Gestao Processos Formativos Espacos Nao Escolares PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 61

Maria das Graças Mota Mourão

Renata Cordeiro Maciel

Gestão dos Processos


Formativos em
Espaços não
Escolares

Montes Claros/MG - 2012


© - EDITORA UNIMONTES - 2012
Universidade Estadual de Montes Claros

REITOR Luci Kikuchi Veloso


João dos Reis Canela Maria Cristina Ruas de Abreu Maia
Maria Lêda Clementino Marques
VICE-REITORA Ubiratan da Silva Meireles
Maria Ivete Soares de Almeida
REVISÃO TÉCNICA
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Admilson Eustáquio Prates
Huagner Cardoso da Silva Cláudia de Jesus Maia
Josiane Santos Brant
EDITORA UNIMONTES Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida
Conselho Editorial Káthia Silva Gomes
Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes. Marcos Henrique de Oliveira
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.
Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU. DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE
Profª Maria Geralda Almeida. UFG PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Prof. Luis Jobim – UERJ. Andréia Santos Dias
Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal. Camilla Maria Silva Rodrigues
Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha. Clésio Robert Almeida Caldeira
Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile. Francielly Sousa e Silva
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes. Hugo Daniel Duarte Silva
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes. Marcos Aurélio de Almeida e Maia
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes. Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP. Sanzio Mendonça Henriques
Tatiane Fernandes Pinheiro
REVISÃO LINGUÍSTICA Tátylla Ap. Pimenta Faria
Ângela Heloiza Buxton Vinícius Antônio Alencar Batista
Arlete Ribeiro Nepomuceno Wendell Brito Mineiro
Aurinete Barbosa Tiago Zilmar Santos Cardoso
Carla Roselma Athayde Moraes

CATALOGADO PELA DIRETORIA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES (DDI) - UNIMONTES


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M931g Mourão, Maria das Graças Mota.


Gestão dos processos formativos em espaços não
escolares / Maria das Graças Mota Mourão, Renata Cordeiro
Maciel. – Montes Claros : Unimontes, 2012.
59 p. : il. color. ; 21 x 30 cm.

Caderno didático do Curso de Pedagogia da Universidade


Aberta do Brasil - UAB/Unimontes.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7739-172-1

1. Ensino superior. 2. Escolas – Organização e


administração. 3. Pedagogia hospitalar. 4. Prisões. 5.
Educação rural. I. Maciel, Renata Cordeiro. II. Universidade
Aberta do Brasil - UAB. III. Universidade Estadual de Montes
Claros - Unimontes. IV. Título.

CDD 378.007
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 - Telefone: (38) 3229-8214
www.unimontes.br / editora@unimontes.br
Ministro da Educação Chefe do Departamento de Ciências Biológicas
Fernando Haddad Guilherme Victor Nippes Pereira

Presidente Geral da CAPES Chefe do Departamento de Ciências Sociais


Jorge Almeida Guimarães Maria da Luz Alves Ferreira

Diretor de Educação a Distância da CAPES Chefe do Departamento de Geociências


João Carlos Teatini de Souza Clímaco Guilherme Augusto Guimarães Oliveira

Governador do Estado de Minas Gerais Chefe do Departamento de História


Antônio Augusto Junho Anastasia Donizette Lima do Nascimento

Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Chefe do Departamento de Comunicação e Letras


Alberto Pinto Coelho Júnior Ana Cristina Santos Peixoto

Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Chefe do Departamento de Educação


Nárcio Rodrigues Andréa Lafetá de Melo Franco

Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais
João dos Reis Canela Maria Elvira Curty Romero Christoff

Vice-Reitora da Unimontes Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas


Maria Ivete Soares de Almeida Afrânio Farias de Melo Junior

Pró-Reitora de Ensino Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais


Anete Marília Pereira Cláudia Regina Santos de Almeida

Diretor do Centro de Educação a Distância Coordenadora do Curso a Distância de Geografia


Jânio Marques Dias Janete Aparecida Gomes Zuba

Coordenadora da UAB/Unimontes Coordenadora do Curso a Distância de História


Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Jonice dos Reis Procópio

Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol


Betânia Maria Araújo Passos Orlanda Miranda Santos

Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês


Antônio Wagner Veloso Rocha Hejaine de Oliveira Fonseca

Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Maria das Mercês Borem Correa Machado Ana Cristina Santos Peixoto

Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Paulo Cesar Mendes Barbosa Maria Narduce da Silva

Chefe do Departamento de Artes


Maristela Cardoso Freitas
Autores
Maria das Graças Mota Mourão
Doutoranda pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ( UTAD) de
Portugal, mestre em Educação pelo Instituto Superior Pedagógico Enrique
José Varona de Cuba, graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual
de Montes Claros - Unimontes. Atualmente é professora do Departamento
de Educação, membro do Corpo Editorial da Revista Educação Significante
e Coordenadora do Grupo de Pesquisas na Educação, Diversidade e Saúde
(GEPEDS) da Unimontes.

Renata Cordeiro Maciel


Mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora, especialização
em Psicopedagogia pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas, graduada
em Pedagogia pela Unimontes. Atualmente é professora do Departamento
de Educação da Unimontes e integrante do Grupo de Pesquisas na Educação,
Diversidade e Saúde (GEPEDS) da Unimontes.
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos em Espaços não Escolares

Apresentação
Prezados (as) acadêmicos (as) do Curso de Pedagogia,

O caderno didático intitulado GESTÃO DOS PROCESSOS FORMATIVOS EM ESPAÇOS


NÃO ESCOLARES destina-se ao estudo da disciplina GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS
NÃO-ESCOLARES neste período e tem como objetivos discutir sobre: Conceitos e dimensões
sócio políticos na estrutura de ambientes de educação não-formal. Os processos educativos
nas instituições não escolares. As dimensões do trabalho pedagógico: pedagogia social de rua;
pedagogia em ambientes empresariais, projetos sociais; organização não governamental. Pe-
dagogia no ambiente de promoção de saúde e da melhoria de qualidade de vida. Princípios e
práticas pedagógicas no processo de Organização de Instituições e espaços educativos não-
-formais. Gestão e organização do trabalho pedagógico na educação não formal de crianças,
jovens e adultos, em espaços diversos: Empresarial, Hospitalar, Carcerária, Campo.
Advertimos que esse caminho requer esforço e dedicação, que serão demonstrados atra-
vés do seu empenho em realizar as leituras recomendadas pelo professor formador e docentes
tutores virtual e presencial, assim como a participar dos fóruns de discussão, momentos em
que os conteúdos estudados são compartilhados entre os colegas de curso.

Professora Maria Nadurce da Silva


Coordenadora do Curso
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Fundamentos Da Gestão Na Educação Não Formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.2 Gestão: origem e concepção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.3 Diferenciação entre educação não formal, formal e informal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.4 Espaços não escolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Espaço empresarial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.2 O espaço empresarial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.3 O papel do pedagogo na empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.4 O processo de aprendizagem no trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.5 As práticas do pedagogo na empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Pedagogia hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.2 Contextualização do espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.3 O papel do pedagogo no espaço hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.4 A prática pedagógica em classe hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
O espaço carcerário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4. 1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.2 Contextualização do espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.3 Dimensões da educação carcerária: pressupostos teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.4 As práticas educativas no espaço carcerário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
O espaço do campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

5.2 Contextualização do espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

5.3 Práticas pedagógicas e participação dos movimentos sociais na educação do

campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

5.4 Pedagogia da alternância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Referências Básicas e Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Apresentação
Caro(a) acadêmico(a):

A disciplina Gestão dos Processos For- para a construção do próprio caminho, exigin-
mativos em Espaços Não Escolares trata da do atitudes pró-ativas, organizadas, éticas, de
diversidade atual no campo de atuação do caráter prático, flexíveis, além de iniciativas
pedagogo que, além de atuar em instituições educacionais que valorizem a diversidade e
escolares, vem atuando também em espaços também a participação efetiva nos relaciona-
não escolares, cujo objetivo principal é refletir mentos interpessoais, tanto nos espaços esco-
acerca da gestão e organização do trabalho lares como em espaços não escolares.
pedagógico na educação não formal de crian- Nesse contexto, a disciplina Gestão dos
ças, jovens e adultos, em espaços diversos: Processos Formativos em Espaços Não Esco-
Empresarial, Hospitalar, Carcerário e do Cam- lares está estruturada em cinco unidades. Na
po. Unidade 1, tratamos dos fundamentos da ges-
O campo da pedagogia vem atravessan- tão pedagógica nos espaços não escolares: sua
do um momento de mudanças, em que come- função social, sua dimensão histórica e suas
çam a ser rompidos antigos paradigmas sobre concepções.
o perfil de formação e atuação do pedagogo, Na Unidade 2, intitulada Espaço Empresa-
ampliando o campo de atuação, exigindo um rial, buscamos desvelar o ambiente organiza-
novo profissional com uma nova práxis edu- cional da empresa que, na atualidade, precisa
cativa a partir de novas perspectivas impostas contar com um trabalhador pensante, criativo,
pela contemporaneidade. pró-ativo, analítico, com habilidade para reso-
Por isso, para Matos e Muggiati (2001), a lução de problemas e tomada de decisões, en-
formação desse profissional constitui-se num tre outras capacidades.
desafio aos cursos de Pedagogia, uma vez que Na Unidade 3, analisamos a proposta da
as mudanças sociais aceleradas estão exigindo Pedagogia Hospitalar que visa dar continui-
uma premente e avançada abertura de seus dade às atividades escolares das crianças e
parâmetros, objetivando oferecer os neces- adolescentes internados, atentando para que
sários fundamentos teórico-práticos para o possua interação, harmonia entre as ações
alcance de atendimentos diferenciados emer- educativas a serem realizadas e a realidade
gentes no cenário educacional que não seja hospitalar, bem como o papel do pedagogo
apenas o espaço escolar. como responsável por essas ações.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Na Unidade 4 – Espaço Carcerário –, tra-
Curso de Pedagogia aprovadas em dezembro zemos para discussão a educação em prisões,
de 2006, em relação à atuação do pedagogo temática diretamente ligada ao amadureci-
em espaços não escolares, ressalta que o perfil mento da visão da educação como direito hu-
do graduado deverá contemplar consistente mano, entendendo que a educação oferecida
formação teórica, diversidade de conhecimen- no campo do sistema penitenciário pode mui-
tos e de práticas que se articulam ao longo do to contribuir no processo de reinserção social
curso. dos presos.
Dessa forma, a gestão educacional é en- Na Unidade 5 discutimos a Educação do
tendida numa perspectiva democrática, que Campo, os conceitos e as lutas dos movimen-
associe as diversas atuações e funções do tra- tos sociais em busca de educação de quali-
balho pedagógico e de processos educativos dade, bem como as questões curriculares, as
escolares e não escolares. Principalmente com ações pedagógicas e organização escolar no
referência ao planejamento, à administração, âmbito da identidade do campo.
à coordenação, ao acompanhamento, à ava- Esperamos que essa disciplina possibilite
liação de planos e de projetos pedagógicos, amplas reflexões em relação aos temas aqui
bem como à análise, à formulação, à imple- tratados, contribuindo para que seu processo
mentação, ao acompanhamento e à avaliação de formação de educador seja comprometi-
de políticas públicas e institucionais na área de do com a formação humana e profissional dos
educação. profissionais da educação.
No mundo globalizado há de se tornar
ótimo o processo de formação do educador, o As autoras.
que implica o desenvolvimento da autonomia

9
UAB/Unimontes - 7º Período

10
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Unidade 1
Fundamentos Da Gestão Na
Educação Não Formal

1.1 Introdução
Nesta unidade, vamos analisar os funda- • Reconhecer a epistemologia do termo
mentos da gestão pedagógica nos espaços gestão dos processos formativos nos es-
não escolares: sua função social, sua dimensão paços não escolares;
histórica e suas concepções. • Identificar as diferentes concepções pre-
Para que você possa compreender me- sentes no campo da gestão e na prática
lhor e familiarizar-se com o termo gestão, ini- pedagógica;
cialmente iremos traçar a sua origem episte- • Explicar a evolução histórica da constru-
mológica, delineando sua evolução ao longo ção do campo da gestão pedagógica nos
das últimas décadas e suas diferentes concep- espaços não formais;
ções. • Caracterizar as diferentes correntes teóri-
Pretendemos, ao final desta unidade, que cas de gestão;
você seja capaz de: • Relacionar as diferentes concepções de
gestão com sua experiência.

1.2 Gestão: origem e concepção


Cury (2002), em relação à origem etimoló-
gica do termo gestão (de verbo latino gerere,
gerar, exercer, executar), sinaliza a postura dia-
◄ Figura 1: Educação e
lógica subjacente ao seu conceito como forma direito
de governo da educação em seus diferentes Fonte: http://janete.
níveis e modalidades de ensino. pbworks.com/w/page
Independente da origem etimológica e de /13491530/Organiza%
C3%A7%C3%A3o-e-
distintas aproximações conceituais e praxioló- Gest%C3%A3o-da-
gicas, a gestão da educação está construída no Educa%C3%A7%C3%A3o
Brasil atual como um conceito abrangente que Acesso em 18 jul. 2011.
se refere ao pensar e ao fazer a educação em
sua totalidade, tendo em vista o cumprimento
de sua missão política e cultural e a consecução
de seus objetivos pedagógicos.

11
UAB/Unimontes - 7º Período

GLOSSÁRIO
ETIMOLOGIA: Parte da
Gramática que trata da
origem e formação das
palavras.
PRAXIOLÓGICAS:
Estudo das ações e da
conduta humanas.

PARA SABER MAIS


Gestão de Sistema
Educacional
A gestão de sistema
implica o ordenamen-
to normativo e jurídi-
co e a vinculação de
instituições sociais
por meio de diretrizes
comuns. “A democra-
tização dos sistemas ▲
de ensino e da escola Figura 2: Mundo globalizado
implica aprendizado Fonte: http://mundi-geo.blogspot.com/2009/04/globalizacao.html,
e vivência do exercí- Acesso em 18 jul. 2011.
cio de participação
e de tomadas de Na atualidade, o termo gestão educacional permeia a discussão de diferentes setores educa-
decisão. Trata-se de cionais, visando à obtenção de melhores resultados. Na tentativa de compreendê-lo melhor, apre-
um processo a ser
construído coletiva- sentaremos concepções de diferentes autores. Garcia (1987) entende gestão educacional como um
mente, que considera conjunto de medidas adotadas para cumprir o que lhe é relacionado, ou seja, é a administração
a especificidade e a dos planos e programas de trabalho apresentados para o conjunto das instituições que realizam a
possibilidade históri- educação.
ca e cultural de cada Estudiosos da temática, como Paro (2000) e Ferreira (2004), concebem a gestão da educação
sistema de ensino:
municipal, distrital, como tomada de decisões, utilização racional de recursos para a realização de determinados fins.
estadual ou federal Ferreira (2004, p. 1231) alerta quanto à necessidade de “ser repensada e ressignificada ante a ‘cul-
de cada escola.” tura globalizada’, a partir dessas determinações e à luz dos compromissos com a fraternidade, a
solidariedade, a justiça social e a construção humana do mundo”.
Fonte: BRASIL/MEC/SEB. A gestão da escola pública trata de uma forma de organizar o funcionamento da escola em
Programa Nacional de
Fortalecimento dos Conse-
relação aos aspectos políticos, administrativos, financeiros, tecnológicos, culturais, artísticos e pe-
lhos Escolares. Gestão da dagógicos, a fim de dar transparência às suas ações e atos e possibilitar à comunidade escolar e
educação escolar. Brasília: local a aquisição de conhecimentos, saberes, idéias e sonhos, num processo de aprender, inven-
UnB, CEAD, 2004 vol. 5. tar, criar, dialogar, construir, transformar e ensinar (BRASIL, 2004).
p. 25. Ressaltamos que o termo gestão da educação tem, de acordo com o contexto em que é em-
pregado, variados níveis de alcance.

12
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

1.3 Diferenciação entre educação


não formal, formal e informal
Ancorar-nos-emos nos estudo de Gohn (2006) para diferenciar os campos da educação (não
formal, formal e informal). Para iniciarmos nossos estudos, observe as figuras (3, 4 e 5) que retra-
tam espaços diferenciados de educação.


