Vayicrá
Vayicrá
Vayicrá
Vayicrá 1:1-5:26
Este Shabat assinala o início da leitura do terceiro livro da Torá, Sêfer Vayicrá, que trata
principalmente dos serviços e responsabilidades dos Cohanim. Esta (e a próxima) Porção
Semanal concentram-se em muitas das oferendas a serem levadas ao recém-construído
Mishcan, Tabernáculo.
A Parashá Vayicrá (Vayicrá 1:1-5:26) começa com D'us chamando Moshê para o Mishcan,
onde ele receberá as muitas mitsvot relevantes a serem definitivamente passadas ao povo
judeu. A primeira metade da Porção da Torá descreve os vários corbanot, sacrifícios, opcionais
trazidos por indivíduos.
Podem ser classificados em três categorias gerais, cada qual dividida em várias graduações de
tamanho e custo: o corban olá (oferenda de elevação) que é completamente consumido sobre
o altar; o corban minchá (oferenda de refeição) a qual, por causa de seu conteúdo, é
geralmente trazido por pessoas de poucos meios; e o corban shelamim (oferenda de paz)
parcialmente queimado sobre o altar, com o restante dividido entre os donos e os Cohanim.
Mensagem da Parashá
De todos os sacrifícios introduzidos na Porção desta semana da Torá, o único que não requer
o sacrifício de um animal é o corban minchá, uma oferenda de farinha misturada com óleo e
incenso trazido como uma alternativa de menor custo que as demais, entre as quais as
oferendas de novilho ou ave. Mesmo assim, quando a Torá descreve as pessoas que levam
cada uma das várias oferendas ao Templo, a única que é destacada e identificada como sendo
uma "nefesh - alma" é a pessoa que traz o simples corban minchá.
O Talmud (Tratado Menachot 104b) desenvolve: "Por que o corban minchá recebe destaque e
seu portador é chamado de nefesh, alma? D'us declara: 'Quem geralmente oferece corban
minchá? O pobre. Considero seu ato como se ele sacrificasse sua alma por inteiro.' "
Pode-se deduzir que para alguém que está empobrecido, o ato de separar-se de boa farinha,
que de outra forma poderia alimentá-lo e aplacar sua fome, é um ato de sacrifício ainda maior
que aquele do homem rico doando um animal de alto preço. Para o pobre, a farinha é mais que
uma grande parte de suas posses: é sua própria vida. A Torá está nos ensinando que não é o
tamanho do presente que determina a importância do sacrifício; pelo contrário, a importância
está nas intenções do doador e nas circunstâncias.
Quando Yaacov despachou seus filhos para encontrar o misterioso governante do Egito,
enviou com eles um presente. Este tributo era de fato pequeno - "um pouco de bálsamo, cera,
lótus, pistache e amêndoas" - mas a importância não estava no tamanho. Estes itens haviam
sido cuidadosamente considerados e especialmente selecionados. Eram iguarias não
disponíveis no Egito àquela época. Sua mensagem era de cuidadoso esmero e consciencioso
interesse. E de forma bem apropriada, Yossef chamou o presente de "um minchá".
De todas as nossas preces diárias, a mais curta é Minchá, o serviço vespertino. Não contém o
longo segmento de introdução nem o de encerramento do serviço matinal de Shacharit, nem as
preces Shemá e Barchú do serviço noturno de Maariv.
Basicamente, é composto pelo Shemonê Esrê, mesmo assim o serviço vespertino é o único
que chamamos de "Minchá". Por quê? Porque, por mais "pobre" como esse serviço possa
parecer, é o único que ocorre em meio a nosso dia de trabalho; é o único que nos pede para
deixarmos de lado aquilo que estamos fazendo e nos lembremos de que somos apenas súditos
de nosso Mestre Todo Poderoso.
Minchá é o único serviço de prece que nos pede para desligar de nossa inclinação mundana e
nos retirar para um súbito e total encontro com o Divino. Pode levar apenas quinze minutos,
mas é um Minchá. Lembra-nos da motivação necessária para doações de todos os tipos, e que
não é o tamanho que importa; o significado e as intenções são igualmente importantes.
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Vayicrá
Por que as crianças judias começam a aprender a Torá com Parashat Vayicrá?
Vayicrá trata de corbanot (sacrifícios). Nossos sábios explicam que por esta razão é apropriado
que as crianças pequenas a aprendam primeiro. Quando um judeu estuda as leis de corbanot,
D'us considera como se ele tivesse de fato oferecido um corban. As crianças pequenas ainda
são puras, livres de pecados. Quando elas aprendem sobre corbanot, D'us considera como se
elas tivessem trazido um corban para D'us no mizbêach (altar). Já que o melhor tipo de corban
é aquele oferecido por um tsadic (um justo), D'us aprecia mais os corbanot das crianças, pois
elas são como os tsadikim, livres de pecados.
A Parashá Vayicrá começa quando o livro de Shemot termina. Talvez você ainda se lembre
que depois que Moshê levantou o Mishcan, as nuvens de D'us rodearam o Mishcan por todos
os lados e também por cima. A Shechiná (Presença Divina) repousou dentro do Mishcan.
Moshê ficou fora do Mishcan.
"Eu não devo entrar sem a permissão de D'us", pensou. "O Mishcan é ainda mais sagrado do
que o monte Sinai quando D'us apareceu para falar com o povo judeu. Eu não obtive
permissão de subir a montanha até que D'us me chamou. Então, com certeza não tenho a
permissão de entrar no Mishcan."
De repente Moshê escutou uma voz poderosa chamando-o, "Moshê, Moshê!" Era a voz de
D'us. Qualquer outra pessoa teria morrido pelo choque de ter escutado a poderosa voz de D'us.
Apenas Moshê podia suportá-la.
"Moshê", ordenou D'us, "Eu quero que fale com o povo judeu palavras que façam com que
aprimorem seus caminhos. Diga-lhes que Minha Shechiná repousa no Mishcan devido ao meu
amor pelo povo judeu.
"Ensine Benê Yisrael as leis de corbanot. Eles construíram o Mishcan, mas não sabem como
me servir através dele. Só se eles oferecerem corbanot é que a Minha Shechiná continuará a
repousar no Mishcan."
D'us honrou Moshê mais do que qualquer outro judeu. Apenas Moshê foi convidado por D'us a
entrar no Mishcan e ouvir Suas palavras, ninguém mais. A razão deste procedimento é que
Moshê sempre se sentiu humilde e pouco importante. Ele não perseguia honras, ao contrário,
fugia das honrarias e elogios.
Nossos sábios nos ensinaram: "Se uma pessoa foge da honra, a honra irá persegui-la. Porém,
se a pessoa persegue a honra, a honra fugirá dela." Em outras palavras, uma pessoa que é
modesta e se sente humilde, eventualmente irá receber de D'us a honra que merece; mas
aquela que está cheia de orgulho, no final não será honrada. Moshê foi muito honrado por D'us,
já que ele nunca se considerou grandioso ou importante.
Será que Moshê não sabia que ele era de fato a pessoa mais importante de todo o povo judeu?
Afinal, foi ele quem tirou Benê Israel do Egito, cruzou o mar Vermelho e buscou a Torá! Ele não
sabia que era uma pessoa especial?
Numa cidadezinha viviam alguns judeus. Eles guardavam o Shabat, comiam casher e rezavam
num minyan. Só havia um problema, a cidade não tinha uma Yeshivá, então eles mal sabiam
ler o hebraico. Apenas um homem entre eles havia aprendido Torá de seu pai. Ele sabia ler e
traduzir o Chumash e Mishnayot e sabia ler halachot (leis) no Kitsur Shulchan Aruch (um
resumo das leis judaicas). Já que ele sabia mais do que os outros, ele fazia o papel de Rabino
da comunidade. Era muito honrado e respeitado por todos que pensavam que tatava-se de um
grande sábio. Com o passar do tempo, ele começou a se considerar um conhecedor de Torá
muito especial e importante.
Um dia, um judeu de uma comunidade afastada veio visitar esta cidadezinha. Ele sofria de uma
doença que tornava a respiração difícil, e seu médico havia recomendado o ar puro daquela
cidade. O homem que considerava-se um Rabino convidou-o a ficar em sua casa.
O "Rav" observou como este judeu fazia netilat yadáyim (ablução das mãos feita antes de fazer
uma refeição com pão) com todo cuidado, como ele pronunciava a bênção pausadamente e
em voz alta, refletindo sobre as palavras antes de pronunciá-las e como depois das refeições
fazia Bircat Hamazon, palavra por palavra. Observou como este judeu rezava com cuidado e
como se concentrava sobre o significado das palavras que estava falando. De repente, o "Rav"
se sentiu envergonhado. Percebeu como era "pobre" a sua própria reza e como ele fazia as
mitsvot sem cuidado. Quanto mais ele observava e estudava os modos do visitante, mais
humilde se tornava. O visitante cumpria leis que os judeus daquela cidade não cumpriam
corretamente. Ele tinha conhecimentos suficientes para mostrar a eles que seus tefilin e
mezuzot não eram casher. Ele também motivou os judeus a estudarem Torá diariamente.
Quando o "Rav" se conscientizou da sua ignorância, tornou-se cada vez mais humilde.
A chave da parábola
Moshê nunca se orgulhava de si próprio, pois quando subiu ao Monte Sinai viu anjos perfeitos
e sagrados que serviam D'us dia e noite. Teve também uma visão da grandeza de D'us.
Após Moshê ter visto os anjos, sentiu-se envergonhado. Pensou, "Não sirvo D'us tão bem
quanto os anjos, nem mesmo um milésimo do que eles servem. Preciso me
aprimorar!"Portanto, quando Moshê via outros judeus que faziam coisas erradas ou que não
faziam o melhor que podiam para servir D'us, ele pensava, "Não são culpados, pois não viram
a glória de D'us nos céus. Eu vi a grandeza de D'us, portanto D'us espera de mim mais do que
de qualquer um!" E assim Moshê sempre se sentia humilde.
Se você procurar na Torá a primeira palavra da parashá, Vayicrá, que quer dizer que Ele (D'us)
chamou Moshê, você verá que a letra alef está escrita num tamanho menor do que as outras.
Porque será?
Moshê era muito humilde. Quando D'us lhe disse para escrever "Vayicrá", Moshê respondeu:
"Eu devo escrever que o Senhor chamou apenas a mim para o Mishcan? Me parece muito
arrogante. Me permita retirar a letra alef do fim da palavra Vayicrá, assim a palavra seria
vayiker, que quer dizer que o Senhor me chamou por acaso."
D'us ordenou a Moshê: "Não, você deve adicionar a letra alef à palavra. No entanto, permitirei
que você a escreva menor do que as outras letras".
Desta forma, o alef pequeno nos lembra quão humilde era Moshê.
Sete pessoas ofereceram animais como corbanot antes mesmo do Mishcan existir.
1. Adam - D'us criou Adam no sexto dia da criação. Naquele dia, Adam comeu da fruta
proibida da árvore do conhecimento. Mesmo assim, D'us permitiu que permanecesse
no Gan Eden até o final do Shabat. Naquele Shabat, D'us fez com que uma luz
brilhasse no Gan Eden até mesmo de noite. Apenas no término do Shabat, quando
Adam foi expulso, é que percebeu a escuridão da noite. Adam não sabia o que era a
noite. "Talvez D'us trouxe a escuridão porque pequei", pensou aterrorizado. A noite
passou e na manhã seguinte o sol nasceu e banhou o mundo com sua luz brilhante.
Como Adam ficou feliz: "Após a noite, D'us faz com que o sol venha e traga luz!" -
exclamou Adam. Adam ficou aliviado e queria demonstrar o quanto estava arrependido
de ter comido do fruto proibido. Então construiu um mizbêach (altar) e ofereceu um boi
sobre ele. Este foi o primeiro corban oferecido.
2. Hêvel - O filho de Adam, Hêvel, queria dar um presente para D'us. Ele então ofereceu
o mais belo de seus carneiros sobre o mizbêach que havia sido construído pelo seu
pai.
3. Nôach - Ao sair da arca, Nôach ofereceu corbanot para agradecer D'us por ter
permitido que ele e sua família sobrevivessem ao dilúvio e por ter a chance de construir
um novo mundo. D'us apreciou os corbanot de Nôach e prometeu "Nunca trarei outro
dilúvio sobre a terra".
4. Avraham - A Torá nos conta que Avraham construiu quatro altares e ofereceu corbanot
sobre eles.
5. Yitschac - construiu um altar.
6. Yaacov construiu dois altares.
7. Sob a liderança de Moshê, corbanot eram oferecidos mesmo antes do Mishcan ter sido
construído. Moshê armou um Mizbêach depois da batalha contra Amalec. D'us também
lhe disse para ordenar aos primogênitos de Benê Israel que oferecessem Corbanot ao
pé do Monte Sinai antes da Outorga da Torá.
Nossos antepassados conheciam as leis da Torá mesmo antes delas terem sido ordenadas.
Por isso, ofereciam sobre seus altares somente animais que eram casher, permitidos, para
corbanot.
Um judeu que comete um pecado contra D'us, o Rei dos reis, merece morrer. O anjo acusador
no céu o incrimina perante D'us. Mas D'us, em sua misericórdia,responde ao anjo acusador:
"Aceitarei a morte de um animal no lugar do pecador."
Quando a pessoa que pecou põe ambas as mãos sobre a cabeça do animal e diz: "Fiz este e
mais este pecado e me arrependo por isso" - pensa - "mereço realmente morrer por ter pecado
perante D'us. Porém, D'us misericordiosamente aceita a morte do animal no lugar da minha."
Quando o animal é abatido, pensa: "Mereço ser abatido." Quando o animal é queimado, pensa:
"Mereço ser queimado."Quando D'us vê como o pecador está realmente arrependido, D'us o
perdoa e aceita a morte do animal ao invés da sua.
Nenhum animal selvagem, mesmo que seja casher, pode ser sacrificado sobre o mizbêach. De
todos os animais, D'us escolheu apenas três tipos: boi e vaca, ovelha e carneiro, cabra e bode.
Apenas dois tipos de pássaros são permitidos: pombos e rolas. Uma das razões pelas quais
D'us escolheu apenas os animais e aves domésticos acima citados é que eles são mansos.
Sabemos como um carneiro é pacífico e como um pombo é manso. Embora sejam atacados,
nunca revidam.
Nossos sábios ensinam: "É melhor ser insultado que insultar os outros; é melhor ser atacado
que atacar os outros." Não faz parte do sistema judaico atacar os outros. Para mostrar que
D'us aprecia aqueles que são pacíficos, escolheu animais e pássaros mansos para o
mizbêach.
Muitos animais foram criados por D'us com boas midot (traços de caráter), por isso devemos
aprender a imitar seu comportamento. Por exemplo: gatos são asseados ; formigas são
honestas; pombos são leais.
O Midrash nos conta sobre uma colônia de formigas na qual todas as formigas estavam
recolhendo sementes de trigo. Uma das formigas acidentalmente deixou cair uma semente e
pisou em cima. Cada formiga que passava marchando farejava a semente, e podia sentir pelo
cheiro que não era sua. Centenas de formigas passaram por ali, mas nenhuma delas pegou a
semente que não lhe pertencia. Finalmente, a formiga que tinha deixado cair a semente voltou
e a recolheu novamente.
Pombos são fiéis. Macho e fêmea nunca se separam para se juntarem com um pássaro
estranho. Se pensarmos a respeito, certamente acharemos mais exemplos de animais que nos
ensinam "bons traços de caráter" ou hábitos saudáveis.
Quando um judeu decide oferecer uma ovelha como corban, vai até seu cercado e olha em
volta. Existem todos os tipos de ovelhas neste redil - algumas saudáveis e fortes, algumas
doentes e fracas, outras grandes e ainda algumas pequenas. Qual deveria ser o critério para a
escolha do corban?
Primeiro a pessoa deveria examinar o animal para assegurar-se de que não possui nenhum
defeito físico, pois neste caso não seria aceito para corban. E depois procurar o animal que lhe
parecesse o melhor entre todos. Esta é a forma de servir a D'us. O mesmo raciocínio se aplica
ao cumprirmos qualquer mitsvá da Torá.
Os primeiros três tipos de corbanot podem ser trazidos por um judeu por sua própria vontade
como um presente a D'us. Os dois últimos tipos de corbanot devem ser oferecidos por um
judeu após cometer uma averá (pecado). D'us fica especialmente satisfeito com os corbanot
que são oferecidos livremente, não por causa de um pecado. Eis porquê Ele o menciona em
primeiro lugar na Torá.
O sacrifício de olah
Um sacrifício de animal é, sem dúvida, muito mais dispendioso que o de uma ave. Se um judeu
deseja doar um olah a D'us mas não pode se dar ao luxo de comprar ou de abrir mão de um
animal, pode ao invés disso doar uma das aves casher, um pombo ou uma rola. D'us ordenou
que as aves deveriam ser queimadas sobre o mizbêach ainda com as penas. Não devem ser
despenadas. Você alguma vez já sentiu o cheiro de penas queimadas? O odor é tão
desagradável que a pessoa tem vontade de sair correndo. Então, por que D'us ordena que as
aves sejam queimadas sobre o mizbêach desta forma?
Porque se a ave fosse oferecida sobre o mizbêach sem as penas, pareceria muito pequena e
sem importância. Uma pessoa que traz uma ave para corban geralmente é pobre. D'us queria
que o corban do homem pobre parecesse tão grande e valioso quanto possível. Para D'us, o
corban do homem pobre é tão precioso quanto a oferenda dispendiosa do homem de posses.
De fato, a Torá chama o cheiro da oferenda de ave "um odor agradável" (mesmo se for
repulsivo), para demonstrar o quão feliz D'us se sente com ela. Nossos sábios ensinam: "Não é
importante a D'us se uma pessoa é capaz de oferecer um corban caro ou barato. O que Ele
deseja é que a pessoa traga o corban leshem shamayim, por amor a D'us."
D'us diz: "Um judeu que é rico deveria oferecer um animal como um sacrifício de olah. Aquele
que não possa adquirir um animal, pode oferecer um pássaro. E um judeu que é tão pobre que
não possa doar um pássaro, pode no lugar deste trazer óleo e farinha ao Bet Hamicdash. Parte
da massa feita com esses ingredientes será queimada sobre o mizbêach."
A oferenda de farinha era chamada minchá. A palavra "minchá" significa um presente. Embora
o presente do homem pobre a D'us custe muito menos que o animal ou a ave ofertados pelo
homem mais rico, D'us o preza muito. Pois D'us sabe que o homem pobre poderia ter usado
aquela farinha para assar pão para si mesmo, e mesmo assim ofertou seu alimento como
presente para D'us. Ele pode até mesmo passar fome por estar oferecendo sua farinha como
minchá. Por isso, o Criador diz: "O corban minchá é tão precioso para Mim como se o homem
pobre tivesse oferecido sua própria vida sobre o mizbêach! "
D'us deseja que o homem pobre pense: "Embora eu não tenha dinheiro para um corban
animal, mesmo assim posso ofertar um corban do tipo mais sagrado." Por isso, D'us classifica
o minchá entre os mais sagrados corbanot.
Vejamos agora o quanto D'us valoriza o presente de um homem pobre, mesmo que não tenha
grande valor monetário.
Uma história:
Rabi Chanina ben Dosa vivia à época do Segundo Bet Hamicdash. Todos seus vizinhos e
amigos doavam corbanot freqüentemente ao Templo Sagrado. Um deles prometia: "Trarei um
corban olah para D'us !" Outro faria um voto: "Ofertarei um corban shelamim a D'us !"
Rabi Chanina desejava de todo o coração oferecer um corban a D'us. Mas era totalmente
desprovido de posses, pobre demais para adquirir um animal ou mesmo uma ave. E nem
sequer tinha dinheiro suficiente para comprar farinha para um corban minchá. A pobreza na
casa de Rabi Chanina era muito grande.
Certa vez, quando Rabi Chanina estava caminhando pelos arredores da cidade, percebeu uma
enorme pedra. Aqui estava um presente para D'us que não custava nenhum dinheiro! Ao invés
disso, ele empregaria tempo e esforço. Rabi Chanina conseguiu ferramentas emprestadas para
polir a pedra e dar-lhe polimento. Depois desenhou e pintou lindos motivos sobre ela, de forma
a transformá-la numa obra de arte. A pedra daria um lindo ornamento para o Bet Hamicdash.
Mas a pedra era pesada demais para que a levantasse sozinho. Olhou à sua volta procurando
pessoas que se prontificassem a carregá-la até Yerushaláyim. Rabi Chanina encontrou quatro
operários.
"Quanto cobrarão para levar esta pedra até Yerushaláyim?" perguntou-lhes Rabi Chanina,
apontando para a pedra.
"Cinqüenta sela'im!" Rabi Chanina balançou a cabeça. "Não tenho tanto dinheiro agora
comigo."
D'us não queria que Rabi Chanina ficasse aflito por ter prometido levar a pedra a Yerushaláyim
e agora não podia manter sua promessa. Por isso, D'us enviou cinco anjos com a aparência de
trabalhadores comuns. Rabi Chanina avistou-os caminhando pela estrada e fez-lhes a mesma
pergunta que havia feito aos primeiros cinco homens.
"Carregaremos a pedra até Yerushaláyim," disseram, "se nos der cinco sela'im. Você também
deve nos ajudar a levantá-la."
Rabi Chanina concordou. Levantou a pedra junto com os cinco homens e - milagre dos
milagres - um momento depois eles todos estavam na cidade de Yerushaláyim! Rabi Chanina
pegou cinco sela'im para pagar aos cinco homens, mas eles haviam sumido! Perplexo, Rabi
Chanina levou esta pedra ornamental como uma oferenda ao Templo sagrado. Também
contou aos juízes do Grande Sanhedrin sobre os extraordinários fatos.
"Cremos," disseram-lhe os juízes do Sanhedrin, "que aqueles não eram homens, mas anjos!"
Como Rabi Chanina não desejava guardar os cinco sela'im que havia prometido pagar àqueles
homens, deu-os aos sábios para que o distribuíssem para tsedacá.
Vemos por esta história que D'us valoriza um presente no qual a pessoa coloca intenção e
esforço. Já que D'us tomou conhecimento do grande desejo de Rabi Chanina de dar-Lhe um
presente, Ele realizou milagres para ajudá-lo a levar a pedra até Yerushaláyim. Por outro lado,
D'us não perdoa um pecador se este limita-se a comprar um corban caro para o mizbêach, mas
não se arrepende e refina seu comportamento. Quando um judeu traz uma oferenda, D'us
observa-o para ver suas verdadeiras intenções.
Se você salpicar bastante sal sobre a carne ou vegetais, serão preservados por um longo
tempo. Sal nunca se estraga. D'us nos ordenou colocar sal sobre nossos corbanot para mostrar
que os corbanot são um pacto permanente entre D'us e Benê Yisrael. Mesmo agora, quando
não temos mais um Templo Sagrado e não podemos oferecer corbanot, D'us perdoa nossos
pecados através de nosso estudo sobre as leis dos corbanot. E quando o terceiro Bet
Hamicdash for construído, novamente ofereceremos sacrifícios.
O que fazemos hoje em dia para nos lembrar da mitsvá de salgar os corbanot? Colocamos o
sal sobre a mesa quando fazemos uma refeição, porque nossa mesa é semelhante a um
mizbêach. O Midrash acrescenta outra razão para salgar os corbanot. No segundo dia da
criação, D'us dividiu as águas. À uma parte delas, ordenou: "Fiquem no céu!" e à outra parte
ordenou: "Fiquem na terra!" As águas na terra reclamaram: "Preferimos ficar no céu, perto de
Ti, D'us !" Então D'us consolou as águas na terra: "Usarei as águas da terra para Meu serviço
no Bet Hamicdash. Sal retirado do mar deve ser salpicado sobre todos os corbanot."
Até agora discutimos dois tipos de corbanot: o olah e o minchá. Em seguida a Torá explica as
leis do corban shelamim: a oferenda de paz.
Quando um judeu oferece um shelamim? Quando está feliz e deseja comer carne com a
família e os amigos - mas também quer tornar sua refeição sagrada ao compartilhá-la com D'us
e com Seus cohanim. Se alguém oferece um olah ou um minchá, não tem permissão de comer
nenhuma parte do corban. Então pode desejar oferecer um boi ou uma vaca, um carneiro ou
uma ovelha, ou ainda uma cabra como um corban shelamim.
Uma das razões pelas quais este corban é chamado shelamim é que traz shalom (paz), a
todos que estão envolvidos nele. O dono compartilhou sua felicidade com os cohanim, e ele e
sua família consomem a maior parte. Como é dividido por todos, faz com que todos eles vivam
em paz e amizade entre si.
Nossos sábios nos dizem que havia dez milagres surpreendentes que costumavam acontecer
no Bet Hamicdash. Aqui estão dois deles:
A carne dos corbanot nem sempre era queimada ou comida prontamente. Às vezes havia
tantos sacrifícios olahs prontos para serem queimados sobre o mizbêach que partes dos
corbanot esperavam sua vez sobre o mizbêach até que fossem queimados. O mizbêach ficava
em um pátio aberto sem telhado. Geralmente carne crua que é deixada ao ar livre,
especialmente em dias quentes, começa a apodrecer. Mas isto nunca aconteceu com os
corbanot. Os pedaços de carne sobre o mizbêach sempre permaneciam frescos. A mesma
coisa acontecia com os corbanot como shelamim, que o dono tinha permissão de comer dois
dias após abatê-los. Uma família que pretendesse comer a carne shelamim apenas no
segundo dia após abater o corban não precisava se preocupar que a carne fosse se estragar.
