Introdução A Linguistica 20183 LET SEC PDF
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INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA
Pode-se afirmar, ainda, que o Curso de Letras estrutura-se em dois alicerces: um,
cujo objetivo é o estudo da linguagem, considerando-se as diferentes línguas
faladas pelo ser humano; o outro estabelece como meta o estudo do fato
linguístico, empregado de maneira singular: a Literatura. Ressalte-se, ainda, que, na
atualidade, não se admite o Ensino de Língua Portuguesa, sem que levemos em
conta os preceitos básicos da Linguística.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BAGNO, M. Preconceito linguístico. São Paulo: Loyola, 2002.
____________ A língua de Eulália. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
BENVENISTE, É. Problema de Linguística Geral I. São Paulo: Ática,1995.
BORBA, Francisco das Silva. Introdução aos Estudos Lingüísticos. São Paulo:
Nacional, 1984.
GNERRE, M. Linguagem, Escrita e Poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Org.) Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2001.
vol. 1: domínios e fronteiras.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1973.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BAGNO, M. et al. Língua materna: letramento, variação & ensino. São Paulo:
Parábola, 2002.
BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em Língua Materna: A Sociolinguísitca na sala
de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
CÂMARA JR, J. M. História da Linguística. Petrópolis: Vozes. 1979.
FIORIN, J. L. Introdução à Linguística (org). São Paulo: Contexto, 2002.
LOPES, E. Fundamentos da Linguística Contemporânea. São Paulo: Cultrix, 1984.
YAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 2001.
MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. Introdução à sociolinguística: o tratamento da
variação. São Paulo: Contexto, 2003.
MUSSALIN, F.; BENTES, F. Introdução à Linguística. São Paulo: Cortez, 2001.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de
Letras, 2002.
PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis de fala. São Paulo: EDUSP, 1994.
TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 1990.
Sumário
UNIDADE 01- LINGUÍSTICA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS 7
UNIDADE 02 - LÍNGUAS NATURAIS E CULTURA 10
UNIDADE 03 - LINGUAGEM HUMANA 13
UNIDADE 04 - A COMUNICAÇÃO HUMANA. 18
UNIDADE 05 - AS DICOTOMIAS DE SAUSSURE 30
UNIDADE 06 - ARBITRARIEDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO 36
UNIDADE 07 - CLASSIFICAÇÃO DOS SIGNOS 39
UNIDADE 08 - SINCRONIA X DIACRONIA 41
UNIDADE 09 - LÍNGUA E FALA 46
UNIDADE 10 - PRAGMÁTICA 52
UNIDADE 11 - COMEÇANDO A CONVERSA: LÍNGUA E SOCIEDADE 63
UNIDADE 12 - CONTINUANDO A CONVERSA: LÍNGUA ORAL E LÍNGUA ESCRITA 67
UNIDADE 13 - A SOCIOLINGUÍSTICA: CONCEITO E OBJETO. 71
UNIDADE 14 - VARIANTES SOCIAIS: FATORES EXTRALINGUÍSTICOS 75
UNIDADE 15 - OS TIPOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 80
UNIDADE 16 - VARIANTE PADRÃO E VARIANTE NÃO-PADRÃO. 86
UNIDADE 17 - VARIANTE PADRÃO E VARIANTE NÃO-PADRÃO: CARACTERÍSTICAS 90
UNIDADE 18 - VARIANTES E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO. 93
UNIDADE 19 - BOTANDO A MÃO NA MASSA DAS VARIANTES 101
UNIDADE 20 - COM AS VARIANTES NAS MÃOS 105
UNIDADE 01- LINGUÍSTICA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar conhecimentos sobre linguística e linguagem. Nesta unidade,
tecemos algumas considerações sobre a linguagem e sobre os caminhos
percorridos pela Linguística, até se fixar como ciência.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente
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Nesse poema, observamos o poeta, colocando-se em um tempo presente, o agora,
negando o passado (poeta de um mundo caduco) e o futuro (não cantarei o mundo
futuro). Na verdade, o que realmente importa a ele é o tempo presente, os
problemas do homem, que, embora tristes, ainda têm esperança. Ressalte-se, ainda,
que o poeta nega-se a ser sentimental (Não serei cantor de uma mulher; não darei
suspiros ao anoitecer), para ater-se à vida e aos seus companheiros. Daí a
conclamação: vamos de mãos dadas.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana. Seu objeto de estudo
são as Línguas Naturais: Francês, Português, Inglês, etc. Vale lembrar que todas as
linguagens: verbais ou não-verbais (música, dança, pintura), elementos empregados
para a comunicação são signos. Por essa razão, Saussure, o grande mestre da
Linguística, propôs a Semiologia, ciência que estuda qualquer espécie de signos.
Diferentemente Pierce, outro linguista, denominou-a Semiótica. O que seria, então a
Linguística? Pode-se afirmar que a Linguística é uma parte dessa ciência geral,
Semiologia ou Semiótica, cujo objeto são os signos verbais. (Para saber mais sobre
Saussure acesse o site pt.wikipedia.org/wiki/Ferdinand_de_Saussure)
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Pode-se afirmar que a fase da Gramática abordou as primeiras especulações sobre
a língua. A Grécia foi o berço dos estudos gramaticais dessa fase, cabendo aos
gregos a divisão em classes de palavras e divisão da frase em sujeito e predicado.
Dois conceitos nortearam os estudos gramaticais dos gregos: anomalia e analogia.
Nessa época, uns acreditavam que o Grego era a língua mãe das demais línguas;
outros achavam que era o Latim. Porém, com a descoberta do Sânscrito, chegou-se
ao consenso que essas três línguas são oriundas de um tronco comum: o Indo-
Europeu (língua pré-histórica). O Comparativismo teve seus méritos, principalmente,
a descoberta de línguas mais antigas, como o indo-europeu, porém as falhas foram
gritantes, pois comparavam muitas línguas sem, entretanto, indagar a que
conduziam tais comparações ou relações descobertas. A comparação é necessária,
mas não basta por si só.
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UNIDADE 02 - LÍNGUAS NATURAIS E CULTURA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar a relação língua e cultura. Já comentamos que o objeto da
Linguística são as Línguas Naturais, cabe-nos verificar como elas se formam. A
primeira coisa que devemos ter em mente é que as línguas não são decalque da
realidade, isto é, a palavra copo não é o objeto do mundo real. Na verdade, as
línguas incorporam traços das experiências vividas por cada povo, eis a razão pela
qual se diferenciam.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Só para exemplificação, tomemos algumas palavras: chauffeur, conductor, driver,
motorista. Essas palavras referem-se a uma atividade humana: aquele que dirige.
Veja bem, a realidade do mundo é a mesma, mas a palavra é diferente, sabem por
quê? Simplesmente pelo fato de o Francês associar a atividade ao ato de aquecer o
motor; o espanhol e o inglês à ação de dirigir; o português, ao motor do carro.
Assim, pode-se afirmar que cada língua recorta um aspecto particular da realidade.
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quem usa e do contexto de seu uso. Por exemplo, para uma mesma realidade terra,
se usada por um sem-terra, seu sentido é de justiça social, sobrevivência.
Diferentemente, para o proprietário, seu sentido é de propriedade, posse. Por essa
razão, as palavras, as imagens não são o objeto em si, mas uma representação do
objeto.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Vale dizer, ainda, que as palavras podem deixar de ser usadas: os arcaísmos; outras
são criadas para preencher determinadas necessidades econômicas, científicas ou
pessoais. Essas palavras novas introduzidas nas línguas são os neologismos.
Curiosidades:
Vocês sabiam que as mulheres usavam laquê; hoje usam “spray”.
Antigamente, os homens usavam brilhantina e gumex nos cabelos; hoje,
gel.
As mulheres usavam corpete; hoje, body.
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que não empedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em
canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava manta e azulava,
dando às de Vila-diogo. Os idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo
para tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno.
Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao
cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de
aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e
até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n'água
(Carlos Drummond de Andrade – Antigamente)
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UNIDADE 03- LINGUAGEM HUMANA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Discutir as características e peculiaridades da linguagem humana. A
proposta desta unidade é discutirmos um pouco mais sobre a linguagem, suas
características, suas peculiaridades. Pode-se dizer que não há nada mais complexo
que a linguagem humana. O homem só não a abandona, porque não encontrou,
ainda, outra forma de agir sobre os outros.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Muitas vezes, no ato de linguagem, dizemos mais do que as palavras significam;
outras, uma simples palavra implica uma ação realizada, como, por exemplo,
quando o juiz, no final do julgamento diz: “Declaro o réu culpado”, o réu é culpado;
quando em um batizado, o padre diz: “Eu te batizo em nome do pai, do filho e do
espírito santo”, a criança está batizada.
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Várias pesquisas foram e ainda são realizadas para desvendar as especificidades da
linguagem animal. Tomemos, como exemplo, o estudo a respeito da linguagem das
abelhas.
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que sofrem acidentes vasculares cerebrais, se a parte afetada é a esquerda, elas
perdem a faculdade da fala.
Chomsky justifica sua tese de inatismo, por meio da linguagem das crianças. Em
outras palavras, para ele, só sendo inata se justifica uma criança falar frases que
nunca falou antes; entender frase que nunca ouviu.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Características da Linguagem Humana
Borba (1991) define linguagem humana como a associação de uma cadeia sonora a
um significado. Assim, ao ouvirmos a palavra “casa”, imediatamente nos vem a
mente o conceito: objeto construído pelo homem para lhe servir de moradia. Vamos
verificar quais são as características da linguagem humana.
Articulação- Nossa fala não se concretiza em blocos, mas por sequências lineares,
que podem ser segmentadas até que nenhuma outra divisão seja possível. Estamos
falando da 1ª e da 2ª articulação.
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Outros exemplos: em menina, o a é um morfema de gênero que indica as palavras
femininas, como doutora; médica, dentre outras. Na palavra patada, o segmento pat
significa parte inferior do membro animal, diferentemente, o ada, significa golpe, daí
patada ter o significado de golpe dado com uma pata e facada ter o significado de
golpe dado com uma faca.
As divisões que efetuamos acima não são as únicas possíveis, pois diante da palavra
pata, podemos segmentá-la em /p/; /a/; /t/; /a/. Cada elemento resultante dessa
divisão não tem significado, isto é, o que é um p sozinho? Estamos diante dos
fonemas, elementos da língua sem significado. Entretanto, os fonemas têm uma
função: distinguem signos, palavras. Por exemplo, se trocarmos o fonema /p/ da
palavra pata pelo fonema /b/ teremos outra palavra: bata.
Essa divisão da palavra em segmentos menores, até que nenhuma outra divisão seja
possível é que denominamos 2ª articulação da linguagem.
