O Principiante Espírita. Allan Kardec. ?.
O Principiante Espírita. Allan Kardec. ?.
O Principiante Espírita. Allan Kardec. ?.
O Principiante Espírita
• Introdução ao conhecimento do mundo
invisível pelas manifestações espíritas;
• Resumo da Doutrina Espírita;
• Respostas às principais objeções.
Contendo:
Biografia de Allan Kardec
Allan Kardec – O Principiante Espírita 2
O Principiante Espírita
Por
Allan Kardec
Tradução de
Júlio Abreu Filho
Índice
Primeira Parte
» Noções de Espiritismo ............................................................... 4
Noções preliminares ................................................................. 4
Os Espíritos .............................................................................. 6
Comunicação com o mundo invisível ..................................... 11
Fim providencial das manifestações ....................................... 23
Os médiuns ............................................................................. 24
Escolhos da mediunidade ....................................................... 30
Qualidades dos médiuns ......................................................... 34
Charlatanismo......................................................................... 38
Identidade dos Espíritos.......................................................... 39
Contradições........................................................................... 41
Conseqüências do Espiritismo ................................................ 42
Segunda Parte
» Solução de Problemas pela Doutrina Espírita....................... 48
Pluralidade dos mundos.......................................................... 48
A alma .................................................................................... 49
O homem durante a vida terrena ............................................. 52
O homem após a morte ........................................................... 64
Primeira Parte
Noções de Espiritismo
Noções preliminares
1. É engano pensar que, para se convencerem, basta aos in-
crédulos o testemunho dos fenômenos extraordinários. Aqueles que
não admitem a existência da alma, ou Espírito, no homem, também
não o admitem fora do homem. Assim, negam a causa e, em con-
seqüência, negam os efeitos. Via de regra têm uma idéia preconce-
bida e um propósito negativo, que impossibilitam a observação
exata e imparcial. Com isso levantam problemas e objeções que
não podem ser respondidas de modo completo porque cada uma
delas exigiria como que um curso, em que as coisas fossem expos-
tas desde o princípio.
Como essas objeções derivam, em grande parte, do desconhe-
cimento das causas dos fenômenos e das condições em que os
mesmos se verificam, um estudo prévio teria a vantagem de as
eliminar.
2. Imaginam os desconhecedores do Espiritismo que os fe-
nômenos espíritas podem ser produzidos do mesmo modo que as
experiências de Física ou de Química. Por isso pretendem submetê-
los à sua vontade e se recusam colocar-se nas condições exigidas
para poder observá-los.
Como, de início, não admitem a existência dos Espíritos e a
sua intervenção, assim desconhecendo a sua natureza e o seu modo
de agir, essas pessoas se comportam como se lidassem com a maté-
ria bruta. E porque não conseguem aquilo, concluem que não há
Espíritos. Entretanto, se se colocassem em ponto de vista diverso,
compreenderiam que os Espíritos não passam de almas dos ho-
Allan Kardec – O Principiante Espírita 5
mens; que todos nós, após a morte, seremos Espíritos; e que, então,
não teremos disposição para servir de joguete e satisfazer a fantasia
dos curiosos.
3. Mesmo quando certos fenômenos possam ser provoca-
dos, não se acham, de modo algum, à disposição de ninguém, por
isso que provêm de inteligências livres. Quem se dissesse capaz de
os obter sempre que quisesse apenas provaria ignorância ou má-fé.
Há que esperar, para os colher de passagem. E, muitas vezes,
quando menos se espera é que se apresentam os fatos mais interes-
santes e convincentes.
Nisto, como em tudo, os que desejam seriamente instruir-se
devem ter paciência e perseverança e se colocar nas condições
adequadas. Sem isto melhor será não cogitar do assunto.
4. As reuniões que visam as manifestações espíritas nem
sempre se acham em condições adequadas à obtenção de resultados
satisfatórios, ou a afirmar convicções. É forçoso, mesmo, convir
que por vezes os incrédulos saem menos convencidos do que entra-
ram e lançam em rosto dos que lhes falaram do caráter sério do
Espiritismo as coisas ridículas que testemunharam. É verdade que
neste particular não são mais lógicos do que aquele que pretendes-
se julgar uma arte pelas primeiras demonstrações de um aprendiz,
ou uma pessoa pela sua caricatura ou, ainda, uma tragédia por sua
paróquia.
