Glaucomas
Glaucomas
Glaucomas
GLAUCOMAS
THE GLAUCOMAS
Mestre em Oftalmologia e Médica Contratada1 do Hospital das Clínicas e Docente2 do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo .
CORRESPONDÊNCIA: Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Campus Univer-
sitário – CEP: 14048-900 - Ribeirão Preto - SP. Fax (016) 633-1144.
LAURETTI CR & LAURETTI FILHO A. Glaucomas. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 56-65, jan./mar. 1997.
56
Glaucomas
de quantificar o fluxo de aquoso, Goldmann, em 1949 2 O trabeculado pode estar, também, obstruído
estabeleceu comparações com o fluxo através de pela íris, empurrada por uma força posterior, ou tracio-
tubos e, a partir da lei de Poiseuille, deduziu a seguinte nada por aderências anteriores.
fórmula para o olho: Pode haver bloqueio total à passagem do aquoso
F = (Po - Pv). C (a) , onde: por seclusão da pupila. O aquoso alterado em sua vis-
F= fluxo de aquoso; cosidade, por alterações químicas, como acúmulo
Po - Pv = gradiente de pressão, sendo Po a pressão de proteínas, pode aumentar a resistência ao escoa-
intra-ocular e Pv a pressão venosa episcleral, mento e, conseqüentemente à pressão intra-ocular.
C = coeficiente de facilidade de escoamento. Ao lado dessas situações descritas, há outros
A partir da fórmula (a) é possível chegar-se à casos que evoluem, cronicamente, sem relação nítida
fórmula (b) e determinar, genericamente, os fatores com o nível de pressão intra-ocular e, às vezes, com
que influenciam a pressão intra-ocular e, portanto, po- pressão normal, sendo chamados de “low tension
deriam atuar como causas de glaucoma: glaucomas”. Admite-se que, nesses tipos de glaucoma,
ocorra uma neuropatia óptica, principalmente isquê-
Po = F + Pv (b) mica, agravada pela hipertensão ocular.
C
57
CR Lauretti & A Lauretti Filho
diâmetro, a sua medida é feita pelo diâmetro interno conceito de pressão intra-ocular normal é, em grande
do menisco lacrimal que a circunscreve, tingido por parte, clínico, e não estatístico.
fluorescina. O cone de aplanação possui um enge-
nhoso sistema de prismas, no seu interior, que decom- Oftalmoscopia
põem a imagem do menisco visto através deles, de tal A finalidade da oftalmoscopia é estudar , prin-
modo que, no ponto de leitura, vemos uma senóide cipalmente, o disco óptico e, nesse , especificamente,
quebrada, com bordas internas se correspondendo. a escavação. A aparência do disco óptico deve ser re-
Entre os tonômetros de depressão, o mais usado gistrada, para acompanhamento, por esquema cui-
é o de Schiotz, em que o peso de um êmbolo deprime dadoso (Figura 2) ou, mais precisamente, por fotogra-
a superfície corneana, sendo o seu movimento trans- fias (Figura 3).
mitido a uma escala graduada de 0 a 20, por um sis- A maioria dos olhos normais apresenta uma de-
tema de alavancas (Figura 1). pressão do disco óptico que varia, grandemente, em
forma e profundidade. A forma, geralmente acompa-
nha a do disco, sendo, portanto, circular ou ovalada.
A profundidade da escavação varia, também, grande-
mente, podendo ir desde o disco plano até a máxima
profundidade que corresponde à visualização da lâmi-
na crivosa.
58
Glaucomas
Figura 5 - Foto de disco óptico glaucomatoso. Figura 6 - Campo visual no glaucoma: defeito inicial.
59
CR Lauretti & A Lauretti Filho
Gonioscopia
A visão do ângulo de filtração da câmara anterior
é possível com lentes especiais, colocadas diretamente
sobre a córnea e com a ajuda do biomicroscópio.
Em um ângulo totalmente aberto, observa-se, a
partir da íris, o corpo ciliar, o esporão da esclera, o
trabeculado e a linha de Schwalbe que corresponde
ao fim da membrana de Decemet (Figura 10). Quando,
durante o exame, o canal de Schlemm enche-se de
sangue, é possível, também, observá-lo. Se não vemos
nenhuma das estruturas descritas, classificamos o ân-
gulo da câmara anterior como fechado.
2 - Glaucomas secundários:
- ângulo aberto: pré-trabeculares; trabeculares e
pós-trabeculares.
- ângulo fechado: por forças anteriores à íris e por
forças posteriores à íris.
