Cap 03 Carajs
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Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto
1 – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 562, São Paulo, SP. CEP 05508-080. E-
mail: lena.monteiro@usp.br
2 – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Rua João Pandiá Calógeras, 51, Campinas,
São Paulo. CEP 13083-870. E-mails: xavier@ige.unicamp.br; beto@ige.unicamp.br;
carolina.moreto@ige.unicamp.br
INTRODUÇÃO
distinta nos dois domínios e isso se reflete de for-
ma marcante na metalogenia da Província Cara-
A Província Carajás (Santos et al. 2000, Santos
jás.
2003) compreende o núcleo crustal mais antigo
No Domínio Rio Maria ocorrem depósitos aurí-
do Cráton Amazônico e representa uma das mais
feros orogênicos associados a zonas de cisalha-
importantes províncias minerais do planeta. For-
mento regionais que interceptam as sequências
mada e estabilizada tectonicamente no Arqueano
greenstone belt, além da principal reserva de Tun-
(Teixeira et al. 1989, Tassinari 1996, Tassinari &
gstênio conhecida na Amazônia, representada pelo
Macambira 1999, 2004), a Província Carajás é sub-
depósito de Pedra Preta.
dividida em dois domínios tectônicos, Carajás e Rio
No Domínio Carajás, a diversidade e o potenci-
Maria (Santos 2003, Vasquez et al. 2008a), limita-
al metalogenético são notáveis. O domínio desta-
dos por uma descontinuidade regional de direção
ca-se por apresentar depósitos gigantes de mi-
aproximada E-W.
nério de Ferro de alto teor, a maior quantidade
Os domínios Rio Maria, ao sul, e Carajás, ao
conhecida no planeta de depósitos de óxido de
norte, apresentam significativas diferenças em sua
Ferro-Cobre-Ouro de classe mundial e um dos ra-
evolução geológica, reconhecidas a partir das as-
ros exemplos mundiais de depósito de Ouro-EGP
sociações litológicas presentes nos dois blocos.
associado a rochas metassedimentares, represen-
No Domínio Rio Maria, há predominância de faixas
tado por Serra Pelada, que se tornou famoso na
de greenstone belts strictu sensu e magmatismo
década de 1980 devido à intensa atividade ga-
mesoarqueano tonalítico-trondjemítico-granodio-
rimpeira. Adicionalmente, depósitos cupro-aurífe-
rítico (TTG), sanukitóide e granítico (Oliveira et al.
ros sem associação com óxidos de Ferro ou poli-
2009, 2010, Almeida et al. 2010, 2011). No Domí-
metálicos, depósitos de Cromo e Níquel-EGP as-
nio Carajás, unidades ultramáficas são raras nas
sociados a intrusões máfica-ultramáficas acama-
sequências metavulcano-sedimentares e o mag-
dadas, depósitos manganesíferos sedimentares e
matismo mesoarqueano, predominantemente gra-
depósitos lateríticos de Ouro, Níquel e Bauxita
nítico, não revela caráter juvenil. Importante even-
apresentam grande importância econômica.
to de granitogênese (ca. 2,76 – 2,74 Ga; Huhn et
A particular evolução metalogenética da Pro-
al. 1999b, Avelar et al. 1999, Barros et al. 2009,
víncia Carajás é apresentada a seguir, a partir da
Feio et al. 2012) e extensivo retrabalhamento crus-
síntese dos atributos e modelos genéticos já pro-
tal durante o Neoarqueano são restritos a esse
postos para os seus depósitos.
domínio. Magmatismo granítico anorogênico pale-
oproterozóico (ca. 1,88 Ga; Machado et al. 1991,
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
Dall’Agnoll et al. 1994, 1999a, 1999b, 2005, Talla-
rico 2003) ocorre amplamente em ambos os domí-
A Província Carajás foi incluída na Província
nios, assim como coberturas sedimentares arque-
Amazônia Central no modelo de compartimenta-
anas a paleoproterozóicas. No entanto, as dife-
ção tectônica do Cráton Amazônico proposto por
renças podem apontar para evolução tectônica
Tassinari e Macambira (2004). Na proposta de San-
43
Lena Virgínia S. Monteiro, Roberto P. Xavier, Carlos R. de Souza Filho & Carolina Penteado N. Moreto
Dall’Agnol & Oliveira 2007) também são reconhe- possibilitado fusão de cros- ta oceânica
cidas nesse domínio. basáltica gerando magma TTG. Parte
Segundo Souza et al. (2001), Leite et al.
(2004), Vasquez et al. (2008a), Oliveira et al.
(2010) e Al- meida et al. (2011), a evolução
geológica do Do- mínio Rio Maria compreendeu ao
menos dois está- gios de acresção crustal com
adição de material juvenil. Em ca. 3,04 Ga, alto
fluxo de calor teria induzido a fusão parcial do
manto superior e da crosta oceânica produzindo
grandes volumes de magma komatiítico e toleiítico
associado aos gre- enstone-belts formados em
ambiente de arcos de ilhas (Souza et al. 2001).
