Racismo - Silvio Almeida Explicando Sobre Racismo
Racismo - Silvio Almeida Explicando Sobre Racismo
Racismo - Silvio Almeida Explicando Sobre Racismo
Há grande controvérsia sobre a etimologia do termo “raça”. O que se pode dizer com mais
precisão é que seu significado sempre esteve ligado de alguma forma ao ato de estabelecer
classificações. Entretanto, a noção de raça como referência a categorias distintas de seres
humanos é um fenômeno da modernidade, que remonta aos meados do século XVI.1 No
século XVI verificam-se algumas condições históricas que farão nascer a idéia de
“homem universal”, ao mesmo tempo, em que será colocado o problema da
multiplicidade da condição humana. Se antes ser “homem” relacionava-se ao
pertencimento a uma comunidade política ou religiosa, a expansão econômica
mercantilista e a descoberta do novo mundo forjaram a base material a partir da qual a
cultura renascentista iria refletir sobre a unidade e a multiplicidade da existência
humana. O século XVIII e o projeto iluminista de transformação social deram impulso
renovado à construção de um saber filosófico que terá o homem como seu principal
objeto. O homem do esclarecimento não é mais apenas o sujeito cognoscente do século
XVII, mas é, também aquilo que se pode conhecer. A novidade do iluminismo é o
conhecimento que se funda na observação do homem em suas múltiplas facetas
e diferenças, “enquanto ser vivo (biologia), que trabalha (economia), pensa (psicologia)
e fala (linguística) ” .2 Do ponto de vista intelectual, o iluminismo constituiu as
ferramentas que tornariam possível a comparação e, posteriormente, a classificação, dos
mais diferentes grupos humanos a partir de características físicas e culturais. Surge então
a distinção filosófico-antropológica entre “civilizado” e selvagem”, que no século
seguinte daria lugar para o dístico “civilizado” e “primitivo”. No ano de 1795, a
Revolução Haitiana, liderada por Toussaint Louverture,3 contra a escravidão e a favor da
liberdade e da igualdade universais – bandeiras centrais do iluminismo -, escancararia no
campo político, as contradições do ideário moderno e mostraria que a classificação de
seres humanos serviria, mais do que para o conhecimento filosófico, como âncora mental
do colonialismo europeu e destruição de povos tradicionais, como os povos indígenas nas
Américas, da África, da Ásia e da Oceania.4 Sobre os indígenas americanos, a obra de
Cornelius de Pawn (1739-1799) é emblemática. Para o escritor holandês, o indígena
americano “não tem história”, são “infelizes”, “degenerados”, “animais racionais” e cujo
temperamento é “tão úmido quanto o ar e a terra onde vegetam”. Já no século XIX, um
juízo parecido com o de Pawn seria feito pelo filósofo Hegel (1870-1831) acerca dos
africanos, “sem história”, bestiais e envoltos em ferocidade e superstição.5 As referências
à “bestialidade” e “ferocidade” demonstram como a associação entre seres humanos de
determinadas culturas/ características físicas com animais ou mesmo insetos é uma tônica
muito comum do racismo e, portanto, do processo de desumanização que antecede
práticas discriminatórias ou genocídios, até os dias de hoje. O espírito positivista do
século XIX transformou as indagações sobre as diferenças humanas em indagações
científicas, de tal sorte que de objeto filosófico, o homem passou a ser objeto científico.
