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On Nature Disappearance
In Brazilian Evangelical Music
RESUMO
Na segunda metade do século XX começou uma mudança musical nas igrejas evangélicas
brasileiras, envolvendo tanto o aspecto musical como a letra. A comparação das letras entre os
hinos cantados pelos evangélicos anteriormente com as letras da nova musicalidade apontam para
o abandono de temas tradicionais da fé cristã. Entre esses temas deixados de lado está um dos
mais caros para a teologia que é a natureza como criação divina e espaço privilegiado da presença
de Deus. Na natureza Deus se mostra poderoso e glorioso e isso diversos dos antigos hinos
diziam. As novas canções tenderam a abandonar esse aspecto teológico.
ABSTRACT
In the second half of the twentieth century began a musical change in Brazilian evangelical
churches, involving as the musical aspect as the letter. Comparison of lyrics between the hymns
sung by evangelicals previously with the lines of the new musicality point to the abandonment of
traditional themes of the Christian faith. Among these issues left aside is one of the most relevant
to theology that is nature as God's creation and privileged place of God's presence. God shows
himself powerful and glorious in nature and that many of the old hymns said. The new songs
tended to abandon this theological aspect.
1
Recebido em 10/05/2015. Aprovado em 10/10/2015.
*
Doutor em História pela Unesp, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo/SP.
Email: silasluizdesouza@gmail.com.
Silas Luiz de Souza
Introdução
Criança criada frequentando uma igreja protestante das chamadas históricas, uma
tradicional igreja de origem missionária, na periferia de uma grande cidade brasileira,
aprendi muitos dos antigos hinos, mas também cresci naquela fase da entrada dos
cânticos, chamados de coros ou corinhos, que eram fruto da revolução musical nas igrejas
evangélicas norte-americanas, trazidos pelos instrumentos e pelas vozes dos missionários
mais jovens. Era a época do início e afirmação de grupos como os Vencedores por Cristo,
Jovens da Verdade, Mocidade para Cristo e outros, os quais, a partir da juventude
evangélica, que, em tempos de Ditadura, pouco fazia além de cantar, introduziram
mudanças musicais na liturgia das igrejas tradicionais.
Carlos Alberto Rodrigues Alves, outrora, pastor presbiteriano, hoje, pastor
anglicano, em palestra apresentada no evento do CEBEP – Centro Evangélico brasileiro de
estudos pastorais, publicada na revista Reflexões no Caminho, afirmava, em 1997:
Naquele tempo foi o gênero “satisfação é ter a Cristo”2, que diretamente vindo
do movimento evangelical-alternativo dos Estados Unidos, impregnou a maior
parte dos jovens com uma sensação de revolução na música evangélica
contemporânea graças a um jeito novo de cantar o Evangelho (CEBEP, 1997, p. 8).
Uma coisa foi ficando cada vez mais clara: os hinos antigos caiam em grande
desprestígio dando lugar aos novos cânticos que, pouco depois, deixariam o espaço para
chamada música gospel. Os hinos antigos deixaram de ser cantados em muitas
comunidades locais, mas mantiveram seu lugar em tantas outras, ao menos na liturgia do
culto celebrado no domingo. Muitos pastores procuram mesclar antigos hinos com os
cânticos contemporâneos e há pastores e comunidades que praticamente abandonaram as
antigas canções em benefício das novas músicas, o que corresponde à maioria dos casos.
Ao se deixarem de lado esses hinos, deixou-se uma parte da teologia que, outrora, estava
expressa na hinologia.
Alguns dos hinos mais cantados, presentes nas denominações evangélicas brasileiras,
mormente as do grupo chamado protestantismo histórico, falavam justamente da natureza,
obra da mão divina, espaço privilegiado de demonstração do poder e da glória divinos. Os
cânticos dos anos seguintes foram abandonando esse e outros aspectos da grade teológica
da fé cristã tradicional. Isso é sinal de que o protestantismo deixou também de se
interessar por um tema muito presente nas sociedades atuais, sendo discutido até em altas
esferas da política mundial.
No século passado as questões ecológicas entraram na pauta de governos e de
organismos internacionais. A cidade do Rio de Janeiro foi palco da grande reunião
mundial para questões ecológicas em 1992. Nessa convenção, estabeleceu-se o conceito de
2
Referência a um cântico muito comum naqueles anos, que será citado abaixo.