Também o Espiritismo tem os seus aprendizes. E quem quiser
informar-se não deve buscar os ensinos numa fonte única, porque
somente o exame comparado pode permitir se firme uma opinião.
5. Têm as reuniões frívolas o grande inconveniente de dar
aos novatos, que as assistem, uma falsa idéia do caráter do Espiri-
tismo; e os que só hajam freqüentado reuniões de tal espécie não
podem levar a sério uma coisa que aos seus olhos é tratada com
Allan Kardec – O Principiante Espírita 6
Os Espíritos
7. Os Espíritos não constituem, como supõem alguns, uma
classe à parte na criação: eles são as almas dos que viveram na
Terra e em outros mundos, mas despojadas de seu invólucro corpo-
ral.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 7
1
Vide O Livro dos Espíritos, nº 237.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 10
2
Vide O Livro dos Espíritos, nº 100, Escala Espírita; O Livro dos
Médiuns, cap. XXIV.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 12
3
A palavra médium em francês foi criada em 1856, com o sentido usado
no Espiritismo; em inglês foi criada por Swedenborg, no fim da pri-
meira metade do século XVIII. Em ambas essas línguas foi mantida a
grafia latina (médium), que é forma neutra: tanto se deriva do substan-
tivo medium, medii, quanto do adjetivo de primeira classe medius, me-
dium. Como as demais línguas, a nossa consagrou a mesma grafia lati-
na. Desde, porém, que não há gênero neutro em português, os dicioná-
rios atribuem-lhe o gênero masculino; mas é, visivelmente, um vocá-
bulo epiceno. Assim, quer se trate de intermediário masculino, quer
Allan Kardec – O Principiante Espírita 13
5
Vide O Livro dos Médiuns, nº 267.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 19
Os médiuns
54. Apresentam os médiuns uma grande variedade de apti-
dões, que os tornam mais ou menos adequados para a obtenção
deste ou daquele fenômeno, deste ou daquele gênero de comunica-
ções. Conforme tais aptidões eles se dividem em médiuns de efei-
tos físicos, de comunicações inteligentes, videntes, falantes, auditi-
vos, sensitivos, desenhistas, poliglotas, poetas, músicos, escreven-
tes, etc..
6
Vide O Livro dos Médiuns, nº 286: Perguntas que podem ser dirigi-
das aos Espíritos.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 25
Não devemos esperar do médium nada que esteja fora dos li-
mites de sua faculdade. Sem o conhecimento das aptidões mediúni-
cas, o observador não achará explicação para certas dificuldades ou
para certas impossibilidades encontradas na prática.7
55. Os médiuns de efeitos físicos são particularmente mais
aptos para a produção de fenômenos materiais, como os movimen-
tos, as batidas, etc., com o auxílio de mesas ou outros objetos.
Quando tais fenômenos revelam um pensamento, ou obedecem a
uma vontade, são efeitos inteligentes e, como tal, denotam uma
coisa inteligente. É este um dos modos pelos quais se manifestam
os Espíritos.
Por meio de um número de batidas, previamente convenciona-
das, obtém-se a resposta pelo sim ou pelo não, ou, ainda, a desig-
nação das letras do alfabeto, com as quais se formam palavras e
frases.
Esse método primitivo é muito demorado e não permite grande
desenvolvimento.
As mesas falantes foram o início da ciência. Hoje, porém, já
existem meios de comunicação tão rápidos e completos como entre
os vivos, de modo que ninguém mais emprega aqueles, a não ser
acidentalmente e como experiência.
56. De todos os meios de comunicação, é a escrita ao mesmo
tempo o mais simples, o mais rápido, o mais cômodo e aquele que
permite maior desenvolvimento. Também é a faculdade que se
encontra com mais freqüência.
57. A princípio, para obter a comunicação escrita, usaram-se
meios materiais, como a cesta, a prancheta, etc., munidas de um
7
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XVI, nº 195.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 26
8
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XIII, nºs 152 e segs.
9
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XV, nºs 179 e segs.; cap. XIX, nºs
223 e segs.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 27
10
Vide O Livro dos Médiuns, 2ª parte.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 30
Escolhos da mediunidade
70. Um dos maiores escolhos da mediunidade é a obsessão,
ou domínio que certos Espíritos podem exercer sobre os médiuns,
apresentando-se com nomes supostos e impedindo que por eles se
manifestem outros Espíritos. Isto constitui, também, um perigo em
que esbarra todo observador novato e inexperiente, que, desconhe-
cendo as características desse fenômeno, pode enganar-se pelas
aparências, do mesmo modo que aquele que desconhece a medicina
pode enganar-se quanto à causa e a natureza de uma doença.