Ela sempre ficava fresca até que a comessem.
Um outro milagre era a ausência de moscas na parte da Azará onde os corbanot eram
enxaguados após o abate. Normalmente, sangue e carne atraem moscas aos milhares. Mas a
kedushá, santidade, de um corban era tão especial que nem sequer uma única mosca jamais
tocou a carne após o abate.
Uma história:
Rabi El'azar, juntamente com outros sábios da Torá, estava viajando para a cidade de Lud.
Perceberam um judeu carregando três hadassim, galhos de murta.
"Eu os uso após o fim do Shabat," replicou o judeu. "No Shabat, cada judeu recebe de D'us
uma alma extra, uma medida extra de santidade, por causa da grandeza do Shabat. Quando o
Shabat termina, a alma adicional se retira e ele sente-se triste. Para alegrar meu coração,
cheiro esses hadassim após o término do Shabat." (Esta é a razão pela qual cheiramos
bessamim, especiarias doces, após o Shabat.)
Quando Rabi El'azar ouviu estas palavras, explicou: "Assim como o odor dos hadassim
alegram o coração de uma pessoa, assim o cheiro delicioso dos corbanot faz D'us feliz, e então
Ele abençoa o mundo."
A Torá nos relata que D'us fica satisfeito com o odor agradável dos corbanot. Mas obviamente
D'us não precisa do prazer de nossos corbanot. Então, o que D'us aprecia? O fato de poder
abençoar-nos quando fazemos a avodá (serviço).
Cada tipo de planta ou animal oferecido sobre o mizbêach traz uma bênção às plantas ou aos
animais daquela espécie.Por causa das oferendas de minchá e as outras oferendas de trigo
trazidas ao mizbêach, fazendeiros judeus costumavam plantar apenas um pouco de trigo e
mesmo assim tinham colheitas abundantes. Porém, após o Bet Hamicdash ser destruído e
oferendas não mais serem trazidas ao mizbêach, em um ano quando D'us estava desgostoso
com o povo judeu, um fazendeiro colheria ainda menos do que havia plantado.
As azeitonas e uvas eram de tamanho gigante, porque azeite e vinho eram usados no Bet
Hamicdash. Enquanto o Bet Hamicdash existia, os animais nas fazendas costumavam
aumentar por causa dos sacrifícios diários de animais oferecidos no mizbêach. Quando os
corbanot cessaram, os animais não mais se reproduziram da mesma forma, com a mesma
velocidade.
Quando Mashiach vier e D'us reestabelecer o Bet Hamicdash, todas estas bênçãos retornarão
ao mundo mais uma vez.
top
A Parashá Tsav (Vayicrá 6:1:36) começa com D'us continuando a ensinar Moshê muitas das
várias leis relativas ao serviço no Mishcan, Santuário. Entretanto, enquanto a Porção da
semana passada descreveu os corbanot, sacrifícios, da perspectiva do doador, nesta semana
a Torá concentra-se mais diretamente nos Cohanim, fornecendo mais detalhes sobre seu
serviço.
Após descrever primeiro a manutenção do fogo que ardia sobre o altar, a Torá discute em
detalhes os vários tipos de corbanot que Aharon, seus filhos e as gerações seguintes de
Cohanim estariam oferecendo. As oferendas deveriam ser trazidas com as intenções
apropriadas, e comidas em um estado de pureza espiritual.
Mensagem da Parashá
Corpo e Alma
Por Rabi Shimon Wiggins
Rashi cita o Midrash, enfatizando que a palavra hebraica "tsav" denota urgência na ação no
presente e no futuro. Por que razão a mitsvá requer linguagem tão forte para assegurar seu
cumprimento pelas futuras gerações, enquanto tal ênfase não é utilizada para a maioria das
mitsvot da Torá?
A chave para resolver este mistério está na declaração seguinte de Rashi – a Torá usa a
palavra "tsav" quando uma perda monetária está envolvida no cumprimento da mitsvá. Em
nosso caso, é uma obrigação financeira para a nação judaica oferecer o corban duas vezes ao
dia. Portanto, a Torá usa a palavra "tsav" para cobrar-nos fortemente o cumprimento desta
mitsvá, apesar da perda monetária. Mas será o prejuízo financeiro realmente tão grande?
Afinal, toda a nação judaica compartilha da obrigação de trazer as oferendas diárias. Não
existem outras mitsvot que resultem em uma perda financeira ainda maior?
Rabi Shimon Schwab oferece uma análise esclarecedora do relacionamento da nação judaica
com os corbanot. Há dois aspectos relativos aos sacrifícios: o primeiro é o animal físico que
está sendo oferecido a D'us, enquanto que o segundo aspecto é a intenção da pessoa que traz
o corban.
Estes dois aspectos não possuem valor igual. Aos olhos de D'us, o aspecto fundamental de um
sacrifício é a intenção, o motivo, e a atitude da pessoa que o oferece; o componente físico é de
importância secundária. Através da história, tem sido um desafio para o homem combinar
adequadamente estes dois aspectos.
Superestimar o aspecto físico dos Corbanot foi o erro da nação judaica durante o período do
Primeiro Templo. Numerosos versículos nos Profetas reprovam a nação judaica por
simplesmente trazer animais, sem nenhuma intenção sincera de aproximar-se do Divino.
Entretanto, mais tarde durante o período do Segundo Templo, ocorreu exatamente o oposto. A
nação judaica ignorou por completo o aspecto físico dos Corbanot. Argumentaram que se o
aspecto essencial de um sacrifício é crescer espiritualmente, por que então incomodar-se com
o aspecto físico. É realmente importante se o animal não vem da melhor parte do rebanho?
Uma vez mais, a nação judaica é reprovada pelos Profetas. De fato, a intenção da pessoa é
fator essencial quando traz um sacrifício. Mas não se pode esquecer do aspecto físico. Como
seres humanos compostos de corpo e alma, devemos servir a D'us tanto no nível físico como
no espiritual. Assim como não podemos ignorar a matéria que compõe o nosso ser, também
não podemos ignorar o aspecto físico de servir a D'us.
Agora podemos entender a preocupação da Torá quanto a haver uma perda monetária a
respeito dos Corbanot, especialmente no que tange ao corban olá. Como um corban olá é
completamente queimado sobre o altar, e sabendo-se que D'us está essencialmente
preocupado com a intenção da pessoa, poder-se-ia facilmente deduzir que o aspecto físico não
importa, precipitando um desejo de limitar o custo financeiro. Portanto, a Torá enfatiza a
palavra "tsav – ordem" a qual denota urgência agora e para as futuras gerações. A Torá está
nos dizendo que mesmo quando percebemos a importância da intenção sincera de servir a
D'us, devemos também nos sensibilizar quanto ao aspecto físico.
Enfrentamos um exemplo prático deste desafio todos os dias durante a prece. Se tenho a
intenção adequada de aceitar a soberania de D'us, que importância tem se pronuncio
corretamente as palavras da prece? D'us não sabe o que estou pensando? A resposta é um
SIM ressonante. Mas há um imperativo igualmente ressonante em servir D'us com nosso ser
físico também, dessa maneira usando a totalidade de nossa existência a serviço de D'ele.
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A Parashá Vayicrá nos ensinou sobre cinco grupos de corbanot. São eles: olá, minchá,
shelamim, chatat e asham. A parashá Tsav nos relata mais detalhes sobre estes cinco grupos.
Por exemplo, sabemos que os sacrifícios olá devem ser abatidos apenas durante o dia. D‟us
ensinou a Moshê:
"Se um corban olá foi abatido durante o dia, os cohanim podem continuar queimando-o durante
toda a noite."
Da mesma forma, a gordura de outros corbanot podia ser queimada noite afora.
Dessas leis vemos que alguns cohanim estavam de plantão no Bet Hamicdash durante toda a
noite. E outros cohanim teriam que começar a avodá (serviço) ao romper do dia. Apesar das
longas horas, os cohanim estavam sempre prontos e ansiosos para cumprir a avodá.
D‟us ordenou a Moshê: "É uma mitsvá para o cohen ir toda manhã ao altar e retirar as cinzas
dos corbanot queimados com uma pá. Deve colocar as cinzas no chão próximo à rampa do
altar, sempre no mesmo local."
Nossos sábios nos contam que ocorria um milagre com as cinzas, depois que o cohen as
colocava no chão. O solo as engolia, e não ficava nenhum traço delas no local. Este milagre
era um sinal de D‟us que ele estava satisfeito com a avodá e lembraria sempre o mérito dos
corbanot queimados.
Por que D‟us ordenou que as cinzas fossem retiradas do altar todos os dias?
Você poderá pensar que o objetivo desta mitsvá era o de limpar o altar das cinzas. Talvez
fosse esta a razão, mas na verdade retirar uma pá repleta de cinzas não limpava realmente o
altar. (Na verdade, o altar era completamente limpo de tempos em tempos. Sempre que a pilha
de cinzas ficava muito alta, um cohen levava a pilha toda para um lugar especial fora de
Yerushaláyim.)
Se era assim, qual o propósito da mitsvá diária de terumat hadeshem, tirar uma pá cheia de
cinzas do altar?
Não sabemos o que D‟us tinha em mente quando nos deu esta mitsvá. Apesar disso, podemos
aprender um conceito importante:
Um cohen devia sentir-se orgulhoso por ser uma pessoa especial. De todos os judeus, apenas
os cohanim foram escolhidos por D‟us para fazer a avodá. E apenas eles vestiam bigdê
kehuná, lindas vestes que eram vedadas ao judeu comum. A mitsvá de terumat hadeshen
ensinava os cohanim a serem humildes. A primeira avodá que tinham que fazer pela manhã
era retirar cinzas do altar e colocá-las no chão. Um cohen poderia ter pensado que este não
era um trabalho apropriado e digno para ele. Poderia ter preferido ordenar a um não-cohen
para fazer este "trabalho insignificante".
Mas D‟us ordenou que somente um cohen o fizesse e que ao fazê-lo estivesse vestido com
suas roupas especiais. A mitsvá também ensinava ao cohen que ele era simplesmente um
servo de D‟us e que é a Ele que devemos todos servir e honrar.
Primeiramente, qualquer cohen de plantão no Bet Hamicdash naquela manhã poderia decidir
que queria fazer terumat hadeshen. Quem primeiro começasse, recebia a mitsvá.
Se vários cohanim desejassem fazer terumat hadeshen, correriam pela rampa do mizbêach.
Aquele que atingisse primeiro o topo da rampa, tinha o direito de cumprir a mitsvá.
Certa vez, entretanto, um triste incidente ocorreu. Dois cohanim chegaram ao topo ao mesmo
tempo. Um deles estava tão ansioso para conseguir a mistvá que empurrou o outro cohen para
fora da rampa. O homem rolou para baixo e quebrou a perna. Os juízes do Sanhedrin
perceberam que as regras teriam de ser mudadas. Decidiram: "Como os cohanim amam até
mesmo essa aparentemente humilde avodá a ponto de competirem por ela, de agora em diante
deverá ser compartilhada da mesma maneira que os outros avodot (serviços) do Bet
Hamicdash: por sorteio."
D‟us ordenou: "O fogo no mizbêach nunca deve se apagar. Os cohanim devem providenciar
para que arda dia e noite, mesmo quando não houver corban no altar."
O fogo sobre o altar era mantido sempre aceso, mesmo no Shabat e até mesmo enquanto
Benê Yisrael estava viajando pelo deserto."
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Nossos sábios nos relatam:
Como os judeus abasteciam o altar com madeira, mesmo em épocas perigosas
Antes que o Segundo Bet Hamicdash fosse destruído, os romanos governavam Êrets Yisrael e
emitiram muitos decretos perversos contra os judeus.
Um dos decretos era: "Nenhuma madeira poderá ser trazida ao Bet Hamicdash para manter
aceso o fogo sobre o altar."
Para ter certeza de que nenhum judeu traria madeira ao Bet Hamicdash, os Romanos
montaram guarda em todas as estradas que conduziam à Yerushaláyim. Os guardas abriam
cada pacote levado pelos viajantes. Parecia impossível contrabandear madeira para o Templo.
Mas judeus não são detidos quando se trata de manter a Torá e as mitsvot, mesmo em face do
perigo. Eles não permitiriam que os romanos extinguissem a avodá dos corban.
Uma família temente a D‟us teve uma idéia. Juntaram madeira bonita, livre de insetos e as
pregaram formando escadas. Puseram as escadas nos ombros e marcharam rapidamente pela
principal estrada até Yerushaláyim.
"Estamos a caminho de nossa casa de pássaros que está no alto de uma árvore. Precisamos
da escada para subir até nossos pássaros."
Os guardas não suspeitaram de nada, e deixaram o grupo passar. Assim que os judeus
chegaram ao Bet Hamicdash, separaram os pedaços das escadas e deram a madeira aos
cohanim para que a pusessem sobre o altar. Os sábios louvaram esta família corajosa. Ficaram
conhecidos como "Benê Salmai", que significa "a família da escada." (A palavra salmai está
relacionada com sulam, escada).
Um judeu que cometia certos pecados era obrigado a trazer um sacrifício chamado chatat
(como explicamos na Parashá Vayicrá).
Agora, D‟us acrescentou o seguinte: "Um chatat é abatido no lado norte do altar, no mesmo
lugar do sacrifício olá."
Desta maneira D‟us salva um pecador do constrangimento. Se alguém viu seu amigo oferecer
um corban, não saberia se o amigo estava oferecendo um chatat por um pecado ou um olá,
que é um corban voluntário. E assim o pecador não se sentiria constrangido por ter trazido um
corban por um pecado, porque aqueles que o viam não saberiam que tipo de sacrifício estava
trazendo.
Na Parashá Vayicrá, a Torá explicou que se um judeu deseja oferecer um corban shelamim,
uma oferenda que expressa sua felicidade para D‟us, pode fazê-lo. Partes do shelamim são
comidas trazidas pelo ofertante e sua família.
Esta Parashá acrescenta que se alguém está numa situação perigosa e D‟us milagrosamente o
salvou, deve oferecer um sacrifício de shelamim para agradecer a D‟us. Este shelamim
especial é chamado shalmê todá.
Existem quatro situações especiais após as quais uma pessoa deve oferecer um shalmê todá:
1. Se estava seriamente doente e se recuperou.
2. Se atravessou um deserto em segurança.
3. Se voltou em segurança de uma viagem por mar.
4. Se foi libertado da prisão.
Se esteve em quaisquer outras situações perigosas e D‟us o salvou, deve também oferecer um
shalmê todá.
O judeu oferecendo o shalmê todá deve trazer 40 pães ao Bet Hamicdash juntamente com seu
animal. O proprietário deve comer a carne e 36 dos pães no dia em que o corban é oferecido,
ou durante a noite seguinte. É claro que ele e a família não podem comer 36 pães neste curto
espaço de tempo. O que fazer então? Convida os parentes e amigos a uma se‟udat hoda‟a, a
refeição de agradecimento, para ajudá-lo a comer tudo.
Isto é exatamente o que D‟us deseja que ele faça! Eis porque Ele ordenou que o proprietário
oferecesse tantos pães! Pois durante a refeição, é claro que perguntarão ao dono: "Por que
trouxe este shalmê todá ao Bet Hamicdash?" Ele começará a contar a história, com palavras
como estas: "Na semana passada eu atravessei um deserto assustador e solitário. De repente,
um lobo começou a uivar perto de mim. Juntaram-se a ele, uma enorme matilha de lobos
famintos, e começaram a perseguir-me… não fosse pelo grande chêssed (bondade) de D‟us,
eu não estaria vivo para contar essa história."
A Parashá nos fala sobre as leis que se aplicam não apenas ao tempo do Bet Hamicdash, mas
nos dias de hoje também.
Antes do judeu comer um pedaço de carne ou frango, deve assegurar-se que provém de um
animal ou ave casher. Mas isto não é o suficiente. Precisa ser ainda abatido, fazer a shechitá,
da maneira que D‟us ordenou a Moshê, e posteriormente não pode ser ingerido até que seu
sangue seja todo removido.
A carne (ou frango) é mergulhada em água fria por meia-hora. Então é cuidadosamente
salgada em todos os lados. O sal suga todo o sangue para fora. A carne é deixada com o sal
por aproximadamente uma hora numa posição que permita ao sangue escoar, como numa
tábua inclinada. A carne é então enxaguada podendo agora ser preparada para consumo.
Todo o sangue que ainda permaneça na carne após ter sido imersa e salgada desta maneira
pode ser consumido.
Um judeu pode comer um frango apenas se este tiver sido abatido e salgado de acordo com a
Halachá, Lei Judaica. No caso de carne de boi, ovelha ou cabra, a Torá ordena mais uma lei:
certas partes gordas devem ser removidas antes que possamos comer a carne. As partes
gordas proibidas são chamadas de chelev.
Após o animal ser abatido, um homem especialmente treinado chamado menaker tira fora a
gordura proibida.
Um menaker deve estudar as leis para saber qual gordura é chelev. Deve cortar fora
cuidadosamente cada pedacinho de chelev. Por isso, antes do judeu comer um pedaço de
carne, deve certificar-se não apenas de que o animal foi abatido corretamente, mas também
que o chelev foi removido por um especialista temente a D‟us, e profundo conhecedor das leis.
D‟us ordenou: "Antes que o serviço de D‟us possa ter início no recém-construído Mishcan, ele
deve ser dedicado por oito dias."
Durante estes oito dias, Moshê ofereceu corbanot especiais para dedicar o Mishcan e a cada
dia ele preparava os cohanim para a avodá. D‟us disse a Moshê: "Reúna todos os homens no
pátio do Mishcan. Quero que eles vejam como os cohanim estão se dedicando à sua avodá
(serviço)."
Havia duas razões pelas quais D‟us queria que todos os judeus vissem como Moshê preparava
os cohanim para suas funções sagradas:
1. D‟us queria que todo o povo percebesse que os cohanim são especiais. O povo então
honraria os cohanim.
2. D‟us queria que cada judeu soubesse claramente que fora D‟us quem escolhera
Aharon e seus filhos para servir no Mishcan. Desta forma, ninguém jamais pensaria
que Moshê, tinha com suas próprias mãos, escolhido seu irmão Aharon e seus filhos
para esta elevada posição. (Assim mesmo, Côrach argumentou mais tarde que Aharon
não tinha sido escolhido por D‟us.)
D‟us realizou um milagre especial, para que cada judeu pudesse ver com seus próprios olhos o
que era feito a Aharon e aos outros cohanim.
D‟us fez com que o pátio do Mishcan acomodasse 600.000 homens. Obviamente o pátio era
muito menor para que um número tão grande de pessoas coubessem nele. Entretanto, seu
tamanho milagrosamente abrigou a todos eles.
O midrash explica:
D’us pode acomodar pessoas num espaço que parece pequeno demais para contê-las
"Mas há 600.000 homens com mais de vinte anos e outros 600.000 rapazes mais jovens,"
objetou Moshê. "Não cabem todos lá."
"Não se preocupe com isso," D‟us respondeu a Moshê. "Posso acomodar a todos".
Similarmente, quando D‟us desceu ao Monte Sinai na Outorga da Torá para falar com o Povo
de Israel, tinha com Ele 22.000 carruagens de anjos. Muito embora o Monte Sinai fosse
pequeno para acomodar a todos, D‟us realizou um milagre e todos couberam na montanha.
Novamente, no futuro, D‟us realizará um milagre similar. Ele reviverá todos os tsadikim que
viveram desde os tempos de Adam e os trará a Êrets Yisrael. Mas, onde ficarão tantas
pessoas? D‟us expandirá a terra, de forma que todos tenham espaço suficiente!
Todos os judeus assistiram enquanto Moshê preparava Aharon para seu novo trabalho como
Cohen Gadol da seguinte maneira: Aharon imergiu em um micvê para tornar-se puro. Então
Moshê trouxe Aharon ao kiyor (lavabo) e lavou-lhe as mãos e os pés. O povo viu como Moshê
vestiu Aharon em esplêndidas vestimentas: a saia longa, o cinto, o casaco, o avental e seu
cinturão. Moshê fechou o peitoral sobre o avental, colocou o turbante de Aharon e fixou-lhe o
tsits, a faixa sagrada, na sua testa.
Finalmente, Moshê trouxe o shemen hamishchá, o óleo para unção. Passou um pouco sobre o
Mishcan e os utensílios para torná-los sagrados. Também borrifou-o sete vezes sobre o grande
altar no pátio. Então derramou um pouco do óleo sobre a cabeça de Aharon. Depois disso,
Moshê lavou e vestiu os filhos de Aharon perante todo o povo.
Em cada um dos sete primeiros dias de dedicação, Moshê deveria arrumar o Mishcan e
desmontá-lo novamente. E a cada dia ele oferecia os corbanot especiais que D‟us havia
ordenado para consagrar o Mishcan.Todos os judeus esperaram em suspense pelo oitavo dia
de dedicação. Assim termina nossa Parashá.
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A Parashá Shemini (Vayicrá 9:11-11:47) começa discutindo os eventos que ocorreram no oitavo
e último dia de melu'im, serviço de inauguração do Mishcan. Após meses de preparação e
antecipação, Aharon e seus filhos são finalmente instalados como cohanim, em um serviço
elaborado.
Aharon abençoa o povo, e toda a nação se rejubila quando a presença de D‟us paira sobre eles.
Entretanto, o entusiasmo é interrompido abruptamente quando os dois filhos mais velhos de
Aharon, Nadav e Avihu, são consumidos por um fogo celestial e morrem no Mishcan, enquanto
ofereciam ketoret, incenso, sobre o altar. A Torá declara que eles morreram porque trouxeram
um "fogo estranho" no santuário interior do Mishcan, cujo significado é discutido pelos
comentaristas à exaustão.
Aharon recebe ordens de que os cohanim são proibidos de entrar no Mishcan enquanto
impuros, e a Torá continua a relatar os eventos que ocorreram imediatamente após a morte
trágica de Nadav e Avihu. A porção termina com uma lista dos animais casher e não-casher, e
várias leis sobre tumá, impureza.
Mensagem da Parashá
Pureza e impureza
Adaptado das obras do Lubavitcher Rebe.
A porção Shemini discute os animais puros que são permitidos consumir, e os impuros, que
somos proibidos de ingerir. A Torá fornece dois sinais para reconhecer um animal puro: ser
ruminante e ter os cascos fendidos.
Uma das razões oferecidas para as leis dietéticas é que tudo que a pessoa come transforma-se
em carne e sangue, tornando-se parte integrante daquela pessoa. Portanto, a Torá proíbe
determinados alimentos para impedir o homem de assimilar as más características da comida
proibida.
Se há uma proibição contra comer animais que não ruminam e não têm o casco fendido (para
impedir a assimilação das características daqueles animais), a conduta apropriada para o
homem deveria ser uma que adotasse os conceitos de um casco fendido e ruminar a comida.
O casco deve ser inteiramente fendido, de cima a baixo. O casco é dividido em dois, para indicar
que nossa caminhada na terra, i.e., nossos envolvimentos mundanos, devem incluir dois
princípios básicos: aproximar-se daquilo que é bom e afastar-se daquilo que não é.
Mas o sinal de um casco fendido em si não é o suficiente. Deve também haver o sinal de
ruminar a comida. É preciso ser muito cuidadoso para "ruminar" toda atividade mundana que se
pretende aceitar. Deve-se esclarecer e determinar, de uma vez por todas, se realizará
determinadas tarefas, e se for este o caso, de que forma deverá fazê-lo. Somente então a ação
em si será comparada a um "animal puro" – algo que pode e é usado para nossa missão
espiritual na vida.
Quanto às aves, não confiamos somente nos sinais, mas também exigimos uma tradição
afirmando a pureza dessas espécies. Alguém poderia perguntar por que precisamos dessa
tradição. Observar os sinais deveria ser suficiente. No entanto, isso vem nos ensinar que não se
pode confiar na própria inteligência. É possível estudar o Código da Lei Judaica e até seguir um
tipo de comportamento que o próprio intelecto determina como sendo "além da letra da lei."
Deve-se seguir a tradição. A palavra hebraica para tradição é messorá, que está relacionada à
palavra messirá – devoção e ser atado junto. Para seguir esta tradição judaica devemos ser
devotados e nos ligar com outros judeus e líderes de Torá, que podem ensinar-nos os caminhos
de nossa tradição.
Em cada um dos primeiros sete dias de consagração, Moshê montou o Mishcan e o desmontou
novamente. A cada dia ele também oferecia os corbanot ordenados por D‟us.
Chegou o oitavo e último dia de dedicação. Era Rosh Chôdesh Nissan. D‟us ordenou a Moshê:
"Hoje deves armar o Mishcan, mas não o desmontes novamente. Também, pela primeira vez,
Aharon e seus filhos oferecerão corbanot. "Enviarei um fogo do céu para consumir seus
corbanot."
Tão logo Benê Yisrael soube que Aharon e seus filhos fariam a avodá pela primeira vez e que
D‟us enviaria um fogo, reuniram-se no pátio do Mishcan. Não esperaram por uma ordem de
D‟us, pois todos ansiavam pelo momento quando o fogo de D‟us desceria. Seu fogo
demonstraria que tinham sido perdoados pelo pecado do bezerro de ouro e que Sua Shechiná,
Presença Divina, repousava no meio deles novamente.