A biologia e a física serviram como modelos explicativos da diversidade humana: nasce
a idéia de que características biológicas (determinismo biológico) ou condições climáticas
e/ou ambientais (determinismo geográfico) seriam capazes de explicar as diferenças
morais, psicológicas e intelectuais entre as diferentes “raças”. Desse modo, a pele não-
branca e o clima tropical favoreceriam o surgimento de comportamentos imorais, lascivos
e violentos, além de indicarem pouca inteligência. Por isso, recomendações como as de
Arthur de Gobineau (1816-1882) de se evitar a “mistura de raças”, pois o mestiço tendia
a ser o mais “degenerado”. Esse tipo de pensamento, identificado como “racismo
científico”, obteve enorme repercussão e prestígio nos meios acadêmicos e políticos do
século XIX, como demonstram as obras de Arthur Gobineau, Jean de Léry, Cesare
Lombroso, Enrico Ferri e, no Brasil, Silvio Romero e Raimundo Nina Rodrigues.6 É
importante lembrar que nesse mesmo século a primeira grande crise do capitalismo, em
1873, levou as grandes potências mundiais da época ao imperialismo e,
consequentemente, ao colonialismo, que resultou na invasão e divisão do território da
África, nos termos da Conferência de Berlim de 1884. Ideologicamente, o colonialismo
assentou-se no discurso da inferioridade racial dos povos colonizados que, segundo seus
formuladores, estariam fadados à desorganização política, ao subdesenvolvimento e
unicamente ao trabalho braçal. Desse modo, pode-se dizer que a raça opera a partir de
dois registros básicos, que muitas vezes se cruzam: 1) raça como característica biológica,
em que a identidade racial será atribuída por algum traço físico, como a cor da pele;
2) raça como característica étnico-cultural, em que a identidade será associada à origem,
à religião, à língua ou outros costumes. À configuração de processos discriminatórios a
partir do registro étnico-cultural, Frantz Fanon denomina racismo cultural.7 No século
XX, a antropologia constituiu-se a partir do esforço de demonstrar a autonomia das
culturas e a inexistência de determinações biológicas ou culturais capazes de hierarquizar
a moral, a cultura, a religião e os sistemas políticos. Não há nada na realidade natural que
corresponda ao conceito de raça.8 Os eventos da Segunda Guerra Mundial e o genocídio
de judeus e ciganos pela Alemanha nazista reforçaram o fato de que a raça é um elemento
essencialmente político, sem qualquer importância fora do âmbito de análises sócio-
antropológicas. Ainda que hoje seja quase um lugar comum a afirmação que a
antropologia e a biologia (mais recentemente por meio do sequenciamento do genoma)
tenham há muito demonstrado que não existem diferenças biológicas ou culturais que
justifiquem um tratamento diferenciado entre seres humanos, o fato é que a noção de raça
ainda é um fator político importante utilizado para naturalizar desigualdades, justificar a
segregação e o genocídio de grupos sociologicamente considerados minoritários.9 A
importância da noção de raça não pode ser ignorada no debate social por conta de seus
efeitos políticos, por suas consequências científicas e por sua dimensão ética.
1. Preconceito, racismo e discriminação
2. Três concepções de racismo: individualista, institucional e estrutural
3. Notas sobre o racismo estrutural
4. Racismo e ideologia
5. Racismo e nacionalismo
6. Racismo e universalismo
7. Racismo e direito
8. Palavras finais
4. Racismo e ideologia
Não há racismo sem um sistema de idéias racistas que lhe seja correspondente. É,
portanto, uma ideologia, no sentido de que se caracteriza como um processo de produção
e reprodução social da “consciência” dos racistas e também dos indivíduos atingidos pela
discriminação racial.19A análise do racismo sob o prisma da ideologia nos leva a algumas
conclusões e indagações que dependem do modo com que a noção de ideologia é
compreendida. Se por ideologia entende-se uma visão “falseada”, “ilusória” e mesmo
“fantasiosa” da realidade, o problema do racismo como ideologia se conecta com
a concepção individualista do racismo. Desse modo, ao racismo, como equívoco sobre o
real, bastaria opor a “verdade” do conhecimento filosófico ou científico, cujas conclusões
