Direito Processual Civil I
Direito Processual Civil I
Direito Processual Civil I
Tema I
Notas de Aula
1.1. Jurisdição
Como a tutela jurisdicional só pode ser prestada se provocada, o juiz não pode
tomar a postura de tomar a iniciativa do exercício do direito de ação ou o de defesa. Assim,
mantém-se eqüidistante das partes.
A inércia procura preservar a igualdade entre os poderes estatais, porque o
Judiciário só deve atuar dentro dos limites da vontade das partes, não podendo intervir em
qualquer ato que queira, pois representaria disparidade entre os poderes estatais. Preserva,
em última instância, a separação dos poderes, evitando que o Judiciário tenha uma força
superior e desproporcional à dos demais poderes.
Há exceções ao princípio da inércia jurisdicional. O artigo 949 do CPC é um
exemplo. Veja:
Veja que a cautela é tão importante que, quando for de excepcional necessidade a
sua realização, sequer é necessária a oitiva das partes previamente à sua determinação, e
esta cautela inaudita altera pars é justamente a cautela de ofício.
A antecipação da tutela jurisdicional, de outro lado, não pode ser concedida de
ofício. É indispensável que seja requerida pelo interessado, não sendo exceção justificável à
mitigação da inércia. É o que se depreende do artigo 273 do CPC:
1.1.2.1. Investidura
1.1.2.2. Territorialidade
1
Há quem defenda, como se verá, que as decisões sem resolução do mérito também fazem coisa julgada
material.
“Art. 230. Nas comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na
mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar citações ou
intimações em qualquer delas.”
1.1.2.3. Inevitabilidade
1.1.2.4. Inafastabilidade
“(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
(...)”
O último princípio da jurisdição a ser aqui abordado é o do juiz natural. É por este
princípio que se materializa a garantia da imparcialidade. Está previsto no artigo 5°,
XXXVII e LIII da CRFB:
“(...)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
(...)”
A garantia do juiz natural significa que o órgão jurisdicional competente deve ser
definido a partir de regras abstratas e prévias. É preciso que a parte tenha a certeza de que
quando ocorrer determinado fato, a competência para solucionar conflitos dali oriundos já
tenha sido estabelecida. Veja que se fosse possível a criação de juízos de exceção, estes
poderiam ser parciais, e é isso que se quer evitar com o princípio do juiz natural.
Em virtude deste princípio, parte majoritária da doutrina entende descabida a
intervenção litisconsorcial voluntária: neste fenômeno, alguém requer sua inserção no
processo, na qualidade de litisconsorte ativo superveniente. Sendo a intervenção voluntária,
a situação que se desenha pode aparentar escolha do julgador pelo interveniente: se
ajuizasse ação autônoma, estaria sujeita à livre distribuição do feito; ao intervir no processo
já distribuído, a parte sabe de antemão qual será seu julgador, traduzindo-se em uma
escolha de juízo, o que viola o juiz natural, por quebra das regras de distribuição. Parte da
doutrina, entretanto, como Dinamarco e Leonardo Greco, entendem que não há violação ao
juiz natural, porque esta é uma garantia das partes, as quais podem dela abrir mão: se o
autor original e o réu admitirem a intervenção, nada há que se opor a sua realização. É
posição minoritária, contudo.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema II
Notas de Aula
3
Além de Barbosa Moreira, são também defensores desta distribuição dinâmica Luiz Guilherme Marinoni e
Marcelo Abelha.
Este poder significa que o juiz pode deferir providências cautelares de ofício. Há
que se consignar uma diferença terminológica: medida cautelar não se confunde com ação
cautelar. A ação cautelar é um rito específico, é uma ação autônoma proposta por alguém
com o escopo de assegurar determinado fim; a medida cautelar não é uma ação em si, é
apenas uma providência cautelar, que pode ser tomada pelo juiz em qualquer processo.
Como exemplo, nos Juizados Especiais Cíveis é inadmissível a ação cautelar, pois como
seu escopo é proteger a efetividade de outra demanda, não é compatível com o rito tendente
à conciliação que existe nos Juizados. Entretanto, é possível que se tome medida cautelar
em processo ali corrente, a fim de que seja assegurada a efetividade da ação que está em
curso, inclusive de ofício.
Como já se disse, o artigo 797 do CPC determina a possibilidade de que o poder de
cautela seja exercido de ofício, sendo exceção legal à inércia:
“Art. 266. Durante a suspensão é defeso praticar qualquer ato processual; poderá
o juiz, todavia, determinar a realização de atos urgentes, a fim de evitar dano
irreparável.”
O juiz pode adotar todas as medidas necessárias para que sua decisão tenha
efetividade, ou seja, deve sempre buscar dar à parte aquilo que ela busca e é de direito. Para
isso, pode tomar de todos os meios coercitivos que entender necessários.
Este poder tem natureza administrativa, e é encontrado no artigo 125, III, do CPC:
“Art. 1.125. Ao receber testamento cerrado, o juiz, após verificar se está intacto, o
abrirá e mandará que o escrivão o leia em presença de quem o entregou.
Parágrafo único. Lavrar-se-á em seguida o ato de abertura que, rubricado pelo juiz
e assinado pelo apresentante, mencionará:
I - a data e o lugar em que o testamento foi aberto;
II - o nome do apresentante e como houve ele o testamento;
III - a data e o lugar do falecimento do testador;
IV - qualquer circunstância digna de nota, encontrada no invólucro ou no interior
do testamento.”
“Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém,
obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a
solução que reputar mais conveniente ou oportuna.”
Assim, o juiz não está adstrito à legalidade estrita, podendo decidir por equidade. A
doutrina, entretanto, põe em discussão a extensão desta liberdade na busca da equidade.
Leonardo Greco, tratando do assunto, defende que não há ampla discricionariedade na
atuação do juiz, na jurisdição voluntária, pois há casos em que o juiz não tem qualquer
discricionariedade, mesmo sendo o rito corrente sob a égide da equidade. Por exemplo, no
procedimento de notificação: o juiz nada tem a analisar, sendo por isso inexistente a
discricionariedade, e dispicienda a equidade.
Quando há discricionariedade na atuação do juiz, ainda assim, ele não pode atuar de
forma contrária a lei. Sequer a lei, em tese, pode libertar o juiz da atenção a qualquer
previsão do ordenamento: o julgador sempre deverá estar atento às previsões basilares do
direito. Um exemplo desta limitação é o procedimento de interdição: neste rito, o juiz
precisa nomear uma pessoa que será responsável pelo interditado. Ao escolher esta pessoa,
há certa discricionariedade, mas não significa que o juiz estará decidindo sem qualquer
atenção à lei – deverá primar pela melhor condição do interditado.
Outra diferença da jurisdição voluntária para a contenciosa é que naquela não há
revelia, como há na contenciosa, porque na voluntária não há conflito de interesses a ser
sanado – como se disse, sequer há réu, não havendo lógica em se presumir veracidade em
fatos narrados pelo interessado. O que ocorre na jurisdição voluntária, outrossim, é o efeito
processual da revelia: mesmo que não haja o efeito material – presunção de veracidade das
alegações do interessado –, há o efeito previsto no artigo 322 do CPC, qual seja, o decurso
de prazos independentemente de intimações:
“Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos
independentemente de intimação, a partir da publicação de cada ato decisório.
Parágrafo único O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o
no estado em que se encontrar.”
Todavia, não se pode chamar este efeito de revelia, pois como se disse, interessados
não são partes, não são autor e réu.
A maior discussão, entretanto, é se a jurisdição voluntária é mesmo jurisdição, ou
seja, se o que ali se passa é mesmo uma atividade jurisdicional. Há três correntes
disputando o tema:
Na jurisdição voluntária, há uma regra que pode suscitar dúvidas, qual seja, aquela
presente no artigo 1.105 do CPC:
“Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como
o Ministério Público.”
A ordem legal para a intervenção do MP seria uma característica que serve para
diferenciar a jurisdição voluntária da contenciosa. Mas esta regra tem aplicação irrestrita?
Há dois entendimentos sobre o tema: o primeiro, de Nelson Nery Júnior, é de que a
intervenção do MP é obrigatória em todo e qualquer caso, fazendo interpretação literal do
dispositivo; de outro lado, o STJ apresenta precedentes em que entende que a intervenção
3. Substitutivos da jurisdição
Veja que, sendo título executivo extrajudicial, esta só será posta diante do Judiciário
se, descumprida, for necessária a execução coercitiva de seus ditames. Do contrário, será
hábil para pacificar o conflito sem mover o Judiciário – o que é o escopo dos equivalentes
jurisdicionais. Como o árbitro não tem poder executivo, só para tal execução, se necessária,
é que se moverá o Judiciário.
A sistemática do rito arbitral é justamente dedicada a prestigiar a celeridade na
solução de conflitos, alheando-os do Judiciário. Todavia, a sentença arbitral poderá ser
controlada pelo Judiciário, mas, em geral, o que serão controlados são apenas os aspectos
formais da decisão arbitral, evitando a incursão, pelo Judiciário, no mérito decidido na
sentença arbitral. O principal instrumento de controle da atividade arbitral é a ação de
nulidade, prevista no artigo 33 da Lei 9.307/96:
Veja que são todas causa formais de nulidade, impedindo o Judiciário de avaliar o
mérito da sentença arbitral. Parte da doutrina, entretanto, entende que o exame do mérito
pelo Judiciário não pode ser vedado, sob a lógica de que se a sentença arbitral violar
claramente princípios constitucionais, por exemplo, fica clara a necessidade de que seja
controlada pelo juízo estatal. A doutrina majoritária, porém, entende que o mérito é
insindicável, sob pena de se tornar inútil a própria instituição da arbitragem.
O STF já se manifestou sobre a constitucionalidade da arbitragem como um todo,
entendendo que é constitucional, por ser instituto utilizado pelas partes em pleno exercício
4. Tutela jurisdicional
Tutela jurisdicional é expressão que conta com três significados: pode ser entendida
como sinônimo de procedimento, sendo definição pouco utilizada; pode ser tida por
sinônimo de decisão, sendo a prestação jurisdicional concedida a quem do Judiciário se
socorre; mas, majoritariamente, é definida como o resultado jurídico favorável a uma das
partes, ou seja, é a solução jurisdicional alcançada para o litígio, do ponto de vista do
vencedor.
Não é sinônimo de prestação jurisdicional: esta é a resposta do serviço público
provocado pelo demandante, ou seja, é a prestação de serviço feita pelo juízo. É o resultado
da prestação jurisdicional, favorável a uma das partes.
A tutela jurisdicional pode ser classificada em algumas espécies. Há diversas
classificações, mas apenas as mais importantes merecem comentários:
“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento.
§ 1o A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou
se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
(...)”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema III
Notas de Aula
1. Ação
Há diversos conceitos para se identificar a ação, mas aqui devemos nos ater ao
conceito mais importante, que identifica ação segundo sua natureza jurídica. Assim, ação é
o direito autônomo e abstrato de obter uma prestação jurisdicional.
Destarte, quando a parte precisa da jurisdição, o direito de buscá-la é o direito de
ação. É este direito que permite que a parte provoque a jurisdição, a fim de que esta lhe
forneça uma prestação jurisdicional (a qual não é sinônimo de tutela jurisdicional, como já
se viu).
Este conceito, como dito, é referente à natureza jurídica do direito de ação. Há
diversas teorias que buscam explicar a natureza jurídica deste direito. A primeira, teoria
imanentista, defende que é um direito imanente ao próprio direito material, sendo inerente a
este e dele não se desvinculando: é apenas o direito material exercido em juízo, sendo o
direito de ação apenas uma faculdade daquele que possui o direito material. O CC de 1916
adotava esta concepção, como se pode ver no teor do artigo 75:
Destarte, segundo este enfoque, quem não tem direito material não tem direito de
ação, pois um não se desvencilha do outro.
Esta teoria não mais se sustenta. Muitas vezes, mesmo quem não tem direito
material pode ter interesse no exercício do direito de ação, como nos casos da legitimidade
extraordinária, substituição processual: o legitimado extraordinário é aquele que pleiteia
em nome próprio direito alheio, situação que seria impossível se o enfoque da corrente
imanentista prevalecesse.
Por isso, o direito material não contém o direito de ação, sendo direito autônomo.
Sendo assim, não é direito imanente, e sim autônomo. Esta inversão conceitual se fez ver
quando se comparava a actio, do Direito Romano, ao direito de ação contemporâneo. Hoje,
então, o direito de ação é autônomo, sendo o direito de se provocar a jurisdição.
A autonomia do direito de ação significa que este não é vinculado ao direto
material. Todavia, surgiu uma questão: poderia haver o direito de ação se não existisse o
direito material?
A primeira teoria que procurou responder a esta indagação, a teoria concreta do
direito de ação, defendeu que o direito de ação, mesmo sendo autônomo, só pode existir se
houver direito material que o fundamente. Assim, para esta teoria concreta, o direito de
ação só existe se o direito material existir. Como conseqüência deste entendimento, se ao
final de uma demanda se alcançar uma decisão de improcedência, esta vai significar que o
direito de ação jamais existiu. Esta situação demonstra que esta teoria não pode subsistir: se
jamais houve direito de ação, jamais poderia ter sido provocada a jurisdição, e,
conseqüentemente, jamais poderia ter sido processado o feito que culminou na sentença de
improcedência – paradoxo insustentável, vez que se não há a sentença não há a certeza da
inexistência do direito de ação, como defende esta teoria.
Há ainda outro argumento da doutrina para rechaçar a teoria concreta da ação: a
existência das ações declaratórias negativas. Nestas ações, o que se pleiteia é justamente a
declaração de inexistência de uma relação jurídica, e se a sentença reconhece a inexistência
“Art. 28. Quando, a requerimento do réu, o juiz declarar extinto o processo sem
julgar o mérito (art. 267, § 2o), o autor não poderá intentar de novo a ação, sem
pagar ou depositar em cartório as despesas e os honorários, em que foi
condenado.”
Nos casos em que haja o abandono da causa pelo autor, causando a extinção sem
resolução do mérito, o ajuizamento de nova ação – ou seja, o exercício do regular direito de
agir – fica condicionado ao depósito das custas e honorários em que foi condenado. É
condição específica, pois só se impõe neste caso em especial.
Quem defende que não existem as ditas condições do regular exercício do direito de
ação, como Leonardo Greco, o faz ao argumento de que quando se reconhece a carência das
condições, o processo não alcança seu objetivo maior – a resolução do mérito de uma lide
–, e quando há a falta desta condição, basta supri-la para que o processo siga seu curso,
sendo então mero acidente processual. Data venia, é posição insustentável.
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de
pedir e o mesmo pedido.
(...)”
1.1.1. Partes
1.1.2. Pedido
Consiste nos fatos e fundamentos jurídicos de uma demanda, havendo duas teorias
que procuram explicar este elemento: a teoria da individuação e a da substanciação.
A individuação apregoa que a causa de pedir é limitada à narrativa da relação
jurídica entre as partes da demanda. Nosso processo adota a teoria da substanciação, a qual
diz que deve haver a exata indicação dos fatos e fundamentos jurídicos do pedido, e não
apenas a indicação da relação jurídica. No CPC, esta substanciação é depreendida do artigo
282, III, do CPC:
apenas se defender, formulando hipótese em que ele próprio, o réu, tem pretensão resistida
pelo autor. O instrumento pelo qual o réu assim procede é a reconvenção.
Há casos em que a reconvenção não é admitida, porque há outro instrumento para
que a parte formule uma pretensão em face do autor, ou porque a própria lei proíbe
expressamente esta ou qualquer outra forma de ataque do réu contra o autor. O outro
instrumento que a lei prevê, substituindo a função da reconvenção, é o pedido contraposto,
no rito sumário, nas ações possessórias ou no rito dos Juizados Especiais Cíveis: na própria
contestação se admite que haja o pedido do réu em face do autor. A reconvenção, por sua
vez, é ação autônoma, independente da ação original, como se depreende do artigo 317 do
CPC:
É o fenômeno pelo qual haverá duas ou mais ações dentro do mesmo processo.
Processo e ação não se confundem: processo é o procedimento aliado a uma relação
jurídica, e no mesmo processo pode haver diferentes ações, estas cumulando-se subjetiva
ou objetivamente.
O elemento diferenciador entre as ações é o critério que diferencia ações cumuladas
subjetiva ou objetivamente. Para cumularem-se, é imperativo que haja elementos comuns, e
por isso é que se tem que falar em elementos diferenciadores, pois do contrário não seria
cumulação, e sim identidade de ações, o que culminaria na extinção de uma delas.
A cumulação é objetiva quando o elemento que distingue as duas ações é objetivo.
São elementos objetivos de uma demanda a causa de pedir e o pedido. Assim, se há
diferente causa de pedir ou pedido, havendo identidade nas partes, a cumulação é objetiva.
Imagine-se que haja uma indenizatória proposta por um autor contra um réu por dois
fundamentos, ofensas escritas e agressões físicas: há duas causas de pedir, e por isso
poderia haver a propositura de duas ações, uma por cada fundamento. A doutrina opera esta
decomposição, lendo ali duas ações, mesmo que aparentemente haja apenas uma.
“Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos
os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Certo juiz elaborou parte do relatório de uma sentença nos seguintes termos:
“Caio ingressou em juízo com o presente processo contra Tício, visando à procedência da
ação para que o réu fosse condenado ao pagamento de indenização por danos morais".
A redação está correta sob o prisma processual? Por quê?
Resposta à Questão 3
Está incorreta. Não se ingressa com o processo: se ingressa com a ação judicial, da
qual o Estado é sujeito passivo – é ele quem vai entregar a prestação jurisdicional
correspondente à ação, sendo que o réu será aquele em face de quem será pretendido o
efeito da ação (e não contra); a ação é que formará um processo. E não se pretende
procedência da ação, mas sim dos pedidos. E mais: não se requer indenização por danos
morais, e sim compensação por estes danos (os danos morais não são passíveis de
desfazimento, pelo que a palavra indenizar – do latim in damni – é incorreta).
Questão 4
Um menor, representado por sua mãe, intentou contra indigitado pai uma ação de
investigação de paternidade, cumulada com alimentos. Solicitou que o julgador
monocrático, ao despachar a inicial, fixasse, desde logo, os alimentos provisórios, nos
termos da Lei nº 5.478/68.
1) Sendo você o juiz da causa, profira, de forma sintética, decisão sobre o pedido
liminar.
2) Tendo sido julgados procedentes ambos os pedidos, responda
fundamentadamente:
a) Qual a natureza jurídica das ações propostas?
b) A partir de que momento a sentença, transitada em julgado, produzirá seus
efeitos?
Resposta à Questão 4
b) Desde quando publicada, tendo efeitos ex tunc para a paternidade, posto que
declaratória, e ex nunc para a condenação aos alimentos (fosse ação de alimentos
autônomos, poderia requerer efeitos ex tunc para alcançar as três parcelas anteriores,
que assumirão caráter indenizatório).
Tema IV
Notas de Aula
“(...)
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
(...)”
quisessem. Este pedido é juridicamente impossível segundo o terceiro critério: não encontra
vedação expressa no ordenamento, mas encontra óbice na leitura sistemática do
ordenamento. Veja: o CP, no artigo 126, determina que o aborto realizado por médico,
mesmo com o consentimento da gestante, é crime, exceto nos casos previstos como
exceção, do artigo 128 do CP. Neste artigo 128, não está previsto o aborto do anencéfalo
como excepcional permissivo, e por isso se entende que o sistema como um todo veda o
pedido de determinação da realização de tal intervenção. Veja:
Se o STF, que debate hoje esta questão, decidir que a hipótese está dentre aquelas do
aborto necessário, o pedido que era impossível se tornará possível.
Existe ainda um debate sobre a possibilidade jurídica do pedido, que reside na sua
limitação apenas ao que se pede, ou se também tem influência a causa de pedir na
averiguação de possibilidade ou não. Um exemplo é interessante para aclarar a cena:
suponha-se uma dívida de jogo, obrigação natural, inexigível em juízo. Veja que, estando
adstrito ao pedido, somente, este não é impossível diante do ordenamento: nada impede que
se ajuíze uma ação cujo pedido seja “condenação ao pagamento de certa quantia”. O que
impossibilitará este pedido é a natureza da dívida, que, como dito, é inexigível
coercitivamente, mas a relação que ensejou a dívida está na causa de pedir, e não no pedido
em si. Por este motivo, doutrina e jurisprudência remansosas entendem que o pedido deve
ser limitado por sua causa de pedir, uma vez que não existe sem causa de pedir. Assim, o
pedido deve ser interpretado em função da sua causa de pedir, pois do contrário estariam
criadas situações de perplexidade, como esta do exemplo.
Destarte, se a causa de pedir é ilícita, o pedido é impossível, e se a causa for lícita,
ainda assim poderá haver pedido impossível (como no exemplo do pedido de cominação de
pena de tortura para compelir pagamento de dívida lícita).
Esta nomenclatura é dada pelo CPC, mas a doutrina, em geral, prefere o termo
interesse de agir. Consiste, o interesse, na demonstração de necessidade e utilidade daquele
provimento, ou seja, é necessário que se comprove que, sozinho, não possa o pretendente
resolver a sua situação. Destarte, estes são os dois principais elementos do interesse: a
necessidade e a utilidade do provimento jurisdicional. Esta determinação se encontra no
artigo 3°, além do próprio 267, VI, do CPC:
“(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
(...)”
O artigo 3°, já transcrito, determina que o interesse é elemento que deve ser notado
também na figura do réu, para contestar. A maioria da doutrina processualista, espelhada em
Liebman, entende que o direito de ação é um direito de mão dupla: há direito de ação tanto
em provocar o judiciário como o há em defender seus interesses em juízo. Para esta
doutrina, então, é certo que o réu também detenha direito de ação, e que deva demonstrar
correspondente interesse processual ao contestar. Esta idéia não é nada pacificada, porém.
Ovídio Batista a refuta, dizendo que somente o autor tem direto de ação, e não o réu.
Na prática, o que se dá é que a discussão parece um tanto inócua, porque quer
entenda-se que há, quer entenda-se que não há direito de ação, o interesse do réu fica
comprovado na mera apresentação de sua contestação.
1.3. Legitimidade das partes
julga improcedente a pretensão autoral perante aquela pessoa, que nada tem a ver com
aquele processo. Destarte, matam-se duas perplexidades: as condições são analisadas
abstratamente, mantendo a integridade da teoria eclética; e a sentença que é alcançada é
meritória, promovendo a boa prestação jurisdicional (pois o réu que nada tinha a ver com a
lide terá a coisa julgada material a seu favor).
Assim, a teoria da asserção é bem simples: autor é quem se diz titular da relação
material, e réu é quem o autor aponta como tal – estando preenchida a legitimidade de um
lado e de outro da ação.