Figura 4: Educação
▲ formal
Figura 3: Educação não formal http://www.coopagora.
http://www.unochapeco.edu.br/pedagogia/ com.br/wp-content/uplo-
blog, Acesso em 18 jul. 2011. ads/2009/06/proj_educa-
cao1.jpg,
Acesso em 18 jul. 2011.


Figura 5: Educação informal
Fonte: http://3.bp.blogspot.
com/_1Px65zKeTYk/SagAIoLunnI/AAAAAA-
AAAA4/hj3KUItpoXc/s1600-h/hip-hop.jpg,
Acesso em 18 jul. 2011.

1.3.1 Educação Não Formal

A educação não formal trata-se daquela que se aprende no mundo da vida, por meio dos
processos de compartilhamento de experiências, especialmente em espaços e ações coletivos
cotidianas. Ela indica um processo com variadas dimensões, segundo Gohn (2006, p. 28):

• a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos como cidadãos;


• a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/
ou desenvolvimento de potencialidades;
• a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com
objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos;
• a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mun-
do do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor;
• a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica, etc.

13
UAB/Unimontes - 7º Período

Para a autora, esse tipo de educação pode ser definida como práticas educativas que ocorrem
fora de tempos e espaços determinados, consistindo em um processo de formação para a vida.
Lembramos que a educação não formal é necessária, pois a instituição escola não mais con-
segue dar conta de todo o processo educativo. Nela, o grande educador é o outro, pessoa com
quem interagimos ou nos integramos.
Em relação aos espaços educativos, na educação não formal eles se localizam em territórios
que “acompanham as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos, fora das escolas, em locais in-
formais, locais onde há processos interativos intencionais” (GOHN, 2006, p. 29). A autora esclarece
ainda que

... a educação não-formal ocorre em ambientes e situações interativos constru-


ídos coletivamente, segundo diretrizes de dados grupos, usualmente a partici-
pação dos indivíduos é optativa, mas ela também poderá ocorrer por forças de
certas circunstancias da vivência histórica de cada um (GOHN, 2006, p. 29).

Além disso, a autora salienta que na educação não formal existe intencionalidade na ação,
no ato de participar, de aprender e de transmitir ou trocar informação reconhecendo a educação
não formal como um dos campos básicos da Pedagogia Social, uma vez que ela trabalha com
coletivos e preocupa-se com os processos de construção de aprendizagens e saberes coletivos.
Nessa perspectiva, a educação não formal torna os indivíduos capazes de se tornarem cida-
dãos do mundo e no mundo cuja finalidade é ampliar e abrir espaços de conhecimento sobre o
mundo que envolve os indivíduos e suas relações sociais. Com isso, não define seus objetivos a
priori.
... eles se constroem no processo interativo, gerando um processo educativo.
Um modo de educar surge como resultado do processo voltado para os inte-
resses e as necessidades que dele participa. A construção de relações sociais
baseadas em princípios de igualdade e justiça social, quando presentes num
dado grupo social, fortalece o exercício da cidadania. A transmissão de infor-
mação e formação política e sócio-cultural é uma meta na educação não for-
mal. Ela preparar os cidadãos, educa o ser humano para a civilidade, em oposi-
ção à barbárie, ao egoísmo, individualismo, etc. (GOHN, 2006, p. 30).

Vejamos algumas características que a educação não formal pode atingir em relação às me-
tas:

• aprendizado quanto a diferenças - aprende-se a conviver com os demais. Socializa-se o res-


peito mútuo;
• adaptação do grupo a diferentes culturas, e o indivíduo ao outro, trabalha com o “estranha-
mento”;
• construção da identidade coletiva de um grupo;
• balizamento de regras éticas relativas às condutas aceitáveis socialmente (GOHN, 2006, p.
31).

O trabalho coletivo é, portanto, fundamental na educação não formal, conforme pode ser
observado na figura 6.
É importante salientar que as metodologias utilizadas na educação não formal no processo
de aprendizagem nascem da cultura
dos indivíduos e dos grupos. Dessa
forma, o método aparece a partir
da problematização da vida cotidia-
na, e os conteúdos surgem a partir
dos temas tais como: necessidades,
carências, desafios, obstáculos ou
ações arrojadas a serem realizadas,
portanto, não são fornecidos a priori,
são construídos no processo.
Figura 6: Trabalho
coletivo
Fonte: http://vic-
torlucianodejesus.
blogspot.com/,
Acesso em 18 jul.
◄ 2011.

14
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Supõe a existência da motivação das pessoas que participam. Ela não se subor-
dina às estruturas burocráticas. É dinâmica. Visa à formação integral dos indiví-
duos. Neste sentido tem um caráter humanista. Ambiente não formal e men-
sagens veiculadas «falam ou fazem chamamentos» às pessoas e coletivos e as
motivam. Mas, como há intencionalidades nos processos e espaços da educa-
ção não-formal, há caminhos, percursos, metas, objetivos estratégicos que po-
dem se alterar constantemente (GOHN, 2006, p. 32).

Para a autora, os conselhos e colegiados da escola são espaços de educação não-formal.

... são inúmeras as novas práticas sociais expressas em novos formatos ins-
titucionais da participação, tais como os conselhos, os fóruns, as assembléias
populares e as parcerias. Em todas elas a educação não formal está presente,
como processo de aprendizagem de saberes aos e entre seus participantes
(GOHN, 2006, p. 33).

Lembramos que o conselho escolar é um grupo de pessoas responsáveis pelo estabeleci-


mento de objetivos e de direções que a escola tomará no futuro. Ele desempenha um papel im-
portante em assegurar que toda a comunidade seja envolvida em todas as decisões importantes
tomadas pela escola.

ATIVIDADE
Comente a ideia
defendida por Gohn
(2006, p.29) conside-
rando os conselhos e o
colegiado da escola: “a
articulação da educa-
ção formal com a não-
-formal para dar vida
e viabilizar mudanças
significativas na edu-
Figura 7: Conselhos cação e na sociedade
Escolares como um todo”.
Fonte: http://con-
selhoescolarbc.
blogspot.com/
Acesso em 18 jul.
◄ 2011.

GLOSSÁRIO
1.3.2 Educação Formal
Competência: as
competências são tra-
A educação formal se desenvolve nas escolas com conteúdos previamente definidos. Os es- duzidas em domínios
práticos das situações
paços na educação formal referem-se aos territórios das escolas, sendo instituições regulamenta- cotidianas que neces-
das por lei, certificadoras, organizadas de acordo com as diretrizes nacionais. sariamente passam
Este tipo de educação implica ambientes normatizados, com regras e padrões de comporta- compreensão da ação
mento previamente definidos. Entre os seus objetivos, destacam-se: empreendida e do
uso a que essa ação se
... os relativos ao ensino e aprendizagem de conteúdos historicamente sistemati- destina (PERRENOUD,
zados, normalizados por leis, entre os quais destacam-se o de formar o indivíduo 1999).
como um cidadão ativo, desenvolver habilidades e competências várias, desen-
volver a criatividade, percepção, motricidade etc. (GOHN, 2006, p. 29 ). Habilidade: são repre-
sentadas pelas ações
em si, ou seja, pelas
A modalidade formal de educação exige tempo, local específico, recurso humano especiali- ações determinadas
zado, conforme mostra a figura 9, que retrata uma sala de aula de ensino fundamental, em Minas pelas competências
Gerais. de forma concreta,
como escovar o cabelo,
pintar, escrever, montar
e desmontar, tocar ins-
trumentos musicais etc.
(PERRENOUD, 1999).

15
UAB/Unimontes - 7º Período

Figura 8: Escola de ► Exige também, além da


Ensino Fundamental organização de diversos ti-
em Minas Gerais
pos (até a curricular), sequên-
Fonte: wttp://www.
clubenoticia.com.br/ cia sistematizada das ativida-
noticias/vernoticia/1427/ des, disciplina, regulamentos
ensino-fundamental-de- e leis, órgãos superiores, en-
-nove-anos-melhora-
-desempenho-dos-alunos- tre outros.
-em-minas-gerais, Por isso, tem “caráter
Acesso em 18 jul. 2011. metódico e, usualmente,
divide-se por idade/classe
de conhecimento”, momento
em que a escola discute, de-
fine, seleciona os conteúdos
curriculares a serem traba-
lhados, explicitando o que
julga mais importante a ser
ensinado e entendendo o
currículo, como um processo de seleção que se realiza no interior da cultura, ou seja, o currículo
expressa a escolha das diferentes manifestações culturais consideradas essenciais na educação
das novas gerações.

1.3.3 Educação Informal

A educação informal trata-se daquela em que os indivíduos aprendem durante seu processo
de socialização: na família, bairro, clube, amigos, entre outros, impregnada de valores e culturas
próprias, de pertencimento e sentimentos herdados (GOHN, 2006).

Diferentemente da educação formal, a in-


formal tem como agentes educadores os pais,
a família em geral, os amigos, os vizinhos, cole-
gas de escola, a igreja, os meios de comunica-
ção de massa, etc.
Possui espaços educativos delimitados
por referências de nacionalidade, localidade,
idade, sexo, religião e etnia. A sua moradia, a
rua, o bairro, o condomínio, o clube, a igreja
ou o local de culto vinculado a sua crença re-
ligiosa. Portanto, ocorre em ambientes natu-
rais, onde as relações sociais se desenvolvem
de acordo com gostos e preferências. Assim, a
educação informal faz a socialização dos


Figura 9: vida familiar ... indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar
Fonte: http://www.igreja- no uso da linguagem, segundo valores e crenças de grupos que se freqüenta ou que pertence por
cristamaranata.org.br/wp- herança, desde o nascimento (GOHN, 2006, p.29).
-content/uploads/2010/08/
Fam%C3%ADlia.jpg
Acesso em 18 jul. 2011. Cabe ressaltar que na educação informal não há organização, muito menos sistematização
dos conhecimentos, pois são transmitidos a partir das práticas e experiências anteriores, o passa-
do orientando o presente. Ela age no campo das emoções e sentimentos, num processo perma-
nente.
Seu método básico é a vivência e a reprodução do conhecido e da experiência de acordo
com os modos e as formas apreendidas e codificadas.

16
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

1.4 Espaços não escolares


Nos tópicos anteriores, fizemos referência aos fundamentos e à concepção de gestão. Fala-
mos ainda da educação que acontece em espaços diferenciados: formal, informal e não formal.
Como dissemos anteriormente, a educação não formal se ocupa de espaços não escolares.
Nesse aspecto temos uma ampliação do conceito de educação, que não se limita mais aos
processos de aprendizagem no interior da escola, transpondo seus muros, conforme posto no
art. 1° da LDBEM.

A educação deve abranger os processos formativos que se desenvolvem na


vida familiar, na convivência humana, no trabalho nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas ma-
nifestações culturais (BRASIL, 1996).

O dispositivo revela com os indivíduos podem ser educados e tornar-se cidadãos e cidadãs
na convivência, na cultura, no trabalho, na organização social e na escola. A escola e os espaços
extra-escolares são locais reconhecidos de aprendizagem, todavia, a LDBEN abrange apenas a
educação formal.
As Diretrizes Curriculares para o curso de pedagogia, a partir de 2006, também expressam
em seu texto que os pedagogos devem estar aptos para planejar, executar, coordenar, acom-
panhar e avaliar projetos e experiências educativas não escolares, além de estarem aptos para
a docência na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nas disciplinas peda-
gógicas de cursos de formação de professores; na participação do planejamento, na gestão e na
avaliação nas escolas.
Nesse contexto, podemos fazer algumas indagações:

• O que pode ser um pedagogo para espaços não escolares?


• Quais seriam estes espaços?
• Que concepção teórico-metodológica embasaria uma possível formação?
• Que tipo de trabalho o pedagogo desenvolveria em tais espaços?

Essas são indagações de difícil análise, por se tratarem de novos cenários de atuação do pe-
dagogo. Lembramos que a pedagogia é um espaço de promoção e efetivação da educação de
forma intencional e sistematizada; por isso, se temos a pretensão de sermos educadores (espe-
cialistas em educação), “é porque não nos contentamos com a educação assistemática. Nós que-
remos educar de modo intencional e por isso nos preocupamos com a educação” (SAVIANI, 2002,
p. 48).

Figura 10: Prêmio


reconhece o
trabalho de ONG
com crianças,
adolescentes e
jovens em situação
de vulnerabilidade.
Fonte: http://www.
forumdca-ma.org.br/
wp-content/uploa-
ds/2011/03/parceiros.
jpg
◄ Acesso em 18 jul. 2011.

Pimenta (2001) também discorre sobre a necessidade da formação do pedagogo como


cientista educacional, que atue como gestor, pesquisador e coordenador de diversos projetos
educativos, dentro e fora da escola, conforme ilustra a figura 10. Isto implica sua atuação em di-
versos setores da sociedade, como:

17
UAB/Unimontes - 7º Período

• hospitais;
• presídios;
• empresas;
• lazer comunitário;
• meios de comunicação e entretenimento como TV, rádio, internet, quadrinhos, revistas, edi-
toras, tornando mais pedagógicas campanhas sociais educativas sobre violência, drogas,
AIDS, dengue;
• ONG, organizando processos de formação de educadores;
• avaliação e desenvolvimento de pesquisas educacionais em diversos contextos sociais;
• planejamento de projetos culturais e sociais;
• criação e elaboração de brinquedos, materiais de autoestudo;
• programas de educação a distância; etc.

Outro espaço que merece destaque é a Pedagogia Social de Rua, temática que não será dis-
cutida nesta disciplina, mas desenvolve um trabalho importante na sociedade. Trata-se de uma
ação social/educativa que ultrapassa as condições burocráticas impostas pelas escolas de ensino
convencional. É um modo de atuação pedagógica que vai além dos muros, seguindo uma ampla
linha, no intuito de alcançar crianças e adolescentes que consideram as ruas como sua morada e
resgatar a elas por meio da educação para as escolas, e, dessa forma, pensar em novos projetos
de vida (GRACIANI, 1998).

Isso demonstra que o pe-


dagogo deverá estar preparado
DICA
para trabalhar tanto em espa-
Para conhecer um ços escolares como em espaços
pouco mais sobre
Pedagogia Social de não escolares, intervindo na
Rua, assista ao vídeo promoção da aprendizagem de
que mostra a realida- sujeitos em diversas fases do
de das crianças que desenvolvimento humano, em
vivem nas ruas. variados níveis e modalidades
Disponível em:
http://www do processo educativo (ORZE-
.youtube.com/ CHOWSKI, 2009).
watch?v=IBK Figura 11: Pedagogia Social de
WCN2Wmww Rua
Fonte: http://casademeupaibrasil.
blogspot.com/2008/08/essa-reali-
dade-dos-meninos-de-rua.html
◄ Acesso em 20 jul. 2011.

Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/Constituicao/principal.htm. Acesso em: 26 abr. 2009.

______ . Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior. Comissão de Especialistas


do Curso de Pedagogia. Proposta de diretrizes curriculares para o curso de pedagogia. Brasília,
DF: MEC/SESU, 1999. Disponível em: <http//:www.mec.gov.br/sesu/diretriz.htm>. Acesso em: jul.
2011.

______. Lei nº 9.394 de 21/12/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diá-
rio Oficial da União. Brasília, DF, 23 de dez. de 1996. v. 134, nº 248, p. 27883 – 27841.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Gestão democrática da educação: exigências e desafios. Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação. São Bernardo do Campo, v. 18, n. 2, p.
163-174, jul./dez.2002.

18
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Repensando e ressignificando a gestão democrática da edu-


cação na «cultura globalizada». Educ. Soc. [online]. 2004, v. 25, n. 89, pp. 1227-1249. ISSN 0101-
7330. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/v25n89/22619.pdf

GARCIA, Walter Esteves. Notas sobre a crise da Gestão Educacional. Out/Dez, 1987. Disponível
em: <http://www.emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/637/566>. Acesso
em: 18 jul. 2011.

GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal na pedagogia social. An. 1 Congr. Intern. Peda-
gogia Social Mar. 2006.

GRACIANI, M. S. S. Pedagogia Social de Rua. São Paulo: Cortez, 1998.

ORZECHOWSKI, Suzete Terezinha. O espaço não-escolar: profissionalização e a formação do pe-


dagogo. In: III Simpósio Internacional e VI Fórum Nacional de Educação - ULBRA, 2009, Torres/RS.
III Simpósio Internacional e VI Fórum Nacional de Educação- Políticas Públicas, Gestão da Educa-
ção, Formação e Atuação do educador. Torres/RS : ULBRA- Universidade Luterana do Brasil, 2009.
v. 1.