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Aharon, entretanto, não ousava se aproximar mais do altar. Assim que olhou para os cantos
quadrados na parte superior do altar, estes pareceram-lhe como os chifres de um boi!
Lembraram-lhe do bezerro de ouro que ele tinha feito para Benê Yisrael. Embora Aharon
permaneceu fazendo intensa teshuvá por causa de seu pecado, temia que D‟us pudesse não
aceitar seu serviço.
Moshê percebeu que Aharon hesitava e tremia ao aproximar-se do grande altar. Disse a
Aharon: "Meu irmão Aharon, D‟us escolheu você para fazer Seu serviço! Suba ao altar! Ofereça
seus corbanot em expiação por si mesmo, e aqueles de Benê Yisrael em reparação por eles!"
Finalmente, Aharon sentiu-se seguro e caminhou para o altar. Trouxe seu bezerro como um
corban, enquanto seus
filhos ajudavam. Então Aharon ofereceu os outros corbanot. Ao terminar, desceu do altar.
Então, Aharon elevou as mãos e pela primeira vez abençoou o povo com a bênção especial
dos cohanim, Bircat Cohanim. O pátio do Mishcan estava repleto pois o Povo de Israel
permaneceu assistindo ao trabalho de Aharon. Agora que terminara, o povo se perguntou:
onde estava o fogo de D‟us? O fogo iniciado por Aharon tinha começado a queimar os pedaços
de carne, mas nenhum fogo descia do céu.
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O fogo de D’us
Aharon também estava preocupado. Ele tinha cumprido o serviço com alegria, mas agora
estava temeroso. "Moshê", disse ansiosamente, "será possível que D‟us não esteja satisfeito
com meu serviço e não o tenha aceitado? Talvez Ele ainda esteja aborrecido comigo devido a
meu pecado e por isso não envia o fogo do céu?"
Tanto Moshê como Aharon entraram no Mishcan, prostaram-se e imploraram a D‟us que
mandasse o fogo do céu. Quando saíram, abençoaram Benê Yisrael: "Possa D‟us aceitar seus
corbanot e possa Ele perdoar os seus pecados!"
Imediatamente, a Shechiná de D‟us apareceu diante de todo o povo. Um fogo desceu do céu e
queimou as partes dos corbanot que ainda permaneciam no altar.
Quando o povo presenciou isto, sentiu-se feliz e gratificado. Era o sinal de que D‟us os havia
perdoado pelo pecado do bezerro de ouro. Desde a divisão das águas do Mar Vermelho não
havia tanta alegria junto ao Povo de Israel. Prostraram-se e agradeceram a D‟us pelo grande
milagre.
O fogo que caiu sobre o altar não desapareceu após queimar os corbanot; permaneceu no altar
desde aquela época.
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Os filhos de Aharon, Nadav e Avihu, são punidos por oferecerem incenso
Junto com as demais pessoas, os dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, viram
como um fogo proveniente do céu desceu sobre o altar no pátio e queimou os corbanot. Mas,
enquanto todos se alegravam, Nadav e Avihu ficaram desgostosos.
Nadav e Avihu eram os homens mais notáveis da nação judaica, depois de Moshê e Aharon;
eram ainda mais importantes que os setenta anciãos do Sanhedrin. Sentiam que desejavam
aproximar-se mais de D‟us, do que simplesmente ficarem parados observarndo o fogo
miraculoso que descia do céu. Queriam trazer seu próprio corban para D‟us a fim de
expressarem seu amor. Também esperavam que ao oferecer um corban adicional, D‟us Se
revelaria ainda mais a eles.
Sem conversarem entre si, tanto Nadav como Avihu tiveram a mesma idéia. Cada um pensou:
"De todas as oferendas, o incenso é o mais sagrado, e das seções do Mishcan, o Côdesh
Hacodashim é o mais santo. Por isso, o maior dos presentes para D‟us será oferecer-lhe
incenso no Santo dos Santos." O desejo de Nadav e Avihu era bem-intencionado, leshem
shamayim. Tinham certeza de que D‟us ficaria feliz com este "presente especial", neste oitavo
dia da consagração do Mishcan. Como ambos eram grandes sábios do Talmud, acharam
muitas boas razões para pensar que seu incenso seria um presente maravilhoso para D‟us.
Entretanto, cometeram um erro: tinham tanta certeza de que D‟us ficaria satisfeito com o
presente que não se incomodaram de perguntar a D‟us (através de Moshê) se Ele queria este
incenso. Nem ao menos pediram a opinião de seu pai, Aharon, que certamente os teria
impedido.
Talvez não tivessem ousado entrar no Côdesh Hacodashim – a parte mais sagrada do
Mishcan, onde até mesmo o Sumo Sacerdote só podia entrar em Yom Kipur – se não tivessem
bebido vinho antes. Porém, após beberem, sentiram-se empolgados e não hesitaram em entrar
no Santo dos Santos e em oferecer incenso.
Quando D‟us viu que eles faziam a avodá a qual Ele não havia ordenado, disse: "Se os deixar
escapar impunes agora, outros judeus pensarão que também podem entrar no Santo dos
Santos e oferecer seus próprios corbanot. É melhor que Nadav e Avinu morram do que os
judeus acreditem que o Mishcan seja um lugar público, onde podem fazer sua própria avodá na
hora que bem entenderem".
Um fogo desceu dos céus e dividiu-se em quatro filetes ardentes. Dois deles entraram pelas
narinas de Nadav, e dois nas de Avihu. O fogo queimou-os por dentro, mas os corpos e as
vestes não foram queimados.
Aharon compreendeu o ocorrido e não criticou nem sentiu mágoa de D‟us em seu coração
quando seus filhos morreram, por esta razão foi recompensado. Geralmente D‟us falava com
Moshê, e Moshê transmitia as palavras de D‟us a Aharon. Agora, D‟us falou diretamente a
Aharon para consolá-lo e honrá-lo. Estas foram as palavras de D‟us para Aharon: "Se um
cohen bebe um copo de vinho, está proibido de fazer a avodá em seguida."
Por que D‟us deciciu formular esta advertência justamente naquele dia?
A resposta é que os filhos de Aharon, Nadav e Avihu, haviam morrido porque, entre outras
razões, haviam bebido vinho antes de fazer uma avodá. Por isso, D‟us advertiu Aharon que ele
e os outros cohanim jamais deveriam repetir este erro.
Por que um cohen não pode beber antes de fazer a avodá? Após beber vinho, a mente da
pessoa não está perfeitamente lúcida. Por isso, um cohen não está apto a fazer a avodá.
Por que a Torá nos ordena comer apenas alimentos casher
Moshê explicou aos judeus: "D‟us quer que sejam um povo sagrado. E assim, Ele permite que
vocês comam apenas certos animais, aves e peixes. Todos os outros são proibidos para
vocês.
Uma parábola:
"Enfermeira," ordenou ele, "deixe o paciente comer tudo que desejar. Diga-lhe que já recebeu
alta do hospital."
"Que bom!" replicou a enfermeira, "estou feliz por saber que ele está melhor; mas não entendo
porque o primeiro paciente deva manter dieta tão restrita."
"Você não entendeu a situação, enfermeira," explicou o doutor. "O primeiro paciente tem um
probleminha no coração, mas estou confiante que, se ele seguir uma dieta rigorosa se
recuperará. Por isso recomendei uma dieta especial. Entretanto, o segundo paciente é um
homem tão doente, que nada mais posso fazer por ele. Não o ajudaria em nada recomendar
uma dieta."
Isto se aplica somente aos judeus por decreto Divino. Os não-judeus não se beneficiariam com
uma alimentação restrita, podendo, portanto, comer o que desejarem.
Nossa Parashá nos fala de dois sinais pelos quais podemos reconhecer um animal casher:
Um animal é casher apenas se possuir os dois sinais: ter os cascos completamente fendidos e
ser ruminante. Os seguintes animais têm apenas um destes sinais:
1. O camelo é ruminante, mas seus cascos são fendidos apenas parcialmente; os cascos
voltam a unir-se na base novamente.
2. O texugo também é ruminante, mas seus cascos não são fendidos.
3. O coelho é ruminante, mas seus cascos não são fendidos.
4. O porco tem cascos fendidos, mas não é ruminante.
A Torá nos adverte que não devemos ser enganados por um dos sinais casher desses animais.
Se os estudarmos atentamente, veremos que carecem do segundo sinal.
Peixe
Dentre os peixes, um judeu pode comer apenas os tipos que têm tanto barbatanas como
escamas. Exemplos de peixe casher: atum, salmão, carpa, arenque, pescada e truta.
Exemplos de peixes não-casher são: o bagre, enguia e tubarões.
Quando um judeu vai a uma peixaria cujo dono não é um judeu cumpridor de Torá, não pode
adquirir peixe do qual as escamas e barbatanas foram retiradas antes que ele chegasse,
mesmo se o dono disser que o peixe é casher.
Aves
A Torá nos fornece uma lista de 24 aves proibidas. São aves de rapina que seguram a presa
com suas garras. Dentre elas estão a águia, o corvo e a cegonha. A Torá nos permite comer
qualquer ave que não seja uma destas 24 proibidas. Hoje em dia, entretanto, podemos comer
apenas aquelas aves que têm uma tradição confiável de serem casher.
Insetos são proibidos, também, assim como animais rastejantes como cobras, escorpiões e
vermes. Algumas frutas e vegetais podem ter insetos ou vermes dentro deles. Devemos
verificar cada um cuidadosamente, e comê-los apenas depois de ter certeza de que estão
livres de vermes e insetos.
Assim como a carne de animais não-casher é proibida, também não podemos beber seu leite.
Podemos beber leite apenas se for de animal casher, como vaca ou cabra. O leite casher deve
ser observado desde o início da ordenha até seu engarrafamento. Apenas desta maneira
podemos ter certeza de que nenhum leite de animal não casher foi misturado a ele.
Mel é feito por abelhas, que não são casher. Porém, a Torá nos permite ingerir seu mel.
Enquanto Moshê explicou a Benê Yisrael quais animais são proibidos como alimento e quais
são casher, mostrou cada um dos animais ao povo judeu. Moshê até mesmo mostrou uma de
cada ave e animal rastejante que havia mencionado.
Um judeu não deve dizer: "Presunto é nojento," ou "Eu jamais comeria pernas de rã." Ao invés
disso, deveria dizer: "Eu realmente gostaria de comer todos os tipos de carne, mas não o farei,
porque D‟us me proíbe de comê-los." Desta maneira, evita os alimentos não-casher leshem
shamayim, com a intenção de cumprir a mitsvá.
top
Conhecida como metsorá, a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele
está sujeita a uma série de exames por um cohen, que declara se o paciente está tahor ou
tamê. Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para
alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após
descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da
pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.
Mensagem da Parashá
Dores do parto
por Yoel Spotts
A Parashá Tazria começa com uma discussão das leis sobre o status de uma mulher que
acaba de dar à luz, e os vários procedimentos que devem ocorrer com ela e a criança. A
Torá então imediatamente prossegue com uma descrição detalhada dos diferentes tipos de
manchas e descolorações que podem tornar um indivíduo um metsorá. Estes dois assuntos
– a mulher que acaba de dar à luz e uma pessoa que está sofrendo de tsaraat – poderiam
parecer totalmente desconectados. Por que então estão colocados tão próximo um do
outro?
Para responder esta pergunta, seria lógico examinar primeiro os detalhes destas duas leis.
Em Vayicrá 12:7, lemos que uma mulher que teve um filho deve trazer uma oferenda: "O
Cohen oferecê-la-á perante D'us e expiará por ela, e ela ficará purificada da fonte de seu
sangue; esta é a lei para aquela que dá à luz um menino ou uma menina." Esta lei provoca
uma pergunta óbvia: Qual foi o pecado desta mulher que necessita de expiação?
Os rabinos do Talmud fornecem uma resposta interessante a este problema: enquanto está
sob a tensão e dor do parto, pode ser que esta mulher tenha jurado jamais retornar a seu
marido, a fonte e causa de seu sofrimento atual. Portanto, quando a mulher se recobra
totalmente, volta para seu marido e assim negligencia seu juramento anterior, na verdade
está quebrando este voto. Embora a Torá reconheça que este juramento foi feito sob grande
angústia e dor, mesmo assim a mulher não pode ser totalmente absolvida de realizar
qualquer tipo de penitência. Afinal, fez um juramento e isso não pode ser desprezado.
Portanto, a Torá possibilita à mulher a oportunidade de obter completo perdão ao trazer
uma oferenda.
Espera-se que toda esta angústia e tormento ajudarão a reconhecer seu mau procedimento
e leve-a ao arrependimento. Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição
destes assuntos aparentemente tão desconexos. A Torá aqui deseja nos ensinar o poder da
palavra. Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como "as pedras podem quebrar
meus ossos, mas as palavras não podem ferir-me", o Judaísmo atribui muito mais
importância e significado à palavra falada.
Toda palavra pronunciada deve ser cuidadosamente medida. Mesmo um juramento feito em
meio as dores do parto deve ser contabilizado. Até um comentário aparentemente
inofensivo sobre um judeu deve ser tratado. As palavras têm um significado. Não podemos
permitir que nossa boca aja livremente, sem qualquer preocupação quanto ao resultado.
Assim como a Torá nos foi outorgada no Monte Sinai, não por um rolo que caiu do céu, mas
através da palavra sagrada de D'us, assim também devemos nos purificar e santificar
nossas palavras.
top
A concepção de um filho
Esta parashá inicia-se mencionando as leis de uma parturiente com as palavras: "Se uma
mulher concebeu uma semente…"
"Não é como diz," D‟us a corrige. "O mundo onde você viverá ultrapassa em beleza aquele de
onde você emanou. Foi criada com o único propósito de tornar-se parte de um ser humano,
sendo elevado pelos seus atos."
O Todo Poderoso em seguida ordena a alma fundir-se com a semente a qual estava destinada.
Mesmo antes do feto estar formado, o anjo indaga de D‟us: "Qual será o destino dela?"
Neste momento, todo o futuro da criança ainda não nascida é pré-destinado. O Todo Poderoso
determina se será homem ou mulher, se será saudável ou sofrerá de alguma doença ou
defeito, sua aparência, o grau de inteligência, bem como sua capacidade física e mental. Mais
ainda, todos os detalhes de suas circunstâncias na vida já estão decididos – será ele rico ou
pobre, o que possuirá, e quem será seu futuro cônjuge.
Vemos que todas as minúcias da vida de uma pessoa já estão decididas. Entretanto, há uma
única exceção: D‟us não decreta se alguém tornar-se-á um tsadic (justo) ou um rashá
(perverso). Cada um decide como moldar a si mesmo por meio de suas faculdades e
capacidades que lhe foram pré-ordenadas.
A pessoa não deve sentir-se orgulhosa de sua inteligência, força ou dinheiro, pois estas
qualidades não são suas próprias conquistas; ao contrário, foram Divinamente designadas a
ele antes do nascimento.
Há apenas um campo de empenho no qual a conquista resulta dos esforços individuais – se
ele estudará (e quanto) sobre a grandiosidade de D‟us , Sua Torá e se (e quanto) seguirá Seus
caminhos. O grau de sucesso atingido nesta área, é um fruto de esforço e realização próprios.
top
A gravidez e o parto
O crescimento do feto no útero da mãe inspira a pessoa a sentir gratidão pelo Criador, que na
sua bondade cuida do homem antes mesmo dele nascer.
Ainda no útero da mãe, a criança aprende toda a Torá. Também lhe é mostrada uma visão do
Gan Eden e do gueinom, e o anjo que está encarregado dela lhe suplica: "Seja um tsadic! Não
se torne um rashá (malvado)!"
Quando a criança entra neste mundo, o anjo toca seus lábios, fazendo com que todo o
conhecimento da Torá previamente ensinado a ela seja esquecido. (Contudo, este
conhecimento foi absorvido pela sua mente subconsciente, proporcionando-lhe que capte
futuramente os ensinamentos da Torá com mais facilidade).
Embora ao nascer a criança esteja suja e besuntada com sangue e continua a sujar-se, assim
mesmo é querida por todos. O encanto de bebês e crianças pequenas, explicam nossos
sábios, é que a Shechiná (Santidade) repousa sobre eles, uma vez que estão livres do
pecado.
Originalmente, o nascimento de uma criança acontecia imediatamente após a concepção, e era
indolor. A situação atual é resultado da maldição pronunciada sobre Chava (esposa de Adam,
o primeiro homem) após ter pecado.
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D‟us ordenou: "Um bebê judeu do sexo masculino deve passar por uma milá (circuncisão) aos
oito dias de nascido. Mesmo se o oitavo dia coincidir com Shabat ou um Yom Tov, a milá não
deve ser adiada". Isto mostra quão importante é a mitsvá da milá.
Por que D‟us ordenou que a milá fosse realizada em meninos que ainda são bebês?
D‟us também percebeu que bebês não tem tanto medo de fazer a milá como crianças maiores.
Além disso, a pele de um bebê é mais tenra e cicatriza mais rapidamente após a milá.
Aqui estão alguns dos procedimentos do brit milá: Quando o bebê é trazido, todas as pessoas
que assistem ficam em pé e proclamam: "Baruch haba, bem vindo."O bebê é colocado num
assento especial chamado kisê shel Eliyáhu, o trono de Eliyáhu. O profeta Eliyáhu é enviado
por D‟us para estar presente a cada brit milá. O mohel então coloca o bebê sobre os joelhos do
sandec (o homem que recebe a honra de segurar o bebê durante o brit), e quando ele está
pronto para fazer a milá, o mohel recita a berachá (bênção): "Bendito sejas, D‟us, nosso D‟us,
Rei do Universo, que nos santificou com Suas mitsvot e nos ordenou fazer a milá."
O pai do bebê, também, diz uma berachá especial enquanto o mohel está fazendo a milá:
"Abençoado sejas,D‟us, nosso D‟us, Rei do Universo, que nos santificou com Suas mitsvot e
nos ordenou trazer o menino ao pacto de nosso patriarca Avraham." O menino recebe seu
nome.
A primeira mitsvá que D‟us ordenou que Avraham cumprisse foi fazer a milá em si mesmo.
Então D‟us disse a Avraham que dali em diante, todos os meninos judeus devem fazer a milá
aos oito dias de idade. A milá seria um brit, um pacto, entre D‟us e o povo judeu. Eles
acreditariam em D‟us, e Ele seria seu D‟us.
A cerimônia do brit milá continua com os participantes desejando que o bebê cresça para
tornar-se um sábio, que se case e crie sua própria família, e que faça sempre boas ações. Os
pais recepcionam aqueles que desejam juntar-se a eles numa seudá, uma refeição festiva. Isto
demonstra que os pais estão felizes por cumprir a mitsvá de D‟us. Isto nos recorda também a
refeição que Avraham fez no dia em que realizou milá em seu filho Yitschac. A mitsvá da milá é
tão importante, que D‟us considera para os pais que fazem a milá no filho como se eles
tivessem trazido o bebê como uma oferenda para Ele.
Por que deve a mãe oferecer um corban para D‟us? Uma das razões é para agradecer D‟us
por tê-la salvado dos perigos do parto. Todo nascimento de uma criança é um milagre pelo
qual a mãe (bem como toda a família) deve demonstrar gratidão a D‟us.
A Torá continua a nos relatar sobre tipos diferentes de tum‟a (impurezas). Uma delas é tsaraat.
É um problema de pele que pode ser diagnosticado apenas por um cohen. Se um judeu –
homem, mulher ou criança – percebeu uma ou mais manchas brancas na pele, deve suspeitar
da possibilidade de tsaraat. Foi-lhe ordenado mostrar o local a um cohen.
Se um judeu tornou sua alma impura por cometer um pecado grave, D‟us por Sua vez, torna
seu corpo impuro com tsaraat. Isto ajudaria a pessoa a perceber que pecou e que deveria fazer
teshuvá. D‟us infligia tsaraat em um judeu por alguns pecados, mas principalmente pela
pecado de lashon hará (maledicência).
Quando D‟us quis que Moshê tirasse o povo judeu do Egito, Moshê protestou: "Eles não
acreditarão que fui enviado por D‟us !" Então, sua mão tornou-se branca com tsaraat por falar
"mal" dos judeus.
D‟us também utilizava tsaraat como castigo por outros pecados graves, que são: Lashon hará
(maledicência), assassinato, adultério, dar falso testemunho, ser orgulhoso, roubar, ser
avarento. Vemos que lashon hará é um pecado grave, pois é punido com tsaraat, da mesma
forma que os terríveis crimes de assassinato e adultério.
A Torá ordena que um metsorá procure um cohen, não um médico. O cohen instará o metsorá
a deixar de pecar, e começar a cumprir mitsvot. Se o metsorá faz teshuvá (arrependimento),
D‟us permitirá que se torne puro novamente.
O metsorá tinha de cobrir a boca com um lenço. Isto era para lembrar-
lhe do lashon hará que havia causado sua tsaraat. Ao ficar sozinho,
sem vizinhos, amigos ou família, o metsorá tinha tempo de sobra para
meditar sobre suas ações e porque D‟us o havia afligido com tsaraat.
Tinha uma oportunidade de fazer teshuvá. Se D‟us aceitasse sua
teshuvá, a tsaraat desapareceria. O homem podia então convocar um
cohen para examiná-lo novamente. Se o cohen decidisse que os
indícios de tsaraat haviam de fato desaparecido, o metsorá era
ordenado a purificar-se.
Imprima
o
Midrash
completo
D‟us tenta nos avisar com pequenos sinais de alarme. Por isso,
se um pequeno contratempo nos acontece - por exemplo, se
perdemos dinheiro ou se nos tornamos ligeiramente doente -
devemos aproveitar a oportunidade para fazer teshuvá. Isto é o
que D‟us espera de nós.
Conhecida como metsorá, a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele
está sujeita a uma série de exames por um cohen, que declara se o paciente está tahor ou
tamê. Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para
alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após
descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da
pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.
Mensagem da Parashá
Dores do parto
por Yoel Spotts
Para responder esta pergunta, seria lógico examinar primeiro os detalhes destas duas leis.
Em Vayicrá 12:7, lemos que uma mulher que teve um filho deve trazer uma oferenda: "O
Cohen oferecê-la-á perante D'us e expiará por ela, e ela ficará purificada da fonte de seu
sangue; esta é a lei para aquela que dá à luz um menino ou uma menina." Esta lei provoca
uma pergunta óbvia: Qual foi o pecado desta mulher que necessita de expiação?
Os rabinos do Talmud fornecem uma resposta interessante a este problema: enquanto está
sob a tensão e dor do parto, pode ser que esta mulher tenha jurado jamais retornar a seu
marido, a fonte e causa de seu sofrimento atual. Portanto, quando a mulher se recobra
totalmente, volta para seu marido e assim negligencia seu juramento anterior, na verdade
está quebrando este voto. Embora a Torá reconheça que este juramento foi feito sob grande
angústia e dor, mesmo assim a mulher não pode ser totalmente absolvida de realizar
qualquer tipo de penitência. Afinal, fez um juramento e isso não pode ser desprezado.
Portanto, a Torá possibilita à mulher a oportunidade de obter completo perdão ao trazer uma
oferenda.
Espera-se que toda esta angústia e tormento ajudarão a reconhecer seu mau procedimento
e leve-a ao arrependimento. Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição
destes assuntos aparentemente tão desconexos. A Torá aqui deseja nos ensinar o poder da
palavra. Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como "as pedras podem quebrar
meus ossos, mas as palavras não podem ferir-me", o Judaísmo atribui muito mais
importância e significado à palavra falada.
Toda palavra pronunciada deve ser cuidadosamente medida. Mesmo um juramento feito em
meio as dores do parto deve ser contabilizado. Até um comentário aparentemente inofensivo
sobre um judeu deve ser tratado. As palavras têm um significado. Não podemos permitir que
nossa boca aja livremente, sem qualquer preocupação quanto ao resultado. Assim como a
Torá nos foi outorgada no Monte Sinai, não por um rolo que caiu do céu, mas através da
palavra sagrada de D'us, assim também devemos nos purificar e santificar nossas palavras.
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O remédio secreto
Nossos sábios nos ensinam que um judeu que fala lashon hará peca
tão gravemente como um assassino, um adúltero ou um idólatra. Na
época do Bet Hamicdash um judeu que falasse lashon hará era punido
com tsaráat.
Eis algumas das razões pelas quais lashon hará é considerado uma
falha tão séria.
3 – D‟us quer que todos os judeus vivam em paz uns com os outros
O lashon hará causa ressentimentos e brigas entre o ouvinte e aquele
de quem se falou. Frequentemente alguém pode recusar-se a ser
amigo de outro, apenas porque certa vez escutou algo de negativo
sobre ele.
O metsorá era obrigado a sair do acampamento e ficar isolado, pois foi
ele quem causou rompimento de amizades. Mesmo fora do
acampamento ninguém tinha permissão de aproximar-se dele. Ficava
separado da família, amigos e vizinhos.
De todas as criaturas que D‟us criou, apenas seres humanos podem falar. (Embora animais
possam comunicar-se de algumas formas, não usam as palavras). O dom da palavra é um
presente de D‟us à humanidade. Por isso, D‟us nos ordenou manter nossas línguas puras e
usá-las para palavras de Torá e chêssed (bondade). Pela maneira que nos expressamos,
pode-se perceber que tipo de pessoa somos.
