Judoanos 50
Judoanos 50
Judoanos 50
Por mais de sessenta anos, Medeiros reuniu uma vasta coleção de fotografias,
depoimentos, entrevistas e notícias publicadas em revistas e jornais, anotações de
próprio punho, medalhas, troféus, diplomas, flâmulas e emblemas.
Durante toda a sua vida, o amistoso sensei Medeiros cuidou de conhecer, integrar e
manter-se sempre acessível e disponível na divulgação, ensino e prática do esporte
da terra do sol nascente.
Interagiu e ainda interage, com grande disposição, com a comunidade judoística que
ajudou a formar e consolidar.
Nunca desistiu de honrar a promessa feita aos mestres que teve no Judô ao longo de
sua vida, a de escrever sobre a introdução do Judô na cidade que abraçou com sua.
Eis a História do Judô em Santos! Uma história que convida a uma reflexão apurada
sobre os ideais do Judô, sua essência, sua filosofia e como isso era vivenciado e
honrado pelos ancestrais do esporte. Uma história de Kiais¹!
Kiai¹: grito de força que representa a “união dos espíritos.” No Japão, há a prática do Kiai do
— caminho do grito da força — em que o praticante chega a ter medo do próprio grito.
Também significa energia fluente, em sua tradução literal.
“A HISTÓRIA DO JUDÔ EM SANTOS”
Em Santos, o Judô demorou um pouco a chegar e, no final dos anos 40, a cidade
possuía uma grande colônia japonesa mas nenhuma academia que oferecesse o
treinamento do Judô.
O Judô sempre foi a grande paixão de Hikari Kurachi. Aos 16 anos de idade o jovem Kurachi
formou-se faixa preta. Aos 19, tornava-se 2º DAN de Judô devido as suas habilidades notáveis.
Após a aquisição do título de Nidan, tornou-se aluno do lendário Mestre Ryuzo Ogawa na
Academia Ogawa em São Paulo.
O mestre Ogawa costuma formar no Judô e posteriormente delegar a nobre missão aos seus
pupilos de introduzir o esporte em diferentes cidades do Brasil através de novos dojos filiados à
Associação Ogawa de Judô.
Sensei Ogawa havia tentado introduzir o Judô em Santos contando com a ajuda de Takeo Yano e
posteriormente enviou o seu filho Matsuo Ogawa porém foram tentativas sem sucesso.
A missão viria a ser realizada em 1947, quando o promissor Sensei Kurachi, com apenas 20 anos
de idade tornou-se 3° DAN. Após, foi enviado a Santos com a tarefa de iniciar os treinamentos
do Judô realizando finalmente o antigo sonho do persistente Mestre Ogawa. O desbravador e
perspicaz Mestre Hikari Kurachi se tornaria, oficialmente, o introdutor do Judô na cidade de
Santos.
A família Kurachi
Diferente de muitos companheiros de Judô de sua época, Hikari Kurachi não apreciava
apresentar-se em desafios, maneira encontrada por muitos adeptos do esporte para
realizar seus propósitos sendo que muitos viviam dos cachês dos desafios e outros até
fama conquistaram desta forma já que as revistas e jornais da época noticiavam essas
disputas e não haviam ainda campeonatos oficiais.
Era notório um senso nato de idealismo no Sensei. No entanto, o que mais chamava a
atenção era a sua visão empreendedora avançada em relação à sua época. O plano do
jovem Mestre era obter a cessão de um local para iniciar o treinamento do Judô entre
outras estratégias denotando uma visão orientada para o marketing esportivo, termo e
prática desconhecidos naquele tempo.
Persistente como todo aquele que tem espírito de campeão, Kurachi não demoveu
esforços até conseguir realizar o seu intento e assim cumprir a missão de fundar sua
própria academia, a Associação Santista de Judô que viria a ser conhecida como a
primeira academia oficial de Judô em Santos.
A sua sorte fora lançada e, até cumprir o seu intento, um longo caminho havia de ser
percorrido.
Mas agora havia um mestre procurando alunos e um dojo e isso não seria mais
problema já que havia o Gildo Gióia, o cara que animava a rapaziada a aderir as
novidades, maior divulgador que ele não havia!
E assim, o Gildo foi convencendo a turma a fazer aulas de Judô. E logo uma classe
havia sido montada! Agora só faltava encontrar um dojo, mesmo que provisório!