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Intencionalidade- De todas, talvez, essa seja a característica mais importante da
linguagem. Sabem por quê? Nós não falamos ao acaso, mas todo nosso ato de
linguagem tem a intenção de agir sobre o outro. Não existe nada despretensioso,
mesmo que a intenção não esteja explícita. Por exemplo: Eu vou a São Paulo, minha
intenção é informar alguém do local para onde me destino ou responder a uma
ordem, ou ainda negar alguma coisa. Tudo vai depender do contexto. Assim, Vou a
São Paulo e não a outro lugar; Não vou a outro lugar, porque vou a São Paulo.
Tudo está explícito.
Imaginemos uma outra situação: o aluno pergunta ao professor: “Minha prova está
boa?”, o professor responde: “A primeira questão está ótima.” O que se infere dessa
resposta? Qual é o implícito? Na verdade, ao mencionar só a primeira questão, o
professor afirma, sem dizer, que as outras não estão boas.
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UNIDADE 04- A COMUNICAÇÃO HUMANA.
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar os elementos da comunicação; Estudar as funções da
linguagem. Desde os tempos mais remotos, o homem serve-se da linguagem, seja
ela verbal ou não-verbal, para se comunicar. A comunicação é uma necessidade
premente do ser humano.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Vejamos algumas formas de comunicação.
Texto I
O homem das cavernas utilizava-se da pintura rupestre, para
comunicar aos demais o seu cotidiano. Nessa imagem, observamos a
atividade de caça, alguns objetos utilizados para esse fim e a relação
com outros homens, levando-nos à leitura de que essa prática era
coletiva.
Texto II
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Texto III
Façam a festa
Cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-muro
sujo
como a miséria brasileira.
Ferreira Gullar
No texto acima, o poeta opõe dois mundos: o mundo de festas e danças, do qual se
exclui, e o mundo da miséria. Trata-se, na verdade, da tomada de posicionamento,
por meio do poema duro, porque revela um problema social; muro-sujo, porque a
miséria é uma mancha da sociedade, é a sujeira social.
Vocês poderiam questionar onde está a comunicação nos textos acima, uma vez
não observarmos pessoas conversando. Ora, mesmo não se explicitando o emissor
(aquele que fala) e o receptor (aquele a quem se dirige a mensagem), em todos
esses textos ocorre comunicação, pois eu, vocês e qualquer pessoa somos os
receptores.
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permite a ambos a conexão, conforme se observa no esquema comunicativo
proposto pelo linguista.
CONTEXTO
(REFERENTE)
CANAL
EMISSOR MENSAGE RECEPTOR
CÓDIGO
BUSCANDO CONHECIMENTO
Funções da Linguagem
A partir dos elementos da comunicação, Roman Jakobson propôs as funções da
linguagem. Assim, o falante, segundo a sua intenção, enfatiza um elemento da
comunicação, dando origem a uma função específica da linguagem. Vamos
observar o esquema das funções da linguagem.
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REFERENCIAL
CONTEXTO
(REFERENTE)
EMISSOR
EMOTIVA MENSAGE RECEPTOR
M CONATIVA
FÁTICA
CANAL
METALINGUÍSTICA
CÓDIGO
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abaixo, em que o emissor da mensagem, Zeca Pagodinho, declara seu amor pela
cerveja.
Imagem I
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Na imagem acima, há o emprego da Função Conativa ou Apelativa da linguagem,
como se pode verificar no uso de você. Ressalte-se que esse exemplo faz referência
às novas cores das sandálias Havaianas. Na Imagem I, a função é de transformar um
estado confuso, complicado (cabeça baixa) em mundo alegre, colorido.
Texto I
O olho ocupa um terço da cavidade orbitária. Mede 24mm de diâmetro.
Compreende porções de duas esferas: uma posterior e uma anterior. O
nervo óptico emerge do globo ocular medialmente ao seu polo posterior.
Os pontos médios das pupilas ficam separados por uma distância de
cerca de 60 mm. O diâmetro ântero-posterior do globo ocular pode ser
maior- como na miopia – ou menor –como na hipermetropia – do que o
normal. O globo ocular tem três camadas concêntricas: uma túnica fibrosa
externa, protetora, que compreende a córnea e a esclera ou esclerótica:
uma túnica pigmentada média, vascular, que compreende a íris, o corpo
ciliar e a coroide, e uma túnica interna denominada retina.
(Anatomia, Gardner et alii...)
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Texto II
RJ: Acidente deixa trânsito lento na Avenida Brasil
Caminhão bate em carro e tomba na pista central da via.
Os dois motoristas ficaram levemente feridos.
Um acidente deixa o trânsito complicado desde a tarde desta sexta-feira
(8), na Avenida Brasil, altura de Bonsucesso, no subúrbio do Rio. Segundo
a Coordenadoria de Vias Especiais (CVE), um caminhão carregado de
terra tombou na pista em direção à Zona Oeste, depois de bater em um
carro. A pista lateral ficou interditada para a limpeza e provocou
engarrafamentos nas linhas Amarela e Vermelha e até no Elevado da
Perimetral. (Jornal O Globo)
Nos dois textos acima, o que realmente importa é a transmissão de uma informação
objetiva, real. No primeiro texto, extraído de um livro de Anatomia Humana, o
objeto apresentado é o olho. Agora, imagine, você, se, em um livro desse tipo, os
órgãos do ser humano não fossem descritos como realmente são. Com certeza,
estaríamos todos mortos. No Texto II, a ênfase da mensagem é apresentar o fato, o
acidente, tal qual ocorreu e suas reais implicações.
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Sinal Fechado
Olá, como vai
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranqüilo, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo... (...)
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo, talvez
Nos vejamos, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...(...)
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir!!! Vai abrir!!!
Eu prometo, não esqueço, não esqueço
Por favor, não esqueça
Adeus... Adeus...
Outras marcas caracterizam essa função, tais como, o balbucio do bebê para sua
mãe; as interjeições (uhn, hã), expressões: tchau, até logo, bom dia, dentre outras.
Vale dizer ainda, que o aperto de mão dado, um abraço, um beijo, expressão facial,
acompanhados de fórmulas de cumprimento de início de comunicação entre
pessoas, caracterizam, também, a função fática, conforme se observa na imagem
abaixo, em que Lula e Bush se cumprimentam.
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A Função Metalinguística centra-se no código e caracteriza-se por ser uma
linguagem definidora de outra linguagem. Vamos entender bem isso. Em uma
prova, se o professor introduz a questão: “O que é Linguagem?” e o aluno
responde: “Linguagem é uma forma de comunicação, é uma forma de interação
humana”, usou-se a função metalinguística, pois traduziu uma palavra, um conceito
da língua por outras palavras, outros conceitos.
Quando em uma conversa alguém diz ao outro: “O que você quer dizer com isso?”
e o outro responde: “Bom, eu quero dizer que você não está entendendo nada”,
empregou-se a função metalinguística.
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Quando vamos falar ou escrever alguma coisa, nós buscamos as palavras, em nossa
mente, em nosso conhecimento, certo? Após escolhermos as que vamos usar, nós
as colocamos em uma sequência, em uma ordem, segundo os critérios de nossa
língua. Muito bem, suponhamos que eu escolha, no dicionário que tenho em minha
mente as palavras rosa, a, vermelha, é. Entretanto, nós não falamos assim, porém
seguimos a estruturação da frase em português. Então dizemos: A rosa é vermelha.
Até aí tudo bem, pois rosa tem o sentido de flor, é rosa mesmo, daí a função
referencial da linguagem.
Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rosas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem roda sem nada
Lindo o poema, não? Pena que seja tão triste, tão terrível aos olhos humanos. Bom,
vamos à explicação da função poética.
Você poderia me dizer que esses exemplos são de função fática, pois coloca a
ênfase no destinatário da mensagem, e são mesmo. Porém, há também a função
poética, propiciada pelas rimas: Maria X Bacia; Manuela X Panela, efetuando uma
equivalência de sons.
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A primeira delas afirmava ser a linguagem expressão do pensamento. Essa
concepção vigorou até meados do século XX. Cabe, entretanto, um questionamento
sobre isso. Se linguagem é expressão do pensamento, aquela pessoa que não
consegue se expressar bem não pensa? Tomemos, como exemplo, o personagem
Fabiano, de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Logo no início do romance, esse
personagem aparece descrito como um ser humano desprovido de habilidades de
uso da linguagem, ele não conseguia falar. Várias passagens do livro indicam isso.
Porém, embora não conseguisse falar, ele pensava e muito.
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UNIDADE 05 - AS DICOTOMIAS DE SAUSSURE
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar o conceito de signo linguístico, estabelecido por Saussure. O
objetivo desta unidade é conceituar signo linguístico, fundamental para os estudos
da língua. Saussure, em sua obra, que, aliás, não foi escrita por ele, mas por seus
alunos, não mencionou o termo dicotomia, mas, atualmente, é essa a denominação
atribuída aos quatro pares de conceitos, a partir dos quais se assentam os estudos
ESTUDANDO E REFLETINDO
Signo Linguístico
Saussure define signo linguístico como algo duplamente constituído pela união de
um “sentido” a uma imagem acústica. O “sentido”, para ele, é o conceito, ou seja, é
a representação mental de um objeto ou da realidade. Nessa perspectiva, “sentido”
é o conceito que nós possuímos sobre o mundo, sobre a realidade, sobre os nossos
sentimentos, enfim, de tudo o que o homem nomeou.
Diz o mestre que a “imagem acústica” não é o som material, mas a realidade
perceptível, quando pensamos uma palavra, mesmo não a dizendo.
Assim, pode-se afirmar que o signo é algo duplamente constituído, cujas partes não
existem separadamente, mas uma depende da outra. Ao conceito, Saussure
denomina de significado; à imagem acústica, de significante, cuja ilustração,
encontra-se à página 99 de sua obra.
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Conforme a ilustração acima, o signo “arvore” é constituído por um significado:
conceito e um significante: imagem acústica. Isso significa dizer que ouvir, ler ou
pensar a palavra “árvore”, imediatamente vem a nossa mente um modelo, uma ideia
do que seja árvore. Em outras palavras, esse signo evoca em mim uma árvore e não
um gato, por exemplo.