Dois estudantes estavam sentados em frente ao sábio Hilel e discutiam uma Mishná. Um deles
perguntou: "Por que uvas devem ser colhidas em recipientes puros, ao passo que azeitonas
podem ser cortadas em recipientes impuros?" Ele então explicou a resposta da Mishná.
O outro aluno usou palavras diferentes para fazer a mesma pergunta: "Porque uvas devem ser
colhidas em recipientes puros, e azeitonas não necessitam ser colhidas em recipientes puros?"
Ele foi cuidadoso em evitar a palavra impuro.
Quando Hilel ouviu as palavras do segundo estudante, disse: "Tenho certeza que este aluno,
que foi tão cuidadoso em usar apenas palavras boas, tornar-se-á um mestre de Torá para o
povo judeu!" E assim aconteceu; ele tornou-se um grande professor de halachá (lei judaica).
Há outra história a respeito de três cohanim que comentavam entre si o tamanho da porção de
lêchem hapanim (o pão do shulchan) que haviam recebido.
Este último exemplo não era uma comparação correta. Não era apropriado comparar uma
porção do sagrado lêchem hapanim à cauda de um lagarto, um animal impuro.
Destes relatos aprendemos quão importante é usar uma linguagem pura, refinada, e não
vulgar.
top
Como um metsorá torna-se puro?
Como já explicamos, um das razões principais que causavam tsaraát era o lashon
hará.
A palavra metsorá (aquele que tem tsaraát), é parecida com a palavra motsirá,
(alguém que fala o mal). Se o metsorá fez teshuvá enquanto estava fora do
acampamento, D’us fazia as manchas brancas na pele desaparecerem.
O Midrash explica:
Por que duas aves, um graveto de cedro e ezov (grama) eram usados para purificar o
metsorá? Por que a Torá nos ordenou usar aves para purificar o metsorá? D’us,
assim, está lhe dizendo: "Você agiu como um pássaro! Um pássaro chilreia
constantemente! Você também falou e falou, sem prestar atenção no que dizia."
O pássaro colocado em liberdade significa: Se você usar sua língua com palavras de
Torá e bondade, estará usufruindo da vida de modo correto.
A grama e o cedro são totalmente opostos. O cedro é a mais alta das árvores e o
ezov, o mais baixo dos arbustos. O metsorá é lembrado: Por que você falou lashon
hará? Porque pensou que era um cedro – melhor que os outros. Para evitar falar
lashon hará no futuro, deve sentir-se humilde como a grama.
D’us às vezes também enviava manchas de tsaraát às paredes das casas. Isto
acontecia por uma série de razões:
1 – Uma casa judia é especial. As portas têm mezuzot, e a cada sete dias transforma-
se em um palácio, recebendo o Shabat. O dono de um verdadeiro lar judeu abre suas
portas àqueles que necessitam de comida, tsedacá, um empréstimo, ou qualquer outro
tipo de ajuda. Entretanto, se um judeu tem uma bela casa, mas nega-se a ajudar
àqueles que precisam de dinheiro ou objetos, de uma refeição ou um lugar para
dormir, D’us o pune. No tempo do Bet Hamicdash, D’us fazia com que aparecesse
tsaraát nas paredes da casa.
O cohen então tinha que lacrar aquela casa. E o dono nem ao menos podia entrar em
sua própria residência, da mesma forma que a havia fechado para outros que pediram
ajuda. E se as manchas de tsaraát continuavam voltando, a casa tinha de ser
demolida. Desta maneira, ele era punido por não compartilhar sua casa e seus
pertences com outros judeus.
2 – Tsaraát nas paredes era uma recompensa: Tsaraát às vezes atingia as paredes de
uma casa cujo dono não cometera uma falha. Para esse, a tsaraát era uma
recompensa. Descobriam ouro, prata e objetos de valor que haviam sido escondidos
nas paredes. Isto jamais teria sido descoberto se não fosse pelas manchas de tsaraát
aparecendo nas paredes.
Se um judeu que vivesse em qualquer cidade em Êrets Yisrael (exceto Jerusalém) e achasse
uma mancha na parede, ele chamava um cohen e lhe dizia: "Percebi uma mancha em uma das
paredes. Parece tsaraát." O cohen ordenava: "Antes que eu vá, tire todos os pertences de sua
casa!" Desta maneira, os objetos não se tornariam impuros, caso o cohen decidisse trancar a
casa.
Como explicamos, uma das razões pelas quais D‟us mandava tsaraát a uma casa era por
causa da avareza do proprietário. Recusava-se a emprestar seus pertences a outrem,
pensando que jamais alguém pudesse descobrir quantos objetos tinha escondido em sua casa.
Agora ele precisava colocar seus utensílios e pertences à mostra, na rua. Todos os vizinhos
viam os objetos que tinha mantido em segredo nos armários. Talvez isto despertasse a teshuvá
nele.
Então, quem sabe, D‟us deixasse as manchas de tsaraát nas paredes da casa desaparecerem
ou tornarem-se mais fracas. Porém, se não o fizesse, o cohen afirmava que a mancha na
parede era tsaraát. Ordenava, então: "Esta casa deve ser trancada por sete dias!"
Após uma semana, finalmente, a família tinha permissão de retornar para sua casa. Se os
membros daquela família tivessem sido mesquinhos ou antipáticos, certamente tornar-se-iam
generosos e humildes. Primeiro, seus pertences haviam sido colocados na rua. Depois eles
foram mantidos fora de casa por uma semana (algumas vezes por três semanas). O tempo
todo temeram que o tsaraát pudesse se espalhar e que a casa tivesse que ser demolida. Agora
percebiam que o lar de uma pessoa e todas suas posses na verdade pertencem a D‟us.
Dinheiro e objetos nos são concedidos para que os usemos com o propósito correto.
Quando Moshê ensinou as leis de tsaraát a Benê Yisrael, eles tornaram-se temerosos deste
terrível problema de pele. Mas Moshê os acalmou: "Vocês não precisam ter medo! Tsaraát é
um sinal de D‟us que vocês são uma nação sagrada. D‟us adverte-os a fazerem teshuvá. Isto
é um privilégio que D‟us não concede a nenhuma outra nação!"
Os judeus tiveram que guardar as leis de tsaraát apenas em Êrets Yisrael; não em outros
países. Êrets Yisrael é uma Terra Santa, onde a Shechiná repousa; por isso, os judeus que lá
vivem devem ser mais cuidadosos com as mitsvot que outros vivendo fora da Terra Santa.
Mensagem da Parashá
Instinto animal
por Yoel Spotts
Na porção desta semana da Torá encontramos vários mandamentos que aparentemente têm pouco em comum.
Começamos com uma listagem das leis e práticas de Yom Kipur, então passa para a proibição de comer sangue.
Finalmente, a porção conclui com uma discussão dos relacionamentos proibidos. Desprezando a possibilidade de
que estes mandamentos em particular foram jogados juntos ao acaso para formar a porção Acharê Mot da Torá,
certamente seremos capazes de descobrir um tema comum, conectando estes vários tópicos.
De forma bem interessante, vemos que a Torá proíbe o consumo do sangue de qualquer animal, mesmo aqueles
que são casher. Desse modo, a Torá não apenas exclui a grande maioria das criaturas de nossa dieta, como limita
nossa licença quanto aos permissíveis. Além disso, a Torá exige de nós um dia de total e absoluta abstinência de
toda alimentação. As restrições e regras parecem quase esmagadoras.
De fato, descobrimos uma estrutura muito similar a respeito dos relacionamentos proibidos. Na porção desta
semana, a Torá lista para nós os indivíduos impróprios que não devemos escolher como companhia. Entretanto,
isso não é tudo. A Torá regula severamente o relacionamento mesmo com as pessoas que nos são permitidas.
Uma união adequada deve ser precedida por kidushin, a santificação do casamento. Um casamento mal sucedido
deve ser terminado pela concessão de um documento de divórcio, ou guet. Relacionamentos extramaritais são
vistos com desdém. Dessa forma, vemos que a Torá coloca severas restrições e limitações sobre os alimentos qu
comemos e sobre nossos relacionamentos.
As semelhanças não param por aqui. A porção desta semana não é o único local em que encontramos estes dois
tópicos agrupados juntos. De fato, o Rambam coloca as Leis dos Relacionamentos Proibidos e as Leis dos
Alimentos Proibidos na mesma seção em seu código da Lei Judaica. O Rambam denomina esta seção,
curiosamente, de kedushá. Embora "kedushá" seja geralmente traduzida como "santidade", muitos comentaristas
assinalam que o termo também conota a noção de "separado" ou "distinto".
Dessa maneira, poderia parecer que o Rambam deseja nos transmitir que estas duas áreas da lei nos possibilitam
separar e distinguir a nós mesmos.
Agora, finalmente as peças se encaixam nos lugares certos. Quando D‟us criou o universo, colocou tanto o homem
como o animal neste planeta. À primeira vista, o homem parece não ser diferente de qualquer outra criatura. Afina
ambos se alimentam, ambos procriam, e ambos praticam as mesmas atividades físicas mundanas. Não somos,
então, diferentes dos animais que perambulam pela terra? Os dons da fala, raciocínio e liberdade são todos
indicativos de que o homem é na verdade diferente e separado dos animais. Entretanto, quando deixamos que
nossos desejos animalescos reinem livremente, agindo sem quaisquer restrições, estamos na verdade
demonstrando que não somos melhores que nosso cachorro ou gato de estimação. Quando continuamos a
satisfazer nossas ânsias gastronômicas e a ser escravos de nosso apetite carnal, reduzimo-nos a um mero
ajuntamento de carne e ossos.
Por este motivo, a Torá contém tantas proibições na área de ingestão de alimentos e relacões sexuais. A Torá nos
prescreve o controle de nossos desejos básicos a fim de nos "separar" e "distinguir" de todas as outras criaturas.
Demonstrando nossa força de vontade e nossa disciplina, podemos nos elevar acima de meros seres físicos. Não
admira que após ter introduzido estas leis na porção da Torá desta semana – o jejum em Yom Kipur, abster-se de
ingerir sangue, e evitar os relacionamentos proibidos – a Torá comece a porção da próxima semana com a
admoestação "kedoshin te'heyu – serás santo e distinto", pois apenas santificando estes aspectos físicos de nossa
vida podemos ter sucesso também em nossa busca espiritual.
O Côdesh Hacodashim
No dia em que os filhos de Aharon, Nadav e Avihu faleceram, D’us disse a Moshê:
"Veja que seu irmão Aharon não repita o erro de Nadav e Avihu! Porque desejavam
tanto aproximar-se de D’us, entraram no Côdesh Hacodashim, Santo dos Santos sem
permissão. Por causa disso, foram punidos.
Nenhum judeu, exceto o cohen gadol, deverá jamais entrar no Santo dos Santos. A
Shechiná ali repousa. Mesmo Aharon, o cohen gadol, pode entrar ali apenas quatro
vezes em Yom Kipur para fazer o serviço. Se entrar uma quinta vez, será punido por
D’us."
Havia apenas uma pessoa que era diferente: D’us disse a Moshê: "Você, Moshê, é
diferente. Pode entrar no local mais sagrado a qualquer hora que desejar, porque você
é extremamente santo."
D’us ensinou Moshê o serviço especial de Yom Kipur. Explicaremos aqui algumas das
leis principais:
Yom Kipur
O próprio cohen gadol deveria realizar todo o serviço no dia de Yom Kipur
Todos os corbanot de Yom Kipur eram oferecidos pelo próprio cohen gadol, não por
qualquer outro cohen. Por que? Neste dia D’us perdoa os pecados do povo judeu. Por
isso, os corbanot (sacrifícios) eram tão importantes que deveriam ser oferecidos pelo
cohen mais sagrado de todos, o cohen gadol.
Uma outra razão pela qual o cohen gadol vestia apenas túnicas de
linho ao entrar no Santo dos Santos era que vestes de linho são
brancas. O branco sugere pureza e perdão. Isso demonstra que o
cohen gadol está pedindo a D‟us que perdoe os pecados de Benê
Yisrael.
Sempre que o nome de D‟us era mencionado, este era louvado. Esta
era uma regra do Bêt Hamicdash: quando o grande nome de D‟us era
pronunciado, deveria ser louvado.
Antes que o cohen gadol entrasse, uma corrente de ouro era presa a
seu pé. Ele era puxado para fora caso morresse lá.
O que lhe dava coragem era saber que grande zechuyot (méritos) o
acompanhavam. D‟us o protegeria especialmente por causa destes
grandes méritos: a Torá, o brit-milá, o Shabat, a cidade de
Yerushalayim e as Tribos de Israel.
Uma história:
Não devemos adiar a teshuvá
D‟us fez com que Rêsh Lavish e seus dois amigos morressem no
mesmo dia.
Os dois companheiros puderam ver que Rêsh Lakish fora conduzido
ao Gan Eden, enquanto os anjos carregavam suas almas até uma
parte do Guehinom onde ladrões e assaltantes eram punidos.
"Tarde demais," declarou D‟us. "A pessoa pode fazer teshuvá apenas
durante a vida. Depois que morre, é recompensado somente pelo que
fez durante sua vida."
Esta história nos ensina que um judeu jamais deve adiar a teshuvá. Se
souber que cometeu uma transgressão, deve tomar a resolução de
jamais repeti-la. Entretanto, D‟us selecionou um tempo especial para
fazer teshuvá: Yom Kipur. Nesta época, D‟us aceita teshuvá mais
facilmente.
Corbanot - Sacrifícios
O Midrash nos relata por que animais selvagens merecem ter seu
sangue coberto.
Casamentos proibidos
Um judeu não pode desposar a mãe, madrasta, irmã, filha, neta, tia, ou
nora. Não pode casar-se com uma mulher e pegar sua irmã, filha ou
neta como segunda esposa. Entretanto, se sua mulher morre, ele tem
permissão de desposar a irmã dela. Um judeu não tem permissão de
contrair um matrimônio proibido, mesmo se for ameaçado de morte por
não obedecer.
D‟us prometeu: "Aquele que cumprir Minhas mitsvot viverá por causa
delas" (18:5).
Isso não significa que a pessoa que cumpre as mitsvot não morrerá.
D‟us prometeu: "Aquele que cumprir Minhas mitsvot viverá – no Mundo
Vindouro – por causa delas."
Após a morte, D‟us leva a alma ao Gan Eden onde a mantém até
techiyat hamêtim, a época da resurreição dos mortos. Então,
renonstituirá o corpo e devolverá a alma para habitar nele. A pessoa,
então viverá para sempre, apreciando a glória de D‟us o tempo todo.
Esta é a mais grandiosa recompensa imaginável.
Kedoshim (Vayicrá 19:1-20:27) inicia-se com a ordem de D‟us para toda a nação de Israel
para ser santa, imitando a suprema santidade do próprio Criador. A Torá prossegue
delineando uma infinidade de mitsvot através das quais podemos atingir a santidade,
abrangendo uma grande variedade de assuntos, tanto mandamentos positivos como
inferências negativas, lidando com nosso relacionamento ímpar com D‟us e com nosso
próximo.
Mensagem da Parashá
Em Pirkei Avot (1:7), o sábio Nittai desenvolve: "Distancie-se de um mau vizinho, e não se
associe com uma pessoa perversa." Não é preciso ler muitos jornais para estar informado
dos sérios problemas de moralidade ameaçando nossa sociedade nos dias de hoje. É
próprio da natureza humana ser influenciado pelos traços de caráter e padrões de valores
presentes entre nossos vizinhos. Entretanto, é imperativo que nos esforcemos para seguir o
código de conduta eterno que D‟us prescreve na Torá.
Infelizmente, o último século tem mostrado uma taxa alarmante de casamentos mistos,
ignorância e assimilação. Não é surpresa que isso pode ser atribuído em grande parte à
sociedade convidativa em que vivemos. Ao contrário de antigamente, quando nossas mães
caminhariam quilômetros para ir até o micvê, ou quando nossos pais conseguiriam juntar
somente o dinheiro suficiente para honrar o Shabat com vinho para o kidush, nós felizmente
possuimos infinitas oportunidades para cumprir mitsvot sem sacrifícios. Porém, tragicamente
é muito tentador agir "em Roma como os romanos" e desejarmos nos encaixar na maioria.
Recebemos ordem, entretanto, de não imitar valores que são antiéticos para a Torá. Ao
contrário – devemos ser santos – seguirmos o estilo de vida da Torá. D‟us tem Suas razões
para prescrever a maneira correta pela qual devemos pautar nossa vida.
Estamos agora no período entre os dias de Pêssach e Shavuot, o intervalo de sete semanas
no qual o povo judeu se purgou dos costumes egípcios e preparou-se para receber a Torá
no Monte Sinai. Assim também, devemos inventariar nossas próprias atitudes e valores,
notando que não são as novidades efêmeras da cultura ocidental que devemos incorporar,
mas sim os padrões perenes da Torá. Se nos lembrarmos disso, então seremos
verdadeiramente uma luz entre as nações.
A Parashá Kedoshim tem mais mitsvot que qualquer outra Parashá até agora. São mitsvot
importantes que dizem respeito a todos nós: "Amar todo judeu; não buscar vingança; não
roubar", e muitas mais.
Moshê queria ter certeza de que cada judeu ouviria esta importante Parashá. Por isso, antes
de explicá-la, reuniu todo o povo – homens, mulheres e até crianças.
A Torá nos diz: "Vocês devem ser santos porque Eu, D‟us, o Sou".
1 – Um judeu torna-se santo se cumpre as mitsvot da Torá e mantém-se afastado de tudo que
a Torá proíbe.
2 – Porém, isso não é o suficiente. A Torá quer "que sejamos santos", mesmo quando não
estamos rezando, estudando ou cumprindo uma mitsvá específica. Um judeu deve tentar ser
santo mesmo quando lida com seus assuntos do cotidiano. "Ser santo" significa usar nossa
mente, corpo, e tudo que possuímos rumo ao propósito para o qual D‟us deseja que os
usemos.
A mitsvá "ser santo" significa que antes de fazermos qualquer coisa, devemos fazer a nós
mesmos a pergunta: "D‟us ficará satisfeito com este ato; tem uma boa finalidade?"
Esta é uma tarefa muito difícil, por outro lado, nada é impossível; todas as mitsvot que Ele nos
deu são passíveis de serem cumpridas.
Uma história:
Certa vez os sábios precisavam de tsedacá para seus alunos pobres. Decidiram ir de casa em
casa, bater às portas e pedir tsedacá. Ao se aproximarem da primeira casa da aldeia, notaram
um pai e seu filho parados perto da porta, conversando.
"Eles vendem dois tipos no mercado," disse o filho. "Legumes frescos e de ótima qualidade por
um preço alto, e vegetais ressecados pela metade do preço. Qual deles compraremos?"
Os sábios ouviram as instruções do pai e disseram: "Deve ser uma família muito pobre. Nem
ao menos podem comprar legumes frescos para o jantar. Vamos deixar esta casa de lado;
certamente eles não podem contribuir com tsedacá. Voltaremos aqui por último, na volta para
casa."
Os sábios passaram todo o dia muito atarefados, coletando tsedacá. À noite, detiveram-se
novamente pela casa onde tinham visto o pai e o filho. Bateram à porta e o pai apareceu.
"Estamos pedindo tsedacá," anunciaram os sábios. "Por favor, ajude a cumprir esta mitsvá."
"Estou ocupado agora," respondeu o dono da casa. "Procure minha mulher e diga-lhe para dar
a você uma xícara cheia de moedas de dinar." Naquela época, o dinar era uma moeda valiosa.
Uma xícara cheia de dinares era uma fortuna.
Os sábios dirigiram-se à mulher e lhe disseram: "Seu marido quer que nos dê uma xícara cheia
de dinares."
"Meu marido falou se devo dar a vocês uma xícara até a boca ou se deve estar
transbordando?", a esposa perguntou.
"Bem," disse a mulher, "deixe-me dar a vocês uma xícara transbordando. Se meu marido
disser que não é isso que ele queria, digo-lhe que estou dando as moedas extra de meu
próprio dinheiro."
Os sábios voltaram ao marido para dizer adeus. Ele lhes perguntou: "Minha mulher deu a
vocês uma xícara apenas cheia ou transbordante?"
"É isso que eu queria," disse o marido, satisfeito. "Entretanto, algo está me intrigando: Por que
vocês não vieram à minha casa quando passaram por aqui esta manhã?"
Os sábios replicaram: "Ouvimos as instruçnoes que fornecia a seu filho para comprar os
legumes mais baratos para o jantar. Pensamos que fosse pobre e não nos poderia dar um
donativo grande."
Esta família era portadora de muita grandeza. Muitos de nós não somos tão corretos quanto
eles. D‟us não ordena que façamos como eles. Entretanto, podemos aprender com esta
história a não desperdiçar dinheiro.
A mitsvá "ser santo" significa que devemos usar tudo que temos, incluindo o dinheiro, para uma
boa finalidade.
A Torá ordena: "Cada filho judeu – mesmo adulto – deve respeitar seus pais."
Há apenas um caso em que o filho está proibido de dar ouvidos ao pai ou à mãe – quando ele
ou ela ordena-lhe que cometa uma transgressão. Por exemplo, se a mãe no Shabat, diz à filha:
"Cozinhe isto agora!" a filha está livre de obedecer. Os mandamentos de D‟us têm precedência
sobre as ordens dos pais.
Portanto, estamos proibidos de ler livros ou artigos que falem sobre qualquer tipo de idolatria. É
igualmente proibido possuir livros que declaram que o mundo não foi criado por D‟us. D‟us
deseja que pensemos e leiamos sobre assuntos que são verdadeiros e que nos ajudem a
cumprir Suas mitsvot.
Três mitsvot sobre a colheita
Ser fazendeiro sempre foi um trabalho muito difícil. Na época do Bet Hamicdash, todo
o trabalho no campo era feito à mão.
Deve-se deixar pea em cada um dos campos que possui: não é permitido deixar duas
peot em um campo e nenhuma em outra.
Os sábios ensinaram que a mitsvá é cumprida com uma sexagésima parte da colheita.
Entretanto, se a pessoa é generosa, pode deixar mais. Não há limite; quanto mais
deixar, mais D’us o recompensará. Como a colheita é compartilhada com os pobres,
como D’us ordenou, é uma colheita jubilosa, todos estão felizes, até os pobres.
Um judeu não pode dizer: "Permitirei apenas que meus parentes (ou amigos) pobres
recolham minha pea; não quero estranhos." Qualquer judeu pobre pode servir-se da
pea.
D’us deu duas outras mitsvot para fazendeiros em Erêts Yisrael ao colherem grãos:
Leket: Se, durante a colheita, um ou dois ramos caem ao solo, é proibido recolher.
Deve-se deixá-los para que os pobres os peguem. Entretanto, se cairem três ramos
juntos, pertencem ao fazendeiro e não aos pobres.
Se a pessoa tem um olival, também deixa pea e ainda tem as mitsvot de leket e
shikcha para cumprir.
Contra o furto
A Parashá Kedoshim contém muitas mitsvot proibindo-nos de furtar dinheiro. Aqui estão
algumas delas:
Não roubar
Por que esta mitsvá segue-se à mitsvá de deixar parte da colheita para os pobres? O que
possuem em comum?
O proprietário de um campo é advertido: "Se você tem um campo e é muito mesquinho para
deixar pea, está na verdade roubando comida dos pobres. Não roube!"
E os pobres, também, são advertidos: "Quando recolher leket, não furte! Se você perceber que
o dono deixou cair três feixes juntos, não os recolha! Não lhe pertencem; pertencem ao
proprietário. Também, se você não é realmente necessitado mas recolhe pea para ganhar
„comida grátis‟, está roubando! Pea pertence apenas aos pobres."
A Torá ensina a não roubar após as mitsvot de leket, shikcha e pea para insinuar estas
advertências ao proprietário de um campo e aos pobres.
Um judeu não pode roubar nem mesmo um centavo. Também não pode tirar nada de seu
amigo como brincadeira, mesmo que tenha a intenção de devolvê-la mais tarde. E jamais deve
comprar coisa alguma de um ladrão.
Uma história:
Havia certa vez um governante não-judeu que promulgou esta lei: Se a polícia pegasse um
ladrão, deveria libertá-lo. Porém, se pegasse uma pessoa que comprou artigos roubados,
deveria condená-la à morte.
"Esta lei é ridícula!" comentava o povo. "Não seria melhor se o rei ordenasse que o ladrão
fosse morto?"
O rei soube que o povo ria de sua nova lei. Anunciou: "Todos estão convidados para ir ao
grande campo atrás do palácio amanhã. Haverá um demonstração muito interessante."
Enorme multidão reuniu-se no campo no dia seguinte. Naquele local vivia um grande número
de doninhas. O rei ordenou aos servos: "Coloquem comida que as doninhas apreciem."
No dia seguinte, após o povo estar reunido, o rei disse novamente aos servos: "Tragam comida
para as doninhas!" Os servos puseram a comida no chão e os animais foram pegá-la.
Carregaram-na para suas tocas, mas não puderam colocar a comida lá dentro; os buracos
estavam fechados.
"Vejam," disse o rei. "Ladrões agem exatamente como doninhas. Roubam porque sabem que
existem pessoas que negociarão com eles. Mas se souberem que ninguém comprará artigos
roubados, deixarão de furtar. Por este motivo estou punindo todos que fazem negócios com
ladrões; eles encorajam os gatunos a roubar!"