PARO, Vitor Henrique. Administração escola: introdução crítica. 14. ed. São Paulo: Xamã, 2000.

PERRENOUD, Perrenoud. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed,


1999.

PIMENTA, Selma Garrido. (Org.). Pedagogia e Pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo:
Cortez, 2001.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Autores associados:


Campinas, 2002.

19
UAB/Unimontes - 7º Período

20
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Unidade 2
Espaço empresarial

2.1 Introdução
A educação humaniza o homem, tornando conhecedor de si mesmo e dos outros,
tirando de simples papel de selvagem para torná-lo um ser capaz de se relacionar
de forma positiva com seus semelhantes (GONÇALVES, 2009).

Nesta unidade vamos discu- ◄ Figura 12: Trabalho


tir a gestão pedagógica no espa- em equipe
ço empresarial: a sua contextua- Fonte: http://www.
lização, o papel do pedagogo na daead.com.br/home/
wp-content/uploa-
empresa, o processo de aprendi- ds/2011/03/trabalho-
zagem no trabalho, as práticas do -em-equipe1.jpg
pedagogo na empresa. Acesso em 18 jul. 2011.
Juntos iremos desvelar o am-
biente organizacional da empresa
que hoje necessita de trabalha-
dor pensante, criativo, pró-ativo,
analítico, com habilidade para re-
solução de problemas e tomada
de decisões, capacidade de traba-
lho em equipe e em permanente contato com a acelerada transformação e a flexibilização dos
tempos atuais.
Com isso, as empresas passam a ver a importância da educação no trabalho e começam a
descobrir a influência da ação educativa do pedagogo na empresa para melhorar a qualidade de
prestação de serviços.
Pretendemos, ao final desta unidade, que você seja capaz de:

• compreender o ambiente empresarial e sua organização;


• reconhecer o papel do pedagogo na ação educativa na empresa;
• compreender a importância do processo de aprendizagem no trabalho; e
• determinar as práticas educativas do pedagogo na empresa.

2.2 O espaço empresarial


O cenário das organizações sofre o impacto das mudanças tecnológicas da informação num
ritmo vertiginoso. Por isso, a procura é cada vez maior por profissionais especializados e capa-
citados em liderança de equipes, em trabalhar com pessoas, organizadas não em torno do que
fazem, mas com base no que elas são ou acreditam que são (CAGLIARI, 2009).
As empresas frente às novas exigências do ambiente estão passando por mudanças profun-
das que têm impactado a economia e as empresas. Assim, o processo de gestão empresarial en-
frenta novos desafios, e os gestores buscam trabalhar com novos modelos de decisão.

21
UAB/Unimontes - 7º Período

Esse ambiente de mudanças gera preocupações mais agudas, e o atual avanço tecnológico
tem propiciado o desenvolvimento de instrumentos e métodos operacionais mais eficientes.

Figura 13: Organização e


mudanças
Fonte: http://www.ideiasede-
safios.com/images/alinhamen-
to_marketing.jpg
◄ Acesso em: 27 jul. 2011

Atualmente a riqueza maior é o produto do conhecimento. O conhecimento e informação,


tudo se transforma em matérias-primas básicas e produtos mais importantes da economia, inclu-
sive a notícia, a opinião, a diversão, a comunicação e o serviço.
Para Meirelles Junior (2008, p. 2):

... o mercado tem demonstrado que os profissionais da atualidade têm que


mudar, atualizar, identificar as necessidades da sociedade e das entidades, for-
necer informações mais objetivas, com qualidade e ser adaptável e estar prepa-
rado para mudanças.

Destaca que neste processo de mudanças, que muitas vezes não é claramente visível a to-
dos, a educação torna-se uma solução fundamental para formar profissionais competentes que
contribuam efetivamente para a sociedade em que vivem e exercem suas atividades.
De acordo com Meirelles Junior (2008), a atual sociedade, assim como as empresas do novo
milênio, precisa de uma estrutura organizacional bem esquematizada para a sua sobrevivência,
contando com profissionais com elevada qualificação.

Figura 14: Profissionais


especializados
Fonte:http://cursonacional.
com.br/page1.aspx
Acesso em: 27 jul. 2011 ►

22
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Daí a importância de pensar a capacitação como uma estratégia, como instrumento capaz
de interferir na contextualização de habilidades e conhecimentos que estão sendo solicitados
para o mundo contemporâneo.
O crescimento de cada empresa será consequência do produto de suas habilidades em criar
situações adequadas para o futuro, traduzindo esta visão em realidade, desenvolvendo e geren-
ciando os recursos estratégicos e necessários.
Nesse contexto, surge o pedagogo empresarial “como uma nova ferramenta para este de-
senvolvimento nas organizações que caminham para serem empresas aprendentes” (CAGLIARI,
2009, s.p).

2.3 O papel do pedagogo na


empresa
Como dito anteriormente, o pedagogo é inserido na empresa para auxiliar no desenvolvi-
mento das competências e habilidades de cada indivíduo, tornando cada profissional capaz de
lidar com várias demandas, incertezas, diferentes culturas ao mesmo tempo, em direção a um
resultado positivo frente a um mercado competitivo (CAGLIARI, 2009).
Na visão de Gonçalves (2009), a atuação do pedagogo neste ambiente será com as pessoas
que fazem parte das instituições e empresas de todos os tipos, portes e áreas: indústrias, cons-
trução civil, órgãos municipais, estaduais e federais, escolas, hotéis, ONG, instituições de capa-
citação profissional e assessorias de empresas. Para isso, o pedagogo empresarial precisa ter o
domínio de conhecimentos, técnicas e práticas que, adicionadas à experiência dos profissionais
de outras áreas, formam instrumentos fundamentais para atuação na gestão de pessoas para:

• coordenar equipe multidisciplinar no desenvolvimento de projetos;


• demonstrar formas educacionais para aprendizagem organizacional significativa e sustentá-
vel;
• provocar mudanças culturais no espaço de trabalho;
• definir políticas centradas no desenvolvimento humano permanente; e
• prestar consultoria interna relacionada à educação e ao desenvolvimento das pessoas nas
organizações.

Cabe ressaltar que não basta esse novo profissional saber dirigir dinâmicas de grupo e orga-
nizar material de treinamento sem o engajamento das pessoas ou vendo uma necessidade ime-
diata. Mais do que isso, exige um trabalho rigoroso de observações cuidadosas, essencialmente
no trato dos recursos humanos, para conseguir desenvolver estratégias e, com elas, favorecer a
humanização dentro da empresa. Essa ação requer do pedagogo empresarial:

• astúcia,
• observação,
• envolvimento,
• desprendimento,
• coragem,
• preparo técnico,
• ousadia,
• vontade,
• criatividade; e
• desejo efetivo pela descoberta de como será desenvolvido seu trabalho dentro da empresa.

Portanto, o pedagogo precisa ter visão pedagógica, filosófica e psicológica em relação às


pessoas que trabalham neste espaço.
Gonçalves (2009) salienta que o pedagogo empresarial deve realizar-se de forma relaciona-
da e cooperativa com a dos demais profissionais de gestão. Ele precisa aprender a desenvolver
virtudes vitais para o trabalho nas empresas, essencialmente a ética, a moral e principalmente ser
humano, no entendimento que só a educação humaniza o homem.

23
UAB/Unimontes - 7º Período

Assim, a aprendizagem passa a ser um


quebra-cabeça (figura 15) no ambiente das
empresas, no qual o desafio passa ser a capaci-
tação e formação contínua do funcionário, que
é peça fundamental na engrenagem da presta-
ção de serviços com qualidade. Na atualidade,
as empresas voltam-se para a aprendizagem
que busca não só treinar os seus empregados,
mas também criar um ambiente de aprendiza-
gem contínua, no qual os trabalhadores pos-
sam criar, adquirir e transferir conhecimentos,
tanto para a vida pessoal como profissional.
Assim, as empresas procuram formas inovado-
ras de enfrentar os problemas e propostas de
soluções adequadas à realidade e ao contexto
que vivenciam.
▲ É bom lembrar que o pedagogo fora da escola busca construir uma identidade profissional
Figura 15:
à medida que integra diferentes aspectos existentes no processo metodológico e prático, funda-
Aprendizagem na
organização mentado no conhecimento na área da educação, na possibilidade de interagir e colaborar para o
Fonte: http://maluco- desenvolvimento do indivíduo na sua área de atuação profissional (GONÇALVES, 2009).
porjesus.files.wordpress.
com/2010/02/gestao-em-
presarial-quebra-cabeca.
jpg
Acesso em: 27 jul. 2011
2.4 O processo de aprendizagem
DICA
Acesse o vídeo e
assista “O dia a dia do
no trabalho
pedagogo empresarial”
para, posteriormente, Desde o nascimento, o ser humano entra
debatermos no Fórum num processo de aprendizagem em diferentes
de Discussão. espaços: na família, na escola, na rua, na empresa
http://www.ikwa.com.
br/video/como-e-o- ou em outros lugares. Portanto, é impossível con-
-dia-a-dia-de-um-peda- ceber o homem sem aprendizagem, pois, natu-
gogo-empresaria ralmente, ele deve estar inserido em um ambien-
Acesso em: 27 jul. 2011 te de aprendizagem permanente.
Sabemos que existirá aperfeiçoamento
Figura 16: Trabalho substancial do ser humano se ele aprender a es-
em equipe tudar, criar, debater e trabalhar em equipe. Para
Fonte: http://2.
bp.blogspot.com/-YN-
que possa organizar posições logísticas, visua-
BO6wkp924/TaYC7gr- lizar soluções para atingir objetivos produtivos,
B4gI/AAAAAAAAACs/ reunir posicionamentos confiáveis para tomada
OrWRSiGHd7o/s1600/
Trabalho20em20equi-
de decisões. Assim, se conduz melhor na socie-
pe.jpg dade e no trabalho, pensa e decide com seguran-
Acesso em: 27 jul. 2011. ► ça, conforme demonstra a figura 16.
Para isso, o pedagogo empresarial tem
como objetivo possibilitar a melhoria da qualidade de prestação de serviços, bem como a me-
lhoria da vida pessoal do indivíduo. Na atualidade, a empresa vem abrindo espaço para que este
profissional possa, de forma consciente e competente, criar um ambiente que permita solucionar
problemas, elaborar projetos, levantando hipóteses, em busca da melhoria dos processos institu-
ídos na empresa para garantir a qualidade do atendimento, contribuindo para instalação de uma
nova cultura institucional sustentada na formação continuada dos empregados.
Ribeiro (2003) defende que os trabalhadores, para se manterem competitivos, vêm aumen-
tando de forma considerável seus patamares de educação e aspirações, e, simultaneamente, o
trabalho passa a ter um papel central em suas vidas. Para a autora, as empresas que aspiram a
um diferencial no mercado estão investindo no trabalho que aumenta sua capacidade de com-
petitividade, com o gerenciamento do desenvolvimento de seu trabalhador. Além disso, as em-
presas têm dirigido o foco para o processo de comunicação tecnológica, visando ao desenvolvi-
mento de habilidades para comunicação das pessoas.

24
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Na atualidade, as intensas
transformações e inovações tec-
nológicas, em diversos campos,
levam à introdução no processo
produtivo dos sistemas de organi-
zação do trabalho, à mudança no
perfil profissional, bem como às
novas exigências de qualificação
dos trabalhadores, que também
vão afetar os sistemas de ensino.
Cenário que passa a reque-
rer novas habilidades, capaci-
dade de abstração maior e con-
▲ duta profissional mais flexível.
Figura 17: Comunicação tecnológica Daí a necessidade de formação
Fonte: http://blogs.piraidigital.com.br/epitacio/category/informatica/ geral, que implica uma reavalia-
inovacoes-da-tecnologia/
Acesso em: 27 jul. 2011. ção dos processos de aprendiza-
gem, maior familiaridade com os
meios de comunicação e com a informática, além do desenvolvimento de competências comuni-
cativas, de capacidades criativas para exame de novas situações, de capacidade de pensar e agir
com horizontes mais amplos.
Esse novo cenário exige a vinculação entre o
pedagogo e a empresa, uma vez que o aprendiza-
do é o saber assimilado, é a construção do conhe-
cimento por cada indivíduo. Por isso, o processo
de aprendizagem nas empresas faz-se mais pre-
sente em nossa sociedade. Cabe ressaltar a im-
portância do desenvolvimento de competências
e habilidades para ser capaz de executar, analisar
e desenvolver com sucesso uma tarefa.
Assim, o pedagogo empresarial no processo
de aprendizagem nas empresas deve entender
que está lidando com trabalhadores adultos, se-
res humanos, os quais precisam tornar-se parte
ativa neste processo. Ciente que no desenvolvi-
mento dos projetos de aprendizagem deve sem-
pre ser considerado as reais necessidades dos in-
divíduos.
Gonh (2006) enfatiza que, na educação não formal, as metodologias aplicadas no processo ▲
Figura 18:
de aprendizagem devem partir da cultura dos indivíduos e dos grupos. Assim, o método nasce a Aprendizagem coletiva
partir da problematização da vida diária, enquanto os conteúdos surgem a partir dos temas que Fonte: http://3.
se apresentam como necessidades, deficiências, desafios, entraves ou ações empreendedoras a bp.blogspot.com/_ja1Ket-
serem realizadas e os conteúdos são construídos no processo. Dessa forma, o método vai sendo -RCSs/TGQyJiXmfVI/
AAAAAAAAAFE/S-
sistematizado pelo modo de agir e pensar o mundo que cerca as pessoas. Esse pensamento está TfqRoYs-0/s320/aprendiza-
expresso na figura 18 que retrata a aprendizagem coletiva, leia e reflita sobre as mensagens dos gem.gif
cartazes.
A aprendizagem em grupo significa que, na ação educativa, devemos estar preocupados PARA SABER MAIS
não só com o produto da aprendizagem, mas com o processo que permitiu a mudança dos sujei-
Acesse o vídeo no
tos. Dessa forma, é uma ação formadora do sujeito para a vida, recusando a simples transmissão
link abaixo e assista à
de conhecimento. Nessa abordagem, aprendizagem é a capacidade de compreensão e de ação “Dinâmica de Grupo na
transformadora de uma realidade. Nesse caso, o aprender pode significar a ruptura com modelo Empresa”
internalizado. http://www.
Numa organização que aprende o desenvolvimento dos conceitos de comunidades de apren- youtube.com/
watch?v=G8a7XXDU9I0
dizagem e aprende fazendo na empresa, irá facilitar o processo de desenvolvimento contínuo dos
trabalhadores mais experientes. Sabe-se que a educação permanente e em serviço, para os traba-
lhadores em fase adiantada de carreira, pode permitir a permanente atualização profissional, com
o desenvolvimento de competências, habilidades e de posturas para a convivência com processos
de mudança, e a observação de novas tecnologias, ditas anteriormente.

25
UAB/Unimontes - 7º Período

Nesse contexto, existem metodologias que necessitam de ser desenvolvidas, codificadas,


ainda que com alto grau de provisoriedade, devido ao dinamismo, a mudança, o movimento da
realidade, de acordo com o desenrolar dos acontecimentos (GONH, 2006), são indicadores da
DICA singularidade da educação não formal.
A ação educativa é
entendida como um

2.5 As práticas do pedagogo na


processo político-
-pedagógico, que tem
como premissas alguns
princípios ético-pe-
dagógicos baseados
no protagonismo dos
cidadãos e na constru-
empresa
ção de sua autonomia
e emancipação. Para iniciar a nossa discussão sobre as práticas do pedagogo na empresa, é bom lembrar
que as atividades administrativa, burocrática, social, técnica e pedagógica se integram no am-
biente da empresa.
Priorizamos, entre as diversas atividades pedagógicas, as relacionadas ao ensinar-aprender,
que envolvem os funcionários da empresa. Gonçalves (2009) entende que a formação do peda-
gogo na área da gestão escolar, principalmente na área de planejamento, possibilita-lhe condi-
ções de auxiliar a empresa na elaboração de sua missão, definindo suas metas e aspirações, seus
valores, sua cultura e estratégias a serem utilizadas, de forma participativa, envolvendo funcioná-
rios e colaboradores.

PARA SABER MAIS

MISSÃO DA NESTLÉ
Desenvolver as oportunidades de negócios, presentes e futuras, oferecendo ao consumidor produtos alimentícios e
serviços de alta qualidade e de valor agregado, a preços competitivos.
Fonte: http://www.via6.com/empresa/56279/nestle
Acesso em: 18 jul. 2011.


