Humanismo e Renascimento
Humanismo e Renascimento
Humanismo e Renascimento
Os Termos
O termo “Humanismo” foi usado pela primeira vez pelo filósofo e teólogo alemão
Friedrich Immanuel Niethammer (1766-1848) para designar a área cultural que
corresponde ao contexto espiritual dos estudos clássicos, em contraposição à área cultural
coberta por disciplinas científicas. Contudo, o termo “humanista” surgiu por volta do
século XV para indicar os professores de gramática, retórica, poesia, história e filosofia
moral. Já antes, porém, no século XIV falava-se de studia humanitatis e de studia
humaniora, referindo-se às afirmações de Cícero e Gélio, que entendiam por humanitas
aproximadamente aquilo que os helênicos chamavam de Paideia, ou seja, a educação e
formação do homem. Assim sendo, podemos falar que o humanismo cobre um período
que começa pelos 1300 até seu declínio nos 1600, entrelaçando-se com o período que
conhecemos como Renascimento ou Renascença.
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Resumo do livro: REALE e ANTISERI. História da filosofia: do humanismo a Descartes. V. 3. Tradução
de Ivo Storniolo. Editora Paulos: São Paulo, 2004.
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interpretações dos clássicos gregos e latinos, de modo diverso do entendimento da Idade
Média. Temos assim o renascimento de uma outra visão de homem, da política e das
artes, fortemente influenciada pelos textos clássicos. Outro aspecto marcante desta época
é a revivescência do componente helenístico-orientalizante, cheio de ressonâncias
mágico-teúrgicas2, difundido em alguns escritos que a tardia antiguidade havia atribuído
a deuses ou profetas antiquíssimos e que, na realidade, eram falsificações, mas que os
renascentistas tomaram como autênticas, tendo consequências de grande importância.
Entre os escritos marcantes deste aspecto temos os atribuídos a Hermes Trimegisto,
Zoroastro e Orfeu.
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A “teurgia” é a “sabedoria” e a “arte” da magia utilizada para finalidades místico-religiosas.
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diferente da doutrina que remonta ao orfismo original, contém doutrinas estoicas e outras
provenientes do meio filosófico-teológico alexandrino.
Os Humanistas
1) Conhece-te a ti mesmo.
2) Artes liberais como método para alcançar a sabedoria.
Há uma passagem famosa sobre sua vida para ilustrar o primeiro ponto. Petrarca
subiu ao monte Ventoso e lá chegando abriu as Confissões de Santo Agostinho, e as
primeiras palavras que encontrou foram: “E os homens admiram os altos montes, as
grandes ondas do mar, os largos leitos dos rios, a imensidade do oceano e o curso das
estrelas; e esquecem-se de si mesmos”. Então ele comenta: “Há muito tempo eu deveria
ter aprendido, inclusive com os filósofos pagãos, que nada é digno de admiração além da
alma, para a qual nada é grande demais”.
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1) Reafirma a supremacia das artes liberais contra as ciências naturais e a
medicina.
2) A filosofia deve ser testemunhada e transmitida com a própria vida. A vontade
como exercício de liberdade.
3) Primado da vida ativa contra a vida contemplativa.
4) Promotor da primeira Cátedra de grego em Florença.
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Neoplatonismo Renascentista
Em seu livro Douta Ignorância, temos a seguinte tese sobre o conhecimento: para
alcançarmos o conhecimento colocamos as coisas em comparação, isto é, em certo-
incerto, conhecido-desconhecido. Mas ao falarmos de infinito escapamos de toda
proporção, sobrando assim apenas o desconhecido. Nosso não-saber em relação ao
infinito deve-se a esta não-proporção. Mas buscamos conhecer, ainda assim, o infinito. A
consciência da desproporção entre a mente (finita) e o infinito e a busca dentro dos
parâmetros dessa consciência é o que Nicolau de Cusa chama de douta ignorância.
Buscamos então por aproximação uma verdade que é inalcançável através da
“coincidência dos opostos” que ocorre no infinito (Deus).