Poder-se-ia, então, afirmar que, segundo a teoria da asserção, jamais haverá
ilegitimidade no processo. Veja: se para ficar configurada a legitimidade ativa ad causam
basta que o autor se afirme como titular, e para configurar a legitimidade passiva basta
presumir que o réu é aquele que o autor apontou, nunca haveria ilegitimidade. De fato, esta
seria a situação, realmente se confundindo com o mérito toda hipótese de ilegitimidade que
se suscitar. Mas Barbosa Moreira deixa claro que a ilegitimidade pode, sim, ocorrer, tanto
no pólo ativo quanto no passivo, de forma a extinguir o processo sem resolução do mérito:
a ilegitimidade fica reservada às situações teratológicas, em que é absurdamente clara a
indevida ocupação de um dos pólos. Vejamos exemplos: se um autor defende em juízo
direito que claramente pertence a outra pessoa, sem ser nas hipóteses autorizadas por lei 5, é
por demais óbvia a ilegitimidade ativa, não cabendo processar o feito. Da mesma forma, se
o autor aponta como réu pessoa que sequer pode estar em juízo, não há porque processar o
feito, sendo extinto por ilegitimidade passiva sem resolução do mérito.
O STJ, ao ser provocado sobre o assunto, foi instado a se manifestar sobre o artigo
295, II, do CPC, o qual diz:
Entenda: este artigo, a princípio, também deporia contra a teoria da asserção, pois se
presume-se autor aquele que se diz, e réu aquele quem é apontado pelo autor, jamais
haveria extinção do processo sem resolução do mérito por ilegitimidade, e muito menos,
então, indeferimento da inicial por este motivo. O STJ, então, saiu-se com a mesma
explicação da teratologia: se a autoria ou a indicação de quem seja réu for por demais
errada, ou seja, se quem se declara autor ou quem se reputa réu estiverem erroneamente
apontados de forma absolutamente crassa, será o caso de indeferimento da inicial, por
ilegitimidade, ou se em momento posterior, extinto o processo sem resolução do mérito.
5
Vale tecer breve explanação sobre a legitimidade ordinária e a extraordinária, também chamada
substituição processual: é legitimado ordinário aquele que busca direito próprio em nome próprio; e é
legitimado extraordinário aquele que busca direito alheio em nome próprio – o substituto processual. Esta
legitimidade extraordinária só pode ocorrer, segundo diz o artigo 6° do CPC, em casos autorizados
expressamente por lei.
Alexandre Freitas Câmara é o único autor que diferencia legitimidade extraordinária de substituição
processual: para ele, só há substituição processual se há a retirada de um legitimado ordinário da lide para dar
lugar ao substituto; se estiver presente o ordinário e o autorizado por lei, sem exclusão de um ou de outro, aí
se dá a legitimação extraordinária. É entendimento isolado, porém, sequer mencionado na jurisprudência.
“Art. 488. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos
essenciais do art. 282, devendo o autor:
(...)
II - depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título
de multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou
improcedente.
Assim, este depósito de cinco por cento é condição específica da ação rescisória,
sem o qual sequer se processa o feito.
Mais um exemplo é o da ação monitória, como dispõe o artigo 1.102-A do CPC:
“Art. 1.102.A - A ação monitória compete a quem pretender, com base em prova
escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega
de coisa fungível ou de determinado bem móvel.”
Para parte da doutrina, este documento sem força de título executivo é condição
específica da monitória.
Vale deixar claro que as condições específicas não afastam a necessidade de que
haja o preenchimento, também nestas ações, das condições genéricas.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Não assiste qualquer razão na preliminar argüida, porque o dano que está a merecer
compensação é próprio dos sucessores, ascendentes do falecido: é avilte a sua própria
personalidade, na medida em que o eventum damni agride a memória que se tem do
falecido, e esta é parte integrante da personalidade dos sucessores. A violação é direta aos
autores, portanto, e por isso sua legitimidade é clara.
Pela teoria da asserção, a legitimidade está clara, pois quem se afirma titular do
direito é legitimado, se não há nenhuma aberração nesta afirmação. Pela teoria clássica,
observando-se a relação material, igualmente há legitimidade, pois a pretensão
compensatória pelos danos reclamados é própria de quem os sofreu, havendo concordância
entre a relação material e a processual.
Vale dizer que, se o dano fosse surgido enquanto o ora falecido estava vivo, ainda
assim seria transmissível o direito de crédito surgido deste evento, e por isso os autores in
casu estariam legitimados da mesma forma, pois o direito é próprio, como diz o artigo 943
do CC:
Questão 2
Resposta à Questão 2
O MP teria a legitimidade extraordinária para agir pelo menor, mas sua legitimidade
extraordinária é subsidiária, e não concorrente, segundo interpreta o STJ: apenas na falta
ou omissão daquele que detém a guarda do menor poderá o MP agir pelo menor, como diz
o artigo 98, II, do ECA:
Assim, assiste razão ao pai do menor, e a preliminar deve ser acatada. Assim se
manifestou o STJ no REsp 127.725.
Poder-se-ia ainda sustentar que o MP não é legitimado na ação de alimentos porque
esta é uma atribuição da Defensoria Pública, e que deve ser respeitada onde esta estiver
instalada. Nas ações de família, o MP é custos legis, e não dominus litis, não podendo
exacerbar suas atribuições.
Questão 3
Resposta à Questão 3
O promitente vendedor não tem legitimidade para estar na ação, segundo a teoria
clássica: a responsabilidade é de quem está ocupando o imóvel, vez que decorrente da
posse direta do bem. Para a teoria clássica, então, não há legitimidade de quem não está
titularizando a relação material, a posse direta.
Para a teoria eclética, à luz da asserção, haveria sim a legitimidade, mas a sentença
seria improcedente, por ausência da relação jurídica material entre autor e réu.
A questão do registro ou não do contrato só diz respeito à publicidade, mas como no
caso o condomínio já estava ciente da sua existência, entre as partes, ao condomínio e ao
promitente comprador e o vendedor, já existe a publicidade e a oponibilidade.
O STJ, neste caso, decidiu valendo-se da teoria clássica, no REsp 657.506.
Tema V
Elementos de individualização das ações. Teoria da Tríplice Identidade e Teoria da Identidade da Relação
Jurídica.
Notas de Aula
“(...)
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de
pedir e o mesmo pedido.
(...)”
1.1. Partes
As partes, como já se viu, são aqueles que integram o processo, lato sensu – partes
do processo –, ou aqueles que, de um lado, pretendem o direito, e de outro resistem a esta
pretensão – autor e réu. A legitimidade para ser parte pode ser ordinária, quando o
indivíduo reclama em juízo direito próprio em nome próprio; ou extraordinária, também
chamada anômala, quando o sujeito vai a juízo em nome próprio pleiteando direito alheio.
A legitimidade extraordinária é classificada em três espécies, segundo a doutrina:
legitimidade extraordinária exclusiva; legitimidade extraordinária concorrente; e
legitimidade extraordinária subsidiária. Vejamos cada uma.
que garante o acesso à justiça – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito” –, esta legitimidade anômala exclusiva é inconstitucional. Isto
significa que a lei não pode prever tal legitimação, sob pena de configurar afastamento da
apreciação judicial de lesão ou ameaça a direito.
Sob a égide do Código Civil de 1916, havia uma figura, os bens dotais da mulher,
que eram administrados pelo marido, ou seja, somente este tinha legitimidade para reclamar
em juízo questões ligadas aos bens dotais que pertenciam à mulher. Assim, o direito
material era da mulher, mas a legitimidade para pleitear qualquer coisa a eles referente era
dada exclusivamente ao marido, que não era o detentor material do direito. Com o advento
da CRFB de 1988, o CC ainda vigeu por um certo período, e se entendeu que esta
legitimação extraordinária sobre o dote não foi recepcionada, exatamente pelo cotejo entre
esta norma e o artigo 5°, XXXV, da CRFB. Hoje, esta discussão não mais se apresenta,
porque não existe mais o dote no sistema cível.
Assim, a doutrina entende que sequer existe, hoje, exemplo de legitimação
extraordinária exclusiva, e, se houvesse, seria inconstitucional. Alexandre Câmara encontra
uma hipótese que crê ser exemplo de legitimação extraordinária exclusiva: a ação popular.
Segundo este autor, a ação popular é manejada em legitimidade extraordinária pelo
cidadão, porque, segundo ele, o direito difuso não pertence a uma pessoa específica, e,
assim sendo, o cidadão que vai a juízo pleiteá-lo não o faz em legitimidade ordinária – não
reclama direito próprio em nome próprio, mas sim direito alheio em seu nome. E, posto que
a legitimidade é extraordinária, e o legitimado ordinário não tem face, não poderia haver
ação intentada pelo detentor do direito: simplesmente, o detentor do direito, que seria a
gama indefinida de pessoas, não tem face, não podendo se apresentar para reclamar em
juízo. Se não há como o legitimado ordinário ajuizar o pleito, mas apenas o extraordinário –
o cidadão –, este seria um caso de legitimidade anômala exclusiva.
A doutrina amplamente majoritária, ao tratar da ação popular, entende que a
legitimidade é ordinária, pois o direito difuso pertence a todos, inclusive àquele que está em
juízo reclamando-o. O STJ já encampou o entendimento de Alexandre Câmara, em alguns
julgados de turmas, mas jamais declarou que seja exclusiva. Por isso, a posição de Câmara
deve ser tida por isolada.
Nesta hipótese, como o nome diz, tanto o substituto processual quanto o substituído
podem ir a juízo: tanto o titular do direito quanto o substituto processual podem estar em
juízo.
Esta classificação se desdobra em legitimidade extraordinária concorrente conjunta
e legitimidade extraordinária concorrente disjuntiva. Na conjunta, o legitimado
extraordinário poderá ir a juízo desde que esteja acompanhado do legitimado ordinário. É
hipótese extremamente pouco usual.
A legitimidade extraordinária concorrente disjuntiva, por seu turno, é mais comum,
sendo bastante presente no ordenamento, podendo ser descrita como a regra da legitimidade
extraordinária no Brasil. Este é o caso em que o legitimado extraordinário pode ir a juízo
tanto sozinho como acompanhado do ordinário. É bastante usual porque é a hipótese que
melhor prestigia o acesso à justiça, dando ensejo a um maior raio de alcance à legitimidade.
Veja que a legitimidade ordinária, nesta ação, incumbe à própria companhia, como
dita o caput. Todavia, se não há o ajuizamento por esta legitimada ordinária, em até três
meses desde a deliberação em que se cientificou da causação do prejuízo, surge a
legitimidade extraordinária subsidiária para qualquer acionista, que buscará o direito da SA
em nome próprio.
“Art. 6o Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando
autorizado por lei.”
“Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato
entre vivos, não altera a legitimidade das partes.
§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o
alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária.
§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo,
assistindo o alienante ou o cedente.
§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao
adquirente ou ao cessionário.”
Veja que na sucessão inter vivos, a coisa ou o direito alienado já é litigioso. Se há,
como exemplo, uma ação reivindicatória sobre um bem, e aquele que tem a posse aliena a
coisa objetivada nesta ação, ao adquirente passa a pertencer o direito sobre aquela coisa.
Sendo detentor do direito, o adquirente assume a posição do alienante na lide que já corria,
se esta assunção de posição for admitida pela parte contrária. Quando admitida a inserção
do sucessor, adquirente, a legitimidade que o autoriza a ali figurar é ordinária, porque o
direito material em disputa é por ele mesmo titularizado.
Pode ocorrer que a parte contrária não autorize a entrada do adquirente na lide, pois
esta anuência é direito potestativo seu. Se assim o for, o § 2° deste artigo dispõe que o
adquirente inserir-se-á, se quiser, como interveniente, assistente do alienante, que mantém-
se no pólo em que estava. Veja que esta assistência é qualificada, litisconsorcial, porque o
direito material em debate pertence ao interveniente.
O § 3° deste artigo 41 trata dos efeitos da sentença sobre aquele adquirente cuja
inserção como sucessor não foi admitida pela parte contrária, e tampouco se inseriu como
assistente litisconsorcial. Veja: mesmo que o adquirente não se torne parte do processo sob
nenhum título, a sentença ali proferida o alcançará, pela simples razão de que o alienante,
após a alienação, só se mantém no processo, neste caso, sob a qualidade de legitimado
extraordinário superveniente: o direito pelo qual está litigando não é mais seu, e sim do
adquirente. E, diga-se, sua legitimidade extraordinária superveniente é da modalidade
concorrente disjuntiva, porque o legitimado ordinário não está em juízo consigo.
Vale, então, traçar um resumo sobre o desenho das legitimidades ocorrentes na
sucessão processual:
- Se o adquirente ingressa como parte, por haver anuência da parte contrária, sua
legitimidade é ordinária superveniente, e passa a ocupar o pólo sozinho. O sucedido
deixa de ter legitimidade, desde então.
- Se o adquirente não recebe a anuência de ingresso pela outra parte, pode inserir-se
como assistente litisconsorcial, se o quiser, mas não como parte – não tem
legitimidade. O alienante, que permanece no pólo, passa a ser legitimado
supervenientemente extraordinário, na modalidade concorrente disjuntiva, vez que
agora seu pleito, em nome próprio, diz respeito a direito material alheio, do
adquirente, o qual não se apresenta na lide.
A sucessão mortis causa, por seu turno, está no artigo seguinte, 43 do CPC:
“Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo
seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 265.”
Nesta espécie, não há que se cogitar de anuência ou não da parte contrária, sendo
sucessão automática, porque aquele que originalmente ocupava o pólo da lide é falecido, e
assim haveria ausência de ocupante se porventura houvesse a possibilidade de que a outra
parte negasse a entrada do sucessor.
O procedimento da sucessão processual mortis causa inicia-se com a suspensão do
processo, como prescreve o artigo 265 do CPC, remetido pelo próprio artigo 43, dando
seqüência à habilitação do sucessor, procedimento de jurisdição voluntária previsto no
artigo 1.055 do CPC:
“Art. 1.055. A habilitação tem lugar quando, por falecimento de qualquer das
partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo.”
A causa de pedir é formada justamente pelo suporte de fatos que embasa o pedido. A
causa de pedir se divide em próxima e remota: a causa remota retrata a origem dos fatos, a
relação jurídica de direito material originária. Esta causa remota ou é uma relação originada
de um ato ilícito, ou uma relação contratualmente gerada. A causa próxima, por sua vez,
consiste nas conseqüências jurídicas da situação fática violadora ou ameaçadora do direito
oriundo da causa remota.
Mas veja que o dispositivo usa a terminologia “fundamentos jurídicos”. Isto não
significa que, ao narrar os fatos, o postulante precise estratificar em qual artigo de lei está
embasado o direito; a doutrina é quase unânime em dizer que fundamentos jurídicos não se
confundem com fundamento legal do pedido. O que é necessário é que se narre a origem do
direito, e a situação que consiste em uma violação (ou ameaça) àquele direito, sem ser
necessária a indicação específica na lei do dispositivo que se aplica.
Esta desnecessidade de fundamento legal se justifica pelo que é previsto no artigo
337 do CPC, que é a sede do princípio do jure novit curiae, ou seja, o juiz conhece o direito
– naha mihi factum, dabo tibi jus, “narra-me os fatos que te darei o direito”.
1.3. Pedido
Para que se configurem ações idênticas, é necessário que haja mesmas partes,
mesma causa de pedir e mesmo pedido, segundo a teoria da tríplice identidade. Veja que,
em relação às partes, perante a tríplice identidade, considera-se a legitimidade ordinária e a
extraordinária para fins de identificação: a tríplice identidade alcança tanto o legitimado
ordinário quanto o extraordinário, em eventual ação proposta posteriormente por um ou por
outro, quando não integrou a lide anterior.
A teoria da identidade da relação jurídica, que parece não ter sido adotada no CPC,
baseia-se exclusivamente no objeto do processo, nos elementos causal e objetivo da ação,
para identificar identidade nas ações. Se causa de pedir e pedido forem idênticos, há
litispendência ou coisa julgada.
A teoria da identidade, apesar de não encontrar sede expressa no CPC, é
fundamentada por aqueles que a defendem no artigo 471 deste código:
Em ações coletivas, qual das teorias terá melhor aplicação? O artigo 104 do CDC
apresenta a hipótese:
Marinoni diz que não há litispendência de ação coletiva por conta de ação
individual já ajuizada, nem pela tríplice identidade, nem pela identidade da relação jurídica,
porque há este dispositivo, artigo 104 do CDC, e porque o direito de um grupo não se
confunde com o direito de um indivíduo.
Um acórdão do TST, de Wantuil Abdala, (pois o processo trabalhista usa o CDC e o
CPC como fontes), ao contrário, adotou a seguinte interpretação deste artigo 104 do CDC:
o que este artigo faz, na verdade, é apresentar uma exceção à regra, pois se prevê que não
há litispendência da forma ali prevista, é porque, em regra, o há, seguindo a teoria da
identidade da relação jurídica.
Abdala Refuta a teoria de Marinoni, dizendo que o artigo 104 do CDC apresenta
uma exceção, e não a regra, e que, sendo assim, deve ser interpretado restritivamente,
fazendo a seguinte leitura: a regra é que haja a identidade da relação jurídica, e conseqüente
litispendência, à exceção dos incisos I e II do artigo 81, como mencionado neste artigo 104:
“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá
ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica
base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum.”
Assim, nesta leitura, somente nos direitos difusos e coletivos seria excepcionada a
regra da identidade, mas não nos direitos individuais homogêneos, os quais restariam sob a
égide da litispendência ou coisa julgada, de acordo com a teoria da identidade da relação
jurídica.
E entre ações coletivas, haveria litispendência e coisa julgada?
O legitimado da ação coletiva tem legitimidade extraordinária. Adotando a tríplice
identidade ou a identidade da relação jurídica, então, o resultado será o mesmo, pois como
se disse, para a identidade das partes, a teoria da tríplice identidade é bastante flexível, e há
açambarcamento do legitimado ordinário pelo extraordinário. De um ou de outro modo, há
a litispendência ou a coisa julgada, nas ações coletivas cotejadas entre si.
Outra questão relevante é a existência ou não de litispendência ou coisa julgada de
ação que corre no Brasil em relação a ação que corre em tribunal do estrangeiro. O artigo
90 do CPC é relevante neste tema:
“Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência,
nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das
que lhe são conexas.”
A regra, clara, é que não há litispendência entre tais ações. Mas veja que este artigo
90, porém, não diz respeito ao seu antecedente, artigo 89 do CPC:
Nestas causas do artigo 89, não se admite sentença de qualquer juízo ou tribunal
alienígena, porque seria violação da soberania nacional.
Destarte, nas causas em que for possível a concorrência de jurisdição brasileira e
jurisdição estrangeira, a regra é a do artigo 90: não há litispendência ou coisa julgada.
Todavia, segundo a doutrina, há que se fazer uma ressalva além daquela feita em
relação ao artigo 89: o artigo 90 do CPC deve ser lido em combinação com o artigo 394 do
Código de Bustamante, a Convenção de Havana, da qual o Brasil é signatário, homologada
aqui pelo Decreto 18.871/29. Veja:
Casos Concretos
Questão 1
Narra o autor que, ao lado de seu imóvel, havia uma gleba de terra (cerca de 40
ha) através da qual se podia atingir uma estrada, tendo em vista que essa gleba tinha
servidão de passagem pelas terras lindeiras, por ser encravada. Adquiriu, então, essa
porção de terra e, com isso, passou a ter a servidão até a estrada, utilizando-se da
passagem regularmente durante 3 anos, nos quais, com o auxílio do poder público
municipal, até realizou benfeitorias na estrada. Entretanto, com o advento de sua
separação judicial, essa gleba passou a integrar a meação da demandada. Separadas as
terras novamente, o autor arrendou aquela gleba por um ano, durante o qual fez uso
regular da passagem, mas findo o termo do arrendamento, Nelcy fechou a passagem entre
as terras com cercas de arame, perdendo o demandante o acesso à estrada por aquela via.
O juiz julgou procedente o pedido e concedeu a proteção possessória, entendendo,
entretanto, tratar-se de servidão de trânsito por destinação do proprietário ao invés de
passagem forçada.
Pergunta-se:
A sentença violou os artigos 128 e 264 do C.P.C. ? Justifique.
Resposta à Questão 1
Questão 2
sustentou que havia sido realizado acordo entre as partes, abarcando também o
ressarcimento desses prejuízos.
Autos conclusos, decida.
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Claro que não. A coisa julgada pacificou a paternidade, mas não a verba alimentar
(que, diga-se, sequer sofre a coisa julgada, em hipótese alguma). São questões
absolutamente dissociadas, sem qualquer vínculo de imutabilidade. Absurda a alegação de
coisa julgada, aqui.
Tema VI
Processo: conceito, natureza jurídica, objeto. Relação jurídica processual Pressupostos processuais: de
existência e de validade.
Notas de Aula
1. Processo
Dependendo do foco, este tópico pode ser definido como novas tendências do
processo civil, novas realidades ou acesso à justiça. Qualquer que seja a nomenclatura,
vejamos quais são estas tendências.
Vinculantes
Súmulas Persuasivas
Impeditivas
“Art. 457. Está sujeito ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença que:
(...)
§ 3.° Também não se aplica o dispositivo neste artigo quando a sentença estiver
fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula
deste Tribunal ou do tribunal superior competente.”
“(...)
§ 1.º- A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o
relator poderá dar provimento ao recurso.
(...)”
Atente-se a uma decisão do STJ, cujo o relator foi Ministro Luiz Fux, que
entendeu ser possível aplicação desse § 1º-A sem oportunizar ao recorrido o
Veja, então, que se percebe que não há uma imposição à adoção da súmula
persuasiva, mas há uma possibilidade de adoção dessa súmula como fundamento, em vários
casos.
As súmulas impeditivas, por fim, são aquelas que podem ser utilizadas para evitar a
remessa de um recurso de apelação ao órgão jurisdicional de segundo grau, desde que a
sentença proferida esteja em conformidade com súmula ou jurisprudência de Tribunal
Superior, conforme dispõe o artigo 518, § 1º, do CPC. Veja:
“(...)
§1.º O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em
conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo
Tribunal Federal.
(...)”
Note-se que essa súmula impeditiva não obriga ao juiz decidir de acordo com a
súmula. Na verdade, diz que se o juiz decidir de acordo com a súmula, estará jungido a não
dar seguimento ao recurso de apelação interposto.
Sabe-se que para surtir eficácia erga omnes e ter efeitos vinculantes, faz-se
indispensável a aplicação do artigo 52, X da CRFB, ou seja, a edição da resolução do
Senado Federal:
“(...)
X. Suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional
por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal.
(...)”
Princípio da Instrumentalidade
Aproveitamento
Princípio da Fungibilidade
A teoria do aproveitamento significa que a decretação de uma invalidade processual
deve sempre ser vista como a ultima ratio (último recurso a ser utilizado pelo órgão
jurisdicional). Sempre que possível, o órgão jurisdicional deve tentar corrigir o vício ou
adequar o ato praticado. Essa teoria vai de encontro aos princípios da celeridade e
efetividade da tutela jurisdicional.
O artigo 13 do CPC traz um exemplo:
6
Apesar de estar pendente de julgamento, já há quatro votos neste sentido.
Surge uma questão: é possível decretar a revelia do réu que oferece contestação
tempestiva? De acordo com o artigo 13, II do CPC, a resposta é sim.
Outros exemplos da teoria do aproveitamento:
“Art. 284 - Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos
exigidos nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de
dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a
complete, no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único - Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição
inicial.”
7
Recurso Ordinário em mandado de segurança n.º 22.264; informativo 352 do STJ.
“Art. 616 - Verificando o juiz que a petição inicial está incompleta, ou não se acha
acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura da execução,
determinará que o credor a corrija, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de ser
indeferida.”