Você poderia questionar se signo é apenas uma palavra. A resposta é negativa, pois
já estudamos anteriormente que a linguagem não é só verbal, mas existe a não-
verbal também. Nessa linguagem, é claro que não se pode falar em imagem
acústica. Por essa razão, há que se expandir o conceito de significante para que se
possa referir a outras espécies de signos. Nessa perspectiva, Fiorin (2002: 58)
concebe significante como um veículo do significado. Assim, a imagem das mãos
dadas introduzida no início dessa disciplina é um suporte material para a expressão
de um significado: o de união. Analogamente, uma foto é um signo material para a
expressão da miséria, da fome infantil que assola a humanidade.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Alguns Conceitos Linguísticos de Bakhtin
Bakhtin, em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (2002), afirma ser o signo
ideológico, conforme se pode depreender de suas palavras:
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Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado
fora de si mesmo, [...], tudo que é ideológico é signo. Sem signos não
existe ideologia.
BAKHTIN, 2002, p.1.
Afirma-nos Bakhtin que todo signo deve ser contextualizado, pois, isolado, não
possui valor em si mesmo. Vamos entender bem isso. Para tanto, tomemos o signo
cruz, enquanto isolado é apenas um objeto do mundo,
porém, se contextualizado no cristianismo, reveste-se de
ideologia: sofrimento de Cristo. Nesse contexto, cruz ganha
significação. Outro exemplo refere-se à foice e ao martelo,
que, isoladamente, não possuem significação, mas, a partir
do momento em que o Partido Comunista passou a usá-
los como símbolo, tornaram-se ideológicos.
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Outro conceito merece destaque. Trata-se do Dialogismo, sobre o qual tecemos
algumas considerações.
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Deve-se esclarecer que as relações do discurso com a enunciação, com o contexto
histórico social ou com o outro são relações entre discursos enunciados; o
dialogismo define o texto como um tecido de muitas vozes ou de muitos discursos
que se entrecruzam, se completam, respondem umas às outras ou polemizam entre
si no interior do texto.
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intertextualidade interior do discurso. O texto é tecido de muitas vozes que
concordam e polemizam entre si, reproduzindo um diálogo com outros textos.
Os estudos de Bakhtin respaldaram os conceitos e estudos das heterogeneidades
enunciativas desenvolvidos por Revuz.
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UNIDADE 06 - ARBITRARIEDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Discutir o conceito de arbitrariedade do signo linguístico. Segundo
Saussure, o laço que une o significado e o significante é arbitrário, ou seja, não há
nenhuma relação necessária entre o som e o sentido, mas convencional, como já
observamos na unidade anterior.
ESTUDANDO E REFLETINDO
A discussão a respeito da arbitrariedade do signo linguístico não se iniciou com
Saussure, mas era foco entre os filósofos da Grécia. Assim, Crátilo afirmava ser o
significante unido ao significado por natureza; Hermógenes, diferentemente,
defendia a convenção, portanto a arbitrariedade.
Uma das críticas que se pode fazer à teoria da arbitrariedade do signo linguístico diz
respeito às onomatopeias. Sabe o que é isso? São certas palavras que reproduzem
determinados sons. Por exemplo, au...au, reproduz o latido do cachorro; miau, o
miado do gato; ai, reproduz um grito de dor. Mas sobre elas também há que se
considerar o fato de estarem sujeitas às coerções fonéticas e fonológicas das
diferentes línguas. Em outras palavras, a reprodução do latido do cachorro na língua
inglesa, por exemplo, é diferente de au...au, o que não significa que, nos Estados
Unidos, os cachorros latem diferentes.
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Vamos entender bem isso. Quando dizemos a palavra casa, o som /Kaza/ não
possui nenhuma ligação com o conteúdo, ou significado “objeto construído pelo
homem para lhe servir de moradia”. Nesse caso, o signo não é motivado,
predominando, portanto, a arbitrariedade. Diferentemente, ao ouvirmos a dezesseis,
imediatamente, nos lembra os signos dez e seis, totalmente arbitrários. Em outras
palavras, dezesseis é um signo relativamente motivado, pois existe entre o
significante e o significado uma relação.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Guimarães Rosa, grande escritor brasileiro, criou a seguinte expressão: “uma cigarra
sissibila”, em que o signo sissibila, de certa maneira, reproduz o barulho da cigarra,
graças ao emprego dos sons sissi, o que nos leva a classificar esse signo como
motivado.
Você sabia que é na poesia em que ocorre a maior motivação do signo lingüístico?
Leia o poema abaixo em voz alta
A onda
(Manuel Bandeira)
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda
a onda
Leu? O que você sentiu? Creio que você deve ter visualizado as ondas do mar, seus
movimentos até o quebrar na praia, não é? Esse poema faz-me lembrar os versos
recitados por Neruda, no filme o Carteiro e o Poeta. No final, o poeta pergunta ao
carteiro: “E então gostou?”, o carteiro responde: “Estou enjoado, mas eu me sinto
assim como um barco num mar de palavras”.
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Outra característica do signo linguístico é a linearidade. Vamos entender bem isso.
Quando falamos, emitimos um som de cada vez, jamais conseguimos falar dois sons
ao mesmo tempo. Então o significante se desenvolve no tempo. A escrita, por ser a
representação do som, é linear também, porque só escrevemos um a palavra de
cada vez, só que essa linearidade se dá no espaço.
De acordo com o exposto até agora, você poderia ser tentado a dizer que a
arbitrariedade dos signos se aplica a todas as linguagens, mas não é bem assim,
pois há certos signos, por exemplo, a fotografia, os mapas em que a relação entre o
significante e o significado não é arbitrária. Em outras palavras, a fotografia de
Pedro representa o Pedro; o mapa do Brasil representa o Brasil. Esses aspectos
serão enfocados na unidade seguinte.
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UNIDADE 07 - CLASSIFICAÇÃO DOS SIGNOS
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar a classificação dos signos. Nesta unidade, embasando-nos nos
estudos efetuados por Fiorin (2002), vamos examinar como os signos podem ser
classificados.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Fiorin (2002), considerando o critério da intenção comunicativa, classifica os signos
em naturais e artificiais.
Vamos entendê-los bem. Imagine que uma mãe aproxima-se de seu bebê e verifica
que as maçãs do rosto estão avermelhadas. Ela encosta suas mãos no rosto de bebê
e sente que a sua temperatura está quente, pois está com febre. Ora, as maçãs
avermelhadas e a temperatura quente é um dado, um fenômeno que se associa a
outro: a febre.
Agora, imagine-se olhando para o céu. Você vê nuvens escuras, muito carregadas.
Imediatamente, você conclui: vai chover. Isso é um índice: um dado físico associado
a outro dado físico.
39
BUSCANDO CONHECIMENTO
Os signos artificiais são divididos em signos verbais e signos com expressão
derivativa.
Os verbais decodificam todos os demais signos. Por exemplo, quando olhamos uma
pintura, nós a interpretamos por meio do signo linguístico, mas isso não se aplica a
todos os demais signos. Assim, um balé não seria capaz de traduzir todo o valor
filosófico de Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Os sinais são signos que acarretam uma determinada ação. Assim, se eu estou
dirigindo e escuto um apito ou vejo o braço do guarda de trânsito estendido,
imediatamente, eu paro o carro. Vale dizer que os sinais só funcionam, porque os
indivíduos os reconhecem, pois são frutos de um acordo tácito entre todos os
membros da sociedade.
Os signos substitutivos são empregados para representar alguma coisa e podem ser
de duas espécies: os stricto sensu, também denominados ícones, que expressam um
significado concreto, como uma fotografia, uma maquete, um gráfico e símbolos:
algo concreto para representar uma noção abstrata. A balança, por exemplo, é algo
concreto, mas representa a noção abstrata de justiça; a cruz é concreta e representa
o cristianismo; o lenço branco representa a paz, dentre outros exemplos.
40
UNIDADE 08- SINCRONIA X DIACRONIA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar os conceitos de sincronia e diacronia. Para Saussure, os estudos
da língua podem ser efetuados a partir de duas perspectivas: sincronia e diacronia.
Vamos entender o que é isso.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Vamos voltar aos estudos de Linguística. Para tanto, tomemos por enfoque a
formação do futuro do presente e do pretérito da forma verbal cantar, na 1ª pessoa
do plural: cantaremos e cantaríamos. Nessas formas, verificamos um morfema
lexical, ou radical, cant; uma vogal temática a, que classifica esse verbo como da 1ª
conjugação; um morfema de modo e tempo: re e ria modo indicativo, futuro do
41
presente e do pretérito, respectivamente, e um morfema de número e pessoa mos,
1ª pessoa do plural.
O exemplo acima evidencia a sincronia, pois tomamos para análise o estágio atual
das formas verbais de futuro do presente e do pretérito. Vale dizer ainda que a
gramática normativa enfoca os estudos sincrônicos.
42
• a palavra embora, antigamente era em boa hora;
• a palavra farmácia era escrita com ph –pharmacia
• a palavra fiel era fidele, daí o superlativo fidelíssimo;
• a palavra conceito era concepto;
• a palavra ato era acto
BUSCANDO CONHECIMENTO
Nós já abordamos o fato de a Língua Portuguesa ser oriunda do Latim, língua
morta, lembra-se? Pois bem, no Latim existiam os casos. Vamos ver o que é isso.
Casos no Latim
43
Phaedra seruae rosam dat.
("Fedra dá a rosa à escrava" )
Agente da Passiva
Filius amatur a matre.
("O filho é amado pela mãe")
44
Outra particularidade do Latim é que não havia artigo (o, a, os, as), que, pode-se
dizer, é um ganho na Língua Portuguesa, como se verifica em Filius amatur a matre,
cuja tradução é "O filho é amado pela mãe".
Observações:
Você sabia que o plural de mão é mãos e o plural de limão é limões. Sabe por quê?
Porque, no Latim, era limon, no singular, cujo plural era Limones. Entretanto, houve
um estágio da passagem do latim para o português, em que ocorreu a queda do N
intervocálico limones e a ditongação, resultando daí limões. Analogamente, “manu,
plural manus, ocorreu a queda do n intervocálico e a ditongação, daí mãos. Essas
informações caracterizam um estudo diacrônico.
45
UNIDADE 09 - LÍNGUA E FALA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Estabelecer a distinção entre língua e fala. Em nossas abordagens
anteriores, já definimos língua e fala. Nesta unidade, entretanto, vamos precisar
melhor essa dicotomia de Saussure.
ESTUDANDO E REFLETINDO
A Língua, pode-se afirmar, é uma convenção social, portanto, coletiva, resultante de
um acordo entre todos os membros de uma comunidade, que, em princípio, não
podem criá-la, nem modificá-la, porque é anterior a eles. Como código de relações
e de regras, é um mecanismo de natureza abstrata que só cumpre a sua finalidade,
quando empregada pelos indivíduos da sociedade.
Para Saussure (1969), o objeto da linguística é a língua e não a fala. Por essa razão,
a língua é definida como um sistema de elementos.