Se, neste caso, o estudo prévio é vantajoso para o observador,
torna-se indispensável para o médium, pois lhe fornece os meios de
prevenir um inconveniente que lhe pode acarretar desagradáveis
conseqüências. Por isso toda recomendação é pouco para que o
estudo preceda sempre a prática.11
71. Apresenta a obsessão três graus bem característicos: a
obsessão simples, a fascinação e a subjugação. No primeiro tem o
médium inteira consciência de que nada obtém de bom; não se
engana quanto à natureza do Espírito que teima em se manifestar e
do qual deseja livrar-se. Tal caso não oferece gravidade: é um
simples aborrecimento, do qual se liberta o médium se deixar, no
momento, de escrever. Cansado por não se ver atendido, o Espírito
acaba se retirando.
A fascinação é muito mais grave, porque o médium fica per-
feitamente iludido. O Espírito que o domina conquista-lhe a confi-
ança a ponto de lhe paralisar a capacidade de julgar as comunica-
ções recebidas e lhe fazer considerar sublimes os maiores absurdos.
O caráter marcante desse gênero de obsessão é a provocação
de uma extrema susceptibilidade do médium, o qual é levado a só
11
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XXIII.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 31
admitir como bom, justo e certo aquilo que ele próprio escreve, ao
mesmo tempo em que repele todo conselho e toda crítica. Então
rompe com os amigos, ao invés de se convencer de que é engana-
do; alimenta inveja contra os outros médiuns, cujas comunicações
sejam consideradas melhores que as suas; e, por fim, quer impor-se
nas reuniões espíritas, de onde se afasta, desde que não as possa
dominar.
Essa atuação do Espírito pode ir ao ponto de arrastar o indiví-
duo a dar passos ainda mais ridículos e comprometedores.
72. Um dos caracteres distintivos dos Espíritos maus é a im-
posição. Dão ordens e querem ser obedecidos. Os bons jamais
impõem: dão conselhos e quando não escutados retiram-se.
Decorre daí que a impressão deixada pelos maus Espíritos é
sempre penosa e fatigante. Muitas vezes causa uma agitação febril,
movimentos bruscos e desordenados. Ao contrário, a dos bons é
calma, suave e agradável.
73. A subjugação, outrora chamada possessão, é um cons-
trangimento físico que exercem Espíritos da pior espécie e que
pode chegar até à anulação do livre-arbítrio do paciente. Muitas
vezes, porém, se reduz a simples impressões desagradáveis; outras
vezes provoca movimentos desordenados, atos insensatos, gritos,
palavrões, frases incoerentes, cujo ridículo o subjugado por vezes
compreende mas não pode evitar.
Esse estado difere fundamentalmente da loucura patológica,
com a qual erroneamente a confundem, por isso que a sua causa
não é uma lesão orgânica. Assim, diversa sendo a origem, diversos
devem ser os processos de cura. A aplicação do processo ordinário
de duchas e tratamento corporal por vezes chega a determinar uma
loucura verdadeira naquele que apenas sofria uma enfermidade
moral.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 32
12
Vide O Livro dos Médiuns, nº 279; Revue Spirite, de fevereiro, março
e junho de 1864; La jeune obsédée de Marmande.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 33
13
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XXIV.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 34
14
Vide acima, nºs 74-75.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 37
Charlatanismo
89. Certas manifestações espíritas muito facilmente se pres-
tam a ser imitadas. Mas, pelo fato de terem sido exploradas por
charlatães e prestidigitadores, assim como o fazem com tantas
outras coisas sérias, seria absurdo pensar que não sejam reais e que
sejam sempre produto do charlatanismo.
Quem estudou e sabe quais as condições normais em que as
mesmas podem dar-se, logo distingue o que é realidade do que é
imitação. Além do mais, a imitação nunca pode ser completa: só
engana os ignorantes, os incapazes de distinguir as características
do verdadeiro fenômeno.
90. As manifestações que se podem mais facilmente imitar
são as de efeitos físicos e as de efeitos inteligentes mais vulgares,
tais como os movimentos, as batidas, os transportes, a escrita dire-
ta, as respostas banais, etc.. Já o mesmo não acontece com as co-
municações inteligentes e de elevado alcance. A imitação das
primeiras apenas exige habilidade e destreza; enquanto que para
simular estas últimas quase sempre é necessário uma instrução
acima do comum, uma excepcional superioridade intelectiva e, por
assim dizer, uma faculdade onímoda de improvisação.