Outro exemplo é o aumento do raio do círculo que coincide com a reta, como no
exemplo geométrico alusivo, que se segue:
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a) Percepção sensorial afirmativa.
b) Razão discursiva que trabalha nos moldes de não-contradição (afirma
enquanto nega seu oposto).
c) Intelecto acima da razão que afirma e nega, como ele mesmo diz: “Assim de
modo incompreensível acima de todo discurso racional, vemos que o máximo
absoluto é o infinito, ao qual nada se opõe e com o qual o mínimo coincide”.
1) Relação Deus-Mundo.
2) Tudo está em tudo.
3) O homem como microcosmo.
Em relação ao primeiro tema temos a derivação das coisas em sua relação com
Deus, que se apresenta em três conceitos:
Em relação ao segundo tema podemos dizer que cada ser resume o universo inteiro
e Deus. “Dizer ‘qualquer coisa está em qualquer coisa’ não é mais que dizer ‘Deus está
em tudo pelo tudo’ ou ‘tudo está em Deus pelo tudo’”.
O terceiro tema segue como consequência do que foi dito, chegando ao conceito
de homem como microcosmo, que pode ser entendido em
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b) No plano ontológico especial, uma vez que é dotado de mente e conhecimento,
do ponto de vista cognoscitivo, é “implicação” das imagens de todas as coisas.
1 Deus 5
2 Anjo 4
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Pico della Mirandola (1463-1444) – Trouxe a cabala, agregando-a ao hermetismo
e à magia. Não excluiu Aristóteles de seu programa. Defendeu algumas conquistas da
escolástica, sobretudo a gramatologia. Desejou que a reforma não se limitasse ao plano
teórico, mas também se espraiasse pela vida religiosa.
Aristotelismo Renascentista
a) A autoridade de Aristóteles.
b) Raciocínio aplicado aos fatos.
c) Experiência direta.
Um outro aspecto que devemos destacar é a doutrina da dupla verdade, que pode
ser expressa da seguinte forma: “sobre a base da razão e da doutrina aristotélica uma coisa
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pode se tonar mais provável, mesmo que sobre a base da fé seja aceito o oposto”. Deste
modo temos uma distinção heurística e metodológica, e não a desconsideração e o
abandono da esfera teológica. Este conceito será apresentado por Pomponazzi, que será
o próximo autor a ser abordado.
Pedro Pomponazzi (1462 -1525) – Foi o mais discutido dos Aristotélicos e sua
obra De immortalitate animae causou muita polêmica. Sua tese é a seguinte: a alma
intelectiva é o princípio do entendimento e do querer imanente do homem. Diferente dos
animais, que possuem alma sensitiva, o homem pode conhecer o universal e o
suprassensível. Sua alma, porém, não pode prescindir de um corpo e, deste modo, ela
nasce e morre com o corpo. A polêmica se encontra em que tanto para platônicos quanto
para cristãos a alma e sua imortalidade era considerada algo absolutamente fundamental.
Ele, no entanto, não queria negar a imortalidade da alma, mas apenas demonstrar que não
se pode chegar até ela a partir de uma verdade demonstrada pela razão, e, sendo isto do
campo da fé, deveria ser provado pelos instrumentos da mesma – a revelação e escrituras
canônicas. Assim temos a “dupla verdade” que falamos acima.
Helenismo
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Michel de Montaigne (1533-1592) – o que intriga é seu ceticismo conviver com
sua crença na fé, pois, segundo ele, o ceticismo ataca a razão, mas não põe em causa a fé.
Religião e Renascença
Seu livro mais famoso é Elogio da loucura. A loucura erasminiana pode ser
entendida como aquilo que arranca os véus, revelando-nos a “verdade”.
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1) Doutrina da justificação radical do homem unicamente pela fé.
2) Doutrina da infalibilidade da Escritura, considerada como única fonte de
verdade.
3) Doutrina do sacerdócio universal e a doutrina do livre-exame das Escrituras.
Contra-Reforma