O tema da natureza nos cultos das mais diversas culturas tem sido alvo de muitos
estudos. Lembrando a contribuição de um estudioso como Mircea Eliade, cujos textos já
se tornaram clássicos nos estudos da religião, trazemos luz ao entendimento dessa questão.
O intelectual romeno afirma que “para o homem religioso, a Natureza nunca é
exclusivamente ‘natural’: está sempre carregada de um valor religioso [...] pois o Cosmos é
uma criação divina” (ELIADE, 1992, p. 99). Certamente, não são todos os membros de uma
sociedade, especialmente ao se considerar as sociedades contemporâneas, que percebem a
natureza deste modo. O notável historiador das religiões alude ao tema da dessacralização
lembrando que “a experiência de uma Natureza radicalmente dessacralizada é uma
descoberta recente, acessível apenas a uma minoria das sociedades modernas, sobretudo
aos homens de ciência” (ELIADE, 1992, p. 126).
Mesmo com o processo de dessacralização, a natureza será vista por parte dos seres
humanos como local privilegiado da presença do sagrado. Quando Berger analisa o
processo de secularização pelo qual passou o mundo ocidental moderno, define o termo
como “o processo pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação
das instituições e símbolos religiosos” (destaque nosso) (BERGER, 1985, p. 119). Assim, por
mais que a religião deixe de ser fundamental em muitas áreas das atividades humanas, ainda
haverá o “homem religioso” nessa sociedade. Eliade procura demonstrar que a sacralidade
da natureza é universal e, embora o cristianismo tenha deixado de ver a natureza como a
viam as religiões mais antigas, permanecia o significado anterior: “A revelação trazida pela
fé não destruiu os significados pré-cristãos dos símbolos: apenas adicionou-lhes um valor
novo” (ELIADE, 1992, p. 115). É verdade que Berger (1985) demonstrou como o processo
de secularização é iniciado no Antigo Testamento e como o protestantismo foi
incontestável para o seu curso. Contudo, isso não elimina a realidade de que continua a
haver o ser humano religioso para o qual a natureza é, em alguma medida, sagrada, seja
como divindade propriamente dita ou como local da presença de um Deus que não se
confundindo com o que criou, serve-se da criação para mostrar seu poder e glória, que
seria o caso da teologia protestante. Com isso, queremos demonstrar que os antigos
hinários traziam hinos com letras específicas nesse sentido da natureza, pois o ser humano
religioso, mesmo em uma sociedade dessascralizada, continua a ver o sagrado na natureza,
que é divina. No entanto, com a mudança musical ocorrida o tema da natureza, como
criação divina ou da natureza, como espaço privilegiado da presença do sagrado, tem sido
deixado de lado.
O tema da natureza permanece presente na reflexão teológica, mesmo dos
movimentos mais conservadores, afinal, o Deus dos cristãos é o criador de todas as coisas.
Qualquer manual de teologia, por mais simples que seja, há de abordar a natureza como
criação divina. Um importante movimento teológico ocorreu entre os protestantes latino-
americanos, a partir do início dos anos 1970, o movimento da Missão Integral, inserido no
contexto mundial do chamado evangelicalismo. Surgiu, nesse contexto, a FTL, Fraternidade
Teológica Latino-Americana, que publica, desde 1983, um Boletim Teológico, caracterizado
3
O movimento evangelical surge, de modo geral, no anglicanismo e seu líder mais expressivo no século XX
foi John Stott. Em 1974, foi realizado seu mais importante evento, o Congresso de Lausanne. Procura
combinar as doutrinas básicas do cristianismo com preocupação social. Na América Latina nomes como
Samuel Escobar, René Padilha e Robinson Cavalcanti desenvolveram essas ideias no que ficou conhecido
como Missão Integral.
Salvador como o Senhor de toda a humanidade; libertadora, posição que não separa a vida
material e religiosidade, enfatizando o Reino de Deus, pois é a hinódia presente no
movimento ecumênico e na Teologia da Libertação.
Monteiro parte do Credo Apostólico para a análise, vista a importância das
proposições credais para a liturgia cristã desde a Antiguidade. A segunda afirmação do
credo é “criador do céu e da terra”, na qual estão os hinos em tela. Sob a perspectiva
conservadora, a criação é algo do passado e “a natureza que aparece nesses cânticos não
foi tocada pelo pecado: é bela e pura” (MONTEIRO, 1991, p. 60). Essa natureza, porém, é
vista pelo crente como espaço passageiro, “é lugar estranho onde o verdadeiro cristão não
pode sentir-se em casa” (MONTEIRO, 1991, p. 62), por isso, espera ir logo para o céu.
