James Renihan - O Reino de Deus
James Renihan - O Reino de Deus
James Renihan - O Reino de Deus
James M. Renihan
Traduzido do original em Inglês
The Kingdom of God (What it is and is not)
By James M. Renihan
Via: MountainRetreatOrg
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
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nem o utilize para quaisquer fins comerciais.
Meu procedimento será o seguinte: depois de lermos duas passagens da Escritura, quero
tentar examinar algumas das informações na Palavra de Deus que dizem respeito ao reino.
Há muito que se abordar em tudo menos na forma de pesquisa. Então, eu quero falar mais
extensamente sobre uma questão que pode nos incomodar. A brochura para a conferência
diz que o nosso tema é: “Hope for the future: A Biblical Perspective” [Esperança para o
futuro: uma Perspectiva Bíblica]. Eu peguei esse tema literalmente ao destacar um aspecto
crucial do ensino da Bíblia sobre o Reino, acreditando que ele é muito pertinente para
nossas vidas hoje.
1
Oração do profeta Habacuque sobre Sigionote.
2
Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos,
no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia.
3
Deus veio de Temã, e do monte de Parã o Santo (Selá). A sua glória cobriu os céus,
e a terra encheu-se do seu louvor.
4
E o resplendor se fez como a luz, raios brilhantes saíam da sua mão, e ali estava o
esconderijo da sua força.
5
Adiante dele ia a peste, e brasas ardentes saíam dos seus passos.
6
Parou, e mediu a terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram
esmiuçados; os outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe
pertencem.
7
Vi as tendas de Cusã em aflição; tremiam as cortinas da terra de Midiã.
8
Acaso é contra os rios, Senhor, que estás irado? É contra os ribeiros a tua ira, ou
contra o mar o teu furor, visto que andas montado sobre os teus cavalos, e nos teus
carros de salvação?
9
Descoberto se movimentou o teu arco; os juramentos feitos às tribos foram uma
palavra segura. (Selá.) Tu fendeste a terra com rios.
10
Os montes te viram, e tremeram; a inundação das águas passou; o abismo deu a
sua voz, levantou ao alto as suas mãos.
11
O sol e a lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das tuas flechas, ao
resplendor do relâmpago da tua lança.
5
Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos.
6
Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te
lembres? Ou o filho do homem, para que o visites?
7
Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o
constituíste sobre as obras de tuas mãos;
8
Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as
coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas
as coisas lhe estejam sujeitas.
9
Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco
menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus,
provasse a morte por todos.
“Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” [Mateus 3:2]. Com estas palavras,
Devemos afirmar que o reino de Deus é central para a mensagem das Escrituras. Sua
linguagem é trançada no tecido do Antigo e do Novo Testamento. Toda vez que lemos
sobre Deus como o Grande Rei, sobre o Senhorio de Cristo, sobre a soberania, autoridade
e domínio de Deus, sobre comando e obediência, sobre adoração e honra, estamos lendo
sobre a linguagem do Reino. Não podemos reduzir a noção da realeza de Deus
simplesmente às ocorrências da palavra grega basilea e seus cognatos ou ao termo
hebraico malak e seus derivados. Este tópico é um dos temas cruciais de toda a Bíblia.
O que é o Reino de Deus? A ideia é tão difundida nas Escrituras que é muito difícil ser
abrangente. Há muito que pode ser dito na tentativa de dar uma definição. Deve-se afirmar
que o reino de Deus não é um lugar — embora normalmente pensemos em reinos em
termos geográficos. É melhor compreendida em termos do dinâmico reinado de Deus.
Geerhardus Vos identificou três aspectos que ele nomeou como sua essência: (1) a
supremacia de Deus na esfera do poder salvador; (2) a esfera da justiça; e (3) o estado de
bem-aventurança. Paulo diz: “O reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder”
(1 Coríntios 4:20). O sermão do monte é, em muitos aspectos, uma explicação da natureza
da justiça do reino, evidente até mesmo nas bênçãos prometidas nas bem-aventuranças.
