Calçado 433rwe
Calçado 433rwe
Calçado 433rwe
Invasão de campo
Adidas, Puma e
os bastidores do esporte moderno
Tradução:
Cristiano Botafogo
Para Yann e nossos filhos, Lisa, Karen, Fanny, Marius
Nota da autora
Lista de ilustrações
Prorrogação
Epílogo
Notas
Fontes
Agradecimentos
Índice onomástico
Lista de ilustrações
Todos os esforços foram feitos para identificar as fontes das imagens aqui
reproduzidas. Estamos prontos a corrigir eventuais falhas ou omissões em futuras
edições.
PARTE I
Dois irmãos, uma briga
1924-1974
1
Os audazes irmãos Dassler
P osando para uma foto junto a carros recém-encerados, os dois jovens vestiam
ternos elegantes e, no rosto, levavam sorrisos orgulhosos. Em uma época em que
automóveis eram itens exclusivos de famílias ricas, Rudolf Dassler havia
esbanjado dinheiro em uma Mercedes de dois lugares. Seu irmão mais novo,
Adolf, preferiu uma motocicleta Triumph com sidecar. Desde que sua empresa
de calçados deslanchara no fim da década de 1920, os irmãos Dassler eram os
rapazes mais requintados da cidade.
Adolf e Rudolf Dassler eram donos da fábrica Gebrüder Dassler, que agitou a
pequena cidade de Herzogenaurach, na Baviera. Os dois tinham uma proposta
inovadora: uma fábrica de calçados usados exclusivamente para praticar
esportes. Como esse ainda era um passatempo incomum, a idéia não parecia
muito realista. Apesar disso, os Dassler insistiram com tanto empenho que a
fábrica começou a receber pedidos de apaixonados por esporte de toda a
Alemanha.
Feitos de couro escuro com pregos grandes atravessando as solas, os calçados
dos Dassler se destacavam por serem leves e flexíveis. Adolf, que era não
apenas sapateiro mas também um viciado em esportes, queria sempre que seus
sapatos fossem mais leves e pudessem atender melhor às suas necessidades.
Alguns protótipos foram testados durante horas pelo próprio “Adi” e por seus
amigos em longas corridas pela floresta.
As personalidades opostas dos irmãos faziam com que a parceria funcionasse
de forma tranqüila. Adi Dassler era um homem baixo, calado, que tinha muito
prazer em ficar na oficina, com o cheiro do couro e da cola; só se animava
quando o assunto era esporte. Seu irmão, Rudolf, era extrovertido e possuía um
perfil mais adequado para encabeçar a crescente equipe de vendas da empresa.
Ele não se deixava abater pela depressão econômica da Alemanha, falava e
insistia até conseguir receber pedidos — transformando a obsessão de seu irmão
em dinheiro. Eles podiam facilmente comprar os carros e os ternos, além das
elegantes piteiras que penduravam nos lábios.
O empreendimento refletia um afastamento da longa relação da família com
a indústria têxtil. O pai, Christoph, foi o último membro de uma linhagem de
tecelões da família Dassler em Herzogenaurach — uma cidadezinha medieval
alguns quilômetros ao norte de Nuremberg, na província da Francônia, no
extremo norte da Baviera. A cidade havia se desenvolvido em torno das fábricas
e, até o fim do século XIX, empregava centenas de tecelões e tintureiros.
Seguindo a tradição alemã, Christoph Dassler deixou-a para aprender a profissão
com tecelões em outro lugar. Foi em Gera que ele conheceu a esposa, Paulina
Spittula. O casamento foi celebrado em outubro de 1891, e o primeiro filho do
casal, Fritz, nasceu um ano depois. Marie, a única filha, nasceu no começo de
1894. Contudo, a revolução que varreu as indústrias alemãs no final do século
XIX fez com que as habilidades de Christoph se tornassem obsoletas. Com a
mecanização da indústria têxtil, milhares de trabalhadores capacitados foram
trocados por máquinas, o que levou muitas famílias a uma vida errante de
pobreza opressiva.
Christoph e sua nova família retornaram a Herzogenaurach, onde nasceram
mais dois meninos: Rudolf, em abril de 1898, e Adolf, em novembro de 1900. A
pequena cidade também não havia sido poupada da revolução industrial — que
reduziu suas centenas de teares manuais a nada. A produção local voltou-se para
calçados, e as ruas de paralelepípedo ficaram repletas de pequenas fábricas, a
maioria especializada nos pesados chinelos de feltro conhecidos como Schlappen.
Christoph conseguiu um emprego na Fränkische Schuhfabrik, uma das maiores
fábricas locais.
Enquanto Christoph Dassler aprendia os entediantes métodos de costura,
Paulina complementava a parca renda do marido com uma lavanderia
improvisada no fundo da casa em Hirtengraben. O biógrafo da família, Hermann
Utermann, descreveu-a como uma mulher “alegre e franca que estava sempre
disposta a uma conversa bem-humorada”. Ela lavava as roupas com a filha, e os
três irmãos entregavam as peças limpas em uma carroça caindo aos pedaços. A
tarefa compensava, visto que quem tinha dinheiro para mandar lavar roupa fora
normalmente tinha um troco para os entregadores. Os meninos ficaram
conhecidos em Herzogenaurach como “os irmãos da lavanderia”.
Quando eles ainda estavam na escola, no início do século XX, o esporte mal
existia como passatempo popular. A Alemanha tinha uma grande tradição na
ginástica olímpica e haviam surgido outros esportes nas duas últimas décadas do
século anterior, mas a maioria dos alemães acharia muito estranho fazer
qualquer atividade esportiva ao ar livre. Eles não tinham tempo para outra coisa
além de botar comida na mesa. Para piorar, os mais conservadores e destacados
praticantes de ginástica viam outros esportes com maus olhos. Eles achavam o
futebol um absurdo e o consideravam um jogo degradante, disseminado pelos
arquiinimigos dos alemães, os ingleses. O futebol já estava organizado desde
1900, com a criação da federação alemã, mas era rejeitado pelo establishment,
sendo considerado uma “erva daninha inglesa”, “uma víbora estrangeira que
deveria ser extirpada”.
Apesar disso, Adi Dassler organizava campeonatos improvisados de corrida e
outros esportes em seu tempo livre. Seu apetite pelos exercícios ia muito além de
uma mera empolgação juvenil. Fritz Zehlein, um amigo cuja forma física era
tão boa quanto a de Adi, era sempre arrastado para longas corridas na floresta e
nos campos que cercavam a cidade. “Os dois eram inseparáveis”, disse o
sobrinho de Zehlein, Klaus. “Toda vez que tinham um tempo livre, juntavam-se
para inventar esportes.” Eles faziam dardos entalhando galhos e procuravam
pedras pesadas para fazer arremesso de peso. No inverno, montavam uma
rampa provisória para saltos de esqui e desciam os morros sobre um par de
tábuas enceradas.
Quando Adi ainda estava na escola, seu irmão mais velho, Fritz, deixou a
cidade medieval onde viviam para trabalhar como caixa de banco em Munique,
e Rudolf aprendeu o ofício de sapateiro com o pai na Fränkische Schuhfabrik.
Mas o chamado do Reich em agosto de 1914 interrompeu brutalmente seus
planos. Desde a fundação do Reich alemão, em 1871, a Baviera havia mantido
um certo grau de independência em relação aos governantes prussianos do
império — com um corpo diplomático próprio e um Exército independente —,
mas havia um acordo de que tudo ficaria sob o controle do kaiser se uma guerra
fosse declarada. Os dois irmãos mais velhos estavam entre os milhares de
recrutas que acreditavam voltar para casa dentro de alguns meses, mas
acabaram passando quatro longos anos nas trincheiras lamacentas de Flandres.
A guerra continuou e Christoph Dassler viu a indústria de sapatos de
Herzogenaurach ser dizimada. Quase metade das fábricas da cidade precisou
fechar as portas. Para se certificar de que o caçula entraria em um ramo mais
seguro, Christoph conseguiu que ele aprendesse um novo ofício, o de padeiro. Adi
teria que acordar muito antes do amanhecer todos os dias e passar 18 horas
extenuantes sob o calor sufocante do forno. Sempre obediente e de fala mansa,
Adi, ainda adolescente, protestou. Foram necessárias muitas conversas para que
ele comparecesse à padaria Weiss, na Bambergerstrasse, em novembro de 1914.
Após três anos desgastantes, o aprendiz conseguiu o diploma, mas não teve
chance de abrir o próprio negócio, pois seus serviços foram imediatamente
requisitados pelo Exército. No começo de 1918, Adolf Dassler, ainda com 17
anos de idade, juntou-se aos irmãos na fronteira com a Bélgica.
Impressionantemente, os três rapazes retornaram para Herzogenaurach
endurecidos, mas ilesos. Ao voltar, encontraram a lavanderia da mãe vazia. Na
miséria do pós-guerra, poucos podiam se dar ao luxo de mandar lavar as roupas
fora, e Paulina desistira do negócio. Adi rapidamente decidiu que não voltaria
mais ao ramo da padaria; montou sua pequena fábrica de sapatos ali mesmo,
onde antes funcionava a lavanderia.
Após a selvageria da guerra, Adi passou um pente fino nos campos e bosques
e recolheu todo tipo de material deixado para trás pelos soldados. Revirou pilhas
de detritos à procura de qualquer coisa que pudesse ser útil em sua oficina.
Cortava fitas de couro de capacetes e algibeiras e as transformava em sola de
sapatos. Pára-quedas rasgados e mochilas eram mais adequados para fazer
chinelos. Entre as suas primeiras invenções estava um cortador de couro preso a
uma bicicleta: na falta de eletricidade, a energia do aparelho vinha de algum
amigo mais atlético.
Fundada no início de 1920, a sapataria de Adolf Dassler começou como um
negócio realmente pequeno. Enquanto Adi montava os sapatos, dois de seus
amigos se revezavam na bicicleta. Christoph passava por lá na hora do almoço
para ensinar ao filho os fundamentos da produção, e sua irmã Marie o ajudava
com as costuras. Quando os empregados chegavam, ao amanhecer do dia,
tinham que passar por cima da cama de Adi: ele a colocara na entrada da oficina
para poder chegar rapidamente à mesa caso tivesse alguma idéia brilhante no
meio da noite.
Adolf começou produzindo sapatos robustos, do tipo que poderia durar muitos
anos. Contudo, estava mais interessado em calçados esportivos. Vendeu algumas
sapatilhas para ginástica e trabalhou avidamente em protótipos de calçados para
corrida. Naquela época, essa parte do negócio ainda era um tanto experimental,
pois Adi e seus amigos eram os únicos “consumidores”. As travas desses
calçados eram moldadas e presas às solas pelo seu amigo Fritz Zehlein, que,
convenientemente, era filho do ferreiro da cidade.
Para melhorar os calçados de corrida, Dassler estudou com ímpeto os
métodos de produção utilizados em países com uma tradição mais arraigada
nesse esporte. O mais importante deles era, de longe, a Finlândia, que havia
conquistado uma série de medalhas nas Olimpíadas em arremessos e corrida. Os
finlandeses, mestres na média distância, tinham à frente o impassível Paavo
Nurmi, um pequenino corredor aparentemente inexpressivo que bateu uma série
de recordes mundiais e ganhou oito medalhas olímpicas de ouro. Ele também
gerou uma publicidade sem igual para a Karhu, uma empresa de Helsinque
dedicada à fabricação de calçados para os melhores atletas da Finlândia. A
marca ganhou o estrelato durante as Olimpíadas de 1920, na Antuérpia, ocasião
em que foi utilizada por todos os lançadores de dardo finlandeses. Mas ela
realmente deslanchou nos jogos de Paris, quando Paavo Nurmi ganhou cinco
medalhas de ouro usando um notável par de calçados de corrida brancos.
A dedicada equipe de Adi logo passou a contar também com seu irmão
Rudolf. Rudi não voltara da Bélgica direto para Herzogenaurach, mas fora a
Munique em busca de treinamento para ser policial. Ele se juntou à força policial
durante algum tempo, mas sabiamente concluiu que seus modos expansivos
seriam mais bem utilizados no trabalho de vendedor. Aperfeiçoou suas técnicas
de venda em uma fábrica de porcelana e com um comerciante de couro em
Nuremberg, até que Adolf concordou em empregá-lo, em 1923. Uma máquina
de escrever foi o único bem material que Rudolf levou para a empresa.
No fim das contas, os Dassler dificilmente teriam escolhido pior momento
para começar seu negócio. Devido às severas prescrições ditadas pelo Tratado
de Versalhes, os vencedores da guerra confiscaram a maior parte dos recursos
da Alemanha, deixando um país já arruinado com pouco a ser reconstruído. Isso
fez com que os alemães ficassem muito ressentidos e passassem terríveis
privações; milhões sofreram com o desemprego e a fome. Em Herzogenaurach,
muitas das pequenas oficinas de sapatos que sobreviveram à guerra foram
arrasadas pela crise econômica. A pequena cidade registrou uma impressionante
taxa de desemprego, de aproximadamente 70%. Apesar disso, em meio à tensão
e à miséria, os esportes e outras formas de entretenimento começaram a atrair
cada vez mais pessoas, contentes por terem alguma distração. Como os jovens
queriam acabar com a face conservadora do país, aderiram ansiosamente aos
esportes, na época considerados “modernos” e “estrangeiros”.
Os alemães demonstravam um gosto especial pelo boxe. Adoravam seu lado
agressivo, considerado um ultraje pelo establishment. Quando, após o armistício,
a proibição a essa prática foi suspensa, os boxeadores — alguns deles ex-
prisioneiros de guerra que haviam desenvolvido suas habilidades durante o
período de detenção na Grã-Bretanha — tornaram-se os heróis do país. Adi e
Fritz Zehlein formaram uma equipe em Herzogenaurach que acabou quando os
outros membros perceberam que sua participação se resumia a apanhar uma vez
por semana.
O futebol, porém, superou rapidamente todos os outros esportes. Os líderes da
ginástica olímpica nada podiam fazer enquanto os clubes de futebol pipocavam
por todo o país. O próprio Adi se filiou ao clube local, o FC Herzogenaurach, onde
jogava como atacante. Além disso, multidões de fãs lotavam as arquibancadas
instáveis dos estádios nas partidas do campeonato alemão. Havia chegado a hora
de os Dassler começarem a produzir peças esportivas inovadoras em larga
escala.
A expansão aconteceu no dia 1º de julho de 1934, com a inauguração da
Gebrüder Dassler, Sportschufabrik, Herzogenaurach. Além dos calçados de
corrida com travas, eles também começaram a comercializar chuteiras de
futebol com travas de couro. As primeiras se pareciam muito com as chuteiras
inglesas antigas — de couro e com proteção extra para os dedos e o tornozelo —,
apesar de Adi tê-las alterado um pouco para que ficassem mais leves.
Devido às turbulentas circunstâncias econômicas, os irmãos lutavam para
viver das vendas a revendedores. No entanto, descobriram outra maneira de
fazer o negócio deslanchar. Quando o clube de esportes de Herzogenaurach
decidiu expandir sua sede, eles convenceram os administradores a encomendar
um lote de calçados para oferecer a seus membros por um preço mais baixo. O
clube fez um pedido tão grande que os irmãos Dassler tiveram que contratar
funcionários e trabalhar sem parar durante meses.
A pequena cidade de Herzogenaurach, onde os irmãos Dassler começaram, na
década de 1920.
A capital havia sido escolhida como sede dos Jogos Olímpicos dois anos antes
de os nazistas chegarem ao poder. Contudo, Hitler colocou a competição como
uma das maiores prioridades do Terceiro Reich. Os Jogos seriam uma vitrine
extraordinária para a superioridade da “raça” ariana. Ao mesmo tempo,
também serviriam para apaziguar as outras nações européias, que observavam a
ascensão da nova Alemanha ao mesmo tempo maravilhadas e preocupadas.
Alguns comitês olímpicos começaram a protestar, reclamando que, naquelas
circunstâncias, era impossível aceitar como decente que os Jogos fossem
sediados em Berlim. Eles argumentavam que o regime aplicava o anti-semitismo
aos esportes com o mesmo fervor com que o fazia em outras áreas. Entre as
vítimas mais importantes estava a esgrimista Helena May er. Ela ganhara uma
medalha de ouro para a Alemanha nos Jogos de Amsterdam, em 1928, mas
como seu pai era judeu, foi aconselhada a ficar longe de Berlim. Theodor
Lewald fora destituído do cargo de presidente do Comitê Olímpico Alemão
devido à genealogia parcialmente judia.
Os irmãos Dassler observavam ansiosos os acontecimentos políticos. Com o
auxílio do amigo Jo Waitzer, seus calçados haviam adquirido fama fora da terra
natal. Sua reputação chegara aos Estados Unidos durante as Olimpíadas
anteriores, quando a maioria dos atletas alemães viajou para Los Angeles
levando os calçados “Waitzer” na bagagem. Entre eles estava Arthur Jonath, um
velocista que conquistou medalha de bronze nos 100 metros rasos. Nos Jogos de
Berlim, os Dassler estariam em casa, com o técnico de atletismo dos nazistas do
seu lado.
A preparação para o evento, porém, foi prejudicada pelos duros protestos de
atletas norte-americanos e por grandes passeatas realizadas em Nova York
exigindo um boicote às “Olimpíadas Nazistas”. As discussões se prolongaram por
três anos. Avery Brundage, presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos,
decidiu averiguar a situação por si mesmo. Josef Goebbels, por sua vez, cuidou
impecavelmente do convidado norte-americano: quando Brundage retornou aos
Estados Unidos, estava absolutamente convencido de que os judeus teriam uma
oportunidade justa para competir nos esportes alemães.
Não poderia haver mentira maior. A segregação havia sido oficializada pelas
Leis de Nuremberg em setembro de 1935: com os direitos civis extirpados,
cidadãos judeus e parcialmente judeus deveriam ser banidos das organizações
esportivas. Mesmo assim, Avery Brundage tinha seus motivos. Ele acreditava
firmemente que as Olimpíadas deveriam ser realizadas a cada quatro anos, a
despeito do que fosse — seguindo os ditames do barão Pierre de Coubertin, o
aristocrata francês que trouxe os Jogos novamente à tona em 1896. Em um
encontro da União Atlética Amadora, em dezembro de 1935, Brundage silenciou
os críticos, e a proposta de um boicote aos Jogos de Berlim foi rejeitada. Dezenas
de atletas norte-americanos foram para lá.
Na Europa, o racismo irascível que crescia na Alemanha causava ainda mais
revolta. Pouco antes da cerimônia de abertura, o belga Henri Baillet-Latour,
presidente do Comitê Olímpico Internacional, expressou sua repulsa aos cartazes
anti-semitas que vira espalhados pelo país. Em um ato desafiador nada
característico de sua personalidade, Baillet-Latour disse a Hitler que os cartazes
deveriam ser retirados — ou as Olimpíadas seriam canceladas. Hitler mal
conteve sua raiva, mas, ainda assim, ordenou uma limpeza radical.
Apesar das concessões feitas, o Führer estava determinado a transformar as
Olimpíadas em um espetáculo de poder. Ofereceu recursos praticamente
ilimitados a Leni Riefenstahl, sua cineasta predileta, para que filmasse os eventos.
Mandou construir um estádio olímpico majestoso, e reclamava constantemente
que tudo estava muito pequeno. A vila olímpica foi colocada em uma floresta
espetacular, com gramados aparados à perfeição e lagos artificiais. Era
pontilhada por dezenas de bangalôs, uma cantina, uma biblioteca e muitas outras
instalações. Durante várias semanas, atletas de todo o mundo correram, pularam
e conversaram ali, ignorando as atrocidades planejadas do lado de fora.
Um dos atletas que se preparava em Berlim era Jack Beresford, remador
britânico. Essa seria a quinta vez que competia em Olimpíadas, e sempre levara
uma medalha para casa. Aos 37 anos, seria ele quem carregaria a bandeira,
representando todos os atletas britânicos.
Na onda dos protestos norte-americanos, alguns intelectuais britânicos se
juntaram ao coro contra as Olimpíadas Nazistas. Bastante independente das
autoridades políticas do país, a Associação Olímpica Britânica ignorou a agitação,
mas instruiu seus atletas a não fazerem qualquer saudação a Hitler ao entrarem
no estádio para a cerimônia de abertura. Atletas de poucos países usaram a
saudação nazista; outros optaram pela saudação olímpica — muito parecida com
a nazista e, de qualquer forma, interpretada pela platéia como um sinal de
simpatia ao seu líder. Os britânicos, todavia, não viraram os olhos e seguiram em
frente. O gesto foi interpretado como um ato de provocação, e causou um
silêncio petrificante no estádio.
Dorothy Odam, aos 16 anos de idade, achava tudo uma grande aventura. Ela
nunca havia viajado antes e não sabia muito bem como lidar com aquela histeria
coletiva. “Nós acordávamos todos os dias com os Hitlerjugend marchando com
pás apoiadas nos ombros. Achávamos que aquilo fazia parte das celebrações.”
Quando as inglesas saíam para fazer compras com seus guardiões, os lojistas as
saudavam com o “Heil Hitler!” obrigatório, e elas respondiam
conscienciosamente: “Bom dia, rei Edward!”
Conhecida mais tarde como Dorothy Ty ler, a atleta acabou ganhando
medalha de prata no salto em altura. As duas outras mulheres presentes no pódio,
a húngara vencedora do ouro e a medalhista de bronze alemã, levantaram o
braço e fizeram a saudação nazista. Dorothy recorda: “Eu achei que elas
ficaram com cara de idiota fazendo aquilo.” Alguém escreveu para ela na
Friesehaus, o alojamento feminino, suplicando que mostrasse ao mundo as
atrocidades que estavam acontecendo na Alemanha. Quando mostrou a carta ao
supervisor do time, ele a confiscou.
Assim como todos os outros atletas britânicos, Odam viajara para Berlim
com recursos próprios. Não recebera qualquer tipo de apoio financeiro da
Associação Olímpica — nem um par de sapatos sequer. Ela lembra: “Meus
sapatos estavam tão gastos que um dos dedos ficava de fora.”
Entre os atletas que estavam em Berlim, só os mais ricos tinham dinheiro
para comprar os sapatos Foster. Com o nome de um sapateiro de Bolton, esses
calçados haviam despontado para a fama nas Olimpíadas de Paris de 1924 nos
pés de Harold Abrahams e Eric Liddell, os heróis cuja história seria tema do
filme Carruagens de fogo. Herdeiro de uma longa linhagem de sapateiros de
Nottinghamshire, Samuel Foster começou, em 1862, a complementar sua linha
de produtos comum com calçados para a prática de críquete, destacando-se
como o inventor do modelo com travas para esse esporte. O filho de Samuel
mudou-se com a família para Bolton, onde abriu uma confeitaria, mas um de
seus netos havia aprendido com determinação a arte de fabricar sapatos.
Ávido corredor, Joe Foster colocou em prática o conhecimento do avô para
desenvolver calçados leves com travas para corrida, que chegaram ao mercado
com o nome de “Sapatilha de Corrida de Joe Foster”. Eles ficaram conhecidos
entre os corredores em 1904, quando Alf Schrubb, um pequenino corredor de
longa distância de Sussex, bateu três recordes mundiais em uma única corrida
em Ibrox Park, Glasgow, calçando as sapatilhas. Mas foi depois do triunfo
britânico nos Jogos de 1924 que o negócio de Foster decolou e ele pôde abrir uma
fábrica destinada somente à fabricação de calçados esportivos, chamada The
Oly mpic Works.
Adi Dassler queria um resultado semelhante nas Olimpíadas de Berlim. A
platéia certamente não se importaria com os sapatos dos atletas, mas os Dassler
já sabiam que poderiam se beneficiar do fato de estarem associados aos
campeões. As informações corriam muito rapidamente no pequeno círculo de
técnicos e gerentes de clubes que faziam os maiores pedidos. As conquistas dos
atletas poderiam ser citadas nos catálogos distribuídos, sugerindo que os calçados
dos Dassler haviam contribuído para o sucesso. Adi, portanto, viajou para Berlim
e usou sua amizade com Jo Waitzer para entrar na vila olímpica equipado com
vários pares de calçados e um kit de consertos. Por causa de Waitzer, Dassler
podia ter certeza que muitos na equipe alemã estariam usando seu produto, mas
ele estava atrás de um dos atletas mais admirados do planeta.
Filho de um trabalhador dos campos de algodão do Alabama, Jesse Owens
havia conseguido uma bolsa da Universidade de Ohio para desenvolver seu
talento extraordinário para a corrida. Seu estrelato começou em uma competição
universitária em Ann Arbor, Michigan, no dia 25 de maio de 1935. Em um único
dia, em 45 minutos, Owens bateu três recordes mundiais e igualou o recorde dos
100 metros rasos. A imprensa norte-americana comentou nos dias seguintes que
o próprio Hitler havia pedido mais informações sobre o negro norte-americano
que ameaçava a primazia alemã em Berlim.
Quando viajavam pelos Estados Unidos, Jesse Owens e seus companheiros de
equipe negros eram ofendidos constantemente com insultos racistas. Enquanto os
corredores brancos devoravam suas refeições nas lanchonetes de beira de
estrada, o técnico tinha de sair furtivamente dos restaurantes com sanduíches
para os rapazes negros, que ficavam esperando no carro. Como se podia prever,
alguns repórteres alemães eram igualmente preconceituosos. Eles colocaram a
fotografia de um macaco ao lado da de Owens e atribuíram sua velocidade a
“qualidades animais”. Contudo, o público alemão, em geral, ainda o
reverenciava por seus feitos. Para sua surpresa, milhares de admiradores haviam
ido a Hamburgo ver a chegada da equipe norte-americana. Lá, uma multidão
animada gritava o seu nome.
Adi Dassler estava igualmente impressionado com o desempenho inigualável
de Jesse, e desesperado para colocar seus calçados nos pés do corredor. Josef
Waitzer provavelmente alertou o amigo para manter certa discrição. Os nazistas
decerto não ficariam contentes se descobrissem que os calçados com os quais
um negro vencera corredores arianos haviam sido feito por um sapateiro da
Baviera. Mas Dassler estava determinado. A despeito dos problemas políticos
envolvidos, Jesse era um corredor fabuloso e não havia dúvida de que seria o
herói das Olimpíadas de Berlim. Quando encontrou o atleta norte-americano,
Dassler timidamente mostrou-lhe um par e fez gestos e mímicas para que Owens
o experimentasse.
Uma das provas mais emocionantes das Olimpíadas era o salto em distância.
Essa prova seria disputada por Owens e pelo alemão Lutz Long, que poderia
facilmente ser considerado um arquétipo do ariano. Após um duelo intenso, Long
andou até pista, preparando-se para o último salto. Hitler ficou radiante quando o
atleta alemão, no máximo de seu esforço, conseguiu a marca extraordinária de
7,87 metros, igualando o recorde olímpico que Owens acabara de bater antes
dele. Mas os norte-americanos não estavam preocupados. Enquanto o estádio
explodia em aplausos para Long, Owens preparava-se para a sua vez. Após dois
minutos de concentração, ele disparou na raia. Lançou-se no ar com tanta força
que, por um momento, pareceu flutuar sobre a areia. Ele destruiu o recorde
anterior, chegando à marca de 8,06 metros. Para o horror de Hitler, Lutz Long
foi rapidamente abraçar e parabenizar o vencedor. Quando passaram em frente
ao camarote do Führer, o ariano e o negro conversavam de braços dados.
O espetáculo dos norte-americanos na corrida foi prejudicado pelo próprio
Adolf Hitler, acusado de esnobismo ao sair em disparada do camarote após o
triunfo espetacular de Owens nos 100 metros. Mas o atleta ignorou o problema.
Com uma compostura impressionante, ele ganhou duas medalhas de ouro: nos
200 metros rasos e no revezamento 4 x 100. No meio da torcida ensandecida, Adi
mal conseguia conter seu orgulho e entusiasmo: Owens estava usando os sapatos
escuros dos Dassler, com as duas faixas de couro nos lados.
A briga entre os irmãos Dassler rachou a família, abrindo caminho para uma
rivalidade que duraria décadas. O conflito também dividiu Herzogenaurach, e o
rio Aurach passou a funcionar como linha divisória entre os que apoiavam Rudolf
e os que apoiavam Adolf. O lugar ficou conhecido como “a cidade onde todos
olham sempre para baixo” — para ver os calçados usados pela outra pessoa
antes de começar uma conversa.