2.3.1. Instrumentalidade
“(...)
LXXIV. O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
(...)”
A segunda fase foi a proteção aos interesses metaindividuais. Essa fase teve
repercussão no Brasil com a emissão da Lei de Ação Popular. Os direitos metaindividuais
se dividem em:
“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá
ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica
base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum.”
“Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com
idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do
parágrafo único do art. 81;
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Estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados.
A terceira fase é a fase instrumental do processo9: o processo passa a ser visto não
como fim, mas sim como um verdadeiro instrumento na mão do Estado para consecução da
prestação jurisdicional. O processo não é um fim em si mesmo. Nessa fase instrumental,
pode verificar a sumarização formal do procedimento, o hibridismo ou sincretismo
processual, e as vias alternativas à jurisdição do Estado. Vejamos estas vertentes:
2.3.2. Fungibilidade
“Art. 798 - Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula
no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que
julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do
julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.”
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Informativo 356 do STJ; artigos 154, 244, 249 e 250, todos do CPC.
“Art. 920 - A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a
que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela,
cujos requisitos estejam provados.”
- Instituição Jurídica: O processo tal como os entes estatais é criado nos Estados
democráticos de direito para ser utilizado como forma de efetivação de direitos
materiais, ou para reconhecê-los, inclusive, contra o próprio Estado.
4. Objeto
Jurisdição
Objeto Litígio
Processo
- Condições da ação;
- Mérito: É formado pelo objeto do litígio (causa de pedir e pedido) e pela causa
excipiendi, matéria de defesa trazida pelo réu.
Veja que a natureza jurídica dos pressupostos e das condições da ação é a mesma,
qual seja, requisitos de admissibilidade. Ressalta-se, entretanto, que existe uma diferença
entre esses dois requisitos. O legislador não indicou quais são os pressupostos processuais,
limitando-se a dizer que existem pressupostos, ao contrário das condições da ação, que o
legislador indicou expressamente:
“Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
(...)
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
(...)
VI - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade
jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;
(...)”
5. Elementos do Processo
5.1. Intrínsecos
- Linear: É a relação entre as partes, autor e réu. Há autores que defendem que a
relação jurídica processual é linear, mas e tese já superada. Pode-se afirmar que
existe também uma relação jurídica linear, mas não se pode afirmar que só existe
ela.
“Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-
se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
(...)”
“Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz
litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em
mora o devedor e interrompe a prescrição.”
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“Art. 504. Dos despachos não cabe recurso.”
“Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério
Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da
medida cautelar.
(...)
§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de instrumento.”
- Neutro: É aquele que determina a emenda da petição inicial (vista como uma
forma da teoria do aproveitamento dos atos). Esse ato judicial não é mero despacho,
mas sim uma decisão interlocutória.
Existe uma discussão que diz que a existência da citação não é para validar o
processo, mas sim que venha a existir a relação jurídica processual. O que é indispensável
no processo não é o ato formal, mas sim a efetiva cientificação. O STJ entende que o
comparecimento espontâneo só supre a falta de citação se houver a oportunidade processual
para o oferecimento da defesa.
5.2. Extrínsecos
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Informativo 355, julgamento pendente.
A segunda regra que se verifica de maneira geral nos pressupostos processuais é que
eles acarretam a extinção do processo, mas existem exceções. A primeira exceção é a
parcialidade do magistrado; a segunda exceção é o juízo derivado de incompetência. Neste
caso, como regra, ocorre a remessa dos autos ao juiz competente, mas no Juizado Especial
tem-se a extinção do processo, como dispõe o artigo 51, III, da Lei 9.099/95:
Moacir Amaral Santos faz uma distinção entre pressupostos subjetivo e objetivo. O
primeiro é composto da análise do juiz e das partes; já o segundo subdivide-se em
intrínseco e extrínseco. Assim, pressupostos subjetivos são o juiz e as partes. São
pressupostos objetivos intrínsecos: a regularidade formal; a demanda; a citação; e o
procedimento. E são pressupostos objetivos extrínsecos os pressupostos negativos, quais
sejam, a coisa julgada, a perempção, a litispendência, a convenção de arbitragem, e a
inexistência de caução.
Há que se ter cuidado: a caucio pro expensis é uma exigência legal de prestação de
caução para propositura de uma demanda. São exemplos desta caucio:
“Art. 835. O autor, nacional ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou dele se
ausentar na pendência da demanda, prestará, nas ações que intentar, caução
suficiente às custas e honorários de advogado da parte contrária, se não tiver no
Brasil bens imóveis que lhes assegurem o pagamento.”
“Art. 1.166. Cumpre aos herdeiros, imitidos na posse dos bens do ausente, prestar
caução de os restituir.”
de ser mero expectador do litígio, podendo determinar que as partes produzam provas, ou
ele mesmo exercer de ofício atividade probatória.
Casos Concretos
Questão 1
Mirtes ajuizou ação reinvindicatória cumulada com perdas e danos para recuperar
um imóvel em face de Emanuel, alegando que o mesmo ocupa o imóvel há vários anos
(desde 1990) sem efetuar pagamento de qualquer quantia pelo seu uso.
O juiz verificando a falta de outorga marital exigida pelo art. 10, caput, do CPC,
conferiu prazo de 15 dias para que a autora providenciasse o consentimento de seu
cônjuge. Porém Mirtes permaneceu inerte, considerando ser prescindível a outorga, tendo
em vista que, quando adquiriu o referido imóvel, exercia o estado de solteira, e que o
mesmo só a ela pertencia, e que, além do mais, o casamento ocorreu nos Estados Unidos
da América, mais precisamente no Estado de Massachusets, embora o imóvel situe-se no
Brasil.
Autos conclusos, decida.
Resposta à Questão 1
“Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
(...)
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;”
“Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art.
1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a
anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento
público, ou particular, autenticado.”
“Art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados sem outorga, sem
consentimento, ou sem suprimento do juiz, só poderá ser demandada pelo cônjuge
a quem cabia concedê-la, ou por seus herdeiros.”
Questão 2
Flavio interpõe apelação contra sentença que lhe foi desfavorável. Nas contra-
razões ao recurso de apelação, Márcio, apelado, sustenta que a apelação não poderia ter
sido recebida. Alega que o recurso havia sido interposto com base em substabelecimento
outorgado por advogado que, posteriormente à propositura do recurso, teria renunciado
aos poderes outorgados pelo apelante, consignando expressamente que tal renúncia se
fazia também em relação à apelação. Em síntese, o substabelecimento outorgado ao
advogado subscritor da apelação havia perdido a validade com a renúncia por parte do
advogado substabelecente.
Resposta à Questão 2
Tema VII
Notas de Aula
“Art. 37. Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar
em juízo. Poderá, todavia, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar
decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para praticar atos
reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigará, independentemente de
caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias,
prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz.
Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos por inexistentes,
respondendo o advogado por despesas e perdas e danos.”
Então, o ato processual praticado, não ratificado, será tido como inexistente, ou seja,
o ato processual praticado por aquele que não ostenta capacidade postulatória será
considerado inexistente. A respeito, o STJ editou a súmula 115:
“Súmula 115, STJ: Na instância especial é inexistente recurso interposto por
advogado sem procuração nos autos”
Como crítica, vale dizer que não existe ratificação de ato inexistente. O pressuposto
lógico da ratificação de um ato é que este exista juridicamente. Então, vem a tese
majoritária, entendendo que não se trata de inexistência, mas sim de invalidade,
fundamentando, também, no artigo 4° do Estatuto da Advocacia e a da Ordem dos
Advogados do Brasil, Lei 8.906/94:
“Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não
inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.”
Existe outra doutrina que entende que o ato praticado sem capacidade postulatória é
reputado ineficaz, utilizando como fundamento a analogia do artigo 662 do CC:
“Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes
suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo
se este os ratificar.”
2. Capacidade postulatória
“Lei 9.099/95, Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes
comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor
superior, a assistência é obrigatória.”
“Lei 10.259/01, Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes
para a causa, advogado ou não”.
Essa capacidade de ser parte tem ligação direta com a chamada capacidade de
direito, lembrando que a capacidade é aptidão genérica, não se confundindo com a
legitimidade que é uma aptidão específica. Percebe-se que capacidade de ser parte toda
pessoa viva tem, bastando ter capacidade de direito. Agora, em relação à legitimidade, é
preciso analisar.
O nondum conceptus ostenta a capacidade de ser parte. Nondum conceptus é o
chamado concepturo, e não o nascituro – é aquele que sequer foi concebido. Está previsto
no artigo 1.799, I do CC:
4. Capacidade processual
12
Informativo 356 - STJ
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
13
Informativo 311 e 354 do STJ .
O juiz deve aplicar o artigo 13 do CPC, permitindo que a parte corrija o erro. Assim,
inicialmente, cria oportunidade para a parte adequar esse ato. Caso a providência não seja
realizada, só então deverá extinguir o feito.
Tema VIII
Notas de Aula
1. Competência
“Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser
alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção.
§ 1o Não sendo, porém, deduzida no prazo da contestação, ou na primeira
oportunidade em que lhe couber falar nos autos, a parte responderá integralmente
pelas custas.
§ 2o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos,
remetendo-se os autos ao juiz competente.”
Parece, então, para este autor, que segundo o CPC a competência assume a natureza
de pressuposto de resolução do mérito, e não de validade, pois se só os atos decisórios
estarão inquinados de invalidade, é porque a capacidade de decidir, apenas, ficou
prejudicada.
A outra visão, de Cândido Dinamarco, Ada Pellegrini e Antônio Carlos Araújo, no
livro de tripla autoria Teoria Geral do Processo, estabelece que a incompetência de justiça –
processo que corre na Justiça Estadual e deveria correr na Federal, por exemplo – é um
pressuposto de existência do processo, e não de validade. Isto porque a competência de
justiça é prevista na CRFB, e se não é constitucionalmente competente, o processo sequer
existiria quando procedido em juízo assim incompetente – e a CRFB não faz a ressalva que
o CPC faz, acerca dos atos decisórios serem os únicos nulificados.
Existe uma crítica, de Nelson Nery, dentre outros, a estas expressões pois, segundo
a maior doutrina, não se trata de competência interna ou internacional, e sim de jurisdição
interna ou internacional: há processos que são da jurisdição nacional, e processos que são
da jurisdição de outros paises. Mas como o CPC, de forma imprecisa, fala em competência,
esta é a epígrafe que se mantém.
O CPC apresenta alguns casos sobre o tema, mas não esgota a matéria. Assim o faz
nos artigos 88 a 90:
“Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência,
nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das
que lhe são conexas.”
“Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna
os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a
execução no lugar em que ,foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal15.
Parágrafo único. Não dependem de homologação as sentenças meramente
declaratórias do estado das pessoas.”
“Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações
de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a
ordem pública e os bons costumes.”
15
Leia-se STJ.
Suponha-se uma ação de despejo iniciada por pessoa física contra Estado
estrangeiro: esta será processada e julgada na primeira instância da Justiça Federal. Qual é
o recurso cabível da sentença, e é endereçado a qual tribunal? É um caso excepcional de
recurso ordinário, e não apelação da sentença, como dispõe o artigo 105 da CRFB e o 539
do CPC:
(...)
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
(...)
b) as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
Parágrafo único. Nas causas referidas no inciso II, alínea b, caberá agravo das
decisões interlocutórias.”
Mas repare que o Estado estrangeiro só pode ser processado no Brasil quando o ato
questionado o nivele a particular, seja ato de gestão, ou seja, desde que não seja um ato de
império, privativo de Estado. É o que se denomina imunidade de jurisdição. Há que se
abordar, pelo ensejo, a chamada imunidade de execução, que incide após o trânsito em
julgado contra o Estado estrangeiro processado: o Estado estrangeiro só poderá ser
executado se renunciar a esta imunidade, e se tiver bens no Brasil desvinculados da
atividade de Estado.
Uma vez estabelecida a jurisdição nacional, há três etapas a serem cumpridas para
se fixar a competência: a competência de justiça, a competência de foro (base territorial) e a
competência de juízo.
Para tanto, é necessário saber o que é justiça comum e o que é justiça especial. Na
CRFB, há cinco “justiças”, quais sejam: a Estadual, a Federal, a Trabalhista, a Militar e a
Eleitoral.
Há certa dificuldade em se apontar quais destas são comuns e quais são especiais.
Há quem diga que é comum apenas a Justiça Estadual, mas há quem defenda que é comum
também a Federal, por conta de um critério bastante lógico: são justiças especiais apenas
aquelas que têm tribunais superiores próprios. Sendo assim, a Justiça Estadual e a Federal
respondem ao STJ e STF, enquanto as demais têm tribunais superiores especiais,
respectivamente TST, STM e TSE.
Há ainda quem afirme que a Justiça Trabalhista é comum, porque esta estaria
inclusa na esfera federal.
O primeiro critério para fixar competência é a determinação da competência de
justiça. Estabelecido qual seja, passa-se ao critério da base territorial, critério de foro. Na
Justiça Estadual, a base territorial é a comarca. Os limites da comarca, em regra, coincidem
ao dos Municípios, mas pode haver comarca com limites diversos. Na Justiça Federal, a
base territorial é denominada seção judiciária, e equivale à área do Estado em que se
instala, segundo o artigo 110 da CRFB:
“Art. 110. Cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma seção
judiciária que terá por sede a respectiva Capital, e varas localizadas segundo o
estabelecido em lei.
Parágrafo único. Nos Territórios Federais, a jurisdição e as atribuições cometidas
aos juízes federais caberão aos juízes da justiça local, na forma da lei.”
Segundo o artigo 106 do CPC, estará prevento o que primeiro emitir o despacho liminar de
conteúdo positivo – o “cite-se”. Veja:
“Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma
competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro
lugar.”
Se, ao contrário, a conexão for entre processos que correm em bases territoriais
diferentes, na mesma justiça – um em uma comarca do Estado, outro em outra comarca do
mesmo Estado – será prevento aquele que primeiro alcançar a citação válida, conforme diz
o artigo 219, caput, do CPC:
“Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz
litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em
mora o devedor e interrompe a prescrição.
(...)”
Assim, a base territorial é o critério para identificar o ato que torna prevento: se for
a mesma comarca, basta o “cite-se”; se for comarca diversa, é necessária a citação efetiva.
A mesma questão, na Justiça Federal, soluciona-se da mesma forma, mas deve-se
atentar para a diferença na extensão da base territorial: como a seção judiciária corresponde
ao Estado, varas federais em diferentes Municípios serão consideradas na mesma base
territorial, e portanto será suficiente, para determinar prevenção, o “cite-se”. Se estiverem,
as varas, em Estados diferentes, seções judiciárias diversas, aí sim será necessária a citação
válida para induzir prevenção.
Estabelecida a justiça e a base territorial, passa-se à definição da competência de
juízo. Os critérios desta fixação são diversos. Há aqueles que são extraídos da própria
relação material, são os critérios materiais: podem ser referentes à parte envolvida –
critério ratione personae –; à matéria tratada – critério ratione materiae –; referentes ao
lugar do fato – ratione loci –; ou ao valor da pretensão – ratione valorem. São todos
critérios materiais.
Mas há critérios que são extraídos da própria relação processual: são os critérios
funcionais, que se referem à competência funcional, a qual pode ser vertical ou horizontal.
Um exemplo serve para ilustrar esta competência: no controle difuso de
constitucionalidade, se é suscitada em apelação, perante uma Turma ou Câmara de um
tribunal qualquer, a inconstitucionalidade de um enunciado normativo, o órgão remete ao
pleno (ou Órgão Especial, onde houver) aquela questão, em razão da reserva de plenário
(artigo 97 da CRFB), suspendendo o julgamento do recurso. Após o julgamento da
inconstitucionalidade pelo pleno, a questão retorna ao colegiado, e o processo que estava
suspenso continua. A isto se chama de cisão horizontal da competência, e é baseada em
critério de competência funcional, processual.
Outro exemplo de competência processual, critério funcional, é a expedição de carta
precatória: o juízo deprecado só tem competência por recebê-la horizontalmente do
deprecante.
“Súmula 33, STJ: A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.”
16
A cisão vertical de competência também pode ocorrer, quando o processo de competência de um órgão tem
certo aspecto cingido e entregue à competência do órgão superior: é o caso da ADPF incidental, quando, se o
PGR entender procedente a representação feita a si pelo autor ou réu de um processo, ajuizar a ADPF indireta
perante o STF: há uma cisão vertical de competência, que consiste na substituição da competência de um
órgão inferior pela de um superior hierarquicamente – o STF julga a ADPF incidente, enquanto o processo na
via originaria fica suspenso, no aguardo de tal decisão.
Mas veja que este declínio não é, a rigor, uma declaração de incompetência relativa
de ofício. O juiz não está desprezando a opção de foro feita pela parte. Isto porque, na
verdade, o que se dá é a nulificação da cláusula de foro de eleição, e, destarte, se entende
que jamais houve tal escolha de foro – a vontade, nesta cláusula do contrato de adesão, não
foi efetivamente manifestada, e portanto não foi desprezada. Para além disso, a
jurisprudência entende que há, de fato, um interesse público por trás da proteção ao
consumidor, e por isso seria, esta incompetência, absoluta – que é pronunciável de ofício.
Quem suporta esta tese, dentre outros, é Athos Gusmão Carneiro.
É claro que quando o consumidor preferir, será seguido o foro de eleição: ele é o
protegido pela norma. Mesmo por isso, há quem sustente que a declaração de nulidade de
ofício da cláusula de eleição é inconstitucional, pois retira do consumidor a possibilidade de
optar.
A Lei 11.280/06, alterando o artigo 112, parágrafo único, e o artigo 114 do CPC,
positivou esta questão, fazendo constar que:
Veja que, então, hoje, sequer é necessário que seja lide consumerista: basta a
existência do contrato de adesão para assim poder se conduzir o magistrado, sendo relação
de consumo ou não. Um exemplo de contrato de adesão não-consumerista seria o de
representação comercial, em regra elaborado pelo representado, e aderido pelo
representante.
Mas atente-se: se ninguém perceber a incompetência, nestes casos, ela vai se
prorrogar, na forma do artigo 114; ocorre que, como se explanou, esta incompetência seria
tida por absoluta, vez que o interesse em que se funda é público; como poderia ser
prorrogada competência absoluta?
A jurisprudência tem tratado como incompetência absoluta, ao menos nas lides
consumeristas, mas a literalidade do CPC, nestes dispositivos, faz concluir que se trata, de
fato, de uma incompetência relativa declarável de ofício. Na prática, a conseqüência é que
se se tratar de incompetência absoluta, pode ser declarada de ofício e a qualquer tempo; se
for relativa, preclui, e se prorroga.
Casos Concretos
Questão 1
O demandante alegou ter domicílio em São Pedro da Aldeia, ser competente o juízo
desse foro, e que não pode lei estadual, disciplinando matéria de organização judiciária,
criar um foro especial para Fazenda Estadual, ou determinar a competência de foro
diversamente do que consta da lei processual.
Como você decidiria a exceção? Fundamente.
Resposta à Questão 1
O STJ enfrentou o tema no REsp 160.987. Ali, entendeu que há direito da Fazenda
em ser julgada por juízo especializado, mas somente quando ele é instalado na comarca de
sua abrangência. Como ali não há, será processado em São Pedro da Aldeia, normalmente.
Como observação pertinente, na Justiça Estadual, em regra, as varas cíveis do
interior são especializadas em assuntos específicos, inclusive fazendários.
Questão 2
Resposta à Questão 2
b) Sim, o artigo 120, parágrafo único, do CPC é o permissivo legal para esta
decisão monocrática. E desta decisão o magistrado não pode recorrer, pois juizes
não têm capacidade postulatória, para este ou para qualquer recurso.
Tema IX
Notas de Aula
“(...)
§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária
em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que
deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito
Federal.
(...)”
O artigo 3°, § 3°, da Lei 10.259/01, dos Juizados Especiais Federais, estabelece que
a competência é absoluta – não há opção, mas não é por isso que se configura a natureza
absoluta, apenas. Veja:
Para Marinoni, inclusive, sequer deveria ser possível a escolha entre os Juizados
Especiais ou a vara comum, como o há, porque a competência, neste caso, seria absoluta,
por ser de órgão, de juízo. No entanto, mesmo sendo de juízo, é opcional – pelo que seria
absoluta opcional.
Este raciocínio, se seguido, esvaziaria a exceção de incompetência relativa, pois só
se prestaria para uma hipótese: na inobservância do foro de eleição, pois o réu ainda
poderia questionar a validade e exigibilidade da eleição.
2. Foro regional
melhor tramitação dos feitos, desafogando o fórum central para melhor condução, até
mesmo física, dos processos.
O foro regional, na verdade, é pare integrante da comarca central, sendo apenas
divisão física das instalações dos juízos da mesma comarca. Assim, a competência é de
juízo, e não de foro: a base territorial é a mesma. O respeito ao fórum regional se deve por
normas de regimento, e por isso se impõe.
A jurisprudência do TJ/RJ, neste assunto, é bem confusa, mormente quando se trata
de varas especializadas, como as empresariais. Consigne-se, porém, que a regra é a
predominância da vara regional, havendo julgados que, na especialidade, fazem prevalecer
os juízos especializados.
3. Modificação da competência
Outro caso ocorre quando a União intervém, como assistente simples, em processo
que tem curso na Justiça Estadual: a súmula 150 do STJ deixa claro que o juiz estadual
deve declinar para a livre distribuição na Justiça Federal, pois até mesmo decidir se há ou
não interesse em intervir é competência da Justiça Federal:
“Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés,
autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas
federais.
Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja
decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir,
independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões
de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao
3.1. Continência
A continência deve ser lembrada como uma “litispendência parcial”, porque, a rigor,
há duas ações idênticas, mas o objeto de uma abrange o da outra. O artigo 104 do CPC a
apresenta:
“Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade
quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo,
abrange o das outras.’
Um exemplo bem simplório é o de duas ações, com mesmo autor e réu, em que em
uma há pedido de compensação por dano moral por um evento, e em outro há pedido de
reparação material e compensação moral pelo mesmo evento. Este segundo, de pedido mais
amplo, engloba o primeiro, sendo operada a continência.
Em um caso em que a continência seja percebida, os processos devem ser reunidos,
e para isso devem ser adotados os mesmos critérios dos artigos 106 ou 219 do CPC: se os
processos correm em mesma base territorial, há prevenção do juízo que primeiro exarou o
“cite-se”; se a base territorial é diversa, o primeiro juízo que alcançou a citação válida será
prevento, e ali se reunirão os processos.
A sentença de processos continentes pode ser dupla – uma em cada processo – ou
uma, decidindo ambos em um, e transladando sentença ao outro. Há juizes que, entendendo
que há litispendência parcial, extinguem o contido, com base no artigo 267, V, do CPC, e
julgam o mérito do continente.
3.2. Conexão
“Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o
objeto ou a causa de pedir.”
“Súmula 235, STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles
já foi julgado.”
Quando o conflito for suscitado por magistrado, a sua rejeição pode ensejar recurso?
Pode o juiz recorrer? Este recurso, ou qualquer outro, é inadmissível: magistrado não
possui capacidade postulatória.
