Anais Coloquio Internacional Grupos 2018 PDF
Anais Coloquio Internacional Grupos 2018 PDF
Anais Coloquio Internacional Grupos 2018 PDF
COMISSÃO CIENTÍFICA
Comissão de Divulgação Pablo Castanho, Pedro Teixeira, Cristiane Curi Abud, Décio
P. Filho, Luciana Lafraia, Lumi Sano Shine, Marcia Eugenia Cerdeira, Moira
Valvassori , Vanessa Fernandes, Solange Aparecida Emílio.
Apoio
Realização
O grupo e a psicanálise
Fernando da Silveira (Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM, Rede de
Atendimento Psicanalítico)
O grupo traz à tona uma discussão sobre a extensão da psicanálise para além dos limites
estabelecidos por Freud. São debates permeados por resistências epistemológicas e
também epistemofílicas, entendidas como resistências contra as transformações
impostas às alianças inconscientes que formam as bases da vida psíquica das
instituições psicanalíticas. Psicanalistas trabalham com grupos, mas encontram
dificuldades em obterem suporte institucional que permita integrar esta prática com a
teoria, a técnica, o método e a epistemologia psicanalítica. Proponho compreender a
resistências epistemofílica ao estudo do grupo a partir de uma análise da formação das
alianças inconscientes constituídas desde as origens do movimento analítico, com
Freud. Seu narcisismo é um pilar central das alianças inconscientes que dão sustentação
ao processo de institucionalização da psicanálise. A preservação da Psicanálise como
um trabalho de Freud deixou marcas profundas nas organizações psicanalíticas. Sob a
sombra do seu narcisismo o grupo é paradoxalmente o suporte de transmissão da
psicanálise e o objeto de estudo a ser denegado no movimento analítico. A extensão da
psicanálise, ao incluir o grupo, coloca em questão o lugar de centralidade narcísica do
analista, das suas instituições, do eu conhecimento. Desloca o poder centralizado do
analista para o grupo e impõe a cada uma sua a posição de ser mais um membro de uma
cadeia com suas singularidades, diferenças, semelhanças e limites.
Palavras-chave: Psicanálise; grupo; alianças inconscientes.
O Projeto Ponte do Instituto Sedes Sapientae convida a uma mesa redonda para discutir
sobre os diferentes dispositivos clínicos grupais, familiares e institucionais que as
migrações livres ou forçadas demandam. A globalização torna mais frequentes as
migrações nos diferentes formatos de imigrante, exilado e refugiado. No trabalho com
imigrantes, exilados ou refugiados criamos uma clínica para atender essa população.
Apresentaremos duas experiências de trabalho em instituições com as equipes que
trabalham com migrantes na cidade de São Paulo. Trabalhamos com o foco de cuidar
dos cuidadores que cuidam dos migrantes, criando um dispositivo de trabalho grupal
que utiliza uma metodologia de rodas de conversa e grupos de discussão de orientação
psicanalítica. A clínica com migrantes desafia a criar formatos que atendam essas
especificidades. Orientamos a discussão institucional baseados nos eixos língua, cultura
e transmissão, como temáticas fundamentais na atenção aos migrantes. Consideramos
importante criar um espaço de escuta e intervenção clínica com os profissionais que
assistem os migrantes, para que possam por sua vez construir uma escuta de
compreensão sobre as migrações. O trabalho resulta em uma co-construção conjunta dos
técnicos e dos cuidadores sobre a especificidade da atenção aos migrantes com todas as
variações possíveis.
Palavras-chave: Projeto ponte; migrações; atenção aos cuidadores.
Depuis plusieurs décennies, nous faisons face à l’impensable des violences collectives
qui continuent à marquer les esprits au-delà du temps et des frontières. Dans le cadre de
notre thèse, nous nous intéressons aux destins de la transmission traumatique: qu'en estil
lorsque les enfants de victimes de violence collective deviennent parents à leur tour en
exil? En quoi consiste le travail de subjectivation de l’héritage d’un traumatisme
collectif au temps du devenir parent en exil? Telles sont les questions que nous
explorons dans le cas précis des enfants d’exilés politiques chiliens qui vivent
aujourd’hui en Suisse. Nous avons rencontré douze personnes à trois reprises au moyen
d’entretiens semi-directifs et d’outils projectifs. Les premiers résultats témoignent de
processus d'appropriation subjectivante et de différenciation face au poids de l’héritage
traumatique. En effet, les remaniements identificatoires au temps du devenir parent
remettent au travail les identifications qui s'inscrivent dans un maillage culturel,
générationnel et temporel. Ce travail d’élaboration de l’héritage semble soutenir le
processus de différenciation comme de subjectivation offrant ainsi au descendant une
place dans le groupe familial mais aussi social. Notre étude s’inscrit dans le contexte,
plus large, d’un nombre grandissant d’enfants de migrants. Elle a pour but de soutenir le
processus d’élaboration des personnes qui portent les traces traumatiques des violences
collectives passées.
Mots-clés: Transmission du traumatisme; parentalité; exil.
Este trabalho apresenta o relato de uma sessão de grupo realizada em uma instituição
pública de saúde. Trata-se de um dispositivo chamado “grupo de recepção”, que se
dispõe a acolher as demandas/necessidades de pessoas em busca de cuidados em saúde
mental. A partir desta vinheta clínica, objetiva-se ilustrar alguns conceitos da teoria de
René Kaës sobre o funcionamento grupal, em especial a noção de intersubjetividade.
Parte-se da ideia de que tornar-se sujeito pressupõe a participação de um outro, ou seja,
a constituição do sujeito se apoia nos vínculos intersubjetivos. O dispositivo de grupo
propõe uma situação plurissubjetiva (“mais que um outro”) que pode abrir novas formas
de acesso ao psiquismo. A partir da análise da dinâmica do grupo apresentado,
evidencia-se que o funcionamento grupal se dá a partir da “função pensante do outro”
na restauração da atividade da memória, da linguagem e da interpretação, como um
aparelho de transformação e de via de acesso aos “enigmas” de cada sujeito.
Palavras-chave: Grupo nas instituições; narcisismo; intersubjetividade.
Narrativas brincantes
Marina da Silva Rodrigues (Projeto Quixote) e Gustavo Bielo Castilho Gonzalez
(Projeto Quixote)
Este trabalho, com base nos estudos de objetos mediadores em psicanálise, foi
desenvolvido pela Equipe Técnica e por professores do Serviço-Escola de Psicologia do
Mackenzie, utilizando a Foto-expressão com grupo de pacientes que aguardavam
atendimento psicológico. O objetivo foi avaliar em que medida este dispositivo pode se
consolidar como espaço potencial de intervenção, além de discutir sua importância
como campo privilegiado de escuta para as diferentes demandas deste serviço.
Realizou-se 9 sessões com um grupo de 7 pacientes cujas queixas envolviam aspectos
relacionais, e que a cada encontro escolhiam uma foto para responder a pergunta feita
com base na cadeia associativa do grupo. Os resultados demonstraram que a foto, como
objeto mediador, permitiu diferentes expressões de imaginários e de estados afetivos.
Com isso, o grupo, em sua função continente e contentora, favoreceu trocas
intersubjetivas e novas apropriações dos conteúdos trabalhados. Assim, foto e grupo
ofereceram duplo apoio ao acesso ao pensamento metafórico, organização das
realidades psíquicas tanto singulares quanto grupais, além de mudanças nas posições
dos sujeitos. Ao término dos encontros, os pacientes relataram tanto a melhora para
lidar com os diferentes posicionamentos quanto com o tempo subjetivo do outro e
manifestaram interesse pelo seguimento do processo terapêutico. A equipe responsável
deu continuidade aos estudos para reprodução e aprimoramento da experiência.
Palavras-chave: Foto-expressão, dispositivo de grupo, objeto mediador.
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa de doutorado que buscou investigar a
especificidade da relação entre uma criança e outra e quais as implicações subjetivas
dessas relações. O que somente uma criança pode fazer por outra? Essa pergunta foi
engendrada a partir da experiência da pesquisadora como coordenadora de grupos
terapêuticos heterogêneos em uma instituição de atendimento de crianças. A partir da
experiência clínica e das pesquisas teóricas, utilizando Jacques Lacan e René Kaës
como autores de referência, propomos o conceito de função do semelhante como um
operador analítico para o trabalho com grupos com crianças. Pensamos a função do
semelhante para além das questões identificatórias. Do encontro com o semelhante é
que poderia surgir um espaço para a alteridade. Em algumas situações, a criança estaria
ocupando um lugar de enunciação tal que poderia produzir giros discursivos inéditos
para a outra criança. Sua presença e seu discurso teriam efeitos subjetivantes
significativos. Assim, propomos que a função da coordenação nos grupos terapêuticos
seria propiciar que a função do semelhante opere entre as crianças, recolher e manejar
seus efeitos. Pretendemos demonstrar essa tese a partir de vinhetas clínicas recolhidas
em grupos terapêuticos.
Palavras-chave: Criança; grupos heterogêneos; função do semelhante.
O presente trabalho relata a experiência de três processos grupais conduzidos por duplas
de estagiários de décimo semestre do Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, com supervisão no Estágio de Psicologia Analítica. Trata-se de grupos de
mulheres com idade compreendida entre 25 e 50 anos, com queixa inicial de dificuldade
nos relacionamentos interpessoais. Os atendimentos foram realizados no Serviço-escola
da UPM. O trabalho apresenta o uso da técnica do Sandplay como instrumento de
intervenção grupal. Os resultados apontam que a realização de imagens a princípio
pouco conectadas entre si foram se tornando coletivas e contribuíram para o
reconhecimento de queixas semelhantes das participantes, tais como dificuldades no
relacionamento familiar, dificuldades nos relacionamentos amorosos, autoestima baixa e
imagem corporal negativa, bem como conflitos no desempenho da carreira profissional.
Demonstram ainda que a técnica facilita a construção do self grupal, promovendo
expressão, focalização, acolhimento e interação de imagens inconscientes individuais e
coletivas significativas, o que contribui na elaboração dos conflitos, ampliando os
alcances do processo grupal. Conclusão: Foi observado o desenvolvimento da
individualidade de cada participante e da identidade grupal, aprofundando os processos
de fortalecimento da personalidade em geral.
Palavras-chave: Grupo de mulheres, Sandplay em grupo, processo grupal.
O peixe morre pela boca? Uma vivência com composição estética num grupo de
trabalho
Sylvia R. Fernandes, Caueh Perrella, Nanci Missae Shirazawa,
Vivian Sayuri Teixeira da Silva (Instituto Sedes Sapientiae)
Ces dernières années nous voyons apparaître dans les médias des mannequins
« grande taille », comme si la beauté devait être différenciée selon les morphologies.