Em 05 de outubro de 1949, nascia oficialmente a Academia Santista de Judô,
também conhecida como Associação de Judô de Santos ou Academia Hikari Kurachi.
“Dojo (道場, sítio do caminho ?, Dōjō) é o local onde se treinam artes marciais
japonesas. Muito mais do que uma simples área, o dojo deve ser respeitado como se
fosse a casa dos praticantes. Por isso, é comum ver o praticante fazendo uma
reverência antes de adentrar, tal como se faz nos lares japoneses.
Inicialmente, o primeiro local que Kurachi conseguiu para dar segmento aos treinamentos
possuía instalações precárias já que os treinos eram realizados no porão de uma velha pensão
de japoneses situada na Rua Freitas Guimarães, 26 no bairro da Vila Nova.
Edificação onde funcionou a pensão para japoneses que cedia o seu porão (porta esquerda) para os
treinos de Judô do Sensei Hikari Kurachi. Foto Google Maps
Segundo o relato póstumo do Sensei Felício, poucos dias depois da inauguração, ingressaram
dois grandes amigos João Salgado e Fernando Azevedo que viriam a se tornar grandes
companheiros de treino e os primeiros professores do esporte em Santos. Estava configurada a
primeira geração de judocas santistas!
Ao final dos treinos, podia-se tomar banho de tina com água quente e, para quem apreciava a
exótica comida japonesa, eram servidos peixe crú com molhos e mostarda.
O local permaneceu por alguns meses com treinos informais e, antes que conseguisse encontrar
um local definitivo, a Academia Hikari Kurachi Santista de Judô estabeleceu-se provisoriamente
em uma sala que ficava em cima de um tradicional bar, localizado na Rua João Pessoa, esquina
com a Rua Martim Afonso no Centro de Santos.
Depois de longa procura pelo local ideal Kurachi finalmente encontrou uma sala de armazém de
café que fora cedida com a ajuda de comerciantes do ramo. Afinal, Santos é também a terra da
caridade como bem ilustra o seu brasão de armas!
O dojo possuía uma sala espaçosa com tatames e ocupava o 1° andar do casarão. Ficava
exatamente ao lado do prédio da Telegraph Western Co. também conhecida como Cabo Oeste.
Lá, permaneceram por cerca de 10 anos.
Antigo casarão ao lado esquerdo do imponente prédio da Western Telegraph Co. onde funcionou a
Academia Santista de Judô do Sensei Hikari Kurachi.
Fonte: Google
O apogeu!
Neste período, a Academia Santista de Judô Hikari Kurachi atingiu rapidamente o seu apogeu
ministrando três turnos de aulas com horários totalmente preenchidos e grande procura de
interessados em treinar o Judô.
Primeira foto da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi e seus primeiros alunos – 1950
Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros doado ao Centro de Memória Esportiva – Museu De
Vaney
As aulas sempre foram ministradas pelo Sensei Kikari Kurachi salvo quando passou a contar com
os primeiros Faixas Pretas.
Estes primeiros senseis atuariam como multiplicadores disseminando a semente plantada por
Hikari Kurachi e Ryuzo Ogawa.
Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi ao centro – 1951
Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney
Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi ao centro em 1952.
Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney
O judokas numerados se tornariam os primeiros faixas pretas a disseminar o ensino do Judô em Santos e
a representar Santos nos Jogos Abertos do Interior e Torneios da Budokan.
Os tradicionais torneios da Budokan
Os torneios da Budokan eram realizados pelo Grande Mestre Riuzo Ogawa, faixa-preta do 6º
grau, presidente da Budokan Brasil e membro da Kodokan. Eram realizados no Ginásio do
Pacaembu na cidade de São Paulo e reunia, anualmente, os mais qualificados lutadores de Judô
de todo o país.
Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi participando do Torneio Budokan
também conhecido como “Ju-Kendô Remmei” realizado no Pacaembu em julho 1953.
Da esquerda para direita, judokas santistas liderados pelo Sensei Kurachi integram as 7ª e 8ª filas.
Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney
Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi ao centro em 1953.
Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney
Na sequência, vieram Manabo e Akira Kurachi (irmãos mais novos do mestre Kurachi).
Equipe santista da Academia de Judô de Santos filiada a Budokan na Sede da Academia Hombu
Bodokan em São Paulo.