apontariam pela inexistência de raças e, por conseqüência, a falta de fundamento ou
“irracionalidade” de todas as teorias e, especialmente, de práticas
discriminatórias. Entretanto, para as visões que consideram o racismo um fenômeno
estrutural e institucional, mais do que a “consciência”, o racismo, como ideologia, molda
o inconsciente, de tal sorte que a ação dos indivíduos, ainda que conscientes “se dá em
uma moldura de sociabilidade dotada de constituição historicamente inconsciente”
.20 Ou seja, a vida cultural e política no interior da qual os indivíduos se reconhecem
enquanto sujeitos autoconscientes e onde formam os seus afetos é constituída por padrões
de clivagem racial inseridas no imaginário e em práticas sociais cotidianas. Desse modo,
a vida “normal”, os afetos e as “verdades”, são, inexoravelmente, perpassados pelo
racismo, que não depende de uma ação consciente para existir. Com efeito, pessoas
racializadas resultam das condições estruturais e institucionais e não são os produtores
dessas condições. Os privilégios de ser considerado branco não dependem de o indivíduo
socialmente branco reconhecer-se ou assumir-se como branco, e muito menos de sua
disposição de obter a vantagem que lhe é atribuída por sua raça. Outra consequência do
tratamento estrutural do racismo é a rejeição de que o sistema de ideias racistas se nutra
apenas de irracionalismos. Por certo o folclore, os “lugares-comuns”, os “chistes”, as
piadas, os irracionalismos e os misticismos são importantes veículos de propagação do
racismo, pois é por meio da cultura popular que haverá a naturalização da discriminação
no imaginário social. Como afirmam Étienne Balibar e Immanuel Wallerstein,21 “não há
racismo sem teoria” e, por isso, “seria completamente inútil perguntar-se se as teorias
racistas procedem das elites ou de as massas, das classes dominantes ou das classes
dominadas”. De fato, tão importantes quanto as narrativas da cultura popular na produção
do imaginário, são as teorias filosóficas e científicas. Acima já se viu como a concepção
de “raça” foi engendrada pela sofisticada filosofia do século XVIII e pela ciência do
século XIX. A ciência tem o poder de produzir um discurso de autoridade, que poucas
pessoas têm a condição de contestar, salvo aquelas inseridas nas instituições em que a
ciência é produzida. Nessa vereda, é cabível a constatação de Eginardo Pires de que “uma
ideologia conservadora impera não apenas pela força de seus argumentos, mas também
pelos recursos materiais de que dispõem as forças a quem ela serve, quando se trata de
excluir ou limitar a presença dos que sustentam teses opostas, nos lugares onde se realiza
a atividade social de produção e difusão de conhecimentos”.22 Por isso, não se pode
desprezar a importância dos filósofos e cientistas para construção do nazismo e do
apartheid. Da mesma maneira as universidades, centros de pesquisa e comunidades
científicas foram fundamentais para difusão do “racismo científico”, tão relevante para o
colonialismo.23 No caso do Brasil, o racismo contou com a inestimável participação das
faculdades de medicinas, das escolas de direito e dos museus de história natural, como
conta Lilia Schwarcz em seu livro O Espetáculo das Raças .24 Já no século XX, na esteira
do Estado novo, o discurso sócio-antropológico da democracia racial brasileira seria
parte relevante desse quadro em que cultura popular e ciência fundem-se num sistema de
ideias que fornece um sentido amplo para práticas racistas já presentes na vida
cotidiana.O que fica evidenciado é que a permanência do racismo exige, em primeiro
lugar, a criação e recriação um imaginário social em que determinadas características
biológicas ou práticas culturais sejam associadas à “raça” e, em segundo lugar, que a
desigualdade social seja naturalmente atribuída à identidade racial dos indivíduos ou, de
outro modo, que a sociedade se torne indiferente ao modo com que determinados grupos
raciais detém privilégios em detrimento de outros.
5. Racismo e nacionalismo
A formação dos Estados nacionais exigiu uma profunda reorganização da vida social, que
englobou não somente aspectos políticos e econômicos, mas também as identidades.