Malgré une évolution, le culte de la minceur prédomine, nous soumettant à différents
regards. Le regard social associé à une parole stigmatisante est alors une source de
souffrance. C’est le cas chez de nombreuses adolescentes en surpoids. Elles éprouvent
de la honte, de la culpabilité du fait de leur différence corporelle, accentuant alors des
troubles alimentaires impactant la construction du soi, des liens intersubjectifs et
familiaux. A partir de ces différents constats que nous avons conçu, dans le cadre d’une
recherche,1 un dispositif de groupe thérapeutique novateur où le regard est notre fil
d’Ariane. Ce regard s’articule à travers des médiations groupales dans lesquelles sont
associées éprouvées corporelles et pensées. Notre propos porte sur les groupes de parole
dans le dispositif, celui des jeunes filles, des membres de la recherche à travers la
supervision et le dernier groupe de parole celui des jeunes filles accompagnées de leurs
parents. Le but est d’échanger autour des différents vécus. Dans le cadre de cette
intervention étayée par les résultats de la recherche, nous mettrons en lumière comment
la dynamique groupale permet de travailler le lien « attaqué », le soi et les processus
inconscients en jeu pour que le regard et la parole puissent devenir thérapeutique pour
ces jeunes filles.
Mots-clés: Groupe thérapeutique ; différences corporelles ; regard.
1
Financée par la Fondation de France
as relações que se estabelecem entre estes últimos e aqueles de cujos cuidados se
encarregam na instituição são atravessadas por profundas problemáticas sociopolíticas,
observou-se a necessidade de dispor de ferramentas que pudessem elucidar impasses e
discursos que atravessam as práticas institucionais cotidianas. Assim, o grupo de
conversação configura-se como um espaço de oferta e circulação da palavra, que visa
promover o deslocamento de lugares-comuns na esfera da assistência à infância e
juventude e questionar os saberes estabelecidos e as identificações que confinam os
sujeitos a determinadas maneiras de ser e agir no mundo, de modo a abrir perspectivas
inéditas de ação.
Palavras-chave: Psicanálise; grupos de conversação; instituições socioassistenciais.
É sabido que as escolas são instituições que carregam o conflito como motor das
relações, seja o conflito geracional entre os educadores e os educandos, seja o inerente
ao processo educacional e, mais recentemente, o movido pelas questões articuladas às
crianças deficientes que ingressam nas escolas regulares. Articulado a essa demanda,
temos enfrentado na cidade de São Paulo um crescimento de situações problemáticas na
escolarização de crianças imigrantes ou filhas de imigrantes, situações estas que, muitas
vezes, imbricam a estranheza com o estrangeiro e a pressa em diagnosticar a diferença.
A presente comunicação oral pretende discutir intervenções clínico-políticas, em
andamento, nas escolas públicas da capital paulista que estão enfrentando grandes
desafios com o aumento de estudantes estrangeiros, na perspectiva de lidar com esses
conflitos ao invés de calá-los com diagnósticos. Tal problemática surgiu de uma
demanda dirigida ao Grupo Veredas: Psicanálise e Imigração, do qual fazemos parte,
de que psicólogos e psicanalistas deste coletivo propusessem intervenções em situações
desafiadoras desse convívio. Afirmamos que o fluxo de estudantes imigrantes abre a
possibilidade de indagarmos sobre o encontro com o estrangeiro, entendendo-o tanto
como aquele que não é de um mesmo país quanto como algo constitutivo da psique
humana.
Palavras-chave: Imigração; intervenção clínico-política; escola.
Este trabalho surgiu a partir da experiência de discussão clínica dos encontros nomeados
de Inquietações da Clínica Psicanalítica entre membros do Departamento de Psicanálise
do Instituto Sedes Sapientiae, estabelecendo assim um grupo aberto, que se renova a
cada encontro, sustentado pela coordenação do Grupo Espaço de Trabalho. A partir da
experiência de diálogo estabelecida entre psicanalistas pares na instituição, em torno de
inquietações clínicas plurais, discutimos neste ensaio reflexivo (como observação
participante) o desafio da sustentação da palavra entre pares, nas tensões, identificações
e pedidos de reconhecimento que dali emergem. Deste lugar que ocupamos como
organizadores dos encontros, constatamos que entre diferenças e igualdade, desamparo
e busca por reconhecimento, a sustentação da palavra é o frágil recurso capaz de dar
sentido à experiência do sujeito na assembleia dos outros.
Palavras-chave: Clínica; política; psicanálise.
O trabalho apresenta parte da pesquisa iniciada em 2013, junto aos índios Kamaiurá do
Xingu desenvolvida no IPUSP. Trata-se de uma investigação da experiência onírica da
comunidade, do lugar que os sonhos ocupam, seus usos e funções. Com que estão
sonhando os Kamaiurá e de que maneira os sonhos revelam algo da realidade
compartilhada na comunidade? Qual a relação do sonhar com a manutenção da vida em
comum dentro da própria cultura? A etnografia contou com situações onde os sonhos
puderam ser partilhados e ‘interpretados’ em grupo, criando espaços de continência para
experiências coletivas, por exemplo, na ocasião em que a aldeia estava em luto pela
perda de um grande pajé e os sonhos revelavam, individualmente, o receio da
comunidade em seguir sem ele. O processo de partilha de sonhos revelou-se um lugar
privilegiado de questionamentos e elaborações dos sonhadores, constituindo espaços de
troca onde os vínculos e as relações comunitárias puderam se fortalecer. Acreditamos
ser essa experiência de suma importância para o contínuo enraizamento na própria
cultura, os sonhos partilhados e pensados coletivamente se firmando como garantia do
bem viver coletivo, ícones da resistência à entrada de elementos não indígenas.
Palavras-chave: Sonhos; espaço onírico compartilhado; enraizamento.
Comunicação Temática 8: O mal-estar na cultura (Eixo: Formações Culturais: Racismo,
Migrações, etc.)
SALA: 106 (prédio 40)
MODERADOR: Sueli Rugno
Este trabalho se propõe a refletir sobre o suicídio à luz dos vínculos psíquicos e dos
aspectos sócio-culturais que incidem nos grupos e as dimensões que impõem o suicídio
como alternativa para saída do sofrimento, do vazio, da dor inominável. A
intergeracionalidade não teria sido capaz de ser marcada como confronto e transmissão
psíquica-cultural, não oferecendo as garantias psíquicas necessárias para o sujeito se
subjetivar. As falhas primitivas (básicas?), as angústias frente à fusão-separação
provocam o aniquilamento, já que não se constituiu espaço de contenção. É necessário
incluir as situações concretas de violência na família e/ou no social como um ataque à
subjetividade, à alteridade, à cidadania, provocando uma condição insuportável de não
poder existir. São ambientes hostis que desautorizam o SER e a intersubjetividade.
Desabando no vazio, o sujeito desiste, abdica de viver. Do ponto de vista clínico, o
sujeito, agonizante em suas defesas erigidas para continuar vivendo, escolhe o
suicídio.Na contemporaneidade, a ideologia que faz crer na suposta ausência ou
enfraquecimento do Estado, dando lugar ao neoliberalismo – que se manifesta
mormente como neocolonialismo –, tem gerado as inconstâncias intersubjetivas, os
desamparos e, por conseguinte, a ruptura dos projetos civilizatórios. São situações e
contextos que incidem nas “des” garantias dos vínculos sócio-culturais e nas “des”
construção dos sujeitos, que leva à fúria individualista e à primazia de Thânatos. Falta,
em tempos atuais, a função do intermediário que assegure o diálogo dentro/fora do
sujeito na confiança de um tempo e de um lugar necessários para o processamento
psíquico e uma ação-resposta minimamente elaborada. Se os Estados e as Instituições
não mais garantem a confiabilidade nesses laços e, portanto, a alteridade, aí se constitui
a perspectiva mortífera do narcisismo, já que não há um eu e um outro, nem bordas,
contorno... fronteiras, que assegurem o processo de humanização. É assim que a cultura,
não oferecendo condições via psiquismo institucional, de um obstáculo que impõe um
tempo e cria espaços de encontro, corrobora com a destrutividade, levando o sujeito a
desistir de viver. A cultura contemporânea do individualismo, do imediatismo, que não
suporta a frustração, também debocha da intergeracionalidade e, portanto das relações
humanas. Pautada, cada vez mais, nas tecnologias e nas trocas on line, desconfigura a
história e a filiação, uma vez que, se o sujeito não gosta: bloqueia; e, ficando só, com
seus fantasmas, pode ser consumido, devorado. Sem um outro que apresente o sujeito a
si mesmo, isto é, que interaja em sua própria constituição e reformulação, o sujeito fica
à deriva., sofrendo de boca calada. Na América Latina, usada como quintal de
monopólios estrangeiros em conluio com oligarquias locais, a real violência aumentada
pelo calculado uso e exploração de terras, recursos naturais e contingente humano,
alastra a pobreza financeira e intersubjetiva, multiplicando os que morrem nas margens,
em paralelo aos muito ricos que se regozijam nos núcleos de fomento do capitalismo,
protegidos pelos meandros interpretativos da “lei”, juristocracia mascarada de ransos
ultra-conservadores e viéses classistas preconceituosos, mas que de fato está aliciada
por interesses imperialistas e deturpação por inflação de vaidades pessoais e privilégios
subterrâneos, aos falsos heróis da austeridade. Em sociedades com tantas discrepâncias,
a construção de vulnerabilidades é um fato. Além de toda violência imposta, constroem-
se dispositivos repressores, na tentativa de negar a agressividade tácita do contexto,
estimulada nos sujeitos assujeitados. O suicídio pode ser o sintoma de uma sociedade
terrorífica e excludente, em que um pretenso self verdadeiro já estaria a priori
“suicidado” pelo modus operandi da organização social. Decorrente de um legado
histórico e de heranças conflitantes que se manifestam através da mestiçagem, histórico
de imigrações e migrações, o suicida, na intersecção dos eixos diacrônico e sincrônico,
faz do morrer uma ação afirmativa, de resistência e de identidade como declaração do
seu percurso pancrônico.A mestiçagem é característica da colonização latino-americana,
quando chegaram ao continente, os europeus depararam-se com uma população
aborígene que foi massacrada na tentativa de sua apropriação como mão-de-obra
escrava e como exercício de poder para que dessem aos europeus as localizações reais e
fantasiadas (El Dorado) dos tão cobiçados metais preciosos de que carecia o capitalismo
mercantil europeu daquela época (final do século XV e início do XVI); em sua tentativa
de resistência pacífica, os povos ora chamados de indígenas (acreditava-se, a princípio,
ter sido feita a circunvolução e atingido as Índias) tentavam vez ou outra a hospitalidade
e a dádiva de suas mulheres aos espanhóis e portugueses, daí surge uma primeira
miscigenação, sendo os frutos desses enlaces sempre com um quê de bastardos e
inferioridade em relação ao conquistador. Vicejando já, neste começo, na cúpula da
Igreja, o ideário da América enquanto um paraíso perdido na terra, o povo indígena fora
considerado, após um tempo, como algo “inocente”, “puro” – que não deveria ser
escravizado – fora desse contexto beato, distanciado da realidade de banhos de sangue e
violência, os aborígenes eram considerados avessos por natureza ao trabalho,
indolentes... somando-se a esses dois fatores o rendimento que poderia dar o tráfico
escravo de outra região vilipendiada pelos europeus, neste primeiro ciclo capitalista,
deu-se vazão à expatriação forçada de milhões de africanos negros que vieram se somar
ao caldo cultural de violência, sujeição e hábitos que culminou em maior miscigenação
e sincretismo na América Latina. Esses laços de sangue, além de darem legado a
gerações malditas futuras (os filhos dessas trocas sempre com a marca da inferioridade
com sua parcela de linhagem escrava/aborígene frente ao sangue conquistador e
explorador europeu superior), também se amalgamaram ao sangue até então derramado
em um legado ontológico indelével. Mais recentemente, final do século XIX e início do
XX, vieram somar-se outros imigrantes tardios, pós-abolição da escravatura, europeus e
em parte asiáticos, para trabalharem nas grandes monoculturas de café, além dos
processos migratórios locais que fizeram que mão de obra do crescente exército de
reserva fosse utilizada em condições análogas à escravidão no ciclo da borracha, do
cacau, drogas do sertão e outras empresas sempre relegadas ao caráter mais destacado
de comercialização de matéria-prima. Hoje, só reflexo do autoritarismo nos mecanismos
policialescos e jurídicos mantenedores e sustentáculos das injustiças caracteriza,
fundamentalmente, o papel do estado, nas sociedades latino-americanas. Se o estado e
suas instituições correlatas representam algo de parentalidade no social, pode-se
conceber que estes filhos, relegados a precoce desamparo, sujeitos apenas à repressão
crua à mercê de seus instrumentos policialescos que ainda garantem a sobrevida das
oligarquias (e por isso sempre serão mantidos, apesar das inúmeras outras privatizações)
e não à filiação simbólica, os filhos desse estado são então negligenciados e
abandonados em estágios muito precoces ao desenvolvimento, por exemplo, na
oralidade, tão característica às práticas consumistas e de drogadição: o que alguns
psicanalistas já consideram como uma espécie de suicídio da mente, em vida.. Ainda
que a América Latina se modernize com o know-how estrangeiro, o desenvolvimento
não é uma etapa a ser alcançada na superação do atraso estrutural de seu território.
