Cartão de Crédito Consignado
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Cartão de Crédito Consignado
PROCESSO Nº 0125120-45.2017.8.05.0001
ADVOGADO: -----
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RELATÓRIO
Informa que não obstante seja descontado mensalmente valor de seu benefício
previdenciário, a dívida somente aumenta, declarando que não fora informado adequadamente sobre a
natureza da contratação e suas condições. Informa ainda que nunca realizou compras no cartão, porém
lhe são cobrados juros típicos de cartão de crédito, muito mais altos que os do contrato de empréstimo
consignado.
VOTO
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Não restou demonstrado que a parte autora fora esclarecida de que o contrato
celebrado foi na modalidade de cartão de crédito consignado, com descontos em seu benefício. Vale
registro que diante da revelia decretada e da pena de confissão ficta, crível a narrativa autoral de que
buscou empréstimo consignado tradicional, porém, de forma fraudulenta lhe fora imposto cartão de crédito
na modalidade consignada.
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Maria Paula Costa Bertran Munõz chama atenção para as formas de oferta de
crédito direcionadas unicamente para a obtenção de lucro, sem a análise da capacidade de pagamento ou
solvabilidade do tomador. Afirma que as instituições que concedem crédito têm na honradez e na
dignidade, tradicionalmente associadas à pontualidade no pagamento de dívidas, um capital simbólico, que
elas se apropriam sistematicamente para montar uma publicidade de concessão de crédito e persuadir o
consumidor à sua aceitação. A honradez e a dignidade recebem novo desenho nas publicidades e
comunicações institucionais dos ofertantes de crédito, como um condutas expectáveis e obteníveis,
omitindo dos consumidores os riscos da destruição deste estado com a oferta de crédito sem caráter.
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ofertantes de crédito aumentar o volume de empréstimo concedidos ¿ porque o mercado não oferece
melhores oportunidades de ganhos em outro país ou em outro setor econômico ¿ eles estimularão a
demanda enviando propostas a muitos destinatários (inclusive aqueles que, pelo critério que valoriza ¿mau
caratismo¿ em termos canônicos, não deveriam receber ofertas de contratação), convidarão por telefone
antigos inadimplentes a adquirem mais crédito, ou aumentarão os limites de cheque especial, cartão de
crédito, crédito consignado, mesmo que o consumidor não tenha saldado dívidas ou em nada tenha
modificado sua renda. Em contrapartida, se interessa aos ofertantes de crédito diminuírem sua atuação
junto aos indivíduos ou junto a um determinado grupo de indivíduos, as ofertas explicitas serão suspensas
e os limites dos mecanismos de endividamento, como cheque especial, cartão de crédito, ou empréstimo
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pessoal, serão reduzidos ou suspensos¿ .
São, assim, condutas que refletem total desapreço quanto aos riscos de
endividamento do consumidor. O consumidor, devido a sua vulnerabilidade e pouco entendimento sobre as
manipulações do mercado de consumo, se sente inapto, socialmente excluído e responsável único por sua
inadimplência.
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Karen Rick Danilevicz Bertocello ensina que a teoria do mínimo existencial tem
natureza normativa, interpretativa e dogmática. É normativa devido ao fato de que não se importa com a
explicação de fenômenos, mas com a concretização, a eficácia e a validade do mínimo existencial. É
interpretativa por projetar consequências sobre a interpretação dos direitos fundamentais. E é dogmática,
porque busca concretizar os direitos fundamentais a partir de suas fontes legislativas e jurisprudenciais.
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Claudia Lima Marques sobre o desconto em folha de pagamento pontua:
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crédito consignado devem ser compreendidos como reformas típicas de políticas de austeridade e de
reforço das garantias aos novos mercados abertos com os recentes processos de mercadificação,
financeirização, administração e manipulação de crises, com redistribuições via Estado, descritos por David
Harvey como mecanismos de acumulação por espoliação nos tempos presentes¿.
Não se está aqui a pregar banimento do crédito consignado dada sua importância
para a sociedade de consumo contemporânea, mas chama-se atenção para a necessidade de subsunção
da situação fática de cada consumidor endividado ao texto legal de modo que em sede de avaliação
judicial que não passa somente pela avaliação do inadimplemento do que se deve, mas sim, a limitação e
adequação das parcelas devidas a um patamar razoável que permita ao endividado e sua família uma vida
digna, como se afirmou, porque vida impossível se ter uma vida digna e estar superendividado.
(...)
Desde 1995, alerto que este fenômeno instala-se também em países emergentes e que o Direito brasileiro
está sendo chamado a dar uma resposta justa e eficaz a esta realidade complexa, principalmente se
devemos distinguir superendividamento de pobreza em nosso país. A massificação do acesso ao crédito,
que se observa nos últimos 5 (cinco) anos ¿ basta citar os novos 50 milhões de clientes bancários! -, a
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forte privatização dos serviços essenciais e públicos, agora acessíveis a todos, com qualquer orçamento,
mas dentro das duras regras do mercado, a nova publicidade agressiva sobre crédito popular, a nova força
dos meios de comunicação de massa e a tendência de abuso impensado do crédito facilitado e ilimitado no
tempo e nos valores, inclusive com descontos em folha e de aposentados, pode levar o consumidor e sua
família a um estado de superendividamento. Como explicamos antes é uma crise de solvabilidade e de
liquidez, que facilmente resulta em exclusão total do mercado de consumo, parecendo uma nova espécie
de "morte civile", a "morte do homo economicus"(...).
Neste sentido, há outras decisões que consideram este tipo de contratação abusiva
ante o desconhecimento do consumidor sobre sua onerosidade excessiva. Confira-se:
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de adesão, cabe à parte que redige as cláusulas consignar com clareza, todas as
obrigações assumidas pelos contratantes sob pena de atentar contra os princípios
contratuais da transparência e da informação. IV - Agravo desprovido. (TJ-GO - AC:
03115342820148090137, Relator: DES. BEATRIZ FIGUEIREDO FRANCO, Data de
Julgamento: 15/03/2016, 3A CAMARA CIVEL, Data de Publicação: DJ 2000 de
04/04/2016).
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(...)
(...)
Incabível a devolução em dobro dos valores eis que os descontos foram feitos com
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base em contrato válido até ser contestado, porém, em respeito ao princípio do NON REFORMATIO IN
PEJUS a decisão será mantida em tal ponto.
Juíza Relatora
ACÓRDÃO
Juíza Relatora
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3MUÑOZ, Maria Paulo Bertran. Crédito e Caráter: uma análise do discurso moral.
Revista de Direito do Consumidor.vol.105.ano 25.p.177-202.São Paulo:RT, maio-
jun.2016.
4Disponível em https://pt.slideshare.net/AldreyMorenoVendrami/roteiro-
vendacrditoconsignado-mundocallcenter. Acesso em 02 de junho de 2018.
5MUÑOZ, Maria Paulo Bertran. Crédito e Caráter: uma análise do discurso moral.
Revista de Direito do Consumidor.vol.105.ano 25.p.177-202.São Paulo:RT, maio-
jun.2016.
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