Entre ca. 2,98 Ga e 2,92 Ga, a subducção teria
desse magma TTG teria reagido, durante sua as- sanukitóides. Esses magmas podem ter aquecido a
censão, com a cunha mantélica espessada, resul- base da crosta continental e causado fusão da
tando em metassomatismo do manto sub-litosfé- rico. crosta basáltica, originando o Trondjemi- to Água
Em ca. 2,87 Ga, eventos termais relacionados a Fria (Oliveira et al. 2009, Almeida et al. 2011) e
slab-break-off e ressurgência do manto astenos- férico demais suítes TTG mais novas.
ou pluma mantélica, induziram a fusão do manto Os leucogranitos potássicos de ca. 2,88-2,87 Ga
previamente metassomatizado, gerando os magmas (granitos Xinguara, Mata Surrão e Rancho de
Deus) são considerados como marcadores do últi-
nockitos que ocorrem ao longo do rio Cateté, nas
mo evento tectonotermal relacionado à cratoni-
proximidades da aldeia indígena Chicrim, anteri-
zação do Domínio Rio Maria (Vasquez et al. 2008a).
ormente considerados por Araújo & Maia (1991)
como parte do Complexo Pium, foram separados
Domínio Carajás
por Ricci & Carvalho (2006) e Vasquez et al.
(2008a) e denominados de Ortogranulitos Chicrim-
O Domínio Carajás (Vasquez et al. 2008a), pre- Cateté.
viamente denominado de Cinturão de Cisalhamen-
A Bacia Carajás compreende sequências meta-
to Itacaiúnas por Araújo et al. (1988), inclui a Ba-
vulcano-sedimentares do Grupo Rio Novo (Hirata
cia Carajás e, em sua parte sul, uma faixa deno-
et al. 1982) e do Supergrupo Itacaiúnas (Wirth et
minada de Subdomínio de Transição (Dall´Agnol
al. 1986, DOCEGEO 1988, Machado et al. 1991),
et al. 2006, Feio 2011), na qual o possível emba-
além da Formação Águas Claras, metassedimen-
samento mesoarqueano da bacia é predominan-
tar (Araújo et al. 1988, Nogueira et al. 1995).
te.
O Grupo Rio Novo inclui anfibolitos, xistos, me-
No Domínio Carajás (Fig. 2), o embasamento
tagrauvacas, rochas metavulcânicas toleiíticas e
arqueano é atribuído ao Complexo Xingu compos-
gabros (Hirata et al. 1982). O Supergrupo Itacaiú-
to de gnaisses tonalíticos a trondhjemíticos e mig-
nas (Wirth et al. 1986, DOCEGEO 1988) é consti-
matitos e ao Complexo Pium com ortogranulitos
tuído pelos grupos Igarapé Salobo (Wirth et al.
máficos a félsicos, cujos protólitos teriam idades
1986), Igarapé Pojuca (DOCEGEO 1988; 2.732 ±
de cristalização de 3,002 ± 14 Ma (U–Pb SHRIMP
3 Ma U-Pb zircão, Machado et al. 1991), Grão Pará
zircão; Pidgeon et al. 2000). O último episódio de
(DOCEGEO 1988; 2.759 ± 2 Ma, U-Pb zircão, Ma-
migmatização que afetou as rochas do Complexo
chado et al. 1991; 2.760 ± 11 Ma, U-Pb zircão,
Xingu (2.859±2 Ma e 2.860±2 Ma; U-Pb em zircão;
Trendall et al. 1998) e Igarapé Bahia (DOCEGEO
Machado et al. 1991) e a granulitização das ro-
1988; 2.747 ± 1 Ma Pb-Pb zircão, Galarza & Ma-
chas do Complexo Pium (2.859±9 Ma, U–Pb
cambira 2002).
SHRIMP zircão; Pidgeon et al. 2000) seriam
O Grupo Igarapé Salobo inclui paragnaisses,
coevos.
anfibolitos, meta-arcóseas e formações ferríferas,
Estudos recentes (Gomes 2003, Moreto 2010,
enquanto o Grupo Igarapé Pojuca apresenta ro-
Moreto et al. 2011a, Feio 2011, Silva 2011), no
chas metavulcânicas básicas, xistos pelíticos, an-
entanto, sugerem que é possível individualizar
fibolitos e formações ferríferas metamorfisadas em
unidades mesoarquenas distintas nas áreas an-
fácies xisto verde a anfibolito (DOCEGEO 1988). O
tes atribuídas ao Complexo Xingu, o que restrin-
Grupo Grão Pará compreende derrames basálti- cos
ge a ocorrência desse complexo na Província Ca-
intercalados a jaspilitos, riólitos, rochas vulca-
rajás. Entre tais unidades geológicas, incluem-se:
noclásticas e diques/sills de gabros subordinados
(1) ca. 3,0 Ga – Tonalito Bacaba e Granito Sequei- (Zucchetti 2007). O Grupo Igarapé Bahia, afloran-
rinho (Moreto et al. 2011a, 2011b); (2) 2,96-2,93 te em uma janela estrutural dentro da Formação
Ga - Granito Canaã dos Carajás, de afinidade cál- Águas Claras, inclui rochas metavulcânicas, meta-
cio-alcalina, e rochas mais antigas do Trondhjemi- piroclásticas e formações ferríferas (DOCEGEO
to Rio Verde (Feio 2011); (3) 2,87-2,83 Ga - Tron- 1988).
dhjemito Rio Verde e os granitos predominante-
O Supergrupo Itacaiúnas é parcialmente reco-
mente cálcio-alcalinos Bom Jesus, Cruzadão e Ser-
berto pela Formação Águas Claras (Nogueira et al.