Palavras-chave: Suicídio; intersubjetividade; América Latina.
Este trabalho trata dos deslocamentos humanos que acontecem dos interiores da região
amazônica para a cidade de Belém, na região Norte do Brasil. A partir das diferentes
heranças culturais existentes na região, estes deslocamentos podem gerar confrontos de
diversas ordens. A partir de um grupo de estudantes universitários, da Universidade
Federal do Pará, em Belém, foi feito um estudo em que se procurou estabelecer
vinculações entre o intrapíquico e o intersubjetivo, em função das consequências da
experiência migratória.Os conflitos gerados por esta experiência estão relacionados à
trama do processo identitário, tendo como consequência uma instabilidade psíquica, por
vezes, difícil de ser superada.
Palavras-chave: Migrantes amazônidas; grupos; conflito identitário.
A presente pesquisa foi desenvolvida por uma estudante de Mestrado em Educação, que
realizou intervenções em um grupo de estudantes adolescentes, participantes de um
projeto de gênero intitulado Meninas Velozes. Tal projeto é desenvolvido pela
Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília, em parceria com um Centro de
Ensino Médio e tem como objetivo, incentivar as adolescentes oriundas de uma região
periférica do Distrito Federal a ingressarem no Ensino Superior, sobretudo, nas áreas
Tecnológicas. O estudo analisou a concepção de gênero e suas relações com a educação
e com a família, a partir do dispositivo da fotolinguagem, um dispositivo promotor de
cadeias associativas no grupo, impulsionadas pelas fotografias. Os resultados revelaram
um espaço de trocas intersubjetivo, de reflexão sobre o lugar das mulheres na
comunidade e, sobre o desejo em romper com a condição de submissão das mulheres da
família. Nesses encontros, as adolescentes utilizaram a palavra ancorada na imagem e
fortaleceram as relações entre elas, além de criarem um espaço de circulação de palavra
sobre a condição feminina no âmbito familiar e escolar, mas também sobre os desafios
que as adolescentes da periferia encontram para ingressarem em uma universidade
pública. Evidenciou-se também, a relevância do projeto Meninas Velozes na quebra do
estereótipo de que a área tecnológica na Universidade pública não é lugar de meninas e,
muito menos de meninas da periferia.
Palavras-chave: Gênero; educação; fotolinguagem.
A relação com a comida sofreu enorme perturbação nas últimas décadas. Comemos
guiados por dietas ou por indicadores científicos, visando alcançar um corpo idealizado.
Comer se tornou um ato desconectado dos sinais de fome, saciedade e prazer, que
deveriam regulá-lo. Esse fenômeno se chama mentalidade de dieta, produz mal-estar,
alienação e sofrimento. Os tratamentos convencionais para os problemas alimentares
(distúrbio compulsivo de alimentação, bulimia, anorexia, efeito sanfona) tendem a
reforçar a mentalidade de dieta. Os objetivos do Grupo de Consciência Alimentar são:
resgatar os sinais de fome e saciedade, o prazer de comer, a escolha autônoma dos
alimentos para cada momento de fome, sensibilizar o paladar, conectar-se com a própria
digestão, escutar o corpo e diminuir a fobia aos alimentos. Comer guiado pelos sinais
internos, em profunda conexão consigo mesmo, diminui a perturbação do comer. O
Grupo de Consciência Alimentar funciona com os seguintes parâmetros: entre 6 e 15
participantes, 2 coordenadores, em sala com 20 cadeiras dispostas em círculo. Integra
diversos conhecimentos vindos da psicanálise, do mindfullness e de abordagens
corporais. Reduz os episódios de compulsão, diminui a luta contra si mesmo e resgata a
autonomia pessoal. É para quem passou a vida fazendo dieta e teve pouco resultado,
para quem sofre com sintomas de transtornos alimentares, para quem procura novas
formas de tratar antigos problemas e para quem, simplesmente, quer se conhecer mais.
Palavras-chaves: Consciência alimentar; mentalidade de dieta; autoconhecimento.
Los oficios del lazo es la forma que hemos encontrando1 para designar y para aludir a
un conjunto de prácticas que desde distintas disciplinas (educadores, maestros,
psicólogos, trabajadores sociales, psicoanalistas, operadores de cultura, etc.) desarrollan
en el campo de lo social, y particularmente en esos lugares de los social que han sido
nombrados como excluidos y/o vulnerables. Las cualidades que designarían a estos
oficios del lazo no pueden (según entendemos) ser comprensibles exclusivamente desde
los campos disciplinares de quienes los llevan adelante: pedagogía, psicología, trabajo
social, psicoanálisis, sociología, antropología, etc, sino que es preciso construir un
continente para la acción y para el pensamiento que se produce entre disciplinas y en
más de una lengua disciplinar. Se trata de oficios de acción y de intervención pero que
no pueden ser llevados adelante sin una tarea constante de elucidación en el sentido de
C. Castoriadis, como esa tarea de pensar lo que se hace y saber lo que se piensa.
Compartiremos a lo largo de la presentación el modo en que disponemos y sostenemos
ciertos dispositivos de palabra a propósito del trabajo de elucidación a cerca de los
oficios y sus efectos, y particularmente los dispositivos grupales para pensar la práctica
con los equipos de campo que intervienen con niños y adolescentes en situaciones
extremas. En particular nos detendremos en la idea de pensar por caso, como aquello
que abre a un trabajo (micropolítico) que va a contra mano de ciertos paradigmas,
algunos nuevos y otros no necesariamente nuevos pero persistentes, que hacen que
recaigan sobre los sujetos de los que se ocupan las políticas, las instituciones y los
oficios, tanto un magma homogeneizante (todos son iguales) como una actividad
desubjetivante (personas sin historia, sin conflictos íntimos, sin inconsciente), dos caras
de un mismo proceso totalmente funcional a los procesos de exclusión y expulsión
social que en la retórica discursiva se quisieran combatir. Ese pensar por caso constituye
un elemento sustantivo de un trabajo colectivo, a la vez grupal y político a cerca de los
oficios, sus efectos y sus sentidos.
Palavras-chave: Pensar por caso; oficios del lazo; espacio grupal.
A Pesquisa Social Participativa com a população de rua foi realizada entre os anos de
2015 e 2016 na Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.
Os trabalhos foram coordenados por Jorge Broide e Emilia Estivalet Broide, ambos
psicanalistas. Seu objetivo era desenvolver uma investigação em profundidade sobre a
vida da população que vive nas ruas para subsidiar o Plano Municipal da População em
Situação de Rua da cidade. Para tanto, foi utilizado o método psicanalítico por nós
denominado de “Escuta Territorial”. Foi montada uma equipe composta por mais dois
psicólogos, quatro estudantes de psicologia, jornalistas da Ponte Jornalismo e Direitos
Humanos e 10 pesquisadores sociais que viviam ou haviam vivido em situação de rua.
Estes pesquisadores realizaram entrevistas nas ruas com a população que ali vive e com
os gestores e técnicos dos equipamentos de atendimento. Toda a pesquisa foi realizada
através de diferentes dispositivos grupais com os pesquisadores sociais e na elaboração
dos dados e resultados. Foram eles: um grupo terapêutico, uma oficina de trabalho de
campo e outra de leitura e escrita com os pesquisadores sociais, além do grupo de
trabalho com toda a equipe técnica.
Palavras-chave: População de rua; pesquisa em psicanálise, dispositivos grupais.