46
No mundo político, existe uma estrutura, por
exemplo: presidente, ministros, senadores, deputados,
governadores, prefeitos, vereadores. Todos essas
funções se definem umas em relação as outras.
Não é apenas no nível da morfologia que verificamos a relação entre os signos, mas
no fonético e fonológico isso também se dá. Se tomarmos, por exemplo, um som /
p /. Esse som não é nada na língua, mas se o opusermos a um / b /, podemos traçar
a oposição, ou seja, o / b / é consoante oclusiva bilabial sonora; enquanto o / p / é
oclusiva, bilabial, surda. Portanto, a diferença entre / p / e / b / está no traço surdez
e sonoridade. Analogamente, o verbo cantar se diferencia do verbo beber por ser
da 1ª conjugação, verbos terminados em a, e beber da 2ª conjugação, verbos
terminados e e. Mesa e felicidade são dois substantivos, mas a diferença entre eles é
a de que mesa é concreto e felicidade é abstrato. Então, com esses poucos
exemplos você já deve ter percebido que a língua é constituída por uma relação de
diferenças entre os elementos que a integram.
47
Outros dois conceitos foram estabelecidos, a partir da definição de língua como
sistema, dada por Saussure. Trata-se dos conceitos de forma e substância.
Pode-se dizer que substância é a matéria prima que integra os elementos. Por
exemplo, farinha, açúcar, leite e ovos são substâncias para se fazer um bolo.
Diferentemente, a forma é o arranjo desses elementos, segundo uma estrutura. Em
outras palavras, se eu jogar, aleatoriamente, todas as substâncias acima,
provavelmente, não terei um bolo, mas devo arranjá-las, segundo medidas, para
que adquiram a forma de um bolo. Da mesma forma, tijolos, cimento e cal jogados
sem nenhum critério não são capazes de construir uma casa, mas devem ser
arranjados, estruturados, segundo a forma de parede e de casa a desejadas. É por
essa razão que dizemos que a forma é a responsável pelas coisas que queremos
construir.
48
Pelo que foi dito até aqui, acho que você já percebeu que língua é forma e não
substância, porque não basta um amontoado de elementos, mas é preciso que eles
sejam arranjados, segundo a estrutura da língua.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Detivemo-nos, até agora, conceitos básicos da Língua. Vamos falar um pouco mais
da fala.
Embora essas distinções sejam evidentes, língua e fala não existem separadamente,
mas uma pressupõe a outra, o que nos levaria a concluir que não são coisas
diferentes, mas aspectos diferentes de uma só coisa.
49
Coube a Saussure a definição de língua como um sistema de signos organizados,
possuidora de natureza social, opondo-se, sob esse aspecto à natureza individual da
fala.
Para Coseriu, existem realizações da fala que não são tão individuais e que não são
concretizadas por toda uma coletividade. A comprovação disso está na ocorrência
dos sotaques, característicos de regiões específicas; na presença ou na ausência de
concordância em certas sequências linguísticas, que não é nem individual, nem
coletiva. Estamos falando das variantes linguísticas que se manifestam em uma
mesma língua.
Assim, em lugar da dicotomia língua x fala, Coseriu propõe: sistema x norma x fala,
cabendo à norma o estudo das variantes. O conceito de sistema, de certa maneira,
coincide com o de língua dado por Saussure, ou seja, “língua não é apenas um
sistema funcional, mas realização normal”. Nessa perspectiva, para Coseriu, língua
abrange sistema, que é domínio coletivo, e as normas que, integrantes desse
sistema, são específicas a determinados grupos.
50
diferentes grupos sociais (escolarizados- não-escolarizados), de falantes; diafásicas
(sociais)- dizem respeito às variantes empregadas em situações formais e informais;
diacrônicas ou históricas- variantes características de determinada faixa etária dos
falantes (os jovens têm uma maneira específica de falar: uso de gírias, por exemplo).
51
UNIDADE 10 - PRAGMÁTICA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Propiciar conhecimentos básicos sobre a Pragmática Linguística. Você
sabe o que é Pragmática? É o estudo da língua em situações concretas de
comunicação. É o estudo da língua em uso. Sabe por que devemos estudar a
Pragmática? É simples. Vamos ver?
ESTUDANDO E REFLETINDO
Algumas palavras só terão seu sentido decodificado, quando consideramos o
contexto situacional. Por exemplo, se alguém diz a outro: “Traga-me uma vela
nova”, dependendo da situação de comunicação vela terá significados diferentes:
vela de navio, vela de carro ou vela de parafina. Além disso, os estudos pragmáticos
são fundamentais, porque as palavras comunicam, muitas vezes, mais do que
significam. Quando em uma troca de comunicação, as pessoas sentadas à mesa do
jantar, uma diz para a outra: “Você pode me passar o sal?” ela não está
perguntando se o seu interlocutor tem capacidade física ou não, mas está, na
verdade, dando uma ordem. Tal ordem poderia ser expressa da seguinte maneira:
Por favor, passe-me o sal; Dá o sal, dentre outras possibilidades.
Enunciação
A enunciação é o momento em que o sujeito se apodera da língua e profere um
enunciado. É, portanto, ato produtor do enunciado, para o qual há elementos
próprios. Vejamos quais são.
52
Os marcadores de pessoa são os pronomes pessoais eu/tu, considerados parceiros
da interlocução, ou participantes, segundo Benveniste (1966), do aparelho formal da
enunciação. Vamos entender isso. Quando um eu se apodera da língua para
formular um enunciado, ele o faz para um interlocutário, para um tu. Mesmo se um
eu, num monólogo interior, fala para si mesmo, ele desempenha papel de falante e
de ouvinte.
Se alguém diz, por exemplo, Eu gosto de doce, esse enunciado é dirigido a outro
alguém, seu ouvinte.
Os dêiticos que indicam o espaço são os advérbios de lugar, tais como, aqui- lugar
específico de quem fala; aí, lugar próximo da pessoa com quem se fala e lá, lugar
distante do eu/tu. Os pronomes demonstrativos são: este- empregado para apontar
coisas, objetos e pessoas que estão próximos de quem fala; esse, para apontar
objetos e pessoas próximos do interlocutor e aquele quando estão distantes do
eu/tu.
53
Os dêiticos indicadores de tempo são: agora- momento da fala do sujeito produtor
do enunciado; ontem, momento anterior de sua fala e amanhã, momento posterior
da fala.
54
muito intensifica a qualidade de ser alto; Ele chegou muito cedo, o advérbio
intensifica outro advérbio- cedo. Entretanto, outros advérbios além de
modificarem esses termos, qualificam o ato de enunciação, como, por
exemplo: Felizmente, eu terminei de escrever o livro. Ora, felizmente indica
um julgamento que eu- sujeito da enunciação- fiz da minha ação de acabar
o livro. Outro exemplo seria: Sinceramente, não sei como fazer isso, em que
o advérbio emite um julgamento do sujeito sobre uma determinada ação.
Inferências
Inferências são suposições que fazemos, a partir de enunciados que implicam
outros. Assim, se eu disser: Luana é minha filha, implica que eu sou a mãe dela.
Entenderam?
Muitas vezes, a inferência não é tão simples, o que requer que recorramos ao
contexto para entendermos o que, realmente, o falante diz. Vamos criar a seguinte
situação:
A) A patroa chega em casa, a roupa está estendida no varal, mas está chovendo. Ela
olha para a empregada e diz: Está chovendo. Na verdade, ela não quer informar
sobre o acontecimento chover, mas está dando uma ordem: Recolha a roupa.
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Na pragmática há algumas distinções necessárias: significação/ sentido/ frase/
enunciado. Vamos a elas.
Frase é uma unidade linguística caracterizada por uma estrutura sintática e uma
significação a partir das palavras que a compõem.
Sabemos que o e é uma conjunção aditiva. No entanto, nos dois casos acima, esse
elemento indica sequencialidade no tempo. Assim, em a, primeiro o copeiro pôs a
mesa e, depois, Pedro sentou; diferentemente, em b, primeiro Pedro sentou e, em
seguida o copeiro pôs a mesa.
56
Vejamos outro exemplo:
c) Ela é boa cozinheira, mas é porca.
d) Ela é porca, mas é boa cozinha.
BUSCANDO CONHECIMENTO
Pressupostos e Subentendidos
A maioria dos enunciados que produzimos são implícitos, isto é, não se encontram
expressos na superfície linguística. Vamos entender bem isso.
57
Os elementos linguísticos que assinalam os pressupostos são denominados
marcadores de pressuposição. Vejamos os principais.
O adjetivo única assinala que o sujeito ela não queria nenhuma coisa mais.
O verbo tornar deixa pressuposto o fato de Pedro não ser católico convicto antes.
c- verbos reveladores de ponto de vista daquilo que é expresso, tais como lamentar,
pretender, supor, imaginar, presumir.
Lamento o ocorrido.
d) certos advérbios
Ele ainda mora no Rio
Ele já mora no Rio
O advérbio ainda deixa pressuposto que ele morava antes no Rio, enquanto que o
já deixa pressuposto o fato de antes não morar nesta cidade.
Ele não quer mais acreditar em políticos
58
O advérbio mais deixa pressuposto o fato de antes ele acreditar nesta classe.
e- orações adjetivas
Os políticos, que são honestos, sempre se elegerão.
Os políticos que são honestos sempre se elegerão.
No primeiro caso, por se tratar de uma oração adjetiva explicativa, marcada pelo
uso de vírgulas, deixa pressuposto que todos os políticos são honestos e que todos
se elegerão. Diferentemente, no segundo exemplo, a oração é restritiva, cujo
sentido pressuposto é nem todos os políticos são honestos e só aqueles que o são é
que se elegerão.
f- certas conjunções
Ele foi atendido no PS, mas saiu de lá são e salvo.
O elemento mas, cuja função principal é articular ideias opostas, nesse enunciado
não o faz, mas deixa pressuposto que é um perigo ser atendido no pronto socorro.
Nos enunciados acima, a fala de B deixa subentendido o fato de a irmã fazer faxina
e no momento estar desocupada.
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Na verdade, a professora está dizendo que ele não aprende, que ele é burro.
Um senhor casado, brincava com os outros, dizendo: Minha mulher me acha lindo.
Todas as noites eu chego em casa, ela olha pra mim e diz:
- Bonito, né!
Ora esse bonito, de forma alguma diz respeito às qualidades desse senhor, mas
subentende-se que ele faz algo errado, como, por exemplo, chegar tarde em casa,
depois do trabalho.
Da mesma forma, a patroa que olha o latão do lixo cheio e diz para a empregada:
- O latão está cheio.
Na verdade, ele não está informando, está, sim, dando uma ordem para que a
empregada esvazie o latão, coloque o lixo na rua.