ra Dourada (Feio 2011, Moreto et al. 2011a). Adi-
1995) representada por metaconglomerados,
cionalmente, Barros et al. (2010) reinterpretou a
meta-arenitos, mármore dolomítico, filito carbono-
idade U-Pb em zircão de ca. 2,86 Ga de Machado
so e sericita quartzitos, que refletem sedimenta-
et al. (1991), atribuída à migmatização, como rela-
ção marinha rasa a fluvial. Esta unidade tem ida-
tiva à idade de cristalização de alguns dos grani-
de limitada ao Arqueano por datações de cristais
tóides foliados da região de Serra Leste.
de zircão detríticos em arenitos (2.681 ± 5 Ma, U-
Na localidade-tipo do Complexo Pium, também Pb SHRIMP, Trendall et al. 1998) e por idade atri-
foram individualizadas rochas ígneas, tais como buída a sill de metagabro intrusivo (2.645 ± 12 Ma
noritos, gabros e dioritos, maciças e foliadas, sob U-Pb, Dias et al. 1996; 2.708 ± 37 Ma U-Pb, Mou-
a denominação de Diopsídio-norito Pium (Vasquez geot et al. 1996). Idades Pb-Pb em sulfetos dia-
et al. 2008a). Os ortogranulitos, enderbitos e char-
Figura 2 - Mapa geológico do Domínio Carajás e áreas adjacentes (modificado de Vasquez et al. 2008b).
genéticos em arenitos de ca. 2,06 Ga foram obti-
A estrutura dominante da Serra dos Carajás
das por Mougeot et al. (1996) e consideradas por
foi definida inicialmente por Beisegel et al. (1973)
Fabre et al. (2011) evidência de idade paleoprote-
como um sinclinório com eixo WNW-ESE, reinter-
rozóica para a Formação Águas Claras.
pretado por Araújo et al. (1988) como associado a
Intrusões acamadadas representadas pelo
uma estrutura em flor positiva. Rosière et al.
Complexo Máfico-Ultramáfico Luanga (2.763 ± 6
(2006) consideram que as estruturas das serras
Ma, U-Pb zircão; Machado et al. 1991), localizado
Norte e Sul seriam relacionadas a um par
na Serra Leste, e pela Suíte Intrusiva Cateté (Ma-
antiformal-sin- formal em forma de “S”,
cambira & Vale 1997), no Subdomínio de Transi-
denominado de Dobra Carajás.
ção, hospedam importantes mineralizações de Ní-
A complexa configuração estrutural da Bacia
quel e planitóides (Ferreira Filho et al. 2007). Dife-
Carajás também foi atribuída ao desenvolvimento
rem devido à ausência de deformação ou meta-
de zonas de cisalhamento de alto mergulho com
morfismo na Suíte Intrusiva Cateté (2.766 ± 6 Ma;
direção regional E-W e ESE-NNW representadas
U-Pb em zircão, Lafon et al. 2000).
na porção norte pelos sistemas transcorrentes
O magmatismo neoarqueano (ca. 2,76 a 2,74
Carajás e Cinzento (Araújo e Maia 1991). Tais zo-
Ga), restrito ao Domínio Carajás, foi responsável
nas mostrariam evidências de diversos episódios
pela formação de granitos, em geral foliados, e
de reativação, segundo Pinheiro & Holdsworth
que compreendem as suítes Plaquê, Planalto, Es-
(1997), Holdsworth & Pinheiro (2000) e Pinheiro &
trela, Igarapé Gelado e Serra do Rabo (Huhn et al.
Nogueira (2003). De acordo com estes autores, o
1999b, Avelar et al. 1999, Barbosa 2004, Sardi-
longo período de evolução tectônica ocorreu em
nha et al. 2006, Barros et al. 2009, Feio et al.
diversos eventos: (1) 2,85-2,76 Ga – transpres-
2012). Granitos peralcalinos a meta-aluminosos,
são sinistral; (2) < 2,76 Ga – Formação de bacia
meso- zonais com augita, representados pelos
pull-a-part com a deposição do Grupo Grão Pará;
granitos Old Salobo e Itacaiúnas (ca. 2,57; Ga
(3) 2,7-2,6 Ga – transtensão dextral, seguida do
Machado et al. 1991, Souza et al. 1996) foram
estabelecimento das zonas de cisalhamento trans-
caracterizados apenas na parte norte do domínio,
correntes Cinzento e Carajás; (4) ca. 2,6 Ga – in-
nas proximi- dades da Zona de Cisalhamento
versão tectônica da bacia devido à reativação do
Cinzento.
sistema de falhas formadas durante o evento de
O magmatismo paleoproterozóico (ca. 1,88 Ga)
transpressão dextral; (5) 1,9-1,8 Ga – regime de
é representado pelos granitos alcalinos a sub-al-
transtensão, que favoreceu a intrusão de diques
calinos do tipo A, que inclui os granitos Central de
e plútons anorogênicos.