91. Geralmente, aqueles que desconhecem o Espiritismo são
levados a duvidar da boa-fé dos médiuns. Só o estudo e a experiên-
Allan Kardec – O Principiante Espírita 39
15
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XXVIII – Charlatanismo e Embuste,
Médiuns interesseiros, fraudes espíritas, nº 300; vide, também, Revue
Spirite, 1862, pág. 52.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 40
Contradições
97. As contradições notadas com mais freqüência na lingua-
gem dos Espíritos só devem causar admiração às pessoas que pos-
suem do Espiritismo um conhecimento incompleto. São elas devi-
das à própria natureza dos Espíritos que, conforme temos dito, têm
das coisas um conhecimento proporcional ao seu adiantamento e
entre os quais muitos sabem menos que certos homens.
Relativamente a uma porção de assuntos, muitos apenas exter-
nam uma opinião pessoal, que pode estar mais ou menos certa, mas
conserva ainda um reflexo dos preconceitos terrenos, dos quais
ainda não se libertaram. Outros arquitetam sistemas a respeito de
coisas que desconhecem, principalmente a propósito de questões
científicas e da origem das coisas. Assim, pois, não é de admirar
que nem sempre eles estejam de acordo.
98. Admiram-se certas criaturas quando encontram comuni-
cações contraditórias, assinadas com o mesmo nome.
Só os Espíritos inferiores mudam de linguagem, conforme as
circunstâncias. Os superiores, porém, jamais se contradizem.17
16
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XXIV, Identidade dos Espíritos;
Revue Spirite, 1862, pág. 82: “Carrère – Constatation d’un fait
d’identité”.
17
Vide O Livro dos Médiuns, cap. XXVII, Contradições e mistificações;
Revue Spirite, 1864, pág. 99, Autorité de la doctrine Spirite; O Evan-
Allan Kardec – O Principiante Espírita 42
Conseqüências do Espiritismo
100. Ante a incerteza das revelações feitas pelos Espíritos,
perguntar-se-á: Então, para que serve o estudo do Espiritismo?
Para provar materialmente a existência do mundo espiritual.
Sendo este formado pelas almas dos que viveram, daí decorre a
prova da existência da alma e da sua sobrevivência ao corpo. Mani-
festando-se, manifestam as almas, do mesmo passo, alegria ou
sofrimento, conforme a maneira por que viveram a vida terrena.
***
Nota: Posto que incompletas, essas explicações são suficientes
para demonstrar a base sobre a qual se assenta o Espiritismo, assim
como o caráter das manifestações e o grau de confiança que, con-
forme as circunstâncias, estas podem merecer.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 48
Segunda Parte
Solução de Problemas pela
Doutrina Espírita
18
Vide O Livro dos Espíritos, nº 55; Revista Espírita, vol. I, Pluralidade
dos Mundos.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 49
A alma
108. Qual a sede da alma?
– A alma não se acha localizada num determinado ponto do
corpo, como geralmente se pensa: ela forma com o perispírito um
19
Vide Revista Espírita, ano de 1858, págs. 68, 113 e 236; Revue Spiri-
te, ano de 1860, págs. 317, 319 e 321; O Evangelho Segundo o Espi-
ritismo, cap. III.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 50
20
Vide O Livro dos Espíritos, nºs 114 e segs.
21
Vide O Livro dos Espíritos, nºs 116 e 222, Revue Spirite, ano de
1862, págs. 97 e 106.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 53
22
Vide O Livro dos Espíritos, nº 379 – A infância.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 55
23
Vide Revue Spirite, ano de 1861, pág. 270.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 56
24
Vide Revue Spirite, ano de 1861, pág. 76 – La téte de Garibaldi; idem,
ano de 1862, pág. 97 – Phrenologie espiritualiste et spirite.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 57
– Deus não criou o mal: estabeleceu leis; estas são sempre bo-
as, porque ele é soberanamente bom. Quem observa essas leis
fielmente será perfeitamente feliz. Como têm o livre-arbítrio, nem
sempre as criaturas as observam. É da inobservância daquelas leis
que provém o mal.
130. Já nasce o homem bom ou mau?
– É mister distinguir, antes, entre o homem e a alma.