Novas formas de racionalidade e de percepção do tempo-espaço tiveram que emergir a
fim de que um mundo baseado no contrato e na troca mercantil pudesse nascer,
dissolvendo e destruindo tradições e formas sociais vinculadas à lógica das sociedades
medievais.25Nesse processo de formação dos Estados é que reside a importância
da nacionalidade enquanto narrativa acerca de laços culturais, orgânicos e característicos
de um determinado povo, que se assenta sobre um determinado território e é governado
por um poder centralizado. A incorporação de novo mundo depende do surgimento de
novas identidades que se materializarão na língua, na religião, nas relações de parentesco,
nos sentimentos, nos desejos e nos padrões estéticos. Tais elementos criam o imaginário
social de unidade nacional de pertencimento cultural que vincula identidades individuais
ou coletivas, comunidade e Estado. É importante ressaltar que a nacionalidade não é o
resultado apenas do “espontaneísmo” ou do acaso; mecanismos e práticas
institucionalizadas de poder condicionadas por estruturas político-econômicas atuam
decisivamente na constituição da nacionalidade. Porém, do mesmo modo que o
nacionalismo gera formas de pertencimento identitário a uma dada formação social, cria,
por outro lado, regras de exclusão. Pode-se concluir a partir daí que há uma relação
estreita entre racismo e nacionalismo. O racismo, como processo de constituição de
identidades, não está fora da lógica do nacionalismo, podendo-se afirmar, inclusive, que
pouco se compreenderia sobre a formação dos Estados nacionais, suas economias e suas
identidades culturais sem um estudo acerca do racismo e seus efeitos. Achille Mbembe
demonstra como no final do século XIX, a sociedade francesa teve que se preparar para
que a lógica do nacional-colonialismo pudesse “naturalizar” as atrocidades do Estado
francês. Nas palavras de Mbembe, “para que se torne um hábito, a lógica das raças deve
ser agregada à lógica do lucro, à política da força e ao instinto de corrupção – esta é, em
rigor, o que define a prática colonial”.26No mesmo sentido, Aníbal Quijano fala de como
nas formações sociais latino-americanas no contexto da colonização latino-americanas
estabeleceu-se uma divisão racial do trabalho. Ao tratar do sistema colonial instituído na
América pela Espanha, Quijano conta que “em alguns casos, a nobreza indígena, uma
reduzida minoria, foi eximida da servidão e recebeu um tratamento especial, devido a
seus papéis como intermediária com a raça dominante, e lhe foi também permitido
participar de alguns dos ofícios nos quais eram empregados os espanhóis que não
pertenciam à nobreza. Por outro lado, os negros foram reduzidos à escravidão”.27 A
divisão racial do trabalho pode ainda ser amplamente constatada nas sociedades
contemporâneas, pois mesmo em países onde o racismo não é abertamente praticado pelo
Estado ou em que há leis antirracistas, indivíduos pertencentes a grupos minoritários
recebem salários menores e estão mais expostos a trabalhos insalubres ou
precarizados.28 Porém, vale a ressalva de que o nacionalismo não se estabeleceu como
fundamento de práticas racistas e colonialistas em todos os lugares. Em alguns países
latino-americanos, africanos e asiáticos, o nacionalismo foi construído como discurso
de resistência anticolonialista,29 do que são exemplos o pan-indigenismo30 para a
política latino-americana e o pan-africanismo31 na formação do ideário político em
África e nos demais países da diáspora e o pan-arabismo,32 nos países e comunidades de
cultura árabe.
6. Racismo e universalismo
No problema do racismo e do nacionalismo repousa a questão do universalismo. Ao
mesmo tempo em que o nacionalismo (e o racismo) são modos de internalizar conflitos e
contradições que se vinculam às particularidades de cada formação social, há também o
fato de que as sociedades capitalistas se constituem por uma dinâmica internacional de
relações comerciais e trocas mercantis que envolvem a criação de laços que transcendam
os particularismos das culturas locais. Ainda que minimamente, parâmetros culturais
baseados em ideologias universalistas, cosmopolitas e, portanto, politicamente
impessoais, neutras e pautadas pela “igualdade formal” terão que ser absorvidos pelas
sociedades. Segundo Imannuel Wallerstein, esta operação é articulada pelo discurso da
meritocracia, que é “não apenas economicamente eficaz, mas também um fator de
estabilização política”.33 Isso porque a soma do racismo histórico e da meritocracia
permitiria que a desigualdade racial vivenciada na forma de pobreza, desemprego e
privação material fosse entendida como “falta de mérito” dos indivíduos.34 O discurso da
meritocracia é disparado por mecanismos institucionais, como os processos seletivos das
universidades e os concursos públicos. Uma vez que a desigualdade educacional está
relacionada com a desigualdade racial, mesmo nos sistemas de ensino públicos e
universalizados, o perfil racial dos ocupantes de cargos de prestígio no setor público e
dos estudantes nas universidades mais concorridas reafirma o imaginário que, em geral,
associa “competência” e “mérito” a condições como “branquitude”, “masculinidade” e
“heterossexualidade”. Completa o conjunto demecanismos institucionais
meritocráticos os meios de comunicação, com a difusão de padrões culturais e estéticos
ligados a grupos racialmente dominantes, e o sistema carcerário, cujo pretenso objetivo
de contenção da criminalidade é, na verdade, controle da pobreza, e mais especificamente,
controle racial da pobreza.