Para a família — e alguns empregados mais íntimos —, a briga era muito
séria, e em uma pequena cidade conservadora deu origem às fofocas mais
tresloucadas. Até hoje, alguns maledicentes senhores de Herzogenaurach
comentam que a rixa foi provocada por mulher. Há alguns convencidos de que
Adolf expulsou o irmão quando este passou uma cantada em Käthe. Um dos
rumores mais recentes a surgir na cidade é que Horst, na verdade, é filho de
Rudolf. Outros espalham por aí que as discussões começaram quando Rudolf foi
pego com as mãos no dinheiro da empresa.
A divisão deixara os dois irmãos meio engessados. Quase toda a equipe
administrativa e de vendas da Gebrüder Dassler ficou com Rudolf, mas como a
maioria da equipe técnica estava com Adolf, os empregados do primeiro não
tinham o que vender. Por outro lado, Adolf retomou rapidamente a produção,
mas não tinha como promover seu produto. Já com quase 50 anos de idade, Adi
Dassler teve que recomeçar seu negócio mais uma vez.
Para compensar a saída abrupta de Rudolf, o resto da família de Adi foi
absorvido pela empresa de forma mais intensa do que se poderia prever. Käthe
começou a executar todo tipo de função, desde fazer pedidos até supervisionar
entregas. Sua irmã Marianne adquiriu bastante influência. A família Martz inteira
havia sido evacuada de Pirmasens no início de 1939. Assim como milhares de
outras famílias, os Martz foram expulsos sem cerimônia da região para a
construção da Linha Siegfried — um muro de tanques e outras construções de
concreto erguido pelos nazistas antes da guerra nos 630 quilômetros de fronteiras
do lado ocidental do país. A família Martz havia se dispersado, mas lentamente
convergiu para Herzogenaurach, onde Käthe encontrou abrigo para os parentes.
Apaixonada por um homem da cidade, Marianne decidiu ficar e ajudar a
reconstituir a equipe de vendas da Adidas.
Pouco depois da separação, Adi chamou as duas para avaliar novos
protótipos. Elas observaram curiosas alguns funcionários correrem ao redor da
fábrica. Os sapatos de couro escuro haviam recebido entre duas e seis tiras de
couro branco em cada lateral.
Essas tiras já eram usadas tanto pelos Dassler quanto por outros sapateiros
para fortalecer as laterais dos calçados, mas, na maioria das vezes, passavam
despercebidas por serem feitas com o mesmo couro das gáspeas, quase sempre
preto ou marrom-escuro. A uniformidade tornava difícil para os Dassler provar
que os atletas haviam usado seus sapatos. Nem mesmo os especialistas
conseguiam dizer com segurança que sapatos os corredores estavam calçando,
considerando grande parte das fotos. O material de propaganda e os catálogos
traziam uma série de citações de atletas e treinadores exaltando as virtudes dos
calçados dos Dassler, mas Adi percebeu que, se as tiras fossem brancas, os pares
seriam facilmente identificados de longe.
O desenho com duas tiras logo foi esquecido por já ter sido usado pela
Gebrüder Dassler — e eles podiam muito bem evitar mais uma discórdia com
Rudolf; quatro deixava o modelo confuso demais. Três parecia aceitável: um
desenho que poderia ser facilmente identificado à distância e claramente
distinguiria os calçados da Adidas dos de qualquer outro concorrente. A marca foi
registrada na Alemanha em março de 1949, juntamente com a empresa, cujo
nome oficial era “Adolf Dassler Adidas Schuhfabrik”. Adolf e Käthe
desenvolveram um desenho para o nome Adidas, com dois Ds compridos
atravessados por um calçado de corrida com três listras, formando a barra usada
no salto em altura. O produto era descrito pelos advogados como “calçados
desportivos com faixas laterais a partir dos ilhós”, mas os slogans da empresa se
referiam a Die Marke mit den drei Riemen — a marca das três listras.
Os Dassler do lado da Adidas estavam muito cientes da vantagem que teriam
em termos de publicidade. Logo após a briga com o irmão, Adi contratou seu
próprio diretor de propaganda, Wolfgang Krause. Proveniente da Silésia, ele era
um dos milhões de alemães que fugiram das províncias mais ao leste do antigo
Reich no fim da guerra, com o avanço do Exército soviético. Krause tinha sido
dono de um mercado, mas não conseguira progredir em Herzogenaurach. Ele
aceitava de muito bom grado as refeições que Adi e Käthe Dassler lhe
ofereciam, e mais tarde aceitou também o emprego. Embora a palavra
“marketing” ainda não existisse, Krause construiu a reputação da Adidas
explorando de forma muito astuta a relação da empresa com os atletas. Os
pequenos anúncios colocados em revistas de esportes invariavelmente
mostravam o desenho do distinto calçado de três listras e uma referência a algum
triunfo esportivo conquistado recentemente.
Do outro lado do Aurach, Rudolf Dassler rapidamente roubou técnicos de
outros concorrentes para comandar a sua parte das máquinas da Gebrüder
Dassler, com freqüência fabricando sapatos que, de forma intrigante, pareciam-
se com os desenhados pelo irmão. Afinal, ainda existiam muitos sapateiros
desempregados em Herzogenaurach. Usando a lista de contatos que seus
assistentes haviam trazido da Gebrüder Dassler, Rudolf fez as vendas da Puma
decolarem rapidamente.
A primeira versão do logotipo da Puma foi registrado, com o nome, em
outubro de 1948: um animal feroz pulando através de um D. Assim como o
irmão, Rudolf também pensou em usar faixas brancas nas laterais dos calçados,
mas seu primeiro produto levou apenas uma faixa grossa — que, mais tarde,
evoluiu para a formstripe: uma única faixa que começava no mesmo lugar mas
afinava na curva do calcanhar. As três listras e a formstripe foram muito
importantes na disputa entre a Adidas e a Puma, visto que ambas dependiam
cada vez mais da publicidade para aumentar suas vendas.
Rudolf Dassler (de óculos) gozava da simpatia dos empregados, com seu ar
alegre e paternalista.
H orst Dassler estava em Londres em 1956 para praticar inglês quando seus pais
ligaram. Adi e Käthe insistiram para que ele partisse imediatamente. Ele deveria
fazer as malas rápido e embarcar no próximo avião para o outro lado do mundo.
Com 20 anos de idade, Horst teria de promover os calçados da Adidas nas
Olimpíadas de Melbourne. Não havia ninguém mais de confiança na empresa
que falasse inglês, e a marca não poderia ficar de fora das Olimpíadas. Os Jogos
de 1956 seriam transmitidos pela televisão para todo o mundo e poderiam ser um
excelente palco para as três listras.
De certa forma, Horst havia sido preparado para isso desde que começara a
andar. Em ambos os lados da família, os filhos de Adolf e Rudolf foram
encaminhados para os negócios, fazendo trabalhos manuais durante as férias do
colégio e da universidade ou ocupando postos de tempo integral, já adultos. No
caso de Horst, porém, as Olimpíadas de Melbourne representavam muito mais
do que um bico de estudante: eram o início de uma carreira que reformaria o
mundo dos esportes.
Horst era o filho mais velho de Adolf e Käthe, e o único menino. Passou
muito da sua infância na casa da família, junto às quatro irmãs — Käthe tinha
dado à luz sua quarta filha, Sigrid, em 1953 — e a seus primos Armin e Gerd.
Apesar das privações da guerra, os filhos dos Dassler estavam entre as crianças
mais privilegiadas de Herzogenaurach. Os meninos que vinham fazer entregas na
casa se maravilhavam com todos os brinquedos espalhados pela sala.
Apesar disso, a infância dos mais velhos foi profundamente afetada pela
guerra e pela briga entre os pais. Nenhum dos meninos ousava perguntar o
motivo da rixa. Quando seus pais se restabeleceram cada um no seu lado do
Aurach, os filhos não precisavam ser avisados de que não deveriam brincar mais
com os primos. Assim como o resto da cidade, eles deveriam ficar com o seu
lado da história, e a uma distância segura dos parentes e amigos com quem
haviam dividido a casa desde o nascimento.
Nos fins de semana, Horst era arrastado pelo pai para longas corridas na
floresta. Passavam horas correndo juntos, parando ocasionalmente para
aprender técnicas de arremesso e pulo. As notas medíocres que Horst obtinha na
escola provavelmente não significavam tanto para o pai quanto a sua destreza no
arremesso de dardo — um esporte no qual Adi era excelente, em parte devido
aos conselhos de Jo Waitzer. Horst, por sua vez, tinha o título de campeão juvenil
de arremesso de dardo da Alemanha.
O jovem compartilhava o gosto pelos esportes, o que o fez desenvolver laços
fortes, apesar de silenciosos, com o pai. “Meu pai não era exatamente muito
produtivo em termos de conversa. As coisas que dizia eram mais pragmáticas”,
disse Horst a um repórter anos mais tarde. Entre uma corrida e outra, Adolf
muitas vezes consultava o filho a respeito dos negócios. Quanto à mãe, o biógrafo
de Horst observou que “ele tinha um grande respeito por ela e, em certos
sentidos, até admiração”, mas “não tinha uma relação muito íntima”.
Já do lado da Puma, Armin Dassler foi forçado a entrar na empresa. O filho
mais velho de Rudolf e Friedl implorou aos pais para que o deixassem estudar
eletrônica, mas eles não quiseram nem ouvir. Rudolf queria que ele aprendesse
os meandros da fabricação de calçados logo que saísse da faculdade. Armin teve
de suportar o desgosto do pai, que deixava absolutamente claro que seus grandes
projetos para o filho haviam sido frustrados. “Rudolf queria um filho com dotes
atléticos e incrivelmente inteligente”, lembrou Betti Strasser, tia de Armin. “Ele
sempre desdenhava de Armin, e, com freqüência, em público.”
Essa situação ficava ainda pior porque Rudolf demonstrava uma preferência
injustificável pelo segundo filho, Gerd, dez anos mais moço. Apesar de o próprio
Rudolf por vezes se mostrar arrependido pela briga com o irmão mais novo, ele
fez pouco para evitar que o mesmo ocorresse novamente em seu lado da família.
Ao demonstrar explicitamente preferir Gerd a Armin, ele estimulava uma
competição agressiva e, por vezes, pouco saudável entre os dois.
Os problemas também apareceram no trabalho, onde a tensão entre Rudolf e
Armin gerava cenas constrangedoras. “A relação não era fácil”, disse Peter
Janssen, ex-colega de classe de Armin que mais tarde seria membro do conselho
da Puma. “Armin estava disposto a subir na empresa, mas seu pai
constantemente o freava.” Apesar de Armin demonstrar grande respeito pelo
pai, esse sentimento nunca foi recíproco.
As brigas entre os filhos deixavam Friedl arrasada. Ela muitas vezes implorou
ao marido que acabasse de uma vez com a injustiça que cometia, mas ele
ignorava seus pedidos. Friedl, antes alegre e corajosa, submeteu-se ao marido
despótico.
Do outro lado do Aurach, Horst Dassler crescia em um ambiente mais
harmonioso. Durante a guerra, ele passou quatro anos no monastério de Ettal, na
Baviera, onde havia menos chances de ter que enfrentar os horrores da época.
Posteriormente, foi para o colégio Fridericianum, em Erlangen, onde recebeu
uma educação de inclinação humanista. Quieto e despretensioso quando
adolescente, Horst ia para Erlangen no pequeno trem que parava praticamente
na porta da casa da família. Depois, após dois anos em uma escola de negócios
em Nuremberg e uma estadia em Barcelona para aprender espanhol, Horst
seguiu os passos do pai e foi para Pirmasens. Ele ficou na casa da família da mãe
e fez um curso de dois anos na respeitada Schuhfachschule da cidade. Adi
Dassler achava essencial que seu filho compreendesse a fabricação de sapatos
para que um dia pudesse dirigir a empresa e ter discussões relevantes com os
atletas.
Contudo, em 1956, em Melbourne, o jovem Dassler demonstrou ter
habilidades que não poderiam ter sido desenvolvidas em nenhum desses lugares.
Terris tinha quase certeza de que a maioria dos jogadores ingleses concordaria
em usar as chuteiras Adidas. Ele havia desenvolvido uma relação bastante íntima
com Bobby Moore, o capitão da equipe. Contudo, sabia muito bem que lealdade
pessoal não era motivação suficiente para ninguém: os jogadores ingleses
certamente já teriam ouvido falar dos contratos de exclusividade feitos em países
como a Itália e o Brasil. Era previsto que eles também quisessem o seu quinhão.
Durante os preparativos para a Copa do Mundo, o pessoal da Umbro se
certificou de que a marca estaria em todo lugar. A empresa começara a fornecer
material para equipes de outros países em 1958, quando a seleção brasileira
concordara em usar as camisas feitas em Wilmslow. Oito anos depois, a Umbro
conquistou um nível de exposição que pareceria impensável. “Meu pai sumiu
durante seis semanas”, lembrou Charles Humphrey s. “Ele andou pelo mundo
inteiro e assinou contrato com 15 dos 16 times que estariam na fase final da
Copa.”
Enquanto isso, os organizadores da Copa do Mundo também tinham
problemas para conseguir equipamento. O campeonato envolveria centenas de
gandulas, organizadores e árbitros, e todos eles precisariam de seu próprio kit.
Nos anos seguintes, os fornecedores entrariam em guerra para ter o privilégio de
conseguir um contrato desses, mas, na época, esperava-se que os organizadores
pagassem por todo o equipamento. Eles temiam que a conta fosse astronômica e
esperavam que a tradicional fornecedora do equipamento, a Bukta, concordasse
em dar-lhes um pequeno desconto. Conversaram com Ron Goodman,
revendedor de artigos esportivos de Southgate, para fechar o negócio. Afinal, ele
era o intermediário de quase todas as melhores equipes inglesas e certamente
teria uma boa proposta para oferecer.
Felizmente, Goodman estava totalmente dedicado à causa da Adidas e da
Umbro. O bom relacionamento entre Goodman e a Adidas surgira certo dia, no
fim da década de 1950, quando o revendedor estava com a esposa alemã na
Baviera visitando alguns parentes. Ele vira uma placa indicando a saída para
Herzogenaurach e resolveu parar. Já era fim de tarde, e Käthe Dassler então
arrumou imediatamente lugares para os Goodman na mesa de jantar. “Eles
nunca tinham nem ouvido falar de nós, mas lá estávamos à mesa com a
família”, lembrou Ron Goodman. “Nenhum fornecedor inglês nos trataria com
tanta cordialidade e informalidade.” O tempo passou rápido e Käthe insistiu que
já estava tarde, que eles não poderiam seguir viagem e deveriam passar a noite
ali.
Desde então, Goodman passou a promover a Adidas com afinco. Ele rompeu
os laços com a Bukta e começou a trabalhar mais com a Umbro. Quando os
Humphrey s iam a Londres, sempre passavam na loja de Goodman, e todos
eram sempre convidados para ir a Herzogenaurach e a Landersheim.
Quando a Federação Inglesa de Futebol (FA) contatou Goodman para o
fornecimento de camisas e chuteiras, ele os apresentou ao pessoal da Umbro. O
revendedor foi com John Humphrey s e Jim Terris pessoalmente a Lancaster
Gate, onde se encontraram com Alf Ramsey e Denis Follows, secretário da FA.
Como os dois explicaram, eles precisavam de fornecedores de equipamento
para a seleção inglesa. Havia também a questão da festa de abertura em
Wembley, que seria assistida pela rainha Elizabeth II. Uma elaborada cerimônia
de boas-vindas estava sendo organizada — com direito às obrigatórias bandas e
aos jovens levando as bandeiras dos países e vestindo o uniforme completo das
seleções. A Bukta fizera um pequeno esforço e oferecera um desconto de 20%.
Mas se Humphrey s oferecesse uma proposta melhor em relação às camisas da
Umbro e às chuteiras da Adidas, o contrato seria deles.
Para surpresa de Ron Goodman, John Humphrey s não hesitou. “Eu o
considerava um administrador cauteloso, mas naquele momento ele percebeu
imediatamente que o negócio valeria a pena”, lembrou. “Concordou em
fornecer todas as chuteiras de graça, coisa de que nunca se tinha ouvido falar na
época. O pessoal da FA não acreditou.”
O acordo foi logo fechado. Ele marcou o início de um relacionamento entre a
Umbro e a seleção da Inglaterra que duraria décadas, e garantiu uma exposição
sem precedentes para as três listras da Adidas.
Os alemães estavam entre os poucos times que ainda não tinham o que escolher.
Enquanto estava sob o comando de Sepp Herberger, era certo que o Mannschaft
usaria Adidas. Ele agora havia se aposentado, mas Helmut Schön, seu ex-
assistente e substituto, tinha um laço de amizade semelhante com Adi Dassler.
Como se não bastasse, Dassler também estabelecera boas relações com muitos
dos jogadores da equipe. Entre eles estava Uwe Seeler, na época atacante do
Hamburg. Como já se conheciam desde a década de 1950, Seeler sempre
visitava Herzogenaurach. O jovem jogador de Hamburgo era exatamente o tipo
de pessoa que Dassler admirava: tenaz e humilde, não se comoveria com carros
de luxo ou badalações.
Dassler ficou chocado quando soube que o Inter de Milão havia oferecido 1,2
milhão de marcos para que integrasse o clube italiano. O acordo causou tamanho
furor na Alemanha que o reitor da Universidade de Hamburgo escreveu uma
carta para Seeler: “Se você conseguir resistir a essa tentação”, escreveu, “será
um sinal que fará as pessoas refletirem sobre suas ações.”
Escandalizado com os insolentes italianos, Adi Dassler pegou logo o telefone e
ligou para o jogador. “Pense melhor”, disse a Seeler. “Aqui todos amam você,
você é de Hamburgo e tem os pés no chão.” Para tornar a contraproposta mais
atraente, ele ofereceu a Seeler o posto de representante da Adidas no norte da
Alemanha. Numa época em que as chuteiras Adidas vendiam como água, era
um cargo bastante sedutor. O jogador rapidamente tomou sua decisão,
favorecendo a Adidas. “Eu sabia que essa seria a sua decisão”, murmurou Adi
Dassler, claramente satisfeito do outro lado da linha.
Em troca desse ato de lealdade, Adi salvou o time alemão pouco antes da
Copa do Mundo de 1966, quando Seeler sofreu um rompimento parcial do
tendão-de-aquiles. Apesar de Helmut Schön não ser muito dado a rompantes
emotivos, ele se declarou “fatalmente abalado” pela possível ausência de seu
atacante na Copa. Para assegurar que o jogador poderia continuar treinando
apesar da contusão, Adi passou horas desenvolvendo uma chuteira especial, com
cadarços na parte de trás — o que permitiria que Seeler apertasse mais o
calcanhar enquanto o tendão se recuperava.
Outro grande amigo de Adi era Franz Beckenbauer, jogador ainda
adolescente do Bay ern de Munique. Ele crescera na miséria do pós-guerra e
jogara futebol usando botas de couro para esqui. “Um sapateiro vivia no andar de
baixo”, explicou. “Ele tirava a sola dos calçados e pregava umas travas no lugar.”
Quando o jovem Beckenbauer recebeu seu primeiro par de chuteiras Adidas,
ficou tão feliz que se recusou a tirá-las para dormir.
Assim como Seeler, Beckenbauer conheceu Adi Dassler quando era muito
jovem. Os dois juntos desenvolveram chuteiras perfeitas para o seu tipo de jogo.
Por jogar no meio-campo e correr longas distâncias, ele precisava de chuteiras
de solas leves e flexíveis. Beckenbauer aparecia com freqüência em
Herzogenaurach, onde fez amizade com toda a família de Adi. O jovem que se
tornaria o jogador mais reverenciado da história do futebol alemão tinha acabado
de fazer 19 anos quando Helmut Schön escolheu os jogadores que integrariam a
seleção alemã da Copa do Mundo. Alguns argumentavam que ele não tinha
experiência o suficiente para esse tipo de competição, mas essas ressalvas logo
seriam colocadas de lado.
Com Portugal fora da competição, só havia uma coisa que a Puma poderia fazer.
Como era inconcebível que qualquer jogador da Alemanha entrasse em campo
usando qualquer chuteira senão a da Adidas, a única esperança era convencer
alguns jogadores ingleses a trocarem as três listras pelo felino.
O pessoal da Puma sabia muito bem resolver esse tipo de problema. Contudo,
a maioria dos jogadores da Inglaterra era fiel a Jim Terris e se recusava a deixar
suas chuteiras de três listras. Alguns, porém, ficaram felizes em aceitar os
pagamentos da Puma ao fim de cada jogo após Derek Ibbotson tê-los
conquistado.
Seu alvo principal era Gordon Banks, goleiro da Inglaterra. Os fabricantes de
chuteiras estavam sempre atrás dele, visto que participava das jogadas mais
emocionantes das partidas. Toda vez que a bola chegava perto do gol, todos
olhavam para ele. Os lances seriam repetidos posteriormente diversas vezes, e
tanto o goleiro quanto suas chuteiras apareceriam bem de perto.
Banks era um goleiro formidável que, além de demonstrar muita segurança
sob as traves, sabia muito bem o que acontecia fora dos gramados. Desde o início
do torneio ele se impressionara com o interesse gerado pela Copa. Ficava
desconcertado ao ver que quem vendia camisetas ou outros produtos impressos
com a figura do leão Willie, mascote do campeonato, ganhava mais do que os
jogadores. Enquanto a FA havia oferecido mil libras a Banks para não deixar a
bola entrar no gol da Inglaterra, ele ouvira dizer que um vendedor de camisetas
já havia ganhado cerca de 1.500 libras durante a competição.
Na manhã da final, os outros jogadores da Inglaterra sabiam muito bem onde
pegar o dinheiro que ganhariam da Adidas. Alan Ball, o meio-campo ruivo e
baixinho, dividia o quarto com Nobby Stiles, o feroz zagueiro do Manchester
United. Stiles havia acordado cedo para ir à igreja e, na volta, decidira tirar um
cochilo. Enquanto isso, Ball se encontraria com Jim Terris e pegaria o pagamento
da Adidas para os dois.
Cada jogador receberia mil libras para usar as três listras na final. Era uma
recompensa considerável, o equivalente a vários meses de um bom salário. Com
isso, os jogadores que usassem Adidas dobrariam o dinheiro extra oferecido pela
FA.
Ao voltar para o quarto carregando uma mala cheia de notas, Alan Ball
estava deslumbrado. “Imagine só. Eu tinha 21 anos, jogava pela seleção da
Inglaterra e estava subindo com duas mil libras para o meu quarto só por usar
chuteiras Adidas. Eu teria comprado as minhas próprias chuteiras, mas isso era
muito diferente”, escreveu. “Eu entrei no quarto e Nobby ainda estava deitado.
Peguei as notas e as joguei para cima para que caíssem feito confete. Faltavam
só duas horas para a final contra a Alemanha Ocidental. Nós rimos como
crianças.”
Outros jogadores se irritavam profundamente com a abordagem dos
enviados dos Dassler. Eles achavam que o dinheiro atrapalhava sua preparação
para o jogo e que não era hora de aborrecê-los sobre qual chuteiras usariam.
Jack Charlton ficou tão irritado com as negociações que ameaçou envergonhar as
duas empresas usando um pé de chuteira da Adidas e outro da Puma.
Quando os 22 jogares entraram em campo, a torcida explodiu em êxtase e os
olhos dos fabricantes varreram a grama. A entrada fez com que o pessoal da
Puma sorrisse. A final não estava totalmente coberta pelas três listras: Ray
Wilson e Gordon Banks estavam usando chuteiras Puma.
Durante as horas seguintes, enquanto as duas equipes disputavam a árdua
final do campeonato, tudo isso perderia a importância. Geoff Hurst marcou três
gols e a alegria de Kenneth Wolstenholme ficou gravada na consciência coletiva
dos ingleses — a Inglaterra finalmente chegara ao auge da glória em seu próprio
esporte.
Para Horst Dassler, o triunfo era o mesmo. Embora as quatro chuteiras da
Puma continuassem a ferir seus olhos, a final estivera coberta com as três listras
de tal maneira que até parecia ter sido organizada pela Adidas. Os incontáveis
replay s das jogadas valiam por infinitos comerciais para a marca. Isso
representava um grande sucesso para Jim Terris e uma propaganda inestimável
para a Adidas — o que consolidaria anos de inquestionável liderança no
mercado.
O salto foi tão impressionante que o aparelho ótico de medição não estava
configurado para medir a distância. Os juízes, estupefatos, tiveram que utilizar a
velha fita métrica. O veredicto foi 8,90 metros, o que absolutamente pulverizou o
recorde mundial anterior e estabeleceu uma nova marca que não seria superada
por mais de 20 anos. Quando Beamon percebeu o que havia conseguido, caiu de
joelhos no chão. Possivelmente o maior feito do atletismo de todos os tempos, o
salto de Beamon capturou a atenção de milhões de telespectadores, sendo
continuamente retransmitido. Para desgosto de Armin Dassler, contudo, de
qualquer ângulo que se olhasse era possível ver as três listras dos calçados do
atleta.
Somente alguns poucos esportistas permaneceram imunes aos encantos do
dinheiro dos Dassler. Os calçados de Dick Fosbury, atleta norte-americano
estreante, eram feitos à mão pelo próprio Adolf. Adi era bom no salto em altura,
e ouvira falar que um engenheiro de Idaho havia inventado uma técnica nova
para o esporte. Ao passo que os outros pulavam com a perna de dentro e
encolhiam a outra perna ao passar por cima da barra, Fosbury pulava de cabeça
com as costas viradas para o chão. Ao inaugurar seu estranho salto, foi
ridicularizado por outros atletas e pelos juízes, mas Adi pegou imediatamente o
telefone para contatá-lo.
Várias semanas depois, Fosbury recebeu empolgado um pacote da
Alemanha com calçados feitos à mão que serviriam perfeitamente. Para que se
destacassem ainda mais, os calçados do pé direito e do pé esquerdo tinham cores
diferentes. Ele os utilizou na Cidade do México quando chocou a platéia saltando
sobre a barra colocada a 2,24 metros de altura. O recorde mundial de Valery
Brumel, nascido na Sibéria, era ligeiramente maior, mas, na Cidade do México, o
salto de Fosbury foi o suficiente para que ganhasse a medalha de ouro. “O fato
de que esse sapateiro alemão passou horas fazendo calçados só para mim era
impressionante”, disse o atleta. “Fiquei muito grato, e certamente nunca aceitaria
dinheiro para utilizá-los.” O Salto Fosbury atualmente é a técnica padrão utilizada
pelos atletas do salto em altura.
Os maços de dólares distribuídos livremente no México aborreceram
profundamente quem defendia as regras do esporte amador, e eles sabiam muito
bem a quem culpar: “Toda a família Dassler terá de ser deportada para a
Sibéria”, alguém sugeriu, para acabar com o problema. Os de mentalidade mais
pragmática, contudo, reconheciam que as regras eram antiquadas e que
deveriam ser abolidas. Percebendo uma certa liberalização, alguns atletas
começaram a aumentar seus preços descaradamente.
Enquanto isso, a imagem de Horst Dassler começava a mudar. Ele não era
mais o afável jovem alemão com a sacola cheia de calçados, mas um
empreendedor respeitado, a face internacional da Adidas. De seu reduto francês,
Horst planejava controlar a marca construída pelos pais.
10
O filho que cresceu demais
D ificilmente a família Dassler poderia sonhar com uma ocasião mais propícia
para os negócios do que as Olimpíadas de Munique, que começou em agosto de
1972. Não havia como os dois gigantes de Herzogenaurach não aparecerem: os
Jogos seriam realizados em casa, onde eles conheciam todos os responsáveis pela
organização do evento. Se tudo desse certo, as Olimpíadas representariam a
coroação definitiva dos Dassler.
Os gerentes da Adidas se prepararam meticulosamente. Bajularam bastante
os atletas que tinham mais chances de ganhar medalhas nas competições, a fim
de que na hora usassem os calçados certos. Conversaram com técnicos e
dirigentes do alto escalão que certamente estariam em Munique. Contudo, talvez
o mais importante tenha sido o acordo feito com os organizadores: dessa vez, a
Adidas apareceria não só nos pés, mas também no peito dos atletas.
Com a incursão no mercado de roupas, a Adidas transformou o mundo dos
esportes em um mercado totalmente novo. Os Dassler puderam buscar acordos
que divulgassem a marca tanto através dos calçados quanto das camisas dos
atletas. A maior parte da produção passou aos itens de lazer, e a Adidas logo
começou a fazer parte da moda urbana, atraindo celebridades que nunca haviam
colocado os pés num clube de esportes.