QUINTA-FEIRA, 19 DE ABRIL DE 2018
Manhã (com tradução simultânea)
MESA 3: 8:30 às 10:00
Auditório Ruy Barbosa
Objetos Mediadores no Trabalho com grupos
Claudine Vacheret (Université Lumière Lyon 2- França)
Anne Brun (Université Lumière Lyon 2- França)
Cristiane Curi Abud (UNIFESP/ SEDES- Brasil)
Coordenação: Pablo Castanho (USP/NESME/IAGP- Brasil)
Le groupe et l’objet médiateur: une synergie spécifique dans un cadre adapté aux
cas difficiles
Claudine Vivier Vacheret
Les dispositifs groupaux à médiation sont articulés autour d’un «medium malléable»
souvent artistique, comme la peinture, le modelage, la musique, le théâtre et ils sont très
répandus dans les différents lieux de soin, en France comme au Brésil. Cette
communication proposera un modèle d’évaluation qualitative des groupes
thérapeutiques à médiation, fondé sur le jeu, au centre des processus de
créativité. Winnicott montre comment apprendre à jouer permet de transformer les
situations les plus douloureuses en situations « bonnes à symboliser » : dans cette
perspective, nous verrons comment la relance des jeux qui n’ont pas pu advenir, ou qui
n’ont pas encore été joués, permet à des groupes de patientssouffrant
de pathologies graves, d’accéder aux premières formes de symbolisation. La
méthodologie consistera en un repérage des principaux organisateurs de jeux typiques
en groupe, notamment dans des dispositifs pour patients psychotiques et
autistes. Cette méthodologie d’évaluation qualitative, référée à la métapsychologie
psychanalytique, est destinée à la fois à défendre l’approche psychanalytique groupale
sur les terrains de soin institutionnel, à transmettre nos pratiques, et à préciser nos
modèles théoriques. Cette conférence renvoie à un projet de recherche international dont
les premiers résultats seront présentés.
Mots-clés: Formes primaires de symbolisation; mediummalléable; sensori-motricité.
Face aux limites des prises en charge individuelles d’adolescents en déshérence, que
l’on est en mesure de proposer dans les différentes structures vouées à l’enfance en
danger, il est proposé de créer, à titre expérimental, un groupe de parole, pour quelques-
uns de ces jeunes souffrant de pathologies narcissiques identitaires, au sein de la
protection judiciaire de la jeunesse en Nouvelle-Calédonie. L’un des enjeux de ce
groupe plurigénérationnel et interculturel, réunissant des jeunes et des adultes dont un
sénateur coutumier kanak, est de frayer une voie, avec eux et pour eux, leur procurant
l’expérience nouvelle et le goût d’un nouvel usage des paroles échangées avec d’autres
que celles qu’ils croisent habituellement. Plusieurs questions seront soulevées avec des
illustrations cliniques. Le groupe est-il le maillon intermédiaire entre le culturel et le
psychique, des éléments sans terrain ou presque ? Quelle est la place des objets
culturels, voire des incorporats culturels (Rouchy, 2014) comme facilitateurs, vecteurs
de transformation de la violence brute dans ce groupe?
Mots-clés: Délinquance juvénile ; violences ; psychanalyse de groupe.
L’obésité est devenue une véritable pandémie et un phénomène de société qui touche
toutes les tranches d’âge et notamment les adolescents. Nos pouvoirs publics se sont
mobilisés ces dernières décennies pour trouver des solutions afin de traiter ces corps qui
« dérangent » et qui suscitent de l’inquiétude entre autre en termes de pronostic vital.
Cependant nos 15 années d’expérience clinique et de recherches, nous ont permis de
nous pencher sur ce symptôme corporel. Et au-delà de notre approche psychodynamique
et psychosomatique nous avons interrogé la dimension thérapeutique actuelle et
chercher de nouvelles configurations thérapeutiques afin de s’adapter à leur
fonctionnement psychique particulier. Phénomène complexe qui relève d’une approche
plurifactorielle nous avons choisi sans pour autant occulter les autres facteurs d’aborder
le corps et la psyché sous l’angle du contenant psychique. Ainsi à travers cette
intervention nous montrerons d’une part que ce symptôme corporel renvoie à une
problématique du contenant psychique individuel, intersubjectif et familial ; se
traduisant par « une image inconsciente du corps nébuleuse ». Puis d’autres part nous
proposerons un dispositif thérapeutiques groupale afin d’accompagner le changement
morphopsychologique et pour consolider ces défaillances psychiques individuelles et
groupales.
Mots-clefs: Obésité ; adolescence ; groupe à médiation thérapeutique corporel.
A partir dos conceitos de migração e exílio, desenvolve-se uma análise sobre o processo
migratório/exílio de Sigmund Freud. Diferencia-se a condição do migrante da condição
do exilado. Abordam-se questões sobre a língua e a perda da língua materna. Foca-se
nos percalços que aparecem frente a necessidade de fazer uso de uma língua estrangeira
e na obrigação de abandono da língua materna, para conseguir comunicar-se no país de
migração. O processo de luto pela perda da cultura, língua e terra de origem aparece
como condição que habilita a possibilidade de elaboração da situação de migração. O
achado da pesquisa baseia-se em uma carta de Freud para seu amigo suíço Raymond de
Saussure na qual relata a dor pela perda da língua materna; e um registro de uma
paciente de Freud que aponta a forma de falar a língua estrangeira que o criador da
psicanálise trazia. Esses traços assinalam a passagem da língua materna a língua do país
de acolhida, tanto na migração quanto no exílio. Os sujeitos migrantes ou exiliados
desenvolvem um transito intra e intersubjetivo que vá da apropriação das novas nuances
da cultura de país de acolhida ao limiar do traumático quando essa passagem fica
impossibilitada e impedida.
Palavras-chave: Migração ; exílio ; língua materna/estrangeira.
O Projeto Ponte foi criado em 2010 na Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientae
com a proposta de atender migrantes que tem demanda por terapia, preferencialmente
em grupos, com base teórica psicanalítica. Propomos, neste trabalho através da
utilização de vinhetas clínicas, a análise teórico-clínica de um dispositivo construído no
atendimento grupal oferecido aos migrantes do Projeto Ponte que são realizados em
português, uma vez por semana com duração de 1h30 e grupos com até 10 participantes
no formato "slow open" possibilitando entradas e saídas ao longo do período de
atendimento. O dispositivo se baseia na sustentação do lugar de estrangeiro assumido
pelo analista/coordenador de grupo ao falar em português com os pacientes, não
recorrendo ao apoio do tradutor. Assumir esta posição clínica provoca efeitos nos
atendimentos que procuram apontar para: um lugar do imigrante como sujeito "entre
culturas" e a criação de um espaço clínico onde o paciente possa eventualmente, falar na
sua língua de origem. Não defendemos a idéia de que o migrante precisa "reforçar" a
cultura do país de origem ou que necessite se "adaptar" à cultura do país de destino. As
migrações para o Brasil são predominantemente de países latino-americanos e africanos
e assumir este lugar de estrangeiro é oferecer um espaço elaborativo para que o
colonialismo possa surgir e que os espaços imaginários de dominação e poder possam
advir como questões a serem trabalhadas.
Palavras-chave: Clínica com migrantes ; lugar de estrangeiro ; colonialismo.
Este trabalho procura refletir sobre como a questão de gênero tem aparecido no
consultório do psicanalista, inclusive na clínica com crianças. Convida a pensar sobre os
atravessamentos histórico-culturais, sobre a complexidade dos processos de
identificação e sobre os meandros da sexualidade. Entende que a questão de gênero
atravessa todos os pacientes, não apenas os transexuais. Abordando a especificidade da
sexualidade infantil em contraste com a sexualidade adulta, procura pensar em alguns
cuidados no manejo clínico com crianças e as questões de gênero, valorizando a
singularidade de cada paciente. Fazendo uma crítica a noções patológicas associadas à
transexualidade, este trabalho procura indagar a teoria psicanalítica a partir do que a
pratica clínica nos revela. Assim, resgata o conceito de castração e conclui que a relação
com a alteridade é organizadora do psiquismo, mas que ela é mais ampla do que a
diferença anatômica entre os sexos.
Palavras-chave: Gênero; sexualidade; infância.
Este trabalho se origina na interlocução com a tese de Vanessa Chreim sobre Gênero e
Infância. A partir de uma perspectiva não patologizante e de abertura da escuta clínica,
faço uma imersão breve sobre a questão, buscando no aporte teórico algumas pistas a
partir do papel das identificações e intersubjetividades na constituição do sujeito, que
ampliam as noções de gênero. Pensando em como o olhar do outro cria um lugar de
pertencimento que pode acolher o sujeito ou, de outro modo, fazer dele um estrangeiro,
a problemática envolvendo a identidade de gênero faz refletir sobre a construção
psíquica de um lugar próprio, singular. O rompimento com um discurso cultural
engessado e uma conciliação que inclui a bagagem narcísica e os efeitos estruturantes
das intersubjetividades que o tangenciam e afetam em sua atualidade, podem ser
caminhos criativos. Trata-se de considerar o quanto do macrocontexto incide na escuta
clínica, no sujeito, em um movimento de inclusão desses aspectos no processo analítico.
Palavras-chaves: Gênero; intersubjetividades; cultura.
Em 1962, foi instituída a profissão de psicólogo no Brasil. A formação era pautada pelo
Currículo Mínimo, cujo escopo era técnico e distanciado dos problemas sociais.
Acompanhando o processo de redemocratização e as transformações na profissão, em
2004, foram estabelecidas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os Cursos
de Psicologia. Elas apontam para formação generalista, crítica, científica, com foco nas
políticas públicas e na realidade brasileira. O presente trabalho relata experiência de
reestruturação do Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Psicologia da UPM com vistas
às DCNs e está apoiado em atas, no PPC e informações fornecidas pelo Serviço-Escola
(S-E). Dentre os diversos aspectos desse percurso, destacamos: a) a formalização do
compromisso do curso com teorias e técnicas de grupo no texto do PPC; b) concepções
sobre essas práticas, as quais, muitas vezes, salientavam sua superficialidade e
precariedade ou sua extrema complexidade; c) ampliação das atividades relacionadas a
grupos, sua relevância para a formação e a crescente aderência a elas no curso; d) o
papel do S-E na integração das atividades ensino-pesquisa-extensão. Por fim, podemos
afirmar que as modalidades de trabalho com grupos alcançaram grande reconhecimento
e estão em constante aprimoramento, diversificação e ampliação.
Palavras-chave: Diretrizes Curriculares Nacionais; psicologia; grupos.