7. Racismo e direito
Historicamente, o racismo não pode ser dissociado do direito, embora nem todas as
manifestações racistas sejam jurídicas. É certo que atos de discriminação racial direta - e,
às vezes, até indireta - são na maioria das sociedades contemporâneas, considerados
ilegais e passíveis de sanção normativa. Entretanto, principalmente a partir de uma visão
estrutural do racismo, o direito não apenas é incapaz de debelar o racismo, como também
é por meio da forma jurídica que ocorrem os processos de formação dos sujeitos, dentro
os quais os sujeitos racializados. Há, portanto, duas visões sobre a relação entre direito e
racismo: 1) o direito é a forma mais eficiente de combate ao racismo, seja punindo
criminal e civilmente os racistas, seja estruturando políticas públicas de promoção da
igualdade; 2) o direito, ainda que possa introduzir mudanças superficiais na condição de
grupos minoritários, faz parte da mesma estrutura social que reproduz o racismo enquanto
prática política e como ideologia. O direito como indutor da racialização pode ser
vislumbrado de forma evidente nos regimes abertamente racistas. Nos regimes
colonialistas, o Code Noire (Código Negro) concebido em 1685, pelo jurista francês Jean-
Baptiste Colbert (1619-1683) foi central para “disciplinar” a relação entre senhores e
escravos nas colônias francesas. A escalada do nazismo contou com as leis de
Nuremberg, de 1935 que, dentre outras coisas, retiraram a cidadania alemã dos judeus e
marcaram o início oficial do projeto estatal antissemita. Na África da Sul, o apartheid foi
estruturado por um grande arcabouço legal, dentre as quais merecem destaque a lei da
imoralidade, de 1950, que criminalizava relações sexuais interraciais; a lei dos
bantustões, de 1951, que determinava que negros fossem enviados para territórios
conhecidos como homelands ou bantustões; a lei da cidadania da pátria negra, de 1971,
que retirava dos moradores dos bantustões a cidadania sul-africana. Já nos EUA, até 1963,
a segregação racial era oficialmente organizada pelas apelidadas “leis Jim Crow”, um
conjunto de normas jurídicas que estabelecia a separação entre negros e brancos no uso
de bens e serviços públicos, como escolas, parques e hospitais, além de permitir que
proprietários de estabelecimentos privados proibissem a entrada de pessoas negras. É
importante lembrar que ao se falar da relação entre direito e racismo, as instituições
jurídicas e seus operadores – advocacia, promotorias, judiciário e escolas de direito – não
pode ser olvidadas. Por isso, ainda no contexto da experiência estadunidense com o
racismo estatal, duas decisões da Suprema Corte merecem menção: o caso Dredd Scott v.
Sanford, de 1857, em que se decidiu que a escravidão não poderia ser juridicamente
contestada e que os negros não tinham direitos de cidadania; e o caso Plessy v. Ferguson,
de 1896, em que a Corte Suprema consolidou a doutrina separated but equal (separados,
mas iguais), permitindo a existência do regime segregacionista do sul e suas leis Jim
Crow. Mais recentemente, o caso McCleskey v. Kemp, de 1987, é considerado como a
chancela do judiciário à reprodução do racismo, pois em nome da “neutralidade racial”
(colorblindness),35 a Suprema Corte dos EUA proibiu que fossem levadas em conta
alegações de preconceito racial em condenações criminais, mesmo que apoiadas em
estatísticas confiáveis, a não ser que fosse comprovada a intenção deliberada de
discriminar por parte dos agentes do Estado. Para alguns autores, a postura
de neutralidade racial do judiciário, somada à política de guerra as drogas, abriu as portas
para encarceramento em massa e extermínio da população negra, fenômeno que pode ser
considerado uma renovação da segregação racial.36Por outro lado, transformações sociais
e econômicas, além da pressão de movimentos sociais antirracistas e anticolonialistas,
impactaram a opinião pública e o sistema jurídico, produzindo mudanças importantes em
relação ao tratamento da questão racial. Após a segunda grande guerra, em 1948, foi
celebrada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao que se seguiram inúmeros
tratados e resoluções importantes acerca da questão racial, dos quais se destaca a
Convenção 111, de 1958, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da