Aqui temos um paralelo com a tipologia do protestantismo peregrino proposta por
Mendonça. Na perspectiva renovadora, não há muita diferença da anterior, no entanto,
Deus é mais presente na natureza e o céu pode ser desfrutado aqui. “A vida pode ser
plena e feliz. Já não há o desejo da morte e a negação da vida [...] fala-se da terra, do
trabalho da terra, dos frutos da terra, das bênçãos de Deus sobre a colheita e a vida
social” (MONTEIRO, 1991, p. 65, 66). A perspectiva libertadora tem um Deus criador que
zela, mas “também apresenta o resultado do pecado humano” (MONTEIRO, 1991, p. 67).
A terra “é o cenário da vida [...] é a morada, a casa do ser humano, da família humana,
onde a história acontece [...] os cânticos de adoração ao Deus criador, doador da vida na
terra, buscam expressar a dimensão primeira, a utopia da terra-sem-males” (MONTEIRO,
1991, p. 69).
A importância da teologia cantada não pode ser menosprezada. Em um livro sobre a
história do hinário Salmos e Hinos, o autor do último capítulo, como um posfácio da
consagrada musicista Henriqueta Braga, assim se expressa: “A Bíblia e o hinário são, muito
mais do que se imagina a única literatura, fonte de ensino, de que muitos crentes dispõem.
Bebem suas palavras, suas frases, como fontes de vida, de educação” (BRAGA, 1983, p 74).
É uma visão pastoral de Manoel da Silveira Porto Filho, ilustre pastor congregacional,
poeta e escritor, profundamente interessado pela música na igreja, como era visto por
seus pares e pelos membros da denominação.
O hinário Salmos e Hinos foi produzido no Brasil pelo esforço do médico e
missionário Robert Kalley e de sua esposa Sarah Poulton Kalley, que traduziram as letras
do inglês para colocar os hinos em uso no Brasil, além de compor alguns deles também. A
primeira publicação dessa coletânea deu-se em 1861 (BRAGA, 1983, p. 19; MONTEIRO,
1991, p. 28). Cardoso afirma ter havido uma edição anterior, possivelmente menor,
impressa em Londres (CARDOSO, 2005, p. 21). Nas duas décadas seguintes, ocorreram
mais seis edições, o que dá o valor da obra ao considerarmos o protestantismo incipiente
existente no país naquele período. Além disso, no século XX, ocorreram outras edições,
revisadas, sendo a última, em 1966, com doze tiragens, além da publicação de edições
específicas com as partituras (BRAGA, 1983, p. 77–78).
Hahn historia o culto protestante no Brasil e afirma que o Salmos e Hinos “até a
metade do século XX permaneceu o mais popular e largamente usado por todas as várias
denominações no Brasil” (HAHN, 1989, p. 150). Mendonça também enfatiza esse hinário
quando diz que “A história do aparato litúrgico no Brasil gira, essencialmente, em torno
dos Salmos e Hinos. Esse hinário, além de atravessar várias décadas como o único hinário
dos protestantes brasileiros, serviu de base para os que surgiram depois” (MENDONÇA,
2002, p. 190). Daí a importância de usarmos esse hinário como referência. Cardoso
apresenta uma tabela estatística da distribuição dos assuntos dos hinos da coleção nas
primeiras edições. No tema “Deus”, que perfaz pouco mais de 4% dos hinos, há apena um
que trata especificamente de Deus como criador. Porém, há mais de 11% dos hinos que são
baseados nos salmos bíblicos na primeira edição (CARDOSO, 2005, p. 62), entre os quais,
os salmos que falam de Deus como criador. Nas edições posteriores, há variação dessa
porcentagem, com aumento de hinos sobre a criação.
A Confederação Evangélica do Brasil desde sua criação, em 1934, fez um esforço
para prover a igreja brasileira de um aparato litúrgico adequado e, como parte disso,
organizar uma coletânea atualizada e adaptada aos crentes brasileiros. Nesse processo
publicou o Hinário Evangélico, em 1945 (HAHN, p. 323; MENDONÇA, p. 199;
MONTEIRO, 1991, p. 28). Como visto acima, grande parte dos hinos do antigo Salmos e
Hinos seriam aproveitados no novo hinário, de modo que os hinos com o tema da
natureza estarão repetidos no Hinário Evangélico, o qual também usaremos como
referência.