Carajás, Salobo Jovem (Young Salobo), Cigano,
Segundo Pinheiro & Holdsworth (1997), o par
Pojuca, Breves e Rio Branco (Machado et al. 1991,
antiforme-sinforme estaria relacionado à trans-
Dall’Agnoll et al. 1994, Tallarico 2003).
pressão durante a evolução da Zona de Cisalha-
Outras rochas intrusivas também ocorrem nes-
mento Carajás. Contudo, Rosière et al. (2006) con-
te bloco, tais como pórfiros dacíticos a riolíticos
sideram que as zonas de cisalhamento de Cara-
datados em 2.645 ± 9 Ma e 2.654 ± 9 Ma (Pb-Pb
jás e Cinzento teriam se desenvolvido no flanco
SHRIMP zircão, Tallarico 2003) e diques de leuco-
rompido de pares antiformal-sinformal, paralela-
granito alcalino datado em 1.583 ± 7 Ma (Pimen-
mente ao plano axial da Dobra Carajás, como
tel et al. 2003, U-Pb SHRIMP zircão). Grainger et
possível produto de amplificação da dobra duran-
al. (2008) também descrevem o Granito Formiga,
te os estágios tardios do encurtamento N-S.
que apresenta mineralizações cupro-auríferas,
Segundo Feio (2011), o magmatismo meso- e
consi- derado neoproterozóico (ca. 600 - 550 Ma).
neoarqueano do Domínio Carajás, no Subdomínio
Con- tudo, cristais de zircão ígneo neoproterozóicos
de Transição, é distinto do magnatism do Domínio
não foram reconhecidos pelos autores, apenas
Rio Maria e não favorece a hipótese de uma evo-
cristais de zircão com idades mesoarqueanas,
lução tectônica idêntica ou similar em ambos os
considera- dos herdados. Também são registrados
domínios.
no Domí- nio Carajás outros eventos magmáticos
A crosta arqueana do Domínio Carajás não tem
pelas in- trusões dos metagabros Borrachudo,
caráter juvenil e a curva de evolução do Nd suge-
Santa Inês e Complexo Lago Grande (Villas &
re a existência de uma crosta um pouco mais anti-
Santos 2001) e diques de diabásio e gabro tardios,
ga em relação à do Domínio Rio Maria, existente
cujas idades radiométricas são desconhecidas.
pelo menos desde o Mesoarqueano (ca. 3,2 a 3,0
Leonardos et al. 1991). Destaca-se ainda nesse
Ga; Feio 2011).
domínio, a principal reserva de Tungstênio conhe-
Magmatismo granítico neoarqueano (ca. 2,74
cida na Amazônia, representada pelo depósito de
Ga, Suíte Planalto), segundo Feio et al. (2012),
Pedra Preta (Rios et al. 1988, 2003).
apresenta relação espacial e petrogenética com
Além desses depósitos, Klein & Carvalho (2008)
rochas da séries charnoquítica, tais como os nori-
relatam a presença no Domínio Rio Maria, de ge-
tos do Diopsídio-norito Pium, reconhecidos ape-
mas, rocha ornamental, carvão e amianto, além
nas no Domínio Carajás, no Subdomínio de Tran-
de ocorrências de outros bens metálicos, incluin-
sição. Essa associação seria análoga à relativa ao
do: (i) Níquel laterítico associados a rochas máfi-
magmatismo em limites de blocos tectônicos ou
cas-ultramáficas das sequências greenstone belt
em sua zona de interação.
(Serra do Inajá; Cunha 1981; Serra dos Gradaús,
A relação da Bacia Carajás com sistemas trans-
Correa 2006; Vale do Sol e Água Limpa, Correa
correntes Carajás, Cinzento e Araraquara sugere
2006); (ii) Cobre-Cobalto (Boa Esperança, Correa
para Pinheiro & Nogueira (2003) formação de uma
2006), (iii) chumbo e zinco associadas a grauva-
bacia pull-apart. No entanto, segundo Wirth et al.
cas do Grupo Gemaque (Santos 1981) e a rochas
(1986), Gibbs et al. (1986), DOCEGEO (1988), Ma-
metavulcânicas félsicas sericitizadas contendo pi-
cambira (2003) e Tallarico et al. (2005), a forma- rita e a gossans na Serra do Inajá (Palermo et al.
ção da Bacia Carajás estaria relacionada a aber- 2001); (iv) Ferro associado a formação ferrífera
tura de um rifte continental. As idades das intru- na Serra do Inajá (Cunha 1981); (v) Manganês
sões acamadadas máfico-ultramáficas do Comple- supergênico na Serra do Inajá (Cunha 1981) e (vi)
xo Luanga, próximas às do vulcanismo bimodal do molibdenita em microfraturas do Granito Marajoa-
Grupo Grão Pará sugerem, segundo Ferreira Filho ra (Suíte Intrusiva Jamon; Almeida et al. 2008).
et al. (2007), que tais intrusões correspondem a
câmeras magmáticas associadas ao rifteamento.
Depósitos de Ouro orogênicos
Meirelles (1986), Dardenne et al. (1988), Mei-
relles & Dardenne (1991), Teixeira (1994), Lobato
Depósitos auríferos (Diadema, Lagoa Seca,
et al., (2005), Silva et al., (2005) e Teixeira et al.
Babaçu, Mamão, Tucumã, Inajá, Cuca) e vários
(2010), sustentam a hipótese de que a bacia te-
garimpos (Serqueiro, Peladinha, Serrinha e Tatu-
ria se formado em ambiente de arco vulcânico, as-
Frango) associados a veios de quartzo estrutu-
sociada à subducção, o que seria evidenciado pela
ralmente controlados são reconhecidos no Domí-
afinidade cálcio-alcalina de alto potássio dos ba-
nio Rio Maria (Oliveira & Leonardos 1990, Leonar-
saltos do Supergrupo Itacaiúnas e rochas intrusi-
dos et al. 1991, Huhn 1992, Santos et al. 1998,
vas. Zucchetti (2007) considera que tais caracte-
Villas & Santos 2001, Oliveira & Santos 2003).