A mudança pode até ter parecido um passo óbvio, mas fora atrasada pela
relutância de Adi Dassler em entrar no mercado de roupas. Na década de 1960,
quando ele começou a encomendar joggings com as três listras, tratava-se mais
de um favor feito a alguns técnicos de futebol. Em um dos treinos da seleção
alemã, Adi encontrou Willy Seltenreich, gerente da Schwahn, uma pequena
fornecedora local. Eles começaram a conversar e Dassler pediu a Seltenreich
que fizesse por volta de mil joggings para a Adidas “com três listras descendo nas
laterais”.
Quando o Bay ern de Munique adotou os joggings em 1962, as poucas caixas
do produto logo se transformaram em grandes remessas. Outros clubes fizeram
pedidos. Como já compravam chuteiras Adidas, seria fácil se comprassem
também as camisas. Alguns anos depois a Adidas já havia ultrapassado e jogado
para escanteio a maioria dos clientes da Schwahn, e a família Dassler resolveu
comprar a empresa.
No início da década de 1970, Käthe Dassler conseguira convencer o marido a
adotar uma linha mais ampla de shorts e camisetas. As roupas eram destinadas
ao futebol, à prática de outros de outros esportes e ao lazer, e acabaram
recebendo um logotipo absolutamente novo. A tarefa de desenvolvê-lo foi dada a
um pequeno escritório de design que já havia feito alguns catálogos para a
Adidas alemã. Os Dassler escolheram um modelo representando três folhas
perpassadas por três listras horizontais. Inspirado na coroa que os atletas suecos
tinham nas jaquetas, o logo ficou conhecido como o trevo da Adidas.
O investimento feito para que tivessem uma linha de vestuário seria
recompensado pela exposição maciça que a marca teria nas Olimpíadas de
Munique. Após discussões desgastantes com o comitê de organização dos Jogos, a
Adidas conseguiu fazer um acordo: era absolutamente inaceitável que os atletas
estivessem cobertos dos pés à cabeça com as três listras, mas pela primeira vez
seria permitido usarem roupas que mostrassem claramente a marca do
fabricante. Foi aí que entrou o trevo: o Comitê Olímpico Internacional (COI) não
teria ressalvas a fazer em relação a um pequeno emblema na roupa dos atletas.
Até o momento, os atletas olímpicos usavam camiseta regata aparentemente
sem marca e, com freqüência, velhas e surradas. Na melhor das hipóteses, a
camiseta tinha as cores da bandeira ou o emblema do país defendido. Nenhuma
outra empresa do ramo de esportes estava explorando seriamente o mercado de
roupas, mas, mesmo assim, a Adidas assinou contratos de exclusividade com
várias federações nacionais de atletismo, e enviou milhares de camisas
marcadas com o trevo.
Fora das pistas, era mais fácil identificar as roupas do que os calçados Adidas.
Os atletas caminhavam livremente vestindo joggings de três listras — verde para
as mulheres e azul-lavanda para os homens. Avery Brundage, ainda presidente
do COI, fez um enorme esforço para barrar a grandes empresas da competição,
tendo mandado seu pessoal vistoriar a vila olímpica à procura de sacolas da
Lufthansa que os atletas poderiam ter recebido no aeroporto. Apesar disso,
Brundage absolutamente ignorou a onipresença das três listras.
Adi e Käthe investiram pesado nas Olimpíadas de Munique. Eles perceberam
que não dariam conta da quantidade de atletas que chegariam à sua porta em
Herzogenaurach e mandaram construir um hotel inteiro para os convidados. O
Sportshotel foi construído na montanha atrás da fábrica, concebido inicialmente
como um dormitório — um anexo da vila olímpica —, mas depois melhorado
para receber convidados importantes de todo o mundo.
Para aprofundar sua relação com outros atletas de nível internacional, os
Dassler pediram a Ray Schiele, chefe da subsidiária canadense, que retornasse à
Alemanha. Os gerentes com quem Horst trabalhava falavam várias línguas, mas
na matriz alemã ninguém da família falava inglês fluentemente. Schiele ajudaria
a fazer com que os atletas anglófonos se sentissem mais à vontade. A relação
entre a família Dassler e a família Schiele havia se tornado tão íntima que Adi
permitiu que Ray adquirisse um terreno vizinho à fábrica em Herzogenaurach e
ali construísse uma casa. Ela faria parte do complexo dos Dassler, e estaria
pronta para a mudança dos Schiele poucos meses antes das Olimpíadas.
Horst roubou a cena dos pais na vila olímpica, onde conseguiu montar uma
loja da Adidas. Era proibido vender e/ou distribuir qualquer calçado dentro da
vila, diziam as regras — mas elas já estavam se transformando em uma grande
piada. “Todos os atletas sabiam que, no fundo da nossa tenda na vila olímpica,
havia uma seção especial onde distribuíamos calçados”, disse um dos assistentes
dos Dassler.
Desta vez, porém, o estande da Adidas não acolheria só atletas. Os gerentes
da empresa arrumaram tempo para receber outras celebridades que achavam
cool serem vistas usando as três listras. A princesa Grace de Mônaco estava entre
as eminências que apareceram no salão VIP da empresa. A moda da época se
inspirava cada vez mais nos esportes, e as três listras estavam saindo dos campos
e aparecendo na capa das revistas.
Os Dassler da Puma observavam tudo com inveja. Eles quase não tinham
artigos de vestuário para oferecer e ainda estavam concentrados totalmente em
convencer atletas a usarem seus calçados. A empresa apareceu na capa de
algumas revistas alemãs por causa de Klaus Wolfermann, atleta que conquistou o
ouro no arremesso de dardo em Munique e, posteriormente, foi integrado ao
departamento de promoção da Puma. Derek Ibbotson, o ex-corredor que
trabalhou para a Puma na Inglaterra, conseguiu relacionar a empresa a mais
alguns triunfos esportivos. Entre os mais memoráveis estava o de Mary Peters,
que ganhou a medalha de ouro no pentátlon. Não há evidências de que
Wolfermann ou Peters tenham recebido qualquer quantia em dinheiro para usar
os calçados Puma.
Armin Dassler havia alugado uma mansão no lago Starnberger, ao sul de
Munique, com o único intuito de entreter os atletas da Puma. Contudo, seu primo
não era mais o único inimigo: além de combater a Adidas, Armin também teria
de enfrentar um adversário muito menos familiar.
Com a Arena, Horst Dassler demonstrou o quão sagaz a sua equipe havia se
tornado. Pouco mais de um ano após ter apresentado a idéia ao pai, as roupas
para natação da Arena fizeram uma estréia humilde no campeonato europeu —
realizado em Berlim em agosto de 1973. Dois anos mais tarde, no campeonato de
Cali, na Colômbia, quase dois terços dos nadadores usavam os produtos da Arena.
Horst investiu cem mil dólares nos campeonatos, um valor substancial para a
época. O dinheiro foi gasto no patrocínio das equipes e em um acordo feito com
os organizadores do evento: a piscina toda parecia coberta pelos diamantes da
Arena. A Speedo, marca australiana que praticamente monopolizava o mercado
de roupa para natação, ficou absolutamente chocada com o progresso da rival
francesa.
Como os pais de Horst se opunham fervorosamente à operação, o
desenvolvimento da Arena demandou manobras muito desgastantes. Alguns
custos da operação estavam sendo cobertos pela Adidas; afinal, Alain Ronc
estava na folha de pagamento da Adidas França. Os gerentes da Arena, contudo,
não podiam trabalhar com um orçamento independente e tiveram que
improvisar. As fotografias do primeiro catálogo da marca foram tiradas no
escritório de Alain Ronc, onde um grupo de executivos da Adidas despiram-se
felizes para posar usando sungas da Arena.
Horst não podia acelerar muito as operações, e tinha sempre que lutar para
conseguir dinheiro. A situação ficou tão apertada certa vez que ele pediu um
empréstimo pessoal de pelo menos um milhão de dólares a Bill Closs, distribuidor
da Adidas na Costa Oeste. O telefonema foi profundamente humilhante para
Horst e igualmente constrangedor para Closs. Horst deixou claro que precisava
do dinheiro por motivos pessoais, e que o empréstimo não deveria ser
mencionado a seus pais. “Käthe e Adi estavam realmente apertando Horst. Além
disso, ele era amigo meu há muito tempo. Eu fui ao banco e mandei o dinheiro
para ele”, lembrou Closs. “Mas fiz isso mais ou menos sem pensar, porque a
idéia não agradaria nem um pouco à Adidas alemã.”
A relação pessoal que Horst havia desenvolvido com Bill Closs acabou sendo
decisiva para o caso. Embora Adi nunca tivesse pisado nos Estados Unidos e
Käthe passasse a maior parte do tempo em Herzogenaurach, seu filho estava
sempre viajando. Horst visitava Los Angeles regularmente, e assegurou a Closs
que este poderia telefonar-lhe a qualquer hora se houvesse algum problema.
Quando o ex-jogador de basquete testou a palavra de Horst, não se decepcionou.
O alemão atendeu seu telefonema pessoalmente e esforçou-se ao máximo para
resolver a dificuldade. Além disso, assim como outros distribuidores, Closs sabia
que o futuro da empresa estava no jovem impetuoso.
Muitos outros tiveram que encarar um estranho dilema quando Horst os
contatou na intenção de vender produtos Arena. Borsumij Wehry, que vendia
calçados Adidas na Holanda desde a década de 1960, fingiu ignorar as tensões
existentes na família. O distribuidor concordou em vender produtos Arena, mas
foi severamente repreendido por Käthe em uma feira de comércio em Colônia,
na Alemanha. Os holandeses tiveram que escolher: ou paravam de vender
produtos Arena ou perderiam o contrato de distribuição da Adidas. Eles não
hesitaram em deixar a Arena de lado.
Horst tinha tanta pressa em construir sua marca que fez acordos com quase
qualquer um que aparecia. Um dos parceiros escolhidos foi um técnico
desconhecido que dizia possuir uma empresa de distribuição de grande porte.
Durante um jantar, Horst deu a ele o direito de exclusividade sobre a distribuição
dos produtos Arena no Canadá e nos Estados Unidos. Alain Ronc, que estava
presente, ficou preocupado com a decisão precipitada. A preocupação se
justificou quando ficou claro que a operação do técnico canadense consistia em
algumas caixas de óculos em sua garagem na Califórnia. “A nossa vontade
frenética de expandir a Arena fazia com que quebrássemos a cara com alguma
regularidade”, disse Ronc. “Mas o mercado de esportes ainda era tão jovem que
mesmo assim nós continuamos avançando a uma velocidade incrível.”
Incomodado com a rápida expansão da Arena, o lado alemão da Adidas
resolver retaliar lançando sua própria linha de roupa para natação. “A situação
estava louca o suficiente para que lançássemos uma linha de roupa de natação
sem termos a menor competência nesse ramo”, admitiu Peter Rduch, na época
gerente de exportações em Herzogenaurach. “Os alemães achavam que
deveríamos fazer isso só porque Horst havia feito.”
O acordo com Pelé confirmou o que Armin Dassler havia pensado. Para
combater sua rival, a Adidas tinha como objetivo que todo e qualquer jogador
minimamente habilidoso usasse sua marca. Armin pensou que a Puma poderia
utilizar uma estratégia diferente: concentrar-se em um punhado de jogadores
mais carismáticos e de nível internacional — ou seja, exatamente os que
apareciam em jornais e revistas.
A estratégia havia sido determinada parcialmente pelo fato de que a Puma
não tinha recursos suficientes para disputar jogadores alemães com a Adidas.
Além disso, Armin percebeu que os jogadores de futebol estavam se tornando
verdadeiros astros, e que a mídia se concentrava apenas em alguns dos mais
destacados. Assinar contratos de exclusividade com esses heróis custava muito
caro, mas, ainda assim, o efeito causado era muito maior do que o de ter uma
infinidade de contratos pequenos com jogadores medianos que nunca apareciam
na imprensa.
O contrato mais promissor foi feito com um jogador holandês chamado
Johan Cruy ff. Ele já havia sido abordado por Jaap e Cor du Buy, os dois irmãos
que possuíam os direitos de distribuição da Puma na Holanda. Segundo o
contrato, assinado pela mãe de Cruy ff em janeiro de 1967, o jogador de 20 anos
de idade receberia 1.500 florins para usar as chuteiras Puma tanto nos jogos
quanto nos treinos. Como parte do acordo, ele permitiria que a empresa vendesse
chuteiras chamadas “Puma Cruy ffie”, seu apelido na época.
Infelizmente, a relação do jogador com a empresa desandou quando ele
começou a insistir que as chuteiras Puma machucavam seus pés. Cruy ff
aparecia nos treinos usando chuteiras Adidas, e exigia a rescisão do contrato. Du
Buy riu do pedido do jogador e disse que suas exigências eram um “absurdo
completo”. Os pés de Cruy ff eram especiais, mas a Puma poderia encontrar
chuteiras que lhe servissem bem. Afinal, a empresa já produzia pelo menos 40
modelos diferentes, e estaria feliz em desenvolver um especialmente para o
holandês. Jaap van Praag, presidente do Ajax, confirmou que o clube não tinha
dado qualquer instrução ao jogador em relação às chuteiras. Contudo, Cruy ff
manteve sua posição.
Após tentar mediar a situação diversas vezes, Cor du Buy processou o
jogador por quebra de contrato. Cruy ff foi condenado a pagar 24.500 florins à
Puma: 250 por cada jogo em que havia usado chuteiras Adidas. Quando o
jogador se recusou a pagar, du Buy conseguiu confiscar o salário que ele recebia
do Ajax.
Cruy ff apelou da decisão em Amsterdam. O tribunal não se comoveu com os
argumentos do jogador e deu ganho de causa a Du Buy. “A verdade é que
[Cruy ff] quer mais dinheiro”, disse o juiz na sessão de 3 de setembro de 1968. O
jogador pode ter perdido a causa, mas, no fim do mesmo ano, já havia
conseguido um contrato mais vultoso com Cor du Buy. O novo acordo garantia
pelo menos 25 mil florins anuais para Cruy ff durantes os três anos seguintes.
Curiosamente, ainda assim Johan Cruy ff parecia preferir as chuteiras Adidas.
Poucas semanas após a assinatura do novo contrato, um dos assistentes de Du
Buy viu uma foto do jogador no De Telegraaf, um jornal holandês. Conhecendo
bem o assunto, ele percebeu — pelo acolchoamento branco no calcanhar — que
a chuteira esquerda de Cruy ff era da Adidas. “Ficaríamos agradecidos se você
concordasse em disfarçar essa característica, por exemplo pintando a chuteira de
preto”, escreveu o distribuidor da Puma. “No entanto, é claro que seria muito
melhor se você usasse uma chuteira Puma no seu pé esquerdo”, acrescentou
humildemente.
As brigas entre Cruy ff e a Puma estavam perfeitamente de acordo com o
que muitos achavam do jogador: um gênio do futebol, mas vaidoso, egocêntrico
e difícil de agradar. Ao contrário de outros jogadores, Cruy ff dizia abertamente
que o futebol era a sua profissão, e que ele deveria ser recompensado
adequadamente pelo trabalho que fazia.
Ele sempre contava com o ardoroso apoio de Cor Coster, homem de negócios
de Amsterdam que havia se tornado agente de Cruy ff. O surgimento dos agentes
foi um dos fenômenos que ocorreram quando o futebol começou a se tornar um
negócio. Cor Coster havia entrado no ramo através de sua filha, Danny. Quando
Danny Coster se transformou na sra. Cruy ff, Cor decidiu cuidar dos interesses
financeiros do genro. Ele era impetuoso e inescrupuloso, e logo viria a
representar vários jogadores, batalhando por direitos que beneficiariam a todos.
Suas táticas agressivas aterrorizavam até os treinadores mais inflexíveis.
Com o fim do segundo contrato de Cruy ff com a Puma, Cor Coster manteve
suas opções abertas. Aceitou um convite para ir a Landersheim, onde comeu do
melhor e bebeu bons vinhos. Pouco depois, em abril de 1972, Horst escreveu
uma carta pessoal para o agente, oferecendo imbatíveis 1,2 milhão de florins por
um contrato de exclusividade pelos próximos cinco anos. Com muito tino para os
negócios, Cor sabia exatamente o que fazer com a proposta: quatro dias depois,
uma cópia chegaria à mesa de Gerd Dassler, na época responsável pelos
assuntos internacionais da Puma.
Gerd logo se sentou diante de sua máquina de escrever. “Lieber Horst”,
escreveu. “Sabemos que você entrou em contato com Herr Coster no intuito de
fechar um contrato com Cruy ff.” Como Gerd explicou, contudo, o jogador já
estava preso à Puma. As subcláusulas do contrato feito com Cor du Buy davam
aos distribuidores holandeses direitos exclusivos e ilimitados sobre o uso do nome
do jogador. Cor du Buy já havia patenteado não só o nome Cruy ff como uma
série de variações. “Portanto, estamos convencidos de que o senhor está tentando
consciente e negligentemente influenciar o jogador Johan Cruy ff a quebrar seu
contrato”, Gerd escreveu raivosamente ao primo.
“Lieber Gerd”, começava a resposta em que Horst confirmava ser “amigo
pessoal” de Cruy ff. Ele continuou dizendo que o fato de Du Buy ter patenteado o
nome Cruy ff não impedia o jogador de usar chuteiras Adidas, “principalmente
porque ele sempre preferiu as nossas chuteiras, por motivos técnicos e devido à
amizade que cultivamos”. Como a Puma havia quebrado o Pacto Pelé no
México, escreveu Horst, a empresa não poderia esperar que a Adidas se
detivesse por quaisquer regras informais.
O que Horst queria era que a Puma fosse forçada a oferecer uma proposta
ainda maior a Cruy ff. Ele havia acabado de usar uma das táticas mais antigas do
mundo dos negócios: sabia que não poderia fechar contrato com Cruy ff, mas
poderia ao menos enfraquecer a concorrência ao fazer com que o preço que ela
teria de pagar pelo jogador subisse. Desse modo, eles forçariam a empresa a
cavar mais um buraco em seu orçamento. Em um acordo conjunto com a Le
Coq Sportif, a fabricante francesa de uniformes de futebol, a Puma ofereceu
pelo menos 150 mil florins por ano ao jogador. Desse ponto em diante, o vaidoso
holandês manteve-se leal aos parceiros da Puma.
A federação de futebol holandesa tinha contrato com a Adidas, mas Johan Cruy ff
tinha um acordo muito lucrativo com a Puma. Cruy ff recusou-se a usar qualquer
produto com três listras, e a Adidas teve que retirar uma delas de seu uniforme.
Isso causou muita dor de cabeça ao jogador nos anos seguintes, durante a
preparação da seleção holandesa para a Copa do Mundo de 1974, que seria
realizada na Alemanha. No início da década de 1970, a seleção da Holanda
incluía alguns dos jogadores mais cobiçados do mundo. O time era basicamente
formado pelos jogadores do Ajax, que, na época, maravilhavam o mundo do
futebol com seu estilo rápido e imprevisível conhecido como “futebol total”. Os
problemas aconteceram porque a federação de futebol da Holanda, a KNVB,
havia assinado contrato com a Adidas. Pelo acordo, Cruy ff e todos os outros
jogadores teriam que entrar no gramado usando joggings e uniformes da marca,
mas Cor Coster insistiu que Johan Cruy ff não poderia usar esses produtos pois
estaria quebrando o contrato com a Puma — que o proibia expressamente de
promover qualquer outra marca de produtos esportivos. A discussão chegou a um
ponto crítico em uma tensa reunião entre Coster e os executivos da KNVB no
Hotel Hilton, em Amsterdam. Os executivos sabiam muito bem que Cruy ff era
teimoso o suficiente para deixar o time se eles não cedessem.
Para alívio da federação holandesa, a Adidas aceitou um acordo. A empresa
sabia da confusão que aconteceria se vazasse a notícia de que ela fora
responsável pela ausência de Johan Cruy ff — o sustentáculo da extraordinária
seleção holandesa — na Copa do Mundo. O acordo resultou em uma camisa
laranja com o leão da Holanda e apenas duas listras na lateral das mangas.
A Adidas, porém, teve a chance de se vingar quando a equipe foi chamada
para a fotografia oficial. Henny Warmenhoven, responsável pela promoção da
Adidas na Holanda, tinha tantos contatos entre os dirigentes holandeses que
conseguiu ficar no banco do time. Com tudo preparado para a foto, conversando
com um dos jogadores, Henny discretamente colocou uma bolsa Adidas na
frente das chuteiras Puma de Cruy ff.
Esse problema seria cada vez mais comum, visto que o futebol havia sido
dominado por uma série de jogadores mais autoconfiantes e desafiadores (e que,
normalmente, usavam cabelo comprido). Até mesmo os atletas alemães — antes
considerados humildes e obedientes — não ficaram imunes às mudanças. Eles
não queriam mais receber somente os pequenos pagamentos da liga nacional,
visto que, nos outros países da Europa, seus colegas de profissão eram bajulados
e recebiam uma remuneração mais generosa. Queriam receber bônus a cada
vitória conquistada e poder fechar contratos de exclusividade lucrativos.
A seleção alemã que se preparou para a Copa do Mundo de 1974 contava
com vários jogadores extraordinários. Eles se destacaram muito em 1972, após
vencerem a Copa Européia realizada na Suíça. Günter Netzer encantou as
platéias com sua juba selvagem, e o controle de bola de Franz Beckenbauer
inspirou o apelido “der Kaiser”. O lateral era muito louvado pela imprensa
européia por jogar com “elegância”, “criatividade” e “genialidade”. Os
jogadores, contudo, queriam mais do que elogios.
Curiosamente, as personalidades dos dois integrantes mais famosos da equipe
dificilmente poderiam ser mais diferentes. O comportamento de Netzer era
considerado o oposto do que se esperava de um jogador. Ele usava cabelo
comprido e provocava muita polêmica com seu estilo espirituoso. Muito antes de
os jogadores de futebol começarem a aparecer nos tablóides, Netzer gostava de
se divertir com belas louras em seu carro esportivo. Ele e George Best foram os
primeiros jogadores a ter sua própria boate, conhecida como “Lovers Lane”. O
rebelde de Mönchengladbach afrontava com freqüência a federação de futebol
alemã, e ignorava explicitamente o apelo feito a todos os jogadores de nível
internacional por Helmut Schön, técnico da seleção. Ele solicitara que todos
continuassem jogando em equipes do país. Pouco antes do campeonato de 1974,
o astro da Puma já havia assinado contrato com o Real Madrid.
O atleta da seleção com quem a Adidas tinha contrato parecia por vezes
muito sem graça. Desde que começara a jogar na Inglaterra, Franz Beckenbauer
havia se tornado o astro mais admirado do futebol alemão. Não recusava uma
cervejinha, mas investia em sua reputação de jogador inteligente que continuaria
brilhando após o fim da carreira. Desenvolveu interesse pelo mundo dos negócios
e comprou ingressos para a temporada de óperas.
A relação entre a Adidas e Beckenbauer havia sido estabelecida décadas
antes, e ela só fizera se aprofundar com o tempo. No início da década de 1970, o
jogador e a empresa haviam feito um contrato sem precedentes e inquebrável.
Beckenbauer receberia uma comissão volumosa sobre as chuteiras, camisas e
shorts da Adidas que levassem seu nome. O brilhante short da linha Beckenbauer
era um sucesso nos acampamentos. Os pagamentos feitos ao jogador chegaram
a um montante tão grande que Käthe Dassler começou a reclamar. Ela ficou
estarrecida quando Robert Schwan, treinador de Beckenbauer, fez ainda mais
exigências. Schwan pressionou a empresa, que teve de fazer pelo menos dois
pagamentos grandes a fim de manter sua jóia da coroa. Horst Widmann,
assistente pessoal de Adi Dassler, certificou-se de que o chefe não ficasse
sabendo de nada. “Era melhor que ele não soubesse dessas coisas”, disse
Widmann.
Quando, inevitavelmente, Adi Dassler descobriu tudo, ele se espantou em
descobrir que os jogadores descaradamente exigiam pagamentos para usar o
equipamento Adidas. Desde o “triunfo de Berna”, em 1954, Adi havia
comparecido a praticamente todos os treinos da seleção alemã realizados no país.
Era natural que ele fosse convidado a ir ao Malente, um resort próximo ao mar
Báltico, onde a seleção foi treinar antes da Copa do Mundo de 1974. Contudo,
pela primeira vez, Adi se sentiu deslocado. Os jogadores já não ligavam mais
para as chuteiras. Tudo era questão de dinheiro.
As exigências dos jogadores alemães eram cada vez maiores, e estavam fora
de controle. A liga de futebol decidira aceitar jogadores profissionais poucos anos
antes — várias décadas depois das ligas de outros países europeus. Os jogadores
tinham que compensar o tempo perdido. Através de Franz Beckenbauer,
exigiram da federação um pagamento de pelo menos cem mil marcos alemães
por jogador. Após uma noite inteira de negociações, aceitaram receber 75 mil. O
incidente deixou Helmut Schön à beira de um ataque de nervos. O técnico estava
tão chocado com a atitude que chegou a fazer as malas para ir embora.
Beckenbauer teve que usar seu poder de persuasão para convencê-lo a ficar.
Adi estava igualmente espantado. Dois anos antes, a Adidas havia feito um
contrato com a federação alemã de futebol definindo que a seleção deveria
obrigatoriamente usar o equipamento da empresa em partidas internacionais.
Como era previsto, a Puma processou a rival, argumentando que ela havia
abusado de sua posição no mercado e que os jogadores deveriam poder escolher
as chuteiras que quisessem. Os juízes de Berlim eram bastante firmes em
relação à formação de cartéis; cansados da discussão, chegaram a sugerir que a
seleção usasse chuteiras em que não se pudesse distinguir a marca.
Para evitar essa situação, o acordo da Adidas com a federação foi cancelado.
Os jogadores não teriam mais obrigação de usar o equipamento Adidas, e
fizeram questão de deixar isso bem claro para Horst. Dias antes do início da
Copa, alguns jogadores ameaçaram pintar de preto as listras brancas das
chuteiras se não recebessem um bônus maior. Assim como Helmut Schön, Adi
Dassler estava tão chocado que fez as malas — mas dessa vez não houve quem o
segurasse. Enquanto Adi, em Herzogenaurach, pensava com desgosto sobre o
ocorrido, Alf Bente e Horst Widmann foram cuidar dos jogadores alemães. O
pessoal da Adidas conseguiu resolver o problema com “um pouquinho mais de
dinheiro”.
A Alemanha venceu a Copa do Mundo pela segunda vez, 20 anos após o
milagre de Berna. Os holandeses eram melhores e cantaram vitória antes da
hora. Contudo, os alemães os derrotaram na final com um gol de Gerd Müller.
Para Adi Dassler, contudo, a Copa marcou o fim da relação que dera à Adidas a
posição de liderança no mercado do futebol. Em Herzogenaurach, seu velho
irmão estava igualmente desiludido.
E nquanto construía seu negócio, Horst Dassler adquiriu uma série de hábitos
espantosos. John Boulter, responsável pela promoção internacional da unidade de
Landersheim, começou a reparar neles no meio da década de 1970, quando foi a
Londres com Horst para assistir ao campeonato de Wimbledon. Ao sair para
uma corrida em Hy de Park, Boulter viu o chefe sentado sozinho no lobby do
hotel. Quando voltou, Horst estava exatamente na mesma posição, em frente à
porta do elevador. “Estou bem, John”, explicou Horst. “Estou aqui caso alguém
importante apareça.”
Estivesse onde fosse, Horst procurava toda e qualquer oportunidade para
fortalecer sua amizade com os figurões do mundo do esporte ou para fazer novos
amigos. Outros achavam que fazer média com as pessoas era muito cansativo,
mas Horst fazia isso com um cuidado tão grande que beirava o fanatismo. Uma
de suas máximas era: “Tudo se baseia nos relacionamentos.” Ele tinha o
necessário para fazer amigos no mundo inteiro: falava fluentemente cinco
línguas; era muito amistoso e afável; nunca fazia nenhuma pergunta incômoda; e
era extremamente atencioso.
O objetivo dessa promoção incansável era fazer com que a Adidas obtivesse
um tratamento diferenciado. No caso das federações esportivas nacionais, o
esforço recompensava ainda mais: entre outras coisas, eram as federações que
escolhiam o uniforme e o equipamento usados pelas seleções. Infelizmente, as
chuteiras eram consideradas parte do equipamento técnico, e portanto não
entravam nos acordos: cada jogador podia usar a chuteira de sua escolha. Ao
lidar diretamente com as federações, a Adidas se poupava do trabalho de ter que
bajular indivíduos e satisfazer as exigências cada vez maiores dos jogadores.