A alma é criada simples e ignorante, isto é, nem boa nem má;
como, porém, goza do livre-arbítrio, é livre para seguir este ou
aquele caminho, de observar ou de infringir as leis de Deus. O
homem nasce bom ou mau, conforme seja a reencarnação de um
Espírito adiantado ou atrasado.
131. Qual a origem do bem e do mal na Terra? Por que o mal
predomina?
– A origem do mal na Terra está na imperfeição dos Espíritos
que aí se encarnam. A predominância do mal provém da inferiori-
dade do planeta, cujos habitantes são, em sua maioria, Espíritos
inferiores ou de pouca evolução. Em mundos mais avançados, nos
quais só se reencarnam Espíritos depurados, o mal se acha em
minoria ou, até, nem aparece.
132. Qual a causa dos males que afligem a Humanidade?
– O nosso mundo pode ser considerado como uma escola para
Espíritos pouco evoluídos e, ao mesmo tempo, um cárcere para
criminosos. Os males de nossa Humanidade são conseqüentes da
inferioridade moral da maior parte dos Espíritos que a constituem.
Pelo contacto com os seus vícios, não apenas se infelicitam mutu-
amente, mas também se castigam uns aos outros.
133. Por que tão freqüentemente vemos a prosperidade dos
maus, enquanto que o homem de bem sofre aflições?
Allan Kardec – O Principiante Espírita 58
25
Vide Revue Spirite, ano de 1860, pág. 173 – L’Esprit d’un idiot ;
Idem, ano de 1861, pág. 311 – Les Crétins.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 61
26
Vide O Livro dos Espíritos – Emancipação da alma, nºs 400 a 454; O
Livro dos Médiuns – Evolução de pessoas vivas, nº 284; Revue Spiri-
te, ano de 1860, pág. 11; idem, pág. 81.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 62
27
Vide O Livro dos Espíritos – Lei do Progresso, nºs 776 a 801; Revue
Spirite, ano de 1862, pág. 1 – Essai sur l’interprétation de la doctrine
des anges déchus; pág. 97 – Phrénologie espiritualiste et spirite. –
Perfectibilité de la race nègre.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 64
28
Vide O Livro dos Espíritos, nº 155.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 65
29
Vide Revista Espírita, ano de 1859: Morte de um Espírita, pág. 244;
Idem, ano de 1860: Le reveil de l’Esprit, pág. 323; Idem, ano de 1862:
Obsèques de M. Sanson, pág. 129 e Entretiens familiers d’outretombe,
pág. 171.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 66
Em tal estado ele vai para cá e para lá, pensando que se ocupa
com seus negócios, como se ainda vivesse no mundo, e fica admi-
rado de lhe não responderem quando fala. Também se observa a
mesma ilusão em casos outros que não de morte violenta, princi-
palmente nos indivíduos cuja vida foi dedicada aos prazeres e aos
interesses materiais.30
150. Deixando o corpo, para onde vai a alma?
– Não se perde na vastidão infinita dos espaços, como em geral
se pensa: vaga, geralmente entre aqueles que em vida conheceu,
sobretudo entre os que amou. Mas pode instantaneamente transpor-
tar-se a grandes distâncias.
151. A alma conserva as afeições que tinha em vida?
– Guarda todas as afeições morais; só esquece as materiais,
pois não mais são de sua essência. É por isso que tem satisfação em
ver parentes e amigos e sente-se feliz em ser por eles lembrada.31
152. A alma conserva a lembrança daquilo que fez na Terra?
Continua interessada pelos trabalhos que não pôde concluir?
– Isso depende de sua elevação e da natureza daqueles traba-
lhos. Os Espíritos desmaterializados pouco se preocupam com as
coisas do mundo material: sentem-se felizes por se acharem livres
das mesmas. Relativamente aos trabalhos iniciados, procuram
inspirar a outras pessoas o desejo de os concluir.
30
Vide O Livro dos Espíritos, nº 165; Revista Espírita, ano de 1858,
pág. 172: O suicídio da Samaritana; pág. 351: Um Espírito nos fune-
rais de seu corpo; Idem, ano de 1859, pág. 319: Um Espírito que não
se julga morto; Idem, ano de 1863, pág. 87: François – Simon Louvet,
du Havre.
31
Vide Revue Spirite, ano de 1861, pág. 202 : Les amis ne nous oublient
pas dans l’autre monde; Idem, ano de 1862, pág. 132, in fine e 133.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 69
32
Vide Revista Espírita, ano de 1858, pág. 16: “Mãe, aqui estou!”