O reino de Deus é a esfera em que ele reina, isto é, o lugar onde sua soberania e domínio
se expressam. Quando os fariseus vieram a Ele e perguntaram quando o reino deveria vir,
Jesus poderia dizer a Seus ouvintes que o reino de Deus estava no meio deles. Imaginem
quão confusos devem ter ficado quando Ele disse: “O reino de Deus não vem com
aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está
entre vós” [Lucas 17:20, 21]. O reino de Deus estava presente no ministério de Jesus: em
Seu ensinamento, em Seus atos de compaixão, em Seus milagres. Não é isso que Jesus
estava pretendendo quando, depois de Suas tentações no deserto, se sentou na sinagoga
de Nazaré e leu no dia de Sabbath o profeta Isaías: “O Espírito do Senhor é sobre mim,
pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do
coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em
liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do SENHOR” (Lucas 4:18 19)? Estes
são os atos do reino de Deus — a prova de que Ele tinha vindo em uma missão divina e
que Ele era o único Filho, que cumpre as palavras da Escritura. Os fariseus estavam
confusos, porque não esperavam esse tipo de reino.
Dissemos que a mensagem pregada por João Batista e Jesus era a mesma. Mas devemos
afirmar uma importante diferença de perspectiva entre elas. João pregou como o precursor,
em certo sentido, ele pregou como o último sentinela da noite, proclamando o alvorecer de
um dia novo. Jesus era, Ele mesmo, a luz; Ele trouxe o dia à existência. O reino estava
presente no ministério de João? Certamente. Mas não da mesma forma no que diz respeito
a Jesus. João estava feliz em apontar para o Alguém maior: o grande filho de Davi, que era
em si mesmo a personificação do reino de Deus.
Uma das formas mais úteis de definir algo é a negação — demonstrar o que não é. A
Palavra de Deus faz isto em vários lugares: Somos informados de que o reino de Deus não
é deste mundo (João 18:36). Jesus claramente nos ensina que Seu reinado não tem sua
origem ou definição primária em termos deste mundo. Seu próprio ensinamento sobre o
reino foi terrivelmente mal-entendido por Seus oponentes religiosos precisamente porque
eles o interpretaram em termos terrestres. Seu reino é celestial. Tem origem e existência
divinas.
O reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder (1 Coríntios 4:20). Paulo não se
limitou a ter algumas palavras religiosas suaves de ouvir — palavras lisonjas para os que
ouvem. Quando chegou aos coríntios, pôde demonstrar-lhes o verdadeiro poder espiritual
do reino.
O reino de Deus não é comida nem bebida (Romanos 14:17), mas justiça e paz e alegria
no Espírito Santo. Paulo quer que isso seja compreendido — as coisas passageiras desta
vida, como o alimento (que, a propósito, é para ser consumido para a glória de Deus como
diz 1 Coríntios 10:31), não compõem a substância do reino. Quando os cristãos se dividem
sobre tais assuntos, quando eles fazem com que outros tropecem, eles têm entendido mal
a própria natureza da qual reino é constituído. Eles devem perseguir a justiça: conformidade
com o padrão da aliança, a Lei de Deus; a paz, a integridade e o bem-estar estando na
presença de Deus; e alegria no Espírito Santo, a única atitude apropriada para aqueles que
foram purificados e adotados na família de Deus. Essas coisas andam juntas, e são da
própria essência do reino. Ouça Hebreus 1:8 e 9: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono
subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amaste a
justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu Com óleo de alegria mais
do que a teus companheiros”. O Filho de Deus se assenta em um trono eterno, com a
justiça na mão. Porque Ele mesmo amou a justiça, porque fez dela o objeto de Seu afeto,
Ele conheceu a alegria mais que Seus companheiros. Verdadeiramente, a santidade é a
felicidade.
