Vivências Da Infidelidade Conjugal Feminina
Vivências Da Infidelidade Conjugal Feminina
Vivências Da Infidelidade Conjugal Feminina
Vivê
Resumo
A infidelidade provoca as mais variadas emoções e reações entre par-
ceiros que a vivenciam. O presente estudo busca compreender significados
da infidelidade para mulheres que já foram infiéis na relação conjugal. Este
estudo utilizou o método qualitativo de pesquisa, e o instrumento de coleta
de dados foi entrevista semi-estruturada. Participaram desta pesquisa cinco
mulheres com faixa etária variando entre 30 e 38 anos. A análise dos resul-
tados propiciou a estas categorias: 1) A frustração e a insatisfação na rela-
ção conjugal; 2) O envolvimento emocional como justificativa para a infideli-
dade; 3) A dupla moral sexual; 4) A culpa e o arrependimento pela infidelida-
de; 5) O prazer na relação extraconjugal; 6) A infidelidade culminando na
separação conjugal. Os resultados evidenciaram que a insatisfação dessas
mulheres com seus relacionamentos e o fato delas encontrarem em outros
homens atributos que não eram percebidos em seus parceiros, as levam a
um novo envolvimento afetivo-sexual. Também foi relatado o sentimento de
culpa em função da discriminação e do julgamento que a sociedade faz com
as mulheres infiéis. Os conhecimentos dos significados da infidelidade apon-
tados nesta pesquisa podem ser úteis ao campo da Psicologia para auxiliar
na vivência destas mulheres, contribuindo para a maior compreensão das
relações.
Palavras-chave: Infidelidade; casamento; relações homem-mulher;
amor.
1
Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Vitória
da Conquista, BA.
2
Psicóloga, mestre em Psicologia, professora e coordenadora do curso de Psicologia da
Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Vitória da Conquista, BA.
3
Psicólogo (CRP 06/75185). Mestre pelo Departamento de Psicologia Experimental do Instituto
de Psicologia da Universidade de São Paulo e doutorando do Departamento de Psicologia
Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Site:
www.thiagodealmeida.com.br - (Instituto de Psicologia da USP - Departamento de Psicologia
Clínica)
Abstract
moral da fidelidade é dupla, de tal maneira que, quando você está sendo fiel
à pessoa com a qual você se relaciona sem que seu desejo esteja direcionado
a ela, você estaria sendo infiel a si mesmo, ou então, você pode optar por ser
infiel, mas sofrerá as consequências pelo ato. Sendo assim, tudo levaria o
ser humano ao experimento, dado ao conjunto de desejos e variedades de
se viver e de se relacionar consigo e com o outro. Em contrapartida, para a
sociedade, a infidelidade no sexo masculino é culturalmente mais aceita e
quase “estimulada”, encontrando justificativa por meio do instinto masculino,
no desejo (Vavassori, 2006).
você se relaciona sem que seu desejo esteja direcionado a ela, você estaria
sendo infiel a si mesmo, ou então você pode optar por ser infiel, mas aguente
as consequências. Sendo assim, tudo levaria o ser humano ao experimento,
dado ao conjunto de desejos e variedades de se viver e relacionar-se consigo
e com o outro.
Diante da história, a mulher, que sempre foi subjugada na sociedade
antiga e até mesmo na contemporânea, vem lutando em busca de sua
autorrealização e espaço em todos os âmbitos da sociedade. Considerando
a repressão sexual desde a Idade Média, em virtude dos dogmas religiosos
impostos pelo clero, onde o sexo era considerado um pecado para as mulhe-
res quando ligado ao prazer, pois a finalidade do sexo era apenas a reprodu-
ção, quanto que para seus maridos estava ligado diretamente à necessidade
fisiológica e ao prazer.
A década de 1960 vem romper com este comportamento de submissão
a partir da revolução sexual, o direito igualitário ao voto, a inserção da mulher
no mercado de trabalho e a descoberta da pílula anticoncepcional, os quais
induziram a mulher ao sexo livre, no entanto, não a livraram dos estigmas e
discriminações em consequência do seu comportamento (Braga, 2005, In
Nascimento, 2008).
É a mulher quem contribui de forma eficaz para a aceitação e aprova-
ção da lei do divórcio, propagando em todos os lares a finitude do casamen-
to, pois viver numa relação por obrigação, cheia de tristeza, insatisfação,
violência e marcada pelo insucesso, a depreciava muito mais do que viver
como divorciada (Mold, 2006). O modo como a mulher vive nas sociedades
ocidentais sofreu significativas mudanças, como uma maior participação no
mercado de trabalho, a conquista de uma maior representatividade política, a
exigência de uma maior participação dos homens nas relações familiares, é
o que evidencia novos modelos femininos (Weid, 2004).