Após os primeiros faixas-pretas serem formados pelo sensei Kurachi iniciou-se a fase de
disseminação do Judô na cidade de Santos.
Kurachi começou a visitar diversos clubes e academias levando consigo seus melhores alunos.
A ação consistia em propor aos seus dirigentes a realização de uma demonstração de Judô e
convence-lo a abrir um dojo com tatames e professor para ministrar os treinos. Q
uem testemunhou essas demonstrações ficava no mínimo impressionado e bastante animado
tanto em colocar o esporte no local como acabava por despertar nas pessoas a vontade de fazer
o treinamento do Judô.
Foi dessa maneira que o Sensei Medeiros conheceu o Mestre Kurachi e seus alunos faixas-preta:
“Em maio de 1955, a Associação Atlética dos Portuários de Santos iniciou aulas de Jiu-jitsu tendo
como professor o Sensei Adriano Mattos. No final do mesmo ano, Sensei Kurachi e seus pupilos
da Academia Santista de Judô compareceram ao Portuários para realizar uma demonstração de
Judô. O Sensei Adriano Mattos e seus alunos, entre eles o jovem José Gomes de Medeiros,
ficaram tão impressionados com a técnica brilhante que até o Sensei Adriano Mattos adotou o
novo esporte. A partir desse dia, a Associação Atlética dos Portuários de Santos deixou de
oferecer treinos de Jiu Jitsu passando a ministrar treinamento de Judô tendo o auxílio dos sensei
Kurachi e seus alunos.”
1954 – Primeiro Campeonato Brasileiro de Judô foi no Rio de Janeiro entre 12 a 14 de outubro
de 1954 pela Confederação Brasileira de Pugilismo. O judoka Masayoshi Kawakami é o grande
destaque desse campeonato sagrando-se campeão nas categorias 3º dan e absoluto;
1956 – O primeiro Campeonato Mundial de Judô
aconteceu em março de 1956 em Tóquio, no
Japão. Foi disputado apenas na categoria absoluto
masculino. O primeiro pódio foi composto por dois
japoneses e dois europeus com a seguinte
premiação ouro para Shokichi Natsui, prata para
Yoshihiko Yoshimatsu, ambos do Japão, e bronze
para Anton Geesink, da Holanda, e para Henri
Courtine, da França.
A equipe brasileira era composta pelos judocas Massayoshi Kawakami, Sunji Hinata, Augusto Cordeiro,
Luiz Alberto Mendonça, Hikari Kurachi e Milton Rossi que conquistaram um honroso segundo lugar
emocionando toda uma geração de judocas visto que Kurachi se manteve na competição mesmo com o
braço quebrado.
Delegação Brasileira – Da esquerda para a direita: Massayoshi Kawakami, Augusto Cordeiro, Shunji
Hinata, Paulo Falcão (dirigente), Hickari Kurachi, Luiz Alberto Gama de Mendonça e Milton Rossi.
1956 Resultado II Campeonato Pan Americano – Havana - Cuba
(Competia-se por Kyu e por Dan)
1956 – II Campeonato Paulista de Judô realizado no Pacaembu seleção santista de Judô Manabu, Sunji
Hinata e João Salgado. Santos campeã paulista de Judô.
1957 – Realização do Torneio Internacional de Judô entre o Brasil e Argentina ocorrido no Rio de Janeiro
e em São Paulo.
1959 João Salgado campeão estadual no Ibirapuera. Academia santista já sob direção de Akira Kurachi.
1959 – Campeonato Brasileiro de Judô em Porto Alegre Sunji Hinata já tinha ido pro Rio. João Salgado
em 3 lugar
Galeria do Judô Santista
Mas Kurachi não era apenas um empresário que visava parcerias entre clubes e outras
academias devido ao seu elevado senso de publicidade. Ele foi um dos mais notáveis
senseis que o Judô brasileiro já teve e também foi um Campeão , por amor ao Brasil!
Além da técnica perfeita que detinha como judoka e sensei. O golpe “Uchi-Mata” era
executado por Hikari Kurachi com extrema perfeição.
A luta prosseguiu e Kurachi rapidamente finalizou o adversário com seu perfeito Uchi-
Mata trazendo a medalha de ouro para o Brasil.