Allan Kardec – O Principiante Espírita 70
33
Vide Revista Espírita, ano de 1858, pág. 87: A rainha de Ouda; pág.
145: O Espírito e os herdeiros; pág. 195: O tambor de Beresine. Idem,
ano de 1859, pág. 344: O antigo carreiro; idem, ano de 1860, pág.
325: Progrès des Esprits; idem, ano de 1861, pág. 126: Progrès d’un
Esprit pervers.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 71
34
Vide O Livro dos Espíritos, nº 558.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 73
35
Vide O Livro dos Espíritos, nº 237: Percepções, sensações e sofrimen-
tos dos Espíritos; Idem, Parte Quarta, caps. I e II, Esperanças e Con-
solações; Revista Espírita, ano de 1858, pág. 80: O assassino Lemai-
re; pág. 172: O suicídio da Samaritana; pág. 357: Sensações dos Espí-
ritos; Idem, ano de 1859, pág. 275: Pai Crepin; Idem, ano de 1860,
pág. 61: Estelle Riquier; pág. 247: Le suicidé de la rue Quincampoix;
pág. 316: Le Chátiment; pág. 383: Entrée d’un coupable dans le mon-
de des Esprits; pág. 384: Chátiment de l’égoiste; Idem, ano de 1861,
pág. 53: Suicide d’un athée; pág. 270: La peine du talion.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 74
suas penas podem ser aliviadas quando, por seu lado, coadjuva a
ação por sua boa-vontade.36
162. Em que consistem os gozos das almas felizes? Passam a
eternidade em contemplação?
– Quer a justiça que a recompensa seja proporcional ao mérito,
do mesmo modo que a punição proporcional à gravidade da falta.
Assim, há infinitos graus nos gozos da alma, desde o instante em
que entra na via do bem até o momento em que atinge a perfeição.
Consiste a felicidade dos bons Espíritos em conhecer todas as
coisas, não sentir ódio, inveja, ciúmes, ambição ou qualquer das
paixões que infelicitam os homens. Para os bons Espíritos, o amor
que os une é fonte de suprema felicidade, pois não experimentam
necessidades, nem sofrimentos, nem as angústias da vida material.
Um estado de eterna contemplação seria uma felicidade estú-
pida e monótona; seria uma ventura de egoísta e uma existência
perpetuamente inútil.
Ao contrário, a vida espiritual é uma incessante atividade pelas
missões recebidas pelos Espíritos do Ser Supremo, como seus
agentes, que são, no governo do Universo. Essas missões são pro-
porcionais ao adiantamento de cada um; seu desempenho os torna
felizes, porque lhes oferece oportunidade de serem úteis e de fazer
o bem.37
36
Vide O Livro dos Espíritos, nº 664; Revista Espírita, ano de 1859,
pág. 315: Efeitos da prece sobre os Espíritos sofredores.
37
Vide O Livro dos Espíritos, nº 558: Ocupações e Missões dos Espíri-
tos; Revue Spirite, ano de 1860, págs. 320 e 321: Les purs Esprits e
Séjour des bienheureux; Idem, ano de 1861, pág. 179: Madame
Gourdon.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 75
–0–
Allan Kardec – O Principiante Espírita 76
O meio físico
O observador que demora o olhar sobre a carta da França, ao
mesmo tempo em que projeta a mente sobre a sua história, tem
logo a atenção atraída para a cidade de Lyon. Situada na confluên-
cia do Rhodano e do Saona, é o ponto de encontro do primeiro que,
atravessando o Lago Leman, desce revolto as montanhas do Jura,
atravessa toda a Sabóia e vem unir-se às águas mansas do segundo,
vindo do sul da Lorena e cortando o Franco-Condado e a região da
Borgonha. Sua junção se dá ao pé de uma encosta abrupta do maci-
ço das Cévenes, em contraste com as planícies limitadas pelo Sao-
na e pelo Ain, afluente do Rhodano. Na confluência daquelas duas
massas líquidas está a terceira cidade da França, originária de uma
colônia fenícia ou, mais provavelmente, rhódia, – de onde o nome
do grande rio, Rhodanus, segundo a forma latina, que não apagou o
velho nome celta da região – Lugdunum – que quer dizer a colina
do sol nascente. Ao tempo da ocupação romana para aí convergi-
ram as grandes estradas; por aí passaram ou hibernaram Augusto,
Cláudio e Cararala. Incendiada, reconstruiu-a Nero, para que, mais
tarde, foco do cristianismo, sofresse a perseguição de Marco-
Aurélio e outra, mais terrível ainda, de Sétimo-Severo. Depois de
Allan Kardec – O Principiante Espírita 80
O meio social
Entretanto não passemos muito por alto: focalizaremos mais de
perto alguns aspectos da cidade e do meio social.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 81
*
Nesse ambiente passou a infância o jovem Rivail.