Atos de Fala
Os estudos de Austin revelam que há dois tipos de afirmações: as constativas, que
descrevem um estado de coisas e as que não descrevem um estado de coisas.
Vamos entender bem isso. Se alguém diz: O céu está azul, observamos tratar-se de
uma descrição, cuja comprovação pelo ouvinte pode ser verdadeira: o céu
realmente está azul ou falsa, o céu não está azul. Entretanto, há certos enunciados
na forma afirmativa, na primeira pessoa do singular do presente do indicativo da
voz ativa que não descrevem nada, não podendo, portanto, ser verdadeiras ou
falsas, mas, no momento em que são ditas, o fato de dizê-las implica a realização de
uma ação. São os atos performativos. Tenho certeza de que você já ouviu, já
presenciou diferentes atos performativos. Quer ver?
60
Imagine-se em uma sessão de júri. Quando o juiz diz: Declaro o réu culpado, a
enunciação dessa afirmação é a condenação do réu. Quando um padre em uma
cerimônia de casamento diz: Eu os declaro marido e mulher, o casal fica sendo
marido e mulher.
Para que a ação de um ato performativo se realize, algumas condições devem ser
preenchidas. Essas condições de sucesso de um ato performativo são:
Austin afirma que, quando se diz alguma coisa, na verdade, três atos são realizados:
atos locucinários, ilocucionário e perlocucionários.
Ato Ilocucionário diz respeito a se atribuir a esse conjunto de sons uma determinada
força (pergunta, afirmação, promessa). Pode se realizar de forma explícita (eu
pergunto se a terra é redonda) ou de forma implícita (A terra é redonda?)
61
Ato Perlocucionário é o destinado a produzir/ exercer certos efeitos sobre o
interlocutor: convencê-lo; assustá-lo, agradá-lo etc. “Se você não comer tudo, vai
ver o que te acontece” (ameaça); Duvido que você é capaz de fazer isso
(persuasão).
Vale dizer, ainda, que há atos diretos, os realizados através de formas linguísticas
especializadas para tal fim (entonação, imperativo para ordens, exclamações,
interrogações) e atos indiretos, que são realizados através do recurso a formas
típicas de outro ato. É nosso traquejo social que possibilita a percepção da força
ilocucionária. Quer fechar a janela? Você tem cigarros?
62
UNIDADE 11 - COMEÇANDO A CONVERSA: LÍNGUA E SOCIEDADE
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Desenvolver conhecimentos a respeito da relação língua e sociedade;
Explicitar os conceitos e pressupostos básicos da Sociolinguística.
Pode-se afirmar que Língua Padrão é a que goza do prestígio das camadas sociais
mais elevadas e está associada a um patrimônio cultural e consolidada na escrita.
Ora, não são todos os indivíduos da comunidade que têm acesso a essa
modalidade. Vale dizer, ainda, que o prestígio de uma língua em detrimento de
outra não ocorre, apenas, no interior de uma comunidade, mas se estende ao plano
internacional. O francês, por exemplo, foi durante muito tempo a língua de
prestígio, hoje, sabemos que, por razões econômicas, científicas e culturas, o inglês
é a língua de prestígio.
63
Pode-se afirmar que o Estado e o poder apresentam-se como neutros em relação à
língua padrão, mas isso é pura ilusão, ou, como nas palavras de Bakhtin, trata-se de
“objetivismo abstrato”. A sustentação dessa posição embasa-se na concepção de
língua como sistema estável e imutável; na consideração de que as leis da língua são
apenas linguísticas e que, nas relações lingüísticas, não há fatores ideológicos
interferindo. Todas essas considerações serão desmitificadas nas unidades
subsequentes.
BUSCANDO SABERES
Saussure define a língua em oposição à fala. Na sua concepção a língua é social e
subjacente à fala. A língua para o mestre genebrino é o sistema invariante, passível
de abstração das múltiplas variações observáveis na fala.
Para o autor citado, a ideia que tem de língua como social refere-se ao fato de ser
um sistema convencional adquirido pelos indivíduos de uma sociedade. O que isso
quer dizer? É simples, para nós, falantes, não nos é permitido para sair por aí
mudando os nomes dos objetos e das coisas do mundo, pois já estão fixados, por
meio de um acordo tácito entre os indivíduos. Daí, caro aluno, você me perguntaria
se não se podem criar palavras novas na língua. Claro que podemos, mas toda nova
criação (neologismo), e Guimarães Rosa o fez com genialidade, deve se adequar à
estrutura da Língua Portuguesa. “A verdadeira substância da língua não é
constituída por um sistema abstrato de formas
Assim, uma palavra como, por lingüísticas, nem pela enunciação monológica
isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua
exemplo, ZXPTKY não se constituirá produção, mas pelo fenômeno social da interação
verbal (grifo nosso) realizada através da
em um signo de nossa língua.
enunciação ou das enunciações. A interação
Embora Saussure reconheça a verbal constitui assim a realidade fundamental da
língua” (Bakhtin, 1990, p: 123)
importância de se considerarem
fenômenos externos à estrutura da língua, tais como, natureza etnológica, histórica
e política, sua ênfase centra-se na estrutura linguística interna da língua. Com isso,
64
há uma nova oposição: Linguística Interna e Linguística Externa. Entenda-se como
elementos externos fatores como sexo, faixa etária, nível socioeconômico, nível
cultural e contexto situacional que interferem no uso da língua. Aqui, já se verifica a
relação entre Língua e Sociedade.
65
A linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a
função referencial denotativa da linguagem não é senão uma entre
outras; entre estas ocupa uma posição central a função de comunicar ao
ouvinte a posição que o falante ocupa de fato ou acha que ocupa na
sociedade em que vive. As pessoas falam para serem "ouvidas", às vezes
para serem respeitadas e também para exercer uma influência no
ambiente em que realizam os atos linguísticos. O poder da palavra é o
poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la
num ato linguístico (Bourdieu, 1977, p. 32).
66
UNIDADE 12 - CONTINUANDO A CONVERSA: LÍNGUA ORAL E LÍNGUA
ESCRITA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar as diferenças entre língua oral e língua escrita. A Língua
apresenta-se sob duas modalidades: oral e escrita. Nesta unidade, discutiremos as
características peculiares de cada modalidade, embora nossa ênfase centre-se na
modalidade oral.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Fala e escrita constituem aspectos e modalidades diferentes de expressão. O
primeiro ponto a assinalar diz respeito ao fato de a oralidade ser o elemento
linguístico de base do falante. Em outras palavras, logo no primeiro ano de vida, a
criança, desde que não possua problemas no aparelho fonador e que pertença a
uma comunidade de falantes, já começa o exercício da fala. Isso significa que não há
necessidade de aprendizado na escola. No que diz respeito à aquisição da escrita
esse processo só ocorre a partir de aprendizado, de sistematização, propiciado,
principalmente, pela escola. Vale dizer que a escrita é fator de unificação nacional,
pois todos os usuários da Língua Portuguesa no Brasil escrevem da mesma maneira.
Nesse trecho observamos vários falsos começos, orações incompletas, tais como:
não depois ele tem que ser; depois de seco ele ainda tem que ser.
67
Diferentemente, a escrita passa por um tempo maior de elaboração e a
consequência disso é que se conectam as unidades de idéias por meio de recursos
como: nominalizações, frases preposicionadas, adjetivos atributivos e orações
relativas que contribuem para o caráter integrado (Chafe, 1982:38), conforme se
depreende abaixo.
68
L1 aquele corte...acertava bem com a tesoura...depois pegava um pedaço
de quando quando se mandava fazer um terno sempre...trazia-se um
retalho da casimira para casa...então pegava-se uma...uma placa daquela
casimira da mesma cor...adaptava-se perfeitamente...por baixo o desenho
com desenho...e comprava-se uma tela de borracha...que era
p/impermeabilizar para impermeabilizar a ferida...
DOC sei...
L1 então...cortava-se um pedaço dessa bo/dessa tela de borracha do
mesmo tamanho do remendo...e fazia-se um furo correspondente ao furo
da::...
L2 do rasgão
[
L1 dessa bo/dessa...BEM exatamente...e punha-se o ferro quente em
cima...então::aquilo colava...e não aparecia o remendo..
(Inq. 396, Projeto NURC/São Paulo)
Diante do trecho acima, é lícito perguntar: Por que o falante repete? A repetição
não ocorre por acaso, mas tem uma função e uma razão na comunicação oral.
Para a autora citada, existe uma repetição parcial, isto é, sentidos semelhantes
expressos em padrões e palavras ligeiramente diferentes, como se constata em:
69
A repetição na produção
caracteriza-se por repetições “Se a repetição é comum na fala, na escrita,
ocorrem substituições pronominais e lexicais,
automáticas, isto é, o falante como, por exemplo: O Menino chegou, ele estava
extremamente triste.
utiliza-se de algo que já foi dito Mas, atenção, às vezes a repetição produz
diferentes efeitos de sentido, tal como se observa
por ele ou por outro falante, no poema de Drummond “No meio do caminho”.
Especial - 100 anos de Drummond, em que a
contribuindo, assim, para que a
repetição de “Tinha uma pedra” implica os
conversação se mantenha com inúmeros problemas com que nos defrontamos
em nossa vida.
menos esforço. É como se o
falante, ao repetir algo já dito anteriormente, procurasse ganhar tempo para decidir
o que dizer em seguida.
70
UNIDADE 13 - A SOCIOLINGUÍSTICA: CONCEITO E OBJETO.
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Conceituar a Sociolinguística; Explicitar o objeto de estudo da
Sociolinguística.
fala. No entanto, evidenciaremos que essa variação não é tão livre quanto se
imagina, pois há regras, há uma padronização de uso.
ESTUDANDO E REFLETINDO
A Sociolinguística é um ramo da Linguística, cuja preocupação é o uso da língua nas
comunidades. Nesse caso, os estudos voltam-se para a investigação de aspectos
linguísticos e sociais, privilegiando as realizações heterogêneas.
71
Vamos entender que regras são essas. Imaginem uma situação de velório, por
exemplo, ninguém se dirige ao filho de uma falecida e diz: “Meus pêsames, porque
sua velha bateu as botas”. Entendeu uma das regras a que fiz referência acima. É
bem isso, há regras que governam o uso da língua e essas regras dependem, dentre
outros fatores, da situação (formal ou informal) em que se encontram os falantes.
Adoniran Barbosa nos fornece vários exemplos de variação. Leia os versos abaixo.
As Mariposa
As mariposa quando chega o frio
Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra descansá.
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Há inúmeras variações referentes ao léxico (vocabulário) da língua. Por exemplo, no
nordeste você não come abóbora, come jerimun; não come mandioca, mas
macaxera.