O eixo de sustentação desta pesquisa, que tem como título “cuidado e inclusão na
formação em saúde”, está centrado no aprofundamento de aspectos inerentes aos
processos vinculares inter e transubjetivos de forma a dar suporte à escuta clínica. Para
tal, são estabelecidas algumas relações de cunho teórico-clínico. No campo da saúde,
além do trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar, é importante por em
relevo aspectos éticos e sensíveis da escuta, como instrumento de cuidado, que
favoreçam uma compreensão aprofundada do funcionamento humano, seus modos de
ligação, de reação e adoecimento. A experiência clínica na dimensão do cuidado requer
uma disponibilidade para acolher a dor e o sofrimento de outrem. Em termos de
resultados essa associação entre clínica e teoria tem contribuído de modo significativo,
na constituição do saber fazer clínico, a partir do refinamento da escuta. Vemos uma
apropriação de um lugar ao longo da formação, como profissional de saúde, organizado
dentro de uma perspectiva empática. Observa-se que é ainda a partir da
intersubjetividade que se constrói o lugar de um encontro, em que a dor pode se
transformar em sofrimento e o sujeito ganha voz. O sentimento de desamparo e
invisibilidade podem ser atenuados quando o eu que sofre é acolhido por um outro que
lhe oferece um espaço e um tempo de reconhecimento, ou seja, que o escuta.
Palavras-chave: Escuta; cuidado; invisibilidade.
Esculpir o tempo
Morte e luto num grupo psicanalítico
Sylvia R. Fernandes
Instituto Sedes Sapientiae
A partir do relato de uma morte repentina, esse grupo, constituído por pessoas que
vivem uma relação intensa com a morte e com o pai, produz narrativas ligadas à
inexorabilidade da morte, revisitam as perdas significativas em suas vidas, fazendo um
trabalho coletivo com a morte e o luto. Cenas narradas e vividas ao longo dos próximos
três encontros, nos faz refletir sobre a morte como irrepresentável, a perda e o sacrifício
ao outro, a função do ritual coletivo, o luto e a criação.
Palavras-chave: Psicanálise grupal; morte; luto.
O Clube dos Saberes (dispositivo criado por Arthur Hypólitto de Moura) é uma rede de
trocas de saberes, habilidades e conhecimentos, cuja organização adota o modelo
democrático de co-gestão. Apresentarei uma análise da experiência do Clube dos
Saberes (CS) desenvolvido dentro de um hospital psiquiátrico de características
manicomiais entre os anos de 2001 e 2005 a partir do relato de algumas experiências
grupais. O objetivo do CS era a construção de uma ambiência terapêutica que
favorecesse o acolhimento, a ocupação vívida dos espaços, as múltiplas transferências,
os engajamentos, a organização dos pertencimentos, dos espaços e dos relacionamentos
institucionais, a autonomia, a democracia e a análise. O CS se dava pela constituição de
diferentes grupos que partiam do reconhecimento das singularidades e do agenciamento
da troca de saberes, conhecimentos e habilidades entre os diferentes agentes
institucionais. As cenas revelam movimentos de avanço e de resistência a um outro
modo de pensar o tratamento, deturpações na compreensão do dispositivo Clube,
tensões entre a organização e a clínica e entre a dimensão financeira/econômica da
instituição e sua finalidade de promover saúde mental, tensões entre diferentes lógicas e
a dificuldade de sustentar o Clube frente à redução dos espaços de análise.
Palavras-chave : Hospital psiquiátrico ; psicanálise ; relacionamentos institucionais.
Do “até que a morte os separe” para o “até que algo os separe”: um estudo sobre a
escolha pelo casamento na contemporaneidade
Juliana Beatriz Ferreira de Souza (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho – UNESP/Assis), Thassia Souza Emidio (Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho – UNESP/Assis)
Percebemos nos dias atuais como as relações amorosas se tornaram breves, frágeis e
descompromissadas. Contudo, alguns sujeitos ainda optam e investem no casamento.
Isso posto, desenvolveu-se uma pesquisa de Iniciação Científica com o objetivo de
analisar e refletir sobre o vínculo conjugal na contemporaneidade, buscando
compreender os sentidos inferidos a escolha e manutenção do mesmo por aqueles que
realizaram esta escolha. A entrevista semi-dirigida foi utilizada como instrumento deste
estudo qualitativo, tendo sido entrevistados 3 mulheres e 2 homens casados há pelo
menos 5 anos, dado que as separações ocorrem comumente nesse período. Os dados
obtidos foram analisados à luz dos estudos sobre os relacionamentos amorosos e dos
apontamentos da Psicanálise das Configurações Vinculares. Apesar da diferença de
idade e de tempo conjugal dos participantes, elementos em comum foram encontrados.
Entretanto, pudemos observar que cada um teve o seu sentido e recursos para realizar a
escolha pelo casamento e mantê-lo, o que está mais ligado ao desejo do indivíduo do
que a interesses contratuais. Enquanto alguns mantém suas relações de modo mais
idealizado, outros conseguiram alcançar uma saída de engajamento amoroso que encara
o vínculo tal como este é. Entendemos, então, que o casamento atual é composto por
traços do passado, do contemporâneo e pela configuração psíquica de cada casal.
Assim, o trabalho buscou contribuir para os estudos sobre os vínculos amorosos na
atualidade.
Palavras-chave: Casamento; vínculo; Psicanálise.
O dispositivo grupal em psicanálise: questões para uma clínica política do nosso
tempo
Fernanda Ghiringhello Sato. Psicóloga. Psicanalista. Mestranda em Psicologia Clínica
(IP USP), Raonna Caroline Ronchi Martins. Psicóloga. Psicanalista. Mestre em
Psicologia Social pela PUC SP. Doutoranda de Psicologia Clínica pela USP,
Carina Ferreira Guedes. Psicóloga. Mestre em Psicologia Social (IP USP), Miriam
Debieux Rosa. Professora Livre-docente do Programa de Psicologia Clínica da USP
Este trabalho busca qualificar a utilização dos dispositivos grupais como estratégia
clínico-política. Buscamos trazer novos aportes à utilização de dispositivos grupais nos
serviços que executam políticas sociais como estratégia clinico-política de resistência à
lógica de individualização e massificação do sofrimento, a partir do referencial
psicanalítico. Problematizamos o uso, amiúde indiscriminado, de técnicas grupais, para
apresentar aspectos éticos e teóricos da psicanálise freudolacaniana que norteiam o
grupo como dispositivo clínico. Considerando as alianças que podem unir um grupo ―
identificação, demanda e transferência ― e seus possíveis efeitos de massificação,
discutimos os desafios de sustentar a função de analista ao se operar esse dispositivo,
que, no caso do grupo, será subverter os possíveis obstáculos, transformando-os em
força viva de intervenção, considerando que a resistência muitas vezes opera como o
que faz furo e permite abrir questões sobre o discurso que se quer fazer hegemônico. A
partir da nossa experiência com grupos realizados em segmentos da política de
Assistência Social e Direitos Humanos, trazemos vinhetas de supervisões e experiências
no campo, proporcionando debates sobre grupos enquanto prática clinico-política e
apontando uma direção ética no trabalho com grupos em situações sociais críticas.
Palavras-chave: Grupo; clínica-política; resistência.
Atualmente a obesidade tem sido apontada pela Organização Mundial da Saúde como
um dos maiores problemas de saúde pública do mundo. Os tratamentos mais
comumente oferecidos são dietas alimentares, atividade física, uso de medicamentos e
cirurgia, havendo um espaço consideravelmente pequeno para a abordagem dos
aspectos psicológicos envolvidos na manutenção deste quadro. Dentre os tratamentos
que relacionam a obesidade com a compulsão alimentar, são poucos os que pensam este
sintoma do ponto de vista da psicanálise. Este trabalho propõe uma pesquisa teórico-
clínica com o objetivo de apresentar um entendimento psicanalítico do ganho excessivo
de peso e seu tratamento em um dispositivo grupal. Para tanto, partiremos de uma breve
revisão da literatura sobre a problemática do emagrecimento, seguida de uma
problematização da relação compulsiva com a comida e sua relação com a adicção em
psicanálise. Uma pergunta motiva essa pesquisa: “por que deveríamos propor uma
abordagem psicanalítica de grupo para tratar problemas relacionados à obesidade e à
compulsão alimentar?” Tendo isso em mente, os autores trazem alguns elementos do
grupo que está sendo realizado como parte da pesquisa de mestrado e apresentam
algumas vinhetas do grupo e de pacientes para articular suas reflexões. Como se trata de
um trabalho em desenvolvimento, o processo, e não os resultados, será priorizado.
Palavras-chave: Psicanálise de grupo; comportamento compulsivo; obesidade.
Comunicação Temática 15: Saúde Mental e Equipes de Saúde (Eixo: Processos
Institucionais: Saúde, Educação, Família)
SALA: 105 (prédio 40)
MODERADOR: Fernanda Zanetti Cinalli Giovanetti
Com a lei 10.216/01, implanta-se oficial e nacionalmente uma nova proposta de política
pública de Saúde Mental, expressando transformações sociopolíticas e técnicas apoiadas
na Reforma Psiquiátrica. Contudo, as estratégias psicossocial e antimanicomial
propostas e implementadas neste contexto parecem negligenciar a dimensão psíquica,
colocando seu enfoque sobre a dimensão social e política. Hipotetizou-se que as práticas
clínicas ficaram identificadas como estratégias do modelo prévio, ocasionando uma
condição de negação / não reconhecimento da clínica no novo modelo. Tal condição
justificaria a coexistência de ideias e fundamentos contraditórios verificados nas
práticas e política de saúde mental atual: ora apresentando marcas provenientes de sua
história de segregação, ora fundamentos e concepções antimanicomiais. Tal
coexistência parece dificultar a efetivação plena e a reflexão sobre a política atual
(2001-11/2017), mantendo práticas manicomiais encobertas por um discurso
antimanicomial. Os dados de grupos operativos realizados com profissionais de CAPS
corrobora tal hipótese: compreende-se que uma aliança inconsciente estabelecida entre
os atores da saúde mental pós Reforma Psiquiátrica, mediante um pacto denegativo,
extirpou a clínica das ações em saúde mental. Paradoxalmente, neste processo é
exatamente a clínica psiquiátrica tradicional que ocupa o espaço vazio deixado pela
negação da clínica de consideração da dimensão psíquica, em especial a clínica
psicanalítica.
Palavras-chave: Saúde Mental; psicanálise; clínica psicanalítica.