rísticas poderiam refletir vulcanismo sobre crosta
Alguns desses depósitos, tais como Babaçu
continental atenuada, em ambiente de retro-arco
(855 kg de Ouro contido com teores entre 7-10 g/
desenvolvido em ca. 2,76 Ga. Nesse modelo geo-
t Au, Carvalho 2004), Mamão (7050 kg de Ouro
tectônico, colisão continente-continente em ca.
contido com teores entre 7-10 g/t Au, Carvalho
2,74 Ga teria sido responsável pela justaposição
2004) e Logoa Seca (4650 kg de Ouro contido com
dos domínios Rio Maria e Carajás (Teixeira et al.
teores entre 7-10 g/t Au, Carvalho 2004), foram
2010).
descobertos na década de 1970 em decorrência
de trabalhos de pesquisa efetuados pela DOCE-
METALOGENIA DO DOMÍNIO RIO MARIA
GEO que incluíram levantamentos geológicos, geo-
químicos e geofísicos (magnetometria e IP),
Depósitos auríferos orogênicos (Groves et al.
visando inicialmente depósitos de metais básicos.
1998, Goldfarb et al. 2001) associados a zonas de
cisalhamento regionais que interceptam as sequ-
DEPÓSITO MODELO: DEPÓSITO AURÍFERO DE
ências greenstone belt são reconhecidos no Domí- DIADEMA
nio Rio Maria (Oliveira & Leonardos 1990, Huhn
1992, Santos et al. 1998, Villas & Santos 2001). O depósito aurífero de Diadema (Fig. 3) locali-
Alguns depósitos auríferos, no entanto, apresen- za-se ao longo da Zona de Cisalhamento Diade-
tam associação espacial com intrusões, como o
depósito aurífero de Cumaru (Santos et al. 1998,
ma de direção WNW-ESE e com mais de 100 km de
extensão, que corta unidades do greenstone-
Figura 3 - Mapa geológico do depósito aurífero de Diadema (Oliveira 1993).
Figura 4 - Mapa e perfil geológico do depósito aurífero de Cumaru (Santos et al. 1998).
(microclínio-quartzo) são restritas a pequenas
tone Belt Gradaús. Devido às evidências que su-
porções do plúton e sobrepostas pela alteração
gerem participação de fluidos magmáticos na gê-
sericítica (Santos et al. 1998).
nese do depósito, esse foi classificado por Santos
Fluidos aquo-carbônicos (H2O-CO2-NaCl) e car-
et al. (1998) como de um tipo híbrido, denominado
bônicos em inclusões fluidos em quartzo dos vei- pelos autores de lode-porphyry.
os mineralizados foram considerados metamórfi-
cos, associados à Zona de Cisalhamento Serra
Depósitos de Tungstênio
Ruim (Santos et al. 1998). Um outro tipo de fluido,
aquoso, representado pelo sistema H2O-NaCl-
O depósito de wolframita de Pedra Preta (Fig.
KCl- 5; Gastail1987, Cordeiro et al. 1984, 1988, Rios
CaCl2, foi interpretado como derivado do magma 1995, Rios et al. 1998) constitui a principal reser-
associado ao Granodiorito Cumaru. Mistura entre
va de Tungstênio conhecida na Amazônia com
fluidos metamórficos e fluidos magmáticos ao lon-
508.300 toneladas de minério, com teor médio de
go da zona de cisalhamento, seguida por circula-
1,01% de WO3 (Cordeiro et al. 1988).
ção de fluidos de baixa salinidade de origem me-
teórica, foi proposta por Santos et al. (1998), com
ROCHAS HOSPEDEIRAS
base tanto nos dados microtermométricos como em
isótopos de O e H.
O minério de wolframita é filoneano e corta, em
Dois eventos de deposição do Ouro em condi-
profundidade, a cúpola do granito Musa (Dall’Agnol
ções de 350 a 350 °C e 1,3 a 3,8 kbar foram rela-
et al. 1994) e as rochas das sequências greensto-
cionados com oxidação do fluido mineralizante
ne belt dos grupos Babaçu, dominado por rochas
causada pela imiscibilidade do fluido aquo-carbô-
metavulcânicas básicas, e Lagoa Seca, predomi-
nico e pelo abaixamento da fS2 nas rochas hospe-
nantemente metassedimentar.
deiras. A mistura tardia do fluido aquo-carbônico
O Granito Musa é representado por monzo e
com as salmouras também provocou oxidação do
sienogranitos e biotita microgranito com evidênci-
fluido mineralizante, com aumento da fO2 e dimi-
as de greisenização (Gastai 1987, Rios et al. 1998).
nuição do pH, favorecendo a deposição do Ouro
(Santos et al. 1988).
EVENTOS HIDROTERMAIS: FORMAÇÃO DE VEIOS
Esse depósito difere dos demais por ser hos-
pedado pelo Granodiorito Cumaru, além de unida-
Registros de eventos hidrotermais no depósito
des metavulcânicas félsicas atribuídas ao Greens-
Figura 5 - Mapa e perfil geológico do depósito de Tungstênio de Pedra Preta (Rios et al. 1998).
de Maria Preta estão relacionados, segundo Rios
pal de cristalização da wolframita seria relaciona-
et al. (1998), à formação de: (1) veios com quart-
do à circulação desse fluido externo a condições
zo, topázio e sulfetos prévios à colocação do Gra-
de 330 oC, seguido por metassomatismo de F, com
nito Musa, reconhecidos nas unidades metavulca-
formação de topázio e fluorita relacionada a flui-
no-sedimentares; (2) veios principais com quart-
dos aquosos e carbônicos. Os veios tardios teri-
zo, wolframita, topázio, fluorita, mica branca, piri-
am sido associados a relaxamento tectônico e flu-
ta, pirrotita, calcopirita, molibdenita e bismutinita,
xo de fluidos inicialmente hipersalinos (42 wt%
que se seguiram ao alojamento da intrusão; e (3)
CaCl2 equivalente) progressivamente diluídos (H
veios tardios de quartzo.