BUSCANDO SABERES
Willian Labov, em 1963, realizou um estudo da língua falada na comunidade de
Marthas´s Vineyard, Massachusetts, por meio do qual evidenciou o papel
fundamental dos fatores sociais: idade, sexo, ocupação, origem étnica e atitude
comunicativa, principalmente, no que diz respeito à realização de certos fonemas do
inglês. O trabalho de Labov, conhecido como Sociolinguística Variacionista ou
Teoria da Variação, permitiu o estabelecimento de um modelo descritivo do
fenômeno linguístico no contexto social de comunidades urbanas.
73
No que diz respeito às regras citadas por Gnerre, devemos considerar que, a
depender da situação formal ou informal, ao ouvinte a que se destina o ato de fala
do sujeito produtor, deve-se empregar uma ou outra variante. Dessa maneira, um
professor, em sala de aula ou em uma conferência fará uso da variante culta.
Analogamente, ninguém irá a uma instituição católica e fará apologia ao aborto,
como nenhum funcionário do governo se dirigirá à presidente Dilma e a tratará por
você, já que esse pronome é indicador de tratamento familiar.
74
UNIDADE 14 - VARIANTES SOCIAIS: FATORES EXTRALINGUÍSTICOS
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Conhecer os fatores extralinguísticos que interferem no uso da língua. A
variação da língua é fato incontestável. A língua não é imutável e sofre influência de
fatores externos a sua estrutura. É sobre esses fatores externos: gênero/sexo, faixa
etária, nível de escolaridade, nível social e contexto situacional que abordaremos
nesta unidade. Vale a pena conhecê-los.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Homens e mulheres não falam da mesma maneira e não estamos falando apenas
em relação ao timbre de voz, que, no homem, é mais grave e mais baixa, enquanto
as mulheres possuem voz mais aguda e mais alta. O que interessa para os estudos
Sociolinguísiticos são variações em relação ao uso da língua.
Inf. Ah:: bem leve?...(ah) seria uma sopa né? Uma sopa creme...bem
leve...suponho que seja isso né?...uma sopinha::...de aspargos...que é a
minha preferida né...em questão de sopa porque eu também não não
aprecio muito sopa não... então uma sopa creme com::torradinhas::...é
só...porque já que é pra ser BEM LEVE...tem que ser BEM (riu)? (Diálogo
entre informante e documentador, Vol. III, 131)
Fomos boazinhas por séculos. Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada,
ceguinhas. Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e
75
nenezinhos. A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas,
crucifixo em cima da cama, tudo certinho
(Adjetivos diminutivos? Nunca precisei! : : Como estou dirigindo?)
No que diz respeito à faixa etária, pode-se afirmar que os mais jovens são menos
preocupados com o uso de normas gramaticais, empregam gírias com maior
frequência que os falantes mais velhos.
No trabalho realizado por mim e citado acima, minha pesquisa centrou-se em três
faixas-etárias: 25 a 35 anos; 36 a 45 anos e 46 em diante. Na primeira faixa etária
agrupam-se adultos mais jovens, egressos de universidade, iniciando atividades
profissionais variadas: professores, psicólogos, dentistas, advogados, vendedores. Na
segunda, estão falantes adultos, maduros, exercendo profissões também variadas e,
ao que indicou a pesquisa, estavam em pleno exercício da profissão. Finalmente, na
terceira faixa estavam os falantes já maduros, com muitos anos de atividades
profissionais ou já aposentados.
76
Examinando o emprego de formas pronominais do caso oblíquo, em função
acusativa, observamos que a 1ª faixa etária apresenta 4,89% (13/226) de ocorrências
de o/a e 2,63% (7/226) de ocorrências de ele.
Você deve estar se perguntando: “Se há apenas essas ocorrência de o/a e ele, o que
esses falantes empregaram como complemento direto do verbo?”
BUSCANDO SABERES
Dos fatores extralinguísticos, talvez, o nível de escolaridade seja o que mais contribui
para a presença de variação. Para iniciarmos nossa conversa sobre esse fator, cito
77
um texto, disponível no endereço eletrônico administradores.com.br/informe-
se/artigos/o-incrivel-nirso-o-profissional-que-nao-pode-ser/32617. Leia-o,
atentamente
78
Outro fato hilário foi apresentado no Jornal
Nacional, em que o apresentador narrou o fato
de a polícia descobrir que um carro foi roubado,
apenas pela placa. Não poderia ser diferente,
como se observa na imagem.
79
UNIDADE 15- OS TIPOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar os diferentes tipos de variação linguística. Já observamos que a
heterogeneidade linguística é inerente às línguas. Estudamos, também, que às
maneiras diferentes de falar denominam-se variantes. Nessa unidade, nosso foco é
conhecer os tipos de variantes. Vamos começar?
ESTUDANDO E REFLETINDO
A língua é um objeto histórico e se transforma no tempo. Assim, o português que
falamos hoje é diferente do português falado no passado e Drummond foi
consciente dessa variação temporal, quando escreveu Antigamente .
A leitura do fragmento acima permite visualizar uma série de termos que entraram
em desuso, que, hoje, não se empregam mais. Dentre eles, merecem destaque:
Constipação, ficar perrengue, botica, aviar receita, phtysica asthma, ceroulas, capa-
de-goma, retratistas, os cristãos não morriam: descansavam. Certamente, muitas
dessas palavras são totalmente desconhecidas por você, não são? Por exemplo,
phtysica é tuberculose; capa-de-goma é mistura de amido com água, muito usado
para roupas.
80
denominadas arcaísmo. Vale dizer que a
Sobre o emprego de “senhor”, como
variação histórica ocorre também do comum de dois gêneros, atente para a
Cantiga de Amor da época trovadoresca:
latim, língua mãe, ao português, como
se observa em: correspondente arcaica Como morreu quen nunca ben
ouve da ren que mais amou,
do verbo pôr é poer <poner <ponere. O e quen viu quanto receou
d’ela, e foi morto por en:
plural de alferes foi alfereses; senhor era
Ay mia senhor, assi moir’ eu!
uma espécie de substantivo “comum de
dois gêneros”, empregado, portanto, em
referência ao masculino e ao feminino..
81
O Brasil se destaca pela sua grande Diferenças fonéticas: Brasil: “Eu sei”; Portugal
“eu Sâi”;
extensão espacial. Assim, constitui-se um Sintáticas: Brasil: “Estou falando com você”;
Portugal: “ Estou a falar consigo”;
mito acreditar na existência de uma unidade Lexicais: Brasil: Para habitante da zona rural se
diz: caipira, capiau, matuto; em Portugal:
linguística no país. saloio;
Semântica: cuecas em Portugal são as
calcinhas no Brasil;
Vale dizer ainda que a língua portuguesa Uso: Você se chama Sílvia e um português
quer convidá-la para jantar. Ele,
falada em Portugal é bem diferente da provavelmente dirá: “A Sílvia janta conosco?”,
o que tentará você a pensar tratar-se de uma
falada aqui no Brasil. Essas diferenças outra Sílvia, pois no Brasil se diz: “Você quer
jantar com a gente?”
ocorrem nos diferentes níveis da estrutura Os portugueses falam diretamente com a
pessoa como se fosse uma terceira pessoa.
da língua, tais como fonético, sintático,
(Bagno (1999).
lexical e de uso. Para comprovar isso, acesso o site Video Show
- Notícias - NOTÍCIAS - Ricardo Pereira dá
aulas de português de Portugal a Bruno De
Luca
O que, na verdade, verificamos é que o falar
nordestino é marcado pela abertura das vogais; os gaúchos não neutralizam o o e e
átonos finais; na região do São Francisco, dama tem o significado de meretriz; no
sertão baiano, a oclusiva alveolar surda, após semivogal anterior, palatiza-se na
africada (ts), com, por exemplo, oitcho.
Além das variações históricas e geográficas Bons exemplos de variantes sociais são
as músicas de Adoniram Barbosa, que
ocorrem variações sociais. Variação social resulta evidenciam o falar de uma pessoa não
escolarizada. Ouça suas canções e
da tendência a maior semelhança entre os atos de
verifique as variações ali presentes.
fala proferidos pelos membros de um mesmo setor
sociocultural da comunidade. Cada grupo social possui determinadas expressões,
determinadas entonações e especificidades que propiciam diferentes falares nos
distintos grupos sociais. Claro está que o grau de educação, o nível sócio-
econômico, o sexo e a faixa etária dos indivíduos também determinam setores
distintos de atividade verbal.
82
Resta abordarmos a Variação estilística,
Você poderá se defrontar com as
resultante de acomodações que o falante faz seguintes nomenclaturas para as
variantes estudadas até agora
de sua fala em relação às diferentes situações Variantes diatópicas são as
variantes de uma região para outra
comunicativas em que se encontra. Nessa
(Geográficas).
perspectiva, há inúmeras variações, já que, Variantes diastráticas são as
variantes de um grupo social a
todo momento, defrontamo-nos com outro (Sociais).
Variantes diafásicas são as
situações comunicativas distintas. Por essa variantes de uma situação
comunicativa para outra
razão, pode-se afirmar que os falantes de (Estilísticas).
uma mesma classe social, de um mesmo nível
intelectual não usam a língua da mesma maneira. Assim, um médico que se
encontre em um clube com os amigos, conversando sobre banalidades, não usará
expressões próprias de sua profissão.
BUSCANDO SABERES
Falar de variação de estilística constitui um campo vasto, razão pela qual há que se
estabelecerem limites. Diante disso, há que se considerarem dois estilos: estilo
informal e o formal.
83
No estilo formal, o emprego das palavras, as informações contidas no ato
comunicativo na resultam da nossa expressão diária, mas se sustentam em grande
elaboração intelectual. Por essa razão, esse estilo é caracterizado por um discurso
planejado, que envolve a premeditação, e esboço organizacional. Nessa perspectiva,
ao empregar um estilo formal, o falante procura levar em conta as regras que
normatizam o bem falar e o bem escrever. Assim, como há seleção e organização
dos conteúdos a serem emitidos no ato de comunicação, o conteúdo do ato verbal
não se dirige à satisfação das necessidades mais imediatas do falante, mas à
satisfação de suas necessidades intelectuais, resultando em uma linguagem com a
máxima adequação às regras impostas pela gramática.
O fragmento de texto Dois bons filhos, de Paulo Mendes Campos ilustra bem os
estilos formal e informal.