Figura 19: Logotipo da Nestlé
http://namiradomarketing.blogspot.
com/2011/02/90-anos-da-nestle-brasil.html,
Acesso em: 27 jul. 2011

26
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

A autora acredita que


o documento deve conter
a declaração de valores e
princípios éticos da empre-
sa, como solidariedade, ho-
nestidade, justiça, compro-
misso, respeito ao próximo,
integridade, lealdade, e que
ele deve estar ao alcance de
todos, estar visível. Salienta
a importância da adaptação Figura 20: Gestão
da gestão participativa no participativa
âmbito da empresa. Fonte: http://www.diario-
A figura 20 retrata que doposte.com.br/profile/
fredericosotero.
o trabalho na empresa deve ◄ Acesso em: 27 jul. 2011.
ser construído em forma de
rede colaborativa, na qual cada funcionário desempenha o seu papel. Cabe enfatizar que a edu- PARA REFLETIR
cação no campo organizacional, ou nos diversos espaços da sociedade, precisa, antes de tudo, Clique no link que se
ser um instrumento de participação ativa, cooperativa e crítica do cidadão que busca a constru- segue, acesse e assista
ção de uma sociedade mais justa e igualitária. A prática pautada na crítica reflexiva permite ao ao vídeo Tempos Mo-
dernos que mostra o
educando assumir-se como ser social e histórico construtor de sua própria história. trabalhador mecaniza-
Vejamos algumas atividades a serem desenvolvidas pelo pedagogo na empresa sugeridas do, que executa tare-
por Gonçalves (2009): fas. Depois, reflita com
seus colegas, postando
• a ajuda à colocação dos filhos dos funcionários na escola; no fórum dedicado a
esta discussão, as suas
• procurar parcerias locais para oferecer serviços variados de interesse dos funcionários: cre- impressões sobre o
ches, atendimento pediátrico, atendimento psicológico, atendimento ao idoso, assessoria tema.
jurídica, assessoria de planejamento financeiro, academias de ginástica, entre outros; http://www.youtube.
• agendar cursos e palestras sobre temas essenciais à vida saudável: atividade física e qualida- com/
de de vida, efeitos do fumo sobre o organismo; watch?v=
XFXg7nEa7vQ
• prevenção da dependência química, do alcoolismo, hábitos posturais saudáveis, a boa quali-
dade do ar e outros; entre outras.

Essas atividades a serem desenvolvidas na


empresa precisam antes de tudo passar pela admi-
nistração geral. Portanto, todas as atividades cita-
das já foram pensadas e planejadas pelos órgãos
centrais, que podem delegá-las ao pedagogo para
sua execução. Isso quer dizer que o pedagogo pre-
cisa e deve desenvolver seu trabalho em sintonia a
equipe gestora da instituição/empresa onde atua,
para evitar conflitos de ordem administrativa.
Outra atividade importante a ser desenvolvi-
da pelo pedagogo, de acordo com a administra-
ção, trata-se de envolver parceiros e funcionários
nos projetos da empresa. Com isso, vimos as diver-
sas atividades que podem ser desenvolvidas pelo
pedagogo na empresa, numa prática responsável
▲ e humana.
Figura 21: Tempos modernos
Cabe ainda salientar que a prática pedagógi-
Fonte: http://camilazanotti.blogspot.com/2007/08/
charles-chaplin.html ca não deve fundamentar-se no treino técnico. O
Acesso em: 27 jul. 2011. mercado de trabalho não abriga mais o trabalha-
dor mecanizado, mero executor de tarefas, perso-
nificado na figura robotizada do personagem do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Ao
contrário, o ambiente organizacional contemporâneo requer o trabalhador pensante, criativo,
pró-ativo, analítico, com habilidade para resolução de problemas e tomada de decisões, capaci-
dade de trabalho em equipe e em total contato com a rapidez de transformação e a flexibilização
dos tempos atuais.

27
UAB/Unimontes - 7º Período

Para isso, a prática do pedagogo precisa propiciar, no decorrer do processo de formação, as


condições necessárias para que o trabalhador se sinta e conceba um cidadão na busca de uma
sociedade mais humana por meio do trabalho, estimulando a cooperação, a criatividade e, prin-
cipalmente, o conhecimento de si mesmo capaz de se relacionar com outros seres humanos.

Referências
CAGLIARI, Débora. O Pedagogo Empresarial e a Atuação na Empresa. Só Pedagogia, 2009. Dispo-
nível em http://www.pedagogia.com.br/artigos/pedagogo/index.php?pagina=1. Acesso em: 25
ago. 2011

GONÇALVES, Roseli. A pedagogia empresarial e as práticas pedagógicas dentro da empresa. We-


bartigos, 2009. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/a-pedagogia-empresarial-e-
-as-praticas-pedagogicas-dentro-da-empresa/14896/. Acesso em: 25 ago. 2011.

GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal na pedagogia social. An. 1 Congr. Intern. Peda-
gogia Social Mar. 2006.

MEIRELLES JUNIOR, Júlio Cândido de. Planejamento Empresarial. Jornal Eletrônico da Faculdade
de Economia das Faculdades Integradas Vianna Júnior, v. 07, p. 01-08, 2008.

RIBEIRO, Amélia Escotto do Amaral. Pedagogia empresarial: atuação do pedagogo na empresa.


Rio de Janeiro: Wak, 2003.

28
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Unidade 3
Pedagogia hospitalar
Estamos precisando de um tipo de ser humano diferente capaz de viver em um
mundo em eterna mudança, educado para sentir-se a vontade com a mudança de
situações, sem conhecimento prévio. A sociedade que puder produzir essas pessoas
sobreviverá, as que não conseguirem, morrerão (MASLOW, 2000).

Figura 22: Pedagogia ►


Hospitalar
http://patricia-patriciaph.
blogspot.com/2011_01_01_
archive.html
Acesso em: 29 jul. 2011.

3.1 Introdução
Nesta unidade, vamos analisar a gestão pedagógica no espaço hospitalar: sua contextuali-
zação, legislação vigente, o papel do pedagogo e as práticas pedagógicas que podem ser desen-
volvidas neste ambiente. GLOSSÁRIO
Hoje, a pedagogia hospitalar é entendida como um dos campos do processo pedagógico e Equipe Multidisci-
é uma realidade, entre as inúmeras possibilidades de atuação do pedagogo na sociedade. plinar: conjunto de
Para Wolf (2007), o pedagogo hospitalar acompanha e interfere no processo de aprendiza- profissionais de áreas
gem do educando, dando ao enfermo subsídios para a compreensão do processo de elaboração de conhecimento dife-
da doença e da morte, explicando procedimentos médicos e auxiliando a criança e o adolescen- rentes que se integram
em prol de um objetivo
te na adaptação hospitalar. comum.
O pedagogo hospitalar tem uma grande tarefa a ser desenvolvida no hospital com outros
profissionais, numa equipe multidisciplinar, tendo em vista que a criança enferma precisa de cui-
dados que vão além dos aspectos físicos e biológicos e, por este motivo, diversas áreas do conhe-
cimento se integram em prol da continuidade do desenvolvimento global dos pacientes.

Esperamos, ao final desta unidade, que você seja capaz de:

• compreender o ambiente hospitalar e sua organização;


• determinar o papel do pedagogo na classe hospitalar;
• conhecer a legislação vigente que orienta as ações educativas no ambiente hospitalar; e
• determinar as práticas educativas na classe hospitalar.

29
UAB/Unimontes - 7º Período

3.2 Contextualização do espaço


Frequentemente, crianças e adolescentes ficam afastadas das salas de aula por motivos de
saúde, muitas vezes por se encontrarem hospitalizadas por longos períodos.
Estudiosos como Barros (2007), Matos; Muggiati (2003), Wolf (2007) afirmam que, quando os
estudantes adoecem, afastando do convívio escolar, perdem muito mais do que o conteúdo das
disciplinas. Isso porque, ao afastarem de seu principal meio de socialização, sentem-se tristes e
desprotegidos, aspectos que interferem negativamente a recuperação durante o tratamento. A
ausência de colegas, amigos e familiares afeta a auto-estima e diminui os resultados na recupera-
ção da saúde.
O ambiente hospitalar se torna menos penoso e pode tornar-se mais alegre ao proporcionar
um ambiente similar ao ambiente externo. Os meios utilizados na classe hospitalar fazem com
que as crianças prossigam suas atividades rotineiras, como estudar, jogar, falar, sorrir, conviver
com outras crianças.
É neste contexto que surge a Pedagogia Hospitalar, para oferecer um atendimento emocio-
nal e humanístico a crianças, adolescentes e aos familiares, objetivando a continuidade da esco-
laridade formal e melhoria da adaptação de pacientes em ambientes hospitalares.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96 –, no parágrafo 2º, art. 58,
prevê a possibilidade do atendimento do educando em classes, escolas, ou serviços especializa-
dos, sempre que, em função das condições especificas do aluno, não for possível a sua integra-
ção nas classes comuns de ensino regular.
Dessa forma, o atendimento pedagógico em ambiente hospitalar é garantido por Lei, por
ser um direito estabelecido pelo Ministério da Justiça e Conselho Nacional dos Direitos da Crian-
ça e do Adolescente pela Resolução CONANDA nº 41, de 17 de outubro de 1995, que trata do
“direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acom-
panhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”.
A Legislação expressa, ainda, que os hospitais brasileiros devem oferecer às crianças e aos
adolescentes um atendimento educacional de qualidade, que auxilie o desenvolvimento intelec-
tual e pedagógico, e, também, o acompanhamento do currículo escolar. No entanto, ainda há
um caminho longo a percorrer para fazer cumprir a referida Lei, pois a maioria dos hospitais não
conta com uma estrutura pediátrica em condições adequadas para cumprir essa exigência legal.
Figura 23: Crianças Matos e Muggiati (2001, p. 16) apontam para o fato que a pedagogia hospitalar vem
internadas na pediatria
do Hospital Regional
... oferecer à criança hospitalizada, ou em longo tratamento hospitalar, a valori-
do Gurupi recebem zação de seus direitos à educação e à saúde, como também ao espaço que lhe
atenção especial é devido enquanto cidadão do amanhã.
Fonte: http://zaca-
martins.wordpress.
com/2009/12/15/progra-

3.3 O papel do pedagogo no


macao-movimentada-na-
-comemoracao-dos-seis-
-anos-do-programa-peda-
gogia-hospitalar-do-hos-
pital-regional-de-gurupi/
Acesso em: 29 jul. 2011.

espaço hospitalar
O trabalho com crianças e adolescentes hospita-
lizados é um desafio, no intuito de encontrar estraté-
gias diversificadas e adaptáveis à realidade e necessi-
dade de cada um, diante de uma situação de privação
ou mesmo de sofrimento e dor. “Permite à criança do-
ente conservar os laços com sua vida anterior à inter-
nação” (REINER-ROSENBERG, 2003, p. 21).
A pedagogia hospitalar em sua prática pedagógi-
co-educacional cotidiana deve dar continuidade aos
estudos das crianças em convalescença, para sanar
dificuldades de aprendizagem e/ou contribuir para o
alcance de novos conteúdos, além de trabalhar com o
aluno/paciente suas necessidades psíquicas e cogniti-
vas (FONSECA, 2003).
30
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Nesse cenário, a presença do pedagogo é importante para a organização e planejamentos


de ações pedagógicas adequadas à realidade do aluno/paciente no espaço hospitalar. Cabe a
ele modificar situações e atitudes junto ao enfermo, as quais não podem ser confundidas com o
atendimento à sua enfermidade. Isso exige cuidado especial no desenvolvimento das atividades,
cabendo a ele, segundo (WOLF, 2007, p. 50):

• o efetivo envolvimento com o doente;


• modificação no ambiente em que está envolvido;
• conhecimento das modalidades de ação e intervenção; e
• desenvolvimento de programas adaptados às capacidades e disponibilidades do enfermo.

O pedagogo hospitalar, portanto, será o responsável por organizar essas ações educativas
dentro do hospital, levando em consideração as necessidades do estudante e paciente, cuidando
para que uma atividade não atrapalhe o andamento da outra.

3.4 A prática pedagógica em


classe hospitalar
O Ministério da Educação, por meio da
Secretaria de Educação Especial, denominou
de classe hospitalar uma das modalidades de
atendimento especial conceituando-a como:
“ambiente hospitalar que possibilita o atendi-
mento educacional de crianças e jovens inter-
nados, que necessitam de educação especial
ou que estejam em tratamento” (MEC/SEEESP,
1994).
A classe hospitalar deve ser vista como
uma extensão da escola no ambiente hos-
pitalar. Ela funciona como uma sala de aula
adaptada ao ambiente hospitalar para acolher
crianças e adolescentes em internação tempo-
rária ou permanente, assegurando o elo com a riso. ▲
escola e/ou facilitando o seu ingresso ou retor- Essas estratégias ajudam na adaptação, Figura 24: Doutores do
riso
no ao seu grupo escolar adequado. motivação e recuperação do paciente, que es-
Fonte: http://www.arslvt.
Esse espaço objetiva compreender as di- tará ocupando o tempo de ociosidade e refor- min-saude.pt/NoticiasE-
ficuldades dos alunos/pacientes, oferecendo- çando as expectativas de retorno à vida nor- ventos/Noticias/conteu-
-lhes um processo educativo, por meio de mal. dos/Paginas/OperacaoNa-
rizVermelho.aspx
atividades diversas de escrita, leitura, matemá- As metodologias de trabalho no hospital Acesso em: 29 jul. 2011.
tica e jogos para assegurar o desenvolvimento dependerão da instituição, ou seja, das condi-
intelectual e acompanhamento escolar. ções e disponibilidade do hospital em termos
Além disso, as intervenções em classe de espaço físico e o tipo de convênio firmado
hospitalar devem ser norteadas pelo emprego e dependerá das necessidades do hospital. No
do lúdico e atividades recreativas, como a arte entanto, Wolf (2007) ressalta que pode haver
de contar histórias, brincadeiras, jogos, drama- adaptação nos espaços, de acordo com a ob-
tização, desenhos e pinturas e influenciadas servação do pedagogo, e este fará as adequa-
pela possibilidade de utilização de práticas ar- ções necessárias para que a criança se sinta
tísticas que exploram a criatividade das crian- bem. Se necessário, pode acontecer até mes-
ças, mesmo num contexto de adversidade, mo no próprio leito, conforme demonstra a
situação ilustrada na figura 24 por meio das Figura 25.
atividades desenvolvidas pelos doutores do

31
UAB/Unimontes - 7º Período

DICA reequilibram o desenvolvimento


Assista ao vídeo dos psíquico daquelas crianças e adoles-
doutores da alegria centes.
para compreender Essas atividades pedagógicas
a importância dessa desenvolvidas junto aos alunos em
atuação em hospitais. hospitais ou até mesmo em suas
Através de suas visitas
regulares, tentam casas devem ser divulgadas para o
potenciar o riso, já que conhecimento de toda a sociedade,
está medicamente para que possam usufruir desse di-
associada ao bem-estar, reito caso precisem, eventualmente,
aumenta o batimento se afastar da escola por motivos de
cardíaco, melhora a
oxigenação do sangue, saúde, conforme já assinalamos an-
diminui a dor, ajudando teriormente.
também na (des)dra- ▲ Considerando os objetivos des-
matização dos procedi- Figura 25: Prática individual de leito. Trabalho realizado no ta unidade, concluímos que a função
mentos hospitalares. serviço de emergência clínica. do pedagogo dentro das instituições
Disponível em
:http://www.youtube. Fonte: http://redeeducacaoemfoco.blogspot.com/2011/04/o-pedago- hospitalares é mediar as relações en-
go-em-espacos-nao-escolares.html tre a escola e a criança ou o adoles-
com/watch?v=aO0o Acesso em: 29 jul. 2011.
kix13Ww&feature=r cente internado, ensinando e dando
elated continuidade aos conteúdos. É papel
O atendimento prestado em uma classe dos cursos de pedagogia valorizar a
hospitalar contribui para o paciente enfrentar formação do profissional para que possa atuar,
o estresse da hospitalização (BARROS, 2007). com eficiência, em outros espaços de educa-
Isso devido ao significado e ao valor simbólico ção, que não sejam os escolares, como é o caso
da escola na composição das experiências das da educação hospitalar.
crianças e adolescentes que, então resgatadas,

Referências
BARROS, Alessandra Santana Soares e. Contribuições da educação profissional em saúde à for-
mação para o trabalho em classes hospitalares. Cad. CEDES [online]. 2007, vol. 27, n. 73, p. 257-
278. ISSN 0101-3262.