4. Distribuição dirigida
A Lei 11.280/06 trouxe grandes alterações no CPC. Uma delas foi a modificação do
inciso II e a criação do inciso III no artigo 253. Veja:
Assim, nota-se que há uma espécie de prevenção especial pelo artigo 253 do CPC,
que permite a distribuição direcionada pelo autor, distribuição por dependência, nas
hipóteses ali tratadas. A regra é a livre distribuição, mas ali há exceções.
No caso do inciso I, se há conexão, já pode ser direcionado o processo para a vara
em que corre o conexo anteriormente ajuizado. O juízo distribuidor remeterá o processo
para o juízo do conexo, mas é este juízo quem decidirá se é ou não, realmente, caso de
conexão. Se entender que não é, remeterá para a livre distribuição, e isto pode até mesmo
gerar conflito de competência no juízo que for sorteado, pois pode este entender que há, de
fato, a conexão.
O inciso II foi alterado com o escopo de evitar a burla ao juiz natural. Veja um
exemplo: o processo foi distribuído a um determinado juízo, e logo em seguida o autor
adita a inicial para incluir outros litisconsortes. Esta situação se trata de um litisconsórcio
ativo facultativo ulterior, o que não se pode admitir 17. Na redação anterior do inciso II, isto
era, contudo, possível, pois muitos eram os casos em que o autor, sabendo-se prevento,
desistia da ação e ajuizava nova, idêntica, constando agora todos os litisconsortes – o que se
admitia, por serem ab initio, e não supervenientes, agora. Hoje, o inciso II estabelece a
seguinte conduta: se houve desistência do processo, por exemplo, e o mesmo autor ajuíza
nova ação, fazendo constar pólo litisconsorte ativo, somente para ele, autor da ação
desistida, haverá prevenção, sendo os demais destinados à livre distribuição – literalmente,
sendo feita cópia da inicial para os demais, e levada a sorteio.
O inciso III fala também que há prevenção quando há identidade de ações. Quando
se trata de ações idênticas, vigem as teorias da tríplice identidade e da identidade da
relação jurídica material, que se aplicam tanto à litispendência quanto à coisa julgada. Há
ainda quem acresça o requisito da identidade de procedimento para entender presente a
litispendência ou a coisa julgada: por isso, há casos em que mandados de segurança,
denegados, não fazem coisa julgada para o processo ordinário, para quem assim entende –
podendo acarretar até mesmo a formação de coisas julgadas contraditórias.
E se há duas coisas soberanamente julgadas contraditórias, qual vai prevalecer, a
primeira ou a mais recente? A imensa maioria da doutrina – por todos, Alexandre Câmara e
Fredie Didier – entende que é a última quem prevalecerá. Câmara fornece bom argumento:
se a coisa julgada é lei entre as partes, pelo critério cronológico prevalece a mais nova. A
corrente contrária, minoritária, defende que a segunda coisa julgada é inconstitucional por
ofender a coisa julgada, prevalecendo a primeira, então. Nesta corrente, Cândido
Dinamarco.
Casos Concretos
Questão 1
17
Há corrente, e julgados, que entendem cabível este litisconsórcio, por não ser ofensa ao juízo natural, vez
que todos são juizes naturais, desde que investidos, não suspeitos e não impedidos. E há ainda aqueles que
entendem ser apenas burla a regras de distribuição.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Andréia propôs em face do grupo Setor, ação ordinária que foi distribuída para a
25ª Vara Cível da Capital, onde postula indenização por perdas e danos decorrente do
desabamento do Edifício onde morava. Existe, entretanto, nos autos, cópia de sentença em
que o juízo da 4ª Vara Cível da Capital decidiu anteriormente idêntica matéria em outra
ação, oportunidade em que um vizinho seu era autor em face de uma construtora,
componente do grupo Setor, com base no mesmo evento. Em face disso, o juízo da 25ª Vara
Cível, declinou de sua competência para o juízo da 4ª Vara Cível, entendendo existir entre
as causas, identidade de causa de pedir, de pedidos e das partes rés, o que caracteriza a
conexão.
Explique se agiu corretamente o juiz, indicando os fundamentos e os dispositivos
legais aplicáveis.
Resposta à Questão 2
“Súmula 235, STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles
já foi julgado.”
Questão 3
Resposta à Questão 3
Cabe ressaltar que, para quem entende que a existência de opções não é
critério para determinar se uma competência é relativa ou absoluta, não seria atual o
teor desta súmula. É a questão da existência ou não de competência absoluta
opcional.
Tema X
Notas de Aula
1. Processo e procedimento
Assim, havendo uma sentença que condena a uma obrigação de fazer, de não fazer
ou de entregar coisa, seu cumprimento segue a previsão do artigo 461 do CPC. A sentença
destes casos, então, deixou de ser executada autonomamente para ser cumprida desde logo,
nos mesmos autos em que se deu a cognição.
A Lei 11.232/05, por muitos apontada como o ápice do sincretismo, na verdade
apenas ampliou este sincretismo para abranger sentenças que sejam referentes a obrigações
de pagar.
A Lei 10.444/02 trouxe também sincretismo processual entre processo de
conhecimento e processo cautelar. O artigo 273, § 7°, do CPC, é o fundamento desta
assertiva:
18
É com base nesta dispensabilidade do processo cautelar autônomo que corre, hoje, projeto de lei no
Congresso para extirpar o processo cautelar autônomo do ordenamento, projeto que tem grandes chances de
ser aprovado – a exemplo do rito dos Juizados Especiais, em que não há processo cautelar autônomo.
“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
do adimplemento.
§ 1o A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou
se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
§ 2o A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287).
§ 3o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de
ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada
ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada.
§ 4o O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou
compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do
preceito.
§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.
§ 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso
verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.”
“Art. 632. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o devedor será
citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe assinar, se outro não estiver
determinado no título executivo.”
Há ainda que se atentar para uma outra particularidade: além da natureza do título –
judicial ou extrajudicial –, e da natureza da obrigação – de fazer de não fazer, de dar ou de
pagar –, é importante verificar quem são as pessoas do processo: se a executada for a
Fazenda Pública, condenada a obrigação de pagar, por exemplo, esta execução seguirá o
rito do artigo 730 do CPC:
“Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a
devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo
legal, observar-se-ão as seguintes regras:
I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal
competente;
II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do
respectivo crédito.”
Se a Fazenda for a credora, o rito será o da Lei de Execuções Fiscais, Lei 6.830/80.
Há ainda que se verificar se o crédito exeqüendo é de natureza alimentar: se o for, o
rito é diferenciado; igualmente, a execução levada nos Juizados Especiais, que é
diferenciada.
O processo cautelar, por sua vez, tem procedimento típico e procedimento atípico,
sendo típicos, ou nominados, aqueles que se encontram no CPC, como o arresto, a
produção antecipada de provas, etc. Se não há previsão, se trata da cautelar inominada,
procedimento cautelar atípico, autorizado pelo poder geral de cautela do juízo.
Este é tido por princípio do processo. Historicamente, esta garantia surgiu como
uma defesa contra arbitrariedades do Estado, sendo destinada a proteger o regular exercício
da coerção jurisdicional sobre os indivíduos. Do devido processo legal decorrem o
contraditório e a ampla defesa, assim como o juiz natural, e todos os demais princípios de
processo.
O devido processo legal deve ser analisado sob duas óticas, a material e a
processual. Sob aspecto material, substancial, percebe-se que o processo, na sua função
jurisdicional, não poderá inferir efeitos sobre o direito material se não houver isenção de
falhas na atividade jurisdicional. Veja: a interferência do processo no campo material só é
“Art 32. Não acudindo o devedor à purgação do débito, o agente fiduciário estará
de pleno direito autorizado a publicar editais e a efetuar no decurso dos 15 (quinze)
dias imediatos, o primeiro público leilão do imóvel hipotecado.
§ 1º Se, no primeiro público leilão, o maior lance obtido fôr inferior ao saldo
devedor no momento, acrescido das despesas constantes do artigo 33, mais as do
anúncio e contratação da praça, será realizado o segundo público leilão, nos 15
(quinze) dias seguintes, no qual será aceito o maior lance apurado, ainda que
inferior à soma das aludidas quantias.
§ 2º Se o maior lance do segundo público leilão fôr inferior àquela soma, serão
pagas inicialmente as despesas componentes da mesma soma, e a diferença
entregue ao credor, que poderá cobrar do devedor, por via executiva, o valor
remanescente de seu crédito, sem nenhum direito de retenção ou indenização sôbre
o imóvel alienado.
§ 3º Se o lance de alienação do imóvel, em qualquer dos dois públicos leilões, fôr
superior ao total das importâncias referidas no caput dêste artigo, a diferença afinal
apurada será entregue ao devedor.
§ 4º A morte do devedor pessoa física, ou a falência, concordata ou dissolução do
devedor pessoa jurídica, não impede a aplicação dêste artigo.”
Este diploma foi editado na época da ditadura, e por isso tem esta nota não muito
democrática em suas previsões. Havendo inadimplemento, nas questões fiduciárias de
imóveis, há a possibilidade de por o bem em leilão, pelo próprio credor, sem que haja
prévio processo judicial.
Inclusive, esta situação propugna alegações de não-recepção deste dispositivo, mas
a controvérsia não conta com lado majoritário, havendo quem entenda-o recepcionado, pois
mesmo sendo uma mitigação ao devido processo legal, se entende que a Caixa Econômica
Federal, agente fiduciário ali descrito, tem que ter esta prerrogativa a fim de promover a
transparência e segurança do mercado, como forma de resguardar a possibilidade de
continuar o financiamento imobiliário para a grande maioria dos que dele dependem, contra
a inadimplência de uns poucos.
O STF tem precedentes entendendo que esta mitigação ao devido processo legal é
possível, devido à preponderância do interesse geral na continuidade do financiamento
imobiliário, que seria prejudicado caso a retomada do bem do inadimplente fosse muito
morosa e dificultosa.
19
Exemplo claro de violação legal a este princípio se encontra no artigo 3º, § 5º, do Decreto-Lei 911/69. Este
artigo foi recentemente revogado.
Aqui cabe traçar breve digressão acerca da eficácia horizontal dos direitos
fundamentais. Este conceito nada mais é do que o transporte das garantias e direitos
fundamentais referentes às relações entre o particular e o Poder Público para as relações
entre particulares. Neste diapasão, já é presente na jurisprudência variada gama de decisões
que refletem a adoção desta eficácia, e, dentre elas, há algumas que entendem que o devido
processo legal também se aplica, na medida do possível e com as devidas adaptações, às
relações entre iguais, particulares.
A litigância de má-fé pode ser constatada de ofício ou por provocação das partes.
Reconhecida, o juiz aplicará uma multa, a qual será revertida para a parte contrária, no
patamar estabelecido no artigo 18 do CPC:
I - frauda a execução;
II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos;
III - resiste injustificadamente às ordens judiciais;
IV - intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se encontram
os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores.”
Esta multa imposta pela ocorrência do ato atentatório também reverte para a parte
contrária, no patamar estabelecido no artigo seguinte, 601 do CPC:
“Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa
fixada pelo juiz, em montante não superior a 20% (vinte por cento) do valor
atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de natureza
processual ou material, multa essa que reverterá em proveito do credor, exigível na
própria execução.
Parágrafo único. O juiz relevará a pena, se o devedor se comprometer a não mais
praticar qualquer dos atos definidos no artigo antecedente e der fiador idôneo, que
responda ao credor pela dívida principal, juros, despesas e honorários
advocatícios.”
Note-se que é possível cumular a multa pelo ato atentatório à dignidade da justiça
com a multa pela litigância de má-fé, se há base para tanto, se os fatos forem duplamente
identificados, como má-fé e atentado.
Há ainda uma terceira forma de punir a deslealdade processual, esta bastante
interessante: o contempt of court, “desprezo pela corte”, “desrespeito à autoridade da
corte”. Encontra-se no artigo 14, parágrafo único, do CPC:
“Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma
participam do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - proceder com lealdade e boa-fé;
III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de
fundamento;
IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração
ou defesa do direito.
V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à
efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.
Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos
estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato
atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções
criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a
ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento
do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em
julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa
da União ou do Estado.”
Esta penalidade, que pode ser imposta de ofício, pode alcançar virtualmente
qualquer sujeito do processo que incida na causa que enseja tal multa. Como exemplo,
pode-se punir as partes, os peritos, e até mesmo os serventuários da justiça. Há quem
defenda que até mesmo os juizes podem ser alvejados por esta multa, se verificada conduta
que embarace a efetivação de provimentos jurisdicionais, aviltando a jurisdição como um
todo (caso em que será noticiada por quem seja prejudicado, e imposta pela instância
superior).
Esta sanção, por sua natureza, é a única que reverte para a Fazenda Pública, para o
Estado, na Justiça Estadual, ou à União, se o processo corre na Justiça Federal. Por isso
que, não sendo paga a multa do contempt, será inscrita na dívida ativa.
O parágrafo único faz uma ressalva quanto ao advogado: este é imune ao contempt,
pois sujeita-se ao Estatuto da OAB para guiar sua conduta processual. Veja que, mesmo
sendo exceção, a jurisprudência amplia a isenção do advogado quanto ao inciso V para
todas as demais ocorrências, dos demais incisos. Inclusive, estende-se esta imunidade para
todos os procuradores públicos, igualmente: esta imunidade dos advogados, ampla, é
ampliada para todos aqueles que têm capacidade postulatória – procuradorias, MP e DP
inclusive.
O valor máximo desta multa é de vinte por cento do valor da causa, como expresso
no dispositivo.
Esta multa é muito pouco usual, porque os julgadores simplesmente se esquecem de
sua habilidade para conferir maior regularidade – e maior celeridade – ao processo. A
grande crítica a este instrumento, porém, é justamente a carência de um devido processo
legal para sua aplicação: não há qualquer previsão ritual para a cominação desta multa, não
havendo meios, ao menos expressos, que prevejam seu processamento de forma a
possibilitar defesa e contraditório pelo imputado.
1.2.3. Oralidade
Este princípio do procedimento diz respeito aos atos processuais que podem ser
praticados oralmente, mas existe a assertiva de que a oralidade nunca foi plena, em
verdade, porque quase todos os atos processuais orais são reduzidos a termo e tornados
escritos. Mas há um exemplo em que a oralidade é plena: a colheita da testemunha nos
Juizados Especiais, segundo o artigo 36 da Lei 9.099/95, não demanda redução a termo:
“Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no
essencial, os informes trazidos nos depoimentos.”
Como adendo, é interessante notar que existe um caso de prova tarifada no CPC, e é
justamente para a prova exclusivamente testemunhal: o artigo 401 do CPC estabelece que
esta prova, sem o auxílio de nenhuma outra, só é admissível quando a discussão de um
contrato não superar dez salários-mínimos:
1.2.4. Publicidade
A preclusão principiológica é esta, pois tem íntima ligação com a coisa julgada. Mas
há outra preclusão, que é a literal perda da faculdade de praticar um ato, e se divide em três
espécies: a lógica, a consumativa e a temporal.
A preclusão principiológica é a perda da possibilidade de se discutir uma decisão
judicial, porque passada a oportunidade processual para tanto. Um exemplo seria uma
decisão interlocutória que indefere a produção de uma prova: se a parte não agrava desta
decisão, a possibilidade de impugnar tal indeferimento preclui, não podendo ser argüido o
erro de julgamento desta decisão em momento posterior. E evitar a preclusão de matéria
decidida é justamente o préstimo do recurso de agravo retido.
Haveria preclusão pro judicato, preclusão para o juiz? Decidida alguma coisa, pode
o juiz voltar atrás?
Esta questão é controvertida. Em regra, qualquer decisão emitida em cognição
sumária é essencialmente revogável, pela sua própria natureza eminentemente provisória.
Bom exemplo é a tutela antecipada, na forma do artigo 273, § 4°, do CPC:
“(...)
§ 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em
decisão fundamentada.
(...)”
O juiz também pode conhecer a qualquer tempo de matéria de ordem pública, pelo
que para estas jamais haveria tempo para a prática de ato que prestigie esta ordem pública.
Como exemplo, os artigos 267, § 3°, e 301, § 4° do CPC:
“Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
(...)
§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto
não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl;
todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar
nos autos, responderá pelas custas de retardamento.
(...)”
Estas exceções são defendidas por Alexandre Câmara. O problema é que, dada esta
liberdade de alteração dos atos pelo juiz, há uma certa banalização daquilo que se entende
por ordem pública. Por isso, Leonardo Greco apresenta uma outra leitura. Tomemos por
exemplo a análise das condições da ação: quando o juiz a realiza, o faz em tese, ou à luz de
provas produzidas, dependendo do caso. Se a análise puder ser feita em tese, e verificada a
carência, o que se dá é uma sentença extintiva sem resolução do mérito; se demanda
incursão em provas, a sentença será resolutiva do mérito, pela improcedência. Assim sendo,
para Leonardo Greco, a decisão que, de início, no saneamento, reconhece a regularidade
das condições da ação, é exarada em cognição exauriente, não podendo o juiz dela voltar
atrás. Qualquer outra constatação ulterior de carência de ação, se ocorrida, não enseja a
revogação da decisão, porque esta foi emitida em cognição exauriente (sendo irrelevante
ser matéria de ordem pública), mas sim uma nova decisão, esta de improcedência do
pedido.
A preclusão temporal, esta sim, inexiste para o juiz: os prazos para o juiz são
impróprios, impreclusivos por natureza.
Casos Concretos
Questão 1
Linhas Aéreas Brasileira ajuizou cautelar inominada, distribuída 20ª Vara Cível da
Capital. O juiz proferiu despacho determinando a citação do demandado e postergou a
liminar para depois de sua contestação. Após um mês, a demandante ajuizou idêntica
ação, em face do mesmo demandado, distribuída ao juízo da Comarca de Paraupebas/PA,
onde obteve a liminar pleiteada. A demandante, então, ingressa nos autos da 1ª ação
ajuizada, antes de nela ocorrer a citação, com pedido de desistência, provavelmente em
decorrência da obtenção da liminar no 2º processo.
Pergunta-se:
1) É possível o pedido de desistência?
2) Se o juiz entender que a demandante não agiu de forma processualmente
correta, o que poderá fazer e com que fundamento?
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
garantia do devido processo legal, a boa-fé processual foi violada pelo juiz que entendeu
cabível o recurso sem razões, sendo a parte prejudicada credora da prestação jurisdicional
correta, ou seja, deve ser reaberta a possibilidade de que a parte interponha recurso com as
devidas razões.
Tema XI
Formação do Processo. Sujeitos do Processo. Juiz. Partes. Sucessão Processual. Substituição Processual.
Tratamento Especial ao Idoso.
Notas de Aula
1. Sujeitos do processo
1.1. Juiz
O juiz tem uma posição peculiar no processo. Sua função jurisdicional é aplicar o
direito ao caso concreto, contando para isso com os poderes jurisdicionais. Além destes
poderes, o magistrado conta também com poderes administrativos para traçar o curso do
processo, a exemplo do poder de polícia processual, contido no artigo 445 do CPC:
1.2. Partes
Outra forma de adentrar no processo é pela sucessão processual. Esta será abordada
em tópico próprio, a seguir.
“Art. 1.055. A habilitação tem lugar quando, por falecimento de qualquer das
partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo.”
Já a sucessão inter vivos se dá quando o direito material em debate for cedido pelo
autor a um terceiro: este cessionário deverá pedir sua incursão no processo, e a parte
contrária deverá anuir expressamente, como dispõe o artigo 42, § 1°, do CPC:
“Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato
entre vivos, não altera a legitimidade das partes.
§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o
alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária.
§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo,
assistindo o alienante ou o cedente.
§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao
adquirente ou ao cessionário.”
Esta anuência se faz imperiosa por já ter havido a estabilização subjetiva da lide,
fenômeno que se dá quando há a citação do demandado, na forma do artigo 264 do CPC, e,
em atenção à perpetuatio legitimationis, o pólo só se altera quando todos os envolvidos –
juiz e parte contrária – assim anuírem:
Veja que aquele que não for aceito como sucessor processual poderá incursar no
processo como assistente qualificado, litisconsorcial, se o juiz o admitir – neste caso, o
assistente se torna parte da demanda, parte principal. Esta previsão está no artigo 54 do
CPC:
“Art. 54. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a
sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.
Parágrafo único. Aplica-se ao assistente litisconsorcial, quanto ao pedido de
intervenção, sua impugnação e julgamento do incidente, o disposto no art. 51.”
- O artigo 80, que determina o foro do domicílio do idoso para as suas ações:
“Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do
idoso, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as
competências da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais
Superiores.”
- O artigo 69, que prevê que o rito para o processo que envolva idoso é o sumário,
independente do valor (é critério ratione personae):
Questão 1
Resposta à Questão 1
Sim. Parte na demanda são aqueles envolvidos na lide material, ou seja, autor e réu.
Parte no processo é qualquer um que tome parte na relação processual, mesmo não sendo
autor ou réu. Além das partes da demanda, que são também partes do processo, há os
intervenientes e os participantes do processo, como o MP atuando como custos legis e o
assistente simples. A relevância desta distinção é que somente as partes da demanda são
atingidas pela coisa julgada.
“Art. 22. O réu que, por não argüir na sua resposta fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor, dilatar o julgamento da lide, será condenado nas
custas a partir do saneamento do processo e perderá, ainda que vencedor na causa,
o direito a haver do vencido honorários advocatícios.”
“(...)
§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto
não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e VI;
todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar
nos autos, responderá pelas custas de retardamento.
(...)”
Questão 2
Resposta à Questão 2
E) Não, de forma alguma, pois acaba sendo igualmente privilegiado, pois seu
processo terá curso mais célere.
Questão 3
Fábio ajuizou, em face de Glória, ação cautelar com pedido de liminar, a qual foi
deferida pelo juiz.
Glória agravou tal decisão e sustentou ausência de fundamentação.
O Tribunal negou provimento ao agravo sob o fundamento de que o juízo a quo,
embora não tivesse fundamentado a decisão interlocutória concessiva da medida liminar,
em juízo de retratação, ao manter a decisão agravada, em despacho encaminhado com as
informações, complementou e demonstrou os fundamentos do decisum atacado.
Agiu corretamente o Tribunal? Justifique.
Resposta à Questão 3
Tema XII
Notas de Aula
1. Suspensão do processo
Humberto Theodoro Júnior trata a suspensão como a crise do processo, assim como
já dizia Carnellutti. Quando qualquer ato ou evento obsta a marcha processual, o que se dá
é a chamada crise de instância.
No processo penal, há a crise de instância na hipótese prevista no artigo 366 do
CPP:
“Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo
o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for
o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
§ 1o As provas antecipadas serão produzidas na presença do Ministério público e
do defensor dativo.
§ 2o Comparecendo o acusado, ter-se-á por citado pessoalmente, prosseguindo o
processo em seus ulteriores atos.”
No processo civil, as crises de instância ocorrem nos casos do artigo 265 do CPC,
que precisa ser transcrito na íntegra, pois será pontualmente analisado:
O inciso I deste artigo dispõe que é causa para a suspensão a morte ou perda da
capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu
procurador. Apesar de ser explícito o teor deste artigo, a sua interpretação deve ser
extensiva: quando fala em partes, se referiu, o legislador, às partes do processo, e não
apenas às partes da demanda. Destarte, todo aquele que participa do processo, se ocorrida
uma das circunstâncias ali mencionadas, poderá acarretar a suspensão do processo.