Sessão de Pôsteres 1:
SALA: 508 (prédio 45)
COORDENADORES: Solange Emilio (NESME/Anhembi-Morumbi); Maria Ondina
Peruzzo (NESME/Instituto Acolher-Ita)
Título Autores
O presente trabalho foi desenvolvido durante o estágio do quinto ano na área hospitalar
do curso de Graduação em Psicologia em 2017, no qual eram realizados grupos de
orientação e apoio aos acompanhantes. Os acompanhantes de pacientes hospitalizados
são merecedores de cuidados para que não adoeçam psiquicamente. O espaço grupal de
apoio possibilitaria acolher experiências de sofrimento psíquico e possíveis resoluções
de conflitos em relação ao funcionamento da instituição. Os encontros ocorreram
semanalmente com o tempo de duração de uma hora, os acompanhantes eram
convidados pelas estagiárias a se reunirem para as mesmas transmitirem informações
em torno das regras do hospital. No final era realizada uma leitura de textos de cunho
reflexivo, o grupo era aberto e heterogêneo em relação ao sexo e idade. Foram
realizados 18 encontros totalizando 82 participantes no decorrer do estágio. Foi ofertado
um espaço de escuta para que os acompanhantes se expressarem acerca do adoecimento
e a hospitalização de um familiar, tiveram a oportunidade de compartilhar os
sentimentos, troca de experiências, foram convidados a participar ativamente deste
momento junto ao paciente, além de promover uma comunicação entre equipe-família-
paciente.
Palavras-chave: Grupo de apoio ; acompanhantes ; Psicologia Hospitalar.
A Proteção Social Especial são programas e projetos que têm por objetivo a
reconstrução de vínculos familiares e comunitários, defesa de direitos, fortalecimento
das potencialidades e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das
violações de direitos. Para garantir um atendimento de qualidade às crianças e aos
adolescentes, deve funcionar de forma articulada com os demais serviços da rede sócio
assistencial local. A pesquisa teve o objetivo de estudar as relações e obstáculos dos
funcionários em relação ao trabalho desenvolvido em uma casa de acolhimento de
menores de idade, explorando as temáticas que envolvem a subjetividade e as relações
interpessoais dos funcionários que possuem o convívio com as crianças e adolescentes.
O objetivo do grupo foi o de amparar os profissionais, e manejar para alcançarem seus
objetivos frente às questões vivenciadas. A pesquisa denotou-se qualitativa e a coleta de
dados foi realizada através do diário de campo dos grupos com funcionários que
ocorreram em encontros quinzenais. A equipe construiu ao longo dos encontros suas
próprias perspectivas e soluções para os impasses profissionais. Em relação à relevância
científica, o trabalho favoreceu a discussão sobre essa categoria profissional na área da
Assistência Social. A respeito da relevância social, os participantes tiveram o ensejo de
relatarem aspectos que nem sempre abordam, como queixas em relação à capacitação
profissional.
Palavras-chave: Grupos de reflexão; representação social; Proteção Social Especial.
Este relato se refere a uma experiência realizada no primeiro semestre de 2017 no CAPS
infanto-juvenil da cidade de Guarujá-SP com a técnica de utilização de fotos como
objeto mediador. Consistiu-se em dois grupos de familiares de crianças e adolescentes
assistidos pelo serviço que se encontraram oito vezes em uma frequência semanal. Foi
utilizado o dossiê Corps et Communicacion e uma compilação de 100 fotos brasileiras
para toda a atividade. A aproximação afetiva dos familiares com a equipe proporcionou
uma melhor convivência entre todos, o que pôde ser notado no surgimento de
assiduidade dos clientes no tratamento e no melhor entendimento do sofrimento
psíquico de seus filhos/neto. Utilizar a técnica de fotos como objeto mediador em um
dos grupos terapêuticos desse CAPS infato-juvenil abriu espaço para um trabalho
reflexivo com usuários de difícil relacionamento no equipamento. Somar esse relato de
experiência a outros de mesma espécie contribui para fomentar a utilização dessa
técnica nos CAPS, sendo mais uma das possibilidades terapêticas nesses serviços.
Palavras-chave: Grupos; CAPS infantojuvenil; fotos.
O peso das heranças transgeracionais se impõem e são impostas através das gerações.
Mutações ocorridas na clínica e na sociedade levam o analista a criar um labirinto de
configurações mentais para compreender e interpretar as diferentes dinâmicas
familiares. Essas transformações são produtos do entrelaçamento de complexas
reconfigurações de histórias de vida. O objetivo desse trabalho é refletir a respeito dos
impactos transformadores da cultura sobre a formação da subjetividade e sobre a clínica
psicanalítica. Proponho repensarmos o conceito de família e de técnicas de atendimento
em psicanálise, diante das novas configurações vinculares e dos fatores presentes na
contemporaneidade, que tem interferido no “setting” . A “escuta psicanalítica” atual
requer do profissional o desenvolvimento de competências como flexibilidade,
criatividade, espontaneidade e diálogo, para ampliar a capacidade de observação, sem
perder o sentido do “setting” analítico. É um desafio para os profissionais colaborarem
para que os pacientes desenvolvam novas maneiras “de ser e de estar em família e na
sociedade”, além de abrir espaço para dar sentido às fantasias e aos conteúdos
reprimidos.
Palavras-chave: Heranças transgeracionais; impactos da cultura e subjetividade;
transformações da técnica psicanalítica.
O texto apresenta alguns dos autores com os quais abasteço teoricamente meu exercício
diário de atendimento a casais com problemas de conjugalidade, principalmente quanto
à quebra do contrato que firmaram. Ao longo das considerações teóricas, exemplifico,
com vinhetas clínicas, as diversas questões trazidas ao consultório. Essa exposição
busca tão somente refletir sobre a compreensão de diferentes conflitos com os quais nos
deparamos em nossa atividade profissional.
Palavras-chave: Casal; trauma; contrato.
O autor inicia com o tópico - O que é grupoterapia para mim? Passa a definir vínculo e espaços
subjetivos do vínculo. Valoriza o “outro real externo”, que fortalece o ego e esclarece
concretamente sobre a alteridade. Em seu trabalho, prefere intervir pouco, e deixar o grupo se
manifestar e perceber por si o que se passa, mas, se necessário, aponta, e, eventualmente,
interpreta. Valoriza a diversidade e o inesperado. No seu trabalho psicanalítico grupal estuda os
fatos, a comunicação, e, principalmente o diverso e o incerto, que costumam estimular o
surgimento de suscetibilidades narcísicas referentes a pequenas diferenças e um mergulho no
adverso mundo dos mal-entendidos. Comenta sobre a dificuldade atual de realizar o trabalho
privado com grupos no Brasil. A tendência do trabalho psicanalítico com grupos tem sido de
ampliar essa abordagem para outras configurações vinculares, como casais, famílias e
instituições. Os grupos terapêuticos têm tido maior uso nas instituições públicas, onde há
enorme potencial para atendimento grupal. A demanda é imensa e os grupos podem ser
extremamente úteis na saúde mental e na clínica médica. Os coordenadores, seguindo
orientação política a que são submetidos, mesmo sem terem noção do que seja trabalhar com
grupos, ordenam que seus subordinados o façam, ainda que sem formação específica. Finaliza o
trabalho com reflexões sobre formação clássica e os desafios para uma formação realista nos
dias de hoje.
Palavras-chave: Grupos; vínculos; formação profissional.
Cette communication s’appuiera sur une expérience clinique de près de dix ans dans un
psychodrame psychanalytique individuel (PPI) dont l’une des particularités est d’avoir
accueilli des adolescents autistes.
Le Psychodrame individuel diffère, dans sa technique comme dans ses objectifs, du
psychodrame de groupe ou en groupe. Toutefois, la dimension groupale n’en est pas
exclue. Bien au contraire, elle se structure dans des configurations multiples. Nous
aborderons particulièrement ici les modalités de l’être au groupe de deux adolescents
atteints d’autisme, qui ont convoqué la différence, l’étrangeté et l’altérité en « utilisant »
le groupe comme contenant et comme contenu, comme peau et comme organes,
sollicitant les thérapeutes dans leur capacité à faire groupe, à être groupe. La radicalité
de cette expérience clinique a nécessité des espaces et des temps d’élaboration
particuliers : un dispositif d’intervision mensuel appelé « élaborations croisées » et un
dispositif de type séminaire annuel. C’est l’étayage sur ces groupes de travail qui a
permis la délicate approche de la spécificité du transfert au PPI avec ces adolescents.
Dans un contexte polémique autour de la prise en charge des sujets atteints d’autisme,
nous engagerons ici une réflexion sur la différence : sa perception, sa reconnaissance,
son accueil et son élaboration dans le cadre d'un dispositif de soin pensé en
conséquence.
Mots-clés: Psychodrame psychanalytique individuel ; autisme ; transfert.
Cette présentation s’inscrit dans une réflexion collective sur « l’évaluation des
processus thérapeutiques » au sein du groupe de recherche du CRPPC (Lyon2, France).
A partir d’exemples cliniques tirés de séances de psychothérapies groupales, fondées sur
le jeu avec de jeunes enfants réputés autistes ou souffrants de troubles psychiques dits
« sévères », il s’agira de montrer, comment le processus observé dans ces groupes incite
à préciser diverses formes du différencié et de l’indifférencié en articulation avec le
déploiement transférentiel sous ses multiples aspects. Il a été notamment possible de
distinguer un premier processus d’indifférenciation-différenciation en rapport avec des
modalités transférentielles de type adhésif, puis un second de type symbiotique, à partir
de l’expression des expériences subjectives de ces enfants dans différents champs : le
champ spatial, temporel, sensoriel, moteur, émotionnel, formel, figuratif, fantasmatique,
symbolique, interpersonnel, intersubjectif, groupal… En particulier, cette clinique
montre combien, notamment, l’imitation et la répétition du même vectorisent les
échanges au sein de l’espace thérapeutique groupales tant dans les registres adhésifs que
symbiotiques, organisant les formes primitives de réflexivité attestant ainsi de la
tentative de constitution du double identitaire comme préalable indispensable à
l’individuation.
Mots-clés: Groupes thérapeutiques; indifférenciation-différenciation; jeunes enfants
autistes.
Esta apresentação é resultado de nossa inserção na Saúde Pública (SUS) em um Ambulatório Para
Saúde Integral de Travestis e Transexuais fundado em 2009 no CRT – Centro de Referência e
Treinamento de DST/Aids, São Paulo. Este referido ambulatório foi inaugurado para atender, a
princípio, a saúde integral de pessoas travestis e transexuais para quem o acesso à saúde pública é
bastante dificultado pelos inúmeros processos de exclusão e preconceito sofridos por esta
população. Ao mesmo tempo, foi pensado modos de promover atenção específica às necessidades
em saúde desta camada populacional, para quem as ofertas específicas de sua saúde nunca
estiveram claramente disponíveis, dentre elas os tratamentos hormonais e recursos cirúrgicos. A
participação do psicólogo dá-se no conjunto de avaliação de equipe: acompanhamento para
processo cirúrgico conforme protocolo do Ministério da Saúde; avaliação e acompanhamento
psicológico quando há necessidade e interesse por esse cuidado. O dispositivo de grupos tem se
mostrado um recurso que aponta para sintetizar as principais questões de essência intrínsecas nas
chamadas Identidades de Gênero ou Identidades Generificadas. Isso porque questões como
estigma, preconceito, violência social, o exercício social e vincular do gênero; são conteúdos
fortemente acionados e presentes nos vínculos, tornam-se bastante emergentes nos grupos. De
outro lado, discute-se que parte da permanência do sujeito nos processos não são necessariamente
espontâneos mas obrigatoriedade de protocolo. Assim, há de se pensar o grupo como um espaço
para construção de demanda.
