Interpretação Lactato
Interpretação Lactato
Interpretação Lactato
Lactato:
O lactato é um produto final da glicólise anaeróbica que ocorre em tecidos hipóxicos.
Contudo, tecidos bem oxigenados podem em certas condições gerar lactato através da
glicólise aeróbica.
A produção normal de lactato é de 1 mmol/Kg/hora. Ocorre principalmente no músculo
esquelético, intestino, cérebro e glóbulos vermelhos; estudos em animais e humanos
mostraram que o pulmão pode ser uma fonte importante de lactato no contexto de lesão
pulmonar aguda.
O lactato formado pode ser captado pelo fígado e ser convertido em glicose
(neoglicogénese) ou ser utilizado como combustível (fonte de energia).
O metabolismo anaeróbico da glicose produz apenas 47 Kcal de energia por mole de
glicose, enquanto que o metabolismo aeróbico gera 673 Kcal por mole de glicose. A
oxidação do lactato produz 326 Kcal por mole de lactato e como 1 mole de glicose
produz 2 moles de lactato, a energia produzida a partir da glicólise anaeróbica será
aumentada para 625 Kcal (2 x 326) – esta via é utilizada durante o exercício e pode
ocorrer nas fases iniciais do choque (quando o músculo esquelético torna-se anaeróbico
o lactato gerado pode ser utilizado como fonte de energia por outros órgãos vitais que
ainda estão em aerobiose, como o coração e o S.N.C.).
Hiperlacticidémia:
Em repouso a concentração normal de lactato no sangue é inferior a 2 mmol/L e
aumenta até 5 mmol/L durante o exercício.
Um nível superior a 2 em repouso é considerado anormal. Contudo pequenas elevações
do lactato (2 a 4mmol/L) podem não se acompanhar de acidose.
Causas de aumento do lactato:
Hipóxia – a causa mais importante de acidose láctica é a deficiente oxigenação celular
no choque (hipovolémico, cardiogénico ou séptico).
Nestes doentes, a severidade da hiperlacticidémia foi relacionada com o prognóstico.
Quando superior a 10 mmol/L, são escassas as hipóteses de sobreviver:
Segundo um estudo realizado por JL Vincent, para além do valor dos níveis de lactato,
também a duração da hiperlacticidémia tem importante valor prognóstico no choque
séptico.
A Hipoxémia e a Anemia raramente se acompanham de Acidose Láctica. Doentes com
DPOC ou ARDS, sem choque, podem apresentar hipoxémia severa sem que haja acidose
láctica. Na anemia apenas quando o hematócrito é inferior a 10 é que surge diminuição
da oxigenação tecidular (até este valor o aumento da extracção de O2 ajuda a manter
constante o consumo de O2 pelos tecidos).
Diagnóstico:
A hiperlacticidémia é uma das causas possíveis de acidose metabólica no doente crítico,
independentemente do anion-gap (geralmente aumentado, mas pode ser normal).
O lactato pode ser medido no plasma ou em sangue total. Se a medição imediata não for
possível, a amostra de sangue deverá ser colocada em gelo.
Conclusão:
As causas de hiperlacticidémia são variadas. Os mecanismos que conduzem à acidose
láctica podem ser hipóxicos, conduzindo a um estado de isquémia generalizada, como
nos casos de choque, e não hipóxicos como são, por exemplo, as alterações do
clearance do lactato (disfunções hepática ou renal), as disfunções da piruvato-
desidrogenase (devido a sépsis, endotoxémia, défice de tiamina, níveis elevados de
catecolaminas) e a glicólise aeróbica acelarada (secundária a sépsis, convulsões,
neoplasias).
Daqui se poderá inferir que vários mecanismos poderão estar presentes no mesmo
doente, pelo que, no caso de sépsis/trauma os níveis de lactato não deverão ser
considerados sinónimo de deficiente perfusão tecidular.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
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