Seis vezes, o reino é chamado de uma herança, mas curiosamente, apenas num desses
momentos é a herança expressa em termos positivos, em Mateus 25:34. Nessa passagem,
Mas se alguns são excluídos ou não recebem herança, então quem são os cidadãos e
herdeiros apropriados? Em resposta à pergunta dos discípulos sobre a grandeza no reino,
Jesus declara que devemos nos tornar como crianças para entrar nele. Um dos valores
chave do reino é a humildade: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus” [Mateus 5:3]. Os discípulos perderam isso com seu interesse pela
grandeza. Em Mateus 19, Jesus repreende Seus discípulos por manter as crianças
afastadas e imediatamente usa um incidente com um jovem para ensinar a seus discípulos
que é muito difícil para um homem rico entrar no reino. A famosa conversa entre Jesus e
Nicodemos nos dá alguma percepção: somente aqueles que nasceram de alto ou nasceram
de novo podem ver e entrar no reino. Os filhos do reino não nascem naturalmente, mas
nascem sobrenaturalmente. Este é o grande ponto do ministério de Paulo, conforme
registrado no livro de Atos. Quando Lucas destaca sua pregação sobre o reino, é na maioria
das vezes para persuadir os judeus (e os gentios) a acreditar em sua mensagem. Atos 19:8:
“E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e
persuadindo-os acerca do reino de Deus”. 28:23: “E, havendo-lhe eles [isto é, os judeus de
Roma] assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com
bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de
Moisés como pelos profetas, desde a manhã até à tarde”. Novamente, Atos 28:30-31: “E
Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos
vinham vê-lo; pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas
É importante notar que embora a mensagem do reino seja pregada, ela ainda é uma
mensagem encoberta. O próprio Jesus falava frequentemente do reino em parábolas —
afirmando explicitamente que o fazia porque os “mistérios do reino dos céus” foram dados
a conhecer aos Seus discípulos, mas não aos de fora. É, em certo sentido, um reino secreto,
não como o reino escondido de Gondolin, criado por Tolkien, com rumores de que existe,
mas selado aos visitantes; mas sim presente em um sentido muito real, embora invisível
aos olhos daqueles que estão sem conhecimento. Muitos entendem suas verdades, porque
seus olhos foram abertos para compreendê-las. Mas, muitos outros ouvirão as mesmas
palavras e vão embora balançando a cabeça, perguntando-se por que alguns parecem tão
interessados e dispostos a levar essas palavras a sério. No fundo, no que diz respeito a
isto, somos levados de volta à soberania de Deus. Ele escolheu revelar a natureza de Seu
reinado a alguns, e permitir que eles participem, enquanto outros estão do lado de fora. O
próprio Senhor Jesus poderia Se regozijar com o fato de Seu Pai soberano, Senhor do Céu
e da Terra, ter escondido a verdade dos sábios e prudentes, e a revelado aos pequeninos
[Cf. Mateus 11:25:26]. Cobradores de impostos e pecadores se aglomeram, enquanto os
hipócritas são deixados de lado.
O Evangelho do reino é algo que deve ser pregado durante esta era. Quando os discípulos
de Jesus procuravam informações sobre o futuro, nosso Salvador incluía em Sua resposta
alguns ensinamentos sobre o presente — o Evangelho do reino deve ser pregado em toda
esta era — em todo o mundo como um testemunho para todas as nações — antes de vir o
fim. Homens e mulheres vivem suas vidas como se não houvesse reino, como se — nas
Tendo dito todas essas coisas, ainda há mais um fato que devemos lembrar. Encontra-se
nas palavras de Hebreus 2 que lemos anteriormente. Embora saibamos todas essas
verdades sobre o reino de Deus, ainda não o vemos em sua forma final e consumada. É
ainda, “o mundo por vir”. De fato, enquanto olhamos em volta, dificilmente podemos dizer
que vemos evidências persuasivas da presença e poder do reino de Deus em sua glória.
Nem o escritor de Hebreus, ele disse: “Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a
ele sujeitas” [Hebreus 2:8, ARA]. Vivemos em um dia de crescente maldade, de tolerância
aberta e até mesmo de promoção dos mais vis tipos de pecado. Nossa sociedade está
saturada de vícios por prazer, por lucro e por poder. As notícias que escutamos à noite e o
jornal diário repetem constantemente a terrível realidade do pecado no mundo.
Mas não é apenas lá fora. A igreja professa está se afastando ou, em muitos casos, já se
afastou de qualquer aparência de religião sóbria, baseada nas Escrituras. O pós-
modernismo está invadindo até a igreja evangélica. A verdade não é verdade, o pecado
não é pecado, Deus não é Deus. A religião é baseada na emoção, a verdade é determinada
por pesquisas de opinião, o pecado é perdoado como uma espécie de pecadilho
psicológico, enquanto Deus está se tornando uma coisa qualquer. Encaramos tudo, desde
Isso não é incomum. Em cada época, desde a ascensão de Jesus à destra de Deus, a
igreja viveu no meio de uma geração desviada e perversa na Terra. Para os olhos do
observador casual e talvez até mesmo para o Cristão, a realidade do reino de Deus pode
parecer um sonho — um monte de slogans religiosos agradáveis, sem qualquer substância
no mundo do espaço e do tempo. Se lidarmos com isso, não devemos nos surpreender.
Não estamos sozinhos, nem somos os primeiros a lutar com as contradições presentes.