Esses hinários são, portanto, fontes necessárias para uma comparação entre os
cânticos de outrora e os cânticos mais recentes, surgidos com a renovação ou
transformação dos anos sessenta do século passado no mundo protestante brasileiro.
Passar pelos hinos desses hinários com o tema da natureza como criação divina, que estão
entre os mais cantados pelos fiéis, é o que vai se fazer agora, sem deixar de considerar
outros hinários como o Hinário para o Culto Cristão, usado pelos batistas, o Cantai todos
os povos, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e O Novo Canto da Terra,
editado por Jaci Maraschin, servindo aos grupos ecumênicos e o hinário Nova Canção,
editado por CEBEP e CAVE, servindo tanto aos grupos evangelicais como aos
ecumênicos.
A letra do hino a seguir é composição do século XVIII com mais de uma versão no
Brasil, cantado com a melodia do que é hoje o hino nacional alemão, com música de
Joseph Haydn, composta em 1797. Baseado no Salmo 19, deixa claro que Deus é
nitidamente demonstrado na natureza. A primeira parte deste hino apresenta a natureza
bela, pura, ainda não atingida pelo pecado, como diz Monteiro. A natureza, entretanto,
não pode revelar todo o ensino e vontade divina, por isso, Deus deixou sua Palavra, a
revelação especial escrita, como diz a última linha da segunda estrofe: “quão doce ensino
vem da boca do Senhor”. Esta expressão vem precedida da adversativa “mas”. Este é um
tema caro e claro tradicionalmente para os diversos ramos da teologia cristã, e muito forte
Uma outra versão, deixa mais claro a questão da revelação pela Escritura sagrada,
alterando as quatro últimas linhas:
4
Os hinos serão identificados pelos números de ordem com o qual são listados em cada hinário, exceto o
Nova Canção, que não numera os hinos, sendo, então, identificados pela página.
5
Cf.. <http://www.luteranos.com.br/>.
Outro hino muito conhecido, com o tema da natureza evocado, e como os demais
presentes nos hinários usados para este breve estudo é transcrito a seguir. É verdade que
na última estrofe há um chamamento conversionista, um desafio ao pecador para se juntar
ao grande coro da natureza que “um hino ressoa ao Senhor”. Porém, três outras estrofes
e o coro interpretam a natureza como local privilegiado de exaltação do Criador. Rochas,
mares, matas, flores e aves são cantadas como manifestação da glória divina:
Por fim, um hino que convoca todas as criaturas para louvar daquele que é o motivo
da existência. O hino abaixo é indicado como sendo de Francisco de Assis e traduzido de
um Hinário Alemão, no Hinário para o Culto Cristão, número 224, da Convenção Batista
Brasileira. O blog Semeando Vida traz a informação de que a letra é de “William Henry
Draper, 1925 baseado no Cântico do Sol de Francisco de Assis, 1225”.6 De qualquer modo,
o hino tem letra que lembra imediatamente o grande poema de Francisco Cântico do
Irmão Sol ou Cântico das Criaturas, nem sempre lembrado pelos protestantes por se
tratar de um santo do catolicismo.
6
<http://www.semeandovida.org/2011/08/hino-10-criacao-e-seu-criador_30.html> Acesso em 28/8/2015.
O hinário O Novo Canto da Terra é o maior e mais importante entre os que Simei
Monteiro classifica como “perspectiva libertadora”. Há um conjunto de hinos sobre a
natureza que são bem pouco cantados nas igrejas tradicionais, tendo mais penetração entre
as igrejas participantes do movimento ecumênico, como é o caso do editor do hinário Jaci
Maraschin7, anglicano, e da musicista, compositora e uma das mais importantes
pesquisadoras da música no mundo protestante, Simei Monteiro, metodista. A composição
de Maraschin e Décio Lauretti também aponta a criação do mundo como ato do amor
divino, mundo prejudicado pelo pecado e que depende do serviço do crente para
transformá-lo:
7
O gaúcho Jaci Correa Maraschin nasceu em 1930 e morreu em 2009. Tive o privilégio se ser seu aluno no
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP, nos anos 1990, fazendo o Mestrado.