-Velha bacaninha é a minha. Quando ela está meio adernada, mais pra lá
do que prá cá, ela ainda me dá uma broncazinha. bronca de mãe não
pega, meu chapa. Eu manjo ela todinha: lá em casa só tem bronca
quando ela encheu a cara demais. A velha toma pra valer! Ou então foi
um troço em que eu não meto a cara demais. Que eu tenho com a vida
84
da velha? pensa que eu me manco. Quando ela tá de bronca, o titio aqui
já sabe: taco-lhe três equanil. É batata. Daí a pouco ela fica macia e vai
soltando o tutu. (CAMPOS, 1965, p. 52)
85
UNIDADE 16- VARIANTE PADRÃO E VARIANTE NÃO-PADRÃO.
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Conceituar Variante Padrão e Variante Não-Padrão; Explicitar a história
da Variante Padrão
ESTUDANDO E REFLETINDO
A variante padrão caracteriza-se por ser socialmente mais prestigiada e mais
valorizada na sociedade. Seu uso se dá, principalmente, em situações formais,
situações de interação determinadas, tais como, conferências, congressos, discursos.
Seu emprego relaciona-se, ainda, com o tipo de assunto tratado e da relação entre
os interlocutores, isto é, considera-se o fato de os envolvidos no ato comunicativo
pertencerem ao mesmo grupo social, à mesma profissão.
A Variante Padrão (norma culta) resulta de uma atitude social diante da língua.
Vamos entender bem isso. A língua em seu sentido mais amplo é a mesma para o
médico, para o leiteiro, para o professor, mas a forma como cada sujeito faz uso
dessa língua é diferente. Longe de nós acreditar que um pedreiro possui o mesmo
conhecimento da língua, tal qual um médico.
Dessa maneira, um falante culto vai selecionar, dentre as várias possibilidades de uso
da língua, aquela considerada “correta”. Vale dizer que o modo considerado
“correto”, normalmente, pertence aos grupos das camadas sociais mais elevadas.
86
A fixação da variante padrão, usada na língua, na literatura, nos meios de
comunicação, nas leis, nos decretos do governo, na escola, onde é ensinada,
explicada pela gramática e definida nos dicionário, representa um padrão ideal de
homogeneidade em meio à existência de inúmeras possibilidades de uso da língua.
BUSCANDO SABERES
A variante padrão é estabelecida historicamente. Nessa perspectiva, cada época
determina o que é padrão em relação aos aspectos fonéticos, gramaticais e
expressões lexicais. Assim, tomando-se, por exemplo, os versos de Camões,
considerado um dos maiores autores em Língua Portuguesa, observamos palavras
que, hoje, não fazem mais parte da variante padrão, embora o tenha sido no século
XVI, como se verifica nos versos abaixo.
87
Bagno (1999) descreve o fator histórico para a determinação da variante padrão no
Brasil. Assinala o autor que o processo de colonização do Brasil iniciou-se no
nordeste e a cultura da cana-de-açúcar fez dessa região o centro político, cultural e
administrativo do país, inferindo-se, então, que a considerada língua padrão era a
falada nessa região.
Historicamente, pode-se afirmar que a língua falada pelas classes sociais mais
elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais começou a ser imitado e
considerado como modelo, como norma a ser seguida. Você poderia me perguntar:
“E o falar do nordeste?”. Se você considerar que o nordeste é a região mais pobre
do país, conclui-se que as variantes aí faladas são de menor prestígio.
É bom saber que, embora o falar da região sudeste seja prestigiado, existem
variantes, denominadas caipiras, principalmente, em decorrência da pronúncia do
fonema / R /, como retroflexo.
88
será alçada a padrão a variante aceita e usada pelo poder e pelas classes sociais
mais elevadas.
89
UNIDADE 17 - VARIANTE PADRÃO E VARIANTE NÃO-PADRÃO:
CARACTERÍSTICAS
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar as características das variantes padrão e não-padrão. Nesta
unidade, estudaremos as características das variantes padrão e não-padrão e as
relações de uso dessas variantes pelas diferentes camadas da população.
ESTUDANDO E REFLETINDO
O primeiro ponto a assinalar é que a variante padrão é estabelecida, como já
dissemos, a partir da fala de pessoas de classe social elevada e também, a partir da
língua escrita. Neste caso, suas principais características são:
a) Ter prestígio na sociedade, pois quem dela faz uso são pessoas cultas, de
nível social, econômico e intelectual elevado, tais como: o poder, a escola;
b) Ser conservadora, porque resiste às transformações;
c) Ser padronizada, em decorrência da imposição de regras gramaticais;
d) Ater-se às regras estabelecidas pela gramática, pois faz uso do estilo formal,
planejado;
e) Ser adotada pela escola como o ideal de bem falar e escrever;
f) Ser frequente nos meios de comunicação
90
BUSCANDO SABERES
Bagno (1999) propõe o seguinte esquema comparativo a respeito das características
das variantes padrão e não-padrão.
Natural artificial
Transmitida adquirida
Apreendida aprendida
Funcional redundante
Inovadora conservadora
Estigmatizada prestigiada
Marginal oficial
91
Se a variante não-padrão é transmitida de pai para filho no ambiente familiar e
apreendida, isto é assimilada naturalmente pelo falante; a padrão é adquirida e
aprendida na escola.
Morfema lexical é o elemento que guarda a significação
básica da palavra. Assim, o significado de ingerir algum
líquido não está na palavra toda: beber, mas em parte
A variante não-padrão é funcional, dela: beb.
Morfema Flexional é o elemento que adicionamos ao
porque os falantes eliminam as morfema lexical para indicar o gênero, o número, para
substantivos e adjetivos e a pessoa, o modo e o tempo
redundâncias. Sabe o que é isso? nas formas verbais.
Morfema Classificatório, denominado vogal temática
Simples. Se tomarmos o plural na
nominal, porque classifica os nomes (substantivos e
língua portuguesa, verificamos ser ele adjetivos) em três terminações: a (mesa); e (pente); o
(carro) e vogal temática verbal, pois classifica os verbos
é um traço redundante, isto é, se em três conjugações: 1ª- verbos terminados em a (cantar,
amar, falar); 2ª- verbos terminados em e (beber, comer) e
repete no artigo, no substantivo, no 3ª-verbos terminados em i (partir, sair).
Morfema Derivacional são os prefixos e sufixos agregados
adjetivo e no verbo, como se constata ao morfema lexical para a formação de novas palavras no
léxico, como, por exemplo, a partir de fiel, formo a palavra
em: Os meninos bonitos chegaram,
infiel; a partir de casa, formo a palavra casarão.
característica da variante padrão. O
falante, ainda que, inconscientemente, sabe que a ideia de número plural,
forçosamente, deve ser assinalada no primeiro elemento e, assim, diz: Os menino
bonito chegou.
A variante não-padrão tem fortes traços da tradição oral, pois é apreendida no seio
familiar, enquanto a padrão tem suas raízes na escrita e deve ser sistematizada e
aprendida na escola.
92
UNIDADE 18 - VARIANTES E O PRECONCEITO LINGUÍSTICO.
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Abordar os principais mitos do preconceito linguístico. Em tempo de
inclusão social, propiciada pelas políticas públicas, cuja função é romper a dicotomia
entre o social e o econômico; em tempo de inclusão dos portadores de
necessidades especiais na escola e no mercado de trabalho, pouco se tem dirigido o
olhar para a exclusão linguística, foco desta unidade.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Você sabe o que é preconceito lingüístico? Se não sabe chegou o momento e, para
isso, atente para as frases abaixo.
a) Nós vamos plantar arroz
b) A gente vai plantar arroz
c) A gente vamos plantá arroiz
d) Nóis vai prantá arroiz
93
O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma única
língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas
escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer
manifestação lingüística que escape desse triângulo escola-gramática-
dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito lingüístico, “errada”,
feia, estropiada, rudimentar, deficiente, e não é raro a gente ouvir que
“isso não é português”. Bagno (1999, p.40)
O aluno terá uma escola na qual sua linguagem seja respeitada (...).Uma
escola em que o aluno aprenda a sintaxe dominante, mas sem desprezo
da sua, dizia ele; e também: Precisamos respeitar a sua sintaxe mostrando
que sua linguagem é bonita
e gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E, mostrando tudo isso,
dizer a ele: Mas para tua própria vida tu precisas dizer ‘a gente chegou’.
Isso é diferente, a abordagem é diferente. É assim que queremos
trabalhar, mas dizendo a verdade.
É claro que o comentário do jornalista não fez justiça à afirmação de Freire, uma vez
que nela observamos o vislumbrar de uma nova escola, desprovida de preconceito;
uma escola em que, a partir da variante empregada pelo aluno, o professor se
encarregue de apresentar-lhe a norma culta, pois, se não o fizer aumentará o fosso
social na sociedade. Nessa perspectiva, há que se entender a variante culta como
mais uma possibilidade e não a única.
94
BUSCANDO SABERES
O fato de, no Brasil, a Língua Portuguesa ser adotada por grande parte da
população não justifica afirmarmos que existe unidade linguística, pois se assim
entendermos estaremos excluindo todas as variações que ocorrem em nosso
território, conforme já abordamos nas unidades anteriores.
É fato, também, que a aceitação dessa pretensa unidade traz sérias implicações para
o ensino, já que se joga no esquecimento os diferentes falares das classes sociais
menos favorecidas e alijadas da sociedade.
Bagno (1999) critica Sérgio Nogueira Duarte no que diz respeito às afirmações de
que só em Portugal é que se fala bom português. Ora, cada região, cada camada
da população tem seu jeito específico de falar que não é nem melhor nem pior, é
diferente.
Não podemos querer que a língua falada aqui seja igual à falada em Portugal, pois
seria negar as fronteiras geográficas que nos separam. Os falares são distintos de
um país a outro, as diferenças se mostram, inclusive, na escrita, pois em Portugal o
uso de c, p e n são mudos quando antecedem consoantes, como ocorre em: acção;
baptismo, facto etc.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
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Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
96
As afirmações dos docentes transcritas acima configuram bem um tipo de
preconceito existente no Brasil. Trata-se da ideia equivocada e errônea de se
classificar o português como difícil e complexa em relação a outras línguas. E o que
é pior, em decorrência dessa suposta dificuldade, torna-se difícil o ensino de língua
portuguesa e a apreensão da língua padrão pelos falantes.
Vale dizer que se a língua portuguesa fosse tão difícil quanto afirmou o docente em
pauta, uma criança de 3 ou 4 anos, brasileira, não conseguiria entender e formular
frases que nunca ouviu antes. Claro que essa criança, provavelmente, não dará
conta de todas as especificidades da língua, toda a polissemia caracterizadora de
nosso léxico, mas é bem provável que nenhuma criança dirá, por exemplo: menino
o. Sabe por quê? Porque o falante, desde o início de uso da língua, já tem
consciência da estrutura geral que a governa.