A Torá nos avisa: "Se você roubou alguma coisa, não o negue, dizendo: „Não roubei.‟ Admita
seu roubo e faça teshuvá."
A Torá também ordena: "Se alguém lhe der dinheiro para guardar em confiança ou lhe fez um
empréstimo, ou se você achar dinheiro e ele lhe pedir para devolver, não minta, dizendo:
"Nunca recebi este dinheiro."
Não jurar em falso
Se você receber dinheiro de alguém para guardar e negar isto mais tarde, o verdadeiro dono
do dinheiro poderá dizer: "Vá ao tribunal e jure que você não tem meu dinheiro."
A Torá adverte: "Não jure falsamente que você não tem o dinheiro."
Se um amigo lhe emprestou dinheiro ou lhe deu dinheiro para guardar para ele, não faça
brincadeiras ou use de força para ficar com o dinheiro. Não deve dizer: "Não tenho tempo para
devolver-lhe o dinheiro hoje, volte amanhã."
Um judeu que propositadamente retém dinheiro que pertence a outra pessoa, está cometendo
uma transgressão. Você não pode reter dinheiro que é devido a outra pessoa.
Um judeu deve pagar quem trabalha para ele ao fim de cada dia de trabalho. Entretanto, se há
um arranjo com o trabalhador para pagá-lo semanalmente, ou mensalmente, ou quando a
tarefa for terminada, não é necessário pagar-lhe a cada dia. Ao invés disso, deve pagar-lhe ao
tempo combinado. Se atrasar o pagamento, comete uma transgressão.
As pessoas que viveram na geração do dilúvio foram perversos que assassinavam, serviam
ídolos, e tinham relações que lhes eram proibidas. Mesmo assim, D‟us teve paciência e não ia
trazer o dilúvio para destruí-los. Porém, quando cometeram o pecado do roubo, os anjos
disseram a D‟us: "Deves punir esta geração agora." Assim, D‟us mandou o dilúvio.
O Midrash explica:
O povo perverso que viveu antes do dilúvio agia de maneira insidiosa quando roubava.
Pegavam quantidades tão pequenas que os juízes da corte não podiam puni-los. Se um
homem pusesse uma cesta de ervilhas sobre o peitorial da janela, alguém se esgueirava e
roubava apenas uma ervilha. Outra pessoa viria então e pegaria mais uma ervilha, e uma
terceira pessoa mais uma – centenas de pessoas pegariam apenas uma ervilha cada uma.
Quando o dono descobria que a cesta estava vazia, iria ao magistrado.
"Minhas ervilhas foram roubadas," diria ao juiz.
"Não, senhor," respondia o ladrão. "Peguei apenas uma. Uma não vale nem um centavo;
certamente não vai me punir por pegar apenas uma."
Cada ladrão contava ao juiz a mesma história. Desta maneira, as pessoas que viveram antes
do dilúvio eram espertas para safar-se do tribunal sem castigo. Entretanto, D‟us puniu-os todos
por sua gatunagem. Mandou um dilúvio que os destruiu.
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Cuidados com a fala
Não podemos amaldiçoar uma pessoa surda, embora ela não possa ouvir nossa maldição e
não se aborreça com isso. Então certamente não podemos amaldiçoar um judeu que pode nos
ouvir e que se sentirá mal com nossa praga!
1 – Uma pessoa que souber que foi amaldiçoada certamente ficará muito magoada.
2 – Mesmo que a pessoa jamais descubra que foi amaldiçoada, mesmo assim é proibido fazer
isso. A Torá deseja que sejamos bons e amigos de todos; não podemos desejar-lhes o mal.
3 – Cada palavra dita pela pessoa tem uma força formidável. D‟us poderá cumprir a maldição.
Então, teremos uma parcela de culpa se o próximo for punido.
A Torá nos ordena: "Não faça uma pessoa cega tropeçar, colocando obstáculos em seu
caminho."
Esta mitsvá também se aplica se alguém vem até você pedindo um conselho. Você não deve
aconselhá-la erradamente, de propósito. Quem lhe pede um conselho é como se fosse "uma
pessoa cega". Se lhe der a direção errada, estará fazendo-a "tropeçar", cometer um erro.
Quando você aconselha alguém, esta pessoa não sabe se sua intenção é ajudá-la ou causar-
lhe problemas. Ele não pode ler seus pensamentos. Mas há Alguém que lê sua mente – D‟us.
Ele adverte: "Aconselhe honestamente."
Nossa sagrada Torá nos dá uma mitsvá especial que podemos cumprir muitas vezes a cada
dia. Não é fácil, mas, sendo difícil, temos um grande mérito ao cumpri-la. A cada vez que você
ver um judeu comportando-se de maneira imprópria, perdoe-o mentalmente.
Esta mitsvá também é mencionada em Pirkê Avot (1:6): "Julgue cada pessoa com brandura!"
Uma história:
Abaye era um dos santos sábios. Era tão notável que uma vez por semana tinha o privilégio de
ouvir uma voz vinda do céu.
Certa vez, Abaye escutou algo surpreendente: "Há um certo doutor chamado Aba que escuta
uma voz celestial todo santo dia!"
Abaye refletiu: "O que há de tão especial com este doutor Aba que D‟us o favorece com uma
voz celestial todos os dias? Deixe-me descobrir o que ele faz. Talvez possa imitar suas boas
ações e tenha o merecimento de escutar a voz mais freqüentemente, também."
Alguém falou a Abaye: "Você não pode fazer o que este doutor faz."
Doutor Aba era famoso por muitos feitos especiais. Por exemplo, tratava cada pessoa que o
procurava, sem se preocupar se podia pagar ou não. Para não constranger quem não lhe
pudesse pagar, colocava uma caixa de pagamentos do lado de fora do consultório. Aqueles
que podiam pagar punham o dinheiro na caixa: aqueles que não o podiam, nada colocavam.
Ninguém sabia qual paciente havia feito o pagamento e qual havia sido tratado graciosamente.
Se um jovem erudito de Torá entrava e queria pagar, Doutor Aba respondia: "Não aceitarei
pagamento de você." Quando terminava de tratar o estudante de Torá, dar-lhe-ia uma doação
e dizia: "Use-a para comprar comida a fim de ter forças para estudar Torá."
O sábio Abaye soube disto, e muitas outras maravilhas sobre o Doutor Aba.
"Ele é realmente um tsadic tão grande?" disse Abaye. "Mandarei dois de meus alunos para
testá-lo."
Os dois estudantes foram ao Doutor Aba e disseram: "Somos alunos do sábio Abaye."
"Por favor, entre", Doutor Aba recebeu-os. "Servirei comida e bebida, e podem passar a noite
aqui."
O doutor não sabia por que os estudantes tinham vindo visitá-lo. Não lhes fez perguntas, mas
tratou-os gentilmente. Quando eles se aprontavam para dormir, estendeu lindos cobertores de
lã, para que ficassem confortáveis.
Mas Doutor Aba não ficou nervoso. Apenas olhou os cobertores e disse: "Acho que valem bem
umas cem moedas."
"Talvez valham mais," replicaram os estudantes. "Achamos que talvez um bom preço seja
cento e cinqüenta moedas."
"Ótimo," disse Doutor Aba. "Compro-os de vocês por cento e cinqüenta moedas."
Abriu a carteira para pegar o dinheiro.
Agora os estudantes resolveram acabar com a bricadeira. "Certamente sabe que os cobertores
são seus,"disseram ao médico. "O que pensou a nosso respeito quando os roubamos? E o que
achou quando tentamos vender-lhe os cobertores?"
"Não pensei, D‟us me livre, nada de mal sobre vocês," disse Doutor Aba. "Julguei-os
favoravelmente. Imaginei que talvez tivessem sido enviados pelo seu rebe para libertar alguns
prisioneiros judeus. É preciso uma grande soma de dinheiro para pagar aos captores não-
judeus. Na noite passada vocês não quiseram pedir-me uma tsedacá tão grande, então tiraram
os cobertores, imaginando que eu não me incomodaria de dá-los a vocês."
Os estudantes disseram: "Somos gratos por desculpar nosso mau comportamento. Tivemos
uma boa razão para pegar os cobertores; demos ouvidos ao nosso rebe que nos disse para
testarmos o senhor. Agora queremos devolvê-los."
"Oh, não," disse Doutor Aba. "Não os aceitarei de volta. Já havia decidido comigo mesmo que
seriam para tsedacá. Pretendo doá-los."
Os estudantes voltaram ao rebe, Abaye, e contaram-lhe como o Doutor Aba agira. Agora
Abaye podia entender por que o Doutor merecia ouvir uma voz celestial todos os dias; era
realmente um tsadic excepcional!
Eis aqui outra importante mitsvá que podemos cumprir com freqüência:
A Torá adverte: Não saia por aí espalhando histórias sobre outras pessoas! Duas mitsvot estão
incluídas nesta advertência:
1 – Não fale lashon hará sobre os outros! Lashon hará é uma observação verdadeira sobre
outra pessoa, mas não é positiva.
2 – A proibição de rechilut, espalhar boatos. Não conte a uma pessoa o que outra disse a seu
respe
Sem ódio e sem vingança
A Torá diz: "Não odeie seu irmão em seu coração." Todos os judeus são chamados "irmãos" e
"filhos de D‟us." Um irmão deve amar o outro e preocupar-se com ele.
Por que as pessoas às vezes se odeiam? Talvez não haja uma verdadeira razão. Este ódio é
chamado de ódio por razão nenhuma, sin‟at chinam.
Rezamos a cada dia pela vinda de Mashiach e para que o terceiro Bet Hamicdash seja
reconstruído. Mas primeiro, devemos parar de ter ódio. Impedimos a vinda de Mashiach por
causa de ódio sem motivo.
Mesmo se outro judeu enganar você, não deve odiá-lo. Esta é uma mistvá também: "Não
podemos buscar vingança ou lembrar do mal que outro judeu nos causou."
Se você vir seu próximo fazendo algo errado, a Torá ordena que lhe mostre o caminho certo.
Todos os judeus são responsáveis uns pelos outros. Se um judeu errou, é uma mitsvá ajudá-lo
a parar de errar.
O mais importante sobre esta mitsvá é como você a executa. Ninguém gosta de ser
repreendido. Isto é válido especialmente se você o insulta ou constrange pela maneira que lhe
fala. Por isso, seja cuidadoso com o modo pelo qual o corrige.
Nunca o repreenda em público. E sempre reflita primeiro: "Como eu gostaria que me falassem
se estou errado fazendo isso?" Se a outra pessoa perceber que você está tentando ajudá-lo,
lhe dará ouvidos.
O que é vingança? Agir com o próximo da mesma forma que ele agiu conosco. Devolver o mal
se nos fez mal.
"Infelizmente não posso te ajudar ". (Ela pensou consigo: "Por que haveria eu de fazer por ela
aquilo que ela se negou a fazer comigo?)
Isto é proibido pela Torá.
Uma história:
Era um dia quente de verão. O açougueiro estava em sua loja, cortando grandes pedaços de
carne. Pensava na ducha refrescante que tomaria após o trabalho. Mas enquanto sua mente
divagava, a faca escorregou. Subitamente o sangue jorrou de sua mão esquerda. Por engano,
havia cortado seu dedo médio. Ficou furioso.
"Sua mão direita idiota!" vociferou. "Por que me cortou? Vou vingar-me de você!"
Levantou o facão com a mão esquerda e cortou fora o dedo médio da mão direita.
O açougueiro agiu de forma ridícula. Cortando uma das mãos por ela ter machucado a outra,
feriu ainda mais seu próprio corpo.
Um judeu que se vinga age da mesma forma. Todos os judeus são "um só corpo"; todos
dependemos uns dos outros.
A Torá não proíbe apenas a vingança. Também não podemos lembrar o mal que outro judeu
nos causou. Isto significa não lhe expressar verbalmente e o fazer recordar este mal.
Exemplo: Fulana se recusou a emprestar um objeto para sua vizinha. Quando ela mesma
precisou emprestar um objeto da vizinha, esta lhe disse: "Com certeza lhe emprestarei, apesar
de você ter me negado quando lhe pedi".
Há muitos tsadikim famosos que perdoaram aqueles que os insultaram ou lhes causaram mal:
Esta mistvá é muito importante. Quando D‟us criou o mundo, Ele tinha em mente que as
pessoas fariam chessed (bondade) umas para as outras. Assim, sempre que cumprimos a
mitsvá de amar o próximo, D‟us fica feliz e diz: "Estou orgulhoso deste judeu que ama o
próximo. Ele age da maneira que Eu queria que todos agissem.
Um fazendeiro em Israel tem muitas mitsvot especiais. Uma delas é que deve ser cuidadoso
para não semear dois tipos diferentes de grãos, feijões, ou legumes muito próximo um do
outro.
Um fazendeiro que deseja semear duas espécies diferentes num mesmo campo deve manter
um espaço entre elas. Há leis especiais bem detalhadas que especificam a distância que
diferentes tipos de plantas devem ter umas das outras.
A Torá chama dois tipos de plantas que crescem juntas de kilayim – uma mistura proibida. Se
um fazendeiro semeou kilayim neste campo por engano, deve arrancar todas as plantas
proibidas.
Um fazendeiro judeu fora de Erêts Yisrael pode semear dois tipos de plantas juntos em um
campo. Entretanto, mesmo fora de Erêts Yisrael, não pode enxertar dois tipos diferentes de
árvores.
Não podemos vestir uma roupa contendo shaatnez, uma mistura de lã e linho
A Torá também proíbe um outro tipo de mistura. Um judeu não pode usar nenhuma peça de
roupa que possua linho junto com a lã. Tal mistura é chamada shaatnez. Entretanto, pode-se
ter o fio de linho completamente removido e substituí-lo por um de lã ou então sintético.
Uma vestimenta é completamente shaatnez mesmo se for feita totalmente de linho, mas tem
botões costurados com fios de lã, ou o inverso.
A maioria de nós sabe diferenciar linho de lã ao pegá-lo nas mãos, saberá que material é um
ou outro. No entanto, em relação a mesma peça de roupa, com tantos detalhes e
complementos (forro, etiquetas, linhas de costura, fios e botões, etc), não saberíamos se há um
pedacinho pequeno e escondido de shaatnez. No entanto, há pessoas que foram treinadas
para tornarem-se "especialistas em shaatnez". Podem reconhecer um único fio de linha de
shaatnez numa roupa.
Muitos especialistas usam microscópios para verificar se há linhas shaatnez num tecido.
Toda vez que compramos um casaco, terno, jaqueta, ou qualquer roupa que possa conter
shaatnez, devemos levá-la a um "verificador de shaatnez" antes de vesti-lo.
Também não podemos sentar num sofá contendo shaatnez.
Por que D‟us não quer que usemos roupas com shaatnez? Segundo uma explicação, é porque
algumas das vestes dos cohanim, continham shaatnez. (O cinturão, o peitoral e o avental eram
de linho, mas tinham fios de lã.) eram vestes sagradas que apenas os sacerdotes podiam
vestir. Assim como um rei não deixa que cidadãos comuns vistam os mesmos uniformes que
os soldados, assim D‟us não quer que judeus comuns vistam o mesmo tipo de roupas que os
cohanim costumavam usar.
Isso pode ser uma das razões para a mitsvá, mas é claro que todas as mitsvot têm mais razões
que fogem ao nosso entendimento chamadas chukim.
Árvore frutífera
Aqui estão as mitsvot que um fazendeiro judeu deve obedecer mesmo fora de Erêts Yisrael:
Por exemplo, um fazendeiro judeu planta uma macieira. Um ano depois, já existem pequenas
maçãs. Ele não pode comer ou vender estas maçãs. Deve proceder da mesma forma no
segundo e terceiro anos. A Torá ordena: "Se plantar uma árvore frutífera, não pode usar seus
frutos (para comer ou vender), pelos primeiros três anos." Estas frutas são chamadas orla.
Porém, se comprarmos maçãs e outras frutas? Temos que descobrir se as maçãs são frutas
orla ou não?
Se vivemos em Erêts Yisrael, antes de comprarmos frutas devemos sempre tentar saber se
são orla ou não. A menos que uma fruta tenha uma supervisão rabínica declarando que não é
orla, não devemos comê-la.
Fora de Erêts Yisrael a lei é diferente. Não precisamos investigar se uma fruta é orla; podemos
comer todas as frutas. Apenas se soubermos com certeza que alguma fruta foi cultivada por
um fazendeiro judeu e que os três anos após o plantio ainda não passaram, a fruta é vedada
para nós. Mas geralmente não sabemos e podemos comer todas as frutas.
O que faz um fazendeirto judeu com a fruta que cresce no quarto ano após a árvore ser
plantada?
Na época do Bet Hamicdash, ele devia levar a Jerusalém toda a fruta que crescesse no quarto
ano. Ele tinha que comer a fruta em Jerusalém. Se tivesse tanta fruta que lhe fosse difícil
transportar para Jerusalém, era permitido trocá-la por dinheiro. Devia usar este dinheiro para
comprar comida que deveria ser consumida em Jerusalém.
Mesmo nos dias de hoje as frutas do quarto ano após o plantio da árvore são sagradas.
Apenas podem ser ingeridas após o fazendeiro trocá-las por uma moeda. Ele deveria perguntar
a um rabino como trocar as frutas por uma moeda e o que deve fazer com a moeda.
Esta ordem pode ser explicada de muitas maneiras. Eis aqui umas delas:
Um judeu que trouxe uma oferenda ao Bet Hamicdash não recebia permissão de comer sua
parte da oferenda imediatamente após o abate. Devia esperar até que o cohen tivesse
borrifado o sangue da oferenda sobre o altar.
Isto é o que significa o comando "Não coma a carne de um corban antes que o sangue tenha
sido borrifado sobre o altar!" Borrifar o sangue sobre o altar é a parte principal no oferecimento
do corban. Isto expia a culpa do ofertante. Não seria apropriado para ele comer sua porção
antes que seus pecados fossem perdoados.
A Torá nos proíbe de acreditar em qualquer tipo de supertições. Nos tempos antigos, as
pessoas eram ainda mais supersticiosas que hoje. Muitas nações acreditavam piamente em
sinais "da sorte" e "do azar". Se um rei queria decidir se começava ou não uma guerra, atiraria
flechas para o alto. Decidiria então que atitude tomar baseado na direção que as flechas
apontavam ao cair.
Quando o Povo de Israel vivia no Egito, os egípcios acreditavam em "presságios", sinais para
prever o futuro.
A Torá adverte Benê Yisrael: "Um judeu não deve acreditar em sinais. Não acredite que se
certas coisas acontecem, elas significam boa ou má sorte para você. Não acredite que certos
dias ou horas trazem sorte ou azar ao começar uma nova tarefa."
Devemos acreditar na verdade. Apenas D‟us decide o que nos acontecerá no futuro. E seja
qual for Sua decisão, sabemos que será o melhor para nós.
A Torá ordena que meninos judeus e homens não cortem as costeletas. Como ocorre com
outras mitsvot da categoria de chukim, não sabemos as razões desta. Conforme uma
explicação, os idólatras nos velhos tempos costumavam cortar o cabelo por igual ao redor da
cabeça. D‟us queria que os judeus tivessem aparência distinta. Isso ajuda-nos a perceber que
judeus devem sempre ser santos e agir diferentemente.
Outra razão pela qual a Torá proíbe tatuagem, é porque o corpo nos foi dado como um
presente por D‟us. É uma mitsvá cuidar bem do corpo. Não devemos perfurá-lo ou marcá-lo
sem necessidade.
Era uma mitsvá para cada judeu que subia ao Har Habayit, a montanha onde ficava o Bet
Hamicdash, comportar-se seriamente e com respeito. Ao entrar no pátio do Templo, deveria
demonstrar ainda mais respeito, lá todos tinham que permanecer de pé. (Apenas reis da família
real de David tinham permissão de sentar-se no pátio.) Cada judeu era lembrado desta forma
que a presença de D‟us repousava lá, e era obrigado a comportar-se de acordo.
Hoje temos uma lei que demonstra nosso respeito pelo Bet Hamicdash: Não podemos fazer
nenhum objeto exatamente da maneira que existia no Bet Hamicdash. Por exemplo, a menorá
no Bet Hamicdash tinha sete braços. Usamos, portanto, menorot com cinco, seis ou oito
braços. Da mesma forma, não fazemos para nós mesmos uma shulchan (mesa) ou outro
objeto exatamente da maneira que havia no Bet Hamicdash.
Outra mitsvá que nossos Sábios decretaram é: Devemos nos comportar com respeito numa
sinagoga e numa Casa de Estudos (Bêt Midrash). Eles são nossos pequenos Batê Micdash,
mini-Templos.
Devemos nos comportar com seriedade e respeito, lembrando que a Presença de D‟us
repousa neste local.
Não devemos falar sem necessidade; se queremos conversar, o fazemos fora deste
recinto.
Devemos nos manter sentados em silêncio mesmo se não estamos rezando; sentar na
sinagoga já é uma mitsvá! O livro de Tehilim nos ensina: "Ashrê yoshvê betecha"-
"Feliz é o povo que (apenas) se senta em Sua Casa".
Outro tipo de mágico era o yidoni. Este colocava um osso de um certo animal na boca. Com
magia, fazia o osso falar. Então o mágico fazia coisas esquisitas, caía no chão, e predizia o
futuro.
A Torá nos ordena: "Quando você ver um judeu de setenta ou mais anos, deve honrá-lo! Fique
de pé e aja respeitosamente em relação à ele"
Um judeu de idade é honrado mesmo não sendo um sábio. Merece ser respeitado porque D‟us
lhe concedeu vida longa. Tem experiência de vida e reconhece os caminhos maravilhosos de
D‟us neste mundo. Se todos judeus idosos devem ser honrados, quanto mais nossos próprios
avós, se somos afortunados de o termos conosco.
Quando o sábio Abaye caminhava pela rua, costumava estender seu braço para que todo
judeu idoso pudesse apoiar-se nele.
O próprio Rava não sustentava pessoas idosas. Porém, sempre que via um judeu de idade,
mandava um de seus alunos oferecer-lhe o braço.
Sempre que Rabi Meir via um judeu idoso, mesmo um que não fosse estudioso da Torá,
levantava-se para ele. Dizia: "Deve haver uma razão para D‟us deixá-lo viver até esta idade
avançada: ele certamente realizou boas ações!"
A Torá chama um erudito de zaken (homem idoso), mesmo se for jovem. Por ter estudado
Torá, possui a sabedoria de um homem de mais idade. Por isso, a Torá nos ordena: "Honra
todo erudito de Torá, seja ele jovem ou idoso."
Nós nos levantamos para um erudito; fazendo-o caminhar à nossa frente. É claro que cada
aluno deve honrar ainda mais seu próprio mestre de Torá.
Em Pirkê Avot está escrito: "Seu respeito pelo Rebe deve ser tão grande quanto seu temor a
D‟us."
Um aluno deve levantar-se para seu rebe: não pode sentar-se na cadeira do rebe; deve fazer
perguntas com respeito; não deve interrompê-lo, e tampouco contradizê-lo. Seu rebe merece a
maior honra, porque lhe ensina a Torá, doando seu tempo e sabedoria.
Se você pesa ou mede um artigo que deseja vender, a Torá adverte: "Tenha balanças e fitas
métricas exatas!"
Uma balança dos tempos antigos tinha dois pratos. Em um deles, o mercador colocava pedras.
Cada pedra tinha um determinado peso. No outro prato ele punha mercadorias do mesmo
peso. Se ele marcasse uma pedra com as palavras "1 quilo", mas na verdade a pedra pesasse
menos que um quilo, o cliente sempre recebia menos que um quilo de mercadoria.
Por isso, independente do tipo de balança ou medidor que o judeu use, a Torá lhe ordena:
"Assegure-se de que está exato. Se trapacear, seu freguês jamais saberá. Mas há Alguém que
sempre o sabe."
Nesta Parashá, aprendemos sobre importantes mitsvot. Podemos cumprir algumas delas todos
os dias.
Quando Moshê explicou esta Parashá, Benê Yisrael ouviu com atenção.
Quando Moshê terminou, disse em nome de D‟us: "Eu, D‟us, dei a vocês todas estas mitsvot
para que possam ser santos, kedoshim. Se vocês, a nação judaica, agir de maneira diferente
dos outros povos, então serão Meus".
A porção cita defeitos físicos que impedem um cohen de realizar seu trabalho no Templo
Sagrado, a menos que se cure. O assunto então volta-se à nação inteira: qualquer um que
esteja tamê, impuro, recebe ordens de afastar-se dos locais e coisas que sejam
especialmente sagradas. Após discutir as leis de terumá (a pequena porcentagem de
comida que deve ser separada da colheita na Terra de Israel e dada a um Cohen, antes que
a porção restante possa ser comida) e as várias imperfeições que tornam uma oferenda
inadequada, somos advertidos a ser cuidadosos para não profanar o nome de D‟us e, ao
contrário, santificá-Lo a todo custo.
A Torá continua a discutir as festas do ano (Pêssach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur,
Sucot e Shemini Atsêret), seguidas pelas duas mitsvot constantes mantidas no Mishcan: o
acendimento da menorá todos os dias e a exibição de lechem hapanim a cada semana. A
porção termina com o horrível incidente de um homem que amaldiçoou o nome de D‟us e foi
punido com a pena de morte por ordem Divina.