Vemos, assim, que não são apenas os mais antigos hinos que são importantes na
apresentação de Deus criador e presente na criação. Há hinos mais novos em hinários
usados ainda hoje que abordam o tema. Mesmo os cânticos dos quais falaremos abaixo,
também encontraremos esse tema. Porém, cada vez o assunto aparece menos.
esse esforço por uma cultura mais abrangente, contemporânea e democrática surgiu a
indústria cultural, que tornaria a arte um produto de consumo massificado, mais do que
um produto estético de contemplação. Dentro desse arcabouço há a canção pop, definida
por Silvio Anaz como uma “versão adocicada do rock’n’roll” para adolescentes a partir dos
anos sessenta (ANAZ, 2006, p. 28). Esse autor conceitua a canção pop como uma
“composição musical-literária, destinada ao consumo de massa, que explora a redundância
sonora e o pulso rítmico e usa refrões e melodias de fácil memorização” (ANAZ, 2006, p.
31). As denominações evangélicas como parte da sociedade, não estiveram imunes a essas
mudanças, não só tendo entre os membros consumidores desse novo produto cultural no
que poderia ser chamado de mundo secular, mas também, recebendo dentro de seu culto
tal influência. Voltando a uma citação do início deste texto, quando Alves afirma que o
gênero “satisfação é ter a Cristo” impregnou a juventude das denominações do
protestantismo brasileiro, podemos ver essas características da letra de memorização rápida
e fácil, tomando como exemplo o cântico a que aquele autor faz referência:
Deve-se apontar que a letra e a música desse cântico refletem o mundo protestante
avivalista e fundamentalista dos Estados Unidos da América. A música foi “composta por
Ira R. Stanphill (1914-1994), músico norte-americano que se notabilizou por acompanhar
pregadores dos movimentos avivalistas” (CAMARGO, 2015, sem página). A letra é uma
tradução bastante livre, para se adaptar bem ao idioma, da canção Happiness is to know
the Savior. No Brasil, o cântico foi apresentado e popularizado pelo grupo Vencedores
por Cristo, fundado por um missionário norte-americano na segunda metade dos anos
sessenta do século vinte, com o objetivo de atrair jovens para a Igreja, tendo sido
provavelmente o mais influente grupo musical no Brasil na segunda metade do século XX.
Gravou muitas versões de músicas norte-americanas, mas depois começou a gravar
canções de brasileiros, inclusive se aventurando com músicas de ritmos marcadamente
nacionais, o que gerou grandes alegrias e grandes confrontos. É importante notar que esse
conjunto musical formava equipes que viajavam pelo país cantando e pregando, motivando
a juventude evangélica e levando muitos jovens às igrejas. Flávia Medeiros (2014, p. 61)
apresentou dissertação sobre este grupo, comparando-o com o grupo Diante do Trono,
dos anos 2000, atestando a importância do conjunto musical. Medeiros diz que a música
foi gravada no segundo compacto, em 1969.
Como se vê, a letra é muito mais singela do que os hinos anteriormente citados. A
melodia, também simples, faz com que as duas partes da canção, letra e música, sejam
facilmente entendidas e memorizadas. Avançando em seu estudo, Anaz (2006, p. 33–39)
mostra que o pop se consolidou nos anos oitenta do século XX como estética e como
grande negócio por três fatores: o videoclipe, pelo qual a música é apresentada com uma
nova linguagem; o videocassete, depois, o cd e a consolidação da diversidade e
fragmentação de gêneros musicais. Tudo isto pode ser também percebido no Brasil,
especialmente em um período de grandes mudanças sociais e políticas, como foram os
anos oitenta, o que facilitou a ampliação e consolidação de uma indústria cultural do
gênero pop no país. O autor enfatiza a repetição e a escuta linear da canção pop e diz que
“a ação física do som da música pop vai além dos ouvidos de um apreciador e atinge
também o corpo, que por meio da dança expressa sua liberdade e sua interpretação da
música” (ANAZ, 2006, p. 68). E conclui: “o protagonista da canção pop brasileira dos
anos 80 é predominantemente um sujeito que busca o prazer imediato, tem uma postura
crítica e procura agir para transformar as situações [...] busca a primazia do aqui e agora
tanto em seu hedonismo quanto em sua crítica” (ANAZ, 2006, p. 134).