<30 wt% NaCl equivalente) e formados em condi-
Os veios principais no setor inferior do depósi-
ções de 1,0 kbar e > 220 oC. Assim, os fluidos me-
to, localizado a profundidades abaixo de 160 m a
talíferos no depósito de Pedra Preta teriam sido
partir da atual superfície de erosão, cortam as
principalmente externamente derivados, possivel-
zonas apicais do Granito Musa, sua cúpula greise-
mente metamórficos, e não derivados da cristali-
nizada e os metarenitos do Grupo Lagoa Seca,
zação do Granito Musa (Rios et al. 2003).
enquanto no setor superior interceptam as rochas
de ambos grupos.
METALOGENIA DO DOMÍNIO CARAJÁS
Figura 7 - Perfil geológico da Mina N4E mostrando as relações entre os minérios de ferro friável, compacto e
rochas metabásicas (VALE em Lindenmayer et al. 2005).
Figura 10 - (Página oposta) - (A-J Corpo Sequeirinho) A. Vista da mina a céu aberto; B. Frente de lavra
mostrando alteração hidrotermal sódica, sódico-cálcica e potássica controlada por estruturas dúcteis-rúp-
teis; C. Intensa alteração sódica em rocha metavulcânica ácida; D. Vênulas de actinolita cortando rocha
previamente albitizada; E. Intensa alteração sódico-cálcica com predominância de actinolita; F. Cristais de
fluorapatita associados com actinolita; G. Brecha com fragmentos do granito albitizado e substituído por
epidoto em matriz com feldspato potássico e óxidos de ferro; H. Rocha rica em magnetita (magnetitito)
com actinolita associada; I. Associação de calcopirita, magnetita e calcita; J. Aspecto típico das brechas
minerali- zadas com calcopirita do Corpo Sequeirinho, com fragmentos cominuídos de magnetita, apatita e
actinolita hidrotermais; (L-S) Vista do Morro do Sossego mostrando a distribuição de veios sulfetados
substituídos por malaquita (Abril de 2005); M. Aspecto típico da brecha mineralizada do Corpo Sossego
com fragmentos do Granito Granofírico envolvidos por filme de magnetita e imersos em matriz constituída
por quartzo, calcita, calcopirita, apatita e actinolita; N. Calcopirita associada a calcita e quartzo em bolsão
no Granito Granofírico;
O. Alteração potássica com feldspato potássico e cloritização controladas pelo desenvolvimento de foliação
milonítica; P. Brecha com fragmentos do Granito Granofírico previamente albitizados com calcopirita, na
matriz (Coleção de Referência VALE); Q. Zona mineralizada com calcopirita associada com calcita em
quartzo na matriz de brechas com fragmentos do Granito Granofírico cloritizado; R. Vênula com calcopirita
associada com clorita e calcita; S. Cristais euhedrais de apatita associados a calcita, quartzo e clorita
(Coleção de Referência VALE). Ab = albita; Act = actinolita; Ap = apatita; Cc = calcita; Chl = clorita; Cpy
= calcopirita; Ep
= epidoto; Hm = hematita; Kfs = feldspato potássico; Mt = magnetita.
cular, vertical, no qual a brecha mineralizada ocor-
minério reflete enriquecimento em Cu-Fe-Au-(Ag-
re na parte central, envolvida por stockwork de
Ni-Co-Pd-P-ETRL) (Carvalho 2009).
veios (Fig. 10l e 10r); Morais & Alkmim 2005, Car-
Datações Pb-Pb em calcopirita de amostras do
valho 2009, Monteiro et al. 2008a, Domingos
minério indicaram idades de 2.530±25 Ma e
2010). Nas zonas mais externas, ao redor do pipe
2.608±25 Ma para o Corpo Sequeirinho e
de brecha, a alteração sódica é pouco desenvolvi-
1.592±45 Ma para o Corpo Sossego (Neves
da, sendo por vezes reconhecida em fragmentos
2006).
das rochas hospedeiras nas brechas mineraliza-
das (Fig. 10p). A alteração potássica (Fig. 10o) e
Natureza dos fluidos hidrotermais e assinaturas iso-
clorítica são intensas e alteração hidrolítica com
tópicas
sericita e hematita ocorre associada aos sulfetos
nos corpos de minério.
Estudos de isótopos estáveis indicaram que a
alteração sódico-cálcica e a formação dos actinoli-
Corpos de minério cupro-aurífero
titos e dos corpos de magnetita maciça do Corpo
Sequeirinho foram associadas a fluidos hidroter-
A mineralização cupro-aurífera associa-se a bre-
mais de alta temperatura (> 550 oC) com composi-
chas hidrotermais. No Corpo Sequeirinho, as bre-
ção isotópica de oxigênio (18Ofluido = 6,9±0,9‰
chas apresentam predominância de calcopirita na
SMOW) similar à de fluidos magmáticos ou forma-
matriz (Fig. 10j) associada a pirita, magnetita, epi-
cionais/metamórficos (Figs. 11 e 12). Fluidos com
doto, allanita, apatita e clorita (Monteiro et al.