Se Horst conseguisse um contrato com a federação francesa, por exemplo, a
equipe inteira usaria o uniforme feito pela Adidas, sem falar nos joggings
utilizados no aquecimento. Esse tipo de acordo gerava muito mais exposição para
a marca do que os contratos individuais com os jogadores — que talvez
demandassem várias semanas de negociações e que poderiam acabar não
surtindo benefício nenhum se o jogador se machucasse ou não se destacasse
tanto quanto o esperado. As vantagens eram ainda mais óbvias no caso do
atletismo, no qual o amadorismo ainda forçava os fabricantes a propor acordos
ilegais que representavam um grande risco para os atletas. Assinando um
contrato oficial com a federação nacional de atletismo, Horst garantia que as três
listras apareceriam nas mangas das camisas dos jogadores sem ter de quebrar
regra nenhuma.
O próximo passo seria conquistar as federações internacionais, que haviam
surgido no início do século XX com o intuito de representar os interesses dos seus
respectivos esportes em âmbito internacional. Normalmente, essas federações
tinham um presidente que não recebia salário e um grupo de representantes das
federações nacionais que recebiam pagamento. Entre elas, a de maior porte era
a Fifa, a Federação Internacional de Futebol, e a IAAF, a Associação
Internacional das Federações de Atletismo, principal arauto do amadorismo no
atletismo internacional. Contudo, Horst Dassler veio a conhecer inúmeros
dirigentes de federações menores, e passou a cobrir todos os esportes, do judô ao
remo, passando pelo levantamento de peso.
Como Horst muito bem sabia, as decisões das federações internacionais
poderiam causar sérias repercussões para a Adidas. Essas instituições
determinavam as regras dos esportes e organizavam as competições
internacionais mais importantes que existiam no mundo. Eram elas que definiam
até que ponto o comércio poderia estar envolvido nos esportes, e também quem
poderia assinar contratos que vestiriam centenas de juízes e fiscais durante as
competições oficiais — o que asseguraria a absoluta onipresença das três listras.
As Olimpíadas eram um dos alvos da cortesia de Horst. A competição era
coordenada pelo Comitê Olímpico Internacional, que supervisionava a
organização dos Jogos e impunha os princípios do amadorismo. Na década de
1970, o COI já abrangia 150 comitês olímpicos nacionais — que cuidavam dos
atletas de seus países e tinham voz nas reuniões internacionais. Quem chefiava
esses comitês, normalmente, eram pessoas de prestígio na elite do país — seja no
esporte, nos negócios ou na política.
Havia situações em que simplesmente era bom ter os amigos certos nos
lugares certos. Horst já comprovara diversas vezes o quão útil era ter a atenção
dos chefões do esporte, que poderiam falar bem dele para pessoas relevantes e
distorcer as regras a fim de favorecê-lo — tal como havia acontecido com a
decisão supostamente absurda de banir o “calçado escova” da Puma em Lake
Tahoe.
De certa forma, Horst começou a estabelecer seu controle sobre o mundo
dos esportes no momento em que desembarcou na Austrália para as Olimpíadas
de Melbourne, em 1956. Alguns dos atletas com quem conversou haviam se
aposentado e ascendido nas mais influentes organizações esportivas. Os 20 anos
de trabalho fazendo contatos tornavam Horst imbatível. E, como seus assistentes
já haviam percebido, ele também era muito fluente na arte da politicagem.
Numa época em que as federações ainda eram administradas da mesma
maneira que um bar, a dedicação de Horst causava um efeito muito positivo.
“Havia secretários-gerais, que, com freqüência, eram aposentados e
simplesmente dispensados”, lembrou Gerhard Prochaska, ex-gerente de
marketing da Adidas. “De repente, eles passavam a ser importantes, lisonjeados
e respeitados. Horst entendeu isso muito antes dos outros.”
O Auberge du Kochersberg transformou-se no centro nervoso da operação.
O guia de restaurantes Gault Millau classificou-o com dois chapéus de cozinheiro,
e o Michelin deu-lhe uma estrela. Bill Siebenschuh, o sommelier da casa, tinha
um dos empregos mais invejados da região. Com mais de 30 mil garrafas de
vinho, a sua era tida como a adega particular mais valiosa da Alsácia. Algum
tempo depois, ele precisou alugar uma segunda adega perto dali, onde foram
colocadas mais 60 mil garrafas.
Os gerentes franceses de Landersheim controlavam com precisão o
orçamento destinado à estadia de seus convidados. Um time de rúgbi receberia o
tratamento padrão: algumas noites no lodge, comida em fartas porções e muita
cerveja local. Os convidados mais ilustres seriam colocados nas suítes mais
refinadas, no último andar do Auberge. Eles apreciariam suas refeições em uma
sala exclusiva, e comeriam em pratos com detalhes em ouro. “Servir a comida
nesses pratos nos custava muito”, lembrou Prochaska. A estadia dessas pessoas,
às vezes, incluía cerimônias de recepção que duravam o fim de semana inteiro,
contando até com excursões de caça.
Os convidados com quem Horst tinha mais intimidade eram levados até a
adega, onde provavam de tudo, desde um Château d’Yquem ou um Petrus até os
melhores Armagnacs. Em certas noites mais intensas, Horst gostava de sentar-se
na adega e fumar um charuto e beber uma taça de vinho ou uma dose de
conhaque. As prateleiras continham os vinhos mais famosos do mundo, mas
Horst gostava de uma cave relativamente desconhecida do sul da Borgonha
chamada Château de la Chaise. Um dos toques pessoais mais interessantes que
Horst dava era oferecer ao convidado uma garrafa de vinho do ano de seu
nascimento. Para cuidar de todos os preparativos, a Adidas França montou uma
agência de turismo no andar térreo do prédio de escritórios de Landersheim. Ela
tinha uma frota inteira de limusines à disposição para pegar os convidados no
aeroporto e levá-los em passeio pelas montanhas da região.
Uma estadia no Auberge tornou-se um rito de passagem inevitável para
qualquer um com ambições no mundo dos esportes. “Quem não era convidado
para Landersheim não era ninguém”, disse um dos convidados de Horst. Além
das personalidades do esporte que sempre apareciam por lá, também passeavam
no Auberge futuros membros das federações esportivas internacionais e dos
comitês olímpicos, além de políticos de todas as vertentes que tinham relação
com o esporte.
As salas de conferência do Auberge eram suntuosas e, por vezes, usadas para
reuniões internas de organizações de baixo orçamento, como a Federação
Internacional de Levantamento de Peso. “Após as reuniões, nós passávamos a
noite fumando charutos com eles na adega”, explicou John Bragg, um dos
diplomatas esportivos norte-americanos de Horst. “Num fim da semana, eles nos
ajudaram a desenvolver um calçado para levantamento de peso e formularam
regras que impediam o uso de qualquer outro modelo. Esse mercado não era
nem um pouco lucrativo, mas nunca se sabe. A partir daquele momento, aquelas
pessoas sentiam-se como se estivessem devendo um favor a Horst Dassler.”
Os convidados internacionais também tinham a opção de ficar no escritório
da Adidas em Paris. Os gerentes da subsidiária francesa possuíam escritórios na
rue du Louvre, sobre um pequeno restaurante. O menu estava longe de ser tão
bom quanto o de restaurantes próximos, mas se o bar tivesse um livro de visitas,
no fim da noite haveria uma verdadeira lista dos maiores executivos do jet set
esportivo. Para os visitantes que precisavam dormir em Paris, havia o Hotel
Terrasse, onde a Adidas possuía uma conta em aberto. Ao pé de Montmartre, os
quartos eram relativamente modestos, mas o terraço oferecia aos hóspedes uma
vista impressionante da cidade. Além disso, Horst contratara os serviços de um
barman bastante dedicado, Jacky Guellerin. O bar do hotel fechava oficialmente
à meia-noite, mas Guellerin continuava a servir o pessoal da Adidas e seus
convidados em um quarto nos fundos. Ele recusava outros possíveis clientes e
seguia atendendo Horst até que ele terminasse suas reuniões — o que
freqüentemente acontecia nas primeiras horas da manhã.
Convenientemente, o Hotel Terrasse estava localizado a um passo de vários
templos do entretenimento adulto de Paris, particularmente do Moulin Rouge.
Jacky também agia de forma muito discreta quando os convidados solicitavam
acompanhantes: seus pedidos eram repassados silenciosamente para o concierge,
e Jacky só avisava a Horst se as coisas saíssem do controle. “Havia um membro
da equipe da Adidas que exagerava um pouco”, Jacky contou. “Ele deixava todo
mundo envergonhado, pois descia as escadas praticamente rolando,
completamente bêbado, gritando que queria mais prostitutas.”
Assim como muitos outros amigos da Adidas, Jacky também gostava de
receber caixas com material esportivo. Em Landersheim, os gerentes franceses
ainda possuíam um armazém inteiro cheio de presentinhos para oferecer às
visitas. Elas eram convidadas para jogar tênis e, para isso, teriam de estar
devidamente vestidos; no final da estadia, claro, colocariam as roupas na mala e
iriam embora. Antes de saírem, ainda seriam acompanhados ao armazém para
levar alguns calçados e camisas. Dado o valor relativamente pequeno dos
presentes, os gerentes consideravam-nos uma gentileza, mas quando delegações
inteiras pilhavam o armazém por completo, o custo poderia acabar sendo muito
alto. Alguns dos visitantes eram exageradamente gananciosos, como um
dirigente olímpico que alegou ter sete esposas e saiu levando um número igual de
bolsas Adidas.
Tendo convidados de todas as culturas possíveis, o difícil era encontrar o nível
certo de agrados para cada um — e isso era o forte de Horst. “Ele tinha uma
capacidade impressionante de saber exatamente o que influenciaria a decisão de
alguém”, disse Patrick Nally, um de seus parceiros. “Era absolutamente
encantador, e ficava até altas horas da madrugada bebendo e conversando só
para entender melhor aqueles com quem estava lidando. Tratava de descobrir o
que era certo e o que era errado para aquela pessoa, de modo a nunca a ofender.
Se alguém considerava correto receber um pouco de dinheiro, ou um bocado de
dinheiro, então aquilo era o certo para aquela pessoa.”
Caso sua fabulosa memória falhasse, Horst mantinha arquivos detalhados
sobre cada um de seus contatos. Atualizados com minúcia, eles continham os
nomes dos membros familiares mais próximos, idades, medidas de roupas,
preferências, assuntos discutidos na última vez em que se encontraram e os
presentes que receberam. Horst ensinou seus ajudantes a manter arquivos
semelhantes em relação a seus próprios contatos. “No fim da noite, quando
achávamos que poderíamos cair duros na cama, ainda tínhamos que fazer várias
anotações”, contou Nally. “Todos os funcionários foram treinados para registrar
tudo. Eram muito disciplinados e não davam informações pela metade a Horst.”
Um dos melhores repórteres que cobria as negociações ocorridas no interior
das organizações esportivas era Karl-Heinz Huba, editor da Sport Intern. Muitos
leitores ficavam desconcertados com a quantidade de detalhes veiculados pelo
periódico. Huba recebia informações sobre as organizações esportivas
internacionais antes mesmo de seus membros — isso quando não era ele próprio
quem fazia com que as decisões fossem tomadas de determinada maneira,
através de campanhas explícitas contra qualquer um que estivesse no caminho de
Horst. Mais tarde, houve rumores de que Huba estava na folha de pagamento da
Adidas, mas a alegação nunca foi provada.
Horst gostava de sua imagem de homem de negócios superpoderoso que
estava a par de tudo. “Nas raras ocasiões em que ele não sabia de algo antes de
todo mundo, ele fingia que sabia”, disse John Bragg. “Isso fazia com que ele
parecesse realmente onisciente.” De início, essa estratégia tinha propósitos
inocentes. O objetivo era fazer o maior número possível de amizades, em todos
os esportes e continentes. Porém, com o passar do tempo, Horst começou a
utilizá-la para manipular.
Ávido por mais influência, Horst resolveu criar uma equipe informal dedicada
exclusivamente às relações internacionais. Embora seus discípulos fossem
treinados para fazer amizades, seu esquadrão político esportivo, montado na
década de 1970, ia muito além disso. Suas atividades eram totalmente
direcionadas à infiltração em importantes organizações esportivas.
Essa operação estava baseada na premissa de que, nas organizações
esportivas mais influentes, cada país membro tinha direito a um voto,
independentemente de sua importância ou tamanho. Decisões cruciais para a
Adidas poderiam depender de um punhado de delegados de países
insignificantes. Os diplomatas de Horst esforçavam-se para cobrir o mundo
inteiro — oferecendo passagens de avião e outros recursos para que seus amigos
de locais mais distantes pudessem participar de deliberações relevantes.
O lobista mais bem-sucedido contratado por Horst era Christian Jannette, que
se juntara à Adidas logo após as Olimpíadas de Munique, em 1972. Por ser chefe
de protocolo dos Jogos de Munique, lidando diretamente com dirigentes e
organizadores, Jannette era muito cortejado por inúmeros amigos olímpicos.
Como era o responsável pela distribuição dos ingressos, algumas pessoas
humilharam-se diante dele sem qualquer pudor, na tentativa de conseguir
entradas extras para familiares ou amigos. O número de favores que lhe deviam
era muito maior do que o Auberge jamais poderia fazer. Sua tarefa principal era
fortalecer os laços de Horst Dassler com os soviéticos.
Por ser um formidável observador e ter sempre modos gentis, Horst tinha um
acesso excepcional à impenetrável União Soviética. Os executivos da Adidas
gabavam-se de um tapete de pele de urso polar colocado em uma das suítes de
Landersheim, oferecido a Horst por Leonid Brejnev, então líder da União
Soviética. Horst contratara um assistente que falava russo, Huguette Clergironnet,
que o acompanhava em muitas viagens; além disso, possuía uma coleção
particular de ícones russos e realmente gostava da companhia de seus amigos
daquele país. O mais importante, porém, era que os soviéticos representavam um
voto fiel, e ditavam a política para os delegados de todo o bloco comunista.
O único problema que atormentava Horst Dassler em relação à Rússia era
que sua família em Herzogenaurach considerava o país parte do seu território de
atuação. Enquanto as duas filhas mais velhas de Adolf e Käthe se concentravam
em promoção e publicidade, Brigitte Baenkler, a terceira, implorou aos pais que a
deixassem aprender russo. Ela era fascinada pela Europa Oriental,
especialmente pela Hungria e pela Rússia.
Horst tinha amigos pessoais no Kremlin, e Brigitte se estabeleceu como
enviada oficial da família Dassler na União Soviética. Viajava regularmente para
Moscou em nome da Adidas — sempre levando caminhões de produtos do
Ocidente. No início da década de 1980, os esforços de Brigitte ajudaram a
Adidas a montar uma das primeiras fábricas da União Soviética controladas —
ao menos parcialmente — por uma empresa ocidental.
Os interesses comuns fizeram que Horst formasse com Brigitte um laço
muito mais forte do que com as outras irmãs. Ainda assim, as operações dos
Dassler da Alemanha na Europa Oriental às vezes causavam muita frustração
em Landersheim. Horst ficou furioso quando Brigitte foi pega em um aeroporto
soviético tentando sair do país com ícones contrabandeados. Ele já avisara
inúmeras vezes para ela não tentar nenhuma estupidez parecida. A fim de evitar
um incidente diplomático e de tirar sua irmã do país, Horst acabou tendo que usar
muitos favores.
Sua relação com os dirigentes soviéticos geralmente envolvia custos altos. Os
diplomatas da empresa sabiam que aqueles dignitários esportivos estavam entre
os mais gananciosos do mundo. Christian Jannette lembra-se nitidamente de
andar pela praça Vendôme, em Paris, com uma carteira cheia de dinheiro,
enquanto a delegação soviética atacava as joalherias mais refinadas do lugar.
Devido aos acordos de produção e fornecimento de equipamento, os Dassler
possuíam contatos com muitos dignitários da Europa Oriental. Erich Honecker,
chefe de Estado da Alemanha Oriental, assinou pessoalmente um acordo
totalitário com a Adidas. As três listras transformaram-se no distintivo dos atletas
internacionais do país — em contraste com as duas listras da Zeha, a marca de
calçados do regime. Grande parte do acordo estava relacionado ao fornecimento
de equipamento, mas, ainda assim, era ótimo para os alemães orientais, que
investiam maciçamente no prestígio de seus astros e estrelas esportivos. O
esporte era considerado parte integrante da educação do país, e o regime
injetava recursos inigualáveis em pesquisas técnicas e na medicina esportiva. Na
perspectiva dos alemães orientais, comprar equipamento da Adidas era uma
forma de assegurar que seus atletas teriam o melhor possível. A qualidade dos
produtos era tão inegavelmente maior que eles estavam dispostos a ignorar suas
origens capitalistas.
Uma das vantagens desse acordo era que os executivos da Adidas podiam ter
certeza de que os próprios alemães orientais fariam com que fosse respeitado.
Georg Wieczisk, ex-chefe da federação de atletismo da Alemanha Oriental,
explicou que os atletas e dirigentes não estavam dispostos a perder seus
privilégios. “Algumas pessoas tinham que esperar no mínimo quatro anos para
ter um Trabant”, disse, referindo-se aos carros quadradões produzidos pelo
Estado. “Para nós, o tempo de espera era um pouquinho menor.”
A Adidas não esperava vender nada na Alemanha Oriental por conta do
acordo de patrocínio, visto que as importações de bens de consumo do Ocidente
eram proibidas e que, de qualquer forma, os alemães orientais não conseguiriam
pagar por eles. Por outro lado, os atletas nacionais conquistavam sempre muitas
medalhas, e, conseqüentemente, levavam as três listras para o pódio. Esse
resultado era obtido, em parte, com o tipo de apoio financeiro e de treinamento
em tempo integral que poderia fazer os atletas serem considerados profissionais.
Contudo, fingia-se que eram “estudantes” ou “membros do Exército”. Na época,
não parecia importar muito o fato de que vários recordes tivessem sido
quebrados com o uso de substâncias ilícitas.
Durante muitos anos, apenas um pequeno grupo de atletas traiu a marca,
como o alemão oriental Walter Cierpinski, campeão da maratona. Pouco antes de
uma de suas corridas, ele concordou em usar outro produto, do patrocinador do
evento. A Adidas e os alemães orientais fizeram um estardalhaço tão grande que
os organizadores sugeriram uma solução um tanto estranha: pouco antes da
prova, eles colaram pequenos adesivos nas camisas dos corredores, cobrindo o
logotipo da empresa patrocinadora.
Os laços entre a Adidas e a Alemanha Oriental não impediram que o Stasi (o
Ministério de Segurança do Estado) observasse de perto Horst Dassler. Um de
seus melhores informantes era IM Möwe. Como se descobriu mais tarde, o
homem por trás desse codinome — que significava “informante gaivota” — era
Karl-Heinz Wehr, um representante relativamente obscuro ligado ao esporte na
Alemanha Oriental. Wehr atualizou os arquivos do Stasi por mais de duas décadas
quanto às transações realizadas pelo pessoal de Horst. “Minha opinião é que esse
departamento político-esportivo, liderado pessoalmente por Dassler, também é
uma das unidades de espionagem esportiva mais importantes do mundo
capitalista”, escreveu.
Como lembrou Wehr, Horst começou a cultivar contatos mais íntimos com os
alemães orientais na década de 1970, quando representantes de países
comunistas conquistaram posições de destaque em organizações internacionais.
O esporte havia se transformado em mais um palco para a política mundial, na
qual as duas superpotências da Guerra Fria mantinham-se constantemente em
xeque. Os países comunistas queriam que suas vozes fossem ouvidas, e as
federações internacionais tinham que tomar todo cuidado para manter um
equilíbrio de poder em seus conselhos.
Horst conversava sempre com Manfred Ewald e Günther Heinze, dois dos
mais influentes dignitários do esporte na Alemanha Oriental. Em um aparente
esforço para agradar aos dois, Horst conseguiu que Karl-Heinz Wehr fosse
indicado como secretário-geral da Aiba, a federação internacional de boxe. A
partir de seu novo posto, IM Möwe poderia observar a equipe de Horst de perto.
Ele descreveu em detalhes o modus operandi do grupo: desde “amaciar” os
delegados de organizações internacionais até realizar “orgias alcoólicas”.
“Estamos diante do fato de que, no mundo dos esportes atual, nada acontece sem
essa empresa. Além disso, a meu ver, muitas outras coisas só acontecem sob a
influência desse grupo”, escreveu.
Os Dassler da Puma observavam tudo, frustrados. Segundo Wehr, os alemães
orientais foram abordados pelo gerente de relações públicas da empresa. Ele
disse que a Puma estaria “imediatamente preparada” para igualar ou superar a
proposta da Adidas, que aparentemente garantia 700 mil marcos para a
Alemanha Oriental todos os anos. Contudo, os Dassler da Puma nunca
conseguiram convencer Honecker. “Não havia nada que pudéssemos fazer”,
lamentou Gerd Dassler. “Horst monopolizava tudo.”
Entre os amigos comunistas mais íntimos de Horst estavam os húngaros. Os
interesses da Adidas e dos poderosos do mundo do esporte em Budapeste
pareciam ser os mesmos. Através do acordo de produção com as fábricas de
sapato húngaras, a Adidas fornecia ao governo moeda corrente, item
extremamente em falta. Em troca, o país assinou contrato com a Adidas para
que todos os melhores atletas nacionais usassem seu equipamento. O chefe da
Adidas tinha tanta influência em Budapeste que mandou liberar um executivo da
empresa preso por dirigir bêbado. Sua imprudência havia tirado a vida de pelo
menos uma pessoa. Qualquer outro alemão ocidental preso sob as mesmas
circunstâncias provavelmente passaria o resto da vida em uma prisão comendo
goulash, mas, com alguns telefonemas de Horst, o infrator logo retornou à
Alemanha.
Segundo seus ajudantes, Horst sentia-se bastante à vontade nos países do
Leste Europeu, onde o poder podia ser exercido com mais firmeza.
Aparentemente, ele não ligava muito para os opositores políticos que arriscavam
a vida a fim de liberar seus concidadãos da opressão comunista. “Eu fiquei um
tanto chocado”, disse um dos ex-executivos da empresa, “quando Lech Walesa
fundou o Solidariedade na Polônia. Horst falava dele como se fosse o pior dos
bandidos.” Normalmente, porém, Horst fazia questão de não emitir qualquer
julgamento político, sob o princípio de que a política deveria permanecer fora do
mundo dos esportes.
No caso dos Estados Unidos, Horst teria que agir diferente, e para isso contava
com a ajuda de Mike Larrabee e John Bragg. O primeiro havia sido contratado
para promover a Adidas entre os atletas norte-americanos. Como reforço,
Larrabee apresentou John Bragg, um amigo de longa data que já estava ficando
entediado com o pequeno negócio familiar que fora obrigado a assumir.
Desde o final da década de 1960, os dois conseguiram passar várias vezes por
cima das regras da federação norte-americana de atletismo e descobriram
maneiras de bajular os atletas sem precisar oferecer-lhes dinheiro. Para se
certificarem de que não arrumariam confusão com ninguém, fizeram amizades
certas nos lugares certos. Não podia ser desconsiderado o fato de que Mike
Larrabee havia conquistado sua segunda medalha de ouro nas Olimpíadas de
Tóquio no revezamento 4 x 100, na mesma equipe de Ollan Cassell — que, por
sua vez, tornou-se diretor executivo da federação de atletismo e vice-presidente
da IAAF. “Horst sempre ajudou Ollan a se desenvolver na federação
internacional”, lembrou Bragg. “Isso fazia com que fosse mais fácil resolver as
coisas.”
Muhammad Ali usa o calçado da Adidas adornado com borlas vermelhas, feito
especialmente para a luta com Oscar Bonavena, em Nova York.
Não havia muito que Armin Dassler pudesse fazer para contrabalancear as
amizades do primo. O diretor da Puma não tinha a resistência, a personalidade e
a plataforma de Horst para conseguir os mesmos contatos. Apesar de Armin ser
bastante astucioso, não podia competir com o refinamento do primo. “Horst tinha
um intelecto incrível e se adaptava a qualquer situação. Ele nunca perdia a
compostura”, disse John Bragg. “Conseguia ser encantador e, ao mesmo tempo,
estar totalmente focado em conseguir o que queria. Ele daria um ótimo
embaixador.”
Em algumas negociações feitas por Horst, era difícil estabelecer uma linha
divisória entre o que era cortesia e o que era suborno. Sem encorajá-los
abertamente a agir de forma injusta, Horst deixava claro a seus executivos que
não era contra passar por cima das regras. No começo, alguns deles não se
sentiam muito à vontade com o caráter manipulador de suas supostas amizades.
“Não se preocupe, está tudo sob controle”, ouviam sempre de Horst. Ele
raramente falava de manipulação, mas quem trabalhava mais perto dele
reparava que algumas portas eram abertas com uma facilidade fora do normal.
“Nós nunca vimos nada e ele nunca falava sobre isso, mas sabíamos quando algo
estava acontecendo. Era impossível que todos eles realmente fossem amigos
íntimos de Horst”, disse um executivo. Investigações realizadas pela imprensa
revelaram posteriormente abusos cometidos por membros do alto escalão do
movimento olímpico, além de transferências bancárias bastante curiosas.
Jean-Marie Weber era provavelmente a única pessoa que poderia saber de
todas as negociações de Horst. Contratado como contador da Adidas França, o
homem simples e ao mesmo tempo refinado se tornaria um dos principais
assistentes de Horst — era por vezes chamado de seu “braço direito”, ou, mais
corriqueiramente, de “carregador de piano”. Os executivos da Adidas brincavam
que algum dia ele acabaria deslocando o ombro, por andar o tempo todo com
uma bolsa cheia de documentos pessoais. Havia rumores de que, quando a carga
ficou pesada demais, ele alugou um celeiro na pequena vila de Landersheim
para assegurar que os papéis não cairiam nas mãos de ladrões.
Já em meados da década de 1970, os diplomatas de Horst podiam contar com
uma rede de amizades e de informantes no esporte internacional. Eles já haviam
colocado seus peões em dezenas de organizações esportivas relativamente
modestas. Os esforços que tiveram de fazer no processo, contudo, só valeriam a
pena se conseguissem se infiltrar nas organizações que realmente importavam no
esporte internacional. Chegara a hora de colherem os frutos.
14
O jogo da fartura
Só havia um impedimento: Horst já esticara seu orçamento de tal modo que não
tinha mais milhões sobrando no bolso para dar à Fifa. Para manter sua parte do
acordo, ele teria que encontrar alguma forma de levantar fundos.
Horst já notara que vários outros agentes haviam começado a mostrar
interesse pelos esportes. Eles perceberam que as multidões atraídas para as
competições esportivas internacionais seriam um bom público-alvo para suas
empresas, mesmo que vendessem produtos sem qualquer relação com o esporte.
Até então, os únicos “patrocinadores” de um dado evento eram as empresas
cujos nomes apareciam nos velhos outdoors espalhados ao redor das quadras e
campos. No início da década de 1970, contudo, estavam surgindo outras formas
de patrocínio, não baseadas exclusivamente na propaganda: o investimento
ajudaria a construir a imagem das empresas como boas cidadãs corporativas,
associando-as aos valores supostamente íntegros e prestigiosos do esporte.
No mundo esportivo, como Horst logo percebeu, não havia melhor produto
para se vender do que o futebol. O jogo continuava sendo de longe o mais
popular de todos, atraindo grandes platéias para os estádios e gerando uma
empolgação que reverberava por todo o globo. Se ele pudesse construir uma
ponte entre o futebol e as empresas, conseguiria rapidamente o dinheiro de que
Havelange precisava. Horst, então, pediu a ajuda de John Boulter. O ex-corredor
inglês era o responsável pela promoção esportiva em Landersheim e havia
demonstrado toda a sagacidade necessária para lidar com os executivos mais
importantes de empresas multinacionais. No entanto, após algumas reuniões,
ficou claro que Boulter não poderia cuidar do assunto sozinho: tudo precisava ser
inventado!