Quando a parte for pessoa jurídica, sua “morte” também suspenderá o processo:
extinta a pessoa jurídica, suspende-se o processo.
O § 1° deste artigo apresenta uma situação um tanto peculiar: na morte de uma das
partes ou do representante legal desta, se já houver sido iniciada a audiência de instrução e
julgamento, esta não será rompida, ou seja, o processo não se suspende enquanto não
terminar a audiência. Na literalidade, apesar de aparentar assim o ser, não significa que,
havendo falecimento no curso da AIJ, esta não será interrompida. Veja: o que o dispositivo
quer dizer é que a AIJ é una e indivisível, não podendo ser suspenso o processo enquanto
esta não findar: será dada uma pausa na AIJ, e, se após a solução dos problemas decorrentes
da morte de um dos participantes, puder ser finalizada, será; se não houver condições para o
desenrolar da audiência, será feita a remarcação de data para a finalização do ato, mas
constitui, aquela remarcação, no prolongamento da mesma audiência, de onde foi
interrompida.
As alíneas “a” e “b” do § 1° estabelecem normas procedimentais para o curso da
audiência, que serão respeitadas, mesmo havendo remarcação. A suspensão será
comandada, segundo a alínea “b”, após a publicação da sentença.
No caso de morte do advogado, o § 2° estabelece que será concedido prazo de vinte
dias para a nomeação de outro. Se expirar o prazo sem novo procurador ter sido nomeado,
se for pela parte autora, o processo se extingue sem resolução do mérito, nos moldes do
artigo 267, inciso IV, por falta de pressuposto processual de validade, qual seja, capacidade
processual da parte.
Se o advogado falecido for da parte ré, e esta não nomear novo patrono em vinte
dias, o processo correrá à revelia do réu, mas não significa que serão instalados todos os
efeitos da revelia: somente o efeito processual da revelia será ocorrido, qual seja, o curso do
processo sem intimações do réu, mas não o efeito material, que é a presunção de veracidade
dos fatos alegados pelo autor (se já houve contestação).
a mesma situação de suspensão por convenção das partes, deste inciso II do artigo 265 do
CPC; trata-se, na verdade, de acordo posto à homologação, motivo diverso da convenção de
mera vontade prevista no inciso II. Assim sendo, não se sujeita ao prazo máximo de seis
meses, havendo a suspensão pelo tempo que for necessário até que se cumpra o acordo.
Desta feita, o processo fica no arquivo provisório, aguardando o término do acordo, e não
vai à baixa20.
Existe uma hipótese em que esta convenção das partes não é um direito subjetivo,
como até agora demonstrado, caso em que a suspensão será deferida ou não pelo juiz: é
caso em que as partes querem conseguir com o processo algo que a lei veda, denominada
colusão. É o conluio das partes, com o fito de alcançar resultado ilícito pela via processual.
Vale um exemplo: os cônjuges, querendo divorciar-se, para conseguir o divórcio direto
forjam provas de que estejam separados de fato há mais de dois anos. Para isso, apresentam
testemunhas mentirosas, que atestam a separação de fato por prazo muito superior ao que
realmente correu. Sendo caso em que a convenção das partes, requerendo a suspensão, se
demonstre ao juiz como colusão, este poderá indeferir a suspensão.
Além disso, há casos em que as convenções são impossíveis, como o caso do artigo
182 do CPC:
“Art. 182. É defeso às partes, ainda que todas estejam de acordo, reduzir ou
prorrogar os prazos peremptórios. O juiz poderá, nas comarcas onde for difícil o
transporte, prorrogar quaisquer prazos, mas nunca por mais de 60 (sessenta) dias.
Parágrafo único. Em caso de calamidade pública, poderá ser excedido o limite
previsto neste artigo para a prorrogação de prazos.”
O inciso III do artigo 265 trata da suspensão por exceções opostas em juízo.
Qualquer que seja a exceção, será suspenso o processo. Aqui surge uma questão: este artigo
265, III, está em conflito com o artigo 306 do CPC, que diz que:
“Art. 306. Recebida a exceção, o processo ficará suspenso (art. 265, III), até que
seja definitivamente julgada.”
Destarte, há duas normas sobre o mesmo evento, com previsões diferentes: o artigo
265, III, está disposto que é no oferecimento da exceção, ou seja, quando esta for oposta,
que se dá a suspensão; o artigo 306, por seu turno, fala que a suspensão se dá no
recebimento da exceção. Qual norma prevalecerá?
Se há conflito aparente de normas, sabe-se que se resolve este pelos critérios da
especialidade, hierarquia ou consunção; de outro lado, se o conflito for real, a situação se
resolve pelo diálogo das fontes: este diálogo consiste na verificação sistêmica do
ordenamento, de forma a promover preponderância de uma das normas contrapostas. E,
diga-se, este conflito ora abordado é real.
20
Não indo à baixa, significa que o processo ainda será exibido na certidão da distribuição, pelo que a coisa
ainda é litigiosa, como o determinou a citação – resguardando a segurança jurídica em relação a terceiros que
possam porventura se integrar em relações jurídicas materiais envolvendo a coisa em litígio. Se for julgado o
processo pelo artigo 269, III, será dada baixa na distribuição, e terceiros ficarão vulneráveis à quebra do
acordo, mantendo a coisa litigiosa sem a devida publicidade.
A solução deste conflito é de grande importância prática, pois pode acarretar a perda
de prazo para contestar: se a suspensão é da oposição, nada há a periclitar; se a suspensão é
do recebimento, pode haver a expiração do prazo de contestação até que haja o efetivo
recebimento. Por isso, a doutrina entende que deve ser aplicado o artigo 265, III, e não o
306, ou seja, que se entenda suspenso o processo desde o oferecimento, desde a oposição da
exceção. Fredie Didier aduz que a suspensão pode ser feita no momento do recebimento,
mas com efeito retroativo à data da oposição da exceção – resguardando assim a validade
da letra do artigo 306 do CPC.
A verdade é que os artigos 304, 305 e 306 do CPC, que formam a seção dedicada às
exceções, são deveras imprecisos. Além da mencionada questão da suspensão, feita pela
data da oposição e não na do recebimento, como diz o artigo 306, vale apontar aqui as
demais imprecisões:
“Art. 304. É lícito a qualquer das partes argüir, por meio de exceção, a
incompetência (art. 112), o impedimento (art. 134) ou a suspeição (art. 135).”
Neste artigo, não se faz qualquer ressalva, mas apenas o réu pode argüir
incompetência, e não qualquer das partes.
“Art. 305. Este direito pode ser exercido em qualquer tempo, ou grau de
jurisdição, cabendo à parte oferecer exceção, no prazo de 15 (quinze) dias, contado
do fato que ocasionou a incompetência, o impedimento ou a suspeição.
Parágrafo único. Na exceção de incompetência (art. 112 desta Lei), a petição pode
ser protocolizada no juízo de domicílio do réu, com requerimento de sua imediata
remessa ao juízo que determinou a citação.”
Neste artigo, o prazo de quinze dias corre da ciência da parte daquele fato que
causou o motivo da exceção, e não da ocorrência do fato em si. E mais: o prazo para a
exceção de impedimento não é de quinze dias, podendo este ser argüido a qualquer tempo,
até mesmo em sede de ação rescisória.
VII - conexão;
VIII - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
IX - convenção de arbitragem;
X - carência de ação;
XI - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar.
(...)”
As questões prejudiciais, por sua vez, não têm esta capacidade de impedir ou
retardar o julgamento do mérito, mas influenciam diretamente no resultado do julgamento:
é necessária sua solução para que a resolução do mérito seja correta.
A questão prejudicial pode ser interna ou externa ao processo: se for solucionada no
próprio processo, será prejudicial interna; se vier de um outro processo, ou seja, se for ser
resolvida alhures, a prejudicial é externa.
Nas três alíneas do inciso IV do artigo 265 do CPC, se apresentam hipóteses de
dependência da solução de outras questões para o julgamento do processo. Vejamo-las:
- Na alínea “b”, suspende-se o processo quando a sentença de mérito não puder ser
proferida senão depois de verificado determinado fato, ou de produzida certa prova,
requisitada a outro juízo. Assim, é prejudicial interna que depende do cumprimento
de carta precatória, rogatória ou de ordem.
O inciso VI do artigo 265 abre a oportunidade para que haja suspensão por força de
outros casos alheios a este artigo, previstos no próprio CPC ou em outros diplomas
extravagantes. Alguns exemplos de previsões de suspensão no CPC vêm nos seguintes
artigos:
“Art. 64. Em ambos os casos, o réu requererá a nomeação no prazo para a defesa;
o juiz, ao deferir o pedido, suspenderá o processo e mandará ouvir o autor no prazo
de 5 (cinco) dias.”
“Art. 79. O juiz suspenderá o processo, mandando observar, quanto à citação e aos
prazos, o disposto nos arts. 72 e 74.”
“Lei 6.830/80, Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for
localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e,
nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.
(...)”
“Lei 9.868/99, Art. 21. O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria
absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação
declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e
os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da
lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.
Parágrafo único. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará
publicar em seção especial do Diário Oficial da União a parte dispositiva da
decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação
no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia.”
2. Extinção do processo
§ 1o O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e III, o arquivamento dos autos,
declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a
falta em 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2o No caso do parágrafo anterior, quanto ao n o II, as partes pagarão
proporcionalmente as custas e, quanto ao no III, o autor será condenado ao
pagamento das despesas e honorários de advogado (art. 28).
§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto
não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e VI;
todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar
nos autos, responderá pelas custas de retardamento.
§ 4o Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o
consentimento do réu, desistir da ação.”
Os incisos II e III são casos em que a desídia processual das partes dá ensejo à
extinção sem resolução do mérito.
Se o autor não promove o andamento do processo, mas esta inércia se demonstra
uma “desistência maquiada”, quando a desistência não for mais possível – após a citação do
réu, portanto, quando é necessário o consentimento deste. Se o autor, sabendo da
impossibilidade da desistência, quedar-se inerte esperando a extinção com fulcro no artigo
267, II ou III, esta não será lícita: o autor estará se valendo de artifício indevido para obter
resultado processual vantajoso21. Para resolver esta questão, o STJ emitiu a súmula 240:
“Súmula 240, STJ: A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor,
depende de requerimento do réu.”
Acolhida uma destas alegações, o processo é extinto sem resolução do mérito, com
fulcro no artigo 267, V, do CPC.
Rememorando, perempção é a extinção do processo por três vezes na hipótese do
inciso IV deste artigo. É previsto seu conceito no parágrafo único do artigo 268 do CPC:
“Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que
o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem
a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.
Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo
fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação
contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a
possibilidade de alegar em defesa o seu direito.”
Veja que, havendo a perempção, a matéria não mais poderá ser objeto de ação, mas
o direito material correspondente pode ser alegado como matéria de defesa. Por exemplo,
em uma ação de cobrança julgada perempta, não mais poderá o autor cobrar judicialmente
seu crédito; mas se seu devedor ajuizar contra ele uma ação de cobrança de que seja credor,
o que teve a ação extinta por perempção poderá alegar tal direito em defesa, como matéria
de compensação.
O artigo 268 do CPC também faz depreender a coisa julgada formal e material, e
estabelece uma condição específica da ação subseqüente, qual seja, o depósito dos valores
referentes às custas e honorários advocatícios.
21
Este caso é bem comum quando o autor sabe que vai perder, e terá que arcar com sucumbência ao final.
O inciso VIII do artigo 267 é bem claro: desistindo da ação o autor, quando
possível, o processo se extingue sem incurso no mérito.
O inciso IX, por sua vez, determina que se a ação for intransmissível, e o autor nela
não puder prosseguir, também há a extinção sem resolução. Todavia, na verdade, é uma
impropriedade se falar em ação intransmissível: o que há são direitos intransmissíveis, que
tornam a ação impossível de ser exercida por outrem senão o titular nato do direito material
ali tratado.
O inciso X do artigo 267 estabelece que se há confusão entre autor e réu, não se
resolverá o mérito. A providência é lógica: se as partes contrapostas se tornam uma só, é
claro que não há nenhum interesse em prosseguir no processo, até alcançar um mérito que a
ninguém interessará.
Na verdade, mesmo se este inciso não expressasse esta causa de extinção, o
processo seria extinto por carência de pressuposto de existência, qual seja, a pluralidade de
partes: havendo uma só parte, não há processo – extinguir-se-ia com base no inciso IV
deste artigo.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O mandamus deve ser extinto sem resolução do mérito, porque é caso de crassa
ilegitimidade ativa ad causam. A condição da ação consubstanciada na legitimidade se
verifica, em regra, in status assertionis, mas quando for por demais absurda, teratológica,
será caso de extinção, e não de improcedência do pedido. Por ser, o caso, aberrante
incongruência – o direito pertence à sociedade, e não ao sócio –, há carência de ação,
devendo o feito ser extinto sem sequer se incursar no mérito mandamental.
O TJ/RJ julgou a questão no MS 2001.004.00604.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema XIII
Notas de Aula
1. Litisconsórcio
Veja que o juiz, neste caso, intima o autor para que este promova a citação. Ao
contrário da intervenção iussu judicis, em que o juiz, ele mesmo, promove a citação, no
Brasil a citação é promovida pelo autor, por força da determinação judicial para tanto – mas
não se dá a citação de ofício pelo juiz. Se o juiz, ele próprio, promovesse a citação, estaria
violando o princípio da inércia de forma frontal, o que não se admite no ordenamento
pátrio. Assim, a escolha entre citar ou não é do autor, mesmo que o juiz o intime para tanto,
alertando-o da fatal extinção do processo em não se promovendo a citação.
Assim, deixando bem claro o conceito de intervenção iussu judicis, consiste esta na
possibilidade de o juiz, de ofício, citar pessoas alheias ao processo para nele se integrarem
– evento que não é possível no Brasil.
Voltando ao litisconsórcio necessário, a formação do litisconsórcio só é obrigatória
quando a lei o exija, ou quando a natureza da relação jurídica material o torne imperativo.
A lei demanda o litisconsórcio, por exemplo, quando a ação tratar de direitos reais
sobre bens imóveis, e os autores forem casados, na forma do artigo 10 do CPC:
III - fundadas em dívidas contraídas pelo marido a bem da família, mas cuja
execução tenha de recair sobre o produto do trabalho da mulher ou os seus bens
reservados;
IV - que tenham por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus
sobre imóveis de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente
é indispensável nos casos de composse ou de ato por ambos praticados.”
“Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto,
ativa ou passivamente, quando:
Veja que apesar de este dispositivo ser apontado como sede do litisconsórcio
facultativo, o inciso I se presta a descrever situações de litisconsórcio facultativo, mas
também do necessário. Um exemplo de litisconsórcio facultativo é o de servidores públicos
que, nas exatas e idênticas condições profissionais, pleiteiam o mesmo benefício: poderiam
demandar separadamente, mas como o direito que pleiteiam é o mesmo, podem litigar em
conjunto.
O inciso II traz o litisconsórcio pela causa de pedir. Neste caso, apenas a causa de
pedir dos consortes é idêntica, podendo haver pedidos diversos. Como exemplo, as vítimas
de um mesmo acidente, que pleiteiam, cada uma, seu dano real e moral, em função da
mesma causa – o acidente. Poderiam agir separadamente, mas por opção litigam em
conjunto. Não há comunhão de direitos, mas há conveniência em razão da causa de pedir
ser a mesma.
O inciso III repete, na verdade, o inciso II: se há conexão pela causa significa que há
os mesmos fatos, não havendo nenhuma diferença real entre as duas situações.
O inciso IV traz o litisconsórcio impróprio: na verdade, não há o mesmo direito,
nem a mesma causa de pedir, mas há um ponto qualquer em comum nas causas de pedir de
cada consorte, que permite a litigância conjunta. Como exemplo, uma discussão de limites
entre terrenos contíguos, havendo três figuras: o dono do terreno central, que move ação
indenizatória contra o dono do terreno à direita pela violação dos limites, e contra o dono
do terreno à esquerda por outra violação aos limites. As causas de pedir são diversas – cada
um procedeu em violação autônoma –, mas como há uma certa afinidade na questão, que
permitirá um julgamento similar, pela celeridade se admite a colocação de ambos no pólo
passivo. Veja:
Violação
Proprietário II
Proprietário I
Proprietário
(réu II)
(réu I)
autor
Violação
Ora, de acordo com a posição adotada pelo TJ/RJ, como fica a situação daquele que
quer litigar sozinho? Fica sem poder exercer seu direito de ação? Alexandre Câmara, há
muito, defende que, se a necessidade de formação do litisconsórcio existe em função do
necessário alcance dos consortes pela coisa julgada, basta que o consorte que não quer ser
autor integre o processo como réu: não se pode obrigar ninguém a ser autor, mas para que
integre o processo e sofra a coisa julgada, nada impede que seja citado como réu.
E é isto que tem feito o TJ/RJ: cita-se o litisconsorte inerte para figurar como réu e,
mesmo que este não conteste a ação, sofrerá os exatos efeitos que a coisa julgada produzir
neste processo. O STJ, de seu lado, pondera os direitos e faz o inerte constar do pólo ativo,
mesmo contra sua vontade, podendo este continuar inerte, mas integrando o processo – é
citado para ser autor –, permitindo com isto a ação daquele que deseja litigar.
“Art. 47. Há litisconsórcio necessário por disposição de lei, ou, quando pela
natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema XIV
Notas de Aula
1. Assistência
“Art. 50. Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver
interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir no
processo para assisti-la.
Parágrafo único. A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e
em todos os graus da jurisdição; mas o assistente recebe o processo no estado em
que se encontra.”
questão hoje já está mais do que pacificada, mesmo porque os artigos 50, 51 e 54 do CPC
falam em intervenção.
A assistência comporta as seguintes modalidades: assistência simples e assistência
litisconsorcial, também chamada qualificada, e a assistência atípica. As duas primeiras
espécies estão no CPC; a atípica, na Lei 9.469/97. Todas as modalidades de assistência são
intervenções voluntárias, em que o terceiro não é obrigado a intervir, podendo fazê-lo ou
não. O objetivo de qualquer assistência é auxiliar a parte assistida a ser vitoriosa na lide.
Vejamos cada espécie.
possa este satisfazer seu próprio crédito. Veja que este interesse é estritamente econômico,
não havendo qualquer relação de subordinação entre a relação deduzida em juízo e a
relação do terceiro com o réu, e por isso a assistência não se admite.
O interesse afetivo, ou meramente fático, consiste na relação de fato que o terceiro
tenha com uma parte, em razão da qual não surge qualquer obrigação ou dever, muito
menos subordinação à relação em disputa judicial. Por exemplo, é a relação de um pai com
seu filho, pretendendo o pai, terceiro, intervir como assistente para ajudar processualmente
o filho, calcado unicamente no vínculo afetivo. Esta assistência, igualmente, não encontra
interesse jurídico que a habilite.
Repare que o assistente simples ingressa no processo como terceiro, e assim
permanece sua situação até o termo do processo: a relação jurídica discutida no processo
não lhe pertence, e por isso é realmente um terceiro. Como se verá, em todas as demais
intervenções o terceiro começa como tal, mas termina parte da demanda. Isto significa que
não será atingido pela coisa julgada, pois não se torna parte.
“Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés,
autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas
federais.
Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja
decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir,
independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões
de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao
exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de
deslocamento de competência, serão consideradas partes.”
O juiz de direito de vara estadual em que corra o processo não exerce juízo de valor
sobre a intervenção atípica: basta que haja a declaração do interesse meramente econômico
pela União, por exemplo, para que e desloque a competência para a justiça Federal, e nesta,
sim, seja exercido o juízo de valor sobre o interesse. Aplica-se, para tanto, a súmula 150 do
STJ:
Veja que esta súmula se destina à assistência simples, mas pode ser aplicada, por
analogia, à assistência atípica, pois o raciocínio é o mesmo. Só quem pode indeferir esta
assistência, então, é o juiz federal: mesmo se o processo não se iniciou ali, chegando pelo
deslocamento de competência, é dele o juízo de valor.
Se o processo já se encontra na segunda instância, e a sentença foi proferida em
juízo competente, estadual, a intervenção atípica não desloca a competência para o TRF: é
caso em que se manterá a competência original, que é funcional, do TJ. Todavia, esta
situação encontra divergências, havendo julgados em que se operou o deslocamento em
segunda instância.
Ressalte-se que o juiz federal que recebe a competência não poderá jamais exigir
interesse jurídico da União interveniente – a lei expressamente dispensa este interesse,
bastando haver interesse econômico ou reflexo. Seu juízo de valor consistirá apenas na
verificação da existência do interesse alegado, e da regularidade da intervenção, motivo
pelo qual é raro o indeferimento desta assistência atípica.
“Art. 52. O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos
poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel o assistido, o assistente será considerado seu gestor
de negócios.”
Nesta assistência, o terceiro interveniente tem uma relação jurídica com a própria
parte adversária do seu assistido. Isto significa que o direito que está posto em juízo
também lhe pertence. É simples: o assistente qualificado poderia ter sido litisconsorte desde
o início, e daí vem o nome assistência litisconsorcial.
Marcos Vinicius Gonçalves defende que só é possível haver assistência
litisconsorcial no campo da legitimidade extraordinária. Veja: se o direito que fez com que
o autor ajuizasse a ação contra o réu, por exemplo, também pertence ao terceiro, o exercício
do direito de ação calca-se em legitimidade ordinária pelo seu próprio direito, mas também
em legitimidade extraordinária pelo direito do terceiro ausente do pólo – defendendo direito
alheio em nome próprio. Trata-se, então, de legitimidade extraordinária concorrente.
Quando o terceiro interveniente ingressa na lide, neste caso da assistência
qualificada, se torna parte da demanda. Trata-se de um litisconsórcio superveniente
facultativo, então, comportando suscitar todas as críticas que este tipo de litisconsórcio
comporta quando o assistente ingressa no pólo ativo da lide: cogitar-se-ia se seria violação
ao juiz natural, mas a doutrina entende que não é violação a este princípio pela simples
razão de que este assistente não pode formular pedidos, pelo que não existe violação –
ainda mais que o seu direito já estava em disputa, de início, pela legitimidade
extraordinária, em seu nome, com que litiga o assistido (legitimidade que é ao mesmo
tempo ordinária, em nome próprio do assistido, por sua parcela de direito).
1.4. Procedimento
O CPC, no artigo 50, deixa bem claro que a causa que comporta o ingresso do
assistente, de qualquer modalidade, deve estar pendente, ou seja, não pode ter havido o
trânsito em julgado. Assim, em regra, o assistente pode ingressar no primeiro ou no
segundo grau, desde que a causa ainda esteja em curso.
Por isso, não caberia assistência na fase de execução, pois claramente já houve o
trânsito em julgado no conhecimento para que o processo esteja nesta fase. Nos embargos
do devedor, todavia, é cabível a assistência, vez que a natureza destes é de ação autônoma
de impugnação, seguindo rito de processo de conhecimento – comportando assistência até o
momento do trânsito em julgado da sentença dos embargos.