Falar errado e falar certo é outro preconceito que deve ser abolido de nossa
mentalidade docente por várias razões. A primeira delas diz respeito ao fato de o
conceito de certo e errado ser a base da Gramática Normativa que, como o próprio
nome diz prescreve as normas de bem falar e bem escrever. Tudo o que foge a essa
97
regras é considerado errado. Assim, diz a regra: “A forma pronominal a ser usada
como objeto direto do verbo é o pronome oblíquo”. Nessa perspectiva, deve-se
dizer “Eu o vi” e não “Eu vi ele”, considerada errada por essa gramática, no entanto,
é a mais realizada.
98
atestar o óbito. Assinamos o papel e o cartorário nos olhava espantado. Eis que, de
repente, minha cunhada disse: “Eu não sou burra, não. Burro era o cartorário que
escreveu Virma em lugar de Vilma”. Só então, descobri que seu nome de registro
era Virma e não Vilma. Esse fato revela-nos duas coisas: a primeira refere-se ao
preconceito e, diga-se de passagem, não só da parte do cartorário, mas da minha
cunhada também; o segundo, a troca do l pelo r é comum na fala de muitas
pessoas e regiões do Brasil, dentre outras inúmeras variantes que ocorrem.
Já estudamos que Língua Oral e Língua Escrita são duas modalidades diferentes.
Quando o professor não conhece as características de cada uma, cria uma terceira
modalidade: a língua do professor, como se constata nos ditados feitos por ele, em
que diz assim: “O menino comeu o peixe e o bolo”. Ora, nenhum falante expressa-
se dessa maneira, mas, provavelmente diz: “U mininu comeu o pexe e o bolu”. Essa
é a nossa realidade e que não pode ser escondida do aluno e mais, jamais devemos
dizer: “nós falamos errado”, pois isso é desconhecer por completo as especificidades
da fala e da escrita. Para entender isso, observe a imagem abaixo.
Henri Matisse: Retrato de Madame Matisse com uma linha verde (1905),
Copenhague, Statens Museum for Kunst
Uma anedota bem conhecida na História da Arte a respeito desta pintura de Matisse
nos serve para o entendimento do que é a escrita. Numa exposição de sua obra no
99
início do século XX, o pintor foi abordado por uma senhora que, inconformada com
as cores pouco naturais dos retratos, principalmente a linha verde, perguntou-lhe
algo como “Mas o senhor já viu uma mulher verde?” E Matisse teria então
respondido, apontando para a obra: “Minha senhora, isto não é uma mulher, é um
quadro”.
É bem isso, a imagem não é uma mulher é um quadro. Analogamente, a escrita não
é a fala é uma representação da fala. Nossa escrita não é fonética, mas é alfabética,
as letras não são o som, mas simbolizam o som, tanto que um mesmo som pode vir
simbolizado, representado, por letras completamente diferentes, como, por
exemplo, o som / S / sapo, cujas letras que o representam são SS- passo; Ç- paço;
SC- piscina; ex- exceção; C- cebola; o som / z / pode vir representado pelas letras:
z- buzina; x- exato; s- casa.
100
UNIDADE 19- BOTANDO A MÃO NA MASSA DAS VARIANTES
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Explicitar os fenômenos que propiciam a realização de variantes. Já
abordamos em unidades anteriores que a variação linguística não é tão livre quanto
se imagina, mas que fatores internos à língua a condicionam. Em outras palavras, há
explicações internas, mas existem também as e externas: sexo, faixa-etária, nível de
escolaridade, conforme já abordado.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Iniciamos a unidade enfocando os fatores internos, isto é, fatores da própria
estrutura da língua, especificamente, no tocante aos aspectos fonológicos. Para
tanto, recorro a um trecho de língua oral já abordado anteriormente. Vamos revê-
lo.
101
Pode ocorrer também a assimilação do fonema / b / e do fonema / m /. A
explicação é a mesma, pois / b / e / m / possuem o mesmo ponto de articulação,
isto é, para serem pronunciados há necessidade de junção dos dois lábios, razão
pela qual são chamadas bilabiais. Agora você vai entender porque alguns falantes
dizem: “Eu tamem vou”, em lugar de “Eu também vou”, ou ainda: “Tô um mucado
cansadu” em lugar de “Tô um bocado cansado”.
102
A assimilação está presente também em relação ao ditongo / ay /, cuja
representação gráfica é ai, nas palavras caxa e baxo. Nesse caso, o ditongo ai deve
preceder a consoante x.
Você já ouviu alguém dizer: “Na Semana Santa, comemos muito peixe” Tenho
certeza de que não, pois tanto na variante padrão, quanto na não-padrão, o
ditongo / ey / é dito / e /. A diferença dessa monotongação para a do / ow / é que
o / ow / sofre redução em todos os contextos, mas o / ey / depende de contexto
específico, isto é, anteceder as consoantes r, x e j, como, por exemplo, bejo, chero;
quejo, quexo.
BUSCANDO SABERES
Ampliando nosso conhecimento sobre a variação, vamos tratar de um caso bastante
comum na língua oral: a redução das palavras proparoxítonas. Imagine-se pedindo
café. Como você diz: Me dá uma xícara de café ou me dá uma xicra de café? É claro
que sua resposta é: Me dá uma xicra de café. Não é só você que diz assim, qualquer
falante o diz. Trata-se do fenômeno da redução. Esse fenômeno é comum a
qualquer falante, mas em certos caso, mais específicos a falantes não-padrão. Por
exemplo, a palavra fósforo, para os falantes não-escolarizados é dita forfi; para os
103
escolarizados, normalmente se diz fosfro; árvore é falada arvri por qualquer falante;
tábua é dita tauba por falantes não-escolarizados.
104
UNIDADE 20 - COM AS VARIANTES NAS MÃOS: VARIANTES E O
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE
Objetivos: Discutir as concepções de gramática; Destacar a importância das
variações no ensino de Língua Portuguesa. Nesta unidade discutiremos as
concepções de gramática e as noções de língua que subjazem a cada uma delas. A
partir daí, procuraremos evidenciar a importância de um ensino que leva em
consideração a heterogeneidade e a variabilidade da língua.
ESTUDANDO E REFLETINDO
Iniciamos a discussão, questionando a você o que são regras. De maneira, podemos
entender regras como obrigação e como regularidade, constância.
No que diz respeito à regra como regularidade e constância, pode-se afirmar que
essa acepção aproxima-se da noção de lei no sentido das leis da natureza,
normalmente estabelecidas a partir da repetição constante de certo fenômeno,
como, por exemplo, a lei da gravidade.
Você poderia me questionar: “O que isso tem a ver com a unidade em estudo?”
Tudo, basta seguir a leitura que você mesmo entenderá.
105
1- Manual com regras de bom uso da língua oral e escrita. Esse manual
prescreve as regras a serem seguidas por aqueles que querem se expressar
adequadamente;
2- Conjunto de regras que o cientista encontra nos dados que analisa, à luz de
determinada teoria e método;
3- Conjunto de regras que permite ao falante se expressar, utilizando a língua.
Equivale ao saber linguístico que o falante de uma língua desenvolve, respeitando
certos limites impostos pelo sistema da língua. Não depende da escolaridade.
106
empregar a língua. Nesse caso, quando o falante diz, por exemplo, “Eu fazi”,
na verdade formulou uma hipótese sobre o funcionamento da língua, uma
vez ter consciência de que o pretérito perfeito de beber é “Bebi”.
Agora, acredito que você já consegue fazer a ligação entre os conceitos de regras e
as gramáticas, não é? Se a gramática normativa dita as normas, então, as regras
dela advindas têm o sentido de obrigação. Ora, se somos obrigados a seguir, então,
ela é prescritiva e opera com os conceitos de certo e errado. Assim, qualquer desvio
das normas estabelecidas é considerado desqualificado.
107
entendidas como extremamente variáveis, mas passíveis de regularidades que as
condicionam. A língua e fala são vistas como dinâmicas, embora os seus usuários
sejam estigmatizados e na sociedade. A noção de certo e errado, nessa concepção,
é substituída pela ideia de diferente. Na verdade, erro é produzir enunciados que
violam a estrutura da língua como, por exemplo, “Minimu vi o rua na”.
BUSCANDO SABERES
Por que introduzimos na unidade as concepções de gramática? Por uma razão
muito simples. O que mais se constata no ensino de Língua Portuguesa, nas escolas,
é uma preocupação excessiva com o ensino da gramática normativa, que alça a
variante padrão como única possibilidade de uso da língua.
Muito bem, se considerarmos uma criança, cujos pais são detentores da língua
padrão, verificamos que a sua fala se aproxima muito da norma divulgada pela
escola. No entanto, a maioria da população brasileira não tem acesso à variante
padrão e o conhecimento que possuem da língua distancia-se dessa variante.
108
meio familiar e social, observamos que, sem dúvida, predomina o domínio da não-
padrão. Qual é a conseqüência disso? É simples a escola falha. Talvez, seja esse o
grande gargalho que nos impede de galgarmos um patamar de destaque em
termos educacionais.
Milagres não existem, mas há caminhos que podem tornar o processo de ensino e
aprendizagem de Língua Portuguesa menos árduo, menos excludente. Para isso, o
ponto de partida é a concepção de linguagem que deve nortear ensino.
Vamos supor que os enunciados acima tenham sido produzidos por crianças. Ora,
embora digam exatamente a mesma coisa, a forma como disseram é diferente, pois
em a, observamos tratar-se da língua não-padrão, em que se constata uma
hipótese formulada pela criança. Em outras palavras, se tomarmos o verbo cantar,
por exemplo, o uso é canto/ canta, mantendo-se o morfema lexical inalterado;
diferentemente, para o verbo pôr, a forma verbal de presente é ponho, daí a
generalização: o verbo é ponhar e não pôr.
109
Em b, provavelmente, a criança pertence a uma classe de falantes de nível
escolarizado e detentora na língua padrão.
No entanto, não basta reconhecer as variantes empregadas pela criança, mas urge
que se aprimorem seus atos de linguagem, multiplicando suas experiências de uso
da língua, sem medo e sem imposições. Cabe à escola conduzir a criança ao
entendimento de que “ponha, teia, ozomi (os homens)” são tão expressivos quanto
“pôr, telha e os homens”, expressões da língua padrão que se constituem em mais
uma possibilidade de uso da língua.
O professor deve, por exemplo, criar situações em que uma mesma ordem se dirija
a pessoas diferentes, tais como: pedir alface ao verdureiro e solicitar um guarda-
noturno ao delgado de polícia. Ora, a criança deve entender que, desde a forma de
tratamento até o próprio ato de solicitação devem ser diferentes.
110
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