3 - Glaucomas congênitos:
O termo primário refere-se aos glaucomas onde
não há uma patologia local ou sistêmica, evidente, que
possa ser responsabilizada como causa. Pode haver
características anatômicas ou funcionais do olho, as
Figura 9 - Campo visual no glaucoma terminal:
ilhas de visão central e temporal.
quais predispõem ao aumento de pressão, porém não
são patológicas. Nos glaucomas de ângulo aberto, o
60
Glaucomas
61
CR Lauretti & A Lauretti Filho
Tratamento cirúrgico:
A cirurgia mais usada, atualmente, é a trabecu-
lectomia, cujos passos principais são os seguintes:
1 - Incisão da conjuntiva e cápsula de Tenon, a 8 mm
do limbo corneano, dissecando-as até exposição
do limbo cirúrgico (Figura 11).
4 - Iridectomia periférica.
5 - A lamela escleral é suturada com dois pontos da
vicryl 8 zeros, e a conjuntiva, por sutura contínua,
Figura 11 - Trabeculectomia: preparação do retalho
com o mesmo fio ( Figura 14). No local da cirur-
conjuntival.
gia, forma-se uma bolha de aquoso, em geral, plana.
62
Glaucomas
Tipicamente, esse tipo de glaucoma ocorre em 4 - Manitol a 20%, intravenoso, na dosagem de 1,5 g/Kg
olhos com o segmento anterior pequeno e cristalinos peso, 60 gotas por minuto, com os cuidados
grandes. Como o segmento anterior do olho é pequeno necessários para pacientes cardíacos e renais, o
nos hipermétropes, e o cristalino aumenta de volume Manitol, bem como o Glicerol, atuam por au-
com a idade, podemos dizer que os fatores predispo- mento da pressão osmótica e retirada de líquido
nentes ao glaucoma primário de ângulo fechado são a do olho.
hipermetropia e o aumento da idade. É rara a ocor-
rência em míopes e pacientes muito jovens. Tratamento cirúrgico:
O fator desencadeante da crise aguda é a mi- Está sempre indicado, mesmo com o controle
dríase média que ocorre por causas variadas como da crise aguda, porque os fatores predisponentes conti-
medicamentos, exposição prolongadao ao escuro (sem nuam. O tratamento resume-se em fazer um pequeno
dormir) e emoções. Em casos mais raros, pode ocorrer orifício na íris, para facilitar a passagem do humor
a crise por miose (glaucoma inverso ou paradoxal). aquoso e essa iridectomia pode ser feita, cirurgica-
Clinicamente, o glaucoma primário de ângulo mente (Figura 15 e Figura 16), sob anestesia local ou
fechado costuma ser dividido em agudo, subagudo e geral, ou mais comodamente com o Yag Laser ou o
crônico, dependendo da intensidade dos sintomas e Laser de Argônio, sob anesteisa tópica.
características da evolução.
A crise aguda de glaucoma costuma ser um
quadro dramático que se inicia rapidamente, com forte
dor no olho, hiperemia e redução acentuada da acui-
dade visual. O paciente apresenta-se abatido, com
náuseas e vômitos que levam, às vezes, ao diagnóstico
errado de um problema geral. Freqüentemente, refere
sintomas prévios, próprios da crise subaguda, como
visão de halos coloridos (por edema de córnea) ou
borramento não muito acentuado da visão.
Ao exame, a conjuntiva está hiperemiada, a
córnea edemaciada, inicialmente, no seu epitélio e,
depois, em todas as suas camadas, resultando dobras
na superfície interna. A pressão intra-ocular é alta atin-
gindo, freqüentemente, valores acima de 40 mmHg. Figura 15 - Iridectomia cirúrgica.
A pupila está em midríase não muito acentuada e
paralítica.
Tratamento
Como a elevação aguda da pressão intra-ocular
pode levar à deterioração rápida da visão e cronifi-
cação, vários medicamentos combinados são usados
para debelar a crise aguda e, em geral, em dosagens
acima do habitual. São eles:
1 - Colírio de pilocarpina a 2% ou 4%, 1 gota a cada
10 minutos, durante 1 a 2 horas;
2 - Acetazolamida 500 mg ou Diclorfenamida 100 mg,
em dose única, se não houver nauséas ou vômitos;
3 - Glicerol oral (também se não houver náuseas e
vômitos) 1 ml/Kg peso, misturado com um pouco
de suco de frutas, como corretivo do gosto, é
preciso lembrar, no entanto, que o glicerol é con-
tra-indicado a diabéticos, por ser metabolizado Figura 16 - Iridectomia: aspecto final.
para carbohidratos;
63
CR Lauretti & A Lauretti Filho
64
Glaucomas
LAURETTI CR & LAURETTI FILHO A. The glaucomas. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 56-65, jan./march 1997.
ABSTRACT: In this section the authors present the topic Glaucoma for undergraduate students.
65