discriminação no emprego e na profissão, e a Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1965. Nos EUA, na trilha
aberta pelo Movimento pelos Direitos Civis, no ano 1964, foi promulgado o Ato dos
Direitos Civis, que extinguiu formalmente a segregação racial praticada nos Estados
sulistas. Antes da promulgação do Ato, pela Suprema Corte Americana já havia se
iniciado um movimento de desmonte das leis segregacionistas, como demonstrado no
famoso precedente de Brown v. Board of Education, de 1954, em que se decidiu que a
existência de escolas segregadas contrariava a Constituição dos EUA. Anos mais tarde, a
mesma Corte decidiria, em 1978, em Regents of University of California v. Bakke, que
ações afirmativas, ou seja, políticas públicas com recorte racial são constitucionais,
posição que viria a reafirmar no caso Grutter v. Bollinger, de 2003. No Brasil, a legislação
vem há anos tratando da questão racial. Em 1951, a lei Afonso Arinos tornou
contravenção a prática da discriminação racial. A Constituição de 1988 trouxe as
disposições mais relevantes sobre o tema ao, no âmbito penal, tornar o crime de
racismo inafiançável e imprescritível , disposição que orientou a lei 7716/89, a lei dos
crimes de racismo, também conhecida como lei Caó (em homenagem ao parlamentar
Carlos Alberto de Oliveira, o propositor do projeto de lei). A Constituição deu base,
especialmente, em artigos (1º, 5º e 3º), para a implementação de políticas de promoção
da igualdade racial ou de ação afirmativa, do que é exemplo a política de cotas raciais.
Por fim, o texto constitucional, garante de forma explícita o respeito à diversidade
religiosa (artigo 5º, incisos VI, VII e VIII) e proteção das diversas manifestações culturais
(artigo 215), além de estabelecer o dever de proteção às terras indígenas (art. 231) e
quilombolas (art. 68 da ADCT). Por fim, a lei 9.459/1997, acrescentou o §3º ao artigo
140 do Código Penal para que constasse o tipo penal da injúria racial ou qualificada. São
também importantes a lei n. 10.639/2003, que determina o ensino de história da África e
cultura afro-brasileira em todas as escolas nacionais, e 12.288/2010, conhecida como o
Estatuto da Igualdade racial, “destinado a garantir à população negra a efetivação da
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos
e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica” (art. 1º).Em
âmbito judicial, a experiência brasileira produziu importantes decisões sobre o tema, com
destaque para o HC 82.424 (conhecido como caso Ellwanger), que reafirmou a
imprescritibilidade do crime de racismo e deu início a uma importante discussão sobre os
limites entre liberdade de expressão e discurso de ódio, e a Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental 186, proposta pelo Partido Democratas (DEM) que questionava
o sistema de cotas raciais nas universidades públicas e em 2011, por decisão unânime do
plenário do Supremo Tribunal Federal, julgada improcedente, declarando-se
a constitucionalidade das cotas raciais.
8. Palavras finais
O combate ao racismo, desde os seus primórdios, tem sido travado em diversas frentes
que em muitos casos se unificam: na política, no direito, na produção teórica e nas
representações artísticas. Embora a resistência contra o racismo tenha raízes mais antigas,
foi no século XX que os movimentos sociais assumiram um decisivo protagonismo
político. Além da luta política – que envolveu disputas institucionais e até combates
armados -, os movimentos sociais formaram intelectuais de produção variada e feita sob
a influência das mais diversas matrizes culturais e ideológicas, que dialogaram, mesmo
que de modo tenso e muito crítico, com vertentes liberais, existencialistas e marxistas, o
que se pode observar na tradição de estudos decoloniais. O certo é que a experiência
política e intelectual dos movimentos sociais serviu para inspirar práticas políticas e
pedagógicas inovadoras que contestaram firmemente os fundamentos do
racismo. Particularmente no campo do direito, o antirracismo assumiu tanto a forma de
militância jurídica nos tribunais, a fim de garantir a cidadania aos grupos minoritários,
como também a de produção intelectual, cujo objetivo foi forjar teorias que
questionassem o racismo inscrito nas doutrinas e na metodologia de ensino do direito.