Quando começou a estudar o negócio, Boulter descobriu que havia uma
pequena organização em Londres que construíra seu nome ao explorar com
astúcia o conceito ainda incipiente de marketing esportivo. A West Nally fora
montada através de uma parceria entre Peter West, ex-comentarista da BBC, e
Patrick Nally, ex-gerente de propaganda: West conseguia os contatos no mundo
dos esportes e na mídia e Nally se mostrava um vendedor incansável.
O que a West Nally propunha era agir como intermediária entre os
organizadores de eventos esportivos e as empresas que gostariam de se ver
associadas ao esporte. Para começar, ajudavam os organizadores a montar o
evento de modo que fosse mais atraente para a mídia e para os patrocinadores.
Então, convenciam as empresas internacionais a liberar recursos — e
embolsavam uma grande comissão sobre o valor que conseguissem levantar.
Isso é um exemplo claro de conceito certo na hora certa. Como as fronteiras
dos mercados estavam se tornando cada vez mais indefinidas, as multinacionais
passaram a desejar que suas marcas tivessem reputação global. O patrocínio de
eventos esportivos poderia ter um impacto mais positivo do que a propaganda,
sendo enxergado como um investimento comercial menos óbvio. A proposta da
West Nally era especialmente interessante para os fabricantes de cigarros, que,
na época, já não podiam fazer propagandas do modo tradicional em muitos
países.
A execução do projeto foi extraordinária. Após apenas alguns anos de
parceria, a West Nally havia convencido grandes empresas como a Gillette e a
Benson & Hedges a investir em críquete e sinuca. No início da década de 1970, a
agência já empregava cerca de 40 pessoas e começava a abrir escritórios no
exterior. Ainda assim, o destemido gerente de propaganda da West Nally
acreditava que, com os contatos certos, poderia chegar a um patamar muito mais
alto.
Peter West contribuía fazendo o contato com muitos organizadores de
eventos, mas era Patrick Nally quem efetivamente fechava os negócios.
Atraente em seus vinte e poucos anos, exalando charme e entusiasmo, Nally
convenceu executivos tradicionalistas e pragmáticos a liberar pilhas de dólares.
Como gostavam de dizer na agência de Berkeley Square, Patrick Nally
conseguiria vender geladeiras para esquimós. Assim, quando John Boulter ligou,
Nally concordou prontamente em se encontrar com Horst Dassler em
Landersheim. Os dois foram apresentados por Boulter logo depois que Havelange
assumiu a presidência da Fifa. E depois de se cumprimentarem, quase não
pararam de falar durante dois dias seguidos.
Patrick Nally ficou profundamente impressionado com o negócio montado
por Horst e com seu ímpeto. Em sua mesa no escritório de Landersheim, ele
parecia estar constantemente ocupado. “Ele distribuía instruções às suas quatro
secretárias e falava ao telefone com executivos e dignitários de todo o mundo, e
muitas vezes na língua deles”, maravilhou-se Nally. “Era incrivelmente intenso e
carismático.”
Horst ficou igualmente encantado com a impetuosidade e a rapidez de
pensamento de Nally. Logo veio a perceber que, juntos, poderiam fazer decolar
um negócio de grandes proporções. Em suas conversas com Havelange, Horst
poderia obter facilmente os direitos sobre a venda de acordos de marketing no
futebol internacional. Por ser o vendedor incansável e extremamente criativo que
era, Patrick Nally poderia ganhar milhões.
H orst achava que o marketing esportivo tinha um grande futuro, mas continuava
sofrendo para administrar seu negócio sem o olhar constante dos pais. E foi quase
por acaso que encontrou uma solução. Num acordo para adquirir a Le Coq
Sportif, Horst descobriu o parceiro perfeito com quem construir seu império
clandestino.
Horst trabalhava com a Le Coq Sportif desde a década de 1960 — antes de a
Adidas começar a produzir sua própria linha de roupas. A empresa pertencia à
família Camuset, e era bem estabelecida na produção de camisas e shorts que
tinham como emblema um galo. De acordo com o pacto feito com a Adidas
França, as duas empresas se uniriam para oferecer um kit completo: a Adidas
entraria com as chuteiras e a Le Coq Sportif fabricaria camisas e shorts com três
listras em sua fábrica de Romilly sur Seine, uma pequena cidade na região de
Champagne.
A Le Coq Sportif já não era mais uma simples fábrica de roupa de malha
administrada por Emile Camuset. Emile costumava passar as noites no Bar
Romillon, um ponto de encontro dos moradores locais que gostavam de
conversar sobre esporte. Após umas rodadas de bebidas, eles sugeriram que
Emile produzisse camisas para a prática de esportes. A Le Coq Sportif se
registrou como marca em 1948, e despontou para a fama três anos depois,
quando recebeu um pedido para fazer camisas para o Tour de France.
Durante os anos seguintes, a empresa rapidamente se disseminou pelas pistas
de corrida e campos de futebol da França. Assim, em pouco tempo o galo
francês também estava nas camisas e nos agasalhos de atletas franceses nas
Olimpíadas, e no peito dos jogadores de futebol da seleção. O ápice foi o acordo
feito em 1972 com Johan Cruy ff, em conjunto com o contrato de exclusividade
com a Puma em relação às chuteiras.
A união da Adidas com a Le Coq Sportif foi sancionada por Käthe Dassler,
que se reunia constantemente com os Camuset. A parceria deu tão certo que eles
consideraram inserir a Umbro no acordo também. Ocorreram várias reuniões
entre os Camuset, os Dassler e os irmãos Humphrey s — as famílias européias de
mais peso no comércio de artigos esportivos.
Contudo, a relação piorou abruptamente quando a Adidas começou a fazer
sua própria linha de roupas. Um dos problemas era que a Le Coq Sportif, que
fabricava roupas para a Adidas, também produzia os mesmos modelos sob sua
própria marca. Horst insistiu que interrompessem a produção, mas os Camuset
recusaram-se firmemente, alegando que tinham os direitos sobre a marca
Adidas na França. Em junho de 1973, Horst entrou com um processo contra eles.
A ação teve o apoio dos Dassler da Alemanha. Eles não podiam tolerar que a
Le Coq Sportif causasse esse tipo de confusão e ainda se beneficiasse
indevidamente da imagem da Adidas. Contudo, o caso sofreu uma virada terrível
em fevereiro de 1974, quando um tribunal de Estrasburgo deu veredicto a favor
da empresa francesa. A decisão inequivocamente identificava a Le Coq Sportif
como dona das três listras, dificultando assim a operação têxtil da Adidas França.
O veredicto confirmava a existência de um problema com o qual a Adidas
também viria a sofrer em vários outros países. A empresa não conseguia
registrar a patente das três listras nos Estados Unidos, e em outros lugares, porque
os tribunais achavam que o desenho não era particular o suficiente. A Adidas
alemã havia registrado a marca em Genebra em janeiro de 1970, quase três
meses antes de a Le Coq Sportif registrá-la em um tribunal comercial em
Romilly. Apesar disso, em 1974, os juízes de Estrasburgo estavam certos de que a
Le Coq deveria ter os direitos na França, pois já usava a marca no país antes da
Adidas.
Desse ponto em diante, Horst combateu a Le Coq Sportif implacavelmente.
As eficientes unidades de produção têxtil de sua fábrica trabalhavam a toda
velocidade para inundar a França de camisas Adidas. Equipes de vendas foram
redistribuídas na tentativa de expulsar a Le Coq Sportif do mercado. Devido à
briga com a Adidas, a empresa francesa também perdeu seu mais precioso
contrato de exclusividade: com a federação nacional de futebol. O contrato havia
sido obtido através da Adidas, que fornecia as chuteiras e deixava as camisas
para a Le Coq Sportif. Contudo, o acordo fora articulado através da relação
pessoal entre Horst Dassler e Jacques George, chefe da federação. Horst só
precisou soprar algumas idéias no ouvido de George para que ele desistisse da Le
Coq Sportif. Os Camuset apresentaram queixa em junho de 1974, dessa vez
duramente rechaçada pelos juízes de Paris — que entenderam que a federação
havia simplesmente decidido mudar de fornecedor.
Ironicamente, a jogada que mais prejudicou a Le Coq Sportif foi orquestrada
pelos próprios Camuset. Enfraquecidos pela intensificação da competição no
início da década de 1970, eles decidiram investir no aumento maciço da
produção. Compraram mais uma fábrica e iniciaram a construção de outra em
Romilly. Contudo, por conta do ataque da Adidas, a empresa continuou a perder
terreno no mercado. Eles estavam cheios de dívidas e com estoque até o pescoço
— milhares de produtos das novas fábricas não puderam ser vendidos. Em
março de 1974, eles estavam sendo perseguidos constantemente pelos credores
ansiosos. Um mês depois, os Camuset foram expulsos da empresa, e um gerente
foi indicado pelo tribunal para procurar um comprador.
Deixando as brigas internas de lado, Horst e os pais concordaram que seria
desastroso se os direitos sobre as três listras — que eram da Le Coq Sportif —
caíssem nas mãos erradas. Käthe Dassler, portanto, apoiou a oferta feita pelo
filho para adquirir a Le Coq Sportif em nome da Adidas. A oferta da Kopa,
empresa de negócios esportivos administrada pelo ex-jogador de futebol de
mesmo nome, foi considerada insegura pelo tribunal, que decidiu a favor da
Adidas. Contudo, a decisão encontrou uma resistência virulenta e inesperada da
Le Coq Sportif.
Mireille Gousserey -Camuset, filha do fundador da Le Coq, era proprietária
de mais da metade das ações. Muito ativa na resistência durante a Segunda
Guerra Mundial, ela se recusou a deixar que a empresa caísse nas mãos dos
alemães. Seu irmão, Roland Camuset, ficou feliz em aceitar a proposta da Adidas
pelos seus 49%, mas Mireille negou-a obstinadamente.
Quando a Le Coq Sportif chegou quase à falência, o governo francês teve que
intervir. Romilly era conhecida principalmente por sua estação de trem, o que
acabou transformando a cidade em um verdadeiro centro de ativismo sindical.
Os trabalhadores, que haviam eleito um prefeito comunista, estavam ficando
inquietos. Para evitar revoltas, o governo agiu e apresentou seu próprio
comprador para a Le Coq Sportif. Todos respiraram aliviados quando Mireille
Gousserey deu sua bênção a André Guelfi, um investidor fanfarrão. Seu pai era
da Córsega, sua mãe da Espanha e ele morava na Suíça, mas, na perspectiva de
Mireille, pelo menos ele fora apresentado pelo governo francês. Em março de
1976, Mireille finalmente concedeu seus 51% para Guelfi. A Adidas França
adquirira os 49% de Roland Camuset quase dois anos antes — terminando um
impasse de quase dois anos que havia levado a Le Coq Sportif à beira do colapso.
Quando a proposta de compra da Le Coq Sportif chegou à sua mesa, André
Guelfi entendeu-a como um favor político. Contudo, vislumbrou uma
oportunidade muito interessante quando um gerente da empresa mencionou a
decisão judicial relativa às três listras. De posse dos papéis do tribunal, Guelfi
consultou Marceau Crespin, alto funcionário do Ministério dos Esportes francês.
Por intermédio de Crespin, com quem fizera amizade no Exército, Guelfi
conseguiu marcar uma reunião com Horst Dassler. “Eu fui em clima de guerra,
dizendo que eles não poderiam levar as três listras assim sem mais nem menos”,
lembrou Guelfi, “mas aí acabamos nos dando bem e decidimos nos tornar
parceiros.”
O argumento funcionou para os dois lados. Guelfi também pensou que a Le
Coq Sportif teria resultados muito melhores se Dassler a acolhesse. Como ficara
provado no caso da federação de futebol francesa, brigar com o executivo
alemão era causa perdida. Quanto a Horst, ele ficara instantaneamente
encantado com a personalidade gregária de Guelfi, que havia acumulado
dinheiro suficiente para ajudá-lo de forma discreta em suas aventuras
particulares.
Os dois então fecharam um acordo secreto. Aos olhos da família Dassler na
Alemanha, a Adidas França possuía apenas 49% da Le Coq Sportif, mas Guelfi
deu 2% da sua parte a Horst e a opção para adquirir os 49% restantes quando
quisesse. O acordo foi feito pessoalmente com Horst, e não com a Adidas. Em
outras palavras, sem o conhecimento da família, Horst tinha o controle
majoritário da Le Coq Sportif. O acordo marcou o início de uma intensa parceria
entre Horst e Guelfi.
Depois que Guelfi entregou a Le Coq Sportif para o chefe da Adidas França,
Horst administrou a empresa com o mesmo ímpeto utilizado para afundá-la anos
antes. Se as tensões com sua família aumentassem de modo drástico, ele poderia
levar a cabo a opção de compra. A Le Coq Sportif não era somente um
investimento: era uma marca alternativa que Horst poderia levar adiante caso se
visse em um impasse com a família.
Junto a André Guelfi, Horst planejou investimentos em larga escala para
revitalizar a Le Coq Sportif. A empresa já estava estabelecida no mercado
francês de roupas para a prática esportiva, e começava a concorrer também no
mercado internacional com uma grande linha de produtos e muitos contratos de
exclusividade com os atletas e as equipes de futebol mais disputados.
Em Landersheim, Horst resumiu a situação aos seus funcionários de
confiança. Para seus pais, a Adidas França tinha somente 49% da Le Coq Sportif.
André Guelfi tinha de convidar os Dassler para as reuniões oficiais dos acionistas
e educadamente consultá-los sobre possíveis expansões, mas Herzogenaurach
não deveria saber nada sobre os esforços feitos pela equipe francesa em prol da
ampliação da Le Coq Sportif no mundo. “Quando vinha alguém de
Herzogenaurach, os arquivos da Le Coq eram muito bem trancados no armário”,
lembrou um dos gerentes de Landersheim.
A necessidade de esconder o envolvimento dos gerentes franceses fez com
que se desenvolvessem alguns arranjos estranhos. Um executivo francês
lembrou que, quando foi recrutado por Horst Dassler, havia uma subcláusula
muito esquisita em seu contrato. Ele estava sendo contratado oficialmente pela
Adidas França, mas um apêndice indicava que ele teria que fazer os mesmos
serviços, só que para a Le Coq Sportif. A Adidas França estava tão preocupada
em manter a operação em segredo que pediu ao executivo que assinasse um
contrato de confidencialidade.
Para financiar seus negócios, Horst se uniu a André Guelfi, um corso fascinante.
Segundo Guelfi, os dois haviam se tornado os “mestres do mundo”.
Johan van den Bossche, chefe de assuntos jurídicos da Adidas França, só
percebeu o quão bizarra era a situação algumas semanas após ter sido
contratado. Em um hotel numa cidade da Ásia, ele recebeu um telefonema de
um certo sr. Gary Heller. O advogado fez um grande esforço mental, mas não
lembrou de ninguém com esse nome. Ficou espantado quando o sr. Heller
chamou-o pelo primeiro nome e começou a listar instruções precisas sobre um
contrato de licenciamento. “Desculpe, senhor. Não posso receber instruções de
quem não conheço”, respondeu calmamente Van den Bossche. No fim das
contas, o sr. Heller era Klaus Hempel, assistente de Horst Dassler. Viajando pela
Ásia em nome da Le Coq Sportif, Hempel fazia suas reservas no nome do
cunhado.
Horst e Guelfi formularam processos elaborados para informar à família
Dassler em Herzogenaurach sobre o andamento da Le Coq Sportif na França.
“Por vezes, Horst fingia estar do lado da mãe, recusando-se a fazer os
investimentos que eu defendia”, lembrou Guelfi. Na mesma época, contudo, os
dois montaram uma empresa chamada Sarragan em Friburgo, na Suíça, para
reagrupar todas as atividades secretas de Horst — incluindo a maior parte dos
negócios internacionais da Le Coq Sportif.
O esquema só foi possível porque os executivos franceses envolvidos eram
também bons atores, e porque as contas eram apresentadas de forma bastante
impenetrável. Horst contava em grande parte com Jean-Marie Weber para
disfarçar as coisas para Herzogenaurach. Quando Horst passava relatórios aos
pais, podia ter certeza de que eles não revelariam nada que ele não quisesse. As
negociações não-autorizadas de Horst também eram astutamente disfarçadas por
um verdadeiro labirinto de operações na Suíça e por uma complexa
documentação jurídica. “Em meio a toda essa confusão, até um gato teria
dificuldade de encontrar os filhotes”, Weber teria declarado.
Pouco tempo após a concretização da parceria com Guelfi, Horst adquiriu a
Hungaria, uma antiga rival fabricante de chuteiras e bolas localizada perto de
Orleans. A marca e o nome foram abandonados, e a fábrica começou a produzir
chuteiras Le Coq Sportif. A produção era complementada por duas outras
unidades adquiridas por Guelfi na região da Corrèze, base de Jacques Chirac. O
homem que mais tarde seria eleito presidente da França foi visto em
Landersheim pelo menos duas vezes discutindo os detalhes.
A Descente, licenciada japonesa da Adidas, também foi inserida na trama.
Os gerentes responsáveis pelos negócios da Adidas na Descente aparentemente
eram leais a Herzogenaurach, mas concordaram em ajudar Horst a distribuir os
produtos Le Coq Sportif sem o conhecimento de Käthe Dassler. As operações
eram administradas por Murakawa-san, que também tinha cartões de visita da Le
Coq Sportif, nos quais era conhecido como Nakamura-san.
O estabelecimento da Le Coq nos Estados Unidos foi confiado a Donald Dell,
agente de jogadores de tênis, e seu parceiro Frank Craighill. Eles construíram um
perfil totalmente oposto ao que a Le Coq Sportif representava em outros países:
enquanto na Europa ela era considerada uma marca de artigos de futebol a
preços acessíveis, nos Estados Unidos foi implementada como uma linha de
produtos de tênis e moda de alto nível. Auxiliada pela impressionante lista de
contatos de Dell no ambiente tenista dos Estados Unidos, a Le Coq Sportif
conseguiu fechar ótimos contratos de exclusividade: apesar das vendas modestas,
os produtos da empresa eram usados pelos mais proeminentes tenistas norte-
americanos da época, como Roscoe Tanner e Arthur Ashe.
Outra operação da Le Coq Sportif foi iniciada às pressas no Reino Unido por
Robbie Brightwell. O corredor britânico tinha bom relacionamento com Horst
Dassler, que o colocara no comando da unidade da Adidas na Inglaterra em
1971. Contudo, em 1978, ele foi convencido a trocar de lado. “Horst Dassler
disse-me que dedicaria a maior parte do seu tempo à Le Coq Sportif”, lembrou
Brightwell. “Era tudo que eu precisava ouvir.”
Ciente da relação tortuosa entre Horst e sua família, Brightwell entendeu
perfeitamente que Herzogenaurach não deveria saber de nada em relação à
nova operação. A Le Coq Sportif inglesa estabeleceu-se na cidade de Congleton,
em Cheshire, praticamente ao lado da residência de Brightwell, e era financiada
através de suas contas pessoais. Isso causou um certo pânico na filial local do
National Westminster Bank, acostumada apenas a transações de valores
pequenos. “Sr. Brightwell, uma quantia muito grande foi transferida da Suíça para
a sua conta”, disse-lhe, nervoso, o gerente do banco ao telefone.
O dinheiro, enviado pela Sarragan — a empresa suíça montada por Horst e
Guelfi —, permitiu que a operação estabelecida por Brightwell crescesse
rapidamente. Em Macclesfield, a algumas milhas de Congleton, foi montada
uma fábrica que usava os tecidos e designs mais avançados da Adidas. Tendo
começado do zero, a Le Coq Sportif inglesa atingiu 12 milhões de libras em
vendas depois de cinco anos. Cinco equipes da primeira divisão inglesa tinham
contrato com a marca, incluindo o Tottenham Hotspur e o Everton.
Horst explorou todos os contatos cultivados por intermédio da Adidas para
ajudar a melhorar a posição da Le Coq Sportif no mercado internacional. A
marca que havia feito todo o esforço possível para conseguir um contrato
doméstico com a federação francesa de futebol alguns anos antes já vestia
alguns dos jogadores mais reverenciados do mundo. Várias seleções nacionais da
América do Sul levavam o galo francês no peito, inclusive os argentinos,
campeões mundiais.
Mesmo assim, Horst sabia que, sozinha, a Le Coq nunca teria a penetração da
Adidas. Portanto, adquiriu uma série de empresas e fez diversas parcerias
através da Sarragan. A estrutura de Estrasburgo foi ampliada, e novos escritórios
foram montados na Champs-Ely sées, administrados por alguns dos sócios de
André Guelfi.
Para organizar toda a operação, Horst contratou Larry Hampton, executivo
norte-americano de peso. Durante vários meses, ele morou em um pequeno
hotel perto da casa de Horst em Eckartswiller. Mais tarde, o escritório de
Hampton foi transferido para a sede da Sarragan na Champs-Ely sées, mas ele
passava a maior parte do tempo voando de um lado para o outro com Horst. Sua
incumbência era ao mesmo tempo ousada e incrivelmente dissimulada: eles
iriam construir um conglomerado esportivo multimarca — sem que a família
Dassler soubesse.
Entre as parcerias mais audazes feitas através da Sarragan estava uma com
Daniel Hechter, estilista francês de alto renome. Hechter chocou a alta-costura
da elite de Paris fazendo roupas para serem usadas no dia-a-dia por mulheres
emancipadas. Uma de suas marcas registradas era uma série de blazers que
podiam ser usados tanto com saia quanto com calça. O que o aproximou de Horst
foi o fato de que Hechter lidava um pouco com negócios relacionados ao futebol.
Seus investimentos contribuíram para a criação do Paris Saint-German, clube
que montou em junho de 1973 com Francis Borelli, homem de negócios muito
conhecido no mundo da propaganda.
Para impressionar Hechter, Horst marcou uma reunião em junho de 1979 no
Beach Plaza, em Mônaco, para a qual ele chegou no veloz iate de André Guelfi.
Dois meses depois, Hechter retribuiu a gentileza convidando os dois para uma
segunda rodada de negociações em sua suntuosa mansão em Saint-Tropez, e os
levou para dar uma volta em seu barco. Mutuamente seduzidos, Hechter e
Dassler concordaram em fazer uma linha de roupas esportivas assinadas pelo
estilista francês e fabricadas e vendidas pela Le Coq Sportif.
O acordo com Hechter fazia parte da Sarragan, mas era administrado pelos
gerentes da Adidas com o apoio dos funcionários de André Guelfi. Eles
trabalhavam em uma sala da Sarragan, no quinto andar de um prédio alto na
Champs-Ely sées que também abrigava vários escritórios luxuosos e um
showroom. Seguindo estrutura escamoteada necessária aos negócios secretos de
Horst Dassler, a placa na porta da sala dizia “Sarragan”, apesar de os gerentes
serem todos empregados da Le Coq Sportif.
A Daniel Hechter Sports começou espetacularmente. A linha de roupas foi
lançada com muita festa. Era promovida por alguns dos colegas de André Guelfi,
desde o ator Jean-Paul Belmondo até Jean-Pierre Rives, jogador de rúgbi. O
estilista criou roupas esportivas absolutamente originais para a época, tais como
as roupas de tênis cor de maçã verde e a roupa de esqui fúcsia. Já no segundo
ano de atividades, a linha Daniel Hechter Sports vendeu por volta de 20 milhões
de francos.
Contudo, havia uma tensão na parceria. O problema poderia ser atribuído à
relação difícil entre os gerentes mais relaxados da Adidas e os executivos
pedantes de Hechter. “Eram as bichinhas nervosas contra os machões”, um dos
protagonistas da história resumiu. “Eles não conseguiam entender por que Daniel
fazia tanto escândalo por causa de um botão que não estava exatamente onde ele
queria ou por uma prega que não estava absolutamente perfeita.”
Hechter tinha tanta admiração por Horst Dassler que escreveu um romance
sobre ele. Le Boss conta a história de um jovem chamado Luca Maltese que,
sozinho, construiu a Winner, marca internacional de artigos esportivos. Para
florear a narrativa, em certos lugares as ações do herói diferiam das de Horst —
por exemplo, quando Maltese teve uma relação fervorosa com uma atriz norte-
americana e quando mandou matar um jornalista africano. Contudo, em linhas
gerais, havia muitos personagens claramente baseados nos maiores parceiros de
Horst.
Horst jamais chegou a resolver as brigas com o pai. Quando estava deprimido,
compartilhava a tristeza com os colegas mais íntimos e lhes mostrava as longas e
amargas cartas nas quais o pai o renegava. Até os últimos dias de vida, Adolf
Dassler foi permanentemente atormentado pelos conflitos entre seu filho e os
gerentes alemães. Uma das últimas brigas aconteceu antes da Copa do Mundo de
1978. Adi havia desenvolvido uma chuteira para a ocasião, com os mais recentes
avanços técnicos. Horst Widmann, seu assistente pessoal, foi enviado à Argentina
para apresentar o produto. Quando se encontrou com a delegação francesa no
Hotel Sheraton de Buenos Aires, porém, Widmann ficou perplexo ao descobrir
que o modelo que os franceses levaram consigo era, ao que parecia, uma cópia
disfarçada do modelo alemão. Ele ficou furioso e estava certo de que os
franceses tinham um informante em Herzogenaurach.
Widmann telefonou afobado para os Dassler na Alemanha. “Adi ficou
furioso”, ele recorda. “Ele me deu ordens oficiais para roubar um par das novas
chuteiras da delegação francesa de modo que ele pudesse verificar como era
feita.” Depois disso, os dois lados da empresa ainda teriam que decidir qual das
chuteiras seria lançada pela Adidas na Copa do Mundo. “Adi e Käthe estavam
em cima de mim. Eles me telefonavam o tempo todo para se certificarem de
que eu seria firme”, disse Widmann. Acabaram chegando a um acordo um tanto
unilateral, no qual a equipe alemã usaria a chuteira alemã, e Horst distribuiria a
chuteira francesa para os jogadores das outras equipes.
Adolf continuava circulando com seu caderno de anotações e testando
variações nos modelos dos calçados em sua oficina, alheio aos negócios
propriamente ditos. A obsessão que o fazia querer melhorar constantemente
parece nunca ter diminuído. Durante cinco décadas, ele registrara quase 700
patentes em seu nome, desde as travas aparafusáveis até pequenas modificações
em detalhes que só o maior fanático do mundo poderia apreciar.
Adi já estava de cabelos grisalhos e continuava se recusando a viajar. Apesar
disso, acompanhava de perto a cobertura televisiva dos esportes. Horst Widmann
teve a prova final da sagacidade do patrão quando recebeu um telefonema dele
durante os Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976. Adi estava vendo uma corrida
de Alberto Juantorena Danger, de Cuba. “Vá falar com ele agora”, Dassler disse
a Widmann. “Dá para ver nas curvas que tem algo de errado com seu calçado.”
Quando Widmann foi verificar, viu que Adi havia observado com precisão, a
vários milhares de quilômetros de distância. Juantorena acabou ganhando a
medalha de ouro nos 400 e nos 800 metros — depois de seus sapatos terem sido
consertados.
Já com mais de 70 anos de idade, Adolf Dassler continuava a fugir das
homenagens. Quem aparecia no portão de Herzogenaurach querendo ao menos
um vislumbre do grande homem era dispensado sem mais cerimônias. “Certa
vez, ele estava passeando com o cachorro quando alguém o chamou no portão,
perguntando por Adi Dassler”, lembrou Karl-Heinz Lang, um de seus assistentes
mais próximos. “Adi deu de ombros. ‘Não sei’, ele disse ao visitante. ‘Eu sou só o
jardineiro.’” Vestido com uma calça de moletom Adidas, ele realmente parecia
um jardineiro.
Adi certa vez confessou ao amigo Erich Deuser, conselheiro médico da
seleção alemã, que não tinha idéia de quantas fábricas a Adidas tinha — e que,
sinceramente, não estava nem aí. Käthe provavelmente poderia ter informado a
Deuser que, em 1978, a empresa que o seu marido fundara na lavanderia da
mãe empregava por volta de três mil pessoas só na Alemanha.
Aproximadamente 180 mil pares de calçados Adidas eram produzidos todos os
dias nas fábricas que a empresa possuía em 17 países, sendo distribuídos
oficialmente em 144.
Nessa época, Adi foi aconselhado a pegar mais leve. Após um checkup
médico, disseram gentilmente que ele não deveria levar tudo tão a sério. Desde
que recebera o conselho, Adolf passou a engolir comprimidos coloridos aos
montes. De nada adiantou: na manhã do dia 18 de agosto de 1978, Käthe o
encontrou imóvel na cama, paralisado por um derrame. Ele foi levado às pressas
para uma unidade de tratamento intensivo em Erlangen, onde permaneceu
durante duas semanas cercado pelos filhos. Faleceu na mesma clínica, aos 78
anos de idade, no dia 6 de setembro, quando seu coração finalmente se entregou.