a mesma composição isotópica e temperatura te-
2008a, 2008b). A matriz rica em sulfetos envolve
riam sido responsáveis por formação inicial de
fragmentos cominuídos, parcialmente arredonda-
magnetita e actinolita nas brechas do Corpo Sos-
dos, de actinolititos e magnetititos, além de cris-
sego (Fig. 11; Monteiro et al. 2008a).
tais hidrotermais de actinolita, apatita e magneti-
O estágio de mineralização nos diferentes cor-
ta fragmentados. A mineralização de Cobre-Ouro
pos do depósito foi associado a menores tempe-
foi tardia e desenvolveu-se em condições essen-
raturas (~300 oC) e à introdução de fluidos mete-
cialmente rúpteis. No Corpo Sossego, as brechas
óricos, como indicado pelos valores de 18Ofluido (–
apresentam fragmentos angulosos do granito gra-
1,8± –3,4‰) em equilíbrio com fases minerais
nofírico hidrotermalizado (Figs. 10m, 10n e 10q),
pre- sentes (quartzo, calcita, clorita e epidoto) nas
em geral, com evidências de alteração potássica,
bre- chas mineralizadas (Monteiro et al. 2008a).
envolvidos por magnetita em matriz constituída por
As inclusões fluidas em quartzo das brechas
calcopirita, calcita, quartzo, epidoto, allanita, apa-
mineralizadas dos corpos Sequeirinho, Sossego e
tita (Fig. 10s) e clorita com texturas de preenchi-
Pista indicam a participação de: (1) salmouras hi-
mento de espaços abertos (Fig. 10n) desenvolvi-
persalinas de alta temperatura (35 a 70% NaCl
das também em condições essencialmente rúpteis
equivalente; Tht = 570 a 250 °C) com cristais de
(Monteiro et al. 2008a, 2008b).
saturação e multi-sólidos; (2) salmouras salinas
Segundo Domingos (2010), as brechas mine-
(11 a 31% NaCl equivalente) de baixa temperatu-
ralizadas do Corpo Sossego apresentam caracte-
ra (~150 oC) e ricas em CaCl2; e (3) fluidos aquo-
rísticas de brechas de explosão imaturas, enquan-
sos compostos por NaCl-H2O de baixa salinidade
to as brechas do Corpo Sequeirinho seriam bre-
(<11% NaCl equivalente) e baixa temperatura (<
chas tectônicas maduras, com fragmentação do-
250 oC), (Rosa 2006, Carvalho 2009). As salmou-
minada por desgaste e atrito associado ao desli-
ras salinas ricas em CaCl 2 poderiam refletir uma
zamento ao longo da zona de falha.
evolução contínua a partir de um fluido hipersali-
O minério de Cobre-Ouro dos dois corpos é
no magmático ou bacinal (Carvalho 2009), ou ain-
constituído pela associação de calcopirita com pi-
da, representarem fluidos metamórficos que inte-
rita (com até 2,3% de Co e 0,2% de Ni), magneti-
ragiram com metevaporitos ou metaexalitos e tor-
ta parcialmente substituída por hematita, Ouro
naram-se mais salinos (Rosa 2006). Os fluidos de
(com até 14,9 % de Ag), siegenita, millerita, vae-
baixa salinidade podem representar o aporte de
sita, Pd-melonita e, subordinadamente, hessita,
cassiterita, esfalerita, galena e molibdenita (Mon- fluidos meteóricos no sistema hidrotermal.
teiro et al. 2008b). A assinatura geoquímica do As composições isotópicas de boro de turmali-
na do Corpo Pista do depósito Sossego indicam
participação de fonte magmática, talvez
proveni-
Figura 11 - Perfil esquemático da distribuição das zonas de alteração hidrotermal nos corpos Sequeirinho e
Sossego, Mina Sossego, assim como as composições isotópicas de oxigênio dos fluidos hidrotermais
associados a cada estágio de alteração hidrotermal e as respectivas temperaturas estimadas a partir de
isótopos estáveis (Monteiro et al. 2008a).
Rochas hospedeiras
Mineralização cupro-aurífera
Modelo Genético
Figura 17 - Mapa geológico da área do depósito de Au-(Pd-Pt) de Serra Pelada (modificado de Docegeo 1988,
Tallarico et al. 2000).
Figura 18 - Perfil geológico do depósito de Au-(Pd-Pt) de Serra Pelada mostrando a distribuição das zonas
de alteração hidrotermal (Colossus, em Jones 2010).
Figura 21 - Secção esquemática do Complexo Luanga (modificado de VALE por Ferreira Filho et al. 2007).
Figura 22 - Seção geológica transversal da Mina do Azul mostrando a sucessão de rochas sedimentares e a
topo-sequência laterítica (adaptado de Costa et al. 2005).
Valarelli et al. 1978, Silva 1988). O avanço das
mação da pirita. Condições análogas são descri- tas
fren- tes de lavra e sondagens mais profundas
para o período imediatamente posterior ao Grande
eviden- ciaram, segundo Costa et al. (2005), que
Evento de Oxidação em 2,1±0,2 Ga, perí- odo no
as mar- gas ou folhelhos carbonáticos com
qual outros importantes depósitos mundi- ais de
rodocrosita ocor- rem como lentes e camadas
Manganês foram formados no Gabão e na África do
delgadas de rocha cinza-esverdeada sem matéria
Sul. Segundo os autores, esses dados sugerem
orgânica, interca- ladas aos siltitos.
uma idade paleoproterozóica para a For- mação
Um dos minérios mais ricos da mina, considera-
Águas Claras, relacionada a uma importante época
do primário, associa-se a lentes e camadas de fo-
metalogenética para formação de depósi- tos
lhelhos negros com óxi-hidróxidos de Manganês,
manganesíferos sedimentares.
classificados como bióxido ou criptomelana, ricos
em matéria carbonosa, com centenas de metros
MINÉRIO LATERÍTICO DE MANGANÊS
de extensão aparente e espessura máxima de 5
m, alojadas em siltitos vermelhos listrados.
