A Linguagem Da Polidez Na Comunicacao or PDF
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RESUMO
Este trabalho tem como pressuposto a hipótese de “linguagem como produtora de efeitos e
não como meio de transporte de sentido”. Assim, o que acontece ao sujeito ou o que ele faz
acontecer, deve ser descrito em termos de um vocabulário de ações intencionais, isto é:
descrito de modo a permitir ou a solicitar uma pergunta: “por que razão, com que fins”?
Nesta perspectiva, a linguagem da polidez na comunicação organizacional inclui
complexas estratégias pragmáticas que vão além do uso de regras de etiqueta ou rituais
de saudação, refletindo os propósitos e o comportamento político dos indivíduos
envolvidos nas interações.
seja: devem considerar as restrições que pertencem ao universo em que vivem “(...) tudo
aquilo que numa determinada época e num determinado lugar seja possível e aceitável de
se fazer com os textos e com os discursos” (ARROJO,1992, p.39).
Investigar o contexto de uso das palavras é o mesmo que investigar o sentido das
palavras e frases, e mesmo que algumas regras não sejam tão óbvias ou transparentes, estão
sempre presentes organizando os seus sentidos. Neste ponto é preciso ressaltar que,
qualquer investigação sobre o indivíduo, tentando compreender sua conduta, suas ações,
deve obrigatoriamente considerar a multiplicidade de crenças e propósitos que o determina
(BEZERRA JÚNIOR, 1994).
Com este estatuto para a linguagem e com o aporte da Lingüística Pragmática é
possível fazer uma incursão pelo “Mundo dos Usuários”, um termo cunhado por Jacob
MEY (1983) para indicar a dimensão concreta das interações. Neste universo “vivo” do
uso da palavra, conversar ou usar a linguagem de forma expressiva ou comunicativa em
geral, consiste na continua realização de escolhas lingüísticas, conscientes ou
inconscientes, para a realização de propósitos lingüísticos e extra- lingüísticos.
Conseqüentemente, uma teoria pragmática interessada na linguagem da polidez na
comunicação organizacional deve voltar-se para o estudo dos mecanismos e motivações
subjacentes às escolhas lingüísticas, às restrições que os indivíduos encontram ao fazer uso
da linguagem e aos efeitos que as escolhas e restrições têm sobre as pessoas envolvidas nas
interações.
2 A POLIDEZ
A Polidez tem sido abordada a partir de múltiplas perspectivas e embora não haja
uma definição conceitual a respeito, concorda-se que envolve o uso de estratégias verbais a
fim de manter a interação “livre de problemas”. No cenário social das organizações, por
exemplo, com as suas regras de conversação específica e rotinas intelectuais próprias, a
polidez não pode ser negligenciada como “ação política”.
Segundo HAVERKATE (1983, p. 641), os falantes geralmente querem causar boa
impressão sobre os ouvintes, ou seja: os falantes tendem a se expressar de tal forma que
os seus interlocutores os consideram pessoas razoáveis e sociáveis.
Como objetivo inicial da interação, as estratégias verbais ligadas à polidez visam
transmitir uma imagem positiva do usuário, a fim de obter um retorno favorável para o
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dos indivíduos envolvidos. Com isto, diferentes graus de polidez poderão ser
observados à medida em que variam as exigências feitas pelas normas sociais,
necessidade de manutenção da relação interpessoal, propósitos envolvidos,
estratégias, interesses convergentes para a preservação da “autonomia relativa”
etc.
DERRIDA (1991, p. 271) afirma: “Cada vez que uma retórica define a metáfora,
implica não só uma filosofia mas também uma rede conceitual na qual a filosofia se
constitui”.
Ora, a filosofia do mundo industrial é o lucro e a acumulação, e os usos lingüísticos
não são indissociáveis da globalidade da situação. Portanto, explicitam seus efeitos em
relação ao “sucesso e ao interesse”. Estas metáforas são essenciais para a filosofia
pervagante no cotidiano e refletem a dimensão para onde convergem tempo, energia e
esforços consideráveis dos indivíduos e organizações.
Pragmaticamente falando, sucesso e interesse estão interligados e implicam em
considerar minuciosamente a contribuição dos aspectos extra-lingüísticos, contudo, sem
perder de vistas as condições internas aos enunciados, pois como observou AUSTIN
(1990, p. 26): “(...) é sempre necessário que as circunstâncias em que as palavras forem
proferidas sejam, de algum modo, apropriadas”. É preciso atentar para o risco do
“fracasso” (não como um fator acidental), mas como uma condição a que estão expostos
todos os atos convencionais.
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Sucesso e interesse, por si, são meras abstrações e nas interações é pouco provável
que se possa definir claramente onde começam e terminam os eventos estratégicos que
levam ao objetivo almejado, pois são muitas as variáveis que interferem nesses processos.