Na igreja evangélica brasileira, houve uma mudança na música indicativa da
mudança social que ocorria e isto vale também para a música. Jaqueline Dolghie e Breno
Campos (2010) apontam essas mudanças dizendo que os novos cânticos estão “associados
às novas tendências da religiosidade neopentecostal” quando surge “um novo produto
musical evangélico: a música gospel” que integra muitos “estilos musicais, tanto nacionais
como internacionais, mas que se distingue principalmente pela sua característica de
mudança comportamental em relação aos antigos cânticos”. Esses autores ainda afirmam
que
Anaz (2006, p. 21) informa que o termo pop foi utilizado “para designar os
produtos da cultura popular do Ocidente, principalmente da norte-americana” e que
progrediu com a “explosão do consumo na sociedade norte-americana do pós-guerra”. É
também nos Estados Unidos da América que temos o nascedouro desse tipo de música
evangélica e de lá as igrejas brasileiras adotaram o modelo, seja no estilo, seja nos
conceitos teológicos e ideológicos. Naquele país, há as expressões Contemporary Christian
Music e Contemporary Worship Music, além de infindas discussões sobre o tema. Essas
duas expressões são títulos de livros escritos no bojo das disputas em torno do tema.
John Frame afirma que a adoração contemporânea cristã “designa um movimento
particular na música cristã que se originou na Califórnia nos anos 1960” e “tendem a
refletir o estilo popular como o soft-rock”. (FRAME, 1997, p. 5). Assim como no período
da Reforma Protestante, um novo tempo para a Igreja fez surgir uma nova música, assim
ocorreu no século XX, pensa o autor norte-americano. As principais diferenças entre essa
nova canção e os hinos tradicionais são: mais contemporâneos e populares, tanto literária
como musicalmente; menor número de estrofes; textos mais simples que os hinos
tradicionais; mais ênfase no louvor do que em outros temas (FRAME, 1997, p. 8). Apesar
desse autor citado falar de dentro do mundo evangélico norte-americano, ele reconhece
que nessa música “há influência da cultura secular moderna” (FRAME, 1997, p. 46), isto é,
um grupo religioso não está totalmente fechado para os efeitos do que ocorre à sua volta,
como as diversas áreas das ciências humanas já têm afirmado. Mais adiante no livro, Frame
(1997, p. 126–127) faz críticas à música contemporânea de adoração diagnosticando os
problemas em seu ponto de vista: falta de qualidade do texto e da música; falta de maior
amplitude doutrinária; falta de melhor compreensão sobre a música no culto. As faltas de
qualidade e de amplitude do campo doutrinário estão bem caracterizadas na música
brasileira. E, como procuramos afirmar, a doutrina da criação está ausente dessa nova
música, o que tem sido percebido também em outros ambientes, como no protestantismo
dos Estados Unidos da América.
Outro norte-americano (CLOUD, 1998) de postura bastante conservadora faz
críticas severas à música cristã contemporânea, pois ela estaria identificada com uma
filosofia não bíblica, ritmos sensuais, ecumenismo, grupos carismáticos, sendo fracas na
mensagem e mundanas. Não se quer aqui trazer a polêmica do norte, mas apenas
identificar que são questões candentes na América do Norte e que, de qualquer modo,
apontam para o que também procuramos identificar neste artigo. Há uma fragilidade
teológica e, com isso, o tema da natureza deixou de se apresentar na nova música, coisa
com a qual os autores norte-americanos citados não estavam interessados, obviamente.
Uma das explicações para a modernidade e seu apelo ao consumo é o hedonismo.
“O hedonismo moderno possibilita que o prazer seja encontrado em situações variadas.
Isso quer dizer que o produto consumido não tem em si mesmo potencialidade para gerar
prazer. O que tem potencialidade é a emoção introjetada pelo sujeito, a emoção
controlada e direcionada” (ZIROLOD, CAMPOS, 2010). A nova música das igrejas
evangélicas está clara e perfeitamente identificada com esse padrão, pois está ligada ao
prazer de cantar, dançar, mesmo que em nome de Deus, de sentir-se bem com o culto,
mais do que entoar mensagens doutrinárias. Essa música foi o gênero que tomou boa
parte do espaço do culto nas igrejas protestantes brasileiras.