Mensagem da Parashá
Na saúde e na doença
por Matthew Leader
Infelizmente, as pessoas nem sempre são justas. Se alguém informar a você que não pode
ter um determinado trabalho devido a um defeito físico, seja o trabalho de médico,
advogado ou Chefe da Tribo, a maioria das pessoas diria: "Ei, meu senhor, isso não é
justo!" Entretanto, todos esperam que D‟us seja justo, se não na prática, pelo menos nas
regras escritas. Eis por que muitos sábios através dos tempos têm discutido a parte
aparentemente não igualitária da porção desta semana da Torá, que trata das leis dos
Cohanim. Após descrever vários detalhes de como um Cohen deveria manter-se
especialmente puro, D‟us diz a Moshê que um Cohen com qualquer defeito físico, como
cegueira, eczema ou mesmo um pé quebrado não poderia aproximar-se do Mishcan para
realizar o serviço sacerdotal de trazer oferendas, pois isso "profanaria Meu local sagrado"
(Vayicrá 21:23).
Como pode ser? Nossa religião não é para aperfeiçoamento interior, onde o Criador nos
julga pelos nossos pensamentos e ações, não pela nossa aparência pessoal?
Na prece fundamental do Shemá, está escrito que devemos servir a D‟us "com todo nosso
coração e toda nossa força" e Ele ficará satisfeito conosco. O salmo Aishet Chayil, recitado
toda sexta-feira à noite como um louvor às mulheres da casa, informa-nos que "o encanto é
falsidade e a beleza é vã, mas uma mulher que teme D‟us, essa deve ser louvada." Então,
como pode uma pessoa que tem a infelicidade de ser cega ou desenvolver uma doença de
pele ser excluída do serviço de D‟us, se possui um bom coração?
Convenientemente, Rabi Meir Simcha HaCohen de Dvinsk faz a mesma pergunta, e nos dá
a resposta em duas partes. A primeira é a mais óbvia – pois D‟us é o árbitro daquilo que
constitui a verdadeira justiça, e tudo que Ele faz é justo por definição. As leis a respeito das
oferendas são chukim e podemos apenas adivinhar as razões pelas quais Ele deseja que
certas pessoas estejam envolvidas neste serviço, e outras sejam excluídas.
Isso nos ensina que não devemos aplicar nossos limitados ideais humanos de "justiça" às
ações de D‟us. Esta resposta é mais compreensível no caso de um Cohen que nasceu com
um defeito. Entretanto, isso não é realmente compreensível no caso de alguém que D‟us
considerou merecedor quando anteriormente desempenhou o serviço sacerdotal, mas agora
foi golpeado por essa lista. Devemos portanto assumir que esta pessoa tornou-se
desmerecedora de servir, através de algum pecado ou ato que cometeu.
Mas certamente há pessoas defeituosas que são mais justas que outras saudáveis.
Rabi Meir Simcha responde a isso de uma maneira judaica clássica, fazendo outra
pergunta: Se deveria haver desqualificações, por que D‟us simplesmente não dizia ao
profeta da época quais pessoas haviam pecado, e o profeta as desqualificaria do serviço
sacerdotal?
Rashi declara que o fato de a Torá escrever a palavra "defeitos" uma vez mais (ibid. 21:21),
após já ter listado vários exemplos, ensina-nos que qualquer defeito físico é motivo para
desqualificação, mesmo um que não seja aparente ou visível de imediato. Portanto, explica
Rabi Meir Simcha, o defeito físico é uma maneira de D‟us enviar uma mensagem direta à
pessoa afligida que, mesmo se suas ações parecem ser puras externamente, podem existir
falhas internas ou um traço de caráter que ele precisa remediar.
O defeito de forma alguma significa que ele é "mau" ou "pecador"; ao contrário, sugere que
há um pequeno atributo ou atividade que ele precisa aperfeiçoar antes de retomar o serviço
sacerdotal. Talvez apenas o próprio Cohen possa descobrir esta falha através de sua
própria introspecção, enquanto as "autoridades religiosas" da época possam ser incapazes
de encontrar o problema interno.
Esta lição de responsabilidade pessoal não se aplica apenas aos Cohanim. Cada um de
nós, em nosso próprio nível, deve manter nosso relacionamento único com D‟us e
responder às sutis mensagens que Ele envia constantemente em nossa direção.
Cohanim e levitas
Na Parashá anterior, Moshê disse ao Povo de Israel que eles eram a nação santificada para
D'us. Por isso, deveriam respeitar muitas leis que os não-judeus não precisam cumprir. Moshê
continuou dizendo: "Uma tribo entre vós é mais santa que as outras: a tribo de Levi. E dentro
da tribo de Levi, os cohanim são ainda mais santos que os demais levitas. Apenas os cohanim
podem executar a avodá (serviço) dos corbanot (sacrifícios). Os levitas farão as demais tarefas
do Bet Hamicdash."
Por que D'us elegeu a tribo de Levi para servi-Lo no Bet Hamicdash?
A resposta é que esta tribo foi leal a D'us, mesmo em tempos difíceis e perigosos.
Apesar de a maioria dos membros do Povo de Israel adorar ídolos no Egito, os levitas nunca o
fizeram. A maioria do povo deixou de fazer berit milá (circuncisão) em seus filhos recém-
nascidos quando o Faraó o proibiu. Em contrapartida, os levitas continuaram a fazê-lo, apesar
do perigo que isto representava. Também no deserto os levitas se destacaram como tsadikim.
Quando Aharon perguntou "Quem doará ouro para fazer uma imagem?", a maioria dos homens
doou. Porém nenhum homem da tribo de Levi doou, nem se inclinou perante o bezerro. Por
isso, D'us disse: "Elegerei esta tribo de tsadikim para realizar Minha avodá no Mishcan e no Bet
Hamicdash."
Como os cohanim são o grupo mais sagrado da tribo de Levi, devem observar leis especiais.
Moshê ordenou aos cohanim: "Não podereis tocar nem carregar o corpo de um morto. Não
podereis sequer permanecer sob um teto onde haja um corpo, e não podereis entrar num
cemitério nem assistir ao enterro de outro judeu; não vos será permitido caminhar sobre um
túmulo, nem tocá-lo. Porém, é uma mitsvá enterrar vossos sete parentes mais próximos,
mesmo que isto os torne impuros."
Atualmente, essas leis especiais ainda se aplicam aos cohanim, devendo ser observadas por
homens e meninos, porém não por mulheres e meninas.
Similarmente, os cohanim que oferecem os sacrifícios no Bet Hamicdash devem ser puros,
sem impurezas que se impregnam em seus corpos.
Um Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) é ainda mais sagrado que um cohen comum. Ele não
pode sequer enterrar seus sete parentes mais próximos. Existe uma única pessoa cujo enterro
é uma mitsvá para ele: um met mitsvá. No trecho seguinte, mais detalhes sobre isto.
Até um Cohen Gadol deve sepultar um met mitsvá (o corpo de um judeu abandonado)
Se um Cohen Gadol ou cohen estiver andando por um caminho deserto e deparar-se com um
judeu morto, deve proclamar: "Encontrei um judeu que necessita de sepultura! Por favor, se há
alguém me ouvindo, que venha e o enterre!"
Se alguém escutar seu chamado, o cohen não deve sepultar o corpo. Contudo, se ninguém o
escuta, o cohen deve enterrar este judeu morto. Um cohen que sepultar um met mitsvá ou um
de seus parentes torna-se impuro. Na época do Templo, não lhe era permitido voltar ao Bet
Hamicdash ou realizar a avodá até ser purificado com água misturada às cinzas da vaca
vermelha.
A Torá proíbe um cohen de casar-se com uma dessas mulheres: (Estas leis também vigoram
atualmente)
Chalalá: a filha de um cohen ou Cohen Gadol nascida de uma união que lhe é proibida; por
exemplo, uma moça nascida do casamento entre um cohen e uma divorciada
Zoná: uma mulher que teve relações proibidas
Guiyoret: uma convertida. O cohen só pode casar-se com uma moça judia de nascimento
Guerushá: uma mulher divorciada
Um Cohen Gadol tem mais restrições ao escolher uma esposa que um cohen comum, por
causa de sua santidade superior. Ele n ão pode desposar uma viúva. (Uma viúva está
acostumada com os hábitos de seu primeiro marido, sendo-lhe mais difícil adaptar-se à nova
posição de esposa do Cohen Gadol.)
Ele deve desposar uma moça que nunca teve relações com outro homem.
Se um cohen contrai matrimônio com uma mulher que lhe é proibida, e esta dá à luz um filho,
este filho é chamado de chalal. Ele não é considerado cohen, nem pode realizar a avodá.
A Torá nos comanda a dar prioridade a um cohen em todos os assuntos comunitários. Por
exemplo: Num banquete ou refeição, o cohen deve ser servido primeiro.
Ao lavarem as mãos para a refeição em grupos pequenos, o cohen deve ser o primeiro.
Concedem-lhe a honra de recitar a bênção sobre o pão.
Tem o direito de ser o primeiro a ser escolhido para liderar o zimun (a introdução à Bênção
após as Refeições, se três ou mais adultos comem uma refeição juntos).
É o primeiro a ser chamado à Torá, seguido de um levi e por último um yisrael.
Ao distinguirmos o cohen, devotamos honra ao Todo Poderoso, que o escolheu como Seu
servo.
O Cohen Gadol é “Santo dos Santos”. Consagrado pelo San'hedrin (a mais alta corte de
justiça) de setenta e um membros, era ungido com o sagrado shêmen hamishchá (óleo da
unção e consagração utilizado no Primeiro Templo), e portava os oito trajes do Sumo
Sacerdote.
São cinco os atributos que um cohen deve possuir para ser eleito Sumo Sacerdote:
Sabedoria: Este é um pré-requisito. O Cohen Gadol realizava o serviço Divino como
representante da nação inteira. A qualidade mais importante de todas era sua grandeza em
Torá.
Aparência agradável: Apesar da beleza externa não ser uma qualidade intrínseca importante, é
apropriado ao Sumo Sacerdote possuir boa aparência, em honra a D‟us e ao Bet Hamicdash.
(Da mesma forma, ao escolhermos um objeto para mitsvá, é de bom tom escolhermos o mais
bonito.)
Força física: É uma vantagem para o serviço do Cohen Gadol se ele for forte. Para citar apenas
um exemplo, deve realizar o extenuante serviço de Yom Kipur em jejum.
Riqueza: O Cohen Gadol deve ter posição financeira melhor que os outros cohanim.
Idade: É preferível que possua a dignidade e experiência que advém com a maturidade.
Um cohen com algum defeito físico não pode realizar a avodá do Bet Hamicdash.
Um defeito físico pode ser de nascimento; por exemplo, cegueira (mesmo de um olho); ou um
defeito temporário, como por exemplo um ferimento. O cohen retoma sua avodá somente
quando curado. Nossos Sábios enumeram cento e quarenta imperfeições que desqualificam o
cohen de realizar a avodá.
O Zôhar ensina que os cohanim refletem as Hostes Celestiais, que são perfeitas. Assim sendo,
tanto os cohanim quanto os sacrifícios precisam estar em estado de perfeição para o serviço
Divino.
Um cohen que não pode oferecer sacrifícios por causa de uma imperfeição recebe outras
tarefas no Bet Hamicdash, como examinar a madeira para o Altar, a fim de certificar-se que
não tem vermes. Apesar de não realizar o serviço, lhe é permitido comer dos sacrifícios.
Um cohen também pode ser desqualificado para o serviço por causa de um defeito em sua
linhagem, ou seja, um de seus ancestrais contraiu matrimônio proibido a um cohen.
Um cohen fica temporariamente excluído do serviço se tornar-se impuro, por exemplo, por ter
tocado um corpo sem vida ou a carcaça de um animal.
Qualquer cohen e sua família podem comer a terumá (sua porção da produção agrícola), se
estiverem puros. Um judeu que não é cohen não pode comer terumá.
Os sacrifícios
D‟us ordenou: “Se um animal tem um mum (defeito) em seu corpo, não pode ser oferecido
como corban.”
Quando oferecemos um corban, estamos dando um presente a D‟us. Assim como não
queríamos dar um presente imperfeito a alguém, não seria apropriado oferecer um animal com
defeito a D‟us.
Existem mais de cinqüenta defeitos que tornam um animal proibido como corban. Por exemplo,
o animal não pode ser cego, nem mesmo de um só olho; não pode ser coxo; não pode ter o
rabo muito curto, não pode ter um corte na língua ou na boca, e não pode tremer por causa da
idade ou de doenças. Se alguém levasse um animal com defeito ao Bet Hamicdash, o cohen
proibiria que fosse oferecido sobre o Altar.
Os animais escolhidos como corbanot não somente não tinham defeitos, mas eram os mais
belos e melhores de que se dispunham.
Atualmente, não temos o Bet Hamicdash e não podemos levar animais especiais como
corbanot sobre o Altar, mas possuímos a chance de realizar mitsvot com os objetos mais
perfeitos que podemos dispôr: uma mezuzá casher, um perfeito par de tefilin, etc.
“Um animal mãe, como uma vaca ou ovelha, não poderás abatê-los, e seu filhote, no mesmo
dia.”
D‟us nos disse: “Assim como seu Pai no Céu é misericordioso, você também deve sê-lo.
Cumprindo esta mitsvá, adquire-se o Atributo Divino da Misericórdia, pelo qual sou louvado.”
Apesar de parecer que a mitsvá origina-se de nobres considerações de misericórdia, não
devemos supor que compreendemos sua verdadeira razão. De fato, todas as mitsvot são
decretos Divinos, muito além da lógica e emoções humanas.
É proibido abater um animal mãe e seu filhote no mesmo dia, independentemente do fato se o
animal está destinado a ser um sacrifício ou para uso particular. Contudo, a proibição da Torá
refere-se apenas a animais domésticos e não a selvagens ou aves.
Chilul Hashem
Se alguém apontar uma arma para você e ameaçar: “Cometa um pecado ou eu atiro”,
você deve permitir que atire ou cometer o pecado?
A resposta é que deve-se cometer o pecado, a menos que seja um destes três casos:
• Assassinato
• Adorar ídolos
• Contrair matrimônio ou manter relações com alguém proibido
A mitsvá de preservar a vida está acima de todas as outras mitsvot, exceto essas três.
Um judeu que se vê obrigado a transgredir uma das proibições acima deve sacrificar
sua vida. Se não o fizer e cometer o pecado, causará chilul Hashem. Desonrou o
nome de D’us, pois concluiu que não valeria a pena sacrificar sua vida por D’us.
Cada vez que um judeu se comporta de maneira a levar outros judeus a depreciar
D’us ou a Sua Torá, está fazendo um chilul Hashem.
Quanto mais respeitada e conhecida a pessoa, mais zelosamente deve evitar
quaisquer atos ou palavras que possam criar falsa impressão, e profanar o Nome de
D’us aos olhos dos outros.
Cada pessoa deve refletir no que pode constituir chilul D’us para ela, de acordo com
sua posição na sociedade. Alguém que estuda Torá tem uma obrigação maior a esse
respeito. Se demonstra mau caráter ou comportamento não-refinado, profana a honra
da Torá, e conseqüentemente, d'Ele, que a deu para nós.
Se alguém profanar o Nome de D’us e quiser fazer teshuvá, como deve proceder?
Deve santificar o Grande Nome da mesma maneira que O profanara anteriormente.
Por exemplo, se falou lashon hará, causando chilul Hashem com os lábios, deve usar
os lábios para falar palavras de Torá. Se utilizou erroneamente os pés para ir a um
local onde cometeu algum pecado, deve apressar-se em cumprir mitsvot. Se
empregou as mãos para o mal, deve colocar tefilin, dar tsedacá, e assim por diante.
Retificamos um chilul Hashem com um kidush Hashem correspondente.
Kidush Hashem
Se ordenarem a um judeu que cometa assassinato, adore ídolos ou mantenha relações com
alguém proibido, do contrário será executado, deve deixar que o matem. Sua morte então trará
kidush Hashem, santificará o nome de D‟us. Sua alma será recompensada no Mundo Vindouro.
Cada vez que rezamos o versículo Shemá Yisrael, devemos nos lembrar que estamos
dispostos a morrer antes de negar que D‟us é o único D'us. Como se sabe, milhares e milhares
de judeus, no transcorrer de nossa história, foram mortos por kidush Hashem. Destacar
determinados mártires para ilustrar esta mitsvá seria injustiça para com inúmeros judeus,
também em nossa época, que doaram a vida para santificar Seu Santo Nome. Homens,
mulheres e mesmo crianças de nossa nação, incomparável em santidade, submeteram-se sem
hesitar a horríveis torturas, morte na fogueira, pela espada, e toda sorte de métodos bárbaros e
indescritíveis, a negar sua fé em D‟us.
Toda pessoa pode santificar o Nome do Todo Poderoso sempre que se defrontar com a
escolha de transgredir ou não um mandamento da Torá, ou cumprir ou não um mandamento
positivo. Quando se abstém de cometer um pecado, ou cumprir uma mitsvá positiva, não
porque se sente pressionado pelo ambiente ou a fim de receber recompensa; porém apenas
por uma razão – pelo amor ao mandamento do Todo Poderoso, sua ação santifica o Nome de
D‟us. Sempre que um judeu age com esta motivação em mente (mesmo em particular), cumpre
a mitsvá de Kidush Hashem.
Outra oportunidade de cumprir essa mitsvá é comportar-se de tal maneira que os que
observam sejam tomados pela grandeza e dignidade de um judeu que foi educado nos
caminhos de Torá. As atividades diárias de um judeu tornam-se umn exemplo para todos que
estão à sua volta.
As datas dos Yamim Tovim que D‟us nos deu também são sagradas. Porém, em Yom Tov
pode-se executar alguns tipos de melachá: preparar e cozinhar alimentos, e carregar pela rua
objetos necessários, tarefas estas proibidas no Shabat.
“Cada Yom Tov é único, portanto devereis trazer corbanot especiais ao Bet Hamicdash.”
Moshê instituiu que deve-se começar a estudar as leis de cada Yom Tov trinta dias antes do
começo da Festa, e no próprio Yom Tov.
O início de um novo mês judaico era determinado pelo Tribunal, dependendo do relato
satisfatório de duas testemunhas idôneas, que observaram a aparência da lua nova.
Seguindo esse raciocínio, o início da Festa depende de quando foi Rosh Chôdesh, no vigésimo
nono ou trigésimo dia do mês lunar. Não só isso, como depende da decisão do Tribunal se o
ano terá ou não um mês extra intercalado nos doze regulamentares. D‟us garantiu-nos que o
dia que for proclamado Yom Tov pelo Tribunal também será sancionado por Ele no Céu.
Pode-se pressupor que a profanação do Yom Tov poderia ser tomada levianamente, pois sua
santidade foi colocada em vigor pelo homem. Portanto, a Torá o justapõe ao Shabat, a fim de
ensinar-nos que a profanação de ambos é igualmente proibida.
D'us promete que abençoará a terra no sexto ano, para que produza alimentos
suficientes para durar por todo o período de Shemitá. Após descrever este
processo, pelo qual os proprietários originais da terra podem redimir sua
propriedade ancestral nos anos que precedem Yovel, a porção muda para falar
sobre os pobres e oprimidos. Não apenas somos ordenados a dar-lhes tsedacá e
fazer atos de bondade, como o ideal seria fornecer-lhes os meios para sair de
seu estado de pobreza.
Mensagem da Parashá
Portanto, o Criador instituiu o ciclo Shemitá para que o povo judeu percebesse
que suas conquistas e realizações dependem completamente da graça e boa
vontade Dele. Quando confrontado com a realidade da colheita inexistente, os
judeus não têm outra escolha a não ser voltar-se para D'us por sustento e apoio.
Embora muitos de nós, como não somos fazendeiros, não possamos apreciar
completamente a importância de um ano Shemitá, mesmo assim podemos
também extrair uma lição para nossa vida. Muitas vezes tornamo-nos presas de
nosso sucesso, dando-nos tapinhas nas costas e nos congratulando por um
trabalho bem feito. Deixamos de perceber a verdadeira fonte de nossa
prosperidade. Iludimo-nos pensando que "minha força e o poder de minha mão
trouxeram-me esta riqueza" (Devarim 8:17). Apenas quando passamos por
tempos difíceis finalmente percebemos nossa impropriedade.
Como se sabe, D'us ordenou ao povo judeu: "O sétimo dia da semana é Shabat. Neste dia,
vocês devem abster-se de fazer quaisquer tarefas cotidianas."
D'us também nos ordenou que guardássemos outro tipo de Shabat: "A cada sete anos, a terra
de Israel terá um 'Shabat'. Neste ano de descanso, não podereis trabalhar a terra."
O Shabat da terra chama-se Shemitá, que significa "deixar livre" ou "retirar-se". Durante o ano
de Shemitá os agricultores de Israel abstém-se de lavrar a terra.
Por que D'us ordenou ao povo judeu a mitsvá de guardar os anos de Shemitá?
Cumprimos o Shabat para recordar que "D'us criou o mundo em seis dias e no sétimo dia Ele
descansou."
Mais que isso, porém: um judeu, quando cumpre Shabat, demonstra que confia em D'us e
compreende que D'us cuida dele. Como ele deixa de ganhar seu sustento uma vez por
semana? Não teme que sua família não tenha o suficiente para viver? A resposta é que ele
confia verdadeiramente em D'us, que ordenou descansar no Shabat, e que proverá tudo de
que necessita.
D'us deseja que Seu povo, em qualquer o lugar onde esteja, deposite sua confiança Nele, e
somente Nele. Ele temia que os judeus estabelecidos em Israel, que possuíam terras férteis e
fecundas, começassem a depositar sua confiança na terra.
Por isso, D'us ordenou ao povo judeu uma mitsvá para guardarem em Israel: a mitsvá de
Shemitá. Sempre que um agricultor judeu guarda a mitsvá de Shemitá, ele lembra que "D'us é
o Criador do mundo, é Quem me alimenta, e à minha família."
1. D'us prometeu que a colheita do ano anterior ao ano de Shemitá duraria três anos: "Não se
preocupem. Abençoarei a terra, de modo que a colheita do sexto ano seja suficiente para o
sexto, sétimo e oitavo anos."
2. D'us prometeu que "Durante o ano de Shemitá ficam satisfeitos, apesar de comerem
pequenas quantidades de alimento. Assim, sua produção agrícola durará."
3. E a terceira promessa: "Se guardarem tanto os anos de Shemitá como os de Yovel (vide
explicação mais adiante), estarão seguros em Israel. Porém se não observarem nem Shemitá,
nem Yovel, seus inimigos os forçarão ao exílio."
Há leis especiais referentes ao ano de Shemitá; e estão divididas nas três categorias a seguir:
O ano de Shemitá começa em Rosh Hashaná e termina antes de Rosh Hashaná do ano
seguinte. Neste período, um lavrador judeu, em Israel, não pode semear, arar, plantar ou
colher; tampouco pode arar ou realizar qualquer tarefa que implemente o solo. É um ano de
descanso do trabalho agropecuário. Apenas os cuidados mínimos necessários especificados
pela halachá (lei judaica) são permitidos, a fim de evitar que as plantas pereçam.
Durante o ano de Shemitá, um agricultor não pode colher todos os frutos para si, mesmo que
veja suas árvores frutíferas florescerem e darem frutos. Os frutos que crescem durante o ano
de Shemitá não pertencem ao seu dono. Pertencem a D'us, Que ordenou que fossem
compartilhados igualmente entre todos. Qualquer judeu que queira pode colher alguns frutos
para si. O proprietário não pode trancar o portão e impedir que outros judeus entrem. Estes
podem colher tudo o que necessitam para aquele dia; não podem, todavia, pegar mais que isto.
O proprietário pode comer da produção de seus campos como qualquer estranho, e levar para
casa o suficiente para as refeições de um dia, porém não pode colher toda a produção, pois
isto seria como se estivesse reivindicando sua propriedade.
Se alguém, durante a Shemitá, colher produtos do seu campo para comer em casa, não é
permitido que os estoque indefinidamente. Deve removê-los de suas posses num determinado
prazo, e deixar que outros, ou os pobres, os tenham.
O prazo para remoção é diferente para cada tipo de produto, coincidindo com o momento em
que as produções agrícolas particulares não estejam mais à disposição nos campos.
Todos os frutos que crescem no ano de Shemitá são santos e devem ser tratados com o
devido respeito, de maneira diferente dos outros frutos. As frutas não podem ser vendidas. As
cascas e outras partes não comestíveis não podem ser jogadas no lixo, mas deixadas no
campo, ou que se estraguem sozinhas.
Nossos Sábios decretaram que não se pode comer nenhuma verdura que cresce no ano de
Shemitá. Temiam que se não existisse esta lei, alguém desonesto poderia plantar verduras na
Shemitá e dizer que cresceram sozinhas.
Um judeu que emprestou dinheiro a outro não pode exigir sua devolução daquele que o tomou
emprestado, ao término do ano de Shemitá. Esta mitsvá se aplica tanto em Israel como na
diáspora.
Já na época do Talmud, devido a esta lei, muitas pessoas deixavam de fazer empréstimos
quando a Shemitá se aproximava. Para evitar este comportamento, o ilustre erudito e líder,
Hilel, instituiu uma fórmula que permite reclamar o pagamento mesmo depois do sétimo ano,
denominada peruzbul. Consiste no credor transferir suas dívidas a uma corte rabínica antes do
ano sabático, quando então a dívida deixa de ser individual, tornando-se passível de cobrança
(conforme a própria lei da Torá estipula) durante ou após a Shemitá.