Asafe lutou profundamente com isso no Salmo 73, assim como o pregador em Eclesiastes,
Jeremias em Lamentações e o Salmista que se sentou junto aos rios da Babilônia e
descreveu o seu lamento em Salmo 137. Talvez a experiência mais instrutiva seja a de
Habacuque.
Seu nome significa “abraçador” ou “lutador” e isso é o que ele fez. Ele viveu em um dia de
religião exterior, mas sabia que a maior parte dela era apenas um espetáculo e uma farsa.
No início de seu livro, ele vem diante de Deus com uma queixa cheia de forte emoção. Ele
está perplexo, porque vê a cidade santa habitada por idólatras, enganadores, adúlteros,
ladrões e assassinos — homens traiçoeiros e violentos. Sua perplexidade poderia ser
reduzida a esta pergunta: “Onde está o reino de Deus?”. E assim ele clama ao Senhor,
perguntando-lhe quanto tempo ele permitirá que isso dure.
Deus responde, mas não da maneira que Habacuque esperava. O SENHOR lhe diz que
tem planos de julgar os ímpios na cidade — e Ele o fará enviando um exército invasor de
A resposta, registrada no capítulo 2, tem três tópicos: (1) Deus julgará a Israel e castigará
Babilônia, enquanto salvará um remanescente de Seu povo (“mas o justo pela sua fé
viverá”, 2:4); (2) o reino de Deus finalmente triunfará: “a terra se encherá do conhecimento
da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (2:14); E (3) mais basicamente, o
Senhor é livre para fazer o que bem entender: “o SENHOR está no seu santo templo; cale-
se diante dele toda a terra” (2:20).
Ao longo destes conflitos, Habacuque está lutando com a natureza do Reino de Deus. Ele
sabe que este é uma coisa, mas o que ele vê é algo completamente diferente, e ele não
pode juntar essas coisas. No capítulo 3, vemos como ele coloca sua perplexidade em
perspectiva. Por favor, vamos olhar brevemente para essa passagem.
Observe como isso funciona nas duas partes da oração. Na primeira seção, o profeta
relembra a obra de Deus na história, destacando três grandes eventos: a criação nos
versículos 3b-6, o êxodo nos versículos 7-9a e a conquista nos versículos 9b-15. Deus
governa a Terra como seu criador, e Ele governou sobre o êxodo e sobre a conquista, tanto
no julgamento como na redenção. Habacuque procura lembrar o povo de Deus (esta é uma
oração litúrgica — aparentemente para o culto público) que Deus tem sido ativo em favor
de Israel — e isso é o que ele pede que Deus “avive”. Levar a cabo essa obra, seja ela a
redenção ou o julgamento, para mostrar Seu poder santo e Sua força.
Observe as primeiras palavras de 16a, “ouvindo-o”. Ouviu o quê? NÃO as palavras dos
versículos 3-15, mas sim de 16b, o julgamento, a terrível destruição de Jerusalém. Ele
entendeu o que iria acontecer, e ficou impressionado com a perspectiva. Você pode culpá-
lo? Como você se sentiria se soubesse que uma bomba nuclear em breve detonaria perto
da casa de seus entes queridos? Ou se olhasse para cima e visse um tornado no horizonte?
Nosso autor poderia antever os eventos do futuro. Talvez tenha se imaginado em pé fora
da cidade, examinando sua destruição. Colunas de fumaça subindo ao céu; as paredes
fendidas e quebradas; os portões da cidade esmagados ou arruinados e pendurados em
suas dobradiças. Ele vê corpos mortos nas ruas, ouve o grito dos feridos e enlutados, e o
pior de tudo, contempla pagãos invadindo e profanando o santuário de Deus. Quando ele
traz essas coisas à sua mente, seu corpo se convulsiona em reação. O que senão o medo
profundo seria apropriado para um judeu piedoso?