Lyon era uma cidade envolta na garoa, que atenua os contor-
nos e espiritualiza as formas, mas onde se agita uma população
laboriosa e realista, prática e fria, embora não infensa à beleza que
fala aos sentidos, e àquela beleza mais profunda, que as almas
eleitas sentem mas não encontram expressão material. Não é difícil
imaginar-se a influência, sobre o menino precoce, do meio lionês e
da intimidade do lar de um juiz austero, de formação severa, se-
gundo os velhos moldes hoje evanescentes.
Que motivos teriam levado o velho magistrado a mandar o fi-
lho estudar na Suíça? Falta de bons colégios na França? Idéias
próprias em relação à influência clerical no ensino local? Interesse
pelo sistema de Pestalozzi?
Allan Kardec – O Principiante Espírita 82
Estudo e trabalho
Pestalozzi estimava o jovem rivail como um filho. Teve-lhe
maior intimidade, que o adolescente soube aproveitar a tal ponto
que, aos quatorze anos, por vezes substituía o diretor na condução
dos cursos. Aprendeu praticamente várias línguas, além do conhe-
cimento clássico do grego e do latim. Com aquela idade diplomou-
se professor. Continuando os estudos, fez o seu bacharelado quatro
anos mais tarde. Por nos faltarem dados seguros, não diremos,
como outros biógrafos, que foi o bacharelado em ciências e letras,
posto nos inclinemos pela afirmativa. É que o bacharelado foi
instituído na França em 1808, nas faculdades de ciências e letras,
como sanção de estudos secundários. Inicialmente, porém, o bacha-
relando era puramente literário; em 1830 e 1840 sofreu o sistema
Allan Kardec – O Principiante Espírita 83
*
Entre os anos de 1824 e 1849 publicou o dr. Rivail, entre ou-
tras, as seguintes obras:
I - Curso Prático e Teórico de Aritmética (2 volumes, se-
gundo o método Pestalozzi);
II - Plano para o melhoramento da Instrução Pública;
III - Gramática Clássica da Língua Francesa;
IV - Qual o sistema de estudos mais adequado à época?
V - Manual dos exames para certificado de capacidade.
VI - Soluções racionais de perguntas e problemas de Aritmé-
tica e Geometria;
VII - Catecismo Gramatical da Língua Francesa;
VIII - Programa dos Cursos ordinários de Química, Física, As-
tronomia e Fisiologia;
IX - Pontos para os exames na Municipalidade e na Sorbon-
ne;
X - Instruções sobre as dificuldades ortográficas.
Na sua folha de serviços à mocidade de seu tempo está a re-
gência das seguintes matérias, em cursos parcialmente gratuitos –
repetimo-lo –, onde, de par com os seus conhecimentos enciclopé-
dicos, patenteia-se o esforço em bem servir os seus semelhantes:
Matemática, Física, Química, Astronomia, Retórica, Anatomia
Comparada, Fisiologia e Língua Francesa. Falava corretamente
inglês, alemão, holandês, espanhol e italiano e era grande conhece-
dor do grego e do latim.
Allan Kardec – O Principiante Espírita 87
Magnetismo
Cabe aqui destacar, em poucas linhas, um aspecto da cultura
do sr. Allan Kardec: os seus estudos sobre magnetismo e hipnotis-
mo, matérias que lhe foram de valioso auxílio nos estudos iniciais
do Espiritismo e que não deveriam desconhecer todos quantos se
aplicam a trabalhos práticos e ao manejo de médiuns.
Allan Kardec interessou-se pelo magnetismo ainda nos bancos
acadêmicos. Naquela época a nova ciência apaixonava e dividia os
estudiosos: de um lado a chamada ciência oficial, a lhe negar foros
de cidade; do outro, homens espiritualmente emancipados, a lhe
proclamar os fatos. Estes últimos constituíram uma sociedade – a
Sociedade dos Magnetistas da França –, mais tarde cindida em
duas entidades, por divergências de interpretação dos fenômenos.
Kardec pertencia à primeira, mas era festejado por ambas.