Mais uma vez tomando como exemple a experiência dos advogados e advogadas do
Movimento pelos Direitos Civis, basta dizer que tiveram participação decisiva no
desmonte do sistema normativo da segregação racial e nas conquistas de cidadania, tarefa
na qual com utilizaram dois argumentos jurídicos fundamentais: a promoção da
pluralidade e da diversidade e a necessidade reparação histórica às minorias. Entre os
1970 e 1980, surgiu nos EUA o movimento do Critical Race Theory37 (Teoria Critica
Racial), liderado por professores como Derrick Bell, Richard Delgado, Kimberly
Creenshaw, Mari Matsuda e Patricia Willians. Estes juristas introduziram um interessante
debate sobre a relação entre racismo, direito e poder, vez que consideravam a condição
de negros, latinos e asiáticos fator determinante na aplicação do direito. Nessa trilha, os
autores ligados à Critical Race Theory – que também são muito diversificados – ao
analisarem a relação entre racismo, direito e poder, tomaram como pontos de partida,
a crítica ao liberalismo e à idéia de neutralidade racial (colorblindness); crítica à
predominância teórica do eurocentrismo, inclusive nas práticas pedagógicas; a narrativa
de casos jurídicos de forma a destacar a experiência racial (storytelling); crítica ao
essencialismo filosófico; o uso da interseccionalidade na análise jurídica (consideração
sobre as questões de raça, gênero, sexualidade e classe); e estudos sobre a formação do
privilégio social branco (branquitude ou branquidade). No Brasil, os movimentos
sociais tiveram grande participação na construção dos direitos fundamentais e sociais
previstos na Constituição de 1988 e nas leis antirracistas, como a lei 10.639/2003, as leis
de cotas raciais nas universidades federais e no serviço público, no Estatuto da Igualdade
Racial e também nas decisões judiciais, inclusive com contribuições técnicas e teóricas
de grande relevância. Ainda assim, é sabido que o destino das políticas de combate ao
racismo está, como sempre esteve atrelado aos rumos políticos e econômicos da
sociedade.
Notas
1
Ver BANTON, Michael. A ideia de raça; também MENDES, Maria Manuela. Raça e
racismo: controvérsias e ambigüidades. Revista vivência, n. 39, 2012, p. 101-123.
2
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. p. 55
3
JAMES, C. R. L. Os jacobinos negros.
4
“O ego cogito moderno foi antecedido em mais de um século pelo ego conquiro (eu
conquisto) prático do luso-hispano que impôs sua vontade (a primeira “Vontade-de-
poder” moderna) sobre o índio americano. A conquista do México foi o primeiro âmbito
do ego moderno”. Ver DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo.
LANDER, Edgardo (Org.) A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais.
Perspectivas latino-americanas. p. 28. Ver, ainda, sobre a importância das conquistas na
teoria do conhecimento do século XVI: GROSFOGUEL, Ramón. Racismo/sexismo
epistémico, universidades occidentalizadas y los cuatro genocídios/epistemicidos del
largo siglo XVI. Tabula rasa. Bogotá, Universidad Colegio Mayor de Cundinamarca,
n.19, jul./dez. 2013, pp. 32-58, em destaque pp. 41-50; PEREIRA, Luiz Ismael. Teoria
Latino-americana do Estado: a insuficiência do modelo democrático e críticas. Revista
eletrônica direito e política. vol. 8, n. 1, pp. 563, nota 2.
5
Cf LAPLANTINE, François. Op. cit. pp. 42-46.
6
HALE, Charles. As ideias políticas e sociais na América Latina, 1870-1930. BETHELL,
Leslie (Org.). História da América Latina – Vol. IV. De 1870 a 1930. pp. 331-414.
7
FANON, Frantz. Racismo e Cultura. Em defesa da revolução africana.
8
Cf. LEVI-STRAUSS, Claude. Raça e história; GUIMARÃES, ALFREDO, Antônio
Sérgio. Racismo e anti-racismo no Brasil.
9
Sobre o conceito sociológico de minorias ver CHAVES, L. G Mendes. Minorias e seu
estudo no Brasil. Revista de ciências sociais, vol. II, n. 1, p. 149-168, 1971.
10
Cf. GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa e princípio constitucional da
igualdade. Ver também CENTRO FEMINISTA DE ESTUDOS E
ASSESSORIA. Discriminação positiva, ação afirmativa: em busca da igualdade.