Os estudos de Glass e Wright (1985) evidenciam que as mulheres
mais insatisfeitas com seus parceiros são mais inclinadas a serem mais
infiéis, e são mais tendenciosas que os homens a se envolverem em aventu-
ras emocionais relacionadas à infidelidade conjugal, o que culminou nas
indagações pertinentes a este estudo: as mulheres têm se sentindo mais
livres para vivenciarem sua sexualidade, ainda que seus desejos sejam con-
denados socialmente? Qual o significado que mulheres infiéis atribuem à
infidelidade? Neste sentido, o objetivo do presente estudo é compreender os
significados da infidelidade para mulheres que já foram infiéis na relação
conjugal.
Este estudo torna-se relevante devido a escassez de estudos a respei-
to desse tema de grande importância em nossa sociedade. A infidelidade
é todo
Mé
- Entrevistas
Os relatos das mulheres que foram infiéis na sua relação conjugal pro-
piciaram a construção de seis categorias de análise: 1) A frustração e a
insatisfação na relação conjugal; 2) O envolvimento emocional como justifi-
cativa para a infidelidade; 3) A dupla moral sexual e as diferenças de gêne-
ros; 4) A culpa e o arrependimento pela infidelidade; 5) O prazer na relação
extraconjugal; 6) A infidelidade culminando na separação conjugal.
laços indissolúveis), que promete felicidade duradoura, tem também seu ônus,
como as postergações e restrições eróticas que o indivíduo contemporâneo
não estaria disposto a sofrer (Lejarraga, 2005). É comum acreditar que o
amor seja capaz de combater a infidelidade.
O que se pode perceber nesta categoria é que a mulher procura justifi-
car a infidelidade, pois a mesma acredita que a sua infidelidade é mais “dig-
na”, mais aceitável, por não se tratar apenas de um desejo sexual, mas de
um envolvimento emocional. Seguem os relatos:
Aí tem certo preconceito perante a sociedade pelas mulheres, os ho-
mens não influem muito, mas as mulheres quando traem elas se sentem
mais é, é se sentem mais criticadas pela sociedade do que a questão do
homem (E4, 32 anos).
Eu me sinto super mal por ter feito algo que é reprovado por todos na
sociedade, tenho muito medo de ser julgada (E3, 38 anos).
Ela não age como o homem, o homem é infiel porque age pelo instinto,
não existe muito emocional não precisa ele se apaixonar, eu acho assim
que, basta sentir desejo e ver uma mulher bonita, um colo de um seio, uma
bunda bem desenhada e automaticamente ele deseja aquela mulher (E5, 37
anos).
O homem trai e para ele é mais fácil ficar por ali mesmo (E2, 31 anos).
Eu acho assim que é diferente como a mulher busca a infidelidade e
como o homem busca a infidelidade. O homem muitas vezes é por motivo de
prazer, da não satisfação sexual (E3, 38 anos
A infidelidade pode ser uma escolha do parceiro, ou seja, ser infiel pelo
Mas eu me sinto super mal por ter feito o que é reprovado por todos na
sociedade. Se eu fosse escolher hoje eu não trairia. Eu sofri muito, chorava
e refletia muito sobre a situação ao qual eu tava vivendo (E3, 38 anos).
Então assim o que eu penso e sinto é isso: sinto arrependimento e
penso que realmente não valeu a pena para minha vida[...]foram quatro meses
somente para ficar por cinco anos sofrendo as conseqüências (E4, 32 anos).
Acho que quando a mulher que trai, ela não consegue viver, a consciên-
cia não deixa [...] foi o que aconteceu comigo eu não conseguir viver minha
vida normal depois que eu traí meu marido (E2, 31 anos).
O que ficou evidenciado nestes relatos é que houve uma decisão das
mulheres pelo fim da relação. Estes resultados confirmam os dados brasilei-
ros no que se refere ao judiciário, ou à clínica psicológica, assim, também,
como nos dados internacionais. A religião e a situação financeira da família
afetam bastante a decisão que muitas pessoas enfrentam quanto a dar uma
nova chance ao casamento ou dissolvê-lo (Menezes, 2005). Esta demanda
predominantemente feminina de separação pode ser compreendida como
uma das consequências da diferença da forma como a mulher vê o casa-
mento, uma “relação amorosa”, enquanto que para os homens ele é visto
como uma “constituição de família” (Féres-Carneiro, 2003).
Considerações finais
ências
Referê