BRASIL. Ministério da Justiça (BR). Resolução nº 41 de 13 de outubro de 1995. Dispõe sobre os di-
reitos da criança e do adolescente hospitalizados. Diário Oficial da União. Brasília (DF), Seção I, p.
16319-16320, 17/10/95.

______. República Federativa do Brasil. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (Lei nº
9394/96). Brasília: Diário Oficial da União, 1996.

______. Ministério da Educação, Cultura e Desporto. Política Nacional de Educação Especial. Se-
cretaria Nacional de Educação Especial. Brasília, MEC/SEESP, 1994,66p.

FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo: Mem-
non, 2003.

MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGGIATI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia Hospi-
talar. Curitiba: Champagnat, 2001.

REINER-ROSENBERG, Sylvie. O papel das associações para crianças hospitalizadas na França e na


Europa. In: GILLE-LEITGEL, Marluce. (org.) Boi da cara preta: crianças no hospital. Salvador: EDU-
FBA; Álgama, 2003. p. 16-45.

WOLF, Rosângela Abreu do Prado. A Pedagogia Hospitalar: a prática do pedagogo em instituição


não-escolar. Revista Conexão. UEPG, v. 3, p. 1-68, 2007.

32
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Unidade 4
O espaço carcerário

4. 1 Introdução
... o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de
cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser
transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprende-
mos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala
com ele, mesmo que, em certas condições, precise falar a ele (FREIRE, 1996).

Figura 26: A prisão


Fonte: http://ghlb.files.
wordpress.com/2010/03/
prisao-2.jpg
◄ Acesso em: 10 jul. 2011.
O tratamento dos processos educativo-prisionais remete-se à questão do direito em nossa
sociedade, especialmente no que diz respeito às práticas do direito penal, sua função social e a
racionalidade que lhe dá sustentação.
A educação nas prisões é inegavelmente uma ação em defesa dos direitos humanos, exigin-
do uma série de ações, “tanto no âmbito do Estado como da sociedade civil, para que se concre-
tize plenamente e esteja ao alcance de todas as pessoas presas” (SCARFÓ, 2010, p. 24).
Nesse caso, o Estado, em relação a qualquer direito humano, tem o dever de promover
ações para garantir, respeitar e proteger tais direitos. Isso acontece por meio de políticas públicas
que favoreçam a utilização dos direitos.

Nesta unidade, temos como objetivos:

• discutir as práticas educativas que se dão no cotidiano do cárcere;


• compreender os efeitos das práticas educativas no sistema carcerário;
• determinar a função da prisão na sociedade; e
• identificar ações educativas para a ressocialização do preso.

A educação carcerária pode ser considerada como ato educativo não formal praticado no
cotidiano do cárcere, marcado pela intencionalidade em cada habilidade, modos de agir, astúcias
e estratégias, organizadas com finalidades próprias e apropriadas, que influenciam e formam ou-
tros sujeitos. Freire acredita que é:

... nosso dever criar meios de compreensão de realidades políticas históricas


que dêem origem a possibilidades de mudanças. Penso que seja nosso papel
desenvolver métodos de trabalho que permitam aos oprimidos(as), pouco a
pouco, revelarem sua própria realidade (FREIRE, 2001, p. 35).

33
UAB/Unimontes - 7º Período

4.2 Contextualização do espaço


Para iniciar a discussão sobre a educação no cárcere, entendemos ser necessário conhecer a
legislação que orienta as práticas educativas neste espaço.
As práticas educativas desenvolvidas em espaços de privação de liberdade são consideradas
PARA SABER MAIS também espaços de educação não formal, nos quais a presença do pedagogo é indispensável.
Acesse o link que se se- Para Scarfó (2010), a prisão é vista como um ambiente hostil para assegurar os direitos; no
gue para ler na íntegra entanto, o acesso à educação não está livre dessa situação restritiva.
os documentos legais Ressaltamos que o Estado, em relação aos direitos humanos, tem a obrigação de realizar
disponibilizados no site ações para promover, garantir, respeitar e proteger tais direitos. O que acontece por meio de po-
do Ministério da Edu-
líticas públicas que viabilizem gozo dos direitos e, caso não ocorra, deve promover políticas que
cação e Cultura para
jovens e adultos em revertam a realidade.
situação de privação de
liberdade nos estabele-

4.3 Dimensões da educação


cimentos penais.
http://portal.mec.
gov.br/index.
php?option=com_cont
ent&view=article&id=1
2992:diretrizes-para-a-
-educacao
carcerária: pressupostos teóricos
-basica&catid=
323:orgaos
Falar em uma pedagogia carcerária significa relacionar o poder disciplinar e a reeducação
-vinculados
do condenado, fazendo estender aspectos pedagógicos ao penitenciário. Trata-se do acréscimo
do termo educar ao binômio vigiar e punir (RESENDE, 2004, p. 2).
Devemos acreditar que a educação oferecida no campo do sistema penitenciário pode mui-
to contribuir no processo de reinserção social dos presos. Para que está educação traga reais be-
nefícios no sistema penitenciário, precisamos lembrar que vamos trabalhar com adultos, numa
GLOSSÁRIO abordagem que o leve a refletir, se restabelecer das marcas da sociedade.
Isso só ocorrerá se tivermos conhecimento teórico para entender essas peculiaridades, pois
Hostil: Adverso, contra- o adulto é diferente de uma criança:
ditório.
... não age nem raciocina como criança, provavelmente aprende por mecanis-
mos pelo menos em parte diferentes dos das crianças. O educando adulto traz
necessariamente uma experiência de vida e um aprendizado que fazem com
que ele seja igual ao educador (BRITTO, 2003, p. 202).

A escola no sistema penitenciário deve produzir um conhecimento peculiar que estimule o


professor a desenvolver em seu trabalho uma educação restaurativa e compreender que o cam-
po de sua atuação concentra-se “não na determinação de culpa ou punição de seu aluno/preso,
para levá-lo à compreensão das razões pelos quais os seus atos o levaram à prisão” (SERRADO
JÚNIOR, 2008, p. 112), bem como às conseqüências de seus atos na sociedade a qual pertence.
De acordo com publicação em 11/9/2010, pelo R7 Notícias, Minas Gerais tem 4.361 pre-
sos frequentando a sala de aula, o que representa 35% dos condenados pela Justiça que estão
nos presídios e penitenciária, conforme mostra a figura 27.

Figura 27: Escola na


prisão.
Fonte: http://noticias.
r7.com/cidades/noticias/
em-minas-gerais-35-

34 -dos-presos-estu-
dam-20100911.html
◄ Acesso em: 10 jul. 2011.
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Este vídeo retrata o estabelecimento prisional de Leiria, localizado em Portugal, destinado


ao internamento de menores delinqüentes do sexo masculino, com mais de 16 anos de idade, PARA saber mais
que cumprem penas ou medidas de segurança privativas de liberdade. Depois, pesquise sobre as Assista ao vídeo Prisão
possibilidades entre as práticas educativas existentes no Brasil no processo de ressocialização do Escola - Uma Instituição,
preso. clicando no link http://
Dessa forma, o aluno/preso precisa ser capaz de refletir sobre seu ato, entendendo o ocor- www.youtube.com/
watch?v=sq5nQf49TF8.
rido para conscientizar-se de sua infração e demais danos por ela gerados, assumindo a respon-
sabilidade de sua conduta, buscando, assim, novas atitudes em sua vida após o cumprimento da
pena, isso porque

... a reflexão implica a imersão consciente do homem no mundo da sua experi-


ência, um mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos,
correspondências afectivas, interesses sociais e cenários políticos (PERÉZ GO-
MÉZ, 1997, p. 103).

Nessa cadeia de pensamento, a atuação do professor atuante no sistema penitenciário deve


ser permeada pela reflexão, pois não há como ignorar a especificidade da educação que busca a
reinserção de presos na sociedade.
A educação carcerária, portanto, permite aos detentos uma melhor condição de reinserção
social, favorecendo ao egresso do sistema penal atender às exigências postas pela sociedade
contemporânea: a capacitação para o mercado de trabalho e o nível de escolaridade.

4.4 As práticas educativas no


espaço carcerário
Como já vimos em unidades anteriores, a educação nos diversos espaços da sociedade deve
ser mecanismo de participação ativa, cooperativa e crítica do sujeito aprendiz que busca mudan-
ças para que haja uma sociedade mais justa e igualitária. Entendemos que a prática sustentada
na crítica reflexiva permite ao educando exercer o seu papel social e histórico, ciente de que é o
construtor de sua própria história.
Na atualidade, o educador é elemento fundamental para a compreensão do mundo e para
criação de hábitos de vida saudáveis que provoquem ideias de valorização do homem (ser hu-
mano), de respeito à diversidade da vida, de análise das presumíveis transformações e de busca
por uma sociedade que visa a um mundo sustentável e igualitário, pautada em ideais éticos e de
cidadania.
A prática do pedagogo no espaço carcerário precisa ser mais bem discutida, levantando
questões que permitam a sua ampliação. Entre tantas questões, Santos (2010, p. 24) destaca:
PARA SABER MAIS
a. a utilização de metodologias ativas para Visite o site Portal do
Governo do Espírito Santo
facilitar a aprendizagem de jovens e adul- e conheça o Projeto Sala
tos presos por meio de palestras, vídeos, de Leitura implantado
projetos (com segurança preservada), no sistema penitenciário
capixaba.
possibilitando a execução de práticas só- http://www.es.gov.br/site/
cioeducativas no espaço prisional; cidadaos/show_noticia.
b. a necessidade de se ver a educação nos aspx?noticiaId=99672390
presídios como uma prática de liberdade,
de crescimento pessoal, de motivação e
estímulo para concretização da socializa- Figura 28: Projeto Sala
de Leitura
ção ou ressocialização;
Fonte: http://www.es.gov.
c. desenvolver projetos sócioeducativos br/site/files/arquivos/
para possibilitar o ensino profissionali- imagem/florsaladeleitu-
zante para que os egressos sejam capazes ra01.jpg, Acesso em: 10
◄ jul. 2011
de reconstruir a vida na sociedade, sem
retornar ao mundo do crime, conforme
exemplificado na figura 29, em que os

35
UAB/Unimontes - 7º Período

presos estão desenvolvendo atividade de


informática;
d. buscar soluções para as dificuldades de
ajustamento entre agentes penitenciários
e equipe administrativa e pedagógica da
escola ou ações educativas.
Figura 29: Presos em aula
de informática.
Fonte: http://www.cpt.com.
br/responsabilidade-social
Acesso em: 10 jul. 2011. ►

Nesse cenário, Scarfó (2010, p. 35) defende uma educação global, considerando que tal
abordagem

... recolhe pedaços dispersos da vida; dá significado ao passado; dá ferramenta


para se formular um projeto individual ao organizar sessões educacionais so-
bre saúde, direitos e deveres, não-violência, auto-respeito, igualdade de gêne-
ro.

Ela, portanto, não será só formal ou infor- A educação assume papel de destaque
mal, trabalhada por professores e técnicos da na reinserção social, pois oferece ao detento,
área de educação, também se constituirá de além dos benefícios do saber escolar, a possi-
encontros, reuniões, debates, leituras, atitu- bilidade de participar de um processo de mu-
des, entre outros, sendo de responsabilidade dança, contribuindo para a formação de um
de todos os profissionais que atuam no espaço senso-crítico para o entendimento do valor da
prisional. liberdade e melhoria do cotidiano na prisão.

Referências
BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/principal.htm. Acesso em: 26 abr. 2009.

BRITTO, Luiz Percival Leme. Contra o consenso: cultura, educação e participação. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2003. (Coleção idéias sobre linguagem).

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cor-
tez, 2001.

PÉREZ GÓMEZ, Angel Perez. O pensamento prático do professor: a formação do professor como
profissional reflexivo. In: NÓVOA, Antonio. Os Professores e a sua Formação. 3 ed., Portugal:
Lisboa Codex, 1997.

RESENDE, Haroldo de. Currículo carcerário: práticas educativas na prisão. In: 27ª Reunião Anual
da ANPED, 2004. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt12/t125.pdf. Acesso em:
28 ago. 2011.

SANTOS, Jussara Resende Costa. Políticas Públicas de educação nos presídios: práticas sócio-edu-
cativas estimulam alunos no processo de ressocialização em Minas Gerais. Congr. Intern. Pedago-
gia Social, Mar. 2010. Disponível em http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC00000
00092010000100017&script=sci_arttext. Acesso em: 28 ago. 2011.

SCARFÓ, Francisco. O papel (ou responsabilidade) da sociedade civil na garantia dos direitos edu-
cativos das pessoas encarceradas. In: YAMAMOTO, Aline et al. (org.) Educação em Prisões. São
Paulo: Alfasol, 2010.

SERRADO JÚNIOR, Jehu Vieira. A Formação do professor do sistema penitenciário: a necessida-


de de uma educação reflexiva e restaurativa nas prisões. In: VIII Congresso Nacional de Educa-
ção Educere/III Congresso Ibero-Americano sobre violência nas escolas CIAVE, 2008, Curitiba-PR.

36
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Formação de Professores. Curitiba-PR: Champangat, 2008. Disponível em: http://www.pucpr.br/


eventos/educere/educere2008/anais/pdf/318_237.pdf. Acesso em: 28 ago. 2011.

SILVA, Ana Lúcia Gomes da. Educação carcerária: (des)encantos, (des)crenças e os (des)velamen-
tos das histórias de leitura no cárcere, entre ditos, silêncios e subentendidos. Revista HISTEDBR
On-line, 2007. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/29/rdt04_29.
pdf. Acesso em: 28 ago. 2011.

37
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Unidade 5
O espaço do campo
“... então o camponês descobre que, tendo sido capaz de transformar a terra, ele é
capaz também de transformar a cultura, renasce não mais como objeto dela, mas
também como sujeito da história” (PAULO FREIRE).

Figura 30: Paulo


Freire e a práxis nos
movimentos sociais
Fonte: http://4.bp.
blogspot.com/_e7yEY
hAyBJQ/TBLHBiSh8UI/
AAAAAAAAAO8/r
FtkepuC4TM/
s1600/20100207053245
!Painel_Paulo_Freire.
jpg
◄ Acesso em: 2 ago. 2011.

5.1 Introdução
Vamos discutir nesta unidade uma concepção de educação do campo que compreende
uma nova concepção do rural, concebido não mais como lugar de atraso, mas de produção da
vida em diversos aspectos: culturais, sociais, econômicos e políticos.
A problemática da educação do campo aborda um espaço de formação dos sujeitos que de-
safiam o tempo, encontram, muitas vezes, a desvinculação entre a escola e o seu contexto, “de-
corrente da imposição de um modelo educativo que serve mais para a cidade do que propria-
mente às zonas rurais ...” (PETTY; TOBIM; VERA, 1981, p. 32).
Quando estamos tratando de campo, estamos nos referindo a um espaço múltiplo que é,
segundo Caldart (2002):

• Economicamente diverso: relaciona-se à propriedade e acesso à terra, no modo com lidam


com o trabalho, com a tecnologia, com o mercado.
• Multireferencial: tem riqueza de matrizes históricas tradicionais, mas que se modificam e
reestruturam-se com as novas relações, expressadas no modo de vida, nas suas festas, na
religiosidade, nos gestos, na arte.
• Participação dos movimentos sociais: que atuam e propõem mudanças dentro da realida-
de.

A educação do campo deve ser concebida para oferecer aos povos do campo uma educa-
ção adequada ao seu modo de viver, pensar e produzir.