Quem teve a honra de conviver e de compartilhar a vida nos tatames com o Mestre
Kurachi jamais esquece:
Kurachi não era apenas um idealista, um professor e um campeão. Ele era um Mestre
da vida como relata a família, os amigos e os discípulos que tiveram a honra de tê-lo
em seu convívio.
O Sensei Onça em seu depoimento fala que Kurachi costumava orientar seus discípulos
para terem uma vida equilibrada e a evitar o excesso de fumo e álcool. Quem saísse da
linha costumava ser castigado no dojô com uma vara de bambu.
Kurachi foi um homem firme, honrado e justo. Rebelava-se facilmente contra tudo que
infringia os seus rígidos princípios. Hikari e Manabu Kurachi após conflitarem com as
diretorias da FPJ e CBJ decidiram romper com as mesmas.
“Ainda criança, lembro que durante os treinos meu pai Manabu e meu tio Hikari
ficavam contando fatos ocorrido ao longo de suas vidas e hoje colho benefícios em
todas as esferas das relações humanas e sabedoria com a experiência passada por eles.
Isso mesmo! Além do JUDÔ, eles transmitiam experiência de vida! Ensinavam como
passar pelas intempéries da vida, a importar-se e ajudar o próximo, a ser íntegro, justo,
leal e respeitador. Enfim, eram fortemente pautados em uma filosofia de vida baseada
nos bons costumes”.
Podemos considerar então que o judoka João Salgado é o primeiro campeão de Judô
nascido em Santos.
Em 1955, foi convocado para integrar a seleção santista de Judô durante o II Jogos
de Inverno da Cidade de Santos. Ao lado dos judokas companheiros de academia
Hiroshi Minakawa, Manabo Kurachi, Shunji Hinata, Gildo Gióia e tendo como técnico
o Mestre Hikari Kurachi defenderam Santos brilhantemente conquistando o título
por equipes e vencendo faixas pretas de academias de todo o Brasil.
Era o ano 1956 e Arcanjo sagrou-se campeão do 5° Torneio Faixa Preta do Budokan
3° Grau. Ainda no mesmo ano, recebeu a medalha de vice-campeão paulista.
Em 1958, foi convocado para integrar a seleção paulista de Judô ficando com a
terceira colocação no Campeonato Brasileiro como 3º DAN.
“Quando você pensa que sabe tudo, está na hora de aprender de novo!”
Certa feita, eu e os outros judokas da Academia Santista de Judô fomos lutar contra
atletas de uma academia no ABC. Na época, era muito comum esse tipo de embate
entre as academias. Eu, até então, era faixa marrom.
Nos combates contra os competidores da minha faixa venci tudo! Não satisfeito fui
competir com o pessoal da faixa preta do 1 º grau. Também ganhei! Depois, faixas
pretas do 2º Grau. Ganhei novamente! E depois, se ainda não era o bastante, venci
também o grupo absoluto com lutadores de todas as faixas.
Voltei para Santos com uma “tromba enorme”. Estava me achando o melhor! Como
era faixa marrom retornei com a idéia clara de que, após minhas conquistas, eu
receberia a faixa preta do meu professor, de Hikari Kurachi!
Como nessa época Hikari também dava aula no Internacional de Regatas e fui
chamado junto com outros alunos para também treinarmos lá. Depois do treino, todos
foram embora e Kurachi me pediu para permanecer no local.
Meu Deus! Ele me deu tanto tombo! Me derrubou umas mil vezes! Eu já estava
precisando segurar nas pernas dele para me levantar e recuperar.
Sensei Kurachi não era apenas um dos maiores professores de Judô de todos os
tempos, ele era um Mestre espiritual e fazia de tudo para me ensinar uma lição que
trago até hoje comigo, a da humildade de eterno aprendiz! Com aquele jeito oriental
característico de japonês ele disse:
“Quando você pensa que sabe tudo, está na hora de você aprender de novo!”
Pauto minha vida nesse inesquecível episódio e frase. É assim mesmo! Somos eternos
aprendizes da vida e o Judô incute uma disciplina e responsabilidade que levamos na
nossa existência e que estendemos para todas as áreas da nossa vida.
Seu currículo esportivo completo é muito extenso sendo conveniente nesta obra,
explorar apenas a sua importante contribuição na consolidação do Judô em Santos.
