Pedagogia Sistemica Um Novo Olhar
Pedagogia Sistemica Um Novo Olhar
Pedagogia Sistemica Um Novo Olhar
RESUMO
O presente ensaio teórico busca contribuir com o processo ensino-aprendizagem dos alunos
das escolas brasileiras. Dessa forma, apresenta uma nova metodologia aplicáveis no dia-a-dia,
baseada na inclusão, no Pensamento Sistêmico e na psicoterapia Constelação Familiar de Bert
Hellinger. A Pedagogia Sistêmica não visa confrontar outras metodologias, ao contrário,
pretende acrescentar novos recursos à prática educacional. Recursos estes que incluem
ferramentas como a árvore genealógica, a autobiografia acadêmica, o trabalho com bonecos,
visualização, focalização, jogos dramáticos, etc. Partimos do pressuposto que o conhecimento
é sistêmico e também que os indivíduos não são indivíduos isolados, mas estão interligados
ao contexto familiar, histórico, social e cultural de origem. Portanto, esse contexto deve ser
considerado no processo ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Pedagogia sistêmica; educação; constelação familiar.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo não pretende apresentar soluções imediatistas e fáceis para algo que é
grande, complexo e multifacetado, como o processo ensino-aprendizagem. Porém, visa
oferecer uma contribuição para a comunidade escolar, diante dos desafios cotidianos, onde
muitas vezes as metodologias utilizadas não alcançam o resultado esperado, ou seja, quando a
função de educar e oferecer subsídios para que os alunos vençam suas dificuldades não
tenham êxito. Procuramos apresentar uma pedagogia capaz de perceber a criança como parte
de uma estrutura inter-relacionada, capaz de educar a todos, respeitando suas necessidades
proporcionando a elas uma educação realmente significativa.
A escola pública brasileira tem funcionado, historicamente, como reprodutora da
ideologia de grupos dominantes. Embasada, principalmente, no modo tradicional, onde o
professor assume a postura superior de quem sabe mais e os alunos são vistos como
indivíduos que recebem o conhecimento. Entretanto, para que a educação atenda sua
finalidade de formar cidadãos capazes de opinar, optar, participar, agir, pensar e refletir é
*
Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Petrópolis / RJ. Pedagoga da Pró-reitoria de Apoio
Estudantil e educação Inclusiva da UFJF.
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O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo. Dissemos que todo ser
humano, tal como o ponto de um holograma, traz em si o cosmo. Devemos ver
também que todo ser, mesmo aquele fechado na mais banal das vidas, constitui, ele
próprio, um cosmo. Traz em si multiplicidades interiores, personalidades virtuais,
uma infinidade de personagens quiméricos, uma poli existência no real e no
imaginário, no sono e na vigilância, na obediência e na transgressão, no ostensivo e
no secreto, balbucios embrionários em suas cavidades e profundezas insondáveis.
(MORIN, 2007, p. 58)
indivíduo a refletir sobre si e sobre o mundo, a respeito de seu direito de participar, tanto na
escola como em toda a sociedade. Como professores/pedagogos não podemos pensar no
conhecimento de forma fragmentada ou separado da realidade de nossos colegas de trabalho e
de nossos alunos. Segundo Morin (1991, p. 123), a soma do conhecimento das partes não é
suficiente para se conhecer as propriedades do conjunto, pois o todo é maior do que a soma de
suas partes. Além disso, quando se toma o todo não se vê a riqueza das qualidades das partes,
por ficarem inibidas e, impedidas de expressarem-se em sua plenitude. As relações das partes
com o todo são dinâmicas, portanto, o todo é, ao mesmo tempo, menor e maior que a soma
das partes. Há necessidade de pensarmos, falarmos, sentirmos e agirmos de forma
interdisciplinar e transdisciplinar. O conhecimento não pode ser visto como algo linear, mas
deve ser visto como sistêmico, já que nossa vida e realidade não são fragmentadas. Desse
modo, estamos envolvidos numa teia de relações com outros indivíduos, com o ambiente
físico e também com a natureza.