Ao final dessa unidade, esperamos que você seja capaz de:

• conceituar educação do campo;


• conhecer o contexto das lutas dos movimentos sociais;
• discutir currículo e ações pedagógicas e organização escolar no âmbito da identidade do

39
campo; e
• conhecer a pedagogia da alternância.
UAB/Unimontes - 7º Período

5.2 Contextualização do espaço


O conceito de educação do campo que estamos trazendo tem grande amplitude de senti-
do e complexidade, por isso não pode ser entendido somente como ensino e pauta-se na práti-
ca educativa que se tem desenvolvido nos movimentos sociais, nas diferentes organizações que
atuam com educação e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394/96, que expressa em
seu art. 1º.
Dessa forma, fica claro que a educação do campo e no campo acontece em espaços escola-
res e não escolares. Abarca saberes, métodos, tempos e espaços físicos diferentes. De modo que
considere não somente os saberes construídos na sala de aula, mas também aqueles produzidos
na família, na convivência social, na cultura, no lazer e nos movimentos sociais. O espaço especí-
fico da sala de aula é lugar de sistematização, análise e de síntese das aprendizagens, tornando-
-se, assim, um lugar em que as diferenças se encontram, pois são nessas diferenças que se criam
novas formas de relacionar, de estar e ver o mundo.
Conhecer as características específicas da educação do campo é de grande valia, pois os in-
divíduos que lá vivem têm direito a uma educação diferenciada daquela oferecida aos que vivem
na zona urbana. Uma educação que vai além da noção de espaço geográfico e compreende os
direitos sociais, as necessidades culturais, e a formação integral dessas pessoas (CALDART, 2002).
Neste sentido, entendemos que o termo NO CAMPO é porque as pessoas têm direito a ser
educadas no lugar onde vivem e o termo DO CAMPO é porque as pessoas têm direito a uma
educação pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às suas
necessidades humanas e sociais.
A denominação educação do campo “compreende uma nova concepção do rural, não mais
como lugar de atraso, mas de produção da vida em seus mais variados aspectos: culturais, so-
ciais, econômicos e políticos” (FERNANDES; CERIOLI & CALDART, 2004, p. 25). Sua pretensão é a
educação das pessoas que lá vivem e trabalham, de modo que possam se articular, se organizar e
assumir a condição de sujeitos protagonistas de sua própria história. Trata-se, então, de uma edu-
cação dos e não para os sujeitos do campo (ARROYO, 1999).
Compreende também diferentes povos do campo, como os indígenas e quilombolas, que,
na lógica da sociedade capitalista, não são mencionados por diferirem das práticas capitalistas
de produção, conforme está expresso no Parecer CEB/CEB 36/2001:

A educação do campo, tratada como educação rural na legislação brasileira,


tem um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das mi-
nas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros,
caiçaras, ribeirinhos e extrativistas.

Dessa forma, o campo é mais que perímetro não urbano, é


um espaço de possibilidades que dinamizam a trama dos seres
humanos com a própria produção das condições da existência
social e com as realizações da sociedade humana.
A educação do campo possui um elo com a matriz peda-
gógica do trabalho e da cultura. Nasce colada ao trabalho e à
cultura do campo e devem ser considerados elementos básicos
em seu projeto. A interpretação dos processos produtivos e dos
processos culturais formadores das pessoas que vivem no e do
campo é atividade essencial na construção do projeto político
e pedagógico da educação do campo.
Sabemos que o trabalho favorece de maneira significati-
va na formação do ser humano. Assim, a educação do campo
deve resgatar a tradição pedagógica de valorização do trabalho

Figura 31: Cultivo de como princípio educativo, de entendimento do vínculo entre produção e educação, bem como
café de estratégias diferenciadas de discussão sobre as diversas dimensões e metodologias de forma-
Fonte: http://jodama ção do trabalhador, de educação profissional, comparando todo este acúmulo de teorias práticas
201.pbworks.com/w/ com a experiência específica de trabalho e de educação dos camponeses.
page/38157760/1%C
2%B0%20trimestre
Pensar essa questão pedagogicamente, com maior amplitude, é relacionar como estes pro-
Acesso em: 2 ago. 2011. cessos podem e devem ser trabalhados nos diversos ambientes educativos do campo, de tal for-
ma que favoreça a formação os processos de humanização do homem.

40
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Além disso, a relação entre cultura e comunicação são outros elementos importantes do
processo nas escolas do campo na busca do entendimento de diferentes linguagens. Para isso,
devem-se utilizar técnicas de organização que viabilizem e potencializem o resgate da memória PARA saber mais
coletiva das comunidades, dos saberes e das histórias, como princípios do processo de ensino-
-aprendizagem. Aproveite o fórum de
discussão, debata e re-
flita sobre as seguintes
questões:
• O que significa

5.3 Práticas pedagógicas e hoje a formação


dos trabalhadores
jovens e adultos

participação dos movimentos do campo?


• O que é educar
as crianças e os

sociais na educação do campo


adolescentes das
escolas do campo,
considerando a
formação de sua
identidade de
O atendimento à educação para a população do meio rural se deu através de campanhas, trabalhador do
projetos e/ou políticas compensatórias, que não levavam em conta os modos de viver e conviver campo?
dos povos do campo, que, ao longo da história, foram excluídos enquanto sujeitos do processo
educativo (ANTÔNIO; LUCINI, 2007).
Nos anos 1990, no Brasil, com a abertura política do país, esse quadro educacional começa a
dar sinais de mudança, pois os movimentos sociais e sindicais começaram a pressionar de forma
mais articulada pela construção de políticas públicas para a população do campo, de maneira a
garantir a universalização do ensino, bem como a construção de propostas pedagógicas que res-
peitassem a realidade, as formas de produzir, de lidar com a terra, de viver e conviver dos povos
do campo.
Assim, baseando-se nos artigos 208 e 210 da Constituição Federal de 1988, e movida por
uma concepção de mundo rural como espaço específico, diferenciado e integrado no conjunto
da sociedade, a LDB 9394/96 prevê o tratamento da educação rural no âmbito do direito à igual-
dade e do respeito às diferenças (BRASIL/CNE/CEB, 2001).

41
UAB/Unimontes - 7º Período

PARA SABER MAIS

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988


(Artigos 208 e 210)

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencial-
mente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo
a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de pro-
gramas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde.
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregu-
lar, importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-
-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-
-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.

Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a as-
segurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regio-
nais.
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários nor-
mais das escolas públicas de ensino fundamental.
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às
comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios
de aprendizagem.
______________________________________________

O Art. 28 da referida lei institui que, na oferta da educação básica para a população rural,
os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiarida-
des da vida rural e de cada região, sendo considerados especialmente

I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades


e interesses dos alunos da zona rural;
II - organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário esco-
lar as fases do ciclo agrícola e as condições climáticas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural (BRASIL, 1996).

42
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Dessa forma, a legislação prevê o reconhecimento da diversidade sociocultural e o direito


à igualdade e à diferença, permitindo a definição de diretrizes operacionais para a educação
rural. A educação do campo, nesse sentido, deve levar em conta os fins, os conteúdos, a me-
todologia, os processos próprios de aprendizagem dos alunos e as especificidades do campo.
A aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo,
através do Parecer no 36/2001 e Resolução 1/2002 do Conselho Nacional de Educação, foi
uma conquista importante para a educação nas escolas dos povos do campo, pois constitu-
íram-se instrumentos de luta junto às ações de diversos movimentos sociais e sindicais do
campo na busca do fortalecimento da construção de políticas públicas que garantam o aces-
so e permanência a educação de qualidade para os povos do campo, com base no respeito
à diversidade e às diferenças sem, com isso, transformá-las em desigualdades (BRASIL/ MEC/
CEB, 2002).
A ideia é a construção de um projeto de educação que promova o desenvolvimento
da cidadania e democracia, em que as pessoas se vejam como sujeitos de direitos. Para isso,
aspropostas pedagógicas da educação do campo devem contemplar a identificação de um
modo próprio de vida social e de utilização do espaço, delimitando o que é rural e urbano
sem perder de vista o nacional. Assim, o processo de discussão do currículo das escolas do
campo deve ser norteado por alguns princípios da relação inter- e transdisciplinar, conforme
aponta Martins e Lima (2001):
GLOSSÁRIO
• A natureza – entendida como estrato natural da ocorrência da vida e, em particular, como Interdisciplinar: Esta-
meio ambiente onde ocorre o desenvolvimento de diferenciadas manifestações de vida; belece uma integração
• O trabalho, tomado como processo através do qual o homem transforma a natureza, ao entre duas ou mais
mesmo tempo em que reconstrói, continuamente, a si mesmo e a realidade histórico-social disciplinas, promoven-
que integra; do uma intercomunica-
ção e enriquecimento
• O conhecimento, entendido como construção coletiva, histórico social da relação humana, mútuo e, consequente-
como a natureza mediada pelo trabalho; e mente, uma modifica-
• A história da humanidade, vista como processo de transformação social que abrange di- ção de conceitos e de
mensões sócio-culturais, que agrega tanto a relação com a natureza quanto os instrumentos terminologias funda-
de produção da humanidade, que mediam trabalho e conhecimento. mentais.

Transdisciplinar: É
Além disso, o currículo nas escolas do campo deve permitir o desenvolvimento de atitudes um tipo de intera-
e valores para as relações que se estabelecem no cotidiano da comunidade, pautadas na igual- ção entre disciplinas
dade, na disposição para reconhecer o direito de cada pessoa de aprender, de ensinar a ensinar a em que ocorre uma
partilha de saberes e de poder entre mulheres e homens. espécie de integração
de vários sistemas, num
De modo geral, o currículo pensado para ofertar uma educação que, de fato, atenda às reais contexto mais amplo
necessidades do campo deve: e geral, ocasionando
uma interpretação mais
• Proporcionar por meio de atividades, condições de trabalho e geração de renda para que totalizante dos fatos e
os jovens e adultos possam conseguir viver com dignidade no campo e ter acesso aos bens fenômenos da vida.
culturais e sociais historicamente acumulados e produzidos pela humanidade;
• Favorecer a formação de lideranças para que elas estimulem e orientem o desenvolvimento
técnico agro-ecológico em geral e comunitário, especificamente, conservando seus valores
históricos e culturais.
• Desenvolver elementos que potencializem a valorização do campo como espaço de produ-
ção e recriação de vida;
• Formar o educando para participar de forma consciente e com habilidades técnicas, ampa-
rada em novos modelos de desenvolvimento do meio rural;
• Possibilitar a aquisição de conhecimentos teóricos e práticos na agricultura, pecuária, pesca,
no extrativismo e outras culturas, que visam a dar maior sustentabilidade à economia das
comunidades e das regiões, com a utilização de técnicas adequadas para a recuperação e
preservação ambiental.

Como já dissemos, o conceito da educação do campo nasceu das demandas dos movimen-
tos camponeses e sociais na construção de uma política educacional para os assentamentos de
reforma agrária. Estes movimentos têm organizado de forma sistemática e permanente ações de
educação não formal. Observem a figura 32 que retrata a educação de jovens e adultos em um
assentamento no vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

43
UAB/Unimontes - 7º Período

Segundo Molina (2006), para entender a contribuição pedagógica que os movimentos so-
ciais trazem para a educação do campo, precisamos resgatar práticas educativas gestadas em
nosso país, que constituíram o arcabouço da educação popular, pois acreditamos que elas de-
sempenham e desempenharam um papel importante do ponto de vista de três eixos: ético, polí-
tico e pedagógico, gerando um repertório de concepções, práticas e ferramentas que foram sen-
do construídas e reconstruídas pelos movimentos sociais e organizações não governamentais na
implementação das escolas do campo. Para Lucini (2007, p. 118), esses três eixos se entrelaçam e
não podem ser vistos separadamente.
No eixo político, situam-se as discussões que enfatizam
o aspecto da relação dos povos do campo com o direito à
vida, à manutenção de sua cultura e à garantia de produzir a
existência no lugar em que estão, com respeito a sua diferen-
ça, a sua opção política e a sua opção ética.
No eixo ético, refere-se às discussões que envolvem os
aspectos político e os aspectos pedagógicos, se colocam na
explicitação e defesa de sua cultura e especificidade, em re-
lação a uma ética de respeito a esse mundo e às significações
construídas pelos grupos sociais.
O eixo pedagógico é permeado pelo político e pelo éti-
co; nele estão presentes os debates que garantem a continui-
dade dos grupos sociais, a dimensão formadora das ações e
das práticas políticas e culturais dos povos do campo.
No Brasil, Paulo Freire, nos anos 1960, traz para discus-

Figura 32: Educação de são uma pedagogia anunciada das classes populares, que contempla esses grupos sociais, par-
Jovens e Adultos em tindo do vivido para propor uma transformação.
assentamento no Vale A educação popular é um lugar de luta social que busca a superação e a transformação de
do Jequitinhonha um quadro histórico em que a educação do povo (trabalhadores urbanos e do campo) enfrenta,
Fonte: http://www.foru- por estar colocada, muitas vezes, de maneira diferente em certos espaços de formação social, em
meja.org.br/mg/node/9
Acesso em: 2 ago. 2011. contradição com a necessidade social e econômica das práticas capitalistas de produção.
A proposta de Paulo Freire adentra o campo popular, partindo da vivencia para propor uma
transformação. Sustenta a possibilidade de pensar a educação a partir das classes trabalhadoras,
PARA SABER MAIS sob o princípio de uma educação que liberta e entende a vida para além das desigualdades,
Assista aos vídeos da dentro de uma dialogia constante (ANTÔNIO; LUCINI, 2007, p. 181).
última entrevista de A educação popular, como composição teórico-prática da situação educacional do país, se
Paulo Freire sobre insere nos movimentos sociais que pressionam o governo. Além de buscar a compreensão de
educação popular e
conheça um pouco da questões educacionais a partir de um quadro político-democrático, no qual se manifestam as lu-
filosofia desse grande tas pelas transformações sociais a partir da educação, a partir das lutas pela cidadania e melhor
educador que muito qualidade de vida, apostando que é possível transformar a realidade (ANTÔNIO; LUCINI, 2007).
contribuiu e continua A participação dos movimentos sociais
contribuindo para a e sindicais na Educação do Campo, tanto nos
educação no Brasil.
níveis de escolarização formal como em sua
participação no processo de discussão e ela-
Figura 33: Paulo Freire boração de algumas políticas públicas, tem
Fonte: http://omeuguri. impulsionado o afloramento de modos dife-
com/paulo.html
Acesso em: 2 ago. 2011. rentes de conhecer a situação dos povos do
PARTE 1: http://www.you- campo, colocando em questão a necessidade
tube.com/watch?v=Ul90h de rupturas epistemológicas para avançar na
eSRYfE&feature=related
PARTE 2: efetivação do entendimento do espaço rural
http://www.youtube.com/ como um território de múltiplos saberes e de
watch?v=fBXFV4Jx6Y8&fea produção de vida.
ture=related ►
Este debate tem possibilitado o resgate
dos fundamentos e a socialização das práticas existentes que evidenciam elementos e dimen-
sões que estiveram presentes nas práticas da educação popular. Disso resulta o interesse em ten-
tar identificar como a produção pedagógica dos movimentos sociais tem contribuído na discus-
são, ou seja, perceber como os referenciais construídos na educação não formal dialogam com as
práticas pedagógicas das escolas do campo.

44
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

5.4 Pedagogia da alternância PARA REFLETIR


Por que, para se con-
ceber uma educação a
partir do campo e para
O movimento das escolas rurais em regime de alternância nasceu em 1935, a partir da ini- o campo, é necessário
ciativa de três agricultores e de um padre de um pequeno vilarejo da França que prestaram aten- mobilizar e colocar
ção na insatisfação sentida pelos adolescentes, demonstrando atenção para com o meio em que em dúvida ideias e
conceitos há muito es-
viviam, desejando promovê-lo e desenvolvê-lo. Na França a experiência é denominada de Mai- tabelecidos pelo senso
son Familiale Rurale (MFR). Na Espanha e na Itália é denominada Escola Família Agrícola (EFA). comum e desconstruir
No Brasil, ao conjunto de EFA e CFR convencionou-se chamar CEFFA – Centros Familiares de paradigmas, preconcei-
Formação por Alternância. Hoje, o Brasil conta com 239 Centros Familiares, distribuído em 19 es- tos e injustiças?
tados da federação, envolvendo mais de 800 municípios e atendendo, atualmente, cerca de 20
mil jovens, filhos de agricultores familiares. Em três décadas de atuação, os Ceffas já formaram GLOSSÁRIO
mais de 50 mil jovens. Protagonismo: atua-
Segundo BRASIL/MEC/CEB(2002, p. 427), a metodologia de ensino denominada pedagogia ção como personagem
da alternância faz com que os alunos intercalem períodos de internato, com permanências sema- principal.
nais na escola, e os demais dias na sua moradia ou comunidade, “mantendo assim os (as) atores
em contato e ligados ao seu meio, onde possam ser os protagonistas da promoção e do desen- Paradigmática: relati-
vo a ou que pertence a
volvimento local.” uma série de unidades
Segundo Teixeira et al. (2008, p. 229), essa pedagogia prevê a articulação, através da alter- que possuem traço(s)
nância, entre momentos de atividades na propriedade rural, com as famílias e momentos de em comum e que
atividade escolar propriamente dita. Dessa forma, além das disciplinas escolares básicas, a edu- podem se substituir
cação nesse contexto envolve temáticas relativas à vida associativa e comunitária, ao meio am- mutuamente num
determinado ponto da
biente e à formação integral nos meios profissional, social, político e econômico. cadeia da fala.

