorizou, regulamentou e centralizou a exploracao madeireira em Areas Indfgenas e, em 1987, foram firm ados numerosos contratos entre a administracao central da Funai e empresas madeireiras,mesmo sem a concordancta dos Indios em algumas Areas.
N a gestae de Romero Juca (maio/86 a setembro/88), a Funai passou a defender abertamente a necessidade de as pr6prias comunidades indigenas financiarem sua assistencia, a partir da exploracao dos seus recursos naturais. Os contratos firm ados nessa epoca propunham, em geral, urn modele de troca de madeira por servlcos de infra-estrutura, tais como a construcao de estradas, pontes, enfermarias e escolas. Abertamente lesivos aos interesses dos indios e suspeitos do ponto de vista administrativo, os contratos prescindiam de ltcttacao publica, superestimavam 0 custo dos services prestados, subestimavam 0 valor da madeira, inclufam a realtzacao de obras - como a construcao de estradas e pontes -, inerentes a atividade de exploracao e retirada de madeira, e feriam a legislacao vigente, que
POVDS INDfGENAS NO BRASIL 1991/95 - INSTITUTO SOC10AMB1ENTAL
~L..,_~~~ce a obrigatoriedade de se apresentar urn plano de corte, de manejo e de reflorestamento para as areas exploradas.
No segundo semestre de 1987, esses contratos foram denunciados por ONGs junto a Procuradoria Geral da Republica, que determinou a Polfcia Federal abertura de mquerito. Em maio de 88, ajustica federalos anulou. A declsao, porem, nao logrou impedir que as madeireiras retirassem, ainda em 87, toda a madeira contratada e, provavelmente, muito mais, segundo funcionarios da Funai. Alem do mais, grande parte destas empresas nao cumpriu, total ou parcialmente, sua contrapartida contratual e sequer foi interpelada judictalmente por isso. Mais tarde, estas mesmas empresas continuaram roubando mogno das Areas Indfgenas - urn exemplo da ousadia e da impunidade de que gozam. Diante da manffestacao da [ustica federal e do Ministerio Publico, a Funai recuou na sua tentativa de "institucionalizar" 0 saque das reservas de mogno existentes em territdrios indfgenas.
PRESSAO E DINHEIRO FAeIL
o perfodo posterior a anulacao dos contratos ficou mare ado pela pressao exercida diretamente por madeireiras sobre liderancas e fac~oes indfgenas, em um processo agressivo de aliciamento. Numerosos foram os fatores que, provavelmente, influenciaram algumas comunidades indfgenas a decidirem firmar contratos com as empresas, e com certeza muitos deles correspondem a uma logica interna de cada etnia em relacao a sua estrategia de relacionamento com os brancos e de sobrevivencia naquele momento. Mas tambem foram determinantes nesse processo a pressao permanente das madeireiras, 0 incentivo ternporario da Funai, 0 estimulo agora nao oficial de alguns de seus funcionarios e a propria situacao de falencia assistencial do 6rgao, 0 que resultava, freqiientemente, em absoluta carencia de generos basicos nas aldeias.
As comunidades que se opuseram a exploracao passaram a viver urn pesadelo, diante da permanente investida de madeireiras em seus territories, Por outro lado, funcionarios id5neos da Funai que apoiavam a resistencia destas comunidades cornecaram a sofrer ameacas e perseguicoes,
Atualmente, as comunidades aliciadas pelos madeireiros sao vltimas de um processo perverso que esta transformando radicalmente suas relacoes com a sociedade brasileira, 0 que a longo prazo tera graves consequenclas.
Dentro deste contexto, 0 aparecimento das madeireiras representa tambem a conscientizacao, por parte dos indios, de que e possfvel ter Iacil acesso ao dinheiro e, portanto, a bens de consumo, a partir de uma atividade corriqueira na regiao onde vivem. Assim, estes povos foram compeJidos a acreditar que 0 corte predat6rio de madeira e natural e representa 0 unico meio de ter acesso a assistencia e a bens de consumo. A aparente facilidade em se administrar essa fonte de renda e 0 controle direto sobre altas quantias de dinheiro nao deixam de ser urn fator de reaflrmacao etnlca desses povos, na medida ernque os liberta da relacao de dependencia predominante desde a epoca do contato, que em alguns casos beirava a mendicancia.
POVOS INOfGENAS NO BRASil 1991/95 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
Sabe-se, no entanto, que essas comunidades nao conseguiram controlar as atividades madeireiras dentro de seus territories e sequer tern ideia clara dos efeitos dessa exploracao, Alem disso, os indios nao tern conhecimento apurado sobre 0 processo de cubagem (medida) das toras e nem sempre conseguem controlar integralmente a safda da madeira, em fun~ao do rnimero de estradas de acesso construfdas e utilizadas pelas empresas. Tais fatores permitem roubar ate tres vezes 0 volume de madeira inicialmente contratado, como no caso da Area Indfgena Xikrin do Catete (Ver a capitulo Sudeste do Para).
EFEITOS DA EXPLORA{:AO
Algumas comunidades [a comecaram asentir os efeitos desse tipo de exploracao em suas areas. Ainda que incomparavelmente menor do que aquele que ocorre no munlclpio de Paragominas, Sui do Para, ou nas areas de corte raso da floresta, para irnplantacao de projetos agropecuarios, 0 imp acto ambiental do corte seletivo do mogno tern produzido alteracoes ainda nao mensuradas. A construcao de estradas com dezenas de ramais, a constante movlmentacao de rnaquinario e a abertura de clareiras sao responsaveis pelo acelerado escasseamento de especies da fauna, importantes fontes de alimento, e de determinados aspectos da vida ritual para os Indios. Tais fatores representam ainda um papel relevante na cadeia de reprodu~ao do meio ambiente local.
Outro aspecto importante e 0 impacto social sobre os indios. Tal avaJiagao deve moldar-se as caracterfsticas etnlcas de cada caso e ao contexto regional. Existem casos de roubo de madeira sem que haja nenhum contato regular com os indios (Arawete e Parakana); ha outros em que os indios sao utilizados como mao-de-obra barata e imobilizada por um sistema de dtvidas pessoais (Kampa e Mambo), e existem ainda os cas os em que a exploracao e autorizada por !iderancas indfgenas em troca de beneffcios materiais, sem a participagao da comunidade no trabalho, a nao ser nas atividades de fiscaliza~ao (Kayapo, Suruf e Cinta Larga).
ONGS DEFLAGRAM CAMPANHA DO MOGNO
Em 1992, cerca de 70 ONGs brasileiras se organizaram contra 0 corte predat6rio do mogno na Amazonia.
Ao longo de 1993,0 movimento procurou pressionar 0 Estado brasileiro para que exercesse de fato seu poder de fiscalizacao, Paralelamente, atraves de a~oes judiciais indenizat6rias, demincias e cam. panhas publicas junto aos principais parses compradores de madei-
ra brasileira, as ONGs visaram condenar as madeireiras culpadas. Estudos de casos ocorridos dentro de Areas Indfgenas foram levados a publico, com 0 objetivo de melhor dimensionar os danos causados pelas madeireiras.
Este conjunto de Iniciativas gerou, em curto prazo de tempo, resultados interessantes. A articulacao da campanha desenvolvida no Brasil, em parceria com movimentos ambientalistas dos pafses compradores de mogno, em especial na Inglaterra, criou uma situacao de
TERRAS INOfGENAS
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