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ISSNde1415-
Hortaliças
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FERTIRRIGAÇÃO DE HORTALIÇAS
1. INTRODUÇÃO
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As hortaliças têm um valor de produção maior que o de muitas culturas
tradicionais do Brasil, atingindo cerca de 2,5 milhões de dólares em 2002,
com uma produção de 15 milhões de toneladas de alimentos numa área de
pouco mais de 807 mil hectares. A produtividade das hortaliças está
Técnica
Circular
zinco (Zn). Além dos macro e micronutrientes negativamente a qualidade do fruto e faz com
minerais, a planta necessita do carbono (C), que as plantas fiquem mais suscetíveis ao
do hidrogênio (H) e do oxigênio (O) que são ataque de insetos-praga e doenças.
providos pelo ar e pela água.
As principais fontes de adubos
Os nutrientes mais utilizados via nitrogenados para uso na fertirrigação das
fertirrigação são aqueles com maior hortaliças são o nitrato de cálcio (14 a
mobilidade no solo, como o K e o N. No 15,5% N), o nitrato de potássio (13% N), o
entanto, a fertirrigação com P e Ca, nitrato de amônio (34% N) a uréia (45% N),
principalmente via gotejamento e em solos o MAP purificado (11% N), o DAP (16% N)
com baixos a médios teores destes e o sulfato de amônio (21% N).
nutrientes, pode proporcionar melhor
rendimento das culturas. No início do ciclo da cultura, devem-se usar
formas amoniacais, que são melhor
Para os nutrientes que apresentam forte aproveitadas por plantas jovens, ou amídicas,
interação com a matriz do solo como que são transformadas no solo para amônio,
fósforo e zinco e que se movimentam como o MAP e a uréia. A partir de um certo
predominantemente por difusão, a período, com o início do florescimento, as
fertirrigação por gotejamento aumenta a formas nítricas são mais prontamente
eficiência da adubação, principalmente absorvidas e translocadas para a parte aérea
em solos arenosos, porque concentra o da planta. Assim, considerando os aspectos
fertilizante na região de maior umidade e custos, lixiviação e volatilização, é
maior densidade de raízes. Por saturar os recomendável que a partir do máximo
sítios de ligação, propicia maior desenvolvimento vegetativo ou do início da
disponibilidade do nutriente para floração haja um balanço entre as formas
absorção pela planta e favorece sua nítrica e amídica ou amoniacal, podendo-se
movimentação no solo. aplicar uma combinação de 30 a 65% do N
na forma nítrica e o restante na forma
O nitrogênio está presente na constituição amídica (uréia), que é o fertilizante de menor
de diversas moléculas de ação biológica custo por unidade de N.
tais como ácidos nucleicos, aminoácidos e
proteínas, desempenhando papel O potássio (K) age como catalisador de
fundamental no crescimento e algumas reações enzimáticas, e está envolvido
desenvolvimento das plantas, sendo talvez com a turgidez das células, abertura e
o elemento de maior influência na fechamento dos estômatos, e no processo de
produção das culturas. A carência de síntese, acumulação e transporte de
nitrogênio reduz o crescimento e provoca carboidratos. Plantas com deficiência de K
clorose das folhas mais velhas, que podem produzem frutos de pior qualidade, com menor
até secar se a deficiência permanecer por teor de sólidos solúveis e mais azedos, com
longo tempo. Em períodos quentes e de maturação desuniforme, ocos e com manchas
alta luminosidade, a quantidade de N pode esverdeadas na parte basal, o que também
ser aumentada para possibilitar um prejudica a maturação. Teores adequados de K
contínuo crescimento e maximizar a na planta podem aumentar a resistência ao
produção de frutos. No entanto, o excesso armazenamento pós-colheita.
de N em hortaliças de frutos provoca um
vigoroso crescimento vegetativo em As fontes de K mais usadas para as hortaliças
detrimento da produção de frutos, são o cloreto de potássio (50% K), o nitrato
intensifica a coloração verde, afeta de potássio (36% K), o sulfato de potássio
Fertirrigação de Hortaliças 3
(41% K) e o fosfato monopotássico (28% K). calcítico, ou por ocasião do plantio, usando
O cloreto e o sulfato devem ser evitados em fertilizantes contendo tais elementos. A
solos salinos ou em solos submetidos a fertirrigação com cálcio (Ca) a partir do
condições favoráveis à salinização, como no florescimento é uma prática usada na
cultivo em casas de vegetação. irrigação por gotejamento do tomate de
mesa, pimentão e cucurbitáceas para
O fósforo (P) desempenha papel fundamental diminuir a ocorrência de podridão apical. A
nos processos energéticos das plantas e está aplicação de Ca em fertirrigação por
presente nos compostos que constituem as gotejamento é uma prática também
substâncias responsáveis pela transmissão bastante usada em folhosas como a alface,
do código genético das células (DNA e RNA). principalmente, na fase de máximo
A carência de fósforo reduz o crescimento, desenvolvimento da cultura, evitando o
principalmente após a emissão das folhas “coração negro” e queima de bordas
novas. Os sintomas de sua deficiência foliares. Recomenda-se aplicar de 70 a
aparecem primeiro nas folhas mais velhas, 120 kg ha-1 de Ca na água de irrigação
que apresentam coloração arroxeada, para estas culturas. As fontes mais
iniciando-se nas nervuras. O excesso afeta a comuns são o nitrato de cálcio (20% Ca) e
assimilação do nitrogênio, tornando o tecido o cloreto de cálcio (24% Ca), sendo o
duro e quebradiço, e diminui o crescimento cloreto a fonte de Ca de menor custo. A
da planta, provavelmente por afetar a aplicação de Ca, no entanto, pode
absorção de Zn, Fe e Cu. acarretar problemas de entupimento de
gotejadores, não devendo ser realizada no
Todo o P é geralmente aplicado no plantio na
mesmo dia de qualquer fonte de sulfato,
forma de formulações NPK. No entanto,
nitrato ou fosfato. Para suprimento de Mg,
resultados de pesquisa têm demonstrado que
quando necessário, a fonte mais usada é o
a aplicação de uma parte do fósforo em
sulfato de magnésio (13% Mg).