Ao analisar letras pop brasileiras mais conhecidas dos anos oitenta, Anaz demonstra
a postura crítica de boa parte delas, apontando os erros da sociedade e do sistema
capitalista. Este aspecto também esteve presente em canções evangélicas dos anos sessenta
e setenta do século XX, mas desapareceu dando lugar apenas ao prazer imediato e
hedonismo. Um exemplo de canção engajada dos anos sessenta é a composição de João
Dias de Araújo, atuante na Conferência do Nordeste, reconhecida por ser, como diz
Raimundo Barreto, o “clímax de um processo experimentado pela maioria dos setores
progressistas do protestantismo brasileiro no século vinte. [...] O momento mais profundo
das reflexões e trabalho sobre as questões a respeito do compromisso social das igrejas
evangélicas” (BARRETO, 2010, p. 310):
Esse tipo de conteúdo não está mais presente nas canções do gênero pop que
passaram a integrar a nova hinologia de parte do protestantismo brasileiro. Certamente,
não ocorreu o desaparecimento completo de temas acerca do compromisso social,
Em 1975, Vencedores por Cristo gravaram um LP, intitulado “Louvor I”. Era o
resultado de uma tendência na corinhologia brasileira: o cântico de cunho
doxológico, de exaltação a Deus, face ao grande número de corinhos sobre
trabalho, evangelização, alegria, testemunho, leitura da Bíblia e oração. Tal
influência também veio dos Estados Unidos (LIMA, 1991, p. 56).
Esses cânticos que caem no uso geral e comum das igrejas evangélicas são de difícil
localização de autoria e data de composição. Em partitura disponível no site de uma Igreja
Batista, consta “autor desconhecido”.8 No entanto, em outro site da Comunidade Carisma,
consta como autor Benedito Carlos Gomes. A se crer nessa informação seria, ao que tudo
indica, o Bispo Benedito Carlos Gomes, o Bene Gomes, da Igreja Sara Nossa Terra.9 O site
www.letras.com.br dá 187 cifras de músicas do Ministério Koynonia de Louvor, fundando
pelo pastor e não consta essa letra.10
Ele é exaltado,
O rei exaltado nos céus,
Eu o louvarei.
Ele é exaltado,
Pra sempre exaltado
Seu nome louvarei
Ele é o Senhor,
Sua verdade vai sempre reinar.
Terra e céu glorificam
Seu santo nome.
Ele é exaltado,
O rei exaltado nos céus.
8
<http://www.ibcatuai.com.br/partituras/Deus%20Supremo%20%C3%89s%20-%20melodia.pdf>.
Acesso 29/8/2015.
9
<http://carisma.com.br/portal/musica/downloads/Deus%20supremo%20cifra_4138.pdf>.
Acesso 29/8/2015.
10
http://www.letras.com.br/#!ministerio-koinonya-de-louvor. Acesso em 29/8/2015.
No cântico a seguir, há a declaração de que tudo foi criado por Deus, sem, no
entanto, uma formalização doutrinária sobre a criação como local da manifestação divina,
inferindo-se pelo verso “nós também para o teu louvor”, que a natureza louva o criador.
No entanto, é a intimidade com Deus, sem abalos internos, a segurança do crente que
sabe da presença divina em sua vida, que é a mensagem principal:
11
<http://www.adhemardecampos.com.br> Acesso em 29/8/2015.
12
<http://www.encontrosdefe.com.br/o-ministerio.aspx> e http://letras.mus.br/paulo-figueiro/1654473/
Acesso em 29/8/2015.
13
< http://www.marcosgoes.com/discografia.php?a-vigilia-4-perdoados/t1#tabs-1> Acesso em 29/8/2015.
14
Cf. < http://prwilsonsantos.blogspot.com.br/> Acesso em 29 de agosto de 2015.
15
Cf.. <http://www.adhemardecampos.com.br/>Acesso em 29/8/2015.