O parágrafo único do artigo 50 também traz outra regra que é aplicável a todo tipo
de assistência: o interveniente receberá o processo no estado em que se encontrar, não
podendo praticar nenhum ato que teve sede em momento pretérito. Por exemplo, se a
instrução terminou, o assistente não poderá mais requerer produção de provas.
O artigo 51 traz mais uma previsão geral para todos os tipos de assistência:
Cabe apenas a ressalva de que o interesse jurídico que pode ser impugnado pelas
partes, como dita o caput, só pertine à assistência simples, pois na litisconsorcial não há
interesse jurídico, e sim compartilhamento do próprio direito deduzido em juízo. Assim, a
discussão de uma eventual impugnação da assistência qualificada gira em torno da própria
existência do direito do interveniente, e não de interesse jurídico.
Na assistência atípica, é claro, o interesse debatido não é o jurídico, porque não se
exige este interesse. Podem as partes, no entanto, discutir a presença do interesse
econômico ou reflexo alegado.
Havendo impugnação da petição de assistência por uma das partes, o requerimento
será desentranhado pelo juiz, e formar-se-ão autos apartados sem que seja suspenso o
processo – é formado um incidente processual, cuja decisão será interlocutória,
comportando agravo, de instrumento.
Doutrina e jurisprudência, todavia, são pacíficas em tratar a assistência como
questão de ordem pública, porque diz respeito aos sujeitos do processo, matéria de
pressuposto processual. Por isso, o magistrado pode conhecer de ofício dos motivos da
assistência, ele mesmo podendo indeferir, de ofício e de plano, o ingresso do assistente. Se
for o caso, não se formam autos apartados, porque a decisão do juiz é nos próprios autos
principais – esta é decisão interlocutória, comportando também agravo de instrumento.
“Art. 54. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a
sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.
Parágrafo único. Aplica-se ao assistente litisconsorcial, quanto ao pedido de
intervenção, sua impugnação e julgamento do incidente, o disposto no art. 51.”
“Art. 53. A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência
do pedido, desista da ação ou transija sobre direitos controvertidos; casos em que,
terminando o processo, cessa a intervenção do assistente.”
admissibilidade da apelação, por exemplo, e pode até mesmo deferir gratuidade de justiça
após a sentença, poderá também deferir ou indeferir o ingresso do assistente (mesmo
porque é questão de ordem pública, como visto).
Para Fux e Marcos Vinicius, o ingresso do assistente em sede recursal, por meio do
recurso, na verdade não é assistência propriamente dita. Para eles, se trata, de fato, de
recurso de terceiro prejudicado, dada a peculiaridade do procedimento. Independente disso,
neste recurso, o interesse jurídico (se exigido) também deverá ser comprovado, sob pena de
nem mesmo ser conhecido o recurso.
“Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos
os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.”
fica acobertado pela coisa julgada, e na eficácia da assistência até mesmo os motivos
determinantes, a ratio decidendi, vinculam o assistente. Nada do que foi decidido pode ser
discutido pelo assistente (ressalvados os incisos do artigo 55, como dito).
Por outro lado, é mais restrita justamente porque comporta estas exceções da
exceptio male gesti processus, o que não existe para a coisa julgada material.
2. Chamamento ao processo
Esta intervenção não é voluntária, e sim provocada pelo réu, pólo passivo da
relação, tendo por conseqüência a formação de um litisconsórcio. Desta forma, o terceiro
chamado inicia figurando como terceiro, e se torna parte litisconsorte com o réu que o
chamou.
Este incidente provocado pelo réu, devedor, se apresenta no artigo 77 do CPC. É
claro que, pela própria lógica do instituto, só quem pode realizar o chamamento é o
devedor, réu do processo em curso.
22
Vale consignar que o título de crédito que circula não torna os endossantes solidários, mas sim subsidiários,
não se enquadrando em nenhum caso de cabimento do chamamento. Ademais, o título de crédito é titulo
executivo extrajudicial, pelo que sequer haveria interesse em chamar ao processo os demais personagens,
endossantes.
Existe, no artigo 101, II, do CDC, uma hipótese de chamamento ao processo bem
peculiar:
“Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em
condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau
imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem
concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma
delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Em ação de reparação de danos pelo rito sumário, movida por Luiza dos Santos em
face de Transporte e Turismo Ltda., a autora busca a indenização de danos derivados de
acidente ocorrido durante a prestação do serviço de transporte.
A Transportadora, Transporte e Turismo Ltda., invocando o artigo 101, inciso II,
da Lei 8078/90, requereu o chamamento ao processo da Companhia Paulista de Seguros.
O juiz de 1º grau indeferiu o pedido, ao fundamento de que no procedimento
sumário é inadmissível a intervenção de terceiros, nos termos do artigo 280, do Código de
Processo Civil.
Diante do caso concreto, comente a decisão.
Resposta à Questão 2
Erra o juiz. A intervenção, neste caso, vem em lei específica para a casuística, e este
deve ser o critério utilizado pelo julgador ao sanar o conflito aparente de normas. Nada
impede que seja efetuado o chamamento – que na verdade é uma denunciação, sendo
impropriamente designado chamamento pelo legislador –, a fim de que a seguradora integre
a relação. O próprio artigo 280 é expresso em admitir este cabimento:
Vítor, representado por sua mãe Maria, ajuizou ação de alimentos em face de
Paulo. O demandado, regularmente citado, não contestou a demanda e no 20º dia, numa
simples petição, sustentou impossibilidade econômica por desemprego e denunciou à lide
Antônio, avô materno, grande empresário, que teria melhores condições de fornecer os
alimentos sem o desfalque do necessário ao seu próprio sustento, baseando-se no art.
1.698 do Código Civil.
O parecer do Ministério Público foi pela procedência da denunciação da lide, pelo
fato do interesse do menor e por harmonizar-se com a celeridade e economia processual.
Pergunta-se:
Qual a crítica que se faz ao art. 1.698 do Código Civil ?
Como deve agir o juiz?
Resposta à Questão 3
outra vertente doutrinária que defende que se trata de uma denunciação da lide sui generis,
porque os alimentantes subsidiários seriam espécies de garantidores – também equivocada,
pois não há qualquer regresso em face dos alimentantes subsidiários. A corrente que
prevalece, uma terceira, defende que se trata mesmo de uma nova modalidade de
intervenção de terceiros, sem correspondência com nenhuma outra, e sem nome – é a
posição de Fredie Didier.
Assim, mesmo sendo nova modalidade, o juiz deve admitir tal intervenção, porque é
a que melhor satisfaz os interesses do menor, e esta deve ser sempre a guia do processo que
o envolve.
Tema XV
Notas de Aula
“Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto,
ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de
direito;
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.
Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao
número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou
dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que
recomeça da intimação da decisão.”
Esta intervenção tem todos os traços da intervenção voluntária acima descrita, mas
com a diferença que o terceiro assume a posição de litisconsorte, de interveniente, mesmo
que não seja de sua vontade: é obrigado a ingressar na lide.
Esta figura é depreendida, pela doutrina, do artigo 47 do CPC. Humberto Theodoro
Júnior a encontra no parágrafo único deste dispositivo:
3. Oposição
“Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que
controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição
contra ambos.”
23
Há uma severa discussão sobre a terminologia iussu judicis, neste caso. Como se viu, anteriormente
(páginas 128 e 129) , este termo teria a conotação de permitir a citação de ofício pelo juiz, o que não é
permitido, a teor do próprio artigo 47, parágrafo único, do CPC. Na visão agora exposta, não diria respeito à
citação de ofício, mas também à promoção da citação ordenada pelo juiz à parte. Fato é que a tradução do
termo, “pelas mãos do juiz”, dá margem a uma ou outra interpretação: se se entender que refere-se à citação
de ofício pelo juiz, não existe ou é admissível em nosso ordenamento; se se entender que significa apenas a
ordem do juiz para que a parte promova o ato de citação, é o caso autorizado no artigo 47, parágrafo único.
Particularmente, coaduno-me ao primeiro entendimento, pois entendo que “pelas mão do juiz” significa de
ofício, tal como o é no direito italiano, o que não se admite em nosso ordenamento.
são autônomas, apenas estando reunidas. Há a ação originária e a nova ação, também
autônoma, de oposição.
A oposição é uma ação condenatória, em rito de conhecimento, que objetiva
alcançar uma sentença que condene autor e réu do processo originário à perda do bem em
disputa, em favor do opoente.
Quanto à natureza da decisão, o litisconsórcio necessário no pólo passivo é simples:
é caso raro em que um litisconsórcio necessário não é unitário. Veja: a sentença de
procedência da oposição vai tratar de forma diversa os litisconsortes, autor e réu da ação
original, pois como a posse do bem está com um dos litigantes – o réu, em regra –, mas não
com o outro, somente este terá a obrigação de dar imposta na sentença; o outro
litisconsorte, o autor, receberá sentença declaratória, pois apenas terá declarada a negativa
de seu direito, em favor do bom direito do opoente.
Veja que pode haver variações nesta configuração da decisão: supondo-se que o
direito em disputa seja um crédito, e que a ação originária é uma declaratória negativa: se o
autor está com a posse do direito, ou seja, pede a declaração de que não deve nada ao réu, a
oposição procedente terá efeito condenatório sobre o autor, e declaratório negativo sobre o
réu. Tudo depende do pedido que foi feito na originária.
Pode acontecer, ainda, que o autor original esteja reivindicando a coisa do réu, e,
havendo a oposição do terceiro, o próprio autor reconheça a procedência do pedido da
oposição, ou seja, reconheça que nem ele, nem o réu, têm o direito, e sim o opoente. A ação
será extinta para o autor, mas prosseguirá contra o réu, pois este não reconheceu direito
algum. E se, no deslinde da oposição, o réu original triunfar sobre o opoente? Veja: o
litisconsórcio induzido pela oposição é necessário, mas como se viu também é simples, e
não unitário, e por isso nada impede que haja, ao mesmo tempo, a extinção para o autor
original, um dos litisconsortes na posição passiva, e a vitória para o réu original, outro
litisconsorte no pólo passivo. Isoladamente, sem cogitar deste exemplo, Fux considera-o
como litisconsórcio necessário unitário.
3.1. Procedimento da oposição
“Art. 57. O opoente deduzirá o seu pedido, observando os requisitos exigidos para
a propositura da ação (arts. 282 e 283). Distribuída a oposição por dependência,
serão os opostos citados, na pessoa dos seus respectivos advogados, para contestar
o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Se o processo principal correr à revelia do réu, este será citado na
forma estabelecida no Título V, Capítulo IV, Seção III, deste Livro.”
originária estiver à revelia, aí então será necessária a citação pessoal deste, na forma do
parágrafo único deste artigo 57.
O caput deste artigo 57 elide expressamente a regra do artigo 191, para a contagem
do prazo quando há pluralidade de procuradores: se é expresso o tratamento, não se aplica a
regra do artigo 191 do CPC, mesmo havendo litisconsórcio:
A oposição tem um marco temporal máximo para ser feita, determinado no artigo 59
do CPC: só é admissível, para ser julgada em conjunto com a ação original, antes da
audiência de instrução e julgamento. Veja:
“Art. 59. A oposição, oferecida antes da audiência, será apensada aos autos
principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas pela
mesma sentença.”
Veja que o sobrestamento pode ser feito, mas não é um dever imposto ao
magistrado. A suspensão é recomendável, com o escopo de que não sejam exaradas
decisões conflitantes.
Ambas as ações, como dito, são autônomas, o que se percebe no artigo 58 do CPC,
que consigna o princípio da autonomia desta intervenção:
Assim ocorre pela necessária influência que a oposição pode ter sobre o direito de
ambos os litisconsortes passivos, autor e réu da ação original. Assim, a oposição será o
primeiro capítulo da sentença que julga ambas as ações. É importante não se confundir com
questão preliminar, pois esta se trata de questão meramente processual, e não de mérito,
como o é a prejudicial de oposição.
3.2. Cabimento
“Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na
posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora,
depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento,
inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou restituídos por meio
de embargos.
§ 1o Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor.
§ 2o Equipara-se a terceiro a parte que, posto figure no processo, defende bens
que, pelo título de sua aquisição ou pela qualidade em que os possuir, não podem
ser atingidos pela apreensão judicial.
§ 3o Considera-se também terceiro o cônjuge quando defende a posse de bens
dotais, próprios, reservados ou de sua meação.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
na oposição, e os que não foram lá citados aqui serão pessoalmente. É como diz o artigo 57
do CPC, não há qualquer prejuízo para os envolvidos.
Ademais, vige o princípio da autonomia, como dispõe o artigo 58 do CPC. Por isso,
vincular a oposição à restauração dos autos originais seria negativa de prestação
jurisdicional, o que é inconstitucional.
Por tudo isso, o pleito de Maria é possível, e a oposição deve prosseguir.
Questão 2
Pendendo execução proposta por Caio em face de Mévio, que teve penhorado seu
apartamento, pelo pagamento em 24 horas do débito, e garantindo embargos, pode Tício
validamente apresentar-se como opoente, em ação própria, alegando haver adquirido o
imóvel onde reside atualmente?
Resposta à Questão 2
O rito não comporta a intervenção pretendida. A oposição não pode ser realizada na
execução, por qualquer meio, porque a sentença de conhecimento já positivou a discussão
em relação aos litigantes originais. Para além disso, o CPC faculta ao terceiro a proposição
de embargos, os embargos de terceiro, previstos no artigo 1.046, a fim de discutir o direito
do que se pretende opoente.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Irene tem legitimidade, calcada em sua posse. Assim, pode se dar por citada e
contestar a ação. Se ambos exerciam a posse, sua defesa, inclusive, aproveita ao marido. É
irrelevante, inclusive, a natureza do regime de bens do casamento: Irene é legitimada, de
qualquer forma.
Tema XVI
Notas de Aula
1. Nomeação à Autoria
Por conceito, trata-se de intervenção forçada de terceiro, onde este é nomeado pelo
réu para que venha a ingressar no pólo passivo da relação jurídica processual no lugar do
nomeante, ora réu primitivo.
Nesse sentido, seria modalidade de intervenção de terceiro forçada e provocada
única e exclusivamente pelo réu (sendo que a denunciação da lide pode ser feita pelo autor,
conforme será visto), que se opera mediante inserção, e tem como desiderato a correção de
ilegitimidade no pólo passivo da demanda.
1.1. Cabimento
Para o Ministro Luiz Fux, terá cabimento em sede de ação petitória em face do
possuidor, sendo este também caso de nomeação à autoria, vindo a se contrapor à tese
majoritária no sentido de somente ser cabível em sede de detenção, como se verá adiante. O
relevante é que a detenção exterioriza a posse, trazendo o mesmo resultado fático que
aquela e, nesse sentido, acaba por ensejar a dúvida no tocante à legitimidade.
Especial menção merece o artigo 1.228, caput, do CC, nesta seara. Veja:
Fredie Didier e Alexandre Câmara interpretam que tal dispositivo traz a idéia de que
poderia, o autor, demandar tanto em face do detentor, quanto em face do possuidor, vindo a
conceder legitimidade passiva ad causam a este último. Esta interpretação não pode
prosperar, pois viria a ferir o principio basilar do devido processo legal, vez que a posse,
não sendo do detentor, não pode por este ser perdida. Ou seja: o possuidor, não nomeado,
perderia o bem, sem ter tido a possibilidade de se manifestar. Assim, reputam como
inconstitucional tal norma. Esta aplicação acabaria com o próprio intento do artigo 62 do
CPC, pois o artigo 1.228 traria a legitimidade passiva, impedindo a nomeação:
“Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em
nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.”
Há críticas a este dispositivo, pois em face do que assenta o artigo 942 do CC, tanto
o empregador quanto o empregado seriam partes legítimas no pólo passivo da demanda,
não havendo, portanto, que se falar em vício de legitimidade a ser sanado pela nomeação,
ora desiderato do instituto em tela. Veja:
“Art. 69. Responderá por perdas e danos aquele a quem incumbia a nomeação:
I - deixando de nomear à autoria, quando lhe competir;
II - nomeando pessoa diversa daquela em cujo nome detém a coisa demandada.”
Para Scarpinella Bueno, este artigo 63 do CPC é uma espécie de conciliação entre
os institutos, reputando-o como sendo uma espécie de “chamamento ao processo
obrigatório”.
No primeiro instituto, ambos respondem perante o autor, há direito de regresso. No
artigo 77 do CPC, o chamamento somente ocorre em casos específicos, pois se a decisão
fora favorável ao autor, ambos seriam condenados, e na execução o fiador poderia alegar o
benefício de ordem24, e se pagar a dívida toda, poderia executar o afiançado nos próprios
autos (mesma sendo hipótese de co-fiador, em que, nos mesmos autos, executaria a parte do
outro).
Assim, joga-se por terra que o artigo 63 do CPC seria chamamento ao processo,
pois cabe em toda responsabilidade solidária, salvo quando, cumprida por um, vier a gerar
regresso para outro.
1.3. Procedimento
O réu a ser citado terá o mesmo prazo de apresentação de resposta para apresentar a
nomeação, sendo de quinze dias, com base no que assenta o artigo 297 do CPC:
“Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita,
dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.”
Uma vez apresentada a nomeação, o juiz faz uma filtragem, que verificará a
regularidade das formalidades – leia-se prazo e cabimento –, podendo rejeitá-la
liminarmente, vindo assim a devolver o prazo integral para apresentação da contestação, ou
seja: o prazo para a apresentação da contestação é interrompido pela nomeação, mesmo que
esta seja indeferida.
O STJ entende que o artigo 67 do CPC determina que o juiz, mesmo que rejeite a
nomeação, devolva o prazo integralmente, como dito. Veja:
“Art. 67. Quando o autor recusar o nomeado, ou quando este negar a qualidade
que lhe é atribuída, assinar-se-á ao nomeante novo prazo para contestar.”
24
O benefício de ordem somente poderia ser argüido em sede de execução, não obstante teria efeito
retroativo, correção monetária e juros.
O STJ entende que sim: não cabe ao juiz ser “justiceiro processual”, criando norma
para coibir protelação. O que poderá o juiz fazer, neste caso, é condenar a parte em
litigância de má-fé, caso entenda-a configurada, nos moldes dos artigos 17 e 18 do CPC.
Caso haja recusa do autor à nomeação feita, o processo continuará com o réu
primitivo, cabendo ao juiz, posteriormente, extinguir o processo com resolução do mérito,
se entender aplicável a asserção, ou sem resolução do mérito, se for adepto da corrente
clássica da leitura das condições da ação, a depender da corrente acerca do direito de ação
que adote.
Aceitando, o autor, a nomeação de outro réu a si feita, será citado o nomeado, e este,
agora, poderá escolher se aceita ou não a nomeação. É daí que se assenta, em sede
doutrinária, a idéia da dependência da dupla aceitação da nomeação, pois antes o autor, e
depois o nomeado, devem anuir na nomeação.
Como regra, o nomeado recusa, por ser mais cômodo não ser réu do que sê-lo.
Havendo, porém, a sua aceitação, acaba por ocorrer o que se chama de extromissão: retira-
se o réu da relação jurídica processual, e ingressa em seu lugar o nomeado, havendo
alteração subjetiva processual passiva. Assim, o terceiro deixa de assim o ser para passar a
ser tido como parte, no lugar do nomeante, sendo intimado para apresentação de sua
contestação.
Caberia nomeação à autoria alternativa? Poderia, no mesmo ato, o réu que tem
dúvidas acerca de quem deve ser nomeado, propugnar a nomeação de mais de uma pessoa?
A lei é omissa quanto a estes casos. Veja que o réu sabe que deve fazer a nomeação, pois
sabe-se ilegítimo no pólo passivo, e há a pena do que assenta o artigo 69 do CPC para quem
não faz a nomeação quando deveria. Se nomear alternativamente ambos, o que deve fazer o
juiz?
Em sede legal não há norma, tampouco na jurisprudência. Na doutrina, Eduardo
Carlyle entende que caberia tal possibilidade, e no curso da análise da nomeação é que o
juiz deve verificar quem é a parte legítima para figurar no pólo passivo, ou seja, qual dos
nomeados deve incidir na extromissão do réu primitivo.
Veja que a lei permite a recusa, e quem assim o faz pauta-se em norma jurídica
vigente – nada sendo-lhe conseqüente –, devendo, em tese, o magistrado adotar a sentença
terminativa ou definitiva, novamente a depender da tese a que se afeiçoa acerca do direto de
ação.
Contudo, para Barbosa Moreira, havendo este caso de recusa do nomeado e
posterior verificação de que seria a parte legítima, o juiz deve considerar que este nomeado
tinha ciência da demanda, vindo assim a poder ser atingido pelos efeitos da coisa julgada,
sob pena de afronta a lealdade processual, visto a má-fé daquele. É, de fato, como se
estivesse no processo, mesmo tendo recusado a nomeação. Esta tese, porém, não possui
respaldo legal, mas é critério ideológico do doutrinador, bastante razoável.
“Art. 52. O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos
poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel o assistido, o assistente será considerado seu gestor
de negócios.”
Outra crítica seria o fato de que, por ser acessória, caso o assistido não recorresse, o
assistente também não poderia recorrer (em que pese entendimento de quem crê cabível a
prática de tal ato pelo assistente).
Nesse diapasão, a corrente majoritária – por todos, Fredie Didier e Alexandre
Câmara – entende como sendo uma sexta espécie de intervenção de terceiros, pois o
recorrente é pessoa alheia ao processo, sem necessidade de comprovação do efetivo
prejuízo, sendo tido como recurso de terceiro, e não de prejudicado (em que pese a lei
dispor em sentido contrário). A dispensabilidade do prejuízo se dá ante a impossibilidade de
o terceiro trazer fatos novos ao processo, que estariam consubstanciados na comprovação
do prejuízo deste.
Da decisão que trata do recurso de terceiro, cabe qual recurso? Carlyle assenta que o
recurso de terceiro prejudicado, em regra, consubstancia-se em apelação. No entanto,
poderia ser conseqüência de decisão interlocutória, desafiando o recurso de agravo, na
forma de instrumento, pois se fosse retida, o terceiro não mais seria intimado para reiterar –
pois como não está no processo, não é atingido pela sentença –, perdendo sentido o agravo
retido.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
a) Não. O juiz agira de forma equivocada, pois deveria ter feito a devolução do
prazo integral, podendo ainda aplicar a litigância de má-fé, se entendida
nomeação manifestamente protelatória.
c) Por conta do que se disse nos itens anteriores, a decisão não foi correta, vez que
deveria o juiz ter aberto à manifestação do autor, antes da extinção.
Questão 2
O artigo 1228 do Código Civil de 2002, ao definir proprietário, afirma que este
pode reivindicar a coisa de quem injustamente a possua "ou detenha", ou seja, atribuiu ao
detentor legitimidade passiva para a demanda reivindicatória.
Discorra acerca da modificação e do descabimento nesse caso do instituto da
nomeação à autoria .
Resposta à Questão 2
Questão 3
Terceiro que poderia ter intervindo como opoente, na forma do artigo 499 do
Código de Processo Civil, mas assim não procedeu, considerando-se prejudicado pela
sentença proferida, interpõe recurso de apelação alegando error in procedendo. O recurso
poderá ser admitido?
Resposta à Questão 3
Poderia ter sido o opoente, mas não foi, não podendo agora interpor o dito recurso.