fertirrigação, por gotejamento, na forma P
solúvel, pode aumentar significativamente a As adubações pós-plantio das hortaliças
produtividade, comparativamente à aplicação irrigadas por gotejamento e aspersão devem
de 100% do P em pré-plantio. Todavia, a ser realizadas preferencialmente por meio
fertirrigação com P em água salobra ou em da fertirrigação. Neste caso, as fontes de
mistura com Ca e Mg provoca precipitações nutrientes devem ser completamente
de sais no interior das tubulações e o solúveis. Diversas formulações de adubos
entupimento dos gotejadores. As principais NPK, sólidos ou líquidos, estão disponíveis
fontes de fósforo para a fertirrigação de no mercado para aplicação via água de
hortaliças são o ácido fosfórico (22 a 32% P), irrigação. Todavia, fontes sólidas com
o fosfato monopotássico (MKP-23% P), o elemento simples devem ser preferidas em
fosfato monoamônico purificado (MAP-26% razão do menor custo e pelo fato de
P) e o fosfato diamônico (DAP-16% P). haverem necessidades variáveis ao longo
do ciclo de desenvolvimento da cultura.
O cálcio é absorvido em grandes quantidades
pela maioria das hortaliças em que os frutos
são os produtos comerciais. É responsável 3. NECESSIDADE TOTAL DE
pelo bom desenvolvimento radicular e NUTRIENTES
fortalecimento da parede celular. O
suprimento de cálcio e magnésio às plantas é, Determinações das necessidades totais de
normalmente, realizado por meio da calagem, adubação P e K têm sido realizadas
com a aplicação de calcário dolomítico ou individualmente a partir de tabela de
4 Fertirrigação de Hortaliças
Para transformar K em K2O, dividir por 0,83, A taxa de absorção diária de nutrientes pela
então: planta para máximo rendimento e obtenção
de uma produção de qualidade é específica
NK 2O = 227 / 0,83 = 273 kg ha-1 de K2O para a cultura, sendo variável ao longo do
ciclo e dependente das condições climáticas
d) Cálculo da necessidade de N e produtividade a ser alcançada. A marcha
de absorção de nutrientes da cultura é uma
A quantidade de N necessária para formação
ferramenta muito útil para se proceder ao
do dossel vegetativo e para cada tonelada de
parcelamento de nutrientes ao longo do
fruto é respectivamente 110 kg ha-1 e 2,5 kg
ciclo da cultura. Para algumas hortaliças,
t-1 de N (Tabela 3). Usando a equação (3),
são apresentadas nas Tabelas 4 a 6 as
tem-se:
marchas de absorção dos nutrientes N, P e
Necessidade de N: K, em percentuais do total a ser aplicado
semanalmente, as quais podem ser
NTN = (NDN + QN · Pr) utilizadas para realizar o parcelamento
destes nutrientes via fertirrigação.
NTN = (110 + 2,5 x 120) = 410 kg ha-1 de
N A título de ilustração, para a segunda
semana da cultura:
Desta forma, recomenda-se a aplicação total
de 410 kg ha-1 de N, de 695 kg ha-1 de P2 O5 e - considerando os dados do exemplo de
de 273 kg ha-1 de K 2O. As quantidades totais cálculo (item 3.6),
calculadas devem ser parceladas ao longo do
ciclo da cultura conforme indicado a seguir. - utilizando a curva de absorção da tabela
5,
A análise foliar é muito útil e eficiente para Normalmente em aspersão usa-se espaçar a
diagnosticar deficiências de nutrientes aplicação dos fertilizantes em semanas ou até
antes do surgimento dos sintomas visuais, mais dias. No entanto, na fertirrigação por
pois quando os sintomas aparecem, a gotejamento é bem mais frequente e pode ser
produção já está prejudicada. A análise igual à frequencia de irrigação como nos
foliar é adequada para o correto manejo da sistemas automatizados ou frequencias fixas
fertirrigação principalmente com para não interferir tanto com as outras
micronutrientes. Na ausência da análise práticas na propriedade. Alta freqüência e
foliar, para prevenir carência durante o pequena quantidade de fertilizantes, reduz
desenvolvimento da cultura, pode-se fazer perdas por lixiviação e mantém uma ótima
aplicação de um coquetel de concentração de nutrientes na zona radicular.