D'us ordenou: "Descanse no sétimo ano para que saiba que Minha é a Terra."
O judeu não deve tornar-se auto-confiante e pensar que sua prosperidade é resultado do
trabalho de suas próprias mãos. Ele deve estar cônscio de dois pontos:
• A fertilidade da terra e prosperidade da colheita são determinadas por fatores além de seu
controle como as chuvas, calor ou geada, e assim por diante. D'us pode enviar animais
selvagens, insetos, ou outros agentes prejudiciais para destruir a produção inteira, se Ele assim
o desejar.
• Não só isso, como o próprio crescimento da planta não é resultado automático de ter sido
semeada. Nada consegue crescer, brotar, desenvolver-se, ou sequer existir sem a Vontade do
Todo-Poderoso. Se Ele retirar Sua Vontade de Conceder Vida de algo no universo, nem que
seja por um instante, cessaria de existir.
O tipo de profissão escolhido pela pessoa não lhe garante uma vida de prosperidade ou
pobreza. D'us despeja riquezas sobre cada indivíduo conforme Ele julga adequado. Portanto,
cada um deve implorar-Lhe, a Quem é o Mestre de todas as riquezas que lhe conceda
sustento.
A lição de Shemitá aplica-se não somente ao fazendeiro judeu, mas igualmente ao lojista,
industrial, vendedor, profissional liberal e operário.
Em qualquer estágio de sua carreira ele pode sucumbir ao equívoco de que é seu trabalho ou
esforços que asseguram-lhe o sustento. Tampouco seu negócio, nem sua indústria ou
empregador são seus "fornecedores de sustento." Há apenas Um Que é o encarregado, e
somente Ele determina se alguém terá sucesso em seus esforços ou não. Não importa quão
desesperadamente um homem luta para ser bem sucedido em seus negócios, seus planos
serão sabotados e darão em nada, se assim for decretado no Céu. Por outro lado, se o decreto
Celestial for que deva prosperar, um esforço mínimo garantirá o mesmo resultado.
A Torá nos conta as conseqüências acarretadas por um judeu que falha em observar Shemitá:
• D'us disse: "Eu te ordeno a trabalhar seis anos e permitir à Terra descansar no sétimo, porém
tu a privas de seu devido descanso. Portanto, serás exilado, e ela então será recompensada de
todos os anos de descanso dos quais a privaste." (Vayicrá 26:43).
Apesar da destruição do Templo Sagrado, todas as leis acima mencionadas também vigoram
atualmente na Terra de Israel.
Os produtos de Shemitá não podem ser vendidos comercialmente, por causa de sua santidade;
nem mesmo após o ano de Shemitá, uma vez que são sagrados para sempre. De acordo com
muitos rabinos esses não podem sequer ser exportados para países fora de Israel.
Os judeus que vivem na diáspora também podem participar da mitsvá de Shemitá doando
dinheiro a um fundo especial de auxilio aos agricultores que guardam Shemitá.
O Midrash compara os judeus que se abstém de trabalhar a terra durante Shemitá aos anjos.
Sua confiança em D'us eleva-os tanto que parecem mais anjos que seres humanos.
Nossos Sábios ensinam: "Mashiach virá ao final de um ano de Shemitá". Os que observam o
ano de Shemitá como se deve contribuem para a chegada de Mashiach.
Para um agricultor judeu, é muito difícil não trabalhar os campos e pomares durante um ano
inteiro, não podendo dispensar-lhes os cuidados adequados. Que dirá então o quão difícil é
para ele não trabalhar a terra por dois anos seguidos!
Na época do Templo Sagrado isto era exatamente o que acontecia a cada cinqüenta anos. A
Torá nos ordena a guardar um ano de Yovel (Jubileu) a cada 50 anos. Em Yovel, tal como em
Shemitá, é proibido trabalhar a terra. Atualmente, não se guarda o Yovel.
O Yovel caracterizava-se por três obrigações, que recaíam sobre a nação inteira:
A cada ano de Yovel, em Yom Kipur, o San'hedrin (Tribunal Superior) tocava o shofar. A seguir
os judeus em Israel, tocavam o shofar. O som podia ser ouvido em Israel inteira, anunciando:
"Chegou a hora de libertar todos os escravos judeus. Todos os que possuem escravos judeus
devem libertá-los e enviá-los à suas casas."
Não importava se o escravo recém começara a servir seu senhor, ou se já havia trabalhado
seis anos, todo escravo judeu tinha de ser enviado de volta ao seu lugar de origem.
O toque do shofar era um lembrete para ouvir e observar esta mitsvá. Depois de possuir um
escravo por um longo período, o amo deve achar difícil mandá-lo embora; assim como o
escravo pode ficar relutante em deixar seu amo.
De Rosh Hashaná até Yom Kipur do ano de Yovel, um escravo não retorna à sua casa; nem
seu amo pode empregá-lo. Em vez disso, senta-se à mesa de seu amo, come, bebe, e relaxa.
Quando o shofar é tocado em Yom kipur, ele finalmente parte.
D'us disse: "Quando tirei o povo judeu do Egito, tornaram-se Meus escravos. Por isto, nenhum
judeu poderá servir a outro por toda a vida, somente Eu posso exigir tal submissão."
Da mesma forma, um dia escutar-se-á um magnífico toque do shofar, que anunciará a vinda de
Mashiach. Este som será o início da verdadeira liberdade para o povo judeu. Mashiach virá e
construirá o Terceiro Templo Sagrado. D'us libertará o mundo da morte e da má inclinação. A
ressurreição dos mortos será realidade, e viveremos para sempre.
Rezamos diariamente na oração da Amidá para que isto aconteça logo: Soe o grande shofar
anunciando nossa liberdade!
No ano de Yovel, todos os campos devem ser devolvidos ao dono original (ou seus
descendentes) a quem foi dada a terra quando a Terra de Israel foi dividida entre as tribos.
Assim, as propriedades em Israel serão mantidas dentro das tribos às quais foram
originalmente destinadas, respeitando a divisão Divina das terras.
A Torá proíbe a compra ou venda de propriedades em Israel, com a intenção de troca de mãos
para sempre. Mesmo se tal condição ou cláusula tenha sido erroneamente estipulada, não é
acatada, e o campo é restituído ao proprietário original no ano de Yovel.
Quem compra ou vende terras em Israel sabe, então, que a transação não é permanente, mas
sim até o ano de Yovel, quando então será devolvida ao seu legítimo dono. Quanto mais perto
se estiver do Yovel, tanto menos se pagará por um campo.
D'us disse: "A Terra em Israel não pode ser vendida para sempre, pois não pertence a vocês,
mas a Mim. Vocês são apenas estrangeiros e colonizadores nela, e não devem se considerar
seus proprietários."
Tal como as leis de Shemitá, as de Yovel também indicam que D'us é o verdadeiro dono de
todos os nossos pertences; não somos proprietários permanentes de nossos campos, nem de
nossos escravos.
Se um judeu vivia em uma cidade cercada por muralhas na época de Yehoshua (sucessor de
Moshê e conquistador da Terra de Israel) e vendesse sua casa, o novo dono deveria devolvê-la
no ano de Yovel.
Se um judeu morasse numa cidade que não era cercada por muralhas na época de Yehoshua,
não devolveria a casa ao seu proprietário anterior no ano de Yovel. O proprietário tinha o direito
de recomprar a casa até um ano após a venda. O novo dono deveria devolvê-la neste prazo.
Uma vez, porém, que o ano findasse, o novo proprietário poderia ficar com a casa
indefinitivamente.
Contudo, se um Levi vendesse sua casa numa das 48 cidades pertencentes aos leviyim, esta
casa deveria ser devolvida no ano de Yovel, independentemente da cidade ser ou não cercada
de muralhas.
A Torá nos adverte: "Ao comprar ou vender um campo, não abuse da outra parte. Calcule
exatamente quantos anos faltam para o Yovel e pague o preço justo!"
A Torá nos ordena a tratar os outros honestamente, não só ao vender propriedades, mas
sempre que efetuamos qualquer negócio.
Um judeu não deve pedir um alto preço de um comprador que ignora o valor da mercadoria. Se
superfaturar enganosamente um cliente, transgride a proibição de onaá. O comprador é
igualmente advertido a não trapacear o vendedor, e adquirir uma peça valiosa por preço baixo
se o vendedor não estiver ciente de seu valor verdadeiro.
Além da proibição de não trapacear alguém em assuntos financeiros, esta parashá também
menciona a proibição de ofender um semelhante verbalmente. A Torá diz: "É proibido magoar
com palavras cruéis ou equivocadas." (25:17)
• Quando alguém vê outro sofrendo, não deve dizer maliciosamente: "É sua própria culpa, seus
pecados causaram-lhe isto."
• Se alguém não pretende comprar um artigo, não deve passar ao vendedor a impressão de
que o comprará.
• Se alguém nos faz uma pergunta, não devemos responder de maneira rude, responder errado
ou fornecer informações incorretas.
Certa vez, o sábio Hilel estava andando no caminho e encontrou um grupo de mercadores que
possuíam trigo para vender.
"Quanto custa uma seá (medida correspondente a cerca de 8 kg.) de trigo?" - indagou.
Um pouco depois, deparou com outro grupo de mercadores de trigo, e perguntou novamente:
"Por quanto vocês vendem uma seá de trigo?"
"Por que seu trigo é tão caro?" - perguntou Hilel. "Outros mercadores acabaram de me dizer
que o preço é de dois dinares a seá!"
"Babilônios estúpidos!" - praguejaram. "Você não sabe que o preço depende da quantidade de
trabalho investida na produção do grão?"
"Ouçam-me," censurou-os Hilel. "Formulei uma questão adequada. Por que, então, insultam-
me (violando, desta forma, a proibição da Torá)?!"
A Torá conclui a proibição de magoar os sentimentos alheios com a frase: "E tu deves temer a
teu D'us" (25:17). Em muitas situações uma observação pode parecer inocente aos
observadores, mas apenas quem está ofendendo sabe que a disse com intenções maliciosas.
Portanto, é ordenado a refrear-se por temor ao Todo-Poderoso, Que sabe os pensamentos que
envolvem seu coração.
Nossos Sábios debatem a questão sobre qual dos dois pecados é mais grave: ferir alguém
verbalmente ou trapaceá-lo financeiramente.
De acordo com o ponto de vista da Torá, ferir os sentimentos de um semelhante é pior. Há três
razões para isto:
1. Ao trapacear, causa à vitima uma perda de propriedade que, afinal de contas, não é parte
intrínseca dela. Magoando seus sentimentos, por outro lado, acerta-a em cheio no coração.
2. Alguém pode retificar-se por ter cobrado a mais ou trapaceado alguém em assuntos
financeiros, neste caso, o dinheiro pode ser restituído. O dano causado por um insulto, todavia,
pode tornar-se irreparável.
3. A Torá conclui a proibição de ofender alguém com as palavras: "E tu deves temer a teu
D'us," a fim de indicar a gravidade da proibição.
Como devemos ser cuidadosos para não insultarmos alguém, pois se esta pessoa a quem
insultamos clamar por D'us, Ele reage imediatamente.
Quando todas as tribos habitavam em Israel nos territórios que lhes eram destinados, não era
apropriado para um judeu vender sua casa ou campo a fim de levantar dinheiro para adquirir
algo. A Torá permite que se venda a propriedade apenas se for a pessoa sentir-se forçada pela
fome ou necessidades terríveis.
Se alguém for forçado a vender sua propriedade, a Torá lhe concede a opção de readquiri-la
ou, segundo a terminologia da Torá, "redimi-la". O novo proprietário é obrigado a vendê-la de
volta.
Se não tiver meios para readquirir a propriedade, é uma mitsvá que seus parentes a devolvam.
Um parente tem os mesmos direitos de comprar novamente a propriedade vendida, como se
fosse o próprio dono.
A Torá ordena: "E se teu irmão empobrecer e ficar desprovido de seus recursos, você deve
sustentá-lo mesmo se tratar-se de um convertido, ou guer toshav - (um não-judeu que cumpre
as Sete Leis de Nôach) para que possa viver com você." (Vayicrá 25:35)
Este versículo ensina que é uma obrigação estender auxílio financeiro a um semelhante judeu
ou até a um guer toshav que necessite de um empréstimo ou caridade. É uma mitsvá
emprestar ou dar-lhe dinheiro para gerir seus negócios, ou o necessário para alguma transação
para a qual lhe faltam os meios.
A Torá enfatiza que devemos reerguê-lo sobre seus pés antes que seja reduzido à bancarrota
e necessite de caridade.
Se um burro começa a sucumbir sob sua carga, um homem possui força suficiente para ajustar
a carga em seu lombo, ou retirar um pouco dessa, de modo que consiga prosseguir. Uma vez
que o burro tenha sucumbido, contudo, nem mesmo cinco homens fortes conseguem colocá-lo
novamente de pé.
Similarmente, devemos ajudar alguém assim que seus meios começarem a escassear, e não
adiar até que tenha ido à falência.
"Bem afortunado é o quinhão daquele que auxilia os pobres sabiamente" (Tehilim 41:2). Dar
caridade sabiamente, sem envergonhar quem a recebe é uma arte.
Sempre que Rabi Yoná escutava que um homem muito rico perdera todo seu dinheiro mas
estava envergonhado para pedir caridade, costumava visitá-lo em casa e dizer-lhe: "Tenho
ótimas notícias para você! Soube que você é herdeiro de uma fortuna de alguém que mora
além-mar. Enquanto isso, por favor, aceite um pequeno empréstimo de minha parte! Você me
pagará assim que tomar posse do dinheiro."
Ao recuperar-se financeiramente e ir pagar seu débito, Rabi Yoná dizia: "Guarde-o, dei-lhe de
presente."
No Templo Sagrado havia uma câmara chamada "Lishcat Chashai" -"Câmara dos Presentes
Secretos." Judeus tementes a D'us depositavam dinheiro neste local, e famílias pobres o
recebiam anonimamente, conseguindo viver destas doações.
Ao perceber um pobre atrás de si, Rabi Lezer deixava cair propositadamente um dinar, dando a
impressão de tê-lo deixado cair acidentalmente. O pobre o levantava e corria para devolvê-lo.
"Pode ficar com ele," dizia Rabi Lezer, "Já tinha perdido a esperança de recuperá-lo."
Nossos sábios ensinam: "Se você tiver mérito, satisfará a fome de Yaacov (despenderá
dinheiro em caridade); se não, a de Essav (em vez disso, o dinheiro será consumido por
"Essav"). Esta verdade é evidenciada pela seguinte história:
Rabi Yochanan ben Zacai sonhou na noite de Rosh Hashaná (quando os proventos de uma
pessoa são determinados para o ano todo) que seus dois sobrinhos perderiam a soma de
setecentos dinares no decorrer do ano vindouro.
"Sustentem-nos com seu próprio dinheiro," ordenou Rabi Yochanan. "Anotem as quantias
distribuídas. Se perderem com a proposta, eu lhes reembolsarei ao final do ano."
Os sobrinhos obedeceram, e distribuíram enormes somas para caridade. Perto do final do ano,
um oficial do governo romano chegou e exigiu que pagassem setecentos dinares de propina.
Para que não reagissem, dois soldados os jogaram na prisão.
"Anotamos tudo," retrucaram. Consultando seus registros, calcularam que distribuíram um total
de 683 dinares.
"Deixem-me dizer-lhes como agir," instruiu-os Rabi Yochanan. "Dêem-me mais dezessete
dinares, e eu garanto que sairão da prisão."
"Que idéia mais esquisita," disseram-lhe. "Estamos sendo mantidos cativos por devermos
setecentos dinares, e você diz que nos libertará com dezessete!"
Deram a quantia a Rabi Yochanan, que foi ver o emissário do governo. Passando as moedas
de suas mãos ao emissário, Rabi Yochanan pediu-lhe que deixasse seus sobrinhos
escaparem. Sob a influência da propina, o homem deu instruções para que fossem soltos
secretamente.
Os sobrinhos foram a Rabi Yochanan e perguntaram-lhe como sabia com tanta certeza de que
dezessete dinares garantir-lhes-iam a fuga.
"Tive uma revelação Divina na noite de Rosh Hashaná de que vocês perderiam setecentos
dinares este ano," explicou-lhes. "Uma vez que estavam destinados a terem esta despesa,
aconselhei-os a sustentarem os pobres - é melhor gastar esta soma em tsedacá."
"Por que não nos contou sobre seu sonho?" - perguntaram-lhe os sobrinhos. "Teríamos
despendido os remanescentes dezessete dinares também em tsedacá."
"Preferi guardar segredo de vocês," respondeu Rabi Yochanan, "para que dessem em prol da
própria mitsvá, em vez de pensar que seria em seu próprio benefício."
Esta história demonstra que se alguém é avarento com tsedacá, recairá em despesas
imprevistas, que levarão sua renda ao original decretado em Rosh Hashaná passado.
Ao dar tsedacá, o pobre dá ao seu benfeitor mais que o benfeitor dá ao pobre. Enquanto o
doador despende apenas riqueza material, recebe, em troca, uma inestimável riqueza de
méritos espirituais que ultrapassam de longe o que deu.
Através da caridade, uma pessoa pode ser resgatada da morte neste mundo.
A fim de evitar a proibição de cobrar juros, um judeu deve utilizar um contrato haláchico
especial (heter iscá; que transforma seu status em sócio silencioso) ao conduzir uma transação
envolvendo empréstimos com outro judeu. Deve-se consultar uma autoridade haláchica
competente.
A Torá também se refere aos juros com o termo "neshech", que significa "mordida." D'us
adverte quem empresta: "Não aja da maneira como a cobra, astutamente oferecendo
empréstimo a alguém, e depois extorquindo dinheiro dele através de juros, e gradualmente
tomando posse de suas casas, campos e vinhedos por não conseguir pagar os juros."
Um judeu não deve se vender como escravo a fim de ganhar dinheiro, adquirir propriedades,
animais ou outros bens. A Torá permite isto apenas como último recurso, em caso de extrema
penúria.
Um amo judeu é obrigado a sustentar não apenas seu escravo, mas também sua esposa e
filhos. Todas as leis de como tratar um escravo como seu irmão também se aplicam ao escravo
que se vende. Por exemplo, o mestre deve dar-lhe o mesmo alimento, bebidas, roupas e cama
que ele mesmo usa; não pode oferecer-lhe condições de vida inferiores às suas próprias. Se
houver apenas um coberto ou travesseiro para o dono e o escravo, a Torá proíbe o dono de
utilizá-los; é obrigado a dá-los ao escravo.
O amo não pode empregar o escravo noite e dia; é obrigado a conceder-lhe períodos de
descanso apropriados. Deve tratá-lo com a mesma dignidade que faria com um trabalhador
contratado que não é seu escravo.
Nossa parashá acrescenta a proibição de tratar o escravo judeu de maneira ríspida (25:42).
Isto inclui os seguintes pontos:
1. O amo não pode exigir do escravo que realize uma tarefa da qual não necessita realmente.
Por exemplo, não pode pedir-lhe: "Esquente água para mim," ou "Esfrie água para mim,"
quando não há necessidade.
2. O amo não pode confiar ao escravo judeu uma tarefa por período indefinido. Por exemplo,
não pode ordenar-lhe: "Cave entre as fileiras deste vinhedo até que eu volte," sem dizer-lhe
quando volta.
Uma vez que o que é considerado "tratamento ríspido" depende de circunstâncias subjetivas, e
deve, portanto, ser deixado ao discernimento do amo, a Torá adverte: "E temerás teu D'us"!
D'us sabe se você tem intenção de degradar ou explorar o escravo. Se o fizer, Ele lhe punirá.
Todo escravo judeu é libertado no ano de Yovel, porque D'us declarou: "Todo judeu é Meu
escravo desde o Êxodo do Egito - Meu contrato com o povo judeu é o mais antigo."
Na época do Templo Sagrado, infelizmente, alguns judeus estavam tão desesperados por
dinheiro que se vendiam a não-judeus idólatras.
Mas isto era lamentável. Num local pagão, logo aprenderia a adorar ídolos e começaria a
assimilar costumes não judaicos.
A Torá ordena: "É mitsvá para os parentes de um judeu que se vendeu redimi-lo o quanto
antes. E se seus parentes não podem redimi-lo, é mitsvá que outro judeu o redima."
A Torá também ordena que o governo de Israel obrigue o amo não-judeu a libertar o escravo
judeu no ano de Yovel.
A Torá ordena: "Não te ajoelharás perante Mim sobre um chão de pedra." (26:1)
Os idólatras costumavam prostrar-se para seus ídolos sobre chãos de pedra. Por isto, a Torá
proíbe aos judeus ajoelharem-se sobre um chão de pedra, mesmo que estejam rezando para
D'us. Esta mitsvá nos afasta da idolatria.
O único lugar onde podemos prostrar-nos sobre tal chão é no Templo Sagrado (onde é
evidente que nos prostramos em honra a D'us).
Uma vez que a proibição da Torá diz respeito apenas a chãos de pedra, não é proibido
prostramo-nos em Yom Kipur em sinagogas cujo chão geralmente não são de pedras. Não
obstante, é costume estender uma almofada, cobertura ou algo no chão quando nos
prostramos.
A porção então muda para o assunto que a tornou famosa - a tochachá, a severa
admoestação de D'us. Passo a passo, a Torá descreve as tragédias que
acontecerão ao povo judeu, muitas vezes em termos descritivos, por eles terem
abandonado a observância da Torá e mitsvot fornecendo uma lúgubre descrição
daquilo que foi nossa história até este dia.
A porção então continua para falar sobre a santificação dos presentes voluntários
ao Templo Sagrado, e o processo pelo qual uma pessoa pode monetariamente
redimir aqueles itens santificados para seu próprio uso.
O Livro de Vayicrá conclui com uma breve discussão sobre os dízimos, incluindo
uma porção que o fazendeiro deve ele próprio consumir dentro da cidade de
Jerusalém, chamada ma'asser sheni.
Mensagem da Parashá
D’us esqueceu?
por Micah Gimpel
Linguisticamente, este versículo é bastante difícil por várias razões. Rashi cita
um Midrash que faz uma pergunta óbvia e esclarecedora: por que a Torá usa a
linguagem de "lembrar" referindo-se a Yaacov e Avraham, mas não em relação a
Yitschac? Seria possível que D'us lembre-Se menos de Yitschac que dos outros?
O Midrash, conforme foi citado por Rashi, dá uma resposta que requer alguns
esclarecimentos. Declara que o Criador vê as cinzas de Yitschac como se
fossem juntadas e colocadas sobre o altar; portanto, lembrar é desnecessário no
caso de Yitschac. Esta declaração está se referindo à akeidá, o quase-sacrifício,
de Yitschac na mão de seu pai, descrito no final da Parashá Vayerá (Bereshit
22:1-19).
A akeidá foi um tremendo teste de fé, que serve como paradigma da grandeza
de Yitschac. Contando já 37 anos e maduro de caráter, Yitschac concordara em
agir de acordo com a ordem de D'us e dar sua vida. Este fiel atributo brotou da
natureza passiva de Yitschac. Durante toda sua vida, sua grandeza foi
demonstrada por sua falta de iniciativa. Voltou às mesmas cidades que Avraham
havia visitado anteriormente, a fim de reforçar o que seu pai já havia feito;
poucas vezes fez algo por sua própria iniciativa. Foi durante a akeidá que a
passividade de Yitschac mostrou-se mais fortemente, e isso caracteriza sua vida
inteira e toda sua personalidade.
Após Moshê terminar de ensinar as leis das oferendas ao povo judeu, D'us disse-lhe: "Eu, D'us,
desejo que todo o povo judeu estude Torá e cumpra as mitsvot."
D'us quer que devotemos nosso coração e mente por inteiro ao estudo de Torá. Nossos Sábios
tornaram-se notáveis porque levaram o estudo de Torá mais a sério que qualquer outra
ocupação neste mundo.
Quando Ravá aprendeu a Torá, concentrou-se tão profundamente que nem se deu conta de
que seu dedo estava sangrando!
Um exemplo de um erudito de Torá que tornou-se notável pela sua determinação e trabalho foi
Rabi Akiva.
Rabi Akiva não aprendeu a Torá em sua juventude. Mesmo quando já contava quarenta anos,
quase nada sabia.
Era pastor e trabalhava para um homem rico, Calba Savua. A filha de seu amo, Rachel, disse-
lhe: "Akiva, se você tentasse, poderia tornar-se um erudito de Torá!"
"Como seria possível?" - pensou tristemente Rabi Akiva. "Sei tão pouco - e há tanto o que
aprender. Jamais serei um erudito de Torá."
Um belo dia, Akiva passava por uma rocha sobre a qual a água estava pingando; a pedra era
maravilhosamente lisa.
Aquilo fez Akiva refletir.
"Como pôde esta pedra ficar tão lisa?" - perguntou às pessoas próximas a ele.
"É por causa das gotas d'água," disseram-lhe. "A água goteja continuamente sobre a pedra até
finalmente deixá-la lisa."
"É isso o que frágeis gotas de água podem fazer a uma dura rocha?" - meditou Akiva. "Podem
penetrá-la porque gotejam incessantemente! Então, se eu estudar constantemente as palavras
da Torá, elas certamente entrarão em meu coração!"
Akiva começou a estudar com todas as suas forças. Não desistiu. Finalmente, tornou-se um
dos maiores líderes de Torá do povo judeu.