O profeta não é paralisado pelo seu medo. Nos versículos 17-19 ele diz algumas coisas
incríveis sobre a obra de Deus. O versículo 17 é de grande importância. Não podemos
perder o seu significado. À primeira vista, pode parecer apenas algumas palavras sobre o
fracasso agrícola — mas é realmente muito mais — essas palavras têm um tremendo
significado pactual. Ouça Deuteronômio 8:7-10: “Porque o SENHOR teu Deus te põe numa
boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das
montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de
azeite e mel. Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas
pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre. Quando, pois, tiveres comido, e
fores farto, louvarás ao SENHOR teu Deus pela boa terra que te deu”. Aqui, o mesmo tipo
de terminologia é usado para descrever as boas bênçãos que pertencem à terra da
promessa. Deus pretendia que seu povo desfrutasse todos os benefícios da terra quando
eles entrassem. Quando Habacuque usou esses termos, todo judeu teria entendido
imediatamente seu significado. Ele estava contemplando o fim de todas as boas bênçãos
da terra que mana leite e mel. Observe o “ainda” no início do versículo 17 e o “todavia” do
versículo 18. Habacuque é levado à uma mudança — embora toda a terra santa se torne
um deserto, contudo, ele se regozijará no Senhor. Nada mais importa: Deus é sempre o
Mas, isso não contradiz o versículo 17? NÃO! Aqui Habacuque é capaz de olhar para além
do julgamento de Judá pelos caldeus — ele vê o triunfo final de Deus e de Seu povo sobre
toda a opressão dos poderes deste mundo. Ele enxerga que os julgamentos temporais são
apenas parte do plano de Deus, mas eles apontam e asseguram Sua vitória. Embora tudo
o mais pareça cair em pedaços, o Senhor Deus será a sua força, e fará dele um vencedor.
Habacuque não é mais um lutador, agora é um adorador e um crente convicto na vitória
final do reino de Deus.
Habacuque nos lembra que o reino de Deus funciona de duas maneiras. Enquanto
tendemos a pensar nele em termos de expressões visíveis de sua glória, ele é muito
evidente nos julgamentos judiciais que envia sobre os homens. Se os resgata de suas
trevas ou se lhes permite avançar mais e mais fundo em seu pecado, Deus está agindo
como quer. E a nossa resposta é inclinar-se diante dEle e adorar. Não devemos interpretar
a grandeza do reino dos céus simplesmente em termos de nossa própria percepção de seu
triunfo. É muito mais do que isso. O olho da fé vê um quadro muito diferente do olho da
dúvida.
Esta é essencialmente a mesma coisa que o autor de Hebreus nos diz. Vamos novamente
para o capítulo 2 desse livro. Não vemos agora o que gostaríamos: todas as coisas
colocadas sob os pés de Jesus. Mas, com o olho da fé o vemos, e isso deve ser suficiente.
E este autor imediatamente coloca a obra de Cristo em um contexto semelhante: o Filho do
Homem se humilhou “sofrendo até à morte”. Ele tinha que ser aperfeiçoado através dos
sofrimentos. O plano de Deus era muito diferente de qualquer coisa que pudéssemos
inventar. Sua experiência define o padrão para a nossa. Na teologia, ou mais propriamente
na cristologia, falamos dos dois estados de Cristo: o estado de sofrimento e o estado de
glória. Ele aprendeu a obediência através do sofrimento, e então ressuscitou dos mortos
O reino de Deus é o reino de Cristo. Ele é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Embora
não possamos ver tudo o que está acontecendo, não precisamos temer que Ele esteja
dormindo, ou desinteressado, ou que tenha sido deposto. Deus está no trono, e Seu plano
está prosseguindo como Ele deseja. Não precisamos temer, antes sejamos consolados.
Tire seus olhos do mundo e os coloque em Jesus Cristo. Aleluia, pois o Senhor Deus
Onipotente reina.
Então, vamos extrair conforto do fato de que servimos um grande Rei. Podemos não ver
tudo o que ele está fazendo. O escritor da epístola aos Hebreus admite francamente que
“ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas”. Mas vemos Jesus vencendo
Seus inimigos, para um dia ser reconhecido e confessado por todos. Todo joelho se dobrará
e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. Nossa
tarefa é trazer esta mensagem para as pessoas de nossa geração — os acadêmicos
seculares, os formalistas religiosos, os “caras” da praia amantes de festas, todos os nossos
vizinhos e colegas de trabalho e colegas de escola — assim como aos perdidos em outros
lugares. Pregar o reino dos céus é pregar o Senhor Jesus. É desviar homens e mulheres,
meninos e meninas para longe de si mesmos e de suas vidas egocêntricas. É chamá-los a
renunciarem aos seus pecados, a receberem o perdão em Cristo, a se curvarem diante de
Seu senhorio. Seu reino é real, é ativo, Seus inimigos estão sendo vencidos. Esta é a
verdadeira esperança para o futuro. Vamos seguir adiante com esta mensagem para um
mundo perdido e agonizante: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”
[Mateus 3:2]. Amém.
James M. Renihan