3 PENSAMENTO SISTÊMICO
Grandesso (2000) aponta que o foco é deslocado da constituição das entidades para a
organização dos sistemas e para o conceito de interação. Assim, o Pensamento Sistêmico
surgiu no século XX, em contraposição ao pensamento "reducionista-mecanicista" herdado
dos filósofos da Revolução Científica do século XVII, como Descartes, Bacon e Newton. Fato
que implicou na formação de novas áreas, como a Física Subatômica e a Ecologia. O
resultado provocou uma explosão de conhecimento de um novo tipo, com ideias inovadoras
como a Física Quântica, a Teoria do Caos, Matemática da Complexidade, entre muitas outras.
O Pensamento Sistêmico é um movimento científico com base nas concepções de
sistema aberto e da Teoria Geral dos Sistemas. De acordo com o Pensamento Sistêmico, os
organismos vivos são sistemas abertos, ou seja, podem se alimentar de um contínuo fluxo de
matéria e de energia extraídas e devolvidas ao meio ambiente (CAPRA, 2006). O
entendimento sistêmico requer uma compreensão das principais características de um sistema,
dentre as quais podemos citar: um sistema é composto por partes, todas as partes de um
sistema devem se relacionar de forma direta ou indireta, pode abrigar outro sistema e por
último está vinculado ao tempo e espaço. Dessa maneira, consiste em compreender o todo, de
modo a permitir a análise ou a interferência no mesmo.
Essa forma de pensar não nega a racionalidade científica, mas acredita que ela não
oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano e para descrição do universo.
Principalmente, devido à limitação do método científico e da análise quando aplicadas nos
estudos de física subatômica, biologia, medicina e ciências humanas, que exigem explicações
complexas. É uma nova forma de compreender o desenvolvimento humano. Parte do
pressuposto da complexidade, ou seja, projeta seu olhar não somente para o indivíduo,
considera também todo o seu contexto e as relações estabelecidas.
4 CONSTELAÇÕES FAMILIARES
quem chegou depois. Já a terceira é a lei do equilíbrio, estabelecida pelo dar e receber.
Quando essas leis são violadas ocorrem, mais cedo ou mais tarde, depressões, doenças,
problemas de relacionamento, dificuldades financeiras. Esses problemas podem ser
representados através das constelações e deixam claro para o constelado, para onde ele está
olhando. Assim, ele pode dar o primeiro passo para reequilibrar o seu sistema e solucionar a
questão que o incomoda. Dessa forma, as constelações familiares oferecem ferramentas
rápidas e eficazes na resolução de conflitos pessoais e familiares e na abertura de novas
possibilidades de convívio e de estruturação dos vínculos. Essa psicoterapia Sistêmica foca o
indivíduo como parte de um sistema básico (a família) ligado, em intersecções, a outros
sistemas.
As constelações familiares permitem revelar o fato de que fazemos parte de um
sistema que compreende todos os membros da família, sujeitos a uma ordem primordial.
Tem-se que encontrar e respeitar tal ordem para que encontremos nosso lugar dentro da nossa
família, respeitando o destino dos outros membros dessa família. O respeito e a gratidão à
família constituem uma postura baseada em princípios que geralmente não é consciente. Nisso
se baseia o enfoque sistêmico-fenomenológico.
Rapidamente houve uma migração dessa técnica para a área organizacional, sendo
hoje utilizadas por grandes empresas, sobretudo na Europa e EUA. No Brasil, já encontramos
a constelação no judiciário, como faz o juiz Sami Storch do Tribunal de Justiça da Bahia
(TJBA). Ele aplica o conhecimento das leis sistêmicas para auxiliar na condução dos
processos, de maneira a produzir mais conciliações. E também, no Hospital das Clinicas (HC)
da Universidade Federal de Goiás (UFG). O médico ginecologista José Miguel de Deus, que
coordena o ambulatório de dor pélvica crônica do HC, e a médica anestesiologista Vânia
Meira e Siqueira Campos oferecem acompanhamento em grupo de Constelação Familiar. Já
no contexto da educação as Constelações familiares têm várias contribuições a oferecer.
5 PEDAGOGIA SISTÊMICA
Posteriormente, a Pedagogia Sistêmica migrou para as escolas da Espanha, que hoje, como no
México, são referências no treinamento de professores/pedagogos, dentro dessa abordagem.