micronutrientes em fertirrigação (Tabela 8),
utilizando semanalmente 0,1 mL m -2. Em No comércio existe uma infinidade de
sistemas por aspersão não se recomenda formulações diferentes e já prontas para serem
utilizar micronutrientes em fertirrigação pois usadas. Apresentam a vantagem de já estarem
em área total, a eficiência de aplicação balanceadas mas são de forma geral bem mais
desses nutrientes é muito baixa, caras.
especialmente o Zinco.
4.2. Salinização
4.1. Precauções na Fertirrigação O processo de salinização é mais comum em
Quando se faz a fertirrigação tem-se que regiões de clima árido e semi-árido, em razão
tomar cuidados extras para se evitar os de as águas apresentarem, via de regra,
casos específicos de entupimentos. É maiores teores de sais e dos baixos índices de
necessário portanto se proceder uma precipitação. Problemas de salinidade têm sido
filtragem da solução após a injeção do observados em sistemas fertirrigados sob
fertilizante, principalmente na irrigação cultivo protegido, mesmo em regiões com
localizada, microaspersão e gotejamento. precipitação anual acima de 1.000 mm. Isso
Neste caso, pode-se usar filtros de tela ou se deve à interceptação da precipitação
de disco que são mais baratos e fáceis de natural pela cobertura da estufa, ao uso
se usar. excessivo de adubação e ao manejo
inadequado tanto do solo quanto da irrigação.
A prática da fertirrigação foi desenvolvida e
é mais usada em sistemas pressurizados, Em solos cultivados sob ambiente protegido é
neste caso pode-se usar uma regra prática bastante comum a ocorrência de salinização,
para se determinar o tempo de aplicação do que é o acúmulo de sais solúveis provenientes
fertilizante que é baseado no tempo total dos fertilizantes. A velocidade deste processo
de irrigação. Um quarto do tempo é usado será tanto maior quanto pior for o manejo da
para a pressurização do sistema, nos dois irrigação, da fertirrigação e do sistema de
quartos seguintes é realizada a fertirrigação cultivo. A salinidade é medida por meio da
propriamente dita e o quarto restante é condutividade elétrica (CE) da solução do solo
aplicado água pura para a lavagem de todo (extrato de saturação). Entretanto, o extrato
o sistema de irrigação. de saturação é um método trabalhoso e que
em muitas regiões do Brasil não é realizado
A freqüência da fertirrigação é dependente rotineiramente pelos laboratórios de análise de
do sistema de irrigação, do tipo de solo, da solos. Como alternativa, a CE pode ser
capacidade do sistema, da mão de obra estimada “grosseiramente” por meio de sua
disponível e da preferencia do produtor. medição no extrato 1:2,5 (solo: água), tal
Fertirrigação de Hortaliças 9
Tabela 1. Níveis de segurança de fósforo, potássio e micronutrientes no solo para o cultivo de hortaliças.
Zn Mn Fe Cu B
1,5-2,0 8 -12 30-40 1,2-2,0 0,60 -1,0
1/ Sugere-se usar como níveis de segurança para o fósforo o valor inferior das faixas 32, 48 e 80 mg dm-3 de P em solos
argilosos, médios e arenosos respectivamente, e para o potássio, o valor médio de 115 mg dm-3 de K.
Tabela 2. Quantidade total de P a ser aplicada, em pre-plantio e fertirrigação por gotejamento, no cultivo de algumas
hortaliças para a formação do dossel vegetativo (NDP), em kg ha-1, e para a produção de uma tonelada de frutos (QP), em
kg t -1, conforme a textura do solo.
Tabela 3. Quantidades de N e de K a serem aplicadas em algumas hortaliças para a formação do dossel vegetativo (NDN ou K),
em kg ha-1, e para a produção de uma tonelada de frutos (QN ou K), em kg t-1, conforme o sistema de irrigação.
Nitrogênio Potássio
Cultura Sistema de irrigação
NDN QN NDK QK
Tabela 4. Sugestão de parcelamento diário para NPK via fertirrigação em tomateiro para mesa, cultivado em casa de
vegetação e a campo
Tabela 5. Sugestão de parcelamento diário para NPK via fertirrigação em pimentão cultivado em casa de vegetação e a
campo e alface
Tabela 6. Sugestão de parcelamento diário para NPK via fertirrigação em melão e pepino
Tabela 7. Quantidades de nutrientes NPK a serem aplicadas via fertirrigação por gotejamento no cultivo de pimentão em
casa de vegetação (exemplo apresentado no item 3.6)
Tabela 8. Quantidade de micronutrientes para preparação da solução estoque a ser aplicada via fertirrigação por gotejamento
em hortaliças cultivadas em solo, na dosagem de 0,1 mL m-2 por semana.