Ingressou na Academia de Judô de Santos, filiada a Academia Ogawa e dirigida por Hikari
Kurachi em 1949 tornando-se um dos primeiros faixas pretas (1º turma) em 1953.
Foi um dos professores multiplicadores que tinham como missão dividir a instrução
junto ao Sensei Kurachi em outras academias e clubes. Ministrou treinamentos no IT
Clube, Marçal Clube, Clube Internacional de Regatas, Polícia Técnica, Polícia Marítima e
Polícia Militar.
Depois que o Sensei Adriano Mattos, professor de Jiu Jitsu do A.A. Portuários fora
finalmente convencido pela trupe de Kurachi a introduzir o Judô nesta associação,
Sensei Felício passou a assessorar Adriano no Portuários e posteriormente ensinou Judô
na Academia Adriano Mattos e na Associação dos Advogados de Santos.
Felício se destacou no Judô mais como Sensei tendo participado de alguns torneios
tradicionais como os realizados pela Budokan.
Tornou-se faixa preta em Tae Kwon do em 1979 concedida pelo Mestre Sang Min Cho.
Contribuiu, postumamente, para a realização desta obra após uma antiga carta escrita
por Felício ser encontrada nos arquivos do Centro de Memória Esportiva – Museu De
Vaney por esta autora. Um espantoso acaso sobrenatural que tornaria-se peça
fundamental de uma história escrita por tantas mãos.
Felício foi um homem de raras qualidades morais e espirituais. Não era de se admirar
que, mesmo do “outro lado da vida”, deixasse de colaborar com a realização desta tão
sonhada obra, a História do Judô em Santos.
Felício Agostinho da Purificação sem dúvida é o idealizador desta obra cuja missão foi
realizada graças a persistência do Sensei José Gomes de Medeiros. A esta autora só cabe
agradecer pela honra e oportunidade de também servir ao Mestre.
Félicio, além de muitas outras atribuições, foi perito judicial na área cível, era maçon e
bastante conhecido pela sociedade santista do qual foi grande benemérito
Era casado com a Sra. Marília de Andrade Souza e pai de Felício Antônio e Mara Andrade
Souza.
Seu grande amigo de juventude, o Sensei Adolpho Firmeda Arias, o Sensei Onça, em
seu depoimento relata:
“Eu era daqueles moleques que pareciam mais velhos e que tirava uma onda com a
cara de todo mundo. Todos os dias eu arrumava uma encrenca diferente. Eu adorava
melindrar e debochar do Japonês diverte-se Onça.”
Manabu era calado e franzino e fazia de tudo para não demonstrar que ficava nervoso.
Quanto mais eu o irritava mais invocado ele ficava mas sempre conseguia se controlar.
Era inacreditável a força mental que ele possuía!
Isso fazia dele uma das minhas vítimas preferidas! Eu o provocava com apelidos,
piadas sobre japonês e cantarolava musiquinhas que despertavam gargalhadas
viscerais da escola inteira. No fim do dia era eu e toda a molecada maldando do
japonês de forma insistente e irritante.
O japonesinho Manabu se sentia cada vez mais perseguido e ultrajado mas persistia
em manter seu comportamento reto. Um dia, Onça estava tão encapetado que
começou a distribuir petelecos a esmo na cabeça dos moleques.
Cansado, Manabu finalmente remediou o colega com alguns bons golpes de Judô. A
inusitada reação se tornou uma das melhores brigas da “hora da saída” da história do
grupo escolar José Bonifácio. A molecada eufórica gritava e aplaudia o japonesinho
emburrado que seguiu seu caminho impassível para casa.
Nascia uma grande amizade entre Manabu e Onça o que o estimulou a aprender o
Judô.
Junto aos irmãos Hikari e Akira Kurachi dirigiu a Academia Santista de Judô fundada
em julho de 1949, 7° filial da Academia Ogawa e também ministrou treinamento de
Judô no Clube de Regatas Santistas, Clube Athlético Paulistano, Ipê Clube e Associação
de Judô Manabu Kurati.
Foi campeão brasileiro representando o estado de São Paulo por categoria de faixas
em:
Foi campeão brasileiro representando o estado de São Paulo por categoria de peso e
absoluto em 1965 (categoria Leve) em campeonato ocorrido no Rio de Janeiro/RJ.