O entendimento é de Luiz Fux, e não caberia o recurso de terceiro prejudicado ante a
ausência de interesse, pois não seria este recorrente atingido pela autoridade da coisa
julgada.
Tema XVII
Denunciação da lide.
Notas de Aula
1. Denunciação da lide
Esta intervenção pode ser provocada pelo autor, sendo o único caso de intervenção
de terceiro que permite a provocação autoral, como se verá adiante.
Possui o desiderato de assegurar o direito de regresso dentro do próprio processo: há
a ação principal e outra regressiva, que será secundum eventus litis, sendo majoritária a tese
de processo incidente, como dispõem Barbosa Moreira, Luiz Fux e Alexandre Câmara.
Outra tese, de Humberto Theodoro Junior, Vicente Greco Filho, e do STJ, entende
no sentido da ocorrência da formação de um litisconsórcio entre denunciante e denunciado,
tendo como fundamento a interpretação literal decorrente dos artigos 73 e 74 do CPC:
“Art. 73. Para os fins do disposto no art. 70, o denunciado, por sua vez, intimará
do litígio o alienante, o proprietário, o possuidor indireto ou o responsável pela
“Art. 76. A sentença, que julgar procedente a ação, declarará, conforme o caso, o
direito do evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos, valendo como título
executivo.”
1.1. Cabimento
A tese majoritária entende que não cabe a denunciação da lide em sede de cautelar,
pois ali não se discute direito material, mas sim a pretensão cautelar, não havendo como
primeiro reconhecer o direito de regresso antes do mérito, sendo portanto, incompatível.
26
Deve-se lembrar do artigo 474 do CPC, que trata da eficácia preclusiva da coisa julgada: tudo que não for
alegado não poderá ser objeto de nova ação, salvo se sob nova causa petendi.
Como dito há pouco, a interpretação literal dos artigos 74 e 74 do CPC daria ensejo
a entender que há litisconsórcio entre denunciante e denunciado, mas se assim fosse,
poderia-se condenar diretamente a seguradora, mas esta não tem qualquer relação jurídica
de direito material com o autor, não tendo legitimidade para ser condenada. Esta visão seria
prática, mas não técnica. Antes de se alterar o artigo 280 do CPC, o juiz simplesmente
convertia o rito, de sumário para comum, com o desiderato único de permitir a
denunciação.
O artigo 101, II, do CDC, por indicar a inexistência de litisconsórcio, vem reforçar a
tese majoritária, salvo por reputar como chamamento ao processo hipótese que é
claramente uma denunciação da lide. Veja: se fosse realmente um chamamento, poderia a
seguradora ser demandada direto.
art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será
intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso
afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada a
denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio
obrigatório com este.”
Tal dispositivo acabou por retirar o caso mais tradicional de denunciação da lide e
reputá-lo como chamamento ao processo, em que pese a ausência de solidariedade. Assim,
chama-se tal instituto de chamamento ao processo sui generis.
E veja que somente poderia ser tido como um litisconsórcio caso fosse adotada a
tese que a legitimidade seria verificada não somente em sede de análise de direito material,
mas também com base em estipulação legal.
“Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso
poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de
prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.”
A denunciação da lide deve ser julgada no mesmo juízo em que a principal foi, por
se tratar de demanda secundum eventus litis.
Mas e se o denunciado for ente com foro de competência absoluta? Para Nelson
Nery, deve o magistrado estadual vir a indeferir liminarmente tal denunciação, salvo se a
denunciação da lide for obrigatória. Para Sergio Fernandes, conforme o artigo 109, I, da
CRFB, a competência se desloca direto para a Justiça Federal, não cabendo ao estadual se
manifestar pelo deferimento ou não da denunciação – aplicando por analogia súmula 150
do STJ:
1.5. Legitimidade
1.6.1. Evicção
“Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente
notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e
como lhe determinarem as leis do processo.
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo
manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer
contestação, ou usar de recursos.”
Para o STJ, como se fala em direito de regresso, não se vincula a pedir de volta
apenas o que se pagou, cabendo também perdas e danos. Então, se não fizer a denunciação
da lide, somente perderia o direito às perdas e danos, podendo ter direito a estas via sede
autônoma de regresso
O dispositivo é bem claro: aquele que tem apenas a posse direta do bem pode
denunciar a lide ao proprietário ou ao possuidor direto. Não há maiores considerações.
1.6.3. Garante
O inciso III determina que a lide seja denunciada a quem é obrigado a ressarcir, por
lei ou contrato, o prejuízo do réu. A interpretação deve ser ampliativa, segundo Luiz Fux e
Alexandre Câmara para, qualquer que seja a hipótese, caber a denunciação da lide.
Para outros, como Humberto Theodoro Júnior e Vicente Greco Filho, a interpretação
deste dispositivo deve ser restritiva, e assim o dizem porque fazem diferença entre garantia
própria e imprópria: somente caberia a denunciação, para estes, em sede de garantia
própria.
Note-se que o CC não diferencia o que seja garantia própria ou imprópria, pelo que
não caberia ao processualista diferenciar. Mas como o fazem, garantia própria seria aquela
que é decorrência automática de uma relação, não necessitando de criação de elementos
novos.
Esta interpretação é, no mínimo, redundante, visto ser típico da evicção, que se
encontra já regulado no inciso I, ser uma garantia desta natureza, própria. Por isso, Barbosa
Moreira e Didier vêm e assentam que a denunciação da lide pode ou não trazer elementos
novos, sem qualquer ressalva.
Poderia a Fazenda Pública denunciar a lide ao seu servidor? A tese que deve
prevalecer é a seguinte: se de início não seria necessária a comprovação do elemento
subjetivo da responsabilidade civil – dolo ou culpa –, não poderia a parte contrária suportar
os ônus decorrentes desta inovação processual: o processo deve ser mantido no plano
objetivo, sem inovações de responsabilidade subjetiva. Nesse sentido, a súmula 50 do
TJ/RJ é expressa, impedindo a denunciação da lide neste caso, pois estar-se-ia introduzindo
fatos novos. Porém, não há unanimidade nesta questão, nem mesmo no próprio TJ/RJ.
ação contra o servidor, não será possível que este denuncie a lide à Fazenda, tampouco a
chame ao processo.
Para Scarpinella Bueno, não há previsão no CPC, mas tão somente em sede de
direito material, qual seja, o já citado e transcrito artigo 456 CC. Ocorre que, em que pese o
CC trazer a possibilidade, há uma cadeia a ser respeitada, pois é o direito material que
autoriza a litigância em regresso.
Destarte, não se admitiria, pela lógica processual, a denunciação per saltum, mas o
artigo 456 do CC permite essa dinâmica. Veja:
Autor Réu C D E
O sujeito “E” não poderia ser acionado diretamente pelo autor, nem denunciado pelo
réu, pois a relação de direito material dele é com “D”. Contudo, o citado artigo autoriza,
sob veemente crítica doutrinária, a denunciação e, conseqüentemente, a ação em face de
quem não tem relação material alguma.
Casos Concretos
Questão 1
Durante atividade educacional escolhida pelo Colégio X Ltda, na qual era utilizado
um brinquedo do tipo "bambolê", este se partiu, atingindo o olho direito da menina ZARIF,
de 4 anos de idade. Submetida a duas cirurgias, ZARIF recuperou apenas 70% da visão no
olho atingido. O pai de ZARIF já gastou R$ 20.000,00 com as duas cirurgias e outras
despesas médicas.
Em ação indenizatória movida contra o Colégio X Ltda., ZARIF e seus pais
(LUCAS e MARIZA) pleiteiam indenização por danos materiais, pela precoce perda da
capacidade laborativa e pelas despesas médicas já realizadas, danos morais e,
autonomamente, por danos estéticos.
Em contestação, o réu argüi preliminar de ilegitimidade passiva, apontando como
único responsável pelo dano o fabricante do "bambolê", bem como a ilegitimidade ativa de
LUCAS e MARIZA para pleitearem qualquer indenização. Ultrapassadas as preliminares,
requer a denunciação da lide ao fabricante do "bambolê" - Indústria X Ltda. - com
fundamento no art. 70, III, do CPC. No mérito, nega a existência de nexo causal, alegando
que os autores não trouxeram aos autos qualquer prova da culpa in eligendo ou culpa in
vigilando. Por fim, sustenta que o dano estético subsume-se ao dano moral.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
- A primeira corrente diz que não poderá haver a denunciação da lide pelo Estado,
este devendo aguardar o término do processo e, posteriormente, acionar em regresso
o agente público. Esta corrente fundamenta sua teoria na verificação de que, em
havendo a denunciação pelo Estado, este estará trazendo ao processo, que é de
aferição de responsabilidade objetiva, questões de caráter subjetivo, ao envolver
culpa lato sensu do servidor – o que é inadmissível à teoria do risco administrativo;
- A segunda corrente, igualmente, estipula que não pode haver denunciação da lide
neste processo, mas com outra fundamentação – diz tratar-se de um paradoxo, onde
vão existir alegações contraditórias do Estado: na ação original, para descaracterizar
sua responsabilidade objetiva, o Estado vai alegar inexistência do fato, ou a
desconexão causal entre o dano e eventual atividade do agente público; e na ação de
regresso originada pela denunciação antes da condenação objetiva do Estado, para
caracterizar a responsabilidade subjetiva do agente público, vai admitir a existência
do fato e o nexo entre a ação do agente, para atribuir-lhe a culpa ou dolo, que fará
com que reembolse a indenização que porventura advenha de uma sentença
condenatória na ação original. Assim, não poderá haver denunciação da lide pelo
Estado, em hipótese alguma, devendo haver processo ulterior para a ação de
regresso.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XVIII
Atos processuais. Conceito e classificação. Forma. Fatos e atos processuais. Atos do juiz, das partes e dos
auxiliares da justiça. Atos processuais simples e complexos. Documentação dos atos processuais. Lei do Fax.
O novo parágrafo único do art. 154 introduzido pela Lei 11.280/2006.
Notas de Aula
1. Atos processuais
Fato jurídico, lato sensu, é todo acontecimento que tem relevância jurídica. vale
traçar um esquema gráfico para melhor compreender o tema:
Ordinários
Naturais
(fatos stricto Extraordinários
Fato Ato Jurídico Stricto Sensu
sensu)
Jurídico
Todos os comentários referentes a este quadro são matéria dada à seara cível,
remetendo-se o estudo para tal sede, portanto. Aqui, é suficiente deixar consignado que, no
processo civil, há também fatos e atos jurídicos processuais, ou seja, esta divisão existe em
igual monta: fato jurídico processual lato sensu é todo acontecimento que tenha relevância
para o processo; fato jurídico stricto sensu é todo acontecimento alheio à vontade das
partes, mas que tenha relevância para o processo (como a morte de uma das partes ou do
advogado, ou uma calamidade que impede o expediente forense, etc).
Atos jurídicos processuais sempre decorrem da vontade do sujeito do processo que
o pratica, e não há qualquer dúvida que existem – a petição inicial é um exemplo gritante.
Todavia, a doutrina diverge quanto à existência de negócios jurídicos processuais: quem
defende sua existência, como Frederico Marques, exemplifica com a transação, mas este
exemplo é criticável em razão de que negócio jurídico, como se sabe, tem tanto a sua
efetivação quanto seus efeitos dados à vontade das partes (o ato jurídico stricto sensu, como
se sabe, tem apenas sua realização dada às partes, e não os efeitos). Na transação, apenas
fazê-la ou não é da vontade das partes, mas não o são os seus efeitos processuais. Sendo
assim, todo e qualquer “negócio jurídico” processual seria um ato jurídico stricto sensu,
pois nunca é dado aos praticantes o controle dos efeitos de tal “negócio”. Quem defende a
inexistência, dentre outros, é Alexandre Câmara.
Os atos processuais podem produzir a constituição, a conservação, o
desenvolvimento, a modificação e a extinção do processo. Exemplo de ato de constituição
do processo é a petição inicial; ato de conservação do processo é a concessão de uma
medida cautelar; ato de modificação, uma alteração subjetiva ou objetiva do processo; um
ato de desenvolvimento, a condução de uma audiência; e ato de extinção, a sentença.
- Atos postulatórios: São atos que peticionam do juízo alguma providência. São os
pedidos e requerimentos. Pedido difere de requerimento: pedido diz respeito às
providências de direito material; requerimentos, são solicitações de providências
processuais.
A inversão do ônus probatório, é providência que reflete material ou
processualmente? Se se entender que é critério de julgamento, é realizado na
sentença; se entendida como critério de distribuição da instrução, é realizado no
despacho saneador. De uma forma ou de outra, é providência exclusivamente
processual, e por isso se trata de um requerimento.
- Atos dispositivos: A parte pode dispor de alguns aspectos do processo, até mesmo
de todo o direito que o suporta – o autor desistindo da ação, por exemplo –, sendo
estes atos dispositivos. As partes, ao transacionarem sobre algum aspecto qualquer,
exercem disposição conjunta.
- Atos instrutórios: São atos que se destinam a formar subsídios de cognição para o
juízo, tais como a juntada de documentos, a sustentação oral – a produção de provas
em geral.
- Atos reais: São atos ligados a uma ação material das partes, como o pagamento de
custas, o comparecimento à audiência, etc. São atos que se manifestam não apenas
no processo, mas também no mundo físico.
Sentença é o ato do juiz que põe fim a sua atividade judicante naquele
processo. Qualquer ato posterior, será dado à atuação judicante de outro órgão do
judiciário, e não daquele juiz. As alterações na sentença são por erro material, que
não é atividade de julgamento, ou por meio dos embargos de declaração, que não
promovem alterações reais, de julgamento, mas apenas de cunho explanatório.
Decisão interlocutória é, como se vê, um ato decisório que se dá no curso do
processo, não pondo fim a este, porém. Um exemplo seria o indeferimento da
reconvenção, que mesmo parecendo extinguir uma ação (pois a reconvenção é uma
ação autônoma), é decisão interlocutória, pois que exarada em curso no processo,
sem cunho final, pois estão ambas, reconvenção e ação principal, no curso do
mesmo procedimento. Veja que, especificamente desta decisão da reconvenção, há
quem defenda ser sentença, dada a autonomia da ação, mas, na prática, é impossível
se conceber uma apelação de tal decisão, visto que a reconvenção corre nos mesmos
autos da ação original.
Despachos são atos sem cunho decisório algum, se prestando apenas a fazer
ter curso o procedimento. O “cite-se” é despacho ou decisão interlocutória? Como
tem cunho de deferimento da inicial, a fim de provocar a comunicação com a outra
parte, é decisão interlocutória.
- Atos de movimentação: São os atos que se destinam a dar andamento ao feito, tais
como os atos em que o escrevente abre conclusão, abre vista a uma parte, ou se vale
das funções do artigo 162, § 4°, do CPC, já transcrito – os atos ordinatórios, em que
o próximo passo processual é ditado pela lei.
A forma dos atos processuais, na verdade, diz respeito a três aspectos: a forma
propriamente dita, o lugar, e o tempo do ato.
Quanto ao tempo dos atos, em regra, devem os atos ser praticados no horário
estabelecido no artigo 172 do CPC:
O horário pode ser flexibilizado pelo juiz, se a hipótese for a deste artigo 172, § 2°,
do CPC.
Quanto ao lugar da prática do ato, este é, em regra, na sede do juízo, como dita o
artigo 176 do CPC:
Evidentemente, há uma série de atos que não se realizam na sede do juízo, tais
como a inspeção judicial, a oitiva da testemunha enferma, etc.
Quanto ao modo pelo qual os atos processuais devem ser realizados, o tipo, a forma
do ato, há quatro princípios que devem ser observados: o princípio da não-solenidade é o
principal, como consta do artigo 154 do CPC:
Também neste artigo se encontra a instrumentalidade, que dispõe que se o ato for
praticado de outra forma, mas alcançar, sem prejuízo para as partes, os seus objetivos, o ato
será mantido válido – pas de nulitè sans grief.
Outro princípio atinente à forma é o da publicidade: em regra, os atos processuais
são públicos, e este princípio foi elevado à categoria de garantia constitucional
fundamental, no artigo 5°, LX, da CRFB:
“(...)
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem;
(...)”
“Art. 5o O disposto nesta Lei não obriga a que os órgãos judiciários disponham de
equipamentos para recepção.”
Para existir, o ato processual precisa contar com elementos mínimos que o
identifiquem. A sentença, por exemplo, se não contar com fundamento, ou relatório, é
inválida, mas existe; já se não contar com o dispositivo, é ato inexistente. Da mesma forma,
uma petição inicial não assinada por advogado, ou uma sentença sem assinatura, ou
proferida por quem não é magistrado: são todos atos inexistentes.
No plano da validade, o ato deve ser praticado na forma que a lei prevê. Se
desrespeita a forma legal, não será válido. Não se pode confundir invalidade com
ineficácia: atos há que, sem preencher os requisitos de validade, produzem efeitos até que
seja propugnada e reconhecida esta invalidade. Uma sentença que seja inválida – sem
devida fundamentação, por exemplo –, se não for impugnada, produzirá efeitos e transitará
em julgado, e quando ocorrer este trânsito, estará sanada a invalidade. Mesmo se houver o
recurso desta sentença, se não houver efeito suspensivo, serão produzidos efeitos até que
haja o provimento do recurso – podendo até mesmo ensejar uma execução provisória.
Da mesma forma, pode haver ato válido que seja ineficaz: como exemplo, uma
sentença ilíquida, cujo efeito de título executivo plenamente exeqüível ainda não existe,
pelo que é ato válido, mas ineficaz.
A nulidade é referente a vício que aflige norma cogente. A nulidade absoluta pode, e
deve, ser reconhecida de ofício, vez que atinge norma cogente que trata de interesse
público. Já a nulidade relativa, porém, que aflige norma cogente que trata de interesses
privados, encontra divergências, sendo que a corrente majoritária entende possível este
reconhecimento ex officio. Partindo da premissa de que é possível, o que diferencia a
nulidade absoluta da relativa é a possibilidade ou não de ser sanada: a nulidade absoluta é
insanável, enquanto a relativa é sanável.
A anulabilidade, por sua vez, consiste no vício que aflige norma dispositiva, não
cogente, e por isso não pode ser conhecida de ofício pelo juiz, além de ser plenamente
sanável.
Casos Concretos
Questão 1
Após várias tentativas de citação do réu, que saía para o trabalho às 5 horas da
manhã, o oficial de justiça invadiu o condomínio, subiu ao andar correspondente e
aguardou o réu à porta da casa, onde fez a citação às 5 horas e dez minutos.
Comente o ato à luz da lei e doutrina pertinente.
Resposta à Questão 1
Depende: se esta citação fora do horário foi autorizada pelo juízo, na forma do
artigo 172, § 2°, do CPC, não há qualquer irregularidade. Se o ato foi praticado sem o
consentimento excepcional do juízo com base no dispositivo mencionado, em razão da
proteção constitucional dada pelo artigo 5°, XI, da CRFB, o ato é nulo. E se trata de
nulidade absoluta, porque a norma sobre tempo do ato é cogente e trata de interesse
público.
Questão 2
Chegando uma petição por fax, se houver um pedido de tutela urgente, o juiz pode
deferi-la sem esperar a chegada do original? E qual a conseqüência se ao chegar o
original se verificar que a parte alterou a petição introduzindo-lhe fundamentos novos e
correções?
Resposta à Questão 2
Sim, se a urgência o justificar, sendo este um dos principais motivos desta faculdade
legal. Se, contudo, na chegada do original, se perceberem alterações na peça em relação à
enviada por fax, além do efeito processual de se considerar o ato como não praticado, a
parte será responsabilizada pelos danos eventualmente causados pela falsidade, e poderá
ser-lhe imposta multa por litigância de má-fé.
Tema XIX
Do tempo e do lugar dos atos processuais. Dos prazos. Prazos peremptórios e dilatórios. Início e fim dos
prazos. Contagem dos prazos. Suspensão dos prazos.
Notas de Aula
1. Prazos processuais
“Art. 185. Não havendo preceito legal nem assinação pelo juiz, será de 5 (cinco)
dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.”
Peremptórios são os prazos ligados a normas cogentes, e portanto não podem ser
transacionados. Não estão sujeitos à vontade das partes, e não podem sofrer alterações pelas
partes, mesmo em convenção. Prazos dilatórios, por sua vez, são referentes a normas
dispositivas, e por isso podem sofrer transação pelas partes, podendo ser alterados, nos
limites da lei e da razoabilidade.
No CPC, não há indicação de que atos são peremptórios ou de quais são dilatórios.
A análise deve ser feita um a um, tendo justamente por critério básico a verificação da
norma em questão, se é cogente ou dispositiva. Podemos dar exemplos claros: prazos de
contestação e recursos, por exemplo, são peremptórios, cogentes; prazos de suspensão do
processo por convenção das partes, por óbvio, são dilatórios, podendo ser alterados à
vontade das partes, nos limites da lei.
Mesmo sendo o prazo peremptório, este pode ser devolvido pelo juiz, quando
perdido, desde que haja justa causa para tanto.
Na contagem dos prazos processuais, se exclui o dia do início e inclui-se o dia final.
Atente-se: se uma intimação da sentença for feita em um dia qualquer, o prazo para a
interposição começa neste mesmo dia, mas ele é excluído, e o último dia será incluído – ao
contrário do que se comumente pensa, o prazo não começa a correr no dia seguinte, mas
começa a contar do dia seguinte.
Os prazos processuais são contínuos: sobrevindo feriado, dia não útil, não se
interrompe. Todavia, se o último dia cai em dia sem expediente forense, considerar-se-á
final o primeiro dia útil seguinte – prorroga-se o prazo para o primeiro dia de expediente
forense subseqüente. Da mesma forma, se a intimação se der em um sábado, por
autorização judicial, dia não-útil, se considera realizada no primeiro dia útil seguinte –
segunda-feira –, e, sendo assim, o prazo começa a contar na terça-feira, vez que começou a
correr na segunda, pois a exclusão é feita do primeiro dia de expediente forense. Veja:
“Art. 240. Salvo disposição em contrário, os prazos para as partes, para a Fazenda
Pública e para o Ministério Público contar-se-ão da intimação.
Parágrafo único. As intimações consideram-se realizadas no primeiro dia útil
seguinte, se tiverem ocorrido em dia em que não tenha havido expediente forense.”
“Art. 407. Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao designar a data da
audiência, depositar em cartório o rol de testemunhas, precisando-lhes o nome,
profissão, residência e o local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será
apresentado até 10 (dez) dias antes da audiência.
O prazo suspenso volta a correr de onde parou, ou seja, conta-se os dias corridos
antes da suspensão para o cômputo final. Já o prazo interrompido é retomado na
integralidade quando cessa a causa da interrupção.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
convenção, ou assinado pelo juiz, segundo critérios próprios. É, portanto, prazo fixado em
norma dispositiva. Como exemplo, o prazo para arrolar testemunhas. Identificar se um
prazo é de um ou de outro tipo, é dado á casuística, vez que a lei não o faz.
Pode o juiz prolongar um prazo peremptório na forma do artigo 182 do CPC, como
quando haja dificuldade de locomoção na comarca ou calamidade pública.