No Brasil, timidamente esses treinamentos já começam a ser ministrados, principalmente em
Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
De acordo com Franke-Grickch (2009), a transferência da visão sistêmica da terapia
familiar para a docência, permite perceber as pessoas não como indivíduos isolados, mas
como parte de uma estrutura inter-relacionada. Franke-Grickch e Olvera obtiveram resultados
maravilhosos na estrutura escolar, em sala de aula, na relação escola-família, no
amadurecimento emocional e intelectual dos alunos, no enfrentamento do bulliyng, na
valorização do professor. Para alcançar estes resultados elas desenvolveram metodologias
aplicáveis no dia-a-dia, que incluem ferramentas como a árvore genealógica, a autobiografia
acadêmica, o trabalho com bonecos, visualização, focalização, jogos dramáticos, etc. Baseada
na inclusão, a Pedagogia Sistêmica não faz confronto com outras metodologias, ao contrário,
acrescenta novos recursos à prática educacional, portanto, mesmo que a escola não adote a
Pedagogia Sistêmica, um professor pode usar essa metodologia em sala de aula, desde que
tenha conhecimentos sobre Constelações Sistêmicas.
A pedagogia sistêmica reconhece os indivíduos e entende o papel de cada envolvido.
Inclusive, parte do pressuposto que os alunos, professores/pedagogos, diretores, funcionários
não estão separados dos vínculos pessoais, do contexto familiar, histórico, social e cultural de
origem. Nessa perspectiva todos são vistos como parte integrante da escola. Dessa maneira,
todos (alunos, professores/pedagogos, diretores, funcionários) assumem suas funções e
papéis. O sentimento de que todos têm um lugar (inclusão) é potencializado. Tal postura
remete a uma compreensão onde passamos a perceber a serviço de quais vínculos e questões
sistêmicas cada um está agindo. Ou seja, é possível refletir sobre a prática pedagógica, uma
vez que a riqueza do Pensamento Sistêmico, com sua complexidade, está em abrir campos
para novas possibilidades de reflexão e, sobretudo, ação. De acordo com Hellinger (2007, P.
97):
... o professor quando vê os alunos também vê seus pais por detrás deles. Toma os
pais das crianças para dentro de seu coração, independente de como sejam, pois
todos os pais são perfeitos, no seu papel de pais... um professor respeita o que tem
de especial em uma família, quando encontra uma criança, sem ter a fantasia de que
essa família deveria ser diferente do que ela é.
Esta maneira de perceber os alunos se baseia no natural da vida e nos elementos que
estão inter-relacionando-se totalmente um com outro. O trabalho pioneiro de Bert Hellinger,
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
que tenha coerência entre discurso e prática. Deste modo, possibilitará ao aluno ampliar o
leque do conhecimento, ser um agente transformador da realidade tendo coesão e coerência
em sua interpretação de mundo, aprendendo a pensar, saber fazer e ser competente na prática
social. O professor/pedagogo precisa saber que a aprendizagem ocorrerá de acordo com as
relações estabelecidas a partir de um novo paradigma que valoriza o indivíduo na sua
totalidade.
ABSTRACT
This theoretical essay search, modestly contribute to the teaching -learning process of
students of Brazilian schools. Therefore, presents a new methodology applicable in day-to -
day, based on inclusion in systems thinking and Family Constellation psychotherapy Bert
Hellinger. Systemic Pedagogy is not intended to confront other methodologies, in contrast,
aims to add new features to educational practice. These resources including tools such as
family tree, academic autobiography, work with puppets, visualization, focus, dramatic
games, etc. On the assumption that knowledge is systemic and also that individuals are not
subject isolated but are connected with family, historical, social and cultural
background.Therefore, this context must be considered in the teaching- learning process.
Keywords: Systemic pedagogy; education; familiar constellation.
REFERÊNCIAS
CAPRA, F. A teia da vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São
Paulo: Cultrix, 2006.
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FREIRE, P. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire,
2001.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, Brasília,
DF: Unesco, 2007.
PLATÃO. A República. Tradução Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2000. p.319-
322.