A família Dassler seguiu à risca suas instruções, evitando discursos pomposos
e a presença de pessoas estranhas. Para assegurar que o funeral seria realmente
privado, Käthe Dassler, os cinco filhos e suas respectivas famílias se reuniram
uma hora antes do que estava marcado, em uma manhã chuvosa, dois dias após
a morte de Adi. Ele foi enterrado sob uma lápide simples de mármore, no canto
superior direito do cemitério de Herzogenaurach — o mais longe possível de
onde seu irmão Rudolf havia sido enterrado quatro anos antes.
16
Amigos olímpicos
Poucos meses antes da abertura dos Jogos, contudo, aconteceu mais uma
briga entre Horst e sua família em Herzogenaurach. De uma hora para a outra, o
contrato de fornecimento de equipamento assinado para as Olimpíadas de
Moscou foi transferido para a Arena. A mudança parecia ser fruto da influência
pessoal de Horst, mas seria um pesadelo para o departamento têxtil em
Landersheim, que teria de criar uma linha totalmente nova da noite para o dia.
Interferindo no processo, o presidente norte-americano Jimmy Carter decidiu
protestar contra a invasão do Exército soviético no Afeganistão, ordenando um
boicote aos Jogos de Moscou. A Alemanha Ocidental, o Japão e a China, entre
outros, assumiram posição semelhante. Todos os contratos feitos com empresas
norte-americanas foram cancelados, incluindo o acordo que a Adidas assinara
com a Levi’s para fornecer jeans para a equipe organizadora das Olimpíadas. Foi
Patrick Nally quem salvou a pátria através de uma empresa italiana que
fabricava calças com a marca “Jesus”.
De forma semelhante ao que Havelange fizera alguns anos antes, Samaranch
se engajou em uma campanha aberta pela presidência do COI. Sua campanha
foi baseada no princípio de que o ethos amadorístico das Olimpíadas precisava,
de alguma forma, ser abrandado. A opinião irritou os oponentes quando
Samaranch ousou expressá-la em um encontro em Oly mpia, e continuou a
incomodar alguns membros do COI cuja tendência era considerar o dinheiro
uma coisa indecente. Contudo, membros mais realistas se convenceram de que a
hipocrisia das regras vigentes se tornara insustentável.
Um problema que acabou favorecendo Samaranch foi o fato de que o
movimento olímpico estava à beira de um colapso. Os Jogos de Montreal haviam
cavado um enorme buraco nas contas da cidade: diz-se que o prefeito, Jean
Drapeau, declarara que “assim como é impossível um homem dar à luz, é
impossível que as Olimpíadas gerem dívidas”. Entretanto, os Jogos deixaram
Montreal com um bilhão de dólares de dívidas (que chegaram a dois bilhões
devido aos juros). A reputação da competição fora manchada ainda mais pelo
grande boicote feito às Olimpíadas de Moscou, o que decepcionou
profundamente alguns patrocinadores e, certamente, fez com que se perdessem
milhões de telespectadores.
Os planos de Samaranch podiam ser polêmicos, mas agiam diretamente
sobre o problema. Ele queria montar uma força-tarefa dedicada exclusivamente
a levantar fundos. O dinheiro ajudaria a formatar as Olimpíadas de modo a
torná-la mais atraente para a mídia — atraindo patrocinadores. E era aí que
Horst Dassler entrava.
No dia 16 de julho de 1980, o catalão superou seus oponentes — incluindo
Willy Daume, candidato alemão que tinha o apoio dos executivos da Adidas em
Herzogenaurach. No mesmo dia, à noite, as pessoas que mais haviam contribuído
para o sucesso de Samaranch comemoraram o feito no salão de conferências do
Hotel Moskva. Entre os 15 convidados que se juntaram a Samaranch estavam
Horst Dassler e Christian Jannette. O caviar certamente era russo, mas o foie gras
fora trazido de avião diretamente de Landersheim.
Àquela altura, Horst estava totalmente fascinado pela dinâmica do poder. Ele se
transformara num manipulador, influente a ponto de determinar decisões
importantes no sentido que melhor lhe conviesse. Gostava de transitar em meio a
pessoas de renome, adorava o papel de comandar seus fantoches. Era bom em
intrigas, apoiando-se na experiência acumulada em anos de ardis cultivados a
partir do momento em que surgiram seus profundos desentendimentos com os
pais. Desde que Horst se envolvera na política do esporte internacional, tanto ele
quanto a dinâmica dessa política haviam se tornado muito ásperos.
Apesar de Horst desconfiar de tudo sempre, ele desconfiava mais ainda da
União Soviética. Convencido de que havia escutas espalhadas, toda vez que
atravessava a Cortina de Ferro o chefe da Adidas levava consigo um aparelho
para impedir a ação delas, ativando-o nos quartos de hotel antes mesmo de
desfazer as malas. Ele ensinou a vários de seus executivos de alto escalão a usar
o aparelho, e os orientava a levar documentos com informações falsas em suas
pastas.
A vigilância às vezes se tornava tão estressante que Horst aliviava a tensão
com um toque irônico. Durante alguma reunião, ele contaria aos parceiros
soviéticos alguma informação nova e concluiria, casualmente: “Mas, tendo lido
todos os documentos, vocês já sabem disso.” Os anfitriões permaneciam
impassíveis.
Com Patrick Nally, Horst se permitia estratégias mais ousadas para despistar
a KGB. Enfastiado com a constante vigilância, os dois entraram em um táxi e
pediram que ele saísse da cidade em alta velocidade. O motorista seguiu as
ordens sem fazer perguntas, e levou Dassler e Nally a um restaurante
desconhecido que certamente não estava no tour da propaganda oficial. Voltando
ao hotel, os dois caíram na gargalhada — no banheiro, claro, e com a torneira
ligada bem forte.
A obsessão não era só uma brincadeira, muito menos injustificada. Afinal, os
governantes da União Soviética eram bastante curiosos com visitantes do mundo
capitalista. Além disso, o que estava em jogo era tão grande naquela época que o
medo das escutas logo se disseminou pelo próprio COI: havia boatos de que o
escritório central em Lausanne possuía uma sala de reuniões à prova de escutas,
constantemente examinada por técnicos.
Nem mesmo os animais estavam acima de suspeita. Algumas pessoas
acharam estranho quando Thomas Keller, chefe da federação internacional de
remo, cujo centro de atividades era em Monte Carlo, recebeu um cachorro de
presente de seus amigos soviéticos. “Nós estávamos convencidos de que havia
uma escuta no cachorro. Era o tipo de coisa que se esperava”, brincou Patrick
Nally. “Mas tratamos o cachorro muito bem, só por precaução.”
Por outro lado, um vendedor norte-americano ficou embasbacado ao
descobrir que o bar do Sportshotel em Herzogenaurach aparentemente possuía
escutas. Na época, o hotel havia sido reformado e recebia, com certa
regularidade, delegações inteiras de dignitários do alto escalão que gostavam de
compartilhar suas opiniões sobre o dia tomando um drinque no bar. O vendedor
estava tentando sintonizar uma estação das Forças Armadas norte-americanas
em seu rádio, mas pôde ouvir claramente as conversas que aconteciam no bar do
hotel.
O mesmo aconteceu com Jörg Dassler, o segundo filho de Armin, quando
ainda era adolescente, no fim da década de 1970. Ele estava mexendo no rádio
na sala de casa enquanto seu pai estava ao telefone. “De repente, ouvi meu pai
no rádio”, lembrou Jörg. “Foi assim que descobrimos que o telefone estava
grampeado. Até encontramos o mecanismo instalado no aparelho.”
Esses artifícios deixavam as pessoas chocadas e furiosas, mas muitas delas
estavam convencidas de que isso já era parte inerente do mundo dos negócios. O
boicote às Olimpíadas de Moscou havia mostrado claramente que o esporte se
transformara em um instrumento político. Horst Dassler e seus gerentes
trabalhavam no estranho clima político que caracterizou o período, carregado de
desconfianças e intrigas. Já outros se preocupavam com a amplitude da
manipulação que Horst exercia, freqüentemente só por diversão. Quando tinha
um tempo livre no hotel, Horst às vezes pegava o telefone e alarmava a todos
com uma história inventada. “A forma como reagiam revelava informações
preciosas a Horst”, disse um confidente.
Contudo, à medida que Horst se envolvia cada vez mais no mundo dos
negócios, seu comportamento se tornava obsessivo e paranóico. “Ele estava
sempre se escondendo”, contou Klaus Hempel, seu assistente pessoal. “Dava
telefonemas da mesa do seu escritório, mas fazia as pessoas acreditarem que
estava do outro lado do mundo.”
No ápice de seu poder político, no final da década de 1970, Horst parecia
muito preocupado com a lealdade dos que o cercavam. Um de seus gerentes
testemunhou o quão irritado o chefe ficou em uma partida de futebol ao ver
Franz Beckenbauer do outro lado do estádio conversando com um concorrente da
Adidas. “No dia seguinte, Horst ligou para a polícia alemã tentando descobrir
onde conseguir microfones de longo alcance para escutar essas conversas às
escondidas”, lembrou o gerente. “Quando eu disse que talvez ele estivesse
exagerando, Horst me chamou de ingênuo.”
Christian Jannette, um dos principais “embaixadores” de Horst na União
Soviética, senta-se à direita de Horst no Lido, em Paris. Com eles estava o
ministro dos Esportes soviético, Sergei Pavlov (na frente, à esquerda). O jovem
ao fundo é Patrick Nally, pioneiro do marketing esportivo moderno.
Se Horst Dassler era amigo íntimo de muitos figurões do esporte mundial, Käthe
Dassler continuava a servir bolo de ameixa a seus convidados no terraço de sua
casa em Herzogenaurach. No início da década de 1980, muitas das grandes
decisões da Adidas eram tomadas durante o café, quando Käthe passava horas
conversando com a irmã, Marianne, e com as filhas.
Segundo o testamento de Adolf Dassler, Käthe herdaria o controle do
negócio. Apesar disso, ela insistia para que os filhos tomassem posições de
comando na empresa. Cada uma das quatro filhas controlava o seu próprio
departamento. Inge Bente, a mais velha, ajudava bastante na promoção esportiva
na Alemanha, mas perdeu grande parte de seu poder e influência após sofrer um
derrame que paralisou metade do seu corpo. Karin Essing, a segunda, cuidava de
tudo relacionado a marketing. Brigitte Baenkler apoiava o irmão Horst com seus
contatos nos países do Leste Europeu. Sigrid, a caçula, supervisionou a produção
têxtil durante um curto período até se mudar para a Suíça com o marido.
Os assuntos da Adidas também eram discutidos em reuniões familiares
informais, envolvendo as quatro irmãs e seus respectivos maridos. Alf Bente era
o mais influente de todos. Ele fora integrado à empresa já há bastante tempo, e
supervisionava a expansão da produção. Quando Adi começou a perder as
forças, Bente tomou algumas de suas funções informalmente. Hans-Günter
Essing não estava tão envolvido no dia-a-dia da empresa, mas era considerado de
confiança e possuía ótima capacidade de análise. Hans-Wolf Baenkler ouvia
muito mais do que falava. Christoph Malms, o último genro, não passava muito
tempo em Herzogenaurach. Após se aperfeiçoar na escola de administração de
Wharton, nos Estados Unidos, assumiu o posto de consultor. As decisões
familiares tinham de certa forma que ser aprovadas por um conselho supervisor,
o Beirat, composto por representantes dos filhos de Käthe e Adi e apoiado por um
grupo de conselheiros, banqueiros e advogados com os quais eles tinham alguma
amizade.
Alguns dos métodos utilizados pela família tinham o propósito específico de
manter o controle da gerência. Entre os rituais mais revoltantes estava a abertura
das correspondências. Marianne Hoffmann, irmã de Käthe, passava mais de
duas horas por dia olhando absolutamente todas as cartas que chegavam à Adidas
em Herzogenaurach. E não importava se a carta era destinada a gerentes
específicos — ela olhava o conteúdo de cada pacote ou envelope e o enviava
para o destinatário que quisesse.
Infelizmente, as decisões dos Dassler nem sempre iam ao encontro das
preocupações dos administradores profissionais da empresa. Um desses
administradores estava examinando documentos complicados quando foi
chamado com urgência por Frau Essing. “Venha aqui imediatamente. Nossa
reputação está em jogo!”, disse. No centro de sua mesa havia uma revista de
esportes aberta. Era um anúncio de remédio contra mau odor nos pés que
mostrava o desenho de um calçado esportivo. “Com uma lente de aumento, dava
para ver que o calçado em questão tinha algumas listras nas laterais”, lembrou o
jovem gerente. Ele lutou para manter a compostura quando Frau Essing ordenou
que o assunto fosse resolvido imediatamente — considerando um ultraje que a
Adidas pudesse estar associada a calçados malcheirosos.
Em alguns casos, os gerentes eram obrigados a lidar com assuntos familiares
mais privados. Hansrüdi Ruegger, presidente da subsidiária suíça, encontrou
várias caixas de fraldas de pano em um carregamento de calçados da Adidas.
Numa mensagem que acompanhava o carregamento, pedia-se a Ruegger que
entregasse as fraldas a Sigrid, que havia recentemente se mudado para Zurich e
acabara de ter um filho.
A maioria dos gerentes aceitava esse tipo de tarefa sem problemas. Afinal,
eles trabalhavam em uma empresa familiar. Isso ficava claro nas entrevistas de
trabalho — realizadas normalmente na casa dos Dassler e constantemente
interrompidas por crianças que passavam correndo com chapéus de caubói. Os
hábitos da família, porém, tornaram-se ruins quando acabaram impedindo certas
modificações necessárias à empresa — que já havia em muito extrapolado os
limites de um provinciano negócio de família.
Jürgen Lenz, gerente internacional de marketing em Herzogenaurach, estava
entre os mais frustrados. Tendo trabalhado por vários anos na McCann Erickson,
ele conhecia muito bem o poder da propaganda. No entanto, até ele entrar na
Adidas, no fim da década de 1970, os anúncios da empresa não mostravam nada
além dos seus próprios produtos. A única coisa no livro de registros da Adidas que
poderia ser chamada de propaganda era uma série de pequenos anúncios
publicados em revistas e as pilhas de catálogos feitos pela Hans Fick, a pequena
agência de Nuremberg que trabalhava com a Adidas desde a década de 1950.
Lenz invejava as campanhas publicitárias inteligentes criadas pela Nike
praticamente desde seu início.
Pouco tempo após ter sido contratado, ele foi abordado por uma grande
empresa de pesquisa alemã que lhe propôs a realização de um estudo do
mercado de equipamento esportivo. Eles ofereciam exatamente o instrumento
que Jürgen Lenz requisitava desde que chegara à Adidas para melhorar a
estratégia de marketing. Ele presumiu que Käthe Dassler aprovaria a liberação
da pequena quantia necessária para o estudo, mas a resposta veio na forma de
uma breve nota escrita à mão: “Herr Lenz. Estoques esgotados até 1982!” Käthe
achava que não havia motivo para uma empresa que lutava para suprir sua
demanda fazer pesquisa de mercado.
Sozinha desde a morte do marido em 1978, Käthe por vezes quis se ver livre
da complicada empresa familiar. Ela viajou muito pelo mundo e tentou fazer
com que sua vida fosse a mais prazerosa possível, até se permitindo alguns
namoros nada discretos. Muita gente ficou chocada quando ela “se apaixonou
perdidamente” pelo gerente de uma fábrica brasileira de calçados. O alvo do seu
amor, um homem casado de origem suíça, gentilmente recusou suas propostas.
Em outras ocasiões, Käthe parecia simplesmente querer fugir da atmosfera
tensa de Herzogenaurach. Quando Hansrüdi Ruegger construiu escritórios novos
para a subsidiária suíça, ela pediu-lhe que construísse também um pequeno
apartamento para ela. Era comum que deixasse Herzogenaurach para passar
alguns dias sozinha no apartamento, localizado num bairro industrial sem graça
de Zurique.
O que mais atormentava La Mutti, porém, eram os problemas dos filhos. No
terraço da casa de Herzogenaurach, ela abria o coração para alguns dos gerentes
mais antigos da empresa, lamentando os modos erráticos do filho e os hábitos
destrutivos do genro. “Um negocia com gângsteres e o outro deveria estar em
uma clínica de reabilitação”, disse Käthe certa vez a um visitante um tanto
constrangido.
Käthe estava falando de Alf Bente, marido de sua filha mais velha, que era
notoriamente alcoólatra. Como alguns observaram, o alcoolismo poderia ser
fruto da lealdade em excesso que tinha à Adidas. “Quando Alf viajava para a
Hungria ou para a Rússia, eles começavam a beber vodca às dez da manhã”,
lembrou uma testemunha. Alf introduziu o hábito em Herzogenaurach, onde
oferecia bebidas alcoólicas antes do almoço para os convidados surpresos. Seu
problema certamente se agravou com o fim do casamento. As coisas
evidentemente começaram a desandar depois do derrame que paralisou metade
do corpo de Inge. As discordâncias entre o casal causaram alguns problemas
embaraçosos à Adidas, e por vezes os empregados tinham que seguir instruções
conflitantes.
Quando ficou claro que Alf Bente não funcionava mais na Adidas, ele
desapareceu por vários dias. Hansrüdi Ruegger, que tinha uma relação de
intimidade com Bente, recebeu um telefonema do dono de uma loja da Adidas
no aeroporto de Zurique: havia um bêbado na loja dizendo ser dono da empresa e
exigindo que alguém fosse buscá-lo. Ruegger foi correndo até o aeroporto,
escondeu Bente no Hotel Dolder e avisou a família. Logo depois, os tablóides
alemães anunciaram que o casamento dos Bente havia terminado. Alf saiu de
Herzogenaurach e mudou-se para Nuremberg com uma mulher mais jovem.
A outra parte do que Käthe dissera se referia à relação do filho com André
Guelfi. O charme do corso havia funcionado em Käthe por um tempo. No final
da década de 1970, quando ele viajava a Herzogenaurach para reuniões de
acionistas da Le Coq Sportif, ela sempre o acolhia calorosamente. Era raro que
ele saísse da casa dos Dassler sem um pequeno presente. No entanto, a confiança
de Käthe se desgastou rapidamente. Seus informantes logo lhe contaram que
Guelfi estava viajando o mundo com seu filho. Ela começou a desconfiar de que
Guelfi participava dos negócios sujos de Horst e que estava tramando contra ela.
Mas Käthe não estava preparada, contudo, para todas as histórias que Guelfi tinha
para lhe contar.
Horst Dassler mal esperou a mãe ser enterrada para telefonar para a Áustria. O
homem que forjara um relacionamento duvidoso com Käthe foi sumariamente
dispensado. Gerhard Prochaska, ex-gerente de marketing que o substituiu na
presidência da subsidiária austríaca, era da opinião de que o homem havia
abusado da sua relação com Käthe em prol de seus próprios objetivos
comerciais.
Desde que a saúde de sua mãe piorara, dois anos antes de sua morte, Horst
transitava o tempo todo entre Herzogenaurach e Landersheim. Depois da morte
de Käthe, porém, Horst imediatamente assumiu o leme da Adidas. Suas irmãs
levaram seus respectivos pertences embora, e Horst ficou com o andar da
gerência inteiro, nomeando um punhado de gerentes de confiança para ajudá-lo.
Logo que Horst sentou-se em sua nova cadeira, a Adidas começou a florescer. A
empresa havia acabado de chegar à marca de quatro bilhões de marcos alemães
em vendas e permanecia sendo absolutamente onipotente no mercado de artigos
esportivos. Horst, no entanto, sabia que a imagem era falsa. Enquanto ele brigava
com as irmãs, a Adidas sofrera um forte ataque.
19
O colapso
B ill Closs bateu com o punho cerrado na mesa. No início da década de 1970,
reunido em Herzogenaurach com os gerentes alemães, o responsável pela
distribuição da Adidas na Costa Leste norte-americana estava incrivelmente
frustrado. Os gerentes ignoravam seus avisos sobre uma pequena operação
chamada Blue Ribbon Sports, do Oregon, já há alguns anos. Os calçados de
corrida da Nike estavam aparecendo cada vez mais nas prateleiras das lojas da
Califórnia. A não ser que a empresa reagisse imediatamente, não haveria como
saber que tipo prejuízo a Nike poderia causar. “Vocês têm que acabar com eles
agora mesmo”, insistiu Closs. Para ilustrar o fenômeno, Closs trouxera vários
pares de calçados da concorrente para serem avaliados pelos alemães. Contudo,
para sua surpresa, eles foram descartados com desdém. “Eu lhes disse que os
calçados estavam vendendo assustadoramente, mas eles não deram bola”,
lembrou Closs. “Eles não queriam produzir calçados para cooper. Disseram que
não havia como seus produtos ficarem melhores e ponto final.”
O mesmo aconteceu com alguns gerentes internacionais que também
tentaram chamar a atenção para a Nike. Günter Sachsenmaier, gerente de
exportações em Landersheim, descobriu a marca em uma de suas viagens aos
EUA e achou que os técnicos da Adidas estariam interessados, mas eles sempre o
ignoravam. Eles riam do Waffle, tênis criado pelo ex-técnico Bill Bowerman em
sua cozinha. “Avaliaram o exemplar como se fosse uma porcaria qualquer,
mexeram nele um pouco e o deixaram de lado”, lembrou Sachsenmaier.
“Achavam que aquilo era uma piada, uns loucos que usaram uma máquina da
waffle para desenvolver um calçado.”
Os próprios gerentes da Nike admitiram que os primeiros modelos produzidos
estavam longe de ter a mesma qualidade dos calçados alemães. Eles
enfrentaram uma série de percalços, como produtos se despedaçando, soltando
componentes com facilidade. Apesar disso, Phil Knight e seu pequeno número de
funcionários continuaram aperfeiçoando o produto até conquistarem uma série
de atletas. E foi então que começaram a tomar o espaço da Adidas nas
prateleiras.
Herzogenaurach não via urgência nenhuma no caso da Nike, pois os
distribuidores da Adidas continuavam a implorar por mais produtos. O fato de a
oferta de produtos da Adidas ser escassa, porém, acabou beneficiando a Nike.
Havia um boom ocorrendo no mercado norte-americano, e os revendedores já
estavam ficando cansados dos problemas que a Adidas tinha para entregar os
produtos. Era impossível recusar uma marca alternativa.
Para ampliar sua fatia, a Nike introduziu um mecanismo muito engenhoso
chamado “futuros”. O princípio era convencer os revendedores a fazerem seus
pedidos e pagarem antes da entrega. Assim, a Nike poderia aumentar o número
de pedidos junto a seus fabricantes na Ásia sem se arriscar muito. Em outras
palavras, eles transferiam o risco financeiro para os revendedores. Em troca, os
revendedores que se comprometessem com essas transações receberiam parte
do investimento de volta depois e, com isso, certificavam-se de que os produtos
seriam entregues. Como havia uma feroz demanda para esse mercado, o
argumento era irretorquível.
Com a explosão do cooper na década 1970, a Nike teve um impulso enorme.
À frente do movimento, Bill Bowerman fez com que vários milhares de norte-
americanos — que, de outra maneira, estariam fora de forma — corressem
todos os dias. Milhões posteriormente viriam a aderir por todo o país. O treinador
havia descoberto o cooper em 1963 quando se encontrou com Arthur Ly diard, o
renomado técnico de atletismo da Nova Zelândia. Voltando aos EUA, Bowerman
acabou desenvolvendo o hábito e montou aulas de cooper no Oregon. Ele
publicou um best-seller em 1967 no qual destacava as vantagens do exercício e
dizia que era uma ótima forma de se praticar atividades físicas leves. Tal como
previra, o exercício era tão fácil e prático que se disseminaria rapidamente. E
esse novo batalhão de corredores mais tarde viria a procurar a Nike.
Em Herzogenaurach, os técnicos alemães ignoravam a moda dizendo que
“cooper não é esporte”. Mesmo depois de finalmente dar ouvidos aos apelos dos
distribuidores, eles não conseguiram produzir o que os consumidores queriam. Os
alemães corriam em trilhas na floresta, mas os norte-americanos faziam cooper
em superfícies calçadas ou pavimentadas. Eles precisavam de calçados muito
mais acolchoados. Os distribuidores da Adidas imploraram para que a empresa
produzisse modelos mais macios, mas, ao invés disso, receberam como resposta
desenhos que supostamente mostravam que esse tipo de calçado provocava
lesões nos tornozelos e joelhos.
Desesperados para opinar no desenvolvimento de novos produtos, os
distribuidores norte-americanos forçaram a criação de um comitê. Os técnicos
da Adidas e os gerentes de exportação se reuniriam com os quatro distribuidores
norte-americanos para pensar em novos produtos para aquele mercado. Contudo,
como o comitê possuía mais de 30 participantes, as reuniões normalmente só
geraram dores de cabeça.
Quando a Adidas finalmente respondeu à explosão do cooper, já era tarde
demais. No fim da década de 1970, a empresa desenvolveu um calçado
chamado SL que vendeu cerca de 100 mil pares nos EUA em seu ano de
lançamento. De olho no boom do mercado, os distribuidores aumentaram seus
pedidos para pelo menos um milhão de pares para o segundo ano, o que forçaria
a Adidas a aumentar sua capacidade de produção. “A Adidas se recusou a fazer
os ajustes necessários, porque isso acarretaria investimentos consideráveis”, disse
Horst Widmann, na época assistente pessoal de Horst Dassler. “Aquilo acabou
sendo um grande erro.”
Horst também não deu bola para a Nike. Envolvido com sua nova empresa de
direitos esportivos, não demonstrou estar muito preocupado com a questão. Os
gerentes de sua subsidiária francesa haviam criado um calçado macio para
corrida chamado Country, mas o esforço foi um pouco frio. Larry Hampton, ex-
gerente de marketing da Adidas França, lutou durante muito tempo para
convencer Horst Dassler a procurar saber mais sobre a Nike. Ele por fim
concordou em se encontrar com Phil Knight e com outros executivos da
concorrente em uma feira de comércio em Houston, em fevereiro de 1978.
Hampton ficou decepcionado com a reunião, que, segundo ele, não trouxe nada
de interessante. O pessoal da Nike, contudo, não acreditou no que ouviu: Horst
Dassler deixara escapar que os melhores calçados da Adidas vendiam por volta
de 100 mil pares por ano nos Estados Unidos. A Blue Ribbon Sports vendia por
mês mais ou menos o mesmo número de calçados Waffle.
O pessoal da Adidas não pôde deixar de rir quando soube que a Nike havia
desenvolvido um calçado usando uma máquina de waffle. Os responsáveis pela
operação foram Bill Bowerman (na foto), o criativo técnico da equipe norte-
americana de atletismo, e Phil Knight. (O pôster diz: “Estrague uma máquina de
waffle. Dê início a uma revolução esportiva mundial. Just do it.”)
Até meados da década de 1980, a Adidas continuou a registrar aumentos nas
vendas de mais de 10% ao ano nos EUA. Os Dassler, todavia, não conseguiam
compreender que, apesar de o mercado estar em franca expansão, a Nike
crescia ainda mais rápido. Cegos pela concorrência com a Puma, os técnicos da
Adidas não foram treinados para levar qualquer outro concorrente a sério.
Meses antes de sua morte, Adolf Dassler finalmente reconheceu que a
Adidas havia dormido no ponto e que uma mudança total ocorrera no mercado
de equipamento esportivo. Reuniu seus assistentes mais próximos e falou com
uma raiva que não era normal a ele. Adi finalmente havia compreendido que,
apesar das falhas técnicas cometidas pela Nike no começo, a empresa estava
dominando o mercado. Ele chegou até a marcar sua primeira viagem aos
Estados Unidos, mas faleceu antes daquela data.
O trunfo da Adidas nos Estados Unidos era um vigoroso italiano chamado Angelo
Anastasio. Ele fora para os Estados Unidos na década de 1960 com os pais e se
estabelecera em Nova York. Logo que terminou a faculdade, foi jogar futebol no
New York Cosmos, na mesma equipe de Pelé e Franz Beckenbauer. Já no fim da
década de 1970, mudou-se para Los Angeles e arrumou um emprego na Adidas,
passando a ser o responsável pela promoção de entretenimento.