Questão 2
Nos casos de intimação feita pelo correio, ou por oficial de justiça, os prazos
começarão a correr a partir da data da juntada aos autos do aviso de recebimento, ou do
mandado cumprido, como estabelece o artigo 241 do CPC, ou a partir do dia da própria
intimação, como dispõe o artigo 240 do mesmo diploma legal? De que forma é possível
conciliar os dois dispositivos, aparentemente conflitantes?
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XX
Vícios dos atos processuais e suas conseqüências. Atos jurídicos existentes e inexistentes.
Notas de Aula
Chiovenda sempre entendeu que os atos processuais eram aqueles atos emanados de
um dos três vértices do processo, ou seja, das partes ou do juiz, não considerado ato
processual aquele praticado pelos demais envolvidos no processo, como peritos, por
exemplo. Esta posição não tem guarida, na atual concepção, pois, como já se viu, é ato
processual, lato sensu, aquele que pode produzir a constituição, a conservação, o
desenvolvimento, a modificação e a extinção do processo, quem quer que o tenha praticado.
Vale consignar que um ato, mesmo que tenha influência sobre o processo porvir ou
em aspecto de processo findo, não pode ser considerado ato processual. A jurisprudência
tem entendido que para ser ato processual, é necessário que haja a pendência de um
processo.
Diga-se, o ato só será considerado processual se colaborar, de qualquer forma, com
a marcha processual ou algum aspecto do processo. Desta forma, tanto os atos pré-
processuais como os pós-processuais, ou os atos materiais porventura relacionados ao
processo, não são atos processuais. Inclusive, a transação entre as partes não seria,
propriamente, um ato processual, pois não se trata de um ato de disposição processual, mas
sim material – pelo que é ato material, e não processual. Se, eventualmente, houver um
acordo das partes em relação a uma questão processual qualquer – como uma transação
sobre a suspensão do processo –, este sim seria um caso de transação processual, ato
processual. Do contrário, a transação é ato material, regida pelas normas civis, e não
processuais.
Em direito processual, à similaridade do direito penal, os atos processuais são
típicos, quando previstos em lei. Isto não significa uma ofensa à liberdade das formas, regra
geral insculpida no caput do artigo 154 do CPC; significa apenas que, se a lei determinar
uma tipicidade, esta deve ser seguida, sob pena de invalidade do ato. Veja:
Assim, o ato cuja forma for prescrita não for respeitada, é defeituoso. Por exemplo,
apelar em dezesseis dias é um ato atípico, pois a lei prescreve quinze dias – é inválido por
inadequação à formalidade da lei. Entretanto, há uma válvula de escape para que o ato
defeituoso seja convalidado: o ato processual civil defeituoso poderá ser aproveitado se
forem aplicáveis as regras de convalidação.
Tudo dito, o defeito do ato processual é uma divergência entre o ato que se espera
em conformidade com a lei, e o efetivamente praticado. A doutrina processual, quando trata
da invalidade, inexistência ou ineficácia de um ato processual, faz a análise justamente em
função desta tipicidade que se espera de atos formalmente previstos.
A característica que principalmente distingue os atos processuais dos atos materiais
é a importância que se dá à vontade de quem os pratica. No direito material, a perfeita
manifestação da vontade é necessária à validade do ato: é requisito de validade do ato a
inexistência de vícios da vontade. No direito processual, não é necessário que se investigue
a vontade das partes em praticar os atos processuais: ou se os pratica, ou não. No processo,
basta a simples presença da voluntariedade, ou seja, que o ato não tenha sido praticado por
coação física, para que seja ao menos existente. A forma do ato, aquilo que for efetivamente
praticado, é o que se considera o ato processual realizado – a despeito de qualquer
divergência entre este ato e a vontade de quem o praticou.
Especificamente sobre a validade da sentença, é interessante traçar-se um breve
histórico. No regime do Direito Romano, a sentença podia ser de dois tipos: ou era
apelável, ou era nula. A sentença nula era atacável a qualquer tempo futuro, por se tratar de
um vício que não convalescia jamais (o conceito de nulidade, à época, assemelha-se ao de
inexistência, hoje). A nulidade surgia tanto de error in procedendo quanto error in
judicando. Sentença apelável, por sua vez, era a que despertava inconformismo numa das
partes, mas sem qualquer erro.
No Direito Germânico, por sua vez, toda sentença era apelável, viciada ou não: era
na apelação que se deveria suscitar o inconformismo, ou a invalidade, o error. Para o
Direito Germânico, não havia qualquer gradação entre os vícios, todos sendo tratados da
mesma forma.
E há ainda casos de defeitos que, de tão graves, ainda podem ser suscitados mesmo
após o prazo da rescisória. Assim, há, hoje, a gradação dos vícios plenamente configurada
no nosso ordenamento.
27
A hipótese do recurso não assinado, apresentada como caso de inexistência para o STJ, encontra no STF um
precedente recente que a trata como caso de mera irregularidade.
28
Buscando fundamento no direito administrativo, em que o ato administrativo simples é a manifestação de
um só agente ou órgão, ainda que o órgão seja colegiado, entendo que o acórdão é a manifestação de uma só
vontade – a vontade do órgão. Sendo assim, não parece possível admitir que um dos integrantes possa ser
formalmente incapaz de emitir sua parcela de vontade na formação do ato, e este ato remanescer existente.
Por isso, entendo, particularmente, que o ato do colegiado em que um dos membros é o desembargador
aposentado é inexistente, qualquer que seja a força do seu voto.
A sentença impossível, que é aquela que aplica direito não existente no ordenamento
– como a sentença de divórcio proferida antes deste instituto existir no Brasil, por exemplo,
seria também inexistente, segundo Calmon. Da mesma forma, a sentença proferida contra
quem não foi parte do processo, ou um ato não previsto no sistema processual (o que
remete à tipicidade do ato processual, já abordada). Veja que a nota comum destes últimos
exemplos é a admissão de inexistência por razões de direito material, e não somente a
carência de elemento formal: dependendo daquilo que o juiz expuser na sentença, esta será
inexistente, mesmo sendo o ato assinado e praticado por quem é investido para tal.
Cândido Dinamarco defende que os atos não assinados são inexistentes porque não
se forma o vínculo de voluntariedade que se exige dos atos processuais, como dito. Para
ele, se o ato não é assinado, não há como se traçar o liame entre a sua produção e a
voluntariedade do suposto autor. Também dispõe que quando o agente não tem a mínima
condição de praticar o ato – quando é desinvestido, por exemplo –, também faz o ato
inexistente. E também elenca exemplos em que a inexistência se dá por motivos materiais:
por exemplo, se o juiz condena um pintor que perdeu ambos os braços a realizar uma obra,
ou que condena alguém a entregar um bem que não detém – estas sentenças podem ser tidas
por inexistentes, pois são as ditas sentenças impossíveis.
Casos Concretos
Questão 1
No mês de maio o Banco X ajuizou ação de execução por quantia certa contra
devedor solvente, com base em contrato de abertura de crédito; em fevereiro do ano
seguinte, o Superior Tribunal de Justiça editou o verbete nº 233, de conformidade com o
qual "o contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-
corrente, não é título executivo".
A despeito de já citado o devedor, não foram localizados bens de sua propriedade
passíveis de suportarem a penhora.
O Banco, então, requereu a conversão da ação de execução em ação monitória.
O executado, antes do prazo de oferecimento dos embargos, manifestou-se
contrário à conversão, apontando violação ao princípio da estabilidade da lide, previsto
no art. 264 do CPC, ao argumento de que a alteração da causa de pedir e do pedido só
seria possível antes da sua citação.
Autos conclusos, decida, indicando qual(is) princípio(s) lhe servem de fundamento.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
É admissível a suspensão do processo, neste caso, mas não com base no artigo 265,
I, do CPC, pois nesta hipótese há a noção de que existe emergência, o que não se dá aqui. O
fundamento, aqui, será o artigo 13 do CPC, como fez o TJ/RJ no agravo de instrumento
2002.002.17547.
“Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da
representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável
para ser sanado o defeito. Não sendo cumprido o despacho dentro do prazo, se a
providência couber:
I - ao autor, o juiz decretará a nulidade do processo;
II - ao réu, reputar-se-á revel;
III - ao terceiro, será excluído do processo.”
Questão 3
Resposta à Questão 3
O STJ, no REsp 7184, entendeu que não havia qualquer nulidade, pois o ato
alcançou sua finalidade sem que qualquer dano ou prejuízo fosse causado, devendo ser
aproveitado. Veja que, se se tratasse de redigir o voto alheio, e não apenas o acórdão,
porém, poder-se-ia criticar esta posição.
Apesar de estar formalmente correta a interpretação do embargante, é disso que se
trata: de mera formalidade. Como os atos só são extirpáveis quando a formalidade é capaz
de prejudicar substancialmente a parte que alega o vício, nada há a ser nulificado, tendo
mais força a instrumentalidade das formas.
Tema XXI
Notas de Aula
“Art. 236. No Distrito Federal e nas Capitais dos Estados e dos Territórios,
consideram-se feitas as intimações pela só publicação dos atos no órgão oficial.
§ 1o É indispensável, sob pena de nulidade, que da publicação constem os nomes
das partes e de seus advogados, suficientes para sua identificação.
§ 2o A intimação do Ministério Público, em qualquer caso será feita
pessoalmente.”
“Art. 246. É nulo o processo, quando o Ministério Público não for intimado a
acompanhar o feito em que deva intervir.
Parágrafo único. Se o processo tiver corrido, sem conhecimento do Ministério
Público, o juiz o anulará a partir do momento em que o órgão devia ter sido
intimado.”
expressamente prevista, o ato é insanável. Todavia, esta leitura deste dispositivo não é
acertada: mesmo sendo cominada, a nulidade pode ser afastada para aproveitar-se o ato, se
a finalidade do ato for atingida sem que tenha havido qualquer prejuízo.
As nulidades processuais, no sentido de que não é dado ao particular avaliar a
validade do ato, ignorando-o se entendê-lo nulo, não são absolutas, como dito. Entretanto,
no que tange à severidade do vício, fala-se em nulidades absolutas e relativas, sendo o
critério de identificação de uma ou outra o interesse que está sendo tutelado: a nulidade é
absoluta quando o vício atinge interesse público, e é relativa quando o interesse atingido é
particular.
Esta distinção é importante porque as nulidades relativas, quando reconhecidas, só
podem ser declaradas se a parte a quem aproveitam as suscitarem, e na primeira
oportunidade em que vierem as autos. Assim diz o artigo 245 do CPC:
“Art. 245. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que
couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão.”
Já as nulidades absolutas, em teoria, são conhecíveis pelo juízo de ofício. Mas esta
diferença é um tanto relativizada, ela própria. Por exemplo, a atuação do MP, quando
exigida, se não procedida, é causa de nulidade, na forma do artigo 246, acima transcrito. O
juiz é fiscal desta participação do MP, e pode controlar de ofício a presença ou ausência do
parquet. E este controle pode ser feito, inclusive, quando a intervenção do MP aproveita
exclusivamente a um interesse particular das partes. Assim, vislumbra-se uma certa
mitigação a esta regra de a quem incumbe suscitar a nulidade relativa.
Para uma ou outra hipótese, para a nulidade absoluta ou relativa, existem regras de
contenção, por assim dizer, regras que limitam a declaração da nulidade. Estas regras
derivam, normalmente, da necessidade de se preservar ao máximo o processo, dizendo até
que ponto a nulidade de um determinado ato deve prevalecer sobre o bom andamento do
processo.
O CPC deixa claro que é necessário se limitar os efeitos da nulidade ao máximo, ou
seja, deve-se buscar a manutenção dos atos, sempre que possível. Podem ser apontadas
duas formas pelas quais o CPC assim procede: ao determinar que a nulidade de parte do ato
não contamina a parte válida; e quando estabelece que a nulidade de um ato não infecta os
subseqüentes, salvo quando estritamente dependentes do ato nulo. Estas regras se
encontram nos artigos 248, 249 e 250 do CPC:
“Art. 248. Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subseqüentes, que
dele dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras,
que dela sejam independentes.”
“Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos,
ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou
retificados.
§ 1o O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte.
§ 2o Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a
declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou
suprir-lhe a falta.”
“Art. 250. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos
que não possam ser aproveitados, devendo praticar-se os que forem necessários, a
fim de se observarem, quanto possível, as prescrições legais.
Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não
resulte prejuízo à defesa.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema XXII
Notas de Aula
outra parte. Para poder proferir a sentença, o juiz deve analisar as alegações e provas a si
trazidas pelas partes. Assim, a cognição, segundo Kazuo Watanabe, é a “atividade exercida
pelo Estado-Juiz que tem por finalidade analisar as alegações das partes e as provas
produzidas no processo para, formando seu conhecimento, estar apto a prestar a tutela
jurisdicional”.
A cognição pode ser analisada no plano da extensão, plano horizontal, ou no plano
da profundidade, plano vertical. No plano da extensão, a cognição ou é plena, ou limitada.
Sendo plena, tudo que se pôs ao juízo deverá ser analisado. Vejamos um exemplo: em uma
ação indenizatória, em que o autor requer indenização por danos materiais e morais, ao
sentenciar, o juiz deverá exercer cognição plena, julgando ao final todas as questões
referentes aos dois pedidos. Nesta mesma ação, se o autor pede a antecipação da tutela em
relação aos danos materiais, a decisão interlocutória que defere ou indefere este pedido será
exarada em cognição limitada, no plano da extensão, pois ao juiz só incumbirá analisar
alegações e provas referentes aos danos materiais, não avaliando nada referente aos danos
morais.
Já no plano da profundidade, vertical, a questão é mais intrincada. Há três
modalidades de cognição neste plano vertical: a cognição superficial, a sumária e a
exauriente. Veja: se o quesito em análise pelo juiz for indiferente para a solução da lide, a
profundidade da análise, da cognição, será superficial, pois basta que o julgador alcance um
juízo de possibilidade daquilo que esta sendo propugnado. Já se a questão em escrutínio
tem relevância maior, sendo útil ao deslinde a sua resolução, o juiz deverá realizar um juízo
de probabilidade sobre tal quesito. E se a questão posta ao julgador for indispensável para
solucionar a lide, a profundidade da cognição deve ser muito maior, sendo necessário um
juízo de certeza para que seja proferida a decisão sobre tal aspecto.
Destarte, assim se configuram as três espécies de cognição, no plano da
profundidade: a superficial se faz quando a questão for indiferente, e basta um juízo de
possibilidade sobre ela; a sumária diz respeito a questões úteis, sendo bastante o juízo de
probabilidade; e a exauriente se refere a questões indispensáveis, sendo exigido juízo de
certeza para sua pacificação.
Vejamos alguns exemplos: em uma ação de indenização por danos materiais e
morais, a sentença que condena o réu é exarada após cognição exauriente, pois demanda
certeza sobre a responsabilidade do réu, sendo questão indispensável esta responsabilidade;
a tutela antecipada, nesta mesma ação indenizatória, é concedida em juízo de probabilidade
de que haja a responsabilidade, e por isso há mera cognição sumária – mesmo porque, se
não há apenas probabilidade, mas sim certeza, deve ser proferida sentença, e não
interlocutória.
Em um processo de conhecimento pelo procedimento sumário, a sentença é
proferida em cognição exauriente, como qualquer outra. Não pode o juiz condenar em juízo
de probabilidade: o que é sumário é o procedimento, e não a cognição.
No processo cautelar, qualquer que o seja, a cognição é apenas sumária, pois basta
ao juízo, para promover a cautela sobre a questão, perceber a mera probabilidade –
formada, aqui, pelo periculum in mora e fumus boni juris. E é justamente por conta desta
cognição sumária que a sentença cautelar não faz coisa julgada material, mas apenas
formal, vez que não há positivação da certeza do direito, e sim resguardo da probabilidade
que este exista.
2. Procedimento sumário
I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário
mínimo;
II - nas causas, qualquer que seja o valor;
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de
veículo, ressalvados os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em
legislação especial;
g) nos demais casos previstos em lei.
Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao
estado e à capacidade das pessoas.”
“Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua
liquidação.
§ 1o Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de
seu advogado.
§ 2o A liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em
autos apartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com
cópias das peças processuais pertinentes.
§ 3o Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso
II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for
o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido.”
(tratamentos médicos futuros, por exemplo). E há um aspecto ainda mais atécnico nesta
previsão de reparação futura: pode o juiz emitir condenação superior ao valor necessário
para arcar com os danos – sentença que será ultra petita, então –, ou pode condenar a valor
menor do que o que se demonstrar suficiente no futuro – sentença que será injusta.
Este artigo 475-A, § 3°, é hipótese clara em que se exerce juízo de equidade, como
prevê o artigo 127 do CPC:
“Art. 127. O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei.”
A alínea “f” dispõe que a cobrança de honorários segue rito sumário, ressalvadas as
hipóteses em que a lei garanta outro procedimento. E há esta hipótese: se o contrato de
honorários for escrito, ele se trata de um título executivo extrajudicial, como estabelece o
artigo 24 do Estatuto da Advocacia e da OAB, Lei 8.906/94:
O contrato de honorários verbal não pode ser executado, não forma título executivo,
porque lhe falta a cartularidade para tanto.
Na alínea “g” abre-se espaço aos demais casos porventura previstos em lei, sendo
exemplo o artigo 68 da Lei 8.245/91:
“Art. 68. Na ação revisional de aluguel, que terá o rito sumaríssimo (leia-se
sumário), observar-se-á o seguinte:
(...) (parêntese nosso)”
Assim, o rito pode ser convertido se o juiz entender que o caso é diverso das
hipóteses de rito sumário, quer porque a matéria é diferente das hipóteses legais deste rito,
quer porque o valor dado à causa não é correspondente à realidade da questão. No § 5°, se
permite a conversão quando a prova técnica for de alto grau de complexidade, não sendo
condizente com a celeridade que se espera deste rito.
Alexandre Câmara, ao tratar da questão, sustenta que se a ação trata de dano em
acidente de veículo de via terrestre, e sequer a perícia ali realizada não for suficiente para
determinar o quantum indenizatório, deverá ser convertido o rito para o ordinário, não
sendo prudente que o juiz estabeleça a valoração por adivinhação. Se convertido, não se
impõe a limitação da vedação à sentença ilíquida, podendo esta ser proferida, o que dá
maior segurança ao julgado.
O autor, como dito, não pode escolher o rito sumário ou ordinário, mas nada impede
que, já na petição inicial do rito sumário, este autor diga que pretende produzir prova cuja
complexidade é incompatível com o rito sumário, e portanto exige a conversão para o rito
ordinário. Na verdade, na prática, dizendo isto, o autor já poderia, sem embargos, ajuizar a
ação já nomeando-a como de rito ordinário.
A conversão do rito sumário para o ordinário deve ser feita de ofício, nas hipóteses
em que se admite, não sendo necessário ouvir as partes sobre tal providência. Seria possível
a conversão de ação ajuizada em rito ordinário para o rito sumário? De ofício, jamais:
deverá o juiz intimar a parte para que esta adeque ao procedimento correto, e se o autor não
o fizer, extingue o processo sem resolução do mérito por falta de pressuposto processual,
conforme artigo 267, IV, do CPC, por inadequação do procedimento (sendo, contudo,
majoritário o entendimento de que a inadequação do rito atinge o interesse de agir,
condição da ação, e não pressuposto processual).
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Agiu errado o juiz. Não poderia ele, antes mesmo de haver a resposta, decidir quais
provas seriam ou não necessárias, pois pode, inclusive, haver a situação em que aquela
questão se demonstre incontroversa, caso em que aquela prova sequer será necessária. Por
isso, em retratação, deve ser revertida a decisão para dar seguimento ao feito no rito
sumário. O TJ/RJ, no agravo de instrumento 1998.002.07792, entendeu neste exato sentido,
pois não se pode determinar que o autor se submeta a um rito mais moroso pela mera
possibilidade de que seja necessária a produção de uma prova de maior complexidade.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Notas de Aula
Procedimento ordinário
Julgamento
antecipado
Citação Providências da lide
(213 a 233, preliminares (330, CPC) Recurso
CPC) (323, CPC) Alegações
finais
Audiência
preliminar Sentença
(331, CPC)
Produção
Petição Resposta de provas
inicial (39, do réu Extinção do (332, CPC) Cumprimento
I, e 282 a (297, processo após o
296, CPC) CPC) (329, CPC) trânsito
Procedimento sumário
Julgamento
antecipado
Citação da lide Recurso
(213 a 233, (330, CPC)
CPC) Audiência
preliminar (277,
CPC), Eventual produção AIJ (278, Sentença
concentrando de prova pericial §2°, CPC) (281,
conciliação, (278, § 2°, CPC) CPC)
resposta e provas
Petição (278 e 279, CPC)
inicial (276, Extinção do
CPC) processo Cumprimento
(329, CPC) após o
trânsito
Esta regra não se aplica ao procedimento sumário, sendo trazido no caput do artigo
277 a regra da Fazenda: os prazos são em dobro, mesmo para contestar. Nelson Nery,
Marinoni e Ovídio Batista entendem, minoritariamente, que se aplica o artigo 188, e não o
artigo 277.
O § 2° deste artigo 277 estabelece que, estando o réu ausente à audiência, aplica-se
o efeito material da revelia, ou seja, a presunção de veracidade das alegações autorais.
Ocorre que revelia é ausência de contestação, e pode haver caso em que, estando ausente da
audiência o réu, ainda seja apresentada a contestação pelo advogado do réu, que comparece
à audiência sem o litigante. Há, por isso, duas correntes na leitura deste § 2°: Alexandre
Câmara, por exemplo, sustenta que se o advogado apresenta a contestação em audiência,
estando ausente o réu, não se aplica este efeito material da revelia No TJ/RJ, há julgados
em ambos os sentidos: pela inaplicabilidade da revelia, vide o julgado 2007.001.46033;
pela aplicação da revelia, vide o acórdão 2008.002.00611.
Há a errônea concepção de que a ação, no rito sumário, seja uma ação dúplice.
Aquilo que se chama de ação dúplice é, na verdade, uma ação comum, com procedimento
dúplice: é aquele rito em que o réu pode formular pedido em face do autor na própria
contestação, o chamado pedido contraposto, sem que haja necessidade de reconvenção.
Ocorre que a expressão ação dúplice – judicia duplicia – é equivocada, pois a ação é uma
só, sendo o seu procedimento uma via de mão dupla. O artigo 278, § 1°, do CPC permite
este pedido contraposto:
“Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta
escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer
perícia, formulará seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico.
§ 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que
fundado nos mesmos fatos referidos na inicial.
§ 2º Havendo necessidade de produção de prova oral e não ocorrendo qualquer das
hipóteses previstas nos arts. 329 e 330, I e II, será designada audiência de instrução
e julgamento para data próxima, não excedente de trinta dias, salvo se houver
determinação de perícia.”
O artigo 280 do CPC traz regra de vedação a certos procedimentos, quais sejam:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Não tem razão. Não se trata de intervenção de terceiro, mas sim de retificação
necessária do pólo passivo, que deve ser feita sob pena de extinção do feito (artigo 47,
parágrafo único, do CPC). Por isso, o feito deve admitir o ingresso do litisconsorte
necessário – pois o é, dada a natureza incindível da relação jurídica –, e, respondendo à
segunda parte da questão, se assim não o fosse, deveria ser extinto o processo sem incursão
no mérito.
Questão 2
Resposta à Questão 2