Isto inclui, obviamente, as relações da organização com os seus públicos através dos
processos comunicacionais.
Entre indivíduos com certo grau de familiaridade é possível o reconhecimento das
intenções alheias, mas a regra geral é que não há um evento discreto, pronto para ser
apontado e avaliado por meio de uma simples análise. O que existe, nos processo
interativos, é uma sucessão, um contínuum onde é necessário empregar pressupostos,
inferências obtidas a partir de implicaturas, pistas e informações contextuais,
conhecimento de mundo compartilhado, conhecimento lingüístico etc, para se formalizar a
conexão factual que será apontada como “sucesso ou interesse” nesta ou naquela ação.
Freire COSTA (1994, p. 22) “diz que não é possível definir categorias de
características suscetíveis de serem aplicadas de forma perfeita e homogênea para todos os
casos de desejo”. O mesmo é verdadeiro para os casos de sucesso e interesse (minha
observação). “O desejo enquanto evento intencional é sempre o desejo de alguma coisa...
desejar é visar qualquer coisa que é sempre uma alteração de estados do sujeito ou do
mundo”.
A exemplo de outras metáforas, “sucesso e interesse” refletem crenças que devem
ser investigadas. “A tarefa da pragmática é desconstruir a metáfora a fim de descarregar a
arma carregada da linguagem” (MEY, 1993, p. 34). Neste caso, cumpre-nos verificar como
o “que é dito” ou “não é dito” de forma convencional ou de maneira singular, com o
emprego da linguagem polida no discurso das organizações, está associado a propósitos
específicos e não se trata, na maioria das vezes, de mero ritual de formalidades; sim, ações
políticas.
Nesta linha argumentativa, interesse, propósito, objetivo ou desejo são
indiscerníveis. Refletem, na melhor das hipóteses, finalidades da ação. No atual contexto, a
convergência destas finalidades não avança rumo ao altruísmo ou cooperação. Como já
observamos, integra-se ao esforço final do lucro e da acumulação. Obviamente, os
discursos organizacionais polidos, acontecendo em tempo integral, e embora não nos
falem explicitamente porque as coisas acontecem, respondem à mesma dinâmica da
circulação de mercadorias.
Com isto, a conversão das ações políticas em um conjunto de crenças
mercantilizadas, aponta, diretamente, para alguma das forças que se apropriaram desta
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produção humana, a ordem social; e as organizações, com suas rotinas específicas, voltam-
se, todas, para a mesma direção, conseqüentemente, ditando o escopo da linguagem da
polidez.
3 “CORRETAMENTE” POLIDO
Em (1) o falante não está simplesmente fazendo uma pergunta sobre a capacidade
física do ouvinte mas efetivamente realizando um pedido. Não pretende obter como
resposta um “sim” ou “não”, mas o ato concreto de a caneta passar às suas mãos. O
constituinte pode não é apenas a explicitude da pré-condição inerente à performance dos
atos de fala impositivos, mas um signo formal de polidez.
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B sabe que emitir uma opinião neste caso coloca em risco a face de A. Caso não se
manifeste, estará transgredindo o princípio de cooperação. Diante desta situação conflitual,
B aplica o que LEECH (1983) chama de máxima de tato, e o resultado é uma resposta sem
uma referência concreta avaliável nas circunstâncias. Obviamente, caso B tenha uma
posição social, status, cargo diretivo na organização, propósitos divergentes, pode escolher
uma resposta que será mais, ou menos, explicitamente impositiva. Tal opção, no entanto,
gera abalos no vínculo relacional resultando em um processo de não-cooperação.
Em muitas circunstâncias, as regras de protocolo social tornam mais relevante a
obediência às normas de polidez que a manutenção da própria sinceridade (a “pressão das
promessas” que as organizações estão envolvidas reforçam esta hipótese). Vejamos:
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(3) A: Não se preocupe, estas coisas acontecem. A polícia vai recuperar o seu carro. No
entanto, se precisar de alguma coisa...
B: Obrigado....não é necessário.
O enunciado (4), embora pareça um simples pedido, tem uma força ilocucionária de
“ordem impositiva”.
a organização militar e para as organizações comerciais. Nenhum espaço está livre de tais
determinações. Por isto, a “espetacularização” é dignificada e os indivíduos instados a
participarem deste cenário em uma escala cada vez maior. O que era uma imposição
transformou-se em sujeição.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer : palavras e ação. Porto Alegre : Artes Médicas,
1990.
SEARLE, J. Indirect speech acts. In: COLE, P. ; MORGAN, J. (Eds.). New York :
Academic Press, 1975. p. 59-82.