Devemos aprender com esta atitude de Rabi Akiva. Nós, também, teremos sucesso em nossos
estudos de Torá se estivermos determinados a usar toda nossa energia e trabalhar com afinco.
D'us prometeu: "Se todos os judeus estudarem Torá com energia e cumprirem Minhas mitsvot,
mandarei a eles bênçãos maravilhosas."
As bênçãos incluem todo tipo de felicidade e êxtase, "de alef a tav" (de 'a' a 'z'). Elas começam,
por conseguinte, com a primeira letra do alfabeto hebraico, o alef: "Im bechucotai", e terminam
com a última letra tav: "comemiyut".
Elas são concedidas ao nosso povo por cumprir as mitsvot "de alef a tav", do começo ao fim.
As gerações observantes da Torá, as de Moshê, Yehoshua, David, Shelomô e mais tarde o rei
Chizkiyáhu beneficiaram-se de boa parte das bênçãos prometidas nesta parashá. Eram
abençoados com saúde, força e vigor, chuvas na época certa, prosperidade e vitórias sobre os
inimigos.
Eram a prova viva do versículo: "E todas as nações da terra verão que são chamados com o
Nome de D'us, e os temerão." (Devarim 28:10).
Não obstante, a completa gama de bênçãos ainda não se realizou, o povo judeu jamais atingiu
o nível de perfeição espiritual necessário para que as bênçãos Divinas sejam-lhe concedidas
em sua totalidade.
As bênçãos Divinas são introduzidas pelas palavras: "Im bechucotai telêchu" (26:3), que
significam: "Se apenas andarem e labutarem em Minha Torá!"
Isto é um clamor, um rogo ao povo judeu. O Todo-Poderoso não tem desejo mais querido que
inundar-nos de bênçãos. Por isso, implora-nos: "Por favor, estudem Minha Torá e cumpram as
mitsvot, permitindo-Me conceder-lhes Minhas bênçãos!"
1 - A bênção da chuva
• A chuva faz com que o ar e a água potável sejam puros. Como resultado disso, as pessoas
serão saudáveis e viverão até uma idade avançada. Terão filhos saudáveis. Os animais,
também, vicejarão.
• A quantidade certa de chuva cairá na estação em que é necessária para o grão crescer. Por
isto, as colheitas serão fartas.
• A chuva não cairá em épocas inconvenientes, quando as pessoas estão ao relento e terão
problemas. D'us mandará a chuva durante a noite, enquanto as pessoas estão dormindo. A
chuva cairá especialmente na noite de sexta-feira, enquanto cada família está reunida em
casa, à mesa do Shabat.
D'us prometeu a bênção de "chuva no tempo apropriado" apenas para o povo judeu. As nações
fora de Israel não receberão esta bênção. Por este motivo, não terão grãos suficientes.
Procurarão, então, o povo judeu para comprar a produção.
D'us prometeu ainda: "Abençoarei os frutos e grãos de Israel. Até mesmo as árvores que
normalmente não dão frutos, começarão a produzi-las. E as frutas amadurecerão no espaço de
um dia apenas!"
"Haverá tanto cereal que demorará muitos meses para debulhá-lo. Assim que terminarem de
cuidar do grão, as uvas da vinha estarão maduras e terão de ser colhidas. Devido à grande
fartura, vocês não terão descanso entre uma colheita e outra."
D'us nos recompensa com a mesma moeda. Por estarmos continuamente atarefados com Torá
e mitsvot, Ele nos manterá ocupados com uma colheita após a outra, sem parar.
D'us prometeu: "Mesmo tendo muita comida, não devem comer demais. Abençoarei seus
alimentos para que vocês fiquem satisfeitos mesmo após comer pouco. (Isto é uma bênção,
pois comer demais ou ingerir muitos doces ou comidas gordurosas causam doenças.)
D'us assegura ao povo judeu que pelo fato de cumprirem a Torá, a terra torna-se fértil.
D'us prometeu: "Se guardarem a Torá perfeitamente, a terra fará brotar sua produção" (26:4),
sua produção original perfeita - da maneira pretendida pelo Criador antes de Adam (Adão)
pecar. Esta promessa implica:
• Não apenas os frutos das árvores serão comestíveis, mas também seus córtex e cascas.
3 - A bênção da paz
Por isso, o Todo Poderoso garante: "E outorgarei paz sobre a Terra, e deitarás, e ninguém te
fará tremer" (26:6). Esta garantia é essencial para se beneficiar de todas as bênçãos
anteriores.
D'us prometeu: "Geralmente, quando uma nação é rica, seus inimigos tentam invadi-la.
Entretanto, embora o povo judeu seja abençoado com a riqueza, nenhuma outra nação tentará
atacá-los."
"Não apenas outros exércitos não lutarão contra vocês, como nem mesmo consentirei que
passem pela sua terra quando estiverem a caminho de outras batalhas. Não quero que fiquem
entristecidos pela visão preocupante de soldados com armas. Literalmente não haverá espada
passando sobre Israel (26:6).
"E se precisarem lutar fora de seu país, causarei confusão entre seus inimigos. Eles se
atacarão uns aos outros e cairão perante vocês. Cinco de vocês serão capazes de atacar uma
centena de soldados inimigos. E apenas uma centena de vocês poderão combater um exército
de dez mil inimigos!"
A paz máxima, porém, ainda é por nós desconhecida atualmente. A paz prometida para o
futuro inclui o seguinte:
• Feras selvagens serão inofensivas em Israel, exatamente como eram antes de Adam pecar.
O profeta predisse: "E o leão comerá feno como o touro, e o lactente brincará na toca da
serpente." (Yeshayáhu 11:7)
• Não apenas feras, mas todo tipo de forças prejudiciais serão subjugadas. As nações do
mundo, não mais afligirão o povo judeu.
D'us também prometeu: "Se todos os judeus cumprirem a Torá, abençoarei as famílias judias
com muitos filhos. Darei às crianças saúde e vida longa."
Os pais se preocupam sobre como alimentar suas grandes famílias. Por isso, a Torá repete
que D'us dará comida mais que suficiente.
D'us disse: "Me voltarei a você e dedicarei Meu devotado amor ao seu progresso físico e
espiritual. Seus filhos crescerão para se parecerem com você moral e espiritualmente."
"Sua grandeza aumentará com toda criança que nascer, pois cada uma será portadora de Torá
e mitsvot, reforçando os laços entre D'us e o povo judeu."
"A produção estocada em seus silos não se estragará. Pelo contrário, toda a produção se
tornará mais deliciosa e saborosa com a passagem do tempo (e não apenas trigo e vinho, que
geralmente melhoram com o tempo).
"Então vocês se encontrarão num estranho dilema. Seus silos e celeiros estarão cheios de
alimentos quando a nova colheita neles fluir. Vocês nem saberão o que fazer: devem trazer o
cereal novo ao celeiro para secá-lo, mas os celeiros ainda estão repletos de grão velho e
delicioso. Terão que tirar este grão e armazená-lo em outro local. Vocês serão abençoados,
tendo mais grãos do que poderão comer."
Agora vem a derradeira e mais importante bênção. D'us prometeu: "Darei a vocês um terceiro e
permanente Templo Sagrado. Minha Shechiná repousará não apenas no Templo Sagrado,
mas onde quer que os judeus estejam. Sentirão como se Eu estivesse caminhando entre
vocês, pois darei a vocês um grande entendimento sobre Mim."
Esta última bênção significa que todos se sentirão próximos a D'us e apreciarão Sua presença.
Esta é a maior de todas as alegrias possíveis.
O rei decidiu que um de seus súditos deveria acompanhá-lo em sua caminhada diária através
do jardim. Jamais um rei se dirigira àquele aldeão, a quem, nunca em sua vida andara junto
com alguém de nível superior. Ao exigirem que se adiantasse, permaneceu tremendo e imóvel,
emocionado demais para tomar seu lugar ao lado do rei. Este, contudo, encorajou-o dizendo:
"Não tema. Hoje, somos amigos!"
Similarmente, no futuro, D'us andará junto com os justos e lhes dirá: "Não temam! Somos
amigos." (Contudo, apesar de andarem juntos, na companhia de D'us, ainda sentirão o temor
de Sua grandeza.)
No mundo presente, a Shechiná é percebida apenas por grandes tsadikim (justos). No futuro,
contudo: "A glória de D'us será revelada, e toda carne junta a verá." (Yeshayáhu 40:5):
No futuro, os justos formarão um círculo em torno de D'us, e Ele estará em seu meio. Cada um
apontará para Ele e dirá: "Veja, este é nosso D'us, esperamos por Ele, e Ele nos salvou."
(Yeshayáhu 25:9).
Após D'us ter explicado as bênçãos por cumprir a Torá, advertiu: "Nunca abandonem Minha
Torá ou parem de cumprir Minhas mitsvot! Se o fizerem, Eu os punirei."
Enquanto acreditamos que o estudo da Torá e cumprimento das mitsvot trazem bênção sobre
nosso povo, poderíamos concluir que negligenciá-los causa meramente a ausência de bênçãos
Divinas. Esta é uma concepção errônea. A Torá mostra que quando a Torá se afasta, acarreta-
nos o oposto de bênção.
• Doenças
D'us prometeu que se o povo judeu for espiritualmente perfeito, Ele o protegerá de todas as
doenças, como está escrito (Shemot 23:25): "E Ele abençoará teu pão e tua água, e Eu
removerei todas as doenças de teu meio."
"Eu deitarei por terra o Templo Sagrado, que é o 'orgulho de seu poder'". (Yechezkel 24:21)
Apesar da realização desta maldição causar pesar e luto ao nosso povo, ela contém, não
obstante uma bondade oculta.
Quando o salmista Assaf compôs o salmo referente à destruição do Templo Sagrado, iniciou
com as palavras: "Um cântico para Assaf. Oh! D'us! As nações odiosas entraram em Tua
herança. Impurificaram o Santuário da Tua santidade." (Tehilim 79:1).
Por que denominou sua composição de "cântico"? Parece que a introdução apropriada a esse
salmo deveria ser "uma ode", "um lamento" ou "uma eulegia de Assaf".
Um rei construiu uma elegante casa de veraneio para seu filho. Empregou equipes de
trabalhadores para embelezá-la, pintores para pintar as paredes com padrões ornamentais, e
criar belas paisagens e ambientes nos jardins.
Pouco tempo depois, o filho do rei começou a circular em má companhia, e sua conduta se
deteriorou.
O rei ouviu relatos vergonhosos referentes a seu filho, despertando sua ira. Viajou até o retiro,
entrou e quebrou todas as suas colunas e esteios. Virando-se aos escravos, ordenou que a
moradia inteira fosse destruída.
"Como pode tocar uma melodia alegre enquanto o rei está destruindo a casa de veraneio de
seu filho?" - indagaram-lhe.
"Estou aliviado," esclareceu o tutor, "pois o rei descarregou sua ira sobre as paredes da casa,
em vez de sobre o próprio príncipe. Se sua ira tivesse atingido o príncipe, teria decretado-lhe
pena capital."
Similarmente, Assaf explicou a seus contemporâneos: "Estou contente, pois D'us extravasou
Sua ira sobre madeira e pedras do Templo Sagrado, em vez de destruir o povo judeu."
A maldição da Torá acima mencionada, não obstante sua ominosa e sinistra mensagem,
denota que o povo sobreviverá e poderá, por conseguinte, reconstruir seus santuários
destruídos.
A cidade de Jerusalém orgulhava-se de três homens cuja fortuna era proverbial. O primeiro,
Nacdimon ben Gurion, recebeu seu nome porque, certa vez, o Todo Poderoso fez com que o
sol reaparecesse após ter se posto, por causa de sua oração (Nacdimon vem do radical nacad
- brilho). O segundo, Ben Calba Savua, tem seu nome derivado de sua hospitalidade. Significa
que qualquer pobre que entrava em sua casa faminto como um cachorro (Calba = kelev,
cachorro) saía de lá satisfeito. O terceiro era Ben Tsitsit Hakesas. "Ben Tsitsit" significa que
nunca andava fora de casa sem que um tapete fosse estendido à sua frente, para que os tsitsit
(franjas) de sua veste nunca tocassem o chão. "Hakesas" alude ao fato de que sua cadeira
(kissê) ficava estacionada junto a dos nobres romanos, sempre que estava no palácio do
imperador, em Roma.
Esses três homens prometeram colocar suas fortunas à disposição da cidade sitiada; um
suprindo-a com trigo e cevada, outro com líquidos, e o terceiro com lenha e madeira. Suas
fortunas eram tão imensas que seus fornecimentos supriram a cidade pelos próximos vinte e
um anos.
Entretanto, havia no meio do povo um grupo de militantes judeus que recusavam-se a seguir a
política dos sábios de submeterem-se a Roma. Exigiam guerra, e por este motivo atearam fogo
aos armazéns. Fome e escassez grassaram então em Jerusalém. A fome aumentou até que
finalmente, até mesmo os mais ricos, não tinham sequer uma migalha de pão.
Ao andar pelas ruas, Rabi Yochanan ben Zacai percebeu pessoas que cozinhavam palha e
bebiam esta sopa.
Durante a destruição do Primeiro Templo, as classes mais elevadas ainda possuíam algum
alimento, apesar da carestia geral. Contudo, durante a destruição do Segundo Templo
Sagrado, a nobreza judaica também expirava de fome.
No início do cerco de Jerusalém, os judeus ricos encheram cestas com ouro para os romanos
que estavam fora das muralhas da cidade, em troca de alimentos. Os romanos trocavam cada
cesta carregada de ouro por uma cheia de carne. Mais tarde, pegavam o ouro e devolviam uma
cesta cheia de palha. Os judeus, famintos, cozinhavam a palha e bebiam o líquido.
"E não aceitarei suas oferendas com satisfação." Eventualmente, o Serviço do Templo Sagrado
cessará.
Antes da destruição do Primeiro Templo Sagrado, o serviço continuou, apesar dos inimigos
terem entrado em Jerusalém. Quando já não havia mais cordeiros disponíveis para oferendas,
subornavam os inimigos com cestas de ouro para contrabandear os animais necessários por
sobre as muralhas. No dia 17 do mês judaico de Tamuz, não receberam mais animais, e o
sacrifício diário chegou ao fim. Os outros serviços continuaram até o dia7 de Av.
Mais além, a Torá adverte que cidades antes bastante povoadas ficarão desoladas de
transeuntes, e a Terra desolada de habitantes.
O versículo conclui com uma garantia reconfortante. O Todo-Poderoso não deseja que
estranhos instalem-se permanentemente em Israel e dela usufruam. Por isso, Ele prometeu: "E
ela ficará desolada de seus inimigos que nela vivem." Isto implica que nenhuma outra nação, a
não ser o povo judeu, encontrará satisfação em habitar a Terra, e conseqüentemente,
nenhuma ocupará a Terra permanentemente.
De fato, apesar de, no decorrer dos séculos, muitas nações terem tentado reconstruir a Terra
de Israel, nenhuma obteve sucesso. Desde a destruição do Templo, a Terra não recebeu
nenhuma nação estrangeira gentilmente; sinal de que aguarda o retorno de seus filhos, na era
Messiânica.
• Exílio
Se um povo de certa nacionalidade está exilado em outro país, geralmente instalam-se juntos.
Contudo, no que tange aos judeus, o Todo-Poderoso proclamou: "Eu vos espalharei de
maneira similar a alguém que joeira grãos de cevada. Ele sacode a batéia em todas as
direções, para que nem mesmo dois caiam juntos. Do mesmo modo, ficarão separados uns
dos outros."
Contudo, como em todas as maldições, esta também contém uma bondade oculta.
Se o Todo-Poderoso tivesse exilado nosso povo inteiro num único país, há muito teríamos sido
eliminados. Uma vez que estamos dispersos através do globo, quando judeus num país são
perseguidos, os de outras regiões sobrevivem.
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Onde está a Shechiná, desde que o Templo Sagrado foi destruído?
Quando os judeus pecaram a Presença de D'us deixou o Templo Sagrado. Retirou-se para o
céu.
Porém, uma parte da Shechiná permaneceu na terra para acompanhar alguns judeus que
deixaram Israel e foram levados ao exílio da Babilônia. Quem eram os afortunados judeus a
quem a Shechiná acompanhou?
Nem os juízes do San'hedrin, nem os cohanim do Templo Sagrado, nem os leviyim que
serviam os cohanim foram acompanhados pela Shechiná, pois D'us estava aborrecido com
eles por causa das transgressões que cometeram.
D'us mostrou seu amor especial, porém, pelas crianças judias, porque estavam livres do
pecado. Somente elas foram acompanhadas pela Shechiná, que os protegia.
Parte da Shechiná repousa para sempre no Muro Ocidental em Jerusalém, o Cotel. É um dos
muros do Monte do Templo. D'us prometeu que o muro jamais será destruído; Sua Shechiná ali
repousa.
As tribos de Yehudá e Binyamin foram as últimas duas tribos levadas a Babilônia pelo rei
Nabucodonosor, quando da destruição do Primeiro Templo Sagrado. Nós, os judeus da época
atual, somos na maioria descendentes daquelas tribos ou da tribo de Levi.
Onde estão as outras dez tribos? Foram levadas para fora do país mais de um século antes da
destruição do Primeiro Templo Sagrado pelo Rei da Assíria. Para onde foram?
O Midrash nos conta que D'us escondeu as dez tribos atrás do rio Sambatyon. Este rio é
chamado "Sambatyon" ou "Sabatyon", porque age estranhamente em Shabat. Durante toda a
semana, flui e joga pedrinhas para cima. Entretanto no Shabat, fica completamente imóvel.
Hoje não sabemos a localização deste rio ou a das tribos perdidas. Quando Mashiach chegar,
D'us fará com que as tribos perdidas se reunam novamente ao povo de Israel.
A Torá continua: "Mesmo quando o povo judeu estiver em terras estranhas, não o abandonarei.
Enviarei Meus profetas para incentivá-lo a fazer teshuvá."
Após a destruição do Primeiro Templo Sagrado, D'us enviou o profeta Yechezkel à Babilônia.
Ele liderou o povo judeu e o incentivou a fazer teshuvá. Por terem lhe obedecido e retornado a
D'us, setenta anos mais tarde tiveram o mérito de obter permissão para retornar a Israel.
Esta maravilhosa promessa tornou-se realidade. De todas as nações antigas, apenas o povo
judeu sobrevive.
O Imperador Romano disse a Rabi Yehoshua ben Chananyá: "É incrível como uma pequena
ovelha consegue viver entre uma matilha de setenta lobos!"
Quem é a ovelha a que o imperador se referia? O povo judeu. E a quem ele comparou os
setenta lobos? As setenta nações do mundo, que procuram incessantemente destruir o povo
judeu.
Entretanto, Rabi Yehoshua respondeu ao imperador: "Não admire a ovelha! Admire o Pastor
que a protege dos dentes de setenta lobos!"
O povo judeu teria sido destruído muito tempo atrás, não fosse a especial proteção Divina,
prometida na Torá.
As palavras desse versículo são interpretadas pelos sábios como "por causa dos pecados do
outro." Ensina o princípio fundamental da Torá de responsabilidade mútua. Se um judeu
transgride uma lei da Torá, outro judeu, que poderia protestar, mas em vez disso apenas
observou a transgressão em silêncio, é cobrado pelo pecado de seu semelhante.
Mais que isso, quando um judeu peca, mesmo secretamente, fere o povo inteiro.
Os passageiros já estavam sentados por horas no avião. Alguns liam, outros conversavam,
porém a maioria cochilava, sendo este um vôo sereno.
"Nada que lhe interesse," retrucou o outro, enfiando a furadeira cada vez mais fundo.
Após lançar um olhar para a cena, berrou: "Pare imediatamente, e entregue as ferramentas!"
O passageiro olhou surpreso para o piloto: "O que quer dizer? Este é meu assento! Paguei por
ele!"
A essa altura, todos os passageiros acorreram à cena, gritando: "Doido! Idiota! Aqui não há
algo como 'assento particular'! Não sabe que se fizer um buraco sob seu assento, estará
colocando em perigo a vida de todos a bordo?!"
Através desta parábola, os sábios explicam a responsabilidade de cada judeu diante de seu
povo. Todos os judeus são uma entidade espiritual única, pois suas almas estão conectadas
umas às outras. Por conseguinte, um indivíduo judeu que peca fere não apenas sua própria
alma, mas prejudica o povo inteiro.
O Todo Poderoso declara: "No exílio, não permitirei que os judeus assimilem-se
completamente. Se imitarem os hábitos de seus vizinhos não judeus, Eu os forçarei a
reconhecer Minha autoridade. Se então confessarem seus erros e voltarem-se a Mim,
imediatamente Eu terei compaixão e os redimirei, pelos méritos de seus antepassados."
D'us promete: "Se os judeus fizerem teshuvá, terminarei imediatamente com seu exílio. Se não
fizerem teshuvá, terminarei seu exílio quando chegar a época apropriada."
"E lembrarei Minha aliança com Yaacov, e também Minha aliança com Yitschac, e também
Minha aliança com Avraham lembrarei, e Me lembrarei da Terra." (26:42)
Apesar de nossas matriarcas não serem mencionadas explicitamente, sua memória também
está incluída. Seus méritos também são necessários para que sejamos redimidos. As
matriarcas estão indicadas através da palavra "et", que acompanha o nome de cada patriarca.
"Et" significa "junto com", significando que D'us Se lembrará daqueles que acompanharam os
patriarcas, nominalmente: as matriarcas.
Finalmente, D'us afirma que Se lembrará da Terra. Por que D'us também Se lembrará da
Terra?
Nossos patriarcas e a Terra de Israel estão intimamente ligados. Viver lá ajudou-os a alcançar
a perfeição. A Terra, que desempenhou papel tão importante em suas vidas, é, portanto,
mencionada onde quer que eles também sejam.
Quando chegar a redenção final, o Todo-Poderoso nos dirá: "Meus filhos, parece incrível que
pudessem ter esperado por mim durante milhares de anos!"
E nós responderemos: "Se não fosse pela Torá que nos deixaste, há muito tempo teríamos
sucumbido a às pressões gentias, como declarou David no Tehilim: 'Se não fosse pela sua
Torá que é o meu prazer, teria perecido na minha miséria'". (Tehilim 119:92).
D'us prometeu: "No futuro, Eu Mesmo, e não um ser humano irá resgatá-los da dominação dos
não-judeus para sempre."
"Trarei o povo judeu de volta à sua terra. Serei seu D'us, e eles serão Meu povo. Assim como
fiz milagres quando vocês se tornaram Meu povo no Êxodo, assim farei também farei milagres
novamente no futuro."
A Torá nos conta que uma pessoa pode doar uma soma de dinheiro no valor de si mesmo ou
de outra pessoa ao Templo Sagrado.
Como sabemos quanto vale uma pessoa? A Torá relaciona o valor de cada um, homem ou
mulher, por cumprir a mitsvá de valores. Por exemplo, o valor de todos os meninos de cinco a
vinte anos de idade é de 20 moedas shekel. O valor de todos os homens entre vinte e sessenta
é de 50 moedas shekel.
D'us não nos revelou Suas razões por fixar esta quantia em particular, mencionada na Torá
para cada faixa etária.
Se um judeu declara: "Quero doar o valor de meu filho ao Templo Sagrado," D'us considera
como se ele tivesse trazido esta criança como oferenda.
Os cohanim usavam o dinheiro recebido com esta mitsvá para consertar e manter em ordem o
Templo Sagrado.
Um agricultor judeu deve doar a décima parte de seus animais recém-nascidos a D'us
A Torá ordena: "Um judeu que possua vacas, ovelhas ou cabras deve doar a D'us cada décimo
recém-nascido."
Uma vez ao ano, o fazendeiro reúne todos os animais recém-nascidos num estábulo com uma
porta tão pequena que apenas seja possível sair um animal de cada vez. O fazendeiro deixa
então que os animais passem pela porta, um a um, contando-os. Quando passa o décimo
animal, o fazendeiro o toca com uma varinha que foi mergulhada em tinta vermelha. E anuncia:
"Este animal é o dízimo."
O dono os levava a Jerusalém. Após terem sido abatidos, o cohen queimava as partes internas
da oferenda sobre o altar. Então o cohen dava a carne ao dono, que tinha permissão de comê-
la em Jerusalém.
A mitsvá de doar o dízimo dos animais tem maravilhosos benefícios para o povo judeu.
D'us temia que os lavradores judeus em Israel estivessem tão atarefados com as plantações e
criando animais que não encontrariam tempo para o estudo de Torá. Por esse motivo, deu-lhes
mitsvot que os forçariam a visitar Jerusalém. Uma destas mitsvot é o dízimo dos animais. Os
judeus eram obrigados a ir a Jerusalém e visitar o Templo Sagrado em Pêssach, Shavuot e
Sucot.
Se um judeu tivesse um grande número de animais como dízimo, diria a um de seus filhos:
"Viaje a Jerusalém e estude Torá! Temos uma grande quantidade de carne que deve ser
comida em Jerusalém."
Desta forma, cada família judia enviava ao menos um membro a Jerusalém para estudar Torá.
Aquela pessoa podia então ensinar a Torá e as mitsvot ao restante da família.
E assim, esta mitsvá ajudava a tornar cada família judia santificada. Este é o objetivo de todas
as mitsvot. Tornam o judeu santo, então a Shechiná pode repousar não apenas no Templo
Sagrado, mas no coração de todo o Povo de Israel.