*
Torna-se aqui necessária uma ligeira digressão histórica, para
que melhor se compreendam as ligações do magnetismo e do hip-
notismo com o Espiritismo e não se confundam aqueles com as
exibições charlatanescas a tanto por cabeça.
Sem remontar às práticas esotéricas, que são de todos os tem-
pos e lugares, o magnetismo animal dos tempos modernos parece
ter surgido com Paracelso, tendo sido aceito e praticado por Bur-
graeve, Van Helmont, o Padre Kircher e, principalmente, por
Mesmer que, pelas alturas do ano de 1779, lhe deu grande incre-
mento e chegou a lhe emprestar o próprio nome; mesmerismo era
como então se chamava o magnetismo.
Mas, que vinha a ser o chamado magnetismo animal?
Pensava-se que fosse um fluido que penetrava os corpos ani-
mados, dando-lhes propriedades particulares. Mesmer desenvolveu
Allan Kardec – O Principiante Espírita 88
*
No momento assistia-se, na França, a falência das filosofias
espiritualistas. A elas se opunham as correntes materialistas – com
o marxismo à frente – e, num termo médio, o agnosticismo da
escola positivista, fundada por Augusto Comte.
O genial Comte havia dado uma nova ordenação aos conheci-
mentos científicos; tinha fundado uma nova ciência – a Sociologia.
Sua obra, muito inteiriça, constituía a Filosofia Positiva; seu ponto
mais fraco é a religião tirada de seus princípios gerais. Mas Comte
fora repetidor da Escola Politécnica, depois examinador; dera
cursos populares de Astronomia. Tudo isto lhe granjeara um certo
prestígio nos meios cultos. A falta de síntese nos conhecimentos
científicos deixava as classes mais altas em caótico estado mental,
não sendo difícil encontrar grandes figuras positivistas em ciência,
materialistas em política e católicas ou protestantes em religião.
Poucos abarcavam essas coisas em visão panorâmica; e quan-
do os percebiam davam de ombros, justificados de seu silêncio e de
sua acomodação pelo motivo de se não sentirem culpados.
As mesas girantes
Estavam as coisas nesse pé quando os fenômenos espiríticos,
ditos das mesas girantes e falantes, iniciados “oficialmente” nos
Estados Unidos, com as Irmãs Fox e pouco depois transplantados
para a Europa, adquiriram foros de cidade. Manda a verdade, entre-
tanto, se diga que antes mesmo de 1848, já na França, na Alemanha
e na Inglaterra se haviam registrado os fenômenos de efeitos físicos
e outros, inclusive os intelectuais – mesmo sem recorrer às vastas
referências, posto que discretas, encontradas na obra escrita, que
chegou até os nossos dias, dos melhores historiadores e poetas
latinos, bem como da tradição druídica. Allan Kardec tratou do
assunto nas páginas luminosas da Revue Spirite, muito embora não
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O Codificador
Foi em 1854 que Allan Kardec tomou conhecimento das mesas
girantes e falantes, através de uma conversa com o sr. Fortier, seu
colega na Sociedade de Magnetistas. Ao ser informado de que,
magnetizadas, as mesas podiam mover-se e davam respostas às
nossas perguntas, a resposta de Kardec foi de absoluta descrença,
desde que a mesa não possuía nervos nem cérebro, nem podia
tornar-se sonâmbula.
Pouco depois um outro magnetista, o sr. Carlotti, lhe fez minu-
ciosos relatos de experiência a que assistira, em conseqüência do
que pôde ele dispor-se a assistir às primeiras sessões práticas, em
maio de 1855, em casa da sra. Roger, em presença do já citado
fortier, do sr. Patier e da sra. Plainemaison. Deste último cavalheiro
Allan Kardec – O Principiante Espírita 94
*
Allan Kardec deixou muita coisa inédita, mas também deixou
um plano de trabalho, conforme ficamos sabendo pelo que, poste-
riormente, se publicou num volume de Obras Póstumas. Nesse
volume há uma ligeira biografia do Codificador, que foi publicada
na Revista Espírita de maio de 1869 e o célebre discurso proferido
pelo astrônomo Camille Flammarion à beira de seu túmulo.
Entretanto a leitura do volume nos deixa a impressão de que
muita coisa ficaria ainda desconhecida do público. O próprio título
do livro, no plural, nos deixa supor que outros volumes iriam apa-
recer.
Por que não vieram?
Mistério.
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Amigo(a) Leitor(a),