Após 51 anos de dedicação total ao ensino do Judô encerrou a sua carreira em 2003.
Deixou os filhos Luis Claudio Issao Kurati, - também judoca - Simone Mitiko Kurati,
André Issamu Kurati e Andrea Miyuki Kurati Gamer.
Desde 2002 é o responsável em Santos pela preparação dos candidatos a faixa preta
da Federação Paulista de judô. Sempre firme no propósito de desenvolver e divulgar os
katas e os fundamentos técnicos de Judô. Também atuou como professor no Clube
Atlético Santa Cecília, no Clube Saldanha da Gama e na Fundação Praia Esporte de
Santos (FUPES).
Há onze anos é responsável pelo Kata de apresentação competitiva nos Jogos regionais
e abertos, tendo compromisso como atleta e não somente como técnico com a
Fundação Pró Esporte de Santos – FUPES.
Conquistas e Títulos como Atleta / Técnico no Judô:
1964 a 2004 – Substituindo o Professor Adriano Mattos, assumi como técnico de judô
da A.A.P.S. Sobre sua orientação, o departamento de judô obtém diversos títulos, tais
como:
1990 Internacionais: 1980 - 3º colocado no Campeonato Mundial Militar de Judô
(Colorado - EUA), com o atleta Ricardo Ferreira Ayres; 1992 - Vice – campeão no
Campeonato Panamericano (Colômbia), com a atleta Gláucia Ferreira de Souza; 1993
- Campeão Sulamericano (Argentina) e Panamericano (Porto Rico), com os atletas
Fabiano de Oliveira Ramos e Rúbia Araújo dos Santos; 3º colocado no Campeonato
Panamericano (Cuba), com a atleta Telma Coelho de Souza.
1991 Nacionais e Estaduais: Diversos títulos conquistados pelos atletas
individualmente da A.A.P.S., orientados pelo Profº José Gomes de Medeiros.
1992 Nacionais e Estaduais por equipe: A Equipe Junior da A.A.P.S. conquistou o
Torneio Benemérito de judô no Brasil, integrada pelos atletas: Eloy P. Costa, Marcelo
Patrício, Ariovaldo dos Santos Júnior, José Augusto dos Santos Filho e Fabrício de
Oliveira Ramos (1991). A Equipe da Yudan (faixa preta) da A.A.P.S. Conquista o vice-
campoenato do Torneio Anual da Equipe da BUDOKAN, sagrando – se campeã no ano
seguinte.
1978 até os dias atuais – Técnico da Seleção de Judõ da Cidade de Santos, e nos
últimos 12 anos, como técnico do Kata.
1996 – Passa a representar como atleta com o Kata a modalidade de Judô.
Set. 2012 - Conquista o 14º lugar entre os 32 competidores do Campeonato de
Pordenone (Itália) – província de Veneza.
Dez. 2012 - Campeão no Campeonato da União Panamericana (República
Dominicana).
2013 – 4º lugar em kata na Copa São Paulo.
2013 – 4º lugar no Campeonato Paulista.
Promoção de Graduação:
1968 – Através de uma competição e um exame teórico foi promovido a faixa preta
(1º dan) pelo Sensei Tokuzo Terazaki (8º dan).
1972 – Através de exame teórico e prático, foi promovido a 2º dan pela Federação
Paulista de Judô, no Clube de Regatas Tiête.
1973 – Através de exame na Federação Paulista de Judô (bancada de 5 professores
em São Paulo), foi promovido a 3º dan.
1980 – Apartir do 4º dan a ortogação ocorre através do trabalho realizado a serviço
da Ferderação Paulista de Judô, da arbitragem de competições paulistas e brasileiras,
e ensinamentos dos fundamentos teóricos do Kata (a essência do Judô) para a
formação de Senseis. É promovido a 4º dan através da indicação do Professor
Kusabara.
1985 – Através da indicação do Professor Kikuo Arasaki é promovido a 5º dan.
1990 – Através da indicação do Professor Tetsuo Nitisuma e Hatiro Ogawa é
promovido a 6º dan.
2000 – Através da indicação de Nobuo Suga é promovido a 7º dan.
N.T da Autora: biografia realizada por Jenifer Pavani Ribeiro do Centro de Memória Esportiva
Museu De Vaney
Fonte: Acervo CME e depoimento do Sensei José Gomes de Medeiros