A função era mais ou menos nova, mas Anastasio sabia exatamente o que
estava fazendo: ele se tornou amigo íntimo de celebridades promissoras dos EUA
e as convenceu a usar as três listras. Se a Adidas estivesse sendo arrasada nas
quadras e nas ruas, a marca pelo menos poderia obter alguma exposição nos
quadris e nos pés de cidadãos de renome.
Anastasio era perfeito para a função. Muito extrovertido, criou fama em Los
Angeles com sua Ferrari, cuja placa era “Adidas I”. Ele ia a shows de música
pop para conhecer novos artistas, tomava drinques com Sy lvester Stallone e
passeava em sua Harley -Davidson com Mickey Rourke. Sua grande conquista
veio com Rocky Balboa. O boxeador desmiolado interpretado por Stallone
parecia sempre usar roupas com três listras. O agasalho preto usado por Stallone
em Rocky VI vendeu 750 mil unidades, e, ainda por cima, levava as cores da
bandeira italiana nos ombros. A prática ficaria conhecida como merchandising e
manteve batalhões de RPs ocupados em Los Angeles. Mas tudo era tão recente
na época que Stallone nunca pediu um centavo para usar as roupas da Adidas.
Anastasio somente se certificou de que seu amigo musculoso não ficaria
descalço.
O italiano tinha um orçamento de apenas oito mil dólares por mês em
produtos para distribuir, mas, apesar disso, rapidamente ficou conhecido como
“Sr. Adidas”. Foi então que ele conheceu Ziggy Marley, filho do falecido Bob
Marley. Daquele momento em diante, Ziggy apareceria regularmente no palco
usando as roupas da Adidas — o que conflitava incrivelmente com os outros itens
de vestuário que usava. Em troca, a Adidas concordou em patrocinar o time de
futebol de Ziggy na Jamaica.
O acordo com uma celebridade mais comentado foi fechado em 1985,
quando Anastasio foi a um show no Madison Square Garden, em Nova York. Na
saída, ele viu três jovens negros que dançavam break na rua, observados por
dezenas de passantes. Ele ficou perplexo ao ver que eles usavam calças Adidas
feitas de um material brilhante. Logo que terminaram de dançar, Anastasio se
apresentou. Eles explicaram que o material os ajudava por ser escorregadio,
visto que dançavam sobre folhas de papelão.
O italiano acompanhou os três durante os anos seguintes e continuou a enviar-
lhes mais roupas da Adidas. O esforço foi recompensado quando eles se
tornaram o Run-DMC. Os rappers logo adotaram o Superstar, o calçado de
basquete da Adidas, pois era uma alternativa original aos outros tênis da época.
Eles gostavam do desenho da biqueira, mas preferiam usá-lo sem cadarço. Em
1986, a banda concordou em aparecer no Supershow, uma enorme feira de
comércio em Atlanta, e foram praticamente atacados por milhares de fãs.
“Eu dei um milhão de dólares a eles, mas eles geraram mais 100 milhões em
vendas nos quatro anos seguintes”, Anastasio contou. “Na época, a Nike crescia a
todo vapor, e isso deu mais exposição à nossa marca e a manteve viva aos olhos
do público.” Anastasio estimou que, devido ao contrato com o Run-DMC, a
Adidas vendeu mais meio milhão de pares de Superstars. As calças de couro
preto com três listras que os rappers usavam também venderam muito.
O acordo aconteceu em uma época em que a moda que transitava nas ruas
era cada vez mais influenciada pela música e pela mídia. Para a Adidas, os
vários pares de Superstars que preenchiam a tela da MTV por quase 20 segundos
no clipe de “Walk this way ” — feito em colaboração com os autores da música,
o Aerosmith, em 1986 — eram uma propaganda extraordinária.
O acordo foi o primeiro a ser realizado entre um artista pop e uma empresa
de equipamento esportivo. O Run-DMC e Anastasio até compuseram uma
música, chamada “My Adidas”, para o disco Raising Hell:
a No original: “Me and my Adidas do the illest things/ We like to stomp out pimps
with diamond rings/ We slay all suckers who perpetrate/ and lay down law from
state to state.// We travel on gravel, dirt road or street./ I wear my Adidas when I
rock the beat,/ On stage front page every show I go,/ It’s Adidas on my feet, high
top or low.”
20
O império contra-ataca
A briga entre Sebastian Coe e Steve Ovett foi a grande atração do atletismo
internacional no início da década de 1980, o que ajudou a Nike a atingir um novo
patamar na Europa.
Horst Dassler fez um sinal de positivo com a cabeça. O escritório da Young &
Rubicam, uma agência internacional de propaganda, havia criado um conceito
surpreendente: “O fator Adidas: está ou a seu favor ou contra você”, dizia a
chamada. Os executivos da Y&R, uma das duas últimas agências que
continuavam na disputa pela conta da Adidas, ouviram ansiosamente o veredicto
de Horst. A Adidas era o sonho de qualquer diretor de criação, e, pelo que se
falava, a área de publicidade teria um orçamento enorme.
Horst estava convencido de que a Adidas precisava investir em propaganda
internacional — assim como todas as marcas com que lidava na ISL, sua agência
de direitos esportivos. Até meados da década de 1980, grande parte da
publicidade contratada pela Adidas era fornecida pela Fick, o pequeno escritório
de design de Nuremberg que prestava serviços para Adi Dassler desde a década
de 1950. Eles desenvolviam uma série de idéias, e cada subsidiária podia decidir
que tipo de campanha executar. Horst compreendeu que os tempos haviam
mudado: ele queria uma mensagem global, harmoniosa.
A Young & Rubicam conseguiu a conta, mas logo teria uma terrível surpresa.
Para começar, descobriu que a Adidas investia muito pouco em propaganda,
visto que o dinheiro destinado ao marketing era gasto quase exclusivamente em
contratos com atletas e federações. Ingo Kraus, presidente da Y&R na
Alemanha, não acreditou nos números: o orçamento que ele teria para promover
a Adidas mundialmente era menor do que o que a Ford destinava só para a
Alemanha. Para piorar, a agência percebeu que a Adidas estava completamente
fora de sintonia com sua reputação de marca internacional. Isolados em seus
modos provincianos e preocupados unicamente com seus problemas internos, os
Dassler haviam se negado a adequar o negócio a sua vertente cada vez mais
global. Os gerentes da Y&R criaram uma frase para resumir o problema:
“Ótima marca, empresa burra.”
A marca estava no mundo todo, mas os acordos internacionais eram um
verdadeiro labirinto de contratos de distribuição e licenciamento. Os pequenos
negociantes que batiam à porta dos Dassler em Herzogenaurach haviam se
transformado em verdadeiros gigantes da indústria, impedindo a Adidas de impor
um esforço de marketing mais bem orquestrado. Eles não queriam publicitários
de Frankfurt decidindo que mensagem seria passada aos consumidores da
Argentina ou de Taiwan.
A falta de controle sobre o orçamento de propaganda da Adidas era
impressionante. Para a Procter & Gamble, outro de seus clientes, a Young &
Rubicam produzia apenas cerca de uma página de anúncio impresso por ano. A
empresa exigia relatórios e informações sobre os gastos da agência. No caso da
Adidas, porém, cada subsidiária pedia suas próprias versões dos anúncios. Dois
meses depois de obter o contrato, a Y&R já havia preparado mais de 50 anúncios
para a mídia impressa, e a Adidas não parecia se importar muito com os custos
galopantes disso.
Quando finalmente desenvolveu o conceito do primeiro comercial televisivo
mundial para a Adidas — conforme requisitado por Horst —, a agência sofreu
ainda mais oposição. Em vez dos comerciais de impacto que a Nike colocava no
ar, a Y&R produziu um comercial mais artístico, com base no motivo visual de
uma nuvem. O princípio era o de que não era preciso traduzir as nuvens para
língua nenhuma. Elas poderiam ser usadas em qualquer lugar do mundo. Mesmo
assim, os gerentes das subsidiárias nacionais requisitaram tantos ajustes que a
Y&R acabou produzindo quatro versões do comercial — uma inglesa, uma
francesa, uma alemã e uma “internacional”. “Basicamente acabaram com o
objetivo de Horst, que era de produzir uma campanha global”, disse Tom
Harrington, gerente de conta da Y&R.
O comercial foi apresentado ao público em agosto de 1986 na ISPO, uma
feira de comércio internacional do mundo dos esportes realizada em Munique. A
empresa reuniu seus distribuidores e gerentes nacionais para ouvir Horst
descrever o conceito. “Temos uma campanha publicitária global feita por uma
agência de publicidade internacional”, disse. “E isso não é negociável.” Mas as
negociações começaram tão logo a apresentação terminou.
Um dos protestos mais veementes veio da França. Bernard Odinet, gerente-
geral de Landersheim, recusou-se terminantemente a exibir o comercial, dizendo
que ele lembrava um filme nazista produzido por Leni Riefenstahl que usava a
mesma mistura etérea de corpos perfeitos com céus cheios de nuvens. Ele foi
apoiado pelos gerentes das subsidiárias de muitos países, que não davam a
mínima para um comercial baseado em uma imagem: queriam campanhas que
mostrassem os produtos — e especialmente aqueles que venderiam bem em seus
respectivos países. “Foi o ambiente mais hostil em que já estive para uma
apresentação”, disse Ingo Kraus. Para tristeza dos publicitários, o conceito global
da empresa acabou se tornando um catálogo de produtos.
Sepp Blatter (de óculos escuros), João Havelange e Juan Antonio Samaranch
compareceram ao funeral de Horst Dassler, caminhando atrás da viúva e dos
filhos.
Monika Dassler estava à frente do cortejo que levou o marido ao local de seu
descanso final. Juan Antonio Samaranch e Sepp Blatter caminharam atrás da
viúva e dos filhos. Adi e Suzanne não haviam tido muito contato com o pai, mas
conheciam-no bem o suficiente para saber o que mais o emocionava. Eles
fizeram questão de que Horst, em sua última jornada, usasse o relógio que
recebera de seu amigo Ilie Nastase.
a A tradução da primeira frase seria algo como “McEnroe garante”, mas há uma
brincadeira com o duplo sentido da palavra “swear”, que pode significar tanto
“jura, confia” quanto “xinga, pragueja”. A segunda frase, “A palavra de quatro
letras preferida de McEnroe”, faz referência a palavrões (em inglês, muitos têm
essa formação), jogando com o fato de “Nike” ter esse mesmo número de
caracteres. (N.T.)
b Os hooligans ingleses investiram contra os torcedores do time oponente, o
Juventus, da Itália. Na confusão, uma parede desabou sobre os italianos acuados,
matando 39 pessoas. A partida continuou apesar do desastre. (N.T.)
21
O colapso da Puma
Robert Louis-Drey fus e Christian Tourres quase não tiveram tempo para avaliar
o progresso da pequena concorrente. Eles estavam ocupados fechando ainda
mais fábricas, encerrando contratos de distribuição absurdos e reconstruindo a
reputação das três listras. Foram eles que colheram os louros, mas grande parte
do trabalho havia começado antes mesmo da chegada dos dois a
Herzogenaurach .
Bernard Tapie não percebera que, ainda em 1990, enquanto ele lutava por
dinheiro para pagar seus empréstimos e se mantinha ocupado nos corredores do
poder francês, a Adidas começara a passar por uma transformação radical. A
revisão foi orquestrada por Rob Strasser e Peter Moore, dois norte-americanos
que haviam aprendido uma coisa ou outra sobre os negócios no mundo dos
esportes desde que ajudaram a montar a Nike, no começo de suas carreiras.
Strasser era conhecido como “Trovão Rolante” — o epítome da atitude “just
do it” da Nike. Peter Moore era a cabeça por trás do trabalho criativo que dera a
essa empresa sua identidade particular. Os dois eram os responsáveis pelo Air
Jordan, mas saíram brigados da Nike e aceitaram o desafio de trabalhar na
Adidas — inicialmente para criar uma nova linha de produtos que colocasse a
marca de novo nos trilhos e para montar novos escritórios da Adidas EUA nos
arredores de Portland, Oregon, perto da sede da Nike.
No começo da Nike, a Adidas era “o inimigo”. Entre os produtos Nike havia
uma sacola com o slogan “one swoosh is better than three stripes” (“um swoosh é
melhor do que três listras” — “swoosh” referindo-se ao logo da Nike). Contudo,
ainda no fim da década de 1980, a Adidas deixou de ser um problema. Como
disse Peter Moore, as três listras haviam praticamente desaparecido do mercado
norte-americano. “A empresa parecia um pouco perdida, e ninguém mais ligava
para ela”, disse o designer.
Quando René Jäggi contatou-os pela primeira vez em 1989, Strasser e Moore
rapidamente perceberam que a Adidas precisava voltar às suas raízes. Eles a
conheciam como uma marca que fornecia equipamento para os atletas, dando-
lhes as ferramentas necessárias de que precisavam para competir. Portanto,
sugeriram uma linha de calçados e equipamento esportivo sem adornos ou
frescuras. Para distingui-los dos produtos floreados e voltados para o mundo da
moda que a Adidas vinha produzindo, passaram a chamar essa série de
“Equipment”.
A intuição dos dois consultores foi reforçada após a visita que fizeram a
Herzogenaurach em novembro de 1989. René Jäggi levou-os ao segundo andar
do escritório central, onde havia uma exibição não só dos muitos protótipos feitos
por Adi Dassler como também de calçados usados por atletas olímpicos e heróis
do futebol. Os dois ex-gerentes da Nike ficaram fascinados. Moore percebeu que
Adi Dassler havia inventado a indústria de artigos esportivos. “Eu realmente
fiquei impressionado”, confessou. A seu ver, aquilo tornava o conceito da nova
linha Equipment ainda mais atraente.
Com a ajuda de algum material de arquivo, Strasser se referiu a Adi Dassler,
em uma apresentação feita para os principais executivos da Adidas, como “o
técnico de equipamento do mundo”, um artesão humilde que havia feito seu
negócio com base em invenções que realmente beneficiavam os atletas. Essa era
a cara da Adidas. Strasser previu que, após os excessos cometidos na década de
1980, os consumidores desejariam um retorno ao básico.
Os gerentes assistiram à apresentação incrédulos. Há anos eles lutavam para
definir a identidade da Adidas. E ali estavam aqueles dois norte-americanos que
não haviam passado um só dia na empresa, mas, mesmo assim, compreenderam
o legado de Adi Dassler com mais clareza do que os funcionários que passavam
pelo quadro com a sua foto todos os dias.
Concebido sob codinome, o conceito “Equipment” foi revelado aos
funcionários da Adidas e aos distribuidores em abril de 1990, em uma grande
sala de reuniões em Herzogenaurach. Para ressaltar a importância do momento,
René Jäggi convidou vários membros da família Dassler que, na época, ainda
eram donos de parte da empresa.
A platéia ficou em êxtase quando um novo logotipo apareceu na tela. Strasser
e Moore sugeriram que, para distinguir a nova linha dos outros produtos Adidas,
em vez do trevo, as roupas e os calcanhares dos calçados levariam um logo com
três linhas inclinadas de tamanho crescente, formando uma espécie de triângulo.
Quando acenderam-se as luzes novamente, Jäggi levantou-se e abraçou os
dois norte-americanos. Os aplausos explodiram no salão. A resposta foi
incrivelmente positiva, e dezenas de gerentes em êxtase se apressaram para
congratular Rob Strasser. “Deveríamos ter feito isso há muito tempo. Você é
exatamente o que nós precisávamos”, disseram.
Rob Strasser sempre extraiu inspiração da música. Durante o tempo em que
permaneceu em Herzogenaurach ajudando a elaborar a linha Equipment, a
música que mais ouvia era “Stir it up”, de Patti LaBelle. Quando ele de fato se
instalou na empresa, os gerentes receberam uma bela sacudida. Muitos deles
haviam se acostumado à estrutura morosa da Adidas. Os novos métodos
importunaram algumas pessoas, mas os executivos mais moços viram a
revolução com entusiasmo. Há muito tempo eles consideravam a Adidas uma
espécie de “gigante adormecido” que precisava ser despertado de sua letargia.
Ninguém poderia ter feito isso melhor do que Strasser.
Ele fez o mesmo nos Estados Unidos, quando Robert Louis-Drey fus colocou-
o na chefia da Adidas EUA. Gerenciada pelo espalhafatoso chefe, em poucos
meses a marca decolou novamente no mercado nacional, onde sofrera as piores
perdas. Sonny Vaccaro, o agente norte-americano que havia descoberto Michael
Jordan, juntou-se à equipe e descobriu Kobe Bry ant, estrela do Los Angeles
Lakers. Até mesmo os New York Yankees iam assinar um contrato sem
precedentes com a Adidas, o que estava causando a fúria do presidente da Liga
de Beisebol norte-americana.
No final de 1994, Robert Louis-Drey fus e seus amigos exerceram com
prazer a opção de adquirir o restante das ações da Adidas, a um preço que
colocava o valor da empresa em 4,4 bilhões de francos. Mais uma vez, o Crédit
Ly onnais financiou a transação. Todos, porém, foram amplamente
recompensados quando a Adidas foi lançada na bolsa de valores de Frankfurt, em
17 de novembro de 1995. As flutuações fizeram o valor da empresa subir para 11
bilhões de francos.
Foram anos de tranqüilidade para a Adidas. Após o período de caos e
incerteza, as três listras estavam mais uma vez conquistando os campos de
futebol. Louis-Drey fus fez questão de se apresentar para todos os chefões do
mundo do futebol e do esporte internacional. Contudo, essas visitas de cortesia
acabaram se tornando uma verdadeira rodada de repreensões para o executivo-
chefe. Em uma reunião bastante desconfortável, de três horas de duração, com
João Havelange, ainda presidente da Fifa, ele foi informado de que a Federação
Internacional estava negociando com a Nike. A Uefa, a Federação Européia,
estava prestes a fechar um contrato com a Umbro.
Do mesmo modo, os gerentes do Liverpool estavam dispostos a se livrar da
Adidas. Durante anos eles assistiram, frustrados, enquanto o Manchester United e
muitos outros clubes vendiam camisas oficiais e outros acessórios com a marca
dos times, faturando milhões de libras. O Liverpool não havia conseguido
aumentar seu valor de marketing, e achava que a culpa poderia ser atribuída ao
letárgico patrocinador. Os esforços de Louis-Drey fus e sua equipe fizeram Peter
Robinson, gerente-geral do time, relutar em tomar uma decisão: ele tinha que dar
algum crédito ao novo pessoal da Adidas, que havia concebido um plano
impressionante para a empresa e se comprometido a investir pesado no clube.
Depois do que o Liverpool sofrera nas mãos da Adidas nos últimos anos, porém,
ele achava que não havia mais solução para o relacionamento. Acabou assinando
um contrato com a Reebok, em 1996.
Foi um golpe terrível. Praticamente pelos mesmos motivos, a Adidas perdeu
o Manchester United e o Arsenal. A empresa achava que sua liderança no futebol
europeu era inexpugnável, mas agora ficara sem nenhuma equipe de ponta no
Reino Unido. Além disso, as piores perdas ocorreram em território próprio.
Louis-Drey fus ficou horrorizado quando Franz Beckenbauer, presidente do
Bay ern de Munique, admitiu que o clube estava prestes a assinar com a Nike. Se
ele permitisse que os bávaros jogassem usando camisas norte-americanas, a
Adidas realmente perderia sua jóia da coroa: a sua equipe de futebol na
Alemanha. Louis-Drey fus, portanto, convenceu Beckenbauer a dar-lhe uma
última chance. Colocou uma equipe trabalhando duas semanas sem parar em
uma apresentação. O “Kaiser” não estava muito bem-humorado quando chegou
ao planetário de Munique para a reunião, mas logo foi contagiado pelo
entusiasmo da Adidas. Assim que a apresentação terminou, ele pulou da cadeira
e disse à equipe: “Vocês conseguiram!” O mesmo truque funcionou com o
Milan, e, já que estava indo bem, o pessoal da Adidas jogou seu charme também
na Espanha, sobre o Real Madrid.
As três listras estavam se saindo bem no mercado do Reino Unido, onde todos
as estavam usando – desde os irmãos Gallagher, da banda Oasis, até o boxeador
Naseem Hamed. E havia também um jogador de futebol desconhecido do
Manchester United. David Beckham fora descoberto por um dos olheiros da
Adidas, empresa com a qual assinou um modesto contrato em 1993. Os gerentes
que o receberam nos escritórios da Adidas em Stockport ficaram quase
constrangidos pela timidez do adolescente.
Tudo isso mudou no dia 17 de agosto de 1996, quando o Manchester United
foi até Selhurst Park jogar contra o Wimbledon. Naquela tarde, pela primeira
vez, David Beckham concordou em usar um par das chuteiras Predator. Os
gerentes da Adidas observaram atentamente ele se preparar para dar um chute,
e não conseguiram acreditar no que viram: Beckham fez um gol de antes da linha
de meio-campo, mandando a bola sobre o goleiro e direto para dentro da rede.
“Nunca tínhamos visto nada parecido”, disse Aidan Butterworth, ex-jogador do
Leeds que trabalhava no marketing da Adidas no Reino Unido. “Não era só uma
questão de talento, mas de atitude, de simplesmente arriscar. Naquele momento,
nós sabíamos que tínhamos algo de especial nas mãos.” O lance foi repetido
várias vezes pela televisão e não importava muito o fato de que na lingüeta da
chuteira Predator que Beckham usava estava escrito o nome de Charlie Miller,
um jogador do Glasgow Rangers.
Aquele “algo de especial” que Beckham mostrou acabou custando à Adidas
estimados quatro milhões de euros por ano, mas geraria uma publicidade
absolutamente sem preço, visto que o carismático jogador acabaria dominando
as capas de revista e os campos de futebol — resumindo o marketing esportivo
moderno como uma mistura de esporte, celebridade e estilo.
Robert Louis-Drey fus decidiu dar adeus à Adidas pouco tempo após a vitória da
França na Copa do Mundo de 1998, que coroou o retorno das três listras. Ele
parecia ter perdido o interesse no negócio, deixando de comparecer às reuniões e
esquivando-se de assuntos que demandavam decisões difíceis. Somente alguns
executivos e amigos sabiam que Louis-Drey fus estava lutando contra a
leucemia. Como não podia prever o que iria acontecer, ele decidiu colocar seus
negócios em ordem. “Eu pensei: ‘Que se dane.’ Nós estávamos ganhando um
monte de dinheiro de qualquer forma”, admitiu. Robert Louis-Drey fus decidiu
jogar a toalha.
Outros gerentes levaram a Adidas adiante, liderados por Herbert Hainer. Filho
de um açougueiro da Baviera, ele financiara os estudos jogando na segunda
divisão pelo time de Landshut, e iniciara a carreira na Procter & Gamble. Em
outras palavras, havia sido criado contando cada centavo, sabia tudo o que
precisava saber sobre futebol e aprendera marketing com os mestres da arte.
O acordo feito com David Beckham foi explorado ao máximo, apesar de suas
exigências extravagantes terem sido às vezes um verdadeiro pesadelo. Para a
Copa do Mundo de 2002, realizada no Japão e na Coréia do Sul, ele queria que
suas chuteiras tivessem a bandeira dos países contra os quais a Inglaterra estava
jogando: isso significava muitas horas extras para os empregados de Scheinfeld,
onde as chuteiras eram bordadas, e alguns pedidos urgentes para o serviço de
entregas usado pela Adidas. Quanto às roupas que Beckham usava, tudo tinha de
ser aprovado antes por sua esposa, Victoria. Como os pedidos do casal eram
muito estranhos, o gerente da Adidas que lidava mais diretamente com o jogador
nem estranhou quando ele pediu um par de calças de veludo roxo com três listras
brilhantes. “Eu não fazia idéia de que ele queria usá-las em um encontro com a
rainha”, disse o gerente, ainda pasmo.
Lance ousado: Herbert Hainer (à esquerda), executivo-chefe da Adidas, e Paul
Fireman, da Reebok, fecham uma mega-transação que coloca a Adidas bem
mais perto de sua arqui-rival norte-americana, a Nike.
Assim como a Puma, a Adidas tentou não se fixar somente nos campos, e
criou uma reputação de marca de estilo. A empresa se juntou a estilistas como
Stella McCartney e Yohji Yamamoto, responsável por uma linha inteira de
roupas e calçados com três listras. Chamada Y3, ela se tornou uma das três
principais linhas produzidas pela Adidas: a linha Performance era encontrada
com maior facilidade em lojas de artigos esportivos; a Originals em lojas de
roupa de moda; e a Y3 nas butiques mais exclusivas.
Na época da abertura das Olimpíadas de Atenas, em julho de 2004, a Adidas
havia reconquistado tanto poder que Paul Fireman, presidente da Reebok,
convidou Hainer para um café em seu iate, o Solemates. Poucos anos antes, a
Reebok havia humilhado a Adidas com melhores resultados financeiros. Em
2004, no entanto, Fireman achava que não conseguiria mais lutar contra a Nike
sozinho, e convidou Hainer para unir forças. Um ano depois, a Adidas anunciou a
incorporação da Reebok.
Nenhuma das melhorias feitas por Herbert Hainer tinha qualquer coisa de
espetacular, mas, ainda assim, o modesto alemão continuava mostrando
resultados. A administração da Adidas estava cada vez mais enxuta, as vendas
aumentavam de forma estável e os acionistas eram devidamente
recompensados. Os resultados começaram a falar por si, e Hainer pôde resumir
a história: “Os melhores gerentes não são aqueles que têm muitas idéias. São
aqueles que conseguem escolher uma ou duas e executá-las impecavelmente.”
O negócio dos esportes havia mudado muito desde que Adi Dassler aparecera
nas Olimpíadas de Berlim com sua bolsa carregada de calçados. Tornara-se uma
indústria enorme, administrada por um punhado de titãs fabricantes de bens
esportivos que lutavam entre si com engenhosas campanhas publicitárias,
transformando, assim, os maiores eventos esportivos em verdadeiras
extravagâncias de marketing.
A batalha mais importante, porém, continuava a ser travada nos campos de
futebol. Desde que a Nike entrara na disputa, na década de 1990, os campeonatos
haviam se transformado em verdadeiras batalhas comerciais. A Copa do Mundo
de 2006 foi o pano de fundo para um embate multimilionário entre as fabricantes
de chuteiras, e os adversários diretos eram a Adidas e a Nike.
A marca norte-americana usou seus astros de forma original: na série de
comerciais chamada “Joga Bonito”, que correu o mundo através da internet,
podia-se ver Ronaldinho Gaúcho ainda criança exibindo seu talento e seu sorriso
dentuço numa quadra de futebol de salão, ou Zlatan Ibrahimovic fazendo
embaixadas com um pedaço de chiclete. Infelizmente, os jogadores da Nike não
tiveram desempenho tão bom nos campos.
Um toque de perspicácia: Jochen Zeitz, executivo-chefe da Puma, trouxe o felino
de volta e o transformou em um valorizado símbolo do estilo de vida esportivo,
como o representado pela Squadra Azzura.
Os atletas
Günter Netzer conseguiu manter sua juba selvagem, mas trocou as chuteiras da
Puma por sapatos mais comportados. Passou muito tempo assinando uma coluna
de esportes. Depois, conquistou uma posição de destaque no mundo empresarial
esportivo ao participar da aquisição dos direitos que pertenciam ao império de
Leo Kirch. Apoiado por Robert Louis-Drey fus, entre outros, ajudou a montar
uma nova empresa de marketing esportivo chamada In Front, responsável pelos
direitos de transmissão televisiva da Copa de Mundo de 2006.
Ilie Nastase continua presente nos torneios internacionais de tênis, onde gosta de
participar dos campeonatos de masters. Ele iniciou uma curta carreira na política
que terminou quando não conseguiu se eleger prefeito de Bucareste. Desde a
abertura do país, ele tem investido na mídia romena e no mercado imobiliário.
Nastase admite que se acalmou um pouco desde seu auge no mundo dos
esportes. “Se não fosse assim, eu já teria enlouquecido.” Atualmente, vive entre
Paris e Bucareste com a terceira esposa, Amália, e a filha do casal.
Jesse Owens voltou de Berlim e foi recepcionado com um desfile em Nova York,
mas acabou expulso da União Atlética Americana por ter se recusado a
participar de uma corrida de demonstração organizada pela entidade na Europa
após as Olimpíadas de Berlim. Owens embarcou em uma série de aventuras
financeiras de curto prazo e ganhava dinheiro em corridas de cavalos e cães.
Morreu de câncer de pulmão em março de 1980. Por uma sugestão de Simon
Wiesenthal, a avenida que leva ao Estádio Olímpico de Berlim recebeu seu
nome.