• No tempo na escola: o ensino e a aprendizagem dos alunos são coordenados por um técni-
co agrícola.
• No tempo na família: as atividades dos filhos são acompanhadas e responsabilizadas pelos
pais.

Figura 34: Alunos e


professores da Escola
Familiar Agrícola Pe.
Ezequiel Ramin se
reúnem para realizar
um trabalho em grupo.
Fonte: http://efaezequiel-
ramin.blogspot.com/
◄ Acesso em: 2 ago. 2011.

45
UAB/Unimontes - 7º Período

Segundo Bernartt; Pezarico (2010), a pedagogia da alternância busca desenvolver um pro-


cesso de ensino-aprendizagem contínuo, em que o educando percorre a trajetória propriedade
- escola - propriedade.

• Primeiro momento: na propriedade, o aluno se volta para a observação, pesquisa e descri-


ção da realidade sócio-profissional do contexto no qual se encontra.
• Segundo momento: o aluno vai à escola, onde socializa, analisa, reflete, sistematiza, concei-
tua e interpreta os conteúdos identificados na etapa anterior.
• Terceiro momento: o aluno volta para a propriedade; dessa vez, com os conteúdos traba-
lhados de forma que possa aplicar, experimentar e transformar a realidade sócio-profissio-
nal, de modo que novos conteúdos surgem, novas questões são colocadas, podendo ser no-
vamente trabalhadas no contexto escolar.

Os fatores que contribuíram para o surgimento da pedagogia da alternância, no Brasil, ti-


veram relação direta com a economia agrícola baseada na produção de subsistência. A falta de
conhecimento de técnicas alternativas para preservação ambiental, o rápido processo de desma-
DICA
tamento, o uso do fogo de modo indevido, preparo do solo inadequado, uso intensivo de agro-
Assista ao documen- tóxicos, baixo uso de práticas conservacionistas nas áreas de cultivos e predominância da mo-
tário que retrata o dia
a dia e os métodos
nocultura fizeram com que as famílias rurais fracassem em situação precária, comprometendo o
pedagógicos da pedago- acesso de crianças, adolescentes e jovens à escola formal (SILVA, 2006). A pedagogia da alternân-
gia da alternância da cia veio, então, possibilitar que a frequência à escola pudesse ser uma realidade também para
Escola Família em São quem vive fora dos centros urbanos.
Gabriel da Palha – parte Para finalizar, apresentamos um poema escrito por uma professora da educação do campo
1 e parte 2, disponíveis
nos links:
da SEMED –Floriano -Piauí que nos permite refletir sobre a luta e esperança dos povos do campo
http://www. por uma educação que os conduza a uma melhor qualidade de vida.
youtube.com/
watch?v=n6v
Klr3vaHchttp:// Classificados da educação
www.youtube.com/
watch?v=u3XIFe5
mcW4&feature=related Precisa-se de mentes corações e corpos livres
Mãos ágeis e guerreiras.

Mentes dispostas a viajar


Em um mundo cheio de desventuras
De crianças e adolescentes
Condenados a duras agruras.

Corações sensibilizados
Com este universo decadente
Desses que não são letrados
E tornam-se a letra indiferente.

Corpos em trânsito crescente


Em busca desse alunado
Para que felizes no presente
Pela letra sejam alcançados.

Mãos que transformem essa dor


De não saber ler e se encantar
São as mãos do educador
Que se doa para ensinar.

Precisa-se de educadores
Comprometidos com o ato de educar
Tratar na escola onde você trabalha
Ou comece em qualquer lugar.

Autora: Josenilda Pereira de Almeida.

46
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Referências
ANTONIO, Clésio Acilino; LUCINI Marizete. Ensinar e aprender na educação do campo: processos
históricos e pedagógicos em relação. In: Cad. Cedes, Campinas, v. 27, n. 72, p. 177-195, maio/ago.
2007.

ARROYO, Miguel e FERNANDES, B.M. A educação básica e o movimento social do campo. Articu-
lação nacional: Por uma educação básica do campo. São Paulo, v.2, 1999.

ARROYO, Miguel; CARDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castagna. Apresentação. In: ARROYO,
Miguel G.; CARDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castagna. Por uma educação do campo.
Petrópolis – RJ: Vozes, 2004. p. 19-63.

BERNARTT, Maria de Lourdes; PEZARICO, Giovana. A trajetória dos estudos sobre referenciais teó-
ricos e metodológicos da educação do campo: a pedagogia da alternância . In: XIII Jornadas Tran-
sandinas de Aprendizagem, 2010, Frederico Westphalen. XIII Jornadas Transandinas de Apren-
dizagem: Ensinar e aprender num mundo complexo e intercultural. Frederico Westphalen: URI,
2010. v. 1.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/principal.htm. Acesso em: 26 abr. 2009.

_________. Lei nº 9.394 de 21/12/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.


Diário Oficial da União. Brasília, DF, 23 de dez. de 1996. v. 134, n. 248.

______. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Diretrizes Operacionais


para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Parecer nº 4 de dezembro de 2001.

______. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Diretrizes Operacionais


para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Resolução nº 1 de 3 de abril de 2002.

CALDART, Roseli. Por uma Educação do Campo: Traços de uma identidade em construção. In: KO-
LING, Edgar Jorge, CERIOLI, Paulo, CALDART, Roseli Salete. Educação do Campo: identidade e
políticas públicas. Brasília-DF, 2002.

FERNANDES, Bernardo Mançano; CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART, Roseli Salete. Primeira Confe-
rência Nacional “Por Uma Educação Básica do Campo”: texto preparatório. In: ARROYO, M. Gon-
zalez, CALDART, R. S. MOLINA, M. C. Por uma educação do campo. Petrópolis (RJ): Vozes, 2004. p.
19 – 63.

FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, A. Que fazer: teoria e prática em educação popular. Petrópolis: Vozes,
2002.

HEREDIA, Beatriz; MEDEIROS, Leonilde Servolo de; PALMEIRA, Moacir; CINTRÃO, Rosângela Pezza;
LEITE, Sérgio Pereira. Os assentamentos rurais e as perspectivas de reforma agrária no Brasil. Re-
vista Proposta (Rio de Janeiro), v. 29, p. 39-47, 2006.

LUCINI, Marizete. Apresentação. Cad. Cedes [online]. 2007, vol. 27, n. 72, pp. 117-120. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v27n72/a01v2772.pdf. Acesso em: 26 ago. 2011.

Martins, L. dos S. Casa Familiar Rural - CFR - Formação a serviço da vida com dignidade no cam-
po. Texto cedido pela organização (s/d).

MARTINS, Josemar; ; LIMA, R. A. Educação com pé no chão do sertão: proposta político-pedagó-


gica para as escolas municipais de Curaçá. Curaçá – BA, 2001.

MOLINA, Mônica Castagna (org.). Educação do Campo e Pesquisa: questões para reflexão. Brasil/
Ministério do Desenvolvimento Agrário: Brasília, 2006.

PETTY, M.; TOBIM, A.; VERA, R. Uma alternativa de educação rural. In. WERTHEIN, J.; BORDENAVE,
J. D. Educação rural no terceiro mundo: experiências e novas alternativas: 2. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1981.

47
UAB/Unimontes - 7º Período

SILVA, Maria do Socorro. Da raiz à flor: produção pedagógica dos movimentos sociais e a escola
do campo. In: MOLINA, Mônica Castagna (org.). Educação do Campo e Pesquisa: questões para
reflexão. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006, p. 60-93.

SILVA, Márcia Cristina Lopes e. Gênero e a Pedagogia da Alternância na Casa Familiar Rural de
Cametá - Pará. II Seminário Nacional Movimentos Sociais, participação e Democracia, v. IV, p.
427/2007-443, 2007.

TEIXEIRA, Edival Sebastião; BERNARTT, Maria de Lourdes; TRINDADE, Glademir Alves. Estudos so-
bre Pedagogia da Alternância no Brasil: revisão de literatura e perspectivas para a pesquisa. Educ.
Pesquisa. [online]. 2008, vol. 34, n. 2, p. 227-242. ISSN 1517-9702.

48
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Resumo
Unidade 1

• A gestão da educação pode ser definida como tomada de decisões, utilização racional de
recursos para a realização de determinados fins.
• A educação não formal pode ser definida como práticas educativas que ocorrem fora de
tempos e espaços determinados, consistindo em um processo de formação para a vida.
• A Educação não formal ocorre em ambientes e situações interativos construídos coletiva-
mente, segundo diretrizes de dados grupos. Mas poderá ocorrer também por forças de cer-
tas circunstancias da vivência histórica de cada um.
• Na educação não formal existe intencionalidade na ação, no ato de participar, de aprender e
de transmitir ou trocar informação.
• A educação não formal é reconhecida como um dos campos básicos da Pedagogia Social,
uma vez que ela trabalha com coletivos e se preocupa com os processos de construção de
aprendizagens e saberes coletivos.
• São características da educação não formal: aprendizado quanto a diferenças - aprende-se
a conviver com demais; adaptação do grupo a diferentes culturas e do indivíduo ao outro;
construção da identidade coletiva de um grupo; balizamento de regras éticas relativas às
condutas aceitáveis socialmente.
• As metodologias utilizadas na educação não formal no processo de aprendizagem nascem
da cultura dos indivíduos e dos grupos. Não são fornecidas a priori, são construídas no pro-
cesso.
• A educação formal se desenvolve nas escolas, com conteúdos previamente definidos.
• Os espaços na educação formal referem-se aos espaços das escolas, são instituições regula-
mentadas por lei, certificadoras, organizadas de acordo com as diretrizes nacionais.
• A educação informal trata-se daquela em que os indivíduos aprendem durante seu processo
de socialização: na família, bairro, clube, amigos, entre outros, impregnada de valores e cul-
turas próprias, de pertencimento e sentimentos herdados.
• A educação informal tem seus espaços educativos delimitados por referências de nacionali-
dade, localidade, idade, sexo, religião, etnia.
• Na educação informal não há organização nem sistematização dos conhecimentos, sendo
transmitidos a partir das práticas e experiências anteriores.
• As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia explicita que o pedagogo deverá ser
capaz de atuar em espaços escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem de su-
jeitos em diversas fases do desenvolvimento humano, em variados níveis e modalidades do
processo educativo.

Unidade 2

• Na sociedade atual a maior riqueza torna-se o produto do conhecimento. O conhecimento e


informação, tudo se transforma em matérias- primas básicas, e os produtos mais importan-
tes da economia, inclusive a notícia, a opinião, a diversão, a comunicação e o serviço.
• O campo empresarial demanda, cada vez mais, por profissionais especializados e capacita-
dos em liderança de equipes, em trabalhar com pessoas.
• É importante pensar a capacitação de funcionários como uma estratégia e instrumento ca-
paz de interferir na construção de habilidades e conhecimentos que estão em constante
transformação no mundo contemporâneo.
• O pedagogo empresarial surge como uma nova ferramenta para desenvolvimento nas orga-
nizações que caminham para serem empresas “aprendentes”.

49
UAB/Unimontes - 7º Período

• O pedagogo é inserido na empresa para auxiliar no desenvolvimento das competências e


habilidades de cada indivíduo, tornando cada profissional capaz de lidar com várias deman-
das, com incertezas, com diferentes culturas ao mesmo tempo, em direção a um resultado
positivo frente a um mercado competitivo.
• O pedagogo empresarial precisa ter visão pedagógica, filosófica, psicológica em relação às
pessoas que trabalham nestes espaços, além de domínio de conhecimentos, técnicas e prá-
ticas que, adicionada à experiência dos profissionais de outras áreas, formam instrumentos
fundamentais para atuação na gestão de pessoas.
• Os trabalhadores para manterem-se competitivos vêm aumentando, de forma considerável,
seus patamares de educação e aspirações, e, simultaneamente, o trabalho passa a ter um
papel central em suas vidas.
• As diversas atividades pedagógicas estão relacionadas ao ensinar-aprender e devem envol-
ver os funcionários da empresa.
• O saber do pedagogo na área de planejamento permite auxiliar a empresa na elaboração
de sua missão, definindo suas metas e aspirações, seus valores, sua cultura e estratégias a
serem utilizadas, de forma participativa, envolvendo funcionários e colaboradores.
• Outras atividades podem ser desenvolvidas pelo pedagogo na empresa: ajudar na coloca-
ção dos filhos dos funcionários na escola; procurar parcerias locais para oferecer serviços
variados de interesse dos funcionários: creches, atendimento pediátrico, atendimento psi-
cológico, atendimento ao idoso, assessoria jurídica, assessoria de planejamento financeiro,
academias de ginástica dentre outros; agendar cursos e palestras sobre temas essenciais à
vida saudável: atividade física e qualidade de vida, efeitos do fumo sobre o organismo; pre-
venção da dependência química, do alcoolismo, hábitos posturais saudáveis, a boa qualida-
de do ar e outros; entre outras.
• A prática pedagógica empresarial não deve fundamentar-se no treino técnico, ao contrário,
precisa propiciar as condições necessárias para que o trabalhador se sinta e conceba um ci-
dadão na busca de uma sociedade mais humana, por meio do trabalho, estimulando a coo-
peração, a criatividade e, principalmente, o conhecimento de si mesmo, capaz de se relacio-
nar com outros seres humanos.

Unidade 3

• O pedagogo hospitalar, acompanha e interfere no processo de aprendizagem do educando,


dando ao enfermo subsídios para a compreensão do processo de evolução da doença e da
morte, explicando procedimentos médicos e auxiliando a criança e o adolescente na adap-
tação hospitalar.
• A pedagogia hospitalar também busca oferecer assessoria e atendimento emocional e hu-
manístico tanto para o paciente como para as famílias ou acompanhantes que, muitas ve-
zes, apresentam problemas de ordem psicológica e afetiva que podem prejudicar o proces-
so de adaptação do enfermo no ambiente hospitalar.
• O atendimento pedagógico em ambiente hospitalar é garantido por lei, como continuidade
de escolarização das crianças e adolescentes que estiverem hospitalizadas.
• O pedagogo hospitalar será o responsável por organizar ações educativas dentro do hospi-
tal, levando em consideração tanto as necessidades do aluno como estudante e paciente,
cuidando para que uma atividade não atrapalhe o andamento da outra.
• A classe hospitalar deve ser vista como uma extensão da escola no ambiente hospitalar. Este
espaço objetiva compreender as dificuldades dos alunos/pacientes, oferecendo-lhes um
processo educativo, por meio de atividades diversas de escrita, leitura, matemática e jogos
para assegurar o desenvolvimento intelectual e acompanhamento escolar.
• A prática do pedagogo hospitalar se dará através das variadas atividades lúdicas e recreati-
vas como a arte de contar histórias, brincadeiras, jogos, dramatização, desenhos e pinturas.
Essas estratégias ajudam na adaptação, motivação e recuperação do paciente, que, por ou-
tro lado, também estará ocupando o tempo de ociosidade.
• O atendimento prestado em uma classe hospitalar contribui para o paciente enfrentar o es-
tresse da hospitalização, devido ao significado e ao valor simbólico da escola na composição
das experiências das crianças e adolescentes que, então resgatadas, apesar da condição de
hospitalização, reequilibram o desenvolvimento psíquico daquelas crianças e adolescentes.
• As instituições de ensino superior que oferecem o curso de pedagogia devem oferecer co-

50
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

nhecimentos teóricos e práticos necessários para uma atuação eficiente do pedagogo no


ambiente hospitalar.