Palavras-chave: Transexualidade; identidade de gênero; saúde pública.
As questões da transmissão psíquica têm sido cada vez mais consideradas para a
compreensão dos sujeitos e de sua constituição de identidade. No entanto, ela não é
muito considerada quando se aborda a constituição da identidade profissional. Sabemos
que a formação do profissional que trabalha com grupos, casais e famílias nas áreas da
Saúde, Educação, Assistência social e Justiça exige um preparo que transcende a
realização do curso de graduação (em Psicologia, Medicina, Serviço Social,
Enfermagem, entre outras) e deve se manter durante toda a sua vida profissional, por
meio de cursos, leituras e estudos, análise/psicoterapia, supervisões e participações em
eventos científicos. Por outro lado, nem sempre o profissional que tem todo esse
investimento percebe seu trabalho reconhecido como potente, pois este, principalmente
nos serviços públicos, fica associado ao menor custo e consequentemente, menor valor.
A autora deste trabalho partirá de pesquisas, práticas e estudos com o enfoque na
formação destes profissionais, para abordar como os conceitos de transmissão psíquica
podem ser aproveitados para lançar luz sobre alguns desafios presentes na formação
daqueles que trabalham com grupos, casais e famílias. Enfocará as cargas construtivas e
destrutivas transmitidas e herdadas nas instituições de formação e também os vínculos
de filiação e afiliação responsáveis pela organização dos continentes psíquicos de sua
identidade profissional.
Palavras-chave: Formação profissional; identidade profissional; transmissão psíquica.
Este trabalho foi desenvolvido pela psicóloga da instituição Lar das Crianças e uma
psicóloga voluntária e reflete a respeito da experiência de grupos com pré-adolescentes,
nesta instituição, que acolhe crianças e jovens no contra-turno escolar. Os conflitos
vividos por estes jovens geraram a demanda da criação deste espaço de escuta e
intervenção. Os grupos são realizadas quinzenalmente e neles a demanda é trabalhada
dentro de um modelo que privilegia os emergentes grupais. Durante o processo de
construção deste espaço de escuta, o modelo usado, o enquadre e o setting precisaram
ser revistos para que a escuta e o diálogo fossem facilitados. Ao longo do tempo,
levando em conta os avanços e retrocessos, os grupos puderam se tornar um espaço
onde os conflitos foram vivenciados, dialogados e refletidos. Foram tratadas questões
ligadas ao crescimento, como deixar de ser criança e precisar se responsabilizar por si
mesmo diante de suas tarefas e diante do outro, questões ligadas à sexualidade e a
aproximação entre meninos e meninas, questões ligadas à rivalidade e à agressividade,
entre outras. Com isso acreditamos que se propiciou a estes jovens um espaço onde suas
questões puderam ser acolhidas e onde tentou se privilegiar a conversa à atuação.
Palavras-chave: Grupos em instituição; processo grupal; adolescentes.
Comunicação Temática 17: “Marinheiro só” – laços fluidos e herança familiar (Eixo:
Formações Culturais: Racismo, Migrações, etc)
SALA: 102 (prédio 40)
MODERADOR: Mary Yoko Okamoto
As ações afirmativas reparatórias, entre elas as cotas raciais, fez com que uma parcela
da população (negros, indígenas, alunos de escolas públicas), até então alijados de
espaços universitários comecem a circular por eles. Esses encontros tem revelado uma
face até então pouco explícita de tensões presentes na sociedade brasileira, que sempre
se viu com os olhos da democracia racial. A presença desses alunos nas universidades
públicas ou aquelas consideradas de ponta, tem nos brindado com situações de racismo
em vários momentos. Acompanhando direta e indiretamente situações de racismo em
algumas universidades, que culminaram em tentativas de suicídio e suicídio de alunos
negros, nos demos conta que algo precisaria ser feito. Assim, nos inserimos em um
programa de uma universidade pública em São Paulo que tem, dentre seus objetivos,
pesquisar os Efeitos do Racismo na Saúde Física e Mental. Vimos aí uma oportunidade
de abordarmos as relações raciais no campus universitário. O grupo de estudantes é
composto por estudantes de diferentes graduações. Propiciar um lugar para falar, pensar,
refletir, elaborar, ressignificar e agir, criando um espaço psíquico onde a solidão e o
silenciamento perdem espaço a cada encontro. O dispositivo grupal, com frequência
semanal de uma hora, coordenado por duas psicanalistas e uma estagiária, por vezes
utilizando fotos, como objetos mediadores que favoreçam a nomeação de afetos e por
vezes aplacam ansiedades. O grupo tem sido um espaço que favorece encontros,
formação de alianças e elaboração de estratégias de enfrentamento ao racismo no
interior da universidade e fora dela.
Palavras-chave: Racismo; discriminação racial; grupo.
A forma como a família é vista e vivida vem se modificando nos últimos anos, o que
impossibilita identificá-la com um modelo único e ideal. Apesar das mudanças de papel
que vem sofrendo ao longo dos tempos, ela ainda continua sendo o lugar privilegiado de
socialização, cuidado e exercício da cidadania. Nela que vivemos os primeiros laços de
afeto, cuidado e sentimento de proteção, principalmente no período da infância e
adolescência. É ela que aproxima e insere a criança nos valores, normas e regras sociais.
Portanto, a partir deste papel central na formação do indivíduo, é fundamental para o
bom desenvolvimento da criança e do adolescente, que possam crescer em um ambiente
familiar. Sendo assim, pretendo analisar como a família acolhedora entende que é o seu
papel na manutenção do ambiente familiar, e como este pode favorecer a retomada do
processo de amadurecimento e desenvolvimento da criança que precisa ser afastada do
convívio com sua família. O exercício que pretendo fazer neste trabalho é um diálogo
entre a teoria Winnicottiana, a assistência social e a política pública, buscando assim
auxiliar na discussão da importância do ambiente para a promoção do desenvolvimento
infantil e na prevenção de problemas futuros. Para isso, irei entrevistar as famílias do
Programa Família Acolhedora do Instituto Fazendo História e, a partir da análise tecer
esta linha entre a teoria, a importância do ambiente familiar e a ação política, auxiliando
a implantação da política pública de proteção, com o compartilhamento de
responsabilidade entre o Estado, família e sociedade na efetivação do direito a
convivência familiar e comunitária.
Palavras-chave: Família acolhedora; Winnicott; política pública.
Há tempos os Contos de Fadas se fazem presentes na vida infantil, presença essa que
transcende o aparato tecnológico que a atual conjuntura nos impõe. Nesse sentido, a
razão pela qual os Contos antigos se mantêm populares até hoje, pode estar relacionada
à influência que exercem no imaginário dos que têm o privilégio de mergulharem em
seu mundo fantástico. Em contrapartida, essa influência poderá ser significativa, à
medida que tais histórias forem propagadas por aqueles que permeiam a vida das
crianças, e para que isso ocorra de forma natural, é importante que também os
educadores compreendam os benefícios que os Contos tendem a produzir, para além do
campo pedagógico. O trabalho objetiva investigar qual o valor atribuído aos Contos de
Fadas por professores da Educação Infantil de uma escola do município de Paranaíba-
MS. O estudo se trata de uma pesquisa de campo qualitativa, que utilizará como
instrumento de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas com professores, sendo a
análise dos dados realizada com base no referencial teórico psicanalítico. Após, serão
feitas intervenções grupais e rodas de conversas, a fim de explorar a importância dos
Contos para além do seu valor pedagógico, explorando suas várias formas aplicáveis
para o fortalecimento dos vínculos intersubjetivos e do desenvolvimento emocional
infantil. Espera-se contribuir tanto com os educadores, quanto com os alunos, para que o
contato com essas histórias possibilite um meio de expansão da subjetividade.
Palavras-chave: Contos de fadas; psicanálise; educação infantil.
A etimologia da palavra grupo procede do italiano groppo, que, por sua vez , origina-se
do alemão kruppa. O groppo escultórico é uma forma artística própria do
Renascimento: tem volume, estando o conjunto separado dos muros dos prédios, é se
possível caminhar ao seu redor, pois toma corpo único, nó, massa, grão. Essa massa,
esse nó inscreve um dentro e um fora, inscreve uma superfície, uma pele, uma
superfície de transição. Essa massa, groppo nos remete ao grão, à semente, ao testículo,
como massas de criatividade. Sabemos que as sementes dependem do contato externo
com a água e com a terra para sua expressão. Este trabalho parte dessa metáfora para
apresentar uma articulação teórico-prática, a partir da experiência dos grupos
psicanalíticos de discussão que temos feito mensalmente nos encontros do NESME e a
cada dois anos em nossos congressos. Consideramos tais grupos, que são inspirados nos
Grupos Operativos, como espaços de compartilhamento horizontal de ideias e de
saberes, que promovem a construção coletiva de conhecimento, fundamental ao
profissional que trabalha com grupos. Tratam do que permite a transformação da ordem
monocular para a poliocular. Objetiva-se, com este trabalho, refletir sobre o
compromisso com a integração entre pensar, sentir, produzir, criar, procriar. Para isso,
abordaremos, a partir da articulação entre teoria e prática, os nós (em todas as
conotações que a palavra abarca) que são decorrentes do que é proporcionado pelos e
vivenciados nos grupos psicanalíticos de discussão.
Palavras-chave: Grupos de discussão; formação profissional; grupos operativos.
Este trabalho discute uma estratégia clínico-institucional adotada pela equipe do Centro
de Referência da Infância e da Adolescência (CRIA/UNIFESP) visando melhorar a
aderência ao tratamento de adolescentes particularmente difíceis, especialmente aqueles
com histórico de tentativa de suicídio e automutilação. A literatura mostra que esses
adolescentes e seus familiares comparecem pouco aos tratamentos convencionais e
costumam desistir com facilidade. Como a incidência desses casos vem aumentando
significativamente, buscam-se meios de incidir sobre esse sofrimento e promover
vínculo institucional. Nossa equipe constatou gradualmente que a proposta de grupo
terapêutico tinha ampla receptividade desses jovens e que, quanto antes eles eram
inseridos em um grupo, mais promissora era a relação que estabeleciam com a
instituição. Através da articulação entre situações clínicas no cotidiano institucional dos
adolescentes e aportes da literatura psicanalítica de grupo, busca-se neste trabalho
fundamentar o lugar do grupo terapêutico como eixo central do tratamento desde o
início; busca-se também compreender quais são os aspectos do setting e da transferência
grupal que favorecem um melhor andamento desses casos, especialmente se
compararmos com modalidades de tratamento ambulatoriais individuais, como aqueles
centrados na conduta médica e farmacológica.