Segundo Costa et al. (2005), o perfil laterítico é
profundo (< a 100 m), bem desenvolvido e madu-
GÊNESE DA MINERALIZAÇÃO MANGANESÍFERA SE-
ro, com espesso horizonte argiloso sobreposto ao
DIMENTAR
domínio das lentes manganesíferas contidas nos
siltitos. O principal mineral de Manganês é a
Segundo Dardenne & Schobbenhaus (2001), o
criptomelana, tanto herdada como neoformada,
protominério carbonático da Mina do Azul corres-
ocorrendo também hollandita, todorokita,
ponderia a depósitos marinhos singenéticos for-
pirolusita, litioforita e nsutita. Uma crosta laterítica
mados em bacias estratificadas na zona de talu-
Ferro-aluminosa, nodular, brechóide e cavernosa
de, próximo da transição de uma bacia profunda
a maciça, desenvolveu-se sobre o horizonte argi-
anóxica, no qual se depositaram folhelhos negros,
loso, contendo também criptomelana e litioforita.
para um ambiente plataformal mais raso e oxida-
A crosta laterítica encontra-se parcialmente trans-
do, com precipitação carbonática. Nesse contex-
formada em materiais argilosos a terrosos, mar-
to, a rodocrosita representaria um produto diage-
rom amarelos com esferolitos, que constituem so-
nético precoce a partir de matéria orgânica, en-
los residuais ou depósitos de tálus. A lateritiza-
quanto a criptomelana foi considerada como pro-
ção foi iniciada há 68 Ma, com maior desenvolvi-
duto da alteração supérgena da rodocrosita.
mento entre 45 a 36 Ma, sendo seguida a partir
De acordo com Costa et al. (2005), no entanto, de 26 Ma por intenso intemperismo químico e, pos-
as lentes ricas em criptomelana também teriam ori- teriormente, físico-erosivo quando foram formados
gem sedimentar diagenética, relacionada à sedi- os solos residuais (Costa et al. 2005).
mentação em várias sub-bacias restritas nas quais
a diminuição de energia teria sido acompanhada
Depósitos de Ouro laterítico
por aumento da atividade orgânica carbonosa. Nes-
se contexto, os óxi-hidróxidos de Manganês seri-
Depósitos de Ouro laterítico no Domínio Cara-
am contemporâneos à sedimentação (Costa et al.
jás incluem a Mina de Igarapé Bahia (Zang & Fyfe
2005). Deformação pós-diagenética seria respon-
1993, Angélica 1996, Porto et al. 2010) que pro-
sável por remobilização de Manganês e formação
duziu, até 2003, cerca de 92 t de Ouro, além de
das vênulas com sulfetos e com óxi-hidróxidos de
garimpos, entre os quais o de Cutia, localizado na
Mn, quartzo, rodocrosita e caolinita.
Serra Leste (Domingos & Santos 2001).
Estudos de isótopos de Ferro (57Fe IRMM-14 =
O depósito de Igarapé Bahia situa-se em um
1,02±0,2‰) e enxofre (34S = 11,97±0,12‰; 33S
platô escarpado, sustentado por regolito lateríti-
= 0,013±0,003‰) indicam assinatura isotópica
co maduro (Costa 1991), formado há 50 a 70 Ma
para pirita cedo-diagenética da Formação Águas
(Vasconcellos et al. 1994) durante o Ciclo geomor-
Claras distinta daquela da pirita formada em am-
fológico Sul Americano, tendo sido alterado pelo
bientes marinhos modernos (Fabre et al. 2011).
Ciclo Geomorfológico Velhas, subsequente, respon-
Essas assinaturas isotópicas indicam condições de
sável por formação de latossolos que encobrem
fugacidade de oxigênio relativamente elevadas,
as encostas (Medeiros Filho 2002).
mas limitada disponibilidade de sulfato para a for-
A espessura do regolito das brechas hidroter-
mais mineralizadas atinge até 200 m, sendo que
foram remobilizados e incorporados na zona fer-
nos 150 m superiores os corpos gossânicos com
ruginosa, conforme o avanço do intemperismo e
goethita, hematita, gibbsita, caolinita e fosfatos
erosão. Na terceira fase, após a elevação e a inci-
ricos em ETR representam a principal fonte do mi-
são da paisagem, lixiviação de cloreto teria sido
nério de Ouro, muito empobrecido em Cobre (An-
responsável por separar a Prata dos grãos de
gélica 1996). Uma zona de transição para o miné-
Ouro. A presença de eléctrum na parte superior
rio primário de Cobre com malaquita, azurita,
da zona ferruginosa pode ser atribuída às meno-
pseu- domalaquita, Cobre nativo, calcocita,
res concentrações de cloreto na água subterrâ-
digenita e cuprita, ocorre de 150 m a 200 m.
nea próximo à superfície e ao enriquecimento de
matéria orgânica que pode diminuir o potencial
ESTRATIGRAFIA DO REGOLITO redox e aumentar a estabilidade de Prata nativa.