Unidade 4

• A educação nas prisões é inegavelmente uma ação em defesa dos direitos humanos. O Es-
tado, em relação a qualquer direito humano, tem o dever de promover ações para garantir,
respeitar e proteger tais direitos.
• A educação assume papel de destaque na reinserção social, pois oferece ao detento, além
dos benefícios do saber escolar, a possibilidade de participar de um processo de mudança,
contribuindo para a formação de um senso-crítico para o entendimento do valor da liberda-
de e melhoria do cotidiano na prisão.
• A educação carcerária pode ser considerada como ato educativo não-formal praticado no
cotidiano do cárcere, marcado pela intencionalidade em cada habilidade, modos de agir, as-
túcias e estratégias organizadas, com finalidades próprias e apropriadas, que influenciam e
formam outros sujeitos.
• A escola no sistema penitenciário deve produzir um conhecimento peculiar que estimule
o professor a desenvolver em seu trabalho uma educação restaurativa e compreender que
o campo de sua atuação não se concentra na determinação de culpa ou punição de seu
aluno/preso, mas na capacidade de refletir sobre seu ato, entendendo o ocorrido para cons-
cientizar-se de sua infração e demais danos por ela gerados, assumindo a responsabilidade
de sua conduta, buscando, assim, novas atitudes em sua vida após o cumprimento da pena.
• A atuação do professor atuante no sistema penitenciário deve ser permeada pela reflexão,
pois não há como ignorar a especificidade da educação que busca a reinserção de presos na
sociedade.
• A prática do pedagogo no espaço carcerário precisa alicerçar-se na utilização de metodo-
logias ativas para facilitar a aprendizagem de jovens e adultos presos; entender a educação
nos presídios como uma prática de liberdade, de crescimento pessoal, de motivação e estí-
mulo para concretização da socialização ou ressocialização; desenvolver projetos sócio-edu-
cativos para possibilitar o ensino profissionalizante para que os egressos sejam capazes de
reconstruir a vida na sociedade; buscar soluções para as dificuldades de ajustamento entre
agentes penitenciários e equipe administrativa e pedagógica da escola ou ações educativas.

Unidade 5

• A educação do campo compreende uma nova concepção do rural, que não seja mais conce-
bida como lugar de atraso, mas de produção da vida em diversos aspectos: culturais, sociais,
econômicos e políticos.
• A educação do campo deve ser concebida para oferecer aos povos do campo uma educa-
ção adequada ao seu modo de viver, pensar e produzir.
• A educação do campo incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricul-
tura, mas ultrapassa-os ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extra-
tivistas. As propostas pedagógicas da educação do campo devem contemplar a diversidade
do campo em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero,
geração e etnia.
• O conceito da educação do campo nasceu das demandas dos movimentos camponeses e
sociais na construção de uma política educacional para os assentamentos de reforma agrá-
ria.
• Os movimentos sociais pelos movimentos sociais e organizações não governamentais de-
sempenharam um papel importante do ponto de vista ético, político e pedagógico, geran-
do um repertório de concepções, práticas e ferramentas que foram sendo construídas e re-
construídas na implementação das escolas do campo.
• A pedagogia da alternância está relacionada aos diferentes tempos alternados vivenciados
pelos alunos da escola, como, por exemplo, uma semana interno na escola e as outras rea-
lizando experimentos na sua moradia e comunidade, participação em eventos, realizando
atividades escolares e outros.

51
UAB/Unimontes - 7º Período

52
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Referências
BÁSICAS

GRACIANI, Maria Stela Santos. Pedagogia Social de Rua. São Paulo: Cortez, 1998.

GOHN, Maria Stela Santos. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o associati-
vismo do 3º Setor. São Paulo: Cortez, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Pais e Terra, 2002.

COMPLEMENTARES

ANTONIO, Clésio Acilino; LUCINI Marizete. Ensinar e aprender na educação do campo: processos
históricos e pedagógicos em relação. In: Cad. Cedes, Campinas, v. 27, n. 72, p. 177-195, maio/ago.
2007.

ARROYO, Miguel; FERNANDES, Bernardo Mançano. A educação básica e o movimento social do


campo. Articulação Nacional: Por uma educação básica do campo. São Paulo, v.2, 1999.

ARROYO, Miguel; CARDART Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castagna. Apresentação. In: ARROYO,
M. G.; CARDART, R. S.; MOLINA, M. C. Por uma educação do campo. Petrópolis – RJ: Vozes, 2004.
p.19-63.

BERNARTT, Maria de Lourdes; PEZARICO, Giovana. A trajetória dos estudos sobre referenciais teó-
ricos e metodológicos da educação do campo: a pedagogia da alternância. In: XIII Jornadas Tran-
sandinas de Aprendizagem, 2010, Frederico Westphalen. XIII Jornadas Transandinas de Apren-
dizagem: Ensinar e aprender num mundo complexo e intercultural. Frederico Westphalen: URI,
2010. v. 1.

BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: www.


planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/principal.htm. Acesso em: 26 abr. 2009.

______. Ministério da Educação, Cultura e Desporto. Política Nacional de Educação Especial. Se-
cretaria Nacional de Educação Especial. Brasília, MEC/SEESP, 1994,66p

______. Ministério da Justiça (BR). Resolução nº 41 de 13 de outubro de 1995. Dispõe sobre os


direitos da criança e do adolescente hospitalizados. Diário Oficial da União. Brasília (DF), Seção I,
p. 16319-16320, 17/10/95.

______. Lei nº 9.394 de 21/12/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário
Oficial da União. Brasília, DF, 23 de dez. de 1996. v. 134, nº 248, p. 27883 – 27841.

______. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Diretrizes Operacionais


para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Resolução nº 1 de 3 de abril de 2002. Disponível
em: <http://www.emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/637/566>. Acesso
em: 18 jul. 2011.

BARROS, Alessandra Santana Soares e. Contribuições da educação profissional em saúde à for-


mação para o trabalho em classes hospitalares. Cad. CEDES [online]. 2007, vol.27, n. 73, pp. 257-
278. ISSN 0101-3262.

BRITTO, Luiz Percival Leme. Contra o consenso: cultura, educação e participação. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2003. (Coleção idéias sobre linguagem).

53
UAB/Unimontes - 7º Período

CAGLIARI, Débora. O Pedagogo Empresarial e a Atuação na Empresa. Só Pedagogia, 2009. Dispo-


nível em http://www.pedagogia.com.br/artigos/pedagogo/index.php?pagina=1. Acesso em: 28
ago. 2011.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Gestão democrática da educação: exigências e desafios. Revista Bra-
sileira de Política e Administração da Educação, São Bernardo do Campo, v. 18, n. 2, p. 163 -174,
jul./dez. 2002.

FERNANDES, Bernardo Mançano; CERIOLI, Paulo Ricardo e CALDART, Roseli Salete. Primeira Con-
ferência Nacional “Por Uma Educação Básica do Campo”: texto preparatório. In: ARROYO, M. Gon-
zalez, CALDART, R. S. MOLINA, M. C. Por uma educação do campo. Petrópolis (RJ): Vozes, 2004.
p. 19 – 63.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Repensando e ressignificando a gestão democrática da educa-


ção na “cultura globalizada”. Educ. Soc. [online]. 2004, v. 25, n. 89, pp. 1227-1249. ISSN 0101-7330.
Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/v25n89/22619.pdf

FONSECA, Eneida Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo: Memnon,
2003.

FREIRE, P.; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: teoria e prática em educação popular. Petrópolis: Vo-
zes, 2002.

______. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez,
2001.

GARCIA, Walter Esteves. Notas sobre a crise da Gestão Educacional. Out/Dez, 1987. Disponível
em: http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/view/637/566. Acesso em: 28 nov.
2011.

GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal na pedagogia social. Anais... I. Congr. Intern. Peda-
gogia Social Mar. 2006.

GONÇALVES, Roseli. A pedagogia empresarial e as práticas pedagógicas dentro da empresa. We-


bartigos, 2009. Disponível em http://www.webartigos.com/. Acesso em: 28 nov. 2011.

GRACIANI, Maria Stela Santos. Pedagogia Social de Rua. São Paulo: Cortez, 1998.

HEREDIA, Beatriz; MEDEIROS, Leonilde Servolo de; PALMEIRA, Moacir; CINTRÃO, Rosângela Pezza;
LEITE, Sérgio Pereira. Os assentamentos rurais e as perspectivas de reforma agrária no Brasil. Re-
vista Proposta (Rio de Janeiro), v. 29, p. 39-47, 2006.

LUCINI, Marizete. Apresentação. Cad. CEDES [online]. 2007, v. 27, n. 72, pp. 117-120. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v27n72/a01v2772.pdf. Acesso em: 28 nov. 2011.

MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGGIATI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia Hospi-
talar. Curitiba: Champagnat, 2001.

MEIRELLES JUNIOR, Júlio Cândido de. Planejamento Empresarial. Jornal Eletrônico da Faculdade
de Economia das Faculdades Integradas Vianna Júnior, v. 7, p. 1-8, 2008.

MOLINA, Mônica Castagna (org.). Educação do Campo e Pesquisa: questões para reflexão. Bra-
sil/Ministério do Desenvolvimento Agrário: Brasília, 2006.

ORZECHOWSKI, S. T. O espaço não-escolar: profissionalização e a formação do pedagogo. In: III


Simpósio Internacional e VI Fórum Nacional de Educação - ULBRA, 2009, Torres/RS. III Simpósio
Internacional e VI Fórum Nacional de Educação- Políticas Públicas, Gestão da Educação, Forma-
ção e Atuação do educador. Torres/RS: ULBRA - Universidade Luterana do Brasil, 2009. v. 1.

PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: introdução crítica. 14. ed. São Paulo: Xamã, 2000.

PÉREZ GÓMEZ, Angel Perez. O pensamento prático do professor: A Formação do professor como
profissional Reflexivo. In: NÓVOA, Antonio. Os Professores e a sua Formação. 3 ed., Portugal: Lis-
boa Codex, 1997.

54
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.

PETTY, M.; TOBIM, A.; VERA, R. Uma alternativa de educação rural. In. WERTHEIN, J.; BORDENAVE,
J. D. Educação rural no terceiro mundo: experiências e novas alternativas: 2. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1981.

PIMENTA, Selma Garrido. (org.). Pedagogia e Pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo:
Cortez, 2001

REINER-ROSENBERG, S. O papel das associações para crianças hospitalizadas na França e na Euro-


pa. In: GILLE-LEITGEL, M. (org.) Boi da cara preta: crianças no hospital. Salvador: EDUFBA; Álga-
ma, 2003. p. 16-45.

RESENDE, Haroldo de. Currículo carcerário: práticas educativas na prisão. In: 27ª Reunião Anual da
ANPED, 2004. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt12/t125.pdf. Acesso em: 28
nov. 2011.

RIBEIRO, A. E. do A. Pedagogia empresarial: atuação do pedagogo na empresa. Rio de Janeiro:


Wak, 2003.

SANTOS, Jussara Resende Costa. Políticas Públicas de educação nos presídios: práticas sócio-edu-
cativas estimulam alunos no processo de ressocialização em Minas Gerais. Congr. Intern. Pedago-
gia Social, Mar. 2010. Disponível em http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC00000
00092010000100017&script=sci_arttext. Acesso em: 28 nov. 2011.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Autores associados:


Campinas, 2002.

SCARFÓ, Francisco. O papel (ou responsabilidade) da sociedade civil na garantia dos direitos edu-
cativos das pessoas encarceradas. In: YAMAMOTO, Aline et al. (org.) Educação em Prisões. São
Paulo: Alfasol, 2010.

SERRADO JÚNIOR, Jehu Vieira. A Formação do professor do sistema penitenciário: A necessidade


de uma educação reflexiva e restaurativa nas prisões. In: VIII Congresso Nacional de Educação
Educere/III Congresso Ibero-Americano sobre violência nas escolas CIAVE, 2008, Curitiba-PR. For-
mação de Professores. Curitiba-PR: Champangat, 2008.

SILVA, Ana Lúcia Gomes da. Educação carcerária: (des)encantos, (des)crenças e os (des)velamen-
tos das histórias de leitura no cárcere, entre ditos, silêncios e subentendidos. Revista HISTEDBR
on-line, 2007. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/29/rdt04_29.
pdf. Acesso em: 28 nov. 2011.

SILVA, Marcia Cristina Lopes. Gênero e a Pedagogia da Alternância na Casa Familiar Rural de
cametá - Pará. II Seminário Nacional Movimentos Sociais, participação e Democracia, v. IV, p.
427/2007-443, 2007.

SILVA, Maria do Socorro. Da raiz à flor: produção pedagógica dos movimentos sociais e a escola
do campo. In: MOLINA, Mônica Castagna (org.). Educação do Campo e Pesquisa: questões para
reflexão. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006, p. 60-93.

TEIXEIRA, Edival Sebastião; BERNARTT, Maria de Lourdes; TRINDADE, Glademir Alves. Estudos so-
bre Pedagogia da Alternância no Brasil: revisão de literatura e perspectivas para a pesquisa. Edu-
cação e Pesquisa. [online]. 2008, vol. 34, n. 2, p. 227-242. ISSN 1517-9702.

WOLF, Rosângela Abreu do Prado. A Pedagogia Hospitalar: a prática do pedagogo em instituição


não-escolar. Revista Conexão. UEPG, v. 3, p. 1-68, 2007.

55
UAB/Unimontes - 7º Período

56
Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos nos Espaços não Escolares

Atividades de
Aprendizagem - AA
ATIVIDADES AVALIATIVAS – AA

1) Com base nos estudos realizados, defina o termo gestão da educação.

2) A educação não formal consiste em um processo de formação para a vida. Em relação a


essa temática, é INCORRETO dizer que:

a) ( ) A educação não formal pode ser definida como práticas educativas que acontecem
de forma sistematizada e em espaços determinados.
b) ( ) A educação não formal trabalha com coletivos e preocupa-se com os processos de
construção de aprendizagens e saberes coletivos.
c) ( ) Na educação não formal há intencionalidade na ação, no ato de participar, de apren-
der e de transmitir ou trocar informação.
d) ( ) A educação não formal torna as pessoas capazes de serem cidadãs do mundo e no
mundo.

3) O pedagogo empresarial deve ter para atuação na gestão de pessoas, EXCETO:

a) ( ) Domínio de conhecimentos
b) ( ) Domínio de técnicas
c) ( ) Domínio de práticas
d) ( ) Domínio de experiências profissionais de outras áreas.

4) As empresas, na chamada sociedade do conhecimento, precisam, EXCETO:

a) ( ) ter uma estrutura organizacional bem delineada.


b) ( ) garantir a sua sobrevivência no mercado.
c) ( ) contar com profissionais com baixa qualificação.
d) ( ) capacitar permanentemente seus recursos humanos.

5) A Classe Hospitalar deverá proporcionar aos alunos/pacientes um processo educativo


que considere, EXCETO:

a) ( ) as características organizacionais da escola de origem do aluno/paciente.


b) ( ) as dificuldades dos alunos/pacientes.
c) ( ) as especificidades do ambiente hospitalar.
d) ( ) a diversidade cultural dos alunos/pacientes.

57
UAB/Unimontes - 7º Período

6) A pedagogia hospitalar preocupa-se em:

I. oferecer uma assistência diferenciada as crianças e adolescentes hospitalizadas.


II. prestar atendimento emocional e humanístico aos familiares destas crianças e adolescen-
tes.
III. dar continuidade à escolaridade formal.
IV. promover melhor adaptação de pacientes em hospitais.

Após análise, marque a alternativa CORRETA:

a) ( ) I, II, III e IV
b) ( ) II, III, e IV
c) ( ) Apenas I
d) ( ) Apenas III

7) Em relação à educação no cárcere, é INCORRETO afirmar:

a) ( ) A educação carcerária deve ser considerada com ato educativo não formal praticado
no ambiente prisional.
b) ( ) A educação oferecida no campo do sistema penitenciário muito contribui no proces-
so de reinserção social dos presos.
c) ( ) A educação no espaço prisional é de inteira responsabilidade do pedagogo.
d) ( ) A educação nas prisões é uma ação em defesa dos direitos humanos.

8) A educação global pode ser a melhor abordagem para o processo educativo-prisional,


pois ela:

I. recolhe pedaços dispersos da vida.


II. dá sentido as ações do passado.
III. permite estabelecer projeto individual sobre temas diversos.
IV. favorece a organização de atividades educativas sobre saúde, direitos e deveres, auto-res-
peito, etc.

Após análise, a alternativa CORRETA é:

a) ( ) I, II, III e IV
b) ( ) II e IV
c) ( ) Apenas I
d) ( ) Apenas III

9) Diferencie os termos educação do campo e educação no campo.

10) Em que consiste a pedagogia da alternância?

58

Você também pode gostar