As ideias de Deus como criador e da natureza que conduz o ser humano a adorar
também estão presentes em alguns dos cânticos, poucos entre mais de 140 coletados de
uma igreja local. Os cânticos desse tipo podem ser exemplificados por um dos mais
perenes já cantados pelos evangélicos. Trata-se da música conhecida pelo título da primeira
linha em português: Nas estrelas. Essa canção é uma tradução de uma composição da
Ralph Carmichael no ano de 1964. Esse compositor chega a ser considerado por alguns
como o fundador do que se chama nos Estados Unidos da América de Contemporary
Christian Music. A canção foi gravada e popularizada pelo grupo Vencedores por Cristo,
lançada no primeiro LP do grupo, em 1971. As estrelas são um indicador da mão divina,
porém, com objetivo maior de levar o ser humano à intimidade com Deus, não sendo a
natureza propriamente espaço da presença divina:
Os dois cânticos a seguir são também canções mais antigas e que têm sido deixadas
de lado com o passar do tempo, embora entre os cânticos pop das igrejas. Apresentam
claramente Deus como criador e a natureza como espaço de conhecimento e adoração. O
primeiro é uma parte da música Consagração, de Aline Barros, composta em 1994, dentro
do Ministério de Louvor da Comunidade Vila da Penha, recebendo prêmios como uma
das músicas mais tocadas nas rádios brasileiras em 1995. Aline Barros teve uma inserção
midiática muito grande, especialmente, por vir do mundo evangélico e ter uma carreira
musical voltado para o mundo evangélico. Isso facilitou a divulgação de suas músicas que
são cantadas em praticamente todo o Brasil e todas as denominações.16
16
Cf. < https://pt.wikipedia.org/wiki/Consagração_(canção)> Acesso em 29/8/2015.
O cântico Declaramos é de autoria de Paulo César Baruk, tendo sido gravado em 2009 no
CD Piano e Voz...Amigos e Pertences. O site The Christian Post diz que “Paulo César Baruk é
17
Cf. <http://www.asaphborba.com.br/> ; < http://www.supergospel.com.br/> e <
http://letras.mus.br/asaph-borba/172306/> Acesso em 30/8/2015.
filho de pastores e tomou a decisão de seguir a Jesus aos 19 anos de idade. Ele pertence à
Igreja Presbiteriana Redenção e começou a fazer música dentro de sua igreja.”18 O site
oficial do cantor não declara a que denominação pertence.
Reivindicamos a cura
Que há no nome de Jesus
Libertação de opressões
E salvação para quem nele crê
Seja (sic) derramado sobre nós,
A fé, a paz e o amor
E se encha o nosso interior
De hinos de louvor
Considerações Finais
18
Cf. < http://portugues.christianpost.com/news/paulo-cesar-baruk-sobre-o-grammy-latino-2012-foi-fruto-
de-um-ano-de-intercessao-13213/>
19
Cf. <http://www.renascerpraise.com.br/#> e <http://letras.mus.br/renascer-praise/160721/>
20
<http://renasceremcristo.com.br/renascer/#.VeM7nvlVhHw> Acesso em 30/8/2015.
Não se desejou fazer aqui qualquer defesa do um tipo de música cantada pelos fiéis
em detrimento de outro tipo. As mudanças na sociedade e em qualquer grupo social
específico são inevitáveis, sejam consideradas historicamente no tempo de longa duração
ou mais curto. Não se quer criticar as mudanças em si, pois elas atendem necessidades
específicas do ser humano religioso no seu tempo e no seu espaço peculiares. O que se
quer destacar é que essa mudança provocou um abandono de diversos temas da grade
tradicional da dogmática do cristianismo. Nesse conjunto, enfatiza-se o tema da natureza.
Embora seja um dos mais importantes itens da teologia cristã, destacado desde os
primeiros séculos da história dessa religião específica, muitas denominações evangélicas no
Brasil deixaram de lado o assunto, indo na contramão dos anseios da sociedade mundial
quanto aos problemas ecológicos e ao cuidado da natureza.
Os cânticos são sinais de mudanças que ocorreram nessa parcela do campo religioso
brasileiro que são as igrejas protestantes. Houve transformações teológicas e de visão de
mundo provocadas por outras mudanças internas e externas ao grupo religioso. O
esquecimento do tema da natureza é uma parte das alterações teológicas pelas quais os
evangélicos passaram na segunda metade do século XX. O hedonismo da sociedade faz
com que novas opções teológicas ganhem espaço, como as teologias da prosperidade e da
confissão positiva. Essas, preocupando-se com soluções dos problemas pessoais, aqui e
agora, não dão espaço para preocupações doutrinárias como a doutrina da criação divina e
suas consequências para o mundo, pois as soluções imediatas dos problemas da vida são
mais importantes.
Haverá ainda possibilidade de que os protestantes voltem a tratar e cantar outros
temas da teologia, especialmente os ligados à natureza? Se a resposta for positiva, esse
grupo poderá participar e contribuir para a discussão acerca da Terra e o cuidado que o
ser humano deveria ter com ela.
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