Palavras-chave: Grupos terapêuticos de adolescentes; tentativa de suicídio e
automutilação na adolescência; aderência ao tratamento.
A violência contra jovens tem sido alvo de diversos estudos e ações, no entanto, quando
se trata da psicológica, modalidade difícil de ser identificada, embora possa causar séria
fragilização do Ego, há escassez de publicações sobre o tema, o que se comprova com
apenas 793 artigos publicados mundialmente. Portanto, o presente estudo tem o objetivo
de explorar e tentar responder as questões: o que ocasiona comportamentos de violência
psicológica em grupo de jovens casais e como se dá a naturalização dessas formas sutis,
mas perversas de violência. A pesquisa é tema de doutorado e foi realizada com 650
alunos, de ambos os sexos, com idade entre 14 a 23 anos, de sete unidades de uma
instituição em diferentes cidades do Estado de São Paulo, por meio do Questionário de
Maus Tratos Psicológicos (QMP), através de uma escala LikeRt, com cinco pontos,
com variação dos critérios: “discordo muito” a “concordo muito”. O QMP é composto
de sete fatores (desvalorização, humilhação, indiferença, intimidação, imposição de
condutas, culpabilização e bondade aparente) e 23 subfatores. Para cada subfator foram
criados quatro itens, que deram origem ao QMP. Os dados estão sendo tratados e
analisados em um sistema estatístico aplicado às Ciências Sociais. Também será
aplicado o Coeficiente Alpha de Confiabilidade. As informações coletadas nos
permitirão realizar uma série de correlações e, consequentemente, propor meios de
conscientização e prevenção da violência psicológica junto ao público jovem.
Palavras-chave: Violência psicológica; jovens; casais.
Vivemos uma época de rápidas e profundas mudanças que convocam Escola e Família
ao diálogo sobre a educação de crianças e adolescentes. O convite à parceria,
indispensável para a realização dessa impossível tarefa, nas palavras de Freud, tem
gerado conflitos e críticas de uma à outra, indiscriminando, muitas vezes, o que seria de
responsabilidade da esfera pública e da esfera privada. O presente trabalho
problematiza, na perspectiva psicanalítica, a complexidade dessas duas instituições
sociais, relacionando aspectos sociais e históricos às formas de subjetivação na
contemporaneidade. A leitura psicanalítica presente, portanto, é fruto de uma revisão
bibliográfica sobre as temáticas problematizadas e da escuta de atendimentos no
consultório e na escola. Por meio dela, evidencia-se o lugar ocupado pelos adultos numa
sociedade em que impera o desejo de gratificação narcísica e, consequentemente, uma
infantilização dos sujeitos, exigindo um reposicionamento das instituições de educação
e dos adultos que nela atuam.
Palavras-chave: Escola; família; psicanálise.
Le présent travail s’inscrit dans une recherche DEVHOM (fonctionnement des familles
homoparentales, développement et socialisation des enfants) conduite en France. Il
porte sur un recueil de données quantitatives (environ 150 familles) et qualitatives,
socio-anthropologiques (37 familles) et cliniques (20 familles). Cette communication
propose une perspective socio-clinique (entretien avec le couple, libre réalisation de
l’arbre généalogique, entretien et médiations avec l’enfant) ayant pour objectif de mettre
en évidence le poids des représentations héritées et acquises au cours de leur histoire et
la négociation des places opérée au sein du couple dans les modes d’accès à la
parentalité. L’étude s’appuie sur trois situations de couples lesbiens avec un enfant nés
en 2011 suite à une Insémination Avec Donneurs, deux ans avant la loi française de
2013 permettant le mariage et l’adoption pour les couples de même sexe. Les trois
couples lesbiens présentent des caractéristiques communes : une mère biologique ayant
eu recours à une insémination, un mariage suite à la loi de 2013, une mère qui a adopté
alors l’enfant de sa conjointe. Elles présentent aussi des différences notoires, notamment
quant au positionnement des deux femmes vis à vis de l’enfant (position symétrique ou
différenciée) et quant au recours à un tiers donneur, connu, potentiellement connu à la
majorité de l’enfant ou inconnu. Dans ce contexte, nous proposons d’étudier la
dynamique des différences représentatives attachées aux places imaginaires et
symboliques accordées au tiers donneur et ses effets sur le groupe-famille, dans sa
dimension conjugale, dans sa dimension filiale et au niveau de la famille élargie.
L’analyse des trois situations met en évidence les effets d’une représentation du lien de
filiation, plus référencée au modèle biologique ou au modèle électif selon la famille
d’origine et l’histoire de chacune des femmes. Elle fait apparaître une négociation des
écarts entre ces deux représentations au fil du temps se traduisant par les choix
familiaux et les positionnements parentaux mis en œuvre.
Mots-clés : Familles lesbiennes ; recours à un tiers donneur ; places imaginaires et
symboliques.
Sessão de Pôsteres 2:
SALA: 508 (prédio 45)
COORDENADORES: Rose Pompeu de Toledo (NESME/SEDES); Amaury Tadeu Rufatto
(NESME)
Título Autores
Este trabalho busca trazer as reflexões iniciais da Tese de doutorado, em construção, até
o momento intitulada “Uma análise dos encontros e desencontros da Saúde mental no
hospital geral”, iniciada no Programa de Psicologia Clínica do IP-USP em março de
2018. Sabe-se que a história da loucura e do hospital, arquiologizadas por Foucault,
trazem pontos relevantes para a compreensão do lugar da diferença na sociedade e nas
instituições da antiguidade à contemporaneidade. No final do séc. XX, a Reforma
psiquiátrica busca novos lugares para a saúde mental, sendo uma das propostas
realizadas, a entrada dos leitos de saúde mental no hospital geral. O reencontro da
loucura e o hospital traz a novidade do esbarre com o discurso médico, impulsionado no
séc. XVIII, e caracterizado pela exclusão da subjetividade. Este encontro, em análise
pela pesquisa, aponta efeitos relevantes para a inserção/não inserção dos pacientes de
saúde mental no HG. Tem-se como hipótese que o discurso médico, articulado com o
discurso capitalista e sua foraclusão do laço social, nos casos do paciente de saúde
mental (nua subjetividade), pode gerar, de fato, a exclusão dos próprios pacientes, vide
as ameaça aos leitos de saúde mental no HG pelo atual governo. É relevante o cuidado
da questão, a fim de preservar a proposta política, social e de cuidado sustentada por
estes leitos. Acredita-se que a ética da psicanálise, sustentada pela inserção do analista,
pode colaborar para a sustentação do lugar da saúde mental no HG.
Palavras-chave: Hospital-geral; saúde mental; psicanálise.
O presente trabalho foi desenvolvido durante o estágio do quinto ano na área hospitalar
do curso de Graduação em Psicologia em 2017, no qual eram realizados grupos de
orientação e apoio aos acompanhantes. Os acompanhantes de pacientes hospitalizados
são merecedores de cuidados para que não adoeçam psiquicamente. O espaço grupal de
apoio possibilitaria acolher experiências de sofrimento psíquico e possíveis resoluções
de conflitos em relação ao funcionamento da instituição. Os encontros ocorreram
semanalmente com o tempo de duração de uma hora, os acompanhantes eram
convidados pelas estagiárias a se reunirem para as mesmas transmitirem informações
em torno das regras do hospital. No final era realizada uma leitura de textos de cunho
reflexivo, o grupo era aberto e heterogêneo em relação ao sexo e idade. Foram
realizados 18 encontros totalizando 82 participantes no decorrer do estágio. Foi ofertado
um espaço de escuta para que os acompanhantes se expressarem acerca do adoecimento
e a hospitalização de um familiar, tiveram a oportunidade de compartilhar os
sentimentos, troca de experiências, foram convidados a participar ativamente deste
momento junto ao paciente, além de promover uma comunicação entre equipe-família-
paciente.
Palavras-chave: Grupo de apoio, acompanhantes, Psicologia Hospitalar.
A Proteção Social Especial são programas e projetos que têm por objetivo a
reconstrução de vínculos familiares e comunitários, defesa de direitos, fortalecimento
das potencialidades e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das
violações de direitos. Para garantir um atendimento de qualidade às crianças e aos
adolescentes, deve funcionar de forma articulada com os demais serviços da rede sócio
assistencial local. A pesquisa teve o objetivo de estudar as relações e obstáculos dos
funcionários em relação ao trabalho desenvolvido em uma casa de acolhimento de
menores de idade, explorando as temáticas que envolvem a subjetividade e as relações
interpessoais dos funcionários que possuem o convívio com as crianças e adolescentes.
O objetivo do grupo foi o de amparar os profissionais, e manejar para alcançarem seus
objetivos frente às questões vivenciadas. A pesquisa denotou-se qualitativa e a coleta de
dados foi realizada através do diário de campo dos grupos com funcionários que
ocorreram em encontros quinzenais. A equipe construiu ao longo dos encontros suas
próprias perspectivas e soluções para os impasses profissionais. Em relação à relevância
científica, o trabalho favoreceu a discussão sobre essa categoria profissional na área da
Assistência Social. A respeito da relevância social, os participantes tiveram o ensejo de
relatarem aspectos que nem sempre abordam, como queixas em relação à capacitação
profissional.
Palavras-chave: Grupos de reflexão; representação social; Proteção Social Especial.
Esta discussão tem por base o trabalho desenvolvido pelo o Instituto AMMA Psique e
Negritude caracterizado por intervenção política & psíquica no enfrentamento do
Racismo. Diante da constatação de que o racismo adoece e produz sofrimento psíquico,
a clínica do instituto tem como principal objetivo promover o acesso da população
negra ao atendimento psicoterapêutico/psicanalítico. Ancorada em dois fatos: a negação
da existência do racismo, e o não reconhecimento do mesmo como fenômeno
estruturante da sociedade brasileira.. Os trabalhos com grupo são desenvolvidos pelo
Instituto AMMA Psique e Negritude desde os anos 90, no campo da saúde e da
educação e direitos humanos; neste texto faremos uma reflexão sobre o sofrimento
psíquico à partir dos lugares sociais ocupados pelos diferentes grupos, situando,
rapidamente, o Projeto Universidade, Sofrimento Psíquico e Relações Raciais e do
grupo de referência realizado desde 2016.
Palavras-chave: Racismo; sofrimento psíquico; branquitude.