11
ALEXANDER, Michelle. The new Jim Crow: mass incarceration in the era of
colorblindness. Em português: ALEXANDER, Michelle. A nova segregação:
encarceramento em massa na era da neutralidade racial.
12
DAVIS, Angela. Are prisons obsolete? Nova Iorque: Seven Stories Press, 2003.
13
Cf. TURE, Kwane (Stokely Carmichael); HAMILTON, Charles V. Black Power: the
politics of liberation; Ver também BONILLA-SILVA, Eduardo. Rethinking racism:
toward of a structural interpretation. American Sociological Review, Vol. 62, No. 3 (Jun.,
1997), pp. 465-480; do mesmo autor ver Racism without racist: color-blind racism and
the persistence of racial inequality in America.
14
Cf. BALIBAR, Etienne; WALLERSTEIN, Immanuel. Race, Class and Nation:
ambiguous identity.
15
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o
regime da economia patriarcal.
16
MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política.
17
Sobre o conceito ver VRON WARE (org.) Branquidade: identidade branca e
multiculturalismo; SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o
branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo.
18
MASCARO, Alysson Leandro. Op. cit., p. 67.
19
BUTLER, Judith. Mecanismos psíquicos del poder: teorias sobre la sujécion. Madrid,
Espanha: Cátedra, 2001.
20
SCHOLZ, Roswitha. O valor é o homem. Revista novos estudos. n. 45, julho de 1996,
p. 15-36
21
BALIBAR, Etienne; WALLERSTEIN, Immanuel. Race, class and nation: ambiguous
identity. p. 32.
22
PIRES, Eginardo. Valor e acumulação. p. 16.
23
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. p. 114.
24
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças.
25
Cf. HIRSCH, Joachim. Teoria materialista do Estado. Ver também ELIAS, Norbert. O
processo civilizador. Volume I: Uma história dos costumes.
26
Idem, Ibidem, p. 112.
27
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina.
28
Nesse sentido ver BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista: a
degradação do trabalho no século XX; HARVEY, David. Condição pós-moderna; para
uma discussão sobre a medição das desigualdades raciais no Brasil ver CHADAREVIAN,
Pedro C. Para medir as desigualdades raciais no mercado de trabalho. Rev. econ. polit,
vol. 31, n. 2, p. 283-304, June 2011.
29
Ver CABRAL, Amilcar. Obras escolhidas: unidade e luta (vols, I e II);
MARIÁTEGUI, José Carlos. Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana.
30
BATALLA, Guillermo Bonfil. Utopía y Revolución: El pensamiento político
contemporáneo de los indios en América Latina.
31
DECRAENE, Philippe. O pan-africanismo; NASCIMENTO, Abdias do. O Brasil na
mira do pan-africanismo.
32
KHALIDI, R. et. al. The origins of arab nationalism.
33
BALIBAR, Etienne; WALLERSTEIN, Immanuel. Race, class and nation: ambiguous
identity. p. 32.
34
“Quando asseguramos ao negro que ele é igual ao branco, quando ele afinal não o é,
secretamente tronamos a fazer-lhe injustiça. Nós o humilhamos amistosamente ao usar
um padrão de medida pelo qual ele necessariamente fica inferiorizado sob a pressão dos
sistemas – um padrão que, se satisfeito, representaria ganho duvidoso... O cadinho das
raças foi um arranjo do capitalismo industrial desabrido. A ideia de estar incluído nele
evoca o martírio mais do que a democracia”. ADORNO, Theodor. Minima moralia:
reflexões a partir da vida lesada. p. 99.
35
ver BROWN, Michael K. et al. Whitewashing race: the myth of a color-blind society.
36
ALEXANDER, Michelle. The new Jim Crow: mass incarceration in the era of
colorblindness. Em português: ALEXANDER, Michelle. A nova segregação:
encarceramento em massa na era da neutralidade racial.
37
Ver DELGADO, Richard e STEFANCIC, Jean. Critical race theory: an introduction.
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Michelle. A nova segregação: encarceramento em massa na era da neutralidade racial.
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Citação
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes
Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Teoria
Geral e Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga,
André Luiz Freire (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, 2017. Disponível
em:https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/92/edicao-1/racismo
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