A família
Os ingleses
Patrick Nally lutou durante um longo período para que sua empresa de marketing
esportivo sobrevivesse após os assistentes de Horst Dassler o declararem persona
non grata. Ele mudou para outras formas de entretenimento, investindo em
musicais, estádios de futebol e quadras cobertas. Seus prospectos empresariais,
porém, mudaram bastante após o fracasso da ISL, com a saída de vários
companheiros de Horst. “Uma nuvem se dissipou e muitas pessoas que me
ignoraram durante anos passaram novamente a me reconhecer”, comentou.
Atualmente, ele está envolvido com grandes projetos de patrocínio, incluindo
parcerias entre instituições particulares e a Unicef.
Robbie Brightwell ainda passa boa parte das suas tardes nas pistas de corrida,
trabalhando como técnico da equipe britânica de atletismo, treinando uma série
de jovens velocistas e corredores de meia distância (as Olimpíadas a serem
realizadas em Londres são uma grande motivação). Ele deixou a Le Coq Sportif
e chefiou várias outras empresas esportivas, mas continuou em Congleton.
“Deixe-me apresentar minha namorada”, disse, apontando para Ann Brightwell-
Packer, belíssima atleta e medalhista nas Olimpíadas de Tóquio. Os três filhos do
casal são atletas de alto nível.
Os investidores
André Guelfi continuou a explorar seu talento para o trambique. Isso acabou
levando-o à cadeia por sua ligação com o escândalo de suborno na Elf. Ele foi
acusado de atuar como intermediário da empresa petrolífera francesa que
tentava assegurar seus contratos de exploração. O ex-braço direito de Horst
Dassler foi sentenciado a três anos de pena suspensa, mas a procuradoria apelou
com sucesso, requisitando uma pena mais firme.
Durante o tempo que passou na prisão de La Santé, em Paris, Guelfi ficou na
cela vizinha à de Bernard Tapie. Os dois ficaram amigos quando o francês
percebeu que Guelfi não caminhava confortavelmente no pátio, e ofereceu ao
velho seus calçados Adidas. Posteriormente, os dois fizeram negócios em
conjunto na Rússia.
Bernard Tapie foi preso por sua participação no escândalo dos subornos no
Oly mpique de Marseille. Por estar falido, não pôde voltar ao negócio. Começou
a trabalhar como ator e acabou conseguido o papel de Inspector Valence em um
seriado policial da televisão francesa, além de estrelar uma peça chamada Un
beau salaud (Um belo bastardo).
Na mesma época, Tapie engajou-se em uma verdadeira cruzada contra o
Crédit Ly onnais, afirmando que havia sido enganado na venda da Adidas. Ele
dizia que, de acordo com a transação feita com Robert Louis-Drey fus, o banco
havia praticamente vendido a Adidas para si mesmo. Afirmou ainda que o Crédit
Ly onnais se desfez da empresa por um preço muito baixo, e que tudo fazia parte
de um esquema que daria ao banco a maior parte dos lucros obtidos com a
venda.
Alguns juízes franceses provocaram uma verdadeira celeuma em setembro
de 2005, quando consideraram o Crédit Ly onnais culpado e exigiram o
pagamento de uma compensação sem precedentes, de 135 milhões de euros,
para Bernard Tapie (o dinheiro viria dos contribuintes). O governo francês levou
o caso para a Corte de Cassação, mas Tapie sentiu o gosto da vitória em outubro
de 2006, tendo o apoio do promotor-chefe — que acusou o Crédit Ly onnais de ter
cometido uma “falta gravíssima” e sugeriu um aumento do valor da reparação
aos danos causados para 145 milhões de euros. Todavia, apenas três dias depois, a
Corte de Cassação arrasou as esperanças que Tapie tinha de recuperar-se
financeiramente ao rejeitar o veredicto da Corte de Apelação e a argumentação
do promotor, levando o caso mais uma vez para a Corte de Apelação.
Robert Louis-Dreyfus apoiou o caso de Bernard Tapie por um curto período de
tempo e depois contratou-o como gerente do Oly mpique de Marseille. A estranha
relação, contudo, não durou muito. Louis-Drey fus continuou sendo o dono do
time, o que não lhe trouxe nada exceto perdas e preocupações. Na mesma
época, ele construiu um braço de telecomunicações para o império da família
Louis-Drey fus. Hoje costuma trabalhar em sua mansão no lago Lugano, onde
recebe as pessoas usando um par de chinelos Adidas.
“erva daninha inglesa”: Deutsche Turn Zeitung, jornal alemão que tratava de
assuntos relacionados à ginástica, citado em D. Bitzer e B. Wilting, 2003.
“Os dois eram inseparáveis”: conversa com Klaus Zehlein, 8 jul 2004,
Herzogenaurach.
As informações sobre a Karhu foram fornecidas por Jani Pösö, que está
escrevendo um livro sobre a empresa, set 2005.
“Rudolf era meio esnobe”: entrevista com Betti Bilwatsch (nascida Strasser), 8
jul 2004, Lauf an der Pegnitz.
Registro de filiação ao Partido Nazista: Bundesarchiv Berlin, NASDAO-
Zentralkartei.
Os detalhes não mencionados nas notas acima foram, em grande parte, retirados
de vários artigos excelentes escritos por uma série de historiadores locais.
2. A investida em Owens
3. Irmãos em guerra
4. A separação
6. Presentes olímpicos
7. Tramas na Alsácia
A história de Barney Goodman: entrevista com Ron Goodman, seu filho, 2 nov
2005, Londres.
“Eu nunca tinha visto nada parecido” e “Eu ignorei os comentários”: telefonema
a Jimmy Gabriel, 27 out 2005.
História de Roy Gratrix: J. Armfield, 2004.
História da Umbro: entrevista com Stuart Humphrey s, 25 out 2004, Wilmslow; e
telefonema a Charles Humphrey s, 22 nov 2005.
“Ele tinha uma personalidade similar às dos personagens de Humphrey Bogart”:
telefonema a Charles Humphrey s, 22 nov 2005; e troca de correspondência
subseqüente.
“Nós estávamos sempre correndo atrás de acordos”: telefonema a Bobby
Robson, jun 2005.
Relação entre a Umbro e a Adidas: detalhes adicionais fornecidos por Jackie
Wood, ex-secretário de administração que elaborava as minutas de alguns
encontros entre os executivos das duas empresas.
“Meu pai sumiu durante seis semanas”: telefonema a Charles Humphrey s, 22
nov 2005.
Acordos realizados por Jim Terris, “Eles nunca tinham nem ouvido falar de nós”
e “Eu o considerava”: entrevista com Ron Goodman, 2 nov 2005, Londres.
Preparativos da Puma para a Copa do Mundo: entrevista com Derek Ibbotson, 27
out 2004, Ossett. Todas as citações de Derek Ibbotson presentes nesse capítulo
foram extraídas dessa mesma entrevista.
“Se você conseguir resistir”: carta do reitor da Universidade de Hamburgo citada
em U. Hesse-Lichtenberger, 2002.
Conversa telefônica entre Adi Dassler e Uwe Seeler: entrevista com Uwe Seeler,
4 fev 2005, Hamburgo.
“Um sapateiro vivia”: entrevista com Franz Beckenbauer, 23 set 2003,
Kaiserlautern.
“Foi uma situação muito estranha”: entrevista com Stuart Humphrey s, 25 out
2004, Wilmslow.
“Tenho certeza de que eles não ficaram nada felizes”: telefonema a Eusébio, jun
2005.
O comentário de Gordon Banks sobre seu salário relativamente baixo está em sua
autobiografia, publicada em 2002.
“Imagine só”: A. Ball, 2002.
9. Malandragens no México
13. Política
“Estou bem, John”: entrevista com John Boulter, 25 set 2002, Saverne.
“Havia secretários-gerais” e “Servir a comida nesses pratos”: entrevista com
Gerhard Prochaska, 10 ago 2002, La Baume de Transit.
“Quem não era convidado”: entrevista com André Guelfi, 30 jul 2003, Paris.
“Após as reuniões”: telefonema a John Bragg, mar 2005.
Histórias a respeito do Hotel Terrasse: entrevista com Jacky Guellerin, 3 mai
2004, Courbevoie.
“Ele tinha uma capacidade impressionante” e “No fim da noite”: entrevista com
Patrick Nally, 22 jul 2003, Londres.
A presença de Karl-Heinz Huba na folha de pagamento: memorando de René
Jäggi aos diretores administrativos, datado 18 mar 1992, no qual ele diz que
“durante muitos anos, o nome de K.-H. Huba esteve na folha de pagamento
secreta dedicada à ‘política esportiva’, sob a responsabilidade de um dos nossos
funcionários na França, a quem Huba obviamente respeitava bastante. Apesar da
grande resistência interna ‘política esportiva’, eu acabei com todos esses
pagamentos. Desde então venho sendo alvo de ataques contínuos.”
“Nas raras ocasiões”: telefonema a John Bragg, mar 2005.
Os detalhes a respeito do envolvimento de Christian Jannette, em sua maioria,
foram retirados de uma entrevista com ele em 23 set 2003, Illkirch.
“Algumas pessoas tinham que esperar”: entrevista com Georg Wieczisk, 15 jan
2004, Berlim.
A história de Walter Cierpinski: K. Kooman, 2005.
“Minha opinião é que”: relatório do Stasi a respeito das atividades de Horst
Dassler e da Adidas elaborado pelo informante “Möwe”. A citação foi retirada
de uma reportagem intitulada “Adidas und Einfluss auf verschiedene
Organisationen und Wahlen in den internationalen Sportgremien”, sem data.
(Zentralarchiv, der Bundesbeauftrage für die Unterlagen des
Staatssicherheitsdienstes der ehemaligen Deutschen Demokratischen Republik,
arquivo número 15825/89.) Outras citações desse informante presentes no
capítulo também foram extraídas da mesma fonte.
“Não havia nada que pudéssemos fazer”: entrevista com Gerd Dassler, 2 jul
2003, Herzogenaurach.
“Eu fiquei um tanto chocado”: entrevista com Johan van den Bossche, 30 jan
2004, Clichy.
“Se um representante”: entrevista com Gerhard Prochaska, 10 ago 2002, La
Baume de Transit.
História da seleção de futebol do Marrocos: entrevista com Blago Vidinic, 22 nov
2004, Estrasburgo.
Descrição da Champion d’Afrique extraída da coleção completa da revista na
Bibliothèque Nationale, em Paris.
“Horst sempre ajudou Ollan”: telefonema a John Bragg, mar 2005.
Outros detalhes relativos ao braço norte-americano da equipe de política
esportiva foram descritos em correspondências entre John Bragg e Margaret
Larrabee, viúva de Mike.
O caso Muhammad Ali e “Horst tinha um intelecto incrível”: telefonema a John
Bragg, mar 2005.
“Após algumas reuniões”: entrevista com Rolf Dey hle, 3 fev 2005, Maria
Woerth. A maioria das histórias relativas a Dey hle foi contada pelo próprio. Os
detalhes a respeito das brigas e do mandado contra a Fifa continuam um tanto
incertos, pois Dey hle não guardou qualquer documento sobre o assunto. O
recrudescimento da contenda, no entanto, foi confirmado por vários protagonistas
envolvidos e, em parte, detalhado em T. Kistner e J. Weinreich, 1998.
“Horst me perguntou”: entrevista com André Guelfi, 30 jul 2003, Paris.
“Desde o começo”: extraído das respostas por escrito de Sepp Blatter às
perguntas da autora.
“Eles faziam reuniões”: entrevista com Christian Jannette, 23 set 2003, Illkirch.
“Horst falava abertamente”: entrevista com André Guelfi, 30 jul 2003, Paris.
“Ele fazia cálculos”, “Então, durante o jantar” e “Ele distribuiu cartas”:
entrevista com Didier Forterre, 30 jan 2004, Paris.
“Horst Dassler esteve encantado”: entrevista com Monique Berlioux, 14 mai
2003, Paris.
A maior parte dos detalhes sobre as origens do Programa Olímpico: entrevista
com Jürgen Lenz, 7 abr 2004, Lucerna, complementada pelo livro Olympic
Turnaround, de Michael Pay ne — que na época trabalhava na ISL e mais tarde
tornou-se gerente de marketing do COI.
18. O retorno
19. O colapso
“Vocês têm que acabar com eles” e “Eu lhes disse”: entrevistas com Bill Closs
Jr., 8 ago 2004, Palo Alto; e Bill Closs, 13 ago 2004, Big Fork, Montana.
“Avaliaram o exemplar”: entrevista com Günter Sachsenmaier, 23 nov 2004,
Ottersthal.
“A Adidas se recusou”: entrevista com Horst Widmann, 13 jan 2005,
Herzogenaurach.
Detalhes a respeito do encontro entre Horst Dassler e Phil Knight: entrevista com
Larry Hampton, 23 jul 2003, Wimbledon; e J.B. Strasser e L. Becklund, 1991.
Os encontros de Horst Dassler em Havana e o cofre do banco em Los Angeles:
telefonema a Joe Kirchner, 21 mar 2005; Rich Madden, na época presidente da
Adidas EUA, alega que foi demitido em parte por ter se recusado a carregar
uma das malas com dinheiro: entrevista com Rich Madden, 16 ago 2004,
Summit, Nova Jersey.
Detalhes relativos aos preparativos da Nike para as Olimpíadas e “custoso e de
efêmero resultado”: J.B. Strasser e L. Becklund, 1991.
“Foi nas Olimpíadas de Los Angeles”: entrevista com Günter Pfau, 6 fev 2004,
Herzogenaurach.
Citações e histórias relativas à promoção da marca no mundo do entretenimento:
telefonema a Angelo Anatasio, set 2005.
Detalhes a respeito do contrato feito com Michael Jordan: J.B. Strasser e L.
Becklund, 1991.
“Nós nos dedicamos”: entrevista com Gary Dietrich, 12 ago 2004, Condon,
Montana.
“A Adidas não precisaria esgotar”: entrevista com Rich Madden, 15 ago 2004,
Summit, Nova Jersey.
“No dia seguinte”: entrevista com Gary Dietrich, 12 ago 2004, Condon, Montana.
Prorrogação
“Imagine um tubarão”: Playboy, n.10, 1990; entrevista realizada por Axel Thorer.
Detalhes a respeito de Bernard Tapie: A. Routier e V. Lecasble, 1994, além de
vários outros livros escritos sobre sua vida cheia de aventuras.
“Com a exceção do dia em que meus filhos nasceram”: citado em reportagens
de vários jornais listados na seção “Fontes”.
“Qualquer estudante de administração de primeiro período”: entrevista com
Bernard Tapie, 3 mar 2004, Paris.
“Ele nos ligou muito empolgado”: entrevista com Michel Perraudin, 3 jul 2003,
Herzogenaurach.
“A empresa parecia” e “Eu realmente fiquei impressionado com aquilo”:
entrevista com Peter Moore, 9 ago 2004, Portland, Oregon.
“Deveríamos ter feito isso”: entrevista com Cindy Hale-Yoshimura, 11 ago 2004,
Portland, Oregon.
“Em relação às negociações que fizemos”: entrevista com Stephen Rubin, 29 abr
2003, Londres.
“Como vocês acham”: entrevista com Herbert Hainer, 10 fev 2005,
Herzogenaurach.
“Ninguém é sagrado”: telefonema a Jochen Zeitz para a realização de um artigo
na revista Management, 25 abr 2002.
“Vocês conseguiram!”: entrevistas com Robert Louis-Drey fus, 23 mai 2002,
Caslano; e Franz Beckenbauer, 25 set 2003, Kaiserlautern.
A maior parte dos detalhes relativos aos acordos feitos com o Milan, o Real Madri
e o Oly mpique de Marseilles: entrevista com Peter Mahrer, 4 fev 2004,
Herzogenaurach.
“Nunca tínhamos visto nada parecido”: telefonema a Aidan Butterworth, ago
2003.
“Eu pensei: ‘Que se dane’”: entrevista com Robert Louis-Drey fus, 23 mai 2002,
Caslano.
“Elas precisam mesmo ter mangas?”: telefonema a Filip Trussol, mai 2005.
“Aquilo pegou nossos concorrentes” e “Foi uma imagem inacreditável”:
telefonema a Jochen Zeitz para um artigo na revista Management, 25 abr 2002.
“Eu não fazia idéia”: entrevista com Thierry Weil, 24 set 2003, Herzogenaurach.
“Os melhores gerentes”: entrevista com Herbert Hainer, 10 fev 2005,
Herzogenaurach.
Fontes
A base deste livro foram cinco anos de pesquisa, incluindo muitos dias passados
em arquivos empoeirados e entrevistas realizadas na Europa e nos Estados
Unidos. As entrevistas oscilaram entre telefonemas e encontros repetidos que
duraram o dia inteiro. Algumas fontes cederam documentos internos e
correspondência pessoal e, aqui, reconheço a minha dívida para com os autores
citados na bibliografia pela riqueza de detalhes menores (mais esclarecedores)
espalhados por todo o texto.
O conteúdo também foi baseado em uma série de matérias dos seguintes
periódicos: Die Süddeutsche Zeitung, Die Frankfurter Allgemeine, Handelsblatt,
Bildzeitung, Die Zeit, vários jornais regionais da Alemanha, Stern, Spiegel,
Wirtschaftswoche, Le Monde, Liberation, Le Figaro, Les Echos, Le Quotidien de
Paris, Le Nouvel Observateur, Le Parisien, De Telegraaf, Vrij Nederland, Financial
Times, Wall Street Journal, Il Sole 24 Ore, Sports Illustrated, L’Equipe, Sportstyle,
Sporting Goods Intelligence.
O cinema também fez sua parte na documentação do esporte. Os filmes mais
relevantes para este livro foram O milagre de Berna (Sönke Wortmann, 2004),
Tokyo Olympiad (Kon Ichikawa, 1964) e Carruagens de fogo (Hugh Hudson,
1981).
A Adidas e a Puma forneceram uma série de relatórios anuais, comunicados
à imprensa e outros documentos. Retirei algumas histórias sobre a vida de Adi
Dassler de um manuscrito de Hermann Utermann, historiador alemão. Esse
documento nunca foi publicado e os direitos sobre ele foram adquiridos pela
Adidas. A própria empresa publicou sua história — apesar de ter pulado
incidentalmente a década de 1940.
As citações que não estiverem mencionadas nas notas foram extraídas de
conversas não gravadas com fontes que preferiram permanecer anônimas.
Bibliografia
Bach, Thomas, 1
Baenkler, Brigitte (nascida Dassler), 1-2, 3, 4, 5
Baenkler, Hans-Wolf, 1
Baillet-Latour, Henri, 1
Ball, Alan, 1
Bank, Dick, 1
Banks, Gordon, 1-2, 3, 4
Barthel, Josy, 1
Bauer, Hans-Jörg, 1-2
Beamon, Bob, 1
Beckenbauer, Franz, 1, 2-3, 4, 5, 6, 7, 8
Becker, Boris, 1-2, 3-4, 5
Becker, Klaus-Werner, 1
Beckham, David, 1-2, 3, 4-5, 6
Beconta, 1
Bente, Alf, 1, 2, 3, 4, 5, 6-7, 8
Bente, Inge (nascida Dassler), 1, 2, 3
Beresford, Jack, 1
Berlioux, Monique, 1
Best, George, 1, 2, 3
Blatter, Sepp, 1-2, 3-4, 5
Block, Friedrich, 1-2
Blue Ribbon Sports, 1-2, 3, 4
Bonavena, Oscar, 1-2
Bossche, Johan van den, 1, 2
Boulter, John, 1, 2-3, 4-5
Bowerman, Bill, 1-2, 3, 4, 5
Bragg, John, 1, 2, 3-4
Brasher, Chris, 1
Breithaupt, Uwe, 1
Brightwell, Robbie, 1-2, 3, 4, 5
Brundage, Avery, 1, 2, 3
Brütting, Eugen, 1
Burgnich, Tarcisio, 1
Butterworth, Aidan, 1
Buy, Cor du, 1-2
Buy, Jaap du, 1
Camuset, Emile, 1
Cantona, Eric, 1-2
Carlos, John, 1, 2, 3
Cassell, Ollan, 1
Chapman, Mike, 1
Charlton, Jack, 1
Chataway, Chris, 1
Cierpinski, Walter, 1
Clarke, Ron, 1-2
Clergironnet, Huguette, 1
Closs, Bill, 1-2, 3, 4, 5, 6, 7, 8-9
Coe, Sebastian, 1-2, 3
Comaneci, Nadia, 1
Comitê Olímpico Internacional, 1, 2, 3
Connors, Jimmy, 1
Copa do Mundo
Brasil 1950, 1
Suíça 1954, 1-2
Suécia 1958, 1-2
Inglaterra 1966, 1-2, 3-4, 5
México 1970, 1-2, 3-4
Alemanha 1974, 1-2
Argentina 1978, 1-2, 3-4
Espanha 1982, 1-2, 3-4
México 1986, 1, 2
França 1998, 1-2
Alemanha 2006, 1
Converse, 1, 2-3, 4, 5, 6, 7, 8
Corn, Don, 1
Cos Borbolla, Leon de, 1
Cosa Liebermann, 1
Coster, Cor, 1-2
Crespin, Marceau, 1
Cruy ff, Johan, 1-2, 3
Edwards, Harry, 1
Emcke, Manfred, 1, 2
Equipment, 1-2
Essing, Hans-Günter, 1
Essing, Karin (nascida Dassler), 1
Eusébio, 1
Evans, Lee, 1, 2
Ewald, Manfred, 1
Fireman, Paul, 1, 2, 3
Follows, Denis, 1
Fontaine, Just, 1
Forster, Albert, 1
Forterre, Didier, 1, 2, 3
Fosbury, Dick, 1
Foster, Brendan, 1, 2
Foster, Joe, 1-2
Foster, Samuel, 1
Fröhlich, Valentin, 1, 2
Gabriel, Jimmy, 1
Ganga, Jean-Claude, 1
Gebrüder Dassler
crescimento, 1-2, 3-4, 5-6
desentendimentos entre os irmãos, 1-2
e a Segunda Guerra Mundial, 1-2
pedidos de fora da Alemanha, 1-2
pedidos do Exército norte-americano, 1-2
George, Jacques, 1
Gerst, Georges-Philippe, 1-2
Gola, 1, 2
Goodman, Barney, 1
Goodman, Ron, 1-2
Gosper, Kevan, 1
Gousserey -Camuset, Mireille, 1-2
Graf, Herman, 1
Graf, Steffi, 1
Gratrix, Roy, 1
Guelfi, André, 1-2, 3, 4, 5-6, 7-8, 9-10, 11
Guellerin, Jacky, 1
Jacobs, Klaus, 1
Jäggi, René, 1-2, 3-4
Jannette, Christian, 1-2, 3, 4-5, 6, 7-8, 9
Janssen, Peter, 1, 2, 3
Jogos Olímpicos
Antuérpia 1920, 1
Berlim 1936, 1, 2
Helsinque 1952, 1-2
Melbourne 1956, 1, 2-3
Roma 1960, 1-2, 3
Cidade do México 1968, 1-2
Munique 1972, 1-2
Montreal 1976, 1-2, 3
Moscou 1980, 1-2, 3
Los Angeles 1984, 1-2, 3, 4
Seul 1988, 1
Jordan, Michael, 1-2, 3, 4
Karhu, 1, 2, 3-4
Käser, Helmut, 1-2, 3
Kazmaier, Dick, 1-2
Keller, Tommy, 1
Kiehl, Georges, 1
Kirchner, Joe, 1, 2
Knight, Philip, 1-2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
Kopa, 1
Kopa, Ray mond, 1
Körner, Marie (nascida Dassler), 1, 2, 3, 4
Kraus, Ingo, 1-2
Krause, Wolfgang, 1, 2
Lacoste, René, 1, 2
Lang, Karl-Heinz, 1
Larrabee, Mark, 1-2, 3-4
Law, Denis, 1, 2
Le Coq Sportif, 1, 2, 3, 4, 5-6, 7-8, 9
Lenz, Jürgen, 1, 2, 3, 4, 5
Lewald, Theodor, 1
Lewin, Peter, 1-2, 3
Libonati, Ralph, 1, 2, 3-4
Long, Lutz, 1, 2
Louis-Drey fus, Robert, 1-2, 3, 4, 5-6, 7-8, 9, 10
Lukkien, Michael, 1
Ly diard, Arthur, 1
McEnroe, John, 1
McMann, Jack, 1
Madden, Rick, 1-2
Malms, Christoph, 1, 2-3, 4
Malms, Sigrid (nascida Dassler), 1
Maradona, Diego, 1
Markus, Axel, 1
Marley, Bob, 1
Martens, Hans-Jürgen, 1, 2
Martz, Franz, 1
Martz, Marianne, 1
Matthews, Stanley, 1
May er, Helena, 1
Meier, Walter, 1
Meister Eugenio, 1
Milchan, Aron, 1-2
Mitre, 1
Möbus, 1
Moltke, Werner von, 1
Moore, Bobby, 1, 2
Moore, Peter, 1-2
Morbitzer, Günter, 1
Morrow, Bobby, 1, 2
Muller, Roberto, 1-2
Mzali, Mohamed, 1
Odam, Dorothy, 1
Odinet, Bernard, 1, 2
Oerter, Al, 1
Onitsuka, Kihachiro, 1, 2, 3
Onitsuka Tiger, 1, 2
Ovett, Steve, 1-2, 3
Owens, Jesse, 1-2, 3, 4, 5
Passchen, Dieter, 1
Pavlov, Sergei, 1, 2
Pelé, 1, 2-3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10
Perraudin, Michel, 1
Perry, Fred, 1
Peters, Mary, 1
Pound, Dick, 1
Praag, Jaap van, 1
Prefontaine, Steve, 1, 2
Prochaska, Gerhard, 1, 2, 3, 4, 5
Puma
aquisição pelo banco, 1-2
calçados com solado tipo “escova”, 1-2
chuteiras, 1-2, 3-4, 5-6
colapso do mercado norte-americano, 1-2
e a Alemanha Oriental, 1-2
e a Copa do Mundo de 1966, 1-2, 3-4
e a Copa do Mundo de 2006, 1, 2
e a Espanha, 1-2
e as Olimpíadas da Cidade do México, 1-2
e as Olimpíadas de Helsinque, 1
e as Olimpíadas de Montreal, 1-2
e as Olimpíadas de Munique, 1-2
e as Olimpíadas de Roma, 1, 2
e Camarões, 1
e Cruy ff, 1-2
e o Brasil, 1-2, 3, 4, 5-6, 7-8
e o testamento de Rudolf, 1-2
e Pelé, 1-2
flutuação do mercado de ações, 1-2
gerenciamento de Armin, 1-2, 3
logo, 1
origens, 1-2
planos de expansão, 1
posição, 1-2
ressurgimento, 1-2
símbolo, 1-2
subsidiária francesa, 1-2
venda, 1-2
vendas, 1987, 1-2
Zeitz assume o controle, 1-2, 3
Puma Áustria, 1-2
Puma França, 1-2
Puskás, Ferenc, 1, 2
Radmann, Fedor, 1-2
Rahn, Helmut, 1, 2
Ramsey, Alf, 1, 2-3
Rduch, Peter, 1, 2
Reader, Alfred, 1-2, 3
Reebok, 1-2, 3, 4, 5, 6, 7
Remener, François, 1-2
Robinson, Peter, 1, 2
Robson, Bobby, 1
Ronaldinho Gaúcho, 1
Ronc, Alain, 1-2, 3-4, 5
Rous, sir Stanley, 1-2
Rubin, Stephen, 1, 2-3
Ruegger, Hansrüdi, 1, 2
Run-DMC, 1-2
Ueberroth, Peter, 1
Umbro, 1-2, 3-4, 5, 6, 7-8, 9, 10, 11
Uniroy al, 1-2
Utermann, Hermann, 1, 2
Ventex, 1
Vidinic, Blago, 1-2, 3-4, 5, 6, 7
Viren, Lasse, 1
Voit, Richard, 1
Zatopek, Emil, 1, 2
Zehlein, Fritz, 1, 2
Zehlein, Klaus, 1
Zeitz, Jochen, 1-2, 3, 4
Zenger, Hans, 1, 2
Zimmerman, Herbert, 1
Tradução autorizada de Pitch Invasion: Adidas, Puma and the making of modern
sport, cuja edição inglesa será publicada em agosto de 2007, por Penguin Books
Ltd., de Londres, Inglaterra